Cultivar 102

Page 1



Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 102 • Novembro 2007 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas Capas

Palad ar vari ad o.............. ............ ........20 aladar variad ado.............. o.......................... ....................20

Caderno Soja - Charles Echer

Capa - Dir ceu Gassen Dirceu

As vári as cultur as atacad as pela lagarta várias culturas atacadas ar a pr aga elasm o e as estr atégi as par elasmo estratégi atégias paraa barr barrar praga

Fun go à espr eita.....................12 Fung espreita.....................12

Ataque à sem en te .................24 semen ente te.................24

Seletividade em alta.............28

Com o se pr epar ar par an te Como prepar eparar paraa a safr safraa ddee soja di dian ante do comportamento da ferrugem asiática

O que ffazer azer con tr agas contr traa pr pragas em milho semente

As van tag en o empr eg o ddee in seti ci das vantag tagen enss ddo empreg ego inseti setici cid seletivos n o combate a pr agas ddo o alg od oeir o no pragas algod odoeir oeiro

Índice

Expediente

Dir etas Diretas

04

Combate às ci garr as ddo o café cigarr garras

06

RED AÇÃO REDAÇÃO

CIRCULAÇÃO

• Editor

• Ger en te Geren ente

Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação

Cultivar ddee soja rresisten esisten te à ferrug em esistente ferrugem

08

Novi dad es e pr eocupações par ovid ades preocupações paraa soja

09

Janice Ebel • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação

Cristiano Ceia • Revisão

Cibele Oliveir Oliveiraa ddaa Costa • A ssin atur as Assin ssinatur aturas

Simone Lopes • Ger en te ddee A ssin atur as Extern as Geren ente Assin ssinatur aturas Externas

Raquel M ar cos Mar arcos • Expedição

Con sór ci o An tiferrug em ddaa soja sórci cio Antiferrug tiferrugem Consór

10

Fungo latente da soja

12

Pr oblem as com a Soja Lou ca 2 Problem oblemas Louca

16

Regulad or es veg etais Regulador ores vegetais

18

Lagarta elasmo

20

Pr agas em sem en tes ddee milh o Pragas semen entes milho

24

In seti ci das seletivos n o alg odão Inseti setici cid no algodão

28

Plan tas ddaninhas aninhas em arr oz Plantas arroz

31

Futur o ddaa can Futuro canaa

34

Empr esas - Ch emtur Empresas Chemtur emturaa

35

Coluna Andav

36

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios

37

Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola

38

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid

COMERCIAL Ped edrro Batistin

Sed eli Feijó Sedeli Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@cultivar.inf.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 119,00 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Núm er os atr asad os: R$ 15,00 Númer eros atrasad asados: Assin atur tern aci on al: ssinatur aturaa In Intern ternaci acion onal: US$ 80,00 Euros 70,00

Di anferson Alves Dianferson

GRÁFICA • Impr essão Impressão

Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda. Nossos TTelef elef on es elefon ones es:: (53) • Ger al Geral 3028.2000 • A ssin atur as: aturas: Assin ssinatur 3028.2070 • Redação: 3028.2060 • Com er ci al: Comer erci cial: 3028.2065/3028.2066/3028.2067


Diretas

Hamilton Ramos

Aplique Bem

Visita

O Aplique Bem, programa itinerante realizado através de parceria público-privada entre o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Arysta LifeScience esteve no Rio Grande do Sul no período de 30 de outubro a 3 de novembro. O trabalho, que oferece orientação a produtores de todo o Brasil sobre o uso racional de defensivos agrícolas, preservação do meio ambiente e economia nos custos de produção, é coordenado pelo diretor do Centro de Engenharia e Automação do IAC, Hamilton Ramos.

Diretores da Bayer visitaram recentemente as instalações da Cooplantio, em Eldorado do Sul (RS), com o objetivo de conhecer a estrutura organizacional e as instalações da cooperativa, estreitar os laços comerciais entre as duas empresas e também visitar as futuras instalações da Estação de Pesquisa de Arroz da Bayer, também em Eldorado do Sul. Na comitiva, Frederic Arboucalot - Diretor Mundial de Sementes de Arroz da Bayer, Christian Carensac - Gerente Mundial de Produção de Sementes de Arroz da Bayer, Ricardo Almeida - Diretor da Divisão BioScience da Bayer CropScience no Brasil e Graciela Mognol – Gerente de Negócios Arroz da Divisão BioScience da Bayer CropScience no Brasil.

Basf

Milho Safrinha

A Basf participou do 33º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, em Lavras, Minas Gerais. Marcelo Gardel, gerente de Cultivos Café e Citrus, destacou o AgCelence TM - marca mundial da companhia, que identifica efeitos fisiológicos positivos nas plantas por meio do programa de tratamento com os fungicidas Cantus® e Opera®.

De 26 a 28 de novembro de 2007, em Dourados (MS), acontece o IX Seminário Nacional De Milho Safrinha. O evento é hoje o principal fórum de discussão técnicocientífica, realizado no Brasil. A programação discutirá, entre outros assuntos, a logística de transporte e armazenamento de grãos, sistemas estáveis de produção, parâmetros de sanidade e qualidade de grãos. Mais informações: www.cpao.embrapa.br/ milhosafrinha ou (67) 3425-5122, ramal 153.

Marcelo Gardel

Bayer Luís Offa é o novo gerente de Estratégia de Distribuição e Clientes da Bayer. O executivo passa a liderar uma das áreas mais importantes da companhia no Brasil. Na empresa desde 2000, ocupava anteriormente a gerência de Distribuição da Diretoria de Negócios Centro. Offa é graduado em Agronomia pela Unesp de Luís Offa Botucatu(SP).

Dow A Dow AgroSciences tem novo Crop Protection R&D Field Leader. O engenheiro agrônomo Marcus Vinicius Fiorini, na empresa há dez anos, passa a gerenciar a equipe de pesquisa na região de Goiás e vai atuar também na coordenação de projetos na área de HF e inseticidas para grandes culturas, com previsão de lançamentos na linha de produtos desses segmentos em 2008.

Marcus Fiorini

Saviezza A Saviezza Propaganda é responsável pela criação, planejamento, produção e veiculação de campanhas da Dow AgroSciences. Neste ano a agência incorporou também a conta da Dow AgroSciences Sementes e Biotecnologia, atuando com um sistema de operação diferenciado com a Tresa* Comunicação. À frente do atendimento estão as publicitárias Simone Rodrigues, Margareth Dolenc e Kátia Gianini.

04

Aquisição A IEIL (Industrial Equity Investments Limited), localizada na Europa, anunciou a compra da Arysta LifeScience Corporation, uma das dez maiores empresas de agroquímicos no mundo, com um portfólio de mais de 150 produtos, em 125 países, com aproximadamente 2,2 mil funcionários. A aquisição é o primeiro investimento da IEIL no Japão desde a sua fundação, em 2005. O valor da transação é de aproximadamente ¥ 250 bi (U$ 2,2 bi). A conclusão do negócio, que está sujeita às análises e às aprovações regulatórias, está prevista para o primeiro trimestre de 2008.

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

Novo comando O engenheiro agrônomo Paulo Pinheiro é o novo Gerente Geral da Agromen Tecnologia, divisão de sementes do Grupo Agromen, recém-adquirida pela Dow AgroSciences. Pinheiro ocupará o cargo deixado por José Arana, que assumirá a posição de vice-presidente senior da Tyson Foods no México e que estava à frente da AgroPaulo Pinheiro men desde sua aquisição.

Nova diretoria Durante a abertura oficial do plantio do arroz, em Cachoeirinha (RS), a governadora do estado, Yeda Crusius, nomeou a nova diretoria do Irga - Instituto Rio Grandense do Arroz. O agrônomo Valmir Menezes assume a diretoria técnica, e o agrônomo Sérgio Marocco a diretoria administrativa do instituto.

Lanxess A Lanxess acaba de firmar parceria com a Agro Química Maringá para fortalecer a distribuição de biocidas, sobretudo na área de tintas. Roberto Griebel, gerente de Vendas da Lanxess para a região Cone Sul, informou que o acordo prevê também a ampliação da distribuição da linha de bactericidas, fungicidas e algicidas para o segmento.

Nidera Em 2007 a Nidera Sementes é novamente Top Of Mind Brasil. Fabrícia Andrade, gerente de Marketing, explica que a empresa está entre as quatro fornecedoras de sementes mais lembradas pelo produtor rural.

Fabrícia Andrade

Errata No artigo “Ultra-agressiva”, publicado na edição nº 100, onde se lê como autor Luiz Alberto Staut, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, o correto é Rodrigo Véras da Costa, Carlos Roberto Casela, Alexandre da Silva Ferreira, ambos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo.



Café

Sugadora de café Os ddan an os ddas as ci garr as ao cafeeir o são iid den tifi cad os pelo ddefinham efinham en to, clor ose e anos cigarr garras cafeeiro entifi tificad cados efinhamen ento, clorose qued ecoce ddas as ffolhas olhas api cais ddos os rram am os cção con tín ua ddaa seiva ddas as rraízes aízes quedaa pr precoce apicais amos os.. A su sucção contín tínu aízes,, pelas ninf as móveis anifesta n ea e con seqüen tem en te rreflete eflete n ninfas móveis,, se m manifesta naa parte aér aérea conseqüen seqüentem temen ente naa pr od utivi dad da total ddaa lavour a. PPar ar ed uzir a população ddaa pr aga, o uso ddee prod odutivi utivid adee ou per perd lavoura. araa rred eduzir praga, ci en te ddee con tr ole seti ci das ain da é a úni ca m od ali dad in contr trole odali alid adee efi efici cien ente inseti setici cid aind única mod

Jodelet/Lépinay

A

s cigarras (Hemiptera; Auchenor ryncha: Cicadidae) que atacam o cafeeiro pertencem principalmente a três gêneros: Quesada, Fidicinoides e Carineta. Apresentam desenvolvimento hemimetabólico ou hipometabólico (metamorfose incompleta), passando pelas fases de ovo (nos ramos do hospedeiro), ninfa móvel (no solo sugando seiva, fase em que adquire o “status” de praga), ninfa imóvel (fixada em um suporte, que pode ser o caule do cafeeiro, tronco de árvores etc.) e adulta (fase reprodutiva, na parte aérea das plantas). A espécie Quesada gigas (Olivier, 1790) é a mais comumente encontrada. As ninfas móveis medem 20 a 30 mm de comprimento e atacam a raiz principal e as mais grossas do restante do sistema radicular do cafeeiro. Os adultos emergem no período compreendido entre o final de agosto e outubro.

O segundo gênero em importância é Fidicinoides, e a espécie mais comumente encontrada em cafeeiros é F. pronoe (Walker, 1850). As ninfas móveis desta espécie são menores que da Q. gigas, medem 8 a 15 mm de comprimento e sugam seiva nas extremidades das raízes, tendo sido encontradas até a uma distância de 1,20 m da raiz principal. Adultos deste gênero surgem nos meses de fevereiro e março. Q. gigas e F. pronoe apresentam gerações superpostas, e uma composição percentual das espécies, por cova de cafeeiro infestado, geralmente é de 87% do gênero Quesada e 13% de outros gêneros. As cigarras que ocupam o terceiro lugar em importância como pragas de cafeeiros pertencem ao gênero Carineta. Ocorrem em cafeeiros as espécies C. matura (Distant, 1892), C. spoliata (Walker, 1858) e C. fasciculata (Germar, 1821). As ninfas móveis destas espécies medem cerca de 10 a 15 mm de comprimento e diferem das do gênero Fidicinoides por terem o corpo mais fino e de formato quase retangular, enquanto que aquelas têm o corpo mais volumoso. A espécie Dorisiana drewseni (Stål, 1854) tem sido erroneamente citada no Brasil como Fidicina drewseni. Tendo em conta tal fato, o gênero Dorisiana pode ser considerado como um quarto gênero de cigarras em importância ao cafeeiro. D. drewseni é muito comum nos cafezais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, e o período de ocorrência de adultos são também fevereiro e março.

ASPECTOS BIOECOLÓGICOS As cigarras são insetos cuja fase imatura de ninfa móvel é vivida no solo, agindo despercebidamente nas raízes das

06

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

plantas até que dão sinal de si pela presença da forma adulta na parte aérea das plantas, nos meses de primavera-verão. Os machos adultos produzem um ruído estridulante (canto), visando atrair as fêmeas para a cópula, através de um par de órgãos estridulatórios localizado no lado ventral do primeiro seguimento abdominal. Cada espécie emite um som característico, específico. Os espécimes adultos alados, fêmeas põem os ovos (de coloração branca leitosa e alongados) agrupados sob a casca dos galhos e ramos das plantas hospedeiras. Em poucos dias nascem as larvas (ninfas), as quais, pendendo por um filamento que excretam, descem e penetram no solo, indo localizar-se nas raízes. Os orifícios feitos pelas pequenas ninfas móveis recém-eclodidas dos ovos, ao penetrarem no solo, são logo obstruídos devido aos seus pequenos diâmetros. Durante o período em que se encontram no solo sugando as raízes, as ninfas crescem mudando de pele (ecdise), abandonando o velho tegumento nas galerias. Terminada a fase de ninfa móvel, abandonam o solo abrindo uma galeria cilíndrica, individual, até atingirem o exterior, geralmente sob a parte aérea da planta. Sobem ao tronco do cafeeiro ou em qualquer outro suporte onde, depois de fixadas, passam para a fase de ninfa imóvel, a qual dura aproximadamente duas horas, geralmente a partir do anoitecer. Terminada esta fase, o tegumento se rompe no dorso (linha de ecdise) emergindo o inseto adulto, ficando a exúvia (casca) presa no tronco. A crendice popular de que a “cigarra canta até se arrebentar” nada mais é do que a passagem da fase de ninfa imóvel para a de adulta. A cópula é realizada na copa de árvores isoladas, nas matas e até em moirões de cercas. É comum na época de emergência de adultos das espécies ouvir-se um canto ensurdecedor dos machos nas faixas de matas próximas aos cafezais e também na arborização das cidades. Os adultos também apresentam o aparelho bucal sugador, sugando, além do cafeeiro, outras espécies vegetais.

DANOS Um cafezal muito infestado por cigarras


Tabela 1 - Número médio de ninfas de Quesada gigas por cova de cafeeiro ‘Mundo Novo’, com 12 anos de idade no espaçamento de 4,0 x 2,5m e efeito na produção de grãos de café. São Tomaz de Aquino (MG), Fazenda Cachoeira, 1982, 1983 e 1984 Tratamentos A A B Testemunha

Épocas de aplicação Número médio de ninfas por cova (mês /ano) 11/82 (1) 02/83 (2) 02/84 (2) 07/84 (2) 11/82 196 35 42 29 11/82 e 11/83 311 37 10 9 11/82 250 17 19 26 208 195 205 200

Média (2) 35 19 21 200

Produção 82/83 (3) 83/84 (4) 7,6 46,0 7,6 51,1 3,8 45,0 5,5 6,9

(1) Antes da aplicação do inseticida; (2) Após a aplicação do inseticida; (3) Sacos de 60 kg de café beneficiados por 1000 covas antes e (4) após o controle.

da espécie Q. gigas pode apresentar em média 200 a 400 ninfas móveis por cova, população que causa severo dano às plantas. A sucção contínua de seiva causa o depauperamento das plantas, que se manifesta na parte aérea das mesmas pelo definhamento, clorose e queda precoce das folhas apicais dos ramos. Os sintomas são sempre mais acentuados nas épocas de déficit hídrico. As conseqüências finais do ataque resultam em quebra da produção e mesmo perda total da lavoura, se a praga não for controlada a tempo. O cafeeiro suporta uma infestação de aproximadamente 35 ninfas de Q. gigas por cova, devendo ser considerado como nível para a tomada de decisão do controle químico. Considerando que o volume corpóreo da F. pronoe é dez vezes menor que o da Q. gigas, é de se supor que o cafeeiro possa suportar uma infestação dez vezes maior dessa espécie de cigarra. A redução da produção e a sua recuperação, como conseqüência do controle da cigarra, podem ser avaliadas pelos resultados de pesquisa, considerados clássicos para exemplificar os danos da praga (Tabela 1). O acréscimo na produção dos cafeeiros recuperados, em relação à testemunha, foi em média de 40,5 sacos de café beneficiados por mil covas (de duas plantas), no espaçamento de 4 x 2,5 m.

te no mês de dezembro na maioria das regiões cafeeiras, para maior eficiência (Tabela 2). Além da escolha do inseticida, com base na eficiência e economicidade, o modo de aplicação é também muito importante. As formulações granuladas para o controle das cigarras não devem ser aplicadas com matraca, de aplicação muito localizada, pois haverá baixa eficiência. As melhores modalidades de aplicação a serem utilizadas, de acordo com o equipamento disponível, devem ser a incorporação do produto em sulcos o mais próximo possível do tronco, sendo metade da dosagem aplicada de cada lado da planta voltada para as ruas. Os inseticidas na formulação de grãos dispersíveis em água (WG) são aplicados no solo, após serem diluídos em água, através de filete contínuo sob a saia da planta, junto à linha de plantio; em esguicho (drench) no colo da planta ou na água de irrigação por gotejamento. Os produtos imidacloprid e thiamethoxam são considerados compatíveis com o fungo entomopatogênico, M. anisopliae, encontrado associado com a cigarra-do-cafeeiro. Os inseticidas aplicados desta forma interferem muito pouco no meio ambiente e não causam desequilíbrio biológico em favor de outras pragas que ocorrem em cafeeiros. Alguns inseticidas têm também efeito nematicida, além de controlarem outros insetos-praga como a cochonilha-da-raiz Dysmicoccus texensis (Tinsley) e da parte aérea Planococcus minor (Maskell) (Hemiptera: Pseudococcidae) e, dependendo da região, controlam também o bicho-mineiro das folhas, Leucoptera coffeella

N

as raízes, as ninfas móveis que possuem aparelho bucal sugador começam a sugar a seiva, cujo excesso é expelido e também serve para amolecer a terra, facilitando, assim, ao inseto, a abertura com as pernas anteriores de uma cavidade (câmara, célula ou galeria) no sentido perpendicular ao ponto em que a larva se encontra. Como não podem pôr fora a terra que cavam, as ninfas vão umedecendo-a abundantemente com seiva e comprimindo-a, formando assim a cavidade, cujo tamanho vai aumentando para acomodar o seu corpo até que adquira o desenvolvimento máximo quando apresenta tecas alares (asas rudimentares). As ninfas localizam-se, geralmente, nas raízes mais grossas e também na raiz principal, onde são encontradas até a profundidade de 1 m. O normal é encontrar a maior concentração delas nos primeiros 35 cm de profundidade, numa circunferência de 25 cm de raio a partir da raiz principal. (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) e a mosca-da-raiz (Chiromyza vittata Wied., 1820) (Diptera: Stratiomyidae), esta última considerada praga potencial para algumas regiões cafeeiras do Brasil. A aplicação de inseticidas por dois anos consecutivos reduz a população de cigarras abaixo do nível de controle (35 ninfas móveis de Q. gigas /cova). Aplicações posteriores somente deverão ser feitas após constatação desse nível, obtido por amostragens de ninfas móveis no solo (abertura de trincheiras) entre os meses de maio e julho. As amostragens podem ser feitas de um só lado da cova (para não haver morte das plantas) fazendo trincheiras, abrangendo o sistema radicular, e contando as ninfas de cigarras encontradas, devendo o resultado ser multiplicado por dois para obtenção do número total de ninfas por cova. C Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro Tabela 2 - Produtos, dosagens e modos de aplicação dos inseticidas granulados sistêmicos para o controle das cigarras-do-cafeeiro

Cultivar

O uso de inseticidas é a única modalidade eficiente de controle, até agora conhecida, que reduz a população de cigarras. O controle é feito visando as ninfas móveis no solo, e embora não morra a totalidade delas, a população é reduzida a níveis suportáveis pelas plantas, sem que haja danos econômicos. Os inseticidas granulados mais eficientes têm sido os sistêmicos (ex: aldicarb, carbofuran, disulfoton, phorate, terbufos e thiamethoxam), que devem ser aplicados no solo durante o período chuvoso do ano, geralmen-

Leonardo Milhomem

CONTROLE

O ATAQUE

Dosagem kg/ha 25 Aldicarb 150 G Carbofuran 100 G 30 30 Disulfoton 100 G 60 Phorate 50 G 60 Terbufos 50 G Thiamethoxam 10 G 50 Inseticidas

O cafeeiro suporta até 35 ninfas por cova, sem perder em produtividade

Detalhe do inseto adulto Quesada gigas

Modos de aplicação Os granulados (G) devem ser aplicados em dois sulcos acompanhando a projeção da copa do cafeeiro (metade da dosagem por sulco) ou dois sulcos afastados 20 cm do tronco. Não usar matraca, de aplicação muito localizada.

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

07


Soja

Reforço resistente Nova cultivar ddesenvolvi esenvolvi da pela Embr apa pr om ete oofer fer ecer rresistên esistên ci os pi or es esenvolvid Embrapa prom omete ferecer esistênci ciaa a um ddos pior ores pesad elos enfr en tad os pelos pr od utor es ddee soja n o Br asil. Sau dad o um as m ais pesadelos enfren entad tados prod odutor utores no Brasil. Saud adaa com como umaa ddas mais importan tes vitóri as ddaa pesquisa n tr em asiáti ca, a n ovi dad importantes vitórias naa batalha con contr traa a ferrug ferrugem asiática, novi ovid adee se destin tr al ddo o país e su cáci da ddepen epen de ddee outr as estr atégi as ddee estinaa à região cen entr tral suaa efi eficáci cáciaa ain aind epend outras estratégi atégias gi ci das tão log o apar eçam os prim eir os man ejo com o o vazi o sanitári o e o uso ddee fun primeir eiros sanitário fungi gici cid logo apareçam anejo como vazio evista par sin tom as ultipli cação ddee sem en tes bási cas está pr semen entes básicas prevista paraa a safr safraa 2008/09, já a sintom tomas as.. A m multipli ultiplicação ologi od utor es ddee grãos só ddeve eve ocorr er a partir ddee 2010 ch egad ocorrer chegad egadaa ddaa tecn tecnologi ologiaa aos pr prod odutor utores

A

agricultura brasileira está próxima de ter a primeira soja resistente à ferrugem asiática. Criada através do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa, a nova cultivar já está em fase de registro. Seu uso no campo deverá ser associado às atuais estratégias de manejo da doença, como o vazio sanitário, o monitoramento permanente da lavoura e o controle químico ao aparecimento dos primeiros sintomas ou confirmação dos primeiros focos na região. A diferença é que a nova soja poderá necessitar de um número menor de aplicações de fungicidas, além de conferir maior estabilidade de produção. A primeira cultivar brasileira de soja resistente à ferrugem asiática foi desenvolvida para a Região Central do Brasil. Portadora de um gene maior recessivo, confere resistência vertical. Esse mecanismo de ação gênica teve sucesso no desenvolvimento de cultivares resistentes a outras doenças da soja,

como o cancro da haste e a mancha-olhode-rã. O uso da cultivar resistente associado às técnicas de manejo da ferrugem devem minimizar os riscos de quebra de resistência da doença causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, que apresenta grande variabilidade genética. A variedade vem sendo avaliada há cinco safras, em relação à produtividade, estabilidade, ciclo, altura de planta e tolerância/resistência a outras diversas doenças. A expectativa é que a nova soja esteja disponível para multiplicação de sementes básicas na safra 2008/09 e pronta para comercialização junto aos produtores de grãos na safra 2010/11. Nesse período, a Embrapa e seus parceiros estarão trabalhando também na definição de estratégias e procedimentos necessários para ofertar a tecnologia. A busca da Embrapa por cultivares resistentes à ferrugem começou em 2001, quando

Cultivar

08

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

ocorreram os primeiros focos da doença. A ferrugem já causou prejuízos de mais de US$ 7,2 bilhões ao País, desde que foi identificada pela primeira vez na safra 2001/02. A Embrapa também está desenvolvendo cultivares resistentes adaptadas para outras regiões produtoras.

PARCEIROS A nova cultivar foi desenvolvida por meio do Convênio Cerrados - uma parceria entre a Embrapa Soja, a Embrapa Cerrados, a Embrapa Transferência de Tecnologia, a Agência Rural (GO) e o Centro Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias (CTPA). A pesquisa também contou com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), através do projeto Plataforma Tecnológica para o Manejo Integrado da Ferrugem Asiática da Soja, que engloba ações de melhoramento genético, biotecnologia, fitopatologia e transferência de C tecnologia.


Soja

Charles Echer

Novidades e preocupações

Pr od utor es ddo o Cen tr o-Oeste br asileir o testam n ovas técni cas ddee cultivo e ao Prod odutor utores Centr tro-Oeste brasileir asileiro novas técnicas ta mesm o tempo se vêem fforçad orçad os a atr asar os plan ti os ddee milh o e soja por con esmo orçados atrasar planti tios milho conta de pr oblem as com a esti ag em que casti gou a rregião egião n os últim os m eses problem oblemas estiag agem castig nos últimos meses

A

região centro-norte de Mato Grosso do Sul, onde estão localizados os municípios de Chapadão do Sul, Costa Rica, Chapadão da Baús, somada a Chapadão do Céu (GO), responde por uma área agricultável de aproximadamente 400 mil hectares, sendo 75% desse total usado para o cultivo da soja e 15% de milho. No restante é plantado algodão. Nessa região predomina uma agricultura altamente tecnificada com uso de implementos e máquinas com a máxima capacidade e eficiência de trabalho/hora/ dia como por exemplo (plantadoras, adubadoras pneumáticas, colhedoras hidro, tratamento de semente (inseticida/fungicida) e utilização de variedades e híbridos com alto teto produtivo. Os produtores da região estão sempre em busca de novas tecnologias para o melhor rendimento da sua lavoura e conseqüentemente a maximização dos lucros. Alguns produtores dessa região já estão adotando o espaçamento reduzido no plantio da cultura da soja, com espaço de 40 centímetros na entre linha e não mais o espaçamento 45 centímetros. A resposta na produtividade tem sido satisfatória, haja

visto que com a introdução dessa nova técnica de cultivo, a cultura da soja sofreu um acréscimo de 12% no estande final de plantas por hectare, com conseqüente aumento na produtividade. Essa nova técnica está sendo aplicada principalmente em áreas onde são utilizadas variedades precoces, com o intuito de explorar o potencial máximo da variedade. Outro fator que ocorreu nesta safra 07/ 08 foi o atraso no plantio do milho e da

Produtores estão sempre em busca de novas tecnologias, afirma Perez

soja ocasionado pela baixa precipitação do período. Alguns produtores apostaram no cultivo do milho no mês de outubro buscando altas produtividades, utilizando altos investimentos, como, híbridos com alto teto produtivo, adubações de base e cobertura entre outros manejos que visam alcançar uma melhor performance do híbrido utilizado. Com o atraso das chuvas o plantio de safrinha de milho (2º safra) na região foi reduzido em pelo menos 20% da área, que normalmente era plantada nas safrinhas dos anos anteriores, sendo possivelmente substituído pelo plantio do sorgo, por ser uma cultura de menor risco. Segundo pesquisadores da Fundação Chapadão localizada no município de Chapadão do Sul (MS), essa mudança climática brusca não ocorria há 19 anos na região, com um quadro de quase 120 dias sem chuvas, e um acumulado de apenas 30 mm durante todo esse período. Isso trouxe incerteza e prejuízos para a agricultura local, causando um impacto direto no C mercado do agronegócio brasileiro. Marco Perez, Desenv. de Produtos Nidera Sementes

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

09


Soja

D

Mapa da ferrugem A safr tará com um safraa 2007/08 ddee soja con contará umaa nova págin tern et, eexxclusiva ddo o páginaa n naa In Intern ternet, Con sór ci o An tiferrug em, e com ddu uas Consór sórci cio Antiferrug tiferrugem, novi dad es: o m apa ddos os rrelatos elatos ddee ocorrên ci ovid ades: mapa ocorrênci ciaa fer eci da da ddoença oença atr avés ddaa tecn ologi através tecnologi ologiaa oofer fereci ecid TM aps e a possibili dad ar pelo Google M Maps possibilid adee ddee filtr filtrar oença por in tervalo em apear a in ci dên ci mapear inci cidên dênci ciaa ddaa ddoença intervalo de data em um calendário, instantaneamente

10

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

esde o início de suas atividades, no ano de 2004, o Consórcio Antiferrugem tem se destacado como a principal iniciativa no combate à ferrugem asiática da soja no Brasil, sob a coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com a participação de instituições públicas e privadas, ligadas às atividades de pesquisa e extensão e de vários segmentos da cadeia produtiva. O Consórcio tem sido um dos principais responsáveis por diversas ações visando o auxílio na correta e rápida identificação e definição de estratégias de monitoramento, manejo e controle da doença de maior importância atual na cultura da soja. No início a Embrapa Soja oferecia no seu “Sistema de Alerta” o mapa de focos da ferrugem, que passou a ser alimentado com informações provenientes de uma rede de laboratórios, após a constituição do Consórcio. O Sistema de Alerta (http://www.cnpso.embrapa.br/alerta/ ) é uma rede de comunicação gerenciada pela Embrapa Soja que se destina a informar à assistência técnica pública e privada sobre problemas detectados durante a safra, orientar quanto a possíveis soluções e captar, entre os agentes de transferência, informações sobre o desempenho da safra nas várias regiões produtoras. A novidade para a safra 2007/08 é a nova página na Internet exclusiva do Consórcio Antiferrugem. Além de trazer informações que já estavam sendo divulgadas através do Sistema de Alerta, a nova página traz algumas inovações importantes. A primeira delas surgiu da necessidade de dar um destaque ao mapa dos relatos de ocorrência da doença de forma a facilitar a divulgação da localização dos focos da ferrugem no Brasil. Para tal, o sistema de mapeamento foi redesenhado para utilizar a tecnologia disponibilizada pelo GoogleTM Maps, a qual permite uma maior interação do usuário na consulta a informações mapeadas e dar opções de aproximação e de visualização das ocorrências sobre mapas rodoviários ou imagens de satélite. A informação disponibilizada é, por enquanto, a mesma das duas safras anteriores: os múltiplos relatos de ocorrência da doença por municípios de cada estado da Federação. No caso de uma ocorrência em um município, um ícone em forma de círculo vermelho de tamanho diferenciado é desenhado no ponto central do mesmo, de acordo com o número de


detecções. Círculos maiores representam um maior número de relatos. Além dos novos ícones, a pesquisa pode ser feita em menus de seleção ao lado do mapa, selecionando a safra e o estado, sendo apresentado dinamicamente o resultado dos municípios com relatos e o número por cada safra, estado e município. A seleção nos filtros leva a geração automática dos pontos no mapa. Outra novidade é a possibilidade de filtrar e mapear as ocorrências por intervalo de data em um calendário, instantaneamente. Para os laboratórios que alimentam o banco de dados com as ocorrências, não houve mudanças na interface de administração, porém, a mudança de servidor e ajustes no banco de dados tornaram o sistema bem mais rápido, de forma que irá agilizar a divulgação das ocorrências durante a safra. Além das novidades no mapa de focos, o site traz informações atualizadas sobre os números do Consórcio, os laboratórios credenciados e os diversos materiais produzidos, como o folder da safra 2007-08, a palestra padrão atualizada e as palestras apresentadas nas três reuniões já realizadas com os membros participantes do Consórcio. Ainda, as informações mais atualizadas sobre a ferrugem asiática também estarão disponíveis, destacando as novidades em termos de produtos para controle e regulamentação do vazio sanitário nos diferentes estados da Federação. Por fim, o site tem um espaço para comentários que serão

O novo sistema tornará mais rápida a divulgação das ocorrências de focos de ferrugem durante a safra

mostrados em ordem cronológica durante a safra, sendo enviados pela rede de especialistas de cada região destacando os detalhes da dispersão e recomendações regionais de manejo de doença. O novo site foi projetado em março de 2007 e é resultado de um esforço conjunto de algumas das instituições participantes do Consórcio. A parte técnica do projeto do site foi desenvolvida pelo Laboratório de Epidemiologia de Plantas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pelo grupo Mosaico do Instituto de Informática da Universidade de Passo Fundo (UPF). A coordenação geral e a geração do conteúdo da nova página continuam sendo

de responsabilidade da equipe da Embrapa Soja, O mapa de focos e informações do Consórcio Antiferrugem são acessados agora no endereço: http:// C www.consorcioantiferrugem.net. Emerson M. Del Ponte, UFRGS Cláudia V. Godoy, Amélio Dall´Agnol, Claudine D. S. Seixas, Rafael M. Soares, Sandra M. S. Campanini e Carina G. Rufino, Embrapa Soja Willingthon Pavan, ICEG/UPF

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

11


Soja

Fungo latente Além ddee um ed ução n ci al ddaa ddoença, oença, ddevi evi do à baix dad egistr ad umaa rred edução naa evolução ini inici cial evid baixaa umi umid adee rregistr egistrad adaa an de parte ddas as lavour as ddeve eve rreceber eceber cultivar es ddee ci clo pr ecoce até o m om en to, gr cultivares ciclo precoce ecoce,, mom omen ento, gran and lavouras num tativa por parte ddo o pr od utor ddee escapar ddos os pi cos populaci on ais ddo o patóg en o umaa ten tentativa prod odutor picos populacion onais patógen eno que pod erão sur gir n o ddecorr ecorr er ddaa safr a. N oM ato Gr osso, ár eas com plan ti o sob pivô, poderão surgir no ecorrer safra. No Mato Grosso, áreas planti tio um ffoco oco ddaa ddoença oença agn osti cad on enh da não ffoi oi di on de as plan tas já têm 30 di as cado nenh enhum diagn agnosti osticad plantas dias as,, ain aind ond

A

ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) ainda se constitui em uma preocupação para o cultivo de soja no Brasil. Conhecida por reduzir consideravelmente a produtividade de grãos, sua ocorrência tem sido observada nas diversas regiões de produção, alternando os níveis de agressividade em função do clima ou fatores predisponentes locais. Desde a epidemia no oeste baiano observada na safra 2002/2003, sua presença já foi registrada em praticamente todas as regiões. Diferentes fatores têm contribuído para que a ferrugem da soja continue a causar perdas, que até o momento, já são superiores a cinco bilhões de dólares, se considerada a cadeia produtiva em sua amplitude (Embrapa, 2005). Alguns fatores epidemiológicos têm sido consistentes com o passar das safras, destacando-se a evolução populacional de Phakopsora pachyrhizi no decorrer da safra, condições favoráveis para infecção (molhamento foliar associado a temperaturas amenas durante a noite) e, para dispersão, a freqüência de chuva principalmente nos meses de dezembro a fevereiro, nas principais regiões de produção de soja. Situações de manejo deficiente da cultura podem aumentar a severidade da epidemia (Figura 1). Dificuldades operacionais e critérios de

12

manejo químico divergentes tornam este cenário progressivamente insustentável com o avanço da safra. Na safra 2006/2007, o número excessivo de aplicações praticamente comprometeu a rentabilidade da cultura, principalmente quando os programas de aplica-

ção foram implementados tardiamente, ou quando as condições climáticas inviabilizaram as operações de controle. Uma das grandes preocupações do setor é a necessidade de investimentos, já iniciados desde a safra 2003/4, tanto para atender às

Figura 1 - Precipitação ocorrida nos meses de dezembro/06 a fevereiro/07, nas principais regiões de produção de soja. Fonte: Eduardo Sierra, 2007

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

C


Figura 2 - Severidade da ferrugem da soja em relação à posição do trifólio na planta

demandas tecnológicas como operacionais, de sorte a um enfrentamento adequado desta doença. Neste particular, a relação máquina x área, bem como a adequação da tecnologia de produção, são a base para a cultura atingir níveis de rentabilidade atraentes ao negócio.

VAZIO SANITÁRIO O vazio sanitário, medida adotada pelo Ministério da Agricultura, visa minimizar a precoce disponibilidade de inóculo do patógeno, produzido no período de entressafra em cultivos irrigados. Neste primeiro ano de implantação foi observado um recuo da doença em regiões cujo histórico mostrava uma severidade elevada. Contudo, o resultado ainda necessita de um período maior de avaliação para que seja possível dimensionar seu real impacto. Do ponto de vista regional, os processos climáticos promotores da infecção e da dispersão da doença foram predominantes. Veranicos ocorridos em novembro e dezembro reduziram a taxa de progresso da ferrugem da soja, enquanto que nas regiões onde a precipitação foi normal, a doença atingiu nível epidêmico comparável a safras anteriores.

Figura 3 - Estratégias de proteção da cultura e das etapas de monitoramento de acordo com o estádio fenológico e resposta fisiológica da cultura

do, provavelmente, a uma redução na evolução inicial da doença. Entretanto, caso o nível de redução da chuva não seja suficientemente significativo para impactar a patogênese, é possível uma antecipação da mesma. Por outro lado, é prevista uma concentração de precipitação nos meses de dezembro e janeiro em algumas regiões do Cerrado brasileiro. A associação de ambos prognósticos pode levar a algumas possibilidades: retardamento da ferrugem no Cerrado levando a um retardamento da doença em toda a área de produção; ausência de veranico no Cerrado, e que poderia propiciar um incremento populacional mais acelerado do que em anos anteriores. Se este evento ocorrer e for associado a chuvas apenas pouco abaixo do normal no Sul, é possível que a ferrugem atinja níveis de infecção até então não verificados na região; prolongamento da estação chuvosa no Cerrado e uma alta pressão de inóculo concentrada no final do ciclo. A freqüência de chuva tem sido o fator

meteorológico relacionado ao estabelecimento de epidemias severas da doença. Nas últimas safras, nas regiões onde a freqüência de chuva foi maior, as dificuldades no controle foram proporcionalmente elevadas. O processo de infecção é predominantemente noturno, período em que o molhamento foliar geralmente é verificado. Neste sentido, a taxa de progresso passa a depender em maior parte da repetição de ciclos da doença, o que tem sido associado à maior freqüência de precipitação, fator decisivo no processo de dispersão de inóculo. Em adição, a maior freqüência de chuva tende a acarretar o desenvolvimento de um maior índice de área foliar, maior dificuldade na penetração de radiação e, por conseguinte, maior impedimento à obtenção de um espectro de pulverização adequado à doença. Na medida em que uma maior taxa de aplicação for requerida visando atender ao maior índice de área foliar, ou compromete-se a aplicação devido ao reduzido tamanho de gota ou compromete-se a operacionalidade da

Diferença varietal em relação à aplicação de fungicidas no controle da ferrugem da soja

EXPECTATIVA PARA SAFRA ATUAL A expectativa para a safra que está iniciando é que o vazio sanitário possa reduzir ainda mais o nível de inóculo. Neste ano, ainda não foi identificada a presença de esporos no Brasil. No Mato Grosso já existem áreas com soja sob pivô central com 30 dias após a emergência onde ainda não foi diagnosticada a presença do patógeno. Contudo, na maior parte da área de cultivo, a semeadura tardia, devido ao atraso da estação chuvosa, nos estados do Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Bahia, constitui-se em empecilho adicional para avaliações do real benefício do vazio sanitário. No tocante às previsões meteorológicas para o período inicial da safra de soja, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, é esperado um ano mais seco levan-

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

13


Resposta de cultivares de soja à aplicação de fungicidas para controle da ferrugem asiática

14

Nas aplicações curativas a atividade fungicida dá-se, sobretudo, sobre micélio primário ou secundário, mas com nenhuma ou reduzida expressão sintomática. Neste momento, já está sendo verificada alguma perda de eficácia do programa devido ao encurtamento do residual do ativo aplicado. No caso das aplicações erradicantes, é verificada uma alteração na ação dos fungicidas devido ao nível de comprometimento dos tecidos pelo crescimento do patógeno. Em ambas as situações mas com magnitude diferente, compostos de defesa são produzidos e a energia disponível na planta para sua produção tende a ser progressivamente consumida de forma induzida por processos diversos de defesa e que são ativados em resposta à infecção. Nas aplicações preventivas o fungicida permanecerá um maior período de tempo nos tecidos, exibindo um residual efetivo mais prolongado até porque é mais elevada a probabilidade do produto ser depositado em maior percentagem de área foliar sadia e ativa da planta.

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

Cultivar

aplicação devido ao maior tempo de operação. Tamanha complexidade de fatores associados à insegurança, quanto aos movimentos iniciais de inóculo e posterior dispersão, associados ao curso de uma epidemia profundamente influenciada pela freqüência de precipitação, torna-se fundamental a adoção de estratégias de manejo de baixo risco, preservando a rentabilidade da cultura. Devido à dinâmica de dispersão de inóculo de Phakopsora pachyrhizi nas áreas de produção, o estabelecimento de programas curativos é de alto risco, já que a partir da detecção visível da doença sua evolução é rápida e a eficácia de controle ficará comprometida pelas limitações operacionais. Distinguir programas curativos de erradicantes tem sido uma grande dificuldade em nível de campo. No primeiro caso tem-se o estabelecimento do programa de controle nos ciclos iniciais da doença, praticamente assintomáticos em condições de campo. No segundo, os programas de controle são aplicados já sobre níveis variáveis de infecção, visivelmente estabelecidos.

Tem sido observado que alterações no sistema de cultivo afetando funções fisiológicas da planta de soja aumentam a eficácia dos programas de manejo, tanto do ponto de vista da eficiência agronômica dos ativos utilizados como da tecnologia de aplicação. Deste modo, maior atenção deve ser dada a práticas culturais que impactam tanto o desenvolvimento da doença como a eficácia da proteção química, salientando-se adubação, espaçamento entre linhas, grupo de maturação, plasticidade do dossel, população de plantas, índice de área foliar e tolerância e responsividade ao manejo químico. Esforços têm sido concentrados na obtenção de cultivares com resistência à ferrugem o que até o momento não foi obtido. Entretanto, cultivares atualmente indicadas expressam níveis diversos de resistência parcial mostrando, em condições de campo, diminuição no número de lesões, tamanho de lesões, número de esporos por lesão, reduzindo a taxa de progresso da ferrugem da soja. Adicionalmente, resultados obtidos em experimentos no estado do Rio grande do Sul mostraram que cultivares de soja apresentaram resposta diferenciada em relação à aplicação de fungicidas no controle de doenças da parte aérea da soja (Figura 4). O cenário que ora se desenha na cultura da soja começa com um retardamento na semeadura da safra devido ao atraso no início das chuvas na região do Cerrado brasileiro. De maneira geral, não se espera alterações significativas no manejo cultural da soja (população de plantas, espaçamento entre linhas de semeadura, maior atenção aos níveis de cálcio (Ca), potássio (K), fósforo (P) e manganês (Mn)). Aproximadamente, 60 a 70% da área será coberta por cultivares de ciclo precoce, numa tentativa por parte do produtor em escapar dos picos populacionais do patógeno, além de, em diversas regiões, implantar um cultivo de safrinha com milho ou algodão. Existe uma maior consciência em torno dos programas de proteção preventivos. Entretanto, existe uma expectativa de que seja reduzida a probabilidade do surgimento de focos de ferrugem em número consistente antes do mês de dezembro, o que poderia acarretar um atra-

Em aplicações preventivas o fungicida permanece por mais tempo nos tecidos da planta


Nível de desfolha das plantas de soja submetidas a diferentes pontas de pulverização

so no estabelecimento dos programas de controle que, nesta situação perderiam seu caráter protetor. Nas áreas onde períodos curtos de estiagem forem verificados é possível que a taxa de progresso da doença mantenha-se baixa até estádios como R3 ou R4, o que pode levar o produtor a retardar perigosamente o início dos programas de proteção. Por outro lado, nas áreas onde a chuva mantiver-se em regime normal, o atraso na semeadura poderá não acarretar variações significativas no progresso da doença e a evolução da mesma já ser significativa em estádios como R1 ou R2. Deste modo, fatores como grupo de maturação das cultivares, bem como freqüência de chuva, deverão ser indicadores importantes para adequar tanto o momento do estabelecimento dos programas de controle como o número e freqüência de aplicações necessárias. A precocidade no surgimento dos primeiros focos será um forte indicativo da dinâmica populacional do patógeno, devendo indicar a necessidade pela execução regional das estratégias de controle, ao invés de estratégias apenas locais. Espaçamento e nível nutricional poderão ser indicadores locais importantes para a formatação dos programas de controle. Situações com menor espaçamento entre linhas ou áreas com nível nutricional não-balanceado tendem a indicar maior probabilidade no estabelecimento precoce da doença. De forma semelhante, cultivares suscetíveis e altamente sensíveis poderão, igualmente, representar o risco para infecções antecipadas. É importante que estas variáveis sejam

analisadas localmente de sorte a que os programas de controle empregados sejam adequados à pressão local da doença. É necessário que o produtor esteja preparado, do ponto de vista do gerenciamento operacional para implementar sua estratégia de controle. Não se espera uma alteração significativa na disponibilidade de inóculo da doença, principalmente a partir do final do mês de dezembro. Ain-

da é uma incógnita qual o efeito do retardamento na implantação das lavouras no Cerrado sobre a dinâmica inicial de inóculo do patógeno. Contudo, a partir do surgimento dos primeiros focos, mesmo em áreas distantes, a evolução da epidemia será definida, primeiramente pela freqüência local de chuva e, secundariamente, pela interação entre cultivar, manejo cultural e nutricional. A proteção da soja é a estratégia que gera os melhores resultados dos fungicidas. Consideradas do ponto de vista fisiológico, as estratégias de proteção são inerentes a cada cultivar considerando fundamentalmente sua adaptação à região de cultivo. Fatores climáticos regionais podem interferir neste processo, favorecendo ou retardando o estabelecimento inicial da epidemia. Neste particular, embora a dinâmica do patógeno seja vista do ponto de vista regional, as tomadas de decisão deverão ser locais. Os programas eficazes de controle da ferrugem deverão utilizar os instrumentos de migração regional do patógeno aliados aos fatores de manejo de cada cultivar, seja devido a sua responsividade ao controle químico, como à plasticidade de seu crescimento devido a alterações no espaçamento ou época de semeadura. Evidentemente que a qualidade da tecnologia de aplicação dos fungicidas será fundamental para que a rentabilidade do processo de controle seja obtida. C Ricardo S. Balardin, Lucas Navarini e Rosana C. Meneghetti, UFSM

DIFICULDADES NO MANEJO CERTO

U

ma grande dificuldade no manejo correto da ferrugem da soja em condições de campo constitui-se na distinção dos objetivos das estratégias de proteção da cultura e das etapas de monitoramento da dispersão de inóculo do patógeno. No primeiro caso, o objetivo principal é maximizar a resposta fisiológica da cultura através da implementação de programas de proteção em função de época de semeadura, nível nutricional da lavoura ou talhões, cultivares utilizadas, índice de área foliar a cada estádio fenológico, manejo cultural, freqüência local de precipitação. O fundamento desta estratégia é a proteção da planta em seus momentos críticos e nas regiões mais sensíveis do dossel contra todo o espectro de patógenos, e entre eles, a ferrugem (Figura 2).

No segundo caso, o principal objetivo é a avaliação da progressão geográfica da doença, desde os primeiros focos até as regiões mais próximas de cada lavoura. Este acompanhamento fornece importantes subsídios para a aferição da adequação dos programas de proteção, mas principalmente para auxiliar na previsão de alterações na evolução populacional da doença, fundamental para o gerenciamento das operações de controle em cada propriedade. Assim posto, acredita-se ser necessário a conjugação de ambos os sistemas, um direcionado à proteção da planta contra um espectro de patógenos e implementado no momento em que a planta exige, e o outro, pela avaliação da evolução populacional de Phakopsora pachyrhizi possibilitar ajustes operacionais no decorrer da safra (Figura 3).

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

15


Soja

Deu a louca Plan tas ddee soja sem vag en cerr am seu ci clo e Plantas vagen enss, que não en encerr cerram ciclo perm an ecem com hastes e ffolhas olhas ver des enqu an to o perman anecem verd enquan anto restan te ddaa lavour ad ur o, rrecebem ecebem a dden en omin ação estante lavouraa está m mad adur uro, enomin ominação de Soja Lou ca 2. A an om ali oi con statad Louca anom omali aliaa ffoi constatad statadaa em 2006 em as ddo o PPará, ará, m as h oje já está pr esen te em outr os lavour esente outros lavouras mas hoje presen estados com possibilidade de atingir até 100% dos nós pr od utivos e aborto total ddas as vag en vagen enss. A causa pod podee ser um prod odutivos do pela m osca br an ca vírus an smiti tran ansmiti smitid mosca bran anca vírus,, tr

O

ambiente tropical para onde se expandiu a agricultura brasileira, nas últimas três décadas, é um ótimo caldo de cultura para o surgimento de novas pragas e doenças. Nesse período, iniciado em 1970, o número de pragas de solo que saltou de três para 20 (Salvatori et al, 2002), além de mosca branca, tamanduá-da-soja, búfalo-da-soja e nemetóides de galhas e cisto. O aumento de doenças foi também grande: cancro-da-haste, oídio, míldio, mofo branco, mela e ferrugem para citar as principais. Nesse mesmo contexto, no ano de 2006, em lavouras de soja, no estado do Pará foi constatada uma anomalia, basicamente caracterizada pela presença de plantas de soja sem vagens (aborto de flores e vagens) as quais não terminam o ciclo, permanecendo com hastes e folhas

16

verdes, enquanto que o restante da lavoura está maduro, pronto para colher. Essa anomalia foi denominada de soja louca 2 (SL-2), para diferenciar do sintoma semelhante causado por ataque intenso de percevejos, o qual não é o caso. Na safra 2006/07, o mesmo sintoma se disseminou e atingiu os estados de Mato Grosso, Maranhão, Tocantins e Bahia.

PESQUISA Testes preliminares indicaram que o vírus não é transmitido por sementes de soja. O sintoma ocorre em variedades transgênicas RR e convencionais, mas há diferenças entre cultivares com relação aos graus de incidência e severidade da anomalia. Testes preliminares de cultivares e genótipos a campo mostraram

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

Sintoma de SL-2 ocorre em variedades transgênicas RR e convencionais

variações de reações de tolerância/resistência até suscetibilidade. No primeiro caso, estão as cultivares GT 8901, M-Soy 8866, MG/BR 46 (Conquista) e BRS Valiosa RR. Levantamentos em lavoura da cultivar MSoy 9056 RR em Porto Nacional, TO, em 2006/07, evidenciaram a importância de doses de um herbicida formulado com os princípios ativos glifosato (240 g/l) + imazetapir (30 g//), aplicados em pós-emergência, no aumento da incidência de SL-2 (Tabela 1). Em Formoso do Araguaia, TO, em 2007, lavouras de soja irrigada, cultivar BRS 217 (Flora), com baixa incidência de mosca branca, tratadas com os princípios ativos acifluorfen – sódio (170 g/l) + bentazon (400 g/l) e clorimuron–etílico (250 g/kg) em pós-emergência, apresentaram plantas com aborto de flores e vagens, mas com baixo índice de plantas com hastes e folhas verdes. Em Balsas, Maranhão, um experimento realizado em condições irrigadas, em 2007, comparando doses de herbicidas aplicados em pré-emergência na soja BRSMT Uirapuru mostrou uma tendência de aumento da incidência de SL-2 em parcelas com maiores doses de imazetapir (Figura 1). Estes fatos demonstram a complexidade


Tabela 1 - Avaliação da incidência de SL-2 (plantas com sintoma), na cultivar M-Soy 9056 RR, em Tocantins, em função de doses dos princípios ativos glifosato, 177,8 g/l + imazethapyr, 30 g/l Doses (l/ha) 0,0 3,5 7,0

Figura 1 - Efeito de doses de herbicidas aplicados em pré-emergência de soja BRSMT Uirapuru, na manifestação de sintomas de Soja Louca 2, em campo irrigado por pivô central em Balsas, MA. 2007. Os valores após os nomes dos herbicidas referem-se à dose aplicada, em g i.a. ha-1

Grau de incidência de SL-2 (%) 9,6 23,5 50,0

do problema e a necessidade de mais pesquisas para decifrar as causas da SL-2 e suas interações.

PREJUÍZOS AOS PRODUTORES DE SOJA A anomalia SL-2, além de prejuízos diretos de perdas por aborto de vagens, acrescenta ainda a necessidade do uso de herbicidas para dessecar as plantas com sintomas, pois há aumento de umidade e impureza nos grãos colhidos, nessas condições. As perdas diretas de produtividade nas lavouras atingidas em 2007, no Tocantins e Maranhão variaram de 9,2 a 40%. Nas lavouras irrigadas no Formoso do Araguaia (TO), 2007, as perdas com a cultivar BRS 217 (Flora), em relação ao cultivo de 2006, foi de 9,2%, ou seja, quatro sacas por ha.

ATITUDE PARA A SAFRA 2007/08 Dada a fragilidade das informações disponíveis sobre a SL-2, até este momento, a safra 2007/08 será de grande expectativa por parte dos técnicos e produtores. As medidas a serem tomadas são mais de bom senso do que tecnológicas. O controle da mosca branca, vetor do vírus, é de baixa eficiência devido à migração do inseto de vegetação vizinha para as lavouras, demandando muitas aplicações, as quais elevam em muito os custos de proteção das lavouras atingidas. Informações sobre cultivares de soja tolerantes ou resistentes são muito incipientes e regionalizadas para

serem usadas intensamente como ferramenta tecnológica. Cultivares de ciclo mais curto, indicadas no manejo da ferrugem asiática, podem ser vantajosas também contra a SL-2. Em regiões afetadas, pode-se substituir parte da área destinada à soja por milho, feijão, sorgo, pastagem ou outras culturas de mercado local. Utilizar doses de defensivos recomendadas, principalmente nas aplicações em pósemergência, as quais parecem contribuir mais para o aumento do sintoma de SL-2. O controle mecânico de plantas daninhas através de gradagem pode ser uma boa alternativa para reduzir o problema.

CONSIDERAÇÕES GERAIS Como o leitor percebeu pelo exposto no texto, as dificuldades de convivência e de ma-

nejo com a SL-2 são ainda muito grandes e recheadas de incertezas. As pesquisas para determinar as verdadeiras causas da anomalia representada pela SL-2 estão em andamento pelas empresas de pesquisa privadas e públicas. A pesquisa e o produtor brasileiro já venceram outras crises tecnológicas e econômicas e, com certeza, essa também será adeC quadamente solucionada. João Luiz Gilioli, Genética Tropical Maurício Conrado Meyer, Embrapa Balsas Paulo César Prince, Prince Consultoria

PRINCIPAIS CAUSAS

A

anomalia SL-2 é de natureza com plexa, ainda não determinada. Há evidências da presença de uma virose transmitida por mosca branca (grupo Carlavirus), com fortes interações com doses de defensivos (herbicidas, fungicidas, micronutrientes etc.) aplicados em dessecação, pré e pós-emergência nas lavouras de soja. O grau de severidade nas plantas com sintoma pode atingir até 100% dos nós produtivos, com aborto total das vagens. A graduação da severidade e a distribuição aleatória das plantas com sintomas nas lavouras indicam a presença de muitas interações, envolvendo cultivar, insumos e doses, virose e ambiente (principalmente temperaturas elevadas).

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

17


Soja

Ação reguladora

São conh eci das as car acterísti cas ddos os rregulad egulad or es an to à atu ação ou à conheci ecid característi acterísticas egulador ores vegetais quan anto atuação es veg vegetais qu ocessos fisi ológi cos n as plan tas ciên ci modifi cação ddee pr ciênci ciaa odificação processos fisiológi ológicos nas plantas tas.. Com o objetivo ddee testar a efi eficiên destes pr od ddo ffoi oi rrealizad ealizad on o PPar ar aná, avali an do os prod odutos naa cultur culturaa ddaa soja um estu estud ealizado no araná, avalian and odutos n efeitos sobr acterísti cas agr onômi ci al pr od utivo ddaa oleagin osa sobree as car característi acterísticas agronômi onômicas potenci cial prod odutivo oleaginosa onômicas e o poten

O

s reguladores vegetais são substâncias sintetizadas e aplicadas exogenamente, possuem ação similar aos grupos de hormônios vegetais conhecidos (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e outros), quando em baixas concentrações, promovem, inibem ou modificam processos fisiológicos e morfológicos do vegetal (Laca-Buendia, 1989; Castro e Vieira, 1999). A mistura de dois ou mais reguladores vegetais, ou destes com outras substâncias (aminoácidos e ou nutrientes) é designada de

SOJA NO BRASIL

O

Brasil apresenta anualmente uma produção de soja da ordem de 60 milhões de t, o que lhe confere a posição de maior exportador de farelo e o segundo de óleo no mundo (Agrianual, 2005). No Paraná, na safra 2005/2006 foram cultivados 3.884.095 ha com uma produtividade de 9.289.199 t, o que caracteriza a importância desta cultura no cenário agrícola de nossa região (Seab, 2006).

18

estimulante vegetal, podendo este composto químico atuar e modificar processos fisiológicos das plantas. A utilização dos reguladores deve-se em primeiro plano pelo desejo de aumentar a produtividade, aliado à superação das adversidades e tem sido considerada uma prática de alto potencial de resposta econômica. Castro et al., (1985); Nooden, (1986) relataram que a senescência das folhas de soja foi atrasada em 16 dias com a aplicação de giberelinas (GA3 ou GA4+7) associada à aplicação de citocininas. Neste caso o amarelecimento das vagens foi retardado por dois a quatro dias. O produto regulador vegetal é composto de 0,9 g/l de cinetina (citocinina) + 0,5 g/l de ácido 4-indol-3-ilbutírico (auxina) + 0,5 g/l de ácido giberélico (giberelina). Castro e Vieira, (1999) e Vieira, (1999) observaram que sementes de soja tratadas com o mesmo tiveram maior velocidade de crescimento de raiz e acúmulo de matéria seca. Milléo, et al., (2003), em trabalho realizado com feijão, relataram que as sementes que receberam o tratamento antes da semeadura e no sulco de semeadura, emergiram em tempo inferior aos demais tratamentos e à testemunha, e apresentaram um maior número de sementes germinadas aos dez dias após a semeadura. Os

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

componentes da produção e a produtividade apresentaram resultados superiores aos da testemunha e o produto permite ainda diferentes opções de utilização, o que é desejável, em função do manejo a ser utilizado. Para avaliar a eficiência dos reguladores vegetais sobre as características agronômicas e o potencial produtivo da cultura da soja, conduziu-se um experimento a campo na Fazenda Escola “Capão da Onça”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, na safra de 2004/2005. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com dez tratamentos e quatro repetições. As parcelas experimentais apresentaram área de 18,9 m2. Os tratamentos utilizados foram: 1-Testemunha, 2- Regulador vegetal (25 ml/100 kg de sementes, TS1 ), 3- Regulador vegetal (50 ml/100 kg de sementes, TS), 4- Regulador vegetal (75 ml/100 kg de sementes, TS), 5- Regulador vegetal (50 ml/ha, SP2 ), 6- Regulador vegetal (100 ml/ha, SP), 7Regulador vegetal (150 ml/ha, SP), 8- Regulador vegetal (25 ml/ha, FL3 ), 9- Regulador vegetal (50 ml/ha FL), e 10- Regulador vegetal (75 ml/ha FL). A cultivar de soja utilizada foi “BRS 134”, o sistema de cultivo foi o plantio direto, colocando-se em média 18 sementes por metro linear, com


espaçamento de 45 cm entre linhas, a uma profundidade de semeadura de 3 a 4 cm. Nesta mesma época foram realizadas as aplicações em tratamento de sementes e em pulverização dirigida na linha de semeadura. As aplicações dos tratamentos em pulverização foliar (estádio V5-V6) foram realizadas 30 dias após, através de um pulverizador de pressão constante à base de CO2 equipado com pontas de pulverização de jato leque XR 110:02, espaçadas em 50 cm uma da outra. A pressão de trabalho foi de 30 lb/ pol2, resultando num volume de solução de calda de 200 l/ha. Foram avaliados: a velocidade de emergência em dias para se atingir 50% da população da parcela, a porcentagem de germinação aos 10 - 15 dias após a semeadura, o número de vagens por planta, a produtividade e a massa de 100 grãos. Depois de colhidas, as amostras foram trilhadas, secas até 13% de umidade e pesadas para a determinação da produtividade e da massa de 100 grãos. Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância e quando significativas as diferenças entre as médias (teste de F), estas foram comparadas pelo teste de DMS ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS A comparação das médias da velocidade de emergência e da porcentagem de germinação, aos 10 - 15 dias após a semeadura (Quadro 1), permitiu observar que as sementes que receberam o tratamento com Regulador vegetal (TS) antes da semeadura e no sulco de semeadura (SP), emergiram em tempo inferior aos demais tratamentos e a testemunha e apresentaram um maior número de sementes germinadas, aos 10 -15 dias após a semeadura. A comparação das médias do número de vagens por planta (Quadro 1) revelou que os tratamentos 3, 4 (50 e 75 ml/100 kg de sementes), 5 (50 ml/ha no sulco de semeadura) e 8 (25 ml/ha em pulverização foliar no estádio V5 - V6) apresentaram resultados signifi-

Quadro 1 - Velocidade de emergência em dias para se atingir 50% da população da parcela, porcentagem de germinação aos dez - 15 dias após a semeadura (DAS) e número de vagens por planta, obtidos no ensaio com soja realizado na Fazenda Escola “Capão da Onça” UEPG, Ponta Grossa (PR), 2004/2005 Tratamentos 1- Testemunha 2- Regulador vegetal 3- Regulador vegetal 4- Regulador vegetal 5- Regulador vegetal 6- Regulador vegetal 7- Regulador vegetal 8- Regulador vegetal 9- Regulador vegetal 10- Regulador vegetal CV%

Dose do Modo de Velocidade de emergência Porcentagem de germiproduto/ha aplicação (dias para 50% da pop.) nação % (10 - 15 DAS) — — 10,50 a 66,25 c 25 ml/100 kg de sts TS1 9,25 b 72,50 ab TS 9,00 b 73,75 a 50 ml/100 kg de sts TS 75 ml/100 kg de sts 9,00 b 73,75 a 50 ml/ha SP2 9,75 ab 72,50 ab SP 9,50 ab 76,25 a 100 ml/ha SP 150 ml/ha 9,25 b 76,25 a 25 ml/ha FL3 10,50 a 67,50 c FL 10,00 ab 66,25 c 50 ml/ha FL 75 ml/ha 10,50 a 68,75 bc 7,24 3,66

Número de vagens por planta (R8 - R9) 23,75 e 28,00 d 36,25 ab 37,50 a 36,75 a 32,50 bc 31,25 cd 37,00 a 35,25 ab 33,75 abc 7,96

* Médias seguidas por letras diferentes nas colunas diferem entre si ao nível de significância de 5% indicado pelo teste de DMS; 1Tratamento de sementes; 2Pulverização dirigida na linha de semeadura, no momento da semeadura; 3Pulverização foliar no estádio V5 - V6; CV% = coeficiente de variação.

Quadro 2 - Produtividade e massa de 100 grãos, obtidos no ensaio com soja realizado na Fazenda Escola “Capão da Onça” UEPG, Ponta Grossa (PR), 2004/2005 Tratamentos 1- Testemunha 2- Regulador vegetal 3- Regulador vegetal 4- Regulador vegetal 5- Regulador vegetal 6- Regulador vegetal 7- Regulador vegetal 8- Regulador vegetal 9- Regulador vegetal 10- Regulador vegetal CV%

Dose do produto/ha — 25 ml/100 kg de sts 50 ml/100 kg de sts 75 ml/100 kg de sts 50 ml/ha 100 ml/ha 150 ml/ha 25 ml/ha 50 ml/ha 75 ml/ha

Modo de aplicação — TS1 TS TS SP2 SP SP FL3 FL FL

Produtividade kg/ha 2.415 b 2.707 a 2.741 a 2.701 a 2.692 a 2.783 a 2.764 a 2.783 a 2.780 a 2.771 a 3,27

Massa de 100 grãos (gramas) 16,52 b 17,33 a 16,98 ab 17,40 a 17,13 ab 17,27 a 17,33 a 17,27 a 16,95 ab 17,35 a 2,42

* Médias seguidas por letras diferentes nas colunas diferem entre si ao nível de significância de 5% indicado pelo teste de DMS; 1Tratamento de sementes; 2Pulverização dirigida na linha de semeadura, no momento da semeadura; 3Pulverização foliar no estádio V5 - V6; CV% = coeficiente de variação.

cativamente superiores ao da testemunha. A produtividade foi positivamente influenciada pelos tratamentos, pois se verificou um aumento de 368 kg/ha entre os melhores resultados, tratamentos 6 e 8 (2.783 kg/ha) e a testemunha (2.415 kg/ha). Esse incremento na produtividade, principalmente, destes dois tratamentos com relação ao controle, pode ter

ocorrido em função do maior número de vagens por planta e da maior massa de 100 grãos (Quadro 2). As maiores médias de massa de 100 grãos por parcela foram alcançadas nos tratamentos 2, 4, 6, 7, 8 e 10. Os componentes da produção foram influenciados positivamente pelos tratamentos.

CONCLUSÕES • O produto é eficiente agronomicamente para a cultura da soja, em todas as doses testadas, podendo ser aplicado através de tratamento de sementes, no sulco de semeadura ou em pulverização foliar, durante o desenvolvimento vegetativo da cultura. • Não causa fitointoxicação à cultura da soja nas doses e formas de aplicação testadas nesse ensaio. • O produto permite ao assistente-técnico, diferentes opções de utilização, o que é desejável, em função do manejo que será utiC lizado.

A utilização de reguladores, considerada uma prática de alto potencial de resposta econômica, se deve ao desejo de aumentar a produtividade

Marcos Vinícius Ribas Milléo, UEPG

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

19


Pragas

Paladar diversificado Os ddan an os ddaa lagarta elasm o são sever os n as difer en tes cultur as anos elasmo severos nas diferen entes culturas que ataca. A culd ad om onitor am en to e de am ostr ag em Ass difi dificuld culdad adees ddo monitor onitoram amen ento amostr ostrag agem têm si do o prin cipal obstáculo par das em sid principal paraa evitar as per perd pr od utivi dad as lavour as evi do ao ataque aos colm os ddas as prod odutivi utivid adee n nas lavouras as,, ddevi evid colmos o custo, o tr atam en to ddee plan tas ela efi ciên ci ciênci ciaa e baix baixo tratam atamen ento plantas tas.. PPela eficiên tes ain da é o métod om ais utilizad o par ter a pr aga sem en praga semen entes aind método mais utilizado paraa con conter

A

lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) ocorre nas regiões temperadas e tropicais do continente americano. É uma praga polífaga que ataca mais de 60 espécies de plantas, causando sérios danos a várias culturas de importância econômica como: milho, cana-de-açúcar, trigo, soja, arroz, feijão, sorgo, amendoim, algodão, dentre outras. A maioria das plantas hospedeiras é vulnerável ao ataque da lagarta elasmo desde a germinação até aproximadamente 30 dias após o plantio (oito folhas completamente abertas). A lagarta penetra na região do colo, fazendo galerias no interior do colmo, provocando a morte ou perfilhamento da planta. O ataque causa a destruição da região de crescimento e os tecidos meristemáticos responsáveis pela condução de água e nutrientes. Como o tipo de dano da lagarta causa a morte ou enfezamento das plantas, a redução no rendimento da lavoura está relacionada com a redução no estande. Para as culturas do milho e do sorgo, um índice de infestação das plântulas de 10 a 20%, representa uma redução de 2,8 e 2,4% na produção de grãos e de silagem. Para a cultura da soja, redução do número de plantas devido ao ataque da lagarta na fileira, resultando em falhas de 30 a 60 cm, que reduzem a população abaixo do mínimo aceitável, ocasionando perda econômica.

MONITORAMENTO E AMOSTRAGEM Esse constitui o principal problema para o manejo dessa praga. Para o monitoramento de insetos de uma maneira geral, podem ser empregadas diferentes técnicas de amostragens. Cada técnica tem as suas vantagens e desvantagens para a espécie a ser estudada, e mais de uma técnica pode ser apropriada no

20

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

desenvolvimento de um programa de monitoramento. O desenvolvimento de um programa eficiente de manejo integrado de pragas está alicerçado no conhecimento de informações biológicas e sobre os procedimentos para obter essa informação. Um dos métodos de grande potencial para o monitoramento constitui na manipulação do comportamento do inseto através da aplicação de semioquímicos. O uso de feromônios é empregado para monitorar a atividade do inseto, com informações sobre detecção, fenologia e densidade relativa. No caso de elasmo, o feromônio sexual das fêmeas foi documentado experimentalmente em 1975. Entretanto, até a presente data no Brasil, as avaliações de várias formulações de feromônios, mostraram-se ineficientes para atrair machos da espécie. Outras técnicas têm sido empregadas na tentativa de monitorar a população de elasmo, como a extração de ovos no solo e a emergência de lagarta oriunda da deposição de ovos. Porém, são difíceis de uso no campo e onerosas. A técnica mais utilizada para determinar a população da praga é avaliar o número de plantas atacadas pela lagarta. Porém, freqüentemente falha em indicar a tempo infestações da praga para que se possa empregar medidas de controle que evitem perda econômica na lavoura. A detecção de infestações em hospedeiros alternativos como alguns tipos de feijão e ervilhas, semeados antes da cultura, também tem sido utilizada como um indicador da ocorrência da lagarta na área.

ESTRATÉGIAS DE CONTROLE Controle biológico Embora os inimigos naturais sejam um importante componente regulatório de popu-


Fotos Dirceu Gassen

CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS

O

O ataque da elasmo causa a destruição da região de crescimento da plântula

lação de insetos, o seu impacto sobre a lagarta elasmo é considerado baixo. Isso se explica devido ao habitat protegido da lagarta quando se alimenta no interior do colmo ou quando se encontra no abrigo de teia e terra construído pelo inseto, localizado no solo. Entretanto, vários parasitóides, vírus de poliedrose nuclear e os fungos, Aspergillus flavus e Beauveria bassiana são relacionados como agentes de controle biológico de elasmo. Controle cultural O uso do controle cultural tem sido uma

s adultos são ativos à noite e as condições ideais para o acasalamento e oviposição ocorrem com baixa velocidade do vento, baixa umidade relativa do ar, temperatura ao redor de 27oC e completa escuridão. O acasalamento se dá no final da noite e a oviposição no início. As fêmeas depositam, em média, de 100 a 120 ovos durante o período de vida, podendo chegar a 420 ovos. A longevidade dos adultos varia de sete-nove dias até 38-42 dias, dependendo do sexo e se o acasalamento tenha ocorrido. Machos e fêmeas virgens vivem mais tempo do que machos e fêmeas acasalados. Os adultos medem cerca de 17 a 22 mm de envergadura. As asas anteriores são escuras nas fêmeas, enquanto nos machos são claras na parte central, possuindo as margens escuras. Os ovos têm a coloração branca-leidas técnicas mais antigas empregadas para o controle de elasmo. No início do século passado, recomendava-se a remoção dos resíduos culturais no campo, seguida de aração no final do outono ou no início do inverno, como uma prática para prevenir infestação com essa praga. Associada a essa prática, utilizavam maior quantidade de fertilizantes em áreas arenosas para estimu-

A lagarta penetra na região do colo da planta, levando-a à morte e reduzindo o estande da lavoura

tosa, variando para vermelha-escura antes da eclosão das lagartas. Cerca de 99% dos ovos são colocados no solo, concentrando-se nos 30 cm ao redor da planta. As lagartas eclodem em média no terceiro dia após a oviposição. A lagarta recém-eclodida é de cor amarelo-palha com listras vermelhas. À medida que se desenvolve, a coloração torna-se esverdeada com anéis e listras vermelhas-escura. A lagarta completamente desenvolvida mede cerca de 16 mm de comprimento por 2 mm de largura. O período larval é altamente influenciado pela temperatura e varia de 17 a 42 dias. A fase de crisálida ocorre dentro de uma câmara construída de teia e partículas de solo e dura de oito a dez dias. A crisálida é marrom-escura, cilíndrica, medindo 16 mm de comprimento por 6 mm de largura. lar o crescimento das plantas. Embora não quantitativamente avaliada, a queima da palhada chegou a ser sugerida como potencial para controlar a população residente de elasmo em resíduos culturais. Entretanto, resultados mais recentes indicam que essa prática contribui para aumentar significativamente a infestação no campo. Os adultos respondem por um estímulo olfativo de queimadas e são atraídos pela fumaça, favorecendo a oviposição nessas áreas. Isso resulta em alta infestação do inseto na área e conseqüentemente elevados danos para a lavoura. A alta umidade do solo é o principal fator que pode ser utilizado no manejo de elasmo. Age negativamente em qualquer estágio do ciclo biológico da praga. Para que a umidade do solo por si só mantenha os danos causados pela praga em níveis abaixo de perda considerada econômica, é necessário que a lavoura esteja no período de suscetibilidade, com a umidade ao redor da capacidade de campo. O método de cultivo também afeta o manejo dessa praga. A infestação chega a ser duas vezes maior em cultivo convencional em relação ao plantio direto. De acordo com o método de cultivo empregado, uma série de fatores bióticos e abióticos afetam a população do inseto. Esses fatores estão relacionados ao comportamento do inseto, presença de inimigos naturais, danos mecânicos de implementos agrícolas causados à praga no seu habitat e as mudanças na umidade do solo.

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

21


Ronaldo Honostório de Bastos

plantas resistentes a essa praga é altamente desejável, beneficiando pequenos, médios e grandes agricultores, indistintamente. Pouco tem sido explorado nesse aspecto, entretanto, algumas fontes com nível moderado de resistência foram identificadas em amendoim, arroz e milho.

OUTROS MÉTODOS DE CONTROLE Colletotrichum truncatum, causador da antracnose em soja, age nos diferentes estágios de desenvolvimento A alta umidade é um fator que interfere negativamente no ciclo biológico da lagarta

Controle químico O método de controle de elasmo mais comumente utilizado tem sido o químico. Iniciou-se na década de 40 com a utilização de polvilhamento de uma mistura de inseticidas clorados. Nas décadas seguintes, com o surgimento de novos grupos de inseticidas, foram utilizadas várias formulações de fosforados, carbamatos, piretróides e, mais recentemente, o grupo das nitroguanidinas. Atualmente, existem 28 inseticidas comerciais registrados junto ao Mapa para o controle de elasmo em dez culturas. Entre os métodos de aplicação de inseticidas para o controle dessa praga, o tratamento de sementes, pela sua praticidade, custo e eficiência, é o mais empregado. Os inseticidas à base de thiodicarb, carbofuran, carbossulfan são largamente utilizados em áreas com histórico de ataque de elasmo. Entretanto, em áreas onde não foi utilizado o tratamento de sementes, tem-se como opção de controle a aplicação de inseticida à base de chlorpyrifos pulverizado com jato dirigido para o colo da

Detalhe da lagarta elasmo no interior do colmo de uma plântula

22

planta, desde que o ataque seja identificado logo no início. Nessa condição, o controle da lagarta evita que a mesma emigre de plantas atacadas para plantas sadias, aumentando o dano inicial. Resistência de plantas Embora a utilização de inseticidas seja eficiente no controle dessa praga, o alto custo desses produtos e dos equipamentos utilizados e os riscos de aplicação limitam a utilização desse método de controle, principalmente para pequenos agricultores. Conseqüentemente, o desenvolvimento de

Recentemente, algumas espécies de plantas têm sido geneticamente modificadas para produzir proteínas que são tóxicas para os insetos. Atualmente, a soja resistente à herbicida, o milho resistente a inseto e o algodão melhorado geneticamente (contendo genes de resistência à herbicida e resistência a inseto) têm sido liberados para uso em alguns países. Trabalhos experimentais têm mostrado que essa tecnologia poderá ser empregada para o controle de elasmo. Bioensaios demonstraram que a proteína CryIIA e a raça HD-1 de Bacillus thuringiensis (Bt) foram eficientes para controlar essa praga. Plantas de amendoim transgênicas com a introdução do gene Bt CryIAc resultaram em redução de 66% no peso de lagartas até a sua total mortalidade. A avaliação de linhagem de soja transgênica (JackBt) expressando o gene Cry1Ac apresentou quatro vezes mais resistência do que a linhagem não-transformada para infestação natural de elasmo. Para o milho, híbridos com Bt

DINÂMICA POPULACIONAL

O

ataque da lagarta elasmo é mais severo em plantas cultivadas em solos arenosos e secos. Nessas condições, foram verificados elevados danos em lavouras de cana-de-açúcar, feijão, amendoim, milho, algodão e soja. A umidade do solo afeta diretamente o comportamento dos adultos na seleção do local para oviposição, a eclosão de lagartas e a mortalidade de lagartas recém-eclodidas. Estudos mais recentes demonstraram o efeito diferenciado da umidade do solo sobre o dano causado pela lagarta elasmo. Lagartas com até dez dias de idade podem ser controladas com o aumento da umidade do solo. Para lagartas mais desenvolvidas o efeito da umidade do solo é reduzido, resultando em maior número de plantas atacadas. A queima da palhada antes do plantio ou da colheita, é uma prática que afeta a dinâmica populacional desta praga. Na cultura da cana-de-açúcar, onde a queima da palhada facilita a colheita, o ata-

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

que da lagarta tem sido intenso quando comparado com áreas não queimadas. A hipótese é que a fumaça causa um estímulo olfativo nos adultos. Além da atratividade da fumaça sobre os adultos do inseto, a mesma desempenha um papel importante como estimulante de oviposição para as mariposas. Diferentes sistemas de cultivos são fatores que também afetam a dinâmica populacional dessa praga. A infestação é grandemente reduzida em plantio direto quando comparado com o sistema de plantio convencional. Associado aos sistemas de cultivos, tem sido demonstrado que a larva de elasmo alimenta-se alternativamente de resíduos vegetais em decomposição, oriundos do preparo do solo. No caso de lavouras plantadas logo após o preparo do solo, essas poderão sofrer danos significativos causados pela população da praga residente no material em decomposição, a qual irá emigrar e preferir se alimentar das plantas recémgerminadas.


Fotos Dirceu Gassen

(Cry9C, Cry1F e Cry1AB) não diferiram no controle da praga, porém, foram superiores aos híbridos não-transgênicos. De maneira geral, esses resultados experimentais sugerem que a expressão desses genes poderá nos próximos anos proporcionar para diversas culturas, adequados níveis de resistência ao ataque de elasmo.

MANEJO INTEGRADO É consenso que a estratégia a ser utilizada para o manejo integrado de elasmo deverá ser composta de várias técnicas, incluindo práticas culturais de maneira a evitar populações causando danos. Se disponíveis, cultivares menos suscetíveis ao ataque do inseto deverão ser preferidas. Também, deve-se observar a presença de inimigos naturais e da ocorrência de parasitismo. Adicionalmente, condições favoráveis à praga deverão ser identificadas e aplicação de inseticidas na época do plantio é recomendada se houver infestação. A lavoura em sua fase de suscetibilidade ao ataque deverá ser observada freqüentemente, e se é encontrada infestação causando danos, o controle deverá ser realizado prontamente. C Paulo Afonso Viana Embrapa Milho e Sorgo

Até aproximadamente 30 dias após a emergência, todas as plantas hospedeiras são vulneráveis ao ataque da praga


Milho

Espigas sob ataque an do ain da se en con tr am Por se alim en tar ddo o embrião ddas as sem en tes e in utilizá-las qu alimen entar semen entes inutilizá-las quan and aind encon contr tram as pr agas m ais temi das pelos em fform orm ação n o campo, Carpophilus dimi dimidi diatus umaa ddas pragas mais temid ormação no di atus é um es ddee sem en tes ddee milh o. Além disso, o con tr ole é difi cultad o por que o pr od utor dificultad cultado porque prod odutor utores semen entes milho. contr trole besour o se aloja n o in teri or ddaa espi ga e também não apr esen ta ddan an os apar en tes besouro no interi terior espiga apresen esenta anos aparen entes tes,, observad os apen as n eita, qu an do o pr ejuízo já é elevad o observados apenas naa colh colheita, quan and prejuízo elevado

24

Gregg S. Nuessly, University of Florida

O

milho é um dos mais importantes cereais do mundo, pois representa a base da alimentação humana e animal. O Brasil é o 4o maior produtor mundial desta cultura, sendo que ela ocupa cerca de 13 milhões de hectares, com uma produção média de 41 milhões de t por ano (FNP Consutoria & Comércio, 2006). Para manutenção dos níveis de rendimentos alcançados, assim como para aumentá-los, conforme exigem as projeções crescentes da população, há necessidade do uso de tecnologias com reflexos diretos sobre a produtividade agrícola, dentre os quais pode-se destacar a utilização de sementes de alta qualidade (Aguileral et al., 2000). A semente é um dos principais insumos da agricultura e sua qualidade é um dos fatores primordiais ao estabelecimento de qualquer cultura. A qualidade de sementes é um somatório de todos os atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários que afetam a capacidade da semente em originar plantas de alta produtividade (Popinigis, 1985). Dentre os vários fatores que afetam a qualidade da semente na produção e conservação estão as pragas que representam 20% de perdas durante o armazenamento (Carvalho, 1978). Além dos prejuízos quantitativos, o ataque de pragas nas se-

mentes pode causar perdas do poder germinativo e no vigor (Barney et al., 1991). O besouro Carpophilus dimidiatus (Fabricius), pertence à ordem Coleoptera e família Nitidulidae, é uma importante praga do milho-semente. Diversas espécies de Carpophilus ocorrem tanto no campo quanto no armazenamento, em uma grande variedade de produtos. Todas estas espécies são dependentes, para sua sobrevivência, de altos níveis de umidade. Em conseqüência desta necessidade por altos níveis de umidade, as espécies de Carpophilus são indicadoras de condições inadequadas de armazenamento, geralmente relacionadas com desenvolvimento fúngico ou alta umidade (Haines, 1991).

Os adultos de C. dimidiatus possuem de 2,0 a 3,5 mm de comprimento (Mound, 1989) e apresentam cor variável de marrom-avermelhado escuro a quase preto, élitros geralmente com uma grande mancha opaca amarelo-alaranjada no centro, com contornos indefinidos (Connell, 1991), antenas curtas formadas por 11 seguimentos, sendo os três últimos maiores formando uma massa compacta de forma arredondada (FAO, 2007). Segundo Lecato & Flaherty (1974), os ovos de C. dimidiatus assemelham-se em tamanho e forma aos de Oryzaephilus mercator (Silvanidae) e medem aproximadamente 0,71 x 0,23 mm. É um inseto de metamorfose completa apresentando fase de ovo, larva, pupa e adulto. O ciclo evolutivo varia de 49 dias a 18,5°C

Detalhe dos danos de Carpophilus dimidiatus às espigas. À esquerda ataque da larva e à direita ataque do inseto adulto

Novembro 2007 • www.revistacultivar.inf.br



Tabela 1 - Número médio de C. dimidiatus coletado por tratamento a 3, 6, 10, 13 e 18 dias após a implantação do experimento. Fevereiro/março de 2002

Estrutura da semente de milho

Tratamento

Número médio de C. dimidiatus 3 dias 6 dias 10 dias 13 dias 18 dias 4 m entre armadilhas 8,8 11,6 17,8 4,9 23 8 m entre armadilhas 2,2 5,6 2,4 2,8 0,6 Os resultados foram submetidos ao teste de Qui Quadrado, observando-se diferença entre os tratamentos.

até 15 dias a 32°C, ambos com UR superior a 50% (Haines, 1991). É uma espécie cosmopolita, presente na Europa, África, Ásia, Austrália, Estados Unidos, México, Brasil, Argentina, Nicarágua, Honduras, especialmente em regiões com climas tropical e subtropical (FAO, 2007). Pode ser comumente encontrada atacando arroz, grãos úmidos e mofados de amendoim, sementes de algodão, grãos e sementes de milho (campo e armazém), além de abacaxizal, tamareira e toranjeira no campo (Evans, 1981). Em condições brasileiras, Silva et al. (1968) observaram adultos e larvas atacando frutos em início de decomposição de araticum, laranjeira, mangueira, pessegueiro, grãos de araticum-do-mato, amêndoas e torta de cacaueiro, milho e outros cereais armazenados. Os danos são ocasionados principalmente pelas larvas, mas os adultos também se alimentam dos produtos (FAO, 2007). Este coleóptero geralmente age como vetor de fungos e bactérias responsáveis pela deterioração de grãos e outros produtos, seja no campo ou no armazenamento (Haines, 1991). Em armazéns e silos de milho esta praga não é muito importante, pois está relacionada à inadequação do armazenamento. Mantendo o armazém em boas condições não haverá problemas. Entretanto, ela é temida pelos pro-

Fonte: http://campus.fortunecity.com/yale/757/sementes.htm

observados apenas na colheita quando o prejuízo já é grande. Pelas dificuldades, é recomendado o controle da fase adulta com a utilização de armadilhas utilizando como atrativo o alimento ou o feromônio com um defensivo químico adequado. Saud et al. (2003) observaram uma eficiente captura de C. dimidiatus com armadilhas contendo 3,5 g de milho verde moído + 0,08 g de gel + 0,25 g de Nipagin + 0,02 g de acetamiprid a uma distância de 4 m entre as armadilhas. A instalação dessas armadilhas foi realizada no campo em cultura de milho, no período de 2/2 a 2/3/2002, em dois tratamentos, um a 4 m de distância entre as armadilhas, totalizando dez armadilhas e o outro a 8 m, totalizando cinco armadilhas; conservando a mesma área plantada. Foram feitas cinco avaliações, aos 3, 6, 10, 13 e 18 dias após a instalação, e os resultados podem ser observados na Tabela 1. C

dutores de sementes de milho, pois se alimenta do embrião inutilizando as sementes ainda em formação no campo, e em alta infestação alimenta-se não só do embrião como também do endosperma, também chamado de albúmen (Saud et al., 2003). Segundo Saud et al. (2003) o controle é bastante difícil, pois após sua entrada na espiga não é possível chegar até o inseto e sua presença é de difícil detecção porque penetra na Divulgação espiga sem apresentar danos aparentes, sendo

NOVO TORMENTO

U

26

Letícia Mika Tiba, Luiz Henrique Silva F. Marques e Octavio Nakano, Esalq Divulgação

ma nova praga tem surgido causando problemas também no milho-semente em campo. Trata-se da mariposa Dichomeris famulata Meyrick (Lepidoptera: Gelechiidae). Sua lagarta danifica o milho-semente da mesma forma que C. dimidiatus, alimentando-se do embrião. É encontrada na Colômbia causando danos significativos em sorgo (CIRO et al., 1992). No Brasil ainda não há estudos, porém, por apresentar prejuízos significativos para o mercado de sementes de milho, está sendo estudada em Piracicaba, no Laboratório de Defensivos Agrícolas do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP.

Inseto adulto de Carpophilus dimidiatus

Novembro 2007 • www.revistacultivar.inf.br

Professor Octavio Nakano orienta grupo de estudo da praga



Algodão J. F. Ribeiro

Seletividade necessária

O con tr ole quími co, por apr esen tar pr ati ci dad api dez n os rresultad esultad os da é o contr trole químico, apresen esentar prati atici cid adee e rrapi apid nos esultados os,, ain aind o alg odão. M as ddevi evi do à baix métod om ais usad o par tr ole ddee pr agas n método mais usado paraa o con contr trole pragas no algodão. Mas evid baixaa seletivi dad seti ci das tteem ocorri do a rressur essur gên ci agas en to seletivid adee ddee algun algunss in inseti setici cid ocorrid essurgên gênci ciaa ddee pr pragas agas,, o aum aumen ento daquelas que n orm alm en te são secun dári as e a seleção ddee in setos rresisten esisten tes este norm ormalm almen ente secundári dárias insetos esistentes tes.. N Neste as ad o com a combin ação ddee estr atégi oM an ejo In tegr ti do, a implem en tação ddo sen estratégi atégias anejo Integr tegrad ado combinação implemen entação Man senti tid ole bi ológi co e m an ejo ddee ci etal, con tr o práti cas cultur ais esistên com man anejo ciaa vari varietal, contr trole biológi ológico ais,, rresistên esistênci como práticas culturais o cultivo dad az n ecessári tabili defen sivos adee ddo ecessáriaa par paraa a susten sustentabili tabilid efensivos sivos,, se ffaz necessári

O

28

ecossistema há necessidade da implementação do Manejo Integrado das Pragas (MIP), que proporciona soluções dos problemas com pragas em longo prazo. O MIP consiste na integração de práticas e méto-

dos apropriados de controle de pragas, de um modo compatível, que possibilita a manutenção das populações dos competidores abaixo do nível econômico. Inclui a combinação de várias estratégias e táticas

Rogério Inoue

algodoeiro é hospedeiro de um complexo de pragas que pode ocasionar danos às estruturas das plantas. Para o controle desses insetos e ácaros são utilizadas diversas ferramentas de controle integrado. Dentre as táticas de combate de pragas mais usuais, os inseticidas ocupam posição de destaque. Assim, é desejável que seja utilizado produto fitossanitário que controle com eficácia o(s) organismo(s) prejudicial(is) à planta e ao mesmo tempo preserve os indivíduos benéficos, como os inimigos naturais. Neste aspecto, os profissionais precisam conhecer listas de produtos seletivos para fazer a melhor seleção dos recomendados. Os níveis populacionais dessas pragas flutuam grandemente, e infestações elevadas provocam sérios prejuízos à cultura se o efetivo controle não for feito. As medidas de controle das pragas fazem parte dos sistemas de produção do algodoeiro. Para o desenvolvimento sustentado neste agro-

Spodoptera frugiperda, uma das principais pragas do algodoeiro, atacada por um parasitóide

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br


de controle, tais como: práticas culturais, resistência varietal, controle biológico e manejo de inseticidas (Santos, 2001). O controle químico ainda é, sem dúvida, o mais utilizado dos métodos de controle de pragas, devido à praticidade, rapidez, viabilidade e eficiência. Os sistemas agrícolas, por mais simples que sejam, não se constituem apenas das plantas e seus insetos-praga. Eles abrigam diferentes espécies de artrópodes, dentre esses os inimigos naturais, que interagem uns com os outros, formando teias tróficas (Pires et al., 2003). É freqüente observar-se na natureza o controle biológico natural exercido por inimigos naturais com potencial para manter em níveis razoavelmente baixos as populações de inúmeras pragas. Os inimigos naturais minimizam a necessidade de intervenção do homem no controle de pragas. Atitudes que visem manter os predadores, parasitóides e patógenos de pragas são de fundamental importância para o equilíbrio dinâmico das populações de espécies de insetos e ácaros-praga (Degrande et al., 2002). A busca de um controle químico de pragas que desequilibre biologicamente menos a agricultura, constitui-se ainda num dos principais desafios do homem para o manejo do agroecossistema, visando à sustentabilidade. Nos últimos anos, tem havido uma tendência de redução das doses da aplicação e toxicidade dos pesticidas. Isto é resultado de um trabalho consciente e pertinaz das áreas de pesquisa das indústrias, que buscam produtos mais eficientes e ao mesmo tempo menos tóxicos e menos agressivos ao ambiente (Conceição, 2007). Aplicações de produtos fitossanitários de alta toxicidade e largo espectro de ação estão sendo reconhecidas por diversos autores como uma das principais causas de desequilíbrios biológicos, provocando fenômenos como a ressurgência de pragas, o aumento de pragas que normalmente são secundárias e a seleção de insetos resistentes. De acordo com Crocomo (1984), o uso de inseticidas seletivos é de grande importância para retardar ou mesmo evitar esses problemas decorrentes do uso de defensivos agrícolas.

SELETIVIDADE A seletividade pode ser definida como a propriedade que um produto fitossanitário apresenta de controlar uma praga visada com o menor impacto possível sobre os componentes do agroecossistema. No MIP, é a propriedade que um produto tem de possuir baixo efeito sobre os inimigos

Tabela 1 - Seletividade de inseticidas e acaricidas utilizados na cultura do algodão, onde: N = inócuo ou levemente tóxico; M = moderadamente tóxico; e, T = tóxico aos inimigos naturais mais abundantes (com base na classificação do IOBC, 2007) Ingrediente Ativo abamectina acefato acetamiprido alfa-cipermetrina Bacillus thuringiensis benfuracarbe beta-ciflutrina beta-cipermetrina bifentrina buprofezina carbosulfano cipermetrina clorfenapir clorfluazurom cartape clorpirifós clotianidina deltametrina diafentiurom diflubenzurom dimetoato endossulfam enxofre esfenvalerato espinosade espiromesifeno etofenproxi etoxazol fenitrotiona fenpropatrina fenvalerato fipronil flonicamida flufenoxurom gama-cialotrina imidacloprido indoxacarbe lambda-cialotrina lufenurom malationa metamidofós metidationa metomil metoxifenozida milbemectina novalurom parationa-metílica permetrina piridafentiona piriproxifem profenofós propargito tebufenozida teflubenzurom tiacloprido tiametoxam tiodicarbe triazofós triclorfom triflumurom zeta-cipermetrina

Grupo químico (com base em Irac, 2007) avermectina organofosforado neonicotinóide piretróide biológico carbamato piretróide piretróide piretróide tiadiazinona carbamato piretróide pirrole benzoiluréia cartap organofosforado neonicotinóide piretróide feniltiouréia benzoiluréia organofosforado ciclodieno inorgânico piretróide espinosina cetoenol piretróide difenil oxazolina organofosforado piretróide piretróide fenilpirazol fagodeterrente benzoiluréia piretróide neonicotinóide oxadiazina piretróide benzoiluréia organofosforado organofosforado organofosforado carbamato diacilhidrazina milbemicina benzoiluréia organofosforado piretróide organofosforado éter piridiloxipropílico organofosforado sulfito de alquila diacilhidrazina benzoiluréia neonicotinóide neonicotinóide carbamato organofosforado organofosforado benzoiluréia piretróide

Exemplos de marca comercial Abamex, Kraft, Vertimec Orthene Mospilan, Saurus Fastac Dipel, Thuricide, Xentari Laser Bulldock, Turbo Akito Talstar Applaud Marshal Galgotrin Pirate Atabron Cartap, Thiobel Klorpan, Lorsban, Vexter Focus, Zellus Decis Polo Dimilin Perfekthion Dissulfan, Thiodan, Thionex Kumulus Sumidan Tracer Oberon Safety, Trebon Borneo Sumithion Danimen, Meothrin Sumicidim Klap, Regent Turbine Cascade Nexide, Stallion Confidor, Provado Avaunt Karate Match Malathion Metafós, Stron, Tamaron Supracid Lannate, Methomex Intrepid, Valient MilbekNock Gallaxy, Rimon Folidol, Folisuper, Mentox, Paracap Piredan, Pounce Ofunack Cordial, Tiger Curacron Omite Mimic Nomolt Alanto, Calypso Actara Larvin Hostathion Dipterex Alsystin, Certero Fury

Seletividade N T M T N M T T T N M T M N T T M T M N T M N T N N T M T T T T N N T M M T N T T T T N N N T T T N M N N N M M M T M N T

N = inócuo ou levemente tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semi-campo de 0 a 50%, em laboratório de 0 a 30%); M = moderadamente tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semi-campo de 50 a 75%, em laboratório de 30 a 79%); T = tóxico (mortalidade dos principais inimigos naturais a campo ou semi-campo maior que 75%, em laboratório maior que 80%)

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

29


Divulgação

Rogério Inoue

A. P. Serra

Detalhe de ovo de curuquerê parasitado por Trichogramma

Curuquerê do algodoeiro coberto e morto por fungo

naturais, nas mesmas condições em que a praga visada é controlada com sucesso (Gazzoni, 1994). A seletividade dos pesticidas pode ser alcançada em função das diferenças ecológicas e fisiológicas entre os organismos (Degrande et al., 2002).

Seletividade ecológica Já a seletividade ecológica está relaci-

J. F. Ribeiro

Seletividade fisiológica A seletividade fisiológica é definida como a maior atividade de um inseticida sobre a praga do que sobre o inimigo natural, quando ambos entraram em contato direto com o inseticida ou seus resíduos. Primariamente, ela envolve o movimento do inseticida sobre

ou no corpo do inseto e sua interação com o ponto de ação. Portanto, é uma propriedade inerente ao inseticida em determinada dose, e opera primeiro no nível fisiológico ou do organismo (Ripper et al., 1951). É inerente ao produtor, estando diretamente relacionada à maior tolerância de certo organismo, inimigo natural ou polinizador em relação à praga, quando se encontra sob a ação dele (Degrande et al., 2002). Nesta seletividade estão envolvidos os processos de absorção, penetração, transporte e ativação de inseticidas, os quais, quando agem em diferentes intensidades, resultam em toxicidade diferencial entre duas espécies. Outros processos envolvidos incluem: a retenção do inseticida em tecido gorduroso, sua excreção e metabolismo seletivos, este último englobando destoxificação e a insensibilidade dos pontos de ação no inseto (Foerster, 2002).

Para o sucesso do MIP, os pesticidas seletivos são fundamentais, salienta Degrande

onada às diferenças de comportamento ou habitat entre pragas, inimigos naturais e polinizadores, possibilitando que o produto químico entre em contato com determinada espécie e não com outra (Ripper et al., 1951). Diferenças incluem aspectos do ciclo de vida, atividade locomotora e características comportamentais, como alimentação, acasalamento e reprodução. Muitos dos mecanismos usados para se obter seletividade ecológica dependem do conhecimento detalhado da biologia de pragas e inimigos naturais. É classificada de acordo com a forma pela qual a exposição diferencial de pragas e inimigos naturais é obtida, essa diferenciação pode se dar no tempo e/ou no espaço (Foerster, 2002). Outro ponto fundamental referente ao uso dos pesticidas seletivos, ou não, é a sua persistência, a qual é definida como a duração da atividade tóxica do produto aos organismos benéficos.

PESTICIDAS SELETIVOS Estudos de seletividade de pesticidas aos principais inimigos naturais do algodoeiro devem ser realizados para o sucesso do MIP, pois as informações obtidas poderão ser utilizadas nas tomadas de decisão com relação ao produto a ser aplicado. Esses estudos contribuem para minimizar os efeitos indesejáveis decorrentes do uso de pesticidas não apropriados no controle de pragas, uma vez que a seletividade apresenta objetivos conservacionistas dos sistemas de produção, atuando na proteção e no fomento de organismos benéficos (Degrande et al., 2002). A pesquisa mais atual padroniza técnicas para os estudos de seleção, com o intuito de se obter tabelas de classificação de produtos com base na seletividade (TaC bela 1). O controle biológico natural exercido por predadores, como a joaninha, tem potencial para manter em níveis razoavelmente baixos inúmeras pragas

30

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

Elmo Pontes de Melo e Paulo E. Degrande, UFGD


Arroz

Falha no controle Um ddos os pr oblem as que limitam a pr od ução ddee arr oz n o Br asil é o m an ejo in ad equ ad o ddee problem oblemas prod odução arroz no Brasil man anejo inad adequ equad ado plan tas ddaninhas aninhas esen tes ddur ur an te o períod o ddee cultivo e n tr essafr a. En tr plantas aninhas,, pr presen esentes uran ante período naa en entr tressafr essafra. Entr tree os prin cipais ffator ator es que in terfer em n egativam en te n ciên ci erbi ci das estão os principais atores interfer terferem negativam egativamen ente naa efi eficiên ciênci ciaa ddee h herbi erbici cid atr asos n cação ddos os pr od utos e n gação, além ddaa aspersão em solo seco atrasos naa apli aplicação prod odutos naa irri irrigação,

A

cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, em uma área de cerca de um milhão de hectares, é relevante economicamente para este estado e estratégica para o abastecimento do país, pois produz cerca de 60% do arroz consumido no Brasil. O patamar de produtividade no estado é de 6,9 t/ha, tendo crescido quase 2 t/ha nos últimos quatro anos. Esses dados revelam que o arroz irrigado é produzido nesta região com alta tecnologia. Entretanto, esses dados estão aquém da produtividade obtida nas lavouras de melhor tecnologia, que pode alcançar até 9, 10 ou mais t/ha. Um dos problemas que têm limitado os incrementos de produtividade é o manejo das plantas daninhas. Ervas daninhas constituem-se em problema para quase a totalidade das áreas cultivadas com

arroz, e seu controle é um processo difícil e oneroso. As lavouras de arroz irrigado constituemse em ambiente favorável ao desenvolvimento de espécies de plantas daninhas, tanto durante o período de cultivo do arroz como durante a entressafra. As espécies mais freqüentes e que assumem maior importância, pela agressividade ou competitividade, pelos prejuízos que causam à lavoura como um todo e pela dificuldade de controle são o arroz-vermelho (Oryza sativa) e capim arroz (Echinochloa colona e E. crusgalli). Recentemente outras espécies daninhas cresceram de importância. Dentre essas, podemos citar o angiquinho (Aeschynomene denticulata e A. indica), as ciperáceas (Cyperus esculentus, C. ferax e C. iria) e as gramas estoloníferas (Luziola peruviana, Leer-

sia hexandra, Paspalum modestum, Hymenachne amplexicaule). Regionalmente, outras espécies podem ganhar relevância. Por exemplo, na região da fronteira oeste do RS, a milhã (Digitaria sp.) e o papuã-do-banhado (Brachiaria platyphylla) são importantes. O controle químico é a forma mais eficiente, menos dispendiosa e de maior praticidade no manejo de plantas daninhas em arroz irrigado. No estado, a quase totalidade da área cultivada utiliza herbicida. Considerando que a maioria dos herbicidas disponíveis no mercado é eficiente para o manejo da maioria das ervas daninhas, porque ainda há muitas lavouras com controle deficiente? Excetuandose as falhas operacionais de aplicação dos produtos, os maiores problemas que diminuem a eficiência dos herbicidas são o atraso na apliValmir Gaedke Menezes

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

31


Fotos Valmir Gaedke Menezes

A aplicação de herbicidas em condições desfavoráveis, como em solo seco, afeta a ação e a eficiência dos defensivos

cação dos mesmos, a aspersão em solo seco e o atraso na irrigação. Além desses três pontos arrolados, a visão pontual da maioria dos técnicos e orizicultores na estratégia de manejo de plantas daninhas torna a tarefa menos exitosa. O controle químico é parte do manejo integrado de plantas daninhas na cultura do arroz irrigado. Assim como os demais métodos, que isoladamente não proporcionam um controle satisfatório de plantas daninhas, a eficiência dos herbicidas está relacionada com as boas práticas de manejo. Sua estratégia como única alternativa raramente proporciona um bom controle e, geralmente, leva à seleção de espécies com maior dificuldade de controle e/ou resistentes a herbicidas. Para alcançar a máxima eficiência biológica e econômica e causar o menor impacto ambiental é necessário aliar conhecimentos básicos sobre a ação dos herbicidas e o manejo da cultura. A eficiência dos herbicidas está relacionada, além das condições de ambiente e de aplicação dos produtos, aos estádios de desenvolvimento das ervas daninhas, das condições de implantação da lavoura e do estabelecimento da cultura e do manejo das práticas culturais, principalmente do manejo da água. De um modo geral, a melhor eficiência do controle químico de plantas daninhas ocorre com a aspersão dos herbicidas em pós-emergência precoce, nos estádios de até três-quatro folhas das plantas infestantes. Logo após absorção dos herbicidas recomenda-se o início da irrigação. Quanto maior for o atraso na inundação das áreas menor será a eficiência dos herbicidas. A irrigação deve ser com uma lâmina de água permanente. A irrigação intermitente permite a emergência de novas invasoras. Os herbicidas podem ser aspergidos tanto em pré-emergência como em pós-emergência. As aplicações pré-emergentes são exigentes em umidade do solo para funcionamento

32

dos herbicidas. No RS, a maioria das aplicações ocorre em pós-emergência. A preferência por esta forma de aspersão dos herbicidas é em função da umidade inconstante do solo por ocasião da época de controle. A melhor estratégia de controle químico de plantas daninhas para RS é a aspersão de herbicidas com ação pós-emergente, mas que também tenham ação pré-emergente. Isto pode ser obtido com a aplicação de um único produto ou com o uso de dois herbicidas. A preferência por esta estratégia de controle é que na maioria das lavouras a irrigação é feita através de taipas em curvas de nível. Nestas condições, a velocidade de irrigação é baixa, a altura da lâmina de água é muito desparelha e a taipa sem a ação residual dos herbicidas é reinfestada. Estas dificuldades são mais acentuadas em lavouras de portes médio e grande. Nas áreas sistematizadas, com condições de rápida inundação das lavouras o uso de herbicidas em pós-emergência sem ação residual proporciona um controle satisfatório. De um modo geral, a maioria dos agricultores preocupa-se com o controle de plantas daninhas somente durante o período de cultivo. Essa estratégia de só tratar do problema quando ele aparece faz os produtores esquecerem um conjunto de medidas preventivas que contribuiriam para o manejo adequado de plantas daninhas, tornando-o mais fácil e menos oneroso. O uso de práticas que evitem a introdução, o estabelecimento e a disseminação de espécies daninhas deveriam fazer parte da estratégia do controle das mesmas por parte dos agricultores. De um modo geral, as ações de caráter preventivo são de baixo custo e facilmente executáveis em nível de propriedade. As principais medidas preventivas na lavoura de arroz irrigado são o uso de sementes livres de sementes de plantas daninhas, limpeza de canais de irrigação e drenagem, de linhas de

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

cercas e de beiras de estradas, limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas e cuidados na movimentação e no manejo de animais nas áreas de pastejo. Além dessas ações, o manejo de água na lavoura de arroz é muito importante, pois as sementes das plantas daninhas são facilmente transportadas pela água de irrigação e, nas áreas com drenagem deficiente se estabelecem infestantes de difícil controle. Todas essas ações podem ser feitas pelos agricultores antes do período da semeadura. O manejo de plantas daninhas na entressafra é fundamental para aquelas espécies que não podem ser controladas ou são de difícil controle durante o ciclo da cultura por problemas de eficácia e/ou seletividade dos herbicidas ou, pelo custo econômico elevado. As espécies infestantes, com elevado grau de dificuldade de controle na cultura do arroz irrigado no RS são o arroz-vermelho e as gramas estoloníferas. O uso intensivo das áreas cultivadas com arroz aliado à utilização de sementes contaminadas com sementes de arroz-vermelho pelos produtores tornou essa infestante como um dos maiores problemas da orizicultura gaúcha devido à redução da produção e às dificuldades de controle por pertencer à mesma espécie do arroz cultivado. O manejo do arroz-vermelho requer a combinação de diferentes ações tais como o


uso de sementes de qualidade, preparo adequado do solo, sistemas de cultivo, manejo da irrigação, uso de herbicidas e o manejo do banco de sementes do solo. De todos os itens arrolados anteriormente, o manejo do banco de sementes no solo pode ser trabalhado na entressafra. Trabalhos de pesquisa do Instituto Rio Grandense do Arroz apontam que em algumas lavouras no RS registraram-se o equivalente a mais de 20 sacos de sementes viáveis dessa infestante no solo. A redução do banco de sementes de arroz-vermelho no solo é fundamental para se ter êxito em seu manejo. As sementes de arroz-vermelho mantêm-se viáveis no solo durante longos períodos e, em determinadas condições, a longevidade perdura por muitos anos. A viabilidade dessas sementes está relacionada com a profundidade das mesmas no perfil do solo. Ou seja, quanto mais enterradas no solo elas estiverem por mais tempo elas continuarão viáveis. Durante o outono e o inverno as sementes de arroz-vermelho encontram-se dormentes em sua maioria e devem permanecer junto à superfície do solo para que percam a viabilidade através da ação de fatores adversos do ambiente e/ou de patógenos e predadores. O enterramento das sementes de arroz-vermelho logo após a colheita aumenta sua

viabilidade durante maior período de tempo. O preparo do solo como alternativa para estimular a emergência das sementes de arrozvermelho deve ser feito no verão somente para aquelas lavouras com um período de pousio entre um e outro cultivo de arroz. Mesmo nessas situações, o preparo deve ser superficial. Pequenas lavouras de arroz em Santa Catarina e na região da Depressão Central do RS, cultivadas no sistema pré-germinado, utilizam marrecos-de-Pequim para reduzir o banco de sementes de arroz-vermelho no solo. As aves alimentam-se das sementes reduzindo significativamente a infestação. Outro problema que exige um manejo especial no período de entressafra da lavoura de arroz do RS é a infestação por gramíneas estoloníferas perenes. A expansão do problema das gramas estoloníferas deu-se com o preparo superficial do solo com grades ou arados gradeadores, com a utilização de áreas de difícil drenagem, o incremento do sistema de semeadura direta na lavoura de arroz e a falta no mercado de herbicidas eficazes e seletivos para o controle após o estabelecimento da cultura. As características de plantas perenes dificultam o controle dessas espécies que se multiplicam tanto por sementes como por partes vegetativas (estolões e rizomas). Além disso, elas possuem uma área foliar pequena com-

parada ao sistema radicular muito desenvolvido, o que dificulta a absorção e translocação dos herbicidas. Como a ação dos herbicidas aplicados em pós-emergência não é eficiente, a eficácia do manejo dessas depende, fundamentalmente, do que for feito na entressafra. Os primeiros passos começam com as melhorias no sistema de drenagem e com o preparo da área em solo seco. Observações de campo evidenciam que o preparo do solo em áreas com excesso de umidade e mal drenadas, o desenvolvimento de espécies gramíneas perenes é favorecido. Os melhores resultados obtêm-se com a combinação dos métodos de controle químico e mecânico. O uso de um método isoladamente proporciona um controle menor que a combinação de métodos, além de muitas vezes ser insuficiente. O controle químico, com herbicidas à base de glifosato, em uma aplicação singular ou seqüencial, mesmo em doses superiores a 10 l/ha, não é eficiente. No entanto, uma única aplicação de até 5 l/ha, pode ser suficiente se combinada com preparo do solo. A ação eficaz de glifosato na entressafra pode ficar prejudicada se as aspersões ocorrem com temperaturas baixas, uma vez que as gramas estoloníferas diminuem o metabolismo e dificultam a translocação do herbicida. Já o preparo mecânico, quando utilizado isoladamente, só será efetivo se o solo estiver seco para que o sistema radicular dessas espécies fique exposto aos raios solares. Por outro lado, o preparo do solo com excesso de umidade pode ser uma forma de multiplicação dessas espécies através da segmentação das partes vegetativas. Lembrem-se, para que o manejo de plantas daninhas na lavoura de arroz irrigado tenha êxito é necessário combinar a utilização de diferentes métodos de controle com boas práticas de manejo da cultura, inclusive com as ações que devem ser C realizadas na entressafra. Valmir Gaedke Menezes, Carlos H. P. Mariot e Hector B. Ramirez, Irga

O estádio de até 3-4 folhas das invasoras é ideal para controle com pós-emergentes

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

33


Cana-de-açúcar Cultivar

Futuro da cana N

34

todas as commodities estão com boas perspectivas futuras, a questão fundamental será a produtividade e rentabilidade por hectare por um período determinado e isso significará mais investimentos em pesquisa e tecnologia, o que é fundamental para o Brasil confirmar sua aptidão e competitividade agrícola internacional. Quanto às questões socioambientais o setor passa agora por um momento de pressão que leva uma evolução muito positiva quando pensamos em futuro e próximas gerações. A sustentabilidade econômica não mais será possível sem encarar com seriedade os pilares sociais e ambientais. A produção de cana já pode dar vários bons exemplos ao resto do mundo quanto ao balanço de energia e eficiência em toda cadeia produtiva. Para os investidores e clientes internacionais os temas socioambientais são muito importantes e isso acelerará nosso desenvolvimento nesta direção. Em todo o país já temos diversas iniciativas de recuperação de áreas que foram degradadas no passado e uma conscientização muiBasf

enhum outro setor do agronegócio desperta mais interesse atualmente que o sucroalcooleiro. Isso ocorre porque o segmento atrai investimentos de todas as partes e pode transformar o Brasil no grande fornecedor de energia limpa do mundo. De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), devem ser construídas no país mais de 86 plantas industriais até 2012, com investimentos da ordem de US$ 17 bilhões. É, de fato, um grande passo rumo ao futuro. Porém, a grande pergunta é: até onde irão as produções de açúcar e álcool no Brasil? Elas substituirão outras importantes atividades, como a soja, milho, algodão, laranja, café e pecuária? Elas serão focadas no mercado externo? E as questões ambientais? Em primeiro lugar, o Brasil não corre o risco de se tornar uma monocultura, como já aconteceu no passado. Ainda existem áreas agricultáveis disponíveis para suportar todo esse crescimento sem necessariamente causar um desequilíbrio entre as demais culturas ou mesmo ambiental. Temos também de considerar que existe no país uma vasta área de pastagens degradadas e subutilizadas que poderão ser destinadas ao plantio da cana ou outras culturas, gerando uma maior oferta de empregos diretos e indiretos. A evolução da canade-açúcar é, na verdade, benéfica. A competição com outras culturas dará ao agricultor mais opções e maior sustentabilidade ao negócio em longo prazo. A cana-de-açúcar precisa crescer para ter oferta estável e em grande quantidade para que os importadores potenciais de álcool tenham maior confiança em considerar esse biocombustível em sua matriz energética. Como

Leduc: “A cana precisa crescer para ter oferta estável e em grande quantidade”

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

to positiva para as novas áreas que estão sendo incorporadas. Quem tem esse tipo de iniciativa em sua propriedade já fala com orgulho dos resultados obtidos e diferencia o valor e a imagem de suas empresas. A iniciativa privada está fazendo a sua parte de forma exemplar e as entidades governamentais podem regulamentar melhor, incentivar e dar suporte para que as questões ambientais, sociais e tributarias possam ser resolvidas com um plano realista para cada região e com políticas de longo prazo. Não tenho dúvida de que a cana e o seu biocombustível terão uma demanda mais segura e crescente com o tempo, porém existe uma preocupação com a rentabilidade atual e dos próximos anos, onde, além do problema do câmbio, os investimentos em novas unidades e áreas de plantio entrarão em produção. Dependendo do ritmo de aquecimento do mercado interno, ele poderá ser quase que suficiente para essa oferta potencial, mas temos de estar “de olho” no mercado externo como um grande cliente no futuro. Com os preços de hoje muitos projetos não se justificariam, o que deverá ocasionar uma seleção dos novos entrantes, pois somente as empresas com experiência e capitalizadas poderão, como no passado, encontrar formas de superar os momentos difíceis a caminho da sustentabilidade, sem esquecer que nestes momentos devem ainda ser mais valorizados os profissionais que conhecem o ramo para que possam superar mais essa etapa do desenvolvimento mais surpreendente que o mundo já C viu em termos de bioenergia. Eduardo Leduc, Diretor de produtos para Agricultura da Basf no Brasil


Chemtura

Empresas

Novo defensivo

Ch emtur seti ci da com o prin cípi o ativo Chemtur emturaa lança in inseti setici cid princípi cípio diflubenzur on par tr ole ddee pr agas n as diflubenzuron paraa o con contr trole pragas nas cultur as ddee alg odão, soja, milh o e tri go culturas algodão, milho trig

A

Chemtura, através de seu Departamento de Pesquisa, lança no mercado o Dimilin 80 WG (diflubenzuron). O produto possui registro nas culturas de algodão, soja, milho e trigo para controle das principais pragas; em uma única aplicação ou através de aplicações seqüenciais. O defensivo chega ao mercado associando a marca do Dimilin com as facilidades que o agricultor moderno procura no trabalho do dia-a-dia da lavoura. Entre as vantagens do novo produto estão a formulação moderna, mais con-

centrada, mais ativa, maior período de controle, maior facilidade no manuseio, maior segurança ao aplicador e menor descarte de embalagens. A Chemtura, que vem trabalhando na pesquisa de novos produtos, comemora através deste lançamento o incremento de seu portfólio. A empresa acredita que esse tipo de investimento, somado ao desenvolvimento de equipes de alto desempenho, tanto interna como externa (distribuidores), poderá extrair o máximo valor dos seus produtos, agregando assim ganhos ao produtor.

PRINCÍPIO ATIVO

O

principio ativo diflubenzuron, descoberto na década de 70 e comercializado através da marca Dimilin 25 WP, se tornou a principal ferramenta do agricultor no controle das principais pragas em várias culturas. Diflubenzuron é recomendado no Manejo Integrado de Pragas por se tratar de um inseticida fisiológico que possui várias características benéficas e reconhecidas pelos agricultores, entre elas, o uso em diversas culturas, controle eficaz de complexo de pragas em soja e algodão; longo período de controle, baixa toxicidade a animais de sangue quente e alta seletividade a inimigos naturais.

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

35


Coluna Andav

Em festa No ano em que completa 17 anos de fundação a Andav tem muitos em or ar an to elo prin cipal en tr dústri motivos par paraa com comem emor orar ar,, enqu enquan anto principal entr tree in indústri dústriaa e pr od utor es agrícolas e veterinári os ddo o Br asil prod odutor utores veterinários Brasil

P

rincipal ligação entre a indústria e os produtores agrícolas e veterinários do Brasil, a Andav comemora em outubro, 17 anos de sua fundação. A Associação representa atualmente 750 revendas espalhadas por todos os estados brasileiros e, em 2007, desenvolveu diversas ações que atraem a cada dia novos associados, dentre elas a importante concretização do Financiamento de Recebíveis do Agronegócio, regulamentado pela Lei 11.524/07 e desenvolvido para atender aos produtores rurais prejudicados com o conjunto dos problemas ocorridos nas safras 2004/2005 e 2005/2006. O programa já está em pleno funcionamento.

os associados, com ética e respeito à sociedade e ao meio ambiente”. Em outubro, a Andav, através de seu presidente executivo, Henrique Mazotini, recebeu o Prêmio de Mérito Profissional 2007, do Clube dos Agrônomos, entidade que há 70 anos congrega a classe agrônoma de Campinas e região. Mazotini foi eleito pelos próprios associados do Clube pelos trabalhos realizados pela Andav e que defendem diretamente a categoria profissional dos engenheiros agrônomos. Ainda em outubro, a Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais e o Centro de Apoio Operacional ao Meio Ambiente (Caoma), prestaram uma homenagem à Andav pelo trabalho realiza-

projetos, dentre os principais estão ações voltadas à qualificação dos canais de distribuição, cursos de atualização para corpo técnico, código de ética, treinamentos, uso correto e seguro de produtos fitossanitários, destinação final de embalagens vazias, segurança do trabalhador rural e alertas contra o uso de defensivos ilegais. Portanto, o fundamental é o entendimento do associativismo. A regra que diz “a união faz a força” é mais do que cabida neste setor que é a mola propulsora da difusão de tecnologia, empregadora de profissionais que levam aos mais afastados rincões de nossa fronteira agrícola o conhecimento e a tecnologia necessários ao aumento da produtividade, fazen-

“Os desafios de crescer concretamente o agronegócio brasileiro fazem com que a Andav nunca pare de começar novos trabalhos e idéias” Os desafios de crescer concretamente o agronegócio brasileiro, ainda mais após um semestre positivo da agricultura em nosso país e, em especial, incluir neste contexto a atuação das revendas agropecuárias espalhadas pelo território nacional, fazem com que a Andav nunca pare de começar novos trabalhos e idéias. São muitas as ações e em diferentes áreas, como a ambiental, tecnologia, educacional, política, jurídica, de transportes, dentre outras. Tamanha diversificação faz com que a Associação sempre relembre de sua missão inicial que é “representar, defender e contribuir com a profissionalização das revendas agrícolas e pecuárias, buscando o fortalecimento e a união entre

36

do em prol da bacia do rio São Francisco. Resumidamente, a ação desencadeada culminou numa seqüência de muitos seminários e na celebração de seis Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), com os revendedores agropecuários dos municípios mineiros de Pirapora, Curvelo, Pará de Minas, Contagem, Viçosa e Ubá, com o objetivo futuro de instalar postos de recebimento de embalagens vazias de produtos agrotóxicos. Todos os anos o Caoma homenageia profissionais e entidades que agiram em benefício do meio ambiente. Este ano, o foco das homenagens foi a preservação do rio São Francisco. Nestes 17 anos, a Andav também participou de muitos outros

Novembro 2007 • www.revistacultivar.com.br

do com que o agricultor cada vez mais aumente a rentabilidade por área cultivada. Atualmente, a Andav tem atraído para o seu quadro associativo muitos distribuidores pelos benefícios que vão de implantação de uma Central de Proteção ao Crédito, seguros e consultorias de tecnologia, técnica, segurança e jurídica. Para mais informações, a Andav oferece o telefone (19) 3213.6001 e o e-mail: andav@andav.com.br. C Henrique Mazotini Presidente Executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários - Andav


Coluna Agronegócios

Produção ou assistência social?

F

HC criou meia dúzia de programas de apoio social – tinha até uma bolsa gás. Lula juntou as diferentes bolsas e plasmou o Bolsa Família. A vantagem é a visibilidade, afinal, são, em média, R$ 74,00 por família, o que rende uma popularidade que se transforma em votos decisivos. O eleitor não sabe que o dinheiro do Bolsa Família vem dele mesmo pois, com uma carga tributária média de 38%, de um salário mínimo o governo se apodera de R$ 144,00. Com o dinheiro dos impostos, o governo devolve R$ 74,00 para o mesmo assalariado e este fica feliz e agradecido. Iludido, vota pela manutenção do sistema perverso e nem percebe que o governo depois lhe toma, em impostos, R$ 28,12 - da bolsa mesmo sobra R$ 45,88!

er, afirmou, em entrevista, que faltaria biodiesel para a mistura de 2% ao diesel pois, em um ano, o óleo vegetal saltou de US$ 400 para US$ 850 por t, pelo descasamento entre demanda e oferta. Em resposta, o ministro do MDA afirmou: 1) “Fechamos agora a colheita 20062007, a primeira safra inteira do biodiesel, com a inclusão de 100 mil famílias de agricultores, especialmente no Nordeste.” 2) “Para o biodiesel, estamos produzindo especialmente mamona.” 3) ”Já temos combustível suficiente para garantir B2 e até B3.”

NÚMEROS Isto é o oposto do que se comenta no mercado, portanto melhor tirar as dúvidas com números do governo. Para ga-

tou mais de 1,5 milhão de famílias em 63 milhões de ha. Já ouvi inúmeras vezes que a agricultura familiar responde por 50% da produção agrícola. Se este índice for extrapolado para os assentamentos, alguma coisa não bate. Ou o IBGE e a Conab estão totalmente errados - ou estão mentindo; ou o Incra não gerou assentamentos para 63 milhões de hectares. As contas? Imaginemos que todo o acréscimo de área cultivada dos últimos 30 anos veio de assentamentos (o que não é verdade). Ainda faltariam 54 m/ha. Na área faltante, pela produtividade média do Brasil, deveriam ser produzidos mais 193 M t de produtos agrícolas. Cadê a produção? Não é um volume que possa ser escondido ou sonegado, representa 147% da produção brasileira. As hipóteses: a) Nunca foram

“Para ganhar um salário mínimo por mês o agricultor deveria produzir 11 t de mamona por ano (a Conab informa o preço de R$ 25/saco) ” 25/saco)” MAIS COMIDA, MENOR CUSTO Já, de forma silenciosa, os agrônomos ajudaram a diminuir a pobreza e a fome no Brasil. Nos últimos 30 anos, a área cultivada cresceu 23%, a produção aumentou 179% e a produtividade empinou 130%. Produção farta, preço baixo. Conferindo ao custo da cesta básica em 1975 o índice 100, em 2007, este índice está em cerca de 20. Ou seja, a cesta básica custa 20% do que valia há 32 anos. Dito de outra forma, o mesmo dinheiro compra cinco vezes mais alimentos. Como uma cesta básica vale R$ 238,00, cada família está poupando R$ 952,00 por mês.

MAMONA No Brasil, a produção convive com contradições. Em setembro de 2007 o presidente Lula declarou ao Jornal Nacional que “...meu governo não barganha cargos e verbas, político que quiser aderir ao governo deve fazê-lo por convicção programática”. No mesmo dia o Diário Oficial publicou a assunção de apadrinhados políticos na direção da Petrobrás, a fim de convencer os padrinhos a aprovarem a famigerada CPMF na Câmara dos Deputados. O diretor que saiu, Ildo Sau-

nhar um salário mínimo por mês o agricultor deveria produzir 11 t de mamona por ano (a Conab informa o preço de R$ 25/saco). De acordo com o IBGE, a produtividade de mamona no Brasil, em 2007, foi de 611 kg/ha (queda de 9% sobre 2006). Logo, cada família precisaria de 18 ha, no total 1,8 milhão de ha. Mas o IBGE afirma que a área de mamona foi de 157 mil ha. Para garantir B3 (1,2 bilhão de litros), precisaríamos de cinco milhões de ha de mamona, produzindo três milhões de t. O IBGE informa que só produzimos 94 669 t, logo faltam 2.905.331 t. Alguma coisa não bate.

MAIS NÚMEROS A entrevista do ministro Cassel despertou minha curiosidade. Em 1977 a área de grãos foi de 37 m/ha e a produção de 47 m/t. Em 1987, os números foram 42 m/ha e 65 m/t; em 1997, 37 m/ha e 68 m/t; e, em 2007, 46 m/ha e 131 m/t. A produtividade média de grãos foi de 1.258 kg/ha em 1977 e de 2.837 em 2007, ano em que a produtividade média de cultivos anuais foi de 3.575 kg/ha. Ou seja, em 30 anos a área cultivada (reconhecida pelo IBGE e pela Conab) aumentou 9 m/ha. O Incra anuncia que, até 2007, assen-

assentados 63 m/ha, sequer 10% disto; b) Os assentados recebem a terra e não produzem nada, dependendo de Bolsa Família e cesta básica. Alguém, por favor, me explica?

POPULAÇÃO RURAL A FAO informa que, a partir de 2007, moram mais pessoas nas cidades que no meio rural. Em 20 anos, apenas um terço da população mundial estará no campo, exigindo altíssima eficiência. Em 2007, no mundo desenvolvido, 94% da população é urbana. O presidente Lula, que tanto admira o Primeiro Mundo, poderia determinar um estudo sério, isento, preferencialmente de uma universidade estrangeira de prestígio, para analisar o custobenefício da reforma agrária brasileira (passada e futura). Provocação: não sairia mais barato para o contribuinte - e mais justo para o sem-terra - perceber, eternamente, um salário mínimo, a receber um lote de terra e nada produzir, peC renizando a miséria? Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

www.gazzoni.pop.com.br

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2007

37


Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Produtores otimistas têm mais chances de sucesso em 2008 Em palestras pelo Brasil ou no exterior percebe-se que produtores, normalmente otimistas e que investem em boas técnicas, juntamente com um bom acompanhamento das lavouras e que fazem isso com prazer, têm tido mais sucesso do que aqueles que somente ficam reclamando do clima, do governo, do mercado e, acabam esquecendo de acompanhar o seu negócio de perto. Neste ano, o quadro tende a ser semelhante e confirmar esta teoria. Isto porque as cotações de todos os produtos agrícolas estão em alta e caminham para se manter com bons níveis de preços em 2008. Desta forma, aqueles que começarem a safra com boa tecnologia e bom acompanhamento das lavouras deverão colher melhores produtos e, como as cotações devem se manter em níveis altos, os resultados econômicos serão melhores do que os daqueles que esperam ver para crer e somente irão buscar ganhos tecnológicos nos próximos anos. Ou seja, devem começar com um ano de atraso. Já tivemos atraso no plantio em função do clima que retardou a entrada de chuvas, mais um motivo para cotações em alta e benefício para aqueles que tiverem uma boa colheita. O Hemisfério Norte já está chegando ao final da colheita da safra 07/08, com números que indicam que teremos um grande ano comercial, porque a colheita não atenderá a demanda e, sendo assim, abrirá novos espaços para exportação e manterá as cotações em alta. Isto se pode ver nas posições negociadas em Chicago, onde todos os produtos estão dentro dos melhores momentos históricos. Como ainda estamos no plantio, há tempo de rever todo processo e buscar ganhar o máximo que pudermos para aproveitar o bom momento que vive o agronegócio mundial. MILHO Ração batendo recorde enxuga ofertas internas O mercado do milho no Brasil está passando por um dos melhores momentos da história, com cotações altas, boa rentabilidade aos produtores, além da notícia de que o setor de ração irá crescer acima das expectativas. Os dados são apontados pelo Sindirações, com crescimento previsto de 10% neste ano e também para o próximo. Desta forma, teremos uma demanda de 53 milhões de t em 2007 contra pouco mais de 48 milhões de t em 2006 e, já se aponta níveis acima de 58 milhões de t para 2008. Com isso, somente em milho teríamos algo próximo de 40 milhões de t sendo usadas para ração, contra pouco mais de 30 milhões de t que foram usadas em 2006. Assim, mesmo com o crescimento da produção, não conseguiremos atender totalmente o consumo e as exportações, favorecendo a manutenção das cotações em alta no próximo ano. O mercado voltou a pressionar as cotações para cima em outubro em função da exportação e consumo interno e, mesmo com os pregões do governo, os indicativos não recuaram. Seguirão firme, porque o setor consumidor mantém boas expectativas de demanda e ainda tem muitos contratos de exportações para ser embarcados nos próximos meses.

SOJA Entressafra deixa mercado interno firme Os produtores já negociaram a maior parte da safra e, como estamos no período de entressafra, seguiremos com indicativos firmes, porque os poucos que detêm soja irão valorizar o produto. Assim, seguiremos com as cotações em alta, com níveis variando dos R$ 34 aos R$ 44 por saca, sendo que as cotações maiores estão junto à indústria e, as menores, nas regiões mais distantes do CentroOeste. Os produtores estão plantando a safra e, neste ano, não houve atraso no plantio das variedades precoces porque as chuvas chegaram com atraso de duas a três semanas, o que poderá causar demora no início da colheita e, por isso, teremos uma entressafra mais longa e cotações maiores aos produtores. FEIJÃO Produtores fazendo as cotações O mercado do feijão continuará mostrando as cotações em alta, com os produtores fazendo os números que devem se manter em alta neste mês de novembro e em dezembro. Este fato ocorre porque a produção do norte do Paraná e grande parte do sul e sudoeste de São Paulo, foi prejudicada pelo clima seco. Assim, não teremos boa oferta de pro-

duto antes de dezembro e, como o feijão irrigado está chegando ao final, seguiremos com indicativos firmes e sinalizando que a segunda safra será fundamental para o abastecimento do mercado interno. Isto também indica que em 2008 o feijão contará com cotações em alta e boa rentabilidade aos produtores. ARROZ Perdeu fôlego em outubro O arroz mostra, neste ano, uma safra menor que o consumo, mas tivemos grande volume de entrada de produto importado do Mercosul e também grandes estoques formados pelo governo. Esta medida do governo deixou as indústrias em posição confortável no Rio Grande do Sul, pois conseguiu derrubar as cotações do produto em outubro, mas não garante que o mesmo cenário se manterá em novembro. O plantio da safra está atrasado e, com isso, a colheita entrará mais tarde em 2008. No Mato Grosso, a seca também atrasou o plantio que tende a se concentrar entre novembro e dezembro. O arroz mostrou indicativos de R$ 22 a R$ 27 ao casca do RS. O governo deverá ser o principal vendedor neste restante de ano, com indicativos de abertura na faixa dos R$ 26 por saca no RS.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado voltou a mostrar pressão de alta nas cotações internacionais em outubro e com isso manteve o mercado interno firme. Com níveis dos R$ 580 aos R$ 650 por t. Mesmo com a colheita da safra em bom ritmo por aqui, não conseguiu trazer grande queda nos indicativos. O cereal mantém boas expectativas para os próximos meses, isso porque o quadro mundial segue firme e poucos países têm trigo sobrando para ser exportado. ALGODÃO - A nova safra está sendo planejada pelos produtores brasileiros que apostam em boa rentabilidade para o novo ano, em função da oferta e demanda mundial que caminham para um quadro mais apertado. O algodão mostra uma produção de 120,3 milhões de libras, contra um consumo de 129,5 milhões, derrubando os estoques de 60,3 milhões para 55 milhões de libras, abrindo novos espaços no mercado internacional. A maior queda vem dos EUA que está recuando de 21,6 para 18,2 milhões de libras (0,4536 kg). EUA - A colheita está fechando nos EUA e os novos números da produção estão ao redor de 70,7 milhões de t de soja, 338,3 milhões de t de milho e 8,9 milhões de t de arroz em casca. CHINA - As importações de soja seguem aceleradas pelo país, o que indica

38

Novembro 2007 • www.cultivar.inf.br

um consumo de 49 milhões de t, mas que pode passar de 50 milhões de t. A safra, por sua vez, foi reduzida para 14,3 milhões de t, e comentários indicam que pode ter sido ainda menor. Desta forma, as importações devem superar as expectativas que, segundo o USDA, são de 33,5 milhões de t, contra 28,7 milhões de t de 2006. ARGENTINA - Teve problemas climáticos em outubro com cerca de 20 dias com chuvas em excesso, que provocaram atrasos no início do plantio do milho, além de indicativos de problemas também para o começo de plantio da soja. Mesmo assim, segue com expectativa de colher 47 milhões de t de soja, contra 47,2 milhões colhidas neste último ano. O milho mostra indicativos de uma colheita de 22,5 milhões de t, mesmo número da safra atual. Ou seja, mesmo com problemas climáticos, riscos com a La Niña que está atuando sobre a região, os portenhos mantêm expectativa de safra. Não apontam crescimento porque não têm áreas novas para plantar. Assim, se tudo correr bem, colhem a mesma coisa, mas se o clima não favorecer, poderemos ter novos espaços para exportar soja e milho, porque a maior parte da safra, ou seja, maior parte da colheita local da Argentina, 16 milhões de t do milho e 46 milhões de t da soja, é exportada.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.