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Ediatorial
Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 248 Janeiro 2020 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Montagem Cristiano Ceia
Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Índice
É chegado o momento de apresentar nossa Edição Especial, com a tradicional seleção de uma parcela dos melhores artigos publicados ao longo de 2019, além de material inédito sobre o que esperar e fazer em relação à ferrugem-asiática na safra 2019/20 no Brasil. A semeadura tardia fez com que os primeiros focos fossem registrados mais tarde, o que não pode ser confundido com menor incidência da doença, que possui alta capacidade de evoluir rapidamente. Em mais um ano de saldo positivo para o agronegócio brasileiro, Cultivar se manteve atenta aos desafios fitossanitários e ao dever de informar com qualidade e responsabilidade. Sem jamais se distanciar do foco técnico e da vocação de veículo impresso referência no setor, foi também um período de intenso investimento em novas ferramentas para dinamizar a cobertura e facilitar ainda mais a comunicação com os leitores. Uma das novidades consistiu na reformulação completa do Portal Cultivar, que ganhou design mais moderno e novos formatos de conteúdo. Além da cobertura de notícias factuais 100% focadas em agricultura, o leitor pode conferir vídeos com entrevistas do setor, testes de máquinas agrícolas, artigos e cadernos técnicos. Na Central do Assinante, o leitor tem acesso digital exclusivo a todas as edições de revistas e cadernos técnicos, nos formatos PDF e texto. Já o Acervo Grátis reúne mais de 190 edições de Cultivar Grandes Culturas, 94 edições de Cultivar HF e 157 edições de Cultivar Máquinas. Informações sobre mecanização agrícola, test drives, manejo de pragas, doenças, plantas daninhas e coberturas de eventos podem ser conferidas no Portal e também no canal da Revista Cultivar no YouTube. Outra ferramenta lançada em 2019 para melhorar a acessibilidade dos leitores consiste em um aplicativo para integrar as diversas ferramentas e serviços da publicação. Com versões para iOS e Android, o app conta com todas as notícias atualizadas pelo Portal Cultivar, agenda de eventos, acesso a artigos, vídeos e cadernos técnicos. A presença nas redes sociais Twitter, Facebook, Linkedin, Instagram e YouTube passou por reforços e intensificação. Em 2020, a revista Cultivar vai continuar vigilante no esforço de oferecer informação técnica atualizada, de qualidade e útil a você, caro leitor. Muito obrigado pela companhia ao longo de mais este ano! Ótima leitura! Boas festas e um excelente Ano-novo!
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Novembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Controle de nematoides em daninhas
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Especial - Ferrugem asiática
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Empresas - Corteva
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Monitoramento de percevejos
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Quanto custa tratar sementes de soja
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Efeitos das misturas de defensivos em tanque
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Inseticidas contra o bicudo-do-algodoeiro
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Controle da broca-do-café
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Picão-preto resistente no Paraguai
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Nematoide-das-galhas em arroz irrigado
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Controle de cigarrinha em milho
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Manejo do milho voluntário
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Manejo da broca-da-cana
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Plantas daninhas Fotos Agro Carregal
Perigo extra Além de competirem com os cultivos agrícolas por espaço, luz, nutrientes e outros recursos naturais, plantas daninhas se tornam ainda mais nocivas por abrigarem e servirem de alimento para nematoides, como Meloidogyne incognita. Incidência se dá principalmente na entressafra, o que dificulta medidas de manejo como a rotação de culturas
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o longo do desenvolvimento da agricultura e da pecuária, as plantas que infestavam diretamente as áreas de ocupação humana e que não apresentavam importância ao homem e/ou animais eram consideradas indesejáveis, sendo denominadas plantas daninhas (Braz et al, 2016). A presença de plantas daninhas nas áreas de plantio sempre traz preocupação aos agricultores, porque além de competir com a cultura principal reduzindo a produtividade, as daninhas podem servir como hospedeiras intermediárias de diversas pragas e doenças durante os períodos de safra e entressafra. Nos ambientes agrícolas, as espécies infestantes frequentemente levam vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas. Isso ocorre porque as plantas daninhas apresentam características
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como elevada taxa de crescimento, grande habilidade reprodutiva e alta capacidade de exploração de nutrientes do solo, garantindo a sobrevivência em uma vasta variedade de ambientes (Pitelli, 1985). O problema adquire maior gravidade quando se verifica que os nematoides formadores de galhas (gênero Meloidogyne), extremamente nocivas às diversas espécies cultivadas, são encontrados com grande frequência infestando raízes de plantas daninhas (Ferraz et al, 1978), limitando a eficiência de determinadas medidas de controle destes patógenos, como a rotação de culturas. Os nematoides parasitas de plantas causam consideráveis reduções na produtividade agrícola e os danos causados dependem da suscetibilidade da cultura, das condições ambientais,
da presença de outros patógenos com quem interajam e de sua densidade populacional (Lopes e Vieira 2011). O gênero Meloidogyne é também o grupo de maior importância econômica na agricultura (Moens et al, 2009). Meloidogyne incognita apresenta ampla distribuição geográfica, alta severidade dos danos causados nas diferentes culturas e grande dificuldade de controle, sendo responsáveis por prejuízos crescentes. Estes nematoides incitam galhas nas raízes e causam redução na absorção de água e nutrientes, culminando em nanismo da planta (Tihohod 2000). Estas características, associadas ao elevado número de hospedeiras alternativas, permitem sua presença nas mais distintas áreas agrícolas. Dentre as espécies que são parasitadas oportunamente por nematoides, as plantas daninhas apresentam elevada importância, em especial durante a entressafra das culturas agrícolas (Bellé et al, 2017). Neste contexto, diferentes espécies de plantas daninhas têm sido reconhecidas como hospedeiras de Meloidogyne spp., em todo o mundo (Roese e Oliveira, 2004; Rich et al, 2008; Mônaco et al, 2009), o que contribui para o aumento das populações dos nematoides no solo, dificultando seu controle e agravando os prejuízos sobre o desenvolvimento das culturas agrícolas.
A partir do elevado potencial polifágico de M. incognita torna-se importante o conhecimento da reação das plantas invasoras aos nematoides de galha, permitindo um manejo adequado e o controle eficiente. Dessa forma, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a reação de espécies de algumas plantas daninhas ao nematoide de galha M. incognita. O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação na estação experimental da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas, no município de Rio Verde, Goiás, durante a safra 2018/19. Foi avaliada a reação de 17 espécies de plantas daninhas a M. incognita, conforme descrito na Tabela 1. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC) com 17 tratamentos, quatro repetições e dois vasos por parcela. As sementes das plantas daninhas são provenientes do setor de herbologia da Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas e foram semeadas em substrato comercial Bioplant contido em bandejas de isopor. A semeadura foi iniciada pelas sementes das plantas daninhas com menor velocidade de germinação e desenvolvimento e finalizada com as espécies de rápida germinação. Assim, manteve-se a homogeneização de desenvolvimento no momento da inoculação. As mudas foram transplantadas
12 dias após a emergência para vasos de 300cm³ contendo apenas o substrato comercial estéril Bioplant, mantendo-se cinco plantas por vaso. A inoculação foi realizada no quinto dia após o transplante. O inóculo empregado no ensaio é oriundo de mudas de tomates Santa Clara, previamente infestadas e utilizadas como substrato para manutenção da criação de nematoides em casa de vegetação. Todos os vasos contendo plântulas das invasoras receberam 2ml do inóculo contendo cinco mil espécimes (ovos + juvenis de segundo estádio (J2)). Para tanto, foram realizados três orifícios de aproximadamente 2cm de profundidade, abertos ao redor das plantas. Tomateiros Santa Clara foram utilizados como testemunhas da viabilidade do inóculo utilizado. A população de M. incognita foi analisada aos 30 dias após a inoculação (DAI). O número de ovos e de J2 (juvenil de segundo estádio) de M. incognita após a extração foi analisado e quantificado com o auxílio de câmara de Peters em microscópio. Os fatores de reprodução foram estimados através da razão entre a população final e a inicial (Fr = população final/população inicial). Considerou-se a população de 30 dias como a população final e a população inoculada (cinco mil
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À esquerda, presença de galhas em corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) e à direita, presença de galhas em tomateiro (Solanum lycopersicum)
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Tabela 1 - Hospedabilidade de plantas daninhas ao Meloidogyne incognita, expressa em população final (PF) e pelo fator de reprodução (FR) Família Poaceae Poaceae Commelinaceae Solanaceae Asteraceae Convolvulaceae Poaceae Asteraceae Amaranthaceae Poaceae Rubiaceae Amaranthaceae Poaceae Euphorbiaceae Portulacaceae. Solanaceae Fabaceae
Nome científico Digitaria insularis Eleusine indica Commelina benghalensis Nicandra physaloides Conyza bonariensis Ipomoea grandifolia Cenchrus echinatus Bidens pilosa Amaranthus viridis Digitaria horizontalis Spermacoce latifolia Alternanthera tenella Chloris polydactyla Euphorbia heterophylla Portulaca oleracea Solanum lycopersicum Crotalaria ochroleuca
Nome popular Amargoso Pé-de-galinha Trapoeraba Joá-de-capote Buva Corda-de-viola Capim-carrapicho Picão- preto Caruru Capim-colchão Erva-quente Apaga-fogo Capim-branco Leiteiro Beldroega Tomate Crotalária
PF1 16,18 10,25 44,51 29,71 15,75 53,99 11,60 35,18 75,46 29,07 0,00 35,51 0,00 36,87 57,73 107,00 0,00
FR2 3,23 2,05 8,90 5,94 3,15 10,79 2,32 7,03 15,09 5,81 0,00 7,10 0,00 7,37 11,54 21,40 0,00
se multiplicar no solo, mesmo em época de entressafra. Isto implica necessidade de adoção de práticas de controle de plantas daninhas que são suscetíveis ao nematoide em áreas onde esteja presente. Vale ressaltar que em áreas infestadas com nematoides, o prejuízo provocado por plantas daninhas tende a ser maior, pois além de multiplicar o nematoide no solo, ainda compete com a cultura por fatores abióticos como água, luz e nutrientes. Outro fato que deve ser mencionado é que algumas espécies resistentes a certos herbicidas, como é o caso da buva (Conyza bonariensis), podem ser um agravante no que diz respeito ao manejo de nematoides, visto que estas espécies permanecerão no solo, mantendo ou multiplicando o parasita. As estratégias de manejo são específicas para cada espécie de nematoide e, portanto, um engenheiro agrônomo C deve ser sempre consultado.
R3 S S S S S S S S S S I S I S S S R
PF1 = População final; FR2 = Fator de reprodução; R3 = Reação (S= suscetível; R=Resistente e I = Imune)
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echinatus, Bidens pilosa, Amaranthus viridis, Digitaria horizontalis, Alternanthera tenella, Euphorbia heterophylla e Portulaca oleracea comportaram-se como suscetíveis ao nematoide das galhas. Apenas as espécies Spermacoce latifolia, Chloris polydactyla e Crotalaria ochroleuca não multiplicaram o nematoide M. incognita (Tabela 1). Algumas espécies de plantas daninhas aqui relatadas como resistentes, imunes ou suscetíveis, podem divergir de outros estudos devido à variabilidade intraespecífica das plantas daninhas ou mesmo à variação fisiológica (raças 1, 2, 3 e 4) das populações de M. incognita. O conhecimento do fator de reprodução do nematoide em plantas daninhas é de extrema importância, pois representa a capacidade deste nematoide
Carregal e Oliveira abordam plantas daninhas como hospedeiras de nematoides
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Celso Mattes de Oliveira Luís Henrique Carregal Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Fotos Agro Carregal
ovos + juvenis) como sendo a população inicial. Aquelas que apresentaram Fr < 1 foram consideradas resistentes; Fr > ou = 1 foram consideradas suscetíveis e Fr = 0, imunes (Tabela 1). De acordo com a análise dos dados obtidos no estudo, verificou-se que mais de 85% das espécies de plantas daninhas testadas mostraram-se suscetíveis ao nematoide M. incognita, apresentando fator de reprodução maior que uma unidade (Tabela 1). A viabilidade do inóculo pode ser comprovada pelos valores médios do fator de reprodução encontrado nas plantas de tomate Santa Clara, o qual foi da ordem de 21,40, indicando intensa multiplicação do nematoide. A maioria das espécies de nematoides causadores de galha pode ser facilmente identificada a campo em relação ao gênero, mesmo por pessoas que não sejam especialistas no assunto, uma vez que as galhas (hipertrofia e hiperplasia de células) são visíveis a olho nu. A identificação ao nível de espécie deve ser realizada em laboratório de nematologia por profissionais qualificados. Entretanto, em alguns casos, as galhas não são induzidas na planta, mesmo que seja hospedeira e multiplique o nematoide, o que pode dificultar a identificação visual do gênero. Dentre as espécies estudadas, Digitaria insularis, Eleusine indica, Commelina benghalensis, Nicandra physaloides, Conyza bonariensis, Ipomoea grandifolia, Cenchrus
Presença das fêmeas no interior das galhas
Soja
Momento A de alerta
Embrapa Soja
Apesar de chegar mais tarde em relação à safra passada, a ferrugem-asiática pode se mostrar bem mais agressiva, pois as áreas semeadas com atraso deixaram a soja vulnerável à maior incidência da doença, que possui capacidade de evoluir rapidamente. Realizar a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e evitar a aplicação de carboxamidas após a doença instalada estão entre as recomendações de manejo
escassez de chuvas no início da safra de soja 2019/2020, entre os meses de setembro e outubro, levou a um atraso na semeadura e a um ritmo mais lento na sua evolução em vários estados produtores do País, como Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Segundo informações da consultoria AgRural, até 4 de novembro de 2019, a semeadura atingiu 46% da área estimada para o País, enquanto no mesmo período da safra 2018/2019 esse índice era de 60%. Já em 5 de dezembro, a semeadura atingiu 93% da área, um pequeno atraso se comparado aos 96% do mesmo período do ano anterior, mas dentro da média dos últimos cinco anos. Apesar dessa recuperação do ritmo até o início de dezembro, esses dados mostram que a semeadura, que costuma se concentrar no mês de outubro, se estendeu para os meses de novembro e dezembro para um maior percentual de área. Com isso, essas áreas mais tardias estarão predispostas a uma maior pressão de ocorrência da ferrugem-asiática da soja, caso haja condições ambientais favoráveis à doença (chuvas frequentes e temperaturas amenas).
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Fotos André Shimohiro
Não há como prever quais mutações estarão presentes nas populações do fungo nas diferentes regiões
De acordo com a Somar Meteorologia, a neutralidade climática predomina durante o próximo período úmido brasileiro. Ou seja, a temperatura do oceano não será alta ou baixa suficiente para o aparecimento dos fenômenos El Niño e La Niña. Neutralidade climática não quer dizer necessariamente que a chuva e a temperatura ficarão dentro da média, já que a água do Pacífico terá leves variações de temperatura, ficando mais fria na primavera e mais quente no próximo verão. Isto fez com que a distribuição da chuva fosse irregular e o calor intenso no início da primavera do Sudeste e do Centro-Oeste. Somente para dezembro é que as simulações mostram um aumento do volume de chuvas, sobretudo no Sudeste. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina receberam chuvas mais intensas em outubro. O Paraná e boa parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste apresentaram precipitação um pouco abaixo ou dentro da média. O Consórcio Antiferrugem, uma parceria público-privada criada em 2004 para ajudar no combate à ferrugem-asiática,
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causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, possui um website (www.consorcioantiferrugem.net) que permite o acesso facilitado às informações e ao monitoramento da dispersão da ferrugem-asiática da soja no Brasil. Através da plataforma web e de aplicativos móveis disponíveis para iOS e Android, produtores e técnicos de todo o País podem acompanhar o avanço da doença no decorrer das safras por meio de ferramentas simples e intuitivas. O site também utiliza as informações do Alerta Ferrugem (www.geoemater.pr.gov. br), sistema desenvolvido pela Emater/Paraná que, através de coletores de esporos, monitora e registra a presença de esporos do fungo durante a safra de soja no estado do Paraná. É importante salientar que as ocorrências registradas no site do Consórcio Antiferrugem não são uma recomendação de controle químico. Qualquer recomendação de controle químico deve ser feita com base em análise técnica de um engenheiro agrônomo, considerando vários fatores epidemiológicos como o estádio fenológico da cultura, as condições climáticas, a cultivar, o tamanho da propriedade, a presença de outras doenças, a logística de aplicação, o custo de aplicação, os fungicidas disponíveis, entre outros fatores. A informação ofertada pelo site é somente um subsídio a mais para auxiliar no manejo da cultura. Na atual safra, até o dia 11 de dezembro de 2019, o site do Consórcio Antiferrugem havia registrado oito ocorrências de presença de esporos nos coletores do Paraná, uma ocorrência da doença em unidade de alerta (parcela de soja semeada para monitorar a doença) e oito ocorrências em áreas comerciais. Além disso, foram relatadas diversas ocorrências de ferrugem-asiática em soja voluntária, mas não são computadas para a safra, pois os registros foram realizados a partir do início do vazio sanitário, no mês de junho (Figura 1). O primeiro registro de presença de esporos ocorreu no município de Vitorino, Sudoeste do Paraná, em 18/11/2019. A ocorrência da doença em unidade de alerta foi registrada no município de Machado/Minas Gerais, em 21/11/2019. As ocorrências em lavouras comerciais foram no Paraná, nos municípios de Ubiratã (3/12/2019), Castro (4/12/2019), Jacarezinho, Tibagi e Pitanga (11/12/2019), em São Paulo, no município de Itaberá (10/12/2019), em Santa Catarina, no município de São Domingos (10/12/2019), e no Rio Grande do Sul, no município de Porto Vera Cruz (11/12/2019). Ainda não tinham sido registradas ocorrências da doença nos cerrados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No estado de Goiás, as semeaduras ocorreram dentro da normalidade na região Sudoeste, mas houve atrasos nas demais regiões, em função da falta de chuvas. Um fato que requer atenção dos produtores é que existem áreas irrigadas semeadas logo em seguida ao término do período do vazio sanitário nestas áreas, que poderão se constituir em potenciais fontes iniciais de inóculo da ferrugem-asiática para as áreas de sequeiro. Comparando-se com as ocorrências da última safra, a ferrugem-asiática está chegando mais tarde, mas em 2018/2019 as chuvas favoreceram a implantação das lavouras logo após
cos, que vem sendo reduzida ao longo dos anos em razão da seleção de populações menos sensíveis do fungo. A associação com fungicidas multissítios, principalmente com aqueles sítio-específicos que estão com a eficiência mais reduzida, é uma estratégia que tem melhorado o controle químico e ajuda a reduzir a pressão de seleção ao fungo. Não há como prever quais mutações estarão presentes nas populações do fungo nas diferentes regiões, então recomenda-se que o produtor trabalhe com segurança nos programas de controle, devendo sempre fazer a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e evitar a aplicação de carboxamidas após a doença instalada, uma vez que este grupo de fungicidas não tem C ação curativa.
Áreas mais tardias estarão predispostas a uma maior pressão de ocorrência da ferrugem caso haja condições ambientais favoráveis à doença
o término dos períodos de vazio sanitário e a semeadura cedo, associada à presença de plantas de soja voluntárias (guaxas) infectadas com ferrugem e as condições favoráveis, com chuvas bem distribuídas, fizeram com que as primeiras ocorrências fossem antecipadas. Até 11/12/2018, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul já tinham relatado ocorrências em lavouras comerciais, totalizando 88 casos. Dessa forma, poderia se supor que a doença será menos severa na atual safra que na anterior, mas isso pode ser um equívoco, pois, como já mencionado, as áreas semeadas mais tardiamente poderão estar sujeitas a uma maior ocorrência da ferrugem-asiática em caso de condições favoráveis, pois mesmo atrasada a evolução da doença pode ser bem rápida. Quanto ao manejo da doença, continua se baseando em um conjunto de estratégias que inclui a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário, instituído por portarias ou normativas estaduais; a utilização de cultivares com genes de resistência e de cultivares de ciclo precoce; semeaduras no início da época recomendada; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvi-
mento da cultura e a utilização de fungicidas. O produtor deve estar atento à eficiência dos fungicidas sítio-específi-
Rafael Moreira Soares Maurício Conrado Meyer Claudia Vieira Godoy Embrapa Soja
Figura 1 - Ocorrências de ferrugem-asiática da soja na safra 2019/2020, até a data de 11/12/2019
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Fotos Avaldi Balbinot/Embrapa Soja
Empresa
Novas opções Corteva apresenta os inseticidas Expedition, Closer e Verter, formulados a partir do princípio ativo Isoclast e indicados para o controle das principais pragas que afetam as culturas de soja, milho, algodão, arroz, HF e citros
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Corteva apresentou ao mercado brasileiro os inseticidas Expedition, Closer SC e Verter SC, registrados para o controle das principais pragas que afetam as culturas de soja, milho, algodão, arroz, citros e hortifrúti, como percevejos, moscas-brancas, pulgões e psilídeos. Formulados a partir do ativo Isoclast, os produtos pertencem ao novo grupo químico Sulfoxaminas, que possui um modo de ação diferenciado dos grupos químicos existentes no mercado. Além de serem efetivos no controle das pragas a que se propõem, os novos produtos ajudam os produtores no controle da resistência aos defensivos já disponíveis no mercado, como o grupo dos neonicotinoides. Além disso, serão importantes ferramentas para o manejo integrado de pragas (MIP) e aos programas de boas práticas agrícolas. Segundo o fabricante, entre as principais características dos novos produtos destacam-se a ação de choque, a proteção e o longo período de controle. O produto é seletivo para inimigos naturais, não desequilibra os ácaros e usa baixas doses por hectare. O princípio ativo já está aprovado em mais de 80 países,
Fotos Corteva
Cultivar
SC é indicado para o controle de pulgões, mosca-branca e psilídeos. Poder de choque oferecido pelo Verter é uma das características importantes nestas culturas. O produto também possui ação sistêmica e translaminar, que atua nos diferentes estádios de vida dos insetos e seletividade aos inimigos naturais. “Verter é a maior inovação tecnológica para o controle de insetos sugadores, e o mais novo aliado dos produtores para o combate das pragas do melão, melancia, tomate e citrus”, avaliou o líder de HF, Café e Citrus, Alisson Rampazzo. Rampazzo destacou o papel do inseticida Verter contra insetos sugadores
do percevejo nas culturas de soja, milho e arroz. De acordo com o líder de Inseticidas da Corteva, Thomas Scott, este produto será muito importante na cultura da soja porque auxilia no controle de percevejos em um momento crítico da cultura, que é a formação da vagem. “Nossa indicação é de que o produtor utilize o Expedition na primeira aplicação, evitando que o ataque dos percevejos cause o abortamento da vagem, protegendo o canivetinho da soja”, explica.
CLOSER SC
a exemplo de Canadá, Austrália, Japão, Índia, China, União Europeia e Argentina. “Os agricultores estavam aguardando esses produtos, pois há muitos anos não eram lançadas soluções para o controle dessas pragas. Investir continuamente em novas tecnologias essenciais para o produtor rural faz parte do compromisso da Corteva em enriquecer a vida daqueles que produzem e consomem, garantindo o progresso das próximas gerações”, comenta o líder de Marketing da Corteva para Brasil e Paraguai, Douglas Ribeiro.
EXPEDITION
O inseticida Expedition, formulado a partir do princípio ativo Isoclast, é uma ferramenta para o manejo integrado de pragas. O produto atua no controle
O inseticida Closer é uma nova ferramenta para o manejo integrado de pragas (MIP) na cultura do algodão, principalmente no controle dos pulgões. De acordo com líder de Inseticidas da Corteva, Thomas Scott, este produto ditará um novo padrão no controle de pulgões, pois tem atributos que são esperados pelo produtor, como ação de choque e residual, que ajudam a evitar viroses atípicas, por exemplo. “O mercado do algodão ainda não tinha um produto com estas duas características: choque e residual. Além disso, o produto não desiquilibra ácaros e também possui uma baixíssima dosagem, de apenas 14,4 gramas/hectare, além de ser seletivo aos inimigos naturais” explica Scott.
BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS
Todas as tecnologias da Corteva contam com orientações sobre sua correta utilização, além de passarem por rigorosos testes antes de serem aprovadas pelos órgãos regulatórios. A companhia também possui um programa robusto de Boas Práticas Agrícolas que percorre diversos estados do País, promovendo treinamentos técnicos para produtores, agrônomos e consultores sobre manejo de plantas daninhas, manejo integrado de pragas, manejo de doenças, tecnologia da aplicação e segurança do trabalhador. Os novos produtos são fruto de mais de nove anos de pesquisas, realizadas nos centros de pesquisa da Corteva no Brasil, e estarão disponíveis para os produtores na C próxima safra.
VERTER SC
Com registro para citros, tomate, melão e melancia, o inseticida Verter
Scott falou sobre a ação do inseticida Closer SC no combate a pulgões em algodão
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Soja Fotos Jurema Rattes
Na hora certa Por que monitorar de modo correto as lavouras de soja é fundamental para definir o momento adequado de aplicação de inseticidas contra percevejos, insetos sugadores cuja incidência aumentou de modo substancial nos últimos anos
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tualmente, o Brasil está com 36,1 milhões de hectares cultivados com soja (Conab, 2018) e segundo o IBGE (2018), 65% destas áreas são cultivadas com a soja Intacta (biotecnologia Bt). A adoção desta tecnologia proporcionou excelente controle nas principais espécies de lagartas desfolhadoras que atacam a cultura, exceto as lagartas do gênero Spodoptera. E neste novo cenário, observou-se uma redução no monitoramento das pragas na cultura da soja e diminuição do número de aplicações de inseticidas. Esta mudança tem favorecido um aumento substancial de insetos sugadores no sistema, como o complexo de percevejos (Euschistus heros, Piezodorus guildinii, Dichelops melacanthus, Edessa meditabunda, mosca branca (Bemisia tabaci, raça B), ácaros, tripes e coleópteros. Outro fator que tem afetado a população e o comportamento das pragas é a maior utilização do solo em algumas regiões do Brasil, onde é possível realizar até três cultivos por ano (safra, safrinha e cultivos irrigados). Associado à expansão do plantio direto no cerrado, estes insetos se adaptaram a diferentes hospedeiras alternativas e atualmente pertencem ao sistema, sobrevivendo e se reproduzindo em diversas culturas no verão, safrinha, plantas tigueras e espécies usadas em cobertura como milheto e crotalária. Dentre as pragas da cultura da soja, os percevejos fitófagos representam o grupo mais importante, devido a seus hábitos alimentares e à sua alimentação ocorrer diretamente nos grãos e vagens, causando diferentes tipos de danos e prejuízos ao produtor desde a formação das vagens, enchimento de grãos, até o momento da colheita. Várias são as espécies de percevejos fitófagos que ocorrem nessa cultura. As espécies de maior frequência e importância econômica são Euschistus heros (percevejo-marrom) e Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno).
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E. heros nas culturas de girassol (Helianthus annuus), feijão (Phaseolus vulgaris) e trigo (Triticum sp) cultivados na safrinha. Rio Verde (GO)
E. heros em milheto (Pennisetum glaucum), sorgo (Sorghum bicolor) e na planta daninha leiteiro (Euphorbia heterophylla) como hospedeiras alternativas. Rio Verde (GO)
É muito importante conhecer a bieoecologia dos percevejos, como seu comportamento, os hábitos nas diferentes fases de desenvolvimento (ninfas e adultos) do inseto, a dinâmica populacional e a preferência alimentar para as tomadas de decisões no manejo, para reduzir as populações nas culturas subsequentes, e nas próximas safras, assim como compreender o aumento substancial de suas populações nos últimos anos. No período de entressafra, estes insetos se protegem em áreas de reservas (refúgios) em plantas daninhas e hospedeiras alternativas, em busca de umidade para sobrevivência. Após a semeadura e emergência da soja, chegam à cultura, ainda na fase vegetativa, pelas bordaduras dos talhões. Dependendo desta população, justifica-se realizar o controle nestas áreas, utilizando inseticidas de choque, porque são insetos adultos, mais expostos e de fácil alvo, sendo mais fácil de serem controlados. Independentemente da necessidade de realizar este controle de bordadura, o produtor tem que ter consciência, que os talhões mais pró-
ximos às áreas de refúgios (mata, nascentes e cerrados) serão os que irão receber as primeiras populações de percevejos (colonizadores). Em geral, a presença dos percevejos na cultura da soja está diretamente relacionada a vagens nas plantas, cujo período entre o começo da frutificação e o ponto de acúmulo máximo de matéria seca no grão é o de maior sensibilidade da soja ao ataque desses insetos sugadores. Entretanto, atual-
mente, com o uso mais intensificado de cultivares de hábito indeterminado, em que a soja começa o período de florescimento próximo aos 30 dias de emergência, é notório verificar a presença destes percevejos mais cedo nas lavouras. Em populações elevadas podem ser observadas ainda no período vegetativo da cultura, fato que tem gerado muitas dúvidas aos produtores quanto à necessidade de se realizar o manejo ainda na fase vegetativa.
Cultura de soja próxima a áreas de refúgio de percevejos
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Dirceu Gassen
Ocorrência de percevejos no estádio vegetativo da soja
a reprodução na soja (R1), época em que as populações, principalmente de ninfas, começam a aumentar. Com o início da formação das vagens (R3) é que os danos de percevejos se tornam importantes, necessitando de vistorias constantes nas lavouras (com auxílio de pano de batida) por parte dos produtores até o momento de colheita. Ao final do desenvolvimento das vagens (R4) e início de enchimento de grãos (R5.1- 5.4) ocorre o período em que os percevejos causam os maiores danos, os denominados danos na produção, que passam despercebidos
Dirceu Gassen
Dados científicos demostram que na fase de desenvolvimento vegetativo até a floração, os percevejos não causam danos à cultura da soja. No entanto, frente às elevadas populações de percevejos observadas nas últimas safras no período vegetativo, merece atenção especial, principalmente por parte da pesquisa, a fim de acompanhar a evolução da praga na lavoura, neste pequeno espaço de tempo, nestes materiais de hábito indeterminado. No vegetativo, a colonização ocorre principalmente por percevejos velhos, em fase final de seu ciclo biológico e com baixa atividade alimentar e reprodutiva. Por falta de alimento preferencial (os grãos), as ninfas não conseguem chegar à fase adulta, pois geralmente morrem antes do período crítico, não causando danos à cultura.
pelo produtor, onde o grão chocho é colhido e descartado imediatamente pela colhedora Outro dano muito comum, denominado de dano na qualidade do grão, que na maioria das vezes ocorre após o estádio R6 (maturação fisiológica), é caracterizado pela falta de controle dos percevejos após os estádios R.5.5 e R6. Neste caso, o produtor acredita que o inseto não mais causa danos aos grãos, e isto é uma inverdade, porque o inseto continua se alimentando até quando seu aparelho bucal conseguir perfurar a casca da vagem. E nesta fase, as populações atingem picos máximos, principalmente por percevejos migratórios vindos de lavouras vizinhas em fase de colheita. O monitoramento dos percevejos na fase final do estádio reprodutivo, a partir do estádio R6-R7, é fundamental, visto que estes insetos podem provocar danos à cultura, principalmente aos produtores de sementes. Este monitoramento e controle das populações de percevejos na fase final do período reprodutivo da cultura da soja se torna ainda mais importante quando a área é destinada ao cultivo de milho safrinha, principalmente porque Dichelops sp., espécie de grande importância na cultura do milho, se reproduz também em soja. Os danos causados por esses insetos na cultura da soja vão desde o chochamento e a má-formação dos grãos até o abortamento das vagens. Além
DANOS DOS PERCEVEJOS
O maiores danos ocasionados pelos percevejos fitófagos na cultura da soja ocorrem na fase de enchimento de grãos (R5.1 a R5.4), podendo causar chochamento parcial ou total. No entanto, esses danos podem se estender até a fase de colheita. A partir do início da floração, os percevejos começam
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Danos de percevejos em diferentes estádios fenológicos da cultura da soja
Fotos Gilvane Jakoby
Qualidade de grãos de soja em função do manejo adotado para o controle de E. heros na cultura da soja até a fase de colheita. Safra 2015/16
da redução da qualidade, da viabilidade e do vigor, as sementes de soja danificadas por percevejos sofrem alterações nos teores de proteínas e de óleo, e aumento na porcentagem de ácidos graxos livres. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com cor mais escura que o normal. Os danos dos percevejos ocorrem através da inserção de seus estiletes (aparelho bucal do inseto), onde injetam substâncias histolícas, extraindo porções líquidas e nutritivas para a alimentação. Os danos são observados ao cortar os grãos no sentido transversal ao cotilédone e no local da punctura. Na película do grão, são observadas desde manchas bem claras, até manchas escuras e estas podem se apresentar também em forma de depressões ou em relevos. Na polpa dos cotilédones, as manchas características mais comuns são as brancas, mas pode haver, ainda, colorações verdes e até pretas. No local da picada no grão pelo percevejo, provocada pela penetração do estilete, há uma ruptura do tegumento, que resta como uma porta de entrada para micro-organismos. O monitoramento dos percevejos através do uso do pano de batida é o método mais eficaz de amostragem e captura desses insetos. De forma alguma, a tomada de decisão quan-
to ao controle deve ser adotada com base na análise visual da praga na lavoura. No entanto, o monitoramento tem sido deixado de lado por parte de produtores e consultores, optando pela aplicação “calendarizada”, ou pulverização de carona junto a herbicidas e fungicidas, sem o conhecimento da população de percevejos presentes no campo. Muitas das vezes, as aplicações calendarizadas são realizadas sem a presença da praga ou em baixas populações, ou com índices populacionais muito altos, comprometendo a performance dos inseticidas aplicados. O monitoramento bem realizado, com o auxílio do pano de batida, proporciona ao produtor realizar as aplicações nos momentos certos, com presença do inseto na área e em populações controláveis através de inseticidas e também na escolha dos produtos. Os percevejos, na fase adulta, possuem hábitos de se locomoverem para o dossel superior das plantas no período da manhã, e no momento mais quente do dia se deslocam para o terço médio. Devido a este caminhamento, se torna um alvo mais fácil de ser controlado, porque é através da contaminação tarsal que muitos insetos se contaminam com a ação de choque existente nos inseticidas. Segundo especialistas
Grãos coletados no solo pós-colheita de soja em função do manejo adotado no controle de percevejos em dez amostras de um metro quadrado
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Jose Ronaldo Quirino
Sintomas de grãos atacados por percevejos e corte de identificação da picada de percevejo
em tecnologia de aplicação, 60% a 80% do volume de calda das aplicações fica concentrado no dossel superior da soja. Já as ninfas, por se locomoverem pouco, ficam preferencialmente entre as vagens, tornam-se de difícil alvo, recebendo menor ação de choque dos inseticidas, consequentemente necessitando de complemento à dose letal pela sistemicidade dos inseticidas, geralmente encontradas nos grupos dos neonicotinoides. Vários trabalhos tem sido realizados nas últimas safras na região do Sudoeste Goiano, em áreas de produtores, em parceria com a Rattes Consultoria e Pesquisa Agronômica ea Universidade de Rio Verde (UniRV), para comparar os manejos
adotados pelos produtores no controle de percevejos (geralmente aplicações calendarizadas), com os propostos através de amostragens e monitoramento, levando em consideração a população da praga, a fase de desenvolvimento dos insetos (ninfas e adultos), a escolha dos inseticidas e a importância da aplicação no final da fase reprodutiva (R6-R7), respeitando a carência dos inseticidas. O objetivo é mostrar ao produtor o quanto se perde em função da ocorrência de grãos chochos que são descartados durante o processo de colheita, além de grãos danificados, que podem ser descartados na pré-limpeza, e ainda o número de percevejos que permanecem na área se alimentando na fase final de desenvolvimento da cultura até o momento da colheita, e o número de percevejos presentes no momento da colheita e que vão migrar para os talhões mais novos e culturas subsequentes (safrinhas). Estes trabalhos consistem na colheita manual das plantas
Fotos Jurema Rattes
Adulto do percevejo-marrom (E. heros) se alimentando na cultura da soja em estádio R8
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Coleta de percevejos no solo após a colheita da soja (1m2)
Número médio de percevejos coletados no solo pós-colheita da soja em 15 amostras de um metro quadrado em função do manejo adotado no controle de percevejos
de soja para posterior debulha manual, a fim de se obter o rendimento e a qualidade dos grãos, a colheita mecanizada, a coleta de grãos no solo (pós-colheita), a coleta de percevejos no solo (pós-colheita) e a contagem do número de percevejos no momento da colheita. Insetos estes que migrarão para outras áreas a serem colhidas. Estes trabalhos conjuntos têm como principal objetivo a conscientização do produtor da necessidade de realizar o monitoramento para a tomada de decisão, na tentativa de desvincular um hábito dos sojicultores que, para otimizar o plano operacional das máquinas, realizam o controle dos percevejos associado às aplicações de fungicidas utilizadas no controle das doenças da soja. Estes resultados mostram a importância do monitoramento no manejo de percevejos na cultura da soja para a tomada de decisão, visto que a aplicação calendarizada ou associada às aplicações dos fungicidas em função do planejamento operacional pode ocorrer em momentos não adequados para a C tomada de decisão e população da praga.
Retirada de amostra no momento da colheita para verificar o número médio de percevejos coletados na descarga da colhedora, em função do manejo adotado
Figura 1 - Número médio de percevejos coletados na descarga da colheitadeira, em função do manejo adotado. Dados extrapolados para um rendimento médio de quatro mil quilos de soja ha-1. Safra 2015/2016
Jurema Fonseca Rattes UNI-RV – Universidade de Rio Verde Agro Rattes Gilvane Luis Jakoby Agro Rattes Figura 2 - Número médio de percevejos coletados na descarga da colheitadeira, em função do manejo adotado
Jurema e Jakoby alertam para o papel fundamental do monitoramento das lavouras
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Soja
Custo de tratar
Levantamento realizado nos últimos dez anos aponta que o investimento em tratamento de sementes com fungicida e inseticida no Brasil responde por apenas 2,2% do custo de produção, estimado em R$ 2.076,15 por hectare de soja. Prática equivale a seguro barato, ante os benefícios que proporciona em proteção do desenvolvimento inicial da cultura
O
uso de defensivos agrícolas no tratamento de sementes de soja confere à planta condições de defesa, o que possibilita maior potencial para o desenvolvimento inicial da cultura. O controle de pragas e doenças que atacam a cultura é realizado desde o início de seu ciclo com uso de
inseticidas e fungicidas no tratamento de sementes, sendo essa uma prática eficiente e amplamente adotada. A importância do tratamento de sementes com fungicidas, no contexto atual da agricultura brasileira, dispensa maiores argumentações, considerando o seu valor como medida preventiva no
controle integrado de inúmeras doenças de impacto econômico na cultura da soja. A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura da soja é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Por meio delas, esses micro-organismos sobrevivem através dos anos (meio de
Andre Shimohiro
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Fotos Augusto César Pereira Goulart
Figura 1 - Custo do tratamento de sementes e custo total da soja, por hectare, no período de 2008/2009 a 2018/2019, em Mato Grosso do Sul
Plantas de soja em área com uso de sementes tratadas
perpetuação de doenças de geração a geração) e se disseminam pela lavoura, como focos primários de doenças. No Brasil, os fungos de maior importância que ocorrem em sementes de soja são Phomopsis sojae, Colletotrichum truncatum, Cercospora kikuchii, Fusarium semitectum, Sclerotinia sclerotiorum, Corynespora cassiicola e Aspergillus flavus. Baseado em critérios de importância, patogenicidade e ocorrência, merece destaque também outro patógeno que não pertence a essa categoria de “fungos de sementes”. Trata-se do fungo de solo Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose (AG)-4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk), que pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse fungo. A maneira mais eficaz e econômica de controle desses patógenos é o tratamento das sementes com fungicidas. Os objetivos do tratamento de sementes de soja com fungicidas se enquadram em dois grupos distintos: o primeiro, que se refere aos aspectos epidemiológicos (controle e transmissão do patógeno – itens 1, 2 e 3) e o segundo, relacionado à sustentabilidade da lavoura na fase inicial de desenvolvimento (itens 4, 5 e 6). Para a escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo-alvo do tratamento. Neste contexto, sabe-se que, de forma variável, os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. Assim, a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido estratégia das mais eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Atualmente, as misturas mais utilizadas para o tratamento de sementes de soja são carbendazim + thiram, carboxin + thiram, fludioxonil + mefenoxan, fipronil + piraclostrobin + tiofanato metílico, fludioxonil + mefenoxan + thiabendazole, tiofanato metílico + fluazinan e clorotalonil + tiofanato metílico, nas doses recomendadas pelos fabricantes. Para evitar possíveis perdas decorrentes da ação de pragas de solo e da parte aérea, que danificam as sementes e as plântulas de soja, tem-se como alternativa o uso de inseticidas no tratamento de sementes. A adoção dessa prática proporciona melhor desenvolvimento inicial da cultura, controlando as pragas iniciais
e contribuindo para a obtenção do estande inicial almejado, possibilitando, na maioria dos casos, reduzir o número de aplicações de inseticida após a emergência da cultura. Dentre os ingredientes ativos recomendados para o tratamento de sementes de soja com inseticidas, os mais utilizados são thiametoxan e imidacloprid, fipronil, imidaclopride + tiodicarb. Considerando a importância dessa tecnologia, elaborou-se esse trabalho com o objetivo de avaliar a adoção e o custo do tratamento de sementes de soja.
ADOÇÃO DO TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA COM FUNGICIDAS E INSETICIDAS
A prática do tratamento de sementes de soja com fungicidas no Brasil vem crescendo a cada ano, partindo de apenas 5% da área de soja semeada com sementes tratadas na safra 1991/1992 e atingindo significativos 98% na safra 2016/2017, sendo 25% oriundos do tratamento de sementes industrial (TSI) e 73% provenientes do tratamento realizado na propriedade agrícola, também denominado on farm. Em relação à adoção do uso de inseticidas no tratamento de sementes de soja, até a safra 2016/17, esses dados ainda não tinham sido levantados no Brasil. Na safra 2017/18, a adoção do tratamento de sementes de soja (aí já considerando fungicida + inseticida) atingiu os 100%, sendo 74% on farm e 26% TSI. Na safra 2018/19, foi observada uma variação bastante significativa nessa proporção, sendo 65% de adoção para o tratamento on farm e 35% para o TSI, evidenciando uma forte tendência de crescimento do TSI no Brasil. Esta prática caracteriza-se basicamente pela utilização de equipamentos especiais que asseguram cobertura, dose e qualidade das sementes, possibilitando sua comercialização já tratadas, dentro de elevados e seguros padrões de qualidade. As vantagens do TSI em relação ao tratamento on farm são cobertura uniforme, dose adequada (precisão na quantidade do fungicida), qualidade das sementes garantida, evita o contato do produtor com o fungicida, redução do risco de contaminação, padrão de segurança garantido, tratamento de elevada qualidade, agrega valor ao produto (semente), além de proporcionar economia de tempo.
CUSTO DO TRATAMENTO DE SEMENTES DE SOJA COM FUNGICIDAS E INSETICIDAS
Em qualquer processo produtivo, um dos pontos mais impor-
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Tabela 1 - Misturas formuladas e respectivas doses dos fungicidas/inseticidas recomendados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o tratamento de sementes de soja e usados na composição do custo de produção Nome comum Carbendazin + thiram Carboxin + thiram Fipronil Piraclostrobina + tiofofanato metílico + fipronil
Dose do i. a. (g/100kg de sementes) 30 g + 70 g 50 g + 50 g 50 g 5 g + 45 g + 50 g
Dose do P. C. (g ou ml/100kg de sementes) 200 ml 250 ml 250 g 200 ml
Nota: i.a. = ingrediente ativo; P.C. = produto comercial
produto contendo inseticida e fungicida em sua composição. As informações relativas ao tratamento de sementes e ao custo de produção da cultura da soja foram provenientes do conjunto de dados publicados pela Embrapa Agropecuária Oeste, no período de 2008/2009 a 2018/2019, Mato Grosso do Sul (Figura 1). Na evolução do custo do tratamento de sementes observa-se que enquanto foi usado apenas fungicida, o impacto no custo de produção foi de apenas 0,76% na safra 2008/2009 e 0,29% na de 2009/2010. Com a introdução do inseticida em 2010/2011, houve aumento do custo do tratamento, passando a ser de 3,19%. A partir de então, o custo com o tratamento de sementes apresentou trajetória descendente até a safra 2016/2017, quando foi observado um discreto aumento, voltando a decrescer nas últimas duas safras. Esse acréscimo registrado na safra 2016/2017 se deu
Objetivos do tratamento de sementes de soja 1) Erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes. 2) Proporcionar a proteção das sementes e plântulas contra fungos do solo. 3) Evitar o desenvolvimento de epidemias no campo. 4) Promover condições de uniformidade na germinação e emergência. 5) Proporcionar maior sustentabilidade à cultura pela redução de riscos na fase de implantação da lavoura. 6) Promover o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento de sementes é uma prática de suma importância, pela ótima relação benefício/custo e por proporcionar inegáveis vantagens para o produtor e para a economia do País. Por essa razão, o tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas vem sendo utilizado por um número cada vez maior de produtores, para garantir populações adequadas de plantas, principalmente quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são adversas. Assim, pode-se considerar que o tratamento de sementes é um "seguro barato" que o agricultor faz no início de C implantação de sua lavoura.
Augusto César Pereira Goulart
tantes que o produtor considera é o aspecto financeiro. De maneira geral, é lógico e compreensível que o agricultor pense dessa maneira, pois a sua atividade objetiva lucro. Partindo desse ponto de vista, torna-se fundamental que o agricultor saiba quanto vai gastar pela adoção de uma determinada prática agrícola na sua propriedade. Levando-se em conta os gastos necessários para a condução do processo produtivo de uma lavoura de soja, o tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas é uma tecnologia que auxilia no controle de doenças e pragas nas fases iniciais da cultura, sendo uma das práticas de menor impacto no custo de produção dessa cultura. Considerou-se como tratamento de sementes, o uso de fungicida e inseticida em suas dosagens recomendadas (Tabela 1). Nos anos de 2008/2009 e 2009/2010 foi utilizado na composição do custo apenas o fungicida. No período das safras 2010/2011 a 2013/2014, além do fungicida, usou-se o inseticida. A partir da safra 2014/2015, empregou-se apenas um
devido à majoração dos preços dos defensivos agrícolas, o que acarretou aumento no custo de produção. Apesar do custo de produção elevar-se na safra 2018/2019, o custo com tratamento de sementes permanece praticamente estável em 1,5% (Figura 1). Considerando-se a média do período analisado, o tratamento de sementes com fungicida e inseticida representou apenas 2,2% do custo de produção de 1ha de lavoura de soja, que foi de R$ 2.076,15.
Sementes de soja tratadas industrialmente
Alceu Richetti e Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste
Soja
Mistura segura Divulgação
Prática até pouco tempo realizada de modo informal pelos produtores, a mistura de tanque de produtos fitossanitários finalmente ganhou regulamentação com a Instrução Normativa 40, de outubro do ano passado. Com o advento da legislação reivindicada pelo setor, agora se faz necessário intensificar estudos sobre seu efeito nas culturas, principalmente com relação a aspectos como fitotoxicidade, alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física
O
Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, sendo que o agronegócio representa grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dentre as culturas, a soja (Glycine max L.) tem posição de destaque, sendo o principal cultivo na safra de verão e também a principal commodity brasileira. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na última safra (2018/2019) o Brasil figurou como o segundo maior produtor mundial de soja, ficando atrás somente dos Estados Unidos, tendo uma produção de 114,4 milhões de toneladas, área plantada de 35,8 milhões de hectares e produtividade de 3.206kg/ha, porém as estimativas mostram que nas próximas safras o Brasil tomará a primeira posição, tornando-se o maior produtor mundial da oleaginosa. Contudo, vários fatores podem afetar o desenvolvimento da cultura e comprometer sua produção. Contribuem para que ocorram perdas na produção, as condições edafoclimáticas e os problemas fitossanitários como a competição com plantas daninhas e a incidência de pragas e doenças. Devido a esses fatores ocorrerem muitas vezes simultaneamente na lavoura, o método de controle utilizado pelos produtores com maior frequência é a pulverização na área afetada, com misturas de produtos fitossanitários de mesma classe e também de produtos de diferentes classes. De acordo com a
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pesquisa realizada por Grazziero (2015) com 500 pessoas ligadas à agricultura, 97% utilizam mistura de tanque, sendo que em 95% das vezes o uso varia de dois a cinco produtos. A mistura de produtos é relatada como vantajosa devido a vários fatores, tais como redução do número de
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pulverizações e consequentemente menor compactação do solo, economia de água, trabalho e combustível. Além disso, pode ser uma estratégia de manejo para reduzir a possibilidade de aparecimento de populações resistentes, pela mistura de produtos com diferentes mecanismos de ação, seja de herbicidas, inseticidas ou de fungicidas.
A mistura dos diferentes produtos fitossanitários vai depender do estádio de desenvolvimento da cultura e consequentemente dos problemas enfrentados. Desta forma, aproveita-se para aplicar outros produtos, com o objetivo de eliminar uma possível nova reentrada na área. Apesar de ser uma prática comumente utilizada pelos produtores nas lavouras, essa era proibida, pois o responsável técnico só poderia recomendá-la se estivesse especificada na bula do produto, ficando a responsabilidade imposta ao produtor que optava por utilizá-la. Entretanto, com a publicação da Instrução Normativa no 40, de 11 de outubro de 2018, o engenheiro agrônomo passa a responder pelas misturas em tanque no receituário agronômico e está autorizado a definir as aplicações. Assim, a prática passa a ter regulamentação governamental, depois de muitos anos de reivindicações do setor produtivo. Portanto, agora mais do que nunca se faz necessário realizar estudos sobre os efeitos que as misturas de produtos fitossanitários podem causar nas culturas, principalmente com relação a fitotoxicidade, possíveis alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física, fatores esses que, uma vez alterados, podem vir a comprometer o desenvolvimento normal da planta e consequentemente prejudicar a produtividade da cultura. Estes estudos serão importantes para gerar informações técnicas aos produtores, que adotam essa prática nas lavouras. Alguns parâmetros podem ser avaliados antes mesmo da aplicação da mistura a campo. É o caso do pH, da condutividade elétrica e da estabilidade física das misturas. Utilizando-se garrafas PET, após a mistura dos produtos, com o auxílio de um pHmetro, pode-se aferir as possíveis alterações de pH. Com um condutivímentro verifica-se a condutividade elétrica. E para a avaliação da estabilidade física pode-se utilizar uma tabela já padronizada e com base nas alterações observadas atribuir notas variando de 1 a 5. Posteriormente, com base na nota atribuída, haverá uma recomendação. Sendo a nota 1, a recomendação é não aplicar a mistura. Nota 4, a recomendação é fazer a agitação contínua da mistura, e nota 5 a mistura apresenta estabilidade perfeita, podendo assim ser realizada a aplicação, sem restrições. As notas atribuídas têm como base a observação da ocorrência de sobrenadante, precipitação, floculação, formação de grumos, separação de fases, entre outras alterações que podem vir a ocorrer. Outra forma de avaliar a compatibilidade de produtos e seus efeitos (nesse caso, quando já aplicados nas plantas) ocorre atra-
vés de avaliações de fitotoxicidade nas plantas por meio de observações visuais, realizadas normalmente aos sete, 14, 21 e 28 dias após a aplicação (DAA) das misturas. Conforme os sintomas observados, poderão ser atribuídas notas, em uma escala de 0 a 9, onde nesse caso 0 corresponde à testemunha; 1, ausência de sintomas de fitotoxicidade, e 9 à morte das plantas. Os resultados obtidos com a realização destes testes posteriormente podem ser utilizados como parâmetro sobre o que pode ou não ser misturado e o risco que a mistura apresenta para cultura, baseando-se nas alterações no pH, na condutividade elétrica, na estabilidade física e no grau de fitotoxicidade que a mistura causou na planta. Desta forma, foram realizados estudos em laboratório e casa de vegetação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos (UTFPR-DV), com três cultivares de soja (Roundp Ready, Liberty Link e Enlist E3) e 18 misturas de produtos, dentre eles três herbicidas (glifosato dimetilamina; glufosinato de amônio e 2,4-D colina), três fungicidas (trifloxistrobina + protioconazol; azoxistrobina + benzovindiflupir e picoxistrobina + ciproconazole) e três inseticidas (tiametoxam + lambda-cialotrina; eflubenzurom e deltametrina), de acordo com a Tabela 1. Os produtos foram misturados utilizando a dose máxima recomendada em bula e aplicados no estádio V3, segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida, com pulverizador costal pressurizado por CO2, simulando aplicação a campo. Os resultados mostraram que não houve incompatibilidade física das misturas dos produtos fitossanitários testados em laboratório, sendo que o grau de estabilidade foi de 3, nas misturas glufosinato + trifloxistrobina + protioconazol e glufosinato + azoxistrobina + benzovindiflupir. Neste caso, a recomendação é realizar a agitação contínua da mistura para evitar a formação de corpo de fundo, sedimentação, precipitação, separação de fases e formação de grumos, como ocorreu para as referidas misturas, os mesmos cuidados também devem ser tomados para misturas que apresentam estabilidade de grau 4, sendo que apenas no grau 5 a mistura pode ser realizada sem restrições. A compatibilidade química representada pelo pH e a condutividade elétrica das misturas apresentaram valores dentro da normalidade, com algumas exceções, caso da mistura de glufosinato + azoxistrobina + benzovindiflupir, em que se observaram valores de pH maiores que 9, o que poderá resultar na redução da eficácia de um dos produtos ou ambos. No que diz respeito aos valores de
Tabela 1 - Avaliações de fitotoxicidade aos 28 dias após a aplicação (DAA) de diferentes misturas de produtos fitossanitários e cultivares de soja. UTFPR, Dois Vizinhos (PR), 2018 Glifosato Fitotoxicidade Glufosinato Fitotoxicidade 2,4-D colina e Fitotoxicidade e misturas 28 DAA e misturas 28 DAA misturas 28 DAA Testemunha sem aplicação 0.00 c Testemunha sem aplicação 0.00 b Testemunha 0.00 e Glifosato 2.00 b Glufosinato 4.00 a 2,4-D colina 2.00 c Glifosato + Trifloxistrobina + Protioconazol 3.00 a Glufosinato + Trifloxistrobina + Protioconazol 4.00 a 2,4-D colina + Trifloxistrobina + Protioconazol 2.50 b Glifosato + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 2.00 b Glufosinato + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 3.50 a 2,4-D colina + Azoxistrobina + Benzovindiflupir 2.00 c Glifosato + Picoxistrobina + Ciproconazole 2.25 b Glufosinato + Picoxistrobina + Ciproconazole 3.25 a 2,4-D colina + Picoxistrobina + Ciproconazole 4.00 a Glifosato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 2.00 b Glufosinato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 4.00 a 2,4-D colina + Tiametoxam + Lambda-cialotrina 2.00 c Glifosato + Eflubenzurom 2.25 b Glufosinato + Eflubenzurom 3.75 a 2,4-D colina + Eflubenzurom 2.00 b Glifosato + Deltametrina 3.25 a Glufosinato + Deltametrina 4.00 a 2,4-D colina + Deltametrina 1.25 d *Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si pelo teste Scott-Knott (p>0.05).
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Fotos Divulgação
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C
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Figura 1 - Mistura de produtos de diferentes classes pode causar sintomas de fitotoxicidade em plantas e comprometer seu desenvolvimento. A) Glufosinato + Trifloxistrobina + Protioconazol. B) Glifosato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina. C) Glufosinato + Tiametoxam + Lambda-cialotrina. D) Glufosinato + Teflubenzurom
condutividade elétrica, os maiores foram encontrados nas misturas do herbicida glifosato com os fungicidas e inseticidas. Sendo que a condutividade elétrica diz respeito à presença de íons em suspensão que podem interagir com as moléculas dos produtos, resultando assim em possível queda na eficácia dos produtos. Desta forma, quanto maior a condutividade elétrica, maior é o risco perda de eficiência do(s) produto(s). Com relação aos sintomas de fitotoxicidade avaliados nas diferentes cultivares de soja, estes foram classificados de muito leve a moderado, variando de 0 a 4 na escala, o que pode ser observado nos valores apresentados na Tabela 1. Algumas misturas causaram sintomas considerados moderados nas plantas, o que foi observado em todas as misturas realizadas com o herbicida glufosinato juntamente com os três fungicidas e três inseticidas, onde em todos os tratamentos os sintomas variaram de 3 a 4, sendo considerado de leve a moderado. Esses sintomas podem vir a comprometer o desenvolvimento da planta, pois causam injúrias, como clorose, encarquilhamento, queima e retardamento do crescimento. Alguns desses sintomas podem ser observados na Figura 1. Entretanto, não houve avaliação até o final do ciclo da cultura para saber se ocorreu queda na produtividade. No que diz respeito às misturas realizadas com os herbicidas glifosato e 2,4-D colina com os fungicidas e inseticidas, todos os tratamentos apresentaram sintomas de fitotoxicidade praticamente
ausentes ou muito leves, com exceção do tratamento 2,4-D colina + picoxistrobina + ciproconazole onde, nas últimas avaliações, os sintomas de fitotoxicidade foram considerados moderados. Quando os sintomas de fitotoxicidade são muito leves ou leves, o que ocorreu para a maioria das misturas, a planta possivelmente conseguirá metabolizar o herbicida por ser resistente, não havendo perdas na produtividade. As misturas de diferentes classes de produtos fitossanitários podem resultar em fitotoxicidade para a cultura, ineficiência do tratamento químico, além de entupimento das pontas de pulverização. As misturas de tanque, na maioria das vezes, são realizadas sem informações sobre a compatibilidade química e física do produto. Desta forma, mesmo apresentando várias vantagens, é necessário se atentar às desvantagens e aos possíveis danos que uma mistura de produtos fitossanitários pode causar, tanto na planta como no equipamento de aplicação. Embora tenham ocorrido algumas alterações de pH, condutividade elétrica e estabilidade física das misturas, assim como alguns sintomas de fitotoxicidade tenham sido observados em determinados casos, os ensaios realizados mostram que essa prática, de maneira geral, pode ser realizada em segurança. Porém é necessário estar atento à ordem preferencial de adição dos produtos no tanque do pulverizador, sendo recomendado: 1º água, 2º condicionador de água (se necessário), 3º Pó Molhável (PM), 4º Granulado dispersível (WG), 5º Suspen-
são Concentrada (SC), 6º Concentrado Solúvel (SL), 7º Concentrado Emulsionável (CE), 8º Adjuvante (se necessário), 9º Fertilizante Foliar (se necessário) e 10º Redutor de Espuma (se necessário). Deve-se também utilizar água de boa qualidade e adjuvantes recomendados em bula e que possam ajudar na qualidade da aplicação. Outro fator importante no momento da mistura, é manter a agitação contínua no pulverizador para evitar a formação de grumos, precipitação, separação de fases, sobrenadante e floculação da mistura. A soja é a cultura que detém os maiores investimentos em pesquisa e biotecnologia, e a cada ano são lançadas no mercado novas tecnologias para ajudar no manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, portanto, as opções disponíveis aos produtores agrícolas atualmente são várias. Assim, é necessário realizar ensaios sobre a compatibilidade de produtos e seus possíveis efeitos nas plantas, com o objetivo de sempre maximizar a produtividade da cultura e conservar as tecnologias, além de auxiliar o produtor na tomada de decisão. A nova instrução normativa sobre misturas de tanque empodera o engenheiro agrônomo, que passa a responder por isso. Desta forma, na dúvida sobre o que aplicar, consulte um profissional C qualificado. Cristiana Bernardi Rankrape, Felipe Lucio, Corteva Agriscience Eduardo Lago, Juliana Domanski Jakubski, Ketly Custodio Jung, Wellyton Morgenrotd, Ivan Carlos Zorzzi, Pedro Valério Dutra de Moraes UTFPR-DV
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Algodão
Atenção na escolha Guilherme Rolim
O monitoramento anual da suscetibilidade das populações do bicudo-do-algodoeiro é medida imprescindível para orientar as decisões dos produtores e da assistência técnica no momento de escolher inseticidas para o controle da praga
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O
algodão brasileiro é cultivado, em quase sua totalidade, em grandes extensões situadas no bioma Cerrado, onde predominam verão chuvoso, dias longos e altas temperaturas, condições favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Porém, os mesmos aspectos climáticos que favorecem o desenvolvimento da planta de algodão e a produção de fibras, contribuem para a ocorrência de grande diversidade de artrópodes, que podem causar prejuízos caso medias de manejo não sejam adotadas corretamente. Dentre as espécies-pragas causadoras de perdas significativas de produtividade destaca-se o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis grandis Boh. (Coleop-
Figura 1 - Mortalidade de bicudo-do-algodoeiro após 48 horas de exposição a diferentes inseticidas. População coletada em Rondonópolis, Mato Grosso. Safra 2018/2019
tera: Curculionidae). É classificada como praga-chave da cultura do algodão, ou seja, frequentemente atinge o nível de controle. Por esse motivo, mais da metade das pulverizações com inseticidas de amplo espectro é direcionada ao controle do bicudo-do-algodoeiro, especificamente, durante a fase reprodutiva da planta (período que se inicia na emissão dos botões florais e se estende até a abertura total dos capulhos). O desenvolvimento das larvas e pupas do bicudo-do-algodoeiro ocorre no interior das estruturas reprodutivas, causando danos diretos às estruturas de interesse comercial da planta. Esta característica ainda dificulta o seu controle, obrigando a adoção de práticas curativas, focadas no controle da fase adulta da praga. Com a colonização da lavoura e oviposição por vários dias consecutivos, ocorre emergência escalonada de adultos, que requer pulverizações seriadas de inseticidas, em intervalos de tempo de aproximadamente cinco dias. Esta decisão de pulverização tem por objetivo não permitir que os adultos emergidos comecem nova geração. Entretanto, essa decisão de pulverização seriada resulta em elevado número de aplicações ao longo do ciclo da cultura. A média de aplicações específicas para o bicudo, no Brasil, varia de 12 a 15, mas não raramente há relatos de até 25. Os principais inseticidas utilizados para o controle do bicudo-do-algodoeiro são de amplo espectro de ação como organofosforados, carbamatos, piretroides e algumas misturas prontas para uso de neonicotinoides + piretroides. Com exceção de eventuais observações de redução de eficiência para os piretroides, estes inseticidas ainda apresentam um bom controle da praga, podendo contribuir também no manejo de outras pragas que podem se dar de forma simultânea com o A. grandis grandis. Os piretroides estão entre os inseticidas mais utilizados, por não causarem fitotoxicidade (quando aplicados nas doses recomendadas), apresentar risco reduzido para mamíferos, ter um número elevado de ingredientes ativos disponível e registrado para recomendação, possuir elevada toxicidade a várias pragas e ter custo reduzido quando comparado aos outros inseticidas de amplo espectro de ação registrados (Elliott, 1976). O uso abusivo de um único modo de ação acarreta surgimento de populações resistentes do inseto, o que não é diferente com o bicudo-do-algodoeiro. A resistência a inseticidas é então definida como a habilidade herdada de um organismo de tolerar as doses de um agrotóxico que seriam letais para a maioria dos indivíduos da espécie (Croft et al, 1988), resultando, assim, em falhas de controle satisfatório. Casos de resistência e alta tolerância do bicudo-do-algodoeiro a piretroides como ciflutrina e cipermetrina, respectivamente, já foram registrados nos EUA (Kanga et al, 1995). No Brasil, baixa eficácia de piretroides era questionada por produtores e pesquisadores, sendo muitas vezes justificada por fatores como clima (chuvas, altas temperaturas durante as aplicações) ou logística de aplicação (época, dosagens etc). Essas justificativas foram aceitas até o primeiro relato técnico realizado pelo IMAmt, que apontou falha de controle de alguns piretroides em testes realizados em condições de campo (Soria et al, 2013). Após as primeiras observações de redução de eficiência dos piretroides, iniciaram-se os levantamentos toxicológicos realizados pelo IMAmt, e a partir de 2014, foi revelada a redução anual
Figura 2 - Mortalidade do bicudo-do-algodoeiro proveniente de três diferentes localidades do estado de Goiás (Montividiu 1 e 2, e Cristalina), após 72 horas de exposição a diferentes inseticidas utilizados no sistema algodoeiro. Safra 2018/2019. Observação: TMX = tiametoxam
Figura 3 - Redução da eficiência de quatro piretroides e um éter difenílico para o bicudo-do-algodoeiro, em função da safra de algodão. Populações dos estados de Mato Grosso e Goiás
*Referências citadas no texto poderão ser disponibilizadas via e-mail sob solicitação.
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Guilherme Rolim
mentais para a conservação das poucas opções de inseticidas, ainda, disponíveis. O uso adequado dos produtos irá contribuir para o manejo eficaz e supostamente o reestabelecimento da suscetibilidade, para os inseticidas que estão ocasionando baixa mortalidade, devido à sua seleção para a resistência.
CONSIDERAÇÕES
Insetos foram submetidos a diferentes doses e ingredientes ativos para controle do bicudo
da eficiência de alguns princípios ativos (Figura 1) (ver publicações: Circulares técnicas nº 27, nº 31, nº 39 e nº 44 disponíveis em: http://www. imamt.com.br/home/outraspublicacaos/). Os últimos levantamentos toxicológicos realizados pelo IMAmt, com populações do Mato Grosso, mostram que piretroides ou as misturas de dois piretroides apresentaram eficácia inferior a 50% (Figura 1). Além disso, estudos realizados pela equipe do Instituto Goiano de Agricultura (IGA), com populações de bicudo-do-algodoeiro de Goiás, também apontam redução gradual da mortalidade causada por alguns piretroides (Figuras 2 e 3). A redução da eficiência de piretroide pode estar relacionada ao uso constante, uma vez que diferentes ingredientes ativos com similar modo de ação são amplamente utilizados para controle do bicudo-do-algodoeiro e de outras pragas na cotonicultura, o que, por sua vez, pode contribuir para a seleção de populações da praga, capazes de tolerar as doses recomendadas destes inseticidas. Tal fato pode ter impactos diretos sobre o manejo de pragas na cultura, tanto pelo fato de serem de baixo custo, baixa toxicidade, largo espectro e participar de várias misturas recomendadas para o controle de diferentes pragas do algodoeiro. Isso poderá aumentar a pressão de seleção das populações do bicudo-do-algodoeiro a outros ingredientres ativos, uma vez que a redução do uso de piretroides
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irá contribuir para o uso mais frequente de grupos químicos que, ainda, permanecem eficentes (Rolim et al, 2019). Para os demais inseticidas amplamente utilizados para o controle do bicudo-do-algodoeiro, a eficiência tem sido satisfatória, especialmente para os organofosforados, carbamatos e fenilpirazois (Figuras 1 e 2). Esta eficácia é similar para insetos do Mato Grosso e de Goiás (Figuras 1 e 2), inclusive variando pouco entre as diferentes populações utilizadas nos experimentos em Goiás (2 de Montividiu, Goiás, e 1 de Cristalina, Goiás) (Figura 2). De acordo com os resultados e as observações em campo, é possível afirmar que com exceção dos piretroides, os demais inseticidas recomendados ainda oferecem controle satisfatório do bicudo-do-algodoeiro. No entanto, as falhas de supressão da população do bicudo-do-algodoeiro resultam em alta densidade populacional na fase final da cultura. Isso pode ser atribuído à não detecção correta da infestação na fase inicial da lavoura, à adoção de produtos de baixa eficiência bem como a erros no momento correto das aplicações seriadas. Desta forma, o monitoramento da suscetibilidade de populações e o uso racinal e rotacionado de ingredientes ativos com modos de ação distintos são funda-
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1) Dentre os inseticidas registrados para o controle do bicudo-do-algodoeiro, ingredientes ativos pertencentes a organofosforados, carbamatos, neonicotinoides (por exemplo tiametoxam) e fenilpirazois, são os mais indicados tanto pela eficácia oferecida, como por possuírem diferentes modos de ação. 2) A baixa eficiência de alguns piretroides pode estar relacionada com a seleção de populações resistentes, devido ao extenso uso na cultura do algodoeiro, bem como nos agroecossistemas do Cerrado, onde o bicudo pode estar presente em plantas tigueras. 3) O monitoramento anualmente da suscetibilidade das populações do bicudo-do-algodoeiro é essencial para subsidiar decisões dos produtores e assistência técnica na escolha dos inseticidas a serem utilizados. Ainda, fornecer dados para a recomendação de práticas de mitigação dos possíveis casos de resistência. 4) O bicudo-do-algodoeiro, por ser uma praga de difícil controle, demanda considerar todas as ferramentas disponíveis para o manejo, e não somente as aplicações de inseticidas químicos. Destruição das soqueiras de algodão após a colheita e controle efetivo das tigueras de algodoeiro na soja e/ou milho, bem como cumprir o período recomendado de vazio sanitário para a sua região, são ferramentas essenciais para a restrição do crescimento poC pulacional da praga. Guilherme Gomes Rolim, Instituto Mato-grossense do Algodão Eduardo Moreira Barros, Instituto Goiano de Agricultura Lucas Souza Arruda, Fundação Bahia Jorge Braz Torres, Universidade Federal Rural de Pernambuco Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão
Café
Quando controlar A
broca-do-café é uma praga de grande importância. Encontrada em todas as regiões brasileiras, afeta a produção e a qualidade do café. Seu ataque direto no fruto diminui o tipo e o valor comercial do produto. Passa pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto, apresenta ciclo de vida curto e grande capacidade de reprodução. Os danos são ocasionados quando a fêmea adulta perfura o fruto e oviposita em seu interior. Após a eclosão, as larvas se alimentam da semente, podendo ocasionar a queda dos frutos, a redução do peso dos grãos e a diminuição na qualidade da bebida. Além disso, pode ocorrer a entrada de micro-organismos no fruto, que produzem ocratoxinas e também impactam negativamente na qualidade da bebida. A broca possui uma bioecologia peculiar, em que a maior parte do ciclo de vida ocorre no interior do fruto. O seu ciclo de vida varia de 22 dias a 35 dias. Os ovos são brancos e medem (0,5mm a 0,8mm) e as larvas (0,72mm e 0,84mm). Não possuem pernas e apresentam coloração branca. As larvas se alimentam da semente, resultando na destruição parcial ou total dos frutos. Após quatro dias, o inseto se transforma em pupa no interior da semente. Esse período dura em média oito dias. O adulto é preto, de corpo cilíndrico e as fêmeas voam.
Flávio Lemes Fernandes
Praga agressiva, a broca-do-café exige grande esforço e atenção dos produtores no manejo. Um dos principais pontos a serem observados consiste em quantificar o índice de ataque, para determinar o melhor momento de começar o controle - de modo a evitar o uso de produtos de forma indiscriminada, sem conhecer a infestação
FATORES QUE AFETAM A POPULAÇÃO DA BROCA-DO-CAFÉ
Vários são os fatores que influenciam o desenvolvimento e a infestação dessa praga. É possível citar altas precipitações (>100mm) que reduzem a infestação, temperaturas elevadas que diminuem o ciclo de vida do inseto e aumentam o número de gerações, e poucas chuvas que ressecam os frutos e inibem a oviposição. Lavouras adensadas favorecem a população da broca, devido à baixa luminosidade e à alta umidade no microclima da planta. Somado a isso, frutos remanescentes nos cultivos de uma safra para outra elevam a taxa de sobrevivência desta praga. Outros fatores, como a presença de inimigos naturais, podem reduzir a população da broca-do-café, como os parasitoides vespa-de-uganda e vespa-costa-do-marfim, e os fungos parasitas (bovemax). Embora esses fatores possam
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Flávio Lemes Fernandes
A broca possui uma bioecologia peculiar, em que a maior parte do ciclo de vida ocorre no interior do fruto
afetar a broca, o monitoramento para efetuar o controle químico eficiente deve ser realizado.
MONITORAMENTO E CONTROLE
Há uma série de metodologias de monitoramento da broca, todas com o objetivo de quantificar o índice de ataque da praga, para, posteriormente, determinar o melhor momento de se iniciar o manejo químico, com aplicação de inseticidas, evitando o uso de produtos de forma indiscriminada, sem conhecer a infestação ocorrida. O monitoramento da broca pode ser realizado por meio da contagem de frutos ou utilizando armadilhas. O monitoramento contando frutos pode ser efetuado pela avaliação de 20 plantas/hectare, em “ziguezague”. Ao avaliar as plantas, deve-se coletar uma amostra de cem frutos/planta e realizar a contagem dos grãos brocados e não brocados. Outro método consiste em avaliar de 200 frutos a 500 frutos por talhão, em dez pontos diferentes; avaliar a roseta central do ramo e contar o número total de frutos e o número total de frutos perfurados na roseta; e fazer o cálculo da porcentagem de frutos perfurados. Já no monitoramento por armadilha, deve-se utilizar uma armadilha com cairomônio/hectare (etanol: metanol). Não se esquecer de dividir a área em talhões, e dividir a planta em três terços: superior, médio e inferior, observando-se os frutos. Preencher a planilha de controle de pragas e, então, realizar o cálculo de porcentagem de pragas presentes. O controle será necessário caso o percentual
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de frutos brocados exceda a 2%, para o método de contagem. Já para o método de amostragem por armadilha, será realizado caso seja verificada uma média de insetos adultos/armadilha superior a cem. Se nesta avaliação não atingir o índice do nível de controle, deve-se repeti-la após 15 dias. O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito” do inseto, de novembro a janeiro. Nessa época, as fêmeas adultas do inseto saem dos frutos remanescentes da safra anterior, perfuram frutos chumbões aquosos da nova safra, mas não colocam ovos, portanto não causam prejuízos. Este é o momento em que se deve fazer o controle da broca, pois matando a fêmea encerra-se o ciclo evolutivo do inseto, sem prejuízos, devido à ausência da larva que consome a semente. Portanto, registrar o momento da florada é de suma importância para se iniciar o monitoramento dos talhões
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e proceder as aplicações nos momentos corretos, sendo o fator-chave para o controle da praga no início do ataque. É muito importante monitorar os frutos secos nas plantas e verificar se ainda existem fases jovens dos insetos. A equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Campus de Rio Paranaíba, tem atuado para verificar o melhor momento de realizar o controle. O que se tem até agora é que frutos secos, com muitas larvas até meados de janeiro, significam aumento populacional da praga - e isso é sério. Assim, o controle deve ser realizado em função do fluxo de adultos voando. Para tanto, pode-se utilizar armadilhas. Foi verificado alto fluxo de broca nas armadilhas na floração e em frutos chumbinho. Assim, pode-se optar por inseticidas biológicos na florada, época de muitas chuvas que favorecem o fungo, e por produtos sintéticos após a florada (frutos chumbões). O uso de inseticidas é a principal estratégia utilizada. No entanto, não é preciso pulverizar toda a área, já que estudos de monitoramento têm demonstrado que apenas 30% dela atingem o nível de controle. Portanto, o correto é controlar a broca-do-café no talhão cuja infestação já atingiu entre 1% e 3% dos frutos, com fêmeas da broca adulta vivas no interior das galerias. Os melhores resultados são obtidos com as aplicações no início do ataque da praga, quando o inseto ainda se encontra caminhando na casca do fruto, ou na fase de picada
As larvas se alimentam da semente, resultando na destruição parcial ou total dos frutos
de prova (morte na entrada da galeria pela ação de contato). Como a praga fica dentro da galeria, o inseticida mata por ação de contato e por ingestão. Geralmente uma única pulverização tem sido suficiente para o controle da broca. Lavouras velhas e fechadas requerem maiores cuidados, pois em tais condições são mais suscetíveis ao ataque da broca, por oferecerem ambiente favorável ao inseto, como sombreamento, maior umidade, número de frutos remanescentes do ano anterior etc. Os inseticidas mais utilizados para o controle da broca do café são dos grupos químicos organofosforados, diamidas antranílicas e avermectinas, e os ingredientes ativos clorpirifós, cyantraniliprole e abamectina. A época mais indicada para realizar o controle é a de revoada/deslocamento do inseto, aproximadamente 90 dias após a florada principal. Em estudo para verificar o efeito do inseticida cyantraniliprole 100 OD no controle da broca, considerando a porcentagem de frutos broqueados aos 90 dias após a segunda aplicação, observou-se interação negativa e significativa entre a dosagem do produto e as porcentagens de frutos broqueados. Foi observado que o inseticida aplicado nas dosagens de 1,75L p.c./ha e 2,0L p.c./ha é eficiente no controle da broca-do-café, sendo estatisticamente igual ao padrão endosulfan
350 EC (produto retirado do mercado) em duas pulverizações com 30 dias de intervalo. Como alternativa ao uso de produtos químicos, ou em associação, bons resultados têm sido obtidos na captura massal de adultos com emprego de 30 armadilhas por hectare. Estudos apontam que uma armadilha pode capturar por semana entre 77 e 609 adultos. A armadilha de garrafa PET vermelha contendo compostos voláteis alcoólicos atrativos se mostrou bastante eficaz no controle massal da população da broca do café e reduziu a porcentagem de frutos broqueados em 57%. Porém, essa redução não é suficiente para manter as densidades da broca abaixo do nível de controle. Atualmente, a equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Campus de Rio Paranaíba, se dispõe a ajudar o cafeicultor a selecionar inseticidas e a trabalhar o manejo da cultura. Além disso, estuda novas alternativas de monitoramento e C controle desse inseto praga. Flávio Lemes Fernandes Brenda Karina Rodrigues da Silva Layane Ferreira Borges Guilherme Mateus Dias Barbosa Universidade Federal de Viçosa
Plantas daninhas
Vizinhança de Descoberta recente de picão-preto resistente a glifosato e a imazethapyr no Paraguai acende sinal de alerta no Brasil, uma vez que os dois países compartilham sistemas de produção semelhantes, com emprego de sucessão de soja RR e milho RR, aliado ao compartilhamento de maquinário agrícola em áreas próximas à fronteira
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esde a década de 1980, quando ainda se cultivava soja convencional no Brasil, o picão-preto tem apresentado resistência a herbicidas. Nesta época era comum o uso de inibidores da ALS em pós-emergência da soja para o controle de plantas daninhas, o que resultou, no início dos anos 1990, na constatação do primeiro caso de resistência de picão-preto a inibidores da ALS. O glifosato passou a ser o principal produto utilizado na cultura da soja após o início da comercialização de sementes com a tecnologia de tolerância a este herbicida (Soja RR). O problema do picão-preto resistente a inibidores da ALS deixou
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de ser preocupante, visto que a aplicação de glifosato apresentava elevado controle desta espécie, até então. Depois de mais de dez anos de adoção da tecnologia RR, as primeiras populações de picão-preto selecionadas como resistentes ao glifosato foram encontradas recentemente no Paraguai. Pelo menos em dois municípios já foram confirmadas populações com resistência (Figura 1).
TESTES PARA CONFIRMAÇÃO DA RESISTÊNCIA
Os pesquisadores do Núcleo de Estudos Avançados em
risco Ciência das Plantas Daninhas (NAPD/ UEM), da Embrapa Soja e da Farm Consultoria realizaram experimentos para confirmar o caso de resistência. Em casa de vegetação, doses crescentes de glifosato foram aplicadas nas populações suspeitas (R) e em uma população suscetível (S), quando as plantas se encontravam com três folhas. Aos 21 dias após a aplicação foi possível constatar que as doses normalmente eficientes para o controle de picão-preto (480g e.a./ha a 1.920g e.a./ha) não foram suficientes para controlar a população suspeita. Em contrapartida, 100% das plantas suscetíveis foram controladas (Figura 2). Baseado no fator de resistência FR (dose para 50% de controle da R / dose para 50% de controle da S), a população avaliada foi pelo menos 8,8
Figura 1 - Localização de populações de picão-preto (Bidens subalternans) resistentes ao glifosato no Paraguai
vezes mais resistente que a suscetível. O mesmo procedimento de avaliação de resistência foi realizado para imazethapyr, e assim como várias outras populações já identificadas por pesquisadores brasileiros, elevados FR foram encontrados (>58,7). Os experimentos foram conduzidos duas vezes (2018 e 2019) na geração F1 das plantas coletadas no campo.
A ESPÉCIE
Duas espécies de picão-preto são muito comuns em lavouras de grãos: Bidens pilosa e Bidens subalternans. Apesar da dificuldade para diferenciá-las, algumas características das plantas distinguem as duas espécies. As bordas do segundo par de folhas são diferentes nas duas espécies (Figura 3). Os ramos secundários apresentam dicotomia (inserção alternada no ramo principal) em B. subalternans no terço su-
Rafael Romero Mendes
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Figura 2 - Dose-resposta de glifosato (em g de equivalente ácido) em populações de picão-preto (Bidens subalternans) resistente (R) e suscetível (S) ao glifosato. População resistente proveniente de Santa Rosa del Monday (Paraguai)
Fotos Rafael Romero Mendes
É fundamental monitorar as áreas infestadas, principalmente aquelas com trânsito de maquinário agrícola em regiões de fronteira
Figura 3 - Diferenças entre Bidens subalternans (imagens à esquerda) e Bidens pilosa (imagens à direita)
perior das plantas, o que não ocorre em B. pilosa (Figura 3). A populações do Paraguai avaliadas foram identificadas como Bidens subalternans.
CONTROLE
Dentre os herbicidas recomendados para o controle de picão-preto, para os quais ainda não existem casos de resistência, estão os inibidores do fotossistema I (paraquat e diquat), inibidores da glutamina-sintetase (amônio-glufosinato), mimetizadores de auxina (2,4-D e dicamba), inibidores da Protox (lactofen, fomesafen) que podem ser aplicados em pós-emergência e inibidores da síntese de carotenoides (clomazone) e inibidores da Protox (flumioxazin) recomendados em pré-emergência. Inibidores do fotossistema II (atrazine e bentazon) podem ser eficientes, entretanto é necessário ter cautela com o uso destes herbicidas, pois já existem casos de resistência em áreas de produção de soja e milho no Brasil . Brasil e Paraguai compartilham sistemas de produção semelhantes. Atualmente, a sucessão soja RR e milho RR é a mais utilizada nestes países, o que leva a aplicações frequentes de glifosato, o que sugere que pode estar ocorrendo a seleção de populações resistentes em outros locais. Produtores do Paraguai também compartilham maquinário agrícola com áreas de produção brasileiras, e as sementes que transitam nos equipamentos podem estar sendo espalhadas para outras áreas. É fundamental monitorar as áreas infestadas, principalmente aquelas com trânsito de maquinário agrícola em regiões de fronteira. Medidas de prevenção de resistência e de controle alternativo também são importantes, tais como rotação de culturas, diversificação da escolha de mecanismos de ação de herbicidas, limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas, capinas e uso de culturas C de cobertura.
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C
Rafael Romero Mendes, Vanessa Francieli Vital Silva, Lucas Mateus Padovese e Rubem Silvério de Oliveira Jr., Universidade Estadual de Maringá Fernando Storniolo Adegas, Embrapa Soja
Arroz
Impacto nocivo Confundidos por vezes com outros sintomas, como os causados por deficiências nutricionais, ataque de pragas de solo, fitotoxidez de herbicidas ou até mesmo dano indireto por excesso de ferro no solo, nematoides-das-galhas são uma preocupação crescente nas lavouras de arroz irrigado, principalmente pelo potencial de afetarem a produtividade
A
produção mundial de arroz (Oryza sativa L.) atinge anualmente 700 milhões de toneladas. No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul se destaca como maior produtor, com mais de 70% da produção nacional deste cereal, ocupando uma área de 1,10 milhão de hectares para o cultivo do arroz irrigado. Diversos problemas de ordem fitossanitária apresentam capacidade para limitar o potencial produtivo da cultura. Dentre estes fatores, os nematoides parasitas de plantas destacam-se no cenário orizícola. Estes micro-organismos são especializados em infectar e prejudicar o crescimento do sistema radicular das plantas. Um dos principais grupos envolvidos neste processo é o de nematoides-das-galhas, considerado de maior importância econômica na agricultura mundialmente. Apesar da grande diversidade que compõe este grupo e das várias espécies que podem atacar o arroz irrigado, Meloidogyne graminicola é o de maior ocorrência e capaz de causar danos significativos à cultura nas diferentes partes do globo. Estimativas têm apontado que o impacto causado por esse nematoide em lavouras de arroz irrigado está na ordem de 10% a 80%. Os sintomas relacionados à infecção causada por Meloidgyne variam de acordo com a densidade populacional do nematoide, as práticas de manejo utilizadas nas lavouras e a resistência das plantas. No entanto, os sintomas geralmente começam pela formação de galhas nas pontas das raízes (comumente co-
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nhecidas como cabo de guarda-chuva), que prejudicam significativamente o desenvolvimento do sistema radicular, bem como o desenvolvimento da parte aérea das plantas. Esse processo interfere diretamente no fluxo de absorção e transporte de água/nutrientes pela planta, podendo refletir em sintomas na parte aérea como raquitismo, clorose, perda de vigor, retardo na maturação e redução no perfilhamento. Cabe salientar que esses sintomas normalmente são pouco expressivos devido à aplicação da adubação nitrogenada que acaba ocultando, ou até mesmo reduzindo, tais sintomas, permitindo que o problema aumente. Outro aspecto que também dificulta a observação dos sintomas a campo é o fato desses micro-organismos não serem visíveis a olho nu. Os principais sintomas iniciais da problemática ocorrem no sistema radicular das plantas, ambiente “subterrâneo” de difícil visualização. Todos os problemas de diagnose e identificação têm proporcionado condições favoráveis para o aumento do nematoide-das-galhas nas áreas produtoras de arroz. Tendo em vista o potencial biótico deste grupo de nematoide, e a alta capacidade de reprodução quando as condições ambientais são favoráveis, há preocupação com o possível aumento das populações nas lavouras de arroz irrigado. Outro ponto a se levantar é a questão da associação do nematoide-das-galhas com plantas daninhas, como capim-arroz (Echinochloa crusgalli), tiriricas (Cyperus difformis, Cyperus rotundus e Cyperus iria) e
Fotos Elevagro
Raiz com aspecto de cabo de guarda-chuva, sintoma característico do parasitismo de Meloidogyne graminicola
Plantas daninhas do gênero Cyperus spp. apresentando sintomas do parasitismo causado por Meloidogyne graminicola
cuminho (Fimbristylis miliacea). Tal combinação vem contribuindo para o aumento da densidade populacional no solo. Frente a essa situação, o Instituto Phytus tem realizado estudos em lavouras de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul ao longo dos últimos anos, a fim de determinar o possível impacto deste nematoide na produtividade da cultura. Alguns estudos foram conduzidos em municípios produtores de arroz da região nos anos de 2018/19, buscando entender melhor essa relação. Para isso, lavouras infestadas por Meloidogyne graminicola foram escolhidas para esse estudo durante a safra 2018/19. Foram realizadas diversas coletas de plantas nas manchas (plantas com leve amarelecimento e porte reduzido), e fora das manchas (plantas aparentemente normais), aos 30 dias depois da emergência e encaminhadas para o laboratório de nematologia para identificação e quantificação. Após as análises, foram demarcados os pontos de maior e menor infestação, e realizado o acompanhamento até a produtividade. Na produtividade, dentro de cada ponto de maior e menor infestação, foram colhidos aproximadamente 2m², distribuídos em vários pontos da lavoura, para obtenção da estimativa de produtividade dentro e fora das manchas contendo a presença do nematoide. De acordo com os resultados obtidos, foi observada redução na produtividade para os pontos com maior infestação em relação aos de menor infestação (Gráficos 1 e 2). Os resultados obtidos nas condições desse estudo mostraram a capacidade deste nematoide de interferir negativamente na produtividade, variando entre 415kg e 697kg, o que representa algo em média entre 8,3 sacas a 13,9 sacas em relação às áreas com maior e menor infestação (Gráficos 1 e 2). A ocorrência e/ou presença desse nematoide se dá em fun-
ção do monocultivo de arroz com cultivares suscetíveis ao longo de anos, devido à dificuldade de se fazer rotação de culturas com plantas não hospedeiras, o que contribui significativamente para o rápido crescimento populacional no solo. Outra possível causa relaciona-se ao desconhecimento e à falta de diagnóstico do problema por técnicos e produtores, onde os danos causados acabam não sendo vinculados à presença do nematoide e confundidos com outros eventos, como deficiências nutricionais, ataque de outras pragas de solo (Orizophagos oryza- bicheira-da-raiz), fitotoxidez causada por herbicidas ou até dano indireto por excesso de ferro no solo. Portanto, todos os problemas de diagnose e identificação têm proporcionado condições favoráveis para o crescimento do nematoide-das-galhas nas áreas produtoras de arroz. Tendo em vista o potencial biótico deste grupo e a alta capacidade de reprodução quando as condições ambientais são favoráveis, existe uma preocupação com o possível crescimento das populações nas lavouras de arroz irrigado. Apesar de os primeiros resultados buscarem mensurar o impacto desse nematoide na cultura do arroz irrigado, novos estudos deverão ser realizados nesta safra para confirmação dos dados obtidos, bem como alternativas de manejo que possibilitem auxiliar os produtores C na redução dos danos causados.
Paulo Sergio dos Santos e Cristiano Bellé, Instituto Phytus
Gráficos 1 e 2 - Número médio de juvenis e ovos de Meloidogyne graminicola por 5 gramas de raiz, aos 30 dias após a emergência e incrementos produtivos dentro e fora da mancha de nematoides
Potencial extremamente destrutivo da praga é uma das maiores preocupações
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Milho
Inimigo silencioso O cultivo sucessivo de milho no Brasil tem resultado no aumento das infestações da cigarrinha Dalbulus maidis, transmissora de doenças como enfezamentos vermelho e pálido, além da virose-da-risca. Por se tratar de praga severa, medidas de controle devem ser adotadas já a partir da constatação da presença de um número mínimo de indivíduos na lavoura
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produção de milho no Brasil é atualmente realizada em duas épocas de plantio: a primeira safra ou “safra de verão” e a segunda safra ou “safrinha”. Essa nova interface no sistema de produção com dois plantios anuais, que se intensificou e tornou mais comum no início da década de 1990, trouxe mais desafios para os produtores de milho quanto ao manejo de insetos-praga. Um dos problemas fitossanitários que têm sido agravados devido ao cultivo sucessivo do milho é o aumento nas infestações de Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae), mais conhecida como cigarrinha-do-milho. Além das injúrias diretas causadas pela sucção de nutrientes da seiva das plantas, a cigarrinha-do-milho é considerada um dos principais insetos vetores de doenças da cultura. As três doenças que são transmitidas pela praga são conhecidas como “enfezamento-vermelho’’, “enfezamento-pálido” e “virose-da-risca”, cujos sintomas são observados nas plantas de milho somente mais ao final da safra, após o florescimento e durante o enchimento dos grãos das espigas. Historicamente, os prejuízos causados por essas doenças têm sido observados principalmente em áreas de cultivo de milho de segunda safra ou “milho safrinha”. Os enfezamentos de maneira conjunta (vermelho e pálido) podem reduzir em até 70% a produção de grãos das plantas
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doentes em relação às plantas sadias, em material de milho suscetível. A redução total da produção de uma área cultivada é diretamente proporcional à incidência de plantas com enfezamentos (Sabato et al., 2013; Oliveira et al., 2013). Desse modo, há um decréscimo na produção de sacas de milho a cada safra plantada, o que reforça a necessidade de mais estudos que busquem desenvolver estratégias eficientes de manejo desse inseto-praga, bem como das doenças transmitidas nas principais regiões produtoras de milho no país.
CIGARRINHA-DO-MILHO
A cigarrinha-do-milho é um inseto diminuto que apresenta na fase adulta coloração amarelo-palha, com duas manchas negras circulares bem marcadas na região da cabeça, entre os olhos. Essas características morfológicas permitem a identificação da cigarrinha nas plantas de milho em campo, que tem preferência pela região do cartucho. Seus ovos são colocados endofiticamente, isto é,
Avermelhamento foliar em plantas infectadas com enfezamento-pálido
O culltivo sucessivo do milho tem resultado no aumento das infestações de Dalbulus maidis
dentro dos tecidos foliares. Indivíduos imaturos e adultos de D. maidis estão presentes o ano todo em diversas áreas de produção de milho no Brasil. Isso se deve à grande capacidade de aumento e dispersão de suas populações em regiões produtoras, infectando facilmente lavouras em formação (Oliveira; Lopes; Nault, 2013). A cigarrinha-do-milho causa perdas econômicas pela sucção da seiva da planta e, principalmente, pela transmissão de doenças. Estas, por ocorrerem mais no final do ciclo da cultura, comprometem o enchimento de grãos das espigas. Isso ocorre em função de D. maidis apresentar eficiência de transmissão dos patógenos próxima a 100% (Oliveira et al., 2011) e possuir grande capacidade de colonização e dispersão. O efeito combinado da alimentação da cigarrinha (sucção de nutrientes do floema) e da transmissão das doenças resulta em perdas substanciais tanto de
rendimento quanto de qualidade. Assim, a presença dessa praga e das doenças transmitidas é uma das maiores preocupações que o produtor de milho pode ter atualmente no que diz respeito aos problemas fitossanitários da cultura.
ENFEZAMENTO-VERMELHO
A doença conhecida popularmente como enfezamento-vermelho é causada por um micro-organismo da classe dos Mollicutes, Phytoplasma (“maize bushy stunt phytoplasma”), que é uma classe de bactérias sem parede celular. O enfezamento-vermelho recebe esse nome justamente pela presença de sintomas de avermelhamento generalizado das plantas, proliferação de espigas (multiespigamento), redução da altura das plantas e, dependendo do híbrido ou cultivar, perfilhamento nas axilas foliares ou na base das plantas.
ENFEZAMENTO-PÁLIDO
O agente causal do enfezamento-pálido é do mesmo grupo (Mollicutes) do enfezamenNononononononononononono to-vermelho, denominado de Spiroplasma
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A virose-da-risca, também conhecida por "rayado fino", caracteriza-se por pequenos pontos cloróticos nas folhas, os quais podem coalescer
kunkelii (“corn stunt spiroplasma”). Os sintomas do enfezamento-pálido observados em campo são caracterizados pela presença de faixas cloróticas ou esbranquiçadas nas folhas que se estendem da base em direção ao ápice, e acentuada redução na altura das plantas e no tamanho das espigas. Apesar desses sintomas característicos, existem relatos de proliferação de espigas e de algum avermelhamento foliar em plantas infectadas com enfezamento-pálido.
VIROSE-DA-RISCA
A virose-da-risca é uma doença causada pelo agente etiológico Maize rayado fino virus, um vírus que é transmitido pela cigarrinha de forma persistente-circulativa. A virose-da-risca, também conhecida por “rayado fino”, caracteriza-se pelos sintomas de pequenos pontos cloróticos nas folhas, os quais podem coalescer, adquirindo o aspecto de linhas pontilhadas e tracejadas paralelas às nervuras das folhas, assemelhando-se a riscas finas. Esses sintomas são mais característicos nas folhas de plantas de milho em estádios iniciais, mas podem ocorrer também emfolhas mais velhas (Coelho, 2013). A redução da produção de grãos de
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milho em função da ocorrência dessa virose pode variar de 10% a 100%, dependendo do ambiente, estádio de desenvolvimento em que a planta foi infectada e características genéticas da planta hospedeira (híbrido ou cultivar) (Zambrano et al., 2014; Gámez, 2018). Há casos de perdas de 43% na produção de milho em alguns países da América Central (De Leon, 2004).
MANEJO INTEGRADO DA CIGARRINHA-DO-MILHO
Pelo fato de a cigarrinha D. maidis possuir estratégias de sobrevivência durante a entressafra do milho, o produtor terá de utilizar práticas para evitar a dispersão da praga e das doenças que transmite; isso porque populações de cigarrinhas abandonam campos senescentes de milho e, por meio de voos migratórios a longas distâncias, buscam novas áreas de plantio. Em áreas onde o milho é cultivado sob irrigação ao longo do ano, pode haver resquícios de plantas espontâneas de milho (tigueras) que podem ser utilizadas como hospedeiras pelas populações de cigarrinhas remanescentes, contribuindo para que permaneçam na área e colonizem a próxima safra de milho. Esse
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cenário pode se agravar nas lavouras que utilizam híbridos de milho geneticamente modificados, que toleram aplicações de herbicidas. É importante mencionar que a espécie D. maidis tem a planta de milho como um dos seus poucos hospedeiros, não sendo capaz de infestar outras culturas que são comumente cultivadas em rotação ou em sucessão ao milho, como o feijão e a soja. Desse modo, a disseminação das cigarrinhas e sua permanência em campos de milho são fatores muito importantes e que devem ser levados em consideração no manejo integrado da praga. Em áreas onde são cultivadas duas safras anuais de milho, as estratégias do produtor devem ser a eliminação de plantas voluntárias de milho durante a entressafra, para evitar a sobrevivência das populações de D. maidis; a identificação, remoção e destruição (“roguing”) de plantas doentes, para evitar a disseminação dos agentes causais (Mollicutes e vírus); evitar o escalonamento durante a janela de plantio; e no caso de áreas com histórico de altas infestações, é recomendado realizar o pousio durante pelo menos uma das safras anuais. O emprego desses métodos culturais deve ser complementado com aplicações de inseticidas sistêmicos, principalmente na fase inicial do cultivo, quando as plantas de milho são mais suscetíveis aos enfezamentos. Em áreas irrigadas também são recomendadas aplicações de inseticidas ao final de cada ciclo do milho, a fim de controlar cigarrinhas migrantes e impedir a disseminação das doenças em lavouras adjacentes. Outra opção de controle químico reside no tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, que irá proteger as plantas no início do desenvolvimento. Por se tratar de um inseto vetor de doenças, considerada então uma praga severa, não há um nível de controle específico, sendo a tomada de decisão para seu controle determinada a partir da constatação da presença de um número mínimo de indivíduos na lavoura. Essa prática é recomendada pelo fato de os danos indiretos causados pelas doenças
transmitidas não serem proporcionais ao tamanho da população de cigarrinhas, o que limita muito as opções de controle disponíveis. Atualmente, existem 23 produtos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de D. maidis em milho; desses, 18 são inseticidas químicos e cinco são biológicos à base do fungo Beauveria bassiana (Tabela 1). Diversas cultivares/híbridos de milho com resistência aos enfezamentos estão disponíveis no mercado. No entanto, se esses materiais resistentes às doenças não forem associados com o uso dos métodos culturais e químicos, sempre haverá a possibilidade da ocorrência de surtos epidêmicos, uma vez que as interações entre patógenos e plantas hospedeiras são muito dinâmicas, com possibilidade de variantes genéticas dos agentes causais das doenças. Portanto, é fundamental que esses híbridos/cultivares sejam rotacionados ou utilizados mais de um material genético na lavoura, a fim de diminuir a pressão de seleção sobre os patógenos e evitar sua adaptação e quebra da resistência. Por outro lado, ainda não existem materiais genéticos de milho que sejam diretamente resistentes ao vetor das doenças, ou seja, à cigarrinha-do-milho. Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia que se baseia no planejamento, monitoramento e uso estratégico de táticas de controle de pragas para manter suas populações abaixo de níveis que causem danos à produtividade e à qualidade de produtos agrícolas, cuja tomada de decisão leva em conta análises de custo/ benefício baseadas em princípios econômicos, ecológicos, toxicológicos e sociais. A partir deste conceito e do que foi apresentado, nota-se que para obter eficiência no manejo da cigarrinha-do-milho são fundamentais a conscientização sobre tais preceitos por parte dos produtores e a adoção integrada e estratégica das táticas
de controle disponíveis (métodos culturais, resistência de plantas e controle químico), levando-se em consideração não apenas os aspectos econômicos e os efeitos em curto prazo. Algumas pesquisas têm sido atualmente conduzidas no Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras (Ufla) a fim de se obter maior conhecimento sobre a praga e seus efeitos na cultura do milho, bem como desenvolver estratégias eficientes no manejo da cigarrinha-do-milho. Um dos trabalhos realizados em campo utiliza tecnologias transgênicas de milho que são voltadas para o manejo da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, e avalia se essas tecnologias, quando expressam proteínas transgênicas em homozigose e hemizigose, podem interferir nas populações de D. maidis e na incidência de doenças. Outro trabalho que tem sido realizado em condições de campo, casa de vegetação e laboratório é a avaliação de variedades crioulas de milho à infestação da cigarrinha, que são materiais que apresentam ampla variabilidade genética, com grande potencial de se encontrar genes de resistência ao inseto-vetor. Por fim, outro estudo avaliará o uso de indutor de resistência e bioestimulante associado ou não com tratamento de sementes na infestação da cigarrinha, ocorrência das doenças transmitidas e os efeitos na produtividade de milho em campo. Espera-se com essas pesquisas gerar informações importantes que possam auxiliar os produtores no manejo integrado C da cigarrinha-do-milho.
Larah Martins Freitas e Bruno Henrique Sardinha de Souza, Universidade Federal de Lavras (Ufla)
Tabela 1 Produto Adage 350 FS Adage 700 WS Beauveria JCO Bouveriz WP Biocontrol Bovebio Connect Cropstar Cruiser Opti Cruiser 350 FS Cruiser 600 FS Cruiser 700 WS ECOBASS Gaucho FS Granada Imidacloprid Nortox Inside FS Much 600 FS Picus Poncho Saluzi 600 FS Siber Sombrero Talisman
Ingrediente ativo (grupo químico) Tiametoxam (neonicotinoide) Tiametoxam (neonicotinoide) Beauveria bassiana (produto microbiológico) Beauveria bassiana (produto microbiológico) Beauveria bassiana (produto microbiológico) Beta-ciflutrina (piretroide) + imidacloprido (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) + tiodicarbe (metilcarbamato de oxima) Lambda-cialotrina (piretroide) + tiametoxam (neonicotinoide) Tiametoxam (neonicotinoide) Tiametoxam (neonicotinoide) Tiametoxam (neonicotinoide) Beauveria bassiana (produto microbiológico) Imidacloprido (neonicotinoide) Beauveria bassiana (produto microbiológico) Imidacloprido (neonicotinoide) Clotianidina (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) Clotianidina (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) Imidacloprido (neonicotinoide) Bifentrina (piretroide) + carbosulfano (metilcarbamato de benzofuranila)
Formulação FS - Suspensão Concentrada p/Trat. Sementes DS - Pó para Tratamento a Seco de Sementes WP - Pó Molhável WP - Pó Molhável WP - Pó Molhável SC - Suspensão Concentrada SC - Suspensão Concentrada / FS - Suspensão Concentrada p/Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/Trat. Sementes WS - Pó para Preparação de Pasta em Água WP - Pó Molhável FS - Suspensão Concentrada p/Trat. Sementes WP - Pó Molhável SC - Suspensão Concentrada FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes FS - Suspensão Concentrada p/ Trat. Sementes EC - Concentrado Emulsionável
Classe IV III IV IV IV ll ll I III IV II IV III IV II III III III III III III III II
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Soja
Voluntário nocivo O sucesso do estabelecimento de cultivos de importância agronômica depende do correto manejo de plantas daninhas, de modo a permitir que a cultura se desenvolva no limpo, sem competição por água, luz e nutrientes. Dentre estes desafios, encontra-se o milho tiguera tolerante a glifosato, fonte de preocupação aos produtores de soja no Brasil
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A
-se perdas superiores a 25% na produtividade da cultura da soja em lavouras infestadas com cinco plantas de milho/ m2 a seis plantas de milho/m2. Sendo assim, nos sistemas agrícolas onde o milho tolerante ao herbicida glifosato se comporta como planta daninha na cultura da soja, torna-se necessário o uso de técnicas de controle alternativas a este herbicida.
CONTROLE DE MILHO TIGUERA
O controle de milho tiguera, com tolerância ao herbicida glifosato, pode ser realizado tanto na dessecação como em pós-emergência da cultura da soja. No entanto, em ambos os casos, o manejo principal é realizado com a utilização de herbicidas inibidores da ACCase, conhecidos como graminicidas. Dentre os graminicidas, os ingredientes ativos que possuem registro para uso em soja e têm sido amplamente utilizados no controle de folhas estreitas, são o haloxifope-P-metílico, o fluazifope-P-butírico, o quizalofope-P-tefurílico, o cletodim e o setoxidim. Apesar de pertencerem ao mesmo mecanismo de ação e apresentarem semelhança no espectro de controle e eficácia, são quimicamente distintos, diferindo principalmente em relação à velocidade de translocação. Os inibidores da ACCase são seletivos para folhas largas, sistêmicos, absorvidos
pelas folhas e translocados por duas vias, xilema e floema. São divididos em grupos químicos, sendo os ariloxifenixipropionatos (FOPs) e as ciclohexanodionas (DIMs) os que possuem registro para a cultura da soja no Brasil. Enquanto os FOPs translocam preferencialmente via floema, os DIMs translocam via xilema e floema, devido a sua maior solubilidade em água, justificando a maior velocidade na translocação dos ingredientes ativos deste grupo químico. Esses herbicidas atuam inibindo a enzima ACCase, resultando na incapacidade das plantas de formar e manter as membranas celulares, desencadeando morte das espécies sensíveis. Os sintomas desses herbicidas são característicos, ocasionando arroxeamento das folhas mais velhas, facilmente perceptíveis após a aplicação. Sua atividade concentra-se nos pontos de crescimento das plantas, logo, percebe-se a paralisação no crescimento e a morte da gema apical, sendo a folha mais jovem facilmente removida. Em plantas sensíveis, os primeiros sintomas podem ser observados entre cinco dias e dez dias após aplicação, e a morte das plantas ocorre aproximadamente aos 21 dias depois do início do procedimento. A eficácia de controle dos graminicidas está relacionada com o estádio fenológico da planta de milho tiguera a ser controlada. Quando as plantas estão com até seis folhas, estádio conhecido
Fotos Camila Ferreira de Pinho
introdução no Brasil de novas tecnologias para o sistema de produção de milho conferiu muitos avanços, com destaque à utilização de híbridos geneticamente modificados, como os com tolerância ao herbicida glifosato, tecnologia denominada RR (Roundup Ready). O glifosato é um dos herbicidas mais usados no mundo, sendo sistêmico, não seletivo, com amplo espectro de ação e alta eficiência no controle de plantas daninhas, o que proporcionou rápida e ampla disseminação da tecnologia de milho RR no país. No Brasil, destaca-se o sistema de sucessão soja-milho, que ocupa a maior área de cultivo. Neste sistema de produção, é comum a presença de grãos e fragmentos de espigas de milho perdidos durante a operaçãode colheita que podem germinar, dando origem às plantas voluntárias, conhecidas também como milho tiguera ou plantas guaxas. Plantas de milho tiguera podem causar danos diretos ou indiretos à cultura da soja, acarretando em perda na produção de grãos. Existem diversos fatores que influenciam no grau de competição entre a cultura e as plantas daninhas, dentre eles, a eficiência no uso da água. Geralmente, plantas com metabolismo fotossintético C4, como é o caso do milho tiguera, são mais eficientes e competitivas em relação ao uso da água, quando comparadas com plantas C3, como é o caso da soja. Estima-
Milho tiguera RR presente em lavoura de soja, competindo por água, luz e nutrientes
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Fotos Camila Ferreira de Pinho
Testemunha + Cletodim 0,45L/ha, com déficit hídrico; Testemunha + Cletodim 0,45L/ha sem déficit hídrico; Testemunha + Haloxifope 0,5L/ha com déficit hídrico e Testemunha + Haloxifope 0,5L/ha, sem déficit hídrico
como V6, tanto os FOPs quanto os DIMs irão apresentar eficiência no controle. Em plantas com entre seis folhas e dez folhas, o controle ainda poderá ser satisfatório, porém reduzido. Em plantas com estádio mais avançado, o controle será mais lento, sendo na maioria das vezes ineficaz. Entretanto, pesquisas identificaram que os herbicidas FOPs têm um melhor desempenho no controle de plantas tigueras em estádios mais avançados de desenvolvimento, em comparação aos DIMs. Cuidados com a tecnologia de aplicação também devem ser levados em consideração, principalmente em relação às condições edafoclimáticas. As aplicações devem ocorrer com umidade relativa acima de 50% e temperatura do ar menor que 30°C. Deve-se também fazer uso de adjuvantes recomendados pelas empresas fabricantes dos herbicidas, para que os graminicidas apresentem uma boa eficácia no campo. No entanto, além de todos os fatores mencionados, a disponibilidade de água no solo pode influenciar no desempenho da molécula do herbicida. São comuns situações de déficit hídrico, ocasionadas pela falta de chu-
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vas, principalmente coincidindo com dessecação pré-plantio da soja.
DÉFICIT HÍDRICO
Sabe-se que a eficiência dos herbicidas pode ser reduzida pela menor disponibilidade de água no solo, devido à baixa absorção e à translocação do produto nas plantas, que estão relacionadas com fatores como orientação verticalizada ou enrolamento das folhas, espessamento da cutícula e fechamento estomático. A orientação verticalizada ou enrolamento das folhas prejudica a deposição do herbicida, em virtude da menor área foliar disponível. Sendo assim, a penetração das moléculas é fortemente afetada devido à menor concentração de herbicida disponível para ser absorvido pelas plantas. Após a deposição do herbicida sobre a folha, estas moléculas precisam ser absorvidas pelas plantas, sendo necessária a passagem pela cutícula presente nas folhas ou através do poro estomático. Em plantas sob déficit hídrico, o espessamento da cutícula é uma característica comum, fato que reduz significativamente a absorção de herbicidas aplicados via foliar, devido a uma barreira maior para entrada das
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moléculas nas folhas. Após a absorção dos herbicidas, começa o processo de translocação das moléculas até o sítio-alvo (no caso dos herbicidas graminicidas, o ponto de crescimento das plantas), podendo esta ocorrer através do xilema ou floema. Em plantas sob déficit hídrico, normalmente ocorre o fechamento estomático, ocasionando menor evapotranspiração e, consequentemente, reduzindo a translocação dos herbicidas via floema e xilema (fortemente prejudicada). A condição de longos períodos de seca ou veranicos provoca alterações no comportamento da planta, cuja irreversibilidade dependerá da duração do déficit hídrico e da sua fase fenológica. Desta forma, o controle de milho tiguera em estádios fenológicos avançados e em condições de déficit hídrico dificulta o manejo desta espécie através do uso de herbicidas.
ENSAIO DESENVOLVIDO
Com o objetivo de avaliar a eficácia dos herbicidas graminicidas no controle de milho tiguera tolerante ao herbicida glifosato sob condição de déficit hídrico, um ensaio foi conduzido pelo grupo de pesquisa em Plantas Daninhas e Pestici-
das no Ambiente - PDPA/UFRRJ. Os tratamentos avaliados no ensaio estão dispostos na Tabela 1. O ensaio foi dividido em duas condições, com e sem déficit hídrico. O déficit foi simulado antes e após a aplicação dos herbicidas, sendo a primeira parte do déficit realizada quando as plantas alcançaram o estágio fenológico V7, considerado de difícil controle. As plantas com déficit hídrico foram separadas das com irrigação, não recebendo água durante cinco dias. No momento da aplicação, as plantas sob déficit encontravam-se “encharutadas”. Após aplicação, a irrigação das plantas com déficit hídrico ocorreu um dia depois da aplicação de forma intercalada, sendo um dia com disponibilidade hídrica e dois dias de déficit hídrico, sendo conduzido dessa forma até o fim do ensaio. As plantas que não foram submetidas ao déficit hídrico foram irrigadas normalmente durante toda a condução do experimento. As plantas sem déficit hídrico apresentaram controle superior, quando comparadas às plantas sob déficit. Entretanto, em condições de seca, foi observada diferença significativa de controle entre os herbicidas avaliados, sendo o herbicida haloxifope mais eficiente, quando comparado ao herbicida cletodim. Como os dois herbicidas são translocados de forma diferente nas plantas, a seca interfere na eficácia dos produtos de forma distinta. O cletodim, por ter alta solubilidade em água, tem sua translocação favorecida pelo xilema (em conjunto com o floema), sendo esta fortemente afetada em condições de seca. Sendo assim, a eficiência do herbicida cletodim é prejudicada de forma significativa para controle de milho tiguera, em comparação ao haloxifope que possui translocação quase que exclusivamente via floema. Desta forma, os resultados deste ensaio sugerem que, no sistema soja-milho, o herbicida haloxifope apresenta eficácia superior, sendo indicado para o controle de C milho tiguera em condições de seca.
Tabela 1 - Tratamentos utilizados para o controle de milho tiguera em condições de disponibilidade e déficit hídrico. Seropédica, 2018 Tratamento Testemunha Haloxifope Cletodim Glifosato Haloxifope+Glifosato Cletodim+Glifosato
Doses do produto comercial Doses em g de ingrediente ativo/ha ----------------0,5L pc/ha 63,35 g ia/ha 0,45L pc/ha 84 g ia/ha 6,0L pc/ha 2880 g ia/ha 0,5 + 6,0L pc/ha 63,35 +2880 g ia/ha 0,45L+ 6,0L pc/ha 84 + 2880 g ia/ha
Plantas de milho tiguera em estágio V7 na cultura da soja RR
Camila Ferreira de Pinho, Ana Cláudia Langaro, Rúbia Moura Carneiro, Larissa Brasil de Souza Cavalheiro, Gabriela de Souza da Silva, Monara Abreu Mendes e Felipe Sant’Ana Marinho, Grupo de Pesquisa Plantas Daninhas e Pesticidas no Ambiente - UFRRJ
Cana
Monitoramento preciso
Apesar de se tratar de praga bastante conhecida, o mínimo descuido com a broca-da-cana pode levar a altas infestações, que consequentemente resultarão em um controle mais difícil e caro
O
canavial não sofre o ataque de muitas pragas como ocorre com outras culturas, mas quem trabalha com cana-de-açúcar sabe bem como que essas poucas dão trabalho. Dentre as existentes, a broca-da-cana (Diatraea spp.) é considerada praga-chave, pois exige monitoramento e controle constantes. No Brasil, existem 15 espécies de Diatraea, mas apenas duas atacam a cana-de-açúcar. A D. saccharalis predomina na maior parte do Brasil e a D. impersonatella (=D. flavipennella) é mais importante no Nordeste, em especial em Alagoas. Entretanto, esta última parece estar ampliando suas fronteiras e exige que o agricultor saiba identificá-la. As lagartas de D. saccharalis são um pouco menores e têm a cabeça mais escura que a das lagartas de D. impersonatella. Os adultos de D. saccharalis são de coloração palha, enquanto os de D. impersonatella são esbranquiçados. A broca-da-cana é responsável por perdas consideráveis na cana-de-açúcar, pois para cada 1% de índice de intensidade de infestação perde-se 1,14% na produção, 0,42% em açúcar e 0,21% em etanol. Com o valor pago pela tonelada de cana atualmente, cada 1% de infestação corresponde a aproximadamente R$ 850,00 que se perde por hectare com esta praga. Isso justifica os gastos com o controle da broca-da-cana e leva as usinas a almejarem baixas infestações médias, inferiores a 1%. Para obter sucesso no controle, é preciso ser muito preciso no monitoramento da broca-da-cana. A estratégia atual de acompanhamento da população da
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Fotos Negri/Alexandre S. Pinto
praga é a que usa armadilhas de fêmeas virgens para a captura de machos. É empregada uma armadilha contendo uma gaiola interna com três pupas a quatro pupas de fêmeas a cada 50 hectares, priorizando a instalação nas periferias das áreas (grupo de talhões, setor). Quando 30% das armadilhas de um setor coletarem mais que seis machos em três dias ou dez machos em uma semana (nível de controle- NC), deve-se realizar o controle em área total. O “time” de aplicação (período de pulverização após identificação de ocorrência da praga) deve ser rigorosamente obedecido, para não se perder o controle. Cada tática tem seu “time” de aplicação, como indicado na Tabela destacada. Nos últimos anos, a broca-da-cana tem exigido mais atenção das equipes de campo e o controle tem sido mais frequente. São vários os fatores que têm aumentado as infestações da praga, como ampliação das áreas com aplicação de vinhaça e outros compostos orgânicos; aumento das áreas irrigadas; manejo precário de plantas daninhas nas beiras de carreadores e a impossibilidade deste manejo nas entradas de matas; aumento do uso de inseticidas (por exemplo, pirazois) que diminuem as populações de formigas predadoras, importantes controladoras da broca-da-cana; falta de manejo da praga em canavial que espera a colheita por mais de dois meses; existência de faixas de canavial sem controle próximas às matas, especialmente quando se aplica inseticidas com aviões; e erro em considerar longos períodos residuais de inseticidas químicos, quando na realidade são bem menores que o esperado. Existe um movimento crescente de associação de inseticidas químicos com produtos biológicos, priorizando o uso destes últimos, para o manejo da broca-da-cana. Esta estratégia é conhecida como manejo biológico e exige compatibilidade entre os produtos a serem utilizados. Nessa nova tendência, o controle da broca utilizando a microvespa Trichogramma galloi é priorizado. São realizadas sempre séries de três liberações, uma em cada semana, de 50 mil microvespas por hectare, independentemente do nível de infestação. A liberação pode ser realizada em qualquer horário do dia, evitando a exposição do recipiente
Lagartas de Diatraea saccharalis e D. impersonatella
Adultos de Diatraea saccharalis e D. impersonatella
Wenderson Araújo/Sistema CNA
Armadilha de fêmeas virgens (esquerda) instalada em canavial para a captura de machos (direita) e contagem
contendo o inseto ao sol ou a altas temperaturas. A liberação das microvespas pode ser realizada manualmente, onde os adultos confinados em cápsulas deverão ser colocados por entre as folhas das plantas a cada 20m. Entretanto, o mais comum é a liberação mecanizada via aviões ou drones. Neste caso, o Trichogramma é liberado na forma pupal, protegido ou não por cápsulas. Na atualidade, tem-se optado pela liberação das pupas desprotegidas e espalhadas pelo canavial, acoplando-se nos aviões ou drones aparelhos distribuidores deste material. Esta técnica garante resultados melhores que a liberação manual de adultos e igual àquela em cápsulas, com baixa predação em solo, sendo mais barata e tão eficaz quanto a maioria dos inseticidas. A liberação com drones é mais barata e precisa que a liberação com
aviões e em 2018 já foi responsável por 60% de toda aplicação do produto em canaviais. Após as três aplicações de Trichogramma, uma nova armadilha de monitoramento deverá ser instalada apenas 60 dias depois da primeira liberação, sendo este o período residual da microvespa. Quando comparado com outros produtos, os inseticidas clorantraniliprole, clorantraniliprole + lambda-cialotrina, flubendiamida e metoxifenozida + espinetoram mostram um residual de 35 dias a 45 dias, e os inseticidas fisiológicos, entre 15 dias e 25 dias (com exceção de deflubenzurom, que pode ultrapassar os 30 dias). A vespinha Cotesia flavipes tem sido utilizada para a manutenção da população da praga em níveis baixos e para o controle da broca-da-cana nas bordaduras de canaviais que esperam a colheita ou de cana bisada. A liberação desta vespinha pode ser realizada também em qualquer horário do dia, com os mesmos cuidados discutidos para o Tricho-
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Esquema de instalação de armadilhas em um setor (conjunto de talhões) (esquerda) e levantamento das armadilhas indicando controle em todo o setor (direita)
Fêmea de Trichogramma galloi parasitando ovos da broca-da-cana (à esquerda) e ovos da broca parasitados (enegrecidos) (à direita)
gramma, e normalmente é realizada de forma manual. Respeitando uma distância de 50m entre linhas, a cada 25m na linha é aberto um copinho contendo 15 massas ou 750 vespinhas, mas sempre liberando o conteúdo de um copinho nas entradas e saídas do canavial (bordaduras). A liberação de Cotesia também está sendo realizada via drone, com os adultos protegidos por cápsulas. Mas, em breve, será lançado um drone para a liberação de massas de Cotesia sem cápsulas de proteção e tratadas com misturas de repelentes para predadores, que deverá ser ainda mais rápido que os atuais. Quando o agricultor prefere a associação de inseticidas químicos com produtos biológicos, normalmente opta-se pela aplicação de inseticidas de longo residual no período chuvoso e a liberação de Trichogramma nos demais períodos. Tem-se, ainda, realizado aplicações de inseticidas fisiológicos, de curto período residual, no outono. Mas quando o manejo da broca-da-cana é realizado somente de forma química, nas áreas-problema (variedades suscetíveis, onde se aplica vinhaça, áreas irrigadas, muito recortadas por matas etc) serão necessárias pelo menos duas aplicações de inseticidas de longo período residual, com rotação de grupos químicos, e uma ou duas de um inseticida fisiológico. A recomendação de rotação fica entre clorantraniliprole e flubendiamida, pois apesar de serem diamidas têm atuações diferentes no inseto. Entretanto, quando metoxifenozida + espinetoram entrar no mercado, será uma boa opção para rotação também.
Apesar de alguns agricultores optarem pelo manejo exclusivamente químico da broca, pelo menos a vespinha Cotesia deverá ser incluída dentre as estratégias, ao menos nas bordaduras dos canaviais que esperam a colheita, em áreas com falha de aplicação do inseticida por serem muito recortadas por matas e entre o canavial e matas ou áreas de vizinhos. Neste caso, libera-se um copinho a cada 50m ao redor do talhão, podendo entrar até 2m dentro da área. Vale ressaltar que o Trichogramma também pode ser usado nos ambientes destacados. O manejo da broca-da-cana tem superado desafios difíceis na atualidade. Mas com esses desafios o agricultor tem aprendido a usar os produtos biológicos disponíveis no mercado e a associar com os inseticidas. Mais uma vez a cana-de-açúcar se torna um exemplo de manejo sustentável e econômico para as demais culC turas do Brasil e para o mundo. Alexandre de Sene Pinto, Centro Universitário Moura Lacerda Esalq/USP FGV
Período para tomada de decisão para diferentes táticas de controle da broca-da-cana, a partir de monitoramento de machos com armadilhas de fêmeas virgens Tática de controle Período para controle (dias) após atingir NC1 Inseticidas químicos Clorantraniliprole |clorantraniliprole + lambda-cialotrina | 0-15 flubendiamida|metoxifenozida + espinetoram Diflubenzurom 5-15 Triflumurom e demais “fisiológicos” 10-15 Produtos biológicos Trichogrammagalloi 5-10 Cotesiaflavipes 21 (primavera-verão)| 30 (outono-inverno) Beauveriabassiana|Bacillus thuringiensisvar. Kurstaki 10-15 1 NC = nível de controle (seis machos/armadilha/três dias ou dez machos/armadilha/semana)
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Pinto alerta para o risco de altas infestações da broca-da-cana