Cultivar 116

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 116 • Janeiro 2009 • ISSN - 1516-358X

Editori al Editorial

E

ncerramos 2008 com saldo positivo na agricultura brasileira. Apesar dos reflexos da crise econômica mundial houve forte crescimento em relação a 2007. E o cenário para 2009, ainda marcado pelo clima de indefinição, já permite que se vislumbre perspectivas favoráveis ao agronegócio brasileiro. Na área fitossanitária, foco principal das publicações do Grupo Cultivar,, vimos em 2008 o surgimento de novas pragas e doenças, assim como o agravamento de problemas até então considerados secundários nas lavouras brasileiras. Trabalhamos duro para levar informações atualizadas e as novidades da pesquisa, sempre com o propósito de adequá-las à aplicação prática e à realidade das propriedades rurais, de modo a auxiliar os produtores com uma ferramenta a mais no planejamento da produção e maximização dos lucros. Esperamos ter alcançado este objetivo. Por fim, restou-nos uma tarefa árdua. Selecionar entre os excelentes artigos publicados em 2008 aqueles que integrarão esta Edição Especial. É com ela que brindamos você, caro leitor. Boa leitura e que venha 2009 repleto de sucesso! Índice

Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton

Nem atoi des em alg odão ematoi atoid algodão

04

RED AÇÃO REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo

Ferrug em n o tri go Ferrugem no trig

09

• Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação

Jani ce Ebel anice • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação

Ciperáceas em arr oz arroz

12

Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa • Revisão

Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid

MARKETING E PUBLI CID ADE PUBLICID CIDADE • Coor den ação Coord enação

Charles Ri car do Ech er Ricar card Echer • VVen en das end

Ped edrro Batistin Sed eli Feijó Sedeli

CIRCULAÇÃO • Coor den ação Coord enação

Sim on Simon onee Lopes • A ssin atur as Assin ssinatur aturas

Ân gela Oliveir Âng Oliveiraa Gonçalves

Man cha br an ca em milh o ancha bran anca milho

16

GRÁFI CA GRÁFICA • Impr essão Impressão

Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda.

Br oca ddaa can o Broca canaa em milh milho Tratam en to ddee sem en tes ddee soja atamen ento semen entes

20 24

Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Rua: Nilo Peçanha, 212 Pelotas – RS 96055 – 410 Dir etor es Diretor etores Newton Peter e Schubert K. Peter Secr etári Secretári etáriaa Rosimeri Lisboa Alves

Mosca-br an ca em soja osca-bran anca

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www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 119,00 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Bi ch o-min eir o em café Bich cho-min o-mineir eiro

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Melão-d e-são-caetan o em can elão-de-são-caetan e-são-caetano canaa

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• Expedição

Di anferson Alves Dianferson Edson Kr ause Krause Núm er os atr asad os: R$ 15,00 Númer eros atrasad asados: Assin atur tern aci on al: ternaci acion onal: ssinatur aturaa In Intern US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos TTelef elef on es elefon ones es:: (53) • Red ação: Redação: • Ger al Geral 3028.2060 3028.2000 • A ssin atur as: Assin ssinatur aturas: 3028.2070

• Com er ci al: Comer erci cial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Algodão Robert Nichols

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O

Mato Grosso é o maior produtor de algodão do Brasil (Conab, 2007). Com cultivo do algodoeiro totalmente mecanizado, o estado emprega altos níveis de insumos e adota sistemas de cultivo com outros grãos como soja, milho, sorgo e coberturas de milheto ou brachiaria. Estes sistemas, juntamente com a prática de monocultivo, têm elevado as populações de diversos patógenos como os nematóides, causadores de significativas perdas, isoladamente ou associados a fungos ou a bactérias. Cinco espécies de nematóides são prejudiciais ao algodão, porém, apenas três encontram-se no Brasil – Meloidogyne incognita (raças 3 e 4), popularmente conhecido como nematóide das galhas, Rotylenchulus reniformis, nematóide reniforme, e Pratylenchus brachyurus, nematóide das lesões. Estas espécies são ainda mais prejudiciais quando associadas a fungos, como Fusarium e Rizoctonia solani.

A PRAGA E SEUS DANOS Meloidogyne incognita é o mais danoso, pois causa redução do desenvolvimento, a partir de populações muito baixas. Em áreas em que esteja associado a Fusarium oxisporium f. sp. vasinfectum, pode resultar em perdas totais de produção em variedades suscetíveis (Santos, 2001). Os prejuízos causados por esses nematóides são maiores em solos de textura arenosa, com baixa fertilidade (Asmus, 2004). As fêmeas de Rotylenchulus reniformis destroem as células epidermais, necrosam células vizinhas e provocam o colapso do parênquima cortical, injuriando, também, o floema, de onde obtêm alimento. Como conseqüência, as raízes danificadas paralisam o crescimento. Devido à ausência de sintomas externos, torna-se necessária a análise de solo e de raízes em laboratório (Lordello, 1981). Figura 1 - Porcentagem dos diversos gêneros de nematóides encontrados em solo de 273 amostras do Mato Grosso. Laboratório de Nematologia da Coodetec, de Primavera do Leste (MT), safra 2006/07

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Tabela 1 - Porcentagem de áreas contaminadas pela presença do nematóide, em solo e raiz das diferentes espécies. Laboratório de Nematologia da Coodetec, de Primavera do Leste, safra 2006/07 Local

Nº am. Meloidogyne Solo Raiz Pva do Leste 171 4 4 Sorriso 12 83 100 Sonora 1 0 0 Poxoréo 8 88 0 Gaúcha do Norte 22 0 0 Sto Antº.Leste 29 3 7 General Carneiro 30 3 7 Totais 273 10 8

Rotylenchulus Solo Raiz 12 13 8 0 100 0 25 25 0 0 93 83 17 27 21 21

Os melhores resultados no controle de fitonematoides são conseguidos através da rotação de culturas

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Pratylenchus Solo Raiz 77 70 83 83 100 100 75 100 59 45 93 86 90 93 79 74

para ser usada em trabalhos futuros sobre dinâmica das populações ou manejo diferencial visando à redução destes patógenos na área. As amostras de solo e raízes foram processadas e analisadas no Laboratório de Nematologia da Coodetec, em Primavera do Leste (MT). O órgão presta serviços desde 2007 e tem o intuito de auxiliar técnicos e agricultores, devido ao crescente aumento das perdas causadas pelos nematóides na região. Analisando 273 amostras de solo, foram encontrados seis gêneros: Pratylenchus sp., Rotylenchulus sp., Meloidogyne sp., Heterodera sp., Aphelenchoides sp. e Helicotylenchus sp. (Figura 1). Dentre estes, destacam-se três de maior importância para o algodão: Pratylenchus brachyurus, Rotylenchulus reniformis e Meloidogyne incognita. E para a cultura da soja: Pratylenchus brachyurus, Rotylen-

Dan Rahn

Pratylenchus brachyurus é extremamente comum nas regiões tropicais e perdas de produtividade ainda não foram comprovadas em condições de campo, apenas em casa de vegetação. É uma espécie cosmopolita, polífaga, de corpo fusiforme e tamanho microscópico, raramente excedendo 0,9mm de comprimento. Trata-se de nematóides migradores, que se alimentam de células do córtex das raízes, causando escurecimento dos tecidos parasitados. No Mato Grosso, Silva et al. (2002) relataram a expressiva população e a incidência dos nematóides, em solos e raízes de algodão, chamando a atenção para o alto nível de Pratylenchus e a notória falta de informação sobre essa espécie, como parâmetros populacionais prejudiciais. Inomotto et al. (2005) demonstraram que os danos sofridos variam de acordo com a cultivar, sendo, IAC 20 e IAC 22 resistentes, e Deltapine Acala 90 suscetível. Os produtores de algodão do Cerrado precisam conhecer os tipos de nematóides presentes na propriedade, gênero-espécieraça, e seus respectivos níveis populacionais. Esta informação é indispensável para o planejamento dos cultivos e para a implementação de medidas adequadas de manejo cultural, ou a escolha das variedades a serem plantadas. Nas principais áreas produtoras do Mato Grosso, foi realizado um levantamento geral dos nematóides tanto em lavouras de soja quanto de algodão. Estes dados constituem uma referência

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Tabela 2 - Níveis populacionais encontrados nas amostras nematológicas do Laboratório de Nematologia da Coodetec de Primavera do Leste (MT), safra 2006/07 Pratylenchus Solo* Raiz

Rotylenchulus Solo Raiz

Meloidogyne Solo Raiz

Heterodera Solo Raiz

0-6144 0-5376 0-2145 0-382 0-2112 0-2400 0-2048 * Dados por 100cc de solo e 10g de raiz. (*) Método de extração Coolen e D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964.

Tabela 3 - Níveis populacionais encontrados na literatura (Silva et al. 2004; Asmus, 2004), em levantamentos de populações dos principais nematóides do Mato Grosso. Safra 2002/03 Pratylenchus Solo* Raiz 0-365

Rotylenchulus Solo Raiz

0-1806 0-245

-

Meloidogyne Solo Raiz 0-390

0-78

Heterodera Solo Raiz 0-1995 0-1625

* Dados por 100cc de solo 10g de raiz. (*) Método de extração Coolen e D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964.

chulus reniformis, Meloidogyne incognita e M. javanica e Heterodera glycines. P. brachyurus se encontra em maior número nas amostras (33%), tanto na cultura da soja quanto algodão, seguido do nematóide de cisto H. glycines, que só ataca a soja (29%), e em terceiro lugar em ordem de importância econômica o nematóide reniforme (9%) que também ataca ambas as culturas. Helicotylenchus sp. é um nematóide que tem boa distribuição (22%), mas pelo menos por enquanto não tem causado danos significativos. As espécies que mais afetam o algodoeiro estão listadas na Tabela 1. Existe uma distribuição diferencial dos nematóides por região. Pratylenchus se destaca em todas as áreas em relação aos outros dois nematóides. Meloidogyne se encontra em muitos talhões de Sorriso, norte do Mato Grosso e Poxoréo. Rotylenchulus tem maior incidência em Sonora, seguido de Santo Antônio do Leste. No caso da soja, H. glycines é distribuído em quase todas as regiões. Helicotylenchus é um nematóide pouco comum, relatado no Brasil parasitando cana-de-açúcar e frutíferas em São Paulo. O primeiro levantamento de fitonematóides verificou a ocorrência do gênero Helicotylenchus em mais de 90% das 800 amostras coletadas em levantamento na cultura da cana-de-açúcar (Novaretti et al., 1974). Depois disso, outro trabalho apontou que o gênero Helicotylenchus H. dihystera consolidouse como a espécie mais comum, detectada em 49% das amostras, ocorrendo em associação com várias fruteiras. O nível populacional mais elevado foi de 2 mil espécimes por 250cm³ de solo, em


pessegueiro, no município de Paranapanema (SP) (Sher, 1966). Não há relato de danos deste nematóide sobre os cultivos de soja e algodão. Aphelenchoides pode ser encontrado, além da cultura do algodoeiro, em arroz, milho, trigo e morango. Embora sua presença tenha sido constatada em 1969, no Rio Grande do Sul, em morango e, posteriormente, em vários outros estados: (São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo), não se dispõe de informações sobre os níveis de danos provocados, nem se ataca soja e algodão. Os níveis populacionais dos principais nematoides são apresentados na Tabela 2. Os níveis encontrados em trabalhos realizados em 2002 e 2003 são apresentados na Tabela 3. As populações de Pratylenchus e Rotylenchulus aumentaram significativamente desde o levantamento feito por Silva et al. 2002. Já os nematóides de cisto e galha se mantiveram em níveis semelhantes ou abaixo, talvez devido ao uso de variedades de soja resistentes a

estes dois nematóides. O que preocupa é o fato de não existirem materiais resistentes/tolerantes aos nematóides das lesões e reniforme, situação responsável pelo aumento dessas pragas. O crescimento preocupante dos níveis populacionais das três principais espécies de nematóides se deve provavelmente ao modelo de cultivo no Mato Grosso, com pouca rotação de culturas, intenso cultivo de variedades suscetíveis, coberturas hospedeiras e que permitem sua reprodução. As gramíneas, de maneira geral, são suscetíveis a Pratylenchus, ou seja, permitem sua reprodução, porém, a maioria delas são tolerantes aos danos, salvo ao intenso parasitismo (Inomoto et al. 2005). São recomendadas para rotação de culturas, formação de palhada para plantio direto, mas em áreas livres de P. brachyurus, pois esse fitoparasita tem larga escala de hospedeiros e seu fator de reprodução é muito acentuado em gramíneas. O milheto, cultivado em larga escala para cobertura do solo e formação de palhada, antes do cultivo da soja ou algodão, tem agravado o problema com P. brachyurus. Frente a essa situação, a alternativa

NA SOJA

N

a cultura da soja, os principais nematoides são Meloidogyne incognita (raças 1, 2, 3 e 4), Meloidogyne javanica e o nematóide de cisto, Heterodera glycines. Este último causa principalmente alterações morfofisiológicas das raízes, prejudicando o seu desenvolvimento. Em alguns casos, aumenta o número de raízes laterais, porém com redução ou ausência de nodulação (Anjos et al. 1992), de forma a acarretar redução na absorção e na translocação de água e nutrientes na planta. No cultivo da soja, as perdas na produção têm variado de leves (lavouras sem sintomas, nas quais apenas se constatou a presença do patógeno) a severas. Anjos e Sharma (1992) verificaram em lavouras infestadas no município de Chapadão do Céu e Goiás, reduções de 63% na altura das plantas afetadas e estimaram uma queda de 42,5% a 80,4% na produção de grãos.


John D. Byrd

usadas com o objetivo de redução populacional de M. javanica, porém demonstramse suscetíveis a P. brachyurus. O controle de Heterodera glycines, é relativamente simples, pois apresenta uma gama limitada de hospedeiros. Entretanto, a não-adoção das práticas de culturas alternativas, pode inviabilizar economicamente o cultivo da soja. Em razão de sua elevada diversidade genética, o intenso cultivo de variedades resistentes pode contribuir para o surgimento de novas raças (Lordello, 1981). Dessa forma, as principais espécies de nematóides associadas ao algodoeiro encontradas no Mato Grosso, são Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus, sendo o último registrado em todas as áreas. Para Rotylenchulus e Pratylenchus, o nível populacional de ambas tem aumentado de forma preocupante, talvez em decorrência das práticas culturais e da ausência de materiais resistentes/tolerantes no caso do algodão. Já para Meloidogyne e Heterodera, existem variedades de algodão ou soja resistentes, o que tem privilegiado as áreas mais infestadas. C

Forte na turbulência

Entre as espécies de nematoides, a mais danosa é Meloidogyne incognita, pois, mesmo em populações muito baixas, causa redução do desenvolvimento das plantas

que melhor apresenta resultados no controle de fitonematóides é a rotação de culturas, porque melhora as propriedades químicas, como reciclagem de nutrientes e a fixação de nitrogênio (N), no caso de leguminosas, e as propriedades físicas (previne erosão, aumenta a microporosidade, favorece a maior retenção de água) e biológicas. Há relatos demonstrando que solos que receberam matéria orgânica compostada ou resíduos orgânicos, como lodo, controlaram importantes patógenos de solo (Chen et al. 1988). Há também de ser lembrada a importância de controlar as plantas daninhas, que podem ser hospedeiras de nematóides e favorecer a reprodução. Ionomoto et al. 2005, relatam que Crotalaria spectabilis reduziu a população de M. Javanica,. Além desta, C. breviflora e guandu anão (Cajanus cajan), adubos verdes pouco utilizados no Brasil, podem ser recomendados em áreas infestadas por M. javanica ou P.brachyurus. Por apresentarem crescimento vigoroso mesmo em solos com baixa fertilidade, as mucunas (Mucuna pruriens), nas suas diversas cultivares, sempre foram muito utilizadas como adubos verdes na região tropical (Bachmann, 2005), e podem ser

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Tatiane Cheila Zambiasi e Jean Louis Belot , Coodetec

A COLETA DE AMOSTRAS

O

sucesso da identificação de nematoides depende de uma amostragem criteriosa e bem representativa da área. É realizada da seguinte forma: caminhando em ziguezague, coletar em cinco pontos num talhão de 100ha, abrindo o solo em forma de V, próximo às plantas, coletando a rizosfera. Com o auxílio de trado ou enxadão, em torno de 0 - 15 centímetros de profundidade, reunir e homogeneizar todo o solo e raízes, formando uma amostra composta de aproximadamente 300g de solo e 100g de raízes. Em áreas com reboleira, coletar as amostras das laterais e evitar o centro. A extração das amostras de solo e raiz realiza-se com o método Coolen & D’Herde, 1972, e Jenkins, 1964, onde se retira uma alíquota de 100 centímetros cúbicos da amostra, acrescentam-se aproximadamente dois a três litros de água de torneira,

Novembro Janeiro 2009 2008• •www.revistacultivar.com.br www.revistacultivar.com.br

homogeneíza-se a amostra em suspensão, quebram-se os torrões maiores e deixa-se repousar por cerca de vinte segundos. Depois, verte-se a suspensão sobre uma peneira de malha igual a vinte mesh (0,84mm) sobre outra peneira de quinhentos mesh (0,025mm). Foram examinadas 273 amostras, com aproximadamente 73 amostras provenientes do cultivo de algodão e o restante de soja, vindas de várias regiões: Primavera do Leste, Gaúcha do Norte, Sorriso, Sonora, Santo Antônio do Leste, General Carneiro, Campo Verde e Poxoréu. O material foi recebido, identificado e acondicionado até o momento do processamento. As leituras foram feitas e incluídos os números de nematóides presentes em cada amostra, bem como o gênero e a espécie. Para cada amostra realizaram-se os devidos laudos técnicos e repassados aos interessados.


Trigo Dirceu Gassen

Desafiadoras

Cr esce a importân ci as ferrug en olha e ddo o colm o com o limitad or as ddaa Cresce importânci ciaa ddas ferrugen enss ddaa ffolha colmo como limitador oras pr od utivi dad o tri go n o Br asil. M an ejar corr etam en te estas ddoenças oenças eexi xi ge prod odutivi utivid adee ddo trig no Brasil. Man anejar corretam etamen ente xig atenção ddo o pr od utor a aspectos que vão ddesd esd prod odutor esdee a escolha ddaa cultivar até a sen sibili dad os patóg en os à apli cação ddee fun gi ci das sensibili sibilid adee ddos patógen enos aplicação fungi gici cid

N

o cultivo de trigo no Brasil, com cultivares lançadas até o ano de 1970, a infecção de ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia triticina, ocorria em intensidade que não causava prejuízos importantes. A resistência do tipo planta adulta assegurava a estabilidade. A partir daí, com o melhoramento genético da cultura, foram geradas cultivares melhores para várias características agronômicas, mas não se manteve o tipo de resistência. Durante décadas, as áreas tritícolas têm sido semeadas, predominantemente, com cultivares cuja resistência é específica a raças de P. triticina.

TIPOS DE RESISTÊNCIA - A resistência específica a raças é efetiva durante todo o ciclo da planta. Uma cultivar pode ser resistente a uma ou a todas as raças. Se for resistente a todas as raças ocorrentes na região, exceto a uma, esta poderá causar epidemia. As “quebras” de resistência (tabela 1) ocorrem especialmente em cultivares com resistência específica. - A não específica é um tipo de resistência em que a cultivar de trigo apresenta uma resposta suscetível, mas a ferrugem avança com lentidão. A resistência é parcial, possibilitando esporulação, que não atinge níveis elevados (poucas lesões), mas suficiente para evitar pressão de seleção a novas virulências. As cultivares que se mantiveram em cultivos resistentes possuem resistência não específica. A resistência de planta adulta é parcial, sendo que a doença progride mais devagar, em com-

paração à suscetibilidade. Quando há concentração em extensa área de uma cultivar ou cultivares com resistência específica e determinada por mesmos genes, o surgimento de uma nova raça do patógeno é favorecido. A resistência pode ser preservada quando o cultivo é constituído de genótipos com vários genes de resistência, especialmente do tipo parcial, de planta adulta, dificultando as alterações do fungo.

RAÇAS A ferrugem é geneticamente variável e tem muitos tipos distintos de raças, que diferem

na sua capacidade de infectar plantas de trigo com genes de resistência (Tabela 2). Essa grande variabilidade tem permitido que o fungo se adapte a novas cultivares resistentes em curto período de tempo. No ano de 2004 foi identificada uma nova fórmula de virulência, raça MDK-MR (B55) que, nos anos de 2005 e 2006, tornou-se predominante, elevando o nível de suscetibilidade de cultivares importantes. A raça MFP-CT (B56), identificada pela primeira vez em 2005, foi a causa da “quebra de resistência” da cultivar BRS 194. A raça MFH-HT em 2007, tornou inefe-

Figura 1 - Efeito de diferentes tratamentos sobre a área abaixo da curva do progresso da severidade de ferrugem da folha do trigo cultivar Safira (C.V. 3,04%)

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Quadro 1 - Tipos de resistência à ferrugem da folha de trigo Tipos de resistência * Específica à raça * Não específica à raça Progresso lento da ferrugem Durável

tiva a resistência das cultivares Fundacep 50, Fundacep 51 e Fundacep 52. Neste ano foi identificada outra nova fórmula de virulência, denominada MDK-MR e suas variantes, predominante em mais de 55% das amostras analisadas, aumentando o nível de suscetibilidade da cultivar Abalone. Em 2007 foram detectadas quatro raças não descritas anteriormente (Tabela 4): 1) MDK-MR, 4002 (B 55 4002 S), assim designada por não diferir da MDK-MR (B55) quanto ao padrão de avirulência/virulência relativo às 21 linhas diferenciais, mas virulenta à linhagem ORL 04002, que é resistente para a B55; 2) MFH-HT, encontrada apenas no Rio Grande do Sul, em cultivares Fundacep, várias das quais eram resistentes a todas as raças testadas; e, em baixa freqüência: 3) TDT-MR e 4) uma raça anteriormente detectada no Paraguai e na Argentina, importante por ser virulenta a Lr 19, gene de resistência específica duradoura, que mantinhase efetivo a todas as raças.

FREQUÊNCIA DAS RAÇAS A MDK-MR (B55 4002 S) foi a mais freqüente no Brasil, no Paraná e em São Paulo. A MFH-HT predominou no Rio Grande do Sul, não tendo sido encontrada em outro estado. Ocorreram, também, em ordem decrescente de freqüência: MDK-MR (B55), MDPMR, TFK-CS (B49), MFP-CT (B56) e MCRRS (B34) (Tabela 2). Cada raça B (sistema de nomenclatura brasileiro), quando classificada conforme o sistema norte-americano, corresponde a várias raças (fórmulas de avirulência (genes de resistência efetivos)/virulência (genes de resistência não efetivos)). De acordo com a classificação brasileira, quando a variação é dependente do ambiente, agrupa-se em uma mesma raça.

CULTIVARES Em inóculo coletado nas cultivares Abalone, Ônix, Quartzo, Safira e Supera, foi identificada a raça B55 4002 S; em Avante, a B49; em BRS 194, a B56; em Fundacep 50, Fundacep 51 e Fundacep 52, a raça MFH-HT e em ORL 03165, no Paraná (Sertanópolis) e na Argentina (9 de Julio), a nova raça TDTMR. Entre as cultivares de trigo atualmente em cultivo no Brasil, há três tipos principais, em relação à ferrugem da folha: • Resistente a todas as raças: Fundacep 30.

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Tabela 1 - Genes de resistência à ferrugem da folha de trigo, que perderam sua efetividade devido ao aparecimento de raças (nova virulência (s)) na região tritícola Cone Sul da América do Sul Gene Lr não efetivo Lr 24 Agropyron elongatum Lr 26 Centeio Lr 9 Triticum umbellulatum Lr 16 T. aestivum Lr 19 Agropyron elongatum

(1981) Brasil e Argentina (1982) Brasil e (1980) Argentina (1986) Brasil e (1982) Argentina (1986) Brasil (2004) Paraguai e (2005) Argentina

Cultivar Cargill Trigal 800, Tifton Veery, Bobwhite, Alondra CEP 14, La Paz INTA ProINTA Gaucho

Fontes: Embrapa Trigo, Antonelli 1982 1986 2003 2005, deViedma et al. 2004, Germán et al. 2007

• Plantas adultas resistentes no campo (exemplo: Taurum, Pampeano e Alcover), em que a resistência aumenta no decorrer do ciclo de desenvolvimento das plantas (Gráfico 1). • Suscetíveis em diferentes níveis e altamente suscetíveis: OR1, Ônix, Safira, Quartzo, Supera, Marfim, Abalone (Gráfico 2). Nos Gráficos 1 e 2, podem ser comparadas as reações à ferrugem da folha, em 2007, de cultivares de trigo, na área experimental da OR, em Coxilha (RS). Além do inóculo natural, raças que ocorreram em 2006 e anteriormente foram inoculadas nas plantas avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007. A porcentagem de área foliar infectada (0% a 100%), multiplicada pelo tipo de lesão (R = 0,2; MR = 0,4; MS =0,8 e S = 1) constituiu o valor do coeficiente de infecção. Dez folhas de cada cultivar foram avaliadas em duas épocas e calculado o CI médio. As informações relatadas confirmam os objetivos dos programas de melhoramento genético de trigo para aumentar o nível de resistência parcial, mais durável à ferrugem da folha.

FERRUGEM DO COLMO Há mais de duas décadas, a ferrugem do colmo do trigo, causada pelo fungo Puccinia graminis tritici, deixou de ser epidêmica. Controlada por cultivares resistentes, a doença não foi mais foi detectada no Brasil. Os genes mais importantes e que conferem resistência em cultivares brasileiras são, provavelmente, Sr24 e Sr31, embora cultivares de trigo suscetíveis tenham sido lançadas recentemente. O aumento do emprego de cultivares suscetíveis

poderá resultar em novo aumento da incidência de ferrugem do colmo, o que faz crescer a probabilidade do aparecimento de novas raças virulentas. Como a translocação 1BL.1RS, associada ao gene Sr31, está presente em alta proporção do germoplasma regional, a possível introdução da virulência de ferrugem do colmo com Sr31, que surgiu na África em 1999, é uma ameaça à triticultura brasileira.

SENSIBILIDADE A FUNGICIDAS Até o momento, o desenvolvimento e o uso de variedades de trigo resistentes à ferrugem da folha têm sido o método preferencial de controle. Porém, devido à variabilidade genética do patógeno, originando praticamente uma nova raça a cada safra, o uso de fungicidas tem sido uma prática eficiente Tabela 2 - Genes Lr de resistência à ferrugem da folha de trigo, que constituem a série diferencial de raças, dispostos na ordem que permite a classificação conforme o código norte-americano Raças no Cone Sul são classificadas conforme código norte-americano Phytophology 1989 (79) p. 525-529 Código Lr 1 Lr 2a Lr 2c Lr 3 M V A A V Lr 9 Lr 16 Lr 24 Lr 26 D A A V A Lr 3ka Lr 11 Lr 17 Lr 30 K A V V V Lr 10 Lr 18 Lr 21 Lr 23 M V A A V Lr 14a Lr 14b Lr 10+26 Lr 20 R V V A V V – Virulência

A – Avirulência

Tabela 3 - Fórmula de avirulência (genes Lr de resistência efetivos)/virulência (genes Lr de resistência não efetivos) de raças de Puccinia triticina (ferrugem da folha de trigo)

Brasileira B34 B49 B55 B55 4002 S B56 -

Nomeclatura Norte-Americana MCR-RS, 3bg TFK-CS, 3bg MDK-MR, 3bg, 27+31 MDK-MR, 3bg, 27+31, 4002 MFP-CT, 3bg, 27+31 MDP-MR, 3bg MFH-HT, 3bg, 27+31

OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008.

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Raça Genes de resistência Lr Efetivos (resistência) 2a 2c 9 16 17 20 21 24 27+31 3ka 9 10 16 18 20 21 27+31 2a 2c 3ka 9 16 18 21 26 2a 2c 3ka 9 16 18 21 26 2a 2c 9 10 11 16 18 21 30 2a 2c 9 11 16 18 21 26 27+31 2a 2c 3ka 9 10 16 17 21 30

Não efetivos (suscetibilidade) 1 3 3bg 3ka 10 11 14a 14b 18 23 26 30 1 2a 2c 3 3bg 11 14a 14b 17 23 24 26 30 1 3 3bg 10 11 14a 14b 17 20 23 24 27+31 301 3 3bg 10 11 14a 14b 17 20 23 24 27+31 30 4002 1 3 3bg 3ka 14a 14b 17 20 23 24 26 27+31 1 3 3bg 3ka 10 14a 14b 17 20 23 24 30 1 3 3bg 11 14a 14b 18 20 23 24 26 27+31


Gráfico 1 - Coeficiente de infecção médio de ferrugem da folha, em cultivares de trigo resistentes avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007, em Coxilha, RS. OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008

Fotos Gisele Arduim

no seu controle. No entanto, também tem sido difícil manter a efetividade deste método por longos períodos, uma vez que o patógeno pode rapidamente desenvolver novas raças mais virulentas ou menos sensíveis a alguns fungicidas. O uso de fungicidas para o controle de doenças do trigo teve início na safra de 1976 com o carbamato mancozebe (Recomendações, 1975). Os triazóis foram introduzidos na safra de 1979 com o fungicida triadimefom (Recomendações, 1978). Portanto, este grupo químico de fungicidas já é utilizado há 29 anos (safras). O uso de fungicidas em larga escala, aplicados numa área de trigo que soma 2,48 milhões de hectares no Brasil (Conab, 2007), às vezes, com uso de subdoses ou uso desnecessário, com várias aplicações no mesmo ano agrícola, pode contribuir para a seleção, em direção à insensibilidade. Com isso, haverá uma seleção de isolados ou raças que não mais serão controláveis pelas doses normais dos fungicidas envolvidos. Isso já tem sido observado. Desde a safra de 2005, produtores e técnicos têm constatado deficiências no controle da ferrugem da folha do trigo, com alguns defensivos que tradicionalmente mostravam-se eficazes contra a doença. Caberá às instituições de pesquisa esclarecer este fato. A)

B)

C)

D)

Gráfico 2 - Coeficiente de infecção médio de ferrugem da folha, em cultivares de trigo avaliadas em 9, 18, 24 e 26 de outubro de 2007, em Coxilha, RS. OR Melhoramento de Sementes, Passo Fundo, 2008

ENSAIO EM CASA DE VEGETAÇÃO Em experimentos conduzidos em casa de vegetação, comparou-se a sensibilidade de três raças de P. triticina aos fungicidas mais utilizados pelos produtores. As raças testadas foram a B34, considerada sensível, comparada com B55, B56 e MDP-MR. Foram avaliados os fungicidas triazóis (ciproconazole, epoxiconazole e tebuconazole) e estrobilurinas (azoxistrobina, piraclostrobina e trifloxistrobina). Os produtos, nas doses recomendadas, foram aplicados preventivamente (24 horas antes da inoculação), curativamente (72 horas após a inoculação) e erradicativamente (após o aparecimento das pústulas) em relação à inoculação das plantas com uredósporos. Os tratamentos foram avaliados com base na contagem do número de urédias por cm2.

RESULTADOS A raça B34 ainda se mostra muito sensível aos triazóis, enquanto que B55, B56 e a MDP-MR tornaram-se menos sensíveis aos fungicidas deste grupo isoladamente. Na aplicação preventiva, o número médio de urédias por cm2 variou de 12,4 a 17,2 para a raça B55, 21,4 a 26,4 para a B56 e 14,6 a 23,8 para a MDP-MR. Nas testemunhas, a média foi de 15,64, 17,74 e 31,6 para cada raça, respectivamente. No tratamento curativo, o número de uréE)

F)

G)

Visualização do efeito dos tratamentos: A) testemunha; B) ciproconazole; C) epoxiconazole; D) tebuconazole; E) ciproconazole + azoxistrobin; F) epoxiconazole + piraclostrobin; G) tebuconazole + trifloxistrobin

dias variou de sete a 12 para a raça B55 e de nove a 13,4, para a MDP-MR. Na testemunha, variou de 17,6 e 29,4. Os triazóis apresentaram pouca ou nenhuma ação sobre a viabilidade dos esporos, mesmo à raça sensível B34, isso porque, segundo Pontzen & Scheinpflug (1989), os triazóis não agem na germinação, uma vez que, nesse momento, ainda não é requerida a síntese de esteróis. As quatro raças testadas mostraram-se sensíveis às estrobilurinas, independentemente do momento de aplicação.

ENSAIO NO CAMPO Com o objetivo de confirmar os dados conduzidos em casa de vegetação, realizou-se um ensaio em condições de campo na safra de 2007, na área experimental da Universidade de Passo Fundo, (RS). Utilizou-se a cultivar Safira e, durante o desenvolvimento da cultura, foram realizadas três aplicações dos fungicidas utilizados em condições controladas e suas respectivas misturas (ciproconazole + azoxistrobina; epoxiconazole + piraclostrobina; tebuconazole + trifloxistrobina). A primeira aplicação foi feita no final do perfilhamento, a segunda na floração e a terceira no estádio de grão leitoso. A doença foi quantificada com base no número de pústulas/cm2 e integralizada como área abaixo da curva. Verificou-se que as menores taxas de progresso da doença e, conseqüentemente, o melhor controle da ferrugem da folha do trigo foram obtidos nas misturas de triazóis com estrobilurinas (Figura 1). Os resultados de campo da safra de 2007/2008 confirmaram os dados obtidos em casa de vegetação, da menor sensibilidade das novas raças de P. triticina aos fungicidas do grupo dos triazóis. Devido a isto, sugere-se que seja dada preferência às misturas prontas com estrobilurinas, ao invés da aplicação isolada de fungicidas triazóis. C Amarílis Labes Barcellos, OR Sementes Gisele da Silva Arduim, UPF

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Arroz

Em evidência Ciperáceas alcançam papel ddee destaque com o infestan tes em como infestantes arr oz irri gad o ddevi evi do a su arroz irrigad gado evid suaa alta capaci dad aptação às ár eas capacid adee ddee ad adaptação áreas de várzea. O con tr ole quími co é a contr trole químico cipal estr atégi tr ole prin principal estratégi atégiaa ddee con contr trole ole,, os eg o eexi xi ge cui dad mas seu empr cuid ados empreg ego xig com o o uso ddee h erbi ci das com cid como herbi erbici difer en tes m ecanism os ddee ação diferen entes mecanism ecanismos

A

s ciperáceas apresentam grande destaque entre as plantas monocotiledôneas, pela presença intensiva em muitas regiões e pelo grande número de espécies, mais de três mil delas classificadas (Kissmann & Groth, 1997). De modo geral, o aspecto econômico é mais negativo que positivo e as referências de ciperáceas infestantes superam em muito as de aproveitamento econômico. Segundo Bendixen & Nandihalli (1987) citado por Kissmann & Groth (1997), aproximadamente 220 espécies têm sido mencionadas como infestantes. Cerca de 42% são do gênero Cyperus, ao qual pertence a maior parte das espécies de ciperáceas encontradas em lavouras de arroz. As principais espécies da família Cyperaceae que ocorrem nas lavouras do Sul do Brasil são Cyperus difformis, Cyperus esculentus, Cyperus ferax, Cyperus iria e Fimbristylis miliacea. Somente C. esculentus é de ciclo perene, enquanto as outras são anuais. Todas apresentam reprodução por sementes, sendo que C. esculentus também por tubérculos (Sosbai, 2007). Na cultura do arroz irrigado, o arrozvermelho (Oryza sativa L.) é considerado a principal planta daninha, seguido de outras espécies importantes, como o capimarroz (Echinochloa sp.), o angiquinho (Aeschynomene sp.), as gramas estoloníferas, como gramas-boiadeiras (Leersia hexandra e Luziola peruviana) e grama-de-ponta (Paspalum disthicum), dentre outras espécies da família Poaceae, além das aquáticas. No entanto, mais recentemente as ciperáceas, também assumem papel de destaque devido a sua alta capacidade de adaptação às áreas de várzea (Erasmo et al, 2003). As espécies do gênero Cyperus, consideradas de importância secundária na cultura do arroz, tornaram-se problemas

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Fotos Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot

Herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), são o principal grupo utilizado na cultura do arroz irrigado para controle de ciperáceas Lavouras de arroz podem ter uma redução de produtividade de até 43% quando altamente infestadas por ciperáceas

em algumas regiões dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, onde se observa gradativo aumento das áreas infestadas (Panozzo et al, 2007). Algumas ciperáceas são citadas em nível

mundial como espécies de difícil controle, por apresentarem alto percentual de perpetuação, uma vez que, a cada ano, ocorrem incrementos no banco de sementes do solo em função do seu elevado grau de prolificidade e tam-

bém algumas possuem capacidade de se reproduzirem vegetativamente (Galon et al, 2005; Panozzo et al, 2007). Em áreas de várzea, a umidade no solo pode promover a germinação e a emergência, favorecendo a ocorrência de infestações expressivas. Em função do crescimento da infestação nas lavouras, as pesquisas com o objetivo de obter herbicidas com atuação sobre ciperáceas, notadamente as do gênero Cyperus, aumentaram consideravelmente a partir da década de 90, sendo que, atualmente se buscam soluções alternativas e racionais para o controle satisfatório destas espécies (Amaral, 1995; Bizzi & Andres, 2001; Galon et al, 2005). Alguns trabalhos de pesquisa relatam a interferência negativa destas espécies, a partir de determinadas densidades populacionais, no rendimento de grãos de arroz (Swain et al, 1975; Amaral, 1995; Alcântara, 1999; Erasmo et al, 2003). Swain et al, (1975), avaliando a competição de C. difformis com arroz, observaram redução entre 22% a 43% no rendimento de grãos da cultura sob infestação alta desta planta. Os mesmos autores relatam também que a redução é ainda mais expressiva sob condições de maior fertilidade do solo. Reduções de 38,5% e 62,0% no rendimento de grãos de arroz sob infestação de 40 plantas/m² da espécie C. esculentus e 808 plantas/


Fotos Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot

Detalhe de inflorescência de C. ferax

No alto Cyperus difformis, C. ferax e Fimbristylis miliacea

bicida quinclorac em larga escala, no Rio Grande do Sul, durante a década de 80 e parte da década de 90, contribuiu para a expansão das ciperáceas no estado, uma vez que este herbicida não controla as plantas desta família. Também a estratégia equivocada por parte dos agricultores contribuiu para a expansão dessas espécies, na medida em que os focos não eram controlados e continuaram produzindo sementes e/ou propágulos livremente. O controle químico foi e tem sido a principal estratégia contra essas espécies nas lavouras de arroz irrigado no Sul do Brasil. Os herbicidas mais eficientes e utilizados foram os inibidores da enzima acetolacase sintetase (ALS), tais como Pyrazossulfuron-etílico, Penoxsulam, Bipyribaque-sódico, Azimsulfuron, Etoxissulfurom, entre outros, de inquestionável eficiência. Porém, o uso continuado e de forma intensiva por um longo período proporciona o surgimento de plantas resistentes.

m² da espécie C. iria, respectivamente, foram observadas por Amaral (1995). As espécies daninhas de uma comunidade infestante e sua emergência são altamente influenciadas pelo conteúdo de umidade e disponibilidade de oxigênio no solo e por outras condições de ambiente, como luz e temperatura. Invasoras e outras espécies crescem mais em solos preparados no seco que na presença de água (Fleck et al). O estabelecimento de lavouras de arroz em solos úmidos, porém não-inundados, com temperaturas altas e condições adequadas de luz, favorece o estabelecimento de invasoras gramíneas, ciperáceas e dicotiledôneas (folhas largas). Dentre as ciperáceas, predominam nessas condições principalmente as espécies Cyperus iria, C. ferax e C. esculentus. Já quando o solo é preparado sob condições alagadas e sistema pré-germinado, as espécies predominantes são Fimbristylis miliacea e Cyperus difformis. Além dos aspectos culturais, o uso do her-

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Uso de herbicidas de diferentes mecanismos de ação é a melhor forma de controlar ciperáceas, afirma Valmir

Um problema observado nos últimos anos tem preocupado pesquisadores e produtores no estado de Santa Catarina devido à ocorrência de resistência de algumas ciperáceas a herbicidas (Eberhardt & Noldin, 2003). Segundo estes autores, o cultivo intensivo de arroz irrigado em Santa Catarina, associado ao uso contínuo de produtos de um mesmo modo de ação, ocasionou a resistência de diversas plantas daninhas aos herbicidas, entre as quais, as ciperáceas C. difformis (junquinho) e Fimbristylis miliacea (cuminho), resistentes a herbicidas inibidores da ALS, do grupo das sulfoniuréias. A alternativa para controle destas espécies é o uso de herbicidas de C diferente mecanismo de ação. Valmir Gaedke Menezes e Carlos Henrique Paim Mariot, Irga



Fotos Vagner Alves da Silva

Milho

Mancha branca Testes em Goiás avali am a efi ciên ci oquími cos avaliam eficiên ciênci ciaa ddee agr agroquími oquímicos or tr ole ddaa bactéri no con antoea anan anatis causador oraa contr trole bactériaa Pan toea an an atis, causad da m an cha br an ca em milh o. A ddoença oença é um ddos os man ancha bran anca milho. prin cipais en tr aves n o milh o, com principais entr traves naa cultur culturaa ddo milho, distribuição ggen en er alizad as ár eas pr od utor as ener eralizad alizadaa n nas áreas prod odutor utoras od utivi dad br asileir as e per das ddee até 60% n naa pr prod odutivi utivid adee brasileir asileiras perd

ma anamórfica Phyllosticta sp. Porém, a dificuldade no isolamento do fungo a partir das lesões e a não-reprodução dos sintomas em plantas infectadas com esse patógeno, deixaram dúvidas quanto a real identidade do agente etiológico da doença nas condições brasileiras, tendo em vista que até o presente não se cumpriram os postulados de Koch, e não se obteve reprodução dos sintomas em plantas infectadas com esse patógeno (Sawazaki, et. al, 1997). Em 2001, equipe de pesquisadores liderados por Paccola-Meirelle publicou trabalho com o título “Detection of a bacterium associated with a leaf spot disease of maize in Brazil. Journal of Phytopatology, Berlim, v. 149, n. 5, p. 275-279, 2001”, onde demonstrou a presença de uma bactéria nas lesões, identificada como Pantoea ananatis (syn. Erwinia ananas). Em 2004, a mesma equipe publicou o trabalho “Confirmação da etiologia da doença descrita no Brasil como sendo a mancha foliar de phaeosphaeria em milho. In: XXV Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2004, Cuiabá, 2004”, indicando, definitivamente, a bactéria P. anantis como agente etiológico da mancha branca presente no Brasil.

TESTES PARA CONTROLE DO NOVO AGENTE ETIOLÓGICO

A

mancha branca do milho, causada pela bactéria Pantoea ananatis, também denominada de pinta branca, tem se constituído, nos últimos anos, em uma das principais doenças da cultura, com uma distribuição generalizada pelas áreas produtoras do Brasil, com relatos de perdas na produção da ordem de até 60%. Os sintomas da mancha branca começam a ser evidentes por ocasião da pré-floração, entre 50 e 60 dias, período em que a planta paralisa a emissão de folhas e o crescimento (elongação) do colmo e dos internódios. As lesões apresentam formato de circular a oval, medindo de 0,3cm até 1,5cm, com aspecto inicial de anasarca, que evolui rapidamente,

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adquirindo uma coloração palha, com bordos irregulares e bem definidos. As margens das lesões podem apresentar tonalidade marromescura. No centro, já necrosado, são comuns estruturas reprodutivas de fungos como pseudotécios e picnídios. Em condições favoráveis, a doença leva à seca prematura das folhas e causa uma redução no peso dos grãos (Fantin, 1994; Fernandes, 1999; Pinto et al, 1997 e Ventura & Resende, 1996). Inicialmente esta doença foi identificada como mancha foliar de phaeosphaeria, descrita por Payak & Renfro (1966) como causada pelo ascomiceto Phaeosphaeria maydis (P. Henn.) Rane Payack e Renfro (sin. Sphaerulinia maydis = Leptosphaeria zeae maydis), for-

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1) Comportamento da bactéria P. ananatis quando cultivada em presença dos agroquímicos em laboratório. De acordo com o Agrofit 2006, do Ministério da Agricultura, as estrobilurinas (piraclostrobina, azoxistrobina), isoladas ou em associação com os triazóis, ou os triazóis (epoxiconazol, ciproconazol) são agroquímicos indicados para o controle da mancha branca do milho a campo. Com a confirmação de um novo agente para a doença surgiu a necessidade de se verificar a ação de antibióticos no controle do agente etiológico in vitro e in vivo. Isolados bacterianos foram obtidos a partir de lesões foliares

Isolamento das lesões em meio nutriente Agar


Os sintomas da mancha branca começam a aparecer na pré-floração entre 50 e 60 dias, quando a planta paralisa a emissão de folhas e o crescimento do colmo e dos internódios

tipo anasarca em meio Nutriente Agar (NA). Como padrão, foi utilizado isolado obtido junto ao Departamento de Biologia Geral da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Todos os isolados foram cultivados em meio NA a 300C e após crescimento mantidos em meio líquido e os ensaios conduzidos no Laboratório de Microbiologia Geral do Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Verde (Cefet), em Goiás. Uma alíquota de 0,02ml de uma suspensão bacteriana contendo 109 UFC, foi distribuída uniformemente sobre a superfície de placas de Petri contendo meio Nutriente Agar (NA) acrescido de diferentes dosagens dos produtos fitossanitários comerciais. Posteriormente as placas foram incubadas por um período de 48 horas no escuro, sendo as primeiras 24 horas a 35°C e as 24 horas seguintes a 28°C. Após este período, os tratamentos foram avaliados com relação à presença ou à ausência de crescimento bacteriano. Foram usados 20 tratamentos, com cinco repetições cada e um controle positivo comum a todos, como mostra a Tabela 1. As leituras foram efetuadas após as primeiras 48 horas de crescimento, usando (I*) para Inibição e (D*) para crescimento bacteriano. A adição de antibióticos nos meios de cultivo da bactéria promoveu a inibição total do crescimento bacteriano. O mesmo foi observado com a aplicação desses antibióticos aplicados em associação com os fungicidas. Já os fungicidas, quando adicionados isoladamente no meio de cultivo da bactéria, não promoveram inibição do desenvolvimento bacteriano. 2) Efeito da aplicação dos agroquímicos a campo no controle da mancha branca do milho. Para observar a ação de agroquímicos sobre a pinta branca foi realizado um ensaio no final do mês de agosto de 2006 e avaliados 15 tratamentos, distribuídos em blocos ao acaso

com quatro repetições. As parcelas, compostas por quatro linhas com cinco metros de comprimento e espaçamento de 0,80 m entre as linhas, totalizaram uma área de 1,2 mil m2. A aplicação de agroquímicos se deu após o aparecimento dos primeiros sintomas da doença. Os tratamentos e suas respectivas dosagens encontram-se na Tabela 2. As avaliações foram realizadas semanalmente durante três semanas após cada aplicação. O índice de severidade da doença foi determinado através de escala diagramática, variando de 1 a 9, adotada por Paccola-Meirelles et al, (1998), baseada em percentagem da área foliar afetada sendo a nota 1 menos de 1% da área foliar afetada e nota 9 entre 80 a

Tabela 1 - Agroquímicos e misturas de agroquímicos usados para controle in vitro da bactéria Pantoea ananatis, agente etiológico da pinta branca do milho, no Laboratório do Centro Federal de Ensino Tecnológico de Rio Verde – Goiás Tratamentos Estreptomicina + oxitetraciclina Oxitetraciclina + sulfato de cobre Oxitetraciclina Piraclostrobina + epoxiconazol Tebuconazol + trifloxistrobina Flutriafol + tiofanato-metilico Azoxistrobina + ciproconazol (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (piraclostrobina + epoxiconazol) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (tebuconazol + trifloxistrobina ) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (flutriafol + tiofanato-metílico) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Azoxistrobina + ciproconazol) (Oxitetraciclina + sulfato de cobre) + (Piraclostrobina + epoxiconazol) (Oxitetraciclina + Sulfato de cobre) + (tebuconazol + trifloxistrobina) (Oxitetraciclina + Sulfato de cobre) + (flutriafol + tiofanato-metílico) (Oxitetraciclina + sulfato de cobre) + (azoxistrobina + ciproconazol) Oxitetraciclina + (piraclostrobina + epoxiconazol) Oxitetraciclina + (tebuconazol + trifloxistrobina) Oxitetraciclina + (flutriafol + tiofanato-metílico) Oxitetraciclina + (azoxistrobina + ciproconazol) Controle (testemunha)

Dose 0,70kg / ha-1 1,0kg/ha-1 0,50kg/ha-1 0,75lt/ha-1 0,60lt/ha-1 0,60lt/ha-1 0,30lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,20lt/ha-1 1,0kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 1,0kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 1,0kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 1,0kg/ha-1 + 0,20lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,20lt/ha-1 -

I* I I D* D D D I I I I I I I I I I I I D

Contagem UFC 0 0 0 Incontável Incontável Incontável Incontável 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Incontável

Tabela 2 - Agroquímicos usados no tratamento para controle da mancha branca a campo em Santa Cruz das Lages – Município de Santo Antônio da Barra – Goiás O tratamento oxitetraciclina + sulfato tribásico de cobre, mesmo tendo eficiência no controle da P. ananatis in vitro, não foi incluído no ensaio de campo, pois, em testes preliminares apresentou fitotoxidade nas plantas, efeito este provavelmente associado ao cobre presente em sua formulação. Agroquímicos Estreptomicina + oxitetraciclina Oxitetraciclina Piraclostrobina + epoxiconazol Tebuconazol + trifloxistrobina Flutriafol + tiofanato-metílico Azoxistrobina + ciproconazol (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Piraclostrobina + epoxiconazol) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Tebuconazol + trifloxistrobina) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Flutriafol + tiofanato-metílico) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Azoxistrobina + ciproconazol) Oxitetraciclina + (piraclostrobina + epoxiconazol) Oxitetraciclina + (tebuconazol + trifloxistrobina) Oxitetraciclina + (flutriafol + tiofanato-metílico) Oxitetraciclina + (azoxistrobina + ciproconazol) Testemunha

Dosagem 0,70kg/ha-1 0,50kg/ha-1 0,75lt/ha-1 0,60lt/ha-1 0,60lt/ha-1 0,30lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,20lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,50lt/ha-1 0,50kg/ha-1 + 0,20lt/ha-1 -

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Fotos Vagner Alves da Silva

Tabela 3 - Desempenho dos agroquímicos aplicados em campo para controle da Pantoea ananatis, agente etiológico da mancha branca na cultura do milho Tratamentos Nome comum Oxitetraciclina + (azoxistrobina + ciproconazol) Flutriafol + tiofanato-metílico Oxitetraciclina Tebuconazol + trifloxistrobina (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (piraclostrobina + epoxiconazol) Oxitetraciclina + (tebuconazol + trifloxistrobina) Testemunha Estreptomicina + oxitetraciclina Oxitetraciclina + (piraclostrobina + epoxiconazol) Azoxistrobina + ciproconazol (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (azoxistrobina + ciproconazol) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (flutriafol + tiofanato-metílico) Oxitetraciclina + (flutriafol + Tiofanato-metílico) (Estreptomicina + oxitetraciclina) + (Tebuconazol + trifloxistrobina) Piraclostrobina + epoxiconazol CV%

100% da área foliar atingida. A produtividade foi avaliada através da massa de mil grãos já corrigida para umidade de 13%. Os tratamentos oxitetraciclina + (piraclostrobina + epoxiconazol), seguidos de estreptomicina + oxitetraciclina apresentaram melhor controle no avanço da doença quando comparados com a testemunha. É necessário enfatizar que em ambos os tratamentos um ou outro tipo de antibiótico está presente. Os melhores rendimentos de grãos foram obtidos quando os antibióticos estavam presentes nos tratamentos. Os resultados apresentados na Tabela 3 demostraram um aumento no rendimento de grãos para a mistura entre o cloridrato de oxitetraciclina e um fungicida em relação à testemunha. Os fungicidas (flutriafol + tiofanato-metílico, tebuconazol + trifloxistrobina, azoxistrobina + ciproconazol e piraclostrobina + epoxiconazol) auxiliaram no controle das doenças fúngicas causadas pelos patógenos Exserohilum turcicum, Diplodia macrospora, Colletotrichum graminicola, Puccinia sorghi, Physopella zeae e Cercospora zea-maydis. Estes produtos não foram, contudo, eficientes no controle da bactéria P. ananatis. Já os antibióticos inibiram o desenvolvimento bacteriano, mas não tiveram ação sobre as doenças fúngicas. Assim, o uso

À esq. testemunha com crescimento da bactéria e à dir. placa com antibiótico sem presença da bactéria

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Dose/ha-1 0,5kg + 0,3lt 0,6lt 0,5kg 0,6lt 0,7kg + 0,75lt 0,5kg + 0,6lt 0,7kg 0,5kg + 0,75lt 0,3lt 0,7kg + 0,3lt 0,7kg + 0,6lt 0,5kg + 0,6lt 0,7kg + 0,6lt 0,75lt CV%

Sev. Foliar (Notas) 3,00 bcde 4,00 ab 2,62 cde 3,00 bcde 2,87 bcde 3,50 abcd 4,62 a 2,37 de 2,25 e 3,75 abc 2,75 cde 3,12 bcde 2,62 cde 2,75 cde 3,62 abc 15,40

AUDPC 105,00 cde 141,75 ab 89,25 de 101,50 cde 89,25 de 115,50 bcd 162,75 a 96,25 cde 77,00 e 140,00 ab 101,50 cde 105,00 cde 94,50 cde 96,25 cde 119,00 bc 6,58

Peso 1.000 de grãos (gr) 294,63 a 200,78 cd 288,24 ab 193,35 cd 281,67 ab 301,14 a 161,26 d 282,16 ab 297,19 a 226,49 bc 278,35 ab 279,21 ab 283,94 ab 285,97 ab 253,11 abc 6,01

combinado de antibiótico e um fungicida contribuíram para o aumento na produtividade, auxiliando no combate das principais enfermidades da cultura.

CONCLUSÕES O tratamento oxitetraciclina + sulfato tribásico de cobre, apresentou efeito sobre a bactéria in vitro, mas teve efeito fitotóxico nas plantas. Todos os tratamentos com antibióticos se mostraram eficientes no controle da mancha branca do milho, assim como todas as misturas de antibiótico com fungicida.

A doença pode levar à seca prematura das folhas e consequente redução no peso dos grãos

Todos os fungicidas foram eficientes no controle das doenças de final de ciclo causadas por Exserohilum turcicum, Diplodia macrospora, Colletotrichum graminicola, Puccinia sorghi, Physopella zeae e Cercospora zea-maydis, contudo, não tiveram efeitos sobre o desenC volvimento da mancha branca. Vagner Alves da Silva, Agenciarural Rio Verde J.S.R. Cabral, D.S. Sousa e R.E. Lima, Cefet/RV L.D. Paccola-Meirelles, UEL/Londrina (PR) C.R. Casela e W.F. Meirelles, CNPMS/Sete Lagoas (MG) F.C. Pereira, Eng. agrônomo/Rio Verde (GO)

DOENÇAS EM MILHO

V

ários fatores contribuem para a maior incidência de doenças na cultura do milho. O aumento da área cultivada, o crescimento do número de cultivares comerciais com diferentes níveis de resistência às doenças, o manejo inadequado de água em plantios sob pivô ou na aspersão convencional, os plantios direto de milho sobre milho, o cultivo do milho safrinha em sucessão à soja e os plantios consecutivos de milho durante o ano todo, estão entre os aspectos que podem contribuir para saltos significativos de patógenos. Trabalhos de monitoramento de doenças realizados pela Embrapa Milho e Sorgo, AgênciaRural/Goiás e pelo setor privado, têm demonstrado que a mancha branca, a cercosporiose, a ferrugem polissora, a ferrugem tropical, a ferrugem comum, a helmintosporiose e os enfezamentos pálido e vermelho estão entre as principais doenças da cultura do milho, no momento, em Goi-

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ás. A importância de cada uma dessas doenças é variável de ano para ano e de região para região, mas não é possível afirmar que alguma delas seja de maior importância em relação às demais. Além dessas doenças, novos desafios têm surgido ao longo dos últimos anos, como o aumento na severidade da antracnose foliar em algumas regiões do país e a ocorrência de podridões causadas por Stenocarpella maydis e S. macrospora, antes mais comuns em áreas de plantio na região Sul do país e em algumas áreas do Centro–Oeste. Normalmente um programa de pesquisa tende a se concentrar na busca de soluções para problemas identificados até que uma resolução adequada seja encontrada, o que exige certo número de anos. O agricultor, por outro lado, enfrenta, anualmente, novos problemas e tende, em geral, a considerá-los como prioritários, exigindo saídas rápidas e imediatas.



Milho

Da cana ao milho A br oca ddaa can a-d e-açúcar broca cana-d a-de-açúcar e-açúcar,, Di Diatr atraea atr aea orça n o naa cultur culturaa ddo saccharalis alis,, ganha fforça sacchar alis milh o. A ad aptação às cultivar es atu ais ou milho. adaptação cultivares atuais até m esm o ao sistem od ução pod mesm esmo sistemaa ddee pr prod odução podee ser a justifi cativa par ci dên ci as justificativa paraa as altas in inci cidên dênci cias em atrás nas lavour as esquisad or es corr esquisador ores correm lavouras as.. PPesquisad de altern ativas ddee combate à pr aga praga alternativas

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Fotos Ivan Cruz

HOSPEDEIROS A praga é considerada polífaga, apontada em associação com 65 espécies vegetais, sendo 30 espécies de pastagens de importância econômica, além de cana-de-açúcar, milho, milheto, sorgos sacarino e granífero, trigo e arroz.

PREJUÍZOS As perdas quantitativas em rendimentos de grãos de milho foram ao redor de 27% em experimentos conduzidos nos Estados Unidos. Na Argentina, os prejuízos ocasionados pelo ataque da broca foram estimados em 170 milhões de dólares por ano, com oscilações entre 150 e 300 milhões de dólares.

SINTOMAS DE DANOS

Colmo danificado e pupa da praga no interior

A

broca Diatraea saccharalis é um inseto-praga bastante conhecido pelos produtores de cana-deaçúcar, por conta dos prejuízos que acarreta tanto em relação à produção agronômica quanto à produção industrial. No milho, embora com relatos de ocorrência, seus danos por muitos anos não foram considerados suficientes para demandar algum tipo de medida de controle. No entanto, em anos recentes essa situação mudou e a praga tem causado preocupações aos produtores de milho pela alta incidência, seja em áreas próximas ou distantes da cana-de-açúcar, sugerindo uma melhor adaptação às cultivares atuais de milho ou até mesmo ao sistema de produção predominante no país. A praga, no milho, apresenta grande potencial de dano, pois, ao contrário do que ocorre na cana-de-açúcar, pode ocorrer em praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. Além dessa preocupação, só recentemente têm sido gerados trabalhos de pesquisa sobre sua bioecologia e manejo em associação com o cultivo do milho.

O principal dano causado pela larva (“broca”) de D. saccharalis ocorre através da alimentação dentro do colmo da planta. Como as gerações da praga são contínuas e sobrepostas, as plantas de milho podem ser atacadas em qualquer estágio, desde a fase de cartucho até o florescimento. Na fase de “cartucho”, as larvas jovens perfuram as folhas ainda enroladas, produzindo um sintoma de dano característico, ou seja, aparecimento em série de orifícios ao longo da folha no sentido transver-

sal. Larvas mais desenvolvidas podem aprofundar no cartucho e matar o vegetal, principalmente em infestações precoces, ou seja, logo após a emergência da planta de milho. Em plantas mais desenvolvidas, as larvas penetram no colmo e fazem galerias. Larvas mais desenvolvidas, ao intensificarem o dano, enfraquecem as plantas, que ficam propensas ao quebramento. Em função do ataque da praga, pode ocorrer um aumento da esterilidade, redução no tamanho da espiga e do grão, assim como uma interferência na colheita mecânica. Pode também propiciar a entrada do caruncho, Sitophilus spp. (Curculionidae).

MANEJO Em cana-de-açúcar, o manejo da praga tem sido realizado basicamente com parasitóides de ovos e de larvas. Ou seja, o método biológico tem sido o predominante. Parasitóides de ovos do gênero Trichogramma, particularmente a espécie T.galloi e mesmo a espécie T. pretiosum, ambos utilizados na cana-de-açúcar, podem também ser empregados em milho. Tais insetos podem ser adquiridos em biofábricas existentes no país. Para complementar ou até como alternativa ao uso dos parasitóides de ovos, podem ser usados também parasitóides das “brocas”, como a espécie Cote-

Plantas de milho podem ser atacadas em qualquer estágio, desde a fase de cartucho até o florescimento. No detalhe, a praga está no pendão


Fotos Ivan Cruz

Detalhe do ataque da broca na bainha da folha

sia flavipes. O sucesso na utilização de um agente de controle biológico depende da sincronia entre a presença da fase suscetível do inseto e a liberação do agente de controle biológico. Por exemplo, espécies de Trichogramma só atuam sobre os ovos da praga. Liberações de campo só terão efeito quando houver presença de ovos neste ambiente. A eficiência do processo de amostragem é, portanto, muito importante para maior eficiência do controle biológico. Embora seja possível amostrar as posturas, exige-se pessoal qualificado e com conhecimento da distribuição no campo. Ademais, a época de se fazer a amostragem é outro aspecto a ser considerado. Em milho, a mariposa tem ocorrido desde o início da emergência da planta. Portanto, tal amostragem deve considerar esse fato. Tão logo sejam encontradas as primeiras posturas, devem ser iniciadas as liberações. Embora não exista ainda no Brasil disponibilidade comercial de feromônio sexual sintético de D. saccharalis, existe a possibilidade de se fazer as amostragens de mariposas atra-

Postura de Diatraea saccharalis na parte basal da planta

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vés do uso de armadilha do tipo Ferocon 1C, à semelhança do que é utilizado para a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), porém, com emprego de fêmeas virgens de D. saccharalis. É um método eficiente para se detectar a presença de mariposas e, portanto, pode-se inferir sobre o aparecimento das posturas no campo. O sucesso na utilização do parasitóide de larva C. flavipes também depende do sincronismo entre a liberação e a fase de maior suscetibilidade da praga. Deve ser considerado, nesse procedimento, que a larva da praga pode estar no cartucho ou dentro do colmo. Liberações mais cedo, quando a larva ainda se encontra no ambiente externo, podem ser mais eficientes. A utilização continuada de um ou de outro inimigo natural deve ser função da maior ou menor taxa de chegada da mariposa na área. Recomenda-se considerar que o inseto pode estar associado a praticamente todas as fases de desenvolvimento da planta. O aparecimento de populações da praga no início do florescimento ou no enchimento de grãos

tende a ocasionar elevados prejuízos, por reduzir o rendimento de grãos em função das galerias formadas nos internódios logo abaixo da inserção da espiga. A utilização de medidas químicas, apesar dos poucos produtos registrados com fins específicos, pode resultar em controle satisfatório, especialmente no que se refere a populações que se iniciam logo após a emergência da planta. Os inseticidas utilizados para o controle da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e da lagarta-do-cartucho via tratamento de sementes, também têm efeitos sobre a broca. Portanto, em áreas onde tais pragas são problemas e demandam o tratamento químico, pode-se também ter o efeito adicional dos produtos sobre a broca da cana-de-açúcar. No entanto, a eficiência do tratamento das sementes com inseticidas sistêmicos tem limitação no período de atuação, geralmente entre 15 e 20 dias após a emergência da planta. Depois de tal período, pode ser necessária a utilização de uma pulverização. A eficiência dessa aplicação vai depender

Túnel aberto pela praga na base do colmo

Casal de Diatraea saccharalis, à esquerda a fêmea

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da presença da larva da praga ainda na parte externa da planta. Resultados de pesquisa indicam que o inseto só começa a penetração no interior do colmo após o terceiro instar. O maior desafio é, portanto, identificar a manifestação da praga na folha, geralmente no cartucho. Tradicionalmente, o agricultor associa, em primeira instância, a presença da lagarta-

do-cartucho, por provocar danos perceptíveis, como raspagem e furos irregulares nas folhas ou presença de fezes no interior do cartucho. Tais sintomas não são característicos da broca. Portanto, exigem um maior conhecimento para se detectar a presença da praga. Produtos químicos aplicados para o controle da lagarta-do-cartucho também apresentam efeitos sobre a broca da cana-de-açúcar quando o inseticida entra em contato ou é ingerido pelo inseto. De modo geral, a atenção na aplicação de inseticidas químicos deve ser observada, seja para o controle da lagarta-do-cartucho ou para a broca da cana. Cuidados adicionais devem ser seguidos, especialmente quando se utiliza o controle biológico para uma praga e o químico para outra. O ideal é a utilização do controle biológico para ambas as pragas. Além de auferir os efeitos da liberação de um agente de controle biológico, a racionalização do controle químico favorece a participação mais efetiva de outros agentes de controle biológico, como é o caso das espécies de tesourinha (Doru luteipes) e (Euborellia anulipes), ambas predadoras tanto de S. frugiperda como de D. sacC charalis. Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

D. SACCHARALIS

A

mariposa fêmea de D. saccharalis vive entre três e oito dias, ovipositando por período variável entre uma e quatro noites. Coloca seus ovos em agrupamentos, contendo cada um em média 25 ovos, geralmente na face ventral ao longo da nervura central ou na parte inferior das folhas mais altas. Os ovos são achatados e uma só mariposa pode colocar muitos grupos de ovos numa mesma noite. As larvas nascem após um período médio de incubação de seis dias e, logo após, geralmente migram para a área do cartucho da planta e se alimentam do tecido recém-formado das folhas. No terceiro instar ou nos instares posteriores, geralmente se inicia a alimentação dentro do colmo da planta. Sob condições favoráveis de clima, o período larval dura entre 25 e 30 dias. A larva transforma-se em pupa dentro do colmo e, após aproximadamente nove dias, emerge o adulto. A fêmea é maior que o macho. Em condições favoráveis de clima, as gerações podem ser contínuas ao longo do ano.


Soja Dirceu Gassen

Tratada na origem En Ensai saios avaliam viabili abilid ade tratam atamen ento semen entes no Ensai saios os avali avaliam viabili abiliddad adee ddo doo tr tratam atamen ento to dde dee sem semen entes tes n noo combate combate am vi àà ferrug ferrugem asiática fluquincon conazole associad ado ferrugem em asiáti asiática ca com com oo uso uso dde dee fluquin fluquincon conazole azole associ associad adoo aa pulverizações oliar ares trifloxistr xistrobin obina ciprocon oconazol pulverizações ffoli foli oliar ares trifloxistr xistrobin obinaa ++ cipr ciprocon oconazol azol es com com triflo

O

controle das doenças da parte aérea via tratamento de sementes é uma excelente alternativa que pode abrir perspectivas no controle das doenças na soja. O tratamento de sementes com fungicidas do grupo dos triazóis desponta como mais uma ferramenta a ser adotada no manejo da ferrugem asiática da soja, com poder de interferir em alguns componentes da epidemia como a taxa de progresso e a quantidade final da doença. As vantagens do uso do tratamento de sementes de soja para o controle de Phakopsora pachyrhizi devem ser avaliadas ao longo do tempo, em diversas situações de pressão do inóculo, clima, altitude, espaçamento, nutrição e em diferentes variedades de soja.

O PRINCÍPIO ATIVO O fluquinconazole possui classificação toxicológica III e registro para tratamento de sementes da soja. É um fungicida sistê-

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mico, pertencente ao grupo dos triazóis, que permite proteção residual na fase inicial por meio da sua translocação na planta. Para o manejo da ferrugem asiática, a prática do tratamento de sementes é recente e está sendo testada e adotada em diferentes regiões produtoras de soja no país.

ENSAIOS O objetivo do trabalho foi avaliar a eficácia via tratamento de sementes com o fungicida fluquinconazole, associado a pulverizações foliares com trifloxistrobina + ciproconazol em diferentes épocas de aplicação, no controle da ferrugem na região sul do Mato Grosso do Sul. O estudo foi conduzido no município de Sidrolândia (MS), durante a safra 2007/ 08. O delineamento estatístico empregado foi o de blocos casualizados com parcelas subdivididas com dois tratamentos principais, com e sem fluquinconazole, e

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seis tratamentos secundários na subparcela (épocas de aplicação) com três repetições. As sementes da variedade Monsoy 7908 RR foram tratadas com os fungicidas em g i.a./100g de sementes de fluquinconazole + carbendazim, nas doses de 50,1g + 250g, e o fungicida carbendazim na dose de 250g. Para as pulverizações foliares nas cinco épocas foram utilizados 300ml.ha-1 p.c de Sphere (56,250g i.a./ha trifloxistrobina + 24,0g i.a./ha ciproconazol) + 250ml.ha-1 Áureo. No estágio fisiológico (R1), foram iniciadas as pulverizações foliares com fungicida nas seguintes épocas de aplicação: época 01: duas aplicações, uma no estádio fenológico (R1) e outra no estádio (R5.2); época 02: uma única aplicação, porém com um atraso de sete dias após a primeira aplicação da época 01; época 03: uma única aplicação, porém com um atraso de 14 dias após a primeira aplicação da época 01; época 04: uma única aplicação quando surgiu a ferrugem no talhão


da propriedade; época 05: duas aplicações: uma quando surgiu a ferrugem no talhão da propriedade e outra 14 dias após. Depois da finalização das pulverizações, foram coletadas as folhas para avaliações dos tratamentos e observados a severidade no terço médio da planta, o percentual de desfolha (95 dae) e a produtividade. Os dados obtidos para cada característica foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e para o caso de diferenças significativas, foi aplicado o teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade, para comparação entre as médias.

RESULTADOS Os dados apresentados nas Tabelas 01, 02, 03 e 04 e nas Figuras 01 e 02, são os resultados de campo obtidos em Sidrolândia (MS). O manejo da ferrugem, integrando o tratamento de sementes com o triazol, proporcionou redução na severidade do terço médio, velocidade de desfolha e aumento de produtividade. No quadro da análise de variância (Tabela 01), houve diferença significativa aos 95 dae para a desfolha, favorecendo o tratamento de sementes com o fungicida à base de fluquinconazole na variedade de soja Monsoy 7908 RR. Para os valores de severidade mensurados aos 95 dae, houve interação significativa entre o tratamento de sementes e as épocas de aplicação dos fungicidas foliares. O tratamento de sementes com fluquinconazole, associado às duas aplicações de fungicidas da época 01, resultou em menor porcentagem da doença no terço médio aos 95 dae (13,44%), quando comparado à aplicação de fungicida da época 01 na ausência de fluquinconazole (40,63%) (Tabela 02). Estes resultados es-

Tabela 01 - Análise da variância dos valores de desfolha e severidade no terço médio (TM) aos 95 e 101 dae, produtividade durante o período experimental. Fazenda Gaúcha, Sidrolândia/MS – Safra 2007/08. Fontes de Variação Tratamento de sementes (TS) Resíduo (TS) Época de aplicação (EA) TSxEA Resíduo (EA) C.V(%) TS C.V(EA)

Desfolha 95 dae1 101 dae 544,44* 17,36(ns) 36,11 2,77 404,44** 352,36** 57,77(ns) 0,96(ns) 71,11 9,44 21,63 2,82 30,36 5,21

Severidade (TM) 95 dae 162,94(ns) 79,26 1538,48** 231,19* 63,64 15,94 14,29

Severidade (TM) 101dae 45,47(ns) 2,87 816,94** 65,77(ns) 54,12 2,70 11,71

Produtividade 0,0090(ns) 0,0079 0,0219** 0,009(ns) 0,0044 13,84 10,31

**significativo, ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste F; *significativo, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste F; (ns) não significativo; (1) dae: dias após a emergência.

Tabela 02 - Desdobramento dos tratamentos dentro das cinco épocas de aplicação para severidade aos 95dae no terço médio (TM), durante o período experimental. Fazenda Gaúcha, Sidrolândia/MS – Safra 2007/08. Épocas de aplicação

Nº aplicações

Testemunha Época 01 Época 02 Época 03 Época 04 Época 05

2 1 1 1 2

Tratamentos (doses em ml/100kg de sementes ou ml p.c/ha) Carbendazim (250) Fluquinconazole (300) + Carbendazim (250) 95 dae(1) 95 dae 76,52 Aa 76,07 Aa 40,63 Bb 13,44 Ca 51,33 Ba 57,54 Aba 63,75 Aba 53,96 Ba 58,49 Aba 60,84 Aba 58,72 Aba 58,75 Aba

Medias maiúscula na coluna e, minúsculas na linha seguidas de mesma letra não diferem ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste Tukey. (1) dae: dias após a emergência. C.V para tratamento de sementes: 21,63%; C.V para épocas de aplicação: 30,36% Época 01: Aplicação foliar em R1(1aaplicacão) + R5.1(2a aplicação); Época 02: Aplicação foliar 7 dias após a 1a aplicação; Época 03: Aplicação foliar 14 dias após a 1a aplicação; Época 04: Aplicação foliar no aparecimento da Ferrugem (Curativo); Época 05: Aplicação foliar (1a aplicação no aparecimento da ferrugem)+14 dias da primeira aplicação.

tão de acordo com Scherb (2008) que, ao estudar o fluquinconazole na evolução da ferrugem da soja, também conclui que o tratamento de sementes retardou a entrada da doença na área, reduzindo a evolução do inóculo da ferrugem e melhorando a eficiência das pulverizações foliares. Nos resultados para a severidade do terço médio aos 95 dae, o tratamento com fluquinconazole, quando associado a aplicações foliares, demonstrou maior período de pro-

teção às plantas. As menores severidades obtidas no ensaio com associação às aplicações seqüenciais nos estádios em R1 e R5.1 demonstraram que o controle executado preventivamente nessa época possibilitou também melhores resultados de produtividade comparadas às demais épocas de aplicação (Tabela 04). Menten et al, (2007), ao estudar o uso do fluquinconazole nas sementes de soja,

Figura 1 - Visualização dos tratamentos aos 95 dae na Monsoy 7908 RR. A) Testemunha com desfolha acentuada. B) Fluquinconazole (50,1 g i.a. X 100kg-1) e Trifloxistrobina+Ciproconazol (56,25 + 24,0 g i.a .X ha-1) em R1 e R5.1. Fazenda Gaúcha Sidrolândia/MS Safra 2007/08

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Figura 2 - Visualização dos tratamentos ao final do ciclo na M-Soy 7908. A) Aplicação foliar apenas com Trifloxistrobina + Ciproconazol (56,25 + 24,0 g i.a. ha-1). B) Tratamento de sementes com Fluquinconazole (50,1 g i.a. 100kg-1) e duas aplicações foliares com Trifloxistrobina+Ciproconazol (56,25 + 24,0 g i.a. ha-1) em R1 e R5.1. Fazenda Gaúcha Sidrolândia/MS – Safra 2007/08

associando às aplicações foliares de fungicidas, verificou que este defensivo também contribuiu para maximizar o controle da ferrugem, em comparação aos resultados obtidos sem o tratamento das sementes com o referido produto. Furlan et al, (2007), ao verificar a eficiência do tratamento de sementes de soja CD-208, dentro do manejo da ferrugem asiática na safra 2006/07, concluiu que as plantas que receberam o tratamento das sementes com fluquinconazole – 167g i.a./ l, na dose de 50g i.a./100kg de sementes – apresentaram menor incidência e severidade da doença no campo, quando comparadas com as plantas que não receberam o tratamento com o produto. Após o aparecimento da ferrugem no ensaio, o desfolhamento das plantas foi rápido, com redução significativa do número de folhas entre 95 dae e 101 dae. O manejo da ferrugem via tratamento de sementes com fluquinconazole, associado às pulverizações preventivas de trifloxistrobina + ciproconazol nos estádios (R1) e (R5.1), demonstrou as menores médias de desfolha e, também que em aplicações tardias (Tabela 3), o agricultor terá que fazer várias aplicações, o que aumentará sensivelmente seu custo. Os tratamentos curativos com uma e duas aplicações comprometeram a eficiência tanto no sistema de tratamento com fluquinconazole como a própria mistura do fungicida foliar (Tabela 2). Navarini et al, (2007), também verificou menor desfolha em aplicações preventivas e maior nas curativas e uma redução significativa de controle, quando a aplicação de fungicida foi realizada com a presença da doença. Os benefícios do tratamento de sementes para a produtividade, por meio do fluquinconazole no manejo da ferrugem, foram maiores quando houve a associação ao tratamento da parte aé-

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rea em R1 e R5.1 (Época 01), se comparada às plantas cujas sementes não receberam este tratamento (Tabela 04). Embora sem diferença estatística na produtividade dentro da Época 01 entre os tratamentos de sementes, as médias das plantas tratadas com fluquinconazole obtiveram aumento de produtividade de 467kg/ha (Tabela 03). Togni et al, (2007), ao estabelecer comparações de ingredientes ativos nos tratamentos de sementes da Conquista e, associado às aplicações quinzenais de fungicida após aparecimento da ferrugem, relata em seu trabalho que os tratamentos diminuíram a severidade da doença e aumentaram o rendimento, principalmente com o uso de fluquin-

conazole. O mesmo autor menciona que o tratamento de sementes, associado às pulverizações foliares, pode contribuir no manejo da ferrugem e oferecer vantagens ao produtor como segurança e aumento de produtividade. Conclui-se neste trabalho que o tratamento das sementes com fungicida fluquinconazole, integrado às práticas de controle como as pulverizações de fungicidas na parte aérea, é uma ferramenta para o manejo da ferrugem asiáC tica. Justino S.F.Ribeiro Danilo Gomes Fortes João Franco Ribeiro, Cotton – Consultoria Agronômica

Tabela 03 - Médias dos valores de desfolha, severidade no terço médio (TM), produtividade durante o período experimental. Fazenda Gaúcha, Sidrolândia/MS Safra 2007/08 Épocas de aplicação Testemunha Época 01 Época 02 Época 03 Época 04 Época 05 C.V(%)

Desfolha 95 dae1 101 dae 41,66 A 71,67 A 15,83 B 49,16 E 27,50 AB 61,67 B 27,50 AB 60,83 BC 27,50 AB 55,83 CD 15,83 B 55,00 D 30,36 5,21

Severidade (TM) 95 dae 76,29 A 27,04 C 54,04 B 58,85 B 59,67 B 58,73 B 14,29

Severidade (TM) 101dae 76,96 A 47,37 C 73,59 A 67,70 AB 56,22 BC 44,14 BC 11,71

Produtividade Kg/há 3.533 B 4.633 A 4.255 AB 4.455 A 4.588 A 4.244 AB 10,31

Medias maiúscula na coluna, seguidas de mesma letra não diferem ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste Tukey. (1) dae: dias após a emergência.

Tabela 04 - Produtividade dos tratamentos dentro das épocas das cinco épocas de aplicação, durante o período experimental. Fazenda Gaúcha, Sidrolândia/MS – Safra 2007/08 Épocas de aplicação Testemunha Época 01 Época 02 Época 03 Época 04 Época 05

Nº aplicações 2 1 1 1 2

Tratamentos (doses em ml/100kg de sementes ou ml p.c/ha) Diferença Carbendazim (250) Fluquinconazole (300) + Carbendazim (250) 0,00 3.533(ns) 3.533(ns) 467 4.400 4.867 288 4.000 4.288 244 4.333 4.577 293 4.440 4.733 202, 4.131 4.333

(ns):Não significativo C.V para tratamento de sementes: 13,84% C.V para épocas de aplicação: 10,31%

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Soja Lucia Vivan

Cerco completo O ddesenvolvim esenvolvim en to ddee estr atégi as ad equ ad as ddee m an ejo con tr osca-br an ca esenvolvimen ento estratégi atégias adequ equad adas man anejo contr traa a m mosca-br osca-bran anca exi ge pr od utos efi ci en tes e seletivos ar dispen sável conh ecer xig prod odutos efici cien entes seletivos.. PPar araa isso, também é in indispen dispensável conhecer doses ddee in seti ci das ealizar rrotação otação ddee ddefen efen sivos e estu dar a distribuição inseti setici cid as,, rrealizar efensivos estud espaci al ddo o in seto n tr essafr espacial inseto naa safr safraa e en entr tressafr essafraa

A

cada ano, no Centro-Oeste, a população de moscabranca (Bemisia tabaci biótipo B) tem aumentado consideravelmente. O sistema agrícola presente nesta região faz com que a praga tenha hospedeiros para sua alimentação e oviposição e condições de desenvolvimento durante todo o ano, principalmente no que diz respeito ao uso de práticas agrícolas de monocultivo irrigado, onde o ciclo da soja antecede o do algodão (ambos hospedeiros da mosca-branca). Além disso, algumas regiões cultivam tomate e feijão, que também são atacados pelo inseto. Várias diferenças biológicas têm sido atribuídas aos dois biótipos de Bemisia: o biótipo B oviposita mais ovos (Bethke et al, 1991; Costa & Brown, 1991), ingere maiores quantidades de seiva da planta e excreta maior volume de honeydew (Byrne e Miller, 1990), além de se adaptar a um número maior de hospedeiros quando comparado com o biótipo A de B. tabaci (Bedford et al, 1994). Desta maneira, o manejo de B. tabaci biótipo B tem se tornado um grande desafio, pois a sua dispersão entre as culturas, seu alto potencial reprodutivo, a resistência aos inseticidas, o hábito de se alimentar e viver na superfície abaxial das folhas e a polifagia, sendo capaz de se alimentar em mais de 500 espécies vegetais, sendo seus hospedeiros preferenciais as cucurbitáceas, solanáceas, brássicas, ornamentais, leguminosas, euforbiáceas e malváceas (Haji et al, 2004), contribui para a complexidade e difi-

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culdade de seu controle (Naranjo e Flint, 1995). Para o desenvolvimento de estratégias de manejo da mosca-branca, um dos pontos fundamentais é a disponibilidade de produtos eficientes e seletivos. Assim, é necessário conhecer doses de inseticidas; realizar rotação de produtos, como também estudos da distribuição espacial do inseto na safra e entressafra na chamada “ponte verde”, que é a causa provável do aumento de certas populações da praga em determinadas regiões.

ASPECTOS BIOLÓGICOS Dependendo da planta hospedeira, uma fêmea pode colocar de 30 a 400 ovos durante seu tempo de vida, com uma média de 150 a 160 ovos (Byrne & Bellows Jr., 1991). De acordo com Butler Jr. et al, (1983) o desenvolvimento de ovo a adulto de B. tabaci, em algodoeiro, pode variar de 65,1 dias a 14,9oC a 16,6 dias a 30,0oC, e o pico de emergência de adultos ocorre entre seis horas e nove horas da manhã. A longevidade das fêmeas, no verão é de uma a três semanas e dos machos menos de uma semana; no inverno os insetos vivem mais de dois meses (Gerling et al, 1986). Coudriet et al, (1985) observaram que o tempo necessário para o inseto completar seu desenvolvimento de ovo a adulto pode variar devido à planta hospedeira. Este inseto-praga apresenta metamorfose incompleta e sua reprodução ocorre de forma sexuada por oviparidade ou partenogênese ar-

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renótoca. O ciclo de vida da mosca-branca constitui-se da fase de ovo, um instar móvel, dois instares imóveis e um quarto instar ninfal incorretamente denominado de “pupa”. Na fase adulta os dois sexos apresentam dois pares de asas membranosas recobertas por uma secreção pulverulenta branca e, por este motivo, recebe o nome de mosca-branca (Byrne & Bellows Jr., 1991). Tanto os adultos quanto os estágios imaturos de B. tabaci têm o hábito de colonizar a face inferior das folhas de muitas plantas hospedeiras (Simmons, 1994). As moscas-brancas são multivoltinas, com duas a seis gerações por ano. Muitas espécies ocorrem em regiões tropicais e subtropicais, podendo se desenvolver e se reproduzir continuamente devido às condições propícias de temperatura (Byrne & Bellows Jr., 1991). Os adultos são pequenos (1mm a 2 mm), com asas brancas e abdômen amarelado. São insetos muito ativos e ágeis, que voam rapidamente quando molestados, podendo dispersar-se a curtas e grandes distâncias, deixandose levar pelas correntes de ar. Logo após a emergência deixam as folhas inferiores, de onde emergiram, e voam para as folhas superiores para se alimentar e ovipositar. Migram para outras plantas quando as condições fisiológicas são inadequadas ou quando o vegetal entra no processo de senescência (Lenteren e Noldus, 1990). Os adultos tendem a se dispersar de plantas infestadas para campos de cultivo recém-instalados (Villas-Bôas et al, 1997).


Cecília Czepak

As ninfas são translúcidas e de cor amarela ou amarelo-claro; no primeiro instar se locomovem sobre as folhas e depois se fixam por meio do rostro, succionando a seiva. Já as de segundo e terceiro instares possuem antenas e pernas atrofiadas, permanecendo fixas nas plantas e sempre se alimentando. O quarto instar caracteriza-se pelo amarelecimento correspondente ao adulto, cuja forma pode ser percebida por meio do tegumento da ninfa e da presença de olhos vermelhos. A emergência do adulto ocorre por meio da ruptura em forma de T invertido na região antero-dorsal do pupário (Caballero, 1996; Haji et al, 2004). Os fatores que mais influenciam o ciclo biológico da mosca-branca são a temperatura, a umidade e as espécies hospedeiras, portanto, para que as medidas de controle sejam implementadas de forma eficiente é imprescindível que se conheça a biologia desse inseto.

CONDIÇÕES QUE FAVORECEM O AUMENTO POPULACIONAL Alguns aspectos climáticos favorecem o aumento populacional desse inseto, como temperatura elevada e épocas com estiagem. O uso de práticas agrícolas de monocultivo irrigado e a grande variabilidade de hospedeiros preferenciais têm sido uma das causas do aumento populacional desta praga. O vento é um dos principais fatores de disseminação da mosca-branca. Os adultos dessa praga podem ser encontrados em até sete quilômetros da planta hospedeira e a 300 metros de altura. Voam à noite e no período mais fresco do dia em busca de plantas hospedeiras (Prates, 1998).

INFESTAÇÕES E DANOS

al das folhas praticamente cobertas por adultos e ninfas (Lourenção e Nagai, 1994). Atualmente, observam-se altas infestações na cultura da soja ocasionando perdas de produtividade em algumas situações mais críticas de altas populações e controle inadequado.

DANO DIRETO O dano direto é causado tanto pelas ninfas como pelos adultos que, ao se estabelecerem na face inferior da folha, sugam a seiva, extraindo carboidratos e aminoácidos, podendo causar folhas com manchas cloróticas, murcha e queda. Ocorre a depauperação das plantas pela extração da seiva, comprometimento do desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, com redução da produtividade e a qualidade na produção e, em ataques severos, antecipação do ciclo em até 15 dias. Durante a alimentação, o inseto excreta um “melado” que favorece o desenvolvimento de fumagina, um fungo negro que cresce sobre as folhas, escurecendo-as, prejudicando a realização da fotossíntese e, conseqüentemente, interferindo na produtividade. São as ninfas que liberam grande quantidade dessa substância açucarada, possibilitando maior crescimento de fumagina sobre as folhas que, tornando-se pretas, absorvem muita radiação solar, provocando “queima” e queda das folhas da soja Ataques severos provocam o amarelecimento das folhas mais velhas. Quando as plan-

J. B. Torres

Em vários países esse inseto causa danos indiretos e diretos às plantas de algodão, soja, tomate e feijão, resultando em prejuízos (Butler Jr. et al, 1991). No Brasil, campos de algodão foram intensamente infestados por mosca-branca no ano de 1992, com a parte abaxi-

O descuido mantém plantas hospedeiras de diversas pragas, inclusive da mosca-branca, no campo e em beiras de estradas

Detalhe de ninfas de 1º instar da mosca-branca. Translúcidas e de cor amarela, se locomovem sobre as folhas e depois se fixam por meio do rostro, succionando a seiva

tas são jovens pode ocorrer a seca e até a morte das folhas (López, 1995). Os danos tendem a se agravar se houver falta de chuva ou irrigação inadequada.

DANO INDIRETO A mosca-branca é vetora de vírus dos grupos geminivírus, carlavírus, closterovírus e luteovírus. Para a cultura do algodão, os vírus do grupo geminivírus são os mais comuns (Byrne et al, 1990). Como insetos vetores podem causar danos mais graves, mesmo em baixas populações. Embora outros fitopatógenos possam ser transmitidos por esse inseto, os vírus são causadores dos maiores problemas (Costa, 1976). Em soja, os principais danos são relacionados à transmissão de viroses, caracterizados pelos sintomas: nanismo severo, enrolamento de folhas, intensa clorose e diminuição da produção de grãos (Viscarret, 1999).

MANEJO DA MOSCA-BRANCA O manejo da mosca-branca (B. tabaci biótipo B) tem se tornado um grande desafio, pois sua dispersão entre as culturas, seu alto potencial reprodutivo, o hábito polífago, a resistência a inseticidas e o seu comportamento de se alimentar e viver na superfície abaxial das folhas contribuem para a complexidade e dificuldade de controle. Até o momento, o controle de mosca-branca tem sido realizado com o método químico, utilizado muitas vezes de forma inadequada e indiscriminada. No entanto, tem-se observado que essa medida não está sendo eficiente em decorrência de vários fatores. Assim, para se obter sucesso no controle da mosca-branca é necessário tomar como base os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP), com a busca de inseticidas seletivos ou uso seletivo desses defensivos, rotacionar, destruir restos de culturas após a colheita, impedir o desenvolvimento de plantas espontâneas como, por exemplo, soja tigüera ou outros hospedeiros. Também é importante realizar o plantio após a regularização das chuvas, já que esse inseto aumenta seu potencial reprodutivo em períodos de estiagem, o monitoramento da população de ninfas e adultos é imprescindível, verificando a presença de ninfas de terceiro e

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J. B. Torres

inundativas bem no início da cultura ou através de liberações de parasitóides em plantas daninhas adjacentes (Villas-Bôas et al, 1997). Em vários países estão sendo identificados e estudados diversos agentes de controle biológico da mosca-branca, cujos resultados têm sido bastante promissores para o manejo dessa praga.

SISTEMA DE AMOSTRAGEM E NÍVEL DE CONTROLE A amostragem deve ser feita a cada cinco dias, com reavaliação depois de três dias ou após efetuar-se uma ação de controle. Deve-se observar as folhas, preferencialmente até as nove horas quando os insetos são menos ativos e somente 24 horas após uma chuva. Recomenda-se realizar a amostragem em vários pontos do talhão e no terço médio da planta, a fim de verificar a infestação das plantas, tanto para adultos como para ninfas. No entanto, indica-se a avaliação da ninfa, já que há intensa migração de adultos entre os plantios adjacentes, fazendo com que quase sempre a população esteja em nível alto. Sugere-se que sejam avaliadas pelo menos 50 folhas, seja para adulto ou ninfa, para cada área. Quando se utiliza no controle inseticidas juvenóides é importante verificar a presença de pupário cheio e pupário vazio, a fim de observar a eficácia do controle.

Dependendo da planta hospedeira, uma fêmea pode colocar até 400 ovos durante sua vida, mas a média se mantém entre 150 e 160 ovos

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seticidas, gerar biótipos e de se adaptar ao ambiente. Também, devido às elevadas taxas de reprodução, a movimentação constante entre áreas cultivadas e entre hospedeiros faz com que os inseticidas controlem-na apenas parcialmente (Haji et al, 1998). Portanto, a limitação das datas de semeadura de soja reduz a possibilidade de migração do inseto em áreas de final de ciclo para áreas de início de desenvolvimento da cultura. Indica-se, ainda, um pousio de, no mínimo, duas semanas antes da semeadura da soja, especialmente em plantio direto. Em áreas com histórico de ocorrência de necrose da haste, dar preferência, quando possível, a cultivares de soja tolerantes à doença. A preservação de inimigos naturais nos agroecossistemas é de fundamental importância como fator de equilíbrio dinâmico das populações de espécies de insetos-praga, minimizando a intervenção do homem em seu controle. Por isso, são necessários estudos básicos de seletividade de produtos, pois as informações obtidas poderão ser utilizadas nas tomadas de decisão com relação ao produto a ser adotado (Degrande et al, 2002).

NÍVEL DE CONTROLE PARA MOSCA-BRANCA EM SOJA Ainda não existem dados de pesquisa com relação ao nível de controle que deve ser adotado para os plantios de soja no Brasil. No entanto, a pesquisa está desenvolvendo trabalhos para esse fim.

ESTRATÉGIAS DE CONVIVÊNCIA

CONTROLE BIOLÓGICO O controle biológico, atualmente consiste na preservação dos inimigos naturais da mosca-branca pelo uso de inseticidas seletivos. Várias espécies de inimigos naturais têm sido identificadas em associação com complexo de espécies de mosca-branca. No grupo de predadores foram identificadas 16 espécies das ordens: hemíptera, neuróptera, coleóptera e díptera. Entre os parasitóides, identificaramse 37 espécies de micro-himenópteros. Dentre os parasitóides destacam-se os gêneros Encarsia, Eretmocerus e Amitus, comumente encontrados. Com relação a entomopatógenos, diversos isolados mais virulentos dos fungos Verticillium lecanii, Paecilomyces fumosoroseus, Aschersonia aleyrodis e Beauveria bassiana, possuem ação sobre moscas-brancas. Em um programa de controle biológico, após a identificação de inimigos naturais, deve-se estabelecer de modo mais eficiente o emprego desses agentes, provavelmente, por liberações

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A resistência de plantas a este inseto é uma alternativa para evitar o uso intensivo de inseticidas. Genótipos resistentes podem manifestar efeitos adversos sobre a biologia dos insetos, tais como: aumento do período de desenvolvimento, mortalidade das formas jovens, mortalidade na transformação para adulto, redução do tamanho e do peso dos indivíduos, redução da fecundidade, alteração da proporção sexual e alteração na longevidade do Jose Flavio Silva

quarto instares na face abaxial das folhas no terço mediano da planta de soja Ter cuidado com o plantio sucessivo de plantas hospedeiras em áreas de pivô central e preferir o período de entressafra com plantas não-hospedeiras. A técnica do pousio não é indicada nesse caso, pois a mosca-branca se utiliza de várias espécies de plantas daninhas como hospedeiro alternativo, que se constituiriam em forma de futuras infestações. Dessa forma, em áreas de intenso desequilíbrio é recomendável interromper o ciclo das espécies preferidas, utilizando-se milho ou outra gramínea como sorgo ou cana-de-açúcar (VillasBôas et al, 2002). Normalmente o método químico tem sido direcionado quase que exclusivamente para o adulto e as formas jovens vêm se mantendo livres de qualquer controle, o que só facilita o seu aumento populacional. Portanto, é importante considerar que para este inseto a quebra de ciclo é imprescindível, logo a utilização de “ninficidas” torna-se importante ferramenta na diminuição deste inseto na lavoura. Contudo, tem-se observado que essa estratégia não está sendo eficiente em decorrência de vários fatores como: características biológicas e comportamentais do inseto; extensas áreas plantadas com soja e algodoeiro subseqüente em sistema escalonado, em que há plantas de diferentes idades ao mesmo tempo; plantios de outras culturas hospedeiras nas proximidades como feijão e tomate. Como a praga utiliza o vento como principal meio de dispersão, podendo se alastrar de forma escalonada por entre os talhões, é importante que se observem as direções das correntes de ar. Para aperfeiçoar o controle da mosca-branca, ao contrário do que normalmente tem sido feito, as pulverizações devem ser iniciadas nas bordaduras ou ao redor das áreas plantadas e somente depois disso em seu interior. Deste modo, serão formadas barreiras de contenção contínuas na própria lavoura, evitando que os adultos da mosca-branca migrem para as áreas não pulverizadas. A mosca-branca, B. tabaci, tem enorme capacidade de desenvolver resistência aos in-

Para o controle é importante considerar que a quebra de ciclo do inseto é imprescindível


Jose Flavio Silva

torna-se difícil por tratar-se de uma praga que possui grande capacidade de desenvolver resistência aos diferentes grupos de inseticidas. Além disso, apresenta uma diversidade de hospedeiros, fácil adaptação às condições adversas e dificuldade em ser atingida na face inferior da folha. Atualmente, os inseticidas eficientes no controle de mosca-branca são os neonicotinóides, os reguladores de crescimento (IGR) e o espiromesifeno. Na primeira categoria, incluem-se imidaclopride, acetamipride e thiametoxam, enquanto, buprofezim é um inibidor da síntese de quitina; piriproxifem, um análogo do hormônio juvenil e o espiromesifeno age como inibidor da biossíntese de lipídios (LBI). O modo de ação e os atributos bioquímicos tornam esses produtos, coletivamente, muito eficientes no controle de mosca-branca. Devem ser utilizados quando a quantidade de ninfas é elevada e são complementos ideais para programas de manejo integrado de pragas. Nos campos em que as populações de mosca-branca são migrantes ou onde há adultos, mas as ninfas estão em pequena quantidade, tratamentos com neonicotinóides e alguns fosforados podem ser usados. Para o desenvolvimento de estratégias de manejo da mosca-branca, um dos pontos fundamentais é a disponibilidade de produtos eficientes e seletivos. Um programa de manejo da resistência à mosca-branca deve ter três objetivos: 1. conservar inimigos naturais; 2. uso limitado de inseticidas; 3. diversidade na escolha dos inseticidas utilizados para moscabranca. As aplicações sucessivas com o mesmo produto ou com inseticidas que têm o mesmo modo de ação podem gerar níveis de resistência elevados na mosca-branca. O tratamento de sementes para o controle de mosca-branca pode ser uma estratégia

inseto (Lara, 1991) O estudo da resistência varietal a B. tabaci biótipo B é uma área que pode e deve ser explorada com o intuito de reduzir os danos causados por esse inseto (MCauslane, 1996), apresentando grande potencial como estratégia de manejo em um programa integrado (Meagher Jr. et al, 1997). Mcpherson & Lambert (1995) notaram que, em soja, há maior número de ovos e ninfas de B. argentifolli nas folhas mais velhas quando comparadas às folhas mais novas. Em vários estudos realizados concluiu-se que há diferenças significativas na resistência varietal em relação a densidades populacionais desses insetos. A campo verificou-se que as menores médias de infestação, tanto de ovos como de ninfas de B. argentifolli nos genótipos de soja, foram correlacionadas com o grau de inclinação do tricoma em relação à superfície foliar, se ereto (quase perpendicular), paralelo ou inclinado (45o). As menores médias de aleirodídeos foram observadas nos genótipos com tricomas bem paralelos à superfície foliar, e altas populações foram encontradas em folhas com tricomas eretos (90o). Isolinhas de soja variando quanto à pubescência foliar foram avaliadas e observou-se que a mosca-branca oviposita menos nas folhas mais glabras que naquelas com maior pubescência. Essas características devem ser consideradas em programa de melhoramento.

AÇÕES PREVENTIVAS NO SISTEMA DE CULTIVO Algumas espécies nativas da família Malvaceae são hospedeiros reservatórios do vírus, principalmente Sida rhombifolia (guaxuma), S. micrantha (vassourinha) e Nicandra physaloides (joá-de-capote), além de outras plantas cultivadas como feijoeiro, soja, quiabeiro e tomateiro. O controle é realizado por meio da eliminação das malváceas nativas próximas ao plantio, arranquio de plantas sintomáticas e controle químico da mosca-branca. Ainda não foram relatadas cultivares resistentes ou tolerantes. Outras plantas daninhas como nabo forrageiro, leiteiro, picão-preto, corda-de-viola e trapoeraba devem ser eliminadas das áreas por serem hospedeiras do inseto. Aplicações preventivas e/ou sucessivas de produtos fitossanitários para controlar a mosca-branca na soja podem favorecer a seleção de insetos resistentes e o aumento da população da praga. Uma das táticas mais importantes de manejo de resistência de pragas a inseticidas é a rotação por modo de ação, e para atingir este objetivo é fundamental criar um programa de rotação com produtos que possuem mecanismos de ação distintos. Portanto, os técnicos precisam conhecer o modo de ação dos inseticidas e acaricidas existentes no mercado para incluí-los em suas recomendações de controle químico de pragas. C Lucia Vivan, Fundação MT Cecília Czepak, UFG

Charles Echer

A mosca se estabelece na face inferior da folha onde suga a seiva, extrai carboidratos e aminoácidos

em situações onde a praga já esteja presente, adotado com o objetivo de diminuir as migrações para a cultura recém-germinada, impedindo, desta forma, seu estabelecimento na área.

CULTURAL E QUÍMICO O controle cultural consiste no emprego de práticas agrícolas, sendo, na maioria das vezes, preventivas e compatíveis com outros métodos de controle. É importante eliminar todas as plantas daninhas hospedeiras de mosca-branca e de viroses antes do plantio e no início do estabelecimento da lavoura. Os restos culturais devem ser incorporados ao solo logo após a colheita para evitar a formação de um nicho de sobrevivência para ovos, ninfas e adultos de Bemisia spp. Em casos extremos, deve-se manter a área sem cultivo para interromper o ciclo da praga. O controle químico é o mais utilizado para controlar essa praga, no entanto, essa medida

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Café Fotos Paulo Rebelles Reis

Desfolhador Uma ddas as prin cipais pr agas ddo o cafeeir o en tr o períod o pr opíci o ao ataque principais pragas cafeeiro entr traa n no período propíci opício ataque.. É tr eses ddee junh o e ag osto, época m ais seca ddo o an o, que o bi ch o-min eir o en ano, bich cho-min o-mineir eiro entr tree os m meses junho agosto, mais desf olha as plan tas an os pr ovocad os pela lagarta ocorr em ddo o ápi ce par esfolha plantas tas.. Os ddan anos provocad ovocados ocorrem ápice paraa a base e dimin uem su dad otossin téti ca ddevi evi do à rred ed ução ddaa ár ea ffoli oli ar diminuem suaa capaci capacid adee ffotossin otossintéti tética evid edução área oliar ar.. o o aga en con tr am-se disponíveis ativas ddee con tenção ddaa pr Vári as altern tram-se disponíveis,, com como contenção praga encon contr Várias alternativas ad as o a partir ddee 30% ddee ffolhas olhas min tr ole quími co, in di cad con minad adas indi dicad cado contr trole químico,

O

bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é talvez a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade no Brasil, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. Trata-se de praga exótica que tem como região de origem o continente africano, vinda, provavelmente, em mudas atacadas provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É considerada monófaga, pois ataca somente cafeeiros. O surgimento da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, é um marco para o bicho-mineiro. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia ao controle da ferrugem propiciam melhores condições ao ataque à praga, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.

presença ou ausência de inimigos naturais parasitóides, predadores e entomopatógenos. As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, com início em junho a agosto e acme (pico) em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como freqüentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário,

ÉPOCAS DE OCORRÊNCIA A ocorrência do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores: (1) climáticos temperatura e chuva principalmente; (2) condições da lavoura - lavouras mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas e (3)

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Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre a folha do cafeeiro

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a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de oxicloreto de cobre para o controle da ferrugem já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.

DANO As lesões, causadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas, reduzem a capacidade de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga. Em conseqüência há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No sul de Minas foi constatada, em 1976, redução na produção de café da ordem de 52% devido à desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993, também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada redução na produção entre 34,3% e 41,5%.

CONTROLE Além do método químico convencional, algumas formas de controle natural ou apli-


cado podem auxiliar na redução da praga, porém nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos. - Cultural – O uso de quebra-ventos ou arborização, com plantas apropriadas para tal fim, auxilia na redução do ataque da praga que tem preferência por locais mais secos e arejados. É indicada a seringueira, macadâmia, abacateiro, cajueiro, ingazeiro, grevílea robusta, guandu, leucena, bananeira entre outras. - Por comportamento - Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, que pode ser usado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos, em armadilhas de feromônio e cola, reduzindo a possibilidade de acasalamento e conseqüentemente a população da praga. - Por predadores - O predatismo das lagartas do bicho-mineiro, feito principalmente pelas vespas (Hymenoptera: Vespidae), tem registrado aproximadamente 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros, apesar de poucos, em geral são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Resta, portanto, a preservação de matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a manutenção e o aumento das vespas predadoras que ali se abrigam. Em condições de laboratório já foi verificado que larvas do predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) conseguem predar as fases de pré-pupa e

Após a retirada da epiderme superior da folha, é possível ver a lesão e as lagartas de bicho-mineiro no interior da mina

pupa do bicho-mineiro, constituindo-se assim em mais um agente de controle biológico da praga. - Por parasitóides - O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente por micro-himenópteros (Hymenoptera: Braconidae, Eulophidae, Entedontidae). - Por entomopatógenos - Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou microorganismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias quando as condições lhes são favoráveis. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas. As bactérias Erwinia herbicola (Enterobacteriaceae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomonadaceae) são apontadas como os

Detalhe da vespa predadora, Protonectarina sylverae, procurando por lagarta de bicho-mineiro na lesão

microorganismos mais eficientes, até agora conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro com ocorrência de 65% e 90%, respectivamente. - Químico convencional - Embora não se saiba exatamente qual a população do bichomineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos de pesquisa realizados pela Epamig, em Minas Gerais, desde 1973, mostram que há necessidade de ser efetuado o controle químico quando forem verificadas 30% de folhas minadas, sem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco). Caso não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão consideráveis. A pulverização de inseticidas, somente quando a população atingir o nível de controle, deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresentar aumento populacional significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga se encontram mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para abaixar a população do bicho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. Para ser conhecida a população do bichomineiro, a amostragem de folhas deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto. Recomen-

Casulo típico construído pela praga por fios de seda no formato de X

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Fotos Paulo Rebelles Reis

Ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro

Detalhe da lesão causada pela praga

da-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas; indica-se folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois somente o manejo natural, através do parasitismo e predatismo, e condições climáticas, têm sido suficientes para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica aos cafeeiros novos, de até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. O controle químico, quando realizado com produtos recomendados (fosforado ou carbamato mais um piretróide) e com base no nível de controle da praga, não afeta de maneira significativa os inimigos naturais do bicho-mineiro. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente as muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes, o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais freqüentes e haja início de novas brotações. Uma segunda pulverização, nos talhões já pulverizados, somente deve ser feita após 20-30 dias, se nas amostragens forem cons-

tatadas lagartas vivas dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico), pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado. Esse tipo de situação é muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais. Este pico não ocorre quando são aplicados inseticidas sistêmicos no solo na época das chuvas (aldicarb, disulfoton, phorate, imidacloprid e thiamethoxam), porém, o efeito residual nem sempre se mostra suficiente para manter baixa a população do inseto até junho, havendo necessidade de complemento através de pulverizações foliares.

ASPECTOS BIOLÓGICOS

O

adulto do bicho-mineiro é uma mariposa que mede 6,5mm de envergadura. Tem coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente para o seu interior, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase vivem dentro de lesões ou minas foliares por elas mesmas construídas, e quando completamente desenvolvidas medem cerca de 3,5mm de comprimento. Após completo o desenvolvimento, abandonam as folhas pela parte superior das minas e, com o auxílio de um fio de seda por elas

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produzido, descem até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos também com fios de seda no formato da letra X. As lesões apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. De modo geral e, principalmente, nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do topo das plantas. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 e 87 dias, sendo menor em temperaturas mais elevadas. A fase de lagarta (a que causa danos) dura de nove a 40 dias, passando por três ecdises, e podem ocorrer de oito a 12 gerações ao ano.

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Diversos produtos ou misturas, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, como os fosforados chlorpyrifos, ethion, fenthion, triazophos etc, o carbamato cartap e diversos piretróides, sendo que estes últimos, pelo amplo espectro de ação que possuem, são mais prejudiciais aos parasitóides e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é freqüente fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras. Nas áreas onde o inseto freqüentemente se constitui praga, o controle deve ser realizado com inseticidas sistêmicos aplicados no solo, na época recomendada pelos fabricantes, e complementado com pulverização (entre junho e outubro) caso sejam constatados 30% de foC lhas minadas sem sinais de predação. Paulo Rebelles Reis e Júlio César de Souza, Epamig/EcoCentro

Rebelles alerta para os cuidados com o bicho-mineiro



Cana-de-açúcar Fotos Núbia Maria Correia

Melão na cana

NNova planta começa sobressair lavouras cana-d a-de-açúcar e-açúcar. ova plan planta ta ddaninha daninha começa eça aa se se sobr sobressair essair em em lavour lavouras as dde dee can cana-d a-de-açúcar e-açúcar.. TTr Trrata-se ata-se aninha com ddaa espéci espécie trepad epadeir eira melão-d elão-de-são-caetan e-são-caetano, problemáti oblemática principalm cipalmen ente na hor ora espéciee tr trepad epadeir eiraa m melão-d elão-de-são-caetan e-são-caetano, o, pr problemáti oblemática ca prin principalm cipalmen ente te n naa h hor oraa dda daa colh colheita lavouras queima. Estud avaliou herbi erbici cid aplicad cados colheita eita em em lavour lavouras as sem sem queim queima. a. Estu Estuddoo avali avaliou ou oo efeito efeito dde dee h herbi erbici ciddas aplicad cados os em em as apli pré pós-emer ergên gênci cia para contr trole nos canavi aviais pré ee pós-em pós-emer ergên gênci ciaa par paraa oo seu seu con contr trole ole n nos canavi aviais ais os can

A

ocorrência de Momordica charantia, o popular melão-de-sãocaetano, tem aumentado em áreas de cana-de-açúcar, principalmente, naquelas colhidas mecanicamente sem queima (cana-crua). Além dos prejuízos ocasionados pela competição por água, luz, nutrientes e espaço, a daninha interfere na colheita da cana, provoca perdas no rendimento das máquinas, no caso de colheita mecanizada, e até mesmo dos cortadores manuais no corte da cana. Mesmo numa condição de baixo “escape”, o indivíduo sobrevivente será suficiente para causar danos na colheita. Por isso, um tratamento herbicida eficaz no controle de espécies trepadeiras, como melão-de-são-caetano, será aquele que resulta em excelente controle, sem “escape” ou rebrota das plantas pulverizadas. São escassos os trabalhos na literatura relacionados ao controle químico ou a estratégias de manejo de melão-de-são-caetano na cultura da cana-de-açúcar, o que motivou a realização desta pesquisa. Com a hipótese de que o uso de herbicidas na época seca deve ser complementado com a aplicação de herbicidas de ação residual na época úmida, objetivou-se estudar o efeito de herbicidas aplicados em pré e pós-emergência, isolados e em combinações nas épocas seca e úmida, para o controle de melão-de-são-caetano (M. charantia) em área de cana-soca. O experimento foi desenvolvido no perí-

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odo de junho de 2007 a fevereiro de 2008, em Bebedouro (SP). A variedade de cana empregada foi a SP 79-1011, no seu 3º corte, colhida pelo sistema manual com queima das plantas, deixando quantidade de palha pouco significativa sobre o solo. Mesmo assim, os restos vegetais foram retirados da área experimental, para homogeneização do terreno. Foram avaliados na época seca os herbicidas: imazapic (0,147kg ha-1, p.c.) e amicarbazone (1,4kg ha-1, p.c), aplicados uma se-

mana após a colheita da cana; clomazone mais hexazinone (0,8kg ha-1 + 0,2kg ha-1, p.c.) e amicarbazone (1,4kg ha-1, p.c.), aplicados no mês de agosto, 63 dias após a colheita da cana; além de tratamento sem a aplicação de herbicida. Dentro da área de cada herbicida de seca foram demarcadas subáreas onde foram aplicados os produtos da época úmida, como forma de avaliar a necessidade de complementação do manejo da planta daninha. Estudou-se o uso de mais quatro herbicidas e de tratamento sem aplicação. Os herbicidas usados na segunda etapa do trabalho foram: me-

Plantas de melão-de-são-caetano já atingidas por herbicida

Ovos: inicialmente deDetalhe coloraçãodas rosada, passando, posteriormente, inflorescências pelas cores verde-azeitona da plantae alaranjada

TRATAMENTOS

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Gráfico 1 - Dinâmica da emergência de melão-de-são-caetano após a aplicação de imazapic e amicarbazone (1), no dia 28/6, e de amicarbazone (2) e clomazone + hexazinone, no dia 23/8; aos sete e 63 dias após a colheita da cana, respectivamente. Unesp/Campus de Jaboticabal (SP), 2007/2008

sotrione (0,192kg ha-1), amicarbazone (1,4kg ha-1, p.c.), mesotrione + amicarbazone (0,096kg ha-1 + 0,7kg ha-1, p.c.) e 2,4-D (1,005kg ha-1, p.c.), todos em pós-emergência da cana-de-açúcar e das plantas de melão-de-são-caetano.

APLICAÇÃO DOS HERBICIDAS Na primeira etapa do trabalho os herbicidas foram aplicados nos dias 28/6 (para imazapic e amicarbazone) e 23/8 (para amicarbazone e a mistura de clomazone com hexazinone). Utilizou-se pulverizador costal, à pressão constante (mantida por CO2 comprimido) de 2,9kgf cm2, munido de barra com seis bicos de jato plano (leque) 110.02, espaçados de 0,5m, com consumo de calda equivalente a 200l ha-1. Na primeira aplicação, a cana encontrava-se no início da brotação e não havia plantas daninhas emergidas na área. Na segunda, a cana apresentava altura do dossel em torno de 35cm e as plantas de melão-de-sãocaetano, com folhas cotiledonares até duas folhas definitivas. A aplicação dos herbicidas na época úmida foi realizada no dia 21/11, 153 dias após o corte da cana. Devido ao porte da cana, a pulverização foi dirigida, localizada na entrelinha da cultura. Foi usado pulverizador costal, à pressão constante (mantida pelo CO2 comprimido) de 4,0kgf cm-2, munido de barra com dois bicos de jato plano (leque) TT 110.02, espaçados de 0,75m, com consumo de calda equivalente a 200l ha-1. As plantas de cana encontravam-se em média com 1,38m de altura média do dossel e as de melão-de-sãocaetano no estádio cotiledonar e plantas adultas de 20cm a 80cm de altura.

Gráfico 2 - Número de plantas de melão-de-são-caetano (em 9m2) aos 30 e 90 dias após a aplicação de herbicidas na época úmida, além do tratamento sem herbicida. Unesp/Campus de Jaboticabal (SP), 2007/2008

bicida na área. Além disso, foram avaliadas possíveis injúrias visuais ocasionadas pelos herbicidas nas plantas de cana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 1ª etapa: Manejo de melão-de-são-caetano na época seca Os herbicidas imazapic e amicarbazone ocasionaram sintomas leves de fitointoxicação nas plantas de cana, não mais observados aos 56 dias após a aplicação (DAA). Na segunda época de aplicação, o amicarbazone também causou danos à cultura. O mesmo ocorreu quando aplicado clomazone + hexazinone, porém, as injúrias foram um pouco mais severas, caracterizadas pelo branqueamento e necrose das margens das folhas. Para ambos herbicidas, os sintomas persistiram até os 28 DAA, com redução gradual das notas de fitointoxicação. Como havia mais de 60 dias sem a ocorrência de chuvas na região, na avaliação de 49 DAA todas as plantas, inclusive aquelas que não foram tratadas com herbicidas (testemunhas), apresentavam necrose dos bordos foli-

ares. Os danos ocasionados pelo estresse hídrico, impossibilitaram isolar os sintomas visuais oriundos da ação dos herbicidas amicarbazone (2ª aplicação) e clomazone + hexazinone. De modo que todas as plantas foram consideradas sem fitointoxicação aparente. Quanto ao controle da emergência de melão-de-são-caetano pelos herbicidas na época seca (Gráfico 1), verificou-se aumento no número de plântulas emergidas com o decorrer do tempo, o que foi mais expressivo para o tratamento sem herbicida. A ausência de umidade no solo influenciou na dinâmica da espécie, mas não impossibilitou a germinação das sementes. Contudo, as plantas apresentaram crescimento inicial lento. No mês de outubro, com as primeiras chuvas, houve novos fluxos de emergência e o restabelecimento do desenvolvimento das plantas emergidas anteriormente. Isso foi mais acentuado nas áreas sem a aplicação de herbicidas. No dia 21/11, quando foi realizada a aplicação dos herbicidas da época úmida, foram quantificadas 13, 8, 8, 6 e 5 plantas de melãode-são-caetano por m2, respectivamente, para o tratamento sem herbicida, amicarbazone (1ª

AVALIAÇÕES Foram realizadas avaliações visuais de controle, atribuindo-se notas em porcentagem, aos 30 e 90 dias após a aplicação dos herbicidas na época úmida. Fez-se a contagem do número de plantas emergidas de melão-de-sãocaetano a partir da primeira aplicação de her-

A planta daninha se reproduz por sementes e se alastra a partir de rizomas prendendo-se por gavinhas sobre a cana

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Núbia Maria Correia

NÚMEROS

M

omordica charantia, o popular melão-de-são-caetano, é originária da Ásia, de onde foi disseminada para muitas regiões de climas tropical e subtropical. A sua introdução no Brasil se deu a partir da África (Kissman & Groth, 1999). É uma planta herbácea, anual, reproduzida por sementes e alastrada a partir de rizomas que permitem a brotação da planta; trepadeira, prendendo-se por gavinhas sobre obstáculos ou plantas vizinhas (Kissman & Groth, 1999). Trata-se de uma espécie ruderal, conhecida pelo seu uso na culinária e na medicina (Lenzi et al, 2005). época de aplicação), clomazone + hexazinone, imazapic e amicarbazone (2ª época de aplicação). Ficou demonstrado que a segunda aplicação de herbicidas no local era imprescindível para o controle melão-de-são-caetano, mesmo nas áreas com menor número de plantas. 2ª etapa: Manejo de melão-de-são-caetano na época úmida Como os herbicidas foram aplicados em jato dirigido na entrelinha da cultura, não foram observados sintomas visuais de fitointoxicação na cana. Aos 30 DAA (Tabela 1), independentemente do herbicida usado na seca, não houve diferença expressiva entre os herbicidas aplicados na época úmida, com resultados bem superiores ao do tratamento sem aplicação. No entanto, para o tratamento sem manejo na

Detalhe de uma área que não recebeu controle, dando lugar à daninha que, além de competir por água, luz, nutrientes e espaço, trará dificuldade também na colheita da cana

época seca, entre os herbicidas utilizados na época úmida, o amicarbazone sozinho resultou em menor porcentagem de controle de melão-de-são-caetano. Comparando os tratamentos da época seca dentro de cada tratamento da época úmida, a eficácia de mesotrione, mesotrione + amicarbazone e 2,4-D não foi dependente do manejo adotado após a colheita da cana, ou seja, para eles a aplicação de herbicidas na seca não agregou vantagens no controle da planta daninha. No entanto, o amicarbazone isolado necessitou do tratamento prévio com herbicidas na época seca. Isso favoreceu o seu desempenho, pois as plantas de melão-de-são-caetano no momento da aplicação encontravam-se menores e em menor quantidade. Aos 90 DAA (Tabela 2), para todos os herbicidas aplicados após a colheita da cana, houve maior porcentagem de controle com a aplicação de mesotrione e amicarbazone, iso-

Tabela 1 - Porcentagem de controle de melão-de-são-caetano aos 30 dias após a aplicação de herbicidas na época úmida, com ou sem manejo prévio da planta daninha na época seca. Unesp/Campus de Jaboticabal (SP), 2007/2008 Manejo na época úmida mesotrione amicarbazone mesotrione + amicarbazone 2,4-D Trat. s/ herb.

imazapic 98,75 97,50 92,50 100,00 12,50

amicarbazone(1) 100,00 96,25 100,00 96,25 0,00

Manejo na época seca amicarbazone(2) clomazone + hexazinone 98,75 100,00 97,50 97,50 100,00 100,00 100,00 98,75 33,75 27,50

Trat.s/ herb.(3) 100,00 77,50 82,50 96,25 0,00

(1), (2) Aplicado aos sete e 63 dias após a colheita da cana, respectivamente; (3) Trat. s/ herb.- tratamento sem herbicida.

Tabela 2 - Porcentagem de controle de melão-de-são-caetano aos 90 dias após a aplicação de herbicidas na época úmida, com ou sem manejo prévio da planta daninha na época seca. Unesp/Campus de Jaboticabal (SP), 2007/2008 Manejo na época úmida mesotrione amicarbazone mesotrione + amicarbazone 2,4-D Trat. s/ herb.

imazapic 98,00 96,00 86,75 57,50 0,00

amicarbazone(1) 98,25 96,25 100,00 57,50 0,00

Manejo na época seca amicarbazone(2) clomazone + hexazinone 100,00 98,75 94,00 91,75 90,00 97,50 56,25 52,25 0,00 0,00

(1), (2) Aplicado aos sete e 63 dias após a colheita da cana, respectivamente; (3) Trat. s/ herb.- tratamento sem herbicida.

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Trat.s/ herb.(3) 100,00 71,25 69,75 63,75 0,00

lados ou em mistura. A menor eficácia observada nas áreas tratadas com 2,4-D é justificada pela emergência e crescimento de novas plantas de melão-de-são-caetano na área, devido à ausência de efeito residual de controle desse herbicida. O controle de melão-de-são-caetano pelo mesotrione variou de 98,75% a 100% (Tabela 2), comprovando a sua eficácia na mortalidade das plantas tratadas e a manutenção do controle até 90 DAA, em resposta a sua ação residual no solo. A eficácia do 2,4-D também não estava atrelada ao uso de herbicidas na seca, pois independentemente do manejo adotado após a colheita da cana, o controle da planta daninha sofreu pequena variação, de 52,50% a 63,75%. Porém, para o amicarbazone e a sua mistura com mesotrione, o controle foi melhor nas áreas com manejo prévio de melão-de-são-caetano na seca. Para as avaliações de contagem (Gráfico 2), aos 30 e 90 DAA, houve maior número de plantas nas subáreas sem aplicação de herbicida e naquelas tratadas com 2,4-D.

CONCLUSÃO Houve uma complementação do controle de melão-de-são-caetano com a aplicação de herbicidas nas épocas seca e úmida. No entanto, o uso de herbicidas na época úmida mostrou-se obrigatório. Sendo que, o mesotrione e o amicarbazone, isolados ou em mistura, foram eficazes não apenas no controle em pós-emergência das plantas, mas, também, para inibir novos fluxos de emergência de melão-de-são-caetano na época úmida. Além da mortalidade das plantas tratadas, a inibição de novos fluxos de emergência pelo herbicida é de grande importância para a manutenção do controle de melão-de-são-caetano C na época úmida. Núbia Maria Correia, Unesp




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