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Tratores

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Pulverizadores

Pulverizadores

O básico bem feito

Para conseguir um bom aproveitamento do trator e do conjunto com implementos, algumas ações básicas são necessárias e devem garantir o funcionamento adequado e seguro

Em 2019, levantamento realizado pela equipe do Centro de Excelência em Máquinas e Mecanização - Cema, da Universidade Federal de Uberlândia, constatou 249 modelos de tratores agrícolas de pneus de diferentes marcas comercializados no Brasil, enquadrando-se nas faixas de potência abaixo de 59cv (27 modelos); 60cv a 99cv (99 modelos); 100cv a 199cv (69 modelos) e mais de 200cv (54 modelos), com tração 4x2, 4x2 tração dianteira auxiliar (TDA) e 4x4.

Observa-se, no campo, certa confusão em relação às nomenclaturas para a tração dos tratores agrícola, devendo ser denominado trator 4x2 aquele que apresentar tração apenas nos rodados traseiros de maior diâmetro que os dianteiros, que têm função direcional; os 4x2 TDA possuem pneus traseiros motrizes, com capacidade de realizar tração, porém os dianteiros, apesar de serem de menor diâmetro, também são motrizes, podendo o operador optar ou não pelo seu acionamento em função das condições de trabalho. Já os tratores com tração 4x4 possuem os pneus de mesmo diâmetro e todos eles, obrigatoriamente, realizam tração.

O trator agrícola é uma máquina autopropelida, multiusuária e tem flexibilidade para realizar diferentes tarefas na propriedade, que vão desde o preparo do solo, implantação, condução e tratos culturais até a colheita; e esta talvez seja sua principal vantagem. Há em funcionamento no Brasil desde tratores muito antigos até equipamentos modernos, e sua participação em todas as fases do processo produtivo é possível devido à sua capacidade de transmitir potência pelos componentes da transmissão como embreagem, caixa de marchas, diferencial, redução final até chegar aos rodados, sejam eles de esteiras ou pneumáticos.

Para que a energia mecânica seja convertida em trabalho, os implementos agrícolas necessitam ser acoplados nos meios de aproveitamento de potência dos tratores, barra de tração, sistema de levante de três pontos, controle remoto e tomada de potência (TDP). Os implementos acoplados na barra de tração são denominados de arrasto e aqueles acoplados ao levante de três pontos, popularmente chamado de sistema hidráulico, são conhecidos como implementos montados. Além disso, temos implementos que demandam rotação da TDP para serem acionados, como roçadoras, pulverizadores e enxadas rotativas.

O conjunto trator e implemento montados forma um conjunto mecanizado que necessita, após o acoplamento, dos nivelamentos longitudinal e transversal, para permitir que os órgãos ativos do implemento sejam ajustados em relação à linha de tração do trator, evitando o esterçamento involuntário (nivelamento transversal) e também manter todos os órgãos ativos atuando na mesma profundidade (nivelamento longitudinal) para implementos que trabalham em subsuperfície, como arado, sulcador e subsolador. Lembrando que essas regulagens se restringem a implementos montados.

Todos os cuidados com relação à maquinaria agrícola iniciam-se com a entrega técnica, devendo estar presente neste momento quem irá operar e conduzir o con-

junto mecanizado durante a vida útil econômica. No momento da entrega são repassadas informações básicas com relação a cuidados, operação e manutenção para que se execute de forma eficaz, segura, econômica e proporcione rendimento operacional com bem-estar para o operador e meio ambiente.

MANUTENÇÕES

No decorrer da vida útil das máquinas agrícolas alguns cuidados são implementados, a fim de se manter a disponibilidade mecânica e o grau de utilização dos equipamentos utilizados no processo de produção. Eles podem ser realizados em periodicidade diária, semanal, mensal, semestral e anual. Esses cuidados, chamados de manutenção, podem ser preventivo, corretivo e preditivo.

A manutenção preventiva, ou cuidados periódicos, é realizada em função do desgaste natural de peças e componentes e é guiada por informações contidas no manual do operador, como verificação de nível/troca de óleo do motor, aferição do nível de água do radiador, tensão da folga da correia do alternador, pressão de insuflagem dos pneus, ajustes da folga do acelerador, freios e embreagem.

A manutenção corretiva objetiva reparar problemas apresentados pelo equipamento durante o seu funcionamento, mas alguns itens são obrigatoriamente realizados de forma corretiva, como, por exemplo, troca das lâmpadas do farol e luz de ré.

A manutenção preditiva é, de certo modo, preventiva, no entanto, está relacionada às práticas com a prevenção de danos e previsibilidade de falhas. Nesse sentido, se utiliza de um monitoramento periódico por análise de vibração, ultrassom, inspeção visual e técnicas não destrutivas, a fim de integrar um programa de gerenciamento da vida útil das máquinas por um rígido e preciso cronograma de intervenções. A principal diferença entre a manutenção preventiva e a preditiva é que a preventiva ocorre em datas programadas no manual do operador, enquanto a preditiva ocorre continuamente e instante a instante durante a jornada de trabalho e a vida útil da máquina.

O operador deve, antes de iniciar a jornada de trabalho, verificar o nível de óleo presente no cárter, pois nesse momento o motor está em temperatura abaixo das condições de trabalho e possibilitará a aferição correta. Caso esqueça de realizar o procedimento e já tenha iniciado suas atividades, o mesmo deverá aguardar 15 minutos com o motor desligado para que o óleo escoe completamente para o cárter e, assim, possa ser verificado corretamente o nível na vareta. Caso encontre-se abaixo do nível e não esteja na época de troca do óleo, é necessário fazer a complementação utilizando o mesmo óleo presente no reservatório com relação à viscosidade (classificação SAE) e à qualidade (classificação API), pois mistura de diferentes tipos de óleo pode ocasionar reações químicas prejudiciais ao motor, podendo o mesmo até perder seu “poder” de lubrificação. No caso da complementação, o operador deve analisar a condição do óleo, pois a mistura de um óleo em boas condições com um já contaminado e com propriedades lubrificantes reduzidas não é justificável.

O mau funcionamento dos componentes do sistema de arrefecimento do motor, como nível de água do radiador, funcionamento da hélice do ventilador, sujeiras na estrutura do radiador, avarias/ vazamento nas conexões e mangueiras, funcionamento da válvula termostática e bomba d’água, pode ocasionar superaquecimento do motor. Ao observar superaquecimento é importante ter cuidado ao abrir a tampa do radiador para evitar queimaduras e colocar água no radiador com o motor a baixas rotações para evitar trincas no bloco do motor.

O sistema de alimentação de ar seco dos tratores possui filtro com dois elementos filtrantes. O elemento externo pode ser limpo toda vez que o trator apresentar queda de rendimento, por observação da prática ou indicar restrição à entrada de ar. Essa limpeza deve ser realizada preferencialmente com jatos de ar comprimido de dentro para fora na estrutura do filtro, com pressões que não ultrapassem 5bar a 6bar. De qualquer forma, é importante consultar o manual do equipamento para verificar se este tipo de limpeza é permitido para o modelo de trator. O elemento interno, geralmente, não aceita limpeza e deve ser substituído com a periodicidade estabelecida no manual do operador, com intervalos que geralmente variam de cinco a sete limpezas do elemento externo. Se durante a limpeza o elemento externo for danificado, é necessário proceder sua substituição, a fim de evitar que partículas abrasivas passem pelo elemento e danifique componentes do motor. A verificação de dano pode ser realizada em um ambiente escuro com uma fonte de luz colocada no interior do filtro, ao passar feixe de luz significa que o elemento externo foi danificado no processo de limpeza.

SEGURANÇA

Os tratores agrícolas são máquinas que, quando operadas em condições adequadas, tornam-se seguras com relação à estabilidade. Porém, há quem não respeite os limites de declividade operacional das máquinas, realizando atos e condições inseguras. A estrutura de proteção na capotagem

Massey Ferguson

Estrutura de proteção na capotagem é um item que deve sempre ser mantido, para evitar acidentes fatais

(EPCC) previne acidentes graves ou fatais em casos de tombamento ou capotamento, mantendo o operador em segurança. Porém, o operador deve estar com o cinto de segurança devidamente ajustado e afivelado. Muitos tratores antigos, ainda em operação, não possuem essa estrutura de proteção, que em alguns casos é confundida com a estrutura de sustentação do toldo solar. Para ser considerada estrutura de proteção deve ser fixada ao chassi, original de fábrica, e receber um selo de certificação. Reparos e adaptações não realizados por empresas autorizadas podem desproteger o operador e ser um agravador do acidente.

TECNOLOGIA

A tecnologia proporciona ao agricultor acesso a maiores informações da operação, e estas impactarão na tomada de decisão e qualidade das atividades no campo. Um exemplo é a telemetria, que permite ao gestor conhecer a dinâmica de trabalho sob o ponto de vista da máquina e do operador, conhecer como a operação ocorreu e inferir sobre sua qualidade. No trator, a telemetria permite ao usuário monitorar em tempo real as respostas da máquina às diferentes condições de trabalho ocorridas em função do terreno, da cultura, do operador etc. Entre as muitas variáveis obtidas, a velocidade de trabalho é uma das que mais afetam a qualidade do trabalho a ser realizado. A forma de apresentação para o usuário também é fundamental para uma boa compreensão e visualização da variável no espaço (local do talhão onde houve alteração). Nesse sentido, não basta a tecnologia permitir o monitoramento do comportamento da máquina, as informações devem ser disponibilizadas de maneira simples e intuitiva para o usuário.

A elaboração de mapas de velocidade de trabalho, por exemplo, representa bem essa vantagem. A velocidade é fundamental para permitir uma avaliação sobre as diferentes operações mecanizadas. O mapa, além de ser uma representação prática e de fácil compreensão, permite ao agricultor avaliar, posteriormente, o resultado da variação da velocidade na germinação e emergência de plântulas na semeadura,

A principal atividade a ser realizada pelo trator vai ajudar a definir o modelo a ser adquirido pelo produtor

mantendo a uniformidade do estande. O mapa de velocidade permite ainda observar o comportamento de uma determinada praga em uma região do talhão onde houve variação na taxa de aplicação.

Um avanço construtivo nos tratores agrícolas tem sido a possibilidade de instalação dos meios de aproveitamento da potência na frente do trator, o que permite operações conjugadas e, consequentemente, contribuir com aspectos da capacidade operacional dos conjuntos mecanizados. Esse avanço pode contribuir com o conflito enfrentado no campo diariamente por agricultores e técnicos.

Dar prioridade ao operacional ou a qualidade técnica? Por um lado, em alguns casos, o técnico é cobrado para terminar mais rápido, no entanto, mais rápido em grande parte das vezes não é melhor. A conjugação das operações pode contribuir nesse sentido, por exemplo, uma aplicação de herbicidas com pulverizador montado na frente do trator e uma semeadura simultânea, com acionamento pelos meios de aproveitamento na traseira da máquina.

APLICAÇÃO DE

DEFENSIVOS

Esses avanços tecnológicos têm impacto na forma como o produtor maneja a cultura nos talhões. Os tratos culturais são operações de extrema relevância na condução das lavouras. Além disso, estão relacionados à segurança ambiental e das pessoas, estando elas próximas ou não dos locais de produção. Neste contexto, por exemplo, a tecnologia de aplicação precisa ser empregada, de forma a preservar a sanidade das culturas e reduzir os danos ao ambiente. É importante que a aplicação de agroquímicos seja realizada de forma racional, dentro do contexto mais amplo do manejo integrado. Quando há possibilidade, deve-se favorecer a utilização de produtos biológicos. Mas onde não é possível, é necessário garantir que os agroquímicos sejam utilizados com critério e responsabilidade. Neste sentido, os mapas da área e os sistemas de informação geográfica têm contribuído expressivamente.

A correta regulagem e a calibração dos pulverizadores são exemplos de ações importantes que maximizam a chegada dos produtos nos alvos, garantindo a manutenção do potencial produtivo das culturas e a redução dos custos de produção. A inspeção periódica dos equipamentos é outra prática que deve ser adotada. É importante que se tenha um checklist definido de procedimentos, de forma a verificar o funcionamento dos componentes e, mais do que isto, a adequação deles aos objetivos desejados.

É notória a importância dos tratores, implementos e equipamentos no processo produtivo conferindo aumento da produtividade, qualidade das operações, segurança e ergonomia para o operador. Para que o sistema homem-máquina seja eficiente, é crucial o recebimento de informações por meio de treinamento e reciclagem aliado à prática das atividades. Outros cuidados periódicos de simples realização e fundamentais são descritos no manual do operador para o funcionamento do conjunto mecanizado de forma segura, econômica e correta. .M

Paula Cristina Natalino Rinaldi, Cleyton Batista de Alvarenga, João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, Renan Zampiroli e Darlisson Medeiros Santos, Universidade Federal de Uberlândia Haroldo Carlos Fernandes, Universidade Federal de Viçosa

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