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Pulverizadores
Volatilidade
Ferramentas auxiliam a diminuição da volatilidade de herbicidas altamente de amplo espectro para evitar deriva e danos em áreas e culturas onde não foram aplicados
Aproximidade da introdução de cultivares comerciais de soja geneticamente modificadas tolerantes ao dicamba coloca em debate a possível exposição de plantas suscetíveis à deriva do herbicida em áreas adjacentes às aplicações. Tida como uma das grandes evoluções tecnológicas do agronegócio nas últimas décadas, a incorporação da tolerância a herbicidas através da biotecnologia em plantas cultivadas oferece novas alternativas para o controle de plantas daninhas, representando um passo importante dentro do cenário de aumento do número de plantas daninhas tolerantes ou resistentes aos herbicidas tradicionais. Em especial, a introdução do gene de tolerância ao dicamba na cultura da soja aumenta o número de opções de herbicidas para o manejo de plantas daninhas de difícil controle, principalmente aquelas que são tolerantes ou resistentes ao glifosato.
DERIVA E VOLATILIDADE
O movimento de um ingrediente ativo para fora das áreas aplicadas pela ação de vários fatores é um fenômeno conhecido como deriva. Este movimento pode ser representado pela deriva física (transporte de partículas) e a deriva de vapor, a qual depende do perfil de volatilidade da formulação aplicada. No que se refere ao dicamba, novas formulações e adjuvantes foram desenvolvidos para minimizar os riscos para as áreas adjacentes com plantas sensíveis a esse herbicida, através da menor geração de partículas transportáveis e diminuição do potencial de volatilidade. O dicamba na forma ácida é caracterizado como um composto moderadamente volátil, e o grau de volatilidade depende de vários fatores, incluindo quantidade aplicada, temperatura atmosférica, umidade atmosférica, formulação química (tipo de sal) e superfície sobre a qual foi aplicada.
TECNOLOGIAS UNIFICADAS
Pesquisas realizadas na Unesp de Botucatu/SP pelos professores Caio Carbonari e Edivaldo Velini mostraram que a utilização do sal diglicolamina de dicamba (DGA) reduz a volatilidade do ingrediente ativo em cerca de 90%, se comparado ao uso do sal de dimetilamina (DMA). Além disso, a técnica para a aplicação segura do dicamba conta também com um composto que atua como redutor de volatilização, o qual está presente no adjuvante Xtend Protect (adjuvante redutor de deriva e volatilidade). O Xtend Protect foi desenvolvido especificamente para diminuir ainda mais o perfil de volatilidade do herbicida, conferindo maior segurança quanto ao risco da deriva por vapor. A volatilidade da formulação de dicamba baseada no sal DGA é muito menor do que a da for-
mulação produzida com o sal DMA, e a utilização do adjuvante que contém o redutor de volatilidade diminui ainda mais a volatilidade quando presente na formulação com o sal DGA. Estas pesquisas mostraram, ainda, que a adição do redutor de volatilidade às caldas pulverizadas diminuiu a quantidade de dicamba volatilizado em até 98% e 88%, respectivamente, para as caldas com dicamba DGA isolado ou associado com o glifosato sal potássico.
VOLATILIDADE E SUPERFÍCIE APLICADA
Com a maior adoção do sistema de plantio direto em soja, milho e algodão, e do sistema de dupla safra no Cerrado brasileiro (soja/milho), uma parte significativa do dicamba aplicado poderá ser depositada sobre a palha, e a interação do herbicida com a superfície da palha é diferente de quando se trata de solo ou superfície foliar. Este fato se torna ainda mais importante, pois nas áreas de Intacta 2 Xtend a recomendação do uso do dicamba é no pré-plantio ou até o dia do plantio da soja. Neste sentido, os resultados das pesquisas realizadas pelos professores Carbonari e Velini mostraram também que a superfície tratada exerceu influência direta sobre a quantidade de dicamba volatilizado, mas a palha, principal alvo no Brasil em função do plantio direto, foi a superfície a partir da qual foram observados menores níveis de volatilidade, especialmente na presença do redutor de volatilidade. É importante ressaltar, neste sentido, que o adjuvante redutor de volatilidade quando utilizado na mistura em tanque foi eficaz na redução da volatilização do dicamba sal DGA, independentemente da superfície pulverizada e da mistura com o glifosato, tornando a aplicação de dicamba ainda mais segura do ponto de vista da volatilização.
AgroEfetiva
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Os pulverizadores autopropelidos foram calibrados para operar em velocidades entre 18km/h e 20km/h
VOLATILIDADE A CAMPO
Outro projeto de pesquisa relacionado à volatilidade de dicamba foi realizado pela empresa AgroEfetiva (Botucatu/SP), em parceria com o Laboratório de Máquinas para Pulverização da Unesp-Botucatu/SP e a Universidade de Nebraska-Lincoln/EUA, cujo objetivo geral foi oferecer um melhor entendimento do processo de volatilidade de dicamba em situação de larga escala. Este trabalho possibilitou a geração de dados para a modelagem matemática da volatilidade de dicamba em condições reais de aplicação a campo.
Os modelos que descrevem volatilidade a campo foram introduzidos nas décadas de 1980 e 1990, seguindo demandas regulatórias impostas pelos órgãos ambientais dos diferentes países ao redor do mundo. A linha de pesquisa utilizada pela AgroEfetiva no Brasil segue os mesmos padrões regulatórios dos Es-
Jacto
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Figura 1 - Fluxo de emissão de dicamba por volatilidade em função do tempo decorrido após a aplicação, no ensaio de 2018: o fluxo é maior nas primeiras horas, mas decai rapidamente antes de se completar 24 horas desde a aplicação. Fonte: AgroEfetiva/Bayer Figura 2 - Valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo, no ensaio de 2018. Durante todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose aplicada. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
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tados Unidos, com premissas propostas pela Bayer e aceitas pela agência regulatória daquele país. A base metodológica deste trabalho foi apresentada em artigos científicos publicados por Riter et al. (2020) e Sall et al. (2020). De acordo com o método, modelos como o IHF (do inglês Integrated Horizontal Flux, ou Fluxo Horizontal Integrado) e o AD (Aerodinamic, ou Aerodinâmico) foram utilizados para estimar a perda de massa cumulativa de dicamba ao longo do tempo após as aplicações. Esses dados das perdas serão posteriormente utilizados para uma outra modelagem, que avalia o padrão de dispersão do ativo na atmosfera, o que permite avaliar o risco de intoxicação de plantas sensíveis.
A geração de dados para estas modelagens depende de uma logística coordenada de coleta de amostras e de métodos analíticos robustos. Por esta razão, a pesquisa vem sendo realizada de maneira sequencial desde 2018, com ensaios em todas as safras. Em cada ensaio, um talhão de 4ha que havia sido semeado com soja não tolerante ao dicamba (Figura 1) recebeu a aplicação de dicamba sal DGA em mistura com glifosato sal potássico. O adjuvante redutor de volatilidade e de deriva também foi incluído na mistura, seguindo o protocolo experimental de cada área. As aplicações foram realizadas sempre de acordo com as recomendações de bula do dicamba, utilizando-se pulverizadores autopropelidos (Figura 2) que foram calibrados para operar em velocidades normais de campo (18 a 20 km/h). As pontas utilizadas foram do modelo TTI 11004 (Teejet), operando na pressão de 2,8bar (40psi), com volume de calda de 100L/ha. A barra do pulverizador foi mantida na altura máxima de 0,5m acima da cultura.
Para a modelagem matemática da volatilidade, os dados meteorológicos foram coletados ao longo do tempo após as aplicações, em diferentes alturas e posições no talhão aplicado, assim como amostras de ar foram coletadas utilizando-se dispositivos desenvolvidos especificamente para este trabalho, dentro e fora da área aplicada, igualmente considerando as diferentes alturas (Figura 3). Todo o entorno da área aplicada foi monitorado continuamente considerando-se oito pontos de coleta em volta da área (cobrindo todas as direções possíveis, em 360 graus), de forma que qualquer movimento de vapor de dicamba que pudesse ocorrer fosse monitorado e quantificado ao longo do tempo, durante toda a duração do ensaio, independentemente da direção do vento ou das demais condições meteorológicas. Após as aplicações, as amostras de ar contendo o dicamba que eventualmente se volatilizou foram coletadas continuamente, no intervalo de 30 minutos após o término das aplicações até mais de 70 horas depois, de acordo com o protocolo de cada área. Imagem aérea de uma área de 4ha que recebeu a aplicação do dicamba mostra que 36 dias após a aplicação do herbicida não houve dano visível significativo na soja fora da área que recebeu o herbicida.
As amostras coletadas foram armazenadas, congeladas e transportadas de acordo com um rigoroso protocolo para sua preservação. Já em laboratório, após o processo de preparação e extração, as
Fotos AgroEfetiva
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Coletores de ar e estação meteorológica utilizados na pesquisa a campo para avaliação da volatilização do dicamba
Figura 3 - Fluxo de emissão de dicamba por volatilidade em função do tempo decorrido após a aplicação em talhão do ensaio de 2019. Fonte: AgroEfetiva/Bayer Figura 4 - Valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo no ensaio de 2019. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
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quantidades de dicamba coletado foram determinadas através da cromatografia líquida e espectrometria de massas (LCMS-MS), em processo analítico coordenado pelo professor Caio Carbonari, utilizando as estruturas laboratoriais do Nupam (FCA/Unesp, Botucatu/SP) e da SGS Brasil.
Os resultados obtidos nas diferentes safras mostraram que o fluxo de dicamba emitido por volatilidade foi igual ou menor quando comparados aos resultados obtidos em ensaios similares realizados nos Estados Unidos. Segundo o artigo publicado por Riter et al. (2020), a emissão média encontrada nos Estados Unidos foi de 0,2% ± 0,05% da dose aplicada do produto.
A Figura 1 apresenta um exemplo baseado nos dados obtidos no ensaio da safra de 2018. Observa-se que o fluxo de emissão de dicamba por volatilidade é maior nas primeiras horas após a aplicação, mas esse fluxo decai rapidamente antes de se completar 24 horas desde a aplicação, seguindo com um valor de fluxo bastante reduzido até o final do ensaio. A Figura 2 mostra o valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo, considerando-se este talhão de 2018 (% da dose aplicada). Observa-se que em todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose aplicada para este talhão.
A Figura 3 apresenta dados obtidos no ensaio da safra de 2019, onde se observa novamente que o fluxo de emissão de dicamba por volatilidade é maior nas primeiras horas, decaindo rapidamente ao longo do primeiro dia após a aplicação. A emissão de dicamba segue com um fluxo bastante reduzido após esse período, até desaparecer próximo ao final do ensaio. No caso desse talhão de 2019 (Figura 4), o valor total de dicamba volatilizado acumulado ao longo do tempo permaneceu abaixo de 0,1% da dose aplicada no talhão, representando menos da metade do valor obtido nos estudos publicados nos Estados Unidos.
Os dados coletados nestas pesquisas estão sendo modelados para a análise de comportamento da massa de dicamba perdida por volatilização, mas os resultados já são conclusivos ao mostrarem cenários seguros quanto aos riscos relativos a esta volatilidade, visto que o valor das emissões é reduzido e menor do que aqueles obtidos nos Estados Unidos. A pesquisa segue atualmente com a modelagem dos dados na descrição de sua dispersão na atmosfera. Todas as informações geradas neste projeto estão sendo usadas para fundamentar os parâmetros técnicos de utilização do herbicida (bula do produto) e foram consideradas para definir os critérios de recomendação da Bayer quanto aos "10 Passos do Manejo Inteligente de Dicamba".
Ulisses R. Antuniassi, Caio A. Carbonari e Edivaldo D. Velini, Unesp/Botucatu Alisson A. B. Mota, Rodolfo G. Chechetto e Fernando K. Carvalho, AgroEfetiva Ramiro F. L. Ovejero, Matheus G. Palhano e Henrique N. Barbosa, Bayer
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Vista aérea de uma das áreas de quatro hectares que receberam a aplicação do dicamba, 36 dias após a aplicação do herbicida