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Colhedoras

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Rodando por aí

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Onde ocorrem

Avaliação de 20 colhedoras traça um perfil das principais perdas que ocorrem na colheita do arroz irrigado no Rio Grande do Sul

OBrasil destaca-se como o maior produtor de arroz fora do continente asiático, sendo que o sistema de cultivo irrigado é tradicionalmente praticado na Região Sul do país, devido às questões de clima e solo, contribuindo, em média, com 54% da produção nacional do grão. A produção nacional do arroz na safra de 2018/2019 atingiu 10,6 milhões de toneladas, cultivado basicamente em cinco estados do Brasil: Rio Grande do Sul, onde é produzida a maior parte, cerca de 70,5% da produção, seguido de Santa Catarina com 10,2%, Tocantins com 6%, Mato Grosso com cerca de 3,6% e por último Paraná com cerca de 1,5% da produção nacional (Mapa, 2019).

No processo produtivo de qualquer cultura, a colheita é uma etapa muito importante, pois é a última tarefa do ciclo da cultura dentro da propriedade. Deste modo, tornam-se indispensáveis o planejamento e a adoção de técnicas e procedimentos corretos e eficazes no momento da colheita (Bisognin, 2015). Colher na época certa é, portanto, fundamental para se obter um produto de qualidade e com maior rendimento. O arroz atinge o ponto de maturação adequado quando dois terços dos grãos da panícula estão maduros. Embora essa fase seja fácil de ser identificada visualmente, pode-se tomar como base, também, o teor de umidade dos grãos (SNA, 2017).

As perdas quantitativas dos grãos na colheita mecanizada de arroz irrigado ocorrem basicamente por três motivos: antes da colheita (perdas pré-colheita), na plataforma de corte e recolhimento (perdas na plataforma) e nos mecanismos internos da colhedora (perdas pelos mecanismos internos. As principais causas das perdas de grãos estão relacionadas às regulagens incorretas dos sistemas da máquina, à velocidade de trabalho incompatível, a qual eleva a taxa de alimentação e sobrecarrega a colhedora e, finalmente, à falta de qualificação dos operadores, principalmente no que se refere aos dois tópicos citados anteriormente.

Na colheita do arroz irrigado na safra 2019/2020 foi conduzido um experimento para avaliar 20 exemplares de colhedoras em diferentes lavouras comerciais no município de Alegrete (RS). As regulagens dos mecanismos foram previamente realizadas pelos operadores, mantendo-as constantes durante as determinações de perdas na colheita. As velocidades de deslocamento da colhedora foram aferidas através do monitor a bordo ou de equipamento GPS, no posto de operação. As áreas foram colhidas com os grãos contendo umidade em média de 21,2% base úmida (b.u). De posse dos dados coletados, para as variáveis quantitativas, fez-se utilização de ferramentas de controle estatístico do processo (CEP) para representar os resultados de perdas na colheita. Os gráficos apresentam três linhas horizontais, sendo a linha central a média das observações e as linhas inferior (Limite inferior de Controle – LIC) e superior (Limite Superior de Controle – LSC) obtidas pela média ± o desvio padrão amostral. Neste caso, cabe ressaltar que valores abaixo do LIC não são considerados ruins, mas indicativos de baixo nível de perdas de grãos.

PRÉ-COLHEITA

Nas perdas em pré-colheita, também chamadas de perdas naturais, observou-se uma média de 23,06kg/ha (Figura 1). Cinco das 20 áreas amostradas (25%) apresentaram valores de perdas em pré-colheita acima do limite máximo estabelecido, de 35,14kg/ha. A umidade média dos grãos nestas cinco lavouras ficou em 21,7%, dentro do limite recomendado para colheita do grão. As elevadas perdas naturais observadas podem estar ligadas a fatores intrínsecos de cada material genético utilizado, condições climáticas adversas ou ainda à presença de animais silvestres, dependendo da localização geográfica da lavoura. Um ponto positivo foi que em seis das 20 propriedades (30%) não fo-

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Figura 1 - Carta controle das perdas de pré-colheita em 20 propriedades observadas

Figura 2 - Carta controle das perdas na plataforma em 20 propriedades observadas

Figura 3 - Carta controle das perdas nos mecanismos internos nas propriedades observadas

O levantamento foi feito com 20 modelos de colhedoras de diferentes marcas ram observadas perdas naturais e outras quatro apresentaram valores próximos a 20kg/ha. Vale ressaltar que nos gráficos deste trabalho, valores abaixo do LIC são considerados bons para a operação de colheita e não significam que o processo está fora do controle.

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No que diz respeito às perdas na plataforma, observou-se uma média de 48,19kg/ha, sendo que duas lavouras se destacaram negativamente com valores muito acima dos relatados na literatura e considerados aceitáveis pelas instituições técnico-científicas. Uma das causas de perdas na plataforma é a incorreta velocidade periférica do molinete, podendo ocorrer perdas devido a baixa ou excessiva velocidade. Se a velocidade do molinete for muito baixa, pode ocorrer duplo corte, pois o molinete retardará a entrada das panículas na plataforma, deixando-as cair sobre o solo. Enquanto se a velocidade for muito alta, ocorrerá muito impacto entre o molinete e as panículas, ocasionando a debulha dos grãos e derrubando-os no solo (Bisognin, 2015). Também é notório que alguns materiais genéticos possuem maior suscetibilidade à debulha natural e, neste caso, maior atenção deve ser dada aos parâmetros da plataforma. Regulagens incorretas da posição do molinete (em altura e avanço) também podem contribuir para a elevação das perdas de grãos.

Outro fator extremamente importante é a velocidade de colheita. Nas propriedades amostradas, não houve correlação direta das perdas na plataforma em função da velocidade, mas todas as quatro amostras que apresentaram valores mais elevados de perdas estavam colhendo em velocidades acima de 2,75km/h.

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MECANISMOS INTERNOS

Na Figura 3, pode-se observar a variação das perdas nos mecanismos internos. Verifica-se que praticamente todas as observações ficaram fora dos limites de controle superior e inferior, sendo que oito observações apresentaram resultados positivos, ficando abaixo do LIC. Obteve-se uma média de 32,46kg/ ha e um desvio padrão de 20,85, resultando em LIC de 22,03kg/ha e LSC de 42,88kg/ha. Quando comparado com outros trabalhos, pode-se dizer que houve uma média baixa de perdas nos mecanismos internos, em valores gerais as perdas nos mecanismos internos foram menores quando comparadas com as perdas na plataforma.

Quando comparadas as perdas nos mecanismos internos com a velocidade de colheita, verificou-se que a velocidade de colheita não apresentou relação direta nas perdas de grãos ocasionadas pelos mecanismos internos, conforme ilustrado na Figura 4. Isto pode ser explicado pelo fato de que a variação de velocidades utilizadas pelos produtores na região foi baixa, ressaltando a importância de monitorar as perdas a fim de ajustar a velocidade de colheita e as regulagens da colhedora. Ainda assim, alguns exemplares que colheram em velocidades menores apresentaram perdas superiores àqueles em velocidades maiores.

PERDAS TOTAIS

Em relação às perdas totais, observou-se que a maioria das observações ficou dentro dos limites de controle superior e inferior, inclusive com 30% das colhedoras com perdas totais abaixo do limite inferior. A média de perdas totais foi de 84,38kg/ha. Em 15% do total de 20 máquinas, houve maior perda do que o aceitável, em duas delas a perda maior foi na plataforma e na terceira, a perda foi maior nos mecanismos internos. No geral, as perdas na plataforma são menores quando os grãos possuem maior teor de umidade, dificultando o desprendimento dos grãos das panículas de arroz.

À exceção de algumas observações, as perdas quantitativas de grãos aferidas estão dentro do recomendado para a cultura do arroz irrigado. Foram observadas alterações pontuais nas perdas de grãos pelas colhedoras que podem ser atribuídas a maiores velocidades de colheita, no entanto não houve ajuste linear das perdas em função da velocidade para as amostras coletadas. As perdas quantitativas na plataforma de corte foram maiores que as perdas nos mecanismos internos da colhedora, denotando a atenção necessária do operador a este importante componente das perdas totais. .M

Bibiana Bueno de Souza Cadore e Vilnei de Oliveira Dias, Lamap/Unipampa Alegrete Lucas Rodrigues Bastos, Campo e Lavoura Consultoria Agrícola

Figura 4 - Perdas pelos mecanismos internos em função da velocidade de colheita Figura 5 - Perdas totais nas 20 propriedades observadas

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