Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 117 • Fevereiro 09 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa Capa
Mi gr ação ddaa m açã ao grão... ........ ......20 Migr gração maçã grão........... ..............20 Germison Vital TTomquelski omquelski
A investi da ddaa lagarta-d a-m açã em investid lagarta-da-m a-maçã lavour as ddee soja ddo o Cen tr o-Oeste lavouras Centr tro-Oeste
Efeito colater al......................06 Etern o pr oblem a....................24 Aden sam en to n o alg od oeir o.....32 colateral......................06 Eterno problem oblema....................24 ensam samen ento no algod odoeir oeiro.....32 A influên ci o flu or eto influênci ciaa ddo fluor oreto o próxim o em milh o cultivad milho cultivado próximo a in dústri as e si derúr gi cas indústri dústrias sid erúrgi gicas
Com o tem se comportad o Como comportado ca n as a ferrug em asiáti ferrugem asiática nas plan tações ddee soja ddo o Br asil plantações Brasil
Índice
Nova técni ca ddee plan ti o técnica planti tio ganha espaço en tr entr tree cotoni cultor es br asileir os cotonicultor cultores brasileir asileiros
Expediente Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton
Dir etas Diretas
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RED AÇÃO REDAÇÃO • Editor
Influên ci o flúor em milh o Influênci ciaa ddo milho
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Especi al ddee aniversári o - Dez an os ddee Cultivar Especial aniversário anos
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cultur Uso ddee 2,4-D n naa agri agricultur culturaa
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Lagarta-d a-m açã em soja Lagarta-da-m a-maçã
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Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Jani ce Ebel anice • Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
Situ ação ddaa ferrug em n Situação ferrugem naa soja
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Plan tas ddaninhas aninhas em can Plantas canaa
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Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa • Revisão
Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
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Ferrug em em café Ferrugem
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Inf orm gen ta Inform ormee - Syn Syng enta
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• Impr essão Impressão
Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Dir etor es Diretor etores Newton Peter e Schubert K. Peter Secr etári Secretári etáriaa Rosimeri Lisboa Alves www .r evistacultivar .com.br www.r .revistacultivar evistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assin atur ual (11 edições*): R$ 129,90 ssinatur aturaa an anu (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Colun Colunaa ANPII
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Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios
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Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola
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• Coor den ação Coord enação
Charles Ri car do Ech er Ricar card Echer • VVen en das end
Ped edrro Batistin Sed eli Feijó Sedeli
CIRCULAÇÃO • Coor den ação Coord enação
Sim on Simon onee Lopes • A ssin atur as Assin ssinatur aturas
Ân gela Oliveir Âng Oliveiraa Gonçalves
GRÁFI CA GRÁFICA Kun de In dústri as Gráfi cas Ltd a. und Indústri dústrias Gráficas Ltda.
Cultivo ad en sad o em alg odão aden ensad sado algodão
MARKETING E PUBLI CID ADE PUBLICID CIDADE
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Di anferson Alves Dianferson Edson Kr ause Krause Núm er os atr asad os: R$ 15,00 Númer eros atrasad asados: Assin atur tern aci on al: ternaci acion onal: ssinatur aturaa In Intern US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos TTelef elef on es elefon ones es:: (53) • Red ação: Redação: • Ger al Geral 3028.2060 3028.2000 • A ssin atur as: Assin ssinatur aturas: 3028.2070
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Mapa do agronegócio
Tecnologia Plene
O autor da coluna Agronegócios da revista Cultivar Grandes Culturas e pesquisador da Embrapa Soja, Décio Luiz Gazzoni, é o novo gerente na Subsecretaria de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Entre as atribuições, estará a de traçar uma análise estratégica do agronegócio brasileiro para os próximos 15 anos. “É um grande desafio poder mapear o agronegócio brasileiro do futuro, traçando os panos de fundo doméstico e internacional, identificando os problemas e os pontos de alavancagem, as ameaças e as oportunidades, propondo medidas legais para sanar os gargalos e viabilizar os apoios”, avalia Gazzoni. Além da análise, o governo pretende estabelecer propostas concretas de políticas públicas. “Queremos colaborar para eliminar os entraves identificados e permitir ao governo auxiliar o agronegócio a reDécio Luiz Gazzoni alizar seu potencial”, completa.
Os engenheiros agrônomos da Syngenta, Marcio Farah, gerente para Projetos Especiais, Paulo Cesar Donadoni, gerente de Suporte Técnico, e Aline Popin, gerente de marketing, apresentaram a tecnologia Plene no Dia de Campo realizado em Holambra (SP). Junto às parcelas experimentais, mostraram a diferença entre o cultivo de cana com Plene e o tradicional, além de esclarecerem dúvidas dos participantes do evento.
Faturamento A Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio) teve faturamento de R$ 297 milhões em 2008, com crescimento de 61% em comparação com 2007, quando somou R$ 184,6 milhões. O presidente Daltro Benvenuti explica que o período de maior pujança foi de janeiro a outubro. “A partir daí, pesou muito mais a seca no Rio Grande do Sul do que a crise econômica mundial.” Em 2009, a projeção é de faturar R$ 357 milhões e em 2010 chegar a R$ 500 milhões. “Estamos preparados para crescer, independentemente de crises.” A Cooplantio passa a contar com 41 filiais, espalhadas nos três estados do Sul e com uma nova unidade de recebimento de grãos em Pelotas (RS), com capacidade para armazenar Daltro Benvenuti 350 mil sacos.
Engenheira 10 mil Susana Lin é a formanda de número 10 mil do curso de engenharia agronômica da Esalq/Usp. O marco é alcançado no ano em que a USP completa 75 anos e a Esalq 108 anos. “O fato é marcante, pois cumpre o papel central da universidade que é a formação de profissionais que, com seriedade e competência, atuam no desenvolvimento da agricultura brasileira”, avalia o diretor da Esalq, Antonio Roque Dechen.
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Mais feijão e milho Ocorreu em fevereiro a 10ª Semana de Campo, em Ponta Grossa (PR). O evento foi uma oportunidade de compartilhar os resultados e as experiências adquiridos com o Projeto Centro-Sul de Feijão e Milho, apoiado pela Syngenta e pelo Instituto Paranaense de Assistência e Extensão Rural (Emater). Criado em 1992, o projeto visa à melhora na rentabilidade da agricultura familiar, com base no sistema feijão/milho.
Embrapa Milho A Embrapa Milho e Sorgo apresentará novidades no Show Rural Coopavel 2009. Os visitantes poderão conhecer as cultivares de milho BRS 1040, BRS 2022, BRS 3025, BRS 3035, além da cultivar de sorgo BRS 655. Outro destaque será o processo de cultivo e processamento do minimilho, através de um curso ministrado na Casa Embrapa, durante o evento.
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Paulo Cesar Donadoni, Marcio Farah e Aline Popin
Nota fiscal eletrônica A Milenia já está adaptada às novas regras da Receita Federal, com a implantação da nota fiscal eletrônica (NF-e) desde o primeiro dia útil do ano. O investimento com a operação foi de US$ 300 mil. Segundo Clésio Silva, controller da Milenia, o ambiente da NF-e traz ganhos significativos. “Com o procedimento eletrônico, vamos economizar na emissão e armazenamento de documentos em papel”, explica. Outra boa razão é a redução no tempo de parada em postos fiscais nas divisas inClésio Silva terestaduais.
Novas cultivares de soja A Embrapa Agropecuária Oeste apresentou as cultivares de soja BRS 285 convencional e as transgênicas BRS 291 RR e BRS 292 RR. A BRS 291 RR é um dos materiais mais precoces recomendados atualmente pela Embrapa, com ciclo próximo de 115 dias, enquanto a BRS 292 RR tem ciclo médio de 125 dias. Já a convencional BRS 285 tem como diferencial a tolerância ao nematoide de galhas. As novidades, apresentadas por Carlos Lasaro, são resultantes do Programa de Melhoramento da Embrapa Agropecuária Oeste em parceria com a Embrapa Soja e Fundação Vegetal e deverão estar disponíveis no mercado a partir da próxima safra.
Giro T alstar Talstar
Patrono
Um dia de campo diferente, movido a aventuras e desafios, reuniu os principais produtores de soja das regiões de Sorriso, Primavera do Leste e Campo Novo do Parecis, em Mato Grosso. O Giro Talstar, promovido pela FMC, envolveu aproximadamente 210 pessoas e percorreu cerca de 400 quilômetros. Durante as visitas às fazendas de soja os participantes puderam acompanhar os resultados do Talstar 100EC, inseticida indicado para o controle do complexo de pragas da cultura. “Nosso objetivo foi percorrer as regiões agrícolas do Cerrado onde foram realizadas áreas comerciais e experimentais de Talstar, verificando em loco a eficácia e os diferenciais do produto”, explica Gustavo Canato, gerente de Inseticidas da FMC.
A sessão solene, que marcou a colação de grau da 105ª turma de engenheiros agrônomos e também a diplomação do engenheiro agrônomo número 10 mil, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), teve como patrono o diretor-presidente da Iharabras Christiano Burmeister. “Estou duplamente honrado”, disse.
Comunicação Externa
Dow AgroSciences
Simpósio
Mônica Salles e Nêmora Reche, da área de Comunicação Externa da Syngenta, integraram a equipe da empresa responsável pela organização de dia de campo realizado em Holambra (SP). O evento teve como objetivo a apresentação da nova tecnologia – Plene- que estará à disposição dos produtores de cana a partir de 2010.
A Dow AgroSciences passa a comercializar os seus primeiros híbridos de milho com a tecnologia de proteção contra insetos Herculex, no Brasil. A autorização do Ministério da Agricultura é válida para os híbridos 2B710HX, 2B688HX, 2B707HX, 2C520HX e 2A525HX. Herculex protege a planta contra a lagarta-docartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga do milho no país, e também contra a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). “Trata-se de um importante passo para pôr à disposição do produtor brasileiro o que existe de melhor com relação a sementes de milho, estabelecendo um novo padrão para a proteção contra insetos no Brasil”, declarou o diretor de Sementes e Biotecnologia da Dow AgroSciences no Brasil, Rolando Alegria.
A Bayer CropScience participou do X Simpósio da Cultura do Feijão Irrigado, em fevereiro, em Piracicaba, São Paulo. A empresa apresentou soluções para o controle da mosca-branca e o Programa Muito Mais Feijão. Entre os destaques estiveram os inseticidas Oberon e Connect. Com indicação de uso combinado, os defensivos formam uma dupla de peso para o controle da moscabranca em todas as suas fases de desenvolvimento. Outra solução mostrada pela Bayer no evento foi o Nativo, fungicida indicado para o controle da antracnose, mancha angular e ferrugem do feijoeiro. “O simpósio tem muita relevância no segmento, pois atualiza informações importantes sobre a cultura de feijão. É uma excelente oportunidade para estreitarmos o relacionamento com consultores e clientes”, avalia o gerente de Cultura de Milho, Feijão e Soja, Douglas Scalon.
Mônica Salles e Nêmora Reche
Digilab A Basf acaba de lançar um microscópio digital, capaz de aumentar a imagem em até 200 vezes, que traz software exclusivo com vasto banco de dados e imagens das principais doenças vegetais. Com algumas amostras de parte das plantas, como folhas e caules, o produtor as encaminha ao gestor de produtividade (profissional capacitado pela Basf para operar o equipamento) e, em poucos segundos, obtém o diagnóstico da lavoura. Além de identificar a doença, o Digilab irá auxiliar na indicação do melhor tratamento, a quantidade de aplicações necessárias e o momento certo de efetuá-las, evitando despesas desnecessárias.
Seminário A Cooplantio definiu a data de seu 24º Seminário, realizado anualmente em Gramado, no Rio Grande do Sul. O evento vai ocorrer de 1º a 3 de julho, no Hotel Serrano, com o tema “Agronegócio: Ciclos e Oportunidades”.
DuP ont DuPont A DuPont anunciou durante o Showtec da Fundação MS, o inseticida Prêmio®. O produto, em fase de registro no Brasil, deve ser lançado ainda este ano. Desenvolvido com base em uma molécula de última geração, chamada Rynaxypyr, possui alto poder inseticida e baixa toxicidade para o homem e ambiente. Segundo o engenheiro agrônomo da companhia, Jorge Artuzi, Prêmio será recomendado para utilização em mais de duas dezenas de culturas, inclusive em milho e soja. Jorge Artuzi
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Efeito colateral
Regiões indústri dústrias cerâmicas cas, vid os, Regiões que que possuem possuem in indústri dústrias as dde dee cerâmi cerâmicas cas,, vi viddrros os,, fertilizan fertilizantes tes, fundições sid erúrgi gicas fluor oretos fertilizantes tes,, fun fundições dições ee si sidderúr erúrgi gicas cas emitem emitem flu fluor oretos etos par para atmosfer osfera podem preju ejudi dicar culturas como paraa aa atm atmosfer osferaa que que pod podem em pr preju ejudi dicar car cultur culturas as com comoo aa ddo milho. sintom tomas toxi xici cid ade doo milh milho. o. Os Os sin sintom tomas as dde dee to toxi xici ciddad adee dde dee flúor flúor são são iidden escoloração nas bord obras entifi tificad cados as ee ddobr dobr obras as entifi tificad cados os pela pela ddescolor descolor escoloração ação n nas as bor borddas ddas olhas, para todo oliar ar. Como que evoluem evoluem par paraa tod todoo oo limbo limbo ffoli foli oliar ar.. Com Comoo as ffolhas folhas olhas,, que aa in ento nos processos interferên terferênci cia elemen deste este elem elemen ento to n nos os pr processos ocessos interferên terferênci ciaa ddeste fisi tre cultivares es, planta pode variar entr fisiológi ológicos tree cultivar cultivares es,, oo ológicos cos dda daa plan planta ta pod podee vari variar ar en entr fisiológi importan importante conhecer sensibili sibilid ade híbrid importante te éé conh conhecer ecer aa sen sensibili sibiliddad adee ddo doo híbri híbriddoo ou ou vari varied edad ade plantad tada para prejuízos varied edad adee aa ser ser plan plantad tadaa par paraa minimizar minimizar pr prejuízos ejuízos
Aildson Pereira Duarte
Milho
I
ndústrias que submetem rochas e outros materiais terrosos a altas temperaturas, como as de cerâmicas, vidros, fertilizantes, fundições e siderúrgicas, emitem fluoretos para atmosfera, principalmente na forma de ácido fluorídrico (HF). Este procedimento pode acarretar em danos à vegetação devido à fitotoxicidade do flúor (F). O HF é um dos mais fitotóxicos entre os poluentes atmosféricos. Nas regiões onde existem estas fontes poluidoras, quando as condições climáticas dificultam a dispersão do flúor atmosférico, seus teores têm a capacidade de atingir níveis elevados e induzir sintomas de toxicidade de F em plantas sensíveis. Tempo nublado, com nuvens baixas por vários dias e ventos amenos, dificultam a dispersão dos poluentes. Na região Centro-Sul, o período de maior nebulosidade é o de dezembro a janeiro, mas com variação de ano para ano no número de dias contínuos totalmente encobertos. Frequentemente, esse período coincide com o pleno desenvolvimento das plantas de milho. No entanto, em alguns anos, o teor de flúor na atmosfera pode não atingir níveis de toxicidade para o milho.
ACÚMULO DE FLÚOR EM PLANTAS No caso do milho, por não ter sido padronizada a parte da planta a amostrar e não haver trabalhos sobre o nível crítico do flúor em cada estádio das plantas, a interpretação dos resultados das análises do tecido é bastante complexa. Brewer, pesquisador americano, relatou na década de
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1960 que sintomas podem aparecer no milho quando os teores foliares de F estão na faixa de 29mg.kg -1 a 48mg.kg -1, com comprometimento do rendimento da cultura acima desses valores. Além disso, existe grande variabilidade entre as cultivares quanto à sensibilidade ao flúor, fazendo com que a magnitude dos prejuízos da toxicidade de flúor dependa do híbrido ou variedade, conforme trabalho de Fortes e colaboradores, publicado no Brasil (Bragantia, 2003). A grande variabilidade entre espécies e cultivares de plantas quanto à suscetibilidade ao F pode ser explicada pelas diferenças tanto em acumulação quanto em translocação e distribuição do F. Em milho ocorre redução de área foliar, de taxa de assimilação líquida e de taxa de crescimento. Embora a suscetibilidade das plantas ao F esteja associada à acumulação desse elemento nos tecidos foliares, as diferenças não explicam a ampla faixa de sensibilidade entre espécies e cultivares de plantas. Por exemplo, gladíolos altamente sensíveis podem tornar-se necróticos com 20ppm de F no tecido vegetal (20mg F/kg de massa seca), enquanto os sintomas de toxicidade em plantas de algodão podem ser notados quando as concentrações ultrapassam 2.000ppm de F (Jacobson et al, Journal of Air Pollution Control Association, 1966).
SUSCETIBILIDADE DAS CULTIVARES A mitigação dos sinistros causados pela toxicidade de flúor na cultura do milho depende do emprego de híbridos menos sensíveis a esse elemento. Como o mercado de sementes de milho é muito dinâmico, substituindo as antigas cultivares por novas em curto espaço de tempo, faz-se necessário compará-las continuamente quanto à sensibilidade ao flúor. Devido à grande concentração de indústrias cerâmicas e algumas siderúrgicas na região de Tatuí, avaliaram-se os sinto-
Figura 1 - Notas de sintomas foliares de toxicidade por flúor em híbridos simples e triplos de milho em Tatuí (SP), na safra de verão 2007/08, aos 86 DAE. Barras de mesma cor não diferem entre si pelo teste Scott Knott, a 5% de probabilidade. Fonte: Ito et al, 27º CNMS, 2008
mas de toxicidade por flúor em diferentes cultivares de milho e sua correlação com a produtividade. Estudos feitos no estado de São Paulo com milho e cana-de-açúcar evidenciaram que plantas com sintomas de toxicidade de flúor apresentavam menor produtividade. Ito e colaboradores (27º CNMS, 2008) conduziram experimentos na Unidade de Pesquisa da Agência Paulista de Desenvolvimento dos Agronegócios (IAC/Apta), em Tatuí (SP), na safra 2007/08. Os primeiros sintomas foliares de clorose foram observados após o florescimento. Para a avaliação dos sintomas de toxicidade foi adotada uma escala de um a nove, em que a nota nove indica a severidade máxima do sintoma. Confirmou-se a variabilidade genética entre as cultivares de milho quanto à intensidade dos sintomas foliares de toxicidade de flúor. No experimento
com híbridos simples e triplos destacaram-se as cultivares AG 8060, 2B710, Impacto, DKB 370, PZ 242, BM 810, PZ 240, DG 501, 30F35, AGN 30A04, BX 1382, AGN 30A06, 2B587, 2B688, FT 510, FT 950, 30F53, RB 9308, RB 9108, AS 1592, 2B707, AG 7088, AGN 20A06 e AS 1570, que apresentaram menores notas de toxicidade por flúor (2,0 a 3,0). Já as cultivares DKB 390, AG 8088, AS 1567, AG 5020, Balu 580, AS 1535 e DKB 499 apresentaram maiores notas de toxicidade por flúor, variando de 4,3 a 5,3 (Figura 1). Verificou-se correlação negativa entre a produtividade de grãos e as notas de toxicidade de flúor. Embora a maioria das cultivares com notas maiores tenha sido menos produtiva, não se pode atribuir este fato somente à clorose foliar induzida pelo F, devido à interferência do flúor nos processos fisiológicos da planta como um todo (que pode variar entre cultivares) e à na-
Fotos Aildson Pereira Duarte
Sintomas iniciais de fitotoxicidade causada por fluoretos atmosféricos no estádio de florescimento pleno
Clorose e necrose marginais em folhas de milho no estádio de enchimento de grãos
tural interação genótipo-ambiente. Mesmo assim, sugere-se evitar cultivares que apresentem maior severidade dos sintomas de toxicidade de flúor nas lavouras muito próximas às indústrias de cerâmicas. Ressalte-se que em lavouras é difícil predizer as perdas da produtividade de grãos devido à fitotoxicidade de flúor. Além da variabilidade entre as cultivares quanto
ao aparecimento dos sintomas e aos danos na produtividade, há a interferência de outros fatores no potencial produtivo, especialmente os estresses abióticos (deficiência de água no solo, temperaturas extremas, nebulosidade excessiva etc) e bióticos (doenças e pragas).
SINTOMAS
O
sintoma inicial de toxicidade de flúor em plantas é caracterizado por descoloração nas bordas e dobras das folhas, evoluindo para todo o limbo foliar. Em condições de campo, a maior intensidade da clorose em milho tem sido observada no estádio de enchimento de grãos, além da perda de área foliar. Ocorrem efeitos negativos na fotossíntese, tanto pelo efeito direto do F no mecanismo fotossintético, que desintegra os cloroplastos, como indireto, através do fechamento dos estômatos. Os sintomas de toxicidade de flúor podem não ser uniformes na lavoura, ocorrendo em algumas plantas isoladas e, em função da posição no relevo, ficar restritos a uma parte da área. É possível que ocorram, também, lavouras relativamente próximas umas das outras, sem e com sintomas de fitotoxicidade, devido à interferência de outros fatores como cultivares e épocas de semeadura.
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MONITORAMENTO EM ÁREAS DE RISCO Há sistemas de filtragem de gases eficientes para remover F. Em muitos países, indústrias que poluíam a atmosfera com F no passado resolveram o problema com a instalação de filtros apropriados.
Áreas próximas de fontes potencialmente emissoras de F devem ter um sistema de monitoramento para avaliar se as emissões estão dentro de limites seguros, pois os danos provocados às culturas mais suscetíveis podem ser de grande monta. Entidades que cuidam do ambiente, como a Cetesb no estado de São Paulo, fiscalizam empresas poluidoras. Há várias formas de monitorar a qualidade do ar para detectar a presença de F. Uma delas é a colocação de recipientes com plantas indicadoras em áreas estratégicas, seguida de análise a cada 15 dias. Normalmente são utilizados vegetais acumuladores de F, como o azevém, e plantas sensíveis, como gladíolo ou dracenas. As plantas acumuladoras absorvem grandes quantidades de F sem apresentar sintomas e permitem detectar a extensão das emissões ao longo do tempo. Por outro lado, plantas sensíveis mostram sintomas rapidamente e servem como alertas para emissões em níveis excessivos. Indústrias com emissões esporádicas, fora dos padrões, devem avaliar as razões do problema e tomar medidas corretivas. Por outro lado, quando ocorrem emissões frequentes fora dos padrões, é possível que já haja necessidade de reparar ou substituir filtros de gases para evitar danos aos agricultores e às comunidades vizinhas. C Aildson Pereira Duarte, Heitor Cantarella e Erika do Carmo Ota, IAC/Apta
Sintomas de toxicidade de flúor não necessariamente aparecem em toda a lavoura, pois fatores como o relevo, por exemplo, podem interferir
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Uma década Cultivar completa ddez ez an os ddee tr abalh o ffocad ocad o em sani dad anos trabalh abalho ocado sanid adee o importan te can al ddee li gação en tr ecim en to veg etal com vegetal como importante canal ligação entr tree o conh conhecim ecimen ento técni co especi alizad o e as pr opri ed ad es agrícolas br asileir as técnico especializad alizado propri opried edad ades brasileir asileiras
E
m 2009 estamos em festa. Há dez anos chegava pela primeira vez às mãos dos leitores a publicação que deu origem ao Grupo Cultivar e se tornou referência obrigatória nas lavouras, escritórios de fazendas e salas de aula espalhados pelo Brasil. Criada em 1999 pelo jornalista e advogado Newton Peter e pelo entomologista e fundador da Sociedade Entomológica do Brasil (SEB) Milton Guerra, Cultivar aceitou o desafio de facilitar o acesso ao vasto conhecimento técnico acumulado pelos especialistas em sanidade vegetal. Além de transformar informações técnicas em linguagem jornalística de fácil compreensão, outro desafio incorporado ao projeto foi a quebra de paradigmas quanto à apresentação gráfica. “Sempre acreditamos que o produtor rural merecia uma revista bonita, impressa em papel de excelente qualidade e rica em ilustrações”, explica Peter. A tarefa de servir de canal para a disseminação do conhecimento técnico produzido pelos maiores especialistas de instituições de pesquisa aliou-se à preocupação com o aproveitamento prático das informações veiculadas através de matérias e artigos técnicos. “Se o que publicamos não puder se traduzir em resultados positivos no bolso do produtor, então nosso trabalho não estará completo. Essa contribuição tem que existir, seja pela ajuda na tomada de decisão pelo melhor método de cultivo ou de controle de pragas e doenças, na compra da máquina ou implemento mais adequado à sua necessidade, ou na busca por um planejamento mais eficiente para a propriedade”, salienta. Cultivar Grandes Culturas conta atualmente com assinantes espalhados por todo o Brasil. Focada no controle de pragas, doenças, plantas daninhas, técnicas de cultivo e nutrição vegetal, a publicação tem como público-alvo produtores altamente tecnificados, formadores de opinião como engenheiros agrônomos e professores universitários, C pesquisadores e estudantes.
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Dez anos de Cultivar E
u me considero uma pessoa leal aos meus parceiros: este mês completo dez anos de aliança com a Cultivar, onde tenho a honra de ocupar uma coluna fixa desde a edição número 1, e 35 anos de conúbio com a Embrapa. Em 2009, também festejo 35 anos de feliz casamento com minha esposa, uma gaúcha guapa que encontrei lá no norte do Rio Grande amado. Cada parceria tem sua história. Poupo o leitor da história privada, mas arrisco revisitar o que escrevi na Cultivar nestes dez anos, que, de alguma maneira, reflete a evolução dos temas mais candentes do agronegócio neste período. O primeiro artigo que escrevi para a revista foi para responder à pergunta “Mas o que é mesmo esta tal de ‘óemecê’, tchê?”. Nada mais emblemático, pois foi com a criação da OMC que o comércio internacional deslanchou, em particular na área agrícola. Em 1993, antes da criação da OMC, o comércio internacional representava 18% do PIB mundial. Em 2008, ascendeu a 29%. Estes 11% de acréscimo representam US$ 6 trilhões a mais, gerados na economia mundial, ou US$ 896 anuais adicionados à renda per capita, sustentando o forte crescimento econômico global que perdurou até junho de 2008 e que ajudou a diminuir a pobreza no mundo. Dos idos de 1999, destaco um artigo sobre biotecnologia. Nele, eu suscitava dúvidas, apontava vantagens e riscos. Era o início de uma era, que se encaminha para ser dominante na produção agrícola e pecuária global. Referia que estávamos deixando a primeira onda de OGMs para ingressar em outra, com maior diversidade de características. Do meu ponto de vista, cultivares ou variedades tole-
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rantes à seca serão dominantes, entre os cultivos anuais, até 2020. O ano de 2000 foi particularmente agitado, mas eu escolho como o principal artigo aquele em que discutia a Política Agrícola Comum da União Europeia. Depois de 50 anos de subsídios à ineficiente agricultura do Primeiro Mundo, o rumor outrora contido passa a ser “grita” e reclamos oficiais, para que a Europa e os EUA se alinhassem à política de liberação comercial contida nos documentos de criação da OMC. Foi o princípio de um declínio, ainda insuficiente, no forte suporte da União Europeia à produção e à exportação de produtos agrícolas, abrindo espaço para que países mais competitivos pudessem ingressar no mercado agrícola internacional. Em janeiro de 2001 ousei elaborar um cenário para o ano que começava. Os temas em pauta eram os subsídios agrícolas, a discussão sobre a natimorta Alca e o seu contraponto, o Mercosul, que já capengava à época. Tracei um cenário da agricultura mundial, ainda sob o efeito dos ataques especulativos aos mercados financeiros do sudeste asiático, à reticência americana e europeia em iniciar a Rodada do Milênio da OMC, por não abrir mão dos seus subsídios. A grande notícia para o Brasil “...A safra 1999/2000 ultrapassará 85 milhões de toneladas, com 93 projetados para 2000/2001”. Produção ridícula comparada à de 2007, que será ridícula quando analisada em 2020. Porém, meu maior orgulho é ter previsto com cinco anos de antecedência a subida do preço dos alimentos: “...A melhoria
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da renda nas classes C, D e E, e das contas governamentais, terá reflexo imediato no mercado de alimentos, pressionando o complexo agroindustrial com maior demanda interna.” O Brasil absorveu adequadamente esta pressão, ao contrário do mundo, o que fez disparar o preço das commodities agrícolas em fins de 2006. Saltemos de janeiro de 2001 para dezembro de 2002. A coluna agronegócios era uma carta aberta ao presidente da República recémeleito. O primeiro parágrafo da carta diz tudo “Enquanto a Nação, respiração suspensa, aguarda ansiosa sua investidura como autoridade máxima do País, permitimo-nos submeter à vossa consideração um tema que concilia inúmeras oportunidades para o nosso Brasil. Referimo-nos à Agricultura de Energia, um segmento embrionário dos agronegócios, que crescerá a altas taxas durante seu mandato, ganhará importância transcendental no Governo de seu sucessor e será o componente hegemônico do agronegócio, quando nossos netos assumirem o leme do Brasil”. Se tivesse que reescrever o parágrafo, apenas salientaria que nossos netos assumirão o leme do Brasil já na década de 20! Para o ano de 2003 seleciono o artigo em que descarreguei toda a minha indignação sobre a forma proselitista com a qual os países ricos vinham tentando, hipocritamente, acabar com a fome no mundo, ao longo dos 20 anos anteriores. O auge da revolta estava no
parágrafo “Estudiosos já demonstraram que bastaria alguns dias do orçamento militar das principais nações em poderio bélico para acabar com toda a pobreza do mundo. Usemos a estatística da FAO (800 milhões de famintos) e sua estimativa financeira (US$ 2,00/pessoa/dia) para acabar com a fome. De acordo com esses números, seria necessário US$ 1,6 bilhão/dia ou US$ 584 bilhões/ano para debelar a fome no mundo, através do condenado sistema paternalista de distribuição de alimentos. Portanto, apenas o dinheiro que os EUA jogarão no esgoto da História, para defenestrar Saddam Hussein, seria suficiente para aplacar a fome mundial por 312 dias”. Se recebesse a mesma pauta em data de hoje, pouco mudaria no que escrevi, porque pouco mudou nas ações práticas para mitigar a fome no mundo. Já em 2004, as preocupações tinham caráter mais técnico, centradas especialmente na biotecnologia. Os atores do agronegócio discutiam o avanço da soja RR e a primeira geração de cultivares transgênicas. Para mim esta já era uma discussão encerrada, havíamos apenas conseguido atrasar a chegada do futuro. Estava mais preocupado em discutir o futuro dos OGMs. O texto que melhor reflete o tema denominou-se Agrofarmácia. O parágrafo introdutório sintetiza a visão que tenho do tema: “Dos campos sempre saíram alimentos. Com o tempo descobriu-se que, além de saciar a fome, prover energia e matéria-prima para o sôfrego parque de obras que é o organismo humano, os alimentos também dispõem de princípios terapêuticos, dando início à era dos alimentos funcionais. Como desdobramento, outro conceito está sendo moldado na cornucópia dos cientistas. Dos campos obteremos, em futuro que se avizinha, fármacos como enzimas, hormônios, antibióticos, vacinas e uma plêiade de medicamentos importantes para a preservação, manutenção ou recuperação da saúde”. O conceito respalda-se nas possibilidades de enriquecimento nutricional de alimentos para melhorar suas propriedades funcionais através da biotecnologia. Em 2005 chamei a atenção que a biotecnologia não apenas melhoraria o conteúdo nutricional dos alimentos, como permitira à agricultura substituir o petróleo. Visão futurística expressa no parágrafo “Na minha visão de futuro, sai o petróleo e entra a biomassa como matéria-prima para a indústria química. A associação entre biotecnologia e biomassa está se mostrando um caminho natural para inovações na área industrial, pela melhoria dos processos fermentativos ou pela criação de OGMs, com propriedades industriais desejáveis. Um exemplo é a
celulose produzida pela Acetobacter xylinum, uma bactéria encontrada em frutas em decomposição”. Usei o exemplo da bactéria para mostrar como será possível obter substâncias e materiais que hoje dependem do petróleo, utilizando biomassa produzida nas fazendas. Chegamos a 2006, quando ficava claro que o Custo Brasil era uma âncora a impedir o agronegócio de realizar o seu potencial. No artigo “Desvantagens competitivas”, transcrevi uma conversa com o então ministro Roberto Rodrigues. O mote da conversa foi “...pode parecer paradoxal, pois estamos acostumados a ouvir loas sobre as vantagens comparativas do Brasil (terra, clima, tecnologia, mão-de-obra, capacidade de gestão privada, empreendedorismo etc). Porém, na antessala da mãe das crises do agronegócio é bom atentar para as nossas desvantagens competitivas, que, no frigir dos ovos, passam a ser as vantagens de nossos competidores. Quais são as desvantagens? Tributação excessiva, real supervalorizado, juros estratosféricos, crédito insuficiente, insegurança patrimonial, endividamento dos agricultores, estradas esburacadas, logística deficiente, portos ultrapassados, entre outros”. Conseguimos obnubilar as tremendas vantagens naturais que Deus nos concedeu com a miopia de visão estratégica e de gestão de nossos governantes. O ano de 2007 foi marcado pelo crescente interesse dos atores do agronegócio por agroenergia, com o crescimento da lavoura de cana, já consolidada, e os primeiros passos da produção de biodiesel. Mas, revendo os alfarrábios, a coluna que mais gostei foi “Produção ou assistência social”, rebatendo estatísticas equivocadas do MDA, que afirmara que a área de assentamentos de reforma agrária no Brasil atingia 64 milhões de hectares. Depois de fazer uma série de cálculos, eu raciocinava “...Imaginemos que todo o acréscimo de área cultivada dos últimos 30 anos veio de assentamentos (o que não é verdade). Ainda faltariam 54m/ ha. Na área faltante, pela produtividade média do Brasil, deveriam ser produzidos mais 193 milhões de toneladas de produtos agrícolas. Cadê a produção?” Ao final do artigo concluía “...O presidente Lula, que tanto admira o Primeiro Mundo, poderia determinar um estudo sério, isento, preferencialmente de uma universidade estrangeira de prestígio, para analisar o custo-benefício da reforma agrária brasileira (passada e futura). Provocação: não sairia mais barato para o contribuinte - e mais justo para o sem-terra - perceber, eternamente, um salário mínimo, a receber um lote de terra e nada produzir, perenizando a miséria?”
Finalmente, 2008. Um ano marcado pela polêmica sobre a capacidade de a agricultura atender às diferentes demandas sociais como alimento, energia, plantas ornamentais, fibras, produtos florestais, matéria-prima para biorrefinarias etc. No artigo “A agricultura conseguirá atender à demanda?” eu concluía “...O mundo poderá desincumbir-se com galhardia do desafio, desde que novas áreas sejam incorporadas à agricultura, a produtividade cresça de forma similar à demanda mundial, novas tecnologias de ponta sejam definitivamente incorporadas ao sistema produtivo, em especial cultivares derivadas da biotecnologia, com maior produtividade, menor custo de produção, tolerantes ou resistentes a estresses e com melhor qualidade nutricional ou industrial. O que significa que muitos bilhões de dólares deverão ser alocados nos institutos de pesquisa, para garantir tecnologia de ponta, não apenas para aumentar a produtividade, mas para garantir a produção em um ambiente de mudanças climáticas, com perspectivas deletérias para a agricultura”. Como síntese destes dez anos de parceria, tenho que agradecer à Cultivar pelo espaço nobre para expor minhas ideias e aos leitores pela atenção e pelo retorno, que sempre chega ao meu e-mail, ajudando-me a crescer profissionalmente. E, se o leitor desejar um flash back mais extensivo, todas as colunas de minha lavra estão disponíveis em http:// C dlgazzoni.sites.uol.com.br. Décio Luiz Gazzoni, O autor é engenheiro agrônomo, assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Décio Gazzoni é colaborador assíduo da Cultivar há dez anos com a coluna Agronegócios
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A roda da vida
Um bilhão ddee pessoas em ei o bilhão ddee mei eio ton elad as ddepois epois ... tonelad eladas epois...
N
estes últimos dez anos de colaboração, com análises e tendências de mercado, para esta importante revista do agronegócio brasileiro, em que Cultivar comemora sua primeira década (abrindo fronteiras e crescendo forte como a agricultura brasileira e mundial), escrevemos sobre cotações e tendências de consumo. Podemos apontar que houve grande evolução, porque de dez anos para cá avançamos em um bilhão de pessoas e meio bilhão de toneladas de grãos. Passamos de uma população de 5,8 bilhões de pessoas para aproximadamente 6,8 bilhões em 2009. Junto a isso, o mundo necessitou de mais alimentos e a resposta veio em cima de tecnologias que surgem a cada dia que passa e, como todos podem comprovar, estão sendo divulgados, sistematicamente, por Cultivar. Agora, com cerca de 2,2 bilhões de toneladas de grãos colhidos nesta safra, estamos aproximadamente 500 milhões acima de pouco mais de 1,7 bilhão que era produzida há dez anos. Mesmo com forte avanço na produção, que neste período evoluiu muito mais que nos 20 anos anteriores, não estamos conseguindo atender toda a demanda que aparece, porque temos avanços no poder econômico dos países e milhões de pessoas saem da pobreza para o consumo de alimentos, como se verificou neste período em países asiáticos e africanos e certamente continuará ocorrendo nos próximos anos. Agora, principalmente na África, já que o país ainda concentra uma grande fatia da população que necessita de milhões de toneladas de alimentos para cobrir suas necessidades nutricionais mínimas.
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Com o crescimento do consumo mundial de alimentos nestes dez anos (de 1,7 bilhão de toneladas para níveis acima de 2,2 bilhões atuais), deixamos de ter cerca de 600 milhões de toneladas em estoque há uma década, para pouco mais de 350 milhões atuais. Isso sinaliza que teremos que continuar avançando para atender à população que nasce a cada dia que passa e também aqueles que ainda não se alimentam o suficiente. No quadro que montamos em anexo podemos observar que o milho vem buscando cada vez mais alimentos balanceados, porque cresceu muito a demanda de proteínas. Por conta disso a soja avançou 44% no período e junto tivemos forte incremento em carnes e energia. Notamos avanço forte na produção e consumo do milho, que saltou 36% no período, enquanto outros produtos tradicionais tiveram avanços abaixo da média mundial, como arroz, feijão e trigo. Devemos lembrar que nestes anos o arroz teve forte queda na área plantada devido à necessidade de grandes volumes de água que se concentram na Ásia. As cidades desta região do mundo cresceram muito e tomaram boa parte dos campos, limitando a disponibilidade de locais para o plantio e obrigando os produtores ao avanço na tecnologia (que fez com que este grão tivesse a produtividade aumentada em cerca de 50% no período para compensar as necessidades crescentes de alimentos pela população). O quadro geral de alimentos de dez anos para cá continuou o mesmo, mas cresceu a importância dos produtos que dão origem à ração e à energia, como milho e soja. Grãos que servem de alimento para animais, humanos, produção de etanol e biodiesel e fazem com que países cresçam, como foi o caso do Brasil, que evoluiu muito neste período. A demanda continuou crescendo mundo afora e neste período tivemos a presença marcante da China, que não aparecia entre os compradores de alimentos e agora é o maior importador mundial (somente em soja está levando mais de 40 milhões de toneladas para casa em 2009 para suprir a demanda crescente que o país apresenta). Continuaremos vendo a nossa Revista Cultivar trazendo novas tecnologias e informações para que os produtores e participantes do agronegócio façam seus pla-
nejamentos e para que tenham lucros e continuem crescendo, atendendo às necessidades de alimentos que o mundo continuará demandando nos próximos anos. O Brasil, que evoluiu forte nestes dez anos, agora é destaque mundial e se consolidará como maior fornecedor de alimentos ao mundo nestes próximos anos, porque já somos os maiores nas exportações de carnes, soja, café, açúcar, etanol, laranja e estamos abrindo mercado, crescendo forte também em milho e em muitos novos espaços que surgirão. Temos as melhores condições do mundo para nos mantermos na liderança mundial do agronegócio. As cotações dos principais alimentos nos próximos anos devem continuar dando boa rentabilidade aos produtores. Tudo que produzirmos será consumido e isso será garantia de bom reC torno econômico. Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting Evolução da produção dos principais alimentos no mundo Produtos Arroz Trigo Milho Soja Algodão Feijão Total Grãos
Atualmente 440 680 790 230 13 20 2.200
10 anos atrás 400 580 580 160 11 17 1.750
Variação 10% 17% 36% 44% 18% 18% 25%
Fonte: Brandalizze Consulting, USDA, FAO, em milhões de toneladas
Vlamir Brandalizze é autor da coluna Mercado Agrícola, publicada regularmente por Cultivar
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Herbicidas
Desmistificado Registr ad o par as ddee soja, can a-d e-açúcar o, tri go, arr oz, Registrad ado paraa as cultur culturas cana-d a-de-açúcar e-açúcar,, milh milho, trig arroz, café e pastag en da gger er ca qu an to ao seu empr eg o enss o 2,4-D ain aind eraa polêmi polêmica quan anto empreg ego pastagen na agri cultur a. Conh eça m elh or o históri co e as car acterísti cas ddesse esse agricultur cultura. Conheça melh elhor histórico característi acterísticas herbi ci da, utilizad on o Br asil ddesd esd erbici cid utilizado no Brasil esdee a décad décadaa ddee 1950
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esde os primórdios do cultivo da terra pelo homem até os dias de hoje, as plantas daninhas têm se apresentado como um dos principais obstáculos para a eficiência da exploração agropecuária. Historicamente o homem utilizou várias maneiras para controlar essas plantas infestantes, como o arranquio manual, o controle mecânico com ferramentas e implementos, o uso do fogo e de alguns anteparos físicos como coberturas verdes e palhadas. Estas formas de controle enfrentavam algumas limitações, principalmente em relação à praticidade, ao rendimento operacional, ao custo e à eficiência total do processo. A grande evolução no controle de plantas daninhas foi obtida com o emprego de substâncias químicas, no início do século passado. No entanto, foi na década de 1940, que se iniciou o grande desenvolvimento do controle químico de plantas daninhas, a partir da sintetização do ácido 2,4-diclorofenoxiacético, considerado o primeiro herbicida moderno, predecessor dos demais produtos utilizados no controle de plantas daninhas nas diversas culturas e regiões agrícolas de todo o mundo. Para desmistificar os questionamentos de que esse herbicida é um produto “anti-
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go e, portanto, ultrapassado”, capaz de contaminar “lavouras sensíveis” e que “possui problemas toxicológicos”, é importante
realizar uma abordagem imparcial sobre as diversas questões envolvendo o uso do 2,4D no Brasil.
2,4-D se destaca pelo amplo espectro de ação, especialmente no controle de dicotiledôneas
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Fotos Charles Echer
tos de crescimento (WSSA, 2002). O herbicida interfere principalmente no processo de divisão celular, o que gera uma desorganização fisiológica no crescimento, inclusive com ruptura dos tecidos vasculares. Esse processo metabólico resulta em sintomas como a epinastia foliar, o enrugamento e o estreitamento das folhas, o super e/ou o sub-brotamento, a morte das gemas de crescimento, o espessamento do caule na zona próxima ao solo, a formação de calosidades e rachaduras em caules e ramos e, muitas vezes, leva a planta à morte, sendo as espécies dicotiledôneas as mais sensíveis a este grupo de herbicidas. A volatilidade do 2,4-D depende da formulação do produto. As formulações em éster de cadeia curta, como butílico, possuem pressão de vapor de 2,3 x 10-3 mmHg e 3,0 x 10-4 mmHg a 25ºC respectivamente, sendo consideradas voláteis. As formulações em amina, como a de sal de dimetilamina, possuem pressão de vapor de 5,5 x 10-7 mmHg a 25ºC, o que a classifica como um produto não-volátil. No Brasil, há mais de quatro anos, somente a formulação amina está sendo comercializada.
CARACTERÍSTICAS TOXICOLÓGICAS
CARACTERÍSTICAS O 2,4-D pertence ao grupo químico anteriormente conhecido como fenoxiacéticos, atualmente denominado de ácidos ariloxialcanóicos, também conhecidos como herbicidas hormonais, porque atuam na planta como um “fito-hormônio” (que não é um termo adequado, apesar de muito utilizado, pois as plantas não possuem glândulas produtoras de hormônio), no caso uma auxina. A absorção do 2,4-D é rápida e ocorre principalmente pelas folhas e em menor escala pelas raízes. A translocação do herbicida no interior da planta pode ser realizada tanto pelo xilema como pelo floema, sendo direcionado para as regiões meristemáticas e demais pon-
Em relação aos aspectos toxicológicos, o produto é um dos pesticidas com o maior número de análises realizadas por várias organizações em todo o mundo. Após anos de avaliações, a Organização Mundial da Saúde e FAO, WHO/FAO (1996) e a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), (1996), concluíram que o 2,4-D: • é um produto rapidamente absorvido, distribuído e eliminado após a administração oral, sendo 85% a 94% excretado pela urina em 48 horas; • é levemente tóxico via oral, mas não provoca irritação dérmica. A formulação amina produz severa irritação ocular; • não apresenta toxicidade crônica, sendo o Noel (No Observed Effect Level) de 1mg/kg peso corporal/dia; • não apresenta evidência de carcinogenicidade e não é mutagênico; • não causa defeitos congênitos, nem afeta o processo reprodutivo;
Tabela 1 - Estimativa de área, quantidade e custo de utilização do 2,4-D no Brasil, em 2007 Cultura Soja Cana Milho Trigo Arroz Café Café Total
Área (ha) 21.123.730 6.692.472 14.054.340 1.849.911 2.967.122 2.265.652 179.689.860 228.753.087
2,4-D (Lt) 8.241.600 3.262.400 2.616.000 809.600 243.200 236.800 590.400 16.000.000
Dose (Lt/ha) 0,64 1,26 0,61 0,58 0,59 1,60 0,70 0,85
Área (ha) 12.877.500 2.589.206 4.288.525 1.395.862 412.203 148.000 843.429 22.554.725
Área (%) 60,65 38,69 30,51 75,46 13,89 6,53 4,69 9,86
Fonte: IBGE, CONAB/MAPA, ANDEF, AENDA e empresas responsáveis pela comercialização.
Custo (R$/ha) 8,06 15,88 7,69 7,31 7,43 20,16 8,82 10,76
Custo total (R$/ha) 103.792.650,00 41.090.704,76 32.935.868,85 10.189.793,10 3.062.671,19 2.983.680,00 7.439.040,00 242.68.840,67
• tem moderada a baixa toxicidade aguda, com DL50 variando de 699mg/kg p.c. para a forma amina, até 896mg/kg p.c. para a forma éster; • tem baixo potencial para causar neurotoxicidade. A conclusão final foi que o 2,4-D não apresenta riscos para a saúde humana e ambiente quando usado de acordo com as instruções de rótulo, por isso o produto é empregado há mais de 50 anos, sem proibição em nenhum país do mundo. Isso foi ratificado recentemente também no Canadá.
UTILIZAÇÃO NO BRASIL Historicamente o 2,4-D sempre teve grande importância no controle de plantas daninhas no Brasil, usado sozinho ou em associação com outros herbicidas, tanto pelo seu amplo espectro de ação, especialmente sobre dicotiledôneas, como pela sua economicidade. O 2,4-D está registrado no Brasil para as culturas de soja, cana-de-açúcar, milho, trigo, arroz, café e pastagens. A Tabela 1 mostra a estimativa do uso do herbicida em 2007, com um total de 16.000.000 litros anuais do produto utilizados na agropecuária brasileira. A área de maior utilização do 2,4-D no Brasil é a da soja, com 12.877.500 hectares, o que representa 60,65% de todo o cultivo da leguminosa no país. Nessa cultura o herbicida é aplicado na operação de manejo em plantio direto (dessecação de préplantio), muitas vezes associado a um herbicida de ação total. A segunda cultura em quantidade de utilização de 2,4-D no país é a cana-deaçúcar, com aproximadamente 3.262.400 litros do produto, aplicados em pós-emergência, principalmente na operação denominada repasse ou catação, que normalmente é complementar à aplicação de herbicidas residuais. No milho, cuja estimativa é de uso em 4.288.525 hectares, representa 30,51% da área cultivada com o grão no país. O herTabela 2 - Análise econômica geral da substituição do herbicida 2,4-D no Brasil, através do resultado, em reais (R$) e em percentagem (%), da diferença entre a média das alternativas de herbicidas e o 2,4-D CULTURA Soja Cana-de-açúcar Milho Trigo Arroz Café TOTAL
MÉDIA R$ 437.283.107,14 166.056.081,45 163.586.035,08 34.075.656,71 16.366.520,12 9.428.488,00 826.795.888,50
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% 421,30 483,75 397,86 348,13 534,39 316,00 416,91
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Mauro Rizzardi
comercializada no país, não é volátil, essa contaminação realmente se dá por falhas na tecnologia de aplicação de defensivos em geral e, portanto, não é uma especificidade para o 2,4-D.
CONCLUSÕES
De rápida absorção principalmente pelas folhas o herbicida interfere no processo de divisão celular, gerando uma desorganização fisiológica no crescimento das plantas controladas, inclusive com ruptura dos tecidos vasculares
bicida é utilizado na operação de manejo no plantio direto e também em pós-emergência da cultura. A cultura em que o 2,4-D tem proporcionalmente a maior expressão em área tratada é o trigo, com aplicação em aproximadamente 75% do total da área do cereal no país. Assim como no milho, o herbicida também é aplicado na operação de manejo no plantio direto e na pós-emergência da cultura. Anualmente, são utilizados ao redor de 243.200 litros do herbicida em pós-emergência na cultura do arroz, em mais de 13% da área cultivada com o cereal no país. Como o 2,4-D não apresenta seletividade para a cultura do café, o produto é aplicado em jato dirigido na pós-emergência das plantas daninhas, em uma área estimada de 6,53% do total existente com seu cultivo. Além das explorações eminentemente agrícolas, o 2,4-D é muito importante para a pecuária, pois o herbicida é um dos principais controladores de plantas daninhas em pastagens, seja na reforma ou na sua manutenção. Estima-se que sejam utilizados 590.400 litros do produto em pastagens, que abrangeriam 843.429 hectares. Se levarmos em conta os outros herbicidas onde existe a combinação do 2,4-D na formulação pronta (2,4-D + picloram), a área se aproximaria dos 20 milhões de hectares.
ASPECTOS ECONÔMICOS Ao observar a Tabela 1 fica evidente que uma das razões para o 2,4-D ser ainda um dos herbicidas mais utilizados no Brasil é a sua economicidade, pois a média de custo nas culturas se situou em R$ 10,76/ha, e em algumas culturas, como no trigo, o custo ficou em apenas R$ 7,31/ha. Por isso, em um cenário de impossibilidade do uso
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do 2,4-D no Brasil, a análise dos herbicidas alternativos e disponíveis para a sua substituição nas culturas de soja, cana-deaçúcar, milho, trigo, arroz e café, mostra que essa hipótese traria aumento médio de custo para a agricultura do país de R$ 826.795.888,50, o que representaria 416,91% a mais do montante utilizado com o herbicida 2,4-D, como pode ser observado nos resultados resumidos desse estudo constantes na Tabela 2. Convertendo os valores de reais para dólar, adotando o valor da moeda americana na época da realização do levantamento de preços dos herbicidas, que eram R$ 1,842/US$, o aumento médio direto no custo para a agricultura do país seria de US$ 448,857,702.77 Além dos aspectos biológicos e econômicos já citados, vale ressaltar a importância do produto como alternativa no manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas. É o caso de espécies resistentes aos inibidores da ALS presentes nas culturas de trigo, milho e arroz, assim como espécies resistentes ao glifosato, presentes quando da operação de manejo em plantio direto, nas culturas de soja, milho e trigo. Uma outra preocupação é com o manejo da soja RR voluntária, pois mesmo o produto não sendo atualmente registrado (e portanto não recomendado) para tal fim, tem-se demonstrado, em trabalhos de pesquisa, tratar-se de uma das melhores soluções para essa situação. Em contaminações de lavouras sensíveis pelo 2,4-D, relatadas por produtores, observou-se que a chegada do herbicida ocorre via deriva da aplicação em outras áreas, o que mesmo em pequenas concentrações pode provocar sintomas de fitotoxicidade. Como a formulação amina, que é a única
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A análise geral dos diversos aspectos relacionados ao uso do 2,4-D no Brasil leva a conclusão que: • Não há evidências toxicológicas e ambientais que restrinjam o uso do 2,4-D; • Caso o 2,4-D não estivesse disponível no mercado agrícola brasileiro, haveria, de maneira direta, um aumento médio anual no custo de controle de plantas daninhas em R$ 826.795.888,50 (US$ 448.857.702,77), o que representaria 416,91% a mais de gastos com o controle das infestantes; • O produto é importante opção de solução do manejo de plantas daninhas tolerantes e resistentes a herbicidas de outros mecanismos de ação, como a ALS e a EPSPS; • O 2,4-D também seria importante opção para o controle da soja voluntária, principalmente a soja RR, que além da infestação direta é responsável pela proliferação da ferrugem-da-soja; • A maior reclamação em relação ao 2,4D é a fitotoxicidade proporcionada em culturas sensíveis, provocada pela deriva aerotransportada. A solução, nesse caso, seria a C melhoria da tecnologia de aplicação. Robinson Osipe e Jethro Barros Osipe, Unespar
HISTÓRICO
A
síntese do ácido 2,4-diclorofenoxiacético, que gerou o herbicida conhecido como 2,4-D, ocorreu no ano de 1941 e o primeiro registro do produto para utilização em áreas agrícolas ocorreu em 1947, nos Estados Unidos da América. A partir de 1950, a utilização do produto se expandiu para vários outros países, inclusive o Brasil, onde o 2,4-D foi o primeiro herbicida a ser registrado para utilização na agricultura. Atualmente o 2,4-D está registrado em mais de 100 países do mundo, sendo recomendado para um grande número de usos e culturas, como arroz, aveia, canais de irrigação, cana-de-açúcar, cevada, frutíferas, gramados, manejo de pós-colheita, soja (em manejo de présemeadura), milho, pastagens, plantas aquáticas, silvicultura e trigo.
Soja
Em migração A lagarta-d a-m açã (Heli um n as lavour as lagarta-da-m a-maçã eliothis virescen escenss), com comum nas lavouras othis vir escen de alg odão, com eça a pr eocupar pr od utor es ddee soja n o Cen tr oalgodão, começa preocupar prod odutor utores no Centr troOeste br asileir o. A rrotação otação con stan te en tr uas cultur as brasileir asileiro. constan stante entr tree as ddu culturas na rregião egião pod tr podee estar en entr tree as causas causas.. O ataque ataque,, o ddo o prin cipalm en te n as ffases ases posteri or es ao iníci posterior ores início principalm cipalmen ente nas estrói flor es olhas en flor escim en to, ddestrói escimen ento, flores es,, ffolhas olhas,, vag vagen enss e grãos florescim
O
agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente favorável à multiplicação de pragas. Nele prevalece um sistema de produção em que a soja é a principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, podendo ser rotacionada ou não. Após a colheita da soja, a mesma área recebe uma cultura de cobertura ou então permanece em “pousio”. Neste sistema de cultivo, o algodão é a cultura que geralmente entra em rotação com a soja, sendo esta área variável ano a ano, principalmente por questões econômicas. No ambiente as pragas têm se adaptado e encontrado hospedeiros durante o ano todo. Aliado a isso, outros fatores como condições climáticas favoráveis, altas temperaturas e inverno
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ameno se tornam ideais para a multiplicação dos insetos. A cultura da soja está sujeita ao ataque de vários insetos desde a germinação à colheita e como parte do Manejo Integrado de Pragas (MIP) é de grande importância que ao se tomar a decisão de controle isso seja feito com base em princípios como amostragens, nível de dano, tamanho de insetos e estádio de desenvolvimento da cultura. O complexo de pragas tem aumentado nos últimos anos, principalmente com crescimento de algumas lagartas como a falsa-medideira (Pseudoplusia includens) e as Spodopteras. Porém, a lagarta-da-maçã, Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae) chama a atenção pelos danos em áreas de soja implantadas na região nos últimos anos. Já conhecida pelos cotonicultores, tem esse nome em função de atacar as maçãs do algodoeiro. Os estragos provocados por Heliothis virescens são maiores que os causados por outras lagartas, principalmente nas fases posteriores ao início do florescimento, quando destroem flores, vagens e os grãos, além das folhas novas. Trata-se de uma praga que ataca o principal produto: o grão de soja. Como no algodão, o inseto apresenta grande potencial destrutivo também na soja, atacando várias vagens. Além de diminuir a produção, promove a entrada de patógenos que podem le-
Detalhe do inseto adulto de Heliothis virescens
Fotos Germison Vital Tomquelski Fotos Dirceu Gassen
var à queda de um grande número de vagens. As lagartas, quando pequenas, podem ficar escondidas dentro de flores, o que dificulta a amostragem, porque não caem no pano de batida, comumente utilizado para contagem das pragas. Outro ponto importante na amostragem desta praga é a sua presença no interior das vagens, o que limita também a sua queda no pano de batida. Diante disto, recomenda-se a amostragem observando a planta inteira, a fim de melhorar a detecção. O ataque pode, em determinadas situações, destruir uma grande quantidade de flores, o que acarreta em menor quantidade vagens e consequentemente na diminuição da produção. Outra linha de estudo vem sendo desenvolvida a fim de detectar a quantidade de perdas geradas na cultura da soja. Entretanto, sabe-se que uma pequena quantidade de vagens perdidas pode ser “compensada” pela planta com maior peso de grãos em outras vagens. A identificação de adultos nas lavouras é mais facilmente detectada no final da tarde, e trata-se de uma informação importante para o produtor, podendo predizer possíveis infestações da praga. Vale destacar que somente a quantidade de adultos não é um dado confiável. Deve ser ana-
Flores e folhas estão entre os alvos da lagarta-da-maçã. No caso das flores, a destruição em grande quantidade resulta em menor produção de vagens por planta
lisada também a quantidade de ovos, já que são afetados em grande parte pelos inimigos naturais. Os períodos de estiagem nesta safra 2008/2009, com dias de altas temperaturas e baixa umidade, oferecem condições favoráveis às pragas e desfavoráveis aos inimigos naturais. No caso desta praga específica, são naturalmente poucos os inimigos, o que possibilita a ocorrência dos surtos da Heliothis virescens. Destacam-se como inimigos naturais Braconídeos, Trichogrammas e microhimenopteros que atacam lagartas e ovos, respectivamente.
CONTROLE É preciso estar atento ao aparecimento desta praga. Principalmente o produtor que se preparou somente para lagartas como a da soja (Anticarsia gemmatalis) e as falsas-medideiras (Pseudoplusia includens), pois a lagartada-maçã tem escapado da ação dos inseticidas utilizados no controle desses outros insetos. Faz-se necessário um programa de manejo, utilizando não somente o controle químico. O método biológico, com inimigos naturais, pode ser usado. Um exemplo são as espécies de Trichogramma (um bom parasitoide de ovos de Heliothis - uma só fêmea pode elimi-
Germison Vital Tomquelski
alternativa conhecida por produtores de algodão é o uso de inseticidas com efeito sobre mariposas e ovos, tentando diminuir a população, através do uso do melaço ou açúcar para atração de mariposas em aplicações de bordadura.
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO
No monitoramento da praga é preciso estar atento ao fato de que as lagartas podem estar abrigadas no interior de flores e vagens
nar uma centena de ovos da lagarta). Em estudo realizado por Fernandes et al, 1999, foi observado que a presença natural deste parasitoide pode, em alguns casos, dispensar o produtor de realizar aplicações de inseticidas. Outros inimigos naturais, os Braconídeos, têm a característica de apresentar um casulo na fase final de seu desenvolvimento, normalmente de coloração branca a cinza-escura. São considerados parasitoides muito eficientes, pois, têm a capacidade de encontrar as lagartas dentro de estruturas como as vagens para depositar os seus ovos. Diante destas informações, produtos seletivos aos inimigos naturais devem ser preferidos na escolha para aplicações. O cuidado com várias aplicações também deve ser observado. Outra consideração a ser feita refere-se à necessidade da destruição de soqueiras de algodão, já que sempre “sobram” plantas tigueras, que, além de preservarem vários hospedeiros alternativos, fazem com que a praga tenha alimento o ano inteiro. Em outros países, o uso do feromônio sexual já é uma realidade como ferramenta no monitoramento desta praga na cultura do algodoeiro, o que poderá ser de grande valia neste caso, por se tratar de uma estratégia específica à espécie, vindo a contribuir futuramente no manejo. Atualmente, a recomendação é para que o produtor não deixe a praga “descer”, ou seja, deve controlá-la quando estiver no ponteiro das plantas, devido ao maior enfolhamento da cultura nos terços inferiores, dificultando a chegada de produtos nesta região. Lagartas grandes (maiores que 1,5cm) são mais difíceis de barrar, porque neste caso específico a maioria dos inseticidas tem apresentado baixo controle. Entre os inseticidas utilizados na cultura,
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ainda não há nenhum produto registrado no Mapa para controle da lagarta-da-maçã na cultura da soja. Apresentam-se em fase de estudos. Contudo, em testes realizados em soja, com produtos empregados na cultura do algodão como inseticidas carbamatos, alguns piretroides e organofosforados, foram obtidos bons níveis de controle desta praga. Além de produtos do grupo químico dos Naturalytes e outros ainda em estudo. Os inseticidas fisiológicos têm apresentado baixo controle da praga, mas sua adição pode ajudar no complexo de lagartas. Outra
A tecnologia de aplicação deve também se adaptar a esta praga, que exige normalmente maiores volumes de calda por hectare e gotas que consigam atingir o alvo. Aliado a isto, recomenda-se ao produtor evitar pulverizações em horários com baixa umidade (menor que 50%) e altas temperaturas, dando-se preferência às aplicações durante o entardecer, que irão contribuir com melhores resultados sobre a mortalidade dos adultos (por coincidir com o horário de atividades de insetos que se encontram nessa fase). Como a lagarta-da-maçã apresenta boa adaptação à cultura da soja, este ano tornouse crítico, com a ocorrência de “surtos” da praga em algumas regiões. E a tendência é de que a população ainda aumente nos próximos anos. Desta forma, somente ocorrerá equilíbrio da população a partir dos próximos anos, com a adaptação de alguns inimigos naturais. Até lá o produtor vai precisar conviver com C mais esta praga na cultura. Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão Luciana Claudia T. Maruyama UEMS Cassilândia
BIOLOGIA DA PRAGA
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adulto é uma mariposa facilmente identificada por apresentar três faixas transversais de coloração escura. As asas posteriores (A2) são claras, esbranquiçadas, com uma faixa cruzada no centro. Os ovos são de coloração branca e estriados longitudinalmente, colocados em geral nas partes próximas ao ponteiro ou gemas apicais das plantas, de forma individual, o que ajuda na dispersão da praga na lavoura. A quantidade é variável. Uma fêmea pode colocar em torno de 600 ovos. Normalmente colocam os ovos à noite, quando os adultos saem para se alimentar. As cultivares de soja com flores brancas têm apresentado maior presença na maioria dos casos, quando do aparecimento da praga por ocasião do florescimento. No entanto, em plantas no estádio vegetativo não se verifica qualquer correlação
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C
de plantas de soja. As lagartas recém-eclodidas alimentam-se de tecidos novos, folhas, flores e após certo desenvolvimento podem atacar as vagens em formação. Apresentam coloração variável entre verde, rosa a amarelada. Possuem algumas pintas escuras com microespinhos no dorso. Seu tamanho pode chegar de 30mm a 40mm de comprimento. Após o desenvolvimento da lagarta, passam para o estádio de pupa (que normalmente localiza-se no solo), podendo nesta fase passar por um período de diapausa. O ciclo tende a ser completado em aproximadamente 35 dias, variável em função da temperatura (Gallo et al, 2002). Estudos sobre o ciclo da praga estão em desenvolvimento na Unidade de Cassilândia (UEMS), através de populações de lavouras comerciais coletadas pelos técnicos da Fundação Chapadão.
Soja
Trégua seca Atr aso n o iníci o ddos os ffocos ocos ddee ferrug em asiáti ca e traso no início ferrugem asiática dispersão m ais len ta apon tam que a fforte orte esti ag em que mais lenta apontam estiag agem casti ga as ár eas pr od utor as ddee soja n o Br asil aju dou a castiga áreas prod odutor utoras no Brasil ajud minimizar os riscos ddaa ddoença, oença, cuja agr essivi dad agressivi essivid adee o en tan to, o aum en ta em situ ações ddee umi dad adee e calor calor.. N No entan tanto, aumen enta situações umid onitor ar rregularm egularm en te pr od utor ddeve eve se m an ter alerta e m man anter monitor onitorar egularmen ente prod odutor as lavour as par evenir sobr essaltos e pr ejuízos lavouras paraa pr prevenir sobressaltos prejuízos
D
esde a sua ocorrência na safra 2001/2002 até a última safra de 2007/2008, estima-se que a ferrugem asiática da soja tenha onerado o Brasil em mais de US$ 10 bilhões, contabilizadas as perdas de produtividade e o custo para o controle da doença. Atualmente, o emprego de fungicidas tem sido o principal método adotado. O momento da aplicação dos produtos é crucial e deve ocorrer na ocasião em que são detectados os primeiros sintomas da ferrugem ou preven-
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tivamente, o que exige monitoramento constante para não deixar a doença se alastrar na lavoura.
DISPERSÃO Nesse momento (fevereiro de 2009), a maioria das lavouras semeadas no início da época recomendada encontra-se na fase reprodutiva, quando aumenta a probabilidade de incidência da doença. O monitoramento deve ser intensificado após o florescimento nas lavouras que se encontram nas regiões próximas de ocorrência da ferrugem e naquelas com maior tendência de continuidade de chuvas. Recomenda-se monitorar, ainda, áreas que já
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receberam a primeira aplicação, para promover reaplicações observando-se a previsão das condições meteorológicas locais para os próximos dias. O Consórcio Antiferrugem (CAF) contabilizou, até o dia 2 de fevereiro de 2009, a ocorrência da ferrugem da soja em 11 estados brasileiros (Goiás, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Minas Gerais, Maranhão, Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina), totalizando 477 ocorrências da doença. Desse total, 441 são em lavouras comerciais, 13 em unidades de alerta, cinco em soja voluntária, três em semeadura sob irrigação e 14 em ensaio. Em lavouras comerciais, havia sete ocorrências no estádio vegetativo, sendo a maioria detectada no estágio reprodutivo, principalmente o R5, com 256 ocorrências. A localização dos focos pode ser acompanhada no site do CAF (www.consorcioantiferrugem.net). Um comparativo desses números da safra atual com a situação observada nas duas safras anteriores, até a mesma data (2 de fevereiro), revela situação distinta com disseminação mais lenta da doença, embora no final de janeiro a frequência de novas ocorrências aumentou consideravelmente. O número de focos na safra corrente é aproximadamente metade do observado na safra de 2007/08 e menos de um terço da safra 2006/07 (Figura 1). Considerando que na safra passada (2007/ 08) houve demora na semeadura de maneira generalizada no país, em função do atraso das
Figura 1 – Número de relatos de ferrugem asiática no Brasil registrados até o dia 2 de fevereiro em três safras consecutivas. Fonte: Consórcio Antiferrugem
produzidos para o período entre 1º de dezembro e 19 de janeiro (para os três últimos anos) podem ajudar a explicar o porquê do atraso e a lentidão da dispersão da ferrugem na safra atual, em comparação com as duas safras anteriores, principalmente na região Sul do país, onde os volumes de precipitação se encontram abaixo da média histórica (Figura 2).
SITUAÇÕES REGIONAIS No Mato Grosso do Sul, onde nesta mesma época do ano passado havia registro de 404 casos de ferrugem, existem agora 84. Segundo dados da Estação Agrometeorológica da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, as chuvas em dezembro alcançaram ape-
nas 18mm, ou seja, 10% da média mensal dos 30 anos anteriores que é de 185mm e nos últimos quatro meses de 2008, setembro a dezembro, as precipitações na região de Dourados foram inferiores às médias históricas de 30 anos. As perdas estimadas para a soja no estado são da ordem de 30%, segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo assim, as chuvas registradas no início de janeiro podem favorecer o aparecimento da ferrugem nas lavouras. Caberá ao agricultor decidir se em áreas que foram fortemente afetadas pela seca, vale a pena investir mais recursos na aplicação de defensivos. Rio Grande do Sul e Santa Catarina também sofreram com uma estiagem prolongada. No estado gaúcho o primeiro caso da do-
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Rafael M. Soares
chuvas, e que nessa safra os plantios ocorreram dentro da época normal, o atraso no início e a lenta dispersão da doença na safra atual são bastante significativos. Cogita-se que a ampla adoção, a partir de 2007, do vazio sanitário (que consiste no não-plantio da soja em períodos que variam de 60 dias a 90 dias na entressafra) tenha contribuído para o controle da doença. Fica claro na Figura 1 um menor número de casos devido ao atraso na detecção da doença na safra atual comparado às duas safras anteriores, quando já se verificava um número significativo de ocorrências registradas ainda no mês de dezembro. Mesmo no Centro-Oeste do país, onde a ferrugem normalmente era diagnosticada no início da safra, ainda em estágio vegetativo, se verificou atraso nessa e na safra anterior. Esse fato pode ser atribuído ao período mais seco na entressafra e início da última safra, associado aos efeitos do vazio sanitário e às boas práticas de manejo da doença. Além do vazio sanitário, a diferença marcante nos padrões de ocorrência da doença na safra atual (comparada com as duas safras anteriores) pode ser atribuída às condições climáticas, uma vez que estiagens prolongadas têm ocorrido em muitos estados. É possível que este comportamento do clima seja uma das causas do atraso no aparecimento e da lenta dispersão da doença, já que a ferrugem se revela mais agressiva sob condições de chuvas frequentes e abundantes, como se verificou na safra 2006/07. Os mapas de chuva do CPTEC-INPE
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O número de focos da ferrugem na safra atual é quase metade do observado na safra de 2007/08 e menos de um terço da safra 2006/07
ença foi registrado em 12 de janeiro, mas em soja voluntária. Na safra passada a primeira ocorrência havia sido em 27 de dezembro. Em solo catarinense o primeiro caso de ferrugem nesta safra foi detectado em 26 de janeiro. No Paraná, as chuvas que caíram nos primeiros dias do ano começaram a normalizar a umidade do solo, mas não eliminaram as perdas já sofridas nas lavouras com a estiagem que prejudicou, principalmente, o oeste do estado entre novembro e dezembro. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento projeta perda de três milhões de toneladas de grãos, entre feijão, soja e milho. Assim como no Mato Grosso do Sul, as precipitações de janeiro estão proporcionando aumento no aparecimento da ferrugem, gerando a necessidade de maior atenção do agricultor no monitoramento, para determinar o momento para aplicação de fungicida. Em Minas Gerais houve atraso na semeadura em diversos locais, adiando a época de florescimento das plantas e, consequentemente, o período mais crítico para o aparecimento da ferrugem. Em 2008, o estado adotou pela segunda vez o vazio sanitário da soja para impedir o aumento do número de contaminações e os resultados parecem positivos. Embora a primeira ocorrência de ferrugem tenha sido registrada mais cedo nesta safra (18/ 12/08), a doença não evoluiu e novos focos só voltaram a aparecer a partir do dia 8 de janeiro de 2009. O estado de Goiás está, até o momento, com o maior número de ocorrências de ferrugem no Brasil (155). Embora as chuvas, desde o início da safra, tenham se mantido abaixo das médias históricas, o estado não teve períodos prolongados sem chuva, o que favoreceu o desenvolvimento da ferrugem. Outro problema verificado é que, mesmo com o vazio sanitário, o controle de plantas voluntári-
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as de soja durante a entressafra não tem sido realizado plenamente. No Mato Grosso, embora a ferrugem tam-
bém tenha aparecido mais cedo nesta safra (em unidade de alerta no dia 4 de dezembro), a primeira constatação em lavoura comercial se deu em 4 de janeiro. A ocorrência da doença, com 28 casos, está com quadro semelhante ao da safra passada, quando nessa época havia 26 ocorrências. Algumas lavouras já estão sendo colhidas e a ferrugem, até agora, não tem representado problema. No oeste da Bahia o plantio das lavouras de soja foi concluído nos últimos dias de dezembro e a perspectiva é de bom desenvolvimento da cultura. Pesadas chuvas entre o fim de novembro e o início de dezembro chegaram a interromper o plantio por até uma semana em alguns locais, mas houve tempo para recuperar o atraso sem maior prejuízo no desenvolvimento das plantas, o que poderia diminuir a produtividade. Dezesseis casos foram registrados até o momento, sendo o primeiro em 13 de janeiro, em São Desidério, aproximadamente um mês antes da primeira detecção na safra anterior.
SENSIBILIDADE DO FUNGO A TRIAZÓIS
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m problema bastante discutido na reunião do Consórcio Antiferrugem (CAF) foi a menor eficiência dos fungicidas triazóis para o controle da ferrugem observada nas regiões do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e de Goiás, em algumas situações, principalmente em ensaios de pesquisa. Essa menor eficiência, no final da safra, foi confirmada pela apresentação dos resultados de monitoramento da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi a fungicidas, que vem sendo realizado pela empresa Bayer CropScience desde 2006. Nessa safra foi possível caracterizar uma menor sensibilidade do fungo em condições específicas. A variação da sensibilidade do fungo aos fungicidas é um fato normal decorrente da variabilidade natural. Diversos fatores podem atuar causando a seleção de populações menos sensíveis, dentre eles o uso contínuo de um produto com mesmo modo de ação, a utilização de subdoses, as aplicações do produto nas situações curativas e tratamento de extensas áreas com o mesmo defensivo. O fato de alguns triazóis apresentarem eficiência semelhante à de misturas e com mais baixo custo induz o produtor, muitas vezes, à sua utilização de forma contí-
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nua. O CAF, em decorrência desse fato, passou a orientar que na safra 2008/09, nas regiões do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e de Goiás, sejam utilizadas, preferencialmente, as misturas de triazóis e estrobilurinas no controle da ferrugem. Nas demais regiões do país, onde não foram observadas populações C menos sensíveis, tanto a mistura de estrobilurina e triazol como o triazol isoladamente pode ser utilizado. Para todas as situações, devem ser seguidas as estratégias antirresistência recomendadas pelo Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas (Frac), como usar rotação/ misturas de fungicidas com mecanismos de ação distintos, empregar o fungicida somente na época, na dose e nos intervalos de aplicação recomendados e incluir outros métodos de controle de doenças, dentro do programa de Manejo Integrado de Doenças, quando disponíveis e apropriados. Um fato importante observado no acompanhamento, após a colheita da safra, foi de que a sensibilidade das populações do fungo, nessas regiões, voltou aos níveis normais dos anos anteriores e do início da safra. O monitoramento na safra atual será importante para a definição das estratégias futuras.
PERSPECTIVAS PARA A SAFRA Percebe-se que a grande vilã da safra 2008/2009 de soja deverá ser mesmo a estiagem, principalmente no Sul do Brasil em função da intensificação do fenômeno La Niña. As previsões climáticas para os meses de janeiro, fevereiro e março indicam chuvas abaixo do normal para o Sul do Brasil em função desse fenômeno. Na safra anterior (2007/08), embora a doença tenha se dispersado em todas as regiões produtoras, o quadro final da safra foi de tranquilidade com poucas perdas pela doença, sem muita dificuldade no controle em função de um clima que não favoreceu infestações severas (como em 2006/07), nem prejudicou as lavouras por estresse hídrico, exceto casos bem localizados. Comparativamente, a safra atual deve ser de menor risco relativo de perda por ferrugem, caso o mês de fevereiro, período bastante crítico para o desenvolvimento da doença no Sul do Brasil, se mantenha de acordo com as previsões. No entanto, quanto menor o risco da ferrugem em função da predominância de condições prolongadas de seca, maior o risco de perda por estiagem. É importante lembrar que as semeaduras mais tardias ainda mante-
Figura 2 – Precipitação acumulada no período de 1º de dezembro a 19 de janeiro em três safras consecutivas. Fonte: CPTEC-INPE
rão plantas no campo por períodos suficientemente longos para serem afetadas pela doença, caso aumente a frequência de chuvas no final da safra, o que demanda atenção constante do produtor. C
Rafael M. Soares e Cláudia V. Godoy, Embrapa Soja Emerson Del Ponte, UFRGS
Cana-de-açúcar
Expansão de daninhas
O cr escim en to ddo o plan ti o ddee can a-d e-açúcar xplor ovas crescim escimen ento planti tio cana-d a-de-açúcar e-açúcar,, com a eexplor xploração novas xploração ddee n ár om an oux ovo a. áreas mu no man anejo, troux ouxee um n novo problem oblema. áreas eas agrícolas agrícolas ee m muudanças n anejo, tr ovo pr problem a. AA convivên ci tas ddaninhas aninhas com o m am on a, bu cha, m ucun elãoconvivênci ciaa com plan plantas como mam amon ona, bucha, mu cunaa e m melãode-são-caetan o tem se torn ad o cad ais te e compli cad e-são-caetano tornad ado cadaa vez m mais frequen equente complicad cadaa ais fr frequen
A
cultura da cana-de-açúcar (Saccharum spp.) tem se destacado nos últimos anos, expandindo-se muito pelo território brasileiro, atingindo até a região amazônica. Este crescimento se deve, entre outros fatores, principalmente ao melhoramento genético das variedades, que
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vem tornando possível, através da implantação de novos materiais, o cultivo em novas áreas agrícolas, antes não exploradas com a cultura. Estas áreas, situadas em ambientes edafo-climáticos totalmente novos para a cultura, trazem alguns problemas de adaptação destas variedades. Não só em
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relação ao solo e ao clima da região, mas também no que diz respeito à convivência com novas plantas no ecossistema agrícola. Essas plantas vêm se tornando, com o passar do tempo, um novo desafio para o produtor, já que se transformam em autênticas daninhas para a cultura da cana-de-açúcar.
Leila D. Miranda
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ma ou colheita da cana-crua ou na palha), têm alterado drasticamente o contexto do manejo de plantas daninhas nos canaviais, em especial no Sudeste brasileiro. Nestas novas situações, estão sendo detectados problemas no controle de algumas plantas, que, ou por já estarem presentes no novo “habitat” da cana-deaçúcar (e, por isso mesmo, perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas) ou por estarem presentes na simples condição de infestantes da área e encontrarem novas condições de umidade, luminosidade, fertilidade do solo, além de outros fatores, vêm se tornando autênticas plantas daninhas do novo agroecossistema canavieiro, trazendo problemas para o seu manejo adequado. Dentre estas plantas destacam-se a mamona (Ricinus communis L.), a bucha (Luffa spp.), a mucuna (Mucuna spp.) e o melão-de-são-caetano (Momordica charantia L.).
Detalhe da inflorescência e, acima, o fruto da bucha (Luffa spp.)
MAMONA variadas regiões do mundo, sendo que no Brasil o clima tropical facilitou o seu alastramento. Hoje podemos encontrar a mamona em quase toda extensão territorial, como se fosse uma planta nativa e em cultivos destinados à produção de óleo. Mesmo assim, vem se caracterizando como planta daninha em diversas culturas, especialmente nos canaviais, devido à sua resistência ao estresse hídrico e pelo seu crescimento rápido, que proporciona sombreamento veloz na
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A mamona (Ricinus communis L.) é uma planta xerófila e heliófila, de origem muito discutida, pois existem relatos de cultivo na Ásia e na África, tendo sido introduzida no Brasil pela colonização portuguesa, por ocasião da vinda dos escravos africanos. Dela se extraía o óleo para lubrificar as engrenagens e os mancais dos inúmeros engenhos de cana. Sua facilidade de propagação e de adaptação em diferentes condições climáticas propiciou à mamona ser encontrada ou cultivada nas mais
Por outro lado, nas áreas tradicionais, mudanças em alguns tratos culturais do cultivo da cana, que vêm sendo recomendadas pelos técnicos e adotadas pelos produtores destas regiões (como rotação de culturas, prática da adubação verde e, principalmente, o sistema de colheita da cana-de-açúcar sem quei-
A mamona apresenta crescimento rápido e provoca o sombreamento na cana, atrapalhando o desenvolvimento da cultura e competindo por nutrientes
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A grande quantidade de massa vegetal produzida pela bucha impede o desenvolvimento da cana-de-açúcar
cultura ou solo, atrapalhando o desenvolvimento da planta cultivada, além de competir por nutrientes de forma desigual, em detrimento da cultura. Os frutos da espécie estouram lançando as sementes a longas distâncias, que podem atingir até 10m, o que colabora com sua disseminação. Com o crescimento da planta surgem touceiras de mamona, com tronco muito grosso e rígido, o que tem causado acidentes de trabalho, especialmente para os tratoristas. A superação da dormência de suas sementes depende da disponibilidade de água, oxigênio, temperatura e luz. Assim, qualquer condição que altere estes fatores pode prejudicar ou favorecer o fluxo de emergência das plântulas. A mamona exige uma estação quente e úmida favorecendo sua fase vegetativa e outra pouco chuvosa ou seca para maturação e colheita. Percebe-se daí uma semelhança em suas exigências climáticas da fase vegetativa e da fase de maturação com a cultura da cana. A palha proveniente da colheita mecânica não interfere na germinação e na emergência das plântulas de mamona, pois suas sementes possuem muita reserva de nutrientes, suficiente para garantir o crescimento inicial da planta através da camada de palha até que tenha acesso à luz e inicie a fotossíntese. Os herbicidas que estão sendo recomendados para o controle da mamona são ametrin (pré e pós); atrazine (pré e
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pós); atrazine + simazine (pré e pósinicial); diuron (pré); diuron + MSMA (pós-inicial); diuron + paraquat (pós); 2,4D (pré e pós); glifosato (pós); MSMA (pós); paraquat (pós) e trifluralin (PPI). Um trabalho realizado recentemente Ramia (2009) concluiu que os herbicidas ametrina + trifloxisulfurom-sódio, amicarbazona, metribuzim, diurom + hexazinona, ametrina + clomazona e 2,4-D tiveram bons resultados no controle em pré e pós-emergência da mamona.
BUCHA A bucha (Luffa spp.), originária da Ásia, tem se tornado uma infestante dos canaviais, ocorrendo ainda em áreas isoladas, porém, com prejuízos severos à cultura da cana-de-açúcar. Os frutos da espécie, após secos, são comercializados para fins de higiene humana. Essas plantas se desenvolvem muito, entrelaçando-se nos colmos da cultura e mantendo as folhas no ápice das plantas de cana-de-açúcar. O sombreamento proporcionado prejudica o aparato fotossintético e consequentemente o desenvolvimento da cultura, que pode ser acamada devido à massa vegetal que a bucha proporciona. Os frutos secos derrubam suas sementes sobre o solo, possibilitando a perpetuação da espécie no local. Pavani Junior (2009) realizou recentemente um trabalho que mostra o controle eficaz das plantas com os herbicidas: ametrina + trifloxisulfurom-
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sódio, amicarbazona, metribuzim, diurom + hexazinona, ametrina + clomazona, 2,4-D, aplicados nas fases de sementeira e pós-emergência inicial.
MUCUNA A mucuna (Mucuna spp.), também originária do sudeste da Ásia, é bastante difundida em quase todos os países tropicais. Leguminosa anual de hábito rasteiro ou trepador (dependendo da espécie), apresenta-se rústica e de fácil propagação, proporcionando grande rendimento de biomassa e ótima qualidade de matéria orgânica. Possui, por isso, excelente capacidade de melhoramento do solo e de restauração de solos esgotados. É considerada uma das melhores leguminosas para adubação verde. Tem sido muito usada para controle de nematoides do solo. Atualmente vem sendo empregada na renovação dos canaviais, principalmente a mucuna
Marcos Landell
preta (Mucuna aterrima). Devido a sua utilização como rotação de cultura na reforma do canavial, a mucuna tem apresentado problemas de infestação das áreas recentemente plantadas com a cana-de-açúcar, pois muitas de suas sementes vêm enriquecendo sobremaneira o banco de sementes do solo, ressaltando-se que estas sementes permanecem grande parte do tempo dormentes, devido ao seu tegumento duro e impermeável à água (fato que gera fluxos de germinação descontínuos e que tem aumentado muito a infestação desta espécie nas áreas canavieiras). Com referência ao controle químico desta espécie, não se tem registro de herbicidas para a mucuna no Brasil, onde é encarada como adubação verde. Pode-se, porém, utilizar dessecantes não-seletivos como glifosato e paraquat. Existe o registro de que algumas usinas empregam as misturas de dinamic + boral e dinamic + combine, devido a um relativo poder residual que estas misturas de tanque proporcionam.
MELÃO-DE-SÃO-CAETANO O melão-de-são-caetano (Momordica charantia L.) tem sua origem no leste indiano e sul da China. É uma planta de interesse econômico, por seu uso na culinária e na medicina. Encontra-se disseminada por todo o mundo, sendo que o conhecimento de seus mecanismos reprodutivos é fundamental para o manejo. É um cipó muito comum nas cercas-vivas dos terrenos abandonados
ou margeando as casas de roça do interior. As plantas dessa espécie podem ser comparadas a outras espécies infestantes, a exemplo das cordas-de-viola, que também possuem hábito trepador. Estas espécies possuem a característica de envolverem-se nos colmos da cultura e sombrear as folhas da cana-de-açúcar, prejudicando principalmente o processo de colheita mecanizada. Para o controle desta espécie, são recomendados alachlor (pré); alachlor + atrazine (pré); ametrin (pré e pós); atrazine (pré e pós-inicial); atrazine + simazine (pré e pós-inicial); diuron (pré e pós); diuron + hexazinone (pré e pós); diuron + MSMA (pré e pós); 2,4D (pós); 2,4D + picloran (pré e pós); glifosato (pós); metribuzin (pré); MSMA (pós); oxidiazon (pré e pós-inicial); oxyfluorfen (pré e pós-inicial); paraquat (pós); pendimethalin (pré) e tebuthiuron (pré). Correia e Zeitoum (2008) concluíram em estudo recente que os herbicidas mesotrione e amicarbazone, isolados ou em mistura, foram eficazes no controle em pós-emergência das plantas de Momordica charantia, na época úmida. E também inibiram novos fluxos de emergência, fato considerado pelos autores como de grande importância para a manutenção do controle do melão-de-são-caetaC no na época úmida. Carlos Alberto Mathias Azania, Fabrício Simone Zera, Ana Regina Schiavetto e José Carlos Rolim, IAC
O melão-de-são-caetano, semelhante às cordas-de-viola, possui hábito trepador e envolve-se nos colmos da cultura, prejudicando principalmente o processo de colheita
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Algodão Fotos MDM
Plantio adensado In spir ad os n xperiên ci cedi da ddee agri cultor es ddo o PPar ar agu ai, Inspir spirad ados naa eexperiên xperiênci ciaa bem-su bem-sucedi cedid agricultor cultores aragu aguai, cotoni cultor es br asileir os passam a apostar n o ad en sam en to par cotonicultor cultores brasileir asileiros no aden ensam samen ento paraa red uzir custos e m aximizar rresultad esultad os n as lavour as eduzir maximizar esultados nas lavouras
C
om as perspectivas de baixa no preço do milho e redução de área cultivada, em função dos estoques atuais, os produtores brasileiros buscam por alternativas mais rentáveis para a safrinha. Diante deste cenário, o algodão adensado desperta a atenção de agricultores interessados em ampliar a rentabilidade e a diversificação de culturas. Os cotonicultores brasileiros estão de olho nos excelentes resultados obtidos por seus colegas do Paraguai e devem trazer a novidade para o Brasil já para o plantio em safrinha deste ano. Coordenados pela MDM, produtora de sementes de algodão, 60 agricultores do vizinho sul-americano Paraguai, com apoio da LDC, participam há três anos de um programa de plantio de algodão adensado. Este sistema ganhou força neste país porque os pro-
dutores buscavam alternativas para redução de custos e rotação de culturas. Como o algodoeiro possui ampla adaptabilidade nos cerrados do Brasil e demanda alta empregabilidade de tecnologia, nota-se que o retorno econômico desta cultura está ficando menor devido à adoção de um único sistema de plantio na época mais adequada para se ter máximo retorno econômico. A tecnologia de algodão adensado como um “novo sistema de produção” busca dar maior sustentabilidade econômica (menor custo de insumos/hectare, melhor otimização dos maquinários e diminuição do ciclo), além de melhorar a rentabilidade em uma nova época de plantio. O plantio adensado ganhou força em 1996 nos EUA em consequência da crise da cultura do algodoeiro no mundo e principalmente nos EUA. O objetivo principal era a redução
dos custos de produção, maximizando cultivares transgênicas (BT, RR e BR) recém-lançadas na época.
O plantio deve ser realizado em solos corrigidos quimicamente e com boa fertilidade
Lavoura em sistema adensado, 20 dias após o cultivo
Método proporciona aumento de produtividade em relação ao plantio convencional
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ULTRA-ADENSADO Ultra Narrow Row Cotton® (UNRC), marca patenteada pela Basf Agricultural Products nos EUA, também chamado de algodão ultra-adensado (ou adensado), consiste na diminuição do espaçamento entrelinhas (100cm – 75cm) para (51cm – 38cm) e o aumento de população de plantas (75 mil plantas/hectare a 120 mil plantas/hectare) para (200 mil plantas/hectare a 300 mil plantas/ hectare). Neste sistema de produção, as plantas se desenvolvem muito rapidamente, com consequente aumento da competitividade, entre si, por nutrientes e água. Por outro lado, favorece o controle de plantas daninhas e diminui a evaporação de água do solo. Segundo Carvalho e Chiavegato (2006), as plantas cultivadas neste sistema apresentam redução na altura, aumento da inserção do primeiro ramo frutífero, retenção dos fru-
Fotos LCD Commodities
tos em maior porcentagem nas primeiras posições, menor número de ramos vegetativos e reprodutivos, diminuição do diâmetro do caule, menor peso de capulho e menor número de frutos por plantas. Em contrapartida apresentam número maior de frutos por área.
MAIS PRODUTIVO De acordo com o estudo “Plantio de Algodão Adensado no Oeste Baiano”, do Ministério da Agricultura, a adoção de espaçamento de apenas 0,35cm entre as linhas resultou em produtividade 13% maior que o tradicional espaçamento de 0,75cm. O relatório revela que um dos motivos para a melhor produtividade do espaçamento mais estreito é o maior aproveitamento da radiação solar. No espaçamento de 0,35cm, toda a área já está coberta pelas folhas do algodoeiro, enquanto no espaçamento de 0,75cm grande parte do solo ainda está descoberta, ocasionando desperdício de radiação e maior possibilidade de desenvolvimento de plantas daninhas. “O aumento da população de plantio também pode melhorar a eficiência de aproveitamento dos fertilizantes, já que a densidade de raízes é significativamente maior”, conclui o documento.
CUIDADOS NECESSÁRIOS Com todas estas modificações na fisiologia da planta e no manejo da cultura, este novo sistema de plantio não permite erro na semeadura e principalmente na distribuição das sementes. Deste modo se faz necessário o uso de sementes certificadas, com ótimo vigor e
A alteração no espaçamento produz reflexos no aproveitamento da radiação solar e no desenvolvimento de plantas daninhas
germinação, garantindo a base do investimento e uniformidade de plantio. Outros pontos exigem observação. Por se tratar de uma planta de crescimento indeterminado em alta densidade o uso de regulador de crescimento é importantíssimo em doses mais elevadas. O plantio deve ser realizado em solos corrigidos quimicamente e com boa fertilidade (altura ideal de 80cm a 90cm) e não pode ter ramos vegetativos para não causar prejuízo no momento da colheita.
MÁQUINAS ADEQUADAS Para a colheita do algodão adensado temos disponíveis, basicamente, dois tipos de máquinas. A primeira é a colhedora tipo “stripper”, onde a planta passa por uma plataforma semelhante à da colhedora de soja, porém, sem cortar as plantas, somente puxando os capulhos abertos, com casca e tudo (Figura 1 e Figura 1.2). Este tipo de colheita pode pre-
Figuras 1 e 1.2 - O emprego de máquinas do tipo “stripper” interfere negativamente na qualidade da fibra
judicar sobretudo a qualidade de fibra em um ponto, (como por exemplo algodão tipo 21-1 na colheita stripper seria 31-1) e as qualidades tecnológicas da fibra dependerão da relação época de plantio, estresse hídrico e manejo da cultura. A segunda colhedora é de fusos rotativos, semelhante à colhedora normal, porém adaptada para colher somente no espaçamento de 0,38cm (Figura 2 e Figura 2.2). Neste modelo não ocorre o problema de perda de qualidade da fibra por motivos de colheita, mas no que se refere à qualidade tecnológica da fibra sofre os mesmos efeitos relacionados ao manejo e clima.
REDUÇÃO DE CUSTOS Atualmente o custo médio de uma lavoura de algodão no Brasil é de aproximadamente US$ 2,5 mil por hectare. O sistema adensado (que consiste em diminuir o espaçamento entre as linhas plantadas e aumentar a popu-
Figuras 2 e 2.2 - Modelo com fusos rotativos não provoca perda de qualidade da fibra durante a operação
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Fotos MDM
Apesar do menor número de frutos por plantas, o sistema produz maior quantidade por área
O aumento da população de plantio também pode auxiliar no aproveitamento de fertilizantes
lação de plantas nas fileiras) pode proporcionar redução de custos de 20% a 30%, em média. Reduzem-se os gastos com adubação, maquinário, combustível e mão-de-obra, porque o ciclo da cultura passa a ser de 140 dias, frente aos 210 dias no campo do sistema convencional. Caso o agricultor opte pelo algodão transgênico, a redução de custos será ainda maior, uma vez que cai a quantidade de aplicações de inseticidas.
VANTAGENS E EXIGÊNCIAS Para este novo sistema, algumas vantagens podem ser facilmente percebidas, como diminuição da multiplicação de ervas daninhas, custo de produção menor, otimização da propriedade, ciclo menor, rotação de cultura e plantio estendido. Mas também são necessários alguns cuidados, por se tratar de um novo sistema. A necessidade de uso do regulador de crescimento é a primeira desvantagem, depois é preciso considerar a concentração de pragas e por último e mais im-
portante os riscos climáticos (veranicos nos primeiros 60 dias podem levar a baixas produtividades). Para minimizar os riscos, o adequado é escolher uma cultivar de ciclo médio precoce, recomendada para safrinha, resistente à virose e à bacteriose, formato da planta colunar, porte médio, com tecnologia Bt e sem apresentar ramos vegetativos. Este novo sistema de manejo permite produtividade de aproximadamente quatro mil quilos/hectare de algodão. Pode reduzir em até 20% a 30% os custos de produção e diversifica os negócios dos agricultores. Porém, cuidados são necessários e esta técnica precisa ser adaptada a cada região considerando as características locais para garantir a sustentabilidade da cultura do algodão.
Anderson Pereira, MDM
EXPERIÊNCIA BEM-SUCEDIDA O produtor brasileiro Jackson Bressan, cuja família cultiva no Paraguai há 30 anos, vem testando o sistema desde 2006, em uma
A ausência de ramos vegetativos é uma das condições necessárias para evitar prejuízos na operação de colheita
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área de 125 hectares. Na safrinha daquele ano, produziu 3.870 quilos/hectare. Em 2007, esse volume subiu para 4.650 quilos/hectare. “Dá dinheiro, valorizei meus negócios na rotação da soja”, comemora. Seu vizinho José Emílson Peloia faz coro. “Tem sido uma boa alternativa de renda, ainda mais fazendo o plantio direto na palhada do trigo ou do milho”, afirma. Em uma lavoura experimental, de 80 hectares, obteve produtividade de 3.950 quiC los/hectare.
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Anderson Pereira aborda vantagens e exigências do sistema adensado no algodoeiro
Café
Como controlar
Temper atur as em torn o ddos os 22°C e alta umi dad o ar são con dições iid deais par emperatur aturas torno umid adee ddo condições paraa que o fun go Hemilei en te causal ddaa ferrug em, ataque as lavour as cafeeir as emileiaa vastatrix, ag agen ente ferrugem, lavouras cafeeiras as.. fung o com a ddoença oença ddeve eve ser m ai or n o períod o ddee ddezembr ezembr o a julh o, qu an do a O cui dad cuid ado mai aior no período ezembro julho, quan and in ci dên ci ais elevad das pod em ch egar a 50% ddaa pr od utivi dad or inci cidên dênci ciaa é m mais elevadaa e as per perd podem chegar prod odutivi utivid adee. PPor isso, é pr eciso estar aten to à h or car fun gi ci das e também ao núm er o preciso atento hor oraa certa ddee apli aplicar fungi gici cid númer ero oteg er o cafeeir o de apli cações n ecessári as par aplicações necessári ecessárias paraa pr proteg oteger cafeeiro
A
ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk et Br) se encontra disseminada em todas as regiões produtoras de café no Brasil. Ataca plantas das espécies Coffea arábica (café arábica) e Coffea canephora (café conilon), as mais cultivadas no país. Coffea arábica é a principal (responde por 70% da produção) e também a mais suscetível aos ataques do fungo Hemileia vastatrix. Já Coffea canephora, responsável por 30% da produção, é mais resistente à ferrugem e ainda pouco se conhece desta doença em relação a plantas desta espécie. Com o aumento de áreas cultivadas com o café conilon, principalmente no estado do Espírito Santo, a preocupação com a ferrugem também se eleva. Trabalhos (como avaliação de clones e cultivares de Coffea canephora quanto à resistência à doença, além de pesquisas de estratégias de controle químico) es-
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tão sendo realizados com o levantamento da doença nestas áreas.
ETIOLOGIA, SINTOMATOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA A ferrugem do cafeeiro é causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk et Br pertencente à ordem Uredinales e família Pucciniaceae. Trata-se de parasita biotrófico, que atinge apenas plantas de cafeeiro. Os sinais da doença podem ser observados na face inferior das folhas, onde aparecem manchas de coloração amarelo-pálida, de aspecto pulverulento (uredósporos), e coloração amarelo-alaranjada, característica da ferrugem. Na face superior das folhas observamse os sintomas que são manchas cloróticas amareladas, correspondendo aos limites da pústula na face inferior. O período da infecção do patógeno até a produção de novos uredósporos (esporos), conhecido como período latente, varia de 19
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dias a 60 dias, de acordo com as condições de temperatura e umidade. A curva de progresso da ferrugem do cafeeiro na maioria das regiões produtoras segue o mesmo padrão. Ocorre aumento da incidência de dezembro a abril, atingindo um pico em julho e com redução geralmente após a colheita. Nos anos agrícolas de alta carga a incidência pode chegar a 100% e nos de baixa carga dificilmente ultrapassa os 40%. Os principais danos causados pela ferrugem são a queda precoce das folhas e a seca dos ramos, inclusive no período de formação dos grãos (que consequentemente não se desenvolvem de forma satisfatória). A ferrugem pode reduzir a produção do ano em que houver alta incidência e principalmente no ano seguinte, devido à desfolha e à seca de ramos, levando a perdas na produtividade em torno de 35%, com chances de chegar a mais de 50% em condições favoráveis.
CONTROLE Atualmente o que se busca para o controle da ferrugem do cafeeiro é o manejo integrado com utilização de todos os possíveis métodos para redução dos danos causados pela doença, diminuição do uso de agroquímicos e maior lucratividade na cultura. Dentre as estratégias do manejo integrado as principais são o uso de variedades resistentes, a nutrição equilibrada das plantas e o esquema de pulverizações com fungicidas cúpricos (protetores) ou sistêmicos.
Incidência da ferrugem (%) em plantas de cafeeiro submetidas à aplicação de diferentes fungicidas (em azul) e a mistura destes mesmos defensivos com calda viçosa (em marrom)
T1-Testemunha (sem fungicida); T2-Calda viçosa; T3– Epoxiconazole + piraclostrobina; T4-Epoxiconazole; T5-Trifloxistrobina + ciproconazole; T6-Triadimenol; T7-Ciproconazole; T8-Ciproconazole + azosxistrobina; T9-Tetraconazole ; T10-Tebuconazole; T11- Flutriafol. Fonte: Danival Ricardo Costa (dados não publicados)
RESISTÊNCIA Dentre as alternativas de controle de doenças o uso de variedades resistentes se torna a primeira opção quando disponível. O emprego da resistência é importante por ser de fácil adoção pelo produtor, pois não exige custo adicional, diminui os danos ao ambiente e às pessoas com a redução do uso de agroquímicos. Além disso, estas variedades apresentam boas produtividades. Porém, a obtenção e a manutenção de variedades resistentes à ferrugem têm sido difícil devido à grande variabilidade do patógeno. Tem-se preferido trabalhar com cultivares com resistência do tipo horizontal que é governada por vários genes, o que dificulta a “quebra” da resistência observada quando se trabalha com cultivares com
resistência do tipo vertical (governada por um ou poucos genes). Dentre as variedades resistentes à ferrugem podemos citar Catucaí Vermelho, Catucaí Amarelo, Oeiras-MG 6851, Tupi, Obatã, Katipó, Iapar 59, Icatu Vermelho, Icatu Amarelo e Paraíso MG H419-1.
CONTROLE QUÍMICO Apesar de existirem variedades resistentes com inúmeras vantagens sob as suscetíveis, grande parte dos plantios comerciais é realizada com variedades suscetíveis como a Mundo Novo, Catuaí amarelo, Catuaí vermelho, Topázio, Acáia, Acáia Cerrado, Catuaí Rubi. Dessa forma, a ferrugem do cafeeiro torna-se um grande problema, sendo necessário controle eficiente para manter o poten-
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Cultivar
A maior ou menor severidade da doença tem correlação direta com a temperatura, umidade, carga pendente de frutos na planta e variedade cultivada. A ferrugem do cafeeiro é favorecida por temperaturas em torno de 22°C e alta umidade, condições necessárias à germinação dos uredósporos. Observa-se que ocorre relação direta do aumento da altitude e redução da incidência e severidade da ferrugem devido, principalmente, à redução da temperatura. A carga pendente de frutos na planta tem relação direta com a severidade da doença. Plantas com alta carga pendente são mais atingidas. Acredita-se que a maior translocação de metabólitos para os frutos seja responsável por deixar a planta mais suscetível ao ataque do fungo. As variedades de cafeeiro possuem diferentes níveis de resistência ao patógeno, portanto, o cultivo destas plantas com determinados níveis de resistência determina a maior ou menor incidência e severidade da doença no campo.
Fotos Ueder Pedro Lopes
cial produtivo da cultura.
QUANDO CONTROLAR? Para ser tomada a decisão de controle da ferrugem deve-se levar em consideração as condições climáticas, a carga pendente de frutos na planta, o grau de enfolhamento da planta, a época do ano, o inóculo inicial na área, a intensidade da doença. A correta tomada de decisão de controlar ou não e quando controlar é essencial para o sucesso da cultura. O controle utilizando o calendário é baseado na curva epidemiológica da doença que é mais ou menos constante a cada ano. Nele se realizam pulverizações em épocas predefinidas. Em anos de alta carga são recomendadas cinco pulverizações, de dezembro a março, com fungicidas protetores à base de cobre. No caso de fungicida sistêmico, utilizam-se principalmente o do grupo químico dos triazóis e mais recentemente formulação em misturas com estrobilurinas, onde são recomendadas duas pulverizações, uma em janeiro e outra em março. Em anos de baixa carga recomenda-se realizar metade das aplicações. O controle com base em sistemas de aviso é baseado na análise de dados de umidade, temperatura, molhamento foliar e pluviosidade, que são processados por programa computacional que informa a provável epidemia da doença. Assim, o técnico toma a decisão de controle com base na provável epidemia da doença. Atualmente, está sendo recomendada a aplicação de fungicidas com base em valores de incidência, obtidos através de amostragens para quantificar a incidência. São realizadas mensalmente, coletando dez folhas por plan-
HISTÓRICO
A
ferrugem do cafeeiro foi detectada inicialmente na África em cafezais do Ceilão (hoje Sri Lanka) no ano de 1869. Esta região produzia grande quantidade de café e exportava para os ingleses que eram apreciadores do produto. Com a chegada da ferrugem em 1869, a produtividade destes cafezais foi caindo virtualmente a cada ano, chegando praticamente a zero após 20 anos. No Brasil, a doença foi detectada no ano de 1970 em plantas de cafeeiro na Bahia e em quatro meses já estava disseminada em quase todas as regiões produtoras do país. Suspeita-se que esta doença chegou ao país através de esporos trazidos pelo vento, principal agente de disseminação do fungo a longas distâncias.
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Vista das faces superior e inferior de uma folha de cafeeiro com pústulas de ferrugem
ta entre os terços médio e inferior da planta, em 20 plantas do talhão escolhidas de forma a representar toda a área. Quando a incidência estiver menor que 5% recomenda-se aplicação de fungicidas à base de cobre. Quando estiver maior que 5% e menor que 12%, indica-se aplicação de fungicidas sistêmicos. Acima de 12% não se recomenda o controle porque ele pode não ser eficiente.
O QUE APLICAR? Em pulverizações com fungicidas protetores à base de cobre utiliza-se a calda bordaleza, calda viçosa, oxicloreto, óxidos e hidróxido de cobre. No caso de fungicidas sistêmicos, principalmente os do grupo químico dos triazóis (epoxiconazol, propiconazol, triadimenol, ciproconazol, tetraconazol, tebuconazol, flutriafol) e mais recentemente formulação em misturas com estrobilurinas (piraclostrobina, azoxistrobina). Apesar dos fungicidas sistêmicos possuírem maior persistência no tecido foliar, maior eficiência e necessitar de menor número de pulverizações, devem ser aplicados com critério porque atuam em reações específicas na célula (o que favorece o surgimento de população resistente do patógeno). Já os fungicidas à base de cobre atuam em várias reações vitais dentro da célula do patógeno, com menor risco de aparecimento de resistência quando comparado aos sistêmicos.
RESULTADOS EXPERIMENTAIS A aplicação de mistura de fungicidas e micronutrientes é uma prática bastante utilizada no controle de doenças e correção de deficiência nutricional do cafeeiro. Em geral, a época de controle da ferrugem coincide com o período das aplicações foliares de zinco e boro no cafeeiro. Com o objetivo de observar o efeito
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No detalhe, lavouras com intensa desfolha após a colheita devido ao ataque severo da ferrugem
da aplicação conjunta de calda viçosa e fungicidas sistêmicos misturados no tanque de pulverização, sobre a eficiência do controle da ferrugem do cafeeiro, foi conduzido ensaio onde se obteve os seguintes resultados: os fungicidas utilizados neste trabalho são eficientes no controle da ferrugem e ocorre redução de 7% a 10% na eficiência destes defensivos quando aplicados em mistura com calda viçosa. As misturas de fungicidas com nutrientes só devem ser utilizadas se realmente apresentarem vantagens econômicas em comparação ao uso dos fungicidas em separados. Principalmente quando se observa o efeito de nutrição. É importante relatar que o Ministério da Agricultura não regulamenta o emprego da mistura de tanque para produtos fitossanitários. Portanto, o objetivo do trabalho não foi de incentivar o uso de tais misturas, mas levantar algumas considerações a respeito de uma prática que está se tornando cada vez mais comum na cafeicultura e carece de estudos sobre efeitos toxicológicos ao homem e ao ambiente. A ferrugem do cafeeiro leva a perdas expressivas na produção. O seu conhecimento é essencial para que sejam recomendadas estratégias de controle eficientes, que reduzam as perdas e os custos de controle, aumentando a C lucratividade na cultura. Ueder Pedro Lopes, Danival Ricardo da Costa e Laércio Zambolim Universidade Federal de Viçosa
Informe
Foco na cana Fotos Syngenta
Syn gen ta lança tecn ologi om ete rred ed uzir custos e Syng enta tecnologi ologiaa que pr prom omete eduzir tar a pr od utivi dad a-d e-açúcar aum en aumen entar prod odutivi utivid adee n naa cultur culturaa ddaa can cana-d a-de-açúcar
ladas de cana por hectare (TCH). Farah explica que essa elevação está associada aos resultados de um conjunto de medidas que integram o novo sistema, como o tratamento das mudas com inseticidas, fungicidas e nematicidas. A utilização desses produtos, com amplo espectro, também permitiria redução de custos, com eliminação de aplicações de defensivos durante o desenvolvimento da cultura. De acordo com Paulo Donadoni, gerente de suporte técnico da Syngenta, a qualidade inicial de enraizamento com a muda tratada e o espaçamento pré-definido gera melhor crescimento das mudas e conseqüentemente produtividade maior.
INVESTIMENTOS
A
Syngenta anuncia nova tecnologia para melhorar a relação entre custo e eficiência do plantio de cana-de-açúcar no Brasil. PleneTM, resultado de dois anos de pesquisa e desenvolvimento, consiste na produção de mudas sadias de cana, com quatro centímetros e apenas uma gema. A tecnologia promete reduzir os custos do plantio por hectare em torno de 15%, devido a uma nova
abordagem para cultivar cana a partir de segmentos menores. A novidade foi apresentada durante dia de campo realizado na estação experimental da Syngenta, em Holambra, São Paulo. A substituição dos toletes utilizados no cultivo convencional (com três a quatro gemas e 30cm a 40cm de comprimento) por toletes com uma gema e quatro centímetros, previamente tratados, promete maior vigor na germinação e proteção contra doenças e pragas. De acordo com Márcio Farah, gerente comercial para projetos especiais Plene, a tecnologia proporciona aumento da produtividade agrícola entre cinco e 15 tone-
Estão incluídas na programação de investimentos construção de quatro fábricas, com capacidade adequada ao potencial de mercado de cada região. Uma unidade de produção de mudas deve ser instalada no interior de São Paulo, em local ainda a ser definido. Nessa fase, o desembolso será da Syngenta, já que a comercialização ocorrerá a partir de 2010. O plantio deverá ser feito em uma área total estimada em 3 mil hectares. O projeto é de que essas áreas sejam das usinas, para que os proprietários possam acompanhar o desenvolvimento das plantas em seus próprios canaviais. Mas todo o processo de desenvolvimento ficará a cargo da Syngenta.
PARCERIA A Syngenta e a John Deere firmaram acordo tecnológico para desenvolver maquinário específico para este sistema. A mesma máquina que abre o sulco vai adubar, plantar e cobrir a muda com a palha da cana, para protegê-la enquanto cresce. A utilização de pequenas mudas, de quatro centímetros de altura, pretende simplificar o trabalho, executado hoje de forC ma manual.
Técnica prevê o tratamento das mudas, o que proporciona melhor qualidade inicial de enraizamento
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Coluna ANPII
Mapa dos inoculantes ANPII rrealiza ealiza pesquisa com pr od utor es sobr prod odutor utores sobree o uso ddee tes n o tr atam en to ddee sem en tes ddee soja, com o objetivo in oculan inoculan oculantes no tratam atamen ento semen entes de levan tar inf orm ações par elh or ar o pr od uto e difun dir su levantar inform ormações paraa m melh elhor orar prod oduto difundir suaa importân ci o aum en to ddaa pr od utivi dad osa importânci ciaa n no aumen ento prod odutivi utivid adee ddaa oleagin oleaginosa
C
om o objetivo de levantar dados sobre o uso de inoculantes em soja no Brasil, a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) realizou uma pesquisa, em todo o país, com a finalidade de orientar as estratégias de marketing das empresas associadas. Foram aplicados 486 questionários entre agricultores de pequenas, médias e grandes propriedades, com 66 perguntas que abrangeram desde o uso anual do produto até a forma como gostariam de receber o material informativo sobre inoculantes. A análise mostrou dados muito valiosos, que servem de orientação ao trabalho tanto da ANPII como das empresas associadas, no seu relacionamento
de ambos (líquido e pó). Estes resultados demonstram que os maiores investimentos em P&D nas empresas devem ser concentrados no inoculante líquido, uma vez que é o preferido pelo mercado. Quanto ao método para fazer a mistura do inoculante com as sementes, o uso de máquinas de tratamento das sementes já se generalizou: 60% dos entrevistados usam este recurso, enquanto 21% ainda adotam betoneira e 11% utilizam tambor com eixo excêntrico. Um número que chamou a atenção é o percentual de 7% dos agricultores que utilizam a mistura diretamente na semeadeira, o que não é recomendado, por não propiciar boa cobertura das sementes com o produto.
terceiro maior plantador de soja do país. Em geral, os estados do Nordeste e do Centro-Oeste apresentam maior índice de uso do produto: Piauí com 90%, Bahia com 92%, Mato Grosso do Sul com 88%. Mas talvez o dado mais importante para o trabalho das empresas seja o referente à pergunta “Por que não usa inoculante?”: 16% dos entrevistados não acreditam nas vantagens do inoculante, não percebendo o aumento de produtividade que o produto traz para as lavouras. A maioria, 38%, não usa porque julga muito trabalho fazer a mistura com as sementes. Aqui se abrem duas perspectivas de trabalho para as empresas: divulgar mais intensamente os dados de pesquisa que mostram o aumento de lucro com o uso do
Os dados de muitos experimentos feitos por órgãos de pesquisa demonstram que é necessário inocular anualmente para se obter o máximo de produtividade com os clientes. Entre os agricultores entrevistados, 97% utilizam fungicidas no tratamento de sementes e 80% inseticidas. Já o número de produtores que empregam molibdênio e cobalto cai para 72%. Esse resultado já traz algumas orientações: é necessário aumentar ainda mais a compatibilidade entre inoculante e fungicidas, uma vez que é o defensivo usado por, praticamente, todos os plantadores de soja. Sabendo-se do efeito sinérgico do molibdênio e do cobalto com o inoculante, o uso destes micronutrientes deve ser incrementado, para o sucesso da inoculação. Quanto ao tipo de inoculante utilizado, o líquido desponta como o preferido. Um total de 61% dos produtores faz uso desta formulação, enquanto 19% ainda preferem o pó e outros 19% empregam uma mistura
40
Na pergunta sobre a importância do inoculante para a cultura da soja, 42% julgam muito importante e 41% importante, o que mostra que o produto é bem aceito pelo agricultor brasileiro. Outros 13% o consideraram pouco importante e 5% sem nenhuma importância. Com relação ao uso anual de inoculantes, como recomendado pelos órgãos de pesquisa, há uma grande diferença entre estados. Enquanto no Maranhão 100% dos entrevistados responderam que utilizam o produto todos os anos, no Rio Grande do Sul este número cai para 46%, demonstrando baixo uso da tecnologia justamente no estado onde teve início o uso comercial do inoculante no Brasil. Isto servirá de orientação tanto às empresas como para a ANPII, orientando um forte trabalho de difusão do produto no estado do Sul, o
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inoculante e que, portanto, vale a pena o trabalho; e desenvolver produtos ou processo de inoculação que facilitem seu uso. Mas outro dado muito importante obtido com esta questão foi o de que 33% não usam inoculante porque acreditam que a bactéria já existente no solo é suficiente para prover todo o nitrogênio necessário. Os dados de muitos experimentos feitos por órgãos de pesquisa demonstram que é necessário inocular anualmente para se obter o máximo de produtividade. Esta informação deve ser levada aos agricultores para que não fiquem à margem dos benefícios proporcionados por este recurso. Mais dados sobre esta pesquisa poderão ser obtidos na página da AsC sociação: www.anpii.org.br Diretoria da ANPII
Coluna Agronegócios
Mercado mundial de biotecnologia agrícola
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m 2007 o valor de mercado global das culturas biotecnológicas foi US$ 6,9 bilhões, conforme avaliação da empresa de análise de mercado Cropnosis, baseada no preço de venda da semente biotecnológica. Comparativamente, este valor representa 16% dos US$ 42,2 bilhões do mercado global de proteção das culturas e 20% dos US$ 34 bilhões no mercado global de sementes, também em 2007. O mercado da biotecnologia agrícola se subdivide em US$ 3,2 bilhões para o milho, US$ 2,6 bilhões para a soja, US$ 0,9 bilhão para o algodão e US$ 0,2 bilhão para a canola. Do total, 76% do mercado está nos países industrializados e 24% nos países em desenvolvimento. O valor global acumulado entre 1996 e 2007 é estimado em US$ 42,4 bilhões.
produzidos quase 3,5 bilhões de toneladas de grãos transgênicos.
ADOÇÃO Em 2007, o número de países cultivando variedades biotecnológicas aumentou para 24, dos quais 13 são países em desenvolvimento e 11 países industrializados. Por ordem de área total plantada, os países são EUA, Argentina, Brasil, Canadá, Índia, China, Paraguai, África do Sul, Uruguai, Filipinas, Austrália, Espanha, México, Colômbia, Chile, França, Honduras, República Checa, Portugal, Alemanha, Eslováquia, Romênia, Chile e Polônia. Em cada um dos primeiros oito países, a área plantada cresceu mais de 1 milhão de hectares em 2007. Dois países iniciaram o cultivo de variedades biotecnológicas em 2007, sen-
cerca de 63% do milho, 78% do algodão ou 37% de todas as culturas biotecnológicas cultivadas nos EUA, em 2007, foram representados por variedades ou cultivares contendo duas ou três características transgênicas. Este fenômeno também é observado em outros países, como Canadá, Filipinas, Austrália, México, África do Sul, Honduras, Chile, Colômbia e Argentina, sendo esta a tendência dominante a esperar, no futuro próximo, em outros países.
BRASIL Em 2007, o Brasil manteve a sua posição como o terceiro maior em culturas biotecnológicas em todo o mundo, cultivando 15 milhões de hectares, dos quais 14,5 milhões de hectares foram plantados com soja RR e 500 mil
Em 2007, o número de países cultivando variedades biotecnológicas aumentou para 24, dos quais 13 são países em desenvolvimento e 11 países industrializados Para 2008, o valor global do mercado das culturas biotecnológicas é projetado em, aproximadamente, US$ 7,5 bilhões e as divisões do mercado (por cultura ou por tipo de país) devem ser similares às de 2007. O mercado de biotecnologia tem crescido, consistentemente, desde 1996, seguramente porque os agricultores percebem vantagens econômicas ou de outra ordem no uso de variedades transgênicas. Em 2007, pelo 12º ano consecutivo, a área global de culturas biotecnológicas continuou a apresentar taxa de crescimento de dois dígitos (12%), um acréscimo de 12,3 milhões de hectares, significando que a área total plantada atingiu 114,3 milhões de hectares. Se o crescimento do mercado for medido por característica transgênica, o valor deve ser considerado quase em dobro, posto que grande parte das variedades possui duas características transgênicas incorporadas. Examinando por outro ângulo, a área acumulada plantada com material transgênico entre 1996 e 2007 ascende a 690 milhões de hectares. Considerando uma produtividade média de 5ton/ ha, estima-se que, neste período, foram
do que o Chile produziu mais de 25 mil hectares de sementes para exportação, e a Polônia cultivou milho Bt pela primeira vez naquele ano. No total, estima-se que o número de agricultores adotantes ultrapassou a 55 milhões. Destes, cerca de 12 milhões (22%) são pequenos produtores rurais, 90% dos quais são agricultores familiares, de países em desenvolvimento. Do total de pequenos agricultores, 7,1 milhões de chineses e 3,8 milhões de indianos cultivam algodão Bt, além de 100 mil que cultivam milho transgênico nas Filipinas ou na África do Sul, onde também se cultiva soja e algodão transgênico, muitas vezes em lavouras de subsistência conduzidas por mulheres agricultoras. Em 2007, os EUA, seguidos pela Argentina, Brasil, Canadá, Índia e China, continuaram sendo os principais adotantes da biotecnologia a nível mundial. Os EUA se mantêm no topo do ranking mundial, com 57,7 milhões de hectares (50% da área mundial). Esta posição foi impulsionada pelo mercado crescente de etanol, com a área de milho biotecnológico aumentando 40%. Considerando apenas o material genético transgênico,
hectares com algodão Bt, cujo cultivo se iniciou em 2006. Entre 2006 (11,5 milhões de hectares) e 2007 (15,0 milhões de hectares), o crescimento de 30% foi o segundo mais alto do mundo depois da Índia. Um estudo realizado em 2007 pelo doutor Anderson Galvão Gomes estimou os benefícios perdidos pelos agricultores brasileiros pelo atraso na aprovação de variedades transgênicas. Utilizando os números da Argentina, o estudo concluiu que somente o atraso na aprovação de soja RR no Brasil, para o período de 1998 a 2006, significou para os agricultores um custo de US$ 3,10 bilhões e um custo adicional para os desenvolvedores de tecnologia de US$ 1,41 bilhão, ou seja, um custo total de US$ 4,51 bilhões. Para este período, os benefícios totais se a tecnologia fosse integralmente adotada seriam de US$ 6,6 bilhões, o que mostra o quanto já perdeC mos de competitividade. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Sinais positivos para 2009 O mercado agropecuário mundial tem visto com bons olhos a chegada do novo presidente dos EUA, Barack Obama, que traz otimismo à economia, com reversão na onda negativa que se instalou no final do mandato do presidente George Bush. Junto a isso há outros dois fatores que servem de apoio às cotações: a forte demanda de alimentos na China (confirmando o crescimento de 9% em 2008 contra os 8% estimados inicialmente) e do lado da América do Sul a estiagem que ceifou uma boa parcela da safra de grãos da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Estamos vivendo momentos de “Obamismo”, ou otimismo com a mudança política nos EUA e, assim, se espera que a crise econômica mundial passe rapidamente e retorne o apelo positivo e o crescimento econômico. Como tivemos forte queda nos preços do petróleo, o custo de produção agrícola e da energia, que cresciam fortes e estavam estrangulando o setor, agora estão em queda, o que favorece a baixa nos custos neste novo ano. Desta forma veremos a roda econômica girar e mais alimentos o mundo necessitará. Além disso, temos o crescimento populacional, que agrega aproximadamente 100 milhões de pessoas ao consumo todo o ano. Neste sentido, a máquina agrícola do mundo, mesmo que haja crise econômica, não irá parar, porque a população mundial não irá deixar de comer. Já se aponta para um consumo beirando a casa de 2,2 bilhões de toneladas para 2009, frente a uma produção igual ou abaixo deste nível, apertando o quadro de oferta e demanda. A expectativa é de que nestes próximos meses tenhamos avanços médios ao redor dos 10% nas cotações médias internacionais dos principais grãos.
MILHO Seca promoveu forte alta O mercado do milho, que começou fraco, neste começo de ano mudou completamente. O fato se deve à forte estiagem que tivemos no Sul do país entre dezembro e janeiro, com grande parte da produtividade já ceifada, o que ocasionou alta de 20% neste período. A produção da primeira safra, estimada inicialmente entre 37 milhões de toneladas e 39 milhões de toneladas, agora tem indicativos entre 28 milhões de toneladas e 32 milhões de toneladas, com um ano de produção menor que o consumo e exportação. Desta forma grande parte dos estoques que tínhamos será consumida e o controle dos negócios ficará nas mãos dos produtores, que devem pressionar os indicativos para se manter com médias maiores que as recebidas nos últimos meses. Novamente estaremos totalmente dependentes de uma boa safrinha, que terá plantio tardio, concentrado entre fevereiro e março.
SOJA Boas expectativas para o ano O mercado da soja começou o ano com otimismo, porque a estiagem na Argentina e no Brasil já trouxe queda na produtividade de ambos os países. No hemisfério Norte, o inverno foi rigoroso e houve aumento no consumo de ração, o que irá refletir em maiores reposições nestes próximos meses. Os primeiros pontos positivos estão sendo vis-
tos nos portos brasileiros, que mostram bons prêmios para exportação, contra níveis negativos do ano passado. As cotações de janeiro mostravam alta, com os portos nos R$ 52,00/R$ 53,00 para a soja de abril, contra R$ 43,00/R$ 46,00 que foram negociados em abril passado. As boas notícias devem vir à frente, porque estamos ao redor dos US$ 10,00 por bushel em Chicago, mas a médio e longo prazo esperamos operar nos US$ 11,00 e antes de 2010 chegar a US$ 12,00 por bushel, gerando bons lucros aos produtores brasileiros. A nova estimativa da safra aponta para algo entre 55 milhões de toneladas e 56 milhões de toneladas, contra 60 milhões de toneladas previstas no plantio e das 59 milhões de toneladas apontadas pelo USDA.
FEIJÃO Começando com boas expectativas A primeira safra foi fortemente afetada pela estiagem, o que dá aos produtores boas expectativas para a segunda e a terceira safras, entre abril e setembro. Os indicativos que estavam abaixo dos R$ 80,00 a saca em novembro, agora trabalharam entre R$ 100,00/R$ 140,00 em janeiro para o Carioca e acima para o Preto. Uma leve pressão de baixa deve ser sentida no final de janeiro em função da chegada da safra dos estados centrais até fevereiro. Os indicativos devem voltar a crescer de março em diante em cima da redução da oferta e do aumento do con-
sumo. Porque em tempos de crise, aumenta-se o consumo de arroz com feijão e neste ano mais ainda, porque não temos oferta de trigo da Argentina, que tende a trazer alta deste produto no médio prazo.
ARROZ Calmaria de começo de ano As indústrias atuaram pouco no arroz casca no mês de janeiro, pois já era sabido que as ofertas de produto novo iriam crescer forte neste mês de fevereiro, uma vez que grande parte da safra gaúcha foi plantada no cedo e, assim, a colheita andará em ritmo forte nestas próximas semanas, com muito arroz chegando às mãos das indústrias a fixar e diminuindo as necessidades de capital de giro pelo setor industrial. Os indicativos se mantêm estabilizados entre R$ 32,00 e R$ 36,00 a saca, com expectativa de pressão de baixa no período de colheita, quando poderemos ver os números abaixo dos R$ 30,00. Mas boas projeções são previstas para o restante do ano, porque teremos uma safra menor que o consumo, com grandes perdas na safra da Argentina e do Uruguai, o que resultará em menor oferta internacional para atender o consumo brasileiro próximo de 13 milhões de toneladas, frente a uma produção de pouco mais de 10 milhões de toneladas e estoques em queda livre (que não devem superar as 600 mil toneladas). Sinaliza-se que será um bom ano para o setor rizícola.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado deverá sentir os primeiros avanços nas cotações a partir de fevereiro, já que a Argentina teve grandes perdas provocadas pela estiagem e terá pouco mais de quatro milhões de toneladas de produto para exportar em 2009, sendo que somente o Brasil necessitará de algo próximo a seis milhões de toneladas. Com isso, teremos que ir em busca de outros fornecedores e de cotações internacionais em alta. Como o câmbio também avançou forte frente ao ano passado, teremos cotações mais atrativas por aqui. Em janeiro as cotações ainda estavam na faixa dos R$ 430,00/R$ 470,00 por tonelada, mas no médio prazo, dificilmente veremos importações chegando abaixo dos R$ 600,00 por tonelada, o que favorece a nova safra, com estímulo ao plantio e bons ganhos aos produtores que seguraram a safra para negociar a partir deste mês. ALGODÃO - As lavouras estão sendo plantadas no Mato Grosso e na Bahia, dois estados com queda frente ao plantio do ano passado, porque ainda há grande parte da safra anterior para ser negociada e os preços continuam distantes dos interesses dos produtores. Mas o quadro geral, que se mostrava fraco para 2009, agora traz expectativas positivas, porque a China (através do seu centro de informações e estatística e da Associação Algodoeira da China) mostra queda na área plantada. A redução será de 4,7 milhões de hectares, junto com diminuição também prevista nos EUA, apontando uma redução de 13% no novo plantio. Desta forma, a safra mundial tende a sofrer um forte revés e,
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assim, um equilíbrio no quadro frente à demanda que, mesmo em queda, poderá ser maior que a produção. Para o setor produtivo do Brasil espera-se um quadro melhor do que era estimado. EUA - A boa notícia para o setor veio da nomeação do novo secretário da Agricultura, Tom Vilsack, que em seu primeiro discurso apontou que seguirá apoiando fortemente os biocombustíveis (também citados no discurso de posse do presidente Obama). Assim, muito milho e muita soja continuarão sendo usados para produção de etanol e biodiesel. CHINA - A demanda de ração no último ano foi recorde histórico, com números acima de 130 milhões de toneladas. Em janeiro, uma boa notícia, a confirmação do crescimento da economia local em 9%, contra os 8% previstos, o que já aponta que a demanda de alimentos continuará em forte crescimento em 2009. Para ração, aponta-se que serão quase 140 milhões de toneladas neste ano. Muito milho e grandes importações de soja neste novo ano. ARGENTINA - A estiagem que atingiu o país está reduzindo fortemente a safra local de trigo, soja, milho, girassol, arroz e outros produtos. O país, que vive em forte crise e não teve desvalorização cambial, terá pouco produto para exportar. Novamente, esperamos que o governo venha bloquear vendas na exportação neste ano para não comprometer o abastecimento interno. Bom para os produtores brasileiros.
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