Cultivar 308

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A cultura da soja, uma das mais relevantes no cenário agrícola nacional, enfrenta desafios significativos causados por Diaporthe spp. O avanço das técnicas de identificação molecular revelou que as doenças causadas por esses fungos, antes consideradas bem definidas e ligadas a poucas espécies, são mais complexas do que se imaginava. Diferentes espécies podem causar sintomas semelhantes. É o nosso assunto de capa desta edição!

Em outro artigo: atenção redobrada merece o grupo dos pentatomídeos! Conhecidos popularmente como percevejos, esses insetos apresentam grande capacidade de adaptação e resistência, especialmente devido à sua habilidade de entrar em diapausa, reduzindo o metabolismo em condições desfavoráveis. Atacam múltiplas culturas; encontram alimentos constantemente. Tudo dificulta o manejo e amplia seu impacto negativo na produtividade agrícola.

Diante desse cenário de dificuldades crescentes, surgem alternativas que podem representar uma virada positiva no manejo integrado de pragas. Entre elas estão as tesourinhas. Insetos da ordem Dermaptera, são importantes predadoras e aliadas no controle biológico. Alimentam-se de artrópodes prejudiciais às lavouras, como pulgões, tripes e ovos de lagartas, reduzindo a dependência de inseticidas químicos e favorecendo um ambiente agrícola mais equilibrado e sustentável.

Ainda sobre sustentabilidade, abordamos a importância da agregação do solo. A prática reduz impactos ambientais. A agregação resulta da combinação de partículas minerais e matéria orgânica, criando um ambiente favorável para o desenvolvimento das culturas.

Em relação ao controle de plantas invasoras, destacamos a dificuldade no manejo da vassourinha-de-botão, especialmente em lavouras de algodão nas regiões de Mato Grosso, Goiás e no Matopiba. Sua resistência ao glifosato exige a adoção de estratégias variadas, incluindo métodos culturais e a utilização de moléculas alternativas. É um exemplo claro de como a adaptação e a inovação tecnológica são essenciais para a gestão eficiente de problemas que surgem no campo.

Isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!

09 Tesourinha como agente biológico

29 Spodoptera frugiperda e Elaphria deltoides em milho

35 Ação ovicida de inseticidas sobre o percevejo-marrom

Foto do caderno Gabriel Augusto de Andrade Rodrigues
06 Percevejos pentatomídeos
Foto - Leila M. Costamilan
05 Coluna ANPII
20 Capa - Diaporthe em lavouras de soja

Bayer

Em fase de aprovação federal, com disponibilidade prevista a partir de 2026, a Bayer confirmou o lançamento de novo herbicida: o diflufenicam. As informações foram apresentadas por Rodrigo Nuernberg , líder da unidade de negócios Centro-Sul para proteção de cultivos da Bayer.

Aposentadoria

Vicente Gongora aposenta-se no final deste mês da UPL . Foram mais de 15 anos na empresa, sendo os últimos sete em posições nos Estados Unidos. Seu cargo atual é "chief technology officer".

UPL

A UPL nomeou Daniel Amaral Alves Ferreira como diretor de acesso ao mercado no Brasil. Engenheiro agrônomo com quase 20 anos de experiência no agronegócio, ele atuava na empresa desde maio de 2022 como gerente da mesma área.

Adama

Marcelo Gimenes assume a liderança da estratégia de fungicidas da Adama no Brasil. Com experiência no setor agrícola, ele será responsável por ampliar o portfólio de produtos da companhia no país.

Agrex

A Agrex do Brasil anunciou a contratação de Renato Garcia , ex-executivo da Cargill, para a posição de "head de commodities". A

mudança integra a estratégia de crescimento da empresa e faz parte do plano de longo prazo dos acionistas japoneses.

A ciência e o agro brasileiro

Se fizermos uma viagem pela história do agro brasileiro, iremos encontrar, na raiz de todas as culturas, o importante papel das instituições de pesquisa, fator que, junto ao empreendedorismo de nosso agricultor e aos fornecedores de insumos cada vez mais adaptados às necessidades do agricultor, tornou o Brasil a potência agrícola que nosso país é hoje.

O café, que já foi nosso “carro-chefe” nas exportações, teve forte presença do Instituto Agronômico de Campinas. O mesmo ocorreu com o algodão, também apoiado tecnicamente pelo IAC.

A inoculação da soja e demais leguminosas teve seu início no Ipagro, da então Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, e pela Embrapa.

A soja se expandiu no país também pela presença da Embrapa e outras instituições de pesquisa, tornando-se um modelo de cultivo com alta tecnologia, seja na criação de novas cultivares, como no manejo sustentável e elevadas produtividades.

Assim, poderíamos elencar dezenas de cultivos nos quais a presença da ciência, através das entidades e de pesquisadores fortemente engajados na agricultura, modificou os padrões de cultivo das mais importantes culturas. O que hoje estamos aplicando em termos de tecnologia agrícola é fruto de pesquisas iniciadas ao longo de muitos anos.

O desenvolvimento das tecnologias não brota em um “estalo”, mas é fruto de muito trabalho com

acertos e erros. É uma marcha longa, envolvendo instituições e pessoas, necessitando de um número elevado de testes para que tenha consistência e uma grande chance de sucesso. São necessários tempo e muitos recursos para que um processo, uma tecnologia e, às vezes, uma informação chegue ao campo.

A agricultura brasileira, com sua evolução, sempre foi abastecida de um enorme ferramental de novos processos, tecnologias de produção e robustez de informações que chegam ao agricultor, geralmente adotadas rapidamente e incorpo-

O desenvolvimento das tecnologias não brota em um “estalo”, mas é fruto de muito trabalho com acertos e erros

radas a seus esquemas produtivos, e tudo isto tem sido extremamente eficaz no aumento da produtividade em todas as culturas e sistemas de criação animal que consolidam o país em seu elevado patamar na produção de alimentos.

Mas, para que isto não se perca, é necessário que haja um movimento constante, contínuo de inovações, que nenhuma tecnologia se cristalize como a definitiva, como a imutável, como um dogma. As pressões por comida de um mundo em contínuo crescimento, aliadas às mudanças climáticas presentes em nossa era, demandam uma marcha acelerada para não termos baixas no rendimento dos cultivos mais importantes.

Para que haja uma marcha ininterrupta na essencial produção de alimentos, o investimento em pesquisas na agricultura não pode sofrer solução de continuidade. O fluxo de trabalho só ocorre se houver um aporte permanente de recursos.

O momento começa a causar preocupação, pois o que se vê é uma escassez de recursos para a Embrapa e para outras entidades de pesquisa, com a diminuição de verbas para novos desenvolvimentos. A atual situação de produtividade de nossa agricultura é fruto de trabalhos desenvolvidos há vários anos. Se hoje houver uma diminuição no ritmo de inovações, dentro de poucos anos corremos o risco de perdermos a liderança da qual desfrutamos atualmente.

Coluna ANPII Bio
Cultivar Grandes Culturas
Solon C. Araujo, Conselheiro da ANPII Bio

Ameaça dos pentatomídeos

Percevejos dessa família atacam diversas plantas; muitas vezes, a mesma espécie alimenta-se de várias culturas

Os percevejos, aqui se tratando somente daqueles pertencentes à família Pentatomidae, são pragas importantes em diferentes culturas, além de também se hospedarem em plantas invasoras e em culturas de cobertura, o que torna seu manejo mais complicado. Essas culturas, em algumas regiões, são plantadas em sucessão, mantendo uma fonte de alimento constante para esse grupo de pragas durante todo o ano. Outro dificultador em relação ao seu manejo é a capacidade de algumas espécies, principalmente o percevejo-marrom Euschistus heros, de entrar em um estado de diapausa e diminuir sua atividade metabólica em condições de temperatura mais amena e de falta de alimento. Entretanto, essas duas condições não são restritivas ao desenvolvimento dos percevejos na maioria das regiões produtoras de grãos e fibras no Brasil.

Percevejos na soja

A soja é uma das culturas mais tradicionais de ocorrência de percevejos. Nessa cultura, é comum o aparecimento de várias espécies e, muitas vezes, simultaneamente, por isso, para fins de manejo, é considerado o complexo de percevejos.

No passado, quando o plantio da soja se restringia à região Sul do país, o percevejo-verde Nezara viridula era a principal espécie, seguido do percevejo-verde-pequeno Piezodorus guildinii. Entretanto, com o avanço da cultura para a região do Cerrado brasilei-

ro, começou a ocorrer o percevejo-marrom, que, posteriormente, dominou a cultura e passou a ser a espécie mais predominante e mais abundante, embora o percevejo-verde-pequeno seja o que causa mais danos por indivíduo.

Além dessas três espécies, ainda pode ser observada a ocorrência do percevejo-barriga-verde Diceraeus spp., com destaque para D. furcatus e D. melacanthus. A primeira espécie ocorre, principalmente, na

região do Cerrado, enquanto a segunda é mais frequente na região Sul do Brasil. Além desses, vale mencionar o percevejo-da-asa-preta Edessa meditabunda, e o percevejo-acrosterno Chinavia sp. Em feijoeiro, as espécies são praticamente as mesmas que ocorrem em soja.

O ataque de percevejos durante a fase de formação de grãos de soja ocasiona o aborto de grãos ou de vagens. No período de enchimento de grãos, pode causar enrugamento, deformações, redução da produtividade e da qualidade das sementes. Quanto aos danos à qualidade das sementes, causa redução do potencial germinativo, de vigor, de massa, tamanho e teor de óleo dos grãos. A germinação e o vigor estão relacionados com a morte dos embriões e o enfraquecimento das sementes.

Os danos indiretos em soja por percevejos são caracterizados por facilitação da ocorrência de doenças fúngicas no momento da alimentação e indução de um distúrbio fisiológico denominado “soja louca”. Esse distúrbio se caracteriza pela retenção de folhas verdes no final do ciclo, causando prejuízos no rendimento da colheita.

A ocorrência de um percevejo por m² causa perdas de 56 kg de grãos/ha, mas pode variar de 49 kg a 120 kg de grãos por ha. Há relatos de que uma quantidade de apenas dez indivíduos pode acarretar perdas de até duas toneladas por hectare, um prejuízo de mais de 33 sacas de soja, mas não há informação do tempo de permanência na cultura desses indivíduos para causar tal prejuízo. De maneira geral, os sugadores podem causar perda de produtividade acima de 30% em lavouras de soja.

Percevejos no milho

Em milho, o percevejo-marrom é uma espécie comumente encontrada, entretanto, a principal espécie é o percevejo-barriga-verde, ocorrendo tanto D. furcatus como D. melacanthus. Ao contrário do que ocorre em soja, onde a praga ataca e causa danos nas vagens, no milho, os percevejos são pragas que atacam as partes vegetativas, incluindo o caule das plantas, causando danos severos em altas populações. Em ataques severos, o percevejo-barriga-verde pode acarretar morte de plantas, que se inicia pelo murchamento das folhas centrais, sintoma conhecido por “coração morto”, e termina com secamento total da planta. Ainda, esse ataque pode causar perfilhamento da planta, redução do estande de plantas, plantas sem espigas, multiespigamento, problemas de polinização e consequente baixa produtividade, resultando, assim, em prejuízos econômicos para os produtores. De modo geral, os prejuízos causados pelos danos do percevejo barriga-verde podem variar desde perdas médias de 30% (podendo chegar a 60%) da produ-

ção de plantas sobreviventes, até a morte de plantas e a necessidade de replantio.

Percevejos no algodão

No algodoeiro, os percevejos, que ocorriam de forma ocasional e com importância secundária, recentemente passaram a ser encontrados com maior frequência, principalmente onde se cultivam variedades de ciclo mais tardio, em sistemas de cultivo adensado, lavouras de segunda safra e/ou lavouras que recebem menos aplicações de inseticidas. Em algodão, as principais espécies são N. viridula, E. meditabunda, P. guildinii e, principalmente, E. heros, espécie de maior destaque nessa cultura. Os percevejos se alimentam, principalmente, dos botões florais e das maçãs do algodão, o que prejudica diretamente a qualidade e o desenvolvimento da fibra, causando perdas quantitativas e qualitativas.

Percevejos no arroz

No arroz, uma das principais pragas da cultura é o percevejo-do-

Percevejos de diferentes espécies, tais como Diceraues melacantus (A), Oebalus poecilusa (B), Thyanta perditor (C) e Tibraca limbativentris (D)
Fotos Dirceu Gassen

espécies de percevejos, no exemplo:

-colmo (Tibraca limbativentris), sendo considerado uma praga-chave que causa preocupação e prejuízos aos orizicultores brasileiros. Caso o controle não seja realizado no momento correto e os surtos forem elevados, esse inseto é capaz de reduzir a produção em até 80%. Na fase vegetativa, a alimentação no colmo resulta no sintoma conhecido como “coração morto” (morte da folha central) e, na fase reprodutiva, no sintoma conhecido como “panícula branca”, que é a má-formação das panículas. Outras importantes espécies do arroz são os chamados percevejos dos grãos que ocorrem em todas as regiões produtoras dessa cultura no Brasil. As espécies principais são Oebalus poecilus e Oebalus ypslongriseus. Nos últimos anos, têm sido abundantes em grandes áreas das regiões Centro-Oeste e Norte. Embora as duas espécies possam ocorrer simultaneamente no ambiente de várzeas, O. ypslongriseus ocorre, preferencialmente, no ambiente de terras altas e O. poecilus predomina em ambiente irrigado. Os danos dos percevejos podem ser qualitativos e quantitativos, dependendo do estádio de desenvolvimento das espiguetas e do tempo se alimentan-

do nas panículas. Cada ninfa de terceiro instar e cada adulto, permanecendo 24 horas nas panículas, pode danificar, em média, 2,6 espiguetas na fase leitosa, 1,5 espigueta na fase de massa e 0,8 espigueta madura. Essas espécies sugam a seiva das folhas e dos grãos leitosos, causando chochamento e gessamento dos grãos, que se quebram facilmente ao serem beneficiados. A incidência de dois adultos/panícula durante a fase de maturação pode causar perdas qualitativas e quantitativas de 80%. Em terras altas, as perdas podem chegar a 25%.

Percevejos

em trigo

Em trigo, as espécies mais comumente encontradas são os percevejos-barriga-verde, D. melacanthus e D. furcatus. Os prejuízos causados podem variar desde perdas de 30% da produção nas plantas sobreviventes até a morte de plantas. Quando o ataque ocorre no período de emborrachamento, eles podem ocasionar redução de altura da planta, desenvolvimento atrofiado e aparecimento de espigas deformadas e brancas, sintoma chamado de “espiga branca”

(espigas sem grãos ou com formação parcial de grãos). Outras espécies que podem ocorrer no trigo são o percevejo-verde (Nezara viridula) e o percevejo-do-trigo (Thyanta perditor). Nos últimos anos, vem ocorrendo uma diminuição do percevejo-verde, e o percevejo-do-trigo é menos comum de ser encontrado.

Importância do manejo

Com exceção de algumas que são específicas de certas culturas, a maioria das espécies de percevejos se hospeda em diferentes culturas, e, também, em plantas espontâneas não cultivadas que podem estar dentro da unidade de produção ou no seu entorno. Como mencionado anteriormente, a sucessão de culturas fornece abrigo e alimento para essas pragas durante o ano todo e, em algumas dessas culturas, o ataque nas fases iniciais leva a danos irreversíveis, como a morte de plantas. Dada essa característica de polifagia, há necessidade de se desenvolver um programa de manejo mais amplo, considerando o sistema de produção, com adoção de táticas de manejo nas diferentes culturas, inclusive naquelas plantadas para cobertura e fornecimento de material orgânico para o plantio direto, evitando, assim, o início de um novo ciclo da cultura onde os níveis populacionais de percevejos já sejam altos, tornando ainda mais difícil o manejo ao longo da cultura.

C C

Pedro Takao Yamamoto, Fernando Henrique Iost Filho, Esalq/USP; Ana Clara Ribeiro de Paiva Iost, SmartMIP Manejo Integrado de Pragas

Diferentes
Diceraues furcatus (A), Piezodorus guildinii (B), Edessa meditabunda (C) e Nezara viridula (D)
Fotos Dirceu Gassen

Tesourinhas no controle

Esses pequenos insetos, muitas vezes temidos, podem ser grandes aliados dos agricultores; desempenham papel fundamental no controle de pragas agrícolas

As tesourinhas são insetos pertencentes à ordem Dermaptera, que apresenta cerca de 2,2 mil espécies descritas. No Brasil, há o registro da ocorrência de 117 destas espécies, distribuídas amplamente em todo o território. Várias espécies de tesourinhas são

predadoras de pequenos artrópodes, podendo ser importantes agentes de controle biológico de insetos-praga em um contexto natural, se alimentando de pulgões, tripes, ovos e lagartas jovens de mariposas.

Entre as espécies de Dermaptera que ocorrem no Brasil, Doru

luteipes é considerada um dos principais agentes de biocontrole que ocorrem naturalmente na cultura do milho, estando presente ao longo de todo o ciclo da cultura. Esta tesourinha também é observada em cultivos de algodão, cana-de-açúcar, couve, soja e sorgo, mas o milho é considerado o seu habitat preferencial, uma vez que a estrutura foliar da planta fornece abrigo durante o dia e uma alta umidade, que é fundamental ao desenvolvimento da espécie.

Características que impressionam

As tesourinhas são relativamente pequenas e apresentam corpo alongado, variando de marrom-escuro a preto, com antenas longas e finas. As espécies aladas

possuem asas posteriores bem desenvolvidas, que se dobram várias vezes para ficar protegidas por curtas asas anteriores, chamadas braquiélitros (Figura 1A). Entretanto, a característica morfológica mais marcante destes insetos são os cercos, apêndices abdominais terminais em formato de pinça, através dos quais realiza-se a distinção entre machos e fêmeas (Figuras 1B e 1C). Seus cercos podem parecer intimidadores, mas são utilizados, principalmente, em

competições dos machos pelas fêmeas e na captura de suas presas. Ao contrário do que muitos pensam, tesourinhas não apresentam e não são capazes de inocular veneno, sendo inofensivas a pessoas e animais de estimação.

Vida e comportamento

Esses insetos têm uma vida curiosa. Após acasalar, as fêmeas colocam ovos em locais úmidos e escuros e cuidam deles até as

ninfas (filhotes) nascerem. Esse cuidado parental, raro entre insetos, protege os ovos de predadores. Além disso, as tesourinhas são onívoras, comendo de tudo um pouco, como pólen, fungos, inclusive fungos causadores de doenças, como a ferrugem comum do milho Puccinia polysora, e outros insetos. Passam pelas fases de ovo, ninfa e adulto. Os ovos são circulares de coloração creme, e com o desenvolvimento embrionário aumentam de tamanho. As ninfas passam por quatro ou cinco estádios de desenvolvimento (instares), cujo número varia de acordo com a alimentação. O primeiro instar dura cerca de oito dias, o segundo seis dias, o terceiro sete dias e o quarto nove dias, totalizando numa média de 30 dias para completar todo o estádio juvenil (Figura 2). Para acasalar, os adultos fazem um ritual, onde o macho procura as fêmeas e move seus cercos lateralmente em direção a elas, e a fêmea pode ou não aceitar o macho. As fêmeas não emergem sexualmente ativas,

Figura 1 - Doru luteipes: (A) asa anterior curta e amarelada, asa posterior membranosa estendida; (B) fêmea com cercos finos e próximos; (C) macho com cercos grossos e distantes
Fotos Ana Luisa Rodrigues Silva
Figura 2 - Doru luteipes: fases de desenvolvimento

por isso elas só acasalam após quatro dias da sua emergência. Após acasalarem, elas colocam seus ovos depois de 15 dias, escolhendo locais escuros e úmidos, e permanecem junto aos ovos, os protegendo de predadores e os limpando diariamente até a eclosão das ninfas. Essas também permanecem sob o cuidado da mãe por aproximadamente três dias. O cuidado parental é um comportamento relativamente raro entre insetos, mas observado em diversas espécies de tesourinha. Após o fim desse cuidado, a fêmea sai do seu abrigo, se alimenta e acasala novamente com outro macho e coloca uma nova postura, demorando cerca de 12 dias entre uma postura e outra. Esse ciclo se repete até a morte da fêmea (Figura 3).

Aliadas contra as pragas

Os inimigos naturais ajudam a reduzir populações de insetos-praga de forma sustentável, reduzindo o uso ou até dispensando a necessidade de inseticidas químicos (pesticidas). A tesourinha faz parte do grupo de predadores, organismos que se alimentam diretamente dos insetos-praga. Pesquisas recentes mostram que a tesourinha apre-

senta um grande potencial para o controle de várias pragas agrícolas de importância econômica. Doru luteipes se alimenta de ovos e lagartas jovens da lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda e da broca-da-cana Diatraea saccharalis, além de consumir ninfas da cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis. Adultos da tesourinha podem se alimentar diariamente de cerca de 238 ovos da lagarta-do-cartucho, ajudando a controlar a praga antes que ela chegue na fase larval e cause danos ao consumir as folhas da planta (Figura 4).

Além disso, se alimenta de várias espécies de pulgão e tripes. Ela seria capaz de consumir, em média, 210 tripes-do-feijoeiro (Caliothrips phaseoli) por dia, ajudando a controlar uma das principais pragas da soja, do milho, do algodão e do feijão. A onivoria e o hábito noturno são características interessantes da tesourinha, pois possibilitam sua permanência nos cultivos mesmo quando há pouca disponibilidade de presas e que explorem o mesmo nicho com inimigos naturais que atuam durante o dia, reduzindo a competição por alimento.

Por que protegê-las?

Com o uso crescente de defensivos agrícolas, muitas populações de inimigos naturais, como as tesourinhas, têm sido prejudicadas. Incentivar o uso do controle biológico e proteger esses pequenos insetos pode reduzir a dependência de inseticidas e promover uma agricultura mais sustentável.

Ana Luisa Rodrigues Silva, Ali Momade Ussene, Letícia Pereira Silva, Rosangela Cristina Marucci, Ufla

Figura 3 - ciclo de vida estimado da fase reprodutiva de Doru luteipes
Figura 4 - Doru luteipes fêmea consumindo ovos da lagarta-do-cartucho C

Vassourinha sob manejo

Controle de infestações de vassourinha-de-botão pode ser complexo, sendo necessária a adoção de métodos variados; escolha do tratamento deve considerar a presença de outras espécies invasoras

Dentre as espécies de plantas daninhas que infestam a cultura do algodão, a vassourinha-de-botão vem sendo problema nos estados de Mato Grosso e Goiás, e na região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), por ser de difícil controle quando exposta ao glifosato, herbicida ao qual é considerada tolerante devido à translocação limitada

na planta, principalmente quando adulta. Ela consegue sobreviver ao período de seca observado no Cerrado brasileiro e, embora muitas vezes possa parecer morta, acaba rebrotando no início das chuvas.

Características

da planta daninha

A vassourinha-de-botão (Borreria spinosa (L.) Cham. & Schltdl.) é um arbusto perene que pode chegar a 1 m de altura e produz, geralmente, suas inflorescências no período de segunda safra. Tem sido muito confundida com Borreria verticillata (L.) G. Mey, pois possui, também, inflorescências brancas globulares, mas difere dessa espécie por apresentar folhas lanceoladas a oblongas que podem conter espinhos na base ou próximas ao nó, além de produzir frutos do tipo cápsula de tamanho pequeno, muitas vezes espinhosos e com muitas sementes. Além disso, a B. spinosa pode ser considerada fotoblástica neutra, pois germina tanto na presença de luz quanto no escuro, embora sua germinação seja maior na presença de luz e na camada de 0 a 1 cm de profundidade do solo.

Métodos de controle

Portanto, o controle de infestações de vassourinha-de-botão pode ser complexo, devido aos diferentes estádios de desenvolvimento e interações com o ambiente, sugerindo a adoção de variados métodos de controle, desde o cultural, com cultivo de diferentes espécies forrageiras, a pro-

dução de matéria seca sobre o solo e o efeito alelopático sobre a germinação e a emergência das plântulas, até o químico.

Dentre as opções de controle químico de plantas daninhas mais efetivas, destaca-se a aplicação de herbicidas em pré-emergência, a qual possibilita o estabelecimento inicial das culturas no limpo, sem interferência da infestação. Todavia, nenhuma espécie de vassourinha-de-botão consta, até o momento, como alvo biológico nas bulas dos produtos comerciais registrados em pré-emergência para a cultura do algodoeiro, assim como para as culturas de soja e milho (Brasil, 2025).

Diante disso, considerando-se a menor gama de herbicidas registrados para o algodoeiro, comparado à soja e ao milho, e a ausência de informações sobre a eficácia das moléculas registradas para o algodoeiro em pré-emergência sobre vassourinha-de-botão, o presente estudo foi realizado visando gerar informações que contemplem uma possível inclusão da infestante na bula das formulações dos herbicidas com registro para a cultura.

Ingrediente ativo (g/ha)

1. Testemunha sem aplicação

2. Clomazone (1.000)

3. Diuron (2.000)

4. Fomesafen (375)

5. Isoxaflutole (37,5)

6. Oxyfluorfen (720)

7. Pendimethalin (1.575)

8. Prometryne (1.000)

9. S-metolachlor (1.440)

10. Trifluralin (2.400)

11. [Ametryn + Clomazone] (900 + 600)

12. [Fomesafen + s-metolachlor] (285 + 1.295)

Mecanismos de ação

Inibidores da Deoxi-D-Xilulose Fosfato (DOXP) sintase

Inibidores do Fotossistema II (FSII) – Acopladores da D1 serina 264

Inibidores da Protoporfirinogênio Oxidase (PPO/Protox)

Inibidores da Hidroxifenilpiruvato Dioxigenasa (HPPD)

Inibidores da Protoporfirinogênio Oxidase (PPO/Protox)

Inibidores da formação de microtúbulos

Inibidores do Fotossistema II (FSII) – Acopladores da D1 serina 264

Inibidores da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa (VLCFAs)

Inibidores da formação de microtúbulos

Inibidores do FSII e da DOXP sintase

Inibidores da Protox/PPO e da síntese VLCFAs

Grupo químico

Oxazolidinonas (Grupo F4)

Uréias (Grupo C2)

Difeniléteres (Grupo E)

Isoxasoles (Grupo F2)

Difeniléteres (Grupo E)

Dinitroanilinas (Grupo K1)

Triazinas (Grupo C1)

Cloroacetamidas Grupo K3)

Dinitroanilinas (Grupo K1)

Triazinas (Grupo C1) + Oxazolidinonas (Grupo F4)

Difeniléteres (Grupo E) + Cloroacetamidas (Grupo K3)

Figura 1 - momento de semeadura das sementes de vassourinha-debotão (Borreria spinosa) nas parcelas experimentais. Sinop (MT), 2023
Tabela 1 - ingredientes ativos, mecanismos de ação e grupo químico dos herbicidas que foram usados como tratamentos no experimento. Sinop (MT), 2023
Gabrieli Mocelin

Tabela 2 - número de plantas por parcela e controle (%) de vassourinha-de-botão (Borreria spinosa) aos 7, 14, 21 e 28 dias após a aplicação (DAA) de tratamentos herbicidas registrados para a cultura do algodoeiro e massa de matéria seca de parte aérea (g) aos 28 DAA. Sinop (MT), 2023

1. Testemunha sem aplicação

2. Clomazone

3. Diuron

4. Fomesafen

5. Isoxaflutole

6. Oxyfluorfen

7. Pendimethalin

8. Prometryn

9. s-metolachlor

10. Trifluralin

11. [Ametryn + clomazone]

12. [Fomesafen + s-metolachlor]

Média geral

[285

Coeficiente de variação (%)

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de agrupamento Scott-Knott (p<0,05); os dados das variáveis número de plantas por parcela e massa seca de parte aérea foram transformados para raiz quadrada de x+1 para atender aos pressupostos da análise de variância; as médias originais encontram-se entre parênteses

Sobre

o experimento

O experimento foi conduzido em casa de vegetação com irrigação automatizada da Embrapa Agrossilvipastoril, localizada em Sinop (MT), cujo clima é classificado como Aw, segundo a classificação de Köppen-Geiger, com temperatura e pluviosidade média anual de 25,4 °C e 1.801 mm, respectivamente. Para tanto, foram usadas sementes de populações de vassourinha-de-botão coletadas em propriedades rurais nos municípios de Sorriso e Sinop, localizados no Médio-Norte mato-grossense, região com altos níveis de infestação da espécie.

As parcelas foram constituídas por vasos de polietileno de 5 L de capacidade volumétrica, preenchidos com solo da camada de 0 a 0,20 m de profundidade, de um latossolo amarelo distrófico de textura argilosa, com 480 g/kg de argila, 172 g/kg de silte e 348 g/kg de areia. A análise química apresentou pH em H2O = 6,2; Al3+, H+ + Al3+, Ca2+, Mg2+

e K+ iguais a 0,0; 2,20; 2,88; 1,99; e 0,22 cmolc dm-3, respectivamente; P mel. = 25,2 mg dm-3; e M.O. = 2,84 dag/kg.

O delineamento experimental foi em blocos casualizados com 12 tratamentos e sete repetições (Tabela 1), sendo semeadas em cada parcela 100 sementes de vassourinha-de-botão, na profundidade de 0,5 cm, distribuídas de forma equidistante (Figura 1).

A aplicação dos tratamentos herbicidas ocorreu no dia seguinte da semeadura, com auxílio de pulverizador costal pressurizado a CO2, com pressão constante de 207 kPa, equipado com quatro pontas de jato plano XR 110.02, espaçadas de 0,5 m entre si e posicionadas a 0,5 m da superfície do solo, aplicando-se o equivalente a 200 L/ha de calda.

As variáveis foram compostas por avaliações do número de plântulas emergidas por parcela e controle visual (0-100%), em que zero representa ausência de controle e 100% a morte das plantas, aos 7, 14, 21 e 28

dias após a aplicação (DAA), e pela massa seca de parte aérea remanescente (MSPA), determinada por meio de secagem em estufa a 65°C, por 72 horas.

Os dados foram submetidos aos testes de Levene e Shapiro-Wilk para avaliar a variância e a normalidade dos erros, utilizando-se o programa estatístico SAS. Posteriormente, foi realizado o teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade para agrupar médias semelhantes, considerando-se as diferentes variáveis e épocas de avaliação, utilizando-se o programa estatístico Sisvar.

Resultados obtidos

Todos os tratamentos herbicidas proporcionaram redução significativa do número de plantas de vassourinha-de-botão por parcela, em relação à testemunha sem herbicida, nas quatro épocas de avaliação (7, 14, 21 e 28 DAA), exceto o clomazone e o isoxaflutole aos 28 DAA. Os tratamentos que mais se

destacaram com menor número de plantas nas parcelas foram aqueles com oxyflufen e [fomesafen + s-metolachlor] desde 7 DAA, e diuron, prometryn e [ametryn + clomazone] a partir de 21 DAA (Tabela 2).

Em relação à variável controle, os tratamentos com diuron, oxyfluorfen, [ametryn + clomazone] e [fomesafen + s-metolachlor] fizeram parte do grupo no qual resultaram as maiores médias de controle de vassourinha-de-botão desde 7 DAA. Todavia, o herbicida prometryn passou a integrar o grupo de tratamentos com as maiores médias de controle a partir dos 14 DAA, e os herbicidas s-metholachlor e trifluralin na última avaliação aos 28 DAA. O fomesafen controlou eficazmente (> 80%) a invasora em todas as épocas de avaliação, porém com nota estatisticamente abaixo dos melhores tratamentos citados acima aos 28 DAA (91,5%) (Tabela 2).

Dentre os tratamentos avaliados, os herbicidas clomazone, isoxaflutole e pendimethalin foram menos eficazes no controle de

vassourinha-de-botão. Aos 28 DAA, o isoxaflutole foi o tratamento que resultou no pior nível de controle da espécie (74%), diferindo significativamente do clomazone e do pendimethalin, que resultaram em eficácia de controle acima de 80% (85,8% e 85%, respectivamente), considerados satisfatórios (Tabela 2). Na Figura 2, é demonstrado o controle visual de vassourinha-de-botão pelos tratamentos aos 28 DAA.

Por fim, no que diz respeito à MSPA, os resultados dessa variável corroboraram com os resultados da última avaliação de controle visual (28 DAA), na qual os tratamentos com clomazone, isoxaflutole e pendimethalin apresentaram MSPA significativamente menor em relação à testemunha sem aplicação, porém estatisticamente maior que todos os demais tratamentos avaliados. Ademais, vale destacar que o isoxaflutole foi o pior tratamento entre os três, com MSPA significativamente maior que os tratamentos com clomazone e pendimethalin.

Conclui-se que os tratamentos (g/ha) com diuron (1.750), fomesafen (375), oxyfluorfen (720), prometryn (1.000), s-metolachlor (1.440), trifluralin (2.400) e as misturas formuladas [ametryn + clomazone] (900 + 600) e [fomesafen + s-metolachlor] (285 + 1.295) são eficazes para o controle (> 97% aos 28 dias após aplicação) de vassourinha-de-botão em pré-emergência no algodoeiro. Contudo, deve-se salientar que a escolha do tratamento herbicida a ser aplicado em determinado talhão deve considerar, também, a presença de outras espécies invasoras e não só a vassourinha-de-botão, ou seja, o referido tratamento precisa ter espectro de controle para as principais espécies de plantas daninhas da área.

Sidnei Douglas Cavalieri, Embrapa Algodão; Fernanda Satie Ikeda, Embrapa Agrossilvipastoril; Iago Shohei Toyomoyo Fujimori, Universidade Federal de Mato Grosso

Cultivar Grandes Culturas
Figura 2 - controle visual de vassourinha-de-botão (Borreria spinosa) aos 28 dias após a aplicação (DAA) de tratamentos herbicidas registrados para a cultura do algodoeiro em pré-emergência. Sinop (MT), 2023
Testemunha X [Ametryn + Clomazone]
Testemunha X Clomazone
Testemunha X Clomazone X Isoxaflutole
Testemunha X Diuron
Testemunha X [Fomesafen + s-metolachlor]
Testemunha X Fomesafen
Testemunha X Isoxaflutole
Testemunha X Oxyfluorfen
Testemunha X Pendimethalin
Testemunha X Prometryn
Testemunha X s-metolachlor
Testemunha X Trifluralin
Fotos
Vitor Hugo Martini
Avanzini

Nano-herbicidas no combate a daninhas

Menor impacto ambiental, possibilidade de doses reduzidas e controle direcionado, alinhando produtividade com sustentabilidade, são vantagens evidentes

Ocontrole de plantas daninhas tem se tornado cada vez mais desafiador para os agricultores. O cenário de resistência de plantas daninhas e baixa frequência na descoberta e comercialização de novas moléculas tem contribuído para a

busca por novas soluções agrícolas. Cada vez mais áreas são convertidas para o cultivo de grandes culturas, como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, demandando uma grande quantidade de insumos.

Soluções como entrega direcionada e inteligente de ingredientes ativos, com redução de perdas no

campo, que sejam mais eficazes e com menor risco ambiental, são desejadas no desenvolvimento de herbicidas modernos. A nanotecnologia tem contribuído para o desenvolvimento da agricultura através da introdução de soluções inovadoras para o controle de plantas daninhas por meio de materiais em

escala nanométrica (10-9m), conhecidos como nano-herbicidas.

Estas novas formulações prometem reposicionar ingredientes ativos que são usados em altas doses e que apresentam perdas por volatilidade e fotodegradação. Em sua composição, materiais orgânicos como polímeros biodegradáveis e naturais, por exemplo a zeína (uma proteína do milho), podem ser utilizados no preparo de sistemas para encapsulação de herbicidas. Os nano-herbicidas possibilitam a redução das doses dos ingredientes ativos tradicionais em até dezenas de vezes, mantendo resultados comparáveis ou superiores no controle de plantas daninhas.

Este cenário se torna ainda mais relevante diante do crescimento populacional projetado pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), a qual estima que a população mundial alcance 9,7 bilhões até 2050. Além disso, os desafios das mudanças climáticas e perdas agrícolas decorrentes são adversidades a serem superadas. As demandas por uma agricultura sustentável devem atender a estas necessidades até 2030, como proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os nanopesticidas, incluindo os nano-herbicidas, surgem como alternativas estratégicas para enfrentar esses desafios, com potencial para revolucionar práticas agrícolas e promover uma agricultura mais sustentável e ecologicamente responsável.

O que são nano-herbicidas?

Os nano-herbicidas são formulações inovadoras de herbicidas em escala nanométrica, projetadas para proporcionar uma maior absorção de herbicidas, sejam via foliar ou radicular. Para ilustrar es-

sa diferença, na Figura 1 podemos observar como as nanopartículas podem entregar os ingredientes ativos. As formulações comerciais são capazes de ser absorvidas em folha, devido à presença de surfactantes e adjuvantes focados em melhorar o espalhamento e a adesão da calda sobre as folhas, o que proporciona a entrada dos ingredientes ativos por esta via. Já no caso dos nano-herbicidas, as partículas funcionam como compartimentos que contêm grandes quantidades de ingrediente ativo, que são absorvidas através das estruturas foliares, como estômatos, hidatódios e cutícula, liberando grande quantidade de moléculas no interior da planta em pequeno intervalo de tempo.

Essa abordagem eficiente evita o desperdício, reduz a exposição a organismos não alvo e minimiza impactos no ambiente, oferecendo uma solução mais inteligente, sustentável e alinhada com práticas agrícolas modernas.

Componentes biodegradáveis

Os nano-herbicidas, em sua maioria, têm como base componentes biodegradáveis, compatíveis com os ingredientes ativos e com as plantas-alvo. Podem

ser usados polímeros naturais, como zeína (proteína do milho), quitosana (proteína extraída de crustáceos) e lignina (extraída de plantas). Além disso, surfactantes, adjuvantes e adesivos contidos nas formulações comerciais podem ser substituídos por outros componentes naturais com as mesmas funções. Essa estratégia proporciona uma formulação mais verde, reduzindo os riscos ambientais associados. Esses componentes naturais também são mais compatíveis com as estruturas vegetais, facilitando a permeabilidade dos ingredientes ativos para atravessar barreiras, como cutícula e ceras, e alcançar o interior das células.

O uso de nanoformulações para herbicidas pode tornar úteis moléculas antes pouco eficientes ou que eram facilmente perdidas para o ambiente, como os herbicidas naturais, e auxiliar o controle de plantas daninhas em cultivos orgânicos. Portanto, estas nanoformulações permitem a utilização de ativos menos agressivos ou inovadores e criam um cenário para formulações que respeitam o equilíbrio ambiental, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e responsáveis.

Fotos Vanessa Takeshita
Os nanopesticidas, incluindo os nano-herbicidas, surgem como alternativas estratégicas para enfrentar esses desafios, com potencial para revolucionar práticas agrícolas e promover uma agricultura mais sustentável e ecologicamente responsável

Transformação no controle

Os nano-herbicidas representam uma abordagem tecnológica diferenciada, oferecendo várias vantagens sobre os herbicidas comerciais. A redução nas doses (quantidade de ingrediente ativo por área aplicada) é a vantagem mais desejada para os novos produtos no mercado. Por meio da nanoformulação, o herbicida passa a ser mais eficiente, chegando no sítio de ação em maior quantidade e de forma mais satisfatória, evitando perdas ambientais. Isto ocorre por meio da liberação sustentada pelas nanopartículas, pois estas podem liberar o herbicida apenas mediante a estímulos, como na presença de luz, temperatura e pH específicos.

A entrega inteligente de herbicidas também é uma vantagem que confere a redução na dose, pois a nanopartícula pode ser absorvida ou transportada por vias diferentes da molécula comercial e entregar o herbicida no sítio de ação em maiores quantidades. Essa estratégia pode ser utilizada, por exemplo, no caso de populações de plantas daninhas resistentes, as quais apresentem a

Figura 2 - resultados obtidos com a aplicação do nano-herbicida metribuzin em plantas de corda-de-viola (Ipomoea grandifolia), aos 14 dias após a aplicação

absorção e a translocação diferencial como mecanismos de resistência. Geralmente, plantas com estes tipos de resistência apresentam mudanças na espessura das barreiras cuticulares nas folhas, portanto as nanopartículas podem proporcionar a entrada do herbicida por estes caminhos e driblar os mecanismos de resistência. Além disso, as nanocápsulas podem proteger o ingrediente ativo de rápida degradação e perdas no ambiente, bem como preservar os organismos não alvo do contato direto com as moléculas.

Resultados aplicados

O grupo de pesquisa em Nanotecnologia Ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp) vem desenvolvendo, há mais de uma década, nano-herbicidas com eficácia no controle de plantas daninhas, baseados em ingredientes biodegradáveis e na entrega inteligente de ingredientes ativos.

Merece destaque a nanoformulação de atrazina desenvolvida pelo grupo e que surpreende pelos benefícios. Dentre eles, estão a redução da dose aplicada em dez vezes, ou

seja, a atrazina que anteriormente era aplicada na dose de 2 mil g i.a/ ha, agora pode ser aplicada na dose de 200 g i.a/ha no controle de plantas como o picão-preto (Bidens pilosa) e a nabiça (Raphanus raphanistrum). Esta formulação, baseada no polímero biodegradável, confere eficácia aumentada do herbicida, pois “engana” a planta, permitindo que a atrazina, que antes era absorvida pelas camadas cerosas das folhas, também entre pelos mesmos caminhos que a água percorre. Este mecanismo tem sido denominado “cavalo de Troia”, pois leva mais herbicida para o interior das células. O mesmo tipo de nanoformulação foi utilizado no desenvolvimento do nano-herbicida metribuzin, controlando plantas como o picão-preto (Bidens pilosa), o caruru-de-mancha (Amaranthus viridis) e a corda-de-viola (Ipomoea grandifolia), como observado na Figura 2. Esta formulação também apresenta baixo risco ambiental aos organismos não alvo de solo, como microrganismos e minhocas.

A atrazina, utilizada como um herbicida modelo, também foi usada em uma nanoformulação de zeí-

Figura 1 - esquema sobre a entrada e a liberação dos herbicidas nas plantas por meio de nanopartículas, comparado a formulações convencionais
Criado com https://BioRender.com.

na (proteína do milho), de forma que a redução na dose aplicada chegou a 80 vezes em relação ao herbicida comercial, além dos efeitos reduzidos em organismos não alvo. Estes resultados são frutos de uma patente desenvolvida pelo grupo.

Os resultados gerados pelo grupo, liderado por Leonardo Fernandes Fraceto (coordenador de Inovação do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão - Cepid - em Biodiversidade e Mudanças do Clima e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - INCT - em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável), têm colocado o Brasil em lugar de destaque internacionalmente no que se refere ao desenvolvimento de nano-herbicidas, principalmente nos últimos anos, com o foco em formulações bio-herbicidas.

Mercado global

O mercado de herbicidas enfrenta pressões ambientais e econômicas, com a necessidade de reduzir o uso excessivo de químicos e a busca por soluções inovadoras. De acordo com o levantamento realizado pela base de dados StatNano (https://statnano. com/), já estão disponíveis 260 produtos agrícolas nanoformulados no mercado global, com 96 empresas, de 29 países. Até 2031, um crescimento nos investimentos mundiais em nanotecnologia pode chegar a 12% ao ano.

Dentre os produtos agrícolas, herbicidas e fertilizantes têm sido foco no desenvolvimento de soluções nanotecnológicas. Patentes e produtos já disponíveis no mercado internacional demonstram que essas soluções oferecem viabilidade econômica e ecológica, alinhando-se às exigências por práticas agrícolas sustentáveis e manejo integrado de pragas.

São de interesse comum as estra-

tégias que possam ser mais eficientes e que apresentem menos risco para a saúde humana e ao meio ambiente. Assim, o empenho das empresas em pesquisas que visem ao desenvolvimento de nanoformulações de herbicidas é esperado nos próximos anos, principalmente para herbicidas, pois é a classe de defensivos agrícolas mais utilizada nas lavouras.

Sendo assim, os nano-herbicidas não são apenas uma solução teórica para o futuro da agricultura; eles já representam uma realidade tecnológica com implicações práticas significativas para o controle de plantas daninhas.

Com menor impacto ambiental, possibilidade de doses reduzidas e controle direcionado, os nano-herbicidas surgem como uma ferramenta estratégica no cenário da agricultura moderna, alinhando produtividade com sustentabilidade. A adoção dessas tecnologias deve ser monitorada de perto, para garantir sua eficácia, segurança e aceitação no campo, oferecendo, assim, um novo horizonte para a agricultura global. Ainda, um

esforço regulatório deve ser feito por parte das companhias, das organizações governamentais e do setor agrícola como um todo para a viabilização da comercialização desses produtos.

Os estudos sobre os riscos ambientais associados merecem atenção, sendo essenciais para garantir sua aplicação segura e sustentável. Pesquisas como essas desenvolvidas no grupo de pesquisa do Laboratório de Nanotecnologia Ambiental da Unesp/Sorocaba fazem parte dos estudos do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro), o qual tem trabalhado ativamente no que se refere ao R&D de novos nano-herbicidas, bem como nos efeitos e nas interações destas formulações com as plantas-alvo e com o ambiente.

Vanessa Takeshita, Ana Cristina Preisler, Jéssica de Souza Rodrigues, Leonardo Fernandes Fraceto, Unesp

Os nano-herbicidas possibilitam a redução das doses dos ingredientes ativos tradicionais em até dezenas de vezes, mantendo resultados comparáveis ou superiores no controle de plantas daninhas

Vanessa Takeshita

Diaporthe spp. em soja: o que mudou?

A maior precisão na identificação das espécies tem mostrado que nada é tão exato como definido no passado e que diferentes espécies podem causar mais de um sintoma

Ogênero Diaporthe tem mais de mil espécies descritas e possui ampla distribuição geográfica. Compreende patógenos de plantas, endófitos e sapróbios, e, também, patógenos de humanos e outros mamíferos. Diaporthe spp. são responsáveis por doenças em uma ampla gama de plantas hospedeiras, algumas das quais economicamente importantes em todo o mundo, causando podridões de raízes e frutos, seca de hastes, cancros, manchas foliares, requeima, podridões e murcha. Na cultura da soja, causa a seca da haste e das vagens, o cancro da haste e a podridão de grãos. A primeira do-

ença descrita foi a seca da haste e das vagens, mas a mais severa é o cancro da haste.

Nomenclatura:

Phomopsis ou Diaporthe?

A nomenclatura dos fungos tem mudado durante muitos anos e continuará mudando no futuro. Até 2011, os gêneros dos fungos eram denominados com base na fase do seu ciclo de vida, possuindo um nome para a fase assexual (fase anamorfa) e outro para a fase sexual (fase teleomórfica), quando presente. Desta forma, Phomopsis era o nome do fungo na fase assexual e Diaporthe da fase sexual.

Em 2011, no Congresso Internacio-

nal de Botânica, em Melbourne, na Austrália, houve mudança no Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas, e adotou-se o princípio "um fungo, um nome".

A partir de 2013, cada espécie de fungo passou a ser referenciada por um único nome, dando prioridade ao nome mais antigo. O nome Diaporthe (1867) é anterior a Phomopsis (1905) e os trabalhos recentes têm adotado Diaporthe como único nome, independentemente do estágio em que sejam tipificados (assexual ou sexual).

Parece confuso para alguns inicialmente, mas é só pensar que tudo que foi publicado anteriormente

como Phomopsis se refere à atual nomenclatura Diaporthe. Pode ficar mais confuso? Sempre. Daí vamos para as espécies.

Identificação de espécies

No passado, a identificação de espécies de Diaporthe e de outros fungos era baseada nas características morfológicas de esporos (sexuais e assexuais) e nos sintomas da doença no hospedeiro. Os avanços nos métodos moleculares e filogenéticos têm facilitado a identificação de espécies de fungos, mostrando a presença de muito mais espécies associadas a um mesmo sintoma, como é o caso de Diaporthe, ou mesmo renomeando algumas espécies (como o complexo de espécies de Cercospora na soja), permitindo maior precisão na identificação.

Embora os métodos sejam mais precisos, nem todos os dados de sequências estão disponíveis para muitas espécies de Diaporthe e há várias espécies que foram depositadas no GenBank erroneamente identificadas. O GenBank é um banco de dados de sequências de DNA que contém informações sobre milhares de organismos e que os laboratórios utilizam nas comparações para identificação.

Dessa forma, o mesmo isolado de um fungo enviado para dois laboratórios pode resultar em espécies diferentes, quando é feita a análise molecular, dependendo das sequências utilizadas nas comparações.

Análises moleculares são caras e laboriosas e alguns laboratórios que fazem diagnose continuam a adotar a nomenclatura na qual foi feita a descrição das doenças no passado. Isso sem mencionar os erros de diagnóstico que serão discutidos junto com a descrição das doenças.

A pergunta mais importante para o produtor é: muda algo na doença se o nome do fungo muda, pelo fato de os métodos atuais serem mais

precisos na identificação das espécies? E a resposta é não.

Independentemente da doença que causam na cultura da soja, os fungos do complexo Diaporthe spp. estão associados à semente, sendo essa a principal forma de disseminação a longas distâncias; no entanto, a disseminação dentro de uma mesma área ocorre, principalmente, a partir de restos de culturas infectados. O fungo produz esporos durante períodos chuvosos, os quais são dispersos para os tecidos das plantas por respingos de água, através do impacto de gotas de chuva sobre essas massas de esporos.

A taxa de transmissão de Diaporthe spp. pela semente é baixa, sendo considerada uma fonte de inóculo de menor importância para a disseminação das doenças dentro da lavoura, quando comparada com os restos da cultura. Além da semente, a introdução na lavoura pode ocorrer por resíduos contaminados em máquinas e implementos agrícolas.

Cancro da haste

O cancro da haste, identificado no Brasil em 1988/1989, causou sérios prejuízos econômicos. A seleção e a adoção de cultivares resistentes resultaram em controle efetivo da doença. Esse cancro era causado por Diaporthe phaseolorum var. meridionalis, que recebia esse nome por

ocorrer em lavouras na região meridional dos Estados Unidos (sul), sendo denominado, atualmente, como D. aspalathi.

As lesões começam como pequenas manchas marrom-avermelhadas na base de um ramo ou pecíolo e depois se expandem para formar cancros ligeiramente afundados, de cor marrom-avermelhada com margens avermelhadas (Figura 1). Os cancros podem permanecer em um lado do caule e se estender por cerca de dois a quatro entrenós, matando a planta geralmente na fase de enchimento de grãos. As lesões aprofundam-se, causando necrose na medula e, em fase adiantada de infecção, pode ser observada a presença de folhas amareladas e com necrose entre as nervuras (folha-carijó). Plantas doentes geralmente ocorrem em reboleiras dentro dos campos.

Atualmente, todos os programas de melhoramento selecionam e lançam cultivares com resistência a D. aspalathi, sendo a informação sobre a reação à doença obrigatória para o registro das cultivares.

Na safra 2005/2006, foi relatado, no Rio Grande do Sul, o cancro causado por Diaporthe caulivora (antes denominado D. phaseolorum var. caulivora). Diaporthe caulivora é favorecido por temperaturas amenas e ocorre, principalmente, na região norte dos EUA, no sul do Brasil, no

Figura 1 - cancro da haste: lesões marrom-avermelhadas na haste

Uruguai e na Argentina. Os sintomas são semelhantes aos de D. aspalathi. É importante salientar que os genes que conferem resistência a D. aspalathi não são os mesmos para resistência a D. caulivora. Essas duas espécies diferenciam-se bastante das demais nas análises filogenéticas e são consideradas as principais causadoras do cancro da haste.

Nos isolamentos de plantas com sintomas de cancro da haste realizados em amostras recentes, não tem sido comum aparecer D. aspalathi. As principais cultivares foram retestadas recentemente pela Embrapa e por outros parceiros, com vários isolados de D. aspalathi, e não houve “quebra” de resistência até o momento. Diaporthe caulivora tem aparecido com baixa frequência nos isolamentos a partir de plantas com sintomas típicos de cancro e tem sido monitorada sua disseminação na região sul do Brasil.

Plantas com sintomas de cancro de diferentes regiões têm sido enviadas para vários laboratórios, em safras recentes, sendo encontradas outras espécies de Diaporthe spp. associadas aos sintomas. Tem sido comum o relato em trabalhos científicos em diferentes regiões do mundo de outras espécies causando cancro, como D. longicolla, D. ueckeri e D. masirevicii, por exemplo, mas sempre com menor agressividade e de forma esporádica. Esses fungos sobrevivem na palhada e não é incomum encontrar plantas com sintomas de cancro em lavouras de soja.

Os sintomas de cancro causados por outras espécies são menos severos, comparados a D. aspalathi e D. caulivora, e geralmente não causam a morte das plantas. As questões principais a serem avaliadas são qual a incidência e o dano aceitável, ou mesmo a substituição de uma cultivar muito suscetível a outras espécies.

Outro ponto importante a esclarecer é quanto aos erros no diagnóstico. Todo isolamento realizado a partir de planta morta, enviada para um laboratório de fitopatologia, tende a mostrar o aparecimento de três fungos, principalmente: Fusarium, Diaporthe e Colletotrichum. A diagnose no laboratório não pode ser dissociada do histórico da lavoura e das observações de campo. Isolar esses fungos de tecido de plantas nem sempre é indicativo de que eles são a causa primária da morte das plantas, uma vez que crescem como oportunistas em tecidos mortos. É importante avaliar a incidência do problema na região, a progressão dos sintomas nas plantas e a distribuição na lavoura.

O meio de cultura utilizado para isolamentos, na maioria dos laboratórios (ágar-água ou batata-dextrose-ágar), não é seletivo para o isolamento de outros patógenos, como Phytophthora sojae, o qual também causa lesões nas hastes, levando à confusão na identificação do agente causal, pelo aparecimento de outros fungos.

Plantas com outros sintomas de cancro, como os causados por calor, descargas elétricas (raio) ou dano de

inseto, se enviadas ao laboratório, vão resultar no isolamento de fungos oportunistas. A mensagem principal é: analisar com cuidado laudos de diagnóstico.

O resultado dos laboratórios indica que fungos foram encontrados associados à amostra e não necessariamente são os causadores dos sintomas observados. Para afirmar que um agente é o causador de determinada doença, é necessário cumprir os Postulados de Koch (isolar - inocular - obter o mesmo sintoma - reisolar), o que não é feito rotineiramente nos laboratórios, por questões de custo, tempo e estruturas necessárias. É importante, além do laudo, considerar o histórico de doenças das lavouras e o conhecimento já adquirido antes de mudar o manejo.

Podridão de grãos

A podridão de grãos ganhou destaque a partir de 2020, principalmente na região do meio-norte de Mato Grosso e em Rondônia, mas é uma doença antiga da soja que sempre ocorreu em todas as lavouras, porém em menor incidência. O que fez com que ganhasse destaque foi a alta incidência nessas regiões. O sistema de produção mudou nos últimos anos, com a antecipação da semeadura da soja e a utilização de cultivares precoces para uma segunda semeadura com milho ou algodão. Essas áreas são colhidas em épocas de alta precipitação e temperatura, o que favorece a podridão de grãos.

Diaporthe longicolla sempre foi a principal espécie associada à podridão de grãos. Atualmente, com ferramentas moleculares, novas espécies têm sido reportadas e, no caso da podridão de grãos, o número de relatos de espécies é crescente. Além de Diaporthe, uma série de outros fungos pode ser recuperada de grãos avariados, sendo também frequente o isolamento de Fusarium spp.

Diaporthe pode ser isolado de

Figura 2 - grãos avariados com aspecto esbranquiçado
Leila M. Costamilan

Figura 3 - distribuição de espécies de Diaporthe spp. na coleção de microrganismos da Embrapa Soja, oriundos de amostras de plantas de soja com diferentes sintomas, coletadas entre 1992 e 2003, em oito estados brasileiros

grãos assintomáticos ou avariados, com aspecto esbranquiçado (Figura 2). O principal dano da doença é a redução na germinação. Entre as espécies relatadas nos grãos assintomáticos e sintomáticos, em diferentes regiões que cultivam soja no mundo, pode-se citar: D. aspalathi, D. caulivora, D. kongii, D. longicolla, D. sojae, D. ueckeri, D. unshiuensis, D. bacilloides, D. flavescens, D. insulistroma e D. endophytica, e esse número só cresce conforme aumentam as amostragens e os sequenciamentos.

Importa para o produtor qual o gênero ou a espécie do fungo está dentro da vagem com grão apodrecido? Não. Qualquer estratégia de controle, seja genética ou química, tem que ser eficiente para todo o espectro de gêneros ou espécies que causam os sintomas.

As espécies mais frequentes nos isolamentos no Brasil têm sido D. longicolla e D. ueckeri, sendo a primeira a que foi descrita com a doença. A dúvida que surgiu foi se D. ueckeri era uma nova espécie ou se somente havia um problema de classificação.

A Embrapa Soja possui uma coleção de microrganismos obtidos de amostras de plantas com diferentes sintomas, mantidos na Coleção de Microrganismos de Interesse para a Agricultura da Embrapa Soja (CMES), muitos dos quais identificados inicialmente com base em características da colônia, da morfologia e dos sinto-

mas nas plantas.

Recentemente, 156 isolados obtidos de amostras coletadas em oito regiões brasileiras, em diferentes décadas (1992-2023) e de plantas com diferentes sintomas, foram analisados pelo sequenciamento de regiões ITS (espaçador transcrito interno) do RNA ribossomal e do gene EF1α (fator de elongação). Neste conjunto, a espécie mais frequente foi D. ueckeri (69 isolados), seguida de D. longicolla (32 isolados), D. aspalathi (26 isolados) e D. caulivora (três isolados), e não se chegou à identificação da espécie em 26 isolados (Figura 3). Isolados de D. ueckeri mais antigos datam do ano de 2000, sendo que a espécie foi coletada ao longo dos anos 20002023 e representou mais de 50% dos isolados analisados. Os três isolados de D. caulivora identificados datam dos anos 2000 e 2007 e são oriundos do Rio Grande do Sul.

Essa análise da coleção mostra que D. ueckeri não é uma espécie nova no Brasil, e que só não havia sido identificada porque não eram utilizadas análises moleculares. Essa espécie tem sido relatada em várias regiões que cultivam soja no mundo, como EUA, China, Colômbia e Uruguai, não sendo exclusiva do Brasil. Mudou algo em relação ao patossistema, além do relato de um grande número de espécies adicionais? Não. O que mudou foram as cultivares e o sistema de produção, com colheitas

em ambientes que favorecem o desenvolvimento da doença. Trabalhos têm sido realizados nas regiões com maior incidência, selecionando cultivares menos sensíveis e fungicidas que podem contribuir na redução do problema.

Assim como no caso do cancro da haste, há muita confusão com relação ao diagnóstico da podridão de grãos, uma vez que esses fungos podem ser oportunistas. Em algumas regiões do Paraná e de Mato Grosso do Sul, na safra 2024/2025, lavouras semeadas em outubro tiveram chuvas irregulares e altas temperaturas na fase de enchimento de grãos, considerada crítica para estresses climáticos, pois podem causar abortamento de flores, vagens e grãos.

Atualmente, a maioria das cultivares comerciais é de hábito de crescimento indeterminado. Devido ao seu período prolongado de floração, essas cultivares podem se recuperar melhor de períodos curtos de estresses climáticos, e continuar a produção de flores e vagens quando as chuvas retornam, o que foi a situação observada na última safra. Muitas lavouras instaladas no início de outubro, nessas regiões, tiveram as vagens do baixeiro com problemas no enchimento e maturação forçada, e, com o retorno das chuvas, ocorreu a formação das vagens na parte superior das plantas, além de germinação e apodrecimento de grãos nas vagens

Figura 4 - haste morta com picnídios de Diaporthe spp, pequenos pontos negros em fileiras

da parte de baixo das plantas, sintomas esses confundidos com doença. Plantas nessa situação apresentaram incidência de sementes verdes, germinação prematura da semente, abertura de vagens pelos ciclos de umidade e seca, grãos avariados e infectados por fungos e hastes verdes na colheita.

Em razão dos sintomas causados pelo estresse climático, se atribuiu a presença de vagens podres e grãos avariados à doença. Novamente faz-se o alerta para o diagnóstico correto. Qualquer vagem dessas plantas enviadas para laboratórios pode mostrar a presença de Diaporthe, Fusarium, Colletotrichum e outros fungos, mas a causa primária da podridão provavelmente foi o estresse climático. Cultivares com maior tolerância a estresses climáticos e em sistemas de manejo que favoreceram maior manutenção de água no solo e melhor enraizamento tiveram menos problemas de podridão de grãos nas vagens na parte de baixo das plantas.

Seca da haste e das vagens

Foi a primeira doença causada por Diaporthe a ser descrita na cultura da soja, em 1920, e é considerada de menor importância, sendo frequentemente observada em hastes e vagens mortas, produzindo pequenos pontos negros em fileiras (picnídios) (Figura 4). Muitos pesquisadores consideram um parasita fraco, por que se desenvolve principalmente em tecido morto.

No Brasil, o primeiro relato na

soja foi em 1951, em São Paulo. A espécie primeiramente associada à seca das hastes e das vagens foi D. sojae. No país, não são realizados estudos sobre quais espécies predominam, em função da reduzida importância. Diaporthe sojae não tem sido observado com frequência em isolamentos, podendo indicar que a classificação inicial, baseada em morfologia dos esporos, pode não ter sido a mais acurada para a identificação da espécie. Na China, D. longicolla, D. unshiuensis, D. sojae, D. caulivora, D. tectonigena e espécies não identificadas têm sido obtidas de amostras com sintomas de seca das hastes, com predominância de D. longicolla.

Apesar dos picnídios do fungo serem encontrados em vagens secas e pouco desenvolvidas, não há evidências de que o fungo seja a causa primária da morte prematura dessas vagens. Outros fatores, como excesso de produção de vagens, estresses climáticos, desequilíbrio nutricional e ataque por insetos que favoreçam o abortamento de vagens, podem levar ao desenvolvimento posterior dos picnídios e, também, de estruturas de outros fungos nas vagens, como os de Colletotrichum e de Fusarium.

Outro sintoma bastante típico e que sempre é encontrado em plantas secas e nos restos de cultura da soja, após a colheita, são os desenhos no colo e em raízes, chamados de manchas geográficas, típicos de Diaporthe spp. (Figura 5). A espécie atribuída a esses sintomas é D. longicolla, mas, como ocorre nas ou-

tras doenças, se forem aumentadas a amostragem e a identificação por sequenciamento genético, pode ser que outras espécies também sejam encontradas e descritas.

Sumarizando as análises

O que mudou no complexo de doenças causadas por Diaporthe spp.?

A maior precisão na identificação das espécies tem mostrado que nada é tão exato como definido no passado, com uma ou duas espécies causando cada doença, e que diferentes espécies podem causar mais de um sintoma.

No caso do cancro da haste, têm sido encontradas espécies para as quais as cultivares não são selecionadas. Na podridão de grãos, se não considerar a nomenclatura de fungos, que se altera com a identificação mais precisa pela análise molecular, o que mudou foi o sistema de produção, que pode favorecer a maior ou menor incidência dessas doenças já conhecidas há tempos. Nas regiões que têm sido observadas com maior intensidade, é importante dar ênfase no seu manejo, selecionando cultivares menos suscetíveis e fungicidas mais eficientes. Publicações sobre o assunto estão disponíveis para download no site www.fitossanidadetropical.org.br.

O destaque que se deu a esses “novos problemas” só fez com que os agricultores e técnicos os observassem mais atentamente, constatando que se encontram em todas as regiões, como já acontecia no século passado.

Claudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas, Francismar C. Marcelino-Guimarães, Maurício C. Meyer, Rafael M. Soares, Embrapa Soja; Leila M. Costamilan, Embrapa Trigo C

Figura 5 - desenhos no colo de plantas de soja, chamados de manchas geográficas, típicos de Diaporthe spp.

Mais adubo para mais sementes

Deficiência de fósforo causa redução do crescimento e do desenvolvimento da planta de milho, especialmente de seu sistema radicular

Omilho é uma das principais culturas produzidas no Brasil e apresenta grande importância no que se refere à alimentação humana e animal. Nesse contexto, a fertilização atua como um parâmetro essencial para a obtenção de altas produtividades, por se tratar de um manejo agronômico diretamente relacionado

ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas. A aplicação de adubação de base, então, evidencia-se como uma prática imprescindível para auxiliar no estabelecimento inicial da cultura e, consequentemente, no rendimento final da lavoura, pois a dose a ser aplicada na adubação de base pode impactar diretamente na produtividade do milho.

O potássio é um nutriente es-

sencial ao crescimento e ao desenvolvimento de uma planta de milho. Isso porque esse nutriente desempenha funções primordiais em processos fisiológicos, como a manutenção do balanço hídrico celular, a fotossíntese, o transporte de nutrientes e açúcares e a síntese de proteínas. Por outro lado, a deficiência de potássio causa redução do crescimento da planta e prejudica seu desenvolvimento

radicular, impactando diretamente no rendimento final da lavoura. O fósforo também é um nutriente essencial para o sucesso produtivo de uma lavoura de milho, uma vez que esse nutriente está relacionado com os processos de armazenamento e transferência de energia, desempenhando funções vitais no que se refere aos processos fisiológicos, como a síntese de ácidos nucleicos, a fotossíntese e a respiração. Outra função primordial que o fósforo desempenha nas fases iniciais de desenvolvimento da planta é contribuir para a formação do sistema radicular, o que impacta diretamente em uma melhor capacidade de absorção de água e nutrientes e, portanto, na produção final da lavoura. Por outro lado, a deficiência de fósforo causa redução do crescimento e do desenvolvimento da planta de milho, especialmente de seu sistema radicular, assim como atraso do florescimento.

A fim de verificar a influência

A fertilização atua como um parâmetro essencial para a obtenção de altas produtividades, por se tratar de um manejo agronômico diretamente relacionado ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas

de duas doses de adubação de base no rendimento da cultura do milho, um experimento foi conduzido, durante a safra de 2022/2023, na área experimental e didática de Plantas de Lavoura da Palma, localizada no município de Capão do Leão (RS) e pertencente à Universidade Federal de Pelotas.

Como foi realizado o experimento

O delineamento experimental

usado foi o de blocos ao acaso e o fator utilizado foi de duas diferentes doses de adubo (NPK), formulação (5-20-20), sendo elas 260 kg/ha e 400 kg/ha.

O manejo agronômico foi realizado de acordo com recomendações para a cultura. As plantas foram colhidas manualmente e, posteriormente, armazenadas em câmara fria, com 13% de umidade, à temperatura de 15°C.

Os dados foram submetidos à análise da variância e, se sig -

Cultivar Grandes Culturas

nificativos pelo teste F em nível 5% de probabilidade, submetidos à análise de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Respostas obtidas

Como resultados, observou-se que, quando aplicados 400 kg/ha de adubo, houve aumento de 23,7% no número de sementes por fileira (Figura 1b) e de 40,8% no rendimento (Figura 1d), se comparado com a aplicação de 200 kg/ha. Já para o número de fileiras (Figura 1a) e peso de mil sementes (Figura 1c), não houve diferença entre as doses de aplicação de adubo utilizadas.

Nesse contexto, é possível observar que, ao utilizar 400 kg/

ha de adubo, houve incremento no número de sementes por fileira (Figura 1b) e, sendo o número de sementes por fileira um parâmetro que define a produtividade final de uma lavoura de milho, o rendimento também aumentou (Figura 1d). Tais dados estão relacionados com a exigência nutricional da cultura, principalmente no que se refere aos nutrientes essenciais potássio e fósforo. Ou seja: com a aplicação da maior dose de adubo, as plantas de milho responderam de melhor forma quanto ao rendimento. Isso porque a falta de nutrientes como o potássio e o fósforo em níveis ideais para a cultura pode ocasionar efeitos deletérios na planta. Quando há indisponibilidade de fósforo, por exemplo, o sistema radicular da planta po -

de ser afetado. Da mesma forma, as raízes são prejudicadas quando há falta de potássio. Assim, o crescimento e o desenvolvimento da planta são afetados e, em consequência, seu rendimento final.

Portanto, a adubação de base com a dose de 400 kg/ha pode proporcionar maior número de sementes por fileira, impactando positivamente no rendimento. C C

Benhur Schwartz Barbosa, Angelita Celente Martins, UFPel; Emanuela Garbin Martinazzo Aumonde, Furg; Tiago Zanatta Aumonde, Tiago Pedó, UFPel

Figura 1 - número de fileiras (NL), número de sementes por fileira (NSF), massa de mil sementes (MMS) e rendimento (Rend) (kg/ha) de plantas de milho produzidas sob diferentes doses de adubação de base

Alerta Elaphria

Por serem pragas polífagas, lagartas desse gênero apresentam risco de impacto econômico em culturas agrícolas

Acultura do milho continua em ascensão no Brasil, representando grande força no cenário agrícola. Em junho de 2024, o país enviou ao exterior 850,32 mil toneladas do grão, 102,22% a mais do que no mês anterior, registrando um grande “salto” na exportação. No que se refere ao Mato Grosso, maior produtor brasileiro, representa 66,81% dos envios nacionais até junho de 2024 (Imea – Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, 2024).

Entre os desafios que a cultura enfrenta para manter sua qualidade e quantidade de grãos, as pragas e doenças são as principais ameaças presentes no campo de produção. O clima da safra 23/24 foi favorável para a disseminação de doenças e o aumento populacional de pragas, sendo que as lagartas, como de costume, estiveram presentes em altas

infestações em todos os híbridos utilizados comercialmente. Seja na fase vegetativa ou na reprodutiva, as lagartas são de difícil controle e causam danos que reduzem drasticamente a qualidade dos grãos, sendo responsáveis pela maior parte dos gastos fitossanitários na cultura do milho.

Estamos acostumados com algumas espécies de lagartas, como é o caso da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a qual causa grande prejuízo desde a fase inicial da cultura até a final, sendo considerada a principal lepidóptera praga no milho. Outro problema que estamos familiarizados é com

a lagarta-da-espiga (Helicoverpa spp.), a qual, como o próprio nome comum já diz, ataca de maneira voraz espigas e órgãos reprodutivos da cultura. A espécie Spodoptera frugiperda, como esperado, foi a praga de maior ocorrência na safra 23/24. Também foram encontradas lagartas do gênero Helicoverpa, entretanto em menor quantidade,

chler, 1880) (Lepidoptera: Noctuidae: Noctuinae: Elaphriini) (Specht, A. et al., 2014).

muito mais reduzida quando comparada à safra 22/23. Outra lagarta presente, até então não popularmente conhecida, é a do gênero Elaphria. Relatos iniciais

No ano de 2014, o gênero Elaphria foi relatado pela primeira vez no estado do Mato Grosso. Os pesquisadores coletaram lagartas nos municípios de Nova Mutum, Campo Verde e Tangará da Serra. Eles realizaram análises morfológicas dos espécimes adultos e indicaram a presença de Elaphria agrotina (Guenée, 1852) e E. deltoides (Mös-

Na safra passada, o Departamento de Entomologia da Fundação Rio Verde relatou a presença da lagarta Elaphria na fase final do milho, quando era nítido que as lagartas se alimentavam de palha e grãos secos, condizendo com sua preferência alimentar. Dessa maneira, para compreender o cenário de final de ciclo da cultura no município de Lucas do Rio Verde (MT), foi realizada uma amostragem no estádio R6. As coletas ocorreram dentro das dependências da Fundação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde (MT), em híbridos comerciais que receberam o mesmo manejo fitossanitário, totalizando mil espigas avaliadas. A espécie Spodoptera frugiperda, como esperado, foi a praga de maior ocorrência, mas a grande porcentagem das lagartas do gênero Elaphria chamou a atenção.

Já na safra atual, o Departamento de Entomologia da Fundação Rio Verde relatou a presença da lagarta Elaphria nas lavouras com espigas R3 - R4, ou seja, estádios precoces quando comparados à safra anterior. Novas coletas foram realizadas dentro das dependências da Fun-

dação Rio Verde, em Lucas do Rio Verde (MT), em híbridos comerciais que receberam o mesmo manejo fitossanitário, totalizando mil espigas avaliadas. A espécie Spodoptera frugiperda, novamente, foi a praga de maior ocorrência, mas as lagartas do gênero Elaphria continuaram a ser encontradas.

Identificação da praga

Por ser uma praga polífaga, ou seja, se alimenta de várias famílias de plantas, o gênero Elaphria apresenta risco de impacto econômico a culturas como a do milho, sendo de grande importância identificar quais espécies estão localizadas na área de milho competindo por espaço com a lagarta de maior população que é a Spodoptera frugiperda. Para isso, as lagartas encontradas foram submetidas à análise molecular, sendo utilizada a técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), para afirmarmos com segurança o gênero e a espécie, e, assim, foi possível determinar que a espécie analisada se tratava da lagarta Elaphria deltoides.

A identificação dessa praga nos possibilita compreender que uma nova espécie está se adaptando na região e, mesmo em uma porcenta-

Lagartas na fase final do milho – Espigas
Lagartas do gênero Elaphria, até então não popularmente conhecida

gem menor do que a do ano passado, indica-nos que desde 2014 ela está na cultura do milho e não apenas na fase de espigas secas, mas, como foi observado nessa última coleta, também atua como praga nas espigas verdes. Essa informação é importante para todo corpo técnico e produtores, pois nos direciona para a identificação correta das lagartas-praga do milho, bem como nos possibilita compreender como os inseticidas e híbridos utilizados vão atuar com essa nova praga estabelecida no sistema.

Métodos de combate

Temos, então, novos desafios à frente. É preciso analisar e realizar pesquisas para avaliarmos se os mesmos inseticidas utilizados para Spodoptera frugiperda, alvo da maioria das aplicações na cultura do milho, também são eficientes para

Elaphria deltoides. Junto com as aplicações de inseticidas, é importante verificar como a tecnologia Bt disponível no mercado oferecerá proteção contra esta praga. Outro ponto importante é a presença desta praga em outras culturas. No monitoramento realizado pela Fundação Rio Verde, ainda não detectamos presença da E. deltoides em culturas como soja e algodão, mas, por ser polífaga, é preciso manter a atenção. Para começar a obter essas respostas necessárias, visando à importância econômica do milho, os próximos passos serão continuar o monitoramento e gerar informação sobre níveis populacionais da praga nas lavouras comerciais.

Jéssica Gorri, Naiara Dias, Dávila Matos, Fundação Rio Verde C

Também foram encontradas lagartas do gênero Helicoverpa, entretanto em menor quantidade
Cultivar Grandes Culturas
A espécie Spodoptera frugiperda, como esperado, foi a praga de maior ocorrência

Agregação do solo

Medida é fundamental para promover solos produtivos e naturais, contribuindo para a sustentabilidade agrícola e a redução de impactos ao meio ambiente

Aagregação do solo é uma atividade ecossistêmica de estruturação natural do solo. Com o avanço da ciência, passou a ser também uma atividade tecnológica. Em função da interação de processos físicos, químicos e biológicos, ocorre a união de partículas minerais (areia, silte e argila), matéria orgânica e compostos químicos, formando estruturas polifórmicas denominadas agregados. Essas estruturas são fundamentais na construção do biótopo do solo, ou seja, formam a base física onde as interações biológicas, químicas e físicas ocorrem.

O biótopo é o conjunto de condições abióticas (fatores físicos e químicos, como solo, água, temperatura, luz etc.) que formam o ambiente onde vive uma comunidade biológica. Regula aspectos como o espaço físico, local onde os organismos vivem e interagem; os recursos, como a disponibilidade de nutrientes, água e energia; e as con-

dições ambientais, como temperatura, umidade e luz, que afetam diretamente os organismos.

Como elemento essencial da estrutura do solo, o agregado contribui diretamente para o seu funcionamento como habitat para organismos vivos, além de processos críticos regulares para a saúde do ecossistema.

Formação na natureza

A formação dos agregados do solo na natureza é um processo complexo que envolve interações físicas, químicas e biológicas.

Interações físicas ocorrem basicamente de três formas: por ação das raízes, que penetram no solo, gerando pressões mecânicas que aproximam partículas de solo, como argila, silte, areia e material orgânico, pelo atrito em função do crescimento que modela continuamente os agregados formados ou em formação; pelos ciclos de

umedecimento e secagem do solo, os quais provocam expansão e contração, favorecendo a compactação de partículas em agregados; pelos climas frios, quando o congelamento da água no solo cria fissuras que reorganizam as partículas.

Interações químicas de agregação ocorrem de diversas formas. Em solos tropicais, óxidos de ferro e alumínio atuam como agentes cimentantes, conectando partículas do solo. Em áreas mais áridas, o carbonato de cálcio pode formar agregados cimentados ao redor de partículas. A carga elétrica das argilas permite que partículas se liguem entre si ou com compostos orgânicos, estabilizando os agregados.

Interações biológicas de agregação ocorrem em função de dinâmica da atividade biológica, como é a decomposição de resíduos vegetais e animais liberando compostos como ácidos húmicos e fúlvicos, que "colam" partículas de solo. Também, substâncias liberadas pelas

Insumos para agregação tecnológica

Compostos sólidos

Compostos líquidos

Material orgânico

Esterco

Biochar

Bokashi

Calcário

Gesso

Insumos químicos

Bioinsumos

Fosfato

Polímeros estabilizantes

Fungos micorrízicos

Bactérias promotoras de crescimento

Inoculantes consorciados

Biopolímeros

Extratos

raízes (exsudatos), como polissacarídeos, ajudam a "grudar" partículas. Dentre as atividades de organismos do solo, os fungos atuam como uma rede que une partículas de solo, bactérias produzem mucilagens que estabilizam os agregados, e as minhocas, ao movimentarem o solo, criam agregados em seus túneis com partículas aglutinadas por matéria orgânica.

A formação natural dos agregados é essencial para manter a estrutura do solo, influenciando propriedades como infiltração de água, aeração, retenção de nutrientes e resistência à erosão. Em solos bem agregados, as partículas estão dispostas de modo que formam poros maiores e menores, essenciais para a circulação de água e ar, além de abrigar a biota do solo.

Em resumo, os agregados do solo são formados por um trabalho conjunto da natureza, envolvendo processos físicos, químicos e bioló-

gicos que aproximam e estabilizam partículas, criando uma estrutura fundamental para a fertilidade e a saúde do solo. A Figura 1 destaca um perfil do solo mostrando o processo de agregação natural presente na superfície.

Formação por via tecnológica

A formação de agregados do solo por via tecnológica envolve práticas e técnicas desenvolvidas para melhorar a estrutura do terreno, simulando ou potencializando processos naturais.

Uso de insumos condicionadores de solo e de compostos orgânicos, como esterco, composto líquido, composto sólido e biochar, fornece carbono e nutrientes que auxiliam na agregação das partículas do solo. Insumos químicos calcário e gesso ajustam o pH e promovem a floculação de partículas de argila, favorecendo a agregação. Fertilizantes fosfatados podem atuar como estabilizadores, ligando partí-

culas em agregados mais estáveis.

Atualmente, o destaque vem dos bioinsumos utilizados na agregação tecnológica do solo. São organismos vivos ou derivados biológicos que atuam direta ou indiretamente para melhorar a estrutura e a estabilidade dos agregados do solo. Eles promovem a interação entre partículas minerais e matéria orgânica, favorecendo a formação de agregados. A Tabela 1 destaca os principais tipos de insumos disponíveis ao agricultor. Dentre as principais vias tecnológicas utilizadas nesse contexto, temos:

A) Microrganismos benéficos, como os fungos micorrízicos arbusculares (FMA), as bactérias promotoras do crescimento de plantas (BPCP) e as actinobactérias que participam na formação de húmus; Trichoderma spp., além de serem biofungicidas, promovem a formação de matéria orgânica estável.

B) Compostos líquidos fermenta-

Figura 1 - perfil cultural em solo com pastagem
Tabela 1 - tipologia de insumos para agregação tecnológica
Mônica Galdino da Silva

dos ricos em microrganismos, à base de bactérias e fungos, ajudam na recuperação da microbiota do solo, melhorando a agregação.

C) Biofertilizantes. Ácidos húmicos e fúlvicos, extratos de algas e subprodutos do camarão podem ser usados como bioinsumos no manejo do solo.

D) Exsudatos radiculares gerados pela associação dos microrganismos com as raízes. Os fungos micorrízicos e as BPCP estimulam a agregação do solo.

E) Polímeros biológicos, que são substâncias naturais como mucilagem e glomalina (produzidas por fungos) e exopolissacarídeos (produzidos por bactérias), ajudam a cimentar partículas do solo.

F) Biocarvão inoculado (biochar). Quando combinado com microrganismos ou compostos orgânicos, o biocarvão melhora as propriedades físicas do solo e promove a agregação.

G) Caldos microbiológicos formulados com bases tradicionais como composto líquido, que se referem a uma solução ou suspensão líquida proveniente da compostagem líquida contínua de fontes orgânicas naturais e EM, Microrganismos Eficientes (“Effective Microorganisms”).

Para potencializar os efeitos dos bioinsumos na agregação do solo é recomendado combinar esses materiais com outras práticas de ma-

nejo sustentável, como cobertura vegetal e adubação verde.

Diretrizes do manejo de agregação

Manejo de agregação é o conjunto de práticas e estratégias aplicadas ao solo para promover, preservar ou restaurar a estabilidade estrutural dos agregados, garantindo sua capacidade de resistir à desagregação por forças externas, como água ou vento. Esse manejo integra ações que estimulam processos físicos, químicos e biológicos responsáveis pela formação e estabilização dos agregados, visando à sustentabilidade e à produtividade dos sistemas agrícolas e ecológicos.

O manejo de agregação envolve práticas que favorecem a formação, estabilização e preservação dos agregados do solo, com benefícios diretos para a fertilidade, a infiltra-

ção de água, a redução de erosão e o aumento da resiliência do solo. A Figura 2 mostra a representação esquemática das principais práticas recomendadas para o manejo de agregação.

Conclusões das análises

A agregação do solo é essencial para a sua saúde e funcionalidade, impactando fatores físicos (estrutura, porosidade e resistência à erosão), químicos (retenção de nutrientes e matéria orgânica) e biológicos (atividade microbiológica e biodiversidade). Melhorar e manter a agregação é fundamental para promover solos produtivos e naturais, contribuindo para a sustentabilidade agrícola, o aumento da resiliência do solo e a redução de impactos ambientais. A Figura 3 destaca os fatores de importância da agregação do solo para a agricultura.

Afonso Peche Filho, Instituto Agronômico de Campinas; Luiz Henrique Fregulia Aiello, Unesp; Moises Storino, Instituto Agronômico de Campinas; Admilson Irio Ribeiro, Unesp; Sonia Elisabete Pereira, Instituto Agronômico de Campinas C C

Figura 2 - práticas fundamentais para agregação do solo
Figura 3 - fatores de importância da agregação do solo

Ação ovicida e seletividade

Pesquisa revela inseticidas que agem sobre a fase de ovos do percevejo-marrom, quebrando seu ciclo de vida, ao mesmo tempo que preservam a ação de controle biológico exercida por um parasitoide que vive dentro do ovo da praga

Dentre as várias espécies de percevejos que constituem o complexo de sugadores, o percevejo-marrom Euschistus heros (Fabricius 1798) (Hemiptera: Pentatomidae) (Figura 1), atualmente, consiste na espécie mais frequente e com uma participação acima de 90% no complexo de percevejos sugado-

res em várias regiões produtoras de grãos e fibras do Brasil. A importância do percevejo-marrom como praga da soja é elevada. Por se alimentarem diretamente das vagens, sugam os grãos, podendo causar queda na produtividade, redução na qualidade do grão ou injetar enzimas salivares tóxicas, prejudicando o desenvolvimento normal

das plantas. Além disso, são difíceis de controlar e têm atingido densidades populacionais geralmente muito superiores aos níveis de dano econômico. A exemplo disso, no Cerrado brasileiro, o complexo de percevejos tem sido alvo de, em média, 4,1 aplicações durante o ciclo da cultura de soja, numa análise de 400 mil hectares, com aplicações em número crescente, nas últimas três safras (Juliano de Bastos Pazini, informação pessoal, dados não publicados).

O controle químico do percevejo-marrom, em muitas circunstâncias, se impõe como o único método capaz de evitar perdas econômicas de produção, com rapidez e facilidade. Para o controle dessa praga, geralmente, utilizam-se de inseticidas organofosforados, piretroides e neonicotinoides, isolados ou em mistura. A ação desses inseticidas, basicamente, tem sido explorada

Figura 1 - descendentes a caminho: fêmea do percevejo-marrom em processo de oviposição em planta de soja. O ciclo de desenvolvimento do percevejo-marrom, de ovo a adulto, varia de 25 a 30 dias, podendo ser mais curto em épocas de temperaturas mais elevadas

sobre ninfas e adultos; por contato, por meio do atingimento direto no inseto, geralmente dorsal, ou tarsal, no ato de caminhamento do inseto em superfícies da planta contaminada; e por ingestão, no momento da alimentação de estruturas vegetais contaminadas, após translocação do inseticida nos tecidos da planta. No entanto, para muitas outras espécies de pragas agrícolas, também tem sido observado efeito ovicida, quando o inseticida atinge diretamente os ovos depositados sobre hastes, folhas e estruturas reprodutivas das plantas cultivadas. No caso do percevejo-marrom, como os ovos são depositados sobre folhas ou vagens, o atingimento desses ovos por inseticidas com ação ovicida ampliaria o potencial de controle da praga, já que a interrupção do período embrionário provocaria a “quebra” do ciclo biológico natural do percevejo, evitando o nascimento de ninfas/ desenvolvimento de adultos, isto é, o crescimento da população na lavoura e, consequentemente, os prejuízos econômicos à soja.

Mediante a dinâmica de insetos na agricultura, em especial no sistema de produção soja-milho-algodão no Brasil, onde o perceve-

jo-marrom é altamente adaptado, aliado ao frequente uso de inseticidas visando seu controle, seja pela introdução de novos compostos químicos, seja pela utilização de ingredientes ativos semelhantes nas três culturas, mas em distintas concentrações e formulações, os agricultores precisam de informações completas sobre produtos fitossanitários, a exemplo da seletividade, a fim de ajustarem suas rotinas de

MIP. A seletividade possui objetivos conservacionistas dos sistemas de produção, atuando na proteção e no fomento de insetos benéficos, como parasitoides e predadores. Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Platygastridae) (Figura 2) é o parasitoide mais eficiente de ovos do percevejo-marrom da soja, com taxas de parasitismo que podem chegar a 80%, e encontra-se amplamente distribuído no território brasileiro. Prova disso, na safra 2023/24, um estudo desenvolvido pelo laboratório de Entomologia Aplicada, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, demonstrou que a liberação desse parasitoide manteve a população do percevejo abaixo do nível de controle, proporcionando, com isso, incremento de produtividade, quando comparado às áreas com manejo convencional por meio de inseticidas (Bortolotto et al., dados não publicados). Assim sendo, estudos que avaliem e explorem totalmente o controle químico do percevejo-mar-

Tratamento/formulação

Acefato / 750 (SP)

Alfa-cipermetrina+acetamiprido / 200+100 (SC)

Bifentrina+acetamiprido / 250+250 (WG)

Bifentrina+imidacloprido / 50+250 (SC)

Dinotefuram+piriproxifem / 100+25 (EW)

Fenitrotiona+esfenvalerato / 800+40 (EC)

Fenpropatrina+acetamiprido / 112+75 (EW)

Lambda-cialotrina+dinotefuram / 48+84 (EW)

Lambda-cialotrina+sulfoxaflor / 150+100 (SE)

Lambda-cialotrina+tiametoxam / 106+141 (SC)

Controle (Água destilada) (“testemunha”)

aDose/hectare (l ou kg de produto/ha); bEfeito de inseticidas sobre ovos de Euschistus heros. *Médias dos tratamentos seguidas com as mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente (Teste de Dunn com correção de Bonferroni, P<0,05)

Tabela 1 - efeito de inseticidas sobre ovos do percevejo-marrom Euschistus heros (E.h.) (efeito ovicida)
Fotos Arquivo

rom, sem desconsiderar a preservação do controle biológico exercido naturalmente por insetos benéficos no sistema de produção, são essenciais ao MIP-soja. Informações dessa natureza promovem o sucesso de programas de MIP-soja, pois auxiliam na tomada de decisão diária do agricultor, principalmente quanto ao produto a ser aplicado.

Estudo realizado

Em trabalho científico publicado recentemente no periódico Arthropod Management Tests (doi. org/10.1093/amt/tsae001), determinou-se o impacto diferencial de inseticidas sobre ovos do percevejo-marrom Euschistus heros e seu parasitoide Telenomus podisi. O objetivo geral foi gerar conhecimento, a fim de auxiliar na escolha de inseticidas com maior efeito ovicida contra a praga (percevejo-marrom) e menos nocivos às fases imaturas (larva e pupa, que vivem dentro do ovo da praga) do parasitoide de ovos (T. podisi).

Inseticidas utilizados

Utilizaram-se 11 formulações comerciais de inseticidas sobre ovos do percevejo-marrom, tanto não parasitados como parasitados por T. podisi. Tratam-se de inseticidas de distintos modos de ação (IRAC MoA), formulações, que são registrados e amplamente empregados para o controle de E. heros na cultura da soja. Os inseticidas foram utilizados na maior concentração recomendada em bula pelo fabricante (dose de campo), com volume de calda de 200 l/ha. Água destilada foi utilizada no tratamento testemunha. A metodologia de aplicação adotada foi a de imersão dos ovos na calda inseticida (tratamento) durante cinco segundos.

Tabela 2 - efeito de inseticidas sobre as fases imaturas (larva e pupa - dentro do ovo do percevejo-marrom) do parasitoide de ovos Telenomus podisi (T.p.) (seletividade)

Tratamento/formulação

Acefato / 750 (SP)

Alfa-cipermetrina+acetamiprido / 200+100 (SC)

Bifentrina+acetamiprido / 250+250 (WG)

Bifentrina+imidacloprido / 50+250 (SC)

Dinotefuram+piriproxifem / 100+25 (EW)

Fenitrotiona+esfenvalerato / 800+40 (EC)

Fenpropatrina+acetamiprido / 112+75 (EW)

Lambda-cialotrina+dinotefuram / 48+84 (EW)

Lambda-cialotrina+sulfoxaflor / 150+100 (SE)

Lambda-cialotrina+tiametoxam / 106+141 (SC)

Controle (Água destilada) (“testemunha”)

aDose/hectare (l ou kg de produto/ha); befeito de inseticidas sobre Telenomus podisi (fase de larva: aplicação de inseticidas em ovos parasitados = 72 h após o parasitismo; fase de pupa: aplicação de inseticidas em ovos parasitados = 216 h após o parasitismo); *médias dos tratamentos seguidas com as mesmas letras na coluna não diferem estatisticamente (Teste de Dunn com correção de Bonferroni, P<0,05).

O Delineamento Experimental foi o Inteiramente Casualizado, com 11 tratamentos e cinco repetições.

Bioensaio de toxicidade

Posturas de E. heros contendo 60 ± 20 ovos foram fixadas, num espaço de cerca de 1 cm², em car-

telas de papel-cartão. Em seguida, cinco repetições foram separadas para cada tratamento para imersão em calda com os inseticidas. O bioensaio foi conduzido utilizando-se ovos do percevejo-marrom de 48 horas de idade.

Após a exposição aos inseticidas, as cartelas com os ovos foram man-

Figura 2 - posturas do percevejo-marrom: A) não parasitadas (“normais”) e B) parasitadas pelo parasitoide de ovos Telenomus podisi (“escurecidas” - sinal do parasitismo). O parasitoide adulto deposita seu ovo dentro do ovo do percevejo (hospedeiro), matando-o. O parasitoide completa seu ciclo (ovo, larva e pupa) inteiramente dentro do ovo do percevejo, entre dez e 12 dias

Figura 1 - descendentes a caminho: fêmea do percevejo-marrom em processo de oviposição em planta de soja. O ciclo de desenvolvimento do percevejo-marrom, de ovo a adulto, varia de 25 a 30 dias, podendo ser mais curto em épocas de temperaturas mais elevadas

tidas em condições de laboratório (temperatura: 27±1°C; UR: 60±10%; fotofase: 14 horas) para secagem por cerca de uma hora. Depois, foram transferidas para tubos de vidro até a eclosão das ninfas do percevejo. Quantificou-se a viabilidade dos ovos pulverizados, determinada por intermédio da contagem de ninfas eclodidas.

Bioensaio de seletividade

Posturas de E. heros (60 ± 20 ovos) foram oferecidas para duas fêmeas de T. podisi de mais de 48 horas de idade, por 24 horas, no interior de tubos de vidro. Após parasitismo, as fêmeas foram removidas e os ovos parasitados foram fixados, num espaço de cerca de 1 cm², em cartelas de papel-cartão. A aplicação dos inseticidas ocorreu de forma semelhante ao citado no experimento anterior, porém, nos períodos de 72 horas e 216 horas após o parasitismo, correspondente às fases de larva e pupa do parasitoide. Depois da aplicação, as cartelas com os ovos foram mantidas em condições de laboratório para secagem por cerca de uma hora, sendo, posteriormente, transferidas para tubos de vidro até a emergência dos adultos do parasitoide. Avaliaram-

-se o número de ovos parasitados, mediante constatação de ovos escurecidos, e a viabilidade de ovos parasitados nos diferentes períodos de pulverização (72 horas e 216 horas), mediante contagem de adultos emergidos (F1).

Avaliações dos estudos

Os efeitos dos inseticidas sobre o percevejo-marrom E. heros e o parasitoide de ovos T. podisi foram avaliados pela contagem de ninfas

do percevejo eclodidas e de adultos de T. podisi emergidos de ovos tratados com os inseticidas, e determinados pela Análise de Variância não paramétrica de Kruskal-Wallis, com teste de comparação de médias de Dunn com correção de Bonferroni (P<0,05). Os percentuais de eclosão de ninfas de E. heros e de emergência de adultos de T. podisi nos tratamentos e na testemunha foram utilizados para o emprego da fórmula de correção de mortalidade de Henderson-Tilton (1955). Por fim, o grau de toxicidade diferencial dos inseticidas foi calculado mediante a razão entre o percentual de emergência de adultos de T. podisi e o percentual de eclosão de ninfas de E. heros. Como interpretação desse resultado, o maior valor obtido significa que o inseticida é, ao mesmo tempo, mais tóxico contra a praga (E. heros) e mais seletivo ao inimigo natural (T. podisi).

Principais resultados

Os resultados evidenciaram que

Figura 3 - mortalidade corrigida para o percevejo-marrom Euschistus heros (ovos) (barras azuis) e o parasitoide de ovos Telenomus podisi [larva (barras alaranjadas) e pupa (barras vermelhas)] após aplicação dos inseticidas. *Mortalidade corrigida (MC%) pela fórmula de Henderson-Tilton (1955): MC%= {[1- (n no controle antes da aplicação X n no tratamento depois da aplicação) / (n no controle depois da aplicação X n no tratamento antes da aplicação)] X 100}

Arquivo

os inseticidas fenpropatrina + acetamiprido (112 + 75, EW), dinotefuram + piriproxifem (100 + 25, EW) e lambda-cialotrina + sulfoxaflor (150 + 100, SE) provocaram os efeitos ovicidas mais significativos sobre o percevejo-marrom, reduzindo a eclosão de ninfas em ≥85% (Tabela 1 e Figura 3).

Com exceção de acefato (750, SP), todos os inseticidas reduziram significativamente a emergência de adultos do parasitoide de ovos T. podisi quando suas fases de larva e pupa dentro do ovo do percevejo foram expostas aos inseticidas (Tabela 2 e Figura 3). Os efeitos menos nocivos para a fase larval do parasitoide foram alcançados por acefato (750, SP), fenitrotiona + esfenvalerato (800 + 40, EC), fenpropatrina + acetamiprido (112+75, EW) e lambda-cialotrina + sulfoxaflor (150 + 100, SE), enquanto para a fase de pupa foram alcançados por acefato (750, SP), dinotefuram + piriproxifem (100 + 25, EW), fenitrotiona + esfenvalerato (800 + 40, EC) e fenpropatrina + acetamiprido (112 + 75, EW), com taxas de mortalidade ≤35% (Tabela 2 e Figura 3).

De acordo com o grau de toxicidade diferencial calculado, apresentado na Tabela 3, os três inseticidas mais tóxicos contra os ovos do percevejo-marrom, isto é, de maior efeito ovicida, e mais seletivos às fases imaturas do parasitoide de ovos (que vivem dentro do ovo da praga) foram fenpropatrina + acetamiprido (112 + 75, EW), dinotefuram + piriproxifem (100 + 25, EW) e lambda-cialotrina + sulfoxaflor (150+100, SE).

O conhecimento da ação ovicida dos inseticidas é importante no planejamento das estratégias de manejo. Por exemplo, os ingredientes ativos/formulações com melhor desempenho sobre a fase de ovos

Tabela 3 - toxicidade diferencial de inseticidas sobre o percevejo-marrom Euschistus heros (ovos) e o parasitoide de ovos Telenomus podisi (larva e pupa)

Tratamento/formulação

Acefato / 750 (SP)

Alfa-cipermetrina+acetamiprido / 200+100 (SC)

Bifentrina+acetamiprido / 250+250 (WG)

Bifentrina+imidacloprido / 50+250 (SC)

Dinotefuram+piriproxifem / 100+25 (EW)

Fenitrotiona+esfenvalerato / 800+40 (EC)

Fenpropatrina+acetamiprido / 112+75 (EW)

Lambda-cialotrina+dinotefuram / 48+84 (EW)

Lambda-cialotrina+sulfoxaflor / 150+100 (SE)

Lambda-cialotrina+tiametoxam / 106+141 (SC)

aDose/hectare (l ou kg de produto/ha); btoxicidade diferencial = porcentagem de adultos de Telenomus podisi (T.p.) emergidos quando suas fases de larvab e pupac dentro do ovo do percevejo foram contaminadas com inseticidas / porcentagem de ninfas de Euschistus heros (E.h.) eclodidas de ovos contaminados com inseticidas (dados retirados das Tabelas 1 e 2).

podem ser utilizados, em especial, no período pós-florescimento, quando há presença do percevejo no campo e em início da reprodução (percevejos ovipositam mais intensamente a partir do florescimento). Considera-se, ainda, que, em um planejamento de liberação massal de parasitoides, que ocorre por meio da liberação de ovos de percevejos parasitados, associado ao manejo químico, os ingredientes ativos/formulações menos seletivos devem ser utilizados dentro da janela de aplicação (entre dez a 14 dias) pré ou pós-liberação de parasitoides no campo, a fim de garantir a sobrevivência dos inimigos naturais para atuar sobre a praga.

Por fim, dentro da ação de aplicação de inseticidas, outros produtos devem ser investigados,

abordam

como é o caso de novas ferramentas, tais como etiprole e isocicloseram. Isso porque, aliado ao fato desses inseticidas auxiliarem na rotação de mecanismos de ação, o conhecimento da ação ovicida e/ou sobre os inimigos naturais também é fundamental para o manejo assertivo do percevejo-marrom no campo.

Juliano de Bastos Pazini, IF Goiano; Henrique Lima de Miranda, Gabryele Silva Ramos, Aline Costa Padilha, Esalq-USP; Orcial Ceolin Bortolotto, UEPG; Pedro Takao Yamamoto, Esalq-USP

Autores
sobre os inseticidas que agem sobre a fase de ovos do percevejo-marrom, quebrando seu ciclo de vida, ao mesmo tempo que preservam a ação de controle biológico

Leis naturais regulam o preço dos alimentos

Asociedade estabelece leis para sua autorregulação. Quando não são cumpridas, sobrevêm as penalidades. As leis naturais (econômicas, climáticas, ambientais) existem, independentemente de serem fixadas pela sociedade, e seu descumprimento leva, inexoravelmente, a sérias penalidades. Estamos no limiar de uma era de mudanças climáticas de consequências imprevisíveis, fruto de violações de leis naturais, como a concentração excessiva de gases de efeito estufa na atmosfera. Mais emissões causam mudanças climáticas mais violentas e imprevisíveis. Os anos de 2023 e 2024 e janeiro de 2025 foram os mais quentes da história.

O agronegócio é particularmente afetado por leis naturais. As mudanças climáticas deprimem a produtividade e a produção agrícola, criam instabilidade, afetando a oferta e os preços. Igualmente, a agressão aos

ambientes naturais e à biodiversidade leva a impactos negativos na produção, com menor oferta de serviços ecossistêmicos, como controle biológico, oferta de água ou polinização.

E as leis de mercado são a legítima expressão da dura lex sed lex. A população cresce, a renda per capita se incrementa, logo aumenta a demanda. Se a oferta não acompanhar, sobem os preços. De outra parte, as mudanças climáticas comprimem a oferta de alimentos, que não acompanha a demanda, destarte os preços aumentam. O gráfico abaixo ilustra o comportamento dos preços nos últimos 65 anos (FAO): cresceu, diminuiu, aumentou, ao sabor das condicionantes populacionais, de renda, da produção de alimentos e do clima.

Desde o ano 2000 os preços crescem acentuadamente. Observe que chegamos em janeiro de 2025 com o maior índice de todos os tempos, prevendo-se que os preços continua-

rão elevados este ano. Demonstrando que este é um fenômeno global, a inflação de alimentos não é prerrogativa do Brasil. E não há muito a fazer, no curto prazo. Se o preço alto se restringisse a hortaliças, poderia ser corrigido em dois meses, o tempo de colocar uma nova safra no mercado. Mas, quando se trata de café, frutas ou de carne bovina, que demoram três a cinco anos para completar um ciclo de resposta, o jeito é procurar substitutos.

O atual ciclo de aumento de preços decorre de dois fatores principais. O Banco Mundial informa que a renda per capita global subiu de US$ 10.916 (2020) para US$ 14.450 (2024), aumentando quase linearmente a demanda de alimentos, sem o devido incremento da oferta, a qual não cresceu por frustrações de safras de diversos produtos, em diferentes locais do planeta. O principal motivo são as alterações do clima, com inundações ou secas históricas. Secas explicam, por exemplo, a frustração de safra de soja, de laranja, de cacau e de café, em diferentes partes do planeta. Os laranjais da Flórida foram afetados pelo clima e devastados pelo “greening”.

A melhoria da renda dos cidadãos levou a um aumento no consumo de proteínas animais (carne, ovos, lácteos) e de café. Na China, o consumo de proteínas animais disparou e o de café aumentou 20 vezes, de 2010 para 2024. Maior demanda e clima adverso é igual a oferta menor e preços em alta. Elementar, meu caro Watson.

Décio Luiz Gazzoni, Embrapa Soja

Preço dos alimentos

Chegada de grande safra faz produtor buscar boa estratégia para comercialização

Estamos

em plena colheita de uma grande safra. A soja vem apresentando recorde histórico de produção. Para os produtores é um ano de estratégia para uma boa comercialização. O mercado internacional continua apreensivo, em função da chegada de Trump ao governo estadunidense, o qual faz uma guerra comercial com os demais países e, desta forma, cria riscos de flutuações, principalmente do dólar. Isso impacta o produtor, pois terá que melhorar a renda em ano em que parte das lavouras foi afetada novamente pelo clima. Será preciso valorizar o grão que se tem nas mãos. No mercado global, a fase de baixa das cotações, que ocorreu nos últimos três anos, aparentemente se encerrou no segundo semestre do ano passado. Agora começa a se

ensaiar uma fase de um novo ciclo de alta. O milho e o trigo já demonstram isso. Temos soja de sobra e a colheita deverá atender com folga à demanda do mercado.

Estamos, também, em ano em que o governo está com dificuldade para atender às necessidades do crédito rural e tudo indica que vai piorar. Em breve, a taxa Selic deve chegar a 15%, o que reflete na necessidade de mais dinheiro para o setor - e este dinheiro não existe. O alerta é se preparar antes, pois os insumos subirão e os juros altos deixarão a conta mais cara. É por isso que estamos no ano de valorização do grão como moeda de troca e tudo nos aponta a entrada em um novo ciclo de alta nas commodities agrícolas, o que favorecerá o produtor.

A safra de verão do milho no Brasil avança para o fim com produção menor. Agora, a safrinha evolui, mas ainda sem garantia de colheita. No mercado global, temos consumo muito maior do que a produção, e a pressão empurra o valor do cereal para mais de US$ 5 em Chicago, podendo subir ainda mais. Se os produtores estadunidenses avançarem forte no novo plantio, poderá ocorrer limitação de novas altas; se o plantio sofrer poucas alterações, serão buscados novos patamares de valores, podendo chegar aos US$ 5,50 em Chicago e no Brasil acima dos R$ 80.

Os produtores de soja avançam para fase final da colheita no Brasil. O mercado ainda não conseguiu trazer ajustes positivos, mas os valores estão muito maiores do que os praticados no mesmo período do ano passado. Ainda vivemos a guerra comercial entre os EUA e o mundo, com Trump tocando o seu piano, indicando a forma que os demais países devem dançar, e tudo nos aponta que a China entrará na dança. Isso deverá trazer maior demanda de soja e ajudar o grão a evoluir em Chicago, no rumo de um ciclo de alta.

Curtas e boas

TRIGO - o mercado está forte, com olhos para os US$ 7 em Chicago. Com a escassez do cereal no mercado mundial, a Rússia, que exportou 55,5 milhões de toneladas no ano passado, agora terá menos 40 milhões. Putin e Trump dominam o mercado mundial do trigo e devem continuar batendo nos adversários e valorizando o grão que deve seguir forte este ano.

EUA - os produtores começam a

O mercado do feijão teve muita oferta em janeiro e fevereiro, com uma boa safra, mas de qualidade baixa. Com isso, ocorreu muita promoção do varejo abaixo dos R$ 5 por quilo. Tivemos vendas muito maiores do que no ano passado, com avanço no consumo entre 10% e 20%. De março em diante, teremos um vazio de ofertas, porque a segunda safra teve plantio atrasado, devido à mosca-branca.

Arroz

O mercado do arroz está vendo a colheita evoluir forte. Grande safra nos campos gaúchos e dos demais estados. Safra cheia no Mercosul todo. Este ano teremos abastecimento garantido internamente. E agora a saída será de exportação para todos os países do Mercosul. A safra do Brasil deve passar de 11,5 milhões de toneladas e o consumo deve ir para 11 milhões ou talvez um pouco acima, mas com demanda mensal e liquidez pontual. A saída dos produtores do RS este ano será exportar mais.

dar sinais de que este ano o milho deve avançar sobre lavouras da soja. Assim, o mercado dos próximos meses pode trazer apelos em Chicago.

CHINA - continuará comprando forte e deverá buscar uma boa parte do que compra nos EUA. Isto, mais à frente, nos dará fundamento positivo para Chicago.

ARGENTINA - segue com a safra em evolução. A colheita teve perdas importantes e os números finais ainda

estão indefinidos. O clima no final de fevereiro, porém, apresentou chuvas e limitou o avanço dos prejuízos. A colheita poderá ficar entre 45 e 48 milhões de toneladas, tanto para a soja quanto para o milho.

Vlamir Brandalizze Brandalizze Consulting Instagram: @brandalizzeconsulting

Coluna Mercado Agrícola
Milho
Soja
Feijão

Que agricultura queremos para os próximos dez anos?

Há dez anos, apresentamos esse tema no Circuito Aprosoja MT, discutindo os desafios e oportunidades da agricultura brasileira. Desde então, assistimos a avanços notáveis em biotecnologia, agricultura de precisão e ferramentas digitais. Ainda assim, quando analisamos os ganhos na média de produtividade nacional da soja, observamos um crescimento de cerca de cinco sacas por hectare, no período.

Esse aumento, embora positivo, é modesto frente ao investimento em inovação e tecnologia nos últimos anos. Paralelamente, os custos de produção continuam subindo e os preços permanecem imprevisíveis, tornando o cenário ainda mais desafiador para os produtores.

A agricultura brasileira ocupa um lugar de destaque no cenário global, sendo reconhecida por sua eficiência e capacidade produtiva. No entanto, o setor enfrenta desafios como a necessidade de aprimorar a gestão de recursos, reduzir custos e aumentar a previsibilidade dos resultados.

Outro ponto crucial é a disseminação do conhecimento técnico. Apesar dos avanços tecnológicos, muitos produtores, especialmente os pequenos e médios, ainda encontram dificuldades para acessar e aplicar essas inovações. A conectividade no campo, por exemplo, melhorou, mas ainda é limitada em muitas regiões, dificultando o uso pleno de soluções digitais que podem otimizar a produção.

Para responder à pergunta feita há dez anos, precisamos refletir sobre três pontos:

O que estamos fazendo que deveríamos parar de fazer?

Precisamos revisar práticas ineficientes, como o uso indiscriminado de insumos, e adotar sistemas integrados, como o manejo biológico e a rotação de culturas, que podem trazer benefícios econômicos e produtivos.

O que estamos fazendo que deveríamos continuar fazendo?

Continuar aprimorando biotecnologia e agricultura digital, promovendo seu acesso a todos os produtores, para a melhoria da competitividade do agronegócio brasileiro.

O que não estamos fazendo que deveríamos começar a fazer?

Investir em capacitação técnica e em infraestrutura rural. Além de iniciativas para aumentar a eficiência no uso de insumos, regenerar solos e sequestrar carbono no campo. Essas práticas vão agregar

A conectividade no campo, por exemplo, melhorou, mas ainda é limitada em muitas regiões, dificultando o uso pleno de soluções digitais que podem otimizar a produção

valor à produção brasileira e fortalecer sua posição no mercado global.

Os próximos dez anos exigirão mais do que tecnologia de ponta; será necessário equilibrar inovação com gestão eficiente para fortalecer a resiliência das propriedades agrícolas e o Brasil tem potencial para liderar essa transformação.

Além disso, parcerias entre empresas, produtores e a academia devem ser intensificadas, garantindo que o conhecimento técnico e científico se traduza rapidamente em resultados práticos. Esse alinhamento será essencial para consolidar o Brasil como referência em produtividade e inovação agrícola.

Diante de tudo isso, que agricultura queremos para os próximos dez anos?

O futuro da agricultura brasileira depende da nossa capacidade de unir esforços e alinhar objetivosinterdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Não se trata apenas de produzir mais, mas de produzir melhor, utilizando o que há de mais moderno e eficiente.

Com planejamento estratégico, integração de tecnologias e uma visão orientada para resultados, podemos garantir que o Brasil continue como protagonista no agronegócio mundial. Queremos uma agricultura competitiva, eficiente e preparada para superar desafios.

Coluna Cesb

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