Cultivar Grandes Culturas • Ano X • Nº 115 • Dezembro 08/Janeiro 09 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas Capas
Risco cam uflad o.............. .......... ......18 camuflad uflado.............. o........................ ................18
Math eus ZZan an ella atheus anella
Dir ceu Gassen Dirceu
Escon di do em m ei o às ffolhas olhas ddee soja, o per cevejo ver de pequen o Escondi did mei eio percevejo verd pequeno con segue ddriblar riblar o con tr ole ddee pr agas ad otad o pelos pr od utor es consegue contr trole pragas adotad otado prod odutor utores
In ter ação n egativa.................06 Vi ubação.........................10 Ataque impr evisível................22 Inter teração negativa.................06 Viaa ad adubação.........................10 imprevisível................22 Resíd uos usad os em ár eas ddee Resídu usados áreas e-açúcar pod em servir can a-d cana-d a-de-açúcar podem de barr eir erbi ci das barreir eiraa à ação ddee h herbi erbici cid
A influên ci o nitr ogêni o influênci ciaa ddo nitrogêni ogênio on o combate e ddo o potássi potássio no à an tr acn ose em milh o antr tracn acnose milho
Índice
As difi culd ad es par ter dificuld culdad ades paraa con conter aga ddee ocorrên ci corós corós,, pr praga ocorrênci ciaa impr evisível n as lavour as imprevisível nas lavouras
Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton
Dir etas Diretas
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RED AÇÃO REDAÇÃO • Editor
Uso ddee h erbi ci das em can herbi erbici cid canaa
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An tr acn ose n o milh o tracn acnose no milho Antr
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In oculação em soja Inoculação
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Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Per cevejo ver de pequen on ercevejo verd pequeno naa soja
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Jani ce Ebel anice • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa • Revisão
Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
GRÁFI CA GRÁFICA Con tr ole ddee corós em soja Contr trole
22
• Impr essão Impressão
Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda.
Can cr o ddaa haste em soja Cancr cro
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Mosca-d a-r aiz em café osca-da-r a-raiz
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Inf orm ess Inform ormee - Lanx Lanxess
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Ataque ddee lagartas em alg odão algodão
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Colun Colunaa ANPII
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Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios
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Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola
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Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 Dir etor es Diretor etores Newton Peter e Schubert K. Peter Secr etári Secretári etáriaa Rosimeri Lisboa Alves www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 119,00 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Ped edrro Batistin Sed eli Feijó Sedeli
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Di anferson Alves Dianferson Edson Kr ause Krause Núm er os atr asad os: R$ 15,00 Númer eros atrasad asados: Assin atur tern aci on al: ternaci acion onal: ssinatur aturaa In Intern US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos TTelef elef on es elefon ones es:: (53) • Red ação: Redação: • Ger al Geral 3028.2060 3028.2000 • A ssin atur as: Assin ssinatur aturas: 3028.2070
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Homenagem
Reconhecimento
O professor e pesquisador científico da Unesp de Ilha Solteira, Geraldo Papa, foi homenageado pela Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (AEASP), com a “Medalha Fernando Costa, Modalidade Ensino”. O reconhecimento levou em conta suas destacadas atividades na área de Agronomia. Nos últimos anos a premiação tem sido conferida através da “Medalha Fernando Costa”, nome que homenageia o engenheiro agrônomo responsável por grandes benefícios para a agricultura paulista.
Em cerimônia realizada em novembro, no Teatro Abril, em São Paulo, foi entregue o “IV Prêmio Melhores Universidades Guia do Estudante – Banco Real”. Na categoria “Melhor Universidade da área de Ciências Agrárias e Veterinária” o prêmio foi concedido à Universidade de Passo Fundo (UPF). Para o diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), professor Mauro Rizzardi, a premiação, além de ser um reconhecimento do trabalho realizado pelos professores e funcionários da faculdade, serve de estímulo para todos aqueles que focam suas ações na qualidade e na busca da excelência.
Cana-de -açúcar Cana-de-açúcar João Paulo Pivetta assumiu como gerente de Cultura Cana da Bayer CropScience. Há 22 anos na empresa, Pivetta já passou pelas áreas comercial, desenvolvimento técnico e de mercado. Como gerente de Cultura Cana, seu principal desafio será o de implementar o plano estratégico para este segmento.
João Paulo Pivetta
Diretorias de Negócios Mudanças também nas Diretorias de Negócios Centro e Norte da Bayer. O novo gerente de Marketing da Diretoria de Negócios Centro é Luis Gustavo Dollevedo, que será responsável pelo planejamento e implementação regional das atividades de marketing nas diferentes culturas em que a empresa atua. Douglas Scalon assume como gerente Cultura Soja, Milho e Feijão da DN Norte, com o desafio de implementar estratégias de posicionamento dessas culturas, além de responder pela análise de cenários e mercado. Na DN Norte, Cristiano Figueiredo assumiu a gerência de Marketing Grandes Clientes, com o desafio de implementar as estratégias de marketing oferecendo um mix de produtos e serviços que gerem valor aos clientes e aos negócios da empresa.
Luis Gustavo Dollevedo
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Douglas Scalon Cristiano Figueiredo
Geraldo Papa
Mauro Rizzardi
FMC
Fungicidas
A FMC acaba de lançar duas novas soluções tecnológicas para o controle de gramíneas e folhas largas na cultura da cana. São os herbicidas Broker e Gamit Star. “O Broker é um hexazinona puro, ideal para a aplicação em períodos secos”, explica o gerente de Produtos Marcus Brites. Já o Gamit Star é mais indicado para o controle das gramíneas. Como é produzido com dosagem mais concentrada (800g/litro de ativo), o produtor tem a vantagem de poder utilizar menos produto por área plantada, o que gera, também, menor descarte de embalagem.
Fabio Costa e Fábio Prata são os novos gerentes de Produto Fungicida da Bayer CropScience e recebem o desafio de trazer novos produtos ao mercado, otimizar o portfólio para os diferentes perfis de produtores e regiões e desenvolver estratégias de negócios. Costa está na Bayer há dez anos, atuará junto às culturas de arroz, café, feijão, fumo, batata, tomate, frutas e vegetais. Prata, na empresa há mais de quatro anos, no novo cargo responderá pelas culturas de soja, trigo, milho e algodão.
André Dias
ABCBio Acaba de ser criada a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). O embrião surgiu a partir da iniciativa dos pesquisadores Wagner Bettiol e Marcelo Morandi (Embrapa CNPMA) que em outubro de 2007 reuniram um grupo de representantes do setor para discutir a criação. São fundadoras 14 empresas. A diretoria é constituída pelo presidente Ari Gitz (Bio Controle), vice-presidente Rubens Buschmann Júnior (Turfal), primeiro-secretário Ariclenis Ballaroti (Itaforte Bioprodutos), segundosecretário Alan Pomella (Laboratório de Biocontrole Farroupilha) e tesoureiro Danilo Scacalossi Pedrazzoli (Bug Agentes Biológicos). A ABCBio pode ser contatada através do telefone (11) 38341627 ou e-mail abcbio@controlebiologico.com.br
Fabio Costa
Fábio Prata
Pareceria A Monsanto e a Embrapa renovaram pelo terceiro ano consecutivo sua parceria de cooperação. Durante a cerimônia de anúncio foi feito o repasse de R$ 7,8 milhões para a Embrapa, por parte da Monsanto, para o fundo de pesquisa da entidade. O montante é oriundo do compartilhamento dos valores recebidos pela empresa a título de royalties sobre a comercialização de variedades de soja da Embrapa contendo a Tecnologia Roundup Ready®, de tolerância a herbicida, na safra 2007/2008. Os recursos serão aplicados em 11 projetos e representam mais do que o dobro da soma dos valores investidos em 2006 e 2007 (R$ 3,2 milhões) no desenvolvimento de projetos em biotecnologia. O CEO da Monsanto, Hugh Grant, veio especialmente ao Brasil para fazer esta renovação da parceria. O líder mundial da Monsanto esteve acompanhado pelo presidente da empresa no Brasil, André Dias, durante o evento.
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Mata Viva
Fungicidas
A Basf lançou o Ônibus Itinerante Mata Viva, projeto de educação ambiental que irá percorrer o Brasil nos próximos meses. A primeira parada foi em Rio Verde (GO). O programa tem como objetivo principal sensibilizar jovens e adultos para a importância da preservação dos recursos naturais, através de espetáculos teatrais com temas relacionados ao meio ambiente, à democratização da cultura e à educação infantil.
A DuPont colocou no mercado a tecnologia Sistema Qualidade, para a cultura do café, que reúne numa só embalagem os fungicidas Kocide®, do grupo dos produtos cúpricos, e Alto 100®, do grupo dos triazóis. “Trata-se de um novo conceito de tratamento fitossanitário, recomendado para controle das doenças ferrugem e cercospora com o benefício agregado de auxiliar no processo de nutrição das plantas”, explica Marcelo Okamura, diretor de Marketing da DuPont Produtos Agrícolas.
Publicação
Dosador
Marco António Teixeira Zullo é o novo diretor-geral do Instituto Agronômico (IAC). Zullo é graduado em Farmácia e Bioquímica, mestre em Química e ingressou no IAC em 1975, como pesquisador científico. Como diretor dará continuidade ao trabalho de desenvolvimento de pesquisas ligadas às demandas dos setores produtivos, especialmente nos aspectos de qualidade de produtos agrícolas, sustentabilidade dos sistemas de produção e aumento da produtividade. “A diretoria, juntamente com o corpo de diretores dos centros de pesquisas e a equipe científica, tem se dedicado ao estabelecimento de parcerias junto ao setor privado no sentido de atender às necessidades reais das cadeias produtivas de diversos segmentos”, diz Zullo. Marco António T. Zullo
O centro de cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançou em novembro o livro “Cana-de-açúcar”. A obra, escrita por 72 autores, traz abordagem completa sobre a cultura desde sua história no Brasil até o melhoramento genético e manejo varietal, ambientes de produção, nutrição e adubação, fitossanidade, entre outros assuntos distribuídos em 41 capítulos. Interessados podem adquirir o livro pelo email cana@iac.sp.gov.br.
Acaba de ser lançado pela Guarany o dosador Universal de Líquidos, mais um acessório para evitar o contato do produtor na hora de aplicar defensivos. Desenvolvido com materiais de última geração, resistentes à corrosão e a produtos químicos, destaca-se pela alta precisão na dosagem, o que proporciona economia de água e maior eficácia na aplicação.
ISK
Banco de Bactérias
Instituto Agronômico
Massaki Hassuike assumiu a diretoria de Marketing e Desenvolvimento de Negócios para o Brasil da Ishihara Sangyo Kaisha (ISK), empresa especializada na pesquisa e desenvolvimento de moléculas, detentora dos inseticidas Atabron, Turbine e Cierto, dos herbicidas Sanson, Fusilade e Katana e dos fungicidas Frowncide e Ranman, distribuídos pela Arysta, Syngenta, Basf, FMC e Iharabras. Massaki está sediado em Indaiatuba, São Paulo, onde a ISK possui escritório. Nos últimos anos trabalhou na Arysta Lifescience do Brasil como diretor de Marketing e mais recentemente como diretor técnico para Massaki Hassuike a América do Sul.
Errata No caderno técnico sobre Ferrugem, da edição 112, quadro 3, o último valor na coluna testemunha é 164,86 e não 64,86 como publicado.
A Embrapa Soja coordena o primeiro banco de microorganismos virtual do país, que irá trabalhar com bactérias conhecidas popularmente como “rizóbios” e também as denominadas Azospirillum. Além do uso como inoculantes, podem ser empregadas em programas de melhoramento genético, no controle biológico de pragas ou doenças, entre outras possibilidades. O desenvolvimento do banco de germoplasma de microrganismos conectado virtualmente é uma parceria da Embrapa Soja, com o IAPAR, UFMT, Laboratório de Bioinformática, UDESC e o Laboratório de Nacional de Computação Científica. O site disponível ao público é http:// www.bmrc.lncc.br. Um total de 1.351 microrganismos já estão cadastrados.
Fertilizantes A empresa Centro Oeste Agricultura, pertencente a Ariel Destéfano, inovou na produção de fertilizantes naturais, biodegradáveis, através do uso do resíduo proveniente da fabricação do biodiesel como matéria-prima Entre as novidades está a ausência do emprego de água na composição e o uso adequado da glicerina. A Tecnologia de Hygrogem está baseada na combinação dos mais modernos aditivos que conferem à glicerina maior rapidez de absorção e por conseqüência translocação mais rápida do fertilizante dentro das plantas. Importante entender que o produto foi desenvolvido para apresentar grande desempenho em condições meteorológicas adversas. Absorção imediata pelas plantas em 100% (folhas), não entupir os bicos e a ausência de perdas por lixiviação ou fixação estão entre as vantagens. Campo Verde conta com fábrica com capacidade de produção de 30 mil litros por dia do produto. As características são alta densidade e viscosidade e principalmente ter as propriedades de ser dissolvente e eliminar a capa serosa das folhas, facilitando a penetração dos produtos. É excelente fertilizante para as condições climáticas de Mato Grosso. Possui polaridade alta e formação de ligações de hidrogênio com a água, o que o torna totalmente solubilizado, sendo também um quelatizante natural. Contém ainda grande quantidade de carbono para suprir a demanda da planta por esse elemento e com isso consegue evitar ou amenizar problemas no processo fotossintético provocados por alterações nas condiAriel Destéfano ções edafoclimáticas.
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Cana-de-açúcar
Interação negativa Ár eas que rreceber eceber am rresíd esíd uos or gâni cos o vinhaça, torta ddee filtr o, cinzas ou até Áreas eceberam esídu orgâni gânicos cos,, com como filtro, mesm o a palha, pod em afetar n egativam en te o comportam en to ddee h erbi ci das apli cad os em esmo podem negativam egativamen ente comportamen ento herbi erbici cid aplicad cados can a-d e-açúcar od utor ddeve eve estar aten to e conh ecer as car acterísti cas ddo o pr od uto, as cana-d a-de-açúcar e-açúcar.. O pr prod odutor atento conhecer característi acterísticas prod oduto, pr opri ed ad es ddo o solo, a composição quími ca ddos os rresíd esíd uos or gâni cos adi ci on ad os e as propri opried edad ades química esídu orgâni gânicos adici cion onad ados tais par an tir o corr eto m an ejo ddas as plan tas ddaninhas aninhas con dições ambi en plantas condições ambien entais paraa gar garan antir correto man anejo
A
tualmente, o Brasil tem se destacado como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Apenas na safra 2007/08 foram cultivados aproximadamente sete milhões de hectares e produzidos 475 milhões de toneladas de matéria-prima para fabricação de álcool e açúcar, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A industrialização desta matéria-prima gera resíduos como a vinhaça, a torta de filtro e as cinzas (resultantes da queima do bagaço para produção de energia). Para cada tonelada de cana-de-açúcar processada industrialmente são gerados de 200 a mil litros de vinhaça, 40 quilos de torta de filtro e dez quilos de fuligem (cinzas), aproximadamente. Devido ao alto teor de nutrientes e substâncias orgânicas, estes resíduos são utilizados como condicionadores físicos e químicos dos solos agrícolas, constituindo assim uma alternativa viável para descarte deste material, tanto do ponto de vista ambiental, como econômico. Em áreas cultivadas com cana-de-açúcar,
além dos resíduos oriundos da fabricação de açúcar e álcool, resíduos culturais também podem ser adicionados ao solo. Com a aprovação da Lei no 11.241, que dispõe sobre a eliminação gradativa da colheita com despalha a fogo, aproximadamente 170 quilos de palha devem ser deixados no solo para cada tonelada de cana produzida. Embora recomendável, a adição da palha e dos resíduos provenientes da indústria sucroalcooleira ao solo pode comprometer a eficácia e a seletividade de herbicidas para controle de plantas daninhas. Isto porque estes resíduos podem modificar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e a maioria dos herbicidas utilizados na cultura de cana-de-açúcar é recomendada para aplicação em pré-emergência e/ou pós-emergência inicial da cultura e das plantas daninhas. Portanto, o solo é o destino de grande parte das moléculas e a eficácia dos herbicidas é dependente da quantidade de moléculas que ficam disponíveis no solo para absorção pelas plantas. A disponibilidade das moléculas é deter-
minada pela extensão dos processos de sorção, transformação e transporte, governados por fatores relacionados à molécula, ao solo e ao ambiente. A sorção se refere à “apreensão” do herbicida pela fração coloidal do solo. As moléculas sorvidas podem retornar à solução do solo, processo denominado dessorção ou permanecerem retidas em uma forma indisponível, denominada resíduo ligado. A transformação diz respeito à alteração da estrutura molecular dos herbicidas pela ação de microorganismos ou de fatores abióticos como, por exemplo, a luz (fotodegradação). O transporte é definido como a movimentação do herbicida no solo, podendo ocorrer por lixiviação, escoamento superficial e volatilização. A lixiviação se refere ao caminhamento do herbicida em profundidade no solo, enquanto o escoamento superficial diz respeito a seu caminhamento lateral, sobre a superfície do solo, juntamente com a enxurrada. A volatilização é o processo pelo qual o herbicida é transportado do solo para a atmosfera, devido à passagem das moléculas do estado líquido para a Charles Echer
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Pedro J. Christoffoleti
forma de vapor. A contribuição relativa dos processos de sorção, biodegradação e transporte para a redução na eficácia de herbicidas é bastante variável. Além de fatores relacionados à molécula, ao solo e ao clima, a composição química dos resíduos adicionados ao solo é muito importante. Materiais ricos em açúcares, proteínas, amido e celulose são facilmente decomponíveis pela microbiota, enquanto elevados teores de gorduras, ligninas e ácidos graxos caracterizam materiais orgânicos de difícil decomposição. Quanto maior o conteúdo de substâncias de difícil degradação, maior tende a ser a contribuição do resíduo para a elevação da Matéria Orgânica do Solo (MOS) e menor o suprimento de nutrientes e energia à microbiota. Portanto, quanto menor a degradabilidade do material orgânico, maior tende a ser sua contribuição para a sorção e menor para a biodegradação.
VINHAÇA Dentre os resíduos da indústria sucroalcooleira, a vinhaça é o que apresenta mais rápida degradação no solo, devido à presença de material orgânico solúvel e reduzido, que é facilmente degradado pela ação microbiana. Assim, devido à natureza da matéria orgânica da vinhaça, em geral, este re-
Aplicação de torta de filtro e fuligem
síduo favorece a degradação dos herbicidas, por servir como fonte de energia e nutrientes à microbiota. Estudos realizados por Prata et al, (2000, 2001) avaliaram o efeito da adição de vinhaça ao solo na degradação e sorção dos herbicidas diuron e ametrina. A degradação desses herbicidas foi aumentada e a sorção não afetada pela adição de vinhaça ao solo. Embora a vinhaça promova o aumento da microbiota, aplicações consecutivas do resíduo tendem a reduzir a diversidade de espécies de microorganismos do solo. Como no processo de degradação de herbicidas existe certa especificidade entre “degradador e de-
gradado”, ou seja, cada herbicida é transformado pela ação de espécies ou grupos de espécies, que são particulares para cada molécula, em algumas situações, a diminuição qualitativa dos microorganismos, causada pela vinhaça, pode reduzir a degradação de herbicidas.
CINZAS E DA TORTA DE FILTRO A fuligem apresenta alta capacidade de retenção de moléculas orgânicas no solo e não é facilmente degradada pelos microorganismos. Em solos com adição de fuligem há aumento significativo de cargas negativas, ou seja, de Capacidade de Troca Catiônica (CTC).
Fotos Pedro J. Christoffoleti
Aplicações consecutivas de vinhaça podem reduzir a diversidade de espécies de microrganismos do solo
Trata-se de um dos mecanismos responsáveis pela adsorção de herbicidas no solo, e esse aumento é, de modo geral, estável ao longo do tempo. Portanto, a adição deste resíduo ao solo pode favorecer a sorção de herbicidas. De fato, Yang & Cheng (2003) observaram aumento na sorção de atrazina e diuron após adição de resíduos carbonizados de culturas ao solo. Pesquisas têm claramente determinado que a conseqüência agronômica do uso de torta de filtro na cultura da cana-de-açúcar é o aumento da CTC, da capacidade de retenção de água no solo e o fornecimento de micro e macronutrientes, com destaque para o fósforo; embora a torta de filtro tenha composição heterogênea e com grau de degradabilidade variável. Em áreas cultivadas com cana-açúcar é comum a aplicação da proporção de três partes de torta para uma parte de fuligem como condicionador físico e químico do solo. No entanto, não existem pesquisas divulgadas que avaliaram as alterações no comportamento de herbicidas no solo em áreas com adição da torta de filtro. Tem-se observado, nestas áreas, redução na eficácia dos herbicidas no controle de plantas daninhas, quando comparadas com áreas sem aplicação do resíduo. A possível explicação para o fenômeno pode estar associada à maior capacidade adsortiva do solo condicionada pela aplicação do resíduo, que retém maior parte do herbicida na forma indisponível para ser absorvido pelas plantas daninhas. É importante destacar, também, que nestas áreas há maior infestação de plantas daninhas devido à melhora da fertilidade do solo, reduzindo, assim, a eficácia do herbicida condicionada pela maior pressão de infestação. Como alternativa para reduzir os efeitos do resíduo na eficácia do herbicida, a aplicação da mistura destes resíduos orgânicos pode ser feita localizada, na linha da cultura, mantendo assim as propriedades de condicionantes do solo do resíduo, sem interferir na eficácia do herbicida aplicado na entrelinha da cultura, onde a infestação de
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plantas daninhas é mais significativa.
PALHA Devido à importância das substâncias orgânicas no comportamento de herbicidas, o manejo dado à palha deve ser considerado para controle eficaz das plantas daninhas. Costa (1992) observou que a adição de palha de cana-de-açúcar ao solo aumentou a mineralização e formação de resíduo ligado de ametrina. A presença de substâncias de natureza heterogênea na palha estimula o crescimento e a diversidade da microbiota do solo, enquanto os teores de matéria orgânica do solo podem ser elevados devido à presença de substâncias de difícil decomposição, como a lignina e as ceras. Portanto, a eficácia de herbicidas tende a ser reduzida pela manutenção da palha no solo, podendo ser necessária a aplicação de maiores doses dos produtos. Ainda, vale ressaltar que a queima dos resíduos vegetais produz fuligem, que apresenta alta capacidade de sorção de herbicidas e, portanto, em áreas com despalha a fogo, a eficácia de herbicidas também pode ser alterada. A palha deixada sobre o solo, além de afetar o comportamento de herbicidas, intercepta o produto aplicado, podendo interferir na eficácia. A intercepção pela palha pode chegar a 90%, dependendo do produto utilizado. Porém, diversos trabalhos têm demonstrado que uma chuva de 20mm é suficiente para transportar boa parte dos produtos que estão depositados sobre a palha até a superfície do solo (Rodrigues et al, 2000). Alguns herbicidas são mais retidos pela palha do que outros. Esta diferença está relacionada com as propriedades da molécula, quantidade e origem da cobertura morta e com a intensidade e época de ocorrência de chuvas após a aplicação dos produtos.
situação, não é possível fazer generalizações. Grande parte dos solos brasileiros apresenta baixa capacidade de retenção, o que favorece a lixiviação dos produtos. Portanto, o aumento da capacidade sortiva do solo, proporcionado por alguns resíduos, também pode resultar em aumento da eficácia de herbicidas por manter o produto na zona de influência das raízes. Outro fator que deve ser considerado é o tipo de carga do solo. Solos muito intemperizados possuem sítios de sorção de cargas positiva e negativa. Alguns herbicidas são mais retidos pelas cargas positivas do solo, enquanto outros têm sua retenção associada à parte negativa dos colóides. Quando um resíduo orgânico é adicionado ao solo, pode recobrir os colóides de argila e, como a matéria orgânica apresenta somente carga negativa, há redução de sítios positivos disponíveis. Assim, em algumas situações, a adição de resíduo orgânico pode reduzir a sorção do herbicida, mesmo ocorrendo aumento da Capacidade de Troca Catiônica (CTC) do solo. Por outro lado, alguns herbicidas que são sorvidos às cargas positivas do solo, como o imazaquin, tem grande afinidade com a Matéria Orgânica do Solo (MOS) e, por este motivo, quando o teor de MOS aumenta, há maior sorção, mesmo quando a disponibilidade de sítios de carga positiva diminui. Portanto, o comportamento do herbicida é dependente das características de cada produto. Ainda, para herbicidas ionizáveis, o mesmo produto pode apresentar características distintas com a variação do pH do solo. Assim, para controle eficaz das plantas daninhas e seletividade à cana-de-açúcar em áreas com adição de resíduos orgânicos, as estratégias de manejo devem ser fundamentadas nas características do produto, nas propriedades do solo, na composição química dos resíduos orgânicos adicionados ao solo, nas condições ambientais e na interação destes fatores. C Virginia Damin, Saul Jorge Pinto de Carvalho e Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP
CONSIDERAÇÕES GERAIS Seja pelo aumento da degradação, sorção ou interceptação de herbicidas, os resíduos orgânicos tendem a reduzir a disponibilidade dos herbicidas às plantas. No entanto, devese destacar que, devido à peculiaridade de cada
As características dos produtos herbicidas são fundamentais na hora do controle de plantas daninhas
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Defesa ativada A cada cada safra safra a antr antracn tracnose acnose se firma firma como como a doença doença culturaa ddo doo milh milho. o. Difi Dificuld ade mais ais importan importante te n naa cultur m ad cultura milho. Dificuld culdad ade importante na diagn agnose ose,, carên carênci ciaa dde dee m materi ateriais ais rresisten resisten esistentes tes ee dee di diagn agnose ose, carênci cia materi ateriais esistentes ausên ci a d e pr od uto quími co r egistr ad o par ausênci cia de prod oduto químico registr egistrad ado paraa o atores es que que con contribuem tribuem par paraa oo contr trole ole são são ffator fator con atores contribuem para contr trole ento to dda daa situ situação. ação. TTestes Testes estes rrealizad realizad ealizados os com com agravam avamen agr ealizados agravam avamen ento situação. esentam tam algum algum nível nível dde dee cultivares es que que apr apresen cultivar cultivares apresen esentam esistênci ciaa evi evidden enci ciam am oo efeito efeito positivo positivo dda daa rresistên esistênci cia evid enci ciam adubação ubação equilibr equilibrad adaa com com nitr nitrogêni ogênioo (N) (N) ee ad adubação equilibrad ada nitrogêni ogênio potássioo (K) (K) par paraa rred red eduzir uzir os os pr prejuízos ejuízos potássi potássio para eduzir prejuízos
Rodrigo Véras da Costa
Milho
N
o Brasil a antracnose é um dos principais problemas da cultura do milho. Atualmente, a doença ocorre em todas as principais regiões produtoras do país, seja em cultivos de safrinha ou em plantios efetuados em períodos normais. Pode manifestar-se em qualquer parte da planta, como raiz, semente, colmo e folhas e tem o poder de reduzir o rendimento de grãos em até 40%, dependendo do híbrido utilizado, do estádio fenológico da cultura e do ambiente onde está inserido o cultivo. Embora a antracnose possa estar presente em todas as fases da cultura, a doença é mais evidente em plântulas com até um mês e na fase adulta, após o florescimento. A antracnose é favorecida por alta umidade e a temperatura ótima para o progresso da doença é de 30ºC, porém, há variações em função da variedade utilizada.
SINTOMAS A infecção de folhas de plântulas ocorre a partir de conídios produzidos em acérvulos sobre restos de cultura, sendo sua dispersão limitada a curtas distâncias. O inóculo secundário vem de lesões nas folhas inferiores. A fase foliar da doença pode ocorrer em vários estádios da cultura e caracteriza-se pela produção de lesões necróticas, de coloração parda e tamanho variável entre 0,5cm e 1,5cm, a princípio arredondadas ou ovaladas, podendo coalescer. Na nervura central as lesões são elípticas, alongadas e escuras. Nelas há tam-
O FUNGO
O
agente causal da antracnose é o fungo Colletotrichum graminicola, capaz de sobreviver em restos de cultura e em sementes de milho infectadas, sobretudo nas áreas com sistema de plantio direto. Este patógeno produz frutificações denominadas acérvulos, de coloração escura e formato oval a cilíndrico. Estas estruturas apresentam numerosas setas de coloração escura e se formam na epiderme e cavidades subepidérmicas de ambas as superfícies da folha ou do colmo. No interior dos acérvulos são produzidos os conídios que se apresentam hialinos, não-septados e falciformes, podendo permanecer viáveis de semanas a meses, se houver condições ideais. Os conídios são disseminados por vento ou por respingos de chuva e aqueles que servem como inóculo secundário para a infecção foliar também servem como inóculo para a infecção do colmo.
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Diego de Oliveira Carvalho
Matheus Zanella
Acérvulos de Colletotrichum graminicola em lesões foliares esporulantes
bém a formação de acérvulos, podendo ocorrer a queima do limbo foliar na região da ponta da folha, em forma de “V”, sintoma que se assemelha ao de deficiência de nitrogênio. A infecção do colmo geralmente se inicia pela deposição de conídios na base do colmo, provenientes de lesões esporulantes das folhas ou de restos culturais. No colmo, as lesões são estreitas, longitudinais, encharcadas, de cor avermelhada passando a castanho-escuro. Os sintomas, geralmente, surgem na epiderme, logo após o florescimento, como lesões estreitas, longitudinais e “encharcadas”, inicialmente de coloração pardo-avermelhada, que se torna castanho-escura a negra. As lesões podem também coalescer e formar áreas necrosadas, de coloração escuro-brilhante. Sintomas de murcha e posterior necrose das folhas apicais, conhecidos como “top dieback”, são freqüentes. O tecido interno do colmo apresenta coloração marrom-escura, caracterizando processo de desintegração. Em genótipos muito suscetíveis pode haver morte prematura e acamamento de plantas. Na cultura do milho, observa-se a crescente adoção do uso de fungicidas para o controle de doenças. No entanto, até o momento, nenhum produto químico foi registrado para o controle da antracnose do milho. Além disso, a dificuldade para se diagnosticar a doença e a carência de materiais resistentes, aliadas à crescente adoção do sistema de plantio direto e ao conseqüente acúmulo de palha (o que favorece a sobrevivência do patógeno na área), têm contribuído para tornar a antracnose mais importante a cada ano agrícola. Nesse contexto, o manejo integrado de doenças (MID) ganhou destaque ao preconizar o
Com nutrição equilibrada, há maior capacidade de defesa das plantas contra a doença
uso de estratégias de controle eficientes e mais seguras, do ponto de vista ambiental. A rotação de culturas, o emprego de sementes isentas de patógenos, o plantio de cultivares resistentes em época adequada e a nutrição equilibrada de plantas são alguns exemplos destas estratégias que compõem o MID.
MANEJO A resistência de plantas às doenças, mesmo sendo geneticamente controlada, pode ser afetada por fatores ambientais. A nutrição mineral é um aspecto ambiental que pode ser manipulado com relativa facilidade e utilizado como complemento no manejo integrado de doenças. O estado nutricional de uma planta pode determinar sua maior ou menor predisposição às doenças. Normalmente, quando a nutrição é equilibrada, há maior capacidade de defesa das plantas. Por outro lado, tanto o excesso quanto a escassez de nutrientes podem favorecer as doenças, por tornarem as plantas mais predispostas a infecções. A nutrição mineral tem o poder, inclusive, de influenciar o grau de resistência da planta, por atuar em modificações morfológicas e histológicas, bem
como na composição dos tecidos que se traduzem em resposta à infecção de patógenos. Este efeito pode refletir também diretamente sobre o patógeno, afetando a sua sobrevivência, reprodução e desenvolvimento. O estado nutricional das plantas interfere em seus mecanismos de defesa, principalmente contra doenças fúngicas, protegendo-as sob a forma de barreira física, o que evita a penetração de hifas por meio do espessamento da cutícula, lignificação e/ou acúmulo de silício (Si) na camada de células epidérmicas. Além disso, a nutrição equilibrada de plantas é fundamental no controle da permeabilidade da membrana citoplasmática, impedindo assim a saída de açúcares e aminoácidos (de que se nutrem os patógenos) para o apoplasto ou para a superfície foliar e contribui para a produção de compostos fenólicos com propriedades fungistáticas. Geralmente, teores elevados de nitrogênio (N) tendem a aumentar a suscetibilidade, enquanto altas doses de potássio (K) reduzem a predisposição a muitas doenças. O nitrogênio exerce efeito positivo sobre o crescimento e a produção de plantas de milho. Seu uso em excesso, com o objetivo de obter
Gráfico 1 - Área foliar lesionada (%) pela antracnose foliar em cultivar de milho moderadamete resistente (azul) e suscetível (vermelho)
Gráfico 2 - Área foliar lesionada (%) pela antracnose foliar em cultivar de milho moderadamete resistente
Gráfico 3 - Área foliar lesionada (%) pela antracnose foliar em cultivar de milho suscetível
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ças é relativamente pequena em cultivares altamente suscetíveis ou altamente resistentes, mas bastante significativa em cultivares moderadamente suscetíveis ou moderadamente resistentes. Os resultados obtidos pela Embrapa Milho e Sorgo, ao avaliar o efeito da adubação com nitrogênio e potássio na severidade da antracnose foliar em cultivares de milho (que, sabidamente, apresentam diferentes respostas à infecção por Colletotrichum graminicola) comprovaram esta afirmativa ao demonstrar que o uso da adubação equilibrada em nitrogênio e potássio, como uma medida de manejo da antracnose foliar do milho, é dependente do genótipo com o qual se está Rodrigo Véras da Costa
ganho maior em produtividade, reduz a síntese de compostos fenólicos (fungistáticos) e de lignina nas folhas, o que reduz a resistência das plantas à infecção por patógenos. Além disso, o excesso de nitrogênio aumenta a concentração de aminoácidos e de amidas na superfície foliar, favorecendo, assim, o progresso de doenças fúngicas. A presença de potássio em níveis adequados proporciona maior rigidez aos tecidos, decorrente do aumento da espessura da cutícula e da parede celular, dificultando a penetração e o progresso da infecção. Por outro lado, em plantas deficientes em potássio, os estômatos permanecem abertos por mais tempo, o que aumenta as chances de penetração do patógeno, além de ocorrer acúmulo de carboidratos solúveis e de aminoácidos livres, ou seja, menos proteínas estruturais, enzimáticas e protetoras, menor proteção por fenóis e fitoalexinas inibidoras do patógeno, entre outros. Geralmente, a influência da nutrição mineral sobre a resistência das plantas às doen-
Comparativo entre colmo sadio (abaixo) e colmo infectado apresentando lesões pardas
trabalhando. Quando a cultivar avaliada foi aquela suscetível à antracnose foliar, a adubação com N e K pouco influenciou na severidade da doença, apresentando sempre valores percentuais elevados de área foliar lesionada (média de 55%). Por outro lado, quando a cultivar testada apresentava certo nível de resistência à doença, as doses de N e de K, combinadas, foram capazes de reduzir a área foliar lesionada (média de 32%) e influenciar a resposta da planta ao ataque do patógeno, mostrando claramente, a importância da relação N:K. Neste caso, a importância do equilíbrio entre as doses de N e de K foi evidente, não sendo possível analisar o efeito do N ou do K, isoladamente. Não existiu uma dose ideal de N ou de K que promovesse a menor severidade da doença, mas sim, uma dose ideal de um nutriente para cada dose do outro. A severidade da antracnose foliar na cultivar suscetível (S) foi sempre superior àquela observada na cultivar moderadamente resistente (MR), atingindo valores elevados que comprovaram, de fato, sua suscetibilidade. Em média, a área foliar lesionada na cultivar MR foi 41% menor que a observada na cultivar suscetível, com valores extremos que variaram entre 25% e 61%. Em outras palavras, se a cultivar apresenta suscetibilidade à antracnose foliar, espera-se pouco ou nenhum efeito da adubação com N e K sobre a severidade da doença. Por outro lado, a associação de cultivares com certo nível de resistência a uma nutrição mineral equilibrada pode contribuir para maior eficiência no controle da antracnose, em adição a outras estratégias como a rotação de culturas, por exemplo. C Diego de Oliveira Carvalho, Carlos Roberto Casela e Rodrigo Véras da Costa, Embrapa Milho e Sorgo César Oliveira Carvalho, UFV
DOENÇA X PRODUTIVIDADE
A
pesar da expressiva produção de milho no Brasil, a produtividade média das lavouras ainda é baixa. O país apresenta médias de 3.694kg/ha na safrinha e 4.134kg/ha na safra. O incremento do cultivo de safrinha, aliado à adoção do sistema de plantio direto, sem obedecer a um planejamento de rotação de culturas ou mesmo de cultivares, contribuiu para aumentar a incidência de doenças e, conseqüentemente, para as baixas médias de produtividade.
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Soja Fotos Dirceu Gassen
Simbiose perfeita Resultad os ddee pesquisa m ostr am ben efíci os ddaa in oculação ddee sem en tes ddee soja, Resultados mostr ostram benefíci efícios inoculação semen entes ci alm en te a, n o aum en to ddee rren en dim en tos ddaa cultur realizad aumen ento endim dimen entos culturaa ealizadaa seqüen seqüenci cialm almen ente te,, a cad cadaa safr safra, no
A
adoção do sistema plantio direto resultou em melhoria das condições ideais de solo, tanto para o estabelecimento e o desenvolvimento das plantas, como para a proliferação de uma diversificada e dinâmica biomassa microbiana. Na biomassa microbiana do solo, há microorganismos que vivem na rizosfera das plantas, chamados de microbiota rizosférica. Nessa microbiota, há grupos denominados de rizobactérias, que desempenham papel importantíssimo junto às plantas. Dentre as funções que desempenham, a mais bem estudada e reconhecidamente eficiente é a de fixar nitrogênio simbiótica e/ou assimbioticamente. Em adição, as rizobactérias promovem crescimento das plantas, solubilização de fósforo, reciclagem de nutrientes, controle biológico, indução de resistência às plan-
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tas, estruturação do solo, entre outros inestimáveis benefícios à agricultura. Considerando a cultura da soja, destaca-se que há entre essas bactérias uma comunidade qualificada como “colaboradora”, ou seja, são bactérias que incitam a planta a
A associação de comunidades bacterianas no solo resulta na elevação da capacidade de fixação de nitrogênio
liberar substâncias que potencializam a interação do complexo simbiótico Bradyrhizobium-soja. A presença dessas rizobactérias associadas ao Bradyrhizobium resulta em maior capacidade de infecção de bradirizóbios, com isso, maior formação de nódulos e, conseqüentemente, elevação da capacidade de fixação de nitrogênio. Essa associação de comunidades bacterianas no solo é mais um dos relevantes benefícios proporcionados pelo sistema plantio direto quando comparado ao preparo convencional. Entretanto, se a população de Bradyrhizobium for inadequada no solo, a interação do complexo simbiótico Bradyrhizobium-soja não será eficiente e a fixação de nitrogênio ficará aquém do esperado. Apesar de a maioria das lavouras cultivadas com soja apresentarem populações de
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Bradyrhizobium estabelecida, entre mil a um milhão de células bacterianas por grama de solo, é interessante e extremamente importante que o número dessas células seja aumentado, enriquecido, revitalizado e renovado a cada safra de soja, para que no momento da germinação das sementes possam provocar na planta maior produção de substâncias e, assim, estimular a interação do complexo simbiótico Bradyrhizobium-soja. Nesse contexto os resultados de pesquisa mostram que a reinoculação de sementes de soja tem favorecido ganhos substanciais de rendimento, avaliados em 4% a 15%, podendo, em certos casos, ser superior a 20%. Esses dados comprovam a necessidade de populações adequadas de rizóbios no solo para que os efeitos benéficos da fixação biológica sejam efetivos. Para que o efeito da reinoculação seja efetivo é necessário que algumas observações sejam seguidas: sementes com qualidade genética e fisiológica, manejo da acidez do solo e balanço de nutrientes, manejo de patógenos presentes nas sementes e/ ou no solo, condição favorável para germinação das sementes, manejo de doenças e de pragas, bem como condição de umidade do solo ao longo do ciclo da cultura. Outro aspecto a ser observado é o teor de nitrogênio no solo. Elevado teor de nitrogênio no solo interfere, drasticamente, na simbiose, prejudicando a fixação biológica. Esses fatores, isolados ou em interação constituem condicionantes que definem o grau de fixação e de aproveitamento de nitrogênio pela cultura. Vários são os questionamentos sobre a eficiência da fixação biológica do nitrogênio. Um deles é a quantidade de resíduo vegetal proporcionado pelo sistema plantio direto. Trabalhos conduzidos pela equipe de pesquisadores da Embrapa Soja, em diferentes regiões do Brasil (Sul e Cerrados), demonstram que em lavouras com até 26 toneladas de matéria seca por hectare, de elevada relação C/N, não houve resposta às doses de 30 quilos a 40 quilos de nitrogênio mineral adicionados à cultura. Dessa forma o sistema de plantio direto, além dos benefícios para as propriedades biológicas, físicas e químicas do solo, é considerado um sistema promotor da fixação biológica do nitrogênio atmosférico pois proporciona ambiente favorável ao macrossimbionte (planta) e ao microssimbionte (bactéria). Ao longo de 50 anos as pesquisas têm demonstrado avanços sobre a fixação do nitrogênio atmosférico. Em condições de solo manejado sob sistema de plantio direto, entre cinco a oito dias após a emergência da soja, já é possível verificar os primei-
A reinoculação de sementes pode gerar ganhos de até 20%
ros nódulos e, aproximadamente, entre oito a doze dias, já há fixação de nitrogênio. Como cada nódulo é uma “pequena fábrica” de fertilizante nitrogenado, nesse período a planta pode apresentar-se amarelada quando comparada àquela que recebe adubação com nitrogênio mineral. Deve-se ressaltar, entretanto, que nesse período a planta está utilizando o nitrogênio que está nos cotilédones e que, algumas vezes, essas reversas esgotam antes das bactérias contidas nos nódulos estarem em plena atividade. Por isso o amarelecimento da plântula. Porém, em apenas dois a três dias esses sintomas
desaparecem, não prejudicando o desenvolvimento da planta. O Bradyrhizobium contido nos nódulos da soja é ativo durante todo os estádios de desenvolvimento da planta, intensificando sua atividade no florescimento, quando é constatada uma segunda nodulação, chamada de nodulação secundária, que é de relevante importância para a plena formação das vagens e completo enchimento dos grãos. Dessa forma, a fixação biológica do nitrogênio ocorre ao longo do ciclo vegetativo e reprodutivo da soja. Adicionar nitrogênio mineral no momento da formação de vagens e do enchimento de grãos, ou seja, no momento da translocação do nitrogênio das folhas para o grão, não é uma medida eficiente, pois haverá interferência no ciclo da planta, que permanecerá verde, prejudicando a colheita. A eficiência da fixação biológica do nitrogênio é altamente expressiva. Sabe-se que a quantidade de nitrogênio que a cultura da soja necessita para produzir mil quilos de grãos é de 80 quilos por hectare. Portanto, para uma produção de três mil quilos/ hectare de grãos são necessários 240 quilos de nitrogênio por hectare. Como o nitrogênio pode ser perdido por lixiviação, volatilização, desnitrificação e por escorrimento superficial, e a eficiência de aproveitamento da planta é de apenas 50% do aplicado, a quantidade real a ser aplicada é de 420 quilos por hectare, ou seja, aproximadamente mil quilos por hectare de uréia. Sabendo-se que uma tonelada de uréia custa, na atualidade, aproximadamente R$ 1,6 mil e que o
Cada nódulo é uma “pequena fábrica” de fertilizante nitrogenado
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Fotos Dirceu Gassen
te tenha cerca de 1,2 milhão de células de rizóbio. Quando da adoção da técnica de adição de inoculante na linha de semeadura, indica-se usar seis vezes a dose recomendada para aplicação nas sementes. O aprimoramento das formulações de inoculantes para soja tem evoluído de modo a garantir a sobrevivência das células de rizóbio por longos períodos de armazenamento e também para resistir a condições de estresses bióticos ou abióticos enquanto na semente ou no solo. A indústria de inoculante tem colocado no mercado produtos altamente eficientes, de elevada tecnologia, respondendo aos desafios demandados pela atual agricultura, melhorando suas propriedades físicas e químicas de maneira a assegurar a sobrevivência das células bacterianas. Uma das inovações tecnológicas que têm sido observadas nos últimos anos é o uso de produtos que protegem as células bacterianas, assegurando, assim, a sobrevivência do rizóbio inclusive quando em contato com sementes tratadas com fungicidas e/ou com inseticidas. Portanto, a inoculação conjugada às qualidades genéticas da cultura, seguida de “boas práticas agrícolas”, tem resultado, em média, em quatro mil a cinco mil quilos por hectare de grãos de soja. A observância dessas práticas é fundamental para o sucesso da lavoura. Sem dúvida, a fixação biológica de nitrogênio é exemplo de tecnologia “limpa” e de baixo custo, resultando em extraordinária economia (estimada em sete bilhões de dólares por safra) para o país. C Norimar D’Avila Denardin, UPF inoculante mais os custos de aplicação custa cerca de R$ 7,50 por hectare, é simples calcular o real valor econômico proporcionado pela inoculação de sementes de soja. Em 20 experimentos conduzidos pela Embrapa Soja e Embrapa Cerrados, em várias regiões do país, ficou demonstrado que não é viável a aplicação de nitrogênio mineral mesmo em cultivares com alto potencial de rendimento, pois a aplicação de nitrogênio não apresentou incremento de rendimento de grãos. Com base no exposto, é evidente que a tecnologia de aplicação de inoculante à semente de soja é econômica e tecnicamente viável e que, ao optar pela inoculação, o inoculante deverá ser de elevada qualidade. Para tanto, devem ser observados todos os procedimentos tecnicamente indicados ou recomendados, ou seja, deve-se permitir uma distribuição homogênea do inoculante sobre as sementes, de modo que cada semen-
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O Bradyrhizobium contido nos nódulos é ativo durante todos os estádios de desenvolvimento da planta, sendo que intensifica sua atividade no florescimento
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Soja
Camuflado e pe
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Dirceu Gassen
E
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ência, manter as plantas verdes até a colheita, fato conhecido como retenção foliar ou “soja louca” como é denominada no meio rural (Gassen, 2002). Dentre as espécies desses insetos que ocorrem nos cultivos de soja podem ser citadas duas de grande importância para o CentroOeste: o percevejo marrom (Euschistus heros) e o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii). Pela freqüência com que se encontram na cultura e pelos danos que causam, ambos são alvos constantes nas aplicações de inseticidas. Entretanto, o que vem causando preocupações nestes últimos anos é a constante pre-
sença da espécie P. guildinii (percevejo verde pequeno). Um dos principais agravantes é o fato da praga se apresentar de maneira que o produtor só perceba o prejuízo na hora de colher os grãos de soja. Relatos dão conta de perdas de até 40% na produção, devido ao ataque tardio desta praga. Quando se investiga na lavoura verifica-se que esta espécie (pelo tamanho e por possuir coloração bastante semelhante à da soja) freqüentemente passa despercebida nas vistorias habituais. Além do fato de que o per-
Fotos Cecilia Czepak
m cultivos de soja (Glycine max) freqüentemente encontra-se um complexo de percevejos fitófagos da família pentatomidae, que se alimentam desta cultura. Apresentam hábitos bastante variados, que vão desde a sucção de seiva nas folhas até a sucção das sementes nas vagens de soja, sendo esta estrutura a preferida como sustento. Seu hábito alimentar tão peculiar transformou-os em pequenos vilões, pois incidem diretamente no que mais interessa ao sojicultor, que são os grãos, destruindo-os ou inutilizando-os, tanto para semente como para o consumo. Os percevejos fitófagos causam danos irreversíveis, pois são os responsáveis diretos pelas reduções do rendimento e da baixa qualidade das sementes. Os grãos atacados no campo ficam menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros. Apresentam, também, doenças como a mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora corily inoculado pelo inseto durante as picadas para a alimentação. Do mesmo modo, a má-formação das vagens e dos grãos provocada por percevejos (aliados ou não a um déficit hídrico ou doenças no período reprodutivo), tem a capacidade de induzir à queda de legumes e, como conseqü-
Piezodorus guildinii apresenta um comportamento migratório tardio e, em geral, depois de aplicações já efetuadas na lavoura para outras pragas
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rigoso
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tes na área, conforme pode-se observar na Tabela 1. A partir de monitoramentos realizados por três anos seguidos em áreas comerciais de soja na região de Palmeiras de Goiás (GO), concluiu-se que esta espécie apresenta comportamento migratório tardio e que seus indivíduos começam suas investidas nas áreas aos poucos quando, então, a aplicação (freqüentemente atrelada a um calendário preestabelecido ou condicionada à aplicação de um fungicida) já foi efetuada. Conseqüentemente, o próprio produtor oferece condições para que o pequeno vilão se mantenha livre das aplicações de inseticidas, de tal maneira que suas gerações vão se sucedendo com graves prejuízos às sementes de soja em formação.
DISPERSÃO E DANOS
cevejo marrom é considerado, pelos produtores, como sendo a espécie mais importante na cultura (o que não deixa de ser verdade quando se leva em consideração o número de indivíduos por metro de linha da cultura e o fato de ser sempre o primeiro percevejo a chegar na lavoura de soja). Mas, pensando deste modo, muitas vezes as aplicações que, infelizmente, são baseadas em calendários ou atreladas a outras aplicações de agroquímicos, visam quase que exclusivamente o controle do percevejo marrom, favorecendo a sobrevivência do percevejo verde pequeno que, normalmente, aparece ou se destaca como população infestante na cultura em um segundo momento, quando, então, os inseticidas já perderam muito de seu efeito residual. Além disso, não se pode desprezar os danos que são comprovadamente até maiores quando causados pela espécie verde pequena, conforme já estudado por Corrêa-Ferreira e Azevedo (2002). É evidente que este problema existe e persiste ano após ano porque produtores, consultores e técnicos da área, na sua grande maioria, não têm o hábito salutar de monitorar as pragas desta cultura e tomam as decisões nas aplicações baseadas quase que exclusivamente em avaliações visuais que, infelizmente, não demonstram a verdadeira situação das populações de insetos-praga presen-
O vento é um componente eficaz na otimização da dispersão destes insetos nas áreas de cultivo da soja. Logo, é importante que se observem as direções das correntes de ar, evitando que as primeiras áreas cultivadas se iniciem a favor das mesmas. De maneira geral, o percevejo verde pequeno começa sua colonização em meados ou no final do período vegetativo da cultura, primeiramente colonizando as bordaduras, para depois se dispersar por toda a lavoura de soja. Esta dispersão para o interior das lavouras é mais lenta em relação à realizada pelo percevejo marrom, pois as fêmeas, além de colocarem um número maior de ovos (168 ovos, em média), em cada postura ovipositam um número reduzido de ovos (cerca de seis a sete), que são amplamente distribuídos na cultura, facilitando sua dispersão. Outro fator que pode contribuir para o
melhor estabelecimento e a dispersão (constituindo a diferença comportamental entre as duas espécies de percevejos) é o tempo de desenvolvimento desde o estágio de ovo até o adulto, pois o percevejo marrom completa este ciclo com a duração de, aproximadamente, 31 dias, enquanto que o percevejo verde pequeno pode atingir o estágio adulto cerca de dez dias depois. P. guildinii constitui-se no mais importante percevejo da soja, pois é a espécie que mais prejudica a qualidade das sementes e a que causa maior retenção foliar à cultura (CorrêaFerreira e Azevedo 2002). Além disso, Corrêa-Ferreira (2005), em suas pesquisas, observou a ocorrência de dano para a qualidade da soja duas vezes maior quando causado pelos indivíduos da P. guildinii em relação a E. Heros. É bem provável que isto possa ser explicado pelo fato de tanto os adultos como as ninfas do percevejo verde pequeno se concentrarem com mais freqüência nas vagens e se manterem nestas estruturas por muito mais tempo, o que pode acarretar em maior prejuízo à produção de soja.
PERÍODO DE DANOS Em geral, a presença dos percevejos fitófagos na soja está diretamente relacionada à ocorrência de vagens nas plantas, cujo período entre o começo da frutificação e o ponto de acúmulo de matéria seca no grão é o de maior sensibilidade da soja ao ataque desses insetos sugadores. Isto se verifica precisamente entre as fases de início de formação das vagens (R3) até sua maturação fisiológica (R7). Porém, é comum estes pentatomídeos colonizarem as lavouras de soja no final do período vegetativo e início de floração, fazendo com
A simples observação visual dos percevejos sobre as plantas não expressa a real situação da lavoura, é preciso fazer amostragens com o "método do pano"
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Tabela 1 - População média de adultos e ninfas de percevejos fitófagos por metro de linha de plantas obtidos em lavouras de soja (Glycine max), em horários preestabelecidos, utilizando diferentes métodos de amostragem e com panos de batidas de diferentes tamanhos (1,0 x 1,4; 1,0 x 1,0 e 1,0 x 0,4 m). Método de amostragem 1,0 x 1,4 (batendo-se os dois lados da linha) 1,0 x 1,0 (batendo-se os dois lados da linha) 1,0 x 0,4 (batendo-se apenas um lado da linha) 1,0 x 0,4 (batendo-se os dois lados da linha) Visual
7:00 às 8:00 3,8a 2,9b 2,6b 1,2c 0,3d
Período de avaliação (horas) 10:00 às 11:00 4,1a 3,0b 2,1c 1,5c 0,4d
14:00 às 15:00 4,3a 3,3b 2,1c 2,2c 0,2d
Tabela 2 – Inseticidas indicados* para o controle do percevejo verde-pequeno (Piezodorus guildinii)** para a safra 2007/08. Comissão de Entomologia da XXIX Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, realizada em Campo Grande, MS. Embrapa Soja, Londrina, PR, 2007 Nome Dose p.c. Classe Nº registro Dose Formulação Concentração comercial (g.i.a/ha) Mapa (g.i.a./kg ou l) (kg ou l/ha) toxicológica1 Orthene 750 BR 0,300 IV 02788394 225 WP 750 1,666 III 26183 800 Carcaryl Fersol 480 SC SC 480 Sevin 480 SC 1,666 800 II 9186 SC 480 Thiodan EC 1,250 II 010487 Endossulfam 437,5 EC 350 Endozol 1,000 013488 II Endossulfam SC 500 SC 500 Tamaron BR 0,500 II 4983 Metamidófos 300 SL 600 Hamidop 600 0,500 I 035082 300 SL 600 Metafós 0,500 II 000989 300 SL 600 Faro 0,500 II 01296 300 SL 600 Engeo Pleno 0,180 III 06105 Tiametoxam + lambda-cialotrina 25,38 + 19 SC 141 + 108 1,600 II 004985-89 Triclorform 800 Triclorfom 500 Milenia CS 500 Nome técnico Acefato Carbaril
I = extremamente tóxico (DL50 oral = até 50); II = altamente tóxico (DL50 oral = 50-500); III = medianamente tóxico (DL50 oral = 500-5000); IV = pouco tóxico (DL50 oral = > 5000); * Antes de emitir indicação e/ou receituário agronômico, consultar relação de defensivos registrados no Mapa e cadastrados na Secretária da Agricultura do estado; ** Para o controle do percevejo verde-pequeno poderão ser utilizados os inseticidas indicados em doses reduzidas pela metade e misturadas com 0,5% de sal de cozinha refinado (500g sal/100l de água0 em aplicação terrestre. Recomenda-se lavar bem o equipamento com detergente comum ou óleo mineral, após o uso, para diminuir o problema de corrosão pelo sal.
1
Tabela 3 – Inseticidas indicados para o controle do percevejo Piezodorus guildinii no ano agrícola 2007/2008 (o vencimento ou a perda do registro no Mapa exclui automaticamente produtos comerciais da indicação) Nome técnico Endossulfam1
Nome comercial Formulação Concentração(g.i.a./kg ou l) Dose p.c.(kg ou l/ha) Classe toxicológica Endozol SC 500 0,875 II 1,250 II Thiodan CE EC 350 Imidacloprido + beta-ciflutrina Connect SC 112,5 0,750 II Metamidofós Tamaron BR SL 600 0,500 II 1,600 II Triclorfom Dipterex 500 SL 500 Trichlorfon 500 Milenia SL 500 1,600 II 1 Pode ser utilizado em dose reduzida (35g.i.a/ha de endossulfam ou 30g.i.a. de profenofós/ha) em mistura com B. anticarsia (ver nas Recomendações técnicas - Tabela 2). Fonte: Recomendações da 35ª Reunião de Pesquisa da Soja da Região Sul
que muitos produtores usem, de forma inadequada, os inseticidas, principalmente devido à falta de conhecimento sobre este assunto. Em seus estudos, Corrêa-Ferreira (2005) concluiu que a intensidade de danos causados pelos percevejos está diretamente relacionada à população e ao estádio de desenvolvimento da planta. Ainda, segundo essa autora, infestações de percevejos E. heros e P. guildinii, no período de desenvolvimento da soja anterior ao aparecimento das vagens, não causam reduções no rendimento e na qualidade das sementes. Portanto, não se justificam medidas de controle para percevejos na fase final do período vegetativo até o florescimento da soja.
AMOSTRAGENS E NÍVEL DE CONTROLE Para que o manejo integrado da soja tenha
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sucesso é importante o conhecimento das pragas e seus inimigos naturais existentes nas lavouras. Neste caso, reconhecer os percevejos em todas as suas fases passa a ser imprescindível na manutenção de uma cultura livre dos danos provocados por estes insetos. Para efetuar as amostragens utiliza-se o “método do pano” (Corrêa-Ferreira e Panizzi 1999) que consiste em uma lona ou pano de cor clara e fosca, de preferência de um metro de comprimento e largura adaptável que pode variar de 1,0m a 1,4m, contendo, ainda, dois cabos de madeira, sendo um em cada lateral. Este pano deve ser inserido entre duas fileiras de plantas de soja, com os cuidados necessários para não perturbar os insetos ali presentes, e desenrolado até que uma das bordas encoste-se à base das plantas de uma das filei-
ras e a outra fique posicionada por cima das plantas da fileira ao lado. Em seguida, inclinam-se as plantas da linha não coberta pelo pano, batendo-se as plantas vigorosamente sobre o pano, deslocando todos os insetos que porventura estejam presentes naquele momento. Recomenda-se a quantificação de forma rápida, iniciando-se pelos adultos e depois pelas formas jovens, anotando-se em uma ficha os valores encontrados para cada situação. O número de pontos amostrados pode variar em função do tamanho da lavoura. Indicam-se de seis a dez amostragens para lavouras entre dez hectares e 100 hectares, respectivamente. Em áreas maiores divide-se os talhões em, no máximo, 100 hectares, lembrando que a confiabilidade dos dados é proporcional ao número de amostragens realizadas (Corrêa-Ferreira 2005). A simples observação visual dos percevejos sobre as plantas não expressa a real situação da área. Outro fato a considerar é a contagem correta do número de ninfas presentes no pano de batida, pois deve ser registrado a partir do terceiro instar. Durante o período reprodutivo das plantas, a maioria da população de percevejos daninhos (75% a 85%) é composta por estas formas jovens que causam danos semelhantes (Corrêa-Ferreira 2005) ou, muitas vezes, até maiores que os adultos. Conforme Hoffmann-Campo et al, (2000), os níveis de controle para percevejos são indicados no período compreendido desde a formação até o enchimento de vagens e podem ser assim descritos: dois percevejos
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Cecilia Czepak
cujos tamanhos sejam maiores que 0,5cm por metro de linha da cultura quando objetiva a produção de grãos e um percevejo maior que 0,5cm por metro para a produção de sementes de soja.
ESTRATÉGIAS DE CONTROLE O controle de percevejos-praga baseia-se quase que exclusivamente na aplicação de inseticidas recomendados pela Comissão de Entomologia das Reuniões de Pesquisa de Soja das Regiões Central e Sul do Brasil (Tabelas 2 e 3) e/ou liberações de parasitóides de ovos. Primeiramente, é preciso estabelecer conhecimento prévio da área antes de começar o cultivo da soja. Ao serem constatadas populações elevadas de percevejos dessas espécies nas palhadas, recomenda-se fazer uma aplicação de inseticida. Porém, tal prática tem como desvantagem eliminar também uma boa parte dos inimigos naturais presentes na área (dependendo do produto empregado). Em virtude do uso de cultivares de soja pertencentes a diferentes grupos de maturação, as primeiras lavouras colhidas passam a ser fontes de infestação de insetos para as lavouras vizinhas (cultivares tardias), nas quais os cuidados são redobrados devido à intensa e rápida migração dos percevejos. Portanto, a opção de controle nesse caso seria a aplicação de inseticidas nas bordaduras, onde se iniciam as infestações, e antes que se estabeleçam gerações de insetos capazes de causar danos acentuados (Degrande e Vivan 2008). Após realizadas amostragens criteriosas e constatada a presença de população de percevejos em nível de controle, a recomendação é pela aplicação em área total. Neste caso deve
valer o bom senso na hora de decidir pelo controle químico, pois áreas escalonadas e de grandes extensões, com maquinário insuficiente, podem comprometer a eficiência da aplicação dos inseticidas. Com o objetivo de melhorar o controle dos percevejos, as aplicações em área total devem ser iniciadas nas bordaduras ou ao redor das áreas cultivadas e, na seqüência em seu
interior. Desta maneira, serão formadas “barreiras” de contenção contínuas na própria lavoura, evitando que os adultos do percevejo migrem para as áreas ainda não pulverizadas, comprometendo o controle. Sempre é bom lembrar que os inseticidas registrados para o controle de pragas precisam ter, na maioria das vezes, eficiência mínima de 80% de controle. Portanto, quando a tomada de decisão na aplicação de agroquímicos ocorre de maneira tardia e o número de insetos ultrapassa o nível de controle (o que é muito comum) é provável que a população restante venha se restabelecer mais rapidamente, requerendo uma segunda aplicação dentro de poucos dias. Quando isso ocorre, recomenda-se que o produto ou grupo de produtos (ciclodienos, organofosforados, piretróides neonicotinóides, entre outros) não seja utilizado repetidas vezes. Também não se deve aumentar a dose dos produtos além daquelas normais, recomendadas pelo fabricante, sem critérios apropriados, pois esses procedimentos poderão intensificar o problema de resistência de insetos a inseticidas C (Degrande e Vivan 2008). Cecilia Czepak, Jardel Barbosa dos Santos e Jácomo Divino Borges, UFG Nívea Maria Machado Ribeiro, Engenheira agrônoma
DESCRIÇÃO E CICLO EVOLUTIVO
O
percevejo verde pequeno (P. guildinii) tem ampla distribuição geográfica, podendo ocorrer desde a região mais tradicional de cultivo de soja (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) até as regiões de desenvolvimento recente do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país (Hoffmann-Campo et al, 2000). Os ovos do percevejo verde pequeno são pretos, em forma de barril, ovipositados em filas duplas nas vagens, na face inferior das folhas, na haste principal ou nos ramos laterais, sendo que na fase de postura mais intensa predominam as oviposições nas vagens da soja, sempre em número de 15 a 20 ovos em cada postura. As formas jovens passam por cinco estágios e, logo após a eclosão, as ninfas permanecem aglomeradas, geralmente próximas à postura, até completarem o
segundo estágio. A partir do terceiro estágio começa o processo de sucção dos grãos. Inicialmente, apresentam as cores preta e vermelha no dorso e, posteriormente, este se torna verde com manchas escuras. O adulto é um percevejo com cerca de 10mm de comprimento. Apresenta cor verde característica, com uma mancha estreita, na base do pronoto, variando de vermelha a preta. Quando se aproxima do final de seu ciclo, os percevejos vão adquirindo uma coloração amarelo-pálida. O percevejo verde pequeno é considerado um inseto de vôos ligeiros e quando a temperatura é favorável ao seu desenvolvimento forma grandes colônias, principalmente nas bordaduras da lavoura. Nesta fase pode se manter na cultura por aproximadamente 53 dias, com cada fêmea ovipositando, em média, 123 ovos.
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Soja
Imprevisíveis Os corós con som em rraízes aízes eju di cam a capaci dad as consom somem aízes,, pr preju ejudi dicam capacid adee ddas plan tas ddee absorver em águ utri en tes e afetam o plantas absorverem águaa e n nutri utrien entes poten ci al pr od utivo ddaa lavour a. Os prin cipais ddesafi esafi os potenci cial prod odutivo lavoura. principais esafios no m an ejo ddaa pr aga são a impr evisibili dad man anejo praga imprevisibili evisibilid adee ddee am en to ocorrên ci a, a polif agi a, a difi culd ad onitor monitor onitoram amen ento ocorrênci cia, polifagi agia, dificuld culdad adee ddee m tr ole tr e a escassez ddee táti cas efetivas ddee con táticas contr trole ole.. En Entr tree as en dad as está o uso ddee in seti ci das estr atégi as rrecom ecom setici cid atégias ecomen end adas inseti estratégi ead ur apli cad os n as sem en tes ou n o sulco ddee sem entes no semead eadur uraa aplicad cados nas semen
O
s sistemas de produção de grãos têm sido bastante modificados nos últimos anos, especialmente na região Oeste do Brasil. Diversos procedimentos concorrem para isso, como a expansão das culturas para regiões antes inexploradas, adoção de novas práticas de cultivo (por exemplo o sistema de plantio direto), alterações na densidade de semeadura, inclusão de outras espécies vegetais nos cultivos de verão/ inverno, integração lavoura-pecuária. Essas alterações exigem que o manejo de insetospraga nos cultivos seja dinâmico, pois a composição e a abundância da entomofauna variam à medida que os sistemas se expandem ou se diversificam, especialmente para o caso de organismos que estão intimamente associados ao solo, como é o caso dos corós. As modificações nos sistemas agrícolas contribuíram para que algumas espécies de escarabeídeos como o coró-da-soja (Phyllophaga cuyabana, Demodema brevitarsis), coró-dotrigo (P. triticophaga), coró-do-milho (Liogenys suturalis e L. fuscus.), coró-das-pastagens (Diloboderus abderus), cascudo-preto-do-arroz (Euetheola humilis) aumentassem o seu po-
No detalhe o coró-da-soja (Phyllophaga cuyabana)
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DANOS tencial de danos sobre as diversas culturas e regiões do Brasil. Estudos relacionados à entomofauna associada ao Sistema de Plantio Direto (SPD), considerando suas inter-relações no agroecossistema, constituem hoje uma demanda importante, tanto nas áreas que adotam ou não rotação de culturas no período de verão, quanto naquelas que praticam cultivos sucessivos de safrinha ou de inverno. O entendimento dos aspectos biológicos e ecológicos dessas espécies de pragas, incluindo suas relações com o ambiente, plantas hospedeiras e inimigos naturais, é de extrema importância para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de estratégias que garantam a exploração sustentável no agroecossistema de SPD, em que prevaleça o equilíbrio biológico.
O termo coró tem sido utilizado para designar as larvas das famílias Scarabaeidae ou Melolonthidae. Várias espécies deste grupo de insetos têm causado danos em lavouras de milho e soja no verão e, em trigo, aveia e milho safrinha nos cultivos de inverno. Os danos são indiretos, pois os insetos, ao consumirem as raízes, prejudicam a capacidade das plantas de absorverem água e nutrientes, afetando, conseqüentemente, o seu potencial produtivo.
MANEJO E CONTROLE
Dentre os entraves relacionadas ao manejo de corós nos sistemas agrícolas e que muitas vezes determinam a ineficácia do controle desse grupo de pragas, destacam-se a imprevisibilidade de ocorrência, a polifagia, a dificuldade de monitoramento, o baixo nível de controle natural, a interação com fatores edafofitoclimáticos, a escassez de táticas Figura 1 - Efeito da época de semeadura do milho sobre a ocorrên- efetivas de controle e a carência de escia de larvas de Diloboderus abderus, população de plantas e ren- tudos bioecológicos, especialmente dimento de grãos (sacos/ha) em Cruz Alta, RS quando comparados aos insetos que ataÉpoca da semeadura Nº de larvas/m2 de Número de plantas/ Rend. de Grãos cam a parte aérea das plantas. Várias táticas podem ser empregado milho solo aos 50 DAE 50,4 m2 aos 50 DAE (sacos/ha) das com o objetivo de reduzir a popula20 de agosto 12,6 a 44,9 a 13,0 a ção de corós no solo ou aumentar a ca01 de outubro 6,5 b 242,4 b 81,1 b pacidade de tolerância da cultura ao seu Médias seguidas de letras diferentes, na coluna, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05) dano nos sistemas de produção agrícoFonte: Adaptado de Silva et al. (1996)
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Fotos Dirceu Gassen
las. O manejo de corós-praga na agricultura tem sido baseado em atitude multilateral que visa reduzir a sua população até o limiar de dano econômico ou estabelecer condições para que a cultura apresente bons níveis de produtividade na presença dos corós. As estratégias de manejo incluem métodos de controle físicos, culturais, químicos ou biológicos. A coleta massal de adultos de corós durante o período de sua revoada constitui uma estratégia física de controle. A captura de adul-
Os danos causados pelos corós, ao consumirem as raízes, prejudicam a capacidade das plantas de absorverem água e nutrientes, afetando, conseqüentemente, seu potencial produtivo
tos pode ser realizada com armadilhas luminosas, para aquelas espécies atraídas pela luz (L. suturalis, L. fuscus e Euetheola humilis), ou até mesmo com feromônio sexual, como ocorre com o coró-da-soja (P. cuyabana). A redução drástica da população de adultos na área contribuirá para menores taxas de acasalamento e de oviposição e, conseqüentemente, para a queda na intensidade de larvas no solo. A manipulação da época de semeadura, o
preparo do solo e a rotação de culturas constituem estratégias culturais de controle de corós. Trabalhos conduzidos na região de Cruz Alta (RS) por Silva et al, (1996), evidenciaram que o retardamento da época de semeadura do milho de agosto para outubro reduziu a intensidade de larvas de D. abderus no solo, tendo como conseqüência melhor estabelecimento de estande e maior rendimento de grãos da cultura (Figura 1). O preparo do
Dirceu Gassen
A coleta de adultos por armadilhas luminosas ou com feromônio sexual, como ocorre com o coró-da-soja (P. cuyabana), contribui para a queda do número de larvas no solo
solo com grade niveladora pode também reduzir significativamente a população de larvas de L. suturalis, D. abderus e P. triticophaga quando comparado à área de semeadura direta. Da mesma forma, a espécie de planta antecessora ao cultivo do milho pode interferir na sobrevivência de corós no solo. A aveiapreta utilizada antes da semeadura do milho como cobertura para produção de palha no sistema plantio direto pode aumentar a taxa de oviposição de D. abderus, quando comparada à ervilhaca, ao azevém, ao tremoço, à colza e ao solo sem cobertura (Silva et al, 1996). Por outro lado, algumas espécies vegetais como a Crotalaria juncea, C. spectabilis e algodão podem prejudicar o desenvolvimento de corós quando utilizadas como alimento nos primeiros estádios larvais. Estas culturas têm sido sugeridas como rotação ou até mesmo em cultivo antecessor à soja nas áreas infestadas com larvas de P. cuyabana (Oliveira et al, 1997). Como os corós se alimentam das raízes das plantas, os reflexos negativos da diminuição do volume de raiz sobre o rendimento de grãos são intensificados em condições de solo com déficit hídrico, baixa fertilidade e camadas adensadas. Dessa forma, qualquer medida que
favoreça o desenvolvimento do sistema radicular da planta, como uma adubação diferenciada, inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio ou promotoras do crescimento radicular, proporcionará maior tolerância das plantas cultivadas ao ataque dos corós. O uso de inseticidas químicos tem sido também investigado como medida de controle de corós, podendo a sua aplicação ocorrer nas sementes ou no sulco de semeadura. Ambas as modalidades constituem alternativas eficientes para o manejo desse grupo de pragas, especialmente em sistemas conservacionistas, como o sistema de plantio direto. Inseticidas do grupo dos neonicotinóides e fenil-pirazós têm proporcionado bons níveis de controle de L. suturalis no milho e de P. cuyabana e L. fuscus na cultura da soja (Figura 2). Já para D. abderus os inseticidas do grupo dos carbamatos e neonicotinóides apresentam melhor eficiência de controle de corós em cereais como o milho, trigo e aveia. Pulverizações realizadas no sulco de plantio por ocasião da semeadura do milho ou da soja, podem também reduzir a densidade populacional de corós no solo, sendo os inseticidas clorpirifós, fipronil e bifentrina os pro-
dutos que apresentam melhor desempenho para esta modalidade de aplicação. O controle biológico de corós, embora ainda muito pouco estudado no Brasil, pode ocorrer naturalmente no campo ou ser aplicado em áreas com incidência da praga. No estado de Mato Grosso do Sul foi constatada a ocorrência de parasitóides dípteros do gênero Ptilodexia em larvas de L. suturalis, sendo observado parasitismo em até 22,5% das larvas coletadas no campo. Nematóides entomopatogênicos, especialmente dos gêneros Steinernema e Heterorhabditis, têm sido estudados visando o controle de corós em Mato Grosso do Sul (Figura 3) e no estado de São Paulo (Leite et al, 2006). A pulverização no sulco constitui um importante veículo para aplicação de fungos e nematóides entomopatogênicos, sendo a soja, o milho e a cana-de-açúcar as culturas mais adequadas para a implementação dessa modalidade de controle. Embora algumas medidas empregadas no manejo de corós nos sistemas agrícolas possam ser adaptadas de outras regiões do país, é imprescindível que os estudos bioecológicos e de controle desse grupo de pragas sejam conduzidos em âmbito regional, considerandose as peculiaridades climáticas e fitogeográficas da região em estudo. Para garantir um manejo efetivo de corós nos sistemas de produção, é necessário identificar, precisamente, as espécies ocorrentes na região, bem como conhecer aspectos do ciclo biológico, tais como hábitos alimentares, plantas hospedeiras, flutuação populacional, inimigos naturais, além das técnicas de amostragem e níveis de dano, com o objetivo de desenvolver estratégias efeC tivas para o seu controle. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Viviane Santos, Universidade Federal de Lavras
Figura 2 - Rendimento de grãos (sacos/ha) nos diferentes tratamentos aplicados nas sementes de soja, na presença do coró-da-soja P. cuyabana. Maracaju, MS. Safra 20003/04
Figura 3 - Controle de larvas de L. suturalis com o nematóide entomopatogêncico Steinernema sp., em condições de laboratório. Dourados, MS
Colunas seguidas de mesma letra, as médias não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05)
Fonte: Santos & Ávila (2006)
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Lenta e fatal De ddesenvolvim esenvolvim en to len to, as infecções causad as por esenvolvimen ento lento, causadas ed ad a, som en te são Di aporth Diaporth aporthee phaseolorum, vari varied edad adee caulivor caulivora, somen ente per cebi das ddur ur an te o flor escim en to, ffase ase em que a ddoença oença percebi cebid uran ante florescim escimen ento, ganha fforça orça e as plan tas com eçam a m orr er pr ecocem en te plantas começam morr orrer precocem ecocemen ente te.. as e o das ddee con tr ole otação ddee cultur Com om edi culturas Como medi edid contr trole ole,, além ddaa rrotação ca, o tr atam en to uso ddee cultivar es com rresistên esistên ci enéti esistênci ciaa ggenéti enética, tratam atamen ento cultivares go en tes com fun gi ci das é fun dam en tal, já que o fun de sem amen ental, fung semen entes fungi gici cid fund se dissemin avés ddas as sem en tes n disseminaa atr através semen entes naa lavour lavouraa
A
doença “cancro da haste” já é conhecida pelos sojicultores bra sileiros desde o início da década de 90. Nesta época, ocorria o cancro causado por Diaporthe phaseolorum variedade meridionalis, responsável por perdas de até 100% em muitas lavouras. As plantas infectadas pela variedade meridionalis mostravam folhas carijós (com necrose internerval) e lesão marrom na haste, relativamente pequena, não-circundante, com margens marrom-avermelhadas bem definidas. Atualmente, encontra-se sob controle com o uso de cultivares resistentes. Quando de sua constatação nos EUA, a variedade caulivora ocasionava perdas de rendimento de grãos superiores a 50%. Em
1994, os prejuízos mundiais foram estimados em 1,9 milhão de toneladas de grãos de soja. Na safra de soja 2006/07, algumas plantas de soja morreram precocemente, ainda na fase de enchimento de grãos, em Passo Fundo e em Coxilha, ambos no Rio Grande do Sul. Os principais sintomas associados foram folhas secas presas às plantas e escurecimento na porção inferior das hastes, circundando-as, normalmente com início na inserção de ramo lateral e estendendo-se por vários centímetros em direção ao ápice da planta. Ao cortar-se o exterior da haste no local da lesão (ou um pouco acima da margem superior) observou-se o lenho também escurecido.
Paulo Bertagnolli
Dirceu Gassen
Soja
Detalhe de hastes atacadas por Diaporthe phaseolorum variedade caulivora
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Fotos Dirceu Gassen
O escurecimento na parte inferior das hastes, circundando a mesma e estendendo-se em direção ao ápice da planta, é sintoma característico do ataque do fungo
os grãos. O peso médio de 100 grãos foi aferido de quatro amostras retiradas de plantas sadias e doentes, separadamente. De uma produtividade total estimada em 3.520 quilos por hectare de grãos de soja (em uma lavoura sadia) a perda devido à doença foi de aproximadamente 750 quilos de grãos de soja por hectare, ou 21,3%. A diferença de peso de 100 grãos entre plantas sadias e doentes foi de 41,8%. Na Argentina, a incidência máxima de plantas com sintomas em uma lavoura chegou a 60%. Na safra 2003/04, os dados argentinos de incidência de cancro da variedade caulivora foram de 13% e de 20%, em duas localidades. Para estes níveis de incidência os valores percentuais de perdas de rendimento de grãos alcançaram 4% e 10%, respectivamente. Em relação ao cancro da haste da soja sabe-se que os danos que causa estão relacionados ao momento de infecção das plantas (quanto mais jovens no momento da infecção, maiores serão as perdas). Infecções necessitam de chuva; assim, períodos chu-
Através de análises morfológicas e moleculares do fungo isolado destas plantas foi possível identificá-lo como Diaporthe phaseolorum variedade caulivora, ocorrendo pela primeira vez no Brasil. Esta doença foi descrita em 1940 nos Estados Unidos e é encontrada, atualmente, no Canadá, na Europa e na Argentina. Neste último país foi identificado em 1999 e está disseminado na principal região produtora, nas províncias de Santa Fé, de Córdoba e de Buenos Aires. Em levantamento patrocinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em lavouras de soja da região norte do Rio Grande do Sul, na safra 2006/ 07, o cancro caulivora foi detectado em plantas de soja coletadas em cinco municípios: Ibirubá, Pontão, Marau, Lagoa Vermelha e Quatro Irmãos. Na safra 2007/08, os agricultores começaram a perceber, pela primeira vez, os problemas causados pela doença, que foi avistada matando plantas também nos municípios de Carazinho, Não-Me-Toque, Água Santa, São José do Ouro, Vacaria, Santo Antônio do Planalto e Ciríaco. Neste último município foi possível realizar avaliação de perdas causadas pela doença em uma lavoura de soja de 80 hectares. Amostraram-se 30 pontos na lavoura, de 1m² cada, contando-se o número total de plantas e o número de plantas com sintomas de cancro na haste. Os resultados variaram entre 11,1% e 70,0%, com média de 37,7% de plantas afetadas/m². Foram colhidas e trilhadas 100 plantas sadias e 100 plantas doentes, separadamente, e pesados
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vosos após a emergência da soja são mais favoráveis a perdas elevadas. É uma doença de desenvolvimento lento e infecções ocorridas na fase vegetativa vão produzir a morte de plantas a partir do florescimento. Como medidas de controle são recomendados o tratamento de sementes, a rotação de culturas e o uso de cultivares de soja com resistência genética. O tratamento de sementes é fundamental para evitar a introdução do patógeno na lavoura, uma vez que a doença é disseminada através de sementes. Dentre os produtos avaliados e indicados para o tratamento de sementes de soja carbendazim, tiofanato metílico e tiabendazol (do grupo dos benzimidazóis) são os mais eficientes no controle de Phomopsis spp., podendo assim ser considerados opção para o controle do agente do cancro da haste, pois Phomopsis é a forma imperfeita de Diaporthe. A lista completa dos fungicidas indicados em 2007 para tratamento de sementes de soja na região Sul encontra-se na Tabela 1. Quando a doença for identificada em
Tabela 1 - Fungicidas indicados para tratamento de sementes de soja. XXXV Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul. Santa Maria, RS, 25 a 27 de julho de 2007. Disponível em http://www.reuniaodasoja.com.br/ anexos.php; consulta em 11/05/08
Lesão típica da doença
determinada área será necessário realizar rotação de culturas por, pelo menos, uma safra, para que os restos de soja possam sofrer decomposição sem a presença de novas plantas de soja (já que o fungo permanece vivo nos restos culturais). A indicação de cultivares de soja com resistência genética é a solução mais efetiva e econômica, porém, há grande dificuldade em se identificar fontes de resistência e incorporá-las em cultiC vares comerciais.
Dose/100 kg de semente Ingrediente ativo (g)· Produto comercial (g ou ml) 30g + 90g ·60ml + 120g 30g + 70g 60 mL + 140ml ·60ml + 144ml 200ml 75g + 75g ou 50g + 50g 200g 250 ml 5g + 70g 33ml + 140ml ·33ml + 144ml 2,5g + 1g 100ml 15g + 90g 150g ou 31ml + 120g 17g + 70g ·170g ou 35ml + 140ml ·170g ou 35ml + 144ml 15g + 50g 150g ou 31ml + 140ml ·150g ou 31ml + 144ml ·200ml 50g + 50/g ·70g + 100g 100ml + 100g ·100ml + 100g 50g + 30g 100g + 60ml
Mistura não formulada comercialmente. Fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250 g do produto + 250 mL de água para 100 kg de semente.
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Leila Maria Costamilan
Leila Maria Costamilan e Paulo Fernando Bertagnolli, Embrapa Trigo
Nome comum Produto comercial Carbendazim + Captana1 ·Derosal 500 SC + Captan 750 TS Carbendazim + Tiram1 Derosal 500 SC + Rhodiauram SC ·Derosal 500 SC + Thiram 480 TS ·Derosal Plus Carboxina + Tiram Vitavax-Thiram WP ·Vitavax-Thiram 200 SC2 Difenoconazol + Tiram1 ·Spectro + Rhodiauram SC ·Spectro + Thiram 480 TS Fludioxonila + Metalaxil-M ·Maxim XL Tiabendazol + Captana1 ·Tecto 100 (PS e SC) + Captan 750 TS Tiabendazol + Tiram ·Tecto 100 (PS e SC) + Rhodiauram SC Tecto 100 (PS e SC) + Thiram 480 TS Tiabendazol + Tiram1 Tecto 100 (PS e SC) + Rhodiauram SC Tecto 100 (PS e SC) + Thiram 480 TS Tegran Tiofanato metílico + Tolilfluanida Cercobin 700 WP + Euparen M 500 WP Cercobin 500 SC + Euparen M 500 WP· Topsin 500 + Euparen M 500 PM Tolilfluanida + Carbendazim1 Euparen M 500 PM+ Derosal 500 SC
Lavoura na safra 2007/08 com plantas mortas antecipadamente pelo cancro da haste da variedade caulivora
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Café Fotos Paulo Rebelles Reis
Alvo na raiz PPer ddaa dde ee vi ggor ci aa dde atos ais erd vig ausênci cia tratos culturais er dde vi or ee ausên ausên ci dee rresposta resposta esposta aa tr tr atos cultur cultur ais erd vig ausênci cia resposta tratos culturais com oo ad ubação as acterísti cos oo ataque como adubação sintom tomas característi acterísticos com ad sintom tom as car car acterísti cos ddo ddo ataque como adubação ubação são são sin sintom tomas característi acterísticos ddee m osca-d a-r aiz o. ter os mosca-d osca-da-r a-raiz cafeeiro. Conter estrag agos m osca-d a-r aiz ao ao cafeeir cafeeir o. Con Con estrag ag os mosca-d osca-da-r a-raiz cafeeiro. Conter ter os os estr estrag agos causad os aga cações ee in causados praga aplicações inseti setici cid as, causad os pela pela pr pr aga passa passa por por apli apli cações dde dde inseti setici ciddas as causados praga aplicações cid as,,, pr entr tre ezembro fevereir eiro, meses prefer eferen enci cialm almen ente ezembroo ee fever fevereir eiro, meses prefer eferen enci cialm almen ente entr tree ddezembr dezembr te en o, m eses em em que ente mai aior ocorrênci cia chuvas conseqüen seqüentem temen aior ocorrênci ciaa dde dee ch chuvas conseqüen seqüentem temen ente te mai ente que há há m or ocorrên uvas ee con oo solo m or oduto no elhor prod melh elh doo pr prod oduto noo perfil perfil ddo ddo solo uto n no elhor or distribuição distribuição ddo
A
larva da mosca Chiromyza vittata Wiedemann, 1820 (Diptera: Stratiomyidae), conhecida como mosca-da-raiz do cafeeiro, foi constatada pela primeira vez em Minas Gerais, como o próprio nome já sugere, atacando raízes. A larva se alimenta de radicelas e perfura as raízes mais grossas, e, como conseqüência, a planta definha. O inseto adulto é uma mosca e não causa danos. A larva da mosca-da-raiz do cafeeiro, mesmo sendo ápode, ou seja, sem pernas, locomove-se com agilidade no interior do solo, abrindo galerias com diâmetro de aproximadamente 5mm, correspondente ao seu corpo. Assim, numa cova infestada por grande número de larvas, podem ser observadas inúmeras galerias por elas construídas para sua locomoção. A maior concentração de larvas ocorre a até 20cm de profundidade, num raio de 25cm a 30cm a partir da raiz principal, na região de maior concentração de raízes, um de seus alimentos. A fase de pupa se dá no solo e corresponde à transição entre as fases de larva e adulta, onde o inseto não se alimenta. Após, emerge o adulto, macho ou fêmea, através de abertura circular na extremidade anterior da pupa (região da cabeça). As pupas são semelhantes às larvas e aquelas que darão origem a fêmeas são maiores e mais largas, medindo aproximadamente 18mm de comprimento e 5mm de largura. As pupas dos machos são bem menores, medindo 10mm e 3mm de comprimento e largura, respectivamente. Após a emergência dos adultos, o pupário permanece vazio no solo, apodrecendo com o passar do tempo. Não se sabe exatamente a duração da fase de pupa, porém, ela permanece aparentemente apenas alguns dias. A constatação da presença de larvas é feita mediante entrincheiramento de uma cova de cafeeiro. Esta prática consiste em desgalhar cada planta escolhida de um só lado da rua e a limpeza de folhas caídas e outros detritos sob ela. A seguir, abre-se uma trincheira de fora para dentro, na área ocu-
As fêmeas são mais robustas e maiores que os machos
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CONTROLE O controle deve ser preferencialmente realizado visando as larvas no solo, embora a redução de adultos possa significar redução de ovos e conseqüentemente de larvas.
Detalhe do pupário já vazio As larvas podem chegar a medir 24mm de comprimento
pada pelas raízes, em direção ao centro da cova. O total de larvas encontradas é multiplicado por dois já que a trincheira é aberta de um só lado na cova, para não matar a planta. As larvas da mosca-da-raiz ocorrem em um determinado talhão de maneira generalizada, durante todo o ano, e uma grande variação quanto ao número de espécimes por cova infestada, variando de zero a mil ou mais. O número médio de larvas mais comumente encontrado tem sido em torno de 200 larvas por planta. O grande número de larvas que pode ocorrer em uma cova infestada resulta da deposição de uma só vez de uma massa de ovos, de até 2,9 mil ovos, com viabilidade de 100%. Por outro lado, o baixo número de larvas encontradas em covas infestadas pode ser resultado da emergência de adultos a partir de suas larvas que se transformaram em pupas no solo e da ausência de novas posturas nessas covas, antes bastante infestadas. A constatação de larvas no solo durante todo o ano, indica a presença de gerações sobrepostas dessa fase do inseto no talhão infestado, como resultado da emergência de adultos do inseto todos os anos, no período de março a outubro, com a maior quantidade deles emergido no período maio-junho. Adultos capturados em armadilhas adesivas permitiram constatar uma proporção sexual de machos para fêmea da ordem de 6:1 a 9:1. Em uma cova infestada são encontradas larvas de diferentes estádios e tamanhos, indicando diferenças sexuais (já que as larvas que darão origem a adultos machos são menores em comprimento e largura) e sobreposição de gerações.
DANOS Para se alimentar a larva consome as radicelas (que são aquelas mais finas e de função absorvente) e também pode perfurar as raízes mais grossas. Como conseqüência do ataque e em ra-
zão da grande quantidade de larvas presentes, em gerações superpostas, os cafeeiros definham, não respondendo aos tratos culturais normais como as adubações, resultando em redução na produção de café. As perfurações nas raízes mais grossas são também portas de entrada para fitopatógenos, como a fusariose, que causa a interrupção dos vasos condutores, podendo levar a planta à morte.
Cultural Consiste na erradicação das lavouras velhas e improdutivas, principalmente aquelas já atacadas pela praga. Após a erradicação e antes da implantação de novos cafezais (que deve se dar após um ano na mesma área) arar a terra e expor as larvas ao sol e a predadores. As larvas presentes no solo morrerão por falta de alimento, e em plantas novas de cafeeiro não tem sido constatada a ocorrência de larvas da mosca nas raízes. Qualquer tipo de poda em lavoura infestada pela praga somente deve ser realizada após o controle químico. Evitar o uso em excesso de matéria orgânica, pois há evidências de que em solos mais orgânicos a presença da mosca é maior, inclusive sus-
DESCRIÇÃO DA PRAGA
A
s fêmeas são mais robustas e maiores do que os machos, medindo aproximadamente 20mm e 10mm de comprimento, respectivamente, e apresentam coloração geral marrom-claro. Em lavouras muito infestadas, os adultos podem ser observados pousados nas folhas de cafeeiros ou voando lentamente, de março a outubro, com uma maior presença no período de abril a maio. Cada fêmea fecundada deposita, em um só local, uma massa de ovos de coloração verde-água, em fendas no tronco da planta ou no solo, e morre aproximadamente até dois dias após o período de postura, fase que pode durar até 18 horas. Os ovos são elípticos, alongados, brilhantes, ligeiramente recurvados e medem 1,0mm de comprimento por 0,2mm na maior largura. O total de ovos presentes em cada massa é variável, de algumas dezenas a milhares, com 100% de viabilidade. Após a fase embrionária, que dura aproximadamente dez dias, eclodem diminutas larvas, com 2mm de comprimento, de coloração branco-amarelado, que penetram no solo, seu hábitat, e passam a se alimentar das raízes e da matéria orgânica ali presente. A fase larval é longa, podendo durar até dois anos.
A larva que é ápode, ou seja, sem pernas, apresenta aparelho bucal mastigador com mandíbulas bem desenvolvidas, corpo cilíndrico, alongado, suavemente achatado e nitidamente segmentado em anéis e coloração geral marrom. Apresenta pêlos curtos e esparsos em todos os anéis do corpo. A extremidade posterior do corpo da larva é truncada e de coloração preta. Seu tegumento se apresenta rugoso, duro ao tato, com pontos brilhantes e aparência de mosaico, com células circulares proeminentes distribuídas aleatoriamente, conferindo aspecto granuloso. Apresenta-se dura ao tato, com pouca mobilidade visível, diferente, portanto, de outras larvas de moscas que apresentam o corpo mole e com mobilidade. A cabeça é preta e de tamanho reduzido. Completamente desenvolvidas, as larvas podem chegar a medir 20mm a 24mm de comprimento e 4mm a 5mm de diâmetro, que darão origem a adultos fêmeas e machos, respectivamente, após a fase de pupa, que também ocorre no solo. A larva da mosca-da-raiz é diferente de outras larvas conhecidas da mesma família Stratiomyidae pela forma da cabeça, cujos lobos laterais e medianos apresentam processos cilíndricos, e pelo número de segmentos do corpo (11 em vista dorsal e 12 em vista lateral e ventral).
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Danos da larva em raízes mais grossas da planta
O fungo entomopatogênico do gênero Evlachovaea, mata a larva e a deixa com aspecto de giz (esbranquiçado)
peita-se que larvas da mosca possam ser disseminadas pelo esterco. Físico Armadilhas adesivas de cor amarela atraem adultos de ambos os sexos, as de cor vermelha atraem mais fêmeas e devem ser colocadas no período de emergência dos adultos (em geral de março a junho) para reduzir a população do inseto nas lavouras e conseqüentemente a deposição de ovos que darão origem a novas larvas. Biológico Tem sido constatada a presença de um fungo entomopatogênico pouco conhecido pertencente ao gênero Evlachovaea, (próximo de Paecelomices que é mais conhecido), que mata a larva e a deixa com aspecto de giz. A sua presença natural nos diversos tipos de solo talvez seja uma explicação do motivo do inseto não ser considerado praga do cafeeiro em todas as regiões. Outro inimigo natural, Monomachus sp. (Hymenoptera: Monomachidae), é um parasitóide associado ao pupário e provavel-
mente às larvas, já foi encontrado na Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais. Parasitóides machos e fêmeas da espécie M. fuscator (Perty, 1833) já foram relatados emergindo de pupários e também coletados nas copas de cafeeiros atacados pela mosca na Bahia. Há relato que as espécies M. fuscator e M. eurycephalus Schletterer, 1890 são abundantes em fragmentos de Mata Atlântica no estado do Espírito santo. Químico De acordo com o Sistema Agrofit, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os inseticidas tiametoxam (neonicotinóide), dissulfotom (orga-
Premier Verdadero 20 GR Fonte: Agrofit/Mapa
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tiametoxam (neonicotinóide) dissulfotom (organofosforado) + triadimenol (triazol) imidacloprido (neonicotinóide) ciproconazol (triazol) + tiametoxam (neonicotinóide)
Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza Epamig/EcoCentro
DISTRIBUIÇÃO
A
Tabela 1 – Inseticidas registrados para o controle de Chiromyza vittata Actara 10 GR Baysiston GR
nofosforado) + triadimenol (triazol), imidacloprido (neonicotinóide) e ciproconazol (triazol) + tiametoxam (neonicotinóide) possuem registro para o controle de Chiromyza vittata na cultura do café (Tabela 1). O inseticida imidacloprid, da nova geração de inseticidas conhecida como neonicotinóides, é altamente eficiente no controle de larvas da mosca, com mais de 80% de controle. O imidacloprid a 700g/kg de ingrediente ativo e na formulação de grãos dispersíveis em água (WG) pode ser aplicado na dosagem de 1,2 quilo do produto comercial por hectare, em pulverização visando o solo e o colo da planta (100ml a 150ml de calda/planta, metade de cada lado), em aplicação tratorizada ou manual. A pulverização deve ser feita de preferência entre dezembro e fevereiro, meses em que há maior ocorrência de chuvas na maioria das regiões cafeeiras, importante para a distribuição do produto na solução do solo. O imidacloprid também pode ser utilizado com muito bom resultado no controle da cigarra-do-cafeeiro, na mesma modalidade C de aplicação.
Paulo Rebelles Reis alerta para os danos causados pela mosca-da-raiz
mosca C. vittata é de distribui ção neotropical, já constatada na Bolívia, Brasil e Paraguai. No Brasil, apesar de ter sido encontrada atacando cafeeiros na região do centro-oeste de Minas, já foi constatada a ocorrência da praga em cafeeiros das regiões sul de Minas, Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Jequitinhonha, todas em Minas Gerais. Outros estados com identificação da ocorrência da mosca-da-raiz são Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Bahia, ou seja, praticamente em todas as regiões produtoras de café.
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Informe
Ação responsável Cultivar
Lanx ess vai investir sete milhões ddee eur os n Lanxess euros naa er ação ddee en er gi con strução ddee usin construção usinaa ddee co-g co-ger eração ener ergi giaa a partir do bagaço ddee can a-d e-açúcar n o Br asil cana-d a-de-açúcar no Brasil
dial da Lanxess. A substituição de combustível fóssil por recursos renováveis na unidade de Porto Feliz foi iniciada em 2003, com parte de energia gerada a partir de cavaco de madeira. A nova e usina vai contar com taxa de conversão de energia de 90% e possibilitará total independência em relação ao fornecimento externo de energia. “A nova planta assegurará não só o fornecimento de energia em longo prazo, mas também competitividade para a nossa unidade, com energia economicamente acessível e amigável ao meio ambiente”, diz Joerg Hellwig, chefe da unidade de negócios Pigmentos Inorgânicos da Lanxess. “O Brasil representa um mercado muito importante para todo o grupo e o investimento na nova planta mostra o comprometimento da empresa com o País”, afirma Marcelo Lacerda, presidente da Lanxess no Brasil.
PROCESSO
A
car, combustível renovável e ecológico, permitirá que a produção seja totalmente neutra de CO2, uma vez que a quantidade de gás emitida será a mesma que as plantas consumirão mais tarde, no processo de crescimento. ”A gestão cuidadosa de recursos e o uso de processos ecológicos de produção são fundamentos importantes de nossa estratégia global de sustentabilidade. Com a construção desta usina, estamos aliando aspectos ecológicos e econômicos de forma ideal”, comenta Werner Breuers, membro da diretoria mun-
Estrutura funcional da fábrica de Porto Feliz
C
Lanxsess
Lanxess anunciou em outubro a construção de uma usina de cogeração de energia com combustível renovável no Brasil. A usina vai usar bagaço de cana e a expectativa é de que vá suprir todo o consumo de energia elétrica necessário para a operação da planta de Porto Feliz, interior de São Paulo, onde fica a fábrica de óxido de ferro da empresa, considerada uma das maiores do mundo. Prevista para ser inaugurada no início de 2010, a usina contará com investimento de sete milhões de euros. Com a entrada em funcionamento as emissões de CO2 serão reduzidas em 44 mil toneladas anualmente. O refinanciamento do investimento deverá ser realizado parcialmente por meio da venda de créditos de carbono. O emprego da cana-de-açú-
O processo todo funcionará como uma grande panela de pressão. O bagaço da cana é queimado, gerando calor e esquentando a água armazenada. Essa água vira vapor com alta pressão que aciona as turbinas, gerando assim, energia. O vapor é utilizado no processo de produção que retorna como água novamente, sendo reaproveitada. Além de o processo ser totalmente limpo e com resíduo quase zero (as cinzas do bagaço são excelentes adubos naturais), possibilitará também a geração de créditos de carbono cuja venda é fator imprescindível para a sustentabilidade do projeto que visa a promoção de C um crescimento limpo e competitivo.
Marcelo Lacerda destacou o comprometimento da empresa com o Brasil
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Algodão
Dupla nociva A ddestruição estruição ddas as ffolhas olhas é o que iid den tifi ca os ddan an os causad os tan to pelo entifi tifica anos causados tanto curuquerê qu an to pela ffalsa-m alsa-m edi deir as plan tas ddee alg odão. O ataque quan anto alsa-medi edid eiraa n nas plantas algodão. ervur as e os pecíolos pod da ser m ais in ten so e também ddanifi anifi car as n anificar nervur ervuras pecíolos.. podee ain aind mais inten tenso clo ddaa cultur atur ação pr ecoce Altas infestações n o fin al ddee ci no final ciclo culturaa causam m matur aturação precoce ução ddaa pr od ução. açãs alisação ddaa frutifi cação ee,, com isso, a rred ed das m frutificação edução prod odução. maçãs açãs,, par paralisação Par an ejo ddessas essas lagartas onitor am en to sistemáti co, araa o m man anejo lagartas,, além ddee um m monitor onitoram amen ento sistemático, realizad o pelo m en os ddu uas vezes por sem an a, o con tr ole bi ológi co com a ealizado men enos seman ana, contr trole biológi ológico ad o a outr as altern ativas ddee baix o vespa par asitói de Tri rich chogr ogramm ammaa associ associad ado outras alternativas baixo parasitói asitóid ch ogr amm tr or es atur ais ganha força en impacto sobr gos n entr tree os pesquisad pesquisador ores sobree inimi inimig natur aturais
O
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sar de poderem ocorrer em ataques tardios.
ATAQUE E DANOS Ambas as espécies (A. argillacea e T. ni)
atacam o limbo foliar do algodoeiro, consumindo as folhas quase totalmente, podendo atacar também as nervuras maiores e os pecíolos. Quando o ataque ocorre por ocasião da
J.B. Torres
algodoeiro pode ser atacado por diversos insetos e ácaros desde a emergência das plantas até a colheita. Se não controlados são capazes de causar perdas com redução significativa de produção. Na lavoura, o ataque de uma dada espécie normalmente é direcionado a uma determinada parte da planta, apesar da mesma espécie poder atacar diferentes partes das plantas. Além disso, a suscetibilidade do algodoeiro ao ataque de pragas está associada ao seu ciclo fenológico. Enquanto insetos que se alimentam das maçãs do algodoeiro tendem a infestar as lavouras da fase intermediária ao final do seu ciclo reprodutivo, aqueles que provocam desfolha tenderão a concentrar seu ataque no início do ciclo de cultivo até a fase intermediária, entre 30 a 90 dias após a emergência. Neste período ocorre o maior crescimento vegetativo, florescimento e frutificação. Portanto, época de maior demanda metabólica para manutenção das plantas, cuja sede principal são as folhas. Entre as lagartas desfolhadoras que atacam o algodoeiro nesta fase está o curuquerê do algodoeiro [Alabama argillacea (Lepidoptera: Noctuidae)] e a lagarta falsa-medideira [Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae)]. As pragas surgem nas lavouras desfolhando as plantas predominantemente entre o início e meio do ciclo de cultivo, ape-
Ovos do curuquerê do algodoeiro recém-depositados e o aspecto após três dias da postura
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Charles Echer J.B. Torres e Cristina Schetino Bastos
Lagartas do curuquerê do algodoeiro (acima clara e no meio escura) e da falsa-medideira (abaixo)
CONTROLE O controle de A. argillacea e de T. ni pode Cristina Schetino Bastos
abertura das maçãs, provoca maturação forçada, diminuindo a resistência das fibras. As pragas podem, ainda, causar redução da capacidade fotossintética das plantas, devido à desfolha. As lagartas provocam desfolhamento descendente na planta, a partir das folhas do ponteiro. Os últimos três estádios larvais são responsáveis pela maior parte da desfolha e, dependendo da época de ataque, têm a capacidade de causar maturação precoce das maçãs e paralisação da frutificação, resultando em redução da produção. Altas infestações no final do ciclo da cultura, por ocasião da abertura dos capulhos, causam queda da qualidade da fibra colhida devido às manchas ocasionadas pelos peletes de fezes que caem sobre os capulhos e desmancham com a umidade, bem como o esmagamento de lagartas pela colheitadeira.
tas pequenas (2mm) por planta ou uma ou mais lagartas de tamanho médio ou desfolha de até 10% do terço superior das plantas. Já o NC adotado por pesquisadores da região Nordeste é de 22% de plantas contendo lagartas >1,5cm ou 53% de plantas contendo lagartas <1,5cm. No caso da falsa-medideira o NC adotado é de duas lagartas por planta ou 25% de desfolha. Esses níveis de infestação adotados para o controle são baseados na amostragem convencional que consiste na avaliação de um número constante de plantas por talhão homogêneo. Entretanto, já existe disponível na literatura amostragem seqüencial para o curuquerê do algodoeiro.
ser feito através da adoção de vários métodos de controle. Uma das estratégias que estão sendo pesquisadas é o controle biológico através da liberação de vespinhas parasitóide chamadas Trichogramma. Essas vespinhas depositam ovos no interior dos ovos do hospedeiro (curuquerê do algodoeiro, falsa-medideira e de outros lepidópteros que atacam o algodoeiro) e as larvas do parasitóide alimentandose do conteúdo interno dos ovos das pragas impedem o desenvolvimento embrionário. Como o desenvolvimento do parasitóide ocorre dentro do ovo da praga, adquire coloração escura, enquanto os sadios apresentam desenvolvimento embrionário normal culminando com a emergência das lagartas. Além disso, os ovos parasitados, ao invés de produzirem novas lagartas (após três a quatro dias), irão resultar em novas vespinhas parasitóide (findo oito a dez dias) depois do parasitismo. Alguns ensaios realizados no Mato Grosso, que objetivaram avaliar a eficiência de controle do curuquerê do algodoeiro através de liberações inundativas da vespinha Trichogramma, demonstraram alta capacidade de parasitismo da vespinha mesmo quando liberadas em áreas comerciais e em diferentes épocas (safra e safrinha). Os resultados, surpreendentemente, mostram elevado índice de parasitismo natural de ovos do curuquerê pelo Trichogramma. Além disso, a média de ovos parasitados em diferentes campos experimentais que receberam liberação de T. pretiosum foi crescente com o desenvolvimento das plantas e aumento na disponibilidade de ovos, variando de zero no início do desenvolvimento das plantas até aproximadamente 25 ovos parasitados em estágios mais avançados do ciclo fenológico. Ao final do ciclo de crescimento das plantas, a
MANEJO Para o manejo dessas lagartas, as lavouras devem ser inspecionadas sistematicamente (pelo menos duas vezes por semana), sendo o nível de controle (NC) recomendado variável (dependendo dos autores e regiões). No caso do curuquerê do algodoeiro, o NC recomendado por pesquisadores das regiões Sul e Sudeste é de duas lagartas por planta ou 25% de desfolha ou, ainda, a presença de cinco lagar-
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J.B. Torres
Vespa T. pretiosum efetuando parasitismo (esquerda), ovos de H. virescens exibindo sintoma de parasitismo (direita acima) e sadios (direita abaixo)
média de ovos parasitados foi reduzida, em decorrência da menor disponibilidade de ovos para parasitismo. As liberações consistiram na introdução de cerca de 100 mil vespinhas por hectare, semanalmente, durante 14 semanas em 2003 e 15 semanas em 2004.
LIBERAÇÃO DE VESPAS Por ocasião da liberação de T. pretiosum, cartelas com ovos parasitados pelas vespinhas foram acondicionadas no interior de copos de isopor de 350ml presos de maneira invertida em estacas de madeira de 1,5m de altura, com um total de 15 pontos de liberação por hectare. As liberações foram feitas com as vespinhas na fase de pupa (um dia antes da emergência dos adultos). Vale salientar, entretanto, que essas áreas foram conduzidas seguindo os princípios de manejo integrado, com enfoque no monitoramento, aplicação de inseticidas apenas quando as infestações das pragas atingiram os níveis de controle, seleção de inseticidas de menor impacto para os inimigos naturais, além de práticas gerais como plantio homogêneo, destruição dos restos culturais da safra e safrinha etc. Algumas empresas brasileiras comercializam a vespinha Trichogramma e normalmente isso ocorre através do envio de ovos parasitados que, ao serem recebidos, devem ser mantidos até a emergência dos parasitóides que são liberados através do caminhamento pela lavoura. Normalmente, ao enviar cartelas contendo ovos parasitados pela vespinha, as empresas encaminham ainda folder explicativo contendo recomendação para liberação do parasitóide. A utilização desse método de controle apresenta vantagens como: 1) ser
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inócuo ao homem, aos animais e à maioria dos outros agentes de controle biológico; 2) possuir “período residual” superior a outros métodos de controle, dada a possibilidade de multiplicação do parasitóide nas lavouras como visto neste estudo resultando em crescente taxa de parasitismo, seja natural ou das liberações; 3) não apresentar o risco de desenvolvimento de resistência pela praga; 4) ser capaz de atuar em áreas circunvizinhas uma vez que haja possibilidade de dispersão; 5) não requerer equipamento especial para sua utilização; 6) ser de fácil uso e manejo. Todavia, por se tratarem de organismos vivos há que se considerar o risco de mortalidade dos parasitóides durante o transporte ou liberação, resultando em anulação de sua ação. Portanto, deve-se realizar o controle da taxa de emergência (número de parasitóides em relação à quantidade de ovos parasitados) e o acompanhamento da qualidade dos indivíduos emergidos. Isto pode ser facilmente realizado mantendo um pedaço da cartela contendo a sua identificação (origem, data etc)
CARACTERÍSTICAS DAS LAGARTAS
A
mariposa do curuquerê do algodoeiro apresenta hábito noturno, mede aproximadamente 30mm de envergadura, possui cor marrom-palha e apresenta duas manchas circulares escuras na parte central das asas anteriores. Uma fêmea pode depositar até 500 ovos isolados nas folhas do terço superior, predominantemente. Os ovos são pequenos, apresentando aparência de pontos nas folhas, possuem coloração azul-esverdeada quando recém-depositados e tornam-se transparentes à medida que se aproxima a emergência das lagartas. São de formato circular e achatado, depositados isoladamente tanto na face superior quanto na inferior da folha do algodoeiro. A lagarta pode medir até 40mm de comprimento, com coloração que varia do verde-amarelado ao verde-escuro. Apresenta a cabeça amarelada com pontuações pretas e listras longitudinais ao longo do corpo. Quando o nível populacional aumenta, as lagartas podem apresentar coloração escura. Locomovem-se como “mede-palmo” semelhante à falsa-medideira, porém, possuem coloração diferenciada e quando tocadas as lagartas do curuquerê saltam da planta, enquanto as da falsa-medideira ficam aderidas, apresentando, até mesmo, resistência ao se tentar coletá-las. Ao final da
fase larval a lagarta do curuquerê enrola a folha onde se encontra e tece uma espécie de casulo, passando todo o período pupal no seu interior. A pupa tem formato reniforme e cor castanho-escura. A lagarta falsa-medideira é caracterizada por apresentar coloração verde, com estrias longitudinais brancas ao longo do corpo e pernas torácicas usualmente escuras. São facilmente reconhecidas pelo hábito de caminhar como medindo palmos. Possuem apenas dois pares de falsas-pernas no meio do corpo, ao invés dos quatro pares encontrados na maioria das lagartas. A pupa de T. ni é amarronzada e formada no interior de um casulo fino e confeccionado com fios de seda e, geralmente, depositado sobre a própria planta ou sobre restos vegetais. O adulto atinge cerca de 3,7cm de envergadura e apresenta uma mancha prateada característica na asa anterior. Os ovos de T. ni são similares aos das lagartas das maçãs (Heliothis virescens e Helicoverpa zea), diferenciando-se apenas por serem mais achatados e por possuírem reentrâncias menos proeminentes. São depositados de maneira isolada e, na maioria dos casos, na face dorsal das folhas mais velhas e não nas folhas terminais e mais novas onde se encontram a maioria dos ovos de H. virescens e H. zea.
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para posterior averiguação da taxa de emergência e qualidade dos parasitóides emergidos (i.e., proporção de fêmeas:machos que deve se situar acima de 70%, partes do corpo bem formadas – asa, pernas e antenas). Caso a liberação seja realizada a partir de adultos recém-emergidos e alimentados, a averiguação da qualidade das vespinhas pode ser realizada no momento que antecede a liberação. Além disso, por serem insetos diminutos, normalmente apresentam baixa resistência às chuvas, ventos fortes e demais intempéries, bem como à aplicação da maioria dos inseticidas recomendados para o controle das pragas do algodoeiro. Portanto, a adoção de práticas de manejo integrado é fundamental para obtenção de sucesso usando as vespinhas para o controle de ovos de lepidópteros-praga do algodoeiro. Indiretamente, a adoção da vespinha Trichogramma para o controle do curuquerê do algodoeiro e da falsa-medideira pode auxiliar no manejo de outros insetos da cultura. Este fato é decorrente da redução na freqüência de aplicação de inseticidas resultando na conservação de outros inimigos naturais que atuam sobre as demais pragas, mantendo-as abaixo dos níveis que ocasionam prejuízo econômico. C Cristina Schetino Bastos, Embrapa Sede
Parasitismo de T. pretiosum em função da idade das plantas em diferentes safras. Mato Grosso, 2003 e 2004
C
Coluna ANPII
Difusão de conhecimento En tr as ações par tag en o Entr tree outr outras paraa popularizar as van vantag tagen enss ddo oculan tes fer ece curso com acesso de in inoculan oculantes tes,, a ANPII oofer ferece download gr atuitos vi tern et gratuitos viaa In Intern ternet
A
Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), com o objetivo de difundir o uso dos inoculantes para leguminosas, oferece em seu site um curso, em formato Power Point, para download gratuito. A tecnologia da inoculação de leguminosas é uma das práticas que trazem, proporcionalmente ao investimento, maior retorno econômico ao agricultor. As bactérias do inoculante, chamadas genericamente de rizóbios, associam-se às raízes das leguminosas, formando estruturas denominadas nódulos que aproveitam o nitrogênio existente no ar e o fornecem às plantas. Dessa forma, aumentam a produtividade, enriquecem o solo e dispensam todo ou parte do fertilizante químico nitrogenado. No Brasil existe uma forte estru-
produzidos com as estirpes brasileiras, pois têm seu funcionamento comprovado pelas instituições de pesquisa. Mas como o conhecimento sobre este assunto ainda é muito pouco difundido, tanto entre os agricultores como em meio aos agrônomos e técnicos agrícolas da assistência técnica, a ANPII vem promovendo diversas ações para transmitir estes conhecimentos de forma didática, moderna, gratuita e de fácil acesso a todos os interessados. Neste ano a ANPII promoveu um ciclo de 11 palestras, proferidas por pesquisadores, em diversos estados do Brasil, com o objetivo de difundir o uso do produto e o quanto os agricultores que não empregam esta tecnologia deixam de ganhar em suas lavouras.
uso e
tagem do uso do produto para o aumento da produtividade e enriquecimento do solo. O quarto módulo explica os fatores de solo e clima que favorecem ou prejudicam o funcionamento da tecnologia e os cuidados que o agricultor deve tomar na hora do uso para poder tirar o maior proveito desta importante ferramenta para aumentar a produtividade. Todos os dados de pesquisa foram extraídos de publicações, mostrando resultados obtidos em instituições oficiais, garantindo sua isenção com relação às empresas. Desta forma, a ANPII, dentro de um amplo programa de divulgação, acrescentou o curso em sua página www.anpii.org.br, em formato leve e compacto, permitindo rápido download e fácil leitura.
A tecnologia da inoculação de leguminosas é uma das práticas que trazem, proporcionalmente ao investimento, maior retorno econômico ao agricultor tura de pesquisa no tema, com várias instituições envolvidas, como Embrapa, Fepagro, diversas universidades, o Iapar, desenvolvendo trabalhos para a seleção de estirpes (raças) cada vez mais eficientes no aporte de nitrogênio para as plantas. Estes trabalhos colocaram o país na liderança mundial no uso de inoculantes, em especial na soja, embora hoje já existam importantes trabalhos em feijão, amendoim, feijão-caupi e outras leguminosas. Isso mostra que a fixação biológica do nitrogênio funciona muito bem em outras plantas e não apenas na soja. Existe, também, um parque industrial muito bem montado, capaz de produzir inoculantes de elevada qualidade. A ANPII reúne nove destas empresas, entre nacionais e estrangeiras, sendo que estas últimas exportam para o Brasil inoculantes
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Para buscar atingir um público mais amplo, utilizando os recursos proporcionados pela Internet, foi preparado curso com informações atualizadas, de forma bem didática, contendo os ensinamentos básicos para que tanto agricultores como estudantes, técnicos agrícolas e agrônomos possam compreendê-lo de forma rápida, acessando-o nos horários mais convenientes. O curso está dividido em quatro módulos. O primeiro abrange a parte teórica sobre a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), com os mecanismos bioquímicos do processo, como se forma o nódulo a partir da inoculação. O segundo trata da cadeia do inoculante, mostrando a produção, a legislação que rege o produto, os padrões de qualidade. Já o terceiro apresenta os mais atualizados resultados de pesquisa que demonstram a van-
Mas, como o conhecimento é dinâmico e evolui muito rapidamente, o curso será periodicamente atualizado, com o aporte de novos conhecimentos. Quem se inscrever para receber a newsletter da associação, será automaticamente informado de novos módulos que venham a ser colocados no curso que, portanto, terá caráter dinâmico. A ANPII também se coloca, através de seu “fale conosco” na página da Internet, à inteira disposição dos internautas para questionamentos e explicações complementares. Um acesso aos artigos que também se encontram na página complementará e C ampliará os conhecimentos.
Dezembro 2008/Janeiro 2009 • www.revistacultivar.com.br
Solon C. de Araujo, Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
E agora, José?
E
m fevereiro de 2008, iniciei minha coluna na Cultivar escre-vendo: “...Quer me parecer que desejar feliz Ano-novo aos produtores agrícolas e a outros players do agronegócio parece pouco. Melhor já adiantar um feliz próximos cinco anos, uma vez que, do meu ponto de observação, parece-me que, como nunca antes na História da Humanidade o agronegócio viverá um ciclo de exuberância e de expansão como o que vamos vivenciar”. Mas encerrei alertando: “Existe apenas um risco para esta previsão: uma brutal recessão em escala planetária, que enxugue a liquidez do mercado, reduza a renda das famílias (em especial a previsão de renda futura) e torne os mercados mais fechados e protecionistas”.
período de bonança do subprime americano acabara, moveram seus portfólios para commodities, agrícolas ou minerais, incluindo petróleo. Com o início da crise financeira, em setembro passado, os preços despencaram quase 50%. Este era o inchaço artificial dos preços que os analistas mal informados ou de má-fé (como antecipei na Cultivar de maio) atribuíram aos biocombustíveis. Por oportuno, a produção de etanol e biodiesel continuará crescendo com efeito marginal sobre o preço dos alimentos. O processo de inserção social atingiu um patamar elevado. Os números do Banco Mundial mostram queda contínua na pobreza mundial (concentrada na África e na Ásia), que trouxe ao mercado de alimentos famélicos de diversas
zo, pode-se esperar que o petróleo mantenha a cotação atual, inferior ao da última safra. Não há indicações de que a China vá reduzir suas importações de soja ou milho, ou a Índia de óleo de soja, assim como os Estados Unidos continuarão sua retração no mercado internacional de ambos os grãos. Desta forma, o mercado específico de milho e soja deve sofrer menos volatilidade, devendo ter encontrado seu novo piso de cotação, acima do nível observado até 2005. O clima adverso costuma provocar elevação das cotações dos preços agrícolas. Obviamente, não há como prever o comportamento do clima durante o próximo ano, mesmo de forma macro. O que é possível antecipar é que, com os estoques no limite de baixa, uma seca pro-
O que é possível antecipar é que, com os estoques no limite de baixa, uma seca prolongada nos grandes países produtores provocará uma reação de preços Diz o ditado que o diabo não é diabo porque é diabo, mas sim porque é velho. Foram os meus (quase) 60 anos que fizeram com que eu antevisse, em janeiro, algo que aquele momento, ninguém imaginava como provável, que é a tremenda crise financeira que estamos atravessando, responsável por empobrecer o mundo em estimados US$ 30 trilhões (redução de liquidez), ameaçando o emprego, logo a previsão de renda futura das famílias, diminuindo o consumo e arriscando tornar os mercados mais fechados e protecionistas. Em maio, analisei as principais causas que provocaram a alta dos preços dos alimentos. Agora, para fechar 2008, julgo importante rever o impacto destas causas, face ao novo ambiente econômico mundial - durante e pós-crise - sobre os preços agrícolas. O índice de preços da FAO já capturou a queda dos preços no mercado internacional. Este primeiro efeito é devido, exclusivamente, ao estouro da bolha da especulação financeira. Quando os grandes investidores internacionais perceberam (no final de 2006) que o
etnias. Há um grande ponto de interrogação sobre o que ocorrerá com os recém-chegados ao mercado de alimentos. Se a recessão for muito forte, parte do contingente retornará às estatísticas dos famélicos. Por outro lado, os estoques mundiais de alimentos continuam baixos, o que pode ser um freio na queda dos preços. Igualmente, os preços dos fertilizantes e dos fretes internacionais continuarão altos em 2009, o que freará a queda dos preços, devido ao alto custo de produção e de transporte. Só que este fato em nada ajuda o agricultor, pois significará apenas o equilíbrio entre custo e preço. Outro fator de pressão altista era a queda geral da cotação do dólar. Em apenas 30 dias de crise financeira, a cotação do dólar frente ao real subiu 50%, o que contrabalança a menor cotação das commodities. Por sua vez, o preço do petróleo despencou no mercado internacional, pois desapareceu o fator de especulação financeira. No médio prazo, o preço do petróleo deve incrementar-se novamente, porém, no curto pra-
longada nos grandes países produtores provocará uma reação de preços. Finalmente, o comportamento dos países ricos, com respeito aos subsídios agrícolas, pode afetar a cotação dos produtos agrícolas. Caso haja um aumento do protecionismo dos países ricos, aumentando subsídios e fechando seus mercados, haverá uma redução dos preços dos produtos e da produção agrícola nos países emergentes. Em resumo, o fator especulação desaparece do cenário. Os fatores baixistas mais importantes passam a ser a recessão, o desemprego e o protecionismo dos países ricos. Os fatores altistas são os baixos estoques, a valorização do dólar e a queda do preço do petróleo. E os fatores de estabilização são os altos custos de produção, os fretes elevados e as importações da China. E o fator imponderável será o comportaC mento do clima. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Entre o céu e o inferno, com nova luz no fim do túnel Estamos fechando um ano em que os produtores foram ao céu no primeiro semestre e onde os preços dos insumos pelo mundo afora dispararam, puxados pelas cotações recordes das principais commodities. Mesmo com esse aumento de custos os produtores não se assustaram e somente caíram na realidade quando estourou a crise nos Estados Unidos. Da noite para o dia grande parte do dinheiro artificial criado com a especulação financeira virou fumaça, as cotações das commodities agrícolas foram jogadas para patamares reais e o dólar teve valorização frente às principais moedas. Enquanto isso, no Brasil, os produtores sentiram a crise apertar em cima dos custos que cresceram forte e obrigaram o segmento a uma safra mais racional, com grande queda no volume de fertilizantes, com a expectativa que mais à frente o quadro se normalize. As cotações das commodities caíram entre 40% e 50% no mercado internacional entre maio e novembro e agora buscam a estabilidade para voltar à realidade. Para o próximo ano, não devem ocorrer diferenças significativas em relação aos anos anteriores. Continuaremos vendo uma produção mundial apertada, menor que o consumo e conseqüentemente haverá queda nos estoques. De agora em diante, novamente os fatores fundamentais devem comandar os negócios. Com a entrada do novo presidente americano a tendência é de que a crise amenize, embora tenda a atingir setores de maior valor agregado, com alguns países entrando em recessão em 2009. Os países emergentes têm vantagens sobre os demais porque permanecem com o custo da mão-de-obra mais barato, continuarão crescendo e manterão o consumo de alimentos em alta. A crise não irá tirar a fome da população e também não veremos ninguém diminuir o consumo dos alimentos básicos (dos quais somos produtores) só porque os americanos não conseguiram pagar o financiamento de suas casas milionárias. Seguimos apostando na recuperação de parte das perdas que tivemos nas cotações nestes últimos três meses e com boas expectativas de consumo mundial, favorecendo o mercado de exportação. A parte escura já passamos, agora começamos a ver novamente uma luz no final do túnel.
MILHO Final de ano com estoques O mercado do milho, de anos com estoques baixos, está fechando 2008 com sobras nas mãos dos produtores. Desta forma deveremos ter grande pressão de oferta em janeiro, o que servirá como limitante de preços. Enquanto isso, veremos forte queda no plantio da safrinha, que fecha o ano com indicativos fracos para os produtores. A reação deve vir somente se tivermos quebra da primeira safra via clima. A safrinha caminha para forte queda no plantio e assim favorecerá o segundo semestre de 2009.
SOJA Escassez de ofertas e mercado interno O mercado da soja tem sentido a forte queda nos indicativos em Chicago. Mas pouco alterado no Brasil porque enquanto recuava em dólar, a moeda americana disparava por aqui, chegando a bater a marca dos R$ 2,50 e depois recuando. Com isso deu suporte para que os indicativos no Brasil
se mostrassem entre os R$ 40,00 aos R$ 50,00. Enquanto isso, o mercado da safra nova está fechando o plantio com poucos negócios efetivados. Os produtores usaram recursos de várias origens e até deixaram de pagar parcelas de máquinas para comprar os insumos para o plantio que está apontando para leve queda em relação à safra passada, mas recuando menos do que esperávamos e com menor grau de endividamento do setor. Teremos cerca de 85% da safra por negociar na colheita em diante. A produção sinaliza para níveis de 58 milhões de toneladas, contra 60 milhões de toneladas colhidas neste ano.
FEIJÃO Em colheita A primeira safra do feijão dos estados do Sul e Sudeste está em colheita, com atrasos em várias regiões. Além disso, há outras áreas que deveriam plantar milho, mas que foram substituídas por feijão em novembro. Com isso a colheita deve se estender até fevereiro. O mercado não mostra fôlego
para reação neste período, os indicativos devem andar entre os R$ 55,00 a R$ 100,00 por saca, com forte necessidade de apoio do governo para garantir o preço mínimo de R$ 80,00 por saca.
ARROZ Pouco interesse das indústrias Apesar da alta do dólar, o mercado voltou a importar arroz neste final de ano, devido à forte queda nos indicativos do Mercosul, que apresentava ofertas dentro dos níveis que estavam sendo praticados no Brasil. Com isso, o arroz está fechando o ano com preços entre R$ 30,00 e R$ 35,00 por saca, com boas condições no Rio Grande do Sul e perdas em lavouras de Santa Catarina devido às enchentes. O produto não terá grandes alterações neste começo de ano, isso porque o mercado ainda é totalmente voltado para o consumo interno que segue atrelado ao pacote abaixo dos R$ 10,00 nas gôndolas. A expectativa é de que 2009 seja o ano da exportação do produto, que pode avançar.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado mostra pouca liquidez interna. A safra veio cheia, com mais de cinco milhões de toneladas colhidas e os produtores necessitando de caixa. Com isso, vendem a qualquer preço, abastecendo as indústrias que têm deixado de comprar na Argentina (que liquida acima dos R$ 600 por tonelada) para se abastecer aqui e pagar até abaixo do preço mínimo de R$ 440,00. A expectativa é de que em fevereiro o mercado volte a puxar acima dos R$ 500. ALGODÃO - As negociações realizadas nos tempos em que estava cotado acima dos US$ 0,80 por libra e o fato de alguns produtores ter fechado posições para entrega até 2010 estão trazendo bons lucros. Mas como poucos fizeram este tipo de operação, a maior parte vive um momento de custos em alta e com cotações valendo a metade do que valiam no primeiro semestre. Desta forma, caminhamos para uma forte queda no plantio que começa, o que representa uma safra menor que o consumo brasileiro. Em momentos de crise, o algodão sofre mais que as demais commodities agrícolas, o que pode ser explicado com uma gíria simples: “Em tempos de crescimento econômico farto, o pobre troca de roupa, e em tempos de crise, a roupa troca de pobre”. Assim tem sido por gerações.
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EUA - A safra fechou e agora os produtores locais devem diminuir o ritmo dos negócios para favorecer as cotações em 2009. A nova safra caminha para ser novamente limitada e de baixo volume de recursos, com menor exportação e favorecendo outros países exportadores. CHINA - Apesar de muitos apontarem que o país entrará em recessão, deve ocorrer apenas uma redução no ritmo de crescimento que passará dos atuais 12% ao ano para algo entre os 8% e 9%. Essa queda deve afetar pouco o consumo de alimentos, que continuará crescendo e dando lastro para os países exportadores. Como a China não registrou desvalorização da moeda frente ao dólar, atualmente os consumidores locais estão podendo comprar quase o dobro de alimentos do que compravam no primeiro semestre deste ano. ARGENTINA - A safra local está começando com problemas porque enfrenta a estiagem. O país teve forte queda na produção de trigo e com isso deixará de exportar grandes volumes do produto, passando de 10,5 milhões de toneladas para pouco mais de 5 milhões de toneladas. Junto a isso, há expectativa de queda na produção do milho com o volume de exportação também reduzido em aproximadamente 5 milhões de toneladas. Para a soja se verifica pouca alteração no quadro.
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