![](https://assets.isu.pub/document-structure/210625171453-2b7295403277f329ad105a34ab0382a9/v1/926748f4ee3b66e237f5fea7de8e5be7.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
7 minute read
Irrigação
Água escassa
A irrigação é uma alternativa importante para os produtores rurais. No entanto, em períodos de escassez hídrica vai muito além de incrementar a produção, podendo significar, literalmente, a salvação da lavoura e dos lucros
OAlerta de Emergência Hídrica, divulgado recentemente em conjunto pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e pelo Sistema Nacional de Meteorologia, sobre a previsão de escassez hídrica, no período de junho a setembro, nos cinco estados localizados no entorno da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, certamente deverá motivar os agricultores-irrigantes a adotar práticas efetivas de convivência com essa situação desfavorável que, em casos extremos, poderá obrigar a restrição parcial ou total da irrigação na agricultura para priorizar o essencial abastecimento domiciliar urbano. Caso o agricultor necessite manter a atividade produtiva por razões de sobrevivência, é fundamental que disponha da outorga para utilização de recursos hídricos, procurando, assim, evitar uma interrupção compulsória da irrigação. O problema é agravado pela indissociável relação com a escassez energética, com um inevitável aumento no custo operacional dos sistemas operados por energia elétrica.
Incidentalmente, a irrigação praticada em regiões sistematicamente afetadas por escassez hídrica tem proporcionado inúmeras alternativas capazes de assegurar a viabilidade da agricultura irrigada nessas condições desfavoráveis. Deve-se considerar que à medida que se reduz a dotação hídrica às culturas, ocorre também a redução no consumo energético nas unidades de bombeamento. Esse fato sugere que as práticas para redução hídrica poderiam também ser adotadas em condições de energia pouco disponível, em geral com custo mais elevado.
A seguir, estão sugeridas algumas alternativas para a redução da dotação hídrica e do consumo energético em períodos de escassez hídrica, assumindo que soluções simples, como a eliminação de vazamentos na rede hidráulica, sejam prioritariamente providenciadas.
SUSCETIBILIDADE DA PRODUÇÃO À DEFICIÊNCIA HÍDRICA
Tem sido extensivamente demonstrado que as plantas cultivadas exibem diferentes graus de suscetibilidade à deficiência hídrica durante o ciclo fenológico. Esse comportamento pode ser observado na experiência do agricultor com a cultura irrigada ou quantificado em ensaios de pesquisa, com o objetivo de se determinar as funções de produção da água em determinada cultura. Assim, a simples avaliação observada em inúmeros locais permite identificar períodos críticos de exigência hídrica durante o florescimento ou formação dos produtos de diferenciação na maioria das culturas, como cereais, leguminosas, raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, colmos, frutíferas etc. Essa constatação permite concluir que nos demais estádios fenológicos a exigência hídrica pode ser mais flexível, tolerando-se diferentes graus de deficiência hídrica,
sem causar prejuízos significativos à produção. (veja box ao lado)
CULTURAS TOLERANTES À DEFICIÊNCIA HÍDRICA
Havendo a previsão de escassez hídrica, é providencial a escolha de culturas mais tolerantes à restrição hídrica. Atualmente, podem ser obtidas cultivares geneticamente modificadas, ou não transgênicas, de diversas culturas, com expressiva tolerância à deficiência hídrica.
AUMENTAR O TURNO DE IRRIGAÇÃO
A maior frequência de irrigação promove um maior período de molhamento da superfície do dossel vegetativo e do solo, aumentando as inevitáveis perdas por evaporação. Ao explorar a capacidade máxima de retenção de água disponível no solo, o turno de irrigação será ampliado, reduzindo a frequência de molhamento superficial e as perdas de água.
IRRIGAÇÕES NOTURNAS POR ASPERSÃO
Algumas vantagens podem ser prontamente reconhecidas nas irrigações noturnas: redução no custo da energia elétrica, aproveitando a tarifa verde, e redução na evaporação da água lançada no ar e precipitada sobre a vegetação e o solo. A operação do sistema de irrigação entre 21h30min até às 6h pode resultar em significativa redução no custo de energia elétrica. Em algumas concessionárias, a redução pode atingir 90% da tarifa normal aplicada no horário de ponta ou pico no consumo de energia elétrica.
IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO
EM PERÍODOS VENTOSOS
A ocorrência de ventos intensos ou moderados prejudica a uniformidade de distribuição de água, em sistemas de irrigação por aspersão, agravando a condição de escassez hídrica. A reco-
DEFICIÊNCIA HÍDRICA
As observações sobre deficiência hídrica podem ser vantajosamente quantificadas, na determinação de funções de produção obtidas em ensaios experimentais, cujas equações apresentam a seguinte forma:
Y/Yo = π (E/Eo)λ
Y – produção com dotação hídrica deficitária E,
Yo – produção com dotação hídrica irrestrita Eo, π – multiplicador, λ – sensibilidade à deficiência hídrica em diferentes estádios fenológicos.
Para exemplificar a aplicação desta equação, será utilizada a função de produção de uma cultura de sorgo granífero, publicada por Howell & Hiller (1975) com os seguintes resultados experimentais, acompanhados de uma dotação hídrica ilustrativa:
Supondo E = 252mm e Eo = 360mm (E/Eo = 0,7):
Estádio Eo-mm E-mm λ sorgo* (E/Eo)λ Germ. 40 20 0 1 Cresc. 80 50 0,12 0,95 Flores. 120 120 0,6 1 Frutif. 80 62 0,18 0,96 Matur. 40 0 0 1 Ciclo 360 252
0,91
Redução de 30% de água e 9% na produção de grãos de sorgo *(Howell & Hiller,1975).
Uma vez conhecida a função de produção, várias estratégias de manejo das irrigações podem ser avaliadas para se obter o melhor resultado econômico.
Wenderson Araujo
![](https://assets.isu.pub/document-structure/210625171453-2b7295403277f329ad105a34ab0382a9/v1/a93f3e192451a669bf8ee205dabeed95.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
Como reduzir o consumo de energia na irrigação
mendação seria aguardar por períodos com menor intensidade dos ventos para executar a irrigação, quando houver a possibilidade de alterar o período operacional do projeto.
POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE CHUVAS
Algumas recomendações podem ser oportunas para a redução no consumo de energia, em planejamentos de irrigação, conforme anotadas a seguir: • Escolher sistemas de irrigação que requerem pouca energia em suas características operacionais, como a irrigação por superfície (faixas, sulcos e inundação, quando aplicável) ou aspersão convencional, com aspersores pequenos, bocal único e reduzida pressão operacional. • Localizar as áreas irrigadas próximas aos mananciais que deverão abastecer os sistemas de irrigação. • Priorizar áreas com topografia relativamente plana e uniforme. • Considerar a operação noturna como alternativa para melhorar o desempenho das irrigações e reduzir o custo do consumo energético em instalações acionadas por energia elétrica. • Dimensionar tubulações e acessórios com características favoráveis à redução das perdas de carga hidráulica por atrito. • Introduzir na rede hidráulica apenas os componentes essencialmente necessários à operação segura do sistema de irrigação.
Previsões de chuvas generalizadas, com elevada probabilidade de ocorrência em datas próximas, podem justificar um atraso na irrigação, principalmente se a cultura não estiver atravessando o período crítico de exigência hídrica. Além disso, chuvas moderadas podem corrigir uma eventual distribuição desuniforme de água associada ao sistema de irrigação. Caso a chuva não ocorra, reiniciar a irrigação procurando reajustar os períodos operacionais, mesmo sendo preciso aplicar lâminas inferiores às requeridas, até restabelecer a normalidade operacional.
CULTIVAR NA SEÇÃO
TRANSVERSAL DOS
SULCOS
Havendo a formação de sulcos durante o processo de semeadura, é aconselhável semear na própria seção transversal dos sulcos. Essa prática favorece o acúmulo de água de chuva ou irrigação em condições de escassez hídrica. Caso a irrigação seja por sulcos, as sementes podem ser localizadas nas laterais da seção transversal dos sulcos, evitando sua remoção por ocasião das irrigações ou chuvas intensas.
DÉFICITS HÍDRICOS INTENCIONAIS NA IRRIGAÇÃO
Em condições críticas de disponibilidade hídrica é recomendável admitir déficiência hídrica é frequente na maioria dos projetos de irrigação, dependendo do rigor observado no dimensionamento e nas condições operacionais dos sistemas de irrigação.
Atualmente, existem informações técnicas sobre estratégias de aplicação de déficits hídricos intencionais em, praticamente, todas as culturas de interesse. Esta prática, generalizada na agricultura irrigada mundial com a denominação de “regulated deficit irrigation”, tem por objetivo aumentar a eficiência de uso de água nas culturas irrigadas e o consequente acréscimo na receita líquida do projeto. Os interessados devem procurar por essas estratégias na literatura especializada e, assim, usufruir os benefícios de sua utilização em seus projetos.
![](https://assets.isu.pub/document-structure/210625171453-2b7295403277f329ad105a34ab0382a9/v1/97fdf430bcebc289b6732ab1cd76ad4a.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
![](https://assets.isu.pub/document-structure/210625171453-2b7295403277f329ad105a34ab0382a9/v1/30bdb8ead3f0ecae996b26035eea0d0d.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
ficits hídricos em partes da área irrigada. Deve-se destacar que a economia aplicada aos projetos de irrigação raramente recomenda a incorporação da quantidade de água requerida na área total irrigada. Assim, a existência de algum grau de de-
AUMENTAR A DENSIDADE DE PLANTIO
A maior densidade de plantio pode compensar uma quantidade insuficiente de água pela redução de espaços vazios na área irrigada. O agricultor não deve ignorar que os sistemas de irrigação por aspersão aplicam a água em área total. Portanto, é sempre recomendável que toda água aplicada encontre uma planta cultivada pronta para absorvê-la.
GEL ABSORVENTE DE ÁGUA
Quando possível, utilizar o gel absorvente de água no plantio, notadamente em espécies arbóreas e arbustivas. Este produto aumenta a capacidade de retenção de água no solo, aproveitando melhor a água de chuva e possibilitando um aumento significativo no intervalo entre irrigações.
Como sempre ocorre em situações desfavoráveis, algumas iniciativas adotadas temporariamente podem se revelar promissoras para serem definitivamente incorporadas nas atividades rotineiras do projeto de irrigação, com o objetivo de melhorar seu desempenho econômico. .M
Edmar José Scaloppi, Unesp