Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 131 • Abril 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa Capa
Farra dos percevejos.............................18
Miguel F. Soria
Pentatomídeos fitófagos migram de outras culturas para o algodoeiro e crescem em importância, principalmente em áreas onde se utiliza variedades de ciclo mais tardio
Alerta vermelho.........................14 Vilão oculto..............................26 O que plantar.....................30 e 32 O que fazer para controlar de forma eficiente o ácaro-vermelho na cultura do café
A batalha contra os corós, insetos de hábito subter- Como escolher a cultivar de trigo râneo que sobrevivem a 40cm de profundidade e se mais adequada às necessidades alimentam das raízes de plantas como soja e milho de sua região
Índice
Expediente
Diretas
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Enfezamento em milho safrinha
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Nematoides em milho
11
Ácaro-vermelho em café
14
Eventos - Cooplantio anuncia novidades em seu aniversário 17 Percevejos em algodão
18
Informe - Ihara completa 45 anos no Brasil
21
Estragos da lagarta-elasmo em diversas lavouras
22
Dia de Campo Copercampos e Show Agrícola Palmasola
25
Corós em soja e milho
26
Variedades de trigo para o Cerrado
30
Variedades de trigo para o Sul
32
Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
37
Mercado Agrícola
38
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO • Editor
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
Gilvan Dutra Quevedo • Redação
Lisandra Reis
• Vendas
Pedro Batistin Sedeli Feijó
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia • Revisão
Aline Partzsch de Almeida • Secretária
Rosimeri Lisboa Alves
CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
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• Expedição
GRÁFICA
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Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Irga
Durante a 10ª edição da Expoagro Afubra o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e a Cooperativa do Arroz (Coparroz), juntamente com a Embrapa, promoveram o Dia do Arroz. Mais de 12 municípios arrozeiros conferiram as novas tecnologias de produção e sementes além do Projeto de 10 do Irga que tem elevado o índice de produtividade de todo estado.
Syngenta
A Syngenta participou da 10ª edição Expoagro. Apresentou seu portfólio de defensivos agrícolas e novas variedades de soja e híbridos de milho da empresa.
Timac
Ihara
A Timac Agro Brasil participou da 10ª edição Expoagro. De acordo com Roberto Calgaro, diretor regional de Vendas, a empresa oferece ampla gama de produtos para os mais variados cultivos e sistemas de produção. Calgaro destacou o Sulfammo, fertilizante usado em várias culturas.
Produquímica
A Agromen Tecnologia levou o Herculex I para Expoagro Afubra. Durante o evento a empresa apresentou híbridos de milho convencionais e com a tecnologia Herculex I indicados para lavouras de média e alta tecnologia da região.
A Ihara participou da Expoagro Afubra, na cidade de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. A empresa montou um campo com parcelas demonstrativas para apresentar os resultados da aplicação do Flumyzin em diversas culturas, como soja, cana, milho, feijão e mandioca.
Agromen
A Produquímica recebeu em seu estande, durante a Expoagro Afubra, clientes e parceiros . A equipe técnica destacou o Triunfo 515, indicado para soja, milho, sorgo, trigo, algodão, feijão, arroz e café e também o Sulfurgran 90 usado em diversas culturas. A empresa também marcou presença na Expodireto 2010.
Sipcam Isagro
Após longo período de trabalhos na Itália, Gianni Locatelli, colaborador da Sipcam Isagro há mais de 20 anos, retorna ao Brasil para assumir o posto de diretor superintendente da empresa com a missão de coordenar todo o time nos desafios do agronegócio brasileiro.
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Dow AgroSciences
Nova liderança
A Dow AgroSciences participou da 10ª edição da Expodireto Co- Depois de ocupar cargos estratégicos da Dow AgroSciences na Argentina, trijal e apresentou os principais produtos do portfólio de sementes Estados Unidos e liderança global de moléculas, o executivo, Fabian Gil, e defensivos agrícolas. O diferencial da empresa, neste ano, foi a que está na companhia desde 1992, assume a apresentação do simulador de deriva iniciativa da Dow em parceria presidência da empresa no Brasil. De acordo com a Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Universidade com Gil, o Brasil representa uma oportunidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu. De acordo com Ilze Scharer, única de crescimento para a Dow AgroSciences da Dow AgroSciences, a finalidade é demonstrar aos agricultores e e seu trabalho será o de prover recursos para dar técnicos a importância das condições de aplicação dos agroquímicos suporte aos planos de negócios e mensurar o para evitar derivas e que o potencial de risco de deriva de cada classe progresso de estratégias. O novo presidente prede gota, frente às diferentes condições de vento, fica bastante realista tende manter, nos próximos cinco anos, os níveis e didático por meio dessa ferramenta. de crescimento e rentabilidade para continuar investindo em tecnologia e recursos humanos. “A DowAgroSciences tem tecnologia e uma equipe bem preparada, os quais nos levarão à liderança Fabian Gil no mercado agropecuário brasileiro”, declarou.
Syngenta
Nufarm
Valdemar Fischer assumiu como gerente regional da Nufarm para a América Latina. Com longo histórico na indústria, ocupou posições de destaque em empresas do segmento nos EUA, América Latina e Brasil. Seu avô foi um dos primeiros fazendeiros a plantar soja no país, na década de 1930. Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas e com mestrado em Administração pela Universidade de Lancaster, no Reino Unido, conta com mais de 25 anos de experiência na indústria de defensivos agrícolas, trabalhando em funções técnicas e de marketing antes de assumir responsabilidade como gerente geral Valdemar Fischer nos países em que passou.
A Syngenta participou da 10ª edição da Expodireto Cotrijal. Entre os destaques esteve o novo híbrido de milho Status, o milho Agrisure TL e a soja SYN 3358RR. Segundo Celso Batistella, coordenador de Marketing da região sul, a empresa investe nessa ação com o objetivo de promover o portfólio junto a potenciais clientes e gerar negócios.
Agricultura familiar
Além de campos demonstrativos, a Bayer CropScience, durante a ExpoAgro Afubra, ofereceu três espaços separados no estande. Um voltado para a cultura do milho, outro para a soja e o último para o tabaco. O objetivo foi demonstrar a realização do manejo integrado e as soluções disponíveis de acordo com as particularidades de cada cultura. Para milho os destaques foram Soberan e Nativo; para a soja, Sphere Max; e para o tabaco, Evidence 700 WG e Infinito. Esta foi a primeira vez que as marcas Evidence (antigo Confidor 700) e Infinito foram apresentadas ao público para tabaco.
Ihara
Durante jantar de comemoração de 45 anos de atividades da Ihara no Brasil foi anunciado o novo presidente da empresa. Júlio Garcia, eleito em 18 de março, está na Ihara há 21 anos onde já ocupou várias funções. Afirmou que dará continuidade “à história de inovação e tecnologia pautada pelo respeito ao ser humano e ao meio ambiente”.
Júlio Garcia
FMC
A FMC, juntamente com a revenda Poliagro, expôs seu portfólio de produtos com parcelas demostrativas na Expoagro 2010. O evento destaca-se por ser essencialmente de pequenos produtores que buscam informações sobre manejo de produtos e novas tecnologias.
Quimifol
A Quimifol esteve presente na Expodireto 2010 e apresentou seu portfólio de produtos aplicáveis nas culturas da soja, milho, café, citros, feijão, trigo, videiras e arroz.
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Coodetec
A Coodetec, tradicional cooperativa produtora de sementes de grãos, trigo, soja e milho, participou da Expodireto 2010. Por intermédio de parcelas demonstrativas os produtores puderem conhecer variedades de soja e milho. A Cooperativa tem expressiva participação nos mercados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Syngenta
O gerente de marketing e cooperativas, Ricardo Perez, e o gerente regional de vendas e cooperativas RS, Nivaldo Lonardoni, ambos da Syngenta, destacam que a integração entre as duas áreas é fundamental, uma vez que possuem o mesmo objetivo: oferecer soluções sob medida e serviços diferenciados que atendam as demandas e necessidades dos clientes da empresa.
Joacilio Helene
Ricardo Perez e Nivaldo Lonardoni
Rigrantec
Novo logo
A Rigrantec Tecnologia para Sementes e Plantas, no ano em que comemora 15 anos de atividades, apresentou na Expodireto Cotrijal a linha Biotec. A linha consiste em produtos derivados de ácidos húmicos e fúlvicos, aminoácidos, extrato de algas e micronutrientes quelatizados com novos produtos focados às necessidades das plantas e do produtor, informou Nelson Azambuja, diretor da empresa.
Para comemorar seus 55 anos, a Sinon, empresa de defensivos agrícolas de Taiwan, desenvolveu nova marca no Brasil. O nome da empresa agora vem acompanhado por três folhas que representam os pilares básicos da companhia: qualidade, estabilidade e sustentabilidade. As cores lembram um pouco as da bandeira do país e essa foi justamente a intenção. Em visita ao Brasil nas duas primeiras semanas de março, o presidente e CEO da SinonCorporation, Ben Yang, disse que o objetivo é ampliar as ações no País. Para a Sinon, o Brasil é o seu mercado mais importante. “O mundo depende da agricultura e da energia do Brasil”, afirmou. Muitos elementos do design mantiveram-se semelhantes ao logo da corporação, preservando as origens taiwanesas. A antiga marca brasileira (o nome da empresa escrito em vermelho é o símbolo do Nelson Azambuja time de baseball da Sinon, Plantécnica em Taiwan) continuará Compartilhar as últimas novidades tecnológicas e inovações no meio sendo utilizado por lá. rural foi o objetivo da Plantécnica Soluções Agrícolas, localizada em Segunda Geração Pelotas, ao acompanhar um grupo de produtores à Expodireto 2010. A Monsanto apresentou duas novidades aos visitantes da Expodireto 2010: YieldGard VT PRO e YGRR2. O híbrido YieldGard VT PRO com a segunda geração da tecnologia Bt, produz duas proteínas inseticidas contra as principais lagartas que atacam a cultura, o que eliminará as aplicações de inseticidas para estas pragas. Já o milho YGRR2 combina a resistência a insetos e a tolerância ao Glifosato. Para Silvio Carreira, Gerente de Desenvolvimento Tecnológico da MonCopercampos santo, estas duas tecnologias significam Durante o Dia de Campo Copercampos, de 9 a 11 de março, a equipe grande avanço no cultivo do milho, por da Monsanto apresentou em seu estande os principais destaques diminuírem a pressão de pragas e invasoras na cultura. Silvio Carreira da empresa em biotecnologia. Novidades como a segunda geração de milho Bt, o YieldGard VT PRO, e a soja resistente a insetos e Roundup tolerante a herbicidas chamaram atenção do público. Daniele Calderon, analista de marketing Roundup, participou da Expodireto 2010 onde a empresa destacou os benefícios do Roundup Ready e os benefícios do manejo adequado da tecnologia, como utilização de doses recomendadas, aplicações antecipadas Daniele Calderon e rotação de culturas. Milto Faco
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Basf
Resistência
Um dos enfoques da Monsanto na Expodireto foi o manejo de resistência de invasoras em soja. Carlos Dalmazzo, representante de desenvolvimento tecnológico da empresa, mostrou em suas palestras aos produtores que a simples antecipação da dessecação para 14 a 21 dias, antes do plantio, podem significar aumento de até 25% na produtividade. Outras indicações como utilização da dose correta, rotação de culturas e princípios ativos também estão entre os cuidados necessários.
A Basf entregou durante a Expodireto 2010, 18 aparelhos Digilab, uma tecnologia de serviço oferecida pela Basf a seus parceiros, que auxilia o produtor na identificação dos primeiros sintomas das principais doenças em diferentes culturas. Segundo Clairton Silva, gerente de Negócios Cereais Sul da Basf no Brasil, a empresa tem parceria com a Cotrijal de longa data e esta ação reforça o elo entre a empresa e os cooperativados. Desde o lançamento do serviço, a Basf já entregou mais de mil aparelhos a parceiros.
Carlos Dalmazzo
Muito Mais
A Bayer CropScience destacou na Expodireto 2010 soluções de defensivos para as culturas de soja e milho, abordando a importância do manejo integrado para o desenvolvimento sustentável das lavouras. A empresa abordou também os programas Muito Mais Soja e Muito Mais Milho que oferecem soluções integradas e serviços diferenciados para o controle de pragas, doenças e invasoras. Os produtos Soberan e Finale, utilizados no manejo de invasoras resistentes, também tiveram destaque.
Standak Top
Um dos destaques da Basf na Expodireto 2010 foi o lançamento do Standak Top para tratamento de sementes. Segundo Gustavo Máximo, gerente de cultivo milho, soja e feijão, a inovação, que engloba inseticida e fungicida, traz os benefícios AgCelence numa única dose de Gustavo Máximo 100 ml/ha.
Time Completo
Pioneer
A Pioneer deu destaque em seu estande para o lançamento do P1630, o híbrido mais precoce do mercado e também para híbridos com a tecnologia Herculex e Yieldgard. Jorge Gehrke, da área comercial da empresa, João Artur, gerente de negócios, e André Keller, coordenador técnico, destacaram o que a Pioneer chama de Solução Completa para o milho, que trata-se de um pacote que inclui híbridos Herculex tratados com inseticidas Cruizer ou Standak, fungicida Derosal Plus e Maxxim além de polímeros para dar fluidez a semente e aderência ao produto químico.
Jorge Gehrke, João Artur e André Keller
Adriana Gomes, gerente de marcas da Monsanto, Thaís Bechir, analista de marketing da Sementes Agroceres e Nathália Tercero, supervisora de marcas da Monsanto, reforçaram o time da empresa na Expodireto 2010. Com os diversos lançamentos e novidades na área de biotecnologia, o otimismo era visível e contagiante nos estandes da Monsanto, Agroceres e Dekalb. Adriana Gomes, Thaís Bechir e Nathália Tercero
Crescimento
A Bayer CropScience registrou crescimento de 9% em suas vendas em relação a 2008, com faturamento de R$ 2 bilhões no Brasil em 2009. A unidade representa 53% do volume de negócios do Grupo Bayer no país e o crescimento foi superior às demais divisões da empresa no Brasil. Para o presidente da Bayer CropScience para América Latina, Marc Reichardt, mesmo com o cenário desfavorável, a empresa conseguiu fechar o ano com resultados positivos. ”Temos uma estratégia sólida, focada em culturas e uma equipe bem preparada”, destaca. O lançamento dos produtos Infinito, Consento, Sphere Max, Bel e o algodão Liberty Marc Reichardt Link ajudaram na obtenção dos resultados.
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Milho
Transmitidas por insetos
Dionísio Gazziero
Enfezamentos, disseminados pela cigarrinha Dalbulus maidis, e a virose do mosaico comum, causada por pulgões, são duas das principais doenças que entravam a produtividade em milho safrinha. Para enfrentar o problema é preciso atenção a fatores como condições do clima e hospedeiros, além de lançar mão das estratégias de controle disponíveis para o combate
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ntre as doenças mais importantes no milho safrinha destacamse os enfezamentos, que têm sido detectados nas principais regiões produtoras, algumas vezes em surtos epidêmicos, com prejuízos à produção. Os agentes causais dos enfezamentos são disseminados pela cigarrinha Dalbulus maidis, insetovetor que se multiplica apenas no milho, é de ampla ocorrência, tanto nas lavouras da safra de verão quanto nas de safrinha. Destaca-se também a virose do mosaico comum, frequentemente encontrada de forma localizada em determinadas lavouras de milho, mas que causa prejuízos severos. Os vírus agentes causais do mosaico comum do milho são disseminados por várias espécies de pulgões, principalmente, pelo pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis). Enfezamentos: o enfezamento pálido (corn stunt spiroplasma) é causado por Spiroplasma kunkelii e o enfezamento vermelho (maize bushy stunt phytoplasma) está associado à presença de fitoplasma no floema das plantas de milho. Os agentes causais dessas doenças são microorganismos procariontes, pertencentes à classe Mollicutes, denominados pelo nome comum molicutes. Os sintomas dos enfezamentos manifestam-se tipicamente por ocasião do enchimento de grãos. É difícil distinguir os dois tipos de enfezamentos com base apenas nos sintomas das plantas. Os enfezamentos causam redução no crescimento das espigas e dos grãos. Podem prejudicar o enchimento dos grãos, que resultam chochos. As plantas secam precocemente. A magnitude desses efeitos depende, essencialmente, da suscetibilidade da cultivar. O sintoma característico do enfezamento pálido são estrias esbranquiçadas irregulares, nas folhas, próximo da base, porém, as plantas podem apresentar apenas amarelecimento generalizado e algum avermelhamento, principalmente nas folhas apicais. Plantas com enfezamento vermelho mostram, como o nome da doença já sugere, avermelhamento generalizado e proliferação de espigas. Os agentes causais dos enfezamentos são adquiridos pela cigarrinha D. maidis quando esses insetos se alimentam de plantas de milho doentes; multiplicam-se nesse inseto-vetor e são transmitidos para plântulas de milho jovens e sadias, quando a cigarrinha migra de lavouras maduras para lavouras recém estabelecidas (transmissão persistente propagativa). Avaliações da incidência de enfezamentos no milho safrinha no estado do Paraná, no ano de 2000, mostraram níveis entre 6,2% e 49,9% de plantas com
Fotos Elisabeth de Oliveira
Os agentes causais dos enfezamentos são disseminados pela cigarrinha Dalbulus maidis, inseto-vetor que se multiplica apenas no milho, é de ampla ocorrência, tanto nas lavouras da safra de verão quanto nas de safrinha
sintomas (média de 20,7%). A avaliação da incidência de enfezamentos e detecção dos agentes causais em milho cultivado em localidades dos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso, durante três anos, mostrou maior incidência na safrinha, em relação à safra de verão. A detecção de fitoplasma e de espiroplasma por teste de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) (Figura 1) em amostras dessas plantas mostrou que, na safrinha pode ocorrer predominância de um dos dois tipos de enfezamento e esse fato foi atribuído ao possível efeito de condições climáticas. Os níveis de incidência de enfezamentos podem variar em anos e em locais diferentes, em função da presença de inóculo dos agentes causais, da densidade populacional de D. maidis e dos níveis de suscetibilidade das cultivares de milho. Na safra 2005/2006 ocorreu um surto dessas doenças na região oeste do estado de Santa Catarina e no norte do estado do Rio Grande do Sul, que coincidiu com alta densidade populacional de D. maidis, previamente detectada em avaliações de coleta desse inseto-vetor em diferentes localidades. Virose do mosaico comum: essa doença é causada por vírus pertencentes ao grupo potyvirus, que formam partículas alongadas e flexuosas. Na Austrália, EUA e Europa são identificadas quatro espécies desses potyvirus: Sugarcane mosaic virus, (SCMV), Maize dwarf mosaic virus (MDMV), Johnsongrass mosaic virus (JGMV) e Sorghum mosaic virus (SrMV). No Brasil, apenas uma variante do SCMV tem sido identificada. Os sintomas dessa virose são manchas verdes entremeadas por manchas amareladas, em padrão de mosaico, claramente
lavouras anteriores para as lavouras subsequentes. A proporção de plantas infectadas será sempre e cada vez maior nos plantios mais tardios e nos cultivos de safrinha, em relação aos plantios anteriores. Condições de clima Vários estudos mostram que temperaturas mais elevadas, em relação às médias que normalmente ocorrem na região, podem favorecer a incidência dos enfezamentos, seja por fomentar a multiplicação do inseto-vetor, seja favorecendo a multiplicação dos molicutes, nas plantas ou na cigarrinha, ou impulsionando a transmissão desses patógenos da cigarrinha para as plantas. Há também indicativos de que em plantios sob pivô ou em coincidência com níveis mais elevados de precipitação pluviométrica pode ocorrer alta incidência dos enfezamentos. Temperaturas em torno de 30ºC durante o dia e 18ºC à noite aumentam a transmissão de ambos espiroplasma e fitoplasma, pela cigarrinha D. maidis, em relação a temperaturas mais amenas.
visíveis nas folhas de plantas de milho jovens. Em plantas adultas pode ser difícil ou impossível a clara distinção desses sintomas, dependendo da cultivar. Essa virose causa redução no tamanho das espigas e dos grãos. É transmissível mecanicamente e na natureza disseminada por pulgões. Possui outros hospedeiros, que são espécies de gramíneas selvagens e cultivadas. Os pulgões, em sua forma alada, voam e realizam picadas de prova em plantas infectadas e assim adquirem os vírus e os transmitem rapidamente (poucos segundos) quando se alimentam em plantas sadias.
Presença de hospedeiros da virose do mosaico comum O capim marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea), que é a planta daninha comum em lavouras de milho, tem sido comumente observado com sintomas dessa virose, principalmente em lavouras de milho localizadas na região oeste do estado de Santa Catarina e em áreas na região sudoeste de Goiás. Como o vírus se multiplica em todas as partes da planta, essa gramínea pode preservá-lo de um ano para
Sobreposições do ciclo da cultura O milho safrinha é normalmente plantado nos meses de janeiro e de fevereiro, eventualmente na primeira quinzena de março, épocas que, frequentemente, coincidem com a fase de produção do milho da safra de verão. Essa sobreposição de ciclos da cultura favorece a migração da cigarrinha D. maidis, das lavouras maduras para as lavouras recém-implantadas. Nesse processo, as cigarrinhas que se multiplicam nas áreas de milho da safra de verão, principalmente nos plantios mais tardios (realizados nos meses de novembro e de dezembro) adquirem os agentes causais dos enfezamentos e os transmitem para as plântulas das lavouras do milho safrinha. Dessa forma, quanto mais tardio o plantio de milho da safra de verão, assim como os plantios de milho safrinha, estão sempre mais sujeitos à maior incidência dos enfezamentos, em função do aumento na quantidade de inóculo dos molicutes feito pela contínua migração da cigarrinha, de
Plantas com enfezamento vermelho mostram avermelhamento generalizado e proliferação de espigas
Fatores que influenciam
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Figura 1 - Detecção de espiroplasma e de fitoplasma por teste de PCR 1,2 kb Fitoplasma
0,5 kb Espiroplasma
des utilizados em tratamento de sementes, como imidacloprido e thiamethoxam. Esses produtos proporcionam taxas de mortalidade desse inseto-vetor de 50% a 70%, mesmo aos 30 dias após a emergência das plantas. Contudo, como as cigarrinhas infectantes conseguem transmitir os fitopatógenos para plantas sadias de milho em um tempo de alimentação relativamente curto (cerca de uma hora), o período de proteção que esses inseticidas proporcionam se restringe a aproximadamente dois dias após a emergência. Em estudos de campo com inseticidas neonicotinoides (em tratamento de semente e pulverização) não foram observadas reduções nos níveis de incidência dos enfezamentos, possivelmente em função do comportamento do vetor que pode chegar às lavouras em fluxos migratórios à medida que o efeito residual dos produtos diminui. Os inseticidas neonicotinoides (imidacloprido, thiamethoxam e clotianidina) estão registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para con-
outro, sobrevivendo na forma de “estolão”. Ao rebrotar, constitui fonte de inóculo e os pulgões que picam essas plantas doentes, e depois o milho, disseminam o vírus. Outras espécies do gênero Brachiaria também têm sido, eventualmente, observadas com sintomas do mosaico comum.
Uso de cultivares de milho resistentes Há evidências de que a resistência do milho ao enfezamento pálido, em geral, mais comum que o enfezamento vermelho, é do tipo quantitativa. No mercado, há cultivares de milho com diferentes níveis de resistência aos enfezamentos. Possuindo ou não informações sobre a resistência das cultivares de milho aos enfezamentos, é recomendável plantar sempre mais de uma cultivar e trocar essas cultivares de um ano para outro, com o objetivo de minimizar prejuízos em situações de ocorrência de surto de enfezamentos. Essa prática contribui também para preservar a resistência das cultivares, evitando-se expor sempre uma única cultivar à pressão de inóculo dos agentes causais dos enfezamentos. Pode-se também usar cultivares resistentes para controlar a virose do mosaico comum.
Fotos Elisabeth de Oliveira
Alternativas para manejo dos enfezamentos e da virose do mosaico comum
Elizabeth de Oliveira Embrapa Milho e Sorgo Charles Martins de Oliveira Embrapa Cerrados
Eliminação de fontes de inóculo Quando são observadas muitas plantas de gramíneas com sintomas da virose mosaico comum, próximas à área em que será cultivado o milho, devem ser eliminadas. Essa prática contribui para reduzir a fonte de inóculo, evitando, ou pelo menos reduzindo, a disseminação do vírus para o milho. Controle químico dos insetos-vetores Cigarrinha D. maidis: o controle químico dessa cigarrinha, com o objetivo de controlar os enfezamentos, tem sido estudado no Brasil. Os resultados demonstram que o inseto é efetivamente controlado, principalmente por produtos neonicotinoi-
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trole desse inseto. O grande gargalo para o manejo da cigarrinha D. maidis, via controle químico, parece ser a falta de informações em relação ao comportamento do inseto. Essa ferramenta de controle poderá ser mais eficiente quando forem determinados, por exemplo, como se dão os voos migratórios de D. maidis e como o vetor coloniza os novos cultivos (se por uma grande população de insetos chegando ao mesmo tempo em toda a área ou se o inseto invade a lavoura primeiramente pelas margens). Isso poderá permitir determinar quando e como utilizar os inseticidas de forma mais eficiente. Pulgões: os pulgões vetores do vírus do mosaico comum do milho adquirem e transmitem as partículas virais de forma muito rápida, bastando breves picadas de prova. Esse comportamento do vetor torna bastante difícil a redução da disseminação da doença via controle químico do inseto. Inseticidas sistêmicos não funcionam, já que a aquisição e a transmissão do vírus se dão na epiderme foliar e não nos vasos condutores onde circula o inseticida. Mesmo para inseticidas de contato, de forma geral, a ação dos produtos não é rápida o suficiente para matar os pulgões antes que eles se movam entre as plantas, realizem picadas rápidas e adquiram e transmitam o vírus. Estudos têm demonstrado que a presença de alguns inseticidas pode até mesmo desempenhar um papel positivo na disseminação da doença, provocando a irritação e/ou repulsão do vetor que passaria então a visitar mais plantas, à procura de um hospedeiro, sem a presença daquela substância, e contaminaria, assim, um maior número de plantas na lavoura. Os produtos imidacloprido, imidacloprido + tiodicarbe e clotianidina estão registrados pelo Mapa para o controle de C R.maidis em milho.
Sintomas do mosaico comum do milho são mais visíveis nas folhas de plantas de milho jovens
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Elizabeth e Charles falam sobre as principais doenças que entravam a produtividade em milho safrinha
Milho Dirceu Gassen
Comportamento esperado Importante ferramenta no manejo de nematoides do gênero Meloidogyne, na cultura do milho, o uso de variedades resistentes ainda carece da disponibilidade de estratégias mais efetivas de combate a este agente causal de doenças e responsável por severos prejuízos nas lavouras brasileiras
O
milho (Zea mays L.), a exemplo de outras culturas, é atacado por doenças que levam a perdas da produtividade, da qualidade e do valor nutritivo dos grãos e da silagem. Dentre os agentes causais de doenças, os nematoides, principalmente os do gênero Meloidogyne Goeldi, 1982, se destacam, devido às perdas causadas. Em regiões tradicionais produtoras no mundo, os prejuízos têm sido estimados em 10,2% (Neves, 2000). O sintoma mais frequente, devido ao ataque desses patógenos, é a formação de galhas nas raízes parasitadas, embora não seja obrigatório na interação planta-nematoide, pois, segundo Lordello et al (1986), as galhas
em genótipos de milho podem ocorrer, porém, são pouco visíveis a olho nú. Como sintomas, também, podem-se citar murchas das plantas durante os períodos mais quentes do dia, menor desenvolvimento das plantas devido ao comprometimento do sistema radicular, desfolha prematura, sintomas de deficiência mineral, clorose, redução e deformação do sistema radicular, menos eficiência das raízes quanto à absorção de água e nutrientes e, consequentemente, produção menor (Tihohod, 2000). Como métodos disponíveis para controle em áreas infestadas destacam-se o uso de cultivares resistentes e a rotação de culturas, sendo o primeiro o mais recomendado (Qua-
dros et al, 2003). O milho tem sido indicado para cultivo em rotação de culturas para o controle de Meloidogyne spp. em áreas muito infestadas. O sucesso dessa prática depende da espécie do nematoide presente na área e do conhecimento da reação dos híbridos e das cultivares de milho frente às espécies do nematoide, principalmente com relação à possibilidade de multiplicação ou não desse patógeno. Estudos e avaliações vêm sendo realizados para se obter cultivares de milho tolerantes ou resistentes aos nematoides, tendo em vista seu cultivo em áreas infestadas e, também, para comporem sistemas agrícolas supressivos às espécies de nematoides conhecidas e permitir
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Divulgação
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entre 0,05 a 4,92, com a maioria apresentando valores inferiores a 1,0. O mesmo não foi constatado por Lordello et al (1998), que, na avaliação de 36 genótipos de milho frente à M. javanica, observaram serem todos suscetíveis ao nematoide. Segundo Asmus (1984), Tihohod & Ferraz (1986) e Patel et al (1993), as diferenças observadas para diversas cultivares e híbridos de milho quanto à multiplicação de M. javanica podem ser explicadas devido à metodologia empregada e, principalmente, pelas modificações na patogenicidade de populações distintas de M. javanica. Com o objetivo de avaliar a hospedabilidade de milho, milheto e soja à M. javanica, Almeida & Santos (1996) verificaram que, entre quatro cultivares de milho, apenas duas foram resistentes ao patógeno. Da mesma forma, Manzotte et al. (1998), em seu trabalho com 22 híbridos, constataram que a maioria se comportou como resistente ao ataque do M. javanica, diminuindo a população inicial do nematoide. A suscetibilidade de diferentes cultivares de milho à M. javanica também foi avaliada no trabalho realizado por Asmus e Andrade (1997), quando 34 cultivares foram testadas em casa de vegetação e 41 cultivares em telado. Desse total, foi observado que apenas quatro apresentaram baixo número de ovos/grama de raiz, nos dois experimentos. Da mesma forma, Lordello et al (2001) avaliaram a suscetibilidade de 29 cultivares de milho à M. incognita raça 3 e observaram reprodução do nematoide em todos os genótipos. Entretanto, Moritz et al (2003), em sua avaliação de 30 cultivares de milho quanto ao parasitismo de M. incognita raças 1 e 3 e M. paranaensis, constataram serem
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Débora Cristina Santiago e Ricardo Michael Levy, Universidade Estadual de Londrina Dirceu Gassen
o cultivo com culturas suscetíveis. A ocorrência de nematoides do gênero Meloidogyne que parasitam o milho e causam perdas significativas em condições naturais foi relatada, no Brasil, por Lordello et al, (1986), quando identificaram a espécie M. incognita raça 3 em raízes de plantas que não se desenvolveram, procedentes de Santa Helena (GO). Posteriormente, foram feitos relatos da suscetibilidade de genótipos de milho às raças de M. incognita (Teixeira & Moura, 1985; Lordello et al, 1986; Lordello et al, 1987; Felli & Monteiro, 1987; Lordello et al, 1989), como também relatos de resistência e imunidade da planta ao parasita. Especificamente quanto à M. javanica, Brito & Antonio (1989) e Lordello et al (1989) observaram grande variabilidade nas reações dos diferentes genótipos de milho, sendo esses desde altamente resistentes até suscetíveis. Embora tenha sido relatada a resistência do milho ao M. javanica, Brito & Antonio (1989) e Lordello et al. (1989) afirmaram que as reações das diferentes cultivares não são bem conhecidas. Um fator que contribui para isso é que o parasitismo de nematoides do gênero Meloidogyne nas raízes de milho nem sempre leva à formação de galhas, mas uma expressiva multiplicação pode estar ocorrendo em condições especiais (Asmus & Andrade, 1995; Lordello et al, 1989). Brito & Antonio (1989), ao avaliarem a reação de híbridos de milho à M. javanica, observaram comportamento idêntico dentre eles, sem constatar a presença de galhas no sistema radicular. Guimarães Filho (1993), na avaliação de 80 cultivares de milho frente à M. javanica, observou valores do fator de reprodução variáveis
todas suscetíveis à raça de M. incognita mas em relação à M. paranaensis, a maioria se comportou como resistente. Da mesma forma, Carneiro et al (2007), em sua avaliação com milho e milheto contra M. paranaensis, observaram que a maioria se comportou como resistente. Ribeiro et al (2002) também detectaram resultados semelhantes ao avaliarem milho e milheto, onde apenas um genótipo de milho se comportou como suscetível e os demais foram resistentes ao M. javanica. Carneiro et al (2007), testando os genótipos BN2, ADR 300 e ADR 500 contra M. javanica observaram que apenas o genótipo BN2 foi resistente, sendo os demais suscetíveis. Moritz et al (2003), avaliando cultivares de milho frente ao parasitismo de M. incognita raças 1 e 3, observaram suscetibilidade em todos os genótipos, apresentando FR>1. Aspectos similares foram descritos por Carneiro et al (2007), em seu trabalho com milho, sorgo e milheto. Para esses autores, todas as cultivares de milho foram suscetíveis à M. incognita raças 1 e 3 e a maioria das cultivares de milheto também permitiram a multiplicação de M. incognita raça 3. Baseado nesse contexto, a disponibilidade de genótipos de milho resistentes aos nematoides do gênero Meloidogyne é extremamente necessária em programas de rotação de culturas, com o objetivo de controlar a praga e permitir o uso de espécies suscetíveis no futuro. Ressalta-se, portanto, a importância de mais pesquisas para que surjam novas estratégias, mais efetivas, de combate. C
O sintoma do ataque de nematoides do gênero Meloidogyne é a formação de galhas nas raízes parasitadas
Café
Perigo vermelho O ácaro-vermelho do cafeeiro é responsável por danos severos na cultura. Por se alimentar na parte superior das folhas, a praga perfura as células e reduz a área de fotossíntese. Períodos de estiagem prolongada favorecem o ataque. Seja qual for o método empregado para o controle, é preciso estar atento a aspectos que podem determinar o sucesso ou o fracasso da alternativa adotada
N
o Brasil, a primeira referência do ataque de Oligonychus ilicis (McGregor, 1917) (Acari: Tetranychidae) em cafeeiro, Coffea arabica L., ocorreu no estado de São Paulo, em 1950. Já foi referido como a segunda praga em importância para o cafeeiro Conillon (Coffea canephora Pierre & Froehner), no estado do Espírito Santo, espécie mais sensível ao ácaro do que o arábica (C. arabica). É conhecido no Brasil como ácaro-vermelho do cafeeiro. Vive na face superior das folhas, que ao serem atacadas apresentamse recobertas por uma delicada teia, tecida pelos próprios ácaros, onde aderem detritos e poeira, dando às folhas um aspecto de sujeira. Podem ser observados facilmente com o auxílio de uma lente de aumento, ou mesmo a olho nu.
Descrição e notas bionômicas
Os ovos são de formato arredondado quando vistos de cima, coloração vermelhoescura a rósea, brilhantes, com um filamento saindo da parte superior e quase invisíveis a olho nu. Medem em média 0,13mm de diâmetro por 0,10mm de altura (Figura 1). As fêmeas os colocam próximo às nervuras, na página superior da folha, e o período de incubação é de 5,5 dias, em média. A eclosão de larvas dá-se entre seis dias e dez dias, dependendo da temperatura, sendo mais rápida em temperaturas mais altas. As larvas recém-eclodidas apresentam coloração rósea, são piriformes, hexápodes e se loco-
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Figura 1 - Ovos do ácaro-vermelho do cafeeiro sobre a folha
Figura 2 - Fêmeas adultas e ovo do ácaro-vermelho
movem com dificuldade. Nos estágios que sucedem o de larva, até atingir a fase adulta, o ácaro recebe a denominação de ninfa. No estágio de ninfa o ácaro apresenta quatro pares de pernas (octópodes). Todos os estágios entre ovo e adulto apresentam durações semelhantes para machos e fêmeas. O ciclo de ovo a adulto para fêmeas é de 11,6 dias e para machos 11,8 dias em média, praticamente não havendo diferença entre eles. O ácaro adulto apresenta quatro pares de pernas (octópodes) como as ninfas (Figura 2). Os sexos são distintos na fase adulta. As fêmeas medem 0,37mm de comprimento por 0,24mm de largura. Embora ocorra a reprodução sexuada, o principal tipo de reprodução de O. ilicis é a assexuada do tipo partenogênese, podendo ocorrer a partenogênese arrenótoca (onde a descendência das fêmeas não acasaladas é constituída apenas de machos) e mais co-
mumente a partenogênese telítoca (em que a descendência das fêmeas não acasaladas é constituída de fêmeas). A proporção sexual é em média de 9,6 fêmeas para um macho, razão pela qual a predominância de fêmeas em cafeeiros é acentuada. Sua dispersão é feita principalmente pelo vento, através do ácaro pendurado em fio de seda, processo conhecido como balonismo.
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Dano
Para se alimentar na página superior das folhas, perfuram as células e absorvem parte do conteúdo celular. Em consequência, as folhas perdem o brilho natural, tornam-se bronzeadas, dando um péssimo aspecto às plantas (Figura 3). O ataque ocorre geralmente em reboleiras e, se as condições forem favoráveis ao ácaro e o controle não realizado no início da infestação, poderá atingir toda a lavoura. Embora não tenha ainda sido quantificado,
Tabela 1 - Produtos registrados para uso no controle do ácaro-vermelho do cafeeiro
Figura 3 - Folhas de cafeeiro exibindo o sintoma chamado de bronzeamento causado pelo ácaro-vermelho
em consequência do ataque ocorre redução da área de fotossíntese das folhas em virtude da destruição de células do mesófilo foliar, resultando em prejuízo ao desenvolvimento das plantas e redução da produção de café. Os danos causados por O. ilicis em folhas de cafeeiro demonstraram correlação negativa entre os diferentes níveis de infestação e a fotossíntese potencial, sendo que nos níveis 15, 30, 60 e 120 ácaros/folha, as taxas de fotossíntese foram reduzidas, em relação ao tratamento testemunha, em 37,2%, 38,7%, 46,0% e 50,1%, respectivamente, após sete dias da infestação inicial (Figura 4). Períodos de seca, com estiagem prolongada, são condições propícias ao desenvolvimento do ácaro, podendo causar desfolha das plantas (Figuras 5.1, 5.2 e 5.3), sendo que lavouras novas, em formação, terão seu desenvolvimento retardado.
Controle biológico
Em condições normais de clima e manejo da cultura do cafeeiro, o ácaro-vermelho se encontra em equilíbrio devido à presença de agentes de controle biológico. Entre os principais inimigos naturais do ácaro-praga estão minúsculas joaninhas de coloração
Produto Ingrediente ativo (grupo químico) Formulação Abamectin DVA 18 CE abamectina (avermectina) EC Abamectin Nortox abamectina (avermectina) EC Danimen 300 CE fenpropatrina (pieretróide) EC Envidor espirodiclofeno (cetoenol) SC Ethion 500 etiona (organofosforado) EC Ethiongel 500 etiona (organofosforado) GL Hostathion 400 BR triazofós (organofosforado) EC Lebaycid 500 fentiona (organofosforado) EC Mavrik fluvalinato (piretróide) EC Meothrin 300 fenpropatrina (piretróide) EC Microsulfan 800 PM enxofre (inorgânico) WP Sulficamp enxofre (inorgânico) WP Sumirody 300 fenpropatrina (piretróide) EC Superus abamectina (avermectina) EC Thiovit Jet enxofre (inorgânico) WG Vertimec 18 CE abamectina (avermectina) EC Fonte: Agrofit (2010).
escura, larvas de crisopídeos e principalmente os ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae, abundantes em cafeeiros. A preservação e o aumento dessas espécies de ácaros são importantes para a manutenção do equilíbrio biológico dos ácaros em cafeeiro.
Controle químico tradicional
Devido à localização da maioria dos ácaros desta espécie se dar na página superior das folhas, chuvas intensas e constantes podem exercer um controle mecânico, reduzindo sua população e propiciando às plantas condições de vegetação e recuperação, não sendo necessária a utilização de nenhuma outra medida de controle. O controle químico, se necessário, deve ser realizado através de pulverizações de acaricidas específicos ou inseticidas-acaricidas (Tabela 1), de preferência que sejam seletivos aos inimigos naturais, em especial aos ácaros Phytoseiidae, no sentido de conservar e mesmo propiciar seu aumento. O controle deve ser direcionado às plantas das reboleiras atacadas, com sintomas do ataque do ácaro (bronzeamento das folhas), abrangendo também uma faixa ao redor delas. As demais plantas, livres de ataque, não devem ser pulverizadas, para melhor preservação dos inimigos naturais no cafezal e menor custo de
Tabela 2 - Espécies vegetais utilizadas em testes de mortalidade para o ácaro Oligonychus ilicis Espécie Botânica Agave americana L. Annona squamosa L. Annona muricata L. Azadirachta indica A. Juss. Azadirachta indica A. Juss. Capsicum baccatum L. Chenopodium quinoa Willd
Nome Popular Piteira Fruta do conde Graviola Nim Nim Pimenta Cumari Quinoa
Família Annonaceae Annonaceae Annonaceae Meliaceae Meliaceae Solanaceae Chenopodiaceae
Parte Empregada Folha Folha Folha Folha Seemente Folha Folha
Figuras 5.1, 5.2 e 5.3 - Sequência de fotos mostrando inicialmente somente planta com sintoma (Figura 5.1), início de desfolhamento (Figura 5.2) e desfolhamento em função do ataque do ácaro expondo a frutificação ao sol (Figura 5.3)
Tabela 3 - Valores médios de número de O. ilicis vivos e porcentagem de eficiência, dos extratos vegetais estudados em laboratório e casa de vegetação, após três e cinco dias da aplicação (DAA), respectivamente Tratamento Nim (óleo/semente) Piteira (Folha) Graviola (Folha) Nim (Folha) Pimenta cumari (Folha) Fruta-do-Conde (Folha) Quinoa (Folha) Testemunha CV (%)
Laboratório (3 DAA) Casa de vegetação Média1 de Oligonychus ilicis/folha Eficiência (%) Média1 de Oligonychus ilicis em 10 folhas Eficiência (%) 0,00 a 100,0 4,8 a 98,4 0,00 a 100,0 12,6 a 95,7 0,25 a 96,3 45,0 a 84,7 1,75 b 74,0 18,2 a 93,8 2,00 b 70,3 26,4 a 91,0 4,00 c 40,7 30,6 a 89,6 4,00 c 40,7 46,8 a 84,1 6,75 c 294,8 b 26,63 53,49
1- Valores médios seguidos da mesma letra minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste Scott-Knott com um nível de significância de 5%.
controle. Alguns produtos utilizados no controle do bicho-mineiro, que também ocorre em períodos de seca prolongada, podem exercer controle do ácaro e neste caso sua infestação tende a passar despercebida. O uso em excesso de fungicidas cúpricos para o controle da ferrugem-do-cafeeiro e de alguns piretroides empregados no controle do bicho-mineiro também tem causado acentuado aumento no número de ácaros-vermelhos em plantas de cafeeiro, causando o que é conhecido como ressurgência, ou seja, acréscimo do número de ácaros, pela melhoria nas condições fisiológicas da planta provocadas pelo produto (trofobiose) ou pelo estímulo direto na reprodução do ácaro por dosagens subletais do produto (hormoligose). Os casos mais conhecidos de ressurgência são para espécies de ácaros pertencentes à família Tetranychidae, o que inclui o ácaro-vermelho.
Controle alternativo com extratos de plantas
De vários extratos aquosos testados a 4%, sete proporcionaram nível de mortalidade satisfatório para o ácaro O. ilicis (Tabela 2). A aplicação dos extratos foi feita em torre de Potter, a uma pressão de 15lb/pol2, com volume médio de aplicação 1,5±0,5mg/cm2 de superfície. Os extratos foram avaliados três dias após a aplicação quanto ao seu efeito tópico e residual. De acordo com os resultados, cinco extratos apresentaram diferença significativa em relação à testemunha. Esses extratos apresentaram eficiência superior a 60% de mortalidade para O. ilicis (Tabela 3). Os mesmos extratos também foram testados em casa de vegetação, em plantas de café envasadas e infestadas com o ácaro O. ilicis. Todos os extratos apresentaram diferença em relação à testemunha, com eficiência varian-
do de 84% a 98% (Tabela 3). O controle de pragas e doenças com produtos alternativos é bastante antigo, sendo que na Índia, há mais de dois mil anos os agricultores utilizavam folhas e sementes de Nim no combate a pragas. Ao utilizar defensivos alternativos, o agricultor estará protegendo a natureza, a si próprio, os consumidores de sua produção e suas próprias finanças, devido ao baixo custo C destas substâncias. Paulo Rebelles Reis, Patrícia de Pádua Marafeli e Marçal Pedro Neto, Epamig Sul de Minas/EcoCentro
Figura 4 - Efeito da densidade de Oligonychus ilicis por folha sobre a taxa de fotossíntese potencial, em função de diferentes níveis de infestação após sete dias da infestação inicial
Paulo Rebelles Reis alerta para as especificidades do controle de ácaro-vermelho
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Eventos
Aniversário com novidades
Cooplantio anuncia parcerias e alternativas para melhor atender aos associados durante cerimônia de comemoração de 20 anos de atuação
A
Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio) anunciou em março uma parceria com a empresa de armazenagem Kepler Weber para a comercialização de silos em Santa Catarina. O anúncio ocorreu durante evento de comemoração dos 20 anos de atuação da cooperativa. A troca de soja por tratores chineses, para facilitar a mecanização de produtores associados, o suporte para que os agricultores usem contêineres para o transporte da produção e a integração lavoura-pecuária também estiveram entre as ações anunciadas. O presidente da cooperativa, Daltro Benvenuti, explicou a importância da parceria com a Kepler. “Poderemos atingir um dos nossos objetivos para 2010, que é segregar a produção desde o campo até o consumidor final”, destacou. O processo vai servir, também, para facilitar a exportação de grãos da Cooplantio, pois dará maior segurança desde a origem do produto até o seu destino. “Após o produtor colher e armazenar a soja, o arroz ou a aveia em sua propriedade, a cooperativa irá embalar o grão em contêineres, aumentando o valor agregado
pela qualidade do produto”, explica. “Além disso, o envio por contêineres é mais barato, pois eles chegam cheios ao Brasil e voltam, em sua grande maioria, vazios”, frisa. Durante a apresentação a parceiros da Cooplantio e a autoridades convidadas, como o secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, João Carlos Machado, Benvenuti informou também que em março estava prevista a chegada dos primeiros tratores importados da China. “Com o mecanismo de troca por soja, o nosso associado vai ter acesso a máquinas com preços competitivos”, explica, acrescentando que isso vai permitir uma maior mecanização, com consequente incremento na produtividade. Desde janeiro, a Cooplantio tem apostado também na integração lavoura-pecuária através do plantio direto. “Criamos a Unidade de Produção Animal, que se soma às já existentes - agroquímicos, grãos, sementes, fertilizantes e produtos industrializados”, ressalta. A unidade de produtos industrializados foi inaugurada em 2009, com a comercialização de arroz das marcas Cobagelã e Artal. “Deveremos lançar uma marca própria durante o
25º Seminário Cooplantio, que será realizado de 30 de junho a 2 de julho em Gramado, na Serra gaúcha. Neste ano, o Seminário irá abordar a “Agrossustentabilidade e a Liderança Mundial”, finaliza. Ao final da coletiva à imprensa, o presidente da Cooplantio assinou um contrato com SAP, para a implementação do software de gestão na matriz em Eldorado do Sul e em C suas 44 filiais.
Daltro Benvenuti, presidente da Cooplantio, anunciou estratégias e iniciativas da cooperativa
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Capa Fotos Miguel F. Soria
Percevejos fitófagos, da família Pentatomidae, que até então ocorriam de forma ocasional e com importância secundária para o algodoeiro, passam a incidir com maior frequência nas lavouras de algodão brasileiras, principalmente onde se cultivam variedades de ciclo mais tardio, em sistemas de cultivo adensado/safrinha e/ou que recebem menos aplicações de inseticidas
N
os sistemas de produção de algodão com cultivares convencionais (não Bt), os percevejos pentatomídeos fitófagos, especialmente os dispersantes de culturas como a soja, são controlados indiretamente pelas aplicações de inseticidas de amplo espectro direcionadas para o controle de Anthonomus grandis Boh. 1843 (bicudo-do-algodoeiro) e Heliothis virescens (Fabr., 1781) (lagarta-da-maçã) (Torres & Ruberson, 2005). Em países como os Estados Unidos, Austrália e China, onde a tecnologia Bt é utilizada há mais de 11 anos, as populações dos percevejos das famílias Pentatomidae e Miridae aumentaram significativamente nas lavouras de algodoeiro Bt, devido à redução das aplicações de inseticidas para as pragasalvo dessa tecnologia (Greene et al., 2001; ICAC, 2007). Nas últimas safras, percevejos fitófagos da família Pentatomidae [Euschistus heros (Fabr., 1798) (percevejo-marrom), Edessa meditabunda (Fabr., 1794) (percevejo-asapreta-da-soja) e Nezara viridula (L., 1758) (percevejo-verde)] (Figura 1), insetos-praga de ocorrência ocasional e de importância secundária para o algodoeiro, têm incidido com maior frequência e intensidade nos algodoais brasileiros, principalmente onde se cultivam variedades de ciclo mais tardio, em sistemas de
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cultivo adensado/safrinha e/ou que recebem menos aplicações de inseticidas, especialmente daqueles de amplo espectro direcionados para o controle de H. virescens e A. grandis (Papa, 2006). Esse fato pode estar relacionado com o aumento do cultivo de variedades Bt, pela redução das aplicações de inseticidas para as pragas-alvo dessa tecnologia, e a dispersão dessas espécies de percevejos da soja para o algodoeiro, visto que essa leguminosa ocupa grande extensão de área cultivada nas principais regiões produtoras de algodão do país. Estima-se que o complexo de percevejos fitófagos da família Pentatomidae infestou mais de 1,4 milhão de hectares de lavouras cultivadas com algodoeiro no ano de 2009 nos Estados Unidos e foi responsável pela perda de mais de 24 mil toneladas de algodão, sendo considerado, nesse mesmo ano, o terceiro grupo de pragas que causou mais danos à cotonicultura norte-americana (Williams, 2009). Infestações de adultos de N. viridula e Euschistus servus (Say, 1832) (percevejo-marromnorte-americano) em plantas de algodoeiro, antes da emissão dos botões florais (fase vegetativa), com botões florais recém-emitidos (início da fase reprodutiva) e com botões florais desenvolvidos (pré-florescimento), não afetaram o crescimento e desenvolvimento das
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plantas, assim como a formação de maçãs. No entanto, infestações persistentes de ninfas de terceiro e quarto instares de N. viridula ocasionaram a abscisão de botões florais, afetando diretamente a produção (Willrich et al., 2004b). Danos ocasionados por adultos e ninfas dessa mesma espécie em maçãs consideradas pequenas (com acúmulo de 0 a 280 unidades de calor após a antese) podem induzir a abscisão dessas estruturas (Bommireddy et al., 2007). Quando o ataque ocorre em maçãs médias e/ou grandes (com acúmulo de aproximadamente 500 unidades de calor após a antese), permanecem nas plantas, porém têm o rendimento e a qualidade de fibra reduzidos (Willrich et al., 2004a; Bommireddy et al., 2007; Bacheler et al., 2006). Em maçãs que acumularam entre 165,2 e 672 unidades de calor após a antese (período equivalente a maçãs com idade entre sete dias e 21 dias) foi evidenciado que a frequência de danos ocasionados por adultos de E. servus foi maior. A exposição de maçãs com 13 dias de idade a uma ninfa de quinto instar de N. viridula reduziu a produção de algodão em caroço em 59%, quando comparada à produção de maçãs não infestadas (Greene et al., 1999). O dano de N. viridula pode afetar negativamente os valores de finura, força, uniformidade e comprimento da fibra, assim como aumentar
A)
B)
C)
D)
E)
F)
Figura 1 - Adulto (A) e ninfa (B) do percevejo-marrom (E. heros), adulto (C) e ninfa (D) do percevejo-asa-preta-da-soja (E. meditabunda) e adulto (E) e ninfa (F) do percevejo-verde (N. viridula) em algodoeiro
a quantidade de fibras descoloridas (manchadas) (Bommireddy et al., 2007). A porcentagem de maçãs podres por ocasião da infecção dos fitopatógenos Diplodia spp. e Fusarium spp., e de “carimãs” (capulhos com alguns ou todos os lóculos parcialmente abertos) foi significativamente maior na presenças de adultos de N. viridula (Willrich et al., 2004c). Todavia, a germinação de sementes provenientes de maçãs infestadas por essa espécie pode ser reduzida (Bommireddy et al., 2007). A dispersão do complexo de percevejos pentatomídeos fitófagos constituídos principalmente pelas espécies N. viridula, Acrosternum (Chinavia) hilare (Say, 1832) (percevejo-acrosterno ou percevejo-chinavia) e E. servus foi constatada de uma variedade de soja de ciclo de maturação tardio para variedades de algodoeiro Bt e não Bt, sem que houvesse diferenças significativas entre
as duas variedades de algodoeiro para o número de percevejos amostrados ao longo do tempo. Essa migração se estendeu do período de emissão das primeiras flores até o período de formação das primeiras maçãs (Bundy & Mcpherson, 2000). O monitoramento dos percevejos fitófagos da família Pentatomidae nas lavouras de algodão norte-americanas, para determinação do nível de controle, é realizado com o emprego de diferentes métodos de amostragem, sendo os métodos diretos da procura visual dos insetos na planta inteira ou em estruturas vegetativas e/ou reprodutivas da planta, da captura dos insetos com rede de varredura e da extração dos insetos do dossel das plantas com pano de batida (técnica denominada de “batida de pano”, amplamente recomendada para o monitoramento de percevejos-praga na cultura da soja), os mais comuns e utilizados
pelos cotonicultores norte-americanos (Greene et al, 2006). Outros métodos de amostragem ou monitoramento, como a avaliação dos sintomas de danos externos (manchas circulares escuras sobre o epicarpo) e/ou internos [sinais escuros de puncturas ou “verrugas” (calos celulares) sobre o mesocarpo], em maçãs não abortadas atacadas pelos percevejos, denominados de métodos indiretos, têm sido desenvolvidos e aprimorados nos Estados Unidos (Figura 2). (Greene & Herzog, 1999; Greene et al., 2000; Musser et al., 2007). De maneira geral, nos principais estados produtores de algodão dos Estados Unidos, o controle desses insetos nos algodoais é recomendado quando em média for encontrado um percevejo pentatomídeofitófago adulto por 1,83m (seis pés) de cultivo, através da metodologia com pano de batida, ou se forem encontrados, em média, 20% de
tabunda, N. viridula e E. heros, nas variedades isogênicas de algodoeiro, NuOpal (Bollgard) e DeltaOpal (não Bt), cultivadas sem o emprego de inseticidas, sendo que a metodologia de amostragem com pano de batida mostrou ser a mais eficiente e E. meditabunda a espécie mais abundante em relação às outras espécies do complexo de pentatomídeos fitófagos infestantes (Thomazoni, 2008). De maneira semelhante, Soria et al. (2009) detectaram pelo método de amostragem com pano de batida que os percevejos dispersantes da soja, E. heros, E. meditabunda e N. viridula, foram as principais espécies de pentatomídeos fitófagos dispersantes da soja que atacaram o algodoeiro NuOpal (Bollgard) e DeltaOpal (não Bt) cultivado sob condições de Cerrado. Dentre essas espécies, E. heros (percevejomarrom) e E. meditabunda (percevejo-asapreta-da-soja) foram as mais abundantes, sendo que E. meditabunda parece estar mais adaptada ao algodoeiro, uma vez que para essa espécie foi observado maior número de ninfas em relação ao número de adultos, evidenciando uma maior capacidade reprodutiva e/ou de adaptação. Normalmente, as áreas cultivadas com algodoeiro no Brasil são cercadas por lavouras de soja, o que pode favorecer a dispersão dos percevejos pentatomídeos fitófagos, da soja de final de ciclo para os algodoeiros em pleno desenvolvimento reprodutivo, causando prejuízos à produção de algodão. Em nossas condições de cultivo, o controle desses insetos é realizado sem critério algum quanto ao nível de controle (que ainda não está claro), empregando-se para isso, inseticidas de amplo espectro, não seletivos e altamente tóxicos.
Figura 2 - Injúrias do percevejo-marrom (E. heros) em maçã e capulho de algodoeiro: (A) puncturas externas escuras sobre o epicarpo, (B) puncturas internas e calos celulares sobre o mesocarpo, (C) fibras imaturas manchadas, (D) capulho sem injúria e (E) capulhos com fibras maduras manchadas e lóculos “carimãs”. A)
B)
C)
D)
maçãs com 2,46cm de diâmetro (consideradas de tamanho médio), apresentando sinais de danos internos, associado à constatação dos percevejos na área cultivada (Greene et al., 1998; 2001; 2006).
Realidade no Brasil
No Brasil, poucos estudos sobre o complexo de percevejos fitófagos em algodoeiro foram realizados. Cruz Junior (2004) detectou que após dez dias do início do florescimento do algodoeiro, N. viridula e P. guildinii podem causar queda significativa de maçãs e afetar a qualidade da fibra. O ataque de um adulto de E. heros confinado por cinco dias em maçãs das variedades Bt [NuOpal (Bollgard)] e não Bt (DeltaOpal) com aproximadamente 25mm de diâmetro, foi capaz de reduzir, respectivamente, em 13% e 24% a produção de algodão em caroço dessas maçãs (Soria et al., 2010). Na safra 2006/2007, em Dourados (MS), através da metodologia de amostragem com pano de batida e por procura visual na planta inteira, foi constatada a infestação de E. medi-
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Miguel Ferreira Soria e Paulo Eduardo Degrande, UFGD – Dourados, MS Antônio Ricardo Panizzi, Embrapa Soja – Londrina, PR
Fotos Miguel F. Soria
E)
Considerando que a adoção de variedades Bt pelos cotonicultores brasileiros ao longo das safras aumente, com a consequente diminuição do número de aplicações de inseticidas para as pragas-alvos da tecnologia, aliada à iniciativa de programas regionais de supressão do bicudo-do-algodoeiro, reduzindo ainda mais o número de aplicações, e à utilização de inseticidas mais seletivos e específicos, ou de espectro reduzido, para o controle das pragas não alvo das proteínas Cry expressas nas variedades Bt; o complexo de percevejos fitófagos, particularmente os da família Pentatomidae, poderá adquirir importância econômica primária para o algodoeiro cultivado no Brasil, assim como ocorreu na região Sudeste e no Meio-Sul dos Estados Unidos a partir de 1996, com o início do cultivo de variedades Bt e a erradicação do bicudo-do-algodoeiro (Roberts, 1999; Edge et al., 2001; Torres & Ruberson, 2005). Dessa maneira, mais estudos sobre aspectos bioecológicos e econômicos se fazem necessários para que estratégias de controle, seguindo os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e utilizando técnicas alternativas de monitoramento, como a avaliação de sintomas externos e internos de injúrias sobre maçãs, sejam consolidadas para os pentatomídeos-praga, especialmente para a espécie E. heros, nos sistemas de produção de algodão Bt e não C Bt do Cerrado brasileiro.
Adultos de percevejo-marrom (E. heros), uma das principais espécies de pentatomídeos fitófagos dispersantes da soja, atacando maçã de algodoeiro
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Informe
História de sucesso Ihara comemora 45 anos de atuação no mercado brasileiro de fabricação de defensivos agrícolas
N
o dia 18 de março de 2010, a Ihara completou 45 anos de atuação como fabricante de defensivos agrícolas no mercado brasileiro. A empresa nasceu a partir do desejo de empreendedores japoneses e brasileiros de oferecer à crescente agricultura do país soluções para enfrentar as dificuldades nas lavouras. A Ihara é hoje uma empresa brasileira com capital japonês, que oferece aos agricultores inovações tecnológicas na forma de novas moléculas de produtos químicos que se transformam em soluções eficientes para uma maior produtividade da agricultura brasileira. A empresa conta atualmente com mais de 400 colaboradores e sua sede localizase em Sorocaba (São Paulo), onde estão a fábrica (com rigoroso sistema de segurança ambiental), o escritório central e a estação experimental, reconhecida pelo Ministério da Agricultura para experimentos oficiais. A Ihara possui atuação em todo o território nacional e se consolidou nesses anos com um portfólio de produtos que inclui fungicidas,
herbicidas, inseticidas, nutrientes e produtos especiais. A presença da equipe Ihara no campo, junto com os agricultores, permite estabelecer uma relação de parceria para que em conjunto possam buscar as melhores soluções para os diversos problemas na lavoura. Esse real compromisso de contribuir para o progresso e a competitividade da agricultura brasileira, expresso na missão da empresa, norteia os diversos projetos a campo desenvolvidos pela equipe da Ihara com os produtores agrícolas, cooperativas e institutos de pesquisa. A Ihara é conhecida como uma das melhores empresas para se trabalhar e é uma referência na gestão de pessoas. Mantém trabalhos frequentes nas áreas de segurança ocupacional, transformando os colaboradores em parceiros na prevenção de acidentes e melhorias no ambiente de trabalho, reduzindo assim os acidentes. Um dos principais objetivos da empresa é promover a saúde, o bem-estar e a satisfação dos trabalhadores, tendo como base a filosofia oriental, que prega desde a definição clara de objetivos,
o sentido de empreendedorismo, a necessidade de desejar intensamente, alcançar os objetivos, ter espírito de luta, até enfrentar situações com coragem, além de altruísmo e lealdade, todos esses valores compõem o “Jeito Ihara de Ser”. A responsabilidade socioambiental é outro fator relevante para a empresa. A Ihara está alinhada com o conceito de sustentabilidade aplicada no dia a dia, com o apoio e participação dos colaboradores, que contribuem de maneira significativa na consolidação e melhorias dos aspectos ambientais da empresa. Esse compromisso com o meio ambiente se traduz também em projetos educativos, aplicados no campo para ajudar a conscientizar sobre a importância de preservar o meio ambiente e tornar o seu negócio cada vez mais sustentável. A comemoração desses 45 anos de história marca a continuidade de uma história de muito amor pela agricultura brasileira e a Ihara quer continuar oferecendo tecnologia e inovação aos produtores e cumprindo à altura C a nobreza de sua missão.
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Pragas
Golpe baixo
O
Conhecida por perfurar a planta na altura do colo e abrir uma galeria ascendente, que interrompe o transporte de seiva entre a parte aérea e a raiz, promovendo a sua morte, a lagarta-elasmo tem o poder de destruir lavouras inteiras. A praga reduz o estande das plantas em arroz, algodão, milho, soja, feijão e sorgo, principalmente em anos com ocorrência de períodos secos, logo após a emergência das culturas. O controle preventivo, através do tratamento de sementes, ainda é a melhor alternativa de contenção
agroecossistema utilizado no Centro-Oeste favorece a multiplicação de pragas, em virtude de ser um sistema onde a soja é a cultura principal, estabelecida na maioria das áreas, podendo ser rotacionada com milho ou algodão, ou mesmo plantada em anos sucessivos. Após a colheita, em algumas situações é estabelecida uma cultura de entressafra (milho ou sorgo safrinha, milheto, nabo forrageiro, girassol) ou então o solo permanece em pousio, coberto por grande diversidade de plantas daninhas. Essa situação faz com que existam hospedeiros para as pragas durante todo o ano, sendo que outros fatores como condições climáticas favoráveis (altas temperaturas no verão e inverno ameno), tornam a região ideal para a multiplicação dos insetos. A cultura da soja está sujeita ao ataque de vários insetos, desde a germinação até a colheita. Entre as principais pragas iniciais destaca-se a lagarta-elasmo, também chamada de broca-do-colo Elasmopalpus lignosellus Zeller (Lepidoptera: Pyralidae). Ocorre de forma generalizada, atacando várias culturas de importância econômicas. No Brasil, a praga é encontrada causando dano econômico em arroz, algodão, milho, soja e sorgo. A elasmo broqueia a região do colo, interrompendo o transporte de seiva entre a parte aérea e a raiz, promovendo a morte da planta, reduzindo o número de plantas
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e, consequentemente, a produção. Na soja, o ataque leva as plantas à murcha, nos períodos mais quentes do dia. Ao retirá-las, no solo normalmente encontram-se fios e um casulo, onde pode estar a lagarta, que também costuma se abrigar-se dentro da própria planta. A soja, quando atacada, em estádios V5-V6, pode desenvolver um tecido nesta região que provoca engrossamento do caule no ponto
atingido. Porém, estas plantas, quando em estádios reprodutivos, em períodos mais quentes, também murcham, diferenciandose das sadias, além de produzirem menos em função do dano da lagarta. Sintomas semelhantes são encontrados na cultura do feijão e algodão, em decorrência do ataque da praga. Em outras culturas como o milho, sorgo e cana-de-açúcar o ataque pode provocar o
A elasmo broqueia a região do colo, interrompendo o transporte de seiva entre a parte aérea e a raiz, promovendo a morte da planta e consequentemente a diminuição da produção
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sintoma de coração morto e, por atingir a região do meristema, mata a planta. Isto ocorre em função da interrupção da translocação de água e nutrientes e dano ao local de diferenciação das células de crescimento. Além do dano direto da lagarta-elasmo, promovendo a redução do número de plantas por área (estande) e consequentemente a limitação da produção, as alterações no estande influenciam em todo o manejo da cultura, pois espaços sem plantas favorecem a emergência de daninhas, que também podem interferir na produtividade da cultura, qualidade ou ainda por infestarem a lavoura próxima à colheita e assim dificultar a colheita mecanizada. As plantas daninhas, além de serem hospedeiras de pragas, podem infestar as culturas subsequentes.
Descrição e danos
A ocorrência de Elasmopalpus lignosellus é de maior frequência em culturas instaladas em solos arenosos e em períodos secos, após as primeiras chuvas (os chamados veranicos). Também tem sido problemática para cultivos em solos de primeiro ano, anteriormente ocupados por vegetação de cerrado, mesmo os localizados em áreas argilosas. Os adultos são pequenas mariposas (em torno de 20mm), apresentam coloração
Fotos Germison Vital Tomquelski
A lagarta-elasmo pode atacar em torno de três plantas de soja
escura e realizam as posturas nas folhas, bainhas, hastes das plantas hospedeiras ou no próprio solo, em período variável de acordo com as condições climáticas. Os ovos medem em torno de 0,6mm de comprimento e são colocados preferencialmente na ausência de luz (período noturno), podendo estar justapostos ou em grupos (Nakano et al, 2001). As lagartas, inicialmente, alimentamse das folhas, descendo em seguida para a região da planta, em contato com o solo, penetrando na planta na altura do colo, fa-
zendo uma galeria ascendente, que no caso do milho, por exemplo, termina destruindo o ponto de crescimento da planta (Cruz et al, 1995). As lagartas, quando desenvolvidas, medem em torno de 15mm de comprimento, possuindo coloração verde-azulada, sendo a cabeça pequena e de coloração marromescura. Cada lagarta pode atacar em torno de três plantas de soja. O ataque na cultura da soja inicia-se na base do caule rente ao solo e, após a sua entrada, constroem galerias mistas de terra e teia, que se comunicam com o exterior, abaixo da superfície do solo, no orifício da galeria, com seus excrementos. No fim do período larval, transformam-se em pupas, próximo à base da planta ou nas suas proximidades, no solo. A mariposa mede de 15mm a 25mm de envergadura, com as asas de coloração cinza (Gallo et al, 2002). O ciclo de E. lignosellus pode-se processar nas condições da região Centro-Oeste, em torno de 30 dias a 35 dias, sendo que a viabilidade da praga pode chegar a 70%. Esse é um fator importante a ser considerado pelo produtor no ataque nos diversos cultivos, quando a semeadura é realizada de forma escalonada de uma cultura única ou mesmo das diversas culturas que esteja
Danos provocados pela praga são evidentes e afetam a produtividade
realizando em sua área. Em anos agrícolas com ocorrência de períodos secos (veranicos), logo após a emergência das plantas, essa praga pode destruir lavouras inteiras. Em solos arenosos, o ataque normalmente é mais intenso. Diante disso, o histórico da área é fundamental para o manejo.
Manejo e controle
Os métodos de controle disponíveis para esta praga estão baseados principalmente no controle químico, mais especificamente no tratamento de sementes. Em período anterior à oferta no mercado de alguns inseticidas a alternativa era utilizar maior quantidade de sementes por área na semeadura, fato que acabava por inviabilizar a obtenção de um estande ideal, dentro da recomendação regional para exploração do máximo potencial genético de cada material. Já os inseticidas pulverizados logo após o aparecimento da praga não têm propiciado bom controle. Os melhores resultados encontrados nesta situação ocorrem com o uso de Clorpirifós. Entretanto, o recomendado é o controle preventivo, com o uso de inseticidas misturados à semente (tratamento de semente). O uso de defensivos agrícolas no tratamento de sementes confere à planta condições de
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defesa, o que possibilita maior potencial para o desenvolvimento inicial da cultura (Ceccon et al, 2004). O tratamento de sementes é uma modalidade de aplicação que apresenta algumas vantagens, como preservar parte dos inimigos naturais, não afetando sua dinâmica nas culturas. Porém, apesar de ser um método eficaz, deve ser salientado que mesmo com o melhor inseticida é esperado um certo nível de ataque da praga. Como o inseticida está presente nas plântulas há a necessidade de ataque (consumo por parte da lagarta) para que ocorra o controle. Alguns fatores têm levado o tratamento de sementes a ganhar maior importância na cultura da soja. O principal é a verificação de grande resposta em rendimento apenas com o ajuste regional da população final de plantas, observado em alguns cultivares. Isto ocorre em decorrência de se evitar possíveis problemas de acamamento. Além deste fato, uma maior população de plantas representa maior consumo de sementes, insumos (que a cada ano apresenta maior custo agregado) e dificulta a realização de boas aplicações de inseticidas e fungicidas para controle de ferrugem. Desta forma é fundamental a proteção do estande e práticas como o tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas tendem a prevenir possíveis perdas de plantas.
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Entre os inseticidas utilizados nos diversos ensaios realizados pela Fundação Chapadão, os que apresentam o ingrediente ativo fipronil em doses acima 25g.i.a.ha-1 apresentaram os melhores resultados na proteção do estande, na cultura da soja. Entretanto, o produtor deve utilizar as formulações apropriadas e recomendadas para o TS, pois somente conferem uma melhor eficiência de controle da praga em questão. Algumas formulações ainda proporcionam incrementos na produtividade. Hoje, além do tratamento de sementes promover o controle da praga, eliminando possíveis danos à cultura, tem se observado que o acréscimo de produtividade promovido por este tratamento é um fator importante na decisão de adoção e definição do tratamento de semente. Em observações, pode-se relatar que em algumas condições os inseticidas apresentam benefício adicional, proporcionando maior enraizamento da cultura, maior desenvolvimento das plantas e consequente maior produtividade. Neste aspecto já foram observados resultados de maior produtividade dos inseticidas thiomethoxam, (imidacloprido + tiodicarbe) e (piraclostrobin + thiophanate-methyl + fipronil). Deve-se salientar, ainda, que estes mesmos produtos apresentam efeito de controle sobre outras pragas, ajudando no manejo C de pragas da cultura. Germison Vital Tomquelski e Aguinaldo Freitas Leal, Fundação Chapadão
Germison fala do controle preventivo da lagartaelasmo, através do tratamento de sementes
Informe
Dia de Campo é sucesso de público agronegócio vivemos transformações diárias. No dia de campo isso não é diferente. Temos um trabalho de superação todos os dias e o evento da Copercampos apresenta o resultado disso. Tecnologia e conhecimento. É isso que todos vêm buscar aqui e acredito que saíram satisfeitos com o que viram nesta 15ª edição”, avaliou. C
O
15º Dia de Campo Copercampos reuniu público superior a dez mil pessoas, em março, em Campos Novos, Santa Catarina. Com visitantes da Argentina, Estados Unidos e Paraguai, o evento teve duração de três dias e se firma como
E
importante vitrine tecnológica para culturas como soja, milho e feijão. Para o presidente da Copercampos, Luiz Carlos Chiocca, o evento é reflexo do trabalho dos produtores e técnicos, que buscam incansavelmente a tecnologia. “No
Luiz Carlos Chiocca creditou o sucesso do evento ao trabalho de técnicos e produtores
Show Agrícola movimenta R$ 10 milhões
m sua 11ª edição o Show Agrícola, realizado em março, no município de Palma Sola, Santa Catarina, movimentou aproximadamente R$ 10 milhões. Os números de movimentação financeira foram divulgados pela
Claudiomar Crestani comemorou os resultados obtidos na 11ª edição do Show Agrícola
organização do evento. Claudiomar Crestani, presidente da empresa Sementes Crestani e mentor do Show Agrícola, mostrou-se satisfeito com
os resultados. “Agradeço a participação das milhares de pessoas que vieram prestigiar e conferir as novidades apresentadas pelos C expositores.”
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Soja e Milho Fotos Geraldo Papa
Vilão oculto
De hábito subterrâneo, corós podem alcançar até 40cm de profundidade. Alimentam-se das raízes de várias plantas, entre elas soja e milho, culturas em que causam prejuízos severos. O tratamento de sementes ou a semeadura com equipamentos adaptados para pulverização do sulco de plantio são ferramentas importantes no controle da praga, desde que associadas a outras estratégias de manejo
D
entre os insetos, o complexo de corós constitui-se em importantes pragas das culturas anuais no Brasil, sendo que os gêneros mais comuns são Phyllophaga, Cyclocephala, Diloboderus e Liogenys. O ataque em plantas de milho, pela alimentação das larvas, provoca enfraquecimento do sistema radicular e conseqüente tombamento e morte das plântulas. Os gêneros Diloboderus e Phyllophaga têm sido relatados em cereais de inverno no Rio Grande do Sul e este último também em milho safrinha na Região Centro-Oeste do Brasil. Em Mato Grosso do Sul, a ocorrência do gênero Liogenys foi constatada na cultura do milho por Ávila e Rumiatto (1997). No oeste do Paraná, a espécie Phyllophaga cuyabana foi relatada em soja por Oliveira et al. (1996). Os adultos do gênero Phyllophaga ocorrem em revoadas nos meses de novembro e dezembro, e as larvas a partir de dezembro até setembro, deslocando-se sob a superfície do solo em direção à base das plantas, das quais consomem as raízes até completar a fase larval ou causar a morte da planta hospedeira.
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A praga
Os corós, também conhecidos como “pao-de-galinha” e “bicho-bolo”, são larvas de besouros que apresentam hábito subterrâneo. Possuem cor branca-marfim, com a cabeça de coloração marrom escura, abdômen pouco piloso engrossado na parte distal e quando recolhidas apresentam forma de “C”. No solo vivem enterradas e ativamente passam de um ponto para outro, cavando galerias para se mover ou para buscar alimento, podendo alcançar até 40cm de profundidade. Alimenta-se das raízes de várias plantas preferindo as cultivadas
Os corós são larvas de besouros que apresentam hábito subterrâneo
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em solos mais úmidos e menos compactados, por facilitar a sua movimentação. Embora a semelhança das larvas possa levar a alguma confusão de identificação, as espécies são facilmente reconhecidas e distinguidas quanto a aspectos morfológicos e biológicos. As larvas podem ser distinguidas pelo tamanho se comparadas no mesmo instar, cor da cabeça, pela disposição dos pelos e dos espinhos na região do ultimo segmento abdominal, já os adultos (besouros) diferem no tamanho e na cor. A espécie Phyllophaga cuyabana, conhecido como coró-da-soja, é uma das mais estudadas com relação à biologia. Os ovos são esféricos, de cor esbranquiçada, medindo aproximadamente 2mm de comprimento. A oviposição ocorre no solo, de setembro até o final de dezembro. A fase larval também se desenvolve na terra, tendo três estádios de desenvolvimento até atingir a fase adulta. No final de julho as larvas diminuem suas atividades e começam a entrar em diapausa, formando uma câmara pupal de solo no interior da qual fica abrigada. Os adultos são escavadores, sendo os machos bastante ativos nas revoadas, que ocorrem depois das primeiras chuvas da primavera e
tem como principal finalidade a cópula. Somente os adultos saem à noite, em revoadas destinadas ao acasalamento. Após, retornam ao solo, permanecendo geralmente entre 5cm a 15cm de profundidade. O encontro é dado por intermédio de feromônio de atração que é liberado pelas fêmeas, ainda dentro das galerias. A cópula ocorre nas folhas das plantas e, depois disso, as fêmeas entram novamente nos orifícios subterrâneos para ovipositar e iniciar novo ciclo.
Danos Na soja Os danos são causados pelas larvas, principalmente a partir do 2º instar, quando consomem raízes. No início do desenvolvimento das plantas, uma larva com 1,5cm a 2cm de comprimento, para cada quatro plantas, reduz o volume de raízes em aproximadamente 35%, e uma larva de 3cm, no mesmo nível populacional, causa redução de 60% ou mais nas raízes, podendo causar a morte da plântula. Para a maioria das espécies, na fase adulta apenas a fêmea se alimenta, ingerindo folhas, sem, contudo, causar prejuízos à soja.
Importância das duas culturas
A
s culturas da soja e milho têm se destacado no agronegócio brasileiro, dentro de uma grande cadeia produtiva, que movimenta em torno de US$ 12 bilhões anualmente. A soja é o principal produto agrícola brasileiro, com importante participação nas exportações, que em 2008 foram de US$ 11,4 bilhões, representando 7% do total. No caso do milho, em 2008, as exportações chegaram a 6,4 milhões de toneladas, gerando receita No milho As larvas alimentam-se das raízes do milho, causando inicialmente murchamento, seguido por amarelecimento e morte da planta. O dano é mais acentuado quando o ataque ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura. O revolvimento do solo com implementos de discos tem proporcionado controle médio de cerca de 50% das larvas do coró. Todavia, esta medida somente é recomendável em áreas de plantio convencional. O controle químico, através do tratamento de sementes
Lavoura de soja apresentando reboleiras amareladas (à esquerda) devido ao ataque do coró e orifícios feitos pelos insetos (direita)
de US$ 1,18 bilhão. Ante a enorme escala de produção destas culturas, é esperado o surgimento de desafios fitossanitários, que necessitam ser equacionados para preservar a produtividade e a própria sustentabilidade destas culturas tão importantes para o Brasil e sua agricultura. Os insetos estão entre os principais fatores responsáveis pelo baixo índice de produtividade em algumas regiões, principalmente na cultura do milho. ou pulverização do sulco de plantio por ocasião da semeadura, tem-se caracterizado como alternativa promissora, especialmente nos sistemas conservacionistas como é o caso do plantio direto.
Controle/Manejo
O manejo de corós nas culturas de soja e milho deve ser baseado em um conjunto de medidas que, integradas, possam permitir a convivência das culturas com o inseto. Recomenda-se evitar o cultivo de milho ou outra cultura em safrinha nos talhões infestados por corós, pois essa prática aumentará a população na safra seguinte. Nas regiões propícias para a semeadura da soja em outubro, ou início de novembro, pode evitar a sincronia dos estádios mais suscetíveis da cultura, com os instares mais vorazes das larvas, diminuindo, o potencial de danos à lavoura. O controle químico só é viável quando a semeadura é feita na presença de larvas com 1cm ou mais. Entretanto, a proteção das plantas, em geral, é apenas inicial. Os adultos são mais sensíveis aos inseticidas que as larvas, mas seu controle por produtos químicos também é difícil, em função do seu
Fotos Geraldo Papa
Na região de Ilha Solteira (SP) os corós além de atacar culturas como pastagens, cana-de-açúcar, milho e soja, resolveram infestar um campo de futebol. O ataque foi tão intenso que grande parte do gramado morreu devido aos danos da praga
comportamento. A aração do solo, nas horas mais quentes do dia, com implementos que atingem maior profundidade, pode, em alguns casos, diminuir a população, através de dano mecânico às larvas, da sua exposição a aves e a outros predadores e do deslocamento de larvas em diapausa e pupas para camadas do solo mais superficiais. Porém, o revolvimento do solo em áreas de semeadura direta, única e exclusivamente com objetivo de controlar esse inseto, não é indicado. Qualquer medida que favoreça o desenvolvimento radicular da planta, como evitar a formação de camadas adensadas e correção da fertilidade e acidez do solo, aumentará também a tolerância da soja aos insetos rizófagos. A cultura de milho, muito diferentemente de várias outras como arroz, feijão, soja e sorgo, é cultivada com, relativamente, pequeno número de plantas por unidade de área. Em virtude disso, a contribuição de uma planta para a composição final dos rendimentos de grãos é maior, ou seja, a perda de plantas na cultura do milho, em relação a uma perda de igual número nos outros cultivos citados, causa prejuízo maior à produção, sendo assim, a manutenção do número de plantas até a colheita é extremamente desejável. Assim, qualquer medida que favoreça o desenvolvimento radicular da planta, como adubações com Ca, P e uso de estimulantes como giberelina, ácido indol butírico entre outros, aumentará o grau de tolerância aos insetos rizófagos. Não
é recomendado abandonar os sistemas de semeadura direta por causa dos corós, através de técnicas de preparo do solo. A medida mais racional é a rotação ou sucessão com culturas menos atacadas como mamona, algodão e girassol, pois a praga tende a diminuir com a rotação e o tempo entre as safras. Convém evitar o cultivo de soja sobre áreas de pastagens ou locais de produção de sementes destas gramíneas (especialmente Brachiaria), bem como, em áreas já infestadas indica-se evitar o cultivo de gramíneas no outono-inverno, como o milheto após a colheita de soja. O controle químico via tratamento de sementes ou a operação de semeadura com equipamentos adaptados para pulverização do
sulco de plantio são ferramentas importante no controle dos corós. Entretanto, devem ser empregadas em associação com outras medidas de manejo já relatadas anteriormente. Nas Tabelas 1 e 2 constam os inseticidas registrados para o controle de corós nas culturas de soja e milho, respectivamente.
TRATAMENTO DE SEMENTES
As sementes são componentes essenciais de qualquer sistema de cultivo e o sucesso na implantação de uma lavoura está no uso de material de alta qualidade. Assim, torna-se de suma importância que seja realizado o tratamento de sementes, para protegê-las nas fases iniciais do seu desenvolvimento, originando
Figura 3 - Comparação entre pulverização em área total, pulverização do sulco de plantio e tratamento de sementes, quanto a área tratada com inseticida
Geraldo Papa (centro), Fernando Celoto (esquerda) e William Takao (direita) falam dos prejuízos causados por corós nas lavouras de soja e milho
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com isso plantas vigorosas e produtivas. O controle de pragas iniciais por meio de tratamento de sementes com inseticidas tem sido usado no Brasil com grande benefício para o agronegócio. Consiste na escolha correta de um inseticida para o controle de pragas subterrâneas e daquelas que atacam a planta logo após a emergência. Uma vantagem do tratamento de sementes, é que o inseticida permanece confinado em uma área ao redor de 55m2 em relação a um hectare (10.000 m2), ou seja, apenas 0,55% da área (Figura 3). Além disso, os defensivos modernos utilizados atualmente, quando comparados com os grupos mais antigos, apresentam menor impacto ambiental, menor risco à saúde humana, são mais seletivos a inimigos naturais e protegem as plântulas na sua fase inicial. Existe ainda a possibilidade de enriquecimento das sementes com micronutrientes e polímeros. Não se pode esquecer que a semente é um ser vivo e, que muitas vezes, é a via mais fácil e cômoda de se aplicar produtos de proteção, fertilizantes, inoculantes, dentre outros. Problemas de germinação e redução da população de plantas são, muitas vezes, causadas por excesso de produtos na semen-
PULVERIZAÇÃO DO SULCO DE PLANTIO
A
lém do tratamento de sementes, a aplicação de inseticidas via pulverização do sulco de plantio, com equipamento adaptado à semeadora, é outra opção de controle, podendo ser empregada juntamente com o tratamento de sementes ou em substituição. Para aplicação no sulco, os defensivos são pulverizados na linha de plantio em um volume de calda entre 50L/ha e 80L/ha,
utilizando um pulverizador adaptado à semeadora. Neste método, o defensivo é colocado antes do fechamento do sulco, na mesma linha de plantio onde a semente é depositada. Existem no mercado diversos tipos de equipamentos, que podem ser adaptados em qualquer tipo de semeadora. São equipados com ponta leque 8002, sendo que a faixa de aplicação é de aproximadamente 5cm.
Tabela 1 - Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, para o controle de Phyllophaga cuyabana, na cultura da soja Nome técnico Fipronil Imidacloprido Clotianidina piraclostrobina + tiofanato-metílico + fipronil
Dose do ingrediente ativo 25,0 g i.a./100 kg de sementes 65 - 130 g i.a./100 kg de sementes 39,1 g i.a./100 kg de sementes 28,7 g i.a./ha
te. Não há uma regra. Deve-se usar o bom senso e estudar as possibilidades de aplicação alternativa de produtos através do adubo no C plantio, via foliar.
Fonte: Agrofit, 2010.
Geraldo Papa, Fernando Juari Celoto e William Takao, Unesp
Nome técnico Fipronil Clotianidina Fonte: Agrofit, 2010.
Tabela 2 - Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, para o controle de Phyllophaga cuyabana, na cultura do milho Dose p.c 10 – 12,5 g i.a./ha 136,8 g i.a./100 kg de sementes
Trigo
Para o Cerrado
Com o término do período de chuvas e o início da época de semeadura da safra de inverno chega o momento de escolher as variedades de trigo recomendadas para a região do Cerrado. Destacam-se as cultivares da Embrapa, presentes em aproximadamente 90% da área semeada no Brasil central
O
final do período das chuvas na região do Cerrado do Brasil central marca também o início da época de semeadura da safra de inverno (cultivos irrigados), que tem na cultura do trigo uma das opções mais competitivas. O crescimento da triticultura na região está diretamente relacionado à produtividade e à qualidade industrial, consequência da base tecnológica desenvolvida pela Embrapa com a colaboração de outros órgãos de pesquisa que atuam no Cerrado. Para dar continuidade à expansão da triticultura na região, órgãos de pesquisa, extensão e cooperativas, liderados pela Embrapa, definiram na III Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale as informações técnicas para a cultura de trigo irrigado na região do Brasil Central, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso e no Distrito Federal, que deverão ser utilizadas na safra de 2010. Dentre as informações técnicas, destacamos as cultivares da Embrapa, época de semeadura e algumas práticas culturais, que resumimos a seguir e que julgamos de maior importância para o cultivo de trigo irrigado no
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Cerrado brasileiro. A semeadura de trigo irrigado deverá ser antecedida por um planejamento que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos básicos para que o empreendimento chegue a bom termo. Neste planejamento, deve-se visar à utilização do conjunto de técnicas que levem a lavoura a ter bom potencial de produção e qualidade. As cultivares da Embrapa, que atualmente ocupam 90% da área semeada com trigo irrigado no Cerrado brasileiro, estão relacionadas, a seguir, por Estado e tipo de solo.
Minas Gerais
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 400m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável BRS 264 BRS 207 BRS 254
Goiás e Distrito Federal
Embrapa 22 BRS 210 Embrapa 42
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 500m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável
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Embrapa 22 BRS 210 BRS 264
BRS 207 BRS 254 Embrapa 42
Bahia
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável EMBRAPA 221 BRS 2541
EMBRAPA 421 BRS 2641
1 Indicada apenas para a região oeste do Estado.
Mato Grosso
Para cultivo com irrigação, em altitudes acima de 600m, solos com boa fertilidade e sem alumínio trocável Embrapa 22 BRS 207 BRS 254
BRS 254
Embrapa 42 BRS 210 BRS 264
É a cultivar mais demandada pelos triticultores do Brasil central. Cultivar de alto potencial produtivo e excelente qualidade industrial. Foi lançada em 2006 pelo programa de melhoramento genético de trigo da Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo. Nas safras de 2008 e 2009 foram observados rendimentos
de até 6,5 toneladas de grãos por hectare, em lavouras com boa fertilidade do solo, na região tritícola dos estados de Minas Gerais e Goiás. Para alcançar altas produtividades é indicada a utilização de redutor de crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4L/ha. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio se não for utilizado o redutor de crescimento. A BRS 254 apresenta em média uma força geral do glúten (W) de 350x10-4J (obtido pela alveografia), sendo considerado trigo de glúten mais forte dos materiais que estão sendo indicados para o Brasil central; apresenta uma estabilidade média de 20 minutos e um rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de 62,2% (base 14% de umidade) em média. Tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto.
BRS 264
É a segunda cultivar mais demandada pelos triticultores do Brasil central. Também foi lançada em 2006 pelo programa de melhoramento genético de trigo da Embrapa Cerrados e Embrapa Trigo. É a cultivar mais precoce das indicadas para o Cerrado. Seu ciclo da emergência à maturação é de 110 dias, enquanto as outras cultivares apresentam ciclo em torno de 120 dias. A BRS 264 não tolera chuvas no estádio de maturação final dos grãos, por isto a semeadura deve ser programada de modo que a colheita seja realizada na época de menor risco de chuvas. Possui elevado potencial de produtividade. Nas safras de 2008 e 2009 foram observadas várias lavouras com rendimentos de grãos superiores a 7,2 toneladas de grãos por hectare nas regiões tritícolas do Brasil central. Como na Fazenda Sossego, de propriedade de Silvio Ribas, em São João da Aliança, Goiás, onde foram colhidos 7.620kg/ ha de grãos, em uma área de 120 hectares irrigada por pivô central. Para se alcançar alta produtividade, deve-se utilizar o redutor de
A semeadura de trigo irrigado deverá ser antecedida por um planejamento que estruture a lavoura com todos os pré-requisitos básicos para que o empreendimento chegue a bom termo
crescimento (trinexapaque-etílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4L/ha. A cultivar BRS 264 é classificada como Trigo Pão, tem uma Força geral do glúten (W) média de 250x10-4 Joules variando de 220 a 314x10-4 Joules e uma estabilidade média acima de 15 minutos. Apresenta rendimento industrial (dados de moinho experimental Brabender) de 66,4% (base 14% de umidade) em média. Também, tem tendência de apresentar peso do hectolitro alto. Esta cultivar tem boa aceitação por parte da indústria moageira, que produz farinha destinada à produção de macarrão, principalmente em função da coloração da farinha.
Embrapa 22
É uma das cultivares mais antigas. Está até hoje no mercado pelas suas excelentes características de qualidade industrial e produtividade. Embrapa 22 é classificada como trigo melhorador, em média tem uma alta força de glúten (W) superior a 350 10-4 Joules e uma estabilidade acima de 16 minutos. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é de seis mil kg/ha de grãos. Para ser alcançada esta produtividade, deve-se utilizar
o redutor de crescimento (trinexapaqueetílico) na fase de elongação da cultura (com o primeiro nó visível) na dose de 0,4L/ha. Tem baixa tolerância ao acamamento e alta capacidade de perfilhamento. Por causa da tendência para acamar, deve haver limitação no uso de nitrogênio, se não for utilizado o redutor de crescimento.
Embrapa 42
Cultivar de excelente qualidade industrial e bom potencial de produtividade. O potencial de produção de grãos dessa cultivar, em lavouras comerciais nas regiões tritícolas do Cerrado, é de 5,7 mil kg/ha de grãos. Possui força do glúten (W) média de 300x10-4 Joules, estabilidade média de 15 minutos, considerado um trigo de glúten “balanceado”. Com essas características a cultivar Embrapa 42 é classificada comercialmente como Trigo Melhorador. Cultivar com boa tolerância ao acamamento. Pela sua menor capacidade de perfilhamento, deve ser cultivada com uma densidade maior de plantas do que as outras cultivares indicadas para o Brasil central. Nos últimos anos tem mostrado grande suscetibilidade geral às doenças, especialmente às manchas foliares.
Trigo
O que plantar Produtor de trigo do Rio Grande do Sul poderá escolher entre 50 cultivares as que mais se adaptam à região onde pretende implantar sua lavoura
A
lavoura de trigo continua sendo a principal cultura para produção de grãos no inverno, no estado do Rio Grande do Sul. Nos últimos 40 anos, o rendimento de grãos da cultura passou de 800kg/ha para 2 mil kg/ha. As cultivares de trigo chamadas “modernas” possuem porte mais baixo e, por isso, têm revelado grande redução na incidência de acamamento, permitindo o uso de maiores doses de nitrogênio. A adição de novos genes de resistência às doenças, às pragas e aos estresses causados pelo ambiente adverso, associada ao uso de químicos (por exemplo, fungicidas e inseticidas) mais eficientes, tem proporcionado aumento no potencial de rendimento de grãos, que hoje facilmente ultrapassa os 2 mil kg/ha que eram alcançados nas melhores lavouras de 20 anos atrás. Nas regiões do Planalto e Serra do Rio Grande do Sul, diversos produtores têm obtido rendimentos superiores a 4 mil kg/ha, e alguns ultrapassando os 5 mil kg/ ha, sob ambiente de chuva natural. Para o aumento do rendimento contribuiu, também, a maior eficiência da planta de trigo em produzir grãos, o que pode ser medido
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pelo aumento do índice de colheita, que mede o quanto a planta produz de grãos em relação à matéria seca total (grão + palha). Enquanto nas cultivares antigas, de porte alto, a produção de grãos representa aproximadamente 30% da produção de matéria seca total da planta, nas cultivares modernas esse índice tem superado os 40%. Nos tipos antigos, chamados “palhudos”, a planta gastava uma parcela significativa de energia para produzir palha, colmos e folhas, em detrimento dos grãos. As cultivares atualmente em uso pelos triticultores apro-
Para maior segurança, indicam-se a diversificação de cultivares e o escalonamento da semeadura
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veitam melhor os nutrientes disponíveis no solo para transformá-los em grãos. Assim, os trigos modernos respondem à tecnologia de produção empregada, com maior produção de grãos e menor quantidade de palha. A pesquisa vem trabalhando para melhorar ainda mais essa situação. Para o ano de 2010, a área a ser cultivada no Rio Grande do Sul deverá repetir a de 2009, que foi de 880 mil hectares, e o produtor poderá escolher qual a cultivar mais indicada para sua região, entre as 50 indicadas pelos obtentores/criadores dessas cultivares (ver mais detalhes em http:// www.cnpt.embrapa.br). A indicação da disponibilidade de sementes das cultivares pode ser encontrada em http://www.apassul.com.br. Entre as cultivares indicadas para este ano (Tabela 1), duas são da classe comercial “Melhorador”, 21 da classe “Pão” e 27 da classe “Brando”. Quanto ao ciclo, há maior disponibilidade de cultivares de ciclo médio (28), enquanto 20 são de ciclo precoce e somente duas são de ciclo tardio. Para semeadura, continua a indicação de 300 sementes/m² para o início da época indicada e 330 sementes/m² no
Tabela 1 - Informações quanto à classe comercial, ao ciclo e às regiões tritícolas de adaptação das cultivares de trigo indicadas para cultivo no Rio Grande do Sul, segundo os obtentores, em 2010 Cultivar Abalone Alcover BR 23 BRS 1771 BRS 179 BRS 194 BRS 208 BRS 276 BRS 277 BRS 296 BRS Buriti BRS Camboatá BRS Camboim BRS Guabiju BRS Guamirim BRS Louro BRS Tarumã BRS Timbaúva BRS Umbu Campeiro CD 105 CD 110 CD 111 CD 113 CD 114
Classe Comercial Pão Pão Brando Brando Brando Pão Pão Pão Brando Pão Brando Pão Brando Pão Pão Brando Pão Pão Brando Brando Brando Pão Melhorador Pão Pão
Ciclo Médio Médio Médio Médio Médio Médio Médio Precoce Tardio Precoce Precoce Precoce Precoce Precoce Precoce Precoce Precoce Precoce Tardio Médio Precoce Médio Precoce Precoce Precoce
Regiões tritícolas de adaptação 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2
Cultivar CD 115 CD 117 CD 119 CD 120 Fepagro 15 Fundacep 30 Fundacep 40 Fundacep 47 Fundacep 50 Fundacep 51 Fundacep 52 Fundacep 300 Fundacep Campo Real Fundacep Cristalino Fundacep Horizonte Fundacep Nova Era Fundacep Raízes Marfim Ônix Pampeano Quartzo RS 1-Fênix Safira Supera Vaqueano
Classe Comercial Brando Pão Brando Brando Brando Brando Brando Brando Brando Brando Brando Brando Brando Melhorador Pão Brando Brando Pão Pão Brando Pão Brando Pão Pão Brando
Ciclo Médio Precoce Médio Médio Médio Médio Precoce Médio Médio Médio Precoce Médio Médio Precoce Médio Médio Médio Precoce Médio Médio Médio Médio Médio Precoce Médio
Regiões tritícolas de adaptação 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2 1e2
1 Cultivares também adaptadas às condições de solos com potencial para cultivo de arroz irrigado.
final da época de semeadura. Todas as cultivares foram indicadas para cultivo nas regiões 1 e 2 do Estado (Tabela 1 e Figura 1). No entanto, a época ideal para Figura 1 - Regiões homogêneas de adaptação de cultivares de trigo no Rio Grande do Sul
semeadura varia de uma região para outra, começando em maio na região das Missões, passando pela época preferencial em junho no Planalto Médio e finalizando a semeadura em julho na Serra gaúcha. Para maior segurança das lavouras, indica-se a diversificação de cultivares e o escalonamento da semeadura como estratégia de redução de riscos. A escolha de cultivares com qualidade tecnológica semelhante (mesma textura de grãos e força de glúten semelhante) dará maior poder de barganha C na hora da comercialização. Pedro Luiz Scheeren, Embrapa Trigo
Fonte: Instrução Normativa n 3, de 14 de outubro de 2008 e Instrução Normativa n 58 de 19 de novembro de 2008 o
o
Scheeren observa que cultivares com qualidade tecnológica aumentam o poder de barganha na comercialização
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Indica-se a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, dando-se preferência ao mês de maio. Nesta época, o trigo encontra condições favoráveis para um bom desenvolvimento, sendo favorecido por temperaturas mais baixas nos meses de maio, junho e julho
BRS 207
Uma das principais características da cultivar BRS 207 é o seu alto potencial de produção de grão. Nas safras de 2007 e 2008 foram observados rendimentos de até 7,3 toneladas de grãos por hectare, em lavouras com boa fertilidade do solo, localizadas nas regiões tritícolas de Goiás e Minas Gerais. BRS 207 é classificada como Trigo Pão. No entanto, os moinhos da região do Brasil Central classificam a cultivar BRS 207 como Trigo Brando. Sugerem utilizar a farinha originada dessa cultivar, preferencialmente na fabricação de massas alimentícias (pela coloração da farinha), biscoitos, e bolachas. Das cultivares indicadas para o Cerrado, é a que possui o ciclo, da emergência à maturação, mais longo, em torno de 127 dias. Possui grão de coloração clara, por isto não tolera chuvas na maturação e na colheita. Para ser colhida no período seco deve ser semeada no início da época de semeadura. Tem alta tolerância ao acamamento.
BRS 210
Está sendo pouco utilizada pelos triticultores da região do Cerrado, que têm dado preferência para outras cultivares indicadas. Cultivar com bom potencial de produção e boa qualidade industrial, classificada como trigo pão. Em lavouras comerciais tem apresentado uma produtividade em torno de 5,5 mil kg/ha de grãos. Quanto às doenças, não tem apresentado bom desempenho, principalmente com relação a brusone (Magnaporthe grisea). Tem alta tolerância ao acamamento.
ÉPOCA DE SEMEADURA
Indica-se a semeadura de 10 de abril a 31 de maio, dando-se preferência ao mês de maio. Nesta época, o trigo encontra condições favoráveis para um bom desenvolvimento, sendo favorecido por temperaturas mais baixas nos meses de maio, junho e julho. Como as cultivares BRS 207 e BRS 210 possuem ciclo maior, em torno de 130 dias, sugere-se que a semeadura seja realizada no início da época indicada.
Tabela 1 - Cultivares de trigo irrigado da Embrapa indicadas para o Brasil Central, estados onde são indicadas, ciclo, altura, reação ao acamamento e classe comercial Cultivar BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 264 Embrapa 22 Embrapa 42
Estado MG, GO, DF MG, GO, DF MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA MG, GO, DF, MT, BA
Ciclo Médio Médio Precoce Precoce Precoce Precoce
Altura Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa
Acamamento1 R MR MR MR MR R
Classe Pão Pão Melhorador Pão Melhorador Melhorador
Semeaduras no mês de abril correm maior risco da incidência de brusone e das manchas foliares (helmintosporioses). Por outro lado, semeaduras atrasadas correm o risco de redução da produtividade devido a uma combinação entre temperatura e fotoperíodo desfavorável, além do risco das indesejáveis chuvas na colheita, com consequente perda de qualidade dos grãos.
PRÁTICAS CULTURAIS Densidade, espaçamento e profundidade de semeadura
Respeitando-se os espaçamentos (17cm 20cm entrelinhas), deve-se obter cerca de 300 plantas nascidas por m2 a 350 plantas nascidas por m2, sendo que densidades menores que 300 plantas nascidas por m2 podem afetar a produtividade e maiores que 350 plantas por m2 podem levar ao acamamento com consequente perda de produtividade e qualidade dos grãos. A profundidade de semeadura deve ficar em torno de 5cm. Deve-se dar preferência à semeadura em linha, por distribuir mais uniformemente as sementes, proporcionar maior eficiência na utilização de fertilizantes e menor possibilidade de danos às plantas, quando da utilização C de herbicidas em pré-emergência. Julio César Albrecht, Embrapa Cerrados Márcio Só e Silva, Embrapa Trigo
1 R = Resistente; MR = Moderadamente resistente.
Tabela 2 - Cultivares de trigo da Embrapa indicadas para o Brasil Central, com sua reação ao crestamento e às doenças fúngicas Cultivar BRS 207 BRS 210 BRS 254 BRS 264 Embrapa 22 Embrapa 42
Crestamento MS MS S MS MS MS
Oídio S MR S AS AS S
Ferrugem Folha S MR S S S S
Colmo R S S S
Helmintosporiose
Brusone
MS S MS S S S
S S S S S S
Obs.: AS = Altamente suscetível; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível; MR = Moderadamente resistente; R = resistente; - = Sem informação.
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Albrecht analisa melhor momento de escolher as variedades de trigo recomendadas para o Cerrado
Coluna ANPII
Histórico da inoculação O Brasil desfruta de posição invejável, em relação a outros países, no que se refere ao uso de nitrogênio biológico em leguminosas. Este cenário favorável é fruto de muito trabalho, parcerias e investimento em pesquisas
O
Brasil é admirado mundialmente por ser grande usuário de nitrogênio biológico em leguminosas. O segundo produtor mundial de soja, com mais de 20 milhões de hectares plantados com esta cultura, utiliza unicamente o nitrogênio biológico para o aporte deste nutriente com praticamente zero de fertilizante químico nitrogenado. Para o agricultor a redução de custos é de grande monta e para o país resulta em uma economia estimada em mais de quatro bilhões de dólares. Mas as vantagens
microbiológicos, desenvolvendo inoculantes de qualidade; • agricultores com espírito inovador, que aceitam insumos modernos em suas lavouras. Se estes fatores tivessem atuado isoladamente, talvez o sucesso não fosse tão grande como é. Em 1985, por inspiração de João Rui Jardim Freire, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Secretaria de Agricultura daquele estado, foi criada, de maneira informal, uma rede de laboratórios de pesquisa e das empresas
(FBN) no Brasil? Todo o arcabouço existente hoje, como seleção e recomendação de estirpes para uso em inoculantes, novos padrões de qualidade de inoculantes, pesquisas em rede nacional, sugestões de legislação e protocolos de experimentação agrícola, tem saído das reuniões do grupo de pesquisadores e de empresas constituído no mais categorizado fórum sobre este assunto no Brasil. Também participam, de forma ativa destas reuniões, pesquisadores e empresas da Argentina e do Uruguai porque estes dois países exportam inoculantes para o Brasil.
O Brasil é admirado mundialmente por ser grande usuário de nitrogênio biológico em leguminosas desta tecnologia vão além: toda a sociedade acaba beneficiada pelo baixíssimo custo energético para produzir e transportar o inoculante em comparação com o nitrogênio químico. Mas quais fatores levaram o Brasil a desfrutar desta invejável posição mundial em relação a outros países? Analisando, isoladamente, poderemos listar alguns como: • a inexistência, nos solos brasileiros, da bactéria específica para nodular a soja, o que tornou o uso de inoculante prática obrigatória nos primeiros anos de plantio tanto no Sul como na região central do Brasil; • o envolvimento de pesquisadores em microbiologia, comprometidos com a área agrícola ao desenvolverem produtos em laboratório para uso dos agricultores. Iniciando pela Bahia, a pesquisa teve maior impulso em São Paulo e depois se firmou no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e finalmente em Planaltina, no Brasil central; • a existência de um grande mercado para estes produtos e de empresários que não hesitaram em investir em qualidade de
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produtoras de inoculante para coordenar os trabalhos em torno de eixos comuns de desenvolvimento. A primeira reunião foi realizada em Curitiba onde acabaram traçadas as linhas mestras de atuação. Inicialmente o nome dado a esta parceria foi de Rede de Laboratórios Recomendadores de Estirpes (Relare). A partir daí, inicialmente a cada ano e depois a cada dois anos, são realizadas reuniões de forma ininterrupta. Na primeira reunião havia 12 pessoas e a última realizada em 2008, em sua XIV versão, contou com aproximadamente 80 participantes. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através do setor de fiscalização, passou a participar das reuniões contribuindo para a evolução da entidade. Em 1998, por sugestão de técnicos do próprio Ministério, a entidade criou personalidade jurídica e passou a chamar-se de Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão da Tecnologia de Inoculantes Microbiológicos de Interesse Agrícola, mantendo-se a sigla Relare. Mas qual foi a contribuição da Relare para o sucesso da Fixação Biológica de Nitrogênio
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Um dos grandes lances da Relare foi a proposta da criação de um Fundo de Apoio à Pesquisa. Prontamente encampada pela ANPII, a ideia resultou na criação do FAPANPII (um fundo mantido pelo aporte, com respaldo estatutário da Associação, de uma quantia sobre cada dose de inoculante vendido no Brasil). Esse fundo tem financiado várias pesquisas, ajudou na manutenção do Banco de Estirpes onde são mantidas, catalogadas e distribuídas as estirpes de Rhizobium e Bradyrhizobium, sendo centro de referência e laboratório oficial de análises dos inoculantes comercializados no país. O fundo também vem financiando a reunião da Relare e um plano de difusão do uso de inoculantes. Desta forma o Brasil conta, nesta área, com um fórum privilegiado que contribui pela excelência de suas discussões e resoluções - com o próprio Mapa - que conta, em uma reunião, com sugestões das pessoas mais capacitadas do país na área de Fixação C Biológica do Nitrogênio (FBN).
Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
O
Nanotecnologia e alimentos
caminho dos alimentos, do campo à mesa, tem se sofisticado cada vez mais. As inovações tecnológicas permeiam, progressivamente, o processamento dos alimentos. Conforme a discussão sobre biotecnologia vai parecendo coisa da era jurássica, a nanotecnologia vai assumindo papel de protagonista. Antes de prosseguir, o que é mesmo nanotecnologia? É a tecnologia que lida com estruturas atômicas da ordem do bilionésimo de metro. Na chamada “escala nano”, as partículas de determinada substância ou tem suas propriedades originais fortemente acentuadas, ou ganham novas propriedades, inexistentes na escala a que estamos acostumados. Estas propriedades podem ser úteis para modificar sabor, textura ou melhorar a qualidade dos alimentos.
que tornam a alimentação prazerosa, eliminando os fatores de risco à saúde, melhorando a qualidade de vida do cidadão. A nanotecnologia está presente na engenharia de materiais, na física, na eletrônica, na medicina e, particularmente, na indústria de cosméticos, onde tem apresentado um avanço espetacular. Agora é a vez da indústria de alimentos, que está mergulhando de cabeça na nanotecnologia. Por exemplo, é possível aumentar a durabilidade dos alimentos, com técnicas nanotecnológicas, criando “nanoembalagens”, que protegem o alimento de ameaças externas – microrganismos, por exemplo. Também é possível incrementar o teor de nutrientes, como vitaminas ou sais minerais, melhorar a aparência dos alimentos, a textura ou outra propriedade plástica, nutricional ou a sua inocuidade.
atuam nos órgãos sensoriais. Uma destas empresas é a Firmenich (http://www.firmenich.com), outra é a Givaudan (http:// www.givaudan.com.br), ambas suíças, que desenvolveram aromas e fragrâncias, que podem ser incorporados a alimentos e cosméticos. A Gevaudan também desenvolveu receptores eletrônicos similares às células da língua para testar os novos aromas. A Embrapa desenvolveu a “língua eletrônica” que também permite efetuar muitos testes, antes possíveis apenas com as papilas gustativas humanas. Assim, a nanotecnologia, como já ocorre com a biotecnologia, cria novas oportunidades, permitindo a horizontalização do mercado, com grandes vantagens para a indústria e para os consumidores. Outra linha de negócios está associada aos consumidores que possuem alergia
O rápido crescimento da nanotecnologia provém das exigências cada vez maiores, tanto dos consumidores quanto das autoridades reguladoras, em relação à qualidade dos alimentos Nutrição e saúde
Imaginemos duas doenças crônicas comuns: diabetes e hipertensão. O diabético tem restrições no consumo de açúcares, e o hipertenso no consumo de sal, tornando a vida destas pessoas literalmente “sem sal e sem açúcar”, pois a retiradas destas substâncias modifica drasticamente o sabor e a consistência dos alimentos. Mas, sob a égide da nanotecnologia, é preciso colocar o verbo no passado: tornavam! Uma das características da nanotecnologia é trocar ingredientes sem alterar o sabor de forma perceptível. Por esta razão está sendo cunhada a expressão nanonutrientes, para definir as novas substâncias que passam a fazer parte da composição dos alimentos. Novos sabores, aromas e odores, tornados possíveis pela nanotecnologia, produzem nos órgãos sensoriais (papilas gustativas ou células olfativas) o mesmo efeito dos condimentos tradicionais. Portanto, com o uso de técnicas nanotecnológicas, é possível reduzir os teores de sal ou de açúcar dos alimentos, sem, no entanto, alterar as demais propriedades, em especial o sabor. Desta forma, os alimentos mantêm seu poder nutritivo e demais características
O principal impulso para o rápido crescimento da nanotecnologia provém das exigências cada vez maiores, tanto dos consumidores quanto das autoridades reguladoras, em relação à qualidade dos alimentos. Os consumidores estão cada vez mais atentos às informações nutricionais dos rótulos dos produtos. Se for hipertenso, vai procurar no rótulo a indicação do teor de sódio. Se diabético, o teor de açúcar. Porém, a preferência sempre recairá sobre produtos que atendam a necessidade médica do consumidor, sem perder as qualidades organolépticas. Da mesma forma, as autoridades reguladoras e fiscalizadoras tornam-se cada vez mais exigentes em relação à qualidade, à inocuidade e às restrições nutricionais para determinados grupos de consumidores (hipertensos, diabéticos, cilíacos, etc.), gerando restrições que são mais facilmente superadas pela nanotecnologia.
Novos negócios
Novos tempos geram novas oportunidades. Empresas foram criadas para pesquisar, produzir e comercializar produtos nanotecnológicos, em especial os que
específica a um componente, ou genérica (como a rinite alérgica ou urticária). Neste caso, há necessidade de substituir corantes e outras substâncias que deflagram alergias alimentares. Em outra linha, a nanotecnologia está sendo utilizada para transformar o betacaroteno, nutriente que funciona como corante em sucos e manteigas e que tem ação contra o envelhecimento precoce das células. Na nanoescala, aumenta a eficiência das substâncias como corantes e melhora sua absorção pelo corpo. Aqui no Brasil, a Nanox, de São Carlos, desenvolveu nanoembalagens, para proteger os alimentos de bactérias que causam a deterioração. Por exemplo, frutas imersas em uma solução contendo nanopartículas do milho e de quitosana, são revestida por uma nanopelícula protetora que dobra sua vida útil. Em outras palavras, bem vindo ao nanofuturo, onde os alimentos serão cada vez mais saudáveis, nutritivos e saborosos. C
Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Metas de uso de biocombustíveis irão dar suporte às cotações em 2010 Os produtores avançam para o final da colheita da safra de verão do Brasil e da América do Sul e os números apontam para bom crescimento. Como exemplo temos a soja, que cresce aproximadamente 36 milhões de toneladas na América do Sul, passando das 92,6 milhões de toneladas colhidas no ano passado para 128,6 milhões de toneladas esperadas para esta safra. Temos visto em grandes eventos para produtores vozes que apontam para o pessimismo, que a situação vai ficar feia, os preços vão despencar, o momento é de venda. Isso tem criado pavor entre os produtores, que já estão assustados com as cotações atuais muito abaixo do mesmo nível do ano passado. Na verdade poucos olham para o global dos grãos, da demanda e do crescimento econômico, que já está acima das expectativas, refletindo que em ano de grande safra há grande demanda. O ponto importante que queremos abordar hoje diz respeito a um fato que poucos estão dando atenção, que vem das leis. Observamos que os grandes consumidores de petróleo têm colocado metas crescentes de uso de energia renovável para suprir suas necessidades presentes e futuras. Como exemplo temos os Estados Unidos, que têm metas muito agressivas para o setor de biocombustíveis. Pretendem quadruplicar o uso em poucos anos, como é o caso do etanol, que atualmente é consumido na ordem de 36 bilhões de litros (com os estados mais avançados usando 8% na mistura com a gasolina). A meta para este ano é de chegar a 10% ou 12%. Desta forma haverá crescimento gradativamente até chegar à faixa dos 22% nos próximos anos. No biodiesel as metas são mais fortes, porque o diesel é considerado mais poluente e necessita da mistura com o biodiesel para melhorar o seu desempenho. Países da União Europeia, Japão, Canadá, Austrália, China, Índia e muitos outros também possuem metas e, mesmo sendo produtores de petróleo, estão sendo obrigados ao uso de biocombustíveis como ingrediente antiaquecimento global. Outro bom exemplo é o Brasil, que no ano passado consumiu 1,7 bilhão de litros de biodiesel e projeta fechar este ano com 2,4 milhões de litros consumidos. A matéria-prima principal para a produção do biodiesel por aqui é o óleo de soja e, para atingir esta meta, haverá incremento de uso de aproximadamente cinco milhões de toneladas dessa oleaginosa ou um milhão de toneladas de óleo. Dessa foram enxugará boa parte do excedente da safra. Outro fator importante é que neste ano o Brasil terá capacidade instalada para produzir biodiesel na ordem de quatro bilhões de litros anual e certamente grande parte dessa produção será usada para a demanda interna e para a exportação. Além do Brasil, o quadro segue parecido ou mais acelerado na Argentina, Europa e Estados Unidos, o que certamente irá refletir fortemente no quadro geral de oferta e demanda dos grãos e dará suporte para que as cotações se mantenham em níveis atrativos e os produtores continuem produzindo. A FAO, em seu relatório de março, apontou que os preços agrícolas vão continuar subindo porque os países têm metas de consumo crescente de biocombustíveis. Estamos na era da agricultura para ração e energia e, certamente, preços compensadores.
MILHO Dependendo do PEP
O cenário atual é dos produtores deixando o tempo passar, à espera de algum fator novo que lhes favoreça. Desta forma esperamos por uma comercialização lenta e escalonada da soja, com grande dependência da nova safra americana, que começa a ser plantada nas próximas semanas.
A safra do milho se encontra em colheita e grande parte dos grandes consumidores está coberta com produto até a entrada da safrinha. Desta forma, sem apoio externo (que poderia vir através da exportação que neste momento esbarra FEIJÃO no câmbio na faixa de R$ 1,80, contra R$ 2,25 de Consumo cresceu e fortaleceu preços um ano atrás) estamos na dependência dos pregões A boa notícia no mercado de feijão é de que “as de PEP, que o governo prometeu para este mês de abril. Assim poderemos ver as cotações avançarem vacas magras” do setor foram embora em março, quando a demanda disparou. Fato que já vínhamos entre R$ 1,00 e R$ 3,00 aos produtores. apontando, porque a economia brasileira vem crescendo acima dos 5% ao ano e o nível de emprego SOJA avançou. Normalmente esses fatores refletem na Produtor segurando Na soja tudo aponta que os produtores vão demanda de alimentos básicos, como é o caso do entregar os contratos programados, o que representa feijão, que estava muito barato na gôndola, na faixa aproximadamente 45% da produção e algum volu- de R$ 1,50 por quilo. Assim, no mês passado aponme a mais para “fazer caixa” e quitar as dívidas de tamos que o fôlego era para os R$ 80,00 a R$ 100,00 curto prazo. O restante será usado pelo setor como por saca, o que realmente ocorreu, ficando acima ativo financeiro, ou seja, vale o ditado tradicional: dos R$ 120,00 por saca para o Carioca de melhor “Irão sentar em cima do saco à espera de preços”. qualidade. Sinalizando que o quadro, de agora em
diante, seguirá firme, porque a segunda safra teve forte redução de área e a produção que vem pela frente não irá atender à demanda, o que dará fôlego para manter os indicativos em alta.
ARROZ Safra chegou
O mercado do arroz avança para o final da colheita do Sul, que mesmo com inundações teve boa produtividade e pode fechar ao redor de 6,8 milhões de toneladas a sete milhões de toneladas no Rio Grande do Sul e 1,2 milhão em Santa Catarina, com um milhão a menos que no ano passado. Isso seria fator positivo para os preços, mas como temos pouca exportação e poucos recursos para segurar a safra, tivemos queda em março, vindo dos R$ 28,00 a R$ 30,00 para a faixa de R$ 26,00 a R$ 28,00. Com pouco espaço para alteração no curto prazo e somente avançando se o governo trouxer apoio via PEP, que pode aparecer em abril e maio. Segue com boas expectativas de avanço para depois da colheita, quando as ofertas tendem a diminuir.
CURTAS E BOAS TRIGO - O governo alardeou que irá sobretaxar o trigo americano de 10% para 30%, como retaliação frente aos subsídios dados pelos americanos ao algodão. Mas pouco mudou, pois o produto se manteve entre R$ 380,00 e R$ 420,00 por tonelada aos produtores. O mercado segue com espaço para avanços. Temos uma safra de 4,5 milhões de toneladas, não há trigo na Argentina para o Brasil até o final do ano e pode ser difícil trazer o produto de outros locais para atender à demanda, que tende a superar as 10,5 milhões de toneladas. Portanto, tudo caminha para ganhos nos indicativos. ALGODÃO - O mercado tem dado os primeiros passos de recuperação, frente aos últimos anos fracos para o setor, o que forçou a queda no plantio e obrigou os produtores a buscarem profissionalização, alta produtividade e alta qualidade. Há espaço para avanços, mas seguirá com demanda escalonada e necessitando de créditos oficiais e mercado futuro. EUA - A nova safra começa a ser plantada, apontando crescimento no milho e diminuição na soja. Os EUA tendem a crescer no consumo do cereal para o etanol e soja para o biodiesel. A boa notícia é que a demanda de óleo de soja para biodiesel avançará cerca de 30% neste ano, passando para a casa de 1,3 milhão de toneladas usadas. No etanol o quadro aponta uso de 109,2 milhões de toneladas de milho (avanço de 15%).
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Abril 2010 • www.revistacultivar.com.br
CHINA - A boa notícia veio do Banco Mundial, que aponta crescimento de 9,5% na economia da China para este ano. Com isso, grandes volumes de alimentos devem ser consumidos, o que resultará em crescimento de demanda em todos os lados, com mais arroz, mais trigo, mais milho e muito mais soja (que pode atingir um consumo próximo a 60 milhões de toneladas frente a uma produção de 14,5 milhões de toneladas). ÍNDIA - Os indianos continuam sofrendo com o clima, com grande parte do país enfrentando estiagem e agora podendo afetar até mesmo a produção de arroz nas regiões mais baixas. Isso ocorre porque as águas dos rios tendem a ter seu destino primário para o consumo humano das cidades e, desta forma, o país, que tem mais de 1,1 bilhão de pessoas, pode passar a ser um dos grandes importadores de alimentos. Já é o maior importador mundial de óleo vegetal. ARGENTINA - O país colhe uma grande safra, com indicativos de 53,5 milhões de toneladas de soja, contra 32 milhões de toneladas do ano passado. Em milho são 20,5 milhões de toneladas frente às 12 milhões de toneladas de 2009. A Argentina se recuperou, com o clima mostrando mais chuvas. A safra de trigo poderá ser melhor se o quadro climático continuar assim, mas até o plantio ainda há muitos meses pela frente.