Cultivar Grandes Culturas • Ano X • Nº 114 • Novembro 2008 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas Capas
No alvo......................... .......... ......20 alvo................................... ................20
Luís H enrique Carr egal PP.. Silva Henrique Carregal
O aum en to ddaa importân ci an cha alvo com o aumen ento importânci ciaa ddaa m man ancha como doença limitan te ddaa pr od utivi dad o Br asil limitante prod odutivi utivid adee ddee soja n no Brasil
Novas am eaças ......................14 Radi ogr afi an ti cesso................28 ameaças eaças......................14 Radiogr ografi afiaa completa..............24 Gar Garan anti tiaa ddee su sucesso................28 Ácar o ddo o enr olam en to ddo o tri go e pulgão Ácaro enrolam olamen ento trig ais n ovas pr agas pr eto são as m preto mais novas pragas iden tifi cad as n o Sul ddo o PPaís aís entifi tificad cadas no
Conh eça o m od o ddee ação Conheça mod odo erbi ci das n dos h herbi erbici cid naa cultur o milh o culturaa ddo milho
Índice
O que con si der ar par consi sid erar paraa tir efi ciên ci o gar an garan antir eficiên ciênci ciaa n no plan ti o ddee alg odão planti tio algodão
Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton
Dir etas Diretas Even tos - Sim Eventos Simaa 2009
04 06
RED AÇÃO REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo
Refle un di al n o agr on egóci o br asileir o 08 Reflexxos ddaa crise m mun undi dial no agron onegóci egócio brasileir asileiro
• Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Besour o Sph Besouro Sphen enoph ophorus canaa en oph orus levis em can
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• Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
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• Revisão
Jani ce Ebel anice Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
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GRÁFI CA GRÁFICA • Impr essão Impressão
Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 Dir etor es Diretor etores Newton Peter e Schubert K. Peter Secr etári Secretári etáriaa Rosimeri Lisboa Alves www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 119,00 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Foco no trigo
Feijão A Basf lança herbicida com fórmula exclusiva para o cultivo de feijão durante o Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão (Conafe). Trata-se de Amplo®, cuja fórmula combina ingredientes ativos que agem de forma local e sistêmica no controle de ervas daninhas de folhas largas, sem causar toxicidade na lavoura, inclusive de plantas de difícil manejo como guanxuma, corda-de-viola, leiteiro e trapoeraba. “Este novo herbicida representa uma revolução, pois não existia no mercado um produto que sozinho controlasse com eficiência as principais ervas daninhas de folhas largas, que são de difícil controle”, afirma o gerente de Feijão e Algodão de Proteção de CulReginaldo Sene tivos da Basf, Reginaldo Sene.
A Basf participou da tarde de campo promovido pela cabanha Butia, OR Sementes e Biotrigo, em Coxilha, zona central do estado do Rio Grande do Sul. A equipe apresentou parcelas demonstrativas com tecnologia da empresa.
Tratamento de sementes
Inseticidas
Há 14 anos no Grupo Bayer, Luis Henrique Feijó assume a gerência de Portfólio Tratamento de Sementes, área recémdesmembrada do Portfólio Inseticidas. “Vamos desenvolver cada vez mais nossa equipe de trabalho para identificar oportunidades e novos segmentos. Este é o momento de consolidar as marcas da Bayer CropScience nos mercados de milho e soja e apresentar soluções inovadoras que contribuam com a rentabilidade no agronegócio”, destaca o executivo.
A Bayer CropScience acaba de contratar para a gerência Portfólio Inseticidas Fábio Del Cistia, com carreira de mais de 20 anos na área de agronegócios. Anteriormente, Del Cistia atuou com marketing em grandes empresas do segmento de defensivos agrícolas, além de experiência internacional nos Estados Unidos. “Temos um grande desafio pela frente”, afirma Del Cistia sobre suas expectativas. “Para alcançar resultados positivos desenvolveremos um trabalho em harmonia com outras áreas da empresa”, explica.
Luis Henrique Feijó
Basf Paulo Queiroz e Andreas Schultz são os mais novos integrantes da equipe da Basf Proteção de Cultivos no Brasil. Queiroz assume a gerência estratégica de Cana, Trigo e Arroz. O engenheiro agrônomo é formado na Esalq e trabalha há 17 anos no mercado agrícola com experiência em vendas e marketing de herbicidas e fungicidas para diversos cultivos. Já Schultz vai atuar como gerente tático de Trigo e Arroz. Agrônomo, atua no mercado agrícola há oito anos.
Andreas Schultz
Paulo Queiroz
Biotrigo Durante dia de campo na Cabanha Butia, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, o engenheiro agronomo Ottoni Rosa Filho, da Biotrigo Genética, destacou a importância de um bom manejo da cultura e o quanto esse trabalho varia de uma região Ottoni Rosa Filho para outra.
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Business Service Outra área que conta com mudanças é a de Business Service, formada por quatro subáreas estratégicas da Bayer Distribuição, Agricultura Sustentável, Alianças Estratégicas/ Cooperações e Operações Estruturadas. Lindberg Leite assume a gerência no setor de Operações Estruturadas e Marcos Dallagnese a de Alianças Estratégicas, que incorporou, recentemente, a área de Cooperações.
Errata Na chamada de capa da edição 113, sobre a aplicação de nutrientes em soja, o elemento correto é cobre e não cálcio como foi publicado. Na mesma edição, o crédito da foto de capa e a autoria do artigo “trigo bronzeado” são de Giuvan Lenz e não Giuvan Heinz como publicamos.
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Monsanto A Monsanto investe em tecnologias para cana com a aquisição das CanaVialis e Alellyx. O acordo para a aquisição da Aly Participações (que controla as empresas de melhoramento genético e biotecnologia de cana-de-açúcar, CanaVialis e Alellyx, ambas sediadas no Brasil e integrantes do Grupo Votorantim) foi firmado em novembro, em uma transação de US$ 290 milhões (R$ 616 milhões). O objetivo da Monsanto é diversificar seu atual portfólio e trazer inovações para esta cultura, por meio de sua experiência no melhoramento genético de plantas e em biotecnologia. “As demandas mundiais por açúcar e biocombustíveis estão começando a crescer em um ritmo mais rápido do que os níveis de produção de cana-de-açúcar, uma cultura que é essencial para atender a estas necessidades”, afirma André Dias, presidente da André Dias Monsanto do Brasil.
Evento de trigo Com atuação no ramo agropecuário e de sementes, Manoela Bertagnolli integrou a equipe do dia de campo de trigo realizado na Cabanha Butiá, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. O evento foi organizado em conjunto com a OR Sementes e Biotrigo.
Manoela Bertagnolli
Café A DuPont coloca no mercado a tecnologia Sistema Qualidade para a cultura do café. A novidade reúne numa só embalagem os fungicidas Kocide® e Alto 100®, cuja aplicação une os ingredientes cobre e triazol, e é recomendada para controle de doenças como ferrugem e cercospora, com o benefício agregado de auxiliar no processo de nutrição das plantas. “Com a planta bem cuidada, protegida, o produtor obterá maior produtividade em sua lavoura”, lembra o diretor de Marketing da DuPont Produtos Agrícolas, engenheiMarcelo Okamura ro agrônomo Marcelo Okamura.
Evento Fotos Bayer
Olhos no Leste A ven da ddee máquin as e equipam en tos par vend máquinas equipamen entos paraa a Rússi Rússiaa a das m odifi cações ocorri das n o m od elo partir ddas as pr ofun pro fund modifi odificações ocorrid no mod odelo agrícola ddo o leste eur opeu é um as apostas ddaa edição europeu umaa ddas 2009 ddo o Sim a, em fever eir o, em PParis aris Sima, fevereir eiro,
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ender máquinas e equipamentos para a Rússia e demais países do leste europeu é um dos principais objetivos das empresas que participarão do Salão Internacional de Máquinas Agrícolas (Sima), de 2 a 26 de fevereiro, em Paris, no Centro de Exposições Paris-Norte Villepinte. Fabricantes de equipamentos europeus se organizam para o atendimento, em larga escala, de visitantes daquela região, que reorganiza seu modelo agrícola em velocidade espantosa, para se adaptar ao crescimento econômico e às elevadas exigências de produtos agrícolas. As mudanças no mercado financei-
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ro das últimas semanas não afetaram a demanda por equipamentos, uma vez que está em pleno andamento o processo de reescalonamento da produção agrícola. A substituição do modelo em vigor no regime político desaparecido nos anos 90, que se iniciou lentamente, precisou de tempo para que os produtores se adaptassem às tecnologias agrícolas disponíveis, porém, nos últimos anos se nota a aceleração no ritmo, comandada pela necessidade de suprir os mercados locais. A melhoria do padrão de vida das populações dos países do leste europeu significa uma elevação nunca vista no consumo de produtos
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agrícolas. Os organizadores do maior evento de mecanização agrícola europeu – associações de maquinaria agrícola – informaram em outubro que 95% dos espaços demarcados na área coberta de mais de
22 hectares do parque de exposições já haviam sido vendidos. Assinalaram, porém, com a oferta de bons estandes para fabricantes de equipamentos de outros países, também interessados. A presença garantida de compradores de regiões do leste europeu, inacessível aos vendedores ocidentais até pouco mais de uma década, é a grande expectativa. Nos dois últimos eventos, em 2005 e 2007, verificaram-se alterações muito interessantes tanto no tipo de equipamento apresentado quanto no público presente. Começou em 2005, por exemplo, a mostra de máquinas de menor porte, destinadas aos ainda pouco tecnificados agricultores orientais. O grande interesse demonstrado perdurou e ainda se intensificou em 2007, o que leva a uma expectativa ainda maior em 2009. Como preparação para o recebimento dos agricultores do leste europeu no grande evento em Paris, já em novembro os organizadores do Sima montarão na Rússia, começando em Moscou, uma amostra em pequena escala do que estará disponível na França. A mostra é patrocinada por uma associação de fabricantes russos de equipamentos agrícolas e está centrada na mecanização das lavouras. Depois de Moscou haverá apresentações em Krasnodar, Rostov, Altai e Belgorod. Além disso, representantes do governo russo e inúmeros membros de entidades que congregam agricultores já confirmaram presença em Paris. Nas últimas décadas o Sima tem sido a melhor oportunidade para os europeus encontrarem, num só local, todas as novidades tecnológicas nos segmentos de grandes culturas, pecuária e energias re-
Nos dois últimos eventos, em 2005 e 2007, ocorreram alterações importantes tanto em relação ao público como ao tipo de máquinas expostas
nováveis, soluções concretas para cada uma de suas necessidades. Ali são mostradas as inovações em equipamentos, por exemplo, em estréia mundial. Como ocorre no mundo da moda, em que o que se vê em Paris determinará a tendência mundial, o Sima representa uma estréia do que será apresentado nos próximos eventos, no resto do mundo.
QUEM VAI
termos europeus, é média alta. Distribuidores, concessionários, importadores e outros empresários preencheram uma fatia de 37% do total de visitantes. O Sima ocorre estrategicamente no mês de fevereiro, pleno inverno europeu, época de paralisação total da atividade agrícola, o que responde pelo acréscimo do número de visitantes a cada evento. C
No Salão de 2007 – o evento se realiza a cada dois anos – houve 213.761 visitantes, dos quais 79% eram da Europa ocidental e 12% da oriental. Os continentes Americano, Africano e Asiático tiveram 3% de participação cada um. A estatística de 2007 conta ainda com visitantes de 107 países. O destaque, no entanto, foram os cerca de 25 mil russos e seus vizinhos, cada vez mais interessados em mecanizar suas lavouras, ainda desatualizadas tecnologicamente. Desde 2005, registra-se um crescimento de 31% na economia do que se classifica como Europa Central e da Europa do Leste. O mercado dessas regiões permanece francamente comprador. Em 2007 a metade dos 1.349 expositores era de estrangeiros. Dos visitantes, 63% são tidos como utilizadores líderes dos equipamentos e 50% exploram áreas agrícolas superiores a 100 hectares, o que, em
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Mercado
Forte na turbulência Di an te ddo o cenári o ddee crise m un di al, m uitas são as parti culari dad es que privilegi am o Dian ante cenário mun undi dial, muitas particulari cularid ades privilegiam agr on egóci o br asileir o e ffavor avor ecem o cr escim en to ddo o setor a partir ddee 2009 agron onegóci egócio brasileir asileiro avorecem crescim escimen ento
A
crise da economia mundial tem causado grandes transtornos neste final de 2008, com o corte de recursos para investimentos no setor agropecuário. A turbulência envolve desde o setor de energia da cana, com forte apelo interno e na exportação para o etanol e o açúcar, até a pressão sobre o setor das carnes, principalmente de frangos, onde o Brasil é campeão mundial. O cenário atual tem feito com que muitas empresas cancelem investimentos ou pelo menos adiem, com receio de não ter onde colocar a produção nos próximos meses. Outro ponto importante
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que tem assustado o setor vem da dificuldade dos importadores em conseguir cartas de crédito de bancos de primeira linha, que garantam o pagamento dos produtos que vendemos. A crise mundial limitou muito a emissão destas cartas de credito, o que conseqüentemente segura os negócios na exportação. No entanto, este é um fator momentâneo, porque estas cartas de crédito são uma boa fonte de lucros para os bancos que as emitem. O aspecto mais importante para o setor agropecuário é que a lei da oferta e demanda não será revogada por uma crise econômica mundial. Os que mais perderam foram os ricos, nos Estados Unidos e Europa, onde se observam grandes prejuízos em ações e em investimentos de casas supervalorizadas nos EUA. Mas isso não irá influenciar no consumo de alimentos destes perdedores e certamente não afetará o consumo nos países em desenvolvimento, como a China e a Índia, onde se tem percebido os maiores avanços na de-
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manda de alimentos. Como chineses e indianos não promoveram grandes alterações na cotação do câmbio local (os níveis do dólar seguem quase estabilizados), para os consumidores internos o que realmente reflete no consumo é o aumento ou a queda dos preços dos produtos na moeda local (que tem efeito que vem do dólar). Nas últimas semanas as cotações de todas as commodities despencaram (soja, milho, trigo e arroz recuaram entre 40% e 50% em dólar sobre os valores do primeiro semestre). Isto deu aos consumidores dos países que estão em crescimento do consumo e com a moeda estabilizada maior poder de compra, podendo levar mais alimentos com os mesmos recursos, como verifica-se em diversos países que tradicionalmente importam do Brasil. Os alimentos estão mais baratos e isso pode ser visto com o relatório das importações de soja da China do mês de setembro, que superaram a marca de 4,1 milhões de toneladas e acumulavam no ano 29,9 milhões de toneladas nos primeiros nove meses. A projeção inicial do governo chinês, que apontava 2,8 milhões de toneladas de importação no mês, foi superada em muito. O USDA mostrava uma estimativa de fechamento de importações em 2008 pelos chineses de 36 milhões de toneladas. Se as compras continuarem no ritmo negociado no ano (de 3,3 milhões de toneladas por mês), a projeção do USDA será alcançada antes do final de novembro, com chances de se aproximar dos números mais otimistas que o mercado apontava (40 milhões de toneladas em 2008). Confirma a projeção favorável a indicação do governo chinês em outubro apontando que irá importar 1,5 milhão de toneladas de soja adicionais para aumentar os estoques que tem nas mãos e assim dar suporte ao avanço na demanda que continua acelerado no país. Diante deste cenário, percebe-se que a crise está passando sem trazer estragos na demanda e a queda nos preços tende a acelerar o consumo mundial. A notícia de que a China terá crescimento da economia local (que vinha se dando entre 10% e 11% ao ano) na casa dos 9%, nos aponta uma boa situação, porque esta pequena acomodação sinaliza que o quadro local seguirá crescendo em ritmo acelerado e o que mais avança é o setor de alimentos e isso nos beneficiará de 2009 em diante.
Fotos Dirceu Gassen
Fatores negativos para a crise no momento • Limitação de crédito para novos investimentos, o que dificulta a vida de algumas indústrias do setor de energia (no caso da cana), além da queda nos recursos para empreendimentos em frigoríficos e abatedouros de frangos (o que traz traz limitações limitações ao avanço avanço na produção de carnes). carnes). • Dificuldade na obtenção de cartas de créditos para garantir o pagamento aos países exportadores, limitando as vendas momentâneas de vários produtos agrícolas (situação que certamente irá voltar ao normal a partir de fevereiro próximo em diante). • Temor de recessão mundial, fazendo com que todos diminuam a expectativa de consumo. No entanto, tal cenário no setor de alimentos normalmente afeta os produtos de maior valor agregado (o que não atinge diretamente o Brasil, porque ainda temos os maiores volumes de vendas atreladas à soja em grão, farelo e óleo bruto, além de carnes, que normalmente atendem a demanda básica de consumo da população e que, em geral, não sofrem grandes alterações mesmo em momentos de crise). Fatores positivos da crise • Pressiona todo o setor para procurar
China deverá ingressar no mercado do milho como grande importador a partir de 2009, visto que a demanda daquele país deve alcançar 140 milhões de toneladas
melhor eficiência e assim elimina alguns vícios e desperdícios que normalmente são cometidos quando se está em crescimento acelerado. Cite-se, por exemplo, o custo de produção que tende a ser ajustado para a realidade do momento e com isso passa-se a perseguir a melhor produtividade econômica, buscando ter o melhor produto com o custo final mais baixo.
• Países exportadores de alimentos que não tiveram alterações no dólar sofrerão mais, porque acabam sentindo a crise diretamente, como é o caso da Argentina, EUA, Paraguai e países europeus, que têm custos altos e se verão obrigados a aumentar os subsídios, na contramão do restante do mercado mundial que busca a redução de subsídios. No caso da Argentina ee do doParaguai, Paraguai, os os produtores produtores trabatraba-
Fotos Dirceu Gassen
desempenho do faturamento em reais em 2009 e favorecer as exportações. Embora haja crescimento dos custos dos insumos importados, haverá baixa no custo real da mão-deobra e de insumos nacionais. Também temos apontado que a crise internacional tende a derrubar os preços de insumos em dólar. Um dos exemplos se refere aos fertilizantes, que em moeda americana tendem a ser menores em 2009, e também veremos queda de alguns outros produtos usados nas lavouras, como defensivos. Determinadas matériasprimas devem ter preços mais baixos e, desta forma, os custos reais brasileiros podem recuar e tornar nossos produtos mais competitivos. A crise internacional tende a derrubar os preços de insumos agrícolas em dólar, como é o caso dos fertilizantes
lham com os produtos diretamente em dólar e como não houve grande alteração cambial, os custos estão em alta e os preços em queda limitam os ganhos. Poderá haver grandes prejuízos, como se projeta para os produtores argentinos, que, além dos custos dos insumos, limitação de recursos para a compra, carregam os maiores impostos e taxas sobre produtos agrícolas que vão para a exportação (no caso da soja o percentual se aproxima dos 30%). Dessa forma, o governo fica com uma grande fatia da produção, que já era reclamada pelos produtores quando as cotações estavam nos maiores níveis da história. Situação que deve se agravar com as cotações abaixo dos US$ 10,00 por bushel, com custos de insumos e impostos estrangulando os agricultores. Situação semelhante vivem os produtores do Paraguai, que além dos sem-terra que rondam as propriedades locais, têm custos em alta e faturamento em baixa, devendo reduzir a produção neste ano e nos próximos. Nos EUA os custos cresceram fortes e nos patamares atuais o governo terá que apoiar o setor com subsídios, porque caso isso não ocorra, veremos em 2009 uma nova onda de não-pagamento de dívidas, dessa vez por parte dos agricultores locais, altamente endividados e que dificilmente terão lucros com a safra e não conseguirão pagar as hipotecas que carregam. Também se prevê limitações de novos créditos para o plantio que começa em maio de 2009. • Preços baixos dos produtos agrícolas, o que favorece a demanda dos países que estavam começando a importar. Com isso, já se aponta que a China deverá vir para o mercado do milho como grande importador de 2009 em diante, porque não tem como atender as fortes demandas que o país terá por ração a partir do próximo ano, quando estarão consumindo mais de 140 milhões de toneladas, contra as 130 milhões de toneladas que de-
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vem fechar em 2008. Observe-se que já houve grande avanço frente a níveis de 96 milhões de toneladas consumidas em 2004. Estima-se que, além do aumento da necessidade de importação de soja, entrará a alta demanda por milho, que está chegando ao limite de produtividade no país e também tem queda nas áreas plantadas, por falta de água, desertificação e avanço das cidades sobre os campos (o que favorecerá os países exportadores no pós-crise). Normalmente nos momentos de crise, o consumo recua de produtos nobres para produtos populares e mais baratos, o que favorecerá os países que têm a mão-de-obra mais barata, como é o caso da Ásia e da África, e estimulará o consumo de alimentos básicos nestas regiões. A desvalorização cambial de países exportadores estimula os negócios, como é o caso do Brasil agora com o dólar valorizado. Tal cenário estava sendo reivindicado pelo setor há vários anos e desta forma tende a melhorar o
Oferta e demanda seguem ajustadas em 2009 O quadro geral de oferta e demanda mundial de grãos continuará mostrando grande aperto em 2009, porque mesmo que consigamos (com todo otimismo) colher nesta safra 2,2 bilhões de toneladas de grãos, certamente o consumo andará próximo deste nível. Enquanto isso, devido à atual crise, na safra seguinte teremos os primeiros reflexos, com queda na produção devido à descapitalização do setor e à baixa rentabilidade que muitos países enfrentarão. Poderemos colher algo ao redor da média entre a colheita de 07/08 e 08/ 09, resultando em 2,15 bilhões de toneladas. Enquanto isso, o consumo, que vem crescendo entre 3,5% e 4% ao ano, tende a diminuir de ritmo e avançar pouco menos de 2,5%. Mesmo assim, superará novamente de maneira forte a produção, mais uma vez trazendo pressão de alta nos preços em cima do fundamento chamado consumo, que pode vir acompanhado de uma nova corrida dos investidores que buscarão nas commodities uma alternativa de renda maior que a oferecida pelo mercado dos demais papéis e também dos títulos dos governos (que normalmente nestes momentos de crise devem ter rentabilidade baixa ou até negativa frente à inflação). Dessa forma, os grãos novamente serão boa alterC nativa para aplicação financeira. Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br Contatos Contatos para para palestras palestras ee informativos informativos diários diários de de mercado. mercado. Fones: Fones: (41) (41) 3779-8719 3779-8719 ou ou 9973-3459 9973-3459
OFERTA E DEMANDA MUNDIAL DE GRÃOS EM MILHÕES DE TONELADAS SAFRA 09/00** 08/09* 07/08 06/07 05/06
Safra de 2009 deve ficar em torno de 2,15 bilhões de toneladas de grãos
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Estoque Inicial Produção Consumo Estoque Final 372 2.150 2.235 287 347 2.207 2.182 372 339 2.115 2.107 347 388 2.005 2.054 339 401 2.017 2.030 388
Fonte:USDA, Brandalizze Consulting Notas;(*) estimativas, (**) projeções Brandalizze Consulting
Cana-de-açúcar
Besouro implacável Infestações elevad as ddee Sph do rregistr egistr ad as n os can avi ais ddee São elevadas Sphen enoph ophorus sid egistrad adas nos canavi aviais en oph orus levis têm si des pr ejuízos aos pr od utor es an os são causad os pelas larvas que Paulo com gr an gran and prejuízos prod odutor utores es.. Os ddan anos causados br oquei am os rizom as e abr em galeri as n os colm os ddas as plan tas do à difi culd ad broquei oqueiam rizomas abrem galerias nos colmos plantas tas.. Devi Devid dificuld culdad adee de con tr ole ddaa pr aga em ár eas já infestad as ecom en dad o cui dad o ao adquirir contr trole praga áreas infestadas as,, é rrecom ecomen end ado cuid ado an sporte par mudas em servir ddee tr podem tran ansporte paraa as larvas as,, já que pod
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os últimos anos têm sido freqüentes em várias regiões de São Paulo os relatos de canaviais severamente danificados e, até mesmo, dizimados, pelo besouro Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera; Curculionidae) (DinardoMiranda, 2000). Os adultos medem de 12mm a 15mm de comprimento, são marrons-escuros com manchas pretas sobre o dorso e com a face ventral preta. Permanecem geralmente no solo, sob os torrões ou restos vegetais ou entre os perfilhos na base da touceira. Quando tocados, simulam estar mortos. São bastante longevos: os machos vivem ao redor de 203 dias e as fêmeas 204. Após o acasalamento, as fêmeas perfuram os tecidos sadios do rizoma, com as mandíbulas presentes no ápice do rostro e aí, na base das brotações, abaixo do nível do solo, inserem os ovos a até 4mm no interior dos colmos. Cada fêmea põe em média 40 ovos, podendo chegar a 70, sendo que 70% deles são colocados na primeira metade do tempo de vida da fêmea. De sete a 12 dias depois da postura, nascem as larvas, brancoleitosas, com a cabeça castanho-avermelhada, e ápodas, que escavam galerias no interior do
rizoma ao se alimentarem. Estas galerias permanecem cheias de serragem fina, característica do ataque da praga. O período larval médio é de 50 dias. Após, se passa à fase pupal, que dura aproximadamente dez dias, ainda no interior dos colmos. A pupa é inicialmente branco-leitosa, tornando-se castanho-clara com manchas dorsais. A duração desse período é de cerca de 12 dias (Precetti e Terán, 1983). As larvas são mais abundantes na época seca do ano, com pico populacional em junho-julho. Conseqüentemente, o pico populacional de pupas ocorre em dezembro, enquanto o de adultos se dá em março, de acordo com Precetti e Arrigoni (1990). De maneira geral, as populações do inseto elevam-se à medida que o canavial envelhece, pois as operações de preparo de solo para plantio contribuem para reduzir as populações da praga.
DANOS
galerias abertas na base dos colmos, ocorre amarelecimento de folhas, seca e morte de perfilhos, que podem ser facilmente destacados da touceira. Sob infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na rebrota, favorecendo altas populações de plantas daninhas. Estes sintomas são mais facilmente visualizados na época seca do ano (junho a agosto), quando se encontram as maiores populações de larvas. Sob infestações elevadas da praga, a produtividade e a longevidade do canavial são drasticamente reduzidas. Em algumas áreas críticas, o ataque se dá de forma tão intensa que o canavial é reformado logo após o primeiro corte. Além da cana-de-açúcar, S. levis ataca e se reproduz abundantemente em milho. Nos últimos anos, além de registros de novas áreas infestadas, ocorreram incrementos nas populações da praga, em decorrência das dificuldades de controle.
AMOSTRAGEM
Os danos são causados pelas larvas que broqueiam os rizomas e, algumas vezes, o primeiro entrenó basal. Em conseqüência das
Em áreas cultivadas com cana-de-açúcar, as amostragens para estimar as populações dessa praga devem ser feitas logo após o últiCharles Echer
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Os insetos adultos de Sphenophorus levis são bastante longevos, os machos vivem ao redor de 203 dias e as fêmeas 204
mo corte do canavial e antes da destruição da soqueira, o que coincide, normalmente, com o período mais seco do ano, quando as populações são mais elevadas. O método de levantamento mais utilizado é o proposto por Arrigoni et al, (1988), que consta de dois pontos de amostragem por hectare e em cada ponto abre-se, na linha de cana, uma cova de 0,50m de largura por 0,50m de comprimento e 0,30m de profundidade. O solo e o material vegetal contidos na cova são vistoriados, anotando-se em ficha apropriada a ocorrência de danos nas touceiras e a presença de S. levis. Este mesmo levantamento é utilizado para avaliar a ocorrência de outras pragas de solo, como cupins e Migdolus. Em áreas ainda cultivadas, que não devem entrar para reforma, as populações de S. levis também podem ser monitoradas por iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços de colmos com aproximadamente 30cm, rachados longitudinalmente e embebidos em solução inseticida (25g de carbaril 80PM em dois litros de água). As iscas devem ser colocadas na base das touceiras, em número de dez por ha, cobertas com capim, palha ou folhas de cana (Precetti e Arrigoni, 1990). Tais iscas atraem os adultos e podem ser utilizadas para detectar a presença da praga em áreas de baixas infestações, onde as larvas e pupas não foram detectadas pelo método de levantamento tradicional.
proceda a destruição mecânica das soqueiras atacadas. A destruição mecânica da soqueira é ferramenta importante para reduzir as populações de pragas de solo, inclusive de S. levis, pois mata por danos mecânicos e/ou exposição ao sol, matando também predadores, larvas e pupas da praga. Para maior eficiência dessa medida ela deve ser feita na época seca do ano, entre julho e setembro, quando as populações de larvas são mais elevadas. Apesar da eficiência da destruição mecânica de soqueiras na redução populacional de pragas de solo, somente essa medida não é suficiente para reduzir as populações abaixo do nível de dano econômico em áreas com infestações médias ou altas de pragas. Nesses casos, o uso de inseticidas no plantio se faz necessário.
Segundo dados do IAC, quando aplicados no plantio, os inseticidas fipronil, imidaclorpid e thiamethoxan geralmente têm eficiência de controle entre 65% e 75%, nos primeiros 12 meses, e contribuem para incrementos de produtividade que, em alguns casos, chegaram a mais de 100t/ha, na soma das três primeiras colheitas. A rotação de culturas em áreas infestadas por pragas de solo geralmente é bastante recomendável, por propiciar melhores condições de desenvolvimento do canavial, em decorrência dos benefícios promovidos pela adubação verde. Entretanto, em se tratando de áreas infestadas por S. levis, a melhor alternativa seria manter a área no limpo, no período entre a destruição da soqueira e a implantação de nova cultura. No entanto, como o solo exposto fica muito sujeito à erosão, o plantio de adubos verdes muitas vezes se faz necessário. Nessas condições, o feijão-guandu é a cultura mais indicada por propiciar menor sobrevivência de adultos em comparação com as crotalárias Arrigoni e Precetti, 1997). A observação de áreas comerciais revela maiores populações de S. levis naquelas onde as infestações de plantas daninhas também são elevadas, sugerindo que servem de abrigo aos adultos, favorecendo sua sobrevivência e longevidade. Portanto, a manutenção da cultura no limpo é ferramenta importante para reduzir os danos provocados pela praga. Das operações agrícolas em cana-de-açúcar, duas exercem influência marcante sobre as populações de S. levis. Uma delas é a aplicação de vinhaça. As populações de S. levis se elevam significativamente em talhões fertirrigados, talvez por favorecer a sobrevivência de adultos. Por isso, áreas infestadas com S. levis devem receber vinhaça com parcimônia. Outra operação é a colheita mecanizada
CONTROLE Não há estudos recentes desenvolvidos com o objetivo de definir o nível de dano econômico dessa praga para a cana-de-açúcar, mas é imprescindível que nas áreas infestadas se
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Detalhe da larva de Sphenophorus levis
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Danos causados pelas larvas aos rizomas da cana
Fotos Leila L. Dinardo Miranda
de cana-crua. Resultados recentes de experimentos conduzidos pelo IAC revelam que, após um único ciclo de colheita de cana-crua, as populações de S. levis aumentaram três vezes mais que o observado em área de colheita de cana queimada. A colheita de cana-crua beneficia as populações de S. levis por não matar os adultos pelo fogo e por fornecer a palha que lhes serve de abrigo. Este fato é bastante preocupante, visto que dentro de poucos anos, toda a colheita de cana, no estado de São Paulo, deverá ser feita na modalidade de cana-crua. Na implantação de nova lavoura, cuidado especial deve ser dado ao material utilizado como muda. Visto que larvas, pupas e adultos de S. levis podem ser transportados no interior e entre os colmos retirados de local infestado, o uso de mudas sadias é ferramenta valiosa para impedir a introdução de S. levis em novas áreas. Até mesmo o cultivo em locais infestados deve ser feito com mudas isentas dessa praga, a fim de que não ocorra aumento populacional na área. Assim, viveiros de mudas não devem ser conduzidos em locais infestados por S. levis. Em áreas infestadas por S. levis, iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços de colmos de aproximadamente 30cm, rachados em sentido longitudinal e embebidos em so-
Sob altas infestações da praga, as touceiras morrem e ocorrem falhas na rebrota, o que favorece altas populações de plantas daninhas
lução inseticida (25g de carbaril 80PM em dois litros de água) podem ser utilizadas para reduzir as populações de adultos. As iscas devem ser colocadas na base das touceiras, em número de 500 a mil por ha, cobertas com capim, palha ou folhas de cana (Precet-
ti e Arrigoni, 1990). Devido à grande necessidade de mão-de-obra, essa medida é de uso restrito às pequenas reboleiras. C Leila L. Dinardo-Miranda, Centro de Cana - Instituto Agronômico
Trigo
Embrapa
Desafio duplo
A
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presença na América do Norte (Canadá, México e Estados Unidos), Europa (Alemanha, Bulgária, França, Hungria, Itália, Iugoslávia, Polônia, Romênia, Rússia e Reino Unido); Oriente Médio (Jordânia e Turquia); África (sul da África); e Oceania (Austrália e Nova Zelândia). Além do trigo, A. tosichella pode também se desenvolver em sorgo, milho, aveia, cevada e em grande número de gramíneas forrageiras e invasoras, tendo como hospedeiras aproximadamente 140 gramíneas. Este ácaro pode causar danos diretos, devido à alimentação das colônias, de modo que as folhas mostram desenvolvimento anormal, enrolamento de bordos e as plantas apresentam aspecto atrofiado, com perdas de até 30% da produção. Entretanto, os principais prejuízos são indiretos, pela transmissão do fitovírus Wheat streak mosaic virus (WSMV), agente etiológico de uma das principais doenças do trigo na América do Norte e que ocorre também na Europa, Oriente Médio, Oceania e Ásia. As perdas devido à infecção por WSMV podem alcançar 100% da produção. A transmissão do WSMV pelo ácaro ocorre de modo circulativo, persistente e até o momento A. tosichella é o único vetor deste vírus. WSMV foi relatado pela primeira vez na Argentina em 2002, na província de Córdoba. Apenas em 2005 foi confirmada a presença do ácaro veEmbrapa
go”, foi descrito em folhas de trigo (Triticum aestivum L.) na Iugoslávia, em 1969. Sua presença tem sido relatada nas principais áreas de produção desta cultura no mundo, com Denise Navia
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acaba de identificar duas novas pragas que atacam a cultura do trigo no Brasil. O ácaro eriofiídeo Aceria tosichella Keifer (Prostigmata: Eriophyidae), praga na América do Norte e já conhecido na Ásia, Europa e Oceania, encontrado pela primeira vez na América do Sul em 2002, na Argentina. A identificação do ácaro é fruto de trabalho conjunto entre a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) e a Embrapa Trigo (CNPT). A outra praga é o pulgão Sipha maydis Passerini (Hemiptera, Aphididae), de raro registro na América. Segundo a pesquisadora Denise Navia, do Cenargen, o ácaro A. tosichella, também conhecido como “ácaro do enrolamento do tri-
A Embr apa acaba ddee Embrapa tifi car m ais ddu uas pr agas iden entifi tificar mais pragas que até en tão não atacavam então lavour as br asileir as o lavouras brasileir asileiras as.. Ácar Ácaro go e do enr olam en to ddo o tri ento trig enrolam olamen pulgão pr eto ffor or am oram preto en con tr ad os n o Sul ddo o encon contr trad ados no Br asil. A ddescoberta escoberta pôs Brasil. pesquisad or es em alerta n pesquisador ores naa busca ddee altern ativas par alternativas paraa enfr en tar o pr oblem enfren entar problem oblemaa
Detalhe do ácaro Aceria tosichella
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O ácaro é transmissor do fitovírus Wheat streak mosaic virus
PULGÃO Dados da Embrapa Trigo apontam que a ocorrência do pulgão-preto Sipha maydis Passerini (Hemiptera, Aphididae) no Brasil chamou a atenção dos pesquisadores por ser uma praga exótica, originária da Ásia, pouco presente na América. O pulgão-preto foi encon-
Denise Navia
tor naquele país. A presença do ácaro vetor e do WSMV na Argentina alerta para a necessidade de adoção de medidas de contenção das pragas no continente. Aceria tosichella é também vetora do High plain virus (HPV), que infecta cevada, milho, aveia, centeio e Bromus secalinus L. nos EUA, e o Wheat spot mosaic (WSM) em trigo no Canadá e EUA, cujo agente etiológico ainda é desconhecido. Até o momento, na América do Sul, esses vírus foram relatados apenas na Argentina. No Rio Grande do Sul, o ácaro A. tosichella foi encontrado na região norte e noroeste do estado, em quatro municípios: Passo Fundo, Palmeira das Missões, São Luís Gonzaga e Santo Antônio das Missões, até o momento em baixas populações. É necessário realizar levantamentos do ácaro em outras regiões tritícolas e estar alerta quanto à ocorrência de sintomas de viroses distintas das já conhecidas no país.
Detalhe do ácaro visto através de miscroscopia ótica
trado em muitas lavouras no norte e oeste do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste e centro-sul do Paraná. Apesar de não ter sido registrado inseto parasitado, ou seja, não houve identificação de qualquer parasito natural, o pulgão-preto apareceu somente nas bordas da lavoura, sem atacar grandes áreas e com pouca dispersão dos insetos. Aparentemente, a população do pulgão-preto não apresenta o mesmo crescimento de outras espécies de pulgão do trigo, que dispõe de con-
trole biológico há quase 30 anos. Em relação às duas novas pragas ainda não existem estudos conclusivos sobre a intensidade de dispersão e o ciclo de vida. Como ainda não foram comprovados danos significativos à produção tritícola, os pesquisadores reiteram que não há motivo para alarme, não sendo indicada a adoção de medidas de controle a campo. A Embrapa Trigo já está desenvolvendo pesquisas básicas e aplicadas sobre estes dois organismos. C
Soja
Fungo monitorado Estu do m onitor opsor yrhizi, causad or ddaa ferrug em-asiáti ca n Estud monitor onitoraa Phak Phakopsor opsoraa pach pachyrhizi causador ferrugem-asiáti em-asiática naa cultur culturaa ddaa soja, com o objetivo ddee qu an tifi car su sibili dad cações ddee tri azóis e quan antifi tificar suaa sen sensibili sibilid adee a apli aplicações triazóis estr obilurin as n as difer en tes rregiões egiões ddo o país estrobilurin obilurinas nas diferen entes
A
ma, 2008). A existência de raças dificulta o controle por meio de resistência vertical, já o controle químico é a ferramenta mais viável para evitar perdas causadas pela ferrugem. Os fungicidas dos grupos químicos dos triazóis e estrobilurinas têm se mostrado mais eficientes para o controle da doença, com diferença na eficiência curativa entre ingredientes ativos dentro de cada grupo (Almeida et al, 2005). Resultados de pesquisas da safra 2007/ 2008, indicam queda da eficiência do grupo dos
Montagem
importância da ferrugem-asiática no Brasil pode ser avaliada pela sua rápida expansão, virulência e pelo montante de prejuízos causados. Ao nível de propriedade agrícola, chegou a provocar perda total (100%) pela inviabilidade da colheita. Essa situação foi comum nos Cerrados onde o clima favorece a doença, dificulta o controle e as grandes extensões das lavouras representam um desafio a mais nas pulverizações (Yorinori & Yuya-
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triazóis, no controle da ferrugem-asiática. Assim, fitopatologistas têm orientado produtores e técnicos a dar preferência ao uso de combinações de ingredientes ativos com modos de ação diferente à base de estrobilurinas com triazóis, a fim de garantir melhor eficiência de controle (Consórcio Antiferrugem, 2008). Segundo o modelo proposto por after brent & hollomon (98), o risco de surgimento da resistência de fungos causadores das ferrugens em geral ao grupo das estrobilurinas é baixo e ainda mais remoto para o grupo dos triazóis. Devido a isto, o monitoramento de sensibilidade só é recomendado em casos onde há suspeitas. Devido à grande variabilidade genética do fungo e à possibilidade de surgimento de novas raças ou populações diferentes de Phakopsora pachyrhizi, na safra 2005/ 2006 a Bayer CropScience iniciou um trabalho de monitoramento com o objetivo de quantificar a sensibilidade das populações do fungo causador da ferrugem-asiática aos triazóis e estrobilurinas, nas diferentes regiões do país. Mundialmente, não há relatos de casos de resistência de fungos causadores de ferrugens aos triazóis e nem às estrobilurinas. O que de fato existe são populações ou raças com exigências diferentes quanto ao mesmo fungicida (maior ou menor sensibilidade). A resistência “quantitativa”
Figura 1 - Método para a quantificação da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi por meio de bioensaio em folhas de soja destacadas (detached leaf test)
Fonte: Bayer CropScience
caracteriza os fungicidas triazóis, ou seja, sempre existirá uma dose do fungicida que controla o fungo. Sendo assim, diz-se que ocorre resistência para os triazóis, apenas quando a curva de sensibilidade se altera abruptamente em relação aos valores padrões, subindo constantemente e mantendo-se em valores elevados ao longo do tempo. Porém, quando populações menos sensíveis começam a predominar, não se deve aumentar a dose do triazol, pois esta prática pode gerar ou selecionar populações resistentes rapidamente, comprometendo assim todo o grupo químico. Já as estrobilurinas caracterizam-se pela resistência “qualitativa”, ou seja, uma vez adquirida a resistência, não existe uma dose do fungicida (por maior que seja) que vá controlar o fungo. Considera-se normal na dinâmica populacional de um patossistema a coexistência entre raças mais ou menos exigentes e, por isso, se faz importante quantificar e definir os diferentes perfis. Também considera-se normal, tanto dentro de uma mesma safra como ao longo dos anos, ora a predominância de uma raça ou população, ora de outras, constituindo-se em natural “flutuação populacional” das variantes desse microorganismo. O método para a quantificação da sensibilidade do fungo e para a definição dos diferentes perfis populacionais ocorre por meio de um bioensaio (Figura 1) em folhas de soja destacadas (detached leaf test), onde se determina a concentração eficiente do fungicida para controlar 50% da população (EC50), em valores expressos em partes por milhão (ppm) (Scherb & Mehl, 2006). Os valores obtidos neste ensaio permitem compor uma curva padrão, denominada de “Base Line”, que servirá como
referência de sensibilidade do patógeno (Figura 2). O objetivo principal do trabalho de monitoramento nessa primeira fase é identificar os valores de sensibilidade (EC50) para o grupo dos triazóis e das estrobilurinas das populações de Phakopsora pachyrhizi existentes nas diferentes regiões do Brasil. Assim, estabeleceram-se os valores padrões e uma linha base, que possibilitam o monitoramento desse importante fungo nos próximos anos, permitindo concluir sobre a ocorrência ou não de alterações na sua sensibilidade aos referidos fungicidas, no final de cada safra. Especificamente para tebuconazole, na safra 2005/2006 o menor valor obtido da EC50 foi de 0,016ppm, e o maior, de 0,52ppm. Tais valores são considerados extremamente baixos, uma vez que a dose praticada nas lavouras de soja é de 500ppm. Além disso, o conjunto de resultados mostrou que não existiram diferen-
ças de sensibilidade do patógeno entre as várias regiões produtoras do país. Concluise, portanto, que as populações predominantes do fungo nessa safra se revelaram muito sensíveis ao triazol. A seguir, na safra 2006/2007, o menor valor da EC50 obtido para tebuconazole foi de 0,08ppm e o maior de 1,85ppm. Apenas três locais apresentaram valores mais elevados, sendo eles 1,3ppm, 1,74ppm e 1,85ppm. O conjunto de resultados mostrou uma predominância marcante de populações muito sensíveis ao tebuconazole, porém, os poucos valores mais altos encontrados já podem significar a ocorrência de populações com sensibilidade diferente ao fungicida. Na última safra (2007/2008), que representa o terceiro ano do monitoramento, o menor valor da EC50 obtido para o tebuconazole foi de 0,04ppm, ou seja, semelhante aos valores dos últimos dois anos. Também foram observados valores entre 1,04ppm e 1,8ppm, que representaram os maiores da safra anterior e que, agora, passam a ser considerados valores médios. Como maior valor, o número obtido foi de 3,9ppm, no estado do Mato Grosso do Sul. Com base nas informações existentes, nos sistemas de monitoramento e, ainda, nos valores de “Base Line” considerados para outros fungos como, por exemplo, para o patógeno causador da ferrugem da folha do trigo (Puccinia triticina), pode-se concluir que, a partir dos resultados obtidos nas três últimas safras, já estão estabelecidos os valores padrões para as populações mais e menos sensíveis de Phakopsora pachyrhizi. Com base nisso, poderão ser considerados aceitáveis valores entre 0,01ppm e 10ppm, sendo que os valores compreendidos entre 0,01ppm a 1,0ppm constituem populações muito sensíveis; valores de 1,0ppm a 2,0ppm caracterizam
Figura 2 - Exemplo de teste na fase de avaliação, onde, por meio da % severidade se determina a EC50 e a EC90 Chapadão do Sul - MS
0 ppm Testemunha
4 ppm Com fungicida
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Gráfico 1 - Valores máximos e mínimos de sensibilidade (EC50) do tebuconazole para as populações de Phakopsora pachyrhizi existentes nas diferentes regiões do Brasil
Tabela 1 - Valores em ppm de EC50 e EC90 dos triazóis tebuconazole e ciproconazole, em quatro diferentes locais. Bayer CropScience, 2008 Cidade Londrina/PR Paulinia/SP Aral Moreira/MS Rondonópolis/MT
Gráfico 2 - Distribuição dos valores da EC50 de tebuconazole para Phakopsora pachyrhizi na região de Rondonópolis (MT), ao longo de duas safras de monitoramento
populações com média sensibilidade; e de 2,0ppm a 10ppm, representam as populações menos sensíveis (Gráfico 1). Até este momento, as populações menos sensíveis foram constatadas apenas em amostras provenientes dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Porém, é importante ressaltar que essas populações revelaram-se como predominantes ao final da safra, nos meses de março, abril e maio, não sendo constatadas nas amostragens após a safra, realizadas a partir de junho (Gráfico 2). Este comportamento significa uma natural flutuação populacional dos biótipos do fungo, o que também ocorre com outros importantes fungos fitopatogênicos da agricultura, que já contam com monitoramento de sensibilidade há mais de 20 anos. Outro resultado importante revelado pelos trabalhos é que a diferença de sensibilidade também ocorre de forma semelhante para ciproconazole, outro ingrediente ati-
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vo do grupo químico dos triazóis (Tabela 1), concluindo-se, assim, que não se trata de uma particularidade ou exigência específica do fungo apenas para um determina-
Tebuconazole EC50 EC90 0,7 4 1,0 8 0,9 4 2,5 8
Ciproconazole EC50 EC90 1,7 16 4,0 16 1,6 8 3,9 16
do ingrediente ativo desse grupo químico. Finalmente, pode-se destacar que o fungo da ferrugem-asiática está atingindo sua maturidade populacional e que essa ocorrência de biótipos, mais e menos sensíveis, deverá ser esperada daqui para frente, com variações dentro dos limites já conhecidos. No entanto, é de suma importância a continuidade do trabalho de monitoramento em todas as regiões produtoras de soja no país. De forma a evitar a predominância das populações menos sensíveis, em uma estratégia anti-resistência, o correto é que se evite usar os fungicidas triazóis isoladamente, como se fez nas últimas safras e, ainda pior, curativamente e em repetidas aplicações. O ideal é dar preferência à utilização das misturas de triazóis com estrobilurinas, juntamente com outras medidas, principalmente as culturais, de maneira a evitar a pressão de seleção e, com isso, prolongar a vida útil destes importantes grupos químicos, possibilitando a sustentabilidade da produção nacional de soja. C Pedro Singer, Paulo Calegaro, José Geraldes, Rafael Pereira e Cleonilda Santos, Equipe de Pesquisa & Desenvolvimento da Bayer CropScience
ORIGEM
O
riginária do Oriente (Japão) e tradicionalmente presente na maioria dos países da Ásia e na Austrália, a ferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, foi detectada pela primeira vez fora desses países no Havaí, em 1994 (Bonde & Peterson, 1996; Killgore, 1996). Considerada a doença mais prejudicial da soja, foi constatada pela primeira vez no continente africano em 1996, causando severos danos em uma área experimental em Uganda (Kawuki et al, 2003). Poste-
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riormente, atingiu plantações do Zimbábue e de Zâmbia, em 1998 (Levy, 2004), e na África do Sul, em 2001 (Caldwell & McLaren, 2004; Pretorius et al, 2001). Ainda em 2001, foi detectada no continente americano, no Paraguai e no Sul do Brasil, respectivamente, em março e maio de 2001 (Morel Paiva, 2001; Yorinori & Morel Paiva, 2002). Desde então, disseminou-se por todos os países produtores de soja do continente americano (Navarro et al, 2004; Rossi, 2003; Yorinori, 2004; Schneider et al, 2005).
Soja
Fortalecida e agressiva Am an cha alvo cr esce em importân ci man ancha cresce importânci ciaa com o ffator ator limitan te n od ução ddee como limitante naa pr prod odução soja. O Cerr ad o so fr ais com a Cerrad ado sofr free m mais in ten si dad oença, possivelm en te inten tensi sid adee ddaa ddoença, possivelmen ente en tais e ao devi do às con dições ambi condições ambien entais evid es que ffavor avor ecem o mon ocultivo, ffator ator onocultivo, atores avorecem o até pou co tempo não fun go. Com pouco fung Como esen tava risco rreal, eal, pou ca repr pouca epresen esentava inf orm ação se tem sobr ciên ci inform ormação sobree a efi eficiên ciênci ciaa ddee pr od utos n o con tr ole xperim en tos prod odutos no contr trole ole.. Em eexperim xperimen entos realizad os dazóis obtiver am ealizados os,, os benzimi benzimid obtiveram destaque as pesquisad or es sali en tam a estaque,, m mas pesquisador ores salien entam necessi dad tegr ar outr as fform orm as ddee ecessid adee ddee in integr tegrar outras ormas man ejo, com o a rrotação otação ddee cultur as e a anejo, como culturas utilização ddee cultivar es com rresistên esistên ci cultivares esistênci ciaa
A
cultura da soja tem se destacado entre as de maior importância para o Brasil, seja por suas características alimentícias ou por se tratar do principal produto de exportação. Na medida em que se expandiu para novas áreas, novos problemas fitossanitários também começaram a surgir. Além disso, o monocultivo foi um dos principais motivos que tornaram doenças de importância secundária em fator limitante à produção (Silva & Campos: Revista Cultivar Março, 2005). Esse foi o caso da doença conhecida por mancha alvo, que tem como agente etiológico o fungo Corynespora cassiicola. Na região dos Cerrados a doença tornou-se ainda mais importante em função da disseminação via sementes e por encontrar condições favoráveis ao seu estabelecimento e desenvolvimento, tais como monocultivo de soja em grandes áreas e condições ambientais favoráveis. O aumento na incidência e severidade da doença pode ser explicado também devido a fatores relacionados ao melhoramento genético no desenvolvimento de novas cultivares. Normalmente se busca resistência a nematóides, como o de cisto (Heterodera glycines NCS), amplamente disseminado nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na região do Triângulo Mineiro. Se por um lado o melhoramento genético obtém sucesso no desenvolvimento das cultivares resistentes ao NCS, por outro as cultivares resistentes ao NCS são suscetíveis a Corynespora cassiicola. Como o plantio de cultivares resistentes representa a melhor alternativa de controle no manejo integrado, é fundamental que os programas de melhoramento genético públicos e privados elejam a resistência à mancha alvo como uma de suas prioridades.
DISSEMINAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA A disseminação de Corynespora cassiicola ocorre através do vento, sementes infestadas ou infectadas e por implementos agrícolas infestados (geralmente contendo restos culturais). A disseminação por sementes é tida como
Sintoma típico da mancha alvo
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Fotos Luís Henrique Carregal P. Silva
nológico da cultura, da cultivar e também das condições ambientais. É no âmbito da questão que o agricultor deverá adotar medidas de controle de forma lógica e racional para minimizar as perdas causadas por Corynespora cassiicola.
MANEJO INTEGRADO
Detalhe de folhas com sintomas iniciais de Corynespora cassiicola
eficiente, permitindo que o fungo seja transportado a longas distâncias. A disseminação dentro e entre as lavouras ocorre principalmente pela ação do vento, o que dificulta seu manejo. Por se tratar de um patógeno necrotrófico, o fungo tem a capacidade de sobreviver de forma efetiva em restos culturais, plantas guaxas, nas próprias sementes e em hospedeiros alternativos. Segundo Silva et al (Autralian Journal of Botany, 43:3, p.609-618, 1995), o fungo Corynespora cassiicola pode atacar mais de 70 espécies vegetais, incluindo plantas cultivadas e invasoras. Estudos de patogenicidade realizados por Oliveira et al (Summa Phytopathologica, 33:3, p.297-299, 2007) demonstraram haver grande inespecificidade dos isolados.
CONDIÇÕES AMBIENTAIS FAVORÁVEIS Temperaturas entre 22ºC e 30oC e alta umidade relativa são condições ambientais que favorecem o patógeno. O prolongado molhamento foliar auxilia a infecção. Em função da ampla condição ambiental favorável o patógeno encontra-se disseminado pelas principais regiões produtoras do país, desde o Paraná até Tocantins e oeste baiano.
DANOS E PERDAS O principal dano oriundo da mancha alvo é a redução de área fotossintética, que ocorre em função das lesões foliares e, principalmente, pela desfolha precoce das folhas dos terços inferior e médio da planta. As lesões foliares, associadas à desfolha precoce, impedem a plena formação de grãos, tornando-os mais leves. Caso a doença ocorra ainda no início da
fase reprodutiva, pode haver abortamento de flores e vagens em processo de formação, o que afeta também a quantidade de grãos produzidos. Sob alta pressão da doença as vagens tendem a abrir antes mesmo da plena formação dos grãos, expondo-os (o que culmina em perda qualitativa). Trabalhos conduzidos pela Universidade de Rio Verde (Fesurv) evidenciam que as perdas mais freqüentes podem variar de 10% a 20%, em função da severidade, do estádio fe-
O manejo integrado envolve a utilização de diversas medidas de controle que devem ser implementadas conforme a necessidade. O manjo da Mancha alvo inicia-se antes mesmo do plantio com a escolha das cultivares a serem plantadas. Para o manejo de qualquer doença, não se recomenda utilizar a mesma variedade em mais de 30% da área. A uniformidade genética pode favorecer o patógeno, fazendo com que cause danos severos à cultura ou, então, quebra a resistência da cultivar. De qualquer forma, recomenda-se ao agricultor priorizar variedades que apresentem resistência (mesmo parcial). Dados da Embrapa (Sist. Produção: 11, p. 196-210, 2007) apontam que existem 325 cultivares catalogadas, mas a reação ao agente etiológico da mancha alvo só é conhecida para 97 delas, ou seja, menos de 30% das cultivares (Quadro 1). A rotação de culturas é outra medida fundamental para o manejo da doença, principalmente por se tratar de um patógeno necrotrófico (permanece nos restos culturais).
CONTROLE QUÍMICO O controle químico é mais uma medida de controle que pode ser utilizada no manejo integrado. Entretanto, na maioria das vezes, é
Quadro 1 – Resumo da reação de cultivares de soja ao agente etiológico da mancha alvo Reação R MR MS S AS Desconhecida
Número total de cultivares 12 39 12 22 12 228
Porcentagem de cultivares Cultivares com maior resistência (Sist. Produção 11, 2007) 3,7 BRSGO Jataí; BRSMS Carandá; BRSMS Piapara; Emgopa 305 12,0 (Caraíba); Emgopa 308 (Serra Dourada); IAC 20; IAC 22; 3,7 MS/BR 34 (Empaer 10); UFV 18 (Patos de Minas); UFV 20 6,7 (Florestal) 3,7 70,2
R – resistente: 0% a 10% de a.f.i. (área foliar infectada) MR – medianamente resistente: 11% a 25% a.f.i. MS – medianamente suscetível: 26% a 50% a.f.i. S – suscetível: 51% a 75% a.f.i. AS – altamente suscetível: mais de 75% a.f.i.
Quadro 2 – Severidade média na planta em R5.5 e R7.1 e produtividade em função do controle químico da mancha alvo em soja Tratamentos Testemunha Triazol + estrobilurina 1 Triazol + estrobilurina 2 Triazol + estrobilurina 3 Triazol 1 Traiazol 2 Benzimidazol 1 Benzimidazol 2 Triazol + estrobilurina + benzimidazol C.V. (%)
Severidade(%) R5.5 26,75 c 19,50 b 19,25 b 18,00 b 20,75 b 20,25 b 5,75 a 6,00 a 5,00 a 16,77
Severidade (%) R7.1 71,50 b 69,50 b 68,75 b 68,25 b 69,75 b 68,50 b 18,00 a 20,00 a 20,50 a 19,12
Produtividade (kg ha-1) 3.112,89 b 3.150,38 b 3.125,72 b 3.187,79 b 3.155,66 b 3.087,93 b 3.633,20 a 3.675,42 a 3.750,52 a 9,75
Médias seguidas pela mesma letra em cada coluna não diferem estatisticamente pelo Teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade.
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SINTOMATOLOGIA
O
s sintomas da doença são bastante característicos após o desenvolvimento pleno das lesões. Inicialmente, são representados por pequenas pontuações necróticas, inferiores a 1mm de diâmetro, circundadas por halo amarelado. Quando as condições ambientais são adequadas, as lesões progridem, mantendo o formato circular e com a presença de anéis concêntricos na parte necrosada, semelhante a um alvo, daí o nome da do-
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sob o delineamento experimental de blocos ao acaso em quatro repetições. As aplicações de fungicidas se deram nos estádios de R2 e R5.1 (20 dias de intervalo entre as aplicações), sendo a primeira preventiva (ausência de sintomas visuais a campo). Avaliou-se a severidade média da doença na planta durante os estádios fenológicos de R5.5 e R7.1. Ao término do experimento, foi avaliada a produtividade da cultura, com a umidade de grãos corrigida a 13%. Menor incidência da doença e maior produtividade foram verificadas nos tratamentos contendo fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis (Quadro 2). Outros trabalhos Fotos Luís Henrique Carregal P. Silva
encarado como a única alternativa de controle, o que faz com que nem sempre o agricultor obtenha o resultado esperado. Quando utilizado indiscriminadamente, pode não ser eficaz, além de causar danos ao ambiente e exercer maior pressão de seleção sobre o patógeno, o que pode resultar em resistência do fungo ao fungicida. Desta forma, o agricultor que adotar essa tecnologia para o manejo da mancha alvo deverá seguir à risca as recomendações de um engenheiro agrônomo ou profissional habilitado. Praticamente inexistem trabalhos em literatura que comprovem a eficácia do controle químico nesse patossistema. Informações divergentes entre os pesquisadores de diferentes regiões dificultam ainda mais o posicionamento dos fungicidas. As divergências de opiniões entre os pesquisadores podem ser explicadas devido às diferenças entre as populações do patógeno de cada região. Segundo Date et al (Japanese Journal of Phytopathology, 70: p. 7-9, 2004), trabalhos conduzidos na cultura do tomate comprovaram a existência de isolados de Corynespora cassiicola resistentes aos fungicidas benzimidazóis. Por outro lado, em revisão realizada por Hideo Ishii (Japan Agricultural Research Quarterly, 40:3, p. 205-211), também se verificou a existência de resistência do patógeno aos fungicidas estrobilurinas na cultura do pepino. No Brasil, ainda não há estudos publicados sobre a variabilidade do patógeno nem mesmo programas de “baseline”, possivelmente em função da pouca importância da doença até os últimos anos na cultura da soja. Assim, trabalhos foram desenvolvidos pela Fesurv com a finalidade de elucidar quais grupos químicos são mais efetivos no controle da doença na região do Cerrado. Experimentos foram conduzidos em Porto Nacional (TO), durante a safra 2007/08, em área de monocultivo de soja. Preconizouse a cultivar M-SOY 9350, indicada para região e que se mostra suscetível a Corynespora cassiicola. O plantio foi realizado em 2/12/07
ença. Ao redor da área necrosada verificase a presença de halo amarelo bastante intenso. Em cultivares suscetíveis, observamse também lesões necrosadas, de formato alongado na haste e nos pecíolos. Nas vagens infectadas são verificadas lesões necróticas sem formato definido. Dependendo da cultivar, ao ocorrer a abertura dessas vagens há exposição dos grãos, que podem germinar dentro da própria vagem.
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Detalhe da severidade da doença com abortamento de vagens
estão sendo conduzidos com a finalidade de estabelecer o momento da aplicação (baseado em monitoramento) e o efeito de doses e de número de aplicações. Como não houve incidência de outras doenças, creditou-se a perda na produtividaC de exclusivamente à mancha alvo. Luís Henrique Carregal P. Silva e Hercules Diniz Campos, Fesurv Juliana Campos Silva, Campos Carregal Pesquisa e Tecnologia Agrícola Ltda.
Milho Fotos Dirceu Gassen
Radiografia dos herbicidas A in ci dên ci tas ddaninhas aninhas n as lavour as ddee milh o ain da é alarm an te n o inci cidên dênci ciaa ddee plan plantas nas lavouras milho aind alarman ante no Br asil. Os pr ejuízos em algun em ch egar a 85% ddaa pr od ução. Brasil. prejuízos algunss casos pod podem chegar prod odução. Conh ecer o m od o ddee ação ddee cad erbi ci da, efetu ar a ad equ ad otação ddee Conhecer mod odo cadaa h herbi erbici cid efetuar adequ equad adaa rrotação pr od utos e pr oced er o m an ejo corr eto ddos os pon tos ddee vista agr onômi co e prod odutos proced oceder man anejo correto pontos agronômi onômico ança das essen ci ais par an tir pr od utivi dad ambi en tal são m edi odutivi utivid adee com segur segurança ental medi edid essenci ciais paraa gar garan antir prod ambien
O
milho é considerado uma das principais culturas agrícolas cultivadas no Brasil, com produção de 51,8 milhões de toneladas em 2007. Contudo, em virtude da interferência imposta pela presença das plantas daninhas, estima-se que em algumas áreas de produção tenham ocorrido reduções em torno de 10% a 85%, por falta de manejo adequado. Dentre as plantas daninhas, tem-se observado no Brasil a ocorrência tanto de espécies dicotiledôneas, como Amaranthus spp (caruru), Cardiospermum halicacabum (balãozinho), Bidens spp. (picão-preto), Euphorbia heterophylla (leiteira), Ipomoea spp (corda-de-viola), Raphanus sativus (nabiça), Richardia brasiliensis (poaia-branca) e Sida spp. (guanxuma), quanto de monocotiledôneas como Commelina benghalensis (trapoeraba), Brachiaria spp (papuã), Cenchrus echinatus (timbete), Digitaria spp (colchão), Echinochloa spp (capimarroz), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) e Panicum maximum (colonião). De modo geral, as espécies monocotiledôneas causam maiores prejuízos ao rendimento do milho que as dicotiledôneas. A composição das plantas daninhas vem sendo alterada em função de sua dinâmica populacio-
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nal, de práticas culturais ineficientes e da utilização inadequada de produtos herbicidas, o que tem provocado elevação dos custos de produção e maiores impactos ambientais. Nas últimas décadas, tem-se observado aumento no controle de plantas daninhas pelo método químico, porém, a eficiência dos herbicidas é variável e dependente das condições edafoclimáticas, da época de aplicação do produto e da espécie a ser controlada. Caso este controle não seja realizado adequadamente (como o uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação), poderá ocorrer entre outras conseqüências a manifestação de resistência de biótipos de algumas espécies, como já se observa no caso de Bidens pilosa e
Euphorbia heterophylla em relação ao grupo de herbicidas inibidores da ALS. No sistema de produção do milho, o controle químico é realizado com herbicidas em aproximadamente 65% da área plantada com esta cultura, entretanto, o uso destes produtos deve estar associado ao registro no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) e secretarias estaduais de agricultura. Os herbicidas podem ser classificados como sistêmicos ou de contato, sendo que os sistêmicos são aqueles absorvidos e que se movimentam pela planta até atingirem o ponto de atuação do produto, ocasionando os efeitos tóxicos, enquanto os de contato atuam somente na parte da planta exposta ao defensivo. Quanto à época de aplicação os herbicidas podem ser classificados em:
HERBICIDAS DE PRÉ-EMERGÊNCIA
O manejo inadequado, seja cultural ou químico, altera a comunidade infestante
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Na aplicação pré-emergente, os herbicidas são aplicados após o plantio do milho, antes da emergência da cultura e das plantas daninhas. Por apresentarem comportamento diferenciado no solo e nas plantas daninhas, estes produtos podem apresentar (em situações
Figura 1 - Classificação toxicológica de herbicidas pré-emergentes
Figura 2 - Classificação toxicológica de herbicidas pós-emergentes
Fonte: Agrofit. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 27/10/2008
Fonte: Agrofit. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 27/10/2008
de reduzida umidade e alta quantidade de palha) o surgimento de plantas daninhas ainda durante o período crítico para prevenção da interferência. Esses defensivos podem ter eficiência comprometida em razão, também, das variações de textura, das características químicas e dos níveis de cobertura do solo com resíduos vegetais. Inibidores da fotossíntese – Fotossistema II
nuron) controla uma vasta gama de espécies de folhas largas. Contudo, não é recomendado para solos arenosos, com menos de 1% de matéria orgânica, por lixiviar e poder causar fitotoxidade no milho. Quando aplicado, permite a germinação e a emergência das plantas daninhas, que no entanto começam a apresentar clorose e necrose nas margens de suas folhas, morrendo em seguida. Inibidores da divisão celular
Triazinas Os herbicidas do grupo químico das triazinas (ametrine, atrazine, cyanazine e simazine) são utilizados principalmente no controle de plantas daninhas dicotiledôneas tanto em pré como em pós-emergência inicial. O local de ação destes produtos é na membrana do cloroplasto, onde ocorre a fase luminosa da fotossíntese, mais especificamente no transporte de elétrons. Quando aplicados em plantas sensíveis a esses herbicidas, há a germinação das sementes, porém, quando as plântulas emergem do solo e recebem luz, são desencadeadas reações que afetam a fotossíntese, ocasionando a morte das plântulas. Com a finalidade de ampliação do espectro de controle, herbicidas do grupo das triazinas têm sido associados com herbicidas Inibidores da Divisão Celular. Uréias substituídas O herbicida pertencente a este grupo (li-
Cloroacetamidas Os herbicidas deste grupo (acetochlor, alachlor, dimethenamid e s-metolachlor) controlam grande número de espécies mono e dicotiledôneas e possuem mecanismos de ação associados à inibição da parte aérea das plantas. Esse mecanismo ainda não é totalmente conhecido, pois muitos efeitos diferentes têm sido relatados em vários processos bioquímicos, como ações inibidoras da síntese de lipídeos, ácidos graxos, ceras foliares, terpenos, flavonóides, proteínas e divisão celular e também interferência na regulação hormonal. Desse modo, pode-se dizer que as cloroacetamidas são inibidoras de crescimento do meristema apical e da raiz. Este grupo de herbicidas apresenta ainda amplo perfil de compatibilidade com defensivos à base de atrazine, cuja combinação dos dois ingredientes ativos oferece tratamento em pré-emergência bastante eficiente para o con-
trole de diversas plantas daninhas mono e dicotiledôneas. As plantas sensíveis são mortas antes da emergência, sem que haja inibição da germinação das sementes nem parada imediata do crescimento. Porém, o desenvolvimento da raiz é menos sensível que o crescimento da parte aérea. Inibidores da biossíntese de caroteno - PDS Isoxazoles Os herbicidas deste grupo químico (isoxaflutole) atuam em alguns sítios enzimáticos da síntese de pigmentos carotenóides. Este produto possui atividade e absorção foliar principalmente quando misturado com adjuvantes à base de óleo vegetal, apresentando efeito residual para controlar as plantas que germinarem no início do ciclo do milho. Seu espectro de controle é melhorado quando é associado a atrazine. O controle das plantas daninhas sensíveis poderá ser observado pela nãoemergência das plântulas ou pela emergência de plântulas com sintomas de branqueamento das folhas, com posterior morte. Os sintomas de branqueamento aparecem, inicialmente, nas bordas e nas pontas das folhas e são mais evidentes em folhas novas. Inibidores da formação dos microtúbulos Dinitroanilinas Os herbicidas deste grupo (trifluralin e
pendimetalin) apresentam mecanismo de ação da inibição da divisão celular, impedindo a formação dos microtúbulos durante a formação do fuso de divisão celular. Estes herbicidas causam a paralisação do crescimento das raízes e parte aérea da planta, podendo causar a morte do meristema apical. As dinitroanilinas apresentam eficientemente o controle de gramíneas provenientes de sementes com pouco ou nenhum controle de dicotiledôneas. A seletividade destes produtos à cultura do milho é baseada na localização espacial do herbicida no solo (seletividade por posicionamento).
HERBICIDAS DE PÓS-EMERGÊNCIA Os herbicidas de pós-emergência, como o próprio nome já sugere, são aplicados após a emergência das plantas daninhas e da cultura, o que evita a aplicação em condições de estresse destas plantas. Os herbicidas de pós-emergência, considerados dessecantes (de ação total, não-seletivos), são empregados no manejo das plantas daninhas no sistema de plantio direto antes do plantio do milho. A eficiência dos herbicidas aplicados em pós-emergência está condicionada, sobretudo, às condições climáticas no momento da aplicação e ao estádio de desenvolvimento das plantas daninhas. Inibidores da Acetolactato Sintase (ALS) Sulfoniluréias Os herbicidas pertencentes a esta família
impedem a síntese de aminoácidos essenciais. No Brasil, as perspectivas para o controle de plantas daninhas na cultura do milho foram ampliadas com o registro dos herbicidas deste grupo (nicosulfuron e foransulfuron + iodosulfurom-metílico). Estes produtos apresentam como característica altos níveis de atividade em baixas doses aplicadas. O modo de ação destes produtos consiste na inibição da ação da enzima acetolactato sintetase (ALS), conseqüentemente inibindo a produção de proteínas pela interferência da biossíntese de aminoácidos, como valina, leucina e isoleucina. A absorção do herbicida ocorre rapidamente pelas folhas, sendo distribuído por toda a planta, atingindo as raízes e as regiões meristemáticas. Os sintomas fitotóxicos observados envolvem a paralisação do crescimento das plantas daninhas, seguida por clorose com posterior necrose e morte das mesmas. Diversas espécies de plantas daninhas desenvolveram mecanismos de resistência a esta família de herbicidas, sendo Euphorbia heterophylla e Bidens subalternans as mais conhecidas no Brasil Imidazolinonas Os herbicidas da família das imidazolinonas (imazapic e imazapyr) surgiram como uma nova oportunidade de controle em pós-emergência de plantas daninhas no milho, além de possibilitar a utilização alternada de herbicidas com mecanismos de ação diferentes. En-
tretanto, deve ser enfatizado que herbicidas desta família não podem ser utilizados universalmente em todos os genótipos de milho, mas apenas naqueles que sejam tolerantes (Clearfield). Estes herbicidas inibem a enzima acetolactato sintase (ALS) da mesma forma que os produtos da família das sulfoniluréias. Quando aplicados, inibem a síntese dos aminoácidos leucina, lisina e isoleucina, paralisando o crescimento e desenvolvendo clorose internerval e ou arroxeamento foliar. Relatos indicam que linhagens tolerantes metabolizam rapidamente o herbicida, mesmo quando doses são aplicadas em quatro vezes a sua dose normal. Inibidores da Protox (PPO) – Protoporfirinogen oxidase
Triazolinone Na presença de herbicidas (carfentrazone-ethyl, amicarbazone) desta família, há a inibição da enzima protoporfirinogênio oxidase (Protox) acumulando protoporfirinogênio-IX no citoplasma, ocasionando a morte das plantas dicotiledôneas através da peroxidação das membranas. Devido a esta ação, os sintomas de fitotoxicidade podem ser observados por meio de manchas verde-escuras nas folhas que ocasionam a morte da planta em uma semana. Nesta família de herbicidas destaca-se o uso do carfentrazone-ethyl, uma opção de herbicida em pós-emergência para o controle da trapoeraba (Commelina sp) e da corda-deviola (Ipomoea sp). Inibidores da biossíntese de caroteno - PDS Tricetonas Os herbicidas deste grupo (mesotrione e tembotrione) agem inibindo a síntese do caroteno. São classificados para o controle de folhas largas anuais e gramíneas na cultura do milho. Esta família de herbicidas atua na inibição da biossíntese de carotenóides através da interferência na atividade da enzima HPPD (4-hidroxifenilpiruvato-dioxigenase) nos cloroplastos. O modo de ação das tricetonas consiste na inibição da biossíntese de carotenóides, ocasionando o branqueamento das plantas sensíveis com posterior necrose e morte dos tecidos vegetais em aproximadamente uma a duas semanas. Auxinas sintéticas
O uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação poderá ocasionar, entre outras conseqüências, a manifestação de biótipos resistentes em algumas espécies daninhas
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2,4 – D Herbicida mimetizador de auxina, o 2,4D (ácido ariloxialcanóico) é caracterizado por inibir do crescimento com intensificação da pigmentação verde foliar dentro de 24 horas. Estes fenômenos têm como conseqüência nas plantas dicotiledôneas, multiplicação e engros-
Fotos Dirceu Gassen
samento de raízes, dessecação e necrose dos tecidos, causando a morte das plantas. Inibidores do fotossistema I Bipiridílio O herbicida deste grupo (paraquat) é capaz de captar elétrons provenientes do fotossistema I, não havendo produção de NADPH+. O sítio de ação desses compostos (captura dos elétrons) está próximo da ferredoxina no fotossistema I. Poucas horas após a aplicação desse herbicida, na presença de luz, verifica-se severa injúria nas folhas das plantas tratadas (necrose do limbo foliar). Este produto deve ser aplicado em jato dirigido pois é um herbicida de ação total não-seletivo. Inibidores da fotossíntese – Fotossistema II Benzothiadiazinona O herbicida deste grupo (bentazon), depois de absorvido, interfere na fotossíntese das plantas. Quando a folha recebe o herbicida, ocorre a paralisação na elaboração de carboidratos ocasionando a morte da planta.
RECOMENDAÇÕES Estes herbicidas técnicos apresentam aproximadamente 127 produtos comerciais regis-
trados para uso dos produtores de milho no manejo de plantas daninhas. Tratam-se de aliados para o manejo de plantas daninhas, entretanto, se utilizados indiscriminadamente, poderão ocasionar deficiências de controle, contaminação ambiental e até surgimento de plantas daninhas resistentes e/ou tolerantes. Portanto, cuidados adicionais devem ser tomados com o descarte de embalagens, armazenamento, manuseio e aplicação dos herbicidas, bem como uma avaliação correta do problema e da necessidade da aplicação. Recomenda-se ao agricultor não adquirir herbicida sem receituário agronômico e observar a classificação ambiental e toxicológica
dos produtos, pois, além de tóxicos, podem provocar contaminação ambiental. Desta maneira, para prevenir incidentes com estes produtos, deve-se utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) bem como fazer a tríplice lavagem das embalagens após o uso e inutilizá-las por meio de furos. Toda embalagem vazia e inutilizada de qualquer defensivo agrícola deverá ser retornada aos pontos de C compra. Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo Jordânia de Carvalho M. Gama, UFMG
Algodão Fotos Anderson Tadeu Pereira
Focado no lucro
Com a pr oximi dad o plan ti o ddee alg odão o pr od utor pr ecisa estar aten to a aspectos pro ximid adee ddo planti tio algodão prod odutor precisa atento sum os o rrecom ecom en dad o é ddee que importan tes critério ecomen end ado importantes tes.. N Naa compr compraa ddee in insum sumos os,, por eexxemplo, o critéri se pri orize os in strum en tos com m ai or impacto n od utivi dad al priorize instrum strumen entos mai aior naa pr prod odutivi utivid adee, com especi especial atenção à qu ali dad en te e ao tr atam en to pr even tivo con tr agas e ddoenças oenças quali alid adee ddaa sem semen ente tratam atamen ento preven eventivo contr traa pr pragas
O
cotonicultor brasileiro tem enfrentado muitas dificuldades para fechar o planejamento da próxima safra 2008/09. O produtor vê seu custo crescer e ao mesmo tempo testemunha queda brusca na receita devido a problemas financeiros no exterior. Porém, consciente dos méritos da cultura, busca viabilizar os custos de produção. Para tornar viáveis esses custos, o produtor tem que ser eficiente em todas as etapas da cultura do algodão, que podem ser divididas em três fases bem distintas: a primeira consiste na compra de insumos e preparo das áreas para receber o próximo plantio, a segunda inicia-se com o plantio e todos os tratos culturais que a lavoura necessita e a terceira e última com o início da colheita e comercialização da produção. Considerando a segunda etapa como
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a fase que tem o maior número de fatores que podem afetar o desenvolvimento de planta e conseqüentemente reduzir a produtividade final, vamos dar ênfase ao plantio propriamente dito. Bem estabelecido e com bom desenvolvimento inicial, pode garantir o sucesso da lavoura, proporcionando facilidade em todos os tratos culturais.
POSICIONAMENTO DE CULTIVARES Cada fazenda ou unidade de manejo tem suas particularidades no que se refere ao tamanho da área a ser plantada, ao nível tecnológico empregado e à localização. Conhecendo esta base, temos que prestar atenção à cultura anterior, preparo do solo empregado, melhor época de plantio, intensidade de pragas e doenças, concentração pluviométrica para definir o ciclo da
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cultivar e desfolha. Após averiguação das informações da fazenda (unidade de manejo), temos que conhecer as cultivares recomendadas para a região (e para cada época de plantio dentro dessa mesma região) e dividir as cultivares em ciclos diferentes, adotar manejos que consistem em estande, adubação, regulador de crescimento e controle de doenças e pragas diferentes para cada cultivar também. De modo geral, podemos dizer que utilizamos o mesmo manejo para todas as cultivares nas diferentes épocas de plantio, sendo correto considerar as de ciclo tardio para os primeiros plantios, de ciclo médio para o grande plantio (ou melhor época de plantio da região) e as precoces para safrinha.
ÉPOCA DE SEMEADURA
Figura 1
A melhor época de semeadura é determinada através de ensaios realizados pelas empresas detentoras das cultivares, a fim de posicioná-las nas melhores condições de clima, proporcionando máxima produtividade. Para não comprometer a produtividade média final do algodão, recomendase fracionar a semeadura.
ORIGEM E PRODUÇÃO DA SEMENTE O impacto da semente certificada sobre o custo de produção da lavoura de algodão está na casa de 4% a 7%. A escolha da semente é uma das mais importantes decisões na implantação da cultura, pois influencia diretamente em seu rendimento (Rangel, 2003) Uma boa semente de algodão tem como características germinação acima de 85%, alto vigor e pureza varietal de 99%. Porém, a cotonicultura brasileira está conhecendo uma nova fase com as aprovações de tecnologias transgênicas. Temos três tecnologias aprovadas no Brasil: Bollgard (Bt1), Liberty Link (LL) e Roundup Ready (RR). Para estas cultivares o uso de semente certificada passa a ser primordial, porque, segundo Durant (1994), em lotes de sementes com tecnologia Bt que contenham mais de 10% de plantas convencionais, pode ocorrer baixo controle de insetos-alvo e redução de produtividade acima de 20%. Ensaios realizados pela MDM em parceria com a Fundação Chapadão 06/07 mostraram que a diminuição de produtividade é significativa conforme o aumento de plantas convencionais dentro de
uma população de plantas Bollgard (Figura 1). Dessa forma, agora além das características de pureza varietal, alto vigor e germinação, as sementeiras têm que se preocupar em entregar aos produtores sementes com a pureza genética com o mínimo de 98%. A pureza genética é um dos critérios mais importantes no sistema de produção de sementes com a tecnologia Bt e outras tecnologias que virão no futuro. (Canci, 2006)
TRATAMENTO DE SEMENTE As sementes, como principal insumo da produção agrícola, devem merecer maior atenção, uma vez que determinados mi-
Figura 2 - O tratamento de sementes deve ser prioridade na implantação da cultura, devido ao alto impacto no estande inicial e conseqüentemente na produtividade
croorganismos associados a elas podem constituir-se em fator altamente negativo no estabelecimento inicial de uma lavoura (Goulart,2002). Contudo, é importante observar alguns aspetos ao adquirir insumos. Para aqueles com participação alta no custo e relativamente baixa na produção, deve-se dar atenção ao preço. Para insumos que tenham participação baixa no custo e alto impacto sobre a produção, recomenda-se dar ênfase à qualidade. Assim, semente e tratamento de sementes, devido ao seu alto impacto na produtividade, devem ser priorizados, com a compra do que há de melhor disponível no mercado. O cultivo sucessivo de algodão em grandes áreas, ataque de patógenos/microorganismos presentes no solo e na semente, muitos períodos chuvosos com temperaturas amenas e alta umidade favorecem os patógenos causadores de damping-off (Figura 2). Para garantir populações adequadas de plantas, evitar a ressemeadura, plantio fora da época ideal e ter um seguro quando as condições climáticas forem desfavoráveis, o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas é recomendado.
CUIDADOS COM A SEMENTE
Testemunha Produtor com TS
As sementes são seres vivos que necessitam de sombra, umidade relativa controlada e ventilação até no momento de ir para o campo. Alguns cuidados devem ser observados quando as sementes chegam a sua propriedade, para manter e preservar as qualidades de germinação e vigor. Segundo Ferreira & Borghetti (2004) temperaturas entre 23ºC a 25ºC e umidade relativa do ar abaixo de 70% são as me-
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Charles Echer
lhores condições para preservar a qualidade da semente. Recomenda-se armazenálas em locais bem ventilados, nunca embaixo de lona preta; não colocá-las diretamente sobre o chão, sempre usar um estrado; nunca armazenar sementes com outros insumos (principalmente adubos e agroquímicos); separar os lotes e identificar cada cultivar e peneira.
FATORES QUE INTERFEREM NO ESTANDE Considerando que o solo esteja em condições ideais de plantio, a qualidade das sementes (vigor baixo, danos mecânicos e germinação baixa) é um dos principais problemas de estande abaixo e fora da recomendação. Para diminuir este problema recomenda-se fazer um teste de germinação a campo, assim que a semente chegar à propriedade. O preparo do solo inadequado, com torrões e compactado, também pode prejudicar o estande inicial. Todavia, a regulagem de máquinas semeadoras é fundamental para a eficiência de qualquer plantio. Devese ajustar o porte da semeadora e do trator para que formem um conjunto perfeito. Para garantir um bom plantio, o conjunto tem que passar por testes de regulagem de semente e de adubo no barracão, antes de ir para o campo. Outro ponto importante na regulagem deste conjunto (semeadora/trator) é a posição de distribuição do adubo e das sementes. A posição ideal do adubo é 5cm ao lado da semente e cerca de 8cm a 10cm de profundidade, evitando assim problemas de germinação e oferecendo os nutrientes da forma correta para a plântula recém-germinada. A semente também tem uma profundidade ideal, devido a sua baixa reserva e
ser de germinação epígea. Isto significa que o hipocótilo traz para fora da terra os cotilédones. As sementes devem ser colocadas a 3cm de profundidade no máximo, para garantir uma boa germinação. Em sistemas de plantio semidireto ou
Figura 3
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direto é necessária cobertura vegetal, que traz vantagens como menor incidência de plantas daninhas, retém umidade, previne erosões e oferece gradualmente nutrientes em sua decomposição. Mas, ao mesmo tempo, se não manejada adequadamente, pode interferir negativamente no estande final. Isto pode ser provocado pelo uso de herbicida fora das recomendações do fabricante ou dessecação tardia da cobertura verde. O ideal é dessecar 30 dias antes da semeadura e juntamente com essa operação fazer o controle de pragas e lagartas do solo. Como um dos últimos fatores que interferem no estande inicial do algodão, temse os herbicidas e a profundidade do sulco de plantio. Quando temos estes dois fatores aliados a dias com alta pluviosidade, ocorrerá uma diminuição no crescimento inicial das plântulas e até mesmo redução do estande. Isto acontece porque os herbicidas de pré-emergência são lixiviados da superfície do solo para junto da semente, e associados ao sulco de plantio fundo ficam concentrados na linha prejudicando a germinação e o estabelecimento da cultura.
Anderson Tadeu Pereira
IMPORTÂNCIA DA UNIFORMIDADE Normalmente, as sementes para germinarem necessitam de um meio adequado (solo, calor e umidade). Em condições favoráveis a semente germina e a primeira estrutura a desenvolver é a radícula, que se transforma numa raiz, segurando a nova planta ao solo. A partir desta fase a planta torna-se independente e necessita de reservas do solo. Em condições normais a germinação deve ocorrer entre cinco dias a oito dias e a velocidade de emergência depende fundamentalmente da temperatura (Wanjura, 1972). Nesta fase o objetivo é estabelecer a cultura o mais rápido possível com o estande adequado, significando o sucesso para os próximos manejos. Fase que compreende desde a semeadura até o aparecimento do primeiro botão floral (quinto ao sétimo nó) acontece até 25 dias a 35 dias após a germinação. O crescimento da parte aérea é muito lento nesta fase, porém, o crescimento radicular é muito vigoroso (Baker e Landivar, 1991). Durante esta fase as raízes não podem sofrer nenhum impedimento físico (compactação de camadas no solo) e químico (AL no solo alto e baixo CA no subsolo). Livres destes impedimentos, as raízes crescem de 1,2cm a 5,0cm e só param quando
Para a eficiência no plantio, semeadora e trator devem estar bem regulados para haver perfeita distribuição do adubo e das sementes
a planta atingir a sua altura máxima (16 a 18 nós) o que coincide com o início da formação e enchimento dos frutos (maçãs). (Figura 3) Com uma boa uniformidade das plantas o manejo se torna fácil, favorece o controle de plantas daninhas, melhora a eficiência do uso de água e a utilização de nutrientes. Além disso, contribui para o manejo de insetos e doenças, a eficiência dos
reguladores de crescimento, desfolhantes e maturadores, proporcionando rapidez na colheita. Plantio bem feito, cultura estabelecida com bom estande e uniforme, agora é hora de preparar as plantas para a fase de proC dução! Boa safra! Anderson Tadeu Pereira, MDM
Dia de campo Fotos Cultivar
Trigo em debate Di en tes rreún eún od utor es e Diaa ddee campo ddaa OR Sem Semen entes eúnee pr prod odutor utores dad o especi alistas par especialistas paraa discutir a sani sanid adee ddaa cultur culturaa ddo tri go, em PPasso asso Fun do, n o Ri o Gr an de ddo o Sul trig Fund no Rio Gran and
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em mesmo a chuva intensa afastou os produtores do dia de campo realizado pela OR Sementes, em outubro, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. O evento, dirigido aos produtores e sementeiros da região, contou com as parcerias da Biotrigo Genética e da Sementes e Cabanha Butiá. A abertura foi feita por Ottoni Rosa, gerente administrativo e pesquisador da OR Sementes, que apresentou os lançamentos das cultivares Vaqueano e Quartzo. A cultivar Vaqueano se destaca pelo alto potencial produtivo e pela boa resistência à ferrugem da folha e ao oídio. Já a Quartzo tem demonstrado bom rendimento, ampla adaptação, bom nível de resistência às manchas foliares e boa tolerância às chuvas na pré-colheita. Ottoni enfatizou a importância da cultivar Pampeano, por apresentar resistência à giberela e à ferrugem “Isso permite uma lavoura de baixo custo e fácil gerenciamento”, destacou. O evento contou com diversos palestrantes, especialistas em sanidade na cultura do trigo. Amarilis Labes Barcellos, gerente administrativa e fitopatologista da OR Sementes, falou sobre a ferrugem da folha, doença que contribui para limitar a produtividade. “O melhoramento genético através de cultivares resistentes é o método mais eficaz e seguro de controle de doenças do trigo”, defendeu. Mas manter a lavoura sadia demanda ainda outras práticas como rotação de culturas, tratamento químico de sementes, uso de semen-
tes sadias e o emprego de fungicidas, lembrou. Devido aos problemas registrados nesta safra com o mosaico do trigo, foi montada uma estação sobre ocorrências de viroses na cultura. Jurema Schons, da Universidade de Passo Fundo (UPF), palestrou sobre o assunto, deu dicas e respondeu às perguntas dos produtores de como minimizar os prejuízos causados por esse grave problema. Igor Valério, pesquisador e melhorista de trigo da OR Sementes, apresentou as principais variedades da empresa e seu desempenho frente ao vírus do mosaico do trigo (mosqueado e estriado). O dia de campo contou ainda com a participação de empresas de defensivos, que aproveitaram para expor ensaios demonstrativos e seus produtos dirigidos à cultura do trigo. Na estação da Syngenta cada participante recebeu dicas impressas como o boletim técnico do Moddus, regulador de crescimento para trigo e cevada, além do portfólio de outros produtos com foco em trigo. O engenheiro agrônomo Francisco Ely Silva, da Syngenta, juntamente com os pesquisadores Luís Henrique Penckowski e Mario Jorge Podolan, esteve à disposição dos participantes. Foram distribuídos exemplares do livro Utilizando regulador de crescimento na cultura do trigo, de Luís Henrique Penckowski. Também participaram do evento Ely de Azambuja Germano Neto, diretor geral das Sementes Mutuca, e o engenheiro agrônomo C Ivo Frare.
Francisco Ely Silva, Luís Henrique Penckowski e Mário Jorge Podolan
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Ottoni Rosa, gerente administrativo da OR Sementes, apresentou cultivares da empresa
Amarilis Labes Barcellos abordou o problema da ferrugem da folha
Igor Valério mostrou desempenho de cultivares frente ao vírus mosqueado e estriado
Beto Bertagnolli, da Cabanha Butiá, Ely Azambuja Neto e Ivo Frare, da Sementes Mutuca
Dia de campo Fotos Cultivar
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Roos Sementes realizou em outubro o seu tradicional dia de campo de trigo, com a presença de mais de 350 produtores da região central do Rio Grande do Sul. O evento teve patrocínio exclusivo da Bayer CropScience, apoio da Universidade de Passo Fundo (UPF), Augustin (concessionária Massey Ferguson), OR Sementes, Biotrigo, Coodetec, Fundacep, Fundação PróSementes e Embrapa Trigo. A visitação às parcelas foi precedida pela apresentação do evento pelo engenheiro agrônomo da Roos Sementes, Arlei Roberto Kruger, que atua como gerente-técnico da empresa. A virologista Jurema Schons, da Universidade de Passo Fundo (UPF), palestrou aos produtores sobre o mosaico mosqueado, uma das principais doenças na cultura do trigo na atual safra. O assunto também foi abordado
pelo pesquisador da Biotrigo, André Rosa. Entre os obtentores, a Embrapa Trigo, representada por Paulo Ferreira e Pedro Scherer, destacou a BRS Guamirim, cultivar com elevado número de espigas por metro quadrado, porte baixo, superprecoce e trigo classe pão. Da OR Sementes mereceram destaque a cultivar Marfim (precoce, para produção de farinha branqueadora, qualidade de panificação e melhor perfil sanitário) e a cultivar Quartzo, que entre as características principais apresenta alta produtividade. A Fundacep apresentou as cultivares Fundacep Nova Era, 47, 50, 51 e 52, com destaque para Fundacep Cristalino, com alta força de glúten e de absorção de água pela sua farinha. A Bayer CropScience levou ao evento trabalhos realizados não só na cultura do trigo,
mas também em soja e milho. No trigo o destaque foi para o portfólio para manejo das doenças da cultura. Fernando Rupolo enfocou a ação do Baytan via tratamento de sementes, com aplicações posteriores de Nativo na parte aérea. Ainda na estação do Trigo, a Bayer apresentou o Hussar, herbicida pósemergente para controle de plantas daninhas de folhas largas e estreitas da cultura do trigo. Em milho, a empresa trouxe parcelas demonstrativas com tratamento de sementes com o CropStar e com o herbicida Soberan, produto pós-emergente seletivo para a cultura do milho, para controle de plantas daninhas tanto de folhas largas como estreitas. Na soja, a Bayer mostrou seu conceito de manejo das doenças da cultura, com os produtos Atento, em tratamento de sementes, e Sphere para aplicações foliares. C
Jurema Schons, virologista da Universidade de Passo Fundo (UPF), abordou mosaico mosqueado no trigo
Fernando Rupolo enfocou a ação dos produtos Baytan e Nativo
Arlei Roberto Kruger, gerente técnico da Roos Sementes
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Informe
Fotos Nufarm
Equipe reforçada
Grupo ddee A ssistên ci ca ddaa N uf arm saltou ddee 12 par Assistên ssistênci ciaa Técni Técnica Nuf ufarm paraa 20 pr ofissi on ais em 2008. Expan são tem o objetivo ddee pro fission onais Expansão estr eitar ain da m ais os laços ddaa empr esa com cli en tes estreitar aind mais empresa clien entes
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m outubro a Nufarm apresentou sua nova equipe de Assistência Técnica (AT), que acompanhará todo o período de plantio e condução da safra de grãos na região do cerrado brasileiro, composta pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Piauí. No total são 20 profissionais contratados por meio da Unicampo, com capacitação técnica mercadológica e muita motivação para dar assistência ao agricultor e criar demanda aos produtos da empresa. A mesma equipe será responsável por promover a realização de campos demonstrativos e dias de campo para posicionamento e divulgação do portfólio da Nufarm junto ao mercado de distribuidores e consumidores finais. Este é quarto ano consecutivo em que a empresa investe na formação da equipe de Assistência Técnica, que cresceu em 2008 de 12 para 20 integrantes devidamente treinados em segurança,
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direção defensiva, descarte de embalagens vazias e com forte conhecimento técnico de toda a linha de produtos da empresa. “Contaremos com a melhor equipe de Assistência Técnica do mercado na safra 2008/2009”, projeta o ge-
rente de Comunicação e Inteligência de Mercado Ademar Lima, responsável pela formação do grupo. O diretor de Marketing da Nufarm, Carlos Resende, também se mostra satisfeito com o processo de seleção e treinamento dos profissionais. “Estamos certos de que juntos poderemos levar um serviço diferenciado a nossos clientes e construir mais conhecimento e prosperidade para todos”, aposta. C
Divulgar o portfólio da empresa junto ao mercado de distribuidores e consumidores finais é uma das metas do novo time
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Coluna Andav
Mais segurança Even to discute com o torn ar m ais segur os a distribuição e o m an ejo ddee Evento como tornar mais seguros man anejo utos fitossanitári os em etapas com o m anipulação, pr od prod odutos fitossanitários como manipulação, arm azen am en to e tr an sporte ddos os ddefen efen sivos armazen azenam amen ento tran ansporte efensivos
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as duas últimas décadas a segurança passou a terdestaque dentre os assuntos que permeiam o negócio da revenda agropecuária. A proteção patrimonial é apenas uma das ações de segurança que os distribuidores de insumos devem implantar sistematicamente. Pensando nos desafios do setor na área de segurança, a Andav promoveu, em setembro, o Primeiro Seminário sobre Segurança no Processo de Distribuição de Insumos Agropecuários. Os temas tratados foram segurança no transporte de produtos fitossanitários, segurança no armazenamento, importância do sistema de rastreadores na segurança e logística, ação da Polícia Militar, fiscalização do comércio e do uso, gerenciamento de riscos, serviço logístico e combate aos produtos químicos ilegais.
transporte dos defensivos. A responsabilidade dos distribuidores foi oficializada em 1989, com a aprovação da Lei 7.082. Seu primeiro artigo define que a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de defensivos, seus componentes e afins, passam a ser regido por Lei e com penalizações (inclusive prisões pelo seu descumprimento). Por conseqüência, a segurança passou a ser exigida do produtor, comerciante, prestador de serviços, profissionais agrícolas e veterinários, empregadores e entidades públicas ou privadas de ensino, as-
todo o Brasil, evidenciando o trabalho da Polícia Federal e do Ibama na repressão dos ilícitos. Desde 2001, quando se iniciou a campanha, mais de 330 toneladas de produtos ilegais foram apreendidos, entre contrabando e falsificações, e 410 pessoas indiciadas, com 17 condenações até o momento. Este trabalho conjunto do Sindag e da Andav, com atuação da Polícia Federal e do Ibama e a interligação dos assuntos tratados no seminário, torna evidente a abrangência da questão segurança. Apenas o trabalho conjunto de fornecedores, revendas, agricultores, fiscalização estadual, polícia e sociedade, será capaz de conter as atividades criminosas, tão perigosas para toda a cadeia agrícola. De nossa parte fica, mais uma vez, a mensagem da impor-
Segurança é um assunto de ordem não só para o sucesso da distribuição agropecuária como de toda a cadeia produtiva Diversos pontos importantes foram destacados no evento, mas em todos os aspectos ficou evidente que o segredo é agir preventivamente. Há atualmente no mercado diversos dispositivos eletrônicos de segurança, como câmeras, alarmes, rastreadores, bloqueadores, sistemas de gerenciamento das diversas atividades, entre outros, capazes de promover maior segurança às operações que envolvem todos os segmentos. Mas zelar apenas pelo patrimônio não preenche as demais lacunas que permeiam também a segurança do agricultor e, conseqüentemente, da comunidade e do meio ambiente. Tal constatação aponta a real necessidade dos produtos fitossanitários estarem nas mãos de distribuidores profissionais, que possuem os conhecimentos técnicos e são gabaritados para realização da manipulação, armazenamento e
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sistência técnica e de pesquisa. O artigo 84 desta mesma Lei diz que as responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, em função do descumprimento do disposto na legislação pertinente a defensivos, seus componentes e afins, recaem sobre as especialidades citadas acima. Portanto, segurança é um assunto de ordem não só para o sucesso da distribuição agropecuária como de toda a cadeia produtiva. Neste aspecto, a Andav vem implementando ações junto aos seus associados e com outras entidades de classe e já colhe resultados positivos desta união do setor. Dentro deste contexto, destacamos mais uma vez a ação da campanha de combate aos produtos químicos ilegais promovidos pelo Sindag e pela Andav, com números cada vez mais expressivos em
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tância do canal de distribuição neste processo. Hoje, uma revenda profissional trabalha pela preservação ambiental, pela qualidade dos produtos que chegam ao campo e do alimento que vai à mesa, possui visão global sobre a política agrícola brasileira e é atenta a assuntos relacionados à saúde e à segurança. Em suma, participa ativamente do crescimento de toda a cadeia do agronegócio brasileiro de forma consciente e responsável. Mais informações sobre a Andav pelo telefone (19) 3203-9884, e-mail: C andav@andav.com.br Henrique Mazotini Presidente Executivo da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários Andav
Coluna Agronegócios
Intercâmbio ou patentes?
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dualidade entre proteger as espécies vegetais de importância econômica (incluindo seu genoma), ou liberar totalmente o intercâmbio de material genético, é uma dúvida crucial que assalta os estudiosos do tema, os melhoristas e os formuladores de políticas públicas. A liberdade de troca de material genético foi fundamental no passado, modelando a agricultura do presente. Isto não impediu que, em alguns momentos, houvesse severa proibição de exportar material reprodutivo de produtos que constituíam a base de alguma economia local. O café é sempre lembrado como exemplo deste particular. Para ilustrar esta questão, vamos examinar a mesa do café da manhã. Por acaso existe bebida como suco de laranja ou café; frutas como banana ou mamão; pão
Que seria do mundo se estes alimentos tivessem sido confinados em seus centros de origem? A fome seria ainda maior que é hoje? A população mundial seria menor que a atual? Teríamos desenvolvido outras espécies para servir como alimentos? Ocorre que o paradigma de desenvolvimento da agricultura mundial foi o intercâmbio. Atualmente, os recursos genéticos têm valor atual ou potencial e nenhum país do mundo é auto-suficiente em tais recursos. Estabelecido o intercâmbio, vivemos agora a fase da evolução genética, seja por aumento da produtividade, melhoria da qualidade ou tolerância a estresses bióticos ou abióticos. É lícito esperar que esta dependência será relativa no futuro, pois embora a diversidade genética de determinada es-
nha intercambiado mais de meio milhão de amostras de espécies vegetais. Para tanto, existem aproximadamente 150 bancos de germoplasma, contendo, em média, quase dois mil acessos em cada banco. Informações do Cenargen dão conta que, no ano passado, a Embrapa tornou-se o sétimo operador global de bancos de germoplasma, em termos de volume de amostras intercambiadas, que envolveram 200 gêneros e 660 espécies vegetais.
INTERCÂMBIO Para operar este sistema complexo, a Embrapa possui acordos de intercâmbios com diferentes países e instituições de pesquisa. No caso dos EUA, recebemos dos americanos as coleções completas de arroz (17 mil amostras) e soja (23 mil). Apenas neste ano, a Embrapa deve rece-
Mesmo em plena época de patentes e similares, o intercâmbio ainda é fundamental para conferir suporte à pesquisa genética e geléia de morango? Afinal, qual a origem desses alimentos? Surpresa, a laranja, a banana e o trigo têm origem na Ásia, o mamão no norte do Continente Americano; o café vem da África, a cana-deaçúcar da Índia e o morango é europeu. Para não macular o orgulho nacional, registre-se que a seringueira, o guaraná, o cacau, o caju, o abacaxi, a mandioca, a castanha-do-Brasil, além de espécies próximas do amendoim, algodão e pimentas são nativos do Brasil.
RIQUEZA GENÉTICA Alguns destes produtos já constam da pauta de exportação brasileira, que granjeou as divisas que sustentaram o crescimento da nossa economia nos últimos dez anos. Mas, para aprofundar a questão, é importante lembrar que apenas quatro espécies – trigo, milho, arroz e batata – representam quase dois terços dos alimentos consumidos no mundo. Outras 11 espécies vegetais são responsáveis por mais 30% do consumo alimentar mundial (banana, batata-doce, beterraba açucareira, cana-de-açúcar, centeio, cevada, feijão, coco, mandioca, soja e tomate).
pécie seja importantíssima para o melhoramento genético, as ferramentas da biotecnologia permitirão romper os grilhões da incompatibilidade da reprodução sexuada.
PROTEÇÃO Entretanto, a dependência da diversidade genética continuará, embora interespecífica, o que fecha o círculo sobre a discussão do acesso aos recursos genéticos. Ou seja, a prospecção de material genético de importância potencial para o agronegócio, a sua catalogação, descrição e armazenamento em bancos de germoplasma continuarão sendo vitais para os avanços tecnológicos do agronegócio. Só que, agora, a garantia de retorno do investimento privado é a proteção do conhecimento. Porém, mesmo em plena época de patentes e similares, o intercâmbio ainda é fundamental para conferir suporte à pesquisa genética. A Embrapa, empresa líder em pesquisa agropecuária, historicamente coordena o intercâmbio de material genético vegetal, através do Cenargen. Estimase que, desde sua criação, a Embrapa te-
ber de sua congênere americana, a ARS, aproximadamente dez mil amostras de material genético de interesse para a agricultura brasileira. Com este aporte, o Brasil passará a dispor do quarto maior acervo de material genético do mundo, após os EUA (500 mil), China (390 mil) e Alemanha (160 mil). Porém, isto é apenas o começo de uma nova história. O Brasil está condenado a ser o país líder do agronegócio mundial, incluindo alimentos, fibras, ornamentais e agroenergia. Para tanto, a base tecnológica deverá ser construída através do melhoramento genético. Com o acirramento das mudanças climáticas em curso, com o esgotamento das fronteiras agrícolas e o encarecimento dos insumos agrícolas, o papel do melhoramento e do intercâmbio de material genético ingressa em uma avenida de novos desafios, não menos importante que a trilha que nos trouxe até o presente. C Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Safra indefinida A nova safra brasileira de grãos permanece indefinida. Segundo a Conab haverá crescimento da área entre 1% a 3%. Já os produtores apostam em recuo entre 5% e 10%, visto que não conseguiram recursos para a compra de todos os insumos e boa parte do setor está deixando áreas do Centro-Oeste em descanso. O alto grau de endividamento dos agricultores tem limitado a obtenção de crédito oficial, o que também enfraqueceu a demanda de insumos, principalmente fertilizantes e sementes que têm pagamento à vista. Os números do governo começaram muito otimistas. A produção apontada pela Conab em 144,5 milhões de toneladas (frente as 143,8 milhões de toneladas colhidas nesta última safra) deverá recuar 7% (segundo dados da CNA), ou seja, dez milhões de toneladas. A soja e o algodão são os produtos de maior queda, seguidos do milho safrinha, que aponta forte retração. Só no CentroOeste há indicativos de redução entre 30% a 70%, ou seja, os mais otimistas apontam redução de 1/3 e os mais pessimistas indicam que 2/3 das áreas não devem ter milho. Se colhermos uma safra de pouco mais de 133 milhões de toneladas, certamente entraremos novamente em uma fase de grande aperto no abastecimento, porque neste ano o quadro chegou próximo do limite de oferta em cima da demanda. Com sobras do milho e do algodão, que têm baixa liquidez, mas com aperto no arroz, feijão, soja e mesmo no trigo (que está com mercado fraco). Para 2009, a previsão é de grande aperto no quadro de abastecimento porque a oferta pouco irá mudar. Tudo indica que os produtores (atualmente com as lavouras em desenvolvimento) terão mercado muito melhor que agora e bastante acima do que estão esperando no futuro.
MILHO Sem exportação, mercado segue fraco
redor dos R$ 50,00 a saca e em alguns momentos acima. Desta forma, no interior, os vendedores continuarão no comando das cotações por conta da pouca oferta do produto para negociar. Lembramos que muitas indústrias devem parar de esmagar neste mês e só voltarão em 2009, devido ao baixo volume ou à falta da oleaginosa para trabalhar. As que permanecerem terão que pagar mais pela soja que existe.
O mercado do milho continua com pouco movimento porque mesmo com a disparada do dólar não houve grandes negócios na exportação. Outubro apresentou quadro fraco, sem alterações nas cotações, e novembro deve mostrar-se nas mesmas condições. Somente haverá algum pequeno avanço caso o câmbio fure a marca dos R$ 3,00 valorizando a exportação com níveis mais atrativos aos produtores brasileiros. Seguiremos calmos e sem FEIJÃO fôlego para alta e baixa nas próximas semaSafra próxima nas. Em dezembro, o período normalmente é A colheita da primeira safra começa neste fraco para o milho, com necessidade de apoio mês de novembro e crescerá até dezembro. do governo via pregões para criar liquidez. Com isso, grandes volumes do grão devem aparecer fazendo uma pressão de oferta maior SOJA que a demanda. Tudo indica que caminhareVendedores no comando mos para a casa do preço mínimo que é de R$ O mercado da soja (que registrou forte 80,00 por saca, distante dos níveis que foram queda em Chicago) mostra o câmbio favore- negociados nos últimos meses (R$ 170,00 aos cendo o setor. Os níveis de porto ficaram ao R$ 300,00 por saca). Mas agora teremos exce-
dente de oferta e o governo precisará intervir para que os números não apresentem forte recuo e causem desestímulo no plantio da segunda safra. Somente grandes perdas pelo excesso de chuvas poderão dar suporte ao mercado e manter as cotações firmes. ARROZ Pressão para cima
A maxidesvalorização do dólar limitou a importação de arroz do Mercosul e com isso as ofertas de matéria-prima às industrias. Sobrou somente o arroz do Rio Grande do Sul e principalmente dos pregões da Conab, que vêm negociando os estoques que têm no estado. A expectativa é de que as cotações mostrem ajustes nestas próximas semanas, mas também não poderemos esperar por grandes avanços, já que temos limitação de alta junto ao varejo e também queda na demanda que ocorre tradicionalmente em dezembro. Há boas expectativas de preços aos produtores em janeiro e fevereiro.
CURTAS E BOAS TRIGO - Os produtores acreditaram no trigo. Plantaram mais e estão colhendo uma grande safra. Mas, neste momento da colheita, o governo tem atuado pouco. Os preços mínimos não cobrem todos os custos e, além disso, com a queda nas cotações externas, as exportações foram dificultadas. A boa notícia para o setor vem do câmbio, com a maxidesvalorização, que limitará as importações, tornando o preço do produto mais alto para 2009. Boas expectativas de preços e maior liquidez somente entre janeiro e março de 2009, porque neste momento há mais oferta que demanda dos moinhos. Com isso as cotações recuaram de níveis acima dos R$ 600,00 para menos de R$ 480,00 no Paraná. ALGODÃO - A safra nova caminha para ser uma das menores da história, já que os custos dispararam e os créditos aos produtores foram cortados. As notícias mais otimistas falam em 25% de queda no plantio que vem pela frente. Já os mais pessimistas apontam queda de 50%. O certo é que sem apoio do governo, queda externa e falta de recursos para os insumos, principalmente fertilizantes, teremos uma safra pequena e boas cotações internas no segundo semestre de 2009. EUA - A colheita está praticamente encerrada e a safra ficou dentro das expectativas. Agora, a reclamação dos produtores é de que estão com boa parte do produto ainda não negociado e com cotações do mercado abaixo dos custos, apontando queda na nova safra do milho e da soja. CHINA - A China (mesmo com a crise mundial sinalizando recessão) segue
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batendo recorde de importação de produtos agropecuários. A soja fechou o mês de setembro com 4,13 milhões de toneladas importadas, contra expectativas que apontavam para menos de 2,8 milhões de toneladas, acumulando assim, 29,7 milhões de toneladas nos primeiros nove meses. Desta forma o país caminha para alcançar a marca de 40 milhões de toneladas importadas em 2008 contra as projeções do USDA que continuam apontando para 36 milhões de toneladas. Para os consumidores chineses, o baixo preço da soja é um convite para aumentar a demanda. Em solo chinês o dólar continua tendo o mesmo valor, enquanto o preço da soja caiu pela metade. Este cenário barateou também o preço dos ovos, frangos, suínos, leite e derivados, porque houve queda de 30% a 40% no custo da ração. A expectativa é de que a demanda local se mantenha aquecida. ARGENTINA - A crise tem feito com que a safra portenha registre grande atraso no começo do plantio. Somado a isso certamente haverá grandes dificuldades para plantar a área projetada, já que houve corte de crédito pelos fornecedores de insumos (que só devem financiar produtores que normalmente não precisam de empréstimos). Neste sentido, os números do governo local estão muito otimistas, porque as cotações internacionais da soja e do milho não trazem lucros aos agricultores, já que não houve desvalorização do câmbio (permanece na casa dos $ 3,20 pesos por dólar). Os produtores ainda arcam com impostos que se aproximam de 1/3 do valor do produto para a exportação e que inviabilizam a nova safra local. Este cenário tende a favorecer o Brasil em 2009.
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