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¦ Editorial ¦ Ano XIV • nº 80

Setembro/Outubro 2016

www.graosbrasil.com.br Diretor Executivo Domingo Yanucci Administradora Giselle Pedreiro Bergamasco Colaborador Antonio Painé Barrientos Matriz Brasil Av. Juscelino K. de Oliveira, 824 Zona 02 CEP 87010-440 Maringá - Paraná - Brasil Tel/Fax: (44) 3031-5467 E-mail: gerencia@graosbrasil.com.br Rua dos Polvos 415 CEP: 88053-565 Jurere - Florianópolis - Santa Catarina Tel.: +55 48 3304-6522 | 9162-6522 graosbr@gmail.com Sucursal Argentina Rua América, 4656 - (1653) Villa Ballester - Buenos Aires República Argentina Tel/Fax: 54 (11) 4768-2263 E-mail: consulgran@gmail.com Revista bimestral apoiada pela: F.A.O - Rede Latinoamericana de Prevenção de Perdas de Alimentos -ABRAPOS As opiniões contidas nas matérias assinadas, correspondem aos seus autores. Conselho Editorial Diretor Editor Flávio Lazzari Conselho Editor Adriano D. L. Alfonso Antônio Granado Martinez Carlos Caneppele Celso Finck Daniel Queiroz Jamilton P. dos Santos Maria A. Braga Caneppele Marcia Bittar Atui Maria Regina Sartori Sonia Maria Noemberg Lazzari Tetuo Hara Valdecir Dalpasquale

Caros Amigos e Leitores Obrigado por nos receber em seus trabalhos e em suas casas. Pretendemos levar a vocês a melhor tecnologia de pós- colheita de grãos e sementes, direcionando para o desenvolvimento de nossa querida especialidade. Se não é agora , quando então? Esta é a pergunta que devemos fazer para definirmos quando mudar algo ou iniciar uma atividade. Esperar que aconteçam perfeitas todas as coisas para tomar uma decisão é quase esperar o impossível. “O tempo passa muito rápido, porisso quanto antes plantamos antes colhemos”. Muitas coisas devem ser feitas para que os armazéns e a póscolheita em geral ganhem eficiência, mas como sabemos que o principal é o grupo humano, devemos ter bem presente o que se refere à capacitação, atualização e incentivo das equipes de trabalho para que dêem o melhor de si. A legislação vigente é muito sábia e especifica que as empresas responsáveis pelo manejo de grãos devem anualmente realizar cursos de atualização para seus funcionários. Você deve fazer sua parte para também poder exigir que os outros a cumpram. Sabemos que os tempos de desesperança são mais complicados para sair da inércia, mas o esforço o justifica. As organizações e as empresas de ponta nunca descuidam de seu pessoal neste ponto de vista e você pode encontrar vários exemplos nesta revista. Chegamos à edição 80 e não é pouca coisa, obrigado aos que apoiam a Grãos Brasil, único meio de nossa especialidade que completa 14 anos junto a vocês. Nesta edição como sempre apresentamos valiosa informação de técnicos muito qualificados sobre os diversos temas que afetam o armazenamento, conservação e comercialização de grãos e sementes. Que Deus abençoe sua família e trabalho. Com afeto.

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¦ Indice ¦ 06

Fusarium: importante gênero de fungos filamentosos deteriorantes de grãos| Geovana D. SAVI B. e PhD. Vildes M. SCUSSEL

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Termometria para Garantir Perda Zero| Eng. Erico Aquino Weber

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Zini Brasil apresenta sua experiência de inovação no tema funcionalidade da Fibra Alimentar

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O Tempo, A Chave/ Eng. Domingo Yanucci

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Projeto de Unidades Armazenadoras de Grãos| Dr. Luís César da Silva Produção, secagem e armazenagem de café| Prof. Valdecir A. Dalpasquale, Ph.D.

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Setores

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Editorial

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Não só de pão...

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¦Fungos¦ Fusarium: importante gênero de fungos filamentosos deteriorantes de grãos

Por: Geovana D. SAVI B. e PhD. Vildes M. SCUSSEL |Universidade Federal de Santa Catarina

Os grãos podem ser contaminados tanto no período pré e pós-colheita, devido ao ataque de insetos e fungos (especialmente pela formação de micotoxinas). Fatores como danos mecânicos, danos por insetos, condições climáticas inadequadas durante o crescimento da planta (pré-colheita), assim como secagem e armazenamento dos grãos (pós-colheita) também irão influenciar para sua deterioração. Os principais gêneros fúngicos classificados como deteriorantes de grãos são do gênero Fusarium, Aspergillus e Penicillium. Nesta matéria vamos tratar especificamente do Fusarium, que é um dos gêneros mais importantes de fungos filamentosos deteriorantes de grãos, uma vez que sob condições favoráveis de temperatura e umidade, podem produzir metabólitos secundários que são tóxicos e/ou carcinogênicos para humanos e animais, uma vez que estes compostos são biossintetizados e excretados para o alimento onde o fungo cresce (Cast, 2003). Além disso, atua como fitopatógeno na plantação, produzindo alterações nas espiguetas de algumas plantas como milho, trigo, cevada, podendo levar a produção de grãos chochos, enrugados e de baixa qualidade. As doenças ocasionados por este gênero fúngico podem variar de acordo com as toxinas produzidas, sendo a ingestão por meio dos alimentos contaminados, a principal via de exposição. A intoxicação crônica é a mais comumente observada, afetando especialmente os animais, como por exemplo, os suínos que são os mais sensíveis as micotoxinas de 06 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

Fusarium, causando rejeição do alimento e redução do crescimento, além de fraquezas e problemas reprodutivos.

Geovana D. SAVI B. | geovanasavi@gmail.com


GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 07


¦Fungos¦ Gênero Fusarium A presença destes fungos toxigênicos é indicativo de que há ocorrência de micotoxinas no alimento (Scussel; Beber; Tonon, 2011). O gênero Fusarium é encontrado em grãos principalmente em período de pré-colheita, no campo. As espécies mais comuns encontradas e descritas abaixo são F. graminearum, F. verticillioides e F. culmorum (Calori-Domingues et al., 2007). Fusarium graminearum Fusarium graminearum (Figura 1) é o fungo mais comum em cereais de inverno, causando doença (giberella) nas plantas durante período de floração. É uma espécie produtora das micotoxinas do tipo B dos tricotecenos, juntamente com outros espécies como F. culmorum e F. avenaceum. Estas espécies precisam de temperaturas ótimas para crescimento (25ºC e 21ºC) e isso provavelmente afeta a distribuição geográfica.

A giberela é uma doença que ataca as espigas, causando despigmentação das espiguetas afetadas. Dependendo das condições climáticas e da cultivar, pode ser observado um micélio branco a rosado sobre as espiguetas (Figura 3a). Esta doença pode comprometer toda a produção quando a floração ocorre em épocas com temperaturas superiores a 20ºC e a duração do molhamento das espigas é superior a 72h (Schmale; Bergstrom, 2003). Os grãos produzidos são chochos, enrugados e de coloração branco a rosada (Figura 3b). No Brasil, em 1998, nos ensaios de rendimento de trigo conduzidos na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Trigo), constatou-se, em genótipos brasileiros mais suscetíveis, aproximadamente 40% de grãos com sintomas de giberela. No Brasil, esta doença tem sido estudada há mais de três décadas e estudos recentes indicam que a doença, que se apresentava na forma de epidemias leves e esporádicas, alcançou o status de principal doença nas regiões tritícolas com maior frequência, principalmente no Sul do Brasil, causando muitos impactos econômicos (Embrapa, 2013; Lima, 2002).

Figura 1. Crescimento de F. graminearum em: (a) meio de cultura e (b) microscopia em aumento de 400x.

No campo, algumas plantas como milho, trigo, cevada, podem ser afetados por esta doença causada pela espécie F. graminearum (teleomorfo Gibberella zeae). O gênero Gibberella caracteriza-se por apresentar peritécios de coloração brilhante e que frequentemente se formam em um estroma (estruturas somáticas onde os corpos de frutificação se desenvolvem). Os peritécios de G. zeae são de coloração negra-azulada na maturação e permanecem sobre os restos culturais entre uma estação de cultivo e outra (Lima, 2004; Panisson; Reis; Boller, 2002) (Figura 2a). No interior dos peritécios estão localizados os ascos que irá conter os ascósporos (esporos sexuais). Estes esporos serão forçadamente liberados do peritécio através do ostíolo (Figura 2b). Desta forma, esses esporos são transportados pelo vento a longas distâncias e podem ser depositados sobre anteras da planta, causando infecção (Schmale; Bergstrom, 2003).

Figura 2. (a) Peritécios negro-azulados de Giberella zeae; (b) Seção transversal de um peritécio de Giberella zeae apresentando ostíolo (seta acima) e ascos (seta abaixo) (Schmale; Bergstrom, 2003 e Trail; Common, 2000). 08 | Revista Grãos Brasil |Setembro/Outubro 2016

Figura 3. (a) Espiga de trigo com giberela causada por Gibberella zeae, com crescimento micelial de coloração branco a rosada e (b) grãos de trigo giberelados.

Esta doença é reportada mundialmente e está associada a contaminação de deoxinivalenol (DON) (Figura 4) nos cereais de inverno, como grãos de trigo, cevada, centeio. DON tem gerado preocupações crescentes devido ao seu potencial em causar efeitos tóxicos sobre a saúde animal e humana. A infecção por giberela na planta resulta em perdas econômicas diretas, derivadas da redução na produção e perda de grãos, além de perdas indiretas, resultantes da contaminação por micotoxinas, que levam a rejeição ou desvalorização dos grãos no mercado. Sua ocorrência tem aumentado e atingido níveis epidêmicos em vários países. Na China e no Japão, existem relatos de até 50% de perdas associadas à giberela em trigo, enquanto na Argentina foram estimadas perdas de 30% na produção (Lima, 2002). Em vários países, como México, Paraguai, Austrália, também há relatos de perdas causadas por giberela em trigo. A doença vem assumindo destacada expressão econômica nos Estados Unidos da América e no Canadá em trigo e em cevada, com perdas substanciais (Lima, 2002).


GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 09


¦Transportadores¦ ¦Gestão¦ ¦Fungos¦

Figura 4. Estrutura química do deoxinivalenol (Scussel; Savi; Beber, 2012).

A toxina DON é resistente ao processo de moagem e aquecimento e, por isso, entra na cadeia alimentar de animais e humanos diretamente. É uma das micotoxinas consideradas mais importantes dos cereais, e são encontradas em todo o mundo como contaminantes de trigo, cevada, aveia, arroz, centeio e milho (Figura 5) (Moss, 2002).

Figura 5. Principais matrizes alimentares que podem ser contaminados com Fusarium graminearum e DON.

Os principais efeitos toxigênicos de DON quando em doses baixas são diminuição de crescimento e anorexia, enquanto doses elevadas induzem vômitos, efeitos imunotóxicos e mudanças neuroquímicas no cérebro (Wijnands; Van Leusden, 2000). Efeitos tóxicos em animais tem sido bem documentados e focalizam principalmente o sistema imunológico e o trato gastrointestinal. Doses agudas são caracterizadas por efeitos como diarréia, vômito, leucocitose, hemorragia, choque circulatório, podendo levar a morte. As doses crônicas são caracterizadas por recusa alimentar, redução do ganho de peso e na absorção de nutrientes, além de alterações neuroendócrinas e imunológicas (Larsen et al., 2004; Pestka; Smolinski, 2005). Estudos mais atuais tem demonstrado que o DON induz ao estresse oxidativo em ratos dependendo da dose utilizada (Mishra, 2013; Mishra et al., 2014) e que a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) pode estar associada a desregulação do sistema imunológico induzido por DON. Isso porque, o sistema imunológico é sensível ao DON e pode ser tanto estimulado, quanto suprimido, dependendo da dose e da frequência de exposição (Pestka, 2010). Em 1988 o DON foi responsável por uma larga escala de incidente de toxicose humana no Vale Kashmir, na Índia. A toxicose foi reportada também na China, Japão e Korea entre outros países (Beardall & Miller, 1994; Kuiper-Goodman, 1994). Entre os animais, os suínos são mais sensíveis ao DON do que aves, ratos e ruminantes, em parte por causa de suas diferenças no metabolismo, sendo os machos mais sensíveis que as fêmeas (Diekman; Green, 1992; Rotter; Prelusky; 10 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

Pestka, 1996). Nos suínos pode ocorrer a rejeição do alimento e consequentemente a redução do crescimento, fraqueza e problemas reprodutivos. Os gados são mais tolerantes, no entanto, também ocorre a redução do crescimento e alteração na produção do leite. As aves apresentam peso reduzido e baixa qualidade do ovo. Nossos estudos mais recentes mostram níveis de DON em grãos de trigo integral (1895 µg/kg), farelo de trigo (2278 µg/ kg) e farinha de trigo (1305 µg/kg). Em subprodutos de trigo, poucas amostras apresentaram contaminação, tais como pão integral (437 µg/kg) e bolacha salgada (624 µg/kg), e estavam dentro do limite máximo de ingestão diária para consumo no Sul do Brasil (Savi et al., 2016a). Os mesmos autores, em 2014, detectaram DON em 47,2% das amostras de grãos de trigo do Sul do Brasil, variando de 243,7 à 2.281,3 µg/kg, apresentando média de contaminação abaixo da permitida pela legislação vigente (649 μg/kg) (Savi et al., 2014a). Além disso, uma variedade de fungos toxigênicos foram encontrados, tais como Fusarium verticillioides (34%), F graminearum (30.2%), Aspergillus flavus (37.7%) e Penicillium digitatum (49%). Fusarium verticillioides Fusarium verticillioides (Figura 6) é um dos principais fungos produtores de fumonisinas (FBs) juntamente com outras espécies como F. proliferatum, F. nygamai, além de Alternaria alternata.

Figura 6. Crescimento de F. verticillioides em: (a) meio de cultura e (b) microscopia em aumento de 400x.

Estes fungos tem distribuição mundial, sendo considerados importantes patógenos de cereais em todas as fases de desenvolvimento, incluindo período de póscolheita (Diaz; Boermans, 1994). Podem ser encontradas em diferentes grãos como milho, arroz, cereais de inverno e ração animal (Figura 7). As principais micotoxinas produzidas por estes fungos são as fumonisinas (FBs, Figura 8), sendo as fumonisinas B1 e B2 as mais estudadas. A FB1 é a mais abundante e tóxica, representando 70% de contaminação total de alimentos naturalmente contaminados (Mallman et al., 2001).

Figura 7. Matrizes alimentares que podem ser contaminados com Fusarium verticillioides e FBs.


Acesse: www.graosbrasil.com.br As FBs são inibidoras específicas da ceramida sintase, enzima envolvida na síntese de esfingolipídios (presentes nas membranas celulares), resultando em uma grande quantidade de problemas na regulação e comunicação celular.

Figura 8. Estrutura química das fumonisinas (Scussel, 2002).

As FBs são responsáveis pela leucoencefalomácia em equinos (Figura 9) e coelhos, edema pulmonar e hidrotórax em suínos, efeitos hepatotóxicos, carcinogênicos e apoptose no fígado de ratos (Pozzi et al., 2001).

Figura 9. Leucoencefalomácia em equinos (Câmara et al., 2008; Barros, 2016/ www.ufsm.br).

A International Association on Research of Cancer (IARC) classificou FBs e seus metabólitos como compostos de possível carcinogenicidade em humanos (IARC, 1993). A alimentação de milho contaminado com F. verticillioides (Figura 10) tem sido associada às elevadas taxas de câncer esofágico em Transkei por mais de 15 anos (Thiel et al., 1992).

a maior concentração de FB1 (1305 μg/kg) e FB2 (651 μg/ kg), seguido de quirera (719 μg/kg e 386 μg/kg), grão de milho (289 μg/kg e 254 μg/kg) e farelo (415 μg/kg e 223 μg/ kg). Além disso, a contaminação por FB1 e FB2 em grãos de milho e farinha foram significativamente diferentes P<0.01 e P<0.05, respectivamente. Produtos derivados do milho, tais como flocos de milho tiveram média de 74 μg/kg (FB1) e 89 μg/kg (FB2), seguido por pipoca (86 μg/kg e 35 μg/kg). A média da concentração de FB2 foi menor do que FB1 em todas as amostras analisadas (Savi et al., 2016b). Em estudo anterior realizado por Scussel et al. (2013), um total de 232 amostras de milho comercializadas em Santa Catarina, Sul do Brasil, foram avaliadas no período de 2007 a 2012 para FBs. Os valores variaram de 66-7832 μg/kg for FB1 e 110-1201 μg/kg para FB2. Por ano de análises, os números foram: n= 22/8 (FB1/FB2), 44/5 (FB1/FB2), 25/12 (FB1/FB2), 4 (FB1), 6 (FB1) e 7 (FB1) in 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012, respectivamente. A porcentagem de contaminação por amostra foi de 42.3/15.4, 59.5/6.8, 43.8/21.1, 36.4, 35.3 e 33.3%, respectivamente, durante estes anos. Por outro lado, nossos resultados com grãos de soja demonstraram variação de 138-1495 μg/kg e 178-552 μg/ kg para FB1 e FB2, respectivamente. Em adição, fungos potencialmente toxigênicos, como Fusarium, Aspergillus e Penicillium também foram isolados das amostras (Garcia et al., 2016). Fusarium culmorum Fusarium culmorum (Figura 11) é um grande produtor de zearalenona, juntamente com outras espécies como F. equiseti, F. graminearum e F. verticillioides. Tal como acontece com outras micotoxinas, apenas algumas cepas de certas espécies podem produzir zearalenona (ZON) (Alldrick, 2004).

Figura 10. Milho contaminado por Fusarium verticillioides (Pinto, 2005)

Nossos mais recentes resultados com Fusarium e FBs mostraram contaminações em diferentes frações de milho. As frações de milho (grãos, quirera, farinha e farelo) apresentaram maiores níveis de contaminação do que os produtos derivados do milho (flocos de milho e pipoca). Entre as amostras de frações de milho, a farinha apresentou GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 11


¦Fungos¦

Figura 11. Crescimento de F. culmorum em: (a) meio de cultura e (b) microscopia em aumento de 400 (http://fungi.myspecies.info/taxonomy/ term/5074/media).

Estas espécies estão associadas principalmente com culturas de cereais e seus subprodutos. Ainda que esta é considerada uma micotoxina de campo, há evidências de que esta micotoxina também possa ser produzida em grãos já colhidos (Figura 12) (Alldrick, 2004; Zinedine et al., 2007).

Figura 12. Matrizes alimentares que podem ser contaminados com Fusarium culmorum e ZON.

A ZON (Figura 13) é a micotoxina estrogênica mais estudada, é membro de um grande e variado grupo de compostos (estrogênicos) de estrutura semelhante e com propriedades farmacológicas.

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Figura 13. Estrutura química da zearalenona (Scussel; Savi; Beber, 2012).

ZON tem uma baixa toxicidade aguda oral, sendo que em termos de toxicidade subaguda ou subcrônica, os efeitos da ZON parecem refletir sua capacidade de se ligar aos receptores de estrogênio, levando a alterações no trato reprodutivo e uma variedade de sintomas, incluindo: diminuição da fertilidade, aumento da reabsorção embrioletal e redução da ninhada em animais (Figura 14), para humanos são poucos os dados


Acesse: www.graosbrasil.com.br disponíveis. A IARC concluiu que havia evidência limitada para avaliar a capacidade carcinogênica de ZON (IARC, 1993). Contudo, a Scientific Committee on Food (SCF) da União Européia observou a ocorrência de tumores em estudos clínicos devido às características estrogênicas da micotoxina (Alldrick; Hajšelova, 2004; SCF, 2000; Zinedine et al., 2007). É um análogo do estrógeno e causa o hiperestrogenismo. Tem sido implicada em vários incidentes nas mudanças da puberdade em crianças (Kuiper-Goodman et al., 1987).

Tabela 1. LMT para micotoxinas em trigo e produtos derivados

Figura 14. Efeito da zearalenona no nascimento de leitões (a) mumificados (b) natimortos (Nones, 2012).

Legislação Devido aos efeitos graves que as micotoxinas podem causar nos seres humanos e animais, em muitos países, existe legislação nacional que estabelece limites máximos toleráveis (LMT) específicos para vários tipos diferentes de micotoxinas em uma variedade de alimentos. Os LMT estabelecidos por legislações para uma ou mais micotoxinas variam de acordo com o país e características do alimento que é consumido, importado e/ou exportado (Scussel; Beber; Souza, 2010). No Brasil, os limites para micotoxinas eram estabelecidos somente para aflatoxinas por meio da Resolução No 34/76 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos, a qual estabelecia o limite aceitável de 30 µg/kg para alimentos em geral. Em 2002, por meio da Resolução No 274/2002 da ANVISA este limite passou para 20 µg/kg. Contudo, em fevereiro de 2011 entrou em vigor uma nova Resolução (RDC N° 07, de 18 de Fevereiro de 2011) desenvolvida pela ANVISA que apresentou limites de aplicações imediatas e de aplicações previstas para os próximos anos pares, a partir de 2012, 2014 e 2016 (BRASIL, 2011) (Tabela 1). No entanto, em dezembro de 2013, uma nova legislação da ANVISA entrou em vigor, prorrogando o prazo limite para as próximas aplicações até 2017 (BRASIL, 2013).

Fonte: BRASIL, 2011 e BRASIL 2013

Diante da nova legislação da ANVISA, o mercado produtor brasileiro terá que se adequar ao LMT dos alimentos para micotoxinas. Novos estudos que possam eliminar/diminuir os níveis destas micotoxinas no trigo vem de encontro à necessidade do mercado atual para melhorar a qualidade e produção dos alimentos. Programas de monitoramento dos

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¦Fungos¦ níveis de micotoxinas neste alimento são essenciais para estabelecer prioridades em ações de órgãos reguladores. Medidas preventivas para o controle de contaminantes nos grãos Várias são as medidas preventivas adotadas para evitar a contaminação dos grãos, tanto no período pré-colheita, quanto no período pós-colheita. A Tabela 2 mostra alguns das medidas frequentemente utilizadas para evitar danos pelos principais contaminantes (insetos, fungos e micotoxinas). Tabela 2. Medidas preventivas adotadas no período de pré e pós-colheita

Mesmo que todas as medidas preventivas sejam adotadas, muitas vezes, não é possível ter total controle para evitar os contaminantes durante a produção dos grãos. Quando as medidas preventivas não são suficientes, é necessária a descontaminação antes da utilização do alimento para fins de consumo humano ou animal. Portanto, métodos de descontaminação são de grande valia para evitar perdas na produção e melhorar a qualidade dos grãos. Métodos de descontaminação em grãos A descontaminação de grãos pode ocorrer através da remoção do material contaminado ou destruição e degradação dos contaminantes, como fungos, micotoxinas e agrotóxicos. Pode ocorrer por agentes físicos (calor, microondas, raios gama e luz ultravioleta), químicos (agentes oxidantes, ácidos, bases e ozonização) e biológicos (microorganismos). Qualquer que seja a estratégia de descontaminação, os seguintes critérios básicos devem ser seguidos: a micotoxina deve ser inativada ou destruída por transformação de compostos não tóxicos; esporos fúngicos e micélios devem ser destruídos, assim novas toxinas não são formadas; o alimento deve manter seu valor nutritivo e permanecer palatável após a descontaminação; as propriedades físicas da matéria-prima não devem alterar significativamente; e, por último, deve ser economicamente viável. Alternativa química de descontaminação: ozônio gasoso A ozonização pode ser proposta como um método de descontaminação química para grãos contaminados com micotoxinas. O gás ozônio é um oxidante poderoso reconhecido desde 1997 como uma substância GRAS (Geralmente Reconhecida como Segura) e aplicado na indústria de alimentos para a destruição ou a desintoxicação 14 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

de substâncias químicas ou micro-organismos. O O3 atua mediante a oxidação progressiva de componentes celulares para destruir os micro-organismos, impedindo seu crescimento e a formação da micotoxina (Guzel-Seydim; Greene; Seydim, 2004). O ozônio é um alótropo triatômico (O3) composto por três átomos de oxigênio que se formam quando as moléculas de oxigênio se rompem devido a radiação ultravioleta e os átomos separados combinam-se individualmente com outras moléculas de oxigênio. Devido a maior estabilidade do oxigênio, a molécula de O3 sofre um processo de dissociação espontânea com o tempo resultando novamente na formação do oxigênio (Langlais; Reckhow; Brink, 1991). A decomposição não resulta em espécies nocivas já que o mesmo é espontaneamente convertido em O2. Por ser instável, requer que ele seja produzido no seu local de aplicação reduzindo assim gastos e perigos relacionados como seu transporte e estocagem (Armor, 1999). A produção comercial do ozônio é realizada pelo processo de descarga elétrica, também chamado de corona (Usepa, 1999). Este processo é constituído por dois eletrodos submetidos a uma elevada diferença de potencial (aproximadamente 1000 V). O ozônio é gerado pela passagem de ar ou oxigênio puro entre os dois eletrodos. Quando os elétrons possuem energia suficiente para dissociar a molécula de O2, começam a ocorrer colisões, que causam a dissociação do O2 e a formação do O3 (Cullen et al., 2009; Usepa, 1999) (Figura 15). Figura 15. Gerador de ozônio tipo descarga corona (Usepa, 1999).

É um poderoso agente oxidante e desinfetante (GuzelSeydim; Greene; Seydim, 2004) capaz de participar de um grande número de reações com compostos orgânicos e inorgânicos (Almeida; Assalin; Rosa, 2004). Pode reagir com a maioria dos compostos contendo ligações duplas, como C=C, C=N, N=N, etc., mas não com grupos funcionais contendo ligações simples, como C-C, C-O, O-H, etc (Almeida; Assalin; Rosa, 2004). O gás O3 é um poderoso germicida, empregado em engenharia sanitária para a desinfecção da água potável e na remoção de sabores e odores indesejáveis. Também é um gás oxidante, que tem inúmeras aplicações na indústria alimentícia pelas vantagens que apresenta nas técnicas de preservação. O3 foi reconhecido como seguro em 1997, sendo que em 26 de junho de 2001, o FDA publicou uma determinação oficial sobre a utilização do O3 admissível como um agente antimicrobiano para o tratamento, armazenamento e processamento de alimentos em gás e fase aquosa em contato


Acesse: www.graosbrasil.com.br direto com os alimentos, incluindo as matérias-primas, além de frutas e hortaliças minimamente processadas (GuzelSeydim; Greene; Seydim, 2004). O O3 já se mostrou eficaz contra um amplo espectro de micro-organismos, incluindo bactérias (Kim; Yousef, 2000; Sharma et al., 2002), fungos (Palou et al., 2002; Savi et al., 2014b,c) vírus e protozoários (Cullen et al., 2009; Khadre; Yousef; Kim, 2001). Além disso, também tem potencial para matar pragas de armazenagem (Kells et al., 2001; Mendez et al., 2003), degradar micotoxinas (Cullen et al., 2009; Savi et al., 2014b), pesticidas e resíduos químicos (Hwang; Cash; Zabik, 2001). Na indústria alimentícia, o tratamento com gás O3 vem sendo estudado com o intuito de melhorar a qualidade e evitar perdas quantitativas, devido à deterioração dos alimentos por fungos. Pode desempenhar importante papel na qualidade de castanhas-do-Brasil, já que tem sido efetivo em inibir o crescimento fúngico e reduzir a contaminação por aflatoxinas (Scussel et al., 2011). Em estudo in vitro realizado em nosso laboratório (LABMICO), o gás O3 foi eficiente na redução do crescimento das espécies de Fusarium graminearum, F. verticillioides, Penicillium citrinum, Aspergillus parasiticus e A. flavus. Além disso, o gás O3 foi capaz de causar redução na produção de conídios destes fungos, além de mortalidade e alterações morfológicas das hifas. E por fim, um aumento da produção de espécies reativas ao oxigênio foi observada nas hifas, o que pode ter ocorrido devido ao poder oxidante do O3 (Savi et al., 2014c).

Nas pesquisas in vivo, o gás O3 foi avaliado frente ao principal fungo de campo (F. graminearum) contaminante do trigo em grão e a micotoxina DON. A concentração de 40 e 60 ppm foram eficientes em inibir o crescimento do fungo nos grãos de trigo, principalmente no tempo de exposição de 180 min, o qual foi inibido completamente por ambas concentrações. Com relação a contaminação por DON, os níveis de toxina foram reduzidas completamente por 120 min de exposição na concentração testada (60 ppm). Como esperado, os níveis de DON no pericarpo foram reduzidos com maior facilidade quando comparado com a contaminação no endosperma do grão (Savi et al., 2014b). Nas concentrações utilizadas nestes estudos de descontaminação, os autores demonstraram que nenhuma alteração física e bioquímica pesquisada (oxidação de amido, peroxidação lipídica, análise de proteínas, morfologia do grão e do amido, germinação de sementes) ocorreu nos grãos de trigo após o tratamento (60 ppm), especialmente em 120 min de exposição, a qual foi eficiente para redução de fungos e micotoxinas. A eficácia do O3 depende de vários fatores, incluindo a concentração de O3 aplicada, as características de cada alimento e os fatores ambientais em que se encontram (temperatura e umidade). O excesso do ozônio é auto-decomposto rapidamente produzindo O2 e assim não resta resíduo no alimento. Demonstra ser uma alternativa potencial que oferece vantagens para melhorar a qualidade e a produção dos alimentos.


¦Termometria¦ Termometria para Garantir Perda Zero Por: Eng. Erico Aquino Weber |Excelência em Benefeciamento e Armazenagem de Grãos

A armazenagem de grãos compreende a guarda de elevados volumes de massa orgânica exposta a processos permanentes de atividade biológica. Da atividade biológica e da atividade respiratória resultam reações químicas de oxidação, aumento de radicais livres, na perda da matéria seca, aquecimento dos grãos, perda de nutrientes, aumento da umidade e da temperatura dos grãos que sobe até tornarem uma parte dos grãos bons em ardidos. Tudo isso favorece o surgimento e a expansão das colônias de insetos, bactérias e fungos, motivo pelo qual o acompanhamento rigoroso da temperatura é indispensável e fundamental, pelo aquecimento da massa resultante das atividades mencionadas, revela a existência de um ou mais dos males citados. Se o acompanhamento da temperatura da massa através da termometria indicar temperatura estável sem alteração ao longo dos dias e semanas, revela normalidade e o produto se encontra com baixo nível de atividade biológica, baixo índice respiratório. Neste caso e em se tratando de armazenamento prolongado, poderá ser realizada aeração preventiva, aproveitando períodos de clima frío para homogeneizar e reduzir a temperatura da massa como um todo garantindo excelência na armazenagem também por período prolongado. A termometria como vemos, tem um papel 16 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

preponderante na conservação de grãos armazenados. É possível que o leitor mais experiente possa afirmar que já administrou a armazenagem de milhares de toneladas de grãos em graneleiros sem aeração e sem termometria. O nosso respeito e admiração a estes profissionais do passado e ainda alguns atuando no presente, pois muitos estão em atividade hoje zelando por grandes volumes de grãos e contribuem muito na área de pós-colheita pelo trabalho que realizam sem os recursos mínimos indispensáveis. Entretanto, é bom lembrar, que os heróis do passado eram obrigados a fazer transilagem para evitar aquecimentos ao simples “suspeitar” da possibilidade de aquecimento e nesta operação trincavam e quebravam inúmeros grãos que, mas adiante, aqueciam e ardiam ainda mais rapidamente, e tudo a um custo elevado com vários motores ligados de vários transportadores. E mais, nossos colegas eram obrigados a armazenar em silos graneleiros e mesmo silos metálicos sem termometria e sem aeração, grãos com 12 % de umidade mesmo podendo comercializálos a 14%, perdendo 2 % de peso. Isto é, 2% de água que podiam ser entregues a preço de grãos. O aumento do calor indica atividade biológica intensa nos pontos em que se detecta a elevação da temperatura e consequentemente a massa precisa ser tratada. A aeração insuflando ou aspirando ar a temperaturas mais baixas,


removerá os focos de calor e diminuirá a temperatura dos grãos, antes de afetá-los, impedindo a fermentação ou que se tornem ardidos. Deverá ser realizada a investigação sobre as causas geradoras do aquecimento como umidade mais elevada por secagem inadequada ou infiltração de água, falta de boa impermeabilização, umidade por condensação no teto do silo ou mesmo no interior dele. Também temos aquecimento da massa por atividade de fungos ou insetos, caso este seja o problema deverá ser extirpado através do expurgo, evitando perdas e descontos. DISTRIBUIÇÃO DE CABOS E SENSORES SEGUNDO A CLASSE

DISTÂNCIA ENTRE CABOS, SENSORES , PAREDES E GRÃOS

A termometria, se observadas as normas, oferece rápida e precisa medição da temperatura em todo o volume de grãos estocados, permitindo ações preventivas e curativas, mantendo intacta a qualidade dos grãos. A ausência de uma termometria confiável exigirá mais horas de aeração, elevando o custo da manutenção através de motores ligados desnecessariamente, e poderá ainda, gerar perda de peso na massa por secagem, diminuindo o peso dos grãos caso não seja observada a umidade relativa do ar e a umidade de equilíbrio dos grãos e do ar. A existência da termometria e da aeração qualifica a unidade armazenadora, silo ou graneleiro, para a armazenagem própia e de terceiros como prestadora de serviço reconhecida pelos orgãos governamentais e diminui o valor do custo do seguro sobre o produto armazenado. ALGUMAS INFORMAÇÕES NORMATIVAS Caraterísticas do sistema: a) Precisão do sistema: O sistema deve operar com uma precisão de 1 C, a mais ou menor, sobre o valor de fundo da escala para condições ambientais de 5 a 45 C de temperatura e umidade relativa do ar de 5 % a 80 %. b) Resolução do aparelho de medição: O aparelho de medição deve ter resolução mínima de 1 C para condições ambientais de 5 a 45 C de temperatura e umidade relativa


¦Termometria¦ de 5 a 80 %. c) Escala mínima do aparelho de medição: O aparelho de medição deve ter uma escala mínima de 0 a 90 C. d) Características dos sensores: Os sensores devem ser especificados citando o tipo, referência, fabricante e o valor de suas catacterísticas variáveis. Como por exemplo de sensores que variam a tensão, citam-se os termopares e como sensores que cairão a corrente, citam-se os termistores.

18 | Revista Grãos Brasil | Maio / Junho 2016

e) Cabos termométricos e a distribução de sensores: Os cabos e os sensores termométricos devem ser distribuidos conforme as recomendações e as clases I, II ou III da tabela anterior, sendo que esta norma fixa condições exigidas para o sistema de termometria para grãos a granel.


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¦Tecnolgia Alimentar¦ Zini Brasil apresenta sua experiência de inovação no tema funcionalidade da Fibra Alimentar A empresa de origem italiana ZINI ALIMENTOS desenvolveu uma grande experiência em todas as fontes de fibras de uso alimentar. Sua sinergia com o setor ZINI FLOURS da matriz em Milão, permite absorver experiências e informações sobre a relação entre a funcionalidade das fibras e a saúde dos consumidores, sobre os benefícios demonstrados através da ciência da nutrição, o desenvolvimento de novos produtos e a educação dos consumidores. Existem estudos acadêmicos sobre os efeitos da fibra na saúde dos consumidores e seu papel como probiótico e como acelerador das funções mentais. Estas informações são disponíveis e de grande utilidade para aqueles que, de várias formas, no ambiente acadêmico ou industrial, são envolvidos na pesquisa ou na utilização da fibra alimentar. A ZINI BRASIL instalou uma estrutura industrial de última geração visando contribuir com este caminho cada vez mais importante da nutrição moderna. Logicamente essa área da empresa é restrita à visitação, porém pode ser vista pelas câmeras de segurança instaladas. As linhas da ZINI BRASIL são disponíveis e projetadas para trabalhar no método “SERVICE”, isto é, trabalhando para parceiros ou marca própria. Investimento em linhas contínuas de última geração da ZINI BRASIL A ampla experiência da ZINI já foi aplicada no sentido de melhorar a aceitação do produto por parte do consumidor, sobretudo utilizando a chamada “SEM AMARGOR”, que caracteriza todas as fibras alimentícias processadas pela ZINI. Isso nos permite aumentar sua quantidade sem prejudicar a percepção negativa existente para todas as fibras que não passam pela exclusiva tecnologia da ZINI BRASIL. Outro enfoque diz respeito aos efeitos/resultados das fibras na saúde dos consumidores, desde a melhora no bem-estar do intestino, aos benefícios no controle do peso e da obesidade, até no tema mais recente do nível da neuro atividade ou na regulagem do sistema imunitário nas doenças crônicas. Um terceiro aspecto diz respeito a novos alimentos e novos ingredientes que veiculam fibras alimentares, assim se ampliando às novas tendências. Sobre as quais, é orientada a atividade de inovação da empresa no CIF & F (CENTRO DE INOVAÇÃO, FRITURAS E FIBRAS). São estudados vários alimentos líquidos, semissólidos e sólidos que se beneficiam do uso das fibras elaboradas 22 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

pela ZINI na redução dos teores de açúcar e gorduras contidos nos mesmos. Podem ser desenvolvidas fontes alternativas da fibra alimentar e os produtos mais inovadores, até aqueles completamente fora das convencionais farinhas integrais. É analisado a influência do sistema de processo adotado pela ZINI BRASIL sobre a funcionalidade das fibras e os efeitos na saúde, além de apresentar resultados e progressos na produção de misturas e produtos semi-industrializados alimentícios, com ingredientes específicos à base de fibra. O setor ZINI FIBRAS disponibiliza para técnicos e operadores de alimentos no Brasil, que querem aderir a esta utilização das fibras, uma completa documentação de suporte técnico, porque alimentação integral está longe de ser uma moda, está se tornando uma necessidade na dieta moderna. Sem esquecer que o caminho das fibras, na visão moderna da ZINI BRASIL, pode perfeitamente “baratear” os custos dos alimentos preparados e industrializados. ZINI BRASIL – Alimentos de última geração Engº Marco Vezzani Diretor de Inovação – São Paulo - BRASIL marco@zini.com.br Tel: 11 3931.7993 / Fax: 11 3931.9743 www.zini.com.br - Visite Zini Itália: www.pastazini.it ...Estes italianos inventam cada uma...


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¦Manejo¦ O Tempo, A Chave Por: Eng. Domingo Yanucci | Consulgran - Granos - Grãos Brasil

Sabemos que o tempo é uma das principais variáveis em todas e em cada uma das operações que se realizem. No manejo de grãos a coisa não é diferente. Um velho ditado diz “entre um bom e um ruim fazendeiro temos 2 semanas de diferença”. Aqui o que pretendemos resgatar é a oportunidade das tarefas a serem concretizadas. Sabemos que em uma lavoura temos muitas variáveis, principalmente de caráter ambiental que afetam, mas na pós-colheita de grãos (armazenamento – conservação) também temos grandes diferenças em função do tempo. Vejamos alguns exemplos: 1) Armazenamento: Temos diferença em secar imediatamente ou esperar dias , semanas para a secagem ? Na medida em que não se faz a secagem imediatamente, favorecemos o desenvolvimento dos fungos, uma vez iniciado seu desenvolvimento é muito mais difícil detêlo. Lembremos também da sucessão ecológica, que vai dando uma troca na espécie predominante, sobre tudo em Aspergillius. Um grão que se armazena úmido, terá depois uma conservação mais difícil, requerendo maiores cuidados em todos os sentidos. As curvas de TAS (Tempo de Armazenagem Seguro) nos orientam sobre a armazenagem úmida e sabemos que se vai consumindo parte de sua vida útil de conservação, na medida em que se demora a secagem. 24 | Revista Grãos Brasil |Setembro/Outubro 2016

Eng. Domingo Yanucci | graosbr@gmail.com


Acesse: www.graosbrasil.com.br as previnem. A manutenção preventiva resulta em grandes satisfações e é sempre recomendável. Claro está que se necessita de organização, uma previsão e disponibilidade de pessoal para concretizá-la. De outra forma as máquinas quebram quando se usam levando a paradas inoportunas e a correr atrás de pessoal e de reposição nos momentos em que deveríamos estar recebendo produtos e procedendo a secagem.

2) Resfriamento: Temos diferença se resfriamos imediatamente ou se esperamos 2 ou 3 semanas ? Uma porcentagem ainda muito alta trabalha com a aeração descendente, o que faz com que se esperem completar o silo para iniciar a aeração, isto retarda o resfriamento. E uma porcentagem ainda maior dos depósitos tem uma aeração pobre que os leva a necessitar de 2 a 3 semanas para resfriar. Será diferente resfriar em 5 dias ou em 15 ?, sem dúvida que sim. Porque para cada 5ºC de temperatura se duplicam os ritmos respiratórios e portanto as perdas, o desenvolvimento de fungos, etc..; por outro lado a infestação que vem do campo continua seu desenvolvimento normal na medida em que se tem calor suficiente. O ciclo do gorgulho que em temperaturas de 25-28ºC se completa em 30 dias, com temperaturas de 15ºC pode levar mais de 60 dias, e se a temperatura se mantiver baixa, às vezes não se cumpre todo o ciclo. Tanto o prolongamento do ciclo para chegar a adulto, como a oviposição, como o consumo, tudo se reduz quando se pode baixar a temperatura rapidamente. Por esta razão também os equipamentos de refrigeração artificial geram bons resultados, não só porque se consegue menores temperaturas meses antes de chegar o frio, mas também porque se pode em 1 ou 2 dias alcançar o que com uma aeração convencional demoraria 15. 3) Limpeza (peneiras): Fazemos antes ou deixamos para depois da secagem ? Este é um tema muito interessante. Se fizermos a limpeza antes da secagem, a perda de grãos será menor, a segurança na secagem aumenta, se evita secar ME úmida, e isto trará muitas vantagens operativas do ponto de vista armazenamento, mas obriga a dispor da ME praticamente em forma diária; isto se resolve bem no caso de ter um destino, por exemplo para alimentação animal. No caso que não se possa dispor diariamente dos residuos úmidos, tem que se peneirar depois da secagem, assim as perdas e os gastos são maiores, mas nos dá tempo para trabalhar na venda do sub-produto.

5) Atualização/Capacitação: Esperamos ter um problema para solucionar ou buscamos sempre o melhor? Tem um velho ditado que diz: “o inteligente soluciona problemas, o sábio os evita”. Porque uma vez que já diagnosticamos um problema já estamos pagando seu custo. Aqui também o “timing” é fundamental, pois quando se trabalha na capacitação temos uma equipe preparada para enfrentar os desafios diários. Só a gente que sabe o que faz e o que passa pode tomar as medidas certas. 6) Tratamentos terapêuticos: Se realizam quando se recebe, quando se detecta pragas ou quando se vai escoar ? Este é um tema no qual devemos mudar de mentalidade de bombeiro (o que apaga incêndios): que ataca o problema ao invés de preveni-lo. Tratamentos terapêuticos de último momento preocupados em evitar castigos é a melhor prova de que não se está fazendo bem as coisas. Isto implica em maiores perdas de peso, maiores perdas de qualidade, maiores custos e maiores riscos para todos. Sempre e em toda terapêutica, é melhor prevenir do que curar, sobretudo na pós-colheita onde em muitas oportunidades as infestações passam desapercebidas. Esta prevenção como sabemos se baseia na limpeza e no tratamento da instalação, no uso de luta física (frio por exemplo) e os inseticidas que sejam residuais ou fumigantes sobre o grão o quanto antes possível. Enfim, poderíamos seguir avançando em muitos pontos nos temas operativos de manejo, mas temos um tempo justo para cada coisa: nos aspectos relacionados a ajustes, capacitação e assistência técnica o quanto antes se concretizem, melhor.

4) Manutenção: Devemos instrumentar ele de forma preventiva ? Aqui encontramos uma das principais diferenças entre os que trabalham esperando que as coisas aconteçam e os que GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO |25


¦Tecnologia¦ Projeto de Unidades Armazenadoras de Grãos Por: Dr. Luís César da Silva|Universidade Federal do Espírito Santo – UFES | CCA

O empreendimento unidade armazenadora de grãos trata-se de um importantíssimo elo de cadeias produtivas de matérias primas agroalimentar. E o mesmo pode estar vinculado a empresas de exportação, indústrias de beneficiamento e, ou, transformação, cadeias produtivas de carnes, ou ainda, cadeias produtivas de ração para animais domésticos. Sob aspecto logístico, as unidades armazenadoras prestam serviços de armazenagem e agregam dois importantes valores: (i) a oferta de produtos ao longo do tempo; e (ii) a disponibilidade do produto em local estrategicamente definido. Para agregação desses valores três estratégias devem ser observadas: localização, transporte e estoque. Estratégia de localização A estratégia de localização aplica-se, principalmente, quando da elaboração do projeto para definir o local estratégico para edificação. Nos estudos devem ser considerados, por exemplo: (i) rotas de transporte para recepção e expedição de produtos; (ii) prováveis frequências de viagens que os agricultores irão fazer por ocasião da colheita; (iii) localização das regiões produtoras e as quantidades produzidas nas mesmas; (iv) disponibilidade de energia elétrica; (v) disponibilidade de combustível para secagem – lenha ou gás; e (vi) questões geotécnicas, principalmente, quanto a profundidade do lençol freático, 26 | Revista Grãos Brasil |Setembro/Outubro 2016

para evitar a ocorrência de infiltrações em graneleiros, inundações de túneis e instabilidade de edificações. Para condução dos estudos podem ser empregadas ferramentas de pesquisa operacional como programação linear (PL), modelagem e simulação aplicada a soluções de problemas de roteamento de veículos - VRP (Vehicle Routing Problem), e programas de geoprocessamento, como o gvSIG (www.gvsig.org).

Dr. Luís César da Silva | silvalc@agais.com


Acesse: www.graosbrasil.com.br Estratégia de transporte Essa estratégia está relacionada a definições quanto aos modais de transporte e os tipos de veículo a serem empregados. Os modais empregados podem ser rodoviário, ferroviário ou aquaviário. Ao optar pelo modal rodoviário são ponderadas questões, como: (a) opção por frota própria para recepção e, ou expedição; (b) modelos de caminhões a serem empregados, ou (c) opção pela terceirizar do transporte das cargas. Como citado para estratégia de localização, ferramentas de pesquisa operacional podem ser utilizadas para fundamentar o estabelecimento da estratégia de transporte para otimizar a execução do serviço ao menor custo. Estratégia de estoque A estratégia de estoque fundamenta-se na: (i) previsão de estoque; (ii) escolha da tecnologia de armazenagem; (iii) decisões de estoque; e (iv) decisões relativas à compra de suprimentos. A previsão de estoque deve ser conduzida na fase de elaboração do projeto, bem como, durante a operação. Essa previsão fundamenta-se em levantamentos de produtividade, produção e épocas de colheita na área de abrangência do empreendimento. Associado a essa previsão, devem ser levantados o perfil das cargas de produtos provenientes das lavouras, no que se refere: tipo de veículos empregados, teores de água e de impureza das cargas e possíveis horários e dias de chegadas. Essas informações são essências para elaboração do projeto e gestão do sistema.

A tecnologia de armazenagem está relacionada à definição dos processos a serem adotados no pré-processamento e armazenagem. Portanto, dentre outras questões, devem analisadas: tipo de secador a ser empregado; uso da secaaeração; uso da armazenagem em ambiente natural ou em ambiente de atmosfera modificada; emprego da refrigeração do produto armazenado; acondicionamento do produto em silos de concreto ou metálicos ou em graneleiros. As decisões de estoque referem, principalmente, ao planejamento das expedições, de tal forma haver espaço disponível na unidade por ocasião dos períodos de colheita. Nesse caso, se o empreendedor tiver mais de uma unidade armazenadora poderá remanejar estoques entre as unidades. Essas decisões devem ser ponderadas quando da elaboração do projeto, bem como, na gestão do sistema. Quanto à decisão de compra de suprimentos, como combustível e defensivos, deve ser ponderada na fase de projeto e de operacionalização do sistema. E se executada adequadamente menores serão os custos operacionais. Elaboração e projeto Tomando, por exemplo, unidades armazenadoras coletoras, têm-se que esse sistema deve possuir: (i) estruturas: moegas, silos-pulmão, silos para seca-aeração, silos e, ou graneleiros para armazenagem, e sistema de expedição; (ii) maquinários: máquinas de pré-limpeza, máquinas de limpeza e secadores; e (iii) transportadores: correias transportadoras, elevadores, transportadores de corrente (redlers), transportadores helicoidais, ou transportadores pneumáticos. A elaboração do projeto pode ser organizada em nove etapas, que compreendem o dimensionamento do: (1) setor de secagem; (2) setor de recepção – moegas e solospulmão, (3) setor de máquinas de pré-limpeza e limpeza; (4) setor de seca-aeração; (5) setor de armazenagem; (6) setor de expedição; e (7) sistema de transporte de grãos; e complementando, as elaborações do (8) fluxograma operacional, e (9) projeto arquitetônico. Dimensionamento do setor de secagem O dimensionamento do setor de secagem fundamentase no levantamento das quantidades de produto úmido e sujo a serem recebidas, a duração das safras, horário de atendimento e horário de processamento. Dessa forma, são estimadas as quantidades de produtos a serem recebidas por dia e para esses cenários é calculada a demanda horária de secagem (t/h). Considera-se a situação critica, seleciona um modelo de secador e então é calculado o número de secadores a serem instalados no setor de secagem. O projetista poderá optar por secadores de altas capacidades horárias como os de fluxos mistos tipo cavalete ou tipo coluna, ou secadores de fluxos cruzados. As capacidades horárias nominais mais empregadas são de 40 a 100 t/h. Dimensionamento de recepção Calculada a capacidade horária do setor de secagem é GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 27


¦Tecnologia¦ possível definir os fluxos operacionais máximos e mínimos da unidade para cada produto. A capacidade horária nominal dos secadores normalmente é definida para reduzir o teor de água do produto de 18 para 13%. Cargas com teores de água superior a 18% passam por mais de uma vez pelo secador, o que reduz a capacidade horária do setor de secagem. Isso faz aumentar a extensão das filas na recepção. Portanto, nessa fase do projeto, considerando as condições de pico, deve ser definida a extensão máxima das filas, o tempo máximo de retenção do produto úmido nas moegas, para então serem calculados os números de moegas e de silos-pulmão, bem como, as capacidades estáticas dessas estruturas. Observação: preferencialmente, os silos pulmão devem possuir fundo inclinado para facilitar a descarga de produtos úmidos. Dimensionamento do setor de máquinas de pré-limpeza e limpeza Normalmente, as unidades armazenadoras que utilizam secadores de fluxos mistos tipo cavaletes têm instalado as máquinas de pré-limpeza antes dos secadores, e as de limpeza após. Nesse caso, a instalação da pré-limpeza é necessária para diminuir o risco de incêndio no secador. Para outros modelos de secadores, como os de fluxos mistos tipo coluna, normalmente procede-se a limpeza dos grãos após a secagem. Isso é possível, quando as cargas recebidas apresentam teor de impurezas abaixo de 2%, e as impurezas secas tem valor comercial. Caso contrário à operação de limpeza deve ser feita antes da secagem. Considerando a opção por um secador de fluxos mistos tipo cavalete, os números de máquinas de pré-limpeza e limpeza devem ser definidos para condição de máxima capacidade horária do secador da linha. Definido esse fluxo máximo, escolhe-se os modelos das máquinas e em função da capacidade horária das mesmas é calculado o número dessas máquinas. Dimensionamento do setor de seca-aeração Na operação de seca-aeração, os grãos quentes e com dois pontos de teor de água acima do ideal para armazenagem, são removidos do secador e acondicionados em um silo, onde permanecem em descanso por 4 a 8 horas e depois é aerado por 8 a 10 horas com ar ambiente. Para seca-aeração deve-se aplicar um fluxo de 500 a 1.000 L de ar/min . t de produto. Dessa forma, o produto não é resfriado no corpo do secador, podendo, portanto ser conduzida a secagem em torre inteira, o que aumenta a capacidade horária do secador e reduz a extensão de filas no recebimento. A seca-aeração é normalmente empregada na secagem de arroz. Mas devido aos benefícios deve ser estendida a outros produtos. Assim, na elaboração de projetos de unidades armazenadoras, o ideal é que cada linha de secagem conte com dois silos para seca-aeração. A capacidade estática de cada um deve ser equivalente à quantidade máxima 28 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

de produto prevista para ser recebida em um dia de funcionamento. São necessários dois silos, porque enquanto um está sendo cheio, no outro estará sendo conduzida a insuflação de ar, e no dia seguinte ocorrerá à inversão. Ao final da seca-aeração teor de água o produto será o ideal para armazenagem e a temperatura estará próxima da ambiente. Observação, ao final da safra os silos de seca-aeração deverão ser utilizados como silos para armazenagem. Dimensionamento do setor de armazenagem O dimensionamento do setor de armazenagem é feito considerando os fluxos mensais de produto limpo e seco proveniente do setor de secagem e os fluxos de expedição programados. Assim, as diferenças picos para quinzenas ou meses dos fluxos determinarão as necessidades de espaço para armazenar os produtos, o que permitirá definir o número de silos e as capacidades estáticas dos mesmos. No caso de graneleiros será determinado o número de células e as capacidades estática das mesmas. Com essas informações podem ser conduzidos os projetos dos sistemas de aeração e, ou refrigeração dos produtos a serem armazenados. Dimensionamento do setor de expedição De acordo com os dados do plano de expedição mensal é possível calcular os dias de pico para expedição dos produtos. Considerando os quantitativos a serem expedidos diariamente, as capacidades estáticas os veículos utilizados para expedição – por exemplo, caminhões ou vagões, e o tempo para carregamento desses veículos é calculado o número de pontos de expedição e a capacidade estática dos mesmos. O deposito do setor de expedição pode ser caixas metálicas ou em concreto, ou silos metálicos. Essas estruturas devem apresentar fundo inclinado para descarga por gravidade.


Dimensionamento do sistema de transporte de grãos O dimensionamento do sistema de transporte de grãos implica na seleção dos equipamentos segundo os fluxos horários (t/h) dos Setores de Secagem e de Expedição. Assim, conforme a demanda do setor de secagem, os transportadores que interligarão as moegas, máquinas de limpeza e de pré-limpeza, silos pulmão, secadores, silos de seca-aeração e o setor de armazenagem são selecionados. E de forma semelhante, conforme a demanda de fluxo horário do setor de expedição é feita a seleção dos equipamentos que interligam o setor de armazenamento ao setor de expedição. Os equipamentos de transporte serão selecionados quanto à capacidade horária, extensão no caso de transporte horizontal ou inclinado e a altura no caso dos elevadores de caçamba. Para cada uma dessas situações são indicados motores elétricos apropriados. Elaboração do fluxograma operacional A elaboração do fluxograma visa projetar as interligações entre estruturas e maquinários segundo a lógica operacional. Essas interligações devem possibilitar diversas alternativas de fluxos de produto, como por exemplo, proporcionar a operação do secador de forma intermitente, carregar e descarregar os silos-pulmão, alternar o fluxo de grãos entre linhas de processamento, direcionar o fluxo de produto seco diretamente para o setor de expedição, e outras possibilidades. Proposição da configuração arquitetônica Na proposição do projeto arquitetônica, o leiaute é concebido segundo o fluxograma operacional e se há planos de expansão da unidade. Se não há previsão de expansão, o leiaute indicado é à disposição dos silos armazenadores de forma circular, o que reduz o número de transportadores, caso contrário opta-se pelo leiaute linear da bateria de silos. Na proposição do projeto arquitetônico deve-se minimizar os custos com a aquisição de transportadores. Exemplo, a depender da localização de máquinas e estruturas, pode implicar em elevadores mais altos em razão do ângulo de repouso dos produtos. Nesse caso, devese buscar a melhor alternativa de locação de estruturas e maquinários. Outro detalhe é minimizar a ocorrência de espaços confinados, bem como, riscos de explosões. Elaborado o projeto arquitetônico dá-se andamento ao: (i) levantamento geotécnico do local escolhido para edificação da unidade; (ii) elaboração dos projetos: estrutural, elétrico, hidráulico e de combate de incêndios; e (iii) atendimento das exigências dos órgãos ambientais. Análise de viabilidade técnica A análise de viabilidade técnica é feito mediante a suposição de vários cenários de previsão de quantidades de produtos a receber e expedir. Para tanto, pode se utilizar da experiência de um projetista experiente para emitir


¦Tecnologia¦ pareceres quanto ao desempenho do sistema. Ou empregar a técnica de modelagem e simulação, que possibilta detectar gargalos operacionais quanto à retenção de fluxos de produtos e obter informações quanto aos: (i) consumos de lenha e energia elétrica; (ii) extensões de filas de caminhões na recepção e expedição; (iii) índice de uso de cada um dos elementos do sistema; (iv) movimentação de produtos por cada elemento do setor de armazenagem silos ou células dos graneleiros, sendo possível detectar as condições de pico e de rotatividade. Para modelagem da dinâmica operacional de unidades armazenadoras pode ser empregada, por exemplo, a linguagem de simulação Extend® (www.extendsim.com). Os modelos, Figura 1, são elaborados segundo o fluxograma operacional e características do sistema. Para mais informações viste www.agais.com.

Figura 1. Modelo computacional de uma unidade armazenadora empregando o Extend®.

Análise de viabilidade econômica A análise de viabilidade econômica é pautada na avaliação do fluxo de caixa para um período de trinta anos no caso de unidades armazenadoras. O fluxo de caixa corresponde à série das diferenças mensais ou anuais entre benefícios (entradas) e custos (saídas). Os benefícios referem às receitas dos serviços prestados, quanto ao: recebimento, limpeza, secagem, armazenagem por um dado período de tempo e expedição. Os custos referem aos investimentos de implantação do empreendimento e durante o período de operacionalização corresponde a: folha de pagamento, energia elétrica, combustível para secagem, manutenções, depreciação, seguros, tratamentos para controle de pragas, etc. Na avaliação econômica os indicadores, normalmente, empregados são: (a) relação benéfico-custo - RBC; (b) valor presente liquido - VPL; (c) tempo de retorno - TR e (d) taxa interna de retorno - TIR. Para aprimorar a análise de viabilidade econômica procede-se à análise de risco. A análise de risco é uma técnica de modelagem e simulação, em que o modelo é uma planilha eletrônica elaborada para calcular o fluxo de caixa. 30 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

Nessa planilha algumas células são variáveis aleatórias e terão os valores previstos por meio de distribuições, como: Beta, Gama, Logarítmica, Lognormal, Normal, Weibull, etc. Variáveis aleatórias são variáveis que tem os valores associados a uma probabilidade de ocorrência. Por exemplo, para unidades armazenadoras as quantidades de produtos recebidas e expedidas são variáveis aleatórias, consequentemente, as quantidades mensais armazenadas também são. Dessa forma, no fluxo de caixa, variáveis associadas às receitas de recebimento, armazenamento e expedição, bem como, custos com seguro das quantidades armazenadas, energia elétrica e combustível são variáveis aleatórias. Portanto, para essa situação os indicadores RBC, VPL, TR e TIR comportam como variáveis aleatórias. Assim, por exemplo, ao proceder à simulação de mil cenários do fluxo de caixa, a planilha será recalculada mil vezes. A cada recálculo da planilha as células descritas por distribuição terão valores definidos aleatoriamente. Desse modo, os indicadores RBC, VPL, TR e TIR terão mil possíveis valores. Nesse caso, ao interpretar esses mil cenários, poderá, por exemplo, surgir a seguinte afirmação: “há uma probabilidade 25% da RBC ser superior a 1,9; no entanto, há probabilidade de 0,2% de ser inferior a 1,1”. Ponderações finais Nesta matéria são apresentadas ponderações e um possível roteiro a ser seguindo para elaboração de projetos de unidades armazenadoras. Vale ressaltar, que importante é os projetistas e empreendedores utilizarem de ferramentais que os auxilie avaliar e fundar a tomada de decisão quanto às viabilidades técnicas e econômicas do empreendimento unidade armazenadora a ser implantado.


¦ Secagem¦ Produção, secagem e armazenagem de café. Por: Prof. Valdecir A. Dalpasquale, Ph.D.| E3 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Este material foi extraído do livro Secagem e Armazenagem de Café, do autor deste artigo, publicado pela Novas Edições Acadêmicas. Outros dois artigos a serem publicados nas próximas edições desta revista tratarão sobre secagem e armazenagem de café, respectivamente. Trata inicialmente de produção de café, assunto não abordado por esta revista, mas, pelos motivos já apresentados, dá início ao assunto de pós-colheita de café. INTRODUÇÃO Café no desjejum, puro ou com leite, cafezinho no bar em intervalos de descanso, café como acompanhamento de refeições, especialmente em climas frios, são formas comum de se beber café. Há prazer nisso quando ele é bom, mas se é forçado a doses crescentes de açúcar quando o café traz agregado, sabores ruins e cheiros desagradáveis ao paladar. O café pode permitir vários tipos de bebida, tanto pela diversidade de tipos de café quanto pela mistura de diferentes tipos. É difícil encontrar no mercado café moído oriundo de um único tipo. É mais comum mistura de diferentes tipos de café para se atender nichos distintos do mercado, tanto por preço quanto por qualidade. Diferentes tipos de um mesmo café podem originar na decisão da época de colheita, na forma em que ela é feita e no beneficiamento a que o café é submetido, até a hora de ir para a xícara do consumidor. Isso indica que produzir café de qualidade até que não é tão difícil: a arte maior

em agregar valor à qualidade do café parece estar em seus tratos pós-colheita.

Prof. Valdecir A. Dalpasquale, Ph.D. | dalpasquale@secarmazena.com.br GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 31


¦Secagem¦ Características gerais Café é uma planta tropical que produz frutos com duas sementes envolvidas pelo endocarpo, conhecido como pergaminho. As sementes são cercadas pelo mesocarpo, ou mucilagem, e tudo isso é mantido pelo epicarpo, a casca do fruto de café. As partes do fruto de café são mostradas na figura 1. Tecnicamente, as duas camadas exteriores, o mesocarpo e o epicarpo, devem ser removidos para tirar as sementes de café de dentro da baga, produzindo o café beneficiado. O fruto original de café com todas as suas partes e depois de seco é referido como café em coco. O café é colhido úmido como cerejas, ou bagas, mas consumido como bebida extraída de sementes secas e torradas. Para ir do estágio úmido à fase seca, o café cereja pode ser processado pela via seca ou pela via úmida.

submetida a um processo de despolpamento, onde o café cereja tem seu pericarpo (camada mais externa, macia e vermelha ou amarela) removido geralmente por pressão, o processamento é denominado via úmida. Nesse procedimento, esse tipo de café é separado daquele mais duro, ainda imaturo, que comumente vai para secar como frutos inteiros. A porção despolpada segue para um processo de degomagem ou demucilagem, que consiste na remoção de sua mucilagem em menos de vinte horas de fermentação, dependendo do clima. Mucilagem, ou mesocarpo,é uma camada rica em açúcares e umidade que recobre as sementes. Depois da demucilagem, o café é lavado em água limpa e enviado para secar. O café resultante não é mais o tipo café em coco, mas sementes revestidas pelo endocarpo, e o café passa a ser denominado de despolpado ou em pergaminho. Fruto de café processado desse modo produz bebida do tipo lavado. Os processos aos quais frutos de café podem ser submetidos, desde a colheita até o armazenamento, podem ser vistos na figura 2. Todos esses processos podem ser executados na fazenda. O armazenamento, entretanto, é usualmente feito em cooperativas agrícolas ou por compradores intermediários, onde o café em coco é beneficiado e classificado em peneiras, podendo inclusive receber algum polimento, antecedido por seleção eletrônica mais refinada. Nessa fase, o café é denominado beneficiado e está pronto para ser torrado pela indústria.

Figura 1. Partes do fruto de café

Na fase inicial de preparo os dois processos são semelhantes. Depois de colhido, o café é colocado em tanques com água, onde folhas, ramos e alguns frutos de café menos densos que a água flutuam (café bóia) e são separados de frutos imaturos (verdes em cor) e frutos tipo cerejas maduras vermelhas ou amarelas, que decantam junto com impurezas pesadas, como pedras. Após a imersão, o café é separado em dois grupos, um deles composto pelo café verde e pelo cereja, retirado do fundo do tanque, e outro composto pelo café bóia da massa flutuante. Esses dois grupos distintos seguem para secagem e são ditos cafés processados por via seca. A bebida extraída de café cujos frutos sofreram esse tipo de tratamento é dita como sendo de café não-lavado. Nova terminologia tem sido proposta65 objetivando melhor marketing do produto. Café secado dessa maneira é dito natural, pois pouco foi interferido em sua constituição durante a secagem. Nela, foi possível transferir algum sabor adocicado às sementes, característica quase que exclusiva de cafés brasileiros. Tal café também tem acidez baixa a moderada, com aroma e corpo pronunciados. Quando a porção decantada dos frutos de café é 32 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

Figura 2. Possíveis tipos de processamento pós-colheita de café.

Na colheita, os frutos de café têm teor de umidade muito alto que deve ser reduzido para manter a qualidade do produto. A qualidade do produto final pode ser afetada por cada passo do processamento, quer seja pela via úmida, quer seja pela via seca. O número alto de tipos de café que chegam ao mercado é devido a mudanças no produto que


Acesse: www.graosbrasil.com.br alteram sua qualidade. Essas modificações podem começar ainda no campo. Elas podem continuar no processamento do café, incluindo aí as diferentes maneiras de secagem a que ele pode ser submetido. As alterações no produto podem também aumentar durante o seu armazenamento. Técnicas de colheita Frutos de café da mesma planta atingem o estágio de maturação em épocas diferentes e isso tem forte dependência das condições climáticas. Como resultado, diferentes tipos de frutos podem ser encontrados se a colheita for efetuada uma única vez na estação. Porém eles podem ser colhidos individualmente quando os primeiros deles estiverem prontos para colher. A colheita pode ser manual ou mecânica. A colheita manual ainda é a mais comum em todo o mundo e ela pode ser seletiva ou por derriça. A colheita seletiva ocorre diversas vezes durante a mesma estação, quando apenas os frutos no estágio cereja são colhidos. Na colheita por derriça manual, ela é feita uma única vez. A colheita mecânica, à semelhança da colheita manual por derriça, é feita somente uma vez, quando a maioria dos frutos atinge o estágio ótimo de colheita, o estágio cereja. A porcentagem de frutos verdes deve estar entre 5% e 10%, sem que, entretanto, haja frutos já secos, pois eles cairão durante a colheita. Colheita mecânica seletiva ainda não está disponível no mercado, mas pesquisas têm sido conduzidas para adequar as máquinas para tal fim. Colheita seletiva ou a dedo Colheita seletiva é a técnica de colher em que frutos de café são removidos individualmente das plantas, conforme pode ser visto na figura 3, o que é feito quando eles atingem estágio adequado de maturidade.

Figura 3. Colheita de café, seletiva ou a dedo.

Em fazendas onde essa técnica de colheita é usada, ela é repetida sequencialmente, pois frutos de café atingem a maturidade em tempos diferentes, na mesma planta, na mesma estação de colheita. Colheita seletiva sequencial exige mão-de-obra numerosa, porque ainda não há equipamento mecânico capaz de executar tal operação. É um modo caro de colheita, mas pode produzir o melhor café para o mercado internacional, e com elevados retornos financeiros. Café colhido a dedo tem a vantagem de já vir separado do campo, pois apenas um tipo é colhido. Fora do campo, ele pode ir diretamente para a secagem ou pode ser processado por via úmida, o que deve ser preferido e é geralmente feito. Produtores de sementes de café preferem esse tipo de processo. Derriça manual A colheita de café pode ser feita uma única vez quando frutos em alta porcentagem estejam maduros. Os frutos verdes devem representar menos que 20% da população colhida. Nesse estágio, uma planta terá grãos imaturos de coloração verde, café cereja de coloração avermelhada ou amarelada e café já escurecido que sofreu alguma fermentação na planta, o café bóia ou passa. Isso indica que alguns não estariam ainda prontos para a colheita (frutos verdes), os frutos vermelhos ou amarelos (maioria) estariam em seu melhor estágio de desenvolvimento e prontos para a colheita, além daqueles escurecidos que mostram que seu tempo ótimo de colheita já passou. Se colhidos todos ao mesmo tempo, o primeiro (verdes) e o último (passas) tipos de fruto de café irão diminuir a qualidade do produto final. Mesmo o café cereja poderá produzir bebida de pouca qualidade, se não for adequadamente processado após ser removido das plantas. Café derriçado manualmente sobre um pano pode ser visto na figura 4. A derriça manual é o método mais comum de colheita de café, pelo qual todos os frutos, não importa a maturidade deles, são colhidos juntos ao mesmo tempo. Uma mão GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO | 33


¦Secagem¦ envolve uma extremidade de um galho com frutos e é arrastada até a outra ponta, removendo todos os frutos do galho. Eles caem diretamente no solo, ou em esteiras ou lonas colocadas debaixo da árvore logo antes da colheita, conforme indicado na figura 4. A primeira técnica, especialmente, deve ser evitada se a terra estiver molhada, ou se os frutos não puderem ser apanhados imediatamente do solo, no máximo, no mesmo dia. A derriça do café no solo aumenta os riscos de fermentação e contaminação do produto por microorganismos do solo, o que introduz alterações no aspecto e proporciona sabor de barro ou terra na bebida resultante.

Figura 4. Colheita de café por derriça manual sobre um pano.

Eles caem diretamente no solo, ou em esteiras ou lonas colocadas debaixo da árvore logo antes da colheita, conforme indicado na figura 4. A primeira técnica, especialmente, deve ser evitada se a terra estiver molhada, ou se os frutos não puderem ser apanhados imediatamente do solo, no máximo, no mesmo dia. A derriça do café no solo aumenta os riscos de fermentação e contaminação do produto por microorganismos do solo, o que introduz alterações no aspecto e proporciona sabor de barro ou terra na bebida resultante. A derriça manual tem influência direta na qualidade do café e seus custos de colheita. Em algumas regiões 67 ela ocupa em torno de 70% da mão-de-obra do ano, o que se converte em 40% a 60% do custo de produção de uma saca de café. A mão-de-obra necessária para a colheita manual pode variar de 20 a 100 homens por dia, para cada hectare. É comum usar-se 50 diárias (homens/dia) por hectare. O quadro 1 mostra mão-de-obra dispendida para colher café, de acordo com a produtividade de área.

Quadro 1. Mão-de-obra necessária para colheita manual de café, de acordo com a produtividade.

Colheita mecânica O melhor modo de colher frutos de café em uma única vez é com o uso de colhedoras mecânicas. É mais rápido e mais eficiente que colheita manual, mas exige que as plantas estejam espaçadas convenientemente para permitir a passagem das máquinas. Embora seja o modo mais eficiente de colher, é ainda pouco praticado, porque alguns problemas principais precisam ser resolvidos: a) café é uma cultura tropical só produzida em países com baixos custos de mão-de-obra; b) as lavouras são geralmente implantadas em colinas e áreas montanhosas impróprias para colheita mecânica; c) as colhedoras atuais ainda estão na fase primária de desenvolvimento e, por isso também, são de elevados custos para aquisição, e d) pesquisas agronômicas ainda precisam ser conduzidas para adaptar plantas de café à colheita mecânica. Dois tipos de colhedoras mecânicas são mostrados nas figuras 5 e 6. A primeira delas é auto móvel e a outra, tracionada por trator.

Figura 5. Derriçador mecânico de café, auto móvel. 34 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016


Acesse: www.graosbrasil.com.br mais pesados, juntamente com material estranho pesado como pedras e torrões maiores. O café bóia, aquele que já sofreu fermentação da mucilagem, flutua juntamente com folhas, ramos e demais materiais leves. Daí o nome café bóia. A submersão do café cereja remove parte de uma camada viscosa que ele tem ao redor dos frutos, facilitando a secagem. Têm-se, assim, dois grupos de café: aquele composto pelo bóia e outro pela mistura do café verde e do café cereja, que submergiram no tanque. Produtores que não atentam para a qualidade do produto final levam toda a safra diretamente do campo para o terreiro, sem qualquer separação dos tipos de café. O produto final, após a secagem, é geralmente de péssima qualidade em relação àquilo que poderia ser obtido e, por isso mesmo, não recebe maiores comentários aqui.

Figura 6. Derriçador mecânico de café, tracionado por trator.

Café colhido por derriça manual ou mecânica não deve ir diretamente para secagem depois de ter sido colhido. O produto colhido, nesses casos, é uma mistura de frutos verdes ou imaturos, frutos prontos e outros já passados do estágio ótimo de colheita, além de impurezas como folhas, ramos, pedras pequenas e porções de solo que vêm com os frutos. Para se livrar do material estranho, o café colhido por derriça manual é parcialmente limpo por peneiramento manual (abanação) do produto junto às plantas. As colhedoras mecânicas fazem essa limpeza em sistemas de peneiras e ventiladores. Preparo do café para secagem Quando o café é colhido todo em uma única vez, os diferentes tipos de frutos que compõem a massa não devem ser secados juntos. Ao invés disso, eles devem ser separados em grupos homogêneos para receber secagem mais uniforme. Frutos imaturos são maiores em tamanho, têm teor de umidade mais alto (ao redor 60% - 70%) e não estão ainda completamente desenvolvidos. O café cereja está em seu estágio ótimo de desenvolvimento e o seu pericarpo externo, a epiderme está mais permeável à evaporação de umidade. O teor de umidade dos frutos nessa fase é quase tão alto quanto no imaturo (entre 50% e 60%), mas sua secagem é mais rápida. Os frutos escurecidos já ultrapassaram o estágio ideal de colheita e já perderam boa parte da sua umidade, mas ainda retêm de 30% a 40% dela. Eles também sofreram fermentação descontrolada da sua mucilagem, o que irá reduzir a qualidade da bebida extraída desses frutos. Depois de deixar o campo, frutos de café colhidos misturados quanto ao tipo devem ser submetidos à separação no mesmo dia da colheita, devido à presença de frutos com diferentes níveis de maturidade. O modo mais comum de separação é pela colocação de um lote de café em um tanque com água corrente, comumente denominado lavador. O café verde e o cereja submergem, por serem

Modo seco de preparo - via seca ou natural No modo seco de preparo, os frutos de café são secados inteiros em dois lotes distintos, independentemente da técnica de secagem usada. Tanto o lote de café bóia como aquele composto por café verde e café cereja produzirão bebida conhecida comercialmente como não-lavado, cada um com qualidade diferente, mas sempre de qualidade inferior a outras técnicas a serem apresentadas. Modo úmido de preparo - via úmida No modo de preparo por via úmida, o café verde e o cereja passam por um equipamento onde são separados por pressão. O café verde, por ser mais resistente, é separado inteiro do cereja. Esse tem seu pericarpo externo (epiderme) removido e segue para um processo de degomagem ou demucilagem, que é o processo de remoção da mucilagem que está entre a epiderme e o pergaminho que recobre as sementes. O café verde pode ter sua epiderme removida por processos mecânicos e ser submetido à degomagem semelhante à do café cereja. Comumente, isso não é feito. No Brasil, está tornando comum o café cereja descascado, que é aquela cereja que recebeu pressão para remover a epiderme ou polpa e segue daí para a secagem, sem sofrer degomagem. Cafés desse tipo apresentam sabor ligeiramente doce por terem secado com a mucilagem, rica em açúcares.

GRÃOS BRASIL - DA SEMENTE AO CONSUMO |35


¦Secagem¦

Degomagem do café cereja O café cereja é comumente degomado por fermentação natural da mucilagem. Ele é colocado em tanques limpos e em camadas finas (0,20m a 0,40m) durante 12 a 20 horas, sem se colocar água, porque o processo deve ser aeróbio. A demucilagem pode ser acelerada adicionando-se alguns componentes químicos na massa, mas a adição desses componentes só é feita ocasionalmente. Demucilagem mecânica está recebendo pesquisa adicional, e é esperado que fique mais popular, especialmente no Brasil. Ao término da fermentação, o produto passa por lavagem rápida para garantir a remoção de toda a mucilagem. Esse é o modo de processar o café cereja por via úmida antes de secar, e seu produto é café despolpado ou em pergaminho. Está pronto para secar naturalmente ao sol ou artificialmente em camadas fixas ou em secadores de fluxo contínuo. Café demucilado seca, em média, três vezes mais rapidamente que café inteiro com pericarpo externo, por causa da ausência da casca, de suas dimensões menores e de seu mais baixo teor de umidade devido à remoção da mucilagem. Degomagem de café verde Nas vias úmidas de preparo, o café verde segue para secagem como frutos inteiros, após ter sido separado do café cereja. Porém a epiderme desse café pode ser mecanicamente removida, o que o torna também café em pergaminho, sendo, então, secado dessa maneira. Esse produto tem chance de produzir bebida de melhor qualidade do que aquele com casca, embora isso seja raramente feito, mesmo porque os equipamentos para remoção de sua casca ainda não estão aprimorados. 36 | Revista Grãos Brasil |Setembro/Outubro 2016

Despolpamento, degomagem e lavagem têm sido executados regularmente um após o outro. Pesquisas têm sido conduzidas abolindo-se a extração da mucilagem. Resultados preliminares mostraram café de melhor qualidade, o café descascado, mas ainda são necessárias investigações mais detalhadas para melhores ajustes no processamento de café. Após a separação dos diferentes tipos de café em tanques d’água e/ou após o despolpamento o café está pronto para secar, ou como fruto inteiro, ou como em pergaminho. Os frutos de café podem ter sido colhidos individualmente ou podem ter sido colhidos todos ao mesmo tempo, por derriça manual, ou mecânica, e são enviados para separação em tanques de água. Depois da separação nos tanques, se os frutos de café também receberem despolpamento, demucilagem e forem lavados antes de secar, a bebida de café normalmente será de qualidade mais alta e passará a ser comercializado como café do tipo lavado. Se for apenas descascado antes da secagem, o café é identificado como cereja descascado. Este artigo mostra que diferentes tipos de café podem ser obtidos, todos dependentes do tratamento pós-colheita recebido. Ele pode vir do campo todo misturado, não sofrer nenhuma lavagem e ir para o terreiro, para receber a secagem em duas semanas, mais ou menos. A bebida resultante é a de mais baixa qualidade disponível no mercado. O café pode passar inicialmente pelo tanque, onde pelo menos dois tipos podem ser separados: o café cereja e o café verde afundam, ao passo que o café bóia flutua. Eles podem e devem ser secados em pelo menos dois lotes distintos, permitindo bebida de melhor qualidade que o tipo anterior. O café cereja e o café verde podem ser separados por pressão. O primeiro tipo pode ter a mucilagem removida, possibilitando obter o melhor tipo de café. Mas isso é outro assunto. Independente do tratamento recebido por cada tipo de café vindo do campo, todos precisam de secagem. Como isso é feito é assunto para a próxima revista.


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¦ CoolSeed News ¦

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¦Utilíssimas ¦ Revista Granos

& Postcosecha Latino Americana Já está disponível a versão on-line da última edição da Granos: https:// issuu.com/graosbrasil/docs/granos113-online. Nesta última edição contamos com as seguintes matérias: Sinistros habituais nas plantas de armazenamento – Exportação de milho pisingallo e milho flint – Refrigeração artificial – Centro de investigação y desenvolvimento em tecnología de industrialização de cereais e oleaginosas – Como melhorar e incorporar valor na produção trigueira argentina – Tecnología de sementes – Mapa de riscos, controle de roedores – Uso racional dos sistemas de controle de temperatura e aereção em silos de armazenamento de granos – Perten Instrumentos soluções rápidas e vanguardia para uma industria que demanda tecnología,simplicidade e confiança – entre outras. Interessados em recebê-la contactar pelo e-mail: revista.granos@gmail.com

SIMPÓSIO PAULISTA DE SANIDADE EM GRÃOS E PRODUTOS ARMAZENADOS

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GRANOS SAC 2016 XIX EXPO PÓS-COLHEITA INTERNACIONAL

O tradicional evento de pós-colheita de precisão realizou-se com muito sucesso em Rosario (SF-Argentina). Palestrantes de nível internacional do SENASA, INTA, INTI, de empresas responsáveis do manejo de grãos, como: Los Grobo, AFA, provedores de produtos e equipamentos como Cool Seed, YPF gás, Tesma, Basf, Perten, FOSS, Ryzobacter. Exposição de novas tecnologias de secagem, conservação, monitoramento, e a visita à Renova. Participaram mais de 200 pessoas da Argentina e países vizinhos. Os organizadores, Revista Granos e Grãos Brasil, publicantes da CONSULGRAN, com o apoio da Red Argentina de tecnologia Pós-colheita de Grãos, agradecem aos que tornaram possível esta nova edição na querida Rosario, o que nos compromete a seguir trabalhando na difusão da melhor tecnologia. As próximas safras significarão um grande desafio, pelos volumes esperados e pela falta de investimento dos últimos anos no setor. Argentina retomará sua fase de crescimento, como a que tiveram Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolivia e deverá gerar os ajustes tecnológicos que permitam ganhar rentabilidade e oferecer ao mundo produtos de maior qualidade. Aqueles que desejarem receber a revista do evento e as cópias das apresentações sem custo, enviar email para consulgran@gmail.com .

Capacitação, Habilitação e Atualização de Classificadores de Milho e Soja, em Curitiba/ PR, no período de 05 a 14/12/2016

O tradicional evento de pós-colheita de precisão realizou-se A ITR TREINAMENTO LTDA irá realizar um curso oficial de Capacitação, Habilitação e Atualização de Classificadores de Milho e Soja, em Curitiba/PR, no período de 05 a 14/12/2016. Este Curso é homologado e supervisionado pelo MAPA e os aprovados receberão a Carteira emitida pelo MAPA. Pré-requisito: Ser Engenheiro Agrônomo, Engenheiro Agrícola, Engenheiro de Alimentos ou Técnico Agrícola, Técnico em Agricultura, Técnico em Agropecuária, todos com registro no MAPA. Informações: Cel: 41 9925 9214 Tel: 41 3365 6535 E-mail: clavegetal@gmail.com | Engª Agrº Ivonete Teixeira Rasêra | consulgran@gmail.com . 40 | Revista Grãos Brasil | Setembro/Outubro 2016

Participantes do evento

Participantes do Tour Técnico




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