Luís Rua Diretor de Mercados (ABPA)
RESILIÊNCIA E PLANEJAMENTO:
Avida, após eventos climáticos extremos como o que enfrentamos no Rio Grande do Sul, assume novas perspectivas e não mais será a mesma. Esse é um fato que todos reconhecemos, especialmente devido à magnitude e recorrência desses episódios. Com impacto e consequências humanas, ambientais e econômicas.
Diante deste cenário, é crucial que adotemos uma nova filosofia e lógica de planejamento em todos os aspectos. Por exemplo, o como abordar os impactos e complexidades da “reconstrução” logística. Será preciso um amplo debate e estudos específicos para que, no mínimo, os mesmos erros não se repitam. Afinal, e por exemplo, reconstruir algumas estradas, ou pontes,... no mesmo local e/ou sob as mesmas premissas, podem nos fazer colher o mesmo cenário em condições de desafios. Os riscos permanecem e chuvas extremas voltarão a ocorrer. Portanto, precisamos ir além de simples obras de recuperação e investir em contenção e contingência, visando garantir maior segurança.
Não se trata de criticar nossos representantes políticos. Governar, especialmente em tempos de crise, é uma tarefa extremamente difícil. Nenhuma infraestrutura no mundo é projetada para suportar 800 milímetros de chuva em 72 horas. Mesmo assim, é necessário criar contingências, pensar estrategicamente e somar esforços/conhecimento.
Reforço este ponto: A retomada das operações das empresas é essencial para que a economia volte a girar, oferecendo às pessoas uma visão e/ ou oportunidade de continuidade.
EDITOR AGRINEWS
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Cândida Azevedo
+55 (19) 9 9195-8144
suinobrasil@grupoagrinews.com
DIREÇÃO TÉCNICA
José Antônio Ribas Jr.
Fernanda Radicchi Campos Lobato de Almeida
César Augusto Pospissil Garbossa
COORDENAÇÃO TÉCNICA E REDAÇÃO
Cândida P. F. Azevedo
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ANALISTA TÉCNICO
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COLABORADORES
Ana Paula Bastos
Vanessa Haach
Luizinho Caron
José Andrés Nivia Riveros
Luisa Ladeia Ledo
Dayanne Kelly Oliveira Pires
Todos precisamos viver a emoção e o luto deste momento caótico. Mas é preciso olhar para frente, a vida precisa seguir, e como lideranças, temos a obrigação de orientar os caminhos. Entendendo as implicações financeiras e futuras, priorizando o planejamento adequado. Assim retomar as atividades econômicas que é parte essencial deste processo.
O papel de cada líder agro é oferecer ajuda dentro de um planejamento coordenado, garantindo que nenhuma família de produtores fique desassistida. Produtores rurais, que sempre trabalharam arduamente para alimentar o Brasil e outros países, agora precisam de nosso apoio. Há uma mobilização de produtores de outros estados para ajudar, e devemos canalizar essa energia de forma positiva e coordenada.
É imperativo implementar alternativas competentes de reconstrução para que as pessoas não vivam mais sob o constante medo das chuvas. Precisamos discutir profundamente nosso papel na recuperação e garantir que tudo volte a funcionar o mais próximo possível do normal. Especificamente, nosso produtor rural cumpriu até hoje com competência seu papel de alimentar a todos os brasileiros. O momento agora é de cuidarmos deles.
Boa leitura!
José Antônio Ribas Júnior
João Vitor Lopes Ferreira
Isadora Maria Sátiro de Oliveira
Stephanny Rodrigues Rainha
Fernanda Radicchi Campos Lobato de Almeida
Cleandro Pazinato Dias
Jade Pellenz
Fabricio Murilo Beker
Luís Rua
Daniela Pinheiro
Tamara Flores
Andrea Karoline Mascitti
Tais Regina Michaelsen Ce
Lívia Machado
Laya Kannan Silva Alves
Beatriz Ribeiro Felipe
Cesar Augusto Pospissil Garbossa
Charli Ludtke
Bruno de Moraes
Nina M de Oliveira
ADMINISTRAÇÃO
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Preço da assinatura anual: Brasil 30 $ Internacional 90 $ Revista Trimestral
ISSN
04 12
Vacinas autógenas na suinocultura – Parte I
Ana Paula Bastos, Vanessa
Haach e Luizinho Caron
Embrapa Suínos e Aves
Bem-estar animal: uma necessidade
Clarice Speridião
Silva Neta
Consultora de Serviços Técnicos em Suínos na Agroceres Multimix
Função ovariana: Estabelecendo a vida reprodutiva da fêmea suína - Parte I 18
José Andrés Nivia
Riveros, Dayanne Kelly Oliveira Pires, Luisa
Ladeia Ledo, João Vitor
Lopes Ferreira, Isadora
Maria Sátiro de Oliveira, Stephanny Rodrigues
Rainha, Fernanda
Radicchi Campos
Lobato de Almeida
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Ambiência no inverno em granjas de suínos
Cleandro Pazinato
Dias, Jade Pellenz e Fabricio Murilo Beker
Micotoxinas em suínosDeoxinivalenol (DON)
José Paulo Hiroji Sato¹ e Gefferson Almeida da Silva²
¹Médico Veterinário, MsC e DsC em Ciência Animal
2Médico Veterinário, MsC em Ciência Animal
Made in Brazil: a carne suína avançando no mundo
Luís Rua
Diretor de Mercados - ABPA
Uso de Desinfetantes na Suinocultura
Daniela Pinheiro, Tamara Flores, Andrea
Karoline Mascitti e Tais
Regina Michaelsen Ce
Do Estigma ao Estrelato: A Ascensão da Carne Suína no Coração do Consumidor
Lívia Machado
Diretora de marketing e projetos da ABCS
Pesando o sucesso: O impacto do desempenho durante a fase creche sobre o peso ao abate de suínos
Rhuan Filipe Chaves; Vinícius de Souza Cantarelli; Gustavo Gattás; Maíra Resende; Fabrício Faleiros de Castro; Cesar Augusto Pospissil Garbossa Animalnutri
Explorando alternativas à ractopamina na nutrição de suínos: aditivos em foco
Laya Kannan Silva Alves, Beatriz Ribeiro Felipe, Cesar Augusto Pospissil Garbossa ¹SLaboratório de Pesquisa em Suínos, Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo
Vacinação contra a peste suína clássica no nordeste
Charli Ludtke¹, Bruno de Moraes² e Nina M de Oliveira2
¹Diretora técnica da ABCS ²Analista técnico da ABCS
VACINAS AUTÓGENAS NA SUINOCULTURA –PARTE I
Ana Paula Bastos, Vanessa Haach e Luizinho Caron Embrapa Suínos e Aves
INTRODUÇÃO
O controle e a prevenção de doenças na suinocultura industrial dependem, principalmente, da biosseguridade e do uso de vacinas.
Na última década, a suinocultura tem utilizado, cada vez mais, vacinas autógenas para a prevenção de doenças da produção (o seu diagnóstico não exige notificação obrigatória imediata - IN - 50/2013).
No Brasil, estas vacinas são exclusivamente bacterianas e virais inativadas, com um conjunto de regulamentos específicos que as diferenciam das comerciais ou de linha.
O maior número de aplicações ocorre, provavelmente, em suínos na fase de creche, uma vez que, nesta fase do ciclo de produção a densidade de animais por área é maior em comparação com outras fases e pela praticidade em virtude do tamanho dos animais.
O QUE É A VACINA AUTÓGENA?
Várias disposições importantes constam na legislação brasileira, sendo que a cada isolamento e identificação do agente de uma amostra de uma determinada propriedade, o fabricante da vacina deverá solicitar autorização para produção de vacina autógena ao Serviço de Sanidade Animal da Delegacia Federal da Agricultura (SSA/DFA) da jurisdição do estado do estabelecimento fabricante.
As vacinas autógenas têm sido amplamente utilizadas para tratar doenças ou infecções especí cas em rebanhos principalmente quando produtos licenciados não estão disponíveis comercialmente.
As vacinas autógenas são vacinas monovalentes ou polivalentes produzidas a partir de isolados de microrganismos autóctones. As vacinas comerciais são aquelas produzidas a partir de cepas padrão dos microrganismos.
As vacinas virais autógenas são usadas para combater doenças e síndromes causadas por variantes antigênicas emergentes e em casos de evolução viral.
As vacinas autógenas, no Brasil, são produtos exclusivamente inativados e podem ter uma formulação de vacina viral, uma formulação de bacterina ou uma combinação de vacina viral/bacterina. Essa vacina é utilizada para controle ou prevenção de enfermidades na espécie alvo, especi camente na propriedade alvo ou propriedades adjacentes. A utilização de vacinas autógenas na indústria suinícola inclui os segmentos de matrizes, leitões pré-desmame, creche e terminação.
Para alguns vírus, especialmente aqueles que sofrem mutações frequentes (isto é, principalmente vírus RNA) e nos casos com o envolvimento de genótipos diversos, as vacinas comerciais que incorporam uma “vacina candidata representativa”, nem sempre proporcionam proteção suficiente. Nestes casos, podem ser utilizadas vacinas autógenas.
Esta abordagem é normalmente utilizada para vírus como a Influenza A, onde existem muitos subtipos virais e a proteção da vacina é considerada correlacionada com a proximidade antigênica ao vírus específico da exploração.
As vacinas autógenas utilizam cepas locais específicas da propriedade rural (alvo) que são isoladas, sendo propagadas em laboratórios especializados. Posteriormente, a vacina é utilizada para proteger o rebanho suíno da granja de origem.
Devido aos riscos de biossegurança, as vacinas autógenas só podem ser utilizadas na fazenda/granja ou no sistema de produção adjacente de onde o vírus se originou, ou seja, da granja de onde foi isolada e das granjas que recebem animais destas granjas ou, ainda, propriedades vizinhas.
Nas últimas décadas, as opções de tratamento de doenças bacterianas foram reduzidas. No entanto, as perdas de produção e desempenho resultantes de infecções bacterianas permaneceram.
As bacterinas autógenas são uma estratégia de prevenção relevante para o cenário em mudança das doenças bacterianas.
Por exemplo, as vacinas bacterianas autógenas são um pilar fundamental para o controle de bactérias, como a Actinobacillus pleuropneumoniae (App), sendo que sua utilização contribui para a redução do uso de antimicrobianos.
Essas vacinas podem ser administradas nas porcas gestantes, pois suas bacterinas reduzem a quantidade de bactérias patogênicas nos leitões pré-desmame e aumentam os títulos de anticorpos maternos na descendência, o que resulta numa diminuição significativa na prevalência de leitões doentes (PMID: 29599298).
As principais bacterinas produzidas por fabricantes incluem atualmente:
Pasteurella multocida
Streptococcus suis
Clostridium perfringens
Glaesserella parasuis
PERSPECTIVA
Salmonella spp
Escherichia coli
Actinobacillus pleuropneumoniae
Mycoplasma hyponeumoniae
DO LABORATÓRIO DE DIAGNÓSTICO
O isolamento, identificação e caracterização de bactérias e vírus continuam a ser a base da produção de vacinas autógenas.
O isolamento de bactérias e vírus pode ser feito por laboratório de diagnóstico de escolha do produtor/veterinário, sendo que o isolamento e a identificação bacteriana podem ser realizados em apenas 3 dias, enquanto o isolamento e a identificação de vírus podem levar até 3-4 semanas.
Os isolados podem ser obtidos a partir de casos clínicos, inquéritos (programas de monitoramento) e animais sentinelas.
A vigilância ativa provou ser eficaz para isolar microrganismos da produção comercial e é um método proativo para seleção e manutenção da próxima série de vacinas autógenas.
Erisipelothrix spp., entre outras
Bactérias e vírus podem ser caracterizados de várias maneiras. Os avanços nos métodos de identificação molecular aumentaram a capacidade de caracterizar bactérias e vírus rapidamente e a um custo acessível. Estas tecnologias incluem PCR em tempo real específico e, mais recentemente, sequenciamento de nova geração, que permite a caracterização completa do genoma de todos os microrganismos.
Podem ser feitas comparações entre grupos individuais e em todo o complexo integrado para auxiliar na seleção das cepas mais relevantes para inclusão no produto biológico. A caracterização da antigenicidade e patogenicidade de bactérias e vírus ainda é feita através de métodos laboratoriais clássicos e in vivo
PERSPECTIVA DE PRODUÇÃO DO FABRICANTE
Uma vez submetido ao fabricante, que pode ser o próprio laboratório de diagnóstico, um pedido de vacina autógena, uma semente mestre da bactéria ou vírus isolado e caracterizado deve ser titulada e, adequadamente, preservada.
Os microrganismos bem definidos e selecionados são então propagados (multiplicados), de acordo com os padrões de controle de qualidade do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e do fabricante.
Esses padrões estão incluídos em um esboço de produção que é submetido ao licenciamento de vacinas autógenas junto ao MAPA (Instrução normativa SDA n°31/2003) (Figura 1). Requisitos internos e regulatórios rigorosos para controle de qualidade durante este processo são necessários para garantir a pureza.
Colheita de amostras Diagnóstico Laboratorial
Preparo e conservação da semente mestre Produção da Vacina
Controle de Qualidade
Validade e Conservação Comercialização da vacina
Figura 1.Fluxo da produção da vacina autógena.
As vacinas autógenas podem ser monovalentes ou polivalentes, as quais devem ser:
Inativadas
Imunogênicas
Não tóxicas e
Inócuas
Uma vez concluído o teste de pureza, o antígeno é então inativado por processos e formulações.
O antígeno é testado quanto à inativação, seguido de dosagem e formulação com adjuvantes selecionados, geralmente formulações de água-em-óleo (A/O), óleo-emágua (O/A) ou água-em-óleo-em-água (A/O/A).
Os frascos de vacina são envasados de acordo com a capacidade do fabricante e solicitação do cliente, geralmente fornecidos em frasco na dose de 2,0 ml.
No envase, o produto é testado mais uma vez quanto à esterilidade antes de ser liberado e depois rotulado e armazenado. Os frascos de retenção do produto final também são armazenados para garantia de qualidade, caso necessite de contraprova.
A colheita da amostra pode ser de animais sacrificados ou doentes em propriedade com doenças específicas. No diagnóstico laboratorial os microrganismos são isolados e identificados.
O sucesso do isolamento, geralmente, está atrelado à coleta da amostra na fase aguda da doença e ao tempo e condições entre coleta na granja e recebimento no laboratório de diagnóstico.
Para o controle de qualidade, todas as sementes, insumos, processos e produtos devem ser examinados (Figura 2).
Teste de esterilidade e pureza para bactérias e fungos
Teste de pureza para vírus
Esterilidade
E cácia da partida inicial
Vírus ativo/residual ou teste de inativação
Esterilidade para Micoplasma Inativação do produto acabado
Inocuidade (segurança)
Teste de vírus ativo
Teste de inativação para os antígenos bacterianos
As vacinas devem ser testadas para as provas de esterilidade, pureza, inocuidade e inativação.
Os vírus devem ser identificados quanto à família e bactérias devem ser identificadas em gênero, espécie, sorotipo ou sorovar. A semente deve conter apenas o agente específico identificado e livre de contaminantes.
As alíquotas das sementes de produção devem ser identificadas, datadas, numeradas e acondicionadas ultracongeladas ou liofilizadas. O laboratório deve possuir três frascos como contraprova do produto final.
Para a conservação, a vacina autógena deve ser mantida entre 2-8°C por no máximo seis meses. A semente-mãe tem validade de 15 meses. É necessário isolar novamente o agente da granja caso ele exceda os 15 meses, que são estabelecidos pelo MAPA.
Sendo que, a propriedade adjacente é o estabelecimento pecuário com rebanhos da mesma espécie da propriedade alvo, no qual foi isolado o agente etiológico da enfermidade, as que fazem divisa física com a propriedade alvo ou faz parte de sistema integrado de produção, com a introdução comprovada de animais oriundos da propriedade alvo (Instrução normativa SDA n°31/2003).
Na segunda parte do artigo serão abordados:
Perspectiva de campo
Seleção de candidato (s) à vacina
Para a comercialização, a vacina autógena deve atender o controle de qualidade.
O rótulo deve conter informações de que se trata de uma vacina autógena, o nome comercial da vacina e a localização da propriedade; isto é, o alvo e as propriedades adjacentes a que se destina. Destacamos que a propriedade alvo é o local de origem da semente.
Tempo de produção e implementação
Reações indesejáveis à administração da vacina
“Diluição antigênica” e problemas de potência
Evolução do patógeno
Vladimir Miolo
Gerente de contas especiais em suínos
Assim como o Vladimir Miolo, cada membro de nossa equipe desempenha um papel importante na cadeia produtiva de alimentos do Brasil.
Nós da Boehringer Ingelheim prezamos pela qualidade e segurança alimentar, e temos orgulho em fazer parte da indústria, garantindo que alimentos seguros cheguem às mesas das pessoas em todo o mundo.
SAIBA MAIS
SOBRE OS NOSSOS PRODUTOS:
BEM-ESTAR ANIMAL: UMA NECESSIDADE
Clarice Speridião Silva Neta Consultora de Serviços Técnicos em Suínos na Agroceres Multimix
O bem-estar é tema de preocupação constante na suinocultura; não só pelo olhar da sociedade, mas também pela relação com os indicadores zootécnicos e econômicos do sistema de produção. Suínos em boas condições de bem-estar são mais saudáveis e produtivos. Assim, o tema é multifatorial, ou seja, estabelece conexões com praticamente todas as áreas da produção de suínos.
COMISSÃODEÉTICANA EXPERIMENTAÇÃOANIMAL
As normas e as legislações sobre bem-estar animal são complexas, permanecem em constante evolução e ganham novos adeptos.
Nos últimos anos, a Comunidade Europeia editou diversas normas, estabelecendo padrões mínimos de bem-estar para os animais de produção (Dias; Silva; Manteca, 2015), com base na ação humanitária preventiva, estabelecendo critérios mínimos de alojamento e manejo adequados (Lundmark; Berg; Röcklinsberg, 2018).
Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) é a entidade oficial responsável pela elaboração de normas relacionadas ao tema.
No Brasil, o órgão que auxilia na formulação de normas para utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa é o Conselho Nacional de Controle Experimentação Animal, o CONCEA, órgão responsável por estabelecer procedimentos para a instalação e funcionamento de centros de criação, biotérios e laboratórios.
Assim, a ética deixou de ser apenas uma questão moral para ser ação indispensável.
Desta forma, os animais são os beneficiados diretos pelas pesquisas científicas visto que a saúde, o bem-estar e a segurança também dependem das pesquisas e, a pesquisa é necessária para a evolução das melhores formas de se produzir animais.
Desde 2014, a Agroceres Multimix é credenciada ao CONCEA. O monitoramento das atividades é feito pela Comissão de Ética de Uso de animais (CEUA-AGMMX), formada por colaboradores da empresa, professores de universidades e membros da sociedade civil organizada.
A preocupação em integrar-se a um órgão que estabelece o bom funcionamento de centros de experimentação animal vai de encontro ao DNA Agroceres – uma empresa de pesquisa em que a tecnologia está aliada ao conhecimento acadêmico e científico, preconizando pelo aprimoramento das recomendações nutricionais sob as diretrizes do bem-estar animal.
E é preciso mensurar. Existem situações em que é fácil a percepção. Entretanto, há cenários não tão simples. Dada essa dificuldade, é recomendado realizar a avaliação do bem-estar animal por meio de métodos objetivos e validados. Independente do segmento do seu negócio, se você contribui para o agronegócio com a produção de alimentos utilizando pesquisas com animais, é hora de pensar em formar uma comissão de ética.
Dentre as estratégias disponíveis para a avaliação do bem-estar de suínos, destaque para o “Modelo de 5 domínios” (Mellor e Reid, 1994) e o Projeto Welfare Quality® (Botreau et al., 2009).
NUTRIÇÃO
Desafios ambientais
(calor, frio, falhas de manejo, falta de espaço, etc.)
2
Restrições comportamentais ou nas internações
COMPORTAMENTO
1
AMBIENTE SAÚDE
Privação de alimentos
Privação de água
Desnutrição
Enfermidades
Lesões
Limitações funcionais
COMPONENTES FÍSICOS
3 4 5
ESTADOS MENTAIS
Fome, Sede, Dor, Medo, Fraqueza, Frustação, Desesperança
COMPONENTE MENTAL
Independente do método, é importante certificar-se que cada uma das medidas indicadoras de bemestar animal esteja bem fundamentada e validada cientificamente. É necessário verificar o grau de dificuldade de aplicação para evitar avaliações subestimadas ou superestimadas e utilizar vários tipos de indicadores, sendo que a maioria deve ter como base medidas tomadas nos próprios animais.
BEM-ESTARANIMALESUAIMPLICAÇÃONANUTRIÇÃODESUÍNOS
A conscientização motiva a adoção de boas práticas como meio de se conquistar mercados mais exigentes e reduzir perdas econômicas decorrentes de falhas de manejo e inadequações de instalações e equipamentos, que resultam em sofrimento dos animais e aumento dos problemas de qualidade da carne (Paranhos da Costa et al., 2020; Ribas, 2022).
A nutrição desempenha papel importante no planejamento e elaboração deste bemestar. É através dela que as necessidades básicas dos animais são atendidas, sem causar deficiências nutricionais clínicas ou subclínicas e sem provocar intoxicações, aumentando, assim, a resistência às doenças.
Vamos começar pela gestação. Decorrente da seleção genética ao longo das décadas, visando uma alta produtividade e prolificidade (Quesnel et al., 2008; Kirkden et al., 2013; Muns et al., 2016), a eficiência reprodutiva na cadeia suinícola tem crescido expressivamente.
No entanto, se observa crescente variabilidade no peso. Nesse sentido, os nutricionistas devem minimizar os efeitos durante esta fase. O uso de determinados aditivos e/ou ingredientes, em diferentes
Do ponto de vista de bem-estar, quanto mais a fêmea puder expressar o seu comportamento natural associado aos ganhos reprodutivos, menores são as chances de ocorrência de estereotipias e eventos estressantes durante o período.
Em relação à creche, trata-se de um período crítico para os leitões, principalmente entre três e quatro semanas de idade. O fato de serem separados da mãe, mudarem a alimentação de líquida para sólida, serem trocados de ambiente e misturados com outros lotes e, ainda, a perda de imunidade passiva enquanto ainda estão desenvolvendo a imunidade ativa, induz grande estresse, com reflexos negativos no desempenho.
Nesta fase, o trato gastrointestinal dos leitões não está completamente desenvolvido. Assim, é essencial que o epitélio intestinal permaneça intacto para garantir a absorção e o transporte de nutrientes, água e eletrólitos (Balbinotti, et al. 2023).
Um dos principais desafios do desmame é o consumo de alimento, no caso ração, que é naturalmente baixo nessa fase.
Nos dias seguintes ao desmame é comum verificar perda de peso, com consequências do extremo quadro de deficiência energética a que ficam sujeitos. Por isso, após o evento não é incomum identificar a predileção pelo consumo de água se comparado ao de ração sólida (Thacker et al., 2001).
Os leitões recém-desmamados só ingerem água nas primeiras 24 horas, portanto, fornecer suplementos nutricionais, como repositores eletrolíticos, durante este período é mais benéfico se administrado através da água do que ração (Hwang et al. 2016; Balbinotti et al., 2023).
Importante salientar que não há substituição da água de bebida. É preciso, portanto, uma abordagem multifatorial, onde o repositor contribui para minimizar o estresse do desmame, apoiando a saúde e o bem-estar dos leitões e, consequentemente, tendo efeitos positivos sobre o desempenho dos leitões.
E, por fim, a recria e terminação. Atualmente, pesquisas e investigações buscam alternativas para a redução do uso indiscriminado de antimicrobianos.
O uso racional de antimicrobianos melhora a segurança dos alimentos e gera retorno produtivo bem como redução sobre a excreção no meio ambiente.
A Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH) desenvolveu o conceito de One Welfare, ou seja, um só bem-estar, englobando animais, colaboradores e ambiente.
Tal conceito correlaciona-se com as boas práticas de criação para uma geração futura mais saudável e sustentável. Logo, animais criados nessas boas práticas têm suas necessidades comportamentais, ambientais e fisiológicas supridas e, por conseguinte, menos estressados e suscetíveis a doenças, necessitando cada vez menos antimicrobianos.
O uso excessivo de antimicrobianos tem despertado preocupações, sobretudo no Brasil, onde ainda algumas granjas utilizam de forma desordenada.
Se considerarmos as fases de recria e terminação, na região central de Minas Gerais tem-se 70, 61% ou 922.823,98 mg do uso de antimicrobianos e o fator preocupante é o uso prolongado, excedendo o tempo de uso conforme a bula (Oliveira et al., 2024 – in press).
A regulamentação imposta pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), através da Portaria nº798/2023, é mais uma medida para mitigar o uso excessivo de antimicrobianos.
Neste contexto, alguns aditivos se destacam, entre eles:
Óleos essenciais
Prebióticos
A maior parte demonstra resultados positivos para enfermidades e desafios relacionados às funções intestinais, atuando no controle de diarreias, melhorando o aproveitamento dos nutrientes e modulação da microbiota intestinal.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
O bem-estar animal é uma preocupação atual e necessária. A busca dos consumidores por produtos que ofereçam segurança alimentar tem despertado atenção por parte das instituições de pesquisas, públicas ou privadas, em aliar ciência e o modelo animal na obtenção de resultados e/ou produtos adequados para o consumo.
Nesse sentido, é de responsabilidade de todos o desenvolvimento de estratégias que promovam o bem-estar animal sem comprometer os ganhos zootécnicos.
Os ensaios realizados para obtenção dos resultados supracitados são oriundos de uma série de processos. O mais importante deles é a deliberação de todos os procedimentos de cada experimento pela Comissão de Ética, um crivo importante e rigoroso que, além de garantir que a geração de informações úteis ao mercado é realizada de maneira segura e ética para os animais, eleva a qualidade do que é gerado, ao impedir que soluções não compatíveis com o bem-estar sejam aplicadas.
E a rigor, isto reforça o entendimento de que não há produtividade sem atendimento a práticas de bem-estar animal.
Bem-estar animal: uma necessidade
EM PDF
FUNÇÃO OVARIANA: ESTABELECENDO A VIDA REPRODUTIVA DA FÊMEA SUÍNA - PARTE I
José Andrés Nivia Riveros, Dayanne Kelly Oliveira Pires, Luisa Ladeia Ledo, João Vitor Lopes Ferreira, Isadora
Maria Sátiro de Oliveira, Stephanny Rodrigues Rainha, Fernanda Radicchi Campos Lobato de Almeida
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Função ovariana e produção suína
Na indústria suinícola, a eficiência reprodutiva é uma meta econômica essencial, que pode ser representada pelo número de leitões desmamados por fêmea a cada ano
Como esse número depende principalmente do tamanho da leitegada, desenvolvimento embrionário e fetal adequados são imprescindíveis para garantir a produtividade.
Eficiência reprodutiva = Nº de leitões desmamados/ fêmea/ano
Nesse sentido, a intensa seleção genética para aumentar o número de ovulações nas últimas décadas resultou em fêmeas hiperprolíficas, cuja principal característica reprodutiva é produzir leitegadas numerosas, fator essencial para aumentar a produção de leitões e assim, melhorar a eficiência reprodutiva.
Os principais fatores associados ao tamanho da leitegada são:
Capacidade uterina, E ciência placentária, Taxa de fecundação e
Tal processo pode ser afetado de forma positiva ou negativa por diversos fatores. Dentre eles:
Exposição ao macho Consumo de alimentar
Estímulo positivo ao desenvolvimento folicular
Maior peso ao nascimento da fêmea
Ordem de parto
Em contrapartida, fatores como:
Menor intensidade luminosa
Estresse térmico
Sazonalidade
Balanço energético negativo
Condição corporal Número de ovulações.
Por sua vez, número de ovulações e qualidade dos oócitos ovulados são determinantes do potencial máximo do tamanho da leitegada, afetando diretamente o desenvolvimento e a sobrevivência embrionárias.
O potencial ovulatório e a qualidade dos oócitos gerados em cada ciclo reprodutivo dependem diretamente do processo de desenvolvimento folicular ovariano (foliculogênese).
Estímulo negativo ao crescimento folicular
Duração da lactação
Assim sendo, compreender o desenvolvimento ovariano na fêmea suína e os principias fatores que interferem sobre a função ovariana, refletindo na eficiência reprodutiva, são de extrema importância para maior lucratividade e melhor manejo da granja.
Formação dos oócitos
Os ovários são as gônadas sexuais femininas, responsáveis pela produção de gametas (oócitos) e hormônios reguladores da atividade reprodutiva.
A formação da reserva oocitária (quantidade de oócitos que fêmea irá ovular ao longo de sua vida reprodutiva) da fêmea suína inicia durante o desenvolvimento embrionário, aos 24 dias de gestação, sendo que a partir de 56 dias de gestação, folículos ovarianos já podem ser identificados nas gônadas fetais.
Vale ressaltar que a reserva oocitária está definida ao nascimento. No entanto, a função ovariana permanece em um estado de baixa atividade até a chegada da puberdade.
Nesse período, a produção de diversos hormônios reprodutivos estimula o desenvolvimento folicular, sendo selecionados folículos para continuar seu desenvolvimento até a ovulação ao final do ciclo estral.
Figura 1 - Fomação de oócitos: A) Ninho de oogônias em fetos aos 60 dias de gestação, que darão origem aos oócitos. B) Folículos ovarianos primordiais aos 60 dias da gestação. Fase inicial do desenvolvimento folicular. C) Folículo primário, 70 dias de gestação, desenvolvimento folicular inicial. D) Folículos secundários, 60 dias pós-parto (leitoas na fase de creche). A, B e C ovário fetal e D ovário de leitoa na fase de creche.
É importante mencionar que os folículos fornecem um microambiente propício para o desenvolvimento e maturação dos oócitos, interferindo diretamente sobre a qualidade dos mesmos, além de serem essenciais para a produção dos hormônios do ciclo reprodutivo. Diante disso, é fundamental conhecer os fatores que afetam a foliculogênese para garantir a qualidade oocitária, parâmetro que afeta diretamente o tamanho da leitegada.
Nutrição da matriz e
desenvolvimento ovariano fetal
Há evidências de que o desempenho reprodutivo das marrãs sofre grande influência do seu desenvolvimento fetal.
Dentre os fatores que interferem sobre o desenvolvimento fetal, pode-se mencionar a nutrição inadequada da matriz.
Segundo a EMBRAPA, a dieta para matrizes gestantes deveria conter, no mínimo, 13,5% de proteína bruta; já para fêmeas lactantes a porcentagem mínima deveria ser 18% para lactantes.
Este aspecto é de fundamental importância, uma vez que a progênie de marrãs que consumiram dietas inadequadas durante a gestação possuía menor número de folículos na puberdade, refletindo em prejuízos para o desempenho reprodutivo.
Ciclo estral: Controle da função ovariana
A compreensão da função ovariana da fêmea suína pode ser inferida a partir de suas características anatômicas.
Nesses animais, os ovários apresentam formato de “cacho de uva”, sendo atribuída à presença de vários folículos e corpos lúteos na superfície ovariana e por serem espécies multi-ovulatórias (polícotas), tendo a capacidade de ovular entre 15 e 30 oócitos durante cada ciclo estral.
Por sua vez, o ciclo estral pode ser definido como uma série de modificações fisiológicas cíclicas induzidas por hormônios reprodutivos (gonadotrofinas- hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), esteroides- estrógeno e progesterona).
Nas fêmeas suínas, o ciclo estral tem uma duração entre 18 e 24 dias, e a ovulação de vários oócitos ocorre ao final de cada ciclo.
O ciclo regulado pela interação hormonal entre o eixo hipotalâmicohipofisário-ovariano, mediado inicialmente pelo hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e fatores metabólicos.
O ciclo consiste em duas fases principais:
Folicular (duração de 5 a 7 dias) e
Lútea (duração de 13 a 15 dias).
Durante a fase folicular, pequenos folículos (2mm de diâmetro) se desenvolvem até formarem folículos pré-ovulatórios (7-8 mm de diâmetro), com capacidade de produzir maiores níveis de estrogênio e estimulando o surgimento do pico de LH pré-ovulatório.
Após a ovulação, tem-se a fase lútea, onde a formação do corpo lúteo, que é encarregado de produzir progesterona, hormônio responsável por preparar o sistema reprodutor para uma possível gestação.
A Figura 2 retrata os padrões de produção de hormônios reprodutivos antes e após a ovulação.
Estro
Ovulação
Horas relativas ao estro
60
Figura 2 - Padrões de produção de hormônios reprodutivos antes e depois do processo de ovulação. E2: Estradiol; GnRH: Hormônio liberador de gonadotrofina; LH: Hormônio luteinizante; FSH; Hormônio folículo estimulante; P4: Progesterona. Adaptado de Knox, 2019.
Evidencia-se aumento nos níveis de estrógeno antes da ovulação, levando subsequentemente ao surgimento dos picos de GnRH e LH, indispensáveis para o processo de ovulação.
Posteriormente, com aproximadamente 38 horas após o início do estro e com 30 horas do pico de LH, a ovulação acontece, os oócitos são capturados pelas fímbrias das tubas uterinas, aí permanecendo até o momento da fecundação.
Após a ovulação, os folículos ovarianos sofrem modificações, dando origem aos corpos lúteos, tendo início a síntese de progesterona.
Associado à atividade reprodutiva, existem mudanças no comportamento das fêmeas durante as diferentes fases do ciclo estral, afetando o consumo de ração e ganho de peso corporal dos animais, principalmente, na fase de estro.
Algumas práticas de manejo, como a imunocastração, podem ser usadas para suprimir a atividade reprodutiva de fêmeas na terminação.
Tal ferramenta pode ser usada com o objetivo de melhorar o desempenho e crescimento destas fêmeas até a terminação, por meio da formação de anticorpos contra o GnRH. Com isso, o processo de foliculogênese é paralisado, e consequentemente, a fêmea não apresenta o cio.
Puberdade: Estratégias para atingir maior precocidade
A idade da primeira ovulação ou puberdade é um indicador do potencial reprodutivo. A puberdade é caracterizada como a idade do primeiro cio, variando de 6 a 7 meses de idade.
Diversos fatores podem afetar a idade na puberdade em marrãs dentre eles destacam-se:
Condição corporal
Nutrição
Práticas de manejo, como tempo e idade à exposição ao macho
O hormônio responsável pelo início do cio é o GnRH.
Durante a puberdade, os neurônios secretores de GnRH tornam-se mais sensíveis e reativos aos esteroides gonadais, resultando em uma maior frequência e amplitude da liberação de GnRH no hipotálamo.
O início da puberdade é desencadeado pela ausência da inibição do estrogênio sobre o GnRH, o que permite o aumento dos pulsos de LH, associados a fatores metabólicos (principalmente relacionados a condição corporal).
Aliado à condição corporal da marrã, a exposição ao varrão é uma estratégia importante para estimular o eixo neuroendócrino envolvido na regulação e indução da atividade ovariana, uma vez que estimula a liberação de LH.
A precocidade acarreta benefícios econômicos para o sistema de produção, já que contribui para a redução do número de dias não produtivos.
Marrãs que exibem estro após os 180 dias de idade tem uma taxa de serviço mais baixa do que marrãs cujo primeiro estro foi detectado antes dos 180 dias de idade.
O contato direto com um macho sexualmente maduro, pelo menos por 15 minutos diariamente, é fundamental para a indução da puberdade.
Quanto mais precoce for a estimulação (marrãs com 120-140 dias de idade), pode-se identificar as fêmeas mais precoces do plantel, que certamente serão as mais férteis.
Estratégias hormonais com a finalidade de antecipar a maturação e ovulação de folículos ovarianos de fêmeas prépuberes podem ser utilizadas, como a administração de gonadotrofina coriônica humana (hCG) ou equina (eCG), em protocolos estabelecidos pelo médico veterinário responsável pela granja.
Na segunda parte do artigo serão abordados:
Desenvolvimento folicular da matriz
Síndrome do segundo parto
Efeitos da nutrição e condição corporal na matriz
Importância do estresse no desenvolvimento folicular
Função ovariana: Estabelecendo a vida reprodutiva da fêmea suína BAIXAR EM PDF
AMBIÊNCIA NO INVERNO EM GRANJAS DE SUÍNOS
Pazinato Dias, Jade Pellenz e Fabricio Murilo
Com o entendimento que a ambiência representa um importante impacto nos resultados zootécnicos obtidos nas operações suinícolas, e que o período de inverno, quando o frio se intensifica, apresenta um desafio adicional, em especial para as categorias de animais mais jovens, como os leitões em fase de amamentação e na creche.
Pois, os leitões possuem menor gordura corporal contribuindo para a baixa capacidade de isolamento térmico.
Nesse sentido, devemos lançar mão de estratégias para mitigar os impactos negativos. Obviamente, que este período de inverno traz maiores desafios nas regiões sul e parte das regiões sudeste e centro oeste do Brasil.
A temperatura ambiente é a variável ambiental que mais impacta no bemestar animal (Tabela 1). Portanto, é o indicador mais importante a ser considerado.
Assim, o isolamento térmico das instalações por meio de:
Telhados isotérmicos
Utilização de forros
Fornos de aquecimento
Cortinas laterais duplas
Escamoteadores para os leitões lactentes
Tapetes aquecidos e
Fontes de calor adicional são elementos a serem considerados.
Tabela 1: Faixas de temperatura ótima e limites para suínos em diferentes categorias.
Categoria
Leitões recém nascidos 35 32-38
Maternidade 2-5 kg 30 27-32
Creche 4-5 dias pós-desmame 35 33-37
Creche 5-20 kg 27 24-30
Crescimento 20-55 kg 21 16-27
Terminação 55-110 kg 18 10-24
Gestação/Machos 18 10-27
Lactação 18 13-27
NFACC (2014)
A manutenção das instalações com o pleno funcionamento destas estruturas deve ser o foco, evitando que as baixas temperaturas cheguem e as manutenções não tenham sido realizadas.
Sugere-se que o produtor adote um cronograma preventivo com foco em isolamento e aquecimento dos ambientes.
A zona de conforto térmico ou faixa de temperatura a qual o animal mantém sua homeotermia deve ser o objetivo técnico a ser atingido, de nada adianta investirmos em genética, nutrição e saúde se os animais estiverem passando períodos de desconforto térmico por frio durante o período de inverno, ou seja, com estresse térmico por frio.
Estresse pelo frio
ZONA TERMONEUTRA
Zona de Conforto Térmico (ZCT) TCS
Redução do calor Temperatura ambiente agradável
Estresse pelo calor
Por meio do comportamento dos suínos podemos identificar leitegadas amontoadas, procurando os locais mais quentes das celas parideiras e, em muitas circunstâncias sendo esmagadas pela própria matriz, ou na fase de creche amontoadas próximo às laterais das baias evitando as correntes de ar.
Caso os animais estejam em estresse térmico aumenta a susceptibilidade às doenças.
Aumento do calor
No inverno, é muito desafiador manter os animais na zona termoneutra de temperatura devido à ventilação ser uma importante ferramenta para eliminar partículas poluentes suspensas no ar, como pó, gases, bactérias em suspensão e endotoxinas no interior do galpão.
Entretanto, uma ventilação excessiva pode ocasionar correntes de ar e criar um microclima desfavorável para os leitões.
Nesse caso, o manejo de cortinas deve ser feito de maneira equilibrada para evitar estagnação de ar dentro dos galpões, mas também sem tornar o ambiente muito frio.
A automação da ambiência é uma estratégia cada vez mais utilizada pelas empresas produtoras de suínos para mitigar os problemas ambientais, por meio de:
Instalação de sistemas que fazem a renovação ou troca mínima do ar (inlets),
Sistemas que produzem calor (ex: calefação, placas térmicas), Uso de cortinas automatizadas, Pressão positiva,
Túnel com pressão negativa (placas evaporativas e exaustores),
Acionamento e modulação da velocidade dos ventiladores, entre outros.
Nesses sistemas de automação da ambiência podem ser colocadas sondas de coleta de dados ambientais no interior das instalações, para coleta de dados de consumo de água, ventilação (velocidade do vento), CO2, amônia, temperatura e umidade.
É muito importante que o manejo das cortinas seja feito levando em consideração os sensores de gases, além dos sensores de temperatura, dessa forma é possível controlar melhor os efeitos do ambiente na saúde dos animais.
A monitoria dos indicadores da ambiência que são variáveis ambientais de importância para os animais e também para os seres humanos que trabalham nessas operações é fundamental para o bem-estar.
Importante coletar, analisar e tomar decisões assertivas com base nessas variáveis.
A automação permite operar ou modular a ambiência à distância através de smartphones, interagindo com os equipamentos e alterando os valores dos indicadores de interesse, outro ganho é na otimização do uso da mão de obra e em especial na regularidade dos resultados produtivos pelo fato dos animais serem criados dentro da faixa de temperatura sentida de ótima performance.
No estudo de Montes (2022) foi verificado a associação de tosse em instalações com as condições ambientais das mesmas.
Foi evidenciado que a instalação com maior prevalência de tosse também era a instalação com piores condições ambientais (maior nível de amônia, CO² e umidade relativa do ar).
Demonstrando que o desempenho dos suínos pode ser afetado pela qualidade ambiental das instalações.
O controle da ambiência no período de inverno melhora a saúde geral do rebanho reduzindo morbidade, uso de medicamentos e mortalidades, e melhoram a imagem do segmento junto à sociedade.
Entre as doenças, as entéricas e respiratórias são as que mais apresentam registros de baixa ocorrência em ambientes controlados.
A suinocultura brasileira ainda pode evoluir na gestão de dados ambientais, insistir na integração de tecnologia de sensores referentes às características ambientais e sistemas de automação. Dessa forma, pode-se oportunizar o desempenho dos animais e proporcionar melhores condições de saúde e bem-estar.
Ambiência no inverno em granjas de suínos
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Referências bibliográficas sob consulta dos autores.
MICOTOXINAS EM SUÍNOSDEOXINIVALENOL (DON)
José Paulo Hiroji Sato1 e Gefferson Almeida da Silva2
1Médico Veterinário, MsC e DsC em Ciência Animal
2Médico Veterinário, MsC em Ciência Animal
Acontaminação de micotoxinas na ração causa problemas nos processos de produção animal, reduzindo o desempenho zootécnico.
Os tricotecenos formam um grupo químico de metabólitos fúngicos e mais de uma centena são conhecidos, sendo que de importância na produção animal destacam-se o Deoxinivalenol (DON) e a Toxina T-2.
DON, é o mais comumente detectado em concentrações toxicologicamente relevantes para animais de produção, resultando em perdas econômicas significativas em todo o mundo.
Esta micotoxina é produzida principalmente por Fusarium culmorum e Fusarium graminearum e entre as diferentes espécies de animais domésticos, os suínos são os mais susceptíveis à intoxicação por DON.
Prevalência
No levantamento realizado anualmente pela Vetanco, com dados de amostras de vários países da América Latina, no ano de 2023 foi observada 40% de positividade de DON com média de 789 ppb e máximo de 6.515 ppb.
Na tabela 1, são apresentadas as prevalências e concentrações médias e máximas de DON de acordo com os países analisados.
As toxinas de Fusarium foram globalmente as micotoxinas de maior prevalência nos últimos dez anos. Entre os alimentos positivos para DON, o milho e o trigo foram os mais frequentemente contaminados.
Na análise de amostras da América do Sul, foram observadas que DON era a terceira micotoxina mais prevalente, após fumonisina (FUM) e zearalenona (ZEA).
Uma quantidade significativa (89%) das amostras de cereais e rações está contaminada com uma ou mais micotoxinas. A alta frequência de cocontaminação mostra a necessidade de investigar a associação e a interação dos efeitos de micotoxinas coocorrentes em animais.
Tabela 1 – Prevalência e concentrações médias e máximas de deoxinivalenol (DON) em amostras de cereais e ração animal em 2023 de países da América Latina.
DON co-ocorre com outras micotoxinas do gênero Fusarium, principalmente ZEA e FUM. Sendo essas combinações de micotoxinas as mais frequentemente observadas em cereais e ração animal pronta.
Toxicidade nos suínos
O suíno é o animal mais sensível à exposição aguda ao DON e comumente apresenta problemas gastrointestinais, como diarreia e melena.
Concentrações acima de 1,3 mg/kg apresentam importância econômica pela diminuição do desempenho dos animais e níveis superiores a 2,5 mg/kg diminuem a taxa de ganho de peso em até 50%.
Os animais apresentam recusa completa do alimento quando a contaminação é superior a 11 mg/kg, enquanto concentrações superiores a 20 mg/kg de alimento induzem ao vômito.
A exposição crônica ao DON também pode causar diferentes efeitos, como anorexia, vômitos e redução do ganho de peso corporal (GPD) e ingestão de ração, além de impactar negativamente os sistemas imunológico e nervoso. Para suínos, a cada mg/kg de aumento de DON na ração, a diminuição do crescimento foi estimada em cerca de 8%.
O nome coloquial de DON é “vomitoxina” devido aos seus efeitos eméticos substanciais observados em suínos. Na tabela 2 são apresentados os níveis máximos de DON em suínos de acordo com a fase de produção. 8%
Alimentos com concentrações entre 0,3 mg/kg até 0,5 mg/kg induzem à perda de peso, podendo a recusa do alimento não se manifestar de forma clinicamente significativa. A partir de 1 mg/kg já pode ser constatado um declínio no consumo alimentar.
Tabela 2 – Limites de Deoxinivalenol (DON) em suínos de acordo com a fase de produção.
Fase de produção Níveis máximos (ppb)
Diferenças também podem ser constatadas entre os sexos, pois os machos são mais susceptíveis que as fêmeas.
Os sinais clínicos característicos de suínos intoxicados por essa toxina são:
Diminuição da ingestão ou recusa completa da ingestão de alimentos
Vômitos
Desordens digestivas, podendo perder peso em casos mais graves (Figura 1).
Figura 1 – Intoxicação por Deoxinivalenol (vomitoxina). Leitão vomitando. Fonte: Mallmann & Simões (2022)
A intoxicação por DON reduz a eficácia vacinal porque sua toxicidade inibe a síntese de proteínas, levando à diminuição da produção de anticorpos correspondentes, como nas vacinações para peste suína, vírus da síndrome reprodutiva e respiratória suína e parvovirose suína.
Podendo afetar o programa de vacinação em todas as fases de produção de suínos.
Os efeitos da DON na reprodução de suínos podem ser observados pela diminuição na formação dos oócitos e óvulos culminando em alta taxa de apoptose, além de diminuição da fecundidade dos óvulos formados e inibição do desenvolvimento do embrião.
Essa micotoxina também afeta células endometriais, culminando na diminuição do número médio de leitões nascidos no plantel.
Métodos de controle
Assim como há uma grande variedade de micotoxinas, existe uma enorme variedade de métodos de controle.
Esses variam desde boas práticas agrícolas à aditivos anti-micotoxinas, e como a contaminação de grãos é um problema real e que pode ocorrer em diversos momentos, como na lavoura durante o cultivo dos grãos, durante o período pré-colheita ou por condições inadequadas de armazenagem, os aditivos anti-micotoxinas têm sido a melhor ferramenta para prevenir os efeitos negativos no sistema de produção.
Existem dois grandes grupos de aditivos antimicotoxinas:
Os adsorventes (sequestrantes) e
Os inativadores enzimáticos.
Os adsorventes evitam a absorção das micotoxinas através do trato gastrointestinal ligando-se à sua superfície. Eles podem ser inorgânicos (bentonitas, aluminossilicatos etc.) ou orgânicos (parede de leveduras) e a adsorção é dependente, principalmente, da polaridade (carga iônica das moléculas) de cada micotoxina.
Já os inativadores enzimáticos possuem uma atividade biológica que permite alterar a estrutura química das micotoxinas e transformá-las em metabólitos com efeito tóxico menor ou nulo. Normalmente, eles podem ser uma bactéria, uma levedura ou extrato.
A maioria dos adsorventes têm demonstrado baixa e/ou nula capacidade para adsorver micotoxinas com menor polaridade, tais como o DON e a ZEA. Por sua vez, os inativadores enzimáticos têm demonstrado ser a melhor opção para o controle dessas micotoxinas.
Tso et al. (2019) compararam a eficácia dos diferentes produtos comerciais (adsorventes 1 e 2; e inativadores enzimáticos - EDR1 a EDR5) na eliminação de DON, utilizando um modelo in vitro dinâmico, simulando as condições digestivas dos suínos.
Após 5 h de simulação estomacal, todos os EDRs, apresentaram maior capacidade de remoção de DON do que os dois adsorventes (p <0,05), e a capacidade de remoção de EDR1 foi maior que todos os outros EDRs (p <0,05).
Para as condições simuladas do intestino delgado (pH de 6,5) por 2h, os percentuais de remoção de DON no nível de 1.000 ppb foram 100%, 84%, 83%, 54% e 68% para os EDRs (1 a 5), respectivamente, e 15% e 19% para os adsorventes 1 e 2, respectivamente (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Percentual de remoção do deoxinivalenol (DON) 1.000 ppb com reagentes de degradação enzimática (linha sólida) e adsorventes (linha pontilhada) em simulações gastrointestinais de suínos.
Simulação do Estômago (SGA, PG 2.5) a ab ab ab ab
Simulação do Intestino Delgado (SIA, pH 6.5)
(h)
A alta prevalência de DON nos cereais e ração pronta de animais de produção, constitui um importante problema mundial, com perdas significativas devido às consequências que a micotoxina causa para as diferentes espécies animais.
Desta forma, o controle com aditivos enzimáticos na ração é a melhor ferramenta de prevenção.
Referências bibliográficas sob consulta aos autores.
MADE IN BRAZIL: A CARNE SUÍNA AVANÇANDO NO MUNDO
Luís Rua Diretor de Mercados - ABPA
Os mais jovens que atuam na moderna suinocultura do Brasil dos dias atuais, talvez pouca ideia façam da trilha desbravada pelos pioneiros do setor para alcançarmos as atuais conquistas da cadeia produtiva.
Eu mesmo, que atuo no setor, praticamente desde o início da minha carreira, em meados da década de 2000, apenas tenho por relato o que foi a construção dos alicerces deste setor.
Hoje, somos o quarto maior produtor e exportador mundial da proteína, e nos destacamos como um dos principais fornecedores de diversos dos maiores e mais exigentes mercados globais, como a China, o Japão, a Coreia do Sul e os Estados Unidos.
De um consumo per capita anual de pouco mais de 11 quilos vinte anos atrás, chegamos ao patamar mais recente de 18,3 quilos per capita.
Nos anos 2000, por exemplo, éramos exatamente metade do que somos atualmente. Nossa produção era de pouco mais de 2,5 milhões de toneladas.
Hoje, nossos volumes anuais de produção superam a casa de 5,1 milhões de toneladas anuais (dados de 2023), em recordes consecutivos de produção, com pontuais oscilações negativas.
Nessa mesma toada, o consumo da proteína cresceu de forma sustentada na preferência da população brasileira, à medida que velhos mitos acerca especialmente da sanidade do produto foram substituídos pelo reconhecimento de sua qualidade e a adoção em dietas focadas exatamente em saudabilidade.
Mas o grande destaque desse século, definitivamente, foi a ampliação da presença internacional da carne suína brasileira.
Em 1996, a suinocultura nacional embarcou pouco menos de 60 mil toneladas.
Quatro anos depois, no ano 2000, saltamos para 127 mil toneladas exportadas. Apesar do crescimento expressivo, os embarques representavam menos de 8% da produção nacional. A cultura exportadora brasileira começava a a orar naquele momento.
Em 2005, alcançamos o patamar de 625 mil toneladas exportadas. Superamos o índice de 20% de embarques sobre o total produzidoum marco importante para o período.
Foi um dos mais notórios momentos do “efeito Rússia” sobre as exportações de carne suína do Brasil.
De fato, o país euroasiático foi o grande propulsor da mudança de patamar de nossas exportações e, em determinados momentos, chegou a representar mais de 60% das vendas internacionais de nossa carne suína naquele período subsequente.
O efeito PSA
Nem tantos sabem e poucos podem dizer que se recordam, mas já tivemos Peste Suína Africana em território nacional. Foi em 1979, e chegou ao país por um dos caminhos mais óbvios: um aeroporto.
A situação, decorrente do consumo de restos de um voo internacional por suínos de comunidades pobres do entorno, demandou uma enorme mobilização por parte do Ministério da Agricultura. O foco foi encerrado três anos depois, em 1982.
Costumávamos dizer brincando que a Rússia espirrava e o Brasil pegava uma pneumonia, tamanha a dependência à época.
A produção cresceu significativamente daquele período até os dias atuais. As exportações, contudo, se mantiveram praticamente nos mesmos patamares pelos 10 anos seguintes até 2020, momento em que o nosso status sanitário fez, como em poucos momentos, a diferença em favor das nossas exportações.
Quem naqueles dias sonharia que, quase quarenta anos depois, a mesma PSA colocaria o Brasil em uma posição altamente competitiva no mercado internacional.
Livre da enfermidade há mais de quatro décadas, o Brasil viu sua posição como provedor global da proteína dar saltos no final da última década.
No final de 2018, a China, maior produtora mundial de carne suína, responsável por mais da metade de toda a produção global, viu mais de 35% do seu rebanho ser dizimado em questão de poucos meses pela enfermidade. Pouco tempo depois, Vietnã e outros países da Ásia sofreram o mesmo problema.
As correntes migratórias de javalis levaram o problema ao longo do continente até alcançar a Europa.
A Alemanha, um dos maiores exportadores de carne suína até então, foi impactada pouco tempo depois por focos da enfermidade - e viu o mundo praticamente fechar as portas aos seus produtos.
O isolamento oceânico das Américas, neste contexto, funcionou como uma barreira natural à enfermidade - um bloqueio que não foi totalmente efetivo, já que as vias aéreas novamente trouxeram ao continente (em sua parte insular, na República Dominicana e, posteriormente, no Haiti).
Estados Unidos, Canadá e Brasil eram os candidatos naturais à reposição das ofertas - e foi a suinocultura brasileira a maior beneficiada por esta oportunidade. Em números absolutos, de 646 mil toneladas exportadas no ano de 2018, chegou aos patamares de 1,1 milhão de toneladas em 2021 - quando os efeitos da enfermidade deixaram de ser o principal motor dos embarques.
A China assumiu a dianteira do comércio de proteínas brasileiro, representando mais da metade das exportações durante diversos meses ao longo deste período.
O Vietnã também aumentou significativamente a sua demanda pelo produto brasileiro, concorrendo com outros mercados pelo nosso produto, como as nações da Ásia, da América Latina e da África.
Os gigantes asiáticos superaram a crise em 2022, mesmo frente a eventualidades, com retorno de alguns focos mais isolados.
Mas já era tarde: o apreço brasileiro pelo mercado global ganhou novos contornos, e um quarto de nossa produção passou a ter como destino o mercado global. A sinodependência dos anos anteriores foi substituída pelo notável aumento da capilaridade das exportações brasileiras.
A China segue como grande destino dos embarques, mas agora é acompanhada de perto por Filipinas, Chile, Singapura e outros destinos, que registraram crescimento percentuais de compras acima dos dois dígitos. Isso sem dizer das inúmeras possibilidades que já estão sendo capturadas em mercados como Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, com tendência de aumento nos próximos anos.
Ambições de futuro
O próximo passo da cadeia suinícola do Brasil é assumir o terceiro lugar entre os maiores exportadores globais da proteína, atualmente ocupado pelo Canadá, que embarcou 1,3 milhão de toneladas de produtos em 2023.
Entretanto, assumir essa posição não deve ser a qualquer custo. Nos últimos anos, a despeito do aumento expressivo das exportações, uma série de fatores dificultou a rentabilização das operações de maneira geral.
Assim, crescer com sustentabilidade econômica é a palavra de ordem.
Os olhares brasileiros têm se voltado para novas oportunidades recentemente abertas. Se mercados já consolidados agora assumiram uma nova posição de compra - como o pré-listing das Filipinas e de Singapura - outros, recentemente abertos, já dão indicativos que deverão influenciar positivamente a balança comercial do Brasil.
É o caso da República Dominicana, do México, do Peru e até mesmo do Canadá -, e que seguramente irão fortalecer o saldo em dólares das vendas internacionais da suinocultura brasileira.
Em um contexto em que o maior exportador mundial - União Europeia - dá indícios claros de desaceleração de suas vendas internacionais, registrando 4 anos consecutivos de queda nas exportações, o Brasil tem sido, proporcionalmente, a principal alternativa para apoiar de maneira complementar as produções locais dos países compradores.
Há, ainda, oportunidades relevantes que, contudo, dependem de alguns avanços relevantes.
Livre de aftosa sem vacinação
O reconhecimento de áreas extra-Santa Catarina como livres de aftosa sem vacinação é o primeiro grande avanço nesta estratégia.
A trilha já foi consolidada por meio do reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). O órgão, no entanto, é recomendatório. Assumir ou não a sua recomendação é uma decisão individual dos países, que são soberanos sobre as suas regras.
Aqui falamos de nações definitivamente estratégicas para a ampliação da presença internacional brasileira, como Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Canadá, México e até mesmo China, para determinados tipos de produtos.
São países que somente aceitam importar de áreas em que não exista qualquer traço de presença de aftosa, mesmo que seja pela vacinação.
O tema é pauta recorrente em todas as missões oficiais brasileiras a estes destinos. Há indicativos de avanços próximos, que poderão gerar divisas importantes para o setor e o País.
Vale ressaltar que os primeiros reconhecimentos já estão acontecendo, como é o caso do Chile, República Dominicana e Filipinas.
A construção de uma marca reconhecida
A estratégia comercial, aliada às conquistas de mercado, é parte fundamental deste trabalho de internacionalização da cadeia produtiva.
Há um outro passo, porém, que se faz tão importante quanto estes: o reforço da marca internacional da proteína suína.
A ABPA realiza um trabalho reconhecido internamente e internacionalmente, por meio de seus projetos setoriais em conjunto com a ApexBrasil.
Uma das marcas, a Brazilian Pork, é presença marcante em incontáveis campanhas internacionais, ações em feiras e com stakeholders, entre outras iniciativas, alcançando mercados como China, Chile, Coreia do Sul, Japão, entre outros.
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Este é um trabalho que merece e precisa ser cada vez mais ampliado. A entidade já articula a modernização destas marcas setoriais e, em breve, lançará uma nova diretriz e identidade.
É o momento de analisarmos novas oportunidades junto aos stakeholders e ao nosso próprio governo para explorarmos os atributos que temos e já conquistamos, tanto do ponto de vista setorial, como no âmbito comercial, dos nossos produtos.
A qualidade que conquistamos e o status sanitário que preservamos se somam a atributos intrínsecos de sustentabilidade - conceito que agora é amplamente utilizado como barreira comercial, as famosas “barreiras comerciais de terceira geração”.
Estamos muito próximos de consolidar estas posições - seja a ampliação do reconhecimento global sobre o que a OMSA já estabeleceu em relação à aftosa, como também sobre percepção de marca setorial.
Quando tais conquistas se efetivarem, a ampliação da presença internacional brasileira e o terceiro posto no comércio global serão quase “inevitáveis”. Trabalho e luta não faltarão no que depender de nós.
Made in Brazil: a carne suína avançando no mundo BAIXAR EM PDF
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USO DE DESINFETANTES NA SUINOCULTURA
Daniela Pinheiro, Tamara Flores, Andrea Karoline Mascitti e Tais Regina Michaelsen Ce Laboratório de Saúde Animal, Seara/JBS.
INTRODUÇÃO
Ao abordar o tema de desinfetantes em suinocultura e as principais moléculas utilizadas, é importante antes trazer osconceitos de biossegurança, fatores de riscos sanitários e, assim, propriamente o tema das principais moléculas utilizadas e seu uso de forma racional.
Algumas medidas devem ser consideradas como forma de controle da ocorrência de enfermidades em suínos, e envolvem fatores como a biossegurança, adoção de práticas para evitar a introdução de novos agentes patogênicos no rebanho através de suínos ou trabalhadores, implementação de sistema all-in-all-out, além de adoção de protocolos de desinfecção.
Entre os mecanismos de controle da infecção de suínos por agentes patogênicos, são de suma a adequada limpeza e desinfecção das instalações, equipamentos e utensílios que podem ter contato com os animais.
Sendo assim, é necessário que o princípio ativo utilizado para a desinfecção e a forma de utilização sejam eficazes em reduzir a carga bacteriana e/ou viral.
FATORES IMPORTANTES NA EFETIVIDADE DOS DESINFETANTES
É importante o conhecimento a respeito do adequado manuseio dos desinfetantes e da sua estabilidade, uma vez que procedimentos de biossegurança em granjas suinícolas compreendem, além de limpeza, também arcos de desinfecção, nos quais a efetividade dos desinfetantes é crucial para evitar a entrada de patógenos prejudiciais à criação.
Tempo de exposição: geralmente indicado pelo fabricante, podendo variar de acordo com demais fatores envolvidos como, por exemplo, a presença/ausência de matéria orgânica;
Presença ou ausência de matéria orgânica: possibilidade de inativação ou perda de e ciência do desinfetante em sua presença;
Concentração utilizada: seguir recomendações do fabricante do produto, sendo ajustado quando necessário;
Composição da superfície de aplicação: existência de superfícies que são mais propensas ao acúmulo de resíduos e matéria orgânica;
Temperatura: pode também ter in uência na efetividade do desinfetante, sendo comumente utilizados à temperatura ambiente;
pH: os produtos alcalinos, por exemplo, são mais indicados por sua atuação em matéria orgânica, ou mesmo a disponibilidade do princípio ativo pode variar conforme o pH;
Tempo entre diluição do produto e sua utilização: os desinfetantes não são necessariamente diluídos no momento da utilização e podem resultar na falha da desinfecção.
AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE
Variáveis como a amostra do microrganismo de interesse e a concentração do produto recomendada pelo fabricante devem ser submetidas à avaliação para comprovar sua efetividade.
DEFINIÇÕES SEGUNDO USP<1072> DESINFETANTES E ANTISSÉPTICOS
Desinfetante - Agente químico ou físico que destrói ou remove formas vegetativas de microrganismos prejudiciais quando aplicado a uma superfície.
A avaliação da carga viral e/ou bacteriana frente ao desinfetante escolhido, com a presença de fatores interferentes, como os citados anteriormente, são fundamentais para que o produto adequado seja eleito.
Para que sua efetividade seja testada, o desinfetante será submetido a diferentes concentrações de inóculo, com ou sem presença de matéria orgânica e diluído conforme as orientações do fabricante ou mesmo outras diluições de interesse.
Estas variáveis serão estipuladas de acordo com a necessidade de uso do desinfetante.
Desinfetante químico - Agente químico utilizado em superfícies e objetos para eliminação de fungos, vírus e bactérias infecciosos, mas não necessariamente seus esporos.
Agente Esporicida - Agente que elimina os esporos bacterianos e fúngicos quando usado em concentração su ciente para um tempo de contato especi cado. Espera-se que elimine todos os microrganismos vegetativos.
Agente de limpeza - Agente utilizado para remoção em superfícies de instalações e equipamentos de resíduos de produtos que podem inativar agentes saneantes ou abrigar microrganismos
Descontaminação - A remoção de microrganismos que ocorre por desinfecção ou esterilização.
PRINCIPAIS
DESINFETANTES UTILIZADOS EM SUINOCULTURA
Tabela 1: Principais desinfetantes utilizados em suinocultura. Adaptado de Kich, et. al., 2004, Lara, et al., 2022 e especificações técnicas dos fabricantes.
Desinfetante Composição
Agente Oxidante
Ação
Compostos de peroxigênio
Fenol Ativo – 19,95% fenol
Bactericida, fungicida e Viricida
Amônia Quaternária e Glutaraldeído
Bactericida, fungicida e Viricida
Cinco desinfetantes, quatro Amônias
Quaternárias e Glutaraldeído
Amônia Quaternária Di-quaternário de Amônio
Bactericida, fungicida e Viricida
Inferior a 5 minutos
Solução a 1 %
10 minutos 4 mL/L
10 minutos 0,5%
Iodofor
Hipoclorito de Sódio
Sanitizante à base de Complexo de Iodofor, com 2,25% de iodo livre.
Hipoclorito de sódio com 10 a 12% de cloro ativo
Bactericida
10 minutos Solução 1:4.000
Ácido Peracético
Acido peracético 15%
Peróxido de hidrogênio 23% Ácido acético 16%
Bactericida, fungicida e Viricida
Bactericida, fungicida e Viricida
30 segundos Solução diluída a 0,08%
15 minutos Solução 1:10
Bactericida, fungicida e Viricida
15 minutos Solução 1:3000
Estudos realizados demonstraram que em ausência de matéria orgânica, todos os desinfetantes presentes na tabela 1 tiveram eficácia contra Salmonella Typhimurium.
No entanto, em presença de matéria orgânica, os produtos amônia quaternária, hipoclorito de sódio, glutaraldeído e iodóforo tiveram prejuízo na sua atividade.
A amônia quaternária não foi capaz de inativá-lo, porém, em associação ao glutaraldeído obteve eficácia, a qual mostrou ser dependente da concentração do produto.
Hipoclorito de sódio, em especial, não obteve perda de sua atividade em presença de matéria orgânica, no entanto, somente em concentração mais elevada, acima de 1%.
A perda da atividade antimicrobiana na presença de matéria orgânica é amplamente registrada na literatura variando com o princípio ativo do desinfetante e linhagem desafiadora, demonstrando a importância de testes específicos para a escolha de produtos a serem utilizados em programa de controle de certos agentes infecciosos.
Com relação aos vírus, estudos realizados demonstraram que o agente oxidante e fenol obtiveram melhores resultados, sendo eficientes contra o vírus da influenza A.
Em granjas de suínos, dada a dificuldade da eliminação total de resíduos e o efeito comprovado da matéria orgânica sobre a atividade de desinfetantes amplamente utilizados, a sobrevivência de Salmonella frente a determinados produtos pode ser um fator importante da sua permanência no meio ambiente.
Limpeza a Seco: remoção de sujidades, sobras de ração e dejetos.
Limpeza Úmida: água sob pressão para a retirada de matéria orgânica e poeira, utilização de detergente e enxágue completo.
Após a secagem completa das estruturas do galpão, aplicação de desinfetante em todas elas, garantindo que todas quem expostas ao produto, mantendo até o recebimento dos animais.
A remoção completa de matéria orgânica presente nas instalações é fundamental para a garantia de efetividade do procedimento de desinfecção.
Devido a existência de poucos desinfetantes universais, há necessidade atividade dos produtos existentes.
O mecanismo de resistência a desinfetantes mais comum em bactérias Gram negativas é intrínseco, porém já foi especulada a possibilidade de resistência adquirida, mediada por plasmídeos.
Neste último caso, a resistência combinada a desinfetantes e antimicrobianos, carreada por um mesmo grupo de genes, seria esperada.
A eficácia dos desinfetantes está relacionada com as condições de utilização, principalmente quanto a presença de matéria orgânica e tempo de exposição, portanto, um programa de desinfecção deve incluir procedimentos rigorosos de limpeza prévia para que tenha sua eficiência garantida.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sob consulta das autoras.
A ASCENSÃO DA CARNE SUÍNA NO CORAÇÃO DO CONSUMIDOR DO ESTIGMA AO ESTRELATO:
Lívia Machado
Diretora de marketing e projetos da ABCS
Ao longo de mais de uma década atuando como Diretora de Marketing e Projetos na Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), tive o privilégio de testemunhar e participar ativamente na transformação do mercado da carne suína no Brasil.
Nossa jornada tem sido marcada constante atualização e busca por tendências de comportamento de consumo, sempre com o foco em colocar consumidor no centro de nossas estratégias.
Neste período, percebemos uma mudança significativa no comportamento do consumidor, que valoriza cada vez mais experiências diferenciadas.
Isso se reflete diretamente no aumento de mais de 50% no consumo de carne suína nos últimos dez anos, pulando dos 13,51 kg per capita para os 20,68 kg conquistados em 2023.
Esta mudança de percepção sobre a carne suína, antes vista com certa reserva, para uma proteína versátil, saborosa e saudável, tem sido fundamental para nosso sucesso.
R$ 18 bilhões
Dentro deste crescimento de consumo, os produtores tiveram aumento de R$ 18 bilhões em valor gerado para as granjas, é um claro indicativo de que estamos no caminho certo.
Nossos esforços na ABCS vão além de campanhas isoladas. Trabalhamos em diversas frentes com os parceiros do Sistema ABCS e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (FNDS) para continuar implementando ações nacionais de impacto em todo o território nacional, visando o aumento do consumo interno de carne suína.
Este sucesso também se deve a iniciativas como a Semana Nacional da Carne Suína, uma campanha junto ao varejo nacional que, ao longo de 12 anos, vem ganhando cada vez mais espaço e este ano será realizada no período de 04 a 19 de junho, em todo território nacional.
4 a 19 de junho
Este evento se tornou um case premiado, mostrando não só a versatilidade e o sabor da carne suína, mas também destacando seus benefícios para a saúde.
Cada passo que damos é guiado pela inovação e pela necessidade de adaptar nossas estratégias às mudanças nas demandas e expectativas dos consumidores.
Nossa missão é clara: tornar a carne suína uma escolha cada vez mais frequente nas mesas dos brasileiros, promovendo não apenas seu sabor e versatilidade, mas também os benefícios econômicos e de saúde que ela oferece.
Este caminho que percorremos não só elevou a carne suína a novos patamares no mercado brasileiro, mas também reforçou a importância do trabalho conjunto e estratégico entre todos os atores da cadeia suinícola.
Estamos comprometidos em continuar esta trajetória de crescimento e inovação, garantindo que a carne suína seja sempre vista como uma opção de alta qualidade e acessível para todos os brasileiros.
PESANDO O SUCESSO: O IMPACTO DO DESEMPENHO DURANTE A FASE CRECHE SOBRE
O PESO
AO ABATE DE SUÍNOS
Rhuan Filipe Chaves; Vinícius de Souza Cantarelli; Gustavo Gattás; Maíra Resende; Fabrício Faleiros de Castro; Cesar Augusto Pospissil Garbossa Animalnutri
Introdução
Odesempenho dos suínos ao longo de sua vida está intrinsecamente ligado ao desempenho durante a fase de creche.
Um fator crítico a ser considerado é a variabilidade no peso corporal (PC), que compromete a eficiência das granjas e o tempo de ocupação, especialmente nas instalações de crescimento e terminação, sendo um fator limitante para os sistemas de produção.
Diversas variáveis podem afetar o desempenho dos suínos, e, geralmente, suínos com crescimento retardado são resultado de fatores como:
Potencial genético, entre outros.
É importante ressaltar que, a fase de crescimento e terminação é o período mais caro da vida do suíno, representando 65% do custo total de um suíno.
Idade ao desmame
Esse custo pode ser ainda mais afetado se o animal tiver um desempenho insatisfatório durante a creche, refletindo em um pior desempenho nas fases subsequentes.
Portanto, identificar potenciais fatores de risco associados ao crescimento retardado dos suínos é uma estratégia valiosa para reduzir os custos de produção, especialmente se parte desses fatores puderem ser modificados para melhorar a homogeneidade e a eficiência de crescimento dos lotes.
Reduzir a variabilidade do PC aumentará a eficiência geral, reduzindo o tempo de ocupação das instalações de creche e de crescimento-terminação.
Este artigo aborda como o peso dos suínos durante a fase de creche impacta o peso dos animais ao abate, explorando a relação entre dietas, crescimento compensatório e práticas de manejo.
A fase de creche pode representar até 30% do desempenho subsequente dos animais, sendo o período mais desafiador dentro do sistema de produção.
O desmame, nos sistemas de produção atual, ocorre geralmente na terceira semana de vida dos leitões e uma das principais consequências do desmame precoce é o baixo consumo de ração nos primeiros dias de creche.
Essa anorexia transitória leva à baixa ingestão de energia e nutrientes na primeira semana, causando danos estruturais no intestino, que podem intensificar distúrbios do trato gastrointestinal (TGI).
Todas estas alterações no início da vida dos leitões podem afetar o desempenho até o abate. Por esse motivo, à medida que aumenta a idade de desmame, mesmo que em poucos dias, os impactos negativos desse manejo podem ser minimizados.
Existem diversas pesquisas comparando diversas idades de desmame e seus efeitos no desempenho e na saúde intestinal e, como conclusão geral, há uma melhora no desempenho na fase de creche e, consequentemente, nas fases subsequentes.
Ao deslocar a média de idade ao desmame, desloca-se também a curva normal dos pesos, retirando um grupo de animais da zona sensível de idade e peso, que por sua vez favorece maior capacidade imunitária e reduz altas dispersões nos lotes, resultando em melhor resposta a nutrição e, consequentemente, melhor desempenho na fase de creche.
Nutrição e manejo
O leitão lactente consome diariamente um alimento rico e complexo, capaz de suprir sua necessidade nutricional e fisiológica.
Com isso, lançamos mão de inúmeras estratégias nutricionais para garantir o GPD e mitigar os efeitos do pós-desmame, tais como, apostar em matérias primas palatáveis e digestíveis, além de ingredientes funcionais que auxiliam na manutenção da saúde intestinal dos leitões.
As dietas pré-iniciais de alto desempenho, devem conter conceitos que vão além dos níveis nutricionais. Nesta fase, deve-se considerar:
Uso de produtos lácteos
Garantir níveis mínimos de gordura e
Ser conservador na utilização de soja como fonte proteica.
Um claro exemplo do desafio enfrentado pelos leitões desmamados, está no consumo de energia, que só é atingido em níveis compatíveis com o pré-desmame duas semanas após o desmame. Portanto, o estímulo do consumo de ração nos primeiros dias pós desmame é a principal meta a ser atingida na creche.
dias após o desmame!
São parâmetros importantes para a garantia de consumo e saúde.
Outros ingredientes que compõem uma boa dieta de creche, são o plasma spray-dried e produtos de levedura.
São compostos que possuem fornecimento de fração proteica, que auxilia na redução da utilização do farelo de soja nas dietas pré-iniciais, mas destacam-se por sua atividade funcional, e que utilizados nas condições ideais, garantindo um binômio entre custo e resultado, são excelentes ferramentas de manutenção da saúde intestinal com excelente retorno em desempenho na creche.
Estudo de dados
Em uma análise de dados realizada pelo centro de pesquisa da Animalnutri, utilizando um banco de dados com mais de dois mil animais, foi possível observar o impacto da melhoria do peso na saída de creche associado a melhora no coeficiente de variação (CV) dos pesos.
Outras tecnologias incorporadas nas formulações e que não possuem efeito nutricional direto, mas auxiliam na manutenção da saúde geral, além dos medicamentos, são os aditivos, destaque para os ácidos orgânicos e óleos essenciais, que utilizados estrategicamente auxiliam na redução da pressão de infecção, além de relação direta com a saúde intestinal e, consequentemente, melhoria de desempenho.
A utilização correta dos ingredientes e níveis nutricionais adequados são primordiais, entretanto ganhamos mais eficiência com estratégias de manejo.
A forma em que a ração é fornecida, seca ou líquida, pode contribuir com 150% de aumento de consumo nas primeiras semanas após o desmame, independentemente da idade de desmame, a utilização de ração líquida tem retornado melhores resultados.
+ de dois mil animais
Na tabela apresentada a seguir, foram realizadas três análises onde o CV entre os pesos de creche reduzia em cada uma delas, assim como a média de peso aumentava.
Ao explorar a relação entre a diferença dos pesos, foi nítido que aumentar o peso e a homogeneidade do lote, permite que a diferença de peso inicial não tenha efeito multiplicatório no peso final.
Essa análise é importante para motivar a busca por menor variabilidade de lote e impulsionar o peso na saída de creche, através de estratégias de garantia de desempenho durante a fase de creche.
Tabela 1. Análise de dados explorando a relação entre diferentes classes de peso e coeficiente de variação na saída e creche com o peso ao abate de suínos.
Análise 1
Classe Peso Alojamento Peso ao abate Relação
Relação: diferença do maior e menor peso ao abate dividido pela diferença do menor e maior peso na saída de creche; CV: Coeficiente de variação entre os pesos na saída de creche.
Considerações finais
Um adequado desempenho durante a fase de creche depende de um conjunto de fatores, considerando a qualidade do leitão desmamado como um fator primordial.
O equilíbrio entre sanidade, nutrição e bem-estar deve ser adicionado a essa equação para garantir a redução de fatores estressantes e favorecer o máximo desempenho dos animais na creche e, consequentemente, no crescimento e terminação.
Pesando o sucesso: O impacto do desempenho durante a fase creche sobre o peso ao abate de suínos BAIXAR EM PDF
EXPLORANDO ALTERNATIVAS À RACTOPAMINA NA NUTRIÇÃO DE SUÍNOS: ADITIVOS EM FOCO
Laya Kannan Silva Alves1, Beatriz Ribeiro Felipe1, Cesar Augusto Pospissil Garbossa1 ¹Laboratório de Pesquisa em Suínos, Departamento de Nutrição e Produção Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo *Autor correspondente: layakannan@usp.br
Introdução
O Cloridrato de ractopamina (RAC) é amplamente empregado como aditivo modulador de deposição tecidual na produção de suínos, promovendo animais mais eficientes com relação a ganho de tecido magro (Abbas et al., 2021).
Seu efeito é notavelmente positivo em termos de ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e qualidade de carcaça (Apple et al., 2007; Soares et al., 2022).
Apesar do grande potencial da RAC como melhorador de desempenho e modulador de carcaça, estudos demonstram que o desempenho dos animais pode diminuir com a exposição prolongada (Lean et al., 2014; Gerlemann et al., 2014).
Outra questão relevante refere-se à proibição do uso da RAC em cerca de 160 países desde 2014, incluindo a Comunidade Europeia, Rússia e China (Niño et al., 2017).
Assim, buscando atender às demandas de um mercado que exige carnes magras e livres de ractopamina, têm sido feitas pesquisas com ingredientes alternativos que possam substituir a RAC na dieta de suínos em fase de terminação.
Estes aditivos nutricionais atuam por diferentes mecanismos de ação que podem potencialmente modular a deposição tecidual sem afetar negativamente o desempenho dos suínos, e a seguir discutiremos alguns dos aditivos em foco.
Aditivos melhoradores de desempenho e moduladores de deposição tecidual para suínos em terminação
L-CARNITINA
A L-carnitina desempenha papel crucial no metabolismo energético (Ringseis et al., 2018) e, embora os suínos possuam produção endógena desse composto, sua síntese é afetada pelo status de micronutrientes do suíno, levando, em alguns casos, à inadequação dos requerimentos nutricionais (Ringseis et al., 2018; Rao et al., 2023).
Embora não seja considerada essencial nas dietas de suínos, sua suplementação favorece o aproveitamento de ácidos graxos como fonte energética, promovendo maior deposição proteica (Silva et al., 2019).
Em estudo meta-analítico, Rao et al. (2023) demonstraram que suínos suplementados com L- carnitina tiveram GPD 2,1% maior e melhor eficiência alimentar (2,5%) em comparação a grupos não suplementados.
Observou-se também menor espessura de toucinho, aumento de 3,8% no percentual de carne magra e 2,4% maior área do músculo Longissimus dorsi.
Owen et al., 2001 analisaram o efeito da suplementação de L-carnitina durante 35 dias, na fase de crescimento, não constatando melhorias no desempenho, mas aumento na deposição de tecido magro e redução da espessura de toucinho em grupos suplementados com 49 a 64 ppm de L-Carnitina (Owen et al., 2001).
BETAÍNA
A suplementação de betaína aumenta os níveis séricos de hormônio do crescimento (GH) e fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), melhorando a síntese proteica e o desempenho dos suínos (Lothong et al., 2016). A betaína também melhora a utilização de energia (Lipinski et al., 2012).
CROMO
O cromo (Cr) aumenta a absorção de glicose e aminoácidos, beneficiando o metabolismo energético, favorecendo a deposição proteica na carcaça (Park et al., 2009) e reduzindo a deposição de gordura (Valente Junior et al., 2021)
Isso pode melhorar a eficiência alimentar e as características de carcaça de suínos em acabamento (Caramori Junior et al., 2017).
Estudos demonstram uma melhora média de 1,3% no GPD e 2,7% de melhoria na EA de suínos suplementados com betaína em comparação àqueles não suplementados (Rao et al., 2023).
A suplementação também regula genes ligados a oxidação de ácidos graxos no tecido muscular, diminuindo a gordura e alterando a concentração de ácidos graxos livres nos músculos.
A betaína pode retardar a glicólise anaeróbia após abate, afetando o pH muscular, a cor da carne e a capacidade de retenção de água (Fu et al., 2021).
Ademais, suínos suplementados com betaína apresentam um rendimento 2% maior de carne magra e aumento de 0,20% na área do musculo Longissimus dorsi em relação aos não suplementados (Rao et al., 2023)
Ao realizar 138 comparações de GPD e EA entre suínos alimentados com uma dieta controle versus dietas suplementadas com Cr, Rao et al., (2023) identificaram GPD 1,1% maiores e eficiência alimentar 1,0% superior nos grupos suplementados.
No entanto, o Cr não atinge os mesmos níveis de melhoria que a ractopamina.
Em estudo de Farias et al. (2022), suínos suplementados com Cr apresentaram ganho de peso 22% menor e pior conversão alimentar quando comparados à animais suplementados com RAC.
VITAMINAS DO COMPLEXO B
As vitaminas do complexo B são cruciais para o metabolismo celular e a produção de energia, desempenhando um papel fundamental no crescimento e na deposição de tecido magro em suínos (Cho et al., 2017).
Apesar de pouca mudança nas estimativas de necessidades dessas vitaminas nas últimas décadas, pesquisas recentes indicam que suínos modernos com altas taxas de crescimento e maior necessidade de deposição de tecido magro podem requerer níveis mais altos de vitaminas B do que o estimado pelo NRC de 1998 e 2012 (Kim; Lindemann, 2007).
Além disso, houve impacto positivo na qualidade de carcaça, com maior profundidade e área de olho de lombo, além de maior rendimento de carne magra em comparação com o grupo sem suplementação.
Esses achados ressaltam a importância de considerar maiores níveis de suplementação de vitaminas B para otimizar o desempenho e a qualidade da carcaça dos suínos modernos.
ÁCIDO LINOLEICO CONJUGADO
Cho et al. (2017) investigaram a suplementação de vitaminas do complexo B para suínos em crescimento e terminação, além dos níveis estimados pelo NRC (1998). Os resultados mostraram que a suplementação promoveu melhor desempenho, com ganhos de peso, consumo de ração e eficiência alimentar aprimorados.
O ácido linoleico conjugado (CLA) é composto por ácidos graxos que desempenham um papel importante no metabolismo lipídico, atuando na redução da lipogênese e potencialização da lipólise (Lehnen et al., 2015).
Assim, o CLA pode otimizar o desempenho dos suínos, aumentar a deposição proteica e reduzir o tecido adiposo (Panisson et al., 2020).
Rao et al., (2023) compararam estudos sobre dietas com CLA para suínos em fase de terminação. Os resultados indicaram melhor GPD (2,1%) e EA (3,5%), em comparação aos grupos sem suplementação.
No entanto, Panisson et al. (2020) comparou o CLA com ractopamina e uma combinação de ambos.
A RAC teve impacto significativo no desempenho, enquanto o CLA melhorou apenas a EA. Suplementações de 0,3% e 0,6% de CLA não resultaram em efeitos significativos nos parâmetros de qualidade da carcaça.
Mas a combinação de ractopamina e CLA proporcionaram melhor desempenho e melhores parâmetros de carcaça, como maior área de olho de lombo e menor espessura de toucinho.
NÍVEIS DE LISINA
A lisina é um aminoácido essencial para manutenção, crescimento e desempenho produtivo dos suínos (Liao et al., 2015).
Ela desempenha um papel chave na síntese proteica e, devido à baixa concentração em ingredientes comumente utilizados nas rações de suínos, como milho e soja, sua suplementação é necessária (Aymerich et al., 2020).
A suplementação de lisina melhora a síntese de proteínas musculares e crescimento dos suínos (Liao et al., 2015), mas deve ser cuidadosamente administrada.
Tanto o excesso quanto a deficiência de lisina podem prejudicar o desempenho dos suínos, resultando em menor GPD e piora da CA, além de impactar negativamente sob as características de carcaça, como maior ET e menor deposição de carne magra (Bidner et al., 2004; Tous et al., 2014).
Palhares et al. (2020) encontraram comportamento linear crescente no consumo de lisina conforme os níveis nas dietas foram aumentados (0,73% a 1,13%), mas o CRD não foi influenciado.
Houve um efeito quadrático em relação aos níveis de lisina digestível para o peso vivo final, GPD e CA, com pontos máximos estimados em 0,96%, 0,92% e 0,92%, respectivamente. Isso sugere que a suplementação adequada de lisina e essencial para otimizar o crescimento e desempenho dos suínos.
FÓSFORO
O fósforo (P) é um nutriente essencial para suínos, participando de diversos processos metabólicos e sendo fundamental para seu crescimento e desenvolvimento. Os avanços genéticos que favorecem a maior deposição proteica e menor tecido adiposo aumentaram a retenção de fósforo nos suínos.
Dessa forma, a exigência de fósforo depende das demandas de manutenção e do tipo e taxa de tecido a ser produzido (Liu et al., 2016; Zhai et al., 2022).
Em estudo realizado por Sorensen et al. (2018), o fornecimento reduzido de fósforo na dieta (4,2 g/kg de P total) resultou em suínos mais leves e com menor taxa de crescimento comparados àqueles alimentados com níveis mais altos de fosforo na dieta (8,6 g/kg de P total).
Segundo os autores, um fornecimento diário de aproximadamente 4,6 e 6,7g de P digestível parece ser suficiente para atender às necessidades de P para suínos em crescimento, com um GPD de 0,800 até 1,100 quilogramas por dia.
Considerações finais
A investigação de aditivos nutricionais alternativos para substituir a ractopamina na alimentação de suínos em fase de terminação está ganhando destaque na comunidade científica. Entre as opções em estudo, destacam-se:
Vitaminas do complexo B
L-carnitina
Cromo
Níveis de lisina
Betaína
Ácido linoleico conjugado
Fósforo
Cada um desses substitutos possui mecanismos de ação específicos que podem melhorar o desempenho e a qualidade da carcaça dos suínos.
A exploração de ingredientes alternativos, aliada à compreensão dos mecanismos de ação desses aditivos, desempenha um papel crucial no avanço da produção suinícola, proporcionando opções seguras e eficazes para a indústria da carne.
Embora os resultados da suplementação desses componentes sejam promissores em diversos aspectos, eles ainda não superam, consistentemente, os obtidos com a ractopamina. No entanto, é fundamental considerar que os efeitos podem variar de acordo com a formulação da dieta, os níveis de suplementação e as características genéticas dos animais.
Explorando alternativas à ractopamina na nutrição de suínos: aditivos em foco BAIXAR EM PDF
VACINAÇÃO CONTRA A PESTE SUÍNA CLÁSSICA NO NORDESTE
Charli Ludtke1, Bruno de Morais2 e Nina M de Oliveira3
1Diretora técnica da ABCS
2Analista técnico da ABCS
3Analista técnica da ABCS
APeste Suína Clássica (PSC) é uma doença viral, altamente contagiosa, que afeta apenas os suídeos, ou seja, não afetam os seres humanos ou outras espécies. É causada por um vírus da família Flaviviridae, gênero Pestivirus
A transmissão da PSC ocorre, principalmente, a partir do contato direto entre animais infectados, mas também pode ocorrer através do contato com alimentos contaminados, equipamentos ou objetos contaminados, conhecidos como fômites.
Suideos Asselvajados
Contato direto
Suínos domésticos
Contato direto
Contato direto
Contato indireto
Caminhões que transitam, fömites, alimentos, água, e outros
Transmissão das matrizes para os leitões
Figura 1: Possíveis vias de transmissão do vírus da PSC entre os suídeos. Fonte: ABCS (2024)
A PSC tem um impacto significativo na produção suína, causando prejuízos econômicos consideráveis devido à mortalidade dos animais infectados, redução de produtividade e restrições comerciais.
Sendo uma doença de notificação obrigatória ao Serviço Veterinário Oficial, conforme a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), por não ter cura e tratamento.
Atualmente o Brasil está dividido em Zona Livre (ZL) de PSC, abrangendo 16 estados (AC, BA, ES, GO, MG, MS, MT, PR, RJ, RO, RS, SC, SE, SP, TO e DF, além de quatro municípios amazonenses); e a Zona não Livre (ZnL) de PSC, abrangendo 11 estados (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Pará, Amapá, Roraima e parte do Amazonas).
(2024)
A Peste Suína Clássica (PSC) limita o desenvolvimento da suinocultura nas regiões norte e nordeste do Brasil, e vem impactando a produção local, além de ser um risco potencial de ingresso na ZL, podendo impactar no fechamento de mercados internacionais e afetando todo o segmento nacional.
Zona Livre de PSC, composta pelos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (setembro de 2014)
Zona Livre de PSC, composta pelos estados Acre, Bahia, Espirito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins, Distrito Federal e Municipios de Guajará, Boca do Acre, sul do município de Canutama e sudoeste do município de Lábrea no estado do Amazonas (setembro de 2015 e outubro de 2020)
Zona Livre de PSC, composta pelo estado do Paraná (outubro de 2020)
Zona do Brasil sem reconhecimento oficial para o status de PSC
State
Estado com nome enquadrado incluso parcialmente na Zona Livre de PSC
*Datas entre parênteses indicam a data de quando o pleito foi submetido aos delegados da OMSA
Nos últimos seis anos, 87 focos da doença foram confirmados, resultando em prejuízos milionários em indenizações, conforme demonstrado pela Figura 3.
Os focos ocorreram nos estados do Ceará, Piauí e Alagoas, todos resolvidos devido a rápida atuação do Serviço Veterinário Oficial (SVO), com o sacrifício dos suínos afetados e indenizações aos produtores rurais.
Conforme a Tabela 1, os onze estados que compõem a Zona Não Livre de PSC no Brasil representam um total de 309.413 propriedades, abrigando, aproximadamente, 5,6 milhões de suínos.
Considerando que esses estados somam uma população de cerca de 52 milhões de habitantes, e que o consumo per capita (2023) de carne suína no Brasil foi de 20,68 kg (ABCS, 2024), há um significativo potencial para o aumento da produção e do consumo na ZnL.
Tabela 1 – Comparativo entre número de propriedades com suínos, o rebanho e a população presente nos estados que compõem a ZnL.
Se a produção for aumentada para atender a demanda local, fortaleceria a economia e reduziria os custos de logística entre os estados, assegurando a produção de proteína dessas regiões.
Fonte: ABCS (2024)
Tornar o Brasil livre dessa doença de alto impacto econômico e avançar com as regiões livres de PSC é o desafio, em especial para a suinocultura nordestina, onde a criação de suínos desempenha um papel importante no sustento das famílias locais, caracterizada por sistemas de produção de pequena escala, com foco na comercialização local ou subsistência, e também, embora em menor escala, por sistemas tecnificados.
DESENVOLVIMENTO DO PLANO ESTRATÉGICO BRASIL LIVRE DE PSC
2019
Assim, visando verificar a melhor estratégia de vacinação e de mobilização do programa de vacinação gratuita, se elencou o estado de Alagoas para o projeto piloto, devido ao apoio dos parceiros locais (Governo de Alagoas, SEAGRI e ADEAL), por sua extensão da área geográfica e rebanho de suínos, somado à preocupação quanto a ocorrência do foco registrado em 2019 estar localizado na região limítrofe com a zona livre da doença.
2021
Em 2021, foram iniciadas as etapas de implementação do Projeto Piloto Alagoas, com a contratação das equipes de vacinadores e distribuição das vacinas nas revendas agropecuárias parceiras do projeto.
Logo, os esforços coordenados pela parceria público-privado resultaram em avanços significativos na redução de suspeita da doença, na proteção dos rebanhos e no aprimoramento da suinocultura da região.
Plano Estratégico Brasil Livre de PSC 2019
Vacinas distribuídas nas revendas agropecuárias
Projeto piloto Alagoas 2021
Em 2019, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) em conjunto com a iniciativa privada do setor, devido aos alertas de focos recorrentes na zona não livre, criou um grupo de trabalho (GT) para estruturar o Plano Estratégico para erradicação da PSC no Brasil, no qual foram estabelecidas ações para fortalecer e promover a vigilância sistemática contra a PSC e a necessidade do desenvolvimento de um programa de vacinação de forma regionalizada na ZnL.
Vacinadores se deslocando da revenda agropecuária para as propriedades rurais Vacinação dos suínos nas propriedades
Suínos vacinados e identi cados (obrigatoriedade do brinco PSC-AL)
Retirada das vacinas pelos vacinadores contratados
Equipe de supervisão durante as etapas da campanha
Acompanhamento do serviço veterinário o cial e educação sanitária
RESULTADOS DA CAMPANHA DE VACINAÇÃO CONTRA A PSC EM ALAGOAS
As 5 etapas da campanha de vacinação contra a PSC em Alagoas, promoveram a mobilização das equipes de vacinação nos 102 municípios alagoanos, atingindo altas coberturas vacinais nas várias etapas.
Ao total, alcançou mais de 640 mil imunizações contra a PSC (2021 a 2023), levando a vacinação de forma gratuita a todas as propriedades rurais que criam suínos.
Suínos imunizados
1ª ETAPA
09/06 à 09/08/2021 (60 dias)
2ª ETAPA
21/03
30/04/2022 (40 dias)
3ª ETAPA
28/11/22 à 31/01/23 (65 dias)
4ª ETAPA
15/05 a 15/07/2023 (80 dias)
5ª ETAPA
30/10 à 31/12/2023 (62 dias)
Fonte: ABCS, 2024.
BENEFÍCIOS DA CAMPANHA
Além de imunizar os animais contra PSC, a campanha de vacinação em Alagoas trouxe ganhos significativos para os produtores de suínos, refletindo em benefícios socioeconômicos, conforme reportado pelos suinocultores locais.
Fonte: ABCS (2024)
Valorização do preço do suíno
Diminuição de perdas reprodutivas (aborto)
Leitões mais sadios e menor mortalidade
Melhoria na comercialização com os suínos vacinados
Credibilidade e desenvolvimento da suinocultura alagoana
AVANÇOS DO PLANO ESTRATÉGICO
BRASIL LIVRE DE PSC - PSC – COMO UMA PRESTAÇÃO DE CONTA DO PROJETO
No dia 09 de maio, foi realizado o evento “Avanços do Plano Estratégico Brasil Livre de PSC, com ênfase nos resultados de Alagoas”, promovido pelo MAPA, como forma de prestação de contas de todos os resultados alcançados no projeto piloto do plano estratégico.
RISCOS ASSOCIADOS A PSC (ESTUDO DE IMPACTO ECONOMICO CNA)
Há uma série de riscos associados à presença da PSC, sendo eles sanitários, econômicos e sociais. O estudo recente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), trouxe quatro possíveis cenários quanto ao impacto econômico causado pela doença.
O evento foi um marco para a retomada da vacinação contra a PSC na ZnL, e contou com a presença de diversas instituições e estados, dentre eles o estado do Piauí, que durante a programação, manifestou a vontade de implementar uma campanha de vacinação contra a PSC na sua região.
O evento está disponível na
Esses cenários levam em conta a disseminação da doença, considerando a taxa de contágio de 13% e as implicações sanitárias e econômicas correspondentes.
Cada cenário foi avaliado considerando o local do foco, a resposta sanitária necessária (incluindo o sacrifício de animais clinicamente doentes e a vacinação dos rebanhos), e os impactos econômicos, como a suspensão de exportações e a pressão sobre o mercado interno.
Os reflexos no Valor Bruto da Produção (VBP) da suinocultura nacional foram calculados para estimar os prejuízos financeiros totais, fornecendo uma base sólida para a formulação de estratégias de mitigação e prevenção.
Possíbilidade de ocorrência do cenário 1
O surto de PSC ocorreria na Zona não Livre (ZnL) de PSC, especificamente no estado do Piauí.
O surto seria contido dentro do estado, resultando em restrições de comercialização apenas nas áreas afetadas, sem consequências para os demais estados, incluindo os da zona livre de PSC e exportações brasileiras.
Prejuízo do cenário: R$ 95 milhões em prejuízos comerciais e indenizatórios.
Possíbilidade de ocorrência do cenário 2
Caso confirmado de PSC também ocorre na ZnL de PSC, no Piauí, mas em uma área próxima à fronteira delimitada pela OMSA. Devido a isso, os estados limítrofes da ZL, como a Bahia, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia e Acre têm suas licenças de exportação suspensas.
A carne produzida por essas regiões é destinada integralmente ao mercado interno, causando uma pressão sobre os preços internos durante um período de 12 meses.
Prejuízo do cenário: R$ 7,2 bilhões incluindo uma queda de R$ 6,8 bilhões no VBP da suinocultura atual.
Possíbilidade de ocorrência do cenário 3
O foco de PSC ocorreria especificamente em Minas Gerais. Como consequência, o Brasil tem seu status de zona Livre de PSC sem vacinação suspenso pela OMSA.
Há um embargo de 100% das exportações dos estados da Zona Livre de PSC por um período de 12 meses, exceto para Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, que permanecem livres da suspensão das exportações.
Prejuízo do cenário: R$ 11 bilhões ao mercado nacional.
Possíbilidade de ocorrência do cenário 4
O Paraná seria afetado pela doença e, consequentemente, o Brasil perderia seu status de ZL de PSC sem vacinação, conforme suspenso pela OMSA.
Esse cenário lavaria a um embargo de 100% das exportações brasileiras de carne suína por um período de 18 meses.
Prejuízo do cenário: R$ 35 bilhões aos cofres públicos e privados, paralisando o potencial suinícola brasileiro.
Os dados apresentados pelo estudo, demonstram os prejuízos possíveis acarretados pela doença e destaca a necessidade da implementação de medidas preventivas e de resposta, garantindo a sustentabilidade econômica da suinocultura no Brasil e protegendo a segurança alimentar do país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A erradicação da PSC da ZnL trará consigo uma série de benefícios socioeconômicos.
A redução dos riscos associados à presença da doença não só fortalece a segurança alimentar e a saúde animal, mas também impulsiona a confiança dos consumidores na qualidade dos produtos suínos brasileiros.
Fonte: ABCS (2024)
Para que possamos alcançar o objetivo de avançar com a Zona Livre da doença, é fundamental a união de esforços entre o setor público e privado.
Autoridades governamentais, sanitárias, produtores, indústrias e outras instituições que representam o segmento privado da suinocultura, que devem continuar trabalhando e colaborando no sentido de impulsionar e implementar as medidas eficazes de prevenção e controle da PSC.
AGRADECIMENTOS
A campanha de vacinação contra a PSC em Alagoas faz parte de uma ação de parceria público-privado entre diversas instituições que representam o setor, contando com o apoio dos produtores, indústrias, Fundos de Defesa Sanitária, Serviço Veterinário Oficial, Governo de Alagoas, vacinadores e demais envolvidos, cujo comprometimento e esforço foram essenciais para o êxito dessa ação conjunta.
Nossos agradecimentos a todos os organizadores e doadores da campanha.
Vacinação contra a peste suína clássica no nordeste BAIXAR EM PDF
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