Cultivar Grandes Culturas • Ano IX • Nº 104 • Janeiro 2008 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas Capas
Caderno -
O melhor de 2007
Capa - Montagem Cristiano Ceia
Par al seleci on am os os prin cipais arti gos araa esta edição especi especial selecion onam amos principais artig publi cad os ao lon go ddo o an o, além ddee te xtos inéditos publicad cados long ano, textos
Quase letal.................................10
Ranking de eficiência.............20
Apli cação in devi da....................27 Aplicação ind evid
O uso de doses subletais no combate à lagarta-do-cartucho na cultur o milh o culturaa ddo milho
Red sai os avali esempenh o ddee Redee ddee en ensai saios avaliaa o ddesempenh esempenho fungicidas no combate à ferrugem asiática e outr as ddoenças oenças que atacam a soja outras
Os pr oblem as ddee rresistên esistên ci tas problem oblemas esistênci ciaa ddee plan plantas daninhas ddecorr ecorr en tes ddo o empr eg o ecorren entes empreg ego in devi do e con tin uad o ddo o glif osato ind evid contin tinu ado glifosato
Índice Empr esas - Bayer Empresas An tr acn ose em milh o Antr tracn acnose milho
Expediente 04 06
RED AÇÃO REDAÇÃO
CIRCULAÇÃO
• Editor
• Ger en te Geren ente
Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Janice Ebel • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
o milh o Con tr ole ddee Spod Spodopter opteraa frugiper frugiperd milho Contr trole opter da nno
10
Ciperáceas n o arr oz no arroz
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Cristiano Ceia • Revisão
Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
Equilíbri on utrição em lavour as ddee soja Equilíbrio naa n nutrição lavouras
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Rankin g ddos os fun gi ci das par Ranking fungi gici cid paraa soja
20
Búf alos n Búfalos naa soja Resistên ci as em soja Resistênci ciaa ddee invasor invasoras
24 27
Mosca-br an ca em soja osca-bran anca
30
Nutrição em cana
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Nitr ogêni o fix ad o em sem en tes ddee soja Nitrogêni ogênio fixad ado semen entes
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COMERCIAL Ped edrro Batistin
Sed eli Feijó Sedeli Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@cultivar.inf.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 119,00 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Núm er os atr asad os: R$ 15,00 Númer eros atrasad asados: Assin atur tern aci on al: ssinatur aturaa In Intern ternaci acion onal: US$ 80,00 Euros 70,00
Cibele Oliveir Oliveiraa ddaa Costa • A ssin atur as Assin ssinatur aturas
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Empresas
Praga em debate Bayer Cr opSci en ce rreún eún cipais especi alistas ddaa ár ea CropSci opScien ence eúnee os prin principais especialistas área par atégi as ddee m an ejo ddaa m osca-br an ca paraa discussões sobr sobree estr estratégi atégias man anejo mosca-br osca-bran anca
A
Bayer CropScience realizou entre os dias 12 e 14 de dezembro na cidade de Salvador (BA), o II Workshop de Atualização em Estratégia de Manejo da Mosca-Branca. O objetivo foi promover a troca de informações e debates sobre a praga. “A idéia central do evento é promover a troca de experiências sobre o controle da mosca-branca, para que possamos oferecer aos agricultores soluções adequadas para o manejo deste inseto que prejudica tanto a produção de diversas culturas“, destaca o gerente de Produtos Inseticidas da Bayer CropScience, Luis Henrique Feijó. O evento reuniu os principais pesquisadores da área de entomologia e especialistas no inseto para discussões sobre o que está sendo feito e quais são as tecnologias disponíveis para o controle da mosca-branca em lavouras de todo o Brasil. Considerada uma das principais pragas da atualidade, a mosca-branca possui alta capacidade de reprodução e grande poder de destruição. Apesar do seu minúsculo tamanho, o inseto preocupa muitos produtores pela severidade de sua infestação, que pode comprometer de forma significativa a produtividade de culturas como algodão, feijão, melão, tomate e, mais recentemente com o efeito migratório, a soja. Dentre as discussões, a preocupação com o sistema produtivo brasileiro, que contempla uma série de culturas hospedeiras da praga e
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todas estas com plantios escalonados que permitem migrações e assim elevam os danos registrados a cada safra. Entre as alternativas levantadas, está a criação de instruções normativas, que limitam o período de cultivo das culturas hospedeiras. Entre os pontos abordados como entraves para conter a praga está a plasticidade genética da mosca, o desconhecimento de inimigos naturais, a não-destruição de restos culturais, a não-destruição de plantas voluntárias (tigüeras), além de problemas ligados ao controle químico (como estágio da praga para controle, período que deve ser mantido o controle etc). “Com a promoção deste tipo de evento, a Bayer CropScience demonstra sua preocupação e proporciona a oportunidade para que possamos entender melhor o mecanismo de ação das novas moléculas que estão sendo disponibilizadas pela empresa, voltadas especificamente para o controle da mosca-branca. Com isso, podemos levar ao campo o que o agricultor realmente precisa para o manejo desta praga“, explica o professor e coordenador do Laboratório de Entomologia da Unesp/ Ilha Solteira, Geraldo Papa Durante o Workshop, foram apresentados resultados de pesquisa sobre o controle da mosca-branca no Brasil, além de promoção de discussões sobre viroses transmitidas pelo inseto e a utilização de ferramentas disponíveis na atualidade para o manejo eficiente da
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praga das lavouras. “A idéia de Workshop foi muito válida, pois gerou uma excelente oportunidade para a troca de experiências sobre a mosca-branca, entre os especialistas no tema de todo Brasil. Este intercâmbio de informações é muito importante para que possamos saber como está a situação da praga em diversas culturas“, afirma o pesquisador entomologista do Instituto Agronômico – IAC, André Luiz Lourenção. Durante o evento a Bayer lançou a campanha Olho Vivo na Mosca-Branca, com destaque para os inseticidas Oberon e Connect, soluções que conseguem quebrar o ciclo de desenvolvimento do minúsculo inseto que tira o sono dos produtores em todo Brasil. O Oberon é um inseticida/acaricida que inibe a biossíntese de lipídios e interfere na oviposicão das fêmeas da mosca-branca. Este diferencial exclusivo provoca deformação e infertilidade dos ovos acarretando uma drástica redução da população de adultos. Entre os benefícios proporcionados pelo produto estão a adesão às camadas cerosas da planta e a rápida penetração do produto nas folhas, onde são formados pequenos depósitos do seu ingrediente ativo; alta eficiência sobre ovos, ninfas e adultos da mosca-branca; melhor controle e menor transmissão de virose; baixo risco de lavagem por chuvas e boa seletividade aos inimigos naturais. Já o Connect apresenta uma fórmula que consiste na mistura de dois ingredientes ativos diferentes, que tornam o produto uma solução ideal para o manejo de resistência. Os diferenciais do Connect consistem no efeito de contato, boas aderência e penetração via folha, além de ter um bom efeito de choque, atuando por contato e ingestão, o que resulta em uma ação eficaz no controle da população migrante da mosca-branca. “Inovação e tecnologia são as ferramentas-chave da Bayer CropScience para levar ao produtor o que há de mais moderno para o controle de pragas nas lavouras. São anos e anos de pesquisa para o desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades dos agricultores. No caso de mosca-branca, de uma forma pioneira, a equipe de pesquisa e de desenvolvimento da empresa conseguiu chegar a uma solução de alta performance e única que atua em todas as fases do inseto (ovos, ninfas e adultos). O Connect e o Oberon serão excelentes aliados dos produtores no controle desta incômoda praga que prejudica a produtividade de Norte a Sul do país”, expliC ca Feijó.
Milho
Ultra-agressiva A ampli ação ddas as épocas ddee plan ti o ddo o milh o, em safr ci otação ddee ampliação planti tio milho, safraa e safrinha, a ausên ausênci ciaa ddee rrotação cultur ateri ais suscetíveis são ações que têm pr om ovi do m odifi cações culturaas e o uso ddee m materi ateriais prom omovi ovid modifi odificações importan tes n ca populaci on al ddos os patóg en os que atacam a cultur a. A an tr acn ose importantes naa dinâmi dinâmica populacion onal patógen enos cultura. antr tracn acnose ose,, er ad o per das que ch egam a 40% n causad Colletotrich chum gramini aminicola, erad ado perd chegam naa causadaa por Colletotri ch um gr amini cola, tem gger pr od utivi dad an do rrelaci elaci on ad as às ffases ases ddee pod ri dão ddee colm o e queim oli ar colmo queimaa ffoli oliar prod odutivi utivid adee ddee grãos grãos,, qu quan and elacion onad adas podri ridão
A
pesar do aumento da produtividade alcançado nos últimos anos na cultura do milho no Brasil, esta ainda é considerada baixa quando comparada a de outros países produtores como Estados Unidos, Argentina e China. Este fato torna-se ainda mais evidente se considerarmos a extensão territorial e as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento desta gramínea no país. Diante das perspectivas de aumento da demanda de consumo de milho no mercado internacional, há uma necessidade imediata de incremento de produção e produtividade para que o
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país possa, de fato, participar efetivamente deste mercado. A expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), adoção do sistema de plantio direto, aumento do uso de sistemas de irrigação, ausência de rotação de cultura e uso de materiais suscetíveis, têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos que atacam a cultura do milho. A continuidade temporal da cultura e o aumento do potencial de inóculo, resultante dos fatores acima mencionados, têm promovido o surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura, relacio-
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nados à ocorrência de doenças. Dentre as doenças que vêm causando maior preocupação, devido aos danos ocasionados à cultura, destaca-se a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (CES.). Esse fungo é capaz de atacar todas as partes da planta, embora, as fases de antracnose foliar e de podridão de colmo sejam consideradas as mais importantes. Além dos fatores acima mencionados, o surgimento de biótipos mais agressivos do patógeno e a ocorrência de condições ambientais favoráveis (temperaturas elevadas e alta umidade relativa do ar) podem estar relacionados ao aumento na ocorrência e agressividade da
Fotos Luiz Alberto Staut
Sintomas da antracnose do milho: sintomas foliares (acima) e antracnose na nervura central (abaixo)
antracnose em milho. No Brasil, os primeiros relatos da ocorrência da doença datam do início da década de 1960, em áreas de produção de milho híbrido na região de Campinas. Nessa ocasião foram estimadas perdas em torno de 30% na produção. Atualmente o patógeno encontrase disseminado em, praticamente, todas as
regiões produtoras de milho do país. As perdas na produtividade de grãos, relacionadas às fases de podridão de colmo e queima foliar da doença, variam de 0 a 40% dependendo do genótipo da planta, das condições de ambiente e da época de infecção. A utilização de variedades resistentes é considerada a principal estratégia de manejo desta enfermidade. Embora não haja evidências da ocorrência de raças fisiológicas nesta espécie, a variabilidade presente nas populações do patógeno pode dificultar o manejo da doença através da utilização da resistência genética. Apesar da ausência de evidências da existência de raças fisiológicas em populações de C. graminicola é bastante provável que elas ocorram na natureza, à semelhança do que acontece com outras espécies de Colletotrichum, como C. sublineolum, agente causal da antracnose do sorgo.
SINTOMATOLOGIA Os sintomas da antracnose podem ser observados nas folhas, no colmo, nas espigas,
no pendão e nas raízes das plantas. No entanto, as fases da antracnose foliar e podridão do colmo são consideradas as mais importantes. Os sintomas iniciais da fase foliar da doença são caracterizados pelo aparecimento de lesões pequenas, apresentando aspecto encharcado, cujo formato varia de oval a irregular, inicialmente nas folhas inferiores da planta (Figura 1). Com o desenvolvimento da doença as lesões tornam-se escuras, com tamanho variando entre 0,5 a 1,5 cm e formato oval a elíptico, podendo apresentar bordas das lesões de formato e coloração variáveis. Na parte central dessas lesões são observadas inúmeras pontuações escuras, correspondendo aos acérvulos do fungo, os quais permitem a diagnose da doença em condição de campo e laboratório. Sob condições climáticas favoráveis e com a utilização de genótipos suscetíveis essas lesões coalescem resultando na seca prematura das folhas. No colmo, embora a infecção possa ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, os sintomas são mais visíveis após C
ETIOLOGIA DO FUNGO
A
antracnose do milho é causada pelo fungo Colletotrichum graminicola (Ces.) Wilson, correspondente à forma teleomórfica Glomerella graminicola Politis. Esta espécie foi considerada, durante muito tempo, como agente causal da antracnose em sorgo. Estudos baseados em características qualitativas e quantitativas da produção de apressórios, in vitro, de isolados monoconidiais e na análise da seqüência de nucleotídeos de rDNA da região ITS-2 de isolados de C. graminicola provenientes de milho e sorgo demonstraram a existência de diferenças significativas entre estes, os quais foram considerados como espécies distintas. Desse modo, a espécie C. graminicola foi dividida em duas espécies, sendo a denominação C. graminicola referente aos isolados provenientes de milho e C. sublineolum para aqueles provenientes de sorgo. Além do milho, os isolados de C. graminicola podem infectar aveia, cevada e trigo. Apesar dos vários estudos confirmarem a distinção entre as espécies de Colletotrichum que atacam milho e sorgo, a denominação C. sublineolum não foi amplamente aceita e raramente foi utilizada até por volta do ano de 2000. Entretanto, mais recentemente, essa nomenclatura passou a ser utilizada com mais freqüên-
cia podendo ser, atualmente, considerada como amplamente aceita pela comunidade científica. A espécie C. graminicola pertence à ordem Melanconiales, que inclui fungos assexuados que produzem seus esporos (conídios) em estruturas reprodutivas (conidiomas) denominados acérvulos, os quais apresentam coloração escura e formato oval a cilíndrico. Nessas estruturas estão presentes numerosas setas de coloração escura, formadas na epiderme e camada subepidérmica da superfície das folhas e/ou do colmo. Os conidióforos, produzidos no interior dos acérvulos em grande quantidade, são eretos, hialinos e não apresentam septo. Os conídios, produzidos terminalmente sobre os conidióforos, são hialinos, não septados e falciformes A fase sexual, Glomerella graminicola raramente é observada na natureza e caracteriza-se pela presença de peritécios, no interior dos quais são produzidas ascas cilíndricas a clavadas, que contêm ascósporos hialinos e unicelulares. Abundante produção de esporos assexuais desse patógeno pode ser obtida em meio de farinha de aveia-agar-tetraciclina, mantida sob regime de luz fluorescente contínua a temperatura de 22 a 30ºC, durante sete a dez dias.
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Divulgação
Fotos Luiz Alberto Staut
À esquerda lesões causadas pela antracnose na parte externa (casca) do colmo. À direita ataque severo da doença, com acamamento e quebramento de colmo
a polinização. Os sintomas são caracterizados pela presença, na casca, de lesões escuras, estreitas e alongadas nos entrenós inferiores das plantas, as quais podem coalescer formando áreas extensas de coloração escura brilhante. Internamente, os tecidos vasculares apresentam podridão típica de coloração marrom-escura. Com o desenvolvimento da doença, os tecidos internos do colmo entram em processo de desintegração, resultando na senescência precoce e acamamento de plantas. Esses sintomas são mais evidentes ao final do ciclo da cultura. Outro sintoma associado à fase de podridão de colmo é denominado de “top dieback”. Nesse caso, ocorre a murcha e morte dos tecidos localizados acima da espiga, durante as fases inicias de formação dos grãos, enquanto os tecidos abaixo dela permanecem verdes. Os sintomas de “top dieback” progridem em sentido descendente, ou seja, do ápice para a base da planta.
CICLO DA DOENÇA O patógeno C. graminicola apresenta duas fases distintas em seu ciclo de vida, podendo atuar tanto como patógeno agressivo em plantas de milho vivas, como saprófita em restos culturais (Figura 2). O ciclo da doença pode ser dividido em cinco fases temporais: 1) produção e disseminação de inóculo primário; 2) infecção foliar de plântulas; 3) antracnose foliar em plantas adultas; 4) colonização sistêmica e podridão do colmo e 5) sobrevivência em restos culturais. Os esporos produzidos em acérvulos residentes nos restos culturais (inóculo primário) são responsáveis pelas primeiras infecções foliares na lavoura. A dispersão horizontal dos esporos a partir dos restos culturais é limitada à pequena distância percorrida pelos respingos de água da chuva ou irrigação. Os esporos produzidos a partir das lesões primárias, localizadas inicialmente nas folhas baixeiras da planta, constituem o inóculo secundário do patógeno, o qual é responsável por repetidos
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ciclos de produção e disseminação de inóculo ao longo de período de desenvolvimento da cultura. As folhas de plântulas e de plantas na fase de pós-antese são mais suscetíveis à infecção que aquelas na fase de amplo crescimento vegetativo. As lesões foliares atuam como fonte de inóculo para infecção do colmo. Os esporos produzidos nas folhas são lavados pela água da chuva e irrigação e depositam-se na junção das folhas com o colmo, atrás da bainha, onde germinam e iniciam o processo de infecção. Danos à casca, causados por insetos, principalmente, favorecem a penetração do fungo e o desenvolvimento da doença. Ao final do ciclo da cultura o patógeno sobrevive como saprófita em restos culturais na superfície do solo, onde permanecerá até o próximo plantio. Desse modo, ao longo dos anos ocorre aumento do potencial de inóculo do patógeno na área de plantio.
CONTROLE Dentre as estratégias de manejo da antrac-
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nose o uso de resistência genética destaca-se como a forma mais viável, segura e de menor impacto ambiental para o manejo desta enfermidade, tanto para a fase de podridão do colmo quanto para a fase de queima foliar. Entretanto, a utilização da resistência genética, principalmente a resistência do tipo vertical, pode ser dificultada pela possível variabilidade patogênica apresentada por C. graminicola, resultando na rápida adaptação do patógeno aos materiais resistentes disponíveis no mercado. Um conhecimento mais aprofundado da variabilidade e estrutura populacional, com relação à patogenicidade, é fundamental para a elaboração e estabelecimento de estratégias de manejo que possibilitem a obtenção de níveis mais estáveis de resistência nesse patossistema. Outras medidas para o manejo da antracnose do milho são: 1) Rotação de culturas, principalmente em sistema de plantio direto; 2) Eliminação de restos culturais; 3) Eliminação de hospedeiros alternativos do patógeno; 4) Práticas culturais, como: população de plantas adequada, adubação equilibrada principalmente no que diz respeito à relação N/ K; manejo adequado de irrigação, manejo eficaz de pragas e doenças e controle químico, nos casos de cultivos de elevado valor comercial como campo de sementes. Essas medidas são importantes, pois permitem reduzir significativamente o potencial de inóculo do patógeno na área de plantio, além de atuarem preservando a resistência presente nos genótipos comerciais. C Rodrigo Véras da Costa, Carlos Roberto Casela e Alexandre da Silva Ferreira Embrapa Milho e Sorgo
Figura 1 - Ciclo da doença
Milho
Quase letal
Jean Carlos
An te a severi dad os ddan an os causad os por Spod o milh o, Ante severid adee ddos anos causados Spodopter opteraa frugiper frugiperd culturaa ddo milho, opter da nnaa cultur pesquisad or es avali am estr atégi tr ole ddaa pr aga com ddoses oses subletais que pesquisador ores avaliam estratégi atégiaa ddee con contr trole praga que,, embor ovoquem a m orte im edi ata, pod em pr om over alter ações n ologi emboraa não pr provoquem morte imedi ediata, podem prom omover alterações naa bi biologi ologiaa ou na capaci dad epr od utiva ddo o in seto ad ulto, o que invi abiliza seu cr escim en to capacid adee rrepr eprod odutiva inseto adulto, inviabiliza crescim escimen ento on al. Além ddee rred ed uzir o impacto ddos os ddefen efen sivos sobr gos n atur ais populaci natur aturais ais,, o populacion onal. eduzir efensivos sobree os inimi inimig agas om ete ser um te ferr am en ta n o m an ejo in tegr ad o ddee pr estu do pr integr tegrad ado pragas estud prom omete umaa importan importante ferram amen enta no man anejo
A
cultura do milho está sujeita ao ataque de diversas espécies de insetos, que podem, sob certas condições, se tornarem pragas importantes causando redução significativa na produtividade. Cujas perdas são agravadas pelas dificuldades encontradas pelos agricultores na realização do seu controle. Spodoptera frugiperda (J.E. Smith), (Lepidoptera, Noctuidae), conhecida no estágio larval como lagarta-do-cartucho do milho, é uma das mais importantes pragas dessa cultura no Brasil, alimentando-se da planta em todas as fases de crescimento, apresentando marcada preferência por plantas jovens e causando severos danos. Segundo Cruz (1999), seus danos podem ocasio-
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nar perdas superiores a 400 milhões de dólares anuais à produção de milho. Nos últimos anos, a severidade dessa praga para a cultura do milho vem aumentando em várias regiões brasileiras, devido principalmente, à tecnologia de produção de milho, que vem sendo adotada como o cultivo continuado sob irrigação que favorece o seu crescimento populacional, devido à maior disponibilidade de alimento durante o ano todo. Além disso, provoca desequilíbrio biológico, mediante a eliminação de seus inimigos naturais, e o aparecimento de populações resistentes a inseticidas. As mariposas de S. frugiperda põem de 1.500 a 2.000 ovos na página superior das folhas, segundo Gallo et al. (2002). Após
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três dias nascem as lagartas, que passam a se alimentar raspando superficialmente, de preferência, as folhas mais novas do milho. A duração do período larval é de 12 a 30 dias. No final do período larval, as lagartas penetram no solo, onde se transformam em pupa, o período pupal é de oito dias no verão e de 25 dias no inverno. Os adultos vivem em média, cerca de 15 dias. As injúrias à superfície foliar ocorrem durante o 1º e 2º instares larvais. Quando as lagartas atingem o 3º instar, elas se alojam no interior do cartucho do milho, perfurando as folhas da planta, antes mesmo do seu lançamento, podendo destruí-lo completamente. Sob condições severas de ataque as lagartas podem cavar galerias no interior do
NÚMEROS DA PRODUÇÃO
A
produção mundial de milho encontra-se, atualmente, em torno de 555 milhões de t, sendo os Estados Unidos o maior produtor com 234,6 mil t, a China o segundo maior produtor com 105 mil t, superando em oito vezes a produção do Brasil, que ocupa o terceiro lugar com 36 mil t (Agrianual, 2002). No Brasil, o milho é cultivado na grande maioria das propriedades agrícolas, sendo explorado tanto como cultura de subsistência em pequenas propriedades, com baixa utilização de tecnologia, como em grandes propriedades, empregando alta tecnologia, com eledo uma importante ferramenta para o emprego do manejo integrado de pragas nessa cultura. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) visa a adoção de estratégias com o maior número possível de associações de táticas de controle sem abandonar a preocupação com a economia da atividade agrícola e com a preservação do ambiente, conseguindo dessa forma obter maior eficácia de contro-
André Shimohiro
colmo, saindo pela base do colmo próximo ao solo, confundindo com as injúrias provocadas por outras pragas. Na fase reprodutiva da planta de milho, podem atacar a espiga ainda verde, perfurando-a lateralmente, na face que fica encostada no colmo. Nos últimos anos tem sido observado um aumento no número de aplicações de inseticidas, devido ao crescimento do ataque da lagarta-do-cartucho. Muitos fatores podem explicar as causas do insucesso no seu controle, como a desuniformidade no plantio, especialmente quando a aplicação é tratorizada; escolha incorreta de produtos e doses; aplicações em momentos inadequados, tanto da biologia da praga como da fenologia da planta, e principalmente tecnologia inadequada de aplicação dos defensivos, que não possibilitam o contado do produto aplicado com a praga. Ou ainda, o manejo inadequado de outras pragas, indicando a necessidade da aplicação de técnicas mais elaboradas para o controle dessa praga (Cruz, 1995). Entre as diversas possibilidades de aprimoramento tecnológico das estratégias de controle dessa praga, visando melhorar sua eficácia, está o emprego de doses subletais, que visa reduzir o impacto dos defensivos sobre os inimigos naturais, possibilitando a associação dos inseticidas químicos com os métodos biológicos e culturais, constituin-
Com as doses subletais objetiva-se reduzir o impacto dos defensivos sobre os inimigos naturais da praga
vada produtividade, visando principalmente a produção de matéria-prima para a agroindústria (Siloto, 2002). A maior parte do milho produzido no país é destinada à produção animal, aves, suínos e pecuária de leite. A demanda por parte da comunidade européia por produtos de origem vegetal em razão de problemas sanitários, aliada às conquistas de novos mercados consumidores, requer uma maior eficiência na produção deste cereal. A exportação de carne suína cresceu 109,5% de 2000 para 2001, enquanto que a exportação da carne de frango para o mesmo período analisado cresceu 34,7% (Agrianual, 2002). le de cada uma das táticas empregadas isoladamente, resultando num melhor retorno econômico. A localização das lagartas de S. frugiperda no interior do cartucho do milho, muitas vezes, dificulta o seu contato com o inseticida aplicado. Porém, uma porcentagem relativamente alta de lagartas é atingida por doses subletais, que embora não provoquem sua morte, podem promover alterações na biologia ou na capacidade reprodutiva do inseto adulto, inviabilizando seu crescimento populacional ao longo das gerações no ano agrícola. As pesquisas relacionadas aos efeitos de inseticidas sobre insetos pragas, têm se limitado a sua ação letal, partindo-se do princípio que toda aplicação de inseticidas no campo atinge seu alvo. Por outro lado, quando se trata de insetos benéficos, não-alvo da aplicação dos inseticidas no campo, os estudos têm avaliado principalmente os efeitos subletais, visando principalmente conhecer a seletividade dos inseticidas. No entanto, as espécies-pragas também podem sofrer alterações nos processos fisiológicos que podem enfraquecê-las favorecendo a atuação de predadores e parasitóides. Geralmente a determinação do efeito das doses dos inseticidas nos insetos é realizada através de aplicações tópicas. Embora, não há dúvida de que uma significativa porcentagem de insetos no campo é diretamente atingida pelos inseticidas, contaminando-se através do caminhamento sobre superfícies tratadas ou da ingestão de partes contaminadas da planta. Os insetos que se contaminam através do contato, dificilmente absorvem a dose letal ou, a dose absorvida encontrará diversas barreiras bioquímicas até atingir o sítio de ação. Os insetos que se conta-
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David Riley
A localização das lagartas no interior do cartucho dificulta o contato da praga com o inseticida aplicado
minam através da ingestão do alimento, têm mais chances de resistir à ação do tóxico devido ao processo digestivo que irá dificultar a dose letal de atingir o sítio de ação. Diversos fatores interferem na contaminação dos insetos e, conseqüentemente, na ação dos inseticidas numa aplicação convencional no campo, como por exemplo, a desuniformidade da distribuição do inseticida sobre a área tratada ou mesmo sobre a planta, a forma como o inseto absorve a
dose, a capacidade metabólica do inseto, a toxicidade do produto, o sítio de ação e o modo de ação do tóxico. Estudos recentes demonstraram que lagartas de S. frugiperda alimentadas com folhas de milho contaminadas pelos inseticidas deltametrina, lufenuron e clorpirifós, são menos suscetíveis do que aquelas alimentadas com dietas artificiais contendo os mesmos produtos, indicando que o processo digestivo, de acordo com a composição do ali-
Figura 1- Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda em folhas de milho tratadas com clorpirifós em diferentes concentrações após 24, 48 e 72 horas da inoculação (T= testemunha)
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mento ingerido, pode interferir na degradabilidade ou na ação do defensivo. Por outro lado, a qualidade da dieta pode fornecer condições mais ou menos favoráveis à fisiologia do inseto, possibilitando uma maior resistência à ação dos inseticidas. As lagartas contaminadas com doses subletais de inseticidas morreram antes de atingir a fase de pupa, no entanto, muitas lagartas permaneceram vivas por períodos bem maiores (até 74 dias) do que a duração da fase larval das lagartas não contaminadas (20 dias), indicando que as lagartas que não absorvem a dose que provoca sua morte instantânea sofrem alterações fisiológicas que podem prolongar significativamente o ciclo biológico, conseqüentemente aumentando os seus danos. Por outro lado, aquelas que atingiram a fase adulta, não sofreram alterações no ciclo biológico. Comparando-se a ação letal dos inseticidas estudados verificou-se que tanto a deltametrina como o lufenuron causa maior mortalidade larval em 72 horas do que o inseticida clorpirifós. (Figuras 1 e 2). Considerando os dados apresentados, é necessário que sejam realizados mais estudos dos efeitos das doses subletais de inseticidas no comportamento e biologia dos insetos, tanto no laboratório como no campo, antes de se elaborar uma cartilha de recomendação. Teoricamente a recomendação do emprego de doses subletais é interessante como estratégia do MIP, no entanto, é necessário melhor conhecimento da relação entre a dose aplicada no campo com a dose absorvida de fato pelas lagartas. Não existem, ainda, informações precisas para as diferentes tecnologias de aplicação de defensivos, sobre a relação entre a dose aplicada e a quantidade do tóxico depositada sobre o tecido vegetal. O que dizer da dose C que atinge a praga? Rosemery Ferraz da Silva e Wilson Badiali Crocomo, Unesp
Figura 2 - Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda em folhas de milho tratadas com deltametrina e lufenuron em diferentes concentrações após 24, 48 e 72 horas da inoculação - (D = deltametrina; L = lufenuron e T = testemunha).
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Arroz
Resistência inimiga AAss ciperáceas ciperáceas, distribuídas todas orizícolas, ciperáceas,, distribuíd distribuídas as por por tod todas as as as rregiões regiões egiões orizícolas orizícolas,, além além dde dee elevad elevadas perd causadas prod odução apresen esentad tado as causad causadas as àà pr prod odução ução têm têm apr apresen esentad tadoo seleção seleção dde dee elevadas as per perddas espéci espécies esistentes herbi erbici cid as. problem oblema espécies es rresisten resisten esistentes tes aa h herbi erbici ciddas as.. OO pr problem oblemaa se se ddeve deve eve ao ao uso uso in inten tensivo efensivos mesm esmo mecanism ecanismo inten tensivo sivo dde dee ddefen defen efensivos sivos com com oo m mesm esmoo m mecanism ecanismoo dde dee ação ação Charles Echer
A
s espécies pertencentes ao gênero Cyperus incluem-se entre as principais plantas daninhas que infestam as lavouras de arroz irrigado, sendo responsáveis pela redução do potencial produtivo do cereal. Sua presença ocasiona perdas à cultura pela competição por recursos abióticos, hospedagem de pragas, acamamento de plantas, dificuldade de colheita, depreciação da qualidade do produto, aumento do custo de produção e diminuição do valor comercial das áreas cultivadas. As espécies de Cyperus se encontram distribuídas por todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul, e causam perdas variáveis na produção em função da espécie e da população presentes na área. A distribuição e freqüência das espécies são distintas entre as regiões produtoras de arroz do RS. As espécies de maior ocorrência na região da Fronteira Oeste são C. esculentus, C. ferax e C. iria; na Depressão Central: C. ferax e C. iria; na Campanha e Planície Costeira Externa à Lagoa dos Patos: C. esculentus e C. ferax; na Planície Costeira Interna à Lagoa dos Patos: C. difformis e C. iria; e, na região Sul: C. esculentus e C. fe-
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rax. O controle destas espécies pode ser preventivo, impedindo a inclusão de novas sementes/tubérculos ao banco de propágulos do solo; cultural, como a utilização de espaçamento, população, época de semeadura e cultivares adequadas que favoreçam o estabelecimento da cultura; mecânico, através da remoção das plantas por arranquio ou Figura 1 - Principais espécies de ciperáceas que ocorrem em lavoura de arroz irrigado
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cultivação; físico, pelo uso da água como barreira à emergência de novos fluxos de plantas; e, químico, pelo uso de herbicidas. Dentre os métodos de controle, a utilização de herbicidas se apresenta como o de maior uso em função principalmente da eficácia e Tabela 1 - Herbicidas registrados para o controle de ciperáceas na cultura do arroz irrigado Mecanismo de ação Inibidores de ALS1
Inibidores de PROTOX2 Inibidores do crescimento
Inibidores do fotossistema II Mimetizadores de auxinas Inibidores do fotossistema II + inibidores do crescimento Inibidores do fotossistema II + mimetizadores de auxinas
Ingrediente ativo Azimsulfuron Bispyribac-sodium Cyclosulfamuron Ethoxysulfuron Imazethapyr + imazapic Penoxsulam Pyrazosulfuron-ethyl Oxyfluorfen Molinate Thiobencarb Bentazon Propanil 2,4 –D Propanil + molinate Propanil + thiobencarb Propanil + triclopyr Propanil + 2,4–D
Adaptado de Recomendações Técnicas, 2005 e Agrofit, 2007.
Fotos Charles Echer
O controle de Cyperus em pós-emergência é recomendado quando as plantas se encontrarem com até quatro folhas
Herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), são o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas
uniformidade de controle das espécies presentes na área e da possibilidade de remoção das plantas daninhas em curto período de tempo, mesmo em grandes extensões de área. Atualmente, encontram-se disponíveis para o controle de ciperáceas 12 ingredientes ativos e cinco misturas formuladas (Tabela 1). O controle em pós-emergência é recomendado quando as ciperáceas se encontrarem com até quatro folhas, pois neste estádio as plantas são mais sensíveis à ação dos herbicidas. Nas últimas décadas se verificou aumento na utilização de herbicidas na lavoura de arroz irrigado. No entanto, o uso intenso de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação tem selecionado espécies resistentes. Os herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), também conhecida como acetohidroxiacido sintase (AHAS) constituem o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas, apresentando elevada eficiência e seletividade com a utilização de baixas doses. Atuam na rota da síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina. Os herbicidas que atuam nesta rota pertencem ao grupo químico das sulfoniluréias, imidazolinonas, sulfonanilidas e pyrimidil-benzoatos. O primeiro registro de resistência de ciperáceas aos inibidores de ALS no Brasil, ocorreu para Cyperus. Difformis, no ano 2000, no estado de Santa Catarina (Noldin et al., 2002). A resistência aos herbicidas é resultado da seleção de biótipos com características que possibilitem a sobrevivência da planta após a aplicação do herbicida que, em condições normais, controlam os integrantes da
população. Uma planta é sensível a um herbicida quando o seu crescimento e desenvolvimento são alterados pela ação do produto. Já, a tolerância de uma planta a um herbicida é a capacidade inata de algumas espécies em sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo sofrendo injúrias (Vargas et al., 1999). A evolução da resistência em uma área depende da pressão de seleção, da variabilidade genética das plantas, dos genes envolvidos para resistência e do fluxo gênico no ambiente. O fluxo gênico, mediado pela dispersão de pólen, depende do movimento do pólen da planta resistente até a sensível e
posterior formação de sementes viáveis. A transferência do pólen entre plantas resistentes e sensíveis permite a dispersão da resistência principalmente em plantas com alta taxa de fecundação cruzada. Uma vez o problema da resistência estabelecido, este assume grande importância em função do limitado ou inexistente número de herbicidas alternativos para serem usados no controle dos biótipos resistentes. Assim, medidas preventivas devem ser adotadas para atrasar o desenvolvimento da resistência de plantas daninhas a herbicidas. Dentre as medidas se destacam: realizar rotação de cultura, prática que permite a rotação de herbicidas na área; aplicação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, reduzindo a pressão de seleção; associação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação ou aplicações seqüenciais dos mesmos; acompanhar possíveis alterações na área e, em caso de detecção de plantas-escape, isolar a área e eliminar as plantas antes que produzam semente; e, integrar as técnicas de manejo de plantas daninhas, ou seja, utilizar o manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Cabe ressaltar, que após a ocorrência de biótipo resistente em determinada área, sua erradicação torna-se economicamente inviável, restando apenas a opção de manejá-lo evitando a sua multiplicação e disC seminação. Taísa Dal Magro e Dirceu Agostinetto, UFPel
ESPÉCIES E FORMAS DE DISSEMINAÇÃO
A
s principais espécies de Cyperus presentes em lavouras de arroz irrigado são difformis, esculentus, ferax e iria (Figura 1). O C. difformis (junquinho ou tiririca) apresenta ciclo de desenvolvimento anual, se reproduz por sementes e produz grande quantidade de sementes de tamanho pequeno o que facilita sua dispersão. C. esculentus (tiririca-amarela) se caracteriza por ser uma espécie perene com reprodução por sementes e principalmente por tubérculos, o que dificulta seu controle e aumenta sua multiplicação. A espécie C. ferax (junquinho) é uma planta anual, porém em ambientes quentes pode se comportar como perene, se reproduz por sementes, sendo bastante competitiva na fase inicial de desenvolvimento da cultura. C. iria
(junquinho, tiririca) é uma espécie anual, se reproduz por semente e apresenta rápido desenvolvimento inicial (kKissmann & Groth, 1999). Outra espécie de ciperácea que apresenta relatos de ocorrência na lavoura orizícola e merece destaque devido à capacidade de competição, bem como pela dificuldade de controle e/ou erradicação é C. rotundus (tiririca). Esta é considerada a planta daninha mais importante no mundo, em decorrência de sua ampla distribuição, ser de ciclo perene e multiplicação principalmente por tubérculos e bulbos subterrâneos, sendo a reprodução por sementes pouco significativa, pois menos de 5% das sementes formadas são viáveis (kKissmann & Groth, 1999).
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Soja
Equilíbrio na nutrição Estu do com base em tr abalh os técni cos con duzi dos n niversi dad er al ddee Estud trabalh abalhos técnicos cond uzid naa U Universi niversid adee Fed Feder eral Uberlân di ta com o ffazer azer uso ddee substân ci as rregulad egulad or as ddee cr escim en to e qu al a Uberlândi diaa apon aponta como substânci cias egulador oras crescim escimen ento qual melh or época par car amin oáci dos e mi cr on utri en tes n o tr atam en to ddee sem en tes elhor paraa apli aplicar aminoáci oácid micr cron onutri utrien entes no tratam atamen ento semen entes
A
cultura da soja atravessa atualmente uma fase onde problemas relacionados ao custo de produção, alta incidência de ferrugem e até a valorização do real frente ao dólar leva aos produtores a diversos questionamentos tais como: quais avanços serão adotados na próxima safra? Quais as expectativas para a melhoria da produtividade da soja nos próximos anos? Assim como o uso de inoculantes, que na década de 80 foram responsáveis pela superação de metas históricas de produtividade, atualmente o uso de substâncias reguladoras de crescimento e micronutrientes tem começado a demonstrar que a sua aplicação correta terá um papel importante para o avanço da produtividade. O crescimento vegetal pode ser influenciado tanto por fatores do meio, como por substâncias reguladoras de crescimento, que são comercializadas por diversas denominações: hormônios vegetais, regu-
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ladores de crescimento, fitormônios (fitorreguladores), bioestimuladores ou estimulantes vegetais, aminoácidos, entre outros. Os hormônios vegetais são substâncias naturais produzidas pela própria planta e os “reguladores de crescimento” são hormônios sintetizados quimicamente que provocam reações similares àquelas causadas pelos naturais. E reguladores de crescimento vegetal são compostos orgânicos de estrutura molecular variável e que em baixas concentrações induzem respostas fisiológicas de crescimento, diferenciação e desenvolvimento nas plantas. Reserva-se o termo hormônio vegetal ou fitormônio aos reguladores endógenos. Segundo Castro & Vieira (2001), diversos estimulantes vegetais estão disponíveis em misturas de reguladores vegetais ou destes com outros compostos de diferente natureza bioquímica (aminoácidos, micronutrientes ou vitaminas). O uso de reguladores de crescimento é descrito por Casillas et al. (1986), como
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eficientes quando aplicados em baixas doses favorecendo o bom desempenho dos processos vitais da planta e garantindo rendimentos satisfatórios em condições ambientais adversas, com a obtenção de melhores colheitas. Sendo justamente essa uma das características mais importantes para adoção desta tecnologia, pois são necessárias pequenas quantidades para grandes incrementos em produtividade. Como descrito por Ferreira (2007) a dose adequada de aminoácido variou entre 100 a 200 ml no tratamento de sementes onde se obtiveram incrementos significativos na produção de soja. Como fazer uso destas substâncias reguladoras de crescimento? Qual a melhor forma e a época de aplicar micronutrientes e aminoácidos nas culturas? São as principais perguntas que iremos responder neste artigo, não como uma receita de bolo para ser seguida sem critério técnico- científico, mas com base em trabalhos reali-
Fotos Matheus Zanella
zados, principalmente na região dos cerrados, desenvolvidos pela equipe de pesquisadores da UFU coordenada pela professora Regina Lana, do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O tratamento de sementes consiste na embebição destas em substrato contendo solução com substâncias promotoras de crescimento, que induzem à maior germinação e à qualidade fisiológica das sementes, bem como aceleram a velocidade de emergência das plântulas e proporcionam uniformidade destas em condições de campo. Tem sido demonstrado que os efeitos benéficos deste tratamento permanecem mesmo após a secagem das sementes (Rosseto et al.,2000). Dentre os fitorreguladores mais estudados pela sua aplicação em plantas podese citar as auxinas, as citocininas e as giberelinas. Castro et al., (1998) classifica o produto denominado Stimulate® como um fitoestimulante que contém fitorreguladores e traços de sais minerais. Os fitorreguladores presentes são ácido indolbutírico (auxina) 0,005%, cinetina 0,009% e ácido giberélico (giberelina) 0,005%. Segundo esses mesmos autores, esse fitorregulador químico incrementa o crescimento e o desenvolvimento vegetal estimulando a divisão celular, a diferenciação e o alongamento das células. Também aumenta a absorção e a utilização dos nutrientes e é especial-
Nas condições do experimento conduzido pelos pesquisadores da UFU, não foi constatada fitotoxicidade à cultura com a aplicação de reguladores de crescimento e os melhores ganhos de produtividade foram obtidos no tratamento de sementes mais aplicação foliar
mente eficiente quando aplicado com fertilizantes foliares, sendo também compatível com defensivos. São diversos os produtos considerados reguladores de crescimento atualmente no mercado nacional. É de fundamental importância que seja avaliada nos aminoácidos a proporção de auxinas: citocininas (350: 1), pois esta relação vai permitir o crescimento proporcional de sistema radicular e parte aérea. Estudos desenvolvidos com a utiliza-
ção de bioestimulantes em grandes culturas como a soja, arroz, milho e feijão (Castro & Vieira, 2001; Castro & Vieira, 2003), têm apontado para ganhos de produtividade devido a incrementos no sistema radicular na fase de estabelecimento da cultura, após a germinação, e aumento de pegamento de vagens, nas culturas de soja e feijão. Lana, (2005), em um estudo com feijão (Phaseolus vulgaris L.) variedade “carioquinha”, avaliando a eficiência de regu-
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Fotos Matheus Zanella
O emprego de aminoácido resultou em aumento de produtividade da soja quando comparado à adubação convencional Estudo mostra que a pulverização de bioestimulante na pré-florada em soja promoveu acréscimos na área foliar, na taxa assimilatória líquida e na produção de matéria seca
ladores de crescimento, Stimulate e do Kelpak observou que a aplicação deste aminoácido no tratamento de sementes na dose de 200 ml/ha obteve um aumento de produtividade de 350 kg/ha, ou seja 5,83 sacas/ha em relação à testemunha (sem aplicação de regulador de crescimento). E quando se realizou a aplicação dos reguladores de crescimento de forma conjunta no tratamento de sementes (100 ml/ha) e foliar 15 DAE (2.000 ml/ha) promoveu um incremento de 7,50 sacas/ha, sendo este o melhor tratamento com aplicação do aminoácido. Ainda com a aplicação do Stimulate, em quatro estádios de desenvolvimento, semente (250 ml/ha) + foliar 15 DAE (250 ml/ha) + foliar 30 DAE (250 ml/ha) + foliar em pré-florada (250 ml/ha), obteve-se uma produtividade de 7,91 sacas superior à testemunha. Conclui-se que nas condições de realização deste experimento, a aplicação do regulador de crescimento no tratamento de semente não causou fitotoxicidade à cultura da soja e que os melhores ganhos em produtividade foram quando se aliou o tratamento de sementes com a aplicação foliar. Castro (1981), estudando os efeitos da pulverização de bioestimulante na pré-florada em soja, verificou que a substância promoveu aumentos na área foliar, na taxa assimilatória líquida, e na produção de matéria seca por unidade de área foliar, mostrando o efeito estimulatório deste biorregulador. Oliveira et al. (2006), concluíram que a dosagem mais eficiente para aplicação de Kelpak foi a de 200 ml/ha para aplicação via semente e de 2.000 ml/ha para aplicação via foliar, na cultura da soja, sendo que o efeito do regulador de crescimento promoveu incrementos entre 415 a 1.405 kg/ha. Lana (2006), observou que a aplicação foliar de micronutrientes e Ca (Plantin CaB2), na cultura da soja, em duas épocas (0,5 l/ha, 25 DAE e 0,5 l/ha, na pré-flora-
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da) resultou aumento significativo na produtividade da soja, quando comparado à adubação convencional. Isso demonstra a resposta positiva da aplicação foliar de Ca e B. Ainda neste experimento, observouse que o Cofermol Plus na dose de 0,120 l/ ha aos 25 DAE levou ao aumento significativo na produtividade da soja, havendo um incremento de sete sacas/ha. A aplicação de 1,0 l/ ha do aminoácido FertyMould aos 25 DAE, resultou em aumento na produtividade da soja quando comparada à adubação convencional. Resultados semelhantes, com aplicação dos aminoácidos e fertilizantes foliares aplicados na soja foram testados também para a cultura do milho por Lana (2006), e observou-se aumento sobre a produtividade do milho quando se aplicou Plantin CaB2 e o aminoácido Ferty-Mould ambos na dosagem de 1,0 l/ha, quando as plantas apresentavam-se com quatro/seis folhas. E pode-se também fazer o parcelamento do aminoácido Ferty-Mould e do fertilizante foliar Plantin Plus em duas doses e estágios de desenvolvimento do milho (0,5 kg/ ha em quatro/seis folhas e 0,5 kg/ha em seis/oito folhas). No caso do Co e Mo, a aplicação des-
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tes nutrientes no tratamento de sementes na cultura da soja é importante, sendo indicada nas doses de 2 a 3 g/ha de Co, e 12 a 30 g/ha de Mo (Embrapa, 2007), ou via pulverização foliar, nos estádios de desenvolvimento vegetativo V3 – V5. A utilização de sementes enriquecidas com Mo aumenta a fixação biológica de N, aumentando, conseqüentemente, os rendimentos da soja. Os estudos determinam que as dosagens de aplicação do Cofermol Plus (Co e Mo) são variáveis de acordo com a cultura. Por exemplo, para a soja, são recomendados 120 ml do fertilizante no tratamento de sementes e 120 ml na pré-florada. Para o feijão são recomendadas duas aplicações foliares correspondentes a 150 ml, 30 dias após a germinação, e 100 ml do fertilizante no tratamento de sementes. Para o milho se recomenda 150 ml do Cofermol Plus quando as plantas se encontram no estágio de quatro/seis folhas completamente desenvolvidas. As dosagens de aplicação do aminoácido Ferty-Mould, também são variáveis de acordo com a cultura. Para a soja é recomendado 1 l/ha, 30 a 40 dias após a germinação. Para o feijão, são recomendadas duas aplicações foliares correspondentes a 1 l do Ferty-Mould, 30 dias após a germinação, e outra aplicação de 1 l, 20 dias após a primeira (50 dias após a germinação). Para o milho, se recomenda 1 l/ha quando as plantas se encontram com quatro/seis folhas completamente desenvolvidas. Além disso, as aplicações destes dois fertilizantes podem ser feitas misturadas, nas dosagens e épocas recomendadas. C Regina Maria Quintão Lana, UFU
Soja
Ranking de efi
Red sai os cipação ddee 18 in stitui Redee ddee en ensai saios os,, com parti participação institui ci das rregistr egistr ad os e em ffase ase ddee rregistr egistr o par fun gi fungi gici cid egistrad ados egistro paraa o m ela, an tr acn mela, antr tracn
C
observações e elaboração de trabalhos experimentais. A rede de ensaios para controle de doenças na cultura da soja, da qual participaram 18 instituições na safra 2006/ 2007, realizou, pelo quarto ano consecutivo, ensaios em rede para avaliar a eficiência dos fungicidas registrados e em fase de registro, para o controle da ferrugem asiática, da mela, da antracnose e das doenças de final de ciclo. Os resultados sumarizados para controle da mela e da ferrugem foram apresentados na Comissão de Fitopatologia. Para mela, após apresentação dos resultados, foi solicitada a inclusão dos produtos Nativo® 0,5 a 0,6 l/ha (trifloxistrobina + tebuconazole 50 + 100 e 60 + 120 g i.a. ha-1) e Opera ® 0,5 a 0,6 l/ha (piraclostrobina + epoxiconazole 66,5 + 25 e 79,8 + 30 g i.a. ha -1), que passam a constar na publicação como uma nova tabela. As estrobilurinas, sozinhas ou em mistura, têm apresentado, nos últimos anos dos ensaios em rede, maior eficiência para o controle dessa doença e, embora apresentem registro para a cultura da soja, somente esses dois produtos estão registrados para o fungo causador da mela (Rhizoctonia solani). As chuvas bem distribuídas, que favoreceram a soja na safra 2006/07, também favoreceram o progresso da ferrugem asiática nos ensaios realizados nessa safra, evidenciado pela baixa eficiên-
Dirceu Gassen
omo nas demais sessões técnicas realizadas durante a XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, em Campo Grande (MS), durante os dias 31 de julho a 1° de agosto, os trabalhos apresentados na Comissão de Fitopatologia foram selecionados com base no seu potencial de contribuição para a atualização das tecnologias e/ou da contribuição para a programação de pesquisa em soja. A ocorrência de plantas com sintomas de abortamento de flores e/ ou vagens e que permanecem verdes após a maturação, também denominadas de “soja louca”, foi um dos assuntos discutidos no evento, uma vez que esses sintomas têm sido observados em novas regiões, já havendo relatos nos estados do Pará, do Maranhão, do Mato Grosso e de Tocantins. A etiologia dessa doença permanece desconhecida, mas foi levantada a hipótese da interação de defensivos com a incidência de Carlavirus, causador da necrose da haste, e levantada a necessidade de cooperação entre instituições e áreas de pesquisa nas
Chuvas bem distribuídas favoreceram o progresso da ferrugem nos ensaios da safra 2006/07
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Dirceu Gassen
ciência
esempenh o ddee ções ões,, avali avaliaa o ddesempenh esempenho con tr ole ddaa ferrug em asiáti ca, contr trole ferrugem asiática, ose e doenças de final de ciclo
formariam o agrupamento com três estrelas. Nessa safra foram realizados 20 ensaios nas diferentes regiões produtoras, o que permitiu a seleção dos ensaios com maior pressão de doenças e diferenciação dos tratamentos para sumarização conjunta. Embora o agrupamento facilite o entendimento para o produtor, ele é uma forma bastante simplificada de interpretar os resultados e dentro dos agrupamentos existe diferença de eficiência entre os produtos. Desta forma, o grupo de pesquisadores que realizou os ensaios nessa safra, dispo-
Mauricio Meyer
cia de controle (máximo de 70% na média dos ensaios utilizados na sumarização) observada nos ensaios onde são realizadas duas aplicações em estádios fenológicos determinados. Nessa safra, a rede de ensaios avaliou todos os produtos registrados para ferrugem, a fim de corrigir distorções que foram observadas nas safras passadas em função da diferença de pressão da doença. A alta pressão da doença nessa safra favoreceu a diferenciação entre os produtos, sendo o novo agrupamento incluído na tabela de fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja, causada por Phakopsora pachyrhizi (Tabela 1). Os triazóis e as estrobilurinas, misturas de estrobilurinas e triazóis e misturas de benzimidazóis e triazóis foram avaliados em dois ensaios separados, em função do grande número de tratamentos. As análises estatísticas nesse ano formaram um grande número de agrupamentos e a decisão do grupo de pesquisadores que compõe a rede foi de que somente os produtos que ficaram no primeiro agrupamento, pelo teste estatístico de Scott-Knott, nos dois ensaios,
Presença do fungo na região, idade das plantas e condição climática são fatores para o início do tratamento
nibilizou as tabelas das análises sumarizadas, durante a Reunião de Pesquisa de Soja, por meio da Circular Técnica 42, onde constam todas as análises que fundamentaram a formação do novo agrupamento. Embora ocorram diferentes grupos de eficiência na análise conjunta dos resultados, é importante salientar que os produtos podem ter a mesma eficiência no campo, em condições de baixa pressão da doença. Essa diferença na eficiência dos produtos é mais fácil de ser observada em situações onde a ferrugem ocorre de forma mais severa. O delineamento dos ensaios em rede e a seleção dos ensaios para a sumarização conjunta, têm como objetivo selecionar os locais onde a doença foi mais agressiva, para verificar a diferença entre produtos nas situações mais críticas. Apesar da maior eficiência de controle observada para alguns produtos, esse fato não implica em flexibilidade de aplicação. Os produtos devem ser utilizados nos sintomas iniciais (traços da doença) ou preventivamente, levando em conta os fatores necessários ao aparecimento da ferrugem (presença do fungo na região, idade das plantas e condição climática favorável), à logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), à presença de outras doenças e ao custo do controle. As reaplicações dos produtos devem levar em conta o monitoramento da doença na lavoura, uma vez que o residual pode variar entre produtos e em função das condições climáticas.
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Tabela 1 - Fungicidas registrados para o controle da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi). XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. Campo Grande (MS), 2007 Nome comum azoxystrobin azoxystrobin + ciproconazole ciproconazole + propiconazole difenoconazole epoxiconazole fluquinconazole flutriafol metconazole myclobutanil pyraclostrobin + epoxiconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tebuconazole tetraconazole tetraconazole tiofanato metílico + flutriafol tiofanato metílico + flutriafol trifloxystrobin + ciproconazole trifloxystrobin + propiconazole trifloxystrobin + tebuconazole
Nome comercial Priori4 Priori Xtra4 Artea Score 250 CE Virtue Palisade5 Impact 125 SC Caramba Systhane 250 Opera Constant 200 CE Elite 200 CE Folicur 200 CE Orius 250 CE Tríade 200 CE Domark 100 CE Eminent 125 EW Celeiro Impact duo Sphere5 Stratego5 Nativo6
Dose/ha g de i.a.1 50 60 + 24 24 + 75 50 50 62,5 62,5 54 100 - 125 66,5 + 25 100 100 100 100 100 50 50 300 + 60 300 + 60 56,2 +24 50 + 50 50+100
Agrupamento3 l ou kg de p.c.2 0,20 0,30 0,30 0,20 0,40 0,25 0,50 0,60 0,40 – 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,50 0,50 0,40 0,60 0,60 0,30 0,40 0,50
* *** ** * ** * ** ** * ** *** *** *** *** *** ** ** ** ** *** * ***
A empresa detentora é responsável pelas informações de eficiência para registro dos produtos. 1 g i.a. = gramas de ingrediente ativo; 2 l ou kg de p.c.= litros ou kilogramas de produto comercial 3 Eficiência de controle (máximo de 70%) nos ensaios em rede realizados na safra 2006/07, sob alta pressão da doença, onde os produtos são aplicados nas mesmas condições, em R1/ R2 e reaplicados em R5, sem obrigatoriamente seguir as recomendações individuais de cada produto (***>**>*) (Eficiência de fungicidas para controle da ferrugem asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2006/07. Resultados sumarizados dos ensaios em rede. Embrapa Soja: Londrina, 2007. 8 p. (Circular técnica 42)). 4 adicionar Nimbus 0,5% v./v. aplicação via pulverizador tratorizado ou 0,5 l/ha via aérea; 5adicionar 250 ml/ha de óleo mineral ou vegetal; 6adicionar 500 ml/ha de óleo metilado de soja (Aureo).
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(Sclerotinia sclerotiorum) e a ocorrência do novo cancro da haste no Rio Grande do Sul, causado por Diaporthe phaseolorum var. caulivora. A aplicação de fungicidas com aviões
foi outro tema abordado nas apresentações. Essa tecnologia tem sido considerada uma ferramenta importante para o controle, principalmente, da ferrugem da soja, devido ao rendimento operacional das atividades, mas carece, ainda, de informações de pesquisa sobre suas principais vantagens e desvantagens. Os trabalhos têm demonstrado a eficiência dessa tecnologia, mas, também, a necessidade de alta capacitação técnica para reC alizá-la adequadamente.
Cláudia Godoy e Rafael Soares, Embrapa Soja
Fotos Mauricio Meyer
O vazio sanitário, período de tempo sem a presença de plantas vivas de soja no campo durante a entressafra, deve ser incluído no texto como uma estratégia de manejo da ferrugem visando a redução do inóculo inicial nos primeiros plantios. O vazio sanitário está sendo adotado, na entressafra de 2007, nos estados do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Goiás, de Minas Gerais, do Tocantins, do Maranhão e de São Paulo. O tratamento de semente com fluquinconazole a 50 g i.a./100 kg sementes (Atento ® 300 ml/100 kg) foi aprovado para inclusão na publicação, devendo ser incluído no texto como mais uma estratégia no manejo da ferrugem asiática da soja, pois atua retardando a evolução da doença. Esta tecnologia não dispensa o tratamento padrão de semente com fungicidas, nem permite atrasar ou diminuir o número de aplicações de fungicidas foliares. A publicação deverá ter a inclusão da descrição de novas doenças que têm mostrado importância nos últimos anos, como o nematóide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), a podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae), a podridão branca da haste
Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central apresentou o desempenho de fungicidas na cultura
Soja louca: plantas com abortamento de flores e/ou vagens e que permanecem verdes após a maturação
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Soja
Búfalos na soja Nova pr aga en con tr ad as rregiões egiões pr od utor as ddo o praga encon contr trad adaa n naa safr safraa 2006/2007 n nas prod odutor utoras anhão e TTocan ocan tin ci elatad o Ri o Pi auí, M ar Piauí, Mar aranhão ocantin tinss, cuja ocorrên ocorrênci ciaa é rrelatad elatadaa também n no Rio Gr an de ddo o Sul, tem pr eocupad o pr od utor es e pesquisad or es an os Gran and preocupad eocupado prod odutor utores pesquisador ores es.. Com ddan anos semelhantes aos do tamanduá-da-soja, ataca as hastes da planta, desta ovocan do per das ddee até 60% ddaa form terfer an slocação ddaa seiva, pr naa tr tran anslocação provocan ovocand perd ormaa in interfer terferee n o in seto e o estabelecim en to ddee lavour a. A corr eta iid den tifi cação ddo entifi tificação inseto estabelecimen ento lavoura. correta tr ole são o prin cipal ddesafi esafi o estr atégi as ddee con estratégi atégias contr trole principal esafio
O
aparecimento de danos de novas pragas nas culturas vem causando cada vez mais preocupação aos produtores. No caso da soja, cultivada em ambiente de clima tropical, o uso de inseticidas a cada safra vai se tornando mais oneroso na formação dos custos de produção da lavoura, ultrapassando em alguns casos o valor dos fertilizantes que sempre ocuparam maior percentual na formação dos custos. Uma nova praga que começa a surgir em diversas regiões é o popularmente chamada de búfalo-da-soja, um inseto da família Membracidae cuja correta identificação da espécie está sendo feita em par-
Perfurações contínuas e bem próximas umas das outras, causando um dano semelhante a um anelamento da casca da planta
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Fotos Thiago Zanella
ceria com entomologistas da Embrapa de Passo Fundo (RS) e outros especialistas na área. A ocorrência desta praga vem sendo observada na safra 2006/2007 nas regiões produtoras de soja do Piauí, Maranhão e Tocantins, embora apareçam relatos de sua ocorrência nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná.
DANOS Os danos ocorrem nas hastes da soja. O inseto, com o aparelho bucal sugador, introduz o estilete nos caules da soja sugando a seiva. Os danos são observados em caules novos (V3-VN) e também na fase reprodutiva da planta (R1-R6) em caules secundários, pecíolos das folhas e ramos mais jovens. Atinge a periferia do caule, com perfurações contínuas e bem próximas umas das outras, causando um dano semelhante a um anelamento da casca da planta. As perfurações fazem com que as plantas percam boa parte da sua sustentação e com qualquer força das intempéries do tempo pode causar o tombamento de plantas adultas. O principal dano se dá ao interferir na translocação de seiva para a raiz, causando perda de energia da planta, entrada de microorganismos e a morte antes da maturação fisiológica, o que acarre-
A fase jovem (ninfa) do inseto perdura duas a três semanas
ta na redução do peso dos grãos, com perdas no rendimento entre 20 e 30 % , podendo chegar até 60% se não controlado. É de grande importância a correta iden-
tificação dos danos e da praga, já que seu dano pode ser confundido com o de outras pragas que atacam a cultura, como o tamanduá-da-soja. Após a colheita, se ob-
Fotos Thiago Zanella
CARACTERÍSTICAS
É
serva a permanência de indivíduos em culturas sucessoras como feijão e em soja “tigüera”. Plantas daninhas e plantas do cerrado também servem de hospedeiros para esta praga no período de entressafra, fornecendo alimentação e refúgio. O monitoramento constante da lavoura, desde a emergência, permite a correta identificação do momento de entrada da praga e também o melhor momento de fazer o seu controle. O monitoramento deve ser priorizado nas áreas onde se encontram maiores concentrações de plantas daninhas. O inseto possui grande mobilidade e se movimenta com rapidez quando há aproximação do monitor, por isso recomenda-se observar primeiramente os adultos e posteriormente as ninfas. Ainda são necessários estudos mais aprofundados quanto ao nível de controle correto, mas recomenda-se que quando encontradas 20% das plantas com presença de ninfas, se faça o controle. É recomendável também fazer a dessecação antecipada das áreas, eliminando totalmente as plantas hospedeiras, principalmente as “folhas largas”, antes da entrada da cultura da soja. Inseticidas do grupo dos piretróides ou organofosforados na dessecação também auxiliam no controle. No Brasil ainda não existem produtos registrados para o búfalo-da-soja. Os inseticidas utilizados para o controle de percevejos e outros sugadores possuem um bom efeito no controle deste inseto. Podem ser citados alguns princípios ativos que em testes a campo apresentaram mais de 80% de controle de adultos, como a cipermetrina, lambda-cialotrina, metamidofós, fipro-
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um inseto que possui aparelho bucal sugador, e quando adulto mede entre 6 e 7 mm de comprimento. Possui três pares de patas bem resistentes e que se prendem com eficiência nas plantas. As ninfas apresentam coloração marrom-esverdeada e se localizam geralmente na região do colo da planta, após eclodirem dos ovos colocados no solo. O tempo de incubação dos ovos é variável conforme a temperatura, ficando em torno de cinco a oito dias. Após a eclosão a ninfa passa por quatro instares, perfazendo a fase jovem em aproximadamente duas a três semanas. Os adultos alados migram para outros campos fazendo a postura. Quando adulto suas asas também servem de proteção, faz vôos curtos e tem hábito de saltar. É muito ágil e tem grande poder de disseminação para novas áreas. A ocorrência desta praga acontece de forma esporádica na soja, geralmente associada à presença de ervas daninhas que possibilitem sua reprodução. Estimase que se não controlado podem ocorrer de três a quatro gerações do inseto no ciclo da cultura.
nil, acefato e bifentrina. O controle dos adultos é mais fácil do que o das ninfas devido à maior facilidade de atingir o alvo, pois estas ficam localizadas no terço inferior das plantas, sendo necessária uma atenção especial à tecnologia de aplicação dos inseticidas. O controle deste inseto é facilmente solucionado quando identificado a tempo, por isso a necessidade de conhecer a biologia da praga, a fenologia da cultura e o correto monitoramento. Estes três aspectos são fatores decisivos para o sucesso no controle. C
Matheus Zanella, Reativa – Consultoria & Soluções
No monitoramento é recomendado observar-se primeiro os adultos devido à grande mobilidade e movimentação quando percebe a presença do monitor
O processo de correta identificação do búfaloda-soja está sendo feito em conjunto com a Embrapa Trigo, salienta Zanella
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Soja
Aplicação indevida A
tecnologia da soja transgênica, que permite o uso do glifosato em pósemergência da soja sem afetar a cultura, significou para os produtores a oportunidade de controlar as plantas daninhas de forma fácil, eficiente e com relativo baixo custo. Existem alguns casos em que o custo com herbicida foi reduzido em mais de 70%, viabilizando o cultivo da soja em alguns anos como em 2005. Para a comunidade científica, essa tecnologia apresentou-se como uma importante alternativa para incrementar o manejo das plantas daninhas, principalmente de espécies resistentes aos inibidores da ALS, como o leiteiro e o picão-preto resistentes a imazaquin, já que o glifosato possui mecanismo de ação diferente daqueles que vinham sendo utilizados para controlar as plantas daninhas seletivamente na cultura da soja. Dessa forma, a tecnologia da soja transgênica foi aceita e recomendada pela comunidade científica e adotada rapidamente pelos produtores. Entretanto, tanto os produtores como os técnicos foram surpreendidos com a rápida
seleção de espécies daninhas em resposta ao uso repetido do glifosato. Essa situação não foi prevista já que o modo de ação do glifosato é considerado de baixo risco para seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes e não houve monitoramento, devido à forma com que a tecnologia foi introduzida no mercado, ou seja, enquanto muitas lavouras eram conduzidas com soja transgênica no Rio Grande do Sul os órgãos de pesquisa aguardavam a liberação oficial para poder iniciar as pesquisas. Isso provocou dissonância entre a pesquisa e a realidade nas lavouras. Uma visão global indica que, apesar dos argumentos e da classificação do glifosato como um produto de baixo risco para seleção de espécies daninhas resistentes, hoje já existem 12 dessas espécies resistentes a esse herbicida no mundo, com oito delas identificadas nos últimos quatro anos. Dentre as espécies que adquiriam resistência ao glifosato, a buva (Conyza canadensis) apresenta grande importância em algumas regiões do mundo,
como nos Estados Unidos, onde o biótipo resistente ocorre em grande parte do chamado “cinturão do milho”, e também no Brasil, onde a resistência ao glifosato já foi confirmada tanto em populações de Conyza bonariensis como de Conyza canadensis. No Brasil o glifosato é utilizado há quase 30 anos pelos agricultores, principalmente no controle da vegetação para formação da palhada, indispensável para implantação do sistema plantio direto, e em pomares para controle da vegetação na linha das culturas. A tecnologia da soja resistente ao glifosato fez com que o uso desse herbicida fosse ampliado. Atualmente, são realizadas de duas a três aplicações de glifosato por ciclo da soja (uma antes da semeadura e uma ou duas após, na emergência da soja). Além disso, essa tecnologia permitiu reduzir ou eliminar a necessidade da aplicação de outros herbicidas, para o manejo de diferentes espécies de plantas daninhas o que contribui para o aumento da pressão de seleção e aparecimento de biótipos resistentes.
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Matheus Zanella
O uso in corr eto e rrepetitivo epetitivo ddo o glif osato tem seleci on ad o espéci es rresisten esisten tes ddee incorr correto glifosato selecion onad ado espécies esistentes o buva e azevém, e toler an tes com o leiteir o, corri ola, tr apoer aba plan tas ddaninhas aninhas plantas aninhas,, com como toleran antes como leiteiro, corriola, trapoer apoeraba e poai a. PPar ar en tar o pr oblem a, o pr od utor ddeve eve apostar n om an ejo pr even tivo poaia. araa enfr enfren entar problem oblema, prod odutor no man anejo preven eventivo
Leandro Vargas
Fotos Dirceu Gassen
A trapoeraba é outro caso de tolerância ao herbicida registrado em lavouras brasileiras A corriola é uma das quatro espécies tolerantes ao glifosato, identificada no Brasil
A seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes não é novidade e já aconteceu na agricultura do Rio Grande do Sul. Serve como exemplo de seleção de espécie tolerante o caso do herbicida metribuzin, muito usado na década de 80. Esse herbicida não apresenta controle satisfatório do leiteiro e selecionou o leiteiro nas lavouras onde era utilizado, de forma que a espécie foi, na década de 80, a principal planta daninha a ser combatida nas lavouras. O problema com o leiteiro foi resolvido quando foi lançado no mercado da soja uma nova molécula herbicida, chamada imazaquin. O produto foi então utilizado amplamente pelos produtores, sendo durante vários anos o principal herbicida usado em áreas cultivadas com soja. Entretanto, o uso repetido do imazaquin resultou, em meados da década de 90, no surgimento das primeiras espécies daninhas resistentes identificadas no Brasil, o leiteiro (Euphorbia heterophylla) e o picão-preto (Bidens pilosa). Além dessas espécies resistentes, o imazaquin também selecionou plantas tolerantes, como o balãozinho (Cardiospermum halicacabum). A experiência vivida com os herbicidas metribuzin e imazaquin apresenta características semelhantes ao que está acontecendo com o glifosato, ou seja, os aspectos sobre a dinâmica de populações das plantas daninhas e a possibilidade da seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes não foram considerados. A seleção de espécies daninhas resistentes inviabilizou o uso do imazaquin em diversas lavouras. Sabe-se que os herbicidas provocam mudanças no tipo e proporção de espécies de plantas daninhas que compõem a população da lavoura. Isso se explica pelo fato do herbicida não controlar igualmente as espécies existentes na área, com isso algumas acabam sendo beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência na área podem se tornar um grave problema para o produtor. Dessa forma, deve-se evitar o uso contínuo e repetido do mesmo herbicida, ou de herbicidas com mesmo mecanismo de ação,
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do contrário, a seleção de espécies resistentes e/ou tolerantes é inevitável e uma questão de tempo. O tempo para seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes varia de dois anos (caso dos herbicidas inibidores da ALS) a até mais de 20 anos (caso do glifosato), mas o importante é que vai acontecer. O número de plantas daninhas resistentes ao glifosato está aumentando rapidamente em áreas cultivadas com soja transgênica em países como os Estados Unidos. No Brasil, foram identificadas duas espécies resistentes (buva e azevém) e quatro tolerantes (leiteiro, corriola, trapoeraba e poaia) e a identificação de outras espécies dependerá do modo que o glifosato será utilizado nos próximos anos.
SITUAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL A soja transgênica está presente em praticamente toda a área cultivada com soja no Rio Grande do Sul. O glifosato é usado de forma repetida (antes da semeadura e na pós-emergência da soja) e, com raras exceções, como único produto e método de controle, impondo grande pressão de seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes. O resultado é evidente em diversas lavouras havendo seleção das plantas daninhas tolerantes como a corda-de-
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viola (Ipomoea sp.), o leiteiro (Euphorbia heterophylla), a poaia-branca (Richardia brasiliensis) e a trapoeraba (Commelina sp.), e seleção de espécies resistentes como o azevém e a buva. A Embrapa Trigo, a Fundacep e a Universidade de Passo Fundo estão monitorando os casos de resistência e tolerância que ocorrem no Rio Grande do Sul. Na safra de soja de 2006/2007 foram avaliados na Embrapa Trigo 39 casos de suspeita de resistência, sendo 19 casos de suspeita de resistência em leiteiro, cinco casos de suspeita em buva e 15 casos de suspeita em azevém. Todas as amostras (casos) de azevém e de buva foram positivas para resistência, ou seja, as amostras enviadas para teste eram de plantas resistentes ao glifosato. Já os testes com leiteiro foram todos negativos, indicando que os casos avaliados se tratavam de falhas de controle e não-resistência. O impacto da seleção de espécies está, principalmente, no custo de produção, já que o produtor terá que utilizar outros herbicidas na área, normalmente com custo superior ao do glifosato e com menor eficiência, resultando em maior gasto com herbicida, menor controle e perdas na produção. Assim, o produtor que desejar usar a tecnologia da soja transgênica por maior tempo deverá adotar medidas de prevenção e controle de plantas daninhas tolerantes e resistentes.
O QUE FAZER? A maior motivação para adoção de práticas de prevenção e manejo da resistência por parte do produtor resulta da resposta da pergunta: na impossibilidade de uso do glifosato qual herbicida será utilizado? Seja qual for a resposta, o certo é que será um herbicida menos eficiente, com maior custo e maior impacto ambiental. A decisão está nas “mãos” do produtor, já que a assistência técnica não impõe qual pro-
Reges Echer
O picão-preto está entre as primeiras espécies daninhas resistentes registradas no Brasil, na década de 90, devido ao uso repetido do imazaquin
duto deve ser usado na lavoura, apenas apresenta alternativas de manejo para que o produtor decida levando em consideração as suas preferências. Contudo, é importante salientar que para evitar o agravamento da seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes, e prolongar o tempo de utilização eficiente da tecnologia das culturas resistentes ao glifosato, o produtor deve adotar medidas de manejo para prevenir a seleção de espécies resistentes e/ou tolerantes, pois o custo para combater é maior. Dentre várias práticas de manejo as principais indicadas são: a) Não usar mais do que duas vezes herbicidas com o mesmo mecanismo de ação na mesma área. Em casos onde a seleção de espécies resistentes e/ou tolerantes ocorrer, deve ser implantado um sistema de rotação de mecanismos de ação herbicida, eficazes sobre as espécies problema; b) Monitorar e destruir plantas suspeitas de resistência. Após a aplicação do herbicida as plantas que sobreviverem devem ser arrancadas, capinadas, roçadas, ou seja, controladas de alguma forma evitando que essas plantas produzam sementes e se disseminem na área; c) Fazer rotação de culturas. A rotação de culturas oportuniza a utilização de um número maior de mecanismos de ação herbicidas.
MANEJO E CONTROLE DE AZEVÉM No caso do azevém, o trânsito de animais e o comércio de sementes são considerados os principais fatores que favorecem a dispersão a longas distâncias. São muitos os casos de falhas no controle antes da semeadura do milho e da soja. O controle dos biótipos de azevém resistentes ao glifosato, de forma geral, é obtido com uso dos herbicidas graminicidas “fops” e “dims” (Tabela 1). Na cultura do milho, as triazinas e o nicosulfuron, entre outros, são boas alternativas de controle do azevém. É importante o planejamento do controle antes da semeadura (15 a 20 dias antes da semeadura da soja) de forma a permitir o controle do azevém em tempo suficiente para
A buva e o azevém são as duas espécies infestantes identificadas como resistentes ao glifosato em lavouras brasileiras
evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia sobre a cultura. Além disso, em caso de uso de graminicidas, deve-se levar em consideração que alguns deles possuem efeito residual e podem afetar culturas como o milho, o trigo e a cevada.
MANEJO E CONTROLE DE BUVA Nos últimos três ciclos agrícolas da soja (2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007) observaram-se a ocorrência e a disseminação da buva resistente ao glifosato em diversas lavouras de soja, principalmente nas regiões de Tupanciretã e Cruz Alta (RS). As recomendações de manejo são no sentido de evitar que os biótipos resistentes produzam sementes. A buva é uma espécie anual e uma planta chega a produzir mais de 200 mil sementes. O controle manual, aplicações localizadas de herbicidas e a instalação de culturas para cobertura do solo no inverno são algumas alternativas. A pesquisa evidencia que o controle dos biótipos resistentes é mais eficiente quando realizado durante o inverno, já que a buva é mais sensível aos herbicidas em estádios iniciais de desenvolvimento. Na Tabela 2 constam herbicidas utilizados para controle de buva no inverno, na dessecação pré-semeadura e na pós-emergência. Vale salientar que o herbicida metsulfuron-metill apresenta residual no solo que deve ser considerado antes da semeadura de culturas sucessivas. A recomendação é que esse herbicida seja aplicado 60 dias antes da semeadura do milho ou da soja. Na dessecação, pré-semeadura do milho ou da soja, geralmente as plantas de buva estão em estádios avançados de desenvolvimento e apresentam maior tolerância aos herbicidas. Nesse caso, o controle eficiente da buva tem sido obtido com 2,4-D (1,5 a 2,0 l/ha de produto comercial) e
clorimuron (60 a 80 g/ha de produto comercial) associados ao glifosato (3 l/ha de produto comercial formulação 36% de equivalente ácido) (Tabela 2). As aplicações seqüenciais têm apresentado excelentes resultados. Nesse caso, o glifosato associado ao 2,4 D ou ao clorimuron é aplicado 15 a 20 dias antes da segunda aplicação. A segunda aplicação, utilizando-se paraquat (2,0 l/ha de produto comercial) ou paraquat + diuron (1,5 a 2,0 l/ha de produto comercial), deverá ser realizada um a dois dias antes da semeadura (Tabela 2). Aplicação seqüencial de glufosinato, paraquat ou de paraquat + diuron também apresenta alta eficiência . O uso de herbicidas pré-emergentes, como o sulfentrazone e o diclosulam, é alternativa eficiente para manejo das plantas daninhas. Esses herbicidas quando utilizados na préemergência da soja (semear/aplicar e aplicar/ semear) de forma geral apresentam controle eficiente das espécies tolerantes e/ou resistentes ao glifosato provenientes do banco de seC mentes do solo . Leandro Vargas, Embrapa Trigo Mario Antônio Bianchi, Fundacep/Fecotrigo Mauro Rizzardi, UPF Tabela 1 - Herbicidas graminicidas e não-seletivos que controlam azevém resistente e sensível ao glifosato Grupo químico Mecanismo de ação Ingrediente ativo HEBICIDAS GRAMINICIDAS AriloxifenoxiInibidores da ACCase Fluazifop-p propionatos (fop’s) Haloxyfop-r Propaquizafop Fenoxaprop Diclofop Ciclohexanodionas Clethodim (dim’s) Sethoxydim HEBICIDAS NÃO SELETIVOS Inibidores do FS I Bipiridílios Paraquat Inibidores da GS Ácido fosfínico Amônio-glufosinato
Tabela 2 - Herbicidas que controlam buva resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de ação
Grupo químico Ingrediente ativo CONTROLE NO INVERNO Inibidor da ALS Sulfoniluréia Iodosulfuron - metil Metsulfuron - metill 2,4-D Mimetizador de auxinas Ácido fenoxiacético NA DESSECAÇÃO PRÉ-SEMEADURA Inibidores do FS I Bipiridílios Paraquat Paraquat + diuron Inibidores da GS Ácido fosfínico Amônio-glufosinato Mimetizador de auxinas Ácido fenoxiacético 2,4-D Inibidor da ALS Sulfoniluréia Clorimuron-etill NA PÓS-EMERGÊNCIA DA SOJA Inibidor da ALS Sulfoniluréia Clorimuron-etill Aplicar associado ao glifosato
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Lucia M. Vivan
Soja
Infestação crescente Cultivos inten tensivos Cultivos in inten tensivos sivos ee ooferta oferta ferta constante constante de de alimento alimento são são os os prin principais motivos para principais cipais m motivos otivos par paraa oo cr crescim escimen ento crescim escimen ento to dda daa população população ee mi grações mosca-br osca-bran anca, migr ca, grações ações dda daa m mosca-br osca-bran anca, migr con statados nas últimas safras constatad constatad statados os n nas as últim últimas as safr safras as prin ente naaa cultur cultura principalm cipalmen cipalmen ente n cultura ddaaa principalm soja. soja. AA limitação limitação da da época época de de plan oo dde planti tio hosped ospedeir eiras planti dee h hosped ospedeir eiras as ee manejo manejo com com inseticidas inseticidas que que con contr trolem praga nos contr trolem olem aa pr praga aga n nos os difer diferen entes estágios ciclo diferen entes tes estági estágios os ddo doo ci ciclo clo gar garan antem edução garan antem tem rred red edução ução ddos dos os ataques ataques
A
ocorrência e os danos causados pela mosca-branca na cultura da soja têm sido freqüentes, tanto na época normal de plantio como também em áreas sob pivot central. As principais razões deste aumento, estão associadas aos cultivos seqüenciais de culturas hospedeiras da mosca-branca e também por uma estratégia de controle químico, com foco na eliminação apenas de adultos. Na cultura da soja, a mosca-branca causa danos diretos pela sucção da seiva provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. Durante a alimentação, a mosca-branca excreta substâncias açucaradas que cobrem as folhas, resultando no estabelecimento de um fungo sobre o substrato e na formação da fumagina. O escurecimento da superfície foliar reduz o pro-
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cesso de fotossíntese, causa a murcha e queda das folhas, antecipando o ciclo da cultura. Dependendo do nível populacional, o ciclo da cultura pode ser antecipado em até 20 dias. Todo este processo tem resultado em perdas de rendimento. Os danos indiretos são observados pela transmissão do vírus cujo sintoma é a necrose da haste. Dependendo do nível populacional da mosca-branca, as perdas de produção podem atingir 100%. Esta mesma porcentagem de perda, pode ocorrer em cultivares de soja, que sejam suscetíveis à necrose da haste.
DINÂMICA POPULACIONAL Na região Centro-Oeste, o sistema produtivo é composto de diversas culturas com a soja, tomate, algodão feijão, milho, sorgo e trigo. Excetuando as gramíneas, as demais culturas são hospedei-
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ras da mosca-branca. As épocas de plantio das culturas e a dinâmica populacional da mosca-branca podem ser visualizadas de forma esquemática na figura 1. Com o cultivo intensivo das culturas e a oferta constante de alimentos, a população da mosca-branca se mantém em elevado nível populacional, causando danos diretos e indiretos. Esta alta densidade populacional da mosca-branca, nas diferentes épocas de cultivo tem sido a responsável pela infestação desde a fase inicial de desenvolvimento da cultura. As condições climáticas são fatores que influenciam no desenvolvimento populacional da mosca-branca. Em períodos de estiagem, o crescimento populacional pode ser acelerado, atingindo níveis que causam danos consideráveis na produção. Em condições de ocorrência de chuvas intermitentes, o crescimento po-
Figura 1 Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
HISTÓRICO DA MOSCA
N
Legendas Soja (1) – plantio de soja sob pivot Soja (2) – plantio de soja – safra normal Soja (3) – plantio de soja sob pivot (vazio fitossanitário em alguns estados) Algodão (1) – Época normal Algodão (2) – Época de plantio em algumas regiões Tomate industrial – plantio de fevereiro a junho Feijão (1) – Safra das “águas” Feijão (2) – Safra da “seca” Feijão (3) – Safra de “inverno”
reiro/março, época em que a cultura do feijoeiro sofria as maiores perdas devido à transmissão do mosaico dourado. Com a irrigação por pivot central, houve uma ampliação nas épocas de plantio das culturas. Mais recentemente temse constatado o plantio da soja em outubro/novembro (época normal), abril/maio para a produção de sementes e em setembro sob irrigação para a produção de grãos. Quando a lavoura de soja entra na fase de maturação, a população da mosca-
Massaru Yokoyama
pulacional da mosca-branca pode ser menor, devido à temperatura mais amena e em conseqüência pelo alongamento do ciclo de vida do inseto. Durante o ano, em condições de altas temperaturas, é possível a ocorrência de 11 a 15 gerações de mosca-branca. Antes da irrigação por pivot central, o plantio das culturas era realizado principalmente no período das chuvas (outubro/novembro) e em segunda safra denominada de safrinha, em janeiro e fevereiro. A colheita encerrava-se nos meses de abril e maio. Entre os meses de maio a outubro, período sem precipitação e cultivo das culturas, verificava-se a redução da população da mosca-branca pela falta de plantas hospedeiras para o seu desenvolvimento. Na implantação da nova safra em outubro, o nível populacional inicial da mosca-branca era baixo. Esta população atingia níveis elevados em feve-
o Brasil a mosca-branca (Bemisia tabaci) Gennadius, 1889 é conhecida desde 1923, em plantas daninhas e cultivadas, sendo considerada importante vetor de vírus, como o mosaico dourado do feijoeiro. A sua presença foi relatada em lavouras de algodão, em 1968, no norte do Paraná. A partir de 1972/73, devido a condições favoráveis e à grande expansão da cultura da soja, surgiram elevadas populações de mosca-branca no norte do Paraná e sul de São Paulo, além de outras regiões do país (Faria 1988). Na década de 80, um novo biótipo, caracterizado por ter diversas plantas hospedeiras e principalmente por sua estreita associação com planta ornamental poinsetia “bico de papagaio” (Euphorbia pulcherrima) Wild, adquiriu enorme importância nos EUA, Caribe e América Central. A partir de 1986, este
Com altas temperaturas, em um mesmo ano, é possível a ocorrência de 11 a 15 gerações de mosca-branca
biótipo foi observado causando danos em estufas de produção de poinsetia na Flórida. Após detalhados estudos biológicos e caracterização eletroforética, conclui-se pela existência de uma nova espécie, então denominada de Bemisia argentifolii (Bellows & Perring, 1994). Atualmente, esta espécie tem sido denominada de Bemisia tabaci biótipo B. No verão de 1990/1, no estado de São Paulo, detectou-se a presença, em altas populações de um novo biótipo da mosca-branca, possivelmente introduzido da Europa ou Estados Unidos, pela importação de plantas ornamentais. Atualmente esta espécie encontra-se disseminada em quase todos os estados do Brasil. O ataque da moscabranca, causando prejuízos na cultura da soja, tem sido relatado desde 1995/ 6 nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. branca desenvolvida em cada época de plantio, começa o processo de migração, buscando novas alternativas de plantas hospedeiras, colonizando outras culturas em desenvolvimento. A coincidência entre as colheitas de soja, feijão e tomate com o início de desenvolvimento da soja, propicia uma condição inicial de um novo ciclo da cultura com alta população de mosca-branca.
MANEJO Diversas práticas podem ser utilizadas visando o controle da mosca-branca. Entre as medidas de maior efetividade estão a limitação das épocas de plantio, eliminação de plantas voluntárias (tigüera)/restos culturais e de plantas daninhas, visando impedir a manutenção da população da praga. A limitação da época de plantio, visa reduzir a oferta de alimentos para o inseto. Com esta prática existe maior flexibilidade quanto à implantação de novos plantios, após o encerramento da colheita das culturas antecedentes. Na prática o cultivo intensivo propicia a sobreposição de culturas em diferentes estágios de desenvolvimento principalmente entre a fase de maturação com a fase de implantação de uma nova cultura, onde a mosca-branca migra das culturas em fase de colheita para as em início de desenvolvimento.
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Fotos Massaru Yokoyama
tretanto, poucos deles têm se mostrado eficientes. Em testes realizados em condições controladas, diversos princípios ativos do grupo dos organofosforados, piretróides, carbamatos, foram eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça A, mas ineficientes para a B. tabaci raça B. Atualmente, os inseticidas do grupo dos neonicotinóides têm sido eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça B. Os princípios ativos thiamethoxan, acetamiprid e imidacloprid foram os mais eficientes no controle de adultos da mosca-branca B. tabaci raça B. O inseticida pyriproxyfen, análogo do hormônio juvenil, afeta o balanço hormonal dos insetos causando a supressão da embriogenesis quando o adulto ou o ovo é tratado e, a formação dos adultos, quando as larvas são expostas ao produto. Possui um espectro mais amplo de controle da mosca-branca, atuando sobre ovos e ninfas. Este produto exibe atividade translaminar, pois no tratamento da superfície foliar, os ovos e as ninfas presentes na face inferior, são afetados. No estabelecimento de uma lavoura de soja sob pivot ou da época normal, com possibilidade de ser infestada pela mosca-branca proveniente de outras culturas em fase de colheita, recomenda-se como medida preventiva o tratamento de sementes. Com o controle de adultos, haverá uma redução na postura de ovos e na população de ninfas. Em cultura de soja estabelecida com alta infestação de mosca-branca, recomenda-se o controle químico com inseticida de ação sobre ovos e ninfas, complementado com a aplicação de adulticidas, visando a quebra do ciclo da praga na lavoura. As aplicações, visando somente o controle de adultos, têm resultado em pulverizações seqüenciais, com elevação dos custos de produção, sem o efeito desejado na C eliminação da mosca-branca. A eliminação de restos culturais deve ser uma prática imediata à colheita. Eliminando-se os restos culturais seja por método químico ou físico, elimina-se a mosca-branca, evitando a migração e infestação de cultivos subseqüentes. No processo da colheita da soja, existe a perda de grãos que irá promover a emergência de plantas. Estas plantas voluntárias (tigüera), poderão ser uma fonte permanente de manutenção da população da mosca-branca. A eliminação das plantas voluntárias, reduz a oferta de alimentos e a multiplicação da mosca neste ambiente. Em propriedades que adotam o sistema de plantio direto, recomenda-se a rea-
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lização de amostragens em plantas daninhas, visando determinar o nível populacional da mosca-branca. Detectando-se a ocorrência de altas populações de moscabranca, o produtor poderá tomar medidas preventivas como a realização da dessecação, deixando a área em pousio (duas semanas), antes da semeadura. Em caso de semeadura imediata após a dessecação das plantas daninhas, recomenda-se a aplicação de um inseticida na área de plantio para o controle de adultos da mosca-branca, antes da emergência das plantas. O principal método de controle da mosca-branca continua sendo o químico. Diversos princípios ativos estão registrados para o controle da mosca-branca, en-
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Massaru Yokoyama, Embrapa Arroz e Feijão
Fumagina, fungo que se estabelece sobre as folhas devido a uma excreção açucarada, liberada pela mosca durante sua alimentação
Cana-de-açúcar
Pequenas doses, grande incremento Mesm o rrequeri equeri dos em pequen as qu an ti dad es cr on utri en tes são essen ci ais n os esmo equerid pequenas quan anti tid ades es,, os mi micr cron onutri utrien entes essenci ciais nos diversos pr ocessos enzimáti cos ddaa can a-d e-açúcar eta iid den tifi cação ddos os sin tom as e-açúcar.. A corr correta entifi tificação sintom tomas processos enzimáticos cana-d a-de-açúcar de ddefi efi ciên ci en to gar an te in cr em en tos n od utivi dad eficiên ciênci ciaa e suprim suprimen ento garan ante incr crem emen entos naa pr prod odutivi utivid adee ddaa lavour lavouraa
Case IH
A
cultura da cana-de-açúcar é uma das principais culturas do Brasil e atualmente, está num dos seus melhores momentos. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e álcool do mundo e há uma forte tendência de aumento na área cultivada, na produção de cana, açúcar e álcool combustível nos próxi-
mos anos. Nas últimas décadas, a produtividade agrícola da cana teve aumentos crescentes devido principalmente ao desenvolvimento de novas variedades cada vez mais produtivas e resistentes a pragas e doenças, manejo adequado do solo e uso racional de condicionadores de solo e fertilizantes, dentre os quais
aqueles que fornecem os micronutrientes. Os micronutrientes são os nutrientes requeridos em pequenas quantidades pela cana-de-açúcar. A quantidade destes, absorvidos pela cana, é influenciada por uma série de fatores, dentre os quais, variedade, idade da planta e tipo de solo. Os mais absorvidos e ex-
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Fotos Cultivar
liação da disponibilidade dos micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar destacando-se a análise de solo, análise foliar, diagnose visual e histórico da área. O fornecimento de micronutrientes vai depender do tipo de cana: cana-planta ou cana-soca. A aplicação dos micronutrientes em cana-planta pode ser realizada de quatro formas: • Adubação no plantio: são aplicados no sulco de plantio com os fertilizantes fosfatados. De maneira geral, as fontes de micronutrientes são os oxisulfatos que apresentam solubilidade
Zinco (Zn) e boro (B) são os micronutrientes mais deficientes na maioria das condições de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil
portados pela cana em ordem decrescente são o ferro, manganês e o zinco. Estes elementos têm um papel fundamental no desenvolvimento e na produtividade da cana-de-açúcar e atuam nos mais diversos processos enzimáticos das plantas, conforme Tabela 2. Os micronutrientes apresentam baixa mobilidade nas plantas, exceto o molibdênio (Mo). Como conseqüência desta característica, os sintomas de deficiência dos micronutrientes ocorrem nos órgãos mais novos da cana, exceto o Mo (Tabela 3). De maneira geral, os micronutrientes mais deficientes na maioria das condições de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil são o zinco (Zn) e o boro (B). Já as deficiências de cobre (Cu) e manganês (Mn) são localizadas em determinadas regiões do Brasil. A deficiência do Zn ocorre em solos com baixo teor do nutriente e pode ser agravada em solos com pH acima da faixa adequada para a cultura da cana. Além disso, adubações pesadas com fósforo (P) podem induzir a deficiência de Zn. Há uma tendência do aumento na deficiência de Zn com a expansão da cultura para solos de baixa fertilidade natural. A maioria dos solos cultivados com cana apresenta baixos teores de B e a sua deficiência ocorre principalmente em solos com baixo teor de matéria orgânica, regiões com chuvas concentradas em determinada época do ano associada a solos de textura média a arenosa proporcionando lixiviação do nutriente. Diversas pesquisas têm evidenci-
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ado a resposta da cana a aplicação do B no solo e em aplicações foliares com aumentos da ordem de 18% na produtividade da cultura. A deficiência de cobre é generalizada nos tabuleiros costeiros do Nordeste, Norte Fluminense, Espírito Santo e Vale do Paranapanema, no estado de São Paulo. No Nordeste Brasileiro é usual o fornecimento de cobre na cultura da cana. Nas regiões tradicionais de cultivo com cana, a deficiência de Mn é insignificante. Entretanto, com a expansão da cultura para solos de baixa fertilidade natural e para o Cerrado Brasileiro provavelmente, ocorrerá aumento da deficiência de Mn em cana. Estes solos apresentam baixos teores de Mn e muitas vezes, a calagem diminui a disponibilidade deste micronutriente para a cana-de-açúcar. A deficiência de ferro (Fe) em canade-açúcar no Brasil é insignificante. Os solos cultivados com cana apresentam teores adequados de Fe. Eventualmente, pode ocorrer deficiência de Fe em solos com baixo teor do nutriente e com pH próximo a faixa alcalina. Atualmente, não existe metodologia de análise de solo para o Mo. Para o fornecimento do Mo, levar em consideração as características do solo que predispõem a cana à deficiência do nutriente: solos de textura média a arenosa, solos ligeiramente ácidos e cultivados a vários anos e uso recente de gesso agrícola. Existem diversas ferramentas que podem e devem ser utilizadas para a ava-
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variável em água. • Adubação de cobertura: os micronutrientes são aplicados com os fertilizantes nitrogendados. De forma similar à adubação no plantio, são utilizados os oxi-sulfatos. • Via tolete: é uma das formas mais eficientes para o fornecimento à cultura da cana. Os micronutrientes são adicionados na calda com os inseticidas e esta solução é pulverizada sobre o tolete no momento do plantio (cobrição das mudas). As fontes de micronutrientes (sais solúveis) são totalmente solúveis em água. Os benefícios desta prática são a distribuição homogênea dos micronutrientes, proporcionando uma resposta
Tabela 1 - Quantidades de micronutrientes absorvidos e exportados pela parte aérea da cana-planta e canasoca para a produção de 100 t de colmos Micronutriente
Colmos
Boro Cobre Ferro Manganês Zinco
195 194 2.378 1.188 440
Cana-planta Folhas Colmos+folhas Colmos g/100 t colmos 116 311 102 93 287 273 6.512 8.890 1.207 1.651 2.838 916 282 722 298
Cana-soca Folhas
Colmos+folhas
55 116 4.538 1.189 163
157 389 5.745 2.105 561
Fonte: Orlando Filho, 1993
Tabela 2 - Principais funções dos micronutrientes na cana-de-açúcar Micronutrientes Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo) Zinco (Zn)
Funções Translocação de açúcares, síntese de proteínas, divisão celular e formação da semente e da parede celular Não faz parte de nenhum composto orgânico. Fundamental na fotossíntese (fotólise da água) Ativador enzimático (polifenoloxidase, fenolase e a oxidade do ácido ascórbico). Maior resistência das plantas às doenças fungicas Ativador enzimático (catalase, peroxidade, nitrogenase, redutase do nitrato) Participação na fotossíntese (síntese de clorofila) Ativador enzimático (desidrogenases, descarboxilases, ATPases) Participação na fotossíntese (síntese de clorofila), síntese de proteínas e multiplicação celular Metabolismo do nitrogênio Fixação biológica do nitrogênio Crescimento das plantas (síntese do triptofano, que é o precursor do ácido indol acético (AIA)
Tabela 3 - Principais sintomas de deficiência de micronutrientes em cana-de-açúcar Micronutrientes Boro (B) Cloro (Cl) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Molibdênio (Mo) Zinco (Zn)
Sintomas de deficiência Folhas novas ficam torcidas com lesões translúcidas ou em forma de “sacos de água” entre as nervuras; folhas quebradiças e as folhas do cartucho podem ficar cloróticas Folhas imaturas ficam cloróticas e murchas, porém sem manchas necróticas e em dias quentes e ensolarados, as folhas murcham Folhas imaturas tornam-se cloróticas e murchas, porém sem manchas necróticas. Pode ocorre despigmentação das folhas tornando-as finas como papel Clorose internerval (reticulado fino sobre fundo amarelo) em folhas novas, formando estrias paralelas longitudinais em toda a superfície da lâmina foliar Folhas novas com variados graus de clorose internerval. O sintoma é similar ao do ferro com a diferença que a clorose ocorre do meio para a ponta das lâminas foliares Folhas mais velhas com estrias cloróticas longitudinais iniciando no terço apical da folha. Pode ocorrer secamento prematura das folhas do meio para as pontas Folhas novas com estrias cloróticas na lâmina foliar formando uma faixa larga no tecido clorótico de cada lado da nervura central; folhas curtas e largas na parte média e assimétricas e internódios curtos. Em deficiência severa, ocorre necrose na ponta das folhas
Fonte: Anderson & Bowen, 1992 e Orlando Filho et. al., 2001
mais rápida e homogênea da cana e redução do custo de aplicação, pois aproveita uma operação (aplicação dos inseticidas). • Adubação foliar: realizar a aplicação dos micronutrientes quando as brotações da cana estiverem com 60 a 70 cm de comprimento. A aplicação dos micronutrientes em cana-soca pode ser realizada de três formas: • Adubação de solo: os micronutrientes são aplicados com os fertilizantes nitrogenados. De forma similar a adubação no plantio, são utilizadas os oxi-
sulfatos. • Adubação foliar: realizar a aplicação dos micronutrientes quando as brotações da cana estiverem com 60 a 70 cm de comprimento. • Via herbicida: os micronutrientes podem ser adicionados à calda de pulverização dos herbicidas e aplicados logo após o corte da cana. A dosagem dos micronutrientes em cana-planta e em cana-soca depende do teor do nutriente no solo e a forma de aplicação é função no tipo de manejo C da cultura. Renato Passos Brandão, Bio Soja
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Empresas Julio Gasparotto Markus
Bactérias preservadas
Na in oculação ddee sem en tes par ação ddee inoculação semen entes paraa a fix fixação en te essen ci al par an tir nitr ogêni o (N), compon nitrogêni ogênio componen ente essenci cial paraa gar garan antir o su cesso ddaa pr od ução ddee soja, a co-apli cação ddee sucesso prod odução co-aplicação fun gi ci das é práti ca usu al. N o en tan to, é pr eciso fungi gici cid prática usual. No entan tanto, preciso o prin cípi o ativo to n or estar aten princípi cípio oraa ddaa escolha ddo atento naa h hor as as fix ad or par od uto não afete as bactéri fixad ador oras prod oduto bactérias paraa que o pr ologi eg o ddaa tecn de N e compr om eta o empr ego tecnologi ologiaa comprom ometa empreg
A
soja assume relevância econômica e social no agronegócio brasileiro. Entretanto, para que possa atingir os rendimentos esperados, requer, além de adequados tratos culturais, consideráveis quantidades de nitrogênio (N), sendo este um dos componentes críticos do processo de produção dessa cultura. As necessidades dessa cultura, para produzir 1 mil kg/ha de grãos é de 80 kg/ha de N, demanda essa, que pode ser suprida a partir de diferentes fontes, sendo a principal associada à capacidade da mesma em fixar o N atmosférico, processo estabelecido entre a planta e a bactéria, conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN). Para suprir a demanda de N requerida pela soja, em condições de solo deficiente em N, sem, entretanto, elevar os custos de produção, faz-se necessário a inoculação de sementes ou do solo, com estirpes específicas de bactérias fixadoras de N. O sucesso dessa tecnologia está associado ao adequado estabelecimento da simbiose entre a planta e a bactéria, ação esta, resultante, entre outros fatores, de inoculantes de elevada qualidade. Com o intuito de aumentar o desempe-
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nho da cultura da soja pela fixação biológica de nitrogênio, a pesquisa tem colocado a disposição da agricultura tecnologias que vão, desde o melhoramento do potencial genético das plantas até a seleção de estirpes mais eficientes e mais competitivas. A ação conjugada desses fatores tem mostrado aumentos consideráveis no rendimento de grãos dessa cultu-
ra, chegando a 6 mil kg/ha, tendo potencial genético para atingir até 8 mil kg/ha (Hungria & Campos, 2006) Portanto, o desenvolvimento de técnicas, que visem maximizar o potencial fixador do N atmosférico por essa cultura, constitui constantemente tema para a pesquisa. Para que a cultura da soja expresse todo
A qualidade do inoculante utilizado garante o sucesso do tratamento com uma simbiose perfeita entre a planta e a bactéria
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Fotos Dirceu Gassen
seu potencial genético, um conjunto de medidas é necessário. Entre essas medidas, a escolha do inoculante assume relevância, conjuntamente, ao manejo de solo, à rotação de culturas, à escolha da semente e ao manejo integrado de pragas, entre outros. Vários são os fatores que promovem estresse às células bacterianas. Condições como o excesso de umidade e de acidez, deficiência de nutrientes e teores elevados de nitrogênio no solo, bem como estresse de planta, por seca prolongada e por fatores bióticos como, por exemplo, as doenças, causadas por fungos, bactérias e vírus etc., inibem o processo de formação de nódulos e, conseqüentemente, a fixação biológica de N. Entre os fatores, destacam-se a qualidade do suporte/substrato, utilizados para veicular as células de rizóbios, os quais influenciam diretamente na qualidade do produto, o inoculante. Propriedade essa, fundamental, de um bom inoculante, pois ele deve manter as células viáveis durante o período de armazenamento e após a sua aplicação à semente e ao solo. Dentre algumas características importantes para um inoculante, incluem-se, ser de fácil manipulação e aplicação, custo acessível, possuir padrões requeridos pela legislação vigente no país e não possuir toxicidade às células de rizóbios. Entre outras propriedades requeridas para os inoculantes, é que o substrato/veículo proporcione proteção às células bacterianas quan-
Detalhe da fixação biológica de nitrogênio. Bactérias do gênero Bradyrhizobium, em contato com as raízes da soja, infectam-as formando os nódulos
do essas estiverem em contato com produtos fitossanitário para tratamento de sementes e, a outros produtos que possam vir a afetar a sobrevivência celular. A inoculação de sementes associada à co-aplicação de fungicidas, inseticidas e micronutrientes, é prática usual na agricultura atual, o que poderá, inibir à atividade dos rizóbios e, conseqüentemente, reduzir a nodulação e a fixação biológica do N (Campos & Hungria, 2000). Contudo, não usar fungicida, talvez seja, uma decisão de risco. Estudos têm mostrado que muitos fungi-
cidas proporcionam a morte de até 100% das células bacterianas, em apenas 2 a 3 horas após a co-aplicação desses junto à inoculação. Isso acontece em decorrência das características físico-químicas dos ingredientes empregados em algumas formulações de fungicidas. Entretanto, alguns fungicidas apresentam baixa toxicidade e outras não afetam a sobrevivência dos Bradyrhizobium. (Campos & Hungria, 2000). Resultados recentes de pesquisa mostraram que, os princípios ativos fludioxonil + metalaxyl-m, tanto em condições de laboratório quanto de casa-de-vegetação, não afetam a nodulação, nem tão pouco, a fixação biológica de N. Os micronutrientes, Co e Mo, são moléculas indispensáveis para a eficácia da FBN. Podendo, esses micronutrientes afetarem, consideravelmente, o número de células de Bradyrhizobium. Para minimizar danos causados por determinados fungicidas e/ou micronutrientes sobre os rizóbios e, conseqüentemente, frustrações de lavoura devidas a ineficiente disponibilização de N e/ou perdas pela ausência de tratamento fitossanitário de sementes, certas medidas requerem atenção. É primordial, para o sucesso da lavoura, a aquisição de sementes certificadas ou fiscalizadas por laboratórios de sementes oficiais ou particulares, com dados relativos ao potencial de germinação, à pureza física, à pureza varietal e, fundamentalmente, à qualidade sanitária e sobretudo, atenção no processo de aplicação do inoculante e acerte na seletividade utilizando o fungicida mais seguro às bactérias fixadoras de N contidas no inoculante. C
Norimar D´Avila Denardin, Universidade de Passo Fundo
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