Cultivar 126

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 125 • Novembro 2009 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Preferência pelo escuro........................23

Jaime Vargas de Oliveira

O que é possível fazer contra a lagarta-da-panícula, inseto de hábito norturno que cresce em importância nas lavouras de arroz irrigado

Alerta nas lavouras.....................29 Desafios da safrinha...................32 Vigilância constante...................40 Medidas recomendadas para prevenir e minimizar prejuízos com a ferrugem asiática

Os riscos de ataques de pragas no plantio de segunda safra do algodão

Índice

O aumento agressivo de populações de nematoides em áreas de cultivo por conta de práticas inadequadas nas fazendas

Expediente

Diretas

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Eventos - Congresso de Nematoides

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Murcha-de-curtobacterium em feijão

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor • Coordenador de Redação

Janice Ebel

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• Design Gráfico e Diagramação

Adubação nitrogenada em milho

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• Revisão

Cristiano Ceia Aline Partzsch de Almeida

Lagarta-da-panícula em arroz

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Evento - Seed Care

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Ferrugem em soja

29

Desafios da safrinha

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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000

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Diretor Newton Peter

Nematoides em cultivos agrícolas

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Proteção para propriedade intelectual

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Coluna ANPII

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Coluna Agronegócios

48

Mercado Agrícola

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• Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo

Controle de plantas daninhas em milho

Luto - Morre Dario Hiromoto

MARKETING E PUBLICIDADE

GRÁFICA • Impressão

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Redação: • Geral 3028.2060 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070

• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




Diretas Basf

A Basf participou da Abertura Oficial do Plantio do Arroz do Vale do Paraíba, no final de setembro. O evento ocorreu no Sítio Santa Cruz, no bairro rural Colônia do Piagui, em Guaratinguetá (SP). A Basf apresentou aos visitantes áreas demonstrativas com o Sistema de Produção Clearfield Arroz, que combate com eficiência as principais plantas daninhas infestantes que diminuem a produtividade das lavouras, em especial o arroz vermelho.

Bienal

O Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) esteve representado na Bienal dos Negócios da Agricultura, realizada em Cuiabá (MT), em agosto. Em sua terceira edição, o evento teve como tema central a renda agrícola. Carla Salermo, secretária do Cesb, esteve à disposição dos visitantes para apresentar os objetivos do Comitê.

Visita

O novo COO (Chief Operating Officer) da Arysta LifeScience, Wayne Hewett, esteve em outubro no Brasil. A visita reitera a importância estratégica que o grupo dá à Unidade de Negócios América do Sul, sediada no País. A empresa tem como meta dobrar o faturamento nos próximos cinco anos.

Novidade ecológica

A linha de produtos Basf para arroz ganhou nova campanha, criada pela F3 Agência. Trata-se do Ecojet, desenvolvido pela Chroma Jet, totalmente em material reciclado e 100% reciclável. A campanha “Seus Lucros em Alta” tem como foco o Sul do País.

Nematoides

Novo presidente

Alfred Hackenberger, 58 anos, assume a partir de 1º de maio de 2010 a presidência da Basf na América do Sul. Com passagem pelo Brasil na década de 90, atualmente é presidente da Divisão de Pesquisas de Especialidades Químicas, na Alemanha, cargo que ocupa desde 2004. Nascido na Alemanha em 1951, é doutor em Química Orgânica pela Universidade de Saarland. Hackenberger vai ocupar o cargo de Rolf-Dieter Acker, que se aposentará em 30 de abril de Alfred Hackenberger 2010, após 30 anos dedicados à Basf.

Prestígio

As pesquisadoras Maria Amélia dos Santos, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Leila Dianardo, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e Rosangela Silva, do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), visitaram o estande da Syngenta durante o II Congresso Internacional de Nematologia Tropical.

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Wayne Hewett

Novas estratégias no manejo de nematoides e a busca por ferramentas de gerenciamento foram os dois trabalhos apresentados por Luis Pa y a n , d a S y n g e n t a Crop Protection USA, no II Congresso Internacional de NematoloLuis Payan gia Tropical.

Mapas

O pesquisador Jaime Maia, da Universidade Estadual Paulista (Unesp Jaboticabal), foi um dos palestrantes do II Congresso Internacional de Nematologia Tropical. Em sua apresentação falou sobre o uso de mapas de variabilidade do potencial de produtividade obtidos por satélite como instrumento para auxiliar no manejo de Pratylenchus brachyurus. Maia salienta que o conhecimento da distribuição dos nematoides nas fazendas facilita o planejamento das práticas de manejo a serem adotadas.

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Jaime Maia


Tratamento de Sementes

Durante o II Congresso Internacional de Nematologia Tropical, Bruno Lovato, da Syngenta Proteção de Cultivos, apresentou dois trabalhos: Tratamento de sementes, uma ferramenta para o manejo integrado de nematoides e Métodos inovadores de controle de nematoides através do tratamento de sementes.

Pesquisa e desenvolvimento

O estande da Syngenta recebeu estudantes, professores e pesquisadores, membros da comunidade científica nacional e internacional. Em produtos a empresa destacou o Avicta Completo. “Trata-se da combinação de um fungicida com um inseticida sistêmico, neonicotinoides e um nematicida, que oferece proteção integrada contra nematoides, pragas e doenças via tratamento de semente”, explica Bruno Lovato. “O objetivo da Syngenta neste evento foi apresentar o produto para um público qualificado e formador de opinião, plenamente atingido uma vez que tivemos contato com praticamente todo o público que participou do evento” disse Leandro Trafane. Ambos os profissionais integram a equipe de Pesquisa e DesenvolBruno Lovato e Leandro Trafane vimento da Syngenta.

Investimentos

Marconi Dias, gerente de Produtos da Linha Seed Care Brasil, explicou que a inauguração do Seed Care Institute faz parte do investimento constante que a Syngenta faz em pesquisa. “Transformar em realidade os ganhos em produtividade proporcionados pela pesquisa, segurança fitossanitária, evitando a disseminação de pragas e doenças, a transferência rápida de tecnologia, é desafio que pode ser vencido somente com um programa sério de sementes tratadas e de alta qualidade”, afirma.

Equipe

O Seed Care Institute Latim América (Centro de Pesquisa Desenvolvimento e Trein a m e n t o e m Pro t e ç ã o d e Sementes), inaugurado em Holambra, São Paulo, será coordenado por João Carlos Nunes. “ Terei ao meu lado um time de profissionais de primeira linha”, ressalta, ao comentar a força do trabalho em equipe.

João Carlos Nunes

Parceria

Oswaldo Debiagi, da Dow Biotecnologia, prestigiou a inauguração do Seed Care Institute. As duas empresas são parceiras no mercado de tratamento de semenOswaldo Debiagi tes.

Presença

Marconi Dias

Satisfação

O engenheiro agrônomo José Veiga, com amplo conhecimento no setor de sementes, não escondeu a satisfação com a inauguração do Seed Care Institute, o mais novo e moderno laboratório na área de tratamento de sementes da Syngenta José Veiga na América Latina.

Laércio Giampani, presidente da Syngenta Brasil, e Gilson Moleiro, presidente da Syngenta Seeds Brasil, prestigiaram a inauguração do Seed Care Institute.

Laércio Giampani e Gilson Moleiro

Sementes

A Syngenta participou do XVI Congresso Brasileiro de Sementes, entres os dias 31 de agosto e 03 de setembro, em Curitiba, Paraná. Os pesquisadores Augusto Cesar Goulart, da Universidade de Dourados, Heloisa Moraes, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq), Jose Machado, da Universidade de Lavras, e José Rogério de Oliveira, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), prestigiaram o evento. Luis Henrique Feijó

Lavoura sadia

Para manter a lavoura sadia e atingir boa produtividade o primeiro passo é realizar o tratamento de sementes. “É neste cenário de alta tecnologia que o Seed Care Institute vai agregar valor à agricultura”, afirma Ricardo Goes, gerente de Marketing Avicta Completo.

Ricardo Goes

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Eventos

Nematologia em destaque

Fotos Cultivar

Evento em Maceió reúne especialistas do Brasil e do exterior Exterior para debater o combate a nematoides em culturas agrícolas

M

aceió, capital de Alagoas, foi o local escolhido para o II Congresso Internacional de Nematologia Tropical, em outubro. O evento, promovido pela Organização dos Nematologistas da América Tropical (Onta) e pela Sociedade Brasileira de Nematologistas (SBN), reuniu pesquisadores, professores e alunos de diversas instituições nacionais e internacionais. Foram abordados diversos aspectos relacionados à nematologia, desafio no Brasil e no mundo, com ênfase ao manejo desses microrganismos em diversas culturas agrícolas. “Os nematoides são um problema sério em algodão também nos Estados Unidos e no Canadá. As regiões são distintas, mas sofrem com a ação dos vermes. Por isso contamos com a presença de professores e pesquisadores de diversas instituições nacionais e internacionais, visto que essa ciência refere-se a um problema de amplitude mundial”, explicou Regina Carneiro, presidente da SBN e do Congresso.

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Maria de Fatima Muniz, vice-presidente do Congresso, informou que foram apresentados 140 trabalhos em sessões orais e 305 pôsteres. Destacou a qualidade

e o nível dos trabalhos, além de frisar o empenho de toda comunidade científica em estudar esse problema. O prejuízo gerado por nematoides é

305 pôsteres de trabalhos sobre nematoides foram expostos durante o congresso em Maceió

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O grande público presente no congresso mostra o crescimento da comunidade científica preocupada com os prejuízos que os nematoides têm causado

extenso, por representarem uma das principais limitações para o desenvolvimento da agricultura. O produtor deve ficar atento, monitorando sempre o solo, onde fica o verme, já que sua população pode aumentar ou diminuir constantemente. Portanto, a praga nunca é dizimada, pois o verme pode ficar em estado latente. As medidas para contornar o problema variam de acordo com cada região, cultura ou espécie de nematoide. As principais saídas para a redução da praga são o controle cultural, a rotação de culturas e o controle genético, onde a espécie atacada é substituída por outra resistente ao nematoide. A Syngenta foi a única empresa de agroquímicos com estande no II Congresso de Nematologia Tropical. Uma equipe de profissionais especializados em nematologia esclareceu aos participantes do Congresso sobre o tratamento de sementes com o produto Avicta Completo.

Para Marconi Dias, gerente de Produtos da Linha Seed Care Brasil, a presença da empresa no evento foi importante,

tendo em vista os prejuízos que os nematoides causam à agricultura. “O ataque de nematoides enfraquece as raízes da planta, causando crescimento atrofiado, além de abrir uma porta para a entrada das doenças.” “O evento contou com a participação da comunidade científica brasileira e também de várias partes do mundo do setor de nematologia, sendo uma ocasião ímpar para apresentar o Avicta Completo. Além disso, é uma oportunidade para que possamos estreitar o relacionamento e a parceria com pesquisadores e consultores que levam a informação aos campos de todo o Brasil.” O Avicta Completo reúne três produtos: Dynasty, Cruiser 350 FS e Avicta 500 FS, que oferecem proteção ao algodão em seus primeiros 40 dias de cultivo. “Tempo que corresponde à sua fase mais crítica para o ataque de pragas”, conclui Marconi. C


Feijão Fotos Dirceu Gassen

Duelo de bactérias

Tratamento biológico de sementes de feijão com bactérias do gênero Bacillus e Paenibacillus surge como alternativa para conter a murcha-de-curtobacterium, causada por Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens, doença que atualmente causa perdas de até 47% nas lavouras brasileiras, diante da ausência de controle químico de e variedades resistentes

A

pesar de todo o desenvolvimento tecnológico disponível atualmente para o cultivo do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), a produção da leguminosa ainda é considerada uma atividade de risco econômico, em função, principalmente, do controle inadequado de doenças. No Brasil, várias doenças ocorrem no feijoeiro. Destacam-se as de origem bacteriana que, devido à dificuldade de controle sob condições ambientes favoráveis, são as que mais preocupam o produtor. Estas bactérias geralmente estão associadas às sementes, sua principal forma de disseminação e introdução em novas áreas de cultivo. No Brasil, a bactéria Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens, agente etiológico da murcha-de-curtobacterium, foi constatada pela primeira vez, na safra das águas de 1995, em São Paulo (Maringoni & Rosa, 1997). Desde então, a doença tem ocorrido com frequência em lavouras de feijão nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal e Goiás, causando

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grandes problemas à cultura (Leite Jr. et al, 2001; Maringoni, 2002, Uesugi et al, 2003; Theodoro e Maringoni, 2006).

Sintomas

A murcha-de-curtobacterium tem início com a seca de folíolos apicais,

Em plantas jovens, o patógeno reduz o desenvolvimento da planta e pode levá-la à morte devido ao bloqueio do transporte de água pelos vasos

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Tabela 1 - Eficiência de bactérias benéficas no controle da murchade-curtobacterium do feijoeiro pelo tratamento de sementes infectadas pelo patógeno TRATAMENTOS Semente sadia ALB629 UFLA285 MEN2 UFLA168 UFLA246 UFLA373 UFLA116 UFLA29 Semente com o patógeno sem tratamento

%CONTROLE 94 92 84 79 66 63 58 46 -

com posterior amarelecimento e murcha total das folhas (Bianchini et al, 2000). Quando o patógeno ataca o feijoeiro ainda jovem, reduz o desenvolvimento da planta, o que pode levá-la à morte devido ao bloqueio no transporte de água pelos vasos (Hedges, 1926; Dinensen, 1978). Através dos vasos da planta, a bactéria consegue facilmente chegar às vagens e às sementes (que podem apresentar coloração púrpura ou amarela). Mesmo quando não ocorre a morte da planta, a doença afeta drasticamente a produção. Há relatos de até 90% de queda na produção em regiões dos Estados Unidos (Hedges, 1926) e até 46,7% no Brasil (Miranda Filho, 2006). Além disso, Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens pode sobreviver por até 24 anos associada às sementes de feijão e por dez meses no solo (Burkhoder, 1995; Miranda Filho, 2006).

Manejo

Ainda não existem variedades resistentes ou controle químico para a doença. Entretanto, pesquisas recentes indicaram que o tratamento biológico de sementes pode ser promissor no manejo de murcha-de-curtobacterium. O tratamento consiste na aplicação de microrganismos benéficos vivos às sementes para o controle de doenças e/

O controle de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens através do tratamento de sementes com bactérias benéficas chega a 89%

ou aumento do crescimento das plantas. Esta estratégia tem sido usada com sucesso em bases experimentais e comerciais para o controle de fitopatógenos em várias espécies de plantas. O tratamento biológico de sementes tem por objetivos: (1) a fixação de nitrogênio (bactérias do gênero Rhizobium), reduzindo o custo com adubos nitrogenados; (2) a melhoria da absorção de nutrientes. Algumas bactérias solubilizam fosfatos aumentando a eficiência de uso do nutriente; (3) o controle de patógenos veiculados por sementes e habitantes do solo, além da proteção das plantas contra infecção também durante o ciclo da cultura. A proteção é considerada de amplo espectro, pois preserva as plantas contra ampla gama de patógenos; (4) a melhoria da germinação, do vigor e da promoção do crescimento de plantas. Nem todos os benefícios são proporcionados por uma mesma bacté-

ria biocontroladora, mas no final se tem aumento de produtividade. As bactérias benéficas, cultivadas em laboratório e usadas para o tratamento de sementes infectadas com o patógeno, proporcionaram controle que variou de 45% a 89% (Tabela 1), sendo as bactérias Bacillus subtilis ALB629, B. subtilis sp. Ufla285, Paenibacillus lentimorbus MEN2 e B. subtilis sp. Ufla168 as mais promissoras. Conseguiram restabelecer a sanidade das plantas tratadas em nível semelhante às livres da murcha-decurtobacterium. Esses isolados antagonistas estão em fase de estudos de formulação para a produção em larga escala, para que possam ser ofertados aos produtores como medida alternativa ao manejo da doença. C Samuel Martins, Ufla


Milho Fotos Décio Karam

Mais eficiência Ao manejar plantas daninhas na cultura do milho é importante observar aspectos como escolha e densidade da semente, conhecimento sobre os herbicidas disponíveis no mercado, respeito aos preceitos da tecnologia de aplicação e atenção à segurança do aplicador

C

om o intuito de tornar próspera a eficiência do manejo das plantas daninhas, algumas observações e práticas devem ser salientadas. O primeiro passo é o uso de sementes certificadas, assegurando que a densidade não seja aquém nem além da medida ideal, sem resultar em perdas de produção. A mensuração da quantidade mais adequada de sementes deve ser feita com base em estudo da cultivar, da oferta de água e de nutrientes. O uso de variedades adaptadas às regiões constitui também uma prática benéfica à eficiência do manejo das plantas daninhas. A escolha de cultivares que apresentem agressividade, boa competitividade, produtividade, cobertura do solo e tolerância a pragas prevalecentes em dada região configura em alternativas que contribuem para o sucesso do manejo. Também o arranjo entre plantas de modo equidistante, com o objetivo de minimizar o espaço entre as fileiras, pode afetar o crescimento das espécies daninhas, favorecendo sua supressão através do bloqueio da luz que transpõe a cultura. Um programa que preconize o plantio no período adequado (onde a época em que

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há coincidência da floração com os dias mais longos do ano e do enchimento de grãos com os dias de maior temperatura e disponibilidade de luz), desde que seja completo o suprimento de água à planta, com certeza dará à cultura capacidade competitiva mais apropriada para suportar a pressão das plantas daninhas. O rodízio de culturas, como o uso de cobertura morta, proporciona menor infestação de plantas daninhas, por diminuir a assoma das plantas espontâneas, seja por efeitos alelopáticos, impedimentos físicos ou, ainda, quebrar ciclos que possam vir a causar resistência a herbicidas. Além destas práticas o produtor faz uso do controle químico das plantas daninhas que na safra de 2008 (safra e safrinha) foi empregado em milho entre 60% e 70% de toda área brasileira cultivada com a cultura. A aplicação de herbicidas pode representar uma solução viável para o controle de plantas daninhas, principalmente durante o período crítico de competição com a cultura cultivada. A eficiência agronômica de seu uso, entretanto, está associada a cuidados que compreendem desde a seleção do produto até o momento da aplicação. A seleção do herbicida está diretamente

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relacionada à eficácia em relação ao controle das plantas daninhas. Para que um produto seja registrado são necessários trabalhos que comprovem sua eficácia agronômica. Baseado nestes resultados, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) registra o produto para comercialização nas espécies daninhas testadas. Os herbicidas podem ser classificados conforme seu mecanismo de ação, como sistêmicos ou de contato. Os sistêmicos, após sua absorção, são translocados pelos tecidos até alcançarem o local de atuação, ao passo que os de contato agem pontualmente e afetam a região sujeita à substância ou se deslocam superficialmente a partir do depósito inicial do produto. A eficácia dos herbicidas pode ser conceituada como o efeito diferencial demonstrado por espécies de plantas daninhas à aplicação de dada molécula. Este fator, associado à capacidade das plantas, após a absorção do herbicida, em não metabolizar rapidamente o produto, dará início aos sintomas tóxicos nas plantas daninhas. Entretanto, para as plantas de milho, assim como nas plantas daninhas, estas características podem variar


entre os híbridos, conferindo maior ou menor sensibilidade destas plantas aos herbicidas. Desse modo, os herbicidas seletivos para as plantas de milho são aqueles passíveis de serem aplicados na cultura, visto que apresenta tolerância ou resistência fundamentada em algum sistema de absorção ou de detoxificação diferenciada. Segundo a época de aplicação, a classificação dos herbicidas se dá em pré-emergência ou pós-emergência. Na primeira modalidade o herbicida é aplicado após a semeadura do milho, mas previamente à emergência da cultura e das plantas daninhas, enquanto na segunda tal ação é praticada após a emergência das plantas infestantes.

HERBICIDAS DE PRÉ-EMERGÊNCIA

Na cultura do milho os herbicidas constituintes da família das triazinas (ametryn, atrazine, cyanazine e simazine) são os que atuam como inibidores de fotossíntese, apontados, sobretudo, para o controle de espécies dicotiledôneas infestantes, podendo ser recomendados na maioria das vezes para ambas as modalidades (pré e pós-emergência). Estes produtos têm sido adotados em combinação com outros compatíveis como alachlor, nicosulfuron e s-metolachlor, e entre

No detalhe, erva-de-santa-luzia

si, como o conjunto atrazine + simazine. Há atualmente mais de 40 produtos registrados junto ao Mapa, de indicação para o milho, que compõem este grupo químico. Destes, 24 encontram-se na forma isolada e 19 em associação. As cloroacetanilidas (acetolachlor, alachlor, butachlor e s-metholachlor) são indicadas para o controle de gramíneas e algumas espécies de folha larga. Seu modo de ação ocorre devido à inibição da divisão celular e o não desenvolvimento da parte aérea. Os sinais de intoxicação nas plantas são a não abertura da primeira folha despontada e o enrugamento das folhas permanentes, em função da atrofia provocada na nervura central. O isoxaflutole, pertencente ao grupo

isoxazole, atua principalmente no controle de espécies de folha estreita e de folha larga, anuais e algumas perenes. Em caso de suscetibilidade ocorre branqueamento das plântulas, que geralmente se inicia nas bordas e avança para o centro, necrose dos tecidos foliares, e morte. Pendimethalin e trifluralin, do grupo das dinitroanilinas, apresentam eficiência no controle de gramíneas e baixa ou nenhuma eficácia no controle de dicotiledôneas. Os efeitos causados pela toxidez desses herbicidas são os encurtamentos e espessamento da raiz principal com subsequente atrofia da parte aérea. No Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) encontram-se seis produtos registrados para comercialização na cultura do milho.

HERBICIDAS DE PÓS-EMERGÊNCIA

O controle de plantas infestantes das lavouras de milho, fundamentado no uso dos herbicidas da classe das sulfonilureias (foramsulfuron + iodosulfuron-methyl e nicosulfuron), em associação com a atrazine, tem-se caracterizado por deter alta atividade mesmo em subdoses. Os efeitos adversos causados na planta são notados pela descoloração de folhas jovens, perda de folhas e necrose dos


Fotos Décio Karam

liberadas pelo Mapa à base de bentazon.

CUIDADOS NA APLICAÇÃO

O arranjo entre plantas da cultura pode influenciar no crescimento das espécies daninhas

veios foliares. Existem sob registro do Mapa, seis produtos formulados mencionados para uso em milho. Imazapic e imazapyr são comercializados em mistura formulada e seus efeitos de intoxicação nas plantas podem ser observados pela estagnação do crescimento, descoloração dos tecidos, necrose da nervura central e queda das folhas. Há apenas um produto comercial registrado para o milho a partir de imazapic e imazapyr e que deve ser utilizado apenas em híbridos resistentes a estes herbicidas (sistema Clearfield). O carfentrazone-ethyl e o amicarbazone, da família das triazolinonas, têm como efeitos de intoxicação a descoloração das folhas com necrose, levando a planta à morte em poucos dias. No mercado há disponibilidade de cinco produtos registrados para a cultura do milho. Mesotrione e tembotrione constituem as tricetonas. O controle exercido abrange espécies mono e dicotiledôneas. Dos sintomas ocasionados pela ação de tricetonas caracteriza-se o branqueamento das folhas com necrose posterior e morte do vegetal em até 15 dias. Estão sendo comercializados apenas dois herbicidas para uso no milho. 2,4-D é um ingrediente ativo que compõe a família dos ácidos ariloxialcanoicos. Esta molécula é indicada para o controle de folhas largas anuais e gramíneas presentes no milho. Como sintomas de toxidez a curvatura ou enrolamento do ápice da planta, espessamento do caule e estipe e, ainda, o enrugamento das folhas. Há 17 produtos disponíveis a partir do 2,4-D registrado. O bipiridílio paraquat é um herbicida não seletivo que controla espécies mono e dicotiledôneas. Os efeitos de toxidez são percebidos pela murcha e decomposição dos tecidos. Este herbicida está registrado para uso de forma dirigida na cultura do milho. Apenas três produtos estão registrados junto ao Mapa. O bentazon é um ingrediente ativo, que constitui o grupo das benzothiadiazinonas e atua sobre espécies dicotiledôneas. Manchas aquosas e decomposição dos tecidos foliares corroboram sintomas de intoxicação por este herbicida. Há no mercado três formulações

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No escopo da aplicação acertada de um herbicida, deve-se atentar para alguns fatores relativos às condições climáticas como a umidade relativa do ar, a temperatura e o vento no momento da aplicação. Boas condições de umidade favorecem a disponibilidade de água à absorção pela planta, retardam a secagem do produto aplicado e otimizam a transposição do herbicida pela superfície da planta. Em condições arbitrárias, ocorre lentidão do processo de absorção do herbicida devido à compactação da cutícula. Portanto, sob umidades abaixo de 50%, as aplicações de herbicidas devem ser evitadas. Processos de volatilização e celeridade na secagem dos ingredientes ativos são aumentados a temperaturas elevadas, embora tais condições também possam aumentar a eficiência dos herbicidas, tornando-os mais fitotóxicos para as plantas-alvo bem como para a cultura do milho. Clima favorável provém absorção do herbicida na dosagem apropriada, assim como inibe problemas de deriva que geram possíveis afecções ao ambiente e/ou à saúde humana. O vento em alta velocidade é um elemento relevante, uma vez que intervém diretamente no destino da pulverização de modo a favorecer que alcance o alvo ou desvie, atingindo outro componente. As circunstâncias de maior segurança acerca dos ventos consistem em velocidades na faixa de 3km/h a 6Km/h, correspondentes a uma leve brisa que apenas movimenta a folhagem. O início da manhã, o fim da tarde e o início da noite apresentam condições de vento, temperatura e umidade mais apropriadas para aplicação de herbicidas.

MEDIDAS DE SEGURANÇA

No âmbito da proteção do trabalhador, as

medidas de segurança devem atender à Necessidade de Controle de Exposição (NCE), que se dá pelo conjunto medidas preventivas (normas regulamentadoras que tratam da higiene, limpeza e manutenção e educacionais) e de proteção (relativas à segurança em relação ao ambiente). As medidas de proteção estão segregadas em coletivas ou individuais, de modo que a primeira é feita, por exemplo, pela seleção de herbicidas menos tóxicos ou uso da direção do vento para afastar o jato pulverizado. Os tipos de cultura e de equipamento também são elementos que afetam a exposição do operador. Como medida de proteção individual preconiza-se o uso do equipamento de proteção individual (EPI), que impede o contato direto da substância com o corpo. Esse dispositivo atua como redutor da exposição por meio dos princípios da impermeabilização e da hidrorrepelência. O EPI deverá ser vestido sobre a roupa comum e ajustado firmemente de modo que os cordões do jaleco e calça sejam guardados dentro da roupa. As botas devem ser impreterivelmente de PVC, sob a barra da calça, para que o produto escorrido não alcance os pés. Recomenda-se o uso do avental com o objetivo de proteger o corpo durante o preparo da calda e pulverização, devendo ainda ser fabricado em material impermeável e de fácil fixação no corpo. A máscara impede a inalação de vapores orgânicos, partículas finas e névoas. O aplicador deve estar barbeado para permitir aderência correta do respirador ao rosto. A viseira, o boné árabe e as luvas têm o intuito de defender olhos, rosto, couro cabeludo, pescoço e mãos das gotas ou da névoa de pulverização. As luvas devem ser de borracha nitrílica ou neoprene, passíveis de C uso em todas as formulações. Décio Karam, Embrapa Milho e Sorgo

O bom controle de plantas daninhas está associado a cuidados que compreendem desde a seleção do produto até o momento da aplicação. No detalhe, planta erva-quente (Spermacoce latifolia)

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trifluralin

tembotrione

s-metolaclor

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simazine

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pendimentalin

imazapique+ imazapir isoxaflutole

foramsulfuron+ iodosulfurom-methyl

dicloreto de paraquat

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nicosulfuron

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mesotrione

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carfentrazonethyl

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atrazine+ s-metolaclor bentazon

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atrazine+ nicosulfuron atrazine+ simazine

amicarbazone

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atrazine

ametrin

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alaclor+atrazine

alaclor

acetoclor

Ingrediente/Ativo Acanthospermum australe Acanthospermum hispidum Aeschynomene rudis Achyrocline satureioides Aeschynomene sensitiva Ageratum conyzoides Alternanthera tenella Amaranthus deflexus Amaranthus spinosus Amaranthus hybridus Amaranthus retroflexus Amaranthus viridis Avena strigosa Baccharis coridifolia Bidens pilosa Bidens subalternans Boerhaavia diffusa Blainvillea latifolia Brachiaria decumbens Brachiaria platyphylla Brachiaria plantaginea Brassica rapa Chamaesyce hyssopifolia Cenchrus echinatus Conyza bonariensis Commelina benghalensis Commelina erecta Coronopus didymus Croton glandulosus Cyperus difformis Cyperus esculentus Cyperus ferax Cyperus iria Cyperus lanceolatus Cyperus rotundus Cyperus sesquiflorus Datura stramonium Desmodium adscendens Desmodium tortuosum Digitaria ciliaris Digitaria insularis Digitaria horizontalis Digitaria sanguinalis Echinochloa colona Echinochloa crusgalli Echinochloa cruspavonis Eichhornia crassipes Eleusine indica Emilia sonchifolia Eupatorium pauciflorum Euphorbia heterophylla Fagopyrum esculentum Galinsoga parviflora Glycine max Gnaphalium spicatum Heteranthera reniformis Hyptis lophanta

2,4-D

Tabela – Herbicidas e plantas daninhas registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento para a cultura do milho

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trifluralin

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s-metolaclor

simazine

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nicosulfuron

mesotrione

imazapique+ imazapir isoxaflutole

foramsulfuron+ iodosulfurom-methyl

dicloreto de paraquat

carfentrazonethyl

atrazine+ s-metolaclor bentazon

atrazine+ nicosulfuron atrazine+ simazine

atrazine

amicarbazone

ametrin

alaclor+atrazine

alaclor

acetoclor

Ingrediente/Ativo Hyptis suaveolens Indigofera hirsuta Ipomoea acuminata Ipomoea aristolochiaefolia Ipomoea grandifolia Ipomoea hederifolia Ipomoea nil Ipomoea purpurea Ipomoea quamoclit Ischaemum rugosum Leonurus sibiricus Lepidium virginicum Lolium multiflorum Malvastrum coromandelianum Melampodium divaricatum Melampodium perfoliatum Momordica charantia Murdannia nudiflora Nicandra physaloides Oryza sativa Panicum maximum Parthenium hysterophorus Pennisetum setosum Polygonum convolvulus Polygonum hydropiperoides Polygonum persicaria Portulaca oleracea Physalis angulata Pennisetum pedicellatum Raphanus raphanistrum Raphanus sativus Richardia brasiliensis Rhynchelitrum repens Senecio brasiliensis Senna obtusifolia Senna occidentalis Setaria geniculata Sida cordifolia Sida rhombifolia Silene gallica Solanum americanum Solanum sisymbriifolium Soliva pterosperma Sonchus oleraceus Sorghum halepense Spergula arvensis Spermacoce alata Spermacoce latifolia Stellaria media Taraxacum officinale Thalia geniculata Tridax procumbens Trifolium repens Tagetes minuta Triticum aestivum Xanthium cavanillesii Xanthium strumarium

2,4-D

Continuação

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Milho

Ação condicionada O milho é exigente em fertilizantes nitrogenados, porém a dinâmica de emprego deste nutriente pelas plantas é complexa e vários fatores podem condicionar as transformações do nitrogênio (N) no solo e a sua liberação para a cultura. Saiba como se comporta o N em diferentes situações e como utilizá-lo para obter melhor rendimento de grãos

D

iversos são os elementos que atuam na formação da produtividade do milho. Destacam-se os fatores ecofisiológicos (temperatura, luz, vento, água etc) e de manejo (semeadura, população de plantas, nutrição, adubação, irrigação, controle de pragas, doenças e plantas daninhas, colheita, dentre outros). A produtividade é limitada em função do fator que estiver com a menor disponibilidade à cultura, dessa forma, de nada adianta dispor de um solo com alta fertilidade enquanto podem existir limitações de ordem hídrica, por exemplo. Dentre os aspectos de manejo mais importantes e controversos está a adubação nitrogenada, que via de regra é dependente da condição atual do solo (nível de fertilidade), do histórico da área (cultura antecessora) e da expectativa de rendimento desejado. Do total de experimentos realizados no Brasil com nitrogênio,

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um percentual de 70% a 90% correspondeu à adubação nitrogenada. Como gramínea, o milho apresenta-se muito exigente em fertilizantes, especialmente os nitrogenados. O suprimento inadequado de nitrogênio (N) é considerado um dos principais fatores limitantes ao rendimento de grãos desta cultura, pois o N exerce importante função nos processos bioquímicos da planta. É constituinte de proteínas, enzimas, coenzimas, ácidos nucleicos, fitocromos e da clorofila. Além disso, o N afeta as taxas de iniciação e expansão foliar, o tamanho final e a intensidade de senescência das folhas. A dinâmica do uso do nitrogênio é complexa, o que faz com que diversos estudos sejam realizados para que se possa compreender e manejar corretamente esse elemento. Isso é justificado devido à baixa recuperação (aproveitamento) do nitrogênio pelas plantas, que pode chegar

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a menos de 50% em alguns casos.

Sintomas de deficiência

A deficiência de nitrogênio pode ser verificada visualmente pelo amarelecimento das folhas, que com a intensificação acabam secando e perdendo suas funções fisiológicas na planta. As primeiras folhas a apresentarem essas características são as mais próximas ao solo (folhas mais velhas). A deficiência não é fácil de ser detectada precocemente, porém, quando as plantas jovens apresentam coloração verde-amarelada pode ser indicativo da falta de nitrogênio. A deficiência de nitrogênio pode ser evitada ao realizar-se a análise prévia do solo e, assim, aplicar as doses recomendadas nos estágios corretos de crescimento da cultura, pois quando os sintomas aparecem, a planta já sofreu estresse e vai perder produtividade, ainda que haja a aplicação (do nutriente)


Fotos Charles Echer

posterior à visualização dos sintomas.

Extração e absorção

Dados de pesquisa indicam que para a produção de dez mil quilos/ha-1 de grãos são extraídos do solo mais de 200 quilos de nitrogênio por hectare. E no caso para a silagem (matéria seca) em produções de 18.610 quilos/ha-1 são extraídos mais de 230 quilos de nitrogênio por hectare. No que se refere à exportação de nutrientes para os grãos o nitrogênio é o segundo elemento que apresenta a maior translocação, aproximadamente 75% do nitrogênio contido na planta é translocado para os grãos. Portanto, grande parte do N absorvido vai ser exportada no grão, sendo necessária a aplicação em grande quantidade deste nutriente para suprir a planta e manter os níveis equilibrados no solo, pensando mais em manter o teor de matéria orgânica no solo.

Nitrogênio no solo e adubação nitrogenada

O nitrogênio é o nutriente que, em geral, proporciona os maiores acréscimos de produtividade em termos de rendimento de grãos do milho. Quando se trabalha em lavouras irrigadas os níveis de adubação podem ser aumentados, já que os riscos de perda de pro-

dutividade por déficit hídrico são minimizados neste sistema. Porém, deve-se salientar que adubações nitrogenadas excessivamente altas podem também não refletir em altas produtividades. Além disso, podem favorecer a perda deste nutriente por lixiviação, causando contaminação de águas superficiais, principalmente em anos com altas precipitações. No sistema de plantio direto a ciclagem e o manejo do nitrogênio mudam um pouco em relação ao sistema convencional de cultivo, pois a decomposição dos resíduos orgânicos é mais lenta. Isso ocorre devido aos resíduos permanecerem na superfície, o que mantém maior umidade do solo, além de haver aumento da atividade dos microrganismos na camada superficial, o que vai resultar em alterações nos processos de oferta e também de perda de N no solo. Um dos principais problemas do atual sistema de recomendação da adubação nitrogenada é que a determinação da quantidade de N a ser aplicada no milho é definida antes da semeadura, sem o monitoramento deste elemento após a emergência. A variabilidade das condições meteorológicas e de solo, associada aos múltiplos processos que interferem na complexa dinâmica do N no solo (lixiviação, volatilização, imobilização-mobilização, nitrificação, desnitrificação, mineralização) e na sua relação com a planta, pode ocasionar

O nitrogênio é o nutriente que, em geral, proporciona os maiores acréscimos de produtividade do milho

grandes modificações na disponibilidade e na necessidade deste nutriente ao longo do ciclo da planta. A época de aplicação do fertilizante


Cultivar

nitrogenado tem grande influência no aproveitamento deste nutriente pelo milho. No entanto, não há muita concordância sobre qual a melhor época de aplicação de N no sistema de plantio direto. Alguns resultados de pesquisa têm demonstrado vantagens na aplicação de N em pré-semeadura do milho. Outros demonstram a necessidade de aumento da dose de N, no momento da semeadura, para suprir a carência inicial em função da imobilização, e a outra parte seria fornecida em cobertura. Contudo, existe uma série de variáveis que condicionam as transformações do N no solo, que são mediadas por microrganismos, e dependem das condições edafoclimáticas, principalmente do tipo de solo, da precipitação pluviométrica e da temperatura. Além disso, as características dos resíduos vegetais da cultura de cobertura antecessora influenciam diretamente a oferta deste nutriente para o milho. A realização de mais de uma aplicação em cobertura é recomendada quando se pretende aplicar altas doses de N (exemplo: 100kg/ha-1 ou mais), no entanto, é um fator de aumento no custo. Segundo as recomendações oficiais para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CQFS RS/SC, 2004), as doses de N devem ser maiores quando a cultura antecessora for gramínea, pois pode ocorrer imobilização de N disponível no solo e também do N aplicado via fertilizante, principalmente quando resíduos com alta relação carbono:nitrogênio (C:N) são adicionados ao solo, caso das gramíneas. Já quando a cultura antecessora for uma leguminosa, é possível aplicar doses menores de N, uma vez que os resíduos destas plantas possuem baixa relação C:N, o que acarreta em mineralização líquida no solo, aumentando a quantidade de N disponível para a cultura posterior.

O N exerce importante função nos processos bioquímicos da planta, sendo constituinte de proteínas, enzimas, coenzimas, ácidos nucleicos, fitocromos e clorofila

Para que possa expressar todo seu potencial produtivo, a cultura do milho requer que suas exigências nutricionais sejam plenamente atendidas, em virtude da grande extração de nutrientes do solo. Nesse sentido, o nitrogênio é o nutriente exigido em maior quantidade pela cultura, variando as recomendações da adubação nitrogenada em cobertura em cultivo de sequeiro para altas produtividades de 50kg/ha-1 a 90kg/ha-1 de N e, para cultivo irrigado, de 120kg/ha-1 a 150kg/ha-1. Estudos com doses de N em milho irrigado com pivô central foram conduzidos na região de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, por três anos seguidos (2003/2006), obtendo-se o melhor resultado de rentabilidade da produção com aplicação de 150kg/ha-1 a 160kg/ha-1 de N (Figura 1). Já a receita bruta do produtor foi obtida com doses maiores que as citadas, mas que não representaram lucro para o mesmo.

Figura 1 - Receita bruta e receita líquida da produção de grãos de milho em função de doses de N, nos anos agrícolas 2002/03 e 2003/04. Fonte: Pavinato et al, (2008)

Comparando estes resultados com algumas informações constantes em literatura, constata-se certa similaridade, pois, para atingir uma produtividade média de nove mil kg/ha-1 de milho, são exportados nos grãos em torno de 170kg/ha-1 de nitrogênio, mostrando a importância do manejo adequado do solo, especialmente na reposição dos nutrientes que são retirados da terra. A adubação nitrogenada para altas produtividades possui respostas positivas com o uso de 30kg/ha-1 a 40kg/ha-1 de N na adubação de semeadura e adubação de cobertura após a quarta ou quinta folha completamente aberta, sendo recomendável uma segunda cobertura em solos de textura mais arenosa, visando assim, menores perdas e consequentemente maior disponibilidade de N para as plantas. Quanto ao manejo da adubação e ao modo de aplicação dos fertilizantes, na linha ou a lanço, a resposta das plantas depende da interação de uma série de fatores, como dose e solubilidade do produto, espaçamento e distribuição do sistema radicular das culturas e as características químicas e físicas do solo que afetam o suprimento de nutrientes. Dessa forma, a adubação nitrogenada da cultura do milho depende de aspectos históricos da área (tipo de solo, cultura antecessora e histórico da área), sistema de cultivo (sistema plantio direto ou sistema convencional), nível tecnológico adotado (utilização de irrigação ou não), finalidade da cultura (grãos ou silagem), parcelamento da adubação nitrogenada, dentre outros fatores. Então o aumento da produtividade da cultura de milho está associado a alterações graduais nas tecnologias empregadas e a uma correta orientação por parte dos técnicos responsáveis. C Paulo Sérgio Pavinato e Thomas Newton Martin, UTFPR

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Arroz

Insetos da noite

A lagarta-da-panícula ganha espaço em arroz irrigado no Rio Grande do Sul, com ataques em 40% da área plantada do estado na última safra. De hábito noturno, a presença da praga na lavoura é de difícil detecção. Além disso, o produtor enfrenta a falta de produtos químicos registrados para o controle. Pesquisadores trabalham na tentativa de preencher essa lacuna

A

ocorrência de Pseudaletia spp, denominada lagarta-da-panícula, na cultura do arroz irrigado, no Rio Grande do Sul (RS), tem aumentado nos últimos cinco anos, de forma que, na última safra este inseto atacou mais de 40% das lavouras. Atualmente, é considerada a segunda praga em importância na cultura, apenas menos representativa que o gorgulho aquático Oryzophagus oryzae. Pseudaletia adultera e P. sequax, são as duas espécies que têm ocorrido nas lavouras, sendo a espécie Sequax predominante nos campos. O inseto é percebido nas lavouras a partir da fase de perfilhamento do arroz, porém as populações mais elevadas ocorrem a partir da fase de emissão da panícula, principalmente, entre os meses de fevereiro e abril. É neste período também, que a lagarta atinge os últimos instares. Nos primeiros estágios de crescimento a lagarta alimenta-se de folhas. Já no período de emissão da panícula, a praga permanece abrigada entre os colmos, na parte inferior das plantas de arroz durante o dia, e somente ao entardecer dirige-se ao topo e passa a atacar as panículas, cortando-as parcialmente. Apesar de estar distribuída em todo o Rio Grande do Sul, foi nas regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste e Campanha que atingiu populações e níveis de danos mais elevados. Nessas três regiões orizícolas, foram constatadas mais de cinco lagartas/m2, o que gera perdas na produtividade da ordem de 20% (Oliveira & Freitas 2004). Outros estudos sobre o efeito do ataque de Pseudaletia spp. às panículas apontam perdas de produtividade que oscilam de 5% a 10% (Ferreira, 1998) e de 7% a 20% (Oliveira et al, 2005). Mensurar os níveis populacionais da lagarta-da-panícula nos arrozais é o princi-

pal problema, pois a constatação do inseto pelos produtores, geralmente só ocorre tardiamente com a visualização de sinais característicos do seu ataque, como grãos caídos sobre o solo, mesmo assim, exige exame minucioso, abrindo-se as plantas da lavoura.

Controle

Algumas medidas podem auxiliar na prevenção ou reduzir a população da lagarta-da-panícula (Pseudaletia spp). Uma delas é a destruição da palha e da resteva. Esta prática, após a colheita, ajuda na redução da população da praga, pois os restos de cultura ou hospedeiros alternativos são locais que favorecem o abrigo do inseto. Em algumas regiões do Rio Grande do Sul, no mês de junho, ainda foram encontradas lagartas

Detalhe do inseto adulto de Pseudaletia

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Porém, não existem ainda no mercado inseticidas registrados para o controle da lagarta na cultura do arroz. Com isso, um experimento realizado em dois municípios gaúchos teve como objetivo identificar a eficácia de um produto inseticida, através de testes em diferentes doses e avaliação dos resultados.

Tabela 1 - Eficiência agronômica de inseticida, em diversas doses, no controle da lagarta-da-panícula, de Pseudaletia spp. em arroz irrigado. Irga, São Sepé (RS), 2009 Tratamentos Doses ha-1 mL p.c 1.Rynaxypyr 15 2.Rynaxypyr 20 3.Rynaxypyr 25 4.Rynaxypyr 30 5.Rynaxypyr 35 6.Rynaxypyr 40 7.Rynaxypyr 50 8.Testemunha --

Rendimento de 48 grãos (t ha-1) 5,54 c 66 e 6,22 ab 71 d 5,84 bc 77 c 6,07 ab 80 c 6,25 ab 88 b 6,49 a 95 a 6,23 ab 95 a 5,79 bc 0f

Leituras após tratamento (horas)

N 2,00 2,00 2,00 0,90 0,60 0,30 0,20 6,00

24 66 c** 66 c 66 c 85 b 90 ab 95 ab 96 a 0d

N 1,50 1,30 1,00 0,90 0,50 0,20 0,20 4,50

Material e métodos

Dois experimentos foram instalados, no período agrícola 2008/2009, em lavouras comerciais com infestação natural da lagartada-panícula, sendo um no município de São Sepé (RS) e outro em Cachoeira do Sul (RS). O sistema de preparo do solo foi de cultivo convencional, sendo utilizada para os testes a cultivar Irga 422CL. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com quatro repetições, com parcelas de 3,0m x 2,0m (6m2). Os oito tratamentos químicos avaliados constam nas Tabelas 1 e 2. Um tratamento sem inseticida foi incluído como testemunha. Os tratamentos com inseticidas foram aplicados dez dias antes da colheita (época na qual 90% das lagartas haviam atingido mais de 1cm de comprimento, classificadas como grandes), por meio de um pulverizador costal pressurizado a CO2, regulado para pressão de 35lb pol-2, equipado com quatro bicos tipo cone, equidistantes em 0,5m, com volume de calda de 150l/ha-1. As leituras para determinar a porcentagem de controle foram realizadas 24 horas e 48 horas após a aplicação dos tratamentos inseticidas (HAT), registrando-se o número de lagartas/m-2, por meio de coleta manual.

N = Número médio de lagartas/m² * Médias nas colunas seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância

Tabela 2 - Eficiência agronômica de inseticidas, no controle da lagarta-da-panícula, de Pseudaletia spp. em arroz irrigado. Irga, Cachoeira do Sul (RS), 2009 Tratamentos Doses ha-1 ml p.c 1.Rynaxypyr 15 2.Rynaxypyr 20 3.Rynaxypyr 25 4.Rynaxypyr 30 5.Rynaxypyr 35 6.Rynaxypyr 40 7.Rynaxypyr 50 8.Rynaxypyr 75 10.Testemunha --

Rendimento de 48 grãos (t ha-1) 5,32 de 42 f 5,63 cde 60 e 71 d 5,72 bcde 81 c 5,75 bcde 93 b 6,34 abcd 6,44 abc 93 b 6,92 a 100 a 6,70 ab 100 a 5,07 e 0g

Leituras após tratamento (horas)

N 3,00 2,00 2,00 1,00 0,70 0,40 0,20 0,20 5,00

24 40 e** 60 d 60 d 80 c 86 b 92 a 96 a 96 a 0f

N 2,50 1,70 1,25 0,80 0,30 0,30 0,00 0,00 4,30

na resteva do arroz. A lagarta suporta temperaturas baixas, se reproduz e aumenta a população para a safra seguinte. Outra medida recomendada é a aração do solo. Trata-se de prática eficiente, pois além de provocar a morte das lagartas, ainda expõe o inseto ao ataque de predadores. A semeadura na época recomendada é outro aspecto importante a ser observado pelo produtor. Lavouras semeadas nos períodos recomendados ou até o fim do mês de outubro, geralmente escapam dos danos da praga, visto que as lavouras são colhidas antes do ataque da lagarta-da-panícula.

Resultados e discussão

A população média da lagarta-dapanícula nas parcelas do tratamento testemunha em São Sepé (RS), 24 horas e 48 horas após a aplicação dos tratamentos químicos, foi de seis lagartas por m-2 e 4,5 lagartas por m-2, respectivamente (Tabela 1), enquanto em Cachoeira do Sul foi de cinco lagartas por m-2 e 4,3 lagartas por m-2 (Tabela 2). No experimento de São Sepé, na primeira contagem de lagartas (24 HAT), todos os tratamentos químicos diferiram significativamente do tratamento testemunha, tendo o inseticida Rynaxypyr, nas doses de 30ml/ha-1, 35ml/ha-1, 40ml/ha-1 e 50ml/ha-1, atingindo eficiência de controle superior a 80%, com destaque para as doses de 40ml/ ha-1 e 50ml/ha-1, que atingiram eficiência de 95% e 96%, respectivamente (Tabela 1). Na segunda avaliação, aos 48 HAT, basicamente repetiu-se o resultado da primeira avaliação, tendo as doses de 30ml/ha-1 e 50ml/ha-1 de Rynaxypyr igualado ou superado 80% de eficiência de controle, com destaque para as duas maiores doses que atingiram 95% de eficiência. No Experimento de Cachoeira do Sul

Jaime Vargas de Oliveira e Thais Fernanda S. de Freitas

N = Número médio de lagartas/m² *Médias nas colunas seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância

O peso dos grãos foi obtido pela colheita de 4m-2 de cada parcela, sendo os resultados (produtividade) expressos em t/ha-1 e a umidade corrigida para 13%. Os dados foram submetidos à análise da variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade. A eficiência do inseticida foi calculada por meio da fórmula de Abbott (1925).

Experimentos para controle químico

Considerando a constante ocorrência da lagarta-da-panícula em arrozais no estado, os riscos de perdas em produtividade (decorrentes de seu ataque) e a escassez de informações sobre táticas de manejo integrado da praga, o controle químico impõe-se como alternativa capaz de evitar, em curto prazo, que o inseto atinja níveis populacionais causadores de danos econômicos.

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A ocorrência da lagarta-da-panícula é mais intensa entre os meses de fevereiro e abril

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Fotos Jaime Vargas de Oliveira e Thais Fernanda S. de Freitas

(RS), igualmente ao constatado no experimento de São Sepé, na primeira contagem de lagartas (24 HAT), todos os tratamentos diferiram significativamente do tratamento testemunha, tendo o inseticida Rynaxypyr, nas doses 30ml/ha-1, 35ml/ha-1, 40ml/ha-1, 50ml/ha-1 e 75ml/ha-1, atingido eficiência de 96% (Tabela 2). Na segunda avaliação (48 HAT) basicamente repetiu-se o resultado da primeira avaliação, tendo as doses de 30ml/ ha-1 a 75ml/ha-1 de Rynaxypyr atingindo eficiência de controle superior a 80%, com destaque para as doses de 50ml/ha-1 e 75ml/ ha-1, que atingiram eficiência de 100%. Em ambos os experimentos, detectaram-se diferenças significativas entre os tratamentos quanto ao rendimento de grãos. Apesar de alguns dos tratamentos não diferirem do tratamento testemunha em relação a essa variável, detectou-se uma tendência de maior produtividade nas parcelas dos tratamentos que foram os mais eficientes no controle da lagarta-da-panícula (Tabelas 1 e 2). Nos dois experimentos, não foram constatados sinais de fitotoxidez dos inseticidas às plantas de arroz irrigado.

Conclusões

Nas condições que foi realizado concluise que:

Os danos são causados ao entardecer, quando a praga dirige-se ao topo da planta e passa a atacar as panículas, cortando-as parcialmente

• O inseticida Rynaxypyr nas doses 30ml/ha-1, 35ml/ha-1 é eficiente no controle da lagarta-da-panícula em arroz irrigado. • Rynaxypyr nas doses de 40ml/ha-1, 50ml/ha-1 e 75ml/ha-1 apresentou ótimo controle da lagarta-da-panícula em arroz C irrigado.

Jaime Vargas de Oliveira, Thais Fernanda S. de Freitas, Jaceguay de Barros, Jairo Dotto, José Patricio de Freitas, Jorge Cremonese Inst. Rio Grandense do Arroz (Irga)




Eventos

Proteção de sementes Seed Care Institute é inaugurado no Brasil com o objetivo de alavancar e difundir o conhecimento em tratamento de sementes

U

ma cerimônia realizada em outubro, em Holambra, São Paulo, marcou o lançamento do Seed Care Institute Latin América. O centro de pesquisa, desenvolvimento e treinamento em proteção de sementes, da Syngenta, é um empreendimento da rede global Seed Care Institute, que possui unidades na Suíça, Franca, China, Estados Unidos e agora no Brasil. O Seed Care Institute reúne pesquisadores que desenvolvem e testam tecnologias de tratamento de sementes de várias culturas. João Carlos Nunes, especialista no segmento, irá coordenar o Centro, em Holambra. “O objetivo é desenvolver ferramentas para proteger e melhorar o potencial de produção de sementes através de tratamentos de qualidade superior”, explica. Soluções para grandes culturas é outra meta do empreendimento, que pretende desenvolver novas tecnologias de tratamento de sementes para culturas específicas e em qualquer condição de crescimento. “Inovações que vão ao encontro da expectativa dos agricultores”, afirma Nunes. O tratamento de sementes ocupa o segmento de maior crescimento percentual no mercado global de produtos para a proteção de cultivos. É uma realidade para aumentar o desempenho das sementes, através de processo que envolve produtos, formulações, combinações e equipamentos. Produtores agrícolas devem estar preparados para o manejo adequado das lavouras desde o início do plantio. Especialmente em culturas de grande importância econômica, o

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tratamento industrial de sementes surge como alternativa para auxiliar no controle de pragas e doenças, assegurando o principal componente do rendimento da lavoura e o máximo aproveitamento da safra. Nesse contexto, o tratamento de sementes se destaca no processo de produção como diferencial competitivo. A linha de pesquisa do Seed Care Institute é focada em soluções que contemplem a necessidade de proteger as culturas contra pragas e doenças, bem como melhorar o desempenho das plantas, aumentando a produtividade das culturas. Vislumbra maior interação entre os produtores de sementes, fabricantes, pesquisadores, agricultores e o Instituto. O empreendimento envolve parceiros em todos os segmentos. O serviço que o Centro irá prestar à agricultura não se limita apenas

ao tratamento de sementes com produtos Syngenta e sim a todo processo que essa ferramenta requer. A empresa pretende expandir a capacidade de servir os clientes, oferecendo soluções cada vez mais adequadas às suas necessidades. O Seed Care Institute tem o objetivo de difundir os processos de tratamento de sementes e as ferramentas da avaliação da qualidade do processo. Irá oferecer treinamento especializado aos clientes, empresas de sementes, distribuidores, transmitir conhecimento, fazer parcerias com instituições de ensino. “O Seed Care Institute tem o desejo de transformar-se em uma academia, unindo a expertise da Syngenta e outras instituições. Esse é nosso grande desafio”, finaliza João C Carlos Nunes.

O Seed Care Institute reúne pesquisadores que desenvolvem e testam tecnologias de tratamento de sementes em diferentes culturas

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Soja

Estado de alerta

Com clima atualmente favorável ao fungo causador da ferrugem asiática, pesquisadores orientam produtores a permanecerem atentos à ocorrência de focos da doença em lavouras da sua região de cultivo. O monitoramento correto é fator decisivo para dar início à aplicação de fungicidas, momento crucial para o sucesso do controle, que deve ocorrer de modo preventivo ou ao aparecimento dos primeiros sintomas

C

omeça a safra 2009/2010 de soja no Brasil e, com ela, a preocupação com a ocorrência da ferrugem asiática volta a se acentuar. O vazio sanitário (período de ausência de plantas de soja no campo durante a entressafra) em Santa Catarina (SC), Paraná (PR), São Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Mato Grosso do Sul (MS), Mato Grosso (MT), Goiás (GO), Bahia (BA), Tocantins (TO), Maranhão (MA), Pará (PA) e no Distrito Federal, neste ano, é um fator de extrema importância para auxiliar no manejo da doença. Apesar disso, a maior fiscalização gerada pela implantação do vazio sanitário na procura de plantas de soja na entressafra, revelou que muitas propriedades não controlaram as plantas voluntárias adequadamente e que a perda de grãos durante o transporte torna frequente o crescimento

de plantas na margem de rodovias. As condições climáticas na entressafra, com chuvas regulares, favoreceram o crescimento das plantas voluntárias e a presença da doença. Nos cultivos excepcionalmente autorizados durante o vazio sanitário, como por exemplo, em multiplicação de material genético, houve dificuldade em evitar o aparecimento da doença. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do Paraná, responsável pela fiscalização do vazio sanitário no estado durante o período de 15 de junho a 15 de setembro de 2009, emitiu 134 notificações e 69 autos de infração, sendo esses últimos referentes a um total de 1.986 hectares e 213 quilômetros de rodovias que apresentavam plantas de soja em desenvolvimento. Esses números mostram que, apesar do trabalho da Seab, ainda falta

maior esforço conjunto do setor agrícola e dos responsáveis pelas rodovias para seguir o vazio sanitário. Ilustrando isto, o Consórcio Antiferrugem (CAF), registrou no seu site (www.consorcioantiferrugem. net) entre os dias 27 de setembro e 9 de outubro, seis ocorrências de ferrugem em soja voluntária no Paraná. Outras ocorrências precoces foram registradas no site do CAF entre 25 de agosto e 18 de setembro, sendo oito nos municípios de Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão, no estado do Tocantins, e uma no município de São Miguel do Araguaia, Goiás. Esses locais estão em regiões de várzea tropical, onde é permitido o cultivo de soja na entressafra para produção de sementes, multiplicação de material genético ou para realização de pesquisa científica, desde que seja feito rigoroso controle da ferrugem asiática. Rafael Soares

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Rafael Soares

tão decidir sobre a aplicação de fungicidas na lavoura. A observação do ciclo e da época de plantio da cultivar também é importante, pois cultivares mais precoces, semeadas mais cedo, geralmente podem ser produzidas com menor número de aplicações de fungicidas ou mesmo não necessitar aplicações.

Controle

Clima da entressafra, com chuvas regulares, favoreceu o crescimento de plantas voluntárias de soja e a presença da doença

O clima

O clima chuvoso dos últimos meses tem possibilitado condições de umidade favorável para infecções do fungo causador da ferrugem e esse quadro deve permanecer. Segundo informações do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a previsão climática para o trimestre novembro/dezembro de 2009 a janeiro de 2010 continua a apontar para a ocorrência de chuvas variando de normal a acima quanto à normal climatológica no sul das regiões Sudeste e Centro-Oeste e na maior parte da região Sul do Brasil. No norte das regiões Norte e Nordeste, a probabilidade de chuvas está entre as categorias normal e abaixo da normal. Nas demais áreas do Brasil, a probabilidade é de ocorrência de chuvas próximas à média histórica. Quanto ao El Niño, a maioria dos modelos climáticos continua a indicar atuação fraca a moderada do fenômeno na região equatorial do Pacífico nos próximos meses. A temperatura do ar, neste trimestre, prevê valores acima

da normal climatológica na maior parte do país, com exceção da região Sul, onde as temperaturas podem ficar entre normal e abaixo da normal climatológica. Todas essas informações sobre focos de ferrugem e clima servem de alerta para técnicos e produtores, pois a safra de soja que inicia pode ser bastante favorável para a ocorrência da doença. No entanto, a presença de esporos do fungo no ar pode não ser generalizada em todas as regiões e tende a diminuir à medida que forem eliminadas as plantas voluntárias encontradas e ainda não existirem cultivos desenvolvidos no campo. Além disso, a umidade favorável ao fungo, atualmente predominante, pode se alterar no futuro, mesmo que de forma localizada. Portanto, o estado de alerta com a doença é necessário e importante, mas não significa necessariamente que a tendência de epidemias precoces irá se concretizar. É importante que o agricultor faça o monitoramento correto da cultura, mantenha-se informado sobre a ocorrência de focos em lavouras na região e sobre o clima, para en-

O controle químico com fungicidas na parte aérea da planta é ainda a principal alternativa de controle da ferrugem. Diversos produtos comerciais têm mostrado eficácia contra o fungo. O momento da aplicação é crucial e deve ocorrer aos primeiros sintomas (traços da doença) ou preventivamente; por isso, a lavoura deve ser monitorada constantemente para não deixar a doença se alastrar. A decisão sobre o momento da aplicação deve ser técnica e baseada na presença da ferrugem na região, no estádio de desenvolvimento da cultura, nas condições climáticas, na disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade, na presença de outras doenças e no custo da aplicação. Os fungicidas recomendados para o controle da ferrugem pertencem aos grupos químicos das estrobilurinas e dos triazóis. Desde a safra 2007/2008, observouse menor eficiência do tebuconazole (o triazol mais utilizado isoladamente pelos agricultores) nos ensaios para comparação de produtos e confirmado nos ensaios realizados na safra 2008/2009 (Tabela 1), principalmente nos plantios tardios. Os produtos comerciais que têm apresentado maior eficácia consistem em misturas prontas de princípios ativos dos dois grupos químicos. A menor eficiência de um fungicida pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles falha na tecnologia de aplicação, erro na dose ou época de aplicação, problemas de formulação ou resistência do fungo ao fungicida. A resistência é definida como uma alteração herdável e estável em um fungo em resposta à aplicação de um fungicida, resultando em redução da sensibilidade ao produto. Em-


bora as ferrugens sejam classificadas como patógenos de baixo risco de resistência, a pressão de seleção nos cultivos de soja no Brasil é muito alta devido às grandes áreas cultivadas, à frequência de aplicação proporcionada pela extensa janela de semeadura, à utilização de subdoses pelos produtores e às aplicações curativas que ocorrem a partir da doença instalada. Essa menor eficiência observada para os fungicidas triazóis nos plantios tardios tem sido associada à seleção de populações menos sensíveis no decorrer da safra. Entre as variedades recomendadas, a maioria não possui resistência à doença. Em 2009, a Embrapa e parceiros lançaram a cultivar BRSGO 7560, com nível mais elevado de resistência, recomendada para os estados de Minas Gerais, Goiás e norte de São Paulo. Ela é portadora de um gene maior recessivo, que confere resistência vertical à ferrugem, resultando em lesões foliares denominadas de RB, que é um padrão de reação que reduz a esporulação e, como consequência, a multiplicação do fungo. Assim, a cultivar proporciona maior estabilidade de produção na presença da doença, especialmente quando as condições climáticas não permitem a aplicação do fungicida no momento ideal. Além disso, é uma cultivar do grupo de maturidade 7.5, de ciclo precoce para os estados onde está indicada. Em breve, haverá sementes em número suficiente para os agricultores utilizarem nas regiões indicadas. O que, associado às outras técnicas de manejo, resultará em controle mais eficiente da ferrugem, com menor custo.

Outras doenças de soja no Sul

Além da ferrugem, existem outras doenças de soja que são favorecidas pela alta umidade, como consequência do efeito do fenômeno El Niño, previsto para atuar nesta safra. A soja é suscetível a uma série de doenças e cada fase da cultura tem suas doenças

características. Na emergência, o excesso de umidade pode levar ao apodrecimento de sementes e ao tombamento de plântulas, causado, na maioria das vezes, por podridão radicular de fitóftora e, mais raramente, por tombamento por rizoctonia. Estas doenças ocasionam redução de estande inicial e replantios podem ser necessários. Nos dois casos, o tratamento de sementes com fungicidas é indicado e protege as plantas até, aproximadamente, 15 dias após a semeadura. Depois deste período, é mais difícil ocorrerem problemas com rizoctonia, mas a fitóftora pode voltar a aparecer em cultivares suscetíveis, durante todo o ciclo da cultura. Nos dois casos, solo compactado favorece o desenvolvimento das doenças. Além destas doenças, na fase vegetativa da cultura, o excesso de chuvas pode provocar maior severidade de septoriose, ou mancha parda, em folhas inferiores e infecções precoces de cancro nas hastes. A septoriose, nesta fase, causa a queda de folhas inferiores da planta, mas, normalmente, fica restrita ao terço inferior do dossel. Já o cancro, penetrando nas plantas nesta fase, pode causar-lhes a morte já a partir do florescimento, trazendo grandes prejuízos. Nos dois casos, rotação de culturas e tratamento de sementes são medidas que evitam a entrada da doença na área e reduzem sua quantidade, para os próximos anos. Variedades resistentes estão disponíveis apenas para o cancro da haste causado pela variedade meridionalis. A partir do florescimento, os anos chuvosos podem trazer problemas como a podridão vermelha da raiz e a ferrugem. Para a doença, ainda não há variedades resistentes disponíveis para todas as regiões do Brasil, mas o controle é eficiente com fungicidas. Já o combate à podridão vermelha da raiz é mais difícil. Nenhuma medida isolada tem conseguido bons resultados. Indica-se a semeadura em época mais tardia, quando o solo estiver mais aquecido, além de descompactado.

Tabela 1 - Agrupamento de acordo com a eficiência de controle dos tratamentos nos ensaios cooperativos para os produtos aprovados na Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB) para controle da ferrugem asiática da soja (média de 23 ensaios, safra 2008/09). Embrapa Soja, 2009 INGREDIENTE ATIVO picoxistrobina¹ + ciproconazol trifloxistrobina + tebuconazol piraclostrobina + epoxiconazol azoxistrobina + ciproconazol trifloxistrobina + ciproconazol ciproconazol + propiconazol metconazol tiofanato metílico + flutriafol tetraconazol tetraconazol tebuconazol tiofanato metílico + flutriafol flutriafol tebuconazol tebuconazol epoxiconazol

NOME COMERCIAL Aproach Prima + Nimbus1 Nativo + Aureo1 Opera + Assist1 Priori Xtra + Nimbus1 Sphere + Áureo1 Artea2 Caramba2 Celeiro + Iharol2 Domark 100 EC + Agtem2 Eminent2 Folicur2 Impact Duo + Agefix2 Impact 125 SC + Agefix2 Orius2 Tebuco Nortox2 Virtue2

1 eficiência de controle de 63% a 73%; 2eficiência de controle de 34% a 49%. Produtos listados em ordem alfabética do nome comercial dentro de cada grupo de eficiência.

No final do ciclo, as chuvas frequentes podem favorecer o complexo de doenças foliares de final de ciclo, para o qual, também, não há cultivares resistentes, porém são controladas concomitantemente com as aplicações de fungicida para ferrugem. Assim, algumas medidas de controle devem ser tomadas antes mesmo da semeadura, enquanto outras podem ser usadas durante o ciclo da cultura. Consulte sempre um agrônomo para obter indicações técnicas sobre fungicidas, cultivares resistentes e técnicas de manejo cultural para o controle C de doenças de soja na sua região. Rafael Moreira Soares e Cláudia Godoy, Embrapa Soja Leila Maria Costamilan, Embrapa Trigo


Pragas Cristina S. Bastos

Desafios da safrinha As As altas altas temperaturas, temperaturas, os os baixos baixos índices índices pluviométricos pluviométricos ee oo plantio plantio simultâneo simultâneo de de outras outras espécies, espécies, como como aa soja, soja, são são condições condições comuns comuns encontradas encontradas em em cultivos cultivos de de safrinha. safrinha. Com Com aa implantação implantação do do algodão algodão de de segunda segunda safra, safra, muitas muitas espécies espécies de de insetos-praga insetos-praga também também podem podem ganhar ganhar espaço, espaço, pois pois encontram encontram ambiente ambiente ee clima clima favoráveis favoráveis para para se se desenvolverem desenvolverem ee sobrepor sobrepor gerações. gerações. Por Por isso isso éé preciso preciso ter ter cautela cautela ee estar estar atento atento ao ao manejo manejo

O

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moscas-brancas e os tripes constituem-se, ainda, em insetos transmissores das viroses vermelhão, doença azul e mosaicos (comum, tardios e das nervuras) a cultivares suscetíveis de algodoeiro. As espécies pertencentes a estes dois grupos de artrópodes (insetos e ácaros) que

se alimentam da seiva do algodoeiro são: o pulgão do algodoeiro (Aphis gossypii), a mosca-branca (Bemisia tabaci), os tripes (Thrips tabaci e Frankliniella spp.), a cochonilha (Planococcus minor), a cigarrinha verde (Empoasca sp.) e os ácaros branco (Polyphagotarsonemus latus), vermelho (Tetranychus spp.) Cristina S. Bastos

Jorge Braz Torres

cultivo do algodoeiro fora de época, denominado safrinha, é especialmente infestado por um grupo considerável de espécies de insetos e ácaros que se alimentam da seiva das plantas diretamente (através da sucção da seiva do xilema e floema) ou indiretamente (através da raspagem dos tecidos e subsequente ingestão da seiva extravasada). Muitas dessas espécies, além de depreciar a qualidade das plantas pelo ato de sucção da seiva, são transmissoras de viroses. Esse grupo de pragas é vulgarmente conhecido por sugador de seiva, apesar de nem todos os seus membros apresentarem a característica que denomina o grupo (hábito alimentar sugador). Assim, enquanto existem aqueles que realmente sugam a seiva (pulgões, moscas-brancas, cigarrinhas e cochonilhas), outros (tripes e ácaros) podem ser considerados como “falsos sugadores”, uma vez que se alimentam da seiva extravasada devido ao rompimento celular dos tecidos foliares. Os pulgões, as

Detalhe do adulto do ácaro vermelho

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Colônia de pulgões (Aphis gossypii)


Jorge Braz Torres

e rajado (Tetranychus urticae). De maneira geral, as plantas de algodão infestadas por essas espécies apresentam um ou mais dos aspectos característicos de suas injúrias: 1) “encarquilhamento” das folhas decorrente da injeção de toxinas e morte celular do tecido sugado; 2) conformação raquítica devido à extração da seiva; 3) encurtamento de entrenós; 4) brotações indesejáveis em decorrência da quebra de dominância apical causada pelo ataque nos pontos de crescimento; 5) aparecimento de mela devido à excreção do excesso de seiva sugada; 6) escurecimento de algumas partes das plantas pelo desenvolvimento da fumagina (fungo do gênero Capnodium que se desenvolve na mela); 7) altas infestações, uma vez que muitas dessas espécies se reproduzem assexuadamente ou por partenogênese (os indivíduos são clones das mães) e; 8) redução da eficiência dos inimigos naturais devido à presença de formigas associadas às pragas que as defendem da ação de outros inimigos naturais para se beneficiar do excesso de seiva ingerida e excretada sobre as plantas. Além dessas pragas sugadoras, tradicionalmente encontradas no algodoeiro durante o cultivo de verão e na safrinha, outras de hábito sugador tais como os percevejos pentatomídeos também têm ocasionado preocupa-

Folha de algodoeiro infestada com tripes, insetos transmissores de viroses

ção aos produtores, por serem pragas diretas, isto é, que sugam as estruturas reprodutivas (botões e maçãs), ocasionando abortamento de botões ou deformação de maçãs. Nesse caso, existe ainda o agravante da sucção de maçãs e sementes ser injúrias acumulativas, ou seja, uma vez impostas, não são eliminadas pelo controle do inseto ou recuperadas pelas plantas como ocorre no caso de uma desfolha, em que há reposição de tecido foliar

caso a planta tenha condições de continuar a crescer e produzir novas folhas. O cultivo realizado na safrinha pode ser especialmente infestado por essas pragas por uma série de razões. Merecem destaque os baixos índices pluviométricos constatados nessa época do ano (que vai de fevereiro/ março a julho/agosto, de acordo com a localidade). Esta condição, que ocorre associada às altas temperaturas, limita a ação de fungos


Fotos Jorge Braz Torres

Adulto da cigarrinha verde (Empoasca sp.)

Mosca-branca, outro inseto transmissor de viroses

entomopatogênicos, dependentes de alta umidade para desenvolver epizootias, além de favorecer a concentração da seiva da planta que se torna rica em aminoácidos e açúcares, fontes de alimento dos sugadores. Além disso, o cultivo simultâneo de outras espécies (tais como a soja) em áreas adjacentes, favorece a migração de algumas espécies para a lavoura algodoeira por ocasião da colheita, como é o caso dos percevejos pentatomídeos. O ciclo de crescimento inferior (em torno de três meses a quatro meses) aliado à condição fisiológica do algodoeiro por ocasião da colheita dessas espécies, possuindo botões e maçãs macias, predispõe a cultura à infestação por esses percevejos. Considerando que o transporte ou a absorção de água do solo pelas plantas ocorre a favor de um gradiente de concentração (o movimento se dá do local mais concentrado para o menos concentrado), plantas sujeitas ao estresse hídrico tendem a converter suas moléculas mais complexas (oligossacarídeos, polissacarídeos, proteínas) em moléculas menos complexas (dissacarídeos, monossacarídeos, aminoácidos) de tal forma a minimizar a perda de água para o solo, situação comum em condição de baixa pluviosidade e alta temperatura. Ao usar tal estratégia, os vegetais ficam mais atrativos aos insetos sugadores, uma vez que a seiva mais concentrada é também mais nutritiva. Além disso, as adubações não equilibradas com altas doses de fontes de nitrogênio e demais fertilizantes e depositadas na camada de 0cm a 10cm favorecem a concentração de nutrientes na área de absorção radicular. Essa maior concentração de fertilizantes próxima às raízes, quando associada à baixa pluviosidade, predispõe ao ajuste metabólico da planta de tal forma a não perder água. Adicionalmente as altas temperaturas, comuns nos cultivos safrinhas, permitem que

muitas espécies se desenvolvam mais rapidamente, o que aumenta o número de gerações e favorece a sobreposição dessas gerações em um mesmo intervalo de tempo considerado. Essas condições são especialmente benéficas ao desenvolvimento de insetos e ácaros cuja temperatura ótima para completar o ciclo biológico situa-se entre 25oC e 30oC. Há que se considerar ainda que a disponibilidade de recursos (alimento e esconderijo/ abrigo) para as pragas remanescentes do verão favorece sua manutenção nas lavouras, não havendo quebra de ciclos de crescimento dessas pragas. Durante a safrinha, muitas plantas cultivadas ou que não são hospedeiras dessas pragas tornam-se indisponíveis por completarem o seu ciclo e serem colhidas (como no caso de culturas de ciclo mais curto do que o algodoeiro) ou por se reproduzirem e morrerem (como no caso de plantas invasoras), fazendo com que o algodoeiro passe a ser o único hospedeiro abundante a ser utilizado pelas pragas nesta época.

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As alternativas para a manutenção das densidades populacionais dessas pragas abaixo do limiar de dano econômico incluem: a) emprego de plantas resistentes (através da adoção de cultivares de algodão com reconhecida resistência genética às viroses transmitidas pelos sugadores ou mesmo que apresentem alguma resistência a sua ação como praga). As cultivares BRS Safira, Cedro e Aroeira, por exemplo, são menos infestadas por sugadores do que as cultivares Ita-90, BRS Rubi e Verde, tendo essa menor infestação já sido confirmada em ensaios com e sem chance de escolha; b) incremento do controle biológico natural (através da adoção de práticas de controle que favoreçam o estabelecimento e a colonização das lavouras por inimigos naturais). Incluem pulverização de atrativos alimentares tais como leveduras e uso de produtos seletivos ou de menor impacto sobre os inimigos naturais; c) adoção de policultivo (que permite a oferta de alimento diversificado [pólen e néctar] e o abrigo aos inimigos naturais por maior tempo ou em diferentes épocas). Além disso, dependendo da espécie usada no policultivo, pode haver redução no ataque das pragas devido à menor suscetibilidade da cultura companheira (resistência associativa). O bicudo-do-algodoeiro, por exemplo, é uma praga que se alimenta do algodoeiro e de algumas outras malváceas. Assim, o uso de espécies gramíneas ou leguminosas em policultivo ou rotação de culturas com o algodoeiro pode contribuir para a redução da infestação da praga, uma vez que essas culturas não são hospedeiras do bicudo; d) emprego do controle químico somente quando a praga atingir o nível de controle. Nesse caso, deve-se adotar a amostragem sis-

Pragas sugadoras, quando atacam as estruturas reprodutivas, podem causar o abortamento de botões ou a deformação de maçãs

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Cristina S. Bastos

temática das lavouras (a cada três ou quatro dias) e sempre que as densidades justifiquem a adoção do controle químico, utilizar pesticidas que sejam ao mesmo tempo eficientes e seletivos. Medidas que podem ser empregadas para minimizar o problema advindo do ataque dessas pragas nessa época do ano incluem: suplementar a demanda hídrica através da irrigação, reduzir e/ou adequar as doses de adubo em relação àquelas usadas no cultivo de verão, rotacionar as áreas de cultivo com espécies que sejam reconhecidamente menos suscetíveis ao ataque de sugadores ou que tenham ciclo fenológico mais curto tais como o sorgo, o milheto etc, de forma a fazer com que a cultura sofra menos com os efeitos do clima. O mais importante é reconhecer que, apesar do clima de países tropicais como o Brasil possibilitar a ampliação da janela de cultivo (favorecendo a condução de várias safras em um mesmo ano agrícola), o plantio ininterrupto permite que várias gerações das pragas ocorram de maneira sucessiva. Isto acarreta sobreposição de gerações e, consequentemente, aumenta as chances de ocorrência de surtos populacionais e de redução da eficiência das

Planta de algodoeiro atacada por Planococcus minor, exibindo aspecto raquítico

práticas de controle, exigindo maior investimento no manejo de pragas. Portanto, é importante que o produtor esteja ciente do potencial de produtividade, custos e espécies de plantas que se constituem na melhor alternativa para as lavouras de verão e caso tome uma decisão de cultivo

na safrinha, que seja pautada no manejo global das pragas (que ocorrem ao longo do ano e entre as safras). C Cristina Schetino Bastos, UnB/FAV Jorge Braz Torres, UFRPE/DEPA




Luto

Fica o legado

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agronegócio brasileiro sofreu uma grande perda em outubro, com a morte do pesquisador Dario Minoru Hiromoto. Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas, foi o idealizador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), instituição que comandou nos últimos 16 anos. Em 1985 Hiromoto formou-se engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Cursou mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas e em 1990 obteve o título de mestre. Em 1996 tornou-se doutor em Genética e Melhoramento de Plantas pela mesma instituição. Hiromoto trabalhou de 1988 a 1989 como melhorista de soja e canade-açúcar no Centro de Tecnologia da Copersucar em Piracicaba, São Paulo. Por dez anos (1990 a 2000) atuou como melhorista de soja da Embrapa Soja, em Rondonópolis, Mato Grosso. Desde 1993 ocupava o cargo de diretorsuperintendente da Fundação MT. Hiromoto foi o idealizador da instituição. Nas viagens que fazia pelo estado de Mato Grosso, percebia a necessidade dos produtores rurais em obter respostas mais rápidas às suas necessidades. Sabia que era possível receberem soluções pontuais e na hora certa aos seus problemas. A partir disso, montou um projeto para a criação da Fundação MT. Juntamente com 23 produtores ru-

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rais, fundou a instituição em dezembro de 1993. Desde então, sempre esteve à frente da empresa. A história da instituição se mistura com a trajetória profissional de Hiromoto, que dedicou a vida para melhorar a de outras pessoas, através do desenvolvimento tecnológico. Hiromoto sempre se fez presente nas ações da empresa. Um dos projetos realizados foi o desenvolvimento de variedades adaptadas às condições do cerrado. Outro foi o desenvolvimento de variedades resistentes às doenças da região. Como líder da instituição, contribuiu para o desenvolvimento dos trabalhos em todos os setores que compõem a Fundação MT: Melhoramento Genético, Proteção de Plantas, Monitoramento e Adubação, Sistema de Qualidade em Sementes, Fitopatologia, Doenças e Pragas, Melhoramento do Algodão e Difusão Tecnológica. Cada um destes programas desenvolve pesquisa agrícola com o objetivo de atender às necessida-

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des pontuais e regionais dos produtores rurais. Uma das principais preocupações da instituição é possibilitar que a produção de Mato Grosso tenha suporte logístico acompanhado com o desenvolvimento da pesquisa e com as novas tecnologias com o uso de boas práticas agrícolas, responsabilidades social e ambiental. O desafio mais recente vencido pela Fundação MT, com a participação de Hiromoto, foi o desenvolvimento de variedades resistentes à ferrugem asiática, principal doença da sojicultura. Juntamente com a equipe de pesquisadores da Fundação MT e da Tropical Melhoramento Genético (TMG), esforçou-se para colocar com rapidez no mercado as variedades TMG 801 e TMG 803. A soja Inox é material inédito no mundo. Essa tecnologia gerará economia aos produtores mato-grossenses de mais de US$ 100 milhões, somente na aplicação de fungicidas. Produtores de Mato Grosso e de outros estados do país plantaram a C soja Inox na safra (2009/2010).



Pragas Dirceu Gassen

Vigilância contínua Práticas inadequadas, adotadas nas fazendas brasileiras, têm resultado em aumento preocupante de populações de nematoides no solo. Por isso, seu manejo precisa ser encarado como prática permanente, já que a negligência pode tornar inviável boa parte das áreas de cultivo de soja e de outras culturas

O

Filo Nematoda engloba aproximadamente 15 mil espécies conhecidas. Em diversidade (número de espécies) é superado pelos insetos, mas nenhum outro grupo de animais no planeta é tão numeroso quanto os nematoides. Ocupam praticamente todos os nichos ecológicos. São encontrados parasitando mamíferos, inclusive o homem, aves, peixes, répteis, anfíbios e artrópodes e uns ainda se alimentam de fungos e bactérias. Menos de 50% das espécies conhecidas completam seus ciclos de vida se alimentando em plantas. Ainda assim, muitas das espécies que se alimentam de plantas não são consideradas pragas, porquanto não comprometem a produtividade das culturas. Embora algumas espécies se alimentem em partes aéreas (caules, folhas, flores e sementes) a grande maioria se alimenta em partes subterrâneas. Nesses dois grupos são encontradas espécies danosas para as nossas culturas, mas, geralmente, as mais destrutivas são parasitas de raízes e tubérculos.

ESPÉCIES-CHAVE

Embora sejam conhecidas muitas espécies de fitonematoides no Brasil, as espécieschave para nossas culturas extensivas são

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relativamente poucas. Em soja, por exemplo, as espécies que comprometem a produção e a produtividade são: Meloidogyne javanica e M. incognita (nematoides de galha), Heterodera glycines (o nematoide de cisto da soja), Pratylenchus brachyurus (o nematoide das lesões radiculares) e Rotylenchulus reniformis (o nematoide reniforme). Para o milho, as espécies mencionadas dos nematoides de galha, P. brachyurus e P. zeae são as espécies-chave. Em casos esporádicos e muito localizados, espécies de Trichodorus e de Paratrichodorus também podem ser pragas importantes da cultura. No caso do algodoeiro, M. incognita raças 3 e 4, R. reniformis e P. brachyurus são as que comprometem o desenvolvimento e a produtividade da cultura no Brasil. Em outras regiões do mundo, as espécies-chave dessas culturas são mais numerosas. Recentemente, a cultura da cana-deaçúcar vem ocupando expressivas áreas de pastagens em diferentes regiões. Amostras de solo e raízes coletadas nessas pastagens, recebidas para análise no Laboratório de Nematologia da Unesp/FCAV, em Jaboticabal, São Paulo, têm revelado densidades de população de Pratylenchus brachyurus e P. zeae que seriam limitantes para o desenvolvimento de qualquer de nossas culturas. Esses nematoides, infectando

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as raízes das gramíneas forrageiras, impedem o vigoroso crescimento da pastagem. O pastoreio adicional dos animais faz com que a pastagem perca a competição com o mato.

O MANEJO

O solo é um componente vivo do ecossistema e os nematoides são uma fração da biota do solo. A ocorrência de danos causados por essas pragas indica que práticas inadequadas vêm sendo adotadas na fazenda, o que tem resultado em aumento das populações no solo. Para corrigi-las, é imperioso que medidas para a interrupção do ciclo de vida dessas pragas sejam adotadas. O manejo dos nematoides deve ser encarado como uma prática permanente na fazenda, em vez do que é usualmente praticado. Isto é, ignoram-se os nematoides, até enquanto os danos sejam tidos como toleráveis. Quando o impacto das perdas é sentido, então se procura uma solução. Essa postura é incompatível com os conceitos da Agricultura Sustentável e, as fazendas que não mudarem o seu enfoque, certamente estarão numa espiral que poderá tornar boa parte de suas áreas inviável para o cultivo da soja e de outras culturas. O enfoque sobre o manejo de nematoide em culturas anuais extensivas, tal como a soja, requer uma



Fotos Jaime Maia dos Santos

Lavouras de soja atacadas por Meloidogyne javanica. A) Reboleira de plantas cloróticas em Campo Novo dos Parecis/MT. B) e D) Raízes de plantas da reboleira exibindo galhas. C) Reboleira em Luis Eduardo Magalhães/BA, exibindo plantas mortas em conseqüência do efeito concomitante de um veranico

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A

D

C contínua vigilância e conhecimento do papel que essas pragas estão tendo no desempenho das culturas. Deve-se levar em consideração todo o sistema de produção. São de particular importância as culturas que usualmente fazem parte do sistema como culturas de sucessão e/ou rotação. Se a cultura em sucessão também for suscetível ao nematoide-chave da soja na área, certamente, a próxima safra sofrerá expressiva queda de produtividade. Isso porque a população do nematoide continuaria crescendo na cultura em sucessão, de modo que, na safra seguinte, a população inicial no solo estaria em uma densidade tal que compro-

meteria o crescimento da soja. Esse é o caso do milho em sucessão à soja nas áreas infestadas por Pratylenchus brachyurus ou pelos nematoi-

des de galha (Meloidogyne spp.). As espécies de Brachiaria não hospedam os nematoides de galha, mas todas são hospedeiras de Pratylenchus brachyurus. Por outro lado, se a cultura a seguir não for hospedeira, haverá redução da população do nematoide por não fornecer alimento para a praga ou, ainda, exercendo alguma outra ação deletéria. É indispensável, no entanto, que haja criterioso controle de plantas daninhas, mesmo quando a cultura é uma não hospedeira. Caso contrário, a eficiência dessa prática será seriamente comprometida, uma vez que essas plantas poderiam continuar hospedando os nematoides. A carência de culturas não hospedeiras e que sejam rentáveis para os produtores é uma das principais limitações. A utilização de cultivares resistentes, se disponíveis, é outra prática muito eficaz. No Brasil, no entanto, os produtores não têm utilizado esse recurso com o critério requerido. De fato, quando é lançada uma nova cultivar resistente, a comunidade de produtores, doravante, só planta esse material. Isso tem feito com que a pressão de seleção a torne ineficaz, em relativamente pouco tempo e, além disso, uma nova raça do nematoide é selecionada na área. A utilização de culturas que interrompem o ciclo de vida dos nematoides é, atualmente,

Heterodera glycines em soja. A) Reboleira de plantas cloróticas e atrofiadas. B) Fêmeas do nematoide parcialmente imersas nas raízes (setas). C) Fêmea globosa com a região anterior imersa na raiz e um macho vermiforme próximo (seta). D) Cistos do nematoide. E) Reboleiras (setas) do nematoide

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B

C

D

Caracteres morfológico e bioquímico suficientes para identificação de Meloidogyne javanica. A e B) Padrões perineais. C) Região labial do Macho. D) Fenótipo isoenzimático para esterase

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uma alternativa preferencial, pois traz benefícios adicionais, como a descompactação natural do solo, o fornecimento de palhada, a proteção do solo contra a perda excessiva de umidade, o aquecimento excessivo e o impacto das gotas da chuva - que desagrega o solo e o predispõe à erosão, promove a ciclagem de nutrientes, dinamiza a biota do solo e que, também, não hospedem outros patógenos como o agente causal do “mofo branco” (Sclerotinia sclerotiorum). A cultura de milheto da série ADR, a saber, a variedade ADR 300 ou o híbrido ADR 7010, não hospedam os nematoides-chave de nossas culturas anuais e proporcionam esses benefícios adicionais. Alem disso, ainda crescem em condições de déficit hídrico, onde nenhuma outra com tais características cresceria. Por conseguinte, esses materiais incluídos nos sistemas de produção de nossas culturas anuais podem promover o manejo dos nematoides com enormes vantagens em relação a outras práticas. Talhões inteiros ou partes deles, onde haja infestação dos nematoides, podem ser semeados com esses materiais na safrinha, na safra, para recuperação de áreas infestadas, ou em sobressemeadura. Na próxima safra de verão, a população dos nematoides remanescente não será suficientemente alta para impactar a

Amostras de solo e de raízes de diferentes regiões têm apresentado densidades de população de Pratylenchus brachyurus e de P. zeae que seriam limitantes para o desenvolvimento de qualquer cultura

produtividade da cultura. Os benefícios adicionais mencionados também trarão reflexos na produtividade da cultura da safra de verão subsequente. O milheto ADR 300 também pode ser utilizado com sucesso na recuperação de áreas de pastagens infestadas pelos nematoides. Essas manchas devem ser aradas e gradeadas para destruição do mato. Eventuais correções do solo podem ser praticadas e o milheto semeado a lanço. Essa cultura deverá ser mantida por um ano ou mais na área para proporcionar

a redução da população do nematoide, ainda que com o pastoreio dos animais, de modo que a população de Pratylenchus spp. seja consideravelmente reduzida no solo. Após esse período, volta-se a semear a Brachiaria sp. em mistura com Stylosanthes sp. Essa prática poder ser utilizada para recuperação de extensas áreas de pastagens C degradadas no Brasil. Jaime Maia dos Santos e Pedro Luiz Martins Soares, Unesp/FCAV


Marcas e Patentes

Proteção de ideias Esforços são empregados para resguardar, através de registro, a propriedade intelectual do trabalho de pesquisadores brasileiros

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esquisadores brasileiros são movidos fundamentalmente pela paixão. Fascinados pelo que fazem, sempre procuram soluções, levando sua contribuição espontaneamente à agricultura, o que acaba naturalmente beneficiando a população e o país. No entanto, por não estarem acostumados a registrar suas conquistas e feitos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), quase sempre perdem os benefícios da inovação da patente após a divulgação do trabalho científico. Agora, esses avanços poderão ser protegidos com o apoio da Basf, que busca gerar contínuo processo de inovação e geração de novos conceitos tanto na agricultura, como também em outras áreas do conhecimento. Para ser mais pontual, não passam pela cabeça da esmagadora maioria de nossos pesquisadores informações mais detalhadas a respeito da propriedade intelectual, o que de fato seria seu direito no momento da criação de uma ideia, do processo de um novo produto

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ou tecnologia agrícola, ou, ainda, de uma metodologia inovadora de produção. A Basf acredita e investe na ciência e isso se aplica à pesquisa. Integrada ao conceito de inovação aberta, denominada Open Innovation, sempre que há possibilidade, a empresa propõe parcerias com pesquisadores ou instituições de pesquisa para o desenvolvimento e criação de tecnologias e processos inéditos. Em nosso país, há muitas ideias inovadoras de instituições de pesquisas públicas e privadas sendo desenvolvidas, o que facilita ainda mais esse fomento e o direcionamento constante de recursos para este tema. Nossa proposta é dar a chance para aqueles que possuem ideias interessantes que possam torná-las perpetuadas, com o reconhecimento do seu direito de propriedade intelectual. Com o fornecimento de recursos, se necessário, o propósito será sempre ampliar a geração de inovações e, desta forma, realimentar o ciclo de criação técnico-científica do agronegócio.

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Na prática, é uma forma de reconhecimento e incentivo ao desenvolvimento tecnológico nacional do setor agrícola. Uma patente submetida e aprovada tem validade no INPI por 15 anos, podendo ser renovável por mais cinco. Ainda há uma alternativa, dependendo da circunstância, de o registro ser estendido a mais de 50 países que fazem parte de um grupo mundial que reconhece patentes recíprocas. O registro, bem como a divisão da patente entre pesquisadores de entidades e universidades, quer sejam públicas ou privadas, não oferece grande complexidade, o que à primeira vista poderia transparecer. A definição de procedimentos ou metodologias é estabelecida com as universidades e instituições de acordo com a sugestão da ideia ou criação. A patente, por exemplo, pode ser registrada em nome do autor, que, por sua vez, cede uma participação à universidade ou instituição por ele representada, sendo os percentuais


Fotos Basf

avaliados caso a caso. O recurso a ser investido pelo Open Innovation depende muito do número de potenciais propriedades intelectuais identificadas. Uma patente global demanda investimento em torno de + 300 mil no período de 20 anos, enquanto no Brasil, neste mesmo período, o valor é de R$ 120 mil (+ 46,7 mil), como taxa de manutenção anual. A remuneração do autor da ideia é feita de acordo com o objeto de estudo, conforme o valor que é agregado e sua aplicabilidade. A respectiva avaliação é elaborada por especialistas globais da Alemanha, especializados em propriedade industrial, e seguindo rigorosos critérios internacionais de análise para submissão de patentes. Um dos mais importantes indicadores de produção das universidades e dos órgãos de pesquisa científica é o sistema de pontuação pelo qual o pesquisador científico se vale para elevar sistematicamente seus índices de produtividade. Os trabalhos técnicos (publicação

de livros e artigos, pôsteres, apresentação em congressos e capítulos em obras internacionais) atestam a pesquisa elaborada, porém, ao apresentar os resultados esse conteúdo passa a ser de domínio público, perdendo-se automaticamente a possibilidade da propriedade intelectual. O comportamento amistoso do pesquisador brasileiro, por sinal, pode abrir a oportunidade de alguém tomar a ideia alheia, criar uma pequena variável e, a seguir, ardilosamente patenteá-la. Para colaborar, nossos cientistas não têm conhecimento mais profundo sobre seus direitos de propriedade intelectual e suas regras, portanto, podem recorrer muito mais a essa prerrogativa a partir de agora. Para se ter um comparativo, nos Estados Unidos as universidades se vangloriam do número registrado de patentes como indicador de produção científica. Hoje, estamos desenvolvendo a mentalidade da propriedade intelectual em instituições de pesquisa e universidades brasileiras. Muitas delas estão preparando e fomentando seus programas de reconhecimento de patentes. Atualmente, a Basf detém mais de 130 mil patentes ao redor do mundo e ainda está preenchendo requisições para mais de 1,2 mil neste ano. Nos últimos três anos, podemos citar 36 patentes registradas na América Latina em nome de inventores da empresa em nossa região. Embora alguns possam entender que a propriedade intelectual seja recente, na verdade ela foi introduzida na França durante a revolução industrial. Duas leis, uma de 1791, outra de 1793, estabeleceram os campos básicos dos direitos do inventor e do autor artista. Como desdobramento dessas leis, dom João VI concedeu alvará em 28 de abril de 1809 que é considerado a primeira lei brasileira de proteção aos inventores e a quarta do mundo (de-

Edson Begliomini, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovações Tecnológicas

pois da França, Inglaterra e Estados Unidos). A lei de 1827 que criou os cursos jurídicos no Brasil também foi uma das primeiras a tratar dos direitos do autor. Se fomos os pioneiros no direito da propriedade intelectual, podemos também nos tornar um país de vanguarda nessa área com iniciativas importantes como o Open Innovation, ou seja, cada vez mais abrir as portas para o caminho da inovação, protegendo assim a criatividade de nossos pesquisadores e criando barreiras tecnológicas neste mundo altamente C competitivo. Edson Begliomini,

gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovações Tecnológicas da Basf para a América Latina

A parceria entre empresas e pesquisadores ou instituições de pesquisa estimulam o desenvolvimento e criação de tecnologias e processos inéditos para o agronegócio

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Coluna ANPII

Produtividade crescente Depois de superar a marca de 4,8 mil kg/ha de soja, pesquisadores buscam quebrar novos recordes com o emprego da Fixação Biológica de Nitrogênio (FNB)

F

requentemente ocorrem duas perguntas sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): até que nível de produtividade da soja a via biológica será capaz de aportar o nitrogênio necessário? E até que estágio fenológico a planta é capaz de fixar o nutriente necessário para a leguminosa? Há mais de 20 anos, quando a produtividade da soja girava em torno de 1,8 mil kg/ha, já era questionada a possibilidade de se usar nitrogênio mineral para suprir a planta deste nutriente para que a produtividade chegasse aos

terá que se selecionar novas estirpes ou melhorar o desempenho das estirpes já existentes. Outra mudança pode ocorrer com o aumento da concentração dos inoculantes, alteração e aperfeiçoamento da forma de uso e, com isso, reduzir as perdas causadas por diversos fatores no momento da inoculação. Quanto à relação da fixação do nitrogênio com o ciclo da planta, também algumas “lendas” já foram desfeitas. Dizia-se que a fixação ocorria somente até o início da floração e que, daí para frente, seria necessário fornecer ureia ou sulfato de amônia para suprir o

inoculação complementares à inoculação das sementes, como aplicação em pulverização para aumentar o número de nódulos, são técnicas que consolidarão ainda mais a FBN como importante fator de produtividade. Outro ponto importante neste contexto é que todos os produtos registrados e recomendados para uso em sementes de leguminosas sejam compatíveis, pelo menos até certo nível, com as bactérias do inoculante. É importante que tenhamos fungicidas com princípios ativos, corantes e solventes que causem menor mortalidade das bactérias e micronutrientes à base de

Naturalmente que a pesquisa em fixação biológica do nitrogênio no Brasil terá que continuar em ritmo intenso, como tem ocorrido nos últimos 30 anos três mil kg/ha. Passou-se, então, a produzir acima de três mil kg/ha e a cultura pode ser cultivada sem nada de nitrogênio mineral, usando apenas o nitrogênio biológico. Mais tarde, novo questionamento para se chegar ao patamar acima de quatro mil/4,5 mil kg/ ha: não seria necessário um suplemento de nitrogênio mineral? Outra vez este índice foi ultrapassado e hoje são produzidos mais de 4,5 mil/kg de soja por hectare somente com o aporte de nitrogênio biológico. Em áreas experimentais e também no concurso de produtividade promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), no ano passado, foram colhidos acima de 4,8 mil kg/ha de soja sem o uso de nitrogênio mineral. Agora, novamente questiona-se a possibilidade de uso de nitrogênio mineral quando a soja ultrapassar os seis mil kg/ha. Logicamente que não se pode adivinhar o futuro, mas, com base na teoria e no quadro apresentado até agora, pode-se prever com grande margem de segurança a possibilidade de chegar aos seis mil kg/ha ou mais, somente com uso de Bradyrhizobium como provedor de nitrogênio. Provavelmente

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nitrogênio necessário para elevadas produtividades. Hoje se sabe que a fixação ocorre até estágios superiores à floração, com nódulos se renovando durante todo o ciclo e transferindo nitrogênio para a planta até quando houver necessidade. Assim, cai por terra a falsa ideia de que nitrogênio mineral na floração, ou um pouco antes, traria benefícios para a cultura da soja. Mas, esta afirmativa só é válida se a inoculação for bem feita e a nodulação for suficiente para uma elevada fixação. Entretanto, se a inoculação não for bem feita e a nodulação for deficiente, os níveis de nitrogênio necessários para elevadas produtividades poderão ficar deficientes. Naturalmente que a pesquisa em fixação biológica do nitrogênio no Brasil terá que continuar em ritmo intenso, como tem ocorrido nos últimos 30 anos, tornando o país líder mundial no tema. Novas estirpes mais eficientes, mais agressivas e com maior poder de competição poderão ser necessárias; novos tipos de inoculantes; outras formas de

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molibdênio e cobalto, com formulações amigáveis ao Bradyrhizobium e isentas de zinco, cobre e manganês, pois estes produtos são altamente prejudiciais às bactérias. Também não se pode esquecer que o melhoramento da soja deverá continuar sendo feito na ausência do nitrogênio mineral, usandose a bactéria fixadora como fonte de nitrogênio. Este é um dos fatores que, juntamente com a seleção de estirpes, mais têm contribuído para o sucesso da tecnologia. Assim, com trabalho correto em todos os elos da cadeia do inoculante, será possível mantermos esta posição invejável em nosso país (o que também ocorre na Argentina e no Uruguai), de se cultivar soja, em aproximadamente 50 milhões de hectares, somente com o uso de nitrogênio biológico como fonte C deste nutriente(N). Solon de Araujo, Diretor da ANPII



Coluna Agronegócios

O

O tesouro da superfície

Congresso Nacional discute a proposta de marco regulatório do petróleo do pré-sal. Está dada a pauta: discute-se se as reservas têm 30 bilhões de barris ou 90 bilhões de barris, se o sistema deve ser de partilha ou concessão, se os royalties ficam somente com os estados à beiramar ou se todos deveriam ser beneficiados. De repente, não existem mudanças climáticas globais. A discussão pós-Kyoto, que se inicia em dezembro, em Copenhagen, parece que foi adiada sine die. Nos esquecemos que o Brasil possui a matriz energética mais limpa do mundo e a obrigação de pugnar para ampliar este patrimônio. O emprego, a interiorização do desenvolvimento e as oportunidades democráticas de renda não são mais prioridades. Ninguém mais lembra que a sociedade global caminha para um câmbio paradigmático, em que as energias renováveis substituirão a energia fóssil e suja neste século. E que o Brasil está fadado a ser o protagonista desta mudança, a locomotiva do novo paradigma, seja através de energia eólica, solar ou de biomassa. Ótimo que Deus tenha colocado dezenas de bilhões de barris de petróleo no nosso submar. Porém, será que o mesmo Deus que provê é o que nos pregou uma peça? Parto da hipótese de que Deus é brasileiro e colocou o petróleo escondido lá no pré-sal, para ser descoberto no momento errado, mas nos deu solo fértil e extenso e clima tropical adequado para produzir muita biomassa. E também um povo com capacidade empresarial, mão de obra suficiente e adequada e criatividade para gerar tecnologia agrícola e industrial, para transformar solo e clima em alimentos e energia. Assim, em vez de discutirmos apenas a riqueza do petróleo do pré-sal, a sete mil metros de profundidade, por que não debatemos também a riqueza que podemos extrair da biomassa, inesgotável tesouro energético de superfície. A discussão que proponho é a seguinte: seria possível extrair a mesma quantidade de energia do pré-sal, a partir da agricultura de energia? Vou procurar demonstrar que é mais do que possível. Para demonstrar a tese, elaborei um modelo matemático para calcular quantos hectares precisaríamos cultivar para extrair a mesma quantidade de energia de biomassa, que obteríamos com a exploração do petróleo do pré-sal. Para tanto, aceito sem discussão

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as premissas que estão sendo colocadas pelas fontes oficiais.

Resultados

Se, em vez de extrair petróleo do pré-sal, a sociedade brasileira optasse por produzir a mesma energia integralmente de canade-açúcar, seriam necessários, no primeiro ano, 7,26 milhões de hectares (Mha) e no ano 51 - quando as reservas do pré-sal se esgotariam - 10,6Mha. A energia obtida desta área equivaleria a extrair dois milhões de barris/dia de petróleo (Mb/d) no primeiro ano e 9,03Mb/d no ano 51 (ano em que se esgotariam as reservas do pré-sal). Outro cenário estudado é uma combinação em que 50% da energia equivalente ao petróleo seriam obtidos de cana e 50% de dendê. Neste caso seriam necessários, inicialmente, 3,6Mha de cana e, no ano 51, seriam 5,3Mha, para obter energia equivalente à metade do petróleo; e, inicialmente, 9,5Mha de dendê e, ao final do período, 15,6Mha. E quais seriam as vantagens de produzir energia de biomassa, ao invés de extrair petróleo? 1) Do ponto de vista econômico e da arrecadação de impostos, as diferenças seriam pequenas. Comercialmente, estaríamos em linha com as tendências mundiais de uso de energia limpa, portanto um mercado ascendente nos próximos anos. 2) Evitaríamos a emissão de 43 bilhões de toneladas de gás carbônico, a diferença entre queimar petróleo ou biocombustíveis. Evitar este fabuloso volume de emissões representará um privilegiado patrimônio geopolítico para o país, que vale ouro em negociações internacionais, acordos sobre energia, comércio ou de outra ordem. 3) Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), 3 milhões de pessoas morrem, anualmente, devido à poluição atmosférica, parcela ponderável devido à queima de combustíveis fósseis. A cidade de São Paulo (SP) gasta, por ano, US$ 208 milhões com os efeitos da poluição atmosférica sobre a saúde humana. Quem vive em cidades poluídas como São Paulo tem a vida abreviada em 2,5 anos. 4) No tocante à geração de empregos, diversos estudos podem ser citados. O professor José Goldemberg, da USP (SP), demonstrou que, por unidade de energia pro-

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duzida, o bioetanol, comparado às cadeias de carvão mineral, hidroeletricidade e petróleo, necessita, respectivamente, de 38 vezes, 50 vezes e 152 vezes mais mão de obra. Usando energia de biomassa, seriam gerados mais de dois milhões de empregos diretos e quatro milhões indiretos. Enquanto isso, de acordo com o professor Goldemberg, o petróleo do pré-sal geraria apenas e tão somente 12 mil empregos diretos e 24 mil indiretos. 5) A cada cinco anos é necessário renovar o canavial. A cultura de dendê permite intercalar cultivos até o terceiro ano. Nesta condição, teríamos o bônus de aumentar a produção de alimentos em 10% a 15%, sem expandir a área cultivada, favorecendo, especialmente, a agricultura familiar. 6) Finalmente, estamos em 2061 e as reservas de petróleo do pré-sal acabaram. Porém, a demanda de energia no Brasil e no mundo continua crescendo. Como atendêla? No caso do petróleo, não sei responder, a não ser reafirmar que não acredito que a sociedade mundial continuará com a atitude suicida de empestar a atmosfera queimando energia suja, até a metade deste século. No caso da biomassa, continuaremos produzindo cada vez mais alimentos e mais energia, por séculos e séculos, porque se trata de uma fonte limpa e renovável. Como queríamos demonstrar, Deus é brasileiro: nós, brasileiros, é que precisamos entender os desígnios divinos. Não tenho a pretensão de que os números aqui apresentados sejam precisos, menos ainda exatos, pois trata-se de um modelo de simulação matemática. De resto, os números do présal também não são precisos ou exatos. Meu objetivo é mostrar que outro mundo é possível, um mundo com menos poluição, mais emprego, mais renda, mais justiça, provocando uma reflexão do leitor por um ângulo que não lhe havia sido apresentado anteriormente. Feliz do povo que pode escolher entre alternativas, quando o restante do mundo se bate, desesperadamente, por uma solução para a crise energética – mesmo que a solução signifique o aprofundamento do problema. C

Décio Luiz Gazzoni

Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br



Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze

brandalizze@uol.com.br

2010, mais um ano que o agronegócio irá salvar o Brasil Aproxima-se o final de mais um ano, que não foi dos melhores e nem dos piores para os produtores brasileiros. A safra foi boa, mas com perdas em grande parte do Sul devido à seca. Novamente o setor agropecuário brasileiro criou grande aporte para a balança comercial. Adiante vislumbra-se uma grande safra sendo plantada e desta forma em 2010 a perspectiva é de que o agronegócio brasileiro salve o Brasil mais uma vez, já que a política econômica conduzida pelo governo (que não controla os gastos públicos e não sabe controlar o câmbio) tem sido a doença da morte de uma boa faixa das indústrias exportadoras do Brasil. Somente neste ano a moeda americana se desvalorizou aproximadamente 25%, passando de R$ 2,33 no primeiro dia do ano para a faixa de R$ 1,73 no final de outubro. Desta forma o Brasil está se transformando em uma grande fazenda, com algumas minas de ferro pelo meio. Sinal de que somente as nossas commodities estão conseguindo sobreviver. Há boas expectativas para o setor em 2010 porque o mundo comprará mais grãos, com destaque para a China e o provável ingresso da Índia, que teve a maior seca dos últimos 80 anos e grandes perdas na produção local. Também é prevista a volta na exportação no setor de carnes, em ritmo acelerado, já que o mundo sinaliza para o aumento da demanda por proteína animal. O Brasil caminha para uma colheita recorde de soja e de produção de carnes. Lembrando que em 2010 haverá nova corrida para plantar cana, porque os preços estão disparando, com o açúcar praticamente dobrando neste ano no mercado internacional e o etanol interno em alta.

MILHO Reação tardia

A comercialização do milho neste ano teve vários fatores negativos. Um dos principais foi a boa safra do Mato Grosso, mostrada aos quatro cantos do mundo por alguns produtores, onde se apontou que estava sobrando milho, armazenado a céu aberto. Desta forma, criou-se uma onda negativa para cima das cotações, segurando as indicações em baixa até o mês de outubro. Como a demanda está em crescimento, observam-se as primeiras reações efetivas nas cotações, que devem permanecer nos próximos meses. O Brasil tem se consolidado como exportador e deverá continuar embarcando forte em 2010. SOJA

Safra recorde

A comercialização da soja, safra 08/09, está em fechamento e agora o que o mercado olha é a safra nova que está nos campos ou sendo plantada e ao que tudo indica alcançará níveis de 23 ou mais milhões de hectares. Desta forma, espera-se uma colheita na faixa de 61 milhões

de toneladas a 66 milhões de toneladas, ou seja, recorde histórico. Como os Estados Unidos têm vivido momentos desfavoráveis, devido ao atraso na safra e à colheita com problemas, abrem-se espaços importantes para negociações, onde foram fechados bons volumes futuros na faixa dos US$ 10,00 ou acima por bushel em Chicago para garantir níveis lucrativos em 2010. Como teremos forte demanda interna também, devido ao biodiesel que está oficializado e passa a ser o B5 (mistura de 5% de biodiesel no diesel), o consumo saltará para 2,4 bilhões de litros em 2010 contra aproximadamente 1,8 bilhão de litros neste ano. Isso promoverá a demanda de mais ou menos três milhões de litros de óleo vegetal, que na sua maior parte será de soja, criando um forte consumo interno. O petróleo voltou a trabalhar na faixa dos US$ 80 e acima, o que favorece o setor de biocombustíveis.

porque os preços foram baixos e a liquidez fraca. A maior parte não teve ganhos com a cultura e a resposta veio nesta primeira safra, com queda forte na área plantada. Agora, para complicar ainda mais, estamos vivendo com excesso de chuvas sobre a cultura e perdas na produtividade e qualidade. Com isso caminhamos para um bom ano à frente e podendo ter ajustes positivos nos indicativos em novembro. ARROZ

Reação a conta-gotas

O mercado do arroz foi prejudicado pela gripe suína e reagiu pouco nesta entressafra, que parece estar começando agora, com o final do vencimento dos contratos de opções exercidas pelos produtores. Há espaço para crescimento das cotações de agora em diante. O novo plantio avança no Rio Grande do Sul, com boas expectativas para a safra local e também para Santa Catarina. Enquanto isso, FEIJÃO para as demais regiões do país teremos um quadro de incógnita e certamente grande necessidade de Safra menor e clima pior A comercialização da safra de feijão deste importações em 2010. Bom para os produtores que ano não satisfez a maior parte dos produtores, investem na cultura.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado se manteve lento, com os moinhos empurrando as compras para frente ou somente “levando das mãos para boca”, deixando para o governo dar liquidez aos produtores e boa parte pressionando para que as importações de fora do Mercosul fossem liberadas da taxa de importação, reivindicação que prejudicaria ainda mais a produção nacional se tivesse sido aceita pelo Ministério da Agricultura. Com indicativos entre R$ 380,00 e R$ 480,00 por tonelada, seguia com poucos negócios. Com o governo entrando agora para apoiar via compras oficiais no preço mínimo. Em 2010 a Argentina não terá trigo para nos vender e o quadro tende a ser diferente, certamente a favor dos produtores. ALGODÃO - Os negócios estiveram atrelados a pregões do governo e mesmo o ganho ocorrido no mercado internacional foi consumido pela forte desvalorização do real. Desta forma, observa-se forte migração de áreas para a soja. Com melhor expectativa para o setor de 2010 em diante, principalmente para os produtores estruturados. Tornou-se uma cultura de gigantes. EUA - A safra 09/10 teve problemas e a colheita também ocorreu com grande atraso. Com isso, os números finais ainda estão indefinidos e possivelmente serão mais otimistas que a realidade mostrada nos campos, devendo trazer apoio em médio prazo.

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CHINA - As boas notícias vêm da economia, que continua crescendo, com avanço de 7,9% no segundo trimestre para 8,9% no terceiro trimestre. Há expectativas de que neste fechamento do ano os números avancem para a casa dos 10% e mantenham estes níveis e acima em 2010. Desta forma os números de importação de soja tendem a crescer forte de novembro em diante. ÍNDIA - Clima causou perdas grandes e o país tende a diminuir as exportações, podendo ter que entrar no mercado comprando alimentos. Segue-se apontando grandes perdas nas safras de açúcar e arroz, este indicado na região que não chega aos 70 milhões de toneladas, contra 100 milhões de toneladas de arroz beneficiado que estavam sendo esperadas inicialmente. O USDA ainda não absorveu estes números que circulam por empresas internacionais. ARGENTINA - Com indicativo que vem com recorde de plantio de soja nesta safra e chegue a 19 milhões de hectares contra pouco mais de 17,5 da safra anterior. Mesmo assim não é garantia que toda esta área irá resultar em supersafra, porque as notícias que estão rodando pelos produtores apontam que a maior parte das sementes que existem para o plantio tem germinação baixa de 70%, quando deveriam estar na casa dos 95% acima e isso compromete a produtividade. Assim se aponta para colher 50 milhões de toneladas.

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