Cultivar Grandes Culturas • Ano XXI • Nº 265 • Junho 2021 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Expediente
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Fundadores Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
Bem posicionadas
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter
Como a escolha e o posicionamento
www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00
de cultivares podem impulsionar a produtividade em lavouras de milho, trigo e soja
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues
Evolução e controle
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Frequentes e nocivos
Que lições de manejo se pode
Como embasar a
extrair depois de meio século
tomada de decisão de
de presença da ferrugem do
controle de percevejos
cafeeiro no Brasil
na cultura da soja
• Expedição Edson Krause
Índice
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
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Informe Spraytec
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www.instagram.com/revistacultivar
Pulgão da cana em sorgo
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www.facebook.com/revistacultivar
Cigarrinha do milho
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Ferrugem do cafeeiro
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Volatilidade do herbicida dicamba
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Posicionamento de cultivares em grãos
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Controle de percevejos em soja
25
Ferrugem-asiática em soja
28
Manejo e pressão de pragas e doenças
31
Nematoides em arroz
34
Perfil do solo em cana
37
Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
42
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
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Nossa Capa
Crédito: Tony Oliveira Sistema CNA
Diretas
Fungicidas
Marcus Fiorini
A Corteva Agriscience lançou dois fungicidas com tecnologia Onmira Active. Viovan e Aproach Power oferecem um amplo espectro de controle do complexo de doenças da soja, como ferrugem-asiática, manchas alvo e parda, cercospora e oídio. “Os lançamentos vêm agregar performance de controle nas principais doenças da soja com uma formulação diferenciada que não precisa da adição de óleo, um pioneirismo da Corteva, que aumenta a velocidade de absorção dos ativos, diminuindo o risco de lavagem pela chuva”, explicou o líder do Portfólio de Fungicidas da Corteva, Marcus Fiorini.
Carbono neutro A Bayer dará mais um passo rumo à construção de uma agricultura carbono neutro a partir desta safra 2021/2022. Em um trabalho conjunto com produtores rurais e parceiros, a companhia lança o PRO Carbono. Os participantes deverão implementar práticas de manejo que possibilitem o aumento da retenção de carbono no solo. Em contrapartida, poderão usufruir de benefícios como análise de fertilidade e de carbono do solo, acesso a conteúdos e profissionais que são referência no tema e suporte de uma consultoria técnica. “A partir de programas como o PRO Carbono, os agricultores poderão ser recompensados não apenas pelo que e quanto produzem, mas também pela forma como produzem, o que materializa um de nossos compromissos globais de sustentabilidade e parte fundamental do esforço para que a agricultura seja cada vez mais protagonista para solucionar os desafios climáticos do planeta”, destaca o diretor de Sustentabilidade da Divisão Agrícola da Bayer para a América Latina, Eduardo Bastos.
Eduardo Bastos
Pedro Ferzola
Parceria A FMC e a empresa 3tentos selaram parceria para o desenvolvimento de um projeto-piloto, de iniciativa da Arc Farm Intelligence, que permitirá aos produtores e consultores do campo se prepararem com antecedência, e com mais precisão, para as futuras pressões de pragas. "Temos produtividades recordes no Brasil, onde a planta da soja necessita ser protegida de qualquer dano. Nunca foi tão importante prever pressão de pragas quanto é hoje. Por isso a FMC, uma empresa focada em ciência e inovação, busca estar cada dia mais próxima ao produtor, oferecendo tecnologias como Arc Farm Intelligence. Elas auxiliam os agricultores a tomarem as melhores decisões em seus cultivos e, dessa forma, podemos contar com a 3tentos, nosso parceiro que também faz parte do nosso programa Juntos", explicou o gerente de Marketing Regional da FMC, Pedro Ferzola.
Novos rumos
Biológico
Eduardo Mazzieri é o novo diretor de Marketing Operacional da UPL Brasil. Com mais de 20 anos de experiência no mercado, Mazzieri é agrônomo formado pela Universidade de São Paulo com diversos cursos e especializações em escolas de negócios como Ashride, Harvard e Faap. "É uma grande satisfação chegar à UPL para fazer parte da recém-criada estrutura de operações, desenhada para suportar o rápido crescimento da companhia não apenas no Brasil, mas em termos globais. Nosso objetivo é direcionar cada vez mais a organização aos agricultores, nossos clientes finais, e criar um hub de excelência em marketing, integrado e colaborativo", explicou. Mazzieri comandará uma ampliada estrutura composta pelas equipes de marketing tático da UPL, que incluem lideranças de marketing nas principais regiões agrícolas do País, além Eduardo de acesso ao mercado, pricing Mazzieri e comunicação.
A Ihara acaba de lançar o Romeo SC, uma solução para auxiliar o agricultor no combate de uma das doenças mais temidas e que causa danos irreversíveis na cultura de soja. O novo fungicida biológico da empresa possui um modo de ação inédito no Brasil, que age de forma preventiva, ativando os sistemas de defesas naturais da planta e, assim, maximiza a proteção da lavoura contra a ferrugem. Romeo SC chega ao mercado para agregar no manejo dessa doença, sendo compatível com outros produtos químicos e biológicos. "O mercado de soluções com ativos biológicos está crescendo cada vez mais. É possível observar que existe um novo comportamento dos consumidores que preferem produtos de origem natural visando sustentabilidade e rentabilidade. Por isso, reunimos os principais fitopatologistas do País para desenvolver pesquisas para criação de um bioquímico eficiente e, ao mesmo tempo, sustentável", explicou Alexandre o gerente de Marketing de Produtos Alves Biológicos, Alexandre Alves.
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Informe publicitário
Nutrição essencial para a proteção de sua lavoura Uso de Cubo IR associado a fungicidas convencionais em trigo reduziu a severidade de Bacteriose em 94,8%, de Mancha Amarela em 66,7% e incrementou a produtividade em 16,6 sacas por hectare, em relação ao tratamento padrão. Além disso, aumentou a massa de grãos e o peso hectolitro, proporcionando um grão de melhor qualidade
N
Wenderson Araujo Sistema CNA
o Brasil, a cultura do trigo (Triticum aestivum) ocupa uma área de 2,5 milhões de hectares para uma produção de 7,6 milhões de toneladas. Um dos grandes obstáculos à alta produtividade da cultura é a ocorrência de elevado número de
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doenças fúngicas e bacterianas, com perdas médias estimadas em 44,6%, o equivalente a 1.152kg (19,2 sacas de 60kg) de trigo por hectare. As dificuldades para o manejo dessas doenças são grandes, pois todos os métodos de controle apresentam limitações, e a cada safra observam-se per-
das na eficácia dos defensivos químicos utilizados. Desta forma, nos últimos anos tem crescido o interesse por métodos alternativos de manejo. Nesse contexto, a Spraytec desenvolveu o Cubo IR, que significa nutrição, maior defesa natural das plantas e melhor qualidade da aplicação. Produto
Figura 1 - Eficácia de Cubo IR no manejo de Bacteriose e Mancha Amarela
de alta tecnologia e biodegradável que atua na fertilização de flores, na formação e peso de grãos e no transporte de carboidratos, com reflexos positivos na produtividade. Outra característica diferencial do produto está relacionada ao aumento da resistência das plantas a fatores bióticos. Em resposta à aplicação de Cubo IR, os mecanismos de defesa são ativados, induzindo a planta a sintetizar altas concentrações de metabólicos secundários, que atuam como barreiras físicas e químicas, dificultando a entrada e o desenvolvimento de patógenos. A utilização de cultivares de alto potencial genético associado ao desenvolvimento sustentável exige produtos inovadores como o Cubo IR.
OBJETIVO
Avaliar a eficácia do complexo nutricional bioativador Cubo IR em associação com fungicidas convencionais no manejo de doenças e produtividade do trigo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na estação experimental da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa), localizada no distrito de Entre-Rios, Colônia Vitória, município de Guarapuava, Paraná. No ensaio
Figura 2 - Efeito de Cubo IR na produtividade do trigo
foi utilizada a cultivar de trigo ORS 25. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram em Testemunha (sem aplicação), Padrão Fapa (quatro aplicações de fungicidas com doses comerciais) e Padrão Fapa + Spraytec (quatro aplicações de fungicidas associados ao Cubo IR 0,30L/ha). As aplicações foram realizadas nos estádios de perfilhamento, alongamento, emborrachamento e espigamento, respectivamente. O volume de calda utilizado foi de 200L/ha. Foram realizadas avaliações de eficácia no controle de Bacteriose (Pseudomonas seryngae) e Mancha Amarela (Drechslera tritici-repentis) e o rendimento da cultura. Os dados foram submetidos à análise de variância e ao teste de Tukey (p < 0,05), através do software SASM Agri (Canteri et al., 2001).
RESULTADOS
Cubo IR demonstrou alto sinergismo junto aos fungicidas, aumentando a eficácia de controle das doenças do trigo. A associação de Cubo IR aos fungicidas reduziu a severidade em 94,8% para Bacteriose e 66,7% para Mancha Amarela em relação ao tratamento padrão (Figura 1). O aumento na eficácia de controle das doen-
ças é de extrema importância para que não haja perda do potencial produtivo da cultura. Nesse contexto, com relação à produtividade, a colheita na testemunha foi de 38,7, no padrão de 76,8 e no padrão mais Cubo IR de 93,4 sacas por hectare. A associação de Cubo IR aos fungicidas promoveu um incremento médio de produtividade de 16,6 sacas por hectare em relação ao tratamento padrão (Figura 2). Como a maioria dos fungicidas químicos apresenta limitações no controle, a associação deles com Cubo IR demonstrou ser uma ferramenta eficaz para garantir melhor manejo das doenças e, consequentemente, promover maior produtividade da cultura e melhor qualidade do trigo.
CONCLUSÃO
O Cubo IR, além de nutrir as plantas visando a máxima expressão de seu potencial produtivo, é uma alternativa promissora no manejo das doenças do trigo por induzir os mecanismos naturais de defesa das plantas, apresentando alto sinergismo com os C fungicidas convencionais. Heraldo R. Feksa e Berthold Duhatschek, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa)
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Pragas
Intruso controlado Lamagri
Vulgarmente conhecido como pulgão da cana-de-açúcar, bastante comum nos canaviais Melanaphis sacchari tem causado problemas em outras culturas como o sorgo. O uso de inseticidas se mostra favorável à redução da população deste inseto
O
sorgo (Sorghum bicolor L.), provavelmente de origem africana pertencente à família das Poaceae, é uma das grandes culturas cultivadas no mundo (Ribas, 2007). Uma planta rústica tolerante a períodos críticos de déficit hídrico e eventuais ataques de pragas e doenças quando comparada à cultura do milho (Neumann et al., 2005). Vem se tornando uma alternativa viável como opção de segunda safra em regiões do Centro-Oeste brasileiro. O milho sem sombra de dúvidas é uma das principais culturas brasileiras, entretanto, estima-se que entre 10% e 20% do mercado pode ser atendido com maior economicidade com a cultura do sorgo. Setores de avicultura e suinocultura, que apresentam alto custo de produção e baixo preço de comercialização, podem utilizar da cultura do sorgo para uma significativa redução do custo de produção beneficiando-se da menor cotação do sorgo, que é estimada entre 20% e 30% a menos do que a do milho (Coelho et al., 2002). O Melanaphis sacchari (Zehtner), vulgarmente conhecido como pulgão da cana-de-açúcar, está presente em mais de 30 países, com potencial de ataque a aproximadamente 20 espécies de gramíneas (Singh et al., 2004). Praga que afeta principalmente a cultura de cana-de-açúcar no Brasil, sendo uma das principais culturas utilizadas para a produção de biocombustíveis (Gonçalves, 2005). É uma das principais pragas de sorgo na África, Ásia e Austrália (Singh et al., 2004). Nos EUA este pulgão permaneceu como uma praga esporádica na cultura da cana-de-açúcar, não sendo relatado como uma praga da cultura do sorgo até 2013. Nesse ano, ocorreu um grande surto de Melanaphis sacchari na cultura do sorgo no estado do Texas, se espalhando pelos estados vizinhos de Louisiana, Oklahoma e Mississippi. (Villanueva et al., 2014; Bowling et al., 2015). No Brasil, embora já houvesse sido 08
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registrado em lavouras de sorgo sem causar grandes prejuízos (Silva, 2014), a grande preocupação reside na cultura da cana-de-açúcar, onde é vetor do vírus do mosaico (Colares; Torres, 2016). Na safra 2018/2019 foram relatados danos econômicos causados por esta praga nas regiões do Triângulo Mineiro, Noroeste e Alto Paranaíba, em Minas Gerais, bem como em lavouras do Distrito Federal e de São Paulo, com ocorrência predominante no final do estádio vegetativo e início do período reprodutivo das plantas. Na safra 2019/2020 foi observado um surto repentino na região do Sudoeste goiano. Neste contexto, foi realizado um estudo para o controle da população de Melanaphis sacchari utilizando inseticidas comerciais de diferentes ingredientes ativos, a fim de propor um controle desta praga na cultura de sorgo.
METODOLOGIA
O estudo foi realizado na Fazenda de Ensino, Pesquisa e ExtenTabela 1 - População de Melanaphis sacchari e porcentagem de eficiência dos tratamentos inseticidas três, sete e dez dias após aplicação (DAA) dos tratamentos. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC Rio Verde - GO, safra 2018-2019 Tratamento Acetamiprido Sulfoxaflor Imidacloprido Lambda-Cialotrina Bifentrina Controle
Dose* g i.a/ha 50 96 144 100 25 -
% Eficiência (ABBOTT) Número de indivíduos 3 DAA 7 DAA 10 DAA 3 DAA 7 DAA 10 DAA 99,40 b 64,20 b 38,55 b 69 89 95 12,75 b 0,00 b 8,20 b 96 100 99 0,20 b 0,30 b 0,25 b 100 100 100 13,02 b 1,00 b 6,00 b 96 100 99 39,95 b 5,10 b 1,90 b 87 99 100 317,04 a 639,56 a 781,40 a -
*Doses em gramas de ingrediente ativo (a.i) por hectare; Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si segundo teste Tukey (p<0,05) de significância.
são (Fepe) do curso de Agronomia da Faculdade UniBras no município de Rio Verde, Goiás, com coordenadas geográficas de 50°55'55.16"W e 17°44'59.17"S com altitude (NMM) de 760m. Utilizou-se o híbrido 1G100, semeado no dia 14/3/2020 em sistema direto com espaçamento de 0,5 metro entre linhas. Foi aplicado adubo com formulação 00-20-18 (N-P-K) na dose de 500kg/ha a lanço no momento da semeadura. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram compostos por diferentes ingredientes ativos de inseticidas, produtos comerciais que já estão no mercado, sendo acetamiprido (50g i.a/ha), sulfoxaflor (96g i.a/ha), imidacloprido (144g i.a/ ha), lambda-cialotrina (100g i.a/ha), bifentrina (25g i.a/ha) e controle (sem aplicação de inseticida). Os demais manejos fitossanitários foram semelhantes para todos os tratamentos. Quando observada a infestação de Melanaphis sacchari nas plantas de sorgo realizou-se a aplicação dos tratamentos inseticidas, que foi feita com pulverizador costal pressurizado a CO2, munido de barra de pulverização contendo quatro pontas espaçadas com 0,50m, do tipo leque simples TT 110.02, garantindo pressão constante de trabalho (30 PSI), com volume de calda proporcional a 100L/ha. A pulverização ocorreu a 0,5m do alvo, proporcionando cobertura homogênea da folhagem. Para obter uma condição favorável de temperatura média de 25°C, UR média de 78% e velocidade do vento média de 2,5km/h, as aplicações foram realizadas entre 16h e 18h, período em que foi possível reunir as melhores condições Figura 1 - Exemplificação de adultos de Melanaphis sacchari
climáticas para as aplicações. As avaliações de população de Melanaphis sacchari foram realizadas por meio da contagem de indivíduos presentes na folha. Foram marcadas dez folhas, sendo uma folha por planta por unidade experimental, com uma fita colorida, onde foi realizada a contagem da quantidade de pulgões vivos encontrados. Como padrão utilizou-se sempre a terceira folha abaixo da folha bandeira (Aguillera et al., 2005). Foram realizadas avaliação prévia (antes da aplicação) e avaliações aos três, sete e dez dias após aplicação (DAA). A eficiência no controle de insetos-praga foi calculada pela fórmula de Abbott (1925), a partir do número de insetos vivos na testemunha (T) e no tratamento (Tr), utilizando a seguinte equação: E%=
( T -TTr )
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste de F (p<0,05) e comparados pelo teste de médias de Tukey (p<0,05), utilizando o software SASM – Agri (Canteri et al., 2001).
RESULTADOS
Na Tabela 1 observam-se os resultados da população de Melanaphis sacchari, assim como a eficiência dos produtos após aplicação dos tratamentos inseticidas. As avaliações de população demonstram um crescente número de indivíduos no tratamento controle ao decorrer dos dias avaliados. Nota-se que todos os tratamentos em que foram aplicados inseticidas, independentemente do ingrediente ativo, apresentaram controle da população do pulgão. Na avaliação de três dias após aplica-
ção (DAA), apesar dos tratamentos inseticidas não diferirem estatisticamente pelo método de Tukey (p<0,05), o tratamento composto pelo ingrediente ativo imidacloprido (144g i.a/ha) teve a menor média para número de indivíduos de Melanaphis sacchari. Os ingredientes ativos sulfoxaflor (96g i.a/ha) e lambda-cialotrina (100g i.a/ ha) foram os dois outros produtos que obtiveram a menor média da população de pulgão amarelo, com 12,75 e 13,02, respectivamente. Para as avaliações aos sete DAA é possível observar que ocorreu uma redução na população do pulgão amarelo em todos os tratamentos que foram aplicados inseticidas, diferentemente para o tratamento controle, onde se percebe um acréscimo acentuado da população. Apesar dos tratamentos inseticidas não apresentarem diferença entre si pelo teste de Tukey, verifica-se que os tratamentos sulfoxaflor (96g i.a/ha), imidacloprido (144g i.a/ ha), lambda-cialotrina (100g i.a/ha) e bifentrina (25g i.a/ha) obtiveram a menor média da população do pulgão amarelo para esta avaliação. Apesar do tratamento com o ingrediente ativo acetamiprido (50g i.a/ha) ter promovido uma redução da população do alvo da pesquisa quando comparado ao tratamento controle, ainda sim foi o que apresentou o maior número de pulgões amarelos na cultura do sorgo. Na comparação entre os tratamentos inseticidas e o controle em relação ao número de indivíduos do pulgão amarelo, notavelmente a aplicação dos inseticidas ajudou na redução da população dos indivíduos. Aos dez DAA, mesmo os tratamentos com inseticidas não diferindo estatisticamente pelo teste de Tukey, foi possível observar que as menores popu-
Figura 2 - Ilustração de adultos e ninfas que compõem a população de Melanaphis sacchari presente em maior concentração na face abaxial da folha. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC, Rio Verde - GO, safra 2019-2020
Fotos Fernando Corrêa, 2020
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Figura 3 - População de Melanaphis sacchari em dias após a aplicação (DAA), três, sete e dez dias, respectivamente. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC, Rio Verde - GO, safra 2019 – 2020
lações do inseto foram para os tratamentos sulfoxaflor (96g i.a/ha), imidacloprido (144g i.a/ha), lambda-cialotrina (100g i.a/ ha) e bifentrina (25g i.a/ha), com média da população sendo de 8,20; 0,25; 6,00 e 1,90, respectivamente. Segundo Mendes et al. (2019), o Melanaphis sacchari, assim como o pulgão verde, se aloja na face abaxial das folhas, causa sintomas que podem ser observados mesmo na face adaxial, como manchas vermelhas e necroses. Com um grande potencial biótico, forma colônias e as folhas abaixo das infestadas ficam recobertas por Honeydrew (mela), proporcionando o desenvolvimento de fungos, causando a fumagina (aspecto escuro) e que afeta a fotossíntese. O estresse hídrico pode aumentar os danos causados pelos pulgões. Na Figura 4 observam-se os efeitos causados à planta de sorgo infestada por este inseto. A Figura 5 apresenta os dados de porcentagem de eficiência dos inseticidas (Abbott) que estão expressos na Tabela 1. Percebe-se que o tratamento com o ingrediente ativo acetamiprido (50g i.a/ha) pro-
porcionou a menor eficiência no controle de Melanaphis sacchari principalmente na avaliação de três DAA, aumentando sua eficiência aos sete DAA e dez DAA de maneira crescente. Dentre os ingredientes ativos que compõem os tratamentos inseticidas destacou-se o imidacloprido (144g i.a/ha), que apresentou a maior estabilidade de eficiência, se mantendo acima dos 99% de eficiência durante todo o período de avaliação do ensaio de pesquisa. Corroborando com os resultados apresentados, a Figura 6 apresenta a face abaxial da cultura do sorgo, demonstrando o grande número de indivíduos presentes no tratamento controle e os demais tratamentos inseticidas com população reduzida do inseto e sem apresentação de sintomas causados pelas colônias. Portanto, o controle das populações de Melanaphis sacchari só foi possível com a aplicação de inseticida. Independentemente do ingrediente ativo utilizado neste trabalho se fez necessária a pulverização de inseticidas para a diminuição da população e para proporcionar proteção da lavoura de sorgo. Os inseticidas à base
Figura 5 - Eficiência no controle da população de Melanaphis sacchari em dias após a aplicação (DAA), pelo método de Abbott. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC, Rio Verde - GO, safra 2019 – 2020
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Figura 4 - Efeitos causados pelas colônias de Melanaphis sacchari na cultura do sorgo. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC, Rio Verde - GO, safra 2019 – 2020
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de imidacloprido (144g i.a/ha), sulfoxaflor (96g i.a/ha), lambda-cialotrina (100g i.a/ ha) e bifentrina (25g i.a/ha) podem ser uma boa opção por proporcionar redução da população e manter uma alta eficiência C para o controle desta praga. Wendson Soares da Silva Cavalcante, Faculdade UniBras - Rio Verde Grupo de Pesq. em Agric. no Cerrado - GPAC Estevão Rodrigues, MRE Agropesquisa Grupo de Pesq. em Agric. no Cerrado - GPAC Fernando Rezende Corrêa, Faculdade UniBras - Rio Verde Corrêa Weed Science Grupo de Pesq. em Agric. no Cerrado - GPAC Nelmício Furtado da Silva, UniBras - Rio Verde AgirTec Grupo de Pesq. em Agric. no Cerrado - GPAC Raphael Neumaister, MRE Agropesquisa Paulo Afonso Betinelli, Bruna Guimarães da Silva e Daniele Ferreira Ribeiro, Faculdade UniBras - Rio Verde Grupo de Pesq. em Agric. no Cerrado - GPAC
Figura 6 - Face abaxial da folha avaliada de Sorghum bicolor aos dez DAA. Grupo de Pesquisa em Agricultura no Cerrado - GPAC, Rio Verde - GO, safra 2019-2020
Milho
Trânsito interrompido Como medidas de manejo integrado, adotadas regionalmente pelos produtores, com atenção a monitoramento, horário das aplicações, uso de inseticidas e de soluções biológicas, podem ajudar a conter a temida cigarrinha do milho e evitar seu fluxo entre as áreas favorecido pela ponte verde proporcionada pelo cultivo intensivo realizado no Brasil
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A
cigarrinha, Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadelidae), tem preocupado a cadeia de produção da cultura do milho em todo o País, por conta de seu aumento, ano após ano, e consequentemente sua explosão populacional, com o incremento das áreas, tanto na primeira quanto na segunda safra (safrinha), bem como na terceira safra de milho em áreas irrigadas. Esse sistema de cultivo intensivo tem agravado a ocorrência generalizada da cigarrinha do milho, que pode causar prejuízos econômicos irreversíveis. Além da disponibilidade contínua e escalonada de hospedeiro, outro fator limitante para sua sobrevivência é a umidade e também as altas temperaturas, que favorecem a reprodução desse pequeno inseto (3mm até 4,5mm de comprimento) de cor amarelo-palha, que pode ser facilmente observado no cartucho do milho. Através da inserção do seu estilete sugador, preferencialmente no colmo das plantas em estádio inicial de desenvolvimento, a cigarrinha do milho pode secretar, além de enzimas e metabólitos que degradam e digerem as estruturas vegetais no processo de alimentação, patógenos responsáveis pelos chamados enfezamentos. Plantas infectadas pelos molicutes, Spiroplasma kunkelli e fitoplasma, podem apresentar sintomas característicos dos enfezamentos pálido e vermelho, respectivamente. Além disso, a cigarrinha do milho pode transmitir o vírus da risca (MRFV- Maize rayado fino virus). Além da transmissão de patógenos, responsáveis pelo mau desenvolvimento das plantas e consequentemente queda drástica de produtividade, a cigarrinha do milho pode expelir uma substância açucarada (honeydew), em detrimento de sua alimentação. Essa “mela” expelida sobre as folhas, favorece o crescimento de fungos (fumagina), obstruindo a passagem de luz, interferindo no processo fotossintético. Frequentemente tem-se observado esse cenário na região dos Chapadões, município de Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul, o que tem gerado preocupações que vão além dos en-
Figura 1 - Eficiência de inseticidas no TS e pulverizações no controle de D. maidis, aos três dias após a primeira, segunda e terceira aplicações. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS. Segunda safra 2021
EXPERIMENTO COM INSETICIDAS
Com o objetivo de manejar a população de cigarrinhas do milho, desenvolveram-se, na área experimental da Fundação Chapadão, trabalhos para testar a eficiência de controle dos principais inseticidas, no tratamento de sementes e aplicados via foliar, em diferentes horários do dia, no controle de D. maidis. O experimento foi realizado na segunda safra 2021, em duas áreas. O plantio das áreas foi realizado no dia 1º/3/2021. Na primeira área, sementes de milho foram tratadas com o inseticida clotianidina (240g i. a./100kg de sementes). Na segunda área, realizou-se o tratamento de sementes com o inseticida tiametoxam (138g i. a./100kg de sementes).
Nessas áreas foram realizadas três pulverizações dos inseticidas, intervaladas a cada sete dias. A primeira pulverização foi realizada às 16h15min, quando as plantas de milho se encontravam no estádio V2 de desenvolvimento. A segunda e a terceira pulverizações foram realizadas no estádio V4 às 11h09min, e V6 às 7h55min, respectivamente. Os tratamentos químicos utilizados foram 1 - Testemunha; 2 - Imidacloprido + betacifultrina (100 + 12,5g i.a./ha); 3 - Imidacloprido + bifentrina (75 + 15g i.a. /ha); 4 - Acefato (970g i.a./ha); 5 Bifentrina + carbossulfano (35 + 105g i.a. /ha); 6 - Etiprole (200g i.a./ha); 7 Acetamiprido + bifentrina (25 + 25g i.a./ ha); 8 - Zetacipermetrina + bifentrina (40 + 32,4g i.a./ha); 9 - Tiametoxam + Lambda-cialotrina (35,25 + 26,5g i.a./ ha); 10 - Lambda-cialotrina (62,5g i.a./ ha); 11 - Acetamiprido + alfa-cipermetrina (25 + 80g i.a./ha). Realizou-se a contagem do número total de Dalbulus maidis, em dez plantas por parcela, aos
zero (Prévia), três dias e sete dias após cada aplicação. Aos três dias após a primeira, segunda e terceira aplicações dos inseticidas, em ambas as áreas, com os diferentes tratamentos químicos nas sementes, verificou-se que a eficiência de controle dos inseticidas não foi satisfatória, e o percentual máximo de controle verificado nessa avaliação foi de pouco mais de 60% (Figura 1). No entanto, verificou-se que aos três dias após a segunda aplicação a eficiência de controle foi ainda menor em ambas as áreas, quando comparado com a eficiência de controle aos três dias após a primeira e a terceira aplicações (Figura 1). Pode-se inferir que a menor eficiência de controle dos inseticidas na avaliação de três dias após a segunda aplicação se deu em função do horário em que foi realizada essa aplicação, realizada às 11h09min que ocorreu simultaneamente, em ambas as áreas com os diferentes tratamentos químicos aplicados nas sementes.
Fotos Suélen Cristina da Silva Moreira
fezamentos, e levado os produtores a realizarem pulverizações aéreas para controle de cigarrinhas, mesmo em estádios mais avançados da cultura. Essa ação é importantíssima para evitar a migração das cigarrinhas de áreas mais tardias para áreas onde o milho será semeado posteriormente. Nesse contexto, recomenda-se fortemente que o monitoramento e o manejo da cigarrinha do milho sejam realizados continuamente, ou seja, pós-fase crítica da cultura, que vai da emergência até V8, principalmente nas bordaduras, para reduzir a população de cigarrinhas migratórias na chamada ponte verde. O ideal é que as pulverizações para o controle de cigarrinhas sejam adotadas por todos os produtores de uma microrregião, simultaneamente, para evitar que ocorra o fluxo contínuo de cigarrinhas provenientes de migração de áreas vizinhas.
Figura 2 - Eficiência de inseticidas no TS e pulverizações no controle de D. maidis, aos sete dias após a primeira, segunda e terceira aplicações. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS. Segunda safra 2021
Experimento foi conduzido em área da Fundação Chapadão
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Fotos Suélen Cristina da Silva Moreira
Figura 3 - Eficiência de inseticidas químicos, biológicos e associados (químico + biológico) no controle de D. maidis, aos três dias após a primeira e segunda aplicações, em duas áreas. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul, MS. Segunda safra 2021
Insetos foram monitorados para mapear hábitos e comportamento
Da mesma forma, a eficiência de controle aos sete dias após a primeira, segunda e terceira aplicações dos inseticidas, não ultrapassou os 70% de controle independentemente do tratamento químico utilizado na semente (Figura 2). Esses resultados evidenciam que o uso exclusivo de inseticidas, via foliar ou no tratamento de sementes, não é eficaz o suficiente para controlar a cigarrinha do milho. Além disso, o uso excessivo de inseticidas químicos pode eliminar os inimigos naturais da cigarrinha e de outros insetos e favorecer o aumento populacional de outros sugadores na cultura do milho, como pulgões. Contudo, a utilização de ferramentas, de maneira integrada, pode agregar no manejo, aumentando a eficiência do controle dos inseticidas químicos. Nesse contexto, a Fundação Chapadão conduziu, na safra 2021, trabalhos com inseticidas biológicos, utilizando-os em mistura com inseticidas químicos ou intercalando as aplicações. Para tal, em duas áreas realizou-se o plantio do milho no dia 11/3/2021. Para manejar a população de cigarrinha, ambas as áreas receberam duas pulverizações, intervaladas a cada sete dias. Em uma das áreas, realizou-se uma primeira pulverização com inseticidas químicos. Após sete dias houve uma segunda aplicação de inseticidas biológicos (área 1). Na segunda área (2), realizaram-se ambas as pulverizações, associando os mesmos inseticidas utilizados na área 1 (químicos + biológicos). Os resultados confirmaram que a utilização de produtos biológicos pode agregar ao manejo químico. O que pode ser observado aos três dias após a primeira e segunda aplicações na área 2, onde a eficiência dos insetici14
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das atingiu 80% de controle. Vale ressaltar que o comportamento da cigarrinha do milho em altas temperaturas e com radiação solar direta é de dispersão ou busca de abrigo. Em condições de ausência de luz e temperaturas mais amenas, a cigarrinha tem sua atividade reduzida, dessa forma estudos de monitoramento e comportamento da cigarrinha do milho estão sendo realizados na Fundação Chapadão com o objetivo de elucidar qual o melhor horário para realizar as pulverizações, tendo em vista que o alvo é variável nos diferentes horários do dia, em função de temperatura, luz, umidade e vento, que é um importante agente dispersor de populações do inseto. Para tal, realizaram-se observações visuais, em três diferentes horários do dia, às 6h, às 12h e às 17h. Simultaneamente, realizou-se a contagem de cigarrinhas com auxílio de uma gaiola. Isso possibilitou a contagem de cigarrinhas que se movem em direção à luz, ficando presas no tecido tipo “voil”, na parte superior, após serem perturbadas pelas batidas com a palma das mãos na gaiola. Verificou-se no início
da manhã (6h), que as cigarrinhas se mantinham em repouso, e não se movimentavam facilmente, nem mesmo quando perturbadas. No horário mais quente do dia (12h), as cigarrinhas se concentravam no cartucho, e o auxílio da gaiola facilitou o monitor durante a amostragem. Já ao final da tarde (17h), observou-se que as cigarrinhas se encontravam agitadas, apresentando, provavelmente, um comportamento de dispersão. Além do controle da população de cigarrinhas, outras possíveis alternativas de manejo podem ser citadas, como o estreitamento da janela de plantio de milho, para diluir a população de cigarrinhas, o manejo de plantas tigueras de milho, bem como conscientização da importância de adotar medidas técnicas e estratégiC cas do manejo integrado. Suélen Cristina da Silva Moreira, Claudemir Marcos Theodoro, Yasmin Calixto Milken e Édipo Silva Freitas, Fundação Chapadão
C
Aumento dos ataques preocupa a cadeia produtiva de milho
Café
José Braz Matiello
Evolução e controle
As lições deixadas pela ferrugem do cafeeiro após meio século de identificação da presença da doença nos cafezais brasileiros
A
ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, apareceu no Brasil em janeiro de 1970, na Bahia, e logo se disseminou para todas as regiões cafeeiras do país, mostrando a facilidade de disseminação da doença. Muito tempo se passou e, em 2020, foram completados 50 anos da ferrugem no Brasil. Foi muito trabalho para manter a doença em condições de controle econômico. Os programas de controle executados no início previam a erradicação-exclusão, mas logo se verificou a impossibilidade dessas medidas e passou-se a um programa de convivência baseado em três pilares: 1) a pesquisa e difusão de tecnologias, para tornar o controle eficiente e econômico, 2) a renovação de cafezais, com zoneamento, sistemas novos de plantio, para viabilizar a produtividade e facilitar o controle, 3) o crédito para viabilizar novos plantios e a adaptação de lavouras, investimento e custeio. Como resultado foi obtida a implantação de aproximadamente dois milhões de hectares de cafezais renovados, os quais constituem a base da nova cafeicultura brasileira, mais produtiva e moderna. Com as lavouras renovadas, a prioridade passou a ser o con-
trole químico da doença, pois todo o parque cafeeiro era constituído de variedades, como a Mundo Novo e a Catuai, suscetíveis à ferrugem. Paralelamente, nos dez últimos anos tem sido feita a introdução gradativa de novas variedades, que possuem resistência à ferrugem.
FATORES INFLUENTES NA DOENÇA
A ferrugem causa a desfolha das plantas e perdas de produção no ano seguinte, sendo que o nível de ataque está relacionado ao estresse das plantas, pela carga pendente, falta de água e de nutrientes etc., que as torna mais suscetíveis à condição ambiente (temperatura e umidade) e ao inóculo residual do ciclo anterior. Na lavoura influem no sistema de cultivo (as variedades, o espaçamento, o número de hastes, fechamento etc.) - que interferem na suscetibilidade e no microclima. O manejo dos tratos - a adubação/nutrição das plantas, as podas, as capinas etc.) - que incide na suscetibilidade, no microclima e na capacidade dos cafeeiros em suportar a doença. O nível de produção das plantas tem sido o fator mais deterwww.revistacultivar.com.br • Junho 2021
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Figura 1 - Infecção média de ferrugem, em longo período de 20 anos, na Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Varginha (MG). Fonte Boletins de avisos da Funprocafé
minante da evolução da ferrugem sobre os cafeeiros, conforme pode ser observado na Tabela 1.
CICLO DA FERRUGEM DO CAFEEIRO E EFICIÊNCIA DE CONTROLE
O ciclo de evolução da ferrugem nas condições da cafeicultura brasileira tem se mostrado bem definido, repetindo-se ano a ano. A doença evolui a partir de novembro-dezembro até abril-maio e com o “pico” da doença, com maior número de folhas infectadas ocorrendo em julho-agosto, decaindo, em seguida, pela desfolha natural e pela colheita. O gráfico da Figura 1 mostra a evolução da ferrugem na região do Sul de Minas, na média de longo período. O nível de infecção a cada ano se correlaciona com a produtividade das lavouras. Como os cafeeiros, cultivados a pleno sol produzem bem em um ano e pouco no outro, no chamado ciclo bienal, verifica-se, pelo gráfico da Figura 2, um ciclo de evolução da ferrugem em dois anos seguidos, com infecção mais baixa e mais alta. Quanto aos níveis de eficiência de controle pode-se considerar que níveis de infecção finais (junho-julho) inferiores a 10% de folhas infectadas e desfolha inferior a 20% significam elevada eficiência de controle. Níveis de 10%-20% de infecção e desfolha inferior a 30% significam um controle bom. Níveis de infecção de 20%-40% e desfolha de 30%-50% representam um controle pouco eficiente. Índices de infecção superiores a 40% e desfolha maior que 50% significam falta de controle. Nessa condição média considerada, a Testemunha, sem controle - apresentaria infecção de 60% a 90% e
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Figura 2 - Infecção de ferrugem em cafeeiros, em dois anos agrícolas sucessivos, de baixa e alta produção - na Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Varginha (MG). Fonte - Boletins de avisos da Funprocafé
desfolha de 70% a 90%.
FERRUGEM TARDIA E PROBLEMAS DE FALTA DE CONTROLE
Um dos problemas observados nos últimos anos é a ocorrência de ferrugem tardia, sendo que os principais condicionantes desse problema são chuvas em grande quantidade ou estresse hídrico em dezembro/janeiro, ocorrendo lavagem de adubos e estresse das plantas. Também a adubação insuficiente no último parcelamento, causando estresse nas plantas e uma maior suscetibilidade, ou seja, as plantas ficam fracas e, assim, mais suscetíveis à doença. Quando o controle termina cedo, em fevereiro, e, ainda, por uso de doses baixas dos fungicidas, período chuvoso prolongado e temperaturas um pouco mais altas que o normal, de abril a junho, favorecem a ferrugem a aparecer forte mais tarde, escapando, em muitos casos, apesar do controle químico praticado. Alguns problemas de falta de controTabela 1 - Infecção pela ferrugem em cafeeiros com dois níveis de produtividade, manejados em condições naturais, com desfolha ou com eliminação de inóculo. Venda Nova – ES, 1984 % de folhas c/ferrugem (junho/84) A- Condição normal 8,70 a A1 – Baixa produção 30,70 b A2 - Alta produção B- Eliminação do inóculo 8,50 a B1 - Baixa produção 23,50 ab B2 - Alta produção C - Com desfolha 16,00 ab C1 – Baixa produção 43,50 b C2 - Alta produção Tratamentos
Obs: 1) Elim. do inóculo e da folhagem (50%), em dez/83. 2) Produção registrada: Alta produção = 25 scs/ha; Baixa produção = 7,6 scs/ha Fonte: Mansk Z. e Matiello, J.B Anais 11º CBPC, 1984, p. 128-0.
le têm ocorrido devido à perda de eficiência dos triazóis, que têm diminuído especialmente via solo. A solução tem sido a combinação de triazol com estrobilurina, pois os triazóis são inibidores da síntese de ergosterol e as estrobilurinas agem na respiração dos fungos, assim o fungo necessita mutar em dois pontos, para resistência. Os produtos fungicidas sistêmicos atualmente usados são do grupo dos triazóis. Alguns são eficientes somente em aplicações foliares, outros já são absorvidos por várias partes das plantas, como pelo tronco e galhos e pelo sistema radicular, podendo ser aplicados via solo. Os ativos de triazóis desenvolvidos e já usados para o controle da ferrugem são triadimefon, triadimenol, cyproconazole, epoxiconazole, hexaconazole, tetraconazole, flutriafol, tebuconazole e propiconazole. Algumas dessas formulações não se encontram mais no mercaTabela 2 - Grupos de materiais genéticos tolerantes ou resistentes à ferrugem do café a) Catimores ou Sarchimores puros – Katipó e Oeiras, Tupy, IAC125, Tupy amarelo, IPR 98 e IPR 99 e IAPAR 59 b) Híbridos de Catimor ou híbrido de Timor com Catuai – Catiguás, Sacramento, Pau Brasil, Arapongas e Paraiso, Palmas I,II e III c) Híbridos de Catimor com Acaiá – Sabiá 398 e Sabiá-uma d) Híbridos de Icatu com Catuai – Catuais amarelos – 24/137, 2 SL, 20-15 cv 479, 19/8 e 785/15 amarelo e Anuaí. Catuais vermelhos – Japy, Guará, Rouxinol, Azulão, Beija flor e 785-15 e IPR 103 e) Híbridos de Catuai com material da Índia(S795) – Saíra e CatuaiSH2SH3 f) Híbridos de Catuai com Sarchimor - Obatã g) Híbridos de Sarchimor x Catai x Icatu – Arara e Araraçu h) Híbridos de Catimor com Icatu – Aranãs i) Híbridos de Sarchimor com Mundo Novo- Acauãs – Cv 8, Cv 365, Asabranca, Grauna, Araçari, Acauãma e Acauã Novo j) Híbrido entre C. racemosa e C. arabica versus Sarchimor - Siriema
Tabela 3 - Níveis de infecção pela ferrugem em materiais genéticos de café, cultivares ou seleções, desenvolvidas pelo ex-IBC e Fundação Procafé, com respectivos anos de seleção. Varginha MG, 2019 Materiais genéticos ou cultivares, com resistência à ferrugem Catucai Verm. 36/6 cvs 366 e 365, Azulão e Beija-flor Saíra, HK 29/74 Acauã e Acauã novo IBC - Palma I e II Sabiá 398 Katipó IBC 12 ou IAC 125 Japy ou Catucai 19/8 Arara Acauã cv 2 e 8 Catucai 785/15 Guará ou Catucai vermelho 20/15 cerrado Catucais amarelos 2 SL, 24/137 e 20/15 cv 479 Acauãma Araçari Asa Branca Siriema VC 4 e AS1
do. Outros ativos triazóis testados com resultados eficientes, porém sem ou com pequeno uso, são metconazole, fluquinconazole, diniconazole, difeniconazole e protioconazole. Os fungicidas triazóis, uns mais outros menos, têm efeito também hormonal, atuando como hormônios anti-giberelina, ou seja, podem agir reduzindo o crescimento dos cafeeiros, dependendo das doses usadas. Quando usados via foliar, devido às doses mais baixas e à menor absorção, raramente se constata qualquer efeito hormonal de triazóis sobre cafeeiros, a não ser em mudas muito novas. Nas aplicações via solo, entretanto, os triazóis, como o triadimenol, o cyproconazole e o flutriafol, promovem pequena redução no crescimento da parte aérea das plantas, principalmente em mudas e plantas jovens, com maior desenvolvimento no sistema radicular. Este efeito melhora o vigor e o enfolhamento dos cafeeiros e sua produtividade. Os fungicidas do grupo das estrobilurinas têm sido pesquisados para uso combinado com os triazóis, em programas para controle da ferrugem e cercosporiose do cafeeiro. Possuem ação contra a ferrugem, agem contra a cercosporiose e também ação paralela (intermediária) contra Phoma/Ascochyta. As estrobilurinas são mais usadas em formulações prontas com triazóis, sendo utilizadas em lavouras de café a azoxistrobina, a trifloxistrobina, a pyraclostrobina, a picoxistrobina, a metominostrobina e a cresoxin metílica.
Nível de infecção pela ferrugem em campo, em 2019 Muito baixo a nulo Muito baixo Nulo Muito baixo a nulo Baixo Nulo Nulo Muito baixo a nulo Nulo Nulo Muito baixo a nulo Baixo Medio a alto Nulo Nulo Nulo Muito baixo a nulo
CONTROLE GENÉTICO
O controle genético, com o uso de variedades resistentes, é o método mais econômico de controle de uma doença e, no caso da ferrugem do cafeeiro, um enorme volume de pesquisas vem sendo dedicado a desenvolver variedades de café que combinem boa resistência ou tolerância à doença, com adequadas características produtivas. Como resultado, no Brasil os melhoristas já obtiveram materiais genéticos com bom potencial de resistência e em condições de plantio comercial. Os trabalhos de melhoramento genético do cafeeiro para resistência à ferrugem tiveram início no Brasil, no IAC - Campinas na década de 1950, mesmo antes da constatação da ferrugem. A adoção das novas variedades desenvolvidas e lançadas nos últimos anos, com fatores de resistência à ferrugem, vem sendo realizada de forma gradual, observando seu comportamento agronômico e a própria evolução da resistência dos germoplasmas em relação às raças de ferrugem. Pode-se resumir a oferta de materiais genéticos, na forma de cultivares já registradas, com tolerância ou resistência á ferrugem do cafeeiro no Brasil, nos seguintes grupos, conforme a Tabela 2. Na indicação dessas variedades, para os novos plantios, em complemento ou em substituição às variedades suscetíveis (M. Novo, Catuai), deve-se observar o seu uso prioritário em condições de ambiente e de manejo, onde mais se adaptem e onde haja maiores dificulda-
Ano aproximado de inicio seleção ou lançamento 1985 1974 1978 1980 1980 1971 1978 1985 1985 2006 1988 1995 1985- 95 2012 2012 2010 2000
des para o controle químico, seja pelos sistemas de plantio, pela declividade ou pelo mais baixo nível tecnológico do cafeicultor. Os trabalhos de pesquisa mostram que os fungicidas e sistemas usados para o controle químico da ferrugem em materiais suscetíveis também trazem respostas positivas nos materiais com resistência. Esse efeito se mostra com um melhor enfolhamento e maior produtividade média dos cafeeiros. Tem sido verificado tanto com fungicidas protetores como sistêmicos, especialmente via solo, que agregam efeito tônico pela melhoria do sistema radicular das plantas. Apesar de haver certa perda de resistência à ferrugem em diversos materiais antes imunes à doença, parecem estar sendo atacados por raças menos virulentas, pois pesquisas demonstram que o controle químico nesses materiais fica facilitado. Na prática, tem sido observado que apesar de já terem sido constatadas no Brasil mais de 15 raças de H. vastarix, muitos materiais genéticos permanecem com boa tolerância à ferrugem, mesmo tendo mais de 30-40 anos desde seu desenvolvimento, conforme pode ser verificado na Tabela 3. Verifica-se que a resistência ou tolerância à ferrugem, em condições de campo, tem se mostrado C duradoura em muitos materiais.
José Braz Matiello, Fundação Procafé
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Plantas daninhas
Volatilidade medida Phytusclub
Dentre as preocupações com a chegada de cultivares comerciais de soja geneticamente modificadas tolerantes a dicamba está o temor de que aplicações do herbicida pudessem atingir plantas suscetíveis nas adjacências. Mas pesquisas recentes no Brasil mostram cenários seguros quanto a esses riscos
A
incorporação da tolerância a herbicidas através da biotecnologia em plantas cultivadas oferece novas alternativas para o controle de plantas daninhas, representando uma tecnologia importante dentro do cenário atual de aumento 18
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do número de plantas daninhas tolerantes ou resistentes aos herbicidas tradicionais. A introdução do gene de tolerância ao dicamba na cultura da soja diversificará as opções de herbicidas para o manejo de plantas daninhas de difícil controle, notadamente aquelas
que são tolerantes ou resistentes ao glifosato. Dentre as preocupações relacionadas à introdução de cultivares comerciais de soja geneticamente modificadas para serem tolerantes ao dicamba, destaca-se a possível exposição de plantas suscetíveis à deriva do herbicida em áreas adjacentes. A deriva é o movimento do produto para fora das áreas aplicadas pela ação de vários fatores, incluindo a deriva física por transporte de partículas e a deriva de vapor, ligada à volatilidade do ingrediente ativo aplicado. Por esta razão, novas formulações de dicamba e adjuvantes que reduzem a deriva e a volatilidade estão sendo desenvolvidos para reduzir esses riscos nas aplicações de dicamba em áreas adjacentes com plantas sensíveis a esse herbicida. O dicamba na forma ácida é caracterizado como um composto moderadamente volátil. O grau de volatilidade de dicamba depende de vários fatores, incluindo quantidade aplicada, temperatura atmosférica, umidade atmosférica, formulação química (tipo de sal) e superfície sobre a qual foi aplicado. Diversas pesquisas já mostraram reduções significativas na volatilidade do sal de dicamba diglicolamina (DGA), quando comparado ao sal de dimetilamina (DMA), conforme pode ser visto na Figura 1. Além disso, um composto que atua como redutor de volatilização está presente no adjuvante Xtend Protect (adjuvante redutor de deriva e volatilidade). O Xtend Protect foi desenvolvido especificamente para diminuir ainda mais o perfil de volatilidade do herbicida, conferindo maior segurança quanto ao risco da deriva por vapor. Pesquisas mostram que a volatilidade da formulação com sal DGA dicamba é muito menor que a da formulação com sal DMA, sendo que a tecnologia do adjuvante que contém o redutor de volatilidade reduz ainda mais a volatilidade quando presente na formulação com o sal DGA. Embora o efeito da volatilidade de diferentes sais de dicamba em soja tenha sido estudado por muitos pesquisadores, poucos estudos avaliaram o efeito de diferentes superfícies, como
solo e palha no processo de volatilidade, pois sabe-se que a quantidade de dicamba volatilizada pode variar de acordo com as características da superfície sobre a qual as gotas são depositadas. Com a maior adoção do sistema de plantio direto em soja, milho e algodão, e do sistema de dupla safra no Cerrado brasileiro (soja/milho), uma parte significativa do dicamba aplicado poderá ser depositada sobre a palha, e a interação do herbicida com a superfície da palha é diferente de quando se trata de solo ou superfície foliar. Este fato se torna ainda mais importante, pois nas áreas de Intacta 2 Xtend a recomendação de uso do dicamba é no pré-plantio ou até o dia do plantio da soja.
VOLATILIDADE EM FUNÇÃO DO TIPO DE SUPERFÍCIE E ADJUVANTE REDUTOR
Uma série de pesquisas coordenadas pelos frofessores Caio Carbonari e Edivaldo Velini foram desenvolvidas no Núcleo de Pesquisas Avançadas em Matologia (Nupam), da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp/Botucatu, com o objetivo de quantificar o potencial de volatilidade do dicamba sal DGA em aplicação isolada ou em mistura com glifosato sal potássico, com e sem redutor de volatilização, considerando diferentes superfícies. A combinação desses produtos foi aplicada em condição de laboratório sobre alvos representando três superfícies diferentes (palha de milho, solo arenoso seco e solo arenoso úmido), seguindo rigorosos protocolos científicos. Após as aplicações, os alvos foram posicionados em cartuchos contendo dois filtros em série. Os cartuchos foram colocados em um sistema de coleta de vapor que consistia em um forno cromatográfico com temperatura constante de 40°C acoplado a uma bomba de vácuo por 24 horas. Após esse período, amostras líquidas foram obtidas a partir de um procedimento de extração de filtros e superfícies, que corresponderam às porções volatilizadas e depositadas dos herbicidas, respectivamente. As amostras foram analisadas por cromatografia líquida e espectrometria de massa (LC-MS/MS). Os resultados desse trabalho mostraram que a interação entre superfícies e tratamentos com herbicida foi significativa, sendo que a quantidade de dicamba volatilizado foi significativamente influenciada pelo tipo de superfície. Isso ocorreu devido às diferenças nas propriedades físicas e químicas das superfícies em que o dicamba foi aplicado, pois o herbicida pode interagir com íons em superfícies e ser absorvido ou adsorvido. Quando os tratamentos com herbicida foram aplicados sobre a palha (Figura 2), não foram observadas diferenças entre o dicamba sal DGA aplicado de maneira isolada ou em mistura com glifosato sal potássico. A adição do redutor de volatilidade às caldas pulverizadas reduziu a quantidade de dicamba volatilizado em até 96% e 88%, respectivamente, para as caldas com dicamba DGA isolado e em mistura com o glifosato sal potássico. O solo seco foi a única superfície para a qual a adição de glifosato na solução resultou em aumento da volatilidade do dicamba quando comparada ao dicamba sal DGA isolado (Figura 2). No entanto, a adição de redutor de volatilidade na
solução diminuiu significativamente a quantidade de volatilização de dicamba, independentemente do tratamento com herbicida. No solo úmido, maiores concentrações de dicamba volatilizado foram detectadas no tratamento com dicamba sal DGA isolado (Figura 2). Isso pode ter ocorrido devido à alta solubilidade da dicamba em água (400.000mg/L) juntamente com sua baixa afinidade com a fase sólida do solo (Koc = 2). A adição de glifosato sal potássico diminuiu significativamente a quantidade de dicamba volatilizado (redução de 52,5%), e a inclusão do redutor de volatilidade reduziu ainda mais a volatilidade de dicamba em comparação com as soluções de herbicida sem redutor de volatilidade. O redutor de volatilidade foi desenvolvido para diminuir a perda de massa dicamba via volatilização, eliminando íons H+ livres na calda de pulverização de dicamba, de maneira que a volatilidade do dicamba sal de DGA que já é muito menor do que a da formulação DMA, seja ainda mais reduzida. Em resumo, os resultados dessa pesquisa mostraram que a superfície tratada exerceu influência direta sobre a quantidade de dicamba volatilizado, mas a palha, principal alvo no Brasil em função do plantio direto, foi a superfície a partir da qual foram observados menores níveis de volatilidade, especialmente na presença do redutor de volatilidade. O dicamba sal DGA aplicado isoladamente apresentou o maior nível de volatilidade quando aplicado em solo úmido e o menor nível de volatilidade em solo seco e palha. O dicamba sal DGA em mistura com o glifosato sal potássico teve volatilidades semelhantes em solo seco, solo úmido e palha. O adjuvante redutor de volatilidade quando utilizado na mistura em tanque foi eficaz na redução da volatilização do dicamba sal DGA, independentemente da superfície pulverizada e da mistura com o glifosato, tornando a aplicação de dicamba mais segura do ponto de vista da volatilização.
ENSAIOS A CAMPO AVALIAM VOLATILIDADE EM LARGA ESCALA
Outro projeto de pesquisa foi realizado pela equipe do Laboratório de Máquinas para Pulverização do Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus Agroflorestais (Nempa), da FCA/Unesp Figura 1 - Quantidades de dicamba volatilizadas para a aplicação das formulações de dicamba sal DMA e DGA. Fonte: Carbonari e Velini, 2020
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Figura 2 - Quantidades de dicamba volatilizado após aplicação de DGA isolado e em mistura com glifosato e redutor de volatilização (VG) em vidro, palha, solo seco e solo úmido. DGA = dicamba na formulação do sal de diglicolamina; GK = glifosato na formulação de sal de potássio. Fonte: Carbonari, C.A. et al. (2020)
a Universidade de Nebraska-Lincoln/ EUA. O objetivo específico do trabalho foi de gerar dados para a modelagem matemática da volatilidade de dicamba em condições reais de aplicação a campo. Os modelos que descrevem volatilidade a campo foram introduzidos nas décadas de 1980 e 1990, seguindo demandas regulatórias impostas
Bayer
AgroEfetiva
- Botucatu/São Paulo, sob a coordenação do professor Ulisses Antuniassi, tendo como objetivo geral o melhor entendimento do processo de volatilidade de dicamba em situação de larga escala, ou seja, em condições normais de plantio em grandes áreas. Este trabalho foi operacionalizado a campo pela empresa de pesquisas AgroEfetiva (Botucatu/São Paulo) em parceria com
pelos órgãos ambientais dos diferentes países ao redor do mundo. A linha de pesquisa utilizada pela AgroEfetiva no Brasil segue os mesmos padrões regulatórios dos Estados Unidos, com premissas propostas pela Bayer e aceitas pelo EPA (Agência Ambiental Norte-Americana, órgão equivalente ao Ibama no Brasil). A base metodológica foi apresentada em artigo científico publicado por Riter et al. em 2020. De acordo com o método, modelos como o IHF (do inglês Integrated Horizontal Flux, ou Fluxo Horizontal Integrado) e o AD (Aerodinamic, ou Aerodinâmico) são utilizados para estimar a perda de massa cumulativa de dicamba ao longo do tempo após as aplicações. Esses dados das perdas são, posteriormente, utilizados para outra modelagem, que avalia o padrão de dispersão do ativo na atmosfera, o que permite avaliar o risco de intoxicação de plantas sensíveis. A geração de dados para estas modelagens depende de uma logística coordenada de coleta de amostras e de métodos analíticos robustos. Por esta razão, a pesquisa foi realizada de maneira sequencial, com ensaios em todas as safras desde 2018. Para a modelagem da volatilidade, dados meteorológicos foram coletados ao longo do tempo após as aplicações, em diferentes alturas e posições no talhão aplicado, assim como amostras de ar foram coletadas utilizando-se dispositivos desenvolvidos especificamente
Figura 3 - Coletores de ar e estação meteorológica utilizados na pesquisa a campo para avaliação da volatilização do dicamba
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Figura 4 - Vista aérea de uma das áreas de 4ha que receberam a aplicação do dicamba, 36 dias após a aplicação do herbicida
para este trabalho, dentro e fora da área aplicada (Figura 3). Em cada safra, um talhão de quatro hectares, que havia sido semeado com soja não tolerante ao dicamba, recebeu a aplicação de dicamba sal DGA em mistura com glifosato sal potássico. O adjuvante redutor de volatilidade e de deriva foi incluído na mistura seguindo o protocolo experimental de cada área. As aplicações foram realizadas com pulverizadores autopropelidos em velocidades normais de campo (18km/h a 20km/h), utilizando as pontas TTI 11004 (Teejet) na pressão de 2,8bar (40psi). O volume de calda foi de 100L/ha e a barra do pulverizador foi mantida na altura máxima de 0,5m, seguindo recomendação da bula do dicamba. Após as aplicações, as amostras de ar contendo o dicamba que eventualmente se volatilizou foram coletadas continuamente, no intervalo de 30 minutos após o término das aplicações até mais de 70 horas depois, de acordo com o protocolo de cada área. Estas amostras foram submetidas a um rigoroso processo de preparação e posterior análise quantitativa, através da cromatografia líquida e espectrometria de massas (LCMS-MS), em processo analítico coordenado pelo professor Caio Carbonari, utilizando as estruturas laboratoriais do Nupam (FCA/Unesp) e da SGS Brasil. A Figura
4 apresenta a vista aérea de uma das áreas de 4ha que receberam a aplicação do dicamba, 36 dias após a aplicação do herbicida. Observa-se nas áreas de entorno mais próximas da região aplicada que não houve dano visível significativo na soja fora da área que recebeu o herbicida. Os resultados mostraram que o fluxo de dicamba emitido por volatilidade em todas as safras avaliadas foi igual ou menor com relação aos resultados obtidos em ensaios similares realizados nos Estados Unidos. Segundo o artigo publicado por Riter et al. (2020), a emissão média encontrada nos Estados Unidos foi de 0,2% ± 0,05%. A Figura 6 apresenta um exemplo baseado nos dados obtidos no ensaio da safra de 2018. Observa-se que o fluxo de emissão de dicamba por volatilidade é maior nas primeiras horas após a aplicação, mas esse fluxo decai rapidamente antes de se completarem 24 horas desde a aplicação, seguindo com um valor de fluxo bastante reduzido até o final do ensaio. A Figura 6 mostra o valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo, considerando-se este talhão de 2018 (representado aqui pelo % da dose aplicada). Observa-se que em todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose
Figura 5 - Fluxo de emissão de dicamba por volatilidade em função do tempo decorrido após a aplicação: o fluxo é maior nas primeiras horas, mas decai rapidamente antes de se completarem 24 horas desde a aplicação. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
aplicada para este talhão. Os dados coletados nestas pesquisas estão sendo continuamente modelados para a análise de comportamento da emissão do dicamba por volatilidade, mas os resultados já são conclusivos ao mostrarem cenários seguros quanto aos riscos relativos a esta volatilidade, visto que o valor das emissões é reduzido e menor que aqueles obtidos nos Estados Unidos. A pesquisa segue atualmente para a modelagem desses dados na descrição de sua dispersão na atmosfera. Todos os dados gerados neste projeto estão sendo usados para fundamentar os parâmetros técnicos de utilização do herbicida (bula do produto) e foram considerados para definir os critérios de recomendação da Bayer quanto aos 10 Passos de Manejo Inteligente C de dicamba.
Ulisses R. Antuniassi, Caio A. Carbonari e Edivaldo D. Velini, Unesp/Botucatu Alisson A. B. Mota, Rodolfo G. Chechetto e Fernando K. Carvalho, AgroEfetiva Ramiro F. L. Ovejero, Matheus Palhano e Henrique N. Barbosa, Bayer
Figura 6 - Valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo. Durante todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose aplicada. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
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Capa
Bem posicionadas Quando o assunto é alta produtividade, o adequado posicionamento de cultivares torna-se indispensável para garantir o sucesso da lavoura de grãos
O
Brasil tem sido referência na agricultura em nível mundial, o que pode ser confirmado pelo recorde de crescimento da safra de grãos 2020/2021, estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 272,3 milhões de toneladas. Esse aumento significativo da produção é resultado da utilização de tecnologias no cultivo e também devido aos avanços genéticos e biotecnológicos que permitem o desenvolvimento de um número significativo de cultivares, o que possibilita o cultivo em diversas regiões do País. Nesse sentido, os cuidados a serem considerados na produção agrícola, desde a escolha da cultivar até a colheita, têm por objetivo garantir altas produtividades e a sustentabilidade do sistema de produção. A escolha e o posicionamento de cultivares são extremamente importantes, pois refletem diretamente no sucesso de uma lavoura. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estima-se que a cultivar seja responsável por 50% da produtividade final. Essa importância se dá principalmente pelo fato de o Brasil ser um país com dimensão continental e possuir diversidade de clima e solo, consequentemente, os cultivos são realizados nas mais diversas condições edafoclimáticas. E por isso, o correto posicionamento, ou seja, o direcionamento adequado das cultivares para as regiões nas quais são adaptadas, é muito importante. A escolha da cultivar é função do agricultor e do responsável técnico que o assiste. Neste contexto é necessário considerar, principalmente: a seleção de cultivares com mais aptidão, consi-
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derando a região de cultivo e o sistema de produção nos quais a lavoura será implantada; o manejo adequado da lavoura levando-se em consideração o nível tecnológico adotado pelo agricultor, de forma que a cultivar selecionada expresse o máximo potencial produtivo.
AS CULTIVARES
Desde os primórdios da agricultura, os agricultores perceberam que a semente era importante para o sucesso da lavoura e atualmente há consenso entre profissionais que atuam na área de Ciências Agrárias de que as sementes constituem o principal insumo da agricultura, tornando-as mais valoradas. Nesse sentido, por meio de programas de melhoramento, tem sido desenvolvidas cultivares que atendem às demandas dos agricultores e do mercado de sementes. O desenvolvimento de uma cultivar é um processo complexo que requer bom planejamento. Além disso, envolve várias áreas do conhecimento e, portanto, um grande número de pessoas, o que exige o trabalho em equipe. É um processo demorado. São necessários milhares de cruzamentos em vários ciclos da cultura, o que consequentemente demanda muitas horas de pesquisa. Em média são necessários dez ciclos para o desenvolvimento de uma cultivar, considerando as grandes culturas. Além disso, muitas vezes o custo para o desenvolvimento de cultivares é alto. Para o lançamento de uma cultivar transgênica, por exemplo, são gastos centenas de milhões de reais, praticamente o dobro do valor para o lançamento de uma cultivar convencional.
Devido aos avanços científicos e tecnológicos já são oferecidas cultivares tolerantes a herbicidas, resistentes a pragas e doenças, com diferentes ciclos, entre outras. Além dessas, cultivares com tolerância à seca devem ser disponibilizadas como alternativa para estiagens cada vez mais frequentes. Assim, existe no mercado um grande número de cultivares, o que possibilita que o agricultor escolha as mais adequadas para atender às suas demandas e objetivos. Cada vez mais o agricultor tem acesso fácil às informações e por isso torna-se mais exigente. Sabe-se que a assistência técnica ou extensão rural tem papel fundamental para o auxílio na tomada de decisão em relação à escolha da cultivar, na qual a realidade de cada agricultor deve ser considerada.
O QUE CONSIDERAR NO MOMENTO DA ESCOLHA
A escolha da cultivar é uma tarefa complexa e que envolve muitos fatores, uma vez que a decisão errada pode ser a responsável pelo insucesso da lavoura. Por isso é essencial que se considere o máximo de informações no momento dessa escolha baseando-se nos conhecimentos e experiências do produtor rural, dos profissionais das empresas produtoras de sementes, da assistência técnica e da pesquisa, além do histórico
de safras anteriores.
Danielle Rezende Vilela
ADAPTAÇÃO À REGIÃO
Características de clima, relevo, solo, altitude, ventos, precipitação, temperatura, características físicas e fertilidade do solo, entre outros, devem ser consideradas na escolha da cultivar. Nesse sentido, para garantir altas produtividades, a utilização de cultivares recomendadas conforme o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da cultura para cada região do País é essencial para minimizar riscos advindos de condições climáticas adversas. O zoneamento possibilita o correto posicionamento das cultivares já existentes no mercado, uma vez que é possível identificar a melhor época de semeadura nos diferentes tipos de solo e de clima e as características das cultivares. As informações referentes ao zoneamento são publicadas por meio de portarias que podem ser encontradas no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para a verificação da adaptabilidade da cultivar para cada região são realizados experimentos em diferentes locais para avaliar o desempenho agronômico das cultivares. Esses ensaios são chamados de Valor de Cultivo e Uso (VCU).
PRODUTIVIDADE E ESTABILIDADE
Para a grande maioria dos agriculto-
A produtividade sustentável passa por boas cultivares
res o fator primordial quando da escolha das cultivares é a produtividade, e é um dos fatores que mais influenciam no momento da escolha. No entanto, a estabilidade da produção também merece atenção. As cultivares escolhidas além de serem produtivas, devem manter suas produções ao longo dos anos em uma determinada região, respondendo de forma positiva em anos com condições favoráveis, e não tendo grande oscilação de produção em anos com condições desfavoráveis. Wenderson Araujo Sistema CNA
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Rafaela Carvalho
NÍVEL DE TECNOLOGIA A SER ADOTADO
Para que as cultivares expressem seus máximos potenciais genéticos, devem ser escolhidas levando-se em consideração o nível tecnológico a ser adotado pelo agricultor e os métodos de manejo disponíveis e utilizados em cada situação. Em propriedades mais tecnificadas em que são utilizadas as técnicas recomendadas para cada cultura, devem ser adotadas cultivares que necessitam e respondam a essa alta tecnologia de manejo.
SEMENTE DE QUALIDADE
Para a escolha da cultivar na cultura da soja são considerados os grupos de maturação
Conhecer o ciclo das cultivares é indispensável no momento da escolha, pois refere-se ao tempo que a cultura ficará na área. Atualmente, devido à expressividade de cultivo de segunda safra, tem-se preferência por cultivares precoces que completem seu ciclo em menor tempo e que igualmente garantam altas produtividades. Essas cultivares possibilitam a liberação da área mais cedo, o que é importante em especial devido à preocupação com a oferta de chuvas que normalmente é menor no período da segunda safra.
Um dos fatores mais importantes para se obter uma lavoura de qualidade e com alta produtividade é iniciar bem o seu estabelecimento. Isso é possível pelo uso de sementes de alta qualidade. A utilização de sementes de elevada qualidade é extremamente importante, pois garante a emergência rápida e uniforme de plantas, conferindo o estande
Danielle Rezende Vilela e Édila Vilela de Resende Von Pinho, Universidade Federal de Lavras/MG
Danielle Rezende Vilela
CICLOS
final adequado, que é um fator indispensável para alcançar altas produtividades. Por meio de pesquisas tem sido observado que a utilização de sementes de soja com alto vigor propicia incrementos na produtividade que variam de 9% a 30%. E isso representa de 0,3 tonelada a uma tonelada a mais por hectare, respectivamente. Esse aumento de rendimento também ocorre nas lavouras de trigo, sendo observados acréscimos de até 11% quando da utilização de sementes com alta qualidade. Assim, a utilização de sementes com alta qualidade deve ser uma prioridade do agricultor. Sabe-se que as sementes são o principal insumo da agricultura por serem veículo de toda tecnologia gerada por meio de pesquisas e melhoramento genético e com isso são responsáveis por levar ao agricultor as características C de cada cultivar.
GRUPOS DE MATURAÇÃO
Para a escolha da cultivar na cultura da soja são considerados os grupos de maturação nos quais as cultivares estão inseridas. Esses grupos representam a duração do ciclo de desenvolvimento das plantas de soja e são distribuídos em função da latitude, sendo classificados em uma numeração que varia de 0 (mais ao Sul do Brasil) a 10 (mais ao Norte). Algumas cultivares de soja são sensíveis ao fotoperíodo e, portanto, devem ser escolhidas dentro do grupo de maturação recomendado para a região, pois quando se utilizam cultivares não recomendadas, o ciclo pode ser aumentado ou diminuído quando se desloca para Sul ou Norte (quando se varia a latitude) ou quando são cultivadas em diferentes épocas do ano, fatores esses que podem reduzir a produtividade.
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Sementes de qualidade são essenciais em culturas como o trigo
Soja
Giovana Natali Simon
Frequentes e nocivos
Percevejos são insetos agressivos capazes de tirar o sossego de produtores de sementes e de grãos de soja. O manejo integrado desta praga exige muito critério na identificação das espécies, no monitoramento e na tomada de decisão quanto a medidas racionais e eficientes de controle
A
soja é uma das principais culturas produzidas no Brasil. Durante todo o seu desenvolvimento a produção pode ser prejudicada devido a inúmeros fatores, como a presença de insetos-praga. Destaca-se a presença de muitas espécies de percevejos. Com isso, é imprescíndivel a correta identificação das principais espécies destes insetos e que suas principais características de crescimento e desenvolvimento sejam conhecidas para que as medidas adotadas sejam corretas, com o objetivo de realizar o controle de forma adequada. Os percevejos, pertencentes à ordem
Hemiptera, subordem Heteroptera, possuem aproximadamente 40 mil espécies descritas (Gullan et al., 2019). No Rio Grande do Sul, pode-se encontrar mais de 20 espécies capazes de causar danos à cultura da soja. Destacam-se atualmente Edessa meditabunda, Diceraeus melacanthus e D. furcatus. A soja começa a ser colonizada pelos percevejos quando se encontra no final do período vegetativo (V6-V8) e início do reprodutivo (R1). Os períodos de frutificação e de enchimento de grãos são as fases mais sensíveis ao dano, que pode ser identificado visualmente, devido à ação do aparelho bucal sugador do inse-
to, que torna o grão enrugado ou choco. Percevejos também servem de vetores para doenças. Possui desenvolvimento paurometábolico, apresentando cinco ecdises até alcançar a forma adulta. Nas duas primeiras ecdises se caracterizam como ápteros, após, desenvolvem asas. Quando adultos, apresentam ganho de um tarso a mais nas pernas, somando três. O tempo para atingir a fase adulta é em torno de 25 dias. A cópula começa em dez dias e as primeiras deposições ocorrem após 13 dias. O tempo de vida se dá em torno de 50 dias a 120 dias, possuindo de três gerações a seis gerações.
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Fotos Giovana Natali Simon
aspecto de hexágono, atingindo de 100 ovos a 200 ovos. Próximo à eclosão, a coloração dos ovos se altera, tendo aspecto rosado com manchas vermelhas. Seu ciclo perdura em torno de 60 dias.
DICERAEUS
Percevejos passam por fases, como ovos e ninfas, até atingirem a forma adulta em aproximadamente 25 dias
Fatores como espécie, dieta e temperatura podem influenciar a quantidade de ovos depositada.
EUSCHISTUS HEROS
No Brasil o percevejo-marrom é uma das principais pragas para a cultura da soja. Sua identificação é fácil, pois suas características morfológicas não sofrem mudanças bruscas durante seu desenvolvimento. Segundo Gallo et al. (2002), as ninfas, ao eclodirem, apresentam uma coloração amarelada, podendo variar com o tempo. Observa-se no dorso uma coloração preta com manchas brancas. Em geral, as ninfas apresentam de 1mm a 3mm de comprimento. Até o segundo instar, vivem agrupados e, ao atingirem o terceiro instar, iniciam a dispersão em busca do alimento, começando, assim, a causar danos na cultura. Ao tornarem-se adultos, seu tamanho varia de 10mm a 11mm, com coloração marrom, apresentando, ao lado do protórax, dois espinhos laterais salientes com tonalidade preta, sendo uma característica marcante desta espécie. A oviposição ocorre nas folhas ou vagens, observando-se de cinco a oito ovos em fileira dupla e amarelados. Apresentam um ciclo de vida relativamente alto, em torno de 109 dias a 116 dias. O ciclo de vida varia conforme a alimentação, a temperatura, o sexo e a atividade sexual. 26
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NEZARA VIRIDULA
O percevejo Nezara viridula, conhecido popularmente como percevejo-verde, representa grande ameaça a diversas culturas agrícolas. No Brasil é mais frequente na região Sul, pois as temperaturas são mais amenas. Esses insetos, ao eclodirem, apresentam de 1mm a 1,3mm de comprimento, onde permanecem por cerca de três dias no primeiro instar. No presente instar a coloração apresentada é alaranjada, com tons castanhos e manchas brancas no dorso, permanecendo agrupados em seus primeiros instares com características de danos poucos expressivos. No segundo instar a coloração é semelhante à do primeiro, porém, o tamanho se altera, apresentando 3,1mm. Ao atingirem o terceiro instar, o dano se acentua, devido ao desenvolvimento morfológico do inseto e o início da alimentação de grãos da cultura. O dano é crescente até atingir o último instar. Degrande et al. (2012) destaca que a partir do quarto instar a coloração torna-se verde, com pontuações amarelas e vermelhas em cima do dorso. Ao atingirem a fase adulta seu tamanho varia entre 13mm e 17mm, apresentando coloração verde. Na face ventral a tonalidade é verde-claro. Possui o último segmento das antenas vermelho. Os ovos apresentam coloração verde e são depositados na face inferior das folhas, com disposição em grupos e com
Até há pouco tempo, os percevejos barriga-verde pertenciam ao genero Dichelops, porém houve uma reclassificação e Diceraeus foi elevado a gênero e, como consequência, a nomenclatura das espécies em questão passou a ser Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus Dallas (Sociedade Entomológica do Brasil, 2020). Existem duas espécies de percevejo denominadas barriga-verde, sendo que ambas apresentam características semelhantes entre si. D. Furcatus e D. melacanthus são cosmopolitas. As duas ninfas apresentam coloração marrom ou castanho, com o abdômen mais claro, em tonalidades de verde. Com o desenvolvimento, características se alteram, porém, continuam semelhantes. Os adultos medem entre 9mm e 11mm de comprimento. A coloração geral de ambos são parecidas, porém, D.melacanthus possui os espinhos mais escuros em relação à cabeça. Para Gallo et al. (2002), quando a fêmea realiza a deposição, os ovos de ambas as espécies apresentam coloração verde e são encontrados nas folhas e nas vagens, em grupos. O número de ovos depositados pode totalizar 14. Os percevejos destas espécies, no processo de alimentação, sugam os fotoassimilados de partes da planta, além de serem vetores para doenças. Se o dano é causado diretamente nas vagens, reduz o peso dos grãos e estes apresentam aspecto de chochos ou com manchas.
EDESSA MEDITABUNDA
Segundo Borges (2019), E. meditabunda é neotropical, polífago, popularmente conhecido como percevejo asa-preta e na cultura da soja é considerado praga secundária, pois a população geralmente é baixa. Ao se tornam adultos, podem medir de 10mm a 13mm. A cabeça, o pronoto e os escutelos apresentam coloração verde, porém as asas são pretas. Os ovos são de coloração verde
A soja começa a ser colonizada pelos percevejos quando se encontra no final do período vegetativo e início do reprodutivo
e depositados em fileiras duplas, geralmente nas folhas. Em geral, as fêmeas depositam cerca de 14 ovos e as ninfas, ao eclodirem, apresentam coloração verde com tons de amarelo. Seus danos na cultura não são tão expressivos quando comparados aos demais percevejos, porém, podem sugar fotoassimilados dos caules, causando um aspecto enegrecido. O ciclo total dos adultos é de 30 dias a 40 dias.
batida. Quando o número atingir este limite, deve-se intervir com defensivos químicos. Ressalta-se que na adoção do manejo químico deve-se elaborar um cronograma de rotação de mecanismos de ação (receptores nicotínicos da acetilcolina, moduladores de canais de sódio etc.) e grupos químicos (piretroides, neonicotinoides, organofosforados etc.) dos defensivos, evitando o surgimento de resistência e garantindo maior eficiência do inseticida ao longo dos anos. Importante ressaltar que devem ser observados critérios técnicos na hora de realizar a aplicação, respeitando sempre a bula dos defensivos, não ultrapassar a quantidade indicada, tomar cuidado com a formulação da calda, principalmente quando misturada em conjunto com outros grupos de defen-
sivos (fungicidas por exemplo), estar atento ao horário de aplicação e levar em consideração fatores climáticos quando realizar a aplicação. É de suma importância que o pulverizador esteja calibrado e regulado para melhor eficiência de aplicação, garantindo que o defensivo chegue no alvo. Lembrar sempre de aplicar somente quando o inseto atingiu o nível de dano econômico e em caso de dúvidas consultar o engenheiro agrônomo responsável. C
Lucas Scholze Tramontini, Giovana Natali Simon, Jardel Henrique Kirchner e Bruna Dalcin Pimenta, IFRS - Campus Ibirubá (RS)
FORMAS DE CONTROLE
Os danos causados pelos percevejos são vários, afetando diretamente os grãos e as sementes. A incidência destes insetos tende a ocorrer em maior densidade, em estádios de desenvolvimento mais avançados da cultura, como em florescimento e desenvolvimento das vagens. Nesta fase podem levar ao abortamento do canivetinho, a problemas fisiológicos nas plantas e também provocam danos diretos aos grãos ou às sementes. Desta forma, a utilização de programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é imprescindível para o sucesso da lavoura. Utiliza-se o método de coleta, principalmente pano de batida vertical, adotado com o intuito de quantificar e realizar a intervenção com defensivos químicos, somente quando necessário. Para áreas produtoras de sementes recomenda-se intervir quando a praga atingir o valor de um percevejo por pano de batida. Já para áreas produtoras de grãos, dois percevejos por pano de
Em geral as ninfas apresentam tamanho de 1mm a 3mm de comprimento
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Soja
Fotos Edivan José Possamai
Perigo monitorado Uso de coletores de esporos no manejo integrado de doenças como a ferrugemasiática em soja tem ajudado na adoção do controle no momento correto, de forma mais racional, efetiva e econômica
A
ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é a doença que mais gera preocupação para o produtor rural, porque pode causar perdas significativas de produtividade se não for manejada adequadamente. O IDR-Paraná, por meio do Programa Grãos Sustentáveis, tem realizado, dentre outras ações, o Manejo Integrado de Doenças da Soja (MID-Soja) junto a agricultores assistidos. Esse trabalho vem sendo realizado em parceria com a Embrapa Soja, a Universidade Tecnológica Federal de Paraná (UTFPR), o Senar-PR e outras instituições. Utilizando coletores de esporos para monitorar o fungo causador da ferrugem-asiática, como ferramenta para auxiliar na tomada de decisão sobre a aplicação de fungicidas, para controle da doença, o MID-Soja tem apresentado resultados importantes no tocante à sustentabilidade do sistema de produção de soja e ao produtor rural, ao possibilitar o controle químico da ferrugem-asiática de maneira racional e econômica. A principal dificuldade de realizar o controle da ferrugem-asiática é a identificação da doença, uma vez que os primeiros sintomas são de difícil visualização (requer lupa) e o fungo apresenta rápida disseminação pelo vento. Aplicações de fungicidas realizadas após o estabelecimento da doença no campo podem ter sua eficiência de controle comprometida. Nesse contexto, o monitoramento da presença de esporos no ambiente de cultivo adquire grande importância por possibilitar a tomada de decisão sobre a aplicação de fungicidas, evitando aplicações antecipadas e/ou calendarizadas sem critério técnico. Esse monitoramento, feito com auxílio de coletores de esporos, permite informar se há presença de esporos de P. pachyrhizi no ambiente antes do desenvolvimento dos sintomas nas plantas. O coletor de esporos é um equipamento no formato de biruta que gira em seu próprio eixo, conforme o direcionamento do vento, podendo ser construído em metal ou PVC, de modo que o ar passe por dentro do equipamento. Os esporos que porventura estejam flutuando no ar são aderidos em uma fita adesiva de face dupla colada em uma lâmina de microscopia, a qual é acoplada no interior do coletor. Semanalmente são realizadas a troca e a leitura dessa lâmina com auxílio de microscópio óptico, verificando a presença ou a ausência de esporos de P. pachyrhizi. Mais informações sobre tais coletores de esporos podem ser obtidas em http://www.infoteca.cnptia. embrapa.br/infoteca/handle/doc/1129482.
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Figura 1 - Mapa do Paraná do Alerta Ferrugem. Localização e data de detecção de esporos de Phakopsora pachyrhizi nos coletores de esporos no estado, safra 2020/2021
Desde o início dos anos 2000, o Instituto Emater (atualmente IDR-Paraná) vem realizando o monitoramento do fungo causador da ferrugem-asiática da soja em lavouras de produtores assistidos. A partir da safra 2016/2017, os resultados do MID-Soja têm sido organizados e publicados em parceria com a Embrapa Soja. E, desde a safra 2018/2019, o IDR-Paraná passou a disponibilizar os dados dos coletores em uma plataforma com geolocalização, o Alerta Ferrugem (http://idr.mapas. pr.gov.br/#/ferrugem), que possibilitou a análise dos dados no formato de rede: local, regional e estadual (Figura 1). Além do Alerta Ferrugem, essas informações estão disponíveis no site do Consórcio Antiferrugem (http://www. consorcioantiferrugem.net/#/main). Importante ressaltar que o coletor é uma ferramenta para auxiliar na tomada de decisão quanto à aplicação de fungicidas. Outros critérios como clima, previsão de tempo, estádio da cultura, inspeção foliar e incidência de outras doenças devem ser levados em conta nessa tomada de decisão. Nas áreas monitoradas a incidência de outras doenças pode justificar a aplicação de fungicidas mesmo antes de aplicações para controle da ferru-
Esporos de Phakopsora pachyrhizi em microscópio óptico. Na primeira foto esporo observado em lâmina do coletor, na segunda foto esporos obtidos de folhas com sintomas coletadas em casa de vegetação
gem-asiática. As mais comuns são o oídio, em regiões com temperaturas amenas, e a mancha-alvo, em regiões com temperaturas mais elevadas. Lembrando que, muitas vezes, os produtos utilizados para controle dessas doenças também apresentam efeito no controle da ferrugem-asiática. Os resultados obtidos desde a safra 2016/2017 estão publicados nas Circulares Técnicas 134, 141, 150 e 164 da Embrapa Soja. Além desses resultados, são obtidas informações junto a produtores não assistidos pelo programa, para fins de comparação. Os produtores assistidos com o MID-Soja tiveram uma redução de 33% no número de aplicações de fungicidas em comparação com lavouras de produtores não
assistidos. A média, em quatro safras, foi de 2,4 aplicações nas lavouras não assistidas, enquanto no MID-Soja foi de 1,6 aplicação - sem afetar a produtividade da soja (Tabela 1). Essa redução no número aplicações de fungicidas, com a manutenção da produtividade, se deve ao fato de que os produtores assistidos pelo programa conseguem posicionar melhor as aplicações. A primeira aplicação ocorreu, em média, nessas quatro safras analisadas, aos 71 dias após a emergência (DAE) da soja, enquanto produtores não assistidos realizaram essa primeira aplicação aos 56 DAE. A produtividade média obtida pelos produtores assistidos foi de 60,3 sacos/ ha no período analisado, enquanto os
Coletores podem ser construídos com materiais como metal ou PVC
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produtores não assistidos obtiveram produtividade média de 59,2 sacos/ ha (Tabela 1). De maneira geral, o momento da primeira aplicação varia em função da data da detecção dos primeiros esporos nas regiões e no estado do Paraná como um todo. Na Tabela 2 é possível verificar que na safra 2016/2017 os primeiros esporos de foram identificados em 25 de novembro (região Noroeste); na safra 2017/2018 os primeiros esporos foram identificados em 1º de dezembro (região Oeste); na safra 2018/2019 a primeira detecção ocorreu em 18 de outubro (região Oeste); na safra 2019/2020 os primeiros esporos foram identificados em 18 de novembro (região Sudoeste) e nesta última safra 2020/2021 os primeiros esporos foram identificados em 11 de dezembro nos municípios de Londrina, Rolândia e Tamarana (região Norte). Essa variação, na verdade, não tem maiores implicações no MID-Soja, já que o fungo está sendo monitorado e o controle poderá ser feito no momento correto, independentemente da data de detecção do mesmo. A utilização de coletores de esporos
Equipamento no formato de biruta gira em seu próprio eixo, conforme o direcionamento do vento
permite a determinação do momento da aplicação dos fungicidas com critérios técnicos sem que haja perdas de produtividade, evidenciando que não é necessária a antecipação das aplicações de fungicidas. A rede de coletores de esporos mantida pelo IDR-Paraná conta atualmente com mais de 200 coletores distribuídos nas principais regiões pro-
dutoras de soja do Paraná. Outras instituições, em outros estados, vêm iniciando trabalhos semelhantes, como é o caso da Epagri, em Santa Catarina; Emater-RS e Embrapa Clima Temperado, no Rio Grande do Sul; Fundação Bahia e Embrapa Algodão, na Bahia; Associação Comercial e Empresarial de São José do Rio Preto (Acirp) e Centro Universitário de São José do Rio Preto (Unirp), em São Paulo; Fundação Chapadão, no Mato Grosso do Sul, além de empresas privadas, a exemplo da Siga Consultoria Agrícola e Precisa Agricultura de Precisão, dentre outras. O monitoramento de esporos de P. pachyrhizi tem permitido a tomada de decisão sobre o controle químico da ferrugem-asiática de forma racional e econômica, mantendo a produtividade das lavouras e gerando maior rentabilidade ao produtor rural C paranaense. Anderson Luis Heling, Gustavo Migliorini de Oliveira e Edivan José Possamai, IDR-Paraná Claudine Dinali Santos Seixas, Embrapa Soja
Fotos Edivan José Possamai
Tabela 1 - Número de aplicações de fungicidas, dias após a emergência (DAE) até a 1ª aplicação de fungicida e produtividade média (sc/ha) para as safras 2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, em lavouras assistidas e em lavouras não assistidas pelo Programa MID-Soja (PR) Safras 2016/20173 2017/20184 2018/20195 2019/20204 Média
Número de Aplicações1 DAE até a 1ª aplicação1 MID-Soja PR2 MID-Soja PR2 1,5 2,4 75 57 1,7 2,5 78 56 1,4 2,1 64 55 1,7 2,6 66 55 1,6 2,4 71 56
Produtividade1(sc/ha) MID-Soja PR2 64,8 64,3 61,7 60,5 50,0 48,7 64,7 63,4 60,3 59,2
¹Média ponderada; 2Dados obtidos por meio de questionários aplicados a produtores não assistidos pelo Programa MID-Soja;
Tabela 2 - Data da primeira detecção de esporos de Phakopsora pachyrhizi por macrorregião do estado do Paraná nas safras 2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020 Macrorregião Noroeste Norte Oeste Sudoeste Sul
Coletor de esporos instalado em lavoura de soja
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2016/2017 25/nov 14/dez 02/dez 02/dez 28/dez
2017/2018 08/dez 05/dez 01/dez 04/dez 22/dez
Safras 2018/2019 06/nov 19/nov 18/out 31/out 14/dez
2019/2020 29/nov 29/nov 29/nov 18/nov 10/dez
¹Média ponderada; 2Dados obtidos por meio de questionários aplicados a produtores não assistidos pelo Programa MID-Soja;
Soja
Pressão reduzida Como o adequado manejo fitossanitário pode diminuir a pressão exercida por pragas e doenças que limitam a produtividade na cultura da soja
A
Figura 1 - Sintomas de oídio (a) e míldio nas folhas de soja (b). Área didáticaexperimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Outras duas doenças bastante comuns na cultura da soja são o oídio (Figura 1a) e o míldio (Figura 1b). O oídio é causado pelo fungo Microsphaera difusa que tem como principal sintoma a ocorrência de uma fina cobertura esbranquiçada, constituída de micélio e esporos pulverulentos. Condições de baixa umidade relativa do ar e temperaturas de 18°C a 24°C favorecem a sua incidência (Henning et al., 2014). Já a infecção pelo fungo Peronospora manshurica, causador do míldio, é favorecida por temperaturas amenas (20°C a 22°C) e umidade elevada. Os sintomas nas folhas iniciam-se por minúsculas anasarcas amarelas que evoluem, podendo atingir 5mm de diâmetro ocasionando a necrose do tecido. No verso dessas lesões, na face inferior da folha, aparecem as estruturas de frutificação do patógeno, de aspecto cotonoso e de coloração acinzentada (Saran, 2013). As doenças de final de ciclo (DFCs) ocorrem nos estágios finais de desenvolvimento da cultura da soja e podem acarretar deterioração dos grãos, rápida senescência das plantas e desfolha precoce (Martins, 2007). Entre as DFCs de maior importância encontram-se a mancha-parda (Septoria glycines) (Figura 2a), a man-
Carolina Deuner
soja (Glycine max.) é a cultura agrícola que mais cresceu no Brasil nas últimas três décadas. De acordo com o 6º levantamento de safra de grãos 2019/2020 (Conab, 2021), a área de cultivo com a aleuro-oleaginosa chegou a 36,949 milhões de hectares, correspondendo a 0,5% de aumento quando comparado ao ano-safra anterior. O aumento da produtividade da soja, por sua vez, está associado principalmente aos avanços tecnológicos, às condições climáticas, ao manejo e a questões fitossanitárias que podem comprometer a produtividade, bem como à qualidade final do produto. O custo de produção na cultura da soja está intimamente ligado ao manejo fitossanitário que impacta em aproximadamente 30% do total (Zanatto et al., 2018). As doenças são responsáveis por uma redução de 15% a 20% na produção da cultura, sendo a que possui maior destaque a ferrugem-asiática. Essa doença é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, sendo favorecida por chuvas bem distribuídas, longos períodos de molhamento e temperatura entre 18°C e 30°C (Navarini et al., 2007). O principal sintoma é a presença de urédias na parte abaxial das folhas, de coloração castanha a marrom-escura, que podem evoluir para a parte adaxial dependendo da severidade.
Victória Valdovino
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Fotos Victória Valdovino
Figura 2 - Doenças de final de ciclo na cultura da soja. Área didática-experimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
PRAGAS
A soja está sujeita ao ataque de insetos desde a germinação até a colheita. Atualmente, a ocorrência de lagartas do gênero Spodoptera tem aumentado nas lavouras, onde se destacam Spodoptera cosmioides (Figura 3a) e Spodoptera eridania (Figura 3b) associadas a danos na fase reprodutiva, enquanto Spodoptera frugiperda (Figura 3c) pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento da soja. Seus danos vão desde o ataque a plântulas de soja até o consumo de folhas, flores e vagens, acarretando redução da área foliar e perdas na produtividade (Sosa-Gómez et al., 2014). Em relação aos percevejos, a ocorrência destas pragas pode ocasionar abortamento de vagens e grãos, afetando a produtividade da cultura, como também por meio de injúrias favorecer a entrada patógenos que afetam o desenvolvimento da soja. A ocorrência em lavouras entre os estágios R4 e R5 acarreta maiores perdas de produtividade de grãos (Fernandes & Ávila, 2017). Dentre as principais pragas pertencentes a essa classe estão os percevejos: percevejo-marrom (Euchistus heros) (Figura 4a), 32
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percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) (Figura 4b), percevejo barriga-verde (Dichelops furcatus) (Figura 4c), percevejo-verde (Nezara viridula) (Figura 4d); percevejo-da-soja (Edessa meditabunda) (Figura 4e).
EXPERIMENTO
Com o objetivo de avaliar a importância do manejo fitossanitário na cultura da soja, um experimento foi conduzido na área didático-experimental da Coxilha-UFSM da Universidade Federal de Santa Maria, durante a safra 2020/21. O clima da região, conforme a classificação de Köppen, é do tipo Cfa, subtropical de clima temperado chuvoso (Alvares et al., 2013). O solo é classificado como Argissolo Vermelho Distrófico arênico (Dos Santos et al., 2018). O delineamento experimental foi conduzido em blocos ao acaso, com quatro repetições, composto por dois tratamentos, sendo eles: T1 = soja com utilização de agroquímicos (herbicidas, fungicidas e herbicidas) e T2 = soja sem manejo fitossanitário. A semeadura ocorreu em 17/11/2020 com a cultivar NS 5959 IPRO no sistema convencional e cultivar BRS 5804 no sistema sem manejo com espaçamento de 45cm, com 16 sementes/m linear na fileira, com densidade de planta de 320 mil plantas/ha.
Em ambos os tratamentos, no momento da semeadura, realizou-se a coinoculação com as bactérias Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense no sulco de semeadura utilizando 60L de calda na concentração de 300ml e 100ml, respectivamente. A adubação foi realizada por semeadora-adubadora a aplicação de 340kg/ha do adubo formulado NPK (00-42-30). No tratamento convencional ocorreram os tratos culturais conforme as recomendações técnicas para a cultura da soja (Caraffa et al., 2019). Já no tratamento sem manejo fitossanitário não houve aplicação de defensivos. Para a avaliação do experimento, realizou-se o pano de batida no estádio de desenvolvimento R5 da cultura da soja com 16 pontos de amostragem em cada tratamento. Os parâmetros avaliados foram quantidade de pragas; severidade de doenças estimada em folhas da parte inferior, média e superior das plantas de soja com auxílio das escalas propostas por Godoy et al. (2006), Martins et al. (2004) e Mattiazzi (2003). Ao analisar o tratamento com controle fitossanitário observa-se uma diferença em relação ao sem controle, que apresentou maior severidade em todas as doenças (Figura 5). Ainda, observou-se que no tratamento com controle
Fotos Victória Valdovino e Eduarda Grün
cha-alvo (Corynespora cassiicola) (Figura 2b), o crestamento foliar (Figura 2c), a mancha-púrpura (Figura 2d) (Cercospora kikuchii) e a antracnose (Colletotricum dematium var. truncata) (Figura 2e). O controle das doenças na cultura da soja pode ser obtido pela utilização de métodos culturais, biológicos, genéticos e químicos (Dallagnol et al., 2006). Devido à grande dificuldade de controle das doenças foliares, o controle químico, a partir da pulverização de produtos fitossanitários, se torna a principal forma (Hikishima et al., 2010). Isso ocorre em função da sua facilidade e agilidade de aplicação, e por ser a técnica mais desenvolvida (Navarini et al., 2007).
Figura 3 - Lagartas do complexo Spodoptera. Área didática-experimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Fotos Heloísa Schmitz
Figura 4 - Principais espécies de percevejos na cultura da soja. Área didática-experimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
não houve incidência de oídio e míldio. O oídio pode ocasionar perdas de produtividade de até 35% dependendo da severidade da doença, do período de ocorrência e da tolerância da cultivar (Grigolli, 2015). Em ambos os tratamentos, a severidade de ferrugem-asiática foi considerável. Plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, o que compromete a formação, o enchimento de vagens e a massa final do grão, podendo causar perdas na produtividade de até 90% (Godoy et al., 2016; Barros et al., 2020). Também se observou nos dois tratamentos que as doenças de final de ciclo apresentaram as maiores severidades. Isso se deve à grande variação das condições climáticas no Rio Grande do Sul, especialmente as precipitações durante a safra que favoreceram o desenvolvimento destas doenças. Estima-se que as DFCs podem causar reduções em torno de 20% a 30% na produtividade (Balardin, 2002). No que diz respeito às pragas, verificou-se que o tratamento com controle apresentou lagartas do complexo Spodoptera: Spodoptera cosmioides e Spodoptera frugiperda (Figura 6). Porém, no
tratamento sem controle, encontrou-se apenas a lagarta S. cosmioides. S. cosmioides, também conhecida como lagarta-das-vagens, causa maior dano na fase reprodutiva cultura da soja. Além das folhas, essa lagarta causa injúrias às vagens, ocasionando danos diretos aos grãos (Sosa-Gómez et al., 2014). Esta espécie tem destaque, pois consome duas vezes mais área foliar que as demais lagartas na soja (Moscardi et al., 2013). Já S. frugiperda, popularmente conhecida como lagarta militar, esteve presente apenas no tratamento com controle. Os maiores danos desta espécie estão relacionados à fase vegetativa da soja, alimentando-se das folhas. Porém, também pode ser encontrada na fase reprodutiva consumindo as vagens em fase inicial de formação (Barros et al., 2010). Em relação aos percevejos, no tratamento sem controle ocorreram as maiores populações das pragas sugadoras (Figura 6). Dentre as espécies, destacam-se o percevejo-marrom, o percevejo-verde-pequeno e o percevejo-verde como os maiores causadores de prejuízos que podem levar a perda total da lavoura (Sosa-Gomes et al., 1993;
Figura 5 - Severidade de doenças nos tratamentos de soja avaliada durante a safra 2020/2021. Área didática-experimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Medeiros & Megier, 2009; Almeida et al., 2013). Percebe-se que o tratamento com manejo fitossanitário foi eficaz quando se observa a ausência das espécies percevejo-verde-pequeno e percevejo da soja, além de uma menor ocorrência dos demais percevejos quando comparado com tratamento sem manejo. Os principais danos econômicos causados pelos percevejos são a redução da produtividade (grãos menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros) no rendimento e na qualidade da semente (Hoffmann-Campo et al., 2000). O manejo fitossanitário é importante para reduzir a pressão de doenças e pragas na cultura da soja. C
Victória Chaves Valdovino, UFSM Heloísa Schmitz, IFRS Rafaella Boemo Mario, Arícia Ritter Corrêa, Eduarda Grün, Matheus Martins Ferreira, Fernando Sintra Fulanti e Thomas Newton Martin, UFSM
Figura 6 - Frequência média de insetos por pano de batida. Área didática-experimental da Coxilha, UFSM, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
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Fotos Elevagro
Arroz
Proteção radicular De que forma o tratamento de sementes com produtos biológicos pode contribuir para a redução do nematoide das galhas Meloidogyne graminicola e ajudar na convivência com esses micro-organismos nas lavouras de arroz
A
produção mundial de arroz (Oryza sativa) atinge, anualmente, em torno de 800 milhões de toneladas. No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul destaca-se como maior produtor, com mais de 70% da produção nacional deste cereal, ocupando uma área de aproximadamente um milhão de hectares para o cultivo do arroz irrigado. Vários fatores causam queda no rendimento e na produção de arroz. Sem dúvida, nematoides parasitas de plantas são um deles. Na cultura do arroz, o nematoide-das-galhas (Meloidogyne graminicola) é reconhecido com uma praga importante, causando preocupação aos orizicultores brasileiros. Caso o controle não seja realizado, esse nematoide é capaz de reduzir a produção em até 80%. Os sintomas relacionados à infecção causada por Meloidogyne, em arroz, variam de acordo com a densidade populacional do nematoide, com as práticas de ma34
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nejo utilizadas nas lavouras e com a resistência das plantas a esta praga. No entanto, os sintomas geralmente iniciam-se pelo desenvolvimento das galhas nas extremidades das raízes, que prejudicam significativamente o desenvolvimento do sistema radicular, bem como o desenvolvimento da parte aérea das plantas. Esse processo interfere diretamente no fluxo de absorção e transporte de água e nutrientes pela planta, podendo refletir em sintomas na parte aérea, tais como raquitismo, clorose, perda de vigor, retardo na maturação e redução no perfilhamento, prejudicando o crescimento das plantas e, substancialmente, o rendimento da cultura. Cabe salientar que esses sintomas quase sempre são pouco expressivos, devido à aplicação da adubação nitrogenada, que acaba por mascará-los, permitindo que o problema aumente. Outro possível fator que também dificulta a observação dos sintomas a campo é o fato de esses micro-
-organismos não serem visíveis a olho nu, e os principais sintomas iniciais da problemática ocorrerem no sistema radicular das plantas, ambiente “subterrâneo” de difícil visualização. Todos os problemas de diagnose e identificação têm proporcionado condições favoráveis ao aumento do nematoide-das-galhas nas áreas produtoras de arroz. Tendo em vista o potencial biótico deste grupo de nematoides e a alta capacidade de reprodução quando as condições ambientais são favoráveis, gera-se uma preocupação significativa com relação ao possível aumento das populações nas lavouras de arroz irrigado. Frente a essa situação, o Instituto Phytus, nos últimos anos, tem realizado estudos em lavouras de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul, a fim de conhecer a distribuição e as estratégias de manejo deste nematoide na cultura. Em levantamentos realizados pelo Instituto Phytus, na safra 2019/20 e 2020/21, foi observa-
Figura 1 - Comparação das médias obtidas por cultivar de arroz, com diferentes nematicidas biológicos aplicados via tratamento de sementes, para as variáveis espécimes de Meloidogyne graminicola e número de ovos nas raízes do arroz, aos 45 DAE
da a ocorrência das principais espécies associadas à cultura do arroz. Em análise de 750 amostras de solo e raízes, verificaram-se as seguintes espécies: Meloidogyne graminicola, Pratylenchus brachyurus, Pratylenchus zeae, Helicotylenchus dihystera e Hirschmanniella sp. Nesta ocasião, foi identificada em aproximadamente 90% das amostras a ocorrência de M. graminicola em níveis populacionais de 45 a 55.600 juvenis + ovos por grama de raízes e de 20 a 1.252 por 100cm³ de solo. Outra espécie encontrada nas análises foi o nematoide-da-ponta-branca, Aphelenchoides besseyi, entretanto, em níveis baixos e em locais esporádicos. O aumento populacional de M. graminicola nas lavouras está relacionado a diversos fatores, sendo os principais associados ao modelo agrícola adotado nos últimos anos, à utilização de estreita base genética, ao cultivo contínuo de espécies de plantas hospedeiras multiplicadoras e ao não diagnóstico dessa espécie presente na área. Para o sucesso no cultivo é fundamental que o produtor, a partir do conhecimento prévio da(s) espécie(s)
Figura 2 - Valores médios de produtividade das diferentes cultivares de arroz, com diferentes nematicidas biológicos aplicados via tratamento de sementes
de fitonematoide(s) presente(s) na sua lavoura, escolha e realize a semeadura de cultivares com baixo fator de reprodução, para reduzir a densidade populacional do patógeno. Outra alternativa muito eficiente, mas pouco explorada, é o uso de nematicidas biológicos no manejo de nematoide. Estes nematicidas, de maneira geral, são produtos tecnológicos eficazes, de fácil uso, e que, aplicados via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, protegem o sistema radicular das plantas, que é um ponto crítico para que o potencial da cultura seja atingido pelo desenvolvimento de
plantas vigorosas e sadias, permitindo, assim, o cultivo em áreas com a presença desses micro-organismos. Pensando em entender melhor as respostas do tratamento de sementes com produtos biológicos na redução de M. graminicola (nematoide-das-galhas), conduziu-se um experimento em nível de lavoura comercial, utilizando três nematicidas biológicos associados a duas cultivares de arroz. O ensaio foi conduzido em área de produção comercial de arroz naturalmente infestada por M. graminicola, localizada no município de Agudo, no Rio Grande do Sul.
Plantas com aspecto de amarelecimento na parte aérea, e galhas nas raízes, sintomas típicos do parasitismo do nematoide-das-galhas
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Fotos Elevagro
Efeito de diferentes nematicidas biológicos no desenvolvimento de plantas de arroz (cultivar Irga 424) em área naturalmente infestada com Meloidogyne graminicola
As cultivares utilizadas foram Irga 424 RI e Guri Inta CL, ambas com ciclo médio; os tratamentos foram compostos pelas rizobactérias Bacillus amyloliquefaciens (2ml/100kg sementes), Bacillus firmus (2ml/100kg sementes) e pelo fungo Trichoderma harzianum (5ml/100kg sementes). O plantio foi realizado no dia 13 de novembro de 2020, em blocos ao acaso com seis repetições. As avaliações ocorreram 45 dias após a emergência das plantas para determinação do número de espécimes de M. graminicola nas raízes e do número de ovos. A média populacional de M. graminicola coletada antes da instalação do experimento variou de 75 a 92 juvenis por 100cm³ de solo. O número de espécimes de M. graminicola nas raízes das cultivares de arroz, aos 45 dias após a emergência, variou entre os tratamentos com e sem nematicidas, sendo que nas duas cultivares de arroz tratadas com nematicidas biológicos (Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus firmus e Trichoderma harzianum) foram observadas reduções nos números finais de M. graminicola associadas ao tecido radicular, tendo reflexo direto no número de ovos, o que apresentou resposta similar de redução. Os tratamentos com os nematicidas biológicos B. amyloliquefaciens, B. firmus e T. harzianum apresentaram uma redução de nematoides e ovos nas raízes de 57,9%, 58,8% e 52,3% de juvenis 36
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e 58,8%, 60,7% e 53,8% sobre ovos, respectivamente, para a cultivar Irga 424 RI. Já para a cultivar Guri Inta CL, a redução da população de juvenis nas raízes foi de 61,3%, 60,3% e 54,9%, e para ovos de 54,3%, 56,4% e 50,5% para B. amyloliquefaciens, B. firmus e T. harzianum, respectivamente. Para a variável de produtividade, os tratamentos compostos por B. amyloliquefaciens, B. firmus e T. harzianum nas duas cultivares de arroz apresentaram incremento de produtividade. A cultivar Irga 424 RI apresentou um incremento de 32, 37 e 21 sacas/ha para B. amyloliquefaciens, B. firmus e T. harzianum, respectivamente. Já a cultivar Guri Inta CL obteve um incremento de 24, 25 e 16 sacas/ha, respectivamente. Atualmente, são poucos os trabalhos na literatura que mostram a avaliação de Trichoderma e Bacillus em ambiente com saturação da umidade do solo ou solo com irrigação por inundação. Mas estudos indicam que as espécies de Trichoderma e Bacillus podem ser capazes de sobreviver em condições de solo sob irrigação por inundação, o que os torna com potencial para utilização em estratégias de controle biológico para lavouras de arroz e cultivos com excesso de umidade no solo. Outro ponto a analisar passa pelo time de aplicação versus o estabelecimento da lavoura, que geralmente se dá em condições de
ambiente não saturado, garantindo tempo suficiente para o seu efeito de controle. Por se tratar de um grupo de difícil controle e de erradicação praticamente impossível, agregar tecnologias que interfiram na interação nematoide planta é fundamental para a estruturação eficiente do ambiente de produção, haja vista que essas tecnologias têm influência direta na taxa de reprodução do nematoide nas raízes do arroz. No tocante a isso, é de suma importância diminuir a densidade populacional desse nematoide no solo para os próximos cultivos. Esses resultados apontam um benefício na utilização de nematicidas biológicos com reflexo direto na produtividade. Esse reflexo direto está ligado ao modo de ação dessa ferramenta de manejo, que ao proteger as raízes iniciais, garante estabelecimento das plantas por interferir diretamente no processo de infecção desse nematoide nas raízes, e quando realizada, culmina em danos diretos advindos da sua alimentação nos tecidos radiculares e indiretos pela abertura da porta de entrada para outros patógenos de solo. Portanto, o produtor deve estar atento em suas escolhas quando estiver cultivando em solos com presença de M. graminicola, procurando utilizar cultivares de baixo fator de reprodução e associar isso ao uso de nematicidas biológicos, além de intercalar a rotação ou sucessão de culturas com plantas não hospedeiras, de maneira a diminuir a população inicial de uma safra para outra, permitindo a convivência C com esses micro-organismos. Cristiano Bellé e Paulo Sergio dos Santos, Instituto Phytus
Bellé e Santos alertam para os cuidados ao cultivar em áreas contaminadas com M. graminicola
Cana
Perfil influente Larissa Gomes A. Tormen
Como o perfil do solo pode influenciar no incremento produtivo da cana-de-açúcar e na longevidade dos canaviais
O
Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e deverá cultivar 9,9 milhões de hectares na safra 2020/21 (Conab, 2020). Os principais produtos obtidos desta cultura são o açúcar e o etanol, ambos de grande importância para a economia brasileira. Além desses produtos, é possível obter energia elétrica a partir do bagaço e da palha gerados no processamento da cana-de-açúcar. A produtividade média prevista para a safra 2020/21 para a cana-de-açúcar é de 77,2t/ha (Conab, 2020), no entanto, pesquisas demonstram que o potencial produtivo desta cultura pode atingir valores superiores a 200t/ha (Waclawovsky et al., 2010). Vários fatores atuam de forma con-
junta para a definição da produtividade. Ao se tratar da cana-de-açúcar, a disponibilidade hídrica e o manejo do solo certamente estão entre os mais importantes. No Brasil, o déficit hídrico é o principal fator restritivo da produtividade de cana-de-açúcar, respondendo por até 75,6% da restrição (Monteiro; Sentelhas, 2017). Por se tratar de uma cultura semiperene, após o plantio da cana-de-açúcar pode ocorrer a colheita por várias safras consecutivas, até que ocorra a redução da produtividade e seja necessário o replantio. O replantio representa um dos maiores custos associados ao cultivo da cana no Brasil e, portanto, a manutenção do rendimento nos sucessivos cortes da cana-soca pode aumentar a longevidade do canavial e o retorno
econômico para o produtor. Para que a produtividade da cana-soca seja viável economicamente é indispensável atender à demanda hídrica. O requerimento hídrico da cana-de-açúcar na região Centro-Oeste brasileira é de aproximadamente 1.100mm/ano a 1.300mm/ano e deve ser distribuído ao longo dos meses de desenvolvimento (Hernandes et al., 2014). O bom desenvolvimento do sistema radicular no perfil do solo é importante para atender a essa demanda hídrica. Além disso, as raízes promovem o armazenamento de energia para a rebrota da cana-de-açúcar após a colheita. O aprofundamento do sistema radicular é uma das principais estratégias para promover o aumento da produtividade das soqueiras. Porwww.revistacultivar.com.br • Junho 2021
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Figura 1 - Teores de sulfato (S-SO42-) após a aplicação de 5t/ha de gesso na superfície do solo no plantio da cana-de-açúcar. Fonte: modificado de Araújo et al. (2018)
Figura 2 - Teores de cálcio (Ca2+) após a aplicação de 5t/ha de gesso na superfície do solo no plantio da cana-de-açúcar. Fonte: modificado de Araújo et al. (2018) Figura 4 - Efeito da associação de indutor de resistência com programa de fungicidas para controle de doenças na cultivar de soja M 5892 IPRO. Colunas de rendimento de cores distintas diferem entre si pelo Cultivar IACSP93-3046 teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade de erro. Cruz Alta, 2019
tanto, a utilização de práticas que promovam maior desenvolvimento e distribuição do sistema radicular para camadas mais profundas do solo pode proporcionar maior longevidade aos canaviais. Além dos fatores genéticos, as raízes de cana-de-açúcar respondem fortemente a fatores climáticos, principalmente à precipitação pluviométrica. À medida que se reduz o potencial hídrico do solo, ocorre a paralisação e, posteriormente, a morte de parte do sistema radicular, iniciando na superfície do solo. Assim, o enraizamento mais profundo no solo reduz a vulnerabilidade do sistema radicular ao estresse hídrico, devido à maior superfície de absorção de água e nutrientes pelas plantas ao longo do perfil do solo e maior estoque de água nas camadas mais profundas. Aliado às características genéticas e aos fatores climáticos, os
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atributos físicos e químicos do solo configuram os principais componentes responsáveis pela dinâmica de crescimento do sistema radicular. Dentre os atributos físicos, a resistência à penetração das raízes no solo exerce influência direta no crescimento do sistema radicular. A aeração do solo também exerce influência no crescimento radicular, através do fornecimento de oxigênio às raízes, favorecendo a respiração e o suprimento energético para a absorção de nutrientes. Os atributos químicos do solo interferem diretamente no crescimento do sistema radicular, por intermédio da disponibilidade de nutrientes e elementos tóxicos. Os teores de cálcio, especialmente, podem tornar-se extremamente limitantes, pois esse nutriente possui função essencial para o alongamento das raízes. Teores de cálcio trocável nas camadas de subsuperfície do solo
abaixo de 0,1cmolc dm-3 ou valores de saturação de cálcio na capacidade de troca catiônica efetiva do solo abaixo de 45% conferem alta restrição ao crescimento radicular (Sousa et al., 1992). A toxidez por alumínio também restringe o crescimento radicular, interferindo na absorção de outros nutrientes. Além disso, provoca alterações morfológicas e fisiológicas negativas no sistema radicular. A prática da calagem é fundamental para a correção da acidez do solo e ao fornecimento de cálcio e magnésio nas camadas superficiais. Dessa forma, a calagem é responsável pela elevação da saturação por bases de solo e aumento do pH para faixa de maior disponibilidade dos nutrientes no solo. Para os solos do Cerrado é recomendada a elevação da saturação por bases para 50%, e a reaplicação desse corretivo quando a saturação estiver próxima de 40% na camada de 0-20 cm de profundidade. Para aquelas áreas de plantio de cana-de-açúcar é recomendada a incorporação de calcário na camada de 0-40 cm de profundidade e no cálculo da dose recomendada deverão ser somadas as quantidades consideradas na camada de 0-20 cm e 20-40 cm (Sousa et al., 2015). O aumento dos teores de cálcio e a redução da toxidez por alumínio do solo podem ser corrigidos pela utilização do calcário, no entanto o seu efeito está restrito às camadas superficiais. Como alternativa a essa limitação do calcário, foi estabelecido o uso do gesso, que promove o aumento dos teores de cálcio e a redução da toxidez por alumínio nas camadas subsuperficiais do solo após poucos meses da sua aplicação na superfície. Conforme apresentado na Figura 1, a aplicação de 5t/ha de gesso na superfície do solo com ausência de revolvimento promoveu o aumento dos teores de sulfato até 60cm de profundidade após 13 meses em comparação com o controle. Avaliando o efeito residual da aplicação do gesso após 87 meses
Figura 3 - Densidade de massa seca de raízes (g dm-3) após o primeiro (A) e o sétimo corte da cana-de-açúcar (B) em resposta à aplicação de gesso no plantio. Fonte: modificado de Araújo et al. (2018) Larissa avalia a influência do perfil do solo em canaviais
Larissa Gomes A. Tormen
foi possível observar aumento dos teores de sulfato até 100cm de profundidade (Figura 1b). Além dos aumentos dos teores de sulfato, a aplicação do calcário e gesso em comparação com a aplicação isolada do calcário favoreceu o aumento dos teores de cálcio em até 40cm de profundidade após 13 meses da sua aplicação (Figura 2a). Avaliando o efeito residual, aos 87 meses da aplicação do gesso, foi possível observar um aumento nos teores de cálcio de até 100cm de profundidade. Esse aumento dos teores de cálcio devido à aplicação do gesso pode ser explicado pelo fato de o cálcio ser proveniente do gesso, diferentemente do calcário, cujo aníon acompanhante (carbonato) é consumido na neutralização da acidez da camada superficial do solo, o cálcio tem capacidade de atingir as camadas subsuperficiais do solo acompanhando a translocação do sulfato. Respondendo positivamente à melhoria do ambiente químico com a aplicação de 5t/ha de gesso, a densidade de massa seca de raízes aumentou em 18% em relação à aplicação isolada de calcário após
o primeiro corte da cana-de-açúcar na camada de 0-120 cm (Figura 3a). Devido ao efeito residual da aplicação do gesso na melhoria do ambiente químico após o sétimo corte da cana, foi possível observar um aumento de 37% na densidade de raízes no perfil de solo, na camada de 0-200 cm de profundidade (Figura 3b). Esses resultados indicam a maior distribuição do sistema radicular da cana-de-açúcar no perfil do solo em resposta ao uso do gesso, o que favorece maior aproveitamento da água e nutrientes disponíveis no perfil do solo. Relacionada à melhoria das propriedades químicas do solo e ao incremento das raízes da cana-de-açúcar, a aplicação de gesso promoveu maiores produtividades de colmos se comparada ao tratamento que recebeu apenas calcário (Figura 4) nos sete cortes da cana-de-açúcar realizados. No primeiro corte da
cana-de-açúcar a produtividade de colmos variou de 129,7t/ha a 143,9t/ ha, e nos demais cortes de 68,9t/ha a 117,7t/ha. A dose de 5t/ha de gesso aumentou a produtividade de colmos em relação ao tratamento controle em 10%, 19%, 20%, 20%, 29%, 28% e 25%, avaliado do primeiro ao sétimo corte, respectivamente. Portanto, o aumento dos teores de cálcio no perfil do solo é indispensável para o aumento do crescimento radicular, possibilitando maior capacidade de utilização de água, o que favorece a maior capacidade de recuperação de estresse hídrico. Como resultado da ação conjunta desses fatores, torna-se possível manter os níveis de produtividade dos canaviais por períodos mais longos, aumentanC do sua longevidade. Larissa Gomes Araújo Tormen, Instituto Phytus
Figura 4 - Total de colmos por hectare (TCH) em sete cortes de cana-de-açúcar após a aplicação dos tratamentos com gesso. Fonte: modificado de Araújo et al. (2018)
Aplicação de calcário para posterior incorporação ao solo
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Coluna Agronegócios
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Bactérias do bem
rodutores de soja e feijão já incorporaram aos seus sistemas de produção a inoculação com estirpes das bactérias Bradyrhizobium e Rhizobium, que atuam na fixação biológica do nitrogênio atmosférico (FBN) nas plantas, dispensando a adubação nitrogenada. Segundo o balanço social da Embrapa 2020 (embrapa.br/balanco-social), no ciclo agrícola 2019/20, a área beneficiada com FBN alcançou incríveis 36,9 milhões de hectares (Mha). Em decorrência, os produtores que inocularam suas sementes pouparam R$ 28 bilhões pela dispensa de uso de fertilizantes nitrogenados. E evitaram a emissão de 205 Mt de CO2 equivalente. Mas a FBN não é a única tecnologia que usa bactérias do bem. Desde 2018 o agricultor pode usar a coinoculação, em que o agricultor também se beneficia de bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP), no caso, bactérias de Azospirillum brasilense. Esse micro-organismo aumenta a produção de pelos radiculares e promove o crescimento radicular, aumentando a absorção de água e nutrientes. Os primeiros nódulos de Bradyrhizobium surgem nos pelos radiculares, logo a coinoculação da soja (Azospirillum + Bradyrhizobium) aumenta a formação precoce de nódulos, pois há mais pelos radiculares para serem infectados pelo rizóbio. A área de adoção da tecnologia supera nove milhões de hectares, com ganhos para o produtor estimados em R$ 1,2 bilhão, devido a um ganho médio adicional de produtividade de 8% comparado com o uso exclusivo de FBN.
MAIS INOVAÇÃO
Tem mais bactérias do bem! Para a próxima safra estima-se uma área superior a 40 Mha de soja e a 20 Mha de milho. O consumo de fertilizante fosfatado, em superfostato triplo equivalente, é projetado em 7,9 Mt para a soja e 1,8 Mt para o milho, total de 9,7 Mt. Ao preço médio de R$ 2.400,00/t haverá a cifra de R$ 23,4 bilhões que os produtores de soja e milho investirão em adubos fosfatados. Agora imagine melhorar a eficiência de uso do adubo fosfatado e, no futuro, cortar em 50% a adubação fosfatada para o milho, considerando a recomendação resultante da análise de solo da área em questão, e ainda aumentar a produtividade em 28%. Reduzir em R$ 410 milhões o custo em ferti40
lizante e acrescentar R$ 53 bilhões na renda bruta dos agricultores. Seria isto possível? Nos experimentos realizados pela Embrapa nos municípios de Santa Maria, Rio Grande do Sul, e Palotina, Paraná, isto foi possível na cultura do milho. Em uma condição em que foram aplicados apenas 50% da dose recomendada de fertilizante fosfatado, porém com inoculação do produto BiomaPhos, que é uma mistura das bactérias Bacillus megaterium e B. subtilis, foram obtidos os ganhos de produtividade acima referidos (http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/ infoteca/handle/doc/1120362). Essas bactérias são consideradas micro-organismos solubilizadores de fósforo (MSP). Experimentos em condições controladas e próximas do ideal produzem retornos mais elevados que a condição usual da lavoura do agricultor. Por isso, os autores do estudo referem que “Nas avaliações realizadas em áreas de produtor, onde as adubações com fósforo foram aplicadas conforme recomendação local, houve aumento de produtividade por causa da inoculação: Bahia 7,8%, Mato Grosso do Sul 10,7%, Mato Grosso 17,6% e Goiás 8,3%. Considerando todos os locais, o ganho médio de produtividade com a inoculação foi de 8,9%”.
OS FUNDAMENTOS E A TECNOLOGIA
Existe um grupo de micro-organismos que são promotores de crescimento de plantas – como o Azospirilllum citado anteriormente. As bactérias que solubilizam fósforo no solo pertencem a este grupo, e sua eficiência na solubilização e mineralização de fósforo redunda na promoção de crescimento de plantas, conjugado com maior produtividade. As sementes de soja ou milho podem ser inoculadas com o BiomaPhos, à semelhança do que já é efetuado com Bradyrhizobium (FBN) ou na coinoculação das sementes de soja. Uma vez no solo, as bactérias liberam ácidos orgânicos e enzimas, que atuam na clivagem de compostos complexos que contêm fósforo. Este elemento, embora esteja presente no solo, nem sempre está prontamente disponível em forma solúvel, que permita a sua absorção e aproveitamento pelas plantas. A ação das bactérias torna o fósforo disponível para ser absorvido pelas raízes. Isto é particularmente importante para áreas com longo histórico de cultivo e
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aplicações anuais de fertilizantes fosfatados e também naquelas com aplicação de fontes com baixa solubilidade, como os fosfatos naturais de rocha. Foram cerca de 20 anos de dedicação de pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo que possibilitaram o desenvolvimento de tecnologia tão promissora. A equipe conduziu diversos estudos de prospecção e teste de seleção de bactérias com características de solubilização do fósforo no solo. Dos 450 micro-organismos inicialmente identificados, foram selecionados os 15 mais promissores, dos quais cinco foram testados em condições de campo. Finalmente, os pesquisadores verificaram que os melhores resultados foram obtidos com as duas espécies de bactérias que compõem o BiomaPhos, lançado comercialmente em 2019. Estudos conduzidos pela Embrapa demonstraram que, em média, a inoculação de sementes com BiomaPhos redunda em aumento da produção de 8,6% na cultura do milho e de 6,3% na soja. No caso do milho, cultura para a qual já existe registro de uso, a indicação de uso é de 100ml do produto por hectare e o custo da inoculação foi estimado em R$ 80,00/ha. Estima-se que cerca de 1 Mha foram tratados com BiomaPhos na safra 2020/21, projetando-se um crescimento expressivo para a próxima safra.
CONCLUSÃO
Relembro meu bordão: não basta produzir, tem que ser sustentável. O mercado assim exige e nosso compromisso com o futuro da Humanidade aponta para este caminho. À semelhança da FBN e da coinoculação, o uso do BiomaPhos, desenvolvido pela Embrapa, redunda em maior sustentabilidade. Aumenta a eficiência de uso do fósforo pelas culturas, resultando em possível menor uso de fertilizantes, maior produtividade, com maior rentabilidade para o produtor e menor impacto no ambiente, reduzindo a pressão pela expansão para novas áreas, logo menor desmatamento. E com menor emissão de gases de efeito estufa – promotores das mudanças climáticas – ao longo da cadeia de valor dos produtos agrícolas. C
Décio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
Agro segue com grande sustentáculo da economia brasileira
O
agro brasileiro segue como maior sustentáculo da economia nacional, com indicativos de que neste ano vai ultrapassar a marca de 120 bilhões de dólares em divisas exportadas. Somente a soja será responsável por algo em torno de 50 bilhões de dólares, como carro-chefe das exportações brasileiras. O agro não parou na pandemia e não vai parar com o alongamento da crise, deste que é o maior problema que o mundo enfrenta em mais de 100 anos. O setor segue forte e deve continuar assim nos próximos anos. Os indicativos de
preços praticados mundialmente pelos alimentos neste ano se alinharam em patamares mais justos, porque vinham em queda livre desde 2013 e necessitavam de correções devido aos avanços dos custos. Agora, em patamares mais atrativos, o Brasil deve produzir mais e tudo aponta para novos recordes de produção em 2022. Os primeiros dados do USDA para a nova safra 21/22 coloca o Brasil como grande líder na soja, com 144 milhões de toneladas frente a 136 milhões de toneladas deste ano. Mais um grande ano agrícola se aproxima em 2021/22.
MILHO
ano, até o final de maio, já batiam a casa de 50 milhões de toneladas para o grão e de 56 milhões de toneladas no complexo farelo, óleo e grão. Até o momento já são aproximadamente 25 bilhões de dólares em divisas. A soja seguirá liderando a exportação como maior produto do Brasil e com fôlego positivo para novos negócios. Podem ocorrer níveis de cotações um pouco menores nos próximos meses se o clima americano seguir favorável como se mostrava em maio e com o plantio todo nos EUA dentro do período ideal e cedo, diminuindo assim riscos de perdas naquele país. Esse cenário pode trazer as cotações em Chicago para a janela de 13 dólares a 14 dólares por bushel (27,215kg) e se afastar dos bons momentos em que operou acima dos 16 dólares por bushel. SOJA Mesmo assim, são excelentes cotações se O mercado da soja segue batendo recor- comparadas aos 8,40 dólares por bushel de de exportação e os dados acumulados do do ano passado.
A safrinha está em colheita e com isso se confirma a acomodação das cotações, já esperada. Mesmo assim, os indicativos seguem com recordes históricos para os negócios. Devem ocorrer perdas grandes devido à seca que as lavouras enfrentaram e que devem ter ceifado entre dez milhões de toneladas e 15 milhões de toneladas do potencial produtivo. Mesmo assim haverá entre 75 milhões de toneladas e 80 milhões de toneladas de milho chegando e este volume é muito maior que a demanda interna deste segundo semestre, estimada em 40 milhões de toneladas. Dessa forma, restará exportar e os portos é que irão ditar os níveis dos negócios internos.
ARROZ
Os produtores colheram uma grande safra de arroz, que fechou acima de 11,6 milhões de toneladas segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Foram mais de 8,2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, que esperava colher inicialmente 7,5 milhões de toneladas. Bons números que estão deixando o mercado calmo, porque as indústrias estão com os silos cheios e em muitos lugares faltaram locais para armazenagem. As cotações ficaram na faixa de R$ 80,00 a saca ou pouco acima pelo Casca gaúcho, que deve ter pequenas correções positivas depois de julho, quando voltará a demanda e devem ocorrer exportações. Mesmo com queda em maio, as cotações atuais são as maiores em muitos anos para o período de pós-colheita.
Curtas e boas TRIGO - O trigo se encontra em plantio no Sul e com boas expectativas. As cotações estão acima de R$ 1.500,00 por tonelada e o grão importado superior a R$ 1.600,00 por tonelada, o que abre janela para o crescimento da nova área de cultivo, que deve avançar de 15% a 20%. Aguarda-se um excelente ano com bons investimentos em tecnologia para se colher alta produtividade e alta qualidade nesta nova safra. EUA - Os produtores plantaram a safra no período ideal e têm grandes chances de resultados recordes. Agora, os olhos estarão voltados para os campos dos EUA e para o clima nos próximos três meses, que definirão a safra que teve plantio com crescimento em milho e soja e mostra potencial de mais de 380 milhões de toneladas no milho e mais de 120 milhões de toneladas de soja. Mesmo com safra maior, seguirá com quadro apertado e estoques baixos, com fôlego positivo para manter bons indicativos em Chicago. CHINA - A China negociou 100 milhões de toneladas de soja nesta temporada e o USDA aponta que o país irá comprar 103 milhões de toneladas nesta nova safra. O consumo deve partir
de 112 para 120 milhões de toneladas. O país está saindo da pandemia com crescimento forte e deve comprar ainda mais. Com isso, começou a importar agressivamente milho e já negociou mais de 30 milhões de toneladas para este ano. Deve se firmar cada vez mais como importadora mundial, liderando importações de soja, milho, trigo e arroz. ARGENTINA - Os argentinos sofreram com o clima e agora enfrentam a política governamental que lhes toma a maior parte da renda. O ano que era para ser bastante rentável se tornou desafiador. A safra chega a 43 milhões de toneladas de soja frente ao potencial de 50 milhões de toneladas, e o milho com 46 a 47 milhões de toneladas, ainda em colheita, enquanto tinha fôlego para produzir em média cinco milhões C de toneladas a mais.
Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze www.revistacultivar.com.br • Junho 2021
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Coluna ANPII
Produção “caseira” de inoculantes
H
á algum tempo escrevemos artigo sobre este assunto, qual seja o “modismo” da produção de produtos biológicos na fazenda. Inoculantes, bioinseticidas, promotores de crescimento e outros produtos biológicos estão sendo “produzidos” na própria fazenda, na maioria das vezes em instalações extremamente precárias, não compatíveis com o atual estágio de desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. A produção de produtos biológicos é uma atividade de alta tecnologia, partindo dos mais estritos princípios de microbiologia, da biotecnologia. Desde meios de cultivo criteriosamente desenvolvidos, seleção e pureza das cepas, parâmetros de fermentação otimizados para máxima eficiência, procedimentos super-rigorosos para prevenir contaminações, ambiente, equipamentos e ar esterilizados, tudo isto é requerido para alcançar um inoculante de qualidade. Sem falar da necessidade de pessoal altamente capacitado para operar uma fábrica de inoculantes. O mesmo vem ocorrendo com os defensivos biológicos, mas isto eu deixo para a nossa congênere Croplife, que congrega as empresas do ramo. No que tange aos inoculantes, objeto da ANPII, podemos dizer, com toda a segurança, que é impossível obter produtos eficazes na captação de nitrogênio ou na promoção de crescimento sem uma tecnologia de ponta, produzindo inoculantes em consonância com a elevada produção de soja que é possível obter com o material genético das atuais cultivares e com as ferramentas que o atual manejo proporciona aos agricultores. A FBN é uma das grandes conquistas da agricultura brasileira. Com seleção de cepas bacterianas de elite, com empresas produtoras altamente tecnificadas, levando em campo inoculantes da maior qualidade, liderando mundialmente o setor, o Brasil não pode deixar que este verdadeiro 42
patrimônio nacional seja perdido por aventuras sob o pretexto de uma fictícia redução de custos. O inoculante é o fator de produção mais barato e de maior retorno em uma cultura de soja, trazendo expressivos ganhos para o agricultor e para o país. Fornecendo nitrogênio, o nutriente necessário em maior quantidade para a soja, é um produto cujo critério de compra deve sempre ser a qualidade e não o preço. • Na cadeia do inoculante, o desempenho do produto vai depender de vários fatores: Cepas altamente eficientes, o que é gerado pelo trabalho de seleção realizado pelos órgãos de pesquisa. Neste quesito o Brasil é imbatível. O material genético das cepas atualmente utilizadas no Brasil é capaz de fornecer todo o nitrogênio para as mais elevadas produtividades. • Uso correto pelo agricultor, seguindo as boas práticas da inoculação. • A assistência técnica, divulgando e instruindo como tirar o maior proveito do uso da inoculação. • A fiscalização, zelando pela qualidade do inoculante que chega às mãos do agricultor. • Qualidade do inoculante, objeto deste artigo, pois o produto deve
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É a livre iniciativa. Entretanto, o que é objeto de crítica é a produção feita sem os necessários requisitos, de forma a que o agricultor possa obter as vantagens do uso de um produto biológico.
atender às especificações de cepas selecionadas, concentração, sobrevivência das bactérias sobre as sementes, pureza bacteriana. Como obter isto senão em condições ótimas de uma indústria voltada para a microbiologia? O que se viu no início da produção na fazenda, chamada correntemente de “on farm” era um verdadeiro crime contra o agricultor. Uma caixa d’água plástica, aberta, com um agitador e um borbulhamento de ar ambiente sem nenhum tipo de filtro. Um meio de cultura genérico, o inóculo sendo um sachê de produto comercial. Cultiva por dois dias e joga na lavoura. Houve algumas melhorias, com tanques de aço inoxidável, mas nem de longe perto dos requisitos necessários para uma produção de qualidade. Logicamente que, se algum agricultor ou empresa agrícola desejar produzir inoculante ou qualquer outro insumo em sua propriedade, tem todo o direito. Se o fizer de forma profissional, com pessoal qualificado, com equipamentos e procedimentos de acordo com as boas normas de produção industrial, não haverá nenhuma objeção. É a livre iniciativa. Entretanto, o que é objeto de crítica é a produção feita sem os necessários requisitos, de forma que o agricultor possa obter as vantagens do uso de um produto biológico. As análises de órgãos de pesquisa até agora têm demonstrado completa ausência dos micro-organismos que se deseja produzir neste tipo de técnica. Os contaminantes tomam conta do meio de cultivo e até mesmo micro-organismos com potencial de danos a seres humanos têm sido encontrados. Fica aqui a informação para que os agricultores não entrem neste tipo de produção, salvo se desejarem montar realmente uma fábrica com todos os requisitos necessários. C Solon Araujo, Consultor da ANPII