Cultivar 127

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 127 • Dezembro 2009 / Janeiro 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Cada vez mais cedo..............................22

Luis Henrique Carregal

Saiba como enfrentar a ferrugem asiática, doença que chegou de forma antecipada às lavouras de soja nesta safra

Avanço dos nematoides...............12 Sem vacilar...............................16 Olho clínico..............................28 Com ataques intensificados, pragas crescem em importância na cultura do milho

Os danos da broca-da-raiz, praga responsável por banir o algodão de determinadas áreas

Índice

Expediente

Diretas

06

Densidade correta em milho

08

Nematoides em milho

12

Broca-da-raiz em algodão

16

Eventos - Encontro do feijão

19

Ferrugem asiática em soja

22

Doenças do arroz

28

Pragas de solo em cana

32

Maturação antecipada em cana

36

Informe - Dupont

39

Coluna ANPII

40

Coluna Agronegócios

41

Mercado Agrícola

Doenças impulsionadas pelo fenômeno El Niño em arroz

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Janice Ebel

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia • Revisão

Aline Partzsch de Almeida

GRÁFICA • Impressão

CIRCULAÇÃO • Coordenação

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• Assinaturas

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Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Diretor Newton Peter Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Redação: • Geral 3028.2060 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




Diretas Meloidogyne incognita

Novos rumos

O Grupo Agroceres, formado por cinco empresas no segmento de agronegócios, anunciou mudanças em sua direção. A presidência do grupo, ocupada desde 1996 pelo engenheiro agrônomo Urbano Campos Ribeiral, está a cargo do também agrônomo e mestre em Zootecnia, Fernando Antonio Pereira, que atua na companhia desde 1983.

Durante o II Congressso Internacional de Nematologia Tropical, o estudante de Agronomia Zieglenristen Calábria, do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), apresentou o pôster “Eficiência do tratamento de Sementes de Algodoeiro no Manejo de Meloidogyne Incognita Raça 4. O trabalho foi orientado pela pesquisadora Rosangela Silva. Rosangela Silva e Zieglenristen Calábria

Pratylenchus brachyurus

Manejo de Pratylenchus brachyurus no Brasil com foco na cultura da Soja e Manejo de Pratylenchus brachyurus em Algodoeiro no Brasil foram os dois trabalhos apresentados no II Congresso Internacional de Nematologia Tropical pelo pesquisador Mario Inomoto, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq). As perdas causadas pelos nematoides, de acordo com Inomoto, se dão na limitação da produtividade da lavoura e queda de rendimento. “Por isso o produtor tem que saber qual decisão tomar para não ter dor de cabeça Mario Inomoto com os nematoides”, lembrou.

Meloidogyne javanica

A estudante de Agronomia, Anmyna Oliveira, do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag), obteve o primeiro lugar no II Congresso Internacional de Nematologia Tropical com a apresentação do pôster “Efeito de Densidades Populacionais de Meloidogyne javanica sobre plantas de Tectona grandis (essência florestal de origem asiática com alto valor comercial).

Nematologia Tropical

O pesquisador Guilherme Asmus, da Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, Mato Grosso do Sul, apresentou no II Congresso Internacional de Nematologia Tropical o trabalho Nematoides do Algodoeiro no Brasil: Impacto Guilherme Asmus Econômico e Manejo.

Presença

O gerente de Marketing Clientes OTO, da Syngenta, Giovani Jenner de Assunção, participou da reunião dos Grandes Produtores de Feijão (GPF), em novembro, em Brasília. “Através das reuniões, os produtores se atualizam e têm acesso a técnicas para aprimorar a produção, o que se reflete na melhoria da qualidade dos seus produtos e no aumento da produtividade”, ressaltou

Giovani Jenner de Assunção

Marketing Brasil

Anmyna Oliveira

O II Congresso Internacional de Nematologia Tropical foi uma boa oportunidade para reciclar conhecimento, agregar novas informações e conceitos. O evento é um ponto de encontro de experts, afirma Regina Carneiro, presidente do Congresso. Para Maria de Fátima Muniz, vice-presidente do evento, o intercâmbio entre pesquisadores nacionais e internacionais agrega metodologias que certamente vão somar à Nematologia novas alternativas Regina Carneiro e Fátima Muniz de ação.

06

Manejo e economia

Urbano Ribeiral e Fernando Pereira

Oswaldo Marques é o novo gerente de Marketing Brasil de Cultivos Extensivos da Basf. Nascido em Santos, São Paulo, completou a graduação em Engenharia Agronômica em Minas Gerais, pela Universidade Federal de Lavras, onde também realizou mestrado e doutorado em Genética e Melhora de Plantas. Começou sua carreira em 1997 como geneticista e ingressou na Basf, em 2006, como gerente de Oswaldo Marques Tratamento de Sementes Brasil.

Casa nova

Alessandra Fajardo assumiu o cargo de gerente de Produtos Herbicidas da Bayer CropScience. Com nove anos de experiência na área de biotecnologia, chega à empresa com o desafio de contribuir para o lançamento de tecnologias em herbicidas. Graduada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) em Engenharia Agronômica, também possui especialização em Marketing e em Gerenciamento Estratégico de Negócios pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Seu cargo responde diretamente a Fábio Del Cistia, gerente de Portfólios Herbicidas e Inseticidas.

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Alessandra Fajardo



Milho Fotos Dirceu Gassen

Densidade correta Com o objetivo de elevar a produtividade da lavoura muitos produtores aumentam a densidade por área. Porém, o número ideal de plantas por hectare é dependente de fatores como características do genótipo, quantidade da radiação solar e disponibilidade de água e de nutrientes, já que o rendimento de grãos de milho sofre alterações de acordo com o grau de competição

N

os últimos anos a cultura do milho no Brasil vem passando por importantes mudanças no manejo e tratos culturais, o que tem resultado em aumentos significativos na produtividade de grãos. Entre essas mudanças destacam-se a adoção de sementes de cultivares com maior potencial de produção, alterações no espaçamento e na densidade de semeadura de acordo com as características das cultivares e melhoria na qualidade dos solos e na fertilização. Entre as formas existentes de manipulação do arranjo espacial, a densidade de plantas é a que tem maior interferência na produção de milho, já que pequenas alterações na população implicam em modificações relativamente grandes na produtividade de grãos. Assim, a produtividade de grãos por unidade de área aumenta com a elevação na densidade de plantas até que o incremento, em razão do aumento de plantas, seja inferior ao declínio do rendimento médio por planta (Tollenaar & Wu, 1999). A densidade ótima é determinada pela cultivar, pelo ambiente e pelo manejo (Silva et al., 2003). Os principais tipos de híbridos disponíveis aos agricultores são os simples (HS), resultantes do cruzamento de duas linhagens endogâmicas; o híbrido triplo (HT), que é obtido do cruzamento de um híbrido simples com uma terceira linhagem, e o híbrido duplo (HD), obtido pelo cruzamento de dois híbridos simples. Os híbridos simples, em comparação com os demais, são mais produtivos, apresentam grande uniformidade de plantas e espigas. Comparando uniformidade, estabilidade e produtividade de híbridos simples, triplos e duplos, geralmente a produtividade e a uni-

Híbrido duplo (HD): resultado do cruzamento de dois híbridos simples

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formidade são maiores nos híbridos simples, seguidos pelos triplos e duplos. Em termos de estabilidade os duplos são mais estáveis, seguidos dos triplos e simples. Tal resultado é explicado pelo fato de os HD constituírem uma mistura de genótipos. (Allard & Bradshaw, 1964). Na cultura do milho o número de plantas tem grande influência no rendimento porque o milho não perfilha, como no caso de outras gramíneas. Esta relação entre produtividade e número de plantas/área é complexa. O aumento da densidade de plantas até determinado limite é uma técnica usada com a finalidade de elevar o rendimento de grãos da cultura do milho, porém, o número ideal de plantas por hectare é variável, uma vez que a planta de milho altera o rendimento de grãos de acordo com o grau de competição intraespecífica e interespecífica, proporcionado pelas diferentes densidades de plantas. A capacidade de resposta à densidade de plantas depende das características do genótipo, da quantidade da radiação solar e da disponibilidade de água e de nutrientes (Peixoto et al, 1996). A alta tecnologia é uma característica de destaque na cultura do milho no Brasil e, a cada ano, são desenvolvidos e lançados no mercado vários novos híbridos. Entretanto,

Os híbridos simples, em comparação com os demais, são mais produtivos e com grande uniformidade de plantas

praticamente não são feitos estudos comparativos de produtividade quando os diferentes genótipos são submetidos a diferentes níveis de competição. Esta informação torna-se importante na hora de recomendação dos diferentes tipos de híbridos.

Em trabalho realizado pelo Programa de Genética e Melhoramento de Plantas no Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), ficou constatado que quanto maior a densidade se obtém mais produtividade de espigas despalhadas,


Tabela 1 – Ranqueamento dos 8 Melhores Tratamentos para Peso de Espigas Despalhadas (PED - Kg/ ha) nas densidades de 40.000, 60.000 e 80.000 Plantas/ha 40.000 Plantas/ha Tratamento PED (Kg/ha) 47 (HD H3xH5) 8956,22 19 (HT L2xH9) 9197,00 46 (HD H2xH10) 9446,22 36 (HT L5xH2) 10181,33 64 (Test.DKB747) 10186,11 58 (Test.DKD199) 10506,33 7 (HS L2xL5) 10570,88 60 (Test.P30F87) 10960,11

BRS 244 RR (suscetível) PED (Kg/ha) Tratamento 8961,77 7 (HS L2xL5) 9219,77 42 (HD H1xH9) 9445,77 38 (HT L5xH5) 9627,55 59 (Test.AG5011) 10345,77 64 (Test.DKB747) 10432,22 58 (Test.DKD199) 11185,44 56 (Test.AG8060) 12712,55 60 (Test.P30F87)

Fotos Dirceu Gassen

o que era de se esperar, uma vez que se aumenta a concentração de plantas na área. Uma provável explicação para este fato é que o tamanho das espigas tende a diminuir com o plantio mais denso devido a uma maior competição entre as plantas, que fica compensada pelo maior número de espigas por hectare. Entretanto, em cada densidade podem ser identificados genótipos promissores (Tabela 1). Vale ressaltar que todas as cultivares utilizadas no trabalho (HS, HD e HT) foram obtidas utilizando o mesmo grupo de linhagens pertencentes ao Programa de Ge-

BRS 244 RR (suscetível) PED (Kg/ha) Tratamento 8961,77 7 (HS L2xL5) 9219,77 42 (HD H1xH9) 9445,77 38 (HT L5xH5) 9627,55 59 (Test.AG5011) 10345,77 64 (Test.DKB747) 10432,22 58 (Test.DKD199) 11185,44 56 (Test.AG8060) 12712,55 60 (Test.P30F87)

nética e Melhoramento de Plantas da Ufla, tornando possível analisar o comportamento das cultivares nas diferentes densidades de plantio. Já as testemunhas utilizadas, como DKB747, DKB199, P30F87, AG5011, AG8060 e DKB350 são híbridos de diversas empresas, ou seja, as linhagens empregadas para obtenção desses híbridos são diferentes, o que não permite comparar o desempenho nas diferentes densidades de plantio. A literatura diz que os híbridos duplos de milho são mais estáveis que os simples para a produtividade de grãos (Guillen-Portal et al, 2003), entretanto, podem ser identifica-

Tabela 2 – Ranqueamento dos melhores tratamentos para Produtividade de Espigas Despalhadas (PED – Kg/ha) nos três locais e nas três densidades Tratamento 61 (DKB 350) 59 (AG 5011) 7 (HS L2 X L5) 58 (DKB 199) 64 (DKB 747) 56 (Test. AG 8060) 60 (P30F87)

PED (Kg./ha) 9261,25 9382,25 10127,00 10541,85 10694,18 11303,39 11305,66

dos híbridos simples tão estáveis quanto os duplos para produtividade (Carvalho et al, 2005; Machado, 2007). Tal fato pode ser observado na Tabela 2. Nas condições brasileiras, a comparação entre híbridos com diferentes estruturas genéticas é particularmente importante, devido às variadas condições ambientais nas quais o milho é cultivado e, principalmente, porque, no Brasil, os diferentes tipos de híbridos disponíveis são ainda bastante utilizados pelos agricultores. Deste modo, pesquisas com o objetivo de avaliar o comportamento agronômico de diferentes cultivares de milho em diferentes densidades de semeadura são necessárias e podem fornecer valiosas informações aos produtores. Vale ressaltar que há escassez de informações a esse respeito, especificamente C na região sul de Minas Gerais. Pedro Henrique A. Diniz Santos, Ufla

Densidade de semeadura é o tema discutido por Santos

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Milho Mario Ionomoto

Avanço preocupante Com ataques cada vez mais frequentes ao sistema radicular das plantas, nematoides tendem a se tornar limitantes também em milho. De modo geral, a cultura é utilizada em sistemas de rotação e sucessão para facilitar o manejo dessas pragas. Porém, é preciso que se leve em conta seu efeito sobre os vermes presentes na área, já que pode servir-lhes de hospedeira

O

milho é cultivado em todo o Brasil, inclusive em locais muito infestados por nematoides fitoparasitas. No entanto, poucos agricultores conhecem a importância desses vermes para a cultura, além de, no País, os estudos sobre o assunto serem muito escassos. O objetivo deste artigo é discutir a importância destas pragas no milho, a partir do conhecimento atual sobre perdas verificadas no Brasil,e avançar na reflexão sobre a perspectiva de se tornar agente limitante à cultura nos próximos anos. Outro enfoque importante é o papel do milho no manejo de nematoides em outras culturas, já que é utilizado em rotação ou sucessão tanto com culturas extensivas – soja e algodão principalmente -, como com olerícolas - tais como batata e cenoura.

Perdas

Os nematoides mais importantes em mi-

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lho são os das lesões radiculares (Pratylenchus zeae e P. brachyurus) e os das galhas radiculares (Meloidogyne incognita e M. javanica). São espécies que causam perdas elevadas a culturas como arroz, soja, feijão e algodão, mas poucas vezes provocam preocupação no milho, provavelmente pela tolerância conferida pelo seu sistema radicular muito extenso e vigoroso. Porém, tolerância é um atributo que apresenta um limite, que parece próximo de ser atingido no milho. Hoje, devido ao aumento da densidade das espécies mais daninhas à cultura no País (P. zeae e M. incognita), os episódios de perdas causadas por nematoides têm ocorrido com frequência cada vez maior. O nematoide com maior potencial de causar perdas à cultura é P. zeae. É uma espécie de nematoide das lesões que, embora polífago, tem grande preferência por plantas da família Poaceae (poáceas ou gramíneas). Nos estados das regiões Sul e Sudeste do país,

existem outros nematoides fitoparasitas mais comuns e abundantes em milho, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, mas nenhum outro é capaz de causar danos tão evidentes à cultura. Temperaturas elevadas (25oC a 30oC), solos médio-arenosos (15% a 25% de argila) e sucessões com plantas hospedeiras favoráveis estão associados a elevadas densidades de P. zeae e são condições predisponentes para a ocorrência de perdas. As principais plantas hospedeiras de P. zeae são milho, sorgo, cana-de-açúcar, arroz, centeio, colonião, braquiárias, capim-jaraguá, capim-colchão e capim-pé-de-galinha. Após a colheita do milho, portanto, o nematoide pode sobreviver em raízes ainda não decompostas da cultura, em plantas voluntárias ou em invasoras, como capim-colchão, capim-marmelada e capim-péde-galinha. Se não houver nenhuma fonte de alimento, P. zeae passa a depender das reservas alimentares contidas no intestino, o que possi-

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Leandro Martinho

te pouco pronunciados e de difícil visualização, mas eventualmente muito grandes, com até quatro vezes o diâmetro normal da raiz. Esses sintomas são chamados galhas e o nematoide causador provavelmente é Meloidogyne incognita. É possível ainda ocorrer a infestação conjunta por P. zeae e M. incognita, situação onde se verificam tanto lesões como galhas.

Manejo de P. zeae e M. incognita

O arranjo entre plantas da cultura pode influenciar no crescimento das espécies daninhas

São muito poucas as informações disponíveis sobre o assunto. De fato, há carência de trabalhos experimentais a respeito do controle dos nematoides em milho e, além disso, os poucos resultados já produzidos não foram utilizados para aplicação em escala comercial. Teoricamente, o manejo de P. zeae poderia ser realizado com segurança e eficácia empregando-se como método principal a rotação de culturas. Realmente, existem várias opções de plantas não hospedeiras e as principais são soja, feijão, algodão, amendoim e girassol. Há informações de que algumas gramíneas cultivadas, como trigo e cevada, são más hospedeiras de P. zeae. Não se conhece trabalhos de seleção comercial de cultivares ou híbridos de milho visando à resistência a P. zeae, mas já foi comprovado que algumas cultivares são mais resistentes que outras. Como são informações obtidas há quase 30 anos, as cultivares (Guarani, Palha Roxa, IAC Maya XIX e IAC-1 XVIII) e híbridos (IAC Phoenyx 1918 e IAC Hs1228) identificadas como resistentes somente teriam valor atualmente como fontes de resistência. O manejo de M. incognita é muito mais difícil que o de P. zeae. No caso de rotação de culturas, há poucas plantas que podem ser utilizadas para rotação, destacando-se algumas braquiárias (Brachiaria brizantha, B. ruziziensis e B. decumbens), o capim-colonião,

Reboleiras em lavouras de milho, de plantas com crescimento anormal, podem ser indicativos da presença de nematoides na área de plantio. No detalhe sintomas de Pratylenchus zeae

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entressafra. As condições para que a densidade populacional de M. incógnita possa aumentar são: temperaturas elevadas (25oC e 30oC), solos arenosos (<15% de argila) e com pouca matéria orgânica e monocultura de milho (ou sucessões de culturas hospedeiras, como por exemplo: algodão-milho, feijão-milho, batatamilho e cenoura-milho). As perdas podem ser causadas por M. incognita se tais condições estiverem associadas a episódios desfavoráveis ao crescimento do milho, pois essa planta apresenta elevada tolerância aos nematoides das galhas, porém é muito dependente de seu vigor vegetativo. Assim, o cultivo com baixos níveis tecnológicos está mais predisposto a sofrer perdas na presença de M. incognita.

Sintomas

Os sintomas ocorrem irregularmente, formando reboleiras, já que a distribuição dos nematoides é muito irregular. As plantas apresentam crescimento anormal, que se destacam entre as demais. São enfezadas, ou seja, possuem altura, diâmetro do colmo e tamanho das folhas menores que o das plantas normais. Em situações mais graves, com densidades muito elevadas, as folhas ficam bastante amareladas e as plantas são tão pequenas que não chegam nem a produzir espigas, ou quando produzem não possuem grãos. Examinando-se as plantas infestadas, ou seja, de dentro das reboleiras, é possível que as raízes sejam menores que das plantas fora das reboleiras. Além disso, as raízes podem apresentar manchas escuras e deprimidas (= lesões) e muitas vezes estão amputadas. Esses sintomas são típicos de P. zeae e de outros nematoides com mesmo modo de parasitismo migrador endoparasita de raízes. Por outro lado, ao invés das lesões podem ocorrer engrossamentos radiculares, geralmen-

Cultivar

bilita sua sobrevivência de até seis meses, dependendo da temperatura e umidade do solo e da população de inimigos naturais. Como se trata de uma espécie cuja atividade é mais intensa em clima tropical, solos frios e secos aumentam sua capacidade de sobrevivência, exatamente porque nessas condições gastam menos energia. Não há estudos no Brasil sobre as densidades populacionais de P. zeae que causam perdas ao milho. Assim, por hora, serão utilizados números obtidos nos Estados Unidos, país onde se considera que há riscos de perdas na cultura a partir da densidade de 1.000 indivíduos por grama de raízes, em avaliações feitas em plantas de 60 dias a 90 dias. Em locais em que se semeia milho em plantio convencional é possível prever perdas com base na densidade populacional de P. zeae no final do ciclo cultural anterior. Segundo informações correntes nos Estados Unidos, densidades maiores que 200 indivíduos (juvenis + adultos de P. zeae) por 200cm3 de solo, no ciclo da cultura anterior, representam moderado risco ao milho. Já perdas causadas pelos nematoides das galhas à cultura do milho são pouco comuns e, quando ocorrem no Brasil, são causados por M. incognita. Nos Estados Unidos, verificouse experimentalmente que em densidades muito elevadas, são necessários no mínimo na faixa de 400 indivíduos a 800 indivíduos (juvenis de segundo estádio) por 200 cm3 de solo, para que Meloidogyne spp. cause danos ao crescimento das plantas. Em áreas sob plantio convencional, estima-se que, para ocorrerem tais densidades na época de semeadura do milho, a população de Meloidogyne spp. no final do ciclo cultural anterior seja de pelo menos 2 mil indivíduos (somatório de ovos e juvenis) por 200 cm3 de solo, considerandose a mortalidade de 60% a 75% durante a

Mario Inomoto alerta sobre os riscos de se negligenciar a importância de nematoides em milho

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Fotos Mario Ionomoto

e Paratrichodorus minor são outros nematoides que ocorrem em milho no Brasil porém, até hoje, não há provas de que os dois primeiros causem perdas à cultura. A última espécie é considerada potencialmente importante para milho, devido a um sintoma chamado raízes em coto, que ocasionalmente se verifica no campo.

Influência do milho no manejo de nematoides

O milho exerce importante influência no manejo de nematoides em outras culturas, pois é frequentemente utilizada como rotação ou sucessão. Por não ser hospedeiro do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis), o milho contribui positivamente no manejo de ambos os nematoides em soja e do nematoide reniforme em algodão. Seu uso em rotação com soja e batata pode ser recomendado com restrições para o manejo de Meloidogyne javanica, pois há híbridos de milho resistentes à essa espécie de nematoide das galhas. Seu uso deve ser evitado em locais infestados por M. incognita, pois pode sofrer perdas e, mais importante, por causar a elevação da densidade dessa espécie, ser responsável por elevadas perdas em feijão, batata, cenoura e algodão. Também não é indicado em locais

Galhas pequenas causadas por Meloidogyne incognita em raízes de milho

o amendoim e algumas crotalárias (Crotalaria spectabilis e C. breviflora). Vários estudos já foram feitos sobre resistência de milho a M. Incognita. Esses trabalhos demostram que, embora haja algumas linhagens muito resistentes, atualmente as cultivares e híbridos são suscetíveis ou no máximo apresentam baixa resistência. Além de P. zeae, outro nematoide das lesões, P. brachyurus, é muito comum em milho no Brasil. Nos estados das regiões Sul e Sudeste, há amplo predomínio de P. zeae sobre P. brachyurus nessa cultura. Em locais onde ocorrem as duas espécies, P. zeae acaba prevalecendo porque se multiplica mais intensamente em milho que P. brachyurus. No estado da Bahia, porém, o milho e o algodão muitas vezes são culturas que se sucedem no mesmo ano e influenciam a relação entre P. zeae e P. brachyurus. Durante o ciclo do milho, a densidade de P. zeae aumenta em comparação a P. brachyurus, porém durante o ciclo do algodão ocorre o contrário, pois o algodão é bom hospedeiro de P. brachyurus e não hospeda P. zeae. Por razões não conhecidas, nos estados de Mato Grosso e Goiás, é muito comum plantações de milho tendo P. brachyurus como única espécie de nematoide das lesões. As perdas causadas por P. brachyurus na cultura não foram quantificadas, porém é provável que sejam menores que as de P. zeae, pois se reproduz menos que esta espécie. De maneira similar ao observado para os nematoides das lesões, duas espécies das galhas são comuns em milho. Uma delas, já citada, é M. incognita, que ocasionalmente causa perdas à cultura. A outra é M. javanica, que também é muito comum, mas aparentemente não provoca perdas, pois apresenta baixa capacidade de reprodução em milho. Durante um ciclo da cultura do milho, a densidade de M. incognita cresce 20x a 40x, enquanto a de M. javanica somente 3x a 6x. Além disso, entre 20% e 30% das cultivares e dos híbridos de milho são resistentes a M. javanica. Helicotylenchus spp., Mesocriconema spp.

Considerações finais

Os nematoides não estão no rol das principais preocupações dos produtores de milho, o que traz consequências perigosas, como desatenção a medidas para evitar as condições predisponentes para a ocorrência de perdas. Em outro nível, o melhoramento genético, cujos resultados produzem frutos depois de muitos anos, não tem sido acionado para contribuir no manejo dos nematoides do milho. Dentro de outra perspectiva, é da maior importância que a escolha do milho como cultura de sucessão ou rotação leve em conta seu efeito sobre os nematoides presentes no local, pois tanto pode exercer um papel positivo no manejo, reduzindo a densidade das espécies para os quais não é hospedeiro, ou francamente negativo, elevando a densidade das espécies para os quais é bom hospedeiro. C Mario Massayuki Inomoto, Esalq

Leandro Martinho

Outros nematoides

infestados por P. zeae e P. brachyurus, devido às perdas que podem ser causadas ao próprio milho, principalmente pela primeira espécie, e a culturas que sucedem ao milho, como arroz (sensível a P. zeae), feijão e soja (ambos sensíveis a P. brachyurus).

Plantas de milho de vários tamanhos atacadas pelo nematoide Pratylenchus zeae

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Algodão Fotos Germison Vital Tomquelski

Sem vacilar Produtores de algodão precisam estar atentos à broca-da-raiz, praga com poder de fogo para banir a cultura de determinadas áreas e cuja incidência aumentou nos últimos anos no cerrado brasileiro

O

algodão apresenta grande número de pragas e doenças, que durante o ciclo da cultura são capazes de causar sensíveis reduções na produção, resultando em prejuízos severos ao agricultor. A infestação da broca-da-raiz, Eutinobothrus brasiliensis (Hambleton), aumentou na região de cerrado, em comparação aos primeiros cultivos de 1996 e 1997. Em alguns campos o percentual de plantas atacadas nas safras 2004/2005 e 2005/2006 chegou a 25%. A partir destes anos, muitos técnicos envolvidos na cultura passaram a manejar a praga e a cultura, a fim de evitar os danos desta praga.

do coleto da planta, faz a postura isoladamente, depositando em cada orifício um ovo de coloração creme esbranquiçada. Decorridos dez dias, dá-se a eclosão, as larvas começam a se alimentar, abrindo galerias na região do câmbio da planta (Gallo et al, 2002).

No início, os túneis são pequenos, mas, à medida que as larvas crescem, vão se tornando maiores e apresentam certa quantidade de detritos. As larvas podem abrir galerias em espiral pelas raízes, o que impede a circulação da seiva, devido ao seccionamento dos vasos,

Descrição

O adulto é um besouro da família Curculionidae, que mede 5mm de comprimento, de coloração pardo-escura, pouco brilhante. A fêmea, após abrir, com as mandíbulas, cavidades na casca do algodoeiro, geralmente na altura

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Detalhe da larva, Eutinobothrus brasiliensis, no interior do colmo do algodoeiro, onde se alimenta abrindo galerias na região do câmbio da planta

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Figura 1 – Efeito de alguns inseticidas utilizados em tratamento de sementes na produtividade da cultura algodoeira, em função do controle de E. brasiliensis. Dose por 100kg.sementes-1. Fundação Chapadão – Chapadão do Sul (MS) - Safra 2005/2006

determinando a paralisação do crescimento da planta. Quando se nota a mudança de coloração das folhas com esse sintoma, encontra-se na região do colo um engrossamento devido ao ataque da praga (Degrande, 1998).

Prejuízos

Os prejuízos ocorrem principalmente devido à praga alojar-se na raiz, impedindo a circulação da seiva. Com isso, as folhas murcham e secam, podendo levar a planta à morte. Em períodos com menos umidade no solo,

Figura 2 – Efeito de alguns inseticidas aplicados sequencialmente em intervalo de seis dias no controle de E. brasiliensis na cultura do algodão. Dose por hectare. Fundação Chapadão – Chapadão do Sul (MS) – Safra 2007/2008

as plantas atacadas são mais fáceis de serem identificadas entre as demais, em função da obstrução da passagem de água. Indiretamente, a praga tem poder, ainda, de alterar a qualidade da fibra do algodão. A produtividade pode ser afetada em até 30% (Santos, 2002).

Outros hospedeiros

A broca-da-raiz apresenta outros hospedeiros, que podem abrigá-la nos períodos da entressafra. Destacam-se as guanxumas, ca-

pins, entre outros. A infestação normalmente se inicia nas bordaduras, sendo os primeiros cultivos os mais atacados. O uso de plantioisca, quando em altas infestações, pode ajudar a resolver o problema.

Controle

No cenário atual, com a entrada do algodão Bt no mercado brasileiro, é necessário analisar os estragos que a praga já causou em anos anteriores, com poder de erradicar a cultura de uma região (Santos, 2001).


Fotos Germison Vital Tomquelski

O plantio-isca pode ajudar a conter a broca, salienta Tomquelski

Quando a praga se aloja na raiz, a circulação da seiva é interrompida e, então, ocorre a murcha de folhas podendo levar as plantas à morte

Analisando as aplicações realizadas por produtores e os dados de monitoramento das pragas, na região dos Chapadões, verifica-se um pico populacional de curuquerê (Alabama argillacea), além do aparecimento da lagartada-maçã (Heliothis virescens) em dezembro, época de desenvolvimento dos primeiros cultivos, que requerem em determinados anos grande quantidade de aplicações. Estas pulverizações são realizadas com diversos inseticidas, mas uma grande porcentagem de ciclodienos, carbamatos e organofosforados, que apresentam amplo espectro de controle de pragas e têm alguma ação sobre E. brasiliensis, contribui para o seu controle. Outra questão importante se refere à destruição de soqueiras, que em determinados anos é realizada de forma inadequada. Poucos são os trabalhos neste sentido e seus resultados muito variáveis em função das condições ambientais, do solo e da planta de algodão.

Vale destacar, ainda, que o processo de destruição de soqueiras é essencial no manejo de curculionidaes pragas. Dessa forma, sempre alertar o produtor para a prática pode facilitar todo o manejo futuro da propriedade. Com aumento do cultivo adensado (que tem sido implantado como uma cultura safrinha) se observou na última safra que a cultura apresenta diminuição do ciclo, devido à condição ambiental de redução das chuvas, provocando a indução da senescência da planta. Atualmente, com trabalhos realizados por algumas instituições de pesquisa e pelas associações dos produtores de algodão de cada estado no controle de bicudo (Anthonomus grandis), há algumas estratégias que afetam a população de E. brasiliensis. Mas, analisando o sistema produtivo utilizado no cerrado, observa-se que para E. brasiliensis, bem como para A. grandis, a aplicação de inseticidas na

fase da destruição de soqueiras pode complementar o controle da praga. O manejo químico desta praga é uma questão importante, mas esta forma de controle, somente, não consegue diminuir a praga a níveis desejados. O uso de inseticidas à base de fipronil em tratamento de sementes (podendo ser associado a pulverizações após a emergência da cultura com emprego de inseticidas à base de parathion-metilico e outros em fase de registro), em intervalos de cinco dias a sete dias, é tática que apresenta boa supressão da praga. Novos ingredientes ativos, com novos modos de ação e seletivos a inimigos naturais, podem ajudar o sistema e evitar problemas com algumas lagartas de difícil controle como Pseudoplusia includens e o complexo Spodoptera. E sempre, o técnico não pode esquecer de avaliar a infestação, pois somente a construção de um histórico da área será capaz de ajudar nas diversas tomadas de decisões e desvendar as causas de ocorrência maior ou menor de C uma determinada praga. Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão Gustavo Mamoré Martins, Unesp

Figura 3 – Efeito de alguns inseticidas no controle de E. brasiliensis – Número médio de plantas atacadas em 200 amostradas por tratamento em função de três aplicações sequenciais com intervalos de cinco dias. Fundação Chapadão – Chapadão do Sul (MS) – safra 2008/2009. *OMS – Óleo Metilado de Soja

A aplicação de inseticidas na fase da destruição de soqueiras pode complementar o controle da praga

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Eventos Fotos Cultivar

A vez do feijão

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Syngenta reuniu em novembro, em Brasília, agricultores ligados ao grupo de Grandes Produtores de Feijão do Brasil (GPF). A empresa mantém laços estreitos com o setor há mais de dez anos. Felipe Fett, gerente da Cultura do Feijão da Syngenta, afirmou que o objetivo é discutir formas de fortalecer a cultura e aumentar a produtividade, através de práticas adequadas. O ciclo de palestras foi aberto pelo especialista em mercado agrícola, Vlamir Brandalizze, que abordou Tendência do Mercado de Feijão, analisou os fatores políticos e econômicos, externos e internos, além das políticas governamentais atuais. Brandalizze considera o cenário para a safra atual favorável. “A expectativa é de que tenhamos uma boa produtividade de feijão nesta primeira safra 2009/2010, considerando a extensão da área plantada, desde que o clima seja apropriado” explicou. O consultor de empresa, Marcelo Prado, falou sobre os desafios do século XXI no gerenciamento de uma propriedade agrícola. Para Prado, o produtor precisa assumir a postura de empresário rural e administrar a propriedade como uma empresa. Lançar mão de ferramentas que possam ajuda-lo a avaliar, decidir e controlar todas as atividades em sua propriedade, conhecer e gerenciar todos os seus custos, são outras recomendações. Isso irá orienta-lo na administração do capital de giro e na decisão de

quando investir e fazer reservas. Analisar a influencia do ambiente externo no agronegócio, cenários e tendências do mercado é uma da forma calcular os riscos. Utilizar a informação na tomada de decisões é um grande diferencial competitivo e o empresário rural deve estar apto para interprertar estas variáveis. O representante da empresa Ipesa Silo apresentou o sistema Silobag. Trata-se de armazenamento em bolsas plásticas hermeticamente fechadas. De acordo com o fabricante, o tempo de armazenamento pode chegar a um ano, desde que as recomendações técnicas de umidade sejam obedecidas. Este recurso de armazenagem pode ser utilizado na cultura do feijão e em outras commodities.

Felipe Fett é gerente da Cultura do Feijão da Syngenta

O baixo custo operacional possibilita armazenamento na própria lavoura, evita os custos operacionais de armazéns e os altos gastos com frete no pico da colheita. Além disso, permite a venda do produto na melhor época para a comercialização. O pesquisador Tarcísio Cobucci da Embrapa Arroz Feijão, que faz parte do Grupo Técnico do Feijão (GTEC Feijão), apresentou os resultados de campo do projeto seis toneladas. Analisou todas as propriedades que participaram e observou que há possibilidade de incremento na produção. Foi criado um protocolo pelo GTEC e os produtores que se candidatam espontaneamente para desenvolver um campo experimental deverão seguí-lo. Para próxima reunião, agendada para abril de 2010, foi solicitado pelos empresários rurais a presença de representantes da industria de semeadoras e colhedoras. O objetivo é de buscar soluções para melhor atender às necessidades das lavouras de feijão, no que diz respeito a esses equipamentos. Ao final da reunião, Felipe Fett, da Syngenta, responsável por coordenar e mediar as palestras, enfatizou que a meta desses eventos é de criar um ambiente de negocio com uma proposta que agregue valor ao longo do tempo. “Buscamos trazer conhecimento nas áreas produtivas, administrativas e comerciais, fortalecendo a cadeia produtiva do feijão para ter maior representatividade junto à câmara C setorial”, concluiu.

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Soja Luís Henrique Carregal

Pesadelo antecipado Favorecida pelo clima e por problemas com o vazio sanitário, a ferrugem asiática, um dos piores desafios enfrentados pelos sojicultores brasileiros, chegou mais cedo às lavouras. Por conta dos riscos de surtos severos da doença, produtores precisam estar atentos para agir no momento certo e minimizar os prejuízos

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trigo, de aveia preta (no Sul) e nos milhetos (nos Cerrados). Para Tadashi, a recente constatação de ferrugem em Mato Grosso significa grande risco de ocorrência antecipada da doença em níveis de danos econômicos. “Ao contrário de anos anteriores, as cultivares precoces, semeadas mais cedo, beneficiavam-se do menor risco de ferrugem por se desenvolverem em períodos de menor precipitação. Porém, a ocorrência antecipada e as chuvas abundantes previstas Divulgação

identificação do primeiro foco de ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) da soja em lavoura comercial, no Mato Grosso, 22 dias antes do que ocorreu no ano passado, e em Goiás com quase 60 dias de antecedência em relação ao que ocorreu na safra anterior, trás à tona uma situação que se repete em vários estados produtores da cultura. Em 2009 a doença surgiu mais cedo, embalada pelo clima chuvoso, pela proximidade de países que servem de inóculo para o fungo durante a entressafra e por situações de desrespeito ao vazio sanitário. Desde setembro, quando deu início ao monitoramento da safra, até o dia 24 de novembro, o Consórcio Antiferrugem detectou 26 focos da doença nos estados de Mato Grosso, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Sul e Tocantins. Em 18 dos casos, a ferrugem estava presente em soja voluntária e em áreas irrigadas. De acordo com o pesquisador José Tadashi Yorinori, os focos detectados entre setembro e novembro mostram que há continuamente esporos do fungo Phakopsora pachyrhizi no ar. As principais fontes na entressafra brasileira são a Bolívia, o Paraguai e áreas onde permanecem plantas guaxas no meio das culturas de

Não se deve predefinir o momento da primeira aplicação, recomenda Tadashi

até final de dezembro, poderão desencadear um surto precoce da ferrugem. Portanto, é fundamental que o monitoramento das lavouras seja intensificado e o agricultor esteja preparado para uma eventual necessidade de antecipação das pulverizações preventivas e/ ou curativas”. Tadashi conta que durante o 1º Circuito Tecnológico de Campo Aprosoja, colegas da assistência técnica mencionaram ter observado muita soja guaxa em áreas de cobertura com milheto. Embora o vazio sanitário tenha contribuído grandemente para redução da presença do fungo na entressafra brasileira, sempre há risco de permanecerem plantas sobreviventes em locais de difícil acesso. Durante as visitas foi também constatada a ocorrência de mela em uma lavoura onde foi feito o plantio direto da soja sobre a palhada do feijão caupi (feijão macassar). Isso pode indicar que, com a previsão de muita chuva até o final de dezembro, a mela deva ser uma doença a ser considerada junto com o controle da ferrugem.

As lavouras mais vulneráveis

De acordo com José Tadashi Yorinori, as lavouras com maior potencial de risco são aque-

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las semeadas mais tardiamente. Por exemplo, nos Cerrados, lavouras semeadas após dez de novembro estarão progressivamente mais sujeitas a maiores danos em virtude do aumento das chuvas e, possivelmente, crescimento da ferrugem no final do ciclo dos primeiros plantios, iniciados após o término do vazio sanitário em 15 de setembro. Para a região dos Cerrados, onde aproximadamente 60% a 70% das áreas foram semeadas com variedades precoces e semi-precoces, com colheitas previstas entre o Natal e inicio de fevereiro, o risco de perdas por ferrugem era considerado muito pequeno até a recente constatação da doença em Campo Verde e Pedra Preta. Essa situação altera o nível de preocupação que se deve ter quanto ao monitoramento e o momento de aplicação preventiva de fungicida no estádio R1. É fundamental que toda ação seja baseada no conhecimento da situação da ferrugem na região. Tadashi explica que a maioria dos produtores está preparada para fazer de uma a três aplicações, dependendo do clima e da época de semeadura. De acordo com previsões climáticas, as chuvas tendem a ser abundantes até final de dezembro e com possibilidade de estiagem ou menores precipitações em janeiro e fevereiro. Essa é uma situação bastante atípica para os Cerrados. Caso isso ocorra, as condições para evolução da ferrugem nos plantios mais tardios serão ainda menores. Normalmente o que tem ocorrido são chuvas excessivas em janeiro e fevereiro, o que dificulta o controle da ferrugem.

Excesso de confiança

Cerrados (acima de 700m de altitude) e a região Sul (sul do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Nos Cerrados, o que preocupa é a fonte do fungo da Bolívia. Já na região Sul, os esporos do fungo podem vir do Paraguai”.

Vizinhança de risco

José Tadashi Yorinori explica que na Bolívia o cultivo da soja de verão inicia-se em final de novembro e a colheita termina em início de abril. A partir de meados de julho começa o plantio de inverno para produção de semente para a safra seguinte de verão. Esta segunda safra termina entre o final de outubro e início de novembro. Dessa forma, praticamente, não há interrupção no cultivo da soja no país. Além disso, cada colheita gera grande população de plantas guaxas, que sobrevivem nas margens das estradas e nos cantos das lavouras onde não é possível dessecar. Devido à característica do solo areno-limoso, com lençol freático raso e alta capacidade de retenção de umidade, a formação de orvalho é constante nos campos da Bolívia. “Seguindo a sugestão que repassamos aos colegas da Bolívia, foi instituído o vazio sanitário para o período de 1º de abril a 30 de junho, porém, apesar da boa vontade dos pesquisadores e da assistência técnica da Fundacruz, da Anapo e dos órgãos oficiais há grande dificuldade em aplicar as normas do vazio sanitário”, frisa. No Paraguai, duas são as principais fontes de inóculo: as plantas guaxas de soja que permanecem durante toda entressafra e os diversos bosques e moitas de kudzu (Pueraria

lobata). “A cada rajada de vento que sopra do Sul (frente fria), ou a umidade que vem do Pacífico, há risco de esporos “voarem” para alguma região onde haja soja em desenvolvimento”, explica. As regiões altas e a região Sul apresentam noites mais frescas e, portanto, maior tempo de permanência de orvalho, o que favorece o desenvolvimento mais rápido da ferrugem.

O que fazer

No momento em que a soja já está quase toda semeada na região dos Cerrados, e em fase de início de semeadura no Centro-Sul e Sul, José Tadashi Yorinori faz algumas recomendações. Produtores e a assistência técnica devem estar atentos em acompanhar a divulgação dos locais de detecção da ferrugem em todo o Brasil. Essa informação é fornecida diariamente através da internet, no site www.consorcioantiferrugem.net. Além disso, estar atento às condições climáticas e fazer o monitoramento da lavoura constante e continuamente (diariamente, se possível), em diferentes pontos da propriedade. No momento oportuno, fazer a aplicação preventiva de fungicida, assegurando que o produto seja dos mais eficientes. Não aplicar dose abaixo da recomendação e, tampouco, comprar produto sem eficácia garantida, só por ser mais barato. “Não se deve pré-definir o momento da primeira aplicação. Embora seja quase um consenso geral de fazer essa aplicação preventiva no estádio R1 (início da floração), dependendo do ano e da época da semeadura, esse

Mapa da Ferrugem

Existem algumas regiões onde a ferrugem não tem causado danos severos em anos anteriores (devido a condições climáticas desfavoráveis). Isso tem gerado excesso de confiança nos produtores, resultando em atraso no início do controle, uso de subdoses de fungicidas e produtos mais baratos. Tadashi lembra que essa foi a situação que ocorreu em São Gabriel D’Oeste, no Mato Grosso do Sul, na safra 2007/08, quando o descontrole da ferrugem resultou em queda de rendimento médio da safra 2006/07, de 56 sacos/ha, para 32 sacos/ ha em 2007/08.”Com a ferrugem não se brinca. Cada novo ano (safra) é diferente dos anteriores. É preciso estar sempre preparado para a peleia”, alerta.

Maior potencial de ocorrência

José Tadashi Yorinori destaca que em virtude da quase ausência de estiagem durante o outono e inverno e a constatação de ferrugem em plantas guaxas em setembro e, em novembro, no Mato Grosso, todas as regiões produtoras de soja do Brasil apresentam potencial de ocorrência severa de doença. “As regiões de maior risco são os altiplanos dos

Fonte: Consórcio Antiferrugem

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Luís Henrique Carregal

redução de dose ou atraso nas aplicações. Não esperar de forma alguma a doença incidir na lavoura para depois tomar a decisão de aplicar”, frisa. O pesquisador lembrou, ainda, que muitos erros são cometidos por produtores que ainda não tiveram perdas com a ferrugem. Redução de dose, atraso nas aplicações e principalmente “achar que sabe controlar a doença”, foram os principais equívocos relacionados.

Minas Gerais

Dos 26 focos de ferrugem detectados, em 18 a doença estava presente em soja voluntária e em áreas irrigadas

momento pode ser antecipado ou retardado”, opina. Portanto, é importante acompanhar as informações do consorcio antiferrugem, do monitoramento da lavoura e das condições climáticas de cada momento. “Com a ferrugem, o que é barato e sem garantia de eficácia, tem saído muito caro ao produtor. Sempre que tiver dúvidas, procurar assistência de agrônomos experientes no controle da ferrugem. Antes que chegue o momento de começar os tratos fitossanitários, assegurar-se de que está com os equipamentos calibrados, com bicos apropriados para cada finalidade. É demasiadamente comum observar que os pulverizadores estão equipados com os mesmos bicos para aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas. Cada operação exige um conjunto de bicos específicos. Consultar sempre um especialista em tecnologia de aplicação. “Com relação à ferrugem, uma pulverização mal feita pode representar a perda de todo o lucro da safra”, alerta Yorinori.

plantio cerca de uma semana antes do vazio sanitário. “Como resultado disso, temos soja na fase inicial de enchimento de grãos e soja ainda sendo plantada”. O clima foi outro fator que beneficiou a doença. “Tivemos chuvas na entressafra como eu nunca havia visto e a safra começou com frequencia alta de chuvas. Agora a situação mudou. Desde 15 de novembro não chove e as temperaturas que antes eram amenas, agora passam dos 38ºC”. Para Carregal, o Estado corre risco de alta infestação da ferrugem asiática. “Em função da entressafra chuvosa, da grande quantidade de tiguera infectada no campo, do longo período de plantio e do clima favorável. Além disso, em nosso Estado há populações do fungo resistentes aos triazóis”. Carregal recomenda que o produtor haja com muita cautela. “Monitoramento é essencial e principalmente aplicações preventivas de misturas (estrobilurinas e triazóis), sem

Em Minas Gerais também há queixas quanto ao cumprimento do vazio sanitário. “ Em relação ao controle de plantas guaxas, soubemos que alguns produtores não o fizeram corretamente, ou seja, não aplicaram o dessecante após a colheita”, relata a pesquisadora Dulândula Silva Wruc, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). A pesquisadora defende a importância do vazio, mas ressalta que os resultados só serão positivos se todos colaborarem. O objetivo é diminuir o potencial de inoculo do patógeno no início da safra, pois quanto mais tarde a ocorrência da doença, menor o custo de controle. O clima também interferiu na incidência. “Esse ano tivemos um inverno mais úmido, com chuvas, favorável à multiplicação da ferrugem, desde que existam plantas guaxas de soja no campo”. Dulândula destaca que o produtor precisa ficar atento ao que está acontecendo ao redor da sua região. Consultar sempre o site do consórcio anti ferrugem, para saber da doença no país. Fazer monitoramento constante da lavoura e acompanhar as condições do tempo. Se a doença se instalar na fase vegetativa da lavoura, efetuar imediatamente as pulverizações com fungicidas, caso contrário, pulverizar

Situação por região

Para o pesquisador Luís Henrique Carregal, da Universidade de Rio Verde (Fesurv), houve problemas em relação ao vazio sanitário em Goiás, onde foi detectado foco em lavoura comercial, quase 60 dias antes do que havia sido registrado na safra passada. “Foi, provavelmente, o pior Estado em divulgação da importância do vazio sanitário nesta entressafra. Em várias regiões encontrei soja tiguera infectada e sob alta severidade. Hoje não temos soja tiguera mais, pois as áreas todas foram plantadas”, relata. Carregal destaca que a prática foi e é importante, mas nessa última entressafra não foi respeitado. O pesquisador critica a pouca fiscalização, escassez de multas e a liberação do

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Em Goiás, foco de ferrugem foi detectado quase 60 dias antes que na safra anterior, salienta Carregal

Dulândula Silva Wruc diz que o principal problema ainda é o uso de subdoses de fungicidas

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preventivamente próximo ao florescimento. O intervalo de pulverização vai depender da reincidência da doença e das condições do tempo (tempo chuvoso menor o intervalo de pulverização). Em relação ao uso de fungicidas, sempre adotar o recomendado pelo fabricante, não utilizar subdosagens dos produtos comerciais e preferir o emprego de misturas prontas de triazol + estrobilurina (consultar o site Agrofit www.agricultura.gov.br) e, ao final da safra, adotar o vazio sanitário. Dulândula comenta que de maneira geral os produtores conhecem a doença. “O que tenho verificado com certa freqüência é o uso de sub-dosagem de fungicidas (“cheirinho”), o que pode ocasionar o surgimento de raças resistentes do fungo. É frequente também a perda do momento correto da aplicação, muitas vezes ocasionadas por um longo período chuvoso (invernada). O produtor deve manter os pulverizadores calibrados e realizar, sempre que possível, as pulverizações em boas condições do tempo (umidade relativa maior que 50%, temperatura menor que 30ºC, velocidade do vento entre 3km/h e 10Km/h). Sempre consultar um engenheiro agrônomo”.

Tocantins

De acordo com a pesquisadora Moab Diany Dias, da Universidade Federal do Tocantins, no estado, até 20 de novembro, não havia focos em soja guaxa. “No entanto, tivemos oito focos registrados nas varzeas, em campos de produção de sementes, nos municípios de Formoso do Araguaia e Lagoa da Confusão. Essas áreas foram colhidas no final de setembro”, explicou Sobre o vazio sanitário, a pesquisadora lembra que houve significativa redução de inóculo da ferrugem, consequentemente chegada tardia da doença e redução no número de aplicações de fungicidas em muitas regiões do país. “No entanto, precisamos ter maior controle da soja guaxa para que essa medida continue com os resultados positivos apresentados até o momento”, alerta. Semelhante ao que ocorreu em outras regiões, em Tocantins houve antecipação das

Fotos Divulgação

El Niño pode desencadear ferrugem generalizada nas lavouras gaúchas, diz Leila Costamilan Se o clima for favorável, Tocantins poderá ter alta infestação de ferrugem, segundo Moab Diany Dias

chuvas, com média de preciptação superior aos anos anteriores. Moab não descarta as chances de alta infestação no estado. “Temos inóculo e uma perspectiva de área a ser plantada superior a 300 mil hectares. Caso o clima seja favorável e considerando um ano de El niño poderemos ter alta infestação”. Moab recomenda o monitoramento frequente da lavoura e que todos fiquem atentos às informações de cada região relacionada ao surgimento de focos. A aplicação de fungicidas deve ser realizada preferencialmente de maneira preventiva, no entanto é preciso levar em consideração alguns fatores, como registro de focos na região, condições climáticas, disponibilidade de equipamentos, desenvolvimento fenológico da cultura. Outro cuidado que o produtor precisa adotar é a verificação das condições dos equipamentos, garantir boa regulagem e seguir da melhor forma possível as condições recomendadas para uma boa aplicação, evitando condições que possam comprometer a eficiência do controle. Sobre equívocos no controle, Moab lembra que o principal erro cometido é a falta de monitoramento da lavoura, resultando em

aplicações tardias, com efeito curativo, emprego de produtos piratas e falha na tecnologia de aplicação.

Rio Grande do Sul

Até 24 de novembro, um foco de ferrugem em soja voluntária, estádio Vn, havia sido detectado no município de Três de Maio, no Rio Grande do Sul. O Estado não adota vazio sanitário. A pesquisadora Leila Costamilan, da Embrapa Trigo, explica que não há condições climáticas que suportem o cultivo de soja durante todo o ano, o que descaracteriza a “ponte verde”, ou seja, a presença de cultivo em larga extensão, favorecendo a manutenção de inóculo de ferrugem. “O vazio foi adotado nos demais Estados para se minimizar o impacto de alta quantidade de inóculo inicial durante os estádios vegetativos de soja, o que não ocorre no Rio Grande do Sul, pois o histórico de ocorrência da doença no Estado mostra que a grande maioria dos casos em lavouras comerciais começa após o florescimento, principalmente no mês de fevereiro. Assim, a adoção do vazio sanitário traria poucos benefícios ao Rio Grande do Sul”, explica. Em termos de clima, o Estado alternou chuvas abaixo da média histórica, na região de


Passo Fundo, em outubro. “Já em novembro, até dia 20 já foi ultrapassada a quantidade de chuva para o mês, atrasando os plantios, ou desencadeando casos de tombamento por fitóftora”, relata Leila. No Rio Grande do Sul também há risco de alta infestação. “A ocorrência de ferrugem e a severidade da doença estão diretamente correlacionadas com as chuvas. Caso se mantenha o alerta para predomínio do fenômeno El Niño nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2010, há grande probabilidade de termos ferrugem generalizada nas lavouras, com controle dificultado”, aponta a pesquisadora. O monitoramento da lavoura é o primeiro passo recomendado na fase atual. “Procurar focos iniciais da doença; acompanhar as informações sobre ocorrência na região e a respeito das condições de clima. A primeira aplicação pode ser realizada logo que a ferrugem for observada na própria lavoura ou em áreas da região, ou a partir do florescimento. Se as condições climáticas ainda continuarem favoráveis à doença, uma segunda aplicação poderá ser necessária após o fim de eficiência do fungicida. Caso a lavoura seja de ciclo tardio, uma terceira aplicação deverá ser considerada. Em todos os casos, evitar o uso sequencial de triazóis isolados, principalmente a partir da segunda aplicação”, indica a pesquisadora.

Mato Grosso

Divulgação

Os pesquisadores Andréia Quixabeira Machado, da Univag e Daniel Cassetari Neto, da Famev/UFMT, relatam que pela primeira vez desde a chegada do fungo Phakopsora pachyrhizi em Mato Grosso, há registro de permanência nas áreas de produção durante o período de entressafra, quando é praticado o vazio sanitário. Esta iniciativa é fruto de um projeto de avaliação da viabilidade do inóculo de P. pachyrhizi coordenado pelo Mapa e conduzido pela Univag, UFMT e Indea. No primeiro ano de condução, houve confirmação da presença do fungo viável durante todo o período de

Durante o vazio sanitário, o fungo da ferrugem esteve viável no MT, alertam Cassetari e Andréia

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vazio sanitário, em plantas voluntárias de soja (guaxa ou tigüera) que podem ser encontradas próximas a rodovias, campos de produção e zona urbana de cidades do interior do Estado. A viabilidade dos esporos de P. pachyrhizi foi confirmada pela sua capacidade germinativa e infectiva. Este resultado confirma a hipótese de que esporos de P. pachyrhizi sempre estiveram presentes nas áreas de cultivo, em maior ou menor quantidade, dependendo do volume de plantas voluntárias de soja e do clima, especialmente do regime de chuvas, durante a entressafra. Soma-se a essa fonte de inóculo, esporos trazidos por correntes aéreas de áreas de cultivo intensivo de soja de outros países onde o vazio sanitário não é praticado (Bolívia e Paraguai). Ainda que distribuída de forma irregular, a chuva pode ser a responsável pela constatação de inóculo de P. pachyrhizi antes da instalação das lavouras (MT e MS) e pela confirmação da doença em zona urbana (Campo Verde, MT) e área comercial (Pedra Preta, MT) ainda no mês de novembro de 2009. Esta confirmação sugere que novos focos poderão ser encontrados ainda neste ano e que epidemias de ferrugem devam ocorrer mais cedo, se confirmadas as previsões da meteorologia.

Importância do vazio

Os pesquisadores destacam, no entanto, a importância do vazio sanitário. No Mato Grosso, em sua terceira edição, a prática, associada a outras técnicas de manejo da ferrugem, tem proporcionado atraso bastante expressivo da ocorrência de epidemias, atingindo nas safras 2007/2008 e 2008/2009, os menores índices médios de severidade. “Enfatizamos assim a extrema necessidade da manutenção desta técnica de manejo da ferrugem, e entendemos que os produtores estão, na sua maioria, cumprindo com seu papel”, ressaltam. Entretanto, esforços adicionais devem ser feitos pelos órgãos competentes para colaborar na destruição de plantas voluntárias encontradas fora das áreas de cultivo, especialmente próximas a rodovias onde podem ser localizadas verdadeiras “lavouras” de soja mal formadas, provenientes de sementes caídas de

No detalhe, pústulas de ferrugem

caminhões.

Nematoides x ferrugem

Andréia Quixabeira Machado e Daniel Cassetari Neto chamam a atenção para um fator importante. Trata-se do aumento expressivo da população de nematoides das lesões (Pratylenchus brachyurus) nas áreas de cultivo de soja em todo o Estado. Isso tem preocupado produtores e pesquisadores, por tratar-se de patógeno limitante e de difícil controle. Uma das técnicas de manejo, que vem sendo adotada com relativo sucesso na redução da população deste nematóide, é o cultivo, na entressafra de soja, de Crotalaria spectabilis, planta que pode ser incorporada como adubo verde, colaborando com a melhora das condições físicas e químicas do solo. Contudo, existem relatos na literatura da hospedabilidade que C. spectabilis oferece à P. pachyrhizi, ou seja o agente causal da ferrugem pode hospedar-se e manter-se viável em plantas de crotalaria. Quanto ao clima, durante a entressafra da soja no Mato Grosso, foi registrado maior volume de precipitação na maioria das regiões do Estado. Isso favoreceu a sobrevivência de plantas voluntárias e, consequentemente, de esporos do patógeno. A formação de nuvens, características em Mato Grosso durante os meses de primavera, provenientes da queima do cerrado, de pastagens e canaviais, foram menos pronunciadas em 2009. Em muitas regiões a safra 2009/2010 começou sob bom regime de chuvas e a meteorologia já acenou com a possível ocorrência do fenômeno El Niño, que traria chuvas mais abundantes nos últimos meses de 2009.

Riscos de alta infestação

Como em todos os Estados produtores de soja no Brasil, o cultivo de soja no Mato Grosso é feito em áreas extensas, com um período de semeadura bastante longo (setembro a dezembro) e com variedades susceptíveis (ainda não existe resistência completa à ferrugem). Soma-se a isso a presença de um maior volume de inóculo inicial (esporos) de P. pachyrhizi ou de focos precoces de ferrugem registrados nesta safra e a alta virulência e agressividade, características intrínsecas de P. pachyrhizi, com alta capacidade de causar doença e intensa multiplicação de esporos. “Complete o quadro com as condições climáticas favoráveis e teremos o alto risco da ocorrência de epidemias de ferrugem no Estado”. Contudo, esse quadro sinistro, que em anos passados causou tantos prejuízos a produtores de soja e a todos os segmentos ligados à agricultura no Estado, tem hoje um fundo mais ameno, fruto do esforço de quatro setores distintos: o produtivo, que tem buscado cada vez mais e informação e a tecnologia e cum-

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Fotos Luís Henrique Carregal

prido fielmente com as técnicas de manejo da ferrugem (pulverizações preventivas, melhoria das condições das tecnologias de aplicação, monitoramento da doença, plantio de variedades mais precoces); a pesquisa, que vem trabalhando incansavelmente na avaliação da eficiência de fungicidas, no monitoramento do surgimento de populações de P. pachyrhizi menos sensíveis aos fungicidas mais utilizados, na busca de variedades resistentes ao patógeno, no estudo de técnicas alternativas de manejo da ferrugem; as empresas de agroquímicos, que têm investido na avaliação e registro de moléculas cada vez mais eficientes; a mídia especializada, que tem contribuído muito na divulgação de informações de forma acessível ao público-alvo. O esforço conjunto destes quatro segmentos, independentemente da abordagem ou do retorno do investimento humano e financeiro feito por cada um, trás mais segurança no enfrentamento da ferrugem, em comparação à mesma situação encontrada há oito anos (quando produtores pouco conheciam sobre os riscos da doença, a pesquisa iniciava a busca de melhores condições de diagnose e controle, as empresas de agroquímicos ainda ofereciam poucas opções ao produtor e a imprensa publicava os primeiros volumes de seus cadernos, com participação incipiente da comunidade científica).

Recomendações ao produtor

Considerando a pontualidade necessária no momento, Andréia Quixabeira Machado e Daniel Cassetari Neto destacam a importância de o produtor lembrar algumas regras básicas que irão compor sua tomada de decisão sobre a aplicação de medidas de controle: a) realizar, consciente da presença de inóculo do patógeno, o monitoramento rigoroso da lavoura, procurando sintomas característicos da doença, como pústulas (bolhas) na face inferior das folhas mais velhas da planta. Esse monitoramento deve ser realizado dentro das possibilidades de cada um, considerando-se mão de obra qualificada disponível, tamanho da lavoura e equipamentos disponíveis na fazenda (ou fácil acesso a laboratórios credenciados). O monitoramento deve ser pelo

menos semanal em lavouras na fase vegetativa e a cada três dias em áreas que se encontram na fase reprodutiva. O reconhecimento da doença no campo é rápido e vai depender da habilidade e treinamento da equipe e do tamanho das áreas a serem amostradas. Se a fazenda dispõe de microscópio estereoscópico (lupa), amostras de folhas mais velhas coletadas aleatoriamente em talhões com características semelhantes poderão ser incubadas em ambiente úmido (sacos plásticos ou bandejas forradas com papel umedecido) por 24 horas a 48 horas e posterior identificação ao microscópio. Amostras suspeitas coletadas no campo deverão ser analisadas imediatamente ao microscópio por pessoa experiente, permitindo confirmação imediata da presença do patógeno. O monitoramento deve considerar outras doenças não menos importantes (dependendo de cada região) como a mancha alvo, antracnose, mela e mofo branco. b) Em regiões onde a doença já tenha sido formal e oficialmente identificada, Andréia Quixabeira Machado e Daniel Cassetari Neto recomendam a pulverização preventiva das lavouras no início da fase reprodutiva, seguindo a calendarização já adotada em cada proprie-

dade. Vale a pena lembrar que as pulverizações preventivas devem ser feitas com misturas prontas e registradas junto ao Mapa, de fungicidas dos grupos químicos estrobilurinas e triazóis, respeitando-se a dose e os intervalos de aplicação recomendados pela pesquisa ou já adotados como eficientes em cada situação. Lavouras nestas regiões, que ainda não começaram o florescimento, devem ser intensamente monitoradas (a cada três dias). Lembramos também que a ferrugem, apesar da sua importância como fator limitante na produção da soja, não é a única doença a ser controlada, e que a aplicação de fungicidas do grupo dos benzimidazóis deve ser considerada no controle de outras doenças; c) Instituições de ensino e pesquisa podem auxiliar no rápido treinamento de equipes e diagnose in loco da presença da ferrugem; d) Como cuidado adicional, os pesquisadores lembram da importância da informação de qualidade em momentos de pressão. “Buscar informações em fontes sérias e competentes é uma forma de proteção contra o oportunismo e a irresponsabilidade que podem trazer mais prejuízos que a própria ferrugem”, destacam. C


Arroz

Olho clínico

Com previsão de que o fenômeno El Niño ocorra durante todo o ciclo de cultivo da atual safra de arroz, é preciso reforçar o monitoramento das lavouras e ficar atento às doenças favorecidas pelo clima úmido. Conheça os sintomas dos principais fitopatógenos da cultura e as alternativas de manejo para evitar perda de produtividade

E

tenha os elevados níveis de produtividade obtidos nas últimas safras no Estado, as aplicações de fungicidas tem se tornado cada vez mais importantes, pois além da brusone, da mancha parda, da cárie-do-grão do arroz, da escaldadura da folha, algumas outras doenças têm ganho maior destaque, como a queimadas-bainhas, causada por Rhizoctonia solani e o falso carvão ou carvão-verde, provocado pelo fungo Ustilaginoidea virens.

Brusone

A brusone (Pyricularia grisea), doença com incidência bastante localizada nas diversas regiões produtoras, pode ser observada sobre outras gramíneas, como trigo, cevada, centeio, azevém, capim arroz, grama boiadeira, arroz vermelho e arroz preto, muitas vezes servindo como fonte de inóculo para a infecção primária nas lavouras de arroz. A infecção é favorecida por noites com pouco ou nenhum vento e temperaturas entre 17oC e 23oC. Então, no caso de ocorrerem essas condições

Ivan F Dressler da Costa

mbora as precipitações ocorridas nos meses de setembro e outubro tenham se mostrado acima da média, os dados de campo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) indicam que até o final de outubro praticamente 50% da área orizícola do Rio Grande do Sul já estava semeada. Se forem confirmadas as previsões de ocorrência do fenômeno El Niño, é grande a possibilidade de que tenhamos um ano com níveis de incidência de doenças superiores ao ocorrido na última safra. Com isso, produtores e técnicos devem estar atentos para tomarem providencias quanto ao manejo nas diversas regiões produtoras, já que essas doenças podem se tornar causa de diminuição na produtividade da cultura. Nos últimos anos, perdas tem sido minimizadas graças à realização de pesquisas com o manejo da água, balanceamento da adubação na base, adubação nitrogenada em cobertura, controle fitossanitário e tecnologia de aplicação de defensivos. Para que a cultura do arroz irrigado man-

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Dirceu Gassen

climáticas, os cuidados no monitoramento da lavoura devem ser maiores. A doença afeta diretamente a formação dos grãos e indiretamente, a sua qualidade. Em geral, os prejuízos são proporcionais à severidade do ataque nas panículas, sendo que depende, em parte, do dano ocorrido nas folhas. Quando o ataque nas folhas for muito intenso, ou as panículas atingidas no momento da emissão e floração, os danos serão sempre maiores. Após o estádio de grãos em massa, ocorre apenas um aumento do percentual de grãos quebrados e gessados. Para o manejo da cultura, com o objetivo de controlar a brusone, tem sido recomendado o dimensionamento adequado da disponibilidade de fontes de água, controle das ervas daninhas, uso de sementes com boa qualidade fitossanitária, semeaduras na época recomendada, adubação equilibrada, sem provocar crescimento vegetativo muito vigoroso das plantas, principalmente em relação ao nitrogênio, troca de cultivares suscetíveis a cada três ou quatro anos para fugir da pressão da doença, uso de cultivares mais resistentes ou tolerantes, evitar altas densidades de semeadura, emprego preventivo de fungicidas e, em casos de elevada pressão da doença indica-se produtos específicos (“brusonicidas”) para controle.

Mancha parda

A mancha parda (Bipolaris oryzae) pode afetar a emergência das plântulas nas lavouras semeadas mais cedo, no início de outubro, e também plantas adultas, já próximas da maturação. Em ataques severos, podem diminuir a produtividade, mas geralmente, os danos maiores são observados na qualidade de grãos produzidos. A doença aparece em vários estádios de desenvolvimento da planta causando lesões no coleóptilo, nas folhas, nas

A infecção por Tilletia barclayana ocorre na antese, logo após emissão da panícula, na abertura do pálea e do lema

panículas e nos grãos, porém os estádios de maior suscetibilidade da cultura ficam entre a emergência e os 30 dias após a emergência e posteriormente no período da floração. Temperaturas oscilando entre 25°C e 30°C, umidade relativa do ar superior a 89% e água livre sobre as folhas beneficiam a manifestação da doença.

A fonte de inóculo primária é a própria semente, portanto o uso de sementes certificadas e de boa qualidade reduz muito a fonte da doença. Também o tratamento de sementes, com princípios ativos eficazes, apresenta bons resultados para controle do patógeno. O uso de fungicidas aplicados via foliar resulta em controle eficaz, e reduz os danos quali-


Ivan F Dressler da Costa

Professor Ivan da Costa e sua equipe formada por Maurício Stefanelo, Adriano Arrué e Maiquel Pes, da UFSM

quantitativos. O manejo da cultura com o objetivo de controlar B. oryzae deve incluir a rotação de culturas e eliminação de gramíneas da área cultivada com arroz para desfavorecer a sobrevivência do fungo.

Cárie-do-grão

Dirceu Gassen

A cárie-do-grão (Tilletia barclayana), até a safra 2003/04 praticamente não mostrava expressão nas lavouras de arroz irrigado, porém nas safras seguintes, com a introdução de variedades mais suscetíveis, como Irga 422 CL, a doença aumentou sua incidência com reduções de até 40% na produtividade da cultura. Embora o potencial desta doença ainda seja alto, nas duas últimas safras a sua ocorrência foi bastante localizada e com severidades consideradas baixas, quando comparadas com aquelas ocorridas em safras anteriores. No caso da cárie, os sintomas aparecem na fase de maturação, e o monitoramento deve ser realizado nas manhãs mais úmidas, período em que a doença fica mais visível, porque a massa de esporos absorve água. A infecção deste patógeno ocorre em curto período de tempo, na antese, isto é, logo após emissão da panícula, na abertura do pálea e do lema (casca do grão de arroz) e cada grão pode produzir

Queima-das-bainhas - A infecção é observada nas bainhas e nos colmos

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até 37,5 mil esporos, que permanecem viáveis no solo, na palha ou na água, e podem ser disseminados pelo vento, infectando as flores do arroz no ano seguinte. A disseminação de T. barclayana é favorecida pela presença de luz, chuvas freqüentes, umidade relativa do ar alta (85% ou mais), temperaturas entre 25°C e 30°C e adubação excessiva de nitrogênio. Cultivares de grão curto são mais resistentes em relação às de grão longo. O controle da cárie-do-grão deve ser realizado preventivamente, com a aplicação de fungicidas sistêmicos do grupo dos triazóis ou misturas que contenham ingredientes ativos deste grupo, no final do estádio de emborrachamento, pouco antes da excersão da panícula, com o objetivo de proteger as flores durante o período de antese. Aplicações curativas apresentam pouco ou nenhum efeito no controle do patógeno.

Escaldadura da folha

A escaldadura da folha (Rhynchosporium oryzae) ocorre praticamente em todos os anos nas lavouras do Rio Grande do Sul, mas com menor intensidade. Esta doença pode paralisar o crescimento da planta no início do emborrachamento, e se torna mais importante o cuidado naquelas lavouras implantadas em locais sujeitos à altas precipitações. Os sintomas típicos da doença, já conhecidos da maioria dos agricultores iniciam pelas extremidades apicais das folhas adultas, com formação típica de áreas concêntricas mais escuras e mais claras, dando aspecto franjado às lesões, sob forte infestação. Em cultivares suscetíveis as lesões podem coalescer, causando secamento e morte da folha afetada. O desenvolvimento da escaldadura é favorecido por temperaturas compreendidas entre 20°C e 30°C, e quando ocorre água sobre a folha. Em relação ao manejo da cultura para o controle desta doença, a eliminação de gramíneas hospedeiras alternativas, como milhã, capim colonião, capim colchão, capim pé-degalinha e capim-arroz diminui as fontes de inóculo primárias. Semeaduras menos adensadas, evitar o uso de adubação nitrogenada pesada, emprego de cultivares mais resistentes ou tolerantes e sementes de boa qualidade

Folha com brusone (Pyricularia grisea), doença com incidência localizada nas diversas regiões produtoras

fitossanitária concorrem para a ocorrência de menores níveis de doença nas lavouras. O uso de fungicidas em pulverizações da parte área tem se mostrado eficaz para o controle da escaldadura da folha.

Queima-das-bainhas

Nos últimos anos, a queima-das-bainhas (Rhizoctonia solani Kühn) tem aumentado seus níveis de incidência e severidade em lavouras de arroz irrigado, nos estados do Rio Grande do Sul e Tocantins. A expansão desta doença pode ser decorrente do plantio irrigado em rotação com culturas da soja ou pastagens consorciadas de azevém com trevo e da introdução das cultivares modernas com maior suscetibilidade. O solo ou sementes infectadas são fontes de inóculo inicial e a infecção inicial é observada nas bainhas e colmos. O fungo é favorecido por crescimento vegetativo excessivo e grande densidade populacional, além de temperaturas entre 10°C e 35°C, com ótimo de 32°C. Os sintomas são caracterizados por manchas não bem definidas, com aspecto de queimado, sobre a qual surgem esclerócios (estruturas de resistência do fungo), de coloração escura. Nas lavouras, quando os ataques são intensos, formam grandes reboleiras com morte precoce das plantas, causando também aparente aceleração da maturação. O manejo de controle desta doença deve levar em consideração a decomposição dos restos de cultura quando possível, mas os melhores resultados são obtidos quando se utiliza a drenagem das áreas de produção durante a entressafra, associado ao uso de cultivares tolerantes ou resistentes e adubação nitrogenada equilibrada (o que evita o crescimento vigoroso das plantas). O controle biológico, com Trichoderma também tem se mostrado muito eficiente e, em algumas situações, com resultados superiores às aplicações de fungicidas, uma vez que o controle químico de R.

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Falso carvão

O falso carvão ou carvão verde do arroz (Ustilaginoidea virens), embora ainda seja considerada doença de menor expressão na cultura, tem ocorrido com muita frequencia e com severidades crescentes em algumas regiões produtoras do Rio Grande do Sul, principalmente em anos de elevada umidade, o que pode torná-la um problema para a cultura. O falso carvão ocorre durante o estádio de maturação da cultura e ataca as panículas do arroz. O fungo transforma os grãos da panícula em ‘’galhas’’ esverdeadas de esporos, com aparência aveludada e coloração amarelo-esverdeada ou amarelo-alaranjado, de forma irregular. Estas “galhas” são pequenas inicialmente, visíveis entre as glumas, crescem gradualmente até alcançar aproximadamente 1cm ou mais de diâmetro. Estas “galhas” consistem em esporos do fungo e restos de micélio. O fungo sobrevive no inverno sobre restos culturais, na forma de esclerócios e a infecção primária ocorre sobre as flores ou mais tarde, sobre os grãos em formação. As sementes também podem disseminar algumas estruturas do fungo. As condições ideais para o desen-

Ivan F Dressler da Costa

solani não mostra eficácia suficiente.

Falso carvão - Ocorrências frequentes e severidades crescentes em algumas regiões produtoras do Rio Grande do Sul, principalmente sob elevada umidade no ambiente

volvimento do patógeno são temperaturas altas, próximas dos 28oC, solos com elevada fertilidade e adubação desequilibrada. Pelo fato de ser considerada uma doença sem expressão na cultura, inexistem produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o seu controle, porém observações de campo mostram a eficácia de controle promovida, quando

se utiliza fungicidas para outras doenças foliares, nos estádios de final de emborrachamento C e floração plena. Maurício Stefanelo, Adriano Arrué, Maiquel Pes e Ivan Dressler da Costa, UFSM


Cana-de-açúcar Fotos Leila L. Dinardo

Exército subterrâneo

A produtividade das lavouras de cana-de-açúcar é bastante afetada por ataques de pragas de solo que danificam o sistema radicular das plantas. Conheça os danos causados pelos diferentes insetos e como realizar corretamente o monitoramento populacional das espécies

P

ragas de solo limitam a produtividade em muitas regiões de cana-deaçúcar no Brasil, inclusive naquelas em que a cultura se expandiu, nos últimos anos, como oeste do estado de São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Para adotar medidas de controle adequadas é necessário conhecer as espécies e suas populações, o que pode ser feito por meio de levantamentos populacionais. A seguir são apresentadas as principais espécies de pragas de solo que atacam os canaviais do país e o método de amostragem sugerido para avaliar suas populações.

tenuis é a mais frequentemente encontrada. Esta espécie é considerada uma das mais importantes, porque seus indivíduos se alimentam de material lenhoso em várias fases de decomposição e das partes vivas das plantas, tais como raízes, toletes e entrenós basais da cana-de-açúcar. Também é bastante comum em áreas com sintomas de danos a espécie P. triacifer. Na região Nordeste, as espécies mais

Cupins

Muitas espécies de cupins foram registradas em canaviais de todo o país. No estado de São Paulo, as mais comuns são Heterotermes tenuis, Cornitermes cumulans, Neocapritermes opacus e Procornitermes triacifer. Em áreas onde são assinalados danos severos causados por cupins, H.

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Detalhe dos danos causados por cupins nos toletes utilizados no plantio da cana-de-açúcar

importantes pertencem aos gêneros Amitermes, Cylindrotermes e Nasutitermes, embora Heterotermes e Neocapritermes também causem danos em algumas áreas (Arrigoni et al, 1989; Novaretti e Fontes, 1998). Os cupins ocorrem em todos os tipos de solo, independentemente da textura, mas os danos são mais facilmente visualizados em culturas conduzidas em solos arenosos, provavelmente porque, em comparação com argilosos, os arenosos geralmente são menos férteis e retêm menor quantidade de água, proporcionando às plantas menores condições de suportar ataque de pragas. Embora possam ser encontradas na lavoura durante todo o ano, as populações na região das raízes são maiores no período seco, o que pode ser atribuído ao fato de que os indivíduos estão se utilizando das raízes não somente como fonte de alimento, mas também de água. As populações geralmente são mais

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elevadas em canaviais mais velhos, já que as operações de preparo de solo para plantio reduzem as populações, por desestruturarem as colônias. Com o passar do tempo, no entanto, as colônias se reorganizam e as populações se elevam. No plantio da cana-de-açúcar, os cupins destroem os toletes e também as gemas e, consequentemente, ocorrem falhas na brotação. Sob infestações severas, podem destruir o interior dos entrenós basais, provocando morte de perfilhos, “coração morto”, quando ainda são jovens ou quebra de colmos adultos. Em decorrência do ataque de cupins, há grandes reduções de produtividade. Em cana-soca ocorre grande destruição dos rizomas, com morte de gemas e, consequentemente, falhas na brotação da soqueira, baixa produtividade e redução na longevidade do canavial. A grandeza dos danos provocados pelos cupins varia, principalmente em razão da(s) espécie(s) presente(s) na área, do nível populacional e do tipo de solo e está de acordo com resultados de diversos ensaios conduzidos pelo IAC, ao redor de 15t/ha em cada ciclo da cultura. Entretanto, em áreas de solos arenosos, com altas populações de H. tenuis, os danos podem ser maiores.

Em reboleiras severamente infestadas por Migdolus fryanus pode ocorrer destruição total do canavial

Migdolus

A espécie Migdolus fryanus (Coleoptera: Cerambycidae) é encontrada em canaviais dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Santa

Catarina e São Paulo. Os machos são pretos ou castanhoescuros, com asas membranosas desenvolvidas e funcionais e antenas atingindo aproximadamente o meio do corpo. As


Fotos Leila L. Dinardo

À esquerda macho e fêmea de Migdolus fryanus. À direita as larvas que destroem as raízes e os rizomas das plantas

fêmeas são geralmente mais claras (marrom ferrugínea), com asas não funcionais e antenas bem mais curtas que a dos machos. Nos meses quentes e úmidos, entre novembro e março, ocorrem as revoadas, quando os machos saem para a superfície do solo e voam em busca das fêmeas, atraídos pelo potente feromônio sexual que elas liberam. As fêmeas vagueiam pelo solo e, depois da cópula, retornam para o solo onde depositam os ovos, a diferentes profundidades. Dos ovos eclodem as larvas que, inicialmente, se alimentam de matéria orgânica. Com o crescimento e necessidade de grande quantidade de alimento, as larvas sobem para a região das raízes da cana, de onde se alimentam, causando destruição do sistema radicular e dos rizomas (internódios basais localizados abaixo da superfície do solo), abrindo galerias. Em consequência da destruição das raízes e rizomas, as plantas não se desenvolvem, amarelecem, secam e morrem, reduzindo drasticamente o estande e a produtividade do canavial. Em reboleiras severamente infestadas, pode ocorrer destruição total do canavial. Embora possam ocorrer em qualquer tipo de solo, os sintomas de ataque são mais severos em solos arenosos, onde as plantas têm menos condições de suportar danos devido às restrições nutricionais e principalmente de água causadas pelos solos arenosos.

larvas, que escavam galerias no interior do rizoma ao se alimentarem. Estas galerias permanecem cheias de serragem fina, característica do ataque da praga. As larvas são mais abundantes na época seca do ano, com pico populacional em junho-julho. Consequentemente, o pico populacional de pupas ocorre em dezembro, enquanto o de adultos em março. Os danos são causados pelas larvas que broqueiam os rizomas e, algumas vezes, o primeiro entrenó basal. Em consequência das galerias abertas na base dos colmos, ocorrem morte de perfilhos, de touceiras e muitas falhas no canavial, favorecendo altas populações de plantas daninhas. Em algumas áreas, o ataque da praga se dá de forma tão intensa que o canavial é reformado logo após o primeiro corte.

Outras pragas de solo

Também são frequentemente encontrados nos canaviais os besouros da família Scarabaeidae, que compreendem várias espécies, muitas

Levantamentos populacionais

Sphenophorus levis

Os adultos do besouro Sphenophorus levis (Coleoptera; Curculionidae) medem de 12mm a 15mm de comprimento, são marrons escuros com manchas pretas sobre o dorso e com a face ventral preta. Após o acasalamento, as fêmeas perfuram os tecidos sadios do rizoma, com as mandíbulas presentes no ápice do rostro, e, então, na base das brotações, inserem os ovos no interior dos colmos. Dos ovos eclodem as

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delas ainda não identificadas, cujas larvas são conhecidas vulgarmente por pão-de-galinha e se alimentam de raízes de cana, toletes ou rizomas e de matéria orgânica. Também são muito comuns larvas de espécies de Naupactus (Coleoptera: Curculionidae), de elaterídeos ou larva arame (Coleoptera: Elateridae) e de percevejo castanho, Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae). Há poucos estudos sobre essas pragas em cana-de-açúcar e os danos provocados são desconhecidos. Outra espécie amplamente disseminada em canaviais é Metamasius hemipterus (Coleoptera: Curculionidae), cujas formas biológicas são muito semelhantes às de S. levis, diferenciando-se dele pelos padrões de manchas e coloração dos adultos. Adultos de M. hemipterus geralmente são de cor alaranjada-escura com manchas marrons quase negras. A importância econômica dessa espécie está restrita às áreas onde os canaviais sofreram danos mecânicos de qualquer natureza, visto que M. hemipterus precisa de um ferimento para entrar na cana. Quando isso ocorre, as fêmeas ovipositam e as larvas se desenvolvem preferencialmente na parte intermediária dos colmos maduros, onde os danos podem ser consideráveis.

Danos causados por Sphenophorus levis

Para adoção de medidas de controle é necessário considerar as populações de cada praga presente na área. Quando cupins são detectados, a recomendação para manejo deve considerar as espécies presentes, as notas populacionais ou, preferencialmente, a porcentagem de touceiras atacadas. Para obtenção de tais dados, necessita-se de levantamentos populacionais. Em áreas cultivadas com cana-de-açúcar, as amostragens para estimar as populações de pragas de solo devem ser feitas logo após o último corte do canavial e antes da destruição da soqueira, o que coincide,

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normalmente, com o período mais seco do ano, quando as populações são mais elevadas. O método de levantamento mais utilizado consta de dois pontos de amostragem por ha e em cada ponto abrese, na linha de cana, uma cova de 0,50m de largura por 0,50m de comprimento e 0,30m de profundidade. O solo e o material vegetal, contidos na cova, são vistoriados, anotando-se em ficha apropriada a ocorrência de danos nas touceiras, a presença de cupins e de outras pragas de solo (Migdolus, S. levis e outros). Para cupins, deve-se atribuir nota em função do número de indivíduos presentes (0 = sem cupins; 1 = 1 a 10 indivíduos; 2 = 11 a 100 indivíduos; 3 = mais de 100 indivíduos). Os soldados devem ser coletados, colocados em vidros com álcool 70% ou formol para identificação da(s) espécie(s) presente(s). É importante identificar as espécies de cupins ocorrentes, pois há espécies mais daninhas à cana-de-açúcar que outras. Em áreas onde a destruição da soqueira já foi efetuada ou em locais não cultivados com cana (áreas de expansão), a presença de cupins pode ser diagnosticada pelo plantio de toletes de cana em covas, em número de pelo menos quatro por hectare. O plantio pode ser feito no início do período chuvoso (setembro/outubro) e aproximadamente 60 dias depois que as covas são abertas e as touceiras arrancadas. Recomenda-se vistoriar o material, atribuindo-se notas em função da população de cupins, da verificação dos danos nos toletes e da identificação das espécies de cupins ocorrentes na área. Áreas infestadas por M. fryanus também podem ser monitoradas por armadilhas com feromônio distribuídas no canavial. As armadilhas constam basicamente de recipiente com água e detergente no fundo (5%) e um dispositivo (arame) onde a

Tabela – Produtos recomendados Praga Princípio ativo Cupins fipronil, imidacloprid Migdolus endosulfan no arado de aivecas + fipronil no sulco Sphenophorus imidaclorpid, thiamethoxan e fipronil

Leila Dinardo-Miranda é pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas

pastilha de feromônio é presa. O feromônio utilizado é sexual sintético, com alta capacidade de atração de machos. Por se tratar de inseto de solo, as armadilhas devem ser colocadas rentes ou ligeiramente abaixo da superfície da terra, uma vez que os machos atraídos voam em direção à fonte do feromônio e descem ao solo, caminhando até a armadilha, onde ficam retidos. As armadilhas devem ser distribuídas ao longo dos corredores, em número variável de um a dez a cada 10ha. Como as revoadas ocorrem, geralmente, entre novembro e março, as armadilhas devem ser colocadas na área a ser monitorada nesse período, fazendo-se vistorias periódicas para certificar-se da presença de adultos nas armadilhas. É aconselhável a substituição das pastilhas a cada 15 ou 20 dias (Bento et al, 1995). A coleta de adultos na área indicará a

ocorrência da praga. O uso de armadilhas com feromônio é indicado para áreas com suspeita da presença da praga, nas quais não se detectaram larvas durante os levantamentos tradicionais. Também recomenda-se para áreas de expansão, sem informações sobre a presença da praga. Muitas vezes, a presença de Migdolus só é notada com a cultura implantada, quando se percebem em campo reboleiras de plantas depauperadas, secas, com sistema radicular e rizomas danificados. Nesses casos, é aconselhável proceder-se levantamento para confirmar a presença da praga e, se possível, delimitar a reboleira com o uso de GPS. A reboleira assim demarcada deve ser plotada em mapa, a fim de que futuras medidas de controle possam ser adotadas. Em relação à S. levis, as populações também podem ser monitoradas por iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços de colmos com aproximadamente 30cm, rachados longitudinalmente e embebidos em solução inseticida (25g de carbaril 80PM em dois litros de água). Recomenda-se colocar as iscas na base das touceiras, em número de dez por hectare, cobertas com capim, palha ou folhas de cana (Precetti e Arrigoni, 1990). Tais iscas atraem os adultos e podem ser utilizadas para detectar a presença da praga em áreas de baixas infestações, onde as larvas e pupas não foram detectadas pelo método de levantamento C tradicional. Leila Luci Dinardo-Miranda, IAC

Larvas de Sphenophorus levis (foto à esquerda) broqueiam os rizomas, com isso abrem galerias na base dos colmos e causam a morte de perfilhos, morte de touceiras e muitas falhas no canavial. À direita detalhes do inseto adulto

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Cana-de-açúcar

Maturação antecipada Condições de precipitação e temperatura favorecem muitas vezes o desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar, em detrimento do acúmulo de sacarose, cujo teor mínimo é exigido para industrialização. Nesse contexto, maturadores químicos são recomendados para que produtores possam realizar a colheita mais cedo e obter preços de venda mais compensadores

D

entro do complexo sistema de produção da indústria açucareira, a maturação da cana-deaçúcar é um dos aspectos mais importantes, pois é dele que depende o fornecimento de um fluxo contínuo de matéria-prima para o funcionamento constante da usina durante o período de colheita. Para ser considerada madura ou em condição de ser industrializada a cana deve apresentar teor mínimo de sacarose (Pol% da cana) acima de 12,275% do peso do colmo, sendo melhor o rendimento quanto maior for esta variável. Em algumas regiões, muitas vezes as condições de precipitação e temperatura nos meses de abril, maio e junho (que correspondem ao início da safra) favorecem o desenvolvimento vegetativo da cana, em

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detrimento do acúmulo de sacarose, retardando a possibilidade de atingir os valores mínimos. Consequentemente, tem-se baixa qualidade tecnológica ou até mesmo falta de matéria-prima para o adequado funcionamento da indústria. Pode ocorrer também o florescimento, como verificado na maioria das áreas plantadas na região Centro-Sul do Brasil, sendo que a intensidade do processo de florescimento e as consequências na qualidade da matéria-prima variam conforme a variedade e o clima. Com a aplicação de maturadores, o produtor pode começar a colheita da canade-açúcar precocemente, obtendo preços de venda mais compensadores.

O que são e como agem

Maturadores químicos são produtos aplicados com a finalidade de antecipar o processo de maturação, promover melhorias

na qualidade da matéria-prima a ser processada, otimizar os resultados agroindustriais e econômicos e auxiliar no planejamento da safra. Já que a maturação natural, em início de safra, pode ser deficiente, mesmo em variedades precoces, a aplicação de maturadores em cana-de-açúcar deve objetivar a indução da maturação durante períodos de baixa concentração de sacarose. Os produtos aumentam o teor de sacarose (POL% da cana), melhoram o período útil de industrialização (PUI), inibem o florescimento e reduzem a isoporização, sem afetar a produtividade e a brotação da soqueira. A viabilidade de uso depende de uma série de fatores, sejam eles climáticos, técnicos, econômicos e, sobretudo, das respostas que cada variedade possa proporcionar a mais a esta prática de cultivo.

Fatores que influenciam

Dentre os inúmeros aspectos que atuam sobre a maturação da cana-de-açúcar podemos destacar o clima como o fator que mais influencia na produtividade. O retardo no ritmo de crescimento para o acúmulo de

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mais açúcar ocorre devido à temperatura do ar, umidade do solo e luminosidade. A gradativa queda de temperatura e redução das precipitações é determinante para a ocorrência do processo de maturação, dessa forma, na região Sudeste do Brasil, o processo tem ocorrência natural a partir de abril/maio, com clímax no mês de setembro. Temperaturas de 17ºC a 18ºC parecem ser particularmente favoráveis para o acúmulo de altos níveis de sacarose. Há efeito interativo entre luz solar, temperatura e diferentes variedades de cana-de-açúcar em resposta ao processo de maturação. Época de aplicação dos produtos químicos, doses utilizadas, época de corte da matéria-prima e variedades são também alguns dos fatores que podem influir na eficiência dos maturadores.

Produtos utilizados

Vários produtos vêm sendo empregados na cultura nos últimos anos, sendo os principais o ethephon, o glifosato, o sulfometuronmetil, fluazifop-p-buthyl, o etiltrinexapac, entre outros, registrados no Brasil para o uso como maturador ou regulador de crescimento vegetal. Destes, o mais tradicional é o ethephon, que reduz o florescimento, eleva os teores de sacarose e não propicia a morte da região apical; promove apenas uma redução de crescimento no entrenó em formação no momento da aplicação (Castro et al, 2001). Outros, como o glifosato, promovem a morte da região apical, tornando obrigatório que a colheita seja realizada dentro de um intervalo máximo após a aplicação, pois ocorre inversão da sacarose nas regiões vizinhas às necrosadas.

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Ethephon

O Ethephon tem se revelado eficiente agente maturador da cana-de-açúcar. É um produto químico estável quando mantido em pH ácido, abaixo de 3,5, que libera o etileno quando em contato com o tecido vegetal, que possui um pH mais elevado. Seu mecanismo de ação está relacionado à paralisação temporária do crescimento vegetativo do meristema apical. Com isso o açúcar produzido passa a ser armazenado, acarretando a elevação do seu teor nos colmos. A aplicação exógena de

etileno ou a síntese de etileno endógeno, motivada por aplicações de reguladores vegetais, herbicidas ou estresses de qualquer natureza, estimula a atividade da enzima PAL (fenilalanina amônio-liase), o que leva a planta a aumentar a síntese de compostos fenólicos,

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para a produção de aminoácidos aromáticos, bem como a de compostos secundários.

Sulfometuron methil

O sulfometuron methil tem se mostrado eficiente como maturador da cana-de-açúcar. Pertence ao grupo das sulfunilureias. Esse grupo parece não bloquear promotores de crescimento, estimula fortemente a produção de etileno pela ação estressante, não inibe a alongação celular, nem a síntese proteica e de RNA. Em doses subletais, promove pequeno crescimento vegetativo

Fluazifop-p-buthyl

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provocando ainda a inibição do crescimento do colmo e seu engrossamento e a inibição da florescência. Além disso, restringe o volume do parênquima sem caldo, aumenta o teor da sacarose e antecipa a colheita se aplicado no início da diferenciação floral. As mudanças impostas pela aplicação do ethephon podem persistir por 60 dias a 90 dias dependendo da variedade de canade-açúcar em questão. Após este período, à medida que o crescimento da cana-deaçúcar se restabelece, o teor de sacarose pode ser reduzido, atingindo o nível que normalmente teria sem a aplicação do ethephon. Sendo assim, é recomendável que a colheita da área que recebeu a aplicação seja feita até os 60 dias a 90 dias, para que os efeitos do maturador sejam compensados pelo incremento da qualidade da matéria-prima. As aplicações de ethephon mostram-se mais eficientes em ambientes com temperaturas moderadas (23ºC a 28ºC) e umidade relativa do ar entre 50% e 70%. No entanto, em ambientes com temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar a aplicação do ethephon é comprometida (Klein et al, 1978). A importância das condições ambientais pode justificar, em muitos casos, os resultados de ineficácia do ethephon em diversos trabalhos de pesquisa.

entrenós. Por esse fato a colheita deve ser realizada até quatro semanas a cinco semanas após a aplicação. A partir desse período irá existir intensa brotação lateral, prejudicial à qualidade da matéria-prima. Inibe o florescimento, reduz a isoporização e aumenta o teor de sacarose. O glifosato paralisa o crescimento e modifica a partição dos fotoassimilados, deslocando-os para o acúmulo de sacarose. O modo de ação desse maturador (utilização de dosagens reduzidas) é a inibição da via metabólica do ácido chiquímico, fundamental

O fluazifop-p-buthyl deve se utilizado em aplicação única, observando os seguintes aspectos: 1) a cana-de-açúcar deverá estar em atividade vegetativa; portanto, mais recomendado no início e no final do período de colheita; 2) boas condições de umidade do solo e umidade relativa do ar; 3) cana-de-açúcar com idade de 10,5 meses a 11 meses (cana de ciclo de 12 meses) e 14 meses no mínimo (cana de ciclo de ano e meio); 4) a colheita da cana-de-açúcar deverá ser feita de cinco semanas a seis semanas após a aplicação. Intervalos maiores poderão permitir a retomada do crescimento vegetativo e consequente inversão da sacarose acumulada.

Etil-trinexapac

O Etil-trinexapac (Moddus) reduz o nível de giberelina ativa, diminuindo a ação de promotores de crescimento, sem afetar, porém, o processo de fotossíntese e a integridade da gema apical. Aumenta o teor de C sacarose e inibe o florescimento. Ana Carolina Ribeiro Dias e Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP

Glifosato

O glifosato é um inibidor de crescimento que pode destruir a gema apical da planta, cessando, assim, a formação de novos

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Informe

Dose reduzida

Dupont lança dois produtos inseticidas com baixas dosagem e toxicidade a mamíferos, peixes e aves

com elevada precipitação. Um dos estudos avaliou o desempenho da molécula após uma chuva de 160mm e a diferença no controle de insetos entre a parcela com e sem precipitação não passou dos 4%. De acordo com Okamura, o uso em baixas doses, que caracteriza os produtos, constitui outro diferencial importante, sobretudo em comparação aos inseticidas tradicionais. A DuPont detém estudos que dão conta de que na cultura da soja, por exemplo, com a aplicação de dois gramas a dez gramas do ingrediente ativo Rynaxypyr por hectare, é possível obter “ótimo padrão no controle de lagartas”, garante. “São produtos excelentes contra as pragas e mais seguros para o meio ambiente”, resume.

A MOLÉCULA

P

rodutores brasileiros terão mais duas alternativas para controlar 23 tipos de insetos em 13 diferentes culturas na safra de verão. Com o lançamento de dois produtos originados a partir da molécula Rynaxypyr, a Dupont promete revolucionar o mercado inseticida a partir deste último bimestre de 2009. Os inseticidas Premio e Altacor inauguram também uma nova geração de agroquímicos, que segundo a empresa, combina eficácia agronômica ao perfil toxicológico favorável ao homem e ao meio ambiente. De acordo com Ricardo Vellutini, presidente da DuPont do Brasil, a molécula Rynaxypyr exigiu vários anos de estudos e sua comercialização atingirá aproximadamente 90 países. “Rynaxypyr resulta de um pacote anual de US$ 700 milhões em investimentos da companhia, no mundo, na área de Agricultura e Nutrição”, explica. Produtos a base da nova molécula, que chegou agora ao Brasil, já são comercializados em 46 países, desde 2007. Juan Carlos Bueno, vice-presidente de Produtos Agrícolas da DuPont, enfatiza que Premio e Altacor serão estratégicos para a atuação da companhia no Brasil. “Com os produtos, a empresa prevê aumentar significativamente suas vendas na área de inseticidas em culturas de soja, milho, arroz, batata, tomate, café, canade-açúcar, maçã, algodão, repolho, melão, pepino e pêssego”. Para Marcelo Okamura, diretor de marketing da DuPont Produtos Agrícolas, o modo de ação da molécula Rynaxypyr sobre

os chamados insetos-pragas é o principal diferencial em relação aos demais produtos. “Seu efeito é imediato, com a ocorrência de uma parada alimentar em questão de minutos”, explica. O executivo também enumera como atributos dos produtos a resistência às chuvas e o efeito “ovolarvicida”, que bloqueia o desenvolvimento de novas populações de pragas nas lavouras. “Os inseticidas proporcionam excelente efeito residual, com ação translaminar, ou seja, agem em toda a superfície da planta tratada”, comenta. Em ensaios realizados o produto mostrou excelente residual mesmo

Rynaxypyr é uma molécula de nova classe química, das diamidas antranílicas. Quando usada logo no início do ciclo de vida das pragas, impede o crescimento de novas populações, maximizando o potencial de rendimento das culturas. Possui ação larvicida e proporciona rápida parada alimentar dos insetos-pragas. É um produto seletivo a insetos benéficos e a inimigos naturais, como artrópodes benéficos, além de polinizadores, parasitóides e predadores. Pesquisas com a molécula continuam sendo desenvolvidas com o objetivo de lançar produtos com baixas toxicidade e C dosagem.

Juan Carlos Bueno, vice-presidente de Produtos Agrícolas da Dupont

Marcelo Okamura, diretor de Marketing da Dupont

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Coluna ANPII

Cuidados com a inoculação O uso concomitante de inoculantes e fertilizantes nitrogenados na cultura da soja pode comprometer o processo simbiótico, interferir na formação dos nódulos e consequentemente diminuir a produtividade

U

m exemplo da evolução tecnológica na agricultura foi o desenvolvimento da tecnologia de inoculação no processo de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que ocorre naturalmente em plantas leguminosas. Esse processo possibilita a exploração

com o rizóbio já é bem conhecida e pode ser maximizada através da inoculação com estirpes de bactérias mais eficientes. O rendimento da cultura, na maioria das vezes, oscila entre 2,5 t/ha e 3,5 t/ha e durante seu ciclo produtivo pode acumular mais de

adubação nitrogenada? É exatamente isso que o produtor não pode fazer. A aplicação de fertilizantes nitrogenados na cultura, além de aumentar os custos de produção, pode comprometer o processo simbiótico e interferir na formação dos nódulos que são as grandes fábricas

Em condições ideais, a inoculação da cultura da soja com o rizóbio pode suprir a necessidade de nitrogênio para que ocorra aumento da produtividade de culturas como a soja, dispensando, durante o processo produtivo, a utilização de qualquer tipo de adubo nitrogenado. A soja, planta de origem asiática, é atualmente a leguminosa de grãos mais cultivada no Brasil, resultado dos programas de pesquisa que possibilitaram a expansão desta cultura pelo território nacional. Os programas de melhoramento da cultura da soja no Brasil foram conduzidos para que a planta pudesse ser cultivada em escala comercial, com elevados níveis de produção, onde a demanda de nitrogênio (que é um nutriente essencial para o crescimento vegetal) seria atendida com o N derivado da inoculação com rizóbio. Para a soja, o rizóbio é uma denominação genérica de bactérias do gênero Bradyrhizobium sp., capazes de formar nódulos nas raízes e converter nitrogênio atmosférico (N 2) em amônia (NH 3 ), processo este conhecido como Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). A simbiose da cultura da soja

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150kg/ha de nitrogênio derivados da simbiose da soja com o rizóbio. A fertilização com nitrogênio é totalmente dispensável para a cultura da soja desde que a inoculação seja feita com sucesso e as condições do solo não limitem o processo de fixação realizado pelo rizóbio. Com esse processo de inoculação e re-inoculação podemos alcançar maiores produtividades. A fixação é um processo que complementa as necessidades de N pela cultura da soja e é essencial. Logo, quanto menor for a disponibilidade do nutriente do solo, maior será a contribuição do nitrogênio fixado para a planta. Por isso, a aplicação de adubos nitrogenados (uréia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, nitrocálcio, etc.), seja no plantio ou durante a floração da oleaginosa, comprometeria o processo de fixação. Por que então, com todas essas vantagens, os produtores de soja têm sido bombardeados com a informação de que devem plantar soja fazendo

de nitrogênio e, com isso, diminuir a produtividade da soja. E ainda, por que deixar de utilizar uma fonte de nitrogênio limpa e segura e com um custo 100 vezes menor que a adubação nitrogenada e com alta atividade de absorção de N do ar atmosférico no processo de fixação? Em condições ideais, a inoculação da cultura da soja com o rizóbio pode suprir a necessidade de nitrogênio para que ocorra aumento da produtividade. Recomenda-se, para isso, que se utilizem inoculantes produzidos pelas empresas associadas da ANPII. Esta sim é uma maneira racional de conduzir uma lavoura sem desperdícios, racionalizando recursos disponíveis, protegendo e respeitanC do o meio ambiente.

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Valter Toledo Engenheiro agrônomo, associado à ANPII.


Coluna Agronegócios

O

Energia de dejetos animais

século XXI será marcado por uma transformação radical na matriz energética mundial. A sociedade global viu alvorecer o século XXI iluminado por mais de 80% de energia de fontes fósseis e, antes do último por de sol do século, usaremos 100% de fontes renováveis de energia. Na minha visão de futuro, lá em 2099, estaremos usando mais de 80% de energia captada diretamente do sol (fotovoltaica e térmica), e o restante virá de fontes hídricas, eólica, marés, ondas, geotérmica - e da agricultura de energia. Porém, quando olhamos para 2050, vejo o pico de uso de energia da agricultura. Nesta data, o biodiesel, o etanol e a lenha para fogões de cozinha já terão desaparecido. Em seu lugar virão diesel e gasolina vegetal e bioeletricidade, produzida de biomassa - inclusive de dejetos animais.

rurais chegaria a R$ 3 bilhões anuais,

Resíduos

Agricultura de energia é coisa antiga, lembre da madeira das florestas e do carvão vegetal. A matéria orgânica de onde a energia pode ser gerada - classificada como biomassa residual - são dejetos sólidos e líquidos de animais e restos de vegetais inaproveitáveis para o consumo alimentício. Hodiernamente, geramos bioeletricidade, em grande quantidade, a partir de bagaço de cana, de palha de arroz, de cavacos de madeira, etc. A biodigestão transforma dejetos animais em energia, por meio de bactérias especializadas que degradam a matéria orgânica, em ambiente anaeróbico, gerando energia. Até nisso o Brasil é privilegiado, pois possuímos grande biodiversidade de bactérias biodigestoras,

cuária extensiva, passaríamos de 1 bilhão de toneladas de esterco, por ano!

Serviços ambientais

Entendemos ser necessário implementar uma política pública para remunerar os serviços ambientais prestados por agricultores. Proteger as nascentes e cursos d´água, para garantir a sua qualidade, é um deles. Logo, evitar que o estrume contamine lençóis freáticos, se acumule em baixadas alagadiças, e libere altos teores de metano, também é um serviço ambiental. Lembre-se que o metano é um gás do efeito estufa 21 vezes mais potente do que o gás carbônico, e ambos são diretamente responsáveis pelas Mudanças Climáticas Globais. Transformando o esterco animal em

Além do ganho ambiental, o uso de biofertilizantes reduz a importação dos fertilizantes químicos e, com escala e boa gestão, é possível reduzir o custo da adubação Um dos paradigmas da agricultura do médio prazo será a sustentabilidade e o aproveitamento integral de seus produtos, coprodutos, subprodutos e resíduos. Raciocinando por esta via, o meu amigo, engenheiro agrônomo Jorge Samek, presidente da Itaipu Binacional, encomendou um estudo à FAO para determinar o potencial de energia aproveitável de resíduos orgânicos da agropecuária. O coordenador do estudo foi outro grande amigo meu, o engenheiro agrônomo Cícero Bley Júnior. O estudo mostrou que temos potencial para produzir mais de 12 TWh anuais que, ao preço médio de R$130,00/MWh, equivalem a R$1,56 bilhões. A geração de energia é similar à expectativa de produção da futura hidroelétrica de Jirau e representa 13% do recorde de produção da maior hidroelétrica do mundo – justamente Itaipu. Traduzindo em outros números, esta energia poderia atender mais de 45% da demanda de energia elétrica residencial do Paraná. Para realizar este potencial, o investimento estimado é de R$ 1,5 bilhão. E a economia com a aquisição de energia nas propriedades

e o clima tropical é adequado para otimizar o processo. Há também um excepcional bônus para dejetos animais, pois a biodigestão deixa o seu próprio resíduo, que é o biofertilizante, rico em matéria orgânica e em diversos macro e micronutrientes. Além do ganho ambiental, o uso de biofertilizantes reduz a importação dos fertilizantes químicos e, com escala e boa gestão, é possível reduzir o custo da adubação. O que é particularmente importante para hortaliças, frutas e ornamentais, cultivos de alto valor intrínseco, conduzidos em pequenas áreas e exigentes em condições químicas e físicas do solo. Extrapolando a concentração média de nutrientes em biofertilizantes, obtidos de estrume, vinhaça, cascas e palhas, cama de aves e outros, o estudo demonstrou ser possível produzir 85% do nitrogênio, 43% do potássio e 15% do fósforo aplicado na safra de grãos passada. Se o leitor torceu o nariz, lembre que, na pecuária confinada (bois, aves e porcos) são produzidas 180 milhões de toneladas de esterco, anualmente. Se houvesse uma fórmula factível de aproveitar o esterco produzido pela pe-

energia e biofertilizante, evitaríamos emissões de mais de 71 toneladas de CO 2, como determinou o estudo da FAO/Itaipu. Essa redução de emissões poderia garantir aos criadores um faturamento anual de R$ 1,764 milhões em créditos de carbono (R$ 24,70/t CO2), superior ao investimento necessário para aproveitar todo o potencial bioelétrico. No Paraná, a Copel adquire a energia produzida pelo tratamento dos efluentes, por biodigestão da matéria orgânica. Já existem quatro contratos em vigor, totalizando 524kw. A política pública que propomos deve gravar o uso de energia fóssil e, com os recursos arrecadados, estimular a pesquisa, a assistência técnica, o financiamento para a geração de energia e biofertilizante (pagamento de serviços ambientais) e o asseguramento do mercado para venda da energia produzida. C

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Economia mundial cresce e abre boas expectativas para o agronegócio em 2010 O crescimento da economia mundial nestes últimos meses tem sido muito acima do que o mercado previa. Os níveis estão além das expectativas dos analistas mais otimistas. A China, por exemplo, cresceu a um ritmo de 8% ao ano em 2009, frente às expectativas otimistas que apontavam percentual ao redor de 6%. Como os chineses tiveram perdas severas na safra de grãos devido a problemas climáticos, abrirão grandes espaços para importações, principalmente de soja (que deverá bater recorde novamente e passar das 44 milhões de toneladas). E, novamente, o Brasil deverá ser o seu principal fornecedor. Junto a isso temos bom crescimento econômico na Índia, estimado em 5% a 6%, também superando em muito as expectativas. Este país perdeu grandes volumes de grãos devido ao clima irregular e terá que passar de exportador para importador de grãos e também de açúcar (um dos carros chefes do país na área agrícola), abrindo grandes espaços locais e em países que compravam produtos indianos. Outro fator importante que irá beneficiar o Brasil nos próximos anos vem da Europa, onde a União Européia pressiona no sentido de tirar os subsídios e a partir de 2014 zerar os níveis nos produtos que vão para a exportação. Desta forma, haverá novos espaços para países que estão crescendo, como é o caso do Brasil, que neste ano se firmou na exportação de produtos como o arroz, dos quais era tradicionalmente importador. O Brasil também mostra crescimento importante nas exportações do milho, segue como líder no complexo soja, mantém liderança no setor de açúcar (que teve forte crescimento de preços neste ano, justamente em função da grande quebra de safra da Índia). Junto a isso, seguimos como líderes no setor das carnes, com frango e boi na liderança mundial, voltando a crescer também com a carne suína. Sem contar outros produtos menos lembrados, como o fumo, com o qual também somos líderes mundiais e que nos trás bilhões de dólares em divisas. Temos grande potencial de crescimento para o novo ano e junto a isso, veremos ganhos nas cotações médias, já que o quadro atual indica ambiente propício para novos avanços nas cotações de todo o setor agropecuário mundial. Tudo indica que as margens de lucros para os produtores serão maiores em 2010 do que os conseguidos em 2009.

MILHO Pressionando para cima

A comercialização do milho já avançou forte nos estados centrais do País, com apoio do governo via Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), que levou a maior parte da safra do Mato Grosso para a exportação, abrindo desta forma espaço para ganhos no mercado interno, com fôlego para novos ajustes nesta virada de ano. O mercado está nos últimos momentos do ano e mostra pouco espaço para negócios nesta segunda quinzena de dezembro até o final da primeira quinzena de janeiro. Após esse período, veremos pressão de alta pelos vendedores, que estão capitalizados e devem apostar em níveis maiores mais a frente. O plantio do milho recuou forte nesta primeira safra, passou dos 9 milhões de hectares para os 7,5 milhões de hectares, embora o clima, até agora, siga favorecendo as lavouras com chuvas regulares.

parte dos insumos que estavam em aberto. Com o plantio avançando em bom ritmo, tudo indica que se passará com facilidade dos 23 milhões de hectares plantadas e com isso a safra tende a girar em torno de 62 milhões de toneladas a 66 milhões de toneladas de grãos. O clima segue favorável, mas os primeiros focos de ferrugem apareceram mais cedo, o que obrigará os produtores a dar maior atenção às lavouras para garantir boa produtividade. O mercado mostra níveis em dólares maiores para 2010 do que vinha sendo trabalhado em 2009 e está aproximadamente US$ 5,00 por saca, acima do que operava no mesmo período de 2008, sinalizando que uma boa safra vem pela frente. O grande apoio do governo para a soja veio através do aumento da mistura de biodiesel no diesel. A partir de janeiro, a mistura passará do B4(4% de biodiesel no diesel) para o B5 (5% de biodiesel no diesel), o que promete aumentar o consumo brasileiro em pelo menos 4 milhões de toneladas de soja para cobrir a necessidade de óleo.

SOJA

FEIJÃO Safra em colheita e calmaria de final de ano A comercialização da soja na safra 09/10 A primeira safra do feijão 2010 já está em voltou a fluir em novembro, quando as cotações de Chicago retornaram a operar acima dos US$ colheita, com produtores em negociação. Porém, as 10,00 por bushel em Chicago e a relação de troca cotações ainda estão abaixo dos interesses do setor esteve favorável aos produtores, que fixaram grande e muito inferiores ao que estava sendo praticado em

Fixando safra nova

anos anteriores. Além da baixa cotação, agora temse também demanda curta, porque normalmente dezembro tem baixa procura pelos alimentos básicos e somente a partir de final de janeiro é que se tem a volta das reposições. Boas expectativas para o mercado são esperadas a partir de fevereiro, quando poderemos ter aumento da procura e crescimento das cotações para níveis de R$ 80,00 e acima. ARROZ

Reagindo no fechamento do ano

O mercado do arroz mostra pressão de alta nos indicativos porque os produtores já quitaram as dívidas do custeio e de Empréstimos do Governo Federal (EGFs) e exerceram as opções. Com isso, sobrou pouco produto para os próximos meses e os vendedores terão nas mãos o poder de puxar os indicativos para cima neste começo de 2010. Tudo aponta que no ano seguinte o quadro de oferta e demanda brasileiro será muito apertado, o que indica que a nova colheita tende a começar com pressão de alta e indicativos maiores do que se trabalhou neste último ano. O Brasil caminha para uma safra ao redor das 11 milhões de toneladas, contra consumo de 13 milhões de toneladas. Também continuaremos exportando grandes volumes, entre 700 mil toneladas a 900 mil toneladas.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado teve que ser apoiado pelo governo, porque as indústrias tem trabalhado das mãos para boca. Assim, para garantir níveis de R$ 450,00 a R$ 480,00 por tonelada, o governo entrou com vários pregões de PEP, criando liquidez para os produtores que deveriam colher 6 milhões de toneladas. Porém, com as chuvas na colheita, o resultado ficou em níveis próximos a 4,5 milhões de toneladas (o restante irá para o setor de ração ou para a exportação). O mercado de trigo tem fôlego para 2010, uma vez que a Argentina não tem o produto para nos atender e os indicativos no Canadá e Estados Unidos devem crescer junto com a economia mundial e subir acima dos US$ 300 por tonelada. ALGODÃO - O mercado novamente foi apoiado pelo governo e os indicativos, mesmo em crescimento (em dólares), não motivaram os produtores, que sinalizam com queda na nova área de plantio (que ficará atrelada aos produtores maiores e mais tecnificados). EUA - A safra foi colhida com grande atraso e os números finais ainda não estão claros. Mas tudo aponta que a colheita real foi menor do que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) havia estimado. É o caso do milho, estimado em 328 milhões de toneladas ou da soja, que foi apontada em 90 milhões de toneladas. O mercado indica números menores. Além disso as últimas lavouras foram colhidas na chuva e com baixa qualidade.

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CHINA - A safra está chegando ao final, com grandes perdas, porque o país sofreu com seca no começo do desenvolvimento das plantas e chuvas em excesso na fase de maturação e colheita. Além disso as nevascas nas últimas semanas trouxeram prejuízos extensos aos agricultores. Com isso o país seguirá como líder nas importações mundiais de alimentos. ÍNDIA - O clima segue como vilão da safra Indiana, com chuvas, tornados e perdas gigantescas nas colheitas. Houve inundações das lavouras prontas e, desta forma, perdas de produtividade e qualidade. Outra grande parte das áreas foram perdidas com a seca e o grande atraso da entrada das chuvas de Monções. Os indicativos locais apontam que as perdas superam a marca das 55 milhões de toneladas de grãos e mais de 10 milhões de toneladas de cana. ARGENTINA - Começou a safra com problemas climáticos, exatamente como terminou a última. Além disso, ocorreram implicações pelo uso de sementes de soja de baixa qualidade. Os números da produção apontados pelo USDA em 53 milhões de toneladas, podem não ir além das 40 milhões de toneladas, segundo indicativos de empresas portenhas, já que as chuvas tem ocorrido muito abaixo das necessidades das lavouras. Além de perder com a soja, a Argentina também reduziu em 25% a área plantada com milho. Tudo isso sem contabilizar a safra do trigo, que foi fortemente afetada pela seca em quase toda a fase de formação dos cachos e grãos, com queda na produtividade e na qualidade.

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