Cultivar 124

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 124 • Setembro 2009 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Syngenta

Jefferson Luis Anselmo

Adensamento na safrinha..................24

Charles Echer

Conheça as técnicas que oferecem melhor resultado no cultivo de algodão adensado, sistema que ganha espaço no plantio de segunda safra

Terror da soja........................10

Quando dar início ao controle da mosca-branca, praga de ocorrência frequente e alta capacidade de provocar danos

Efeito aditivo........................20

O uso de inseticida, via tratamento de sementes, e sua influência no desenvolvimento das plantas e rendimento de grãos, em arroz irrigado

Índice

Lavoura limpa........................32

O papel do manejo químico da cobertura vegetal ou dessecação, com aplicações sequenciais, na cultura do milho

Expediente

Diretas

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Mosca-branca em soja

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Tratamento de sementes em soja

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

MARKETING E PUBLICIDADE

• Editor

• Coordenação

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• Coordenador de Redação

• Vendas

Efeito aditivo em arroz

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• Design Gráfico e Diagramação

Algodão adensado

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• Revisão

Bicudo em algodão

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Biorreguladores

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Controle de plantas daninhas em milho

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Eventos - Clube da Fibra

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Eventos - Top Ciência

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Gilvan Dutra Quevedo Janice Ebel

Cristiano Ceia

Aline Partzsch de Almeida

GRÁFICA • Impressão

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Diretores Newton Peter Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br

Charles Ricardo Echer Pedro Batistin Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Expedição

Dianferson Alves Edson Krause Jan) Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: • Redação: 3028.2060 (53) • Geral • Comercial: 3028.2000 3028.2065 3028.2066 • Assinaturas: 3028.2067 3028.2070

Informe - Visita técnica

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Coluna ANPII

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Coluna Agronegócios

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Mercado Agrícola

Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/




Diretas Propaganda e Promoção

Marketing

Adriana Boock é a nova gerente de Propaganda e Promoção da Basf. A área abrange trade, publicidade e eventos. Além disso, Adriana gerencia a comunicação interna, a assessoria de imprensa e publicações da empresa.

Adriana Boock

Grandes Culturas

Nilson Caldas é o novo gerente de Marketing de Soja, Milho e Algodão, na Unidade de Proteção de Cultivos da Basf no Brasil. Há dez anos na empresa, é engenheiro agrônomo, formado pela Valmir Menezes Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pós-graduado em Finanças e Gestão Empresarial pela Universidade do Estado de Mato Grosso. Iniciou sua carreira profissional em 1999, como Representante-Técnico de Vendas (RTV) da companhia em Nilson Caldas Sorriso, norte de Mato Grosso.

Roberto Melo de Araújo, gerente de Comunicação de Marketing da Basf Proteção de Cultivos para a América Latina, esteve no Top Ciência 2009. No evento foi destacada a marca mundial AgCelence, lançada em 2007 no Brasil. Opera, Comet e Cabrio Top são produtos que integram o conceito, que proporcionam efeitos fisiológicos positivos em culturas como soja, milho, tomate, batata, citros, café e algodão.

Roberto Melo de Araújo

Reunião do Arroz

Em agosto ocorreu em Pelotas (RS), a Reunião Syngenta do Arroz. O evento reuniu aproximadamente 220 pessoas, entre produtores e pesquisadores. Segundo Adilson Jauer, responsável pelo desenvolvimento técnico de mercado, o objetivo foi apresentar a empresa, a equipe técnica específica para cultura, os distribuidores na região e todo o portfólio para a rizicultura composto pelos produtos Cruiser, Zapp QI, Actara, Priore, Score e Engeo Pleno, e as soluções em negócios, Barter.

Comunicação

Marina Cardoso Galvão, gerente de Comunicação Social da Basf, participou do Top Ciência 2009. Fomentar a inovação e encurtar a distância entre a ciência e os agricultores está entre os objetivos do evento, realizado pela companhia há quatro anos consecutivos no Brasil.

Presença

A Plantécnica Soluções Agrícolas e distribuidora Syngenta de Pelotas (RS), em parceria com Unisoy Soluções Agrícolas de São Lourenço do Sul (RS) e Agromüller Produtos Agrícolas de Canguçu (RS), marcou presença na Reunião Syngenta do Arroz. Eduardo Becker Soares, engenheiro agrônomo da Syngenta na região, acompanhou a equipe durante o evento. Marina Cardoso Galvão

Investimento

A Basf vai investir, até 2010, 50.1 milhões de euros na construção e ampliação de instalações para aumento da capacidade de produção de defensivos agrícolas, no Complexo de Guaratinguetá, São Paulo. Os investimentos devem aumentar em até 50% a capacidade de produção das fábricas de produtos para Proteção de Cultivos, instaladas no Complexo, englobando desde a inauguração da fábrica do Standak Top, voltado para o tratamento de sementes de soja, até melhorias em infraestrutura logística. Também beneficiarão as linhas de formulação e envase de produtos como os fungicidas Opera e Cantus e os inseticidas Standak e Nomolt, Imunit, entre outros. Na área ambiental os investimentos foram direcionados para redução de geração de efluentes e melhoria da segurança e higiene ocupacional nas fábricas. A unidade de manufatura do principal produto de exportação da Basf no Brasil, o fungicida Boscalid, também terá sua capacidade produtiva ampliada.

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Investimento em pesquisa

A Ihara participou do VI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em Porto Alegre (RS). Raphael Godinho, gerente de Herbicidas, enfatizou os investimentos da empresa em pesquisa e desenvolvimento, com o objetivo de contribuir para a melhoria da rentabilidade e competitividade da cultura do arroz. Quanto ao portfólio de produtos, o destaque ficou por conta do herbicida Nominee 400 SC, pós-emergente, seletivo, destinado ao controle de plantas daninhas na cultura do arroz irrigado.

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Lançamento

A Timac Agro Brasil lançou o Fertiactyl LEG, primeiro fertilizante líquido desenvolvido especialmente para aplicação via sementes em plantas leguminosas, como a soja e o feijão. O produto age tanto na fisiologia quanto na nutrição das plantas, ativando o desenvolvimento radicular e potencializando a resistência às condições de estresses ambientais (excesso de temperatura e/ou falta de água) que são bastante comuns no momento do plantio.

Campanha

“Todos Unidos Contra o Arroz Vermelho”, foi a campanha enfocada pela Basf no 6° Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em agosto, em Porto Alegre (RS). O objetivo é orientar os produtores sobre o uso correto do Sistema de Produção Clearfield. Em produtos, mereceu destaque no evento o herbicida Only, registrado para o controle do arroz vermelho na variedade de Arroz CL do Sistema Clearfield e o inseticida Standak, indicado para o tratamento de sementes.

Foco no arroz

Joacir Rossi, gerente de Marketing para Arroz da Dow AgroSciences, salienta que a participação da empresa no VI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, realizado em Porto Alegre (RS), foi uma oportunidade para a receber seus colaboradores, conhecer as novas pesquisas do setor e apresentar a linha de produtos para a cultura. “É indispensável essa participação para uma empresa focada em pesquisa e desenvolvimento”, avalia Rossi.

Biotecnologia e sementes

Joacir Rossi

A equipe de biotecnologia e sementes da Bayer CropScience também prestigiou o Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado. Renato Luzzardi, gerente de Melhoramento e Desenvolvimento de Arroz da empresa, falou sobre a tecnologia Liberty Link para a cultura do arroz, variedade transgênica resistente ao herbicida glufosinato de amônio.

Encontro técnico

Com o objetivo de capacitar a equipe técnica de seus distribuidores a Dow AgroSciences promoveu o Encontro Técnico em Soja e Arroz, em Pelotas (RS). Afonso Henrique de Matos, novo gerente regional de Vendas para a região Sul, destacou que o evento buscou reciclar conhecimentos. “Em um mercado competitivo a informação é a única maneira de atender e compreender as necessidades dos clientes”, afirma. Entre os palestrantes estiveram Jerson Guedes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Aldo Merotto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Andrés, Giovani Theisen, da Embrapa Clima Temperado; Olavo Correa e Rogério Rubin (ambos da Dow).

Reconhecimento

O Engenheiro Agrônomo Jaime Vargas de Oliveira, do Instituto Rio Grandense do Arroz(IRGA) foi um dos homenageados durante jantar de confraternização do VI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado (CBAI), em Porto Alegre (RS). A homenagem se refere ao reconhecimento pela importante contribuição técnico-científica na pesquisa e no desenvolvimento da cadeia produtiva do arroz no Brasil.

Nova tecnologia

A FMC marcou presença no 6º Congresso do Arroz Irrigado, em Porto Alegre (RS), onde apresentou a nova tecnologia GP (Gamit Star & Permit Star). A equipe mostrou ao público as vantagens da utilização dos produtos que apresentam formulação mais concentrada e, por isso, possibilitam aplicações em doses reduzidas, conferindo maior praticidade ao usuário e redução do descarte de embalagens. Entre os diferenciais, evita a matocompetição inicial e a seleção de plantas daninhas resistentes, além da segurança no tratamento de sementes e o controle de gramas perenes.

Armazenamento

A Cycloar levou ao 6º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado informações sobre o “Sistema Cycloar de Aeração Intensificada”. Nos quatro dias de evento, a equipe explicou aos congressistas as vantagens dessa nova tecnologia para aeração/ventilação de grãos armazenados.

Jaine Vargas de Oliveira

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Resistência

Novos rumos

Outra palestra bastante aguardada durante o Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado foi a do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aldo Merotto Junior. Foi abordado o problema da resistência do capim-arroz a herbicidas inibidores da enzima Aldo Merotto Junior ALS na cultura do arroz.

Olavo Correa da Silva, pesquisador fitopatologista, é o mais novo integrante da equipe de profissionais da Dow AgroSciences. Desde janeiro Silva desenvolve atividades de pesquisa na Estação Experimental da empresa, em Mogi Mirim (SP). Durante o Encontro Técnico de Arroz e Soja, promovido pela Dow AgroSciences, em Pelotas (RS), mostrou-se entusiasmado com os trabalhos que já estão em andamento Olavo Correa da Silva na estação experimental.

Recorde

“Estresses e sustentabilidade: desafios para a lavoura arrozeira”, foi o tema central do 6º Congresso de Arroz Irrigado. Maurício Fischer, presidente do Instituto Rio Grandense do arroz (IRGA), explicou que o evento teve por objetivo buscar soluções para proteger a cultura durante seu desenvolvimento e garantir maior produtividade. O congresso teve 319 trabalhos aprovados, o que representa aumento de 400 % em relação à última edição. “O diferencial foi a apresentação de muitos trabalhos em plenário, o que permitiu aos pesquisadores a defesa de seus projetos”, avaliou Fischer.

Vendas

Maurício Fischer

Destaque

“Identificação de mutações do gene ALS e do mecanismo de resistência em arroz vermelho resistente aos herbicidas imidazolinonas através de marcadores SNAP”, foi o tema do trabalho apresentado pela engenheira agrônoma Ana Carolina Roso, destaque em sessão plenária no VI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado. Carla Andréia Delatorre e Aldo Merotto Junior foram os orientadores.

O engenheiro agrônomo José Henrique Afonso de Matos é o novo gerente de Vendas de Agroquímicos, da Dow AgroSciences, para a região Sul. Colaborador da empresa desde 2002 em outras áreas, assume a nova função que até então estava sob a responsabilidade de Osvaldo Debiagi, que a partir de agora passa a atuar na Divisão de Biotecnologia, em Ribeirão Preto (SP). “Estou muito entusiasmado com a oportunidade de trabalhar com a equipe de Vendas da região Sul. Tenho certeza de que com a nossa tecnologia, juntamente com a equipe qualificada, atenderemos às necessidades do produtor da região”, projeta. Matos participou também do 6º Congresso de Arroz Irrigado, em Porto Alegre (RS).

Arroz em pauta

O pesquisador André Andres, da Embrapa Clima Temperado, foi o moderador da sessão plenária sobre manejo de plantas daninhas no VI Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado. Também palestrou no encontro da Dow AgroSciences, em Pelotas (RS) onde abordou a competição de capim-arroz em arroz irrigado. Andres é engenheiro agrônomo e especialista André Andres em plantas daninhas.

Carla Andréia Delatorre, Ana Carolina Roso e Aldo Merotto Junior

Fertilizantes nitrogenados

A Agrotain, empresa que atua no mercado de fertilizantes nitrogenados, esteve representada no VI Congresso de Arroz Irrigado por Douglas Zonta, engenheiro agrônomo e gerente de Marketing e Vendas, e Caio Giacomoni Borges, engenheiro agrônomo da empresa. Para Zonta e Borges, o evento é uma atualização tecnológica imprescindível para atuar em um mercado competitivo Douglas Zonta e Caio Giacomoni Borges e globalizado.

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José H. Afonso de Matos

Produtor

Leonardo Gruppelli Costa, produtor de arroz nas cidades de Pedro Osório (RS) e Arroio Grande(RS), juntamente com os agrônomos Gustavo Soares e Leonardo Furtado estiveram na Reunião Syngenta do Arroz, em Pelotas (RS). Acompanharam a apresentação do portfolio e soluções da empresa para a cultura. Segundo Costa, o Sistema Barter (troca de produtos agrícolas por defensivos) lhe chamou a atenção. ”Irei buscar mais informações para fazer uma análise sobre as vantagens que o sisteLeonardo Costa, Gustavo Soares e Leonardo Furtado ma oferece”, disse.

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Soja Fotos Adeney de Freitas Bueno

Terror da soja

A ocorrência frequente, aliada ao desconhecimento da real capacidade de dano e de alternativas de manejo para a mosca-branca na cultura da soja, preocupa pesquisadores e produtores rurais. Embora resultados preliminares de experimentos mostrem que infestação igual ou menor que 15 ninfas/folíolo não causa danos significativos e dispensa medidas de contenção, o momento certo em que o controle deve ser adotado ainda é um desafio. Por isso, a indicação é o emprego do manejo integrado de pragas, que preconiza o uso racional de inseticidas para manutenção dos inimigos naturais

O

branco, normalmente considerado o símbolo da paz, desta vez tem outro significado para muitos sojicultores de regiões onde a mosca-branca tem aparecido. A ocorrência frequente dessa praga na soja, em algumas localidades, aliada ao desconhecimento da capacidade real de dano desse inseto à cultura e das principais táticas de manejo que devem ser utilizadas, vem preocupando pesquisadores e produtores rurais. Além disso, o nível de ação, ou seja, o momento certo em que o controle deve ser utilizado, ainda é um desafio para a pesquisa na atualidade. Além da enorme capacidade de adaptar-se aos mais diversos ambientes e hospedeiros, a importância econômica da mosca-branca como praga agrícola se dá principalmente devido à sua capacidade de transmissão de diversos vírus (carlavírus, closterovírus, geminivírus, luterovírus, potyvírus, entre outros) nas diferentes culturas. Em plantas de soja, a mosca-branca é transmissora do vírus da “necrose-dahaste”, do grupo dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte. Felizmente, já existe fonte de re-

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sistência varietal para esse vírus e, assim, o produtor pode manejar a cultura optando pela semeadura de cultivares de soja que apresentam resistência a essa virose. Entretanto, mesmo eliminando-se o problema da virose, ainda persiste a preocupação com o inseto como praga, que se alimenta dos nutrientes da planta, além dos danos indiretos que também podem ser observados. Ao se alimentar continuamente, a mosca-branca excreta nas folhas

uma substância açucarada, denominada “honeydew”, que favorece a formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., sobre as folhas. A fumagina apresenta coloração preta, que dificulta a captação dos raios solares, reduzindo a taxa fotossintética das folhas e provocando a queima da planta pela radiação solar.

Manejo

Apesar dos inúmeros problemas que causa,

A mosca-branca é transmissora do vírus da “necrose-da-haste”, do grupo dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte

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é de extrema importância esclarecer que o controle da mosca-branca não deve ser realizado em qualquer intensidade de infestação. No manejo integrado de pragas (MIP) sempre consideramos que a planta tolera certa injúria sem reduzir produção. Além disso, o sojicultor deve considerar os altos preços dos inseticidas utilizados contra o inseto. Entre as melhores opções de inseticidas disponíveis atualmente no mercado para o controle dessa praga estão os produtos do grupo dos reguladores de crescimento específicos para mosca-branca. Uma única aplicação desses produtos pode custar ao bolso do produtor um valor aproximado entre uma e duas sacas de soja por hectare. Assim, fica fácil entender que a aplicação desses produtos deve ocorrer, apenas, quando o prejuízo causado pelo inseto for superior ou, no mínimo, igual ao custo de aplicação. Esse “cálculo” é tecnicamente chamado de nível de ação ou nível de controle, definido como a infestação da praga que justifica economicamente a realização do controle. Aplicações de inseticidas com a população de insetos abaixo do nível de controle irão representar um prejuízo para os produtores de soja, que podem, eventualmente, até atingir produções ligeiramente maiores, mas, certamente com custos também maiores, o que não justificaria os gastos realizados com o controle

Histórico DA MOSCA

A

mosca-branca, como popularmente é conhecida, tem o nome científico de Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae). Apesar da denominação comum de mosca, trata-se, na verdade, de inseto sugador bastante comum em diversas culturas, como o tomate, o feijão, o algodão, entre outros, além de várias plantas daninhas. Em soja, seus primeiros surtos foram detectados em janeiro de 1996, em 1º de Maio, norte do Paraná, e em Pedrinhas Paulista, em da praga. Entretanto, o desconhecimento desse nível de ação para a mosca-branca na cultura da soja é justamente a grande dificuldade para a recomendação de seu manejo na hora certa. Aliados a essa dificuldade, atualmente os inseticidas disponíveis para o controle da mosca-branca diferem pouco quanto ao modo de ação. Assim, o uso abusivo de inseticidas com modo de ação semelhante, mesmo que muitas vezes tenham nomes comerciais diferentes, pode selecionar populações da mosca-branca resistentes ao modo de ação utilizado, o que tem

São Paulo, provocando perdas entre 30% e 80%. Na safra seguinte, a mosca-branca causou danos de até 100% na cultura da soja, em Miguelópolis, norte de São Paulo. Mais recentemente, as infestações da praga têm crescido em diversas regiões produtoras de soja, principalmente no Mato Grosso do Sul, oeste da Bahia e alguns municípios de Goiás. Nesses locais, tem sido verificado aumento considerável das aplicações de inseticidas para seu controle, muitas vezes, de maneira errada e abusiva. sido já relatado em revistas científicas da área. Em virtude dos problemas apresentados, pesquisadores da Embrapa Soja, em parceria com outras instituições de pesquisas, em projetos financiados pela própria empresa e também pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) (Processo 565817/2008 6), vem estudando os níveis de ação/dano para o controle da moscabranca na cultura da soja, assim como o uso de cultivares de soja resistentes ou pelo menos mais tolerantes ao ataque da praga. Apesar


Fotos Adeney de Freitas Bueno

Mosca-branca adulta

das pesquisas ainda estarem nos primeiros anos, alguns resultados promissores vêm sendo obtidos. Os resultados de pesquisa, embora preliminares, têm mostrado que pequenas infestações da mosca-branca na soja, o que muitas vezes é considerado pelo produtor como o momento adequado para a aplicação dos inseticidas, na verdade não causa qualquer redução na produção. Assim sendo, essa aplicação é desnecessária, principalmente considerando-se a ausência de viroses. Em ensaios realizados no município de Paraúna (GO), a mosca-branca não reduziu significativamente a produção da soja com densidades avaliadas na porção mediana da planta iguais ou menores que 15 ninfas/folíolo. Nos próximos anos, os estudos deverão estar concentrados em infestações superiores a 15 ninfas/folíolo, com o objetivo de determinar precisamente quando as reduções de produtividade começam. Em áreas de cultivo de soja, onde as condições climáticas e de manejo são muito favoráveis ao desenvolvimento desse inseto, aliado a um histórico de ocorrência dessa praga, o uso de cultivares de soja resistente ou no mínimo mais tolerante ao ataque da praga torna-se uma importante opção ao produtor para reduzir sua dependência do inseticida químico. Preocupada com isso, a Embrapa Soja tem testado seu banco de germoplasma para levantar os materiais que tenham resistência ou tolerância a esse inseto. É importante ressaltar que o uso de cultivares resistentes ou tolerantes ao ataque da mosca-branca é uma estratégia de manejo de grande importância dentro de um programa de manejo integrado de pragas, por ser compatível com o uso de outras técnicas de controle. Além disso, não agride o agroecossistema nem interfere nos custos de produção das lavouras, tornando-se viável e ao alcance de todo e qualquer produtor. A identificação e a caracterização de fontes de resistência varietal são os primeiros passos para o melhoramento genético vegetal obter genótipos tolerantes e/ou resistentes à praga. Essa seleção de cultivares resistentes

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Os ovos são colocados na face inferior das folhas jovens

A excreção da mosca, uma substância açucarada, favorece a formação de fumagina sobre as folhas

pode ser acelerada desde que os mecanismos de resistência sejam conhecidos. Por isso, tem-se empregado grande esforço nessa área de pesquisa. Entre os materiais avaliados até o momento e provenientes do banco de germoplasma da Embrapa Soja, o genótipo mais tolerante, quando comparado aos padrões de resistência utilizados (IAC-17 e IAC-19), foi a cultivar “Barreiras”, que é indicada para semeadura em regiões como o sudoeste da Bahia, onde a mosca-branca tem sido grande problema nos últimos anos. Os esforços de pesquisa serão agora focados nos testes com os demais materiais, com potencial de resistência e na determinação dos mecanismos de defesa da planta envolvidos, para acelerar o processo de melhoramento genético. Entretanto, no momento, até que os novos resultados de pesquisa não estejam disponíveis, o sucesso do manejo da moscabranca na cultura da soja depende do reconhecimento da praga associado à adoção completa do manejo integrado de pragas (MIP-soja), o que preconiza a redução do uso exagerado de inseticidas, principalmente os de largo espectro de ação (não seletivos). Essa atitude é importante porque a mosca-branca tem vários

inimigos naturais e os produtos de largo espectro de ação, como os piretroides, por exemplo, eliminam esses agentes de controle biológico, favorecendo uma maior infestação da praga. Ainda, é importante salientar a importância do manejo da mosca-branca no sistema agrícola, como um todo, e não isoladamente em cada cultura. A enorme capacidade de adaptação desse inseto aos mais diversos hospedeiros cultivados e de ocorrência natural, em associação a uma extraordinária mobilidade, faz com que medidas de controle isoladas para uma cultura, não tenham muitas vezes sucesso, principalmente, quando áreas infestadas circunvizinhas também não forem manejadas corretamente. Essas medidas, quando adotadas em conjunto, auxiliarão na manutenção da população dessa praga em níveis mais baixos do que se tem observado, muitas vezes, nas áreas consideradas C problemáticas. Adeney de Freitas Bueno, Clara Beatriz Hoffmann-Campo e Daniel R. Sosa-Gomez, Embrapa Soja Regiane Cristina O. de F. Bueno, Universidade de Rio Verde

RECONHECENDO O INIMIGO

O

ciclo biológico da mosca-branca é dividido na fase de ovo, um primeiro instar da ninfa, onde o inseto se locomove, por alguns minutos, até localizar o lugar mais adequado na planta para se fixar. Posteriormente, as ninfas passam por três instares imóveis, sendo o último instar incorretamente denominado de “pupa” ou “pseudopupa” e, finalmente, os adultos (machos e fêmeas). Os adultos medem cerca de 1,0mm de comprimento, sendo a fêmea ligeiramente maior que o macho. Os insetos nesse estágio têm o dorso amarelo-pálido possuindo dois pares de asas membranosas de cor branca. A

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fêmea tem a capacidade de postura que vai de 100 ovos a 300 ovos durante todo seu ciclo de vida, que é variável e dependente da alimentação e da temperatura. Os ovos medem aproximadamente 0,2mm e são colocados na face inferior das folhas jovens. Nas primeiras horas após a postura, os ovos possuem formato alongado com um pedúnculo de cor branca amarelada, que se torna marrom escura no final. A fase de ovo dura cerca de cinco dias a sete dias quando ocorre o início da eclosão das ninfas. Entretanto, esse tempo, em geral, pode variar em função das condições climáticas e do hospedeiro.



Soja

Proteção inicial

A podridão radicular de fitóftora é o principal problema de morte de plantas logo após a emergência, o que em geral leva à necessidade de replantios das lavouras. A doença é manejada através do uso de resistência genética, porém, esse recurso tem eficiência somente a partir do estádio V1 (primeiro nó; folhas unifolioladas abertas). Por isso, testes com tratamento de sementes, com os produtos mefenoxam e metalaxil-M, estão sendo realizados com a finalidade de proteger a plântula até esta fase

A

podridão radicular de fitóftora em soja, causada por Phytophthora sojae, pode levar à morte de plantas desde a semeadura até o estádio de enchimento de grãos. No Brasil, foi detectada em lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, principalmente em ambiente de solos argilosos e compactados, que favorecem a manutenção de condições de excesso de umidade na terra. Para o agricultor, o principal problema causado é a morte de plantas logo após a emergência, levando à necessidade de replantios em muitas lavouras.

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A doença é manejada através do uso de resistência genética. Nos Estados Unidos, uma cultivar de soja permanece resistente entre 8 anos a 15 anos, antes do surgimento de novas raças, ou patótipos, de P. sojae. A resistência parcial ou de campo, entretanto, é duradoura, e manifestase através de menor severidade de apodrecimento do sistema radicular. Este tipo de resistência desenvolve-se a partir do estádio V1 (primeiro nó; folhas unifolioladas abertas). Assim, desde a semeadura até este estádio, o tratamento químico da semente poderia evitar a infecção de plântulas.

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Nos Estados Unidos há indicação do uso de metalaxil-M ou de seu isômero ativo mefenoxam, na semente ou na linha de semeadura, como estratégia adicional de manejo em cultivares com resistência parcial no período da emergência, quando as condições forem favoráveis ao desenvolvimento da doença (chuva e solos pesados). Para avaliar o efeito de doses de metalaxil-M e de mefenoxam sobre o desenvolvimento de P. sojae em cultivares com diferentes níveis de suscetibilidade, foi desenvolvido um ensaio com as cultivares de soja BRS Taura RR, que


Fotos Leila Maria Costamilan

Da esquerda para a direita: testemunha zero; testemunha doente; metalaxil dose indicada; metalaxil dose em dobro; mefenoxam dose normal, mefenoxam dose em dobro. Fileira da frente: BRS 244 RR; atrás: BRS Taura RR

apresenta resistência parcial a P. sojae, e BRS 244 RR, suscetível. As sementes foram tratadas com metalaxil-M, nas doses de 1 (indicada) e de 2 (dobro) g i.a./100 kg de sementes (= 100 e 200ml de

fludioxonil + metexil-M/ 100 kg de sementes), e mefenoxam, nas doses de 7,5 (registrada) e de 15 (dobro) g i.a./100 kg de sementes (= 200 e 400mL de Apron RFC/100kg de sementes). As sementes dos tratamentos sem aplicação


Leila Maria Costamilan

Plantas de soja mortas por fitóftora (no detalhe) são mais frequentes em solos argilosos e compactados, pois favorecem a manutenção de condições de excesso de umidade

de fungicida, com e sem inoculação com P. sojae (testemunha doente e testemunha zero, respectivamente), receberam apenas água. O tratamento inoculado (testemunha doente) recebeu disco de meio de cultura inoculado e sementes não tratadas. O tratamento não inoculado (testemunha zero) recebeu disco de meio de cultura não inoculado e sementes não tratadas. O delineamento experimental foi completamente casualizado, com três repetições, e dez sementes de soja em cada vaso, em substrato de vermiculita. Vinte e um dias após a semeadura, o sistema radicular foi lavado para retirada de vermiculita aderida às raízes, deixado secar em estufa a 55ºC - 65ºC durante 48 horas, e pesado em balança analítica. Os resultados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, com dados transformados em raiz quadrada de x + 0,5, e as médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade de erro. Como resultados, observou-se que, para a cultivar BRS Taura RR (com resistência parcial), mefenoxam na dose indicada foi o único tratamento com fungicida em planta inoculada que apresentou resposta, em termos de biomassa

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seca de raízes, igual aos tratamentos não inoculados, com exceção de mefenoxam em dobro (Tabela 1). Não diferiram da testemunha doente os tratamentos com metalaxil-M, nas doses indicada e em dobro, e com mefenoxam, na dose em dobro. O tratamento com mefenoxam na dose em dobro produziu diminuição significativa no peso de raízes em plantas não inoculadas, comparativamente

à testemunha zero e aos demais tratamentos não inoculados, provavelmente causado por um efeito fitotóxico. No caso da cultivar BRS 244 RR, nenhum tratamento com fungicida e inoculado foi semelhante à testemunha zero. Os únicos tratamentos que se diferenciaram significativamente e foram superiores à testemunha doente foram mefenoxam em dose registrada e em dobro. Assim, conclui-se que mefenoxam foi mais efetivo que metalaxil-M para uso em sementes de soja visando controle inicial de podridão radicular de fitóftora. No Brasil, a concentração de metalaxil-M usada no produto comercial com indicação de uso para soja é de 1,0 g i.a./100 kg de sementes, enquanto que, nos Estados Unidos, a concentração indicada para controle de Phytophthora spp. é de 15,5 a 31,0 g i.a./100 kg de sementes. A baixa concentração de metalaxil-M formulada no produto comercial pode ser uma das causas de insucesso de controle de podridão radicular de fitóftora em algumas lavouras de soja no Brasil. Convém ressaltar que há indícios de que mefenoxam, quando aplicado em dose superior à indicada, possa causar fitotoxicidade em raízes de soja de algumas cultivares, de acordo com o observado neste trabalho para a cultivar C BRS Taura RR. Leila Maria Costamilan e Cláudia Cristina Clebsch, Embrapa Trigo Anderson C. Versari, Universidade Estadual de Maringá

Tabela 1 - Peso de raízes de plantas de soja após tratamento de sementes com fungicidas e inoculação com Phytophthora sojae BRS Taura RR (resistência parcial) Tratamento1,2 Peso seco raiz (g) Met 1 + não inoculado 0,65 a Met 2 + não inoculado 0,62 a Não inoculado (testemunha zero) 0,58 a Mefx 1 + não inoculado 0,52 a Mefx 1 + inoculado 0,47 a Mefx 2 + inoculado 0,40 b Mefx 2 + não inoculado 0,39 b Met 2 + inoculado 0,33 b Met 1 + inoculado 0,30 b Inoculado (testemunha doente) 0,22 b C.V. (%) 19,7

BRS 244 RR (suscetível) Peso seco raiz (g) Tratamento1,2 0,68 a Não inoculado (testemunha zero) 0,67 a Met 1 + não inoculado 0,64 a Mefx 2 + não inoculado 0,57 b Met 2 + não inoculado 0,55 b Mefx 1 + inoculado 0,52 b Mefx 2 + inoculado 0,50 b Mefx 1 + não inoculado 0,22 c Met 2 + inoculado 0,14 c Met 1 + inoculado 0,07 c Inoculado (testemunha doente) 18,3 C.V. (%)

1 Met 1 (metalaxil, dose indicada – 1 g i.a.); Met 2 (metalaxil, dose em dobro – 2 g i.a.); Mefx 1 (mefenoxam na dose registrada – 7,5 g i.a.); Mefx 2 (mefenoxam na dose em dobro – 15 g i.a.). Doses para 100 kg de sementes. 2 Inoculado ou não inoculado (com ou sem P. sojae). Análise realizada com dados transformados em raiz quadrada de x + 0,5. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

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Arroz

Efeito aditivo

Alguns produtos fitossanitários, além da ação contra pragas ou patógenos, podem estar associados a efeitos sinérgicos no desenvolvimento de plantas e também no rendimento de grãos. No arroz irrigado, pesquisadores realizaram experimentos para avaliação deste efeito no desenvolvimento inicial de plantas, através do tratamento de sementes, com o inseticida mais utilizado pelos produtores para controle da principal praga da cultura, a bicheira-da-raiz

O

uso de alguns produtos fitossanitários, além da ação defensiva contra pragas e/ou patógenos, tem sido associado a efeitos sinérgicos no desenvolvimento de plantas e no rendimento de grãos de várias culturas. Quando tais produtos são utilizados em tratamento de sementes, os efeitos são relatados especialmente no desenvolvimento inicial das plântulas. Em soja, Tavares et al (2007) observaram aumento das áreas foliar e radicular com a aplicação do inseticida thiametoxam em tratamento de sementes. Barbosa et al (2002) constataram que o tratamento de sementes com imidacloprido e thiametoxam proporcionou melhoria nas características

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agronômicas de plantas de feijão. Castro et al (2008) definem esses sinergismos como “efeito fitotônico”, caracterizado pelo incremento no crescimento e no desenvolvimento das plantas, proporcionados pela ação de algum ingrediente ativo. Na cultura do arroz irrigado, uma das pragas principais é a bicheira-da-raiz, Oryzophagus oryzae (Costa Lima, 1936), que na fase larval alimenta-se das raízes das plantas. Este hábito prejudica o desenvolvimento por diminuir a capacidade de absorção de nutrientes, levando ao surgimento de reboleiras de plantas amareladas, com sintoma de deficiência nutricional. O tratamento de sementes com inseticidas é uma prática muito utilizada

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por produtores de várias culturas, devido à eficiência no controle de diversas pragas de início de ciclo e também à facilidade de utilização, dispensando operação tratorizada poucos dias após a semeadura. Na área cultivada com arroz no estado do Rio Grande do Sul, o tratamento de sementes foi utilizado em mais de 40% na safra 2004/2005 (Oliveira & Fiuza, 2005) e percebe-se tendência de aumento. Atualmente, estão registrados para tal uso produtos à base de fipronil, thiametoxam e imidacloprido, sendo mais empregado o primeiro. Relatos sobre o efeito deste tratamento em plantas de arroz são feitos apenas por produtores, não havendo trabalhos de pesquisa neste sentido. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o


Fotos Dirceu Gassen

efeito do inseticida fipronil no desenvolvimento inicial de plantas de arroz.

Material e métodos

Dois experimentos foram realizados na Estação Experimental do Arroz (EEA) do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em Cachoeirinha (RS). O primeiro foi conduzido em casa de vegetação, com condições de umidade e temperatura controladas, para avaliação de parâmetros da parte aérea das plantas. Baldes com capacidade de 15 litros foram preenchidos com solo coletado na EEA e adubados na proporção de 350kg/ha-1 de adubo da fórmula 05-20-30. Os tratamentos constituíram em cinco doses do inseticida fipronil em tratamento de sementes (50ml de fipronil/100kg sementes-1, 100ml de fipronil/100kg sementes-1, 150ml de fipronil/100kg sementes-1, 200ml de fipronil/100kg sementes-1 e 250ml de fipronil/100kg sementes-1), além de uma testemunha não tratada. O delineamento experimental utilizado foi completamente casualizado, com três repetições. A semeadura foi realizada dia 21 de novembro de 2007 e a emergência ocorreu dia 29 de novembro, oito dias depois de semeado. Logo após a emergência, foi realizado o desbaste das plantas, permanecendo a população de 30 plantas

O tratamento de sementes de arroz tem mostrado crescimento na adoção da técnica. Em 2004, já era utilizado em mais de 40% da área cultivada

por balde. Aos 27 dias após a emergência foi realizada a avaliação de estatura das plantas, que tiveram a totalidade da parte aérea coletada e secada em estufa a 60oC até atingir peso constante para avaliação de massa seca. Devido à dificuldade de avaliação das raízes das plantas cultivadas nos baldes, foi realizado

um segundo experimento, utilizando substrato poliestireno cristal granulado para sustentação das plântulas e solução nutritiva (50% NO3- e 50% NH4-). Este experimento foi conduzido em incubadora B.O.D., mantida a 20oC e com fotoperíodo de 10 horas. Os tratamentos com fipronil foram os mes-


Thais Fernanda S. de Freitas

Comparativo entre plantas que receberam o tratamento de sementes (direita) e a testemunha sem tratamento (esquerda)

mos do experimento em casa de vegetação (0ml para 100kg de sementes, 50ml para 100kg de sementes, 100ml para 100kg de sementes, 150ml para 100kg de sementes, 200ml para 100kg de sementes e 250ml para 100kg de sementes), com três repetições, em delineamento completamente casualizado. Cada unidade amostral consistiu em um copo plástico (300ml). Em cada copo foram colocadas 15 sementes e logo após a emergência foi realizado o desbaste para uniformizar a população em dez plantas por unidade amostral. A instalação do experimento foi no dia 9 de maio de 2008 e a emergência das plântulas ocorreu dia 19 de maio. O experimento foi conduzido até 5 de junho, portanto 17 dias após a emergência. Os parâmetros avaliados foram estatura de plantas, comprimento de raiz, matéria seca (MS) da parte aérea e matéria seca de raiz. Os resultados foram submetidos à análise de variância e, quando foi alcançada a significância estatística, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Casa de vegetação: a estatura média das plantas que tiveram as sementes tratadas com fipronil manteve-se em torno de 32cm, superior às plantas do tratamento testemunha, que foi de 26cm (Tabela 1). Entretanto, não houve diferença deste parâmetro entre as doses utilizadas nos tratamentos. Da mesma forma, a matéria seca (MS) da parte aérea das plantas tratadas manteve-se em torno de 9g, sem diferir entre as doses testadas, ao passo que a MS das plantas do tratamento testemunha foi de 4g. Experimento em B.O.D: para o parâmetro estatura de plantas não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 2). Os resultados oscilaram entre 11,8cm e 12,9cm. Já o comprimento de raiz variou com o incremento da dose de fipronil, com significativa

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inibição do desenvolvimento na maior dose (250ml 100kg sementes-1). Para o parâmetro MS da parte aérea houve efeito do tratamento de sementes, sendo os resultados superiores ao da testemunha, independentemente da dose utilizada (Tabela 3). Já para MS de raízes, apenas os tratamentos 100ml/100kg

sementes -1, 150ml/100kg sementes -1 e 200ml/100kg sementes-1 foram superiores à testemunha. Os resultados demonstram efeito do inseticida fipronil no desenvolvimento inicial das plantas de arroz irrigado, não havendo diferenças entre doses de 100ml por 100kg de sementes a 200ml por 100kg de sementes. Entretanto, este resultado requer mais estudos, especialmente sobre o modo de ação do produto no metabolismo da planta. Muitos autores (Castro et al, 2008) encontraram efeitos prejudiciais na germinação e no vigor inicial de plantas oriundas de sementes tratadas com inseticidas. Existe efeito do tratamento de sementes com fipronil sobre o desenvolvimento inicial da parte aérea e de raízes de plânC tulas de arroz. Thais Fernanda S. de Freitas, Valmir Gaedke Menezes e Jaime Vargas de Oliveira, Irga

Tabela 1 - Estatura (cm) média e matéria seca (g) da parte aérea de plantas de arroz irrigado, em função da dose do inseticida fipronil em tratamento de sementes. Cachoeirinha, RS, 2008 Tratamento (ml fipronil 100kg sementes-1) Testemunha 50 100 150 200 250

Estatura1 (cm) 26 b3 32 a 33 a 33 a 31 a 32 a

Matéria seca2 (g) 4b 8,6 a 8,8 a 9,2 a 9,6 a 9,6 a

1 Média de 30 plantas 2 Total de 30 plantas 3 Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro

Tabela 2 - Estatura e comprimento (cm) de plântulas de arroz irrigado em função da dose do inseticida fipronil em tratamento de sementes. Cachoeirinha, RS, 2008 Tratamento(ml fipronil 100kg sementes-1) Testemunha 50 100 150 200 250

Estatura1 (cm) 12 a2 12,9 a 11,9 a 11,7 a 12,1 a 11,8 a

Matéria seca1 (g) 7,1 ab 8,5 a 8,3 a 8,1 a 7,3 ab 6b

1 Média de dez plantas 2 Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro

Tabela 3 - Matéria Seca (MS) da parte aérea e de raízes de dez plântulas de arroz irrigado em função da dose do inseticida fipronil em tratamento de sementes. Cachoeirinha, RS, 2008 Tratamento(ml fipronil 100kg sementes-1) Testemunha 50 100 150 200 250

MS parte aérea(mg) 6,4 b1 6,9 a 6,9 a 6,9 a 6,9 a 6,8 a

1 Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro

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MS raízes(mg) 0,8 b 1 ab 1,2 a 1,1 a 1,1 a 1 ab



Algodão

Adensado na safrinha Apontado como alternativa aos elevados custos de produção, o cultivo adensado de algodão desponta como opção de segunda safra, semeada após a colheita da soja. Experimentos conduzidos pela Fundação Chapadão indicam, além da época de cultivo, o desempenho e a adaptação de cultivares, bem como as doses de nitrogênio e potássio que têm oferecido melhores respostas à cultura nesse novo sistema

Jefferson Luis Anselmo

O

cenário da cultura do algodoeiro no território nacional vem passando por transformações relevantes quanto ao manejo e ao sistema de cultivo empregados na produção, em virtude principalmente dos elevados custos, contrapondo-se à baixa remuneração paga ao produtor nos últimos anos pelo produto final (fibra). Neste contexto, com o objetivo de salvaguardar a cultura do algodoeiro e mantê-la no sistema de rotação do Cerrado, a pesquisa junto às instituições ligadas a toda cadeia de produção vem avaliando uma nova técnica adotada neste ano pelos produtores. Trata-se do cultivo adensado do algodoeiro em segunda safra, na região dos cerrados. Algumas peculiaridades, quanto a essa nova alternativa de cultivo, comparada ao sistema convencional utilizado, deverão ser analisadas com critérios técnico-científicos fundamentados em conceitos agronômicos. Como exemplos podem-se citar a época de

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plantio de acordo com a região de cultivo, o melhor arranjo espacial das plantas, cultivares adaptadas ao adensamento, ajuste de adubação e do regulador de crescimento ao material a ser utilizado, sistema de colheita empregado e qualidades intrínsecas da fibra. Essas são as principais linhas de pesquisa que deverão ser adotadas pela comunidade técnico-científica para que essa nova “ferramenta” de manejo seja utilizada com sucesso pelos agricultores. O sistema de cultivo de algodão adensado, apesar de ser apontado como nova tecnologia no Brasil, em área de produção, já foi testado pela pesquisa há algum tempo. Exemplo disso são os trabalhos realizados por Beltrão et al (1988) e Lamas et al (1989). Na Fundação Chapadão há trabalhos avaliando a possibilidade de aumento da densidade de semeadura/redução, espaçamento entrelinhas do algodão desde 2002, com resultados apresentados por Lamas et al (2005). Estes trabalhos foram

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coordenados pelo pesquisador Fernando Lamas (Embrapa CPAO), juntamente com o pesquisador Paulino Andrade (na época da Embrapa CPAO, sediado na Fundação Chapadão). A novidade do sistema atual é a época de cultivo, ou seja, segunda safra, principalmente após soja superprecoce. O cultivo de algodão segunda safra (safrinha) ganhou importância no Mato Grosso em 2002, como alternativa para a sobrevivência do algodão naquela região (sinalizado depois de algumas avaliações realizadas informalmente por agricultores que a implantaram) após a colheita da soja durante o mês de janeiro, alcançando bons resultados. Segundo dados da Fundação Rio Verde, Pasqualli et al (2005), na safrinha de 2004 mais de 90% do algodão de Lucas do Rio Verde e uma grande proporção do implantado no Médio Norte do Mato Grosso (MT) foram cultivados em safrinha. Isto


graças às altas produtividades obtidas. No cultivo da segunda safra anterior, médias de produtividade foram superiores a 300 arrobas/ha (Fundação Rio Verde, 2003). Estas produções já não foram repetidas na segunda safra de 2004, principalmente em virtude das condições climáticas ocorridas na região, descritas por Pasqualli et al (2005), como excesso de precipitação em janeiro (dificultando o estabelecimento de estande) e deficiência hídrica no final do ciclo, revelando as limitações climáticas do cultivo de segunda safra. Entretanto, apesar do maior risco climático com o cultivo da safrinha, segundo dados do Imea (2009), são cultivados mais de 55 mil hectares de algodão nesta época, 71% da área cultivada no MT. Fato que não se repete na região dos Chapadões, onde o cultivo de algodão de segunda safra 2008/09 foi praticamente inexistente, limitado a apenas áreas de algodão adensado (aproximadamente 800ha), em virtude das frustrações em safras anteriores. O sistema adensado surgiu com potencial e grande interesse por parte dos produtores na safra 2008/09, principalmente baseado em experiências já existentes em algumas regiões do Paraguai e Argentina, apresentando como diferencial dos sistemas adensados testados anteriormente à época de semeadura. Previamente, pensou-se no cultivo de verão (início de dezembro), época convencional. Já no momento atual,

Tabela 1 - Valores médios do estande final de plantas, alturas de plantas e inserção do primeiro ramo reprodutivo, número de capulho, peso de capulho e a produtividade em caroço de 11 cultivares de algodão, cultivados em sistema adensado na safrinha 2009, na Fazenda Serrinha, Chapadão do Céu(GO). Fundação Chapadão Variedade FMX 993 BRS 293 DP 604 BG Nu opal FMT 701 FMX 910 DP 90B Delta opal Buriti FMX 966 Cedro

Altura planta (pl.m-1) (pl.ha-1) 8,9 198610,9 9,0 200694,2 8,8 196527,6 8,0 178472,0 8,9 197916,5 8,4 186110,9 9,2 203472,0 8,8 194444,3 8,3 185416,5 7,8 173610,9 8,0 177083,2

Altura planta (cm) 88,50 71,42 76,08 78,67 85,42 76,00 68,42 69,75 70,67 51,08 70,25

Altura 1º ramo (cm) 17,25 17,00 15,50 17,58 17,42 16,00 17,42 17,08 13,58 13,33 20,42

a ideia é a semeadura em final de janeiro até a primeira quinzena de fevereiro, como segunda safra, após soja superprecoce e feijão de verão (opção interessante na região dos Chapadões), ou seja, dois meses após o cultivo do algodão convencional de verão. Portanto, basicamente, o novo sistema proposto combina duas técnicas. Primeiro, reduzir o espaçamento de cultivo, com mesmo número de plantas/m (aumentando a população), e segundo, posicionar a época de semeadura da segunda safra (safrinha). Técnicas que acabam alterando muito o manejo ideal a ser empregado durante a condução da cultura. Em virtude disso, a Fundação Chapadão, junto aos seus pesquisadores Jefferson

Número capulho 9,4 5,8 8,5 5,4 6,3 7,5 5,0 6,4 8,6 6,3 5,2

Peso capulho (g) 5,4 6,6 5,9 5,8 5,6 5,4 5,8 5,8 5,9 6,6 5,9

Produção (@.ha) 327,5 291,4 274,1 272,2 265,5 264,8 257,4 240,5 238,9 226,6 171,5

Luis Anselmo (Fitotecnia) e Aguinaldo José Freitas Leal (Fertilidade), instalou vários ensaios no centro de pesquisa da instituição e na Fazenda Serrinha, onde se realizou o Dia do Algodão dos Chapadões 2009, com o objetivo de difundir e adaptar a tecnologia do algodão adensado às condições de altitude do Cerrado. Experimentos: Experimento 1 - Ensaio de caracterização de 11 cultivares de algodão, semeadas em 5/2/2009 no espaçamento de 0,45m; Experimento 2 - Avaliação de doses de nitrogênio; Experimento 3 – Avaliação de doses potássio em cultivo adensado do algodoeiro, com espaçamentos e época de semeadura iguais ao Experimento 1, a cultivar utilizada nos experimentos


Figura 1 - Produção de algodão em caroço, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de nitrogênio, Fundação Chapadão 2009

Figura 2 - Altura média de plantas de algodoeiro, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de nitrogênio, Fundação Chapadão 2009

Figura 3 - Produção de algodão em caroço, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de potássio, Fundação Chapadão 2009

Figura 4 - Produtividade média em caroço de algodão em densidades de semeadura distintas, cultivados em Chapadão do Sul. Centro de pesquisa da Fundação Chapadão, 2009

de adubação foi FMX 993. No Experimento 1, os resultados obtidos (Tabela 1), permitiram concluir que a dose de regulador utilizada (190ml/ha-1) em três momentos de aplicação foi suficiente para algumas cultivares avaliadas e insuficiente para outras. Diante do atual sistema de colheita e das máquinas que existem hoje para cultivos adensados com bom rendimento operacional, recomenda-se altura de plantas ao redor de 70cm. As cultivares FMX 993, BRS 293, DP604BG e Nuopal se destacaram das demais e apresentaram potencial de produtividade acima de 270 arrobas/ha-1. Além da altura de plantas e da produtividade em caroço, também foram avaliados o estande, a altura do primeiro ramo reprodutivo, o número e peso de capulhos e ainda serão feitas as análises das características intrínsecas da fibra. Nas Figuras 1 e 2 estão os resultados de produção de algodão em caroço e altura de plantas, respectivamente, cultivados em sistema adensado na segunda safra de 2009 na região dos Chapadões, em função de diferentes doses de adubação nitrogenada. Neste experimento,

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foi adotada uma dose padrão de regulador, 190ml ha-1 de Pix HC, em três aplicações, dose que aparentemente se mostrou suficiente em função das precipitações pluviométricas restritas, ocorridas durante a fase de desenvolvimento da cultura.

Aguinaldo José Freitas Leal e Jefferson Luis Anselmo

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A utilização de adubação nitrogenada no cultivo de algodoeiro em sistema adensado propicia acréscimos significativos de produção até a dose de 120kg/ha-1 de N-Ureia. Entretanto, a dose de 120kg/ha-1 de N-Ureia propiciou aumento no crescimento das plantas (Figura 2), superando a altura considerada limite para uma boa realização da colheita mecânica com as máquinas disponíveis no mercado para esse sistema. No que se refere à adubação potássica, utilizando como fonte cloreto de potássio, as respostas de produção foram obtidas com as dose de 80/kg ha-1 e 100/kg ha-1 de K2O, com ponto de máxima (PM) produção, de acordo com modelo polinomial, com a dose de 106,1kg/ha-1 de K2O. Considerando como custo da tonelada de KCl, praticado na região, R$ 1.300,00 (R$ 2,16/kg K2O) e o preço do algodão em caroço de R$ 15,00/@, o máximo retorno econômico (PME) é obtido com a dose calculada de 101,3kg/ ha-1 de K2O (168,8kg ha-1 de KCl). As respostas do algodão cultivado em segunda safra, em sistema adensado, à adubação nitrogenada e potássica foram bem


superiores às esperadas e é muito semelhante às doses recomendadas e adotadas no cultivo de algodão em espaçamento normal (80cm a 90cm), cultivado na região dos Chapadões em primeira safra (semeadura de dezembro), 120 – 130kg/ha-1 de N e 100 - 120kg/ha-1 de K2O. Apesar da necessidade de repetição destes ensaios, em outros anos agrícolas, com objetivo de melhor entender o efeito do ano de cultivo, é possível concluir que o algodão, cultivado em sistema adensado após soja precoce, apresenta resposta positiva à adubação nitrogenada e potássica. Há, portanto, a necessidade de se investir na adubação com esses nutrientes, adotando doses de, aproximadamente, 100kg/ha-1 de N-ureia e 80 - 100kg/ha-1 de K2O, sempre buscando explorar o máximo de retorno econômico possibilitado com adubação. Estes valores são superiores aos sugeridos inicialmente para esse sistema de cultivo na região de Cerrado (60kg/ha-1 de N e 60kg/ ha-1 de K2O). Em experimento conduzido e avaliado pela Fundação Chapadão com a cultura do algodoeiro, em cultivo adensado de segunda safra, objetivando avaliar a melhor densidade de plantas no espaçamento de 0,40m, foi instalado em 22/2/2009, no Centro de Pesquisa

Fotos Jefferson Luis Anselmo

As respostas do algodão de segunda safra, no sistema adensado, às adubações nitrogenada e potássica foram muito semelhantes às doses no cultivo em espaçamento normal

da Fundação Chapadão, utilizando-se quatro densidades de plantas na linha, 6pls./m; 8pls./m; 10pls./m e 12pls./m, obtendo-se, respectivamente, 150.000pls./ha; 200.000 pls./ha; 250.000pls./ha e 300.000pls./ha (Figura 4). Houve correlação positiva entre as densidades de semeadura e a produção

de algodão em caroço, pois com o aumento da densidade de plantas, maiores produções C foram alcançadas. Jefferson Luis Anselmo e Aguinaldo José Freitas Leal , Fundação Chapadão


Algodão

Eterno desafio

Cultivar

Com incrível capacidade de sobrevivência, inclusive em períodos desfavoráveis da entressafra, o bicudo tem o poder de inviabilizar completamente lavouras de algodão, tendo inclusive já expulsado a cultura de determinadas regiões produtoras. A aplicação de inseticidas na fase de botão floral é uma estratégia importante no controle da praga, porque previne altas populações nas fases seguintes

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dutores, Fundação Bahia, EBDA, empresas privadas, entre outros, tem o objetivo de diminuir a pressão do bicudo com ações regionais envolvendo as propriedades de uma determinada comunidade, obedecendo a regras predeterminadas e que devem ser adotadas por todos os produtores desta microrregião. A estratégia global é trabalhar de forma regionalizada, porém com a união de cada projeto individual cobrindo toda a região algodoeira.

refúgio e capacidade de resistir a longos períodos desfavoráveis na entressafra, para voltar a atacar na cultura posterior – e sua alta capacidade reprodutiva e destrutiva, torna-se praga de grande importância econômica. Se mal manejada, pode inviabilizar a lavoura e até mesmo uma região inteira, tendo, inclusive, já expulsado a cultura do algodoeiro de algumas regiões tradicionais. Merece atenção especial! Tal importância justificou a criação de um programa regional de combate ao bicudo, com o objetivo de diminuir sua população em todas as fases da cultura, e inclusive no período de entressafra. Esse programa, que foi idealizado pelas consultorias locais, juntamente com pro-

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A chave do sucesso

As aplicações de inseticidas na fase de botão floral são muito importantes, pois os adultos que sobraram em refúgios e que escaparam das aplicações de bordadura, se não forem controlados na

Andréia Q. Machado

O

oeste da Bahia pode ser considerado um oásis da cotonicultura: clima e topografia favoráveis, somados à grande capacidade técnica, administrativa e empreendedorismo dos empresários rurais, aos avanços tecnológicos liderados por empresas de consultorias especializadas, órgãos de pesquisa, empresas de defensivos e fertilizantes, entre outros fatores que garantiram grande impulso a este setor da agricultura naquelas terras. Hoje, uma década depois de ter dado início à cultura do algodão, o oeste baiano vive um “boom”, com 293 mil hectares cultivados (safra 2007/08), contra 70 mil hectares plantados na safra de 2001, ano em que esta cultura ganhou impulso na região. Um significativo aumento de 418% no período. Os resultados de produtividade surpreendem ano após ano, e mais, vêm acompanhados por melhorias na qualidade da fibra – qualidade esta reconhecida no mercado internacional e que tem atraído várias tradings que estão se instalando na região para a comercialização no mercado internacional. Porém, neste oásis também coabitam as muitas pragas que atacam o algodoeiro, algumas, como o bicudo, extremamente importantes e decisivas para a viabilidade do empreendimento (daí o controle de pragas ser, dentre os fatores de produção, um dos mais importantes para o sucesso da lavoura). O bicudo é uma praga poderosa. Devido à sua biologia – pelo seu hábito de

Plantas com fusariose mostrando sintoma acentuado de murcha


Divulgação

Cuidados estratégicos no manejo

1

) Destruição de soqueiras imediatamente após a colheita, com prazo máximo até 31 de agosto. 2) Armadilhamento nas bordaduras aproximadamente 60 dias antes do início do plantio. 3) Plantio concentrado em um período curto. 4) Controle químico de bordaduras (início na segunda folha verdadeira). 5) Aplicações de inseticida no início

Brugnera aponta as estratégias de manejo do bicudo

fase inicial, começarão a se reproduzir nos botões florais e a aumentar sua população rapidamente, podendo acarretar sérios danos, com gasto de defensivos e quebra de produtividade. Inseticidas de boa eficácia nesta fase são fundamentais, porque um

bom controle evita altas populações nas fases seguintes. Devem, também, ser utilizados produtos com modos de ação diferentes para prevenir possível seleção de indivíduos resistentes. Evitar produtos que possam desequilibrar o ambiente, aumentando o problema de outras pragas, como, por exemplo, os ácaros, também é fator a ser levado em conta. Dentre as opções de inseticidas que podem ser utilizados nesta fase inicial da cultura, o carbosulfano (metilcarbamato de benzofuranila) encaixa-se neste segmento. A Círculo

da emissão de botões florais (uma a três aplicações espaçadas de cinco dias, conforme amostragens nas armadilhas). 6) Controle do bicudo com índices inferiores a 5% de botões atacados. 7) Bateria de aplicações de inseticidas no início de abertura de capulho. 8) Aplicação de inseticidas juntamente com o desfolhante. 9) Além de outras ações complementares. Verde Pesquisa testou o produto em campo experimental, para verificar sua ação no controle do bicudo (gráfico). Foi comprovada a boa performance sobre esta praga, equivalendo-se aos produtos-padrão utilizados. Além do bom controle do bicudo, o defensivo apresenta outras vantagens, como o excelente controle do pulgão e supressão de algumas espécies de lagartas nos primeiros instantes que ocorrem C nesta fase. Pedro Brugnera, Círculo Verde Asses. Agronômica


Nutrição

Desempenho otimizado Uso de biorreguladores, principalmente em sistemas tecnificados de produção e em locais sob efeito de estresses, promove incrementos importantes em culturas como soja, feijão e milho

I

ndependentemente da tecnologia empregada, o ambiente de produção se constitui em preponderante condicionador de desempenho e produtividade vegetal. Desse modo, a fotossíntese, respiração, transpiração e evaporação são funções diretas da energia disponível no ambiente, comumente designada por calor; ao passo que, o crescimento, desenvolvimento e translocação de fotoassimilados são dependentes da disponibilidade de água e nutrientes do solo, sendo seus efeitos mais pronunciados em condições de temperaturas ótimas e ausência de restrição luminosa. Neste contexto, o emprego de biorreguladores reveste-se de suma importância para o incremento de produção e de lucratividade, sobretudo em sistemas de produção tecnificados ou em locais de comprovadas situações de estresse.

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Dentre as substâncias empregadas como biorreguladores destacam-se as giberelinas, citocininas e auxinas, bem como seus análogos sintéticos. O ácido giberélico ou giberelina (GA) pertence ao grupo de biorreguladores que apresenta como atividade principal a estimulação da divisão e/ou o alongamento celular, (Rowe, 1968). Ainda, as giberelinas desempenham papel fundamental na germinação de sementes, mediante a indução da síntese de enzimas digestivas, sobretudo a a-amilase. Esse fato foi comprovado por Wittwer & Bukovac (1958), pois a aplicação de giberelina em milho doce promoveu maior taxa significativa de germinação, tanto em condições de laboratório como de campo. Fancelli et al (2000), também constataram o efeito positivo do uso da giberelina no tratamento de sementes, em combinação com o zinco e o molibdênio, na velocidade de germinação e na maior taxa de emergência de plântulas de

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milho, sobretudo em condições de solo frio. O processo germinativo, todavia, requer a participação ativa de uma série de enzimas, fatores e co-fatores, reguladores vegetais (auxinas e citocininas, além das giberelinas), ácidos nucléicos e da ativação de outras vias metabólicas ainda não bem conhecidas relacionadas à dinâmica de energia necessária para as várias atividades de síntese. Outros estudos realizados por Castro & Elvis (2004) com plantas intactas ou com tecidos vegetais isolados evidenciaram a existência de interações sinergísticas, antagonísticas e aditivas entre os diferentes hormônios vegetais. Aplicações conjuntas de giberelina e citocinina resultaram no retardamento da senescência foliar em explantes de soja. Fancelli et al (2001), mediante o tratamento de sementes de feijão com biorregulador constituído de citocinina, giberelina e auxina, em proporções específicas, obtiveram resultados satisfatórios relativos ao incremento de estande inicial, na taxa de crescimento e na produtividade na cultura de feijão, em comparação ao tratamento testemunha, em gleba apresentando elevado potencial de inóculo de Fusarium solani. Em outro trabalho de pesquisa desenvolvido por Vieira & Castro (2000) comprovou-se que o emprego de produto contendo 0,009% de cinetina (citocinina), 0,005% de ácido giberélico (giberelina), 0,005% de ácido indolbutírico (auxina), no tratamento de sementes, proporcionou melhor taxa de germinação e maior número de plântulas normais, além de assegurar a redução significativa das anormalidades de plântulas. Ainda, foi também observado maior crescimento das raízes das


Fotos Dirceu Gassen

plantas (em comprimento e ramificação). As citocininas contribuem para a manutenção da síntese de proteínas e enzimas em níveis elevados, retardam a degradação de proteínas e da clorofila, diminuem a taxa respiratória, estimulam a divisão celular e o crescimento radicular, além de preservar o vigor das células. Aplicações de biorreguladores (auxina + giberelina + citocinina), via foliar, entre o aparecimento da 4ª e 5ª folhas, em soja e feijão, têm favorecido o desencadeamento precoce da brotação lateral (ramificação) e o crescimento equilibrado entre raiz e parte aérea, contribuindo para a redução do potencial de acamamento das plantas e para o ganho de produtividade em função do maior números de nós formados. Musatenko et al (2003), em recente trabalho de pesquisa, demonstraram que plântulas de milho mais tolerantes a temperaturas mais altas apresentavam maior conteúdo de citocininas e ácido abscísico, em comparação às plântulas de genótipos mais sensíveis. A ação da citocinina vem sendo utilizada por Fancelli (2007) na Argentina, objetivando proporcionar maior proteção do feijoeiro aos efeitos da alta temperatura, característicos da região de Salta, mediante a aplicação de biorreguladores contendo citocinina, por ocasião da emissão

O tratamento de sementes de feijão com biorregulador, composto de citocinina, giberelina e auxina, resultou em incremento significativo de estande inicial, na taxa de crescimento e na produtividade

do 3°/5° trifólio. Em outros estudos, comprovou-se a ação do fornecimento de citocininas e do uso de fosfito, no início de florescimento, no aumento de vagens no terço superior de plantas de soja e de feijão. Fancelli et al (2005) determinaram que o uso de biorreguladores compostos por giberelina, citocinina e auxina, nas sementes ou no estádio relativo à emissão da 4ª folha de milho, contribuiu para a melhoria do desempenho da planta e para o aumento de produtividade da ordem de 13,8 sacos/ha e de 16,4 sacos/

ha, quando aplicados, respectivamente, nas sementes e nas folhas (V4). Portanto, o uso de biorreguladores pode ser considerado, atualmente, instrumento imprescindível em sistemas tecnificados de produção, pois além de contribuir significativamente para a otimização dos fatores básicos de produção e amenizar eventuais situações de estresse, incrementa os ganhos de produtividade e os níveis de sustentabilidade C da atividade agrícola. Antonio Luiz Fancelli, Esalq/USP


Milho

Lavoura limpa

A redução do rendimento por conta de plantas daninhas em milho pode variar de 10% a 90%, de acordo com o grau de interferência, que é dependente de fatores ligados à cultura, à comunidade infestante, ao ambiente, à época e à duração da competição. Por isso, a indicação é o manejo químico da cobertura vegetal ou dessecação, com aplicações sequenciais para implantar a cultura e garantir bom desenvolvimento inicial das plantas

M

esmo com altos índices de produtividade em regiões produto ras, com rendimento médio de 3.646kg/ha-1, a cultura do milho passa por vários fatores que afetam o seu rendimento final, como estiagens, doenças, pragas, adubação inadequada e também pela interferência das plantas daninhas, reflexo tanto da ausência quanto da ineficiência do controle. A redução do rendimento da cultura devido à interferência estabelecida com as plantas daninhas pode variar entre 10% a 90%, dependendo do grau de interferência, que é dependente de fatores ligados à cultura, à comunidade infestante, ao ambiente e à época e duração do período de convivência entre planta daninha e a cultura. A cultura do milho apesar de ser considerada eficiente na competição sofre interferência das plantas daninhas, que podem prejudicar o crescimento, o rendimento de grãos e a

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operação de colheita mecânica. Portanto, a eliminação desta vegetação daninha consiste em uma prática indispensável para se obter maior nível de produtividade dessa cultura. Os programas de manejo que utilizam herbicidas pós-emergentes têm aumentado bastante nos últimos anos, pois podem ser utilizados em qualquer sistema de cultivo. Os tipos de solo não afetam a atividade do herbicida e a decisão de aplicação está baseada no conhecimento das espécies de plantas daninhas e na sua densidade no momento da aplicação. Com o incremento da área de milho cultivado pelo sistema de plantio direto, surgiu a necessidade do desenvolvimento de novos herbicidas recomendados em pós-emergência. A principal característica do sistema de plantio direto é o não revolvimento do solo, em consequência, os resíduos das culturas anteriores, adubação verde e infestantes ficam

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sobre o terreno, formando o que se designa de cobertura morta. Nesse sistema depende-se inteiramente do uso de herbicidas antes da semeadura das culturas para a eliminação das plantas daninhas já estabelecidas, com a chamada operação de manejo ou dessecação, um fator importante para o sucesso deste sistema, pois substituem o arado e a grade no preparo do solo. Na dessecação são utilizados exclusivamente herbicidas não seletivos e de ação total como o sulfosate e o glifosato, isolados ou em mistura com 2,4-D. Para se evitar problemas com a retenção de resíduos de herbicidas na superfície do solo, em restos culturais (ou então possíveis efeitos alelopáticos dos restos vegetais sobre a cultura), o manejo químico da cobertura vegetal deve ser antecipado e realizado no mínimo 20 dias antes da semeadura da cultura. A dessecação antecipada da cobertura vegetal e/ou plantas daninhas antes da semeadura


Fotos Luiz Alberto Kozlowski

do milho apresenta como vantagem a maior plantabilidade. Também facilita o controle de plantas daninhas em pós-emergência, promove maior armazenamento de água no solo, diminui a matocompetição, reduz os efeitos alelopáticos e proporciona maior produtividade da cultura. A aplicação sequencial de herbicidas permite eliminar vários fluxos de emergência de plantas daninhas que ocorrem antes da semeadura da cultura, reduzindo a densidade das daninhas durante a emergência e crescimento inicial da cultura, aumentando assim o seu crescimento, competitividade e produção. Trabalhos têm demonstrado que aplicações sequenciais (onde são aplicados antecipadamente herbicidas sistêmicos, tais como sulfosate, glifosato, isolados ou em mistura com 2,4-D e após 15 dias a 20 dias, na véspera ou na data da semeadura, são aplicados herbicidas de contato como o paraquat, paraquat + diuron ou diquat) proporcionam maior eficiência no controle das plantas daninhas e permitem a semeadura no limpo. A segunda aplicação serve fundamentalmente para corrigir problemas de rebrotes e de novos fluxos de plantas daninhas já emergidas por ocasião da semeadura. Já no sistema convencional (onde se faz o manejo em dose única de herbicidas, dez dias ou menos antes da semeadura) os resultados

A aplicação sequencial de herbicidas de dessecação é uma oportunidade para eliminar vários fluxos de emergência de plantas daninhas que ocorrem antes da semeadura da cultura

tendem a não ser satisfatórios. Além disso, pode não ocorrer o controle da sementeira na hora da semeadura, o que pode dificultar o combate às plantas daninhas no momento do desenvolvimento da cultura. Normalmente o primeiro fluxo que emerge no verão é o de maior densidade e o que tem maior potencial de prejudicar o rendimento do milho, uma vez que emerge antes ou junto com a cultura. Uma vantagem adicional seria o fato de que espécies de mais difícil controle como Ipomoea grandifolia (corda-de-viola) e Commelina benghalensis (trapoeraba) poderiam ser adequadamente contidas. Assim, dessecações sequenciais seriam recomendáveis, principal-

mente em condições de altas infestações ou para plantas daninhas de difícil controle. O uso de dessecações sequenciais, iniciadas de 15 dias a 20 dias antes da semeadura, apresenta, portanto, inúmeras vantagens, que são maiores quanto maior for a biomassa de cobertura do solo. O controle do primeiro fluxo de plantas daninhas que emerge é fundamental para reduzir sua interferência sobre a produtividade das culturas que se estabelecerão posteriormente, pois as plantas daninhas possuem baixa capacidade de competir em comunidades instaladas. Desta forma, este conceito justifica a idealização de sistemas


Figura 1 - Efeito das diferentes épocas de controle em pós-emergência ou de períodos de convivência Figura 2 - Efeito das diferentes épocas de controle em pós-emergência ou de períodos de convivência das plantas daninhas sobre o rendimento de grãos do milho, quando o manejo químico foi realizado das plantas daninhas sobre o rendimento de grãos do milho, quando o manejo químico foi realizado no dia da semeadura (0 DAS). FEGA/PUCPR, Fazenda Rio Grande (PR), 2007/08 10 dias antes da semeadura (10 DAS). FEGA/PUCPR, Fazenda Rio Grande (PR), 2007/08

de plantas daninhas 18,9% e 10,6% menor que a densidade observada para os manejos realizados aos dez e zero DAS, respectivamente. Constatou-se também que a velocidade de redução do rendimento de grãos do milho foi maior quando o manejo químico foi realizado aos zero e dez DAS, em comparação ao valor obtido para o manejo químico sequencial feito aos 25 DAS, e que os níveis de redução do rendimento de grãos variaram em função da época do manejo químico, de modo que, para cada dia de atraso no controle ou de convivência entre cultura e plantas daninhas, houve redução média diária de 42,5kg, 55,1kg e 29,6kg de grãos, para os manejos realizados aos zero, dez e 25 DAS, respectivamente. Tolerando-se uma perda máxima aceitável de 5% no rendimento de grãos, conforme Gráfico 1, o milho passou a ser prejudicado pela comunidade infestante a partir de 11 DAE (dias após emergência) (estádio V2), quando o manejo químico foi realizado no momento da semeadura do milho (zero DAS). Da mesma forma, verifica-se nos Gráficos 2 e 3 que, para os manejos químicos realizados aos dez e 25 DAS, a interferência das plantas daninhas começou a partir de 15 e 27 DAE do milho, correspondendo aos estádios fenológicos V3 e V6, respectivamente. Assim, o início do período crítico de prevenção da interferência se caracteriza pelo intervalo durante o qual é imprescindível manter a cultura livre da presença da comunidade infestante para que não

Figura 3 - Efeito das diferentes épocas de controle em pós-emergência ou de períodos de convivência das plantas daninhas sobre o rendimento de grãos do milho, quando o manejo químico foi realizado 25 dias antes da semeadura (25 DAS). FEGA/PUCPR, Fazenda Rio Grande (PR), 2007/08

que permitam desenvolvimento da cultura antes da germinação das plantas daninhas. A cultura se estabelecendo primeiro terá maior poder de competição e, consequentemente, dificultará o estabelecimento das plantas daninhas e ainda aumentará a eficiência dos herbicidas aplicados em pós-emergência, pois, neste caso, o efeito cultural será importante aliado, submetendo as plantas infestantes a um ambiente desfavorável ao seu crescimento e desenvolvimento. Em trabalho realizado na Fazenda Experimental da PUC, no Paraná, com o objetivo de avaliar diferentes sistemas de manejo ou dessecação em plantio direto e sua influência sobre as épocas de controle em pós-emergência e nos períodos de convivência das plantas daninhas na cultura do milho, verificou-se que o manejo químico sequencial realizado aos 25 dias antes da semeadura (DAS) do milho, eliminou no momento da semeadura os vários fluxos de emergência das plantas infestantes que ocorreram antes da semeadura do milho, apresentando uma densidade

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ocorra redução significativa no rendimento de grãos. Este período varia de acordo com a época em que foi realizado o manejo químico da cobertura vegetal. Os resultados obtidos no trabalho evidenciam que o uso de dessecações sequenciais, iniciadas aos 25 DAS e complementada no momento da semeadura do milho, eliminando os vários fluxos de emergências das plantas infestantes que ocorreram antes da semeadura da cultura, não reduziu de forma significativa a densidade das plantas daninhas nas fases iniciais de crescimento do milho quando comparado ao manejo convencional, como o realizado aos zero e dez DAS. Contudo, o manejo sequencial proporcionou melhores condições iniciais para estabelecimento da cultura, aumentando assim o seu crescimento e competitividade, o que são fundamentais para reduzir a interferência das plantas daninhas sobre a produtividade do milho. Os resultados mostraram também que as plantas daninhas interferem no desenvolvimento em milho com intensidade variável em função da época de ocorrência, da população e das espécies presentes. Com relação à época de controle, esta foi dependente do período em que foi realizado o manejo químico para a implantação da cultura do milho, de modo que o manejo químico sequencial, realizado 25 DAS do milho e complementado com uma segunda aplicação no dia da semeadura, proporcionou melhores condições para o estabelecimento e crescimento inicial do milho, aumentando assim a sua capacidade competitiva frente às plantas daninhas, permitindo dessa forma que o controle em pós-emergência possa ser realizado um pouco mais tarde (aos 27 DAE/ estádio V6 do milho), quando comparado ao sistema de manejo químico convencional (zero C e dez DAS). Luiz Alberto Kozlowski, PUC - PR



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Fibra em debate

Encontro promovido pela FMC reúne produtores, especialistas e outros profissionais ligados à cadeia produtiva do algodão em São Paulo

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FMC realizou a 15ª edição do Clube da Fibra entre os dias 29 de julho e 1º de agosto, em São Paulo. Especialistas e grandes produtores agrícolas estiveram reunidos para discutir temas relacionados à profissionalização da agricultura e o futuro do setor. Em pauta estiveram oportunidades no agronegócio nacional, formalização das empresas rurais, sucessão, governança, transparência, administração de risco, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, bem como a necessidade de criação de um novo marco regulatório, que elimine as restrições à modernização e estimule o aproveitamento do potencial de crescimento sustentável da agricultura brasileira. Palestras, mesas-redondas e workshops ao longo do evento abordaram diferentes questões sobre mudança do regime fiscal dos negócios agrícolas de “pessoas físicas” para “pessoas jurídicas” (PJtação). Entre os destaques, estiveram a palestra da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que falou sobre os desafios e oportunidades da PJtação da agricultura brasileira, e o debate coordenado pelo jornalista Joelmir Betting, com participação de profissionais da cadeia de produção de algodão. Outra novidade foi o workshop sobre algodão adensado, que abordou as principais vantagens, implicações e adaptações necessárias para a produção através desse novo sistema

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de cultivo. O Clube da Fibra foi criado pela FMC, em 1997. Hoje é referência como fórum de discussão dos desafios e oportunidades da cadeia produtiva de algodão. O sucesso da iniciativa incentivou a criação da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), em 1999. No evento foram condecorados com placa comemorativa aqueles que já presidiram a entidade. Segundo os dados da organização do evento, os encontros anuais do Clube da Fibra reúnem produtores que representam 80% do PIB do algodão e 10% do PIB da soja no Brasil, sempre trazendo para discussão temas de

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interesse para o agronegócio em geral e para o setor algodoeiro em particular. “Diversificação, inovação constante, eficiência, colaboração e intercâmbio de conhecimentos são princípios determinantes para o crescimento do mercado. Daí a importância da realização de um evento como o Clube da Fibra, pela sua forma de planejar e discutir eficiências do mercado, a fim de descobrir fatores que contribuam para fortalecer e gerar demanda para o agronegócio brasileiro e promover o alinhamento dos recursos para este objetivo”, declarou Antonio Carlos Zem, presidente da FMC. C

Evento contou com homenagens e entrega de placas comemorativas



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Foco na inovação

Anúncio de lançamento de produto e de novas parcerias com entidades de pesquisa na área de biotecnologia estão entre as novidades apresentadas pela Basf durante o Top Ciência 2009

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Basf prepara-se para colocar no mercado em 2011, ano em que completa 100 anos de presença no Brasil, o herbicida Heat (Saflufenacil), do grupo químico pirimidinadiona, em fase de registro no país para culturas como algodão, arroz, banana, batata, café, cana-de-açúcar, citros, feijão, girassol, maçã, mamona, manga, milho, soja, trigo e uva. O anúncio foi feito durante a quarta edição do Top Ciência, fórum de fomento à pesquisa científica, que reuniu 300 participantes, entre pesquisadores, cientistas, agricultores, consultores e agroindústrias de 12 países da América Latina, em agosto, em São Paulo. Lançado em 2009 na Argentina, o herbicida é uma das apostas da companhia alemã como produto global. “Será aplicado em mais de 100 culturas no mundo inteiro”, projeta Walter Dissinger, vice-presidente de Proteção de Cultivos para a América Latina. A expectativa é de que o novo produto seja um aliado importante no manejo de resistência de plantas daninhas. Além do lançamento de produtos, a Basf pretende avançar em parcerias com entidades de pesquisa na área de biotecnologia. Acordos como os já firmados com a Embrapa, no desenvolvimento de variedade de soja e mais recentemente com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com quem a empresa vai desenvolver cultivares de alta produtividade e tolerantes à seca, tendem a se repetir em outras culturas, como a do arroz. Até 2016 a companhia quer colocar em prática o projeto batizado de Rice Yeld, com a proposta de oferecer variedades mais produtivas, que permitam aos orizicultores brasileiros incrementos de produtividade entre 20% e 30%.

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Estreitar laços com pesquisadores, estimular a inovação e proteger a propriedade intelectual são outras metas. “Integrada ao conceito de inovação aberta, a companhia acredita e investe em parcerias e isso se aplica à pesquisa. Sempre que possível, vamos propor um acordo com o pesquisador ou com a entidade de pesquisa para o registro conjunto de patente. Esta é uma forma de incentivo ao desenvolvimento tecnológico nacional na área de agricultura”, diz Dissinger. Conectividade é outro conceito que a Basf quer aprimorar, principalmente na relação com os clientes. “Se precisa cada vez mais do cliente para ser inovador. As demandas do mercado são tão complicadas que só o cliente sabe o que precisa”, defende Alfred Hackenberger, presidente do Centro de Competência para Pesquisa e Especialidades Químicas da Basf. Para isso, a ordem é facilitar a comunicação, seja pessoalmente ou através dos recursos tecnológicos que permitem encurtar distâncias.

O Prêmio

Dezesseis pesquisadores do Brasil e oito de outros países da América Latina foram premiados no Top Ciência 2009. Cada um vai receber uma

viagem técnico-científica aos Estados Unidos. Os vencedores foram avaliados em cinco categorias: perenes, oleaginosas, cereais, grãos e hortifruti. Em 2009 o Top Ciência recebeu 376 inscrições de trabalhos de pesquisa. Desse total, 252 são brasileiros. A avaliação esteve a cargo de uma banca composta por pesquisadores da área de fisiologia vegetal do Brasil e do Departamento C Técnico da Basf. Pesquisadores brasileiros premiados Nome

Cidade-Estado/Instituição

1) Denio Oerlecke

Panambi-RS

2) Luiz Alberto Kozlowski

Curitiba-PR

3) Antonio Luiz Fancelli

Piracicaba-SP/Esalq

4) Itacir Eloi Sandini

Guarapuava–PR/Unicentro

5) Thiago Leandro Factor

Mococa–SP

6) Felipe de Campos Vieira

Serra do Salitre–MG

7) Hellen Georgia Santana

Goiânia–GO

8) Ricardo Balardin

Santa Maria–RS/UFSM

9) Evandro Binotto Fagan

Patos de Minas–MG

10) Augusto Cesar Pereira Goulart

Dourados–MS/Embrapa

11) Durval Dourado Neto

Piracicaba–SP/Esalq

12) Paulo Matos de Souza Junior

São Gotardo–MG

13) Nelson Sidnei Massola Junior

Piracicaba–SP/Esalq

14) Antonio Reinaldo Pinto Silva

Bebedouro–SP

15) Cesar Abel Krohling

Marechal Floriano–ES

16)Marcos Antonio Beletti Peres

Barra do Bugres–MT/Usina Barralcool

Vencedores de outros países da América Latina

Walter Dissinger e Alfred Hackenberger, da Basf

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Nome

País

1) Margarida Sillon

Argentina

2) Horacio Imvinkebried

Argentina

3) Silvia Distefano

Argentina

4) Luiz Garcia

Guatemala

5) Refugio Garcia

México

6) Ricardo Madarriaga

Chile

7) Hector Villamil

Colômbia

8) Mauricio Sarnieto

Colômbia



Informe

Ihara

Visita técnica

P

esquisadores brasileiros de diversas instituições estiveram nos Estados Unidos da América (EUA) para conhecer de perto a situação das plantas daninhas resistentes ao glifosato e a outros grupos químicos em áreas de soja e de milho. A viagem, que percorreu plantações, estações experimentais e universidades do Meio-Oeste americano, foi organizada pelas empresas Ihara e Sumitomo Chemical do Brasil, com o objetivo de demonstrar as tecnologias de uso de herbicidas residuais com foco no manejo de resistência e também na promoção da facilidade e flexibilização do manejo de pós-emergentes. “Nossa ideia é compartilhar com os pesquisadores brasileiros os problemas de ervas resistentes e de difícil controle que causaram perdas significativas de produtividade aos agricultores americanos, possibilitando minimizar essas perdas no Brasil, uma vez que esse problema já vem tomando proporções bem significativas por aqui”, explica o gerente de Produtos da Ihara, Raphael Godinho. O grupo foi composto pelos pesquisadores Fernando Adegas (CNPSO – Embrapa Soja), Mario Bianchi (Fundacep), Anderson Cavenaghi (Centro Universitário de Várzea Grande - Univag/MT), Jamil Constantin (Universidade Estadual de Maringá - UEM), Alberto Leão de Lemos Barroso (Universidade de Rio Verde/ GO - Fesurv), Sylvio Dorneles (Universidade Federal de Santa Maria/RS - UFSM), Dionísio Gazziero (CNPSO Embrapa Soja), Robson Osipe (UENP CLM – Universidade

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Estadual Norte do Paraná), Mauro Rizzardi (Universidade de Passo Fundo/RS – UPF), Leandro Vargas (CNPT Embrapa Trigo) e Pedro Cristofoletti (Esalq). Os profissionais conheceram o programa “Start Clean, Stay Clean”, da Monsanto, em parceria com a Valent, que recomenda o uso de herbicidas residuais, especialmente o princípio ativo flumioxazin, para o manejo de ervas resistentes e de difícil controle, como buva, ambrosia, massambará e caruru. Para o pesquisador de Plantas Daninhas da Embrapa Soja de Londrina (PR), Fernando Adegas, foi importante verificar in loco a situação de plantas daninhas resistentes nas culturas de soja e milho, para que os conceitos de prevenção e manejo de resistência sejam ajustados aos processos no Brasil, de acordo com cada realidade. “Foi uma oportunidade que tivemos de discutir com parte da comunidade científica, especialmente os professores e pesquisadores de plantas daninhas de algumas universidades americanas todo este contexto atual da área de herbologia”, destaca. “A troca de experiências com todos os pesquisadores das instituições americanas e os debates entre os participantes do nosso grupo foram muito importantes para traçar estratégias para nossos trabalhos futuros. A aplicabilidade dos conceitos trabalhados durante a viagem é real. Os debates realizados com o grupo e a troca de experiências com os pesquisadores dos EUA permitem traçar estratégias eficientes de controle das plantas daninhas resistentes aqui na nossa realida-

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de, como, por exemplo, trabalhar melhor o manejo sequencial outonal/pousio e primaveril com os produtos residuais”, afirma o professor de Produção Vegetal e Proteção de Plantas do Departamento de Biologia da UFSM, Sylvio Henrique Dornelles. Para o professor da UEM, Jamil Constantin, é importante conhecer outras realidades, sobretudo porque as lavouras RR começaram primeiro nos EUA. Contudo, os problemas já estão acontecendo no Brasil, onde já se verificam buva, azevém, capimamargoso e leiteiro com resistência a glifosato. “No meu entender, os problemas aqui no Brasil estão ocorrendo em maior velocidade que nos EUA, pois independentemente de termos começado depois com soja RR, já temos áreas com problemas seríssimos de azevém e buva com resistência ao glifosato”, completa. O pesquisador da CNPT Embrapa Trigo, Leandro Vargas, observou que produtores brasileiros e dos EUA agem de forma semelhante em relação a essa questão. “Os problemas que a pesquisa e a assistência técnica precisam resolver são semelhantes, ou seja, as informações de prevenção da resistência, principalmente, existem, mas na prática elas não são adotadas. O principal desafio é fazer com que os produtores adotem as medidas preventivas”, avalia Vargas. Para o professor da UENP, Robson Osipe, esse problema já se encontra em áreas brasileiras e o que se pode tentar é atuar na redução da velocidade de invasão da resistência. Os pesquisadores que participaram dessa viagem se comprometeram a trabalhar por meio das instituições de pesquisa que representam para divulgar aos produtores brasileiros a situação atual de plantas resistentes ao glifosato e propor parceria com indústria, produtores e pesquisa para minimizar e evitar perdas nas lavouras. O problema no Brasil de plantas daninhas resistentes ao glifosato pode ser contornado baseando-se no que vem sendo feito nos EUA, com o uso associado de herbicidas residuais no manejo, permitindo que a cultura expresse todo o seu potencial produtivo devido à menor mato-competição inicial, além de facilitar e flexibilizar o controle das ervas em pós emergência. “Isso pode propiciar maior rentabilidade e sustentabilidade para o agricultor brasileiro, visto que o problema da resistência já é fato em diversas culturas e regiões do país”, conclui Godinho, C da Ihara.



Coluna ANPII

Alternativa viável A ANPII trabalha forte para sanar dúvidas de produtores que ainda não conhecem a eficiência e a qualidade do nitrogênio biológico, produzido através dos inoculantes

O

nitrogênio é um dos paradoxos da natureza: extremamente abundante, compõe aproximadamente 80% da atmosfera, mas trata-se de um nutriente existente em quantidades insuficientes no solo, em especial quando se pensa em grandes produtividades. Com o advento do uso de fertilizantes químicos na agricultura, a indústria passou a produzir elevadas quantidades de fertilizantes nitrogenados para suprir a demanda da agricultura. O famoso trio NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) passou a fazer parte da agenda de compras dos agricultores em busca da rentabilidade necessária, tanto para gerar lucros ao produtor

quisas e o desenvolvimento de produtos à base de bactérias que fixam nitrogênio em gramíneas. Assim, quando um agricultor compra um pacote ou um sachê de inoculante, está adquirindo nitrogênio, não na forma química, mas na forma biológica, com o objetivo de atender, totalmente, a necessidade da planta por este nutriente. Mas o nitrogênio parece estar fadado a paradoxos: se tanto os fertilizantes nitrogenados como os inoculantes atendem da mesma forma a demanda de N da planta, por que o produto químico é muito mais valorizado que o biológico? E quando se fala aqui em “valorização”, não se pensa ape-

inoculante muitas vezes é questionado quanto a sua validade como insumo de importância capital para a obtenção de elevadas produtividades. Somente quando o agricultor perceber que 100g ou 100ml de inoculante equivalem a 250kg de N mineral, ou a 600kg de ureia, passará a prestar mais atenção ao produto e encará-lo não apenas como um inoculante, mas sim como outra forma de N, a forma biológica. A partir desta percepção o fator qualidade também passará a ser mais valorizado na hora de se adquirir o produto. O inoculante é um dos poucos produtos que se pode pedir sempre: “quero o melhor”. O critério

O inoculante é um dos poucos produtos que se pode pedir sempre: “quero o melhor” agrícola, como para suprir a crescente necessidade de produzir alimentos para nutrir bilhões e bilhões de pessoas. Mas, se por um lado o nitrogênio químico, juntamente com o fósforo e o potássio, aliados ao melhoramento genético, trouxe notáveis incrementos de produtividade nas diversas culturas, por outro lado tornou-se produto cada vez mais caro, tanto para o agricultor como para a sociedade, com peso considerável no custo da lavoura e no passivo ambiental e energético. Na busca de alternativas para o nitrogênio químico, a inoculação de leguminosas tornou-se tecnologia válida, pois mostrou que é possível cultivar soja, feijão, ervilha, alfafa etc sem o uso de nitrogênio químico, apenas com o emprego de nutriente aportado via biológica, por meio da associação dos rizóbios com as raízes. Algumas dúvidas levantadas sobre a capacidade de se obter elevadas produtividades de soja, acima de 4,5 mil kg/ha, somente com a inoculação como fonte de N, já foram totalmente desfeitas, tanto por dados experimentais como por resultados de lavouras. Além das leguminosas, hoje já se inicia uma nova fase, com a intensificação das pes-

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nas no preço da aquisição de ambos, cuja disparidade é de tal vulto que não admite comparações, mas sim na percepção de valor por parte do agricultor. Claramente, verifica-se que o fertilizante químico é encarado como insumo essencial, enquanto o

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de compra não deve ser o de preço, mas sim o de qualidade. Qual a diferença entre um produto com maior concentração, com mais dados de pesquisa, com melhor assistência técnica, com garantia de uma empresa de avançada tecnologia e outro sem estes atributos? Esta diferença será de alguns centavos por hectare. Valerá a pena arriscar o suprimento do nutriente exigido em maior quantidade pelas leguminosas pela diferença de alguns centavos? É exatamente nestas duas vertentes que a ANPII trabalha fortemente: mostrar que o inoculante é nitrogênio e um nitrogênio mais eficiente e ambientalmente correto; e que vale a pena investir em qualidade. A associação está realizando várias ações em conjunto com a pesquisa para deixar claro aos agricultores brasileiros que vale a pena dedicar mais atenção ao nitrogênio aportado via biológica, buscando produtos de C elevada qualidade. Solon de Araujo, Diretor da ANPII



Coluna Agronegócios

H

á meros 12 meses, o tema monocórdico era o alto preço dos alimentos no mundo. Analistas desdobravam-se para explicar o que ocorria enquanto lideranças comprometidas com interesses diversos apontavam o dedo sujo de petróleo para a agricultura e fulminavam a ascensão dos biocombustíveis como o gerador do monstro da fome em escala mundial. De minha parte, enxerguei um cenário multifacetado, onde pontificavam a especulação com commodities, fruto do deslocamento dos blocos de liquidez (que, posteriormente, descambou na crise financeira global), o aumento da demanda de alimentos (inserção social) e o aumento dos custos de produção como principais responsáveis pela escalada de preços. Veja a íntegra de minha análise em http://dlgazzoni.sites.uol.com.br/jl.pdf. Passado um ano, é interessante revisitar o tema. A crise financeira enxugou a liquidez do mercado, portanto, eliminou a especulação excessiva. Premidos por custos, os produtores de fertilizantes e defensivos agrícolas desovaram estoques e os preços de insumos voltaram a patamares pré-crise. E a redução dos empregos e da renda fez refluir a demanda de alimentos. Tem mais, impulsionados pelos altos preços das commodities agrícolas, agricultores plantaram mais na safra passada, elevando a oferta e os estoques. E o que aconteceu com os preços?

FAO Food Index Price

Para quem se interessa pelo tema, o índice elaborado mensalmente pela FAO é um precioso indicador do comportamento dos preços no mercado global. Na Figura, observa-se a variação do índice desde 1990, detalhando mensalmente sua flutuação nos últimos três anos. O índice consiste de uma média dos

O preço dos alimentos índices de preços do mercado internacional de cinco grupos de commodities agrícolas, totalizando 55 produtos, sendo o valor 100 a média do período 2002-2004. O índice se manteve relativamente estável entre 1990 e meados de 2006 (média de 106 pontos), quando começou a ascensão que descambou no pico de junho de 2008 (213 pontos). Nos últimos 32 meses, a média do índice é de 164 pontos e, nos últimos 12 meses, de 158 pontos, após um pico de baixa em fevereiro, de 139 pontos. Em julho, o índice ficou em 147 pontos. Ou seja, os preços agrícolas atuais estão 39% mais altos que antes do início da crise. Entretanto, este número não é absoluto pois, neste mesmo período, o dólar perdeu valor contra todas as principais moedas do mundo, embora permaneça como referência no mercado agrícola mundial. Logo, estes preços, ao serem internalizados nas moedas locais, não terão o mesmo impacto que teriam antes da crise.

Os índices componentes

O Índice Carnes consiste de três produtos de frango, quatro de bovinos, dois de suínos e um de ovinos, ponderados por seu peso no mercado internacional. Observa-se na Figura que o grupo carnes é o mais estável e, mesmo no pico da crise, seus preços não explodiram. No momento, o índice retornou próximo ao valor pré-crise. O índice de lácteos é obtido a partir dos preços de leite (sob diferentes apresentações), manteiga, queijo e caseína. Foi o grupo que apresentou a subida de preços mais rápida, atingindo seu pico ainda em 2007 e, atualmente, retornou aos preços anteriores à crise. A explicação para a subida antecipada é o menor custo da proteína do leite e a facilidade de consumo, incidindo especialmente sobre os consumidores mais pobres, recém-chegados ao mercado. O índice de preços de cereais consiste

dos preços ponderados de trigo, milho e arroz. Os cereais foram os principais responsáveis pela abrupta subida de preços de alimentos em 2008, atingindo o índice de 274 pontos, em abril daquele ano. Com o fim da especulação e o aumento dos estoques, os preços despencaram, porém, ainda situam-se aproximadaemnte 50% acima dos níveis pré-crise. O índice de óleos e gorduras compõe-se de 11 diferentes produtos, como gorduras animais, óleo de peixe e óleos vegetais. Sua flutuação acompanha muito de perto o que ocorre com cereais, tendo atingido o pico de preços em junho de 2008 (283 pontos). Os preços se reduziram em 44% ainda em 2008, porém, sofreram repique em maio de 2009. A expectativa é de que este patamar de preços seja mantido, no curto prazo. O índice de açúcar baseia-se apenas nesta commodity. Embora tenha sido o segundo produto menos afetado pela crise, experimenta acelerada elevação de preços a partir de fevereiro de 2009 e, em julho passado, atingiu a maior cotação da série histórica do índice (259 pontos).

Prospecção

Ainda é cedo para afirmar que o impacto da crise financeira sobre as commodities agrícolas se estabilizou e que novas tendências, derivadas de outras causas, estejam se impondo. Mesmo assim, dois fatores importantes devem ser considerados, na análise prospectiva. O primeiro deles aponta para uma inexorável redução do crescimento populacional, associada ao aumento da renda per capita, no médio prazo. Com isto, mais de um bilhão de pessoas deve ingressar no mercado de alimentos, nas próximas duas décadas. Por outro lado, dificilmente o dólar tornará a recuperar sua paridade, devendo provocar realinhamento de preços e custos. Com isto, haverá certa insegurança em traduzir os sinais de mercado, que fazem a correia de transmissão entre a demanda e a oferta, representada pelo acréscimo de produção agrícola. Mas, no médio e longo prazo, não há dúvidas: o mercado de alimentos é francamente comprador, logo os preços C reais estarão em alta. Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

China e clima no comando do mercado mundial dos grãos Enquanto no Brasil os produtores sinalizam para forte queda no plantio de milho, algodão e arroz, que estão sendo substituídos pela soja, no mercado mundial as notícias boas começam a aparecer. O governo da China aponta que o país cresceu na ordem de 8,5% no terceiro trimestre de 2009, acima dos 7,9% do segundo trimestre. O país superou até os mais otimistas, que esperavam crescimento em torno de 8% no final de 2009 e muito distante dos pessimistas, que apostavam entre 5% e 6%. Desta forma, a demanda de alimentos no país segue acelerada e, para isso, o governo vem leiloando parte de seus estoques de grãos, como milho, soja, trigo e arroz. A China fez grandes aquisições nos meses de julho e agosto, quando seus representantes apontavam que não haveria compras. Esse fato derrubou a posição de alguns analistas que apontavam um quadro quase catastrófico com o mercado agrícola em onda baixista. Outro aspecto importante que vem atuando neste ano no Hemisfério Norte é o clima. Poucos têm dado importância a isso no Brasil, já que as notícias que nos chegam são poucas (ao contrário do Senado que tem dominado os espaços da mídia). Mas o fator clima será muito benéfico aos produtores brasileiros na safra nova. Há grandes perdas na produção da Ásia, Europa e América do Norte. Até agora já se apontam prejuízos que podem superar as 40 milhões de toneladas de arroz na Ásia, perdas gerais nos grãos da Europa (onde o calor é intenso e as chuvas irregulares) e, neste mês de agosto, o clima mostrou sua força sobre a safra do Canadá e do México, trazendo grandes perdas às lavouras locais. Tudo indica que teremos um quadro de oferta e demanda de alimentos ajustado em 2010, com menor oferta que consumo, dando sustentabilidade às cotações.

MILHO

Safrinha fechando colheita A colheita da safrinha está chegando ao final com algumas regiões com melhores resultados do que se esperava, como é o caso do Médio Norte do Mato Grosso (MT) e sudoeste goiano. Outros, no entanto, colheram menos, como o Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. O que prevaleceu mesmo até agora foi a gritaria dos produtores do Mato Grosso, que teriam mais de meio milhão de toneladas de milho a céu aberto, o que fez também com que o mercado seguisse a linha de baixo mostrando níveis de R$ 8,00 a saca pagos aos agricultores de Sorriso. Para atrapalhar ainda mais, muitos negativistas ou interessados em manter o milho em baixa apontavam que o governo não teria dinheiro para honrar os contratos de prêmios aos produtores, criando uma onda negativa nas cotações em todo o país. Estamos entrando no novo plantio com os produtores desanimados e com tendência para forte queda na área de plantio. Fato que irá refletir em escassez de milho em 2010. O preço baixo do momento, bastante lucrativo ao setor de ração, poderá se inverter no ano que vem e a colheita não atender às necessidades, exigindo importações do produto. O milho segue com pouco fôlego para reagir em setembro, podendo mostrar os primeiros avanços de outubro em diante, mas já será tarde para reverter a queda neste plantio.

SOJA

Vendedor controlando ofertas

A soja está na entressafra e daqui para frente teremos pouco produto para ser negociado. Indicativos mostram que temos menos de 5% da safra do Mato Grosso ou menos de um milhão de toneladas, menos de 8% em Goiás e Mato Grosso do Sul, menos de 15% do Nordeste e menos de 20% do Sul e Sudeste, o que significa que o volume disponível deve estar situado na faixa das cinco milhões de toneladas ou menos. Desta forma, para um esmagamento de mais de 2,5 milhões de toneladas por mês, temos menos de dois meses de produto livre, que, aliado ao grão que está nas mãos das indústrias, indica uns quatro meses de operações, frente a seis meses que temos até fevereiro, quando começa chegar a nova safra. O quadro de agora em diante será de aperto e os produtores conduzindo os movimentos. Os indicativos já são considerados altos para a soja neste ano, mas ainda mostram algum espaço para avanço localizado. Há pouca margem para grandes baixas, porque em momentos negativos os produtores seguram as ofertas e, dessa forma, mesmo com queda externa, poucas são as chances de alteração por aqui.

FEIJÃO

Gripe H1N1 segurou vendas A popular gripe “suína”, que alongou as férias escolares pelo mês de agosto adentro, serviu como limitante da comercialização de alimentos básicos, prejudicando as vendas do prato diário brasileiro. Houve forte queda na procura do arroz e do feijão pelos supermercadistas. Em período de férias

escolares naturalmente os dois produtos vendem menos e, assim, como julho (que mostrou fraqueza) o quadro se alongou para agosto. A volta efetiva do consumo deve retornar em setembro, alavancada também pelo aumento de 10% nos valores distribuídos pelo programa Bolsa Família, o que tende a estimular o consumo de alimentos. Desse modo se espera por um quadro mais ajustado e pressão de alta nos indicativos do feijão neste novo mês.

ARROZ

Reagiu e parou O mercado do arroz tentou uma reação no final de junho e começo do mês de julho, mas como as férias escolares foram maiores do que estavam programadas, houve também queda nas vendas do varejo, obrigando as indústrias a dar maiores descontos. Isso fez o pacote ser ofertado abaixo dos R$ 6,00 o quilo nas gôndolas dos supermercados. O fato pressionou também o arroz em casca para baixo, por falta de interesse em reposição. Já as exportações foram boas até julho, com quase 500 mil toneladas, o que é favorável em médio prazo, mas pouco ajudou no curto prazo. Neste mês de setembro os produtores têm dívidas de custeio da safra para quitar e, desta forma, terão que vender, fato que limita grandes avanços nos indicativos. Neste sentido, o arroz segue calmo e com fôlego de avanços de outubro em diante, com um fechamento de ano apertado, já que sobrará pouco produto. A reação pode vir tarde e o plantio recuar e comprometer a safra de 2010.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado continuou com fraca presença das indústrias, o que obriga o governo a realizar leilões para dar liquidez aos produtores e garantir o preço mínimo. Agora estamos na colheita do Paraná, estado que teve excesso de chuvas em julho e agosto, o que resultará em produto de menor qualidade que pode ser menosprezado pelas indústrias. Se isso ocorrer, forçará a venda para ração, o que cria novamente a necessidade de apoio do governo. Tudo apontava que teríamos boa safra com o aumento da área de plantio, passaríamos fácil das seis milhões de toneladas, mas o excesso de chuvas e doenças deixa os números incertos. ALGODÃO - O mercado seguiu atrelado ao apoio do governo e, como grande parte dos produtores não conseguiu atuar nos pregões oficiais, em agosto seguia sem liquidez (mesmo com indicativos médios em dólares razoáveis, com o câmbio no Brasil na faixa de R$ 1,80, não mostrava lucratividade aos produtores). A estimativa é de que a cultura perderá entre 200 mil hectares a 350 mil hectares neste novo plantio, nos estados de Mato Grosso (MT), Goiás (GO), Bahia (BA) e Minas Gerais (MG). O que tende a ser favorável aos produtores que persistirem neste novo ano. EUA - A safra 09/10 está entrando na fase de colheita, como é o caso do arroz, e na formação dos grãos e maturação da soja e do milho, que vieram em

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boas condições de safra. O USDA aponta 324 milhões de toneladas de milho e 87 milhões de toneladas de soja. Como boa notícia o USDA aumentou a projeção de consumo de milho para etanol, passando das 104,1 milhões de toneladas apontadas em julho para as 106,7 milhões de toneladas em agosto, recorde histórico no uso do cereal para produção de etanol. CHINA - A importação de soja bateu recorde no acumulado de um ano. Até julho foram 40 milhões de toneladas, em agosto continuou forte, o que sinaliza que a seca no país foi grave e as necessidades de alimentos são crescentes. ARGENTINA - O clima seco derrubou a safra de verão e complicou o plantio do trigo, que até o final de agosto havia mostrado uma área de 2,7 milhões de hectares plantados, contra 4,6 milhões de 2008. A safra 09/10 aponta queda também na área de milho e aumento na área de soja. A soja pode ir de 17,5 milhões de hectares para mais de 19 milhões de hectares na safra 09/10. Os produtores esperam que o governo baixe a taxa de exportação da soja dos atuais 35% para níveis de 15% a 20%. O Senado da Argentina aprovou medida que dá ao governo o poder de mudar as taxas de exportação dos produtos agrícolas. O governo tem o setor agrícola como maior fonte de renda. O país segue com muita indefinição local, o que pode comprometer o avanço da nova safra, já que os produtores argentinos estão descapitalizados e endividados.

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