Cultivar 100

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Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 100 • Setembro 2007 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas Capas

Fotos Capa - Montagem Cristiano Ceia

Foco na eficiência..................................................22

Caderno Soja - Dirceu Gassen Caderno Milho - Fundação ABC

Rede de ensaios formada por 18 instituições avalia o desempenho de fungicidas contra a ferrugem e outras doenças em soja

Ultra-agressiva...........................10

O futuro do algodão..................14

Soma de esforços.......................30

Como se defender da antracnose em milho, doença responsável por perdas de até 40% na produtividade de grãos

As medidas indispensáveis para garantir a sustentabilidade do sistema produtivo do algodoeiro no Cerrado

O emprego de inseticidas reguladores de crescimento seletivos para complementar o manejo da broca da cana-de-açúcar

Índice Diretas

Expediente 04

REDAÇÃO

CIRCULAÇÃO

• Editor

• Gerente

Gilvan Dutra Quevedo

Especial - Cultivar Grandes Culturas

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• Coordenador de Redação

Janice Ebel • Design Gráfico e Diagramação

Antracnose em milho

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Qualidade de sementes em algodão

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Cristiano Ceia • Revisão

Aline Partzsch de Almeida

COMERCIAL Congresso de algodão 2007

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Recomendação de fungicidas em soja

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Giberela em trigo Manejo da broca da cana

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Coluna Andav

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Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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Pedro Batistin

Sedeli Feijó Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 www.revistacultivar.com.br cultivar@cultivar.inf.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 119,00 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 80,00 Euros 70,00

Cibele Oliveira da Costa • Assinaturas

Simone Lopes • Gerente de Assinaturas Externas

Raquel Marcos • Expedição

Dianferson Alves

GRÁFICA • Impressão

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Ampliando mercado

Ihara

A Dow AgroSciences, amplia substancialmente seus negócios na área de sementes de milho no Brasil, com a aquisição da Agromen Tecnologia Ltda. “Esta aquisição nos permite servir melhor nossos clientes brasileiros”, disse o diretor da Dow AgroSciences, José Manuel Arana. “O Brasil é o segundo produtor mundial de milho, e nossa maior presença, nos torna um concorrente mais eficiente neste setor da agricultura, conclui.

A Ihara, empresa que está se posicionando como representante da tecnologia japonesa no Brasil, participou do V Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado, em Pelotas (RS). O estande recebeu um grande número de visitantes, ocasião em que a equipe demonstrou todo o portfólio de produtos com foco em arroz. “O evento foi muito importante e os temas abordados foram de grande relevância”, destaca Godinho, gerente de marketing para a cultura de arroz.

Basf O uso do fungicida Opera para o controle de doenças em soja e milho foi o destaque da Basf durante o Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Cláudio Oliveira, gerente de desenvolvimento de mercado para o Brasil, classificou o evento como uma oportunidade de atualização e contato com pesquisadores. Cláudio Oliveira

Syngenta A Syngenta enfocou durante o Congresso Brasileiro de Fitopatologia o emprego do Priori Xtra em milho. André Savino, gerente de fungicidas, destacou a importância do uso desse tipo de fungicida na cultura. “Trata-se de uma prática pontual, pouco comum, mas que pode proporcionar aos híbridos expressarem seu máximo potencial, de modo que o produtor consiga fazer crescer a sua produtividade sem a necessidade de André Savino aumentar a área plantada.”

Novo comando O engenheiro agrônomo João Marcos Ferrari acaba de assumir a diretoria de vendas da Arysta LifeScience do Brasil. Com mais de 18 anos de experiência no setor agroquímico, já ocupou cargos de destaque em empresas como Bayer, Cyanamid e DuPont. Com profundo conhecimento do mercado brasileiro, o executivo terá como desafio principal dar continuidade ao crescimento da Arysta, com foco na satisfação dos clientes e no aumento da participação em merJoão Marcos Ferrari cados prioritários.

Dow AgroSciences Geoley Haddad, gerente de marketing da Dow AgroSciences prestigiou o 5º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado realizado em Pelotas (RS). Haddad coordenou a equipe de técnicos da empresa que esclareceu dúvidas dos congressistas quanto às melhores formas de controle e produtos para a Geoley Haddad cultura do arroz. 04

Pragas Solo-Sul

Bayer

A Embrapa Agropecuária Oeste, promove e realiza de 25 a 27 de setembro de 2007, em Dourados (MS), a X Reunião Sul-Brasileira sobre Pragas de Solo (Pragas Solo-Sul). O evento constitui-se num fórum de debates com o objetivo de trocar informações e aumentar o conhecimento sobre as pragas de solo. A programação é composta por painéis, palestras, conferências, apresentação de trabalhos científicos, abordando diversos assuntos, como o diagnóstico da situação de pragas de solo na região sulbrasileira e os problemas e as necessidades de pesquisa e de difusão de tecnologias sobre as pragas de solo. Informações: (67) 3425-5122, ramal 153 ou www.cpao.embrapa.br/ pragassolosul2007/.

A Bayer CropScience aproveitou o Congresso de Arroz para apresentar o seu novo inseticida para o controle da bicheira-da-raiz do arroz. Curbix é um produto novo que se encaixa com as práticas que buscam alta produtividade e protege o arroz no momento crítico.

Sipcam Isagro A Sipcam Isagro enfocou durante o Congresso de Fitopatologia o fungicida Echo, com a nova formulação WG, além do uso de Domark e Priori (marca registrada da Syngenta) para o tratamento de doenças em soja. Milton Igarashi comandou a equipe.

Arysta A Arysta esteve representada no Congresso Brasileiro de Fitopatologia por Nilson Antonio da Silva e Eros Molina Occhiena, especialistas em Desenvolvimento de Produto e Mercado. O evento serviu para atualização sobre novidades em produtos e para estreitar os laEros e Nilson ços com profissionais da pesquisa.

FMC

João Batista Vida

Congresso João Batista Vida, da Universidade Estadual de Maringá, presidiu o XL Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado em agosto, no Centro de Eventos Araucária, em Maringá, no Paraná. Durante os cinco dias de evento, o público, formado por universitários, pesquisadores e representantes de empresas pôde acompanhar palestras de especialistas em sanidade vegetal.

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No Congresso de Arroz realizado em agosto, em Pelotas (RS), a FMC destacou o Gamit, tradicional herbicida da empresa. Em arroz irrigado o produto possui registro contra angiquinho, capim-marmelada, capim-colchão, capim jaú e capim arroz.

Basf A Basf apresentou seu portfólio para a cultura de arroz, dando durante o Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, destaque também para o Sistema Clearfield, programa para combate ao arroz vermelho. A equipe da empresa tirou dúvidas dos produtores Carlos, Airton e Waldemar sobre os produtos.



Inovadora desde a origem I

novação. Em mais de oito anos de mercado e 100 edições este é um dos principais aspectos que caracterizam Cultivar, tanto no âmbito editorial como de apresentação gráfica. A revista que antecipou o problema da ferrugem asiática, muito antes da doença se tornar o maior desafio dos produtores de soja no Brasil, é também a que em 1999, no auge do debate sobre transgênicos, posicionou-se favoravelmente à tecnologia. Identidade definida e compromisso com o público a que se destina são diferenciais que acompanham a história da publicação, ao lado da aposta incondicional na ciência e na vocação agrícola do país. O esboço daquela que em breve se tornaria referência entre as revistas agrícolas do Brasil começou a ser desenhado em 1998 pelo jornalista e advogado Newton Peter e pelo entomologista e fundador da Sociedade En-

tomológica do Brasil (SEB), Milton Guerra. “Nos propusemos a oferecer algo que contasse com foco restrito em pragas, doenças e plantas daninhas. E ao mesmo tempo entendemos, desde o início, que o produtor rural merecia uma publicação bonita. Nesse sentido reinventamos o aspecto gráfico, com papel de primeira qualidade e riqueza de ilustrações”, lembra Peter. Uma outra preocupação que permeou o projeto desde o começo foi a de oferecer, através de matérias técnicas e da colaboração de especialistas em sanidade vegetal, informações que pudessem se traduzir em resultados positivos no bolso do produtor. “Nossa principal meta nunca foi o “furo” jornalístico, embora tenhamos conseguido fazer isso em várias edições”, comenta Peter. O projeto piloto, que circulou em janeiro de 1999, já destacava na capa a disseminação da nova espécie de uma praga bastante conhecida dos agricultores brasileiros. “Mosca branca, eis o inimigo”, foi a chamada para a

Lucia M. Vivan

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Charles Echer

reportagem principal, sobre o pesadelo da Bemisia argentifolii, responsável por severos danos em inúmeras culturas comerciais. A descrição do inseto e o completo relato da presença nos vários estados do Brasil, estiveram acompanhados das estratégias de controle disponíveis na época. Desde o primeiro número, a preocupação foi sempre de ao apontar o problema também oferecer soluções aos leitores. Detalhes de outras pragas como nematóides e percevejo-castanho passaram a ser melhor conhecidos a partir das edições de Cultivar, recheadas com fotos em alta resolução. Além de se tornarem objeto de consulta de agronômos e produtores em fazendas, os artigos e matérias técnicas também ocupam lugar em sala de aula, usados como material didático por alunos e professores. Os Cadernos Técnicos, divididos por culturas, com abordagem completa de um determinado assunto e espaço para publicidade exclusiva, se somam às inovações. Na edição número dois, em março de


1999, o título de capa “É soja, é transgênica, e é brasileira”, saudava a biotecnologia em variedades de soja e de milho produzidas no Brasil. Apesar de abrir posição a favor da tecnologia, o espaço para opiniões divergentes esteve garantido. Em abril do mesmo ano uma entrevista com o então secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffmann, abordava as razões alegadas pelo governo do Estado para declarar guerra aos transgênicos e tentar transformar o solo gaúcho em área livre de Organismos Geneticamente Modificados. Ainda em 2003 a decisão da juíza Selene Maria de Almeida, de suspender os efeitos de uma sentença de primeira instância que proibia o cultivo de plantas transgênicas no Brasil, reascende a polêmica e enche de dúvidas os agricultores, às vésperas do início do plantio da safra 2003/2004. Novamente Cultivar firma posição a favor da tecnologia e atualiza os leitores através de ampla cobertura sobre a conflitante batalha em torno da liberação dos Organismos Geneticamente Modificados. O

Antecipação de um sério problema

E

m abril de 2002 Cultivar já antecipava os riscos daquele que se tornaria o maior desafio a ser enfrentado pelos produtores de soja no Brasil. Detectada no dia 5 de março de 2001, na localidade de Pirapó (Itapuá), no Paraguai e disseminada na mesma safra no Paraná, no Sul brasileiro, a ferrugem asiática acabava de explodir em lavouras de Chapadão do Sul, em Mato Grosso do Sul. Em julho do mesmo ano a capa “Morte Vermelha”, dava a exata dimensão do problema, com cobertura completa sobre o avanço da ferrugem asiática no Brasil e tema é abordado em quatro artigos: o primeiro da Redação, o segundo do Greenpeace (tradicional opositor aos transgênicos), o terceiro da Monsanto do Brasil (a primeira empresa a oferecer cultivares transgênicas) e o quarto do

estratégias de controle disponíveis, em dois artigos, o primeiro assinado por José Tadashi Yorinori, da Embrapa Soja e Wilfrido Morel Paiva, Cria/Paraguai e o segundo por Natal Antônio Vello, da Esalq.

engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja, Décio Luiz Gazzoni. Apesar da posição favorável à tecnologia, Cultivar opta por oferecer espaço para opiniões conflitantes, sem impor sua linha editorial.


Identidade agrícola O

O primeiro contato de Saiki com as publicações do Grupo Cultivar ocorreu três meses antes de ser contemplado, em uma revenda de tratores, em Piraju. “Vi um exemplar da Cultivar Máquinas e achei interessante pro meu trabalho. Peguei o cupom que tinha dentro e assinei ela e a Cultivar HF. Só depois fiquei sabendo do sorteio”, relata. Saiki lembra com detalhes do dia em que

foi comunicado que receberia de graça o trator que pretendia comprar para alavancar a produção de seu sítio. “Quando o pessoal da Cultivar me ligou, não acreditei, pensei que fosse trote”, recorda. A certeza de que realmente tinha sido sorteado só veio no dia 11 de fevereiro, quando recebeu das mãos do governador do Paraná, Roberto Requião, as chaves de seu Valtra BM 110. “Transformou minha propriedade” As características de trator de grande porte do Valtra BM 110, avaliado na época em aproximadamente R$ 100 mil, levou Celso Itiro Saiki a trocá-lo por um BL 77 da mesma marca, mais adequado às necessidades da pequena propriedade. Os R$ 27 mil que recebeu na troca usou para a compra de implementos. Com o prêmio Saiki pôde mudar a estratégia de produção do sítio. Metade da área hoje é destinada a gado de corte. “Uso o trator para silagem e no plantio de pastagens. Foi um presente que transformou a minha propriedade”, resume. Fotos Celso Saiki

s laços estreitos de Cultivar com a vocação agrícola do Brasil e a produção de alimentos estão evidenciados, também, na escolha dos brindes promocionais oferecidos durante as campanhas de assinaturas. Foi assim, por exemplo, em 2004, quando a publicação realizou o inédito sorteio de um trator Valtra BM 110, entregue durante o Show Rural, em Cascavel, no Paraná. Três anos mais tarde, na mesma feira, outro leitor era contemplado, dessa vez com passagens aéreas para participar do Farm Progress Show, a maior feira dinâmica de máquinas agrícolas, nos Estados Unidos. O sorteio de um Valtra BM 110, em fevereiro de 2004, mudou a vida de Celso Itiro Saiki, produtor de frutas e hortaliças em uma área de 48 hectares, no município de Piraju, interior de São Paulo. Neto de japoneses, chegou à região na década de 1940 junto com a família, que inicou o trabalho no sítio com a produção de algodão e café, antes de passar a se decidar à horticultura.

Foco cada vez mais segmentado

D

a experiência acumulada através do contato direto com a pesquisa em sanidade vegetal e o mercado agrícola surgiram mais duas publicações lançadas pelo Grupo Cultivar para o setor. Em 2000 nascia a Cultivar Hortaliças e Frutas, totalmente voltada para a abordagem de pragas, doenças e plantas daninhas que afetam estas culturas. Já em 2001 chegava ao mercado a Cultivar Máquinas, a única revista brasileira especializada em mecanização agrícola.

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Viagem para o Farm Progress Show

E

m fevereiro de 2007, uma promo- turísticos do país, durante dez dias. ção relâmpago durante o Show RuA promoção foi fruto de uma parceria ral, em Cascavel, sorteou uma viagem téc- entre Cultivar e a agência especializada em nica aos Estados Unidos. O engenheiro viagens técnicas Agritours Brasil. Frank Paragrônomo Márcio Cruzetta, da cidade de tington, diretor geral da Agritours destaca Laranjeiras do Sul (PR), foi o contemplado. que a parceria é um exemplo do que é Fabiano Dallmeyer possível fazer para oferecer No dia 24 de agosto Cruzetta embarcou para os Estaaos produtores brasileiros fordos Unidos onde, além de parmas de incrementar o conheticipar do Farm Progress Show, cimento tecnológico. “Penso a maior feira dinâmica de máque cada vez mais as emprequinas agrícolas do mundo, em sas devem tomar a iniciativa Decatur, Illinois, realizou visitas de proporcionar crescimento à Bolsa de Cereais de Chicago, profissional aos seus clientes, fazendas produtoras de milho Frank entrega passagem oferecendo produtos com e soja, cooperativas e roteiros aérea a Márcio Cruzetta conteúdo”, avalia.

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Milho

Ultra-agressiva A ampliação das épocas de plantio do milho, em safra e safrinha, a ausência de rotação de culturas e uso de materiais suscetíveis são ações que têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos que atacam a cultura. A antracnose, causada por Colletotrichum graminicola, tem gerado perdas que chegam a 40% na produtividade de grãos, quando relacionadas às fases de podridão de colmo e queima foliar

A

pesar do aumento da produtividade alcançado nos últimos anos na cultura do milho no Brasil, esta ainda é considerada baixa quando comparada a de outros países produtores como Estados Unidos, Argentina e China. Este fato torna-se ainda mais evidente se considerarmos a extensão territorial e as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento desta gramínea no país. Diante das perspectivas de aumento da demanda de consumo de milho no mercado internacional, há uma necessidade imediata de incremento de produção e produtividade para que o país possa, de fato, participar efetivamente deste mercado. A expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), adoção do sistema de plantio direto, aumento do uso de sistemas de irrigação, ausência de rotação de cultura e uso de materiais suscetíveis, têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos que atacam a cultura do milho. A continuidade temporal da cultura e o aumento do potencial de inóculo,

resultante dos fatores acima mencionados, têm promovido o surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura, relacionados à ocorrência de doenças. Dentre as doenças que vêm causando maior preocupação, devido aos danos ocasionados à cultura, destaca-se a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (CES.). Esse fungo é capaz de atacar todas as partes da planta, embora, as fases de antracnose foliar e de podridão de colmo sejam consideradas as mais importantes. Além dos fatores acima mencionados, o surgimento de biótipos mais agressivos do patógeno e a ocorrência de condições ambientais favoráveis (temperaturas elevadas e alta umidade relativa do ar) podem estar relacionados ao aumento na ocorrência e agressividade da antracnose em milho. No Brasil, os primeiros relatos da ocorrência da doença datam do início da década de 1960, em áreas de produção de milho híbrido na região de Campinas. Nessa ocasião foram estimadas perdas em torno de 30% na produção. Atualmente o patógeno encontrase disseminado em, praticamente, todas as

regiões produtoras de milho do país. As perdas na produtividade de grãos, relacionadas às fases de podridão de colmo e queima foliar da doença, variam de 0 a 40% dependendo do genótipo da planta, das condições de ambiente e da época de infecção. A utilização de variedades resistentes é considerada a principal estratégia de manejo desta enfermidade. Embora não haja evidências da ocorrência de raças fisiológicas nesta espécie, a variabilidade presente nas populações do patógeno pode dificultar o manejo da doença através da utilização da resistência genética. Apesar da ausência de evidências da existência de raças fisiológicas em populações de C. graminicola é bastante provável que elas ocorram na natureza, à semelhança do que acontece com outras espécies de Colletotrichum, como C. sublineolum, agente causal da antracnose do sorgo.

SINTOMATOLOGIA Os sintomas da antracnose podem ser observados nas folhas, no colmo, nas espigas, no pendão e nas raízes das plantas. No entanto, as fases da antracnose foliar e poDivulgação

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Fotos Luiz Alberto Staut

ETIOLOGIA DO FUNGO

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Sintomas da antracnose do milho: sintomas foliares (acima); e antracnose na nervura central (abaixo)

dridão do colmo são consideradas as mais importantes. Os sintomas iniciais da fase foliar da doença são caracterizados pelo aparecimento de lesões pequenas, apresentando aspecto encharcado, cujo formato varia de oval a irregular, inicialmente nas folhas inferiores da planta (Figura 1). Com o desenvolvimento da doença as lesões tornam-se escuras, com tamanho variando entre 0,5 a 1,5 cm e formato oval a elíptico, podendo apresentar bordas das lesões de formato e coloração variáveis. Na parte central dessas lesões são observadas inúmeras pontuações escuras, correspondendo aos acérvulos do fungo, os quais permitem a diagnose da doença em condição de campo e laboratório. Sob condições climáticas favoráveis e com a utilização de genótipos suscetíveis essas lesões coalescem resultando na seca prematura das folhas.

antracnose do milho é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (Ces.) Wilson, correspondente à forma teleomórfica Glomerella graminicola Politis. Esta espécie foi considerada, durante muito tempo, como agente causal da antracnose em sorgo. Estudos baseados em características qualitativas e quantitativas da produção de apressórios, in vitro, de isolados monoconidiais e na análise da seqüência de nucleotídeos de rDNA da região ITS-2 de isolados de C. graminicola provenientes de milho e sorgo demonstraram a existência de diferenças significativas entre estes, os quais foram considerados como espécies distintas. Desse modo, a espécie C. graminicola foi dividida em duas espécies, sendo a denominação C. graminicola referente aos isolados provenientes de milho e C. sublineolum para aqueles provenientes de sorgo. Além do milho, os isolados de C. graminicola podem infectar aveia, cevada e trigo. Apesar dos vários estudos confirmarem a distinção entre as espécies de Colletotrichum que atacam milho e sorgo, a denominação C. sublineolum não foi amplamente aceita e raramente foi utilizada até por volta do ano de 2000. Entretanto, mais recentemente, essa nomenclatura passou a ser utilizada com mais freqüênNo colmo, embora a infecção possa ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, os sintomas são mais visíveis após a polinização. Os sintomas são carac-

cia podendo ser, atualmente, considerada como amplamente aceita pela comunidade científica. A espécie C. graminicola pertence à ordem Melanconiales, que inclui fungos assexuados que produzem seus esporos (conídios) em estruturas reprodutivas (conidiomas) denominados acérvulos, os quais apresentam coloração escura e formato oval a cilíndrico. Nessas estruturas estão presentes numerosas setas de coloração escura, formadas na epiderme e camada subepidérmica da superfície das folhas e/ou do colmo. Os conidióforos, produzidos no interior dos acérvulos em grande quantidade, são eretos, hialinos e não apresentam septo. Os conídios, produzidos terminalmente sobre os conidióforos, são hialinos, não septados e falciformes A fase sexual, Glomerella graminicola raramente é observada na natureza e caracteriza-se pela presença de peritécios, no interior dos quais são produzidas ascas cilíndricas a clavadas, que contêm ascósporos hialinos e unicelulares. Abundante produção de esporos assexuais desse patógeno pode ser obtida em meio de farinha de aveia-agar-tetraciclina, mantida sob regime de luz fluorescente contínua a temperatura de 22 a 30ºC, durante sete a dez dias.

C

terizados pela presença, na casca, de lesões escuras, estreitas e alongadas nos entrenós inferiores das plantas, as quais podem coalescer formando áreas extensas de colora-


Fotos Luiz Alberto Staut

À esq. lesões causadas pela antracnose na parte externa (casca) do colmo. À dir. ataque severo da doença, com acamamento e quebramento de colmo

ção escura brilhante. Internamente, os tecidos vasculares apresentam podridão típica de coloração marrom-escura. Com o desenvolvimento da doença, os tecidos internos do colmo entram em processo de desintegração, resultando na senescência precoce e acamamento de plantas. Esses sintomas são mais evidentes ao final do ciclo da cultura. Outro sintoma associado à fase de podridão de colmo é denominado de “top dieback”. Nesse caso, ocorre a murcha e morte dos tecidos localizados acima da espiga, durante as fases inicias de formação dos grãos, enquanto os tecidos abaixo dela permanecem verdes. Os sintomas de “top dieback” progridem em sentido descendente, ou seja, do ápice para a base da planta.

CICLO DA DOENÇA O patógeno C. graminicola apresenta duas fases distintas em seu ciclo de vida, podendo atuar tanto como patógeno agressivo em plantas de milho vivas, como saprófita em restos culturais (Figura 2). O ciclo da doença pode ser dividido em cinco fases temporais: 1) produção e disseminação de inóculo primário; 2) infecção foliar de plântulas; 3) antracnose foliar em plantas adultas; 4) colonização sistêmica e podridão do colmo e 5) sobrevivência em restos culturais. Os esporos produzidos em acérvulos residentes nos restos culturais (inóculo primário) são responsáveis pelas primeiras infecções foliares na lavoura. A dispersão horizontal dos esporos a partir dos restos culturais é limitada à pequena distância percorrida pelos respingos de água da chuva ou irrigação. Os esporos produzidos a partir das lesões primárias, localizadas inicialmente nas folhas baixeiras da planta, constituem o inóculo secundário do patógeno, o qual é responsável por repetidos ciclos de produção e disseminação de inóculo ao lon-

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go de período de desenvolvimento da cultura. As folhas de plântulas e de plantas na fase de pós-antese são mais suscetíveis à infecção que aquelas na fase de amplo crescimento vegetativo. As lesões foliares atuam como fonte de inóculo para infecção do colmo. Os esporos produzidos nas folhas são lavados pela água da chuva e irrigação e depositam-se na junção das folhas com o colmo, atrás da bainha, onde germinam e iniciam o processo de infecção. Danos à casca, causados por insetos, principalmente, favorecem a penetração do fungo e o desenvolvimento da doença. Ao final do ciclo da cultura o patógeno sobrevive como saprófita em restos culturais na superfície do solo, onde permanecerá até o próximo plantio. Desse modo, ao longo dos anos ocorre aumento do potencial de inóculo do patógeno na área de plantio.

CONTROLE Dentre as estratégias de manejo da an-

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tracnose o uso de resistência genética destaca-se como a forma mais viável, segura e de menor impacto ambiental para o manejo desta enfermidade, tanto para a fase de podridão do colmo quanto para a fase de queima foliar. Entretanto, a utilização da resistência genética, principalmente a resistência do tipo vertical, pode ser dificultada pela possível variabilidade patogênica apresentada por C. graminicola, resultando na rápida adaptação do patógeno aos materiais resistentes disponíveis no mercado. Um conhecimento mais aprofundado da variabilidade e estrutura populacional, com relação à patogenicidade, é fundamental para a elaboração e estabelecimento de estratégias de manejo que possibilitem a obtenção de níveis mais estáveis de resistência nesse patossistema. Outras medidas para o manejo da antracnose do milho são: 1) Rotação de culturas, principalmente em sistema de plantio direto; 2) Eliminação de restos culturais; 3) Eliminação de hospedeiros alternativos do patógeno; 4) Práticas culturais, como: população de plantas adequada, adubação equilibrada principalmente no que diz respeito à relação N/K; manejo adequado de irrigação, manejo eficaz de pragas e doenças e controle químico, nos casos de cultivos de elevado valor comercial como campo de sementes. Essas medidas são importantes, pois permitem reduzir significativamente o potencial de inóculo do patógeno na área de plantio, além de atuarem preservando a resistência presente nos genótipos comerciais. C Luiz Alberto Staut, Embrapa Agropecuária Oeste

Figura 1 - Ciclo da doença



Algodão

O futuro do algodão A expansão e as condições de cultivo no Cerrado preocupam a pesquisa quanto à sustentabilidade do sistema produtivo do algodoeiro. Alguns fatores são fundamentais para a manutenção da alta produtividade e qualidade de fibra, como destruição de restos culturais, rotação de culturas, monitoramentos e o emprego correto da tecnologia de aplicação de defensivos

O

Brasil expandiu a área cultivada com a cultura do algodoeiro no decorrer dos últimos anos e na safra 2006/2007, a área plantada foi de aproximadamente 1,07 milhão de hectares, superior à safra anterior em 24,4% (209,1 mil hectares). Este aumento expressivo da área cultivada está relacionado principalmente aos baixos preços da soja e do milho na época da implantação dessas culturas, estimulando os produtores a migrarem para a cultura do algodoeiro (Conab, 2007). Os cotonicultores do Cerrado brasileiro adotaram nos últimos anos um novo modelo produtivo em larga escala no qual são utilizadas altas tecnologias e, investimento em qualidade. Dentre estas tecnologias podem ser citadas: a implantação da colheita mecanizada, a melhor utilização de reguladores de crescimento e a utilização de cultivares com alto rendimento de fibra. Este modelo produtivo incentivou o plantio do algodoeiro em grandes áreas, porém, a grande preocupação no momento são as condições que o cultivo do algodoeiro está sendo realizado, as quais poderão comprometer a sustentabilidade da cultura no Cerrado. Atualmente, observa-se que, dentre os cotonicultores, são poucos os que utilizam práticas de manejo adequadas que contribuem para que o sistema de produção do algodoeiro no Cerrado tenha sustentabilidade. No sistema atual de produção do algodoeiro devem ser observados e levados em consideração alguns fatores fundamentais que irão contribuir para uma maior produtividade, qualidade de fibra e sustentabilidade da cultura. Estes fatores são: des-

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truição de restos culturais do algodoeiro, rotação de culturas, qualidade da semente, monitoramento da lavoura, momento correto da aplicação de defensivos agrícolas e a tecnologia de aplicação de defensivos.

DESTRUIÇÃO DE RESTOS CULTURAIS A destruição dos restos culturais é uma medida recomendada logo após a colheita do algodão com o objetivo de reduzir o inóculo de patógenos e a população de pragas nestas áreas. No entanto, pode-se dizer que a destruição dos restos culturais não está sendo totalmente eficiente e geralmente, a maioria das áreas que passam por este processo apresenta plantas rebrotadas, as quais irão favorecer a proliferação de doenças e pragas, principalmente a ramulose (Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides), a mancha de ramulária (Ramularia areola), a bacteriose ou mancha angular (Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum), o bicudo (Anthonomus grandis) e o pulgão (Aphys gossypii), tanto dentro destas áreas quanto proliferando para as áreas vizinhas. É importante que os produtores realizem a destruição dos restos culturais com equipamentos adequados e, havendo rebrotas, é necessário eliminá-las através do uso de herbicidas. Sugere-se também, para auxiliar no controle da rebrota do algodoeiro, a semeadura de outras espécies vegetais, se possível, logo após a aplicação do herbicida. A integração en-

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tre os métodos mecânico, cultural e químico é imprescindível para a destruição adequada dos restos culturais do algodoeiro, pois nenhum método isolado controla satisfatoriamente a rebrota (Silva et al., 2006).

ROTAÇÃO DE CULTURAS A rotação de culturas consiste em alternar anualmente espécies vegetais numa mesma área agrícola. O cultivo do algodoeiro sucessivamente numa área e a sucessão soja – algodão, sistemas muito utilizados atualmente no Cerrado. Estes sistemas, em poucos anos, não terão sustentabilidade podendo acarretar a baixa produtividade das culturas, pois são altamente favoráveis ao desenvolvimento de doenças, pragas e ervas daninhas, além de provocarem a degradação química, física e biológica do solo. Portanto, é importante introduzir nestes sistemas de produção, outras espécies vegetais, como por exemplo, as gramíneas, que possam auxiliar no controle de doenças, pragas e ervas daninhas, bem como proteger e melhorar as características química, física, biológica do solo além do teor de matéria orgânica. Neste caso, faz-se necessário um planejamento para estabelecer e conduzir o melhor sistema de rotação de culturas, baseando-se no histórico das áreas, nas espécies vegetais a serem utilizadas, no valor econômico destas e na capacidade do produtor de incorporar novas tecnologias. Para o Cerrado brasileiro, o sistema de produção mais adequado é o Sistema Plantio Direto (SPD). Este consiste no não-revolvimento do solo, rotação de culturas e plantio sob palhada e está sendo utilizado por produtores com


resultados excelentes em termos de produtividade e qualidade da fibra de algodão. A integração lavoura-pecuária também é uma opção a ser utilizada com sucesso.

QUALIDADE DA SEMENTE

Fotos Charles Echer

A qualidade de semente pode ser conceituada como a soma de várias características ou atributos da semente, como pureza genética, dano mecânico, viabilidade (poder germinativo), vigor, sanidade, uniformidade de tratamento, tamanho e aparência (Delouche & Potts, 1974). As sementes de melhor qualidade são geneticamente puras, de alto poder germinativo, alto vigor, livres de danos mecânicos, agentes patogênicos e contaminantes, padronizadas e adequadamente tratadas.

O sucesso para o estabelecimento da cultura do algodoeiro em uma determinada região não depende somente das condições climáticas favoráveis à cultura e de técnicas adequadas de manejo, mas também da utilização de sementes selecionadas. É importante que os produtores adquiram lotes de sementes de algodoeiro de empresas/produtores de sementes idôneos. Os lotes de sementes devem ser tratados homogeneamente com fungicidas com o objetivo de erradicar ou reduzir aos mais baixos níveis possíveis os fungos presentes nas sementes, proporcionar proteção das sementes e plântulas contra fungos de solo, bem como promover a uniformidade na germinação e emergência, medida essencial no estabelecimento da lavoura.

O estabelecimento da lavoura de algodão não depende apenas das condições climáticas e de técnicas de manejo, mas principalmente da utilização de sementes de qualidade

MONITORAMENTO DA LAVOURA O monitoramento da lavoura deve ser feito por técnicos (monitores de campo) rigorosamente treinados principalmente para identificar e quantificar as doenças e as pragas do algodoeiro. O monitoramento das pragas é feito constatando a presença/reconhecimento do inseto na planta ao passo que o monitoramento das doenças é feito através do reconhecimento dos sintomas nas plantas, causados pelos patógenos. Muitas vezes, estes sintomas podem ser confundidos, por exemplo, com fitotoxidade causada por herbicida ou outros produtos químicos. Por este motivo, é importante que os monitores sejam bem treinados/qualificados para reconhecerem adequadamente os sintomas que os patógenos causam nas plantas. Os monitores, primeiramente, devem conhecer sucintamente as áreas de trabalho (talhões), isto é: histórico das áreas, tipos de solo, culturas cultivadas anteriormente, rotação ou sucessão de culturas, tipos de sistema de plantio, convencional, direto ou sob palhada, incidência de do-


Fotos Charles Echer

O treinamento dos monitores é importante para que reconheçam corretamente os sintomas de patógenos e pragas causados às plantas

enças e pragas nestas áreas etc., além de conhecerem as variedades de algodão a serem cultivadas nestas áreas quanto à resistência/suscetibilidade a doenças e pragas. Os monitores de campo treinados/qualificados e com o conhecimento das áreas e das variedades de algodoeiro a serem monitoradas terão sucesso para identificar e quantificar as doenças no início dos primeiros sintomas, essencial para a tomada de decisão da aplicação de fungicidas. Dentro do sistema de produção do algodoeiro, os monitores de campo são fundamentais devido as suas atribuições.

MOMENTO CORRETO DA APLICAÇÃO A tomada de decisão da aplicação de defensivos agrícolas nas lavouras de algodoeiro para o controle de doenças e pragas geralmente é feita pelo engenheiro agrônomo/técnico/gerente responsável da propriedade. Esta decisão é baseada nos resultados das amostragens realizadas pelos monitores de campo. Por esta razão, é necessário que os monitores sejam treinados/ qualificados para identificar e quantificar corretamente a incidência e severidade das doenças e pragas nas lavouras. A tomada de decisão da aplicação e a escolha adequada do fungicida baseiamse principalmente nos seguintes fatores: quais são as doenças presentes na lavoura que atingiram o nível de controle e quais os fungicidas/grupos químicos a serem utilizados que irão controlar eficientemente estes patógenos. A escolha correta dos fungicidas é fundamental para o controle efi-

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ciente dos patógenos. Dependendo do patógeno a ser controlado, alguns grupos químicos são mais eficientes, tendo um nível de controle superior aos outros. Portanto, o técnico responsável deverá decidir sobre o produto/grupo químico a ser utilizado visando o patógeno a ser controlado. O técnico também deverá estar ciente da necessidade da alternância dos diferentes grupos químicos para o controle dos patógenos, e esta alternância poderá ser feita baseando-se nos resultados do monitoramento das doenças durante o ciclo da cultura. Atualmente, apenas alguns grupos químicos de fungicidas estão registrados junto ao Ministério da Agricultura para o controle das doenças que incidem sobre a cultura do algodoeiro. As empresas comerciais disponibilizam no mercado basicamente fungicidas pertencentes aos grupos químicos das estrobilurinas, triazóis, benzimidazóis e organoestânico. Este afunilamento de grupos químicos poderá acarretar sérias conseqüências num futuro próximo, como por exemplo, a resistência de patógenos a determinados grupos químicos se a utilização destes produtos não for feita de uma maneira consciente e adequada (alternância) para o controle das doenças do algodoeiro.

Química, Engenharia e Climatologia e tem como objetivo a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, de uma forma econômica, homogênea e na quantidade mínima e necessária para o controle dos patógenos, neste caso, na cultura do algodoeiro. A aplicação pode ser aérea ou terrestre, no entanto, para uma correta pulverização, aconselha-se fazer sempre a regulagem e a calibragem dos pulverizadores, a limpeza dos filtros (verificar se estão livres de resíduos), verificar detalhadamente as condições de uso das mangueiras, fazer a escolha correta dos bicos, verificar se as condições climáticas estão propícias à aplicação (umidade relativa do ar, temperatura, inversão térmica, vento) e à escolha das gotas adequadas a estas condições climáticas, de forma a garantir que o produto atinja o alvo. O produto que não atingir o alvo não terá eficácia no controle do patógeno, causando, neste caso, prejuízos ao produtor. A utilização correta dos produtos e a capacitação da mão-de-obra para o uso correto dos equipamentos também são fundamentais para o sucesso das aplicações. Deve-se observar também que o importante não é o volume de calda pulverizada e sim o volume de calda que chega ao alvo. A abordagem destes tópicos é importante para que os cotonicultores se conscientizem da necessidade da utilização correta do manejo para a sustentabilidade da cultura do algodoeiro no Cerrado, proporcionando alta produtividade, qualidade de fibra, lucratividade, além da contribuição para melhor preservação do C meio ambiente. Luiz Gonzaga Chitarra, Embrapa Algodão

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO A tecnologia de aplicação de defensivos é uma ciência que envolve diversas áreas de conhecimento como a Agronomia,

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A conscientização com a sustentabilidade da produção é essencial, diz Chitarra



Eventos

Fibra de valor A sexta edição do Congresso Brasileiro de Algodão avaliou as principais oportunidades da cotonicultura, com ênfase para tecnologia e produtividade

U

berlândia foi palco da sexta edi ção do maior evento da cotoni cultura brasileira, realizado de 13 a 16 de agosto. O VI Congresso Brasileiro do Algodão teve como desafio, neste ano, identificar as oportunidades de negócios para o setor. O evento reuniu mais de dois mil inscritos entre produtores, técnicos, empresários, compradores, pesquisadores, professores, estudantes e empresas que atuam no segmento. A tônica do congresso foi as discussões e palestras sobre o uso de transgenia na cotonicultura e, este assunto, provavelmente foi um dos motivos que acabaram tornando a sexta edição, uma das maiores já realizadas.

EMPRESAS Na parte de exposição, produtos e serviços, 50 empresas nacionais e internacionais do setor estiveram presentes na Cotton Expo, feira da indústria do algodão, apresentando numa área de cinco mil metros quadrados, o que há de mais moderno e avançado em tecnologia e produtos para a cotonicultura. As principais empresas do setor de defensivos também marcaram presença, com lançamento de produtos e eventos paralelos com produtores.

MDM A MDM, empresa que comercializa sementes de algodão, focou a importância de o produtor observar a qualidade das sementes adquiridas, principalmente as sementes com tecnologia transgênica. “A pureza genética da semente é um dos principais fatores que determinam o sucesso do evento que garante a resistência aos insetos”, explica Michel Cedrick

Pureza genética das sementes foi o foco da MDM

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Butnariu, gerente comercial da empresa. Estudos realizados pela MDM mostram que a produtividade das sementes puras é pelo menos 5% maior do que a produtividade das sementes salvas, garante.

BASF O foco da Basf foi a apresentação do AgCelence. Selo mundial da empresa para identificar os produtos que proporcionam efeitos fisiológicos positivos nas plantas, aumentam o rendimento e melhoram qualidade de pluma. Dentro da marca AgCelence, estão os fungicidas Comet e Cabrio Top que, além de controlar doenças, atuam no aumento da área foliar, diminuição da queda prematura das folhas, garantindo mais vigor e maior produtividade, explica Reginaldo de Sene, gerente de cultivos de extensivos algodão e feijão. A Basf apresentou também o biorregulador Pix HC, também indicado para a cultura.

BAYER O destaque da Bayer CropScience foi o conceito Linha Forte Fibra Forte, programa de uso desenvolvido exclusivamente para atender às necessidades da cultura do algodoeiro. ”Por meio de um programa diferenciado desenvolvido pela Bayer, os cotonicultores contam com soluções inovadoras que proporcionam maior vigor às plantas de algodão, contribuindo para a produção de uma fibra de melhor qualidade, o que trará mais rentabilidade no final da safra”, conta o gerente de cultura, Amarildo Ornelas. Os produtos que compõem a Linha Forte Fibra Forte são as sementes FiberMax, os inseticidas Bulldock, Connect e Oberon, além do fungicida Nativo.

A Basf deu destaque ao AgCelence e seus efeitos fisiológicos

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FMC O lançamento de dois livros sobre insetos na cultura de algodão foi um dos principais destaques da FMC durante o Congresso. O manual de pragas do algodoeiro tem 300 páginas e o manual de insetos benéficos do algodoeiro 270 páginas, somando mais de 400 fotos de insetos nas principais fases, além de danos e benefícios causados por eles na cultura do algodão. O material é de autoria de Paulo Saran, da BBC Agro, com os co-autores Danielle Thomazoni, Ademar Serra, Paulo Degrande e Walter Jorge dos Santos. “Quando apresentada, abraçamos imediatamente a causa, pois a FMC tem uma preocupação latente em propor soluções inovadoras”, relata Renato Nivoloni, gerente de inseticidas da FMC.

DUPONT Além da sua conhecida linha para a cultura de algodão, a Dupont apresentou o inseticida Alanto, para prevenção de viroses. O produto protege a cultura do algodão contra o pulgão, mosca branca e tripes e ajuda a prevenir as doenças causadas pelo ataque da praga às plantas. Além do Alanto, a empresa apresentou seus inseticidas para o controle de lagartas e o maturador CottonQuik.

IHARA A Ihara destacou dois de seus principais produtos para a cultura de algodão. O Tiger 100 EC é um inseticida de contato, com ação translaminar, indicado para o controle de mosca branca, que imita a função do hormônio juvenil natural do crescimento dos insetos. Sua ação paralisa o crescimento da praga na fase em que ela recebeu o tratamento, impedindo que o inseto passe para o próximo

Programa Linha Forte Fibra Forte chamou atenção no estande da


a Bayer

Fotos Charles Echer

Dupont reforçou os benefícios do Alanto

estágio. “Já o Flumyzin é um herbicida indicado para o controle das principais plantas daninhas do algodão, um sucesso entre os cotonicultores”, garante Eliana Tashiro, da área de planejamento e marketing.

SYNGENTA A Syngenta aproveitou o evento para proporcionar aos participantes a oportunidade de conhecer os nematóides que atacam a cultura de algodão. Com o auxílio de microscópios e lupas eletrônicas, técnicos da empresa apresentavam galhas de algodão atacadas pela praga, além dos próprios nematóides em diferentes situações. A apresentação reforçou o lançamento técnico do Avicta Completo, um produto para o tratamento de sementes que controla pragas, doenças e nematóides. “O controle de nematóides através do tratamento de sementes é o principal diferencial desse produto em relação aos demais”, garante Leandro Martinho, gerente do produto Avicta.

MONSANTO A Monsanto destacou o algodão Bollgard e aproveitou a oportunidade para es-

Clima do Japão no estande da Ihara

Tratamento de sementes com nematicida foi o foco da Syngenta

clarecer aos participantes sobre as vantagens da tecnologia que torna a planta resistente aos principais insetos que atacam a cultura. Os participantes puderam interagir também através de jogos eletrônicos em 3D sobre os benefícios do Bollgard e dialogar com atores virtuais.

LANXESS

Monsanto apresentou os benefícios do Bollgard

Gerentes da Lanxess participaram do congresso, acompanhando as discussões e apresentação de trabalhos. “O evento é uma excelente oportunidade de fazer contato direto com os produtores e pesquisadores.”, explica Alejandro Gesswein, gerente de marketing da empresa.

PRODUQUÍMICA A Produquímica apresentou seu programa nutricional para o algodão, com destaque ao enxofre pastilhado Sulfugran, elemento essencial para o desenvolvimento das plantas e fundamental na formação da clorofila e no processo de fixação de nitrogênio. “Além das vantagens nutricionais, o produto também tem ação repelente ao percevejo castanho no solo”, explica a assistente de marketing, Paola Sanches.

Equipe da Lanxess de olho no segmento de algodão

Produquímica destacou a linha nutricional para o algodoeiro

CULTIVAR RECEBE HOMENAGEM

A

Paulo Saran e seus dois livros sobre insetos

Estande da FMC lotou no lançamento do livro

Revista Cultivar Grandes Culturas recebeu homenagem na cerimônia de encerramento do VI Congresso Brasileiro de Algodão (VI CBA). A Homenagem à Imprensa é um reconhecimento ao apoio ao agronegócio brasileiro, principalmente no setor de cotonicultura. Desde o primeiro exemplar, veiculado em 1999, a Cultivar publica informações atualizadas sobre os principais problemas enfrentados pelos cotonicultores do plantio à colheita, sempre buscando, junto aos melhores pesquisadores do setor, as formas mais adequadas e eficientes de contornar pragas, doenças e plantas daninhas.

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Soja

Ranking de efi Rede de ensaios, com participação de 18 institui fungicidas registrados e em fase de registro para o mela, antracn

C

trados e em fase de registro, para o controle da ferrugem asiática, da mela, da antracnose e das doenças de final de ciclo. Os resultados sumarizados para controle da mela e da ferrugem foram apresentados na Comissão de Fitopatologia. Para mela, após apresentação dos resultados, foi solicitada a inclusão dos produtos Nativo® 0,5 a 0,6 l/ha (trifloxistrobina + tebuconazole 50 + 100 e 60 + 120 g i.a. ha-1) e Opera® 0,5 a 0,6 l/ha (piraclostrobina + epoxiconazole 66,5 + 25 e 79,8 + 30 g i.a. ha-1), que passam a constar na publicação como uma nova tabela. As estrobilurinas, sozinhas ou em mistura, têm apresentado, nos últimos anos dos ensaios em rede, maior eficiência para o controle dessa doença e, embora apresentem registro para a cultura da soja, somente esses dois produtos estão registrados para o fungo causador da mela (Rhizoctonia solani). As chuvas bem distribuídas, que favoreceram a soja na safra 2006/07, também favoreceram o progresso da ferrugem asiática nos ensaios realizados nessa safra, evidenciado pela baixa eficiência de controle (máximo de 70% na média dos ensaios utilizados na sumarização) observada nos ensaios onde são realizadas duas aplicações em estádios fenológicos determinados. Nessa safra, a rede de ensaios avaliou todos os produtos registrados para ferrugem, a fim de corrigir distorções que foram observadas nas safras passadas em função da diferença de pressão da doença. A alta pressão da doença nessa safra favoreceu a diferenciação entre os produtos, sendo o novo agrupamento incluído na tabela de fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja, causada por Phakopsora pachyrhizi (Tabela 1). Os triazóis e as estrobilurinas, misturas de esDirceu Gassen

Mauricio Meyer

omo nas demais sessões técnicas realizadas durante a XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, em Campo Grande (MS), durante os dias 31 de julho a 1° de agosto, os trabalhos apresentados na Comissão de Fitopatologia foram selecionados com base no seu potencial de contribuição para a atualização das tecnologias e/ou da contribuição para a programação de pesquisa em soja. A ocorrência de plantas com sintomas de abortamento de flores e/ou vagens e que permanecem verdes após a maturação, também denominadas de “soja louca”, foi um dos assuntos discutidos no evento, uma vez que esses sintomas têm sido observados em novas regiões, já havendo relatos nos estados do Pará, do Maranhão, do Mato Grosso e de Tocantins. A etiologia dessa doença permanece desconhecida, mas foi levantada a hipótese da interação de defensivos com a incidência de Carlavirus, causador da necrose da haste, e levantada a necessidade de cooperação entre instituições e áreas de pesquisa nas observações e elaboração de trabalhos experimentais. A rede de ensaios para controle de doenças na cultura da soja, da qual participaram 18 instituições na safra 2006/2007, realizou, pelo quarto ano consecutivo, ensaios em rede para avaliar a eficiência dos fungicidas regis-

Presença do fungo na região, idade das plantas e condição climática são fatores para o início do tratamento

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Chuvas bem distribuídas favoreceram o progresso da ferrugem nos ensaios da safra 2006/07


Dirceu Gassen

ciência ções, avalia o desempenho de controle da ferrugem asiática, ose e doenças de final de ciclo trobilurinas e triazóis e misturas de benzimidazóis e triazóis foram avaliados em dois ensaios separados, em função do grande número de tratamentos. As análises estatísticas nesse ano formaram um grande número de agrupamentos e a decisão do grupo de pesquisadores que compõe a rede foi de que somente os produtos que ficaram no primeiro agrupamento, pelo teste estatístico de Scott-Knott, nos dois ensaios, formariam o agrupamento com três estrelas. Nessa safra foram realizados 20 ensaios nas diferentes regiões produtoras, o que permitiu a seleção dos ensaios com maior pressão de doenças e diferenciação dos tratamentos para sumarização conjunta. Embora o agrupamento facilite o entendimento para o produtor, ele é uma forma bastante simplificada de interpretar os resultados e dentro dos agrupamentos existe diferença de eficiên-

cia entre os produtos. Desta forma, o grupo de pesquisadores que realizou os ensaios nessa safra, disponibilizou as tabelas das análises sumarizadas, durante a Reunião de Pesquisa de Soja, por meio da Circular Técnica 42, onde

constam todas as análises que fundamentaram a formação do novo agrupamento. Embora ocorram diferentes grupos de eficiência na análise conjunta dos resultados, é importante salientar que os produtos podem ter a


Tabela 1 - Fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Campo Grande (MS), 2007 Nome comum azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole fluquinconazole flutriafol metconazole myclobutanil pyraclostrobin + epoxiconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole tiofanato metílico + flutriafol tiofanato metílico + flutriafol trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + propiconazole trifloxystrobin + tebuconazole

Nome comercial Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Virtue Palisade5 Impact 125 SC Caramba Systhane 250 Opera Constant 200 CE Elite 200 CE Folicur 200 CE Orius 250 CE Tríade 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Celeiro Impact duo Sphere5 Stratego5 Nativo6

Dose/ha g de i.a.1 50 60 + 24 24 + 75 50 50 62,5 62,5 54 100 - 125 66,5 + 25 100 100 100 100 100 50 50 300 + 60 300 + 60 56,2 +24 50 + 50 50+100

Agrupamento3 l ou kg de p.c.2 0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,25 0,50 0,60 0,40 – 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,50 0,50 0,40 0,60 0,60 0,30 0,40 0,50

* *** ** * ** * ** ** * ** *** *** *** *** *** ** ** ** ** *** * ***

A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência para registro dos produtos. 1 g i.a. = gramas de ingrediente ativo; 2 l ou kg de p.c.= litros ou kilogramas de produto comercial 3 Eficiência de controle (máximo de 70%) nos ensaios em rede realizados na safra 2006/07, sob alta pressão da doença, onde os produtos são aplicados nas mesmas condições, em R1/ R2 e reaplicados em R5, sem obrigatoriamente seguir as recomendações individuais de cada produto (***>**>*) (Eficiência de fungicidas para controle da ferrugem asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2006/07. Resultados sumarizados dos ensaios em rede. Embrapa Soja: Londrina, 2007. 8 p. (Circular técnica 42)). 4 adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 l/ha via aérea; 5adicionar 250 ml/ha de óleo mineral ou vegetal; 6adicionar 500 ml/ha de óleo metilado de soja (Aureo).

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do adotado, na entressafra de 2007, nos estados do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Goiás, de Minas Gerais, do Tocantins, do Maranhão e de São Paulo. O tratamento de semente com fluquinconazole a 50 g i.a./100 kg sementes (Atento® 300 ml/100 kg) foi aprovado para inclusão na publicação, devendo ser incluído no texto como mais uma estratégia no manejo da ferrugem asiática da soja, pois atua retardando a evolução da doença. Esta tecnologia não dis-

pensa o tratamento padrão de semente com fungicidas, nem permite atrasar ou diminuir o número de aplicações de fungicidas foliares. A publicação deverá ter a inclusão da descrição de novas doenças que têm mostrado importância nos últimos anos, como o nematóide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), a podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae), a podridão branca da haste (Sclerotinia sclerotiorum) e a ocorrência do novo cancro da haste no Rio Grande do Sul, causado por Diaporthe phaseolorum var. caulivora. A aplicação de fungicidas com aviões foi outro tema abordado nas apresentações. Essa tecnologia tem sido considerada uma ferramenta importante para o controle, principalmente, da ferrugem da soja, devido ao rendimento operacional das atividades, mas carece, ainda, de informações de pesquisa sobre suas principais vantagens e desvantagens. Os trabalhos têm demonstrado a eficiência dessa tecnologia, mas, também, a necessidade de alta capacitação técC nica para realizá-la adequadamente. Cláudia Godoy e Rafael Soares, Embrapa Soja

Fotos Mauricio Meyer

mesma eficiência no campo, em condições de baixa pressão da doença. Essa diferença na eficiência dos produtos é mais fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais severa. O delineamento dos ensaios em rede e a seleção dos ensaios para a sumarização conjunta, têm como objetivo selecionar os locais onde a doença foi mais agressiva, para verificar a diferença entre produtos nas situações mais críticas. Apesar da maior eficiência de controle observada para alguns produtos, esse fato não implica em flexibilidade de aplicação. Os produtos devem ser utilizados nos sintomas iniciais (traços da doença) ou preventivamente, levando em conta os fatores necessários ao aparecimento da ferrugem (presença do fungo na região, idade das plantas e condição climática favorável), à logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), à presença de outras doenças e ao custo do controle. As reaplicações dos produtos devem levar em conta o monitoramento da doença na lavoura, uma vez que o residual pode variar entre produtos e em função das condições climáticas. O vazio sanitário, período de tempo sem a presença de plantas vivas de soja no campo durante a entressafra, deve ser incluído no texto como uma estratégia de manejo da ferrugem visando a redução do inóculo inicial nos primeiros plantios. O vazio sanitário está sen-

Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central apresentou o desempenho de fungicidas na cultura

Soja louca: plantas com abortamento de flores e/ou vagens e que permanecem verdes após a maturação

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Trigo

Fonte de contaminação Ataques da giberela em trigo não se resumem apenas aos impactos causados pela redução produtiva de grãos na lavoura. As micotoxinas, formadas durante o crescimento do fungo dentro da planta, desde algumas horas após a infecção até o enchimento de grãos, são hoje uma preocupação mundial quanto à segurança alimentar humana e animal, já que processamentos industriais podem não as eliminar totalmente

A

lém de causar impacto na produção, o problema da giberela envolve questões de segurança alimentar das populações humana e animal, consumidoras de produtos derivados de trigo, uma vez que o fungo que causa a doença produz micotoxinas. Estes compostos permanecem nos grãos mesmo após a colheita, armazenamento e não são facilmente eliminadas no processo industrial, sendo que sérias implicações toxicológicas podem advir do consumo de alimentos com alto teor de micotoxinas. As micotoxinas que ocorrem em níveis mais elevados pertencem à classe dos tricotecenos, com destaque para desoxinivalenol (DON).

PREVENÇÃO E MANEJO DE RISCO

MANEJO PRÉ-COLHEITA A escolha do cultivar é uma primeira decisão importante, embora a má notícia é que não existam ainda cultivares cuja resistência, por si só, possa evitar epidemias, principalmente se as condições de clima são muito favoráveis. A incorporação de genes de resistência, que não são em baixo número, em materiais com boa produção e qualidade tecnológica, não tem sido tarefa fácil. No entanto, a boa notícia é que a pesquisa tem demonstrado diferença significativa na severidade da doença, entre alguns cultivares, sendo indicado que se procure a informação e faça a escolha por cultivares com maior resistência indicada pela pesquisa. Dentre os tipos de resistência verificados, alguns cientistas demonstram que

Dirceu Gassen

O enfrentamento de um problema como a giberela, só é possível através do uso de táticas múltiplas que visam controlar a doença de forma integrada no sistema de produção desde o planejamento da lavoura até a pós-colheita. Para tal, é preciso se ter o maior conhecimento possível sobre a doença no nível regional e os mecanismos que levam à sua ocorrência, desenvolvimento e os danos na produção e qualidade do produto. De maneira

geral, quanto mais eficiente é o controle da doença no campo, maior é a chance de baixa contaminação do trigo com micotoxinas.

Cultivares com comprovada resistência à giberela têm apresentado menores níveis de micotoxinas na maioria das situações

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existem materiais que degradariam as micotoxinas produzidas pelo fungo tendo, portanto, maior resistência a micotoxinas, embora não tanto à doença. A seleção para este tipo, entretanto, ainda é ponto de controvérsia e existe inconsistência nos resultados. De maneira geral, cultivares que apresentam comprovada resistência à doença têm apresentado menores níveis de micotoxinas, na maioria das situações. A base do melhoramento genético atual para resistência à giberela tem enfocado, portanto, na seleção e obtenção de materiais que apresentam menor severidade da doença, devido à maior simplicidade e praticidade da metodologia. Sob situações de alto risco de ambiente favorável no florescimento e levando em consideração fatores econômicos, a aplicação de fungicidas pode ser uma alternativa no controle da doença. Porém, embora se disponha de fungicidas eficientes contra o fungo, existem problemas relacionados à aplicação destes produtos no campo, como a cobertura insuficiente das partes suscetíveis da planta, no caso as anteras, o que afeta a eficiência do controle. Ainda, o incremento dos custos de produção com aplicações seqüenciais de fungicidas a partir da floração é outro fator limitante, uma vez que estas protegeriam mais eficientemente a cultura, já que a janela suscetível pode se estender por um período relativamente longo até o enchimento de grãos. A tomada de decisão deve ser feita com base no monitoramento a partir do espigamento e, principalmente, da previsão meteorológica para os dias em que a cultura estará em florescimento ple-


COMO SÃO FORMADAS AS TOXINAS

A

s micotoxinas são formadas durante o crescimento do fungo dentro da planta, desde algumas horas após a infecção, que inicia no período da antese ou formação do grão até o enchimento de grãos. Infecções que ocorrem durante a fase de enchimento de grão são preocupantes, pois estes grãos terão maior chance de permanecerem no lote, já que uma significativa parcela dos grãos diminutos, leves e chochos pode ser eliminada nos processos de colheita e limpeza. Este tem sido um problema sério, pois em várias situações tem se observado que lotes de grãos aparentemente sadios, sem redução de peso, podem se apresentar contaminados com toxinas. As condições que afetam a flutuação dos níveis de micotoxinas no campo ainda não estão bem conhecidas, mas, sabe-se que sofrem influências de vários fatores abióticos, como o clima, e bióticos ligados à planta e ao fungo. Recentemente, uma atenção tem sido dada ao estudo da genética populacional do fungo e sua habilidade para a formação de micotoxinas. A pesquisa tem mostrado que há uma grande variabilidade genética na população do F. graminearum no. Quanto à eficiência dos fungicidas na redução dos níveis de micotoxinas, este também tem algumas controvérsias, uma vez que pesquisas demonstraram que, embora houve redução da severidade de doença, não houve alteração ou então foi observado aumento da quantidade da toxina DON detectada, em

e outras espécies de Fusarium que causam a giberela, principalmente no seu potencial toxigênico. Na natureza, isolados do fungo, de uma mesma espécie, podem diferir quanto aos tipos de micotoxinas produzidas de uma região para outra, e mesmo em uma lavoura. Embora a DON seja a toxina mais prevalente e em maior quantidade, outras micotoxinas, com implicações toxicológicas ainda mais sérias, têm sido encontradas, embora em níveis menores, como é o caso da toxina nivalenol (NIV) e da zearalenona (ZEA). A caracterização do potencial toxigênico da população regional do fungo é uma informação importante para garantir que métodos apropriados de detecção estejam sendo utilizados para monitorar a ocorrência das micotoxinas que podem estar presentes nos grãos. Além disso, é de grande utilidade para conhecer aspectos epidemiológicos e auxiliar trabalhos de melhoramento para resistência à doença. Estudos desse tipo já estão sendo conduzidos no Brasil e os resultados preliminares sinalizam para uma considerável variabilidade genética da população quanto ao potencial toxigênico. relação às plantas não tratadas, quando determinados fungicidas foram utilizados. O tema ainda necessita de mais estudos para verificar os efeitos da aplicação de fungicidas no acúmulo de micotoxinas. Métodos alternativos têm sido propostos, com base no controle biológico, em que se usam bactérias e

outros microorganismos para exercer o controle do fungo causador da giberela. Alguns biocontroladores têm sido testados isoladamente ou em conjunto com fungicidas, com resultados promissores, sob condições controladas e no campo. Em relação às demais práticas de manejo, poucas parecem exercer uma influência significativa no controle da doença e das micotoxinas. Adubação nitrogenada, cultivo anterior e cultivar têm normalmente pouca contribuição nos níveis de micotoxinas, sendo o clima o fator principal. Uma pesquisa conduzida no centro-sul do Paraná demonstrou que o plantio direto, sob várias configurações de sistema rotacional de cultivos, não exerceu influência nos níveis de micotoxinas (DON e ZEA) nos grãos de cevada, estando estes na dependência maior das condições de clima prevalentes durante na safra (J.L. de Almeida - comunicação pessoal, Fapa).

É POSSÍVEL PREVER DURANTE A SAFRA? Com o ressurgimento de epidemias de giberela, vários cientistas no mundo têm voltado a atenção para a identificação dos fatores de risco, e assim desenvolver modelos matemáticos que descrevam ou simulem as epidemias de giberela, com potencial de aplicação na previsão. No Brasil, algumas cooperativas e associações de produtores têm investido nessa estratégia e testado um modelo desenvolvido aqui no país. A Fundação ABC, nos Campos Gerais, Paraná, usou o modelo conectado à rede de estações meteorológicas automáticas e a previsão meteorológica para os próximos cinco dias, na safra de 2006. Dessa forma uma previsão verdadeira do risco foi feita, ou seja, aquela com base no conhecimento antecipado do clima, já que o ideal é proteger a cultura antes que a infecção ocorra. Os dados gerados na safra 2006 estão sendo anali-


Divulgação

Micotoxinas se formam durante o crescimento do fungo dentro da planta, desde algumas horas após a infecção até o enchimento de grãos

sados e ajustes serão feitos para novamente usar o modelo na safra 2007. O modelo também será testado no Rio Grande do Sul, na região de cobertura da Cooperativa Cotrijal, como componente de experimentos-pilotos para a implantação de procedimentos e normas para o projeto de Produção Integrada do Trigo. Neste estudo, os campos de trigo serão georeferenciados e as informações climáticas observadas no local também serão registradas. O modelo de risco de epidemia de giberela será usado para auxiliar os técnicos na tomada de decisão sobre o controle da doença. Além disso, naqueles campos onde o modelo indicar risco de epidemia de giberela serão coletadas amostras de grão para a determinação da presença de micotoxinas.

MANEJO DO RISCO PÓS-COLHEITA Com a dificuldade de se controlar a doença na lavoura, de forma que os níveis de contaminação do trigo que chega na indústria sejam os mais baixos possíveis, vários países do mundo têm adotado regulamentação para níveis máximos de algumas micotoxinas encontradas com maior freqüência e quantidade, de forma que possa evitar a exposição da população a níveis tóxicos, como por exemplo DON e ZEA. Nos Estados Unidos, foram estabelecidos os seguintes níveis máximos da toxina DON em grãos ou subprodutos: 1 ppm em farinhas para consumo humano, 10 ppm em grãos e subprodutos de destino à alimentação de bovinos e aves e 5 ppm de DON em produtos para suínos e outros animais. A grande variabilidade que existe no processo industrial entre as diferentes indústrias, o que reflete em uma falta de correlação entre a quantidade de toxinas presentes nos grãos e aquela que permanece no produto final, tem dificultado, para os americanos, o estabelecimento

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de níveis de tolerância nos grãos entregues na indústria, por isso a regulamentação apenas para DON em farinhas. Já no Canadá, a regulamentação vale para grãos que não devem conter mais do que 2 ppm, se para consumo humano, 5 ppm para bovinos e 1 ppm para suínos, quando da ocasião da entrega na indústria. Na América do Sul, o Uruguai é o país que tem a mais detalhada regulamentação para micotoxinas e o único a adotar níveis de máximos de DON em grãos e subprodutos de trigo. Argentina e Brasil ainda não têm regulamentação para as toxinas de Fusarium, embora há maior freqüência da doença nos anos recentes. Não raramente, níveis de DON bem acima daqueles definidos na legislação americana têm sido detectados em lotes destinados para o consumo humano na América do Sul. Tais medidas regulamentares, por outro lado, causam impacto na cadeia produtiva e para os produtores, devido ao menor valor pago por lotes contaminados, além de afetar o comércio, com a obrigatoriedade da análise em países importadores que adotam a regulamentação. No entanto, a medida é importante para se prevenir os riscos de exposição dos consumidores a níveis alarmantes de toxinas e garantir alimentos com alta qualidade e saudáveis.

SITUAÇÃO MUNDIAL E PERSPECTIVAS PARA O BRASIL Com a gravidade do tema, um incremento significativo no estímulo e financiamento à pesquisa tem ocorrido no mundo inteiro para tentar resolver um problema que, embora antigo, ainda parece estar longe de uma solução definitiva. Nos Estados Unidos, desde 1997, cientistas ligados a instituições de âmbito federal, estadual, e privado, juntamente com associações de produtores, empresas de insumos

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e de alimentos e engenhos, têm se organizado em uma iniciativa chamada U.S. Wheat and Barley Scab Initiative. A iniciativa decide políticas e prioridades de pesquisa a serem financiadas nos mais variados aspectos da problemática. Na Europa, as iniciativas envolvem grupos multidisciplinares de diversos países que têm trabalhado em rede no âmbito da comunidade européia. No Brasil, órgãos de pesquisa como a Embrapa e algumas poucas universidades, têm dado uma atenção especial ao estudo da doença, principalmente na cultura do trigo e da cevada, na busca de soluções para se tentar gerar conhecimento útil ao manejo do risco. No entanto, tais iniciativas são ainda tímidas e os investimentos baixíssimos, comparados com outras regiões produtoras no mundo. Por algum tempo, as ações de pesquisa no tema, no Brasil, têm se concentrado em estudos epidemiológicos, melhoramento para resistência e manejo com fungicidas. Na Argentina, os investimentos têm sido mais expressivos em levantamentos para detecção, padronização dos métodos e estudos das micotoxinas e dos fatores que levam a sua produção. Aqui no Brasil, ainda são escassos os investimentos públicos para monitoramento dos níveis de contaminação do trigo nacional, se carecendo ainda de estudos básicos desde a caracterização do potencial toxigênico da população, dos fatores que levam à produção de toxinas e de métodos para se identificar, prever e minimizar o impacto das principais micotoxinas que potencialmente podem estar sendo associadas aos grãos e subprodutos. Iniciativas isoladas e com pequeno número de amostras têm demonstrado a presença de toxinas como a DON em níveis preocupantes. Seria necessário que levantamentos sistemáticos fossem feitos em uma série de anos de forma que uma análise conjunta desses dados, através de um enfoque epidemiológico, permita conhecer o panorama e identificar os fatores de risco. Esta é uma forma que se tem para poder manejar racionalmente uma doença importante como a giberela e assim garantir a qualidade da produção de trigo nacional e C a segurança dos consumidores. Emerson Del Ponte, UFRGS A Embrapa Trigo oferece aos produtores oito cultivares de trigo moderadamente resistentes à giberela BRS 177 BRS 179 BRS Louro BRS Timbaúva BRS Camboim BRS Umbu BRS Tarumã BRS Guamirim Fonte: Embrapa Trigo



Cana-de-açúcar M. Rotundo

A

nte a escala de produção da cultura da cana-de-açúcar, com grandes áreas plantadas em monocultivo, é normal o surgimento de desafios fitossanitários, que necessitam ser equacionados para manter viável a produtividade e a própria sustentabilidade do cultivo. Entre eles está a broca, Diatraea saccharalis, uma pequena mariposa que ocorre nas Américas e tem grande importância econômica nos países onde a cana-de-açúcar tem grande expressão, sendo considerada a principal praga da cana no Brasil. Na década de 40, entomologistas já alertavam que o controle químico não teria sucesso no domínio da praga, devido ao hábito peculiar de ataque, e já relatavam que o controle biológico seria muito importante no controle da praga, como realmente tem sido. A broca fura o colmo e abre galerias, provocando perda de peso, morte das gemas e o “coração morto”, o que acaba exigindo custosos replantes, isso quando ela não ataca os talhões destinados à reprodução da cultura. Indiretamente favorece a entrada dos fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que provocam a inversão da sacarose, diminuindo a pureza do caldo. A partir da década de 70, a cana-de-açúcar ganha dupla finalidade com o Proálcool, momento que fez nascer um dos exemplos mais bem-sucedidos de controle biológico aplicado no mundo, através do uso de parasitóides como agentes de controle da D. saccharalis. Dificuldades iniciais como a obtenção de parasitóides em massa para liberação em campo, foram, superadas pelos entomologistas, o que inspirou até a criação de empresas privadas, com biofábricas que fornecem atualmente parasitóides para as usinas de etanol e açúcar. Inicialmente moscas parasitas da família Tachinidae eram largamente utilizadas. Somente em 1986 foi que a vespinha (Cotesia flavipes) ganhou impulso nos canaviais, sendo hoje a grande vedete dos laboratórios de criação de parasitóides. Seu sucesso se deve a sua agressividade no parasitismo e facilidade de criação, entre outros fatores. O controle biológico através da liberação de parasitóides atende aos princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que prega a união de diferentes métodos de controle para

Soma de esforços

F. J. Celoto

Com as extensas áreas em monocultivo de cana, problemas com pragas como a Diatraea saccharalis tornam-se comuns nos canaviais e exigem ações integradas para evitar replante da lavoura. Inseticidas reguladores de crescimento seletivos surgem como alternativa para complementar o controle biológico no manejo da broca da cana-de-açúcar

Planta de cana com sintoma de ataque da broca “coração morto”

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que se alcance sucesso com sustentabilidade, na guerra que o homem trava contra as pragas. Além disso, é uma vitrine para a sociedade, que cada vez mais exige da agricultura métodos de controle que tenham enfoque ecologicamente correto, sem perder a rentabilidade da atividade. O que chama a atenção no caso do controle da broca da cana-de-açúcar, é que na agricultura em geral o controle biológico é usado de forma complementar ao químico, onde muitas vezes nem chega a ocorrer de fato, e no exemplo da cana-de-açúcar é o controle químico, o coadjuvante no controle desta praga. Os relativos sucessos técnico, econômico e ambiental desta prática são citados como exemplo no controle de pragas por parasitóides. Entretanto, novos cultivos de cana-deaçúcar, em regiões produtoras de grãos, onde milho e sorgo são atacados por D. saccharalis, estão atingindo níveis de infestação muito altos, onde o controle biológico aplicado e variedades moderadamente resistentes, não são suficientes para garantir um controle satisfatório. O problema é agravado pelo fato da canade-açúcar permanecer o ano todo em campo, onde verdadeiras “pontes biológicas” estão sendo criadas entre essas gramíneas, gerando sobreposição de gerações. Vale o alerta que quando esta ataca o sorgo, os produtores não

FUTURO DA CANA

A

tualmente lideranças mundiais compreendem a necessidade da busca de novas alternativas que venham substituir a matriz energética baseada em combustíveis fósseis, porém que sejam viáveis monetariamente e ambientalmente. O Brasil que é berço de uma das agriculturas mais competitivas no mundo, é um dos países favoritos a assumir a dianteira na produção de agroenergia, com destaque para a produção de etanol oriundo da canade-açúcar. Se no passado a rapadura adoçava a vida na Europa, no futuro próximo o etanol pode abastecer os carros não só dos europeus, como também dos americanos, chineses e japoneses. Para compreender melhor a dimensão desse mercado, hoje os EUA a partir do milho, já produzem mais etanol que o Brasil e estabeleceram que até 2011 vão dobrar sua procostumam adotar medidas de controle, o que agrava ainda mais o cenário. Avanços no manejo da broca, desencadeados principalmente pela demanda e rentabi-

dução de combustível renovável. Entretanto, o custo do etanol do milho americano é quase o dobro do custo do etanol da cana brasileira. Existe uma preocupação da sociedade que a cana-de-açúcar, devido ao forte aquecimento de investimentos no atual momento agrícola, venha a tomar áreas antes destinadas à produção de alimentos e influenciar de forma negativa a questão dos desmatamentos. Apesar do país possuir terras agricultáveis em quantidade suficiente para atender a expansão da cultura sem influenciar a produção de alimentos, o setor sucroalcooleiro terá mudanças no seu fluxograma de produção, buscando transpor gargalos técnicos atuais para aumentar a produção por área, o que está sendo financiado pelo bom momento econômico que a cultura atravessa. lidade vividas no momento pela cultura, já podem ser constatados nos canaviais pelo complemento do controle biológico, por aplicações de inseticidas do grupo dos reguladores de cres-


REGULADORES DE CRESCIMENTO

S

ão compostos que apresentam um modo de ação diferente dos inseticidas convencionais (organofosforado, carbamato e piretróides), atuando em enzimas específicas da fase de desenvolvimento dos artrópodos, caracterizando-se por apresentar alta seletividade aos mamíferos, inimigos naturais e de baixa contaminação ambiental. São freqüentemente chamados de “inseticidas fisiológicos”, entretanto, essa distinção é inadequada, uma vez que outros grupos também atuam em processos fisiológicos dos artrópodos. O termo “reguladores de crescimento de insetos” vem do fato destes compostos interferirem nos mecanismos de controle da metamorfose e ecdise dos insetos. O uso significativo dos reguladores de crescimento de insetos na agricultura ocorreu na década de 80, com a introdução do diflubenzuron que foi o marco da modernização dos grupos químicos sob o aspecto toxicológico. As principais características destes inseticidas são: não possuem ação de choque, não têm amplo espectro de ação, atuam principalmente por ingestão, conferem prolongado período de proteção, atuam principalmente sobre formas jovens, porém fêmeas adultas atingidas podem depositar ovos inviáveis, possuem ação translaminar e são relativamente seletivos aos inimigos naturais. Com isso, constituem-se em boa ferramenta para os programas de MIP. De acordo com o seu mecanismo de ação os reguladores de crescimento são classificados como: Inibidores da síntese de quitina A quitina é um polissacarídeo nitrogenado com grupos acetoamídicos, presente no exoesqueleto dos insetos que tem como funções conferir resistência, proteção contra perda de água, estabilização, sustentação e movimentação do corpo de larvas e adultos dos artrópodos. A síntese da quitina envolve fosforilação, aminação e acetilacimento de insetos quebrando um paradigma na história do controle da broca na cultura da cana-de-açúcar. Esta integração do método químico com o biológico somente foi possível devido às características altamente favoráveis deste grupo químico. Estes inseticidas se encaixam no ideal do manejo integrado de pragas devido ao menor impacto ambiental e menor impacto sobre inimigos naturais, não

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ção, resultando na formação de n-acetil glucosamina. As reações são catalisadas por enzimas presentes no citoplasma e a polimerização é catalisada pela enzima quitina sintetase, presente na membrana celular. A quitina sintetase é a enzima chave no processo de formação da quitina. Os inseticidas inibidores da síntese deste polissacarídeo, provavelmente, atuam sobre a enzima quitina sintetase ou durante o seu processo de polimerização. O maior grupo de moléculas em uso na agricultura entre os inibidores da síntese de quitina são as benzoilfeniluréias. Agonistas de ecdisteróides Esses inseticidas pertencem ao grupo das diacilhidrazinas (exs. tebufenozide e metoxifenozide) e atuam imitando o hormônio natural da ecdise dos insetos (ecdisônio), desencadeado o processo da ecdise prematuramente, ligando-se com a proteína receptora do ecdisônio, que é ativada iniciando-se o processo de muda. Assim, a larva deixa de se alimentar. Uma nova cutícula (deformada) é produzida por baixo da velha, entretanto, a velha não se desfaz e a larva morre por inanição e desidratação. Agonistas do hormônio juvenil São também chamados de juvenóides (exs. piriproxifen, fenoxicarb, metoprene, etc). Assemelham-se estruturalmente ao hormônio juvenil do inseto e imitam a ação deste hormônio, interferindo numa série de processos fisiológicos vitais, dentre eles a ecdise (muda de pele) e a reprodução, causando desequilíbrio hormonal nos insetos A eficiência destes inseticidas é maior nas fases de desenvolvimento em que a taxa do hormônio juvenil está baixa na hemolinfa do inseto, ou seja, no último instar larval ou no início da fase pupal. As larvas tratadas não transformam-se em pupa e o desenvolvimento de ovos pode ser inibido. afetando as vespinhas liberadas rotineiramente para o controle biológico da broca e auxiliando de forma significativa na redução da porcentagem de plantas atacadas pelas lagartas. Várias empresas produtoras de agroquímicos estão trabalhando na pesquisa e desenvolvimento de inseticidas reguladores de crescimento de insetos para uso associado ao controle biológico na cultura da cana-de-açúcar. Atu-

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F. J. Celoto

A broca fura o colmo (como no detalhe) e abre galerias em seu interior dos colmos, causando morte das gemas

almente o inseticida triflumuron já está devidamente registrado e vem sendo utilizado nos canaviais para o controle da broca, associado ao controle biológico aplicado. No caso específico da cana-de-açúcar, devido à rusticidade e porte da planta a aplicação dos reguladores de crescimento normalmente é realizada por avião agrícola, no momento em que as lagartas são jovens e não têm mandíbulas desenvolvidas para broquear o colmo, sendo este momento detectado pela amostragem de pragas, já bem desenvolvida em função do controle biológico. Pesquisadores americanos afirmam que o uso do controle químico mesmo em áreas onde existe o controle biológico e variedades com resistência, pode incrementar a produção e que este pode ter alguma eficiência mesmo depois da larva instalada dentro do colmo, podendo ela ser atingida quando sai do mesmo para expulsar os excrementos do túnel aberto. Pesquisas realizadas em canaviais da Pioneiros Bioenergia S.A, localizada em Sud Mennucci (SP), pela equipe do Prof. Geraldo Papa da Unesp/Ilha Solteira constataram a redução significativa na porcentagem de plantas atacadas pela broca com a utilização de inseticida regulador de crescimento de insetos, conforme indicado no gráfico. Segundo dados dos técnicos da Pioneiros Bioenergia, nesta safra, em áreas da Usina onde foi utilizado inseticida regulador de crescimento, ocorreram reduções médias superiores a 50% na porcentagem de plantas atacadas pela broca. A melhor estratégia de controle não é o método químico, varietal ou biológico, e sim um trabalho que integre harmonicamente estes métodos. Não é desejável de forma alguPorcentagem de plantas de cana-de-açúcar atacadas pela broca, Diatraea saccharalis, após duas aplicações de inseticida regulador de crescimento de insetos. Fonte: Unesp - Ilha Solteira (SP)


Geraldo Papa

ma que o controle químico venha a substituir o controle biológico aplicado e sim que venha a ser mais uma ferramenta disponível ao produtor. A cana-de-açúcar é uma cultura semiperene com certas particularidades em relação ao controle da broca que devem ser levadas em consideração no momento de traçar as estratégias de controle. Em determinados panoramas, torna-se necessário o uso de alternativas de combate, como o emprego de inseticidas, que sejam compatíveis com o controle biológico. Por exemplo, existem variedades que são mais suscetíveis ao ataque da broca. Áreas que são destinadas à produção de mudas também devem receber cuidados especiais, devido a sua função de matriz. No campo constata-se claramente em qualquer cultura plantada em extensas áreas, que o controle de pragas calcado em um método utilizado de forma isolada e única não se sustenta em longo prazo. No caso da canade-açúcar, a associação do controle biológico aplicado com o controle químico moderno que apregoa o uso de inseticidas de notável seletividade aos inimigos naturais e baixo impacto ambiental poderá ser uma forma mais racional do manejo da broca, auxiliando de forma fundamental a expansão da cultura que já é uma realidade na agricultura brasileira.

Indiretamente, as aberturas causadas pela broca, favorecem a entrada dos fungos Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que provocam a inversão da sacarose

No futuro os problemas de ataque de lagartas na cana-de-açúcar poderão ser significativamente minimizados com o surgimento de variedades transgênicas, como constata-se pelos estudos já realizados com outra gramínea altamente importante como o milho, onde os produtores brasileiros enfrentam sérias dificuldades tanto no controle da lagarta-docartucho, Spodoptera frugiperda, como da bro-

ca, D. saccharalis, em regiões com alta infestação, e que poderiam já ter disponível uma ótima ferramenta de manejo se não fosse a morosidade na liberação das variedades transgêC nicas. Geraldo Papa e Maurício Rotundo, Unesp


Coluna Andav

Parceria inédita Andav e Porto Seguro fecham acordo para solucionar questão de seguro para revendas

U

m dos maiores desafios de uma revenda agrícola brasileira é conseguir apólice de seguro para sua empresa. O volume armazenado, o alto valor dos produtos em estoque, periculosidade, inflamabilidade e o complexo armazenamento e transporte dos produtos são variáveis que dificultam o acesso a um seguro empresarial. Pensando nestas questões que envolvem toda a rotina de trabalho de uma revenda, nasceu a parceria entre Andav – Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários, e a Porto Seguro Cia de Seguros Gerais, que desenvolveu o seguro “Compreensivo Empresarial”, um seguro totalmente inovador para as revendas agrícolas e veterinárias, associadas da Andav. A versatilidade é garantida pelo grande volume de revendas optantes pelo plano, uma vez que a

guro Vida e Previdência, Porto Seguro Uruguai e Azul Seguros), ampla gama de produtos, incluindo seguro de automóvel, saúde, patrimoniais e de acidentes pessoais, de vida e previdência, e seguros de transportes, para pessoas físicas, famílias, empresas e entidades governamentais no Brasil. Em 2007, a Companhia comemora 62 anos de vida. Para intermediar o contato entre a Porto Seguro com as revendas agrícolas e pecuárias, foi escolhida a corretora Arche Seguros, sediada em São Carlos, interior de São Paulo. A empresa tem 12 anos de mercado e dará todo o suporte necessário aos associados da Andav tanto para a aquisição do “Compreensivo Empresarial” quanto de sua manutenção em todo o território nacional. A previsão feita pela associação é de que os custos do seguro fiquem, em

guro é relativamente simples. Uma vez feita a opção pelo “Compreensivo Empresarial”, através da Andav, a corretora define e orienta qual o melhor perfil de seguro para a revenda e, depois, marca inicialmente uma inspeção nos locais de risco para as revendas seguradas, a fim de orientá-las sobre as providências a serem tomadas para a prevenção de sinistros posteriores. As importâncias seguradas serão adequadas conforme as características de risco de cada revenda. Todos esses riscos envolvidos no negócio da revenda dificultam o alto valor segurado pelas corretoras de seguro, principalmente porque a aquisição dos planos, na maioria das vezes, é unitária, ou seja, não tem quantidade suficiente de empresas que façam com que a transação comercial seja viável para as seguradoras. Porém, nenhuma revenda pode funcionar sem assegurar a sua armaze-

“A adesão de todos será essencial para a conquista de um preço acessível para as mais diversas e variadas opções seguradas”

Andav tem associados espalhados em todos os estados brasileiros e que certamente deverão adquirir o seguro empresarial. A adesão de todos será essencial para a conquista de um preço acessível para as mais diversas e variadas opções seguradas. A Porto Seguro é a responsável pelas apólices da Andav, voltadas às revendas. A empresa é, hoje, primeiro lugar no ranking nacional de seguros automotivos e também a única com capital 100% nacional. A Companhia oferece, por intermédio de suas subsidiárias diretas e indiretas (Porto Seguro, Porto Seguro Saúde, Porto Se-

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média, 30% mais baratos do que no mercado em geral. As coberturas do “Compreensivo Empresarial” foram idealizadas para lojas e depósitos de insumos agrícolas e compreendem incêndios, raios e explosões enquanto cobertura básica. A mencionada versatilidade, fica por conta dos produtos opcionais onde a revenda contrata o serviço de acordo com sua necessidade para impacto de veículos terrestres, vendaval, fumaça, granizo, dentre outros, além de roubo de bens, que é uma grande preocupação das empresas. O processo para a aquisição do se-

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nagem e instalações físicas. É essencial para a sua sobrevivência enquanto negócio. Portanto, o impasse criado há alguns anos foi resolvido pela Andav. O problema soluciona a questão ao uniformizar um seguro empresarial para todas as revendas agrícolas e veterinárias. Para mais informações, os contatos devem ser feitos através da Andav, que é a estipulante da apólice coletiva pelo email andav@andav.com.br ou pelo teleC fone (19) 3213.6001. Henrique Mazotini Presidente executivo da Andav



Coluna Agronegócios

Agroenergia e biotecnologia

N

ão vejo futuro sustentável para a agroenergia descolada da biotecnologia. Alguns países já procuram se antecipar, enquanto outros insistem em jogar os avanços da ciência para um amanhã cada vez mais distante. Infelizmente, o Brasil pertence a este grupo. Um contraponto ao lento desenvolvimento brasileiro são os Estados Unidos, que investem fortemente em biotecnologia, para viabilizar a produção de biocombustíveis. Vamos refletir sobre um exemplo norte-americano.

cados para os agricultores, ampliando a renda rural. Ironicamente, no Brasil, esta inovação seria fortemente combatida por organizações que, supostamente, defendem o pequeno agricultor e a agricultura familiar, fechando as portas para as oportunidades de emprego e renda. As inovações vão além da etapa agronômica. O Dr. Mirkov tem consciência do tamanho do mercado e do desafio que significa fornecer todo o etanol que o mundo demandará. Apenas com o caldo da cana-de-açúcar

Existem muitos outros benefícios possíveis para o conjunto da agroenergia pela aplicação da biotecnologia. É possível desenvolver plantas resistentes a pragas, dispensando agrotóxicos. Ou desenvolver microrganismos altamente eficientes na fixação do nitrogênio do ar, dispensando a adubação nitrogenada, que possui alto custo financeiro e energético. Ou até mesmo microrganismos que facilitem a absorção pela planta, de outros nutrientes do solo reduzindo o custo de produção e permitindo cultivar solos pouco férteis.

“Existem muitos outros benefícios possíveis para o conjunto da agroenergia pela aplicação da biotecnologia” Por diversos motivos, no momento, a cana-de-açúcar é a matéria-prima imbatível para a produção de etanol. A cana é uma planta subtropical e, devido à localização geográfica dos EUA, o seu cultivo está limitado a poucos estados do sul do país. Ocorre que, nem as autoridades locais, menos ainda os pesquisadores, se conformaram com esta “limitação”. Um dos cientistas que não a aceitou foi o biologista molecular da Texas A&M University, Dr. Erik Mirkov. Ele resolveu enfrentar diferentes desafios para adaptar a cana às regiões onde as variedades atuais não podem ser cultivadas. Barreira número um: adaptar a planta ao clima, em especial às baixas temperaturas, pois a produtividade e o teor de açúcar decrescem exponencialmente com a diminuição da temperatura. Segunda barreira: adaptar a planta a locais secos, onde a precipitação natural está abaixo do requerido pela cana. Para resolver estes dois problemas o Dr. Mirkov introduziu na cana genes de outras plantas, que expressam as características desejadas, permitindo o seu cultivo em locais anteriormente inadequados. Em seu artigo, o cientista salienta que a nova tecnologia não apenas garante a redução da dependência de petróleo, como ajuda a criar novos empregos e novos mer-

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não será possível abastecer o mercado global. Por isso, ele investe na pesquisa de microrganismos transgênicos que possam transformar celulose em álcool. Esta tecnologia significa uma dupla revolução. Por um lado, permite transformar lixo e resíduos em um produto com grande valor comercial. Por outro, desloca o eixo de poder e de negócios, pois fatores como a grande disponibilidade de terra (caso do Brasil) perdem a importância relativa que possuem hoje. A rápida evolução científica de outros países ameaça a liderança brasileira de produção de álcool e de outros produtos da agroenergia, no cenário mundial. O resumo da ópera é que não há vantagem comparativa que resista a uma mudança tão marcante de paradigma tecnológico. Obter etanol de celulose pode redirecionar a produção do combustível para nações que, sem o auxílio da biotecnologia, estavam condenados a serem meros importadores do produto. E mais: o Dr. Mirkov também investe na criação de variedades de cana transgênica, no conceito de biofábricas. Elas serão capazes de produzir substâncias químicas de alto valor agregado, tais como proteínas, enzimas, antibióticos, vacinas e outros fármacos, a um custo muito menor que o processo industrial de síntese.

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Não é difícil agregar valor à economia por meio dos processos da biotecnologia – e o Brasil tem enorme potencial nesta ciência -, basta apenas que a sociedade dê suporte adequado aos cientistas. A diferença entre países centrais e periféricos é que, nos centrais, cientistas como o Dr. Mirkov recebem volumosos recursos de pesquisa e, a cada nova tecnologia conquistada, têm honrarias públicas e melhorias salariais. Já nos periféricos, o cientista precisa batalhar incansavelmente por recursos e, quando os consegue, em benefício da própria sociedade, são vistos com desconfiança ao invés de reconhecimento. Uma vez que a busca por fontes de energia alternativa e renovável ganha interesse social mundo afora; que o Brasil é um dos grandes fornecedores agrícolas do planeta; que o País dispõe de pólos tecnológicos competitivos e de alta performance, é preciso refletir sobre o tamanho da responsabilidade do obscurantismo cientifico para a manutenção do status quo que vivemos atualmente e pela perda de competitividade futura do agroneC gócio brasileiro. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Plantio começando com otimismo e avanço de 2 milhões de hectares Os produtores estão começando o plantio da safra 07/08 neste mês, e agora com mais otimismo que nos dois últimos anos. Vemos o entusiasmo dos produtores em plantar mais soja, milho, arroz e algodão. O feijão continuará sendo plantado em ritmo normal, enquanto a cana segue sua escalada de crescimento acelerada com grandes investimentos. Desta forma, as áreas disponíveis devem ser todas tomadas e, para favorecer o bom desempenho econômico do setor, veremos também a volta da pecuária lucrativa, fato que não era visto nos últimos anos, quando o boi ficou com as cotações em baixa, na faixa dos R$ 50 por arroba. Agora, as cotações mostram níveis entre os R$ 60 e R$ 70 e, desta forma, crescimento real dos valores praticados. Junto a isto, também ocorre alta nos preços do bezerro e conseqüentemente crescimento dos valores praticados pela vaca e boi magro, fazendo com que muitas áreas de pastagens que estavam arrendadas para grãos voltem a receber pastagem. Assim, podemos esperar que, mesmo com grande otimismo do setor agrícola, poderá não existir toda a área plantada prevista por alguns analistas, que apontam crescimento de até 2 milhões de ha no plantio da soja, outros 0,50 a 0,7 milhão de ha no milho, pelo menos 100 mil hectares no arroz e outros 100 a 150 mil hectares no algodão e, novamente plantando 300 a 400 mil ha de cana. Com estes novos cultivos, veremos um avanço de mais de 3 milhões ha na área plantada, fato este que poderá não ser totalmente confirmado, porque acreditamos em área de 1 milhão de ha a mais na soja, 500 mil no milho, 100 mil no arroz do Rio Grande do Sul, 100 mil no algodão, 300 mil na cana e estabilidade no feijão, ou seja, com avanço de 2 milhões de ha. Porque não temos toda essa área disponível para crescer, já que há lavouras implantadas com cana neste ano e pastagens, que não voltam aos grãos no curto prazo. Este é um fator positivo para os produtores, porque mesmo com o crescimento da nova safra não se espera excesso de oferta de grãos e, desta forma, boas expectativas de preços para 2008. MILHO Exportação enxugando o mercado O mercado do milho está mostrando bom movimento na exportação, que até o final de agosto superou a marca de 5 milhões de t embarcadas. Deveremos quebrar o recorde histórico de embarques em setembro, superando os 5,6 milhões de t embarcadas na safra 2000/01. Como tivemos um avanço nas cotações do câmbio, também tivemos reajustes reais nas cotações do milho no mercado interno com níveis de R$ 16 aos R$ 23 pelo produto negociado no Brasil em agosto, sinalizando com avanços de 30% a 50% sobre os patamares que estavam sendo praticados na colheita, até junho. Agora, segue firme e com redução das ofertas, favorecendo os produtores que seguraram parte da safra para negociar no segundo semestre e também parte restante da safrinha. A exportação continuará com bom ritmo nos embarques. Tivemos grandes volumes de contratos efetivados para embarque em março de 2008, nos níveis de R$ 22 aos R$ 23,5.

SOJA Redução da safra americana favorece Brasil O plantio americano muito abaixo das expectativas e a safra dos EUA caindo das 86,7 para os 71,4 milhões de t neste ano, serviram para derrubar a safra mundial dos 236,1 para os 221,6 milhões de t. Ambos estão favorecendo os fechamentos de contratos futuros que garantem boa lucratividade aos produtores, entre os US$ 13 aos US$ 17. Também houve avanço das cotações da soja disponível, saltando dos R$ 32/ 33, nos portos em junho e julho, para os R$ 37/ 38 em agosto. Junto puxou as posições no interior e estimulou as fixações dos produtores. FEIJÃO Escassez de oferta até dezembro O mercado do feijão está vendo as ofertas do produto escasseando, porque de agora em diante as ofertas tendem a ser localizadas nos estados de Goiás e Minas Gerais (do produto irrigado) e pontos localizados do MT, que também possuem alguma coisa. Nas demais regiões, há a escassez de-

vido às grandes perdas na safra do Nordeste, que recuou entre 40% e 60%. Desta forma, o mercado se manterá firme até a entrada da safra nova, que neste ano chegará com atraso em função das geadas em SP e PR, que prejudicaram as primeiras lavouras e, desta forma, a colheita que entraria em novembro, agora, está apontada para o começo de dezembro, que poderá quebrar a marca dos R$ 100 por saca do Carioca de ponta. ARROZ Alta forte em agosto segue em setembro O mercado do arroz mostrou ajustes positivos em agosto e deverá continuar apresentando pressão em setembro, isto porque a safra brasileira de 11 milhões de t não atende o consumo de 13 milhões de t. Assim, o produto do Mercosul, junto com os estoques, não conseguirá criar sobras e seguiremos com oferta e demanda apertadas, com fôlego para os produtores ajustarem as cotações. Níveis das cotações devem girar entre os R$ 25 aos R$ 30 por saca, na base do RS.

CURTAS E BOAS ARGENTINA - As primeiras projeções apontam aumento da área de milho e, safra podendo passar de 22 para 24 milhões de t. TRIGO - Escassez do produto continua em 2008 com safra de 610 milhões de t e consumo superando os 620,5 milhões t. A continuidade na queda dos estoques, que deve ficar na faixa das 114 milhões de t, contra mais de 160 milhões de t que tínhamos há quatro anos. O mercado se mantém firme e, favorecendo os produtores do Brasil, que devem vender acima dos R$ 500 por t. ALGODÃO - A colheita está fechando no Brasil e, ainda há divergências de números, com 1,5 milhão de t apontado pela Conab, e os mais otimistas do mercado falando até em 1,8 milhão de t. O fato é que houve crescimento frente à safra passada, que ficou ao redor de 1,05 milhão de t, mostrando potencial de mais avanço em função, do espaço internacional que está crescendo e da redução forte da produção nos EUA. Poderemos colher 2 milhões de t nesta nova safra. EUA - A safra está chegando à fase final de desenvolvimento e começando a colheita. Com o clima favorável na maior parte do ciclo, pode resultar em colheita dentro das expectativas. Mas, nestas últimas semanas, o clima, com

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Setembro 2007 • www.cultivar.inf.br

excesso de chuvas localizadas, causou alguns estragos que podem complicar o final do desenvolvimento neste mês de setembro. É bom ficar atento, pois poderemos ter alta nos indicativos nestas próximas semanas. MILHO X SOJA EUA - A safra está chegando ao final e os números da colheita mostram que o milho americano poderá resultar em 326 milhões de t contra 267 milhões de t da safra passada. Enquanto isso, a soja desce de 86,7 para 71,4 milhões de t neste ano, sinalizando que a forte demanda de etanol empurrou a safra do milho para cima e derrubou a soja. Isto ocorre porque não existem novas áreas para serem plantadas. Até mesmo o algodão sofreu forte queda no plantio em benefício ao milho. CARNES - Os embarques continuam batendo recorde, com o produto brasileiro, abrindo novos mercados. Tanto o boi como o frango, seguem como destaques internacionais e, devem continuar em 2008. Isto também dá espaço para alta nos componentes das rações, porque de janeiro a julho deste ano, embarcamos mais de 1.803 mil t de frango contra 1.301 mil t no mesmo período de 2006. O faturamento saltou de US$ 1.360 para US$ 2.520 milhões. Em 2008, o suíno também entra no crescimento.




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