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Destaques
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Como plantas daninhas resistentes ao glifosato podem favorecer a lagarta-do-cartucho e o que fazer quanto ao manejo
Pequeno desfolhador
Aprenda a conter o bicho-mineiro, praga responsável por intensa desfolha e prejuízos em café
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Índice
Ponte verde
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Movimento subterrâneo
O avanço de corós no Cerrado brasileiro e as estratégias para prevenir prejuízos com a praga Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 259 Dezembro 20/Janeiro 21 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Cecília Czepak Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Diretas
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Bicho-mineiro em café
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Tecnologia de aplicação em soja
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Doenças da soja na safra 2020/21
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Nutrição em soja
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Manejo correto de nematoides
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Como enfrentar os corós
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Capa - Daninhas e lagarta-do-cartucho
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Informe Spraytec
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Controle da cigarrinha-do-milho
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Manejo do capim amargoso
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Controle da queima-da-bainha em arroz
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Assinaturas Natália Rodrigues • Expedição Edson Krause
Diretas Investimento
A Estação de Pesquisa da Basf em São Antônio de Posse, São Paulo, recebeu recursos ao completar 40 anos de atividades. Foram investidos aproximadamente 7,6 milhões de euros em infraestrutura, laboratórios e equipamentos. Houve ampliação do Centro de Tecnologia para Tratamento de Sementes. Além disso, a unidade passa a contar com o laboratório de Crop Analytics, voltado para o desenvolvimento de tecnologias em sementes, com a realização de ensaios moleculares para garantia de qualidade e integridade do material genético. São aproximadamente 18 mil metros quadrados construídos após o investimento. A unidade, juntamente com a Estação de Pesquisa localizada em Trindade, Goiás, faz parte da rede global de pesquisa e desenvolvimento da Divisão de Soluções para Agricultura. Na América Latina, a empresa tem mais de 30 estações de pesquisa e campos avançados.
Lançamento
A Monsoy lança no Brasil as primeiras variedades com a tecnologia Intacta 2 Xtend (i2x), terceira geração de biotecnologia. "Essas novas sementes transgênicas têm alta eficiência contra lagartas e permitem que os sojicultores possam fazer amplo controle de plantas daninhas. Tudo isso, evidentemente, aliado às boas práticas agrícolas, que são fundamentais para o manejo inteligente", explica o líder comercial da Monsoy, Antonio Everaldo. Para a próxima safra, a Bayer vai oferecer três variedades com a biotecnologia Intacta 2 Xtend e outras duas específicas para Refúgio Xtend, que também são tolerantes ao herbicida dicamba, para o manejo de plantas daninhas. A novidade para o Mato Grosso é chamada M 8220 i2x e a variedade para refúgio M 8323 XTD. Para as regiões Norte e Oeste do Paraná, a Monsoy apresenta a variedade M 6110 i2x e a M 6100 XTD para plantio de refúgio. Para a nova fronteira agrícola do Brasil, popularmente chamada de Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), os destaques são as variedades M 8606 i2x e M 8220 i2x. Antonio Everaldo
Convenção
Mesmo em um ano turbulento como 2020, a Spraytec realizou, em formato digital, sua convenção anual de vendas. O Smart 20 contou com a presença de especialistas técnicos e de Cláudio Luvizzotti, uma das maiores referências em treinamentos comerciais do País. Através do aprendizado e da troca de experiências a empresa busca o aperfeiçoamento da equipe para oferecer um serviço cada vez melhor ao produtor rural.
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Café
A Corteva lança no mercado de café o inseticida Revolux. Composto por dois novos ingredientes ativos, espinetoram e metoxifenozida, o produto atua com modos de ação para auxiliar os cafeicultores no combate à principal praga que afeta as lavouras de café, o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella). O inseto pode causar prejuízos de mais de 50% na produtividade, com altas perdas de áreas foliares que comprometem a safra. A nova tecnologia atua em todo o ciclo de vida da praga, possui atividade translaminar e oferece longo período de controle, amplo espectro e excelente perfil toxicológico. “A Corteva acredita que pode contribuir com o desenvolvimento do setor cafeeiro por meio do lançamento de novas tecnologias que atendam às necessidades do agricultor e aumentem a produtividade e a rentabilidade dos cafezais. Estamos investindo para apresentar ao mercado um portfólio cada vez mais completo”, afirma o líder de Portfólio da Linha Café da Corteva, Alison Rampazzo. Alison Rampazzo
Perspectivas
A FMC promoveu em novembro um encontro técnico para falar sobre as tendências para a próxima safra de soja e apresentar a Campanha da FMC de Soja – Fase 2. Participaram do evento o sócio-diretor da Agroconsult, André Debastiani, e o gerente de Soja e Milho da FMC, Ivan Jarussi, que falaram sobre os impactos do clima na safra 20/21 e também sobre as ações da companhia para que os produtores consigam, mesmo com as dificuldades impostas pelo clima, atingir os melhores níveis produtivos nas suas lavouras. “Podemos dizer que esta safra começou com o pé esquerdo em razão das condições climáticas ruins e atrasos na implantação das lavouras nos três principais estados produtores brasileiros. Ainda assim, os números gerais desta safra tendem a ser maiores que os do ano passado, mas é preciso considerar que o Rio Grande do Sul passou por uma forte estiagem e teve grande quebra de produtividade. O produtor precisa utilizar toda a tecnologia disponível para extrair o máximo potenIvan Jarussi cial das suas lavouras”, opinou Debastiani.
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Café
Pequeno desfolhador O bicho-mineiro-do-café (Leucoptera coffeella) é um microlepidóptero, minúsculo no tamanho, mas capaz de provocar sérios prejuízos. Os sintomas mais intensos da praga são observados na parte superior das plantas, onde provoca intensa desfolha em situações de alta infestação. Seu controle exige monitoramento e integração de medidas
O
bicho-mineiro-do-cafeeiro (Leucoptera coffeella) é um microlepidóptero pertencente à família Lyonetiidae. Sua origem é africana, detectado no Brasil somente em 1851, devido à presença de mudas infestadas trazidas da Ilha de Bourbon e das Antilhas. Esse inseto possui tamanho aproximado de 6,5mm e coloração branca-prateada, sendo as asas anteriores constituídas de escamas escuras, com aspecto manchado na parte final. As fêmeas ovipositam aproximadamente 60 ovos durante seu ciclo de vida, principalmente no período da noite, onde depositam seus ovos (0,3mm de comprimento) na parte superior das folhas presentes geralmente no terço superior do cafeeiro. O período embrionário dura cerca de seis dias a oito dias, podendo haver variações de acordo com as condições climáticas, principalmente a temperatura. As lagartas abandonam os ovos e perfuram diretamente as folhas, se alojando no mesofilo foliar onde se desenvolvem, destruindo o parênquima e posteriormente dão origem às “minas”. Quando as lagartas se desenvolvem totalmente (nove dias - 40 dias), atingem ao redor de 3,5mm de comprimento e tecem um fio de seda por onde se deslocam para folhas do terço inferior da planta. Geralmente, na parte inferior das folhas as lagartas tecem casulos de coloração branca e com formato característico de “X”, onde passam para a fase de pupa com duração de cinco dias a 26 dias. Após esse período, emergem as micromariposas na proporção de um macho para uma fêmea, cuja longevidade média é de 15 dias. O ciclo biológico pode variar de 19 dias a 87 dias e, em condições favoráveis, podem ocorrer oito gerações/ ano a 12 gerações/ano. Os sintomas causados por esses insetos são mais visíveis na parte superior da planta, ocorrendo intenso desfolhamento em casos de alta infestação. Pesquisas conduzidas no Sul de Minas Gerais demonstraram que o ataque do bicho-mineiro, na época de floração do cafeeiro, pode causar redução de mais de 50% na produção devido à desfolha. Devido ao fato de a lagarta romper o córion do ovo pela parte inferior e penetrar diretamente no mesofilo foliar, e não ter contato com o meio externo, é preciso se atentar quanto à utilização de produtos para o seu controle, visto que o inseticida deverá alcançar a lagarta nesse local.
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Fotos Karolina Gomes de Figueiredo e Laís Sousa Resende
A
B
C
Figura 1 - A) Minas com lagartas; B) Casulo em forma de “X” (crisálida); C) Adulto
AMOSTRAGEM E MONITORAMENTO
Existem duas formas de amostragem do bicho-mineiro, a comum e a sequencial. Na amostragem comum, recomenda-se dividir a lavoura em talhões de aproximadamente 5ha a 10ha, homogêneos, de acordo com tipo de solo, relevo e número de plantas. Deve-se começar as amostragens da praga no início do período de seca. O caminhamento deve ser feito em zigue-zague na lavoura e escolher 20 plantas ao acaso, de onde devem ser avaliadas três folhas no 3º par do ramo e 4º par do ramo, presentes no terço médio da planta. Ao final serão 60 folhas observadas quanto à presença de pelo menos uma mina intacta por folha, ou seja, sem perfurações. Esses dados são anotados em uma planilha de campo simples e o cálculo da infestação é feito multiplicando-se o total de folhas com minas pelo valor fixo de 1,67 (Tabela 1). O nível de controle do bicho-mineiro no Sul de Minas Gerais é de 30% de folhas com pelo menos uma mina intacta. Já no Cerrado esse nível pode ser menor em função das condições ambientais mais favoráveis ao seu crescimento populacional. Caso o nível de controle não seja atingido, deve-se realizar novas amostragens após 15 dias a 30 dias. A amostragem deve ser repetida durante todo o período seco do ano. Outro tipo de amostragem é a sequencial, onde também é realizada a divisão dos talhões homogêneos, porém o caminhamento é realizado em espiral de fora para dentro do talhão. A escolha da folha é semelhante à amostragem comum. Contudo, na amostragem sequencial a amostra consiste em apenas uma folha/planta. Dessa forma, deve-se considerar que, por vezes, uma ou mais folhas do 3º par e do 4º par possam ter caído e para evitar uma amostragem tendenciosa, recomenda-se observar primeiramente as folhas do 4º par, e na falta dessas, observar as folhas do 3o par. Se no ramo a ser amostrado não houver folhas nos 4o e 3o pares, realizar a amostragem em outro ramo do terço mediano da planta. Na amostragem sequencial adota-se a “nota acumulada” para medida do nível de infestação. Dessa forma, é atribuída a nota 0 para folha que possuir pelo menos uma mina intacta e nota 1 para folha que não possuir mina intacta. Essas notas deverão ser somadas de forma cumulativa e anotadas em uma
planilha de campo (Tabela 2) Exemplo: na Tabela 2 observa-se que a folha amostrada na primeira planta não estava minada e recebeu nota 1; a segunda estava minada e recebeu nota 0; portanto, o valor acumulado é igual a 1 (nota da 1ª planta + nota da 2ª planta); a terceira não estava minada e, assim, obteve-se o valor acumulado de 2 (nota acumulada + nota da 3ª planta); a 4ª estava minada e recebeu nota 0, permanecendo a nota acumulada igual a 2; a 5ª e a 6ª folhas, não estando minadas receberam nota 1, perfazendo notas acumuladas iguais a 3 e 4, respectivamente; a 7ª folha, estando minada, originou um valor acumulado igual a 4 (nota acumulada + nota da 7ª planta), e assim sucessivamente. A partir da 10ª folha amostrada, continua-se a amostragem até que uma das alternativas abaixo seja verdadeira: 1ª - Quando a nota acumulada for menor que a do limite inferior da tabela, interrompe-se a amostragem e recomenda-se o controle do bicho-mineiro. 2ª- Quando a nota acumulada for igual ou maior que a do limite superior, interrompe-se a amostragem e não se recomenda nenhum controle. A amostragem sequencial dessa forma permite que a decisão seja tomada com antecedência, tornando a amostragem mais rápida e menos trabalhosa.
MÉTODOS DE CONTROLE DO BICHO-MINEIRO CULTURAL
Plantas de cafeeiro cultivadas de forma mais adensada inibem o desenvolvimento e a multiplicação do bicho-mineiro, visto que maior umidade e menor penetração de luz e de ventos no interior da lavoura são condições contrárias às preferências dessa praga. Correntes de ar (vento), muitas das vezes, são as responsáveis pelo transporte de insetos adultos até a lavoura. Desta forma, a utilização de cerca viva ou quebra vento com plantas de grevilha, bananeira, leucena ou sansão-do-campo impede que o vento chegue até os cafeeiros levando o bicho-mineiro.
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Tabela 1 - Ficha de campo para a amostragem comum do bicho-mineiro. Conta-se o número de folhas minadas no 3º e no 4º pares do ramo, num total de três folhas por planta Planilha de campo Data: Número do talhão: Assinatura:
Folhas com minas intactas (1 a 3)
1 2 3 4 5 6 7 Planta amostrada 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Nível de infestação (%) = Total x 1,67
Além disso, as superfícies das folhas ficarão mais úmidas, o que é desfavorável à oviposição do bicho-mineiro. Foi constatada menor porcentagem de folhas com minas intactas em cafeeiros protegidos por leucena quando comparado a outras três espécies de leguminosas como guandu, bracatinga e acácia (Reis, 2017), mostrando a importância da implantação dessa estratégia no manejo do bicho-mineiro. O manejo do mato em lavouras cafeeiras deve ser realizado por meio de capinas nas linhas e roçagem nas entre linhas, mantendo essa vegetação na altura do joelho para a proteção do solo e servir como plantas hospedeiras para a manutenção de inimigos naturais. A preferência no uso da adubação orgânica pode ser levada em consideração, pois melhora a absorção de nutrientes e aumenta a condutividade hidráulica, além de que uma planta de café bem nutrida fica mais tolerante ao ataque de pragas.
CONTROLE BIOLÓGICO
No mercado ainda não são encontrados predadores e parasitoides em grandes
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Fotos Karolina Gomes de Figueiredo e Laís Sousa Resende
As lagartas se alojam no mesofilo foliar onde se desenvolvem, destroem o parênquima e posteriormente dão origem às "minas"
quantidades para serem adquiridos e liberados em lavouras cafeeiras para o controle do bicho-mineiro. Porém, existem algumas espécies que são encontradas naturalmente associadas a essa praga, destacando-se alguns parasitoides himenópteros das famílias Braconidae, como Colastes letifer, Eubadizon punctatus e Mirax sp., e Eulophidae, como Neochrysocharis coffeae, Tetratichus sp. e Horisnemus sp. Os parasitoides dessas duas famílias podem promover 16% a 30% de controle do bicho-mineiro, enquanto os predadores da família Vespidae podem causar reduções populacionais dessa praga de 33% a 69%. Isto demonstra a importância da manutenção desses organismos em lavouras cafeeiras com o objetivo de regulação do crescimento populacional do bicho-mineiro.
COMPORTAMENTAL
Ocorre por meio do uso de armadilhas tipo delta com feromônio sexual sintético acoplado a uma base adesiva. Esse tipo de armadilha vem sendo uti-
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lizado para o monitoramento populacional do bicho-mineiro para determinar o momento mais adequado para a tomada de decisão quanto ao seu controle. É recomendada a instalação de uma armadilha por hectare a cerca de um metro da superfície do solo. A inspeção das armadilhas deve ser realizada a cada três dias, sendo que o liberador de feromônio geralmente é trocado a cada 30 dias.
QUÍMICO
Os inseticidas podem ser aplicados no período seco do ano, de junho a meados de setembro, caso a densidade populacional da praga alcance o nível de controle. Pode-se realizar pulverizações com produtos de contato com ação de profundidade como organofosforados, que em geral possuem curto período residual (20 dias a 35 dias), associados a um piretroide que possui maior poder residual, além de que as pulverizações devem ocorrer na parte da manhã ou no final da tarde para evitar a evaporação do produto no ambiente e fitotoxicidade
às plantas. Existem 138 produtos comerciais registrados para o controle do bicho-mineiro do cafeeiro (Mapa, 2020), pertencentes aos grupos químicos dos organofosforados (clorpirifós e tebufós), carbamatos (cloridrato de cartape), piretroides (lambda-cialotrina, cipermetrina, deltametrina, fenpropatrina e beta-cipermetrina), avermectinas (abamectina), neonicotinoides (tiametoxam e imidacloprido), diamidas antranílicas (clorantraniliprole), espinosinas (espinozade), tetranortriterpenoide (azadiracthina) e benzoilureias (teflubenzurom, lufenurom e novalurom). Salienta-se que o uso dos adjuvantes óleo mineral ou vegetal nas doses de 0,25% a 0,5% na calda química auxilia na fixação do inseticida junto ao tecido foliar, bem como contribui para menor deriva.
Aplicação de inseticidas sistêmicos como tiametoxam e imidacloprido via solo também pode ser realizada, seja via “drench” (esguicho) na região do colo da planta ou em filete próximo ao tronco. Esse tipo de aplicação é recomendado para o manejo preventivo em regiões com altas incidências dessa praga, e geralmente é realizada no período chuvoso, para que os produtos possam ser absorvidos pelas raízes da planta e levados para a parte aérea via xilema, onde irão proporcionar em torno de 50 dias a 100 dias de proteção. Vale ressaltar que o preparo da calda química deve ser realizado com uso de água com pH de 5 a 6,5 e nunca alcalino.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Muitas pesquisas têm sido desen-
Tabela 2 - Exemplificação de uma tabela de amostragem sequencial. Limite inferior indica o nível de ação, quando deve-se realizar o controle da praga. O limite superior indica o nível de não ação Planta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Propriedade: Data:
Bicho-mineiro-do-cafeeiro Limite inferior Nota acumulada 1 1 2 2 3 4 4 5 6 5 7 5 8 6 9 7 10 7 11 8 12 9 13 9 14 10 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 (18) Talhão N°:
Limite superior 10 10 11 12 12 13 14 14 15 16 16 17 18 18 19 20 20 21 22 22 (23) Estádio fenológico: Ação:
volvidas na área do manejo integrado do bicho-mineiro-do-café buscando formas alternativas de controle como estudo de parasitoides para atuar no controle biológico, novas armadilhas utilizando feromônios para monitoramento, além de pesquisas com novas cultivares que objetivam a resistência C genética contra essa praga.
Os sintomas causados por esses insetos são mais visíveis na parte superior da planta
Karolina Gomes de Figueiredo, Nathan Jhon Lopes, Gabriel Tadeu de Paiva Silva, Lara Sales, Geraldo Andrade Carvalho e Adriana de Paula Mendonça, Universidade Federal de Lavras – Ufla Lavras, Minas Gerais
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Soja
Cobertura e eficácia Como a tecnologia de aplicação pode ajudar o produtor a atingir o alvo, facilitar a ação do fungicida e proteger melhor a cultura
A
pesar de muitos técnicos e produtores as considerarem como sinônimos, há importantes diferenças de conceito entre aplicação e pulverização de agroquímicos. Logo, pode-se considerar pulverização como um processo mecânico que tem o objetivo de quebrar o volume de calda do pulverizador em um grande número de partículas, denominadas gotas. Enquanto a aplicação é a colocação de um produto químico em um determinado alvo, para proteger a cultura. Com isso, para os fungicidas entregarem a sua máxima eficácia no controle de doenças, é preciso aplicar mais e pulverizar menos. Após a gota ser produzida pela ponta de pulverização, terá de enfrentar uma barreira climática e, depois, uma barreira vegetal para conseguir atingir o alvo no interior do dossel. O grande desafio da Tecnologia de Aplicação consiste em fazer com que as gotas atravessem a camada superior de folhas das plantas e che-
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guem em condições de se distribuir, depositar e cobrir adequadamente o dossel da cultura. Para isso, é necessário estudar estratégias que incrementem a deposição de gotas pulverizadas com produtos fitossanitários na parte inferior do dossel.
ESTÁDIO DE DESENVOLVIMENTO DA PLANTA E ÍNDICE DE ÁREA FOLIAR
A penetração de gotas no dossel de uma cultura é fator fundamental para o controle químico de doenças, especialmente as que iniciam o processo infeccioso nas folhas baixeiras, como é o caso da ferrugem-asiática da soja e das manchas foliares. A penetração de produto no dossel está relacionada com o estágio de desenvolvimento em que a cultura se en-
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contra e o seu índice de área foliar, sendo que, quanto mais fechado o dossel, maior é a dificuldade de as gotas atingirem as folhas basais da planta. A aplicação do fungicida antes do fechamento entre linhas (estágio vegetativo- Vn) tem o objetivo de aumentar a penetração das gotículas da calda do fungicida, melhorando a cobertura das folhas nas partes média e inferior do dossel, consequentemente, protegendo as folhas das doenças que incidem no início do ciclo (Figura 1). A partir do fechamento da entre linha, as gotas da calda pulverizada têm dificuldade de atingir o dossel inferior da cultura, devido ao excesso de folhagem, formando uma espécie de barreira física para a penetração do fungicida. Dessa forma, a aplicação não atingirá o alvo, e a evolução da doença comprometerá todo o programa de controle e, consequentemente, a produtividade. Apesar de existirem diversos trabalhos na área de tecnologia de aplicação que quantifiquem a deposição de calda no dossel das plantas, poucos consideram as barreiras impostas pelas diferenças de arquitetura entre as cultivares. Logo, pode-se citar a arquitetura vegetal como fator que limita ou facilita a entrada e a distribuição da aplicação no perfil da planta. Para Huyghe (1998), a arquitetura inclui diver-
sos caracteres, como número de hastes e ramos, estrutura de hastes ou ramos (número e comprimento dos entrenós) e estrutura, tamanho e orientação das folhas. Cada cultivar apresenta características peculiares no que diz respeito à própria arquitetura, as quais variam conforme a época de semeadura e as condições ambientais de cultivo, que influenciam na cobertura de gotas ao longo do dossel da planta pelas aplicações de fungicidas.
TAMANHO DE GOTAS
A eficiência da aplicação de fungicidas depende de uma cobertura uniforme das folhas (alvo), seja nos terços superior, médio ou inferior, a qual é proporcionada pelos diferentes espectros de gotas. A Figura 2 mostra como um volume de líquido contido em uma gota de 400µm pode ser reduzido a oito gotas de 200µm, proporcionando uma maior cobertura e distribuição do produto na área foliar. Em geral, gotas de espectro maior tendem a ser depositadas no topo da planta. Já as gotas de espectro de médio a fino tendem a ser depositadas nos terços médio e inferior das plantas, principais locais de infecção do patógeno. Dessa forma, a aplicação de fungicidas com gotas de finas a médias é recomendada para se obter maior eficácia no controle de doenças. As gotas finas proporcionam melhor cobertura, já as gotas muito peque-
Figura 1 - Momento de aplicação do fungicida em relação ao estágio de desenvolvimento da cultura e índice de área foliar. Ilustração: Elevagro
Figura 2 - Deposição de diferentes espectros de gotas no dossel da cultura da soja
nas podem sofrer deriva ou evaporação. Isso ocorre porque têm pouco peso e inércia, permanecendo por mais tempo em suspensão no ar, ficando suscetíveis ao arraste pela deriva e evaporação durante a aplicação. No entanto, em condições climáticas adequadas, a penetração e a cobertura do alvo das gotas finas são frequentemente maiores. As condições ideais para maximizar as aplicações são de umidade relativa do ar acima de 55%, temperatura abaixo de 30°C e velocidade
do vento de 3km/h a 10km/h. Normalmente, as gotas mais finas são consequência de aplicações com pontas de pulverização de orifícios finos e volumes de aplicação reduzidos sob pressões altas. Inversamente, pontas de orifícios maiores, volumes altos e pressões baixas têm a tendência de gerar gotas maiores (Santos, 2003). A escolha da ponta de pulverização permite adequar o tamanho das gotas produzidas às condições de aplicação, garantindo, ao mesmo tempo, eficácia biológica e segurança ambiental.
Amazone
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Amazone
Tabela 1 - Número de gotas por cm-2 da folha para uma boa eficácia do fungicida Sistêmicos Protetores
OZEKI; KUNZ, 1998 30-50 gotas/cm² Mais de 70 gotas/cm²
CHRISTOFOLETT, 1999 30-40 gotas/cm² 50-70 gotas/cm²
UGALDE, 2005 45-60 gotas/cm² para volumes de calda entre 120 e 160L/ha
Fonte: Elevagro
QUALIDADE DA COBERTURA DE GOTAS
A cobertura de gotas pode ser definida como a percentagem do alvo que foi coberta pela calda (Baesso et al., 2014). Logo, pode-se dizer que é a área ocupada pelas gotas após a aplicação, o número de gotas/cm² do alvo. Segundo Christofoletti (1999), necessita-se, para uma boa eficácia no controle de doenças, de uma cobertura de 30 gotas/cm² a 40 gotas/cm² para fungicidas sistêmicos, e entre 50 gotas/cm² e 70 gotas/cm² para fungicidas protetores (Tabela 1). Trabalhando com volumes de calda de 120L/ha e 160L/ha, Ugalde (2005) observou uma cobertura de gotas mínima eficiente para fungicidas sistêmicos e protetores de 45 gotas/cm² e 60 gotas/cm², respectivamente. Contudo, o principal objetivo é produzir gotas com o máximo de cobertura possível com um volume de calda apropriado, seguindo as recomendações contidas nos receituários agronômicos. A cobertura da folha pelas gotas pode ser agregada positivamente pela adição de adjuvantes na calda de pulverização, que, além de contribuírem na aderência da gota, auxiliarão no espalhamento sobre a folha e sua absorção para o interior do tecido (Figura 3). Com isso, o tempo de vida do produto será adequado, zelando pela sanidade da cultura e pelo controle eficiente das doenças. Percebe-se que a tecnologia de aplicação tem um papel fundamental para aumentar a cobertura da planta pelas gotas, com objetivo de depositar a quantidade de ingrediente ativo necessária para o controle das doenças. A otimização da eficácia no controle de doenças não depende somente da escolha de fungicidas eficientes, mas também de fatores relacionados à penetração e à cobertura de gotas em todo o C dossel da planta. Marlon Tagliapietra Stefanello
Figura 3 - Representação da formação de depósito da gota na ausência e na presença de adjuvante. Ilustração: Elevagro
Stefanello aborda o papel da tecnologia de aplicação na proteção das plantas
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Soja
Como será
Caroline Wesp Guterres
O que é possível esperar da safra de soja 2020/21 no Rio Grande do Sul e como tornar mais assertivo o manejo com base no que pode ocorrer quanto ao comportamento de doenças que afetam a cultura
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m anos desfavoráveis, como foi a safra de verão 2019/20, torna-se mais clara a importância da qualidade do sistema de plantio direto, considerando perfil de solo, rotação de culturas, quantidade de palha disponível e seus reflexos para a produtividade de soja. Áreas com bom perfil de solo tiveram prejuízos menores em função da seca em comparação a áreas onde houve limitação do desenvolvimento radicular em profundidade. Nos anos de elevada precipitação associada à semeadura isso também é evidenciado. Nas duas últimas safras, estima-se que 20% a 30% das áreas de soja do Rio Grande do Sul precisaram ser ressemeadas em função de problemas no estabelecimento da cultura, especialmente causados por patógenos de solo, como Phytophthora infestans, mais comum em solos compactados. Entretanto, nos anos de menor precipitação, além dos prejuízos diretos para a cultura da soja, a pressão de doenças é menor. Na safra 2019/20, na área experimental da CCGL, em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, a precipitação foi de 365mm entre os meses de novembro e março, 460mm a menos do que o observado na safra 2018/19 (825mm no total). As temperaturas também foram mais altas, em média, aproximadamente 1,4°C acima do que na safra anterior, especialmente nos meses de dezembro, fevereiro e março, nos quais frequentemente superaram os 30°C. Com isso, a severidade de ferrugem, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi baixa, sendo a menor pressão observada nos últimos anos na região. A Figura 1 mostra a evolução da ferrugem da soja nas últimas cinco safras, avaliada na cultivar BMX Lança IPRO, semeada na primeira quinzena de novembro e sem a aplicação de fungicidas. Observa-se uma variação na curva de progresso da doença entre as diferentes safras, diretamente relacionada com as condições de ambiente em cada ano. Porém, na safra 2019/20 a severidade final de ferrugem foi, em média, de apenas 6%. Com o clima seco, a doença predominante na safra 2019/20 foi o oídio. No entanto, com a ocorrência de temperaturas muito altas, mesmo o oídio, doença favorecida por ambientes mais secos, teve pressão considerada média (entre 15% e 20% de severidade final), já que temperaturas acima de 29°C costumam limitar o seu crescimento. A incidência de manchas foliares foi baixa, com destaque para a ocorrência de mancha parda (Septoria glycines) e para o crestamento de cercospora (Cercospora kikuchii). Em relação às aplicações de fungicida, na safra 2019/20 não houve resposta significativa na produtividade com a realização da aplicação de fungicidas no estádio V4, na chamada aplicação da capina. Porém, esta aplicação resultou em incremento médio no controle de manchas foliares de 33%. Alguns produtos resultaram em incrementos de até 45% de controle de manchas, quando comparados ao tratamento sem a aplicação em V4. Para controle de oídio esta aplicação também foi eficiente, respondendo, em média, por incremento de 88% no controle. Alguns tratamentos conferiram 100% de controle de oídio em relação ao tratamento sem a aplicação em V4. Os tratamentos que apresentaram controles superiores de manchas e de oídio foram os realizados com carbendazim 500g/L + flutriafol 84g/L, tetraconazol 80g/L + azoxistrobina 100g/L, propiconazol 250g/L + difenoconazol 250g/L, difeconazol 250g/L + ciproconazol 150g/L e tebuconazol 250g/L + trifloxistrobina 100g/L. Na safra 2018/19, com maior pressão
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Figura 1 - Evolução de epidemias de ferrugem da soja nas últimas cinco safras. Cruz Alta, RS
Figura 2 - Flutuação no número de esporos de Phakopsora pachyrhizi em coletor de esporos instalado no município de Cruz Alta, RS
Tabela 1 - Produtividade com o uso de distintos fungicidas na primeira aplicação realizada na cultivar de soja BMX Lança IPRO, semeada em 21/11/19, no estádio V8 (45 DAE). Cruz Alta, RS Tratamento (Piraclostrobina 81g/L + Epoxiconazol 50g/L + Fluxapiroxade 50g/L) + Mancozeb 750 g/kg (Azoxistrobina 300 g/kg + Benzovindiflupir 150 g/kg) + Mancozeb 750 g/kg Fluxapiroxade 50 g/L + Oxicloreto de cobre 420 g/L Azoxistrobina 47g/kg + Mancozeb 597 g/kg + Tebuconazol 56g/kg (Piraclostrobina 333 g/L + Fluxapiroxade 167 g/L) + Mancozeb 750 g/kg (Picoxistrobina 100 g/L + Benzovindiflupir 50 g/L) + Mancozeb 750 g/kg Testemunha sem fungicida C.V.
Kg/ha 4012 3924 3828 3774 3689 3522 3349 4,3%
sc/ha 67 a* 65 a 64 ab 63 ab 61 abc 59 bc 55 c
*Dados seguidos de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Sempre que recomendado pela empresa fabricante se fez uso de adjuvantes nas doses de bula. As demais aplicações foram fixas e consistiram em: R1 ((Trifloxistrobina 150 g/L + Protioconazol 175 g/L) + Mancozeb 750 g/kg)); R1+15 (Picoxistrobina 26,66 g/L + Tebuconazol 33,33 g/L + Mancozeb 400 g/L); R1+30 ((Fenpropimorfe 750 g/L) + Mancozeb 750 g/kg)).
de ferrugem e de outras doenças, a aplicação em V4 resultou em até seis sacos/ha de incremento produtivo. Os dados de pesquisa gerados na última safra (2019/20) evidenciaram e reforçaram a importância da primeira aplicação de fungicidas para a manutenção do potencial produtivo da soja. Em estudo para avaliar a primeira aplicação, realizada aos 45 dias após a emergência, 14
no estádio V8, observou-se que responde por uma variação no rendimento de grãos de quatro sacas/ha a até 12 sacas/ ha, dependendo de qual fungicida foi utilizado no manejo. Para tal, as aplicações foram fixas a partir de R1, variando apenas o fungicida utilizado na primeira aplicação. Os fungicidas comerciais avaliados são apresentados na Tabela 1. Esta va-
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riação deu-se especialmente pelo melhor controle de oídio, septoriose e cercospora. As variações de fungicidas nas demais aplicações resultaram em diferenças de um a oito sacos/ha (dados não apresentados). Além da importância de se levar em consideração a escolha dos ingredientes ativos, sempre com foco nas doenças de maior probabilidade de ocorrência em função das características da cultivar utilizada e do clima, o momento de início das aplicações é de extrema importância. Aplicações atrasadas, que ocorrem após o estádio vegetativo e o fechamento das linhas, costumam resultar em perdas médias de quatro sacas/ha a cinco sacas/ha, quando comparadas às aplicações iniciadas no vegetativo, antes do fechamento das linhas. Em anos de intensa pressão de ferrugem, esta diferença pode ser ainda maior. Na safra 2015/16, a de maior pressão dos últimos cinco anos (conforme Figura 1), a diferença média entre iniciar no estádio Vn ou em R1, com o mesmo número de aplicações, foi de 15 sacas/ha. A primeira aplicação de fungicidas é fundamental para a assertividade no manejo de doenças. Muitas doenças são transmitidas via sementes ou estão presentes nos restos culturais, como as manchas foliares e a antracnose. A ferrugem e o oídio também podem ocorrer já no estádio vegetativo. Sendo assim, as aplicações iniciadas por volta de 35 DAE a 45 DAE favorecem o controle preventivo de doenças e garantem uma melhor cobertura de folhagem. Como as cultivares atuais têm uma maior participação do terço médio e inferior na produtividade e as doenças geralmente se iniciam no baixeiro, a cobertura eficiente desde o início do ciclo resulta em menor taxa de progresso das doenças. Como resultado, o controle é mais efetivo. As previsões de clima para a safra de verão 2020/21 são de ocorrência de La Niña, com menores precipitações a serem observadas até o mês de fevereiro na região Sul. Em anos mais secos, a ferrugem tende a se estabelecer mais tarde. No entanto, o oídio geralmente aparece mais cedo. Sendo assim, nas primeiras aplicações é importante contemplar ativos que possuam eficiência de controle sobre oídio, mas também para manchas (já que o inóculo pode estar na semente ou na palha), como o tebuconazol, o tetraconazol, o epoxiconazol, o
dições ideais para as aplicações. Nestes casos, para continuar respeitando os intervalos de aplicação, serão necessários ajustes no tamanho de gotas e no volume de calda. É importante evitar gotas muito finas ou muito grossas, dando preferência a um espectro de gotas de finas a médias, para reduzir os riscos de deriva e evaporação. Volumes maiores de calda (próximos a 100L/ha) também reduzem os riscos de fitotoxidez em condições de estresse hídrico. Outro ponto que pode favorecer a ocorrência de fitotoxidez em condições de déficit hídrico é a utilização de fungicidas considerados mais quentes, como triazóis e triazontiliona. Por isso, em anos mais secos, a associação de fungicidas com comprovada ação sobre a fisiologia da planta pode atenuar os possíveis efeitos causados pelas aplicações de fungicida em condições de estresse hídrico. No que diz respeito aos intervalos de aplicação, em anos mais secos estes podem ser um pouco mais flexíveis. Porém, as decisões devem ser tomadas de forma técnica, com base no monitoramento da lavoura, na sanidade das plantas e, claro, na condição fisiológica das plantas. Em trabalho realizado na CCGL na safra 2016/17, também de La Niña, foi observada uma redução na produtividade de 48kg/ha para cada dia de atraso nas aplicações de fungicida, quando comparados intervalos de 15 dias ou 20 dias, com o mesmo número de aplicações. Isso ocorreu em função do melhor controle de ferrugem quando se utilizaram os intervalos menores. Quanto ao clima, não se sabe exatamente o que esperar da safra que se inicia. Porém, começando com boas escolhas, as decisões em relação ao número e aos intervalos de aplicações certamente serão mais fáceis e seguras. A assertividade no manejo de doenças começa cedo. Nada que já não seja de conhecimento C público, mas sempre é bom relembrar! Caroline Wesp Guterres, Gilmar Seidel, Elaine Deuner, Andiara Marchezan e Leonardo Graminho Tassi, Cooperativa Central Gaúcha, CCGL Fotos Caroline Wesp Guterres
difenoconazol, o clorotalonil e o oxicloreto de cobre. Em trabalho variando o reforço utilizado nas duas primeiras aplicações de fungicida, observou-se que o uso de clorotalonil ou de oxicloreto de cobre resultou em controle superior de oídio, quando comparado ao reforço de mancozeb nas primeiras aplicações. Desde a safra 2018/19 a CCGL monitora a disponibilidade de esporos de ferrugem no ar através de coletores de esporos instalados na sua área experimental. Embora exista variação na quantidade de esporos disponíveis durante o ano, principalmente em função das condições de clima, é possível detectar esporos mesmo na entressafra, provavelmente pela possibilidade de sobrevivência de inóculo em plantas guaxas de soja, já que o Rio Grande do Sul não realiza o vazio sanitário. No último ano a quantidade de esporos na entressafra foi baixa em razão da menor precipitação observada ao longo do ano. Mesmo com a menor precipitação ocorrida em 2020, os coletores evidenciam que há a presença de esporos no ar. Os dados do número de esporos observados por cm2 de lâmina desde o mês de setembro de 2020 são apresentados na Figura 2. Geralmente o maior número de esporos está associado a períodos de maior precipitação. Mesmo que haja a presença de esporos, o que vai determinar a ocorrência ou não da ferrugem no campo é o clima. Para que ocorra a penetração nas folhas, o fungo não necessita de chuva. Seis horas de molhamento, garantidas pelo orvalho, já são suficientes. O período de latência (tempo necessário para a produção de esporos) é mais influenciado pela temperatura. Em temperatura média de 26°C o período de latência é de aproximadamente seis dias. Em temperatura de 15°C, o período de latência vai de 12 dias a 16 dias. Após a infecção, para que a doença progrida no decorrer do ciclo da cultura, as chuvas são importantes. Embora os esporos de ferrugem possam percorrer longas distâncias através de correntes de vento, as chuvas prolongam o molhamento foliar, facilitam a liberação, a sobrevivência e a deposição de esporos, auxiliando na disseminação de inóculo e contribuindo para o aumento na severidade observada no campo. Anos de La Niña não são sinônimos de ausência de ferrugem. A safra 2016/17 esteve sob influência do fenômeno La Niña. Nesta, houve um atraso no início da epidemia de ferrugem em função da menor quantidade de chuvas no início do ciclo. Porém, com a volta das chuvas, a severidade final de ferrugem sem a aplicação de fungicidas chegou a 80% (Figura 1). É importante salientar, ainda, que as aplicações de fungicidas sob condições de estresse hídrico requerem alguns cuidados especiais, principalmente a partir do estádio reprodutivo, quando os riscos de fitotoxidez são maiores. As condições ideais para as aplicações de fungicida são de umidade acima de 60%, temperatura inferior a 30°C e ventos entre 3km/h e 10km/h, já que na ausência de vento pode ocorrer o fenômeno de inversão térmica, em que o fungicida não se deposita na folhagem, em função de deriva. Por isso, em períodos de déficit hídrico, geralmente as aplicações noturnas levam vantagem. O ideal, no momento da decisão de quando aplicar (se de dia ou à noite) é sempre conferir as condições de ambiente com aparelhos que meçam estas variáveis. Os mais indicados são os termo-higroanemômetros. Ainda assim, não é sempre que o agricultor vai encontrar con-
R1
Vn
Figura 3 - Início das aplicações de fungicidas em Vn x Reprodutivo: diferença média ao longo dos anos foi de 5 sc/ha
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Soja
Importância nutricional
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stratégias para o aumento da produtividade fazem parte da rotina de todos os produtores rurais. Mesmo com as melhores estratégias desenhadas, novos desafios aparecem e exigem rápidas tomadas de decisão para não incorrer em perdas de rentabilidade da lavoura. Diante desse cenário, alternativas para minimizar possíveis estresses ambientais e maximizar a resiliência do sistema agrícola se tornam fundamentais. A produção de grãos no verão, em especial da cultura da soja, apresentou um aumento significativo de produtividade nos últimos anos. Este crescimento resulta do elevado potencial de produção das cultivares modernas e dos avanços tecnológicos nos sistemas de produção. Todo esse avanço levou à necessidade crucial de se nutrir com equilíbrio as lavouras, para que possam expressar seu máximo potencial. Isso significa pensar em manejo nutricional da lavoura, que é essencial para se atingir altas produtividades. Mais do que nunca, é necessário pensar em nutrição equilibrada e não apenas no fornecimento de um determinado nutriente. A Lei do Mínimo conceitua uma nutrição equilibrada, que por sua vez permite respostas mais rápidas da planta às variações do ambiente, tanto pela promoção de um sistema radicular robusto quanto pelo fechamento estomático, ambos auxiliando em situações de limitação de água. Outro benefício ocasionado por um bom manejo nutricional frente às adversidades do meio é o melhor desenvolvimento do sistema de defesa natural das plantas, que eleva a tolerância contra pragas e doenças, além de maior acúmulo de reservas dos grãos e maior produtividade dos cultivos. Os nutrientes, sejam macro ou micro, possuem funções estruturais e fisiológicas nas plantas. Na cultura da soja, por exemplo, é 16
Divulgação
O crescimento em produtividade observado em culturas como a soja, no verão, torna cada vez mais crucial nutrir com equilíbrio as lavouras
possível citar o potássio e o magnésio que são essenciais para a translocação de assimilados para os grãos, o cálcio e o boro, que são fundamentais para fecundação e fixação das estruturas reprodutivas, o molibdênio para maximizar a fixação biológica do nitrogênio e potencializar a atividade da enzima da nitrato redutase, dentre tantos outros nutrientes com versáteis finalidades. Diante desse cenário, nota-se que para o sucesso da produtividade, os elementos nutricionais devem estar disponíveis de forma equilibrada no sistema de produção, sendo importante considerar a fonte, a dose, a época e o local em que as aplicações de correção, manutenção
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ou reposição irão ocorrer. Para isso, ressalta-se a relevância que as análises de solos, assim como os diagnósticos visuais e foliares, possuem, para que se possa ter assertividade na tomada de decisão. Por fim, é necessário ser eficiente no fornecimento dos nutrientes para as culturas, tanto na base quanto nas folhas, para que possam finalizar seu ciclo no tempo adequado, e sejam capazes de minimizar os efeitos das condições adversas e maximizar o retorno do manejo agrícola C investido pelo produtor. Guilherme Bavia, Universidade Estadual de Londrina Universidade Estadual de Maringa Kansas University (EUA)
Soja
Inimigos sob o solo Divulgação
Como fazer uso correto da informação embasada em dados técnico-científicos para manejar com eficiência os principais nematoides que impactam a produtividade da soja na região dos Cerrados
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safra de grãos no Brasil do período 2019/20 encerrou-se com o registro histórico de 257,8 milhões de toneladas, volume 4,5% ou 11 milhões de toneladas superior ao da safra passada, tendo à frente a soja, o milho e o algodão. Essa evolução do recorde deve-se ao aumento de 4,2% na área plantada, aliado ao ganho de 0,3% na produtividade. No estado de Mato Grosso, na safra 19/20, foi obtida a maior produtividade média de soja da história, 3.489 quilos por hectare, um acréscimo de 4,3% (Conab, 2020). Esse potencial de rendimento deve-se ao
uso intensivo da terra, que pode ser afetado por diversos fatores, entre os quais, destacam-se a fertilidade do solo, a oferta hídrica, a população de plantas, a época de semeadura, o potencial produtivo da cultivar e o ataque de agentes nocivos como plantas daninhas, pragas e doenças, dentre esses os nematoides (Casa & Reis, 2004). Os fitonematoides são parasitas obrigatórios de plantas. Consequentemente, não se alimentam nem se reproduzem na ausência de plantas vivas. Por outro lado, atingem densidades populacionais elevadas em áreas cultivadas. Portanto, a sequência de culturas tem grande influência sobre a densidade populacional desses fitopatógenos. A adequada escolha pela sucessão ou rotação de culturas com plantas não hospedeiras é um componente essencial para o manejo dos fitonematoides. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Uma das principais preocupações do sojicultor no cerrado brasileiro é com relação ao nematoide de cisto da soja (H. glycines) e Meloidogyne spp. Porém, o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) é o que está mais distribuído (Figura 1). Em levantamento realizado pela Aprosmat na safra 2019/2020 a frequência de ocorrência desse nematoide no estado de Mato Grosso foi de 88% e no caso do nematoide do cisto da soja (NCS) a ocorrência foi de 35%. Com relação ao NCS, no total 11 raças já foram detectadas no Brasil (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). A raça 3 já foi a mais disseminada entre os estados produtores de soja, porém com o uso contínuo de cultivares resistentes, essa raça deixou de ser prevalente, com grande tendência ao aumento de outras raças como a 2, a 4 e a 14 (Figura 2). A maioria das cultivares resistentes disponíveis no Brasil é recomen-
Figura 1 - Dados de frequência de gêneros de nematoides no Estado de Mato Grosso na safra 2019/2020, Fonte: Aprosmat (2020)
Figura 2 - Dados de frequência de raças de Heterodera glycines na região do Cerrado brasileiro, safra de 2019/2020. Fonte: Aprosmat (2020)
dada apenas para as raças 1 e 3. Entretanto, algumas empresas já estão comercializando variedades com resistência a mais de uma raça. Mesmo com a oferta de materiais com resistência ampla a várias raças do nematoide de cisto da soja, é importante conhecer a raça que ocorre na lavoura para a melhor escolha das variedades. Porém, mesmo diante dos prejuízos causados por esse nematoide, atualmente no estado de Mato Grosso as cultivares sem resistência compõem uma grande parte do cenário agrícola atual. Mas é importante que o produtor esteja ciente de que o nematoide sobrevive por muito tempo na área e, com o sucessivo cultivo de variedades suscetíveis, as
populações irão aumentar e os prejuízos virão. Para manejar o NCS deve-se considerar o sistema de produção, portanto é essencial manter o pH na faixa de 4,5 a 5,5 (ou então a saturação de bases (V%) na faixa de 35% a 50%) para que haja maior atividade dos fungos sobre os cistos de H. glycines. Outro efeito benéfico do pH na faixa de 4,5 a 5,5 no manejo desse nematoide é o aumento da oferta dos elementos manganês (Mn) e ferro (Fe), uma vez que plantas de soja, quando infectadas pelo nematoide, apresentam deficiência destes dois micronutrientes. Outro ponto importante é a rotação de culturas, pois além da estruturação e ciclagem de nutrientes, a ro-
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Figura 3 - Raízes de soja com massas de ovos de Rotylenchulus reniformis
tação de culturas fornece atributos importantes no manejo do nematoide do cisto, pois a quantidade de matéria orgânica e, consequentemente, o aporte de palha, favorece o desenvolvimento de micro-organismos que, além de serem benéficos às plantas, são capazes de parasitar os ovos e os cistos do nematoide no solo. Por isso, em solos leves, de textura arenosa, a agressividade dessa espécie de nematoide é maior e facilmente visualizada devido à dificuldade em formar palhada nesses solos. Outro nematoide muito importante é o causador de lesões radiculares, P. brachyurus, que se tornou um dos principais patógenos da cultura da soja, estando amplamente disseminado nas áreas de cultivo e causando grandes perdas em produtividade, principalmente em áreas com solos mais arenosos (Inomoto; Silva, 2013). A incidência de P. brachyurus é cada vez maior, sendo que mais de 80% das lavouras localizadas na macrorregião sojícola 4 já apresentam níveis considerados potenciais de causar perdas. Embora os solos médio-arenosos sejam mais favoráveis, esse nematoide pode ocorrer em solos com diferentes texturas, sendo que as maiores perdas registradas foram em solos com menos de 15% de argila (Dias, 2009). Em trabalho desenvolvido por Antônio et al. (2012), os autores afir-
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maram que os fatores ambientais são tão importantes quanto a densidade populacional de P. brachyurus e que populações de 1.200 indivíduos por grama de raiz ocasionaram, naquelas condições, perdas que variaram de 8% (4,8 sc/ha) a 41% (24,3 sc/ha). O nematoide reniforme, R. reniformis, vem se tornando cada vez mais importante, principalmente nos estados em que se cultivam soja e algodão em sucessão. No estado de Mato Grosso essa espécie ainda é pouco distribuída, porém sua frequência vem aumentando conforme levantamentos realizados por Silva et al. (2003) e Galbieri et al. (2014). Os sintomas provocados por esse nematoide são difíceis de ser visualizados, pois o que se observam são apenas acúmulos de argila aderidos às raízes, onde ficam as fêmeas (Figura 3). Essa espécie, apesar de ser considerada mais daninha à cultura do algodoeiro, tem sido bastante frequente em soja, principalmente nas áreas onde essas culturas são utilizadas em sucessão. Em avaliações recentes, observou-se que a maioria das cultivares de soja é boa multiplicadoras desse nematoide. Nas áreas com histórico de mais de três safras com cultivares sem resistência não são observados danos à soja, sendo que o maior problema observado é o aumento populacional que a cultura
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da soja promove para o algodoeiro. Identificar os nematoides presentes na área é o primeiro passo para o manejo. A diagnose correta vai depender primeiramente de uma correta amostragem de solo e raízes, para determinar quais nematoides (espécies e raças) estão presentes na área e os níveis populacionais desses fitopatógenos. As amostras devem ser coletadas de preferência no ciclo anterior a um novo plantio, procurando ser a mais representativa possível da área, levando em consideração as plantas que mostram sintomas moderados, evitando-se aquelas fortemente sintomáticas. Nas reboleiras, amostrar as plantas da região limítrofe evitando o centro. Para a soja, recomenda-se que seja da metade até ¾ do ciclo da cultura (do início da floração até antes da colheita). Na ocasião da coleta, o solo deverá estar com umidade natural, evitando-se condições de encharcamento ou de ressecamento excessivo. Na hora da amostragem deve-se atentar para a profundidade da coleta de solo e raízes, que preferencialmente deve ser de zero a 25cm ou 30cm, e priorizar as radicelas da planta (Santos, 2019). Após as coletas das amostras, o envio para o laboratório deverá ocorrer o mais breve possível. Durante o transporte, deve-se evitar a exposição das amostras a altas temperaturas, exposição direta ao sol por períodos prolongados, bem como condições que favoreçam perda de umidade (Santos, 2019). Diante deste cenário do mundo moderno e mais tecnológico, a informação baseada em dados técnico-científicos é de extrema importância, pois o cenário da agricultura muda a cada ano safra, e com isso o conhecimento é fundamental para soluções precisas e tomadas de decisões C assertivas. Tania F. Silveira dos Santos, Aprosmat Rosangela Aparecida Silva, Fundação Mato Grosso Adriana Figueiredo, Bayer Crop Science
Pragas
Movimento subterrâneo
As alterações trazidas pela atividade agrícola intensa no Cerrado brasileiro resultaram em mudanças na dinâmica das pragas, em especial as associadas ao solo, como é o caso dos corós. O manejo desses insetos, cuja infestação intensa pode comprometer completamente determinadas lavouras, tem no emprego de inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura uma das ferramentas mais eficientes
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ocupação agrícola do Cerrado, nos últimos 30 anos, proporcionou um desenvolvimento excepcional, onde os sistemas de produção de grãos foram bastante modificados. Todavia, essas modificações têm proporcionado mudanças na composição, na abundância e na capacidade de adaptação de diferentes pragas, à medida que os sistemas se expandem e se diversificam. Essas mudanças têm sido observadas principalmente para as espécies
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Fotos C. J. Ávila
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tos para acasalamento e dispersão ocorre no início da estação chuvosa e as fases de larvas coincidem com o período de cultivo da soja. Os ovos são colocados em câmaras individuais no solo, geralmente na camada de 3cm a 15cm de profundidade. Esse coró apresenta três pares de pernas torácicas e cabeça marrom-amarelada, o qual passa por três instares larvais. As larvas de primeiro instar ocorrem de novembro a janeiro, as de segundo instar de dezembro a fevereiro e as de terceiro instar de janeiro a abril. Quando as larvas de terceiro instar cessam a alimentação, se aprofundam no perfil do solo, constroem um casulo e entram em diapausa. As pupas são observadas a partir do mês de setembro e a emergência de adultos durante o mês de outubro. Os danos de P. cuyabana na soja e no milho são mais intensos a partir de larvas de segundo e terceiro instares, sendo os reflexos do ataque no sistema radicular das plantas mais intensos em solo de baixa fertilidade, com camadas adensadas e sob condições de déficit hídrico. Uma elevada densidade de larvas no solo pode reduzir acentuadamente o sistema radicular das plantas e afetar drasticamente o estande e o rendimento de grãos das culturas (Figura 2). Com a redução do estande da soja, a superfície do solo fica descoberta, predispondo o desenvolvimento de plantas daninhas na área, o que aumenta a sua competitividade com a soja ou o milho e dificulta a colheita principalmente da soja (Figura 3). O coró-da-soja-do-cerrado, Phyllophaga capillata (Figura 4), tem sido constatado causando danos na cultura da soja no Distrito Federal e nos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. O ciclo biológico de P. capillata, que dura
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Figura 1 - Adulto (A) e larva (B) de Phyllophaga cuyabana
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de corós no solo, pode ocorrer até 100% de perda da lavoura, dependendo da cultura atacada, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento das plantas.
PRINCIPAIS ESPÉCIES DE CORÓS DO CERRADO
C. J. Ávila
Existem basicamente cinco principais espécies de corós-pragas que ocorrem, com frequência, na região do Cerrado brasileiro: Phyllophaga cuyabana (Moser), Phyllophaga capillata (Blanchard), Aegopsis bolboceridus (Thomson), Liogenys fusca Blanchard e Liogenys suturalis (Blanchard), as quais serão descritas a seguir, associadas às diferentes culturas em que causam danos no sistema radicular. Phyllophaga cuyabana (Figura 1) tradicionalmente ocorre nas lavouras do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, onde atacam especialmente as culturas de soja, milho e os cereais de inverno como trigo e aveia. Todavia, esta espécie está mais associada à soja, sendo assim denominada de coró-pequeno-da-soja, embora outras espécies de corós possam também atacar essa cultura. P. cuyabana apresenta apenas uma geração por ano (univoltino). A revoada dos adulP. M. Fernandes
que estão intimamente associadas ao solo, como é o caso dos insetos que atacam as partes subterrâneas das plantas. Dentro desse grupo de pragas, destacam-se os corós, que são também denominados de “pão-de-galinha” ou “bicho bolo”, o quais podem atacar as raízes das plantas cultivadas, afetando o estande e a uniformidade da cultura, bem como a sua produtividade. Várias espécies de besouros apresentam larvas que se desenvolvem no solo, porém apenas uma pequena percentagem desses organismos causa danos aos cultivos agrícolas. O termo “corós” tem sido utilizado para larvas de besouros (ordem: Coleoptera), pertencentes à família Melolonthidae, que atacam as raízes de plantas cultivadas e causam prejuízos econômicos, podendo ocorrer tanto no sistema de plantio direto como no plantio convencional. As fases de ovo, larva e pupa dos corós ocorre no solo e esses insetos geralmente apresentam ciclo univoltino (uma geração por ano) com três instares larvais. As larvas possuem corpo recurvado (em forma de C), coloração branca-leitosa e três pares de pernas torácicas. No Cerrado, as revoadas dos adultos ocorrem durante a primavera, após as primeiras chuvas e antes dos cultivos de verão, quando os insetos acasalam e iniciam a postura no solo. Os danos dos corós são causados pelo consumo de raízes ou até mesmo dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio, acarretando redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes. A intensidade desses danos é maior em plantas jovens, especialmente quando são cultivadas em condições de déficit hídrico. As plantas atacadas por corós apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, seguido por amarelecimento, murcha e morte, sendo esses sintomas observados normalmente em reboleiras distribuídas irregularmente nas lavouras. Em condições de alta infestação
Figura 2 - Lavouras de soja com danos de corós
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Figura 3 - Lavouras de soja com infestação de plantas daninhas
Fotos C. M. Oliveira
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Fotos Divulgação
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Figura 4 - Adulto (A) e larva (B) de Phyllophaga capillata
Figura 5 - Sintomas de ataque de Phyllophaga capillata em soja no Distrito Federal
um ano, se inicia com a revoada dos adultos que ocorre com as primeiras chuvas (setembro/outubro) no Brasil Central. Os adultos saem em revoadas durante a noite, se acasalam e retornam ao solo. No solo, as fêmeas começam a postura, colocando seus ovos em pequenas câmaras de barro, principalmente embaixo de plantas daninhas. Os ovos (2,3mm) são encontrados nos meses de outubro e novembro. As larvas apresentam cabeça de coloração castanha, com mandíbulas robustas. As larvas de primeiro instar (1,1cm) podem ser encontradas entre novembro e dezembro. O segundo instar (2,1cm) ocorre entre novembro e janeiro, e as de terceiro instar (3,7cm) são observadas de janeiro a junho. A partir do final de março as larvas de terceiro instar cessam a alimentação, constroem um casulo de barro (câmara pupal) e entram em diapausa (redução do metabolismo). As pupas (2,2cm) são observadas entre julho e agosto. Os adultos (1,8cm) são muito similares aos de P. cuyabana, apresentam coloração castanha exceto o abdômen, de coloração amarelada. Todo o corpo é coberto por pelos branco-amarelados, mais abundantes do que em P. cuyabana. Adultos inativos no interior do solo são observados em agosto e setembro, e após as chuvas entram em atividade e são observados em revoada até novembro/dezembro. Embora P. capillata já tenha sido relatada atacando cultivos de mandioca, os maiores prejuízos têm sido observados em cultivos de soja no Brasil Central (Figura 5). Os ataques ocorrem em reboleiras e o consumo das raízes das plantas de soja levam a uma redução no desenvolvimento e até a morte das plantas, reduzindo a produtividade e o estande da cultura. Estudos de campo apontam
que em ataques severos podem provocar reduções de 37,7% no estande, 60,7% no peso de plantas, 53,4% no peso de vagens e 58,5% no peso de grãos. Os resultados desse estudo demonstraram a importância dessa praga como fator de redução de produtividade da soja no Cerrado. O coró-das-hortaliças, A. bolboceridus (Figura 6), ocorre no Distrito Federal e nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. Este coró já foi observado atacando pelo menos 15 espécies de plantas cultivadas, porém seus maiores danos têm sido registrados em cultivos de milho, morango e hortaliças. À semelhança de outras espécies de corós do Cerrado, seu ciclo biológico dura um ano e as fases ativas do inseto (adultos em revoada e larvas) ocorrem na estação chuvosa (setembro-março). As revoadas têm início na primavera com as primeiras chuvas (setembro/outubro). Os adultos saem do solo à noite para acasalamento, dispersão e postura. Os ovos (3-4mm) são colocados no solo entre outubro e novembro. As larvas possuem cabeça castanha. As do primeiro instar (2,2cm) ocorrem de outubro a dezembro, as de segundo instar (4,2cm) de novembro a janeiro e as de terceiro (8,6cm), de novembro a maio. A partir do final de março as larvas entram em diapausa dentro da câmara pupal. As pupas são encontradas de maio a julho. Os adultos apresentam coloração que varia do castanho-escuro ao avermelhado, com pelos castanho-avermelhados na parte ventral do tórax e abdome. Os machos possuem dois prolongamentos em forma de chifres no protórax e um na cabeça. Os adultos são encontrados de julho a setembro no solo (inativos) e em revoada de setembro a outubro. Fotos Divulgação
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Figura 6 - Adultos (A – macho e B - fêmea) e larva (C) de Aegopsis bolboceridus
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Fotos Divulgação
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Figura 7 - Sintomas de ataque de Aegopsis bolboceridus em milho em Goiás. Acamamento de plantas (A) e planta de milho com sistema radicular danificado (B)
O coró-das-hortaliças apresenta alta capacidade de consumo de raízes, sobretudo no terceiro instar, quando larvas atingem quase 9cm. Assim, o ataque dessa espécie quase sempre leva as plantas atacadas à morte (Figura 7). Na cultura do milho, por exemplo, A. bolboceridus tem causado reduções médias de 60% no peso dos grãos, 28% no peso do sabugo, 23% no número de grãos e 12% no comprimento do sabugo. Outra espécie constatada nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é Liogenys fusca (Figura 8), estudada desde a safra 2002/2003 em lavouras conduzidas no Sistema Plantio Direto. Após completarem o ciclo imaturo, os adultos saem do solo em revoadas para oviposição e dispersão durante os meses de setembro e outubro, coincidindo com as primeiras chuvas da região. Os ovos de L. fusca são encontrados no solo, a partir do mês de outubro. As larvas podem se alimentar de várias espécies vegetais de importância econômica como a soja, o milho e a cana-de-açúcar. Estudos conduzidos no estado de Mato Grosso do Sul verificaram que o período de desenvolvimento para as larvas de primeiro, segundo e terceiro instares foram de 28,5 dias, 48,8 dias e 68,2 dias, respectivamente, enquanto o período pupal foi de 120,2 dias. Na safra 2002/2003, larvas de L. fusca foram encontradas em altas densidades no solo de lavouras de soja de diversas regiões de Goiás, em especial nos municípios de Edeia e Leopoldo de Bulhões, quando foram verificadas perdas de 50% a 100% no rendimento de grãos dessa cultura. Na safra 2006/2007, essa mesma espécie foi também constatada na região da Pedra Preta, no estado de Mato Grosso, causando acentuada redução de estande e de produtividade da soja. Liogenys suturalis é um coró nativo do Brasil e da Bolívia, com ocorrência nos estados de 24
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Essa espécie tem sido denominada de coró-do-milho por ser frequentemente encontrada atacando as raízes das plantas dessa cultura, embora possa também atacar o trigo e a aveia, geralmente associado a gramíneas. Os adultos de Liogenys suturalis (Figura 9) apresentam corpo de coloração marrom brilhante, com élitros dourados e opacos e pronoto marrom-avermelhado. Em razão da sua forte atração pela luz, em períodos de intensa revoada, são facilmente encontrados à noite nas lâmpadas das residências agrícolas ou no farol de veículos. Durante o período de revoada, os adultos podem também ser observados sobre árvores próximas, quando ficam imóveis em cima dos galhos e, dependendo da espécie vegetal, podendo se alimentar das suas folhas, como ocorre com as do pessegueiro. Os ovos são encontrados no solo a partir da segunda quinzena de outubro. Já as larvas medem, no máximo desenvolvimento, cerca de 25mm de comprimento. As larvas de primeiro instar são encontradas em maior abundância durante os meses de novembro e dezembro e as de segundo instar a partir do mês de janeiro. A partir de fevereiro predominam as larvas mais desenvolvidas de terceiro instar, que permanecem neste último instar até meados de agosto. No final do terceiro instar, as larvas passam por um período de inanição (pré-pupa), quando realizam a limpeza do sistema digestivo. Neste estágio apresentam uma coloração mais esbranquiçada e com o tegumento mais espesso. Já as pupas são encontradas no período de agosto a outubro e com maior
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abundância em setembro, período esse em que também se observa a revoada dos adultos para acasalamento e dispersão. A fase larval de L. suturalis coincide com a época de plantio do milho safrinha, trigo e/ou aveia em Mato Grosso do Sul. Durante os meses de janeiro a abril este coró apresenta maior potencial de danos nas raízes do milho e do trigo, pois nessa ocasião predominam larvas mais desenvolvidas. A intensidade de danos no sistema radicular do milho é maior durante os estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, especialmente em condições de estiagem, à semelhança do verificado para P. cuyabana em soja (Figura 10). Pesquisas conduzidas na região Sul de Mato Grosso do Sul constataram também elevada incidência de larvas e de adultos de L. suturalis em canaviais. Todavia, o potencial de danos dessa espécie na cultura da cana-de-açúcar não foi ainda determinado.
MANEJO DE CORÓS NOS CULTIVOS
Para o manejo das espécies de corós, é necessário o monitoramento dessas pragas antes da instalação das lavouras, uma vez que os métodos de controle mais eficientes são aqueles adotados preventivamente. Dentre as táticas que podem ser utilizadas para o controle de corós, destacam-se escolha da melhor época de semeadura, preparo do solo com implementos adequados, controle biológico e controle químico por meio do uso de inseticidas aplicados nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura. Como os adultos dos corós apresentam normalmente uma forte atração pela luz, o uso de armadilhas luminosas durante o período de emergência dos insetos do solo pode capturar um número expressivo de insetos durante a noite e assim contribuir para reduzir a sua infestação na área dos cultivos. Essa atratividade pela luz tem sido observada para praticamente todas as cinco espécies de corós anteriormente descritas. Conhecendo a dinâmica populacional de adultos e das larvas das diferentes espécies de corós em uma determinada região, é possível programar a época de semeadura com o objetivo de minimizar os danos. No estado do Paraná, a semeadura
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S. Rodrigues
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Fotos C. J. Ávila
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Figura 8 - Adulto de L. fusca (A) onde se observam o clípeo dentado, a coloração e as pernas com tarsos dilatados e (B) larva
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Figura 9 - Adulto (A) e larva (B) de Liogenys suturalis
da soja em outubro ou nos primeiros dias de novembro pode evitar a sincronia dos estádios mais suscetíveis da cultura ao ataque das larvas de segundo e terceiro instares de P. cuyabana, diminuindo potencialmente o dano causado à lavoura. A rotação de culturas é outra tática de controle cultural de corós que pode ser utilizada nos sistemas de produção. Os cultivos de Crotalária juncea, C. spectabilis, C. micans, C. paulinea ou algodão podem ser utilizados em rotação com a soja em áreas infestadas com P. cuyabana e P. capillata, uma vez que o consumo das raízes dessas plantas prejudica o desenvolvimento larval dessas espécies de corós. Da mesma forma, o preparo do solo pode reduzir significativamente a população de corós, dependendo da espécie considerada e do tipo de implemento utilizado no preparo. Trabalhos conduzidos no Mato Grosso do Sul demostraram que a gradagem do solo, antes da semeadura do milho, reduziu em até 50% a população de larvas de L. suturalis neste ambiente. O revolvimento do solo causa a mortalidade dos corós devido ao dano mecânico causado às formas imaturas (ovos, larvas e pupas), pela sua exposição a aves e outros predadores, bem como decorrente do deslocamento das mesmas para a superfície do solo, onde prevalecem condições de radiação solar, de umidade e de temperatura menos adequadas à sua sobrevivência. O controle biológico de corós no solo pode ser realizado empregando-se fungos ou nematoides entomopatogênicos e até mesmo parasitoides de larvas. É comum observar, em condições de campo, larvas ou adultos de corós contaminados naturalmente pelos fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana. Nematoides entomopatogênicos do gênero Steinernema podem também controlar larvas de L. suturalis quando aplicados no solo por ocasião da semeadura do milho. Vários estudos têm sido conduzidos pelo Instituto Biológico de Campinas, São Paulo, para o controle de corós na cultura da cana-de-açúcar empregando-se principalmente nematoides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterohabiditis. Coletas realizadas na região de Dourados, Mato Grosso do Sul, registraram que moscas parasitoides da família Tachinidae, gênero Ptilodexia podem se desenvolver naturalmente em larvas de L. suturalis no solo e ocasionar a morte de até 22,5% desse coró, como foi constatado no município de Laguna Carapã, Mato Grosso do Sul. Quando esse coró se encontra na fase de pré-pupa, a larva desse parasitoide abandona o seu corpo, deixando um orifício de saída, para pupar no solo. O controle químico de corós, por meio do emprego de inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura, tem se apresentado como uma das alternativas mais eficientes para o manejo das diferentes espécies de corós nos sistemas de produção, especialmente em sistemas conservacionistas, como é
o plantio direto. Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste de Dourados evidenciaram a viabilidade de um controle efetivo tanto de P. cuyabana em soja como de L. suturalis em milho empregando-se inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de plantio destas culturas. Pesquisas conduzidas pela Fundação MT, em parceria com a Embrapa Agropecuária Oeste, identificaram vários ingredientes ativos e doses efetivas para o controle de L. fusca em soja por meio da sua aplicação nas sementes e no sulco de semeadura desta cultura. No estado do Mato Grosso, P. capillata tem ocasionado danos à cultura da soja, em reboleiras, mas com reduções de porte de planta e peso de raiz superior em relação à espécie P. cuyabana. Em trabalhos realizados, durante a safra de soja observou-se incremento de produtividade de até 20% para áreas tratadas com clorantraniliprole e ciantraniliprole no sulco de plantio, bem como aumento no peso de plantas de até 27,1% e comprimento de raiz 34,3% superior em relação à área sem controle. Nessas áreas observa-se redução de altura. Diferentemente da espécie P. cuyabana, para P. capillata o tratamento de sementes com fipronil não tem controle efetivo e proteção às plantas. Isso foi quantificado em área com histórico de ataque onde a mistura de fipronil + imidacloprido apresentou 65,2% a mais no peso de plantas aos 28 dias após a emergência das plantas, também a mistura de fipronil + clotiandinin reverteu em vigor de plantas em 38% em relação às áreas não tratadas e 21% a mais comparado ao tratamento isolado com fipronil. Isso reforça a necessidade de se ter o histórico da área e também a identificação C da espécie ocorrente na área. Crébio José ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Charles Martins de Oliveira, Embrapa Cerrados Lúcia Madalena Vivan, Fundação MT Mariana Alejandra Chermar, Universidade Federal do Mato Grosso Fotos C. J. Ávila
M. A. Cherman
Figura 10 - Danos de Liogenys suturalis em milho
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Capa
Ponte verde Plantas daninhas resistentes ao glifosato, quando não manejadas adequadamente, tendem a se tornar potenciais hospedeiras de pragas polífagas, como a lagartado-cartucho. Enquanto buva, capim-amargoso e trapoeraba não propiciaram bom desenvolvimento ao inseto, sorgo-selvagem e capim-pé-de-galinha se mostraram mais viáveis à praga. Conhecer a aptidão e a biologia de Spodoptera frugiperda nessas invasoras contribui para melhorar as práticas de manejo
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aumento das áreas cultivadas com milho, soja e algodão resistentes ao glifosato trouxe ao produtor o benefício da facilidade nos tratos culturais e na implantação do sistema de plantio direto. Todavia, tanto esse sistema como a alta adoção das plantas transgênicas resistentes a herbicidas geraram uma grande pressão de seleção sobre as plantas daninhas, o que resultou no aumento de daninhas resistentes a herbicidas no campo (Heap & Duke 2018). Tal fato, além de dificultar muito as estratégias de manejo, onera o custo de produção, pois o produtor vem aumentando a dose aplicada e precisa diversificar os produtos utilizados. A ocorrência de plantas daninhas no período de entressafra pode variar, dependendo das condições do tempo e características climáticas específicas de cada região, além de ser influenciada por fatores relacionados ao preparo do solo, histórico de herbicidas pulverizados e culturas cultivadas na área. O uso contínuo do herbicida glifosato na agricultura brasileira favoreceu o aumento da frequência de biótipos resistentes e espécies tolerantes a herbicidas nas principais regiões produtoras de soja do País (Lucio et al., 2019). Atualmente, no Brasil, existem 11 espécies de plantas daninhas que possuem biótipos resistentes a esse herbicida; dentre elas destacam-se a buva (Conyza spp.), o capim-amargoso (Digitaria insularis) e o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) (Figura 1), como espécies com ampla distribuição geográfica (Lucio et al., 2019; Heap & Duke 2018). O tráfego de máquinas, implementos agrícolas e sementes nas fronteiras com outros países, principalmente Argentina, Uruguai e Paraguai, é importante via de entrada de novas espécies resistentes, como o caruru (Amaranthus hybridus), detectado na safra 2018/2019 no estado do Rio Grande do Sul. O sorgo-selvagem (Sorghum halepense) resistente ao glifosato já se
PONTE VERDE
A possibilidade de cultivo de lavouras de grãos em várias épocas do ano na mesma área é uma das grandes vantagens do sistema tropical de produção, que otimiza a exploração da área. Contudo, traz consigo alguns inconvenientes, como a dificuldade de controlar espécies de pragas polífagas nas áreas de cultivo, uma vez que plantas hospedeiras são mantidas no campo durante todo o ano (Rodrigues et al., 2015). Entre essas pragas polífagas presentes no campo, destaca-se a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) (Figura 2), considerada uma das pragas mais importantes no Brasil (Mendes et al., 2018). Segundo levantamento realizado por Montezano et al., (2018), essa espécie de praga pode se alimentar de pelo menos 353 espécies de plantas de 76 famílias diferentes, cujas principais são Poaceae, Asteraceae e Fabaceae. Dentre estas plantas estão incluídas plantas cultivadas e invasoras que ocorrem simultaneamente em diferentes regiões e estações do ano. Essa habilidade da praga, de se alimentar de muitas plantas presentes nos sistemas de cultivo, e a manutenção continuamente de culturas hospedeiras no campo, como milho, soja, algodão, sorgo e arroz (Boregas et al., 2013) em sistemas intensificados de produção, proporcionam alimento para S. frugiperda no campo durante todo o ano, configurando a chamada ponte verde, o que dificulta as estratégias de manejo da espécie. Além disso, a ocorrência da lagarta-do-cartucho atuando como lagarta-rosca tem aumentado. Esse hábito ocorre quando a lagarta, já grande no campo, se alimenta de plântulas nas lavouras, o que reduz o estande. Tal fato pode ser causado pela manutenção da lagarta nas diferentes plantas hospedeiras. O curto período entre a dessecação e o plantio não proporciona uma redução das plantas hospedeiras, ou seja, redução de alimento para as lagartas a ponto de resultar em uma diminuição significativa da sua frequência. Como logo em seguida ocorre a germinação da nova lavoura, as lagartas passam a se alimentar das plântulas recém-emergidas (Figura 2b).
da lavoura principal, como essa espécie já está na área, passa a causar problemas na lavoura recém-implantada, reduzindo estande e causando injúrias de alimentação que reduzem o potencial produtivo. Nesse cenário, em que as plantas daninhas com resistência a herbicidas estão se tornando mais frequentes em áreas agrícolas, realizou-se um estudo, no qual foram avaliados os aspectos biológicos de S. frugiperda em plantas daninhas específicas comuns nos agroecossistemas brasileiros, como as da família Poaceae, capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), sorgo-selvagem (Sorghum vertcilliflorum) e capim-amargoso (Digitaria insularis), e de outras famílias, buva (Conyza sp.) (Asteraceae), caruru-verde (Amaranthus hybridus) (Amaranthaceae) e trapoeraba (Commelina benghalensis) (Commelinaceae). Com estes resultados foi possível inferir como a presença dessas plantas pode influenciar na sobrevivência dessa praga nos sistemas agrícolas. Em estudo realizado no laboratório, verificou-se diferença para as variáveis biológicas estudadas: sobrevivência de lagartas (larval), período de desenvolvimento das lagartas e biomassa (peso) das lagartas e das pupas (Figuras 3, 5, 6 e 7). Nesse sentido, o presente estudo traz boas notícias. A buva, muito comum em sistemas de produção e com presença de plantas resistentes em todas as regiões produtoras de grãos do País, não pode ser considerada
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Fotos Embrapa Milho e Sorgo
encontra presente na Argentina (Heap, 2020), e a probabilidade de introdução no Brasil é iminente. Todas as espécies aqui mencionadas destacam-se como plantas comuns encontradas na entressafra nos campos brasileiros (Adegas et al., 2010; Concenço et al., 2012; Heap & Duke 2018). Durante esse período, se não forem adequadamente manejadas, as plantas daninhas podem aumentar o seu banco de sementes, tornando-se difíceis de controlar e podendo servir como hospedeiros importantes para pragas e doenças (Dalazen et al., 2016).
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Figura 1 - Plantas daninhas: a) buva (Conyza spp.), b) capim-amargoso (Digitaria insularis) e c) capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)
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DANINHAS COMO PONTE VERDE
Em razão do manejo inadequado, as plantas daninhas resistentes ao glifosato tendem a permanecer verdes por mais tempo na área de cultivo, tornando-as potenciais hospedeiras de pragas polífagas. Portanto, conhecer a aptidão e a biologia da lagarta-do-cartucho nessas plantas invasoras contribui para melhorar as práticas de manejo dessa praga. Uma vez que nesses sistemas de cultivo esta praga pode se manter na área por longos períodos se alimentando de plantas daninhas, quando realizado o plantio
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Figura 2 - Lagarta no cartucho, (a) lagarta no solo, (b) pupas e (c) adultos (macho e fêmea)
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Figura 3 - Sobrevivência larval de Spodoptera frugiperda (± EP) em diferentes plantas daninhas e milho (DKB 390 convencional). Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Dunn a 5% de probabilidade. Adaptado de Moraes et al., 2019
Fotos Embrapa Milho e Sorgo
Figura 2 - Relação entre produtividade de arroz irrigado e severidade de brusone nas panículas da cultivar Guri Inta CL, com base na aplicação de fungicidas em três estádios de desenvolvimento - safra 2015/16. 1Notas (0 a 9) atribuídas às panículas aos dez dias após a aplicação
Figura 4 - Lagartas de Spodoptera frugiperda de mesma idade mantidas com alimentação exclusiva em folhas de milho (lagarta grande, que se desenvolveu) e buva (lagarta pequena, que não se desenvolveu)
uma planta hospedeira de S. frugiperda, uma vez que nenhuma lagarta sobreviveu (Figura 3). Embora Dalazen et al. (2017) tenham descrito espécies de buva como hospedeiros frequentes e dominantes para a lagarta-do-cartucho no Brasil, no presente estudo a buva não demonstrou ser uma planta hospedeira tanto em bioensaios de laboratório quanto em casa de vegetação. Esses dados estão de acordo com aqueles encontrados por Mendes et al., 2016, mostrando que a buva pode ser classificada como planta de abrigo no campo, pois além de os insetos não completarem a fase larval, aumenta muito o tempo de desenvolvimento. Desse modo, as lagartas sobrevivem em subdesenvolvimento por até 40 dias, mas morrem se forem alimentadas exclusivamente com buva (Figura 4). Além da buva, o capim-amargoso e a trapoeraba não propiciaram bom desenvolvimento do inseto em laboratório, com sobrevivência das lagartas de 19% e 33%, respectivamente. A alimentação exclusiva com capim-amargoso e trapoeraba também alongou muito o período de desenvolvimento das lagartas sobreviventes, que levaram em torno de 25 dias para completar essa fase (Figura 5). Vale lembrar que quanto mais tempo o inseto passa na fase de lagarta, mais suscetível fica a outras formas de mortalidade, como a predação. Por outro lado, esse estudo também revelou daninhas que podem ser plantas hospedeiras adequadas para o desenvolvimento de S. frugiperda, como o sorgo-selvagem e o capim-pé-de-galinha. Ambas as espécies de plantas daninhas propiciaram um bom desenvolvimento da praga, pois a sobrevivência das lagartas foi
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semelhante à observada no milho (Figura 3), e a biomassa das pupas também foi compatível com aquela apresentada pelas lagartas que se alimentaram de milho (Figura 6). Vale ressaltar que a biomassa de pupas tem correlação direta com a fertilidade dos adultos, assim, quanto maior a biomassa das pupas, mais férteis serão as mariposas. Já no estudo realizado em casa de vegetação, observou-se que houve diferença na injúria causada pela alimentação de S. frugiperda nessas diferentes plantas daninhas (Figura 7). A injúria observada em capim-pé-de-galinha foi semelhante àquela verificada em milho, sorgo-selvagem e caruru. Contudo, em capim-amargoso, buva e trapoeraba, plantas que apresentaram pior desempenho biológico para a praga, a injúria também foi menor. Isso mostra que a presença
do inseto no campo pode passar sem ser percebida pelo produtor, uma vez que ele pode não ver as lagartas ou as injúrias de alimentação desses insetos. É importante o produtor estar atento à observação de injúrias de alimentação também nas plantas daninhas (Figura 8), o que pode ser um bom indicador da presença das lagartas se alimentando das plantas, sobretudo no momento do preparo do plantio, em que a permanência dessa lagarta em plantas daninhas pode levar a possíveis reduções do estande da lavoura recém-plantada. Em geral, os resultados mostraram que a sobrevivência e o desenvolvimento da lagarta-do-cartucho foram semelhantes aos do milho nas plantas daninhas sorgo-selvagem e capim-pé-de-galinha, e que a buva, o capim-amargoso e a trapoeraba foram os piores hospedeiros
Figura 5 - Período de desenvolvimento larval (dias) de Spodoptera frugiperda mantida sob alimentação exclusiva em diferentes plantas daninhas e milho, avaliado em laboratório. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Dunn a 5% de probabilidade. Adaptado de Moraes et al., 2019
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Figura 6 - Biomassa de pupas de Spodoptera frugiperda (média ± EP) (mg) mantidas sob alimentação exclusiva de diferentes plantas daninhas, sorgo-selvagem e milho, avaliada em laboratório. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Dunn a 5% de probabilidade. Adaptado de Moraes et al., 2019
Figura 7 - Nota de injúria (média ± EP) causada pela alimentação de Spodoptera frugiperda em seis espécies de plantas daninhas e milho em casa de vegetação. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Dunn a 5% de probabilidade. Escala de notas de 0 a 5 adaptada de Carvalho (1970). Adaptado de Moraes et al., 2019
dessa praga. Apesar de a trapoeraba e o capim-amargoso terem recebido as menores notas de injúria em casa de vegetação, registre-se a capacidade dessa praga para sobreviver nessas espécies de plantas daninhas por um certo período. Além disso, é importante destacar que as plantas daninhas nas quais a lagarta-do-cartucho apresentou um longo período de desenvolvimento, como o capim-amargoso e a trapoeraba, podem favorecer a presença e a persistência da praga, servindo do que se pode chamar de “abrigo”. Recentemente, foi detectado um capim-pé-de-galinha com resistência múltipla a herbicidas (glifosato e fenoxaprop-p-etil) no estado de Mato Grosso, Brasil (Heap & Duke 2018). A falta de controle desse capim vem aumentando principalmente nas regiões do Cerrado no Brasil. Esse fato também contribuiu para o aumento dessa planta daninha nos sistemas de produção agrícola (Takano et al., 2016). De acordo com os resultados, o manejo dessas plantas daninhas é muito importante nos campos brasileiros durante a entressafra, com o objetivo de reduzir o banco de sementes no solo, a incidência da lagarta-do-cartucho e os custos de produção. Adegas et al. (2017) estimaram um custo superior a R$ 9 bilhões anuais gerados pela presença de plantas daninhas resistentes, considerando apenas o sistema de produção de soja no Brasil. Isso, sem considerar nesse custo a sobrevivência de pragas nessas plantas daninhas, como a lagarta-do-cartucho, o que elevaria esse valor. Desse modo, as estratégias de manejo de plantas daninhas devem ser divulgadas e adotadas pelos produtores rurais.
co de sementes é necessário realizar o adequado controle das infestantes durante o período de entressafra. É importante que a dessecação seja realizada de maneira antecipada, preferencialmente 15 dias a 20 dias antes do semeio da cultura, e que seja realizado o monitoramento de pragas próximo à data de semeio, para verificar se há necessidade de aplicação de inseticidas para C controle da praga-alvo.
RECOMENDAÇÕES DE MANEJO
Natália Alves Leite, Tamara Moraes, Alexandre Ferreira e Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo Simone Mendes,* Embrapa Milho e Sorgo* autora correspondente A
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Para o adequado manejo de plantas daninhas na entressafra, medidas integradas de controle para evitar o aumento da produção de sementes durante o período da entressafra são necessárias. Entre essas medidas, estão a possibilidade de uso de herbicidas residuais após a colheita, o emprego de plantas de cobertura e práticas de controle mecânico. Para evitar que as plantas daninhas da área possam servir como ponte verde de S. frugiperda e não aumentem o seu ban-
Figura 8 - Plantas daninhas com injúrias causadas pela alimentação de Spodoptera frugiperda. (a) trapoeraba, (b) sorgo-selvagem, (c) capim-amargoso, (d) caruru e (e) capim-pé-de-galinha
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Informe
Defesa reforçada Complexo nutricional bioativador mostra alto sinergismo quando associado ao uso de fungicidas convencionais e potencial para auxiliar no manejo da ferrugemasiática por induzir os mecanismos de defesa da planta contra a doença
O
Cubo IR associado aos fungicidas convencionais aumentou a eficácia de controle em 16,4% e incrementou a produtividade em 6,2 sacas por hectare, em relação ao tratamento padrão. Desde o surgimento da Ferrugem Asiática (Phakopsora pachyrhizi) no Brasil ao final da safra 2001/02, perdas na produtividade de até 90% foram relatadas em todas as regiões do país. As dificuldades para o manejo dessa doença são grandes, pois todos os métodos de controle apresentam limitações, e a cada safra observa-se perdas na eficácia dos defensivos químicos utilizados. Desta forma, nos últimos anos tem crescido o interesse por métodos alternativos de manejo. Nesse contexto, a Spraytec desenvolveu o Cubo IR, que significa nutrição, maior defesa
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natural da planta e melhor qualidade da aplicação. Produto de alta tecnologia e biodegradável que atua na fertilização de flores, na formação e peso de grãos e no transporte de carboidratos, com reflexos positivos na produtividade. Outra característica diferencial do produto está relacionada ao aumento da resistência das plantas à fatores bióticos. Em resposta à aplicação de Cubo IR, os mecanismos de defesa são ativados, induzindo à planta a sintetizar altas concentrações de metabólicos secundários, que atuam como verdadeiras barreiras físicas e químicas, dificultando a entrada e desenvolvimento de patógenos, como o fungo causador da Ferrugem Asiática. A utilização de cultivares de alto potencial genético associado ao desenvolvimento sustentável exige produtos inovadores
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Figura 1 - Eficácia de Cubo IR no manejo da ferrugem-asiática da soja
como o Cubo IR.
OBJETIVO
Avaliar a eficiência do complexo nutricional bioativador Cubo IR em associação com fungicidas convencionais no manejo de Ferrugem Asiática na cultura da soja.
C
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na estação experimental da FAPA- Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, localizada no distrito de Entre-Rios, Colônia Vitória, município de Guarapuava, PR. No ensaio foi utilizada a cultivar de soja Roos Camino RR. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram em Testemunha (sem aplicação), Padrão FAPA (três aplicações de fungicidas) e Padrão FAPA + Spraytec (três aplicações de fungicidas associados ao Cubo Marcelo Madalosso
Figura 2 - Eficácia de Cubo IR sobre a produtividade da soja
IR 0,30 L ha-1). As aplicações foram realizadas quando a cultura estava no estádio V8, R3 e R5.3, respectivamente. O volume de calda utilizado foi de 200 L/ha. Foram realizadas avaliação da eficiência do produto no controle da Ferrugem Asiática e o rendimento da cultura. Os dados foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey (p < 0,05), através do software SASM Agri (Canteri et al., 2001).
RESULTADOS
Cubo IR demonstrou alto sinergismo junto aos fungicidas, aumentando a eficácia de controle da Ferrugem Asiática da soja. A associação de Cubo IR aos fungicidas aumentou a eficácia de controle em 16,4%, em relação ao tratamento padrão. O controle para o tratamento padrão foi de 80,4% e para o padrão associado ao Cubo IR foi de 96,8% (Figura 1). O aumento na eficácia de controle da Ferrugem Asiática é de extrema importância para que não haja perda do potencial produtivo da cultura. Nesse contexto, com relação
à produtividade, a colheita na testemunha foi de 70,3, no padrão de 76,1 e no padrão mais Cubo IR de 82,2 sacas por hectare. A associação de Cubo IR aos fungicidas promoveu um incremento médio de produtividade de 11,9 sacas por hectare em relação à testemunha e de 6,2 sacas em relação ao tratamento padrão (Figura 2). Como a maioria dos fungicidas químicos apresenta limitações no controle, a associação deles com Cubo IR demonstrou ser uma ferramenta eficaz para garantir melhor controle da Ferrugem Asiática e consequentemente, promover maior produtividade da cultura da soja.
CONCLUSÃO
O Cubo IR, além de nutrir as plantas visando a máxima expressão de seu potencial produtivo, é uma alternativa promissora no manejo da Ferrugem Asiática da soja por induzir os mecanismos de defesa das plantas, apresentando alto sinergismo com os C fungicidas convencionais. Heraldo R. Feksa, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa)
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Milho
Duplo controle
Fotos Ivan Cruz
A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis, exige que o manejo seja pensado de modo a focar tanto no inseto como nos enfezamentos causados pela praga. Um plano com ações coletivas envolvendo o segmento agrícola da produção de milho em base regional deve ser considerado para auxiliar os produtores a lidar de forma mais adequada e eficiente com este problema
A
cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis, é atualmente uma praga-chave do milho no Brasil, especialmente em plantios escalonados ou em segunda safra. A sua importância é maior devido ao fato de ser vetor de agentes causadores de enfermidades denominadas “enfezamentos” cuja consequência pode ser uma redução drástica na produtividade de grãos. Os adultos, de coloração amarelo-palha, podem apre-
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sentar variações entre mais claros ou mais escuros, especialmente em função do clima. Possuem entre olhos compostos por duas manchas circulares negras. Os machos podem ser facilmente separados das fêmeas por possuir o abdome amarelo e tórax e cabeça opacos; ao contrário, nas fêmeas a coloração é homogênea em todo o corpo. Apresentam dois pares de asas transparentes com distribuição longitudinal ao longo do comprimento, ultrapas-
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sando o abdome, antenas setáceas e aparelho bucal do tipo sugador labial com três segmentos. A espécie pode ser separada facilmente de outras pela característica da família Cicadellidae de possuir quatro fileiras de espinhos nas tíbias das pernas posteriores. As fêmeas colocam ovos diminutos, que medem individualmente cerca de um milímetro de comprimento. Já o tamanho das ninfas varia com o instar, entre 0,9mm e 2,8mm de comprimento. A fêmea adulta mede, em média, 3,2mm, sendo maior que o macho de 2,8mm.
CICLO DE VIDA DO INSETO
Como praticamente todos os insetos, o ciclo de vida da cigarrinha é afetado pela temperatura, tornando-se mais alongado em temperaturas mais frias. Embora com muitos resultados de pesquisa, a maioria deles foi obtida em laboratório, com temperaturas fixas, completamente diferentes das condições reais. Logicamente com a fonte de alimento disponível e adequada, o aumento de temperatura pode reduzir o ciclo de vida e consequentemente aumentar o número de gerações anuais. Os ovos da cigarrinha, alongados e curvados na extremidade, são depositados de maneira endofítica na nervura central da folha, sendo difícil de ser observado pelo agricultor ou até mesmo por pessoas que não tenham conhecimento mais profundo sobre a praga. Em condições climáticas favoráveis os ovos dão origem às formas jovens, denominadas ninfas, em média dez dias após serem depositados na planta. Como os insetos adultos, as ninfas são sugadoras de seiva retirada do floema. As ninfas se desenvolvem em um período médio de 15 dias e passam por cinco diferentes estágios, denominados instares. Portanto, o ciclo médio de ovo a adulto é inferior a 30 dias no verão, podendo ter várias gerações durante o ano, especialmente onde não há variações extremas de temperatura. A longevidade gira em torno de 45 dias.
HABITAT
Geralmente habita o cartucho das plantas, em número variável, dependendo da época. Porém, qualquer perturbação no ambiente faz com que o adulto imediatamente se afaste do local, muitas vezes sem que o agricultor perceba.
PATÓGENOS TRANSMITIDOS PELA CIGARRINHA
Duas são as doenças transmitidas pela cigarrinha, ambas encontradas no floema da planta, denominadas popularmente como enfezamento vermelho e enfezamento pálido. Os maiores danos ocasionados por estes patógenos são verificados quando a transmissão ocorre no início de desenvolvimento da planta. Uma planta infectada pode exibir vários sintomas. Plantas com folhas com coloração amarelada ou avermelhada, plantas com espigas deformadas ou com proliferação de espigas em um mesmo ponto, perfilhamento, encurtamento de internódios acima da espiga, grãos pequenos e frouxos, quebra de colmos, morte precoce da planta. A planta infectada reduz a produtividade de grãos de acordo com o grau de resistência da cultivar utilizada, com a idade da planta ao ser infestada e até mesmo com as condições adversas para o seu desenvolvimento.
ANÁLISE DE RISCO
Os insetos adultos chegam em uma lavoura de milho no estágio em que as plantas estão no seu início de desenvolvimento. A origem da praga pode ser de plantas de milho tiguera existentes nas proximidades ou de áreas distantes cultivadas com o milho. Ao chegarem à nova planta hospedeira e sem a ocorrência de fatores adversos que possam eliminá-los, os insetos iniciam um novo ciclo, alimentando-se da planta através da sucção de seiva. Paralelamente, as fêmeas começam a colocar seus ovos nas folhas. Destes ovos eclodem as formas jovens, denominadas de ninfas,
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
A importância da cigarrinha-do-milho pode ser considerada de duas maneiras. A primeira, pelo dano direto causado pela alimentação. Dependendo da densidade populacional do inseto, há redução de matéria seca e matéria verde, com consequente redução no potencial produtivo da planta. A segunda maneira, e até mais importante, é a capacidade e a eficiência da praga em transmitir patógenos para a planta, cuja infecção pode causar perdas severas em produtividade em cultivares suscetíveis.
MIGRAÇÃO
Em geral, permanece na planta de milho, o único hospedeiro no Brasil, durante todo o ciclo de desenvolvimento da planta; começa a migrar após a maturação das plantas em busca de outros plantios com plantas em início de desenvolvimento vegetativo. Por ser um inseto ágil e bom voador, os adultos podem se deslocar por quilômetros de distância do ponto de partida.
Os ovos da cigarrinha são depositados de maneira endofítica na nervura central da folha
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Fotos Ivan Cruz
Proliferação de espigas em planta de milho com sintomas de enfezamento
Como organizar um plano coletivo de manejo regional • Reunião preparatória, explanação do plano e seleção dos participantes. • Formação de grupo de WhatsApp para veicular todas as informações pertinentes e rápidas sobre as atividades agrícolas para todos os participantes, com o coordenador sendo responsável pelas respostas e ou ações a serem tomadas. • Capacitar os técnicos de cooperativa, extensionistas e agricultores, podendo envolver estudantes de Agronomia, com possibilidade de desenvolvimento de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). • Delinear uma área região), produzirobtidos mapasno dasexperipropriedades participantes. Figura 7 - Valores para(oumassa de georreferenciar matéria seca deeplantas mento, em t/ha • Levantar dados climáticos, especialmente temperatura, precipitação e ventos (direção). • Distribuir dez armadilhas colantes amarelas (8cm x 8cm) por hectare na área, antes do plantio, a 0,5m do solo. • Área de plantio com tratamento da semente com inseticida sistêmico. • Anotar a data de todas as atividades, a partir da distribuição das armadilhas. • Avaliar a presença de cigarrinhas nas armadilhas e projetar avanço populacional. • Avaliar a presença de cigarrinha nas plantas. • Pulverizar as áreas próximas de onde o inseto foi detectado, usando prioritariamente insumos biológicos. • Avaliar paisagem agrícola nas proximidades da área de plantio. • Determinar a incidência de plantas doentes. • Avaliar produtividade.
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aumentando o número de insetos sugando as plantas. Dados disponíveis na literatura mostram que a fecundidade de uma fêmea pode superar 611 ovos durante sua vida, que gira em torno de 45 dias, colocando uma média de 14 ovos por dia. Portanto, considerando uma proporção de 60% de fêmeas em uma determinada localidade, uma única fêmea pode gerar mais de 360 novas fêmeas. Deve ser considerado que a simples presença do inseto na área de produção não significa necessariamente que a planta será infectada. Para que isto ocorra, o inseto deve estar previamente contaminado com os agentes causadores da doença por um determinado período. Ou seja, a transmissão da doença para uma planta sadia só vai ocorrer se a cigarrinha tiver se alimentado de uma planta doente por um período mínimo entre uma hora e duas horas, tempo necessário para aquisição e após um período latente exigido pelos patógenos, que varia entre 17 dias e 28 dias, dependendo da espécie envolvida. A partir deste ponto, ao se alimentar da planta sadia por um período médio entre 30 minutos e 60 minutos, ocorre a inoculação. A cigarrinha infectada retém vetor em seu organismo em um período médio entre 29 dias e 42 dias, período em que continua a transmitir os patógenos causadores dos enfezamentos. Embora ocorra maior taxa de transmissão pelas fêmeas, os machos também podem transmitir os patógenos. Considerando que as infecções preferenciais são em plantas jovens, e que em função deste fato ocorrem as maiores perdas em produtividade, ao contrário do que se dá com as infecções em plantas mais desenvolvidas, para o milho produzido em apenas uma safra é fundamental manejar adequadamente as populações da cigarrinha logo no início de sua incidência na planta. Por outro lado, em áreas onde ocorre a segunda safra de milho ou plantios escalonados para exploração de milho para venda in natura
ou para a agroindústria o manejo da cigarrinha infectada em qualquer estágio de desenvolvimento da planta deve ser considerado. A tomada de decisão correta sobre uma medida de controle da praga não é uma tarefa fácil. A agilidade dos insetos adultos que abandonam momentaneamente a planta ao menor distúrbio e a ausência de sintoma precoce de danos dificultam ao agricultor a percepção do problema. Consequentemente, ele não utiliza as medidas necessárias para evitar os prejuízos iminentes que serão observados durante o período reprodutivo do milho. Muitas vezes é difícil imaginar que a infecção ocorreu no início do desenvolvimento da planta. Outro ponto que deve ser considerado é o histórico do cultivo do milho. Antes da introdução do milho Bt, o controle da lagarta-do-cartucho Spodoptera frugiperda, que também ocorre em plantas de milho em estágios iniciais de desenvolvimento, era realizado mediante o uso de produtos químicos, aplicados via tratamento de sementes ou em pulverização. Tais aplicações também contribuíram para o controle da cigarrinha. Porém, com a introdução do milho geneticamente modificado, por exemplo, milho Bt para o controle de insetos-pragas, houve em um primeiro momento a redução significativa no uso de inseticidas para o controle da S. frugiperda. O conjunto de fatores como as ausências de produtos químicos, de injúria da cigarrinha e da própria lagarta-do-cartucho, considerada uma praga dominadora a ponto de repelir outras espécies como a cigarrinha, que tem como habitat preferencial o mesmo habitat da lagarta, favoreceu o inseto sugador em milho. Vale também ressaltar a contribuição de plantas de milho RR que não são facilmente eliminadas por dessecação em áreas destinadas ao plantio da soja. Como ocorrem especialmente na segunda safra, se desenvolvem naturalmente na área tornando-se fonte de alimento adequado da cigarrinha, o que aumenta o risco para os plantios de milho. As doenças só se perpetuarão no novo habitat através da presença de insetos adultos infectados.
CONTROLE
lados na área antes mesmo da semeadura do milho, propiciando a detecção da chegada do inseto, possibilitando a tomada de decisão sobre o manejo correto da praga. Obviamente, a manutenção dos cartões ao longo do ciclo do milho vai fornecer ao produtor e à região o conhecimento da flutuação da praga e a possibilidade de calcular o risco que a praga pode oferecer ao agronegócio local. Estudos avaliando métodos de amostragem indicaram maior número de fêmeas de cigarrinha no cartucho da planta e maior número de machos nos cartões. A fêmea tende a permanecer se alimentando e ovipositando no cartucho da planta, enquanto os machos se movimentam mais em busca da fêmea para copular. Porém, o uso dos cartões pegajosos com certeza é também uma ferramenta muito importante para o monitoramento da praga, sendo utilizado a 0,50m de altura.
OPÇÃO DE MANEJO
Por se tratar de insetos vetores e pela severidade da doença transmitida, o manejo de cigarrinha é complexo e, portanto, o agricultor deve considerar as estratégias para o controle do inseto e da doença. Entre as várias cultivares de milho no mercado brasileiro existem diferenças no grau de tolerância à doença, sendo tais cultivares preferidas em áreas com histórico da doença. É interessante também, na medida do possível, o plantio mais cedo e a eliminação de plantas voluntárias. O uso de inseticidas sistêmicos é também uma alternativa, especialmente através do tratamento das sementes.
PLANO COLETIVO PARA O MANEJO DO COMPLEXO CIGARRINHA X ENFEZAMENTOS
Para evitar a redução em produtividade do milho considerando a complexidade do manejo da cigarrinha x enfezamento é interessante utilizar ações coletivas envolvendo o segmento agrícola da produção de milho em C base regional, conforme o Box.
Ivan Cruz e Ana Luisa Gangana de Castro, Embrapa Milho e Sorgo
Apesar de ser uma medida preventiva, o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos é uma alternativa a ser considerada para o controle da cigarrinha e até mesmo com ação sobre outras pragas iniciais, incluindo algumas espécies de mastigadores, especialmente em áreas de produção com histórico de ocorrência dos enfezamentos. Informações detalhadas sobre produtos e modo de usar são encontradas em http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons.
MONITORAMENTO
O monitoramento da cigarrinha pode ser realizado através de coletas de insetos no cartucho da planta ou por meio da utilização de cartões com cola e de coloração amarela. A vantagem dos cartões está na possibilidade de serem insta-
Adulto e ninfa da cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis
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Milho Fotos Donizete Aparecido Fornarolli
Tecnologia aliada Impacto dos manejos pré-semeadura de capim-amargoso na pós-emergência do milho Enlist
A
dessecação da cobertura vegetal é ponto crítico no manejo de plantas daninhas. Essa etapa pode impactar de maneira significativa na semeadura, na emergência da cultura, na matocompetição inicial e na pós-emergência. Por isso, os mecanismos de controle empregados nesse período são de vital importância para o bom desenvolvimento do cultivo. Todavia, para cada cultura existem particularidades em relação a essa operação. Especialmente em grandes cultivos, como soja e milho, devido aos biótipos de plantas resistentes ao glifosato oriundos do uso indiscriminado do herbicida. Isso porque o glifosato é um produto cuja eficácia abrange não só um grande número de espécies, mas também vários estádios de desenvolvimento, controlando muito bem inúmeras plantas em estádios adultos. Entretanto, por ser um produto não seletivo, não era possível aplicar o glifosato sobre os cultivos. Contudo, com a chegada de materiais geneticamente modificados para tolerância ao glifosato, esse problema foi aparentemente sanado. O herbicida se tornou uma ferramenta extremamente útil e prática. Dessa forma, não é de se estranhar seu emprego em larga
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escala, especialmente por não exigir um alto conhecimento técnico para obtenção de resultados eficazes. O uso de glifosato em culturas RR quase que descartava o conhecimento científico de plantas daninhas. Na dessecação, por exemplo, era preciso basicamente conhecer as plantas tolerantes ao produto e complementar com outro herbicida, como o 2,4-D. Na pós-emergência, bastava aplicar novamente o glifosato para controlar a reinfestação. Ou seja, a tecnologia era eficaz porque simplificava de maneira significativa os sistemas de manejo. Entretanto, plantas daninhas são complexas de serem estudadas e controladas. Primeiro, porque compartilham do mesmo reino com as plantas cultivadas. Segundo, porque cada espécie possui particularidades que são um desafio, principalmente para o controle químico. Uma característica comum às plantas daninhas é a agressividade. Isto é, os mecanismos que a planta utiliza para sobreviver. Emergência de sementes em grandes profundidades, grandes fontes de reserva, alta taxa fotossintética, grande produção e dispersão de sementes são alguns exemplos desse mecanismo. Ao se fazer o controle químico ainda é preciso levar outros fatores em consideração,
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como a classe e a família botânica, além da metabolização, natural ou selecionada, de moléculas herbicidas. Conhecer plantas daninhas vai além de diferenciar uma espécie da outra. É necessário saber o potencial que possuem em competir e se estabelecer em áreas agrícolas. Porém, tudo isso foi deixado de lado ao se utilizar um produto que supera todas essas particularidades. Planta com ou sem estolão, vegetando, florescendo ou adulta, o glifosato era eficaz em quase todos os cenários. Isso fica evidente ao se comparar as recomendações de manejo antes e após a “Era RR”. No passado, tanto na soja como no milho fazia-se o uso de vários ativos, em pré e pós-emergência. Ou seja, eram necessários conhecimento e planejamento. Atualmente, os biótipos resistentes trouxeram de volta a necessidade de se conhecer a ciência das plantas daninhas. Hoje, produtores e técnicos têm que enfrentar o potencial agressivo do mato que antes era facilmente controlado pelo glifosato, como é o caso do capim-amargoso. Essa gramínea é uma planta com alta taxa fotossintética, possui perfilhos e rizomas, e produz grande quantidade de sementes que se dispersam a longas distâncias. Essas características são responsáveis ainda por outros grandes problemas agronômicos: as touceiras e os rebrotes. Touceiras são, basicamente, um aglomerado de perfilhos que se estruturam como um tronco de feixes. No caso do capim-amargoso esses perfilhos são sustentados por um aglomerado de rizomas. De maneira que se são cortados ou roçados, a planta produz novos perfilhos. Essa touceira, então, passa a ser um rebrote. Ainda que possua um porte menor comparado ao da touceira, o rebrote é igualmente difícil de controlar física ou quimicamente. As gramíneas são as plantas mais abundantes e mais danosas do planeta. Contudo, são controladas de maneira muito eficaz pelos herbicidas inibidores de ACCase, também chamados de graminicidas, como cletodim, haloxifope e outros. Produtos antigos que agora voltaram ser amplamente utilizados nas lavouras. Cada vez mais esses produtos são adicionados às caldas para serem aplicados sobre o capim-amargoso resistente ao glifosato. Esses produtos são aplicados na soja
Figura 1 - Eficácia dos manejos na dessecação de capim-amargoso na pré-semeadura do milho
por serem seletivos a essa leguminosa. Porém, o mesmo não pode ser dito para o milho. Isso porque o milho também é uma gramínea e o uso de ACCase vai afetar tanto o capim, como a cultura. Isso gera várias considerações no momento de planejar a dessecação pré-semeadura do milho, em especial a escolha do material a ser plantado. Para se alcançar a seletividade ao milho, novas tecnologias têm sido desenvolvidas. Os materiais Enlist possuem traits, ou eventos transgênicos, que tornam o milho resistente ao ativo glifosato, mas também ao 2,4-D, glufosinato e o graminicida haloxifope. No caso do milho sem a tecnologia Enlist, a principal preocupação é com o carryover dos ACCases utilizados na dessecação. O carryover é o tempo de ação do herbicida no solo que pode comprometer a cultura que será implantada. Ao se utilizar o milho convencional, RR ou LL, a aplicação de graminicidas deve ocorrer entre dez dias a 20 dias antes do plantio, dependendo do ativo. Isso quer dizer que ao utilizar esses materiais, é necessária uma janela de pelo menos dez dias a 20 dias entre a dessecação e a semeadura. Outro agravante é que, no milho, a dessecação de capim-amargoso resistente ao glifosato passa por uma série de soluções que geram novos problemas. O primeiro
problema se dá pelo estádio das plantas resultantes da safra anterior. Normalmente, o mato vai estar em um tamanho cujo controle seria efetivado pelo glifosato. Porém, biótipos resistentes de capim-amargoso vão exigir a aplicação de graminicidas. Todavia, a aplicação de graminicida vai exigir um intervalo até a semeadura. Nesse intervalo, também será necessário aplicar produtos de contato, como o diquate ou glufosinato. Contudo, esses produtos promovem uma dessecação rápida, mas em seguida ocorrem novos rebrotes. Esses rebrotes terão de ser controlados na pós-emergência, utilizando-se inibidores de carotenoides, inibidores de ALS ou glufosinato, se for milho LL. Entretanto, todos esses produtos possuem limitação de estádio e até mesmo de híbrido, no caso dos ALS. Isso porque os graminicidas não podem ser utilizados na modalidade de pós. A menos que seja utilizado o milho com tecnologia Enlist. Os traits da tecnologia permitem remediar essa série de efeitos colaterais que são gerados
Cultivo deve ser bem planejado, desde a dessecação pré-semeadura
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no manejo de milho sem essa tecnologia. Isso porque a aplicação de haloxifope pode ser realizada dias antes da semeadura, na própria semeadura e na pós-emergência. É possível verificar esses resultados na Figura 1, que mostram a população de plantas em cinco manejos diferentes. Em todos os manejos, foi realizada uma roçada para formação de rebrotes. No primeiro manejo, a semeadura foi realizada imediatamente após essa roçada. No segundo, a semeadura foi efetuada 15 dias após a roçada. Nos demais, a semeadura também foi realizada 15 dias depois, mas foram aplicados os herbicidas glufosinato para o terceiro manejo, paraquate para o quarto manejo e haloxifope para o quinto manejo. Os resultados demonstram que a roçada exclusivamente não foi suficiente para promover um controle adequado. Isto é, seja o milho Enlist ou não, é necessária aplicação de herbicidas para se obter uma boa semeadura. Em segundo lugar, observa-se que, entre os tratamentos com herbicidas, a matéria seca foi menor quando a dessecação foi realizada com haloxifope. Ao se considerar a população de plantas, fica ainda mais evidente a eficácia do graminicida sobre o capim-amargoso. Ainda que os demais herbi38
cidas tenham diminuído a matéria seca, a população de plantas se mostrou mais elevada. Ou seja, os demais herbicidas atuaram mais no porte do que na densidade de plantas. E isso terá consequências no manejo em pós-emergência. Na Figura 2, são apresentados os resultados das aplicações realizadas na pós-emergência para cada um dos cinco manejos, utilizando-se inibidores de carotenoides (mesotriona e tembotriona), inibidor de ALS (nicossulfurom), inibidor de glutamina (glufosinato) e inibidor de ACCase (haloxifope). Fica evidente pelo controle de plantas que, ao se utilizar o graminicida na pós-emergência, foi possível, primeiramente, corrigir em certo nível, a baixa eficácia das roçadas sem aplicação de herbicidas. Além disso, em todos os manejos onde foi realizada a aplicação de haloxifope, os resultados foram superiores se comparados aos demais herbicidas. Observou-se ainda que, nos manejos em que foi realizada a dessecação com haloxifope, todos os ativos em pós-emergência obtiveram
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controle satisfatório, tanto em porcentagem de controle visual como em número de plantas e matéria seca. Dessa forma, a possibilidade de utilizar um graminicida na semeadura do milho proporcionou melhor dessecação, que, por sua vez, permitiu um melhor controle pós-emergência para vários grupos herbicidas diferentes, o que impacta diretamente na rotação de ativos. Ou seja, o uso do graminicida permitiu expandir o número de mecanismos de ação que podem ser utilizados na pós do milho. Por fim, ao se considerar o número de plantas e matéria seca, é possível afirmar que a dessecação com haloxifope permitirá um cenário mais adequado para o manejo pré-semeadura da cultura subsequente. A tecnologia Enlist, utilizada de maneira inteligente, apresenta-se como uma ferramenta promissora no controle de planC tas daninhas na cultura do milho.
Donizeti Aparecido Fornarolli, Fornarolli Ciência Agrícola Felipe Ridolfo Lucio, LATAM Biology Leader Dionisio Luis Piza Gazziero, Embrapa Soja Bruno Candido Fornarolli, Fornarolli Ciência Agrícola Donizete Aparecido Fornarolli
Figura 2 - Eficácia dos pós-emergentes em capim-amargoso em função de cada manejo pré-semeadura
É necessário conhecer o potencial que daninhas possuem para competir e se estabelecer em áreas agrícolas
Arroz Valacia Lobo
Bainha queimada Causada por Rhizoctonia solani, a queima-dabainha do arroz é uma doença capaz de provocar graves prejuízos econômicos. De difícil manejo, demanda integração de medidas através de práticas culturais mais adequadas, uso de cultivares resistentes, controle químico e biológico 40
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A
queima-da-bainha, causada por Rhizoctonia solani, foi relatada pela primeira vez no Japão em 1910 e posteriormente se espalhou por toda a região de cultivo no mundo. É a principal doença do complexo de doenças fúngicas do colmo e da bainha em arroz, e economicamente a mais importante, principalmente em sistemas intensivos de produção em todo o mundo, afetando especialmente as cultivares com alto potencial produtivo, tanto em regiões de clima temperado como tropical. É uma doença de difícil manejo, por se tratar de um fungo de solo, que produz estrutura de resistência chamada de escleródios, que podem sobreviver por um longo período no solo, e por apresentar uma ampla gama de hospedeiros. Além do arroz, é capaz
de planta a planta pelo contato entre elas (Figura 1). Os sintomas da doença ocorrem, geralmente, nas bainhas e nos colmos (Figura 1) e são caracterizados por manchas ovaladas, elípticas ou arredondadas, de coloração branco-acinzentada e bordas marrons bem definidas. Em ataques severos, observam-se manchas semelhantes nas folhas, porém com aspecto irregular. As condições que favorecem o desenvolvimento da doença e aumentam a sua severidade são baixa luminosidade, alta umidade em torno de 95% e temperatura entre 28°C e 32°C. Elevados teores de matéria orgânica, altas doses de nitrogênio e fósforo, acompanhados de uma alta densidade de semeadura, rotações de arroz com soja e o plantio de cultivares altamente suscetíveis contribuem para o aumento da severidade da doença. Bem como os danos causados por insetos, como broca do colmo e percevejo, que predispõem a planta à infecção pelo fungo. A doença se desenvolve rapidamente durante a floração, quando o dossel é mais denso e fechado, formando um microclima favorável ao crescimento e propagação do fungo. Os sintomas visíveis de doenças de plantas incluem a formação de lesões, o acamamento de plantas e a presença de grãos vazios. Grandes lesões formadas nas bainhas infectadas das folhas inferiores do arroz podem levar ao acamamento e à obstrução do transporte de água, nutrientes e assimilados de carboidratos pelos vasos condutores (xilema e floema), afetando o enchimento do grão. O secamento das folhas (Figura 2) reduz a capacidade fotossintética, a biomassa total e por consequência a produção. A ocorrência da doença na fase de iniciação da panícula ou floração causa uma redução do peso total dos grãos devido a uma menor porcentagem de espiguetas cheias e resulta em perdas Karine Schiffler Nascimento
Valacia Lobo
de infectar aproximadamente 250 espécies, incluindo plantas daninhas e plantas cultivadas como cevada, espinafre, alface, tomate, painço, feijão, soja, entre outras. No Brasil, a ocorrência da queima-da-bainha foi relatada pela primeira vez, em 1967, no estado de São Paulo. Atualmente, a doença ocorre em todas as lavouras, tanto em sistema de cultivo irrigado tropical e subtropical, quanto de terras altas, em maior ou menor grau de severidade, com potencial para causar danos expressivos na produtividade e na qualidade final dos grãos, devido à introdução de cultivares do tipo moderno, porte semianão e com grande número de perfilhos e, principalmente, onde o arroz é plantado em rotação com a soja, que também é hospedeira de R. solani. O aumento do número de escleródios no campo durante o cultivo de soja serve como fonte de inóculo primário para a cultura de arroz. A maioria das cultivares de arroz e de soja é suscetível a R. solani, consequentemente a densidade de inóculo no solo aumenta ano a ano com a rotação arroz-soja. O inóculo primário, aquele que vai iniciar a infecção das plantas, é constituído pelos escleródios e micélio que sobrevivem no solo e estão presentes em restos culturais. O fungo é disseminado rapidamente pela água de irrigação e/ou pelo movimento do solo durante a aração, preparo do solo. Os escleródios sobrevivem até dois anos e aumentam no solo com o tempo, flutuam na água, acumulam-se ao redor da planta do arroz e causam infecção inicial nos colmos, na altura do nível da água, ou passam
Sintomas de queima-da-bainha (Rhizoctonia solani) em arroz
Acamamento das plantas de arroz causado pela queima-da-bainha (Rhizoctonia solani)
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doença, bem como a fertilização com silício (Si) tem se mostrado um método promissor de controle de queima-da-bainha. Monitoramento regular para detecção precoce de fonte de inóculo, eliminação de restos culturais, drenagem da área, evitar movimento de máquinas com consequente movimento e transporte de escleródios para outras áreas.
Figura 1 - Desenvolvimento da queima-da-bainha na planta de arroz
CONTROLE GENÉTICO
COMO MANEJAR A QUEIMA-DA-BAINHA
mais suscetíveis. Sabendo disso, deve-se estar atento às outras medidas a serem adotadas, para minimizar ou evitar a ocorrência da doença, como utilização de adubação nitrogenada equilibrada, densidade de semeadura recomendada e uso racional de herbicidas para o controle de plantas daninhas hospedeiras. A rotação do arroz com outras gramíneas pode reduzir a incidência da Valacia Lobo
significativas de rendimento. A propagação e a intensidade da doença dependem da quantidade de inóculo presente no material de plantio e do inóculo residual da safra anterior. É comum que os produtores apliquem altas doses de nitrogênio, às vezes acima da necessária ou recomendada para o cultivo do arroz. Isso resulta em um crescimento vegetativo de um verde exuberante, criando um microclima favorável ao desenvolvimento da doença, onde se tem um maior número de perfilhos e maior retenção de umidade dentro do dossel.
O melhoramento com o objetivo de resistência à queima-da-bainha é dificultado principalmente pela falta de identificação de variedades doadoras. Até o momento, nenhum genótipo de arroz, no mundo, foi identificado como imune à doença, apesar de níveis diferentes de resistência terem sido relatados. Os esforços para o desenvolvimento de cultivares resistentes à queima-da-bainha foram moderadamente bem-sucedidos, principalmente devido à falta de fonte de resistência no arroz cultivado ou em espécies selvagens relacionadas. A falta de genitores contrastantes quanto à reação à doença dificulta a validação de marcadores moleculares no desenvolvimento de cultivares resistentes. No entanto, cultivares de arroz variando de suscetíveis a moderadamente resistentes à queima-da-bainha estão disponíveis para cultivo. Recentemente, na Embrapa Arroz e Feijão, foram avaliados 100 genótipos,
Os danos causados por esta enfermidade podem ser reduzidos significativamente por meio do manejo integrado, com a utilização de práticas culturais mais adequadas, uso de cultivares resistentes, controle químico e controle biológico.
MANEJO CULTURAL
Características morfológicas como altura de plantas, duração do ciclo, número de perfilhos, comprimento e largura da folha bandeira e espessura ou resistência do colmo podem estar associadas à suscetibilidade da planta à doença. Plantas com arquitetura moderna são 42
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Ataque da queima-da-bainha (Rhizoctonia solani) em folhas de arroz
Valacia Lobo
Valacia Lobo
A
Queima-da-bainha na panícula e grãos de arroz
em casa de vegetação e em campo quanto à resistência à queima-da-bainha. Destes, foram selecionados dois genótipos que apresentaram resistência parcial e que serão utilizados para a validação de marcadores moleculares, para o uso na seleção assistida no desenvolvimento de cultivares com resistência. Em outro estudo foi observada correlação positiva e significativa entre a severidade da queima-da-bainha avaliada no campo e em casa de vegetação. A avaliação preliminar em condições controladas de casa de vegetação, para a busca de resistência, é mais segura e uniforme que no campo, onde ocorrem simultaneamente várias outras doenças de colmo (Figura 3) Cientistas do mundo inteiro continuam trabalhando na busca da resistência genética para o controle da doença.
CONTROLE QUÍMICO
Atualmente, no Brasil, o portfólio para o controle de queimada-bainha em arroz é praticamente nulo. Existem fungicidas registrados para o controle de Rhizoctonia solani em outras culturas, porém para o uso em na cultura do arroz, as opções são quase nulas. Em outros países, os fungicidas sistêmicos pertencentes ao grupo da estrobilurina são amplamente utilizados para combater a doença. Dentro deste grupo, o fungicida azoxistrobina tem funcionado eficazmente no controle do patógeno. O número de aplicações e a composição do fungicida dependem da intensidade da doença e do nível de resistência da cultivar adotada. Os benefícios do controle usando fungicidas inclui menor incidência de doenças, provável redução de inóculo, e melhores rendimentos e qualidade de grãos. Porém, é preciso estar atento ao uso correto dessa tecnologia, para evitar a seleção de estirpes resistentes ao produto. Normalmente, o uso de fungicidas é recomendado em duas aplicações: uma entre as fases de elongação dos entrenós do colmo e iniciação da panícula, e outra na emissão das panículas.
Karine Schiffler Nascimento
B
Figura 2 - Seca das folhas causada pela queima-da-bainha (Rhizoctonia solani) em arroz (A) casa de vegetação, B (Campo – Terras altas)
do. Os mais utilizados são espécies de Trichoderma, Pseudomonas e Bacillus. A eficácia deste controle parece depender do momento e do número de aplicações, e ainda da combinação entre bioagentes. Estudos realizados na Embrapa Arroz e Feijão identificaram isolados de bactérias promotoras de crescimento e de Trichoderma sp., que apresentaram resultados promissores na redução da severidade da queima-da-bainha e de outras doenças, bem como a capacidade de estimular o crescimento da raiz da cultura do arroz. Estes estudos se encontram em estágio avançado, em avaliações de campo, e em seguida estudos de formulações. A melhor opção para o controle da queima-da-bainha em arroz é a utilização do manejo integrado, em que todos os métodos disponíveis de controle são implementados, cada um contribui em algum nível para a supressão da doença, compensando a C deficiência um do outro. Valacia Lemes da Silva Lobo, Embrapa Arroz e Feijão Figura 3 - Correlação entre a severidade da doença em casa de vegetação, pelo cálculo da área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) e altura relativa da lesão da queima-da-bainha no campo. *Significativo ao nível de 5% pelo teste de Tukey
CONTROLE BIOLÓGICO
O sucesso no controle da queima-da-bainha por meio de uso de bioagentes tem sido relatado em várias partes do munwww.revistacultivar.com.br • Dezembro 2020/Janeiro 2021
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Coluna Agronegócios
O
Quando dobraremos o PIB do agronegócio brasileiro?
valor do PIB do agronegócio, em 2019, foi estimado em R$ 1,695 trilhão, equivalendo a 22% do PIB do Brasil. Trata-se da soma, em valores monetários, de todos os produtos e serviços gerados pela agricultura brasileira. O PIB do agronegócio é medido pela ótica do Valor Adicionado total do setor na economia e avaliado a preços de mercado, considerando os impostos indiretos menos os subsídios. Além disso, é dividido em quatro segmentos: insumos, primários (agropecuária), agroindústria (de bases agrícola e pecuária) e agrosserviços. O Brasil dispõe de um apreciável mercado consumidor doméstico e é um dos grandes protagonistas do mercado internacional de produtos agrícolas, exportando para mais de 200 países. Dos dez principais produtos exportados pelo Brasil em 2019, oito são agropecuários, com valor superior a 100 bilhões de dólares. Este artigo é um resumo da palestra que apresenta alguns cenários nos quais o PIB do agronegócio poderia dobrar (https://www.youtube.com/wa tch?v=fdnylmrIFn8&feature=youtu.be).
DEPENDE DE NÓS
Para elaborar um modelo que permitisse vislumbrar a evolução do PIB do agronegócio, nas próximas décadas, foram elencados alguns requisitos. Em dois deles pouco se pode interferir: 1) Demanda firme; 2) Bons preços e câmbio favorável. A demanda é função de fatores demográficos e econômicos em escala global, mormente do crescimento da população mundial e do incremento da renda per capita. Preço é função direta da relação oferta/demanda e do custo de produção, sendo o câmbio influenciado por uma série de eventos, prioritariamente, porém não exclusivamente, de domínio econômico. Porém, em outros dez quesitos, o Brasil pode operar para que lhe sejam favoráveis: 1) Oferta sólida; 2) Produzir competitivamente; 3) Atender exigências dos clientes; 4) Utilizar a tecnologia mais adequada; 5) Produzir de forma sustentável; 6) Agregar valor; 7) Eliminar o custo Brasil; 8) Diversificar produtos e mercados; 9) Diplomacia comercial agressiva; e 10) Investir fortemente em marketing e comunicação. Estes quesitos são relativamente óbvios e autoexplicativos. Sem uma demanda firme, uma tendência clara de longo prazo, os sinais que chegam às cadeias produtivas são tênues. E o mercado precisa entender o sinal que vem do lado da oferta, demonstrando que pode produzir o adicional requerido, de forma competitiva e sustentável. O que muda no pós-pandemia é uma antecipação de agenda, que já indicava a exigência dos consumidores por sustentabilidade, em especial no que tange à segurança e inocuidade dos alimentos. Uma derivada é a exigência de sustentabilidade ambiental e social, pois pertencem a um mesmo conjunto reivindicatório. Estas exigências passarão a compor as certificações privadas dos importadores e estarão na agenda das legislações nacionais e das negociações internacionais.
AUMENTANDO A OFERTA
O Brasil representa, no momento, um caso único de capacidade de aumentar a oferta de produtos agrícolas, dadas as condições atuais: pode expandir a área ou incrementar a produtividade, sem impactar negativamente o ambiente. É sempre necessário estar aten-
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to para as quebras de paradigma tecnológico, que podem eliminar determinadas vantagens comparativas. Por exemplo, há aproximadamente cinco anos empresas estão produzindo frutas e hortaliças em ambiente protegido, nos desertos do Oriente Médio e da Austrália, com preços competitivos, deslocando fornecedores tradicionais. Por ordem de prioridade, o Brasil deveria aumentar sua oferta investindo em: 1) Incremento da produtividade de forma sustentável e com ganhos de rentabilidade, seguindo rigorosamente as recomendações técnicas e valendo-se de tecnologias que permitem ganhos de produtividade e que ainda são pouco exploradas, como irrigação ou polinização; 2) Intensificação do uso do solo, que pode ser obtido pela sequência de colheitas em um mesmo ciclo agrícola (safra, safrinhas) e, em particular, com sistemas ILPF, integrando lavouras, pecuária e florestas; 3) Expandindo a área, observando-se uma sequência: a) recuperação de áreas degradadas; b) ocupação agrícola de áreas liberadas de pastagens; c) abertura de novas áreas. Aqui vale a máxima: “À mulher de César não basta ser honesta, precisa parecer honesta”. Mais importante do que utilizar sistemas de produção sustentáveis é a percepção do resto do mundo de que eles são sustentáveis. Cada árvore derrubada necessita de uma explicação e uma justificativa, portanto deve sempre ser a última opção, do ponto de vista de manter uma imagem de sustentabilidade perante o mundo.
QUANDO DOBRAMOS?
Traçamos quatro cenários, lastreados em uma série de premissas, e considerando a evolução do mercado doméstico e internacional. O primeiro é manutenção do status quo atual, continuando a proceder como no passado recente. Os cenários pessimista, provável e otimista indicam diferentes graus de apropriação e transformação de vantagens comparativas em competitivas e de eliminação dos gargalos que impedem a expressão do potencial do agronegócio brasileiro (custo Brasil). Todos os pontos citados anteriormente são fundamentais, alguns deles cruciais, como a sustentabilidade, a ampliação do portfólio de exportação (frutas, hortaliças, madeira), a agregação de valor, a diplomacia comercial e um marketing agressivo. Mantendo-se o ritmo de atividade atual, projeta-se que será possível dobrar o PIB do agronegócio em 2044. No cenário pessimista, fazendo um pouco de esforço, pode-se duplicá-lo em 2039. Mas em um cenário provável, em que o Brasil dinamize suas cadeias produtivas, resolva parte de seus gargalos e potencialize parcela ponderável das suas vantagens comparativas, poderá duplicar pela primeira vez em 2037 e duplicar novamente em 2048. Mas, se nos esforçarmos e fizermos o dever de casa, podemos dobrar o PIB em 2034 e duplicá-lo novamente em 2043. Não vislumbramos outro segmento da economia brasileira que possa ser o grande protagonista nas próximas décadas, além do agronegócio. E está em nossas mãos alavancar o desenvolvimento nacional, lastreado na impulsão do agronegócio. Eis aí um objetivo C nacional permanente.
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Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Safra nos campos à espera da chuva
O
s produtores brasileiros já plantaram a safra de verão ou primeira safra, com soja, milho, arroz e feijão como principais grãos. Houve um início de temporada bastante complicado, com chuvas escassas e tardias. Produtores que plantaram no final de agosto ou setembro registraram perdas grandes e necessidade de replantio destas áreas. Houve chuvas melhores em outubro e no caso do Rio Grande do Sul somente no final de novembro. Há área de soja recorde, com 38,5 milhões de hectares e potencial de colher mais de 130 milhões de toneladas. O milho registra área de aproximadamente quatro milhões de hectares e teria potencial de colher mais de 27 milhões de toneladas, não fossem as perdas, principalmente no Sul. Desta forma, as projeções caíram para algo entre 23 milhões de toneladas e 25 milhões de toneladas. Em arroz, o plantio se deu mais cedo e as chuvas se normalizaram no Sul no final de novembro, o que aponta para potencial de colheita dentro da normalidade, com o Brasil produzindo entre
MILHO
A safra de milho teve comercialização rápida neste ano. As cotações internas disparam e até a segunda semana de novembro houve recorde histórico em todas as regiões do País. Com níveis até acima de R$ 90,00 a saca nas indústrias de ração ou na casa dos consumidores. As importações avançaram, sem conseguir influenciar nos números porque o produto que chegava nos portos não mostrava cotações muito diferentes das praticadas internamente. Mas no final de novembro o mercado se acomodou, com queda de compras do setor de ração. O Brasil deve colher aproximadamente 100 milhões de toneladas e tem um consumo de menos de 70 milhões de toneladas. Sobrando produto, quem ditará as regras novamente serão os valores da exportação. Mas os números são muito melhores do que foram na safra passada, porque o milho evoluiu forte em dólares e está cerca de 20% a 25%
10,5 milhões de toneladas e 11 milhões de toneladas. O feijão da primeira safra foi fortemente afetado pela seca e principalmente pelo calor extremo entre setembro, outubro e até o começo de novembro, que derrubou flores e vagens, além de granizo. A safra não chegará ao seu potencial máximo, mas há bons fundamentos para dar suporte às cotações e ser novamente um novo ano de ganhos para o setor produtivo. A pandemia mundial fez com que os consumidores ficassem em casa e com o consumo de alimentos baseado na demanda no domicílio, o que disparou o consumo de comida, fortalecendo as cotações de todos os produtos. Cenário que deve seguir em 2021, ano de oferta menor que a demanda, além do otimismo da economia mundial que deve voltar a crescer com apoio da liberação das vacinas contra o coronavírus. Caminha-se para um grande ano do agronegócio novamente.
maior que no ano anterior, o que deve per- com indicativos firmes, variando entre R$ manecer em 2021. 105,00 e R$ 115,00 a saca, na base do produto gaúcho. Mesmo com autorização do SOJA governo para importação de até 400 mil O Brasil exportou até o final de novem- toneladas sem a TEC, não afetou os indibro cerca de 106,5 milhões de toneladas cativos internos porque o produto de fora de soja, farelo e óleo e bateu recorde histó- chegava com valores semelhantes. Desta rico. Com mais de 89 milhões de toneladas forma, o mercado se manteve estável nos exportadas frente ao recorde anterior que últimos momentos do ano e se projeta potinha sido de 83,5 milhões de toneladas, o sitivo para os produtores em 2021, com o faturamento do complexo soja deve fechar arroz mudando de patamar de valores poro ano com mais de 40 bilhões de dólares e que teve forte alta no mercado itnernaciose manter como maior produto da pauta de nal também. O mundo acabou consuminexportação do Brasil. Os produtores espe- do muito mais arroz com a pandemia e os ram que as chuvas sigam normais para co- grandes exportadores tiveram perdas de C lher uma grande safra que mostra potencial safra devido ao clima. de 130 milhões de toneladas a 135 milhões toneladas. Desse total, já há 65 milhões de Vlamir Brandalizze toneladas negociadas antecipadamente. Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br ARROZ Instagram BrandalizzeConsulting O mercado do arroz fechou o ano ou Vlamir Brandalizze
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo bateu recorde de cotação em 2020, chegando a negociar na faixa de R$ 1.600,00 por tonelada. Com perdas na safra devido ao clima, a produção será menor que as expectativas e haverá necessidade de importar mais de seis milhões de toneladas em 2021. Com o cereal valorizado no mercado internacional, saiu de menos de 5 dólares por bushel em Chicago para a casa dos 6 dólares e até acima no final do ano. Indicativos de que o produto importado não deve chegar a valor inferior a R$ 1.250,00 por tonelada. Existem boas expectativas para a nova safra de 2021. EUA- O mercado assiste a grandes perdas da safra dos EUA, com soja mostrando 113,5 milhões de toneladas, perdendo cerca de dez milhões de toneladas e milho com menos de 370 milhões de toneladas, perdendo 40 milhões de toneladas. O mercado continuará firme e nos maiores níveis em cerca de seis anos, com reflexos
positivos em 2021. CHINA- A China continuou comprando muito e sendo o maior importador de alimentos do mundo. Somente de soja acumula cerca de 100 milhões de toneladas em importações para atender ao consumo crescente. O milho, que tradicionalmente a China não importava ou comprava pouco, neste ano contabiliza mais de 15 milhões de toneladas adquiridas até novembro. No fechamento dos números, pode se confirmar como maior importadora mundial do cereal. ARGENTINA- Os argentinos padeceram com o clima, perderam trigo e no começo da temporada da safra de verão já estavam sofrendo novamente com o clima. Com tempo seco e temperaturas altas, os produtores temem que possam perder parte do potencial produtivo da safra novamente neste ano. Se isso se confirmar terão menos produto para exportar.
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Coluna ANPII
É ciência Ranking mundial de cientistas inclui 600 pesquisadores brasileiros. Da área de pesquisa agropecuária, quatro são ligados à Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)
O
Journal Plos Biology publicou, em 16 de outubro contribuições dos verdadeiros cientistas para o bemde 2020, o banco de dados de um estudo que -estar humano. fez a análise do ranking mundial de cientistas, Um dos quatro cientistas brasileiros presentes na lista com publicações de maior impacto mundial. Esse ranking que têm importantes trabalhos na área da FBN é Johanelenca os 100 mil top cientistas do mundo, segundo os na Dobereiner, já mencionada diversas vezes em nossos bancos de dados utilizados, até 2019. artigos e criadora de um dos maiores centros mundiais Uma das listas cita o papel do pesquisador ao longo de pesquisa nas áreas de microbiologia do solo e de da carreira, analisando sua participação desde o início agroecologia: a Embrapa Agrobiologia. Fazem parte do grupo três de seus orientados: Mariaté o ano de 2019. Nos 100 mil listados, ângela Hungria, que atua na Embra600 são brasileiros, de diversas áreas pa Soja, Robert Boddey, da Embrapa do conhecimento e das mais diversas A ANPII congratulaAgrobiologia, e Fátima Maria Moreira instituições. se com os de Souza, professora da Universidade Da área de pesquisa agropecuária, Federal de Lavras. quatro são ligados à Fixação Biológica do pesquisadores De uma outra lista, com a presenNitrogênio (FBN), sendo estes o centro incluídos na lista, ça de cientistas relevantes, mas apedeste artigo. Há muito tempo procuranas referente ao ano de 2019, tampelos brilhantes -se ressaltar o papel primordial da Ciênbém fazem parte da área alvo deste cia para o bem-estar humano, seja nas serviços que artigo, José Ivo Baldani, da Embrapa áreas de saúde, habitação, transporte, prestaram e Agrobiologia, e também está presencomunicações e, em especial, na agrote Mariângela Hungria já mencionada pecuária, no atendimento à necessidade continuam anteriormente. básica de alimentação. prestando à A ANPII congratula-se com os pesNo caso particular da FBN, o papel quisadores incluídos na lista, pelos brida pesquisa tem sido fundamental, na evolução do uso de lhantes serviços que prestaram e conseleção de cepas de bactérias, no deprodutos biológicos tinuam prestando à evolução do uso senvolvimento de novas tecnologias e na agricultura, de produtos biológicos na agricultura, no apoio forte e decidido à divulgação oferecendo aos agricultores produtos de uso de inoculantes. As empresas que oferecendo aos que elevem a produtividade, ao mesproduzem este e outros insumos biolóagricultores mo tempo em que preservam o meio gicos mantêm firmes e estreitos laços de cooperação com as instituições de pesprodutos que elevem ambiente. Não podemos esquecer, logicamenquisa, sendo este um dos fatores-chave a produtividade, ao te, todos os demais pesquisadores que, para o sucesso do uso do nitrogênio via embora não presentes nesta lista, tammesmo tempo em biológica no Brasil. bém têm sua valiosíssima contribuição Assim, a presença de quatro cientisque preservam o C à FBN no Brasil e no mundo. tas brasileiros nesta lista é o reconhecimeio ambiente mento internacional da relevância, em primeiro lugar, da ciência desenvolvida Solon Araujo no País, em especial na área agrícola e, Consultor da ANPII em particular, na fixação do nitrogênio. Neste momento em que há ataques à Ciência, em que teorias esdrúxulas, medievais, são divulgadas como se tivessem alguma base na Ciência, a divulgação desta lista, baseada em critérios coerentes, mostra que ainda há vozes fortes e lúcidas na defesa de princípios Johanna Dobereiner, Mariângela Hungria, Fátima M. Moreira, Robert Boddey de Souza e José Ivo Baldani que mostram a validade e as valiosas
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