Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 120 • Maio 2009 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa Capa
Com eço corr eto...............................20 Começo correto...............................20 Com o ini ci ar bem a lavour go e alcançar alta pr od utivi dad scolha Como inici ciar lavouraa ddee tri trig prod odutivi utivid adee com eescolha ead ur deal es ad equ ad as à rregião egião ddee plan ti o e dden en si dad cultivares adequ equad adas planti tio ensi sid adee ddee sem semead eadur uraa iid de cultivar
Mar co An tôni o Lu cini arco Antôni tônio Lucini
Batalha ven ci da.....................10 Guerr ofo......................16 Em equilíbri o.........................32 venci cid Guerraa ao m mo equilíbrio.........................32 Zon eam en to agrícola n o Ri o Gr an de ddo o Sul oneam eamen ento no Rio Gran and cípi os par autoriza cultivo em 182 m uni muni unicípi cípios paraa a pr od ução ddee açúcar e álcool prod odução
Red ad en tos Redee ddee pesquisa apoi apoiad adaa por segm segmen entos os ten ta con ter o avanço ddo o cos e privad públicos privados tenta conter públi mofo br an co em lavour as br asileir as bran anco lavouras brasileir asileiras
Índice Dir etas Diretas Adubação em can a-plan ta cana-plan a-planta Zon eam en to ddaa can o Ri o Gr an de ddo o Sul oneam eamen ento canaa n no Rio Gran and
Com o o equilíbri o n utri ci on al Como equilíbrio nutri utrici cion onal tas n efesa auxiliaa as plan plantas naa ddefesa auxili con tr oenças com o a an tr acn ose contr traa ddoenças como antr tracn acnose
Expediente 04 06 10
Fun dad or es: Milton Sousa Guerr ewton PPeter eter Fund ador ores: Guerraa e N Newton
RED AÇÃO REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutr o Dutraa Queved Quevedo • Coor den ad or ddee Red ação Coord enad ador Redação
Jani ce Ebel anice
dad Opinião - Conh ecim en to que gger er ais pr od utivi utivid adee Conhecim ecimen ento eraa m mais prod odutivi
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Ferrug em em soja Ferrugem
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Mofo br an co em soja bran anco
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• Desi gn Gráfi co e Di agr am ação Design Gráfico Diagr agram amação
Cristi an o Cei Cristian ano Ceiaa • Revisão
Alin artzsch ddee Alm ei da Alinee PPartzsch Almei eid
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Den si dad ead ur go Densi sid adee ddee sem semead eadur uraa em tri trig
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Adubação nitr og en ad go nitrog ogen enad adaa em tri trig
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Grupo Cultivar ddee Publi cações Ltd a. Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000
Regulad or es ddee cr escim en to em alg odão Regulador ores crescim escimen ento algodão
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Dir etor es Diretor etores Newton Peter e Schubert K. Peter
Uso ddee ffosfito osfito em lavour as ddee café lavouras
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Secr etári Secretári etáriaa Rosimeri Lisboa Alves
Desequilíbri on utri ci on al e ddoenças oenças em milh o Desequilíbrio nutri utrici cion onal milho
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Colun Colunaa ANPII
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Colun gr on egóci os Colunaa A Agr gron onegóci egócios
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Mer cad o A grícola ercad cado Agrícola
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• Coor den ação Coord enação
Charles Ri car do Ech er Ricar card Echer • VVen en das end
Ped edrro Batistin Sed eli Feijó Sedeli
CIRCULAÇÃO • Coor den ação Coord enação
Sim on Simon onee Lopes • A ssin atur as Assin ssinatur aturas
Ân gela Oliveir Âng Oliveiraa Gonçalves
GRÁFI CA GRÁFICA
Inf orm Inform ormee - PR TTrrad adee
Empr esa - Bayer an un ci cr o rrecor ecor de Empresa anun unci ciaa lu lucr cro ecord
MARKETING E PUBLI CID ADE PUBLICID CIDADE
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Especialista em cana A Syngenta acaba de contratar Jorge Alberto da Silva para o cargo de diretor de Melhoramento em Cana. Engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela Esalq, é doutor em Melhoramento de Plantas e Biologia Molecular pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Nos últimos oito anos Silva se dedicou a pesquisas e desenvolvimento de projetos, como líder do “Sugarcane Project”, no Departamento de Solo e Ciência da Plantação da Texas A&M University Taes - Weslaco Center, nos EstaJorge Alberto da Silva dos Unidos.
Soluções na FFenasucro enasucro A Basf levou para a Fenasucro, no mês de abril, em Olinda, Pernambuco, sua linha de produtos voltados para a cultura da canade-açúcar. Entre os destaques da empresa estiveram o inseticida Regent® 800 WG, recomendado contra pragas como o migdolus, broca-da-cana e cupim subterrâneo, e os herbicidas Plateau® (indicado no combate a diversas plantas infestantes) e Contain® (que controla, entre outras invasoras, a grama seda). “O evento é uma excelente oportunidade para relacionamento com produtores e empresários da região Nordeste”, avaliou Redson Vieira, gerente de Marketing para os Cultivos de Canade-açúcar e Amendoim da Basf.
Pioneer
Nufarm A Nufarm participou da Tecnoshow Comigo, em Rio Verde, Goiás. Entre os produtos divulgados estiveram o CottonQuik, maturador para a cultura do algodão, Abamex, inseticida e acaricida à base de abamectina com foco em HF, citros e algodão, Dimax, inseticida fisiológico para soja e algodão, além de Tucson e Texas, recomendados para pastagens. “Na Nufarm trabalhamos buscando soluções inteligentes no sentido de oferecer produtos de qualidade para que a agricultura brasileira seja exemplo de desenvolvimento sustentável”, destaca Ademar Lima, gerente de ComunicaAdemar Lima ção e Inteligência Mercado.
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Gustavo Canato
Comunicação facilitada A Bayer CropScience anunciou modernizações em dois de seus principais canais de comunicação com clientes. O call center passa a se chamar Converse Bayer. Em 2008, a área registrou mais de 7,8 mil atendimentos e a meta da empresa é de triplicar chamadas e atendimentos por e-mail. A nova página da Bayer está mais completa e dinâmica. A grande novidade é a segmentação de todo o conteúdo por unidades de negócios da empresa (Proteção de Cultivos, Biotecnologia e Saúde Ambiental) e por públicos (produtores, distribuidores, agrônomos e jornalistas). Além disso, a Bayer oferece notícias sobre as principais culturas, produzidas com exclusividade para o novo site. Os visitantes da página podem conferir, ainda, cotação de commodities e a previsão do tempo em diversas regiões do país. “Sabemos que este é o começo de uma ação contínua. Para alcançar a excelência no relacionamento, precisamos realizar um trabalho de melhoria constante, que começa por ouvir nossos clientes e entender suas necessidades”, destaca o gerente de Sistemas e Web da Bayer CropScience, Eduardo Pereira. O endereço do site é (http:// www.bayercropscience.com.br) e o Converse Bayer pode ser acessado pelo 0800-0115560 ou (conversebayer@bayercropscience.com.br).
Fenicafé
Redson Vieira
A Pioneer apresentou na AgroBrasília 2009 híbridos lançados para a safra 2009. Os produtores também tiveram a oportunidade de conhecer e obter mais informações sobre produtos com tecnologia Bt, além de dados a respeito dos benefícios do Sistema de Tratamento Industrial de Sementes. Os híbridos P3862 e P3646 são simples, com potencial produtivo e alta resposta ao manejo. O P3862 é recomendado para o plantio no Centro Alto, Centro Baixo e Safrinha e apresenta tolerância às doenças foliares do Centro Alto e Baixo. Já o P3646 é um material precoce, indicado para o Centro Alto e Centro Baixo, com tolerância às principais doenças do Centro Alto.
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FMC Os herbicidas Boral 500 SC e Gamit 500 EC, juntamente com os inseticidas Talstar 100 EC, Mustang 350 EC e Furazin 310 FS, foram os destaques da FMC durante o Tecnoshow Comigo 2009, em Rio Verde, Goiás. “Investimos de forma contínua no desenvolvimento de produtos inovadores, por isso hoje podemos apresentar ao consumidor excelentes opções para o manejo de plantas resistentes”, afirma Gustavo Canato, gerente de Produtos da FMC Agricultural Products.
A Dupont apresentou durante a Fenicafé, em Araguari, Minas Gerais, a tecnologia de seu novo inseticida Altacor®, em fase de registro no Brasil. Desenvolvido com base na molécula Rynaxypyr®, o produto age no sistema muscular e não afeta o sistema nervoso de insetos e pragas. Carlos Frare, coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Companhia destaca que o defensivo, que será recomendado também para a cana-deaçucar, possui baixíssimo impacto para Carlos Frare o homem e o meio ambiente.
Enxofre granulado O Grupo Produquímica apresentou no Tecnoshow Comigo 2009 o Sulfurgran 90®, primeiro enxofre granulado produzido no Brasil. A empresa investiu R$ 10 milhões e seis anos em pesquisa e desenvolvimento para viabilizar a fabricação da tecnologia. “Essa nova opção é de grande valia para os produtores do Centro-Oeste, principalmente nesse momento, em que investir deve ser sinônimo de produtividade”, avalia Franco Borsari, diretor comercial da Produquímica.
Franco Borsari
Basf O fungicida Ópera, benefícios AgCelence™, herbicida Alteza® e os inseticidas Standak®, Imunit® e Nomolt® 150 estiveram entre os destaques da Basf na AgroBrasília 2009. Além do portfólio para milho e soja a empresa levou para a feira o Yield Max, que auxilia o agricultor no melhor momento da aplicação de fungicidas, e o Digilab, microscópio capaz de identificar doenças das lavouras com rapidez e precisão. “Com o equipamento, os gestores de produtividade da Basf fornecem na hora ao produtor o diagnóstico e indicam o melhor tratamento para a lavoura”, diz Sérgio Zambon, gerente de Desenvolvimento de Sérgio Zambon Mercado da Basf no Brasil.
Congresso de soja A organização do V Congresso Brasileiro de Soja e o Mercosoja 2009 espera reunir aproximadamente 1,6 mil participantes entre cientistas, empresários, produtores e outros profissionais ligados direta ou indiretamente à cultura, entre os dias 19 e 22 de maio, no Centro de Convenções de Goiânia (GO). Estarão em debate temas como o papel da soja no mercado de agroenergia; os impactos das mudanças climáticas na agricultura; os efeitos da crise para o setor agrícola, manejo de doenças e pragas da soja; produção e demanda mundial, rastreabilidade da cadeia produtiva de soja, produção, uso e manejo sustentável de insumos, soja na alimentação e outros nichos de mercado. Mais informações pelo (43) 3025-5223 ou www.cbsoja.com.br
Muito Mais O herbicida Soberan, lançado em 2008 para a cultura do milho, foi um dos destaques da Bayer CropScience durante a AgroBrasília 2009. Em soja a empresa enfocou o fungicida Atento e em feijão o Nativo, indicado para o controle da antracnose, mancha angular e ferrugem do feijoeiro. Os produtos integram os exclusivos programas Muito Mais Soja, Muito Mais Milho e Muito Mais Feijão, desenvolvidos pela Bayer.
Herbicidas e inseticidas Os herbicidas Aurora, Sanson, Talstar, Boral e Gamit, além dos inseticidas Furazi e Mustang, foram destaque da FMC durante a AgroBrasília 2009. Outra novidade da empresa na feira foi o “Pega Praga”, espécie de jogo virtual interativo, desenvolvido pela equipe de Marketing para tornar o evento mais divertido. “Nosso objetivo é que o visitante tenha uma experiência alegre e positiva e, para isso, nada melhor do que a interatividade”, explica Fernanda Teixeira, coordeFernanda Teixeira nadora de Comunicação.
Novo vice Cláudio Hartmann, 53 anos, natural de Curitibanos (SC), é o novo vice-presidente da Copercampos. A escolha foi realizada através de consenso. Associado desde 1989 e com atuação nos conselhos fiscal e administrativo, Hartmann sucede Luiz Carlos Chiocca, que atualmente ocupa o cargo de presidente. Formado em Medicina Veterinária em 1980, atua como produtor no município de Campos Novos (SC).
Cláudio Hartmann
Grafite A Nacional Grafite participou do Tecnoshow Comigo, em Rio Verde, Goiás. Entre os destaques da empresa esteve o Grafsolo, lubrificante indicado para fertilizantes e sementes
Roundup T ransorb R Transorb A Monsanto apresentou durante a AgroBrasília 2009, em abril, no Distrito Federal, o herbicida Roundup® Transorb R, mais um aliado do produtor brasileiro no combate a plantas daninhas. “É a mais revolucionária tecnologia de surfactantes do mercado e garante maior consistência de resultados, principalmente em condições adversas”, opina Antonio Smith, gerente de Negócios Químicos da Monsanto.
Cadeia do T rigo Trigo O diretor-presidente da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Benami Bacaltchuk, participou do VII Encontro Técnico sobre Cadeia Produtiva do Trigo, em abril, em Brasília. O evento fez parte da programação do Agrobrasília 2009, promovido pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal Ltda (Coopa/DF). Bacaltchuk falou sobre tendências do mercado mundial da cultura do trigo. A iniciativa busca incentivar o plantio do cereal Benami Bacaltchuk no Distrito Federal e região.
Reconhecimento O pesquisador da Epamig, Antônio Alves Pereira, é um dos vencedores do 31º Prêmio Frederico de Menezes Veiga. A premiação é concedida anualmente pela Embrapa. Pereira participa de projetos e de ações do Núcleo de Genética e Melhoramento do Cafeeiro do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café) desde a sua fundação. A Epamig, instituição onde atua, é uma das fundadoras do Consórcio. Mestre em Microbiologia Agrícola e doutor em Fitopatologia, ambos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), é grande colaborador do melhoramento do cafeeiro, com ênfase na resistência a doenças e pragas.
Antônio Alves Pereira
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Cana-de-açúcar
Como adubar A ad ubação ddaa can a-plan ta, rrealizad ealizad edi an te análise criteri osa ddo o adubação cana-plan a-planta, ealizadaa m medi edian ante criteriosa solo, n om om en to certo e em ddoses oses corr etas stitui-se em no mom omen ento corretas etas,, con constitui-se elem en to fun dam en tal par cesso ddaa lavour avi eir elemen ento fund amen ental paraa o su sucesso lavouraa can canavi avieir eiraa
A
crescente produção de cana-deaçúcar no Brasil é consequência da melhoria da rentabilidade obtida pelo setor nos últimos anos, o que estimulou o crescimento dos canaviais das usinas existentes e a implantação de novas unidades, principalmente nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Tem-se observado que esta expansão da fronteira agrícola canavieira tem ocorrido, principalmente, em solos de média a baixa fertilidade, que exigem especial atenção quanto aos sistemas de manejo a serem adotados. Isto (somado ao fato da cultura exportar altas quantidades de nutrientes do solo e ao adubo ser insumo de preço elevado) faz com que a prática de fertilização seja conduzida de forma criteriosa, com o objetivo de maximizar as produções econômicas. Desse modo, para a obtenção de altas produtividades, todas as tecnologias disponíveis e relativas à condução da cultura têm de ser empregadas. Dentre as alternativas destacase a adubação, responsável por aproximadamente 30% dos custos de produção. A adubação é a prática agrícola que con-
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siste no fornecimento de fertilizantes ao solo, de modo a recuperar ou conservar a sua fertilidade, de modo a suprir a carência de nutrientes e proporcionar pleno desenvolvimento das culturas vegetais. Mas, quando se pensa em adubação (uso de fertilizantes químicos ou orgânicos), a maior preocupação ocorre em relação às doses e aos custos. No entanto, o modo de aplicação do fertilizante, a regulagem dos implementos e a época de aplicação podem ser determinantes para o sucesso das adubações e para o aumento da produtividade. Além disso, o agricultor precisa observar a presença de pragas, a concorrência de matos, a conservação do solo, a época do plantio, enfim, todas as variáveis possíveis de influência, caso contrário à adubação, por mais perfeita que seja, poderá ir “por água abaixo”. A adubação da cana-de-açúcar e sua eficiência no incremento da produtividade serão tanto maiores quanto melhor for o ajuste dos fatores e práticas agrícolas que interferem no crescimento da planta. Entretanto, antes de realizá-la na prática, deve-se ter em mente que a maioria dos solos brasileiros é ácida, ou
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seja, apresenta grande concentração de íons hidrogênio e/ou alumínio e essa acidez promove o aparecimento de elementos tóxicos para as plantas, além de causar a diminuição na oferta de nutrientes. Neste contexto, a correção da acidez do solo (calagem) é considerada uma das práticas que mais contribuem para o aumento da eficiência dos adubos e, consequentemente, da produtividade e da rentabilidade das culturas. E mesmo no caso da cana-de-açúcar, considerada tolerante à acidez do solo, a aplicação de calcário mostra-se viável economicamente, principalmente quando ponderadas as colheitas de vários anos. Desse modo, preconiza-se para a cana-de-açúcar a calagem para elevar a saturação por bases do solo a 60%, garantindo a correção adequada da acidez e o fornecimento de cálcio e magnésio por longo período.
EM CANA-PLANTA Para a cana-de-açúcar há a necessidade de se considerar duas situações distintas, adubação para cana-planta e para soqueiras, sendo
Leila Luci Dinardo Miranda
que, em ambas, a quantificação será determinada, principalmente, pela análise do solo. Para a cana-planta, recomenda-se aplicar os fertilizantes no fundo do sulco de plantio, após a sua abertura ou por meio de adubadoras conjugadas aos sulcadores em operação dupla. Após o preparo do solo para o plantio da cana é feita a sulcação. Durante essa operação surge a principal oportunidade de se realizar a adubação no local mais próximo do sistema radicular da cana que irá brotar. Nessa ocasião, é necessário prover os nutrientes necessários para implantação da cultura. Na Tabela 1, apresentamos a recomendação de adubação da cana-planta proposta pelo Boletim Técnico número 100 do Instituto Agronômico de Campinas. A calagem é uma das práticas que mais contribuem para o aumento da eficiência dos adubos
rante o preparo do solo existente na matéria orgânica, ou seja, ocorre o ataque dos microorganismos que quebram as moléculas complexas, tornando os nutrientes mais disponíveis para as plantas. Outro fator a ser considerado é que a cana-de-açúcar forma um sistema radicular extenso e profundo, explorando grande volume de solo; e o próprio tolete (muda) também fornece parte do N necessário à cultura. Sabe-se, ainda, que essa cultura forma associações com bactérias fixadoras de
N do ar atmosférico, mas não se conhece a eficiência desse processo. O fato é que são baixas as doses de N recomendadas para a canaplanta. A recomendação se dá em função da produtividade da cultura, aplicando-se 30kg/ha de N no plantio, seguidos de 30kg/ha a 60kg/ ha de N em cobertura, 30 dias a 60 dias depois do plantio.
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Flávio Blanco
Nitrogênio (N) O nitrogênio é um constituinte de aminoácidos, nucleotídeos e coenzimas, portanto, existe relação entre o teor de N e o crescimento das plantas, considerando que um dos principais sintomas da deficiência desse elemento é o amarelecimento ou clorose das folhas, devido à inibição da síntese de clorofila, o que resulta, principalmente, na diminuição da fotossíntese e, consequentemente, na síntese de aminoácidos essenciais. Observa-se, assim, a importância do N na vida dos vegetais, em especial na cana-de-açúcar, que é altamente extrativa desse elemento. Porém, a cana-de-açúcar, em geral, não responde (ou reage muito pouco) à adubação nitrogenada no plantio. Um dos motivos devese ao fato da mineralização do nitrogênio du-
Pedro J. Christoffoleti
O nitrogênio (N) é um nutriente recomendado em baixas doses para a cana-planta, uma vez que a cultura, em geral, não responde (ou reage muito pouco) à adubação nitrogenada no plantio
As fontes mais comuns de adubos nitrogenados que apresentam boa eficiência são: ureia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, resíduos vegetais e animais, ficando a escolha do fertilizante em função do custo. É importante frisar que ao usar a ureia faz-se necessária a incorporação no solo, por se tratar de fonte de alto poder de volatilização, resultando em perdas do nutriente. Fósforo (P) O fósforo participa de vários processos metabólicos nas plantas, como a transferência de energia, síntese de ácidos nucléicos, glicose, respiração, síntese e estabilidade de membrana, ativação e desativação de enzimas, reações redox, metabolismos de carboidratos e fixação de N2. Contudo, a interação do P com constituintes do solo, sua ocorrência em formas orgânicas e a lenta taxa de difusão na solução do solo, tornam-no o nutriente menos prontamente disponível para as plantas. Em solos das áreas de expansão da canade-açúcar, o fósforo é o nutriente mais limi-
tante. Nestes casos, a cana-planta pode receber até 180kg P2O5/ha. A pesquisa científica tem indicado que toda a dose de fósforo necessária para cerca de cinco anos da cultura deve ser aplicada no sulco de plantio. As fontes mais utilizadas são superfosfato simples, superfosfato triplo, MAP, DAP, termofosfatos, multifosfato magnesiano, fosfatos naturais e resíduos. A torta de filtro também é importante resíduo da indústria sucroalcooleira utilizada como fertilizante fosfatado. Praticamente 50% do P da torta pode ser considerado como prontamente disponível. Potássio (K) A função do potássio consiste em atuar no metabolismo da cana-de-açúcar ativando várias enzimas. Além disso, exerce importante função na abertura e no fechamento dos estômatos e ainda está relacionado com a assimilação de gás carbônico e a fotofosforilação. O K também participa da estrutura celular, bem como da síntese e translocação de proteínas. Quando deficientes em K, as plantas
apresentam menor síntese de proteínas e acúmulo de compostos nitrogenados solúveis, como aminoácidos, amidas e nitrato. Assim, o adequado aproveitamento dos fertilizantes nitrogenados depende, também, de eficiente suprimento de K às plantas. Tem sido dito que o N é o mais importante nutriente das plantas para aumentar as produções, porém, o potássio é o mais expressivo em estabilizar as produções. A fonte de K mais empregada é o cloreto de potássio (KCl), em virtude da alta concentração do nutriente (60% de K2O a 62% de K2O) e ser solúvel em água, portanto, se houver umidade adequada no solo, este fertilizante se dissolverá na solução do solo, tornando-se prontamente absorvível pelas plantas. Atualmente, a aplicação de K é feita no fundo do sulco de plantio, a profundidades de aproximadamente 30cm a 40cm, juntamente com P e N em uma única aplicação, em quantidades que variam de 0kg/ha de K2O a 180kg/ha de K2O. Este tipo de adubação localizada (espaçamento de 1,40m a 1,50m) favorece a lixiviação do K e, em certos casos, pode causar excesso de salinidade para a germinação dos toletes. Além disso, a adubação com K na cana-planta é feita em período de chuva ainda bastante intenso. Após o plantio, o sistema radicular da cana é pouco desenvolvido e tem baixa capacidade de absorção, o que tende a levar a um baixo aproveitamento deste nutriente. O parcelamento da adubação potássica com doses elevadas (acima de 100kg/ha de K2O) pode diminuir as perdas por lixiviação e aumentar a eficiência do K aplicado. Sugerese a aplicação de doses maiores no início da cultura, seguidas de adubação em cobertura ou na “quebra do lombo”. Resultados de pesquisa, estudando a resposta da cana-planta ao parcelamento da adubação potássica com uso de cloreto de potássio (KCl) aplicado no sulco de plantio e
Figura 1 - Fotos de sintomas de deficiências nutricionais em cana-de-açúcar (Potafós)
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Deficiência de nitrogênio
Deficiência de fósforo
Deficiência de potássio
Deficiência de cálcio e de magnésio
Deficiência de cobre
Deficiência de zinco
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em cobertura, apontaram aumento da produção de colmos com a adoção desta prática. O parcelamento de 60kg/ha de K2O no sulco e 60kg/ha de K2O em cobertura incrementou em mais de 9% a produção de cana em comparação com K aplicado totalmente no sulco (120kg/ha de K2O). Nesta mesma pesquisa, verificou-se também que não houve diferença nos valores de porcentagem de pol (porcentagem, em peso, de sacarose aparente ou a soma algébrica dos desvios provocados no plano de polarização pelas substâncias opticamente ativas (açúcares), contidos nos produtos da usina (caldo), por leitura direta), ou seja, o parcelamento não afetou a qualidade da matéria-prima. A vinhaça é outro importante resíduo da indústria sucroalcooleira, muito utilizado como fertilizante. Neste caso, calcula-se a dose de vinhaça com base no seu teor de K, de tal forma que a necessidade da cultura pode ser suprida apenas por ela. Limitações de uso desse resíduo dizem respeito ao excesso aplicado na mesma área, que pode ocasionar forte lixiviação de ânions como nitrato, com potencial poluidor das águas subterrâneas. Como limitação econômica existe o custo de transporte do resíduo, o que torna menos onerosa a aplicação em áreas mais próximas às usinas. No
Tabela 1 - Recomendação da adubação para cana-planta Produtividade esperada t/ha <100 100-150 >150 Produtividade esperada t/ha <100 100-150 >150
Nitrogênio 0-6 N, kg/ha 30 30 30
180 180 -1
0-0,7
0,8-1,5
100 150 200
80 120 160
estado de São Paulo, o uso da vinhaça é regulado conforme normativa da CETESB, que leva em consideração os teores de K do solo e remoção pela cultura. Outro fertilizante utilizado é o sulfato de potássio. Micronutrientes (Cu e Zn) Principalmente nos solos de menor fertilidade, o cobre e o zinco são os micronutrientes mais limitantes para a cana-de-açúcar. Se for constatada deficiência de cobre ou de zinco, de acordo com a análise química do solo, aplicar estes nutrientes com a adubação de plantio, nas quantidades in-
P resina (mg/dm3) 7-15 16-40 ____ P2O5, kg/ha ____ 100 60 120 80 140 100 P resina (mg/dm3) 1,6-3,0 ___ K2O, kg/ha ___ 40 80 120 Cobre no solo mg/dm3 0-0,2 >0,2
Cu kg/ha 4 0
>40 40 60 80
3,1-6,0
>6,0
40 60 80
0 0 0
Zinco no solo mg/dm3 0-0,5 >0,5
Zn kg/ha 5 0
Fonte: Spironello et al. (1997).1 Não é provável obter a produtividade dessa classe, com teor muito baixo de P no solo.
dicadas na Tabela 1. Pulverizações com sulfato de Cu ou de Zn a 1%, neutralizados, C também podem ser utilizadas. Ivana Machado Fonseca Renato de Mello Prado Danilo Eduardo Rozane Genplant – Unesp
Cana-de-açúcar
Batalha vencida Zon eam en to agrícola par a-d e-açúcar n o Ri o Gr an de ddo o Sul permite oneam eamen ento paraa a can cana-d a-de-açúcar no Rio Gran and acesso ddee pr od utor es a políti cas públi cas com o fin an ci am en tos e segur os e prod odutor utores políticas públicas como finan anci ciam amen entos seguros abr o par xpan são ddaa cultur o, com in clusão ddee 216 abree caminh caminho paraa eexpan xpansão culturaa em solo gaúch gaúcho, inclusão muni cípi os n eas habilitad as ao cultivo unicípi cípios naa lista ddee ár áreas habilitadas
E
stá aprovado o zoneamento agrícola para a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) no Rio Grande do Sul. A portaria 54 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada em abril, no Diário Oficial da União, autoriza 216 municípios gaúchos a efetuarem o cultivo. Desse total, 182 foram considerados aptos ao plantio para produção de etanol e açúcar. Em outros 34 a autorização é exclusiva para outras finalidades, como alimentação animal, fabricação de aguardente e melado. Com a aprovação os agricultores dos municípios incluídos no zoneamento passam a ter acesso a políticas públicas oficiais, como financiamentos e seguros agrícolas. A notícia foi comemorada de maneira especial na região de São Luiz Gonzaga, no noroeste gaúcho, onde um grupo formado por empresários, industriais, técnicos e pro-
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dutores desenvolve um dos projetos mais ambiciosos de produção de cana-de-açúcar em escala comercial no estado. Até 2014 a meta é de atingir 18 mil hectares plantados com a cultura, produzir 100 milhões de litros de álcool por ano, além de gerar energia (30 megawatts por hora) através do aproveitamento do bagaço, em um investimento total estimado em R$ 320 milhões. A aprovação do zoneamento é a segunda batalha importante vencida pelo grupo, que comemora também a conclusão do processo de licenciamento junto à Fundação Ambiental Henrique Luiz Roessler (Fepam). “São vários os desafios, neste projeto pioneiro no Rio Grande do Sul para geração de álcool e energia elétrica”, comenta Cláudio Morari, diretor-presidente da Norobios, braço industrial do empreendimento, que engloba ainda a Canasul Participações (com 70 agricultores e fornecedores associados), o Grupo Rede Energia (com
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matriz em São Leopoldo e responsável por uma rede de 40 postos de combustíveis na região metropolitana de Porto Alegre), além da Sultepa, empresa que atua há mais de 50 anos no segmento de construção civil. Morari lembra que o zoneamento é fundamental para o agricultor custear a implantação da lavoura de cana. “O custo inicial é alto, em torno de R$ 3,2 mil por hectare. O zoneamento vai possibilitar a busca de crédito em bancos públicos, com financiamento diferenciado e prazo de pagamento de até cinco anos”, explica. A próxima batalha prevista é a de tentar sensibilizar o governo do estado para a aprovação de incentivos fiscais ao setor sucroalcoleiro. Em abril de 2011 o grupo pretende colocar em funcionamento a usina de beneficiamento de cana e para isso serão necessários pelo menos 6 mil hectares de cultivo para atender à demanda por matéria prima. “Na maioria dos outros estados brasileiros, onde já existem os canaviais implantados, a capacidade máxima de produção é atingida em dois anos. Aqui levaremos quatro anos”, projeta.
Fotos Gilvan Quevedo
TIPOS DE SOLOS
A
Portaria 54 relaciona os tipos de solo 1,2 e 3 como contemplados no zoneamento. Por solos tipo 1 se entende os de textura arenosa, com teor mínimo de 10% de argila e menor do que 15% ou com teor de argila igual ou maior do que 15%, nos quais a diferença entre o percentual de areia e de argila seja maior ou igual a 50. Nas características de solos tipo 2 se enquadram os de textura média, com teor mínimo de 15% de argila e menor do que 35% nos quais a diferença entre o percentual de areia e de argila seja menor que 50. Já como solos tipo 3 se enquadram os de textura argilosa, com teor de argila maior ou igual a 35%. Não se enquadram nas especificações de cultivo áreas de preservação obrigatória e locais com solos que apresentem profundidade inferior a 50cm ou muito pedregosos, onde calhaus e matações ocupem mais de 15% da massa e/ou da superfície do terreno. Entre os argumentos para convencer o governo estadual, com quem o grupo já mantém tratativas, está a meta de gerar 1,5 mil empregos diretos no empreendimento
e mais 500 vagas indiretas no período de obras. “Isso é muito importante para uma região carente de investimentos industriais e com problemas de má distribuição de chuvas, que afetam a produção de grãos e não são tão nocivos no caso do cultivo de cana”, defende Morari.
VITÓRIA DA PESQUISA O segmento de pesquisa também comemora a decisão. O pesquisador Sérgio dos Anjos, da Embrapa Clima Temperado, explica que desde 2007 a unidade executa pesquisas que serviram de subsídio para a elaboração do zoneamento da cultura. “A Portaria apresenta dados dos levantamentos realizados pela Embrapa Clima Temperado, Embrapa Informática Agropecuária (Campinas-SP) e Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ). A maioria das informações relacionadas às exigências hídricas e térmicas da cultura, à produtividade, o nível de tecnologia, as ofertas climáticas, os solos e ao relevo foram feitas com base nos resultados de pesquisa da Embrapa, em parceria com a Fepagro e a Emater”, orgulha-se. Anjos conta que em 1982 iniciaram-se as pesquisas com canade-açúcar na Embrapa Clima Temperado, através de incentivo do governo pelo projeto Pró-Álcool. “Em 2007, quando retomamos as pesquisas com cana, resgatamos esses
Cláudio Morari, da Norobios, comemora a aprovação do zoneamento
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Gilvan Quevedo
dados e demos continuidade aos trabalhos. Nessas pesquisas utilizamos novos genótipos, variedades e clones (224 materiais) e os resultados estão cada vez mais promissores”, salienta. O pesquisador acrescenta que os resultados obtidos pela unidade ao longo das safras agrícolas 2007/2009 foram positivos, mesmo com a adversidade climática (estiagem e frio) enfrentada pela cultura. Em breve a unidade pretende oferecer novas informações científicas. “Vamos avaliar os resultados dos 110 genótipos selecionados, em cinco regiões do Rio Grande do Sul (São Borja, São Luis, Porto Xavier, Salto do Jacuí e Pelotas). Os 40 melhores materiais provenientes desta avaliação farão parte do ensaio regional que será cultivado em 12 locais, considerando todas as regiões climáticas do Rio Grande do Sul, o que poderá trazer novidades em relação ao desempenho agronômico das cultivares e possível ampliação do número de municípios contemplados no zoneamento”, completa.
INVESTIMENTOS E AUMENTO DE DEMANDA A aprovação do zoneamento climático da cana-de-açúcar coincide com o anúncio de investimentos que movimentarão o segmento sucroalcoleiro no Rio Grande do Sul. Em abril a Braskem realizou o lançamento da pedra fundamental do Projeto de Polietileno Verde no Pólo Petroquímico de Triunfo. O evento simboliza o início das obras da primeira unidade industrial do mundo
Em 34 municípios produtores poderão cultivar cana em pequena escala, para atividades como produção de aguardente, melado e alimentação animal
a utilizar etanol de cana-de-açúcar para a produção em escala comercial de eteno e polietileno de origem 100% renovável. O investimento total será de aproximadamente R$ 500 milhões. O projeto prevê a construção de uma planta de eteno matéria-prima para o polietileno - a partir do etanol. A unidade terá capacidade para produzir 200 mil toneladas/ano de eteno, que serão transformadas em volume equivalente de polietileno em unidades industriais já existentes no próprio Polo de Triunfo. A partida da nova planta está previs-
ta para o quarto trimestre de 2010 e o início da operação comercial, para o começo de 2011. O PE Verde consumirá aproximadamente 470 milhões de litros de etanol/ano, volume que inicialmente será adquirido em outras regiões, transportado por cabotagem até o terminal Santa Clara, em Triunfo, e dali transferido para a fábrica por dutos. O projeto é parte dos investimentos da ordem de R$ 1 bilhão que a empresa pretende fazer no estado nos próximos três anos. C
O mapa do zoneamento Dos 216 municípios liberados para cultivar cana no Rio Grande do Sul, 182 se destinam à produção de açúcar e álcool, espalhados especialmente pelas regiões das Missões, Vales, Metropolitana, além dos litorais Norte e Sul. Outros 34 municípios, como Tavares, no Sul do estado, tem autorização exclusiva para produção com outros fins como aguardente, melado e alimentação animal • Porto Xavier conta com a Coopercana, única usina de álcool do estado • São Luiz Gonzaga abriga projeto da Norobios, para produção em larga escala
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Opinião
Conhecimento como solução O cr escim en to ddaa ddem em an da por crescim escimen ento eman and cad ais en tos cadaa vez m mais ais,, investim investimen entos
R
palavras, não teremos apenas que fazer mais, teremos que fazer melhor. Muito melhor. Do lado positivo, precisamos reconhecer que, se o desafio é enorme, as ferramentas hoje disponíveis são também muito melhores. Não só acumulamos experiência em disciplinas já tradicionalmente estabelecidas, como o melhoramento, a química e a fisiologia de plantas, mas evoluímos em novas áreas de conhecimento, como a biologia molecular e a biologia do desenvolvimento. Entendemos mais as plantas e, com isso, podemos utilizar melhor o seu potencial. A realização deste potencial, entretanto, depende de intensa atividade de pesquisa a ser sustentada nas próximas décadas. Hoje, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a média mundial de investimento na área de pesquisa gira em torno de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos países mais desenvolvidos essa Syngenta
ecentemente tive a oportunidade de participar de uma discussão sobre o futuro da agricultura. Confesso que, embora seja um pouco cético com esse tipo de exercício de futurismo, algumas conclusões daquele trabalho me causaram forte impacto. Explico: diversas estimativas apontam para crescimento populacional global de, aproximadamente, nove bilhões de pessoas em 2040. A partir desse número fizemos algumas projeções de demanda. Humanamente, assumimos que cada pessoa teria acesso a uma dieta minimamente adequada. Por adequada, definimos algo em torno de 450kg de grãos por pessoa ao ano, quatro vezes o consumo de países com problema de fome, mas metade do consumo de países industrializados, onde o excesso de calorias tem se tornado também problema de saúde pública, pelo lado da obesidade. Para projetar a oferta de alimentos, consideramos que a produtividade agrícola continuaria a crescer no mesmo ritmo dos últimos 30 anos, e que áreas consideradas aptas para agricultura seriam agregadas ao sistema produtivo, mas deixando de lado florestas e outros ecossistemas críticos. Feitas essas considerações, a conta não fechou. A produção ficaria aproximadamente 20% abaixo da necessidade. Indiferente a qualquer imprecisão, esse resultado assusta pelo fato de que nos últimos 30 anos a produtividade agrícola, produção por unidade de área, mais que dobrou. E isso foi atingido com recursos amplamente disponíveis e menores restrições ambientais. Esse aumento de produtividade terá que ocorrer em áreas menos aptas, com mais limitação na utilização de água e fertilizantes, além de extremo cuidado com o meio ambiente. Em outras
alim en tos n om un do eexi xi ge, alimen entos no mun und xig em pesquisa e tecn ologi tecnologi ologiaa média está entre 2,5% e 3%. Em contrapartida, nos países emergentes, justamente onde os maiores ganhos de produtividade são necessários, essa relação fica no preocupante intervalo de 0,5% e 1%. O Brasil tem sustentado um nível em torno de 1%. Isso reflete na pesquisa agrícola. Considerando sua importância, presente e futura, na produção de alimentos, esse número ainda deixa a desejar. Precisamos fazer mais. Não é mais uma questão apenas de competitividade, mas também de necessidade. A ciência precisa continuar avançando e ser transformada em tecnologia. Os novos patamares de produtividade virão da inovação gerada pela contínua combinação de disciplinas. Esse é o grande desafio de universidades, institutos de pesquisa e empresas que atuam na área agrícola. A solução, mais C uma vez, está no conhecimento. Glóverson Lamego Moro, Syngenta Seeds
SOBRE O AUTOR
G
Glóverson Moro vê no conhecimento a saída para aumentar os índices de produtividade
lóverson Lamego Moro é diretor da área de Pesquisa e Desenvolvimento para a América Latina da Syngenta Seeds. Engenheiro agrônomo formado pela Universidade de Viçosa (MG), possui mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas, também pela Universidade de Viçosa, PhD em Biologia Molecular, pela University of Arizona (EUA), e MBA em Administração, pela FGV. Entre os anos de 2003 e 2006 foi membro da CTNBio, representando a Indústria de Biotecnologia.
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Dirceu Gassen
Soja
Alerta vermelho
Períod o ch uvoso e colh eita pr ecoce em algum as rregiões egiões br asileir as ten dem a eríodo chuvoso colheita precoce algumas brasileir asileiras tend empurr ar o fun go causad or ddaa ferrug em asiáti ca par eas ddee ci clos médi o e tar di o. empurrar fung causador ferrugem asiática paraa ár áreas ciclos médio tardi dio. Com isso, pr od utor es pr ecisam se m an ter aten tos par en tar a ddoença oença prod odutor utores precisam man anter atentos paraa enfr enfren entar
A
estiagem no início da safra de soja, o vazio sanitário adotado pelos estados produtores e as aplicações de fungicidas na floração da soja conseguiram segurar a incidência da ferrugem asiática na
NO OESTE BAIANO
N
os municípios do oeste baiano as lavouras de soja mais tardias estão sofrendo severo ataque da ferrugem. Devido ao clima favorável durante quase toda a safra, com chuvas frequentes e acima da média da safra passada, a doença incidiu com força e poderá causar perdas de produtividade em diversas áreas. Em lavouras visitadas por pesquisadores da Embrapa no mês de abril, nas regiões de Luiz Eduardo Magalhães e São Desidério, estima-se redução de produtividade em torno de 10% devido à doença. Segundo agrônomos da Fundação Bahia, as aplicações de fungicidas foram feitas, na sua maioria, preventivamente ou quando localizados focos iniciais da doença, mas nunca com incidência generalizada na área. Por isso, atribuem a epidemia à alta população do fungo e rapidez de desenvolvimento da doença, associada à falta de cobertura total das plantas com o fungicida, que normalmente ocorre nas aplicações. Comprovando isso, verificaramse áreas com plantas que mostram o característico aspecto de desfolha nos terços inferior e médio, mantendo folhas apenas no terço superior. Áreas experimentais, com parcelas sem aplicação de fungicida, apresentavam plantas com completa desfolha ou apenas com folhas secas aderidas. (Rafael Soares, Embrapa Soja).
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safra 2008/2009. Mas é preciso atenção, a partir de agora, porque além das chuvas frequentes que favorecem a doença, a colheita precoce, em algumas regiões brasileiras, tende a empurrar o fungo causador da ferrugem para áreas de ciclos médio e tardio A pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, explica que algumas áreas colhidas já perderam o efeito residual dos fungicidas. No entanto, o fungo causador da doença
continua se multiplicando. Neste caso, os esporos do fungo, que são disseminados pelo vento, vão buscar novas plantas para se instalar. “Por isso, é importante monitorar a lavoura, mesmo depois de feita a primeira aplicação, nestas áreas, para definir se haverá necessidade de reaplicação e estabelecer qual intervalo a ser adotado”, alerta. De acordo com o Consórcio Antiferrugem, na safra 2008/2009 registraram-se 2.813 focos, distribuídos nas
Tabela 1 - Tipo de área Regiões com foco de ferrugem Comercial Unidade de alerta Formulação Ferrugem em Kudzu Soja voluntária 5 1 GO 243 4 1 MT 128 WP 2 1 PR 1516 SC 1 1 MS 227 SC MG 28 EC RO 9 SC MA 5 SL 3 3 RS 235 SL 1 BA 265 SL SP 15 SL SC 74 SC PI 2 CS TO 3 16 6 Brasil 2750 1
ensaio 1 5 5 4 2 3 3 1 1 25
Total 251 138 1530 233 32 9 7 244 272 15 76 2 4 2813
Tabela 2 - Estádio Regiões com foco de ferrugem GO MT PR MS MG RO MA RS BA SP SC PI TO Brasil
VC 1 1
V1 2 2
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V2 1 1
V3 4 2 6
Vn 3 13 1 1 6 7 31
R5 R1 R2 R3 R4 19 17 179 6 7 10 13 73 1 46 49 59 144 992 6 18 25 30 138 10 11 7 2 2 5 1 2 1 13 29 31 34 122 94 43 35 44 34 11 2 2 2 40 6 5 4 1 1 130 147 202 278 1669
R6 20 19 187 14 1 2 9 12 19 2 285
R7 3 11 31 1 2 1 1 50
R8 6 4 1 11
R9 -
Total 251 138 1530 233 32 9 7 244 272 15 76 2 4 2813
Tabela 3 - Mês de ocorrência Regiões com foco de ferrugem GO MT PR MS MG RO MA RS BA SP SC PI TO Brasil
Janeiro 153 67 132 131 21 1 23 64 4 4 600
Fevereiro 85 64 832 77 7 3 132 176 11 18 1 1406
Março 546 21 2 3 89 31 54 1 4 751
principais regiões produtoras de soja (Tabela 1). Deste total, 1.530 focos foram registrados somente no Paraná. Segundo a Embrapa Soja, esse número elevado justifica-se pela grande quantidade de laboratórios credenciados no sistema antiferrugem e também de profissionais vinculados que ficam à disposição dos produtores para detecção da ferrugem no estado. Dessa forma, o tempo entre a detecção e o lançamento dos dados no sistema é menor em relação a outras regiões do país, o que joga para cima as estatísticas paranaenses.
Abril 15 15
Maio -
Junho -
Julho -
Agosto -
O gerente-técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso Aprosoja (MT), Luiz Nery Ribas, demonstra preocupação com o aumento de focos, em decorrência das chuvas. “Estamos preocupados porque, no ano passado, as perdas foram maiores na soja de ciclos médio e tardio”, lembra. “É preciso redobrar o monitoramento da safra, apesar de muitos produtores já terem feito aplicações na floração da soja.” Em Goiás, apesar dos focos registrados, a severidade não é alarmante como em anos an-
Setembro -
Outubro -
Novembro 1 1
Dezembro 11 7 3 3 2 9 35
Total 251 138 1530 233 32 9 7 244 272 15 76 2 4 2813
Fonte: Consórcio Antiferrugem
teriores, informa o gerente de Pesquisa e Produção do CTPA, José Nunes Júnior, para quem este cenário é decorrente das condições climáticas que não favoreceram a doença. “Houve atraso nas chuvas”, explica. De acordo com Nunes, o sudoeste goiano está colhendo a soja precoce, mas ainda há muita soja de ciclos médio e tardio. “Portanto, a pressão do fungo sobre a soja deve ser grande agora. O produtor tem que estar atento e vigilanC te para evitar perdas”, recomenda.
Soja Luis Henrique Carregal
Guerra ao mofo Aum en to ddaa in ci dên ci ofo br an co em lavour as br asileir as ddee soja n as últim as safr as umen ento inci cidên dênci ciaa ddee m mo bran anco lavouras brasileir asileiras nas últimas safras ed ad en tos públi cos e privad os força cri ação ddee rred públicos privados os,, cujos criação edee ddee pesquisa, apoi apoiad adaa por segm segmen entos resultad os ddeverão everão embasar rrecom ecom en dações ddee m an ejo ddaa ddoença. oença. Ações in tegr ad as o esultados ecomen end man anejo integr tegrad adas as,, com como empr eg o ddee sem en tes sadi as otação e su cessão ddee cultur as ovas altern ativas empreg ego semen entes sadias as,, rrotação sucessão culturas as,, busca ddee n novas alternativas gi ci das disponíveis par tr ole quími co, além ddee atenção ao par en tar a gam paraa aum aumen entar gamaa ddee fun fungi gici cid paraa con contr trole químico, tr edi das n ecessári as par en tar o pr oblem espaçam en to en tr elinhas entar problem oblemaa entr trelinhas elinhas,, estão en entr tree as m medi edid necessári ecessárias paraa enfr enfren espaçamen ento
O
mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, é uma das doenças mais antigas da soja. Teve seu primeiro registro no Brasil em 1921, em São Paulo, na cultura da batata. Em 1954, foi detectado pela primeira vez em feijão, no Rio Grande do Sul. Nos anos de 1976 e 1977 foi detectado no estado do Paraná, em soja. Foi entre os anos de 1983 e 1985 que o mofo branco chegou à região do cerrado de Minas Gerais e Distrito Federal. A partir daí passou a ser observado, de forma esporádica e em baixa incidência, em lavouras de sequeiro, localizadas nas regiões produtoras de soja com altitudes mais elevadas (acima de 800m). Em Goiás, em safras anteriores a 2001, o mofo branco já ocorria de forma localizada e
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em pequenas reboleiras, infectando poucas plantas por hectare, consequentemente, não havia perda significativa que justificasse a preocupação dos produtores de soja para o controle dessa doença. A partir da safra 2003/2004 tornou-se grande problema em muitas lavouras de soja nas regiões Sudoeste, Leste e principalmente no entorno do Distrito Federal, que já apresentavam incidência elevada de mofo branco, com danos e perdas de até 40% de redução de produtividade. Nas últimas safras, o uso de sementes infectadas ou infestadas pelo patógeno, a monocultura da soja, a utilização de plantas hospedeiras em sucessão ou rotação de culturas e a falta de alternativas de cultura não hospedeira e economicamente rentável para utilização em rotação, acarretaram no aumento
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de inóculo do patógeno em muitas lavouras, proporcionando perdas significativas nas últimas safras. Nas regiões com altitudes superiores a 800 metros, onde as temperaturas noturnas são amenas e sob condições de alta umidade, tem sido comum se observar lavouras de soja com incidência da doença superior a 50%, ou seja, a cada 100 plantas avaliadas, 50 apresentam sintomas do mofo branco. Em áreas experimentais, naturalmente infestadas, tem-se observado incidência da doença acima de 70% e redução de produtividade acima de 30% (Figura 1). O fungo Sclerotinia sclerotiorum tem círculo de hospedeiros que abrange pelo menos 408 espécies de plantas. Seus danos manifestam-se com maior severidade em safras chuvosas, associadas à alta umidade relativa do
Figura 1 - Incidência de mofo branco e perdas médias de rendimento da soja em áreas experimentais da Universidade de Rio Verde (GO). Dados de perdas da safra 2008/09 ainda não disponíveis
cleródios), que lhe garantem sobrevivência por vários anos, mesmo em condições adversas, limitando a utilização de práticas como a rotação de culturas. Foram verificadas algumas áreas com alta infestação do solo por escleródios do fungo, sendo comum encontrar até 100 escleródios/m2. Desta forma, até que reduza o inóculo, essas áreas estarão impróprias para a rotação ou sucessão de culturas suscetíveis como feijão, algodão, girassol, canola, nabo forrageiro, tomate e ervilha. Preferencialmente, a rotação e a sucessão de culturas deverão ser feitas com gramíneas e a formação de palhada para cobertura do solo é altamente benéfica. Uma importante medida de controle reside no uso de sementes de boa qualidade sanitária, livres da presença de escleródios e in-
Figura 2 - A – apotécios de Sclerotinia sclerotiorum formados em escleródios sobre o solo (foto Murillo Lobo Júnior); B e C – lesões de mofo branco em haste de soja, com formação de micélio e escleródios; D – amarelecimento e necrose internerval (folha carijó) em folha de soja como sintoma reflexo do mofo branco; E – aspecto de uma lavoura com alta incidência de plantas mortas por mofo branco; F – plantas mortas por mofo branco Fotos Maurício Conrado Meyer
ar. A manutenção da umidade do solo é fundamental para o desenvolvimento da doença. Sclerotinia sclerotiorum pertence a um grupo de fungos habitantes do solo, que tem várias fontes de nutrição (polífagos) e causam podridão nos tecidos infectados (são necrotróficos). Alguns isolados podem diferir quanto à virulência, conferindo diferentes graus de severidade às plantas. Os apotécios (Figura 2A), resultado da germinação carpogênica de escleródios, são a maior fonte de inóculo do fungo, pois produzem grande quantidade de ascósporos que, ejetados, são facilmente transportados pelo vento e podem infectar plantas em um raio de 50m a 100m da fonte produtora. Para que a germinação carpogênica ocorra, os escleródios devem receber luz suficiente e temperaturas entre 10°C e 25°C, caso contrário, só ocorre a germinação miceliogênica, de potencial epidêmico muito mais reduzido. Uma das maneiras de se restringir a luz para os escleródios é através da cobertura do solo com palha. Bons resultados têm sido conseguidos com cobertura de Brachyaria ruziziensis. As plantas que têm seu sistema radicular atacado por S. sclerotiorum, exibem sintomas reflexos na parte aérea, caracterizados por amarelecimento e necrose internerval do limbo foliar (folha carijó). Os sintomas característicos da doença são necrose na haste (sintoma primário) e murcha seguida da seca das folhas (sintoma reflexo), enquanto os sinais são crescimento de micélio cotonoso e branco (mofo) na superfície dos tecidos lesionados e a presença de inúmeros escleródios pretos e grandes (Figura 2). O controle desse patógeno em diversas culturas tem sido difícil devido a sua capacidade de formar estruturas de resistência (es-
festação de micélio no tegumento. Também o tratamento de sementes com fungicidas recomendados deve ser realizado. Sementes isentas do patógeno e tratadas com fungicidas representam a garantia de se evitar a introdução do patógeno em áreas livres ou a reintrodução de isolados mais agressivos. O fungo pode ser disseminado de duas formas: a primeira pelos escleródios junto às sementes, onde o correto beneficiamento pode eliminar praticamente 100% desse inóculo; a segunda, através de micélio dormente no tegumento da semente. Neste caso, uma análise específica de patologia de sementes poderá detectar a presença do patógeno, e o tratamento de sementes com fungicidas apropriados deverá ser realizado, preferencialmente aqueles formulados em mistura de benzimidazóis com fungicidas de contato. O controle químico é viável e sua eficiência depende do acerto de doses, de ingredientes ativos, do momento da aplicação, do número e do intervalo de aplicações, além da tecnologia de aplicação utilizada. Experimentalmente foi observada a existência de fungicidas para pulverização da parte aérea, com boa eficiência de controle, que devem ser melhor estudados, pois ainda não possuem registro nem recomendação (Figura 3). De acordo com trabalhos de pesquisas recentes, melhor controle da doença tem sido verificado com os fungicidas à base de fluazinam, procimidona, iprodiona, fluopyram e dimoxistrobina + boscalid. Os fungicidas do grupo dos benzimidazóis (tiofanato metílico e carbendazim) também podem apresentar eficácia satisfatória de controle, sob pressão de inóculo moderada e condições ambientais desfavoráveis ao desenvolvimento da doença, mas em níveis inferiores quando comparados àqueles citados anteriormente. Por outro lado, são produtos de
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custo baixo e amplo espectro de ação, auxiliando também no controle de outras doenças da soja. Até o momento, apenas um fungicida (tiofanato-metílico) apresenta registro junto ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o controle do mofo branco na cultura da soja, no entanto, isso impossibilita a recomendação de um programa de aplicação mais efetivo. Outra preocupação é a utilização de um único princípio ativo, o que também pode aumentar o risco da perda de sensibilidade do fungo ao fungicida, inviabilizando-o no futuro. A maioria das infecções ocorre durante o estádio de florescimento porque os ascósporos utilizam as pétalas como fonte de nutriente para germinar quando há presença de água livre. Desta forma, as plantas devem estar protegidas por fungicidas de forma preventiva, principalmente entre os estádios R1 e R4. No dia 10 de março de 2009, a situação do mofo branco em soja foi discutida na 3ª Reunião Ordinária da Câmara Setorial da Soja, no Mapa, em Brasília (DF), com participação de representantes dos diversos setores envolvidos na cadeia produtiva da soja. Nesta reunião foi evidenciada a necessidade de registros de produtos para o controle de mofo branco na cultura da soja em caráter emergencial e a adoção de medidas de controle da doença através de política agrícola e legislação de defesa sanitária. Os recentes trabalhos de pesquisa conduzidos por diversas instituições têm verificado que o controle químico pode ser alternativa importante no manejo da doença, desde que adotado como medida complementar no manejo integrado do mofo branco. O controle biológico de S. sclerotiorum em soja, através da aplicação de agentes de bio-
controle, é viável e também necessita de mais estudos e normatização de produtos formulados para comercialização. Isolados de Trichoderma spp. são conhecidos há muito tempo como potencial agente biológico de controle de doenças, em muitas espécies de plantas, causadas por fungos fitopatogênicos habitantes do solo. Para efetivo controle biológico desses organismos, o crescimento de hifas de Trichoderma spp. diretamente no solo é importante para sua multiplicação e colonização dos escleródios de S. sclerotiorum. Para isso, a presença de palhada no solo também é importante para garantir as condições adequadas de temperatura, sombreamento e umidade para o estabelecimento desses agentes de biocontrole. Ainda não há nenhum produto registrado no Mapa para controle biológico de mofo branco em soja. Não existe disponibilidade de cultivares resistentes, mas o uso de cultivares de porte ereto, com pouco engalhamento e folhas pequenas, pode melhorar a aeração da cultura, dificultando o desenvolvimento da doença, além de facilitar a penetração de fungicidas pulverizados no dossel das plantas. Cultivares com períodos de florescimento mais curtos possibilitam menor predisposição das plantas à infecção. O desenvolvimento de cultivares resistentes ao mofo branco é possível, pois fontes de resistência já foram identificadas. A Embrapa já iniciou os trabalhos de hibridação e seleção de genótipos para resistência ao mofo branco, mas, devido ao tipo de herança da resistência, as demais medidas de manejo da doença deverão ser mantidas. Em várias regiões, tem sido comum a semeadura da soja com espaçamento entrelinhas de 45cm. Isso acarretará um fechamento entrelinhas mais rápido, ou seja, antes do final dos estádios vegetativos, proporcionando microclima favorável à germinação dos escleró-
dios que se encontram no solo, aumentando as chances da doença se iniciar antes que a planta emita as primeiras flores. Assim sendo, tem se verificado em trabalhos a campo que o menor espaçamento e a maior população de plantas por hectare favorecem a incidência e a severidade do mofo branco. Experimentos conduzidos pela Universidade de Rio Verde em uma área infestada evidenciaram que a utilização de população de 20 plantas por metro linear proporcionou 10,27% e 20,26% a mais de incidência e perdas, respectivamente, quando comparada com a população de 12 plantas. Limpeza de implementos agrícolas (outra forma importante de disseminação do fungo é através de escleródios, que podem ser levados por máquinas e implementos agrícolas infestados). Portanto, quando o produtor utilizar seus maquinários e implementos em áreas onde há histórico da doença, é importante que se realize a limpeza mesmo antes de começar suas atividades em áreas onde não foi observada a doença. Essa limpeza poderá ser feita utilizando apenas água sob pressão. Na safra 2008/09 foi iniciada uma série de experimentos de controle de mofo branco, em conjunto com várias instituições de pesquisa, nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e também no Distrito Federal. Esta ação resultou na formação de uma rede de pesquisa, apoiada pelos segmentos públicos e privados, cujos resultados deverão embasar as recomendações de C manejo da doença. Maurício Conrado Meyer, Embrapa Soja Hercules Diniz Campos Universidade de Rio Verde – Fesurv
Fotos Maurício Conrado Meyer
Figura 3 - Diferença de severidade de mofo branco em soja, entre parcelas não tratadas (esquerda) e tratadas (direita) com fungicidas
Testemunha sem fungicida
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Tratamento com fungicida
Informe
Novo controle do mofo em feijão O
mofo-branco, ou podridão de esclerotínia, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença muito difundida nas regiões produtoras de feijão, principalmente no plantio do outono-inverno, em áreas de pivôs centrais. Este fungo é muito agressivo do ponto de vista epidemiológico e a evolução da doença é muito rápida, o que nos permite dizer que ele possui rápido poder de devastação. As perdas no rendimento atingem em média 60%, podendo ser mais elevadas. Com a introdução da terceira época de plantio (feijão de inverno) na região Centro-Oeste e em outras regiões do país, a doença encontrou condições favoráveis para seu desenvolvimento, tornando-se um grave problema para os produtores de feijão. Os sintomas característicos da doença são lesões encharcadas que se espalham rapidamente para as folhas, hastes, ramos e vagens. Nos tecidos infectados surgem grandes quantidades de micélios cotonosos que lembram algodão (posteriormente estes micélios se transformam nas estruturas de sobrevivência, os escleródios). Para aumentar a gravidade do problema, na ausência de hospedeiro suscetível ou de condições climáticas favoráveis, a persistência dos escleródios no solo pode atingir até 12 anos. Tendo realizado testes para combater esta
doença, a BR3 Agrobiotecnologia fabrica o Fegatex, produto registrado para o controle do mofo-branco na cultura do feijoeiro. Conforme explica José Pedro de Castro, gerente comercial da BR3, “o Fegatex é um defensivo agrícola fungicida, bactericida e esporicida, com ação de choque, notadamente comprovada pela sua rápida inibição da evolução da doença, mostrando ser altamente eficaz para o controle deste patógeno. Por estas e outras qualidades, o Fegatex é muito importante nas diversas estratégias de manejo para o controle desta terrível doença que tira o sono de qualquer produtor”. Segundo Adriano Pimenta, coordenador Agro de PD&I da BR3, “Diversas situações práticas recomendam o uso do Fegatex no controle do mofo-branco: histórico de safras anteriores com registro de ocorrência da doença; floradas, pois as pétalas são excelentes substratos para a germinação dos ascósporos do patógeno (o Fegatex impede esta germinação); primeiros apotécios encontrados na lavoura (o Fegatex elimina estes apotécios); presença de micélio do fungo nas plantas (o Fegatex atua diretamente sobre a parede celular das hifas, secando-as, não deixando as perdas aumentarem); e o excesso de umidade do ar e do solo associado ao frio e sombreamento do
próprio fechamento da cultura”. De modo geral, para o manejo e controle de doenças recomendam-se aplicações de fungicidas que atuem em todo o ciclo da doença, inclusive nos esporos, que é o caso do Fegatex. Lembrando que o uso indevido de fungicidas pode resultar na seleção de fungos fitopatogênicos resistentes. Uma das maneiras de se evitar a resistência de fungos é utilizar fungicidas que circulam na planta alternando com os de contato, com ação erradicante, e fazendo uso de grupos químicos diferentes. O fungicida Fegatex faz parte de um grupo químico inédito na agricultura mundial, consequentemente passa a ser uma ótima alternativa para o manejo de controle de doenças de plantas. Além do registro para o controle de diversas doenças fúngicas, não podemos deixar de citar o Fegatex para o controle de bacterioses, onde possui registro para várias culturas. Uma delas é a mancha bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria) na cultura do tomate, que é uma doença de difícil controle, mas seu uso é aprovado por todos que o utilizam. A BR3 Agrobiotecnologia está contribuindo imensamente para a agricultura brasileira, disponibilizando ao mercado agrícola o produto Fegatex, Fungicida-Bactericida-EspoC ricida, com ação de choque.
Trigo Marco Antônio Lucini
Sem excessos
O aum en to ddo o núm er o ddee sem en tes utilizad as n o plan ti o ddee tri go, além ddee aumen ento númer ero semen entes utilizadas no planti tio trig elevar o custo ddee pr od ução, n em sempr od uz os rresultad esultad os ddesejad esejad os oduz esultados esejados os.. prod odução, nem sempree pr prod Devi do ao difer en te comportam en to ddee cad cipalm en te n o que Devid diferen ente comportamen ento cadaa cultivar cultivar,, prin principalm cipalmen ente no diz rrespeito espeito ao perfilham en to ddas as plan tas od utor pr ecisa levar em con ta perfilhamen ento plantas tas,, o pr prod odutor precisa conta o, ffator ator es com o a rregião egião ddee cultivo, o clim a, a no m om en to ddo o plan ti clima, planti tio, atores como mom omen ento ad ubação ee,, prin cipalm en te adubação principalm cipalmen ente te,, a escolha ddaa cultivar
A
cultura do trigo vem sendo utilizada como uma das principais alternativas para a semeadura durante o período de inverno, principalmente nos estados do Sul do Brasil, responsáveis por mais de 90% da produção nacional. O ciclo da cultura é mais curto em relação ao observado em outros países e a semeadura ocorre no inverno, como opção de rotação de culturas, o que favorece o plantio direto pela quantidade de palha que permanece no solo após a colheita, evitando a erosão. Nos últimos anos a produ-
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tividade brasileira foi a terceira que mais cresceu no mundo, em razão do uso de cultivares mais produtivas e de maior quantidade de insumos. A utilização de população de plantas adequadas à região de cultivo e a escolha da cultivar são algumas das técnicas culturais que mais influenciam a produtividade de grãos e seus componentes. Para as principais culturas agrícolas, em geral, existe recomendação oficial da pesquisa da melhor população a ser utilizada. No entanto, fatores como clima, época
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de semeadura, entre outros, podem causar modificações no crescimento das plantas, com resposta diferencial com a espécie, que vem a alterar a resposta em relação à população de plantas. No caso do trigo, onde a produção de grãos é representada, em grande parte, pela produção de perfilhos, as variações na população de plantas vêm a afetar diretamente o número de perfilhos. A emissão e a sobrevivência dos destes também dependem das condições de ambiente, da fertilidade do solo, adubação nitrogenada, época de semeadura e disponibili-
Jeferson Zagonel
Aspectos da lavoura em diferentes populações de plantas da cultivar BRS 208, em sistema de plantio direto, antes do início do perfilhamento. Ponta Grossa, PR, safra 2008
dade hídrica. Esses fatores, em conjunto com o potencial da cultivar de emitir perfilhos, influenciam o número de espigas por unidade de área, definindo assim a produtividade. A expressão máxima do potencial produtivo do trigo é obtida em populações que deixam as plantas com arquitetura que propicie maior interceptação e aproveitamento da radiação solar. A cultura do trigo apresenta uma faixa de população que garante produção elevada, dependente de vários fatores como a cultivar, a altura e a arquitetura das plantas. No Rio Grande do Sul, para cultivares de ciclo precoce, produtividades elevadas têm sido obtidas com 300 plantas/m-2 a 330 plantas/m-2. No Paraná, a densidade de plantas indicada é de 200 sementes viáveis/m-2 a 400 sementes viáveis/m-2, em função do ciclo, porte das cultivares e, algumas vezes, quanto aos tipos de clima e solo. O uso de populações de plantas abaixo da recomendada resulta na dependência da emissão de perfilhos para compensar o baixo estande inicial e/ou falhas na semeadura. Nesse caso, o número de perfilhos por planta aumenta, deixando-a com colmos de diferentes tamanhos e as espigas dos perfilhos produzidas após a espiga da planta-mãe. Altas populações de plantas resultam em diminuição do número de perfilhos, ficando a produção mais dependente das plantas-mãe. Nesse caso, desde a semeadura já é possível definir o número mínimo de espigas por área, um dos componentes que afetam diretamente a produtividade, o que pode ser vantajoso em anos de clima favorável. No entanto, ao se aumentar o número de plantas-mãe, com consequente diminuição do número de perfilhos,
a planta de trigo perde a capacidade compensatória de eliminar perfilhos em casos de clima não favorável, mantendo a lavoura com número de espigas por área superior ao que pode ser suprido pelas condições do meio. Isso pode resultar em danos na produtividade, uma vez que as espigas ficam de menor tamanho, com menor número de grãos e baixo peso, que também afetam a qualidade do produto colhido, um dos requisitos mais importantes na comercialização do trigo. Além disso, o uso de populações acima do recomendado resulta em plantas mais altas, devido ao maior número de plantas-mãe que ficam sujeitas ao acamamento (fator limitante da produtividade). Implica também em maior custo com a aquisição de sementes. No entanto, é grande a amplitude entre a maior e a menor população
recomendada, pois trabalhos realizados em Ponta Grossa (PR), mostram que variações de população entre 323 plantas/m-2 e 658 plantas/m-2 para a cultivar OR-1 e entre 259 plantas/m-2 e 441 plantas/m-2 para a cultivar Iapar-53 afetaram a produtividade do trigo, sendo em ambas as cultivares observado aumento do número de espigas com o crescimento da população de plantas. Para avaliar o efeito de diferentes populações de plantas em três cultivares de trigo muito utilizadas na região sul do Paraná (Safira, OR-1 e BRS-208) semeou-se de 150 sementes/m-2 a 900 sementes/m-2 em intervalos de 150 sementes/m-2. A variação da população causou modificações em características morfológicas, nos componentes da produção e na produtividade.
Gráfico 1
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Marco Antônio Lucini
ráveis (elevados índices de precipitação aliados à ocorrência de ventos). As cultivares BRS 208 e OR-1 são consideradas moderadamente resistente e resistente ao acamamento, respectivamente, fator que pode explicar o não acamamento das plantas, mesmo nas condições climáticas favoráveis, resultados que mostram a importância do uso da cultivar adequada para cada local de cultivo. O número de espigas/m-2 aumentou linearmente com o crescimento da população de plantas somente para a cultivar BRS 208, e massa de mil grãos diminuiu somente na cultivar OR-1. No caso da cultivar Safira, o número de espigas/m-2 e o peso de grãos não variaram com a população de plantas pelo efeito compensatório que ocorre entre os componentes da produção. A produtividade da cultivar OR-1 não foi afetada pelo aumento da população de plantas e a produtividade das cultivares BRS 208 e Safira mostrou resposta quadrática ao aumento da população de plantas, sendo as maiores produtividades observadas com 635 sementes/m-2 e 540 sementes/m-2, respectivamente, que corresponderam a 258 plantas/m-2 para a cultivar BRS 208 e 358 plantas/m-2 para a cultivar Safira. Essas populações de plantas (que estão de acordo com a recomendada para o trigo na região, de 200 sementes viáveis/m-2 a 400 sementes viáveis/ m-2) foram suficientes para garantir a máxima produtividade e mostraram ser desnecessário o uso de maior número de sementes para essas cultivares. A resposta obtida na produção de grãos do presente trabalho (Figura 1) está de acordo com resultados de vários autores, que descrevem a resposta à população de plan-
Altas populações de plantas podem resultar em diminuição do número de perfilhos
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Jeferson Zagonel e Eliana Fernandes, UEPG
Comparativo de população de plantas com a maior e a menor densidade de semeadura Jeferson Zagonel
Contando-se as plantas emergidas, observou-se que nenhuma das cultivares atingiu número de plantas superior a 600 plantas/m2 mesmo utilizando sementes de boa procedência e tratadas com inseticidas e fungicidas. Isso foi atribuído a problemas de vigor, germinação, competição intraespecífica, problemas de semeadura, entre outros fatores e é um alerta aos produtores que muitas vezes não observam essa baixa emergência das plantas em razão da capacidade do trigo em emitir perfilhos, compensando os espaços vazios deixados entre uma planta e outra e a baixa população inicial. Para as três cultivares o número de perfilhos por planta diminuiu com o aumento da população de plantas na fase de elongação do colmo, visto que em condições de altas populações o perfilhamento cessa antes no desenvolvimento das plantas, devido à severa redução da intensidade de radiação fotossinteticamente ativa nas camadas mais baixas dentro do dossel das plantas. Na fase de elongação do colmo e na antese o número de folhas por planta e a área foliar diminuíram linearmente com o aumento da população de plantas, provavelmente em razão da competição intraespecífica. Esse fator interferiu também na altura de plantas, visto que com o aumento na população, a altura média aumentou linearmente para as cultivares BRS- 208 e OR-1, atribuída à competição intraespecífica das plantas por luz incidente e a qualidade de luz no dossel. Destaca-se que a altura da planta é uma das características mais importantes no cultivo do trigo, principalmente por estar associada, na maioria das vezes, à resistência ao acamamento. Para a cultivar Safira o acamamento aumentou com o crescimento da população de plantas, mas não foi observado nas cultivares BRS 208 e OR-1, mesmo em condições favo-
tas em grãos por modelo de parábola, onde a produção de grãos e a maioria de seus componentes diminuem nas mais altas populações de plantas. Esse fato tem sido atribuído geralmente à alteração na distribuição de recursos para os órgãos de armazenamento devido à competição. Em razão da grande plasticidade das plantas de trigo, a produção de grãos em altas populações de plantas depende do desempenho de cada componente de produção. Em geral, a população de plantas escolhida objetiva a produção de uma cultura capaz de utilizar todos os recursos disponíveis, permitindo maximizar as taxas de crescimento durante as fases críticas. Entretanto, o uso precoce dos recursos disponíveis em altas populações de plantas pode não necessariamente maximizar a taxa de crescimento no momento crítico para a cultura. Então, o aumento do número de sementes utilizadas no plantio, além de elevar o custo de produção devido ao excesso de sementes, deve levar em consideração o grau de influência na produtividade de grãos. Os resultados obtidos nesse trabalho e de alguns disponíveis na literatura mostram que, independentemente da capacidade de perfilhamento, o aumento da população de plantas em trigo deve ser analisado cuidadosamente, aliado às demais técnicas de manejo, como adubação nitrogenada, manejo fitossanitário e, mesmo assim, a resposC ta ainda é dependente do clima.
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Trigo
Resultados maximizados
As con dições climáti cas são ddetermin etermin an tes par o tri go alcançar alto condições climáticas eterminan antes paraa a cultur culturaa ddo trig ren dim en to. PPorém, orém, o clim ge ddee ser o úni co aspecto a ser con si der ad o. A endim dimen ento. climaa está lon long único consi sid erad ado. cr escen te competitivi dad o setor tritícola eexi xi ge cad ais ddo o pr od utor a crescen escente competitivid adee ddo xig cadaa vez m mais prod odutor apli cação corr eta ddee tecn ologi a, conh ecim en to ddo o históri co ddas as ár eas ddee plan ti o e aplicação correta tecnologi ologia, conhecim ecimen ento histórico áreas planti tio en ad aci on al ddee ferr am en tas com o a ad ubação nitr og empr eg o rraci adubação nitrog ogen enad adaa empreg ego acion onal ferram amen entas como
O
interesse em maximizar a produção de trigo tem estimulado os produtores a adotar práticas intensivas de manejo da cultura. A obtenção de elevados rendimentos de trigo é uma necessidade em função dos altos custos de produção e da crescente competitividade a que todos os
produtores estão sujeitos. A expansão do sistema plantio direto tem possibilitado a gradual melhoria da qualidade do solo, que aliada ao aprimoramento das práticas de manejo, proporciona o incremento da produtividade do trigo. Também o suprimento adequado de nutrientes ao solo é imprescindível na busca
de altas produtividades, sendo o nitrogênio (N) um dos elementos mais limitantes. O conhecimento dos fatores que afetam a disponibilidade de N no solo é importante para avaliar a resposta à adubação nitrogenada. Na condução de uma lavoura de trigo, devem estar identificadas as condições que definem a Dirceu Gassen
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expressão do potencial produtivo. Isto permitirá o ajuste do modelo tecnológico, adequando-se as doses de N para cada situação.
DISPONIBILIDADE A adoção do sistema plantio direto provocou profundas mudanças nas condições que as plantas passaram a ser cultivadas. Na fase inicial de implantação do sistema, predominam os processos de imobilização de N no solo, tornando-se necessário o manejo adequado da adubação nitrogenada, com a utilização de maiores doses do nutriente. No decorrer das safras, com o emprego do sistema plantio direto, ocorre aumento nos conteúdos de matéria orgânica e do reservatório de N potencialmente mineralizável. Nesta fase, há restabelecimento do equilíbrio entre a imobilização/mineralização e observase maior liberação de N ao sistema, com menor resposta à adubação nitrogenada.
EFEITO No sistema de plantio direto, torna-se importante determinar a intensidade do processo de imobilização/mineralização do N no solo, a fim de aumentar a eficiência da adubação nitrogenada. O balanço entre mineralização e imobilização é controlado pela quantidade e qualidade dos resíduos culturais. A adição de resíduos ricos em nitrogênio possibilita aumentar a quantidade de N mineral no solo. A baixa concentração deste nutriente nos resíduos culturais, em relação ao C orgânico mineralizável, causa a imobilização do N no solo. Na realidade, o restabelecimento en-
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tre a imobilização/mineralização está intimamente ligado à sequência de culturas utilizadas. Como os microorganismos são mais eficientes que as plantas em absorver o N do solo, é comum verificar-se déficit inicial de nitrogênio. A utilização de trigo sob resteva de milho está mais sujeito a este balanço negativo de N. Wiethölter (2003), observou que o trigo produz, em doses de N de até 80kg/ha, cerca de 500kg/ha de grãos a mais quando é cultivado na resteva de soja. Com base nisto, há a necessidade de maior adubação nitrogenada de trigo sob resteva de milho, em pelo menos 20kg/ha do nutriente, comparado à resteva de soja. A recomendação de nitrogênio do trigo já contempla isto (Tabela 1). Entretanto, no sistema de rotação, quando o trigo for cultivado após milho (cuja colheita ocorre entre janeiro e fevereiro) o cultivo de nabo forrageiro e/ou de plantas de cobertura de verão (nesta entressafra, com o objetivo de se cobrir o solo, reciclar e/ ou fixar nutrientes) tem mostrado bons resultados. O efeito benéfico do nabo forrageiro possui correlação direta com a massa produzida, que em condições normais permite acumular de 3,0t/ha a 4,0t/ha de massa seca na parte aérea, em período de aproximadamente 90 dias. Os resultados de pesquisa desenvolvidos pela Fundacep na condição de Cruz Alta (RS), desde 1996, mostram efeitos positivos de até 600kg/ha no rendimento de grãos de trigo pelo uso do nabo intercalar. Estes benefícios são equivalentes à utilização de 30kg/ha a 35kg/ha de nitrogênio mineral.
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Tabela 1 - Recomendação de adubação nitrogenada para a cultura do trigo, RS/SC Teor de matéria Orgânica no solo % = 2,5 2,6 – 5,0 > 5,0
Cultura antecedente Soja Milho ---- kg de N/ha ---60 80 40 60 = 20 = 20
Para rendimento > 2,0t/ha, acrescentar 20 e 30kg/ha de N em trigo após soja e milho, respectivamente, por tonelada de grãos adicional a serem produzidos. Fonte: Comissão (2004)
RECOMENDAÇÃO Na adubação nitrogenada da cultura do trigo, as quantidades do fertilizante recomendadas variam, basicamente, em função do teor de matéria orgânica do solo, da cultura precedente e da expectativa de rendimento de grãos (Tabela 1). Convém ressaltar que as doses de nitrogênio constituem-se de valores de referência, e que a critério da assistência técnica devem ser adaptadas a cada situação de lavoura. Aplica-se entre 15-20kg N/ha na semeadura e o restante em cobertura, entre os estádios de perfilhamento e alongamento. No caso de resteva de milho e, especialmente quando há muita palha, convém antecipar a aplicação em cobertura. Para as doses mais elevadas, pode-se optar pelo fracionamento em duas aplicações: no início do perfilhamento e, o restante, no começo do alongamento. Na aplicação de nitrogênio em cobertura torna-se importante considerar ainda a umidade do solo, temperatura do ar e ocorrência de vento. Como o fertilizante é colocado na superfície do solo, só deverá ser aplicado quando o solo apresentar umidade suficiente para que seja dissolvido e transportado pela água para o interior do solo. Se, durante o perfilhamento até o final do alongamento, o solo não apresentar umidade suficiente, sugere-se suspender a aplicação, pois os efeitos do nitrogênio serão insignificantes. Em função das reações do fertilizante nitrogenado ao ser dissolvido pela água e das possíveis perdas de N por volatilização, sugere-se aplicar nas horas menos quentes do dia. Para propiciar distribuição uniforme a lanço, períodos com ventos fortes devem ser evitados. O comportamento de cada cultivar é resultado do seu perfil de resposta ao nitrogênio, associado, principalmente, a sua tolerância em suportar maiores doses sem ocorrência de acamamento. Nas mesmas condições, as cultivares de porte mais baixo, normalmente suportam maiores doses de nitrogênio, quando comparadas às de porte mais alto. Desta forma, as cultivares Fundacep 50 e 51 são consideradas altas e com moderada suscetibilidade ao acamamento. As cultivares Fundacep Raizes e Cristalino apresentam estatura de
Fotos Dirceu Gassen
planta média, sendo consideradas de moderada suscetibilidade a moderada resistência ao acamamento. A Fundacep Nova Era, apesar de estatura média, tem moderada resistência ao acamamento em virtude do seu colmo, relativamente mais forte quando comparado ao Raizes e Cristalino. Por outro lado, as cultivares Fundacep 52, 300 e Campo Real são de porte baixo, apresentando moderada resistência ao acamamento e permitindo maiores doses de N. É importante lembrar, também, que a época de semeadura pode interferir no grau de acamamento das cultivares. Semeaduras precoces, que estendem o período vegetativo da cultura, tendem a se refletir em aumento na estatura da planta e, por consequência, no acamamento. Em adição a isto, nas regiões de clima mais quente (noroeste do Rio Grande do Sul, Missões etc) observa-se a tendência de maior crescimento e, consequentemente, dos riscos de acamamento. Nestes locais, quando o trigo for antecedido pela soja, independentemente do teor de matéria orgânica do solo, recomenda-se restringir a aplicação de N a no máximo 40kg/ha (base + cobertura). No estado do Rio Grande do Sul existem diferenças significativas entre as regiões pro-
A quantidade de fertilizante recomendada no trigo varia em função do teor de matéria orgânica do solo, da cultura precedente e da expectativa de rendimento de grãos
dutoras com relação ao comportamento da cultura do trigo. Neste sentido é importante ajustar as doses de nitrogênio às condições que podem interferir positivamente ou negativamente no desenvolvimento e produtividade do trigo. Nas regiões frias e de maior altitude (Campos de Cima da Serra do RS) e quando o potencial de rendimento é elevado (> 4t/ ha), doses maiores que as indicadas na Tabela 1 podem ser empregadas. O comportamento da cultura do trigo tem sido variável nos diferentes anos agríco-
las e mostra uma relação direta com as condições climáticas na expressão de bons rendimentos de grãos de trigo. A caracterização do ano agrícola, com base nas previsões climáticas, constitui-se em ferramenta importante para estimar o nível tecnológico a ser adotado na condução da cultura do trigo e, com isto, definir uma recomendação da adubação nitrogenada mais racional. Jackson E. Fiorin Fundacep
Algodão
Altura controlada Per das ddee pr od utivi dad ali dad eju di cad culd ad es n or erd prod odutivi utivid adee, qu quali alid adee ddaa fibr fibraa pr preju ejudi dicad cadaa e difi dificuld culdad ades naa h hor oraa ddaa colh eita estão en tr oblem as causad os pelo eexxcesso ddee tam anh o ddas as plan tas ddee colheita entr tree os pr problem oblemas causados tamanh anho plantas alg od oeir o. A apli cação ddee rregulad egulad or es ddee cr escim en to se ddestaca estaca com o altern ativa algod odoeir oeiro. aplicação egulador ores crescim escimen ento como alternativa par elh or ar o equilíbri o en tr etativa e rrepr epr od utiva paraa m melh elhor orar equilíbrio entr tree as partes veg vegetativa eprod odutiva
P
or ser uma espécie com hábito de crescimento indeterminado, o algodoeiro, em condições adequadas de água e nutrientes, tem o incremento vegetativo favorecido. Em tais con-
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dições, verifica-se acentuada queda de botões florais, flores e frutos, além do apodrecimento de frutos, o que interfere negativamente na produtividade de fibras. A colheita de plantas com altura superior a
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1,30m é dificultada e a qualidade da fibra prejudicada, devido à presença de contaminantes. Com o objetivo de reduzir o crescimento das plantas e melhorar o equilíbrio entre as partes vegetativa e reproduti-
va, recomenda-se o uso de reguladores de crescimento. Reguladores de crescimento são substâncias sintéticas que, quando aplicadas nas plantas, reduzem a concentração de ácido giberélico. O ácido giberélico ou giberelina é o hormônio vegetal promotor da divisão e expansão celular. Com a aplicação desses reguladores, o crescimento é reduzido, resultando em plantas mais compactas. O manejo eficiente do algodoeiro requer monitoramento permanente de cada fase do crescimento e desenvolvimento das plantas, durante todo o ciclo. O crescimento do algodoeiro é mais intenso entre o aparecimento dos primeiros
botões florais (B1) até que, acima da flor mais alta, na haste principal, a planta apresente de quatro a cinco nós. A partir desta fase a demanda por fotoassimilados é muito alta, consequentemente, a planta tem a taxa de crescimento reduzida, isto se houver boa retenção de frutos nas primeiras posições. Os frutos competem por fotoassimilados com o crescimento vegetativo. A aplicação de reguladores de crescimento no algodoeiro é feita através de pulverizações foliares. A dose total a ser aplicada deve ser parcelada (sequencial), o que proporciona maior redução da altura das plantas. O momento da primeira aplicação é fundamental para que se tenha sucesso com a aplicação de regulador de crescimen-
to. Ela deve ser feita com base no crescimento das plantas. Para cultivares de crescimento inicial vigoroso e de porte alto, como BRS Cedro, BRS 269 e FMT 701, a primeira aplicação deve ser realizada quando as plantas atingirem 0,30m a 0,35 m; para cultivares de crescimento menos vigoroso, como BRS Araçá, Delta Opal, NuOpal e BRS 293, recomenda-se a primeira aplicação quando as plantas atingirem de 0,40m a 0,45m. As aplicações subsequentes devem ser feitas quando da retomada do crescimento, o que pode ser avaliado medindo-se o comprimento dos três últimos internódios da haste principal. Os reguladores de crescimento somente devem ser aplicados quando as condições ambientais forem favoráveis para o Fernando Mendes Lamas
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das regiões onde se cultiva o algodoeiro, a partir da segunda quinzena de abril verifica-se significativa redução da probabilidade de ocorrência de chuvas. Quando a semeadura for realizada mais tardiamente, as plantas sofrerão estresse hídrico, o que irá interferir negativamente no crescimento. Se a disponibilidade hídrica for adequada para o crescimento do algodoeiro cultivado no “sistema adensado” (0,45m), a quantidade total de regulador de crescimento a ser utilizada de forma a se obter plantas com altura entre 0,70m e 0,80m será significativamente maior do que no algodoeiro cultivado no sistema convencional (0,90m). Entretanto, a dose total vai depender da cultivar e da fertilidade do solo, considerando que água não será fator limitante para o crescimento das plantas. Não se deve utilizar cultivares de porte alto e ciclo longo quando se adota o “sistema adensado”, sendo recomendadas neste caso cultivares de porte baixo e ciclo curto. Não havendo nenhum fator limitante ao crescimento das plantas, a primeira aplicação de regulador de crescimento deve ser realizada quando atingirem entre 0,25m e 0,30m de altura. Com os conhecimentos atualmente disponíveis, considerando-se o porte e a arquitetura das cultivares disponíveis, o cultivo do algodoeiro no “sistema adensado” deve ser visto com muito cuidado, pois o limite entre o sucesso e o insucesso é extremamente estreito, inclusive no se refere ao manejo de reguladores de crescimento. Na Figura 2 podem ser observadas plantas já no momento da colheita, com porte bem menor que o desejável, em torno de 0,50m, o que reduziu significativamente o potencial produtivo. Independentemente do espaçamento entre fileiras, o momento adequado para a aplicação de reguladores de crescimento no algodoeiro é função direta do crescimento das plantas; assim, é indispensáC vel monitoramento criterioso. Fernando Mendes Lamas, Embrapa Agropecuária Oeste
crescimento vegetativo das plantas. Nunca aplicar regulador de crescimento quando as plantas estiverem sobre o efeito de estresse de qualquer natureza. Para o caso do algodoeiro cultivado no “sistema adensado”, antes de se comentar sobre reguladores de crescimento, são necessárias algumas observações: • este sistema ainda não é recomendado pela pesquisa, pois são necessários vários ajustes; • neste sistema, quando da colheita, as plantas devem estar com altura entre 0,70m e 0,80m; • considerando as cultivares atualmente em uso no Brasil, o manejo de reguladores de crescimento neste sistema é totalmente diferente daquele utilizado para o algodoeiro cultivado com 0,90m entre fileiras e com população de plantas entre 80 mil plantas ha-1 e 100 mil plantas ha-1; • no sistema adensado, a população de plantas varia entre 180 mil plantas ha-1 e 250 mil plantas ha-1. O algodoeiro possui padrão de crescimento que o distingue de outras espécies. Em trabalhos desenvolvidos com várias cultivares, em diversos locais, verifica-se que a altura das plantas aumenta com o espaçamento. Na Figura 1 pode ser observado o efeito de quatro espaçamentos entre fileiras sobre a altura das plantas da cultivar DeltaOpal, em Chapadão do Sul (MS), quando da colheita. A menor altura de plantas foi obtida no menor espaçamento entre fileiras (30cm). O padrão de crescimento do algodoeiro deve ser considerado para o manejo de reguladores de crescimento. Embora se verifique redução na altura das plantas com menor espaçamento entre fileiras, considerando-se as cultivares atualmente dispo-
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níveis para o “sistema adensado”, onde as plantas devem ter no máximo 0,80m quando da colheita, apenas o uso de reguladores de crescimento poderá não ser suficiente para obtenção de plantas com a altura desejável. A viabilidade do “sistema adensado” depende de vários ajustes, merecendo destaque especial cultivares com porte e arquitetura adequados para este “sistema”. No algodoeiro cultivado no “sistema adensado”, o número de ramos reprodutivos é significativamente menor do que no convencional (0,90m entre fileiras). Enquanto no sistema convencional o número de ramos reprodutivos de cada planta varia entre 16 e 21, no sistema adensado deve ser de cinco a sete ramos reprodutivos. Os reguladores de crescimento, além de reduzirem o comprimento dos internódios, diminuem também o número de nós. Assim, no “sistema adensado”, doses elevadas, visando menor altura de plantas, podem levar a um menor número de ramos reprodutivos e, por conseguinte, à diminuição da produção por unidade de área. Em resumo, o manejo de reguladores de crescimento para as cultivares atualmente disponíveis, quando no “sistema adensado”, é muito mais complexo, necessitando, por isso, de rigoroso monitoramento das plantas. No Brasil, o cultivo do algodoeiro adensado, na maioria dos casos, está sendo realizado em área onde anteriormente se cultivou soja. Portanto, a semeadura do algodoeiro é feita a partir do final de janeiro naquelas regiões onde a semeadura da soja se dá até o final da primeira quinzena de outubro e utiliza-se cultivares de ciclo precoce. Considerando-se a média histórica de precipitação pluviométrica
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Fernando Mendes Lamas
Figura 1 - Equação de regressão para altura de plantas da cultivar DeltaOpal, em função do espaçamento entre fileiras. Chapadão Sul (MS)
Algodão adensado (0,45m) no momento da colheita, em Mato Grosso do Sul
Café Charles Echer
Multifuncionais O uso ddee pr od utos com ação fertilizan te e pr otetor a, com oéo prod odutos fertilizante protetor otetora, como cultur asileir a. caso ddos os ffosfitos osfitos ci osfitos,, ganha importân importânci ciaa n naa agri agricultur culturaa br brasileir asileira. Con tu do, ain da se ffaz az n ecessári o o apr ofun dam en to ddee Contu tud aind necessári ecessário apro fund amen ento pesquisas acer ca ddo o uso rraci aci on al ddessa essa ferr am en ta, sobr etu do acerca acion onal ferram amen enta, sobretu etud cação no que diz rrespeito espeito à ddose ose e à época corr eta ddee apli correta aplicação
A
adubação via solo é a principal forma de fornecimento de nutrientes na agricultura. Não obstante, os primeiros relatos de aplicações foliares ocorreram por volta de 1844 e os fertilizantes foliares têm tido uso crescente em diversas culturas nos últimos 50 anos. A difusão desses fertilizantes devese à busca contínua de incremento da produtividade pelos agricultores. Em substituição a aplicações isoladas, com o objetivo de melhorar o estado nutricional da lavoura ou controle de determinadas doenças, atualmente uma pulverização foliar tende a ser realizada com propósitos múltiplos. Existe grande oferta de produtos tidos como multifuncionais que atuariam simultaneamente como fertilizantes e protetores de planta, sendo constituídos por nutrientes, ativadores de resistência, ativadores de crescimento e/ou substâncias antimicrobianas. No entanto, o uso racional desses produtos ainda carece de critérios definidos com base em pesquisa científica, pois sua eficiência agronômica muitas vezes não se confirma para diferentes combinações de ambientes, culturas e sistemas de manejo.
DIFERENÇAS ENTRE FOSFATOS E FOSFITOS Tanto os fosfatos quanto os fosfitos são compostos à base de fósforo (P), nutriente extremamente importante para os organismos vivos e que está envolvido em vários ciclos biológicos. Usualmente, os fosfatos são os compostos pelos quais o nutriente é suprido às plantas, tratando-se basicamente de produtos derivados do ácido ortofosfórico (H3PO4). Entretanto, em determinadas circunstâncias, tem-se usado o fosfito, uma forma de fosfato reduzido, com o intuito de aumentar a produtividade das culturas. Os fosfitos têm como precursor o ácido fosforoso (H3PO3), que apresenta átomo de hidrogênio no lugar de um dos átomos de oxigênio presentes nos fosfatos (Figura 1). Ao reagir com uma base, o ácido fosforoso origina o fosfito. Na reação com hidróxido de potássio (KOH), por exemplo, tem-se a formação do sal fosfito de potássio (Figura 2). Outros sais de fosfito estão disponíveis comercialmente, como fosfito de manganês, zinco, cobre etc. A indicação de um ou outro vai depender de cada região e deverá ser decidida em função de análise foliar realizada na plantação sob supervisão de técnico qualificado para tal.
INDUÇÃO DE RESISTÊNCIA POR FOSFITOS Na maioria dos resultados de pesquisa parece ocorrer ação direta (curativa)
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Efeito de fosfito no crescimento micelial (A) e na germinação (B) de P. costarricensis
do íon fosfito contra patógenos. Contudo, alguns autores acreditam que o fosfito também teria ação indireta (preventiva), induzindo respostas de defesa na planta. A indução de resistência por fosfitos em plantas tem sido bastante estudada com relação a diversos patossistemas, tais como antracnose, ferrugem e Phytophthora em feijoeiro, ferrugem e mancha-dePhoma em cafeeiro, míldio em alface e videira, podridões pós-colheita em maçãs, oídio em crucíferas, Phytophthora em eucalipto, dentre outros. As explicações para a indução de resistência por fosfito são pouco conhecidas. O fosfito, na forma de sal de potássio, parece ter o mesmo efeito que o Fosetil-Al ou Aliette?, fungicida bastante recomendado para o controle de oomicetos como Pythium spp. e Phytophthora spp. Este fungicida induz a produção de fitoalexinas, compostos de defesa de baixo peso molecular, em plantas de citrus. Fosfitos, além de induzirem fitoalexinas, provocam também a produção de proteínas de defesa em feijoeiro. Estudos vêm sendo realizados para se avaliar o uso de fosfitos na indução de resistência contra patógenos não somente em feijoeiro, como também em hortifruti e no cafeeiro. Em mudas de café, produtos contendo fosfito foram eficazes em induzir resistência contra Phoma costarricensis e Hemileia vastatrix, agentes da manchade-Phoma e da ferrugem, respectivamente. Essa indução de resistência foi confirmada pelo acúmulo de lignina e de fenóis solúveis, típicos compostos de defesa do cafeeiro. Também foram observados efeitos diretos de fosfito inibindo o crescimento micelial e o desenvolvimento do tubo germinativo de esporos de P. costarricensis.
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FOSFITOS NA CAFEICULTURA De acordo com as informações de rótulo dos produtos comerciais, a aplicação do fosfito, além de favorecer a prevenção e cura das enfermidades produzidas por fungos, está associada à melhoria do estado nutricional das plantas, sobretudo nos estádios de maior atividade metabólica, quando a aplicação do produto representaria fornecimento suplementar de nutrientes. Outros efeitos mencionados incluem o equilíbrio nutricional das plantas, melhor amadurecimento e qualidade de frutos, além de qualidade superior na pós-colheita, fato verificado em feijoeiro. No caso do cafeeiro, vários experimentos realizados no sul de Minas demonstraram a eficácia de produtos à base de fosfito em lavouras comerciais. Foram aplicados de quatro a cinco vezes por ano e proporcionaram redução significativa da ferrugem, cercosporiose e mancha-de-
Phoma em campo. No caso da manchade-Phoma e antracnose (Colletotrichum spp.), sugere-se que o fosfito seja aplicado desde a pré-floração e na fase de chumbinho, para que o efeito sobre essas doenças seja significativo. Para a ferrugem e a cercosporiose do cafeeiro, a aplicação de produtos à base de fosfitos também deve ser feita preventivamente, antes dos primeiros sinais da doença, a fim de que a planta tenha o tempo necessário de assimilá-lo e, a partir daí, desencadeie uma série de reações metabólicas que estão relacionadas à síntese de compostos (como as fitoalexinas citadas anteriormente), induzindo a planta contra a ação de tais patógenos. As doses recomendadas para o fosfito em cafeeiro variam de um litro/ha a três litros/ha, dependendo do produto comercial, devendo ser aplicadas via pulverização foliar. Fosfitos geralmente possuem preços competitivos em relação a fungicidas convencionais e, embora propiciem controle parcial de certas enfermidades, possuem ação de amplo espectro, ou seja, são efetivos contra ampla gama de fitopatógenos. Todavia, o bom posicionamento desses tipos de produtos deve ser fundamental para que se obtenha o sucesso esperado pelo seu uso. Dessa forma, a dose correta e a época ideal de aplicação têm sido o gargalo para que este objetivo possa ser alcançado, onde mais estudos têm sido realizados, a fim de repassar ao cafeicultor os ajustes necessários para que os fosfitos se tornem importantes aliados no manejo C de pragas e doenças do cafeeiro. Mário Lúcio Vilela de Resende e Luiz Henrique M. Fernandes, Ufla
Figura 1 – Interconversão das moléculas de fosfito e fosfato
Figura 2 – Formação de fosfito de potássio por reação do hidróxido de potássio com o ácido fosforoso
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Milho Charles Echer
Em equilíbrio TTan to xxcesso an to ee n utri en tes em avor ecer ogr esso ee anto quan anto nutri utrien entes podem avorecer progr ogresso an to oo eex eex cesso qu qu an to aa escassez escassez dde dde n utri en tes pod pod em ffavor ffavor avor ecer oo pr pr ogr esso dde dde anto quan anto nutri utrien entes podem avorecer progr ogresso ddoenças ar em tas edispostas en os oo tornar arem plantas predispostas patógen enos os. No oenças por por torn torn ar em as as plan plan tas pr pr edispostas aa infecções infecções por por patóg patóg en os N tornar arem plantas predispostas patógen enos os... N No dden ci am caso aa an tr acn ose aa por Colletotrich chum gramini aminicola evid enci ciam antr tracn acnose ose, causada ch um amini cola testes evi evi en ci am caso dda dda an tr acn ose causad por Colletotri Colletotrich chum gramini aminicola evid enci ciam antr tracn acnose ose,,, causad causada Colletotri ch um gr gr amini cola,, testes que ubação ad aa com ogêni oo ee potássi oo auxili aa n oo m an ejo, adubação equilibrad ada nitrogêni ogênio potássio auxilia no man anejo, que aa ad ad ubação equilibr equilibr ad com nitr nitr ogêni potássi auxili n m an ejo, já já que que adubação equilibrad ada nitrogêni ogênio potássio auxilia no man anejo, in terfer ee n oo aum en to oo in tervalo ee tempo tr ee oo iníci oo dda aa infecção interfer terfere no aumen ento intervalo entr tre início in terfer n aum en to ddo ddo in tervalo dde dde tempo en en tr iníci dda infecção pelo pelo interfer terfere no aumen ento intervalo entr tre início fun ggo, ecim en to os eir os tom as ação oo patóg en oo fung aparecim ecimen ento primeir eiros sintom tomas disseminação patógen eno fun o, oo apar apar ecim en to ddos ddos os prim prim eir os sin sin tom as ee aa dissemin dissemin ação ddo ddo patóg en fung aparecim ecimen ento primeir eiros sintom tomas disseminação patógen eno
A
incidência e a severidade de doenças na cultura do milho têm aumentado muito nos últimos anos, especialmente a partir da década de 90, devido a mudanças climáticas globais, a alterações no sistema de cultivo (plantio direto e cultivo irrigado), à extensão da época de plantio (safra e safrinha), à expansão da área cultivada para a região Centro-Oeste e, não raro, à ausência na rotação de culturas (substituída pela sucessão de culturas). Essas mudanças têm contribuído, acentuadamente, para a multiplicação e a preservação de inóculos de diversos patógenos (fungos, nematoides, bactérias, vírus e molicutes), bem como submetido a cultura do milho a condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento de um número expressivo de doenças, muitas delas antes consideradas de importância secundária para a cultura. A mancha branca (Pantoea ananas), o enfezamento pálido (espiroplasma), o enfezamento vermelho (fitoplasma), a helmintosporiose (Exserohilum turcicum), a antracnose foliar/colmo (Colletotrichum graminicola) e, recentemente, a cercosporiose (Cercospora zea-maydis e Cercospora sorghi f.sp. maydis) estão entre as principais doenças associadas à cultura do milho no Brasil. Especial destaque merece a antracnose, um dos mais graves problemas da cultura do milho em todo o mundo.
ANTRACNOSE Atualmente, a antracnose ocorre em todas as principais regiões produtoras do país, seja em cultivos de safrinha ou em plantios
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efetuados em períodos normais. A doença ganha importância, sobretudo nas áreas que adotam o sistema de plantio direto, em razão de ser o seu agente causal, Colletotrichum graminicola, um fungo necrotrófico (portanto, capaz de sobreviver em restos culturais). Essa doença pode se manifestar em qualquer parte da planta, como raiz, semente e, principalmente, colmo e folha. É capaz de reduzir o rendimento de grãos em até 40%, dependendo do híbrido utilizado, da fase de desenvolvimento da cultura e das condições ambientais onde está inserido o cultivo. A infecção de folhas de plântulas ocorre a partir de conídios produzidos em acérvulos sobre os restos de cultura, sendo a sua dispersão limitada a curtas distâncias. A disseminação de C. graminicola a longas distâncias se dá, principalmente, através de sementes contaminadas. A infecção do colmo, geralmente, se inicia pela deposição de conídios na base do colmo, provenientes de lesões esporulantes das folhas ou de restos culturais. A podridão do colmo por antracnose torna-se mais visível após o florescimento das plantas de milho, tende, inclusive, a provocar a morte prematura da planta e, consequentemente, o seu tombamento. A antracnose foliar pode estar presente no limbo foliar e na nervura central da folha, sendo favorecida por períodos de altas temperaturas e umidade relativa. Nos últimos anos, houve aumento significativo na incidência e na severidade dessa doença nas lavouras das principais regiões produtoras de milho, notadamente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Pau-
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lo, Paraná e Santa Catarina.
MANEJO Para o desenvolvimento do patógeno e o progresso da doença, são necessários: 1) a presença de patógeno capaz de infectar a planta; 2) cultivar suscetível ao patógeno; e 3) condições ambientais que favoreçam a multiplicação e a disseminação do patógeno. Os fatores ambientais, genéticos e biológicos influenciam a sanidade das plantas de milho, seja de forma direta ou através da interação entre eles. Nesse contexto, o Manejo Integrado de Doenças (MID) tem obtido espaço ao preconizar o uso de estratégias de controle mais eficientes e seguras do ponto de vista ambiental. No entanto, para que essas medidas possam ser adotadas de forma eficiente é preciso conhecer bem o patógeno e as suas relações com o hospedeiro e com o ambiente. A fertilidade dos solos e a nutrição mineral de plantas são fatores ambientais que podem ser facilmente manipulados e contribuir com o MID. O estado nutricional de uma planta está diretamente relacionado com a
Acérvulos - Esporulação de Colletotrichum graminicola
Fotos Diego de Oliveira Carvalho
resposta ao ataque de patógenos e a patogenicidade pode ser reduzida se a planta hospedeira não possuir os nutrientes necessários para o crescimento e o desenvolvimento. No entanto, tanto o excesso quanto a escassez de nutrientes podem favorecer o progresso das doenças por tornarem as plantas mais predispostas à infecção. O balanço dos nutrientes no solo consegue alterar a expressão dos sintomas típicos e também interferir de modo significativo na suscetibilidade das plantas às doenças, o que tende a refletir diretamente sobre o patógeno (sobrevivência, reprodução e desenvolvimento). A eficiência do controle das doenças do milho, causadas por diferentes patógenos, depende da adoção de um sistema de Manejo Integrado de Doenças, que envolva diferentes métodos de controle (legislativo, cultural, genético, físico, biológico e químico) que, em conjunto, resultam na redução ou eliminação dos danos à cultura. Nos últimos anos, uma série de estudos tem sido realizada pela equipe de fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo com o objetivo de avaliar a eficácia do controle químico sobre as doenças associadas à cultura do milho. Entretanto, até o momento nenhum produto químico foi registrado para o controle da antracnose. A exemplo do que se verificou com as avaliações acerca da influência do nitrogênio (N) e do potássio (K) sobre a severidade da antracnose foliar, os resultados obtidos pela Embrapa Milho e Sorgo novamente comprovaram a importância da adubação equilibrada como alternativa capaz de contribuir com
A podridão do colmo por antracnose torna-se mais visível após o florescimento das plantas
Uma nutrição equilibrada em K aumenta a resistência à penetração e à colonização de muitos patógenos e no caso da antracnose é capaz de retardar a multiplicação de C. graminicola
o MID, ao avaliar o período de incubação (PI) e o período latente (PL) de C. graminicola. Entende-se por Período de Incubação (PI) o intervalo de tempo decorrido desde o início da infecção pelo patógeno até o aparecimento dos primeiros sintomas da doença e, por Período Latente (PL), o intervalo de tempo entre o surgimento dos primeiros sintomas da doença e a esporulação/disseminação do patógeno. Estudos dessa natureza, acerca da biologia do patógeno, são de fundamental importância para o estabelecimento de estratégias mais eficientes para o controle da doença. No entanto, é importante ressaltar que, apesar dos resultados positivos, o uso de adubação equilibrada em N e K como medida de manejo da antracnose foliar do milho mostrou-se dependente do genótipo empregado. O PI e o PL do patógeno não apresentaram qualquer resposta às diferentes combinações entre as doses de nitrogênio e potássio quando a cultivar avaliada foi suscetível à antracnose foliar. Para essa cultivar, o PI variou de cinco dias a seis dias e o PL de nove dias a 9,25 dias. As doses de N e K também não influenciaram o período de incubação de C. graminicola na cultivar moderadamente resistente à doença, demonstrando que o PI não foi bom indicador para diferenciar os tratamentos com N e K, pois todos apresentaram sintomas iniciais da doença entre cinco dias e sete dias, sem diferir estatisticamente. Porém, as doses de K influenciaram significativamente o PL do patógeno quando a cultivar avaliada apresentava certo nível de resistência genética à doença. O incremento das doses de K fez aumentar o PL de nove dias para 11,25 dias (21,7%), ou seja, doses crescentes de potássio foram capazes de influenciar o desenvolvimento do patógeno, retardando sua multiplicação. A nutrição das plantas determina, em grande parte, sua resistência ou suscetibilida-
de às doenças, suas estruturas morfológicas, a capacidade dos tecidos em reduzir a atividade patogênica, bem como a virulência e a habilidade do patógeno em sobreviver. Os mecanismos de interação patógeno-hospedeiro-nutrientes não são completamente conhecidos, mas admite-se reduzir a severidade por aumentar a “tolerância”, facilitar a evasão e produzir resistência fisiológica às doenças, além de diminuir a virulência do patógeno. O aumento no PL do patógeno, decorrente do aumento das doses de K aplicadas e, por conseguinte, dos teores do elemento nas folhas, está relacionado com o papel do potássio nas mais diversas reações do metabolismo das plantas. Uma nutrição equilibrada em K é capaz de reduzir a incidência de doenças, principalmente por aumentar a resistência à penetração e à colonização de muitos patógenos. Em níveis adequados de K, podem ocorrer: aumento na rigidez dos tecidos, decorrente do aumento da espessura da cutícula e da parede celular, dificultando a penetração e o progresso da infecção e contribuindo para a redução do potencial de inóculo; menor acúmulo de compostos de baixo peso molecular (açúcares e aminoácidos), aumentando o teor de proteínas estruturais, enzimáticas e protetoras, além de estar relacionado com o acú-
Diego avaliou a nutrição equilibrada entre K e N nos mecanismos de resistência contra a antracnose
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mulo de substâncias que apresentam ação fungistática, como fenóis e fitoalexinas, ao redor dos sítios de infecção do patógeno, entre outros. Em síntese, a severidade de uma doença é diretamente proporcional ao número de propágulos infectantes (esporos) que entram em contato com o hospedeiro suscetível. Ao retardar a multiplicação de C.
graminicola em função do aumento no tempo decorrido entre o início da infecção e a esporulação (PL), espera-se que o incremento nas doses de potássio seja capaz de induzir menor número de ciclos do patógeno na lavoura e, consequentemente, menor severidade da antracnose foliar. Porém, é de suma importância o equilíbrio entre as doses de K e as doses ideais de N,
que podem influenciar outros mecanismos C de resistência. Diego de Oliveira Carvalho, Carlos Roberto Casela e Rodrigo Véras da Costa, Embrapa Milho e Sorgo César Oliveira Carvalho UFV
Gráfico 1 - Período Latente (dias) de Colletotrichum graminicolaem cultivar de milho moderadamente resistente (azul) e suscetível (vermelho)
Gráfico 2 - Período Latente (dias) de Colletotrichum graminicolaem cultivar de milho mode- Gráfico 3 - Período de Incubação (dias) de Colletotrichum graminicolaem cultivar de milho moderadamente resistente (azul) e suscetível (vermelho), em função de doses crescentes de K radamente resistente (azul) e suscetível (vermelho), em função de doses crescentes de K
Gráfico 4 - Período de Incubação (dias) de Colletotrichum graminicolaem cultivar de milho moderadamente resistente (azul) e suscetível (vermelho)
C
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Empresa Fotos Bayer
Lucro histórico Bayer an un ci en deu o m elh or rresultad esultad o anun unci ciaa que 2008 rren end melh elhor esultado desd dação ddo o grupo, há 146 an os fund anos esdee a fun
O
Grupo Bayer anunciou lucro histórico em 2008. A empresa atingiu 32,9 bilhões de euros em vendas, o que representa crescimento de 4,4% e o melhor desempenho da história desde sua fundação, há 146 anos. Com estes números, Horstfried Laepple, presidente da Bayer e porta-voz do grupo no Brasil, deu início à exposição dos resultados da empresa no último período. A divisão CropScience registrou vendas de 6,3 bilhões de euros, com crescimento de 13,9%, alavancado principalmente pela linha de fungicidas, que registrou alta de 23,2%. O faturamento total do segmento Crop Protection fechou em 5,34 bilhões de euros, 11,7% a mais do que no ano anterior e 16,4% superior excluindo-se os efeitos de câmbio e portfólio. Esse crescimento foi sentido em todas as regiões onde há divisão CropScience – Europa, América do Norte, América Latina e Ásia. Para Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience para a América Latina, o Brasil teve importante contribuição no resultado mundial, já que este ano o país passou a ser o primeiro mercado de agroquímicos do mundo, ultrapassando os Estados unidos. “A Bayer Cropscience soube aproveitar as oportunidades deste cenário e obteve desempenho extremamente positivo. Registramos em 2008 vendas de 1,8 bilhão de reais, o que significa crescimento de 37% se comparado com 2007 e 49% do faturamento total do Grupo Bayer no Brasil”, explica. Os números positivos da divisão Crop no
Brasil foram impulsionados também pelo lançamento de quatro produtos para as principais culturas em 2008: o herbicida Soberan, para controle de plantas daninhas em milho; os fungicidas Premier Plus e Sphere Max, para café; e as sementes de algodão Fibermax 910, adaptadas às regiões produtoras brasileiras, com características como maior produtividade e fibra de alta qualidade. Marc vê pela frente um cenário desafiador, que exige muita atenção com a atual conjuntura mundial. No entanto, acredita que as perspectivas para a agricultura no futuro são boas em razão do aumento da população, da crescente demanda por alimentos e da baixa nos estoques mundiais das principais commodities, o que ajuda a manter os preços em patamar interessante. Traçado este cenário, a empresa buscou alternativas para manter a lucratividade e manutenção da sua consolidação. Uma das alternativas é ampliar a estratégia de barter (uma forma de distribuição de
produtos que prevê a troca com os produtores). Como exemplo, o produtor pode pagar a fatura com parte da produção ou seu preço equivalente se na data do vencimento o produto estiver em baixa. Se estiver em alta, o cliente paga a conta em dinheiro e reserva a produção para vendê-la em condições mais favoráveis ao mercado. O produto recebido pela Bayer CropScience nessas negociações é direcionado ao mercado externo e comercializado via trader. “Com a troca, é possível minimizar o risco de mercado volátil, porque há a entrega do grão na época da colheita e, com isso, acreditamos que esta pode ser uma excelente ferramenta para o agricultor neste cenário complexo que estamos vivendo e uma solução que nós da Bayer Cropscience vamos oferecer” explica Marc. A Bayer anunciou também que vai manter seu investimento em pessoas, na modernização e ampliação do seu site produtivo em Belford Roxo. C
Marc Reichardt (em pé), presidente da Bayer CropScience para a América Latina, falou da contribuição do Brasil nos bons resultados
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Coluna ANPII
Ferramenta importante Pr od utos bi ológi cos o bactéri as fix ad or as ddo o Prod odutos biológi ológicos cos,, com como bactérias fixad ador oras nitr ogêni o em legumin osas eali dad nitrogêni ogênio leguminosas osas,, já são rreali ealid adee par paraa in cr em en tar a pr od utivi dad o Br asil incr crem emen entar prod odutivi utivid adee n no Brasil
A
produção agrícola teve enorme incremento com a “revolução verde”, a partir dos anos 1970. A introdução do melhoramento genético visando elevadas produtividades, o uso massivo de fertilizantes químicos e o emprego de produtos mais eficientes no controle de pragas e doenças trouxeram notável aumento no rendimento das principais culturas, em especial na de grãos, com contribuição de forma decisiva para a diminuição da fome do mundo. Entretanto, as coisas mudam e não há perenidade. Com o passar do tempo, vários problemas surgiram com o uso de produtos químicos. Os defensivos começaram a causar pro-
total ou parcialmente os produtos químicos e mesmo os que trabalham no ramo sabem que a substituição, ou seja, a eliminação de produtos químicos na agricultura, é utopia. Mas já existem exemplos de que é possível, em muitos casos, a substituição, pelo menos parcial. O uso de bactérias fixadoras do nitrogênio em leguminosas é o caso clássico e mostra o caminho para se obter elevadas produtividades trabalhando corretamente com microorganismos. Hoje se consegue elevada produtividade em soja tendo como única fonte de nitrogênio as bactérias do gênero Bradyrhizobium. Como se chegou a isto? Um longo caminho foi trilhado pelos pesqui-
da deixa de se beneficiar das vantagens da inoculação, desprezando um produto que só traz vantagens. Mas embora a soja seja a face mais visível da fixação biológica do nitrogênio, outras culturas tiram proveito deste processo. Para o feijoeiro já existem estirpes altamente eficientes e o uso de inoculante nesta cultura cresce de forma consistente. Agricultores que utilizam alta tecnologia em suas lavouras estão se beneficiando do insumo para aumentar seus rendimentos e para melhorar seus solos. O mesmo ocorre com o feijão caupi (feijão-de-corda), para o qual foram desenvolvidas estirpes eficientes e competitivas e a inoculação tem apresentado excelentes resultados.
A indústria química tenta se adaptar a estes novos tempos, desenvolvendo fertilizantes mais eficientes e defensivos menos agressivos ao homem e ao ambiente blemas ambientais e elevados resíduos nos alimentos; os fertilizantes químicos degradaram solos e lençóis freáticos, como o caso do nitrogênio. O efeito estufa e a grande quantidade de energia para obter os químicos também começaram a pesar no passivo ambiental. A indústria química tenta se adaptar a estes novos tempos, desenvolvendo fertilizantes mais eficientes e defensivos menos agressivos ao homem e ao ambiente. Em paralelo a isto, o uso de microorganismos com efeitos na nutrição de plantas e no controle biológico vem sendo incrementado, com pesquisas desenvolvidas em todo o mundo. A China tem planejamento para diminuir em 35% o uso de produtos químicos no prazo de cinco anos a dez anos. Muita gente ainda duvida que microorganismos possam substituir
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sadores e pela indústria de inoculantes, desde a seleção de estirpes mais eficientes até a produção de inoculantes de alta qualidade e adaptados às necessidades do agricultor. Inicialmente no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), posteriormente no Rio Grande do Sul e depois em algumas unidades da Embrapa, os trabalhos em busca de um sistema biológico eficaz, que aliasse a preservação do ambiente a elevadas produtividades, levaram ao atual patamar, onde possuímos bactérias de grande eficiência e um sistema de produção do insumo biológico que propicia produto de alta rentabilidade ao agricultor brasileiro. A soja já se beneficia largamente deste insumo, com seu uso por agricultores que desejam boa rentabilidade em suas lavouras. Infelizmente, uma parcela ainda não bem informa-
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Recentemente a Embrapa Agrobiologia reiniciou os trabalhos de seleção de bactérias para leguminosas utilizadas em adubação verde (crotalária, mucuna e outras), com o objetivo de dar ainda mais eficácia ao processo de rotação de culturas. Desta forma, se unirmos a agricultura sustentável, não agressiva ao homem e ao ambiente, a uma agricultura altamente produtiva, veremos que a fixação biológica do nitrogênio é uma das melhores ferramentas à disposição do agricultor. Aumentar cada vez mais a eficiência do processo é uma das bandeiras da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII). C Solon de Araújo, consultor-técnico e de marketing da ANPII
Coluna Agronegócios
Produtividade agrícola
O
crescimento da população mundial, que aumentará mais de três bilhões de pessoas nos próximos 40 anos (além da inclusão social de quase um milhão de famintos), exige ampliação dramática da produção de alimentos. A pressão pela proteção ambiental, associada aos efeitos negativos das Mudanças Climáticas Globais, impõe crescimento acelerado da produtividade, em contraposição à expansão de área. Considere-se o agravante de que a agricultura será cada vez mais pressionada para produzir - além de alimentos - energia, plantas ornamentais e medicinais, insumos para a indústria química, madeira, entre outros. A celeridade e a intensidade exigidas do processo não permitem atitude de laissez faire, deixando ao sabor das
dade e exige soluções já no médio prazo. Postos estes elementos, deve-se pensar em formas de oferta de produtos agrícolas para atender às duas principais vertentes da demanda alimentar (crescimento populacional e inserção social), que devem ser consentâneas com os requisitos de qualidade e inocuidade, sobre base dinâmica de mudança de hábitos alimentares, rumo à maior demanda de proteínas animais, frutas e hortaliças, e também de outros produtos da agropecuária. De acordo com a FAO a agropecuária ocupa 1,5 bilhão de hectares, 70% dos quais devotados à pecuária. Embora os estudos da FAO indiquem disponibilidade de área de terra arável para expansão equivalente à que está sendo cultivada, diversas restrições devem ser colo-
O FUTURO Projetando-se o longo prazo (2050), estima-se que haverá necessidade de expandir a produção mundial de alimentos em mais de 60%, porém, dificilmente, será possível incorporar, especificamente para a produção de alimentos, mais de 20% da área atual (cerca de 300 milhões de hectares), considerando que, paralelamente, também haverá pressão para aumento da área para outros produtos agrícolas. Neste caso, haverá necessidade de ganhos de produtividade superiores a 33%, o que exige ações imediatas para evitar as consequências alternativas, que seriam a oferta de alimentos inferior à demanda ou os impactos ambientais indesejáveis do avanço da fronteira agrícola. O Brasil, pelas suas vantagens comparativas e pela expecta-
Projetando -se o longo prazo (2050), estima-se que haverá necessidade de Projetando-se expandir a produção mundial de alimentos em mais de 60% pressões de mercado as mudanças necessárias, tornando-se imperiosas políticas públicas que impulsionem o agronegócio no rumo correto.
PANO DE FUNDO A população mundial é estimada em 6.864.607.631 de pessoas (5/5/09). As projeções do U.S. Census Bureau que coincidem com as da FAO e do Banco Mundial – indicam que, em 2030, a população deverá atingir 8,7 bilhões de pessoas e próximo a dez bilhões em 2050. A taxa atual de crescimento da população mundial é de 1,19% a.a. Entretanto, o maior crescimento populacional tem ocorrido nos países pobres e mais afetados pela fome, pois nos países ricos a população se encontra estabilizada ou com crescimento negativo. A ONU estima que, em 2008, aproximadamente 963 milhões de pessoas (11% da população do planeta) sofriam sérias restrições alimentares, estando esta população especialmente concentrada em países pobres. A sociedade global não mais aceita esta iniqui-
cadas, como: a) as terras mais férteis, de topografia mais adequada e melhor localizada, já foram ocupadas; b) porção considerável da área de expansão é considerada arável apenas mediante irrigação; c) grande parte da área de expansão encontra-se na África, com severas restrições para sua incorporação em larga escala ao sistema produtivo, nos próximos 30 anos; d) a sociedade mundial pressiona por políticas ambientalistas cada vez mais rígidas, o que deve se intensificar em função dos impactos das Mudanças Climáticas Globais. Na sociedade primitiva, extrativista, baseada na caça e coleta, eram necessários 20ha-100ha para alimentar uma pessoa, enquanto nos primórdios da agricultura (corte e queima) esta demanda foi reduzida em 90%. Os primeiros agricultores que utilizaram várzeas necessitavam entre 0,5ha1,5ha para alimentar um indivíduo. Atualmente, são necessários 0,22ha para alimentar cada uma das 6,7 bilhões de pessoas, e, nas áreas de mais alta tecnologia é possível alimentar uma pessoa com apenas 0,1ha.
tiva de que venha a ser o grande provedor de alimentos do mundo, deverá elevar sua produtividade muito acima da estimativa de 33%, para compensar ganhos menores em áreas onde a produtividade já é muito alta ou onde esse incremento será menor. É com este pano de fundo que o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), composto por profissionais de diferentes áreas, enlaçados pelo objetivo comum de incentivar a expansão da produtividade dessa cultura no Brasil, lança o seu programa no dia 20 de maio, em Goiânia, durante o Congresso Brasileiro de Soja, que tem como meta final auxiliar o sojicultor brasileiro a atingir a produtividade média de quatro mil kg/ha. As ações que compõem o programa estão disponíveis no site do Cesb para consulta e para adesão de todos os produtoC res interessados. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Soja sai na frente e safra 09/10 sinaliza crescimento no Brasil A fase crítica da crise internacional aparentemente passou e, nestas últimas semanas, surge uma boa notícia: o preço da soja disparou novamente em Chicago e superou com facilidade a marca dos US$ 10,00 por bushel, acima dos US$ 370 por tonelada, frente aos níveis de US$ 270 por tonelada, que atingiu entre setembro e outubro do ano passado. Com isso, desencadearam os negócios da safra 2009/10 no Brasil, com muitas transações com insumos para pagamento com soja. A oleaginosa sinaliza que em princípio haverá crescimento da área plantada entre 0,5 milhão de hectares a 1,0 milhão de hectares. Isso serve como forte apoio para as demais culturas, porque os bons preços de uma cultura normalmente refletem positivamente nas demais, como é o caso do milho, que vinha em queda e já mostra os primeiros movimentos de alta. O mesmo deve ocorrer com outros grãos que estão passando pela fase negativa, porém, voltando a dar sinais de reação, como é o caso do feijão e também do arroz, que deverão melhorar nas próximas semanas. Com boa demanda internacional de alimentos, existe forte apoio para a retomada dos negócios internacionais (que cresceram em abril).
MILHO Exportações favorecem reação interna
O mercado do milho esteve parado nas últimas semanas, sem mostrar espaço de alta ou baixa. O grão começou a indicar as primeiras reações em alguns estados do Sul e também do Sudeste do Brasil, sinal de que o apoio do governo via pregões de Pep e Pepro serviu para dar liquidez ao setor. Com isso, mesmo com baixo capital de giro das indústrias de ração para formar estoques, os indicativos começaram a dar os primeiros indícios de reação, porque as exportações estão a todo o vapor e as cotações nos portos cresceram, obrigando os compradores a pagarem mais no mercado interno. Há boas expectativas para o produto para este mês de maio, já que há perdas nas lavouras da safrinha do Paraná e em áreas tardias do Rio Grande do Sul, fortemente afetadas pela estiagem. Já no Centro-Oeste ainda existe muito tempo para que a produção esteja garantida. Os níveis praticados nos portos avançaram dos R$ 19,50 a R$ 20,00 a saca, para indicativos acima de R$ 21,00 a saca, e, podem ir além disso em maio.
em plena safra avançou em ritmo intenso porque houve grande aumento das exportações americanas, aliado a elevadas perdas na safra da Argentina, além dos prejuízos nas lavouras do Rio Grande do Sul. A situação força o mercado de Chicago para cima, ou seja, saiu dos US$ 9,00 a saca para a casa dos US$ 10,50 agora em abril. A oleaginosa mostra fôlego para níveis ainda maiores, já que o plantio nos EUA registrou atraso e há perdas na safra da China, o que serve como apelo positivo. Além de tudo isso, têm-se boas notícias internacionais sobre a crise, pois aparentemente a turbulência econômica está passando pelo fundo do poço e deverá começar a andar na linha positiva nestes próximos meses. FEIJÃO Fim de safra em abril
A colheita da segunda safra se encaminha para o final, junto a grandes perdas nas lavouras do Paraná e do Rio Grande do Sul, além do prejuízo causado pelo excesso de chuvas nos estados centrais. Desta forma, em poucas semanas começareSOJA mos a ver a oferta ser reduzida e as cotaCotações avançaram forte em abril ções voltarem a crescer. No momento obA soja teve forte alta em abril. Mesmo serva-se a oferta de produto afetado pelas
chuvas e de baixa qualidade, o que limita o crescimento das cotações. Há pouco plantio de lavouras da terceira safra irrigada. A expectativa, depois da fase negativa que o feijão passou desde janeiro, é de que na segunda quinzena de maio o mercado comece a mostrar as primeiras altas. ARROZ Estabilidade e aumento no consumo
A safra se encaminha para o fechamento da colheita, com recorde no Rio Grande do Sul e bons resultados em Santa Catarina e Tocantins. Já no Maranhão, que é o terceiro maior produtor nacional, as inundações promoveram grandes perdas. O mercado, por sua vez, mostra estabilidade nas cotações, fazendo com que os preços baixos no varejo desencadeiem aumento no consumo. Desta forma há chances de trazer apoio positivo ao arroz em casca nos próximos meses. Com os indicativos do Sul (que chegaram à casa dos R$ 20,00 no pico da baixa da safra passada), agora se encontra em níveis de R$ 26,00/R$ 27,00 e já dá os primeiros passos para crescer no Rio Grande do Sul. A safra deste ano deve ficar entre 500 mil toneladas e 800 mil toneladas abaixo do que irá ser consumido.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado andou lento no mês de abril, já que moinhos operavam em ritmo menor, com queda forte nas vendas das massas e biscoitos. Assim, as cotações do trigo estiveram entre R$ 510,00 e R$ 530,00 por tonelada no Paraná e abaixo dos R$ 480,00 no Rio Grande do Sul (estado que normalmente tem preços mais baixos que o Paraná devido à produção ser mais destinada à indústria que para a panificação). Há expectativa de avanço nas cotações em maio, porque os preços internacionais estão em alta com o produto dos EUA e Canadá, liquidando acima dos US$ 300 por tonelada nos moinhos brasileiros. Sem trigo na Argentina para comprarmos. ALGODÃO - As primeiras reações nas cotações em dólar no mercado internacional apareceram com indicativos de queda no novo plantio americano e também com problemas em lavouras da Ásia, que tem enfrentado a seca. Mesmo assim, o crescimento não foi suficiente para animar os produtores, que reduziram a safra deste ano. Com necessidade de pregões de apoio do governo para dar liquidez ao produto. EUA - A safra 09/10, em atraso, está em pleno plantio, o que irá manter as máquinas nos campos neste mês de maio e, desta forma, também concentrar o risco das plantações que podem ser afetadas por problemas climáticos. Há indicativos de queda na área plantada de milho. Já para a soja, projeta-se desde estabilidade até um leve crescimento na área de plantio. A estimativa do USDA é de crescimento de apenas 100 mil hectares, o que, para quem planta mais de 30 milhões de hectares com a oleaginosa, não é nada. Porém, a soja segue batendo recordes de exportação e derrubando os estoques americanos, o que refletirá nas cotações futuras e também trará reflexos nos indicativos desta safra
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na América do Sul. CHINA - O clima no país trouxe grandes perdas na safra de trigo do inverno e prejuízos já confirmados na safra de verão de soja e milho, o que deve beneficiar o mercado brasileiro. Com a redução da produção tanto em trigo como em milho, estimam-se novos ajustes negativos à frente e, desta forma, maior necessidade de importação. No caso da soja, das 16,8 milhões de toneladas colhidas no ano passado, o volume cairá para 15 milhões de toneladas (ou ainda abaixo), o que significa mais importações. Já o milho sinaliza queda e produção na faixa de 160 milhões de toneladas (ou abaixo das 170 milhões de toneladas, que serão consumidas neste novo ano). ARGENTINA - O clima foi duro com os produtores portenhos, que além de perderem boa parte da produção com a estiagem, ainda têm de entregar mais de um terço do que colhem para o governo. Grande parte do setor está com prejuízos neste ano e mesmo com as movimentações e greves realizadas, não houve grande avanço, porque o governo depende destes impostos e taxas cobrados na exportação de grãos do país. A safra da soja foi fortemente comprometida e a colheita deve ficar entre 37 milhões de toneladas e 39 milhões de toneladas, contra mais de 46,8 milhões de toneladas colhidas no ano passado. O milho, por sua vez, registra algo ao redor de 13 milhões de toneladas, frente às estimativas anteriores de mais de 20 milhões de toneladas. Já para o trigo, os indicativos são de apenas 8,4 milhões de toneladas, contra mais de 16 milhões de toneladas que deveriam ser colhidas. A situação mostra pouco produto para exportar e grande parte dos produtores descapitalizados para o novo plantio.