Cultivar 128

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XI • Nº 128 • Janeiro 2010 • ISSN - 1516-358X

Editorial

E

ncerramos mais um ano. Em 2009 o agronegócio brasileiro sobreviveu com bravura a desafios importantes como crise econômica mundial, câmbio desfavorável e condições climáticas adversas. Problemas insuficientes para abalar o ânimo dos produtores, que preparam para 2010 mais uma grande safra, puxada por culturas como a soja. O clima deu trabalho em 2009. Além das perdas de produtividade, doenças surgiram mais cedo e com maior intensidade. Pragas também registraram surtos e migrações entre as culturas. Novamente a pesquisa agropecuária marcou pontos positivos. O lançamento de variedades resistentes a doenças e pragas é um dos muitos exemplos concretos de avanços nesse segmento. Mesmo em clima de retrospectiva, nossa Edição Especial traz novidades. Além dos artigos selecionados entre os melhores publicados ao longo de 2009, contamos com dois assuntos inéditos. O primeiro, em formato de Caderno Técnico, aborda a problemática de nematoides, pragas que crescem em importância e trazem preocupação às fazendas brasileiras, principalmente nos cerrados. O outro, em forma de artigo, aborda doenças em arroz, que neste ano chegaram mais cedo e com maior intensidade ao Sul do Brasil, favorecidas pelo grande volume de chuvas e que exigem medidas antecipadas de manejo. Foi mais um ano de trabalho árduo, na busca constante por pautas atualizadas que acompanhem a velocidade dos novos desafios que a cada safra surgem nas lavouras. Esperamos ter alcançado o objetivo, de ser uma ferramenta a mais para auxiliar você, caro leitor, na tomada de decisões em sua propriedade. Ótima leitura e excelente 2010! Índice Arroz vermelho Herbicidas e problemas de resitência na cultura do milho

Expediente 04 08

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

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Viroses em trigo

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Janice Ebel

20

Cristiano Ceia • Revisão

GRÁFICA • Impressão

Mosca-branca em soja

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Nematoides em milho

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Charles Ricardo Echer

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Design Gráfico e Diagramação

Aline Partzsch de Almeida

Limites da resistência em soja

• Coordenação

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Nematoides em cana

MARKETING E PUBLICIDADE

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Diretor Newton Peter

Cautela no uso de milho

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Eventos - Clube da Cana FMC

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Eventos - Lançamento do Brio da Basf

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Adensamento na safrinha de algodão

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Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Redação: • Geral 3028.2060 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070

• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Arroz

Levantamentos do Irga nas safras 2006/07 e 2007/08 mostram o avanço de populações de arroz vermelho em lavouras do Rio Grande do Sul. Entre os fatores que favoreceram o aumento estão o uso indevido do Sistema Clearfield como única alternativa de manejo, o emprego de grãos de arroz contaminado como sementes e aplicações de herbicidas e doses não recomendadas para a cultura

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produtividade da lavoura de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul nos últimos anos, sendo que, até hoje, pode ser considerada a mais importante ferramenta oferecida aos produtores para controle químico do arroz-vermelho. Neste contexto, mesmo com a crise mundial no setor de alimentos, o Rio Grande do Sul assume papel de relevância como produtor de arroz. A cada ano está mais competitivo frente a países do Mercosul, como Argentina, Pa-

raguai e Uruguai e mesmo perante outros estados brasileiros, como Mato Grosso e Santa Catarina. Atualmente, o estado gaúcho é responsável por cerca de 60% da produção do Brasil, com área cultivada de aproximadamente 1.060.000 de hectares (desse total 500 mil hectares estão sob o Sistema Clearfield® de Produção). Apesar de proporcionar grande vantagem para a cultura do arroz, a adoção de genótipos resistentes a herbicidas implica

Dirceu Agostinetto

desenvolvimento do Sistema de Produção Clearfield® (Basf, 2004) em arroz (Oryza sativa) cultivado proporcionou uma estratégia de manejo eficaz no controle seletivo de plantas daninhas, pelo uso de genótipos resistentes a herbicidas do grupo químico das imidazolinonas. O mecanismo de ação destes defensivos é a inibição da atividade das enzimas acetolactato sintase (ALS) na rota de síntese dos aminoácidos de cadeia ramificada valina, leucina e isoleucina. O principal propósito do uso de genótipos de arroz resistentes aos herbicidas se refere ao controle seletivo do arroz vermelho (O. sativa), que se destaca como a espécie daninha que causa maiores danos à cultura do arroz irrigado, em decorrência da redução da produtividade, da depreciação do produto final, das dificuldades de controle e do elevado grau de infestação das áreas cultivadas. O controle químico eficaz do arroz vermelho não era possível com o uso de genótipos convencionais, por haver similaridade morfológica e fisiológica entre o arroz cultivado e a espécie daninha. Ao uso do Sistema Clearfield® de Produção é atribuída parte do incremento de

A dificuldade no controle de arroz vermelho, através do controle químico, está na similaridade morfológica e fisiológica entre o arroz cultivado e a daninha

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Dirceu Gassen

0,008% originou 170 indivíduos resistentes de arroz vermelho por hectare. Considerados a ocorrência de falhas no controle (escapes) de arroz vermelho e o uso frequente de sementes contaminadas com grãos de arroz-vermelho pelos agricultores, em lavouras comerciais de arroz irrigado conduzidas sob o Sistema Clearfield® de Produção, o Instituto Riograndense do Arroz (Irga) desenvolve trabalhos para avaliar a ocorrência de populações de arroz vermelho resistentes aos herbicidas do grupo químico das imidazolinonas no Rio Grande do Sul. Para a realização dos trabalhos utilizaram-se 228 e 320 populações de arroz vermelho provenientes de plantas não controladas (escapes) em lavouras comerciais da cultivar Irga 422CL com dois a três anos ou mais de cultivos consecutivos nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Cada população continha sementes de panículas de diversas plantas que ocorriam no local de coleta em questão e, neste caso, cada

Valmir Gaedke Menezes

populações de arroz vermelho resistentes aos herbicidas imidazolinonas, devido ao uso repetido de herbicidas de um mesmo grupo ou pertencentes a diferentes grupos, mas com mesmo mecanismo de ação. Outro fato relevante que pode contribuir para a ocorrência de populações de arroz vermelho resistentes a herbicidas refere-se ao fluxo de genes entre arroz cultivado e arroz vermelho. A introdução de cultivares resistentes aos herbicidas imidazolinonas pode resultar na ocorrência de fluxo gênico para os genótipos de arroz silvestre. A maioria dos trabalhos publicados sobre dispersão de pólen indica que as taxas de fecundação entre arroz cultivado e arroz-vermelho ocorrem em níveis inferiores a 1%. Entretanto, cabe ressaltar que pequenas taxas de fluxo gênico podem representar considerável aumento na frequência de indivíduos resistentes na população, em virtude do elevado grau de infestação das áreas cultivadas. Estudos demonstram que fluxo gênico na taxa de

na observação de aspectos relacionados à seleção de populações de arroz-vermelho resistentes. Todas as populações de plantas daninhas, independentemente da aplicação de qualquer produto, provavelmente contêm plantas resistentes a herbicidas. Trabalho conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos (EUA) corrobora esta hipótese, demonstrando a existência de biótipos de arroz-vermelho tolerantes aos herbicidas imidazolinonas. Nesta ótica, fica evidente que o uso contínuo do Sistema Clearfield® de Produção nas áreas de arroz irrigado do Rio Grande do Sul pode favorecer o desenvolvimento de

Amostragem com arroz vermelho - fotointoxicação aos 28 dias


Trabalho do Irga mostra presença de populações resistentes de arroz vermelho em todas as regiões produtoras do Rio Grande do Sul

controladas) e o uso de herbicidas e doses não recomendados para a cultura. Preocupados em preservar a principal ferramenta no manejo de arroz vermelho no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, instituições e/ou empresas como Irga, Epagri, Ricetec, Basf, Apassul e Acapsa lançaram a campanha “Todos unidos contra o arroz vermelho”. O trabalho inclui sete pontos fundamentais: Passo 1 – Uso de sementes certificadas - Sementes isentas de grãos de arroz Cultivar

população pode conter mais de um biótipo de arroz vermelho. Os dados evidenciaram que 56% das amostras avaliadas no primeiro ano continham plantas de arroz vermelho resistentes ao herbicida imazapique (imidazolinona) + imazetapir (imidazolinona). No segundo ano de avaliação esse percentual saltou para 71% do número de amostras avaliadas. Também se observou que populações de arroz vermelho resistentes estão presentes em todas as regiões que cultivam arroz no estado. (ver mapas). As razões básicas para estes resultados tão elevados se devem principalmente ao uso indevido do Sistema Clearfield para o manejo de arroz vermelho. Dentre esses fatores estão o uso de grãos de arroz como sementes e contaminados com grãos de arroz vermelho, o emprego de mais de dois anos consecutivos do Sistema Clearfield na mesma área, a utilização da tecnologia como a única estratégia para o manejo desta planta daninha, não controle de escapes (plantas de arroz vermelho não

Menezes alerta para o cuidado com a resistência do arroz vermelho aos herbicidas imidazolinonas

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vermelho - Garantia de sanidade e vigor - Poder germinativo maior que 90% Passo 2 – Utilizar adequadamente os produtos registrados - Produtos registrados e recomendados para a cultura - Usar o adjuvante e a dose recomendados - Aplicar o herbicida com as plantas de arroz vermelho com três-quatro folhas - Observar as condições para uma boa aplicação (clima e equipamentos) Passo 3 – Irrigar no estádio recomendado - Três-quatro folhas das plantas de arroz - Manter lâmina de água constante e altura compatível com o desenvolvimento da cultura Passo 4 – Controlar os escapes através da “barra química” ou catação manual Passo 5 – Rotacionar o Sistema Clearfield - Planejar o uso da tecnologia na propriedade - Utilizar no máximo por dois anos consecutivos na mesma área - Rotar sempre que possível com soja RR Passo 6 – Limpar máquinas, equipamentos, canais, drenos e estradas Passo 7 - Consultar sempre a assistência técnica C Valmir Gaedke Menezes, Irga



Arroz

Mais cedo

O clima desfavorável na safra atual de arroz, principalmente em lavouras semeadas tardiamente, trouxe prejuízos fisiológicos para as plantas e, com isso, ataque antecipado das principais doenças que assolam a cultura. Por isso, além das medidas de manejo que o produtor necessita adotar desde a entressafra, a aplicação preventiva de fungicidas na parte aérea é indicada para garantir a produtividade através da proteção contra infecção dos patógenos

O

controle das doenças em arroz irrigado deve ser estruturado em torno do manejo da cultura, características genéticas varietais, equilíbrio no balanço nutricional, estratégias de redução do inóculo e proteção química. A associação entre o manejo cultural da lavoura e as características varietais constitui-se na base para o controle da maioria das doenças, apresentando influência decisiva sobre sua incidência e severidade.

Fatores de predisposição Brusone (Pyricularia oryzae) A maior suscetibilidade à brusone é observada nos estádios de três a quatro folhas e floração, embora a doença possa ocorrer em todas as fases de desenvolvimento da cultura. Os danos são variáveis, dependendo da suscetibilidade da cultivar, do manejo dado à lavoura e das condições climáticas. Anos chuvosos e com alta nebulosidade são favoráveis ao ataque do patógeno e os danos mais acentuados em semeaduras do tarde e no período de janeiro a março. A brusone é favorecida por níveis elevados

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de matéria orgânica no solo e pela aplicação de níveis elevados de adubação nitrogenada (50kg de N/ha a 120kg de N/ha). Aumento nos níveis de fósforo e pH, devido à adição de calcário, também favorece a brusone. Solos pobres em matéria orgânica, quando não se aplica nitrogênio, também predispõem à ocorrência da doença. Atraso na irrigação, até 30 dias da emergência, e a ausência de água em determinadas áreas da lavoura (coroas ou taipas), aceleram o aparecimento dos primeiros focos. Nestas condições pode ocorrer maior acúmulo de nitrogênio e açúcares nos tecidos, em detri-

mento da formação de amido, o que favorece a colonização e o desenvolvimento do patógeno na planta, diminuindo a eficácia do controle químico. Mancha parda (Bipolaris oryzae) A maior suscetibilidade do arroz à mancha parda ocorre no período de emergência, aos 30 dias (estágio de quatro a cinco folhas) e na floração (no período do 1º ao 3º dia após a emissão da panícula). Deficiências nutricionais, principalmente devido ao potássio e a micronutrientes, influenciam significativamente esta doença, disseminada em todas as

O manejo cultural da lavoura e as características varietais influenciam na incidência e na severidade das doenças

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Manejo das doenças

áreas de produção. Mancha estreita (Cercospora oryzae) A ocorrência da mancha estreita está ligada diretamente a temperaturas elevadas (28ºC a 32ºC), e à alta umidade relativa. A doença é favorecida pela deficiência de potássio. Escaldadura das folhas (Microdochium oryzae) As condições de clima e de fertilidade do solo, que favorecem esta doença, são semelhantes às da brusone. Plantas com maior massa verde e com excesso de adubação nitrogenada são atacadas mais severamente. A temperatura favorável ao desenvolvimento do fungo está entre 20ºC e 27ºC. A ocorrência de chuva e a presença de orvalho são os elementos climáticos mais importantes para a doença. Para o manejo da escaldadura das folhas deve-se realizar adubação nitrogenada equilibrada. As cultivares de porte moderno semianãs são mais suscetíveis à escaldadura, enquanto cultivares americanas e tradicionais mostram-se mais tolerantes à doença. Queima das bainhas (Rhizoctonia solani) A maior sensibilidade das plantas de arroz à queima das bainhas ocorre entre o perfilhamento e a floração. A presença de níveis elevados de matéria orgânica no solo, restos de cultura e a adubação nitrogenada em níveis que favoreçam o crescimento vigoroso das plantas tornam-nas predispostas ao ataque desta doença. A ocorrência de temperaturas entre 25ºC e 35ºC e de umidade relativa acima de 97%, favorece o ataque do fungo e o estabelecimento da doença nas plantas de arroz. Em solos com deficiência de potássio a queima das bainhas ataca mais cedo e produz maiores danos.

Mancha parda: a emergência e a floração são os períodos mais críticos para o arroz

nentes à ocorrência desta doença. Cárie do grão (Tilletia barclayana) A doença é favorecida pelo uso de excessivas doses de N. No Brasil não foram realizados estudos de reação de germoplasma de arroz com relação à T. barclayana, contudo, relatos apontam que cultivares de grão curto são mais resistentes que as de grãos médio e longo. A época de semeadura é outro fator que afeta diretamente a intensidade das epidemias, sendo que, os maiores danos da doença são observados em cultivos tardios, por provocar a coincidência de maior pressão de inóculo, condições ambientais favoráveis e estádio de desenvolvimento mais propenso a sua infecção.

O manejo das doenças na cultura do arroz deve ser realizado a fim de associar medidas que atuem desde a sobrevivência dos patógenos, dificultando o seu surgimento, até ações que retardem a progressão das epidemias e, consequentemente, os danos causados. A preparação antecipada do solo, normalmente realizada na entressafra, pode propiciar destruição significativa de restos culturais, favorecendo a eliminação das estruturas de sobrevivência dos fungos. Em adição ao preparo do solo, a eliminação de hospedeiros intermediários, tais como plantas daninhas de ocorrência espontânea na área ou até mesmo nas taipas e nos canais de irrigação, reduz a quantidade de inóculo para o surgimento de novas epidemias para a safra seguinte. O controle de plantas daninhas também é importante, pois além de interferir diretamente no desenvolvimento da cultura, muitas espécies são hospedeiras de doenças como brusone, mancha parda, mancha estreita, escaldadura e queima das bainhas. A época de semeadura é fator decisivo no manejo de doenças. Sua antecipação favorece que o estádio reprodutivo do arroz ocorra sob condições climáticas menos favoráveis aos patógenos. Amplitude térmica e umidade relativa do ar elevadas, nebulosidade e precipitação frequentes, comuns a partir do mês de fevereiro, favorecem a progressão mais rápida e antecipada das doenças. No caso de cultivares de ciclo médio ou tardio, a propensão ao ataque de doenças torna-se maior. Devido à condição anormal de clima observada na safra 2009/2010, no Rio Grande do Sul, a adoção de fatores de manejo na cultura do arroz é

Mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae) As plantas são mais sensíveis entre o perfilhamento e a floração. O crescimento vegetativo excessivo e a grande densidade de plantas são bastante favoráveis ao estabelecimento da doença. Temperaturas entre 10ºC e 35ºC são o principal componente climático predisponente ao estabelecimento da mancha das bainhas. Mancha das glumas (Alternaria spp., Curvularia lunata, Bipolaris oryzae, Fusarium sp., Nigrospora oryzae e Phoma sp.)

As plantas de arroz são mais sensíveis no período compreendido entre a emissão da panícula e o estádio de grão leitoso. A ocorrência de manchas de grãos é mais severa quando ocorrem temperaturas entre 15ºC e 20ºC durante os períodos de emborrachamento e floração, fazendo com que o problema também tenha a sua causa atribuída ao frio. Semeaduras tardias são altamente predispo-

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Doença Brusone Mancha parda Mancha estreita Escaldadura Queima das bainhas Mancha das bainhas Mancha das glumas

Cárie ou carvão

Patógeno

Pyricularia oryzae Bipolaris oryzae Cercospora oryzae Microdochium oryzae Rhizoctonia solani Rhizoctonia oryzae Alternaria spp. Curvularia lunata Bipolaris oryzae Fusarium sp. Nigrospora oryzae Phoma sp. Tilletia barclayana

Temperatura 20-30ºC 20-30ºC 28-32ºC 20-27ºC 25-35ºC 10-35ºC 15-20ºC

UR (%) > 90% > 89% > 90% > 90% 97% 94% 90%

Época semeadura tardia (Dezembro) tardia (Dezembro) tardia (Dezembro)

Disseminação vento vento e chuva vento água e vento solo solo, água e restos de cultura -

Outros dias nublados chuva e orvalho frio

25-30ºC

> 90%

tardia (Dezembro)

doença não-sistêmica

luz e O2

Fatores de interferência no progresso de doenças na cultura do arroz.

fundamental para amenizar os efeitos das semeaduras tardias. A semeadura realizada em dezembro altera o ciclo da maioria das cultivares, tornando-as mais sensíveis às doenças, além de levar a uma maior coincidência dos períodos de emborrachamento e de floração com a ocorrência de temperatura, umidade relativa e nebulosidade favoráveis, problemáticas à cultura. Nesse período também existe maior número de esporos de patógenos no ar, o que aumenta a probabilidade de infecção. Como muitas doenças são disseminadas pelas sementes e a sua qualidade nem sempre atinge níveis compatíveis, a utilização de material com bom estado fisiológico e fitossanitário, que permita uma emergência mais rápida e mais uniforme, pode reduzir o efeito de patógenos causadores de tombamento e queima foliar em plântulas. É indicado tratamento com fungicidas para reduzir o potencial de inóculo e prover tolerância extra a fatores adversos durante o período inicial de estabelecimento da cultura. Adubação nitrogenada excessiva, atraso na colocação de água após a adubação de cobertura ou mesmo o seu parcelamento, provocam desequilíbrio nutricional na plan-

Ricardo Balardin alerta para o surgimento antecipado de doenças nesta safra

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Doença Brusone Mancha parda Mancha estreita Escaldadura Queima das bainhas Mancha das bainhas Mancha das glumas

Cárie ou carvão

Patógeno

Pyricularia oryzae Bipolaris oryzae Cercospora oryzae Microdochium oryzae Rhizoctonia solani Rhizoctonia oryzae Alternaria sp. Curvularia lunata Bipolaris oryzae Fusarium sp. Nigrospora oryzae Phoma sp. Tilletia barclayana

Matéria orgânica elevada elevada -

Adubação N (50 - 120kg/ha) deficiência N e K deficiência K N (50 - 120kg/ha) alto N e deficiência de K N (50 - 120kg/ha) deficiência de K, P e SiO2

-

N (50 - 120kg/ha)

Fatores de nutricionais envolvidos no progresso de doenças na cultura do arroz

ta, em parte devido à redução na absorção de nutrientes como potássio, essencial na estruturação da parede celular, juntamente com o cálcio e o fósforo, que atuam em diversas rotas metabólicas de defesa das plantas. Irrigação desuniforme também é capaz de causar estresse nas plantas, favorecendo a infecção tanto por patógenos de parte aérea como radiculares. A ocorrência de brusone é favorecida pela irrigação tardia e descontínua, em virtude da menor absorção de silício (Si), elemento responsável pela camada de sílica, que reduz a capacidade de infecção de patógenos, envolvimento na formação e acúmulo de compostos antimicrobianos, responsáveis pela proteção natural da planta. A utilização de proteção química de parte aérea, quando associada a práticas básicas de manejo da cultura do arroz, tem produzido

Brusone: é favorecida pela irrigação tardia e descontínua

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aumento na produtividade na faixa de 5% a 50% em comparação às áreas não protegidas. O momento da aplicação de fungicidas é influenciado por todos os fatores até o momento enumerados. Sua antecipação ou retardamento depende de decisões locais onde os aspectos de manejo são ponderados com base no clima e as condições de estabelecimento e desenvolvimento da lavoura. De qualquer modo, sempre a maior eficácia da proteção será associada à antecipação para que o produto pulverizado consiga proteger a planta tanto do ataque das doenças, que nesta safra ocorrerá mais cedo, como dos prejuízos fisiológicos que estão sofrendo e que poderão aumentar as possibilidades de rápida infecção. O número de aplicações depende basicamente do momento em que a primeira aplicação foi realizada. Ambas as condições mostram-se relacionadas à época de semeadura e ao local onde a lavoura é conduzida. O controle químico das doenças de parte aérea do arroz é uma ferramenta que proporciona estabilidade de produção, eficiência técnica e retorno econômico, desde que acompanhado de um conjunto de medidas de produção e manejo cultural que propiciem à cultura C expressão de altos rendimentos. Ricardo Silveiro Balardin, Giuvan Lenz e Gerson Dalla Corte, UFSM



Cana-de-açúcar José Francisco Garcia

Canaviais infestados Mais de 70% das áreas cultivadas com cana-de-açúcar estão atualmente infestadas por uma ou mais espécies de nematoides de grande importância econômica, como Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. Como o controle é complexo e a erradicação praticamente impossível, resta ao produtor lançar mão de estratégias de manejo que evitem o comprometimento da produtividade

A

área de cultivo de cana-de-açúcar tem aumentado significativamente a cada ano e, com isso, os problemas fitossanitários passam a ser uma constante. A expansão da cultura para regiões de solos arenosos, com condições climáticas favoráveis, tem agravado os problemas com fitonematoides. Nematoides são organismos vermiformes que atacam o sistema radicular e comprometem a absorção de água e nutrientes, reduzindo drasticamente a produtividade da cultura. Em cana-de-açúcar citam-se como mais importantes os formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e os causadores de lesões radiculares, especialmente Pratylenchus zeae.

Danos

Os nematoides de galhas caracterizam-se por penetrar a raiz, injetar substâncias tóxicas e induzirem sítios específicos de alimentação, onde permanecerão durante todo o ciclo de vida. Em geral, nas raízes da planta infectada ocorre a formação de nodosidades, denominadas galhas, no entanto, este sintoma não é comum no sistema radicular da cana-de-açúcar. Os nematoides de lesões radiculares, por sua vez, penetram o sistema radicular e movimentam-se livremente no seu interior, formando pequenas galerias na região cortical, o que compromete a atividade normal das

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raízes. Ambos os tipos de infecção servem como porta de entrada para patógenos oportunistas que habitam o solo, como fungos e bactérias, o que em geral aumenta os danos ocasionados pelos nematoides. Levantamentos realizados em diferentes regiões do Brasil mostram a frequência e as populações cada vez mais elevadas destes nematoides. Considerando os dados levantados pode-se afirmar que é superior a 70% o percentual das áreas cultivadas infestadas por uma ou mais espécies de grande importância econômica. Na região noroeste do Paraná, por exemplo, Meloidogyne spp. e Pratylenchus spp. foram encontrados em 93% e 87% das áreas de plantio de cana-de-açúcar, respectivamente. Atualmente, alguns aspectos adicionais ao parasitismo de nematoides em cana-deaçúcar devem ser considerados. O primeiro é a ocorrência conjunta de Meloidogyne e da bactéria causadora do raquitismo das soqueiras, Leifsonia xyli subsp. xyli, que além de dificultar o diagnóstico exato do patógeno que está ocasionando prejuízos à cultura, causa danos com efeito aditivo, ou seja, somam-se os problemas provocados pelos nematoides aos casados pela bactéria. Outro fator importante é que em algumas regiões, após o vencimento do contrato de arrendamento das terras, os proprietários

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tendem a retomar as atividades agrícolas nas áreas de plantio de cana. Neste caso, os prejuízos com os cultivos subsequentes têm sido altos, já que culturas como soja, algodão, feijão e outras são suscetíveis a ambos os nematoides. É importante salientar que Pratylenchus tem assumido importância cada vez maior na cultura da soja, assim, áreas temporariamente arrendadas para o plantio de cana merecem atenção especial antes de serem novamente destinadas às culturas anuais. Outra prática que tem sido comum no noroeste do Paraná e também em outras regiões agrícolas do país, é a utilização de áreas de pastagem degradada para o cultivo de cana. Considerando que a maioria das pastagens utilizadas é suscetível aos nematoides de lesões radiculares, estabelece-se o cultivo da cana-de-açúcar em solos com elevada população inicial do patógeno no solo.

Controle

O controle de nematoides em cana-deaçúcar é complexo e, após o estabelecimento dessas espécies na área, a erradicação torna-se praticamente impossível. Então, o produtor precisa manejá-las de forma que a produtividade não seja comprometida. Um dos métodos mais práticos e econômicos para o controle de nematoides é o uso de variedades resistentes. No entanto, para a cultura



aldicarbe, são os mais comumente aplicados. Os organofosforados, como terbufós, têm sido menos utilizados, por causarem problemas de fitotoxidez quando usados em associação aos herbicidas. Em geral, os nematicidas são empregados no momento do plantio ou aplicados na soqueira, sendo os melhores resultados observados para o tratamento na cana-planta. Além da redução da população de nematoides no solo, tais produtos podem apresentar efeito fitotônico, aumentando o número de perfilhos e a altura da planta, resultando em acréscimo médio na produtividade de oito toneladas a 20 toneladas por hectare. Contudo, é importante ressaltar que isto não é uma regra, e em alguns casos a relação custo/benefício não se mostra vantajosa. Em geral, o insucesso do controle químico de fitonematoides está associado ao manejo incorreto. Deve-se evitar a utilização de produtos nas formulações líquidas em períodos chuvosos. Isto porque ocorrerá a rápida lixiviação desses defensivos, sendo indicado, neste caso, o uso de granulados. O inverso também deve ser observado, pois o uso de granulados em épocas de baixa precipitação promove a volatilização do produto, comprometendo o controle dos nematoides no momento mais crucial, durante o estabelecimento da cultura. Outro aspecto importante é saber se realmente os nematoides são os responsáveis pelos prejuízos que ocorrem na lavoura. Tem

O uso de variedades resistentes é um dos métodos mais práticos e econômicos, salienta Cláudia

sido comum, em diversas regiões, a aplicação de nematicidas de forma indiscriminada e, em alguns casos, em áreas onde as populações estão muito baixas ou ausentes. Esta prática eleva o custo de produção, além de depositar no ambiente produtos altamente tóxicos. Daí a importância de realizar o levantamento das populações de nematoides no solo, antes da adoção do controle. O produtor deve consultar um engenheiro agrônomo, para proceder as amostragens e o encaminhamento do material C para laboratório especializado. Cláudia Regina Dias-Arieira e Davi Antonio Oliveira Barizão, Universidade Estadual de Maringá

Fotos Cláudia Regina Dias-Arieira

da cana tem-se observado que as características produtividade e resistência são inversamente correlacionadas, ou seja, variedades com alta produtividade mostram-se suscetíveis aos principais nematoides da cultura. Outro agravante é o fato de que é comum no campo a ocorrência de populações mistas, o que dificulta a escolha do material a ser plantado. Com a falta de material resistente disponível no mercado, a rotação de culturas assume papel importante para o manejo destes patógenos. O uso de espécies como crotalárias e mucunas em rotação com a cana traz diversos benefícios. Além de tais plantas atuarem como antagonistas aos nematoides, possibilitam a fixação de nitrogênio, que ficará disponível no solo para a cultura subsequente e ainda adiciona ao solo matéria orgânica, que servirá como substrato para microorganismos antagonistas. A adição de matéria orgânica ao solo é sempre uma importante ferramenta para o controle destes patógenos, tanto pela ação direta de liberação de substâncias tóxicas durante o processo de decomposição, quanto por ativar microorganismos antagonistas habitantes do solo. Apesar dos métodos alternativos serem citados como importantes estratégias de controle, a utilização de produtos químicos destaca-se como mais comumente empregada na cultura da cana e, quando feita corretamente, apresenta resultados compensatórios. Produtos carbamatos, como carbofuran e

O uso de nematicida, além de reduzir a população de nematoides no solo, pode apresentar efeito fitotônico, aumentando o número de perfilhos e a altura da planta

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Nematoides comprometem a absorção de água e de nutrientes e, com isso, reduzem o desenvolvimento da cultura



Trigo

Vizinhos do perigo

o Fotos Paul

Roberto Va

lle da Silva

Pereira

Dois vírus de impacto econômico no cultivo de trigo na Argentina ameaçam a cultura no Brasil. Tratam-se de Wheat streak mosaic virus (WSMV) e de HPV (High plains virus), ambos transmitidos por um ácaro denominado Aceria tosichella. A presença do vetor, a proximidade geográfica e a similaridade de clima e vegetação justificam o alerta e a necessidade de monitoramento intenso das lavouras brasileiras

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C

ultivado desde os primórdios da humanidade e responsável pela ocupação de extensas áreas geográficas, o trigo se tornou hospedeiro natural de vários vírus. No Brasil, principalmente o produtor do Sul do país (pela importância econômica da cultura na região) está familiarizado com a ocorrência de duas viroses: o nanismo amarelo e o mosaico comum. Além das duas viroses de impacto econômico que ocorrem no trigo no Brasil, várias outras são conhecidas por acometer essa cultura, sendo que muitas causam impacto econômico em outros países. Algumas foram descritas no Brasil, mas sua importância até o momento vem sendo ignorada. Outras podem vir a ocorrer, fato que depende apenas da sua capacidade de se dispersar e de se estabelecer nas condições brasileiras. Neste sentido, viroses de impacto econômico que já ocorrem em países vizinhos devem ser especialmente consideradas. Na América do Sul, uma virose conhecida como mosaico estriado, causada pelo Wheat streak mosaic virus (WSMV) (Tritimovirus, Potyviridae) foi relatada em 2002 na Argentina. Na safra de 2007 causou perdas expressivas em lavouras das principais regiões produtoras daquele país. Está entre as mais importantes para a cultura do trigo no mundo. Em 2008, outro vírus de impacto econômico foi relatado na Argentina, o HPV (High plains virus). Em comum, o WSMV e HPV são transmitidos por ácaro denominado Aceria tosichella Keifer (Prostigmata: Eriophyidae). A presença de A. tosichella foi comprovada na Argentina em 2004 e relatada oficialmente no Brasil em 2008. A presença do vetor, a proximidade com a Argentina e a similaridade de clima e vegetação justificam medidas de monitoramento e de mitigação de danos relacionados às viroses transmitidas por A. tosichella. O WSMV causa sintomas do tipo mosaico, ou seja, assim como para o mosaico comum há uma alternância entre áreas verdes e cloróticas e os sintomas se iniciam desde a base da folha até seu ápice. Como apenas com base em sintomas é muito difícil fazer diagnóstico preciso, indícios de que se trata de mosaico estriado e não de mosaico comum podem ser obtidos pela ocorrência de plantas doentes em locais onde nunca antes fora observado o mosaico comum. Outro indicativo é a presença do ácaro vetor (o que em condições de campo é muito difícil de se perceber pois o ácaro é diminuto e perceptível somente em altas populações). O diagnóstico preciso depen-


Fotos Dirceu Gassen

O diagnóstico da virose causada pelo ácaro Aceria tosichella deve ser realizado através de exames sorológicos e moleculares em laboratório

de necessariamente de exames sorológicos e moleculares realizados em laboratório. Um fator de risco associado ao WSMV é a transmissão por sementes. Embora ocorra em taxas em torno de 1%, é o suficiente para a introdução do patógeno e em locais onde exista o vetor pode dar início a epidemias. Atualmente no Brasil estão sendo monitoradas, através de levantamento de campo, as populações de A. tosichella e realizados testes para detectar a possível ocorrência dos vírus transmitidos. Também para estimar seu impacto na triticultura nacional, o nível de resistência de genótipos brasileiros às viroses será determinado. Considerado o risco potencial que estas viroses representam, os programas de melhoramento devem buscar incorporar resistência aos vírus transmitidos por A. tosichella.

(CYDV) (Polerovirus, Luteoviridae), transmitidas por pulgões ou afídeos (Hemiptera, Aphididae). Nas condições brasileiras, as espécies de pulgões mais importantes nos cereais de inverno são o pulgão da aveia (Rhopalosiphum padi), o pulgão verde dos cereais (Schizaphis graminum), o pulgão da espiga (Sitobion avenae) e o pulgão da folha (Metopolophium dirhodum). Os sintomas característicos que dão nome à doença são o amarelecimento e enrijecimento do limbo foliar e a redução da altura (nanismo) das plantas. O amarelecimento ocorre do ápice para a base da folha. As plantas com sintomas normalmente se encontram em reboleiras no campo. Plantas infectadas logo no início do desenvolvimento apresentam redução da massa da parte aérea, atraso

no ciclo de desenvolvimento e redução da produtividade. Para as cultivares atualmente recomendadas, a redução na produtividade tem sido de até 60% em infestação controlada e até 25% em condições de epidemia natural. O comprometimento do sistema vascular torna as plantas menos capazes de resistir a outros estresses, por isso, em situações de déficit hídrico, a redução na produtividade pode ser ainda maior. O ciclo da doença depende da presença de plantas hospedeiras e de afídeos vetores. O afídeo adquire o vírus ao se alimentar da seiva de uma planta infectada. Uma vez ingeridas, as partículas virais circulam pelo corpo do inseto até se acumularem nas glândulas salivares. A partir deste estádio, quando o afídeo se alimenta em uma planta sadia, ocorre a transmissão do vírus. O vírus não é transmitido por nenhum outro inseto, sementes, solo ou mecanicamente. Portanto, interferir no ciclo do afídeo contribui para diminuir a progressão da epidemia. O controle adequado depende de estratégias que atuem sobre o vetor e o vírus. Nas condições brasileiras, o controle biológico tem contribuído para a manutenção da população do vetor em níveis não alarmantes, reduzindo o dano direto causado pelos afídeos. Nesta categoria se destacam os parasitoides (microimenópteros). Atualmente, o percentual de parasitismo no campo tem sido alto e, afídeos coletados no campo geralmente se mostram parasitados. Mesmo com o controle biológico, o monitoramento da população de afídeos é essencial para o controle da virose. Sobretudo para as regiões mais quentes e que apresentam o plantio de trigo antecipado. Atenção especial deve ser dada à formação de populações de afídeos, seja em plantas voluntárias ou em plantios de aveia. O controle químico via tratamento de sementes com moléculas de ação sistêmica (neonicotinoides) tem sido importante aliado para a redução das perdas, sobretudo para cultivares mais

Viroses presentes no Brasil

O nanismo amarelo apresenta ampla distribuição, com frequente ocorrência em todas as regiões tritícolas tradicionais do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e sul do Mato Grosso do Sul). É causado por espécies dos vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV) (Luteovirus, Luteoviridae) e Cereal yellow dwarf virus

Imagem do ácaro Aceria tosichella, recentemente relatado no Brasil

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suscetíveis e menos tolerantes. A resistência genética e a tolerância são aliadas importantes. Neste caso podem ser utilizadas cultivares resistentes ao vírus e ao vetor. O uso de cultivares mais resistentes deve ser considerado principalmente para aqueles produtores que não desejam fazer uso do controle químico. Aos que podem optar por estratégias variadas, recomenda-se fazer um balanço entre o potencial produtivo da cultivar, nível de suscetibilidade, risco da ocorrência de epidemia e custo do tratamento químico.

Mosaico comum

Dirceu Gassen

O mosaico comum do trigo é causado pelo Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV) (Furovirus). Esta virose apresenta distribuição mais restrita (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná) às áreas em que o frio e a umidade na época do plantio favorecem o vetor Polymyxa graminis, parasita obrigatório que se assemelha em alguns aspectos aos fungos, mas que pertence a um grupo taxonômico distinto. Em anos de precipitação intensa na época de plantio pode ocorrer aumento da extensão das áreas afetadas por mosaico. Os sintomas da infecção pelo SBWMV no campo são caracterizados pela presença de plantas amareladas, de crescimento retardado, com distribuição em grandes áreas irregulares, especialmente em locais de maior acúmulo de umidade. O sintoma típico em folhas é o mosaico, ou seja, no limbo foliar alternam-se áreas verdes e amareladas. Os desenhos decorrentes são variados (às vezes observam-se listras e em outras a distribuição é mais irregular).

Tabela 1 – Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pulgões em trigo Espécie Monitoramento2 Tomada de decisão (média) Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphia graminum1) Contagem direta (emergência ao afilhamento) 10% de plantas infectadas compulgões Pulgão-do-colmo (Rhopelosiphum pedim) Contagem direta (elongação ao 10 pulgões/afilho emborrachamento) Pulgão-da-folha (Metopolophium dirhodum) Contagem direta (espigamento 10 pulgões/espiga e pulgão-da-espiga (Sitobion avenae) ao grão em massa) 1

Denominado Rhopelosiphum graminum pelo MAPA; 2 Mínimo de 10 pontos amostrais por talhão

Tabela 2 – Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-doscereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes – nome comercial, formulação, concentração, doses, classe toxicológica e registrante Nome técnico Clorpirifós etílico Dimetcato

Nome Formulação1 comercial* Lorsban 480 BR EC Dimexion EC Dimetcato CE EC Perfekthion EC Tiomet 400 CE EC Fenitrotione Sumithion 500 CE EC Sumithion UBV UL Imidacloprido3 Gaucho WS Gaucho FS FS Imidacloprid + betaciflutrina Connect SC Metamidófos Tamaron BR SL Parationa metílica Folidol 800 EC Tiametoxam3 Cruiser 700 WS WS Tiametoxam + lambacialotrina Engeo Pleno SC Triazófos Hostathion 400 BR EC

Concentração Dose do produto Classe (g l.a./kg ou L) comercial (kg ou L/ha) Toxicológica2 480 0,50 (a), 0,30 (b,c) II 400 0,83 (a) I 400 0,83 (a) I 400 0,70 (a) I 400 0,82 (a) I 500 2,00 (a) II 950 0,50 (a) II 700 0,05 (c) IV 800 0,08 ( c), 0,10 (d) IV 100+12,5 0,5 (d), 0,25 (b) II 800 0,20 (a) II 800 0,50 (a) I 700 0,025 (b) III 141+108 0,05 (c), 0,15 (d) III 400 1,00 (a) I

Registrante Dow Bayer Milenia Basf Sipcam Sumitomo Sumitomo Bayer Bayer Bayer Bayer Bayer Syngenta Syngenta Bayer

1 EC = Concentração imulsionável; FS = Suspensão concentrada p/tratamento de sementes; SC = Suspenção concentrada; SL = Concentrado solúvel; UL = Ultra baixo volume; WS = Pó deperalvel p/tratamento de sementes. 2 Classe I = Extremamente tóxico; Classe II = Altamente tóxico; Classe III = Medianamente tóxico; Classe IV = Pouco tóxico. 3 Em tratamento de sementes, dose para 100 kg de sementes. * O uso dos inseticidas indicados, além do registro no MAPA, esta sujeito à legislação de cada estado.

Tabela 3 – Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-dos-cereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes – ingrediente ativo, dose, efeito sobre predadores e parasitóides, intervalo de segurança, índice de segurança e modo de ação Inseticida Clorpirifós etílico Dimetcato Fenvarelato Fenitrotiona Imidacloprido Imidacloprido + betaciflutrina Metamidófos Parationa metílica Tiametoxam Tiametoxam + lambacialotrina Triazófos

Dose g i.a./ha 192 (a) 350 (a) 30 (a) 500 (a) 35-36 (c)5 50+8,25 (d) 25+3,125 (b) 120 (c) 480 (a) 17,5 (b)5 7,05 + 5,3 (c) 21,2 + 15,9 (d) 200 (a)

Toxicidade1 Predadores Parasitóides A B A S A A M A A

A S

Índice de segurança3 Intervalo de Oral Dermal segurança2 (dias) 85 1042 21 157 284 28 5333 16667 17 50 600 14 571 a 5714 >11428 -5 333 >533 14 21 15 -5 42 42 28

15 4 16674 2510 835,5 36

160 14 >28571 18194 >5391 550

Modo de aplicação4 C, I, F, P C, F, S C, I C, I, P S C, I, S C, I, S C, I, F, F S S S C, I

1 Toxicidade a predadores, Cycloneda sanguínea e Eriopsis connexa e a parasitóides (Aphidius spp.); S (seletivo) = 0-20% de mortalidade; B (baixa) = 21-40%; M (média) = 41-60%; A (alta) 61-100%; 2 Período entre a última aplicação e a colheita; 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a dose do produto; IS = (DLsc x 100 / g i.a. por hectare); 4 C = contato; F = fumigação; I = ingestão; P = profundidade; S = sistêmico; 5 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes.

Sintomas da virose do nanismo amarelo

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Diferentemente do que ocorre com o nanismo amarelo, os sintomas cobrem toda a folha e iniciam-se desde a sua base. Para as cultivares mais suscetíveis pode ocorrer morte das plantas ou a formação abundante de brotações, com folhas e brotações

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curtas. Nestes casos, geralmente, não há a formação de espigas e, se há, o número e o C peso dos grãos são reduzidos. Douglas Lau, Embrapa Trigo



Soja Dirceu Gassen

Limites da resistência

Com o advento de novas cultivares resistentes à ferrugem asiática cresce a lista de aspectos a serem considerados no estabelecimento de um programa de controle da doença. Primeiro é preciso alertar que a tecnologia não exclui o uso de fungicidas. Além disso, a escolha baseada apenas na definição de produto e na época de aplicação específica, sem considerar as diferenças varietais, tende a levar a resultados catastróficos

O

principal objetivo do melhoramento genético, ao longo do tempo, foi maximizar produção de grãos, fazendo com que os genótipos da soja perdessem sua variabilidade genética, deixando para trás características relacionadas à rusticidade da cultura. Dessa forma, as cultivares tradicionais utilizadas pelos produtores possuem expressão reduzida no genoma de características importantes como a resistência/ tolerância a patógenos em geral. Nos últimos anos, no entanto, o desenvolvimento de cul-

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tivares resistentes a doenças foi intensificado, principalmente contra a ferrugem da soja. A ferrugem é uma das doenças mais importantes da cultura no Brasil, tendo resultado em prejuízos superiores a US$ 13 bilhões desde a sua ressurgência, em 2001, até a safra atual. As plantas infectadas pelo fungo apresentam desfolha precoce, prejudicando o enchimento de grãos, com consequente redução na produtividade. O controle da doença se baseia na utilização de fungicidas do grupo dos triazóis e estrobilurinas aplicados na parte

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aérea. Novas tecnologias têm surgido para auxiliar no controle da doença, destacandose o lançamento de cultivares com resistência vertical a P. pachyrhizi, a exemplo da TMG 801, TMG 803 e BRS GO 7560. A resistência presente nessas cultivares é expressa pela diminuição no número de urédias e na esporulação do fungo, ocasionando a formação de lesões do tipo RB (Reddish Brown), que corresponde à reação de resistência. Porém, estão sujeitas à quebra dessa resistência devido à grande variabilidade genética do pa-


tógeno, comprovada pela existência de diversas raças fisiológicas. Por isso, essa tecnologia não exclui a necessidade do uso de fungicidas. Embora a eficiência dos fungicidas no controle da ferrugem asiática seja conhecida, o momento da aplicação inadequado, sem observar as características da cultivar semeada, ainda resulta em perdas significativas devido à incidência dessa doença. Anualmente, experimentos conduzidos no Instituto Phytus, Divisão de Pesquisa, em Itaara, no Rio Grande do Sul, avaliam a eficiência de diferentes programas de controle químico da ferrugem asiática e rendimento de grãos em diversas cultivares de soja. Em todos os ensaios, tem-se observado interação entre cultivares e programas de controle, demonstrando que, para se obter sucesso no manejo da doença, é necessário considerar essa interação. Na safra 2007/2008 foram avaliadas dez cultivares de soja: BRS 243 RR, A 6001 RG, Fundacep 55 RR, Nova Andrea 66 RR e Coodetec 214 RR (de ciclo precoce), A 7636 RG, A 8000 RG e BRS 256 (de ciclo médio), Coodetec 219 RR e BRS Pampa RR (semitardias). Essas cultivares estiveram sujeitas a seis programas de controle, constituídos por diferentes fungicidas (mistura de dois grupos químicos) associados a épocas de aplicação (Tabela 1). As cultivares apresentaram diferença na

Rafael M. Soares

A resistência de certas cultivares à ferrugem não exclui a necessidade do uso de fungicidas, já que pode ocorrer quebra de resistência devido à grande variabilidade genética do patógeno

severidade da ferrugem no tratamento testemunha sem a aplicação de fungicida (PC7) (Figura 1). Entre as cultivares precoces, a BRS 243 RR obteve o menor valor (10,5%). Para

as cultivares de ciclo médio, a severidade foi menor na cultivar BRS 256 RR (11,5%). Porém, considerando todas as cultivares, a menor severidade (8,25%) foi observada na cultivar


Tabela 1 - Programas de controle utilizados no experimento visando o controle da ferrugem asiática em dez cultivares de soja. Itaara/RS, 2009 Programas de controle Época de aplicação1 Fungicida2 1 F >> 21 DAA T+E >> T+E 2 F >> 21 DAA T+E >> T+B 3 F >> 21 DAA T+B >> T+B 4 R1 >> 21 DAA T+E >> T+E 5 R1 >> 21 DAA T+E >> T+B 6 R1 >> 21 DAA T+B >> T+B Testemunha sem aplicação de fungicida 7 *F e DAA se referem ao fechamento das entrelinhas e dias após a aplicação, respectivamente; **B, T e E representam fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas, respectivamente.

Rafael M. Soares

BRS Pampa RR, seguida pela cultivar Coodetec 219 RR (10%). A variação entre cultivares de mesmo ciclo está relacionada à resistência parcial inerente de cada cultivar, expressa por um maior período de latência, redução no número de urédias, número e tamanho de lesões e esporulação. Epidemiologicamente falando, a redução nesses parâmetros limita a população do patógeno, diminuindo a taxa de progresso da doença. Nas parcelas tratadas com fungicida, houve cultivares que mostraram diferenças consideráveis entre os programas de controle, enquanto em outras praticamente não foi observada diferença. Em geral, as maiores alterações ocorreram para as cultivares de ciclo precoce devido à avaliação ter sido realizada precocemente (21 dias após a segunda aplicação). Nas cultivares BRS 243 RR e A 6001 RG a diferença entre programas de controle foi maior. Nesse caso, os programas 1 e 5, respectivamente, foram os mais eficientes (Figura 2). Para as cultivares de ciclo médio/ semitardio, a avaliação efetuada nessa data não possibilitou clara visualização de diferen-

ças claras entre os programas de controle da ferrugem (Figura 3). Os programas de controle resultaram em acréscimos significativos no rendimento de grãos, de maneira genotipicamente dependente. Nas cultivares A 6001 RG e Coodetec 214 RR, o programa PC2 destacou-se em relação aos demais, promovendo incremento de 1.307kg.ha-1 e 1.027kg.ha-1 no rendimento de grãos em relação à testemunha (Figura 4). Para a cultivar BRS 243 RR, os programas em que foi obtido maior rendimento de grãos foram o PC1, PC4 e PC5, fato também verificado na cultivar Fundacep 55 RR, com exceção do PC4. Os programas PC1 e PC2 foram superiores na cultivar Nova Andrea 66 RR. O rendimento de grãos das cultivares do grupo de maturação médio/semitardio é apresentado na Figura 5. O programa de controle PC4 resultou no maior rendimento de grãos nas cultivares A 7636 RG, BRS 256 RR e BRS Pampa RR, porém, foi similar aos demais programas para a segunda cultivar, exceto o PC2, e ao PC5 para a última cultivar. Na cultivar A 8000 RG, os maiores rendimentos de grãos foram obtidos nos programas PC4 e PC5. Na cultivar Coodetec 219 RR, a diferença entre os programas de controle foi pequena. Esses resultados sugerem que, para duas aplicações de fungicida, a fim maximizar o potencial produtivo dessas cultivares, o programa de controle deve ser iniciado em R1. As cultivares A 8000 RG e A 6001 RG foram mais responsivas ao uso de fungicidas, com incrementos variando entre 726kg.ha-1 e 1.426kg.ha-1 e 418kg.ha-1 e 1.307kg.ha-1, respectivamente (Figura 6). É possível observar, ainda, que a diferença entre os programas de controle extremos (menor e maior acréscimo) é considerável,

A resistência é expressa pela diminuição no número de urédias e na esporulação do fungo

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demonstrando que mesmo efetuando-se o controle químico da doença, pode-se perder mais de dez sacos de soja.ha-1 devido ao estabelecimento de um programa de controle inadequado. Nas cultivares BRS 256 RR e Coodetec 219 RR não houve grande diferença entre os programas de controle extremos. O incremento mínimo foi de 425kg.ha -1 e 673kg.ha-1 e o máximo de 760kg.ha -1 e 954kg.ha -1 , respectivamente (Figura 6). Dessa forma, pode-se inferir que nessas cultivares se estaria menos sujeito a possíveis erros de manejo. Essa característica possivelmente se deva à maior resistência parcial dessas cultivares, assim como a BRS 243 RR e BRS Pampa RR. Nessas cultivares o dano pela ferrugem é menor. Contudo, o rendimento de grãos delas nunca ultrapassou os 2.800kg.ha -1, ao passo que o da cultivar A 8000 RG, a mais suscetível, atingiu 3.352kg.ha -1 no melhor programa de controle. Com base nisso, podemos inferir que cultivares mais suscetíveis à ferrugem necessitam, invariavelmente, de posicionamento mais preciso do fungicida para expressar todo seu potencial produtivo. Os resultados gerados a partir desse ensaio remetem para uma análise mais acurada no estabelecimento de um programa de controle da ferrugem asiática da soja. A opção por programas de controle específicos embasados apenas na definição de fungicida e na época de aplicação (aplicação calendarizada) sem considerar as diferenças varietais pode comprometer a expressão do potencial produtivo dos materiais. Tal equívoco tende a acarretar resultados catastróficos, repercutindo de maneira negativa na rentabilidade do produtor, mesmo que se execute o controle químico da doença. O ciclo IAF e a arquitetura da cultivar, o estado nutricional da planta, o nível de resistência parcial e sua inter-relação com os programas de controle químico necessitam ser melhor avaliados, visando fornecer informações mais precisas para o seu adequado estabelecimento. Com base nesses resultados, o produtor poderá selecionar cultivares de acordo com o input de tecnologia que está disposto a utilizar. C Jerônimo Dias Menegon, Ricardo Silveiro Balardin, Daniel Debona, Marcelo Gripa Madalosso, Diego Dalla Favera e Gerson Dalla Corte, UFSM Clarice Rubim Balardin, Instituto Phytus


Figura 1 - Severidade da ferrugem asiática no tratamento testemunha (PC7) de dez cultivares Figura 2 - Eficiência de diferentes programas de controle da ferrugem asiática (%) aplicados sobre cultivares de ciclo precoce, aos 21 dias após a segunda aplicação de fungicida. Itaara/RS, 2009 de soja, aos 21 dias após a segunda aplicação de fungicida. Itaara/RS, 2009

Figura 3 - Eficiência de diferentes programas de controle da ferrugem asiática (%) Figura 4 - Efeito de diferentes programas de controle da ferrugem asiática aplicados sobre cultivares de ciclo médio/semitardio, aos 21 dias após a segunda no rendimento de grãos (kg.ha-1) de cultivares de soja de ciclo precoce. aplicação de fungicida. Itaara/RS, 2009 Itaara/RS, 2009

Figura 5 - Efeito de diferentes programas de controle da ferrugem asiática no Figura 6 - Incremento mínimo e máximo de diferentes programas de controle da rendimento de grãos (kg.ha-1) de cultivares de soja de ciclo médio/semitardio. ferrugem asiática no rendimento de grãos (kg.ha-1) em dez cultivares de soja em Itaara/RS, 2009 relação ao tratamento testemunha (PC7). Itaara/RS, 2009




Soja Fotos Adeney de Freitas Bueno

Terror da soja

A ocorrência frequente, aliada ao desconhecimento da real capacidade de dano e de alternativas de manejo para a mosca-branca na cultura da soja, preocupa pesquisadores e produtores rurais. Embora resultados preliminares de experimentos mostrem que infestação igual ou menor que 15 ninfas/folíolo não causa danos significativos e dispensa medidas de contenção, o momento certo em que o controle deve ser adotado ainda é um desafio. Por isso, a indicação é o emprego do manejo integrado de pragas, que preconiza o uso racional de inseticidas para manutenção dos inimigos naturais

O

branco, normalmente considerado o símbolo da paz, desta vez tem outro significado para muitos sojicultores de regiões onde a mosca-branca tem aparecido. A ocorrência frequente dessa praga na soja, em algumas localidades, aliada ao desconhecimento da capacidade real de dano desse inseto à cultura e das principais táticas de manejo que devem ser utilizadas, vem preocupando pesquisadores e produtores rurais. Além disso, o nível de ação, ou seja, o momento certo em que o controle deve ser utilizado, ainda é um desafio para a pesquisa na atualidade. Além da enorme capacidade de adaptar-se aos mais diversos ambientes e hospedeiros, a importância econômica da mosca-branca como praga agrícola se dá principalmente devido à sua capacidade de transmissão de diversos vírus (carlavírus, closterovírus, geminivírus, luterovírus, potyvírus, entre outros) nas diferentes culturas. Em plantas de soja, a mosca-branca é transmissora do vírus da “necrose-dahaste”, do grupo dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte. Felizmente, já existe fonte de re-

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sistência varietal para esse vírus e, assim, o produtor pode manejar a cultura optando pela semeadura de cultivares de soja que apresentam resistência a essa virose. Entretanto, mesmo eliminando-se o problema da virose, ainda persiste a preocupação com o inseto como praga, que se alimenta dos nutrientes da planta, além dos danos indiretos que também podem ser observados. Ao se alimentar continuamente, a mosca-branca excreta nas folhas

uma substância açucarada, denominada “honeydew”, que favorece a formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., sobre as folhas. A fumagina apresenta coloração preta, que dificulta a captação dos raios solares, reduzindo a taxa fotossintética das folhas e provocando a queima da planta pela radiação solar.

Manejo

Apesar dos inúmeros problemas que causa,

A mosca-branca é transmissora do vírus da “necrose-da-haste”, do grupo dos carlavírus, que, com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte

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é de extrema importância esclarecer que o controle da mosca-branca não deve ser realizado em qualquer intensidade de infestação. No manejo integrado de pragas (MIP) sempre consideramos que a planta tolera certa injúria sem reduzir produção. Além disso, o sojicultor deve considerar os altos preços dos inseticidas utilizados contra o inseto. Entre as melhores opções de inseticidas disponíveis atualmente no mercado para o controle dessa praga estão os produtos do grupo dos reguladores de crescimento específicos para mosca-branca. Uma única aplicação desses produtos pode custar ao bolso do produtor um valor aproximado entre uma e duas sacas de soja por hectare. Assim, fica fácil entender que a aplicação desses produtos deve ocorrer, apenas, quando o prejuízo causado pelo inseto for superior ou, no mínimo, igual ao custo de aplicação. Esse “cálculo” é tecnicamente chamado de nível de ação ou nível de controle, definido como a infestação da praga que justifica economicamente a realização do controle. Aplicações de inseticidas com a população de insetos abaixo do nível de controle irão representar um prejuízo para os produtores de soja, que podem, eventualmente, até atingir produções ligeiramente maiores, mas, certamente com custos também maiores, o que não justificaria os gastos realizados com o controle

Histórico DA MOSCA

A

mosca-branca, como popularmente é conhecida, tem o nome científico de Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae). Apesar da denominação comum de mosca, tratase, na verdade, de inseto sugador bastante comum em diversas culturas, como o tomate, o feijão, o algodão, entre outros, além de várias plantas daninhas. Em soja, seus primeiros surtos foram detectados em janeiro de 1996, em 1º de Maio, norte do Paraná, e em Pedrinhas Paulista, em da praga. Entretanto, o desconhecimento desse nível de ação para a mosca-branca na cultura da soja é justamente a grande dificuldade para a recomendação de seu manejo na hora certa. Aliados a essa dificuldade, atualmente os inseticidas disponíveis para o controle da mosca-branca diferem pouco quanto ao modo de ação. Assim, o uso abusivo de inseticidas com modo de ação semelhante, mesmo que muitas vezes tenham nomes comerciais diferentes, pode selecionar populações da mosca-branca resistentes ao modo de ação utilizado, o que tem

São Paulo, provocando perdas entre 30% e 80%. Na safra seguinte, a mosca-branca causou danos de até 100% na cultura da soja, em Miguelópolis, norte de São Paulo. Mais recentemente, as infestações da praga têm crescido em diversas regiões produtoras de soja, principalmente no Mato Grosso do Sul, oeste da Bahia e alguns municípios de Goiás. Nesses locais, tem sido verificado aumento considerável das aplicações de inseticidas para seu controle, muitas vezes, de maneira errada e abusiva. sido já relatado em revistas científicas da área. Em virtude dos problemas apresentados, pesquisadores da Embrapa Soja, em parceria com outras instituições de pesquisas, em projetos financiados pela própria empresa e também pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) (Processo 565817/2008 6), vem estudando os níveis de ação/dano para o controle da mosca-branca na cultura da soja, assim como o uso de cultivares de soja resistentes ou pelo menos mais tolerantes ao ataque da praga. Apesar das pesquisas


Fotos Adeney de Freitas Bueno

Mosca-branca adulta

ainda estarem nos primeiros anos, alguns resultados promissores vêm sendo obtidos. Os resultados de pesquisa, embora preliminares, têm mostrado que pequenas infestações da mosca-branca na soja, o que muitas vezes é considerado pelo produtor como o momento adequado para a aplicação dos inseticidas, na verdade não causa qualquer redução na produção. Assim sendo, essa aplicação é desnecessária, principalmente considerando-se a ausência de viroses. Em ensaios realizados no município de Paraúna (GO), a mosca-branca não reduziu significativamente a produção da soja com densidades avaliadas na porção mediana da planta iguais ou menores que 15 ninfas/folíolo. Nos próximos anos, os estudos deverão estar concentrados em infestações superiores a 15 ninfas/folíolo, com o objetivo de determinar precisamente quando as reduções de produtividade começam. Em áreas de cultivo de soja, onde as condições climáticas e de manejo são muito favoráveis ao desenvolvimento desse inseto, aliado a um histórico de ocorrência dessa praga, o uso de cultivares de soja resistente ou no mínimo mais tolerante ao ataque da praga torna-se uma importante opção ao produtor para reduzir sua dependência do inseticida químico. Preocupada com isso, a Embrapa Soja tem testado seu banco de germoplasma para levantar os materiais que tenham resistência ou tolerância a esse inseto. É importante ressaltar que o uso de cultivares resistentes ou tolerantes ao ataque da mosca-branca é uma estratégia de manejo de grande importância dentro de um programa de manejo integrado de pragas, por ser compatível com o uso de outras técnicas de controle. Além disso, não agride o agroecossistema nem interfere nos custos de produção das lavouras, tornando-se viável e ao alcance de todo e qualquer produtor. A identificação e a caracterização de fontes de resistência varietal são os primeiros passos para o melhoramento genético vegetal obter genótipos tolerantes e/ou resistentes à praga. Essa seleção de cultivares resistentes pode

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Os ovos são colocados na face inferior das folhas jovens

A excreção da mosca, uma substância açucarada, favorece a formação de fumagina sobre as folhas

ser acelerada desde que os mecanismos de resistência sejam conhecidos. Por isso, temse empregado grande esforço nessa área de pesquisa. Entre os materiais avaliados até o momento e provenientes do banco de germoplasma da Embrapa Soja, o genótipo mais tolerante, quando comparado aos padrões de resistência utilizados (IAC-17 e IAC-19), foi a cultivar “Barreiras”, que é indicada para semeadura em regiões como o sudoeste da Bahia, onde a mosca-branca tem sido grande problema nos últimos anos. Os esforços de pesquisa serão agora focados nos testes com os demais materiais, com potencial de resistência e na determinação dos mecanismos de defesa da planta envolvidos, para acelerar o processo de melhoramento genético. Entretanto, no momento, até que os novos resultados de pesquisa não estejam disponíveis, o sucesso do manejo da moscabranca na cultura da soja depende do reconhecimento da praga associado à adoção completa do manejo integrado de pragas (MIP-soja), o que preconiza a redução do uso exagerado de inseticidas, principalmente os de largo espectro de ação (não seletivos). Essa atitude é importante porque a mosca-branca tem vários

inimigos naturais e os produtos de largo espectro de ação, como os piretroides, por exemplo, eliminam esses agentes de controle biológico, favorecendo uma maior infestação da praga. Ainda, é importante salientar a importância do manejo da mosca-branca no sistema agrícola, como um todo, e não isoladamente em cada cultura. A enorme capacidade de adaptação desse inseto aos mais diversos hospedeiros cultivados e de ocorrência natural, em associação a uma extraordinária mobilidade, faz com que medidas de controle isoladas para uma cultura, não tenham muitas vezes sucesso, principalmente, quando áreas infestadas circunvizinhas também não forem manejadas corretamente. Essas medidas, quando adotadas em conjunto, auxiliarão na manutenção da população dessa praga em níveis mais baixos do que se tem observado, muitas vezes, C nas áreas consideradas problemáticas. Adeney de Freitas Bueno, Clara Beatriz Hoffmann-Campo e Daniel R. Sosa-Gomez, Embrapa Soja Regiane Cristina O. de F. Bueno, Universidade de Rio Verde

RECONHECENDO O INIMIGO

O

ciclo biológico da mosca-branca é dividido na fase de ovo, um primeiro instar da ninfa, onde o inseto se locomove, por alguns minutos, até localizar o lugar mais adequado na planta para se fixar. Posteriormente, as ninfas passam por três instares imóveis, sendo o último instar incorretamente denominado de “pupa” ou “pseudopupa” e, finalmente, os adultos (machos e fêmeas). Os adultos medem cerca de 1,0mm de comprimento, sendo a fêmea ligeiramente maior que o macho. Os insetos nesse estágio têm o dorso amarelo-pálido possuindo dois pares de asas membranosas de cor branca. A

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fêmea tem a capacidade de postura que vai de 100 ovos a 300 ovos durante todo seu ciclo de vida, que é variável e dependente da alimentação e da temperatura. Os ovos medem aproximadamente 0,2mm e são colocados na face inferior das folhas jovens. Nas primeiras horas após a postura, os ovos possuem formato alongado com um pedúnculo de cor branca amarelada, que se torna marrom escura no final. A fase de ovo dura cerca de cinco dias a sete dias quando ocorre o início da eclosão das ninfas. Entretanto, esse tempo, em geral, pode variar em função das condições climáticas e do hospedeiro.


Milho

Minúsculos e agressivos

Mudanças no sistema de produção têm favorecido a incidência de nematoides das lesões radiculares na cultura do milho. Diminuir a população desses microorganismos é tarefa árdua, que exige integração entre as medidas de controle

O

nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus spp.) tem apresentado elevada importância nas últimas duas safras de milho em várias regiões do Brasil, responsável por severas perdas em produtividade. Segundo Dias et al (2007), esse gênero tem se beneficiado por mudanças no sistema de produção, como a adoção do plantio direto e a incorporação de áreas com pastagem degradada e/ou com textura arenosa (<15% de argila). Além disso, Pratylenchus spp. possui ampla capacidade de parasitar outras culturas como soja, aveia, milheto, girassol, cana-de-açúcar, algodão, amendoim, dentre outras, alguns adubos verdes e a maioria das ervas daninhas. No Brasil, o milho é utilizado como opção de rotação de cultura ou ainda em segunda safra em 14.190,4 milhões de hectares (Conab, 2009). Em ambas as situações à cultura precedente, na maioria das vezes, é a soja, o que pode favorecer o aumento da população de nematoides, dificultando o controle pela utilização contínua na sucessão de culturas. Segundo Machado e Oliveira (2007), o controle deste gênero é bastante difícil e a busca por novas alternativas de manejo é complicada, uma vez que a espécie parasita grande número de plantas e, além disso, parece não existir fontes de resistência nas principais espécies vegetais

cultivadas atualmente no Brasil.

Diagnóstico

Os sintomas de Pratylenchus spp. nas raízes de milho são os mesmos já descritos por Kimati et al (1997) para a cultura da soja. As raízes tornam-se necrosadas devido ao ataque em células do parênquima cortical, onde o patógeno injeta toxinas durante o processo

de alimentação, sua movimentação na raiz também desorganiza e destrói as células, não há formação de galha, o sistema radicular fica reduzido e as plantas pouco desenvolvidas. De forma geral é bastante fácil a identificação em áreas onde o ataque é elevado, porém, para um diagnóstico mais preciso, pode-se fazer a coleta do solo e das raízes de milho e enviar a um laboratório de fitopatologia para identificar

No detalhe, planta sadia (à esquerda) e planta atacada por nematoide (à direita)

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a população e a raça predominante.

Métodos de controle

Ensaio a campo

Recentemente, a utilização de técnicas como o tratamento de sementes tem apresentado vantagens comparativas em relação à utilização de granuladeira. Além de fácil utilização é uma técnica de baixo custo e menor impacto ao ambiente. Durante a safra 2007/2008 foram conduzidos experimentos para avaliar a eficiência do carbofurano no tratamento de sementes de milho, visando o controle de Pratylenchus spp. O estudo foi realizado em uma área plantada com soja, cultivar CD 217, (cultivar sensível ao ataque de nematoides) escolhida em função da elevada população de Pratylenchus spp.. A população inicial de nematoides foi determinada no período vegetativo da soja, 40 dias após a emergência das plântulas. Foram avaliadas 20 plantas por repetição (seis repetições) totalizando 120 plantas. Após a coleta, plantas foram levadas ao laboratório onde foi retirada uma subamostra de 5g de raízes/planta, quando foi computado o número de nematoides/5g de raiz. As subamostras foram analisadas pelo método de Collen e D’Herde (1972). Após a colheita da soja foram semeadas duas parcelas com 15m de largura e 30m de comprimento com o híbrido de milho CD 304, sendo que em uma das parcelas as semen-

Fotos Fábio Mattioni

O uso de métodos de controle para este gênero é bastante restrito, já que a maioria não se mostra tecnicamente eficaz ou economicamente viável. No momento não existem híbridos de milho altamente resistentes a essa espécie. O mesmo ocorre para soja e sorgo. Dentre os métodos mais utilizados para o controle de Pratylenchus spp podemos destacar o revolvimento do solo que expõe os nematoides à temperatura elevada na superfície e elimina possíveis plantas hospedeiras. A integração de plantas não hospedeiras em rotação de cultura com o milho também tem se mostrado eficiente como método de controle para quebrar o ciclo da doença. Entre as plantas mais utilizadas a Crotalaria spectabilis se destaca por apresentar benefícios em curto prazo. O controle químico, integrado a outros métodos, pode ser uma medida complementar para diminuir a população de nematoides na sucessão soja/milho. Entre os produtos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), apenas o carbofurano apresenta ação nematicida para duas das espécies do gênero: Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae (Brasil, 2007). Mesmo assim, a recomendação de uso baseia-se em equipamento de granuladeira e aplicação no sulco de plantio juntamente com a semeadura,

o que dificulta a operacionalização.

Nematoide das lesões radiculares no interior da raiz

tes foram tratadas com carbofurano na dose de 1,050kg de ingrediente ativo para 100kg de sementes e, na outra parcela, as sementes não receberam tratamento. Assim como para a soja, foram coletadas 20 plantas em seis repetições, aos 40 dias e 80 dias após a semeadura, em cada uma das duas parcelas de milho. Depois de coletadas, as raízes foram levadas ao laboratório onde foi determinado o número de nematoides em uma subamostra de 5g de raízes. As subamostras foram analisadas pelo método de Collen e D’Herde (1972). Para determinar a persistência do tratamento com carbofurano foram realizadas duas coletas em períodos distintos do ciclo do milho, uma aos 40 dias após a semeadura, durante o período vegetativo, e outra aos 80 dias depois da semeadura durante o período reprodutivo. Em todas as avaliações, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância (P = 0,05).

Resultados

No Gráfico 1 encontram-se os resultados referentes à população inicial no cultivo de soja e também o número de indivíduos presentes nas raízes de milho, com e sem tratamento com carbofurano, 40 dias após a semeadura. É possível observar que, com o tratamento das sementes de milho com carbofurano, houve redução da população de Pratylenchus spp., porém, o controle não foi efetivo pois a população se manteve muito elevada, com mais de dez mil indivíduos por cinco gramas de raízes. No Gráfico 2 encontram-se os resultados referentes à população inicial no cultivo de soja

Mattioni: “Cultura do milho vem sofrendo com ataques do nematoide das lesões radiculares”

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Gráfico 1 - Número de nematoides Pratylenchus spp. nas raízes de soja e de milho sem tratamento Gráfico 2 - Número de nematoides Pratylenchus spp. nas raízes de milho sem tratamento (ST) e com (ST) e com tratamento (CT) com carbofurano, 40 dias após a semeadura. Valores seguidos de letras tratamento (CT) com carbofurano, 80 dias após a semeadura. Valores seguidos de letras diferentes diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (P = 0,05) diferem significativamente pelo teste de Tukey (P = 0,05)

e também o número de indivíduos presentes nas raízes de milho com e sem tratamento com carbofurano, 80 dias após a semeadura. Verifica-se que do mesmo modo que aos 40 dias, o tratamento das sementes diminuiu a população de Pratylenchus spp., mas o controle não foi efetivo pois a população aumentou significativamente para 18 mil indivíduos por cinco gramas de raízes. Além disso, observa-se que o carbofurano perdeu eficiência com o tempo de exposição das raízes aos nematoides. Inicialmente, aos 40 dias após a semeadura (Gráfico 1), o controle com carbofurano foi de 49,68% em relação às raízes que não

receberam tratamento. Por outro lado, aos 80 dias após a semeadura (Gráfico 2) o controle foi de apenas 23,11%. Muito embora os danos causados por nematoides do gênero Pratylenchus spp. na cultura do milho sejam conhecidos de longa data, como demonstra o trabalho de Lordello (1961), o dimensionamento das perdas em produtividade em função do número de indivíduos presentes nas raízes ainda não é muito conhecido. Há indícios que populações acima de mil nematoides por grama de raízes, já acarretam danos econômicos. Os resultados obtidos permitem concluir

que o tratamento das sementes com carbofurano foi pouco eficiente para o controle de Pratylenchus spp. na cultura do milho em sucessão à soja, mesmo utilizando 1.050kg de ingrediente ativo para 100kg de sementes. O híbrido CD 304 apresentou grande suscetibilidade ao Pratylenchus spp. C Fábio Mattioni, Roseli M. Giachini, Maria C. F. Albuquerque, Elisabeth A. F. Mendonça e Leimi Kobayasti, Univ. Federal do Mato Grosso

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Milho Cultivar

Cautela no uso

Brasil detecta o primeiro caso de resistência aos herbicidas do grupo das atrazinas em picão-preto (Bidens subalternum). Descoberta acende sinal de alerta sobre a necessidade de racionalização no emprego de herbicidas à base de atrazine, utilizados em aproximadamente 65% da área de produção de milho no país, de forma isolada ou em associação com outros produtos

U

m dos principais problemas da agricultura tem sido a presença de plantas daninhas, responsáveis por inúmeras perdas na produção agrícola mundial. Na tentativa de minimizar estes prejuízos os agricultores fizeram, por muito tempo, o uso de métodos culturais e mecânicos para o controle. Entretanto, na década de 40, no período da Segunda Guerra Mundial, foi descoberto o primeiro composto químico com ação herbicida (ácido 2,4 diclorofenoxiacético) para que, com o seu uso, os países em conflito pudessem aumentar a produção de grãos. Na década de 70, com a necessidade de aumento de produção mundial, houve acréscimo no uso de tecnologias, tais como o uso de herbicidas. Com isso as empresas químicas de defensivos agrícolas intensificaram o desenvolvimento para a descoberta de novas moléculas que pudessem ser utilizadas na agricultura. Com seu primeiro registro obtido em 1958 nos Estados Unidos, o

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herbicida atrazine [6-chloro N-ethyl, N’(1-methylethyl) 1,3,5-triazine 2,4-diamine] (Figura 1) tornou-se um dos defensivos mais utilizados mundialmente. Nos Estados Unidos aproximadamente 75% da área cultivada com a cultura do milho recebe a aplicação de atrazine, enquanto que no Brasil, pode-se estimar que 65% da área de produção de milho utiliza o produto para o manejo das plantas daninhas através da aplicação isolada ou em associação com outros herbicidas.

Ação do herbicida

O herbicida atrazine pertence ao grupo dos inibidores da fotossíntese, que atuando na membrana do cloroplasto inibe o transporte de elétrons. Os herbicidas do grupo dos inibidores do fotossistema II (derivados das triazinas e das ureias substituídas) causam a morte das plantas pela falta de carboidratos, paralisando a reação luminosa da fotossíntese. Os herbicidas do grupo das triazinas (ame-

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tryne, atrazine, cyanazine e simazine) são utilizados na cultura do milho, sobretudo para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas (folhas largas) e algumas gramíneas (folhas estreitas). Atrazine está registrado para a modalidade de uso em pré-emergência e também para pulverizações em pós-emergência precoce, proporcionando também bons níveis de controle das folhas largas e algumas folhas estreitas (Tabela 1). Em plantas sensíveis a esses herbicidas, há a germinação das sementes; porém, quando as plântulas emergem do solo e recebem luz, são desencadeadas reações que afetam a fotossíntese e levam a plântula à morte. As plantas suscetíveis, quando pulverizadas na presença de luz, morrem mais rapidamente que aquelas que forem pulverizadas no escuro, ou seja, na ausência de luz. Além da fotoxidação da clorofila, que provoca a clorose foliar, também ocorrem rompimentos na membrana citoplasmática celular em consequência da peroxidação de lipídios que são ocasionadas pela ação dos radicais tóxicos (clorofila triplet e oxigênio singlet).


Tabela 1 - Espécies de plantas daninhas registradas no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento que podem ser manejadas com o herbicida atrazine Espécie

Acanthospermum australe Acanthospermum hispidum Achyrocline satureioides Ageratum conyzoides Alternanthera tenella Amaranthus deflexus Amaranthus hybridus Amaranthus retroflexus Amaranthus spinosus Amaranthus viridis Avena strigosa Bidens pilosa Brachiaria plantaginea Brassica rapa Cenchrus echinatus Chamaesyce hyssopifolia Coronopus didymus Croton glandulosus Cyperus sesquiflorus Desmodium adscendens Digitaria ciliaris Digitaria horizontalis Eleusine indica Emilia sonchifolia Euphorbia heterophylla Galinsoga parviflora

Nome comum carrapichinho; carrapicho-rasteiro; maroto carrapicho-de-carneiro; chifre-de-veado; espinho-de-carneiro chá-de-lagoa; macela; macela-amarela catinga-de-bode; erva-de-são-joão; mentrasto apaga-fogo; corrente; periquito bredo; bredo-rasteiro; caruru bredo; caruru-branco; caruru-roxo bredo; caruru; caruru-áspero bredo-branco; bredo-de-espinho; caruru-de-espinho bredo; caruru; caruru-de-mancha aveia-brasileira; aveia-preta; aveia-voluntária fura-capa; picão; picão-preto capim-marmelada; capim-papuã; capim-são-paulo colza; mostarda; mostarda-selvagem capim-amoroso; capim-carrapicho; capim-roseta burra-leiteira; erva-andorinha; erva-de-santa luzia mastruço; mastruz; mentrusto gervão; gervão-branco; malva-vermelha capim-de-cheiro; capim-santo; junquinho carrapicho; carrapicho-beiço-de-boi; marmelada-de-cavalo capim-colchão; capim-da-roça; capim-tinga capim-colchão; capim-de-roça; capim-milhã capim-da-cidade; capim-de-pomar; capim-pé-de-galinha bela-emilia; falsa-serralha; pincel amendoim-bravo; café-do-diabo; flor-de-poetas botão-de-ouro; fazendeiro; picão-branco

Com a finalidade de ampliação do espectro de controle, herbicidas do grupo das triazinas têm sido associados com produtos como smetolachlor, alachlor e simazine, dentre outros. Estes defensivos proporcionam controle eficiente da maioria das espécies infestantes e apresentam seletividade para a cultura do milho. Os herbicidas à base de atrazine estão registrados para as culturas da cana-de-açúcar, do milho e do sorgo. No Brasil há registro no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) de 40 produtos comerciais à base de atrazine, sendo que destes, 20 com atrazine isolada, 11 com a mistura com simazine, quatro com alachlor, três com s-metolachlor, um com nicosulfuron e outro com glifosato.

Espécie

Glycine max Gnaphalium spicatum Hyptis lophanta Hyptis suaveolens Indigofera hirsuta Ipomoea aristolochiaefolia Ipomoea grandifolia Ipomoea purpurea Leonurus sibiricus Lepidium virginicum Melampodium perfoliatum Murdannia nudiflora Nicandra physaloides Panicum maximum Pennisetum setosum Portulaca oleracea Raphanus raphanistrum Richardia brasiliensis Sida cordifolia Sida rhombifolia Solanum americanum Sonchus oleraceus Spermacoce alata Spermacoce latifolia Triticum aestivum Xanthium strumarium

e a fase aquosa) e pouco solúvel. A meia vida deste herbicida pode variar de 60 dias até um ano. Os principais compostos formados na sua degradação no solo são hydroxyatrazine (HA) e deehylatrazine (DEA). Alem destes há a formação dos metabólitos deisopropylatrazine (DIA) e deethyldeisopropylatrazine (Dedia). O metabólito hydroxylatrazine é o que se encontra em maior concentração, além de ser o mais tóxico, sendo sua toxicidade comparável à do herbicida atrazine. Figura 1 - Estrutura química de atrazine (Karl Harrison)

Nome comum soja erva-branca; erva-macia; macela-branca catirina; cheirosa; fazendeiro bamburral; betônica-brava; cheirosa anil; anileira; anileira-do-pasto campainha; corda-de-viola; corriola campainha; corda-de-viola; corriola campainha; corda-de-viola; corriola chá-de-frade; cordão-de-são-francisco; erva-macaé mastruço; mastruz; mentrusto botão-de-cachorro; estrelinha; flor-amarela trapoeraba; trapoerabinha balão; bexiga; joá-de-capote capim-colonião; capim-coloninho; capim-guiné capim-avião; capim-custódio; capim-mandante beldroega; bredo-de-porco; ora-pro-nobis nabiça; nabo; nabo-bravo poaia; poaia-branca; poaia-do-campo guanxuma; malva; malva-branca guanxuma; mata-pasto; relógio erva-de-bicho; erva-moura; maria-pretinha chicória-brava; serralha; serralha-lisa erva-de-lagarto; erva-quente; perpetua-do-mato erva-de-lagarto; erva-quente; perpetua-do-mato trigo carrapichão; carrapicho-bravo; carrapicho-de-carneiro Fonte: Mapa

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o limite máximo permitido de atrazine na água está na ordem de 2µg/l no Brasil, embora nos Estados Unidos este limite seja definido como sendo 3µg/l. Isto pode significar que um quilo de atrazine em 500.000m3 de água torna-a imprópria para o consumo humano (não potável). A persistência de atrazine, nas condições brasileiras, tem sido observada entre três meses e sete meses. Com isto, as culturas de soja, feijão, algodão e outras sensíveis não devem ser semeadas em intervalos inferiores a três meses. Exceções ocorrerão em função das condições climáticas que venham a incidir após a aplicação

Atrazine e o meio ambiente

Atrazine apresenta pressão de vapor de 2,89mmHg x 10-7 mmHg a 25ºC o que classifica este produto como sendo de baixa capacidade de evaporação. A temperatura em que atrazine passa do estado sólido ao líquido (ponto de fusão) está entre 175ºC e 177ºC. Sua temperatura de ebulição, ou seja, a temperatura em que passa do estado líquido ao gasoso é de 200ºC. O valor da constante de dissociação (pKa), de 1,71ºC a 21ºC, indica que este herbicida é um ácido forte, sendo completamente dissociado em água. O coeficiente de partição octanol água (Kow) de 481ºC a 25ºC e solubilidade em água de 33µg/l a 27ºC define que este herbicida é muito lipofílico (relação entre a fase orgânica

Karam fala dos herbicidas à base de atrazine

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Tabela 2 - Plantas daninhas resistentes ao grupo de herbicidas inibidores do fotossistema II relatadas mundialmente Espécie Abutilon theophrasti Alopecurus myosuroides Amaranthus albus Amaranthus blitoides Amaranthus cruentus Amaranthus hybridus

Países com a presença Primeira detecção Estados Unidos, Iugoslávia 1984 Bélgica 1996 Espanha 1987 Israel, Espanha 1983 Espanha 1989 Estados Unidos, França, Itália, Suíça, 1972 Espanha, Israel, África do Sul Amaranthus lividus Suíça, França 1978 Amaranthus palmeri Estados Unidos 1993 Amaranthus powellii Canadá, França, Suíça, República Tcheca, 1977 Estados Unidos Amaranthus retroflexus Canadá, França, Alemanha, Estados 1980 Unidos, Suíça, Bulgária, República Tcheca, Espanha, China, Polônia, Itália, Iugoslávia, Grécia Amaranthus rudis Estados Unidos, Canadá 1994 Ambrosia artemisiifolia Estados Unidos, Canadá 1976 Arenaria serpyllifolia França 1980 Atriplex patula Alemanha, Estados Unidos 1980 Bidens tripartita Áustria 1979 Brachypodium distachyon Israel 1975 Brassica campestris Canadá 1977 Bromus tectorum França, Espanha 1981 Capsella bursa-pastoris Polônia, Estados Unidos 1984 Chamomilla suaveolens Inglaterra 1989 Chenopodium album Canadá, Estados Unidos, Suíça, França, 1973 Nova Zelândia, Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, República Tcheca, Espanha, Bulgária, Inglaterra, Polônia, Noruega, Eslovênia, Grécia, Portugal Chenopodium ficifolium Alemanha, Suíça 1980 Chenopodium hybridum Iugoslávia 2000 Chenopodium polyspermum França, Suíça, Alemanha 1980 Chenopodium strictum var. glaucophyllum Canadá, República Tcheca, Estados Unidos 1976 Chloris inflata Estados Unidos 1987 Conyza bonariensis Espanha, Israel 1987 Conyza canadensis França, Suíça, Inglaterra, Polônia, 1981 República Tcheca, Espanha, Bélgica, Israel, Estados Unidos Crypsis schoenoides 1995 - Israel 1995 Datura stramonium Estados Unidos 1992 Digitaria sanguinalis França, Polônia, República Tcheca 1983 Echinochloa colona Austrália 2004 Echinochloa crus-galli Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, 1978 República Tcheca, Polônia

deste herbicida. Dos herbicidas comercializados mundialmente, o grupo das triazinas foi o que mais ocasionou o surgimento de plantas daninhas resistentes até a década de 90. Entretanto, com a descoberta dos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintetase (ALS), tornaram-se os mais importantes a partir de 1995. Mundialmente já foram relatadas 67 espécies de plantas daninhas resistentes somente para os herbicidas do grupo das triazina, em 25 países (Tabela 2). No Brasil, em 2008, foi detectado pela Embrapa, no Paraná, o primeiro caso de resistência de planta daninha (Bidens subalternum) a atrazine.

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continuação Epilobium adenocaulon Epilobium tetragonum Fallopia convolvulus Galinsoga ciliata Kochia scoparia Lolium rigidum Lophochloa smyrnacea Matricaria matricarioides Panicum capillare Panicum dichotomiflorum Phalaris paradoxa Plantago lagopus Poa annua

Polygonum aviculare Polygonum hydropiper Polygonum lapathifolium Polygonum pensylvanicum Polygonum persicaria Polypogon monspeliensis Portulaca oleracea Raphanus raphanistrum Senecio vulgaris

Setaria faberi Setaria glauca Setaria verticillata Setaria viridis Setaria viridis var. major Sinapis arvensis Solanum nigrum

Solanum ptycanthum Sonchus asper Stellaria media Urochloa panicoides Urtica urens

continuação Bélgica, Estados Unidos, Polônia França. Alemanha Áustria, Alemanha Alemanha, Suíça Estados Unidos, República Tcheca Israel, Austrália, Espanha Israel Inglaterra Canadá Espanha Israel Israel França, Alemanha, Estados Unidos, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Japão, Republica Tcheca, Noruega Holanda França França. Republica Tcheca, Alemanha, Espanha Estados Unidos França, Nova Zelândia, República Tcheca, Estados Unidos Israel Estados Unidos Austrália Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, França, Suíça, Holanda, República Tcheca, Noruega Estados Unidos, Espanha Canadá, França, Estados Unidos, Espanha Espanha França, Espanha, Iugoslávia França Canadá França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Suíça, Inglaterra, Espanha, Polônia, República Tcheca, Nova Zelândia Estados Unidos França Alemanha Austrália Austrália

continuação 1980 1981 1980 1980 1976 1979 1979 1989 1981 1981 1979 1992 1978

1987 1989 1979 1990 1980 1979 1991 1999 1970

1984 1981 1992 1982 1982 1983 1979

2004 1980 1978 1996 2002

Fonte: Adaptado de Ian Heap

Tolerância do milho ao atrazine

As plantas de milho apresentam sistemas de defesa, ou seja, de detoxificação, o que lhes confere tolerância a este grupo de herbicidas. Uma das formas de detoxificação de atrazine nas plantas de milho se dá através da Dimboa, que em sua presença promove a transformação do metabólito 2-hydroxyatrazine. Outra forma de metabolização deste herbicida é através da conjugação com a enzima glutationa-stransferase.

Toxicologia de atrazine

O intervalo de segurança entre a última aplicação e a colheita está definido em 45 dias.

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Caso este período não seja respeitado, o milho poderá conter resíduo acima do permitido pelos órgãos competentes de fiscalização, sendo, portanto, impróprio ao consumo humano e animal. Cuidados devem ser tomados com o uso de qualquer defensivo agrícola, pois a intoxicação por qualquer produto químico está relacionada diretamente à exposição imposta à pessoa em contato com o produto. C Décio Karam e Maurilio Fernandes de Oliveira, Embrapa Milho e Sorgo Dionisio Luis Piza Gazziero, Embrapa Soja



Eventos

Canaviais em debate

O

Clube da Cana, criado em 1996 pela FMC, chega à sua 13ª edição, realizada entre os dias 19 e 22 de novembro, em São Paulo. Durante o evento, os principais especialistas e profissionais das usinas brasileiras discutiram temas relacionados ao futuro do mercado sucroenergético no país. Foram abordados temas como oportunidades no agronegócio nacional, o futuro da bioeletricidade, consolidação do setor sucroenergético brasileiro, sustentabilidade e responsabilidade socio ambiental, bem como a necessidade de criação de um novo marco regulatório, que elimine as restrições à modernização e estimule o aproveitamento do potencial de crescimento sustentável da agricultura brasileira. O Clube da Cana consolidou-se como parceria entre a empresa e os produtores de cana-de-açúcar. A origem do evento marcou o início de duas frentes específicas de trabalho: uma no campo, buscando oferecer soluções para doenças que quebram a produção nos canaviais, e

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outra na área política e econômica. Nessa história de parceria surgiram produtos como o Sinerge, Boral, Furadan, Talstar,

Marcus Brites, gerente de Marketing Cana FMC, foi um dos palestrantes

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Fotos Cultivar

FMC reúne especialistas e profissionais de usinas brasileiras durante o Clube da Cana, em São Paulo

Discover, e recentemente, o Broker e o Gamit Star. “A FMC oferece uma gama extensa de produtos de qualidade para o setor canavieiro, de forma a alavancar safras cada vez mais produtivas e que possam colaborar constantemente para o crescimento do nosso agronegócio”, afirma Carlos Alberto Baptista, Diretor Venda Direta da FMC. Palestras, mesas-redondas e workshops coordenados por diferentes especialistas do setor abordaram, ao longo do evento, diferentes questões acerca do perfil do segmento, como a tendência, a mudanças na organização das usinas, os efeitos da crise financeira e o crescente interesse internacional. Também esteve em foco o acordo sobre zoneamentos regionalizados para o plantio de cana-de-açúcar, bem como os seus impactos sobre as empresas. “Até 2015 lançaremos diversos produtos voltados para o segmento, e o desenvolvimento de novas soluções só é possível devido à proximidade com os profissionais C do setor”, informou Baptista.



Eventos Fotos Cultivar

Para o arroz Basf realiza série de eventos no Sul do Brasil para lançar o fungicida Brio

A

Basf realiza em dezembro e janeiro uma série de eventos para o lançamento do Brio, fungicida exclusivo para a aplicação em arroz. A base de Kresoximmetil (estrobilurina)+epoxiconazole (triazol) é uma mistura pronta, de classe toxicológica azul, com ação sobre as principais doenças foliares, de panículas e de grãos que afetam a rizicultura, como mancha parda, rizoctoniose, escaldadura e mancha das glumas. A série de lançamentos começou pelo Rio Grande do Sul, no município de Dom Pedrito. Em seguida foi a vez de Pelotas, no sul do estado gaúcho. “Trata-se de uma região extremamente importante, que conta com produtores bastante tecnificados e que por conta das condições climáticas (umidade alta) necessita de especial atenção às doenças em arroz”, destacou Andreas Schultz, gerente de Marketing Arroz e Trigo da Basf. O evento de lançamento contou com palestra do pesquisador Ricardo Balardin, da Universidade Federal de Santa Maria. O

especialista alertou para as peculiaridades do manejo de doenças em arroz na safra atual, em função do clima. O excesso de chuva e a falta de luminosidade são condições favoráveis ao estresse das plantas e ao desenvolvimento dos fungos, o que exigirá proteção antecipada por parte dos produtores. “Antecipar aplicações para o período de perfilhamento, dependendo da região e do clima, não é exagero”, frisou. Schultz destacou os diferenciais do novo produto. “Brio é uma mistura pronta, o que lhe confere praticidade, foi desenvolvido especificamente para o arroz, se comporta muito bem em gramíneas e é o único fungicida de classe toxicológica azul, o que é importante por se tratar de aplicação em arroz que é consumido in natura.” A apresentação em Pelotas contou ainda com as participações de Nelton Brandão, da área de Desenvolvimento de Produto, e Marcelo Silva, representante técnico de Vendas Pelotas. C

Nelton Brandão, Marcelo Silva e Andreas Schultz, da Basf

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Ricardo Balardin palestrou sobre doenças na cultura

Cronograma de lançamentos do Brio no Sul do Brasil Dom Pedrito (RS) 1º/12 Pelotas (RS) 2/12 Porto Alegre (RS) 3/12 São Borja (RS) 9/12 Araranguá (SC) 14/12 Timbó (SC) 15/12 Santa Maria (RS) 14/1 Cachoeira do Sul (RS) 15/1

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Algodão

Adensado na safrinha Apontado como alternativa aos elevados custos de produção, o cultivo adensado de algodão desponta como opção de segunda safra, semeada após a colheita da soja. Experimentos conduzidos pela Fundação Chapadão indicam que além da época de cultivo, o desempenho e a adaptação de cultivares, bem como as doses de nitrogênio e potássio, têm oferecido melhores respostas à cultura nesse novo sistema

Jefferson Luis Anselmo

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cenário da cultura do algodoeiro no território nacional vem passando por transformações relevantes quanto ao manejo e ao sistema de cultivo empregados na produção, em virtude principalmente dos elevados custos, contrapondo-se à baixa remuneração paga ao produtor nos últimos anos pelo produto final (fibra). Neste contexto, com o objetivo de salvaguardar a cultura do algodoeiro e mantê-la no sistema de rotação do Cerrado, a pesquisa junto às instituições ligadas a toda cadeia de produção vem avaliando uma nova técnica adotada neste ano pelos produtores. Trata-se do cultivo adensado do algodoeiro em segunda safra, na região dos cerrados. Algumas peculiaridades, quanto a essa nova alternativa de cultivo, comparada ao sistema convencional utilizado, deverão ser analisadas com critérios técnico-científicos fundamentados em conceitos agronômicos. Como

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exemplos podem-se citar a época de plantio de acordo com a região de cultivo, o melhor arranjo espacial das plantas, cultivares adaptadas ao adensamento, ajuste de adubação e do regulador de crescimento ao material a ser utilizado, sistema de colheita empregado e qualidades intrínsecas da fibra. Essas são as principais linhas de pesquisa que deverão ser adotadas pela comunidade técnico-científica para que essa nova “ferramenta” de manejo seja utilizada com sucesso pelos agricultores. O sistema de cultivo de algodão adensado, apesar de ser apontado como nova tecnologia no Brasil, em área de produção, já foi testado pela pesquisa há algum tempo. Exemplo disso são os trabalhos realizados por Beltrão et al (1988) e Lamas et al (1989). Na Fundação Chapadão há trabalhos avaliando a possibilidade de aumento da densidade de semeadura/redução, espaçamento entrelinhas do algodão desde 2002, com resulta-

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dos apresentados por Lamas et al (2005). Estes trabalhos foram coordenados pelo pesquisador Fernando Lamas (Embrapa CPAO), juntamente com o pesquisador Paulino Andrade (na época da Embrapa CPAO, sediado na Fundação Chapadão). A novidade do sistema atual é a época de cultivo, ou seja, segunda safra, principalmente após soja superprecoce. O cultivo de algodão segunda safra (safrinha) ganhou importância no Mato Grosso em 2002, como alternativa para a sobrevivência do algodão naquela região (sinalizado depois de algumas avaliações realizadas informalmente por agricultores que a implantaram) após a colheita da soja durante o mês de janeiro, alcançando bons resultados. Segundo dados da Fundação Rio Verde, Pasqualli et al (2005), na safrinha de 2004 mais de 90% do algodão de Lucas do Rio Verde e uma grande pro-


porção do implantado no Médio Norte do Mato Grosso (MT) foram cultivados em safrinha. Isto graças às altas produtividades obtidas. No cultivo da segunda safra anterior, médias de produtividade foram superiores a 300 arrobas/ha (Fundação Rio Verde, 2003). Estas produções já não foram repetidas na segunda safra de 2004, principalmente em virtude das condições climáticas ocorridas na região, descritas por Pasqualli et al (2005), como excesso de precipitação em janeiro (dificultando o estabelecimento de estande) e deficiência hídrica no final do ciclo, revelando as limitações climáticas do cultivo de segunda safra. Entretanto, apesar do maior risco climático com o cultivo da safrinha, segundo dados do Imea (2009), são cultivados mais de 55 mil hectares de algodão nesta época, 71% da área cultivada no MT. Fato que não se repete na região dos Chapadões, onde o cultivo de algodão de segunda safra 2008/09 foi praticamente inexistente, limitado a apenas áreas de algodão adensado (aproximadamente 800ha), em virtude das frustrações em safras anteriores. O sistema adensado surgiu com potencial e grande interesse por parte dos produtores na safra 2008/09, principalmente baseado em experiências já existentes em algumas regiões do Paraguai e Argentina, apresentando como diferencial dos sistemas adensados testados anteriormente à época de semeadura. Previamente, pensouse no cultivo de verão (início de dezembro), época convencional. Já no momento atual, a ideia é a semeadura em final de janeiro até a primeira quinzena de fevereiro, como segunda safra, após soja superprecoce e feijão de verão (opção interessante na região dos Chapadões), ou seja, dois meses após o cultivo do algodão convencional de verão. Portanto, basicamente, o novo sistema proposto combina duas técnicas.

Tabela 1 - Valores médios do estande final de plantas, alturas de plantas e inserção do primeiro ramo reprodutivo, número de capulho, peso de capulho e a produtividade em caroço de 11 cultivares de algodão, cultivados em sistema adensado na safrinha 2009, na Fazenda Serrinha, Chapadão do Céu(GO). Fundação Chapadão Variedade FMX 993 BRS 293 DP 604 BG Nu opal FMT 701 FMX 910 DP 90B Delta opal Buriti FMX 966 Cedro

Altura planta (pl.m-1) (pl.ha-1) 8,9 198610,9 9,0 200694,2 8,8 196527,6 8,0 178472,0 8,9 197916,5 8,4 186110,9 9,2 203472,0 8,8 194444,3 8,3 185416,5 7,8 173610,9 8,0 177083,2

Altura planta (cm) 88,50 71,42 76,08 78,67 85,42 76,00 68,42 69,75 70,67 51,08 70,25

Altura 1º ramo (cm) 17,25 17,00 15,50 17,58 17,42 16,00 17,42 17,08 13,58 13,33 20,42

Primeiro, reduzir o espaçamento de cultivo, com mesmo número de plantas/m (aumentando a população), e segundo, posicionar a época de semeadura da segunda safra (safrinha). Técnicas que acabam alterando muito o manejo ideal a ser empregado durante a condução da cultura. Em virtude disso, a Fundação Chapadão, junto aos seus pesquisadores Jefferson Luis Anselmo (Fitotecnia) e Aguinaldo José Freitas Leal (Fertilidade), instalou vários ensaios no centro de pesquisa da instituição e na Fazenda Serrinha, onde se realizou o Dia do Algodão dos Chapadões 2009, com o objetivo de difundir e adaptar a tecnologia do algodão adensado às condições de altitude do Cerrado. Experimentos: Experimento 1 - Ensaio de caracterização de 11 cultivares de algodão, semeadas em 5/2/2009 no espaçamento de 0,45m; Experimento 2 - Avaliação de doses de nitrogênio; Experimento 3 – Avaliação de doses potássio em cultivo adensado do algodoeiro, com espaçamentos e época de semeadura iguais ao Experimento 1, a cultivar utilizada nos experimentos de adubação foi FMX 993.

As respostas do algodão de segunda safra, no sistema adensado, às adubações nitrogenada e potássica foram muito semelhantes às doses no cultivo em espaçamento normal

Número capulho 9,4 5,8 8,5 5,4 6,3 7,5 5,0 6,4 8,6 6,3 5,2

Peso capulho (g) 5,4 6,6 5,9 5,8 5,6 5,4 5,8 5,8 5,9 6,6 5,9

Produção (@.ha) 327,5 291,4 274,1 272,2 265,5 264,8 257,4 240,5 238,9 226,6 171,5

No Experimento 1, os resultados obtidos (Tabela 1), permitiram concluir que a dose de regulador utilizada (190ml/ ha-1) em três momentos de aplicação foi suficiente para algumas cultivares avaliadas e insuficiente para outras. Diante do atual sistema de colheita e das máquinas que existem hoje para cultivos adensados com bom rendimento operacional, recomendase altura de plantas ao redor de 70cm. As cultivares FMX 993, BRS 293, DP604BG e Nuopal se destacaram das demais e apresentaram potencial de produtividade acima de 270 arrobas/ha-1. Além da altura de plantas e da produtividade em caroço, também foram avaliados o estande, a altura do primeiro ramo reprodutivo, o número e peso de capulhos e ainda serão feitas as análises das características intrínsecas da fibra. Nas Figuras 1 e 2 estão os resultados de produção de algodão em caroço e altura de plantas, respectivamente, cultivados em sistema adensado na segunda safra de 2009 na região dos Chapadões, em função de diferentes doses de adubação nitrogenada. Neste experimento, foi adotada uma dose padrão de regulador, 190ml ha-1 de Pix HC, em três aplicações, dose que aparentemente se mostrou suficiente em função das precipitações pluviométricas restritas, ocorridas durante a fase de desenvolvimento da cultura. A utilização de adubação nitrogenada no cultivo de algodoeiro em sistema adensado propicia acréscimos significativos de produção até a dose de 120kg/ha-1 de NUreia. Entretanto, a dose de 120kg/ha-1 de N-Ureia propiciou aumento no crescimento das plantas (Figura 2), superando a altura considerada limite para uma boa realização da colheita mecânica com as máquinas disponíveis no mercado para esse sistema. No que se refere à adubação potássica, utilizando como fonte cloreto de potássio, as respostas de produção foram obtidas com

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Figura 1 - Produção de algodão em caroço, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de nitrogênio, Fundação Chapadão 2009

Figura 2 - Altura média de plantas de algodoeiro, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de nitrogênio, Fundação Chapadão 2009

Figura 3 - Produção de algodão em caroço, cultivado em sistema adensado após soja superprecoce, em função de doses de potássio, Fundação Chapadão 2009

Figura 4 - Produtividade média em caroço de algodão em densidades de semeadura distintas, cultivados em Chapadão do Sul. Centro de pesquisa da Fundação Chapadão, 2009

as dose de 80/kg ha-1 e 100/kg ha-1 de K2O, com ponto de máxima (PM) produção, de acordo com modelo polinomial, com a dose de 106,1kg/ha-1 de K2O. Considerando como custo da tonelada de KCl, praticado na região, R$ 1.300,00 (R$ 2,16/kg K2O) e o preço do algodão em caroço de R$ 15,00/@, o máximo retorno econômico (PME) é obtido com a dose calculada de 101,3kg/ ha-1 de K2O (168,8kg ha-1 de KCl). As respostas do algodão cultivado em segunda safra, em sistema adensado, à adubação nitrogenada e potássica foram bem superiores às esperadas e é muito semelhante às doses recomendadas e adotadas no cultivo de algodão em espaçamento normal (80cm a 90cm), cultivado na região dos Chapadões em primeira safra (semeadura de dezembro), 120 – 130kg/ha-1 de N e 100 - 120kg/ha-1 de K2O. Apesar da necessidade de repetição destes ensaios, em outros anos agrícolas, com objetivo de melhor entender o efeito do ano de cultivo, é possível concluir que o algodão, cultivado em sistema adensado após

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soja precoce, apresenta resposta positiva à adubação nitrogenada e potássica. Há, portanto, a necessidade de se investir na adubação com esses nutrientes, adotando doses de, aproximadamente, 100kg/ha-1 de N-ureia e 80 - 100kg/ha-1 de K2O, sempre

Aguinaldo José Freitas Leal e Jefferson Luis Anselmo

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buscando explorar o máximo de retorno econômico possibilitado com adubação. Estes valores são superiores aos sugeridos inicialmente para esse sistema de cultivo na região de Cerrado (60kg/ha-1 de N e 60kg/ ha-1 de K2O). Em experimento conduzido e avaliado pela Fundação Chapadão com a cultura do algodoeiro, em cultivo adensado de segunda safra, objetivando avaliar a melhor densidade de plantas no espaçamento de 0,40m, foi instalado em 22/2/2009, no Centro de Pesquisa da Fundação Chapadão, utilizando-se quatro densidades de plantas na linha, 6pls./m; 8pls./m; 10pls./m e 12pls./m, obtendo-se, respectivamente, 150.000pls./ha; 200.000 pls./ha; 250.000pls./ha e 300.000pls./ha (Figura 4). Houve correlação positiva entre as densidades de semeadura e a produção de algodão em caroço, pois com o aumento da densidade de plantas, maiores produções foram alcançadas. C Jefferson Luis Anselmo e Aguinaldo José Freitas Leal , Fundação Chapadão




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