Cultivar 110

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Cultivar Grandes Culturas • Ano X • Nº 110 • Julho 2008 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Tri go enferrujad o.......... ............ ......19 rig enferrujado.......... o...................... ..................19

Gisele Ar duim Ard

Conh eça os cui dad os n ecessári os par an tir Conheça cuid ados necessári ecessários paraa gar garan antir o con tr ole efi ci en te ddee ferrug en go contr trole efici cien ente ferrugen enss em tri trig

Da can o...................12 Bi ch o ddesf esf olhad or ...................24 Guerr canaa ao milh milho...................12 Bich cho esfolhad olhador or...................24 Guerraa ao azevém...................28 As altern ativas con tr oca-d a-can a, alternativas contr traa a br broca-d oca-da-can a-cana, eocupar pr aga que passa a pr praga preocupar os pr od utor es ddee milh o prod odutor utores milho

Bi ch o-min eir o, rrespon espon sável por in ten so Bich cho-min o-mineir eiro, esponsável inten tenso o, en tr o períod o pr ejuízo ao cafeeir prejuízo cafeeiro, entr traa n no período favorável ao ataque

Índice

A rrotação otação ddee cultur as culturas o combate o arm como armaa n no com a plan tas ddaninhas aninhas plantas

Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton

Dir etas Diretas Ciperáceas em arr oz arroz

06 08

RED AÇÃO REDAÇÃO

MARKETING E PUBLI CID ADE PUBLICID CIDADE

• Editor

• Coor den ação Coord enação

Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação

Br oca ddaa can o Broca canaa em milh milho

12

Jani ce Ebel anice • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação

ed uzi do em milh o ento eduzi uzid milho Espaçamen Espaçam en to rred

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Ferrug em em tri go Ferrugem trig

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Inf orm der Inform ormee - Ni Nid eraa

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Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa • Revisão

Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid

GRÁFI CA GRÁFICA • Impr essão Impressão

Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda.

Bi ch o-min eir o em café Bich cho-min o-mineir eiro

24

Empr esas - Bayer Empresas

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Con tr ole ddee plan tas ddaninhas aninhas n Contr trole plantas naa soja

28

Ataque subterrân eo ddo o per cevejo castanh o em alg odão 32 subterrâneo percevejo castanho algodão Colun dav Colunaa An And

36

Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios

37

Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola

38

Charles Ri car do Ech er Ricar card Echer • VVen en das end

Ped edrro Batistin Sed eli Feijó Sedeli

CIRCULAÇÃO • A ssin atur as Assin ssinatur aturas

Sim on Simon onee Lopes Ân gela Oliveir Âng Oliveiraa Gonçalves Tai an ohn Rod ri gues aian anee K Kohn Rodri rigues • Expedição

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.



Diretas Ihara

Syngenta

A Ihara participou da 11ª edição da Expocafé. Além de apresentar seu completo portfólio para a cafeicultura com fungicidas, inseticidas, herbicidas, nutrientes e produtos especiais, destacou o projeto Café de Excelência, cujo objetivo é disseminar informações técnicas para aumentar a rentabilidade da cultura.

Na 11ª edição da Expocafé a Syngenta destacou o “Café Forte”, para o controle de pragas e doenças. O programa reúne soluções aos produtores de café, com defensivos consagrados. A empresa destacou o fungicida Priori Xtra, o inseticida sistêmico Actara, além do Verdadero, indicado contra a ferrugem, cigarra, bicho-mineiro e larva da mosca-das-raízes no café. O produto combina as propriedades de fungicida e de inseticida.

Nidera Ricardo Mayer assumiu a Diretoria Comercial da Nidera Sementes no Brasil, onde passa a liderar a equipe de vendas e suas ações estratégicas. Ricardo está na Nidera há dois anos, dos três em que a empresa se estrutura no Brasil, e já passou por empresas como a Syngenta e a Coopavel. “O Brasil é estratégico para o agronegócio mundial e para a atuação da Nidera. Estamos estruturando nossa equipe, nossos serviços para levar melhor rendimento e atendimento ao proRicardo Mayer dutor”, destaca o executivo.

Bayer Com destaque para o Premier Plus, nova solução Bayer CropScience para a cultura do café, a empresa marcou presença na Expocafé 2008. O produto é uma solução com foco na maior produtividade da cafeicultura aliada à alta qualidade dos grãos produzidos. Possui ação simultânea de fungicida e inseticida, o que proporciona vigor e melhor enraizamento das plantas de café, além da facilidade na aplicação e do exclusivo efeito Força Anti-Stress.

Agroplanta

Paulo Ricardo e Cláudio

Cheminova Durante a Expocafé a Cheminova apresentou sua linha de produtos para cultura do café. De acordo com Paulo Ricardo Calçavara o destaque foi o Impact 125 SC, específico para o controle da ferrugem do cafeeiro. Trata-se de produto de fácil aplicação, via pulverizador costal ou mecanizado, o que possibilita maior precisão. Caracteriza-se também pela rápida absorção.

Pfizer Representantes da unidade da Divisão Agrícola da Pfizer estiveram presentes no estande da empresa durante a 11ª edição da Expocafé. Mercia Marostica, Team Leader da Divisão Agrícola, destacou a visitação qualificada do evento e a expectativa de negócios futuros a partir dos contatos realizados.

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A Agroplanta, fabricante de fertilizantes de micronutrientes, esteve na Expocafé. “Marcamos presença neste importante evento com o propósito de mostrar nosso portfólio de produtos. Este é um momento de receber parceiros, interagir diretamente com os produtores”, destacou o gerente de Marketing, Gustavo Gonçalves.

Compo A Compo do Brasil apresentou seu portfólio com destaque para o Entec, fertilizante rico em nitrogênio (N), assimilado pelas plantas por um período maior em comparação com produtos convencionais.

Inovação Nelson Freire

Monsanto Nelson Freire Machado, assistente técnico de Pesquisa da Monsanto, divulgou no Bahia Farm Show o Manejo de Resistência a Insetos (MRI) e o lançamento da cultivar DP604BG. No evento os produtores puderam, ainda, obter mais informações sobre a soja RR e o lançamento do milho Ilgard, resistente à lagarta.

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O processo de formulação consiste basicamente na mistura ou associação de componentes ao ingrediente ativo que proporcionem algum tipo de vantagem em relação ao ingrediente ativo não formulado. No caso dos produtos biológicos, o processo é mais que isso, depende de estudo detalhado das características do microorganismo, dando condições ainda durante sua produção para que permaneça estável e viável depois de formulado. A Itaforte BioProdutos, em parceria com a Esalq-USP, por meio de convênio tecnológico, pesquisa há mais de dez anos a produção e a formulação de microorganismos. Estudos mais recentes reforçam as vantagens dos produtos formulados, como a proteção do ingrediente ativo da ação danosa da radiação ultravioleta, a maior estabilidade no armazenamento, o aumento da ação inseticida do produto e a proteção do ingrediente ativo da ação tóxica dos produtos químicos, o que possibilita até a mistura do produto biológico com outros defensivos. Além desses benefícios o produtor tem em mãos um produto prático, de uso fácil no campo e com todo o suporte técnico oferecido pela empresa.


Reguladores

Fertipar

Na última publicação da Embrapa Soja (http://www.cnpso.embrapa.br/download/tpsoja_2008.pdf), Tecnologias de Produção de Soja - Região Central do Brasil, foi incluído o uso de reguladores de crescimento como uma das tecnologias que visam a máxima eficiência das plantas e o aumento da produtividade. A publicação cita o biorregulador Stimulate®, da Stoller do Brasil, devido aos resultados experimentais que foram apresentados na reunião aos pesquisadores da Embrapa e de outras entidades de pesquisa. Como principais benefícios obtidos pelo uso do produto na soja estão a melhoria no desenvolvimento do sistema radicular, contribuindo para maior aproveitamento de água e nutrientes pelas plantas, o estímulo à formação de ramos laterais, que conseqüentemente possibilita maior número de pontos de florescimento e frutificação (formação de vagens) na parte aérea e o estabelecimento do equilíbrio hormonal adequado, que permite às plantas reagir de forma mais eficiente às condições adversas do ambiente. Somando-se estes benefícios, tem-se aumentos expressivos em produtividade, gerando maior rentabilidade ao produtor.

Durante a Expocafé a Fertipar destacou o SuperN, novo conceito em fertilizante nitrogenado que ajuda a fornecer o nitrogênio (N) no momento exato de necessidade da planta, independentemente das condições climáticas na hora da aplicação. O produto é uma fonte nitrogenada para ser usada na linha de plantio ou em cobertura, podendo ser aplicado mesmo em solo seco, minimizando as perdas de volatilização de amônia.

Gerhard Bohne

Spider

Microxisto

A Dow apresentou no Bahia Farm Show o herbicida Spider, pré-emergente, para o controle de ervas daninhas e folhas largas em soja. Com eficiência comprovada na cultura tradicional, o foco agora se concentra na soja transgênica, onde evita a matocompetição inicial. Outro produto que mereceu destaque foi o Intrepid, recomendado para controle da lagarta da soja e da falsa medideira.

Basf A Basf realizou o pré-lançamento do seu fungicida para o mercado arrozeiro. Ainda em fase final de registro, o Brio é um produto de ação diferenciada, que promete o tratamento de uma gama maior de doenças, evitando perdas de até 22 sacas por hectare, garante a empresa. No Seminário Cooplantio a Basf destacou também o fungicida Opera, o herbicida Only e os inseticidas Standak e Imunit.

Sipcam Isagro A Sipcam Isagro destacou sua linha de produtos para as culturas de soja, milho e arroz, com destaque especial para os fungicidas Domark e Priori. A equipe atendeu aos participantes e tirou dúvidas sobre formulações e aplicações dos produtos da empresa.

A Terra Nostra, que distribui a linha de micronutrientes da Microxisto, marcou presença no Seminário Cooplantio, onde apresentou seus produtos para nutrição de plantas, à base de xisto, uma rocha sedimentar que contém mais de 40 elementos macro e micronutrientes. Juliano Busato, sócio-gerente de Vendas e Marketing da empresa, coordenou a equipe que apresentou os resultados de lavouras tratadas com o produto.

Pedro Singer

Trigo Representante do Comitê de Ação e Resistência a Fungicidas (Frac), na reunião anual de Trigo, em Passo Fundo (RS), Pedro Singer, gerente de Desenvolvimento de Fungicidas da Bayer, destacou a importância de o produtor ficar atento na hora de tratar as doenças do trigo, seguindo as recomendações de priorizar misturas de fungicidas e as doses corretas, para evitar ineficiência nos resultados.

Dow

Dupont A Dupont aproveitou o 23º Seminário da Cooplantio para informar seus clientes sobre o lançamento do novo fungicida, o Aproach Prima, com nova tecnologia Picoxy Dupont. Também tiveram destaques o inseticida Lannate®, para controle de lagartas, e os herbicidas Ally, Accent e Classic.

Associada ao portfólio de defensivos agrícolas a Dow demonstrou no Bahia Farm Show a linha de sementes e biotecnologia, com destaque para a região de Luis Eduardo Magalhães. Foram mostrados os híbridos 2B707, 2B587 e 2B710.

Bayer A equipe da Bayer reforçou no Seminário Cooplantio sua campanha “Muito mais Arroz”, com destaque especial ao fungicida Stratego, para mancha-parda e brusone. Outro produto em evidência foi o Sphere, fungicida que agrega características como maior período de proteção da lavoura, controle da ferrugem asiática, do oídio e das doenças de final de ciclo da soja.

Roundup Ultra A Monsanto reforçou junto aos participantes do Seminário da Cooplantio os benefícios do Roundup Ultra, a nova geração das formulações Roundup®, que associa a Tecnologia Transorb II® ao sal de amônio, somando-se às vantagens da formulação granulada. Um dos diferenciais do produto é a garantia de controle das invasoras, mesmo com aplicações em condições de clima adversas.

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Arroz

Em evidência Ciperáceas alcançam papel ddee destaque com o infestan tes em como infestantes arr oz irri gad o ddevi evi do a su arroz irrigad gado evid suaa alta capaci dad aptação às ár eas capacid adee ddee ad adaptação áreas de várzea. O con tr ole quími co é a contr trole químico cipal estr atégi tr ole prin principal estratégi atégiaa ddee con contr trole ole,, os eg o eexi xi ge cui dad mas seu empr cuid ados empreg ego xig com o o uso ddee h erbi ci das com cid como herbi erbici difer en tes m ecanism os ddee ação diferen entes mecanism ecanismos

A

s ciperáceas apresentam grande destaque entre as plantas monocotiledôneas, pela presença intensiva em muitas regiões e pelo grande número de espécies, mais de três mil delas classificadas (Kissmann & Groth, 1997). De modo geral, o aspecto econômico é mais negativo que positivo e as referências de ciperáceas infestantes superam em muito as de aproveitamento econômico. Segundo Bendixen & Nandihalli (1987) citado por Kissmann & Groth (1997), aproximadamente 220 espécies têm sido mencionadas como infestantes. Cerca de 42% são do gênero Cyperus, ao qual pertence a maior parte das espécies de ciperáceas encontradas em lavouras de arroz. As principais espécies da família Cyperaceae que ocorrem nas lavouras do Sul do Brasil são Cyperus difformis, Cyperus esculentus, Cyperus ferax, Cyperus iria e Fimbristylis miliacea. Somente C. esculentus é de ciclo perene, enquanto as outras são anuais. Todas apresentam reprodução por sementes, sendo que C. esculentus também por tubérculos (Sosbai, 2007). Na cultura do arroz irrigado, o arrozvermelho (Oryza sativa L.) é considerado a principal planta daninha, seguido de outras espécies importantes, como o capimarroz (Echinochloa sp.), o angiquinho (Aeschynomene sp.), as gramas estoloníferas, como gramas-boiadeiras (Leersia hexandra e Luziola peruviana) e grama-de-ponta (Paspalum disthicum), dentre outras espécies da família Poaceae, além das aquáticas. No entanto, mais recentemente as ciperáceas, também assumem papel de destaque devido a sua alta capacidade de adaptação às áreas de várzea (Erasmo et al, 2003). As espécies do gênero Cyperus, consideradas de importância secundária na cultura do arroz, tornaram-se problemas

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Fotos Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot

Herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), são o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas Lavouras de arroz podem ter uma redução de produtividade de até 43% quando altamente infestadas por ciperáceas

em algumas regiões dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde se observa gradativo aumento das áreas infestadas (Panozzo et al, 2007). Algumas ciperáceas são citadas em nível

mundial como espécies de difícil controle, por apresentarem alto percentual de perpetuação, uma vez que, a cada ano, ocorrem incrementos no banco de sementes do solo em função do seu elevado grau de prolificidade e tam-

bém algumas possuem capacidade de se reproduzirem vegetativamente (Galon et al, 2005; Panozzo et al, 2007). Em áreas de várzea, a umidade no solo pode promover a germinação e a emergência, favorecendo a ocorrência de infestações expressivas. Em função do crescimento da infestação nas lavouras, as pesquisas com o objetivo de obter herbicidas com atuação sobre ciperáceas, notadamente as do gênero Cyperus, aumentaram consideravelmente a partir da década de 90, sendo que, atualmente se buscam soluções alternativas e racionais para o controle satisfatório destas espécies (Amaral, 1995; Bizzi & Andres, 2001; Galon et al, 2005). Alguns trabalhos de pesquisa relatam a interferência negativa destas espécies, a partir de determinadas densidades populacionais, no rendimento de grãos de arroz (Swain et al, 1975; Amaral, 1995; Alcântara, 1999; Erasmo et al, 2003). Swain et al, (1975), avaliando a competição de C. difformis com arroz, observaram redução entre 22% a 43% no rendimento de grãos da cultura sob infestação alta desta planta. Os mesmos autores relatam também que a redução é ainda mais expressiva sob condições de maior fertilidade do solo. Reduções de 38,5% e 62,0% no rendimento de grãos de arroz sob infestação de 40 plantas/m² da espécie C. esculentus e 808 plantas/

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Fotos Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot

Detalhe de inflorescência de C. ferax

No alto Cyperus difformis, C. ferax e Fimbristylis miliacea

bicida quinclorac em larga escala, no Rio Grande do Sul, durante a década de 80 e parte da década de 90, contribuiu para a expansão das ciperáceas no estado, uma vez que este herbicida não controla as plantas desta família. Também a estratégia equivocada por parte dos agricultores contribuiu para a expansão dessas espécies, na medida em que os focos não eram controlados e continuaram produzindo sementes e/ou propágulos livremente. O controle químico foi e tem sido a principal estratégia contra essas espécies nas lavouras de arroz irrigado no Sul do Brasil. Os herbicidas mais eficientes e utilizados foram os inibidores da enzima acetolacase sintetase (ALS), tais como Pyrazossulfuron-etílico, Penoxsulam, Bipyribaque-sódico, Azimsulfuron, Etoxissulfurom, entre outros, de inquestionável eficiência. Porém, o uso continuado e de forma intensiva por um longo período proporciona o surgimento de plantas resistentes.

m² da espécie C. iria, respectivamente, foram observadas por Amaral (1995). As espécies daninhas de uma comunidade infestante e sua emergência são altamente influenciadas pelo conteúdo de umidade e disponibilidade de oxigênio no solo e por outras condições de ambiente, como luz e temperatura. Invasoras e outras espécies crescem mais em solos preparados no seco que na presença de água (Fleck et al). O estabelecimento de lavouras de arroz em solos úmidos, porém não-inundados, com temperaturas altas e condições adequadas de luz, favorece o estabelecimento de invasoras gramíneas, ciperáceas e dicotiledôneas (folhas largas). Dentre as ciperáceas, predominam nessas condições principalmente as espécies Cyperus iria, C. ferax e C. esculentus. Já quando o solo é preparado sob condições alagadas e sistema pré-germinado, as espécies predominantes são Fimbristylis miliacea e Cyperus difformis. Além dos aspectos culturais, o uso do her-

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Uso de herbicidas de diferentes mecanismos de ação é a melhor forma de controlar ciperáceas, afirma Valmir

Um problema observado nos últimos anos tem preocupado pesquisadores e produtores no estado de Santa Catarina devido à ocorrência de resistência de algumas ciperáceas a herbicidas (Eberhardt & Noldin, 2003). Segundo estes autores, o cultivo intensivo de arroz irrigado em Santa Catarina, associado ao uso contínuo de produtos de um mesmo modo de ação, ocasionou a resistência de diversas plantas daninhas aos herbicidas, entre as quais, as ciperáceas C. difformis (junquinho) e Fimbristylis miliacea (cuminho), resistentes a herbicidas inibidores da ALS, do grupo das sulfoniuréias. A alternativa para controle destas espécies é o uso de herbicidas de C diferente mecanismo de ação. Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot, Irga



Milho

Da cana ao milho A br oca ddaa can a-d e-açúcar broca cana-d a-de-açúcar e-açúcar,, Di Diatr atraea atr aea orça n o naa cultur culturaa ddo saccharalis alis,, ganha fforça sacchar alis milh o. A ad aptação às cultivar es atu ais ou milho. adaptação cultivares atuais até m esm o ao sistem od ução pod mesm esmo sistemaa ddee pr prod odução podee ser a justifi cativa par ci dên ci as justificativa paraa as altas in inci cidên dênci cias em atrás nas lavour as esquisad or es corr esquisador ores correm lavouras as.. PPesquisad de altern ativas ddee combate à pr aga praga alternativas

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Fotos Ivan Cruz

pelo ataque da broca foram estimados em 170 milhões de dólares por ano, com oscilações entre 150 e 300 milhões de dólares.

SINTOMAS DE DANOS

Colmo danificado e pupa da praga no interior

A

broca Diatraea saccharalis é um inseto-praga bastante conhecido pelos produtores de cana-deaçúcar, por conta dos prejuízos que acarreta tanto em relação à produção agronômica quanto à produção industrial. No milho, embora com relatos de ocorrência, seus danos por muitos anos não foram considerados suficientes para demandar algum tipo de medida de controle. No entanto, em anos recentes essa situação mudou e a praga tem causado preocupações aos produtores de milho pela alta incidência, seja em áreas próximas ou distantes da cana-de-açúcar, sugerindo uma melhor adaptação às cultivares atuais de milho ou até mesmo ao sistema de produção predominante no país. A praga, no milho, apresenta grande potencial de dano, pois, ao contrário do que ocorre na cana-de-açúcar, pode ocorrer em praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. Além dessa preocupação, só recentemente têm sido gerados trabalhos de pesquisa sobre sua bioecologia e manejo em associação com o cultivo do milho.

O principal dano causado pela larva (“broca”) de D. saccharalis ocorre através da alimentação dentro do colmo da planta. Como as gerações da praga são contínuas e sobrepostas, as plantas de milho podem ser atacadas em qualquer estágio, desde a fase de cartucho até o florescimento. Na fase de “cartucho”, as larvas jovens perfuram as folhas ainda enroladas, produzindo um sintoma de dano característico, ou seja, aparecimento em série de orifícios ao longo da folha no sentido transversal. Larvas mais desenvolvidas podem aprofundar no cartucho e matar o vegetal, principalmente em infestações precoces, ou seja, logo após a emergência da planta de milho. Em plantas mais desenvolvidas, as larvas penetram no colmo e fazem galerias. Larvas mais desenvolvidas, ao intensificarem o dano, enfraquecem as plantas, que ficam propensas ao quebramento. Em função do ataque da praga, pode ocorrer um aumento da esterilidade, redução no tamanho da espiga e do grão, assim como uma interferência na colheita mecânica. Pode também propiciar a entrada do caruncho, Sitophilus spp. (Curculionidae).

MANEJO Em cana-de-açúcar, o manejo da praga tem sido realizado basicamente com parasitóides de ovos e de larvas. Ou seja, o método biológico tem sido o predominante. Parasitóides de ovos do gênero Trichogramma, particularmente a espécie T.galloi e mesmo a espécie T. pretiosum, ambos utilizados na cana-de-açú-

car, podem também ser empregados em milho. Tais insetos podem ser adquiridos em biofábricas existentes no país. Para complementar ou até como alternativa ao uso dos parasitóides de ovos, podem ser usados também parasitóides das “brocas”, como a espécie Cotesia flavipes. O sucesso na utilização de um agente de controle biológico depende da sincronia entre a presença da fase suscetível do inseto e a liberação do agente de controle biológico. Por exemplo, espécies de Trichogramma só atuam sobre os ovos da praga. Liberações de campo só terão efeito quando houver presença de ovos neste ambiente. A eficiência do processo de amostragem é, portanto, muito importante para maior eficiência do controle biológico. Embora seja possível amostrar as posturas, exige-se pessoal qualificado e com conhecimento da distribuição no campo. Ademais, a época de se fazer a amostragem é outro aspecto a ser considerado. Em milho, a mariposa tem ocorrido desde o início da emergência da planta. Portanto, tal amostragem deve considerar esse fato. Tão logo sejam encontradas as primeiras posturas, devem ser iniciadas as liberações. Embora não exista ainda no Brasil disponibilidade comercial de feromônio sexual sintético de D. saccharalis, existe a possibilidade de se fazer as amostragens de mariposas através do uso de armadilha do tipo Ferocon 1C, à semelhança do que é utilizado para a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), porém, com emprego de fêmeas virgens de D. saccharalis. É um método eficiente para se detectar a presença de mariposas e, portanto, pode-se inferir sobre o aparecimento das posturas no campo.

HOSPEDEIROS A praga é considerada polífaga, apontada em associação com 65 espécies vegetais, sendo 30 espécies de pastagens de importância econômica, além de cana-de-açúcar, milho, milheto, sorgos sacarino e granífero, trigo e arroz.

PREJUÍZOS As perdas quantitativas em rendimentos de grãos de milho foram ao redor de 27% em experimentos conduzidos nos Estados Unidos. Na Argentina, os prejuízos ocasionados

Plantas de milho podem ser atacadas em qualquer estágio, desde a fase de cartucho até o florescimento. No detalhe, a praga está no pendão

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Fotos Ivan Cruz

Detalhe do ataque da broca na bainha da folha

O sucesso na utilização do parasitóide de larva C. flavipes também depende do sincronismo entre a liberação e a fase de maior suscetibilidade da praga. Deve ser considerado, nesse procedimento, que a larva da praga pode estar no cartucho ou dentro do colmo. Liberações mais cedo, quando a larva ainda se encontra no ambiente externo, podem ser mais eficientes. A utilização continuada de um ou de outro inimigo natural deve ser função da maior ou menor taxa de chegada da mariposa na área. Recomenda-se considerar que o inseto pode estar associado a praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. O aparecimento de populações da praga no início do florescimento ou no enchimento de grãos tende a ocasionar elevados prejuízos, por reduzir o rendimento de grãos em função das galerias formadas nos internódios logo abaixo da inserção da espiga. A utilização de medidas químicas, apesar dos poucos produtos registrados com fins específicos, pode resultar em

Postura de Diatraea saccharalis na parte basal da planta

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controle satisfatório, especialmente no que se refere a populações que se iniciam logo após a emergência da planta. Os inseticidas utilizados para o controle da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e da lagarta-do-cartucho via tratamento de sementes, também têm efeitos sobre a broca. Portanto, em áreas onde tais pragas são problemas e demandam o tratamento químico, podese também ter o efeito adicional dos produtos sobre a broca da cana-de-açúcar. No entanto, a eficiência do tratamento das sementes com inseticidas sistêmicos tem limitação no período de atua-

ção, geralmente entre 15 e 20 dias após a emergência da planta. Depois de tal período, pode ser necessária a utilização de uma pulverização. A eficiência dessa aplicação vai depender da presença da larva da praga ainda na parte externa da planta. Resultados de pesquisa indicam que o inseto só começa a penetração no interior do colmo após o terceiro instar. O maior desafio é, portanto, identificar a manifestação da praga na folha, geralmente no cartucho. Tradicionalmente, o agricultor associa, em primeira instância, a presença da lagarta-do-cartucho, por provocar danos perceptíveis, como

Túnel aberto pela praga na base do colmo

Casal de Diatraea saccharalis, à esquerda a fêmea

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raspagem e furos irregulares nas folhas ou presença de fezes no interior do cartucho. Tais sintomas não são característicos da broca. Portanto, exigem um maior conhecimento para se detectar a presença da praga. Produtos químicos aplicados para o controle da lagarta-do-cartucho também apresentam efeitos sobre a broca da canade-açúcar quando o inseticida entra em contato ou é ingerido pelo inseto. De modo geral, a atenção na aplicação de inseticidas químicos deve ser observada, seja para o controle da lagarta-do-cartucho ou para a broca da cana. Cuidados adicionais devem ser seguidos, especialmente quando se utiliza o controle biológico para uma praga e o químico para outra. O ideal é a utilização do controle biológico para ambas as pragas. Além de auferir os efeitos da liberação de um agente de controle biológico, a racionalização do controle químico favorece a participação mais efetiva de outros agentes de controle biológico, como é o caso das espécies de tesourinha (Doru luteipes) e (Euborellia anulipes), ambas predadoras tanto de S. C frugiperda como de D. saccharalis. Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

D. SACCHARALIS

A

mariposa fêmea de D. saccharalis vive entre três e oito dias, ovipositando por período variável entre uma e quatro noites. Coloca seus ovos em agrupamentos, contendo cada um em média 25 ovos, geralmente na face ventral ao longo da nervura central ou na parte inferior das folhas mais altas. Os ovos são achatados e uma só mariposa pode colocar muitos grupos de ovos numa mesma noite. As larvas nascem após um período médio de incubação de seis dias e, logo após, geralmente migram para a área do cartucho da planta e se alimentam do tecido recém-formado das folhas. No terceiro instar ou nos instares posteriores, geralmente se inicia a alimentação dentro do colmo da planta. Sob condições favoráveis de clima, o período larval dura entre 25 e 30 dias. A larva transforma-se em pupa dentro do colmo e, após aproximadamente nove dias, emerge o adulto. A fêmea é maior que o macho. Em condições favoráveis de clima, as gerações podem ser contínuas ao longo do ano.


Milho

Estreito e produtivo A ad oção ddee espaçam en to rred ed uzi do en tr elinhas n o milh o pod an tir um adoção espaçamen ento eduzi uzid entr trelinhas naa cultur culturaa ddo milho podee gar garan antir tas sem in tervenção ddee ddaninhas aninhas an do in tegr ad o com outr os ffator ator es dossel ddee plan plantas intervenção aninhas,, qu quan and integr tegrad ado outros atores com o escolha corr eta ddo o híbri do a ser plan tad o como correta híbrid plantad tado

O

desafio de elevar os rendimentos de grãos de milho no país passa por práticas de manejo e pelo desenvolvimento de novos híbridos adaptados às mais diferentes regiões (Silva et. al., 2006). A adoção de manejo adequado, inserido estrategicamente nos diferentes sistemas de produção brasileiros (como o uso de coberturas vegetais antecedendo a cultura, épocas de semeadura, fertilização do solo em níveis e momentos corretos, a escolha de densidades e espaçamentos entre linhas para cada situação, manejo integrado de daninhas, pragas e moléstias e, principalmente, a integração dessas práticas), pode resultar em incrementos significativos na produtividade da cultura. Grande parte dos produtores brasileiros de milho ainda usa espaçamentos entrelinhas entre 0,75m e 1,0m. Espaçamentos maiores permitem que animais ou implementos tratorizados transitem entre as linhas de cultivo durante as práticas culturais, sem causar danos significativos à cultura, como quebra e amassamento. A idéia de se empregar espaça-

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mentos reduzidos (0,4m a 0,6m) depende de inovações tecnológicas tais como a disponibilidade de maior número de herbicidas seletivos para o controle de plantas daninhas em pós-emergência e o desenvolvimento de híbridos com arquitetura foliar mais ereta (Silva et al., 2006). Estudos evidenciam que o uso de espaçamentos menores, até determinados limites, mantendo as mesmas populações de plantas por unidade de área, poderão propiciar maiores rendimentos de grãos (Argenta et al., 2001). Isto ocorre pela distribuição mais uniforme de plantas cultivadas, que resulta em aumento na interceptação de radiação, melhor aproveitamento da água e dos nutrientes e menor evaporação de água. O arranjo de plantas em determinada área poderá representar efeito substancial no balanço competitivo entre cultura e planta daninha. Teoricamente, quanto maior a “retangularidade” do arranjo (espaçamento entrelinha dividido pelo espaçamento na linha), maior o percentual da superfície coberta com plantas daninhas.

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A principal característica modificada com a adoção de espaçamentos reduzidos é a penetração de radiação solar no dossel das plantas. Em espaçamentos reduzidos a penetração da radiação é menor, em função da a cobertura do dossel mais rápida, que é resultado tanto do maior índice de área foliar quanto de um arranjo mais eficiente das folhas, que aumenta a interceptação da radiação por área (Flénet et al., 1996). Dessa forma, a cultura ocupa o espaço de forma acelerada, o que diminui a disponibilidade de recursos ao crescimento e desenvolvimento de plantas daninhas. Por isso, os espaçamentos reduzidos, além de possibilitar maior aproveitamento da radiação fotossinteticamente ativa, podem, simultaneamente, suprimir o crescimento de plantas daninhas (Flesh & Vieira, 2004; Balbinot Jr. & Fleck, 2005). A adoção de práticas de manejo de plantas daninhas em espaçamentos estreitos pode ser visualizada em experimentos conduzidos na UTFPR, Campus Pato Branco, nos anos agrícolas 2003/04 e 2004/05 (Tabelas 1 e 2). A Tabela 1 descreve o trabalho de Nunes e colaboradores, em 2003/04, em que foram avaliados dois espaçamentos (0,45m e 0,9 m), dois híbridos (Penta, com folhas mais decumbentes e Flash, com folhas mais eretas) e cinco formas de manejo de plantas daninhas. Na


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Utilizar espaçamentos entre 0,4m e 0,6m depende de inovações tecnológicas

Grande parte dos produtores ainda usa espaçamentos entrelinhas entre 0,75m e 1,0m

testemunha sem controle de plantas daninhas (SC) do híbrido Flash, o espaçamento de 0,45m foi 49% mais eficiente em reduzir a matéria seca de plantas daninhas do que no de 0,90m, efeito não observado no híbrido Penta (Tabela 1). Em outro experimento, conduzido por Trezzi e colaboradores, em 2004/05, cujos resultados estão na Tabela 2, também foi avaliada a matéria seca de plantas daninhas em dois espaçamentos (0,45m e 0,90m), utilizando-se dois híbridos (Penta, com folhas mais decumbentes e Sprint, com folhas mais eretas) e cinco formas de manejo de plantas daninhas. As matérias secas de plantas daninhas no espaçamento de 0,90 m foram 3325% e 966% superiores ao de 0,45m, respectivamente, nos tratamentos de atrazina + simazina em pós-precoce, na dose recomendada e em meia dose, apenas no híbrido Sprint (Tabela 2). Diferenças entre os espaçamentos não foram identificadas para os demais tratamentos herbicidas utilizando Sprint, nem para os tratamentos herbicidas usando Penta. Esse resultado pode ser atribuído ao baixo efeito residual da mistura de atrazina + simazina (dose cheia e meia dose) que dessa forma não impede que plantas daninhas se desenvolvam junto à cultura após o término do período residual, especialmente nos espaçamentos mais largos (Tabela 2). Isso, por vezes, poderá comprometer o rendimento de grãos e também contribuirá para maiores infestações de plantas daninhas após o término do ciclo da cultura. A aplicação complementar de nicosulfuron em pós-emergência tardia buscou contornar esse problema (Tabela 2).

ESCOLHA DO HÍBRIDO Como visto anteriormente, a redução de espaçamentos entrelinhas é mais benéfica ao controle de plantas daninhas quando há falhas no controle ou no tratamento em que não foi utilizado herbicida na área. Essa redução deve ser usada de forma integrada a outras estratégias, como a escolha do híbrido, o

emprego de densidades de plantas de milho, épocas de semeadura e qualidade de sementes adequadas. Em geral, resultados positivos somente são obtidos quando outros fatores importantes para o desenvolvimento da cultura,

como a fertilidade do solo, disponibilidade hídrica, etc., estão em níveis adequados. Híbridos com arquitetura moderna, ou seja, com menor estatura e número de folhas e com folhas mais eretas possibilitam maior penetração de radiação para a porção inferior do dossel, reduzindo a competição intraespecífica, mesmo com utilização de densidades mais elevadas (Argenta et al., 2001). O uso desses híbridos também aumenta a razão vermelho/vermelho extremo, resultando em redução das taxas de esterilidade da inflorescência feminina, devido à menor dominância apical, reduz a elongação de entrenós e a altura da inserção da espiga, componentes importantes para se atingir maiores produtividades de milho (Almeida et al., 2000; Sangoi et al., 2003). No entanto, alterações na quantidade

Tabela 1 – Matéria seca de plantas daninhas em resposta a herbicidas, espaçamentos e níveis de controle, determinada aos 50 dias após a aplicação dos herbicidas. UTFPR, Campus Pato Branco, 2003/04 Híbrido SC1 Penta Flash

a247a2A a150aB

Espaçamento e níveis de controle 0,45m 0,90m 50% 75% 100% CC SC 50% 75% 100% Matéria seca (g m-2) Matéria seca (g m-2) b53aA3 bc416aA bc7aA c0aA a244bA b32aA b9aA b2aA ab58aA bc24aA bc16aA c0aA a483aA b62aA bc21aA c6aA

CC b0aA c0aA

Fonte: Nunes et al. (2008) 1 Níveis de controle: SC = Sem Capina; 50% = 1500 + 22,5 + 1,5 g ha-1 (atrazine + foramsulfuron + iodosulfuron); 75% = 2250 + 33,8 + 2,3; 100% = 3000 + 45 + 3; CC = Com Capina. 2 Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem entre sí pelo teste de Tukey a 5% de significância e comparam os híbridos dentro de um mesmo nível de controle e espaçamento. 3 Médias seguidas da mesma letra maiúscula não diferem entre sí pelo teste de Tukey a 5% de significância e comparam os espaçamentos dentro do mesmo nível de controle e híbrido. 4 Médias antecedidas da mesma letra minúscula na linha não diferem entre sí pelo teste de Tukey a 5% de significância e comparam os níveis de controle dentro do mesmo espaçamento e híbrido.

Tabela 2 – Matéria seca total de plantas daninhas em resposta a distintos métodos de controle, híbridos e espaçamentos entre linhas. UTFPR, Campus Pato Branco, 2004/05 Híbrido

Esp.

Testem. Capinada

Atrazine + Simazine dose cheia PP

Penta

0,45 0,90 0,45 0,90

A10 aA A 0 aA A 0 aA A 0 aC

A 11,1 a2A B 11,9 aA A 1,6 bA A 54,8 aAB

Flash

Métodos de Controle de Plantas Daninhas 2004/2005 Atrazine + Sima-zine PP + Atrazine + Simazine Atrazine + Nico-sulfuron PT dose PP Matéria seca de plantas daninhas (g m-2) A 2,66 aA3 A 26,8 aA A 7,15 aA B 15,8 aA A 10,9 bA A 0,68 aA A 6,05 aC A 116,2 aA

Atrazine + nicosulfu-ron PT A 16,0 aA A 24,9 aA A 8,8 aA A 12,0 aBC

Fonte: Trezzi et al. (2008) PP = pós-emergência precoce, 22 dias após a emergência do milho. PT = pós-emergência tardia, 40 dias após a emergência do milho. 1Mesmas letras maiúsculas antecedendo as médias indicam ausência de diferença significativa, correspondendo à comparação entre híbridos em cada um dos espaçamentos e em cada método de controle de plantas daninhas, pelo teste de Tukey (P>0,05). 2Mesmas letras minúsculas sucedendo as médias indicam ausência de diferença significativa, correspondendo à comparação entre espaçamentos em cada um dos métodos de controle e em cada um dos híbridos, pelo teste de Tukey (P>0,05). 3Mesmas letras maiúsculas sucedendo médias indicam ausência de diferença significativa, correspondendo à comparação entre métodos de controle de plantas daninhas, para cada híbrido e espaçamento, pelo teste de Tukey (P>0,05).

Tabela 3 - Rendimento de grãos de milho em função do híbrido e do espaçamento entre linhas. UTFPR, Campus Pato Branco, 2003/04 e 2004/05 2003/2004 Espaçamento (m)

Híbrido 0,45 Penta Flash

9821 a A* 10043 a A

0,90m 0,9 SC Rendimento de grãos (kg ha-1) 10774 a A 10099 b A 9225 a B 9726 a A

50% 11010 a A 10135 a B

Fonte: Nunes et al. (2008) e Trezzi et al. (2008). 1 Dentro de cada ano, médias acompanhadas pelas mesmas letras minúsculas na linha e maiúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste Tukey (P>0,15). 1 Híbrido utilizado em 2003/04. 2 Híbrido utilizado em 2004/05.

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Fotos Dirceu Gassen

Híbridos com arquitetura moderna, com menor estatura e número de folhas e com folhas mais eretas

e qualidade da radiação solar proporcionadas pelos híbridos mais modernos, podem representar maior emergência e desenvolvimento de plantas daninhas junto à cultura do milho. Por isso, o uso de híbridos com arquitetura mais ereta, como é o caso de Flash e Sprint (Tabelas 1 e 2) deve ser acompanhada da escolha de espaçamentos mais estreitos, sob pena de haver maiores infestações de plantas daninhas. Isso deve ocorrer mesmo em condições em que forem aplicados herbicidas com poder residual na área, como a mistura formulada de atrazine + simazine, pois o seu período residual é limitado, devendo-se complementar com o controle cultural, ou seja, uso de espaçamentos menores.

REDUÇÃO DO USO DE HERBICIDAS Uma questão importante a ser respondida em relação ao uso de menor espaçamento entrelinhas, na cultura do milho, é se sua adoção permitiria a redução dos níveis de herbicidas na cultura do milho? Os resultados descritos nas Tabela 1 e 2 tentam esclarecer esse ponto. Observa-se que as reduções das doses de herbicidas, de 100% para 75% e 50% (Tabela 1) e de 100% para 50% (Tabela 2) afetam negativamente o controle de plantas daninhas, pois os níveis de matéria seca de plantas daninhas foram maiores com o uso de doses menores, embora isso só tenha sido significativo para o híbrido Flash no espaçamento de 0,90 m. As comparações entre os espaçamentos de 0,45m e 0,90m dentro de cada dose de herbicida (50%, 75% e 100%) (resultados da Tabela 1) demonstram que não houve vantagem para a redução do espaçamento, ou seja, não houve redução expressiva de matéria seca de plantas daninhas nos espaçamentos reduzidos, nos tratamentos com doses reduzidas de herbicidas. Portanto, o espaçamento reduzido não permitiu maior controle com doses reduzidas do que o espaçamento convencio-

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nal. Os resultados da Tabela 2 demonstram que, com o uso do híbrido de milho Sprint, a utilização da dose cheia de atrazina + simazina resultou em redução de 97% da matéria seca de plantas daninhas no espaçamento de 0,45m, em relação ao de 0,90m, enquanto com o uso da metade da dose recomendada, o espaçamento reduzido proporcionou redução de 91% da matéria seca de plantas daninhas, em relação ao espaçamento de 0,90m. Portanto, a redução de espaçamento por si só parece ser a responsável pela redução dos níveis de matéria seca de plantas daninhas, não se podendo afirmar que a redução de espaçamento possibilitou a redução dos níveis de herbicidas, em relação aos espaçamentos mais largos.

EFEITOS SOBRE O RENDIMENTO DE GRÃOS No ano agrícola de 2003/04, tanto para Penta quanto para Flash, a variação no espaçamento entre linhas de 0,45m para 0,90m não provocou mudanças no rendimento de grãos (Tabela 3). O híbrido Penta foi 17% mais produtivo do que Flash no espaçamento de 0,90m. No entanto, não houve diferenças entre os híbridos no espaçamento de 0,45m (Tabela 3). Esse resultado pode estar relacionado à vantagem competitiva sobre plantas daninhas de Penta, em relação a Flash, no espaçamento convencional, como foi observado na Tabela 1. No ano agrícola de 2004/05, a redução do espaçamento entre linhas não contribuiu para elevar o rendimento de grãos. Para o híbrido Penta, a diminuição do espaçamento provocou redução no rendimento de grãos (Tabela 3). Já, para Sprint, não houve diferença entre o uso de espaçamento entre linhas de 0,90m e de 0,45m. A redução de rendimento do híbrido Penta com o uso de espaçamento reduzido não era esperada, pois, em geral, ocorre redução da competição interespecífica em espaçamentos estreitos. No entanto, pode ocorrer maior competição por radiação entre plan-

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tas de linhas diferentes, especialmente em híbridos com folhas mais planófilas, como é o caso de Penta. Na revisão feita por Liebman et al. (2001), de 49 experimentos com redução de espaçamento levantados na literatura, englobando diversas culturas de lavoura, constatou-se que em apenas três experimentos houve resposta negativa do rendimento de grãos à redução do espaçamento entre linhas. Especificamente para a cultura do milho, dos sete experimentos avaliados, em apenas um deles houve redução do rendimento de grãos com a adoção de espaçamentos estreitos. Alguns estudos conduzidos no Brasil demonstram aumentos expressivos de rendimento de grãos de milho com a redução do espaçamento entre linhas (Balbinot Jr. & Fleck, 2005; Strieder et al., 2007). Fatores como o híbrido e população de plantas (Argenta et al., 2001; Balbinot Jr. & Fleck, 2005), época de semeadura (Sangoi et al., 2001) e período até a implantação da cultura após a dessecação (Liebman et al., 2001) podem contribuir para a variabilidade de resultados. Assim, os resultados demonstram que o controle cultural (uso de espaçamentos mais estreitos) poderá resultar em vantagens sobre o controle de plantas daninhas, especialmente com o uso de híbridos com arquitetura mais ereta e controle inexistente ou deficiente de plantas daninhas na área. Os resultados obtidos até o momento não indicam a possibilidade de redução dos níveis de herbicidas na cultura do milho com a adoção de espaçamentos mais estreitos. A chance de incremento de rendimentos de grãos de milho com a adoção de espaçamentos estreitos dependerá de vários fatores, entre os quais o híbrido utilizado, a população de plantas, a época de semeadura e o período até a implantação da cultura após a C dessecação. Michelangelo Müzell Trezzi, Emerson da Silva Portes e Cristian Luiz Zílio, UTFPR Anderson Luis Nunes, UFRGS

Em espaçamentos reduzidos a radiação solar é menor


Trigo Dirceu Gassen

Desafiadoras

Cr esce a importân ci as ferrug en olha e ddo o colm o com o limitad or as ddaa Cresce importânci ciaa ddas ferrugen enss ddaa ffolha colmo como limitador oras pr od utivi dad o tri go n o Br asil. M an ejar corr etam en te estas ddoenças oenças eexi xi ge prod odutivi utivid adee ddo trig no Brasil. Man anejar corretam etamen ente xig atenção ddo o pr od utor a aspectos que vão ddesd esd prod odutor esdee a escolha ddaa cultivar até a sen sibili dad os patóg en os à apli cação ddee fun gi ci das sensibili sibilid adee ddos patógen enos aplicação fungi gici cid

N

o cultivo de trigo no Brasil, com cultivares lançadas até o ano de 1970, a infecção de ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia triticina, ocorria em intensidade que não causava prejuízos importantes. A resistência do tipo planta adulta assegurava a estabilidade. A partir daí, com o melhoramento genético da cultura, foram geradas cultivares melhores para várias características agronômicas, mas não se manteve o tipo de resistência. Durante décadas, as áreas tritícolas têm sido semeadas, predominantemente, com cultivares cuja resistência é específica a raças de P. triticina.

TIPOS DE RESISTÊNCIA - A resistência específica a raças é efetiva durante todo o ciclo da planta. Uma cultivar pode ser resistente a uma ou a todas as raças. Se for resistente a todas as raças ocorrentes na região, exceto a uma, esta poderá causar epidemia. As “quebras” de resistência (tabela 1) ocorrem especialmente em cultivares com resistência específica. - A não específica é um tipo de resistência em que a cultivar de trigo apresenta uma resposta suscetível, mas a ferrugem avança com lentidão. A resistência é parcial, possibilitando esporulação, que não atinge níveis elevados (poucas lesões), mas suficiente para evitar pressão de seleção a novas virulências. As cultivares que se mantiveram em cultivos resistentes possuem resistência não específica. A resistência de planta adulta é parcial, sendo que a doença progride mais devagar, em com-

paração à suscetibilidade. Quando há concentração em extensa área de uma cultivar ou cultivares com resistência específica e determinada por mesmos genes, o surgimento de uma nova raça do patógeno é favorecido. A resistência pode ser preservada quando o cultivo é constituído de genótipos com vários genes de resistência, especialmente do tipo parcial, de planta adulta, dificultando as alterações do fungo.

RAÇAS A ferrugem é geneticamente variável e tem muitos tipos distintos de raças, que diferem

na sua capacidade de infectar plantas de trigo com genes de resistência (Tabela 2). Essa grande variabilidade tem permitido que o fungo se adapte a novas cultivares resistentes em curto período de tempo. No ano de 2004 foi identificada uma nova fórmula de virulência, raça MDK-MR (B55) que, nos anos de 2005 e 2006, tornou-se predominante, elevando o nível de suscetibilidade de cultivares importantes. A raça MFP-CT (B56), identificada pela primeira vez em 2005, foi a causa da “quebra de resistência” da cultivar BRS 194. A raça MFH-HT em 2007, tornou inefe-

Figura 1 - Efeito de diferentes tratamentos sobre a área abaixo da curva do progresso da severidade de ferrugem da folha do trigo cultivar Safira (C.V. 3,04%)

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Quadro 1 - Tipos de resistência à ferrugem da folha de trigo Tipos de resistência * Específica à raça * Não específica à raça Progresso lento da ferrugem Durável

tiva a resistência das cultivares Fundacep 50, Fundacep 51 e Fundacep 52. Neste ano foi identificada outra nova fórmula de virulência, denominada MDK-MR e suas variantes, predominante em mais de 55% das amostras analisadas, aumentando o nível de suscetibilidade da cultivar Abalone. Em 2007 foram detectadas quatro raças não descritas anteriormente (Tabela 4): 1) MDK-MR, 4002 (B 55 4002 S), assim designada por não diferir da MDK-MR (B55) quanto ao padrão de avirulência/virulência relativo às 21 linhas diferenciais, mas virulenta à linhagem ORL 04002, que é resistente para a B55; 2) MFH-HT, encontrada apenas no Rio Grande do Sul, em cultivares Fundacep, várias das quais eram resistentes a todas as raças testadas; e, em baixa freqüência: 3) TDT-MR e 4) uma raça anteriormente detectada no Paraguai e na Argentina, importante por ser virulenta a Lr 19, gene de resistência específica duradoura, que mantinhase efetivo a todas as raças.

FREQÜÊNCIA DAS RAÇAS A MDK-MR (B55 4002 S) foi a mais freqüente no Brasil, no Paraná e em São Paulo. A MFH-HT predominou no Rio Grande do Sul, não tendo sido encontrada em outro estado. Ocorreram, também, em ordem decrescente de freqüência: MDK-MR (B55), MDPMR, TFK-CS (B49), MFP-CT (B56) e MCRRS (B34) (Tabela 2). Cada raça B (sistema de nomenclatura brasileiro), quando classificada conforme o sistema norte-americano, corresponde a várias raças (fórmulas de avirulência (genes de resistência efetivos)/virulência (genes de resistência não efetivos)). De acordo com a classificação brasileira, quando a variação é dependente do ambiente, agrupa-se em uma mesma raça.

CULTIVARES Em inóculo coletado nas cultivares Abalone, Ônix, Quartzo, Safira e Supera, foi identificada a raça B55 4002 S; em Avante, a B49; em BRS 194, a B56; em Fundacep 50, Fundacep 51 e Fundacep 52, a raça MFH-HT e em ORL 03165, no Paraná (Sertanópolis) e na Argentina (9 de Julio), a nova raça TDTMR. Entre as cultivares de trigo atualmente em cultivo no Brasil, há três tipos principais, em relação à ferrugem da folha: - Resistente a todas as raças: Fundacep 30.

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Tabela 1 - Genes de resistência à ferrugem da folha de trigo, que perderam sua efetividade devido ao aparecimento de raças (nova virulência (s)) na região tritícola Cone Sul da América do Sul Gene Lr não efetivo Lr 24 Agropyron elongatum Lr 26 Centeio Lr 9 Triticum umbellulatum Lr 16 T. aestivum Lr 19 Agropyron elongatum

(1981) Brasil e Argentina (1982) Brasil e (1980) Argentina (1986) Brasil e (1982) Argentina (1986) Brasil (2004) Paraguai e (2005) Argentina

Cultivar Cargill Trigal 800, Tifton Veery, Bobwhite, Alondra CEP 14, La Paz INTA ProINTA Gaucho

Fontes: Embrapa Trigo, Antonelli 1982 1986 2003 2005, deViedma et al. 2004, Germán et al. 2007

- Plantas adultas resistentes no campo (exemplo: Taurum, Pampeano e Alcover), em que a resistência aumenta no decorrer do ciclo de desenvolvimento das plantas (Gráfico 1). - Suscetíveis em diferentes níveis e altamente suscetíveis: OR1, Ônix, Safira, Quartzo, Supera, Marfim, Abalone (Gráfico 2). Nos Gráficos 1 e 2, podem ser comparadas as reações à ferrugem da folha, em 2007, de cultivares de trigo, na área experimental da OR, em Coxilha (RS). Além do inóculo natural, raças que ocorreram em 2006 e anteriormente foram inoculadas nas plantas avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007. A porcentagem de área foliar infectada (0% a 100%), multiplicada pelo tipo de lesão (R = 0,2; MR = 0,4; MS =0,8 e S = 1) constituiu o valor do coeficiente de infecção. Dez folhas de cada cultivar foram avaliadas em duas épocas e calculado o CI médio. As informações relatadas confirmam os objetivos dos programas de melhoramento genético de trigo para aumentar o nível de resistência parcial, mais durável à ferrugem da folha.

FERRUGEM DO COLMO Há mais de duas décadas, a ferrugem do colmo do trigo, causada pelo fungo Puccinia graminis tritici, deixou de ser epidêmica. Controlada por cultivares resistentes, a doença não foi mais foi detectada no Brasil. Os genes mais importantes e que conferem resistência em cultivares brasileiras são, provavelmente, Sr24 e Sr31, embora cultivares de trigo suscetíveis tenham sido lançadas recentemente. O aumento do emprego de cultivares suscetíveis

poderá resultar em novo aumento da incidência de ferrugem do colmo, o que faz crescer a probabilidade do aparecimento de novas raças virulentas. Como a translocação 1BL.1RS, associada ao gene Sr31, está presente em alta proporção do germoplasma regional, a possível introdução da virulência de ferrugem do colmo com Sr31, que surgiu na África em 1999, é uma ameaça à triticultura brasileira.

SENSIBILIDADE A FUNGICIDAS Até o momento, o desenvolvimento e o uso de variedades de trigo resistentes à ferrugem da folha têm sido o método preferencial de controle. Porém, devido à variabilidade genética do patógeno, originando praticamente uma nova raça a cada safra, o uso de fungicidas tem sido uma prática eficiente Tabela 2 - Genes Lr de resistência à ferrugem da folha de trigo, que constituem a série diferencial de raças, dispostos na ordem que permite a classificação conforme o código norte-americano Raças no Cone Sul são classificadas conforme código norte-americano Phytophology 1989 (79) p. 525-529 Código Lr 1 Lr 2a Lr 2c Lr 3 M V A A V Lr 9 Lr 16 Lr 24 Lr 26 D A A V A Lr 3ka Lr 11 Lr 17 Lr 30 K A V V V Lr 10 Lr 18 Lr 21 Lr 23 M V A A V Lr 14a Lr 14b Lr 10+26 Lr 20 R V V A V V – Virulência

A – Avirulência

Tabela 3 - Fórmula de avirulência (genes Lr de resistência efetivos)/virulência (genes Lr de resistência não efetivos) de raças de Puccinia triticina (ferrugem da folha de trigo)

Brasileira B34 B49 B55 B55 4002 S B56 -

Nomeclatura Norte-Americana MCR-RS, 3bg TFK-CS, 3bg MDK-MR, 3bg, 27+31 MDK-MR, 3bg, 27+31, 4002 MFP-CT, 3bg, 27+31 MDP-MR, 3bg MFH-HT, 3bg, 27+31

OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008.

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Raça Genes de resistência Lr Efetivos (resistência) 2a 2c 9 16 17 20 21 24 27+31 3ka 9 10 16 18 20 21 27+31 2a 2c 3ka 9 16 18 21 26 2a 2c 3ka 9 16 18 21 26 2a 2c 9 10 11 16 18 21 30 2a 2c 9 11 16 18 21 26 27+31 2a 2c 3ka 9 10 16 17 21 30

Não efetivos (suscetibilidade) 1 3 3bg 3ka 10 11 14a 14b 18 23 26 30 1 2a 2c 3 3bg 11 14a 14b 17 23 24 26 30 1 3 3bg 10 11 14a 14b 17 20 23 24 27+31 301 3 3bg 10 11 14a 14b 17 20 23 24 27+31 30 4002 1 3 3bg 3ka 14a 14b 17 20 23 24 26 27+31 1 3 3bg 3ka 10 14a 14b 17 20 23 24 30 1 3 3bg 11 14a 14b 18 20 23 24 26 27+31


Gráfico 1 - Coeficiente de infecção médio de ferrugem da folha, em cultivares de trigo resistentes avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007, em Coxilha, RS. OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008

Fotos Gisele Arduim

no seu controle. No entanto, também tem sido difícil manter a efetividade deste método por longos períodos, uma vez que o patógeno pode rapidamente desenvolver novas raças mais virulentas ou menos sensíveis a alguns fungicidas. O uso de fungicidas para o controle de doenças do trigo teve início na safra de 1976 com o carbamato mancozebe (Recomendações, 1975). Os triazóis foram introduzidos na safra de 1979 com o fungicida triadimefom (Recomendações, 1978). Portanto, este grupo químico de fungicidas já é utilizado há 29 anos (safras). O uso de fungicidas em larga escala, aplicados numa área de trigo que soma 2,48 milhões de hectares no Brasil (Conab, 2007), às vezes, com uso de subdoses ou uso desnecessário, com várias aplicações no mesmo ano agrícola, pode contribuir para a seleção, em direção à insensibilidade. Com isso, haverá uma seleção de isolados ou raças que não mais serão controláveis pelas doses normais dos fungicidas envolvidos. Isso já tem sido observado. Desde a safra de 2005, produtores e técnicos têm constatado deficiências no controle da ferrugem da folha do trigo, com alguns defensivos que tradicionalmente mostravam-se eficazes contra a doença. Caberá às instituições de pesquisa esclarecer este fato. A)

B)

C)

D)

Gráfico 2 - Coeficiente de infecção médio de ferrugem da folha, em cultivares de trigo avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007, em Coxilha, RS. OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008

ENSAIO EM CASA DE VEGETAÇÃO Em experimentos conduzidos em casa de vegetação, comparou-se a sensibilidade de três raças de P. triticina aos fungicidas mais utilizados pelos produtores. As raças testadas foram a B34, considerada sensível, comparada com B55, B56 e MDP-MR. Foram avaliados os fungicidas triazóis (ciproconazole, epoxiconazole e tebuconazole) e estrobilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina). Os produtos, nas doses recomendadas, foram aplicados preventivamente (24 horas antes da inoculação), curativamente (72 horas após a inoculação) e erradicativamente (após o aparecimento das pústulas) em relação à inoculação das plantas com uredósporos. Os tratamentos foram avaliados com base na contagem do número de urédias por cm2.

RESULTADOS A raça B34 ainda se mostra muito sensível aos triazóis, enquanto que B55, B56 e a MDP-MR tornaram-se menos sensíveis aos fungicidas deste grupo isoladamente. Na aplicação preventiva, o número médio de urédias por cm2 variou de 12,4 a 17,2 para a raça B55, 21,4 a 26,4 para a B56 e 14,6 a 23,8 para a MDP-MR. Nas testemunhas, a média foi de 15,64, 17,74 e 31,6 para cada raça, respectivamente. No tratamento curativo, o número de uréE)

F)

G)

Visualização do efeito dos tratamentos: A) testemunha; B) ciproconazole; C) epoxiconazole; D) tebuconazole; E) ciproconazole + azoxistrobin; F) epoxiconazole + piraclostrobin; G) tebuconazole + trifloxistrobin

dias variou de sete a 12 para a raça B55 e de nove a 13,4, para a MDP-MR. Na testemunha, variou de 17,6 e 29,4. Os triazóis apresentaram pouca ou nenhuma ação sobre a viabilidade dos esporos, mesmo à raça sensível B34, isso porque, segundo Pontzen & Scheinpflug (1989), os triazóis não agem na germinação, uma vez que, nesse momento, ainda não é requerida a síntese de esteróis. As quatro raças testadas mostraram-se sensíveis às estrobilurinas, independentemente do momento de aplicação.

ENSAIO NO CAMPO Com o objetivo de confirmar os dados conduzidos em casa de vegetação, realizou-se um ensaio em condições de campo na safra de 2007, na área experimental da Universidade de Passo Fundo, (RS). Utilizou-se a cultivar Safira e, durante o desenvolvimento da cultura, foram realizadas três aplicações dos fungicidas utilizados em condições controladas e suas respectivas misturas (ciproconazole + azoxistrobina; epoxiconazole + piraclostrobina; tebuconazole + trifloxistrobina). A primeira aplicação foi feita no final do perfilhamento, a segunda na floração e a terceira no estádio de grão leitoso. A doença foi quantificada com base no número de pústulas/cm2 e integralizada como área abaixo da curva. Verificou-se que as menores taxas de progresso da doença e, conseqüentemente, o melhor controle da ferrugem da folha do trigo foram obtidos nas misturas de triazóis com estrobilurinas (Figura 1). Os resultados de campo da safra de 2007/2008 confirmaram os dados obtidos em casa de vegetação, da menor sensibilidade das novas raças de P. triticina aos fungicidas do grupo dos triazóis. Devido a isto, sugere-se que seja dada preferência às misturas prontas com estrobilurinas, ao invés da aplicação isolada de fungicidas triazóis. C Amarílis Labes Barcellos, OR Sementes Gisele da Silva Arduim, UPF

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Informe

Super Soja

agricultor brasileiro, para obter os melhores resultados. Resultados que já estamos vendo no campo e o agricultor brasileiro terá este diferencial na sua lavoura. O diferencial do rendimento. Por Fabrícia Andrade, Gerente de Marketing da Nidera Sementes

Lançamentos da Super Soja Nidera RR Quatro variedades de soja transgênica com altíssimo potencial produtivo, para variadas épocas de plantio e regiões

A

Nidera Sementes está trazendo ao mercado sua linha de Sojas transgênicas: a Super Soja Nidera RR. O lançamento já está à venda no Centro-Oeste do país, sendo quatro produtos. Para o Sul, serão mais quatro produtos, lançados em breve. Tanto para o mercado de Soja convencional quanto para o mercado de soja transgênica, falar de Nidera é falar em reconhecimento de produtividade e rendimento pelo produtor brasileiro. Em recente pesquisa de mercado, as sojas convencionais e as transgênicas da Nidera estão no topo conceitual de produtividade, adaptação e experiência, acima da média brasileira; advindas de nosso maior ponto forte: a genética avançada. O produtor brasileiro vai poder contar com a Super Soja Nidera RR certificada, com origem e controle de qualidade. E mais do que isso, vai contar com uma linha de soja adaptada a várias regiões brasileiras com rendimento acima do padrão, comenta Ricardo Mayer, Diretor Comercial da Nide-

ra Sementes no Brasil. A história da Nidera em soja confunde-se com a própria história da cultura da soja na América Latina, já que a Nidera Sementes é detentora de um dos maiores bancos genéticos do mundo: uma genética elite, resultado do trabalho de profissionais de altíssima qualificação, trazendo know how excepcional e sojas cada vez mais selecionadas e de altíssimos rendimentos. A pesquisa e o melhoramento na Nidera sempre foram um dos principias pilares da empresa. Uma equipe que está crescendo a cada dia, para trazer o desenvolvimento genético com as qualidades que o mercado brasileiro merece: alto rendimento, melhor adaptabilidade, melhor comportamento diante de pragas e enfermidades. A principal característica da Pesquisa e Melhoramento da Nidera Sementes é a metodologia ofensiva de breeding, levada a cabo nas cinco unidades de pesquisa. Nosso programa de teste inclui, em soja, centenas de localidades em todo o Brasil, o que nos permite avaliar diferentes ambientes em um número importante de linhas e produtos a cada ano. Isto facilita a evolução da interação genótipo x ambiente. Nosso Programa de Pesquisa de Soja é tão amplo e está desenvolvendo as melhores sojas RR do mercado. Vamos lançar novas variedades, específicas para cada ambiente e condições de manejo do

Ricardo Mayer Diretor Comercial da Nidera Sementes

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•Resistência ao glifosato •Cultivar superprecoce favorecendo a semeadura de milho safrinha •Alto potencial produtivo em seu grupo de maturação •Arquitetura de planta favorável ao controle da ferrugem asiática da soja •Alta resistência ao acamamento Adaptação: GO/MT/MG/MS

•Resistência ao glifosato •Adaptação e boa estabilidade nos cerrados •Alto potencial produtivo dentro de seu grupo de maturação •Boa adaptação em áreas de exploração de cultivo safrinha •Alta resistência ao acamamento Adaptação: GO/MT/MG/MS

•Ciclo precoce •Resistência ao glifosato •Favorece cultivo de safrinha (sudoeste goiano) •Planta compacta com boa ramificação e produtividade •Resistência ao acamamento Adaptação: GO/MT/MG/MS

•Cultivar com ampla adaptação e boa estabilidade de produção em regiões de cerrado •Alta produtividade de grãos •Ciclo semiprecoce •Crescimento inicial rápido Adaptação: GO/MT/MG/MS



Café Fotos Paulo Rebelles Reis

Desfolhador Uma ddas as prin cipais pr agas ddo o cafeeir o en tr o períod o pr opíci o ao ataque principais pragas cafeeiro entr traa n no período propíci opício ataque.. É tr eses ddee junh o e ag osto, época m ais seca ddo o an o, que o bi ch o-min eir o en ano, bich cho-min o-mineir eiro entr tree os m meses junho agosto, mais desf olha as plan tas an os pr ovocad os pela lagarta ocorr em ddo o ápi ce par esfolha plantas tas.. Os ddan anos provocad ovocados ocorrem ápice paraa a base e dimin uem su dad otossin téti ca ddevi evi do à rred ed ução ddaa ár ea ffoli oli ar diminuem suaa capaci capacid adee ffotossin otossintéti tética evid edução área oliar ar.. o o aga en con tr am-se disponíveis ativas ddee con tenção ddaa pr Vári as altern tram-se disponíveis,, com como contenção praga encon contr Várias alternativas ad as o a partir ddee 30% ddee ffolhas olhas min tr ole quími co, in di cad con minad adas indi dicad cado contr trole químico,

O

bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é talvez a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade no Brasil, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. Trata-se de praga exótica que tem como região de origem o continente africano, vinda, provavelmente, em mudas atacadas provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É considerada monófaga, pois ataca somente cafeeiros. O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, é um marco para o bicho-mineiro. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia ao controle da ferrugem propiciam melhores condições ao ataque à praga, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.

presença ou ausência de inimigos naturais parasitóides, predadores e entomopatógenos. As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início em junho a agosto e acme (pico) em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como freqüentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário,

ÉPOCAS DE OCORRÊNCIA A ocorrência do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores: (1) climáticos temperatura e chuva principalmente; (2) condições da lavoura - lavouras mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas e (3)

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Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre a folha do cafeeiro

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a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de oxicloreto de cobre para o controle da ferrugem já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.

DANO As lesões, causadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas, reduzem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga. Em conseqüência há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No sul de Minas foi constatada, em 1976, redução na produção de café da ordem de 52% devido à desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993, também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada redução na produção entre 34,3% e 41,5%.

CONTROLE Além do método químico convencional, algumas formas de controle natural ou apli-


cado podem auxiliar na redução da praga, porém nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. - Cultural – O uso de quebra-ventos ou arborização, com plantas apropriadas para tal fim, auxilia na redução do ataque da praga que tem preferência por locais mais secos e arejados. É indicada a seringueira, macadâmia, abacateiro, cajueiro, ingazeiro, grevílea robusta, guandu, leucena, bananeira entre outras. - Por comportamento - Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, que pode ser usado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos, em armadilhas de feromônio e cola, reduzindo a possibilidade de acasalamento e conseqüentemente a população da praga. - Por predadores - O predatismo das lagartas do bicho-mineiro, feito principalmente pelas vespas (Hymenoptera: Vespidae), tem registrado aproximadamente 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros, apesar de poucos, em geral são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Resta, portanto, a preservação de matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a manutenção e o aumento das vespas predadoras que ali se abrigam. Em condições de laboratório já foi verificado que larvas do predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) conseguem predar as fases de pré-pupa e pupa do bicho-mineiro, constituindo-se assim

Casulo típico construído pela praga por fios de seda no formato de X

Após a retirada da epiderme superior da folha, é possível ver a lesão e as lagartas de bicho-mineiro no interior da mina

em mais um agente de controle biológico da praga. - Por parasitóides - O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente por micro-himenópteros (Hymenoptera: Braconidae, Eulophidae, Entedontidae). - Por entomopatógenos - Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou microorganismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias quando as condições lhes são favoráveis. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas. As bactérias Erwinia herbicola (Enterobacteriaceae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomonadaceae) são apontadas como os

Detalhe da vespa predadora, Protonectarina sylverae, procurando por lagarta de bicho-mineiro na lesão

microorganismos mais eficientes, até agora conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro com ocorrência de 65% e 90%, respectivamente. - Químico convencional - Embora não se saiba exatamente qual a população do bichomineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos de pesquisa realizados pela Epamig, em Minas Gerais, desde 1973, mostram que há necessidade de ser efetuado o controle químico quando forem verificadas 30% de folhas minadas, sem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco). Caso não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão consideráveis. A pulverização de inseticidas, somente quando a população atingir o nível de controle, deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresentar aumento populacional significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga se encontram mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para abaixar a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. Para ser conhecida a população do bichomineiro, a amostragem de folhas deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto. Recomen-


Fotos Paulo Rebelles Reis

Ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro

Detalhe da lesão causada pela praga

da-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas; indica-se folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois somente o manejo natural, através do parasitismo e predatismo, e condições climáticas, têm sido suficientes para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica aos cafeeiros novos, de até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. O controle químico, quando realizado com produtos recomendados (fosforado ou carbamato mais um piretróide) e com base no nível de controle da praga, não afeta de maneira significativa os inimigos naturais do bicho-mineiro. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente as muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes, o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais freqüentes e haja início de novas brotações. Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados, somente deve ser feita após 20-30 dias, se nas amostragens forem consta-

tadas lagartas vivas dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico), pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado. Esse tipo de situação é muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais. Este pico não ocorre quando são aplicados inseticidas sistêmicos no solo na época das chuvas (aldicarb, disulfoton, phorate, imidacloprid e thiamethoxam), porém, o efeito residual nem sempre se mostra suficiente para manter baixa a população do inseto até junho, havendo necessidade de complemento através de pulverizações foliares.

ASPECTOS BIOLÓGICOS

O

adulto do bicho-mineiro é uma mariposa que mede 6,5mm de envergadura. Tem coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente para o seu interior, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase vivem dentro de lesões ou minas foliares por elas mesmas construídas, e quando completamente desenvolvidas medem cerca de 3,5mm de comprimento. Após completo o desenvolvimento, abandonam as folhas pela parte superior das minas e, com o auxílio de um fio de seda por elas

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produzido, descem até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos também com fios de seda no formato da letra X. As lesões apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. De modo geral e, principalmente, nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do topo das plantas. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 e 87 dias, sendo menor em temperaturas mais elevadas. A fase de lagarta (a que causa danos) dura de nove a 40 dias, passando por três ecdises, e podem ocorrer de oito a 12 gerações ao ano.

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Diversos produtos ou misturas, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, como os fosforados chlorpyrifos, ethion, fenthion, triazophos etc, o carbamato cartap e diversos piretróides, sendo que estes últimos, pelo amplo espectro de ação que possuem, são mais prejudiciais aos parasitóides e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é freqüente fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras. Nas áreas onde o inseto freqüentemente se constitui praga, o controle deve ser realizado com inseticidas sistêmicos aplicados no solo, na época recomendada pelos fabricantes, e complementado com pulverização (entre junho e outubro) caso sejam constatados 30% de foC lhas minadas sem sinais de predação. Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro

Rebelles alerta para os cuidados com o bicho-mineiro


Empresas Fotos Janice Ebel

Mais investimentos

A

aplicação até 2009 de 100 milhões de euros (R$ 255 milhões) nas unidades instaladas no Brasil. Esse foi um dos principais anúncios feitos pela Bayer, na comemoração dos 50 anos do seu parque industrial instalado em Belford Roxo, Rio de Janeiro. O faturamento da companhia em 2007 alcançou 3,2 bilhões de euros na América Latina. Deste montante, só o Brasil foi responsável por aproximadamente 1,2 bilhão de euros (R$ 3,3 bilhões). Para o grupo, o Brasil representa um dos melhores e mais promissores mercados na América Latina para investir no futuro dos negócios. “O Brasil é nosso maior mercado na América Latina. Queremos ampliar nossa posição nesse mercado em crescimento”, afirmou Werner Wenning, presidente mundial da Bayer. O foco dos investimentos no Brasil, será Belford Roxo, que receberá 40 milhões de euros (R$ 102 milhões) para a modernização, atualização tecnológica e melhorias na infraestrutura das unidades de produção da Bayer MaterialScience e CropScience. A fábrica localizada em Belford Roxo é hoje a segunda

Marc Reichardt é presidente da Bayer CropScience para América Latina

maior do grupo no mundo para a formulação de inseticidas, fungicidas e herbicidas, com uma produção anual de 150 mil toneladas de produtos para a agricultura. As demais instalações da companhia no Brasil receberão investimentos de aproximadamente 60 milhões de euros (R$ 153 milhões). Acreditando em oportunidades de crescimento nas áreas de novas tecnologias e sementes, a Bayer CropScience também planeja aumentar seus investimentos anuais em Pesquisa e Desenvolvimento em nível mundial. Serão cerca de 750 milhões de euros até 2015, sendo que o budget mundial de pesquisa para a área de biotecnologia saltará de 80 milhões de euros por ano para mais de 200 milhões de euros e o da linha de defensivos agrícolas, a longo prazo, será de proximadamente 500 milhões de euros por ano. “Com a extensão dos investimentos enfatizamos nosso compromisso e reconhecemos a importância do Brasil”, destacou o presidente mundial durante a cerimônia de comemoração dos 50 anos do parque industrial, que contou com parceiros e autoridades políticas, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do estado do Rio de Janeiro, Sér-

gio Cabral. Segundo Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience para América Latina, com esses novos investimentos, o Brasil tem a possibilidade, ainda este ano, de superar o mercado de vendas dos Estados Unidos, tornando-se o principal mercado de defensivos em nível mundial. Marc acrescenta que se isto se concretizar, a previsão dos especialistas é de que o panorama seja duradouro, já que o país tem investido mais em tecnologia para melhorar a produtividade de suas lavouras. Outro investimento neste ano é a parceria formada entre a Bayer CropScience, Daimler e a Archer Daniels Midland Company. Juntas as empresas inciaram atividades na área de biocombustíveis, e trabalham com pesquisas com o objetivo de identificar plantas com alto teor de óleo, que possam ser usadas na produção de biodisel. A meta é encontrar plantas que não compitam com a alimentação. Os estudos já começaram em vários pontos do mundo. Marc salienta que a Bayer não pretende produzir o biocombustível, mas sim trabalhar a planta, identificar a melhor forma de aproveitar o óleo e assim colocá-la à disposiC ção da indústria de biodiesel.

Comemoração dos 50 anos da fábrica de Belford Roxo foi marcada por anúncios de grandes investimentos da empresa no Brasil

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Soja Fotos Dirceu Gassen

Azevém manejado Estu do rrealizad ealizad o ao lon go ddos os últim os 19 an os avali ci o milh on Estud ealizado long últimos anos avaliaa a influên influênci ciaa ddo milho naa rotação ddee cultur as e con seqüen te rred ed ução ddo o ban co ddee sem en tes ddee azevém, culturas conseqüen seqüente edução banco semen entes plan ta ddaninha aninha que tem apr esen tad o biótipos rresisten esisten tes ao glif osato em planta apresen esentad tado esistentes glifosato difer en tes cultur as cipalm en te em lavour as ddo o Ri o Gr an de ddo o Sul. Os diferen entes culturas as,, prin principalm cipalmen ente lavouras Rio Gran and go, os m ostr am que o milh o, em rrotações otações que in cluem ain da soja e tri resultad incluem aind trig esultados mostr ostram milho, te red uziu em m ais ddee 85% a população infestan mais infestante eduziu

O

s herbicidas se constituem em importante ferramenta de controle de plantas daninhas, sendo, em muitos casos, a melhor opção disponível. Esses defensivos não agem igualmente sobre as diferentes espécies existentes em uma área e com isso algumas acabam beneficiadas e se multiplicam. Nessas situações, plantas de baixa ocorrência podem se multiplicar e tornar-se um grave problema para o produtor. Há mais de 20 anos, o glifosato é usado pelos agricultores brasileiros, principalmente no controle de plantas daninhas antes da semeadura de culturas no plantio direto (“dessecação”). A introdução de cultivares de soja resistentes ao produto fez com que o uso desse herbicida fosse ampliado no número de aplicações, na dose utilizada e na área aplicada, situação que resulta em maior pressão de seleção e na redução do tempo de aparecimento de um biótipo resistente. No Brasil foram identificados biótipos de azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis), leiteiro (Euphorbia heterophylla) e capim-amargoso (Digitaria in-

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sularis), resistentes ao glifosato (Heap, 2008). Esses fatos restringem o uso do defensivo nas áreas onde ocorre o problema, resultando no aumento do custo e/ou em menor praticidade de controle das plantas daninhas.

AZEVÉM RESISTENTE AO GLIFOSATO O azevém é uma espécie anual, de estação fria, utilizada principalmente como forrageira e para fornecimento de palha para o sistema plantio direto. Caracteriza-se pela dispersão fácil das sementes, tanto pelo gado como pelo ho-

mem (troca de sementes entre agricultores). Seu controle para formar a palhada no “plantio direto” é realizado geralmente com o glifosato. No Rio Grande do Sul, existem relatos de biótipos de azevém resistentes ao glifosato nos municípios de Vacaria, Lagoa Vermelha, Tapejara, Bento Gonçalves, Ciríaco, Carazinho e Tupanciretã (Vargas et al, 2007). Na região de Guarapuava, no Paraná, o biótipo resistente está presente em 30% da área ocupada por culturas anuais (Spader et al, 2008).

O baixo nível de controle do azevém está associado à dose herbicida, às condições ambientais, à tecnologia de aplicação e, também, à ocorrência de biótipos resistentes

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Figura 1 - Área de abrangência de cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul em que a eficiência do glifosato sobre azevém (Lolium multiflorum) ficou abaixo da esperada nos cultivos de trigo e de milho no sistema plantio direto no ano de 2007. (Informações fornecidas pelos departamentos técnicos das cooperativas mantenedoras da Fundacep). (Bianchi, 2008 – dados não publicados)

Dificuldades em controlar o azevém são verificadas em maior proporção de área nos municípios gaúchos próximos a Vacaria, onde foi identificado o primeiro caso de resistência ao glifosato (Figura 1). Essa insatisfação com o nível de controle obtido está associada à dose herbicida, às condições ambientais, à tecnologia de aplicação e, também, à ocorrência de biótipos resistentes. A dispersão de sementes de biótipos resistentes ao glifosato pelo homem é um dos principais fatores que contribuem para agravar o manejo de azevém em lavouras anuais. É comum no meio agrícola a troca de sementes entre produtores da mesma região e entre regiões diferentes. A análise da sensibilidade ao glifosato de plantas de azevém provenientes de 217 amostras de sementes avaliadas pelo Laboratório de Análise de Sementes da Fundacep em 2005 é apresentada na Figura 2. Nesse trabalho, apenas 32% das amostras tiveram redução da matéria seca das plantas superior a 80% decorrente da aplicação de 468g e.a. de glifosato por hectare. Isso indica que existe variabilidade genética entre os lotes de sementes analisadas e que o uso repetido deste herbicida pode promover a seleção de biótipos menos sensíveis ao produto. Além disso, grande parte dos lotes de sementes, cujas amostras passaram pelo teste, foi comercializada e, portanto, distribuída em diferentes locais no Rio Grande do Sul. O processo de dispersão pelo homem via troca e/ou co-

mercialização de sementes, torna a área com potencial de ocorrência de biótipos de azevém resistentes ao glifosato muito maior que a conhecida hoje. Sem o controle da qualidade das sementes utilizadas pelo agricultor fica praticamente impossível retardar a dispersão de biótipos resistentes. É necessário, portanto, maior rigor na fiscalização e comercialização de sementes de azevém.

MEDIDAS GERAIS DE CONTROLE Para evitar o agravamento da seleção de espécies resistentes e prolongar o tempo de utilização eficiente da tecnologia de culturas com resistência ao glifosato, recomenda-se a adoção das seguintes práticas: a) arrancar e destruir plantas suspeitas de resistência; b) não usar mais do que duas vezes consecutivas herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em uma área; c) alternar o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; d) realizar aplicações seqüenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; e) praticar a rotação de culturas; f) monitorar a população de plantas daninhas identificando o início do aparecimento da resistência; g) evitar que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes; h) usar práticas para esgotar o banco de sementes (Vargas et al, 2007). A rotação de culturas é uma prática fundamental de manejo porque oportuniza o uso de herbicidas com mecanis-

mos de ação diferentes e eficientes sobre o azevém resistente ao glifosato. Os resultados de um experimento conduzido por 19 anos indicam que a presença do milho em sistemas de rotação de culturas que incluem ainda soja e trigo, reduziu acima de 85% a população de azevém na cultura de trigo (Bianchi e Theisen, 2006a). Redução de 89% ocorreu quando o trigo foi cultivado após o milho, indicando que o efeito imediato da cultura tem grande contribuição (Figura 3). O benefício do milho ocorre pelo efeito conjugado da eliminação do azevém antes da produção de sementes com o controle químico, que elimina as plantas emergidas após o estabelecimento da cultura. Portanto, o cultivo de milho proporciona redução do banco de sementes de azevém no solo, diminuindo o número de indivíduos que se estabelecerão na safra seguinte. Outra prática de manejo importante é utilizar cultivares de trigo com elevada capacidade competitiva para exercer forte supressão do crescimento de plantas de azevém (Lemerle et at, 2001; Bianchi e Theisen, 2006b). Existe diferença na habilidade competitiva entre cultivares de trigo, encontrando-se cultivares que perdem menos de 10% da produção de grãos sob competição, como o Fundacep Cristalino e o Fundacep 47, e cultivares que perdem entre 27% e 38%, como Fundacep 52, Fundacep 30 e Fundacep Raízes (Figura 4). Possivelmente diferenças na capacidade competitiva ocorram também em cultivares provenientes de outros programas de melhoramento genético. Optar por cultivar mais competitiva não elimina a necessidade de controlar as plantas daninhas, mas contribui para elaborar estratégia eficiente para o manejo de azevém e de outras espécies daninhas resistentes ou não aos herbiciFigura 2 - Sensibilidade de plantas de azevém (Lolium multiflorum) ao glifosato (468 g e.a. ha-1) aplicado no início do afilhamento. Plantas provenientes de 217 amostras de sementes recebidas pelo Laboratório de Análise de Sementes da Fundacep em 2005. (Bianchi e Theisen, 2005 – dados não publicados)

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Figura 3 - Densidade de azevém (Lolium multiflorum) aos 25 dias após a emergência do trigo em função da cultura antecessora de verão (Bianchi e Theisen, 2005 – dados não publicados)

das, proporcionando reduzir as perdas decorrentes da competição. Cultivar menos competitiva exige maior cuidado no controle porque qualquer deficiência pode resultar em grandes perdas de produção.

MEDIDAS ESPECÍFICAS DE CONTROLE

Dirceu Gassen

Vários trabalhos ressaltam a importância de se realizar a semeadura de trigo, milho ou soja sem a interferência de plantas remanescentes da dessecação ou que tenham emergido logo após essa operação. Como exemplo, semear trigo em área onde o azevém cobre mais de 80% do solo, sendo a dessecação realizada uma semana antes da semeadura, resulta em redução de 12% a 27% na população de plantas de trigo e em 7% a 10% de redução da produtividade de grãos. Portanto, semear “no limpo” é o primeiro passo para o sucesso do controle após a emergência da cultura. Desse modo, as sugestões de controle seguirão essa premissa. a) Controle químico de biótipos resisten-

Detalhe de plantas resistentes ao glifosato

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Figura 4 - Redução da produtividade de grãos de cultivares de trigo em função da presença de azevém (Lolium multiflorum) durante todo ciclo de crescimento. (Bianchi e Theisen, 2005 – dados não publicados)

tes ao glifosato na cultura de trigo. Indica-se que o controle antes da semeadura (“dessecação”) seja realizado em duas etapas. A primeira, duas a três semanas antes da semeadura, e a segunda, um a dois dias antes da semeadura. Na primeira recomenda-se utilizar a associação de glifosato com inibidores da ACCase, conhecidos como graminicidas (exemplo: cletodim, setoxidim, fluazifope), e na segunda, herbicidas inibidores dos fotossistemas I e II (paraquate, paraquate+diurom) ou inibidores da Glutamina Sintetase (glufosinato de amônio). O uso de herbicidas com mecanismos de ação diferentes e eficientes sobre o azevém é o primeiro passo para se obter controle químico eficiente dos biótipos resistentes. O controle em duas etapas é outro passo importante porque na primeira se eliminam as plantas de porte maior e na segunda as remanescentes e, principalmente, aquelas que se estabeleceram após a primeira (plantas que ainda não emitiram afilhos). Nas lavouras com suspeita de ocorrer biótipos de azevém resistentes, indica-se utilizar os herbicidas inibidores de ACCase em conjunto com o glifosato. Em geral, a eficiência do controle é superior quando esses herbicidas são empregados em associação. No caso do herbicida cletodim, na dose de 48g ha-1 (Select 240 EC, 200ml ha-1), o controle do azevém, quando associado com glifosato, foi superior ao do seu uso isolado (Spader et al, 2008). Os herbicidas inibidores de ACCase podem causar redução da população de trigo e de milho, quando aplicados a menos de uma semana da semeadura da cultura (Leandro Vargas/Embrapa Trigo – comunicação pessoal). Portanto, devido à interferência negativa causada pelas plantas de azevém quando “controladas” logo antes da semeadura, pela fitotoxicidade potencial dos inibidores de ACCase quando aplicados logo antes da semeadura e pela maior eficiên-

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cia da associação glifosato/inibidor de ACCase, recomenda-se que os inibidores de ACCase sejam aplicados junto com o glifosato com antecedência mínima de duas semanas da semeadura do trigo. Deve ser evitado o sistema “aplique-plante”. Após a emergência do trigo os herbicidas à base de iodossulfurom, diclofope e clodinafope, são eficientes sobre o azevém resistente e suscetível ao glifosato. Os melhores resultados são obtidos em aplicações realizadas até o início do afilhamento do azevém. b) Controle químico de biótipos resistentes ao glifosato na cultura de milho. O cultivo de espécies dicotiledôneas antes do milho visando cobrir o solo e reciclar nutrientes, constitui-se numa importante oportunidade de controle do azevém. Herbicidas inibidores de ACCase podem ser utilizados para o controle do azevém em ervilhaca, nabo-forrageiro e tremoço, por exemplo. Para o controle de azevém antes da semeadura (“dessecação”) indica-se o mesmo procedimento adotado para o trigo. Após a emergência do milho, foramsulfurom + iodosulfurom, nicosulfurom e atrazina, são eficientes sobre o azevém resistente e suscetível ao glifosato. c) Controle químico de biótipos resistentes ao glifosato na cultura de Soja. Esse problema tem menor importância na soja devido ao cultivo ocorrer quando o azevém já completou seu ciclo de crescimento (final da primavera). Mas em regiões com clima semelhante ao de Vacaria (RS) e Guarapuava (PR), com o final da primavera mais frio, o azevém pode ser problema tanto na “dessecação” como após a emergência da soja. Nesses casos, indica-se seguir o mesmo procedimento para “dessecação” adotado no trigo. Após a emergência da soja, herbicidas inibidores da ACCase podem ser utilizados no controle de biótipos re-


É necessário redimensionar o sistema de uso das lavouras anuais, dando prioridade para sistemas de rotação de culturas associados à adubação verde que propiciem cobertura do solo durante o ano todo. As culturas, para formar cobertura do solo, devem ser entendidas como oportunidades para alternar herbicidas com mecanismos de ação diferentes e eficientes sobre os biótipos resistentes. Devido ao uso extensivo (grande área e várias vezes ao ano), o glifosato exerce forte pressão de seleção, podendo, num curto espaço de tempo, selecionar biótipos resistentes de outras espécies daninhas, bem como transformar plantas daninhas tolerantes de importância regional em plantas daninhas de problema no âmbito nacional. O uso inadequado desse herbicida provavelmente originará uma “era C pós-glifosato”. sistentes ao glifosato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A resistência de azevém ao glifosato se constitui num problema sério consi-

derando a área de abrangência e o potencial de avanço. Além disso, o custo do controle tende a se elevar devido à substituição parcial ou total do glifosato do sistema de controle adotado.

Mario Antônio Bianchi, Fundacep Leandro Vargas, Embrapa Trigo Mauro Antônio Rizzardi, Universidade de Passo Fundo


Algodão Dirceu Gassen

Ofensiva subterrânea A ffalta alta ddee inf orm ações sobr ativas efi cazes par ar o per cevejo castanh o inform ormações sobree altern alternativas eficazes paraa barr barrar percevejo castanho ole ddaa pr aga. Ninf as e ad ultos atacam o sistem adi cular ddas as tem difi cultad o o con tr adicular dificultad cultado contr trole praga. Ninfas adultos sistemaa rradi plan tas as infestações alm en te em lavour as in stalad as n o sistem plantas tas,, com sever severas infestações,, especi especialm almen ente lavouras instalad staladas no sistemaa de plan ti o dir eto. O prin cipal obstáculo par an ejo efetivo pod gad oà planti tio direto. principal paraa o m man anejo podee estar li ligad gado oecossistem as o in seto n os difer en tes agr oecologi escassez ddee estu dos sobr diferen entes agroecossistem oecossistemas bioecologi oecologiaa ddo inseto nos estud sobree a bi

A

cultura do algodoeiro é atacada por vários insetos-praga, que podem danificar raízes, caules, folhas, botões florais, maçãs e capulhos das plantas. As intensidades dos danos são proporcionais às densidades populacionais das pragas na cultura, como também do estádio fenológico em que as plantas encontram-se quando ocorrem. As pragas que ocorrem na fase inicial de desenvolvimento do algodoeiro ocupam posição de destaque e têm a capacidade de causar danos diretos e indiretos, tais como redução de estande, desfolha, sucção de seiva e transmissão de viroses. As principais espécies de insetos, associadas ao solo e que causam danos nas partes subterrâneas do algodoeiro, pertencem às ordens Coleoptera (besouros), Hemiptera (percevejos), Lepidoptera (lagartas) e Isoptera (cupins). Os danos na cultura são geralmente de ocorrência regional e a sua intensidade depende especialmente das condições edafoclimáticas presentes no agroecossistema. O ataque desses percevejos na cultura do algodoeiro ocorre normalmente de forma irregular e pode variar de reboleiras com poucos metros de diâmetro a vários hectares. Tanto as formas jovens (ninfas) como os adultos sugam o sistema radicular das plantas. Os sintomas do ataque nas plantas dependem da

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intensidade e da época de ocorrência da praga e vão do murchamento e amarelecimento das folhas a um subdesenvolvimento e secamento do algodoeiro. A cultura é mais suscetível ao ataque do percevejo castanho, quando comparada ao milho, sorgo e arroz. Nas últimas safras de algodão, especialmente na região Centro-Oeste, foram constatadas severas infestações de percevejos castanhos, especialmente em lavouras instaladas no sistema de plantio direto. Isso verifica-se, provavelmente, em decorrência da maior atenção da assistência técnica para com o problema e pela expansão do algodoeiro para áreas novas, especialmente em áreas de pastagens. Altas infestações dessas pragas foram encontradas em lavouras de municípios dos estados

de Mato Grosso (Rondonópolis, Sapezal, Diamantino, Itiquira), Mato Grosso do Sul (Maracaju, São Gabriel do Oeste e Chapadão do Sul) e de Goiás (Mineiros e Morrinhos), constituindo-se em problema sério para os cotonicultores. As perdas nas lavouras são normalmente parciais, pois o algodoeiro pode sobreviver mesmo em condições de alta infestação da praga, porém com baixa capacidade produtiva, pois as plantas apresentam subdesenvolvimento. Tabela 1 - Mortalidade de Scaptocoris carvalhoi sobre o efeito de diferentes isolados de Metarhizium anisopliae (Ma) em condições de laboratório. Embrapa Agropecuária Oeste. Dourados (MS), 2003 Isolado Ma 352 Ma 69 Ma 7 Ma 283 Ma 6 Ma 356 Ma 136 Ma 358 Ma 98 Ma 12 Testemunha

Em períodos chuvosos o inseto é mais abundante e fica nas camadas mais superficiais do solo

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Mortalidade (%) 94,7 ? 3,27 a 92,0 ? 4,90 ab 89,3 ? 5,81 ab 90,7 ? 2,67 ab 84,0 ? 4,00 ab 81,3 ? 9,04 ab 82,7 ? 4,00 ab 78,7 ? 2,49 ab 77,3 ? 3,40 ab 73,3 ? 4,71 b 0,0 ? 0,00 c

Médias (? EP) seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Fonte: Xavier & Ávila (2005)


Figura 2 - Flutuação populacional do percevejo castanho (adultos + ninfas) no perfil do solo (0 a 75cm) ao longo do ano de 2000, em Maracaju (MS). Embrapa Agropecuária Oeste

Estudos da dinâmica populacional do percevejo castanho no solo conduzidos no estado de Mato Grosso do Sul evidenciaram que o inseto apresenta dois picos populacionais ao longo do ano: um durante o mês de janeiro e outro em setembro. No primeiro ocorre maior proporção de ninfas, em comparação aos adultos, e no segundo, aumenta a proporção de adultos. Os adultos e as ninfas do percevejo castanho apresentam distribuição populacional variável no perfil do solo e ao longo do

Figura 3 - Proporção de ninfas e de adultos do percevejo castanho amostrada ao longo do ano de 2000 no perfil do solo (0 a 75cm), em Maracaju (MS). Embrapa Agropecuária Oeste

ano. São encontrados até na camada de 60cm a 75cm de profundidade. Os insetos são mais abundantes nas camadas superficiais no período chuvoso e aprofundam-se no perfil do solo em épocas de estiagem. Apesar do percevejo castanho ocorrer em altas populações e ser de difícil controle, normalmente o problema é localizado. Mesmo no estado do Mato Grosso, onde ocorrem grandes extensões de ataque, são observadas verdadeiras reboleiras, porém num contexto re-

gional. O histórico da área, as revoadas de adultos e o odor do percevejo quando o solo é revolvido são indicativos da presença do inseto na área. Muitas vezes, o controle pode ser feito apenas nas áreas infestadas, eliminando-se a necessidade de tratamento da área total. Trabalhos conduzidos por algumas instituições de pesquisa na região do Cerrado, especialmente pela Embrapa, têm evidenciado que o preparo do solo é ineficiente como táti-


Figura 4 - Número médio de percevejos castanhos (adultos + ninfas) amostrados por estrato, no perfil do solo (0 a 75cm), ao longo do ano de 2000, em Maracaju (MS). Embrapa Agropecuária Oeste

Charles Echer

ca para o controle do percevejo castanho. O revolvimento nas camadas superficiais com grade induz o aprofundamento do inseto no perfil do solo, provavelmente em busca de condições mais favoráveis de umidade para a sua sobrevivência. Culturas como milheto, braquiária, crotalária e sorgo, quando utilizadas para a cobertura do solo antes da semeadura do algodoeiro, também não interferiram na densidade populacional de adultos e ninfas do percevejo em avaliações realizadas após a instalação da cultura. Da mesma forma, vários inseticidas, quando aplicados nas sementes do algodoeiro ou em pulverização no sulco de semeadura, não proporcionaram controle efetivo da praga. A aplicação de inseticidas granulados no sulco de semeadura pode proporcionar até 70% de controle do percevejo casta-

Adubação nitrogenada em cobertura é sugerida para aumentar a tolerância das plantas à praga

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nho no solo, porém constitui uma alternativa ainda muito cara para o produtor, além da dificuldade para a aplicação dos grânulos no momento da semeadura do algodoeiro. Embora o controle biológico do percevejo castanho com fungos e nematóides entomopatogênicos seja promissor, os resultados obtidos até então apresentam bastante inconsis-

tência. Isolados testados do fungo Metarhizium anisopliae foram patogênicos para adultos do percevejo castanho em condições de laboratório (Tabela 1), porém não apresentaram eficiência sobre o inseto em condições de campo. O efeito causado pelo percevejo castanho é função do dano indireto nas raízes. Assim, qualquer medida que favoreça o crescimento da planta e o desenvolvimento radicular aumentará também o seu grau de tolerância à praga. Em lavouras infestadas com o percevejo castanho, uma adubação diferenciada de nitrogênio (N) em cobertura no solo tem sido sugerida como alternativa para aumentar a tolerância do algodoeiro ao ataque da praga. Informações insuficientes sobre alternativas eficazes para o controle do percevejo castanho têm levado os cotonicultores a fazer aplicações preventivas e curativas de inseticidas nas lavouras, sem resultados satisfatórios de controle. O principal obstáculo para o manejo efetivo dessa praga está relacionado com a escassez de estudos sobre sua bioecologia nos diferentes agroecossistemas, o que, provavelmente, explica o insucesso das medidas de controle até então avaliadas. O manejo do percevejo castanho deverá, no futuro, ser obtido através de associações de práticas biológicas, químicas e culturais, baseadas em estudos da C biologia e comportamento do inseto. Crébio José Ávila, CPAO

A PRAGA

O

sucesso da identificação de nematóides depende de uma amostragem criteriosa e bem representativa da área. É realizada da seguinte forma: caminhando em ziguezague, coletar em cinco pontos num talhão de 100ha, abrindo o solo em forma de V, próximo às plantas, coletando a rizosfera. Com o auxílio de trado ou enxadão, em torno de 0 - 15 centímetros de profundidade, reunir e homogeneizar todo o solo e raízes, formando uma amostra composta de aproximadamente 300g de solo e 100g de raízes. Em áreas com reboleira, coletar as amostras das laterais e evitar o centro. A extração das amostras de solo e raiz realiza-se com o método Coolen & D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964, onde se retira uma alíquota de 100 centímetros cúbicos da amostra, acrescentam-se aproximadamente dois a três litros de água de torneira, ho-

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mogeneíza-se a amostra em suspensão, quebram-se os torrões maiores e deixa-se repousar por cerca de vinte segundos. Depois, verte-se a suspensão sobre uma peneira de malha igual a vinte mesh (0,84mm) sobre outra peneira de quinhentos mesh (0,025mm). Foram examinadas 273 amostras, com aproximadamente 73 amostras provenientes do cultivo de algodão e o restante de soja, vindas de várias regiões: Primavera do Leste, Gaúcha do Norte, Sorriso, Sonora, Santo Antônio do Leste, General Carneiro, Campo Verde e Poxoréu. O material foi recebido, identificado e acondicionado até o momento do processamento. As leituras foram feitas e incluídos os números de nematóides presentes em cada amostra, bem como o gênero e a espécie. Para cada amostra realizaram-se os devidos laudos técnicos e repassados aos interessados.



Coluna Andav

Uso racional A An dav eocupad os pr eços e com a ddepen epen dên ci And av,, pr preocupad eocupadaa com a alta ddos preços ependên dênci ciaa da importação ddee fertilizan tes cen tiva pr od utor es à fertilizantes tes,, in incen centiva prod odutor utores raci on alização n o empr eg o ddo o prin cipal in sum o usad on o campo acion onalização no empreg ego principal insum sumo usado no

A

s altas nos preços e a dependência da importação de fertilizantes têm gerado preocupações em toda a cadeia do agronegócio e no poder público brasileiro. O canal de distribuição de insumos agrícolas e veterinários, representado pela Andav, acredita que qualquer medida tomada para aumentar a produção nacional não terá impacto em curto prazo, porém, é necessária e urgente. Assim, chegou o momento de usar os fertilizantes de forma mais eficiente e racional, ação esta que as revendas agropecuárias têm incentivado através de orientação aos produtores de diversas culturas, espalhados de Norte a Sul do país. Recentemente, parlamentares realizaram encontro para tentar esclarecer quais os eventos que pressionaram a elevação dos custos com fertilizantes. O aumento dos insumos usados na agropecuária, que em alguns produtos che-

A redução de tributação em alguns dos insumos mais usados na agropecuária, por exemplo, pode ser uma ação política de resultado direto no preço final pago pelos agricultores. Além dos tributos, a liberação das importações de genéricos e investimentos em pesquisas, entre outros, também precisam ser discutidos e implementados. Os aumentos sucessivos desregulam as margens de lucro dos fertilizantes do canal de distribuição e acabam por onerar o produtor que se torna a parte mais fraca da cadeia produtiva do agronegócio. É o agricultor quem absorve esses reajustes em sua composição de custo. Contudo, não tem margem para suportar tantos aumentos, assim como o canal de distribuição, que não dispõe de subsídios para absorver o impacto financeiro, sem repassá-lo aos produtores. A majoração nos preços dos insumos agrícolas, quando somada ao crescimen-

As vendas de fertilizantes estão aquecidas no país, apesar de os preços terem praticamente dobrado em relação a 2007, devido à grande demanda internacional. De janeiro a abril, o setor registrou aumento de 20% nas entregas de adubos (7,1 milhões de toneladas). Com os preços dos adubos em alta, segundo os pesquisadores do Cepea, os produtores de algumas culturas como cana-de-açúcar e algodão deverão ter dificuldades devido ao comportamento desfavorável da relação de trocas de insumos. Assim, o canal de distribuição de insumos agrícolas tem discutido bastante sobre os caminhos que a curto prazo poderão auxiliar o produtor na melhor escolha de fertilizantes para a sua cultura. A palavra de ordem é racionalizar, sempre levando em conta o crescimento e não a retração do negócio agrícola. Para isto, a Andav efetivou parcerias que fornecem melhor ciência

“É o agricultor quem absorve esses reajustes em sua composição de custo ” custo” gou a 300% em 2007, tem causado indignação e questionamentos entre os deputados da Comissão da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Capadr). Foram chamados o Departamento de Economia Agrícola, da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, o Fórum Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) e a Associação Nacional de Difusão de Adubos. Para a Andav, a discussão gerada nas esferas governamentais e de representação do agronegócio brasileiro, seguindo como exemplo a pauta desta reunião, precisa ser realizada constantemente e, acima de tudo, apresentar resultados práticos.

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to do agronegócio brasileiro, tem gerado importante incremento ao setor. A mídia, no mês passado, noticiou que as indústrias devem aumentar o faturamento em 24,6% em 2008, na comparação com 2007, liderado pelo crescimento nas vendas de fertilizantes. Assim, este tem sido o ano dos insumos agropecuários. Já o faturamento dos setores agrícola e pecuário, que comercializaram seus produtos com preços 15,7% e 8% maiores até março de 2008, crescerá um pouco menos, mas ainda assim será expressivo. A receita do setor agrícola projetada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) terá alta de 23,15% em relação a 2007, enquanto o pecuário ganhará 12,8% a mais. Juntos, os agricultores e pecuaristas terão acréscimo de 18,6% neste ano.

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sobre como economizar de forma inteligente e eficaz, através de softwares adequados e análises laboratoriais agronômicas. É o momento ideal para refletirmos, inclusive, se o crescimento do agronegócio brasileiro é momentâneo ou se tem base sólida, competitiva e sustentável. Não somente para a indústria, mas também para o canal de distribuição e para o produtor. Mais informações sobre a Andav através do site www.andav.com.br, email andav@andav.com.br ou telefone C (19) 3203-9884. Henrique Mazotini Presidente Executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários - Andav


Coluna Agronegócios

Farm Bill

C

ada vez que o Congresso dos EUA começa a discutir uma nova edição da Lei Agrícola (Farm Bill), os produtores dos países agrícolas, como o Brasil ou a Argentina, sentem uma forte tungada nos bolsos, acompanhada por um misto de raiva e inveja. Inveja porque os agricultores americanos estão completamente protegidos dos riscos da atividade agrícola, com subsídios, garantias de compra e preços mínimos, além de outras mordomias. Raiva porque, por aqui, os produtores lutam contra o clima, os altíssimos tributos e não menos altos juros, falta de crédito, alto custo de produção, endividamento, logística incompatível com a produção, entre outras mazelas. Os hermanos argentinos sofrem, adicionalmente, com a tungada governamental do

subsídios do governo à agricultura. No entender de Bush a Lei destina muito dinheiro público para os bolsos de ricos fazendeiros americanos, viciados em mamar nas tetas da mãe Tesouro, e incapazes de ter sucesso em um ambiente de negócios sem protecionismo. No total serão US$ 289 bilhões ao longo dos próximos cinco anos, dos quais US$ 43 bi vão para subsídios. Para adoçar (e calar) a boca da patuléia, lá como cá é dada uma esmola aos pobres, em forma de aumento nos cupons de alimentação (o velho Bolsa Família dos americanos), no valor de US$ 10 bilhões (3,5% dos recursos).

BIOCOMBUSTÍVEIS No setor de alimentos, praticamente não há mudanças em relação à Farm Bill

REAÇÃO O Itamaraty reagiu de imediato, após a aprovação da Farm Bill no Congresso americano, argumentando que a taxação aplicada viola os princípios do Livre Comércio em que se baseia a Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja convenção foi aprovada tanto pelos EUA, quanto pelo Brasil. Ocorre que o Brasil tem cumprido sua parte, ao contrário dos americanos, que acabaram de perder, em última instância, uma questão levantada pelo Brasil na OMC, a respeito dos subsídios agrícolas ao algodão – e a nova Lei mantém os subsídios a essa cultura. Como se trata de caso similar, há grande chance de o Brasil vencer também esta parada, se for levada ao foro arbitral da OMC. Mas o Brasil não é o único país prejudicado. A manutenção de elevados

“A FFarm arm Bill aumenta ainda mais os subsídios do governo à agricultura” imposto de exportação (retención) que, na prática, revoga o capitalismo, a lei da oferta e da procura e outros dogmas naturais do mundo dos negócios, em nome da necessidade de recursos para manter a política populista da Casa Rosada.

TRAPALHADAS Em um contexto em que o mundo se dá conta que os fortíssimos subsídios agrícolas dos países ricos estão na base da inflação e da crise dos alimentos, esta não é a única trapalhada da Farm Bill. Por incrível que possa parecer, o presidente George Bush recebeu uma versão da Lei diferente daquela que foi aprovada no Congresso. Vetou a “lei” que não era Lei e agora a ciranda recomeça no Congresso, para terminar exatamente como o episódio anterior. A parte da Lei que não foi enviada à Casa Branca trata do comércio agrícola. Como a outra parte será aprovada por dois terços, Bush vai vetar, o Congresso vai derrubar o veto. Tudo de olho na reeleição dos deputados e senadores! A Farm Bill aumenta ainda mais os

atualmente em vigência. São mantidos os incentivos ao setor de grãos, como amendoim, soja, milho, lentilhas, trigo, açúcar etc. O que mais chamou a atenção das autoridades e de empresários brasileiros foi a manutenção do protecionismo ao etanol de milho, sabidamente ineficiente em termos ambientais, energéticos ou econômicos. Como os americanos não são idiotas, já perceberam que, com etanol de milho, não vão muito longe. A Lei baixa o subsídio direto de US$ 0,51 para US$ 0,45/galão. No entanto, injeta a diferença na alavancagem da produção de etanol de celulose - este sim a grande ponte para os biocombustíveis de segunda geração. A Lei mantém a tarifa de US$ 0,54/galão do etanol importado. Considerando que no Brasil o custo de produção do etanol de cana gira em torno de US$ 0,80/galão, a taxação americana equivale a 70% de imposto de importação (além dos impostos brasileiros). Mesmo assim, o produto brasileiro seria competitivo nos EUA, razão pela qual nos fecham a segunda porteira, através do estabelecimento de cotas de importação.

subsídios agrícolas é um tsunami de água fria na Rodada Doha da OMC, que busca, justamente, negociar uma redução e eventual futura eliminação dos subsídios agrícolas. Quero crer que os americanos perderam uma excelente oportunidade de reverter o eixo conceitual da Lei Agrícola, que poderia haver imbricado no rumo de um comércio mais justo e liberal, uma vez que estamos em uma quadra de preços agrícolas altos, e que vão se manter nesse patamar durante toda a vigência da Lei. Logo, a leitura que faço é que nós, países da periferia, que dependemos do agronegócio para o nosso desenvolvimento, podemos tirar o “cavalinho da chuva”, porque país rico algum vai abrir o seu mercado doméstico ou deixar de proteger a sua produção (ineficiente) e subsidiar o seu comércio internacional C (pouco competitivo). Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

É a hora da produtividade para aumentar a lucratividade O mercado atual tem mostrado boas cotações para o setor agropecuário, com grande espaço para crescer na oferta de produtos para o consumo no Brasil e também no mercado internacional. Nesse contexto teremos que aumentar a produção. Para isso, haveria duas alternativas. A primeira é o crescimento da área plantada, que neste ano estará restrita a algo entre dois e três milhões de hectares para todas as culturas. Somente algumas pastagens degradadas devem receber grãos e cana, como também veremos áreas de grãos recebendo cana, limitando o avanço do plantio. Diante deste cenário, sobra aos produtores à segunda opção, ou seja, o investimento em tecnologia, que vai desde o início do plantio, feito de maneira correta, adubação adequada, sementes de melhor potencial produtivo, bom acompanhamento e tratamento sanitário das plantações, estratégia que tende a apresentar ganhos de 5% a 15% na produtividade média nacional. Desta maneira, passaríamos de uma safra de 140 milhões de toneladas para a casa de 145/150 milhões de toneladas de grãos no Brasil neste novo ano agrícola (08/09) que está começando. As primeiras áreas devem ser plantadas no final de julho e começo de agosto, com lavouras de feijão do Sudeste avançando para as primeiras plantações de milho no final de agosto e setembro, passando pelo arroz e pela soja na seqüência. Todos com bom potencial de ganhos econômicos, pois 2009 sinaliza que os produtores poderão ter o melhor, se não um dos melhores anos da história agrícola do Brasil. MILHO Geadas pegam safrinha e fortalecem cotações O mercado do milho teve dois fatores importantes em junho para dar fôlego e alta às cotações no segundo semestre de 2008 e nos próximos anos. Ocorreram geadas sobre as lavouras da safrinha do Paraná e Mato Grosso do Sul. Dessa forma a safra brasileira passa da casa de 58 milhões de toneladas para 55 milhões de toneladas. Além disso, grandes inundações atingiram as principais regiões produtoras dos EUA, o que tende a trazer perdas, levando o mercado ao recorde histórico em Chicago e ao retorno das altas no Brasil. As perdas ocorreram na proximidade da colheita da safrinha. O mercado internacional esteve trabalhando dos US$ 315 aos US$ 335 por tonelada, para as entregas de maio e julho de 2009. Com isso confirmou o recorde histórico de cotação e Chicago operou pela primeira vez na história acima dos US$ 8,00 por bushel (25,4kg). Os indicativos mostram que novamente na safra 08/09 os produtores de milho do Brasil devem ter bom resultado econômico e o mercado internacional será grande comprador. Os EUA não terão milho para atender às exportações tradicionais e deixa um espaço de dez milhões de toneladas, com grande parte para os produtores brasileiros.

SOJA Enchentes nos EUA fortalecem cotações O mercado da soja tem mostrado bons momentos para as cotações internacionais e também para as do Brasil. Outro ponto de sustentação das cotações que deve crescer a médio e longo prazos é o fator atraso no plantio e perdas da safra americana. Com isso, o mercado internacional segue mostrando a soja sempre acima dos US$ 500 por tonelada, com momentos de níveis próximos dos US$ 600 por tonelada. O quadro climático nos EUA, com enchentes, também serve de fator positivo, porque grande parte da safra local foi plantada com atraso e, desta forma, mostra alto risco de perdas se as geadas vieram cedo entre setembro e outubro. Assim, novas altas podem aparecer. No momento, o mercado terá pressão interna que vem da entressafra, da pouca soja para ser negociada e da demanda crescendo na área do farelo para ração e óleo para biodiesel. Agora estamos em vigor o B3, frente ao B2 até junho, com 3% de Biodiesel no Diesel. FEIJÃO Escassez continuará neste segundo semestre A oferta de feijão continuará escassa nes-

te segundo semestre. Teremos ofertas restritas às posições do Centro do país, com o irrigado de Minas Gerais e Goiás e com alguns pivôs da região de Barreiras. Posições do feijão de corda que foi plantado em pivôs no Mato Grosso, além da possibilidade de oferta de volumes da região de Ribeira do Pombal e arredores. O mercado tende a se manter entre os R$ 130,00 e R$ 200,00. Mas sem fôlego para novos avanços porque temos limitação da demanda no varejo. O Preto segue dos R$ 120,00 e R$ 140,00, com pressão que vem do produto da Argentina. ARROZ Calmaria marcou arroz em junho A entrada do governo, vendendo parte dos estoques em maio e começo de junho, serviu para acalmar o setor e até trouxe leve queda nos indicativos. Tudo aponta que nas próximas semanas o quadro não mudará, mas já nos meses seguintes há fôlego para avanços de pequeno porte. Como o governo deve manter as vendas constantes para atender ao setor, veremos os indicativos do arroz comercial entre os R$ 33,00 e R$ 37,00, com pouco espaço para cima ou para baixo.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado esteve calmo e caminha para manter os níveis levemente pressionados para cima, porque houve perdas na safra dos EUA e o clima local ainda está instável. Junto a isso, também a estiagem prejudicou parte da safra da Austrália e, desta maneira, pressionou a alta nos indicativos, que andavam em fase de calmaria. Segue com níveis de R$ 720,00 a R$ 800,00 por tonelada para o produto de panificação. A boa notícia vem do governo, que pretende atuar com mais força neste ano para garantir cotações rentáveis aos produtores. ALGODÃO - A safra americana teve forte queda na área plantada e, com o clima irregular, poderá fazer com que a safra local fique comprometida. Desta forma, os indicativos internacionais podem ser mais atrativos aos produtores brasileiros, que continuam atrelados a pregões de apoio do governo em função do câmbio ao redor dos R$ 1,60, dificultando as exportações. EUA - As inundações são apontadas como as maiores da história neste período de início de safra e os prejuízos apontados chegam aos US$ 8 bilhões. Parte da safra total do país está comprometida e há dificuldades

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Julho 2008 • www.revistacultivar.com.br

no replantio de muitas áreas, o que sinaliza para cotações altas dos grãos em 2009. ÁSIA - Houve inundações em grande parte das lavouras costeiras, que atingiram áreas com arroz e também palma na Malásia. Há sinais de queda na produtividade. Parte do milho e soja foi afetada, já que a Índia suspendeu as exportações do milho e China bate recorde de compra de soja. ARGENTINA - As exportações voltam a fluir depois do retorno da negociação entre governo e produtores. Mas o prognóstico é de que haverá menos trigo e milho para vender ao mercado internacional em função do consumo interno. Há indicativos de que a briga entre os setores continuará neste segundo semestre. PETRÓLEO - Tem sido um dos fundamentos do mercado de grãos nestes últimos meses, batendo recorde próximo dos US$ 145 por barril em julho. A notícia do presidente da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), Chakib Khelil, de que no próximo ano as cotações deverão ficar entre os US$ 150 e US$ 170 por barril. Grande apoio ao setor agropecuário.




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