Cultivar 130

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 130 • Março 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas Capas

Riscos da resistência............................24

Dionísio Gazziero

O que o produtor precisa saber sobre a adoção de variedades de milho resistentes a herbicidas no Brasil

Migração interna........................09 Foco na identificação.................30 Como corrigir............................34 Produtores gaúchos trocam regiões de origem para cultivar soja em áreas antes dedicadas à pecuária, no Sul do Rio Grande do Sul

Como detectar corretamente a ferrugem alaranjada, doença que acaba de ser descoberta em canaviais brasileiros

Índice

Expediente

Diretas

04

Migração de produtores de soja para o Sul do RS

09

Ferrugem asiática em soja

12

Mofo branco em soja

20

Desafios das variedades de milho resistentes a herbicidas

24

Nematoides em milho

27

Ferrugem alaranjada em cana

30

Correção de solos nos cerrados

34

Empresas - Embrapa e Basf lançam Cultivance

36

Empresas - Dia de campo Agromen

38

Coluna ANPII

40

Coluna Agronegócios

41

Mercado Agrícola

Saiba como proceder para enfrentrar os problemas de acidez e alumínio, características comuns em solos agrícolas brasileiros

42

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO • Editor

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo • Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida • Secretária

Rosimeri Lisboa Alves

GRÁFICA • Impressão

CIRCULAÇÃO • Coordenação

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• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Herbicidas

Eduardo Mazzieri, na Bayer CropScience há três anos, passa a responder pelos fungicidas para soja, milho, algodão e trigo. Mazzieri era gerente de Produtos Herbicidas para as culturas de trigo, arroz, soja e algodão. Já Cassiano Bronzatti, que respondia pela gerência de Estratégia de Preços, assume como gerente de Produto Herbicidas, com o desafio de posicionar os produtos da empresa na era dos transgênicos.

Fungicidas

Ronaldo Yugo passa a integrar a equipe responsável por fungicidas na Bayer CropScience. Assumiu como gerente de Produto Fungicidas para as culturas citros, café, feijão, arroz e hortifruti. Fábio Prata, que antes respondia pela gerência de Portfólio Fungicidas, agora também é responsável pelos portfólios Herbicidas e Inseticidas.

Ronaldo Yugo e Fábio Prata Eduardo Mazzieri e Cassiano Bronzatti

Sul

Rodolpho Leal assumiu a gerência de marketing da Bayer CropScience para a Região Sul, cargo em que pretende assegurar o alcance das metas por meio do aperfeiçoamento contínuo dos colaboradores. Há 25 anos na Bayer, ultimamente desenvolvia a função de gerente de Culturas Cereais de Rodolpho Leal inverno, arroz e tabaco.

Cultivares

O estande da Monsanto, no Show Rural, foi palco de lançamentos de cultivares de soja RR e apresentação de informações sobre a Tecnologia Roundup. As novas cultivares lançadas foram a M6009RR precoce, resistente a acamamento e tolerante ao crestamento bacteriano, além da M6707RR, que permite o plantio na safrinha e também é resistente a crestamento bacteriano e tolerante à antracnose.

Híbridos

A Pioneer apresentou no Show Rural os híbridos superprecoces 32R48Y e P3340Y e o 30F53H, com a tecnologia Herculex I. A empresa também lançou durante o evento a solução NSR, tecnologia que possibilita corrigir deficiências dos híbridos, no caso específico de doenças foliares, como a ferrugem polysora. Desta forma, híbridos que em muitas situações eram limitados a determinado plantio, em função da suscetibilidade a uma doença, passam agora a ser tolerantes a esta doença, ampliando assim as opções do produtor.

Soluções

O time da Bayer CropScience apresentou diversos destaques durante o Show Rural da Coopavel, como o programa “Muito Mais” e o novo conceito “Proteção 360º”. O programa Muito Mais é um portfólio de soluções integradas e serviços diferenciados para controle de pragas, doenças e plantas daninhas. Já o Proteção 360º é um conceito que alia o uso de dois fungicidas que atuam em todas as fases da planta, desde o tratamento de sementes (Atento) até a colheita (Sphere Max).

Presença

Biotecnologia

A Dekalb apresentou durante o Show Rural a segunda geração de biotecnologia de milho, com o híbrido YGRR2 (MON 810 x NK 603), que combina resistência a insetos e tolerância a glifosato. A tecnologia foi aprovada pela CTNBio em novembro de 2009 e aguarda o aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para uso de Roundup Transorb e Roundup WG em pós-emergência.

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Jean Mary Zonato, que atuava na área de marketing da Bayer CropScience, assumiu como diretor para as culturas de arroz, algodão, cereais e canola para a América Latina. Zonato participou da 20ª Abertura da Colheita do Arroz, onde a empresa destacou as sementes híbridas do arroz Arize.

Jean Mary Zonato


Sistemas de detecção

A Basf levou aos visitantes do Show Rural a oportunidade de verificar de perto os serviços oferecidos pela empresa, como o Digilab e Yield Max, além do inseticida-fungicida Standak Top, dos fungicidas Opera e Comet e dos benefícios AgCelence para as culturas de soja e milho. O Digilab é um sistema digital de identificação das principais doenças em diferentes cultivos, que auxilia o produtor na escolha do procedimento correto de controle e prevenção com mais velocidade. Já o Yield Max é “um sistema de detecção que permite o melhor momento para realização do controle de doenças baseado em dados agrometeorológicos, monitorado via satélite”, explica Eduardo Leduc, diretor de Proteção de Cultivos da Basf.

Pré-lançamento

A Basf aproveitou a 20ª Abertura da Colheita do Arroz para fazer o pré-lançamento do Kifix, herbecida para arroz Clearfield. No evento de apresentação do produto, além de produtores, participaram Clairton Silva, gerente da unidade Cereais Sul, Andreas Shultz, gerente para a cultura do arroz, o secretário da Agricultura do Rio Grande de Sul, João Carlos Machado, o presidente do Irga, Maurício Fischer, e o deputado federal Luís Carlos Heinze, entre outras autoridades.

Fungicida

Parceria

A Bayer CropScience destacou durante a 20ª Abertura da Colheita do Arroz, em Camaquã (RS), o programa Muito Mais Arroz. No evento foi oficializada parceria técnica com o Irga e a Fazenda Ana Paula. “Participar da Abertura da Colheita do Arroz é muito importante para a empresa e este ano é ainda mais especial, pois estamos finalizando a parceria da Bayer com o Irga/Fazenda Ana Paula, destacando as sementes híbridas de arroz Arize, o que irá fortalecer ainda mais a posição da Bayer CropScience na cultura do arroz”, afirmou Leandro Pasqualli, gerente de Arroz da unidade BioScience.

A Basf focou sua linha de produtos durante a 20ª Abertura da Colheita do Arroz. Através de parcelas demonstrativas a empresa pode mostrar o desempenho do fungicida Brio, indicado contra as principais doenças da cultura, ampliando a proteção do potencial produtivo da lavoura.

Financiamento facilitado

Carlos Pujol e Vera Ambrozi, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), apresentaram aos visitantes da 20ª Abertura da Colheita do Arroz o programa de financiamento para máquinas e equipamentos com juros fixos de 4,5% ao ano. Estão contemplados equipamentos para armazenagem e irrigação, máquinas rodoviárias e para paCarlos Pujol vimentação.

Linha abrangente

Inovações

A Bayer CropScience demonstrou, durante a Abertura da Colheita do Arroz, as inovações tecnológicas da empresa para a cultura. Leandro Pasqualli, gerente de Arroz da unidade BioScience, falou sobre as sementes híbridas do arroz Arize. E Mário Rissi, gerente de Cultura Cereais de inverno, arroz e tabaco, destacou o fungicida Nativo. O produto amplia a proteção de toda a planta e é recomendado para o tratamento de doenças como brusone e manchas foliares.

Vera Ambrozi

A DuPont do Brasil apresentou, além dos herbicidas Ally e Gulliver para o controle de folhas largas e ciperáceas em arroz, a tecnologia do novo inseticida Altacor, para o controle de pragas como a bicheira-da-raiz e lagarta-da-panícula. Mostrou ainda os resultados de eficiência da nova solução em controle de doenças, Aproach Prima, que encontra-se em fase de registro no Brasil.

Mário Rissi

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Nutrição

A Produquímica participou do Show Rural Coopavel com sua linha de produtos focados na agricultura. José Roberto Pereira de Castro, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo, destacou o fertilizante foliar Triunfo 515, indicado para culturas como soja, milho, sorgo, trigo, algodão, feijão, arroz e café, e também o Sulfurgran 90, macronutriente com 90% de enxofre granular, ideal para solos com baixa capacidade de retenção de enxofre ou com alta ocorrência de lixiviação.

Híbridos

A Agromen Tecnologia apresentou no Show Rural Coopavel as vantagens do Herculex I e seus resultados. A empresa lançou durante a feira o híbrido superprecoce 30A30 Hx, com Herculex I. Os visitantes também puderam observar parcelas demonstrativas com os híbridos 30A86 Hx e 30A91 Hx, com Herculex I. Joacilio Helene, gerente técnico comercial, salienta que os produtos com tecnologia Herculex I possuem as mesmas qualidades dos materiais convencionais e ainda conferem proteção contra o ataque de lagartas.

Joacilio Helene

Fitopatologia

Daninhas e mofo branco

A Ihara destacou o Flumyzin, herbicida usado no manejo de buva e demais plantas daninhas. Este ano a empresa apresentou no Show Rural Coopavel uma estação para abordar o mofo branco, doença presente na soja. “Possuímos experiência no manejo desta doença e um portfólio de produtos com ótimos resultados”, afirma o gerente de Cultura da Ihara, Evandro Sasano.

A Arysta, durante o Show Rural Coopavel, ofereceu em seu estande palestras com o especialista em Fitopatologia, Heraldo Feska, da Fapa, sobre o manejo e controle das principais doenças fúngicas da soja, especialmente a ferrugem. Apresentou também o conceito Pronutiva, que entre os produtos inclui o Biozyme, fertilizante foliar; Raizal, e K-tionic, Foltron, Humiplex e Pilatus. Ricardo Dias destacou ainda os produtos Select, Orthene 750 BR e AtabronAkito.

Sustentabilidade

Kit ferrugem

A Milenia Agrociências apresentou no Show Rural Coopavel o kit de identificação de ferrugem da soja, um teste de diagnóstico rápido e eficiente para saber se o fungo causador da doença contaminou a lavoura do agricultor.

Fertilizantes

A Microquímica levou ao Show Rural Coopavel mais de 80 produtos, destinados às mais variadas culturas. Jorge Ricci, gerente de Vendas, destacou o Nectar, fertilizante mineral; Tuval, fitorregulador; Molybdate, que também é um fertilizante mineral; Noctin A, inoculante líquido, responsáveis pela fixação biológica do nitrogênio utilizado na cultura da soja.

Regina Carneiro e Fátima Muniz

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A Syngenta participou do Show Rural Coopavel com o tema Sustentabilidade. Neste ano, a empresa levou para a feira uma área especial, onde os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer de forma lúdica e interativa o conceito de se produzir mais com menos. O público assistiu, ainda, às apresentações dos projetos Escola no Campo, Água Viva, Mata Ciliar, Centro-Sul de Feijão e Milho e EPI Solidário.

Soluções

A Syngenta, durante o Show Rural, apresentou seu portfólio completo de soluções aos agricultores, com alternativas de alta tecnologia em proteção de cultivos, tratamento de sementes, biotecnologia e sementes, afirma Marcos Basso, gerente de Marketing. Milto Faco, gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado, ressaltou também os híbridos convencionais e geneticamente modificados, além dos produtos Fortis e Icon, utilizados para Marcos Basso o controle de pragas urbanas.

Milto Faco


Variedades

A Syngenta apresentou a soja Syn1049RR, variedade superprecoce lançada em 2010, e o milho CéleronTL (TL – tolerantes às lagartas). As variedades de soja tolerantes ao glifosato Syn3358RR e VmaxRR também foram mostradas. O público teve acesso, ainda, às demonstrações em campo da linha Agrisure, marca para biotecnologia em milho, como o StatusTL e a FórmulaTL.

Defensivos

Entre os destaques em defensivos agrícolas para soja, o herbicida Gramocil e os inseticidas Curyom e Engeo Pleno e o fungicida Priori Extra foram enfocados pela Syngenta. Para a cultura do milho também foram apresentados o herbicida Callisto e o fungicida Priori Xtra. Em tratamento de sementes, as atenções se voltaram para o Cruiser, adequado para o plantio de milho geneticamente modificado e manejo para proteger as sementes do ataque dos percevejos, desde o momento do plantio.

Tecnologia

A Coodetec participou do Show Rural Coopavel. A empresa, de base tecnológica voltada à agricultura, com 180 mil agricultores filiados, é formada por uma rede complexa de ensaios, departamento de pesquisa estruturado, modernos laboratórios de biotecnologia, entomologia, fitopatologia, sementes e solos. Demonstrou aos visitantes suas variedades de sementes de soja, milho e trigo.

Programa Renda

O presidente do Irga, Maurício Fischer, apresentou o Programa Renda, na 20ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz. O enfoque do programa é a sustentabilidade, que incluiu produtividade, rentabilidade, qualidade e produção mais limpa. Por meio do projeto, os produtores têm a oportunidade de obter melhor rentabilidade para seus negócios.

Herbicida

Evento singular

A Agronelli participou do Show Rural Coopavel. De acordo com Mauricio Komori, coordenador regional de Vendas, o evento é um momento singular de divulgação e para identificar novas oportunidades. “Divulgamos nossos produtos e serviços, através de nossa equipe regional de engenheiros agrônomos, como José Antonio Malucelli e Rivail Andrade Gonçalves.”

Em seu campo demonstrativo, instalado na Vitrine Tecnológica, durante a 20ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, a Iharabras mostrou os resultados que podem ser obtidos com o herbicida Nominee, responsável pelo tratamento de mais de 1,4 milhão de hectares de lavouras no Brasil.

Destaques

O Irga apresentou na Vitrine Tecnológica, durante a Abertura da Colheita do Arroz, o Projeto 10. Manejo para alta produtividade, recomendações de adubação, manejo da ureia e as cultivares Irga 417, Irga 423, Irga 424 e Irga 425, estiveram entre os destaques.

Regina Carneiro e Fátima Muniz

Novos rumos

Kedilei Roncato Duarte é o novo gerente de Produtos Herbicidas para o Brasil da FMC. Presente no Show Rural Coopavel com a equipe da empresa, destacou produtos do portfólio como Boral, Gamit Kedilei Roncato Duarte e Talstar.

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Produtividade

A Cheminova participou do Show Rural com o objetivo de difundir as tecnologias voltadas para o aumento da produtividade. Através das parcelas demonstrativas, com culturas diversificadas como soja, feijão e milho, a empresa mostrou as técnicas de utilização correta de fungicidas, herbicidas e inseticidas para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas, além do tratamento de sementes.

Participação

A Syngenta participou da Vitrine Tecnológica, na 20ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz. Felipe Fett, gerente de Marketing, enfatizou que a empresa tem atuado firme e forte na cultura, com um time de profissionais altamente qualificados. Quanto aos produtos, destacou Zapp Qi, com foco no manejo de plantas daninhas, para tratamento de sementes Cruiser e Maxin XL, os inseticidas Actara e Engeo Pleno para o controle de pragas e os fungicidas Priori e Score no combate a doenças.

Desempenho

Durante a 20ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã, no Rio Grande do Sul, a Dow AgroSciences apresentou o desempenho do herbicida Ricer, para o controle de plantas daninhas e tratamento de doenças fúngicas.

Manejo

A Monsanto apresentou na 20ª Abertura da Colheita do Arroz os diferenciais do produto Roundup. Além de reforçar a tecnologia Transorb II, o programa Garantia de Satisfação 100% e as melhores práticas de manejo.

Presença

Jadyr Piva de Sousa, gerente de Marketing da Rotam CropSciences, juntamente com Andrei Mori, coordenador de Vendas da empresa, no Paraná, visitou o Show Rural Coopavel com os clientes Valdir Barbosa, Wagner Amâncio e Gustavo Bulle.

Tecnologias

Inseticidas

A Dupont destacou durante o Show Rural os inseticidas Prêmio e Altacor. O time da Dupont apresentou demonstrativos com os dois novos produtos à base de Rynaxypyr, indicados para o controle de pragas nas culturas de soja, milho, arroz, café, cana-de-açúcar, algodão e em HF. “É um produto revolucionário, que abre nova geração de agroquímicos no tocante à segurança, seletividade e doses de ingrediente ativo aplicadas por hectare nas lavouras”, promete Jorge Artuzi, coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Dupont.

Regina Carneiro e Fátima Muniz

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A FMC apresentou na 20ª Abertura da Colheita do Arroz suas tecnologias para arroz irrigado: Tecnologia GP Star para controle de plantas daninhas, inseticidas para controle de diversas pragas na cultura do arroz e de um novo fungicida, o Emerald, para o controle do complexo de manchas foliares, cárie e brusone em arroz irrigado.


Soja

Rumo ao Sul

Atraídos por vantagens logísticas e abundância de terras a preços acessíveis agricultores deixam regiões de origem para plantar soja no extremo Sul gaúcho

O

s campos do Sul do Rio Grande do Sul não são mais os mesmos. É o que se constata ao observar a paisagem, até poucos anos caracterizada predominantemente por extensas pastagens, forte presença da pecuária, ovinos e lavouras de arroz. Os tempos são outros e o antigo cenário passa a disputar espaço com o verde da soja, que ganha força a cada safra na região. As estimativas da Embrapa dão conta de que na última década a área cultivada aumentou mais de 10% ao ano e já se aproxima de um milhão de hectares plantados com a oleaginosa. Além da paisagem, os sons também mudaram. O silêncio característico do campo agora é quebrado com maior frequência. Hora pelo ronco dos aviões de pulverização, que cada vez mais povoam o céu, hora pelos motores das máquinas agrícolas que se multiplicaram. A falta de tradição do cultivo de soja na região começa a perder força diante da chegada de produtores vindos de outras partes do estado. Atraídos por fatores como preço mais acessível da terra, oferta de áreas para arrendamento e proximidade com o Porto de Rio Grande (por onde escoam a safra), um grupo de agricultores aceitou se lançar nessa espécie de desbravamento, que

se não pode ser comparado à migração de gaúchos rumo a estados do Centro-Oeste, também apresenta desafios.

“Faria tudo de novo”

Entre os que abandonaram a região de origem para se aventurar no cultivo de soja no sul do Rio Grande do Sul estão integrantes da família Paulus. Descendentes de alemães e naturais do município de Tapera, no Alto do Jacuí, começaram há cinco anos a transferência para Arroio Grande, distante mais de 500 quilômetros, no outro extremo do estado. Fredolino Paulus, 60 anos, foi o primeiro a se estabelecer na região. Oriundo de uma família de pequenos agricultores, composta por 12 irmãos, já havia trocado Tapera por Mormaço, também no Alto do Jacuí, onde cultivava 40 hectares de soja. “A propriedade ficou pequena. E lá não tinha mais terra pra comprar ou arrendar”, justifica. Motivados pela experiência de um conterrâneo, que havia arrendado terras em Arroio Grande para plantar soja, em 2005 os Paulus resolveram conhecer de perto a região. “Viemos umas dez pessoas de lá, em uma van, de excursão”, lembra.

A abundância de terra a preço acessível, para comprar ou arrendar, foi um dos fatores que influenciou na decisão de migrar para o Sul. Uma escolha difícil nos primeiros tempos. “O pessoal por aqui é bastante receptivo, mas no começo a saudade da família era grande”, confessa. Hoje, Fredolino cultiva, junto com a esposa e os dois filhos, de 23 e 24 anos, 280 hectares de soja. A paisagem da propriedade, antes dedicada à pecuária, está completamente transformada e chama a atenção na vizinhança. “Tem muita gente admirada com a produção. Tenho até procurado variedades de porte mais baixo, porque senão fica difícil de colher, com tanta palha, por causa do vigor das plantas”, explica. A saudade da família hoje não é mais problema. Irmãos, cunhado, primos e até a mãe (de 81 anos), vieram morar em Arroio Grande. Entre terras próprias e arrendadas, atualmente os Paulus cultivam mais de dois mil hectares com soja e trigo no município.

Cultivar

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Particularidades de manejo

O

plantio de soja no sul do Rio Grande do Sul exige alguns cuidados específicos. Para explicar os fatores que interferem no processo produtivo e diferenciam a região de outras partes do estado, Cultivar Grandes Culturas entrevistou os pesquisadores Giovani Theisen, da Embrapa Clima Temperado, João Leonardo Pires e Paulo Fernando Bertagnolli, da Embrapa Trigo.

Por que existem diferenças de produtividade de soja na região sul do Rio Grande do Sul, em relação a outras regiões do Estado? Quais fatores interferem? O clima é um dos principais fatores relacionados com a diferença de produtividade entre Sul e Norte. Séries históricas de precipitação pluvial mostram as diferenças entre as diversas regiões do Estado. De uma forma geral, pode-se afirmar que nos períodos críticos da soja no estado a penalização ao rendimento de grãos é maior, em média, no Sul e na Fronteira Oeste em relação ao Norte e principalmente ao Nordeste do Estado. Entretanto, isto não significa que a cultura de soja não possa ter bons resultados no Sul. Questões de estrutura fundiária,

de tipo de solo, da tradição de cultivo de arroz e atividade pecuária no Sul também são fatores que muitas vezes estão relacionados com as diferentes necessidades da soja no Sul e no Norte. Para tanto é necessário que sejam desenvolvidas tecnologias diferentes (específicas) para cada situação. Por exemplo, no Sul devem ser oferecidas cultivares tolerantes ao excesso hídrico (para cultivo em solos de várzea) e tolerantes à falta de água, para cultivo em condições de coxilha. Muitas vezes ocorrem equívocos quando o produtor usa algumas tecnologias já consolidadas para o Norte do Estado nas condições do Sul. No Sul a soja é cultivada em dois sistemas (sequeiro e terras baixas). Já no Norte é plantada somente no sistema de sequeiro. Isto faz com que no Sul a cultura esteja exposta a condições extremas, tanto de falta como excesso hídrico, dependendo do sistema de cultivo utilizado.

Que cuidados são necessários? Tomando por base que praticamente toda a soja da metade norte do Rio Grande do Sul é cultivada em áreas sem problemas de encharcamento e em plantio direto, algumas situações do Sul requerem manejo diferente daquele efetuado na parte Norte.

Preços médios pagos ao produtor de soja em reais pelo saco de 60 quilos Locais Pelotas Passo Fundo Santa Rosa

22/01/2010 Valor % R$ 43,00 100 R$ 39,00 90,7 R$ 38,50 89,5

15/01/2010 Valor % R$ 45,00 100 R$ 39,00 86,7 R$ 39,50 87,8

08/01/2010 % Valor 100 R$ 46,50 R$ 41,00 88,2 R$ 39,50 84,9

01/01/2010 % Valor 100 R$ 44,00 93,2 R$ 41,00 89,8 R$ 39,50

Fonte dos dados: informativos da Emater

24/12/2009 Valor % R$ 44,00 100 R$ 41,40 94,1 R$ 39,50 89,8

É o caso típico das áreas de terras baixas (cultivadas com aproximadamente 270 mil hectares de soja), nas quais deve-se planejar a drenagem e de preferência implantá-la no inverno anterior ao cultivo da soja. Como a oleaginosa não tolera encharcamento e as terras baixas são muito planas, o acúmulo de água das chuvas poderá ser prejudicial à cultura. Estabelecer drenos bem orientados na lavoura, neste sentido, é muito importante. Outro manejo específico da cultura nas terras baixas e muito planas é a aração e gradagem, realizada para possibilitar a secagem do solo e assim efetuar a semeadura. Esta prática é predominante em áreas em que se cultiva a soja após o arroz irrigado, que é colhido com o solo ainda molhado e as colhedoras e máquinas transportadoras deixam rastros profundos na lavoura. A aração e gradagem, além de servir para incorporar a palha e favorecer ao secamento do solo, são utilizadas para nivelar o terreno após a colheita do arroz. Atualmente, em parte da área está se procedendo o cultivo mínimo, em que as operações de lavração e gradagem são efetuadas no outono, e a soja (ou o arroz) semeados com semeadora de plantio direto. À produtividade das terras da região, Fredolino só tem elogios. A última safra em Mormaço havia sido prejudicada pela estiagem. E em Arroio Grande, sempre produziu acima de 40 sacas por hectare. “Na última colheita conseguimos 55 sacas por hectare”, comemora. A proximidade do Porto de Rio Grande (distante cerca de 125 quilômetros) facilita o escoamento da safra e aumenta os lucros. “Recebo em média uns R$ 3,00 a mais por saca, o que no total da produção faz boa diferença”, comenta. Com os olhos na imensidão verde de sua lavoura, ladeado pela esposa e pelos dois filhos, Fredolino não esconde o orgulho dos resultados. “Antes a gente tinha um tratorzinho. Hoje temos três tratores, colheitadeira, pulverizador, caminhão. Estou muito contente. Se precisasse mudar para cá outra vez, faria tudo de novo”, finaliza.

Rotação com o arroz

Fredolino Paulus transformou a paisagem da propriedade, que em 2005 tinha na pecuária sua maior fonte de exploração

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Além dos produtores que se dedicam exclusivamente ao cultivo de soja e trigo no Sul do Rio Grande do Sul, há os que


Para o cultivo nas áreas de coxilhas (locais mais altos e secos), as práticas e orientações de manejo seguem as mesmas de outras regiões do estado. Ocorre que, em muitos casos, os produtores não seguem à risca algumas das práticas-chave de manejo, destacandose principalmente a inoculação das sementes, a dessecação das áreas antes da semeadura, a adubação de acordo com a análise do solo e a observação dos níveis de dano de pragas. Cuidado especial também deve ser destinado ao melhor aproveitamento de água e redução dos riscos por deficiência hídrica. A escolha da cultivar adequada para a região (evitando-se o excesso de precocidade), o escalonamento de semeadura e o plantio direto, são algumas das práticas que podem contribuir neste sentido.

de secas; e também chuvas em excesso associadas com a inexistência ou pouca precisão no sistema de drenagem das áreas.

Quais os principais riscos na região Sul? Os riscos são os mesmos da metade Norte quanto às questões de comercialização, preço mínimo, falta de crédito... Especificamente no Sul acrescente-se, em áreas de coxilhas: secas, associadas à manutenção de pouca cobertura do solo (e aos solos arenosos em alguns locais). Em áreas de terras baixas: períodos

Existem cultivares específicas que se adaptem melhor à região? Para o cultivo em terras baixas, as instituições de pesquisa ainda estão em busca de cultivares com bom nível de tolerância ao encharcamento. As cultivares utilizadas são praticamente as mesmas empregadas nas terras altas, tomando-se o cuidado de se efetuar as práticas de drenagem nas

plantam a oleaginosa em rotação de cultura com lavouras de arroz. “É uma alternativa interessante, principalmente no manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Uns 70% dos orizicultores já aderiram a esse sistema, o que explica, em parte, o aumento da produção de soja na região. Outra vantagem é a melhora do solo, porque se faz uma boa adubação, sobra residual de nutrientes para o arroz”, explica André Affonso, agrônomo da Cooplantio. C Gilvan Quevedo

Há fatores favoráveis em relação ao restante do estado? Boa parte do Sul do Rio Grande do Sul se situa mais próxima do porto de Rio Grande do que a região tradicional produtora de soja do estado. Isso implica em menor custo com fretes, tanto da soja quanto dos insumos (fertilizantes, principalmente). É um ganho logístico, que pode beneficiar o produtor. Outro aspecto é o fato da soja se inserir positivamente tanto em áreas de rotação com arroz irrigado, quanto em locais de sequeiro, onde muitas áreas estão tomadas pelo capim-annonni.

áreas. Nas terras altas, de modo geral, as cultivares mais produtivas da metade Norte têm proporcionado as maiores produtividades também no Sul. Uma ressalva, neste contexto, é que as cultivares de ciclo mais longo tem demonstrado não oferecer, nas últimas safras, a mesma rentabilidade financeira dos materiais de ciclo médio. No caso da implantação de soja de ciclo muito longo nas terras baixas, a maturação ocorre em período com elevada frequência de chuvas, dificultando sobremaneira a colheita, ou mesmo a inviabilizando, dependendo da situação. Já nas terras altas, o menor retorno das cultivares demasiadamente longas advém do longo período da cultura exposta às pragas (insetos e doenças), o que implica em se efetuar mais aplicações de agroquímicos; principalmente se levando em conta que a maior parte das aplicações é efetuada sem um adequado monitoramento de níveis de dano de pragas. É interessante lembrar que, devido à C latitude (que interfere no comprimento do dia), o ciclo das cultivares de soja são maiores quanto mais ao Sul forem semeadas. Fotos Cultivar

Fredolino (centro) foi o pioneiro da família Paulus na transferência para Arroio Grande, onde vive com a esposa e os dois filhos desde 2005


Soja Fotos José Tadashi Yorinori

Indutor de resistência Testes com sulfato de níquel no controle da ferrugem asiática reduziram a velocidade de aumento da doença na cultura da soja. Estima-se que pulverizações com o micronutriente causariam mudanças na fisiologia do hospedeiro, de modo a ativar os mecanismos de resistência da planta. Associado a um fungicida, foi aplicado preventivamente na lavoura nas fases vegetativa e reprodutiva

P

rodutos alternativos, como certos fertilizantes, podem auxiliar no manejo de doenças como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), que tem ocasionado severas perdas na cultura da soja. Tais produtos podem ser incluídos ainda no manejo da resistência do fungo, por possíveis ações na indução de resistência das plantas. Portanto,

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podem apresentar grande importância diante do cenário atual de controle da ferrugem asiática, considerando o comportamento dos fungicidas triazóis (em que certas populações do fungo apresentam menor sensibilidade ao uso deste grupo químico, especialmente nas regiões onde estes defensivos foram mais utilizados). O níquel, recentemente considerado

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como elemento essencial às plantas, é muito pouco conhecido quanto aos efeitos fisiológicos que podem desencadear nas células vegetais. Há indicações na literatura de que pulverizações de sulfato de níquel poderiam causar mudanças na fisiologia do hospedeiro, ativando os mecanismos de resistência de cereais contra as ferrugens e, ainda, incrementar a qualidade das sementes


Tabela 1 - Ação do sulfato de níquel (SNi) e do fungicida (F) pyraclostrobin + epoxiconazole (Opera) sobre a severidade (%) de ferrugem asiática, avaliada em diferentes estádios fenológicos das plantas de soja Tratamentos 1) Testemunha 2) SNi 0,25 V5* 3) SNi 0,5 V5 4) SNi 0,25 R1 5) SNi 0,5 R1 6) SNi 0,25 + F 0,5 R1 7) SNi 0,25 + F 0,5 V5 8) SNi 0,5 + F 0,5 R1 9) SNi 0,5 + F 0,5 R1 10) F 0,5 V5 11) F 0,5 R1 CV %

R5.1 16,2 A 3,0 B 1,2 C 3,7 B 0,7 C 0C 0C 0,7 C 0,2 C 0C 0,2 C 22,2

R5.2 26,2 A 5,7 B 1,5 C 5,0 B 1,0 C 0C 0C 1,0 C 0,2 C 0C 0,2 C 22,5

R5.3 49,5 A 18,7 B 6,7 C 7,5 C 3,5 D 1,7 E 1,7 E 1,2 E 0,7 E 1,5 E 1,0 E 17,9

R5.4 70,0 A 37,0 B 8,7 C 10,0 C 5,0 D 2,5 D 2,0 D 3,0 D 1,0 D 2,5 D 1,5 D 15,9

R6 96,2 A 55,0 B 42,5 C 31,7 D 23,7 E 15,5 F 15,5 F 10,5 G 8,7 G 16,7 F 10,0 G 7,0

* dose em kg ou L p.c./ha e estádio do início das aplicações

colhidas (Gerendás et al, 1999; Wells, 2005; Malavolta & Moraes, 2007). Outra possibilidade seria o efeito tóxico ao patógeno, agindo diretamente sobre o seu desenvolvimento. Um aspecto relevante do uso de compostos alternativos para o manejo das doenças é atribuído à ação deles como indutores ou ativadores da resistência das plantas contra patógenos em

As avaliações da doença foram realizadas em cinco estádios reprodutivos, baseando-se na porcentagem de severidade dos sintomas

geral. Por exemplo, Juliatti et al, 2005, observou o comportamento de fosfito sobre a ferrugem asiática. Porém, neste

caso, o uso isolado do produto indicou ineficiência ou baixa eficiência de controle desta doença, o que provavelmente


possa estar correlacionado à época de aplicação.

Efeito sobre o desenvolvimento

José Tadashi Yorinori

Foi desenvolvido um trabalho no Instituto Biológico, em Campinas, para avaliar a ação do sulfato de níquel, isolado ou associado a fungicida, em dois programas de aplicação, baseados no início das aplicações (estádio vegetativo ou estádio reprodutivo), considerandose algum efeito fisiológico deste micronutriente, e o seu possível efeito sobre o desenvolvimento da ferrugem asiática da soja. O experimento foi conduzido em plantas de soja cultivadas em condições de telado, utilizando-se a cultivar BRS 133, semeada em 12 de novembro de 2007. Cada parcela foi constituída de quatro vasos de 20L com cinco plantas cada um. As pulverizações foram efetuadas em dois programas, de acordo com os estádios da cultura, sendo aplicado o sulfato de níquel (SNi) isoladamente ou em associação ao fungicida pyraclostrobin + epoxiconazole (estrobilurina + triazol), na dose recomendada de 0,5L

p.c./ha, sem adição de adjuvante. O volume de 200L/ha foi adotado para o preparo das caldas e as plantas pulverizadas até o ponto de escorrimento. As aplicações dos dois produtos (nutriente e fungicida) foram totalmente preventivas, em ambos os programas de aplicação, iniciados no estádio vegetativo (V5) ou reprodutivo (R1), totalizando três pulverizações em todos os tratamentos, exceto para a testemunha. No primeiro programa as aplicações foram realizadas nos estádios V5, V7 e R2, e no segundo em R1, R3 e R5.1. Foram testadas duas doses do SNi, 0,25kg p.c./ha e 0,50kg p.c./ha. Os primeiros sintomas da doença foram observados entre os estádios R3 e R4, com comprovação das pústulas de ferrugem em R4 (3/2/08) e, portanto, após o início das aplicações. As avaliações da doença foram realizadas em cinco estádios reprodutivos R5.1, R5.2, R5.3, R5.4 e R6, baseandose na porcentagem de severidade dos sintomas nos três terços das plantas (superior, médio e inferior), com o auxílio de uma escala diagramática

A eficiência da aplicação do sulfato de níquel possivelmente esteja associada à época de aparecimento da doença e/ou ao estádio de desenvolvimento da cultura

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variando de 0,6% a 78,5% de infecção foliar, segundo a recomendação da Comissão de Reunião de Pesquisa de Soja do Brasil Central. Foram determinadas a taxa fotossintética, a transpiração e a condutância estomática nos terços mediano e superior das plantas no estádio R4 (3/2), utilizando o aparelho Irga proveniente da Unesp/Botucatu. Não foram possíveis outras avaliações desses elementos pela indisponibilidade do aparelho no local do experimento. Foram avaliados o peso seco dos nódulos de Bradyrhizobium no estádio R5.3 (18/2/08), amostrando-se uma planta por vaso, o índice de verde visual das folhas, com notas de 1 a 5 (1 = verde menos intenso e 5 = mais intenso) no estádio R7 (13/3) em todas as plantas, e finalmente procedeu-se a colheita das plantas no final do ciclo, no estádio R9 (3/4/08), com o objetivo de determinar o peso total de grãos por parcela. Os resultados obtidos indicaram efeitos positivos dos produtos no controle da ferrugem asiática da soja, visualizados pelas menores porcentagens de severidade, em relação às plantas não tratadas (Tabela 1). O produto sulfato de níquel, nas duas doses avaliadas, 0,25kg p.c./ha e 0,5kg p.c./ha, utilizado de forma preventiva e em três pulverizações, reduziu a velocidade de aumento da ferrugem asiática da soja, sendo a maior dose


Matheus Zanella

Dirceu Gassen

O uso isolado de fosfito indicou ineficiência ou baixa eficiência de controle da doença

mais efetiva. A eficiência da aplicação deste produto possivelmente esteja associada à época de aparecimento da

doença e/ou estádio de desenvolvimento da cultura, visto que neste trabalho foi aplicado preventivamente, em ambos

os programas de aplicação, iniciados na fase vegetativa ou reprodutiva. Não houve significância dos tratamentos para os fatores fisiológicos, mostrando não haver alteração nos processos de fotossíntese, transpiração e condutância estomática nas condições deste experimento, em que somente uma época de avaliação foi efetuada.


Fotos José Tadashi Yorinori

Não houve efeito significativo também sobre a nodulação, o que poderia ser explicado pelo número reduzido de plantas amostradas para esta finalidade. Porém,

houve tendência de efeito positivo na nodulação pelo uso dos produtos. A ação sobre o peso de grãos foi significativa para alguns tratamentos, principalmen-

Dirceu Gassen

Um aspecto relevante do uso de compostos alternativos para o manejo das doenças é atribuído à ação deles como indutores ou ativadores da resistência das plantas contra patógenos em geral

te na associação do fungicida ao SNi, benefícios de rendimento que não foram evidenciados para o controle aparente da doença e redução da porcentagem de desfolha (Tabelas 1 e 2). Os programas de aplicação iniciados no estádio reprodutivo (R1) possibilitaram melhores resultados de controle e rendimento do que os começados no

Tabela 2 - Ação do sulfato de níquel (SNi) e do fungicida (F) pyraclostrobin + epoxiconazole (Opera) sobre o peso (g) de nódulos de Bradyrhizobium, % de desfolha, índice de verde - (notas = 1 a 5) e peso de grãos (g) em plantas de soja Tratamentos 1) Testemunha 2) SNi 0,25 V5* 3) SNi 0,5 V5 4) SNi 0,25 R1 5) SNi 0,5 R1 6. SNi 0,25 + F 0,5 R1 7. SNi 0,25 + F 0,5 V5 8. SNi 0,5 + F 0,5 R1 9. SNi 0,5 + F 0,5 R1 10. F 0,5 V5 11. F 0,5 R1 CV %

Nódulos–g R5.3 0,26 A 0,30 A 0,37 A 0,47 A 0,61 A 0,52 A 0,45 A 0,80 A 0,40 A 0,48 A 0,41 A 10,5

% Desfolha R6 83,7 A 57,5 B 48,7 B 30,0 D 25,0 E 16,2 E 23,7 E 24,5 E 21,7 E 21,0 E 24,5 E 8,4

% Desfolha R7 100,0 A 81,2 B 72,5 C 66,2 D 52,5 F 51,2 F 60,0 E 65,0 D 53,7 F 51,2 F 51,2 F 3,4

Í. Verde R7 1,0 E 1,75 D 2,87 C 3,75 B 4,0 B 4,25 B 4,0 B 3,12 C 4,0 B 3,75 B 3,87 B 7,6

* dose em kg ou L p.c./ha e estádio do início das aplicações

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Grãos-g R9 20,90 B* 28,39 B 33,50 B 36,57 B 33,42 B 31,46 B 50,37 A 39,55 A 51,95 A 32,22 B 39,00 B 10,25

As avaliações da doença foram realizadas em cinco estádios reprodutivos R5.1, R5.2, R5.3, R5.4 e R6


O papel do Ni em plantas

O

papel do sulfato de níquel como micronutriente essencial para as plantas pode ser resumido, segundo Malavolta & Moraes, 2007, desta maneira: a enzima urease contém Ni e, portanto, a deficiência de Ni impede a ação da urease, levando ao acúmulo de ureia (ou ácidos oxálicos e láticos) que causa manchas necróticas em folhas. Está envolvido na fixação simbiótica de N, aumenta a atividade hidrogenase (nódulos bacterianos) e, portanto, há vegetativo, em função de a doença ter surgido a partir de R3/R4. Portanto, neste caso, houve melhor aproveitamento dos produtos com as pulverizações mais tardias. Pelos resultados obtidos nas condições deste trabalho, observou-se que há possibilidade do sulfato de níquel e do fungicida pyraclostrobin + epoxiconazole terem afetado diretamente o patógeno. No caso de produtos com ação de

crescimento da nodulação. Quanto aos benefícios agronômicos foi demonstrado o aumento de produtividade em trigo, batata e feijão com aplicações de Ni; íons de Ni na solução inibiram a produção de etileno em feijão e maçã; pulverizações com sais de Ni são muito efetivas contra infecções por ferrugem em cereais, promovendo possivelmente toxidez ao patógeno e mudanças causadas na fisiologia do hospedeiro que levam à sua resistência. indução de resistência, a literatura recomenda o uso preventivo, para que ocorra a transdução dos sinais e ativação dos mecanismos de defesa das plantas antes do ataque do patógeno (Leite et al, 1997). C Silvânia Helena Furlan, Instituto Biológico Valter Casarin e José Roberto Pereira de Castro, Produquímica




Soja Divulgação

Epidemia branca Surtos Surtos de de mofo mofo branco branco em em soja soja registrados registrados no no cerrado cerrado do do Mato Mato Grosso, Grosso, na na safra safra 2009/2010, 2009/2010, estão estão associados associados àà ocorrência ocorrência de de chuvas chuvas intensas, intensas, aa lavouras lavouras pouco pouco arejadas no solo, solo, arejadas em em cultivo cultivo convencional, convencional, ao ao acúmulo acúmulo de de inóculo inóculo de de S. sclerotiorum no àà subsolagem subsolagem ee àà falta falta de de medidas medidas preventivas, preventivas, essenciais essenciais ao ao controle controle da da doença doença

A

podridão branca da haste ou mofo branco, causada por Sclerotinia sclerotiorum (Lib) de Bary, é uma doença de importância mundial. As estimativas de danos giram em torno de 10% a 20%, já tendo sido registradas perdas superiores a 50% em casos severos. No Brasil esta doença assume maior importância em regiões de clima mais ameno como no Sul, Sudeste e CentroOeste, quando ocorrem baixas temperaturas noturnas principalmente em áreas de cultivo de girassol e feijão, cujos resíduos mantêm o inóculo no solo em alta concentração. Sclerotinia sclerotiorum é um fungo polífago, tendo como hospedeiras plantas de mais de 400 espécies. Esta doença é conhecida em outras culturas em regiões de altitudes elevadas (acima de 800m) e clima ameno, desde 1921 (batata) e 1954 (feijão). Em soja, os primeiros relatos no Brasil datam de 1976. No cerrado, os primeiros relatos de mofo branco em soja foram feitos há 20 anos, ocorrendo desde então de forma endêmica. O histórico do mofo branco em soja no Centro-Oeste é mais recente (dez anos) e teve início em regiões elevadas de Goiás e Distrito

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Federal. Ainda que de forma esporádica, S. sclerotiorum já se manifestava com agressividade suficiente para serem contabilizados prejuízos de até 40% na produtividade. Nos últimos anos, esta doença tornou-se um dos principais problemas fitossanitários da cultura no sudoeste goiano. São confirmadas perdas de até 60% na produtividade em regiões de altitude elevada. São comuns os relatos de áreas de 100 hectares a 300 hectares infectados com incidência superior a 50%. No Mato Grosso, o mofo branco era conhecido como doença de ocorrência extremamente rara, sendo encontrados focos isolados em regiões mais altas e em anos de temperatura amena na serra da Petrovina, Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste. Nestas regiões, quando encontrado, o mofo branco limitava-se à colonização externa do colo de plantas sem manifestação de infecção sistêmica, em pequenas reboleiras, em lavouras adensadas ou com plantas de porte alto ou prostradas e em períodos de chuvas intensas. Na safra 2009/2010, o mofo branco foi registrado no Mato Grosso de forma surpreendentemente severa em lavouras nas regiões do

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centro-sul (Campo Verde, Jaciara, Primavera do Leste), médio norte (Sapezal, Deciolândia) e norte (Sinop). Nestas regiões foram observados quadros sintomatológicos de mofo branco em diferentes intensidades. Os focos de plantas com sintomas de manchas aquosas e sinais de colonização superficial da haste na região do colo com hifas de S. sclerotiorum produzidas a partir de germinação miceliogênica dos escleródios passaram a ser observados com frequência, em áreas sem relatos anteriores da doença. Este quadro de sintomas e sinais, anterior à infecção sistêmica da planta, era observado esporadicamente somente em lavouras submetidas a condições extremamente favoráveis ao processo patogênico e em áreas sabidamente colonizadas por escleródios de S. sclerotiorum. Foram observadas situações intermediárias de sintomas e sinais da doença, com morte parcial ou total de plantas em pequenas reboleiras, com abundante produção de escleródios nos tecidos infectados e no solo. Em algumas áreas, contudo, incluindo aquelas sem histórico da doença e sem cultivo recente de hospedeiros promotores de aumen-


to do inóculo inicial de S. sclerotiorum, foram registrados quadros sintomatológicos e de sinais extremamente severos, com observação de abundante produção de escleródios sobre e no interior de hastes e vagens e na superfície do solo (um a cinco escleródios/100g solo), comprometimento parcial ou total de elevado número de plantas (reboleiras com mais de 40% de plantas mortas ou parcialmente secas), distribuição generalizada das reboleiras, caracterizando, em alguns casos, contaminação de áreas extensas de solo. A observação destes sintomas e sinais com frequência notadamente maior nesta safra indica aumento da disseminação e exposição de estruturas de sobrevivência do patógeno, seja pela movimentação de implementos e sementes contaminadas (entre áreas de cultivo), seja pelo revolvimento do solo trazendo escleródios do subsolo para a superfície (dentro de áreas sem histórico recente da doença). A correlação de dois fatores, notadamente a prática da subsolagem e o porte das cultivares, parece estar diretamente ligada à severidade do mofo branco observado na safra 2009/2010 no Mato Grosso. Para avaliar o possível efeito da descompactação no transporte de estruturas de resistência de S. sclerotiorum do subsolo para a superfície, foi realizado no município de

Campo Verde um levantamento da população de escleródios em amostras de solo e comparadas para as mesmas variedades (Tabarana e TMG 132) em talhões com severidade elevada de mofo branco, submetidos ou não à subsolagem. O levantamento mostrou que talhões que sofreram subsolagem apresentavam 37,5 escleródios/m2 quando comparados a talhões não submetidos a esta prática, com 17,5 escleródios/m2, para áreas cultivadas com TMG 132. Em áreas cultivadas com Tabarana, já dessecada e, portanto, recontaminando o solo, o número de escleródios encontrados foi de 40/m2 (solos subsolados) e 50/m2 (solos não subsolados), valores considerados semelhantes estatisticamente. Estes números confirmam que, após a colheita, o número de estruturas de resistência de S. sclerotiorum aumenta consideravelmente nos solos contaminados. As plantas da cultivar TMG 132 semeadas em solo descompactado apresentavam sintomas mais severos de mofo branco comparadas às plantas da cultivar Tabarana, semeadas, possivelmente, em solos com menor população inicial de escleródios. Assim, em talhões submetidos à subsolagem e cultivados com variedades de crescimento excessivo ou muito enramadas, foram encontrados níveis elevados de severidade

de mofo branco, comparados somente aos observados em regiões de ocorrência histórica da doença nos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia. As mesmas variedades cultivadas em solo onde não foi realizada a subsolagem (às vezes em talhões contíguos) apresentaram incidência e severidade baixa a moderada da doença, à semelhança de variedades de porte ereto cultivadas em solos submetidos ao revolvimento. Os surtos epidêmicos de mofo branco em soja no cerrado do Mato Grosso na safra 2009/2010 devem estar associados à ocorrência de chuvas intensas, a lavouras pouco arejadas em cultivo convencional, ao acúmulo de inóculo de S. sclerotiorum no solo, à subsolagem e à falta de medidas preventivas de controle, uma vez que o processo patogênico ainda não havia sido relatado na maioria das áreas. Em algumas lavouras estima-se uma perda média de 20% a 25% na produtividade devido apenas ao mofo branco. O dano real provocado pela doença nestas regiões só será contabilizado após a colheita das lavouras de ciclo médio que começa em fevereiro de 2010. Sclerotinia sclerotiorum é um fungo habitante do solo, polífago, necrotrófico, que pode sobreviver em condições adversas por longos períodos na forma de escleródios


(massas escuras, compactas e disformes, de tamanho variado, semelhantes a excrementos de ratos). Os escleródios podem sobreviver até 11 anos no solo e são altamente resistentes a substâncias químicas, calor seco até 600ºC e congelamento. Em condições favoráveis (umidade elevada), os escleródios germinam na forma de micélio branco e cotonoso (germinação miceliogênica) que pode colonizar o colo das plantas acima da superfície do solo. Quando ocorrem baixas temperaturas noturnas associadas à umidade, os escleródios tendem a germinar produzindo apotécios (germinação carpogênica), estruturas sexuais que liberam esporos infectivos carregados pelo vento a pequenas distâncias. Os apotécios produzidos por escleródios no solo e escleródios produzidos diretamente sobre a planta a partir do micélio infectivo dão início à infecção sistêmica quando ocorrem temperaturas noturnas baixas. A abundante produção de escleródios sobre e internamente ao tecido infectado (hastes e vagens) retornam ao solo, contaminam implementos e misturam-se à fração de impurezas dos lotes de sementes durante a colheita, aumentando o potencial de inóculo. O patógeno pode afetar a planta de soja em qualquer estádio, causando em plântulas oriundas de sementes infectadas morte em pré e pós-emergência. Entretanto, os maiores danos ocorrem na fase adulta da planta, especialmente no início da fase reprodutiva (estádio R1/R2) e de formação de vagens (estádio R3/R4) quando ocorre o fechamento da lavoura e aumento da umidade. Nestes casos, os primeiros sintomas caracterizam-se por manchas aquosas na haste, localizadas próximas ao nível do solo, que evoluem para coloração castanho-clara e logo desenvolvem

abundante formação de micélio branco e denso. Em condições de temperaturas amenas formam-se escleródios na superfície das plantas a partir do micélio característico do mofo branco. A infecção sistêmica dos feixes lenhosos pode atingir ramos, vagens e pecíolos. Normalmente podem ser observados sintomas de murcha, seca e degeneração ascendente da medula em partes afetadas ou na planta toda a partir do ponto de infecção. A fase mais vulnerável da planta estendese do estádio da plena floração (R2) até o início da formação das vagens (R3). Alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas favorecem o desenvolvimento da doença. Escleródios caídos ao solo, sob alta umidade e temperaturas entre 10°C e 25°C, germinam e desenvolvem apotécios na superfície do solo. Estes apotécios produzem ascósporos que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das plantas. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto de escleródios misturados

Em condições favoráveis, os escleródios germinam na forma de micélio branco e cotonoso que pode colonizar o colo das plantas acima da superfície do solo

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às sementes. Uma vez introduzido na área, o patógeno é de difícil erradicação. As condições mais favoráveis e que permitem a manutenção de um microclima adequado ao patógeno e à ocorrência de surtos de alta severidade da doença são: uso de sementes contaminadas e/ou infectadas, solos com abundante colonização de escleródios (solos com populações acima de 80 escleródios/ m2 são considerados impróprios para o cultivo de culturas hospedeiras de S. sclerotiorum), plantios adensados ou utilização de variedades de crescimento prostrado, florescimento desuniforme, chuvas abundantes associadas a temperaturas amenas, desequilíbrio nutricional, cultivos sucessivos com plantas hospedeiras, palhada malformada e revolvimento do solo. O controle do mofo branco em soja deve ser, necessariamente, de caráter preventivo. Medidas de manejo integrado da doença devem ser avaliadas e adotadas antes da instalação da lavoura. Medidas isoladas de controle têm pouco ou nenhum efeito sobre o patógeno. Considerando que a ocorrência de surtos epidêmicos de mofo branco em soja em regiões altas do cerrado do Mato Grosso é aspecto relativamente novo para produtores e técnicos, torna-se fundamental concentrar esforços na conscientização do segmento produtivo deste Estado para o perigo do estabelecimento de altas populações de S. sclerotiorum nas áreas de cultivo de soja e para as medidas preventivas que devem ser adotadas. Neste sentido, recomenda-se evitar a introdução do fungo na área isenta utilizando-se semente certificada livre do patógeno. O trânsito de sementes contaminadas ou infectadas (interna ou externamente) pelo patógeno é um aspecto fundamental na disseminação e aumento do inóculo inicial de S. sclerotiorum em áreas indenes ou com baixa ocorrência da doença. O tratamento de sementes com mistura de fungicidas de contato e sistêmicos específicos para o controle de S. sclerotiorum tem sido avaliado.


Fotos Divulgação

Em áreas de ocorrência da doença, devese planejar a sucessão/rotação de soja com espécies resistentes dentro das monocotiledôneas. A manutenção de lavouras mais arejadas (maiores espaçamentos, menor densidade de semeadura e uso de variedades de porte ereto) permite melhor circulação de ar, menor período de molhamento e maior eficiência do uso de fungicidas. Áreas infectadas devem ser isoladas nas operações que envolvam movimentação de máquinas, reduzindo assim a disseminação

do patógeno para áreas isentas. O uso de fungicidas tradicionais e de novas moléculas, ainda em estudo, tem sido eficiente na redução da severidade de S. sclerotiorum para a cultura da soja. Resultados de pesquisa apontam para o manejo do mofo branco em soja com o uso intercalado de diferentes princípios ativos. As pulverizações preventivas para proteger a planta do inóculo inicial S. sclerotiorum devem ser feitas na pré-floração (antes do fechamento da lavoura) com a utilização de fungicidas do grupo dos benzimidazóis (tiofanato metílico, carbendazim). Muitos produtores têm adotado esta prática para a redução do inóculo de mancha alvo e antracnose em lavouras de soja suscetível a estas doenças. Estes fungicidas possuem pouco efeito sobre a germinação de escleródios. Porém, podem proteger os tecidos da planta contra a colonização externa das hifas do patógeno. Os princípios ativos procimidone (fungicida sistêmico), iprodione (fungicida de contato), fluazinam (fungicida-acaricida de contato), fluopyram (fungicida sistêmico) e dymoxistrobin (fungicida mesostêmico) associado à boscalid (fungicida sistêmico), têm apresentado resultados satisfatórios em nível experimental no controle de mofo branco em

soja, em quadros mais avançados de infecção. Vale lembrar que, para a cultura da soja, apenas o princípio ativo tiofanato metílico está registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A variabilidade entre isolados de S. sclerotiorum na sensibilidade a procimidone, na dose equivalente a 800mL/ha já foi relatada. Este fato remete o manejo do mofo branco à adoção de medidas que tenham o objetivo de evitar ou reduzir substancialmente a possibilidade de desenvolvimento de populações resistentes a fungicidas. Assim, a utilização de diferentes princípios ativos no controle da doença assume papel relevante no manejo integrado de S. sclerotiorum. Considerando-se a ocorrência do mofo branco em soja como uma situação nova na maioria das regiões de cultivo no Mato Grosso, torna-se fundamental farta divulgação de informações abordando as formas de redução da disseminação da doença, sua diagnose segura a campo e as medidas de manejo integrado disponíveis e aplicáveis C às lavouras do estado. Andréia Quixabeira Machado, Univag Daniel Cassetari Neto, UFMT


Capa

Uso consciente

Com a liberação de novas variedades de milho resistentes a herbicidas no Brasil e o consequente aumento do emprego desta tecnologia no país, produtores precisam se manter vigilantes e fiéis aos preceitos do manejo de plantas daninhas para evitar problemas de seleção de biótipos resistentes, como os já registrados na cultura da soja devido ao uso contínuo de defensivos de mesmo princípio ativo

Charles Echer

C

om o uso em larga escala de variedades comerciais de milho resistentes a herbicida, tende a aumentar a preocupação com manejo de plantas daninhas, visto que um dos fatores responsáveis pelo surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas está associado à pressão de seleção imposta pelos sistemas agrícolas de produção. O uso continuado de herbicidas, com o mesmo modo de ação, o emprego de herbicidas com alta eficácia ou com efeitos residuais muito prolongados, podem ser considerados como fator primordial para a seleção dos biótipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas. Cuidados devem ser tomados para a utilização de cultivares de milho resistente a herbicidas, principalmente em sucessão ou rotação com outras culturas também resistentes ao mesmo grupo de herbicidas. Como exemplo pode-se relatar o cultivo do milho safrinha em diferentes regiões do Brasil,

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que geralmente vem após o cultivo da soja. Estima-se que na safra de 2008/09, de 50% a 60% da soja plantada no Brasil foi proveniente de sementes resistentes ao herbicida glifosato. Com isto, se o uso do manejo de plantas daninhas, através do controle químico, não for bem planejado, poderá aumentar muitas vezes a pressão de seleção, contribuindo para o surgimento muito mais rápido de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Relatos de agricultores utilizando herbicidas com o mesmo modo de ação têm gerado grandes preocupações entre os técnicos, pois em alguns casos está ocorrendo aplicação de até cinco vezes o mesmo ingrediente ativo. A aplicação de um mesmo ativo, poderá ser de até sete vezes caso o agricultor faça uso de culturas em suscessão resistente ao mesmo herbicida da cultura antecessora. Com isto, se elevará em muito a pressão de seleção, contribuindo para o surgimento de plantas daninhas resistentes. Produtores têm utilizado o glifosato na dessecação, na cultura da soja,

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no manejo de pós-colheita e agora poderão empregá-lo também na cultura do milho. Nesse caso, se não for feito um manejo correto no uso de herbicidas, poderá ocorrer a mesma situação observada hoje em lavouras de soja com alta incidência de plantas daninhas resistentes. Esta situação tem levado alguns agricultores a voltarem para o sistema de plantio convencional, pois acreditam ser a única maneira de manejo destas espécies resistentes de difícil controle. Este caso, considerado extremamente preocupante por técnicos e produtores, poderá se tornar mais desastroso ainda se utilizados sistemas de sucessão que empreguem culturas resistentes ao mesmo herbicida (ingrediente ativo) nas duas épocas de plantio. A seleção de espécies tolerantes também


tem que ser considerada, pois, embora muitas plantas não estejam sendo controladas, não apresentam resistência ao herbicida. Espécies como as cordas de viola (Ipomoea spp), poaiabranca (Richardia brasiliensis) e trapoeraba (Commelina benghalensis) são tolerantes ao glifosato e devem ser consideradas tão importantes quanto as resistentes, pois podem tornar o sistema de produção oneroso no manejo de plantas daninhas, podendo em casos extremos inviabilizar determinados sistemas de produção. Os princípios básicos de manejo de resistência para evitar ou retardar o surgimento de espécies resistentes aos herbicidas estão associados à utilização de herbicidas com menores potenciais de residuais e maior eficácia, rotacionando ou fazendo uso de associações de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, restringindo a aplicação de um mesmo ativo na mesma área. A subdose ou a superdose aplicada poderá contribuir na seleção de indivíduos resistentes no ambiente, mas não criará nenhuma planta daninha resistente. Outra forma de contribuir para a pre-

Dionísio Gazziero

Se o uso do manejo através do controle químico não for bem planejado poderá aumentar muitas vezes a pressão de seleção, contribuindo para o surgimento muito mais rápido de plantas daninhas resistentes a herbicidas

venção do aumento de plantas daninhas resistentes a herbicida em uma área de produção é fazer o acompanhamento das espécies presentes, observando o nível de incidência e a resposta aos tratamentos herbicidas utilizados.

Caso haja mudança ou mesmo a verificação da presença de espécies que não estavam presentes, fazer uma intervenção com qualquer método de controle eficaz para a espécie, para que não aumente de importância na área

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ORIGEM DAS VARIEDADES RESISTENTES A HERBICIDAS

A

introdução de cultivares resistente a herbicidas ocorreu oficialmente em 1994 nos Estados Unidos com a liberação da soja Roundup Ready (soja RR) resistente ao herbicida glifosato. No Brasil, foi oficialmente autorizada para plantio em 2005, embora a soja pirata (conhecida como Maradona) com estas características já estivesse sendo cultivada ilegalmente desde os meados de 1998, com sementes oriundas de países limítrofes ao estado do Rio Grande do Sul. As primeiras experiências com resistência a herbicidas na cultura do milho deramse na década de 90 através de cultura de células, quando descobriram-se algumas plantas com tolerância às imidazolinonas. A partir disto, células oriundas destas plantas foram expostas a diferentes concentrações de herbicidas do grupo das imidazolinonas ocorrendo então a regeneração de plantas tolerantes a este grupo de herbicidas. Com o melhoramento genético tradicional foi introduzida a resistência deste grupo

de herbicidas, observados em função da insensibilidade da enzima acetolactato sintase (ALS). No Brasil, a primeira autorização de plantio de milho transgênico comercial ocorreu em maio de 2007 com a liberação de cultivo de milho resistente ao herbicida glufosinato de amônio, que contém o evento T25. Em 2008, novas liberações ocorreram, entretanto, com os eventos NK603 e GA21 de resistência ao herbicida glifosato. Em 2009, as primeiras liberações de milho transgênico com genes de resistência a herbicida e resistência a insetos foram para comercialização, perfazendo um total de seis autorizações pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Embora tenham sido liberados estes eventos de resistência aos herbicidas para a cultura do milho, oficialmente, nas safras subsequentes, não foram plantadas com cultivares resistentes aos herbicidas. branca), presente na Colômbia, já foi observada no Paraná, mas com resistência a herbicidas inibidores da enzima ALS. Eleusine indica (capim pé-de-galinha), presente também na Colômbia, já está presente no Brasil com resistência a herbicidas inibidores da enzima acetil coenzima-A carboxilase (ACCase) e o Sorghum helepense (capim masambará), presente na Argentina, que ainda não foi relatado no Brasil como resistente a herbicidas. Estas espécies poderão, se não prevenidas, tornar-se os próximos problemas de plantas daninhas

acompanhada. O produtor deve sempre lembrar que uma agricultura sustentável está baseada em sistemas contínuos com o mínimo de introduções externas e, no caso do surgimento de resistência haverá a necessidade de introdução de várias fontes para o manejo destas plantas, causando desequilíbrio nos sistemas implantados. Desde a introdução de plantas geneticamente melhoradas com genes de resistência a herbicidas observamos que somente para o glifosato surgiram em torno de 16 espécies resistentes a nível mundial. Entretanto, no Brasil foram somente detectadas quatro espécies resistentes a este herbicida. O primeiro relato, no Brasil, ocorreu em 2003, no Rio Grande do Sul com azevém (Lolium multiflorum) resistente a este herbicida. Em 2005, a buva (Conyza spp) resistente ao glifosato foi relatada nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, onde atualmente tornou-se o maior problema a ser controlado em lavouras de soja transgênica cultivadas no Brasil. Mais recentemente as espécies Digitaria insularis e Euphorbia heterophylla foram também reportadas como resistente ao herbicida inibidor da EPSP (glifosato). Espécies presentes no Brasil foram reportadas como resistentes ao glifosato na Argentina e Colômbia. Pathernium hysterophorus (losna

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Décio Karam e Maurilio Fernandes de Oliveira, CNPMS Dionisio Luiz Pisa Gazziero CNPSO

Dionísio Gazziero

Histórico da resistência

resistentes, principalmente em consequência da introdução de cultivos transgênicos com o gene de resistência ao glifosato. As primeiras observações de resistência de plantas daninhas foram feitas na década de 50, com uma forma selvagem de cenoura (Daucus carota) não sendo mais controlada por herbicidas à base de 2,4D. Em 1964, foi verificado que herbicidas do grupo das triazinas não controlavam mais plantas de Senecio vulgaris, Chenopodium album e Amaranthus retroflexus. Com esta observação pesquisadores estabeleceram o conceito de resistência, que pode ser caracterizada como sendo a capacidade de uma planta sobreviver a herbicidas que, em condições e normais, eram controladas por eles. Mundialmente já foram relatados aproximadamente 350 biótipos resistentes em diversas culturas e para diversos herbicidas, sendo classificados em quase 200 espécies. No Brasil, há relato de 14 espécies resistentes aos herbicidas. Os primeiros casos de resistência de plantas daninhas no Brasil foram observados nas espécies Bidens pilosa e Euphorbia heterophylla resistentes a herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS) utilizados na cultura da soja. No milho poucos são os relatos de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Os primeiros relatos para esta cultura surgiram em 2004, no Paraná, com a existência de Euphorbia heterophylla resistente ao herbicida nicosulfuron. Mais recentemente, em 2008, também no Paraná, a espécie Bidens sulbaternum foi relatada como resistente a herbicidas inibidores do fotossistema II (triazinas). C

Para a prevenção do aumento de plantas daninhas resistentes a herbicida em uma área de produção é preciso fazer o acompanhamento das espécies presentes, observando o nível de incidência e a resposta aos tratamentos herbicidas

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Milho

Mão dupla

Fotos José Tadashi Yorinori

Principal cultura de verão usada em rotação com soja em áreas infestadas com nematoides de cisto e reniforme, o milho também sofre com o ataque das mesmas espécies de Meloidogyne e Pratylenchus. Diante das limitações de cultivares com resistência a essas pragas, restam como alternativas de controle o cultivo de plantas antagonistas, contenção de infestantes que servem como hospedeiras, aplicação de nematicidas, além de outras medidas como cuidado com o trânsito e a limpeza de máquinas e implementos agrícolas

M

uitas espécies de fitonematoides já foram associadas ao milho em diferentes partes do mundo. No Brasil, Pratylenchus brachyurus, P. zeae, Meloidogyne incognita e M. javanica são as assinaladas como causadoras de danos em lavouras plantadas com a cultura. A cultura do milho foi considerada não hospedeira de nematoides das galhas, com registros esporádicos sobre o parasitismo do gênero Meloidogyne, até a constatação em 1986 de uma lavoura destruída por M. incognita raça 3, em Santa Helena (Goiás) e a verificação de abundante multiplicação desta espécie em genótipos de milho. Pratylenchus zeae é a mais importante para a cultura do milho, em função de sua patogenicidade, distribuição e da alta densidade populacional normalmente encontrada. As raízes das plantas infectadas por esse fitonematoide apresentam lesões, que servem de porta de entrada para bactérias e fungos, causando necroses e podridões. Plantas de milho atacadas revelam a sua parte aérea enfezada e clorótica, sintomas de murcha durante os dias quentes, com recuperação à noite, espigas pequenas e

malgranadas. Essas plantas sintomáticas dão à cultura do milho aparência de irregularidade na lavoura, aparecendo em reboleiras ou em grandes extensões. O limiar de dano econômico para Pratylenchus spp. na cultura do milho é de 50 a 100 juvenis e/ou adultos por 100cm3 de solo. As causas do aumento da importância de P. brachyurus podem estar relacionadas com a ausência de rotação de culturas, com o plantio contínuo de uma mesma espécie vegetal, uso da irrigação, o que torna viável até três safras anuais na área, rotação ou sucessão com culturas que são boas hospedeiras do nematoide. O sistema de semeadura direta ou cultivo mínimo, mantendo o solo com umidade mais elevada e adequada para os nematoides; uso mais frequente de solos com textura arenosa ou média; desbalanço nutricional; ocorrência simultânea de outros fitonematoides e de outros patógenos como Fusarium oxysporum e Rhizoctonia solani, que se aproveitam dos danos às raízes, aumentando a severidade de podridões ou de murchas vasculares, possibilitaram aumentos significativos de populações de P. brachyurus. O sistema Santa Fé, desenvolvido para renovação ou reforma de

pastagens e que consiste do consórcio de uma cultura, especialmente o milho, com forrageiras tropicais, também possibilitou aumentos populacionais desse nematoide. Brachiaria decumbens, B. humidicola, B. brizantha, B. ruziziensis, Panicum maximum Tanzânia, P. maximum Mombaça e capim mulato são excelentes hospedeiros de P. brachyurus. Em muitas regiões brasileiras, o cultivo do milho apresenta-se como opção agrícola em programas de rotação de culturas, principalmente em função da sua adaptabilidade às diversas condições edafoclimáticas. O milho é a principal cultura de verão para rotação com soja, em áreas infestadas com o nematoide de cisto e o nematoide reniforme, como também para sucessão, sendo cultura de safrinha ou de segunda safra. Por outro lado, tanto o milho como as várias culturas combinadas como soja, algodão, cana-de-açúcar, feijão e batata, podem ser parasitados pelas mesmas espécies de Meloidogyne e Pratylenchus. As espécies de Meloidogyne são bastante polífagas, ou seja, apresentam ampla gama de hospedeiros. Desse modo, há um comprometimento da utilização de rota-

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Maria Amelia fala sobre as diversas estratégias de manejo de nematoides na cultura do milho

ção de culturas, pois existe uma escassez de opções de plantas não hospedeiras. Sob condições experimentais 2.000 juvenis de 2o estádio de Meloidogyne/kg-1 de solo reduzem o crescimento e a produção do milho. A cultura também pode ser utilizada em rotação ou sucessão com a soja para o controle dos nematoides das galhas, mas com um cuidado: no caso de M. javanica, apenas 20% a 30% das cultivares ou dos híbridos são resistentes a esse nematoide e podem ser recomendados. No caso de M. incognita, menos de 1% dos genótipos disponíveis no mercado é resistente. Portanto, três ações são essenciais para obter o controle dos nematoides das galhas por meio de rotação ou sucessão com milho: identificar a espécie de Meloidogyne; conhecer as cultivares ou os híbridos de milho que são resistentes à espécie identificada, verificar a população do nematoide no final da safra de milho. Com relação à reação de genótipos de milho aos fitonematoides Pratylenchus spp. há a mesma preocupação dos nematoides de galha. O cultivo com plantas do gênero Crotalaria é eficiente medida de controle reduzindo significativamente populações de nematoides de galhas e das lesões. Para as espécies de Meloidogyne, Crotalaria juncea, C. striata, C. paulina, C. mucronata, C. lanceolata, C. grantiana, C. retusa, C. pallida e C. spectabilis, comportam como plantas antagonistas, além de serem ótimos adubos verdes. Pratylenchus zeae apenas Crotalaria striata, C. paulina, C. mucronata, C. lanceolata e C. grantiana poderiam ser recomendadas, pois C. juncea, C. spectabilis, C. retusa e principalmente em C. breviflora, permitem a reprodução desse fitonematoide. Para P. brachyurus, as espécies C. breviflora e C. spectabilis são as mais interessantes como plantas antagonistas. A variedade de milheto ADR 300 não hospeda Meloidogyne incognita, M. javanica e P. brachyurus. O híbrido de milheto

ADR 7010 também não é bom hospedeiro de P. brachyurus. As mucunas preta, cinza e anã são plantas antagonistas indicadas para espécies de Meloidogyne. Por outro lado, as mucunas são excelentes hospedeiras de P. brachyurus. A polifagia de Meloidogyne e Pratylenchus destaca-se, também, pela grande multiplicação desses nematoides em plantas infestantes, possibilitando a sobrevivência desses nematoides, na entressafra e, assim, interferindo na eficácia de programas de rotação de culturas, quando as daninhas não são eliminadas, inclusive na safra. Portanto, é altamente recomendável a eliminação dos restos de culturas e das plantas infestantes que ocorrem durante a entressafra. Plantas infestantes como mentrasto, apaga-fogo, fedegoso, trapoeraba, beldroega, caruru, capim marmelada, capim pé-de-galinha, capim colonião, joá, capim gordura, melão de são caetano, picão preto, capim pangola, corda de viola, falsa serralha, tiririca e maria pretinha são ótimas hospedeiras para M. incognita e M. javanica. Relacionadas com alta mul-

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Maria Amelia dos Santos Univ. Federal de Uberlândia

Fábio Mattioni

O milho é a principal cultura de verão para rotação com soja, em áreas infestadas com nematoides

tiplicação de P. brachyurus destacam-se: carrapichinho, capim carrapicho, capim marmelada, maria pretinha, picão preto, corda de viola, beldroega, capim colchão, tiririca e grama-batatais. Enquanto que para P. zeae, temos capim colchão, capim colonião, capim carrapicho, carrapicho de carneiro, capim pangola, capim napier, capim marmelada, sapé, picão preto, fedegoso e tiririca como hospedeiras. Carbofurano é o ingrediente ativo dos dois nematicidas recomendados para a cultura do milho no controle de P. zeae e P. brachyurus. Acréscimos de 33% a 128% na produção podem ser obtidos após a aplicação de nematicidas. Resultados de pesquisas demonstram que o controle químico de nematoides na cultura do milho permitiu o aumento da produção de grãos em 39% em área naturalmente infestada por Pratylenchus zeae e Helicotylenchus dihystera. Outras medidas de controle, como o alqueive, que consiste em arações sucessivas, arranquio e eliminação de restos culturais, também são importantes no controle desses nematoides, principalmente para Pratylenchus. Nesse gênero de fitonematoides, os ovos estão dispersos individualmente no solo, sofrendo assim ainda mais a intensa ação dos raios solares. Outro aspecto a ser observado é o cuidado com o trânsito de máquinas e implementos agrícolas de uma área contaminada para outra não infestada, realizando lavagem desses equipamentos com jatos de água forte para remoção de torrões de solo. Trata-se de medida valiosa para impedir ou limitar a contaminação C de áreas.

As raízes das plantas infectadas por nematoides (à direita) apresentam lesões, que servem de porta de entrada para bactérias e fungos, causando necroses e podridões; à esquerda exemplo de planta sadia

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Cana-de-açúcar Divulgação

Foco na identificação Facilmente confundida com a ferrugem marrom, a ferrugem alaranjada, detectada recentemente no Brasil, tem assustado produtores de canade-açúcar. Diferenciar corretamente as duas doenças é o primeiro passo para minimizar os impactos sobre os canaviais

A

chegada da ferrugem alaranjada ao Brasil era iminente, pois já havia sido detectada na América Central e seus esporos infectantes se disseminam pelo ar por distâncias continentais. Então, no dia 5 de janeiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirmou através de Nota Técnica o aparecimento desta doença em canaviais na região de Araraquara, em São Paulo. Ainda de acordo com a Nota Técnica, neste momento está em curso um levantamento com o objetivo de mapear a ocorrência em todo o estado. Vale ressaltar que a ocorrência da doença está confirmada pelo Mapa apenas em São Paulo e que suspeitas de ocorrência em outros estados devem ser notificadas ao Ministério. Até o momento está presente em poucas variedades suscetíveis, mas o que sabemos sobre esta doença e quais atitudes deverão

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ser tomadas frente a este novo desafio para o setor? A ferrugem alaranjada é causada pelo fungo filamentoso Puccinia kuehnii. Este fungo é praticamente idêntico ao que causa a ferrugem marrom (Puccinia melanocephala) no que diz respeito ao seu modo de vida e a sintomas que provoca na cana-de-açúcar. Seus esporos têm coloração mais clara que os esporos da ferrugem marrom e isso confere, às lesões nas folhas atacadas, um aspecto alaranjado. Por ser uma doença antiga, acredita-se que esta nova epidemia, que vem se espalhando pelo mundo, tem sido causada por uma nova forma do fungo que pode afetar inclusive variedades anteriormente resistentes a esta doença. As condições climáticas que influenciam na dinâmica da ferrugem alaranjada aparentam ser um pouco diferentes daquelas que influenciam a ferrugem marrom. Ao contrário

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da ferrugem marrom, a ferrugem alaranjada exige condições de elevada temperatura e alta umidade para expressar seus sintomas e chuvas abundantes não interferem na infecção. Além disso, as variedades suscetíveis à ferrugem alaranjada em outros países, até o momento, não têm apresentado indícios de resistência de planta adulta, como ocorre com algumas variedades suscetíveis à ferrugem marrom. Como forma de controle da doença, o uso de fungicidas foliares pode não ser uma opção eficiente e economicamente viável em longo prazo. Porém, sua utilização eventual, com fungicidas registrados para a cultura e desde que a aplicação seja autorizada pelo Mapa, poderia ocorrer nos casos onde as variedades suscetíveis ocupem áreas consideráveis e existam barreiras à renovação imediata. As técnicas de manejo, da mesma maneira como são usadas em variedades suscetíveis à


ferrugem marrom, poderiam ser empregadas em variedades suscetíveis à ferrugem alaranjada, plantando estas variedades em locais de baixa favorabilidade para a doença. Porém, por se tratar de uma doença nova para o país, pode não haver informações técnicas suficientes. Possivelmente, a forma mais eficiente de controle da ferrugem alaranjada, a exemplo da ferrugem marrom e da grande maioria das outras doenças que afetam a cultura, será a substituição das variedades suscetíveis e a utilização de variedades resistentes. A diversificação dos canaviais com um plantel de variedades neste primeiro momento é crítica para reduzir o impacto da doença. As expectativas, a partir dos relatos vindos da Austrália e EUA, são de que uma porcentagem menor dos materiais comerciais e em seleção seja suscetível. Porém, as atitudes de maior impacto na redução dos prejuízos provavelmente serão o planejamento antecipado e a substituição daquelas variedades suscetíveis com rapidez. Para que isso aconteça a contento, serão necessários: 1) um plantel diversificado de variedades comerciais e novos clones que tenham perfil adequado para a substituição; 2) uma estratégia acelerada de produção e multiplicação de viveiros que reduza o tempo para as substituições e 3) um programa de mu-

Fotos Monsanto

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Figura 1 - Fotos da face inferior de folhas de cana-de-açúcar. (A) lesões na cor marrom-avermelhada indicando a presença de ferrugem marrom na variedade RB835486. (B) pústulas de ferrugem marrom na variedade RB835486 observadas em lupa com aumento de 20x. (C) lesões na cor laranja indicando a presença de ferrugem alaranjada na variedade CV14 – Centauro. (D) pústulas de ferrugem marrom na variedade CV14 – Centauro observadas em lupa com aumento de 20x

das sadias que garanta viveiros em condições fitossanitárias adequadas. No caso da Austrália, uma única variedade suscetível (Q124) ocupava mais de 50% do total da área comercial afetada e a sua substituição contou com disponibilidade de

um plantel diversificado de novos materiais desenvolvidos pelo programa de melhoramento daquele país. Além disso, uma empresa (Smartsett) especializada na produção de plantas de biofábrica, teve papel decisivo no processo de acelerar a chegada destes novos


Fotos Monsanto

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E)

Figura 2 - Sequência de procedimentos para identificação de esporos de ferrugem via microscopia. (A) pedaço de folha de cana-de-açúcar com lesões de ferrugem. (B) lâmina de vidro com água. (C) durex C colado sobre a lesão. (D) durex com esporos colado sobre a lâmina. (E) avaliação em microscópio

A)

B)

Figura 3 - Esporos de Puccinia melanocephala (A) e Puccinia kuehnni (B) visualizados em microscópio com aumento de 400x. Esporos de Puccinia kuehnni apresentam coloração mais clara (alaranjada) em relação aos esporos de Puccinia melanocephala (com coloração marrom-avermelhada)

materiais ao plantio comercial.

Identificação da doença em campo

O sintoma de ferrugem, tanto comum como alaranjada, é caracterizado pela presença de manchas cloróticas nas folhas mais jovens com formação de lesões, duas a quatro semanas depois, na face inferior da folha. • O primeiro aspecto que deve ser considerado é em qual variedade está se observando o sintoma da doença. Por se tratarem de doenças distintas, uma variedade suscetível à ferrugem marrom não será necessariamente suscetível à ferrugem alaranjada. Comercialmente, existem variedades de diversos programas de melhoramentos, tais como CTC9, CV14 – CV Centauro, CV15 – CV Pégaso, PO88-62, RB72454, RB835054, RB845210, RB855113, RB855156, RB855453, RB855536, RB867515, RB925345, RB92579, RB935744, RB966928, SP80-3280, SP813250, SP83-2847, SP89-1115 e SP91-1049 que são resistentes à ferrugem marrom e, portanto, sintomas de ferrugem, em qualquer uma dessas variedades, são um bom indicador da possível presença de ferrugem alaranjada. • Para avaliação dos sintomas na folha, selecione uma folha sintomática e avalie o terço médio da face inferior para identificar a presença de lesões com pústulas cor de laranja. As pústulas da ferrugem marrom são da cor marrom-avermelhado (Figura 1). Geralmente, as lesões da ferrugem alaranjada são distribuídas na folha de maneira desuniforme, ao

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contrário da ferrugem marrom, que apresenta lesões distribuídas uniformemente na folha.

Identificação da doença por microscopia

No caso de dúvida na identificação da ferrugem alaranjada pelos sintomas, sugere-se o reconhecimento do patógeno pela avaliação da morfologia do esporo do fungo através de técnicas de microscopia. • Selecione um pedaço de folha sintomática; • Prepare uma lâmina de microscópio com uma gota de água; • Cole um pedaço de fita adesiva incolor (durex) sobre a lesão da folha; • Tire o durex da folha e coloque sobre a lâmina com água;

A)

• Visualize a lâmina no microscópio em um aumento de pelo menos 400x para identificação dos esporos. A sequência de procedimentos descrita acima pode ser acompanhada na Figura 2. • Esporos de Puccinia kuehnni e Puccinia melanocephala embora sejam parecidos, podem ser facilmente distintos pela observação de algumas características. Esporos de ferrugem alaranjada são mais claros que os esporos da ferrugem marrom (Figura 3). A espessura da parede do esporo da ferrugem alaranjada é irregular, sendo mais espessa na região apical do esporo. Além disso, existe a presença de uma diferenciação no lado oposto da região apical com parede mais espessa, com uma estrutura na forma de “bico chato”. Esporos de ferrugem marrom apresentam forma oval e espessura de parede constante (Figura 4). Além da observação de sintomas no campo e morfologia de esporos em microscópio é possível fazer a identificação do fungo causador da ferrugem alaranjada através de testes de DNA. Estas análises só podem ser feitas em laboratórios que possuem grande estrutura e que estão preparados para isso. Um exemplo é a CanaVialis, que dispõe de um laboratório com condições de fazer esse tipo de análise e no caso de dificuldade ou dúvida na identificação da doença, o interessado pode entrar em contato solicitando orientação. Segundo Eder Santos, melhorista da Monsanto, logo após a confirmação do Mapa de que aferrugem alaranjada havia chegado em áreas canavieiras do Estado de São Paulo, a equipe de pesquisadores da CanaVialis iniciou rapidamente um plano de ação como intuito de mapear tanto as áreas quanto as variedades que estavam sendo mais afetadas naquele momento. “As doenças sempre foram o principal motivo de substituições de variedades e a sustentabilidade do setor está diretamente ligada à eficiência dos programas de melhoramento C genético da cultura”, lembra. Equipe CanaVialis/Monsanto

B)

Figura 4 - Esporos de Puccinia melanocephala (A) e Puccinia kuehnni (B) visualizados em microscópio com aumento de 1.000x. Esporos de Puccinia kuehnni apresentam parede mais espessa na região apical (indicado pela seta vermelha) e formato diferenciado (bico chato) no lado oposto da parede espessa (indicado pela seta amarela). Esporos de Puccinia melanocephala apresentam espessura de parede constante e o esporo apresenta forma oval, sem a estrutura diferenciada de “bico chato”

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Algodão

Como corrigir

Fotos Claudir Basso

Altos índices de acidez e alumínio no solo, característicos nas lavouras brasileiras, são apontados como principais barreiras ao crescimento das raízes das culturas em subsuperfícies. Ensaios realizados na região de Cerrado estudam a correção destas áreas com aplicações superficiais de calcário, uma prática comum e eficaz nas regiões de plantio direto no Sul do Brasil

D

e uma forma geral, os solos do Brasil são considerados ácidos e com altos teores de alumínio, necessitando de medidas corretivas para serem incorporados ao sistema produtivo. Na região do Cerrado brasileiro, o excesso de alumínio, associado aos baixos teores de cálcio e magnésio, não se resume somente à camada mais superficial do solo, podendo aparecer também em subsuperfície. Por isso, as correções superficial e subsuperficial se fazem necessárias visando buscar um melhor ambiente ao crescimento radicular e, consequentemente, a exploração de um maior volume de solo. Os programas de recomendação de calagem para algumas regiões do Brasil foram desenvolvidos dentro das técnicas convencionais de preparo de solo com aração e gradagem. Esse manejo do calcário era facilitado devido à mobilização do solo que se fazia antes de cada cultivo, aliás, essa incorporação do calcário também tem sido sugerida por ocasião do estabelecimento do plantio direto quando se busca corrigir o solo em maior profundidade. Com a adoção do sistema de plantio direto, no momento de reaplicação de calcário, a incorporação passou a não ser interessante, pois pode, dentre outras desvantagens, destruir atributos físicos importantes que são melhorados ao lon-

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go do tempo no cultivo sob plantio direto. Por isso, surgem questionamentos da reaplicação do calcário e sua manutenção na superfície em áreas sob esse sistema de cultivo, principalmente quando existe alguma restrição química em subsuperfície. A deficiência de cálcio e magnésio e a toxicidade de alumínio em profundidade têm sido apontadas com uma das principais barreiras ao crescimento das raízes em subsuperfície e motivo de grande preocupação com relação à eficiência da reaplicação e manutenção do calcário em superfície, devido à baixa solubilidade do calcário e à baixa mobilidade no perfil do solo dos produtos da sua dissolução. Logo, é possível com aplicação superficial e a não incorporação do calcário, corrigir uma

deficiência de cálcio e magnésio bem como uma possível toxicidade de alumínio em profundidade? Dentro dessa linha e para a região Sul do Brasil, já foram desenvolvidos alguns trabalhos, diferentemente da região do Cerrado, onde praticamente não existem ou são escassas as informações. Embora ainda não muito clara, a correção do perfil do solo em profundidade com aplicação superficial do calcário poderia estar ocorrendo pelo deslocamento de partículas finas de calcário por meio da porosidade contínua no perfil do solo; pelos canais formados pelas raízes e galerias de insetos, pela descida dos produtos da solubilização do calcário ligados a compostos orgânicos oriundos da decomposição da matéria orgânica e pela

A incorporação do calcário ao solo no sistema de plantio direto pode destruir atributos físicos importantes que foram melhorados ao longo do tempo no cultivo

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Solos do Cerrado necessitam de manejos que envolvam pouco revolvimento de solo, já que são bastante suscetíveis à erosão

associação do cálcio e magnésio a moléculas de nitratos, sulfatos e cloretos. Aliás, este último mecanismo tem sido apontado como um importante fator no deslocamento de cálcio e magnésio para camadas mais profundas do solo. A taxa de movimentação do cálcio e magnésio no perfil do solo depende, entre outros fatores, da presença de outros ânions na solução do solo como nitratos, cloretos e sulfatos que servem de íon acompanhante no deslocamento desses componentes da dissolução do calcário. Por isso, que a aplicação de gesso agrícola, seja ele mineral ou subproduto da fabricação de ácido fosfórico, pode ser uma alternativa interessante associada à calagem superficial com objetivo de diminuir a toxicidade de alumínio e aumentar a concentração de cálcio e magnésio em profundidade. O emprego do gesso como mecanismo para promover o aumento nos teores de cálcio, magnésio e enxofre e elevação da saturação de base em profundidade tem sido utilizado em algumas unidades de produção agrícola do Cerrado brasileiro, principalmente no oeste da Bahia, como forma de melhorar e/ou manter as condições químicas em profundidade ao bom crescimento do sistema radicular, principalmente do algodoeiro. Essa vantagem do gesso em carrear cálcio e magnésio em profundidade, deve-se à maior solubilidade desse produto em relação ao calcário e à permanência do ânion sulfato, em sua maioria, presente na solução do solo. É bom lembrar que a análise química continua sendo a principal ferramenta para se monitorar o estado da fertilidade do solo. Em

razão do não revolvimento do solo no sistema de plantio direto, o cuidado na amostragem assume grande importância quando comparado à amostragem no sistema convencional. A preocupação surge porque a aplicação de fertilizantes na linha de semeadura e/ou a lanço em cobertura associada ou não, ao revolvimento do solo, gera gradientes acentuados dos teores de nutrientes no solo e assim a importância de uma amostragem bem representativa. Além disso, tão importante quanto a amostragem de solo, a distribuição uniforme do calcário sobre a superfície do mesmo é outro fator a ser observado, para que não sejam criadas faixas nas lavouras com alto pH e, com isso, favorecer possível deficiência de manganês. Além disso, se a aplicação do calcário não for realizada criteriosamente, isso pode potencializar a deficiência de micronutrientes, já que sua disponibilidade natural é baixa na maioria

Aplicação de calcário em superfície no Cerrado brasileiro necessita de mais estudos, afirma Basso

dos solos de cerrado. Se para a região Sul do Brasil a reaplicação de calcário em superfície em áreas de plantio direto tem sido apontada com prática viável, essa mesma afirmação é ainda precipitada para a região do Cerrado brasileiro, necessitando-se de mais estudos. Contudo, inequivocamente, a aplicação ou os efeitos do calcário a maiores profundidades é mais importante e necessária em solos de Cerrado, quando comparados aos solos do Sul do Brasil. Em lavouras onde se têm problema de compactação do solo surge, às vezes, a necessidade de uma escarificação como forma de romper essa camada compactada, principalmente quando o algodoeiro faz parte da rotação de culturas e, então, a recalagem, se necessária, antes dessa escarificação, uma prática bastante interessante. É bom lembrar que os solos do Cerrado são muitos suscetíveis à erosão e mesmo manejos que envolvam pouco revolvimento de solo devem estar fortemente ligados à conservação dele. Isso porque a agricultura tem que caminhar para um sistema sustentável e, sem dúvida, esse processo passa pela manutenção da capacidade produtiva dos solos, sustentada em sistemas que preservam o solo e práticas que aumentem a taxa de infiltração de água no solo e dos produtos dissolvidos na superfície. C Claudir Basso, Antônio Santi e Carlos Alberto Ceretta, UFSM Aurélio Pavinato, SLC Agrícola


Empresa

Opção a mais Basf e Embrapa anunciam soja tolerante a herbicida, que a partir da safra 2011/2012 auxiliará produtores brasileiros no combate a plantas daninhas

A

partir da safra 2011/2012 produtores brasileiros terão acesso a mais uma opção de soja tolerante a herbicida, na batalha contra plantas daninhas que infestam as lavouras. Batizado de Cultivance, o novo sistema de produção, desenvolvido pela Embrapa em parceria com a Basf, foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no final do ano passado. A tecnologia, fruto de mais de dez anos de pesquisa e de investimentos da ordem de 20 milhões de dólares, entra para a história do país como a primeira cultura geneticamente modificada desenvolvida totalmente no Brasil, do laboratório à comercialização. O anúncio da tecnologia ocorreu em fevereiro, em São Paulo, com a pre-

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sença do presidente da Embrapa Pedro Arraes e do vice-presidente da Divisão de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Walter Dissinger. Para chegar à única “planta mãe”, batizada de CV 127, foram necessários testes em mais de duas mil plantas de soja. Para adquirir resistência ao herbicida, de nome comercial Soyvance, da classe das imidazolinonas, a cultivar de soja recebeu a introdução do gene ahas, isolado da planta Arabidopsis thaliana, caracterizada por alta capacidade de mutação. Com a tecnologia será possível a aplicação do defensivo já nas primeiras semanas de crescimento da cultura. A expectativa é de que dessa forma o controle de folhas largas e gramíneas seja facilitado. Outra promessa é de que o sistema traga vantagens econômicas e ambientais, com diminuição

Março 2010 • www.revistacultivar.com.br

do número de aplicações por hectare, redução no uso de máquinas e mão de obra, além de menor emissão de CO². Testes com a variedade estão sendo realizados em diversos países. Importadores de soja brasileira, como a China e os Estados Unidos, precisam ser convencidos de que a nova tecnologia atende às exigências de segurança alimentar e ambiental. Em outros locais, como a Argentina, por exemplo, o interesse se estende também à possibilidade de cultivo comercial no país.

Participação de mercado

Com seu primeiro produto geneticamente modificado aprovado para cultivo comercial, a Basf pretende conquistar nos próximos seis anos um percentual entre 15% e 20% da fatia de mercado de soja transgênica no Brasil. “Não quere-


Fotos Basf

“O Brasil é para a Basf no agronegócio o que a China representa em industrializados. Tem importância estratégica para nós”, diz Dissinger

mos dominar o mercado, mas ter participação”, afirma Walter Dissinger. Para o vice-presidente da Divisão de Proteção de Cultivos para a América Latina, o lançamento da tecnologia em parceria com a Embrapa é um marco importante, no momento em que a Basf está prestes a completar um século de presença no país. “O Brasil é para a Basf no agronegócio o que a China representa em industrializados. Tem importância estratégica para nós”, discursou.

Resistência de plantas daninhas

O lançamento do sistema dá aos produtores uma opção a mais para enfrentar, também, problemas como a resistência de plantas daninhas a herbicidas, situação crescente no Brasil agravada pelo uso exaustivo de uma mesma alternativa. “Nenhuma tecnologia é miraculosa. Tem que ser usada dentro do manejo correto. Trata-se de um avanço, mas o produtor não pode ficar preguiçoso”, alerta o diretor-presidente da Embrapa, Pedro Arraes. Para o vice-presidente da Divisão de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Walter Dissinger, a possibilidade de intercalar a tecnologia com outros sistemas tende a diminuir os riscos de resistência. “Mas o agricultor tem que trabalhar direitinho”, lembrou.

ta diferenças nos níveis de produtividade em relação a cultivares tradicionais. Mas a expectativa é de que com o melhor controle de plantas daninhas, o sojicultor consiga produzir mais. O consenso entre os especialistas das duas empresas é de que a variedade precisa ser competitiva. Para isso, o trabalho de melhoramento genético será ferramenta importante para garantir incrementos de produtividade.

Royalties

Embrapa e Basf, que dividem meio a meio (50% a 50%) a propriedade

“Nenhuma tecnologia é miraculosa. Tem que ser usada dentro do manejo correto”, alerta Arraes

intelectual da nova tecnologia, ainda fazem mistério sobre a cobrança de royalties dos produtores. O assunto está em discussão interna. Mas no discurso de ambas as empresas está a disposição de diálogo para evitar medidas drásticas como estabelecimento de multas e pendências judiciais. “Temos uma visão mais positiva sobre isso”, diz Walter Dissinger. “Não é a intenção da Embrapa, nem da Basf, estabelecer penalizações, que tanto mal-estar causam entre os produtores”, acrescenta Pedro Arraes. C C

Cultivar

Produtividade

Pesquisadores da Embrapa e da Basf alertam que, por si só, o evento de resistência a herbicida da CV 127 não apresen-

Anúncio da nova tecnologia foi realizado em fevereiro, em São Paulo, por representantes da Embrapa e da Basf

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Dia de campo Fotos Janice Ebel

Tecnologia em destaque Agromen apresenta novidades em híbridos de milho, cultivares de soja e sorgo durante dia de campo no Rio Grande do Sul

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Agromen realizou em fevereiro mais um dia de campo, no município de Campo Novo, na região noroeste do Rio Grande do Sul, com o objetivo de demonstrar seu portfólio de híbridos de milho, além de cultivares de soja e sorgo. O evento contou com a presença de mais de 160 pessoas, entre produtores, distribuidores, engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, presidentes de sindicatos rurais e representantes das cooperativas da região. O dia de campo teve por objetivo também o treinamento da equipe comercial de vendas, distribuidores e técnicos recomendantes. Durante as demonstrações dos produtos na lavoura experimental, os convidados puderam conhecer melhor a tecnologia Herculex I e o tratamento industrial de sementes da empresa, através de palestras proferidas pelo engenheiro agrônomo e responsável pelo desenvolvimento de produtos da Agromen, Fernando Zanatta. Zanatta explicou o que é a tecnologia Herculex, aprovada em dezembro de 2008, no Brasil, pela Comissão Técnica Nacional

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de Biossegurança (CTNBio). “É uma das mais avançadas ferramentas para o controle das pragas nas lavouras de milho”, salienta. A tecnologia incorpora à planta uma proteína do microrganismo Bacillus thuringiensis (Bt), que ocorre naturalmente nos solos.

O inseto-praga é controlado pela ação da proteína do Bt logo que ataca a planta, impedindo, assim, que cause danos. Esta proteína está presente em toda a planta, durante todo o ciclo da cultura, sem afetar insetos úteis ou microrganismos do solo.

O evento contou com a presença de mais de 160 pessoas, entre produtores, distribuidores, engenheiros agrônomos, técnicos agrícolas, presidentes de sindicatos rurais e representantes das cooperativas da região

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Fernando Zanatta é engenheiro agrônomo e responsável pelo desenvolvimento de produtos da Agromen

Ricardo Meneghetti, produtor no município gaúcho de Chiapeta

Vinícius Lourenzon, engenheiro agrônomo e distribuidor das sementes Agromen, em Santo Augusto/RS

“Esta tecnologia, aliada a um bom manejo da cultura, leva a grãos de melhor qualidade, maximiza o potencial de rendimento da planta e simplifica o manejo, ao evitar a necessidade de aplicações contínuas de inseticidas”, conclui Zanatta. A tecnologia oferece proteção contra a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), um problema para a lavoura durante todo o ciclo da planta. Outra praga controlada por esses híbridos é a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). Dependendo das condições em que ocorrem, a ação dessas pragas pode causar perdas de mais de 40% da produção de uma lavoura. Vinícius Lourenzon, engenheiro agrônomo e distribuidor das sementes Agromen, em Santo Augusto, no Rio Grande do Sul, destacou a importância do evento. “Foi um sucesso total, pois oportunizou aos produtores da região conferir os novos híbridos e a tecnologia Herculex. Ficou claro que a tecnologia não está apenas no nome, mas sim nos produtos. Esta foi a primeira

safra com essa tecnologia em nossa região, de muitas que virão, pois as produtividades foram boas e os novos híbridos tiveram uma boa adaptabilidade”, elogia. Ricardo Meneghetti, produtor no município gaúcho de Chiapeta, cultiva aproximadamente 40% da área destinada à produção de milho com híbridos da empresa. “As sementes de milho da Agromen estão no mesmo patamar de qualidade, eficiência e produtividade de empresas com maior tradição e tempo de mercado.” O produtor também se mostra satisfeito com o relacionamento com a empresa. “Minha experiência tem sido gratificante, não só em termos de produtividade, como também em atendimento por parte dos representantes no pós-venda, o que para mim é parte extremamente importante na relação empresa-agricultor”, analisa. “O dia de campo é muito importante, pois é a oportunidade ímpar que o produtor rural tem de ver e desfrutar de tecnologias e novidades que a empresa tem a oferecer. Os

produtores rurais que participam, recebem informações técnicas e conseguem sanar suas dúvidas com relação aos produtos”, salienta Fernando Zanatta. A empresa promove frequentemente dias de campo locais, entretanto, este foi o primeiro evento de proporção regional e devido ao seu sucesso deve entrar no calendário anual da Agromen. Entre os híbridos de milho apresentados durante o evento, destacam-se: 30A30 HX (híbrido simples com tecnologia Herculex I, com superprecocidade e com alta produtividade), 30A77 (híbrido simples precoce, com alta produtividade e com qualidade de grão), 20A55 HX (híbrido triplo precoce com tecnologia Herculex I, com potencial produtivo e produtividade para grãos e silagem e com elevada estabilidade) e 20A78 (híbrido triplo precoce, com potencial produtivo para grãos e silagem e com elevada estabilidade). C C

Cultivar

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Coluna ANPII

No feijão Pesquisas sobre uso de inoculantes no feijoeiro avançam e mostram resultados promissores. No entanto, ainda não se pode substituir todo o nitrogênio químico, pois não há segurança de que a inoculação possa suprir todo o nutriente para elevadas produtividades

E

nquanto a soja, produto nobre, produtor de óleo e proteína, importante em nossa pauta de exportação, é produzida utilizando apenas o nitrogênio biológico como fonte deste nutriente (dispensando totalmente o nitrogênio de origem química), o “primo pobre” feijão, comida do dia a dia de todos nós, desde a marmita do peão até a rica feijoada das quartas e dos sábados, tem sido cultivado com o uso do fertilizante nitrogenado. Por que isto, se ambas são plantas da família das leguminosas, se beneficiam da fixação biológica do nitrogênio (FBN) e há muitos anos existem programas de pesquisas para selecionar estirpes eficientes? A soja, por não ser nativa do Brasil, já

sofrido certo refluxo nas duas últimas décadas do século passado) não estagnou totalmente, prosseguindo-se na busca de uma solução agronômica para o uso do nitrogênio biológico nesta cultura. Em 1991, um grupo de pesquisadores, entre eles dois brasileiros, descreveu um novo gênero capaz de fixar nitrogênio em feijão: Rhizobium tropici. Até então o gênero e espécie com o qual se trabalhava era o Rhizobium leguminosarum, biovar phaseoli. Embora as estirpes deste gênero Rhizobium leguminosarum, biovar phaseoli nodulassem e fixassem nitrogênio nos testes de vaso, mostravam resultados incoerentes no campo, devido à elevada variabilidade genética destas bactérias e à sua sensibilidade ao calor e à acidez do solo, dois

As empresas produtoras de inoculante filiadas à ANPII, por sua vez, seguindo a tradição de constantes melhoramentos nos inoculantes, estão atentas e acompanhando todas estas inovações, desenvolvendo produtos mais concentrados, o que, certamente, virá a colaborar para mudar esse quadro de elevado uso de nitrogênio químico na cultura do feijão. Mas qual o estado atual e o futuro do uso de inoculantes em feijão? No momento, ainda não se pode substituir todo o nitrogênio químico, pois não há segurança de que a inoculação possa suprir todo o nutriente para elevadas produtividades. Assim, a recomendação é de que se use uma dosagem de até 20kg de

Com relação à adubação de cobertura, é imprescindível fazer uma rigorosa observação da nodulação nos primeiros 12 dias após a germinação saiu, paradoxalmente, com uma vantagem: justamente por este fato: nossos solos não contavam com as bactérias nativas para nodular esta espécie. Assim, as estirpes introduzidas não sofriam competição e nodulavam, praticamente sozinhas, toda a raiz da soja. No feijão, a grande população de bactérias nativas, altamente competitivas, mas de baixa eficiência na fixação do nitrogênio, competiam com as bactérias introduzidas pelo inoculante e passavam a formar a maioria dos nódulos com baixa capacidade de captar e transformar o nitrogênio em forma assimilável pela planta. Por outro lado, a soja, devido ao sucesso das primeiras inoculações, indicando que poderia ser cultivada sem nitrogênio mineral, passou a ter seu processo de melhoramento genético voltado para o nitrogênio biológico. Houve, desde o início, um trabalho conjunto entre melhoristas e microbiologistas, o que resultou na criação de cultivares altamente responsivas à fixação biológica do nitrogênio. No caso do feijão, pelo fato de não haver resposta inicial à inoculação, o melhoramento seguiu a linha de selecionar cultivares que respondam ao nitrogênio mineral. Porém, o processo de seleção de estirpes para a inoculação do feijoeiro (embora tenha

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fatores presentes na cultura do feijão no Brasil. A descoberta do Rhizobium tropici, muito mais estável geneticamente, resistente ao calor (pode crescer a 400oC) e à acidez dos solos, trouxe novo alento à pesquisa, mostrando que a fixação de nitrogênio no feijoeiro é possível e que vale a pena investir no desenvolvimento da tecnologia. Novos resultados também estão sendo obtidos por outros pesquisadores, da Embrapa, Iapar e de universidades, mostrando que poderemos atingir elevadas taxas de fixação. O melhoramento, por sua vez, também começou a seguir os passos vitoriosos da soja: melhoramento genético em consonância com a FBN e não com o nitrogênio mineral. Outro caminho, extremamente promissor, é o que desenvolve produtos indutores de nodulação. As pesquisas, em especial na Embrapa CentroOeste, em Dourados (MS), têm mostrado que substâncias exsudadas por determinadas sementes têm o poder de aumentar a nodulação, pois são semelhantes aos sinais que as plantas emitem para atrair as bactérias. A identificação e a posterior síntese destas substâncias levarão a produtos que incrementarão o número de nódulos e, por consequência, a fixação de nitrogênio.

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nitrogênio (sob a forma de ureia ou outra) no plantio e se faça a inoculação, tomando todo o cuidado inerente à operação com seres vivos: misturar o produto com as sementes no dia do plantio e plantá-las o mais rápido possível. Se for fazer tratamento de sementes com fungicidas, biorreguladores, enraizadores e/ou inseticidas, primeiro deve-se fazer o tratamento com estes produtos e, por último, adicionar o inoculante. Com relação à adubação de cobertura, é imprescindível fazer uma rigorosa observação da nodulação nos primeiros 12 dias após a germinação: se houver nódulos na raiz principal, com coloração interna vermelha, poderá se reduzir ou até mesmo eliminar a adubação de cobertura. Caso a nodulação não se implante ou esteja em pequeno número, a cobertura é indispensável. Mas os fatos atuais são os mais promissores e nos levam a acreditar que em um futuro não muito distante será possível cultivar o feijoeiro com uma inoculação eficaz e um reduzido ou até mesmo nulo uso de nitrogênio mineral. C

Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

A

Pilastras do agronegócio do século XXI

sociedade contemporânea espera do agronegócio alimentos, plantas ornamentais e flores, madeira, princípios medicinais, matéria-prima para a indústria química, entre outros. Também anseia que ele ofereça serviços ambientais, como sequestro de carbono, preservação da biodiversidade, garantia de água limpa e pura, para mencionar os mais importantes. Tudo com oferta abundante, respeito ao ambiente e preços acessíveis. Como atender/conciliar tudo isso? A sustentabilidade e a constante inovação tecnológica, com grande interdependência entre ambas, serão os grandes diferenciais do agronegócio do século XXI. A sustentabilidade pressupõe que o agricultor obtém rentabilidade da exploração agrícola, ao tempo em que minimiza os impactos ambientais e cumpre sua função social. Já as inovações tecnológi-

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a agropecuária mundial ocupa 1,5 bilhão de hectares, 70% dos quais devotados à pecuária. Embora os estudos da FAO indiquem haver disponibilidade de área de terra arável para expansão equivalente à que está sendo cultivada, diversas restrições devem ser colocadas, como: a) as terras mais férteis, de topografia mais adequada e mais bem localizada, já foram ocupadas; b) porção considerável da área de expansão é considerada arável apenas mediante irrigação; c) grande parte da área de expansão encontra-se na África, com severas restrições à sua incorporação ao sistema produtivo, em larga escala, nos próximos 30 anos; d) a sociedade mundial pressiona por políticas ambientais cada vez mais rígidas, o que deve se intensificar em função dos impactos das mudanças climá-

de produtividade superiores a 33%, o que exige ações imediatas para evitar as consequências alternativas, que seriam a oferta de alimentos inferior à demanda ou os impactos ambientais indesejáveis do avanço acelerado da fronteira agrícola. O Brasil, pelas suas vantagens comparativas e pela expectativa de que venha a ser o grande provedor de alimentos do mundo, deverá elevar sua produtividade muito acima da estimativa de 33%, para compensar ganhos menores em áreas onde a produtividade já é muito alta ou onde a produtividade permanecerá baixa. A celeridade e a intensidade exigidas do processo não permitem uma atitude de laissez faire, deixando ao sabor das pressões de mercado as mudanças necessárias, tornando-se imperiosa a proatividade de políticas públicas que impulsionem o agronegócio no rumo correto. No nosso caso,

Até 2050 haverá necessidade de expandir a produção agrícola mundial em mais de 60% cas desmentirão definitivamente Malthus, permitindo que a produção agrícola cresça a taxas superiores ao incremento populacional. Estou convicto de que a principal característica da tecnologia do século XXI será a sua estonteante dinâmica, pois paradigmas dominantes serão superados e ultrapassados por inovações mais eficientes e mais adequadas, dentro de uma mesma década.

Demanda multifacetada

O crescimento da população mundial, que aumentará em mais de três bilhões de pessoas nos próximos 40 anos – além da inclusão social de quase um bilhão de famintos - exige ampliação dramática da produção de alimentos e de energia limpa. A pressão pela proteção ambiental, associada aos efeitos negativos das mudanças climáticas globais, impõe aumento acelerado da produtividade, em contraposição à expansão de área. O esgotamento das fontes de energia fóssil e o impacto ambiental negativo por elas causado exigem mudança drástica da matriz energética mundial, onde a energia da biomassa será protagonista. O aumento de renda e de estilo de vida impulsionará a demanda de outros produtos da agropecuária.

ticas globais.

O diferencial tecnológico

Neste contexto, impõem-se ganhos crescentes de produtividade. Atualmente, é necessário 0,22ha para alimentar cada uma das 6,7 bilhões de pessoas e, nas áreas de mais alta tecnologia, é possível alimentar uma pessoa com apenas 0,1ha. No entanto, na sociedade primitiva, extrativista, baseada na caça e coleta, eram necessários de 20ha a 100ha para alimentar uma pessoa, enquanto nos primórdios da agricultura (corte e queima) esta demanda foi reduzida em 90%. Os primeiros agricultores que utilizaram várzeas necessitavam entre 0,5ha e 1,5ha para alimentar um indivíduo. O desafio deste século é romper ainda mais esta barreira, destarte próxima do seu limite físico. Até 2050 haverá necessidade de expandir a produção agrícola mundial em mais de 60%. Porém, dificilmente será possível incorporar, especificamente para produção de alimentos, mais de 20% da área atual (cerca de 300 milhões de hectares), considerando que, paralelamente, também haverá pressão para aumento da área para outros produtos agrícolas. Logo, impõem-se ganhos

é de transcendental importância conferir prioridade ao desenvolvimento de inovações que expandam a produtividade dos cultivos, com sustentabilidade. Para tanto, há necessidade de inovações que permitam maior capacidade de extração e melhor aproveitamento dos nutrientes, otimização da transformação da radiação solar em fotossintatos, tolerância ou resistência a estresses bióticos (pragas) ou abióticos (excesso ou falta de chuva, temperaturas muito altas ou muito baixas, solos ácidos, alcalinos ou salinos). Também exige investimentos em processamento de produtos agrícolas e melhoria de processos de transformação de biomassa em alimentos ou energia, com alta eficiência energética e alta qualidade. Para tanto, será imprescindível o uso de ferramentas da fronteira da Ciência, como biologia sintética, nanotecnologia ou tecnologia da informação, para garantir que as inovações cheguem ao sistema produtivo a tempo e a hora. C

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

www.revistacultivar.com.br • Março 2010

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Supersafra a todo vapor e fretes em alta Os produtores colhem a safra a todo o vapor neste momento. Mas os valores que lhes são pagos sofreram forte queda, o que resulta em reclamação, pois quando se tem boa produtividade as cotações despencam. Neste ano o quadro pode estar um pouco pior que nos anteriores, o que faz surgir aquela velha pergunta: por que colher uma supersafra se os lucros são pequenos ou nem existem? Os fretes estão com os valores em ascensão, acima do que vinha sendo operado nos últimos três anos. Isso ocorre porque o setor de transporte, que no Brasil ainda é dominado pelos caminhões, não investiu em novos equipamentos nos últimos anos. A safra do ano passado teve perdas grandes devido à seca, o que resultou em pouco produto para ser transportado. Já este ano, com menos caminhões e mais produção, manifestou-se a lei da oferta e da demanda, que está comendo boa fatia dos lucros dos produtores. Vamos tomar como exemplo um frete de grãos (soja ou milho), de Sorriso, no Mato Grosso, para Paranaguá, no Paraná. Até dois meses atrás o valor não passava muito dos R$ 160,00 por tonelada. Agora, no pico da colheita, está em R$ 260,00 por tonelada e até acima. O valor cresceu R$ 100,00, ou seja, está tirando aproximadamente R$ 6,00 a mais do que já cobrava anteriormente por saca (antes se pagava próximo dos R$ 10,00 por saca para o transporte até o porto, assim, uma safra de milho que em Paranaguá se negocia a R$ 17,50 a saca, resultava ao produtor do Mato Grosso em míseros R$ 7,50). Agora, com o frete passando para R$ 16,00 por saca e o porto trabalhando com os mesmos preços ao produtor (de R$ 17,50 a saca), sobram ínfimos R$ 1,50 por saca. Com esse alto valor do frete, o milho está parado no Centro-Oeste e somente a soja (que tem valores próximos dos R$ 40,00 por saca), suporta bancar o frete atual. E mesmo os produtores de soja já estão vendo os níveis próximos ou abaixo dos custos, com valores finais na faixa dos R$ 25,00 ou abaixo. Desta forma, estamos no momento em que os produtores têm como maior gargalo para ganhos o alto custo dos fretes. E para escapar deste problema terão que segurar parte da comercialização para realizar vendas a partir do mês de maio, quando a pressão de compra de frete diminui e os valores ficam mais próximos da realidade. Agora é o momento de lucro para os transportadores, que reclamam que nos últimos anos não tiveram ganhos. A fase de alta nos fretes passará, os ganhos aos produtores crescerão e seguiremos com boas expectativas para médio e longo prazo.

MILHO Safra segura cotações

A safra do milho está no meio da colheita e os fretes dispararam. Para os produtores, as vendas agora tendem a ser menos rentáveis do que nos meses seguintes. Se o governo não intervir com apoio via Prêmio para o Escoamento de Milho em Grãos (PEP), para garantir o preço mínimo, restará aos produtores, que buscam lucros maiores, segurar para negociar depois do fechamento da colheita, a partir do mês de maio em diante. A primeira safra está chegando com 33 milhões de toneladas e a safrinha ainda mostra muitas indefinições, porque o período ideal de plantio fechou em fevereiro e aproximadamente 50% das áreas têm plantio ainda em março, com riscos de o clima, com secas e geadas, levar boa parte da produtividade. Se isso for confirmado, puxará as cotações, porque o consumo crescerá.

a saca, como registrado no norte do Mato Grosso. Os portos têm trabalhado em R$ 38,00/40,00 a saca, sendo que o frete tem comido grande fatia do bolo. Resta aos sojicultores segurarem parte do produto para negociar entre os meses de maio e agosto, quando poderemos ter cotações mais rentáveis. A demanda de soja no mercado mundial será grande. Teremos recorde de consumo e isso tem indicado que as cotações de Chicago terão fôlego para correções positivas à frente, após a colheita da América do Sul.

FEIJÃO Colheita fechada e demanda crescendo

A colheita da primeira safra está fechada e agora temos a segunda safra nos campos (que teve queda de 30% a 50% na área plantada). Desta forma, a tendência é de diminuição da oferta nos próximos meses. A boa notícia do setor vem do varejo, que está fazendo muitas promoções de feijão entre R$ 1,50/2,00 por quilo, refletindo em aumento do SOJA consumo. Como a produção de agora até o final Poucos negócios novos A soja está chegando e os indicativos aos do ano será restrita, tudo aponta para recuperação produtores despencaram forte, saindo dos R$ das cotações com indicativos novamente na faixa 40,00 a saca para níveis de até menos de R$ 25,00 dos R$ 80,00 ou R$ 100,00 por saca ou até acima

(se a segunda safra sofrer com o clima). A safra do Irecê na Bahia está chegando ao final e resultou em pouco produto, fazendo com que a região traga feijão de outras áreas do país, o que poderá beneficiar os produtores.

ARROZ Safra chegando forte em março

O mercado do arroz está vendo a safra chegar com grandes perdas frente às expectativas. Havia chances de colhermos 13 milhões de toneladas, porém, agora a realidade nos mostra que ficará entre 11 milhões de toneladas e 11,5 milhões de toneladas. Já a safra do Rio Grande do Sul, que tinha fôlego para chegar em oito milhões de toneladas, deve ficar na faixa de 6,8 milhões de toneladas ou menos, indicando pouco espaço para baixa nas cotações neste ano. Mesmo assim, as indústrias apostam que o valor de R$ 28,00 para saca, pago no final de fevereiro, pode chegar ao fundo do poço em R$ 26,00 a saca (contra os R$ 22,00 a saca negociados na safra passada). Por sua vez, os produtores estão preparados para negociar acima dos R$ 30,00 a saca. Sem trigo, devido à quebra das safras brasileira e argentina, temos fôlego para alta nas massas e o arroz tende a ir atrás.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado não sabe por que as cotações ainda não reagiram, já que a safra brasileira ficou abaixo das 4,5 milhões de toneladas produzidas e irá consumir 10,5 milhões de toneladas. Além disso, a Argentina, que iria colher mais de 15 milhões de toneladas, está fechando a colheita com 7,5 milhões e também não terá produto nem para o consumo interno, além de poder se tornar nossa concorrente em importações. Há espaço para avanços nestes próximos meses, bem acima dos R$ 500,00 por tonelada, porque o importado chega aos US$ 300 por tonelada ou até acima. ALGODÃO - Os produtores do Mato Grosso apostaram mais em safrinha do que na safra efetiva. Devido ao milho estar com preços baixos, muitos optaram pelo algodão safrinha e outros até pela soja safrinha. Desta forma a safra pode ser maior que as expectativas. O mercado neste ano sinaliza para um quadro melhor do que o ano passado. EUA - A boa notícia veio do Outlook Forum, do USDA, que apontou que o país terá uma safra menor de soja, com 88,7 milhões de toneladas contra as 91,4 milhões de toneladas deste ano. Assim, mesmo com o milho crescendo para um novo recorde histórico de 335 milhões de toneladas, haverá aumento maior no consumo, principalmente de etanol, que tem indicativo de passar das 94 milhões de toneladas em 2009, para 109 milhões de toneladas neste ano. E em 2011, já há indícios que serão consumidas 114,3 milhões de toneladas de milho para o biocombustível. Também há o biodiesel, que avançará 39% neste ano para a faixa de 1,56

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bilhão de litros, sendo que somente de óleo de soja será 1,27 milhão de toneladas. Com isso os americanos tendem a reduzir as exportações, ou pelo menos deixarão de crescer. CHINA - A boa notícia veio do aumento da capacidade instalada para o esmagamento da soja no país, que neste ano vai chegar a 100 milhões de toneladas. O consumo, segundo o USDA, chegará a 56 milhões de toneladas, contra 51,8 milhões de toneladas do ano passado. Como há grandes perdas nas lavouras locais (a área estimada pelo governo supera 3,5 milhões de hectares), existe tendência de maior necessidade de importações de alimentos. Desta forma a demanda pela soja deve crescer em ritmo maior do que está previsto. Aponta-se importação de 42,5 milhões de toneladas, mas certamente passará das 45 milhões de toneladas. ÍNDIA - Os indianos estão reduzindo as áreas com grãos e alimentos para uma maior produção de açúcar e de biocombustíveis, apontando que esta troca poderá se aproximar dos dois milhões de hectares. A tendência é importar mais óleo vegetal. ARGENTINA - Começou a colheita e, neste início de ano, o clima melhorou e com isso se aponta para uma safra de 52 milhões de toneladas de soja contra 32 milhões de toneladas do ano passado. Em milho são mais de 19 milhões de toneladas, ante pouco mais de 12 milhões de toneladas da safra passada. Já o trigo foi ceifado pelo clima e tende a não ultrapassar 7,5 milhões de toneladas colhidas, contra 16 milhões de toneladas esperadas.




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