Cultivar 132

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 132 • Maio 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Identificação correta.............................18

Paulo Roberto Valle da S. Pereira

Conhecer as espécies de pulgão que afetam as lavouras de trigo é a primeira arma do produtor para enfrentar com sucesso a batalha contra estes insetos

Saldo negativo..........................10 Jogada de mestre.......................14 Desfolhadora.............................30 O balanço da ferrugem asiática, que atingiu de forma antecipada e mais agressiva as lavouras de soja do Brasil na safra 2009/10

O que fazer para vencer o embate contra plantas daninhas nos canaviais brasileiros

Índice

Como combater a cercosporiose, doença que afeta principalmente as folhas do cafeeiro

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Mancha de phaeosphaeria em milho

06

Ferrugem asiática em soja

10

• Redação

Plantas daninhas em cana

14

• Design Gráfico e Diagramação

Pulgões em trigo

18

• Revisão

Giberela em trigo

22

• Secretária

Cultivares de algodão

26

Cercosporiose em café

30

Empresas - Governador da Bahia visita fábrica da Monsanto 33 Empresas - Syngenta e Embrapa firmam parceria

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Empresas - Basf divulga aumento em vendas

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Coluna ANPII

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Coluna Agronegócios

37

Mercado Agrícola

38

REDAÇÃO • Editor

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo Lisandra Reis Cristiano Ceia Aline Partzsch de Almeida Rosimeri Lisboa Alves

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

GRÁFICA

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Pé de Soja Solteiro

Internacional

Nelson Roque Krappes, do município de Santa Carmen (MT), é o A Rigrantec Tecnologias para Sementes e Plantas foi a única representante vencedor do Concurso de Pé de Soja Solteiro, que ocorre todos os anos brasileira e da América Latina na The na cidade de Laguna Carapã (MS). Um único pé de soja, cultivado pelo 8th New Ag International Conference produtor, atingiu a marca das 13.904 vagens com grãos. Carlos Fontana and Exhibition, realizada nos dias 24, Neto ficou em segundo lugar, com um pé de soja de 10,714 vagens, e a 25 e 26 de março em Miami, nos Estaterceira colocação ficou com Izoldi Catarina Bohn, com 7.101 vagens. dos Unidos. O evento se caracterizou O tradicional concurso atrai anualmente produtores de vários estados, como um lugar para fazer negócios e explica o secretário municipal de Agricultura, Creovaldo Dosso. atualizar conhecimentos em nutrição de plantas, irrigação, fertirrigação, biocontrole e cultivo em estufas. A Rigrantec estava representada por seu diretor-presidente Nelson Azambuja e pelo gerente de Produtos José Carlos Miró Filho e Nelson Azambuja Miró Filho.

Voo alto

Creovaldo Dosso

Dynatech

Marcelo Borges assumiu a gerência de vendas da área de Especialidades Químicas da Dynatech. A empresa está lançando o Dynaseed, um polímero para tratamento de sementes à base de matérias-primas naturais. “Nossa proposta é fornecer produtos com alta tecnologia, serviço, qualidade e custo acessível para o produtor de sementes, preservando meio ambiente”, explica Borges.

Arroz

Marcelo Borges

Novo desafio

Odanil Leite assumiu recentemente o cargo de gerente de Marketing Novos Produtos Seed Care Brasil e América Latina. Profissional com longa experiência em marketing estratégico e operacional, ocupou várias posições de destaque na Syngenta e, atualmente, é responsável pelos produtos Avicta Completo para soja, milho e algodão, novo fungicida Sedaxane SDHi, além de novos inseticidas Odanil Leite para tratamento de sementes.

Sistema de Troca

Desde a safra passada, a Bayer Cropscience está oferecendo a seus clientes o Sistema de Barter, que possibilita ao produtor, na hora da compra de produtos da empresa, comprometer uma determinada quantidade de sacas de soja da próxima safra e receber um preço de referência da bolsa de Chicago. “Quando entregar a soja no final da safra para cumprimento do contrato, o cliente terá direito ao valor equivalente ao aumento do preço entre a fixação e a referência, proporcional à quantidade de sacas contratada, para compras futuras de produtos da Bayer CropScience”, explica Alfredo Kober, diretor de Business Services, área responsável pelo sistema de Alfredo Kober Barter da Bayer CropScience.

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A Agromen Tecnologia proporcionou a seus clientes e parceiros uma experiência inédita na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS). A empresa ofereceu a alguns clientes passeios panorâmicos no balão personalizado com as cores e a marca da Agromen. “Estamos dando a oportunidade para o produtor conhecer o campo por um ângulo inédito, com paisagens inesquecíveis”, afirma o gerente de Marketing da Agromen Tecnologia, Mozart Fogaça. Essa estratégia de marketing também será usada pela empresa nas principais feiras agrícolas pelo Brasil.

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Especialistas, pesquisadores e profissionais do setor participaram da 1ª Estação Conhecimento Syngenta na cultura de arroz, realizada de 22 a 25 de março, na Estação Experimental Agrum, em Santa Maria. O encontro reuniu 122 participantes em dois dias de treinamento, com palestrantes de diferentes instituições. “O evento também avaliou a situação atual da cultura nas principais regiões produtoras e os resultados da última safra”, explica Adilson Jauer, responsável pelo desenvolvimento técnico de mercado Adilson Jauer na cultura do arroz da Syngenta.

Novo gerente

Claudinei Luis Goi assume o cargo de gerente regional de Vendas e Distribuição da FMC para o Sudoeste. Com 16 anos de experiência no segmento, o engenheiro agrônomo tem o desafio de liderar e integrar ainda mais a equipe de vendas do Sudoeste.

Tecnoshow

Claudinei Luis Goi

A Basf apresentou no Tecnoshow em Goiás o Sistema de Alta Produtividade AgCelence Soja, uma combinação do uso da linha de produtos da empresa com benefícios AgCelence utilizados na cultura. “Nossa empresa está trabalhando desde a excelência do tratamento de semente da cultura da soja até o controle das doenças da parte aérea da planta", destaca Julio Cesar Lourenço, gerente Regional de Vendas. "Para o tratamento de sementes indicamos o Standak Top e no controle das doenças da parte aérea recomendamos Comet e Opera”, expõe Ciro Carvalho, gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado Centro Norte.



Milho

Causada por fungo Estudos conduzidos pelo Instituto Biológico confirmam Phaeosphaeria maydis como responsável pela mancha de phaeosphaeria na cultura do milho. Identificação correta é fundamental para o controle, já que as lesões características da doença são facilmente confundidas com outras sintomatologias

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Fotos Gisèle Maria Fantin

mancha de phaeosphaeria, também denominada de mancha branca ou pinta branca, embora antiga no Brasil, só começou a ser observada em plantas mais jovens, com consequente redução da produtividade da cultura, a partir do final da década de 80 (Fantin, Biológico, 56:39, 1994). Pela ocorrência mais severa da doença, estudos sobre a relação patogênica entre o fungo Phaeosphaeria maydis e plantas de milho passaram a ser realizados no Brasil. Devido à dificuldade encontrada por pesquisadores no isolamento do patógeno e na reprodução dos sintomas da doença sob inoculação artificial, dúvidas foram suscitadas sobre ser este patógeno realmente o agente causal da doença. Sugeriram-se outros organismos como possíveis agentes causais desta doença, ou até mesmo associações entre eles, mas vários estudos realizados pelo Instituto Biológico têm demonstrado a patogenicidade de Phaeosphaeria maydis ao milho.

Identificação do patógeno

A identificação do fungo Phaeosphaeria maydis como agente causal da mancha de phaeosphaeria em milho foi feita na Índia por Rane et al, em 1965 (Indian Phytopathol. Soc. Bull., 3:6). Muito anteriormente, no entanto, em 1902, Hennings (Hedwigia, 41:295) descreveu um fungo encontrado no estado de São Paulo, Brasil, a quem deu o nome de Sphaerulina maydis, cujos sintomas produzidos em milho eram os mesmos observados por Rane et al. Estudos posteriores concluíram que a adequada classificação do fungo descrito por Hennings era como pertencente ao gênero Phaeosphaeria. Este fungo produz estruturas de reprodução sexuada, que são pseudotécios, contendo em seu interior ascos com esporos do

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tipo ascósporos e, em sua fase assexuada, estruturas denominadas picnídios, contendo conídios. Sua forma assexuada, classificada por Rane et al (1965) como Phyllostica sp., atualmente é denominada Phoma maydis (Carson, Plant Dis., 83:462, 1999).

Os sintomas

Os sintomas da mancha foliar de phaeosphaeria do milho, conforme descritos por Rane et al (1965), iniciam-se como pequenas áreas de cor verde pálido ou cloróticas, que crescem, tornam-se esbranquiçadas ou com aspecto seco e passam a ter margens de cor marrom. Estas manchas apresentam forma arredondada, oblonga, alongada ou levemente irregular, medem de 0,3cm a 2cm e são distribuídas sobre a superfície da folha. Pseudotécios e/ou picnídios se desenvolvem sobre as lesões maduras e podem ser vistos como pontos escuros. As lesões produzidas pela mancha de phaeosphaeria, por serem geralmente arredondadas, com frequência têm sido confundidas com várias outras manchas, originadas por causas diversas, com as quais apresentam certa semelhança. Rane et al (1965) citam que os sintomas da mancha de phaeosphaeria foram inicialmente confundidos com os de Helminthosporium carbonum (Bipolaris zeicola). Silva & Menten (In: Fancelli & Dourado, Tecnol. da prod. de milho, 1997) e Reis et al (Manual diag. contr. doenças do milho, 2004) também relatam que os sintomas da mancha de phaeosphaeria podem ser confundidos com os causados por deriva de herbicidas à base de paraquat. Também os sintomas produzidos sob inoculação artificial com a bactéria Pantoea ananatis (Bomfeti et al, Summa Phytopathol., 33:63, 2007) e com os fungos Phoma sorghina e Sporormiella sp. (Amaral et al, Plant


Fotos Gisèle Maria Fantin

estágio de desenvolvimento posterior ao estudo realizado com P. maydis. A partir deste estágio, pelo colapso dos tecidos, é comum a invasão das lesões por contaminantes secundários. Neste estudo apenas é citado que foi notada desorganização dos tecidos, mas não são detalhadas as alterações observadas.

Considerações finais

Os sintomas da mancha foliar de phaeosphaeria do milho iniciam-se como pequenas áreas de cor verde pálido ou cloróticas, que crescem, tornam-se esbranquiçadas ou com aspecto seco e passam a ter margens de cor marrom

Dis., 89:44, 2005) vêm sendo confundidos com os da mancha de phaeosphaeria. As diferenças destes sintomas com os da mancha de phaeosphaeria são que a bactéria P. ananatis causa manchas elípticas, que seguem a direção das nervuras, P. sorghina produz manchas menores (0,2cm) com amplo halo amarelado e Sporormiella sp., manchas com bordos difusos e halo claro. Daí a importância do correto reconhecimento das lesões características da mancha de phaeosphaeria.

Inoculações bem-sucedidas

Para se realizar estudos de inoculação artificial sobre uma doença, antes de tudo, é necessário conhecer a biologia do patógeno e o ambiente favorável à doença e à cultura. Fantin et al (Summa Phytopathol., 22:61, 1996) verificaram que o fungo P. maydis apresenta crescimento micelial bastante lento in vitro e sua faixa mais adequada de temperatura é de 20oC a 22oC. Utilizando as informações sobre cultivo do patógeno, aliadas a observações sobre as condições favoráveis ao desenvolvimento da doença em plantas de milho no campo, Fantin & Balmer (Summa Phytopathol., 23:64, 1997), em estudos com inoculações do fungo Phaeosphaeria maydis em milho, realizados em condições de casa de vegetação, obtiveram a conclusão dos postulados de Koch, com a reprodução de sintomas idênticos aos descritos por Rane et al (1965), confirmando, novamente, ser este fungo o agente causal da doença. Este foi o primeiro relato de uma série de outros ensaios com inoculações bem-sucedidas de P. maydis em milho no Brasil como em Fantin (Summa Phytopathol., 25:38, 1999), Fantin et al (Fitopatol. Bras., 24:282, 1999), Fantin & Resende (Fitopatol. Bras., 24:282, 1999), Fantin et al

(Fitopatol. Bras., 26:371, 2001) e Fantin et al (Summa Phytopathol., 28:75, 2002). Nesses trabalhos, os sintomas iniciaramse por manchas pouco aparentes foscas (sem brilho), com forma arredondada, oblonga ou levemente irregular e bordos bem definidos. Estas manchas podiam passar despercebidas até que se tornassem de cor verde-pardo escura, que evoluíram rapidamente para tons de verdes mais claros, e em um dia a dois dias atingiram uma coloração palha, com bordos escuros, típica da doença descrita na Índia, e idêntica às lesões observadas naturalmente no campo. Picnídios foram identificados em muitas das lesões com aproximadamente 15 dias de idade como pontos escuros no centro, de onde o fungo pôde ser reisolado.

Está demonstrado o sucesso das inoculações do fungo Phaeosphaeria maydis em milho, causando a mancha foliar de phaeosphaeria. Estudos utilizando microscopia eletrônica de transmissão em lesões muito novas corroboram os resultados anteriores, obtidos nas inoculações com P. maydis, pois revelaram a presença unicamente deste fungo, no interior dos tecidos, causando alterações celulares devido à sua patogenicidade. Estes resultados indicam, inclusive, que não há necessidade de associações deste patógeno com outros organismos para que a doença se manifeste. Para finalizar, ressalta-se que é muito importante atentar para o reconhecimento das lesões características da mancha de phaeosphaeria em milho, que podem ser confundidas com algumas outras sintomatologias, tanto em plantas no campo, como em estudos com inoculações das plantas com outros fungos ou bactérias.

Controle da doença

A principal forma de controle da mancha de phaeosphaeria é o uso de cultivares mais resistentes. Estudos de comparação da produtividade entre híbridos de milho com

Estudos de microscopia eletrônica

Nogueira et al (Fitopatol. Bras., 30:135, 2005) observaram, em cortes ultrafinos de lesões iniciais pouco aparentes (foscas) de plantas de milho inoculadas com P. maydis sob condições de casa de vegetação, uma profusa colonização do tecido foliar apenas pelo patógeno. As células do fungo geralmente apresentavam citoplasma denso quando ligadas às paredes da célula hospedeira, causando distorções nessas paredes. Além disso, ainda foram encontradas formações vesiculares, ruptura de membranas, alterações nos cloroplastos e mitocôndrias e deposição de material amorfo eletrodenso no tecido do hospedeiro, demonstrando, também em nível celular, a patogenicidade de P. maydis ao milho. Por outro lado, a presença da bactéria Pantoea ananatis nos espaços intercelulares, relatada por Bomfeti et al (Trop. Plant Pathol., 33:63, 2008), foi observada em lesões verde-escuras, com aspecto encharcado, em

Detalhe de lesões com produção de picnídios em folha de planta de milho inoculada com Phaeosphaeria maydis

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Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle da mancha de Phaeosphaeria do milho1 Recomendação de Empresa Produto Ingrediente Grupo Concen- Formu- Classe toxi- Dose Indicação de aplicação registrante comercial (p.c.) ativo (i.a.) químico tração (g/L) lação2 cológica3 (p.c./ha) controle Basf S.A. Opera Epoxiconazol + Triazol + 50 + 133 SE II 0,75 L/ha Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis Fungicida sistêmico + protetor com ação protetiva, curativa Piraclostrobina Estrobilurina Ferrugem polissora por Puccinia polysora e erradicante para aplicações terrestres e aéreas. Iniciar as pulverizações preventivamente aos primeiros sintomas. Basf S.A. Envoy Epoxiconazol + Triazol + 62,5 + 85 SE I 0,7 L/ha Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis Fungicida sistêmico com ação protetiva, curativa e erradicante Piraclostrobina Estrobilurina Cercosporiose por Cercospora zeae-maydis para aplicações terrestres e aéreas. Fazer uma aplicação no prépendoamento (1 L/ha) ou duas com intervalo de 20 dias. Bayer Stratego 250 EC Propiconazol + Triazol + 125 + 125 CE II 0,6 a Cercosporiose por Cercospora zeae-maydis Fungicida sistêmico + mesostêmico para aplicações terrestres Trifloxistro-bina Estrobilurina 0,8 L/ha Ferrugem comum por Puccinia sorghi e aéreas. Iniciar as pulverizações próximas ao pendoamento CropScience S.A. Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis ou aos primeiros sintomas. Syngenta Priori Xtra Ciproconazol + Triazol + 80 + 200 SC III 0,3 L/ha Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis Fungicida sistêmico para pulverizações terrestres e aéreas. Azoxistrobina Estrobilurina Cercosporiose por Cercospora zeae-maydis Aplicar de forma preventiva aos 40 a 50 dias após o plantio. Proteção de Reaplicar com intervalo de 15 dias. Cultivos Ltda. Bayer Nativo Tebuconazol + Triazol + 200 + 100 SC III 0,6 a Ferrugem polissora por Puccinia polysora Fungicida mesostêmico e sistêmico para aplicações terrestres e Trifloxistrobina Estrobilurina 0,75 L/ha Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis aéreas. Pulverizar de maneira preventiva, próxima à fase de CropScience S.A. pendoamento ou aos primeiros sintomas. Reaplicar após 15 a 20 dias, se necessário. Basf S.A. Comet Piraclostrobina Estrobilurina 250 CE II 0,6 L/ha Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis Fungicida sistêmico com ação protetiva para aplicações Ferrugem polissora por Puccinia polysora terrestres e aéreas. Iniciar as pulverizações preventivamente ou aos primeiros sintomas. 500 Cercobin 500 SC Tiofanatometílico Benzimidazol SC III 0,8 a Mancha foliar por Phaeosphaeria maydis Fungicida sistêmico para aplicações terrestres e aéreas. Realizar Iharabras S.A. até duas aplicações, a primeira com 8 folhas e a segunda no Indústrias 1,0 L/ha início do florescimento. Químicas

diferentes níveis de resistência evidenciaram que há redução média de produtividade ao redor de 20% quando as plantas atingem os primeiros 10% de área foliar afetada pela doença. (Fantin et al, Congr. Nac. Milho Sorgo, p.152, 2006 e Fantin & Duarte, Summa Phytopathol., 36, Palestras, 2010). Estes resultados indicam a grande importância de se prevenir a ocorrência desta doença mesmo em baixas severidades. O cultivo, em uma mesma área, de vários híbridos de milho com um bom nível de resistência às principais doenças, de preferência de diferentes empresas, proporciona maior variabilidade da resistência às diversas doenças que podem advir. Esta medida é também essencial no manejo de doenças, pois, no caso de epidemias, a maior diversidade genética auxilia a reduzir o risco das doenças se alastrarem muito rapidamente por toda a área cultivada com milho. Informações sobre a resistência das cultivares às doenças podem ser obtidas junto às empresas públicas e privadas produtoras de sementes e às instituições públicas de pesquisa. Os resultados anuais obtidos pelo Programa Milho IAC/Apta vêm sendo divulgados pelo site www.zeamays.com.br. A utilização do controle químico é recomendada como medida complementar à resistência e à adoção da rotação de culturas. Para um controle economicamente

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viável, os fungicidas devem ser utilizados apenas em lavouras bem manejadas e com bom potencial produtivo. Também quando ocorrem adversidades climáticas e/ou danos provocados por pragas, como a lagartado-cartucho, poderá não ser observado benefício na produtividade com a aplicação do fungicida. Estudos recentes sobre o uso de fungicidas em um grande número de híbridos de milho também têm evidenciado que o efeito maior ou menor do controle químico de doenças na produtividade das cultivares de milho depende, ainda, de outras características genéticas da cultivar, além do nível de resistência. Deve-se, portanto, preferencialmente, conhecer de antemão a resposta que o uso de fungicidas acarreta na produtividade de cada uma das cultivares que se pretende utilizar (Fantin et al, Semin. Nac. Milho Safrinha, p. 461, 2009). Para o controle da mancha de phaeosphaeria, apenas os fungicidas contendo estrobilurinas e triazóis, ou estrobilurinas, registrados para a cultura do milho, têm sido eficazes, principalmente se aplicados logo aos primeiros sintomas da doença, quando o fungo está presente de forma ainda assintomática na maior parte das plantas (Fantin et al, Semin. Nac. Milho Safrinha, p. 195, 2005). O monitoramento da doença na lavoura é fundamental para uma decisão

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acertada do uso de fungicidas. Embora haja registro recente de um fungicida do grupo dos benzimidazóis para o controle da mancha de phaeosphaeria, Fantin et al (Rev. Agric., 78:90, 2003) e Pinto (Rev. Bras. Milho Sorgo, 3:134, 2004) não observaram eficácia de fungicidas deste grupo químico para o controle desta doença. Os fungicidas registrados para o controle da mancha de phaeosphaeria estão apresenC tados na Tabela 1. Gisèle Maria Fantin, Instituto Biológico/Apta Divulgação

1Fonte: Agrofit (http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons – acesso em 12/04/10) 2Formulação: CE = concentrado emulsionável, SE = suspo-emulsão, SC = suspensão concentrada. 3Classe toxicológica: I = extremamente tóxico, II = altamente tóxico, III = medianamente tóxico, IV = pouco tóxico.

Gisèle afirma que Phaesosphaeria maydis é o fungo causador da mancha de phaeosphaeria



Soja

Saldo negativo Na safra 2009/2010 a ferrugem asiática incidiu de forma antecipada e com maior severidade em lavouras de soja brasileiras. Problemas com vazio sanitário, clima, eficiência de fungicidas, tecnologia de aplicação e cultivo em safrinha para a produção de sementes estão entre os responsáveis pelo aumento da pressão da doença

A

safra 2009/2010 foi marcada por situações completamente distintas em relação aos plantios antecipados e aos tardios. De forma geral, a produtividade média ficou abaixo do esperado, não somente por fatores fitossanitários, mas também em função das condições ambientais. O excesso de chuvas e dias nublados fez com que a cultura apresentasse alterações no desenvolvimento, florescendo e completando o ciclo antecipadamente. Estima-se que algumas cultivares, em determinadas regiões, apresentaram redução na produtividade entre 300 quilos por hectare a 400 quilos por hectare.

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Os problemas fitossanitários também contribuíram sobremaneira para a redução do potencial produtivo, destacando-se as doenças como antracnose, mofo branco, nematoide de cisto e das lesões radiculares e, principalmente, a ferrugem asiática. No caso específico da ferrugem, alguns fatores foram determinantes para a maior pressão da doença, como o vazio sanitário mal divulgado e pouco fiscalizado, término antecipado do vazio sanitário, permanência de soja tiguera sob alta severidade da doença durante a entressafra e longo período de semeadura e incidência antecipada da doença.

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O vazio sanitário foi mal divulgado e pouco fiscalizado em 2009, embora venha sendo comunicado que o número de autuações duplicou. Goiás foi, provavelmente, o estado com menor eficiência na divulgação sobre a importância do vazio sanitário. Embora seja uma prática adotada rotineiramente a partir de 2006, campanhas educacionais e de alerta devem necessariamente ser realizadas a cada ano, uma vez que essa prática destaca-se entre as principais medidas de controle da doença. Nos últimos anos, as safras iniciadas sob alta pressão de inóculo e condições ambientais favoráveis foram marcadas


o início do mês de dezembro. Com o maior período de semeadura, maior foi o inóculo produzido para os cultivos tardios. Não bastassem os prejuízos causados pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a antecipação na semeadura também provocou problemas de produtividade, possivelmente pela menor luminosidade no início dos cultivos (fotoperíodo). Os fatos citados anteriormente, associados às condições ambientais favoráveis durante a safra, também interferiram na incidência e na severidade da doença. Na safra anterior, 2008/2009, o primeiro foco de ferrugem foi detectado em 31/12/2008. Já na safra 2009/2010, em 19/11/2009, ou seja, 42 dias antes que na safra anterior. A incidência precoce normalmente culmina com o maior número de aplicações e menor eficácia de controle. A preocupação no combate à ferrugem asiática deve ser de todos os envolvidos no sistema de produção, especialmente os agricultores, que podem ser os mais prejudicados. Todo produtor

que se preocupa com a sustentabilidade do negócio deve eliminar a soja tiguera e alertar os órgãos de fiscalização sobre aqueles que não o fazem. Os demais fatores que agravaram os problemas com a doença estão relacionados ao atraso nas aplicações, tecnologia de aplicação inadequada, áreas malcuidadas, uso de triazóis isoladamente, aplicações curativas de misturas entre estrobilurinas e triazóis, utilização de produtos “turbinados” e cultivo de soja em safrinha para produção de sementes. O atraso nas aplicações de misturas entre estrobilurinas e triazóis é outro fator que merece destaque. Esses produtos apresentam maior eficácia de controle quando aplicados preventivamente, uma vez que as estrobilurinas apresentam grande afinidade pela camada cerosa dos tecidos vegetais, conferindo maior período residual, e impedindo a germinação de uredósporos, o que previne a infecção. Os triazóis, por sua vez, não inibem a germinação dos esporos,

Fotos Luis Henrique Carregal

pelo excesso de aplicações de fungicidas, eficácia de controle reduzida e, consequentemente, perdas na produtividade e rentabilidade do agricultor. O inóculo alto no início da safra é aquele proveniente da entressafra e que pode atingir níveis expressivos quando o vazio sanitário não é bem realizado. Embora os órgãos competentes se mostrem satisfeitos com o programa de combate à ferrugem asiática, pouca ou nenhuma ação referente ao vazio sanitário e manejo da doença foi repassada para a safra 2009/10. No ano de 2006, maior atenção foi dada à doença, sendo realizadas 18 palestras educativas em 17 municípios do Estado, tendo como público técnicos e produtores de soja, totalizando a participação de 623 pessoas. E na entressafra de 2009? A fiscalização precária, principalmente pela carência de técnicos e equipamentos, possibilitou maior incidência de soja tiguera no campo. Diferentemente das duas entressafras anteriores, que foram caracterizadas por clima seco e quente, em 2009 houve maior índice pluviométrico e temperaturas mais amenas. Tais condições ambientais possibilitaram a manutenção da soja tiguera infectada e sob alta severidade da doença. Consequentemente, a tiguera serviu como uma ponte verde para o fungo causador da ferrugem asiática. Foi comum verificar em alguns locais, plantas de soja tiguera com alta severidade em áreas às margens de rodovias. Em outros casos, constatou-se o agricultor dessecando área com presença de soja tiguera para plantio da soja de verão. Como a viabilidade dos uredósporos do fungo pode chegar até 50 dias após liberados das lesões, não houve tempo suficiente para a redução natural do inóculo inicial. Todas as safras em que o inóculo inicial foi alto, os danos foram maiores, mesmo adotando-se medidas de controle como uso de fungicidas. Além disso, foi determinado que o término do vazio sanitário fosse antecipado em função da reivindicação de produtores rurais e líderes no agronegócio goiano. O que terminaria em 30 de setembro foi antecipado em dez dias. Aqueles produtores que já sabiam sobre o fim do vazio sanitário em 20/9 realizaram o plantio de suas áreas em aproximadamente cinco a sete dias ainda mais cedo. Desta forma, o período de semeadura em Goiás, na prática, iniciou-se entre 12 de setembro a 15 de setembro, estendendo-se até

Alguns fatores foram determinantes para a maior pressão da ferrugem, como o vazio sanitário mal divulgado e pouco fiscalizado


Embrapa Soja

vos das variedades de ciclo precoce, o que comprometeu o manejo em áreas vizinhas que foram semeadas mais

Luis Henrique Carregal

atuando em fases posteriores do ciclo do fungo, normalmente após sua penetração nos tecidos hospedeiros. Quando aplicados curativamente, o benefício de controle das estrobilurinas é altamente reduzido. Outro fator a ser considerado, referese à tecnologia de aplicação que talvez seja o principal gargalo no controle químico da ferrugem. Atualmente, com a introdução de muitas variedades no mercado, pouca informação é oferecida em relação ao porte e à arquitetura das plantas, o que interfere diretamente na tecnologia de aplicação no que diz respeito ao volume de calda, tipo de bico, tamanho de gota etc. Como a doença inicia-se na parte inferior das plantas, é importante que a calda fungicida a atinja, o que é praticamente impossível dependendo do porte das plantas, bem como tamanho e quantidade de folhas. Para essas cultivares é importante que a primeira aplicação seja realizada antes do fechamento das entrelinhas, mesmo que as plantas ainda não tenham atingido a fase de floração. Alguns agricultores predeterminaram o número e a época das aplicações em função dos estádios fenológicos ou dias após o plantio e, em seguida, abandonaram o monitoramento da lavoura. Desta forma, alguns fizeram aplicações em excesso, mas a maioria aplicou de forma tardia ou insuficiente, permitindo o aumento expressivo no inóculo. Esse fato foi verificado nos primeiros culti-

Como a doença inicia-se na parte inferior das plantas é importante que a calda fungicida a atinja, o que é praticamente impossível dependendo do porte das plantas, bem como tamanho e quantidade de folhas

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tardiamente. Embora não seja consenso na comunidade científica, desde a safra 2005/2006 problemas com a eficácia dos triazóis vêm sendo relatados. Os trabalhos de campo desenvolvidos pela Universidade de Rio Verde (Fesurv) comprovam a redução gradativa de eficácia desde a safra 2006/2007. Os problemas foram verificados para os triazóis de forma geral e não apenas para um ou outro princípio ativo. Tal situação é de extrema importância, uma vez que o uso de fungicidas ainda representa uma das principais medidas de controle da doença. Como houve redução drástica no preço dos triazóis nos últimos anos, seu emprego ficou ainda mais atrativo, principalmente em anos em que o preço da soja se manteve abaixo do esperado. Além disso, a pressão comercial para vender produtos em estoque aumenta a cada ano, principalmente na forma de novas estratégias, como aplicações de triazóis isoladamente na fase vegetativa. Com a maior pressão de inóculo, uma prática vem sendo adotada em várias regiões do Brasil: a utilização de produtos “turbinados”. Produtos turbi-


Dirceu Gassen

A preocupação no combate à ferrugem asiática deve ser de todos os envolvidos no sistema de produção, especialmente os agricultores, que podem ser os mais prejudicados

nados é a terminologia utilizada a campo para aquelas misturas (estrobilurinas + triazóis) que têm a concentração de triazol aumentada pela adição de um triazol isoladamente. Essa prática não é regulamentada por lei e muito menos recomendada pelos órgãos oficiais de

pesquisa, pois pode gerar uma série de inconvenientes, tais como: não agregar em controle, realizar subdose do triazol (princípio ativo) que está sendo adicionado (normalmente diferente daquele constituinte da mistura), aumento no risco de fitotoxidez, além do risco de redução de eficácia no controle da doença por incompatibilidade química ou física entre os produtos. Outro fato que vem sendo observado é o cultivo de soja em safrinha para produção de sementes. Como o potencial de inóculo ao final da safra foi muito alto, verificou-se incidência precoce da

doença, atingindo plantas desde o início da fase vegetativa (V3-V4). Certamente grande número de pulverizações será realizado e as produtividades ficarão abaixo do esperado, com a forte possibilidade de produção de sementes de má qualidade. C Luís Henrique Carregal e Hercules Diniz Campos, Fesurv Juliana Campos Silva e Eduardo Bezerra de Moraes, Campos Carregal Pesquisa e Tecnologia Agrícola (GO)


Cana-de-açúcar Luiz Henrique F. de Campos

Xeque-mate Para enfrentar corretamente a competição de plantas daninhas em canaviais brasileiros é preciso habilidade semelhante à de um jogador de xadrez. As estratégias para garantir o sucesso no manejo incluem desde a escolha da variedade adequada para plantio, até o cruzamento das informações ligadas ao desenvolvimento e fisiologia da cultura com as características do herbicida, biologia das infestantes e a realidade pontual de cada região produtora

A

s plantas daninhas são um dos principais fatores bióticos presentes no cultivo da cana-de-açúcar, com capacidade para interferir no desenvolvimento e na produtividade da cultura, provocar reduções na quantidade e na qualidade do produto colhido, bem como encurtar a longevidade do canavial e aumentar os custos de implantação e manutenção. A importância de plantas daninhas em áreas canavieiras varia de acordo com a região. Contudo, de modo geral, correspondem às mais importantes as gramíneas capim-braquiária (Brachiaria decumbens), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão (Digitaria spp.) e grama-seda (Cynodon dactylon), as folhas largas trepadeiras como cordas-de-viola (Ipomoea spp e Merremia spp) e mucuna preta (Stozolobium aterrimum), a tiririca (Cyperus rotundus) e algumas outras dicotiledôneas como picão-preto (Bidens pilosa) e o leiteiro (Euphorbia heterophylla). A interferência é influenciada por fatores ligados à própria cultura (espécie ou variedade, espaçamento e densidade de plantio), à época e extensão do período de convivência e aos

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aspectos característicos das plantas daninhas (composição específica, densidade e distribuição). Trabalhos para a situação de cana-planta indicam que o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) situa-se, em média, entre 30 dias e 100 dias após a deposição dos toletes. Para soqueira, constatou-se que o PCPI localiza-se de 25 dias a 130 dias. O conhecimento do PCPI é uma ferramenta fundamental para a escolha do herbicida, da dose e do seu residual. O conhecimento das interações entre plantas daninhas e o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar ao longo do ano, por si só já correspondem a uma importante etapa do manejo de plantas daninhas (que muitas vezes é negligenciado em função do simples aumento de dose de um determinado herbicida ou pela associação de dois ou mais ingredientes ativos herbicidas, em detrimento do planejamento sustentável quanto aos aspectos econômico e ambiental).

Controle e manejo

As medidas de manejo devem ser adotadas da forma mais racional possível, integrando ações culturais, mecânicas e químicas (sendo

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esta última a que resulta em melhores índices de controle, tornando o método químico de grande utilização entre os produtores de cana). Entre as medidas de manejo cultural, que objetivam tornar a cultura mais competitiva em relação às plantas daninhas, pode-se mencionar: escolha correta da variedade (perfilhamento, brotação, suscetibilidade a herbicidas etc), controle de pragas e nematoides (evitar interações negativas), adubação equilibrada da cultura, espaçamentos reduzidos, entre outras. O controle mecanizado inclui operações de preparo do solo, cultivos, roçadas e operações de reforma. O principal método de controle das plantas daninhas é o químico, através da aplicação de herbicidas, tanto na condição de pré como na de pós-emergência destas plantas, sendo o pré-emergente mais utilizado pela logística de aplicações e desenvolvimento da cultura. A dose eficaz de um herbicida depende de diversos fatores, como as características físicoquímicas do herbicida, a espécie a ser controlada, o estádio de desenvolvimento da planta daninha e da cultura, as técnicas de aplicação, os fatores ambientais no momento e após a aplicação dos defensivos, tipo de solo etc.



Fotos Luiz Henrique F. de Campos

As interações entre ambiente de produção, cultura, plantas daninhas e herbicida são as mais variadas possíveis, o que gera diferentes recomendações de tratamentos químicos, com implicações sobre a logística e o material humano da unidade produtiva. Considerando-se o canavial como um sistema de produção onde a cana-planta é a primeira etapa de alguns anos seguidos pelo que chamamos de soqueiras, é importante manejar as infestantes de forma a reduzir sua pressão e maximizar a contribuição do controle químico de um ano para o outro. A densidade populacional potencial de plantas daninhas em uma área é determinada pelo número de sementes no solo (banco de sementes), que podem permanecer vivas e dormentes nos solos agrícolas por muitos anos. Uma maneira de reduzi-la é evitar a adição de novos propágulos, através do controle da produção de sementes ao longo dos anos no canavial. São várias estratégias de manejo do banco de sementes em pré-plantio, seja em área de expansão ou em reforma do canavial. Muitas vezes esse tipo de controle químico pode dispensar a aplicação ou reduzir a dose dos herbicidas em pós-plantio. Como o plantio da cana é realizado principalmente entre setembro e abril, meses com temperaturas adequadas para germinaçãoemergência de plantas daninhas e precipitações adequadas para o bom funcionamento dos herbicidas, pode-se imaginar que seja o controle na cana-planta uma das mais importantes etapas do manejo de planta daninhas. No entanto, a negligência nesta etapa não é incomum. A escolha do herbicida para controle de plantas daninhas em pós-plantio da cana-deaçúcar deve considerar o custo do tratamento, seu período residual, o espectro de controle, a seletividade para a cultura, a flexibilidade de aplicação e, de forma muito especial, a possibilidade da realização de sistematização de área para colheita, o chamado “quebra-lombo”. Essa operação mecânica influirá diretamente sobre o residual do produto e, muitas vezes, justificará nova aplicação.

O principal método de controle das plantas daninhas é o químico, através da aplicação de herbicidas, tanto na condição de pré como na de pós-emergência destas plantas

A seletividade para cana-planta é um capítulo à parte no manejo, já que a cultura encontra-se em seu momento mais suscetível às fitointoxicações causadas pelo herbicida. Para aplicar o defensivo com maior seletividade na cana-planta é importante conhecer as diferentes fases de crescimento da planta, pois cada uma delas pode diferir em sua resposta a um herbicida ou à competição com as plantas daninhas presentes na área. Eficácia e seletividade são termômetros para o sucesso da recomendação do manejo químico. Nas soqueiras de cana-de-açúcar o manejo deve ser pensando levando-se muito em consideração a época do ano em que ocorre, uma vez que as condições meteorológicas influem diretamente sobre a escolha do herbicida, já que podemos trabalhar com produtos adequados à época seca. Como a cana-soca é basicamente aplicada em pré-emergência e a fase inicial de crescimento da soqueira é lenta e apresenta grande tolerância a herbicidas residuais (por possuir sistema radicular bem distribuído no perfil do solo), alguns herbicidas de alta solubilidade podem ser aplicados com segurança. São denominados “herbicidas de seca”. Nessas pulverizações é fundamental que o produto apresente características físico-

Muitas plantas daninhas, como mucuna preta, são importantes nas áreas canavieiras e sua infestação varia de acordo com a região

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químicas que permitam sua disponibilidade para o controle até que as precipitações pluviais se regularizem, devendo o defensivo apresentar efeito residual suficiente para suportar o período seco até o início das chuvas, quando a soqueira finalmente ocupara todo o espaço disponível, caracterizando seu fechamento. O manejo nas soqueiras é a sequência do manejo do sistema, que deve ser avaliado quanto à sua qualidade e necessidade, a fim de se otimizar recursos. Contudo, não é rara a realização de segundas aplicações no início das chuvas, em virtude de intervalos de fechamento de canavial muito longos, devido a determinadas épocas de corte, tipos de variedades e regime pluviométrico regional. Por fim, o controle das infestações tardias, constituídas principalmente de plantas daninhas perenes como o capim-braquiária, o capim-colonião ou plantas daninhas de hábito trepador, deve ser realizado a fim de se evitar a reinfestação das áreas controladas. Tais escapes ou reinfestações podem incrementar o banco de sementes novamente, prejudicando a colheita do canavial em andamento e o manejo das plantas daninhas da próxima soqueira. As associações entre informações ligadas ao desenvolvimento e fisiologia da cultura da cana-de-açúcar, às características do herbicida, à biologia das plantas daninhas (identificações corretas) e à realidade pontual de cada região, proporcionam o adequado e sustentável manejo de infestantes em canaviais. Esse conhecimento é o principal desafio do manejo, principalmente para a nova geração de técnicos e de produtores que observamos nas C usinas brasileiras. Luiz Henrique F. de Campos, Marcel Sereguin C. de Melo, Marcelo Nicolai e Pedro J. Christoffoleti, Esalq/USP



Trigo

Lucro sugado

Fotos Paulo Roberto Valle da S. Pereira

Responsáveis por danos direitos e indiretos em cereais de inverno, pulgões tem o poder de reduzir drasticamente a produtividade em culturas como o trigo. A identificação correta desses insetos é o primeiro passo para o sucesso no manejo e a adoção de práticas adequadas de controle

A

fídeos ou pulgões ocorrem em todas as regiões tritícolas do Brasil, com variações das espécies e da época de ocorrência, sendo observados ataques não apenas em trigo, mas também em cevada, triticale e aveia, bem como outras gramíneas não cultivadas. As principais espécies encontradas em trigo são Metopolophium dirhodum (Walker, 1849), Schizaphis graminum (Rondani, 1852), Sitobion avenae (Fabricius, 1775), Rhopalosiphum padi (Linnaeus, 1758),

R. maidis (Fitch, 1856) e R. rufiabdominalis (Sasaki, 1899). Os danos ocasionados por estes insetos podem ser diretos, por meio da sucção de seiva e do efeito tóxico da saliva, ou indiretos, pela transmissão de espécies do vírus do nanismo amarelo Barley yellow dwarf virus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV). O tipo e a severidade dos danos diretos variam de acordo com a espécie de afídeo, a intensidade do ataque e o estádio de desenvolvimento da

planta no momento da infestação. O ataque por afídeos tem o poder de reduzir substancialmente a produção de grãos. Os efeitos sistêmicos de sua saliva tóxica retardam o crescimento de raízes e prejudicam o perfilhamento. Os principais componentes de produção afetados são números de espigas, de grãos por espiga e peso total de grãos. Como dano indireto da alimentação dos pulgões, o BYDV, transmitido exclusivamente por afídeos, é um

Figura 1 - O pulgão-da-raiz-do-trigo possui antena com 5 segmentos, que representam o Figura 2 - A) sifúnculos do pulgão-da- espiga-trigo; B) aspecto geral do adulto áptero processo terminal caracteristico curvo (A); no B observa-se o aspecto geral do adulto áptero do pulgão-da-espiga-trigo

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Figura 3 - A) Pulgão-da-espiga-trigo com detalhe da asa mostrando veia média ramificada Figura 4 - A) antena do pulgão do milho; B) detalhe dos sifúnculos; C) aspecto geral duas vezes (setas); B) detalhe dos sifúnculos e C) aspecto geral do adulto alado do adulto áptero

problema de âmbito mundial, com grande impacto econômico em cereais de inverno. O BYDV afeta a produção de grãos pelo atrofiamento de raízes, pela redução do perfilhamento e pelo aumento da suscetibilidade do hospedeiro a fungos patogênicos e outros estresses ambientais. A identificação correta das espécies de pulgões que estão atacando cereais de inverno é a primeira etapa para o sucesso e também o uso adequado de práticas de controle, que implicarão na redução de danos diretos e de incidência de viroses, além de fornecer informações que vão subsidiar o manejo destes insetos nas safras seguintes.

Características morfológicas Pulgão-da-raiz-do-trigo

Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki) Os adultos ápteros apresentam corpo arredondado e de coloração verde-escuro a oliva, geralmente com manchas avermelhadas ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tamanho variando de 1,2mm a 2,2mm de comprimento; antenas com cinco segmentos, cerdas com comprimento maior que o diâmetro do III segmento e processo terminal caracteristicamente curvo; cauda curta, de cor negra e com dois pares de setas laterais.

Pulgão-da-espiga-trigo

Sitobion avenae (Fabricius) Os adultos ápteros apresentam corpo alongado, de coloração amarelo-esverdeado e região dorsal do abdômen geralmente com mancha de cor negra; tamanho variando de 1,75mm a 3,8mm de comprimento; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de cor negra, com ¾ do comprimento do corpo e ultrapassando a base dos sifúnculos; sifúnculos negros, cilíndricos e alongados; cauda de coloração clara, com ¾ do comprimento dos sifúnculos e com dois a cinco pares de cerdas laterais, podendo apresentar uma seta pré-apical. Os alados possuem corpo com coloração similar aos ápteros, mas com manchas escuras entre os segmentos dorsais.

Pulgão-do-milho

Rhopalosiphum maidis (Fitch) Os adultos ápteros apresentam corpo alongado, de coloração amarelo-esverdeado ou azul-esverdeado e com manchas negras na área ao redor dos sifúnculos; tamanho variando de 0,9mm a 2,6mm de comprimento; patas e antenas de coloração negra; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antenas curtas e com seis segmentos, processo terminal do segmento VI com duas a 2,3 vezes o comprimento da base; sifúnculo com base mais larga

que ápice, de coloração negra e com constrição apical; cauda de coloração negra com dois pares de cerdas laterais.

Pulgão-da-aveia

Rhopalosiphum padi (Linnaeus) Os adultos ápteros apresentam corpo ovalado de coloração verde-oliva-acastanhado, geralmente com mancha avermelhada ao redor e entre as bases dos sifúnculos; tamanho entre 1,2mm a 2,4mm de comprimento; tubérculos antenais pouco desenvolvidos; antena com seis segmentos e processo terminal do segmento VI com quatro vezes a 5,5 vezes o comprimento da base; sifúnculos cilíndricos, de coloração mais escura que o corpo e com leve constrição apical; cauda curta e normalmente com dois pares de cerdas laterais. Os alados apresentam coloração do abdômen marrom-clara a verde-escura.

Pulgão-verde-dos-cereais

Schizaphis graminum (Rondani) Os adultos ápteros apresentam corpo oval alongado de coloração geral amarelo-esverdeado e dorso com linha média longitudinal verde-escura, tamanho entre 1,3mm a 2,2mm de comprimento; tubérculo antenal pouco desenvolvido; antena com seis segmentos de coloração castanha e comprimento não atingindo a base dos sifúnculos; sifúnculos

Figura 5 - A) antena do pulgão-da-aveia; B) com o detalhe dos sifúnculos e C) Figura 6 - A) detalhe da asa do pulgão-da-veia mostrando veia media ramificada duas representa o aspecto geral do adulto áptero do pulgão-da-aveia vezes (setas); B) detalhe dos sifúnculos e C) aspecto geral do adulto alado

Scheeren observa que cultivares com qualidade tecnológica aumentam o poder de barganha na comercialização

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Fotos Paulo Roberto Valle da S. Pereira

Figura 7 - A) detalhe da cabeça do pulgão-verde-dos-cereais mostrando tubérculos antenais Figura 8 - A) pulgão-verde-dos-cereais com detalhe da asa mostrando veia media pouco desenvolvidos; B) detalhe dos sifúnculos e C) aspecto geral do adulto áptero, com seta ramificada uma vez (seta), B) sifúnculos escurecendo em direção ao ápice e C) indicando antena de coloração mais escura que o corpo aspecto geral do adulto alado

cilíndricos, da mesma coloração do corpo e com ápices escurecidos; cauda com dois ou três pares de cerdas laterais. Os alados apresentam cabeça e protórax de cor marrom-clara, demais segmentos torácicos negros; abdômen amarelo-esverdeado.

Pulgão-da-folha-do-trigo

Metopolophium dirhodum (Walker) Os adultos ápteros apresentam corpo fusiforme de coloração verde-pálido ou amareloclaro, dorso com linha média longitudinal mais escura e tamanho variando de 1,7mm a 3,7mm de comprimento; tubérculos antenais bem desenvolvidos; antenas com seis segmentos de coloração geral castanho-amarelado (ápice dos segmentos III a V e processo terminal do segmento VI negros) cujo comprimento ultrapassa a base dos sifúnculos; sifúnculos cilíndricos da mesma coloração do corpo, 3,5 vezes a cinco vezes mais longos que largos e com ápices escurecidos; cauda da mesma coloração do corpo, com dois a quatro pares de cerdas laterais e duas a três setas pré-apicais. Os alados apresentam abdômen de coloração amarelo-esverdeado.

Pulgão-preto-dos-cereais

Sipha maydis (Passerini) Os adultos ápteros são pequenos (1,0mm - 1,9mm), corpo piriforme, achatado dorsoventralmente e coberto de pelos, apresentando coloração marrom-escuro brilhante na superfície dorsal, que é totalmente esclerotizada. Os alados apresentam uma placa dorsal escura sobre os tergitos abdominais quatro a sete e medem entre 1,3mm e 2,0mm.

Manejo integrado

O manejo integrado dos afídeos do trigo, no extremo sul do Brasil, fundamentado no controle biológico e no uso criterioso do controle químico, se constitui em um dos exemplos mais expressivos de sucesso, em culturas não perenes. Entre o final da década de 1960 e meados da década de 1970, apesar da presença de inimigos naturais dos afídeos nas lavouras, o controle biológico natural não era suficiente para evitar os danos causados em trigo. M. dirhodum e S. avenae desenvolveram altas populações nos trigais do Sul do país, exigindo a adoção de medidas de controle para evitar

Figura 9 - A) detalhe da cabeça do pulgão-da-folha-do-trigo mostrando tubérculos desenvolvidos; B) detalhe dos sifúnculos e C) apresenta o aspecto geral do adulto áptero

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que ocorressem severas reduções na produtividade das lavouras. O controle era feito com aficidas químicos, por meio de duas a quatro aplicações, em toda a área tritícola. Em 1978, em colaboração com a FAO e a Universidade da Califórnia (EUA), a Embrapa Trigo iniciou um programa de controle biológico dos afídeos de trigo. Foram introduzidas no país 14 espécies de micro-himenópteros parasitoides e duas espécies de joaninhas predadoras. O programa deu ênfase aos parasitoides que passaram a ser produzidos massalmente para liberação nas lavouras de trigo. Paralelamente, foi desenvolvido um trabalho de conscientização de técnicos e de triticultores para a adoção do manejo integrado dos pulgões, com base no controle biológico, no conceito de nível de dano econômico e no uso de inseticidas mais seletivos. O resultado superou todas as expectativas. Certas espécies de parasitoides introduzidos adaptaram-se e passaram a se reproduzir no novo ambiente, alterando a situação de desequilíbrio caracterizada pelos constantes surtos de afídeos. As populações de M. dirhodum e de S. avenae e de seus inimigos naturais se ree-

Figura 10 - A) detalhe da asa do pulgão-da-folha-do-trigo mostrando veia media ramificada duas vezes (setas); B) detalhe dos sifúnculos e C) com o aspecto geral do adulto alado

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Figura 11 - A) antena com cinco segmentos do pulgão-preto-dos-cereais; B) detalhe dos sifúnculos (setas) que são pequenos e pouco evidentes e C) demosntra o aspecto geral do adulto áptero

Pereira, Lau e Salvadori recomendam o manejo integrado de afídeos na cultura do trigo

quilibraram, reacomodando-se em níveis tais que a utilização de inseticidas para o controle dessas espécies reduziu significativamente. Esta situação persiste até hoje, todavia, como já era de se esperar, pelo caráter dinâmico do controle natural, o uso de inseticidas não foi totalmente abolido, sendo, porém, usado como medida emergencial e não mais generalizada como ocorria na fase anterior à introdução dos inimigos naturais dos afídeos. Os afídeos são facilmente controlados com inseticidas diluídos em água e aplicados via pulverização da parte aérea das plantas. O tratamento de sementes com inseticidas também é tecnicamente viável e apresenta os melhores resultados no controle do complexo

Tabela 1 - Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de afídeos em trigo Espécies Monitoramento1 Tomada de decisão (média) Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum1), pulgão- Contagem direta (emergência ao afilhamento) 10% de plantas infestadas com pulgões do-colmo (Rhopalosiphum padi), pulgão-da-folha (Metopo- Contagem direta (elongação ao emborrachamento) Média de 10 pulgões/afilho lophium dirhodum) e pulgão-da-espiga (Sitobion avenae) Contagem direta (espigamento ao grão em massa) Média de 10 pulgões/espiga 1 Mínimo de 10 pontos amostrais por talhão. Fonte: Controle de Pragas - Informações técnicas para a safra 2008: trigo e triticale

afídeos/BYDV. Como critérios para a tomada de decisão na aplicação de inseticidas para o controle de afídeos, em pulverização da parte aérea do trigo, recomenda-se utilizar os parâmetros apresentados na (Tabela 1). O nível de infestação deve ser avaliado através de inspeções semanais da lavoura, amostrando-se aleato-

riamente locais na bordadura e no interior das lavouras, que proporcionem resultado médio representativo da densidade de pulgões. C Paulo Roberto Valle da S. Pereira e Douglas Lau,

Embrapa Trigo

José Roberto Salvadori,

Universidade de Passo Fundo (UPF)


Trigo

Espigas infectadas Emerson Del Ponte

Favorecida por clima ameno e chuvoso a giberela é uma das principais doenças na cultura do trigo, afetada principalmente durante o período de florescimento. O controle químico se destaca entre as táticas de manejo, mas o produtor não deve descuidar também da escolha de cultivares mais resistentes e sempre que possível buscar a antecipação do plantio na tentativa de escapar das condições que impulsionam o desenvolvimento do fungo

A

giberela é uma das doenças mais importantes do trigo, cevada e outros cereais de estação fria em várias regiões do mundo. Esse status se deve aos danos potenciais que ocasiona, seja na produtividade e na qualidade do produto, ou na saúde humana e animal devido às implicações toxicológicas ligadas à produção de micotoxinas pelo fungo que a causa. A ocorrência da giberela está intimamente relacionada com condições ambientais que favorecem a doença em uma fase relativamente curta do ciclo da cultura. As epidemias normalmente são esporádicas e localizadas, uma vez que essas condições podem variar consideravelmente de um ano para outro ou regionalmente em uma safra. De maneira geral, as regiões tritícolas brasileiras de maior risco para a giberela se encontram nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná. No entanto, em anos com invernos chuvosos, epidemias têm ocorrido em regiões tropicais como no norte do Paraná, conforme observado na safra 2009.

Pesquisa no Brasil

A giberela vem sendo estudada no Brasil desde as décadas de 1950 e 1960, com trabalhos de controle químico e melhoramento genético para a resistência conduzidos principalmente nos municípios de Pelotas e Passo Fundo. Nas décadas de 1970 e 1980, embora de importância secundária na cultura do trigo, estudos foram conduzidos para elucidar aspectos da variabilidade do patógeno, sua sobrevivência e disseminação, hospedeiros alternativos, controle cultural e químico da doença. Já na década de 1990, um novo impulso na pesquisa foi dado devido à série de epidemias que afetaram as lavouras em anos consecutivos. Um programa de seleção de genótipos para a resistência à giberela foi fortalecido na Embrapa Trigo, além de novos trabalhos com o objetivo de elucidar aspectos da etiologia, epidemiologia, aerobiologia e controle químico. Tais estudos têm resultado no aumento significativo do conhecimento sobre os fatores regionais e locais que afetam as epidemias, além de fornecer as bases de recomendações para o manejo da doença. No laboratório da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um projeto de pesquisa multidisciplinar e

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Figura 1 - Localização (mapa) de 84 lavouras de trigo visitadas e avaliadas quanto à incidência (gráfico) das epidemias de giberela no Rio Grande do Sul - safras 2008 e 2009. O número de lavouras amostradas é indicado por “n”. As caixas no gráfico correspondem à distribuição dos valores de incidência onde, dentro da caixa, tem-se 50% dos valores, a linha horizontal é a mediana e os pontos são valores extremos.

De olho no patógeno

Avanços nas técnicas da biologia molecular tornam possível novos enfoques para a determinação de espécies de fitopatógenos. No caso da giberela, taxonomistas têm proposto a subdivisão dentro da espécie do principal fungo causador da doença no mundo: Fusarium graminearum (também denominado Gibberella zeae). O que antes era considerado uma única espécie, agora é subdividido em distintas linhagens (ou espécies filogenéticas) dentro do “complexo Fusarium graminearum” (Fg). O trabalho mais recente propõe a existência de pelo menos 13 espécies filogenéticas. O curioso é que essas linhagens só podem ser identificadas por ferramentas moleculares, sendo praticamente impossível identificálas por meio da observação de estruturas do patógeno por microscopia óptica. A aceitação da determinação e denominação destas espécies ainda tem sido motivo de controvérsia e o termo linhagem ainda é utilizado. No Brasil tem se demonstrado que a doença é causada pela espécie F. graminearum, o que foi confirmado em estudos

recentes com isolados do patógeno obtidos de espigas de trigo e triticale no Rio Grande do Sul e no Paraná, por meio de técnicas moleculares (Angelotti et al, 2006). No entanto, se levantou a hipótese da ocorrência de outras linhagens com base na análise de sequências de DNA de alguns isolados do fungo coletados em vários hospedeiros, safras e locais (Martinelli et al, 2004). Em nossos estudos com populações patógeno do trigo verificamos a ocorrência de pelo menos quatro linhagens do complexo Fg em um número total de 55 isolados analisados até o momento (Scoz et al, 2009; Astolfi et al, 2009a). A linhagem predominante em 95% dos isolados, no entanto, é a 7, em conformidade com o que se verifica Dirceu Gassen

multi-institucional vem sendo conduzido desde o ano de 2006.

A presença frequente da doença serve de alerta para intensificar o monitoramento nas próximas safras

na maioria das regiões do mundo, sendo chamada de F. graminearum sensu sctricto, a que dá nome ao complexo. Um outro aspecto abordado nesses trabalhos foi que linhagens diversas, ou mesmo indivíduos de uma mesma linhagem, podem produzir diferentes micotoxinas. Dentre aquelas da classe dos tricotecenos, verificamos que as linhagens menos predominantes no trigo apresentaram um genótipo para produção da toxina nivalenol (NIV) ou a toxina 3-acetil-deoxinivalenol (3ADON), enquanto que a linhagem 7 foi do tipo 15-acetil-deoxinivalenol (15ADON) (Scoz et al, 2009; Astolfi et al, 2009a). Na cultura da cevada, nossos estudos preliminares mostraram que a proporção de genótipos NIV na população foi muito superior à do trigo (Astolfi et al, 2009b), o que precisa ainda ser confirmado com maior número de isolados, mas que já alerta para um problema ainda desconhecido para a cevada. A relevância desses estudos, do ponto de vista toxicológico, é preocupante, uma vez que a toxina Nivalenol é dez vezes mais tóxica do que a DON. A implicação epidemiológica de mais de um genótipo tricoteceno na população do fungo no Brasil está começando a ser elucidada em


Figura 2 - Concentração de micotoxinas DON e Nivalenol em 65 amostras de grãos obtidos em lavoura comerciais no Rio Grande do Sul entre os anos de 2006 e 2009. O número de amostras positivas é indicando por “n”. As caixas na figura correspondem à distribuição dos valores onde na caixa tem-se que 50% dos dados. As cores no gráfico representam os níveis de risco

valor de referência para tolerância máxima em alguns países. Em três amostras se verificou níveis de DON acima de 2ppm. Esses resultados confirmam os nossos estudos de genética populacional, pois mostram que os isolados do genótipo NIV estão produzindo a micotoxina no campo, o que alerta para a necessidade de monitoramento de Nivalenol nos grãos, além de DON.

Manejo da doença

Giberela no campo

Em nossos estudos de levantamento de epidemias de giberela no Rio Grande do Sul, 84 lavouras foram visitadas nas safras 2008 e 2009 (Figura 1 - mapa). Os dados de incidência da doença (percentual de espigas exibindo sintomas) nas safras mostram uma grande variação na intensidade das epidemias de um ano para o outro e, ainda, em um mesmo ano (Figura 1 - gráfico). Essas foram mais intensas na safra 2009, quando 50% das lavouras avaliadas apresentaram incidência da doença superior a 20%. Além disto foi possível verificar grande variação espacial da incidência em função da variada época de florescimento e cultivares. A presença frequente da doença em níveis altos de incidência e severidade serve de alerta para a necessidade de intensificar o monitoramento nas próximas safras e possível impacto da doença na produtividade.

cotoxinas em grãos tem sido conduzido em parceria com o laboratório de micotoxinas da Fundação Universidade do Rio Grande (Furg). Entre as safras 2006 e 2008 foram analisadas 65 amostras de grãos de trigo obtidos de lavouras distribuídas em 29 municípios nas principais regiões produtoras. As toxinas avaliadas por análises químicas foram a DON e a Nivalenol. A Figura 2 apresenta um sumário dos teores médios de DON e Nivalenol que se mantiveram ao redor de 0,5ppm (Del Ponte et al, 2009). A Nivalenol foi produzida relativamente em grande quantidade comparada à toxina DON, embora poucas amostras tenham atingido níveis acima de 1ppm e 2ppm, Dirceu Gassen

estudos de patogenicidade e virulência em diferentes cultivares de trigo (Spolti et al, 2009). Em outros países, o genótipo 3ADON é considerado mais virulento que o 15ADON e pouco se sabe sobre os de genótipo NIV. A continuidade desses estudos será importante para o manejo da doença como a combinação de cultivares e fungicidas que atuem sobre a população predominante do patógeno, além das implicações na saúde pública.

Micotoxinas em grãos comerciais

O levantamento de ocorrência de mi-

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Manejo da resteva para a redução de inóculo A abundância de inóculo na região Sul do Brasil reduz a importância do manejo da resteva e rotação de culturas como medida preventiva. Estudos no Paraná mostraram que os níveis de deoxinivalenol e zealerona em grãos de trigo não foram influenciados pelo sistema de sucessão ou rotação (Almeida, 2006). Nossas obervações da doença em lavouras comerciais e ensaios experimentais mostraram que a doença atingiu altos níveis de severidade mesmo em áreas sem qualquer resteva de hospedeiro. No entanto, em outros lugares no mundo o manejo da resteva é considerado uma medida auxiliar para diminuir o risco da doença, além de evitar o plantio sobre resteva de milho (Dill-Macky & Jones, 2000). Resistência varietal A utilização de cultivares com certo grau de resistência auxilia no sucesso da adoção do controle químico, além de, na ocorrência de falhas na utilização dos fungicidas, permite a manutenção de limiares superiores de produção quando comparadas a cultivares suscetíveis. Ainda, em condições desfavoráveis, a doença pode dispensar a utilização de fungicidas para o


Fotos Divulgação

Emerson Del Ponte, Piérri Spolti e Paula Astolfi alertam que a decisão quanto a necessidade e momento de aplicação de fungicidas deve levar em consideração a expectativa de produtividade e situações de risco

controle específico de giberela. Por outro lado, quando o ambiente é favorável à doença, apenas o uso de cultivares resistentes não tem garantido o controle adequado da doença. Controle químico Esta tática assume maior importância na medida em que novas moléculas vêm sendo ofertadas pelas indústrias de defensivos. Uma análise conjunta do efeito de fungicidas nos Estados Unidos mostrou que aqueles do grupo dos triazóis, destacadamente tebuconazole, metconazole e protioconazole foram os mais eficientes na redução da doença e com retorno em produtividade quando comparados a não adoção da proteção química (Paul et al, 2008). O metconazole e o protioconazole, assim como a mistura de protioconazole e tebuconazole (produto formulado) vêm se notabilizando pelo incremento em produtividade e redução da micotoxina DON nos grãos. Pelo seu maior espectro de proteção e ação sobre outras doenças, como as man-

chas foliares, o uso de estrobilurinas em mistura com triazóis é outra opção para o produtor. No Brasil, estudos prévios com misturas de triazóis com as estrobilurinas trifloxistrobina, azoxistrobina e piraclostrobina não apresentaram vantagens adicionais no controle de giberela quando comparadas à aplicação de triazóis (Casa et al, 2007). No hemisfério Norte as estrobilurinas não têm sido recomendadas para o controle da giberela. Tal fato teria embasamento no suposto incremento de DON com algumas estrobilurinas aplicadas antes ou após o florescimento. Tal aspecto, pelo menos de nosso conhecimento, ainda não foi estudado no Brasil. Há, no entanto, grande variação da eficiência das moléculas dentro de um mesmo grupo químico quanto ao controle de giberela, além da variabilidade da população do patógeno. Além da eficiência técnica do fungicida, o produtor deve levar em consideração a vantagem econômica, principalmente se tratando de aplicações sequenciais que reconhecidamente aumentam a eficiência do controle, já que a doença pode ocorrer em momentos um pouco além do florescimento. As decisões de manejo da giberela do trigo devem considerar a escolha de cultivares mais resistentes, plantio antecipado (quando possível para escapar de condições favoráveis) e escolha de fungicidas com comprovada eficácia, aplicados com tecnologia que proporcione maior cobertura dos tecidos da espiga. A decisão quanto à necessidade e ao momento de aplicação deve ser avaliada pelo técnico considerando a expectativa de produtividade e situações de risco como prognóstico de chuvas quando a ocasião é de máxima exposição de anteras durante C o florescimento da cultura. Emerson Del Ponte, Piérri Spolti e Paula Astolfi, UFRGS


Algodão

Chave do sucesso

Para que o produtor possa obter êxito no cultivo de algodão, atividade que demanda pesados investimentos, o primeiro passo reside na escolha da cultivar que melhor se adapte à região onde está estabelecida a lavoura. A época de semeadura é outro aspecto fundamental nesse processo

Jefferson Luis Anselmo

A

cultura do algodoeiro destaca-se no cenário agrícola nacional pela utilização dos seus produtos, principalmente a fibra na indústria têxtil e subprodutos, óleo e farelo (aproveitado para a alimentação animal), ambos provenientes do caroço, que também pode ser utilizado integralmente na alimentação de ruminantes. O algodoeiro é cultivado com sucesso nos Cerrados de altitude dos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia, normalmente em rotação com a soja, apresentando uma nova oportunidade de negócio para estas regiões. Nos últimos anos agrícolas o cultivo de algodão, após soja precoce e milho segunda safra, tem ganhado a preferência dos produtores localizados na região dos Chapadões, composta pelos municípios de Chapadão do Sul e Costa Rica no Mato Grosso do Sul, Chapadão do Céu e Mineiros em Goiás, além de Alto Taquari no Mato Grosso. Esta região foi uma das pioneiras na exploração desta cultura no Cerrado, iniciando o cultivo, em larga escala, no ano agrícola 1996/97. Este início praticamente coincidiu com a criação da Fundação Chapadão, pelos produtores

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desta região, que logo após a sua fundação, em agosto de 2007, direcionou alguns de seus trabalhos de pesquisa para esta cultura. Posteriormente, no final da década de 90, a cotonicultura cresceu muito também nas demais regiões de Cerrado, principalmente nos chamados Cerrados de altitude, que se tornaram a principal região produtora brasileira. Inicialmente a produtividade média nesta região era de aproximadamente 180 arrobas de algodão em caroço por hectare (ha). Atualmente, esta média é, segundo levantamento do IBGE (2007), de aproximadamente 270 arrobas/ha. O sucesso da cultura do algodoeiro no Cerrado foi impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologia. Este último aspecto tem feito com que o Cerrado possibilite a obtenção das maiores médias de produtividade do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas. Além de apresentar excelente qualidade de fibra, atendendo à demanda do mercado interno e principalmente do mercado externo.

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Entretanto, para obtenção de sucesso nesta atividade agrícola, um fator primordial é a definição e a adoção de uma boa cultivar, adaptada às condições locais. Neste sentido a Fundação Chapadão desenvolve ensaios comparativos de cultivares na região dos Chapadões há uma década (desde o ano agrícola 1999/2000). Este esforço na busca de cultivares que apresentem adaptabilidade deve-se à importância da escolha do material genético, fato que pode determinar o sucesso ou o insucesso da atividade. Uma opção errada afeta diretamente o retorno econômico. Além disso, tratando-se de algodão, é necessário cuidado ainda maior, pois seu cultivo demanda altos investimentos. Na Tabela 1 é apresentada uma síntese dos resultados dos ensaios de competição de cultivares de algodoeiro realizados na Fundação Chapadão nos últimos seis anos agrícolas. Dos materiais pesquisados, 13 cultivares apresentaram potencial produtivo superior à média regional (269 arrobas/ha, segundo o IBGE, 2007). Portanto, o produtor possui um número considerável de opções de materiais


Figura 1 - Comportamento de duas cultivares de algodão e linha de tendência (linha pontilhada e linha contínua) em função da época de semeadura, cultivadas em Chapadão do Sul (MS) na safra 08/09. Fundação Chapadão

genéticos passíveis de cultivo. Entretanto, como o sistema de cultivo do algodoeiro demanda grandes investimentos, o produtor de algodão busca sempre altos tetos produtivos (superiores a 300 arrobas/ha), ocasionando, na região dos Chapadões, uma concentração de cultivo em dois materiais, que não por coincidência aparecem como primeiros na lista da Tabela 1.

Figura 2 - Podutividade de diferentes cultivares de algodoeiro cultivadas em sistema adensado, na segunda safra de 2009, na região dos Chapadões, Fundação Chapadão 2009

Após a definição da cultivar, outro ponto primordial para o planejamento é a definição da época de semeadura. Na cotonicultura é necessário todo cuidado ao planejar a semeadura, objetivando que a colheita ocorra em período seco, evitando, assim, o comprometimento da qualidade da fibra colhida. Além disso, a semeadura nos períodos em que as condições climáticas são adequadas às neces-

sidades da cultura reduz os riscos de perdas por excesso ou déficit de chuvas nos estádios críticos e contribui para otimizar o controle das infestações de pragas e doenças. Para a região dos Chapadões a importância da época de cultivo fica evidenciada nos resultados obtidos na Fundação Chapadão, em experimento conduzido com duas cultivares, semeadas em quatro épocas diferentes


Tabela 1. Produtividade média de algodão em caroço de diferentes cultivares de algodoeiro cultivados nos anos agrícolas 2003/04 a 2008/09 na região dos Chapadões. Fundação Chapadão 2010 Variedade FMT 701 FMX 993 Cedro CD 206 M 8006 FMX 910 Buriti BRS 293 DP90B (Bt) Aroeira FMX 977 Nuopal (Bt) Araça Ipê Delta penta FMX 966 Delta opal CD 408 CD 409 CD 406 BRS-302 CD 204 ITA 90 IB-01 ST-474 Acala 90 Média

03/04 * * 317,7 296 * * * * * 279,6 * * * 265,9 * * 297,4 * * * * 218,9 218,1 * * * 270,5

04/05 * * * * * * * * * * 219,26 * 244,86 * * 207,73 215,16 207,59 234,26 227,55 * * * * * 194,07 218,8

05/06 * 265,7 238,6 * * * 245,2 * * * * * 249,5 * 221,5 260,6 205,8 * * * 224,4 * * 213,1 196,5 180,2 227,4

Altura planta 06/07 373 341,4 341,2 * 295,7 * 308,2 * 297,7 * 336,3 308,2 330,6 * 309,6 302,7 297,5 * * * * * * * * * 320,2

razoável e uma possível redução de custo, em virtude de semeaduras tardias possibilitarem menor ciclo da cultura, principalmente por estresse hídrico. A busca de intensificar a exploração da área de cultivo (realização de duas safras no mesmo ano agrícola), juntamente com a crise de crédito (algodão é uma importante moeda de troca por insumos) e a elevação dos preços dos insumos (principalmente fertilizante) nos últimos anos, combinadas com os baixos preços pagos pela fibra, fez com que o produtor procurasse alternativas para a produção de algodão, em virtude da atividade estar se tornando inviável financeiramente. Diante deste quadro, a semeadura do algodão em sistema adensado em segunda safra (após soja ou feijão), surge como nova alternativa para a cotonicultura no Cerrado. Um dos grandes trunfos do sistema adensado é a redução do ciclo de produção (possibilitando possíveis reduções nos custos com manejo de pragas) sem reduzir significativamente a produtividade em virtude do aumento da população de plantas, através da manutenção da densidade de sementes por metros e reduzindo pela metade o espaçamento, portanto, dobrando a população. A mudança na época de semeadura promove o encurtamento do ciclo da cultura, podendo reduzir para 170 dias o ciclo total, enquanto no algodão em espaçamento normal semeado em dezembro, em Chapadão do Sul, o ciclo é de aproximadamente 210 dias. Diante desta nova opção de sistema de cultivo, a Fundação Chapadão realizou experimento para avaliar o comportamento de 11 cultivares de algodoeiro em sistema adensado, semeadas em segunda safra. Este experimento foi semeado na região dos Chapadões em 5/2/2009 após colheita de soja precoce. Os resultados de produção de algodão em caroço são apresentados na Figura 2 e os resultados de qualidade de fibra C são apresentados na Tabela 2. Jefferson Luis Anselmo, Fundação Chapadão Aguinaldo José Freitas Leal, UFMS

Média 07/08 309,3 349,5 317,5 * * 299,8 322,6 * 310,5 * * 274,2 * * * 289,8 301,6 291,3 * * * * * * * * 306,6

08/09 312,2 263,7 285,2 * * 284,4 291,5 291,4 258,2 * * 246,2 * * * 266,5 228,5 * * * * * * * * * 272,8

331,5 305,1 300,0 296,0 295,7 292,1 291,9 291,4 288,8 279,6 277,8 276,2 275,0 265,9 265,6 265,5 257,7 249,4 234,3 227,6 224,4 218,9 218,1 213,1 196,5 187,1

*Variedades que não entraram nos ensaio nos respectivos anos agrícolas

Tabela 2 - Valores médios do comprimento da fibra (UHML), uniformidade (UI), resistência (STR), micronaire (MIC), leaf (grau de folha) e porcentagem de fibras curtas (SFI) de 11 cultivares de algodão, cultivados em sistema adensado na segunda safra de 2009, na Região dos Chapadões. Fundação Chapadão 2010 UHML (mm) 29,85 29,25 28,81 29,07 29,92 29,96 28,53 30,12 30,01 30,47 31,48

Unif. (UI) (%) 88,0 86,3 87,4 87,2 87,6 86,9 87,0 87,8 86,0 84,2 87,5

Resist. (STR) (gf/tex) 31,2 28,2 30,3 30,4 28,9 30,8 30,6 29,8 31,6 29,0 31,3

MIC 4,57 4,49 4,09 3,94 4,23 4,49 4,07 4,35 4,31 4,29 4,60

Leaf (grau de folha) 4 6 6 5 5 5 7 5 5 6 4

SFI (%) 6,5 7,5 7,6 7,4 6,8 6,8 8,0 6,5 7,0 7,1 5,4

OBS: A colheita foi realizada manualmente, sendo que a colheita mecanizada poderá alterar algumas características intrínsecas a qualidade da fibra.

(8/12/08, 27/12/08, 14/1/09 e 2/2/09) em espaçamento de 0,80m. O atraso na época de semeadura a partir do dia 8 de janeiro prejudica a produção de algodão em caroço independentemente da cultivar avaliada, sendo que segundo os modelos polinomiais lineares (equações Figura 1), estimados em virtude do comportamento das cultivares, as perdas de produção são, aproximadamente, de 2,31 arrobas/ha a 2,99 arrobas/ha de algodão em caroço por dia de atraso na semeadura. Portanto, para se obter

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maior produtividade, recomenda-se a semeadura na primeira quinzena de dezembro. Semeaduras realizadas em janeiro, praticamente inviabilizam economicamente a exploração da cultura, utilizando espaçamento normal (0,8m). Justificando nestes cultivos mais tarde o adensamento e o aumento da população de plantas para obter produtividades que tornem economicamente viável este cultivo. Assim, a semeadura do algodão adensado seria recomendada a partir do início de janeiro até 5 de fevereiro, para obter uma produtividade

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Divulgação

Cultivar FMX 993 BRS 293 DP 604 BG Nu opal FMT 701 FMX 910 DP 90B Delta opal BRS Buriti FMX 966 BRS Cedro

Anselmo e Leal realizaram experimentos para avaliar comportamento de cultivares de algodoeiro



Café

Folhas afetadas

A cercosporiose se caracteriza principalmente por danos associados ao desfolhamento do cafeeiro nas diversas fases da cultura. Umidade relativa alta, substratos pobres em matéria orgânica e desequilíbrio nutricional estão entre os fatores que favorecem a doença. Controlá-la exige a combinação de medidas culturais com a correta aplicação de fungicidas

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cercosporiose é uma das doenças mais antigas do cafeeiro, tanto na América do Sul, quanto na América Central. Na Colômbia é considerada uma das principais enfermidades na cultura do café por ser amplamente distribuída e ocasionar grandes perdas na produção. No Brasil, causa também prejuízos na produtividade, além de afetar o tipo e a qualidade do café produzido. O agente causal dessa doença é o fungo Cercospora coffeicola Berk & Cook, que recebe várias denominações, de acordo com a região onde incide, como: cercosporiose, mancha-de-olho-pardo, olhode-pomba e olho-pardo. Os sintomas característicos nas folhas são manchas circulares de coloração castanho-claro a escuro, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvido por um halo amarelado. Nos frutos, ocorrem lesões deprimidas de coloração escura, que se desenvolvem no sentido polar. Podem atacar frutos verdes, causando maturação precoce da casca em tomo da mancha. Nos últimos anos tem sido observados sintomas diferentes nas folhas, caracterizados por manchas escuras sem halo amarelado que, em algumas regiões, têm sido denominados de cercospora negra. Os principais danos provocados são: a) em viveiros: queda de folhas e raquitismo das mudas; b) em pós-plantio: desfolhamento e atraso no crescimento das plantas; c) em lavouras novas: queda de folhas, frutos e seca de ramos produtivos, após as primeiras produções; d) em lavouras adultas: queda de folhas, amadurecimento precoce, queda prematura e chochamento dos frutos. As lesões funcio-

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nam como uma porta de entrada para outros fungos e bactérias que depreciam a qualidade do café.

Fatores que favorecem a doença

Em geral, o fungo necessita de umidade relativa alta, temperatura baixa e excesso de insolação para o seu desenvolvimento. Nos viveiros, além das condições climáticas favoráveis, os substratos pobres em matéria orgânica ou sem as devidas correções químicas, com relações desequilibradas dos nutrientes e solos com textura inadequada (muito argilosos ou muito arenosos), são fatores que podem predispor as mudas a uma incidência da cercosporiose. Nos plantios realizados no final do período chuvoso (início da seca), é comum ocorrerem ataques severos do fungo, promovendo um desfolhamento acentuado das plantas. O déficit hídrico, os ventos frios ou quaisquer condições adversas após o plantio predispõem as mudas ao ataque da cercosporiose. A incidência é ainda mais severa se o preparo das covas ou dos sulcos de plantios for inadequado. Em lavouras adultas, além das condições climáticas, a nutrição deficiente e/ou desequilibrada em solos muito argilosos, muito arenosos ou solos compactados, assim como sistemas radiculares deficientes ou pião torto, são fatores que predispõem as plantas à doença. As condições do solo e do sistema radicular influenciam diretamente a nutrição da planta. Inúmeros trabalhos indicam que a nutrição deficiente ou desequilibrada tem efeito direto na intensidade de ataque da Cercospora. Doses maiores de N diminuem a incidência da cercosporiose, enquanto que o K interage negativamente com N, diminuindo seu efeito. Os desequilíbrios da relação N/K também favorecem o desenvolvimento da doença. Lavouras com deficiência de N ou excesso de K sofrerão maior incidência da doença. Ao contrário do que ocorre com a ferrugem, a incidência da cercosporiose é menor nos plantios adensados. Além do auto-sombreamento, a maior disponibilidade de água e de minerais desfavorece a doença.


Fotos Vicente Luiz de Carvalho

Os sintomas característicos nas folhas são manchas circulares de coloração castanho-clara a escura, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvido por um halo amarelado

Controle cultural

Sob o ponto de vista do manejo integrado, a cercosporiose ou olho-pardo é uma doença com maior possibilidade de ser controlada através do manejo e de práticas culturais, podendo até dispensar o uso de agroquímicos.

Práticas culturais em viveiros

a) instalar os viveiros em lugares secos e arejados; b) controlar o ambiente do viveiro, evitando alta umidade, baixas temperaturas, ventos frios ou excesso de insolação; c) encher os saquinhos com solo de boa textura, a fim de proporcionar substrato com boa porosidade; d) preparar o substrato com esterco puro

e bem curtido; e) manter as mudas com umidade adequada, evitando-se o excesso ou a sua falta; t) adicionar nutrientes em quantidades adequadas. Práticas culturais nas fases de plantio e pós-plantio a) evitar o plantio em solos arenosos e/ ou pobres; b) fazer bom preparo do solo, livre de compactações e adensamentos para proporcionar bom arejamento e desenvolvimento das raízes; c) fazer, com certa antecedência, a análise de solo e as correções necessárias, um bom preparo das covas e dos sulcos de plantio. Seguir um plano de adubação e nutrição adequado,

incluindo sempre a utilização de compostos orgânicos; d) estar atento ao controle dirigido, principalmente se o plantio for feito no final do período chuvoso, pois o excesso de insolação, ventos e a deficiência hídrica predispõem as plantas à incidência da cercosporiose.

Práticas culturais em lavouras adultas

a) fazer o planejamento das adubações, principalmente durante as primeiras produções dos cafeeiros, a fim de evitar o desequilíbrio da relação parte aérea/sistema radicular, condição que não favorece a doença; b) fazer o acompanhamento periódico do estado nutricional das plantas, através de análises foliares e de solo; c) manter o equilíbrio da relação dos teores foliares de N/K em lavouras adultas, principalmente em anos de carga pendente alta, com o objetivo de diminuir a incidência da cercosporiose; d) manter os cafeeiros sombreados ou em sistemas de plantio adensado, a fim de reduzir a incidência da doença.

Controle dirigido

Quando o controle cultural não for suficiente para reduzir a doença, tanto nas mudas no viveiro, no campo após o plantio ou em cafeeiros já em produção, a doença deve

Sintomas de cercosporiose em folhas de cafeeiro

A cercosporiose induz o amadurecimento precoce dos frutos de café

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Gráfico 1 – Curva de evolução da cercosporiose do cafeeiro, EPAMIG – São Sebastião do Paraíso (MG)

Carvalho recomenda a adoção de práticas culturais e de controle químico para o manejo da cercosporiose

de germinação dos esporos. Nesse grupo de fungicidas estão os cúpricos (produtos à base de cobre), que apresentam algumas vantagens como: atuam bem sobre outros patógenos como a ferrugem, que é considerada a principal doença do cafeeiro; fonte de cobre como nutriente para a planta; efeitos benéficos na qualidade, na retenção de folhas e frutos com reflexos positivos na produção e adaptável a vários programas de controle. b) Curativos e erradicantes (sistêmicos). Produtos que atuam protegendo as folhas, curando ou mesmo erradicando a doença depois de instalada, pois translocam dentro da planta. Nesses grupos os principais fungicidas são triazóis, estrobilurinas, benzimidazóis,

Fotos Vicente Luiz de Carvalho

ser controlada com aplicação de fungicidas específicos, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas. As aplicações podem ser feitas de dezembro/janeiro a março/abril. A época de maior incidência da doença é março/abril (Gráfico 1), período que coincide com a fase de maturação dos frutos, podendo causar sérios prejuízos. Deve-se seguir rigorosamente o intervalo de 30 dias entre as aplicações. Dois grupos de produtos podem ser usados: a) Preventivos (contato). Produtos que aplicados na superfície das folhas constituem uma barreira tóxica capaz de evitar a penetração do fungo, mediante a inibição

As folhas são um dos principais alvos da cercosporiose na cultura do café

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ditiocarbamatos, misturas pré-formuladas desses fungicidas e outros (Quadro 1). c) Outra alternativa que tem sido utilizada e que pode ser um bom sistema de controle é o uso combinado de cúpricos (preventivo de contato) com sistêmicos, tanto em misturas pré-formuladas como em aplicações separadas em épocas distintas. De um modo geral essas combinações em um programa de controle aliam os benefícios dos cúpricos com os dos sistêmicos, dando um eficiente controle tanto C da cercosporiose como de ferrugem. Vicente Luiz de Carvalho, Rodrigo Luz da Cunha e Nathan Resende Naves Silva, Epamig Quadros 1 – Alguns fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle da cercosporiose do cafeeiro - 2008 Ativo Doses p.c./ha ou 100l de água 1. Cúpricos Oxicloreto de cobre 2 – 5kg/ha Hidróxido de cobre 2 – 3L/ha, 2 – 5kg/ha Óxido cuproso 1,2 – 3kg/ha 2. Triazóis Tebuconazol 1kg/ha, 1L/ha Propiconazol 0,56L/ha Cyproconazol + 2,5 – 3kg/ha oxicloreto de cobre Tebuconazol + triadimenol 0,8L/ha 3. Estrobilurinas e associações Pyraclostrobin 0,8L/ha Azoxistrobin 100g/ha Pyraclostrobin + Epoxiconazol 1,5L/ha Azoxistrobin + Cyproconazol 500ml/ha Trifloxistrobin + Cyproconazol 0,4 – 0,6L/ha 4. Outros grupos Isoftalonitrila + 1,25kg/ha, 400 – benzimidazol 500ml/100l de água Benzimidazol 70 – 250g/100L de água Ditiocarbamato 2 – 4kg/ha Isoftalonitrila 2 – 3kg/ha Isoftalonitrila + oxicloreto de cobre 1,25kg/ha Ditiocarbamato + oxicloreto de cobre 1,5 – 3kg/ha Fonte: Agrofit 2008


Empresa

Apoio importante Fotos Carlos Alcântara

Governador da Bahia visita instalações da fábrica da Monsanto em Camaçari

C

O

governador da Bahia, Jaques Wagner, visitou em abril as instalações da fábrica da Monsanto, em Camaçari. Com área de 631 mil metros (200 mil metros construídos) a unidade produz a matéria-prima para a fabricação do herbicida glifosato. Do volume produzido 85% é destinado à unidade de São José dos Campos, em São Paulo, e os outros 15% são exportados para a Argentina. A unidade de Camaçari recebeu investimentos de US$ 450 milhões (US$ 350

milhões em sua construção e mais US$ 100 milhões aplicados na modernização e manutenção), o equivalente a R$ 810 milhões. Esses investimentos, somados às contribuições dos fornecedores da Monsanto, totalizam US$ 550 milhões.

Concorrência chinesa

A Monsanto aproveitou a visita do governador para pedir apoio contra o aumento da participação chinesa no mercado nacional de glifosato ácido, que em dois

Governador da Bahia, Jaques Wagner com executivos da Monsanto, em Camaçari (BH)

anos saltou de 13% para 67%, agravada pela redução da tarifa antidumping, que caiu de 35,8% em fevereiro de 2008 para 2,1% em fevereiro de 2009. “Não aceito que fiquemos na dependência da importação de um produto tão estratégico para a agricultura brasileira. Não podemos permanecer reféns da produção chinesa de glifosato. Estou completamente engajado nesta batalha e como estamos do lado do bom senso, vamos lutar a boa briga”, discursou Jaques Wagner. C

Wagner visitou instalações e conversou com os funcionários da empresa

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Empresa

Cooperação mútua

Fotos Cultivar

Embrapa e Syngenta anunciam parceria para compartilhar conhecimentos em biotecnologia e melhoramento genético nas culturas de soja, milho, algodão e em uma segunda etapa na cana-de-açúcar

A

Embrapa e a Syngenta anunciaram acordo de cooperação em biotecnologia e melhoramento genético. O anúncio da parceria, que inicialmente vai envolver as culturas de soja, milho e algodão, ocorreu durante a 7ª edição da feira Ciência para Vida, em abril, em Brasília. Na área de soja as duas empresas irão compartilhar conhecimentos na tentativa de aperfeiçoar sua capacidade de identificação e tratamento de doenças e pragas como mofo branco e nematoides. O diretor executivo da Embrapa, José Geraldo Eugênio de França, afirma que a incidência dessas doenças poderá ser reduzida com cultivares não suscetíveis e também através da integração do tratamento químico das sementes, aliado ao manejo adequado. Para a cultura de milho, o acordo prevê a realização de estudos, por parte da Embrapa, de tecnologias desenvolvidas pela Syngenta e de interesse para a agricultura nacional. O foco será a luta para uniformizar a produtividade, diminuindo a diferença de qualidade do grão, efeito do

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ataque de pragas. Em algodão, a Syngenta e a Embrapa estão realizando ensaios com o plantio de novas variedades. Os insetos-praga constituem um dos principais problemas agronômicos desta cultura, por causarem grandes prejuízos econômicos anualmente. A parceria prevê a inserção de cultivares com resistência ao bicudo do algodoeiro, um dos principais entraves enfrentados pelos cotonicultores brasileiros.

Cana-de-açúcar

Em uma segunda etapa o acordo de cooperação se estenderá à cana-de-açúcar. Além disso, as duas empresas estudam a possibilidade de expandir a parceria para outros países da América Latina. O diretor-geral da Syngenta, Laércio Giampani, explicou a escolha de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar para a cooperação. “Essas culturas representam mais de 80% do agronegócio brasileiro e também mais de 80% do mercado de sementes e defensivos agrícolas”, lembrou. A decisão de se associar à Embrapa, segundo Giampani, se deve ao seu caráter inovador.

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“Trata-se de uma cooperação técnicocientífica de duas empresas líderes do setor, que investem em inovação e buscam soluções para o agronegócio.” Ademir Luiz Capelaro, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Syngenta Seeds, avaliou que se trata de uma parceria que gera confiança. “A Embrapa e a Syngenta têm papel essencial no desenvolvimento da agricultura brasileira. As duas empresas possuem uma mesma sintonia, que é o foco C em inovação”, frisou.

Ademir Capelaro, assina o documento que formalizou o acordo


Empresa

Mercado aquecido

Fotos Arthur Calazans

Basf anuncia aumento nas vendas mundiais nos últimos cinco anos, impulsionadas pela participação brasileira e pela Divisão de Proteção de Cultivos

N

o período de 2005 a 2009 as vendas mundiais da Basf cresceram de 2,351 bilhões de euros para 2,963 bilhões de euros, alavancadas principalmente pelo Brasil e pela Divisão de Proteção de Cultivos. Os números foram divulgados em maio, em São Paulo. A empresa anunciou, ainda, o lançamento de quatro produtos para culturas como soja, milho, trigo, arroz, café e frutas. De acordo com as informações divulgadas pelos executivos da empresa, no primeiro trimestre de 2010, apesar do baixo preço e da oscilação das commodities, a Divisão de Proteção de Cultivos apresentou crescimento na América do Sul, devido à demanda elevada de defensivos por causa do clima chuvoso, da recuperação do mercado de cana-de-açúcar e da maior procura por produtos de alta tecnologia para assegurar a colheita. “Para os próximos anos, contamos com uma forte demanda por nossos produtos e soluções, visando atender às expectativas dos agricultores. Continuaremos investindo na capacidade produtiva e em inovação. Planejamos investir, no futuro próximo, uma média anual mundial entre 100 e 150 milhões de euros”, adiantou o presidente mundial da Divisão de Proteção de Cultivos da Basf, Markus Heldt. O vice-presidente de Proteção de Cultivos para América Latina, Walter Dissinger, destacou a importância da agricultura brasileira para a empresa. “Atualmente, a região que compreende a América do Sul,

África e Oriente Médio representa 23% das vendas mundiais de proteção de cultivos”, informou. Em 2009, a Divisão Global de Proteção de Cultivos registrou vendas no montante de 3.646 bilhões de euros, um aumento de 237 milhões de euros em comparação ao ano anterior. Seus lucros foram elevados para 769 milhões de euros com acréscimo nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, marketing e vendas.

Lançamentos

Até 2011 a Basf pretende colocar mais quatro produtos no mercado agrícola brasileiro: o Standak Top, indicado para o tratamento de sementes de soja; os herbicidas Heat, em fase de registro para culturas como algodão, café, milho, soja, trigo e feijão, e o Kifix, utilizado para o controle de plantas

daninhas em arroz irrigado, além do fungicida e bactericida biológico Serenade. O Standak Top contém ação inseticida e fungicida, indicado para dar maior proteção às sementes e impulsionar a germinação. O novo herbicida Heat - que já foi lançado na Argentina e chegará ao Brasil em 2011 – pode ser usado contra plantas daninhas de difícil controle, incluindo aquelas que desenvolveram resistência ao sistema padrão. É recomendado no combate a mais de 90 plantas daninhas que afetam 30 culturas, como soja, milho, trigo, arroz, café e frutas. Já o Kifix será um herbicida para o controle de plantas daninhas em arroz irrigado, recomendado para o controle de arroz vermelho. Serenade trata-se de fungicida e bactericida biológico, com novo modo de ação, indicado para o manejo de resistência de fungos. O produto já foi testado em mais de 50 culturas, com seis mil testes de campo realizados em diversos países.

Equipamentos e biotecnologia

A Basf apresentou, ainda, o Yield Max (equipamento para avaliar condições ambientais e auxiliar na tomada de decisão em relação ao melhor momento para aplicar defensivos), o Digilab (microscópio digital para ajudar na identificação de doenças de plantas) e o Interceptor (mosquiteiro impregnado com inseticida de longa duração, indicado contra insetos como o transmissor da malária). A empresa destacou, também, o Sistema de Produção Cultivance, a primeira variedade de soja brasileira geneticamente modificada tolerante a herbicidas, fruto da parceria entre a companhia e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EmC brapa).

Sistema Digilab e o equipamento Interceptor estiveram expostos durante a apresentação dos resultados

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Coluna ANPII

Popularização do uso

A

Dados da ANPII apontam que há espaço para o crescimento do emprego do nitrogênio biológico em leguminosas cultivadas no Brasil

importância do nitrogênio biológico, aportado às leguminosas via inoculação das sementes com bactérias dos gêneros Rhizobium ou Bradyrhizobium, é amplamente reconhecida nos meios técnicos e científicos como um dos grandes fatores de produtividade e de competitividade da soja produzida no Brasil. Um trabalho de muitos anos das entidades de pesquisa selecionou materiais microbianos altamente eficazes e as empresas desenvolveram tecnologia de produção que permitiu ao país ser líder mundial no uso de bactérias fixadoras de nitrogênio na agricultura. Entre os agricultores, entretanto, nem sempre esta percepção parece muito clara. E, por incrível que pareça, ainda há um contingente de plantadores de soja que se apoiam em

área de soja diminuía apenas 5,7%. A partir de 2006, a área de soja estabilizouse, até 2009, em torno de 21 milhões de hectares a 22 milhões de hectares, com mínimas variações, enquanto o inoculante iniciou um constante e sustentável aumento em seu uso nas lavouras. De 2006, pior ano da década, para 2007 houve aumento de 13,5%. Já de 2007 para 2008, o crescimento foi mais significativo, de 24,6%, chegando à venda de 18 milhões e trezentas mil doses de inoculante. Em 2009, o aumento já foi mais discreto, de 8,6%, para um aumento de 2% na área de soja plantada. Desta forma, pode-se ver que o uso de inoculantes tem espaço para crescer, mais ou menos, independentemente do crescimento da área de soja. Ações de divulgação, levando

maior conscientização por parte dos agricultores. Com a queda do uso da tecnologia nos anos anteriores, ocorreu um movimento dentro da pesquisa, da assistência técnica e da ANPII, para que o Brasil não perca este importante fator de competitividade que é o uso de inoculantes como fonte de nitrogênio para a cultura da soja. A conscientização do agricultor para o uso de tecnologias modernas vem aumentando nestes últimos anos e, na esteira deste maior uso de tecnologias que aumentem a produtividade e sejam amigáveis ao meio ambiente, o inoculante começa a ampliar seu espaço. Para a própria aplicação, um dos pontos justificados pelo agricultor como de maior dificuldade, já existem soluções diversas, adaptáveis para todo o tipo de propriedade, facilitando sobremanei-

Nos quatro primeiros anos da década, o aumento nas vendas de inoculantes esteve intimamente ligado ao crescimento da área plantada com soja falsos conceitos para não utilizar o produto em suas lavouras, perdendo a oportunidade de aumentar sua produtividade e o lucro de seu empreendimento. A falsa crença de que a bactéria, uma vez incorporada ao solo não necessita mais ser renovada, aliada ao processo de misturar o produto com as sementes no momento do uso, leva muitos agricultores a abandonarem esta tecnologia, que é a de melhor relação custo/ benefício de todas as atividades agrícolas. Nos quatro primeiros anos da década, o aumento nas vendas de inoculantes esteve intimamente ligado ao crescimento da área plantada com soja. Há uma linearidade entre a área de soja e a venda de inoculantes. Em 2005, houve uma desconexão entre os dois índices. Naquele ano, a área de soja aumentou, mas houve queda acentuada no uso de inoculantes. Os anos de crise de agricultura levaram o agricultor a abandonar muitas tecnologias, o que ocasionou regressão tecnológica na maioria das lavouras. Assim, em 2005 houve uma queda de 30,5% no uso de inoculantes em relação ao ano anterior, enquanto a área de soja cresceu 8,4%. Já em 2006, houve outra queda brusca no consumo de inoculante, caindo as vendas em mais 28%, em relação a 2005, enquanto a

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as informações aos agricultores, mostrando os resultados de pesquisa que comprovam as vantagens econômicas e ambientais no uso do nitrogênio biológico, fazem com que muitos agricultores voltem a adotar este insumo de grande eficácia na produção de leguminosas. No Gráfico 1 pode-se ver o comportamento do mercado de inoculantes ao longo dos últimos nove anos. Assim, verifica-se que nos anos de 2007 a 2009, em especial nos dois últimos, houve

ra o uso dos inoculantes. Um amplo trabalho de divulgação, envolvendo os setores ligados ao agronegócio poderá elevar o uso do nitrogênio biológico não só na soja, mas também em outras leguminosas, como feijão, caupí, forrageiras de clima temperado e tropical, adubos verdes C e florestais.

Solon de Araujo Consultor da ANPII

Gráfico 1 – Comparação entre vendas de inoculantes* e área de soja**

* Fonte: dados estatísticos da ANPII; ** Fonte: IBGE/Conab

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Coluna Agronegócios

R

Desmatamento evitado

EDD é a sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação. Dito de outra forma significa que, em troca de pagamento, os países que dispõem de grandes extensões de florestas nativas se comprometem a preservá-las. A lógica está na imobilização do estoque de carbono existente nas árvores das florestas, evitando que, através do desmatamento, este carbono seja emitido para a atmosfera. Como sabemos, a Ciência demonstrou que as Mudanças Climáticas Globais estão diretamente associadas ao aumento da concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, principalmente o gás carbônico. Uma das vias de crescimento da concentração de GEE é a derrubada das florestas e, em especial, as queimadas decorrentes dessa operação. Por sinal, no Brasil, a maior fonte de emissão de GEE

suas externalidades. Particularmente, o conjunto de governadores da Amazônia Legal não apenas é favorável como possui posição proativa, a fim de que o Brasil apoie a aprovação do mecanismo de REDD nos acordos internacionais de Mudanças Climáticas. Os valores envolvidos são muito altos, embora difíceis de dimensionar com precisão, pois o mecanismo de REDD ainda não tem seu conceito solidificado e sequer existe no mercado como tal. Entretanto, pode-se inferir sua dimensão pela proposta de “REDD voluntário” que os governos do Brasil e da Noruega firmaram, para criar o Fundo Amazônia, e que envolve US$ 1 bilhão. Estima-se que, apenas do aporte americano, os valores envolvidos alcançariam entre US$ 20 bilhões/ano a U$$ 30 bilhões/ano. No limite, existem

de argumento para países industrializados pagarem exclusivamente para conservar a floresta, sem fazer a lição de casa, que é reduzir as suas emissões. A agenda é mais ampla e complexa e o mecanismo de REDD trata-se de mais uma linha auxiliar, para evitar que a situação piore. Entretanto, para que possamos, no médio e longo prazo, diminuir as emissões de GEE, outras ações terão que ser implementadas. Em especial, o mundo precisa mudar, rapidamente, a sua matriz energética, com participação cada vez maior de energia renovável.

Oportunidade

Entre os países com grande cobertura florestal, o Brasil é o que reúne melhores condições tecnológicas e de governança para assumir o compromisso de zerar o desmatamento, no longo prazo, no bojo de

Entre os países com grande cobertura florestal, o Brasil é o que reúne melhores condições tecnológicas e de governança para assumir o compromisso de zerar o desmatamento (55%) deriva das queimadas, seja em florestas ou em áreas de pastagens. O REDD entra nesta história pois significaria um mecanismo financeiro – portanto, com grande apelo econômico para a sociedade e para os governantes – de preservação da floresta, derrubando argumentos como as dificuldades orçamentárias para sua preservação, os incentivos para o desenvolvimento de atividades sustentáveis, ligadas à floresta em particular, ou à agropecuária em geral, e mesmo as barreiras ao desenvolvimento de um país ou de uma região. Isto justifica o interesse dos governos dos diferentes países que dispõem de florestas por preservar.

Brasil

A proposta é particularmente interessante para o Brasil, que dispõe da maior área de floresta intacta do mundo e que se vê às voltas com sérios problemas para zerar o desmatamento e para reduzir as emissões por queimadas. A posição geral dentro do Governo é ser favorável à matéria, embora ainda existam bolsões que discutem a sua exequibilidade e as

estimativas que apontam para cifras anuais superiores a US$ 150 bilhões, que seriam repassadas aos Governos dos países dispostos a preservar as suas florestas.

O contexto

Se os acordos internacionais estabelecerem um teto para as concentrações de CO2, com o objetivo de limitar o incremento de temperatura, até o final do século abaixo de 2ºC, é fundamental investir na redução do desmatamento. Para atingir a meta, os cientistas que compõem o IPCC, o fórum científico da ONU para o estudo de Mudanças Climáticas, informa que a concentração de CO2 na atmosfera não poderá ultrapassar 450ppm (partes por milhão). Porém, lamento informar que, em 2009, já ultrapassamos o limite de 400ppm, mostrando a urgência das ações. O grupo de 35 países que detém a quase totalidade das florestas do planeta é o maior interessado na implementação do REDD. Entretanto, é importante ter em mente que não se salvará o clima do planeta só com preservação de florestas. Sem dúvida, preservar a floresta é muito importante, entretanto, isto não pode servir

fortes reduções anuais da derrubada da floresta. O REDD é um dos poucos mecanismos de incentivo que pode tornar possível a transição da lógica econômica vigente - em que se ganha derrubando - para aquela em que se ganha mantendo a floresta em pé, com crescimento econômico. Por esta lógica incentiva-se o desenvolvimento sustentável, inibindo o desmatamento e reduzindo a necessidade de medidas punitivas. Segundo os cálculos do Ipam, há 47 bilhões de toneladas de carbono estocado nas florestas remanescentes da Amazônia brasileira e 30% do total encontra-se em terras indígenas. O desafio é evitar a grilagem de terras públicas ou indígenas, promovendo alternativas econômicas que impliquem em crescimento sustentável, em linha com a tese de mitigar o impacto deletério das Mudanças Climáticas Globais sobre a vida na Terra. É onde o mecanismo do REDD pode fazer toda a C diferença.

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

A Ásia tem fome, nós temos comida O mercado mundial de grãos tem mostrado o contrário do que apontavam muitos especialistas, que pregavam que as cotações despencariam - por termos uma supersafra na América do Sul - e que a produção de milho e soja nos EUA cresceria. O que vemos são cotações em alta no mercado mundial puxadas pela grande demanda Asiática e pela presença crescente do setor de energia ou de biocombustíveis, com os EUA crescendo para atender a demanda própria (porque ninguém teria condição de atender a necessidade de milho americana para etanol se tivessem necessidade de importar). O milho poderá chegar a 120 milhões de toneladas usadas para etanol, ou seja, acima de toda a colheita da Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela e outros da América do Sul juntos, e de todos os grãos. Aproxima-se do que se colhia de grãos no Brasil há pouco mais de três anos. Resumindo, terão que crescer para se sustentar. A boa notícia vem da Ásia, onde todos os países estão crescendo em ritmo acelerado, com economias avançando entre 6% a 12% ao ano. Desta forma, mais alimentos serão necessários para suprir a população local, que também cresce. Nos próximos anos o crescimento populacional da Ásia deverá avançar na ordem de 75 milhões de pessoas ao ano. Além deste fator há um número superior a esse, composto pela população que vivia na miséria e está passando a consumir alimentos regularmente. Criar-se-á, dessa forma, a cada ano, algo próximo à população do Brasil em novos consumidores. Por outro lado temos o clima, que nos últimos anos castiga as plantações asiáticas e tem derrubado as colheitas, fazendo com que os países direcionem as áreas agrícolas para cultivos de menor risco climático e de grande necessidade local. Exemplo disso é o que ocorre com a cana, que avança em terras de cultivo de grãos, para atender a necessidade crescente de açúcar e de etanol. Desta forma, tem limitado a capacidade produtiva dos grãos e forçado estes países a importar, como se tem observado nas últimas semanas. Neste mês de maio e no mês de junho, somente a China indica que irá importar 10,5 milhões de toneladas de soja em grão, ou seja, há muito espaço para crescer, sem depender da demanda européia, que tem ficado estabilizada e até retraída nos últimos anos. O Brasil é visto como celeiro para os asiáticos continuarem crescendo, porque eles têm fome e nós temos a comida.

MILHO Ajuda do governo

Com a colheita da primeira safra de milho quase fechada, as atenções se voltam para a segunda safra, que no mês de abril sofreu com seca em todas as regiões produtoras e pode ter comprometido parte da produtividade. Mesmo assim há grande volume de milho no mercado e a necessidade de apoio do governo para dar liquidez e cotações que cubram os custos. Em abril grandes leilões de PEP movimentaram aproximadamente 15 milhões de toneladas e serviram para dar suporte ao mercado e estimular as exportações. O Brasil precisa exportar dez milhões de toneladas para melhorar o mercado interno.

que depois de muitos meses quebrou a barreira psicológica dos US$ 10,00 por bushel e criou condições para fechamentos futuros da safra nova via insumos que devem fluir bem neste mês de maio, principalmente para os estados do Centro-Oeste. Há boas expectativas de cotações do grão disponível para as demais regiões também nestas próximas semanas, porque agora estamos no período de plantio americano e qualquer problema climático serve de apelo para forte pressão de alta. Lembrando que a China continuará comprando volumes gigantes e também dará lastro às cotações.

FEIJÃO Cotações animam produtores

As cotações do feijão no mês de abril avançaram forte e atingiram patamares acima dos R$ 160,00 por saca. Com isso, animaram os produtores para A soja teve um começo de ano com poucos o plantio do irrigado da terceira safra que está em negócios. Agora, com o fechamento da colheita, os andamento e deverá continuar até julho. Com apoio produtores voltam-se para o mercado de Chicago, da quebra da primeira safra, da redução do plantio

SOJA Produtor voltando aos negócios

da segunda e da forte demanda que vem ocorrendo desde fevereiro, em função de o feijão ter baixado nas gôndolas e a economia mostrar fôlego criando empregos formais recordes, a expectativa é de que a demanda do “feijão nosso de cada dia” continuará mostrando boas notícias aos produtores, com níveis entre R$ 80,00 e R$ 140,00 nos próximos meses.

ARROZ Safra colhida, agora espera alta

A safra foi totalmente colhida e a produção está muito abaixo do consumo, com indicativos de necessidade de importação de aproximadamente 1,2 milhão de toneladas do produto de países que também tiveram redução de safra, como o Uruguai e a Argentina. Diante desse cenário os produtores esperam que, de maio em diante, as cotações comecem a avançar, com o setor na expectativa de níveis entre R$ 29,00 e R$ 32,00 já para o próximo mês, com avanço importante e fôlego para crescer ainda mais à frente.

CURTAS E BOAS TRIGO - O plantio tem andado a conta-gotas porque as primeiras áreas do Paraná já estão concluídas e segue o cultivo em outras regiões do estado. A expectativa é de avanço no Rio Grande do Sul e também no Mato Grosso do Sul, além de pontos localizados de São Paulo e algumas áreas irrigadas do Brasil Central. Os produtores devem buscar tecnologia para crescer em produtividade neste ano e alcançar alta qualidade para conseguir as melhores cotações, porque a Argentina não tem trigo para atender à demanda brasileira e certamente o produto de outros países chegará caro por aqui. Com indicativos entre R$ 380,00 e R$ 450,00 por tonelada e fôlego para chegar a R$ 500,00. ALGODÃO - O mercado tem oferecido boas notícias para os produtores, porque segue com indicativos de avanços nas posições internacionais. A melhor notícia veio da Organização Mundial do Comércio (OMC), que deu autorização para que o Brasil retaliasse os EUA devido a subsídios dados aos cotonicultores americanos. Com isso inaugura-se nova fase do mercado mundial do algodão, que irá beneficiar os produtores brasileiros que vinham amargando prejuízos. EUA - A safra encontra-se em plantio e tudo aponta para a casa dos 36 milhões de hectares de milho e 31,5 milhões de hectares de soja. Ambas culturas crescem em potencial de safra para atender o crescimento no consumo interno americano e o aumento das exportações americanas. A safra maior não será fator de pressão negativa sobre as cotações. A demanda de biocombustíveis está aquecida e levará quase todo o crescimento previsto na safra que avançará com o plantio até o final de maio. CHINA - A presença dos chineses no Brasil é importante para aumentarmos nossos negócios. Eles vêm para cá em busca de comida e nós necessitamos de

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consumidores. A expectativa é de que a China irá importar mais de 45 milhões de toneladas de soja neste ano. O governo chinês já confirmou que chegará a 44 milhões de toneladas e normalmente quando confirma um número, acaba comprando mais. A economia chinesa já está crescendo novamente na casa dos 10% ao ano e isso será lastro para grandes importações. ÍNDIA - Os indianos continuam com problemas climáticos em áreas de produção de grãos do Norte e do Centro do país e já é dada como certa a redução da produtividade. Criam-se expectativas frente à necessidade de importação de alimentos neste ano e também indica-se queda no potencial de exportação de produtos que normalmente o país realiza para seus vizinhos. Com indicativos de que a área de cana irá crescer em cima de áreas de grãos no país. ARGENTINA - A colheita está fechando com supersafra e os produtores protestam pelos altos impostos. O governo cobra dos produtores 35% de taxa de exportação da soja em grão e níveis menores para os subprodutos, como farelo e óleo. Com isso beneficia os argentinos, que são os maiores exportadores de óleo do mundo. Mas os produtores perdem muito porque grande parte da safra é comercializada na forma de grão e, desta forma, o faturamento fica com o governo. Em maio os produtores protestaram para tentar derrubar esta taxa. O governo tenta segurar os produtores e diminuiu a taxa de exportação do biodiesel para 5%, na busca por estimular ainda mais a industrialização local. Mas os ganhos não chegam às mãos dos produtores e desta forma a briga continua. A produção de biodiesel deverá saltar acima de 1,1 milhão de toneladas neste ano e fazer o país sair do anonimato para ocupar o posto de quinto maior produtor mundial, atrás da Alemanha, Brasil, França e EUA.




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