Cultivar 129

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 129 • Fevereiro 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas Capas

Escuras e abundantes...........................18

Surto de “lagartas pretas”, favorecido pelo clima chuvoso e por altas temperaturas, coloca em alerta produtores e pesquisadores na região central do Rio Grande do Sul

Paulo Roberto Pereira/Embrapa Trigo

Charles Echer

Safrinha consorciada..................08 Precoce e agressiva....................26 Pesadelo laranja........................32 As vantagens da integração de milho com forrageiras, em plantio direto, sem rotação de culturas, no período de fevereiro a março

Influenciada pelo El Niño e por descumprimentos do As primeiras estratégias contra a ferrugem laranja, vazio sanitário, ferrugem asiática avança com maior doença de alto potencial destrutivo, que acaba de velocidade e intensidade nas lavouras ser identificada nos canaviais brasileiros

Índice

Expediente

Diretas

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Safrinha de milho consorciada

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Nematoides em soja

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo • Coordenador de Redação

Janice Ebel

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Design Gráfico e Diagramação

Surto de lagartas pretas em soja

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Doenças em soja

22

Ferrugem asiática em soja

26

Bicheira-da-raiz em arroz

30

Ferrugem laranja em cana

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Cristiano Ceia • Revisão

Aline Partzsch de Almeida

GRÁFICA

Eventos - Conferência de Plantas Daninhas

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• Impressão

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Avenida Fernando Osório, 20, sala 27 A Pelotas – RS • 96055-000 Diretor Newton Peter Secretária Rosimeri Lisboa Alves www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Redação: • Geral 3028.2060 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070

• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067

Coluna ANPII

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Coluna Agronegócios

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

Mercado Agrícola

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Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.




Diretas Pesar

O agronegócio perdeu em dezembro o pesquisador Kurt Gottfried Kissmann. Com atuação na Basf, exerceu funções como técnico de campo, responsável pelo desenvolvimento de produtos, gerente da Área Técnica Proteção de Cultivos Brasil e, após 30 anos de serviços prestados à empresa, permaneceu como consultor. Formado pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Paraná, em 1956, Kissmann concentrou seus estudos na área fitossanitária. Um dos primeiros colaboradores e incentivador da Revista Cultivar, é autor da obra em três volumes Plantas Infestantes e Nocivas, publicação cuja primeira edição data de 1995. Também obteve o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) por ter prestado relevantes serviços à comunidade.

Mandato concluído

Peter Ahlgrimm, diretor da Bayer, acaba de concluir dois mandatos à frente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Permanece como membro efetivo do Conselho Diretor da entidade.

Andef

João Sereno Lammel, diretor de Desenvolvimento de Negócios e Portfólio para a América Latina da Dupont, assume a presidência do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) para um mandato de dois anos à frente da entidade.

Kurt Gottfried Kissmann

FMC

Luis Bianchi e Alexandre Limberger, da FMC, participaram de Dia de Campo promovido pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em janeiro, em Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul. Os produtores puderam observar na propriedade do orizicultor Pedro Schmidt o desempenho da tecnologia Gamit Star/Permit Star aplicada na variedade Irga 424.

Guilherme Asmus Peter Ahlgrimm

Conselho Diretor

João Sereno Lammel

Vice-presidente

Eduardo Leduc, diretor de Negócios de Proteção de Cultivos da Basf, assumiu o cargo de vice-presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) para o biênio 2010/2012. A entidade reúne 15 indústrias no país em pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de defensivos agrícolas.

Na nova composição do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) Laércio Giampani, diretor-geral da Syngenta no Brasil, passa a ocupar o cargo de vice-presidente.

Eduardo Leduc

Laércio Giampani

Luis Bianchi e Alexandre Limberger

Giro

Desde o dia 14 de janeiro a FMC promove a 2ª edição do Giro Talstar, rali de regularidade com sete etapas, a serem realizadas em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia e Maranhão - sempre com percurso traçado dentro das fazendas de soja. A proposta é de agregar entretenimento aos dias de campo tradicionais, dedicado à discussão de práticas para manejo de pragas na lavoura.

Regina Carneiro e Fátima Muniz

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TV Syngenta

A Syngenta acaba de colocar em prática a TV Syngenta, uma nova estratégia de comunicação. Com reportagens, participação de produtores e especialistas, apresentação de produtos e soluções para diversas culturas. “O objetivo é auxiliar os agricultores a elevar a produtividade por meio da tecnologia, de forma ambientalmente sustentável, e fortalecer a imagem do setor frente à preservação ambiental”, afirma Renato Seraphim, gerente de Renato Seraphim Cultura da Syngenta.


Irga

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realizou em janeiro Roteiro Técnico no município de Santa Vitória do Palmar, no sul do Rio Grande do Sul, em lavouras do Projeto 10. Participaram aproximadamente 120 produtores, que puderam conferir as estratégias que garantiram altas produtividades com o cultivo de arroz juntamente com a pecuária de corte. “A proposta leva em conta a adoção das melhores práticas agronômicas em todas as fases do cultivo, como preparo do solo, adubação, combate às ervas daninhas, semeadura e irrigação na época correta”, destaca Giuseppe Morroni, agrônomo do Irga que atua no município.

Participação

A Dow Agrosciences participou do Roteiro Técnico do Arroz realizado em Santa Vitória do Palmar. “Possuímos importante posição na cultura do arroz irrigado, com destaque para o Ricer”, disse Otavio Torres, agrônomo da empresa.

Otavio Torres

Presença

Eduardo Beccker Soares, agrônomo da Syngenta, juntamente com representantes da Plantécnica, distribuidor da empresa na região, participou do Roteiro Técnico em Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul. Soares afirma que a Syngenta está investindo forte na cultura do arroz. “Esses eventos são importantes para estreitar o relacionamento com os produtores e uma oportunidade de destacar produtos como Zapp, Priori e Score.”

Planejamento

Durante o Roteiro Técnico realizado no município de Santa Vitória do Palmar, no Rio Grande do Sul, Valmir Menezes, diretor-técnico do Irga, destacou que o planejamento das lavouras é fundamental para diminuir a dependência do clima. Também salientou que o manejo correto do solo, antes e após transtornos climáticos, pode ser essencial para reduzir os danos no campo. Produtores devem estar atentos e retirar as ervas daninhas que não eram encontradas nesta área. Citou algumas gramíneas de difícil controle, como o capim-péde-galinha e a leptocloa.

Resultados

A equipe da Bayer, liderada por Leandro Pasqualli, esteve no Dia de Campo realizado pelo Irga, em Santa Vitória do Palmar. Além de apresentar resultados com o uso dos produtos da empresa, a Bayer mostrou parcelas com o híbrido Arize.

Valmir Menezes

Técnicas de manejo

Durante Roteiro Técnico promovido pelo Irga, Pedro Schmidt, da fazenda Parceria Agropecuária Ponta, em Santa Vitória do Palmar, explicou as técnicas de manejo utilizadas em sua lavoura, desde o tratamento de semente, adubação de base, adubação de cobertura até os produtos empregados no controle de invasoras. A cultura do arroz está presente na propriedade há três gerações. Leandro Pasqualli

Novos rumos

Regina Carneiro e Fátima Muniz

O engenheiro agrônomo Alexandre Latorre Lopez é o novo gerente de Vendas da Basf, regional Porto Alegre. Há mais de dez anos na empresa, atuava anteriormente no México.

Alexandre Latorre Lopez

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Milho

Safrinha consorciada Os gêneros Brachiaria e Panicum, forrageiras bastante conhecidas em pecuária, passam a ser indicados também em integração com o milho safrinha, em plantio direto sem rotação de culturas. As plantas têm capacidade de reestruturar o solo, através de seu sistema radicular, além de evitar que o solo fique descoberto na entressafra, o que favorece o desenvolvimento de plantas daninhas. O plantio deve acompanhar o período indicado para a semeadura do milho, de fevereiro a meados de março

N

a maioria das regiões onde se cultiva o milho safrinha, predomina o sistema de plantio direto sem rotação de culturas e o solo fica sem uso no período entre a colheita do milho safrinha e a semeadura da soja, favorecendo o desenvolvimento de plantas invasoras. O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras é um dos meios para aumentar a formação de palha para cobertura do solo e/ou produzir forragens para os animais na entressafra, proporcionando melhorias no manejo do solo e na rentabilidade da área. Pode-se viabilizar a integração lavoura-pecuária, com aproveitamento tanto do resíduo da produção do milho safrinha como a planta forrageira, em uma época de escassez de pasto. O consórcio milho safrinha e plantas forrageiras tem sido realizado de duas

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maneiras, de acordo com o método de distribuição do capim: a lanço ou na entrelinha. A distribuição do capim a lanço é praticada principalmente onde se utiliza o espaçamento reduzido de 50cm ou similar, caso do Mato Grosso e de algumas regiões do Mato Grosso do Sul, porque neste espaçamento não é possível incluir uma linha intercalar para semear os capins. As sementes são distribuídas a lanço antes da semeadura do milho safrinha e o número de sulcos/linhas da semeadora é maior do que no espaçamento convencional, logo, o revolvimento do solo, pela semeadora, auxilia na incorporação das sementes. Como na maioria das regiões produtoras predomina o espaçamento de 0,80m a 0,90m, recomenda-se semear a forrageira na entrelinha do milho para favorecer a

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distribuição uniforme das suas plantas. Um aspecto importante é a época de semeadura do consórcio, que deve acompanhar a indicada para o milho safrinha, sendo finalizada, de acordo com a região, em fevereiro ou meados de março. Passado esse período a implantação do consórcio não é indicada, pois pode haver interferências indesejáveis do ambiente no desenvolvimento tanto da cultura como das plantas forrageiras, produzindo pouco milho e palha/pasto. Quando as plantas forrageiras são inseridas apenas na entrelinha do milho safrinha, a competição entre ambos é minimizada. Durante o período de outono, a menor disponibilidade de água e as temperaturas relativamente baixas limitam o desenvolvimento da gramínea, reduzindo seu potencial de competição com a cultura


Figura 1 – Produção média da massa seca dos capins em consórcio com o milho safrinha, durante o desenvolvimento do milho safrinha (florescimento e maturidade fisiológica) e na dessecação dos capins antes da semeadura da soja, na região do Médio Paranapanema (SP), em 2008 (média de Brachiaria brizantha cv. Marandu, Brachiaria decumbens cv. Basilisk, Brachiaria ruziziensis cv. Comum e Panicum maximum cv. Tanzânia). Fonte: IAC/APTA

do milho e, portanto, não é necessária a supressão do crescimento dos capins com herbicida (Tabela 1).

PRODUÇÃO DE PALHA

A eficiência desse sistema de consórcio dependerá de aspectos particulares de

Figura 2 – Produção média da massa seca dos capins em consórcio com o milho safrinha, durante o desenvolvimento do milho safrinha (florescimento e maturidade fisiológica) e na dessecação dos capins antes da semeadura da soja, em Dourados, MS, em 2008 (média de Brachiaria ruziziensis cv. Comum, Brachiara decumbens cv. Basilisck, Brachiaria brizantha cv. Marandu, Brachiaria brizantha cv. Piatã e Panicum maximum cv. Tanzânia). Fonte: Embrapa Dourados

cada ambiente, destacando-se o clima e a fertilidade do solo, e também da época de semeadura. Na região paulista do Médio Paranapanema, nos resultados obtidos pelo Instituto Agronômico (IAC/Apta) observase que o cultivo dos capins introduziu 1,5 e 2,5 toneladas por hectare de massa seca,

promovendo melhorias na cobertura do solo pela palha. Durante o período experimental observou-se que a maior produção de massa seca ocorreu após a maturidade fisiológica do milho (Figura 1). Observou-se também em Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul, que os consór-


Tabela 1 - Uso de herbicidas no consórcio milho safrinha e plantas forrageiras e na dessecação para semear a soja Objetivo Controle de plantas infestantes no milho safrinha

Dessecação para semear a soja

Herbicida Atrazine

Observações Não interfere no desenvolvimento dos capins nas doses indicadas para o milho safrinha de até 4 L/ha do produto comercial. Nicosulfuron Não utilizar, pois interfere negativamente nos capins, cujo desenvolvimento deve ser favorecido nas condições de safrinha. Glifosato Aplicar cerca de 20 dias a 30 dias antes de semear a soja, dependendo da umidade no período da dessecação, com o objetivo de facilitar o controle dos capins e a operação da máquina adubadora-semeadora. Dose: capim-Ruziziensis => usar a mesma da dessecação convencional: cerca de 3L/ha a 5L/ha do produto comercial; Demais capins => aumentar a dose em 50% a 100%

Tabela 2 - Valor cultural e tipos de escarificações necessárias das sementes dos capins e do disco de semeadura para implantação e consumo de sementes de capins para o consórcio com milho safrinha visando a produção de palha na agricultura e a formação de pastagens na pecuária Capim

Valor cultural %

Brachiaria Panicum

70-80 70-80

Brachiaria Panicum

≥50 ≥50

Disco da semeadora (*) Tipo e Nº de furos Linha intercalar para produção de palha (agricultura) simples – 48 a 50 sulfúrica simples – 23 a 25 sulfúrica Linha intercalar para pastagem (pecuária) duplo – 96 a 100 mecânica simples – 45 a 50 mecânica Tipo de Escarificação

cios de milho safrinha implantados em 15 de março de 2008 apresentaram maior produção de massa seca dessas plantas forrageiras, o que ocorreu após a maturidade fisiológica do milho (Figura 2).

BENEFÍCIOS

As plantas forrageiras, principalmente as dos gêneros Brachiaria e Panicum, apresentam capacidade de reestruturar o solo, através de seu sistema radicular, fornecendo condições favoráveis à infiltração e retenção de água e ao arejamento, bem como a de evitar perdas por erosão. A parte aérea das plantas forrageiras, por sua vez, protege o solo das oscilações de temperatura e reduzem as perdas de água por evaporação. Não foram observados problemas na semeadura da soja, com relação à distribuição das sementes, bem como de sua emergência, em razão da presença de massa seca das plantas forrageiras. Em ano com período prolongado de seca, observou-se que nas

Consumo de Sementes Kg/ha

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áreas onde os consórcios milho safrinha + plantas forrageiras foram implantados, não ocorreram problemas de germinação e desenvolvimento posterior das plantas de soja, ao contrário da testemunha sem consórcio. Um aspecto importante, na região paulista do Médio Paranapanema, é que não houve diferença significativa para a produtividade dos grãos de milho entre os consórcios (milho + plantas forrageiras) e o milho solteiro (testemunha), ou seja, as plantas forrageiras não interferem negativamente na produtividade do milho safrinha. Resultados semelhantes foram observados em três locais, do Mato Grosso do Sul, pela Embrapa Agropecuária Oeste, que é pioneira nos trabalhos de consórcio milho safrinha e capins. Em Campos Novos (SP), Florínea (SP) e Assis (SP), observou-se incremento de produção na produtividade da soja de 19%, 13% e 23%, respectivamente, nas áreas de consórcio em

À esquerda disco de sorgo universal simples com 50 furos, sementes de braquiárias e à direita disco para a semeadura de sementes de panicuns

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3-4 2-3

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QUALIDADE

A

s sementes das plantas forrageiras utilizadas nos consórcios devem estar livres de impurezas e de misturas com espécies que possam prejudicar a cultura subseqüente. Devem apresentar ao menos, valor cultural entre 70% a 80% e serem tratadas com ácido sulfúrico para o controle de nematóides, evitando assim possível contaminação do solo (Tabela 2). Para as Brachiarias são necessários de 3kg/ha a 4 kg /ha-1 de sementes, sendo indicado o disco universal de sorgo de 5mm com 50 furos. Entretanto, para as sementes de Panicum, por serem menores, indicase 3 kg/ha-1 e o disco de sorgo universal simples de 5mm com 25 furos. relação às áreas de milho safrinha solteiro. O consórcio também foi eficiente no controle de plantas daninhas. Na região de Dourados (MS), o consórcio tem apresentado produtividade de massa variável ao longo dos anos no período de 2005 a 2008, demonstrando, portanto, que os benefícios dependem das condições climáticas de cada ano. A oferta de chuvas durante e após a colheita do milho safrinha possibilita maiores produtividades de massa pelas braquiárias e, dessa forma, melhores condições para a cultura C em sucessão e para o plantio direto. Karina Batista e Aildson Pereira Duarte, IAC/APTA Gessi Ceccon, Embrapa Agropecuária Oeste

O consórcio melhora o manejo do solo e a rentabilidade da área, afirma Duarte



Soja

Entrave invisível

A incredibilidade por parte de alguns produtores quanto à ocorrência de fitonematoides na área de cultivo ainda é um dos principais motivos da redução de produtividade das lavouras de soja, devido aos danos que causam ao sistema radicular. A identificação do problema através de monitoramento de sintomas nas plantas é o primeiro passo no manejo das pragas. Além disso, o uso de cultivares resistentes ou tolerantes e a rotação de culturas com plantas não hospedeiras são técnicas importantes para o controle

A

falsa medideira (Pseudoplusia includens, Trichoplusia ni), lagarta enroladeira (Omiodes indicata), lagarta das vagens (Spodoptera spp.), broca do colo (Elamopalpus lignocellus) e muitas outras lagartas, ácaros, vírus e percevejos, tornaram-se mais frequentes a cada ano nas diferentes regiões produtoras e seu manejo tem sido um desafio para os técnicos e produtores. Dentre esses desafios os fitonematoides são os que têm causado perdas incalculáveis para os produtores no Brasil e no mundo. Entende-se por “perdas incalculáveis” aquelas que variam de sutis até valores elevadíssimos dependendo do gênero e população do nematoide presente na lavoura. Muitos produtores não acreditam que tenham nematoides patogênicos em suas áreas e somente depois de anos consecutivos da diminuição gradativa da produtividade, do aparecimento de manchas facilmente visíveis (reboleiras) na área com plantas subdesenvolvidas, amarelecidas (cloróticas) ou com clorose, seguida de necrose internerval (folha “carijó” no caso

Dirceu Gassen

soja é uma das culturas que mais contribuíram para o desenvolvimento da região Centro-Oeste do Brasil e também a que mais “emprega” pessoas direta ou indiretamente, a cultura que cresceu como nenhuma outra no Brasil em termos de área cultivada nos últimos anos. Junto com ela cresceu também o número de pragas e doenças que causam danos econômicos à cultura. Até meados da década de 90 não se ouvia falar em aplicação de fungicida na cultura da soja e hoje, principalmente depois do advento da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), o agricultor tem perdas significativas se não proteger sua lavoura com fungicida. Pragas que eram consideradas secundárias, tais como mosca branca (Bemisia tabaci), lagarta

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de nematoide das galhas) e obviamente da identificação dos nematoides nas raízes, é que se toma conhecimento do fato. Outra situação que dificulta a quantificação de perdas é a de que diferentes cultivares têm diferentes graus de tolerância ou suscetibilidade aos diferentes nematoides (gênero, espécie e raças). Associados a esses fatos, existem também outros fatores como o nível de fertilidade, tipo e manejo do solo e distribuição de chuvas. Entre os nematoides de maior ocorrência na região Centro-Oeste, os mais importantes são: nematoide de cisto (Heterodera glycines); nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e nematoide de galha (Meloidogyne spp), respectivamente. Entretanto, em algumas microrregiões do Centro-Oeste o Pratylenchus tem sido encontrado com muito mais frequência que o cisto, além dos níveis populacionais serem muito mais elevados. Quando nos referimos a nematoide na cultura da soja, é comum empiricamente considerarmos somente o nematoide de cisto (NCS) e em alguns casos especificamente a raça 3. No entanto, é muito



Fotos Jose Flávio Silva

Detalhe dos danos causados pelo nematoide Meloidogyne spp ao sistema radicular de plantas de soja

importante que além da identificação do gênero e espécie, devemos também identificar raças e quantificá-las. Em especial para o NCS a identificação de raças é de fundamental importância, porque até pouco tempo a raça que nos preocupava era a 3 e hoje os resultados das análises nos mostram uma frequência muito grande de outras raças como 6, 9 e 14. Segundo dados da Aprosmat num estudo de distribuição de raças para o estado do Mato Grosso, as outras raças que não a 3 somam em conjunto mais de 70% no estado. Este é um fator importante que devemos considerar porque a grande maioria das cultivares resistentes aos NCS são resistentes somente às raças 1 e 3. Os sintomas do NCS na lavoura são clorose, diminuição na quantidade de vagens e pode ou não ocorrer a diminuição no porte das plantas (os sintomas ocorrem inicialmente em reboleiras e pode evoluir para a área toda). Outro nematoide que é um problema crescente para a cultura da soja na região Centro-Oeste é o nematoide de galha. Seus sintomas são diferenciados do NCS e Pratylenchus pela formação de folha “carijó”. Também como ocorrem para todos os outros nematoides, os sintomas são evidenciados em situação de estiagens prolongadas. A ocorrência os e tamanhos das galhas nas raízes variam de acordo com a suscetibilidade da cultivar e do nível populacional do nematoide. As galhas, quando em grande quantidade coalescem e impedem a formação de nódulos e de raízes secundárias. Não temos muitas opções de cultivares de

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soja resistentes no mercado indicadas para o Centro-Oeste. Temos ainda o nematoide das lesões

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radiculares (Pratylenchus brachyurus), que é hoje o maior desafio para pesquisa pelo grande número de hospedeiros (dificultando seu controle por rotação de culturas). Além da cultura da soja, são também hospedeiras as culturas arroz, milho, milheto, algodão, uma infinidade de outras culturas e plantas invasoras. Normalmente são encontrados níveis populacionais muito elevados e seus prejuízos são mais evidentes em solos arenosos, de baixa fertilidade, bem como nos casos de estiagens prolongadas. Acreditava-se que uma maneira eficiente de manejo seria o revolvimento do solo, no entanto, na prática, pode-se observar que não é tão eficiente pelo fato da sobrevivência em raízes não decompostas e que o revolvimento acarreta em outros prejuízos relacionados ao manejo do solo. Não há relatos de cultivares resistentes ao Pratylenchus, no entanto, existem cultivares que podem ser consideradas tolerantes, principalmente pela capacidade de emitir novas raízes após o comprometimento das raízes primarias. Essa tolerância está relacionada também às condições climáticas, fertilidade do solo e nível populacional do nematoide. O sistema de adubação a lanço em préplantio ou por cima do sulco de semeadura

Ataque de Heterodera glycines, o nematoide de cisto (NCS)



Fotos Jose Flávio Silva

“Os fitonematoides têm causado perdas incalculáveis para os produtores”, alerta José Flávio Silva

Pratylenchus brachyurus: à esquerda planta coletada fora da reboleira e à direita planta coletada dentro da reboleira

é fator que impede o desenvolvimento das raízes ao longo do perfil do solo, concentrando as raízes na superfície (onde a concentração de nematoides e fungos de solos é grande) e também favorece o aumento da população dos nematoides. Isto faz com que a cultura tolere menos a ocorrência de períodos de estiagens prolongadas e expondo as raízes também à incidência de fungos associados à presença de nematoides. Isso se agrava à medida que os níveis de fertilidade ao longo do perfil do solo forem baixos. Exemplificando, em um solo com os níveis de fertilidade adequados, comparado com um solo de baixa fertilidade, em um mesmo nível populacional de nematoides, os efeitos dos nematoides são menores. Porém, é importante salientar que à medida que os níveis populacionais forem aumentando, até mesmo nos solos de fertilidade adequada, os nematoides começam a causar perdas. As dificuldades de manejo desses nematoides se tornam ainda maiores se considerarmos que em uma mesma lavoura podemos encontrar diferentes gêneros, espécies e raças, visto que não existe ainda uma cultivar resistente ao nematoide das lesões, galha e as diferentes raças de cisto. Dessa forma, aumenta a importância da associação de cultivares resistentes ou tolerantes, rotação de culturas, utilização de espécies de plantas (Crotalaria spectabilis) e produtos químicos que controlam nematoides. O aspecto positivo que deve ser considerado pelos sojicultores brasileiros e principalmente aqueles da região Centro-

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Oeste que enfrentam os maiores problemas com a incidência de nematoides, é o direcionamento constante de trabalhos de pesquisa que objetivam principalmente o desenvolvimento de cultivares resistentes e/ ou com bons níveis de tolerância e também

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químicos que possam auxiliar no controle. Essa combinação, associada ao manejo adequado, poderá sem dúvida reduzir significativamente as perdas causadas pelos C nematoides. José Flávio Silva, Melhoramento Genético Syngenta

Folha carijó: sintoma típico de nematoide das galhas



Soja

Escuras e abundantes

Paulo Roberto Pereira/Embrapa Trigo

Clima chuvoso e com altas temperaturas favorece surtos de “lagartas pretas” em lavouras de soja da região central do Rio Grande do Sul. Com grande capacidade de desfolhamento, insetos têm sobrevivido a aplicações de inseticidas e exigido esforços redobrados de produtores e pesquisadores

A

safra atual de soja tem apresentado inúmeros problemas na região Central do Rio Grande do Sul, devido, principalmente, aos fatores meteorológicos, com temperaturas elevadas e muita chuva. Esta situação climática tem dificultado os tratos culturais usuais na cultura e permitido o surgimento de situações de ataques de pragas com elevadas infestações e desconhecidas da maioria dos produtores. A partir de dezembro de 2009, consultas sobre a incidência de “lagartas pretas” desfolhando soja nova (desde unifoliadas

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até V5) foram frequentes. A queixa mais comum consistiu, durante a avaliação de infestação, na constatação de duas ou três lagartas pretas e plantas totalmente desfolhadas em menos de dois ou três dias. Os tratamentos com os inseticidas indicados para o controle da lagarta da soja, nas suas respectivas doses, não apresentavam eficácia aceitável e a aplicação tinha de ser refeita entre três e quatro dias depois. A maioria dos sojicultores não trazia material para análise e por isso houve inicialmente dificuldade de se saber o que estava acontecendo realmente. A partir

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do final de dezembro e em janeiro, nas consultas telefônicas se solicitava material para identificação, pois cada produtor descrevia as lagartas encontradas de forma diferente. Visitas feitas a lavouras (em diferentes estágios de desenvolvimento) e o material trazido por produtores e profissionais da Assistência Técnica, permitiram constatar mais de dez espécies de lagartas de colorações escuras, sendo que a maioria delas pode eventualmente danificar a soja, (mas que normalmente se alimentam de outras plantas, especialmente ervas daninhas que


Matheus Zanella

ocorrem na cultura da soja). A maioria destas espécies são lagartas de hábitos noturnos, passando o dia escondidas sob a palhada, torrões ou embaixo das ervas daninhas dessecadas. Em algumas lavouras, onde o produtor alegou não achar lagartas e as plantas apresentavam alto desfolhamento (mais de 50%), a aplicação de glifosato havia sido realizada entre três e quatro dias antes da avaliação. Ao ser examinado o material dessecado se encontrou pelo menos três espécies de Spodoptera (a mais comum foi a lagarta do cartucho do milho, Spodoptera frugiperda, mas também ocorreram a lagarta da batata-doce, Spodoptera eridania e a lagarta “marrom”, Spodoptera cosmioides), as duas espécies de lagartas do trigo, Pseudaletia sequax e P. adultera, pelo menos duas espécies de lagarta rosca, Agrotis ipsilon e Peridroma saucia, outras espécies de Noctuidae, como a lagarta da erva de bicho, Trachaea anguliplaga, a lagarta do pé de gato, Perigea sutor, e a lagarta verde dos capins, Dargida meridionalis; além de algumas lagartas peludas de cor marromescura e mesmo completamente pretas (da subfamília Arctiinae) com alguma atividade urticante, com ocorrência em baixadas e em lavouras de várzeas.

Hábito noturno é a principal característica das lagartas que estão atacando a safra de soja no Rio Grande do Sul

Houve infestações superiores a 50 lagartas grandes, (>2cm), por metro quadrado de terreno, o que explica os grandes desfolhamentos em pequeno espaço de tempo, conforme as queixas recebidas de

técnicos e de produtores. A ocorrência destas elevadas densidades de lagartas possivelmente se explique pela decorrência do inverno passado que foi mais rigoroso em relação a anos ante-


Fotos Silas Zanella

aérea, pois todos os valores reunidos foram de aplicações terrestres. O aumento de doses tem como justificativa as elevadas densidades de lagartas e a quantidade de chuva que tem caído (que facilmente retira o inseticida das plantas, diminuindo o efeito residual dos produtos aplicados). A adição de um espalhante adesivo é fundamental nestes casos.

Ciclo

riores, associada às elevadas precipitações que têm causado inúmeros problemas aos produtores. As baixas temperaturas (inferiores a 10ºC por vários dias) afetaram a população dos inimigos naturais, o que permitiu que a maioria das lagartas de pastos nativos, na primavera, completasse seu ciclo, o que teve como resultado a explosão populacional destas espécies na entrada do verão. Avaliações de infestação de lagartas em pastos nativos, nos meses de outubro e novembro, permitiram a constatação de uma população elevada destas lagartas. Exemplares trazidos do campo para completar seu desenvolvimento em laboratório apresentaram incidência de parasitismo inferior a 1%, indicando efeito negativo do frio do inverno de 2009 sobre estes agentes de controle biológico. Em anos de inverno ameno, o nível de parasitismo destas lagartas tem variado entre 30% e 60% no material amostrado. Estas lagartas, que se abrigam ao nível do solo ou ficam levemente enterradas durante o dia, não são amostradas pelo pano de coleta e raramente são constatadas pelo exame das plantas, sistema habitualmente

adotado pela maioria dos sojicultores. Quase todas estas espécies, devido ao seu comportamento, necessitam quantidades maiores dos inseticidas indicados para o controle das lagartas que atacam a soja, Anticarsia gemmatalis ou Pseudoplusia includens. Isto explica, em parte, a queixa da ineficácia do controle químico.

Como controlar

A utilização de inseticidas fisiológicos pode até controlar estas infestações, mas como a ação letal é um pouco mais demorada (cerca de três dias a cinco dias), o desfolhamento será elevado ou mesmo total. Recomenda-se a associação de um produto com ação de choque (geralmente um piretroide ou um organofosforado) na dose cheia com um fisiológico, também com dose cheia. Nas avaliações, onde forem constatadas mais de 20 lagartas grandes por metro quadrado, além de aumentar a dose do produto de choque, utilizar, no mínimo, 150 litros de calda/ha para molhar a palhada e atingir as lagartas nos seus abrigos. Até o momento, não se dispõe de informações sobre a eficácia de aplicação

A baixa incidência de parasitismo por inimigos biológicos pode ter sido a causa da alta infestação de lagartas pretas na cultura da soja nesta safra. No detallhe: Spodoptera cosmioides

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O ciclo da maioria destas lagartas que, no momento, estão atacando as lavouras de soja, nesta fase vegetativa, varia de 18 dias a 25 dias, sendo a fase de ovo de dois dias a três dias, lagartas de dez dias a 14 dias e de pupa entre seis dias e oito dias, nas condições meteorológicas que estão ocorrendo (elevadas temperaturas e chuvas em quantidade). A cultura da soja é favorecida por estas condições climáticas. Por outro lado, as pragas também são beneficiadas, fazendo com que o produtor tenha que monitorar com maior precisão e gastar mais para o controle destes agentes nocivos.

Importância de monitorar

Para adequar custos, o monitoramento é fundamental na avaliação da infestação. Nestas situações recomendase o exame direto do solo sob as plantas de soja. É um processo trabalhoso e lento, mas é a única maneira para se poder adequar a dose de inseticida para controlar com eficiência as pragas que estão atacando a lavoura. C Dionísio Link, UFSM

Situação climática na safra pode ser a causa das altas infestações por lagarta preta, afirma Link



Soja Fotos Embrapa Soja

Sem descuidar

No período em que a atenção dos sojicultores está voltada para desafios como a ferrugem, o mofo branco e também o nematoide do cisto, considerados de maior potencial destrutivo, pesquisadores alertam para o cuidado com outras doenças que têm causado perdas que podem chegar a 20% da produtividade das lavouras em regiões tropicais. A adoção de um conjunto de medidas de prevenção resulta em menor custo de produção e maior rentabilidade

N

este atual momento da sojicultura brasileira, em que as ações de manejo fitossanitário estão voltadas principalmente para o controle das doenças de maior potencial destrutivo, como a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) e o nematoide do cisto (Heterodera glycines), deve-se atentar também para a prevenção e o controle das demais doenças que comumente ocorrem nas regiões tropicais e que, em média, têm causado perdas que podem chegar a 20% de redução de produtividade. O Controle Integrado de Doenças da Soja é o caminho mais eficiente para reduzir as perdas e manter a sustentabilidade de produção. Ele consiste na adoção do conjunto de medidas de controle mais eficientes para as principais doenças (Tabela 1).

Resistência genética da soja

O emprego de resistência genética é a medida mais eficiente e econômica de controle, mas, como não há disponibilidade de cultiva-

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res resistentes ou tolerantes a todas as doenças nas diversas regiões, a adoção das demais medidas é fundamental. Existem cultivares resistentes ou tolerantes somente às seguintes doenças: mancha olho de rã (Cercospora sojina), cancro da haste (Diaporthe phaseolorum), míldio (Peronospora manshurica), mancha alvo (Corynespora cassiicola), oídio (Erysiphe diffusa), podridão de fitóftora (Phytophthora sojae), podridão parda da haste (Cadophora gregata), podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.), pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines), fogo selvagem (Pseudomonas syringae pv. tabaci), crestamento bacteriano (Pseudomonas savastanoi pv. glicinea), nematoide do cisto (Heterodera glycines), nematoide de galhas (Meloidogyne spp.), mosaico comum da soja – SMV (Soybean Mosaic Virus) e necrose da haste – CPMMV (Cowpea Mild Mottle Virus).

Escolha de cultivares

Cultivares de soja com plantas eretas, folhas pequenas, pouco engalhamento lateral

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e sem tendências ao acamamento proporcionam maior aeração e insolação entre plantas, diminuindo o tempo de molhamento foliar, e permitem maior uniformidade de deposição de calda na aplicação de fungicidas em todas as partes da planta. Essa característica favorece o controle de doenças como o mofo branco, a ferrugem, a antracnose, a mancha alvo e a mela. Cultivares precoces semeadas no início da época de semeadura, quando o inóculo é inexistente ou de baixa intensidade, também possibilita o escape de doenças como a ferrugem e o oídio.

Rotação e sucessão de culturas não hospedeiras

A falta de rotação com culturas não hospedeiras às principais doenças é, provavelmente, a causa da maior parte dos problemas fitossanitários observados na cultura da soja. Esta medida promove a quebra do ciclo biológico dos patógenos, pragas e plantas daninhas, reduzindo o inóculo e as condições para que eles


sobrevivam ou se multipliquem. A sucessão de culturas tem função semelhante à rotação, com a diferença de ser empregada na mesma safra da cultura principal. Geralmente as culturas utilizadas em sucessão têm o objetivo de formação de palhada para cobertura de solo e/ou produção em “safrinha”. Deve-se preferencialmente optar por gramíneas para fazer rotação ou sucessão de culturas, lembrando que, em alguns casos, as gramíneas também podem multiplicar o inóculo (ex.: alguns híbridos de milho e sorgo podem multiplicar o nematoide das lesões radiculares e algumas espécies de Fusarium).

Nutrição equilibrada

A nutrição equilibrada das plantas ou a suplementação de alguns elementos confere um condicionamento das plantas que dificulta a colonização e a infecção, seja pelo fortalecimento de parede celular ou pela presença ou formação de substâncias fungistáticas ou fungicidas, dentro ou fora do tecido vegetal. Diferenças significativas na redução de danos causados por antracnose e crestamento foliar de cercóspora foram observadas experimentalmente com diferentes níveis e formas de fornecimento de potássio para as plantas. Em solos arenosos (até 25% de argila) ocorreram médias de 27% de vagens podres com incidência de antracnose em plantas de soja sem suprimento de potássio, contra cerca de 16% em plantas que receberam 100kg de K2O ha-1. Em solos argilosos (cerca de 50% de argila) as médias de vagens podres com incidência de antracnose em plantas de soja sem suprimento de potássio foram de 23%, contra cerca de 10% em plantas que receberam 100kg de K2O ha-1. Os solos arenosos respondem melhor ao parcelamento da aplicação de potássio no sulco de semeadura e em cobertura. Quanto ao crestamento de cercóspora, em solos arenosos houve severidade de 41% de área foliar lesionada em plantas de soja sem o suprimento de potássio, contra 11% em plantas adubadas com 200kg K2O ha-1. Em solos argilosos, essa diferença variou de 23% em plantas sem potássio para 11% em plantas com potássio. É importante observar o posicionamento do adubo na semeadura da soja, devendo ficar abaixo e ao lado da linha de semeadura para evitar que a radícula encontre uma condição muito salina, o que pode causar desvios na rota de crescimento e injúrias na raiz, favorecendo infecções por fungos causadores de podridões radiculares como Fusarium spp. e Macrophomina phaseolina.

proporcionando maior tempo de molhamento foliar e menor incidência de raios solares, o que favorece o desenvolvimento dos patógenos. Além disso, pode promover o acamamento das plantas, aumentando a área de contato de suas partes com o solo. Outro efeito do excesso de plantas se dá devido à maior competição por nutrientes entre elas, o que também aumenta a predisposição às doenças. De modo geral, a população de plantas da maioria das cultivares recomendadas para regiões tropicais varia de 180 mil plantas ha-1 a 220 mil plantas ha-1. De qualquer forma, deve-se sempre seguir a recomendação do detentor da cultivar. Para o estabelecimento de uma população uniforme de plantas é fundamental o uso de sementes de boa qualidade fisiológica e sanitária além do tratamento de sementes com a mistura de fungicidas de contato + sistêmico. O espaçamento entrelinhas, que normalmente varia de 40cm a 50cm, é outro fator que pode interferir no ambiente da lavoura e, consequentemente nas condições para o desenvolvimento de certas doenças. Lavou-

ras com menores espaçamentos entrelinhas dificultam a insolação e aeração das plantas e também a pulverização com fungicidas pela dificuldade de penetração de calda para atingir as partes de baixo das plantas.

Tratamento de sementes

O tratamento de sementes com fungicidas tem dois objetivos principais: erradicar estruturas dos patógenos presentes na semente (interna ou externamente) e proteger a semente do ataque de microrganismos em caso de dificuldade de emergência (ex.: falta de chuva após a semeadura). O tratamento de sementes deve ser feito preferencialmente com fungicidas de contato (captan, thiram e tolylfluanid) e sistêmicos (carbendazin, tiofanato metílico e thiabendazole), para assegurar melhor proteção à maioria dos patógenos.

Sementes de boa qualidade

Sementes de boa qualidade são aquelas que apresentam níveis de sanidade, germinação e pureza física e varietal acima dos padrões preconizados para cada classe pelo Ministério

População de plantas e espaçamento

O excesso de plantas em uma lavoura de soja aumenta a incidência de doenças, principalmente pelo abafamento das plantas,

Efeito da nutrição de plantas na severidade de crestamento de cercóspora. À esquerda, planta sem adubação de potássio (K) e à direita, com adubação de potássio (K)

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Semeadura convencional – Plantas com respingos de solo, situação em que pode ocorrer a disseminação, por exemplo, de Rhizoctonia solani, pois respingos de chuva levam estruturas do fungo para as plantas jovens

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Essas condições intrínsecas à semente são fundamentais para a germinação e emergência rápidas e uniformes, diminuindo a exposição ao ataque de patógenos no solo.

Semeadura direta sobre palha

A cobertura do solo com palha no sistema de semeadura direta evita o efeito de respingos causados pelo impacto das gotas de chuva no solo, que são os responsáveis por levar as estruturas dos patógenos causadoras de doenças até a parte aérea das plantas. Esta é a medida cultural mais eficaz no controle da mela da soja (Rhizoctonia solani AG1), cuja disseminação ocorre principalmente pelos respingos de chuva que disseminam escleródios e fragmentos de micélio do fungo para as plantas jovens, antes do fechamento das entrelinhas. A palha de gramíneas, principalmente de Brachiaria ruziziensis, também contribui para a redução de inóculo de Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco, por proporcionar ambiente favorável no solo à germinação dos escleródios e ao desenvolvimento de microrganismos antagônicos como Trichoderma spp. Esse efeito da palhada só é eficiente na redução de inóculo de fitopatógenos quando adotado em conjunto com rotação e sucessão de culturas não hospedeiras. No caso de doenças causadas por Fusarium spp., Diaporthe spp. e Corynespora cassiicola, a cobertura de solo proporciona ambiente favorável para aumentar o inóculo. A cobertura de Brachiaria spp. e algumas outras gramíneas também podem aumentar a população de Pratylenchus brachiurus, o nematoide causador das lesões radiculares, havendo a necessidade de optar por uma cultura que não multiplique sua população.

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Manejo das condições físicas do solo

A compactação de solo ou qualquer outro fator que dificulte o bom desenvolvimento radicular da soja favorecerá a incidência de podridões de raiz e de colo. Além disso, plantas com o sistema radicular mal desenvolvido ou estabelecidas em áreas com dificuldade de infiltração e retenção de água no solo, estarão mais sujeitas a estresse por falta ou excesso de água, o que as predispõem a injúrias por insolação (escaldadura de sol) e, consequentemente, à incidência de doenças. O excesso de gradagem no preparo causa a desestruturação do solo, resultando em um adensamento superficial (espelhamento) após algumas chuvas, o que muitas vezes dificulta a emergência das plântulas, expondo-as ao ataque de patógenos de solo e causando falhas na população de plantas. A manutenção da matéria orgânica pela cobertura vegetal constante e a quebra mecânica de camadas compactadas do solo são fundamentais para o bom estabelecimento das plantas, implicando em plantas mais sadias.

Medidas Antrac- Cancro de Controle nose da haste1 Resistência genética da soja ++ Uso de cultivares com arquitetura favorável + à aplicação de fungicidas Uso de cultivares precoces Antecipação da semeadura Rotação e sucessão com culturas não hospedeiras + Nutrição equilibrada de plantas (K) ++ Redução da população de plantas + Aumento do espaçamento entre linhas (50-60cm) + Tratamento de sementes com fungicidas ++ Uso de sementes de boa qualidade ++ Semeadura direta sobre palha Manejo das condições físicas do solo + Eliminação de plantas hospedeiras e soja voluntária na entressafra Incorporação de restos de cultura no solo + Manejo de pragas e plantas daninhas + Limpeza de máquinas e equipamentos Controle químico com fungicidas foliares + -

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+ ++ + + + ++ + + +

+ + ++

+ + ++

++

1 Doença controlada eficientemente por resistência genética da soja. As demais medidas de

causadas por nematoides, por exemplo.

Incorporação de restos de cultura no solo

Esta medida colabora para a redução de inóculo de patógenos que se mantêm ou se multiplicam nos restos de cultura, como Fusarium spp., Diaporthe phaseolorum f.sp. meridionalis, Colletotrichum truncatum, Septoria glycines, Cercospora kikuchii, Sclerotium rolfsii, Macrophomina phaseolina e dos nematoides de galhas e das lesões radiculares.

Manejo eficiente de pragas e plantas daninhas

Os ferimentos causados pelo ataque de insetos na soja são importantes portas de entrada

Eliminação de plantas hospedeiras e soja voluntária na entressafra

O vazio sanitário para controle da ferrugem asiática da soja baseia-se nesta medida, cujo princípio está na ausência de plantas em que determinado patógeno possa se manter ou se multiplicar no período de entressafra, interrompendo seu ciclo de vida e reduzindo o potencial de causar doença na próxima safra. Esta medida é bastante eficiente para doenças causadas por patógenos, que são parasitas obrigatórios, ou seja, dependem da planta hospedeira para se multiplicar, como no caso da ferrugem da soja, mas também tem efeito na redução de outras doenças, como as

DFC2 Ferrugem + + +

Meyer fala sobre controle integrado de doenças na soja


Tabela 1 - Eficiência de diversas medidas de controle de doenças da soja Mancha Mancha Mela Míldio Mofo Murcha de Murcha de Oídio Podridão ver- Podridão de Seca das hastes Crestamento Pústula Fogo Necrose da Mosaico co- Nematóide Nematóide Nematóide olho de rã1 alvo branco escleródio fusário melha da raiz carvão da raiz e vagens bacteriano bacteriana1 selvagem1 haste da soja mum da soja de cisto das lesões de galhas ++ ++ + + ++ ++ + + ++ ++ ++ ++ ++ + ++ + + ++ + + + + + + ++ + + + + + + + ++ ++ + + + + + + + + + + + + + + + + + ++ ++ ++ + ++ + + + + ++ ++ + + + + ++ ++ + + + + + ++ ++ ++ + + ++ + + + + + + + + + + ++ ++ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + ++ ++ + ++ + ++ + controle não se aplicam. 2 DFC= doenças de final de ciclo, compostas por crestamento de cercóspora (Cercospora kikuchii) e mancha parda (Septoria glycines). Simbologia: ++ = controle eficiente; + = bom controle; - = sem efeito de controle.

de doenças, tanto na parte aérea quanto no colo e nas raízes. Pragas como mosca branca (Bemisia tabaci), tripes e pulgões, além dos danos diretos às plantas, também podem atuar como vetores de viroses. A presença de plantas invasoras na lavoura de soja também pode aumentar a incidência de doenças pela redução de aeração entre as plantas, competição por luz e nutrientes e pela possibilidade de serem hospedeiras de doenças comuns à soja.

Limpeza de máquinas e equipamentos

Esta é uma medida de caráter profilático, ou seja, objetiva evitar a disseminação de doenças potencialmente danosas à soja através de equipamentos e máquinas agrícolas. É bastante eficiente para o mofo branco e para os nematoides que afetam a cultura.

Tabela 2 - Eficiência de grupos químicos de fungicidas no controle de doenças da soja e período crítico de proteção das plantas Doença DFC Mancha alvo Antracnose Mofo branco Ferrugem Oídio Mela

benzimidazóis ++ ++ ++ + + -

triazóis ++ ++ -

Grupo químico de fungicidas estrobilurinas estrobilurinas ++ ++ + + + + + + + + ++ ++

triazóis + estrobilurinas ++ + + ++ ++ ++

Estádio crítico para proteção da soja R5.2 – R6 R1 – R6 R1 – R6 R1 – R4 R1 – R6 Vn – R6 R1 – R5.1

Simbologia: ++ = controle eficiente; + = bom controle; - = sem efeito de controle

Controle químico com fungicidas foliares

É uma das mais importantes medidas para controlar as doenças da soja, mas é onerosa e requer grande conhecimento da biologia do patógeno e da planta, da sintomatologia e

A palha de gramíneas, principalmente de Brachiaria ruziziensis, contribui para a redução de inóculo, como no caso de Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco

epidemiologia da doença, do modo de ação do fungicida e da tecnologia de aplicação. Existem grupos químicos de fungicidas mais eficientes no controle de algumas doenças, como, por exemplo, os benzimidazóis no controle da mancha alvo e da antracnose, as estrobilurinas no controle da mela, os triazóis no controle do oídio e as misturas de estrobilurinas com triazóis para ferrugem asiática (Tabela 2). A época de aplicação é outro fator importante para a eficiência do controle químico, devendo sempre ser aplicado de forma preventiva ou no início dos sintomas da doença, o que permite maior período residual do fungicida na planta. Outro fator fundamental é a tecnologia de aplicação, devendo proporcionar uma deposição uniforme de calda em todas as C partes das plantas. Maurício C. Meyer, Ademir A. Henning, Cláudia V. Godoy, Embrapa Soja

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Soja Fotos Embrapa Soja

Precoce e agressiva Na safra 2009/10 a ferrugem asiática surgiu mais cedo e com maior intensidade, influenciada pelo fenômeno El Niño e por descumprimento do vazio sanitário. Os riscos de epidemias e o potencial de perdas pela doença são altos. Por isso o produtor não pode descuidar do monitoramento intenso, mesmo no período vegetativo, além do uso de fungicidas em misturas de triazóis e estrobilurinas

D

esde o seu relato em 2001, a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, desponta como a principal doença da cultura da soja. Isso se deve ao seu alto potencial de dano e à constante presença em praticamente todas as regiões produtoras ao longo desses anos. Após oito safras de convívio com a ferrugem muitas informações sobre a doença e seu controle foram geradas e acrescentadas ao que se conhecia até a sua introdução. No entanto, cada safra tem apresentado um padrão diferente e desafios surgem, tornando as recomendações de manejo dinâmicas, de forma que se ajustem às novas situações. O vazio sanitário, período de 60 dias a 90 dias sem plantas de soja durante a entressafra, é uma medida adotada recentemente em alguns estados e que tem o objetivo de reduzir o inóculo do fungo para a safra subsequente. Essa medida ganhou ainda maior importância com a identificação de isolados menos sensíveis do fungo, selecionados devido ao uso intensivo de fungicidas do grupo dos triazóis, observados nas duas últimas safras. A descontinuidade do ciclo do fungo se faz necessária para que se restabeleça a sensibilidade aos fungicidas a cada começo de safra.

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A safra 2009/10 ressalta a importância dessa estratégia de manejo que não tem sido seguida, em alguns estados, com o mesmo rigor do início de sua adoção. Informações disponíveis antes do início da safra relatavam o descaso de agricultores de várias regiões do Brasil em relação às determinações do vazio sanitário quanto ao controle de plantas voluntárias, bem como uma deficiência na fiscalização. O inverno de 2009 apresentou chuvas mais frequentes, o que favoreceu a sobrevivência do fungo em plantas voluntárias de soja e o aparecimento da doença em áreas autorizadas para a semeadura nessa época, conforme se pode observar no mapa de focos no site do Consórcio Antiferrugem (http:// www.consorcioantiferrugem.net/). A influência do fenômeno El Niño na safra atual, com chuvas bem distribuídas no centro e no Sul do país no período da primavera, favoreceu a implantação das lavouras no início da época recomendada, mas também contribuiu para a disseminação mais rápida da ferrugem asiática no começo da safra. Esse panorama anunciava condições propícias para a ocorrência mais precoce da doença nessa safra em relação às anteriores. As datas das ocorrências iniciais em lavouras comerciais registradas no site

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do Consórcio Antiferrugem confirmaram isso, quando comparadas com as primeiras ocorrências da safra 2008/2009 (Tabela 1), resultando em uma média de 30 dias de antecipação do aparecimento da doença na safra atual. Nas duas safras anteriores (2007/08 e 2008/09) os atrasos nos relatos foram associados à demora na semeadura, de forma geral, devido às condições climáticas adversas, que se mantiveram ao longo da safra e por isso a ferrugem não foi tão problemática de maneira geral, tendo seu controle considerado satisfatório. Já a safra de 2006/07, sob influência do fenômeno El Niño de intensidade moderada, é considerada uma safra padrão de epidemia severa de ferrugem asiática. A Figura 1 apresenta o progresso do número de relatos da ferrugem registrados no site do Consórcio Antiferrugem em lavouras comerciais em quatro safras, incluindo a atual. Com a antecipação nas detecções se observa uma curva crescente de número de relatos na safra atual que já se estabiliza, em 18 de janeiro, em um mesmo patamar comparado à safra anterior de referência para epidemias severas da doença. Quanto às regiões mais afetadas, os números do Consórcio Antiferrugem revelam


situações de epidemias no Sudeste e no Centro-Oeste onde o número de relatos é significativamente alto na maioria dos estados produtores. No entanto, muitos agricultores têm ficado atentos ao manejo e, embora sua incidência pareça ser generalizada nos estados de Goiás, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul e do Paraná, os níveis de severidade estão ainda mantidos sob controle, o que diminui o risco de perdas, mas que poderá gerar aumento na quantidade de aplicações comparado às duas últimas safras. No Rio Grande do Sul, diversas lavouras comerciais que foram semeadas mais cedo na região noroeste já se apresentam infectadas e com níveis consideráveis de severidade no baixeiro das plantas, o que aumentará a pressão de inóculo para as lavouras semeadas em dezembro em diversas outras regiões, devido ao atraso em função da abundância de chuvas em novembro. A situação pode ser mais dramática no decorrer da safra em função da influência do El Niño no Sul do país, cujos estudos de modelagem têm demonstrado que o risco de epidemias severas no Rio Grande do Sul aumenta nesses anos. Exceção ainda são as regiões Norte e Nordeste onde se verifica atraso nas detecções nessa safra em comparação a safras anteriores. Tal fato pode estar também relacionado à influência do El Niño que está associado com condições de estiagem no Nordeste, enquanto Tabela 1 - Datas e diferença em dias para a primeira ocorrência de ferrugem em lavoura comercial nas safras 2008/09 e 2009/10 Estado MG PR MT MS GO SP RS BA SC

Data da 1a ocorrência em lavoura comercial 2009/2010 2008/2009 08 nov. 18 dez. 17 nov. 12 dez. 17 nov. 29 dez. 18 nov. 16 dez. 19 nov. 18 dez. 14 dez. 15 jan. 22 dez. 20 jan. 02 jan. 13 jan. 04 jan 26 jan. Média

Fonte: Consórcio Antiferrugem, 2009.

Diferença (dias) -40 - 25 - 55 - 28 - 29 - 32 - 29 - 11 - 22 - 30

Figura 1 - Progresso do número de relatos de ferrugem asiática da soja entre os dias primeiro de dezembro e 18 de janeiro, nas safras 2006/07 a 2009/10, em campos comerciais de soja no Brasil. Fonte: Consórcio Antiferrugem, 2009

que para a região Sul do Brasil, a tendência é de chuvas acima do normal.

Nova ferramenta de manejo

Desde janeiro de 2010 o Consórcio Antiferrugem, por intermédio do laboratório credenciado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), elabora boletins periódicos de risco da ferrugem para o Brasil. Neles são sumarizadas as informações sobre a ferrugem no país de forma comparativa com outras safras e apresentados mapas de

risco climático para as três principais regiões produtoras do país juntamente com comentários de especialistas para cada estado com recomendações regionais. Os mapas de risco são representações gráficas das condições climáticas favoráveis à ocorrência de epidemias em determinados períodos de tempo e não levam em conta a disponibilidade do inóculo, proteção química, dentre outros fatores locais que afetam o risco. As informações são produzidas por meio de parceria com o Centro de Previsão de Tempo

Desde janeiro o Consórcio Antiferrugem conta com uma nova ferramenta no manejo da ferrugem, trata-se de um boletim periódico com mapas e informações sobre o risco da doença no Brasil


Modelo do prognóstico de risco climático para a ferrugem asiática com base no período de 11 a 17 de janeiro

e Estudos Climáticos (CPTEC), órgão este pertencente ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que fornece dados de precipitação observada em escala diária, em formato de malha de 20x20km, além de dados de prognóstico de precipitação para sete e 15 dias. Os dados de precipitação são utilizados como entrada em modelos que classificam as regiões conforme o risco climático, que são apresentados como baixo, moderado, alto e muito alto. Os mapas são para grandes extensões geográficas e devem ser usados como mais uma ferramenta e interpretados levando em

conta a situação local e outros fatores como a presença de inóculo na região. Os mapas de condições de risco das últimas semanas podem orientar para áreas onde se deve intensificar o monitoramento e onde a doença ainda não foi constatada. Os mapas de prognóstico podem apontar a continuidade ou não de condições de risco que tende a elevar os níveis de severidade das epidemias já constatadas, podendo ser úteis na decisão de aplicações e reaplicações de fungicidas conforme as condições de tempo. Na Figura 2 são apresentados dois mapas de prognóstico de risco para sete dias futuros em relação à data em que foram gerados, para as regiões Sul e Sudeste-Centro-Oeste do Brasil. Cabe, portanto, ao técnico responsável pela área, a interpretação das informações em conjunto para a tomada de decisão de forma racional.

Situação e tendência para a safra

Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja

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Até o momento, o risco de epidemias e o potencial de perda pela ferrugem na safra atual são altos, de maneira geral, especialmente comparando-se com as duas safras anteriores. O risco é mais baixo nas regiões Norte e Nordeste em função do atraso no aparecimento da doença e da previsão de baixo risco climático. Nas outras regiões, a ferrugem está plenamente estabelecida e evoluindo conforme as condições de clima predominante. A maior atenção, o manejo correto dos fungicidas e o posicionamento preventivo têm mantido a ferrugem em baixos níveis de severidade em

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várias regiões, o que diminui o risco de perdas, mas em contrapartida pode aumentar o custo da lavoura. Embora as condições climáticas estejam demandando maior cuidado no manejo de doenças, têm favorecido o desenvolvimento da cultura e se esperam produtividades recordes em algumas regiões. Perdas pela ferrugem ainda poderão ser observadas devido a atrasos nas aplicações, que podem ocorrer em função das precipitações frequentes, e também nas lavouras semeadas mais tardiamente, que podem apresentar incidência no estádio vegetativo devido ao inóculo que se multiplica nas lavouras que estão sendo colhidas. As principais orientações nas lavouras tardias recaem sobre o monitoramento intenso, mesmo no período vegetativo para evitar o atraso no controle, e a utilização de fungicidas contendo misturas de triazóis e estrobilurinas. Os intervalos para as reaplicações devem ser avaliados para cada situação, principalmente nas regiões com previsões de alto risco climático e com maior pressão de inóculo proveniente de epidemias C detectadas nas primeiras semeaduras. Cláudia Godoy, Rafael Soares e Claudine Seixas, Embrapa Soja Emerson Del Ponte, Piérri Spolti e Thiago dos Santos, UFRGS



Arroz

Foco na inundação

A bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae), uma das pragas mais temidas pelos orizicultores, foi detectada em aproximadamente 65% da área cultivada do Rio Grande do Sul nas duas últimas safras. É responsável por perdas que chegam a 10% da produtividade total das lavouras. O alto nível de infestação e os danos têm sido atribuídos a aplicações de inseticidas em épocas inadequadas e sem base em monitoramentos populacionais do inseto

B

icheira-da-raiz é o nome vulgar atribuído às larvas do gorgulhoaquático Oryzophagus oryzae (Costa Lima, 1936), considerado o inseto-praga mais prejudicial à cultura do arroz irrigado por submersão no estado do Rio Grande do Sul, devido à capacidade de atingir, a cada safra, níveis populacionais que podem provocar perdas de produtividade da ordem de 10% (> 12 sacas de 50kg/ha-1). O inseto adulto do gorgulho-aquático, de ocorrência crônica em todas as regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, na entressafra (abril–outubro), permanece em hibernação, em restos culturais de arroz, na base de plantas de gramíneas e ciperáceas circunvizinhas às lavouras, em restos vegetais, sobre o solo de matas naturais ou bosques de eucalipto e pinheiro ou mesmo sob folhas secas de bambu. O aumento de temperatura e da fotofase e o início da irrigação por inundação dos arrozais, na primavera, são apontados como os principais fatores indutores da saída de adultos dos sítios de hibernação. Por meio do voo ou do deslocamento da água de irrigação, os adultos invadem os arrozais a partir do mês de setembro, concentrando-se às margens das primeiras lavouras implantadas. O inseto, nas duas últimas safras, ocorreu em 65% da área orizícola do Rio Grande do Sul. Apesar da abrangência das infestações

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(aproximadamente 650.000ha), é possível evitar os principais prejuízos decorrentes do ataque das larvas às raízes de arroz, se um conjunto de medidas de controle for devidamente praticado. Avalia-se, contudo, que as técnicas de controle de O. oryzae não têm sido devidamente adotadas, principalmente no que ser refere às aplicações aéreas de inseticidas líquidos, com o objetivo de controlar adultos (gorgulhos). Essas aplicações têm sido efetuadas, predominantemente, em épocas inadequadas, ou seja, em pré-inundação, sem base em monitoramentos populacionais. Esse tipo de aplicação não é garantia de uma maior rentabilidade da cultura e gera risco desnecessário de contaminação ambiental, em decorrência da maior densidade populacional do gorgulho normalmente estabelecer-se nos arrozais ape-

nas a partir do início da inundação. Qualquer aplicação de um ingrediente ativo inseticida (isolado ou misturado a um herbicida) às folhas de arroz, via aérea ou por meio de pulverizador de barras, realizada por “calendário”, pré-inundação, para o controle de O. oryzae, adquire caráter de aplicação preventiva, como o tratamento de sementes com o mesmo ingrediente ativo. Neste sentido, ao invés do produtor praticar o controle químico do inseto por meio de pulverizações pré-inundação, é preferível que opte pelo tratamento das sementes, considerando os seguintes aspectos: 1. Em arrozais instalados em solo seco (sistema convencional, cultivo mínimo e plantio direto), os inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e recomendados pela Comissão Sul-

Tabela 1 - Inseticidas recomendados para o controle de Oryzophagus oryzae, via tratamento de semente de arroz, em áreas de cultivo convencional, plantio direto e cultivo mínimo. Adaptado da publicação Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil (SOSBAI) (2007) Produto comercial (p.c.) Cruiser 350 FS Cruiser 700 WS Gaucho 700 PM Gaucho 600 FS Standak 250 FS

Formulação/concentração (g i.a./kg ou L) FS 350 WS 700 PM 700 FS 600 FS 250

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Dose (g ou ml p.c./ (100 kg de semente) 100 a 400 150 a 200 300 350 120 a 150

Ingrediente ativo (i.a.) Tiametoxano Tiametoxano Imidacloprido Imidacloprido Fipronil

Dose (g ou ml i.a./ 100 kg de semente) 35 a 140 105 a 140 210 210 30 a 37,5


Cultivar

Brasileira de Arroz Irrigado (CTAR), para o controle de O. oryzae, via tratamento de sementes (Tabela 1 - Recomendação Técnica - Embrapa Clima Temperado - Tratamento de sementes de arroz para o controle do gorgulho-aquático e redução da densidade de semeadura) sem dúvida são importantes para a redução dos danos causados por outros insetos que vivem no solo atacando raízes e a base das plantas no período pré-inundação, em vista de não haver produtos registrados para o controle dessas pragas. Essa circunstância, portanto, deve ser mais considerada em regiões orizícolas do Rio Grande do Sul com predominância de ataque de insetos de solo na fase pré-inundação das lavouras, como o Planalto da Campanha (Fronteira Oeste), onde há histórico de ocorrência anual do pulgão-daraiz (Rhopalosiphum rufiabdominale). 2. O tratamento de sementes de arroz com inseticidas oferece sensível redução da densidade de semeadura, conforme estudos realizados pela Embrapa no final da última década1. Os resultados indicaram que se as sementes fossem tratadas com inseticidas era possível reduzir em mais de 50% a densidade máxima de semeadura praticada na época (em alguns casos > 175kg/ha-1), obtendo, em sequência, uma população inicial adequada de plantas, elevadíssimo índice de controle da bicheira-da-raiz e manutenção dos níveis de produtividade antes obtidos. Uma menor densidade de semeadura e por consequência de menor aporte de inseticida por área cultivada, reflete em uma redução sensível do custo de produção e diminui os riscos de contaminação ambiental, mesmo que esse último aspecto deva ser comprovado. Considerando a forte tendência de expansão do tratamento de sementes de arroz no Rio Grande do Sul, os possíveis benefícios, econômicos e, principalmente, os ambientais, associados à redução da densidade de semeadura, tornam-se mais evidentes quando se compara a quantidade de semente de cultivares convencionais, atualmente utilizada (aproximadamente 100Kg/ha-1), à quantidade recomendada para as cultivares híbridas (mais ou menos 40kg/ ha-1). Portanto, com base no argumento de que as sementes das cultivares híbridas devem

Dirceu Gassen

A maior população de gorgulho normalmente se estabelece nos arrozais a partir da inundação

As perdas no arroz, ocasionadas pela Oryzophagus oryzae, podem chegar a 10%, alerta Martins

ser obrigatoriamente tratadas com inseticidas (além de outros defensivos), devido incorporarem elevado valor agregado, e na possibilidade dessas cultivares expandirem-se no mercado orizícola do Estado, um simples confronto evidencia que se praticado o menor uso de semente preconizado para os “híbridos de arroz”, essa tecnologia, de imediato promoveria redução de 60% na quantidade de inseticida no solo. Assim sendo, as companhias detentoras de cultivares híbridas de arroz deveriam atentar a esse aspecto e apoiar pesquisas que possam vir a comprovar cientificamente a redução de riscos de contaminação ambiental decorrente do uso da tecnologia, podendo usufruir de vantagens comparativas de mercado. 3. Um determinado ingrediente ativo de inseticida, aplicado via tratamento de sementes de arroz, portanto no solo, de imediato, atribui ao ecossistema orizícola um risco muito menor de distúrbios ambientais, do que via outro método de aplicação. Cita-se a circunstância do não atingimento de organismos não visados como inimigos naturais (parasitoides e predadores) de insetos-pragas do arroz, os quais ocorreram nos arrozais, principalmente após o início do perfilhamento das plantas, em condições de irrigação por submersão. Acrescente-se ainda um menor risco de prejuízos à fauna aquática, destacadamente a peixes e pássaros. O tratamento de semente ainda evita os riscos de deriva embutidos nas pulverizações de um mesmo ingrediente ativo. 4. Estando o produtor sensibilizado a utilizar o tratamento de sementes, devido à área

a ser cultivada possuir histórico de ocorrência de insetos-praga de solo, principalmente, da bicheira-da-raiz, ou mesmo não possuindo histórico, há evidência da viabilidade técnica de tratar apenas a quantidade de semente necessária à implantação das primeiras partes da lavoura, aproximadamente, 30% do total da área. Essa prática, em fase de validação em lavouras comerciais, tem proporcionado resultados promissores, podendo evitar que áreas que não seriam infestadas pelo inseto, na safra, venham a receber desnecessariamente inseticidas, de modo preventivo, via as sementes, proporcionando duas situações desvantajosas: gastos desnecessários com a compra de inseticida e exposição de maior área a um defensivo agrícola. Ao contrário, se parte ou os 70% restantes da lavoura forem infestados pelo inseto, poderão ser adotados, pós-inundação, procedimentos que apontem a necessidade de aplicar ou não métodos de controle curativo. Ainda é importante salientar que apesar de vários aspectos interferirem na decisão sobre o tratamento de sementes de arroz com inseticidas, até então, em qualquer circunstância, a justificativa técnica para a adoção deve ser o controle da bicheira-da-raiz. Esse é o único inseto que ocorre na cultura do arroz irrigado por inundação para o qual há inseticidas registrados no Mapa destinados ao tratamento de sementes. Os orizicultores, portanto, deverão computar apenas como benefícios adicionais, o controle de outros insetos-praga de solo (que ocorrem pré-inundação do arrozal, como o pulgão-da-raiz), como também supostos “efeitos promotores de germinação” ou “estimulação de crescimento das plântulas de arroz”, altamente alardeados no presente. Sobre esse último aspecto, considera-se incoerência técnica tratar sementes de arroz com inseticidas, se não para o controle de insetos. Finalmente, espera-se que esse texto contribua para a adoção de procedimentos conformes C com uma orizicultura sustentável.

As altas infestações de Oryzophagus oryzae nas últimas safras são atribuídas ao fato de o controle da praga estar sendo realizado em épocas inadequadas, ou seja, em pré-inundação, sem base em monitoramento populacional

José Francisco da Silva Martins, Embrapa Clima Temperado

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Cana-de-açúcar

Alerta laranja Ferrugem causada pelo fungo Puccinia kuehnii, conhecida pela agressividade de ataque em canaviais da Austrália e em países das américas do Norte e Central, acaba de ser detectada no Brasil. Estimativa é de que a doença reduza a produtividade em 16 toneladas por hectare em áreas plantadas com variedades suscetíveis. Esforços de pesquisa se concentram na correta identificação e na busca por medidas de controle

A

descoberta da presença da ferrugem laranja, causada pelo fungo Puccinia kuehnii, no Brasil, coloca em alerta produtores de cana-de-açúcar e pesquisadores que trabalham com a cultura no país. A doença, que em 2000 ganhou notoriedade ao devastar canaviais cultivados com a variedade Q124, na Austrália, se dissemina pelo vento e já foi detectada nos estados de São Paulo e do Paraná. A estimativa é de que os prejuízos anuais ultrapassem R$ 300 milhões em áreas plantadas com variedades suscetíveis. Por atacar as folhas e reduzir o potencial de fotossíntese das plantas de cana, a ferrugem laranja afeta a produtividade. Em países das américas do Norte e Central, onde já foi identificada há mais tempo, os prejuízos chegam a 40%. “No Brasil trabalhamos com um percentual conservador, de 20%”, explica o pesquisador Enrico De Beni Arrigoni, do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). O cultivo de variedades resistentes ao fungo no país justifica a estimativa de danos menores por aqui. Mesmo assim, 16 toneladas das 80 produzidas em média por hectare nos canaviais brasileiros estariam comprometidas se afetadas pela doença.

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Fotos CTC

Período crítico

Variedades suscetíveis e resistentes

Como ocorre com grande parte dos fungos, Puccinia kuehnii, causador da ferrugem laranja, também é favorecido por alta umidade e temperaturas elevadas. Com isso, os meses de primavera, verão e início de outono (de setembro a abril) são considerados críticos para a ocorrência no Centro-Sul do Brasil. Os esporos de Puccinia kuehnii, embora em sua maioria sejam disseminados pelo vento, pela massa de ar, também podem ser levados por gotas de chuva e até mesmo por roupas infectadas nas lavouras (Uchôa, 2008 apud Moreno, 2008).

A

Semelhança com outras doenças

Um dos principais desafios neste momento é a correta identificação da doença. Até porque alguns dos sintomas são comuns a outras que já ocorrem no Brasil, como a ferrugem marrom (Puccinia melanocephala) e a mancha parda (Cercospora longipes). ”É preciso estar atento principalmente à formação das pústulas e à cor mais alaranjada dos esporos”, alerta o pesquisador Enrico Arrigoni. Para os associados, o CTC realiza a análise das amostras em laboratório. Produtores que suspeitam da presença de ferrugem laranja em seus canaviais também podem procurar as secretarias estaduais de Agricultura para que um técnico visite a área e colete amostras para análise.

Uso de fungicidas

De acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), no Brasil ainda não existe nenhum teste realizado com a aplicação de fungicidas contra a ferrugem laranja. “Em outros países, o uso de triazóis

Ferrugem laranja pode reduzir em 20% a produtividade da cana no Brasil, alerta Arrigoni

apresentou eficiência, mas é importante alertar que por enquanto não há nenhum fungicida registrado contra a doença no Brasil”, lembra o pesquisador. Para o especialista, a viabilidade econômica da aplicação de defensivos vai depender muito das particularidades de cada canavial. “Em áreas plantadas com mudas suscetíveis pode valer a pena. Mas o mais indicado é sempre o uso de variedades resistentes”, defende.

Estágio x suscetibilidade

Em relação ao estágio, plantas mais jovens se mostram menos suscetíveis. “Até os quatro meses é difícil identificar cana

São resistentes à ferrugem laranja as variedades CTC1, CTC2, CTC4, CTC5, CTC6, CTC7, CTC8, CTC10, CTC11, CTC12, CTC13, CTC14, CTC15, CTC16, CTC17, CTC18, CTC19 e CTC20. As cultivares CTC3 e CTC9 apresentaram reação intermediária ao patógeno, com a constatação de sintomas apenas em folhas mais velhas. A variedade RB855156 também apresentou reação intermediária. Mostraram-se ainda resistentes ao fungo as variedades comerciais SP79-1011 SP80-1816, SP80-1842, SP80-3280, SP813250, SP83-2847, SP91-1049, RB867515, RB835486, RB855453 e RB855536. Já as variedades RB72454, SP84 2025 e SP89-1115 são suscetíveis à doença – com registro de nota máxima na ocorrência de “pústulas” nas folhas. com sintoma”, explica Arrigoni. Outra característica do fungo é o ataque exclusivo a canaviais. “Não há informações de outros hospedeiros.” Com a identificação da ferrugem da cana, sobe para 34 o número de doenças que atacam a cultura, relatadas no Brasil. No mundo inteiro são 180. “Quanto à agressividade, grosseiramente se pode comparar com o surgimento da ferrugem marrom no país, quando variedades tiveram de ser retiradas do plantel dos produtores por conta da doença”, lembra Arrigoni.

Canaviais infestados

A observação da formação das pústulas e a cor mais alaranjada dos esporos são fundamentais para identificar corretamente a ferrugem laranja

Segundo os dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), até o dia 21 de janeiro havia relatos de ferrugem laranja em canaviais do estado de São Paulo (regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Assis, Piracicaba e Araçatuba) e um foco detectado em Paranacity, no Paraná. Mas a expectativa é de que o número cresça nos próximos meses por conta da quantidade de esporos que circula no país. Segundo o pesquisador Enrico Arrigoni, o trabalho de contenção da doença agora deve estar focado na substituição das variedades suscetíveis, ainda cultivadas no país, por variedades que apresentam resistência ao fungo. A estimativa é de que esse processo ocorra em, aproximadamente, três anos. C

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Eventos

Contra a resistência Primeira Conferência Pan-Americana sobre Resistência de Plantas Daninhas, promovida pela Bayer CropScience, alerta para um problema crescente na agricultura mundial que, para ser combatido, exige dedicação de empresas, instituições de pesquisa e produtores

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ela primeira vez, pesquisadores da América do Norte e da América Latina se reuniram para discutir um problema crescente e comum nos países produtores de grãos: a resistência de plantas daninhas a herbicidas. A Primeira Conferência Pan-Americana sobre o tema foi promovida pela Bayer CropScience e realizada em Miami, Estados Unidos, em janeiro. Aproximadamente 200 cientistas de universidades e institutos de pesquisas, além de profissionais de associações agrícolas, trocaram experiências de manejo da resistência de invasoras e discutiram soluções práticas para a questão que, segundo os cientistas, alcançou índices bem acima do estimado nos últimos três anos.

Situação no Brasil e no mundo

Este obstáculo crescente na agricultura mundial registra atualmente 341 biotipos resistentes de 194 espécies (114 dicotiledôneas e 80 monocotiledôneas), com relatos em mais de 320 mil campos de 60 países, exigindo estratégias diferentes de controle, com índices elevados de perdas quando não eliminadas das lavouras. No Brasil, os primeiros casos de resistência foram com a leiteira (Euphorbia heterophylla) em 1992 e picão-preto (Bidens pilosa) em 1993, sendo ambas as espécies resistentes

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aos herbicidas inibidores da ALS, os grupos químicos das sulfonilureias e imidazolinonas. Nas safras atuais, os produtores enfrentam problemas com o azevém (Lolium multiflorum) na região Sul, principalmente na hora da dessecação; buva (Conyza bonariensis) em quase todas as regiões produtoras; amendoim bravo, que tem baixa resistência e pode ser facilmente controlado se respeitadas as doses corretas de produtos; e o capim amargoso (Digitaria insularis), cuja resistência provavelmente tenha surgido no Paraguai e chegado ao Brasil pelas lavouras de fronteira. Hoje, estima-se que no Brasil 4,5 milhões de hectares enfrentam problemas com resistência. Destes, 50% apresentam resistência aos inibidores de ALS, seguidos pelo glifosato com 23%. Em 10% dos casos as daninhas já demonstram resistência múltipla, ou seja, resistem a dois ou mais princípios ativos. Segundo o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja, a buva é a invasora que provoca o maior nível de perda, chegando a 30% caso a infestação alcance pelo menos duas plantas por metro quadrado. A causa disso é a alta capacidade de adaptação da espécie, rapidez na disseminação, índice de emergência de 60% e capacidade de reprodução de até 60 mil sementes por plantas, que podem ser transportadas pelo vento para distâncias

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de até 68km. Somente no Rio Grande do Sul, 2,2 milhões de hectares estão infestados com buva resistente ao glifosato. Se levarmos em conta que para o controle desta invasora é necessário investimento de até oito sacas de soja por hectare, há um montante anual de mais de 17 milhões de sacas de soja ou algo em torno de R$ 680 milhões, utilizados para combater a resistência, somente no Rio Grande do Sul. O Paraná vem em segundo lugar, com aproximadamente 1,8 milhão de hectares infestados.

Desafios e soluções

Os dados oficiais colocam o Brasil como quarto país no volume de área com registros de resistência de plantas daninhas, ficando atrás do Canadá, Estados Unidos e Austrália. No entanto, segundo o pesquisador da Esalq, Pedro Christoffoleti, há no Brasil hoje muito mais área com problema de resistência do que os dados oficiais estimam. O que contribuiria para que as estatísticas apontem menor infestação do que realmente existe no Brasil seria o fato de os pesquisadores da América do Norte e Austrália acompanharem mais de perto o desenvolvimento do problema, diferente dos demais países, onde a falta de atualização compromete o acompanhamento. Além deste fator, “no Brasil há maior diversidade de plan-


Fotos Bayer

Para Gerhard Bohne, não existem soluções isoladas para controlar a resistência aos herbicidas

tas daninhas, o que influencia no manejo e, consequentemente, no desenvolvimento de biotipos resistentes”, explica. Para o professor Ribas Vidal, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não há uma alternativa isolada para enfrentar o problema. São necessárias práticas conjuntas para, safra após safra, diminuir a resistência em áreas infestadas. Estas práticas incluem

rotação de cultura, rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas, utilização de plantio direto com espaçamentos adequados, além de utilizar a maior densidade populacional possível da cultura a ser implantada, o que ajuda a diminuir o desenvolvimento e a densidade populacional das invasoras. Produtos como glufosinato de amônio, princípio ativo de herbicidas comercializados pela Bayer CropScience mundialmente sob as marcas Liberty e Ignite, são utilizados para auxiliar no manejo de plantas daninhas de folhas largas e gramíneas em áreas com problemas de resistência. No Brasil, o glufosinato de amônio é comercializado com os nomes comerciais Finale e Liberty e “é amplamente utilizado para o controle de buva resistente no Sul”, explica o diretor de Operações de Negócios Brasil da Bayer CropScience, Gerhard Bohne. Ele enfatiza que não existem soluções isoladas para combater a resistência de plan-

Para Rüdiger Scheitza, responsável pelo portfólio mundial da Bayer CropScience, são necessárias novas abordagens no controle de invasoras

tas daninhas. Por isso, “os colaboradores da empresa estão preparados para avaliar caso a caso e apresentar soluções completas para cada situação”, garante. Tecnologias como Liberty Link, utilizada em plantações de culturas com tolerância ao glufosinato de amônio, serão uma das principais ferramentas utilizadas nos próximos anos no combate à resistência de invasoras no Brasil, garante Bohne. Nos Estados Unidos, por exemplo, a tecnologia Liberty Link já é utilizada em algodão e milho há alguns anos e foi liberada para utilização em soja na atual safra. “Será uma complementação no processo de manejo de invasoras”, enfatiza. Para Rüdiger Scheitza, membro do conselho diretor da Bayer CropScience AG e responsável pelo portfólio global da empresa, “são necessárias novas abordagens para o controle de plantas daninhas em vista do crescente problema global da resistência”. A companhia também está trabalhando em parceria com empresas como a Mertec e a M.S. Technologies para desenvolver mais traits (traços genéticos) de tolerância a herbicidas em soja nos Estados Unidos. Será incluída uma “estante tripla”, combinação de traits que proporcionam tolerância aos herbicidas baseados em glufosinato de amônio e glifosato, mais tolerância a uma terceira categoria de princípios ativos conhecidos como inibidores HPPD. Essa categoria de produtos inclui, por exemplo, o Balance Pro, da Bayer CropScience, um herbicida usado no milho nos Estados Unidos, onde a sua aplicação em soja está planejada para 2015. No meio de tantos debates, o pensamento comum entre os conferencistas é de que para que estas novas tecnologias perdurem é necessário fazer uso consciente de produtos, respeitando as práticas necessárias que evitam ou retardam o aparecimento C de resistência.

Para Marc Reichardt, presidente da Bayer CropScience para AL e Brasil, é compromisso da empresa apoiar o diálogo em questões-chave para a agricultura

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Coluna ANPII

Aliados da competitividade Inoculantes para leguminosas se firmam cada vez mais no Brasil como insumo indispensável para a cadeia produtiva da soja

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o momento em que lemos este artigo, o Sul, o Oeste e partes do Sudeste e do Nordeste estão cobertos por vastas plantações de soja. Do sol vem a energia para formar a parte estrutural da planta, das nuvens vem a água e do solo os nutrientes que ali foram colocados pelo agricultor. Mas, a par disto, uma grande quantidade de nitrogênio está sendo

mana, e a proteína para alimentação de aves e suínos teriam preços que os tornariam inacessíveis. O que possibilita a produção de soja nos níveis econômicos, tanto no que tange à produção de grãos propriamente dita, como na obtenção de seus derivados, o chamado complexo soja, é o fornecimento do nitrogênio via biológica. Neste mesmo momento, trilhões de nódulos espalhados

viáveis até o momento do seu uso no campo; difusores de tecnologia, tanto de cooperativas como de organismos oficiais, divulgaram o uso destas bactérias; e finalmente, mas não menos importante, os agricultores brasileiros se conscientizaram da importância deste insumo e hoje o utilizam em larga escala, com benefícios tanto para suas lavouras como para a sociedade como um todo.

Cada um, na cadeia do inoculante, deve trabalhar com o máximo de qualidade, com o objetivo de obter resultado altamente satisfatório em todo o processo incorporada da atmosfera para o sistema solo/planta. São aproximadamente 24 milhões de hectares de soja semeados em todo o país, com plantas que necessitam de grandes quantidades de nitrogênio. Para se produzir mil quilos de grãos, a soja, por seu elevado teor de proteína, são necessários em torno de 80kg a 100kg de nitrogênio. Assim, para os 24 milhões de hectares da cultura, presumindo uma produção de 3.000kg/ha, precisamos de 6.000.000 de toneladas de nitrogênio, o equivalente a cerca de 13 milhões de toneladas de ureia. Sabendo-se da escassez deste nutriente nos solos, temos duas formas de fornecê-lo: via fertilizante químico (ou mineral) ou pela via biológica: Se tivéssemos que usar o nitrogênio obtido por processos industriais, como ureia, sulfato de amônio ou outro, o custo de sua aquisição tornaria a cultura da soja inviável do ponto de vista econômico. O óleo de soja, hoje o mais barato para a alimentação hu-

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pelas raízes de bilhões de plantas, estão fazendo a transformação de um nutriente abundante na natureza (presente em forma não assimilável) para uma forma facilmente absorvível pela planta. É este fenômeno, tão natural quanto eficaz, que ocorre de forma contínua desde que as primeiras raízes se formaram e que vai até o enchimento das vagens. Mas para que este fenômeno natural fosse transformado em insumo agrícola, melhorado em seu desempenho e usado na forma de tecnologia agrícola (que acompanha a evolução da genética da soja e das práticas agrícolas) todo um trabalho prévio teve que ser desenvolvido: institutos de pesquisa e universidades, com pesquisadores de alto gabarito, selecionaram estirpes de elevado poder de fixação do nitrogênio; empresas produtoras de insumos biológicos desenvolveram tecnologias de multiplicação de bactérias em alta concentração e veículos adequados para manter os organismos

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Cada um, na cadeia do inoculante, deve trabalhar com o máximo de qualidade, com o objetivo de obter resultado altamente satisfatório em todo o processo. A seleção de estirpes é fundamental, a produção de inoculantes eficazes é indispensável, bem como a difusão da tecnologia e de seus benefícios, uma legislação moderna e compatível com o estágio da tecnologia, uma fiscalização intensiva e o uso de maneira correta por parte do elo final da cadeia: o agricultor. Desta forma, os inoculantes para leguminosas se firmam cada vez mais como insumo indispensável para a cadeia produtiva da soja, constituindo-se em um elo importantíssimo para que o Brasil mantenha seu elevado nível de competitividade nesta C oleaginosa.

Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

Recorde de produtividade

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rodutividade sempre foi palavra chave na agropecuária. No entanto, a partir de agora, a exigência de produtividade será cada vez maior, pelas seguintes razões: 1)O mercado internacional será fortemente comprador nos próximos anos. Ou aumentamos a produtividade ou derrubamos as florestas; 2)As margens dos mercados agrícolas tenderão a ser cada vez menores, resultado de uma concorrência encarniçada no mercado globalizado, onde cada elo da cadeia produtiva tenta se apropriar da maior fatia das margens; 3)O resultado final da rodada de negociações sobre o clima, iniciada em Copenhagen, vai exigir que todas as cadeias produtivas diminuam suas emissões de carbono – a agropecuária entre

Essas produtividades foram obtidas em pequenas parcelas, onde, pelas regras do concurso, o agricultor pode “montar” o seu sistema de produção. O que der certo, ou seja, o que aumentar a produtividade com alto grau de sustentabilidade, é testado em escala maior. E, assim, sucessivamente, até abarcar toda a lavoura. Se o leitor coçou a cabeça e disse: “eu quero ver esta produtividade em 100ha, 200ha!”, tem razão. O máximo de produtividade pode não significar, necessariamente, o máximo de rentabilidade. Kip Cullers é inteligente – como a maioria dos agricultores – e avança conforme verifica que o aumento de produtividade significa maior lucratividade e menor impacto ambiental. Assim, no total da sua lavoura, obteve, em média, 7.128kg/ha em 2008 – nas

perdas na colheita... Porém, há um momento em que será necessário investir, melhorar a condição física do solo, saltar de patamar no uso de fertilizantes, adequar o parque de máquinas, prover irrigação etc. Neste caso, a regra de ouro será sempre a mesma: feitas as projeções, o aumento do custo por safra, computando-se o custo variável e as amortizações, sempre deve ser inferior à projeção do aumento da produção. Ou, dito de outra forma, o custo de produção de cada quilo de soja, na produtividade mais alta, tem que ser inferior ao custo do mesmo quilo, na produtividade anterior. O leitor deve estar curioso em saber exatamente qual é o “pulo do gato” de Kip Cullers (que em suas entrevistas sempre chama a atenção que esse “pulo”

Pode ser que o salto de produtividade se deva ao uso de esterco (de galinha ou peru) ou ao controle da oferta de água para a soja elas. Uma das maneiras de reduzir as emissões, aumentando a rentabilidade, é justamente produzir mais, por unidade de área e por unidade de insumo utilizado. Ganham o clima e o produtor.

Kip Cullers

O amigo leitor acha possível produzir 5.000kg/ha de soja? Melhor achar, porque já temos diversos agricultores no Brasil que atingiram esta produtividade. E que tal 7.868kg/ha? Ou 9.348kg/ ha? Ou ainda 10.356kg/ha? Seria possível? Se o leitor ficar incrédulo, eu entendo, afinal foi a minha primeira reação ao deparar-me com estes números. Precisei pesquisar muito, conversar com muitas pessoas, visitar a American Soybean Association, nos EUA, para me convencer que eram verdadeiros. O que significam estes números? Representam a produtividade de soja do agricultor Kip Cullers (Purdy, Missouri), vencedor dos concursos de produtividade de soja nos EUA, em 2006, 2007 e 2008 (ainda não foi divulgada a produtividade do concurso desta safra).

pequenas parcelas produziu 7.868kg/ha. Segundo Cullers, o clima correu mal – muito frio e muita umidade - e reduziu a produtividade da soja!

Produção x custo

É um erro assumir, como premissa, que todo o acréscimo de produtividade implica, necessariamente, em aumento de custo. Por vezes, é possível aumentar a produtividade simplesmente fazendo bem feito, com capricho, o que já vem sendo realizado e com custos muito baixos. Por exemplo, efetuar a análise de solo com amostragem adequada da área, antes de decidir pela aplicação de fertilizante; comprar semente fiscalizada de qualidade, da cultivar que melhor se adapta a sua lavoura; escolher a melhor época de plantio; regular adequadamente a semeadora, verificar o número de sementes e a profundidade de semeadura; usar espaçamento e densidade adequados; inocular as sementes, controlar corretamente as plantas daninhas; controlar pragas no momento certo e apenas quando necessário; regular a colhedora, evitando

não existe). Pode ser que o salto de produtividade se deva ao uso de esterco (de galinha ou peru) ou ao controle da oferta de água para a soja. Mas ressalta que o importante é o olho do dono. Ou seja: muito capricho. Aplicar o sistema de produção mais adequado, observar cada pormenor, acompanhar a lavoura quotidianamente e fazer as contas bem feitas. E que o desafio de participar do concurso de produtividade tem feito com que a sua lavoura melhore ano após ano. Cullers tem demonstrado que aumentar a produtividade significa colocar mais dinheiro no bolso, pois os seus recordes de produtividade têm sido acompanhados de receitas também crescentes. Finalmente, Cullers não é apenas um recordista de produtividade de soja. Também produziu 23.268kg/ha de milho no ano passado. Tá bom ou quer mais? C

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Safra cheia requer cautela na comercialização em 2010 Os produtores chegam à colheita de uma grande safra de milho e soja com temor de forte queda nas cotações. Fato que já começou a ser visto neste começo de ano. Neste momento cautela e distribuição da comercialização são a melhor alternativa. O ano mostra grande potencial de demanda mundial e brasileira de produtos. Estamos saindo da crise mundial e mesmo que os primeiros números dos bancos americanos tenham se mostrado negativos, para médio e longo prazo o quadro será bom, porque temos uma grande notícia que vem da China: confirmação de crescimento de 8,7% naquele país, bem diferente dos indicativos de janeiro de 2009, quando se esperava que o percentual ficasse entre 4% e 6% apenas. Somente um e outro, dos mais otimistas, falavam que a China poderia chegar próximo dos 8%. Porém, ninguém apontava que iria crescer tanto como foi efetivado e, isso, está trazendo um efeito na demanda local de matérias-primas e principalmente de alimentos. No Hemisfério Norte, com um dos invernos mais frios em 50 anos, gerou-se maior demanda de ração e alimentos, o que ao longo do ano deve também trazer reflexos positivos. Outro fator importante que temos que acompanhar vem da economia americana, que no momento está com as aplicações financeiras locais na faixa dos 0,5% ao ano de rendimento. Cenário que tende a fazer os investidores correrem para ativos de risco e principalmente commodities minerais e agrícolas. Desta forma, este será o ano das commodities, que tendem a ter grande procura. Com isso se pode ter valorização do dólar, que também irá nos beneficiar, já que o real estava muito valorizado e está na hora de termos uma equalização das moedas que estimulem os exportadores brasileiros. Desta forma, acreditamos que a fase negativa do mercado será restrita a poucas semanas, até a colheita. Depois veremos o quadro da demanda e fatores econômicos dando apoio para os produtores, com crescimento das cotações e ganhos.

MILHO Safra cheia requer exportação

A safra do milho está em colheita e mostra excelente produtividade. Isso porque o clima foi um dos melhores já vistos nesta primeira safra, o que obriga o setor a exportar e assim enxugar parte do excedente inicial. Também estaremos dependentes do apoio do governo via pregões de PEP, Opções ou compras diretas para dar liquidez, porque no momento os grandes consumidores devem trabalhar “das mãos para a boca”. Desta forma, não há indicativos para grandes avanços. Veremos as cotações operando dentro dos níveis de paridade de exportação, ou seja, já estamos próximos do fundo do poço, porque os patamares atuais dão margem para exportar, sem motivos para mais recuos. Além disso, qualquer ganho em Chicago ou no dólar irá ser repassado internamente.

com negócios na exportação. Desse modo, o que entrar agora deverá ser retido pelos produtores à espera de níveis de preços melhores à frente. Há pressão de alta no frete a partir de fevereiro, uma vez que estamos entrando em uma safra recorde, que pode chegar à marca das 67 milhões de toneladas (embora estimativas indiquem níveis próximos das 65 milhões de toneladas). Mesmo assim recorde, que requer grande volume de caminhões para o transporte. Fato que irá forçar os fretes para cima e diminuir os valores no interior. No médio prazo a soja se recupera, mas neste curto prazo estaremos dependentes de alta no dólar ou ganhos em Chicago. Estamos no período de colheita, o que normalmente representa os menores níveis do ano. FEIJÃO

Colheita fechando e mercado crescendo

A primeira safra do feijão 2010 está em fase final de colheita e os produtores já negociaram a maior parte do produto, com níveis entre R$ 55,00 e R$ Entregando contratos A comercialização da soja safra 09/10 foi forte 70,00 a saca. Em alguns casos até acima desse valor nos estados centrais que já têm mais de 50% da para o produto de melhor qualidade. A expectativa produção (que está em colheita), comprometida é de que o mercado melhore de agora em diante, SOJA

porque o plantio da segunda safra é um dos menores da história e isso irá trazer reflexos positivos para as cotações entre final de fevereiro e março, quando a demanda cresce. Então poderemos ver níveis andando acima dos R$ 80,00. Não devemos nos assustar se os níveis superarem os R$ 100,00 porque haverá pouco feijão para ser negociado nos meses seguintes. ARROZ

Reagindo neste começo de ano

O mercado começou o ano em alta, com o arroz casca gaúcho em avanço, mostrando níveis dos R$ 32,00 aos R$ 35,00 a saca, com expectativa de subir mais. O apoio vem do mercado internacional, que segue comprador. Os números da exportação do Brasil podem fechar fevereiro próximos das 800 mil toneladas, com grande espaço para continuar vendendo em 2010 e baixos estoques do governo para atender as necessidades em 2010. Como iremos começar a colheita com as cotações em alta, haverá pouco espaço de baixa no curto prazo e fôlego para avanços no restante do ano. Será um bom ano para o setor arrozeiro.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado se depara com grandes volumes do produto “chuvado” indo para a exportação para servir de ração em outros países. As estimativas são de que este volume possa passar de 1,5 milhão de toneladas. Dessa forma o Brasil estará carente de ofertas nos próximos meses, porque há pouco trigo bom para ser negociado e assim a oferta internacional tende a recuar, pois o consumo irá crescer acima das expectativas, com reflexos da economia asiática que aumenta mais que o esperado, com boa demanda na região. Com os níveis de preços deste começo de ano ao redor dos R$ 400,00 aos 430,00 por tonelada para os estados do Sul e níveis de R$ 460,00 a 490,00 por tonelada no Sudeste e Goiás, há espaço para alta em fevereiro. ALGODÃO - Os produtores estão plantando a safra no Centro-Oeste. Na Bahia há bom desenvolvimento e pelo que se observa, a queda na área pode ter sido menor que as expectativas, porque o dólar em alta e os avanços externos trouxeram melhor expectativa para a pluma neste ano, que pode ter um cenário mais positivo. EUA - As primeiras indicações do ano apontam que a demanda de biocombustíveis será crescente. Há crescimento do uso do milho para etanol, saindo de pouco mais de 94 milhões de toneladas para mais de 104 milhões de toneladas neste novo ano e para o óleo de soja que vai para biodiesel, indicando que irá superar o consumo de um milhão de toneladas frente a níveis próximos de 900 mil do último ano. Bom para o mercado mundial dos grãos. CHINA - A excelente notícia do ano veio no final de janeiro, com o crescimento econômico chinês em 2009 em 8,7%. Com esse percentual, volta-se a comentar que o país pode crescer mais de 10% em 2010, o

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que representa grande demanda de alimentos no país, que seguirá como destaque no setor de soja. Também se cogita que poderá vir a comprar milho, além de outros grãos, já que a China teve grandes perdas na última safra e que não foram apontadas ao mercado mundial. ÍNDIA - Depois de uma safra com grandes perdas devido à seca, o país passa por um inverno rigoroso, que tem aumentado o consumo interno de alimentos, grãos e óleos (o que deverá gerar grandes importações em 2010 e ajudar a dar sustentabilidade às cotações internacionais). Alguns países vizinhos retiraram os impostos que tinham sobre a importação de alimentos, já prevendo avanço nas cotações em 2010. A cana deverá ganhar espaço sobre os grãos neste novo ano no país em função das boas cotações do açúcar e da maior resistência à seca que a cultura tem sobre os outros cultivos. ARGENTINA - Começou o ano com algumas chuvas e estava revertendo a situação de seca apresentada até dezembro. Mas no final de janeiro o quadro mudou e o clima seco voltou junto com altas temperaturas, o que torna a safra argentina ainda uma incógnita. Os números divergem, porém, há prognósticos de 45 milhões de toneladas a 54 milhões de toneladas para soja, de 14 milhões de toneladas a 18 milhões de toneladas para o milho e de 800 mil toneladas a 1,2 milhão de toneladas para o arroz. Como a safra está em andamento e há muitas semanas para que esteja garantida, ainda é cedo para apontar uma grande colheita e pelo que vemos nas indicações de clima, estão mais para perdas do que para recorde de colheita. Os argentinos devem entrar fevereiro com tempo seco e quente e este novo mês será fundamental para a definição da colheita.

Fevereiro 2010 • www.revistacultivar.com.br




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