Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 121 • Junho 2009 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa Capa
Alerta amarelo................................22
Erley Melo Reis
Nova espécie de mancha amarela em trigo é identificada no Brasil. Pesquisadores suspeitam que azevém seja o hospedeiro principal do patógeno
Complexo spodoptera..............10 A importância da identificação correta para o manejo adequado de lagartas no algodoeiro
Radiografia da ferrugem...........26 Milho manchado.....................34 A atual situação da ferrugem asiática nas lavouras de soja brasileiras
Índice
Como combater a mancha de phaeosphaeria no cultivo de milho
Expediente
Diretas
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O avanço do arroz vermelho no RS
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Manejo correto do complexo spodoptera em algodão 10
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Coordenador de Redação
Janice Ebel
Variedades de trigo para o Sul
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• Design Gráfico e Diagramação
Variedades de trigo para o Cerrado
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• Revisão
Nova espécie de mancha amarela em trigo
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Expoarroz 2009
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Cristiano Ceia
Aline Partzsch de Almeida
GRÁFICA • Impressão
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Ferrugem em soja
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Lançamento do Cesb
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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000
3º Encontro Planfer/Irga
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Diretores Newton Peter e Schubert K. Peter
Mancha de phaeosphaeria em milho
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Mapeamento da cana
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Coluna ANPII
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Pedro Batistin Sedeli Feijó
CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
Ângela Oliveira Gonçalves
• Expedição
Dianferson Alves Edson Krause Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: • Redação: 3028.2060 (53) • Geral • Comercial: 3028.2000 3028.2065 3028.2066 • Assinaturas: 3028.2067 3028.2070
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Plantécnica
A Plantécnica, distribuidor Syngenta, participou da Exposição Internacional do Arroz (Expoarroz), em maio, em Pelotas (RS). A empresa apresentou aos produtores o portifólio de produtos da marca Syngenta, que volta a atuar forte nessa cultura. José Roberto Loi, representante da Plantécnica, destacou durante o evento o trabalho de conscientização dos produtores sobre o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Além disso, a distribuidora realiza cursos periódicos sobre o mesmo assunto.
Agromen
A Agromen Tecnologia reuniu em maio, no Hotel Laje de Pedra, em Canela (RS), produtores, gerentes de cooperativas e revendas, para o lançamento oficial do Herculex*I. Paulo Pinheiro, presidente da Agromen, destacou que esta tecnologia representa economia para o agricultor, pois reduz e pode até eliminar a necessidade de investimento em inseticidas. “É importante destacar ainda que as sementes com HerculexI mantêm as qualidades dos híbridos no que diz respeito à alta produtividade, à sanidade e à estabilidade de produção”, completa.
Paulo Pinheiro
Rumos do agronegócio
RiceTec
A RiceTec tem participado de vários eventos ligados à cultura do arroz no Rio Grande do Sul. Durante a Expoarroz, em Pelotas (RS), Markus Ritter, diretor regional do Mercosul, apresentou aos visitantes as novas tecnologias e serviços oferecidos pela empresa. Já na 19ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Cachoeirinha (RS), a RiceTec havia destacado os híbridos comerciais Avaxi CL, Sator CL, Inov e Apsa CL.
Durante o lançamento do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, traçou um perfil do atual momento do agronegócio e abordou as ações necessárias por parte das iniciativas pública e privada para que o país possa obter avanços consistentes na produção. Segundo Rodrigues, o que falta ao agronegócio brasileiro é uma maior articulação e interação entre as cadeias produtivas. “Somente a união entre os segmentos e o apoio alinhado dos setores público e privado poderão dar forças ao mercado Roberto Rodrigues brasileiro”, sentencia.
Comitê
Herculex I
A programação de lançamento do Herculex I, em Canela, no Rio Grande do Sul, contou também com um jantar de confraternização. Paulo Pinheiro e Mozart Fogaça recepcionaram os convidados.
Na solenidade de lançamento do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), Laércio Giampani, diretor-presidente da Syngenta, destacou a importância da iniciativa. “É inegável que todos os envolvidos neste projeto têm colocado seus talentos, ideias e conhecimento científico a serviço da construção de um futuro sustentável.” Giampani lembrou que a sustentabilidade pode ser definida como a busca pela maior produtividade possível, com maior grau de preservação da natureza, incluindo a preservação do solo,
Bandeira
Gtec
Durante jantar de lançamento do Cesb um grupo de consultores da Gtec MS veio prestigiar Otavio Vieira de Mello, que ficou em 3º lugar no concurso piloto de produtividade 2008.
Ademar Lima
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Laércio Giampani
“A soja é a nossa bandeira.” Com esse slogan a Syngenta participou do 5º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2009, em maio, em Goiânia (GO). Em seu estande foram apresentadas desde novidades em sementes até soluções de proteção de cultivos, como o Adante, com efeito fungicida e inseticida, além do bioativador Cruiser e dos inseticidas Engeo Pleno e Curyom. Marcelo Habe, gerente de Culturas, e Renato Seraphim, responsável pelo gerenciamento de Culturas e Soluções da Syngenta, destacaram o portfólio amplo, a importância da presença institucional da empresa no evento e a possibilidade de divulgar sua atuação na área de responsabilidade social, com apoio a projetos que visam à melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem tanto no campo como em Marcelo Habe e Renato Seraphim grandes centros urbanos.
Vencedor
Nufarm
Antonio Bohn é o vencedor do concurso do Pé de Soja Solteiro, realizado na cidade de Laguna Carapã, a 250km da capital Campo Grande (MS). Com um pé de soja com 7.410 vagens, Bohn faturou o prêmio de uma moto 125cc. O evento ocorre há 12 anos e foi idealizado para reunir os produtores para o encerramento da colheita.
A equipe da Nufarm representada por Paulo Moreno gerente de Projetos e Novos Produtos, Jeander Costa gerente de Marketing Regional Centro-Oeste, Christian Scherb gerente de Desenvolvimento de Produtos e Mercados, Edir Pfeifer, Fabrício Jardine e Furtunato Cabral, agrônomos de Desenvolvimento de Produtos e Mercados do Mato Grosso, Minas Gerais e Goáis, participou do V Congresso Brasileiro de Soja. Para Scherb o evento é uma das principais formas de atualização técnico-científica para o setor produtivo desta cultura.
Rigrantec
A Rigrantec apresentou no V Congresso Brasileiro de Soja sua linha de polímeros para tratamento de sementes de soja, PolySeed 70, PolySeed CF e ColorSeed. Também foi mostrada a linha Biotec, com o BioGain Alga para tratamento de sementes, BioGain Algamino para situações de estresse agudo e BioGain Florada para evitar abortamento de flores, melhorar a polinização e proporcionar uniformidade de florescimento.
Dow AgroSciences
A Dow AgroSciences participou do V Congresso Brasileiro de Soja. De acordo com Georlei Haddad, gerente de Serviços e Marketing, a ênfase foi para herbicidas, fungicidas e inseticidas voltados à cultura. No estande, técnicos estiveram à disposição para sanar dúvidas e apresentar benefíGeorlei Haddad cios do portfólio da empresa.
Basf
Cássio Marcelo Greghi, gerente de Marketing Brasil - Cultivos Extensivos da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf no Brasil, participou do 5º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2009, que aconteceu em Goiânia (GO) no período de 19 a 22 de maio.
FMC
A FMC apresentou o Manual de Pragas da Soja durante o V Congresso Brasileiro de Soja. A publicação conta com mais de 140 páginas , com fotos de postura, adultos, ninfas, larvas, pupas, sintomas de ataque e danos causados pelas pragas às lavouras. “O objetivo é que todos os profissionais envolvidos com essa cultura possam identificar os agendes causadores de prejuízos”, explica Henrique Moreira, autor do manual.
Henrique Moreira (dir.)
Belt
A Bayer CropScience acaba de lançar o inseticida Belt, produto que atua de forma seletiva no controle da lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), praga de difícil controle e que teve drástico aumento nas últimas safras. Segundo Sérgio Catalano, gerente de Produtos Inseticidas, o novo defensivo tem maior período de atuação, é seletivo a inimigos naturais polinizadores e possui modo de ação diferenciado, ideal para o manejo Sérgio Catalano de resistência de pragas.
Standak Top
Cassio Marcelo Greghi
Planfer
A Planfer, distribuidor que representa várias empresas do segmento de defensivos, esteve presente na primeira edição da Expoarroz. César Hax e José Paulo Machado dos Santos aproveitaram o evento para estreitar relaJosé Paulo Machado e César Hax cionamento com clientes.
A Basf apresentou o Standak Top para tratamento de sementes. Fungicida e inseticida em um único produto, controla fungos e pragas como lagarta elasmo, coró, torrãozinho, tamanduá-da-soja, vaquinhaverde-amarela e piolho de cobra. Érico Gasparini Cardoso, gerente de Tratamento de Sementes de Proteção de Cultivos da Basf, explica que o produto proporciona maior arranque, enraizamento e engalhamento da cultura, uma vez que agrega também os benefícios AgCelence.
Érico Gasparini
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Arroz
Levantamentos do Irga nas safras 2006/07 e 2007/08 mostram o avanço de populações de arroz vermelho em lavouras do Rio Grande do Sul. Entre os fatores que favoreceram o aumento estão o uso indevido do Sistema Clearfield como única alternativa de manejo, o emprego de grãos de arroz contaminado como sementes e aplicações de herbicidas e doses não recomendadas para a cultura
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duto final, das dificuldades de controle e do elevado grau de infestação das áreas cultivadas. O controle químico eficaz
do arroz vermelho não era possível com o uso de genótipos convencionais, por haver similaridade morfológica e
Dirceu Agostinetto
O
desenvolvimento do Sistema de Produção Clearfield ® (Basf, 2004) em arroz (Oryza sativa) cultivado proporcionou uma estratégia de manejo eficaz no controle seletivo de plantas daninhas, pelo uso de genótipos resistentes a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. O mecanismo de ação destes defensivos é a inibição da atividade das enzimas acetolactato sintase (ALS) na rota de síntese dos aminoácidos de cadeia ramificada valina, leucina e isoleucina. O principal propósito do uso de genótipos de arroz resistentes aos herbicidas se refere ao controle seletivo do arroz vermelho (O. sativa), que se destaca como a espécie daninha que causa maiores danos à cultura do arroz irrigado, em decorrência da redução da produtividade, da depreciação do pro-
A dificuldade no controle de arroz vermelho, através do controle químico, está na similaridade morfológica e fisiológica entre o arroz cultivado e a daninha
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Dirceu Gassen
trabalhos publicados sobre dispersão de pólen indica que as taxas de fecundação entre arroz cultivado e arroz-vermelho ocorrem em níveis inferiores a 1%. Entretanto, cabe ressaltar que pequenas taxas de fluxo gênico podem representar considerável aumento na frequência de indivíduos resistentes na população, em virtude do elevado grau de infestação das áreas cultivadas. Estudos demonstram que fluxo gênico na taxa de 0,008% originou 170 indivíduos resistentes de arroz vermelho por hectare. Considerados a ocorrência de falhas no controle (escapes) de arroz vermelho e o uso frequente de sementes contaminadas com grãos de arroz-vermelho pelos agricultores, em lavouras comerciais de arroz irrigado conduzidas sob o Sistema Clearfield ® de Produção, o Instituto Riograndense do Arroz (Irga) desenvolve trabalhos para avaliar a ocorrência de populações de arroz vermelho resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas no Rio Grande do Sul. Para a realização dos trabalhos utilizaram-se 228 e 320 populações de arroz vermelho provenientes de plantas não controladas (escapes) em lavouras comerciais da cultivar Irga 422CL com dois a três anos ou mais de cultivos consecutivos nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Cada população continha sementes de panículas de diversas plantas que ocorriam no local de coleta em questão e, neste caso, cada população pode conter mais de um biótipo de
Valmir Gaedke Menezes
fisiológica entre o arroz cultivado e a espécie daninha. Ao uso do Sistema Clearfield ® de Produção é atribuída parte do incremento de produtividade da lavoura de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul nos últimos anos, sendo que, até hoje, pode ser considerada a mais importante ferramenta oferecida aos produtores para controle químico do arroz-vermelho. Neste contexto, mesmo com a crise mundial no setor de alimentos, o Rio Grande do Sul assume papel de relevância como produtor de arroz. A cada ano está mais competitivo frente a países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai e mesmo perante outros estados brasileiros, como Mato Grosso e Santa Catarina. Atualmente, o estado gaúcho é responsável por cerca de 60% da produção do Brasil, com
área cultivada de aproximadamente 1.060.000 de hectares (desse total 500 mil hectares estão sob o Sistema Clearfield ® de Produção). Apesar de proporcionar grande vantagem para a cultura do arroz, a adoção de genótipos resistentes a herbicidas implica na observação de aspectos relacionados à seleção de populações de arroz-vermelho resistentes. Todas as populações de plantas daninhas, independentemente da aplicação de qualquer produto, provavelmente contêm plantas resistentes a herbicidas. Trabalho conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos (EUA) corrobora esta hipótese, demonstrando a existência de biótipos de arroz-vermelho tolerantes aos herbicidas imidazolinonas. Nesta ótica, fica evidente que o uso contínuo do Sistema Clearfield® de Produção nas áreas de arroz irrigado do Rio Grande do Sul pode favorecer o desenvolvimento de populações de arroz vermelho resistentes aos herbicidas imidazolinonas, devido ao uso repetido de herbicidas de um mesmo grupo ou pertencentes a diferentes grupos, mas com mesmo mecanismo de ação. Outro fato relevante que pode contribuir para a ocorrência de populações de arroz vermelho resistentes a herbicidas refere-se ao fluxo de genes entre arroz cultivado e arroz vermelho. A introdução de cultivares resistentes aos herbicidas imidazolinonas pode resultar na ocorrência de fluxo gênico para os genótipos de arroz silvestre. A maioria dos
Amostragem com arroz vermelho - fotointoxicação aos 28 dias
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Trabalho do Irga mostra presença de populações resistentes de arroz vermelho em todas as regiões produtoras do Rio Grande do Sul
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Passo 2 – Utilizar adequadamente os produtos registrados - Produtos registrados e recomendados para a cultura - Usar o adjuvante e a dose recomendados Cultivar
arroz vermelho. Os dados evidenciaram que 56% das amostras avaliadas no primeiro ano continham plantas de arroz vermelho resistentes ao herbicida imazapique (imidazolinona) + imazetapir (imidazolinona). No segundo ano de avaliação esse percentual saltou para 71% do número de amostras avaliadas. Também se observou que populações de arroz vermelho resistentes estão presentes em todas as regiões que cultivam arroz no estado. (ver mapas). As razões básicas para estes resultados tão elevados se devem principalmente ao uso indevido do Sistema Clearfield para o manejo de arroz vermelho. Dentre esses fatores estão o uso de grãos de arroz como sementes e contaminados com grãos de arroz vermelho, o emprego de mais de dois anos consecutivos do Sistema Clearfield na mesma área, a utilização da tecnologia como a única estratégia para o manejo desta planta daninha, não controle de escapes (plantas de arroz vermelho não controladas) e o uso de herbicidas e doses não recomendados para a cultura. Preocupados em preservar a principal ferramenta no manejo de arroz vermelho no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, instituições e/ou empresas como Irga, Epagri, Ricetec, Basf, Apassul e Acapsa lançaram a campanha “Todos unidos contra o arroz vermelho”. O trabalho inclui sete pontos fundamentais: Passo 1 – Uso de sementes certificadas - Sementes isentas de grãos de arroz vermelho - Garantia de sanidade e vigor - Poder germinativo maior que 90%
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- Aplicar o herbicida com as plantas de arroz vermelho com três-quatro folhas - Observar as condições para uma boa aplicação (clima e equipamentos) Passo 3 – Irrigar no estádio recomendado - Três-quatro folhas das plantas de arroz - Manter lâmina de água constante e altura compatível com o desenvolvimento da cultura Passo 4 – Controlar os escapes através da “barra química” ou catação manual Passo 5 – Rotacionar o Sistema Clearfield - Planejar o uso da tecnologia na propriedade - Utilizar no máximo por dois anos consecutivos na mesma área - Rotar sempre que possível com soja RR Passo 6 – Limpar máquinas, equipamentos, canais, drenos e estradas Passo 7 - Consultar sempre a assistência técnica C Valmir Gaedke Menezes, Irga
Algodão
Complexo spodoptera
A identificação equivocada de lagartas em lavouras algodoeiras tem causado falhas no manejo dessas pragas. Saber reconhecer detalhadamente cada espécie, seus hábitos de alimentação e comportamento é fundamental para o monitoramento do nível populacional, ferramenta que permite a tomada de decisão sobre a melhor estratégia e o momento de começar o controle
A
importância econômica de espécies do gênero Spodoptera tem crescido bastante na agricultura brasileira, com ataques severos que comprometem a produção de alimentos e fibras. Seus danos preocupam produtores e estudiosos da área. Frequentes confusões também têm ocorrido quanto à identificação de cada uma destas espécies, o que implica em manejos por vezes inadequados. Por exemplo, o uso de armadilhas com feromônios para monitoramento de S. frugiperda não detec-
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ta a presença de S. eridania ou S. cosmioides. Da mesma forma, há diferenças quanto ao comportamento, hábitos de alimentação e nicho ecológico ocupado pelas espécies, que interferem diretamente no manejo a ser utilizado. Uma mesma espécie, ao se alimentar de diferentes hospedeiros ou em diferentes condições climáticas, pode ter o comportamento e a biologia alterados. Nesse contexto é importante que o produtor conheça mais detalhadamente cada espécie e seus hábitos e, com base nessas informações,
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possa tomar decisões de controle quando necessário.
Spodoptera eridania
Essa espécie tem tido maior importância na soja e no algodão, mas possui como hospedeiros couve, cenoura, berinjela, pimenta, batata, bata-doce, tomate, melancia, ervilha, beterraba, abacate, citrus, amendoim, girassol. Produz quatro gerações por ano. O ciclo ovo-adulto é de aproximadamente 30 dias a 40 dias. Os ovos têm formato esférico, medem 0,45mm de diâmetro e têm coloração verde inicialmente, escurecendo com a proximidade da eclosão. São postos em camadas e cobertos com escamas do corpo da mariposa. O estágio embrionário dura de quatro a seis dias. As lagartas passam por seis instares e chegam a medir 35mm de comprimento. São verdes ou verde-enegrecidas com cabeça castanha ou castanha-avermelhada. Apresentam linha fina longitudinal e faixas laterais mais largas. Em cada lado, normalmente denota-se uma faixa amarelada ou esbranquiçada que é interrompida por um colar preto no primeiro segmento abdominal, embora em alguns casos este colar seja pouco aparente. Uma série de triângulos negros está usualmente presente na porção lateral do dorso ao longo do comprimento do corpo. São encontradas na porção inferior das folhas e se apresentam mais ativas à noite. A duração do estágio larval varia entre 14 dias e 20 dias.
As lagartas empupam no solo, enterradas de 5cm a 10cm da superfície. As pupas são de coloração marrom e medem 16mm a 18mm de comprimento. O período pupal varia entre 11 dias e 13 dias. As mariposas medem entre 33mm e 38mm e têm asas cinza e marrons, com marcas irregulares marrom-escuras e pretas. Embora com grande variação morfológica, alguns indivíduos apresentam mancha em forma de grão próxima ao centro das asas enquanto outros têm uma banda negra estendida do centro para a margem das asas. As asas posteriores são branco-opacas.
Spodoptera frugiperda
Conhecida como lagarta-do-cartucho tem grande importância na cultura do milho, mas possui vários hospedeiros, podendo destacar-se alfafa, algodão, amendoim, arroz, aveia, batata, batata-doce, cana-de-açúcar, hortaliças, trigo, soja, feijão, tomate, repolho, espinafre, abóbora, couve, girassol, sendo mais encontrada em gramíneas. O ciclo ovo-adulto desta espécie é de 33 dias a 48 dias, de acordo com o hospedeiro. Os ovos possuem coloração verde-clara passando a alaranjada com o desenvolvimento do embrião. São colocados em massa de 100 a 300 em camadas sobrepostas na parte superior das folhas. A fase de ovo tem duração de três dias a cinco dias, a 25ºC. As lagartas inicialmente são claras, se alteram para cor esverdeada e até preta.
Universidade da Florida
Luiz Roberto Neto da Paixão
Spodoptera eridania - Encontrada na porção inferior das folhas e bastante ativa à noite
Começam sua alimentação pela casca dos próprios ovos e depois raspam as folhas mais novas da planta. No final da fase, a larva chega a atingir 50mm de comprimento. Quando desenvolvidas, costuma-se encontrar apenas lagartas isoladas nas estruturas das plantas atacadas, devido ao canibalismo. O período larval varia de 12 dias a 30 dias dependendo do hospedeiro. Quando completamente desenvolvida, a lagarta penetra no solo, onde se transforma em pupa com aproximadamente 15mm de comprimento. Possui coloração avermelhada ou amarronzada. Esta fase dura em média dez dias a 12 dias. A mariposa de S. frugiperda apresenta asas anteriores com coloração pardo-escura ou branco-acinzentada, com pontos claros na região central de cada asa. Mede cerca de 35mm de comprimento. A longevidade do adulto varia entre sete dias e 12 dias. S. frugiperda apresenta período de pré-oviposição que varia entre três dias e cinco dias e período de oviposição entre seis dias e sete dias, dependendo da planta
Spodoptera frugiperda - Começa a alimentação pela casca dos seus ovos
hospedeira.
Spodoptera cosmioides
Essa espécie tem se destacado na cultura da soja e do algodão, mas pode ser encontrada nas culturas do pimentão, do tomateiro, da mamona, do feijão-caupi, do eucalipto, do abacaxizeiro, do arroz, da cebola, da mangueira, da berinjela, do girassol, entre outras. O ciclo total da S. cosmioides, de ovos até adulto, tem duração de 39 dias a 50 dias. Os ovos são colocados em forma de massa sob as folhas, são esféricos, frequentemente cobertos de escamas da mariposa e têm coloração que vai de cinza quase preto a marrom-escuro. O período embrionário tem duração de três dias a quatro dias. Ao eclodirem, as lagartas de S. cosmioides são de coloração marrom e a cabeça é preta. Inicialmente apresentam tom pardo-
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Alisson Gobbi
Spodoptera cosmioides - Inicialmente as lagartas são pardo-acinzentadas, com três listras longitudinais alaranjadas, uma dorsal e duas laterais, com pontos brancos
acinzentado, com três listras longitudinais alaranjadas, uma dorsal e duas laterais, com pontos brancos. Acima dos pontos brancos ocorrem triângulos pretos voltados para o dorso. Lagartas desenvolvidas são pardas e apresentam faixa mais escura entre o tórax e o abdome. Frequentemente no estágio de lagarta essa espécie pode ser confundida com a S. eridania. Apresenta seis ou sete instares. Quando completamente desenvolvida, a lagarta penetra no solo, onde se transforma em pupa. Possui coloração avermelhada ou amarronzada e tem duração 11 dias a 15 dias. Adultos de S. cosmioides apresentam as asas anteriores cinza-claro, mosqueadas longitudinalmente e margeadas por uma franja, enquanto as asas posteriores são de cor branco-pérola com franja. Quando criada em diferentes alimentos, S. cosmioides apresenta longevidade de adulto de dez dias a 15 dias.
Danos
As lagartas são desfolhadoras e se alimentam de modo gregário no início, para depois se tornarem solitárias, atacando também os frutos da soja, algodão e tomate. As lagartas das três espécies, quando recém-nascidas, permanecem agrupadas, raspando o parênquima das folhas, o que leva à necrose e à desfolha. À medida que crescem, se distribuem pelas plantas. No algodoeiro, S. cosmioides e S. eridania ocorrem a partir da fase inicial da emissão dos botões florais e durante o pleno florescimento. As lagartas de S.
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eridania se alimentam principalmente de folhas e brácteas, raspam a casca das maçãs e podem danificar botões florais. As lagartas de S. cosmioides são desfolhadoras, mas também perfuram botões florais e maçãs macias ao se alimentarem. As lagartas de S. frugiperda podem atacar plântulas de algodão, sendo confundidas com lagarta rosca, causando o mesmo efeito. Elas perfuram e destroem botões florais, flores e maçãs desenvolvidas. Além do algodão, na soja essas espécies também causam danos, quando dão preferência para as folhas, visto que só conseguem atacar as vagens a partir do terceiro instar, pois é quando suas mandíbulas estão mais desenvolvidas. Já no girassol, atacam somente as folhas. Normalmente precisam se alimentar de uma maior área foliar para completarem o seu ciclo.
Controle
A detecção de migrações de mariposas para o interior das culturas pode ser feita para S. frugiperda através do uso de armadilhas com feromônios específicos. Por esta técnica, utiliza-se uma armadilha para cada cinco hectares, dispondo-a um pouco acima da altura das plantas. Avaliações semanais são efetuadas e a captura de cinco ou mais mariposas por noite, por armadilha, indica a necessidade de controle químico. A cada 15 dias deve-se substituir os feromônios. O monitoramento de populações de lagartas pequenas (até o 3º instar) é impor-
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tante para a tomada de decisão de controle com inseticidas fisiológicos (reguladores de crescimento, inibidores da síntese de quitina) e biológicos (à base de Bacillus thuringiensis), que são mais eficientes sobre a forma jovem da praga. Existem, por outro lado, evidências de que as ureias substituídas (lufenuron, teflubenzuron, diflubenzuron) apresentam ação transovariana, ou seja, a contaminação das fêmeas adultas inviabilizaria os ovos. A resistência de plantas à Spodoptera via transgenia é outra alternativa e poderá em breve ser utilizada pelos produtores brasileiros, uma vez que um evento já foi liberado e está em fase de registro e produção de sementes. Este evento também apresentará resistência a outras lagartas, como curuquerê e rosada. Estas cultivares transgênicas contêm um ou mais genes de Bacillus thuringiensis que codificam para endotoxinas tóxicas a essas lagartas. Quando o preço de controle químico destas pragas excederem o custo da nova tecnologia, essa estratégia deve ser considerada. Importantes medidas de controle cultural se referem à semeadura concentrada e à destruição da soqueira. A semeadura concentrada de todas as áreas circunvizinhas de algodão em até 30 dias tende a inibir a migração de mariposas. A destruição de soqueira é prática indispensável para a supressão da população da praga no período de entressafra.
Controle biológico
Diversas vespas parasitoides estão associadas com lagartas desta espécie, como Cotesia sp., Campoletis fravicincta e Euplectrus sp. O principal parasitoide, no entanto, costuma ser Trichogramma sp. A liberação de Trichogramma sp. para o parasitismo de ovos de lagartas tem sido alternativa importante em áreas de algodoeiro. Para tanto, libera-se os parasitoides semanalmente no momento do aparecimento do inseto no campo, na quantidade de 100 mil ovos distribuídos em 15 pontos por hectare. Muitos predadores também atacam as lagartas, como percevejos pentatomídeos, tesourinhas e besouros Calosoma sp. Fungos entomopatógenos como Beauveria bassiana e Metarrizhium anisoplae e bactérias Bacillus thuringiensis infectam as lagartas quando as condições ambientais e de manejo de pragas são favoráveis a estes agentes de controle biológico. C José Ednilson Miranda Jullyana Rodrigues Siqueira Embrapa Algodão
Trigo
Momento de decisão É chegada a hora de escolher quais cultivares irão compor a lavoura de trigo. O produtor precisa estar atento às características de cada material e, principalmente, ao pacote tecnológico disponível em sua propriedade
A
pós a safra de soja e uma estiagem prolongada desde o verão até o outono, o plantio do trigo começa com certo atraso em algumas regiões do Sul do Brasil. Muitos agricultores ainda necessitam decidir sobre as culturas de inverno rapidamente. O momento é delicado para a agricultura em geral. No caso específico do trigo, há produto da safra passada nos armazéns e a comercialização do cereal está lenta e com preços em queda, abaixo do mínimo. Esse cenário compromete a competitividade de qualquer sistema agrícola a ser estabelecido e exige do agricultor orientação na escolha das cultivares mais adequadas às suas expectativas, em termos de custo/benefício. É necessário, mais do que nunca, na conjuntura atual, fazer a escolha certa, ajustando as despesas com o potencial de retorno que cada cultivar de trigo possui. Portanto, o rendimento de grãos e a liquidez de sua produção serão o resultado de uma equação complexa, composta pela escolha da cultivar ideal para as diversas situações em que cada agricultor está in-
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serido, e pelo pacote tecnológico disponível para cada cultivar de trigo. O objetivo deste artigo é mostrar alguns resultados de desempenho de cultivares de trigo da Embrapa disponíveis para cultivo na safra 2009, futuros lançamentos e sugestões para a tomada de decisão e posicionamento de cultivares. O programa de melhoramento genético da Embrapa vem gerando portfólio diversificado de cultivares de trigo para os diferentes níveis de tecnologia. A rede experimental de avaliação de genótipos de trigo está organizada para testar as novas linhagens da Embrapa e suas cultivares em todas as regiões tritícolas do Brasil, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No Rio Grande do Sul e Santa Catarina a Embrapa Trigo tem avaliado a performance de seu material genético através de ensaios de rendimento de grãos instalados em nove diferentes locais. Os materiais estão agrupados de acordo com a classe comercial, pão e brando, enquanto os ma-
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teriais tardios e de duplo propósito formam um terceiro grupo. Essa rede experimental tem como objetivo subsidiar os registros das linhagens de trigo no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), bem como posicionar os produtores quanto ao potencial de rendimento de grãos e a regionalização das cultivares originadas do programa de melhoramento da Embrapa Trigo. Os ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) Pão, Brando e Ensaio de cultivares conduzidos em 2008 eram compostos de linhagens e de variedades lançadas até o momento, como BRS Buriti, BRS Camboatá, BRS Guabiju, BRS Guamirim, BRS Louro, BRS Timbaúva, BRS 179, BRS Umbu e BRS 208, além de testemunhas. Os resultados mostram o elevado potencial de rendimento de grãos que as novas cultivares e linhagens podem atingir sob ótimas condições de manejo e tratos culturais, como foi o caso dos ensaios de avaliação de performance da Embrapa nos diversos locais. Destacamos produtividade máxima superior a 5,8t/ha de alguns genótipos e
Fotos Márcio Só e Silva
Na hora da escolha é preciso fazer o ajuste das despesas com o potencial de retorno que cada cultivar de trigo possui
média de rendimento de grãos de alguns locais superiores a 5t/ha, como foram os casos de São Borja, no Rio Grande do Sul, e Chapecó em Santa Catarina. De maneira geral, os ensaios de trigos brandos mostraram produtividade média semelhante aos seus pares da classe pão, 4.303kg/ ha contra 4.348kg/há, respectivamente. As cultivares BRS Guamirim, BRS Timbaúva, BRS Louro e BRS 208 mostraram comportamento estável entre os diversos locais avaliados com ampla adaptação às
diferentes regiões tritícolas do país. No grupo de materiais semitardios e de duplo propósito se destacaram a cultivar BRS Umbu e a linhagem PF 990423, altamente produtiva, lançada em 2008, como BRS 277, apresentando rendimento de grãos em Passo Fundo (RS) de 4.643kg/ ha e 4.238kg/ha, respectivamente. Entre as novidades do programa de melhoramento de trigo destacam-se as novas cultivares BRS 276 registrada em 2008 e BRS 296 registrada em 2009. Dois materiais posicionados na linha do custo/ benefício, com resistências múltiplas e excelente sanidade geral, com destaque para a resistência à ferrugem da folha e tolerância à giberela. Algumas dicas aos produtores quanto ao posicionamento de cultivares de trigo com disponibilidade significativa no mercado, nas classes C1, C2, S1 e S2:
BRS 179 - Cultivar de grãos moles, destinada para o mercado de mesclas. Possui farinha branca e é da classe brando. Tem bom tipo agronômico e potencial produtivo. É necessário tratá-la de forma preventiva contra ferrugem da folha, devido a sua suscetibilidade às novas raças prevalecentes nos últimos dois anos. Tem boa tolerância às manchas foliares. Devido a sua moderada suscetibilidade ao acamamento sugere-se reduzir em 10% a densidade de semeadura, planejando no máximo 300 plantas/m2, se o produtor deseja atingir o potencial da cultivar usando adubação mais pesada. Na região de Sananduva (RS), a indústria moageira tem mostrado interesse na aquisição da produção desta cultivar. Sua melhor performance no ensaio estadual de cultivares em 2008, em Passo Fundo, foi de 4.154kg/ha. BRS 208 - Cultivar da classe pão, está-
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foi média e apresentou produtividade de 2.694kg/ha, em Passo Fundo (RS). BRS Guabiju pode ser semeada no cedo para evitar oídio. A cultivar tem resistência de planta adulta para ferrugem da folha. Sugere-se aplicação preventiva de fungicida à giberela e monitoramento das manchas foliares. Essa cultivar deverá ter liquidez garantida nos moinhos que buscam “trigos fortes” para panificação. BRS Guamirim – Cultivar da classe pão, apresenta elevado peso do hectolitro e peso de mil sementes. Possui ciclo superprecoce, com excelente custo/benefício. No complexo de doenças possui boa tolerância às manchas foliares e à giberela, mas é suscetível ao oídio, portanto, sugere-se o tratamento de sementes com fungicida. Tem mostrado nas lavouras do Rio Grande do Sul e outros estados do país excelente potencial de produtividade, alcançando até 6t/ha em alguns casos, onde foi usada alta tecnologia. Responde bem à adubação nitrogenada, podendo-se utilizar doses superiores a 100kg/ha, sem haver acamamento. Sugere-se densidade de semeadura de 350 plantas/m2, pois essa cultivar possui alto poder de perfilhamento, sendo importante elevado número de espigas/m2 para atingir o potencial da cultivar. BRS Louro - Possui grãos moles e se enquadra na classe brando, sendo destinada a misturas com outros trigos fortes, além de ser clareadora de farinhas. Tem Márcio Só e Silva
vel no quesito qualidade industrial. Possui grãos vítreos e duros, além de figurar entre as mais plantadas no estado do Paraná na safra passada. Cultivar suscetível ao oídio e giberela, portanto, se sugere a semeadura no cedo dentro da época indicada. Tem excelente tolerância no complexo de manchas foliares e apresenta boa tolerância ao vírus do nanismo amarelo da cevada (Vnac). Seu melhor desempenho no ensaio VCU pão, onde figura como testemunha, foi de 5.363kg/ha na região das Missões, em Três de Maio (RS). BRS Buriti - Cultivar da classe brando com grãos vítreos e duros. Seu ciclo é precoce. Tem se comportado bem nas regiões mais quentes e possui boa tolerância ao vírus do nanismo amarelo da cevada (Vnac). Sugerimos sua semeadura no cedo, dentro da época indicada, reduzindo o risco de ocorrência de oídio, uma vez que é suscetível a essa doença. BRS Camboatá - Cultivar de grãos semiduros, pode se enquadrar tanto na classe pão quanto na classe brando, dependendo da região onde é cultivada. Nas regiões mais quentes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina mostra tendência ao aumento na força de glúten (W) enquadrando-se na classe pão, enquanto nas regiões mais frias há predisposição de apresentar força de glúten (W) intermediária em torno de 170 Joules (J). Tem excelente tipo agronômico e porte baixo, com alto potencial de produtividade, alcançando rendimento máximo nos ensaios de 5.905kg/ha, em Chapecó (SC). Por ser resistente ao oídio, o produtor pode economizar no tratamento de sementes, elegendo produtos mais baratos entre os indicados, ou mesmo em casos de necessidade de contenção de gastos, substituir o fungicida da semente pelo tratamento de inseticida na semente, pois é suscetível ao Vnac, transmitido por pulgões. Sugerimos que o produtor monitore as doenças foliares, já que essa cultivar é moderadamente resistente à ferrugem da folha e suscetível às manchas foliares. É possível “fechar a lavoura” com uma aplicação de fungicida por ocasião do espigamento, prevenindo a giberela. BRS Guabiju - Cultivar de grãos duros da classe pão ou melhorador, dependendo da região onde é cultivada. No ensaio estadual de cultivares no Rio Grande do Sul conduzido em Passo Fundo em 2007, apresentou os maiores valores de força de glúten do ensaio (W=250J) e em lavoura de produção de sementes conduzida em Coxilha (RS), apresentou-se como trigo melhorador, com 381J de força de glúten. Sua performance agronômica nos ensaios
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excelente potencial de rendimento e é muito semelhante ao BR 23 quanto ao manejo de doenças. Exige monitoramento de oídio e manchas foliares, seus pontos fracos. Em São Borja (RS), mostrou elevado potencial de produtividade no ensaio de VCU Brando em 2008, com 6.067kg/ ha, e em lavouras comerciais já apresentou rendimento de grãos superior a 80 sacos/ ha nos dois últimos anos. BRS Timbaúva - Tem grãos duros e varia entre a classe brando intermediário e pão, dependendo do local onde é cultivada. Trata-se de cultivar de excelente sanidade geral, tolerante às manchas foliares e resistente à ferrugem da folha, o que lhe confere melhor custo/benefício. O tratamento de sementes com produtos para controle de oídio e a semeadura no cedo podem eleger BRS Timbaúva uma das melhores opções de lavoura de baixo custo, com bom retorno econômico. Possui boa tolerância ao pulgão, vetor de transmissão do Vnac. Outras informações adicionais sobre as cultivares de trigo indicadas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, inclusive de outras empresas obtentoras, podem ser adquiridas nas “Informações técnicas para a safra 2009: trigo e triticale”, que estão disponíveis em versão on-line na página da Embrapa Trigo – www.cnpt. C embrapa.br. Márcio Só e Silva, Embrapa Trigo
Trigo
Com irrigação Novas cultivares estão à disposição dos triticultores da região do Cerrado brasileiro, responsável por elevadas produtividades em lavouras conduzidas sob pivô central
A
região tritícola do Cerrado do Brasil central coloca à disposição dos produtores, para a safra 2009 de trigo irrigado, uma diversidade de cultivares para atender à demanda, de acordo com as especificidades do mercado consumidor, clima e condições de solo. O programa de melhoramento genético de trigo da Embrapa Cerrados e da Embrapa Trigo tem lançado cultivares com maior produtividade e melhor qualidade industrial para a região. Através da rede de experimentos, instalados também no Brasil central, são indicadas anualmente aos triticultores as cultivares mais adequadas para cultivo irrigado (pivô central). As cultivares desenvolvidas pela Embrapa (que atualmente ocupam 95% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro) estão relacionadas, a seguir, por estado e tipo de solo.
Minas Gerais
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 400m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável estão indicadas as
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cultivares: BRS 264, Embrapa 22, BRS 207, BRS 210, BRS 254 e Embrapa 42.
Goiás e Distrito Federal
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 500m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável estão indicadas as cultivares: BRS 264, Embrapa 22, BRS 207, BRS 210, BRS 254 e Embrapa 42.
Bahia
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável estão indicadas as cultivares: BRS 2641, Embrapa 221, BRS 2101, BRS 2541 e Embrapa 421. 1 Indicada apenas para a região oeste do estado.
Mato Grosso
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável estão indicadas as cultivares: BRS 264, Embrapa 22, BRS 207, BRS 210, BRS 254 e Embrapa 42.
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BRS 254
É a cultivar de maior demanda pelos triticultores do Brasil central. Lançada em 2006, possui alto potencial produtivo e excelente qualidade industrial. Na safra passada (2008), foram observados rendimentos de até 6,5 toneladas de grãos por hectare (ha), em lavouras com boa fertilidade do solo, dos estados de Minas Gerais e Goiás. Para alcançar altas produtividades é indicada a utilização de redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível), na dose de 0,4l/ha. Por causa da tendência para acamamento, deve haver também limitação no uso de nitrogênio, caso não seja empregado o redutor de crescimento. A BRS 254 apresenta em média força geral do glúten (W) de 350 x 10-4J (obtido pela alveografia), sendo considerado trigo de glúten mais forte entre materiais indicados para o Brasil Central; apresenta estabilidade média de 20 minutos e rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de
Fotos Julio César Albrecht
62,2% (base 14% de umidade) em média. Tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto.
BRS 264
Também lançada em 2006, é a segunda cultivar de maior demanda pelos triticultores do Brasil central. Destaca-se ainda por ser a mais precoce para o cerrado. Seu ciclo da emergência à maturação é de 110 dias, enquanto as outras cultivares apresentam ciclo em torno de 120 dias. Conta com elevado potencial de produtividade, com rendimentos de grãos superiores a 7,2 toneladas por hectare (resultado da safra de 2008). No manejo da cultivar, também se deve utilizar o redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4l/ha. A BRS 264 é classificada como Trigo Pão, tem força geral do glúten (W) média de 250 X 10-4 Joules, variando de 220 Joules a 314 X 10-4 Joules e uma estabilidade média acima de 15 minutos. Apresenta rendimento industrial de 66,4% (base 14% de umidade) em média. Também tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto. Esta cultivar tem boa aceitação por parte da indústria moageira que produz farinha destinada à produção de macarrão, principalmente em função da
No Cerrado, a BRS 254 é a cultivar de maior demanda devido ao alto potencial produtivo e à excelente qualidade industrial
coloração da farinha.
Embrapa 22
É uma das cultivares mais antigas e está até hoje no mercado por suas excelentes características de qualidade industrial e
produtividade. Embrapa 22 é classificada como Trigo Melhorador, em média possui alta força de glúten (W) superior a 350 x 10-4 Joules e uma estabilidade acima de 16 minutos. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas
Fotos Julio César Albrecht
produção de grãos. Nas safras de 2007 e 2008 foram observados rendimentos de até 7,3t/ha, em lavouras com boa fertilidade do solo, localizadas nas regiões tritícolas de Goiás e Minas Gerais. BRS 207 é classificada como Trigo Pão. No entanto, os moinhos da região do Brasil Central classificam a cultivar BRS 207 como Trigo Brando. Sugerem utilizar a farinha originada dessa cultivar, preferencialmente, na fabricação de massas alimentícias (pela coloração da farinha), biscoitos, e bolachas. Das cultivares indicadas para o cerrado, é a que possui o ciclo da emergência à maturação mais longo, em torno de 127 dias. Possui grão de coloração clara e, por isto, não tolera chuvas na maturação e na colheita. Para ser colhida no período seco deve ser semeada no início da época indicada para semeadura. Tem alta tolerância ao acamamento.
BRS 210
regiões tritícolas do cerrado, é de 6.000kg/ ha de grãos. O uso de redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) também é indicado para esta cultivar na dose de 0,4l/ha, pois tem baixa tolerância ao acamamento e alta capacidade de perfilhamento. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio, se não for utilizado o redutor de crescimento.
Embrapa 42
Cultivar de excelente qualidade industrial e bom potencial de produtividade, aproximadamente 5.700kg/ha de grãos. Possui uma força do glúten (W) média de 300 x 10-4 Joules, estabilidade média de 15 minutos, considerado um trigo de glúten “balanceado”. Com essas características
a cultivar Embrapa 42 é classificada comercialmente como Trigo Melhorador. Cultivar com boa tolerância ao acamamento. Como tem menor capacidade de perfilhamento, deve ser cultivada com densidade maior de plantas do que as outras cultivares indicadas para o Brasil Central. Nos últimos anos tem mostrado grande suscetibilidade às doenças, especialmente manchas foliares.
Pouco utilizada pelos triticultores da região do cerrado, que têm dado preferência a outras cultivares indicadas. Possui bom potencial de produção e boa qualidade industrial, classificada como Trigo Pão. Em lavouras comerciais tem apresentado produtividade em torno de 5.500kg/ha de grãos. Quanto às doenças, não tem demonstrado bom desempenho, principalmente com relação à brusone (Magnaporthe grisea). Tem alta tolerância C ao acamamento.
BRS 207
Julio César Albrecht, Uma das principais características da Embrapa Cerrados cultivar BRS 207 é o seu alto potencial de Tabela 1 - Cultivares de trigo irrigado da Embrapa indicadas para o Brasil Central, estados onde são indicadas, ciclo, altura, reação ao acamamento e classe comercial Cultivar BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 264 Embrapa 22 Embrapa 42
Estado MG, GO, DF MG, GO, DF MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA
Ciclo Médio Médio Precoce Precoce Precoce Precoce
Altura Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa
Acamamento1 R MR MR MR MR R
Classe Pão Pão Melhorador Pão Melhorador Melhorador
1 R = Resistente; MR = Moderadamente resistente.
Tabela 2 - Cultivares de trigo da Embrapa indicadas para o Brasil Central, com sua reação ao crestamento e às doenças fúngicas Cultivar
Albrecht apresenta as cultivares de trigo de 2009
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BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 264 Embrapa 22 Embrapa 42
Crestamento MS MS S MS MS MS
Oídio S MR S AS AS S
Ferrugem Folha S MR S S S S
Colmo R S S S
Helmintosporiose
Brusone
MS S MS S S S
S S S S S S
Obs.: AS = Altamente suscetível; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível; MR = Moderadamente resistente; R = resistente; - = Sem informação.
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Trigo
Rastro amarelo
Nova espécie de Drechslera, causadora da mancha amarela no trigo, acaba de ser constatada no Brasil. Estudos preliminares, na Universidade de Passo Fundo (RS), indicam que provavelmente se trate de Drechslera sicans, que tem como principal hospedeiro o azevém, planta perenizada na maioria das regiões tritícolas do país e que serviria como multiplicador do inóculo na entressafra. Pesquisadores temem que fungicidas e doses, comumente aplicados para o combate de D. tritici-repentis, não tenham o mesmo efeito sobre o novo patógeno
A
mancha amarela do trigo tem esta denominação devido ao halo amarelo, bem definido e característico, deixado em volta da lesão. A doença também é conhecida como mancha bronzeada por causa da coloração parda, resultante da necrose ocorrida no centro do tecido atacado. Esta doença tem aumentado em importância nos últimos anos, em cultivos de trigo no Brasil e, hoje, é considerada a mancha foliar predominante. O aumento da incidência está relacionado com o manejo das lavouras. O patógeno Drechslera tritici-repentis é um fungo necrotrófico, que sobrevive em restos culturais e, com o crescimento da adoção do sistema de semeadura direta, crescem também a incidência e a severidade desta doença, até se tornar um problema potencial na atualidade. O sistema de semeadura direta não é o causador deste aumento por si só. Os prejuízos ocasionados por este patógeno estão intimamente associados aos
plantios em monocultura, trigo sobre trigo em invernos seguidos. Em lavouras em que o intervalo entre uma semeadura e outra é de pelo menos 18 meses, havendo a decomposição da palha, ocorre redução drástica na incidência da doença. Observou-se nas últimas safras e com maior evidência na safra 2008 a dificuldade no controle da mancha amarela do trigo. Amostras de várias regiões tritícolas do Brasil foram encaminhadas ao laboratório de fitopatologia da Universidade de Passo Fundo (UPF) para diagnose, sob a reclamação de que os fungicidas não estariam controlando satisfatoriamente o fungo. As condições ambientais, temperatura e molhamento foram propícios ao desenvolvimento rápido da doença, o que levanta a suspeita de que as aplicações de fungicidas nas lavouras podem ter sido realizadas tardiamente e isto teria levado a problemas no controle. Além desta (outras hipóteses podem ser levantadas), o fenômeno ocorrido pode ser explicado pelo uso de subdoses, tecnologia de aplicação deficiente ou alteração da sensibilidade do patógeno aos produtos comumente utilizados. Fato relevante, constatado na safra 2008, através dos trabalhos que estão sendo conduzidos na UPF, foi o diagnóstico de uma nova espécie de Drechslera nas amostras analisadas, que poderá ter sensibilidade diferente aos fungicidas e doses, comumente aplicados nos cultivos de trigo para o combate da mancha amarela causada por D. triticirepentis, podendo levar ao controle deficiente. Esta espécie está sendo identificada por especialistas da Universidade de La Plata, Argentina. Provavelmente, trata-se de uma espécie ainda não relatada em cultivos no Brasil, Drechslera sicans, que tem como principal hospedeiro o azevém (Lolium multiflorum L.). As pesquisas estão sendo direcionadas a fim de se determinar a sensibilidade Erley Melo Reis
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desta espécie nova aos fungicidas utilizados para o controle. Segundo relatos de produtores, foi necessário número maior de aplicações nas lavouras quando comparado ao das safras anteriores. Este fato onerou o custo de produção e reduziu o potencial de rendimento da lavoura. A mancha amarela do trigo ocorre em nível epidêmico, especialmente naquelas lavouras onde não se pratica a rotação de culturas. Anos chuvosos são mais favoráveis à doença. A temperatura para o desenvolvimento varia de 5°C a 28°C, requerendo, para infecção, ao redor de 30 horas de molhamento das folhas. A distribuição não é limitada pelo clima por não ter requerimentos climáticos tão específicos, como ocorre com outras doenças em trigo. A mancha amarela tem importância equivalente em vários locais do mundo como Austrália, Estados Unidos, Canadá, assim como no Brasil, Paraguai e Uruguai. E nas regiões tritícolas brasileiras observa-se a mesma tendência. Conclui-se que esta doença é tão importante nos países de clima temperado como em regiões mais quentes, não tradicionais no cultivo do trigo. O fungo, Pyrenophora tritici-repentis, forma perfeita, é necrotrófico, portanto, sobrevive em restos culturais de uma
Fotos Dirceu Gassen
Lavouras onde não se pratica a rotação de culturas são mais vulneráveis a epidemias de mancha amarela
estação de cultivo para outra. Apresenta parte do ciclo de vida como parasita, em associação com hospedeiro vivo causando sintomas de mancha foliar e, a outra fase do ciclo, em associação com os tecidos mortos,
constituindo a fase saprofítica do parasita. Fator que chama a atenção no caso da nova espécie de Drechslera é o fato de ter como hospedeiro principal o azevém. O azevém está perenizado na maioria
Fotos Dirceu Gassen
poros) no ar. Os respingos de chuva e o vento são os agentes de transporte dos ascósporos e conídios, sendo que ambos são infectivos à cultura do trigo. O sistema de semeadura direta não é o fator responsável pelo aumento da severidade da doença, mas sim a monocultura. O período de decomposição dos restos culturais é variável em função da umidade e da temperatura. Outra forma de sobrevivência deste fungo é em plantas hospedeiras, ressaltando a importância da sua eliminação para redução potencial do inóculo.
Estratégias de controle
Sintoma característico da mancha amarela
das regiões tritícolas do país e serviria como multiplicador do inóculo na entressafra do trigo, tornando-se importante fonte de inóculo primário para as lavouras. Com isso, na entressafra do trigo, além de ter a fase saprofítica nos restos culturais ainda haveria a fase parasitária em azevém perenizado, ocasionando maior pressão de inóculo para a safra posterior. Dentre as principais fontes de inóculo que merecem destaque está a semente. O patógeno causador da mancha amarela do trigo, D. Tritici-repentis, é introduzido na lavoura pelo uso de sementes infectadas. Através deste veículo, os patógenos são levados a longas distâncias, por exemplo, de um estado ou país para outro. Os restos culturais também estão entre as principais fontes de inóculo. Após a introdução do patógeno na lavoura sua sobrevivência pode ser garantida nos resíduos culturais pela produção de pseudotécios (P. tritici-repentis) ou conídios (D. tritici-repentis). Os hospedeiros alternativos são importantes para a sobrevivência do patógeno. A espécie Drechslera tritici-repentis apresenta ampla gama de hospedeiros, sendo que o mais importante é o trigo. Portanto, o uso de sementes infectadas e a presença de restos culturais infectados serão os responsáveis pelas principais fontes de inóculo primário para a próxima safra. O mecanismo de transmissão da semente aos órgãos aéreos é através do coleóptilo. Uma vez na extremidade do coleóptilo ou em lesões nas primeiras folhas, após a necrose destes tecidos, o fungo frutifica e os esporos (conídios) formados sobre as lesões são disseminados pelo vento para outras folhas ou plantas. Em lavouras de monocultura, onde o inóculo primário mais abundante está nos restos culturais contendo pseudotécios, é necessária umidade para que ocorra a liberação dos ascósporos (es-
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Dentro deste contexto o uso de sementes sadias é de fundamental importância, pois contribui para atrasar a ocorrência da doença e a introdução naquelas áreas isentas da presença deste patógeno. Quanto mais tardiamente ocorrer a doença, menor os danos causados, em contraposição, maior será o rendimento e o potencial da cultura e menor o número de aplicações necessárias de fungicidas. Outra questão importante a ser considerada é a rotação de culturas, especialmente com aquelas espécies vegetais não hospedeiras do patógeno como, por exemplo, aveia, nabo forrageiro, ervilhaca, linho, entre outras. Essa prática cultural é fundamental
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para que ocorra a quebra do ciclo da doença. A intensidade de ocorrência da mancha amarela da folha do trigo está diretamente relacionada ao uso de sementes infectadas, monocultura e ao plantio direto. Como estratégia de controle deste patógeno recomenda-se o emprego de semente com boa qualidade sanitária, livre do patógeno; tratamento de sementes com iprodiona; rotação de culturas com espécies vegetais não hospedeiras incluindo ervilhaca, aveia, nabo forrageiro, linho; eliminação de plantas voluntárias; pulverização de fungicidas nos órgãos aéreos (triazóis, estrobilurinas e misturas). São medidas preventivas que visam ao controle da doença no campo. O uso de cultivares resistentes seria talvez a melhor medida de prevenção, no entanto, no Brasil, ainda não estão disponíveis. A aplicação de fungicidas para satisfazer o conceito do manejo integrado de doenças (MID) deve ser realizada segundo o limiar de dano econômico (LDE). O LDE corresponde à intensidade da doença onde o benefício do controle se iguala ao custo. Caso o LDE seja ultrapassado, as perdas são irrecuperáveis. C Erlei Melo Reis, Rosane Baldiga Tonin e Vânia Bianchin, Universidade de Passo Fundo
Eventos
Foco no arroz
Fotos Cultivar
Expoarroz reúne sete mil visitantes e supera R$ 12 milhões em negócios, em quatro dias de evento no Rio Grande do Sul
sações durante a feira. A Agas comercializou R$ 4 milhões. O total de comercialização de máquinas e implementos agrícolas não foi divulgado. No entanto, apenas uma das montadoras expositoras vendeu R$ 1,8 milhão. Valor semelhante foi alcançado pelo segmento de equipamentos industriais. De acordo com o superintendente da Bolsa Continental de Mercadorias, Fernando Estima, os resultados obtidos nesta primeira edição surpreenderam. “A Expoar-
roz veio para ficar e vamos voltar em 2011 ainda mais fortes. Acho que nosso sucesso é consequência de termos nos preocupado tanto em juntar toda a cadeia produtiva e isto foi extremamente importante, afinal de contas, foi o setor quem fez o evento.” C
Fernando Estima projeta resultados ainda melhores para 2011
Em quatro dias, sete mil pessoas passaram pelo evento
Laureano Bitencourt
A
Exposição Internacional do Arroz (Expoarroz) movimentou o município de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, entre os dias 6 e 9 de maio. Em sua primeira edição o evento contou com 150 expositores e reuniu aproximadamente sete mil visitantes, entre produtores agrícolas, industriais, pesquisadores, fornecedores de máquinas, implementos e serviços. O volume de negócios superou R$ 12 milhões. Em uma área de 22 mil metros quadrados, no Centro de Eventos Fenadoce, a feira teve intensa programação. Além de seminários, conferências e workshops voltados à cadeia orizícola, a Expoarroz contou com a Rodada Internacional de Negócios, Feira de Tratores, Máquinas e Implementos Agrícolas e 37ª Convenção Regional de Supermercados, promovida pela Associação Gaúcha dos Supermercados (Agas). De acordo com os organizadores, a Rodada Internacional de Negócios, coordenada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), alcançou dois milhões de dólares em tran-
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Soja
Radiografia da ferrugem
com muita cautela.
Região Sul
Embora os números do Consórcio Antiferrugem mostrem o Paraná com o maior número de focos no país (1.582 num total de 2.885 relatos em 30/4), a situação da ferrugem nesse estado foi bastante tranquila para os produtores na safra 2008/09. O número de focos cadastrados no site do CAF (www.con-sorcioantiferrugem.net), nos estados do Sul do país, deve ser olhado com cautela, pois Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina possuem 77 laboratórios autorizados a cadastrar focos, num total de 135 laboratórios no país. Essa maior rede de laboratórios se deve à associação com as cooperativas e aos programas de empresas privadas como o SOS Bayer e Mini Lab Basf. O maior número de focos não indica necessariamente a ocorrência de epidemia. O primeiro cadastro de foco no Paraná, na safra 2008/09, em lavoura comercial, ocorreu em 12 de dezembro de 2008, sendo relatadas somente três ocorrências durante o mês de dezembro. Em 2007/08, o primeiro relato ocorreu em 6 de dezembro de 2007, mas houve demora generalizada nos plantios devido à estiagem, o que, consequentemente, atrasou a ocorrência da ferrugem. Em 2006/07, onde o plantio se deu na época normal, o primeiro relato ocorreu em 14 de novembro de 2006. As ocorrências somente a partir de dezembro são esperadas com a adoção do vazio sanitário, que tem como principal objetivo reduzir o inóculo na entressafra. A partir de fevereiro, com a regularização das chuvas e colheita das primeiras lavouras, o número de focos aumentou consideravelmente, devido às condições climáticas favoráveis e à multiplicação do fungo nas áreas em fase de colheita. A ferrugem foi controlada de forma eficiente com a utilização de fungicidas, da mesma forma que o oídio e as doenças de final de ciclo. Já aquelas, onde os fungicidas que controlam Phakopsora pachyrhizi não têm ação (como o mofo branco causado por Sclerotinia sclerotiorum), acabaram causando perdas maiores do que a ferrugem, embora sua ocorrência seja limitada a regiões de altitudes acima de
N
a safra 2008/09 as perdas causadas por Phakopsora pachyrhizi no Brasil podem ser consideradas baixas. Na maioria dos estados brasileiros a incidência ocorreu de forma tardia e as condições ambientais não foram favoráveis nos períodos mais críticos. Segundo informações do Consórcio Antiferrugem (CAF), foram detectados 2.885 focos da doença,
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distribuídos conforme Tabela 1. Nem sempre o grande número de focos reportados está diretamente relacionado à epidemia da doença. Na safra 2008/09, por exemplo, foram reportados 1.582 focos de ferrugem asiática no Paraná, onde as perdas foram baixas, e, apenas 277 na Bahia, estado em que ocorreu situação de epidemia com perdas significativas. Por isso, estes números devem ser analisados
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Fotos Luís Henrique Carregal
Apesar do número expressivo de focos identificados, pesquisadores consideram baixas as perdas provocadas pela ferrugem asiática na safra 2008/09. Entre os fatores que levaram produtores a registrar prejuízos em suas lavouras estão atrasos no momento das aplicações e falhas no quesito tecnologia de aplicação
Safra 2008/09 teve o registro de 2.885 focos de ferrugem asiática no país
Gráfico 1 - Severidade (%) da ferrugem asiática em R5.5 em função do controle químico
700m-800m. As perdas devido à ferrugem ocorreram em escala reduzida, atribuídas a atrasos no momento de aplicação ou à deficiência da tecnologia de aplicação. A estimativa de produtividade de soja para o Paraná é de 2.461kg ha-1 (sétimo levantamento da Conab, 2009) com diminuição de 17,7% em relação à safra 2007/08. As reduções de produtividade nos estados do Sul do país podem ser atribuídas em grande parte a adversidades climáticas
Gráfico 2 - Produtividade (sacos/ha) em função do controle químico da ferrugem asiática
como a estiagem entre novembro e dezembro que prejudicou as variedades precoces, principalmente no oeste do estado do Paraná. No Rio Grande do Sul, também devido à estiagem, houve atraso no plantio da soja, sendo que as primeiras lavouras colhidas foram plantadas mais cedo, com variedades de ciclo precoce e acabaram tendo baixos rendimentos.
Região central
De maneira geral, a ferrugem também ocorreu de forma tranquila no Cerrado brasileiro. Na maioria dos estados não houve dificuldade de controle, salvo em raras exceções. As perdas oriundas da ferrugem asiática foram mínimas, principalmente devido ao plantio de cultivares precoces logo no início da época recomendada e em função das condições ambientais não terem sido favoráveis nos momentos mais críticos. Entretanto, é importante salientar que esta doença continua sendo o principal problema
Fotos Luís Henrique Carregal
O oeste da Bahia foi a região que teve as maiores perdas com a doença nesta safra
A utilização de misturas de triazóis e estrobilurinas garantiu os melhores resultados na hora do controle
fitossanitário na cultura da soja. Embora muitos agricultores venham manejando-a de forma eficiente, prejuízos continuam ocorrendo. Diferentes fatores contribuíram para que as perdas fossem elevadas em determinadas regiões, destacando-se, principalmente, o plantio tardio, o não cumprimento do vazio sanitário (referente à eliminação da soja tiguera), o controle químico equivocado (tecnologia de aplicação e momento de aplicação inadequados) e a incredulidade de produtores e técnicos sobre a menor sensibilidade do fungo aos fungicidas triazóis. O oeste da Bahia, por exemplo, foi a região com maior perda por ferrugem. Curiosamente, a ferrugem asiática causou perdas significativas nessa região somente na safra 2002/03. A partir daí, não mais se verificaram problemas com a doença. Acreditava-se que o oeste baiano representasse uma situação à parte. Entretanto, na safra atual (2008/09), a severidade da doença atingiu patamares semelhantes ou até superiores àqueles conhecidos em 2002/03. Desta forma, ficou evidenciado que o fungo Phakopsora pachyrhizi necessita apenas das condições ambientais favoráveis para causar danos à cultura, inclusive no oeste baiano. Em função das condições ocorridas em anos anteriores, agricultores e técnicos creditaram menor importância para a ferrugem, preocupando-se mais com o mofo branco, doença em franca expansão naquela região. Assim sendo, o monitoramento de ferrugem pode ter sido superficial e as aplicações de fungicidas realizadas de forma tardia, embora os órgãos de pesquisa local sempre defendam o monitoramento intensivo das áreas para a tomada de decisão quanto ao momento de aplicação. Sabe-se que alguns agricultores chegaram a realizar de cinco a sete pulverizações para o controle da doença, não obtendo o resultado desejado. Um fator que pode ter sido crucial na reduzida eficácia de controle é a suspeita da menor sensibilidade do fungo Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas triazóis, comumente utilizados na Bahia.
Em algumas áreas, os agricultores procederam a primeira aplicação com misturas de estrobilurinas e triazóis, realizando as demais aplicações apenas com triazóis. Na safra 2007/08 a menor sensibilidade do fungo a triazóis foi comprovada em populações amostradas em regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por meio de bioensaios de monitoramento de resistência (baseline) realizados pela empresa Bayer CropScience. Desde a safra 2005/06 questiona-se, por parte de alguns pesquisadores e também por agricultores, a eficácia dos fungicidas do grupo triazóis. Nos trabalhos desenvolvidos pela Universidade de Rio Verde (Fesurv) em parceria com a Campos Carregal Pesquisa e Tecnologia Agrícola, tem-se verificado desde a safra 2006/07 a eficácia reduzida de triazóis para o controle da doença. Na safra atual, 2008/09, a menor eficácia dos triazóis comparada às misturas de triazóis e estrobilurinas pode ser evidenciada no Gráfico 1. Neste experimento foram realizadas duas aplicações, sendo a primeira em R1/R2 (de forma preventiva) e a segunda em R5.1. Embora o plantio tenha sido realizado no dia 1º/12/2008 (tardio, mas dentro da época recomendada), a pressão da doença até a fase inicial de formação de vagens (R3) foi baixa. A partir do início de enchimento
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de grãos (R5.1), quando as condições ambientais passaram a ser totalmente favoráveis, ocorreu a maior pressão da doença e, consequentemente, a menor eficácia dos triazóis. As doenças de plantas são mais importantes quando existe a relação dano/perda, ou seja, severidade da doença/redução de produtividade. Conforme evidenciado no Gráfico 2, os tratamentos que apresentaram maior severidade da doença (Gráfico 1) foram aqueles com menores valores de produção. Os fungicidas contendo apenas triazóis ou triazóis + benzimidazóis (barras em azul) foram os que apresentaram maior severidade e menor produtividade quando comparados àqueles contendo estrobilurinas em misturas com triazóis (barras em verde). Na safra 2007/08 o Consórcio Antiferrugem (CAF) orientou que nas regiões de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás fossem utilizadas preferencialmente misturas de triazóis e estrobilurinas. Embora se evidencie a campo a menor eficácia dos triazóis isoladamente, o fato ainda não foi totalmente explicado. Os trabalhos de baseline desenvolvidos pelas multinacionais indicam uma leve alteração na sensibilidade do fungo para algumas regiões, o que é considerado como normal. O que não pode ser considerado como normal são prejuízos amargados pelos agricultores. Desta forma, até que o problema seja elucidado, é importante que medidas efetivas sejam tomadas a fim de se evitar que o agricultor tenha novas perdas em seus cultivos. Para tanto, consulte um engenheiro C agrônomo. Luís Henrique Carregal e Hercules Campos, Fesurv Cláudia Godoy Embrapa Soja Juliana Campos Silva , Campos Carregal
Tabela 1 - Focos de ferrugem asiática durante a safra 2008/09, segundo CAF. Estado Bahia Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraná Piauí Rio Grande do Sul São Paulo Santa Catarina Rondônia Tocantins TOTAL
Data do 1º focoÁrea comercial 13/01/2009 18/12/2008 26/02/2009 29/12/2008 16/12/2008 18/12/2008 12/12/2008 27/02/2009 20/01/2009 06/01/2009 26/01/2009 08/12/2008 09/03/2009
Fonte: HTTP://www.consorcioantiferrugem.net, em 02 de maio de 2009.
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Nº de focos na fase vegetativa Nº de focos na fase reprodutiva 267 10 253 0 7 0 133 5 232 1 31 1 1563 19 2 0 240 6 15 0 87 0 9 0 4 0 2843 42
Nº total de focos 277 253 7 138 233 32 1582 2 246 15 87 9 4 2885
Eventos Sedeli Feijó
Aliado dos sojicultores Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) é lançado durante o Congresso Brasileiro da Soja para auxiliar produtores a maximizar rendimentos dentro dos princípios da sustentabilidade
A
umentar a produtividade média nacional da soja de 2,8 toneladas para quatro toneladas por hectare. A meta ambiciosa é um dos principais objetivos do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), lançado durante o V Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2009, em maio, em Goiânia (GO). A nova entidade é composta por 14 membros, de diferentes instituições e empresas ligadas ao agronegócio da soja e, em breve, deve receber status de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Durante a solenidade de lançamento, o presidente do Cesb, Eltje Jan Loman Filho, destacou que o Brasil tem importantes contribuições a dar através dos diversos setores produtivos. “Temos a maior área disponível para o plantio e as perspecti-
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Guilherme Ohl (1º melhor resultado), à esquerda, e Laércio Giampani (presidente Syngenta), à direita
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Otávio Martins (vice-presidente do Cesb) e Reginaldo Brunetta, que representou o pai (2º melhor resultado)
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Membros do Conselho Participante Cargo no CESB Antonio Luiz Fancelli Membro Antonio Carlos Ortiz Membro Carlos Augusto Klink Membro Dario Minoru Hiromoto Membro Décio Luiz Gazzoni Membro Edeon Vaz Ferreira Membro Eltje Jan Loman Filho Diretor Presidente José Erasmo Soares Membro José Glaser Membro Leonardo Junho Sologuren Membro Marcelo Habe Diretor Administrativo Financeiro Odilio Balbinotti Filho Membro Orlando Martins Diretor Vice-Presidente Ricardo Silveiro Balardin Membro
Rui Prado (Aprosoja) e Otávio Vieira de Melo (3º melhor resultado)
Décio Luiz Gazzoni (membro do Cesb) e Marcos Rogério da Costa (4º melhor resultado)
vas são de que o país assuma o papel de grande celeiro no mundo. Porém, para tal, é necessário saber conduzir esta grande questão. A continuação do crescimento do setor agrícola é uma necessidade e não uma opção para a maioria dos países em desenvolvimento”, lembrou. Marcelo Habe, diretor administrativofinanceiro do Cesb, destaca que o propósito é difundir o manejo adequado do solo e dos maquinários por meio do trabalho conjunto com instituições públicas e privadas de extensão técnica. “Com a difusão da tecnologia de novos sistemas de plantio, os produtores poderão compreender essas ferramentas para elevar a produtividade e aumentar a rentabilidade de sua lavoura”, explica. Habe destacou ainda o caráter pluralista do Cesb. “É uma instituição onde todos estão convidados a participar. Produtores, pesquisadores, cooperativas e todas empresas que fazem parte da cadeia produtiva do agronegócio.”
vencer a barreira dos quatro mil quilos por hectare. Os vencedores do concurso foram conhecidos na noite do lançamento do Cesb (veja o quadro).
Concurso Máxima Produtividade
Junto com o lançamento oficial do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) foi anunciada também a edição 09/10 do Programa Nacional Máxima Produtividade de Soja. O objetivo é reunir o maior número possível de produtores de soja de todo o país, em um concurso nacional de incentivo à adoção de novas tecnologias sustentáveis para aumentar a produção por área. Além de estimular novas tecnologias, o concurso prevê a realização de cursos de capacitação, trabalhar pela expansão de
crédito agrícola e buscar taxas menores aos sojicultores. O Programa Nacional Máxima Produtividade de Soja tem como público alvo o sojicultor interessado em melhorar e aumentar a sua produção, bem como aqueles que entendem a importância do conceito de produzir mais de forma sustentável. O objetivo, segundo os organizadores, é de estabelecer novos patamares de produtividade, transformar-se em ferramenta de transferência tecnológica, além de criar um ambiente de aprendizado e de inovações tecnológicas. As inscrições para o concurso poderão ser feitas no período de 1º/6 a 15/12/2009 no site do Cesb (http:// cesbrasil.org). Há duas formas: eletronicamente ou através de ficha para impressão e envio via correio. Pode participar todo sojicultor com idade igual ou acima de 18 anos que cultivar em qualquer localidade C do território brasileiro.
Projeto piloto
O trabalho, que busca aumentar a produtividade de soja no país, já foi realizado, em formato piloto, com aproximadamente 140 sojicultores. Esse grupo, previamente selecionado e com orientação técnica, aplicou novas estratégias em áreas experimentais de produção em parte de suas respectivas propriedades. O objetivo deste programa foi estabelecer a linha base antes da implantação do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Os estados envolvidos nesta ação foram Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Maranhão. O resultado foi positivo e mostrou que o Brasil tem potencial para
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Eventos
Orizicultura em debate
A
Planfer e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realizam em julho mais uma edição do Encontro Planfer/Irga, em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul. A expectativa dos organizadores é de reunir 400 produtores e empresários do setor para debater assuntos relacionados à cadeia orizícola.
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Organização do 3º Encontro Planfer/Irga pretende reunir 400 produtores e empresários para discutir os rumos da cultura do arroz, em Pelotas, no Rio Grande do Sul
O 3º Encontro Planfer/Irga ocorre no dia 9 de julho, no Centro de Eventos Fenadoce. Na programação (veja o Box) estão assuntos relacionados ao mercado, desenvolvimento da lavoura e estratégias de manejo para auxiliar o produtor a aumentar a produtividade e os lucros. Entre os palestrantes do evento está
PROGRAMAÇÃO 9h30m - Abertura oficial com a presença das autoridades 10h – Evolução da lavoura do arroz na Zona Sul e próximos desafios - Irga 10h40min – Cenário do mercado de arroz - Irga 12h - Almoço especial para os convidados do evento 14h – Manejo de plantas daninhas resistentes na lavoura de arroz irrigado – Albert Fischer – Pesquisador de plantas daninhas da Universidade de Davis, da Califórnia 15h – Estratégia de manejo de
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plantas daninhas resistentes em arroz irrigado – Valmir Menezes – Diretortécnico do Irga e pesquisador na área de plantas daninhas 16h – Coffee break 16h30min – Motivando seus negócios – Daniel Godri – Melhor palestrante na categoria motivação 18h – Perspectiva do agronegócio brasileiro - Roberto Rodrigues – Coordenador do Centro de Agronegócios da FGV 20h30min – Jantar com show especial
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o diretor-técnico do Irga, Valmir Menezes. Especialista em plantas daninhas, vai abordar estratégias de manejo e os problemas de resistência dessas invasoras em lavouras de arroz irrigado. O tema merecerá ainda a intervenção do pesquisador Albert Fischer, da Universidade de Davis, Califórnia. Empresas do segmento de agroquímicos como Basf, Dow AgroSciences, FMC e Monsanto são apoiadoras do encontro, que conta com o co-patrocínio da Risoy C e Serrana.
Valmir Menezes, do Irga, é um dos palestrantes do evento
Informe
Novo controle do mofo em feijão
O
mofo-branco, ou podridão de esclerotínia, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença muito difundida nas regiões produtoras de feijão, principalmente no plantio do outono-inverno, em áreas de pivôs centrais. Este fungo é muito agressivo do ponto de vista epidemiológico e a evolução da doença é muito rápida, o que nos permite dizer que ele possui rápido poder de devastação. As perdas no rendimento atingem em média 60%, podendo ser mais elevadas. Com a introdução da terceira época de plantio (feijão de inverno) na região Centro-Oeste e em outras regiões do país, a doença encontrou condições favoráveis para seu desenvolvimento, tornando-se um grave problema para os produtores de feijão. Os sintomas característicos da doença são lesões encharcadas que se espalham rapidamente para as folhas, hastes, ramos e vagens. Nos tecidos infectados surgem grandes quantidades de micélios cotonosos que lembram algodão (posteriormente estes micélios se transformam nas estruturas de sobrevivência, os escleródios). Para aumentar a gravidade do problema, na ausência de hospedeiro suscetível ou de condições climáticas favoráveis, a persistência dos escleródios no solo pode atingir até 12 anos.
Tendo realizado testes para combater esta doença, a BR3 Agrobiotecnologia fabrica o Fegatex, produto registrado para o controle do mofo-branco na cultura do feijoeiro. Conforme explica José Pedro de Castro, gerente comercial da BR3, “o Fegatex é um defensivo agrícola fungicida, bactericida e esporicida, com ação de choque, notadamente comprovada pela sua rápida inibição da evolução da doença, mostrando ser altamente eficaz para o controle deste patógeno. Por estas e outras qualidades, o Fegatex é muito importante nas diversas estratégias de manejo para o controle desta terrível doença que tira o sono de qualquer produtor”. Segundo Adriano Pimenta, coordenador Agro de PD&I da BR3, “Diversas situações práticas recomendam o uso do Fegatex no controle do mofo-branco: histórico de safras anteriores com registro de ocorrência da doença; floradas, pois as pétalas são excelentes substratos para a germinação dos ascósporos do patógeno (o Fegatex impede esta germinação); primeiros apotécios encontrados na lavoura (o Fegatex elimina estes apotécios); presença de micélio do fungo nas plantas (o Fegatex atua diretamente sobre a parede celular das hifas, secando-as, não deixando as perdas aumentarem); e o excesso de umidade do ar e do solo associado ao frio e sombreamento do próprio fechamento da
cultura”. De modo geral, para o manejo e controle de doenças recomendam-se aplicações de fungicidas que atuem em todo o ciclo da doença, inclusive nos esporos, que é o caso do Fegatex. Lembrando que o uso indevido de fungicidas pode resultar na seleção de fungos fitopatogênicos resistentes. Uma das maneiras de se evitar a resistência de fungos é utilizar fungicidas que circulam na planta alternando com os de contato, com ação erradicante, e fazendo uso de grupos químicos diferentes. O fungicida Fegatex faz parte de um grupo químico inédito na agricultura mundial, consequentemente passa a ser uma ótima alternativa para o manejo de controle de doenças de plantas. Além do registro para o controle de diversas doenças fúngicas, não podemos deixar de citar o Fegatex para o controle de bacterioses, onde possui registro para várias culturas. Uma delas é a mancha bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria) na cultura do tomate, que é uma doença de difícil controle, mas seu uso é aprovado por todos que o utilizam. A BR3 Agrobiotecnologia está contribuindo imensamente para a agricultura brasileira, disponibilizando ao mercado agrícola o produto Fegatex, Fungicida-Bactericida-Esporicida, C com ação de choque.
Milho Marcelo G. Canteri
Milho manchado Presente em todas as regiões produtoras de milho, a mancha de phaeosphaeria tem levado a perdas de até 60% da produtividade da lavoura. A ocorrência em materiais suscetíveis, antes ou durante o florescimento, causa seca precoce das folhas, o que prejudica o ciclo da cultura. Plantios tardios ou doses elevadas de nitrogênio também favorecem a incidência. Além do cuidado com a época de semeadura, a utilização de cultivares resistentes e a prática da rotação de culturas contribuem para o combate do fungo
A
o longo dos anos, especialmente a partir de 1990, tem-se observado substancial aumento na frequência de ocorrência e na severidade das doenças foliares na cultura do milho, o que têm comprometido e/ou afetado aspectos qualitativos e quantitativos de produção desta cultura. Dentre as razões atribuídas a este fato, destacam-se: expansão das áreas cultivadas (seja no sistema de plantio direto ou o cultivo desta cultura em duas safras: verão e safrinha); plantio de cultivares com diferentes níveis de resistência e o manejo inadequado, como aspectos que têm contribuído para o decréscimo na produção de milho no Brasil (Pinto et al, 1997; Fernandes & Oliveira, 1997; Embrapa, 1993). A cultura do milho (Zea mays L.) é afetada por diversos agentes patogênicos capazes de lhe causar doenças. De acordo com Reis & Casa (1996), há pelo menos 20 patógenos ocorrendo na cultura e que podem causar prejuízos expressivos no Brasil. As doenças foliares são responsáveis por perdas de produção, uma vez que reduzem a capacidade fotossintetizadora da planta, por diminuição da área foliar sadia. Em se tratando de doenças foliares, a mancha foliar de phaeosphaeria (MFP) figura entre as principais doenças que acometem esta cultura. Trata-se de uma doença amplamente distribuída na América Central, América do Sul, África e Ásia (Rane et al, 1966). Seus primeiros relatos datam de 1902, cuja ocorrência dos sintomas se deu no estado de São Paulo. A maior frequência desta doença era encontrada no fim do ciclo da cultura, por isso não causava maiores danos (Fantin, 1994). No entanto, a mancha foliar de phaeosphaeria passou a ser considerada de grande importância no início dos anos 90, quando foi observada em plantas mais jovens, sobretudo após a prática de plantio direto (Fantin, 1994; Reis et al, 2004). Atualmente, a mancha foliar de phaeosphaeria encontra-se amplamente distribuída nas áreas de cultivo de milho em todo o país.
Confirmação
A identificação de P. maydis pode ser realizada por meio de inspeções microscópicas dos esporos e corpos de frutificação. De acordo
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M. L. de Carli
com Alexopoulos et al, (1996), P. maydis foi descrito pertencendo à subdivisão Ascomycotina, ordem Pleosporales e família Pleosporaceae. Os peritécios são esféricos a subglobosos e possuem ostíolos papilados. Formam ascas hialinas, clavadas ou cilíndricas, retas ou curvadas, com oito ascósporos medindo de 44,5-70,0 x 7,58,5ìm. Os ascósporos são hialinos, retos ou ligeiramente curvados, com três septos, ligeiramente constritos nos septos com dimensões de 14,5-17,0 x 3,5-5,0ìm. Os picnídios no estágio anamorfo (Phyllosticta sp.) são esféricos ou globosos, cuja coloração é marrom escuro a preto, e possuem ostíolo arredondado. Os conídios são hialinos, medindo cerca de 3,2-9,0 x 2,4-3,2ìm (McGee, 1988; Pereira, 1997; White, 1999; Reis et al, 2004). As estruturas do patógeno podem ocorrer em várias partes da planta, tais como brácteas e palhas da espiga (Silva, 2002).
Ciclo de vida
P. maydis sobrevive no inverno em restos de cultura. Durante as estações subsequentes de cultivo, em resposta às condições climáticas favoráveis tais como elevada umidade relativa e temperatura moderada, os esporos germinam e são disseminados pelo vento para novas plantas de milho, onde irão estabelecer relações parasíticas do tipo necrotróficas (mata a célula hospedeira antes de invadi-la). Os esporos são produzidos nas lesões da doença onde começa o ciclo secundário de infecção durante a estação. Para que possa estabelecer as relações parasíticas patógeno-hospedeiro, as condições de clima favoráveis ao desenvolvimento do fungo e expressão dos sintomas da doença são: temperatura entre 24oC e 30oC, umidade relativa em torno de 70%
Os primeiros sintomas são observados nas folhas inferiores, começando no ápice e distribuindo-se ao longo da lâmina foliar até a base, progredindo rapidamente para as folhas superiores à medida que a planta se desenvolve
e luminosidade baixa. Estas condições são encontradas normalmente em regiões com altitude superior a 600m acima do nível do mar, provavelmente devido à formação de orvalho (Pereira, 1997; Reis et al, 2004; Silva & Menten, 1997). Por outro lado, Fernandes et al, (1995), em estudos sobre os fatores climáticos que estariam influenciando o aparecimento desta doença em Sete Lagoas (MG), constataram que houve severidade quando a temperatura mínima e a média da umidade relativa nas 24 horas
Distribuição geográfica da mancha foliar de phaeosphaeria
foram iguais ou superiores a 14oC e 60%, respectivamente, ou quando a temperatura mínima foi inferior a 14oC, mas a umidade relativa foi igual ou superior a 60%. Estes autores também observaram que em temperatura mínima superior a 14oC e umidade relativa inferior a 60%, não houve ocorrência da doença e concluíram que a umidade relativa nas 24 horas foi o principal fator determinante do aparecimento das lesões foliares desta doença.
Os sintomas
Os primeiros sintomas são observados nas folhas inferiores, começando no ápice e distribuindo-se ao longo da lâmina foliar até a base, progredindo rapidamente para as folhas superiores à medida que a planta avança no seu estádio fenológico. As lesões mostram-se como pequenas manchas de cor verde esmaecido ou levemente cloróticas com 0,3cm a 2,0cm de diâmetro, posteriormente tornam-se esbranquiçadas com bordos escuros, arredondadas a oblongas. Com o passar do tempo, essas lesões tendem a coalescer, levando à morte dos tecidos foliares e podendo causar a seca total das folhas. Dependendo das condições ambientais, no centro das manchas podem ser observados pequenos pontos escuros ou negros (peritécio e picnídios), que são corpos de frutificação do fungo
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(Fantin, 1994).
Epidemiologia
M. L. de Carli
A fonte primária de inóculo constituise de restos de cultura e até o momento nenhum hospedeiro intermediário foi identificado. A disseminação de P. maydis ocorre pelo vento, sementes e respingos de chuva, sendo o vento e as sementes
os agentes disseminadores do patógeno a longas distâncias, enquanto a água ou respingos de chuva age como disseminador a curtas distâncias (Fantin, 1994; Bedendo, 1995; Pegoraro et al, 2001). É mais severa em plantios compreendidos entre a segunda quinzena de novembro a março (Pereira, 1997). Quando ocorre em materiais suscetí-
veis, seja antes ou durante o florescimento, a doença poderá causar seca precoce das folhas, o que influenciará diretamente no ciclo da cultura, uma vez que diminui a área fotossintética da planta, refletindo em perda de produção e produtividade de até 60% (Agroceres, 1996; Fernandes & Oliveira, 1997; Pegoraro et al, 2001). De acordo com Godoy et al, (2001), folhas com severidade de doença no intervalo de 10%-20% mostraram reduções de 40% na taxa líquida de fotossíntese, tanto no tecido lesionado quanto em parte do tecido verde remanescente de folhas lesionadas. Pegoraro et al, (2001) relataram que à medida que a semeadura do milho foi retardada, ocorreu aumento na severidade da doença em detrimento do rendimento de grãos e concluíram que há correlação significativa entre rendimento de grãos e severidade da doença. Fantin et al, (1991) avaliaram a influência de doses de nitrogênio sobre a ocorrência e a severidade da mancha de phaeosphaeria em plantas inoculadas, no início do florescimento. Os autores concluíram que o uso de doses crescentes de nitrogênio a partir de 100kg/ ha aumentou a incidência da doença. Fancelli (1996) também observou que a severidade é afetada pela época de aplicação de nitrogênio e aumenta quando essa aplicação é realizada após a emissão da 12ª folha. Essa constatação foi corroborada por Costa (2001), quando verificou que a severidade da mancha de phaeosphaeria depende de vários fatores, como a época de semeadura, a dose e período da adubação nitrogenada e das características dos genótipos. Fidelis et al, (2007) observaram que doses elevadas, quando comparadas a doses baixas de fósforo, não promovem o aumento da incidência do fungo P. maydis em qualquer que seja o estádio de desenvolvimento.
Estratégias de controle
Com relação ao controle, Casela et al, (2003) relatam que o plantio de cultivares resistentes, assim como cultivos realizados mais cedo, reduzem a severidade da doença e, ainda, o uso da prática da rotação de culturas contribui para a redução do potencial de inóculo. Pereira (1997) relata que o uso de cultivares resistentes, nas regiões onde o patógeno encontra melhores condições de desenvolvimento, é o método de controle mais eficiente. De acordo com Brasil & Carvalho, (1998), os híbridos AG-1043, AGX-7391, AGX-7393 e C-901 foram considerados como resistentes à mancha foliar de phaeosphaeria (MFP). Souza & Duarte, (2002) descrevem as cultivares
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Azteca, C 435, AG 1051 e C 333B como resistentes à MFP. Na ausência de hospedeiros resistentes, podem ser usados fungicidas no controle de MFP nas estações onde a severidade da doença é maior. Os fungicidas podem ser aplicados em aproximadamente sete semanas após o plantio para proteger os estádios de crescimento reprodutivo. Entretanto, aplicações subsequentes podem ser realizadas em função da severidade da doença e das condições de clima, se forem predisponentes ao ataque do patógeno. Pinto, (2004) relata os fungicidas mancozeb e azoxystrobina nas dosagens de 2.400 gramas do i.a. (ingrediente ativo)/ha -1 e 150 gramas do i.a. (ingrediente ativo)/ha-1, respectivamente. O manejo de restos de cultura infectados reduz o inóculo da doença a baixos níveis para as subsequentes estações de cultivo. Uma maneira de controle cultural é o cultivo de milhos durante períodos desfavoráveis para o desenvolvimento da doença, estratégia que poderá também C reduzir os danos à cultura. Frank Magno da Costa, Univ. Federal Rural de Pernambuco
Divulgação
AGENTE CAUSAL
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Frank salienta: “O manejo dos restos culturais infectados reduz o inóculo”
agente etiológico desta doença é o fungo Phaeosphaeria maydis (P. Henn.) Rane, Payak & Renfro [Sinonímia Sphaerulina maydis P. Henn], cuja fase anamorfa ou imperfeita corresponde a Phyllosticta sp. (Fantin, 1994; Pereira, 1997). No entanto alguns autores descrevem como agente inicial da doença uma bactéria denominada de Pantoea ananas (syn Erwinia ananas), isolada de anasarcas ou encharcamento. Resultados obtidos por Paccola-Meirelles et al., (2001) sugerem o envolvimento da bactéria supra-citada no processo inicial da doença e que o fungo se instalaria nas lesões pré-estabelecidas, pois esta produziu sintomas semelhantes ao da MFP em condições controladas, resultando no desenvolvimento de lesões similares aos observados em condições de campo.
Cana-de-açúcar Fotos Ivan Rodrigues de Almeida
Próxima etapa
Depois de conquistar o zoneamento agrícola para a cultura da cana-de-açúcar, produtor gaúcho precisa ficar atento às informações técnicas de cultivo, como período de plantio e adaptação de cultivares às diversas regiões do estado
V
Novas pesquisas devem indicar cultivares específicas para as características ambientais de cada região do estado, aperfeiçoando o zoneamento para os próximos anos
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encida a etapa do zoneamento agrícola para a cultura da cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul é momento de observar os períodos indicados para plantio, quais cultivares possuem potencial agronômico e estão
A batalha para produzir cana
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esmo com grande potencial de expansão da cultura da cana-de-açúcar para produção de etanol e açúcar no Rio Grande do Sul, a exploração historicamente ficou relegada a um cultivo marginal com lavouras apresentando baixa produtividade, e destinada a outros usos como a produção de melaço, rapadura, aguardente e alimentação animal. Como nem sempre houve o objetivo voltado à produção industrial, essa baixa produtividade se explica devido ao uso de pouca tecnologia e da falta de indicação de regiões e cultivares com aptidão para esta finalidade, sendo que pesquisas adaptadas ao clima do estado, além de possíveis alterações na abrangência do cultivo em solo gaúcho. A notícia da aprovação já era esperada a alguns anos, desde que o Governo Federal resolveu implementar o Programa de Desenvolvimento da Agroenergia e transformar os biocombustíveis em commodities para desenvolver os mercados interno e externo. Com o zoneamento 182 municípios estão aptos ao cultivo para fins de produção de açúcar e etanol, e outros 34 municípios autorizados a produzí-la para fabricação de aguardente, forragem e outros usos (veja no mapa). Para o primeiro grupo, o período de plantio indicado está restrito entres os meses de janeiro a maio, enquanto para o segundo, também são permitidos plantios de setembro a dezembro. No entanto, é necessário que a cultivar que venha a ser plantada faça parte do Registro Nacional de Cultivares (RNC), do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). De uma centena de cultivares regis-
realizadas pela Embrapa Clima Temperado na década de 1980, já mostravam ser viável produzir etanol e açúcar no Rio Grande do Sul. No passado, outros argumentos prejudiciais ao estabelecimento do setor sucroalcooleiro, eram que o estado não apresentava as condições climáticas ideais ao cultivo da cana-de-açúcar, e que seu estímulo concorreria com a produção de grãos ocupando áreas tradicionais de soja e milho, fato que provocou os atrasos mais recentes na liberação do zoneamento.
trada no Mapa, um grupo avaliado em diversos locais tem apresentado potencial agronômico e de adaptação ao clima do Estado, e também condições para compor as primeiras lavouras comerciais e de mudas (Tabela 1). Outras ações de pesquisa deverão ser desenvolvidas a exemplo da indicação de cultivares específicas para as características ambientais de cada região do Estado. Em continuidade é possível que este próprio zoneamento venha a ser aperfeiçoado nos próximos anos, com a inclusão ou exclusão de alguns
municípios. Constata-se que importantes regiões atualmente produtoras não entraram em nenhuma das duas categorias, como é o caso do município de Jaguari, que na safra de 2007, segundo o IBGE, colheu a terceira maior área no Estado. Outro fator que gera expectativa positiva para produção de cana-de-açúcar com elevada capacidade gerencial no Estado é o modelo tecnológico a ser adotado, ajustando-se às necessidades de sustentabilidade ambiental e social que os novos mercados exigem. O conhecimento acumulado sobre erros e acertos no cultivo dessa espécie no país, bem como o marco legal para redução da queima da palha na colheita dos canaviais, certamente induzirá o novo padrão para colheita mecanizada e melhorias na relação trabalho-capital, pela abolição das condições extenuantes infligidas aos trabalhadores no corte da cana. Mas antes que esta expectativa se consolide e o Rio Grande do Sul venha a incorporar a produção de etanol e açúcar na sua matriz agrícola, será necessário que este objetivo se estabeleça com planejamento e metas para formação de conhecimento processual próprio, que envolva a integração entre produção, C transformação e mercado. Ivan Rodrigues de Almeida, Sérgio Delmar dos Anjos e Silva, Embrapa Clima Temperado
Mapa do zoneamento
Tabela 1 - Cultivares Denominação Tipo de Registro Nº Registro Data de Registro IAC 87-3396 CULTIVAR 03031 02/12/1999 IACSP93-6006 CULTIVAR 18108 08/03/2004 RB 72454 CULTIVAR 02987 23/11/1999 RB 765418 CULTIVAR 02989 23/11/1999 RB 835089 CULTIVAR 02993 23/11/1999 RB 835486 CULTIVAR 02994 23/11/1999 RB 855156 CULTIVAR 02995 23/11/1999 RB 855453 CULTIVAR 02996 23/11/1999 RB 867515 CULTIVAR 06471 04/10/2000 SP70-1143 CULTIVAR 00005 30/09/1998 SP80-1842 CULTIVAR 00249 30/09/1998 SP83-2847 CULTIVAR 02960 11/11/1999 SP87-365 CULTIVAR 02967 11/11/1999
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Coluna ANPII
União de forças Embrapa e ANPII estudam parceria em projetos para divulgar uso de inoculantes na agricultura
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iante da importância da fixação biológica do nitrogênio para o país, de forma a economizar divisas, diminuir custos para o agricultor, aumentar a produtividade e a proteção ao meio ambiente, a Embrapa iniciará dois projetos de difusão do uso da tecnologia em todo o Brasil. Para tornar o projeto mais amplo, a Embrapa convidou a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) a se associar aos projetos, no sentido de dar a visão do setor empresarial às ações desenvolvidas. Um dos projetos será coordena-
Embrapa, desde o Sul até o Nordeste. Este projeto estimulará as pesquisas para o emprego de microrganismos fixadores de nitrogênio também em culturas de não leguminosas, como milho, arroz e cana-de-açúcar. A ANPII foi convidada a participar, inserindo o setor empresarial nas ações de mídia que serão desenvolvidas. Através do Fundo de Apoio às Pesquisas (Fapanpii), a Associação e a Embrapa desenvolverão projetos para as diversas estratégias que serão montadas para tornar o país cada vez menos dependente de fertilizantes nitrogenados, um dos fatores de encarecimento da produção agrícola
outras culturas de leguminosas ainda necessita de maior divulgação. Só para exemplificar, aproximadamente 60% da área plantada com soja utiliza o inoculante como fonte de nitrogênio, enquanto no feijão este número não passa de 10%. No caso do feijão-caupi (importante fonte nutricional para o Nordeste e Norte do Brasil, embora já com plantios que visam à exportação), o uso de inoculantes também vem se firmando, em vista da seleção de estirpes realizadas por entidades de pesquisa. Os resultados de ensaios de campo confirmam a possibilidade de se cultivar esta leguminosa tendo o inoculante
A ANPII, como entidade de classe, sente-se imensamente honrada em haver recebido esse convite que certamente trará enormes frutos para nossa agricultura do pela Embrapa Transferência de Tecnologia, sediada em Brasília, e abrangerá diversas ações de divulgação em diferentes mídias, como dias de campo, palestras, folhetos, campos demonstrativos e outras que se mostrarem convenientes para a difusão de tecnologia. Antes restritas somente às áreas de soja, estas ações abrangerão diversas leguminosas, incluindo feijão, amendoim, feijão-caupi e outras. Com isto, espera-se maior uso de inoculantes, com a consequente economia de fertilizante nitrogenado e sua substituição pelo nitrogênio aportado via biológica, com todos os benefícios daí advindos. O outro projeto será coordenado pela Embrapa Agrobiologia, sediada em Seropédica (RJ), e terá a participação de aproximadamente dez unidades da
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e também fonte de poluição ambiental. Desta forma, a empresa de pesquisas, com sua larga folha de serviços prestados ao agronegócio brasileiro, desenvolve maior número de projetos para tornar a agricultura brasileira ainda mais competitiva no cenário internacional, contribuindo também de forma decisiva para a segurança alimentar do povo brasileiro. A ANPII, como entidade de classe, sentese imensamente honrada em haver recebido esse convite, pois assim as empresas filiadas poderão participar deste trabalho que certamente trará enormes frutos para nossa agricultura. Embora o uso de inoculante para soja já seja prática comum entre os agricultores mais tecnificados, a produtividade com redução de custos nas
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como única fonte de nitrogênio. Inserida nestes projetos, a ANPII organiza um ciclo de palestras por todo o país, com o objetivo de difundir ainda mais o uso de inoculantes. Estes eventos serão ministrados por pesquisadores, abrangendo as principais regiões produtoras, do Rio Grande do Sul ao Maranhão. Em pesquisa de opinião realizada pela Associação no ano passado, a maioria dos agricultores elegeu a palestra como a mídia preferida para a divulgação da tecnologia. Assim, a ANPII, aliando-se à Embrapa, poderá realizar amplo trabalho, contribuindo com o aumento da produtividade das C leguminosas em todo o país. Solon de Araújo, consultor-técnico e de marketing da ANPII
Coluna Agronegócios
Brasil, potência energética
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o ponto de vista da disponibilidade de recursos naturais, o Brasil é um cheque que Deus deixou em branco, ficando a nosso cargo preenchê-lo e datá-lo. Ou, traduzindo para o economês, cabe-nos transformar as vantagens comparativas em oportunidades aproveitadas, de forma sustentável e competitiva. Vou discorrer sobre as nossas oportunidades energéticas, aproveitando o momento em que a Petrobras dá início aos trabalhos do projeto-piloto de exploração do campo de Tupi, parte da grande reserva do pré-sal. A Agência Nacional de Petróleo calcula que as reservas em áreas do pré-sal podem alcançar 100 bilhões de barris de petróleo, sete vezes mais do que as
para gerar energia elétrica de biomassa (florestas cultivadas, resíduos agrícolas, resíduos sólidos urbanos), eólica, fotovoltaica, sem falar nas pequenas centrais hidroelétricas. O Brasil é o único país grande consumidor de energia que pode conferir-se o luxo de planejar o futuro a partir de uma série de opções. E o único que pode, por vontade própria, eliminar o uso de combustíveis fósseis na geração de energia, no médio prazo.
Biocombustíveis
Em 2008, abastecemos veículos leves com 48% de gasolina e 52% de etanol. Por necessidade profissional, elaborei um cenário prospectivo, con-
te a área atual de soja. Lembre o leitor que o Brasil dispõe de 45 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser utilizadas, sem derrubar uma única árvore. c) A geração de empregos diretos será considerável, atingindo estimados 1,9 milhão de postos, no final do período. d) A renda gerada no eixo lavoura – indústria de transformação (sem impostos) alcançaria US$ 875 bilhões, no somatório dos 25 anos. A renda indireta e os impostos superariam um trilhão de dólares. e) A substituição de petróleo permitiria exportar 32 bilhões de barris, com ingresso de divisas de US$ 1,6 trilhão.
O incentivo ao uso de biocombustíveis permite gerar emprego e renda laboral muito superior à cadeia do petróleo nossas reservas atuais. Considerando a cotação atual, de US$ 50,00/barril, valeriam US$ 5 trilhões. Estima-se que Tupi possua nove bilhões de barris, suficientes para atender toda a demanda de petróleo brasileiro por 14 anos. Mas Deus estava de muito bom humor quando criou o Brasil e, além do petróleo escondido a cinco quilômetros sob o mar, nos deu sol, terra, água e um povo que gerou tecnologias de última geração e aprendeu a gerir o agronegócio como poucos outros. Resultado: além do petróleo, podemos gerar energia elétrica a partir de água, biomassa, vento ou sol. E temos capacidade de produzir biocombustíveis, como etanol ou biodiesel, e outros produtos energéticos das gerações seguintes, como gasolina ou diesel vegetal, até chegar ao hidrogênio.
Eletricidade
Se as grandes hidroelétricas estão escasseando (Belo Monte, no Xingu, e Santo Antônio e Jirau, no Madeira, parecem ser as últimas megausinas), dispomos de potencial ainda maior
siderando que a sociedade brasileira perseguiria, em um horizonte de 25 anos, a redução do consumo de gasolina para 2% e que, em 2035, os veículos de ciclo diesel seriam abastecidos com 5% de diesel, 12% de biodiesel e 76% de etanol. Obviamente, biodiesel e etanol devem ser entendidos como biocombustíveis derivados de oleaginosas ou de plantas intensivas em carboidratos, não importando exatamente qual biocombustível estará no mercado nos médio e longo prazos. Esta simulação permitiu vislumbrar números muito alvissareiros: a) Ao final do período, a emissão de gases de efeito estufa se reduzirá em mais de 90%. Enquanto mil litros de etanol emitem 309 quilos de CO2, o mesmo volume de gasolina emite 3.368 quilos. A relação é muito semelhante para o biodiesel ou óleo vegetal e o óleo diesel. b) A área necessária para produzir estimados 200 bilhões de litros de etanol (incluindo exportação) e 11 bilhões de litros de biodiesel é de 22 milhões de hectares, aproximadamen-
O melhor dos mundos
O incentivo ao uso de biocombustíveis permite gerar emprego e renda laboral muito superior à cadeia do petróleo, além de interiorizar o desenvolvimento e sinergizar outras cadeias, do agronegócio ou fora dele, multiplicando as oportunidades. Além das divisas com exportação de petróleo, o Brasil foge das barreiras impostas pelos países ricos aos nossos biocombustíveis. Já o petróleo é um mercado maduro, aberto, que opera sem restrições. E, finalmente, o Brasil se apresentará ao mundo como o grande país verde, com força moral para cobrar dos demais medidas severas de proteção ambiental, em especial de redução de emissão de gases de efeito estufa. Inclusive daqueles derivados do petróleo que C exportaremos! Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Agronegócio começa escalada altista a favor dos produtores O agronegócio brasileiro (com grãos, carnes, café, suco, fumo e algodão como carros-chefes) está saindo da fase negativa que enfrentou desde setembro de 2008, quando entrou no pico da crise financeira mundial e, junto, empurrou para baixo as cotações de todos os produtos citados. Começou a reação. A soja saiu na frente, mas temos também avanços nos demais produtos que caminham na linha positiva. Estamos vendo o agronegócio iniciar nova escalada altista a favor dos produtores, uma vez que a demanda mundial volta a crescer e, tem-se observado que este incremento vem de países emergentes, com a Ásia. Um exemplo forte é o caso da China, que seguirá com crescimento acelerado, com impulso inclusive da crise que atinge a Europa e os Estados Unidos. A General Motors (GM) já sinaliza que irá reduzir a produção de automóveis nos EUA e passará a produzir mais na China e, então, exportar para o solo americano. O fato se deve aos custos de produção nas fábricas chinesas, que são muito menores do que nos EUA. Assim, a Ásia ganhará com a crise. Este é o primeiro passo e certamente a Europa tenderá a enfrentar situação semelhante, já que tem custos maiores e os asiáticos ganharão com isso. O crescimento na Ásia, que tem a maior parte da população do mundo, certamente também mostrará avanço no consumo de alimentos, que ainda está distante de um quadro ideal. Desta forma estamos apenas no início de uma nova retomada no crescimento do consumo mundial de alimentos. Com boas expectativas para a safra que vem pela frente. MILHO Mostra de reação O mercado do milho (que entre março e abril chegou aos menores patamares do ano) começou a dar sinais de reação em maio, com crescimento das cotações na exportação, resultando em médias maiores para os indicativos. Os preços de compras nos portos avançaram dos R$ 21,00 a saca para os R$ 22,00 a saca e tudo indica que esse valor será superado em junho, já que a safra da Argentina teve forte queda e o país terá pouco milho para exportar neste ano. Desta forma teremos fôlego para reação nos indicativos de agora em diante. A colheita das primeiras lavouras do milho safrinha no Mato Grosso começa neste mês de junho e, por enquanto, boa parte vem comprometida com Opções da Conab e exportações para quitar dívidas com insumos. Portanto, o pouco que sobrar tende a ser valorizado pelos produtores, que devem apostar em alta no segundo semestre. O mercado em estados como o Rio Grande do Sul começou a dar os primeiros sinais de reação, em função da quebra da safra local promovida pela seca. Agora, teremos que acompanhar as geadas que também podem trazer perdas à safrinha.
setembro do ano passado, ou seja, desde o fundo do poço da crise mundial). E, como segue com forte demanda e queda na oferta devido à seca no Brasil e Argentina, os indicativos alcançaram até a faixa dos R$ 55,00 a saca nos portos para a exportação (com fôlego para manter essa cotação firme ou superar estes valores). Os olhos devem estar voltados para os Estados Unidos, já que neste mês de junho o país finalizará seu plantio e de acordo com o comportamento do clima poderá trazer apoio positivo ou negativo aos indicativos. Há boas expectativas para a soja ainda não negociada nestes próximos meses, porque seguiremos com a demanda mundial aquecida. Também veremos bons momentos para fixação da safra nova 09/10, principalmente reportes (negócios) via insumos, com relação de troca em favor dos produtores.
FEIJÃO Plantio do irrigado A safra que está sendo plantada agora é a do feijão irrigado nos estados centrais e norte da Bahia, que neste ano têm recebido chuvas regulares. Já a segunda safra se encaminha para o fechamento. Mesmo com estiagem em vários pontos do país e excesso de chuvas em outros, o crescimento da área SOJA cultivada permite bom volume de feijão para ser Nos melhores níveis desde setembro A soja continuou a mostrar avanços positivos negociado neste momento, porém, continua com em maio, fortemente apoiada pelas cotações de fôlego pequeno para uma disparada nas cotações. O Chicago (que trabalhavam nos melhores níveis desde governo tem atuado para dar liquidez e garantir o
preço mínimo de R$ 80,00 a saca através de compras diretas e pregões de Pep e Pepro. Tudo indica que as cotações devem crescer de agora em diante, saindo do fundo do poço, mas não se deve esperar por grandes avanços no curto prazo e sim níveis que fiquem ao redor do preço mínimo. ARROZ Estabilidade em junho A safra está fechada, com poucas áreas para serem colhidas no Norte, onde as inundações causaram grandes prejuízos. Agora, produtores tentam segurar o produto para forçar alta. Mas como o mercado é formado a partir do Rio Grande do Sul (onde a safra veio cheia e as indústrias estão cobertas de grandes volumes, recebidos diretamente dos produtores), há pouco espaço para grandes avanços neste mês. Pode-se esperar por leves ajustes nas médias negociadas. Os indicativos no Sul saíram dos R$ 28,00 a saca para os R$ 32,00 a saca, contra níveis de R$ 26,00 a saca, praticados no mês anterior no Rio Grande do Sul. Há boas expectativas de exportações para o setor neste ano, já que só nos dois primeiros meses desta safra já somam quase 22 mil toneladas. Por isso, as 500 mil toneladas projetadas para o ano podem ser superadas, sinalizando que há espaço para chegar à faixa de um milhão de toneladas. Assim, o quadro de oferta e demanda interno tende a ficar apertado e favorável a correções positivas nos próximos meses.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado que vinha em ritmo lento teve avanços no cenário internacional, enquanto por aqui pouco mudou. As indústrias estão trabalhando das mãos para boca. O dado positivo no mercado internacional veio através do USDA, que divulgou sua primeira estimativa da safra 09/10 (657 milhões de toneladas contra as 682 milhões de toneladas da safra anterior). No Brasil a boa notícia vem do governo, que aponta para os novos preços mínimos na faixa dos R$ 555,00 por tonelada. Assim, com uma boa produtividade, o produtor pode ter lucratividade nesta cultura que está voltando a ser atrativa para o inverno. ALGODÃO - A fase crítica do produto passou e, com a forte queda no plantio nos Estados Unidos, começa a abertura de novos espaços para a exportação. Também o USDA aponta nova queda na produção, que em 09/10 deve cair para os 106,4 milhões de fardos contra os 107,8 milhões de fardos do ano passado (quando já estava em queda). Dessa forma, os estoques são empurrados para níveis de 57,7 milhões de fardos contra 62,3 milhões de fardos do ano anterior, sinalizando que o setor algodoeiro brasileiro pode voltar a crescer. EUA - A safra 09/10 teve os seus primeiros números divulgados em maio pelo USDA, apontando que o país terá avanço na safra da soja para faixa de 85 milhões de toneladas contra 80 milhões de toneladas da safra passada. Outro fator positivo é o avanço no consumo de milho para a produção do etanol, que neste ano será de 95,3 milhões de toneladas e passará para as 104,1 milhões de toneladas no próximo ano. Mantendo um quadro bastante ajustado entre
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oferta e demanda dos principais grãos nos EUA. CHINA - Mesmo com os indicativos do mês anterior de que o país não compraria soja em maio (que não se confirmaram), as compras continuaram aquecidas e foram grandes, além de darem apoio para a soja voltar aos bons momentos, acima dos US$ 11,50 por bushel em Chicago, nos maiores patamares desde setembro. A demanda chinesa segue aquecida e junto a isso o país ainda vem sofrendo com problemas climáticos (com estiagem pegando boa parte das regiões produtoras), o que irá manter os níveis de compras. Grande parte das indústrias da Europa e Estados Unidos também deve aumentar a produção em terras chinesas para atender aos consumidores americanos e europeus (por conta dos preços de produção mais baixos). Com isso, crescerá a demanda por alimentos. ARGENTINA - O clima seco foi duro para a safra do país, com perdas gigantescas. Os resultados da soja, aguardados em torno de 50 milhões de toneladas, neste momento, finalizando a colheita, estão na casa de 32 milhões de toneladas. O milho, que tinha indicativo de até 22 milhões de toneladas, está um pouco acima de 12 milhões de toneladas. O trigo, em fase de plantio, deverá ter uma área ao redor dos 3,7 milhões de hectares, contra aproximadamente 9 milhões de hectares que chegaram a ser plantados em anos anteriores. Com isso, o país, grande exportador de alimentos, terá pouco produto para vender em 2009. E agora, com queda no plantio de trigo também, haverá pouco para comercializar em 2010 principalmente nesta cultura.