Cultivar Grandes Culturas • Ano X • Nº 107 • Abril 2008 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas Capas
Vag en ad as .......... ............ ........22 agen enss arruin arruinad adas as.......... ...................... ....................22
Charles Echer
Rogério Inoue
Com o barr ar a an tr acn ose em soja, ddoença oença que tem a capaci dad om Como barrar antr tracn acnose capacid adee ddee compr comprom omeeter a, qu an do en con tr dições ffavoráveis avoráveis ao seu ddesenvolvim esenvolvim en to lavoura, quan and encon contr traa con condições esenvolvimen ento até 100% ddaa lavour
Men os ar di dos ..........................09 Tri go limpo.............................17 Na h or enos ardi did os..........................09 rig hor oraa certa...........................32 Impactos da aplicação de fungicidas obilurin as n ed ução tri azóis e estr triazóis estrobilurin obilurinas naa rred edução de grãos ar di dos ardi did
Rotação ddee cultur as con esistên ci culturas contr traa rresistên esistênci ciaa tr e tolerância de plantas daninhas à aplicação de herbicidas
Índice
A influência da umidade o ar n cação relativa ddo naa apli aplicação de herbicidas
Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton
Dir etas Diretas Efeito de fungicidas em milho
06 09
aninhas em milh o 14 ci tas ddaninhas milho olerânci ciaa x resistên esistênci ciaa ddee plan plantas Tolerân ci
RED AÇÃO REDAÇÃO
CIRCULAÇÃO
• Editor
• Ger en te Geren ente
Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo
Cibele Oliveir Oliveiraa ddaa Costa
• Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Janice Ebel • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
• A ssin atur as Assin ssinatur aturas
Simone Lopes
Cristiano Ceia
Infestação de plantas daninhas em trigo
17
• Revisão
Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
Coletiva Bayer
20
COMERCIAL Ped edrro Batistin
Con tr ole ddee an tr acn ose em soja Contr trole antr tracn acnose
22
Ácar o ddas as ddomáci omáci as em café Ácaro omácias
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Nematóides em algodão
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Influên ci o ar n cação ddee ddefen efen sivos Influênci ciaa ddo naa apli aplicação efensivos
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Coluna Andav
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Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios
37
Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola
38
Sed eli Feijó Sedeli
• Expedição
Di anferson Alves Dianferson
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Dupont A Dupont levou à Expodireto Cotrijal sua linha de produtos para manejo de doenças da soja, com foco no Aproach Prima, fungicida à base de triazol + estrobilurina, que “traz mais segurança e proteção na aplicação”, garante Altair Bizzi, coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Dupont. A empresa também deu enfoque para tecnologia de aplicação, como forma de aumentar ainda mais a eficiência dos produtos.
Nidera Luís Antonio Keplin, gerente de Desenvolvimento de Produto da Nidera, destacou na Expodireto novos híbridos, além das variedades de girassol Paraíso 20 e 33 e do sorgo branco, exclusividade da empresa no Brasil. “Na Argentina este produto substitui até 30% da farinha de trigo na panificação, pela alta quantidade de amido”, relatou Keplin.
Pioneer
Ultra A Monsanto lançou o Roundup Ultra, produto que se diferencia das demais formulações de glifosato pela forma de ação. Além de ser granulado, apresenta uma combinação de surfactantes, que confere maior rapidez na absorção e translocação, o que o torna ainda mais eficaz no controle de plantas daninhas, garante Gustavo Rocha, gerente de Produto. O defensivo vem acompanhado do ProGustavo Rocha grama 100% Garantia de Satisfação.
Sem daninhas Para Eduardo Mazzieri, gerente de produto herbicida da Bayer CropScience, um dos principais desafios atuais é o manejo de resistência de plantas daninhas. A falta de rotação de produtos e de uma aplicação consciente são as principais causas dessa resistência, explica. De acordo com Mazzieri, a solução é procurar profissionais que possam indicar qual a melhor forma de Eduardo Mazzieri minimizar este problema.
Soluções A Basf apresentou, durante a Expodireto, soluções para a proteção de lavouras e aumento de produtividade. A participação da empresa esteve focada na marca mundial AgCelenceTM, reunida em todos os defensivos agrícolas da companhia. Os inseticida Standak, Imunit e Nomolt, o fungicida Opera e o herbcida Alteza 30 SL estiveram entre os detaques. Outra atração foi a Unidade de Monitoramento e Detecção de Doenças da Soja, o Minilab.
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Antonio Ferreira
Dekalb A Dekalb trouxe novidade à Expodireto. Em meio às parcelas demonstrativas, Antonio Ferreira, gerente nacional de Desenvolvimento de Tecnologia no Brasil, foi responsável por apresentar aos visitantes as vantagens do híbrido de milho geneticamente modificado, YieldGard®, resistente às três principais pragas da cultura: lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), lagarta da espiga (Helicoverpa zea) e broca do colmo (Diatraea saccharalis). O produto deve chegar ao mercado em breve. Segundo Ferreira, além da redução do custo de produção com a nova tecnologia, se minimizará também o risco de intoxicação e contaminação do homem e de animais, em decorrência do menor emprego de inseticidas.
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A Pioneer apresentou os híbridos 30B30 e 30B39. O primeiro é estável e com qualidade de grão para o período normal de plantio na região Sul, e o 30B39 tem estabilidade e potencial produtivo também recomendado para o plantio normal no Sul do Brasil. Técnicos da empresa explicaram sobre as mais avançadas técnicas de manejo na cultura do milho, incluindo híbridos de milho para silagem, adubação e tratamento industrial de sementes.
De ponta a ponta O projeto “Tecnologia Syngenta de Ponta a Ponta” percorrerá o Brasil em um caminhão para esclarecer, divertir e promover a educação junto ao produtor rural. Serão visitadas aproximadamente 160 cidades brasileiras pelos próximos dois anos. “A essência do projeto está na aproximação da Syngenta com o agricultor e as comunidades rurais, transmitindo a esses públicos os conceitos de tecnologia, inovação e confiança vinculados ao cenário da agricultura nacional”, comenta Lydia Damian, coordenadora de campanhas de marketing da Syngenta.
Compo do Brasil A Compo do Brasil, empresa com amplo portfólio de fertilizantes especiais, participou pela primeira vez da Expodireto. O destaque foi para o Entec, fertilizante estabilizado rico em nitrogênio (N), recomendado para as culturas de milho, trigo e soja. De acordo com Fábio Guimarães, a receptividade do público foi excelente, principalmente às lavouras demonstrativas, um dos grandes atrativos do estande.
BioGene
Syngenta
A BioGene apresentou seus primeiros híbridos, com genética para produções com média tecnologia. O foco da empresa de sementes é atender a quem está evoluindo no seu sistema de produção, com custo compatível com o poder aquisitivo desse produtor, atuando em ciclos onde a Pioneer não trabalha atualmente, explica Waldir Franzini, gerente de Desenvolvimento de Negócios da BioGene.
A Syngenta participou da Expodireto Cotrijal 2008 apresentando soluções para o mercado de milho e soja, com destaque para o fungicida PrioriXtra. O herbicida Callisto para milho, o inseticida Engeo Pleno para trigo, milho e soja, e o inseticida Curyom. O produtor rural também pode obter informações sobre o efeito bioativador do inseticida Cruiser em diversas culturas.
Lanxess
Agroceres A Agroceres apresentou a tecnologia Yeldgard na Expodireto. Além do milho transgênico, a empresa lançou os híbridos AG 8015, de alta performance produtiva para plantios de cedo e época normal, e o AG 8011, híbrido precoce de alta produtividade, com tolerância a Puccinia sorghi e Cercospora, também indicado para a Região Sul do Brasil.
Sipcam A Sipcam destacou na Expodireto toda sua linha de produtos. O diretor da empresa, Fernando Humberto Rotondo, considerou o evento uma excelente oportunidade de negócios e também de contatos com clientes e parceiros.
Muito Mais Os produtores que participaram da Expodireto 2008 puderam conferir in loco os resultados obtidos com as soluções da Bayer CropScience para as culturas de soja, milho e trigo. Técnicos da empresa apresentaram os benefícios da adoção dos programas exclusivos Muito Mais, que oferecem soluções integradas para atender às necessidades de cada produtor rural, de forma flexível e personalizada, explica Fernando Rupulo, coordenador comercial regional da Bayer em Passo Fundo. Integram o programa Muito Mais todas as tecnologias da empresa, desde os produtos voltados ao tratamento de sementes até as soluções para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas que afetam as lavouras e prejudicam a produtividade dos produtores de milho, soja e trigo.
Rigrantec A Rigrantec escolheu a Expodireto para lançar três novos biofertilizantes: o Biogain Amica, o Biogain Max Plus e o Biogain Florada, todos com capacidade para elevar a produtividade das culturas de 5% a 8%. “O resultado é surpreendente”, garante Nelson Azambuja, diretor da Rigrantec. “No ano passado, conseguimos expressiva recuperação em plantação de tomates e batatas, em Minas Gerais, com sua aplicação. Em duas semanas mudou a fisionomia das lavouras”, acrescentou.
Durante a Expodireto, a Lanxess destacou a linha Levanyl ST, composta por pigmentos orgânicos para tratamento de diversas culturas. “Trata-se do ano de consagração da nossa marca no mercado, pois teremos a oportunidade de apresentar a evolução da nossa tecnologia. Além disso, a feira é um evento internacional e acreditamos poder atingir um grande número de produtores de sementes, assim como receber em nosso estande parceiros e clientes”, avaliou Alejandro Gesswein, gerente de Marketing da empresa.
Agromen A Agromen destacou entre vários híbridos o simples superprecoce AGN-30A06, que apresenta alta produtividade. Além de toda a equipe técnica comercial da empresa, que atua naquela região, estiveram presentes no evento o diretor de Vendas Luis Fernando Graner, juntamente com Mozart Fogaça Júnior, gerente de Marketing da empresa.
Nitral Urbana A Nitral Urbana, produtora e fornecedora de inoculantes, apresentou seu portfólio de produtos, com destaque para o Extender. O produto mantém a concentração de bactérias vivas nas sementes. Isso significa que o plantio pode ser feito em até dez dias após o tratamento. Kendra Pazello, responsável pelo marketing, e Ronaldo Meireles, gerente regional de Vendas, consideraram o evento ideal para o setor, com excelentes expectativas de negócios futuros a partir dos contaRonaldo Meireles e Kendra Pazello tos realizados.
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Diretas Agrichem
Garhoa Durante o Show Agrícola Palma Sola, em Santa Catarina, a Agrosol Distribuidora lançou sua marca de fertilizantes foliares. A Fertilizantes Garhoa possui um portfólio completo de produtos para as mais diversas culturas. Toda formulação da linha é adaptável a diferentes sistemas de cultivo, clima e solo, o que permite maximizar o potencial produtivo da lavoura.
A Agrichem, empresa especializada em nutrição, divulgou na Expodireto seu portfólio de produtos, com ênfase à linha direcionada para as culturas de soja, milho e trigo.
Cheminova
Novos rumos
A Cheminova apresentou na Expodireto o Riza® 200 EC, produto que garante boa performance e segurança na lavoura, cujo foco é o combate à ferrugem da soja. Com este lançamento a empresa reforça seu portfólio de produtos, investindo recursos no desenvolvimento de soluções de qualidade para os clientes. No estande também foi possível conhecer melhor a Cheminova e receber explicações técnicas sobre os produtos comercializados pela companhia no Brasil. Fabio Del Cistia, gerente de Marketing Estratégico da empresa, esteve presente no evento.
Os engenheiros agrônomos Joaquim Bueno e Ricardo Calçavara acabam de assumir a gerência regional de vendas e a diretoria D.N. Sul da Cheminova, respectivamente.
Ricardo Calçavara e Joaquim Bueno
Congresso de FFitopatologia itopatologia De 10 a 14 de agosto, na sede do Minascentro, em Belo Horizonte (MG) ocorre o 41º Congresso Brasileiro de Fitopatologia. A organização do evento é da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Outras informações pelo site: www.sbfito.com.br.
Dimicron A Dimicron participou da Expodireto Cotrijal pela primeira vez. Fundada em 1985, a empresa de Cruz Alta (RS) iniciou focada em micronutrientes. Atualmente atua no mercado de adubos líquidos, micro e macronutrientes, desde o tratamento da semente até o final do ciclo das culturas, além de inoculantes e adjuvantes. Conta com mais de 30 produtos registrados para comercialização e, além da venda própria, parte da produção é fornecida a outras empresas. Roge Darceu Lavich, sócio-gerente da Dimicron, garante que esta é apenas a primeira de muitas participações na feira.
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Douglas Zonta
SuperN Durante a Expodireto, técnicos do Grupo Fertipar, que comercializa o SuperN, orientaram produtores sobre os benefícios dessa nova linha de fertilizantes. O produto é usado para diminuir as perdas de nitrogênio (N) e sua aplicação independe da condição climática, informa Douglas Zonta, gerente de Marketing da Agrotain.
Novo híbrido O Formula é o novo milho híbrido superprecoce da Syngenta para a Região Sul do Brasil. O lançamento foi apresentado ao mercado durante a Expodireto Cotrijal 2008, juntamente com as variedades de soja VMax RR, Spring RR e NK 7074 RR, todas elas caracterizadas pela alta precocidade.
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Criação de percevejos Entre os dias 7 e 11 de abril de 2008 ocorre o workshop “Criação de Percevejos em Laboratório”, na Embrapa Soja, em Londrina (PR). O objetivo é apresentar o que de mais avançado existe sobre ciência e tecnologia para a criação de percevejos em laboratório. Esta prática, visa a atender as demandas por esses insetos para uso em testes de biologia, de linhagens resistentes de grandes culturas (soja, milho, trigo), de eficiência de produtos químicos (inseticidas) no controle biológico com parasitóides, entre outros. Informações (43) 3371-6069 e-mail: workperc@cnpso.embrapa.br
Basf Jorge Luiz Fontana assumiu em fevereiro a coordenação de Marketing da Basf no Brasil. Na empresa há 14 anos, passou os últimos dois na Bolívia, onde também atuava como coodeJorge Luiz Fontana nador de Marketing.
Milho
Fernando Juliatti
Menos ardidos Além ddaa escolha ddo o híbri do corr eto par egião ddo o híbrid correto paraa cad cadaa rregião país eciso atenção aos prim eir os sin ais ddee in ci dên ci país,, é pr preciso primeir eiros sinais inci cidên dênci ciaa de ddoenças oenças ffoli oli ar es n o milh o. Resultad os ddee pesquisa oliar ares no milho. Resultados mostr am que o uso ddee fun gi ci das ddo o grupo ddos os tri azóis e ostram fungi gici cid triazóis ali dad estr obilurin as con tribuiu par elh or ar a qu elhor orar quali alid adee ddee estrobilurin obilurinas contribuiu paraa m melh dên ci di dos pr od ução e rred ed uzir a in ci did eduzir inci cidên dênci ciaa ddee grãos ar ardi prod odução
A
partir do final da década de 80 e início da década de 90, os produtores de milho perceberam um aumento na incidência de doenças em suas lavouras, com níveis de danos significativos. Esta questão da maior incidência e severidade de doenças tem sido debatida dentro da comunidade científica, bem como pelos produtores. Os pesquisadores têm atribuído esta maior incidência aos seguintes fatores: produção maltecnificada; aumento do tamanho médio das propriedades; cultivo em regiões onde não se cultivava milho anteriormente em grandes extensões, como por exemplo, o Brasil Central; e épocas de plantio sucessivas (plantio de safrinha e lavouras irrigadas). Essa introdução em novas áreas e o aumento do plantio objetivam atender a maior exigência do mercado consumidor (indústria). Podemos citar na safra 2007/ 08 o plantio de milho safrinha no Brasil, ocupando 2,8 milhões/ha a três milhões/ ha, o que corresponde a aproximadamente 25% do plantio na época normal (tradicional), e o plantio em pivôs centrais, onde o milho tem sido cultivado continuadamente. Assim, o valor econômico da cultura, em função do crescimento mundial na produção de biocombustíveis, despertou a percepção dos agricultores com relação às doenças e seus prejuízos, levandoos a identificá-las como possíveis fatores do insucesso com a cultura. Entre os problemas fitossanitários que ocorrem em milho estão grãos ardidos que podem ter origem em doenças foliares, como a mancha de estenocarpela, ou na presença de fungos durante as fases de formação e maturação da espiga, como Spenocarpella maydis, Fusarium moniliforme, Fusarium graminearum, Penicillium e Aspergillus). Alguns dos fungos produzem micotoxinas capazes de causar distúrbios alimentares e até a morte de ruminantes e outros animais durante o consumo de derivados do milho. Dentro dos princípios e práticas do manejo integrado na cultura do milho estão o tratamento de sementes, a rotação de culturas, híbridos tolerantes e/ ou resistentes, quando disponíveis. Nos
Figura 1 - Resposta de híbridos comerciais quanto à aplicação de triazol + estrobilurina em diferentes fases fenológicas
Isolamento das lesões em meio nutriente Agar
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Tabela 1 - Fungicidas registrados na cultura do milho e seu efeito sobre doenças foliares, colmo e da espiga Fungicidas Azoxistrobina + Ciproconazol Captan Fludioxonil Fludioxonil + Metalaxil-M Piraclostrobina Piraclostrobina + Epoxiconazol Propiconazol Tebuconazol Tiram Trifloxistrobina Trifloxistrobina + Propiconazol Trifloxistrobina +Tebuconazol
Grupo Químico Estrobilurina + Triazol Dicarboximida Fenilpirrol Fenilpirrol + Acilalaninato Estrobilurina Estrobilurina + Triazol Triazol Triazol Dimetilditiocarbamato Estrobilurina Estrobilurina + Triazol Estrobilurina + Triazol
Dose 0,3 (L.ha-1) 160ml/100Kg de semente 150ml/100Kg de semente 150ml/100Kg de semente 0,6 (L.ha-1) 0,75 (L.ha-1) 1,0 1,0 200-300ml/100Kg de semente 0,8 0,75 (L.ha-1)
Doenças controladas Ferrugens, Helmintosporiose, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela Podridão-de-fusarium, Podridão-de-colmo, Podridão-branca-das-espigas, Antracnose-do-colmo, Podridão-de-raízes Podridão-de-fusarium, Podridão-de-colmo Podridão-de-fusarium, Podridão-de-colmo, Tombamento Ferrugens, Mancha Branca Ferrugens, Helmintosporiose, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela Ferrugens, Helmintosporiose, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela Ferrugens, Helmintosporiose, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela Podridão-de-fusarium, Podridão-de-colmo, Podridão-branca-das-espigas Ferrugens, Mancha Branca, Cercospora, Helmintosporiose Ferrugens, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela Ferrugens, Helmintosporiose, Mancha Branca, Cercospora, Mancha de estenocarpela
Tabela 2 - Doenças na cultura do milho e ocorrência no Brasil Patógeno Bipolaris maydis
Nome comum Requeima de maidis
Temperatura 20-32oC Quente
Exserohilum .turcicum Physoderma maydis Phaeosphaeria maydis Puccinia polysora Puccinia sorghi Physopella. zea C. graminicola Stecarpella maydis
Requeima de turcicum Mancha marrom Mancha de feosféria Ferrugem polissora ou laranja Fe marrom ou comum Fe. tropical Antracnose Podridão de diplodia
17-27oC Média 20-32OC Quente 18-35oC Média 25-35oC Quente 15-25oC Média 24-35oC Quente 20-32oC Quente 28-30oC Quente
Umidade do ar Alta umidade relativa
Clima favoráveis Tropical (Aw)
Alta umidade relativa Tropical Altitude ou Subtropical (Cwb e Cfb) Alta umidade relativa Tropical (Aw) Alta umidade relativa Tropical Altitude e Subtrop. (Cwb, Cfb e Cfa) Alta umidade relativa Tropical (Aw) Umidade moderada Trop. Altitude e Subtrop. (Cwb, Cfb e Cfa) Umidade moderada Tropical (Aw) Umidade moderada Tropical (Aw) Período seco antes da polinização seguido Tropical (Aw), Subtropical de período de alta umidade (Cwb, Cfb e Cfa) Fusarium sp 25-30oC Quente Período seco (veranico) seguido de período Podridão de Tropical (Aw), Subtropical fusarium ou fusariose de alta umidade (Cwb, Cfb e Cfa) Fitoplasma e Espiroplasma Enfezamento do milho ou “corn stunt” 28-32oC Quente Umidade moderada
últimos anos outras práticas de manejo também foram usadas na cultura, como aplicação de fungicidas na parte aérea, dependendo do nível de inóculo regional e histórico das doenças. Em relação ao uso de fungicidas, destaca-se a determinação do momento correto de aplicação (estádio fenológico da cultura), “timing” de aplicação e escolha do equipamento adequado. Em média os benefícios dos fungicidas na cultura devemse ao efeito verde nas folhas, redução no progresso das doenças e aumento da produtividade (peso dos grãos, das espigas e redução na incidência de grãos ardidos). Assim, reduz-se a possibilidade de descarte ou desconto de grãos na entrega aos receptores, que em muitos casos ultrapassa os 6% do total do pro-
O erro no manejo de doenças foliares pode desencadear uma produção de baixa qualidade
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Locais preferenciais Região Central do Brasil abaixo 700m MS,MT, GO, TO, BA,PA, MA,MG Região Sul e Central do Brasil acima 700m Igual B. maydis Região Central e Sul acima de 600m Igual B. maydis Região Central e Sul acima de 600m Igual B. maydis Igual B. maydis Locais preferenciais Todos os Estados onde planta milho Todos os Estados onde planta milho Centro e Sul do Brasil, safrinhas
Tabela 3 - Espectro de reação das doenças do milho em relação aos fungicidas usados na cultura conforme o grupo químico Grupos de fungicidas e espectro sobre doenças (- (ausência); + (ação fraca) ;++ (boa ação) e +++ (ótima ação) Grupo químico Benzimidazol Carbamatos Cúpricos Estrobilurinas Benzimidazol + Triazol* Estrobilurina + Benzimidazol Estrobilurinas + Triazol Triazol + Triazol**
Ferrugens
Cercosporiose
+ + ++ ++ +++ +++ +++ +++
++ + + +++ +++ +++ +++ +++
Mancha de estenocarpela ++ + + + +++ +++ +++ +++
Mancha branca + ++ ++ ++ ++ ++ +++ ++
Mancha de fisoderma +++ + +++ + ++ +++ +
Podridões da espiga +++ + + +++ +++ +++ +++ +++
* Com ação predominante sobre ferrugens e **Com ação predominante sobre manchas foliares e fungos conidiais
duto. A Universidade Federal de Uberlândia, por meio do Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas (www.lamip.iciag.ufu.br), nos últimos dez anos, tem realizado pesquisas relacionadas ao manejo químico em diferentes híbridos, avaliando o efeito de fungicidas na incidência de doenças foliares na cultura do milho e melhoria na qualidade da produção. As Figuras 1 e 2 apresentam o desempenho médio de híbridos em relação à produtividade e à quantidade (porcentagem) de grãos ardidos em resposta ao tratamento com triazóis + estrobilurinas em mistura.
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PRINCIPAIS DOENÇAS Podridão branca da espiga Causada pelo fungo Stenocarpella macrospora e S. Maydis, a podridão branca da espiga apresenta sintomas iniciais na base e se estende para o restante da espiga com aspecto esbranquiçado e posteriormente com a presença de picnídios. As condições de ambiente que favorecem seu desenvolvimento são clima úmido e temperaturas entre os 28ºC e 30ºC. A espécie S. maydis se caracteriza por ocorrer em baixas altitudes; já S. macrospora é comum em altas altitudes. Quando atacam, colonizam a palha, o sabugo e
Fotos Fernando Juliatti
Podridão rosada da espiga A podridão rosada tem como agente causal, Fusarium moniliforme. O fungo manifesta-se por coloração rosa a escura, em grãos isolados, dispersos na espiga, ou em grupos de grãos infectados por canais dos estigmas ou associados a injúrias provocadas por insetos. Outro sintoma é a formação de varizes brancas no tegumento. Clima úmido e temperaturas elevadas são condições que favorecem a doença, mais comum em locais que apresentam altitude mais elevada. Fusarium sobrevive em restos vegetais e também tem maior facilidade de colonização quando as plantas apresentam ferimentos causados por insetos sugadores ou lagartas.
Foto mostra nitidamente a diferença entre o tamanho de grãos sadios à esquerda e ardidos à direita
os grãos. Ambos sobrevivem em restos vegetais. O fungo também é favorecido quando as plantas são injuriadas por su-
gadores ou lagartas. Estes ferimentos nas plantas servem de porta de entrada ao patógeno.
Podridão rosada da ponta da espiga A presença de um mofo rosado, que começa na ponta e progride em direção à base da espiga, é característica do ataque de Fusarium graminearum, causador da podridão rosada da ponta da espiga. Esta doença é mais comum em baixas altitudes, sendo favorecida por condições ambientais com clima úmido e tempera-
Divulgação
MANEJO
Juliatti salienta a importância do manejo das doenças foliares nos primeiros sintomas detectados
turas elevadas. A sobrevivência de F. graminearum pode ocorrer em restos vegetais. Plantas injuriadas por insetos, mais uma vez, são alvo fácil para a colonização pelo fungo.
Para o manejo correto de doenças no milho, alguns aspectos devem ser observados, como a escolha da época e do local de semeadura e a rotação de culturas. Além disso, recomenda-se a adoção de sementes sadias, híbridos de boa sanidade de raiz, colmo e empalhamento, híbridos tolerantes e controle de pragas. As Tabelas 1 e 2, trazem, respectivamente os fungicidas registrados no Ministério da agricultura para o controle das doenças na cultura e regiões onde ocorrem com mais frequência.
APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS É importante ressaltar que a opção pelo
manejo correto das doenças na cultura do milho auxilia na diminuição da ocorrência e incidência dos grãos ardidos, contribuindo para a manutenção da sustentabilidade e qualidade do produto final. Cabe ao engenheiro agrônomo alertar o produtor que, além da escolha do híbrido correto para cada região de cultivo no país, é fundamental o uso de triazóis + estrobilurinas (Tabela 3). A aplicação deve ser feita depois de detectados os primeiros sintomas de doenças foliares na cultura, sob pena C de evoluírem para as espigas e grãos. Fernando César Juliatti e Cleiton Nascimento, UFU
Figura 2 - Resposta de híbridos comerciais quanto à aplicação de triazol + estrobilurina em diferentes fases fenológicas C
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Milho
Resistência ou tolerância O uso rrepetitivo epetitivo ddee h erbi ci da com o m esm o herbi erbici cid mesm esmo mecanism o ddee ação pod ovocar m udanças ecanismo podee pr provocar mu genéticas na população de plantas daninhas pr esen tes em ddetermin etermin ad ea ddee cultivo, o presen esentes eterminad adaa ár área ecim en to ddee que ocasi on ocasion onaa não só o apar aparecim ecimen ento biótipos rresisten esisten tes o também seleção tes,, com como esistentes de espéci es que passam a toler ar tolerar espécies ad os pr od utos o determin utos.. Saiba com como eterminad ados prod odutos difer en ci ar estes pr oblem as e qu ais diferen enci ciar problem oblemas quais recom en dações par ecomen end paraa evitá-los
M
uito se tem falado sobre o aparecimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas, entretanto, é preciso conhecer o significado da resistência e compará-lo à seleção de espécies tolerantes. Para isso torna-se necessário entender a resistência como a habilidade de um biótipo sobreviver e reproduzir-se, após a aplicação de herbicida na dose que normalmente controlaria uma população normal desta espécie. Este biótipo não será controlado por este herbicida nem mesmo com quatro vezes a dose recomendada para barrar biótipos suscetíveis. De outra forma, a tolerância é entendida como a capacidade de determinadas plantas suportarem doses recomendadas do defensivo que con-
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Fotos Décio Karam
trolem outras espécies, sem que sofram alterações no seu crescimento e/ou desenvolvimento. A origem dos biótipos resistentes estará sempre associada a mudanças genéticas na população devido à seleção ocasionada pela aplicação seguida de um mesmo herbicida ou por herbicidas com o mesmo mecanismo de ação. A variabilidade genética está presente nas populações infestantes e caso um produto seja sempre usado nesta população, os biótipos resistentes irão sobreviver aumentando, nos anos subseqüentes, a freqüência e a distribuição destas plantas na população até que ocorram somente plantas resistentes na área.
Aplicações seqüenciais e em pós-colheita realizadas corretamente são importantes no manejo de biótipos resistentes ou tolerantes, como a trapoeraba
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Estudos com o objetivo de entender a dinâmica populacional de plantas daninhas têm permitido estimar o tempo necessário para que um determinado herbicida, se utilizado intensivamente, selecione biótipos resistentes. Herbicidas inibidores da enzima ALS podem, em poucos anos, originar a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes, enquanto outros grupos de herbicidas com diferentes mecanismos de ação podem selecionar biótipos resistentes depois de no mínimo dez anos contínuos de uso do mesmo mecanismo de ação. A alteração da comunidade infestante pode acontecer não só pelo aparecimento de biótipos resistentes, mas também pela seleção daquelas espécies que são tolerantes ao herbicida empregado. Com o passar do tempo as espécies selecionadas dominarão a comunidade das infestantes dificultando sobremaneira o controle e, portanto, aumentarão o custo de um manejo apropriado e eficaz. Espécies têm sido selecionadas desde o início do uso de métodos de controle ininterruptamente. Na década 80 foram selecionadas as espécies Euphorbia heterophylla e Acanthospermum hispidum devido ao emprego contínuo de metribuzin e imazaquin, em pré-emergência na cultura da soja. Estas espécies tornaramse dominantes nas regiões do Rio Grande do Sul e Paraná nos sistemas de produção de soja que utilizavam esses dois herbicidas. Mais recentemente, a utilização contínua de sulfoniluréias e de outras imidazolinonas contribuiu para a seleção das espécies Cardiospermum halicacabum, Ipomoea spp, Desmodium tortuosum, e Senna obtusifolia, além de outras.
Tabela 1 - Plantas daninhas resistentes a herbicidas observadas no Brasil Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Espécie Bidens pilosa Bidens subalternans Brachiaria plantaginea Conyza bonariensis Conyza bonariensis Conyza canadensis Cyperus difformis Digitaria ciliaris Echinochloa crus-galli Echinochloa crus-pavonis Eleusine indica Euphorbia heterophylla Euphorbia heterophylla Euphorbia heterophylla Euphorbia heterophylla Fimbristylis miliacea Lolium multiflorum Parthenium hysterophorus Raphanus sativus Sagittaria montevidensis Bidens pilosa Bidens subalternans
Nome comum Picão preto Picão preto Capim marmelada Buva Buva Buva Junquinho Capim colchão Capim arroz Capim arroz Capim pé de galinha Leiteiro Leiteiro Leiteiro Leiteiro Cuminho Azevém Losna branca Nabo forrageiro Aguapé de flexa Picão preto Picão preto
Ano 1993 1996 1997 2005 2005 2005 2000 2002 1999 1999 2003 1992 2004 2006 2006 2001 2003 2004 2001 1999 1993 1996
Mecanismo de ação Inibidores da ALS Inibidores da ALS ACCase inhibitors Glicinas Glicinas Glicinas Inibidores da ALS Inibidores da ACCase Auxinas sintéticas Auxinas sintéticas Inibidores da ACCase Inibidores da ALS Inibidores da ALS ; Inibidores da Protox Inibidores da ALS Inibidores da ALS; Glicinas Inibidores da ALS Glicinas Inibidores da ALS Inibidores da ALS Inibidores da ALS Inibidores da ALS Inibidores da ALS
Adaptado de International Survey of Herbicide Resistant Weeds - http://www.weedscience.org/in.asp (2008); ALS – acetolactato sintase; ACCase – acetil-CoA carboxilase; PROTOX protoporfirinogen oxidase
A introdução do plantio direto também tem contribuído para a seleção de espécies de difícil controle. Esta seleção tem ocorrido quando comparada aos sistemas convencionais, em função do uso das coberturas vegetais mortas e da troca dos produtos herbicidas usados para o manejo e controle das plantas daninhas. Dentre as várias espécies presentes nos sistemas de produção, Digitaria insularis (capim colchão), Spermaccoce latifolia (erva quente) e Erigeron bonariensis tiveram suas freqüências e distribuições aumentadas em função deste sistema conservacionista.
Técnicas de manejo pós-colheita das plantas daninhas, com o objetivo de reduzir a infestação, têm aumentado o uso de herbicidas. A conseqüência desse processo é que se não forem utilizados adequadamente ocorrerá um processo de seleção de biótipos resistentes tolerantes, considerados de difícil controle. Após a introdução da soja transgênica, o uso de herbicidas à base de glifosato teve um incremento substancial. Aliado ao emprego destes herbicidas no manejo antes do plantio da cultura da soja, o controle pós-emergente e pós-colheita aumentou
HISTÓRICO
A
resistência de plantas daninhas foi primeiramente notificada no Brasil na década de 80 com o surgimento de Euphorbia heterophilla resistente a herbicidas inibidores da enzima ALS (acetolactato sintase), conforme relatado no site internacional de monitoramento de plantas daninhas resistentes a herbicidas (http:/ /www.weedscience.org/in.asp), (Tabela 1). A partir desta data outras espécies foram descritas como resistentes, sendo que os herbicidas inibidores da enzima ALS (sulfoniluréias e imidazolinonas) e os inibidores da fotossíntese (triazinas) são os produtos que mais selecionaram plantas daninhas resistentes no mundo. No Brasil,
os herbicidas inibidores da enzima ALS são os produtos que mais ocasionaram a seleção de biótipos resistentes Com a introdução do cultivo da soja transgênica resistente aos herbicidas do grupo das glicinas (glifosato) e o uso do sistema de plantio direto, a pressão de seleção imposta por este grupo de herbicidas neste sistema de produção irá aumentar e como conseqüência ocorrerão mais alterações nas populações com a presença de biótipos resistentes, embora seja conhecido que este grupo de herbicida apresente baixa probabilidade de seleção, quando comparado a outros grupos.
Tridax procumbens, conhecida como erva de touro, é planta tolerante a herbicidas à base de glifosato
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Fotos Décio Karam
A freqüência e a distribuição de Chamaesyce hirta, a erva de santa luzia, têm aumentado nas lavouras, devido ao uso repetitivo de um mesmo herbicida
significativamente a pressão de seleção de biótipos resistentes e tolerantes. Os produtores e técnicos têm conseguido, através de observações a campo, identificar como tolerantes aos herbicidas baseados em glifosato as espécies Commelinas (trapoerabas), Ipomoeas (corda de viola), Richardia brasilienses (poaia branca), Tridax procumbens (erva de touro), Chamaesyce hirta (erva de santa luzia), Chloris polydacyla (capim branco) e Boehavia diffusa (erva tostão). A freqüência e a distribuição destas espécies têm aumentado nos sistemas de produção que adotam principalmente este grupo de herbicidas. Embora estas espécies estejam se tornando muito importantes, salienta-se que existem técnicas que possibilitam o manejo correto e reduzem a probabilidade de aumento na infestação. Recomendações gerais podem ser feitas para o manejo e a prevenção da resistência e/ou tolerância das plantas daninhas. O sistema de produção deve sempre ser levado em consideração, pois a dinâmica da população das plantas daninhas é diretamente influenciada pelas técnicas empregadas dentro dos sistemas (rotação de culturas, sucessão de culturas, cobertura vegetal do solo, sistema de plantio utilizado). Todos os métodos de controle das infestantes também devem ser considerados importantes para a prevenção e o manejo da seleção de biótipos resistentes ou tolerantes. O acompanhamento da área para verificar a presença ou não da resistência
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ou tolerância é um dos fatores mais importantes no combate ao aumento da incidência destas plantas. Considerado o maior causador de estresse para as plantas e conseqüentemente o principal responsável pela alteração da comunidade infestante, o herbicida, se utilizado racionalmente e corretamente, torna-se também um forte aliado no manejo e prevenção da resistência e no controle das plantas daninhas de difícil controle (tolerantes). Para a escolha correta de qual herbicida recomendar deve-se conhecer a probabilidade deste defensivo em causar alterações em comunidades de plantas daninhas devido ao seu mecanismo de ação.
RESISTÊNCIA
A escolha correta do herbicida, por si só, não resultará em controle satisfatório das plantas daninhas caso as condições de aplicação não sejam as mais adequadas possíveis. Aplicações em estádios de crescimento das infestantes mais apropriados e em condições climáticas favoráveis à absorção dos produtos permitem que a sua eficácia seja bem melhor quando comparadas com as aplicações em condições adversas ao bom funcionamento do herbicida. Aplicações seqüenciais e em pós-colheita bem realizadas podem ser consideradas importantes para o manejo de biótipos resistentes ou tolerantes. As aplicações seqüenciais podem ser feitas utilizando-se somente um herbicida ou através de aplicações de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Embora a rotação de herbicidas com mecanismos de ação diferenciados seja uma estratégia às vezes impossível em função do sistema de produção implantado e do custo dos produtos, o produtor deverá, sempre que possível, verificar a viabilidade de usar esta estratégia, porque o uso do mesmo mecanismo de ação mais do que duas vezes seguidas em uma mesma área de produção poderá aumentar as chances de aparecimento de biótipos resistentes ou tolerantes. A chance de alterações na comunidade infestante será sempre menor quanto maior for o número de herbicidas utilizados com mecanismos de ação diferenciados. O produtor deverá lembrar sempre que a realização de um bom manejo das plantas daninhas exige objetivar primeiramente a eficácia agronômica dos métodos de controle usados e em segundo lugar a redução da produção de sementes pela comunidade infestante, reduzindo, assim, o número de C sementes destas plantas no solo. Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo
A
resistência pode ser classificada de três formas. A primeira, conhecida como resistência simples, é definida como a resistência introduzida somente por um determinado herbicida. A resistência cruzada é observada em biótipos que apresentem a resistência para diversos herbicidas com mesmo mecanismo de ação. E a terceira forma de resistência que pode ser verificada é a múltipla, que ocorre em biótipos de uma determinada espécie de planta daninha para herbicidas com diferentes mecanismos de ação.
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Detalhe da trapoeraba, outra planta daninha tolerante a glifosato
Trigo Fotos Mauro Rizzardi
Rotação como arma Di an os oblem as ee tolerân ci aa ee rresistên esistên ci ee plan tas aninhas cação ee Dian ante problem oblemas tolerânci cia esistênci cia plantas aplicação Di ante te ddos ddos os pr pr oblem as dde dde tolerân ci rresistên esistên ciaa dde dde plan tas ddaninhas ddaninhas aninhas àà apli apli cação dde dde Dian ante problem oblemas tolerânci cia esistênci cia plantas aplicação hherbi er an ejo si ação as erbici cid as, proced oceder man anejo necessári ecessário consi sid eração sistemas erbici ciddas as,, ao proced oced er oo m m an necessári ecessárioo que que se se leve leve em em con con sidder er ação os os sistem sistem as cid ao pr proced oceder man anejo ejo éé n ecessário consi sid eração sistemas ddee cultur as ddas etermin aa ár ea. ti ee tri culturas estabelecid eterminad ada área. planti tio trig no sistema cultur as estabeleci estabeleci as em em ddetermin ddetermin eterminad ad ár ea. Com Com oo plan plan tioo dde dde triggo, noo sistem sistemaa dda daa culturas estabelecid eterminad ada área. planti tio trig o, n rrotação cultivos, baixar espécies dee cultivos cultivos,, éé possível baixar dee espéci espécies daninhas otação dde possível baix ar as as populações populações dde es ddaninhas aninhas que que ganham ganham in orma efici cien ente meses ara contr trole ocorra inten tensi sid ade nos contr trole ocorraa dde dee fform form ormaa efi efici cien ente inten tensi siddad adee n nos meses dee verão. Par araa que te eses dde verão. PPar que oo con ole ocorr os m rrecom efensivos diferen entes mecanism ecanismos a-se, aind empreg ego ecomen end mecanism ecanismos dee ação empreg egoo dde dee ddefen defen efensivos diferen entes ecomen endda-se a-se,, ain aindda, sivos com com difer tes m os dde ação a, oo empr
A
o longo da evolução do controle de plantas daninhas o enfoque foi baseado na ocorrência da planta daninha em uma determinada cultura, onde se tinha a visão do controle por cultura e não o que envolvesse sistemas de culturas estabelecidos em determinada área. Atualmente, os herbicidas se constituem na mais importante e eficiente ferramenta para controlar daninhas. O sistema de culturas e o manejo das plantas daninhas adotados provocam mudanças no tipo e na proporção de espécies que compõem a população do local. Isso se explica pelo fato de as culturas apresentarem associações específicas com determinadas espécies de plantas daninhas e, porque os herbicidas não controlam igualmente as diferentes espécies existentes na área, algumas acabam beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência na área podem se multiplicar e se tornar um grave problema para o produtor. Como exemplo dessa alteração, a corriola (Ipomoea sp) tinha freqüência de 36% nas lavouras de soja do Rio Grande do Sul na safra
1994/95 e a buva (Conyza bonariensis) praticamente não era observada. Já na safra 2005/ 06, a corriola esteve presente em 94% das la-
vouras e a buva em 30%. Dessa forma, o uso contínuo da mesma estratégia de manejo, quer seja pelo emprego repetido na mesma cultu-
A infestação de plantas daninhas é mais facilmente manejada quando se adota um sistema de rotação de culturas, pois diversifica o ambiente agrícola
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seletivos pré ou pós-emergentes para o controle das espécies gramíneas. A rotação de culturas é uma prática que oportuniza o uso de herbicidas com mecanismos de ação diferentes e eficientes sobre o azevém resistente ao glifosato. Nesse sentido, a presença do milho em sistemas de rotação de culturas, que incluem ainda soja e trigo, reduziu em mais de 85% a população de azevém na cultura de trigo. Outra prática de manejo importante é utilizar cultivares de trigo com elevada capacidade competitiva para exercer forte supressão do crescimento de plantas de azevém. No trigo, alguns herbicidas foram desenvolvidos para o controle de azevém. Entre os herbicidas atualmente recomendados para essa finalidade, se destaca o diclofop-metil e o clodinafop. Esses herbicidas são usados em pós-emergência e sua eficácia depende do estádio de desenvolvimento da planta daninha, sendo os melhores resultados obtidos quando aplicados em plantas jovens, com duas a quatro folhas. Outra alternativa de controle de
Fotos Mauro Rizzardi
ra, forma de controle ou um mesmo herbicida, ou de herbicidas com igual mecanismo de ação, torna a seleção de espécies tolerantes e/ ou resistentes inevitável. Recentemente no Brasil, isso aconteceu com a identificação de biótipos de azevém (Lolium multiflorum) e de buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis) resistentes ao herbicida glifosato. A infestação de plantas daninhas pode ser mais facilmente manejada ou mesmo reduzida quando é adotado um sistema de rotação de culturas na lavoura. Isso diversifica o ambiente agrícola e favorece o manejo de plantas daninhas. Com a rotação de culturas ocorrem espécies de diferentes ciclos, nas quais podem ser usados vários tipos de manejo, como épocas de semeadura, práticas culturais e até diferentes tipos de herbicidas. Em áreas com alta infestação e banco de sementes de azevém, que apresentam características morfológicas e biológicas semelhantes às do trigo, a implantação de dicotiledôneas como a ervilhaca (Vicia sativa) ou o nabo forrageiro (Raphanus sativus), possibilita a utilização de herbicidas
Infestação de buva em soja semeada em área de pousio de inverno
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Tabela 1 - Influência do tipo de cultivo no outono/inverno sobre a população de buva (Conyza bonariensis) presente antes da semeadura da soja Cultivo Pousio Trigo Probabilidade do teste F para Tratamento Coeficiente de variação (%)
População (plantas m-2) 26,7 (+3,5) 1 a 2 2,2 (+0,6) b < 0,0001 80,2
1 Valores entre parêntesis indicam o erro padrão da média. 2 Médias seguidas pela mesma letra não diferem pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade do erro. Fonte: Bianchi, 2007 (Dados não publicados).
azevém é o herbicida iodosulfuron-methyl, recentemente registrado para o uso seletivo na cultura do trigo, para emprego em pós-emergência, na dose de 100g ha do produto comercial, para o controle de azevém. Iodosulfuron é um herbicida que pertence ao grupo das sulfoniluréias, cujo mecanismo de ação é a inibição não- competitiva da enzima acetolactato sintase (ALS) ou acetohydroxi sintase (AHAS), na rota de síntese dos aminoácidos ramificados, valina, leucina e isoleucina. Essa inibição interrompe a síntese protéica que por sua vez interfere no balanço hormonal, na síntese de DNA e no crescimento celular. A rotação de culturas pode contribuir para a redução da infestação de azevém e buva em trigo de duas formas principais: as culturas de cobertura geralmente ocupam de forma mais uniforme o solo do que o trigo, e não permitem o desenvolvimento vigoroso das plantas daninhas, reduzindo o seu vigor e a produção de sementes. Além disso, quando as plantas de cobertura de inverno são dessecadas ou manejadas para a implantação de cultivos de verão, pode-se realizar essa operação antes da formação de sementes da buva ou do azevém, diminuindo o seu potencial de infestação. Sementes de azevém têm vida relativamente curta no solo (três a quatro anos), de modo que ao se evitar a formação de sementes por esse período, reduz-se significativamente a população dessa espécie. A buva (C. bonariensis e C. canadensis) é uma espécie anual que produz mais de 100 mil sementes por planta, sendo os propágulos facilmente transportados pelo vento. As sementes germinam a temperaturas de 15ºC a 25°C em solo com boa umidade. A germinação de C. canadensis é aumentada na presença da luz e quando as sementes estiverem na superfície do solo Atualmente, mais de 90% das lavouras do Rio Grande do Sul cultivadas com cereais de inverno, milho e soja se caracterizam pela adoção do “sistema plantio direto” e pelo uso de cultivares de soja resistentes ao glifosato. Contudo, nas áreas onde a buva (tanto a suscetível como a resistente) causa problema à condução adequada da lavoura, ocorre pouca cobertura vegetal no período de outono/inverno, decorrente do manejo inadequado de pas-
tagens anuais ou do pousio nesse período. A deficiência de cobertura vegetal e, conseqüentemente, a maior incidência de luz sobre o sol, estimulam a germinação das sementes de buva. A adoção do sistema de semeadura direta pressupõe a instalação de uma cobertura vegetal para propiciar abundante produção de palha. Nesses casos será necessária a dessecação antes da semeadura das culturas. Essa prática controlará as plantas daninhas estabelecidas e as demais espécies presentes, formando uma palhada sobre o solo. A palhada formada sobre o solo exerce efeito físico impedindo a entrada de luz e alterando as características do ambiente, como a temperatura e umidade, reduzindo a germinação das sementes das plantas daninhas. A cobertura do solo com adubos verdes, pastagens manejadas adequadamente ou com o cultivo de trigo, conduz a redução da densidade de plantas de buva (Tabela 1), o que facilita o controle dessa espécie antes da semeadura da soja. Contudo, devido à grande produção, à fácil dispersão das sementes e à necessidade de temperaturas amenas para germinação, se espera fluxo de germinação após a emergência de culturas como milho e soja no “sistema plantio direto”, o que exige cau-
tela na escolha da estratégia de controle. Nesses casos, o uso de herbicidas em préemergência à base de atrazina em milho e de imazaquim, diclosulam e sulfentrazone em soja e em pós-emergência à base de 2,4-D em milho e lactofem, fomesafem, imazetapir, cloransulam e clorimurom em soja, é alternativa para atenuar o problema. No inverno, na cultura do trigo, a buva é controlada com 2,4-D e chlorimuron. Atualmente recomenda-se manejar as áreas infestadas com buva (resistente e suscetível ao glifosato) de forma a evitar a produção de sementes. O controle manual, as aplicações localizadas de herbicidas e a instalação de culturas para cobertura do solo são algumas alternativas. O controle dos biótipos resistentes é mais eficiente quando realizado durante o inverno com metsulfurom ou 2,4-D, já que a buva é mais sensível aos herbicidas em estádios iniciais de desenvolvimento. É necessário redimensionar o sistema de utilização das lavouras anuais, dando prioridade para sistemas de rotação de culturas associados à adubação verde que propiciem cobertura do solo durante o ano todo. As culturas comerciais, nesse sistema, devem ser entendidas como oportunidades para al-
Detalhe de soja semeada em área de pousio de inverno
ternar ou utilizar herbicidas com mecanismos de ação diferentes e eficientes sobre os C biótipos resistentes. Mauro Antônio Rizzardi, UPF Mario Antônio Bianchi, Embrapa Clima Temperado
Empresas
Ano histórico
Fotos Bayer
Com cr escim en to acim o estim ad o em 2007, a Bayer pr ojeta gr an des investim en tos em crescim escimen ento acimaa ddo estimad ado projeta gran and investimen entos 2008 par an ter o ddesempenh esempenh o positivo n as su as três divisões m un di ais ddee n egóci os paraa m man anter esempenho nas suas mun undi diais negóci egócios
“O
ano de maior sucesso para o Grupo Bayer em toda a sua história.” Com essas palavras, Werner Wenning, presidente mundial do Grupo Bayer, definiu o período de 2007 para a empresa. E olha que são 145 anos de história. Também, não é para menos, e os dados confirmam crescimentos importantes nas três divisões de negócios da empresa, que impulsionaram as vendas de 28,956 bilhões de euros em 2006 para 32,385 bilhões de euros em 2007, um aumento de 11,8% em um único ano. “Nosso desempenho operacional excedeu os recordes atingidos no ano anterior e também as metas de lucros estabelecidas para o ano de 2007”, explica Wenning. Os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) antes de itens especiais, cresceram 21,4%, alcançando 6,777 bilhões de euros. A margem EBITDA antes de itens especiais foi de 20,9%, mais de um ponto percentual em comparação com o ano anterior. O resultado operacional (EBIT) antes de itens especiais subiu 23,2%, chegando a 4,287 bilhões de euros.
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MERCADO AGRÍCOLA MUNDIAL A divisão CropScience mundial registrou vendas de 5,826 bilhões de euros, obtendo um crescimento de 5,6%, com ajustes cambiais e
de portfólio. No segmento de defensivos agrícolas, vendas com ajustes de câmbio e portfólio cresceram 6,3%, atingindo 4,781 bilhões de euros. Os negócios, de maneira geral, fo-
DESEMPENHO POSITIVO NAS TRÊS DIVISÕES
A
lém do aumento de 14% nas vendas da divisão CropScience em 2007, a empresa registrou ganhos significativos nos outros dois segmentos. A Bayer HealthCare, Divisão de Cuidados com a Saúde, apresentou crescimento de 50% em vendas em 2007, totalizando R$ 1,3 bilhão, o que corresponde a 39% do total do Grupo no país. O desempenho, neste caso, é resultado do fortalecimento do Grupo na área de produtos farmacêuticos, no qual a Bayer Schering Pharma ocupa a 5ª posição no mercado brasileiro em unidades. A Bayer MaterialScience, que corresponde a 18% do total de vendas da Bayer
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no Brasil, com R$ 592 milhões em 2007, é líder em policarbonatos e em poliuretanos rígidos e de especialidades. Nesta divisão de negócios, o crescimento em relação ao ano anterior foi de 5%. Em comparação com 2006, o Grupo mostrou uma significativa recuperação em seu lucro líquido, que em 2007 foi 40% melhor que no ano anterior, totalizando R$ 70 milhões negativos. “Com a recuperação no segmento do agronegócio, nossa performance foi bem melhor e acreditamos nesta tendência positiva para os próximos anos”, complementa o executivo que espera já para 2008 um resultado claramente positivo.
ram beneficiados pelas condições positivas nos mercados agrícolas mundiais, os preços mais altos dos commodities agrícolas, o aumento no cultivo agrícola para a produção de biocombustíveis e um ambiente de mercado melhor na América Latina. Os produtos jovens da divisão tiveram um desempenho particularmente bom. Vendas de substâncias ativas introduzidas nos principais mercados desde 2000 cresceram um terço em comparação a 2006, atingindo quase 1,4 bilhão de euros. Contribuições significativas vieram do tratamento de sementes com o Poncho, cujas vendas quase dobraram (com ajustes de câmbio); o fungicida Flint, que teve um aumento de vendas de 37%; o herbicida de cereais Atlantis e o fungicida de cereais Proline. Na Environmental Science, no segmento de BioScience, as vendas atingiram 1,045 bilhão, com um aumento de 2,6% com ajustes de câmbio e portfólio. Enquanto a BioScience viu um aumento de 14,1% nos negócios, com ajustes de câmbio e portfólio, as vendas da Environmental Science caíram 2,8%, com ajustes de câmbio. Os negócios com produtos de uso profissional foram prejudicados por competição com genéricos e condições climáticas desfavoráveis na América do Norte. O EBITDA antes de itens especiais da divisão cresceu 10% em comparação ao ano anterior, atingindo 1,324 bilhão de euros. Isto se deveu em parte ao maior volume de vendas e às reduções de custo, que mais do que balancearam o declínio das margens de lucro causadas por efeitos de câmbio negativos. A margem EBITDA antes de itens especiais atingiu 22,7%, ultrapassando as expectativas da empresa.
PROGRAMA MUNDIAL DE PROTEÇÃO AO CLIMA
A
Bayer lançou recentemente o Bayer Climate Program (Programa de Clima da Bayer), um programa integrado para todo o Grupo, através do qual a empresa pretende reduzir ainda mais as emissões de CO2 das suas fábricas e desenvolver novas soluções para aumentar a proteção do clima e para lidar com a mudança climática. O programa inclui diversas medidas que foram iniciadas pelo Conselho Administrativo de Grupo e serão desenvolvidas nos próximos anos. No novo programa de proteção climática, baseado na recém-formulada “Política de Mudança Climática da Bayer”, a empresa deverá fazer uso de toda sua experiência como empresa inovadora em diferentes áreas específicas. Entre 1990 e 2006, a empresa diminuiu suas emissões absolutas de gases do efeito estufa em 36%. Além disso, as emissões específicas por unidade de produto também foram reduzidas como resultado da melhoria consistente na efici-
O porta-voz do grupo Bayer e presidente da Bayer S.A. Horstfried Laepple, prevê crescimento ainda maior para 2008, com um au-
mento de 5% nas vendas do Grupo Bayer, levando em consideração os ajustes de câmbio. Isso significaria um ligeiro aumento nominal em comparação a 2007, e a previsão é de que a margem EBITDA atinja os 23%. As perspectivas para a divisão Health Care são mais ambiciosas e projetam elevar essa margem em 27%. Para garantir um crescimento constante e sólido do grupo, serão investidos aproximadamente 1,7 bilhão de euros em propriedades, fábricas e equipamentos, somente em 2008. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento devem atingir 2,8 bilhões de euros. “Mais uma vez, trata-se do maior orçamento
Apesar de 2007 ter sido o melhor ano da história da Bayer, Horstfried Laepple prevê 2008 melhor ainda
Bohne diz que soluções inovadoras e portfólio completo justificam sucesso da Divisão CropScience no Brasil
PERSPECTIVAS PARA 2008
ência energética. Para o novo programa, a empresa já começou a trabalhar nos primeiros projetos de destaque: um conceito global para emissão-zero dos edifícios de escritórios e outros prédios industriais conhecidos como “Edifícios Eco-Comerciais” (EcoCommercial Building), o desenvolvimento de plantas tolerantes ao estresse e sistemas para incentivar o uso efetivo da lavoura na produção de biocombustível, e o Bayer Climate Check para otimizar os processos de produção. Nos próximos três anos, a Bayer irá investir um bilhão de euros em projetos, pesquisa e desenvolvimento de ações relacionadas ao tema. “Estamos muito cientes de que emitimos gases causadores do efeito estufa”, diz o presidente mundial do Grupo Bayer, Werner Wenning. “É por isso que no passado estávamos concentrando nossos esforços em reduzir a emissão de CO2”, complementa. de P&D de qualquer empresa alemã em nossa indústria”, enfatizou Wenning.
BRASIL Boa parte do crescimento mundial da empresa em 2007 se deve ao excelente desempenho obtido no Brasil. Com faturamento de R$ 3,3 bilhões em 2007, o Grupo Bayer Brasil amplia sua participação nos negócios mundiais da empresa e já ocupa a 7ª posição no ranking interno. Juntas, as três divisões de negócios registraram um crescimento de 25% em vendas no ano de 2007. A divisão CropScience continua sendo o principal negócio do Grupo no país. Com vendas totais de R$ 1,4 bilhão em 2007, a divisão representa 43% do total do Grupo e ampliou suas vendas em 14% no ano passado. “Após dois anos difíceis, a agricultura brasileira mostrou condições mais favoráveis no último ano, o que contribuiu bastante para o resultado do Grupo”, declara Horstfried Laepple. Para o diretor de Operações Brasil da Bayer CropScience, Gerhard Bohne, esse crescimento é resultado das soluções inovadoras e do completo portfólio para o controle dos principais problemas que afetam as lavouras. “O foco do nosso negócio é estabelecer de forma consistente a geração de valor por meio de inovação e pretendemos introduzir continuamente inovações de produtos adaptados ao mercado local, que atenda às necessidades especíC ficas dos clientes”, explica.
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Soja Fotos Dirceu Gassen
Vagens arruinadas Até 100% ddee per da é o nível ddee ddan an o que a an tr acn ose pod perd ano antr tracn acnose podee causar a um umaa lavour lavouraa ddee soja. atur as e umi dad dições iid deais par Safr as ch uvosas condições paraa o Safras chuvosas uvosas,, com altas temper temperatur aturas umid adee, são con desenvolvim en to ddo o fun go, que tem com o prin cipal sin tom en to ddas as esenvolvimen ento fung como principal sintom tomaa a qued quedaa e o apod apodrrecim ecimen ento vag en estes m ostr am a efi ciên ci gi ci das ddo o grupo ddas as estr obilurin as ofan ato vagen enss. TTestes mostr ostram eficiên ciênci ciaa ddee fun fungi gici cid estrobilurin obilurinas as,, ti tio anato em tod os as é pr eciso estar aten to por que n ole ddes es oença, m co e tri azóis par tr metíli atento porque nem todos mas preciso paraa o con contr trole estta ddoença, etílico triazóis o Ministéri o ddaa A gri cultur efen sivos possuem rregistr egistr on os ddefen truncatum Agri gricultur culturaa par paraa o combate a C. trun efensivos egistro no Ministério catum
A
antracnose, causada por Colletotrichum dematium (Pers. ex Fr.) Grove var. truncata (Schw.) Arx [sin. C. Truncatum (Schw.) Andrus & Moore], é uma das mais importantes e freqüentes doenças da soja nos cerrados. Sob condições de alta temperatura e umidade, principalmente em anos chuvosos, causa acentuada redução do número de vagens, podendo induzir a planta à retenção foliar e haste verde. Os níveis de perdas podem chegar a 100% em casos excepcionais de ambiente favorável (Almeida et al., 2005).
SINTOMAS Seu principal sintoma é a queda e o apodrecimento de vagens que, ao serem infectadas em início de formação (R4 - R5.1), adquirem coloração castanho-escura a negra, abortam a formação de grãos e ficam retorcidas. Nas vagens em granação (R5.1 - R6), as lesões se iniciam por pontos de anasarca e evoluem para manchas negras, geralmente com expansão circular, constituídas pelo aglomerado de acérvulos. Outras partes da planta também são infectadas por C. truncatum. Nas hastes, pecíolos e racemos florais a doença se manifesta através de manchas negras, ligeiramente deprimidas e brilhantes. Nas folhas geralmente são observadas lesões necróticas
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pretas ou castanho-escuras sobre as nervuras. É importante atentar para o correto diagnóstico da antracnose, principalmente observando-se a prevalência da coloração negra das lesões e a presença de acérvulos com setas negras características, pois ainda são comuns algumas confusões com os sintomas causados por Cercospora kikuchii, Corynespora cassiicola e queimaduras de sol. As maiores reduções de produtividade da soja atribuídas à antracnose têm ocorrido quando a cultura passa por algumas situações de estresse, o que provoca debilidades fisiológicas nas plantas e favorece a expressão da
doença. Os fatores de estresse mais comuns são excesso ou falta de chuvas, baixa fertilidade de solo, ocorrência de doenças radiculares e ataque de pragas, principalmente percevejos sugadores. Os tecidos dessas plantas debilitadas, principalmente as vagens que tiveram o processo de formação de grãos interrompido, são rapidamente colonizados e decompostos por C. truncatum.
CONTROLE O controle da antracnose é mais eficiente através da adoção de medidas como rotação
Para diagnosticar corretamente a antracnose, deve-se observar a coloração negra das lesões e a presença de acérvulos com setas pretas características
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Figura 1 - Incidência de antracnose (Colletotrichum truncatum) causando apodrecimento de vagens em soja cv. BRS Sambaíba, em experimento de nutriente limitante em Bom Jesus, Piauí. Médias seguidas das mesmas letras (maiúsculas para as subparcelas tratadas com fungicidas e minúsculas para as não tratadas) não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 2 - Incidência de antracnose (Colletotrichum truncatum) causando apodrecimento de vagens em soja cv. BRS Sambaíba, em experimento de doses e épocas de aplicação de potássio, instalado em Bom Jesus, Piauí na safra 2000/01 e avaliado em 2004/05. Médias seguidas das mesmas letras (maiúsculas para as subparcelas tratadas com fungicidas e minúsculas para as não tratadas) não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
Figura 3 - Efeito de duas aplicações de fungicidas em soja cv. BRSMT Uirapuru (estádios R1 e R5.1) na redução da incidência de antracnose (Colletotrichum truncatum). Riachão, Maranhão, safra 2006/07. O número após o nome do fungicida refere-se à dose em g i.a. ha-1. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade
de culturas, uso de sementes sadias, tratamento de sementes com fungicidas adequados, manejo correto da fertilidade do solo, principalmente com relação à adubação potássica, manejo físico do solo para que as plantas tenham o melhor desenvolvimento radicular possível, espaçamento entre as linhas variando de 45cm a 55cm, população adequada à cultivar (200 mil plantas/ha a 250 mil plan-
Figura 4 - Efeito de duas aplicações de fungicidas em soja cv. BRS Sambaíba (estádios R3 e R5.2) na redução da incidência de antracnose (Colletotrichum truncatum). Riachão, Maranhão, safra 2004/05. O número após o nome do fungicida refere-se à dose em g i.a. ha-1. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
tas/ha), manejo eficiente de pragas (principalmente percevejos) e de plantas invasoras. Observações a campo têm mostrado que a incidência de antracnose é menos severa em sistemas de semeadura direta e em áreas com cobertura morta originária de plantas nãohospedeiras do patógeno. Estudos de nutrição da soja conduzidos em solos com diferentes texturas no Piauí
(25% de argila) e Maranhão (60% de argila), revelaram o efeito do potássio (K) na redução da incidência de antracnose causando podridão de vagens da cultivar de soja BRS Sambaíba. Em experimento com nutriente faltante e parcelas subdivididas com e sem pulverização de fungicidas (trifloxiztrobin 56g i.a. ha + ciproconazole 24g i.a. ha em R2 e R5.1) foi observado que a supressão do fornecimento
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Fotos Dirceu Gassen
Lesões necróticas pretas ou castanho-escuras sobre as nervuras são sintomas característicos da antracnose em folhas
de potássio para as plantas causou o aumento da incidência de antracnose em mais de duas vezes os valores observados para os demais tratamentos, independentemente do efeito fungicida (Figura 1). Outro experimento onde se avaliou o efeito de níveis e épocas do suprimento de potássio para soja BRS Sambaíba, em parcelas subdivididas com e sem pulverização de fungicidas, foi observado que os tratamentos com fornecimento constante do nutriente apresentaram as menores porcentagens de incidência de antracnose, independentemente do efeito fungicida, não havendo efeito residual da aplicação de potássio nos primeiros anos de cultivo sobre o controle da doença, neste tipo de solo (Figura 2). A variabilidade genética de cultivares de soja tem sido estudada e várias fontes de resistência à antracnose já foram identificadas, mas não há indicação de nenhuma cultivar resistente atualmente no Brasil. Um estudo realizado com inoculação de C. truncatum em sementes comparou o índice de infecção em
plântulas, identificando maior nível de resistência nas cultivares M-SOY 8001, MGBR 46 (Conquista), M-SOY 8400, Emgopa 315, BRSMG 68 (Vencedora), Emgopa 313, BRSMG Garantia e BRS 133 (Galli, et al., 2006). Experimentalmente, tem sido observada a eficiência de controle com alguns fungicidas do grupo das estrobilurinas em mistura com triazóis, assim como de tiofanato metílico, isoladamente ou em seqüência de aplicação com triazóis ou estrobilurinas, e de alguns triazóis aplicados de forma isolada. Os fungicidas flutriafol + tiofanato metílico (60 + 300 e 70 + 350g i.a. ha), tiofanato metílico (300g i.a. ha), azoxystrobin + ciproconazole (60 + 24g i.a. ha) e pyraclostrobin + epoxiconazole (66,5 + 25g i.a. ha), pulverizados em duas épocas sobre a cultivar MSOY 6101 nos estádios R2 e R5.1, respectivamente, foram eficientes no controle da antracnose (Campos et al., 2005 a). Também foi
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Maurício Conrado Meyer e Dirceu Klepker, Embrapa Soja
ANTRACNOSE NA SEMENTE
S
Vagens abortam a formação de grãos e apodrecem na planta
demonstrada a eficiência de controle de duas aplicações em R2 e R5.1, respectivamente, dos fungicidas pyraclostrobin + epoxiconazole (66,5 + 25g i.a. ha), azoxystrobin + ciproconazole (60 + 24g i.a. ha), trifloxistrobin + ciproconazole (56,2 + 24g i.a. ha), as seqüências de flutriafol/carbendazin (62,5/250g i.a. ha), epoxiconazole/tiofanato metílico (42/360 e 35/300g i.a. ha) e a aplicação de pyraclostrobin + epoxiconazole (66,5 + 25g i.a. ha) em R2 e epoxiconazole/tiofanato metílico (50/ 300g i.a. ha) em R5.1 (Campos et al., 2005 b). Avaliações realizadas no Maranhão e Tocantins confirmaram o melhor controle químico da antracnose com duas aplicações de misturas de estrobilurinas com triazóis e alguns triazóis isoladamente (Figuras 3 e 4) (Meyer & Rodacki, 2005). Nem todos os fungicidas citados nesta apresentação possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (Mapa) para controle de C. truncatum, havendo necessidade de confirmação antes de receitá-los. Nas últimas safras, vários experimentos de controle químico da antracnose em soja não têm alcançado resultados consistentes em função da dificuldade de distribuição homogênea de inóculo e falhas da metodologia de avaliação de incidência e severidade da doença. Outro fator que tem contribuído para a escassez de resultados é a ocorrência de outras doenças mais agressivas, como a ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi), dificultando a distinção do efeito de cada uma. C
ementes infectadas apresentam manchas deprimidas, de coloração castanho-escura. O percentual de sementes infectadas aumenta consideravelmente quanto maior for o índice de chuvas na colheita. As plântulas originadas de sementes infectadas apresentam necrose dos cotilédones, que pode se estender para o hipocótilo e causar o tombamento. Esta situação é mais intensa quando o período de emergência é sucedido de chuvas abundantes e houver elevada fonte de inóculo em restos de cultura. O fungo também pode causar o apodrecimento da semente no solo antes da emergência (Henning et al., 2005). Ocorre uma acentuada redução da infecção de sementes de soja por C. trunca-
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tum durante o período de armazenamento em condição ambiente. É também possível que C. truncatum seja um dos principais causadores da necrose da base do pecíolo cuja etiologia ainda não está esclarecida. As principais fontes primárias do patógeno são as sementes e restos de cultura da safra anterior à soja. Os conídios são dispersos principalmente por respingos de gotas de chuva que incidem nos acérvulos, fragmentando a massa gloióide de esporos. O fungo coloniza o interior do tecido cortical e pode permanecer em forma latente até o final do ciclo da soja sem expressar a doença, dependendo muito das condições ambientais e do estado nutricional das plantas.
Paulo Rebelles Reis
Café
Troca de favores Domáci as ffoli oli ar es em café servem ddee abri go e cri atóri o ddee ácar os Domácias oliar ares abrig criatóri atório ácaros teri or pr ed ad or es evivem tan to ao seu rred ed or com o em seu in pred edad ador ores es,, que sobr sobrevivem tanto edor como interi terior or,, atr avés ddee um m utu alism o ffacultativo acultativo cúmpli ce ed uzin do o núm er o ddee através mutu utualism alismo cúmplice ce,, rred eduzin uzind númer ero artrópod es fitóf ag os e patóg en os que pod em se alojar n as plan tas artrópodes fitófag agos patógen enos podem nas plantas
D
omácias foliares são pequenas estruturas existentes na superfície inferior das folhas (face abaxial), situadas nas junções das nervuras formadas no ângulo menor entre a nervura central e as nervuras secundárias de certas espécies de dicotiledôneas (raramente em monocotiledôneas). Domácias ocorrem em várias espécies de mais de 30 famílias de angiospermas lenhosas em todo o mundo, tendo ocorrência abundante em espécies vegetais de florestas tropicais e subtropicais. Essas estruturas foliares podem variar na quantidade, desenvolvimento e formato de acordo com condições ambientais. Algumas evidências demonstram a existência de mutualismo entre plantas que apresentam domácias foliares e ácaros, como por exemplo, 1) a ocorrência de ácaros dentro das domácias; 2) a presença de domácias aumenta a chance de serem encontrados ácaros e 3) a atividade dos ácaros aumenta as chances de se encontrar plantas com domácias. A observação do aparecimento de ácaros predadores dentro e ao redor das domácias, em inúmeras plantas, permite considerar a possibilidade de
existir mutualismo facultativo entre ácaros e domácias. As domácias podem, então, representar a forma de mutualismo mais abundante e antiga e amplamente distribuída entre plantas e artrópodes (O’Dowd & Wilson, 1997). Pesquisas têm mostrado que há interações entre algumas características morfológicas das plantas, como tricomas, pilosidade, domácias etc, e agentes de controle biológico de pragas que podem influenciar, de algum modo, na capacidade desses organismos de controle biológico e reduzir populações de fitófagos (Messina & Hanks, 1998; Dicke, 1999; Michalska, 2003 citados por Matos et al., 2006 a, b). Os resultados da pesquisa de Pemberton & Turner (1989) permitiram aos autores concluir que existe um amplo mutualismo facultativo entre domácias e ácaros benéficos (predadores e fungívoros), onde as domácias foliares servem de abrigo e criatório que, por sua vez, reduzem o número de artrópodes fitófagos e patógenos que se encontram nas plantas. Esses autores relatam a presença de Tydeus sp. (Tydeidae), Agistemus sp. (Stigmaeidae), Typhlodromus haramotoi (Prasad, 1968) (Phytoseiidae) em domácias de folhas de ca-
feeiro Coffea arabica L., e Bdella sp. (Bdellidae) e Amblyseius herbicolus (Chant, 1959) (Phytoseiidae) em Coffea liberica Bull. As domácias também podem abrigar ácaros microbiófagos, ou seja, que se alimentam de micróbios e, assim, favorecem as plantas consumindo fungos fitopatogênicos ou epífitos, o que resulta na redução da severidade de doenças de plantas como, por exemplo, o míldio (André, 1939; Norton et al., 2000). Ácaros podem ser observados em domácias de diversas espécies de plantas, o que sugere que encontram ali o seu alimento. Porém, pode não ser a regra, pois muitas pesquisas rejeitam a hipótese de que exista mutualismo entre ácaros e domácias, porque estas nem sempre contêm a praga. Há domácias com completa ausência de desenvolvimento de ácaros em seu interior, e também existe insuficiência de informações sobre associações de ácaro-domácia (Pembertom & Turner, 1989). Um benefício potencial que as plantas adquirem é que os ácaros podem funcionar como “guarda-costas” (ácaros predadores) contra ácaros fitófagos (Walter, 1996). Alguns ácaros fitófagos podem trazer sérios proble-
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Fêmea adulta de Brevipalpus phoenicis dentro da domácia
Brevipalpus phoenicis saindo da domácia foliar
mas para a saúde das plantas, mas têm numerosos inimigos naturais, especialmente pertencentes à família Phytoseiidae de ácaros predadores. Além de ácaros, ocasionalmente, as domácias foliares também podem abrigar pequenos insetos como tripes e ninfas de pequenos percevejos, possivelmente também predadores, e cochonilhas. Ácaros predadores, que se alimentam de
Fêmea adulta de Iphiseiodes zuluagai após depositar um ovo dentro da domácia foliar de Coffea arabica
material em decomposição, fungos (fungívoros) ou outros micróbios, representam 90% dos artrópodes encontrados dentro das domácias foliares. Nenhum é considerado prejudicial para a planta. Todos são considerados benéficos, os primeiros por serem inimigos naturais de ácaros e pequenos insetos, e os fungívoros por auxiliarem na redução de patógenos e na mobilização de nutrientes seqüestrados pelos fungos, algas, bactérias leveduras, líquens etc. Marchand (1864) (citado por André, 1939) já havia observado “pequenos animais octópodes articulados e seus ovos” (hoje sabemos que são ácaros) no interior de pequenas cavidades existentes nos ângulos de união entre a nervura mediana e as secundárias de C. arabica (hoje chamadas de domácias). Elas são invaginações ou pequenas cavidades naturais da folha existentes na superfície inferior desde a base do limbo até aproximadamente 2/3 do comprimento da folha (Barros, 1960; O’Dowd, 1994), cujas aberturas se encontram
Ácaros encontrados em domácias de folhas de cafeeiro Espécies Agistemus brasiliensis Matioli, Ueckerman & Oliveira Amblyseius aerialis (Muma) Bdella sp. Brevipalpus phoenicis (Geijskes) Daidalotarsonemus sp. Euseius citrifolius Denmark & Muma
Famílias Iolinidae Stigmaeidae Phytoseiidae Bdellidae Tenuipalpidae Tarsonemidae Phytoseiidae
Euseius concordis (Chant) Homeopronematus sp. Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma Lorrya formosa Cooreman
Phytoseiidae Tydeidae Phytoseiidae Tydeidae
Lorrya sp.
Tydeidae
Oligonychus ilicis (McGregor) Parapronematus acaciae Saproglyphus sp. Spinibdella sp. Tarsonemus confusus Ewing Tarsonemus sp. Triophtydeus sp. Typhlodromus camelliae (Chant & Yoshida-Shaul) Tyrophagus sp Zetzellia malvinae Matioli, Ueckerman & Oliveira Zetzellia sp.
Tetranychidae Iolinidae Winterschmidtiidae Bdellidae Tarsonemidae Tarsonemidae Tydeidae Phytoseiidae Acaridae Stigmaeidae Stigmaeidae
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Referências bibliográficas Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro, 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Matos et al., 2006b Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro, 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro al., 2006 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005 Mineiro et al., 2006 Mineiro et al., 2006 Mineiro, 2006 Mineiro, 2006 Mineiro et al., 2006 Spongoski et al., 2005
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nos pontos de ramificação da nervura principal e, dentro delas, são encontrados ácaros fungívoros, fitófagos, predadores, entre outros. Os Tydeidae e Iolinidae provavelmente são os mais encontrados nas domácias e por esse motivo são comumente chamados de ácaros das domácias. Segundo Flechtmann (1967) os tideídeos são encontrados em cafeeiros em qualquer época do ano, porém, aparentemente sem causar nenhum dano. Ácaros da família Tydeidae são até agora reconhecidos como os mais abundantes em domácias, por isso são conhecidos vulgarmente também como ácaros-das-domácias, ácaros que servem de alimento aos ácaros predadores, mesmo que como alimento alternativo. O cafeeiro da espécie C. arabica apresenta muitas domácias desenvolvidas, e o da espécie Coffea canephora, Pierre & Froehner, contém poucas e incipientes domácias (Matos et al., 2005 citados por Matos et al., 2006 a, b). As domácias servem de abrigo e local de oviposição para o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, 1972 (Phytoseiidae), indicando a importância das domácias como fonte de sua sobrevivência, sugerindo uma interação mutualística planta-predador (Matos et al., 2004) e certamente para outras espécies também encontradas em cafeeiro. Segundo Matos et al., (2006 b) C. arabica apresenta aproximadamente 1,7 vezes mais domácias que C. canephora. Pallini et al.,
No alto, Amblyseius herbicolus predando o ácaro da mancha-anular. Abaixo, fêmeas de B. phoenicis
ORIGEM
(2006) e Matos et al, (2006 b) trabalhando com as duas espécies de cafeeiros, mostrou que o C. arabica apresenta cerca de oito vezes mais ácaros predadores I. zuluagai e até 0,7 vezes menos ácaros-praga (B. phoenicis e O. ilicis) do que C. canephora e infere que isso se deve ao efeito positivo da domácia sobre os predadores. As domácias também reduzem, em C. arabica, o canibalismo entre o ácaro predador adulto de I. zuluagai sobre os jovens de sua própria espécie (Ferreira et al., 2006), fator também favorável no aumento da população do predador.
A
CONSIDERAÇÕES FINAIS Tudo indica que o benefício mais óbvio de uma domácia foliar ao ácaro predador é de oferecer proteção e abrigo, especialmente como local para colocar seus ovos e efetuar a mudança de estádio (muda) de desenvolvimento. Diversos estudos têm demonstrado o uso de domácias por Phytoseiidae preferencialmente para oviposição e muda. Em condições de campo, mais de 75% de todos os ovos postos por fitoseídeos foram encontrados dentro das domácias. Ensaios de laboratório demonstraram que as domácias foliares protegem os ovos do efeito da baixa umidade e, na presença de domácias, um ácaro predador coloca duas vezes mais ovos que na sua ausência.
Superfície inferior de folha exibindo domácias nos ângulos menores entre as nervuras central e secundárias
Somente a partir da década de 90 é que a resposta dos ácaros à arquitetura das plantas tem sido considerada, mas é claro que as estruturas eventualmente existentes na superfície foliar alteram a abundância de ácaros, influenciam as interações predador-presa e são importantes para o entendimento do relacionamento entre C ácaros plantícolas e plantas.
s domácias apresentam diversas formas, como tufos de pêlos ou bolsas (com ou sem pêlos), por exemplo. O termo domácia ou acarodomácia foi usado pela primeira vez há 120 anos, pelo sueco Lundström (1887), citado por Matos et al. (2006 a, b), após observações de que essas estruturas serviam de abrigo e morada para ácaros (domatium = casa pequena). Embora alguns autores (entre eles a maioria dos botânicos) considerem que as domácias foliares são úteis apenas como características morfológicas e sejam de interesse apenas taxonômico, pois não são conhecidas funções fisiológicas para elas (Nakamura et al., 1992 citados por Matos et al., 2006 a, b), outros sugerem que essas estruturas abrigam ácaros que promovem benefícios para as plantas. Paulo Rebelles Reis, Epamig/EcoCentro Mauricio Sergio Zacarias, Embrapa Café
Algodão Robert Nichols
Perigo no solo
Estudo Estudo identifica identifica as as principais principais espécies espécies de n em atói nem ematói atóid fitoparasitas presen esentes atóides es fitopar fitoparasitas asitas pr presen esentes tes em Mato Grosso, na cultura em M Mato ato Gr Grosso, osso, n naa cultur culturaa ddo do alg oeir tr tes algod odoeir oeiro. Entr tre mais preocupan eocupantes algod oeiro. En tree as as m mais ais pr preocupan estão otylench chulus atylench chus ch ulus ee PPratylen ch us, estão RRotylen com sever oo aum to ddee nível severo aumen ento aumen populacional. Essa maior incidência pode estar associada à ausência de te ou toler an te n o materi al rresisten esisten no aterial esistente toleran ante od elo m ercad cado mod odelo elo dde dee mer ercad cado e também ao m as cultivo com pou ca pouca culturas as, otação dde de cultur as, ca rrotação rotação empr eg oo in sivo es empreg ego inten tensivo varied edad ades inten sivo dde dee vari varied edad es suscetíveis e uso ddee cobertur as coberturas as hosped eir as que permitem a ospedeir eiras repr od as eir o eprod odução pragas agas.. O prim primeir eiro odução ddas as pr pragas passo passo éé identificar os nematóides pr esen tes n opri ad tão presen esentes naa pr propri opried edad adeee, par paraa en então opried planejar e implementar medidas adequadas de manejo
O
Mato Grosso é o maior produtor de algodão do Brasil (Conab, 2007). Com cultivo do algodoeiro totalmente mecanizado, o estado emprega altos níveis de insumos e adota sistemas de cultivo com outros grãos como soja, milho, sorgo e coberturas de milheto ou brachiaria. Estes sistemas, juntamente com a prática de monocultivo, têm elevado as populações de diversos patógenos como os nematóides, causadores de significativas perdas, isoladamente ou associados a fungos ou a bactérias. Cinco espécies de nematóides são prejudiciais ao algodão, porém, apenas três encontram-se no Brasil – Meloidogyne incognita (raças 3 e 4), popularmente conhecido como nematóide das galhas, Rotylenchulus reniformis, nematóide reniforme, e Pratylenchus brachyurus, nematóide das lesões. Estas espécies são ainda mais prejudiciais quando associadas a fungos, como Fusarium e Rizoctonia solani.
A PRAGA E SEUS DANOS Meloidogyne incognita é o mais danoso, pois causa redução do desenvolvimento, a partir de populações muito baixas. Em áreas em que esteja associado a Fusarium oxisporium f. sp. vasinfectum, pode resultar em perdas totais de produção em variedades suscetíveis (Santos, 2001). Os prejuízos causados por esses nematóides são maiores em solos de textura arenosa, com baixa fertilidade (Asmus, 2004). As fêmeas de Rotylenchulus reniformis destroem as células epidermais, necrosam células vizinhas e provocam o colapso do parênquima cortical, injuriando, também, o floema, de onde obtêm alimento. Como conseqüência, as raízes danificadas paralisam o crescimento. Devido à ausência de sintomas externos, torna-se necessária a análise de solo e de raízes em laboratório (Lordello, 1981). Pratylenchus brachyurus é extremamente comum nas regiões tropicais e perdas de produtividade ainda não foram comprovadas em condições de campo, apenas em casa de vegetação. É uma espécie cosmopolita, polífaga, de corpo fusiforme e tamanho microscópico, Figura 1 - Porcentagem dos diversos gêneros de nematóides encontrados em solo de 273 amostras do Mato Grosso. Laboratório de Nematologia da Coodetec, de Primavera do Leste (MT), safra 2006/07
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Tabela 1 - Porcentagem de áreas contaminadas pela presença do nematóide, em solo e raiz das diferentes espécies. Laboratório de Nematologia da Coodetec, de Primavera do Leste, safra 2006/07 Local
Nº am. Meloidogyne Solo Raiz Pva do Leste 171 4 4 Sorriso 12 83 100 Sonora 1 0 0 Poxoréo 8 88 0 Gaúcha do Norte 22 0 0 Sto Antº.Leste 29 3 7 General Carneiro 30 3 7 Totais 273 10 8
Rotylenchulus Solo Raiz 12 13 8 0 100 0 25 25 0 0 93 83 17 27 21 21
Pratylenchus Solo Raiz 77 70 83 83 100 100 75 100 59 45 93 86 90 93 79 74
Tabela 2 - Níveis populacionais encontrados nas amostras nematológicas do Laboratório de Nematologia da Coodetec de Primavera do Leste (MT), safra 2006/07 Pratylenchus Solo* Raiz
Rotylenchulus Solo Raiz
Meloidogyne Solo Raiz
Heterodera Solo Raiz
0-6144 0-5376 0-2145 0-382 0-2112 0-2400 0-2048 * Dados por 100cc de solo e 10g de raiz. (*) Método de extração Coolen e D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964.
Tabela 3 - Níveis populacionais encontrados na literatura (Silva et al. 2004; Asmus, 2004), em levantamentos de populações dos principais nematóides do Mato Grosso. Safra 2002/03 Pratylenchus Solo* Raiz 0-365
Rotylenchulus Solo Raiz
0-1806 0-245
-
Meloidogyne Solo Raiz 0-390
0-78
Heterodera Solo Raiz 0-1995 0-1625
* Dados por 100cc de solo 10g de raiz. (*) Método de extração Coolen e D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964.
chus brachyurus, Rotylenchulus reniformis e Meloidogyne incognita. E para a cultura da soja: Pratylenchus brachyurus, Rotylenchulus reniformis, Meloidogyne incognita e M. javanica e Heterodera glycines. P. brachyurus se encontra em maior número nas amostras (33%), tanto na cultura da soja quanto algodão, seguido do nematóide de cisto H. glycines, que só ataca a soja (29%), e em terceiro lugar em ordem de
Dan Rahn
raramente excedendo 0,9mm de comprimento. Trata-se de nematóides migradores, que se alimentam de células do córtex das raízes, causando escurecimento dos tecidos parasitados. No Mato Grosso, Silva et al. (2002) relataram a expressiva população e a incidência dos nematóides, em solos e raízes de algodão, chamando a atenção para o alto nível de Pratylenchus e a notória falta de informação sobre essa espécie, como parâmetros populacionais prejudiciais. Inomotto et al. (2005) demonstraram que os danos sofridos variam de acordo com a cultivar, sendo, IAC 20 e IAC 22 resistentes, e Deltapine Acala 90 suscetível. Os produtores de algodão do Cerrado precisam conhecer os tipos de nematóides presentes na propriedade, gênero-espécie-raça, e seus respectivos níveis populacionais. Esta informação é indispensável para o planejamento dos cultivos e para a implementação de medidas adequadas de manejo cultural, ou a escolha das variedades a serem plantadas. Nas principais áreas produtoras do Mato Grosso, foi realizado um levantamento geral dos nematóides tanto em lavouras de soja quanto de algodão. Estes dados constituem uma referência para ser usada em trabalhos futuros sobre dinâmica das populações ou manejo diferencial visando à redução destes patógenos na área. As amostras de solo e raízes foram processadas e analisadas no Laboratório de Nematologia da Coodetec, em Primavera do Leste (MT). O órgão presta serviços desde 2007 e tem o intuito de auxiliar técnicos e agricultores, devido ao crescente aumento das perdas causadas pelos nematóides na região. Analisando 273 amostras de solo, foram encontrados seis gêneros: Pratylenchus sp., Rotylenchulus sp., Meloidogyne sp., Heterodera sp., Aphelenchoides sp. e Helicotylenchus sp. (Figura 1). Dentre estes, destacam-se três de maior importância para o algodão: Pratylen-
Os melhores resultados no controle de fitonematóides são conseguidos através da rotação de culturas
NA SOJA
N
a cultura da soja, os principais nematóides são Meloidogyne incognita (raça 1, 2, 3 e 4), Meloidogyne javanica e o nematóide de cisto, Heterodera glycines. Este último causa principalmente alterações morfofisiológicas das raízes, prejudicando o seu desenvolvimento. Em alguns casos, aumenta o número de raízes laterais, porém com redução ou ausência de nodulação (Anjos et al. 1992), de forma a acarretar redução na absorção e na translocação de água e nutrientes na planta. No cultivo da soja, as perdas na produção têm variado de leves (lavouras sem sintomas, nas quais apenas se constatou a presença do patógeno) a severas. Anjos e Sharma (1992) verificaram em lavouras infestadas no município de Chapadão do Céu e Goiás, reduções de 63% na altura das plantas afetadas e estimaram uma queda de 42,5% a 80,4% na produção de grãos. importância econômica o nematóide reniforme (9%) que também ataca ambas as culturas. Helicotylenchus sp. é um nematóide que tem boa distribuição (22%), mas pelo menos por enquanto não tem causado danos significativos. As espécies que mais afetam o algodoeiro estão listadas na Tabela 1. Existe uma distribuição diferencial dos nematóides por região. Pratylenchus se destaca em todas as áreas em relação aos outros dois nematóides. Meloidogyne se encontra em muitos talhões de Sorriso, norte do Mato Grosso e Poxoréo. Rotylenchulus tem maior incidência em Sonora, seguido de Santo Antônio do Leste. No caso da soja, H. glycines é distribuído em quase todas as regiões. Helicotylenchus é um nematóide pouco comum, relatado no Brasil parasitando canade-açúcar e frutíferas em São Paulo. O primeiro levantamento de fitonematóides verificou a ocorrência do gênero Helicotylenchus em mais de 90% das 800 amostras coletadas em levantamento na cultura da cana-de-açúcar (Novaretti et al., 1974). Depois disso, outro trabalho apontou que o gênero Helicotylenchus H. dihystera consolidou-se como a espécie mais comum, detectada em 49% das amostras, ocorrendo em associação com várias fruteiras. O nível populacional mais elevado foi de 2 mil espécimes por 250cm³ de solo, em pessegueiro, no município de Paranapanema (SP) (Sher, 1966). Não há relato de danos deste nematóide sobre os cultivos de soja e algodão. Aphelenchoides pode ser encontrado, além
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John D. Byrd
Entre as espécies de nematóides, a mais danosa é Meloidogyne incognita, pois, mesmo em populações muito baixas, causa redução do desenvolvimento das plantas
da cultura do algodoeiro, em arroz, milho, trigo e morango. Embora sua presença tenha sido constatada em 1969, no Rio Grande do Sul, em morango e, posteriormente, em vários outros estados: (São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo), não se dispõe de informações sobre os níveis de danos provocados, nem se ataca soja e algodão. Os níveis populacionais dos principais nematóides são apresentados na Tabela 2. Os níveis encontrados em trabalhos realizados em 2002 e 2003 são apresentados na Tabela 3. As populações de Pratylenchus e Rotylenchulus aumentaram significativamente desde o levantamento feito por Silva et al. 2002. Já os nematóides de cisto e galha se mantiveram em níveis semelhantes ou abaixo, talvez devido ao uso de variedades de soja resistentes a estes dois nematóides. O que preocupa é o fato de não existirem materiais resistentes/tolerantes aos nematóides das lesões e reniforme, situação responsável pelo aumento dessas pragas. O crescimento preocupante dos níveis populacionais das três principais espécies de nematóides se deve provavelmente ao modelo de cultivo no Mato Grosso, com pouca rotação de culturas, intenso cultivo de variedades suscetíveis, coberturas hospedeiras e que permitem sua reprodução. As gramíneas, de maneira geral, são suscetíveis a Pratylenchus, ou seja, permitem sua reprodução, porém, a maioria delas são tolerantes aos danos, salvo ao intenso parasitismo (Inomoto et al. 2005). São recomendadas para rotação de culturas, formação de palhada para plantio direto, mas em áreas livres de P. brachyurus, pois esse fitoparasita tem larga escala de hospedeiros e seu fator de reprodução é muito acentuado em gramíneas. O milheto, cultivado em larga escala para cobertura do solo e formação de palhada, antes do cultivo da soja ou algodão, tem agravado o problema com P. brachyurus. Frente a essa situação, a alternativa que melhor apresenta resultados no controle de fitonematóides é a rotação de culturas, por-
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que melhora as propriedades químicas, como reciclagem de nutrientes e a fixação de nitrogênio (N), no caso de leguminosas, e as propriedades físicas (previne erosão, aumenta a microporosidade, favorece a maior retenção de água) e biológicas. Há relatos demonstrando que solos que receberam matéria orgânica compostada ou resíduos orgânicos, como lodo, controlaram importantes patógenos de solo (Chen et al. 1988). Há também de ser lembrada a importância de controlar as plantas daninhas, que podem ser hospedeiras de nematóides e favorecer a reprodução. Ionomoto et al. 2005, relatam que Crotalaria spectabilis reduziu a população de M. Javanica,. Além desta, C. breviflora e guandu anão (Cajanus cajan), adubos verdes pouco utilizados no Brasil, podem ser recomendados em áreas infestadas por M. javanica ou P.brachyurus.
Por apresentarem crescimento vigoroso mesmo em solos com baixa fertilidade, as mucunas (Mucuna pruriens), nas suas diversas cultivares, sempre foram muito utilizadas como adubos verdes na região tropical (Bachmann, 2005), e podem ser usadas com o objetivo de redução populacional de M. javanica, porém demonstram-se suscetíveis a P. brachyurus. O controle de Heterodera glycines, é relativamente simples, pois apresenta uma gama limitada de hospedeiros. Entretanto, a nãoadoção das práticas de culturas alternativas, pode inviabilizar economicamente o cultivo da soja. Em razão de sua elevada diversidade genética, o intenso cultivo de variedades resistentes pode contribuir para o surgimento de novas raças (Lordello, 1981). Dessa forma, as principais espécies de nematóides associadas ao algodoeiro encontradas no Mato Grosso, são Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus, sendo o último registrado em todas as áreas. Para Rotylenchulus e Pratylenchus, o nível populacional de ambas tem aumentado de forma preocupante, talvez em decorrência das práticas culturais e da ausência de materiais resistentes/tolerantes no caso do algodão. Já para Meloidogyne e Heterodera, existem variedades de algodão ou soja resistentes, o que tem privilegiado as áreas mais infestadas. C Tatiane Cheila Zambiasi e Jean Louis Belot , Coodetec
A COLETA DE AMOSTRAS
O
sucesso da identificação de nematóides depende de uma amostragem criteriosa e bem representativa da área. É realizada da seguinte forma: caminhando em ziguezague, coletar em cinco pontos num talhão de 100ha, abrindo o solo em forma de V, próximo às plantas, coletando a rizosfera. Com o auxílio de trado ou enxadão, em torno de 0 - 15 centímetros de profundidade, reunir e homogeneizar todo o solo e raízes, formando uma amostra composta de aproximadamente 300g de solo e 100g de raízes. Em áreas com reboleira, coletar as amostras das laterais e evitar o centro. A extração das amostras de solo e raiz realiza-se com o método Coolen & D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964, onde se retira uma alíquota de 100 centímetros cúbicos da amostra, acrescentam-se aproximadamente dois a três litros de água de torneira, ho-
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mogeneíza-se a amostra em suspensão, quebram-se os torrões maiores e deixa-se repousar por cerca de vinte segundos. Depois, verte-se a suspensão sobre uma peneira de malha igual a vinte mesh (0,84mm) sobre outra peneira de quinhentos mesh (0,025mm). Foram examinadas 273 amostras, com aproximadamente 73 amostras provenientes do cultivo de algodão e o restante de soja, vindas de várias regiões: Primavera do Leste, Gaúcha do Norte, Sorriso, Sonora, Santo Antônio do Leste, General Carneiro, Campo Verde e Poxoréu. O material foi recebido, identificado e acondicionado até o momento do processamento. As leituras foram feitas e incluídos os números de nematóides presentes em cada amostra, bem como o gênero e a espécie. Para cada amostra realizaram-se os devidos laudos técnicos e repassados aos interessados.
Defensivos
Na hora certa
A umi dad elativa ddo o ar é fun dam en tal par os h erbi ci das umid adee rrelativa fund amen ental paraa a absorção ddos herbi erbici cid as,, pois a espessur ad osa ddaa cutícula ddas as plan tas cr esce com a ffalta alta ddee ch uva ou espessuraa ddaa cam camad adaa cer cerosa plantas cresce chuva com o aum en to ddaa temper atur a-se m ais compacta e imperm eável par aumen ento temperatur aturaa e torn torna-se mais impermeável paraa os pr od utos pulverizad os sobr e ela. A s apli cações d evem ser plan ejad as e r espeitar prod odutos pulverizados sobre As aplicações devem planejad ejadas respeitar as as m ais am en as con dições ddee ambi en te com pulverizações em h orári os com temper atur orários temperatur aturas mais amen enas condições ambien ente horári tr ole an tir a máxim ciên ci o con e umi dad or a 55%, par ciaa n no contr trole adee superi superior paraa gar garan antir máximaa efi eficiên ciênci umid
A
prática da agricultura, em todas as suas etapas, requer planejamento para se obter êxito, transformado-se posteriormente em lucro para o produtor e fonte de alimentos para aqueles que não produzem comida, mas necessitam dela para a produção de outros bens. Para a sustentabilidade desse complexo agroeconômico, as previsões necessitam ser atingidas para que haja otimização dos recursos. Com especificidade à parte agronômica do complexo, todo o planejamento é realizado para a condução das lavouras de acordo com
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o uso e adequação das boas práticas agrícolas, onde se situa o controle de agentes que interferem a partir de um determinado nível de dano, entre os quais se destacam doenças, pragas e plantas daninhas. Esses agentes são combatidos de várias formas e métodos, desde naturais, biológicos, culturais, mecânicos e também através do uso de componentes químicos, além da inte-
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gração entre eles. Cada método empregado requer técnicas, adequação e utilização correta. No que se refere especificamente à cultura do milho, prevê-se que dentro dos próximos meses o Brasil cultivará aproximadamente 12 milhões de hectares, num ambiente de produção caracterizado por temperaturas e pluviosidade totalmente favoráveis ao desenvolvimento de uma grande diversidade de espécies daninhas. Entre as infestantes estão inclusas gramíneas anuais e perenes, que podem reduzir a produção final em mais de 80%,
devido às suas características altamente competidoras por água, luz, CO2 e nutrientes. Quando a opção de controle das infestantes é feita através do uso de herbicidas, a aplicação pode ser realizada antes ou após a emergência das daninhas e da cultura. Sabe-se, no entanto, que as gramíneas são tolerantes aos mais diversos tipos de herbicidas, que ao serem aplicados após a emergência ficam intimamente relacionados ao fator umidade relativa do ar, do qual são dependentes.
MANEJO No manejo de plantas daninhas com herbicidas, o pleno sucesso somente é alcançado quando essas plantas forem controladas com eficiência. Dá-se grande importância para a escolha do herbicida e outros aspectos, mas não menos importantes são as condições do ambiente. Trata-se do fator que mais interfere na eficiência dos defensivos. Possui grande relação com a temperatura, pois quanto mais quente o ambiente, menor a umidade relativa do ar e, portanto, maior a evaporação dos líquidos em contato com o ar. A umidade relativa do ar assume papel fundamental na absorção dos herbicidas, pois a espessura da camada cerosa da cutícula aumenta com o número de dias sem chuvas, tornando-se mais compacta e impermeável, caracterizando as folhas denominadas folhas de sol que, por sua vez, passam a ter maior transpiração, intensidade respiratória e fotossintética, promovendo o aumento da produção de lipídeos, lignina, maior espessura do mesofilo, da parede epidérmica e da cutícula e redução da área foliar. Essas alterações estão diretamente relacionadas com a absorção dos herbicidas e outros ti-
pos de componentes que porventura necessitem ser aplicados na superfície foliar para posterior absorção. Por outro lado, à noite, em temperaturas mais amenas e com umidade relativa do ar mais alta, a camada que reveste a superfície foliar torna-se mais hidratada, ocorrendo maior rapidez e facilidade na absorção dos herbicidas. A quantidade absorvida, neste caso, pode ser duplicada ou até triplicada. O objetivo deste artigo é de mostrar que dentro da gama de requerimentos para se obter êxito na agricultura, está o fator “umidade relativa do ar”. Em experimento conduzido na região de Londrina (PR), estudou-se a influência do horário de aplicação no comportamento do herbicida atrazine e misturas apli-
cadas em pós-emergência na cultura do milho. Usou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso com quatro repetições, utilizando atrazine na dose de 2400g/ha do i.a adicionando-se surfactante não-iônico a 100ml/100l de água, as misturas formuladas de atrazine + óleo vegetal na dose de 2400+1800g/ha de i.a e do atrazine + alachlor na dose de 1820+820g/ha do i.a., todos aplicados às 4h, 6h, 8h, 10h, 12h, 14h, 16h, 18h, 20h e 22h. Respectivamente para cada horário a URAr foi de 68%, 66%, 55%, 40%, 35%, 35%, 34%, 38%, 63% e 65%. O solo estava seco, após estiagem de 13 dias, e nos horários das 4h às 8h havia a presença de orvalhos nas folhagens. A espécie gramínea anual Matheus Zanella
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Fotos Charles Echer
Quanto maior a temperatura, menor a umidade relativa do ar e, portanto, maior a evaporação dos herbicidas em contato com o ar
tos alachlor + atrazine e atrazine + óleo vegetal, quando a umidade relativa do ar estava acima de 65%, isto é, das 4h às 8h e a partir das 20h, os índices de controle foram superiores a 90% até 98%. Quando a umidade relativa do ar estava em 40%, 35% e 30%, nos períodos das 10h às 18h, o controle promovido pelo alachlor + atrazine foi de 75% e pelo atrazine + óleo vegetal de 60%. O tratamento que recebeu o atrazine associado ao surfactante, independentemente dos horários de aplicação, apresentou controle inferior a 50%. Ainda para a Brachiaria plantaginea, aos 95 dias após aplicação, o alachlor + atrazine apresen-
Jacto
presente, Brachiaria plantaginea (capim marmelada ou papuã), se encontrava em estádio com até cinco folhas, numa densidade populacional entre 250 plantas/m2 a 385 plantas/ m2. Outras espécies dicotiledôneas, tais como Amaranthus hybridus, Euphorbia heterophylla, Bidens pilosa, Emilia sonchifolia e Sida rhombifolia (respectivamente caruru, amendoim bravo, picão preto, falsa serralha e guanxuma), estavam nos estádio com até seis folhas e densidades próximas a 25 plantas/m2/ espécie. Foi usado um volume de calda de 300l/ha, através das pontas do tipo leque XR 110.03. Durante os horários das aplicações, a velocidade dos ventos esteve entre 3,0 km/h a 5,0km/h, sem interferência na performance dos herbicidas. Os resultados aos 15 dias após a aplicação mostraram que houve a influência do horário de aplicação nos resultados para a mistura formulada dos herbicidas alachlor + atrazine e atrazine + óleo vegetal no controle da Brachiaria plantaginea. Para os tratamen-
À noite, a absorção dos herbicidas é facilitada
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tou melhor controle em relação ao atrazine + óleo vegetal. Nesse caso, atribui-se o melhor efeito residual da mistura alachlor + atrazine, principalmente nos horários das 10h às 20h. Para o combate às dicotiledôneas não houve influência dos horários e todos os tratamentos apresentaram controles superiores a 90%. Quanto ao rendimento de grãos, os dados mostraram que para os herbicidas alachlor + atrazine e atrazine + óleo vegetal, a produção, embora afetada pelas condições climáticas adversas, mas quando aplicados com a umidade relativa do ar superior as 55%, promoveu rendimentos entre 3.000kg/ha a 3.300kg/ha, e na média 3.000kg/ha. Os mesmos herbicidas quando aplicados com a umidade relativa do ar abaixo de 40%, tiveram rendimentos entre 2.000kg/ha a 2.600kg/ha, com média de 2.300kg/ha. Deve-se, mais uma vez, esclarecer que a redução de produção ocorreu com os 20% da redução da eficácia entre o melhor horário recomendado e aquele inadequado. Porém, ao se comparar com a média dos resultados do atrazine + surfctante (que não apresentou em nenhum horário de aplicação controle satisfatório, sempre inferior a 50%) o rendimento médio foi de 1.500kg/ha. O controle insatisfatório se explica pela ausência do óleo vegetal no atrazine, pois para o efetivo controle da espécie B. plantaginea, é indispensável a adição desse produto. O surfactante não-iônico não auxilia o atrazine na promoção de controle eficaz. Quanto às dicotiledôneas, o atrazine + surfactante foi efici-
Décio Karam
INTERFERÊNCIA NA ABSORÇÃO
E
A camada cerosa das plantas aumenta em dias sem chuvas e calor, tornando-se compacta e impermeável
ente em todos os horários. Os resultados levam à conclusão de que os herbicidas alachlor + atrazine e atrazine + óleo vegetal, aplicados com a umidade relativa do ar superior a 55%, foi determinante para a promoção do aumento real de 13 sacas de milho/ha. Portanto, os resultados mostraram que herbicidas de comprovada eficiência, quando aplicados em condições inadequadas,
piderme - É o tecido de revestimento de todas as plantas, desde o ápice de uma minúscula radicela até o ápice das folhas. Entende-se por epiderme a camada celular externa do corpo primário das plantas, que constitui o sistema dérmico de folhas, partes florais, frutos e sementes, caules e raízes. A maior parte das células epidérmicas está compactamente arranjada e fornece proteção mecânica às partes da planta. As paredes das células epidérmicas das partes aéreas são recobertas por uma cutícula, que minimiza a perda de água e consiste principalmente em cutina e cera. não promovem o controle esperado de infestantes. A redução em torno de 25% do controle promoveu uma queda de 50% da produção, além de toda a energia empregada pelos operadores e os prováveis impactos ambientais através da evaporação das gotas da calda aspergida, ainda que a
Em muitas plantas, a cera é exsudada sobre a superfície da cutícula na forma de lâminas lisas, bastonetes ou filamentos, denominada de cera epicuticular. A cera é responsável pelo aspecto brilhante, esbranquiçado ou azulado da superfície de algumas folhas e frutos. A cutícula é formada por um material gorduroso (cutina, pectina e ceras) depositado sobre a superfície da parede da célula epidérmica, cuja função consiste em proteção mecânica contra infecções por agentes patogênicos e impermeabilização. Possui espessura variável, influenciada de acordo com as condições ambientais. produtividade tenha sido significativamente afetada pela estiagem prolongada. C Donizeti A. Fornarolli Fac. Integrado de Campo Mourão Benedito Noedi Rodrigues Iapar
Coluna Andav
Até quando? Mor osi dad o rrefin efin an ci am en to ddee dívi das agrícolas ddee pr od utor es e pessoas físi cas orosi osid adee n no efinan anci ciam amen ento dívid prod odutor utores físicas deix das qu an to à oper aci on ali dad o Fun do ddee Recebíveis ddo oA gr on egóci o (FRA) gron onegóci egócio eixaa dúvi dúvid quan anto operaci acion onali alid adee ddo Fund Agr
U
ma das mais representativas conquistas da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav) nos últimos anos foi sua inclusão como intermediadora do Fundo de Recebíveis do Agronegócio (FRA). A promessa era de agilidade no processo de refinanciamento de dívidas agrícolas referentes às safras de 2004/2005 e 2005/2006, destinado aos produtores rurais e pessoas físicas com dívidas rurais junto a fornecedores de insumos. Todo o processo desta importante ação foi amplamente divulgado pelo Banco do Brasil, instituição financeira responsável pela liberação de um fundo no valor de R$ 2,2 bilhões para solucionar este problema. Desde seu anúncio oficial, ainda em 2006, quando foram especificadas as regras de participação no FRA, que a Andav tem corrido contra o tempo para atender aos distribuidores associados e, conseqüentemente, aos produtores rurais que necessitam do crédito. Foram inúmeros treina-
publicada em caráter emergencial no Diário Oficial da União do dia 28 de dezembro de 2007 e, desde então, as revendas estão aptas a solicitar os refinanciamentos diretamente ao Banco do Brasil. Contudo, o desafio passou a ser encaixar os pedidos de refinanciamentos dentro das especificações propostas pela instituição financeira. O fracionamento dos pedidos em lotes facilitou bastante o acompanhamento deste processo e a sanar esta questão. Lembrando que o financiamento tem prazo de cinco anos para pagamento com 24 meses de carência. A operacionalização do FRA mostrase muito complexa, motivo pelo qual a contratação das operações não tem sido efetivada como esperado. Para se ter uma idéia das dificuldades ocasionadas pela burocracia, já se passaram quatro meses do início da suposta operacionalização do Fundo de Recebíveis do Agronegócio e, até o final de março, nem R$ 1 dos R$ 2,2 bilhões disponibilizados pelo Governo Federal, foi li-
a operação formalizada junto aos agricultores para contratação do FRA e, mesmo assim, até o momento nada foi concretizado. A posição oficial do Banco do Brasil é a de que estão reunindo uma série de agricultores para formar um lote. Entretanto, não é informado como será esse lote e nem os valores envolvidos. Preocupa a chegada do fim do prazo de contratação. Esta situação coloca em risco operações comerciais futuras e o resultado pode ocasionar o fechamento de postos de trabalho, de empresas agrícolas e até mesmo causar a baixa produtividade, mesmo porque a compra de insumos agrícolas para a próxima safra fica comprometida. O mais importante é que todos os credores querem, sim, concluir a operacionalização do FRA e não estão impondo dificuldades. É aí que o Banco do Brasil e o governo devem ser ágeis. Não é compatível divulgar por intermédio da imprensa o crescimento sustentável do agronegócio brasileiro para um futuro pró-
“Para a Andav Andav,, os produtores e distribuidores devem, juntos, fazer pressão no sentido da instituição bancária liberar o mais rápido possível os recursos ” recursos” mentos, reuniões e planilhas de participação preenchidas, sempre de acordo com a orientação do Banco do Brasil. Porém, desde as últimas semanas de dezembro de 2007 até o presente momento, apesar da Andav alertar sobre a morosidade da operacionalização do FRA, nada ocorreu. Por muito pouco, todo o trabalho realizado pelos envolvidos no processo nos últimos dois anos não perdeu sua implantação. O fundo seria finalizado em 31 de dezembro de 2007. Mais uma vez, foram necessárias reuniões entre representantes do Poder Público, entidades que representam os produtores, a indústria, o Banco do Brasil e o canal de distribuição - representado pela Andav. Através da Medida Provisória de nº 410, aprovada na última semana do ano, a Associação conseguiu continuar seus trabalhos com a prorrogação do prazo de contratação, agora prevista para 30 de abril deste ano. Esta informação foi
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berado pelo Banco do Brasil. Dessa forma, a Andav novamente alerta sobre a efetivação do FRA. O prazo está se esgotando e a Associação tem demonstrado junto ao Banco do Brasil a crescente preocupação com a falta de soluções práticas. Para a Andav, os produtores e distribuidores devem, juntos, fazer pressão no sentido da instituição bancária liberar o mais rápido possível os recursos. Novas reuniões em Brasília com o Banco e representantes do Poder Público estão agendadas e contarão com a participação das entidades representantes dos três alicerces da agricultura: produtores, canal de distribuição e indústria. É preciso salientar que a Andav continuará se empenhando para agilizar os processos, principalmente no que diz respeito ao esclarecimento de casos que estão com todas as etapas de documentações realizadas. Um grupo de distribuidores de insumos agrícolas de Mato Grosso, por exemplo, está com toda
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ximo quando não resolvemos as dificuldades de um passado tão recente. Por isso que a Andav acredita que somente com bom senso e comprometimento real com o desenvolvimento do país é que as soluções para esta liberação financeira serão concluídas. Especificamente sobre o FRA fica apenas a seguinte dúvida: será que teremos tempo de testemunharmos um programa de sucesso? Mais informações sobre a Andav podem ser adquiridas através do site www.andav.com.br, pelo e-mail andav@andav.com.br ou pelo telefone C (19) 3203-9884. Henrique Mazotini Presidente Executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários - Andav
Coluna Agronegócios
A agricultura conseguirá atender a demanda?
R
ecentemente, fui convidado a proferir uma conferência em evento realizado na Suíça. Com livre tradução o tema da conferência seria: “O desafio dos 6 ‘Fs’ da agricultura: o mundo conseguirá vencê-lo?” Os 6 ‘Fs’ são as iniciais das palavras inglesas para alimento, ração animal, fibras, florestas, flores e biocombustíveis. Demonstrei que, em função do aumento populacional e do incremento da renda per capita mundial, os produtos agrícolas tradicionais se encontram com a demanda fortemente excitada, em níveis nunca observados anteriormente. Acresçase que o mundo espera que a agricultura também forneça biocombustíveis em volumes medidos em centenas de bilhões de litros, e está delineado o desafio. Se vamos ser bem-sucedidos e qual a estratégia a seguir, são as questões.
paço, vamos concentrar nossa análise em três produtos de dupla finalidade (alimentos e energia): milho, soja e cana.
MILHO Os grandes produtores mundiais de milho são os EUA. Ocorre que a demanda por etanol de milho nesse país forçou o aumento de área desse cereal, até o limite que a agricultura americana suporta. Nos próximos anos, dois fatos devem ocorrer: primeiro, a produtividade de milho aumentará muito, acima de 3% geométricos ao ano. Em segundo lugar, os EUA reduzirão sua participação relativa no mercado internacional, que será fortemente pressionado por compras da China, por sua vez, em vias de ser um grande importador mundial de milho. Assim, abre-se uma enorme oportunidade para países como Brasil e
nos próximos anos, terá que ser o dobro do aumento da demanda mundial. Por exemplo, se a demanda crescer 3% no mundo, estes países deverão aumentar a oferta em 6%, caso contrário os preços serão fortemente incrementados.
CANA-DE-AÇÚCAR Brasil e Índia são os grandes produtores mundiais, porém, o Brasil é o grande produtor de etanol e detém a melhor tecnologia agronômica, industrial e de gestão do negócio. Apesar dos esforços do governo brasileiro para expandir a produção de etanol em outros países, não são esperadas grandes alterações no cenário produtivo, ao longo da próxima década, com o Brasil reafirmando cada vez mais sua liderança. Entretanto, em menos de dez anos, deverá estar madura a tecnologia de etanol celulósico,
“Os primeiros acréscimos de renda vão para o aumento das calorias ingeridas, posteriormente para a sofisticação alimentar ” alimentar” PANO DE FUNDO A FAO estima que a população mundial crescerá – embora em taxas progressivamente desaceleradas – até 2050, quando se espera a estabilização e até redução da população mundial. Para cada novo ser humano, acrescente-se uma unidade per capita de consumo similar às demais, tanto para produtos tradicionais, quanto para energia. No entanto, os novos tempos são de crescimento econômico acentuado e baixa inflação, o que gera inclusão social e traz ao mercado dezenas de milhões de pessoas a cada ano. A relação da renda com o consumo não é linear (como no caso do crescimento demográfico). Os primeiros acréscimos de renda vão para o aumento das calorias ingeridas, posteriormente para a sofisticação alimentar (proteínas animais, produtos de marcas etc). Paralelamente, aumenta a demanda por fibras e madeira (produtos florestais). Com o ingresso em um patamar de renda mediano, se inicia uma forte demanda por energia – em nosso caso, agroenergia, tanto por razões ecológicas quanto pelo elevado preço do barril de petróleo – e por plantas ornamentais. Devido ao pouco es-
Argentina, que podem expandir área e, principalmente, produção. Por exemplo, enquanto os EUA apontam para uma produtividade superior a 12t/ha na próxima década, em 2007 a Argentina teve produtividade de 7t/ha e o Brasil, de apenas 3,5t/ ha, de acordo com a FAO.
SOJA Os EUA estacionaram sua área de produção de soja em 27 milhões de hectares e os incrementos esperados para os próximos anos decorrerão de aumentos de produtividade (1,5% ao ano). Os demais países produtores, como Canadá, Índia, Bolívia e Paraguai têm pouca área para expandir. Outros países que possam vir a plantar soja, como os africanos, somente terão produção que afete o mercado daqui a 15-20 anos. Logo, o abastecimento mundial dependerá de Brasil e Argentina, que dispõem de área para expansão. A área da Argentina deve esgotar-se na próxima década, passando a depender de acréscimos de produtividade. Estima-se que, para atender adequadamente o mercado mundial, o aumento da produção no Brasil e na Argentina,
que vai reconfigurar o mercado de etanol na década de 20.
CONCLUSÕES O mundo poderá desimcumbir-se com galhardia do desafio dos 6 “Fs”, desde que novas áreas sejam incorporadas à agricultura, a produtividade cresça de forma similar à demanda mundial, novas tecnologias de ponta sejam definitivamente incorporadas ao sistema produtivo, em especial cultivares derivadas da biotecnologia, com maior produtividade, menor custo de produção, tolerantes ou resistentes a estresses e com melhor qualidade nutricional ou industrial. O que significa que muitos bilhões de dólares deverão ser alocados nos institutos de pesquisa, para afiançar tecnologia de ponta, não apenas para aumentar a produtividade, mas para garantir a produção em um ambiente de mudanças climáticas, com perspectivas C deletérias para a agricultura. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Colheita recorde melhora renda dos produtores no Brasil A safra avança para o final da colheita, já com a soja nos armazéns. O cenário é o mesmo para a maior parte do milho da primeira safra e também nas lavouras de arroz, cujos grãos já começam a ser armazenados. O feijão segue com a colheita localizada, por ter plantio escalonado. Inicia-se, também, a colheita das lavouras de algodão. Haverá recorde de safra, com a soja atingindo níveis entre 61 milhões de toneladas e 62 milhões de toneladas e, se tudo correr bem, a safrinha do milho ficará entre 53 milhões de toneladas a 55 milhões de toneladas. O arroz aparece em terceiro lugar, com 12 milhões de toneladas. Desse total, somente no Rio Grande do Sul deverão ser colhidos entre 7,1 milhões de toneladas a 7,4 milhões de toneladas, porque a produtividade desta cultura tem mostrado recorde histórico neste ano no estado. O feijão alcança 2,8 milhões de toneladas, enquanto o trigo sinaliza para uma colheita entre 3,5 milhões de toneladas a quatro milhões de toneladas, por conta do aumento no plantio futuro. Enquanto isso, também cresce o plantio do sorgo que normalmente tem colheita abaixo de 1,4 milhão de toneladas e em 2008 poderá chegar à marca de 1,8 milhão de toneladas. Desta forma, o Brasil colhe uma grande safra entre 135 milhões de toneladas a 140 milhões de toneladas, dentro das melhores médias históricas em dólar, o que trará boa capitalização aos produtores. Grande parte da soja já está vendida, com 45% negociados antecipadamente e outros 15% nas últimas semanas, restando ainda menos de 40% para comercialização. O mercado segue com boas expectativas para os próximos meses. MILHO Para exportação O mercado do milho mostra entregas na exportação, principalmente pelo produto negociado antecipado, que serve de apoio contra grandes baixas. Os níveis permanecem estabilizados em plena colheita. Os compradores esperam pelo milho direto dos produtores via balcão a fixar e, desta forma, não ocorreram ainda grandes fechamentos de lotes livres, que só devem voltar a fluir em melhor ritmo a partir do final de abril e maio. Os indicativos variam de R$ 15,00 a R$ 18,00 para o milho dos estados centrais e de R$ 18,50 a R$ 24,00 pagos aos produtores do Sul e Sudeste do país. Com isso, há indícios de boa média de cotação sem necessidade de apoio comercial do governo, situação que era uma constância em anos anteriores. Há sinais de que o governo não terá estoque para vender no segundo semestre. As exportações estão em plena fase de embarque e o mercado indica a superação da marca de dez milhões de toneladas, principalmente por conta do comércio internacional que segue comprador.
SOJA Crise americana segura cotações O mercado da soja teve um grande susto em março, por conta da quebra de um dos grandes bancos de investimentos dos EUA. O efeito cascata pegou a soja em cheio e derrubou o produto por dois pregões seguidos em limite de baixa. A recuperação de parte das perdas ocorreu na seqüência, em cima de fatores fundamentais que seguem favoráveis à cultura. Mesmo com queda externa, o mercado interno não seguiu a mesma linha porque os prêmios pagos na exportação tiveram ajustes positivos. Assim, a soja segue cotada entre US$ 27,50 e US$ 30,00 por saca, nos portos para a exportação. FEIJÃO Produtores comandam negócios Os produtores continuam no comando das cotações e dos negócios, já que a safra tem entrado escalonada e, desta forma, segurado as cotações em patamares rentáveis ao setor, com níveis de R$ 110,00 a R$ 220,00 por saca. O feijão tipo Preto apresentou indicativos menores e o Carioca níveis maiores. Com a
entrada escalonada, as cotações nestes níveis estão favorecidas nas próximas semanas. Em abril haverá dependência do clima para garantia de safra porque se ocorrer queda nas temperaturas ou geadas, a maior parte das lavouras de Santa Catarina e Paraná será afetada, o que poderá provocar nova onda de alta nos preços. ARROZ Apoiado pelo governo A safra avança para o final da colheita e os produtores têm segurado o que podem para negociar mais à frente, esperando realizar EGFs, AGFs, Opções, VEP, Pep, Pepro e também pregões de apoio para exportação. Todas estas ferramentas têm ajudado o setor a manter as cotações no Sul entre os R$ 21,00 e R$ 23,00 aos produtores. Desta forma, cria-se um forte apelo positivo contra queda, que tende a dar resultados em abril. A safra chega com alta produtividade no Sul e recorde histórico de colheita, com 1,1 milhão de toneladas em Santa Catarina e 7,1 milhões de toneladas a 7,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul (ainda indefinida).
CURTAS E BOAS TRIGO - Os produtores começaram o plantio no norte e oeste do Paraná e tudo aponta para crescimento da área no Sul do país neste ano, porque as cotações prometem níveis acima dos R$ 600,00 aos produtores. Desta forma, veremos a safra saltar das 2,8 milhões de toneladas para 3,5 milhões de toneladas até quatro milhões de toneladas. Mesmo com esse avanço não deve ocorrer pressão de baixa nos indicativos porque o mercado internacional segue em alta e a liquidação do trigo internacional fica acima dos US$ 400 por tonelada. ALGODÃO - A safra segue em bom desenvolvimento e os produtores à espera de que o governo venha a apoiar o segmento com pregões no começo da colheita, já que o dólar baixo dificulta a exportação e limita a liquidez. Os indicativos internacionais mantêm-se altos, acima dos US$ 0.75 a US$ 0,80 por libra, nas próximas semanas. A expectativa é de que as exportações cresçam nos próximos meses porque o mercado internacional continua comprador. EUA - O plantio da safra, segundo o USDA, apresentou queda na área do milho e leve avanço na soja. Com isso, ocorrerá aperto no abastecimento do cereal em 2009. Mesmo com o avanço da soja, o quadro será de dificuldade porque o consumo tende a ser maior que a produção, com níveis mundiais apontando para mais um ano favorável às cotações, diante de uma estimativa de consumo de 245 milhões de toneladas para uma produção de 235 milhões de toneladas, em 08/09.
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Abril 2008 • www.revistacultivar.com.br
CHINA - Continua sendo o maior consumidor mundial de alimentos, com perspectivas de comprar grandes volumes de produto nos próximos meses. Mesmo com a crise americana, a economia chinesa avança em ritmo acelerado e na pior das hipóteses crescerá 10% ao ano, assim, grandes volumes de grãos e óleos devem ser importados. O arroz pode ser o único produto em queda de consumo interno, reduzindo dos atuais 129 milhões de toneladas para 127 milhões de toneladas. Essa redução sinaliza que o consumo de outros alimentos tem aumentado em substituição ao produto típico da região. Mesmo assim, o arroz permanece com recorde histórico de cotação e não tem sobrado produto, porque houve queda na área plantada em função do avanço das cidades sobre os campos. ARGENTINA - Apesar da seca de janeiro, a safra, já na fase de colheita, mostra estabilidade nos números com 21,5 milhões de toneladas para o milho e 47 milhões de toneladas para a soja. O país segue com expectativa de exportações estabilizada, com leve queda somente no milho, cuja expectativa inicial de colheita era de 22,5 milhões de toneladas. BIODIESEL – O governo anunciou em março a antecipação do aumento da mistura do biodiesel, de 2% para 3%, a partir de 1° de julho. Assim, o consumo previsto para este ano, de 800 mil toneladas, passará para a casa das 1,2 milhão de toneladas. Esse cenário favorece a soja, que tende a ser o principal produto usado para a produção deste combustível renovável.