Cultivar 122

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 122 • Julho 2009 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas Capas

Paulo Roberto Valle da Silva Pereira

Vizinhança de risco.........................24

Charles Echer

Vírus transmitidos por ácaro Aceria tosichella e causadores de severos prejuízos em lavouras de trigo da Argentina são ameaça potencial no Brasil

Pesadelo daninho...................08 A competição desleal da trapoeraba, insfestante com poder de fogo para sufocar vegetais de desenvolvimento mais lento

Defesa enfraquecida................18 Efeito estabilizador................36 As dificuldades para conter o avanço do nematoide das lesões radiculares em cultivo de soja

Índice

A ação do gesso contra a falta de cálcio e a toxidez por alumínio em lavouras de algodão do Cerrado

Expediente

Diretas

04

Nova praga em milho

06

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

Gilvan Dutra Quevedo

Informe - FMC

07

Competição desleal da trapoeraba

08

Eventos - Noite do Arroz Syngenta

12

Ferrugem da soja

14

Nematoides em soja

18

GRÁFICA

Evolução do uso de fosfitos na agricultura

22

• Impressão

Virose em trigo

24

Arroz irrigado por pivô central

28

Informe - Herculex

32

Uso do gesso em plantações de algodão

36

Como funcionam adjuvantes

40

Coluna ANPII

44

Coluna Agronegócios

45

Mercado Agrícola

46

• Coordenador de Redação

Janice Ebel

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Diretores Newton Peter e Schubert K. Peter Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/

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CIRCULAÇÃO • Coordenação

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Basf

A Basf apresentou na 5ª edição da Feira de Agronegócios Copercana, em Sertãozinho (SP), o herbicida Plateau®, recomendado para uso em pré-emergência da cana-soca, o herbicida Contain®, que auxilia no controle de diversas plantas daninhas, como a grama seda, e o inseticida Regent 800 WG®, que combate pragas de solo como os cupins e migdolus. “O evento é oportuno, pois o mundo está com as atenções voltadas ao Brasil pelo imenso potencial produtivo de fontes alternativas renováveis para a produção de energia. Além disso, esta é uma excelente oportunidade para discutirmos o futuro do setor sucroalcooleiro”, avaliou Redson Vieira Redson Vieira, gerente de Cultivos Canade-açúcar e Amendoim da Basf.

Mercado

Emiliano Lima, gerente de Portfólio da Syngenta, durante a 1ª reunião do Arroz, esplanou sobre estratégias da empresa para aumentar a participação no mercado de glifosato. Também abordou a resistência de algumas plantas daninhas ao produto e salientou que a Syngenta conta com o Gramocil, que é o “defensor do glifosato”.

Emiliano Lima

Marketing

Tercio Tosta, gerente de Marketing de Distribuição e Redistribuição da Syngenta, participou da 1ª Reunião Syngenta do Arroz, em junho, em Porto Alegre (RS). Há dez anos na empresa, atualmente Tosta trabalha no marketing de varejo, coordenando ações de consumo de massa para pequenos produtores. “Trabalhar com pequenos produtores, ajudar a usar a tecnologia e melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas é muito Tercio Tosta gratificante”, afirmou.

Agrobusiness

Carlos Cogo, consultor em agribusiness, outro destaque da 1ª Reunião Syngenta do Arroz, focou sua palestra em análise do mercado da cultura, traçando uma perspectiva sobre o futuro. Salientou que o mercado é promissor, sem aumento da área de plantio, porém os aumentos devem se dar em produtividade, destacando, principalmente, os estados do Sul do Brasil.

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Atrativo extra

O criativo lançamento do inseticida Marshal, da FMC, em sete cidades brasileiras chamou a atenção e divertiu os produtores que participaram do evento. Um jogo de paintball foi atração à parte, permitindo a participação do público. “Procuramos, além de repassar ao produtor os benefícios do novo inseticida para as pragas do algodão, oferecer um agradável momento de descontração”, explica Vinícius Junqueira de Moraes, coordenador de Marketing para a região do Cerrado.

Vinícius J. de Maraes

Milho

A Bayer CropScience participou do XI Simpósio da Cultura do Milho, na Esalq/USP, onde apresentou o herbicida Soberan. “A Bayer CropScience é uma das primeiras empresas de defensivos para a cultura do milho, com um portfólio inovador e que vai ao encontro das necessidades dos produtores”, garante Douglas Scalon, gerente de Culturas Soja, Milho e Feijão para a região Centro. A empresa também apresentou o programa Muito Mais Milho, para o manejo do complexo de pragas, doenças e plantas daninhas que podem comprometer a Douglas Scalon produtividade das lavouras de milho.

Irga

O pesquisador do Irga (RS), Jaime Oliveira, durante a Reunião Syngenta do Arroz, falou sobre pragas da cultura (bicheira da raiz, percevejodo-colmo, percevejos-do-grão, lagartas-da-folha, pulgão-daraiz, lagarta panicular). Dentre os itens abordados destacaramse os resultados dos experimentos com diversos inseticidas (como por exemplo o Actara) e as dosagens utilizadas no controle.

Jaime Oliveira

Portfólio

Adilson Jauer, da área de Suporte Técnico da Syngenta, apresentou durante a 1ª Reunião Syngenta do Arroz o portfólio de produtos da empresa para a rizicultura como: Cruiser, Zapp qi, Actara, PrioAdilson Jauer re, Score e Engeo Pleno.

Tratamento de sementes

Carlos Cogo

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A Nufarm, em parceria com a Enro, passa a efetuar a co-distribuição do fungicida Sementiram 500 SC, indicado para o tratamento de sementes de algodão, soja, milho e trigo, no controle de doenças como podridão do colmo, tombamento, rizoctonia, murcha, fusariose, helmintosporiose e phomopsis. O produto ainda não possui cadastro no estado do Paraná.


Herculex I

Barter

Gerson Luis Wilges, franqueado master regional nordeste, e Jefferson Dias, franqueado comercial para a Bahia, apresentaram na Bahia, Farm Show os resultados do Herculex*I, tecnologia que oferece proteção contra insetos como a lagarta do cartucho. Com a aquisição da Agromen Tecnologia, a Dow AgroSciences dobrou sua participação no mercado Gerson Wilges e Jefferson Dias brasileiro de sementes de milho.

João Bento Reis Junior, gerente de Barter Brasil iniciou sua participação na 1 ª Reunião Syngenta do Arroz, explicando o significado desta transação comercial. Tratase da troca de mercadoria sem envolvimento de dinheiro, onde os ganhos são compartilhados. A Syngenta está oferencendo este tipo operação também para a cultura do arroz. O objetivo é reduzir o risco e criar novas modalidades de vendas de defensivos, usando para isto commodities.

Pirahy

João Bento Reis

Logística

Daniel França

Daniel França, gerente de Distribuição, falou sobre o Programa de Excelência em Distribuição Syngenta Ped Syn, durante a 1ª Reunião Syngenta do Arroz. O Ped Syn possui categorização específica para a cultura do arroz.

Agrometeorologia

A Embrapa Clima Temperado lançou novo serviço de obtenção de dados meteorológicos de Pelotas (RS) em tempo real. O serviço registra dados máximos e mínimos do dia e é atualizado a cada minuto, com informações sobre 11 variáveis: temperatura do ar, umidade relativa do ar, densidade do ar, sensação térmica, ponto de orvalho, radiação solar global, chuva, pressão atmosférica, evapotranspiração, direção e velocidade do vento, temperatura do solo desnudo a 5cm, 10cm e 20cm de profundidade. As informações podem ser acompanhadas no endereço eletrônico da unidade www. cpact.embrapa.br/agromet/

Aplicação segura

Um grupo formado por 32 produtores de municípios da região sul do Rio Grande do Sul participou em maio de curso sobre segurança na aplicação de defensivos agrícolas e uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). O evento ocorreu nas dependências do Sest/Senat, em Pelotas (RS), e foi promovido pela Syngenta em parceria com a Plantécnica Soluções Agrícolas.

A Pirahy Alimentos, de São Borja (RS), participou da primeira edição da Expoarroz. A empresa atua no mercado desde 1975, com tecnologias para o beneficiamento da cultura. O diretor-presidente, Celso Paulino Rigo, mostrou-se satisfeito. “É uma grande oportunidade para aproximar o setor como um todo. A iniciativa de juntar toda a cadeia produtiva em um só evento para oportunizar negócios foi muito positiva”, avaliou.

Celso Paulino Rigo (centro)

Acelera

O empresário rural João Antonio Franciosi, campeão de 2006 do Rally dos Sertões, participa da 17ª edição do evento, na categoria Carros Protótipo, com um modelo Sherpa, patrocinado pela FMC. Natural de Casca, no Rio Grande do Sul, Franciosi vive há 22 anos no município de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, onde cultiva 23 mil hectares de algodão e 16 mil hectares de soja.

João Antonio Franciosi (direita)

Stoller do Brasil

A Stoller participou do V Congresso Brasileiro de Soja, em maio, em Goiânia (GO). A equipe de técnicos orientou os visitantes do estande sobre o uso adequado do biorregulador Stimulate. De acordo com o representante da empresa, Sergio Martins Mariuzzoo, o produto melhora o desenvolvimento do sistema radicular e contribui para o maior aproveitamento de água e nutrientes pelas plantas.

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Milho

Futuro ameaçado

A produção de sementes de milho no Brasil tem novo desafio. Lagartas Dichomeris famulata penetram na espiga em formação e danificam principalmente o embrião em desenvolvimento, o que compromete a germinação. Riscos da praga se estendem também às lavouras de sorgo

A

Fotos Luiz Henrique Marques

produção de sementes de milho no Brasil encontra-se diante de nova praga. A lagarta Dichomeris famulata Meyrick, 1914 (Lepidoptera: Gelechiidae), além de atacar o milho, pode se constituir em importante praga do sorgo. A nova praga vem sendo estudada no Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), em Piracicaba, São Paulo. Há relatos de danos na Colômbia, na cultura do sorgo, conforme relata trabalho de Ciro et al, (1992). Observações realizadas no Campus de Piracicaba mostram que ataca também o sorgo no Brasil, embora os danos ainda passem despercebidos (por esse cereal ainda ser pouco cultivado). No milho, os danos são sentidos economicamente apenas em campo de semente, porque as lagartas penetram na espiga em formação e danificam principalmente o embrião das sementes em desenvolvimento, comprometendo a posterior germinação. Em relação à produção normal de milho, os danos não chegam a afetar o peso e portanto a produção não é prejudicada. Aparentemente, passam despercebidos porque os insetos vivem localizados próximos ao sabugo, junto

Ovos colocados nas rugosidades da palha da espiga de milho

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à inserção dos grãos. Os estudos realizados na Esalq/USP mostram que cada lagarta consome aproximadamente 18 embriões (que equivalem à mesma quantidade de grãos). Assim, em um hectare com 60 mil espigas, para 1% de infestação, cada lagarta prejudicará o equivalente a R$ 46,80 em valor monetário, considerado o preço de R$ 235,00 (FNP, 2009) a saca com 60 mil sementes. Dependendo da época do ano, podem ser encontradas de quatro lagartas/espiga a 11 lagartas/espiga e nesse caso o valor terá de ser multiplicado por quatro ou 11, evidenciando os prejuízos sentidos pelas produtoras de sementes. No campo de produção de semente de milho é comum a realização de aproximadamente 20 pulverizações contra pragas, para assegurar a produtividade. Mas por enquanto a lagarta não tem sido alvo dessas aplicações (embora tal prática acabe reduzindo de alguma maneira essa nova praga). As pesquisas realizadas em condições de laboratório, visando principalmente a biologia e o comportamento alimentar da praga têm mostrado que suas lagartas vivem protegidas no interior das espigas, não sendo atingidas pelas pulverizações. Apenas quando saem dos ovos, colocados nos estilos-estigmas “cabelo” das espigas é que podem ser alcançadas, porém, esse período é muito curto e se manifesta quando as espigas estão em formação, ocasião em que as plantas estão bem enfolhadas, oferecendo maior proteção à praga.

M. L. de Carli

Lagarta (esquerda) e adulto (direita) de Dichomeris famulata

Verificou-se que os adultos são ávidos por alimentação, vivendo aproximadamente 40 dias nessa forma, à procura de alimento para assegurar uma boa prole. Durante esse período, a fêmea coloca em média 117 ovos, alguns inclusive na ranhura da palha das espigas. Decorridos cerca de quatro dias, nasce uma lagartinha que dá início à penetração no interior da espiga a partir dos estilos-estigmas. As lagartas vivem em média 21 dias até o seu completo desenvolvimento, quando então entram na fase de pupa, que dura em média oito dias. Para facilitar a emergência dos adultos, as pupas se localizam sob a palha das espigas. Baseando-se no comportamento dos adultos, verificou-se que é possível controlá-los com isca tóxica e os trabalhos desenvolvidos com inseticidas em mistura com mel ou melaço têm proporcionado bons resultados. Segundo Ciro et al, (1992), os danos produzidos por essa praga em sorgo, na Colômbia, foram da ordem de 3 mil kg/ha-1 para uma população de 42 lagartas por panícula, consumindo cada lagarta aproximadamente 21 grãos. Os danos em sorgo, no Brasil, ainda não foram estabelecidos, mas sabe-se que a praga ocorre e está C presente também nas nossas lavouras. Luiz Henrique Marques e Octavio Nakano, Esalq

Danos causados por Dichomeris famulata, praga que ataca as espigas ainda em formação quando as plantas encontram-se bem enfolhadas e, assim, protegem a praga

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Fotos FMC

Eventos

Contra os piores

FMC lança novo inseticida para a cultura de algodão, com foco no controle das quatro pragas mais temidas pelos cotonicultores insetos com um único produto e numa única aplicação é uma grande vantagem, pois elimina diversas aplicações ou a prática de mistura de produtos, frequentemente utilizada”, explica Vinícius Junqueira de Moraes, coordenador de Marketing para a região do Cerrado. Gustavo Canato, gerente de Produtos da FMC, destaca as vantagens do produto. “O grande diferencial do Marshal Star é a formulação mais concentrada, que possibilita aplicação com doses reduzidas, conferindo maior praticidade ao usuário e redução do descarte de embalagens.” C

“Tiroteio”

E

L

ançar dez novos produtos para algodão. Esta é a meta da FMC para os próximos quatro anos e meio. A empresa projeta colocar no mercado defensivos diferenciados, como forma de ampliar sua participação na cultura. Dentro deste conceito, apresentou aos cotonicultores de todo o Brasil, em junho, o Marshal Star, inseticida que substitui a combinação de diversos produtos para o controle de pulgões, percevejos, bicudo e

lagartas de primeiros instares, através de contato ou ingestão, com poder de choque e maior flexibilidade de aplicação. O produto pertence ao grupo químico dos metilcarbamatos de benzofuranila, ingrediente ativo carbosulfan 700g i.a./ha. A formulação do produto é concentrada emulsionável – EC – e está registrado na cultura do algodão na dosagem de 1,0 l/ha para aplicações até os 70 dias após a emergência. “A possibilidade de controlar vários

Resultados da aplicação do produto sobre pragas em algodoeiro

Fonte: FMC

ventos nas cidades de Luís Eduardo Magalhães (BA), Correntina (BA), Chapadão do Sul (MS), Primavera do Leste (MT), Rondonópolis (MT), Lucas do Rio Verde (MT) e Sapezal (MT) promoveram o novo produto. Além de palestras sobre o Marshal Star, os produtores puderam participar de partidas de paintball, jogo que exige estratégia e simula um combate entre as equipes, com armas carregadas de tinta. “Um jogo muito parecido com o manejo das lavouras, onde você não tem margem para erros. Assim como o novo inseticida Marshal Star, os participantes devem definir suas táticas e agir momento certo”, explica Vinícius.

Jogo que simula combate divertiu produtores

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Plantas daninhas

Dirceu Gassen

Pesadelo daninho

Presentes na maior parte dos solos com boa fertilidade as plantas do gênero Commelina apresentam crescimento rápido e vigoroso, competem por luz e nutrientes e sufocam vegetais de desenvolvimento mais lento, como várias culturas agrícolas. No manejo químico da trapoeraba é preciso lançar mão da integração com outros métodos de controle, para que o herbicida atinja a eficiência desejada sem demandar novas aplicações ou aumento de dose

O

gênero Commelina apresenta 170 espécies que habitam os mais diversos ecossistemas tropicais e subtropicais. São encontradas desde ambientes palustres e aquáticos (Commelina obliqua, Commelina diffusa), florestas (Dichorisamdra sp) até os agrícolas (Commelina sp), sendo facilmente localizadas junto a diversas culturas, onde são popularmente denominadas de trapoeraba. A diferenciação das espécies do gênero Commelina é bastante complexa em alguns casos. Para Kissmann (1991), os herbários brasileiros são incompletos com exsicatas geralmente danificadas e quase sempre sem flores, dificultando ainda mais a identificação taxonômica. Desta forma, para o mesmo autor, muitas das informações técnicas definindo sítios específicos de ocorrência de determinada espécie foram prejudicadas. Mesmo assim, este autor lista sete espécies da família Commelinaceae de ocorrência no Brasil, apresentadas na Tabela 2. Das espécies listadas na Tabela 2, destacamos Commelina diffusa, Commelina erecta, Murdannia nudiflora e Commelina benghalensis por estarem presentes em di-

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versos agroecossistemas. Notoriamente a C. benghalensis é relatada como planta daninha em 25 culturas em 28 países, enquanto C. diffusa encontra-se associada a 17 lavouras em 26 países e Murdannia nudiflora em 16 culturas em 23 países (Holm et al, 1991). No Brasil, a Commelina é uma planta daninha importante, presente em diversas culturas como café, soja, milho, citros, cana-de-açúcar, arroz, pastagens, frutíferas, hortaliças e ornamentais. São plantas adaptadas a solos úmidos e geralmente com boa fertilidade apresentam rápido e vigoroso crescimento, competindo por luz e nutrientes e prejudicando significativamente outras plantas que vegetam juntas (principalmente as de crescimento mais lento como as culturas agrícolas.) Em pastagens também se observa o seu rápido crescimento, “sufocando” as gramíneas e leguminosas. Costa et al, (2004), avaliando a convivência de quatro plantas por metro quadrado de Commelina benghalensis sobre o desenvolvimento inicial de mudas de Eucalyptus grandis, em condições brasileiras, determinaram que houve prejuízo significativo no desenvolvimento da cultura, independentemente da época de plantio (verão ou inverno). Cabe

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salientar que mesmo em baixa densidade (quatro plantas m-2), realidade fácil de se observar no campo, foi capaz de prejudicar a cultura. Dias et al, (2001), corroboram esta informação, pois determinaram a partir da densidade de oito plantas m-2, o efeito deletérico desta densidade de trapoeraba sobre o crescimento inicial do cafeeiro, reduzindo em até 59% a massa seca das folhas e em 56% a área foliar. Além da competição (dano direto), exercida pelas Commelinas, há também o dano indireto que podem causar, prejudicando as culturas. Neste sentido podemos citar a C. benghalensis que é reservatório do nematoide Meloidogyne incognita (Valdez 1968) e do vírus do amendoim (Adams 1967), assim como a C. diffusa como hospedeiro alternativo de Cuscuta filiformis L. e do Meloidogyne arenaria, e do vírus do mosaico do pepino (Valdez 1968). Do ponto de vista agronômico, provavelmente a principal característica das Commelinas seja o seu difícil controle nos campos agrícolas. No caso do Brasil, isto é notório principalmente para C. benghalensis, devido a sua frequência e



Tabela 1 - Indicação de herbicidas registrados para controle da C. benghalensis. (Lorenzi et al. 2000, 2006; Rodrigues & Almeida 2005, modificado) Herbicidas 2,4-D 2,4-D + picloram MSMA S-metolacloro acetocloro acifluorfem-sódico acifluorfem-sódico + bentazona alacloro alacloro + atrazina ametrina ametrina + clomazona ametrina + diurom ametrina + simazina ametrina + trifloxissulfurom-sódico amicarbazona atrazina atrazina + S-metolacloro atrazina + bentazona atrazina + dimetenamida atrazina + isoxaflutole atrazina + nicossulfurom atrazina + simazina azafenidina azafenidina + hexazinona bentazona bromacil + diuron carfentrazone clomazone cloransulam-metyl clorimurom-etyl dazomete dicloreto de paraquate dimetenamida diurom diurom + MSMA diurom + dicloreto de paraquate diurom + glifosato diurom + hexazinona fluazifop-P-butílico + fomesafem flumiclorac-pentyl flumioxazin fomesafem foransulfurom + iodossulfuron glyfosate glifosato + imazethapyr hexazinona Imazamox imazapic + imazapyr imazaquim imazaquim + metribuzim imazaquim + pendimetalina imazaquim + trifluralina imazethapyr isoxaflutole lactofem linurom nicossulfurom oxifluorfem simazina sulfentrazone tebutiurom terbutilazin

PRE N N ** E E ** ** E N E E N N E E E E ** E E E E E E ** E ** E ** ** E ** E E E ** N E ** ** N ** ** ** ** E ** E E E E E ** N N N ** N N E E N

Modo de aplicação POStardia POSinicial E E E E E E ** ** ** ** N N N E ** ** ** N E E N E E E N E E E N E N N ** N N E ** ** * E N E ** N ** E ** ** N E E E E E ** N * N N E ** ** N E ** ** N N E E E E N E N E N E N E N E N E N E N N N E N E * E N E ** N ** ** ** ** ** ** N E ** ** N E N N N N N N ** ** ** N ** ** ** **

* - sem informação; ** - forma de aplicação não recomendada; E – controle >85 % ; N - controle <85 %

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Plantaadulta E * N ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** N ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** E ** ** ** ** N ** ** N N N ** ** N ** ** N N * ** ** N ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** **

grau de abundância em diversas culturas. Desta forma, segue a descrição da espécie (Kissmann 1991, Lorenzi 1991 e 2008, modificado).

Commelina benghalensis

Planta originária do sudeste asiático, monocotiledônea, perene, herbácea, ereta ou semiprostrada, muito ramificada, caules suculentos e articulados, grossos e alongados, medindo 30cm a 70cm de altura. Apresenta como característica singular reprodução por sementes subterrâneas, por meio de flores modificadas nos rizomas, com formação de sementes por partenocarpia, pouco maiores que as sementes das flores aéreas, e com capacidade de germinar a até 12cm de profundidade. Folhas: curto-pecioladas, quase sésseis, ovalado-lanceoladas, glabras ou levemente pubescentes (mais densa na face inferior), medindo 6cm a 12cm de comprimento; bainha invaginante membranácea, fechada, com até 2mm de comprimento, protegendo as gemas, com nervação longitudinal de coloração violácea e esparsamente ciliada. Existem biótipos com folhas glabras e outras com pilosidade esbranquiçada. Inflorescência: ocorre na parte terminal dos ramos, protegida por uma espata (bráctea), subcordada ou ovalada, inserida em direção oposta à folha, com duas flores a cinco flores de coloração azul; frutos aéreos e subterrâneos. Frutos: cápsulas ovoides (2mm a 4mm de comprimento), com dois lócus, apresentando até cinco sementes. Na frutificação subterrânea as sementes são maiores. Uma planta de Commelina benghalensis pode produzir até 1.600 sementes (Pancho 1964). Sistema subterrâneo: apresenta rizomas carnosos de coloração branca, com formação de flores modificadas; raízes fasciculadas e também raízes adventícias a partir dos nós. Apesar do desenvolvimento preferencial da C. benghalensis se dar sob condições de alta umidade do solo, a espécie pode permanecer em solos com baixa umidade e crescer rapidamente com o início das chuvas. Isto é possível graças à quantidade de água retida no caule e rizomas (desta forma há germinação das gemas no retorno das chuvas). Os caules formam ramos que ao serem cortados regeneram em novas plantas com facilidade. O mesmo ocorre com os rizomas, o que aliado às suas frutificações favorece ainda mais a perpetuação da planta nas áreas agrícolas, caracterizando-a como daninha pelos prejuízos significativos que causam na produção, inviabilizando economicamente a área de plantio, como unidade agrícola.


Tabela 2 - Espécies da Família Comelinaceae presentes no Brasil

Controle

Nome científico Commelina benghalensis Commelina erecta Commelina diffusa Commelina robusta Murcannia nudiflora Tradescantia albiflora Tripograndra diuretica

Nos aspectos de controle da trapoeraba, também se devem levar em consideração vários outros fatores, principalmente aqueles relacionados à boa prática agrícola. Recomenda-se procurar sempre o manejo integrado das diversas formas de controle, notoriamente o uso correto dos herbicidas, que devem ser aplicados de forma técnica e criteriosa, buscando sempre maximizar a sua eficiência e minimizar o impacto ambiental.

Método químico - Herbicidas

Aplicados em doses convenientes diretamente sobre a vegetação para absorção foliar (tratamento de pós-emergência) ou no solo para absorção por tecidos formados após a germinação da semente e antes da emergência da planta na superfície (tratamento de pré-emergência). Devido a sua boa praticabilidade de uso, aliada à eficiência como agente de controle, no programa de manejo das plantas daninhas, o uso de herbicidas tende a sobrepujar os demais métodos. Menosprezando os outros métodos de controle, pode-se prejudicar a eficiência do herbicida, necessitando novas aplicações ou aumento na sua dose para atingir a mesma performance (o que não é desejável, tanto do ponto de vista ambiental como agronômico e econômico). Para o controle químico da C. benghalensis, atualmente no Brasil há registros junto à Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) de 47 ingredientes ativos, de responsabilidade de 21 empresas, comercializados na forma isolada ou como componentes de misturas de 126 produtos comerciais, recomendados para diversas culturas: soja, café, citros, milho, cana-de-açúcar, algodão, feijão, pastagens, entre outras. Mesmo com uso de herbicidas, a C. benghalensis é uma planta daninha de difícil controle. Não é incomum observar no campo situações de escape, independentemente da aplicação ter sido realizada na pós ou préemergência. Um dos motivos para isto acontecer é a proteção que as bainhas exercem sobre as gemas, evitando, assim, o contato direto dos herbicidas que são aplicados como pós-emergentes. Do mesmo modo para aqueles aplicados diretamente sobre o solo (pré-emergentes), em função das sementes que germinam nos rizomas até 12cm de profundidade. Neste caso, há o escape pela pequena percolação (lixiviação) dos herbicidas no perfil do solo, de modo que não conseguem atingir as sementes mais profundas. A Tabela 1 indica herbicidas utilizados para o controle da C. benghalensis e seu provável nível de controle. Cabe salientar que a ordem dos herbicidas não representa nenhum tipo de preferência e o nível de controle é apenas um indicativo. Há variações destes valores em função da dose do herbicida e formulação utilizada, condições edafoclimáticas, turgidez da C. benghalensis e sua correlação com as outras plantas daninhas presentes na área e o tipo de cultura. Desta forma, a consulta de um agrônomo responsável é necessária. C Flávio Martins Garcia Blanco Instituto Biológico

Flavio M. Garcia Blanco

Método cultural

No planejamento do programa de manejo

Tradescantia diuretica

integrado das plantas daninhas deve-se levar em conta esta prática, porém, no caso da C. benghalensis, esta é realizada com muito cuidado, pois quando se efetua capina mecânica, especialmente com cultivadores tracionados, ocorre quebra de ramos e de rizomas, espalhando-se pedaços que podem germinar, ocorrendo assim, intensa disseminação da trapoeraba na lavoura. O uso de roçadeira, prática comum para o controle das plantas daninhas em culturas perenes, também deve ser empregado com mais critério. Na prática, observa-se o controle principalmente das gramíneas anuais e uma seleção das plantas daninhas menores que a altura da lâmina de corte (aquelas com hábito de crescimento prostrado ou semiprostrado, como é o caso da trapoeraba).

O objetivo deste método é realizar ações que impeçam a entrada da trapoeraba na área de plantio, introduzida pelos diversos tratos culturais pertinentes à cultura. Isto pode ocorrer pelo trânsito de máquinas (que tendem a levar propágulos de uma área para outra através da terra aderida aos pneus e a outras partes dos equipamentos). Desta forma é necessária a lavagem do maquinário, evitando, assim, a contaminação entre áreas por propágulos de plantas daninhas exóticas. No caso das culturas perenes (frutíferas, citros e café), a escolha das mudas para o plantio é muito importante. Deve-se verificar o seu estado fitossanitário, certificando-se que a trapoeraba não está vegetando junto com as mudas. Do mesmo modo, a compra de sementes fiscalizadas é primordial para evitar a contaminação de novas áreas de plantio por sementes de C. benghalensis.

Uso de capina

Commelina nudiflora, Aneilema nudiflora, Murdannia malabarica

Nome comum Trapoeraba Trapoeraba, Andaca Trapoeraba, Capim-gomoso Trapoeraba Trapoerabinha Trapoeraba-branca Trapoeraba-rósea

Kurt 1991 e Lorenzi 2000, 2008, adaptado

Método preventivo

Definido por qualquer mudança, incremento ou redução de algum manejo na lavoura que exerça pressão negativa na população, acarretando no controle da comunidade florística já instalada na área agrícola. Muitas destas práticas colaboram para a diminuição do banco de sementes (propágulos), existentes no solo, reduzindo a população das plantas daninhas. No caso da C. benghalensis e de muitas outras plantas daninhas, a diminuição do espaçamento é uma prática aconselhável, pois há redução do tempo para o sombreamento da entrelinha de plantio, desfavorecendo as plantas daninhas. No caso específico da trapoeraba, a drenagem do solo é muito desejável, pois esta planta não se desenvolve muito bem nesta condição. Na implantação de culturas perenes, o plantio em consórcio (ex: com milho, feijão) é indicado, pois não prejudica a cultura em formação, fornece renda extra para o agricultor e, na ocupação das entrelinhas de cultivo, preenche o espaço em que as plantas daninhas como a trapoeraba poderiam estar se desenvolvendo.

Sinonímia Commelina prostrata, Commelina cavaleriei Commelina virginica, Commelina elegans, Commelina deficiens Commelina communis, Commelina aquática, Commelina agraria

Situação de escape de Commelina benghalensis após aplicação de herbicida para controle de plantas daninhas

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Eventos

1ª Reunião Syngenta do Arroz

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da empresa, de retornar ao mercado de arroz, o diretor-geral da Syngenta, Laércio Giampani, disse que estão sendo empregados investimentos e recursos necessários para oferecer uma nova proposta ao mercado. “Queremos ocupar uma posição de destaque em curto espaço de tempo, de forma sustentável.” Os produtos Cruiser, Fotos Sedeli Feijó

Syngenta anunciou oficialmente que está preparada para investir forte no mercado brasileiro do arroz. O comunicado foi feito durante evento em junho, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Participaram da reunião aproximadamente 150 pessoas, entre pesquisadores, influenciadores, diretores e presidentes de cooperativas, além de distribuidores ligados à cadeia produtiva da cultura. A meta inicial da empresa é de atingir 20% de participação no mercado orizícola (Marketing Share) e em seguida ampliar esse percentual para 25%. “Através de tecnologia inovadora e produtos competitivos, viemos para ficar”, promete o gerente de Marketing Arroz da Syngenta, Felipe Fett. O anúncio foi precedido de trabalho com orizicultores. Para chegar à 1ª reunião Syngenta do Arroz a empresa realizou 34 Dias de Campo com a participação 1.262 agricultores. Mostrar o portfólio de produtos e soluções para a cultura além de ouvir os desafios e necessidades dos produtores estiveram entre os objetivos principais. Ao assumir o compromisso, em nome

Laércio Giampani, diretor geral da Syngenta assumiu compromisso com produtores

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Zapp qi, Actara, Priori, Score e Engeo Pleno e as soluções em negócios, Barter e Ped Syn com categorização específica para arroz, integram o pacote apresentado aos orizicultores. Giampani enfatizou ainda a preocupação com o meio ambiente. “Hoje é vital produzir mais no mesmo espaço, fazer mais com menos, levando em consideração que recursos como terra e água são limitados. A natureza tem limites e as empresas têm um papel de compensar estes desgastes”, lembrou. A 1ª Reunião Syngenta do Arroz contou com palestrantes como Jaime Oliveira, do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), do consultor Carlos Cogo, Emilhano Lima, gerente de Portfólio Brasil, Daniel França, gerente de Distribuição, e João Reis, gerente de Barter. “Nosso principal objetivo foi apresentar para os distribuidores e influenciadores da cultura do arroz o que é a Syngenta e que viemos para ficar, por ser este um mercado atrativo e importante para o crescimento da empresa. Procuramos mostrar que estamos investindo e buscando o compromisso das pessoas dessa reunião”, explicou Felipe Fett, gerente de C Marketing Arroz.



Dirceu Gassen

Soja

Sensibilidade monitorada Menor eficiência de triazóis aplicados de forma isolada contra Phakopsora pachyrhizi em 2008 acende sinal de alerta e intensifica acompanhamento da sensibilidade das populações de ferrugem-da-soja aos fungicidas DMI e Qol no Brasil

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ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) tem sido, desde a safra 2001/02, uma doença muito prejudicial para a soja no Brasil. O patógeno é bem conhecido por seu forte impacto negativo tanto na quantidade quanto na qualidade das colheitas. Em áreas onde o patógeno ocorre comumente, já foram reportadas perdas de até 80%. Até ser detectado no Havaí em 1994, P. pachyrhizi estava limitado ao hemisfério Leste. O fungo se propagou e, atualmente, já pode ser encontrado na Ásia, Austrália, África, na América do Sul e nos Estados Unidos. A rápida propagação de P. pachyrhizi e o potencial de severas perdas de rendimento que o organismo representa fazem desta a mais destrutiva doença foliar da soja. A primeira detecção da ferrugem da soja na América do Sul ocorreu no Paraguai em fevereiro de 2001, em um número reduzido de lavouras na bacia do Rio Paraná, próximo ao Brasil. Em 2002, o P. pachyrhizi já havia se espalhado por todo o Paraguai e era detectável em algumas áreas da fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Durante a safra de 2002/03, a ferrugem da soja foi finalmente detectada nas principais regiões de cultivo de soja do Brasil. O ciclo da doença começa com a germinação dos uredósporos e a penetração direta ocorre em um período curto de tempo. Na maioria dos casos, um apressório desenvolve na ponta do tubo germinativo. Após a penetração do tubo hifal na epiderme, as hifas crescem intracelularmente e colonizam o mesófilo rapidamente. Sob condições ótimas, as urédias diferenciam-se depois de cinco a sete dias. E, após cerca de nove dias, liberam uredósporos novos. Fungicidas utilizados para controlar a ferrugem-da-soja nos últimos seis anos pertencem principalmente aos grupos químicos das estrobilurinas (Qol) e triazóis (DMIs), que inibem a respiração mitocondrial ou a biosíntese de esterol, respectivamente. Estrobilurinas como a trifloxistrobina, inibem diretamente a germinação dos uredósporos, enquanto os triazóis,

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como o tebuconazole, inibem com eficiência o alongamento do tubo germinativo e o crescimento micelial. Por causa do nível muito alto de eficácia, produtos puros à base de triazol foram utilizados com bastante frequência sob condições curativas nos últimos seis anos. Durante o primeiro trimestre de 2008, se observou menor eficácia dos triazóis isolados em relação à esperada, especialmente nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, as misturas de triazol + estrobilurina apresentaram desempenhos muito bons. Em geral, uma eficácia normal para os triazóis foi reportada no Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná), onde o ataque da ferrugem é normalmente mais baixo. Nas situações em que o desempenho de triazóis estava aparentemente prejudicado, foi observado um padrão semelhante: • plantio mais tardio com variedades de soja com ciclos de médios a longos; • grande intervalo entre a primeira e a segunda pulverização, por conta de uma estiagem prolongada em janeiro/fevereiro; • aplicações feitas principalmente sob condições curativas fortes (até 40% de infestação na terceira pulverização em alguns casos); • e pressão muito tardia, porém intensa da doença. Considerando-se a importância do grupo de fungicidas triazóis para o controle da ferrugemda-soja, a Bayer CropScience trabalha na avaliação da situação há alguns anos. Por isso, foi a primeira empresa no Brasil a desenvolver um programa de monitoramento da sensibilidade a fungicidas, que agora está bem estabelecido e é referência para importantes entidades de pesquisas que estudam a doença no país. Os resultados obtidos nos permitem observar possíveis alterações da sensibilidade e obter mais conhecimento sobre os aspectos biológicos e epidemiológicos do fungo da ferrugem-asiática. Além disso, devido à experiência com vários outros patógenos em cereais, para os quais, na Europa, foram observados em alguns anos o desenvolvimento e a propagação da resistência a fungicidas QoI (estrobilurinas), os programas de monitoramento de sensibilidade e de manejo de resistência de P. pachyrhizi no Brasil focam não apenas os triazóis, mas também as estrobilurinas. Informações sobre o modo de ação bioquímica, mecanismos de resistência e também a respeito das características de resistência a fungicidas Qol e DMI formam a base de estratégias sólidas de manejo de resistência e de uma interpretação correta de dados de monitoramento de sensibilidade: • Fungicidas QoI (estrobilurinas) inibem a respiração fúngica ao fazer a ligação ao citocromo b do complexo III no local Qo na cadeia de respiração mitocondrial. As primeiras estrobilurinas chegaram ao mercado em


1996. Pouco depois, apareceram os primeiros relatos de resistência. Assim, já em 1998, foram detectados isolados de oídio do trigo (Blumeria graminis f. sp. tritici) que eram resistentes a fungicidas QoI no norte da Alemanha (Felsenstein, 1999). Foram descritas 11 possíveis mutações de pontos em duas regiões do gene citocromo b (cytb) que, isoladamente ou em combinação, conferiam resistência a Qol, (Geier et al, 1993; Brasseur et al, 1996). Entretanto, dentre todos os mecanismos de resistência a fungicidas Qol descritos até agora, a mutação de alvo G143A é de longe a de maior importância em nível prático. A causa desta resistência é um polimorfismo de nucleotídio único (single nucleotide polymorphism, SNP) no gene do citocromo b do fungo, o que leva a uma substituição de aminoácidos de glicina com alanina na posição 143 da proteína do citocromo b. Esta mutação de ponto já foi identificada em diversos patógenos de plantas. Estudos realizados com diferentes patógenos demonstraram que a aptidão de cepas que sofreram mutações permanece praticamente inalterada. Fatores de resistência são tipicamente altos (Gisi et al, 2000), com valores absolutos que variam - dependendo do sistema de teste - de diversas centenas a

José Tadashi Yorinori

O plantio tardio com variedades de ciclos médios a longos está entre os fatores onde se observou baixo desempenho de triazóis

mais de mil. Em conformidade com isso é possível ocorrer perda completa de controle com fungicidas Qol se o gene de resistência G143A predominar em uma população de fungos. Ou seja, na prática, se predominar este gene no campo, claramente teremos uma resistência cruzada para todos os fungicidas

Qol (estrobilurinas). Outra mutação no citocromo b, a substituição de fenilalanina por leucina na posição 129 (F129L), foi identificada pela primeira vez em Alternaria solani em batatas nos Estados Unidos (Pasche et al, 2002). Em


contraste com a mutação G143A, mutantes F129L apresentam fatores de resistência apenas moderados. Os autores descrevem, portanto, a perda de sensibilidade como uma “mudança”. Além disso, a pesquisa (que se concentra na elucidação do mecanismo de resistência bioquímica de isolados menos sensíveis obtidos no campo) caracterizou vários outros mecanismos de resistência desde 1999. Entretanto, tais mecanismos de fato não têm grande importância prática e são, por exemplo: • a indução de uma rota de respiração alternativa (oxidase alternativa, AOX) fazendo um desvio do local-alvo do citocromo b (Ziogas et al, 1997), uma alteração na rota de respiração de fungos que pode ser induzida facilmente sob condições in vitro; • uma taxa de respiração basal mais alta (Brand et al, 1993); • Fungicidas DMI (triazóis), inibem a desmetilação de C14 de 24 metilenodiidrolanosterol dentro da biosíntese fúngica de esterol. O desenvolvimento de resistência contra fungicidas DMI já foi reportado para vários patógenos, como Erysiphe graminis, Mycosphaerella fijiensis e Venturia inaequalis. Os DMI são amplamente utilizados na prática e são a espinha dorsal do controle de doenças em muitas culturas, embora principalmente produtos mais antigos não estejam mais apresentando o nível inicial de atividade. Defensivos com atividade intrínseca mais alta estão mostrando um nível alto, estável e confiável de eficácia na prática. Com base em uma grande quantidade de publicações disponíveis sobre o mecanismo de resistência dos fungicidas DMI, fica claro que a resistência a fungicidas DMI baseia-se prin-

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cipalmente no acúmulo de várias mutações. Portanto, o tipo característico de resistência a DMIs é frequentemente descrito como “seleção contínua” ou “em alteração”. Uma extensa gama de experiências está disponível com relação não apenas às consequências da resistência a DMI em nível prático, mas também relativamente às ferramentas efetivas para o manejo de tal resistência. Se ocorrer resistência a fungicidas DMI, de modo geral ela está relacionada ao uso intensivo após vários anos. A resistência aos triazóis é caracterizada por uma gradativa perda de eficácia sob condições de campo. Uma perda total do controle é raramente observada. Se a pressão de seleção está diminuindo, um retorno parcial a populações de patógenos mais sensíveis foi detectado em diversos casos (Kuck, 2002). O desenvolvimento relativamente lento de resistência oferece boas oportunidades para seu manejo efetivo. Embora tenham sido reportados alguns casos de resistência após o lançamento dos DMIs no mercado, nas décadas de 80 e 90, uma situação relativamente estável foi alcançada desde então e o volume de produtos do grupo DMI permanece sem qualquer declínio e em nível extraordinariamente alto no mercado (Phillips McDougall, 2006). Consequentemente, o risco de resistência a fungicidas DMI é classificado como “médio” ou “moderado” (Brent & Hollomon, 1998, 2007, Frac 2009). Até o momento, diversos métodos de identificação da sensibilidade foram verificados para determinar sua aplicabilidade no caso da ferrugem-da-soja. Estrobilurinas inibem a germinação dos esporos. Portanto, um sistema de teste baseado neste parâmetro é adequado para o processo de monitoramento

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Bayer

Andreas Mehl fala de triazóis e do programa de monitoramento da sensibilidade a fungicidas

das estrobilurinas. Estudos de incorporação de rótulos radiativos demonstraram que dentro das seis primeiras horas de germinação, não foi possível detectar qualquer biosíntese significativa de esterol, ou seja, durante a germinação do esporo, não existe produção de ergosterol. Por causa do início tardio da biosíntese de esterol fúngico durante a germinação, um teste de germinação de esporos não pôde ser aplicado para o monitoramento da sensibilidade dos triazóis. Com métodos in vivo, como ensaios de folhas destacadas determinando diretamente as interações entre plantas e patógenos, a sensibilidade de populações de ferrugem-dasoja aos triazóis pode ser avaliada de modo estável e adequado. Até o final da colheita de 2007/2008, os dados de monitoramento da sensibilidade gerados com amostras de ferrugem-da-soja vindos de diferentes estados brasileiros, inclusive do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, não apresentavam aumento significativo nos valores de EC50 de DMI. Entretanto, embora tenham sido detectadas algumas amostras mais altas de EC50 no final da colheita, os dados, como um todo, apresentavam flutuação normal ao longo dos anos analisados de acordo com as experiências com flutuação de sensibilidade realizadas em outras regiões e com outras doenças. As variações de sensibilidade que foram observadas podem estar relacionadas ao momento da amostragem e de diferentes regiões. No geral, os dados de 2008 indicam que o desempenho mais baixo de fungicidas DMI aplicados de forma isolada no início do ano não pode ser explicado por uma mudança significativa na sensibilidade da população de ferrugem e, sim, por uma pequena seleção de algumas populações um pouco menos sensíveis ao final da safra. Na verdade, o menor controle observado em algumas situações isoladas apenas no final da safra está relacionado a outros fatores. Entre esses motivos há uma epidemia incomum (forte pressão de inóculo), associada a pulverizações tardias e muito


Fotos José Tadashi Yorinori

curativas, intervalos muito grandes entre as pulverizações, doses reduzidas, absorção reduzida por conta de folhas endurecidas etc. Sob tais condições climáticas desfavoráveis, a atividade curativa do composto não consegue alcançar o nível necessário. Nenhuma alteração da sensibilidade foi detectada no caso de estrobilurinas, o que indica que não há sinal da presença de populações de ferrugem-da-soja que portem a mutação da localidade-alvo G143A. Os estudos de monitoramento da safra 2008/2009 estão em andamento e serão concluídos em julho de 2009. Os dados de sensibilidade obtidos neste período fornecerão mais informações sobre a sensibilidade das populações de ferrugem-da-soja aos fungicidas DMI e Qol no Brasil. As recomendações do Frac (Fungicide Resistance Action Committee, www.frac. info, o Comitê de Ação contra Resistência a Fungicidas) devem ser seguidas para elaborar estratégias corretas de manejo de resistência. O uso de misturas de triazol + estrobilurina deve ser considerado como boa estratégia para reduzir o risco de resistência a ambas as classes de fungicidas e para evitar o uso excessivo de produtos puros. Além disso, as misturas de triazol +

O uso de misturas de triazol + estrobilurina é a recomendação como estratégia para reduzir o risco de resistência a ambas as classes de fungicidas

estrobilurina apresentam também superioridade, pois o parceiro QoI reduz a penetração fúngica no tecido foliar durante a fase inicial do desenvolvimento da ferrugem e, portanto, otimiza a ação do triazol. Finalmente, a estratégia mais eficiente para o controle da ferrugem-da-soja e para um manejo sólido da doença é reduzir a quantidade do inóculo desde o início por meio de: • adoção do vazio sanitário; • eliminação das plantas voluntárias de soja; • uso de cultivares precoces; • escolha do momento mais adequado para o plantio (mais cedo);

• adoção do tratamento de sementes; • aplicação de misturas estrobilurina + triazol; • momento da pulverização com base no monitoramento e no nível da doença (preventivo); • Não realizar aplicações curativas; • reduzir os intervalos de pulverização para, no máximo, 15 dias, especialmente em situações de grande pressão de doença no caso de plantios tardios; C • fazer rotação de culturas. Andreas Mehl, Bayer CropScience AG


Soja

Defesa vulnerável Favorecido por mudanças no sistema de produção, o nematoide das lesões radiculares se transforma em um dos principais vilões em lavouras de soja brasileiras. A ausência de variedades com alto nível de resistência e a extensa gama de hospedeiros estão entre os maiores entraves para o controle da praga

Fotos Waldir Pereira Dias

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as últimas safras, o nematoide das lesões radiculares (Pra tylenchus brachyurus) tem causado enormes prejuízos à cultura da soja no Brasil. O parasita foi beneficiado por mudanças no sistema de produção e a incorporação de áreas com solos de textura arenosa (<15% de argila) também aumentou a vulnerabilidade da cultura. Nas lavouras com o problema, em geral, observam-se reboleiras onde as plantas de soja exibem porte reduzido e intenso escurecimento de raízes, sobretudo da raiz principal. Várias medidas podem ser cogitadas para o controle de nematoides, mas em geral as mais indicadas são a rotação de culturas com espécies vegetais não hospedeiras e a utilização da resistência genética. Como cultivares de soja com

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alto nível de resistência ainda não estão disponíveis, a técnica mais indicada, atualmente, para o manejo de P. brachyurus é a rotação de culturas, alternando-se cultivos de soja com outras culturas de verão e principalmente de inverno que sejam resistentes ao nematoide. Contudo, a definição de esquemas de rotação fica muito complicada, pois este nematoide tem uma gama de hospedeiros muito ampla e poucas culturas, além da soja, apresentam viabilidade econômica para cultivo na região Centro-Oeste do Brasil, onde o problema tem sido mais sério. Então, o ideal é que, no futuro, o agricultor também disponha de cultivares de soja mais resistentes e/ou tolerantes para semear nas áreas infestadas. Além da soja, P. brachyurus pode parasitar a aveia, o milho, o milheto, o girassol,

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a cana-de-açúcar, o algodão, o amendoim, alguns adubos verdes e a maioria das plantas daninhas. Entretanto, existe diferença entre e dentro das espécies vegetais, com relação à capacidade de multiplicá-lo. De várias espécies testadas, em experimento conduzido em casa de vegetação da Embrapa Soja, as que apresentaram os menores fatores de reprodução (FR) para P. brachyurus e as populações mais baixas do nematoide nas raízes da soja semeada na sequência (bioensaio) foram: Crotalaria breviflora, C. spectabilis, C. ochroleuca, C. mucronata, milheto ‘BN2’, milheto ‘ADR 7010’, milheto ‘ADR 300’, girassol ‘Catissol’, girassol ‘Hélio 251’, girassol ‘Embrapa 122’, milho ‘BRS 3123’, aveiapreta, girassol ‘IAC Uruguai’, C. juncea e milheto ‘ADR 500’ (Tabela 1). Especialmente no caso do milho, a cultura mais


Dirceu Gassen

Detalhes do nematoide Pratylenchus brachyurus

utilizada em rotação/sucessão com a soja no Brasil, a existência de variabilidade dentro do germoplasma, acena para a necessidade de se avaliar a reação dos principais híbridos e cultivares comercializados no país. Genótipos com FR menores (de preferência inferiores a 1,0) devem ser sempre os preferidos para semeadura em áreas infestadas, em rotação/sucessão com a soja, pois contribuem para uma redução mais rápida das populações do nematoide no solo. Como a interação de P. brachyurus com a soja é menos complexa, não havendo necessidade de formação de nenhuma célula especializada de alimentação, como

Para reduzir mais rapidamente a população da praga em um solo infestado, a recomendação é o plantio de variedades que apresentem os menores fatores de reprodução

ocorre com os nematoides de cisto (Heterodera glycines) e de galhas (Meloidogyne spp.), as chances de se encontrar fontes de resistência são menores. Todavia, avaliações em casa de vegetação e em área naturalmente infestada mostraram

que, embora as principais cultivares brasileiras de soja indicadas para o Brasil central não sejam resistentes a P. brachyurus (FR<1,0), diferem bastante com relação às capacidades de multiplicá-lo e de tolerá-lo (Tabela 2). A despeito da


possibilidade destes dois caracteres serem controlados por gene(s) diferente(s), algumas cultivares com FR relativamente baixos (BRSGO Chapadões, M-SOY 8378RR, M-SOY 8360RR, M-SOY 8585RR, M-SOY 8045RR, BRS Aurora, CD 219RR, TMG 103RR etc) também apresentaram maior tolerância (nota baixa para escurecimento de raízes) ao parasita (Tabela 2). Cultivares mais tolerantes e com FR menores são as mais indicadas Tabela 1 - Fatores de reprodução (FR)1 de Pratylenchus brachyurus em algumas espécies vegetais, aos 85 dias após a inoculação em casa de vegetação com 600 espécimes, e números de nematoides por planta (NNP)2 de soja (bioensaio). Médias3 de seis repetições Espécie vegetal quiabo ‘Santa Cruz’ soja ‘PI 595099’ soja ‘Ranson’ soja ‘BRSMT Pintado’ mucuna anã soja ‘BRS 133’ soja ‘PI 553045’ milho P 30F80 soja ‘Coker 338’ soja ‘Forrest’ soja ‘Hutton’ mucuna cinza soja ‘Coker 136’ soja ‘BRS Celeste’ soja ‘BRS 68 [Vencedora]’ labe-labe soja ‘MG/BR 46 (Conquista)’ sorgo ‘IG 150’ milheto ‘ADR 500’ soja ‘Pickett 71’ Brachiaria brizantha ‘Marandu’ soja ‘Peking’ Crotalaria juncea girassol ‘IAC Uruguai’ aveia preta girassol ‘Embrapa 122’ milho ‘BRS 2114’ milho ‘BRS 3123’ Brachiaria decumbens guandu anão ‘IAPAR 43’ guandu Fava Larga girassol ‘Hélio 358’ milheto ‘ADR 300’ girassol ‘Catissol’ milho ‘ADR 7010’ girassol ‘Hélio 251’ Crotalaria breviflora Crotalaria spectabilis milheto ‘BN2’ Crotalaria mucronata Crotalaria ochroleuca

FR 6,6 a 4,7 a 4,0 b 3,8 b 3,3 b 3,2 b 3,1 b 2,9 b 2,9 b 2,9 b 2,7 b 2,6 b 2,5 b 2,4 b 2,2 b 2,2 b 2,2 b 2,2 b 1,8 c 1,7 c 1,7 c 1,6 c 1,3 c 1,1 c 0,9 c 0,7 c 0,7 c 0,7 c 0,6 c 0,6 c 0,4 c 0,4 c 0,2 c 0,2 c 0,2 c 0,2 c 0,0 c 0,0 c 0,0 c 0,0 c 0,0 c

NNP 16.320 b 7.311 c 11.360 b 20.640 a 5.240 c 14.080 b 23.361 a 5.854 c 9.120 c 6.961 c 9.867 c 14.121 b 21.017 a 7.200 c 13.229 b 8.000 c 8.688 c 7.200 c 1.867 d 6.347 c 6.667 c 7.521 c 0d 2.667 d 2.000 d 3.640 d 4.667 c 3.494 d 6.400 c 4.667 c 8.933 c 4.707 c 1.867 d 3.494 d 480 d 3.067 d 0d 40 d 2.267 d 1.733 d 201 d

1FR= (população final de nematoides/população inicial); 2NNP= números de nematoides por planta de soja ‘BRS 133’ cultivada no vaso durante 60 dias, após a incorporação das raízes da espécie vegetal avaliada; 3médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna, não diferem significativamente (p=0,05) pelo teste de Skott & Knot;

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Waldir Pereira Dias

para semeadura em áreas infestadas e, também, para uso como parentais, em programas de melhoramento. Considerando que, na maioria das lavouras de soja afetadas, normalmente as populações de P. brachyurus estão muito elevadas, o uso da cultivar de soja resistente e/ou tolerante deve ser sempre precedido de rotação/sucessão com uma espécie vegetal C não hospedeira. Waldir Pereira Dias, Embrapa Soja Universidade Estadual de Londrina

À direita da foto, raíz com sintomas de ataque de Pratylenchus

Tabela 2 - Fatores de reprodução (FR)1 de Pratylenchus brachyurus em genótipos de soja, aos 85 dias após a inoculação em casa de vegetação com 600 espécimes, e Notas2 (0-3) para a intensidade de escurecimento de raízes da soja, aos 30 dias após a semeadura em área naturalmente infestada. Médias3 de seis (FR) ou dez repetições (Nota) Genótipos TMG 117RR TMG 115RR BRSGO Ipameri BRSGO Raíssa Embrapa 20 (Doko RC) M-SOY 8866 M-SOY 109 TMG 113 RR M-SOY 9350 M-SOY 6101 TMG 108RR BRS Jiripoca TMG 121RR M-SOY 8287RR P 58001 M-SOY 9010 M-SOY 8001 TMG 106RR M-SOY 8914 M-SOY 8222 M-SOY 8199RR BRI03 416 M-SOY 8870 M-SOY 8550 BRS Gralha BRSMT Uirapuru MT/BR 51 (Xingu) M-SOY 9056RR BRS Favorita RR ADR Topazio BRSGO Iara BRSMG 68 [Vencedora] BRSMG 251 [Robusta] BRI03 7346 M-SOY 8329 M-SOY 8352RR M-SOY 8757 M-SOY 8248 Dowling BRS Valiosa RR TMG 103RR M-SOY 8000RR

FR 24,6 a 16,8 b 15,7 b 15,3 b 14,7 b 14,0 b 13,8 b 13,7 b 13,0 c 12,8 c 12,7 c 12,0 c 11,7 c 11,5 c 11,3 c 11,2 c 11,2 c 11,0 c 10,8 c 10,7 c 10,5 c 10,5 c 10,4 c 10,3 c 10,0 c 9,8 c 9,8 c 9,8 c 6,5 d 6,5 d 6,3 d 6,3 d 6,2 d 6,2 d 5,8 d 5,5 d 5,4 d 5,4 d 5,2 d 5,0 d 5,0 d 4,8 d

Nota 1,6 b 1,7 a 1,5 b 2,0 a 1,8 a 1,6 b 1,7 a 2,3 a 1,6 b 1,3 b 2,1 a 1,5 b 1,4 b 2,0 a 2,1 a 1,6 b 1,3 b 1,5 b 1,3 b 1,9 a 1,9 a 1,9 a 2,0 a 2,4 a 2,0 a 1,8 a 1,8 a 1,8 a 1,8 a 1,3 b 1,8 a 1,8 a 1,9 a 1,8 a 1,9 a 1,8 a 1,4 b -

Genótipos M-SOY 8849 BRSGO Paraíso FMT Kaíabi CD 217 P 58009 M-SOY 8008 DM 309 M-SOY 8527 RR BRSMT Pintado BRS Pirarara BRS Sambaíba M-SOY 8787RR M-SOY 9030 BRI03 970 BRSMG 250 FMT Perdiz M-SOY 8336 IAC 100 M-SOY 8211 BRSGO Luziânia FMT Tabarana M-SOY 7878 RR P 98N71 M-SOY 7908RR M-SOY 9001 M-SOY 8411 M-SOY 8925 FMT Tucunaré CD 219RR BRS Celeste BRS Aurora M-SOY 8998 M-SOY 8045RR M-SOY 8585RR PI 171444 M-SOY 8384 BRSGO 204 [Goiânia] M-SOY 8800 MG/BR 46 (Conquista) M-SOY 8360RR M-SOY 8378 BRSGO Chapadões

FR 9,8 c 9,8 c 9,5 c 9,2 c 8,6 d 8,6 d 8,5 d 8,2 d 8,2 d 8,0 d 8,0 d 7,8 d 7,7 d 7,7 d 7,5 d 7,5 d 7,3 d 7,3 d 7,2 d 7,2 d 7,2 d 7,0 d 7,0 d 6,8 d 6,8 d 6,7 d 6,7 d 6,7 d 4,6 d 4,5 d 4,4 d 4,3 d 4,2 d 4,0 d 4,0 d 3,7 d 3,5 d 3,3 d 3,3 d 2,8 d 2,6 d 1,2 d

Nota 2,0 a 1,5 b 1,8 a 2,1 a 2,0 a 1,7 a 1,7 a 1,9 a 1,7 a 1,8 a 1,7 a 1,9 a 1,7 a 1,6 b 1,3 b 1,9 a 1,3 b 1,4 b 2,0 a 1,2 b 2,0 a 1,6 b 1,8 a 1,4 b 1,8 a 1,5 b 1,4 b 2,0 a 1,7 a 1,9 a 1,2 b 1,4 b 1,3 b

1FR= (população final de nematoides/população inicial); 2Nota 0 (zero)= raízes totalmente livres de escurecimento, 3= escurecimento máximo; 3médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem significativamente (p=0,05) pelo teste de Skott & Knot.

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Nutrição Fotos Dirceu Gassen

Longa trajetória A aplicação agrícola de fosfitos percorreu extenso caminho até se firmar como importante fonte nutricional no mercado de fertilizantes

H

á certa confusão nos países da Europa e da América do Norte e que atinge países de outras regiões, sobre os termos utilizados para produtos químicos e fertilizantes que contêm fósforo (P), após o lançamento dos produtos comercializados como fosfitos. O termo fosfonato é empregado para descrever qualquer produto que contenha ligação carbono e fósforo. Alguns exemplos de fosfonatos incluem inseticidas organofosforados, determinados herbicidas, produtos farmacêuticos etc. Outros fosfonatos também podem existir em formas de vida como protozoários, moluscos e pseudofungos do grupo oomicetos. Os fosfitos são sais alcalinos de ácido fosforoso (H3PO3) e podem ser incluídos no grupo dos fosfonatos. O ácido fosforoso pode ser obtido do tricloreto de fósforo (PCl3) reagindo com água, originando como subproduto o ácido clorídrico (HCl). O ácido fosforoso misturado com água é chamado de ácido fosfônico. O ácido fosfônico (H3PO­3) é forte e para ser utilizado nas plantas deve ser combinado com outras substâncias químicas para aumentar o pH da solução e reduzir

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o potencial de injúria nas plantas. Um dos meios de reduzir a acidez do ácido fosfônico é neutralizá-lo com um sal alcalino, geralmente o hidróxido de potássio, resultando em soluções de mono ou dipotássio de ácido fosforoso (normalmente, denominados de fosfito de potássio). No Brasil estão registrados no Ministério da Agricultura soluções de fosfitos, potássio, cálcio, magnésio, zinco e boro. Na Tabela 1, pode-se observar a garantia mínima, as características e como são obtidas estas soluções de fosfito. Alguns dos principais fertilizantes fosfatados, como superfosfatos simples e triplo e os

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fosfatos de amônio (MAP e DAP) são derivados de rocha fosfatada e/ou do ácido fosfórico (H3PO4), obtido da reação da apatita com ácido sulfúrico (H2SO4). Comparando a molécula do íon fosfato (H2PO4-) à do íon fosfito (H2PO3-) a única diferença é que há um átomo a menos de oxigênio no fosfito (Figura 1), pois este não está totalmente oxidado como o íon fosfato. Esta pequena diferença, que leva à perda de simetria da molécula característica dos ortofosfatos, determina efeitos na planta totalmente diferenciados do fosfito em relação ao fosfato.

Figura 1


Tabela 1

Figura 2 - Reação para elaboração do Fosetyl-Al Fertilizante (solução) Ácido fosforoso Fosfito de Potássio Fosfito de Cálcio Fosfito de Magnésio Fosfito de Zinco Fosfito de Manganês

Histórico

As primeiras investigações dos fosfitos como fertilizantes ocorreram na Alemanha e nos Estados Unidos, nas décadas de 30 e 40, devido à preocupação com a interrupção do fornecimento de rocha fosfatada para a produção de fertilizantes. Assim, fontes alternativas de P foram investigadas na década de 50. Fosfito foi determinado ser uma fonte pobre de fósforo a partir do momento em que plantas tratadas com o produto cresceram fracamente. Este composto foi eliminado do mercado como uma fonte potencial de fósforo. Quatro décadas depois, retornou ao mercado agrícola quando começou a ser vendido como fungicida, a partir do momento que encontraram propriedades antifúngicas, principalmente contra Phytophthora. O primeiro fosfito foi elaborado através do etil-fosfonato reagido com íon alumínio, formando o produto comercial Fosetyl-Al, que, quando aplicado à planta, libera fosfito, como produto da hidrólise (Figura 2), responsável pela proteção das plantas contra doenças. Quando a patente da marca registrada Fosetyl-Al expirou várias indústrias de defensivos criaram fungicidas à base de fosfitos, pela simples formulação de fosfitos com potássio, amônio, sódio e alumínio. Esses fungicidas foram utilizados no controle de doenças causadas por Phytophtora sp. nas culturas do abacate, abacaxi, cacau e árvores nativas da Austrália (Jarra sp. e Banksia sp.) e dos Estados Unidos (carvalho).

A efetividade do combate a doenças do fosfito encobriu os interesses de uso do produto como fertilizante. Entretanto, interesses nas propriedades nutricionais do fosfito foram revistos quando a pesquisadora da Universidade da Califórnia, Carol Lovatt, descobriu que deficiência de fósforo em citros causava mudanças no metabolismo do nitrogênio. Com a aplicação de fosfito de potássio a resposta bioquímica da planta voltou a se normalizar, ficando até superior se comparada a uma planta sadia. Além disso,

Garantia Mínima (solúvel em água) 80% P2O5 28% P2O5 20% K2O 28% P2O5 5% Ca 28% P2O5 3% Mg 38% P2O5 8% Zn 28% P2O5 8% Mn

Lovatt mostrou que o tamanho do fruto e a produtividade em abacate foram aumentados quando aplicado fosfito de potássio via foliar. Em citrus, a aplicação de fosfitos via foliar, no pré-florescimento aumentou ao número de flores, produtividade, tamanho de frutos e sólidos solúveis. Após o trabalho de Lovatt começou a comercialização de composto fosfito como fertilizante. O produto foi patenteado e passou a ser vendido para aplicação foliar, para as mais C variadas culturas. Leandro J.G.Godoy UNESP

Estudos avaliam as qualidades dos fosfitos tanto na proteção das plantas contra doenças como no emprego como fertilizante em diferentes culturas


Trigo

Vizinhos do perigo

o Fotos Paul

Roberto Va

lle da Silva

Pereira

Dois vírus de impacto econômico no cultivo de trigo na Argentina ameaçam a cultura no Brasil. Tratam-se de Wheat streak mosaic virus (WSMV) e de HPV (High plains virus), ambos transmitidos por um ácaro denominado Aceria tosichella. A presença do vetor, a proximidade geográfica e a similaridade de clima e vegetação justificam o alerta e a necessidade de monitoramento intenso das lavouras brasileiras

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C

ultivado desde os primórdios da humanidade e responsável pela ocupação de extensas áreas geográficas, o trigo se tornou hospedeiro natural de vários vírus. No Brasil, principalmente o produtor do Sul do país (pela importância econômica da cultura na região) está familiarizado com a ocorrência de duas viroses: o nanismo amarelo e o mosaico comum. Além das duas viroses de impacto econômico que ocorrem no trigo no Brasil, várias outras são conhecidas por acometer essa cultura, sendo que muitas causam impacto econômico em outros países. Algumas foram descritas no Brasil, mas sua importância até o momento vem sendo ignorada. Outras podem vir a ocorrer, fato que depende apenas da sua capacidade de se dispersar e de se estabelecer nas condições brasileiras. Neste sentido, viroses de impacto econômico que já ocorrem em países vizinhos devem ser especialmente consideradas. Na América do Sul, uma virose conhecida como mosaico estriado, causada pelo Wheat streak mosaic virus (WSMV) (Tritimovirus, Potyviridae) foi relatada em 2002 na Argentina. Na safra de 2007 causou perdas expressivas em lavouras das principais regiões produtoras daquele país. Está entre as mais importantes para a cultura do trigo no mundo. Em 2008, outro vírus de impacto econômico foi relatado na Argentina, o HPV (High plains virus). Em comum, o WSMV e HPV são transmitidos por ácaro denominado Aceria tosichella Keifer (Prostigmata: Eriophyidae). A presença de A. tosichella foi comprovada na Argentina em 2004 e relatada oficialmente no Brasil em 2008. A presença do vetor, a proximidade com a Argentina e a similaridade de clima e vegetação justificam medidas de monitoramento e de mitigação de danos relacionados às viroses transmitidas por A. tosichella. O WSMV causa sintomas do tipo mosaico, ou seja, assim como para o mosaico comum há uma alternância entre áreas verdes e cloróticas e os sintomas se iniciam desde a base da folha até seu ápice. Como apenas com base em sintomas é muito difícil fazer diagnóstico preciso, indícios de que se trata de mosaico estriado e não de mosaico comum podem ser obtidos pela ocorrência de plantas doentes em locais onde nunca antes fora observado o mosaico comum. Outro indicativo é a presença do ácaro vetor (o que em condições de campo é muito difícil de se perceber pois o ácaro é diminuto e perceptível somente em altas populações). O diagnóstico preciso depende necessariamente de exames sorológicos e moleculares realizados em laboratório. Um fator de risco associado ao WSMV é a transmissão por sementes. Embora ocorra em taxas em torno de 1%, é o suficiente para a introdução do patógeno e em locais onde exista o vetor pode dar início a epidemias.


Fotos Dirceu Gassen

O diagnóstico da virose causada pelo ácaro Aceria tosichella deve ser realizado através de exames sorológicos e moleculares em laboratório

Mato Grosso do Sul). É causado por espécies dos vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV) (Luteovirus, Luteoviridae) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV) (Polerovirus, Luteoviridae), transmitidas por pulgões ou afídeos (Hemiptera, Aphididae). Nas condições brasileiras, as espécies de pulgões mais importantes nos cereais de inverno são o pulgão da aveia (Rhopalosiphum padi), o pulgão verde dos cereais (Schizaphis graminum), o pulgão da espiga (Sitobion avenae) e o pulgão da folha (Metopolophium dirhodum). Os sintomas característicos que dão nome à doença são o amarelecimento e enrijecimento do limbo foliar e a redução da altura (nanismo) das plantas. O amarelecimento ocorre do ápice para a base da folha. As plantas com sintomas normalmente se encontram em reboleiras no campo. Plantas infectadas logo no início do desenvolvimento apresentam redução da massa da parte aérea, atraso no ciclo de desenvolvimento e redução da produtividade. Para as cultivares atualmente recomendadas, a redução na produtividade tem sido de até 60% em infestação controlada e até 25% em condições de epidemia natural. O comprometimento do sistema vascular torna as plantas menos capazes de resistir a outros estresses, por isso, em situações de

Atualmente no Brasil estão sendo monitoradas, através de levantamento de campo, as populações de A. tosichella e realizados testes para detectar a possível ocorrência dos vírus transmitidos. Também para estimar seu impacto na triticultura nacional, o nível de resistência de genótipos brasileiros às viroses será determinado. Considerado o risco potencial que estas viroses representam, os programas de melhoramento devem buscar incorporar resistência aos vírus transmitidos por A. tosichella.

Viroses presentes no Brasil

O nanismo amarelo apresenta ampla distribuição, com frequente ocorrência em todas as regiões tritícolas tradicionais do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e sul do

déficit hídrico, a redução na produtividade pode ser ainda maior. O ciclo da doença depende da presença de plantas hospedeiras e de afídeos vetores. O afídeo adquire o vírus ao se alimentar da seiva de uma planta infectada. Uma vez ingeridas, as partículas virais circulam pelo corpo do inseto até se acumularem nas glândulas salivares. A partir deste estádio, quando o afídeo se alimenta em uma planta sadia, ocorre a transmissão do vírus. O vírus não é transmitido por nenhum outro inseto, sementes, solo ou mecanicamente. Portanto, interferir no ciclo do afídeo contribui para diminuir a progressão da epidemia. O controle adequado depende de estratégias que atuem sobre o vetor e o vírus. Nas condições brasileiras, o controle biológico tem contribuído para a manutenção da população do vetor em níveis não alarmantes, reduzindo o dano direto causado pelos afídeos. Nesta categoria se destacam os parasitoides (microimenópteros). Atualmente, o percentual de parasitismo no campo tem sido alto e, afídeos coletados no campo geralmente se mostram parasitados. Mesmo com o controle biológico, o monitoramento da população de afídeos é essencial para o controle da virose. Sobretudo para as regiões mais quentes e que apresentam o plantio de trigo antecipado. Atenção especial deve ser dada à formação de populações de afídeos, seja em plantas voluntárias ou em plantios de aveia. O controle químico via tratamento de sementes com moléculas de ação sistêmica (neonicotinoides) tem sido importante aliado para a redução das perdas, sobretudo para cultivares mais suscetíveis e menos tolerantes.

Imagem do ácaro Aceria tosichella, recentemente relatado no Brasil


A resistência genética e a tolerância são aliadas importantes. Neste caso podem ser utilizadas cultivares resistentes ao vírus e ao vetor. O uso de cultivares mais resistentes deve ser considerado principalmente para aqueles produtores que não desejam fazer uso do controle químico. Aos que podem optar por estratégias variadas, recomenda-se fazer um balanço entre o potencial produtivo da cultivar, nível de suscetibilidade, risco da ocorrência de epidemia e custo do tratamento químico.

Mosaico comum

Dirceu Gassen

O mosaico comum do trigo é causado pelo Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV) (Furovirus). Esta virose apresenta distribuição mais restrita (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná) às áreas em que o frio e a umidade na época do plantio favorecem o vetor Polymyxa graminis, parasita obrigatório que se assemelha em alguns aspectos aos fungos, mas que pertence a um grupo taxonômico distinto. Em anos de precipitação intensa na época de plantio pode ocorrer aumento da extensão das áreas afetadas por mosaico. Os sintomas da infecção pelo SBWMV no campo são caracterizados pela presença de plantas amareladas, de crescimento retardado, com distribuição em grandes áreas irregulares, especialmente em locais de maior acúmulo de umidade. O sintoma típico em folhas é o mosaico, ou seja, no limbo foliar alternam-se áreas verdes e amareladas. Os desenhos decorrentes são variados (às vezes observam-se listras e em outras a distribuição é mais irregular). Diferentemente do que ocorre com o nanismo amarelo, os sintomas cobrem toda a folha e iniciam-se desde a sua base. Para as cultivares mais suscetíveis pode ocorrer morte das plantas ou a formação abundante de brotações, com folhas e brotações curtas.

Tabela 1 – Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pulgões em trigo Espécie Monitoramento2 Tomada de decisão (média) Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphia graminum1) Contagem direta (emergência ao afilhamento) 10% de plantas infectadas compulgões Pulgão-do-colmo (Rhopelosiphum pedim) Contagem direta (elongação ao emborra10 pulgões/afilho chamento) Pulgão-da-folha (Metopolophium dirhodum) Contagem direta (espigamento 10 pulgões/espiga e pulgão-da-espiga (Sitobion avenae) ao grão em massa) 1

Denominado Rhopelosiphum graminum pelo MAPA; 2 Mínimo de 10 pontos amostrais por talhão

Tabela 2 – Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-doscereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes – nome comercial, formulação, concentração, doses, classe toxicológica e registrante Nome técnico Clorpirifós etílico Dimetcato

Nome Formulação1 comercial* Lorsban 480 BR EC Dimexion EC Dimetcato CE EC Perfekthion EC Tiomet 400 CE EC Fenitrotione Sumithion 500 CE EC Sumithion UBV UL Imidacloprido3 Gaucho WS Gaucho FS FS Imidacloprid + betaciflutrina Connect SC Metamidófos Tamaron BR SL Parationa metílica Folidol 800 EC Tiametoxam3 Cruiser 700 WS WS Tiametoxam + lambacialotrina Engeo Pleno SC Triazófos Hostathion 400 BR EC

Concentração Dose do produto comerClasse (g l.a./kg ou L) cial (kg ou L/ha) Toxicológica2 480 0,50 (a), 0,30 (b,c) II 400 0,83 (a) I 400 0,83 (a) I 400 0,70 (a) I 400 0,82 (a) I 500 2,00 (a) II 950 0,50 (a) II 700 0,05 (c) IV 800 0,08 ( c), 0,10 (d) IV 100+12,5 0,5 (d), 0,25 (b) II 800 0,20 (a) II 800 0,50 (a) I 700 0,025 (b) III 141+108 0,05 (c), 0,15 (d) III 400 1,00 (a) I

Registrante Dow Bayer Milenia Basf Sipcam Sumitomo Sumitomo Bayer Bayer Bayer Bayer Bayer Syngenta Syngenta Bayer

1 EC = Concentração imulsionável; FS = Suspensão concentrada p/tratamento de sementes; SC = Suspenção concentrada; SL = Concentrado solúvel; UL = Ultra baixo volume; WS = Pó deperalvel p/tratamento de sementes. 2 Classe I = Extremamente tóxico; Classe II = Altamente tóxico; Classe III = Medianamente tóxico; Classe IV = Pouco tóxico. 3 Em tratamento de sementes, dose para 100 kg de sementes. * O uso dos inseticidas indicados, além do registro no MAPA, esta sujeito à legislação de cada estado.

Tabela 3 – Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-dos-cereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes – ingrediente ativo, dose, efeito sobre predadores e parasitóides, intervalo de segurança, índice de segurança e modo de ação Inseticida Clorpirifós etílico Dimetcato Fenvarelato Fenitrotiona Imidacloprido Imidacloprido + betaciflutrina Metamidófos Parationa metílica Tiametoxam Tiametoxam + lambacialotrina Triazófos

Dose g i.a./ha 192 (a) 350 (a) 30 (a) 500 (a) 35-36 (c)5 50+8,25 (d) 25+3,125 (b) 120 (c) 480 (a) 17,5 (b)5 7,05 + 5,3 (c) 21,2 + 15,9 (d) 200 (a)

Toxicidade1 Predadores Parasitóides A B A S A A M A A

A S

Índice de segurança3 Intervalo de Oral Dermal segurança2 (dias) 85 1042 21 157 284 28 5333 16667 17 50 600 14 571 a 5714 >11428 -5 333 >533 14 21 15 -5 42 42 28

15 4 16674 2510 835,5 36

160 14 >28571 18194 >5391 550

Modo de aplicação4 C, I, F, P C, F, S C, I C, I, P S C, I, S C, I, S C, I, F, F S S S C, I

Toxicidade a predadores, Cycloneda sanguínea e Eriopsis connexa e a parasitóides (Aphidius spp.); S (seletivo) = 0-20% de mortalidade; B (baixa) = 21-40%; M (média) = 41-60%; A (alta) 61-100%; 2 Período entre a última aplicação e a colheita; 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a dose do produto; IS = (DLsc x 100 / g i.a. por hectare); 4 C = contato; F = fumigação; I = ingestão; P = profundidade; S = sistêmico; 5 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes.

1

Sintomas da virose do nanismo amarelo

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Nestes casos, geralmente, não há a formação de espigas e, se há, o número e o peso dos grãos são reduzidos. O convívio com o mosaico comum exige que se evite plantar em áreas com histórico da doença, principalmente em locais de baixada

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com alta umidade presente no solo. Nas regiões de ocorrência da virose é fundamental a C utilização de cultivares resistentes. Douglas Lau, Embrapa Trigo


Informe Murilo Lobo Júnior

Ação erradicante

Fungicida fabricado pela BR3 Agrobiotecnologia demonstra ótima alternativa para o manejo químico de doenças de plantas

O

manejo de doenças de plantas preconiza o uso integrado de todas as medidas disponíveis para seu controle, sem descuidar da preocupação econômica e ambiental. Entre as medidas estão incluídos a resistência genética, a rotação de culturas, o uso de sementes e de mudas livres de patógenos, o tratamento de sementes com fungicidas, a desinfestação química ou física do solo e/ou de substratos, o controle biológico em todos os seus aspectos, o manejo da irrigação e da fertilidade do solo, o uso de populações de plantas indicadas pela pesquisa, o uso de fungicidas em órgãos aéreos, entre outras. A existência no mercado de fungicidas com características diversas, permite que sejam empregados em função das necessidades e exigências presentes em cada situação. Os chamados fungicidas de contato caracterizam-se pela ação erradicante e/ ou esporicida. A atividade desse grupo de fungicida descreve os efeitos no estágio de pós-sintoma, como, por exemplo, a ação inibitória do crescimento micelial de diversos fungos ou da morte das estruturas, como esporos, que ocorrem em doenças

comumente denominadas ferrugem. Nesse sentido, o fungicida Fegatex, desenvolvido pela empresa BR3 Agrobiotecnologia, vem demonstrando esses efeitos, erradicante e esporicida, sobre diversos fungos que causam doenças de grande importância agronômica. Tais como fungos causadores de ferrugens na soja (Phakopsora pachyrhizi) no café (Hemileia vastatrix); fungos causadores de podridões na soja e no feijão (Sclerotinia sclerotiorum) e outras doenças como Colletotrichum gloeosporioides, oídio em pepino (Podosphaera xantii), pinta preta em tomate (Alternaria solani), entre vários outros. A ação de inibição rápida do fungicida Fegatex sobre estruturas de fungos implica diretamente na evolução das doenças em nível de campo. Segundo José Pedro de Castro, gerente comercial da empresa, esses efeitos, erradicante e esporicida, do produto Fegatex estão sendo observados também em nível de campo por técnicos e produtores, onde estão apostando nos bons resultados obtidos com uso do mesmo. De acordo com Adriano Pimenta, fitopatologista e coordenador Agro de PD&I da BR3 Agrobiotecnologia, “o conhecimento

das características individuais de cada doença, das peculiaridades de seu controle e da ação dos produtos químicos disponíveis é de fundamental importância para que o produtor consiga planejar estratégias gerais de controle que englobem as doenças existentes na lavoura”. Vale salientar que o uso indevido de fungicidas pode resultar na seleção de fungos fitopatogênicos resistentes e, consequentemente, gerar problemas graves, tais como aumento de custos, resíduos em alimentos e contaminações ambientais. Uma das maneiras de se evitar a resistência de fungos é não utilizar fungicidas que circulam na planta e dar preferência aos fungicidas de contato. O Fegatex é um produto com ação de contato e erradicante. Mais ainda, não é agressivo ao homem e ao meio ambiente. A BR3 Agrobiotecnologia está contribuindo imensamente para a agricultura brasileira, disponibilizando ao mercado agrícola um fungicida-bactericida-esporicida com ação C de choque: Fegatex. Eliane Gonçalves da Silva, Fitopatologista e assistente de pesquisa e desenvolvimento da BR3 Agrobiotecnologia

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Arroz

Sem desperdício Maior produtividade, uso eficiente da água e menor custo são vantagens do emprego de irrigação por pivô central em relação à inundação em lavouras de arroz

Germani Concenço

E

m pleno século XXI continua mos cultivando arroz de manei ra mui-to similar à China há aproximadamente cinco mil anos, com alto consumo de água e impacto ambiental, uso intensivo de mão de obra e (em algumas partes do mundo) baixa produtividade. E não nos referimos especificamente ao Brasil, onde a situação talvez não seja tão drástica. A Ásia é o maior consumidor de arroz do mundo. Escassez de água, constantes conflitos e baixa adoção de tecnologia na agricultura fazem com que a produção seja insuficiente para a crescente população. No Paquistão, por exemplo, o cultivo tradicional de arroz é feito com a produção e transplante manual de mudas em toda a área. Visitamos no final do ano passado, entre outras, uma propriedade de 32ha próxima a Lahore (onde o famoso arroz aromático Basmati é produzido). O requerimento de mão de obra é alto, necessitando quase uma pessoa por hectare para instalar e conduzir a lavoura – preparar o solo, obter e transplantar as mudas. Não há controle efetivo sobre a qualidade e a pureza das sementes, a colheita em muitas

propriedades ainda é manual e a trilha feita batendo maços de arroz recém-colhidos contra um tambor de 200 litros na própria lavoura. No Sul do Brasil, felizmente, não temos este panorama. No entanto, existe algo entre o que se observa no Paquistão e no Brasil: o alto volume de água necessário para a produção. No sistema tradicional de cultivo de arroz no Rio Grande do Sul, por exemplo, mais de 1.000mm de água são requeridos por ciclo da cultura. Esta necessidade pode ser maior no sistema pré-germinado. O arroz é uma planta semiaquática adaptada ao ambiente inundado. Sendo assim, é possível alcançar altas produtividades sem inundação da área, desde que a irrigação seja manejada adequadamente. A água ainda está relativamente disponível para as lavouras de arroz no Sul do Brasil, mas assim que o governo regular e cobrar mais pela utilização, o emprego deste recurso terá de ser mais racional. A seguir, são apresentadas algumas das vantagens do cultivo de arroz irrigado sob pivôs centrais, em relação ao atual sistema de cultivo inundado: 1) Melhor uso da água disponível O produtor gaúcho sabe que, se não chover bem por duas safras, muito prova-

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velmente não será possível cultivar toda a sua área com arroz inundado no terceiro ano devido à falta de água. Em algumas regiões não são necessários dois anos de estiagem para ocasionar problemas. Ao adotar o cultivo de arroz sob pivô central, o produtor pode decidir entre economizar com o bombeamento e manter a área cultivada ou aumentar a área usando a mesma quantidade de água bombeada. O orizicultor fica sossegado pela certeza de usar a quantidade ideal de água, ao adotar softwares nacionais de fácil utilização, adequadamente adaptados para o arroz sob pivô central, que planejam a irrigação ao serem alimentados com alguns dados ambientais. 2) Redução em custos indiretos Muitos custos indiretos são reduzidos ou até mesmo eliminados, como a necessidade de manutenção de canais de irrigação ou o seu selamento em regiões de solo arenoso. Maior área estará disponível para a cultura devido à menor necessidade de canais de condução de água. 3) Redução em custos diretos A redução em custos diretos engloba a não necessidade de preparo do solo (plantio direto) e todas as consequências decorren-


tes. Pode-se enumerar o menor consumo de combustível, menores gastos com manutenção de máquinas e equipamentos, mão de obra necessária e eletricidade, economia na mão de obra de irrigação e redução no número de funcionários necessários para manejar a lavoura. 4) Mínimo preparo do solo O mínimo revolvimento do solo é obtido pela adoção do sistema de cultivo mínimo ou plantio direto, que se encaixa perfeitamente no cultivo do arroz sob pivô

central. O menor preparo do solo reflete na redução de custos diretos e indiretos e contribui para a sustentabilidade do sistema produtivo. 5) Rotação de culturas e cobertura de inverno Associada ao plantio direto, a rotação de culturas permite a redução gradativa de plantas daninhas problemáticas, como o arroz-vermelho, sendo peça chave na produção de sementes de arroz livres de contaminantes. Além disso, a gradativa recuperação da estrutura e fertilidade dos so-

los é observada devido ao não revolvimento e à ausência de inundação, que muitas vezes prejudica a microflora e microfauna do solo. A cobertura de inverno pode ser usada também como pastagem ou como área de produção de sementes de forrageiras, dependendo da espécie presente. 6) Manejo facilitado Ainda é muito comum, em lavouras inundadas, o uso de tratores e colhedoras de alta potência e vê-los atolados na lama com frequência. Além do aumento do


outros, não se aplica somente quando o arroz é cultivado, mas também às outras culturas em rotação. 9) Conservação e segurança ambiental O impacto ambiental do uso de pesticidas em lavouras de arroz é extensamente pesquisado e problemas de resíduos na água dos rios observados. Ao se utilizar a irrigação por pivô central, a quantidade aplicada não é suficiente para causar o escoamento superficial de água para fora da lavoura. Desta forma, os pesticidas permanecem na área onde foram aplicados e sua degradação é obtida principalmente pela ação da luz e dos microrganismos do ambiente aerado do solo.

consumo de combustível e dos gastos com manutenção, existe a necessidade de maior disponibilidade de mão de obra no sistema de cultivo inundado. O preparo do solo, construção de marachas (taipas) e demais práticas associadas oneram o sistema de cultivo. No caso da adoção de pivô central, independentemente do preparo do solo empregado, dispensa-se a construção de marachas pela ausência da necessidade de forçar a água a permanecer na lavoura. Somente a quantidade ideal de água é aplicada, no momento certo. O nivelamento da área também não é necessário.

Colheita limpa e facilitada

A colheita é realizada em área seca, sem ocorrência de atolamentos. Como consequência, a operação ocorre mais rapidamente e tratores de menor potência podem ser utilizados para puxar os graneleiros. A colhedora também necessita de menor potência no motor. A cobertura de inverno pode ser semeada sobre a cultura do arroz alguns dias antes da colheita e a palha proporcionará o ambiente ideal para sua germinação. O solo não é deformado pela operação de colheita, não necessitando de reparos antes de nova semeadura. Em muitos casos, menor número de colhedoras é

8) Manejo da adubação de cobertura A fertirrigação (aplicação do fertilizante através da água de irrigação) elimina a necessidade de uso de avião ou aplicação tratorizada nas adubações de cobertura da área sob o pivô central. Desta forma, o custo de duas operações agrícolas é eliminado ao se incorporar o nitrogênio em uma ou mais irrigações regulares. Além disso, pesquisas nos Estados Unidos demonstram que o maior parcelamento nas doses de N viabilizado via fertirrigação, sem incremento de custos, apresentou efeito positivo no rendimento de grãos. Este benefício à área, como muitos M.O. pH Arns, 2006.

30

1999 2,0 % 5,6

2006 3,0 % 5,9

Germani Concenço e Jake L. Larue, Valmont Industries, USA

Germani Concenço

7) Incremento na fertilidade do solo Devido à combinação do plantio direto com a rotação de culturas, ausência de inundação e manejo racional da área, o solo será beneficiado e responderá com o incremento nas características desejáveis, como a normalização do pH, aumento de matéria orgânica, balanceamento da fertilidade e maior capacidade de infiltração e armazenamento de água. A estabilidade de produção é um dos resultados da interação destes fatores.

necessário para colher a mesma área devido à colheita ser realizada mais rapidamente. Salienta-se, no entanto, que o cultivo de arroz irrigado sob pivô central tende a ser utilizado lado a lado com áreas inundadas – pelo menos nos primeiros anos. Ele conquistará seu espaço devido às qualidades que possui. O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), por exemplo, conta com o Selo Responsabilidade Socioambiental, um sistema de credenciamento de lavouras de arroz em função da adoção de práticas menos agressivas ao meio ambiente. As lavouras de arroz irrigadas por inundação têm sido foco de intensas pesquisas nos últimos anos com o objetivo de reduzir a quantidade de água utilizada através de uma melhor gestão da irrigação. Os resultados obtidos nos últimos anos com o apoio de instituições como o Irga mostram grande evolução. No entanto, saltos ainda maiores na produtividade de grãos por volume de água empregado podem ser obtidos mudando-se o método de irrigação para sistemas pressurizados, mais especificamente o pivô central. As exigências quanto ao impacto ambiental e à otimização do uso dos fatores de produção associados ao arroz tendem a aumentar cada vez mais. Desta forma, tecnologias alternativas e viáveis, como o cultivo de arroz irrigado por pivô central em substituição à inundação contínua, tendem a conquistar seu espaço gradativamente e a se tornar comuns no dia-a-dia C do orizicultor.

Lavouras sem marachas, um dos benefícios do cultivo sob pivô central, independentemente do preparo do solo adotado

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Informe

Nova ferramenta para o MIP Nova geração de plantas geneticamente modificadas (Bt) contendo o gene Cry1F, com ação inseticida, desponta como ferramenta importante para o Manejo Integrado de Spodoptera frugiperda e outros lepidópteros pragas em milho. A tecnologia reduz o número de aplicações na cultura, diminui a utilização de mão de obra e maquinário, dá proteção integralmente à planta durante todo o ciclo de cultivo e maximiza o potencial de rendimento dos híbridos

A

área plantada de milho no Brasil na safra 2007/2008 foi de 14,7 milhões de hectares (Conab, 2009). Dentre as pragas que prejudicam o desenvolvimento da cultura destaca-se a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, considerada praga principal na cultura do milho (Embrapa, 1993). Seu período de ocorrência vai desde a emergência até a fase reprodutiva. O desenvolvimento de plantas com a introdução de genes da bactéria Bacillus thuringiensis Berliner foi um dos projetos pioneiros em biotecnologia de plantas (Peferoen, 1997). O B. thuringiensis (Bt) é uma bactéria não patogênica comumente encontrada no solo e que produz proteínas que possuem atividade inseticida sobre larvas de alguns insetos praga. Formulações de inseticidas à base de Bt, para pulverização e proteção de lavouras, estão disponíveis no mercado há mais de 40 anos. A partir dos anos 80, os genes responsáveis pela produção dessas proteínas foram isolados e transferidos com sucesso para diferentes

plantas, incluindo o milho. As sementes de milho transgênico, com proteínas inseticidas de Bt, foram aprovadas pela primeira vez para uso comercial em meados dos anos 90. As culturas geneticamente modificadas (GM) foram comercializadas pela primeira vez em 1996. Em 2008, chegou a 125 milhões o número de hectares comercialmente cultivados com culturas transgênicas. Desse total, a área com milho geneticamente modificado alcançou 37.3 milhões de hectares (James, 2009). Esses números fazem das culturas GM a tecnologia mais rapidamente adotada na história da agricultura (Harlander, 2002). A utilização de toxinas produzidas por B. thuringiensis é mais uma importante ferramenta em programas de Manejo Integrado de Pragas, devido a sua alta especificidade e rápida degradação pelo ambiente. O plantio de culturas geneticamente modificadas pode reduzir a necessidade de uso de inseticidas de amplo espectro e, desta forma, os agentes naturais

Figura 1 - Notas atribuídas aos danos causados por S. frugiperda em milho (Escala de Davis, 1992). Média de três ensaios realizados em Jardinópolis (SP), Castro (PR) e Indianópolis (MG), 2007

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terão maior possibilidade de manter-se em equilíbrio com os herbívoros não alvo, promovendo assim maior diversidade e abundância de insetos (DALE et al., 2002). As culturas Bt podem ainda reduzir o custo, o tempo e o esforço gasto na proteção de plantas contra insetos, contribuindo para um sistema de produção ambientalmente mais favorável (Peferoen, 1997; Babcock & Bing, 2001), bem como permitir o aumento da produtividade agrícola (Hoffman & Carrol, 1995) devido à proteção conferida contra as pragas-alvo. A tecnologia Herculex I utiliza o gene cry1F e representa, para o milho, uma nova geração de plantas com características de proteção contra insetos. Cry1F é uma nova proteína derivada de B. thuringiensis serovar aizawai. Outros milhos Bts são derivados de B. thuringiensis serovar kurstaki. Cry1F tem demonstrado amplo espectro de ação sendo altamente efetivo para a lagarta-do-cartucho S. frugiperda e Diatraea saccharalis, dentre outras. O modo de ação da proteína Cry1F, presente no milho Herculex I, é semelhante ao efeito de outros produtos à base de Bt. A proteína Cry1F é uma delta endotoxina que deve ser ingerida para que ocorra a morte do inseto-alvo. Esta delta endotoxina age pela ligação seletiva a sítios específicos, localizados na membrana do intestino médio de espécies suscetíveis. Após a ligação, são formados poros que interrompem o fluxo de íons no intestino médio, causando a paralisia do intestino e consequentemente a morte da lagarta. O Cry1F é letal, portanto, somente quando ingerido pelas larvas de certos lepidópteros considerados pragas, e sua especificidade de ação é devida à presença de sítios específicos de ligação no trato digestivo dos insetos-alvo. Existem vários tipos de proteínas Bts com diferentes graus de eficácia contra as pragas-alvo, que decorrem da existência de ligações específicas dessas proteínas. Por outro lado, como não existem sítios de ligação para as delta endotoxinas de


Fotos Dow AgroSciences

Figura 2 - Comparação de duas áreas, uma plantada com Herculex I e outra convencional sob alta infestação de S. frugiperda. Jardinópolis (SP), 2007

Bt na superfície de células intestinais de mamíferos, animais e humanos, esses organismos não são suscetíveis a estas proteínas. O Herculex I oferece proteção contra pragas do milho economicamente importantes, como a lagarta-do-cartucho e a broca-da-cana. Pesquisas foram conduzidos em fazendas experimentais localizadas nos municípios de Jardinópolis (SP), Indianópolis (MG) e Castro (PR). Os danos causados por S. frugiperda foram estimados atribuindose notas segundo a escala proposta por Davis (1992), descrita na Tabela 01. A média de notas obtida no milho convencional sem tratamento com inseticidas variou de 5,92 a 7,53 (Figura 01), o que significa que danos consideráveis, ou seja, grande quantidade de furos, foram observados nessas plantas. No caso do Herculex I as notas obtidas foram de 1,03, 1,08 e 1,27, de acordo com o híbrido, sendo observados apenas danos iniciais de raspagem. Isto se deve à necessidade das lagartas se alimentarem para que haja, então, a sua

morte. Os resultados demonstram que a tecnologia oferece excelente proteção contra os danos causados pela lagartado-cartucho do milho (Figura 2). É importante observar que, mesmo considerando diferentes regiões, diferentes níveis de infestação e mesmo híbridos diferentes, a performance no controle da lagarta do cartucho foi muito consistente (Figura 01). No caso de D. saccharalis, resultados de ensaio conduzido em Rio Verde (GO), no ano agrícola de 2007/08, demostraram que o milho Herculex I foi significativamente melhor que o convencional em relação aos parâmetros avaliados: número de lagartas vivas no colmo das plantas, número de furos por planta causados pelas lagartas e comprimento das galerias por planta (Figura 3). No milho geneticamente modificado não foram encontradas lagartas vivas na plantas avaliadas, diferentemente do isohíbrido convencional, que além da presença de lagartas, apresentou plantas furadas e danos significativos (galerias nos colmos). Outro benefício dessa ferramenta é

que a proteína Cry1F do Herculex I é expressa em concentrações adequadas durante todos os estágios de desenvolvimento da planta de milho. Assim a tecnologia oferece proteção contra danos causados pelas pragas-alvo ao longo do ciclo, permitindo que as plantas de milho se mantenham saudáveis e menos suscetíveis a fatores ambientais de estresse durante o período de cultivo. Consequentemente, permite que os híbridos de milho expressem seu potencial máximo de rendimento. Híbridos de milho transgênicos resistentes a lepidópteros, dentre os quais, um híbrido expressando a proteína Cry1F, foram significativamente mais produtivos que os híbridos convencionais (Waquil et al., 2002). Além da lagarta do cartucho, outros estudos com resultados promissores têm sido realizados sobre pragas como a lagarta elasmo (Vilella et al., 2002) e a lagarta rosca. Os dados disponíveis demonstram que os híbridos de milho que expressam toxinas Cry são menos vulneráveis a danos na espiga e apresentam quantidade reduzida de micotoxinas produzidas por fungos, aumentando, assim, a qualidade do grão para alimentação de animais e de humanos (Munkvold et al., 1997; Munkvold et al., 1999; Dowd, 2000). Como resultado de injúrias causadas por danos de insetos, geralmente lepidópteros, esporos destes fungos podem ter acesso aos grãos de milho, onde se proliferam e produzem as micotoxinas. Dentre as mais conhecidas estão a fumosinina, produzida por fungos do gênero Fusarium, e a aflatoxina produzida principalmente por fungos do gênero Aspergillus (CBI, 2001). Estudos iniciais têm demonstrado atividade satisfatória do Herculex I sobre lagarta-da-espiga. O manejo de insetos com plantas transgênicas, contendo toxinas inseticidas de B. thuringiensis, pode ter um impacto positivo na biodiversidade. Estudos de laboratório em que organismos benéficos foram alimentados com dieta contendo a

Tabela 1 - Descrição das notas atribuídas aos danos causados pela lagarta-do-cartucho, S. frugiperda, em milho, segundo Davis (1992). Nota 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Descrição Planta sem dano Planta com pontuações (mais que uma pontuação por planta) Planta com pontuações; 1 a 3 lesões circulres pequenas (até 1,5 cm) Planta com 1 a 5 lesões circulares pequenas (até 1,5 cm); mais 1 a 3 lesões alongadas (até 1,5 cm) Planta com 1 a 5 lesões circulares pequenas (até 1,5 cm); mais 1 a 3 lesões alongadas (maiores que 1,5 cm e menores que 3,0 cm) Planta com 1 a 3 lesões alongadas grandes (maior que 3,0 cm); em 1 a 2 folhas mais 1 a 5 furos ou lesões alongadas até 1,5 cm Planta com 1 a 3 lesões alongadas grandes (maior que 3,0 cm); em 2 ou mais folhas mais 1 a 3 furos grandes (maiores que 1,5 cm) em 2 ou mais folhas Planta com 3 a 5 lesões alongadas grandes (maiores que 3,5 cm); em 2 ou mais folhas mais 1 a 3 furos grandes (maiores que 1,5 cm) em 2 ou mais folhas Planta com muitas lesões alongadas (mais que 5) de todos os tamanhos na maioria das folhas. Muitos furos médios a grandes (mais que 5) maiores que 3,0 cm em muitas folhas Plantas com muitas folhas, na quase totalidade, destruídas

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Fotos Dow AgroSciences

Figura 3 - Número de lagartas, número de furos e comprimento de galerias (cm) em híbridos de milho Herculex*I e convencional (iso híbrido). Rio Verde, Goiás, 2007/08

Antonio Cesar dos Santos destaca a importância da nova tecnologia no manejo integrado de pragas do milho

proteína Cry1F, mostraram não haver efeito sobre o desenvolvimento e mortalidade de formas jovens ou desvio de comportamento de adultos de Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae), Hippodamia convergens (Coleoptera: Coccinellidae), Chrysoperla carnea (Neuroptera: Chrysopidae), Brachymeria intermedia (Hymenoptera: Chalcididae) e Nasonia vitripenis (Hymenoptera: Pteromalidae) (EPA, 2001). Em geral, a concentração letal (CL50) para estes insetos foi 15 vezes maior que a concentração esperada em condições de campo. Monitoramentos realizados antes e após a liberação comercial têm demonstrado que a densidade populacional e biodiversidade de insetos em campos de milho Bt não têm sido afetadas. Vários ensaios conduzidos nos EUA, em campos com milho Bt Cry1F utilizando armadilhas e quantificação direta nas plantas, demonstraram que não houve diferença na abundância de predadores

como Cycloneda munda & Coleomegilla maculata (Coleoptera: Coccinellidae), Carabidae, Hemerobiidae, Chrysoperla plorabunda (Neuroptera: Chrysopidae), Orius insidiosus (Hemiptera: Anthocoridae), Nabidae, reduvídeos e aranhas, bem como parasitóides das famílias Ichneumonidae e Braconidae (AGBIOS, 2003). Da mesma forma no Brasil, em estudos a campo não se observou diferença significativa na diversidade e abundância de insetos não alvo que ocorrem na cultura do milho, com destaque para predadores como Doru luteipes, Orius spp., Cycloneda sanguinea, Carabídeos e outros (Santos et al. 2008). Herculex I é mais uma importante ferramenta no Manejo Integrado de Pragas na cultura do milho, não só pela eficiência sobre as pragas-alvo, mas também por ser uma tecnologia de baixo impacto sobre inimigos naturais e outros organismos benéficos. A tec-

nologia reduz o número de aplicações na cultura, diminui a utilização de mão de obra e maquinário, dá proteção à planta toda durante todo o ciclo de cultivo e maximiza o potencial de rendimento dos híbridos. Para que o agricultor possa contar por muitos anos com os benefícios dessa tecnologia é fundamental a adoção de manejo adequado dos insetos pragas. Dentre as táticas de manejo de resistência, recomenda-se a utilização da área de refúgio que consiste no plantio de uma área de milho não Bt equivalente a 10% da área total. A importância e informação de uso do refúgio é mostrado em detalhes no programa Plante Refúgio encontrado no endereço www. C planterefúgio.com.br. Antonio Cesar dos Santos, Dow AgroSciences

Figura 4 - Comparação de duas plantas, uma convencional (esquerda) e outra Herculex*I (direita) sob ataque da broca-da-cana

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Algodão Universidade da Florida

Redutor de danos O Cerrado brasileiro é conhecido por enfrentar problemas de toxidez por alumínio em aproximadamente 70% da área agricultável, além de baixo índice de cálcio em 86% das lavouras. A aplicação de gesso pode ser a solução, uma vez que com o aumento do teor de cálcio eleva-se também o magnésio e reduz-se o efeito negativo do alumínio

N

os solos do Cerrado, a deficiência de cálcio, associada ou não à toxidez de alumínio, não ocorre apenas na camada superficial, ou seja, nos 20 primeiros centímetros, mas também abaixo dela. Para superar o problema relacionado à camada superficial é utilizado o calcário, com sucesso.

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Na Tabela 1, são apresentados dados que indicam qual o problema da toxidez de alumínio e da deficiência de cálcio na subsuperfície (camada de 21cm a 50cm), situação generalizada na região do Cerrado. Considerado o valor da saturação de alumínio acima de 10% como prejudicial ao crescimento radicular das plantas, verifica-se que na subsu-

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perfície do solo em aproximadamente 70% da área agricultável do Cerrado os índices são superiores a esse percentual, constituindo-se, portanto, em problema potencial para a agricultura na região. Além da problemática com o alumínio, 86% da área agricultável do Cerrado apresenta em sua subsuperfície teor de cálcio inferior a 0,4cmol c/dm3.


Nessas condições o sistema radicular não se desenvolve nesse volume de solo e a planta deixa de absorver água e nutrientes nele contidos, levando à perda de rendimento. O gesso pode ser usado para melhoria do ambiente radicular em profundidade. Esse produto, quando aplicado ao solo após sua dissolução (em virtude da sua alta mobilidade nos primeiros centímetros do solo), irá se fixar na subsuperfície, favorecendo o aprofundamento das raízes e permitindo às plantas superar veranicos e usar, com mais eficiência, os fertilizantes aplicados ao solo. Na foto de abertura deste artigo, observam-se plantas de algodão em área onde não se aplicou o gesso (plantas do lado esquerdo), com raízes pivotantes tortas, limitadas à profundidade de aproximadamente 20cm, região de ação do calcário. Nessa mesma figura é possível ver que a raiz pivotante (plantas do lado direito) não entortou e seguiu crescendo em profundidade, pois, nessa área, além do calcário, foi aplicado o gesso. Outro detalhe importante é o desenvolvimento das plantas como um todo onde se aplicou o gesso.

Figura 1 - Distribuição do sulfato (SO4-2) e cálcio+magnésio (Ca+2 + Mg+2) trocáveis em diferentes profundidades de um Latossolo Vermelho argiloso, sem e com 2 t/ha de gesso, após 39 meses da aplicação.

Fonte: Sousa et al., 1995.

Alterações e recomendações

Ao se aplicar gesso no solo cuja acidez da camada superficial foi corrigida com calcário, depois de sua dissolução, o sulfato movimenta-se para camadas inferiores acompanhado por cátions, especialmente o cálcio (Figura 1). Com a movimentação de cátions

para a subsuperfície, o teor de cálcio e magnésio aumenta (Figura 1) e a toxidez de alumínio diminui, o que melhora o ambiente do solo para as raízes se desenvolverem. Esses efeitos já são observados no ano agrícola de aplicação do gesso. Para definir a necessidade do uso do gesso em uma propriedade agrícola, o primeiro passo é a análise do solo,


Djalma Martinhão G. de Sousa

Charles Echer

À esq. detalhe de solo que recebeu gesso e facilitou a distribuição das raízes das plantas e à dir. solo com problemas de alumínio e consequentemente plantas com sistema radicular pouco desenvolvido

que deve ser feita nas camadas de 0cm a 20cm, 20cm a 40cm e 40cm a 60cm (solicitar, além da análise química, a determinação do teor de argila do solo). De posse dos resultados das análises, com base na interpretação dos dados das camadas de 20cm a 40cm e 40cm a 60cm, define-se a necessidade de gesso. Deve ser utilizado quando o teor de cálcio for menor que 0,5cmol c/dm3 ou em situações em que a saturação de alumínio for maior que 20% em qualquer uma das camadas (de 20cm a 40cm ou 40cm a 60cm). A dose é quantificada em função do teor de argila das camadas inferiores, através da fórmula: D.G. (kg/ha)= 50 x argila (%) D.G. = dose de gesso agrícola com 15% de enxofre. O momento ideal para aplicar o gesso é no início da estação chuvosa, pois é necessário que a terra esteja úmida para que o produto se dissolva e se desloque para camada abaixo dos 20 primeiros centímetros do solo, onde irá reduzir a toxidez do alumínio e promover o desenvolvimento radicular do algodão. O gesso agrícola pode ser aplicado a lanço depois da calagem ou imediatamente antes, se for necessário, e até mesmo com a cultura do algodão já estabelecida.

Resposta ao algodão

A resposta ao gesso agrícola como melhorador do ambiente radicular em profundidade tem sido observada para

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a maioria das culturas anuais, destacando as de milho, trigo, soja, feijão e algodão. Na Tabela 2 é apresentada resposta da cultura de algodão ao gesso. Os acréscimos de rendimento em resposta ao gesso são atribuídos ao suprimento de enxofre e à melhor distribuição das raízes das culturas em profundidade, que propicia às plantas o aproveitamento de maior volume de água quando ocorre veranico. Além da água, os nutrientes também são absorvidos com maior eficiência, desde o nitrogênio de maior mobilidade, que é facilmente levado para o subsolo e pouco aproveitado pelas plantas se as raízes forem superficiais, até o fósforo de menor mobilidade, cuja absorção é altamente dependente do volume radicular. Na Tabela 3 observa-se que, em média, houve aumento de 56% na absorção dos nutrientes por causa do uso do gesso na cultura do algodão. O gesso, além de melhorar as condições químicas do subsolo, é, também, fonte de enxofre para as plantas. Esse aspecto é importante, uma vez que a deficiência desse nutriente é generalizada C nos solos de Cerrado. Djalma Martinhão G. de Sousa, Embrapa Cerrados

A aplicação de gesso favorece o aprofundamento das raízes no solo

Tabela 1 - Distribuição percentual de classes de saturação de alumínio e teor de cálcio na subsuperfície do solo (21 cm-50 cm) da área agricultável da região do Cerrado Alumínio Saturação Distribuição % > 40 42 40 - 10 28 < 10 30

Teor cmolc/dm3 < 0,4 0,4 - 4,0 > 4,0

Cálcio Distribuição % 86 13 1

Fonte: Sousa et al., 1995.

Tabela 2 - Efeito da aplicação de gesso agrícola ao solo, no rendimento do algodão, no sistema plantio direto Dose de gesso 0 3

Rendimento de algodão -- t/ha -1,8b 2,6a

Médias seguidas de letras iguais em cada coluna não diferem pelo teste t a 5% de probabilidade. Fonte: Sousa et al., 2008.

Tabela 3 - Nutrientes contidos no caroço de algodão, em resposta às doses de gesso em um Latossolo Argiloso, no primeiro cultivo realizado no ano agrícola 2005/2006, no sistema plantio direto N

P

32 b 50 a

7b 11 a

K Ca -- kg/ha -12 c 1,0 b 18 a 1,5 a

Mg

S

B

Cu

3,0 b 4,8 a

1,8 b 3,0 a

15 b 23 a

7b 10 a

Fe -- g/ha -48 b 69 a

Médias seguidas de letras iguais em cada coluna não diferem pelo teste t a 5 % de probabilidade. Fonte: Sousa et al., 2008.

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Mn

Zn

11 b 18 a

37 b 55 a



Defensivos

Efeito facilitador Empregados na na agricultura agricultura com com oo objetivo objetivo de de facilitar facilitar aa aplicação, aplicação, distribuição distribuição Empregados atividade de de defensivos, defensivos, adjuvantes adjuvantes agem agem de de acordo acordo com com as as características características ee atividade específicas que que possuem. possuem. Por Por isso isso aa importância importância de de conhecê-los conhecê-los corretamente corretamente ee específicas saber como como ee em em que que situações situações oferecem oferecem melhores melhores resultados resultados saber

A

djuvante é qualquer substância contida na formulação ou adicionada ao tanque de pulverização, com o objetivo de melhorar a atividade do defensivo ou as características da aplicação.

Ativadores

São os mais utilizados e correspondem a agentes ativadores da superfície (surfactantes), óleos e óleos em mistura com surfactantes. Utilizam-se principalmente para diminuir a tensão superficial da gota pulverizada e aumentar a ação de alguns defensivos (herbicidas, principalmente). Normalmente são empregados em concentrações que vão de 0,1% até 0,5%. O mecanismo de ação dos surfactantes não está bem elucidado, embora geralmente se atribua a eles efeito positivo na penetração dos defensivos. Os surfactantes podem ter efeito sobre a atividade dos defensivos em vários locais: a) na mistura da solução; b) sobre a superfície da cutícula; c) dentro das camadas da cutícula; d) sobre a superfície da célula; e) dentro dos tecidos da planta. Os óleos são utilizados sozinhos ou em mistura com surfactantes, para aumentar a atividade de certos defensivos, sendo muito

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empregados nos Estados Unidos (EUA) para o controle de plantas daninhas nas culturas de milho, soja, algodão e sorgo, com herbicidas como atrazina, cloroxuron, diuron, fluometuron e linuron. Diversos autores concordam que a aplicação foliar de atrazina em emulsões de óleo em água resulta em maior retenção do pulverizado pelas folhas das plantas daninhas, obtendo-se maior absorção do herbicida através da superfície foliar.

Modificadores de mistura

Os modificadores de mistura abrangem aderentes, extensores, aderentes-extensores, espessantes e agentes espumantes. Dentre os materiais que se utilizam como aderentes, encontram-se géis vegetais formadores de película, resinas emulsionantes, óleos minerais emulsionáveis, óleos vegetais, ceras e polímeros solúveis em água. Os aderentes não são normalmente utilizados com herbicidas, sendo em geral aplicados com inseticidas e fungicidas. Os extensores correspondem geralmente a surfactantes não iônicos, que se utilizam em aplicações em fruticultura, para inseticidas e fungicidas formulados como pós-molháveis. Os agentes espessantes são adotados para aumentar a viscosidade da mistura e assim

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diminuir a deriva. Adotam-se os agentes espumantes para criar espuma na mistura de aplicação. São utilizados em concentrações de 0,1% a 0,4% e, mediante o uso de equipamentos apropriados, pode-se criar espumas com diferentes graus de estabilidade. Inicialmente eram empregados para impedir o congelamento da calda pulverizada em climas mais frios. Porém, seu uso também tem como fins diminuir a deriva e permitir maior precisão da aplicação, já que ajuda a demarcar a área tratada e evitar a sobreposição da barra. Em geral, não é muito comum sua adoção.

Condicionadores

Os condicionadores são produtos que ampliam a gama de situações sob as quais se pode utilizar uma formulação. Existem três tipos de condicionadores: agentes antiespumantes, agentes compatibilizantes e agentes buffer. Os agentes antiespumantes correspondem usualmente a compostos de silicone empregados a uma concentração máxima de 0,1%. Pode-se utilizar, também, querosene ou óleo diesel a 0,1% para eliminar a formação de espuma no tanque de pulverização. Os agentes compatibilizantes são adotados


Fotos Charles Echer

quando utilizadas misturas de defensivos ou misturas de defensivos com fertilizantes químicos. Ou, ainda, quando emprega-se uma solução fertilizante como veículo carreador, já que estes agentes permitem adequada dispersão do defensivo na mistura. Os agentes buffer incrementam a dispersão e a solubilidade dos defensivos em soluções aquosas. São utilizados principalmente quando a solução é extremamente ácida ou básica e deseja-se alterar o pH. O pH da água, por si só não é fator de grande importância e que influencie na eficácia de herbicidas. Porém, alguns inseticidas podem sofrer hidrólise alcalina quando a água utilizada para a aplicação apresenta valor de pH muito alto (> 8,5).

zem trocas físicas na superfície dos líquidos e estas trocas podem ocorrer na interfase entre dois líquidos ou entre um líquido e um gás, ou um líquido e um sólido. Devido às trocas que produzem na superfície, a palavra “surfactante” é usada para referir-se a um “agente ativo de superfície” “surface active agents”. Atuam sobre a superfície do líquido onde encontram-se dissolvidos, já que suas moléculas apresentam segmentos polares (grupos polioxietilenos) e não polares (cadeias hidrocarbonadas), onde o segmento polar é atraído pela água e o segmento não polar é atraído pelos compostos lipofílicos. Reduzindo a tensão superficial, os surfactentes produzem os seguintes efeitos: • Molhante – Apresentando sítios polares e apolares em suas moléculas, funciona como ponte de interfase entre líquidos como a água (polar) e superfícies apolares, permitindo a molhabilidade de superfícies hidrófobas (hidrorrepelentes); • Espalhante – Abaixando a tensão superficial de líquidos, faz com que o ângulo de contato das gotas isoladas sobre a superfície seja diminuído e deixem de ser esféricas. O acréscimo de um tensoativo nas caldas permite a formação de um filme de líquido sobre as superfícies, por coalescência das gotas; Os efeitos molhante e espalhante se confundem na prática, ocorrendo primeiro o efeito molhante, seguindo-se o espalhante. A intensidade relativa desses dois efeitos, contudo, pode ser diferente de um tensoativo para outro. • Penetrante – Com baixa tensão superficial os líquidos têm maior poder de penetração. Óleos, por exemplo, penetram mais que água na maioria dos substratos. Com o abaixamento da tensão superficial as caldas aquosas penetram mais, podendo arrastar consigo alguns produtos fitossanitários. De acordo com sua ionização em água, os surfactantes podem ser classificados em iônicos, aniônicos, catiônicos e não iônicos.

Vantagens do uso de surfactantes • Os adjuvantes tensoativos permitem que superfícies hidrorrepelentes, como folhas ou frutos com cerosidade, corpos ou coberturas cerosas de pragas etc, sejam molhadas pela calda; • O líquido aplicado se distribui melhor, cobrindo a superfície de modo uniforme, o que é particularmente importante para fitossanitários com ação de contato; • Em superfícies pilosas, com pelos normalmente mantendo gotículas pulverizadas suspensas, o líquido penetra e efetivamente atinge a cutícula; • Facilitam a penetração da calda entre ranhuras diversas, hifas de fungos, teias de ácaros etc. Desvantagens do uso de surfactantes • Alguns adjuvantes tensoativos podem ser diretamente fitotóxicos; • Diminuem ou eliminam a seletividade de alguns herbicidas; • Sendo solúveis em água, podem favorecer a lavagem dos produtos aplicados, se chover depois da aplicação, prejudicando o efeito residual; • Podem favorecer o ataque de alguns fungos, por remover a camada cerosa protetora (cebola, por exemplo) ou por espalhar e aumentar o contato de esporos com a superfície vegetal (por exemplo, foi observado um aumento no ataque de carvão do milho após a aplicação de um inseticida com um adjuvante hipotensor, nos EUA).

Outros tipos de adjuvantes Surfactantes organo-siliconados Os surfactantes organo-siliconados têm sido usados na aplicação de defensivos desde o início dos anos 70. Em comparação com os surfactantes não iônicos convencionais, os surfactantes não iônicos organo-siliconados apresentam maior capacidade de reduzir a tensão superficial devido ao tamanho compacto da porção lipofílica do esqueleto trisiloxano, com o qual

Surfactantes

Os surfactantes, também chamados de compostos tensoativos ou hipotensores, são os adjuvantes mais utilizados. Trata-se de compostos químicos utilizados na formulação ou na calda de pulverização de defensivos para melhorar e acentuar a emulsão, dispersão, molhamento, umectação e outras propriedades modificadoras de superfície, desejadas para a aplicação. Os surfactantes se concentram e produ-

A adição de um adjuvante à calda de pulverização pode aumentar, diminuir ou até mesmo não apresentar nenhum resultado na efetividade do produto aplicado

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Fotos Charles Echer

obtém-se maior espalhamento da gota pulverizada. Esta grande diminuição da tensão superficial permite maior aderência das gotas em superfícies foliares altamente repelentes à água, no entanto, estes surfactantes podem causar menor retenção e escorrimento em superfícies lisas, quando se utilizam altos volumes de água. Existem certos cuidados que devem ser levados em consideração quando se usam surfactantes organo-siliconados, pois são muito instáveis a valores de pH extremos, devido às ligações de silício e oxigênio hidrolisarem sob condições muito ácidas ou muito básicas. O pH da solução deve estar entre seis e oito. Por outro lado, quando surfactantes organo-siliconados são misturados com surfactantes convencionais, pode-se perder a grande capacidade que têm de diminuir a tensão superficial da solução. Esta incompatibilidade se atribui à competição entre os segmentos lipofílicos de ambos os surfactantes pela interface entre a gota e a superfície foliar. É importante considerar que o preço dos surfactantes organo-siliconados é maior que o dos surfactantes convencionais. A decisão de seu uso deve ser tomada baseada em resultados, obtidos cientificamente. Óleos emulsionáveis Não fitotóxicos, acrescidos de emulsificantes e outros componentes, têm grande uso como adjuvantes para caldas

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de produtos fitossanitários. Apresentam os efeitos molhante, espalhante­, penetrante, antievaporante e de adesividade. Óleos minerais (Crop Oils) São misturas de óleos de parafina não fitotóxicos altamente refinados e purificados com surfactantes não iônicos. Os surfactantes possibilitam que o óleo forme emulsão ao ser misturado com água. Caracterizam-se por reduzir a tensão superficial, aumentar a cobertura da pulverização e acrescer a absorção através da cutícula. Também podem chegar a diminuir a volatilidade e a fotodegradação de alguns defensivos. Geralmente são utilizados na aplicação de defensivos formulados como concentrados emulsionáveis. Originalmente, os óleos contêm surfactante em concentração de 2% a 5% e são utilizados em concentrações que variam de 1% a 4% v/v. Atualmente estão disponíveis os óleos concentrados, “crop oil concentrate”, com concentração maior de surfactante (15% a 20%), utilizados a uma concentração de 1% v/v. Fertilizantes nitrogenados Entre os fertilizantes mais utilizados como adjuvantes encontram-se o sulfato de amônio, o nitrato de amônio e a ureia, empregados em concentrações de 2% a 5% p/v. Embora sejam adotados para incrementar a ação de herbicidas aplicados às folhas, ainda não se conhece exatamente

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seu mecanismo de ação. Acredita-se que facilitam a penetração foliar, mediante um mecanismo diferente da redução da tensão superficial. Nem sempre seu uso traz consigo maior eficácia do herbicida. O sulfato de amônio é amplamente empregado para melhorar a ação de herbicidas como o glifosato, já que suas características higroscópicas prolongam o umedecimento da superfície foliar, diminuindo o secamento das gotas pulverizadas e reduzindo a cristalização do herbicida. Além disso, o sulfato de amônio consegue reverter ou diminuir o antagonismo entre o glifosato e os cátions (Ca++, Na+, K+ e Mg++) que podem ocorrer na água utilizada para a aplicação. No entanto, esse efeito não pode ser generalizado como uma verdade absoluta. No caso de Cyperus rotundus (tiririca), há evidências experimentais que comprovam que o sulfato de amônio, normalmente aumenta a eficácia do glifosato, porém, o mesmo não ocorre sobre outras espécies de plantas daninhas. A ureia é um composto nitrogenado orgânico, não proteico. Atravessa com facilidade a cutícula e passa do apoplasto ao simplasto sem utilizar energia metabólica, por um fenômeno de difusão facilitada. A ureia rompe algumas ligações de ésteres, éteres e diéteres da cutina, abrindo caminho para a passagem de outros componentes da calda, como algumas moléculas de herbicidas. A ureia é geralmente usada na dose de 2kg a 4kg por hectare, quando se trabalha com volumes de calda de 200l/ha-1 a 300l/ ha-1. Ao se acrescentar ureia na água ocorre forte queda de temperatura, devendo-se esperar pela normalização para acrescentar os outros componentes. O nitrato de amônio é um composto nitrogenado inorgânico, que penetra rapidamente pela cutícula e causa abaixamento do pH no apoplasto, o que favorece a absorção celular.

Adjuvantes especiais Adesivos São produtos que deixam um filme pouco solúvel sobre as superfícies tratadas, com a função de manter o fitossaneante aderido. O principal uso é quando o fitossaneante está em forma sólida, como num pó molhável, cujas partículas podem efetivamente ser aderidas. Látex e PVA têm esse tipo de uso. Espalhante adesivo Quando se deseja maior tenacidade nos produtos aplicados por pulverização podese acrescentar um espalhante adesivo. Seu efeito vem de um hipotensor, sendo que sua ação adesiva se dá devido a algum composto


que deixa um filme plástico sobre a superfície (emulsão de acrilato, PVC ou outro composto plastificável). Acidificantes A maioria dos produtos fitossanitários tem melhor funcionamento quando a calda é levemente ácida. Com pH acima de 7, muitos produtos tendem a uma hidrólise alcalina. Quanto mais alto o pH, tanto mais rápida a hidrólise que, em alguns casos, pode se dar em questão de minutos. A acidificação de uma calda é feita com ácido fraco. Ácido ortofosfórico é um dos preferidos. Para manter o pH dentro de uma estreita faixa é necessário, além da correção inicial, seguimento corretivo, o que se consegue com um produto tamponante. Com o ácido ortofosfórico o tamponante pode ser o fosfato ácido de sódio. Quando se quer preparar uma solução com mistura de micronutrientes ou se deseja mistura de tanque de fertilizante foliar mais um produto fitossanitário, geralmente tornase necessário usar um quelatizante (ácido cítrico, o ácido fenólico e o EDTA). Rebaixadores de fitotoxicidade Alguns compostos muito fitotóxicos são melhor tolerados pelas plantas quando acompanhados de amenizadores desses efeitos. Por exemplo, na aplicação de uma solução de sulfato de zinco como fertilizante foliar usase acrescentar leite de cal como rebaixador de fitotoxicidade. Algumas formulações de óleos emulsionáveis e outros produtos contêm agente rebaixador. Antievaporantes Quando a umidade atmosférica está muito baixa ou se usam gotas muito pequenas na pulverização, um antievaporante permite vida útil mais longa dessas gotículas, que assim podem atingir melhor o alvo e permanecer na superfície. A ureia tem pequeno efeito antievapo-

apolar e fraca atração polar, pois devem remover muita gordura (em pratos, por exemplo) com pequeno volume de água. Numa pulverização agrícola usa-se grande volume de água, que deve ser compatibilizada com pequena quantidade de compostos hidrorrepelentes, nas folhas. Num uso a baixo volume (de água) podem desequilibrar as formulações, além de fazer muita espuma. Os detergentes domésticos geralmente contêm solventes de graxas, como glicóis, que também dissolvem ceras epicuticulares e tendem a causar fitotoxicidade.

Considerações finais

É importante escolher o adjuvante correto para cada situação

rante. Óleos minerais ou vegetais têm efeito razoável. Alguns glicóis, como etileno-glicol, têm efeito antievaporante. Espessantes Quando se deseja uma calda mais viscosa, como para tratamento de sementes por simples mistura, pode-se recorrer a espessantes. Sílica hidratada, carboxi-metil-celulose ou goma xantana têm sido usados. Redutores de deriva Espessantes que diminuem a formação de gotículas muito pequenas, mais propensas a derivas, são geralmente polímeros de poliacrilamida. Detergentes domésticos São tensoativos e funcionam como produtos de interfase. Não adequados para o uso em caldas de produtos fitossanitários. São formulados com tensoativos de forte atração

Pode-se dizer que o emprego dos adjuvantes é fundamental, já que os defensivos agrícolas, em sua maioria, necessitam estar uniformemente distribuídos sobre a superfície foliar para assim aumentar a taxa de absorção. É por isso que a quase totalidade dos defensivos empregados em aplicações foliares inclui, na sua formulação, algum adjuvante, normalmente um surfactante. No entanto, a adição de um adjuvante à calda (água-defensivo) de aplicação pode aumentar, diminuir ou até mesmo não apresentar nenhum resultado na efetividade do produto. Por exemplo, um surfactante pode aumentar a atividade de um herbicida sobre uma determinada planta daninha e não sobre outras ou pode aumentar a atividade de um determinado herbicida sobre algumas plantas daninhas e não a de outros herbicidas. Finalizando, é necessário ter claro que o exato conhecimento do mecanismo de ação dos surfactantes permanece ainda bastante obscuro e que, infelizmente, não se pode esperar sempre que a diminuição da tensão superficial, pelo uso de um surfactante, na calda (água-defensivo) de aplicação traga consigo um aumento da retenção, absorção foliar e atividade ou eficiência do C tratamento fitossanitário. Robinson Luiz Contiero, Unioeste


Coluna ANPII

Investimento em formação

E

ANPII organiza palestras nos principais polos produtores de soja do país para esclarecer dúvidas e mostrar as vantagens da prática de inoculação de sementes com bactérias fixadoras de nitrogênio

m enquete realizada no ano passado, com aproximadamente 600 agricultores, em todo o Brasil, foi verificado que o desconhecimento sobre as vantagens da prática de inoculação ainda é muito grande. Muitos produtores deixam de se beneficiar do uso do “nitrogênio biológico” por desconhecerem como obter ganhos de produtividade com este insumo. Os números levantados variaram de um estado para outro, mostrando que o uso de inoculantes é maior no Centro-Oeste, diminuindo no Sul do país. E a pesquisa constatou que existem algumas percepções errôneas, como a de

ação atual e perspectivas, ministrada pelo consultor Vlamir Brandalizze, um dos maiores especialistas do Brasil em agronegócios. Os eventos são organizados pelo pessoal das próprias empresas filiadas à ANPII, com a colaboração de entidades locais, como fundações, associações de engenheiros agrônomos e outras ligadas ao agronegócio. A tabela abaixo mostra os locais e as datas das palestras (sujeito a alterações). O material também pode ser consultado na página da ANPII na Internet (www.anpii. org.br).

vidade com produções superiores a 80 sacas de grãos por hectare. Nas áreas onde foram obtidas tais produtividades, a única fonte de nitrogênio foi o inoculante (pois todos utilizaram nitrogênio zero ou, no máximo, com dois por cento de N na fórmula). Isto mostra que é possível se chegar ao máximo de potencial produtivo com o uso de inoculante e que as estirpes e os produtos em uso no Brasil possuem capacidade para suprir a soja de todo o nitrogênio necessário, mesmo para os mais elevados patamares de produtividade. Desta forma, estas palestras vêm jus-

Foi verificado que os agricultores elegeram as palestras como o melhor método de divulgação sobre a tecnologia que a inoculação só é necessária em solos de primeiro ano de cultivo, impedindo o agricultor de se beneficiar desta prática simples e enormemente rentável. Por outro lado, com dados da mesma enquete, foi verificado que os agricultores elegeram as palestras como o melhor método de divulgação sobre a tecnologia. Aproximadamente 40% dos entrevistados informaram que preferem receber as informações através desse recurso. Desta forma, dentro de seu programa de divulgação, a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) organiza amplo programa de palestras em alguns dos principais polos agrícolas do país. No ano passado a entidade já realizou este trabalho e pretende estendê-lo ainda mais em 2009. Nesse ano, além das palestras sobre a fixação biológica do nitrogênio, proferidas por pesquisadores, haverá também palestra sobre mercado de soja – situ-

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As palestras virão em bom momento, pois estão em curso dois importantes movimentos: o de maior utilização de produtos biológicos e o de emprego mais intensivo de tecnologias avançadas, com o objetivo de aumentar a produção de soja no Brasil, via crescimento da produtividade e não apenas através do aumento de área plantada. O uso de inoculantes enquadra-se nestas duas tendências, pois é um típico produto biológico, composto de bactérias nativas do solo. Existem inúmeros trabalhos de pesquisa mostrando que age no aumento de produtividade e, em paralelo, aumenta a fertilidade do solo, enriquecendo-o em nitrogênio, nutriente que será utilizado na cultura que poderá suceder a soja. No lançamento do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), em maio, durante o Congresso Brasileiro de Soja, em Goiânia (GO), foram apresentados resultados de um concurso de produti-

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tamente ao encontro das necessidades do agricultor, mostrando, através de dados de pesquisa, os resultados que comprovam os benefícios econômicos e ambientais do uso de inoculantes nas culturas de soja e outras leguminosas. C Data 21/07 22/07 23/07 05/08 06/08 12/08 13/08 18/08 19/08 25/08 27/08

Local Chapadão do Sul (MS) Rondonópolis (MT) Sorriso (MT) Uberaba (MG) Rio Verde (GO) Maringá (PR) Toledo (PR) Passo Fundo (RS) Santo Ângelo (RS) Luís Eduardo Magalhães (BA) Balsas (MA)

Solon de Araújo, consultor-técnico e de marketing da ANPII


Coluna Agronegócios

Diário de viagem

U

ma equipe do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) visitou agricultores dos Estados Unidos da América (EUA) e suas associações, em junho passado. A missão era entender como o sojicultor norte-americano está percebendo o futuro da soja e como está se preparando tecnologicamente e comercialmente para o desafio da próxima década. A primeira sensação que me ficou foi de que, nem os agricultores nem suas associações estão muito preocupados com o futuro do mercado. O que existe é a mesma sensação que escrevi recentemente, afirmando que o mercado futuro de soja é francamente comprador, lastreado pela forte demanda da Ásia. Em trabalho recente, demonstrei que Brasil e Argentina serão os principais responsáveis por atender a demanda futura (veja Quadro). Nos últimos 50 anos, a taxa de crescimento

rentabilidade do agricultor.

Rentabilidade

A agricultura americana passa por profundas mudanças, devido à insuficiente rentabilidade para assegurar ao proprietário o padrão de classe média. Logo, há fuga em massa dos jovens do campo. Sobraram dois tipos de agricultores: aqueles que têm fonte de renda fixa no meio urbano, sendo agricultor de noites e finais de semana, e os que arrendam a terra de proprietários que não podem ou não se dispõem a permanecer no campo. Embora o valor real da terra agrícola do meio oeste americano se aproxime dos valores das melhores terras do Paraná e São Paulo, o custo do arrendamento é exorbitante – de R$ 1.300,00 (Minessota, Missouri e Iowa) a R$ 2.000,00 (Illinois,

abrangentes de transferência de tecnologia; d) o produtor desconhece as ferramentas de bolsa, perdendo boas oportunidades de otimizar sua comercialização; e) os agricultores reconhecem a importância do check off – taxa compulsória paga pelos produtores para custear pesquisa e desenvolvimento – para garantir sua competitividade; e f) não há obrigatoriedade de reserva legal. Os americanos ficaram incrédulos ao relatarmos que, no Brasil, os produtores devem destinar à proteção ambiental de 20% a 30% da propriedade (no Sul e Sudeste) a mais de 80% (na Amazônia). Interessante observar que praticamente todas as ONGs ambientais que atuam no Brasil são financiadas pelos governos e sociedade dos países ricos, exigindo o cumprimento da nossa legislação, quando eles são omissos em seus países.

Precisamos implementar, imediatamente, políticas públicas e atitudes claras e agressivas para aumentar a produtividade de milho e soja e garantir um seguro renda da demanda global de soja foi, em média, de 4,6% a.a. Mantida esta taxa nos próximos 25 anos, Brasil e Argentina precisarão aumentar sua oferta em “chineses” 8% a.a. Mesmo que o impacto de preços e o amadurecimento dos mercados reduzam a demanda para 3% a.a., ainda precisaríamos crescer 6% a.a. Por que os americanos seguem o conselho da ex-ministra do Turismo, Marta Suplicy, de relaxar e gozar? Porque lá se esgotou a área de expansão. O CEO da American Soybean Association nos asseverou que, na hipótese mais otimista, os EUA conseguirão expandir seis milhões de hectares de soja na próxima década – exatamente a minha previsão anterior. A produção aumentará pela expansão da produtividade acima de 1,6% a.a., verificada nos últimos 50 anos. Com demanda e produtividade em alta, existe ambiente favorável para garantir a Quadro - Taxas de crescimento anual da demanda global de soja e da necessidade de crescimento da oferta de Brasil e Argentina Demanda Global (%) 3,0 4,0 4,5

Oferta BR + AR (%) 6,0 7,0 8,0

Indiana e Ohio) por hectare! Portanto, o custo de produção vai às alturas, deixando uma margem muito estreita para o produtor – em média entre R$ 100,00 e R$ 150,00/ha, para uma produtividade de 3.300kg/ha. A rentabilidade é assegurada pela produtividade (recorde de 10,5t/ha, do sojicultor Kip Cullers, de Missouri, pelo menor custo de transporte e pelos subsídios governamentais, em especial para o milho, pois os agricultores dividem sua área meio a meio entre soja e milho. Portanto, está ocorrendo uma reforma agrária às avessas, pois desapareceram os agricultores de pequenas e médias propriedades dedicados à agricultura de grãos (sobrevivem os horticultores, fruticultores e floricultores).

Emprego, tecnologia e ambiente

Outros aspectos chamaram minha atenção: a) praticamente não há emprego na área rural. Propriedades abaixo de 1.000ha são conduzidas pela família, com extenuantes jornadas de trabalho no plantio e na colheita; b) os agricultores são tão conservadores lá quanto aqui, há muita resiliência em adotar novas tecnologias, antes que o benefício esteja claramente estabelecido; c) há deficiência de canais

O saldo da viagem mostra que, para o futuro próximo, os agricultores norteamericanos, produtores de milho e soja, serão mais parceiros que competidores dos sul-americanos, em virtude de um mercado francamente comprador e pela impossibilidade de crescimento de área nos EUA. Abrir novos mercados e fomentar novos usos significará manter a rentabilidade dos agricultores, em qualquer latitude. E, para nós, brasileiros, um alerta importantíssimo: impossível aumentar a oferta de soja em 8% a.a. sem que a produtividade cresça acima de 2% a.a. Isto representaria um desastre ambiental e inúmeras barreiras comerciais. Precisamos implementar, imediatamente, políticas públicas e atitudes claras e agressivas para aumentar a produtividade de milho e soja e garantir um seguro de renda – através do uso intensivo das ferramentas de comercialização em bolsa - a fim de capturarmos o enorme potencial que o mercado internacional C destes grãos nos oferece. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Crise internacional favorece agronegócio brasileiro A crise financeira internacional, que andou causando grandes quebras de bancos nos Estados Unidos da América (EUA), Europa e Japão, dá sinais de favorecimento ao setor agropecuário brasileiro. Isto ocorre porque estes países são os que mais subsidiam os produtores locais. Como o dinheiro diminuiu nestas regiões, certamente os reflexos recairão sobre a sua produção agropecuária (que tende a ter dificuldades para conseguir as mesmas vantagens, limitando desta forma a produção e a exportação). Podem assim, passar de exportadores para importadores de alimentos com abertura de espaço para países como o Brasil, que não têm subsídios e produção crescente. Em contrapartida, países como China e Índia, que concentram mais de 1/3 da população mundial, tendem a receber maiores investimentos de empresas que estão com dificuldades no Primeiro Mundo. Dessa forma, mantém-se o ritmo de crescimento econômico na parte pobre da Ásia, que tende a aumentar as importações de alimentos. Outro fator que começa a favorecer o Brasil vem do clima, que tem prejudicado a produção, como está ocorrendo neste ano na Índia, país que está produzindo nove milhões de toneladas a menos de açúcar, além de registrar perdas em outros alimentos. Desta forma, sai de exportador para um dos grandes importadores. Fator semelhante ocorre com a Argentina, onde o clima tem ceifado grande parte da produtividade, com registro de perdas em soja, milho e trigo. Europa e Ásia também já foram afetadas. O Brasil caminha para avançar na participação mundial das exportações de alimentos, uma vez que já domina o setor das carnes, complexo soja, café, laranja e fumo. Passamos agora a ter grande importância na venda de milho e começamos também no mercado do arroz. Tudo indica que caminhamos efetivamente para sermos o celeiro do mundo. MILHO Chega a safrinha O mercado do milho (que veio em ritmo lento e sem fôlego para avanços desde fevereiro), segue da mesma forma para ajustes até agosto. Agora estamos entrando na colheita da safrinha e, mesmo com perdas devido à seca e geadas que ocorreram em algumas regiões, há locais com boa produtividade, como é o caso do médio norte do Mato Grosso, onde a média saltou de 70 para próximo das 100 sacas por hectare. Dessa forma, continuarão limitadas as cotações internas em cima dos valores que conseguirmos na exportação (que nos últimos dias de junho estavam na faixa dos R$ 21,50/22,00 a saca nos portos e a níveis de R$ 12,00 aos R$ 17,00 para os agricultores nas diferentes regiões produtoras). Há expectativa de avanços depois do fechamento da colheita (a partir do final de agosto em diante) ou caso se tenha alterações externas que podem ocorrer a partir de problemas na safra dos EUA (em fase de crescimento vegetativo e floração em julho).

que hora subiam, hora desciam. Ao mesmo tempo o câmbio operava no sentido inverso de Chicago e servia para anular grandes ganhos, mas também impedia perdas. Assim, o mercado mostrava os níveis de porto entre os R$ 51,00 aos R$ 54,00 por saca e níveis proporcionais nas regiões produtoras, partindo de indicativos de R$ 40,00 nas regiões mais distantes até patamares próximos dos R$ 50,00 aos produtores próximos dos portos e indústrias do Sul e Sudeste. Desta forma mantêm-se boas cotações para o setor que caminhará nestes níveis com olhos para a safra nos EUA, que se tiver problemas certamente trará novo alento aos indicativos por aqui.

FEIJÃO Reação continuada A fase de baixa do mercado passou, com o apoio do governo via pregões de garantia dos preços mínimos, bem como compras para formar estoques e auxiliar o escoamento da safra. Aliado a isso, houve forte redução do volume de produto disponível das primeira e segunda safras. Agora temos pela frente somente a safra de parte do SOJA Nordeste, bem como as lavouras irrigadas do Boas cotações A soja manteve boas cotações em junho, com Brasil Central e algumas áreas do Mato Grosso, os indicativos atrelados a movimentos de Chicago, o que deve deixar a oferta menor que a demanda,

abrindo caminho para novos avanços no mercado. Os indicativos (que saíram dos R$ 60,00 a saca ou até mesmo abaixo disso nos meses de março a maio) agora voltam a fluir na faixa dos R$ 90,00 a R$ 100,00 a saca, com fôlego para ir acima destes níveis no segundo semestre. ARROZ Escassez de ofertas e reação do mercado O Banco do Brasil ajudou os produtores com a rolagem da primeira parcela do custeio e diminuição da pressão de oferta de arroz. Agora estamos no segundo semestre, ou entressafra, quando poucos têm o produto para negociar e aqueles que o têm, valorizarão. Tivemos safra próxima das 12,5 milhões de toneladas e consumo de 13 milhões de toneladas, o que mostra que teremos aperto no quadro nos próximos meses. Além disso, temos a exportação, que entre março e maio vendeu ao mercado mundial 255 mil toneladas, enquanto importamos 215 mil toneladas. Temos vendido mais do que comprado e como a safra é menor que o consumo, há fôlego para ajustes nos indicativos, saindo dos níveis ao redor de R$ 26,00 a saca (níveis operados no Rio Grande do Sul), para chegar à faixa dos R$ 30,00 à frente.

CURTAS E BOAS TRIGO - O governo manteve a taxa de importação de países fora do Mercosul e favoreceu o trigo nacional. Para comprar lá os moinhos terão de pagar aproximadamente US$ 300 por tonelada (ou acima), fazendo valorizar o produto brasileiro, que caminha para uma safra de 5,5 milhões de toneladas e consumo de 10,5 milhões de toneladas. A Argentina apontou que não tem mais trigo para vender ao Brasil neste ano, o que obriga as importações de outros locais, beneficiando o produto brasileiro. ALGODÃO - Os produtores dependem de forte apoio do governo para a garantia de preços mínimos. O produto segue com baixa liquidez e, neste curto espaço de tempo, não mostra fôlego para reação. A safra vem com boas condições de qualidade e produtividade. No quadro mundial o mercado segue calmo e não apresenta grande espaço para alterações no curto prazo. A longo prazo, a tendência é de aperto na oferta e demanda. EUA - A safra 09/10 está no campo e dependente do clima. Até junho vinha em boas condições, com excesso de chuvas e temperaturas baixas, com as lavouras do milho amareladas e atraso no plantio da soja e do milho. Os olhos agora estão voltados para a possibilidade da entrada do El Niño, que pode começar a mostrar os primeiros sinais neste mês. Por enquanto o panorama é de uma safra na faixa das 300 milhões de toneladas de milho, 85 milhões de toneladas de soja, mantendo um quadro ajustado para ambos, com menos produto para exportar. A boa notícia continua sendo a demanda do etanol nos EUA, que vai necessitar de mais de 104 milhões de toneladas de milho neste

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novo ano, o que garante apoio para o mercado mundial dos grãos. china - As compras foram acima das expectativas no primeiro semestre. Houve vários momentos em que os chineses apontavam para redução das compras, porém, na sequência seguiam o contrário do que falavam e acabavam comprando mais. O país caminha para importar mais 40 milhões de toneladas de soja. Também como fator positivo temos a forte redução das vendas chinesas de milho (que não devem ir além de 0,5 milhão de toneladas, contra níveis de até seis milhões de anos anteriores). O clima tem prejudicado as lavouras locais, porque continua o tempo seco sobre parte das plantações, o que resulta em perdas no potencial produtivo. Mesmo problema enfrenta a Índia, que também registra perdas. ARGENTINA - O clima tem sido duro com os produtores portenhos. Há fortes perdas na soja, que recuou das 50 milhões de toneladas esperadas para pouco mais de 32 milhões de toneladas. O milho desceu de 22 milhões de toneladas para 12,5 milhões de toneladas. A quebra também afetou o trigo na safra passada, que despencou das 16 milhões de toneladas para 8,5 milhões de toneladas e agora está com o menor plantio em aproximadamente 100 anos analisados. São cerca de três milhões de hectares a menos plantados contra mais de 4,6 milhões do ano passado e níveis normais acima dos sete milhões de hectares. A estiagem tem feito o país plantar próximo de 1/3 do que cultivava nos bons momentos e os produtores seguem descapitalizados.




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