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Destaques
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@RevistaCultivar
Índice
Soma de esforços
Como obter melhores resultados no manejo de doenças em soja
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Impacto nocivo
A preocupante incidência de nematoide-das-galhas em
Diretas
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Manejo de Spodoptera frugiperda
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Percevejo castanho em alfafa
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Controle de percevejos em soja
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Vassourinha-de-botão em soja
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Efeitos das misturas de defensivos em tanque
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Capa - Controle de doenças em soja
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Nematoides ectoparasitas em cana
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Inoculante via foliar em milho
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Nematoide-das-galhas em arroz irrigado
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Daninhas como hospedeiras intermediárias
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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lavouras de arroz irrigado
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Perigo extra
Os riscos de plantas daninhas enquanto hospedeiras intermediárias de nematoides Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 245 Outubro 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Marcelo Madalosso Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Outubro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida
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Diretas Natureza
Igor Borges
Na última semana de setembro a Corteva Agriscience promoveu o projeto socioambiental Corteva Natureza, em Pirajuba, Minas Gerais. O objetivo do programa é conscientizar estudantes e moradores de áreas rurais sobre práticas que ajudam na preservação do meio ambiente e que promovem a sustentabilidade no campo. Aproximadamente 150 crianças dos municípios do Triângulo Mineiro aprenderam sobre uso racional da água e conservação dos recursos naturais, sustentabilidade, incêndios florestais e matas ciliares. “É um projeto que se iniciou em 2014, no qual temos parcerias importantes com clientes e usinas. Visamos mostrar para crianças de ambientes rurais que é possível produzir de forma sustentável, com boas práticas agrícolas ao mesmo tempo em que conservamos o meio ambiente. Acreditamos que esse público pode ser um multiplicador, não somente em suas comunidades, mas junto aos pais, que muitas vezes são produtores rurais”, explicou o coordenador de Boas Práticas Agrícolas da Corteva Agriscience, Igor Borges. O projeto foi realizado no Centro Regional de Educação Ambiental, mantido pela Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Campo Florido (Canacampo), que é parceira da Corteva no projeto.
Loja
A Syngenta inaugurou sua primeira loja, em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Sob a marca Atua Agro, o espaço será utilizado para aprofundar o entendimento sobre as necessidades dos agricultores locais, aperfeiçoando a oferta ao longo do tempo. O espaço conta com portfólio completo, com a comercialização de defensivos agrícolas (Syngenta e Adama), sementes (Syngenta e Nidera), fertilizantes foliares e adubo, por meio da parceria com Stoller, Mosaic, Cofco e Yara. Além disso, a Strider e a FarmShots vão ofertar serviços de gestão e tecnologia digitais para o campo. A inauguração contou com a presença de quatro executivos da Syngenta: Jon Parr, presidente global da divisão de Proteção de Cultivos; Valdemar Fischer, diretor regional da América Latina; Luciano Daher, diretor comercial; e André Savino, diretor de Marketing.
Mario Lavacca
Parceria
Gerhard Bohne e Christian Gonzalez
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A Bayer e a Case IH anunciaram uma parceria que prevê o fornecimento de aproximadamente 50 máquinas da Case IH para plantio, trato cultural e colheita dos campos de testes da próxima tecnologia de soja da Bayer, a Intacta 2 Xtend, na safra 2019/20. Serão 254 campos de testes em propriedades de produtores rurais selecionados pela Bayer (os Eleitos I2X). As operações nessas áreas serão realizadas com equipamentos da Case IH, como as plantadeiras Easy Riser 3200, os tratores Puma e as colheitadeiras de grãos das Série 130 para realizarem todas as etapas que envolvem o projeto. O anúncio foi feito pelo head de Crop Science da Bayer no Brasil, Gerhard Bohne, e pelo vice-presidente da Case IH para América do Sul, Christian Gonzalez.
Algodão
Idealizado pelo Núcleo Mulheres do Agro, com apoio da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e da FMC, o projeto Algodão que Aquece teve a sua segunda edição realizada. A iniciativa beneficiou 660 crianças das comunidades rurais do Oeste da Bahia com conhecimento sobre a cotonicultura, seus benefícios, origem e também com doações de agasalhos 100% algodão. A diretora da Abapa, Alessandra Zanotto, destacou a importância da ação. “Esse movimento demonstra a união do setor com objetivo de trazer melhorias e contribuições para as comunidades rurais”, avaliou. Para o diretor de Negócios Brasil da FMC, Marcelo Magurno, apoiar projetos como esse é essencial.
Alessandra Zanotto
Crescimento
Marcelo Zanchi
Com a conclusão da compra da Arysta LifeScience por 4,2 bilhões de dólares e com a integração, a UPL se tornou uma das cinco maiores empresas do mundo no setor. Com a junção, a receita anual da companhia – agora presente em 130 países – chega a 5 bilhões de dólares. “Com as nossas novas estratégias OpenAg estamos reforçando nosso objetivo de levar soluções integradas para a cadeia de produção de alimentos, com foco maior em atender às demandas da população em geral e não apenas vender produtos. Com isso em mente, e mais um portfólio robusto, resultado da integração de ambas as empresas, vislumbramos estar entre as três maiores empresas do mercado agro nos próximos três anos. E o Brasil é a peça fundamental nessa estratégia, pois o País se coloca como o maior mercado para a companhia”, explicou diretor de Marketing da UPL no Brasil, Marcelo Zanchi.
Instituto
Acaba de ser criado o Instituto MS Agro, entidade sem fins lucrativos, fundada e mantida por empresas de consultoria e assistência técnica do Mato Grosso do Sul integrantes da Associação das Empresas de Assistência Técnica Rural do Mato Grosso do Sul (Aastec). São 38 empresas de assistência técnica com 250 colaboradores que atuam em 60 municípios do Mato Grosso do Sul, com oferta de suporte técnico a 2.242 agricultores, 1.326 pecuaristas e 433 agropecuaristas. De acordo com o presidente do Instituto, Evandro Gelain, o objetivo é desenvolver soluções para o agronegócio, dando subsídio científico, técnico e educacional aos mantenedores e clientes (produtor/a rural), através de conhecimento, levantamento de dados, validação de tecnologias, pesquisa, treinamento técnico, palestras, cursos, simpósios, workshop, congressos e feiras. www.revistacultivar.com.br • Outubro 2019
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Spodoptera frugiperda
Apetite gigante Principal lagarta dos sistemas agrícolas, Spodoptera frugiperda é uma praga agressiva e extremamente polífaga, capaz de provocar danos severos em cultivos como milho, algodão, soja e feijão. É preciso muito zelo no manejo deste inseto, pois um simples equívoco na escolha do momento de aplicação pode comprometer em até 25% a eficiência de controle e resultar em aproximadamente 50% mais danos às plantas
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gênicas contendo as toxinas da bactéria Bacillus thuringiensis (plantas Bt). Estes atributos fazem de S. frugiperda a principal praga dos agroecossistemas no Brasil, causando grandes prejuízos econômicos em várias culturas. A identificação preliminar das lagartas de S. frugiperda em campo pode ser realizada com base na presença de fileiras com pontuações pretas ao longo do dorso, com quatro pontuações no final
Fotos Eduardo M Barros
lagarta Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) é uma praga extremamente polífaga, tendo mais de 80 espécies de plantas como hospedeiras; inclusive cultivadas, como milho, algodão, soja, feijão, entre outras. Essa grande plasticidade desta espécie também se estende a outras características, como sua rápida adaptação em tolerar e/ou ter resistência aos diferentes inseticidas e plantas trans-
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do abdome dispostas em formato de quadrado. Apresenta sutura epicranial em forma de Y invertido na cabeça bastante evidente. A coloração pode variar de acordo com a dieta e a idade, mas costuma predominar nas cores cinza, cinza-escuro e esverdeado. As lagartas possuem três pares de pernas no tórax e cinco pares de falsas pernas no abdome com ganchos dispostos em semicírculo. Para um diagnóstico mais preciso,
Figura 1 - Porcentagem de plantas sem lagartas, aos 2, 5 e 8 dias após aplicação (DAA). As aplicações foram realizadas quando 70% das plantas avaliadas apresentavam nível de dano nota 3 ou 5 na escala Davis, de acordo com o respectivo tratamento
Figura 2 - Média da nota referente ao nível de dano das plantas avaliadas de acordo com a escala Davis, aos 10 dias após a aplicação (DAA). As aplicações foram realizadas quando 70% das plantas avaliadas apresentavam nível de dano nota 3 ou 5 na escala Davis, de acordo com o respectivo tratamento
as lagartas devem ser levadas ao laboratório e avaliadas com o auxílio de uma lupa. Os caracteres diagnósticos da espécie são: tegumento com textura granulada, pináculos dorsais maiores que o espiráculo do respectivo segmento, presença de uma pequena barra esclerotizada conectada à base das setas subdorsal 1 (SD1) no meso e metatórax. Dentre todas as espécies do gênero Spodoptera que ocorrem no Brasil, S. frugiperda é a mais adaptada aos cultivos comerciais, consumindo as mais diversas partes das plantas (folhas, brotos e estruturas reprodutivas). As espécies algodão, milho, milheto e soja são ótimos hospedeiros para S. frugiperda, contribuindo para o aumento populacional da praga (Barros et al, 2010). Lembrando que estes são hospedeiros comuns nos agroecossistemas brasileiros, especialmente nos Cerrados, podendo ocorrer de forma simultânea em áreas próximas e/ou ainda em forma de sucessão (por exemplo: safra-safrinha). Esse conjunto de fatores permite a manutenção e a multiplicação da praga em praticamente todas as épocas do ano. Nas culturas de milho e milheto, lagartas de S. frugiperda têm
preferência pelo cartucho das plantas, e normalmente encontra-se apenas um indivíduo por cartucho, isto devido ao canibalismo comum na espécie. Na cultura da soja e do algodoeiro, S. frugiperda pode ocorrer simultaneamente com outras duas espécies principais, a Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides. S. frugiperda ataca preferencialmente as estruturas reprodutivas destas culturas, enquanto S. eridania e S. cosmioides apresentam preferência pelas folhas. Na safra 2018/2019, a elevada pressão de S. frugiperda incomodou muitos produtores de milho e algodão, especialmente aqueles que adotaram materiais convencionais (não Bt) ou materiais transgênicos de baixa ou média eficiência. Com relatos de quatro e sete aplicações de inseticidas para controle na cultura do milho e algodão, respectivamente.
ESTRATÉGIAS DE MANEJO
A principal estratégia para o bom manejo de S. frugiperda é o monitoramento, pois permite a identificação precoce do problema e a adoção da medida de controle no time adequado de aplicação
Lagarta e fêmea adulta de S. frugiperda na mesma folha. Planta de milho com injúria causada Detalhe dos estragos na folha de milho causados pela lagarta por lagarta de Spodoptera frugiperda
Cartucho do milho danificado por lagartas de Spodoptera frugiperda
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utilizado na aplicação foi o espinetoram (120g/L) na dose de 0,1L/ha do produto comercial. Avaliou-se o número de plantas limpas (sem lagartas) aos dois, cinco e oito dias após a aplicação (DAA). Os valores foram corrigidos em função da testemunha conforme Abbott (1925) e submetidos à análise utilizando o programa SAS (SAS, 2003). Além disso, foi avaliado o nível de dano nas plantas aos 10 DAA e comparadas as notas atribuídas conforme a escala Davis. Não houve interação significativa entre os tratamentos e os intervalos de avaliação (F = 0,13; G.L. = 2; P = 0,8775), o que significa que os resultados observados seguiram o mesmo padrão independentemente do intervalo de avaliação. A adoção da medida de controle mais tardiamente, quando a maioria das plantas apresentava nível de dano nota 5, resultou em uma redução significativa da eficiência de controle (F = 20,16; G.L. = 1; P = 0,003). Foi observada uma perda média de mais 25% na eficiência de controle em relação ao tratamento onde a aplicação foi realizada quando as plantas apresen-
Fotos Eduardo M Barros
(i.e. lagartas pequenas e antes da ocorrência de surtos populacionais). Os níveis de controle recomendados são: Milho – da emergência até 30 DAE é de 20% de plantas atacadas e dos 30 aos 40 DAE é de 10% de plantas atacadas; Algodoeiro – de 6% a 8% de plantas infestadas com pelo menos 1 lagarta; Soja – dez lagartas/m ou 10% de vagens atacadas. Uma importante ferramenta que pode auxiliar no monitoramento e tomada de decisão é a escala Davis (Davis e Williams, 1992), que consiste em uma escala de notas baseada no nível de dano das plantas. As notas na escala Davis são atribuídas conforme o tamanho da injúria causada pela lagarta, variando de 1 (início de ataque/plantas com pequenas pontuações) a 9 (plantas com maioria das folhas destruídas). Para confirmar a importância do monitoramento e do time de aplicação no sucesso do controle de S. frugiperda, foi conduzido um experimento comparando a eficiência de controle da praga em dois momentos diferentes: I) adoção da medida de controle com 70% das plantas com nível de dano nota 3 na escala Davis e II) adoção da medida de controle com 70% das plantas com nível de dano nota 5 na escala Davis; além da testemunha. O inseticida
Lagarta de Spodoptera frugiperda proveniente da cultura do milheto que antecedeu a cultura do algodoeiro. Lagartas grandes são difíceis de controlar e causam danos cortando as plântulas de algodão recém-emergidas
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tavam nível de dano nota 3 (Figura 1). A redução na eficiência de controle resultou em um aumento de mais de 50% nos danos às plantas aos dez DAA. A nota média de danos registrados foi de 0,98 ± 0,18 no tratamento onde o controle foi realizado com plantas apresentando nível de dano nota 3 na escala Davis e 1,48 ± 0,14 quando o controle foi realizado tardiamente, com plantas apresentando dano nota 5 (Figura 2). Existem atualmente mais de 200 produtos registrados para o controle de S. frugiperda no Brasil, sendo a grande maioria inseticidas químicos. Alguns poucos são biológicos à base de vírus e da bactéria Bacillus thuringiensis. Apesar da ampla gama de opções de inseticidas, recomenda-se o acompanhamento frequente de resultados de pesquisa regionais sobre a eficiência de diferentes produtos e também da detecção de resistência a inseticidas. O uso do controle biológico para o manejo de S. frugiperda tem evoluído, tendo em vista o aumento do número de produtos registrados para aplicações / liberações em larga escala, como produtos à base de vírus, bactérias (Bacillus thuringiensis) e inclusive insetos entomófagos, como os parasitoides de ovo de mariposas do gênero Trichogramma (Hymenoptera: Trichogrammatidae). Com o objetivo de favorecer o controle biológico, deve-se priorizar a conservação de inimigos naturais de ocorrência natural nas áreas agrícolas, através do uso de produtos seletivos e com aplicações em horários de menor atividade destes artrópodes benéficos. A ampla adoção das biotecnologias transgênicas com resistência a lagartas (plantas Bt) contribuiu para a redução das aplicações de inseticidas e facilitou o manejo de lagartas em geral. Entretanto, a redução da eficiência de algumas tecnologias já vem sendo relatada, isso devido ao sistema de cultivo que resulta em elevada pressão de seleção, gerando populações resistentes às proteínas Bt presentes nas plantas. A adoção de áreas de refúgio com plantas não transgênicas (não Bt) é essencial para preservar a boa eficiência das plantas Bt. As áreas de refúgio permitem a manutenção de popu-
lações de insetos suscetíveis às proteínas Bt, que acasalam com os indivíduos resistentes provenientes das áreas Bt, gerando descendentes heterozigotos, também suscetíveis às biotecnologias. As áreas de refúgio devem ser plantadas a uma distância máxima de 800m das áreas Bt, preferencialmente com materiais de ciclo semelhante. O tamanho mínimo das áreas de refúgio devem ser de: 20% para o algodão; 10% para o milho e 20% para a soja. No caso do milho, os eventos transgênicos que têm demonstrado maior eficiência são aqueles contendo a toxina Vip3Aa20, não necessitando ainda de aplicações complementares de inseticidas, ou em raros casos uma aplicação é realizada. Algumas opções são: Agrisure Viptera (Vip3Aa20), Agrisure Viptera 3 (Vip3Aa20 + Cry1Ab) e Leptra (VIP3aA20 + Cry1Ab + Cry1F). Entretanto, tecnologias como: YieldGard VT PRO (Cry1A.105 + Cry2Ab2), YieldGard VT PRO 3 (Cry1A.105 + Cry2Ab2 + Cry3Bb1) e PowerCore (Cry1A.105 + Cry2Ab2 + Cry1F) ainda possuem boa eficiência no controle da S. frugiperda, passando a safra com até duas aplicações de inseticidas. Para a cultura do algodoeiro, as opções de transgênicos Bt também têm contribuído no manejo de S. frugiperda, tendo a tecnologia WideStrike (Cry1Ac + Cry1F) como a única sem eficiência para esta praga. As tecnologias TwinLink (Cry1Ab + Cry2Ae) e Bollgard II (Cry2Ab2 + Cry1Ac) contribuem no manejo de S. frugiperda, entretanto, tem-se observado uma redução de eficiência destas duas tecnologias. Para TwinLink e Bollgard II, até a safra 2016/2017 a sobrevivência média era de 11% e 16%, e na safra atual está em torno de 46% e 52%, respectivamente (Crosariol Neto et al, 2018; Crosariol Neto, dados não publicados). Recentemente, a nova tecnologia denominada de TwinLink Plus foi liberada, contendo a toxina Vip3Aa20 na piramidação (Cry1Ab + Cry2Ae + Vip3Aa20). Em observações em campo não foram detectadas injúrias de lagartas nesta tecnologia. A expectativa é de que em breve outras tecnologias com a toxina Vip3Aa20 cheguem ao mercado, são elas: WideStrike 3 (Cry1Ac + Cry1F + Vip3Aa20) e o Bollgard III (Cry2Ab2 + Cry1Ac + Vip3Aa20). Apesar de S. frugiperda ser uma das principais pragas dos agroecossistemas do Cerrado, várias ferramentas de manejo são
conhecidas, e se utilizadas corretamente, de forma harmônica, contribuem para evitar surtos populacionais da praga. Importante ressaltar a importância de entrar com a estratégia de controle no início da infestação, com plantas apresentando nível de dano nota 3 na escala Davis, momento em que a maior parte das lagartas são pequenas, aumentando significativamente a eficiência de controle. Conforme demonstrado, um simples equívoco na escolha do momento de aplicação pode comprometer em até 25% a eficiência de controle e resultar em cerca de 50% mais danos às plantas. O sucesso no manejo de S. frugiperda depende da adoção de um conjunto de estratégias disponíveis, passando pela escolha da variedade / biotecnologia a ser plantada, monitoramento frequente das lavouras incluindo as plantas de cobertura (por exemplo milheto), a adoção de área de refúgios não Bt, a escolha do melhor momento para aplicação da medida de controle e da melhor estratégia de controle. Quando necessário recorrer ao controle químico, escolher produtos que sejam eficientes para o combate da praga e menos prejudiciais aos inimigos naturais, ao C homem e ao ambiente. Eduardo M Barros Instituto Goiano de Agricultura Felipe Colares Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário e Consultoria
Figura 4 - Mapa global do número de espécies resistentes ao herbicida glifosato
Figura 5 - Sequência cronológica de identificação das 43 espécies resistentes ao glifosato
Lagarta de Spodoptera frugiperda em maçã de algodão (bráctea)
Injúria de Spodoptera frugiperda em vagens de soja
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Pragas
Presença crescente
Mouhanna, M
Em 2018, no município de Santa Amélia, Norte do Paraná, diferentes propriedades registraram a incidência de percevejo castanho em alfafa. Atualmente a ocorrência da praga tem aumentado na região, agravada pelo fato de a cultura permanecer na área durante longo período. Medidas nutricionais e de correção do solo estão entre as tentativas de minimizar o problema
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O
s agricultores dos municípios do Norte paranaense cultivam grandes áreas de cana-de-açúcar, café, soja, milho e em ambientes protegidos, culturas como: pimentão, pepino e tomate. Em meio às extensas áreas cultivadas, a alfafa fica quase imperceptível nas propriedades rurais, e embora pouco conhecida, há produtores que trabalham há décadas com a cultura. A alfafa é uma leguminosa de alto valor nutritivo, usada principalmente na alimentação de cavalos de raça no Brasil. Garante renda quase que mensal ao produtor com maiores preços no período outono-inverno, pela menor oferta do produto devido ao desenvolvimento da cultura mais lento, ao maior distanciamento entre os cortes e, dependendo do manejo adotado, o ciclo da cultura pode variar em média de cinco a sete anos. A principal vantagem da cultura é que permite seis a oito cortes/ano dependendo do clima, na primavera-verão, cortes a cada 28 a 32 dias e outono-inverno, 35 a 42 dias (Fontes et al, 1993; Bellettini et al, 1997). Percevejo castanho ou percevejo-castanho-da-raiz são designações utilizadas para várias espécies. Pertencem à família Cydnidae (Hemiptera) que habitam o solo, se alimentam de raiz, possuem coloração marrom, castanha ou âmbar. No Brasil, há registros de ocorrência desse inseto de Norte a Sul, mas danos econômicos em lavouras e pastagens têm sido mais frequentes em regiões de Cerrado. Considerado um inseto polífago (Camargo e Amábile, 2000), o percevejo castanho já foi registrado em ervilha, pimenteira, sorgo, tomateiro, tremoço, pastagens, colonião e diversas plantas daninhas (Nakano e Telles, 1997), alfafa, amendoim, arroz, beldroega, café, cana-de-açúcar, capim-açu, capim-gordura, capim-marmelada, coqueiro, eucalipto, girassol, milho, sorgo, bananal, feijoeiro, batata, fumo, mandioca (Corrêa-Ferreira e Panizzi, 1999; Nakano, 2004). Pode ocorrer tanto em sistemas de semeadura direta como convencional (Silva, 1999), ninfas e adultos atacam as raízes das plantas em reboleiras (Embrapa Soja, 2003). Apresenta período de incubação de cinco dias, período ninfal de 145 dias, lon-
Dirceu Gassen
Dados por município da região em 2017/2018 Município Santa Amélia Bandeirantes Santa Mariana Abatiá Itambaracá Andirá
Presença de adultos do percevejo castanho
12
Produtividade (kg de feno/ha/ano) 12.000 12.000 11.500 11.000 9.500 11.000
(Embrapa, 1999). Em 2018, no município de Santa Amélia, Norte do Paraná, foram verificados em diferentes propriedades na cultura da alfafa os mesmo sintomas descritos por Rizzo, 1979, e Fernandes et al, 1999, ou seja, manchas em reboleiras com sintomas de murchamento, redução do crescimento das plantas, amarelecimento das folhas, danos nas raízes pela retirada de seiva e injeção de saliva tóxica, o que provoca o enfraquecimento e a morte das plantas. Com a abertura de trincheiras em vários locais, constatou-se a presença do percevejo castanho (S. castanea) em diferentes estádios de desenvolvimento, profundidades de solo e odor característico desagradável que exalam. A ocorrência da praga neste ano de 2019 tem aumentado consideravelmente, causando desconforto aos produtores. Os problemas se acentuam devido à cultura da alfafa permanecer na área durante cinco a sete anos, à movimentação de máquinas para o cultivo, a pequenas propriedades, à biologia, ao comporta-
mento e às opções de controle. Poucas são as alternativas de manejo da praga. Em áreas de renovação da cultura da alfafa, os produtores preparam o solo ainda úmido para expor os percevejos castanhos à superfície e ao sol. Já áreas em produção, o aumento do teor de matéria orgânica no solo, a correção de fertilidade com calagem, gessagem, fosfatagem e potassagem, as adubações balanceadas e o uso de sulfato de amônio, ureia, sulfato de cálcio, enxofre elementar ou sulfugran 90% S podem ser utilizados nas reboleiras na tentativa de amenizar o problema. O controle através de inseticidas químicos e biológicos tem se mostrado pouco viável em função do hábito e do comportamento C da praga. Silvestre Bellettini, Uenp/CLM João Henrique S. Andrzejewski, Uenp/CLM Munir Mouhanna, Cooperativa Integrada Clayton Y. Taji Fazenda Santa Maria
Mouhanna, M
Dirceu Gassen
Ninfas e adultos do percevejo no solo
Nº de produtores 150 55 12 75 8 2
Fonte: Emater, Bandeirantes – PR
Mouhanna, M
gevidade do adulto de 150 dias, ciclo de vida de 150 a 180 dias. Pode apresentar até duas gerações ao ano (Belot e Vilela, 2017), distribuindo-se no perfil do solo em profundidades que variam de 0cm a 60cm, sendo mais frequentemente encontrado em camadas de 0cm a 40cm de profundidade (Fernandes et al, 2000). A partir da década de 1980, os problemas com percevejos castanhos em culturas anuais começaram a ser mais frequentes, com grandes prejuízos especialmente em lavouras de soja e algodão nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, São Paulo e Minas Gerais (Oliveira, 1999). Na safra 1995/96, esse inseto foi constatado pela primeira vez no Paraná, causando danos em lavouras de soja da região de Cornélio Procópio. Em 1997/98, houve registro de ocorrência em pastagens no município de Campo Mourão (Corrêa-Ferreira et al, 1999); em 1998/99, a Embrapa Soja recebeu relatos de técnicos da extensão pública e privada, na região de Ubiratã e Assaí
Área (ha) 1.100 1.050 425 372 60 18
Lavoura sem danos provocados pela praga
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Raízes afetadas pela incidência do inseto
Soja
Manejo reforçado Tecnologia Block, desenvolvida pela Embrapa, chega para auxiliar no controle integrado de percevejos através de novas cultivares de soja com características genéticas que conferem maior tolerância ao ataque destes insetos. Ferramenta auxilia também no manejo de resistência da praga
N
a safra 2018/19, a área cultivada com soja no Brasil se manteve acima dos 35 milhões de hectares, atingindo produtividade média de 3.206kg/ha e produção de 115 milhões de toneladas de grãos, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de setembro de 2019. O potencial produtivo das novas cultivares é superior à média brasileira, mas fatores restritivos relacionados ao clima
(temperatura e oferta de água) ou ao perfil do solo (características físicas, químicas e biológicas) ou à ocorrência de doenças e pragas têm interferido na expressão desse potencial genético. No caso das pragas da soja, os percevejos se destacam pelo potencial de danos causados diretamente nos grãos. Na fase de enchimento, esses insetos inserem seu estilete e liberaram saliva contendo enzimas digestivas para facilitar sua alimentação.
Jovenil José da Silva
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Salvatore de Angelis
Flutuação populacional de percevejos em cultivares de soja no município de Florínea, SP, na safra 2018/19. As setas indicam o momento das aplicações de inseticidas segundo o nível crítico (NC = 4 percevejos / m) para cada cultivar.
Lavoura de soja com sintomas de haste verde e retenção foliar provocados pelo ataque de percevejos, Florínea, SP, safra 2018/19
Além dos danos diretos, os percevejos provocam aqueles indiretos causados por patógenos que colonizam os grãos através das aberturas no local das picadas. Dentre as espécies de percevejos de maior importância para a soja, destaca-se o percevejo-marrom Euschistus heros, pelas populações elevadas, entretanto, outras espécies como o percevejo-verde-pequeno Piezodorus guildinii, o percevejo-barriga-verde Dichelops melacanthus e o percevejo-verde, Nezara viridula compõem o complexo de insetos sugadores de grãos. Em lavouras severamente atacadas, os danos diretos podem ser observados pelo abortamento de vagens ou a formação de vagens com grãos menores e malformados (enrugados e chochos). Quando as lavouras são destinadas a sementes, têm sua qualidade fisiológica reduzida (menor germinação e vigor). Por outro lado, os danos indiretos, em função da presença de patógenos, causam apodrecimento das sementes e vagens, atraso na maturação e aumento na ocorrência de retenção foliar, provocando problemas para a colheita, reduzindo a produtividade e a qualidade de grãos. A maioria desses “defeitos” nos grãos é detectada nos locais de recebimento, provocando descontos variáveis para o agricultor.
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O controle químico tem sido o método mais comum utilizado pelos agricultores para o manejo dos percevejos-pragas da soja, mas a perda da eficácia dos inseticidas utilizados tem levado à ocorrência de níveis populacionais acima do de controle, que é de dois insetos (adultos ou ninfas maiores que 0,5cm) por metro de soja. Na maioria das vezes, essa tática de controle é utilizada sem o devido diagnóstico, realizado pelas amostragens dos níveis populacionais desses insetos nas lavouras, levando à antecipação e ao crescimento no número de aplicações de inseticidas, que culminam com o aumento no custo de produção. Além disso, o restrito número de moléculas eficientes para o controle de percevejos e a exposição contínua dessas populações aos mesmos inseticidas têm promovido a seleção de indivíduos resistentes principalmente para o percevejo-marrom, reduzindo a eficiência desta ferramenta para o manejo adequado das populações dos insetos. Por isso, outras ferramentas, além do controle químico, serão extremamente importantes para evitar maiores perdas quantitativas e qualitativas. Assim, a tecnologia Block, presente em algumas novas cultivares da Embrapa, está sendo oferecida nesta safra (2019/20) para facilitar o manejo do complexo de
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percevejos e reduzir seus impactos negativos nos rendimentos das lavouras de soja.
TECNOLOGIA BLOCK E O MANEJO DOS PERCEVEJOS-PRAGAS
A tecnologia Block, desenvolvida pela Embrapa, corresponde às novas cultivares de soja com características genéticas que conferem maior tolerância ao ataque de percevejos com densidades populacionais maiores que o nível de controle, as quais têm recorrentemente ocorrido em determinadas regiões mesmo com a aplicação dos inseticidas recomendados. Dessa forma, uma cultivar com o selo da tecnologia Block, atacada por populações de percevejos acima do nível de controle, sofrerá menos impacto, tanto na produtividade como na qualidade dos grãos produzidos, quando comparada a uma outra de ciclo semelhante submetida ao mesmo ataque da praga. Assim, o agricultor poderá realizar com mais tranquilidade o diagnóstico dos níveis populacionais de percevejos, através do pano de batida, para tomar uma decisão mais segura e racional sobre a aplicação ou não do controle químico dentro dos preceitos do manejo integrado de pragas (MIP-Soja). Espera-se, com isso, evitar aplicações desnecessárias com inseticidas, reduzir as perdas de produtividade assim como os descontos na comercialização decorrentes dos danos diretos e indiretos provocados pe-
Fotos Salvatore de Angelis
Linhagem BRI13-5301 em Florínea, SP, safra 2018/19
Cultivar BRS 543RR, em Florínea, SP, safra 2018/19
los percevejos. A tolerância genética de uma cultivar é a ferramenta de manejo de pragas mais simples e barata para os agricultores, pois reduz os custos de produção, traz benefícios ambientais e interage positivamente com as demais estratégias de controle. Essa tecnologia, por não ser transgênica, pode estar presente tanto em cultivares convencionais como nas derivadas das diversas plataformas transgênicas. Duas cultivares já foram registradas com a tecnologia. Uma delas é a BRS 1003IPRO que já está sendo comercializada e, além da tecnologia Block, conta com a tecnologia Intacta para o controle de lagartas, o que pode facilitar ainda mais o manejo de pragas pela presença mais abundante de inimigos naturais resultante da redução de aplicações com inseticidas para as lagartas nas fases iniciais de desenvolvimento da soja. A cultivar BRS 1003IPRO possui grupo de maturidade (GM) de 6.3, tipo de crescimento indeterminado, tem ampla adaptação de indicação atendendo as macrorregiões sojícolas 1, 2, 3 e 4, cobrindo os estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Minas Gerais. É resistente às principais doenças da soja (mancha olho-de-rã, cancro da haste, pústula bacteriana e podridão radicular de fitóftora), além de ter moderada resistência ao nematoide de galha Meloidogyne javanica. Apresenta excelente performance produtiva nas diversas regiões, com o diferencial de tolerância aos ataques por percevejos. A outra cultivar Block é a BRS 391 não transgênica (GM = 6.4), tipo de crescimento determinado, com adaptação para Oeste, Norte e Noroeste do Paraná, Médio Paranapanema e Sudoeste de São Paulo e Sul, Centro-Sul e Sudoeste do Mato Grosso do Sul, com teores médios de 20,7% de óleo e 39,3% de proteína, resistente às principais doenças da soja e aos nematoides de galhas (M. javanica e M. incognita), cujo comportamento em presença de diferentes níveis populacionais de percevejos já foi demonstrado em diversas publicações, inclusive em edição anterior da Revista Cultivar. Para demonstrar um pouco mais dos benefícios da tecnologia Block em áreas de produtor, uma nova cultivar, a BRS 543RR já re-
gistrada e em pré-lançamento, e uma linhagem convencional, a BRI13 5301, em fase de registro e validação, foram cultivadas na safra 2018/19 em lavouras de validação do tipo lado a lado. A BRS 543RR é uma cultivar transgênica (GM = 6.0), com tolerância ao glifosato, que está sendo lançada na safra 2019/20. Tem indicação de semeadura para toda a macrorregião 2, incluindo os estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, com resistência às principais doenças da soja. Na rede de avaliação do mérito para lançamento da cultivar, em mais de 20 ambientes de teste na região de indicação, essa apresentou alta performance produtiva comparada aos padrões de mercado com ciclo semelhantes, superando em até 2% a média de produtividade desses padrões. O comportamento produtivo da BRS 543RR reforça a filosofia do programa de melhoramento da Embrapa, em ofertar cultivares de soja Block, mas que também sejam produtivas e estáveis nas regiões de indicação. A linhagem BRI13-5301 é convencional (GM = 5.7) e encontra-se em fase de validação em áreas de produtores para possível lançamento na safra 2020/21. Já demonstrou possuir alto potencial produtivo, além de resistência às principais doenças da cultura. Nas lavouras de validação, esses genótipos foram semeados junto com padrões de mesmo ciclo, em parcelões de um hectare de cada material, em diferentes localidades sob diferentes níveis de ataque dos percevejos-pragas da cultura. Nessas localidades, as populações de percevejos foram monitoradas com o pano de batida e o controle químico foi realizado quando a densidade populacional de percevejos atingiu o nível de quatro percevejos por metro, portanto o dobro do nível de ação usado em lavouras comerciais. De todas as áreas, por ocasião da colheita, foram tomadas amostras dos grãos produzidos de cada material para classificação comercial segundo os critérios definidos na Instrução Normativa Nº 11 do Mapa, de 15 de maio de 2007. Na validação realizada em Florínea, São Paulo, a população de percevejos foi maior em relação às demais localidades e servirá para ilustrar os benefícios da tecnologia.
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VALIDAÇÃO EM FLORÍNEA
Na validação realizada em Florínea, na safra 2018/19, participaram os dois genótipos Block BRS 543RR e BRI135301 e seus respectivos padrões, BRS 433RR e 96Y90. A semeadura ocorreu em 16/10/2018 e a colheita em 8/2/2019, sendo que os genótipos BRI13-5301 e BRS 433RR apresentaram ciclos mais precoces que BRS 543RR e 96Y90. Apesar da ocorrência de diversos veranicos nessa safra, o que não permitiu toda a expressão do potencial produtivo dos genótipos, o rendimento de grãos observado na BRI13-5301 (3.226kg/ha) foi superior ao da BRS 433RR (2.589kg/ha), assim como o da BRS 543RR (2.545kg/ha) foi superior ao da 96Y90 (2.287kg/ha) para o ambiente de Florínea, reforçando a ideia de que as cultivares Block precisam ter potencial produtivo igual ou superior aos padrões de mesmo ciclo. A população de percevejos na BRI13-5301 não atingiu o nível de controle (NC = 4 percevejos/m), enquanto no padrão BRS 433RR, ultrapassou o NC e recebeu uma aplicação de inseticida. A cultivar mais tardia BRS 543RR teve nível de mais de 11 percevejos/m (quase três vezes o NC), enquanto seu padrão 96Y90 apresentou nível acima de oito percevejos/m e ambas receberam uma aplicação do inseticida. Comparando-se as duas cultivares mais precoces, na Tabela 1 observa-se que a BRI13-5301 apresentou desconto por percevejo bem próximo à BRS 433RR (1,9% e 1,4%, respectivamente), mesmo sem receber o controle químico. Com isso, estimavam-se valores muito próximos no percentual total de grãos avariados, no entanto, a BRI13-5301 fechou o ciclo com menor desconto de avariados em relação à BRS 433RR (13,3% contra 18,9%), principalmente em função do menor percentual de grãos imaturos (6,2% na BRI135301 contra 13,2% na BRS 433RR). Outra diferença importante entre os genótipos ocorreu para grãos esverdeados (2,5% na BRI13-5301 contra 15,4% na BRS 433RR). A diferença nos imaturos deve estar parcialmente relacionada ao ataque de percevejos, mas também pode ser decorrente dos estresses abióticos frequentes na safra, sendo muito difícil estabelecer
Tabela 1 - Número de aplicações de inseticidas, percentual de grãos avariados pela avaliação comercial dos grãos (Fermentado + Imaturo + Percevejo + Outros), percentual de grãos esverdeados e percentual de desconto final [(% Avariados – 8%) + (%Esverdeados – 8%)] para cada genótipo avaliado em área de produtor sob manejo com nível de controle de 4 percevejos /m, na safra 2018/19 em Florínea, SP Genótipos
No de Aplicações1 Fermentado Imaturo Percevejo BRI13-5301 0 4,8 6,2 1,9 BRS 433RR 1 4,3 13,2 1,4 BRS 543RR 1 2,7 6,9 2,7 96Y90 1 5,8 11,5 2,7
Grãos (%) Outros Avariados Totais Esverdeados Desconto Final 0,4 13,3 2,5 5,3 0 18,9 15,4 18,3 0,8 13,1 2,2 5,1 0 20 9,6 13,6
1 Número de aplicações com inseticidas a partir do nível de controle de 4 percevejos / m no pano-de-batida.
relações de causa e efeito em condição de lavoura. Ao final, o mais importante a ser ressaltado é que a BRI13 5301, sem aplicação de inseticida, não sofreu desconto adicional em sua comercialização (5,3% na BRI13-5301 contra 18,3% na BRS 433RR) e manteve a qualidade dos grãos produzidos, inclusive com menores perdas quantitativas, pois terá 13% a menos no desconto. Por outro lado, a cultivar mais tardia BRS 543RR apresentou desconto por percevejos igual ao seu padrão 96Y90 (2,7%), mesmo sendo atacada por maior número de percevejos. Porém, a BRS 543RR produziu grãos com menor percentual de avariados (13,1%) que o padrão 96Y90 (20%), principalmente em função do menor percentual de grãos fermentados (2,7% e 5,8%) e imaturos (6,9% e 11,5%, respectivamente). Parte desses grãos fermentados e imaturos deve ser consequência de danos por percevejos, mas não se pode descartar outras causas, especialmente algum estresse abiótico. Pelo comparativo desses dois genótipos mais tardios, pode-se novamente verificar que a cultivar tolerante BRS 543RR apresentou menores descontos tanto nos avariados totais como no desconto final, cuja diferença chega a 8,5% (13,6% - 5,1%) a favor da cultivar Block. Esses dois genótipos com a tecnologia Block também permitem semeaduras antecipadas em suas regiões de indicação, pois ambas possuem tipo de crescimento indeterminado, o que também pode e deve ser utilizado para facilitar ainda mais o manejo do complexo de percevejos nas áreas comerciais. A soja semeada antecipadamente pode passar boa parte do seu desenvolvimento sem a presença de altos níveis populacionais de percevejos, reduzindo ainda mais a necessidade do
controle químico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esses resultados corroboram os obtidos em anos anteriores tanto em áreas de validação quanto experimentais, onde genótipos com a tecnologia Block toleraram maiores níveis populacionais de percevejos em comparação a outras cultivares comerciais. As cultivares Block, por sofrerem menos danos por percevejos, trarão mais segurança à tomada de decisão sobre o controle químico, o que, certamente, irá evitar aplicações desnecessárias de inseticidas. Apesar disso, ressalta-se que não é indicado aumento do nível de controle para tomada de decisão sobre o controle químico, que continua sendo de dois percevejos (adultos ou ninfas maiores que 0,5cm) por metro de soja, não trazendo indicações específicas para essa tecnologia. Esse posicionamento da tecnologia Block com relação ao nível de controle também se deve à frequente ineficácia dos inseticidas químicos atualmente disponíveis para o manejo dos percevejos e à ocorrência de densidades populacionais elevadas do inseto, mesmo com o atual nível de controle (dois percevejos/m). Espera-se que essa tecnologia seja um incentivo aos produtores para que intensifiquem o monitoramento das populações de percevejos com o pano de batida, possibilitando a tomada de decisão mais segura dentro dos preceitos do manejo integrado de pragas C da soja (MIP-Soja). Clara B. Hoffmann-Campo Carlos A. Arrabal Arias Beatriz S. Corrêa-Ferreira Divânia de Lima Irineu Lorini Carlos Lásaro P. de Melo Embrapa Soja
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Soja
Vassoura daninha
Fotos Divulgação
A influência negativa de diferentes populações da vassourinha-de-botão (Borreria verticillata) no desenvolvimento e na produtividade da cultura da soja
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O
sucesso de uma lavoura depende de vários componentes, desde o preparo de solo até o manejo pós-colheita. A presença de plantas daninhas na lavoura implica reduções na produtividade, pois exercem competitividade com a lavoura comercial, bem como causam impactos na sustentabilidade ambiental e econômica. Daninha é o termo utilizado para descrever uma planta que nasce espontaneamente em local e momento indesejado, afetando negativamente na agricultura, reduzindo a produtividade, o valor da terra e do produto agrícola. As plantas daninhas podem também disseminar pragas e doenças, dificultando o manejo, aumentando os custos e diminuindo a margem lucrativa. A interferência das plantas daninhas na cultura é maior nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, denominado período crítico de competição, o qual pode variar em função das condições de ambiente, da população e das características das espécies em competição. Além disso, a infestação é influenciada pelas características da espécie como adaptabilidade ecológica e prolificidade, longevidade e dormência das sementes e dos propágulos e da frequência na utilização de herbicidas de mecanismo de ação único. O controle de plantas daninhas evoluiu da capina manual para o uso de produtos químicos herbicidas. Esse controle consiste na adoção de práticas que resultam na redução da infestação, mas não necessariamente na sua completa eliminação ou erradicação, sendo que deve apresentar relação de custo-benefício, ou seja, de modo que não interfiram no rendimento econômico da cultura. O primeiro produto químico utilizado com propriedade herbicida para controle de plantas daninhas (dicotiledôneas) foi o 2,4-D, em 1945. Depois da Segunda Guerra Mundial ocorreu um rápido desenvolvimento de novas moléculas herbicidas, que passaram a ser excessivamente utilizadas no
manejo de plantas daninhas. O uso intensivo desses produtos - aliado à má aplicação, como dosagem baixa, em momento inadequado, e a pulverizador mal regulado- pode acarretar em seleção de plantas daninhas com resistência às moléculas de herbicidas, contaminação de lençóis freáticos e solos. O pouco entendimento a respeito da biologia e ecologia de plantas daninhas pode levar ao uso inadequado de herbicidas. A vassourinha-de-botão (Borreria verticillata (L.) G. Mey), também conhecida como cordão-de-frade, erva-botão, falsa-poaia, perpétua-do-mato, poaia-comprida, poaia-preta, poaia-rosário, vassourinha, vassoura-de-botão, é uma espécie herbácea perene que se desenvolve em todas as regiões do País, vegetando em áreas antropizadas, ou seja, naquelas cujas características originais foram alteradas como solo, vegetação e relevo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar as perdas em
EXPERIMENTO
Figura 1 - Método de avaliação e coleta por metro quadrado
produtividade da soja em decorrência da presença de populações crescentes de Borreria verticillata por metro quadrado.
O experimento foi implantado no dia 4 de novembro de 2018, no município de Itapuca, Rio Grande do Sul, onde foi utilizado um trator, modelo 6300, com 100cv, e uma semeadeira SHM 1517 da Semeato, composta por sete linhas com um espaçamento de 45cm. Foi utilizada a variedade TMG7262, uma adubação na linha com uma formulação de 4-30-10 e uma dosagem de 300kg/ha e 100kg/ha de cloreto de potássio em cobertura. O delineamento experimental utilizado foi delineamento de blocos ao acaso (DBA), com cinco tratamentos: TE (testemunha) sem plantas daninhas, T2 duas plantas daninhas (PD) por m², T4 quatro PD por m², T6 seis PD por m², e T8 oito PD por m², com quatro repetições, totalizando 20 unidades experimentais, como uma área de 9m² cada uma, totalizando 180m². Durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, realizaram-se os mesmos tratos culturais do restante da área comercial (aplicações de herbicidas, fungicidas, inseticidas e adubos foliares). Após a senescência natural das plantas,
Figura 2 - Representação da média do peso de mil sementes (PMS) dos tratamentos sem (TE) e com incidência de plantas daninhas por m² (2, 4, 6 e 8)
Figura 3 - Representação das alturas médias de cada tratamento sem (TE) e com incidência de plantas daninhas por m² (2, 4, 6 e 8)
Figura 4 - Médias de entre-nós das plantas de cada tratamento sem (TE) e com incidência de plantas daninhas por m² (2, 4, 6 e 8)
Figura 5 - Médias de produtividade em gramas de grãos de cada tratamento sem (TE) e com incidência de plantas daninhas por m² (2, 4, 6 e 8)
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T6, 195g, e T8, 192,5g. Para a variável altura de plantas (Figura 3), a testemunha (TE) alcançou a maior média de 0,86m. Os demais tratamentos apresentaram resultados decrescentes com o aumento da população de plantas daninhas/ m², sendo respectivamente T2 0,83m, T4 0,82m, T6 0,80m e T8 0,78m. Sabe-se que a interferência observada reflete o nível de competição por nutrientes, água e/ou luminosidade das plantas daninhas com a cultura. Em relação ao número de entrenós (Figura 4), observou-se que no tratamento em que não havia presença de plantas daninhas (TE) obteve-se um maior número de entrenós, 15,5 entrenós por planta. Na cultura de soja, os legumes se desenvolvem nos entrenós, sendo assim, por regra geral, quanto mais entrenós, maior probabilidade de expressão de legumes. T2 apresentou 15 entrenós por planta, seguidos por T4 com 14 entrenós por planta, e T6 e T8 com médias iguais de 13,5 entrenós por planta. A produtividade (Figura 5) confirmou os resultados observados, ou seja, a influência do número de plantas daninhas no desenvolvimento da cultura da soja. O peso médio dos grãos da parcela testemunha
Fotos Divulgação
foram coletados dois metros lineares de cada unidade experimental (UE) - população de 12 plantas por metro linear –, levados ao laboratório e realizadas as seguintes avaliações: peso de mil sementes (PMS), altura média de plantas, número de entrenós e produtividade. A avaliação de altura média de planta foi realizada com auxílio de uma trena, onde se realizou a média de cinco plantas por parcela. Os entrenós foram contabilizados em cinco plantas por parcela e, posteriormente, realizada a média. Para o peso de mil sementes (PMS) foram contabilizadas mil sementes, as quais foram pesadas em balança de precisão, e a avaliação de produtividade se conseguiu através da coleta de plantas em um total de 1m2 aleatório por parcela (Figura 1). Após a coleta, os dados foram submetidos à análise de regressão, pois se trata de tratamentos quantitativos. Para o peso de mil sementes- PMS (Figura 2) pode-se observar que a testemunha (TE) apresentou o maior valor, 205g, pois não apresentava interferência de plantas daninhas na área da UE. A incidência de plantas daninhas na área interferiu efetivamente no PMS, pois quanto maior a presença de plantas daninhas, menor foi o PMS. T2 apresentou PMS de 200g; T4, 197,5g;
Experimento no Rio Grande do Sul avaliou perdas de produtividade da soja pela presença da vassourinha-de-botão
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foi 404g/m². T2 apresentou média de 397g; T4, 384g; T6, 379g, e T8, 370g/m². Entre a TE e o T8 houve uma diferença de 35g, que para uma lavoura comercial, pode definir seu sucesso ou fracasso. As plantas daninhas no presente trabalho acompanharam todo o ciclo de desenvolvimento da cultura da soja, desde a semeadura até a colheita. Competiram com a cultura de interesse durante todo o ciclo por água, luminosidade e nutrientes. Entretanto, sabe-se que a maior interferência ocorre durante o período crítico de prevenção à interferência (PCPI), pois é nele que a cultura de interesse faz a diferenciação dos primórdios florais, afetando de forma direta e indireta as variáveis analisadas. Em soja, esse período é variável dependendo da cultivar analisada. Considerando uma tolerância de redução de 5% na produtividade em M-SOY 6101, por exemplo, o intervalo de 33 dias e 66 dias após a emergência foi caracterizado como período crítico de prevenção da interferência, ou seja, período em que a cultura deveria ser mantida na ausência de plantas daninhas. Para todas as variáveis, o tratamento sem a presença de plantas daninhas foi o que apresentou melhores resultados. Com o aumento do número de plantas daninhas, os valores de todas as variáveis analisadas decaíram (PMS, altura de planta, número de entrenós e produtividade), comprovando a interferência de Borreria verticillata na cultura da soja e a importância do manejo dessas plantas para o sucesso C da lavoura. André Barbacovi, Mateus Gustavo de Oliveira, Caicer Viebrantz, Willian Brandelero, Elias Abel Barboza, Leonita Beatriz Girardi, Ilvandro Barreto de Melo, Katia Trevizan, Lorena Postal Waihrich, Alice Casassola, Faculdade Ideau (Instituto de Desenv. Educacional de Passo Fundo)
Soja
Mistura segura Divulgação
Prática até pouco tempo realizada de modo informal pelos produtores, a mistura de tanque de produtos fitossanitários finalmente ganhou regulamentação com a Instrução Normativa 40, de outubro do ano passado. Com o advento da legislação reivindicada pelo setor, agora se faz necessário intensificar estudos sobre seu efeito nas culturas, principalmente com relação a aspectos como fitotoxicidade, alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física
O
Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, sendo que o agronegócio representa grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dentre as culturas, a soja (Glycine max L.) tem posição de destaque, sendo o principal cultivo na safra de verão e também a principal commodity brasileira. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na última safra (2018/2019) o Brasil figurou como o segundo maior produtor mundial de soja, ficando atrás somente dos Estados Unidos, tendo uma produção de 114,4 milhões de toneladas, área plantada de 35,8 milhões de hectares e produtividade de 3.206kg/ha, porém as estimativas mostram que nas próximas safras o Brasil tomará a primeira posição, tornando-se o maior produtor mundial da oleaginosa. Contudo, vários fatores podem afetar o desenvolvimento da cultura e comprometer sua produção. Contribuem para que ocorram perdas na produção, as condições edafoclimáticas e os problemas fitossanitários como a competição com plantas daninhas e a incidência de pragas e doenças. Devido a esses fatores ocorrerem muitas vezes simultaneamente na lavoura, o método de controle utilizado pelos produtores com maior frequência é a pulverização na área afetada, com misturas de produtos fitossanitários de mesma classe e também de produtos de diferentes classes. De acordo com a
pesquisa realizada por Grazziero (2015) com 500 pessoas ligadas à agricultura, 97% utilizam mistura de tanque, sendo que em 95% das vezes o uso varia de dois a cinco produtos. A mistura de produtos é relatada como vantajosa devido a vários fatores, tais como redução do número de
pulverizações e consequentemente menor compactação do solo, economia de água, trabalho e combustível. Além disso, pode ser uma estratégia de manejo para reduzir a possibilidade de aparecimento de populações resistentes, pela mistura de produtos com diferentes mecanismos de ação, seja de herbicidas, inseticidas ou de fungicidas.
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A mistura dos diferentes produtos fitossanitários vai depender do estádio de desenvolvimento da cultura e consequentemente dos problemas enfrentados. Desta forma, aproveita-se para aplicar outros produtos, com o objetivo de eliminar uma possível nova reentrada na área. Apesar de ser uma prática comumente utilizada pelos produtores nas lavouras, essa era proibida, pois o responsável técnico só poderia recomendá-la se estivesse especificada na bula do produto, ficando a responsabilidade imposta ao produtor que optava por utilizá-la. Entretanto, com a publicação da Instrução Normativa no 40, de 11 de outubro de 2018, o engenheiro agrônomo passa a responder pelas misturas em tanque no receituário agronômico e está autorizado a definir as aplicações. Assim, a prática passa a ter regulamentação governamental, depois de muitos anos de reivindicações do setor produtivo. Portanto, agora mais do que nunca se faz necessário realizar estudos sobre os efeitos que as misturas de produtos fitossanitários podem causar nas culturas, principalmente com relação a fitotoxicidade, possíveis alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física, fatores esses que, uma vez alterados, podem vir a comprometer o desenvolvimento normal da planta e consequentemente prejudicar a produtividade da cultura. Estes estudos serão importantes para gerar informações técnicas aos produtores, que adotam essa prática nas lavouras. Alguns parâmetros podem ser avaliados antes mesmo da aplicação da mistura a campo. É o caso do pH, da condutividade elétrica e da estabilidade física das misturas. Utilizando-se garrafas PET, após a mistura dos produtos, com o auxílio de um pHmetro, pode-se aferir as possíveis alterações de pH. Com um condutivímentro verifica-se a condutividade elétrica. E para a avaliação da estabilidade física pode-se utilizar uma tabela já padronizada e com base nas alterações observadas atribuir notas variando de 1 a 5. Posteriormente, com base na nota atribuída, haverá uma recomendação. Sendo a nota 1, a recomendação é não aplicar a mistura. Nota 4, a recomendação é fazer a agitação contínua da mistura, e nota 5 a mistura apresenta estabilidade perfeita, podendo assim ser realizada a aplicação, sem restrições. As notas atribuídas têm como base a observação da ocorrência de sobrenadante, precipitação, floculação, formação de grumos, separação de fases, entre outras alterações que podem vir a ocorrer. Outra forma de avaliar a compatibilidade de produtos e seus efeitos (nesse caso, quando já aplicados nas plantas) ocorre atra-
vés de avaliações de fitotoxicidade nas plantas por meio de observações visuais, realizadas normalmente aos sete, 14, 21 e 28 dias após a aplicação (DAA) das misturas. Conforme os sintomas observados, poderão ser atribuídas notas, em uma escala de 0 a 9, onde nesse caso 0 corresponde à testemunha; 1, ausência de sintomas de fitotoxicidade, e 9 à morte das plantas. Os resultados obtidos com a realização destes testes posteriormente podem ser utilizados como parâmetro sobre o que pode ou não ser misturado e o risco que a mistura apresenta para cultura, baseando-se nas alterações no pH, na condutividade elétrica, na estabilidade física e no grau de fitotoxicidade que a mistura causou na planta. Desta forma, foram realizados estudos em laboratório e casa de vegetação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos (UTFPR-DV), com três cultivares de soja (Roundp Ready, Liberty Link e Enlist E3) e 18 misturas de produtos, dentre eles três herbicidas (glifosato dimetilamina; glufosinato de amônio e 2,4-D colina), três fungicidas (trifloxistrobina + protioconazol; azoxistrobina + benzovindiflupir e picoxistrobina + ciproconazole) e três inseticidas (tiametoxam + lambda-cialotrina; eflubenzurom e deltametrina), de acordo com a Tabela 1. Os produtos foram misturados utilizando a dose máxima recomendada em bula e aplicados no estádio V3, segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida, com pulverizador costal pressurizado por CO2, simulando aplicação a campo. Os resultados mostraram que não houve incompatibilidade física das misturas dos produtos fitossanitários testados em laboratório, sendo que o grau de estabilidade foi de 3, nas misturas glufosinato + trifloxistrobina + protioconazol e glufosinato + azoxistrobina + benzovindiflupir. Neste caso, a recomendação é realizar a agitação contínua da mistura para evitar a formação de corpo de fundo, sedimentação, precipitação, separação de fases e formação de grumos, como ocorreu para as referidas misturas, os mesmos cuidados também devem ser tomados para misturas que apresentam estabilidade de grau 4, sendo que apenas no grau 5 a mistura pode ser realizada sem restrições. A compatibilidade química representada pelo pH e a condutividade elétrica das misturas apresentaram valores dentro da normalidade, com algumas exceções, caso da mistura de glufosinato + azoxistrobina + benzovindiflupir, em que se observaram valores de pH maiores que 9, o que poderá resultar na redução da eficácia de um dos produtos ou ambos. No que diz respeito aos valores de
Tabela 1 - Avaliações de fitotoxicidade aos 28 dias após a aplicação (DAA) de diferentes misturas de produtos fitossanitários e cultivares de soja. UTFPR, Dois Vizinhos (PR), 2018 Glifosato Fitotoxicidade Glufosinato Fitotoxicidade 2,4-D colina e Fitotoxicidade e misturas 28 DAA e misturas 28 DAA misturas 28 DAA Testemunha sem aplicação 0.00 c Testemunha sem aplicação 0.00 b Testemunha 0.00 e Glifosato 2.00 b Glufosinato 4.00 a 2,4-D colina 2.00 c Glifosato + Trifloxistrobina + Protioconazol 3.00 a Glufosinato + Trifloxistrobina + Protioconazol 4.00 a 2,4-D colina + Trifloxistrobina + Protioconazol 2.50 b Glifosato + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 2.00 b Glufosinato + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 3.50 a 2,4-D colina + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 2.00 c Glifosato + Picoxistrobina + Ciproconazole 2.25 b Glufosinato + Picoxistrobina + Ciproconazole 3.25 a 2,4-D colina + Picoxistrobina + Ciproconazole 4.00 a Glifosato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 2.00 b Glufosinato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 4.00 a 2,4-D colina + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 2.00 c Glifosato + Eflubenzurom 2.25 b Glufosinato + Eflubenzurom 3.75 a 2,4-D colina + Eflubenzurom 2.00 b Glifosato + Deltametrina 3.25 a Glufosinato + Deltametrina 4.00 a 2,4-D colina + Deltametrina 1.25 d *Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott-Knott (p>0.05).
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Fotos Divulgação
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Figura 1 - Mistura de produtos de diferentes classes pode causar sintomas de fitotoxicidade em plantas e comprometer seu desenvolvimento. A) Glufosinato + Trifloxistrobina + Protioconazol. B) Glifosato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina. C) Glufosinato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina. D) Glufosinato + Teflubenzurom
condutividade elétrica, os maiores foram encontrados nas misturas do herbicida glifosato com os fungicidas e inseticidas. Sendo que a condutividade elétrica diz respeito à presença de íons em suspensão que podem interagir com as moléculas dos produtos, resultando assim em possível queda na eficácia dos produtos. Desta forma, quanto maior a condutividade elétrica, maior é o risco perda de eficiência do(s) produto(s). Com relação aos sintomas de fitotoxicidade avaliados nas diferentes cultivares de soja, estes foram classificados de muito leve a moderado, variando de 0 a 4 na escala, o que pode ser observado nos valores apresentados na Tabela 1. Algumas misturas causaram sintomas considerados moderados nas plantas, o que foi observado em todas as misturas realizadas com o herbicida glufosinato juntamente com os três fungicidas e três inseticidas, onde em todos os tratamentos os sintomas variaram de 3 a 4, sendo considerado de leve a moderado. Esses sintomas podem vir a comprometer o desenvolvimento da planta, pois causam injúrias, como clorose, encarquilhamento, queima e retardamento do crescimento. Alguns desses sintomas podem ser observados na Figura 1. Entretanto, não houve avaliação até o final do ciclo da cultura para saber se ocorreu queda na produtividade. No que diz respeito às misturas realizadas com os herbicidas glifosato e 2,4-D colina com os fungicidas e inseticidas, todos os tratamentos apresentaram sintomas de fitotoxicidade praticamente
ausentes ou muito leves, com exceção do tratamento 2,4-D colina + picoxistrobina + ciproconazole onde, nas últimas avaliações, os sintomas de fitotoxicidade foram considerados moderados. Quando os sintomas de fitotoxicidade são muito leves ou leves, o que ocorreu para a maioria das misturas, a planta possivelmente conseguirá metabolizar o herbicida por ser resistente, não havendo perdas na produtividade. As misturas de diferentes classes de produtos fitossanitários podem resultar em fitotoxicidade para a cultura, ineficiência do tratamento químico, além de entupimento das pontas de pulverização. As misturas de tanque, na maioria das vezes, são realizadas sem informações sobre a compatibilidade química e física do produto. Desta forma, mesmo apresentando várias vantagens, é necessário se atentar às desvantagens e aos possíveis danos que uma mistura de produtos fitossanitários pode causar, tanto na planta como no equipamento de aplicação. Embora tenham ocorrido algumas alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física das misturas, assim como alguns sintomas de fitotoxicidade tenham sido observados em determinados casos, os ensaios realizados mostram que essa prática, de maneira geral, pode ser realizada em segurança. Porém é necessário estar atento à ordem preferencial de adição dos produtos no tanque do pulverizador, sendo recomendado: 1º água, 2º condicionador de água (se necessário), 3º Pó Molhável (PM), 4º Granulado dispersível (WG), 5º Suspen-
são Concentrada (SC), 6º Concentrado Solúvel (SL), 7º Concentrado Emulsionável (CE), 8º Adjuvante (se necessário), 9º Fertilizante Foliar (se necessário) e 10º Redutor de Espuma (se necessário). Deve-se também utilizar água de boa qualidade e adjuvantes recomendados em bula e que possam ajudar na qualidade da aplicação. Outro fator importante no momento da mistura, é manter a agitação contínua no pulverizador para evitar a formação de grumos, precipitação, separação de fases, sobrenadante e floculação da mistura. A soja é a cultura que detém os maiores investimentos em pesquisa e biotecnologia, e a cada ano são lançadas no mercado novas tecnologias para ajudar no manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, portanto, as opções disponíveis aos produtores agrícolas atualmente são várias. Assim, é necessário realizar ensaios sobre a compatibilidade de produtos e seus possíveis efeitos nas plantas, com o objetivo de sempre maximizar a produtividade da cultura e conservar as tecnologias, além de auxiliar o produtor na tomada de decisão. A nova instrução normativa sobre misturas de tanque empodera o engenheiro agrônomo, que passa a responder por isso. Desta forma, na dúvida sobre o que aplicar, consulte um profissional C qualificado. Cristiana Bernardi Rankrape, Felipe Lucio, Corteva Agriscience Eduardo Lago, Juliana Domanski Jakubski, Ketly Custodio Jung, Wellyton Morgenrotd, Ivan Carlos Zorzzi, Pedro Valério Dutra de Moraes UTFPR-DV
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Capa
Soma de esforços Como a escolha de cultivares com maior rusticidade a doenças radiculares, o Tratamento de Sementes Industrial e o investimento em qualidade de fungicidas, aliados ao conhecimento sobre a relação entre hospedeiro, patógeno e ambiente, podem contribuir para melhores resultados na cultura da soja
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cultura da soja é uma das mais representativas do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/2019), a área plantada no Rio Grande do Sul apresentou incremento de 1,5% em relação à safra 2017/18. Ainda, de acordo com a mesma fonte, a produtividade é a segunda maior da série histórica, fazendo com que a produção atingisse 19.187,1 mil toneladas, 11,9% superior à safra passada.
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A tecnologia disponível envolvida no cultivo de soja e a facilidade de comercialização desestimulam os produtores a buscarem rotações com culturas que permitam a sua manutenção na
atividade. Desta forma, a manutenção de apenas uma cultura em sequência, ao longo de anos, pressiona a população dos indivíduos do solo a serem selecionados e se estabelecerem. Com isso, a diversidade da biota do solo acaba reduzindo, predominando indivíduos fitopatogênicos em escala crescente. Indivíduos benéficos acabam por perder esta briga, pois suas condições de sobrevivência e competição acabam ficando limitadas. Os resultados de tudo isso são solos cada vez mais contaminados com esses indivíduos fitopatogênicos, causando sérios problemas aos produtores rurais. São diversos patógenos envolvidos neste processo, como Phytophthora sojae, Pythium spp., Fusarium spp., Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani, Phomopsis spp. etc. Nesta última safra houve uma drástica perda de estande, devido ao tombamento de plantas, causado principalmente pelos primeiros fungos citados. Notadamente, esta morte de plântulas não foi somente causa direta do ataque desses patógenos, mas também pela escolha errônea de sementes sem vigor, mesmo com germinação aceitável, e tomada de decisão para o plantio em momentos inadequados. Com o objetivo de buscar alternativas para o manejo sustentável em monocultura de soja foi desenvolvido um estudo em 20 cultivares de soja para avaliar sua rusticidade e a contribuição ou não do Tratamento de Sementes Industrial (TSI) em uma delas, frente aos patógenos de solo (Fusarium spp., Macrophomina phaseolina e Phomopsis spp.) e a resultante sobre a produtividade. Além disso, na área foliar foi desenvolvida uma variação de fungicidas para verificar se há interação do TSI com o investimento na proteção foliar. O trabalho foi realizado no município de Capão do Cipó, Rio Grande do Sul, em área de monocultura com histórico de podridões radiculares em soja. As 20 cultivares de soja com TSI (Standak
Figura 1 - Rusticidade de cultivares de soja aos patógenos de solo
Marcelo Madalosso
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Figura 2 - Diferença de incidência de patógenos de solo em áreas com e sem TSI
foliares foram divididas em três tratamentos: testemunha sem aplicação, apenas fungicidas sítio-específicos e fungicidas sítio-específicos + multissítios. Antes da colheita, as plantas foram coletadas e levadas ao laboratório de fitopatologia da URI Santiago, no Rio Grande do Sul, para a identificação e quantificação da porcentagem de incidência das doenças radiculares. Os resultados apresentaram respostas interessantes, para a variação de rusticidade entre os materiais e do TSI aos patógenos de solo, bem como para a interação com as aplicações foliares.
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Top (2ml/kg) e Yaravitta (2ml/kg)) foram doadas pela empresa 3 Tentos S/A: Nidera 5959 IPRO, Monsoy 5947 IPRO, Monsoy 5892 IPRO, Monsoy 6410 IPRO, TMG 7063 IPRO, Brasmax Ativa RR, Brasmax Lança IPRO, Brasmax Raio IPRO, Brasmax Icone IPRO, Brasmax Ponta IPRO, Brasmax Elite IPRO, Brasmax Zeus IPRO, Brasmax Delta IPRO, Brasmax Compacta IPRO, Brasmax Fibra IPRO, Brasmax Garra IPRO, Monsoy 5838 IPRO, BRS 5601 RR, Nidera 5909 RR, Nidera 4823 RR. Apenas a Brasmax Garra IPRO foi possível conseguir a semente sem tratamento, representada pela Garra produtor. Além disso, as cinco aplicações
Ataque do fungo Macrophomina phaseolina
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Figura 3 - Relação entre o uso do TSI e o investimento em aplicações foliares
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Na impossibilidade da rotação de culturas, o uso de cultivares com algum grau de resistência pode ser importante. A variação de rusticidade para os materiais foi grande entre os patógenos estudados (Fusarium spp., Macrophomina phaseolina e Phomopsis spp.) (Figura 1). Esses resultados são importantes na hora da seleção de cultivares para áreas afetadas com estes indivíduos. A resposta ao TSI também foi positiva. A cultivar Brasmax Garra IPRO foi a única possível de fazer o contraponto entre a semente com o TSI e a semente limpa (sem TSI) (Figura 2). Os resultados mostraram que apesar de parecer que o TSI esteve presente “apenas no plantio”, seu uso foi fundamental para minimizar os problemas radiculares que foram visualizados futuramente. Isso ajuda a entender que a infecção dos patógenos radiculares começou desde a emissão da radícula, pela semente após o período de embebição, ou seja, antes mesmo da emergência. Assim, percebeu-se que o uso do TSI foi fundamental para a redução da quantidade de plantas atacadas com Fusarium spp., Macrophomina phaseolina e Phomopsis spp. Por fim, quando foi procurada a relação entre o uso do TSI ou não com as aplicações de fungicidas foliares foram obtidas respostas positivas (Figura 3). Foi possível observar que a ausência de proteção na semente se mostrou fundamental para o resultado de pior produtividade. Mesmo sem nenhuma aplicação (testemunha), houve diferença de 0,8 saca de soja/ha a mais, onde foi apenas o TSI, mostrando sua resposta positiva
Figura 4
isolada. Já quando foram realizadas as aplicações foliares, houve diferença também entre o nível de investimento nas aplicações (apenas sítio-específicos ou misturas com multissítios). Assim, foi verificado que nos casos em que o investimento é maior (mistura de sítio-especifico + multissítio), a resposta desde o TSI é maximizada. Com isso, se o produtor optar por fazer aplicações foliares e não utilizar um TSI, pode perder produtividade pela ausência da contribuição desta ferramenta para o programa de proteção da planta. Com base neste trabalho foi possível concluir que se deve buscar cultivares com maior rusticidade a doenças radiculares em áreas com histórico de sua ocorrência. O TSI foi fundamental para a proteção inicial das raízes e se refletiu até o final do ciclo da planta. Quanto maior for o investimento em qualidade de fungicidas para o controle de doenças foliares, maior é o retorno do uso do TSI. Ademais, o conhecimento do triângulo da doença é mais um fator que pode auxiliar no convívio e na redução dessas patologias de solo (Figura 4). C
Marcelo Gripa Madalosso Filipe A. Dalenogare Jessica S. Boff Mateus C. Dorneles Gabriel Roos Cristiano Bonato Dionatan F. Nunes Vitor Tadielo Rafael Cardoso Univ. Regional Integrada, Campus Santiago Madalosso Pesquisas
Estratégias de manejo de Fusarium spp. • Resistência varietal quando existente. • Tratamento de sementes para eliminação de clamidósporos aderidos às sementes. • Manejo físico e químico do perfil do solo e posterior estabelecimento do plantio direto buscando manter a umidade e a matéria orgânica do solo através da palha. • Época de semeadura buscando evitar épocas úmidas e com temperatura amena no solo. • Evitar altas densidades de plantio predispondo as plantas a estresses.
Estratégias de manejo de Macrophomina phaseolina • Resistência varietal quando existente. • Época de semeadura ou ciclos diferentes para evitar períodos de déficits hídricos e altas temperaturas. • Manejo físico e químico do perfil do solo e posterior estabelecimento do plantio direto buscando manter a umidade e a matéria orgânica do solo através da palha. • Tratamento de sementes para eliminação de microesclerócios aderidos às sementes. • Evitar altas densidades de plantio predispondo as plantas a estresses.
Estratégias de manejo de Phomopsis spp. • Utilização de sementes livres do patógeno. • Rotação de culturas com gramíneas ou espécies não hospedeiras. • Propiciar o fechamento mais rápido das entrelinhas. • Tratamento de sementes. • Aplicação de fungicidas na parte aérea. • Realização da colheita mais próxima da maturidade fisiológica. • Maior tempo de armazenagem das sementes é prejudicial ao patógeno.
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Cana L.L. Dinardo-Miranda
Quando controlar
Apesar de nem sempre receberem a atenção devida, nematoides ectoparasitas têm potencial para causar prejuízos em canaviais. Seu controle é recomendado sempre que a população atingir valores iguais ou acima de mil espéciemes por 300cm3 de solo de rizosfera
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s nematoides da cana-de-açúcar são conhecidos como problemas fitossanitários desde o século 19, quando D. M. Treub, em 1885, fez o assinala-
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mento do nematoide-das-galhas, identificando-o como Heterodera javanica (atualmente Meloidogyne javanica), um endoparasito sedentário que estava cau-
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sando perdas em Java, Indonésia. Em 1888, F. Soltwedel apud J. R. Williams 1969, descreveu Tylenchus sacchari como responsável por problemas causados à cultura, também em Java. Esse relato pode ter sido o primeiro assinalamento do nematoide-das-lesões Pratylenchus zeae ou P. brachyurus, endoparasitas migradores, muito comuns nos dias atuais, associados a canaviais debilitados. No fim do século 19 e início do século 20, N.A. Cobb, o mais famoso dos nematologistas, que era norte-americano, foi o primeiro a se dedicar e publicar estudos sobre a importância dos nematoides em cana-de-açúcar, com publicações na Austrália em 1893 e depois no Havaí, em 1906 e 1909. Esses estudos vieram atrelados à busca do diagnóstico da doença “declínio da cana-de-açúcar”, que ocorria em níveis epidêmicos no Havaí, USA e que, provavelmente, segundo muitos autores, era a virose Sereh. Nathan A. Cobb, envolvido oficialmente no diagnóstico, encontrou
Fotos R.M. Moura
um grande número de fitonematoides, até então desconhecidos, nas rizosferas das plantas estudadas e especulou que a doença que assolava os canaviais daquele estado norte-americano era consequência da ação conjunta de nematoides fitoparasitas. A especulação de N.A. Cobb não veio a se confirmar, mas ficou evidente à época que esses minúsculos parasitas, em altas populações, podem prejudicar o desenvolvimento da cana-de-açúcar. Preocupado em identificar, descrever e fazer os primeiros assinalamentos desses nematoides, Cobb reportou gêneros, espécies que são conhecidas até hoje, a exemplo de Tylenchus dihystera (Helicotylenchus dihystera), Tylenculus similis (Radopholus similies), Xiphinema entre outros. Com o passar dos anos, entretanto, apenas dois fitonematoides foram efetivamente relacionados a altas perdas em produtividade da cana-de-açúcar, uma cultura agora amplamente disseminada no Ocidente e Oriente por meio dos seus híbridos, bem mais resistentes a doenças e pragas. Esses híbridos substituíram as tradicionais variedades de “sangue-nobre” (Saccharum officinarum), suscetíveis a diversos males, especialmente ao mosaico, uma virose que dizimou canaviais no mundo inteiro nas primeiras décadas do século 20 no Ocidente e no Oriente. Esses híbridos foram introduzidos no Brasil após a grande epidemia de mosaico nos anos 30, mas a suscetibilidade da cultura em relação aos fitonematoides permaneceu. Os nematoides que se destacaram em importância econômica devido à patogenia foram: o nematoide-das-lesões (Pratylenchus zeae e P. brachyurus) e o nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.). Devido ao reconhecimento mundial da importância econômica desses dois nematoides em relação à cana-de-açúcar, tornaram-se rotinas nas empresas sucroalcooleiras as análises nematológicas de amostras de solo de canaviais, do ponto de vista qualitativo
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(presença de diferentes gêneros) e quantitativo (número de espécimes por gênero). Essas análises têm por objetivo primeiramente o monitoramento das populações locais para tomadas de decisão sobre ações de controle. Os resultados dessas análises têm confirmado os dados de N.A. Cobb obtidos no início do século 20, especialmente no que concerne à diversidade de gêneros presentes nas rizosferas. Atualmente, sabe-se que essa diversidade pode ser alterada qualitativamente e quantitativamente, de acordo com a localização do canavial, a variedade cultivada e a época do ano (Figura 1). A distribuição horizontal dos ectoparasitas no campo é bastante uniforme, não se formando reboleiras e sendo favorecida pelo uso de implementos (Figura 2 A e B). Por outro lado, a distribuição vertical varia entre 30cm e 40cm de profundidade. Os principais gêneros de fitonematoides (endo e ectoparasitos) que podem ser encontrados nas rizosferas da cana-de-açúcar se enquadram em um dos grupos parasitários, exemplificados pelos gêneros predominantes. Desde o assinalamento do primeiro fitonematoide em cana-de-açúcar por D.M. Treub em 1887, mais de 300 novas espécies pertencentes a mais de 48 gêneros foram assinaladas (Silva, 2019, dissertação de mestrado CAV/UFPE). Somado a isto, dados de literatura mostram que mais de uma dezena de novas espécies de fitonematoides foram descritas tendo como hospedeiro a cana-de-açúcar. Atualmente, pela importância econômica comprovada, os nematoides-das-lesões e o nematoide-das-galhas têm recebido maiores atenções nas atividades de controle fitossanitário. Entretanto, a pergunta que persiste é o que dizer das populações dos ectoparasitos, merecem ou não atenção fitossanitária? A patogenia dos ectoparasitas da cana-de-açúcar demorou
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Figura 1- Alguns gêneros de ectoparasitas que são encontrados em rizosferas de cana-de-açúcar. A) Trichodorus B) Xiphinema C) Hemicycliophora, D) Mesocriconema E) Helicotylechus, este, na maioria dos casos, o mais freqüente e abundante
Figura 2 - Sintomas do tipo raízes-amputadas e ausência de pelos absorventes, em cana-de-açúcar, variedade SP 70 10 11, associados à presença de espécies do Trichodorus sp. na rizosfera. C- Sintomas semelhante ao dos nematoides das galhas são produzidos por ectoparasitos dos gêneros Xiphinema e Hemicycliophorae C: NAS, USA) www.revistacultivar.com.br • Outubro 2019
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Fotos R.M. Moura
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Figura 3 - A) O revolvimento do solo expõe os ectoparasitos à dissecação pelos raios solares, provocando drástica redução populacional. B) Solos aderentes aos equipamentos de mecanização do solo disseminam nematoides, tornando uniforme a distribuição horizontal dos ectoparasitas introduzindo-os, ao mesmo tempo, em novas áreas não contaminadas. C) A solarização em percelas experimentais, acompanhada de aplicação matéria orgânica e de nematicida, assegura ao pesquisador a certeza da não interferência dos ectoparasitos nos resultados experimentais. D) Torta de filtro Oliver, sempre disponível, é um excelente tipo de matéria orgânica para a cana-de-açúcar
a ser estudada e a primeira contribuição científica sobre o tema ocorreu em Jansen et al (1959) no Havaí. Esse estudo comprovou por meio de inoculações que o parasitismo de Helicotylenchus sp. (Figura 1E) afetava o desenvolvimento das plantas. O trabalho foi documentado com fotos de lesões necróticas radiculares, associadas à ação do suposto patógeno. Em seguida, dois pesquisadores, também do Havaí, Apt e Koike (1962 a e b), reportaram, igualmente, a patogenicidade de dois ectoparasitos. No primeiro trabalho, os autores reportaram a ação do nematoide espiralado (Helicotylenchus) e no segundo a do gênero Trichodorus. Os dois autores, na primeira pesquisa, verificaram, por meio de experimentos realizados com plântulas cultivadas em vasos, que Helicotylenchus nannus, atualmente H. dihystera, em níveis populacionais acima de mil espécimes por seedling pode causar danos significativos. A segunda pesquisa foi com a espécie Trichodorus christie, atualmente Paratrichodorus minor. Usando metodologia similar à da primeira, os autores obtiveram resulta-
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dos semelhantes. Em ambas, cada nematoide, a depender da densidade populacional, afetou, de modo diferenciado, as plântulas inoculadas, verificando-se acentuadas reduções do desenvolvimento das partes aéreas e as radiculares. A partir dessas pesquisas, foi intensificada, ainda mais, a prática do levantamento populacional de fitonematoides em canaviais e, com isso, publicados novos assinalamentos de ectoparasitas, tanto no Brasil quanto no exterior. Enquanto isso, dois atuantes pesquisadores nematologistas, V. W. Spall e P. Cadet, em países africanos, do Sul e do Oeste, em fins do século 20, afirmaram que Trichodorus e Paratrichodorus eram os fitonematoides predominantes em canaviais, sendo as espécies de Paratrichodorus as mais prevalentes e P. minor a mais virulenta. Segundo esses autores, tais nematoides são frequentes em Burkina Faso, África do Sul e Zimbábue e menos assinalados em outros países. Em canaviais de solos arenosos da África do Sul, por exemplo, populações de Paratrichodorus são frequentemente associa-
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das a reduções do desenvolvimento de plantas e formação de raízes amputadas (stubby root); sintomas típicos de plantas parasitadas por tricodorídios (Figura 2 A e B). Alguns ectoparasitos, a exemplo dos gêneros Xiphinema e Hemicycliophora (Figura 1 B e C) induzem a formação de pequenos tumores radiculares, muito parecidos com os causados pelo nematoide-das-galhas. Esse fato pode ter ocasionado falsos diagnósticos (Figura 2C) Um terceiro grupo de nematoides ectoparasitos encontrado associado à cana-de-açúcar com alta frequência, em nível mundial, é o dos nematoides-anelados, formado por diversos gêneros, com destaque para Criconemella e Mesocriconema. Embora esses gêneros possuam importância econômica quando parasitando outras culturas, até o momento não existem evidências de que possam causar reduções significativas da produtividade da cana-de-açúcar. Um tópico, portanto, que necessita de mais investigações. Silva; Cares; Moura, 2019 (Anais da APCA (16):129-140; em fase final de editoração), reportaram uma característi-
ca peculiar desses nematoides, ou seja, uma maior capacidade de sobrevivência do gênero Mesocriconema (Figura 1D) aos rigores da secura do solo durante o verão do Nordeste brasileiro. Isso, em relação aos demais ectoparasitos estudados. Segundo experimentos realizados em canaviais da África do Sul, também por V.W. Sapull e P. Cadet, foi revelado que Trichodorus sp. (Figura 1A) e Paratrichodorus sp. restringem a absorção de água pelas raízes, limitando o crescimento dos colmos em cana-planta. Os autores observaram, também, em socaria, que as perdas em produtividade constatadas na África do Sul estavam sempre relacionadas à presença dos gêneros Xiphinema (Figura 1B) e Paratrichodorus. Por outro lado, em um outro experimento, em Burkina Faso, os nematoides ectoparasitos pouco interferiram na produtividade das socas, provavelmente, segundo os mesmos autores, à predominância de H. dihystera. Esse nematoide-espiralado, afirmaram, seria supressor dos demais ectoparasitas, impedindo o potencial reprodutivo dos dos demais, igualmente a um controle biológico. Esse fato foi confirmado por Silva, Cares e Moura (2019). No Brasil, a relação entre os ectoparasitos e perdas na produtividade da cana-de-açúcar ainda não foi devidamente avaliada, muito embora estudos tenham mostrado associações entre baixas produtividades da cultura e a presença de ectoparasitos. Uma revisão sobre o tema “Histórico dos Nematoides da Cana-de-Açúcar” foi publicada por Moura e Guimarães, nos Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica (1): 69-78, 2004. À luz do que foi mostrado, pode-se inferir, para fins de aplicabilidade prática, que os nematoides ectoparasitos poderão ser prejudiciais à cana-de-açúcar, quando em níveis populacionais superiores a mil espécimes por 300cm3 de solo, que poderia ser considerado o nível de dano, com 500 espécimes por 300cm3 de solo, atingindo o nível de ação. Nesses níveis populacionais, as plantas podem ter o desenvolvimento afetado, especialmente pela ação parasitária nas raízes das brotações e de seedlings, sobretudo em épocas climáticas desfavoráveis à cultura. Portanto, experimentos de campo do tipo competicão de variedades, formulações de fertilizantes e outros, onde o principal parâmetro de avaliação dos tratamentos experimentais for o desenvolvimento da planta, os resultados poderão ser afetados pela presença desses organismos em níveis considerados de dano. Igualmente, essas populações devem ser consideradas por ocasião da renovação de canaviais.
CONTROLE
Controlar nematoides ectoparasitos em canaviais é um tema pouco estudado, mas deve ser sempre considerado em situações onde ocorram níveis de dano, ou seja, populações iguais ou acima de mil espéciemes por 300cm3 de solo de rizosfera. Para aplicação de medidas de controle para essas situações, entretanto, devem ser consideradas duas situações: tratamento de pequenas áreas (áreas destinadas a pesquisas de campo, sementeiras etc, menores do que um hectare) e de grandes áreas (áreas destinadas à produção comercial; maiores do que um hectare). As práticas apresentadas, além de afetarem os ectoparasitos, atingem os endoparasitas.
PROCEDIMENTOS PARA PEQUENAS ÁREAS
1) Efetuar análise nematológica de solo antes do plantio defi-
Grupos parasitários de nematoides 1) Endoparasitas migradores - Nematoides-das-lesões: (lesion-nematode)Pratylenchus zeae e P. brachyurus; 2) Endoparasita sedentário - Nematoides-das-galhas: (root-knot nematode) Meloidogyne javanica e M. incognita; 3) Ectoparasitas Gêneros e espécies de maiores frequências - Nematoide-espiralado (spiral nematode): Helicotylenchus dihystera e Helicotylenchus spp; - Nematoide-anelado (ring nematode): Criconemella spp e Mesocriconema spp; - Nematoide-das-raízes-amputadas (stubb root nematode): Trichodorus spp. e Paratrichorus spp; Gêneros menos frequentes: - Aphelenchoides, Hemicycliophora, Radopholus, Hoplolaimus, Tylenchorhyncus, Xiphinema, entre outros. Observação: ainda não foram realizados levantamentos de espécies para a maioria das populações de ectoparasitos da cana-de-açúcar ocorrentes no Brasil e, em muitos casos, não se sabe se ocorre uma única ou mais espécies. nitivo, preferencialmente com a cultura anterior ainda no campo. 2) Constatada população do ectoparasito em nível de dano, efetuar o revolvimento do solo, seguido da aplicação de matéria orgânica, irrigação por asperção e solarização. Uma fumigação da área ou aplicação de nematicida sistêmico aumenta a eficiência (Figura 3).
PROCEDIMENTO PARA GRANDES ÁREAS
Revolvimento do solo, aplicação de matéria orgânica, seguida, quando possível, de irrigação por asperção. Repetir a prática após 30 dias a 40 dias. O controle da vegetação nativa por meio de herbicidas, antes do plantio definitivo, melhora os resultados. Estas duas práticas servião também para controlar as populações dos demais fitonematoides da cultura. O uso de nematicida é opcional e, em média, a aplicação de nematicidas sistêmicos em cana-de-açúcar só é viável economicamente quando proporcionar aumentos da produtividade da ordem de 20 toneladas por hectare. A aplicação da matéria orgânica, para ambas as situações, deve ser feita com torta de filtro Oliver; um subproduto da indústria sucroalcooleira. Além de ser excelente fonte de nutrientes (N, Ca, P e S,), esse material proporciona retenção de água no solo e apresenta potencial para correção do pH. Favorecidas por essas condições edáficas, a microflora e a fauna do solo serão incrementadas e o equilíbrio biológico das populações favorecido. Um especialista em fertilidade do solo deve ser consultado para o cálculo da dosagem correta de torta por hectare. As rotações de culturas indicadas no controle dos endoparasitas da cana-de- açúcar para grandes áreas infestadas podem interferir na dinâmica das populações dos ectoparasitas, mas os resultados são imprevisíveis, devido à diversidade de espécies e C de gêneros sempre ocorrentes nas rizosferas. Romero Marinho de Moura, Universidade Federal de Pernambuco www.revistacultivar.com.br • Outubro 2019
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Milho
Aplicado na folha Qual a influência da aplicação de diferentes doses de inoculante Azospirillum brasilense, via foliar, na cultura do milho
N
o Brasil, o milho se destaca como uma das principais culturas devido ao seu potencial produtivo e à grande importância na alimentação humana e animal. Porém, atualmente na agricultura, alguns problemas enfrentados vêm encarecendo o custo da produção. Relacionam-se ao avanço desordenado da fronteira agrícola, resultantes do não reaproveitamento de resíduos de culturas anteriores, à utilização inadequada dos sistemas de rotação de culturas e à baixa eficiência de diversos fertilizantes (Reis, 2007). Na cultura do milho, Lobato et al (2010) sugere o emprego do produto biológico (inoculante), uma das novas tecnologias utilizadas como forma de reduzir o uso de fertilizantes químicos.
Segundo Reis (2007), a fixação biológica de nitrogênio atmosférico (FBN), realizada por bactérias diazotróficas, vem se tornando uma das alternativas que auxiliam na redução da aplicação de insumos e seu melhor aproveitamento. Durante a última década, várias bactérias capazes de reduzir o nitrogênio molecular (N2) foram descritas, sendo o gênero Azospirillum o mais estudado (Radwan et al, 2004). Usualmente a técnica de A. brasilense inoculado resulta no aumento de produção de grãos, incremento de massa seca e de acúmulo de N2 nas plantas, principalmente se a associação for entre bactéria e genótipos não melhorados e em condições de baixa oferta de N2. Além destes fatores, o estado nutricio-
nal da planta, a qualidade dos exsudatos, a existência de micro-organismos competidores e a escolha da estirpe são aspectos que podem intervir na interação entre a planta de milho e a bactéria, além de afetar a eficiência da fixação biológica de nitrogênio (FBN) (Quadros, 2009). Esta associação entre Azospirillum e milho, além de promover a fixação biológica de nitrogênio, reduzindo o consumo de fertilizante nitrogenado, influencia no sistema radicular das plantas. A inoculação com bactérias aumenta o número de radicelas e o diâmetro das raízes laterais e adventícias, provavelmente devido à produção de hormônios pelas bactérias, melhorando assim a absorção hídrica e de
Fotos Francielle Aparecida de Sousa
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O milho é uma cultura que se destaca pelo seu alto potencial produtivo
nutrientes (Cavallet et al, 2000).
O EXPERIMENTO
Com o objetivo de verificar a eficiência da aplicação via foliar de A. brasilense nos resultados das análises de Nitrogênio (N) e Proteína Bruta (PB) foi conduzido um experimento na área experimental da Fundação Carmelitana Mário Palmério (Fucamp), situada na área rural do município de Monte Carmelo/ Minas Gerais, com coordenadas de 18°45’037’’ latitude Sul, 47°29’774’’ longitude Oeste e uma altitude de 885m. O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho, de acordo com os critérios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A Tabela 1 mostra os atributos do solo, analisados pela metodologia da 5ª aproximação. A análise teve por objetivo conhecer as características químicas do solo da área utilizada no experimento, a fim de nortear decisões para alcançar o rendimento almejado, além de definir a quantidade de fertilizante a ser utilizada. O experimento foi implantado no período de dezembro de 2014 a abril de 2015, com a semeadura do milho Híbrido Impacto TLTGVIPTA, TL, TG, TL/TG, tipo convencional, de ciclo precoce, recomendado para plantio de verão e safrinha, com populações de 50 mil a 55 mil e 65 mil plantas por hectare, respectivamente. Trata-se de uma planta de porte e inserção de espiga alta e apresenta espigas com grão tipo duro amarelo alaranjado, recomendado para silagem de planta inteira e produção de grãos. O preparo do solo foi realizado com grade aradora e com grade niveladora. Foi utilizado o sistema de semeadura manual, sendo o milho como cultura anterior. O grão foi semeado em quatro linhas espaçadas de 0,7m, população de quatro plantas por metro linear, ou seja, 64 plantas por parcela, o que proporcionou estande de aproximadamente 57.150 plantas por hectare. Dessa maneira, os cinco tratamentos consistiram nas diferentes dosagens de Azospirillum brasilense e adubações, descritas detalhadamente na Tabela 2: testemunha (sem adubações nitrogenadas e NPK e sem inoculação), padrão (com adubação nitrogenada e com adubação NPK, sem Azospirillum), inoculação com Azospirillum brasilense (50ml/ha) e com adubação
Figura 1 - Experimento delimitado, com o início dos tratamentos
NPK, inoculação com Azospirilum brasilense (100ml/ha) e com adubação NPK, inoculação com Azospirillum brasilense (200ml/ ha) e com adubação NPK, sabendo que a dosagem recomendada para gramíneas é de 120ml/60 mil sementes, a aplicação ocorreu em área total via foliar após emergência. O delineamento experimental foi de blocos casualizados (DBC), em que se buscou comparar os efeitos de cinco tratamentos (1, 2, 3, 4 e 5), sendo cada um deles repetido cinco vezes, conforme Figura 1, totalizando 25 parcelas. As amostragens dos parâmetros de Nitrogênio e Proteína Bruta foram realizadas quando o milho atingiu o ponto de silagem. Foram colhidos as espigas, o colmo e as folhas de cada parcela e encaminhados ao laboratório de análises, onde foram submetidos à análise bromatológica. Os resultados foram submetidos à análise estatística pelo Teste de Tukey a 5%, utilizando o software Sisvar versão 5.3 (DEX/Ufla). Quando o teste F apresentou-se significativo, foi realizada a regressão quadrática, de acordo com o caso. Seguindo as recomendações de adubação, foram utilizados na semeadura 400kg/ha do adubo formulado 08-28-16. A aplicação de N em cobertura foi na forma de ureia 200kg/ha (45% de N), sendo realizada em todas as linhas dos tratamentos T2, T3, T4 e T5. A inoculação via foliar da bactéria, bem como a adubação de cobertura, foi realizada quando as plantas estavam no estádio de desenvolvimento V6 (seis folhas expandidas), nessa fase a cultura se encontrava com 22 dias após a emergência (DAE), sendo ambos realizados no final da tarde, com objetivo de melhor eficiência da inoculação e da adubação de cobertura, visto que nesse período ocorrem temperaturas mais amenas. A colheita foi efetuada manualmente e as espigas debulhadas com trilhadora manual. Nesta pesquisa, verificou-se que a inoculação via foliar no milho com a bactéria Azospirillum, mesmo com o aumento da concentração, não substituiu a aplicação de nitrogênio pelo solo e também não resultou em diferenças significativas dos parâmetros relacionados na Tabela 3. Observa-se na Tabela 4 que os tratamentos não diferiram entre si em relação ao nitrogênio. O teor de proteína bruta do milho possui baixa correlação ao
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Tabela 1 - Dados da análise de solo na profundidade de 0cm - 20cm PH em CaCl2 5,3
Bases V% 63
Al M% 0,00
Ca (cmolc dm-3) 3,9
Mg (cmolc dm-3) 1,6
P meh (mg dm-3) 12,5
K (cmolc dm-3) 0,25
Tabela 2 - Descrição dos tratamentos, adubação e dosagens de Azospirillum utilizados na aplicação foliar do milho. Fazenda Experimental da Fucamp, MG, 2015 Tratamentos T1 T2 T3 T4 T5
Doses de Azospirillum ml/ha 0 0 50 100 200
Adubação de cobertura kg/ha 0 250 250 250 250
dos teores de proteína bruta, sendo este aumento relacionado ao crescimento da zeína, que é uma proteína de baixo valor nutricional, porém na pesquisa desenvolvida não houve esta correlação de acordo com a Tabela 6. Logo, nota-se que a aplicação via foliar com Azospirillum brasiliense, nas condições em que o trabalho foi realizado, não proporcionou uma diferença significativa para variáveis agronômicas de N e PB. Apesar disso, novas pesquisas devem ser realizadas, uma vez que fatores como genótipo, condições edafoclimáticas e estirpe da bactéria utilizada podem ter contribuído para esse resul-
Fotos Francielle Aparecida de Sousa
se comparar com os teores em aminoácidos no grão, devido ao acúmulo de amônio e nitrato (nitrogênio não proteico), que é acentuado com a prática essencial da adubação nitrogenada de cobertura, indicado na Tabela 5. Deste modo, uma maior adubação nitrogenada de cobertura melhora a absorção de nitrogênio pela planta. Sendo assim, o teor de nitrogênio aumenta no grão de milho, assim como o teor de proteína bruta. Observa-se na Tabela 6 que os tratamentos não diferiram entre si em relação à proteína bruta. De uma maneira geral, o aumento da dosagem de Azospirillum proporciona um crescimento
Adubação de semeadura kg/ha 0 400 400 400 400
SB (cmolc dm-3) 5,72
M.O (dag/Kg) 3,3
Tabela 3 - Análise de variância para o Nitrogênio em amostras de milho com diversos tratamentos (com e sem Azospirillum) FV Tratamento Bloco Erro Total
GL 4 4 16 24
SQ 0,002 0,523 0,008 0,523
QM 0,0004 0,13 0,0005
F 0,906ns 260,09ns
*Significativo (p<0,05). ns Não significativo (p > 0,05); Fc< Ftab; Não se rejeita H0 ao nível de 5%, ou seja, não existe nenhuma diferença entre os tratamentos. O experimento apresentou boa precisão (CV=1,61%).
Tabela 4 - Resultado dos tratamentos em relação ao nitrogênio 4 2 5 1 3
Tratamentos 100 ml + adubação 0 ml + adubação 200 ml + adubação 0 ml / sem adubação 50 ml + adubação
Médias 1,38a 1,37a 1,39a 1,40a 1,40a
As médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (α 5%).
Tabela 5 - Análise de Variância para a Proteína Bruta em amostras de milho com diversos tratamentos (com e sem Azospirillum) FV Tratamento Bloco Erro Total
GL 4 4 16 24
SQ 0,076 20,63 0,31 21,02
QM 0,02 5,15 0,02
F 0,965ns 259,3ns
*Significativo (p<0,05). ns Não significativo (p > 0,05); Fc< Ftab; Não rejeita-se H0 ao nível de 5%, ou seja, não existe nenhuma diferença entre os tratamentos. O experimento apresentou boa precisão (CV=1,62%).
Tabela 6 - Resultado dos tratamentos em relação à proteína bruta 4 2 5 1 3
Tratamentos 100 ml + adubação 0 ml + adubação 200 ml + adubação 0 ml / sem adubação 50 ml + adubação
Médias 8,67a 8,66a 8,70a 8,75a 8,78a
As médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (α 5%). Observa-se ao nível de 5% que os tratamentos não diferem entre si.
tado. Dessa forma, afirma-se que são escassos os trabalhos com inoculação C via foliar nas culturas em geral.
A associação entre Azospirillum e milho, além de promover a fixação biológica de nitrogênio, reduz o consumo de fertilizante nitrogenado
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Diego César Veloso Rezende, Fucamp Francielle Aparecida de Sousa, Unicerp Cássio Resende de Morais, Fucamp
Arroz
Impacto nocivo Confundidos por vezes com outros sintomas, como os causados por deficiências nutricionais, ataque de pragas de solo, fitotoxidez de herbicidas ou até mesmo dano indireto por excesso de ferro no solo, nematoides-das-galhas são uma preocupação crescente nas lavouras de arroz irrigado, principalmente pelo potencial de afetarem a produtividade
A
produção mundial de arroz (Oryza sativa L.) atinge anualmente 700 milhões de toneladas. No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul se destaca como maior produtor, com mais de 70% da produção nacional deste cereal, ocupando uma área de 1,10 milhão de hectares para o cultivo do arroz irrigado. Diversos problemas de ordem fitossanitária apresentam capacidade para limitar o potencial produtivo da cultura. Dentre estes fatores, os nematoides parasitas de plantas destacam-se no cenário orizícola. Estes micro-organismos são especializados em infectar e prejudicar o crescimento do sistema radicular das plantas. Um dos principais grupos envolvidos neste processo é o de nematoides-das-galhas, considerado de maior importância econômica na agricultura mundialmente. Apesar da grande diversidade que compõe este grupo e das várias espécies que podem atacar o arroz irrigado, Meloidogyne graminicola é o de maior ocorrência e capaz de causar danos significativos à cultura nas diferentes partes do globo. Estimativas têm apontado que o impacto causado por esse nematoide em lavouras de arroz irrigado está na ordem de 10% a 80%. Os sintomas relacionados à infecção causada por Meloidgyne variam de acordo com a densidade populacional do nematoide, as práticas de manejo utilizadas nas lavouras e a resistência das plantas. No entanto, os sintomas geralmente começam pela formação de galhas nas pontas das raízes (comumente co-
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nhecidas como cabo de guarda-chuva), que prejudicam significativamente o desenvolvimento do sistema radicular, bem como o desenvolvimento da parte aérea das plantas. Esse processo interfere diretamente no fluxo de absorção e transporte de água/nutrientes pela planta, podendo refletir em sintomas na parte aérea como raquitismo, clorose, perda de vigor, retardo na maturação e redução no perfilhamento. Cabe salientar que esses sintomas normalmente são pouco expressivos devido à aplicação da adubação nitrogenada que acaba ocultando, ou até mesmo reduzindo, tais sintomas, permitindo que o problema aumente. Outro aspecto que também dificulta a observação dos sintomas a campo é o fato desses micro-organismos não serem visíveis a olho nu. Os principais sintomas iniciais da problemática ocorrem no sistema radicular das plantas, ambiente “subterrâneo” de difícil visualização. Todos os problemas de diagnose e identificação têm proporcionado condições favoráveis para o aumento do nematoide-das-galhas nas áreas produtoras de arroz. Tendo em vista o potencial biótico deste grupo de nematoide, e a alta capacidade de reprodução quando as condições ambientais são favoráveis, há preocupação com o possível aumento das populações nas lavouras de arroz irrigado. Outro ponto a se levantar é a questão da associação do nematoide-das-galhas com plantas daninhas, como capim-arroz (Echinochloa crusgalli), tiriricas (Cyperus difformis, Cyperus rotundus e Cyperus iria) e
Fotos Elevagro
Raiz com aspecto de cabo de guarda-chuva, sintoma característico do parasitismo de Meloidogyne graminicola
Plantas daninhas do gênero Cyperus spp. apresentando sintomas do parasitismo causado por Meloidogyne graminicola
cuminho (Fimbristylis miliacea). Tal combinação vem contribuindo para o aumento da densidade populacional no solo. Frente a essa situação, o Instituto Phytus tem realizado estudos em lavouras de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul ao longo dos últimos anos, a fim de determinar o possível impacto deste nematoide na produtividade da cultura. Alguns estudos foram conduzidos em municípios produtores de arroz da região nos anos de 2018/19, buscando entender melhor essa relação. Para isso, lavouras infestadas por Meloidogyne graminicola foram escolhidas para esse estudo durante a safra 2018/19. Foram realizadas diversas coletas de plantas nas manchas (plantas com leve amarelecimento e porte reduzido), e fora das manchas (plantas aparentemente normais), aos 30 dias depois da emergência e encaminhadas para o laboratório de nematologia para identificação e quantificação. Após as análises, foram demarcados os pontos de maior e menor infestação, e realizado o acompanhamento até a produtividade. Na produtividade, dentro de cada ponto de maior e menor infestação, foram colhidos aproximadamente 2m², distribuídos em vários pontos da lavoura, para obtenção da estimativa de produtividade dentro e fora das manchas contendo a presença do nematoide. De acordo com os resultados obtidos, foi observada redução na produtividade para os pontos com maior infestação em relação aos de menor infestação (Gráficos 1 e 2). Os resultados obtidos nas condições desse estudo mostraram a capacidade deste nematoide de interferir negativamente na produtividade, variando entre 415kg e 697kg, o que representa algo em média entre 8,3 sacas a 13,9 sacas em relação às áreas com maior e menor infestação (Gráficos 1 e 2). A ocorrência e/ou presença desse nematoide se dá em fun-
ção do monocultivo de arroz com cultivares suscetíveis ao longo de anos, devido à dificuldade de se fazer rotação de culturas com plantas não hospedeiras, o que contribui significativamente para o rápido crescimento populacional no solo. Outra possível causa relaciona-se ao desconhecimento e à falta de diagnóstico do problema por técnicos e produtores, onde os danos causados acabam não sendo vinculados à presença do nematoide e confundidos com outros eventos, como deficiências nutricionais, ataque de outras pragas de solo (Orizophagos oryza- bicheira-da-raiz), fitotoxidez causada por herbicidas ou até dano indireto por excesso de ferro no solo. Portanto, todos os problemas de diagnose e identificação têm proporcionado condições favoráveis para o crescimento do nematoide-das-galhas nas áreas produtoras de arroz. Tendo em vista o potencial biótico deste grupo e a alta capacidade de reprodução quando as condições ambientais são favoráveis, existe uma preocupação com o possível crescimento das populações nas lavouras de arroz irrigado. Apesar de os primeiros resultados buscarem mensurar o impacto desse nematoide na cultura do arroz irrigado, novos estudos deverão ser realizados nesta safra para confirmação dos dados obtidos, bem como alternativas de manejo que possibilitem auxiliar os produtores C na redução dos danos causados.
Paulo Sergio dos Santos e Cristiano Bellé, Instituto Phytus
Gráficos 1 e 2 - Número médio de juvenis e ovos de Meloidogyne graminicola por 5 gramas de raiz, aos 30 dias após a emergência e incrementos produtivos dentro e fora da mancha de nematoides
Potencial extremamente destrutivo da praga é uma das maiores preocupações
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Plantas daninhas Fotos Agro Carregal
Perigo extra Além de competirem com os cultivos agrícolas por espaço, luz, nutrientes e outros recursos naturais, plantas daninhas se tornam ainda mais nocivas por abrigarem e servirem de alimento para nematoides, como Meloidogyne incognita. Incidência se dá principalmente na entressafra, o que dificulta medidas de manejo como a rotação de culturas
A
o longo do desenvolvimento da agricultura e da pecuária, as plantas que infestavam diretamente as áreas de ocupação humana e que não apresentavam importância ao homem e/ou animais eram consideradas indesejáveis, sendo denominadas plantas daninhas (Braz et al, 2016). A presença de plantas daninhas nas áreas de plantio sempre traz preocupação aos agricultores, porque além de competir com a cultura principal reduzindo a produtividade, as daninhas podem servir como hospedeiras intermediárias de diversas pragas e doenças durante os períodos de safra e entressafra. Nos ambientes agrícolas, as espécies infestantes frequentemente levam vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas. Isso ocorre porque as plantas daninhas apresentam características
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como elevada taxa de crescimento, grande habilidade reprodutiva e alta capacidade de exploração de nutrientes do solo, garantindo a sobrevivência em uma vasta variedade de ambientes (Pitelli, 1985). O problema adquire maior gravidade quando se verifica que os nematoides formadores de galhas (gênero Meloidogyne), extremamente nocivas às diversas espécies cultivadas, são encontrados com grande frequência infestando raízes de plantas daninhas (Ferraz et al, 1978), limitando a eficiência de determinadas medidas de controle destes patógenos, como a rotação de culturas. Os nematoides parasitas de plantas causam consideráveis reduções na produtividade agrícola e os danos causados dependem da suscetibilidade da cultura, das condições ambientais,
da presença de outros patógenos com quem interajam e de sua densidade populacional (Lopes e Vieira 2011). O gênero Meloidogyne é também o grupo de maior importância econômica na agricultura (Moens et al, 2009). Meloidogyne incognita apresenta ampla distribuição geográfica, alta severidade dos danos causados nas diferentes culturas e grande dificuldade de controle, sendo responsáveis por prejuízos crescentes. Estes nematoides incitam galhas nas raízes e causam redução na absorção de água e nutrientes, culminando em nanismo da planta (Tihohod 2000). Estas características, associadas ao elevado número de hospedeiras alternativas, permitem sua presença nas mais distintas áreas agrícolas. Dentre as espécies que são parasitadas oportunamente por nematoides, as plantas daninhas apresentam elevada importância, em especial durante a entressafra das culturas agrícolas (Bellé et al, 2017). Neste contexto, diferentes espécies de plantas daninhas têm sido reconhecidas como hospedeiras de Meloidogyne spp., em todo o mundo (Roese e Oliveira, 2004; Rich et al, 2008; Mônaco et al, 2009), o que contribui para o aumento das populações dos nematoides no solo, dificultando seu controle e agravando os prejuízos sobre o desenvolvimento das culturas agrícolas.
A partir do elevado potencial polifágico de M. incognita torna-se importante o conhecimento da reação das plantas invasoras aos nematoides de galha, permitindo um manejo adequado e o controle eficiente. Dessa forma, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a reação de espécies de algumas plantas daninhas ao nematoide de galha M. incognita. O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação na estação experimental da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, no município de Rio Verde, Goiás, durante a safra 2018/19. Foi avaliada a reação de 17 espécies de plantas daninhas a M. incognita, conforme descrito na Tabela 1. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC) com 17 tratamentos, quatro repetições e dois vasos por parcela. As sementes das plantas daninhas são provenientes do setor de herbologia da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas e foram semeadas em substrato comercial Bioplant contido em bandejas de isopor. A semeadura foi iniciada pelas sementes das plantas daninhas com menor velocidade de germinação e desenvolvimento e finalizada com as espécies de rápida germinação. Assim, manteve-se a homogeneização de desenvolvimento no momento da inoculação. As mudas foram transplantadas
12 dias após a emergência para vasos de 300cm³ contendo apenas o substrato comercial estéril Bioplant, mantendo-se cinco plantas por vaso. A inoculação foi realizada no quinto dia após o transplante. O inóculo empregado no ensaio é oriundo de mudas de tomates Santa Clara, previamente infestadas e utilizadas como substrato para manutenção da criação de nematoides em casa de vegetação. Todos os vasos contendo plântulas das invasoras receberam 2ml do inóculo contendo cinco mil espécimes (ovos + juvenis de segundo estádio (J2)). Para tanto, foram realizados três orifícios de aproximadamente 2cm de profundidade, abertos ao redor das plantas. Tomateiros Santa Clara foram utilizados como testemunhas da viabilidade do inóculo utilizado. A população de M. incognita foi analisada aos 30 dias após a inoculação (DAI). O número de ovos e de J2 (juvenil de segundo estádio) de M. incognita após a extração foi analisado e quantificado com o auxílio de câmara de Peters em microscópio. Os fatores de reprodução foram estimados através da razão entre a população final e a inicial (Fr = população final/população inicial). Considerou-se a população de 30 dias como a população final e a população inoculada (cinco mil
A
À esquerda, presença de galhas em corda de viola (Ipomoea grandifolia) e à direita, presença de galhas em tomateiro (Solanum lycopersicum)
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Tabela 1 - Hospedabilidade de plantas daninhas ao Meloidogyne incognita, expressa em população final (PF) e pelo fator de reprodução (FR) Família Poaceae Poaceae Commelinaceae Solanaceae Asteraceae Convolvulaceae Poaceae Asteraceae Amaranthaceae Poaceae Rubiaceae Amaranthaceae Poaceae Euphorbiaceae Portulacaceae. Solanaceae Fabaceae
Nome científico Digitaria insularis Eleusine indica Commelina benghalensis Nicandra physaloides Conyza bonariensis Ipomoea grandifolia Cenchrus echinatus Bidens pilosa Amaranthus viridis Digitaria horizontalis Spermacoce latifolia Alternanthera tenella Chloris polydactyla Euphorbia heterophylla Portulaca oleracea Solanum lycopersicum Crotalaria ochroleuca
Nome popular Amargoso Pé-de-galinha Trapoeraba Joá-de-capote Buva Corda-de-viola Capim-carrapicho Picão- preto Caruru Capim-colchão Erva-quente Apaga-fogo Capim-branco Leiteiro Beldroega Tomate Crotalária
PF1 16,18 10,25 44,51 29,71 15,75 53,99 11,60 35,18 75,46 29,07 0,00 35,51 0,00 36,87 57,73 107,00 0,00
FR2 3,23 2,05 8,90 5,94 3,15 10,79 2,32 7,03 15,09 5,81 0,00 7,10 0,00 7,37 11,54 21,40 0,00
se multiplicar no solo, mesmo em época de entressafra. Isto implica necessidade de adoção de práticas de controle de plantas daninhas que são suscetíveis ao nematoide em áreas onde esteja presente. Vale ressaltar que em áreas infestadas com nematoides, o prejuízo provocado por plantas daninhas tende a ser maior, pois além de multiplicar o nematoide no solo, ainda compete com a cultura por fatores abióticos como água, luz e nutrientes. Outro fato que deve ser mencionado é que algumas espécies resistentes a certos herbicidas, como é o caso da buva (Conyza bonariensis), podem ser um agravante no que diz respeito ao manejo de nematoides, visto que estas espécies permanecerão no solo, mantendo ou multiplicando o parasita. As estratégias de manejo são específicas para cada espécie de nematoide e, portanto, um engenheiro agrônomo C deve ser sempre consultado.
R3 S S S S S S S S S S I S I S S S R
PF1 = População final; FR2 = Fator de reprodução; R3 = Reação (S= suscetível; R=Resistente e I = Imune)
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echinatus, Bidens pilosa, Amaranthus viridis, Digitaria horizontalis, Alternanthera tenella, Euphorbia heterophylla e Portulaca oleracea comportaram-se como suscetíveis ao nematoide das galhas. Apenas as espécies Spermacoce latifolia, Chloris polydactyla e Crotalaria ochroleuca não multiplicaram o nematoide M. incognita (Tabela 1). Algumas espécies de plantas daninhas aqui relatadas como resistentes, imunes ou suscetíveis, podem divergir de outros estudos devido à variabilidade intraespecífica das plantas daninhas ou mesmo à variação fisiológica (raças 1, 2, 3 e 4) das populações de M. incognita. O conhecimento do fator de reprodução do nematoide em plantas daninhas é de extrema importância, pois representa a capacidade deste nematoide
Carregal e Oliveira abordam plantas daninhas como hospedeiras de nematoides
Outubro 2019 • www.revistacultivar.com.br
Celso Mattes de Oliveira Luís Henrique Carregal Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Fotos Agro Carregal
ovos + juvenis) como sendo a população inicial. Aquelas que apresentaram Fr < 1 foram consideradas resistentes; Fr > ou = 1 foram consideradas suscetíveis e Fr = 0, imunes (Tabela 1). De acordo com a análise dos dados obtidos no estudo, verificou-se que mais de 85% das espécies de plantas daninhas testadas mostraram-se suscetíveis ao nematoide M. incognita, apresentando fator de reprodução maior que uma unidade (Tabela 1). A viabilidade do inóculo pode ser comprovada pelos valores médios do fator de reprodução encontrado nas plantas de tomate Santa Clara, o qual foi da ordem de 21,40, indicando intensa multiplicação do nematoide. A maioria das espécies de nematoides causadores de galha pode ser facilmente identificada a campo em relação ao gênero, mesmo por pessoas que não sejam especialistas no assunto, uma vez que as galhas (hipertrofia e hiperplasia de células) são visíveis a olho nu. A identificação ao nível de espécie deve ser realizada em laboratório de nematologia por profissionais qualificados. Entretanto, em alguns casos, as galhas não são induzidas na planta, mesmo que seja hospedeira e multiplique o nematoide, o que pode dificultar a identificação visual do gênero. Dentre as espécies estudadas, Digitaria insularis, Eleusine indica, Commelina benghalensis, Nicandra physaloides, Conyza bonariensis, Ipomoea grandifolia, Cenchrus
Presença das fêmeas no interior das galhas
Coluna Agronegócios
Um olhar para o futuro da agropecuária
U
m relatório conjunto das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA aponta os avanços científicos mais promissores da próxima década para aumentar a sustentabilidade, a competitividade e a resiliência do sistema de alimentos e agricultura dos EUA (download.nap.edu/ cart/download.cgi?record_id=25059). Os cientistas sublinham que o aumento da variabilidade climática requer uma abordagem de pesquisa convergente, que conjugue a ciência agronômica com os avanços em ciência de dados, de materiais e comportamentais, associados com a tecnologia da informação e a economia. Alguns aspectos do relatório cingem-se aos EUA, outros são globais; alguns muito similares aos desafios que o Brasil enfrentará. De toda maneira, é importante saber como nossos concorrentes pretendem agir, tendo em mente que, nas próximas décadas, não bastará produzir alimentos, é necessário fazê-lo com sustentabilidade. E é sob esta ótica que este artigo deve ser lido.
DESAFIOS DE INOVAÇÃO
Desafios em várias frentes precisam ser enfrentados, em aspectos tão díspares quanto desperdício (mais de um terço dos alimentos produzidos nos EUA não é aproveitado pela população, uma perda inaceitável quando cresce aceleradamente a demanda global de alimentos); hábitos (o aumento do consumo de proteínas animais gerará mais emissões de gases de efeito estufa e excesso de resíduos de animais; segurança dos alimentos (o fornecimento de alimentos nos EUA é seguro, diz o relatório, mas não é imune aos surtos de doenças transmitidas por alimentos); ou sanidade agropecuária (constante ameaça de pragas e patógenos à produção agropecuária). Face à diversidade de desafios, o relatório elenca cinco oportunidades inovadoras, com uma abordagem convergente, objetivando melhorar os sistemas de produção agrícola. Alguns pontos são similares às necessidades brasileiras.
RECOMENDAÇÕES
1) A abordagem sistêmica permitirá entender a natureza das interações entre os diferentes componentes dos sistemas alimentares e agrícolas, para aumentar a sua eficiência, resiliência e sustentabilidade. O progresso só pode ocorrer quando a comunidade científica integrar metodicamente ciência, tecnologia, comportamento humano, economia, política e regulamentação a modelos biofísicos e empíricos. As abordagens transdisciplinares de ciência e sistemas devem ser priorizadas para resolver os problemas mais prementes da agricultura. Viabilizar redes nas quais pesquisadores de disciplinas diferentes trabalhem efetivamente em conjunto, em questões alimentares e agrícolas, exigirá incentivos para apoiar a colaboração; 2) O desenvolvimento e a validação de sensores e biossensores altamente sensíveis, para uso em condições de campo, permitirá detecção e monitoramento rápidos em vários compomentes dos sistemas de produção e dos agroecossistemas. Trata-se de algo como Agricultura de Precisão 2.0. A tecnologia de detecção tem sido amplamente utilizada em alimentos e agricultura para fornecer medições pontuais para uma característica de interesse, como temperatura. Entretanto, a capacidade de monitorar continuamente várias características ao mesmo tempo é a chave para entender o que está acontecendo, como e por que está ocorrendo. Por exemplo, sensores de solo e das plantas podem capturar dados de forma contínua. 44
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Isto permite alertar um agricultor quando o conteúdo de umidade cai abaixo de um nível crítico para iniciar a irrigação específica de um local, eliminando a necessidade de irrigar um campo inteiro. O mesmo se aplica ao uso localizado de insumos, como corretivos, fertilizantes e pesticidas; 3) A aplicação e a integração de ciências de dados, ferramentas de software e modelos de sistemas permitirão análises avançadas para gerenciar o sistema alimentar e agrícola. Atualmente é possível coletar uma enorme quantidade de dados, mas não possuímos ferramentas certas para usá-los efetivamente, pois os dados gerados em laboratórios de pesquisa e em campo são desconectados. A abordagem se inclui na análise de big data, ou seja, a capacidade de coletar, analisar, armazenar, compartilhar e integrar mais rapidamente conjuntos de dados heterogêneos. Seus resultados permitirão a compreensão dos problemas complexos e o uso generalizado de abordagens de gerenciamento orientadas por dados, em tempo quase real; 4) A capacidade de realizar a edição genética de rotina de organismos importantes em agricultura permitirá o aprimoramento preciso e rápido de características importantes para a produtividade e a qualidade. A edição de genes está pronta para acelerar a criação de características em plantas, micróbios e animais que melhoram a eficiência, a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas; 5) A compreensão da relevância do microbioma para a agricultura permitirá seu aproveitamento para melhorar a produção agrícola, aumentando a resiliência aos estresses bióticos e abióticos. A pesquisa no microbioma humano demonstrou o efeito dos micróbios presentes no organismo para a saúde do corpo. Comparativamente, a compreensão detalhada dos microbiomas na agricultura ainda é rudimentar. Um esforço de pesquisa transdisciplinar focado nos vários microbiomas relevantes para a agricultura - e nas complexas interações entre eles - ajudaria a modificar e melhorar vários aspectos do continuum agrícola e alimentar. Por exemplo, entender o microbioma em animais pode ajudar a formular com mais precisão as rações animais e aumentar a eficiência alimentar, reduzindo a demanda, os desperdícios e as emissões de gases de efeito estufa.
DESAFIOS DE EXECUÇÃO
O relatório aponta que a concretização da visão exigirá uma abordagem holística que combine descoberta científica, inovação tecnológica e incentivos para obter maior segurança alimentar, com menores riscos à saúde humana e para o ambiente. Também exigirá investimentos públicos e privados significativos, financiamento que atualmente é inadequado para abordar áreas críticas importantes durante a próxima década. O relatório chama a atenção para a necessidade de investimento em infraestruturas físicas e cibernéticas, o envolvimento de profissionais não agrícolas e o recrutamento de pessoas talentosas para a pesquisa em alimentos e agricultura. Para os EUA, tais aspectos são considerados desafiadores, destarte factíveis. E para o Brasil? C
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Brasil a caminho de uma nova grande safra e clima dando sinais positivos para isso
O
s produtores brasileiros estão plantando a safra 2019/20, com indicativos de avanços na área de soja, milho e algodão. A oleaginosa começa a temporada com potencial de 120 milhões de toneladas a 130 milhões de toneladas, porque há projeção de plantio de 37,1 milhões de hectares frente a 36,4 milhões de hectares da última temporada. O clima deste ano trouxe as chuvas com atraso e assim a largada do plantio se deu mais tarde. Mesmo assim, vai dar para plantar tudo dentro do período ideal para uma grande safra de soja. Já para o milho há expectativa de uma safra de verão melhor que a do ano passado, mesmo com área pouco alterada, mas com potencial maior devido ao clima neste começo de temporada ser melhor do que foi no ano anterior para cultura no Sul do País. Os dois maiores grãos do Brasil abrem a temporada com potencial de juntos resultarem entre 235 e 245 milhões de toneladas. Com grandes volumes destinados para a exportação, sendo que soja, farelo e óleo já começam com potencial de ir a 100 milhões de toneladas e milho podendo até mesmo chegar perto de 50 milhões de toneladas, ou seja, o Brasil colocando grandes volumes de grãos no mercado mundial sem maltratar o meio ambiente.
MILHO
Mercado interno vindo às compras para cobrir demanda de final de ano
A colheita foi finalizada e a comercialização está bem avançada na exportação, com o ano até setembro já acumulando mais de 32 milhões de toneladas, rumo a 40 milhões em 2019 frente aos 29,3 milhões de toneladas do recorde anterior. A oferta interna está diminuindo e desta forma espera-se que em outubro as indústrias de rações venham às compras de reposição de estoque para ter produto para trabalhar no final de ano, quando normalmente cresce o consumo em decorrência do aumento da produção de carnes, ovos e também leite. Em outubro haverá uma injeção de ânimo no setor com a liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) que deve mexer positivamente no consumo dos alimentos.
SOJA
Negócios com a safra nova melhoraram no final de setembro
O mercado da soja teve um mês de setembro de poucos negócios, com Chicago em ritmo mais frágil e junto a isso os prêmios nos portos foram reduzidos para menos de 100 pontos frente aos 150 pontos praticados nos meses anteriores. Sem grande apoio dos vendedores, os negócios foram escassos. A safra velha teve poucas transações, com indicativos em setembro entre 12% e 13% do grão para ser negociado. Enquanto isso, a safra nova mostrava negócios na faixa de 25%, sendo que nos últimos dias do mês acabou comercializando mais de três milhões de toneladas em cima de boas cotações que voltaram a aparecer e assim obteve fechamentos nos portos para maio e junho de 2020 entre R$ 86,00 e R$ 87,00 a saca. Os vendedores aproveitaram para garantir cotações e fecharam bons volumes e novos negócios devem ser concretizados neste mês de outubro, as-
sim que os produtores conseguirem plantar.
ARROZ
Arroz avançou em setembro
O mercado do arroz teve alta em setembro, com os indicativos no Sul na faixa de R$ 44,00 a R$ 48,00 a saca do produto gaúcho. O Rio Grande do Sul tende a ter a menor área plantada com o grão em 15 anos, devido ao baixo desempenho financeiro que o cereal registrou nos últimos cinco anos, descapitalizando os produtores. Nos demais estados do Brasil o arroz avançou forte, com indicativos de até R$ 75,00 por saca de 60kg no Centro-Oeste e Norte do País, regiões que têm pouco volume para ser negociado até a nova safra. O mercado tem fôlego para crescer ainda mais porque há pouco arroz neste ano para ser negociado e não existem estoques sobrando. C
Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo teve um mês de setembro de colheita e confirmação de perdas. A safra do Paraná, que poderia ter sido de 3,2 a 3,5 milhões de toneladas, deve chegar no máximo a 2,5 milhões de toneladas, fortemente prejudicada pelo clima seco e geadas. Mas mesmo com safra menor, as cotações recuaram em setembro, porque os moinhos alegam ter pouco capital de giro para formar estoques e desta forma ainda há oferta maior que a demanda neste momento. O importado chega ao Brasil acima de R$ 900,00 a tonelada, mas o produto nacional não tem conseguido superar R$ 700,00 a tonelada nesta virada de mês. EUA - Os produtores estão colhendo a safra e aos poucos vão confirmando perdas. Ainda há riscos com o frio neste final de temporada, que se estende até novembro. A safra da soja norte-americana segue com indicativos de que pode ficar mais perto de 95 milhões de tone-
ladas. O milho tem fôlego abaixo de 350 milhões de toneladas. No ano passado, a soja registrou 123,7 milhões de toneladas e o milho, 368,9 milhões de toneladas. Haverá menos para exportar em 2020. CHINA - A China voltou a comprar soja nos EUA porque continua necessitando da oleaginosa para atender à demanda interna que segue em crescimento. Terá de comprar ainda grandes volumes dos norte-americanos, o que pode dar suporte a ganhos em Chicago. ARGENTINA - A safra está em plantio e pelo movimento inicial deve ser muito parecida com o ano anterior. Os argentinos seguem com indicativos de que devem chegar a 56 milhões de toneladas na soja e 48 milhões de toneladas em milho. Por enquanto, semelhante ao último ano. Em outubro há eleições presidenciais, o que pode mudar o rumo do agronegócio argentino, que pode entrar em nova era de taxações ou de retenciones, com riscos de quebradeira no setor.
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Coluna ANPII
Fator de sucesso Ao lado de outras tecnologias e técnicas, os inoculantes têm grande importância no salto de produtividade registrado ao longo das últimas décadas na agricultura brasileira
A
extraordinária passagem do Brasil, de um impor- será a quantidade de nitrogênio requerida. Para produzir tador de alimentos na década de 1970 para um seis mil quilos de grãos de soja, a necessidade é de 480kg forte exportador no século 21, se deve a uma de nitrogênio, o equivalente a cerca de uma tonelada de conjunção de fatores, alguns deles como clima favorável à ureia, o que tornaria economicamente inviável a cultura da produção agrícola, regime de chuvas relativamente estável, leguminosa. Assim, a forma econômica, rentável, ambienpropiciando duas a três culturas dentro de 12 meses. Mas talmente correta para prover a cultura da soja da enorme o desenvolvimento de novas tecnologias e a aceitação e quantidade de nitrogênio é a fixação biológica do nitrogêuso destas por parte do agricultor levaram o Brasil a “virar nio, conhecida pela sigla FBN e que é viabilizada através o jogo” e ter não só suficiência alimentar como também das diversas formas de inoculantes. É a forma de se trazer ajudar outros países a terem nutrientes em quantidade e o nitrogênio atmosférico, em forma não utilizável pelas preços acessíveis ao redor do mundo. plantas, para o sistema de produção agrícola, de modo As novas cultivares, com elevada capacidade genética econômico e sustentável. para maior produtividade; a transformação de terras anCálculos conservadores estimam a economia para o país tes consideradas imprestáveis para a agricultura em solos acima de 8 bilhões de dólares anuais com o uso de inocude elevada fertilidade; o uso dos modernos insumos para lantes. Embora haja ocasionalmente tentativas comerciais controle de invasoras, pragas e doenças; e a disposição de se introduzir o uso de nitrogênio mineral na cultura da do agricultor em obter produtividades cada vez maiores, soja, atualmente está exaustivamente comprovado que a fizeram do Brasil um dos países mais pujantes na agricul- fixação biológica de nitrogênio é capaz de fornecer todo o tura mundial. nitrogênio necessário mesmo para as mais elevadas proUm dos fatores deste sucesso é, sem dúvida, o uso cres- dutividades, em todas as áreas onde se cultiva a soja, em cente dos inoculantes. Sabemos que a soja tem a maior todos os tipos de cultivares. Ensaios da Embrapa e do Coárea cultivada de todas as plantas no Brasil. São 35 milhões mitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), além de centenas de de hectares semeados com a legumiobservações em lavouras, comprovam nosa/oleaginosa. Desta cultura resulta isso sem a menor sombra de dúvida. uma elevada entrada de divisas para o Logicamente que os bons resultaPaís, além de gerar o óleo mais barados só serão obtidos se o uso do inoto e mais consumido pela população culante obedecer às melhores práticas: Quanto maior brasileira. Gera, também, um farelo de inoculantes de qualidade comprovada, elevado valor proteico para as cadeias produzidos por empresas idôneas e de a produtividade de suínos e aves, que permitem a proalta tecnologia (por favor, nem pensem almejada, maior dução dos dois tipos de proteína aniem utilizar os pseudoinoculantes proserá a quantidade mal mais consumidos no país. O farelo duzidos na fazenda, sem as mínimas de soja, mais recentemente, entrou condições necessárias para um bom de nitrogênio na composição da ração de bovinos produto e bons resultados). O manurequerida criados em confinamento. Ressalte-se, seio do inoculante e seu uso correto, também, a importância da cultura codentro das recomendações técnicas, mo melhorador de solo na renovação também é um dos fatores primordiais de canaviais e pastagens, pelo aporte para que se obtenha um elevado aporte de nitrogênio, o que se obtém com o de nitrogênio. uso dos inoculantes. A Associação Nacional dos ProduTendo em vista o elevado teor proteico do grão de soja, tores e Importadores de Inoculantes (ANPII) vem, ao loné natural que a cultura necessite de elevadas quantidades go do tempo, divulgando o uso do inoculante dentro das de nitrogênio disponível para que se possa atingir as eleva- melhores práticas, tendo, inclusive, um curso a distância, das produtividades para suprir as necessidades brasileiras gratuito, à disposição de quem desejar se informar mais e mundiais e para trazer rentabilidade ao agricultor, fator profundamente sobre o tema. É só acessar o site www. C essencial para que ele se mantenha na atividade. anpii.org.br e procurar por cursos on-line. Uma cultura de soja necessita do aporte de 240kg de nitrogênio para atingir a produtividade de 3.000kg, a média Solon Araujo, nacional. Quanto maior a produtividade almejada, maior Consultor da ANPII
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Soja • Outubro 2019
Bem posicionados Phytus Club
O bom funcionamento de fungicidas no manejo de doenças em soja depende do correto posicionamento desses produtos, com base em fatores como suscetibilidade da cultivar, época de semeadura, adequada absorção pela planta e concentração letal ao fungo
A
o longo dos últimos 20 anos é evidente o crescimento do potencial produtivo das cultivares de soja. Concomitantemente a isso, algumas características importantes também têm sido notadas nesses materiais, como precocidade, arquitetura de plantas que permite maior penetração de luz, Índice de Área Foliar (IAF) reduzido, hábito de crescimento indeterminado e menor rusticidade. A combinação dessas características tem tornado as cultivares cada vez mais exigentes em manejo e mais sensíveis a estresses. Pegando como exemplo o ciclo, uma cultivar superprecoce tem menos tempo para reverter um dano comparada às de ciclo médio. Além disso, com a redução do IAF em alguns materiais, cada folha se torna ainda mais importante em termos produtivos. Tais exemplos ajudam a explicar
o motivo pelo qual patógenos antes considerados secundários na cultura, têm atualmente impactado significativamente na produtividade da soja. O hábito de crescimento das cultivares é outro fator que pode influenciar no dano causado por patógenos, especialmente os necrotróficos causadores de manchas foliares. Em cultivares indeterminadas, comumente a quantidade de grãos no dossel inferior é maior, e por consequência, existe uma maior demanda das folhas inferiores para enchimento desses grãos (Figura 1). Assim, a incidência de manchas foliares nas folhas inferiores pode causar desfolha precoce e permitir a multiplicação de inóculo para que a doença evolua na planta. Isso pode trazer prejuízo considerável na produtividade nessas cultivares modernas. Analisados os dados do concurso de
produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), é possível verificar que a produtividade das cultivares modernas têm alcançado patamares acima de 6t/ha (Cesb, 2018). Entretanto, a média obtida no Brasil está longe desses patamares. Nessas áreas de elevada produtividade, algumas práticas de manejo adotadas proporcionam melhorias no sistema, que contribuem para um melhor controle de doenças. Um exemplo é a rotação de culturas, que proporciona a quebra do ciclo de importantes doenças, especialmente aquelas causadas por fungos necrotróficos como as manchas foliares, que possuem capacidade de sobreviver na área em restos culturais. Na ausência de rotação de culturas e outras práticas de manejo integrado, nota-se um aumento na severidade dessas doenças e maior dificuldade 03
Soja • Outubro 2019
Figura 1 - Distribuição da massa de grãos por terço da planta entre cultivares determinadas e indeterminadas. Itaara, RS
de controle, que fica limitado ao uso de fungicidas, tanto via tratamento de sementes como em aplicações de parte aérea. Nos últimos anos tem sido frequentes os problemas com reduções de eficácia dos fungicidas. Muito desses problemas partem da deficiência do sistema em depositar toda a responsabilidade de controle exclusivamente sobre os fungicidas, além, claro, de aspectos ligados ao mau posicionamento e à aplicação. É necessário cada vez mais responsabilidade no uso de fungicidas, de forma a manter a eficácia das moléculas e evitar a seleção de populações resistentes. Não há previsão, a curto prazo, para introdução de novos mecanismos de ação de fungicidas no mercado, ou seja, o manejo nas próximas safras continuará sendo feito com os mesmos mecanismos atualmente em uso. Mas não é apenas os problemas de resistência que impõem dificuldades no controle das doenças. Muitos dos entraves advém de erros de posicionamento e escolha equivocada de produtos. Para uma correta escolha e posicionamento é fundamental considerar os fatores relacionados à planta. O conhecimento da resposta da cultivar aos diferentes alvos pode imprimir significativas variações quanto à resposta aos fungicidas. Dentre as inúmeras cultivares disponíveis no mercado há uma nítida variação na suscetibilidade às diferentes doenças 04
(Figura 2) e, por conseguinte, essa informação pode ser usada em prol de otimizar a escolha e o posicionamento do programa fungicida. Ensaios foram conduzidos no Instituto Phytus com o objetivo de observar a resposta do posicionamento de fungicidas em duas cultivares de soja, com diferentes níveis de suscetibilidade às doenças. A cultivar BMX Ativa RR com maior suscetibilidade à ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) e a DM 5958 Ipro com maior suscetibilidade a manchas foliares. De acordo com os dados de produtividade, nota-se que a cultivar DM 5958 Ipro teve uma perda pro-
dutiva maior em função do atraso da primeira aplicação, evidenciando o impacto negativo das manchas foliares que se estabelecem na fase inicial de desenvolvimento da planta (Figura 3). Considerando o posicionamento de quatro aplicações em ambas as cultivares, quando o programa fungicida é iniciado em estádio vegetativo, a proteção do potencial produtivo é maior que nos casos em que o programa se inicia em estádio reprodutivo. Esses resultados evidenciam que atrasar o início do programa fungicida pode comprometer a sua resposta, e que a realização de uma aplicação adicional no final do ciclo pode resultar em uma resposta produtiva muito limitada e por vezes sem retorno financeiro. Em muitos dos casos, por ocasião da antecipação da época de semeadura e o manejo focado apenas na ferrugem-asiática, os produtores atrasam o início das aplicações de fungicidas. Entretanto, é importante observar que as manchas foliares estão presentes nas sementes e nos restos culturais, e muitas vezes pela falta de proteção antes do fechamento das entre linhas da soja essas doenças podem ocorrer, causando desfolha precoce do dossel inferior e reduzindo a massa de grãos dessa porção da planta.
Figura 2 - Sensibilidade de 90 cultivares de soja a DFCs (A), o Oídio (B) e a Ferrugemasiática (C, D). Itaara, RS. Dados disponíveis em: https://elevagro.com
Soja • Outubro 2019
Para o incremento de controle dos fungicidas sistêmicos têm sido fundamental o uso de fungicidas de reforço, como multissítios, triazóis ou morfolina. Essa associação tem gerado resultados bastante consistentes, com resposta em produtividade e na proteção da eficácia dos fungicidas sistêmicos. Ensaios conduzidos no Instituto Phytus, região Sul, evidencia incrementos produtivos variando de 7,2sc/ha a 12,3sc/ha na cultivar BMX Ativa RR e de 9,3sc/ha a 14,2sc/ha na cultivar DM 5958 Ipro, em função do uso de reforços junto aos fungicidas sistêmicos em todas as aplicações. Quanto ao posicionamento dos reforços, os fungicidas multissítios, por atuarem na epiderme da folha, devem ser aplicados preventivamente, e os triazóis ou morfolina, por atuarem em micélio primário e secundário do fungo, dentro do tecido foliar, têm apresentado melhores resultados quando posicionados nas últimas aplicações. Com base no exposto, cabe reforçar que o bom funcionamento dos fungicidas irá depender do correto posicionamento, levando em consideração a suscetibilidade da cultivar, a época de semeadura e de uma adequada absorção pela planta de uma concentração letal ao fungo. Boas práticas de manejo para reduzir a pressão de doenças, bem como o reforço das aplicações, são fundamentais para a melhoria da
Figura 3 - Produtividade de duas cultivares de soja com diferentes níveis de suscetibilidade a doenças semeadas em duas épocas de semeadura e submetidas a três, quatro ou cinco aplicações de fungicidas. Itaara, RS. *Programa fungicida utilizado: V6/V7 - Piraclostrobina + Fluxapiroxade + Clorotalonil; R1 - Trifloxistrobina + Protioconazole + Mancozebe; 15d - Picoxistrobina + Benzovindiflupir + Mancozebe; 15d - Picoxistrobina + Ciproconazole + Fenpropimorfe; 12d Trifloxistrobina + Ciproconazole + Difenoconazole + Ciproconazole
Figura 4 - Produtividade de duas cultivares com diferentes níveis de sensibilidade a doenças semeadas em 13/11/18 e submetidas a um programa fungicida sistêmico associado a diferentes reforços. Itaara, RS. *Programa fungicida utilizado: Sist. 1 - Azoxistrobina + Benzovindiflupir; Sist. 2 - Trifloxistrobina + Protioconazole; Sist. 3 - Picoxistrobina + Ciproconazole. Reforços: Mz – Mancozebe; Clt – Clorotalonil; Ox.Cu – Oxicloreto de Cobre; Fpm – Fenpropimorfe; Dif.+Cip. – Difenoconazole + Ciproconazole
Fotos Phytus Club
performance dos fungicidas e a reduC ção do risco de resistência. Mônica Debortoli, Diretora Técnica Sul Instituto Phytus
Manchas foliares são um dos grandes desafios enfrentados pelos produtores de soja
Mônica aborda aspectos que precisam ser observados no manejo de doenças
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Soja • Outubro 2019
Desafios no Cerrado Além do posicionamento e da escolha correta de fungicidas, aspectos como qualidade de sementes, equilíbrio nutricional, qualidade do solo, intervalo entre aplicações e tecnologia de aplicação são fundamentais para se obter sucesso no controle de doenças em soja
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A
ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) é a principal doença da soja, amplamente distribuída no Brasil. Em cenários favoráveis à doença, como cultivar altamente suscetível, semeadura tardia e ciclo mais longo, a doença tem causado sérios prejuízos e exposto a fragilidade do sistema quando este se baseia apenas na proteção com fungicidas. Além da ferrugem-asiática, diversas outras doenças de parte aérea podem ocorrer e contribuir para maiores perdas em produtividade. Se destacam a cercosporiose (Cercospora kikuchii), a mancha-parda (Septoria glycines), a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), a antracnose (Colletotrichum sp.) e também os surtos de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) e oídio (Microsphaera diffusa) em algumas regiões. É comum a ocorrência de duas ou mais dessas doenças de forma concomitante ao longo do ciclo da soja, independentemente da região. Essa condição acaba evidenciando outra fragilidade do sistema, pois quando o manejo é focado apenas na ferrugem-asiática, acaba deixando espaço para que outras doenças cresçam em importância. Uma grande preocupação no manejo tem sido o momento de início dessas doenças no campo e sua relação com o planejamento dos programas de controle. O início dessas doenças tem sido bastante precoce no ciclo da cultura, especialmente no caso de manchas e antracnose. É muito comum a presença de sintomas de antracnose desde a fase cotiledonar da soja, mancha-parda e cercosporiose já nos primeiros trifólios e mancha-alvo a partir do fechamento das entre linhas (Figura 2). Contrastante a isso, o início das aplicações de fungicidas, comumente focado na ferrugem, é feito de maneira atrasada em relação ao início dessas doenças. Nesse sentido, ao longo das últimas safras estudos conduzidos no Instituto Phytus em Planaltina, Distrito Federal, têm mostrado os benefícios da proteção iniciada no vegetativo da soja, especialmente quando sin-
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tomas dessas doenças são detectados precocemente (Figura 3). Aplicações antecipadas de fungicida, comumente chamadas de aplicações no vegetativo, podem resultar em incremento de produtividade, que variam conforme o momento da aplicação e o fungicida utilizado. Em relação ao momento, incrementos crescentes de produtividade ocorreram quanto mais antecipada foi a aplicação de 30 dias para 15 dias após a emergência (DAE), devido especialmente à presença de septoriose, cercosporiose e antracnose no ensaio. No que tange aos fungicidas, incrementos médios variando de 2,5 sacos/hectare até 7,5 sacos/hectare foram obtidos dependendo do fungicida aplicado. Após conhecer os alvos que se quer controlar e definir os momentos adequados para aplicação, a escolha dos fungicidas também é um passo importante. Nos últimos anos são frequentes os relatos de redução da eficiência de fungicidas no controle da ferrugem-asiática e recentemente também para manchas foliares. Atualmente, há relatos de resistência de Phakopsora pachyrhizi a triazóis, estrobilurinas e carboxamidas, de Corynespora cassiicola a benzimidazois e carboxamidas, e de Cercospora sp. a estrobilurinas. Seja para o manejo da resistência ou buscando aumentar a eficácia de
Fotos Phytus Club
Figura 1 - Sintomas de manchas (septoriose e cercosporiose), mancha-alvo (à direita) em soja. Instituto Phytus, Planaltina/DF
controle das doenças e proporcionar ganhos produtivos, o reforço das aplicações com fungicidas multissítios ou com diferentes mecanismos de ação se tornou estratégia fundamental. Diversos trabalhos conduzidos no Instituto Phytus demonstram que os resultados dessa associação, em termos de controle e produtividade, são claros e consistentes (Figura 4). Os resultados mais expressivos têm sido obtidos quando todas as aplicações são refor-
çadas. Quando isso não ocorre, são necessários ajustes conforme os alvos e a época de semeadura, para definição do melhor momento de posicionar os reforços. No caso dos multissítios, é importante salientar que, por se tratar de produtos protetores, são muito dependentes de aplicações preventivas para expressarem seu potencial de controle. O comportamento das cultivares de soja frente às diferentes doenças
Figura 2 - Sintomas de antracnose nos cotilédones (esquerda) e manchas foliares nas folhas unifolioladas em soja (direita). Planaltina/DF
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Figura 3 - Incremento produtivo por aplicações no vegetativo, em diferentes momentos (A, média de quatro ensaios conduzidos em Planaltina/DF, Ipium/TO e Bom Jesus/PI) e incremento produtivo em função de diferentes fungicidas utilizados no vegetativo (B, média de seis ensaios conduzidos em Planaltina/DF). Instituto Phytus, Planaltina/DF, 2019. (St - Estrobilurina; Tz - Triazol; Mz - Mancozebe)
Figura 4 - Incremento produtivo em função do reforço das aplicações com multissítio. Instituto Phytus, Planaltina/DF, 2018. St – Estrobilurina; Cx – Carboxamida; Tz – Triazol/Triazolintione; Mz – Mancozebe
Figura 5 - Incremento em produtividade (%) em cultivares de soja em resposta à aplicação de um programa fungicida padrão, com cinco aplicações de fungicidas sistêmicos associados a fungicidas multissítios. Planaltina/DF, 2019
é um fator importantíssimo a ser conhecido. Devido à grande quantidade de cultivares comerciais e aos lançamentos a cada ano, pouco se conhece sobre sua reação às doenças e resposta à aplicação dos fungicidas em escala regional e microrregional. Se há diferenças claras na severidade de doenças nas diferentes cultivares, os programas fungicidas deveriam ser definidos por cultivar. Apesar de haver exceções, de modo geral, é definido um programa padrão de fungicidas com base no ciclo e na época de semeadura das cultivares, raramente levando em consideração a suscetibilidade desse material às doenças. A interação entre cultivares e fungicidas em cada região poderia ser uma ferramenta poderosa para auxiliar no planejamento da safra. Apesar de toda a pesquisa e informações geradas a cada safra, tem sido observado que boa parte dos equívocos no controle de doenças está relacionada às falhas no posicionamento e escolha dos fungicidas. Obviamente que ser assertivo apenas nesses quesitos não é suficiente, sendo necessário também um trabalho de base bem construída, levando em conta qualidade de sementes, equilíbrio nutricional, qualidade do solo, intervalo entre aplicações, tecnologia de aplicação, dentre outros, que conjuntamente são responsáveis pelo sucesso no controle C de doenças. Nédio Tormen, Diretor Técnico Centro-Norte Instituto Phytus
Tormen alerta para o correto posicionamento de fungicidas
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Ação protetora Phytus Club
A importância dos fungicidas multissítios enquanto aliados no manejo de resistência e controle de doenças como ferrugem-asiática, oídio e mancha-alvo na cultura da soja
O
s fungicidas podem ser classificados como sítio-específicos ou multissítios, de acordo com o modo pelo qual interferem no metabolismo dos patógenos. Fungicidas que atuam em uma única enzima ou ponto específico da via metabólica dos patógenos são os denominados sítio-específicos. Estes, em sua grande maioria, podem ser absorvidos pelas plantas e apresentam propriedades sistêmicas em diferentes níveis. Por outro lado, fungicidas multissítios (também chamados de protetores) são inibidores inespecíficos de distintos processos vitais, interferindo em diversas reações bioquímicas no metabolismo do patógeno simultaneamente – o que reduz consideravelmente a probabilidade de desenvolvimento de resistência. Para o controle de doenças da cultura da soja tem-se disponível no mercado, e com nível aceitável de eficácia, fungicidas sítio-
-específicos com os seguintes mecanismos de ação: inibidores da desmetilação (DMIs), metil benzimidazol carbamatos (MBC), inibidores da quinona externa (QoIs) e inibidores da succinato desidrogenase (SDHIs). Independentemente da cultura hospedeira ou patógeno em questão, o uso frequente e em larga escala de fungicidas com um único mecanismo de ação acarreta em gradual ou abrupto desenvolvimento de patógenos resistentes, já que uma única mutação no patógeno ou mesmo uma simples adaptação metabólica pode resultar em queda severa na eficácia do fungicida. Observando o histórico da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) no Brasil, é possível facilmente notar uma mudança gradual nos mecanismos de ação adotados para seu controle devido ao desenvolvimento de resistência e à queda no controle obtido com fungicidas: nas safras
de 2003/2004 até 2006/2007 os produtos DMIs foram amplamente utilizados e poucas safras mais tarde apresentaram queda gradual de eficácia, reduzida para 52% em alguns casos. Então foi adotada a utilização de misturas (DMIs) e (QoIs), em que, com dois distintos mecanismos de ação, foram obtidos excelentes resultados de controle nas safras seguintes. Com níveis de controle satisfatórios e ampla utilização, o próximo grave problema de resistência veio para QoIs na safras de 2012/2013 e 2013/2014. Desta vez e por conta do tipo de resistência desenvolvido pelo fungo para este grupo químico (denominada disruptiva), o susto foi maior: em pouquíssimo tempo uma mutação do fungo na posição 129 do citocromo b (F129L) estava distribuída em todo território nacional e tão logo isto ocorreu, a frequência de indivíduos apresentando tal mutação atingiu praticamente 100%, acarretando novamente em queda na eficácia dos fungicidas disponíveis. Com a chegada das carboxamidas (SDHIs), já associadas a QoIs inicialmente e posteriormente associadas a QoIs + DMIs, na safra 2015/2016 novamente uma surpresa, outra mutação no sítio-específico de atuação das SDHIs na subunidade c do citocromo na posição I86F foi detectada e nas safras seguintes aumentou em frequência nas populações de Phakopsora pachyrhizi do Brasil. É importante ressaltar que espécies de fungos podem apresentar diferentes mutações que afetam a eficácia dos SDHIs, como relatado pelo Frac em dezembro de 2018, alertando para mutações identificadas em Corynespora cassiicola, fungo causador da mancha-alvo tanto na cultura da soja como no algodão. Desta vez, isolados de C. cassiicola apresentaram mutações nos sítios-alvo B-H278Y e C-N75S, ocasionando redução na sensibilidade do fungo aos SDHIs. Neste cenário dinâmico, 09
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Grãos de soja indicando injúrias de percevejos pelo teste do tetrazolio em parcela sem aplicação de inseticida (esquerda) e com aplicação de inseticida (direita)
O histórico da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) no Brasil demonstra uma mudança gradual nos mecanismos de ação adotados para o controle da doença
fungicidas protetores associados a sítio-específicos ganham força dentro da estratégia de manejo no combate ao complexo de doenças da soja, principalmente pelos notáveis incrementos de controle obtidos em trabalhos de pesquisa conduzidos por todo o país. Fungicidas multissítio podem ser classificados como orgânicos ou inorgânicos, de acordo com a composição química. Dentre os multissítios orgânicos há disponível no mercado principalmente os ditiocarbamatos (maneb, fluazinam, zineb, mancozeb), heterocíclicos nitrogenados (captan), nitrilas (clorotalonil) e ainda outros de menor oferta. Uma vez percebidos todos os benefícios desta associação, inúmeros experimentos foram desenhados e conduzidos, a fim de caracterizar tais fungicidas e definir, dentro de um programa de manejo, qual o posicionamento preferível para cada produto, assumindo que cada um destes tem uma eficácia maior para certos patógenos. Dos multissítios disponíveis, aqueles à base de mancozebe têm sido os mais empregados principalmente quando associados a sítio-específicos pelos bons níveis de controle de ferrugem da soja, mancha-alvo, septoria e outras, apesar de isoladamente apresentar baixa efetividade para outros patógenos como o oídio (Microsphaera diffusa). Sobre os multissítios à base de mancozeb, um fator que reduzia inicialmente a aceitabilidade deste produto por parte de alguns era a formulação disponível. Porém, nos últimos anos as tecnologias de formulação evoluíram 10
bastante, facilitando o trabalho com estes ou ainda a efetividade no campo: formulações WG; formulações WP com propriedades adesivas às folhas superiores aos demais mancozebes, como a tecnologia NT presente no Dithane e Controller; formulações líquidas OD (suspensão concentrada em óleo). As nitrilas (clorotalonil) e dos inorgânicos os oxicloretos de cobre têm ganhado espaço e dado opções aos produtores nas últimas safras, tendo apresentado também ótimos resultados de controle e formulações líquidas. Assim como todos os produtos disponíveis, apresentam fortalezas e fraquezas que, quando trabalhadas adequadamente, seja por estádio da cultura, qualidade de aplicação e/ou parceiro, aumentam a efetividade no controle do complexo de doenças da cultura. Recentemente, produtos resultado de mistura de um ou mais multissítios (exemplo: oxicloreto de cobre + clorotalonil, mancozebe + oxicloreto de cobre) com tecnologia de formulação têm apresentado excelentes resultados de controle e aumentado o espectro de ação. Frente às opções de multissítio disponíveis no mercado, principalmente sendo diferentes formuladores, concentrações, misturas de ingredientes ativos, muitos estudos vêm sendo realizados tanto para monitoramento de resistência como para verificação da eficácia entre os multissítios similares. Trabalhos de pesquisa conduzidos na última safra (2018/2019) com o objetivo de avaliar clorotalonil, mancozebe e mis-
tura de oxicloreto de cobre + mancozebe no controle de Phakopsora pachyrhizi revelaram sutil diferença quando substituído apenas o multissítio dentro de um programa de quatro aplicações contendo sítio-específicos + multissítio. Quando se trata separadamente a região Sul do País (Rio Grande do Sul e Paraná), nota-se mais claramente o benefício da inclusão dos multissítios no manejo à medida que a pressão desta doença é maior que no Cerrado. No Cerrado, apesar de a ferrugem ser importante por se tratar de um patógeno extremamente agressivo, com ciclo curto e alta esporulação, o grande desafio são as manchas foliares (mancha-alvo, cercospora e septoria). Neste cenário de manchas também, a adoção de multissítios tem aumentado (presente na média, em duas aplicações), melhorando a eficácia no controle destas que recentemente têm apresentado redução na sensibilidade a alguns grupos de sítio-específicos. Outros estudos, com o objetivo de monitoramento de resitência, têm chamado atenção por revelar nas últimas duas safras que os produtos sítio-específicos (que isoladamente apresentam nível mais baixo de controle) são os mais responsivos quando da associação a multissítios, ressaltando a importância da utilização destes produtos para uma maior vida útil das ferramentas de controle químico atualmente disponíveis. Em resumo, a inclusão de multissítios no programa de manejo de doenças da cultura da soja sempre agrega (variando conforme a pressão de doenças) e é fundamental para que seja possível manter sob controle os principais inimigos da produtividade desta cultura tão imporC tante para o Brasil. Guilherme Huller, Fabricio Packer e Rogerio Rubin, Corteva Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 245 • Outubro 2019 Capa - Mauricio Meyer Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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