Cultivar 133

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 133 • Junho 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Verde e enlouquecida............................28

José Roberto Pavezi

Os fatores que influenciam na incidência do ácaro preto Scheloribates praeincisus em lavouras de soja e sua relação com sintomas de plantas estéreis e hastes verdes

Manejo diferenciado...................22 Perfuradores de raizes.................32 Lavoura monitorada...................38 O que levar em consideração na batalha contra insetos-praga em lavouras de milho transgênicas e convencionais

A explosão de nematoides nas áreas de cultivo do cerrado brasileiro e as estratégias disponíveis para efetuar o manejo eficiente

Índice

O monitoramento do algodoeiro em fases-chave como ferramenta para identificar problemas e estabelecer prazos adequados para ações de correção

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Colheita de café

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• Editor

Doenças em milho

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• Redação

Manejo diferenciado em milho

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• Design Gráfico e Diagramação

Variabilidade genética em arroz

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• Revisão

Ácaro preto em soja

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• Secretária

Nematoides em soja

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Plantas daninhas em trigo

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Monitoramento em algodão

38

Plantas daninhas em cana

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Informe empresarial - Pioneer

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Eventos - Fenasoja 2010

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Coluna ANPII

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Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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REDAÇÃO

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

Gilvan Dutra Quevedo Lisandra Reis Cristiano Ceia Aline Partzsch de Almeida Rosimeri Lisboa Alves

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

GRÁFICA

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.





Diretas AgroBalsas

Posse

Mozart Fogaça Júnior é o novo gerente nacional de Vendas de Sementes DowAgroSciences. Ele vai liderar o time das gerências regionais de vendas das marcas DowAgroSciences e Agromen Tecnologia. Sob sua responsabilidade estarão os portfólios de sementes de milho, soja, sorgo e girassol.

Mozart Fogaça Júnior

Fenasoja

Durante a 18ª edição da Fenasoja, em Santa Rosa, a Agromen apresentou dois híbridos de sorgo e cinco híbridos de milho. De acordo com o representante da Agromen Tecnologia, Oldemari Antonio Darli, os produtos são oferecidos nas versões convencional e com tecnologia Herculex (que oferece proteção contra a lagarta-do- cartucho, considerada a principal praga foliar do milho, e também contra a broca-da-cana).

Durante a AgroBalsas 2010, na Fazenda Sol Nascente, no Maranhão, a Divisão de Proteção de Cultivos da Basf apresentou produtos para as culturas de soja e milho. O foco esteve direcionado ao Sistema AgCelence de Produtividade Top, que alia produtos, serviços e conhecimento técnico. Foram apresentados os sistemas Yield Max e Digilab, também os inseticidas Nomolt e Imunit; bem como os benefícios AgCelence contidos nos defensivos Opera, Comet e Standak Top que geram ganhos médios em produtividade de aproximadamente 10%.

Comando

O presidente da Syngenta Proteção de Cultivos América Latina, Antonio Carlos Guimarães, assumiu a presidência da CropLife América Latina - organização que representa as principais indústrias e associações do setor agrícola de 18 países, incluindo o Brasil. Guimarães, que já fazia parte da diretoria da entidade, sucede o executivo Antonio Zem, da FMC. A cerimônia de posse foi realizada Antonio Carlos Guimarães em maio, em Lima, no Peru.

Milho e sorgo

Oldemari Antonio Darli

América Latina

Depois de diferentes atribuições na Syngenta, Marconi José Vaz e Dias é o novo gerente de Negócios Herbicidas Seletivos da América Latina. O foco da nova função é o gerenciamento dos principais herbicidas seletivos em culturas como soja, milho e principalmente cana. Marconi José Vaz e Dias

Durante a AgroBrasília a Dow AgroSciences destacou híbridos de milho e de sorgo, além das variedades de soja próprias para clima e solo da região. O especialista em Marketing para Sementes da Dow, Jader Rodrigues, destacou a qualidade dos materiais da marca. “Além da alta produtividade atendem às principais necessidades dos agricultores”, defendeu. A empresa apresentou também seu portfólio de defensivos agrícolas, com ênfase nos produtos Spider, Glizmax Lorsban, Intrepid e na solução DuoPack. O Especialista em Marketing para Fungicidas e Inseticidas, Vitor Cunha, avaliou que a participação no evento foi uma oportunidade para a empresa difundir suas tecnologias entre os produtores.

Revendas

A FMC reuniu aproximadamente 150 revendedores de todo país em evento em São Paulo, entre os dias 13 e 15 de maio. O objetivo foi de fortalecer os laços com parceiros e centros de distribuição para expandir a atuação da empresa no mercado de grãos. A unidade brasileira da FMC já é a maior da companhia em todo o mundo, com 38% do faturamento global. Até 2014, a meta é alcançar US$ 1 bi e atingir o percentual de 45% do faturamento mundial.

10 Culturas

Novos rumos

Ricardo Almeida é o novo diretor de Negócios da Cheminova. A Unidade de Negócios Norte - que compreende os estados do Centro-Oeste e Norte do Brasil - ficará sob sua liderança e de sua equipe. De acordo com Almeida o objetivo, nos primeiros meses de trabalho, é promover o crescimento e o fortalecimento da emRicardo Almeida presa em toda a região.

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A Bayer CropScience acaba de obter o registro para extensão de uso do inseticida CropStar para 10 culturas: soja, algodão, trigo, feijão, arroz, amendoim, cereais de inverno, girassol, mamona e sorgo. Até então, o produto era utilizado apenas no milho. “É uma importante novidade, pois a partir de agora produtores de diversas culturas terão acesso aos benefícios de CropStar, principalmente no controle simultâneo de lagartas, pragas sugadoras e nematoides que geram preocupação aos agricultores de diversas regiões", afirma Luis Henrique Feijó, gerente de portfólio Tratamento de Sementes da Bayer CropScience. CropStar é um inseticida de uso exclusivo para tratamento de sementes e seu grande diferencial é o controle conjunto de pragas sugadoras, mastigadoras (lagartas) e nematoides. Luis Henrique Feijó



Café

Tempo de colher Responsável por até 30% dos custos diretos de produção e por metade da mão de obra utilizada em uma lavoura, a colheita é uma das etapas mais importantes na produção de grãos. Na cultura do café, a operação exige atenção a aspectos como época e método mais adequados a determinada região

A

colheita é uma das etapas mais importantes na produção de grãos, tendo como objetivo principal a retirada da produção no campo nas melhores condições possíveis de sanidade e qualidade da matéria-prima. Além disso, a operação representa metade do emprego da mão de obra utilizada em uma lavoura e entre 25% e 30% dos custos diretos da produção. A época e o método como é realizada a colheita podem exercer grande influência na qualidade do café. Embora existam basicamente dois tipos dessa operação (seletiva ou por derriça), nas condições da cafeicultura brasileira predomina a colheita por derriça. No método de colheita por derriça, onde todos os frutos são retirados do cafeeiro ao mesmo tempo, procura-se minimizar a influência prejudicial da presença de frutos em diferentes estádios de maturação, como verdes, passas e secos, colhendo-se o máximo de maduros. Dentre várias operações agrícolas que desempenham papel fundamental na produção de café, destaca-se o preparo ou processamento, porque influencia diretamente o aspecto e a qualidade final do produto. O café pode ser preparado de duas formas: por via seca ou via úmida. Na forma de preparo por via seca, o fruto é seco na sua forma integral (com casca), dando origem aos cafés naturais

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ou em coco, enquanto na forma de preparo por via úmida, o café pode ser descascado, despolpado ou desmucilado, originando os cafés em pergaminho. Desta forma, o conhecimento de técnicas adequadas de colheita e preparo do café é fundamental para que os produtores consigam obter um produto de boa qualidade e com melhor rentabilidade.

Colheita

A colheita é a ação deliberada de separação dos frutos do café de seu meio de crescimento. Todas as ações posteriores são consideradas pós-colheita. A colheita apresenta como

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principais objetivos a retirada do produto no campo em níveis adequados de maturidade, com um mínimo de danos ou perdas, com maior rapidez possível e com custo mínimo. O estádio de maturação em que o café expressa sua máxima qualidade é o fruto maduro, denominado cereja. No entanto, o teor de umidade e a composição em açúcares de sua polpa colocam-no como uma fruta, com todas as condições de perecibilidade. A colheita do café processa-se em curto período, iniciando-se, de modo geral, em abril/maio na Zona da Mata de Minas e outras regiões de temperaturas mais elevadas, prolongando-se até agosto/setembro nas

Processo de secagem do café natural


Preparo do café cereja despolpado por via úmida; preparo do café cereja descascado por via úmida e preparo do café natural por via seca

demais regiões. Entre os cuidados para preservar a qualidade na colheita, destacam-se: a) O planejamento da colheita com o objetivo de preparar a lavoura (arruação), os materiais (panos, peneiras) e os equipamentos necessários (colhedoras, tratores etc); b) Início da colheita; c) Métodos e tipos de colheita.

Planejamento da colheita Arruação No método de colheita do café por derriça, uma parcela dos frutos cai no solo, fora dos

panos ou como um resíduo da colheita mecânica. Esta parcela, denominada “varrição”, geralmente entra em contato com o solo, se contamina com microrganismos e impurezas e na maioria das vezes tem sua qualidade comprometida. A arruação é a operação de limpeza da terra solta, das plantas daninhas e dos detritos que estão abaixo e nas proximidades do cafeeiro e a colocação deste material em leiras ou montes, no centro das entrelinhas. Deve-se atentar para o fato de se raspar um mínimo possível de solo, a fim de evitar danos às raízes superficiais do cafeeiro. Esta operação deve ser feita antes da co-

lheita para evitar que o café venha a se perder em mistura com terra e restos de vegetais. Facilita, também, a varrição do café seco caído antes e após a derriça na colheita e possibilita maior rendimento dos trabalhos durante a operação. Início da colheita A operação de colheita assume grande importância na obtenção de um produto de qualidade superior, justificando a observância de aspectos tais como a determinação da época adequada para se proceder o início da operação, bem como a escolha do método mais adequado para a região e/ou para o tamanho

Preparo da lavoura para a colheita no momento da arruação do café


Preparo do café em coco por via seca

da lavoura. Métodos e tipos de colheita A colheita do café pode ser realizada de forma manual, semimecanizada e mecanizada, sendo que esta última é restrita a locais de topografia que permita o trânsito das colhedoras e propriedades de médio a grande porte. A colheita manual pode ser do tipo seletiva, catando-se “a dedo” somente os frutos maduros, ou do tipo concentrada, derriçando-se todos os frutos de cada ramo no chão, em panos ou em peneiras. Por outro lado, a colheita semimecanizada utiliza derriçadeiras portáteis ou tracionadas, desprovidas de recolhedores, e a mecanizada é feita com máquinas colheitadeiras completas automotrizes ou tracionadas por trator. Processamento ou preparo do café As características iniciais da matéria-prima como grau de maturação, composição química, teor de umidade e propriedades físicas são parâmetros a serem considerados em qualquer processo pós-colheita de produtos agrícolas, principalmente no caso do café, em que variam muito durante a colheita. Devido à maturação desuniforme, o café colhido é uma matéria-prima heterogênea que pode apresentar diferenças marcantes na anatomia, composição química e no teor de umidade. Além disso, a composição em açúcares da polpa do fruto cereja o caracteriza como um fruto perecível, devendo ser processado rapidamente e em condições higiênicas. Os defeitos originados na pré-colheita podem ser intensificados, se não forem empregadas técnicas eficientes no preparo pós-colheita do café. A escolha do método de processamento do café é decisiva na rentabilidade da atividade cafeeira e dependerá de diversos fatores, tais como: condições climáticas da região, disponibilidade de capital, tecnologia e equipamentos, exigências do mercado consumidor quanto às características do produto, outorga para uso de água, disponibilidade de tecnologia para tratamento das águas residuárias. Assim, pode-se dizer que três aspectos são fundamentais na escolha do método de processamento do

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café: a relação custo/benefício do método de processamento, a necessidade de atendimento à legislação ambiental e padrão de qualidade desejado. Depois de colhido, o café pode ser preparado de duas formas: por via seca e por via úmida. Na forma de preparo por via seca, o fruto é seco na sua forma integral (com casca), dando origem aos cafés denominados coco, de terreiro ou naturais. O preparo por via úmida consiste na retirada da casca, polpa e/ou mucilagem do fruto maduro, que são substratos propícios ao desenvolvimento de microrganismos que podem provocar a ocorrência de fermentações prejudiciais à qualidade final do produto. Essa é a forma indicada para regiões que podem apresentar problemas quanto à qualidade, em função de condições climáticas inapropriadas durante o preparo dos frutos, como é o caso da Zona da Mata, em Minas Gerais. Na forma de preparo por via úmida, originam-se os cafés despolpados, descascados e desmucilados. Recepção, abanação e lavagem do café Independentemente do processo de colheita utilizado, os frutos do cafeeiro devem ser processados e esparramados no mais curto espaço de tempo possível, jamais ficando amontoados ou nas carretas aguardando a descarga, pois as condições de umidade e temperatura existentes na massa de café constituem-se em fator altamente favorável ao desenvolvimento de microrganismos que aceleram o processo fermentativo. Preparo do café natural “via seca” A produção de café natural é o modo mais antigo e mais simples de processar o café recém-colhido e consiste em submetêlo à secagem na sua forma integral, ou seja, sem a retirada da casca. É largamente usado

Momento da colheita do café por derriça no pano

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nas condições tropicais onde há uma estação seca característica durante o período de colheita, sendo o método predominante no processamento do café do Brasil. Apesar de ser conhecido como “via seca”, a terminologia mais adequada deveria ser “café natural”, pois além de evitar a imagem pejorativa para o café brasileiro usada no exterior de “café não lavado”, trata-se do processo que menos afeta a condição natural do café, pois todas as suas partes constituintes são mantidas, possibilitando a obtenção da bebida que tornou o café internacionalmente conhecido. Além disso, é o processo que menos agride o meio ambiente, pois produz poucos resíduos sólidos e líquidos, não havendo a produção de efluentes com elevado teor de matéria orgânica. Processamento do café por “via úmida” É o processo através do qual, após a passagem pelos lavadores, haverá a remoção da casca e/ou da mucilagem, reduzindo os riscos de fermentações e possibilitando uma secagem mais rápida, resultando, geralmente em cafés de boa qualidade. A forma de preparo via úmida pode originar os cafés descascados, despolpados ou desmucilados. Para a obtenção do café cereja descascado, os frutos são descascados mecanicamente e parte da mucilagem ainda permanece aderida ao pergaminho dos frutos. Na obtenção do café despolpado, após o descascamento, a parte da mucilagem que ainda estava aderida aos frutos é removida em tanques de fermentação biológica. Se a remoção desta mucilagem remanescente for realizada mecanicamente, temos então o café C desmucilado. Marcelo Ribeiro Malta, Epamig

Malta: "A técnica de colheita do café é fundamental para obter um produto com qualidade e rentabilidade"


Milho

Com equilíbrio O desequilíbrio no ecossistema, gerado por alguns cultivos agrícolas, é uma das causas para o surgimento de doenças. Na cultura do milho, a cercosporiose (Cercospora zeae maydis), mancha branca, ferrugem polissora (Puccinia polysora), ferrugem comum (Puccinia sorghi), ferrugem branca (Physopella zeae), helmintosporiose (Exserohilum turcicum e Bipolaris zeicola), mancha de diplodia (Stenocarpella macrospora), antracnose (Colletotrichum graminicola) e os enfezamentos pálido (Spiroplasma) e vermelho (Phytoplasma) estão entre os principais entraves. A adoção de medidas integradas é a melhor alternativa para minimizar os prejuízos e proporcionar o convívio sustentável com esse tipo de problemas

E

specialmente no caso do milho, mudanças climáticas globais, alterações no sistema de cultivo, com taxas crescentes de adoção do sistema de plantio direto e da irrigação nas últimas décadas, incrementos substanciais nas áreas destinadas ao cultivo de safrinha - plantas de milho permanecem no campo o ano todo - e a ausência de rotação de culturas contribuíram significativamente para romper a estabilidade do sistema e, consequentemente, para a multiplicação e preservação de inóculo de diversos patógenos (fungos, bactérias, nematoides,

vírus e molicutes), submetendo a cultura a condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento de determinadas doenças. Dentre as principais doenças associadas à cultura do milho no Brasil, destacam-se a cercosporiose (Cercospora zeae maydis), a mancha branca, a ferrugem polissora (Puccinia polysora), a ferrugem comum (Puccinia sorghi), a ferrugem branca (Physopella zeae), a helmintosporiose (Exserohilum turcicum e Bipolaris zeicola), a mancha de diplodia (Stenocarpella macrospora), a antracnose (Colletotrichum graminicola) e os enfezamentos pálido (Spiroplasma) e vermelho (Phytoplasma)

como aquelas que se apresentam com maior potencial para promover perdas significativas na produção. Embora alguns casos tenham merecido destaque, como por exemplo a alta incidência e severidade de cercosporiose na região sudoeste de Goiás no ano de 2000, com perdas superiores a 80% da produção, a importância de cada uma dessas doenças é variável de ano para ano e de região para região, não sendo possível afirmar que alguma delas seja de maior importância em relação às demais. A ocorrência de uma doença se dá em função da interação de três fatores básicos: hospedeiro suscetível (planta), patógenos virulentos e ambiente favorável ao progresso das doenças. Neste sentido, várias práticas têm sido sugeridas para o manejo adequado Diego Carvalho

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Triângulo de doenças na cultura do milho

de doenças associadas à cultura do milho, englobando intervenções de natureza preventiva e/ou curativa. O conjunto de práticas com o objetivo de reduzir o inóculo inicial dos principais patógenos, é considerado de caráter preventivo (antes do estabelecimento da doença), enquanto aquelas que têm por foco a diminuição da taxa de evolução ou a paralisação da doença e dos efeitos maléficos consistem no método curativo (depois de identificada a incidência da doença). Até meados da década de 70, o controle de insetos-praga e de doenças na cultura do milho baseava-se na aplicação de defensivos agrícolas químicos em larga escala e de forma continuada, devido ao baixo custo e ao amplo espectro de ação. Entretanto, ao longo dos anos muitas espécies tornaram-se resistentes, com o consequente ressurgimento de espécies previamente controladas, surtos epidêmicos de insetos-praga e de patógenos de importância secundária. A utilização de cultivares de milho que apresentam resistência genética a determinadas doenças é uma das mais atrativas e promissoras estratégias de manejo, uma vez que o seu uso não exige custo adicional ao produtor, não causa impacto negativo ao ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de manejo e, muitas vezes, suficiente para o controle da doença. A aplicação de fungicidas em lavouras de milho ainda é assunto de muitas discussões, principalmente sobre sua viabilidade econômica. Na literatura podem ser encontrados relatos de incrementos acima de 30 sacos/ ha diante da aplicação desses produtos. Entretanto, outros estudos têm demonstrado

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Imagens representam o Manejo Integrado de Doenças

significativa instabilidade na obtenção desses incrementos, não havendo repetibilidade desses ganhos quando consideradas as variações em fatores como cultivares, pressão de doenças, sistemas de produção e nível tecnológico empregado. Com vistas à sustentabilidade da atividade produtiva do milho, encontra cada vez mais relevância o Manejo Integrado de Doenças (MID), que traz à luz uma filosofia de controle que tem, como princípio norteador, o uso integrado de todas as alternativas de combate possíveis e adequadas dos pontos de vista social, econômico e ambiental. O MID procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas as técnicas de combate possíveis, com o objetivo de manter os níveis de incidência e

As estratégias preconizadas pelo Manejo Integrado de Doenças ainda são pouco utilizadas pelos produtores

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severidade de doenças abaixo do nível de dano econômico e minimizar os efeitos deletérios ao meio ambiente. O nível de dano econômico representa a taxa de incidência e severidade da doença, capaz de promover um prejuízo de igual valor ao custo do seu controle. A rotação de culturas, o uso de cultivares resistentes, a utilização de agentes biológicos de controle, a semeadura em época adequada, de modo a se evitar que os períodos críticos para a produção coincidam com as condições ambientais mais favoráveis ao progresso das doenças, o manejo adequado da lavoura (adubação equilibrada, população adequada de plantas, controle efetivo da profundidade de semeadura, propiciando uma emergência mais rápida) e a menor exposição do hipocótilo aos patógenos de solo; rouguing; manejo efetivo de plantas daninhas, minimizando o nível de estresse de plantas por matocompetição; manejo da irrigação fundamentado em critérios técnicos, controle químico racional e colheita em época correta são exemplos de estratégias que fazem parte do portfólio preconizado pela filosofia de Manejo Integrado de Doenças (MID). Independentemente da prática escolhida, merece destaque a correta identificação do agente causal (patógeno), como o primeiro passo para se estabelecer uma prática de manejo eficaz. Apesar da relevância, as estratégias preconizadas pelo MID ainda são pouco utilizadas pelos produtores rurais. Isso ocorre principalmente porque a adoção dessas práticas de manejo tecnologicamente adaptadas e eficientes passa, necessariamente, pela mudança de filosofia e de costumes


Fotos Diego Carvalho

Ações de transferência de tecnologias com foco no MID

A ocorrência de uma doença se dá em função de hospedeiros suscetíveis, patógenos virulentos e ambiente favorável

Carvalho desenvolve projeto de capacitação em diagnose e manejo integrado de doenças na cultura do milho

amplamente difundidos ao longo dos anos. O manejo integrado, na sua essência, não tem como objetivo erradicar o patógeno, mas, sim, reduzir a sua população a níveis que possibilitem conviver com a doença. Um outro agravante é que, frequentemente, o sistema de produção com todas as suas vertentes não é bem entendido ou não é considerado quando se estabelecem estratégias para o manejo das doenças. Como exemplo, a contribuição comprovada de uma adubação equilibrada no combate a algumas doenças do milho, que, não raras as vezes, é sequer lembrada pelos produtores e técnicos na escolha da melhor alternativa de manejo. A aplicação de doses equilibradas de potássio no solo tem se mostrado capaz de aumentar o período latente de C. graminicola, um importante patógeno das plantas de milho, agente causal da antracnose. Esse nutriente, fornecido equilibradamente, em condições experimentais, foi capaz de retardar a esporulação do patógeno (C. graminicola) por aumentar a resistência das células do hospedeiro à infecção. Isso se traduz em um número menor de ciclos do patógeno na lavoura, em menor quantidade de inóculo na área e, possivelmente, em menor dependência de produtos químicos/ defensivos agrícolas. Focado na sustentabilidade da atividade, o MID também se constitui assunto de saúde pública e requer esforço conjunto de profissionais, produtores e consumidores, com o intuito de minorar a dependência por produtos químicos tóxicos para o combate às doenças e melhorar a qualidade da produção. Dessa forma, para aumentar os níveis de adoção do MID, se faz necessário adquirir conhecimentos aprofundados sobre

o ecossistema como um todo (histórico de doenças na área, cultivares tolerantes ou resistentes, diversidade biológica, biologia das populações presentes, presença de plantas daninhas/hospedeiro secundário e inimigos naturais, fertilidade do solo, disponibilidade de água/período de molhamento foliar, entre outros), possibilitando o amplo planejamento da atividade e, principalmente, subsidiando a tomada de decisão para a adoção da melhor estratégia de manejo.

O incremento significativo na incidência e na severidade das doenças associadas à cultura do milho, bem como os crescentes índices de perdas observados, especialmente a partir da década de 90, deu origem a um trabalho sistemático de monitoramento e coleta de dados fitotécnicos e fitossanitários, que tem sido conduzido pela Embrapa Milho e Sorgo em parceria com o setor privado. Desde então, muitos estudos têm sido desenvolvidos e as informações geradas têm norteado vários outros projetos envolvendo o assunto. Recentemente, a transferência de tecnologias acerca do assunto também foi contemplada com um projeto de capacitação de profissionais da extensão rural em diagnose e manejo integrado de doenças na cultura do milho, tendo como locais de atuação os principais estados produtores no Brasil. O projeto, que tem como público-alvo os profissionais da extensão rural, prevê a realização de diversos cursos de capacitação e dias de campo para a socialização das tecnologias que têm o objetivo de capacitar multiplicadores, criando uma rede de cooperação técnica C em todo o país. Diego de Oliveira Carvalho, Embrapa Milho e Sorgo

Desequilíbrio e doenças

U

m ecossistema consolidado apresenta-se em equilíbrio dinâmico entre os seus componentes bióticos (seres vivos) e abióticos (rochas, por exemplo). Quando são analisados os componentes bióticos, constatam-se intrincadas e complexas as relações entre as populações ali presentes, demonstrando um alto grau de estabilidade. Essa estabilidade é resultado da pressão de seleção imposta a esses organismos por força de diferentes formas de estresse ao longo do tempo, o que contribuiu para torná-los altamente competitivos e muito bem adaptados, uma vez que foram capazes de se integrar a diferentes populações, com distintas necessidades e, consequentemente, conseguir encontrar um nicho ecológico para se estabelecer. Quando o homem cultiva as plantas e impõe a sua forma de agricultura, beneficia apenas as espécies cultivadas de seu interesse e promove o rompimento deste estado de equilíbrio. A complexa comunidade biológica que ali existia é, então, substituída

por uma quantidade reduzida de espécies (monocultura). Este novo sistema criado pelo homem passa, então, a ser chamado de agroecossistema. Essa artificialidade imposta ao ecossistema gera uma série de desequilíbrio e, na busca pela prevalecência, alguns organismos evoluem para a especialização patogênica das espécies cultivadas como forma de sobrevivência, numa clara tentativa de estabelecer novamente uma condição de equilíbrio e evidenciando, mais uma vez, que na natureza nada se perde, nada se cria, mas tudo se transforma. De uma maneira simplista, assim se estabelecem as doenças de plantas, que podem ser entendidas como o mau funcionamento das células do tecido hospedeiro, resultado da contínua irritação por um agente patogênico. Essa “irritação continuada” conduz ao aparecimento dos sintomas das doenças, que são mudanças anormais na forma, na fisiologia, na integridade e/ou no comportamento da planta.

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Milho

Manejo diferenciado Com o crescimento da oferta e a popularização das variedades de milho resistentes a insetos no Brasil, produtores precisam estar atentos às especificidades desse tipo de tecnologia. É fundamental ter presente que a resistência se refere a espécies-alvo e não a todo o conjunto de pragas que afetam a cultura. O sucesso desses materiais depende, também, da observação das recomendações de órgãos de pesquisa e das empresas detentoras das sementes aliadas às diretrizes legislativas que regulam sua utilização

A

produtividade de milho no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos. Tal aumento pode ser atribuído a diversos fatores como o uso correto de insumos, à melhor genética da semente, ao manejo cultural adequado e ao clima favorável. Maiores produtividades são geralmente alcançadas quando todos ou o maior número possível desses fatores atuam em conjunto. O que muitas vezes não ocorre. Um exemplo disso refere-se ao manejo dos fatores bióticos como as doenças, plantas daninhas e insetos fitófagos. Embora consciente da importância direta destes fatores e até mesmo utilizando medidas para mitigar o problema, não raras vezes deixa-se de atingir os resultados esperados. Particularmente, em relação aos insetos fitófagos, é fácil diagnosticar as razões pela não obtenção da eficiência esperada. O desconhecimento das espécies mais importantes e/ou do nível de dano econômico, daquelas espécies conhecidas, fatalmente leva à adoção de medidas de controle antecipadas ou tardias, comprometendo a tomada de decisão. Em ambos os casos, não há eficácia da medida utilizada e, portanto, ocorrem perdas na produtividade. E com certeza haverá adicionalmente aumento no custo de produção. Tais problemas podem ser agravados pelo uso de novas medidas de controle, seguindo o mesmo padrão anterior. Ou seja, aplicações sem critérios técnicos. Apesar da oferta de estratégias adequadas para o manejo das pragas da

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cultura do milho, ainda existe dificuldade de implantação de programas de manejo integrado. Por exemplo, a lagarta-docartucho, Spodoptera frugiperda (mesmo com o grande avanço nas pesquisas para seu correto manejo) ainda causa elevados prejuízos ao agricultor. Controles químico ou biológico podem ser utilizados com eficácia, desde que sejam aplicados na época adequada. Esse período tem sido bem determinado através do monitoramento de adultos da praga, pelo uso de armadilha contendo feromônio sexual sintético. Resultados obtidos na Embrapa Milho e Sorgo mostram a presença constante da praga em áreas de plantio de milho em diferentes regiões produtoras e com incidência maior na fase inicial de desenvolvimento da planta. Ou seja, o ataque pode ocorrer a partir de uma lavoura jovem, onde as plantas apresentam pouca área foliar. Área onde não se faz o monitoramento através da armadilha de feromônio, logo após o plantio ou mesmo quando realizado de maneira adversa, porém sem planejamento e/ou sem a técnica apropriada, geralmente leva à utilização de uma medida de controle tardia e, portanto, de baixa eficiência.

Cultivares transgênicas

A oferta de milho transgênico no Brasil já ultrapassa 100 cultivares. Os materiais voltados para o controle de insetos são resultantes de três eventos básicos, sendo a maioria com o evento MON 810, marca registrada Yieldgard, seguido por cultivares contendo o TC 1507, marca Herculex I e por cultivares


Fotos Ivan Cruz

Orifício de entrada da larva de coró no solo

apresentando o Agrisure TL, conhecido como Bt11. Todas as versões transgênicas são também comercializadas na versão convencional e, obviamente, apresentam as mesmas características agronômicas, diferindo apenas na característica que lhe é conferida pelo evento transgênico. O principal alvo do milho Bt são os insetos fitófagos dentro da ordem Lepidoptera. As cultivares da atualidade expressam a toxina Cry 1A(b) (MON 810 e Bt11) ou a toxina Cry 1F (Herculex). Especificamente, o milho Bt é dirigido para a lagarta-do-cartucho; a lagartada-espiga Helicoverpa zea (Boddie) e a broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis (Fabricius). Informações finalísticas sobre o efeito dos milhos Bt sobre outras espécies da ordem Lepidoptera, como a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller) ainda são necessárias. Como a lagarta-do-cartucho é a principal praga do milho no Brasil, não resta dúvida que a utilização da cultivar de milho Bt, visando esta praga, traz como impacto imediato, a redução das aplicações de inseticidas químicos. Por outro lado, como em toda inovação, o milho Bt não é solução para os problemas relacionados com os insetos-praga. E mesmo para aquelas espécies alvo, para maximizar seus benefícios econômicos, é fundamental seguir as recomendações de órgãos de pesquisa e empresas detentoras das sementes e as diretrizes legislativas que regulam sua utilização. Mais especificamente, cumprir duas regras básicas: a de coexistência, exigida por lei, e a regra do

Manejo da Resistência de Inseto (MRI), recomendada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Coexistência - A regra exige o uso de uma bordadura de 100 metros, isolando as lavouras de milho transgênico daquelas de milho que se deseja manter sem contaminação de transgênico. Alternativamente, pode-se usar uma bordadura de 20 metros, desde que sejam semeadas dez fileiras de milho não transgênico (igual porte e ciclo do milho transgênico) isolando a área de milho transgênico. Área de refúgio - As recomendações da CTNBio para o MRI são a utilização de área de refúgio. As indicações são o resultado do consenso de que o cultivo do milho Bt em grandes áreas resultará na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. Obviamente, o monitoramento da infestação das plantas também é importante, pois, dependendo do híbrido utilizado e da intensidade da infestação, o produtor pode precisar adotar medidas de controle complementares. No Brasil, para área de refúgio é recomendada a semeadura de 10% do espaço cultivado com milho Bt, utilizando híbridos não Bt, de igual porte e ciclo e, de preferência, os seus isogênicos. A área de refúgio não deve estar a mais de 800 metros de distância das plantas transgênicas. Essa é a distância máxima verificada pela dispersão dos adultos de S. frugiperda no campo. Um dos pontos que devem ser ainda lembrados ao se utilizar as cultivares

de milho Bt, diz respeito à quebra da resistência da planta pela praga-alvo. Portanto, devem ser seguidas todas as recomendações técnicas para evitar a evolução de populações resistentes e, desta maneira, alongar ao máximo a vida da cultivar. Outro ponto a ser considerado é a variabilidade entre cultivares quanto à eficiência de controle da lagarta-docartucho. Este fato reforça a necessidade do monitoramento contínuo, pois como já salientado a mariposa se faz presente continuamente e, especialmente, no início de desenvolvimento da planta. Como toda inovação, as cultivares de milho contendo tecnologia Bt atualmente têm um custo maior do que as cultivares convencionais. Este maior custo significa que tal semente deve ser bem protegida contra as espécies de inseto não atingidas pela tecnologia. Por exemplo, os híbridos disponíveis não apresentam o efeito desejável sobre corós, larva-alfinete, lagartaelasmo (insetos mastigadores), percevejos, cigarrinhas, tripes, cochonilhas e pulgões (insetos sugadores de seiva). O aumento na incidência de insetos sugadores já verificados em outros países serve como alerta para que o produtor esteja atento também no Brasil e tenha conhecimento sobre as tecnologias de manejo, caso sejam demandadas.

Pragas

Durante toda a fase em que permanece no campo a cultura do milho pode

O milho pode servir de fonte de alimento para cerca de 30 espécies de insetos como o percevejo "barriga-verde"

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Fotos Ivan Cruz

Larva de coró completamente desenvolvida

ser atacada por diferentes espécies de insetos fitófagos. Uma espécie, para ser considerada praga-chave, deve estar com densidade populacional com potencial para ocasionar prejuízo igual ou superior ao custo monetário a ser gasto para seu controle. Portanto, o conhecimento da relação entre densidade populacional de uma espécie de inseto fitófago e redução na produtividade é o primeiro e fundamental passo para se planejar corretamente uma estratégia de manejo de um inseto fitófago. O cereal milho, durante seu ciclo de vida no campo, pode ser utilizado como fonte de alimento por aproximadamente 30 espécies de insetos, que devido à semelhança em termos de especificidade de ataque, podem ser considerados em grupos. Do primeiro grupo de insetos, embora reconhecido como importante, pouco se conhece sobre vários aspectos bioecológicos das espécies componentes. Neste grupo se enquadram os insetos de hábito subterrâneo. Algumas espécies podem usar a semente como alimento, eliminando uma possível planta e, portanto, reduzindo muito precocemente o potencial produtivo da área plantada. São pragas severas. Para tais espécies o nível de dano econômico pode ser relativamente fácil de ser determinado. Uma semente danificada é considerada uma planta morta. Outras espécies de hábito subterrâneo alimentam-se das raízes das pequenas plantas em desenvolvimento, também ocasionando a morte da plântula pelo efeito direto da alimentação ou por meio indireto, por tornar a plântula atacada sem condições de sobreviver ao longo de seu ciclo de vida. A severidade das pragas subterrâneas pode ser aumentada sempre que haja a presença de mais de uma espécie em uma mesma área cultivada.

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As espécies de insetos subterrâneos geralmente possuem ciclo de vida longo, podendo chegar a mais de um ano. Passam a maior parte do ciclo biológico no solo e são de baixa mobilidade. Portanto, o conhecimento sobre a ocorrência de tais insetos em anos anteriores é fundamental para decidir sobre o que fazer quando se pensa em cultivar o milho. Deve também ser considerado que tais pragas não são específicas, podendo estar presentes na área, mesmo onde nunca se cultivou o milho, porém, com cultivos de plantas hospedeiras, como pastagens, cana-de-açúcar, trigo, amendoim, soja, entre outras. Uma característica marcante das espécies de hábito subterrâneo é a sua distribuição na área de cultivo. Podem ocorrer de maneira agregada, em manchas à profundidade diferente, dependendo da umidade do solo. Em função desta característica, muitas vezes torna-se difícil, mesmo para a pesquisa, o desenvolvimento de trabalhos com o objetivo de encontrar um método eficiente de controle. Por tais dificuldades, inclusive, não é incomum encontrar variabilidade entre inseticidas no que diz respeito à eficiência de controle para uma ou outra espécie. Por isto, hoje, se busca, por exemplo, um método de controle que tenha efeito médio sobre o maior número possível de espécies, notadamente quando se conhece a distribuição qualitativa das espécies na área-alvo. Os insetos considerados pragas de milho de hábito subterrâneo são reconhecidos como: corós (larvas de besouros, também chamadas de bicho-bolo), cupins, larva-arame, larva-alfinete (cujo adulto também ataca a parte aérea da planta e nesta fase o inseto é conhecido como vaquinha, vaquinha verde-amarela,

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nacional ou patriota), larva-angorá, percevejo-castanho, percevejo-preto e mais recentemente a cochonilha-de-raiz, aparentemente, com maior incidência em milho Bt, comparado ao milho convencional. Existe grande probabilidade de ocorrência de outras espécies ainda não reconhecidas ou identificadas como pragas de hábito subterrâneo atacando a semente e/ou raízes do milho no Brasil. Descrições sobre as diferentes espécies de insetos fitófagos, bem como sobre os sintomas de danos provocados ao milho durante todo o ciclo da planta, podem ser vistas em http://panorama.cnpms. embrapa.br/. Onde a presença das pragas subterrâneas é reconhecida pelos agricultores, normalmente se estabelece como estratégia de manejo a utilização de inseticidas químicos no tratamento das sementes. Quando tais pragas não são reconhecidas, o controle não é realizado, em função da impossibilidade de adotar medidas de controle após o plantio do milho. Portanto, o reconhecimento dos sintomas de ataque de tais pragas após a emergência da planta (especialmente falhas no número de plantas por unidade de área) indica perdas na produtividade futura, uma vez que praticamente não se consegue eficiência nos métodos curativos atuais. No passado o controle eficiente e econômico das pragas subterrâneas era obtido com produtos químicos, geralmente inseticidas clorados. Os produtos de ação por contato eram aplicados via pó, nos sulcos de plantio. Tais defensivos não estão mais disponíveis. Atualmente, as opções ainda são baseadas no uso de agroquímicos. Medidas alternativas como o controle biológico ainda precisam ser mais estudadas para as pragas subterrâneas. Atualmente os produtos de maior custo/benefício em relação às pragas iniciais do milho têm sido aqueles utilizados via tratamento da semente. Apesar de haver variações no grau de eficiência de determinado produto em relação às pragas subterrâneas, os resultados de pesquisa relatados por órgãos oficiais de pesquisa mostram o ganho em produtividade quando comparadas áreas tratadas com não tratadas com inseticidas colocados junto à semente por ocasião do plantio. Conforme já salientado, o milho geneticamente modificado para o controle de insetos fitófagos, conhecidos popularmente como milho Bt (uma grande inovação nos tempos atuais, para uso em programas de manejo integrado) não tem mostrado boa eficiência para as pragas de hábito


subterrâneo. É possível que num futuro próximo possamos ter uma melhoria nos materiais genéticos ofertados no mercado mundial. Adicionalmente, como para qualquer inovação, a semente do milho Bt tem sido de custo mais elevado do que a semente do milho convencional. Considerando o mesmo potencial produtivo das duas cultivares, o uso de medidas de controle das pragas subterrâneas será importante tanto na área de milho convencional como em cultivo de milho Bt. Talvez até mais importante no milho Bt, em função do maior investimento na lavoura. Embora considerado fundamental como tática de manejo, o tratamento de sementes de milho com inseticida não deve ser olhado apenas com foco nas pragas subterrâneas. Recomenda-se considerar a presença de insetos fitófagos logo após a emergência da planta e a possibilidade de se ter residual do inseticida utilizado via tratamento da semente. Para que isto ocorra há necessidade de se utilizar um inseticida sistêmico, que geralmente também tem efeito de contato. Desta forma, pode se esperar um efeito duplo do tratamento de semente (efeito sobre as pragas de hábito subterrâneo e sobre as pragas que atacam a plântula). A planta recém-emergida de milho é sujeita ao ataque de insetos fitófagos com potencial para provocar a sua morte, à semelhança das pragas de hábito subterrâneo, principalmente pela sensibilidade da plântula.

Quando o milho é cultivado sem a proteção devida contra pragas que atacam as plantas recém-emergidas, torna-se necessário o monitoramento constante da área cultivada para se detectar a presença de tais insetos antes que atinjam uma população suficiente para causar danos econômicos. A frequência do monitoramento deve ocorrer de acordo com a praga-alvo. Baixa frequência pode não ser suficiente para se detectar a praga em tempo hábil para tomar uma decisão. Monitoramentos frequentes, por outro lado, aumentam o custo de produção. Logicamente o tamanho da área também é um fator limitante do monitoramento, seja devido ao custo ou até mesmo à precisão. As pragas que atacam o milho recémemergido são tanto insetos mastigadores como sugadores. Entre os insetos mastigadores, há destaque para a lagarta-elasmo. Embora sua incidência em milho não tenha sido verificada de maneira generalizada nas áreas de cultivo, é muito frequente em áreas de solos mais leves, especialmente no cerrado. Apesar de ser considerada uma espécie que ataca o milho na superfície, na realidade o inseto ataca o coleto da plântula, na sua base, bem próximo à superfície do solo. Além do mais, o inseto não fica livremente exposto ao ataque de seus possíveis inimigos naturais. Antes de atacar a plântula, a lagarta-elasmo tece um casulo protetor, onde se abriga. Este casulo é acoplado à planta hospedeira. Além da proteção contra os seus inimigos naturais, o casulo

A cochonilha da raiz é uma praga recente na cultura do milho

serve também de proteção contra a ação direta de uma aplicação de inseticidas via pulverização. Tais fatos sugerem e têm sido comprovados que o tratamento da semente oferece uma proteção adequada durante a fase de suscetibilidade da planta para esta praga. Além da lagarta-elasmo, as espécies de insetos sugadores também podem causar sérios prejuízos ao agricultor caso não sejam utilizadas as técnicas corretas de manejo. A cigarrinha-das-pastagens, especialmente quando o milho é cultivado nas proximidades de capim braquiária suscetível à praga, pode migrar para o milho recém-emergido e causar danos elevados. O aumento da incidência desta espécie pode ser ainda maior em milho quando o cultivo está inserido no sistema integrado lavoura-pecuária. Os percevejos mais importantes como pragas de milho são aquelas espécies que migram da cultura da soja ou do trigo. Grande incidência tem sido verificada em milho cultivado na segunda safra (safrinha), muito embora durante a safra também haja incidência destas espécies. Através da alimentação, geralmente da base da plântula, podem aparecer sintomas iniciais que se assemelham à deficiência mineral. A persistência do ataque pode causar a morte da planta. Perfilhamento também é sintoma do ataque de percevejo. A incidência de tripes tem aumentado no Brasil, tanto no milho convencional como no milho Bt. Insetos diminutos são encontrados logo após a emergência da planta, no interior das folhas ainda enroladas. Amarelecimento e seca das folhas são sintomas de ataque de tripes, tanto pelo adulto como pela fase jovem. A presença do inseto tem sido correlacionada com período de seca, mesmo de curta duração. A lagarta-do-cartucho tem sido muito comum em plantas recém-emergidas. Como a mariposa coloca seus ovos em massa (que pode conter entre 80 e 300 ovos), após a eclosão e antes da migração natural das lagartas, danos severos podem ser verificados na plântula a ponto de causar a sua morte. Excesso de população da praga pode pôr em risco, inclusive, a eficácia de uma cultivar de milho Bt. Considerando a lagarta-do-cartucho a principal praga do milho no Brasil, a escolha correta do tratamento da semente com inseticida sistêmico seria uma maneira, também, de proteger a parte aérea da planta por um período de alta C suscetibilidade. Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

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Arroz Cultivar

Divergência genética

A busca pela resistência a pragas e doenças é um dos principais desafios quando se procura desenvolver novas cultivares de arroz. Fontes promissoras no quesito materiais resistentes, aliadas ao emprego de genitores divergentes, são fundamentais para o sucesso dos programas de melhoramento genético de plantas

N

Fotos Dirceu Nones

os programas de melhoramento genético da cultura do arroz, uma cultivar, além de atender às características de produtividade, deve aliar também a resistência às principais doenças e pragas. A produção de plantas resistentes a insetos merece figurar entre as prioridades. Nesse programa, o conhecimento de fontes promissoras de resistência, aliado à divergência genética, é primordial. No estudo da divergência genética o grau de dissimilaridade intra ou interespecífica, ou entre genótipos de uma população melhorada, pode ser estimado por meio de técnicas multivariadas, como análise por componentes principais, variáveis canônicas e análise de agrupamento. Análises multivariadas procuram discriminar os indivíduos geneticamente, permitindo agrupá-los de tal forma que exista homogeneidade dentro do grupo e heterogeneidade entre grupos através da combinação

simultânea de múltiplas informações provenientes de uma unidade experimental. Entre as medidas de dissimilaridade que podem evidenciar a intensidade de variabilidade genética entre espécies, a distância Euclidiana e a distância de Mahalanobis (D2) são as mais utilizadas por melhoristas em programas de melhoramento genético de plantas. Em programas de melhoramento é necessário que os genitores a serem cruzados tenham ampla dissimilaridade genética entre si e médias favoráveis para os caracteres alvo de melhoramento. No Brasil, dentre as principais pragas que acometem a cultura, o percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris (Stal, 1860/Figura 1) destaca-se como praga de maior expressão econômica nas diferentes áreas de cultivo. T. limbativentris provoca prejuízos em termos de produtividade de até 90%. Devido ao hábito alimentar, ocorre na base do colmo das plantas e nem sempre a infestação é percebida a tempo. Ataca os colmos das plantas com mais de 20 dias de idade, sendo seus danos

A)

Figura 1 - Adulto de Tibraca limbativentris

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caracterizados pela morte parcial ou total da parte central dos colmos, sintoma este conhecido por “coração morto” (Figura 2a). Na fase reprodutiva, a perfuração na parte superior dos colmos origina o sintoma de “panícula branca”, ou panículas com elevada porcentagem de espiguetas vazias (Figura 2b). Entre os métodos de controle para o percevejo-do-colmo, o químico tem sido o mais utilizado. Entretanto, seu emprego sem o devido conhecimento das técnicas de aplicação tem ocasionado o controle insatisfatório da praga e contribuído para o aumento da poluição ambiental e dos custos de produção. Diante desse fato, a utilização de genitores divergentes que apresentam alelos de interesse em cruzamentos pode ser uma opção vantajosa para o seu controle, tendo em vista a redução dos custos operacionais e dos riscos de contaminação dos agroecossistemas mediante o uso abusivo de agroquímicos. Poucos são os trabalhos sobre resistência de cultivares ao percevejo-do-colmo. Ferreira et al (1997) relataram que ainda não foram

B)

Figura 2 - Coração morto (a) e panícula branca (b), causados pela alimentação de T. limbativentris

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Tabela 1 - Medidas de dissimilaridade entre pares de cultivares de arroz em relação às características, número de insetos vivos por planta (NIV), massa seca individual (MSI) e massa seca total (MST) em mg, superfície corporal individual (SCI) e superfície corporal total (SCT) de T. limbativentris em mm2, colmos emitidos após infestação (CEA), colmos normais (CN) e colmos danificados (CD), com base na Distância Generalizada de Mahalanobis (D2). Santo Antônio de Goiás (GO), 2005 Cultivar (1) 2 1 2,31 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

3 2,15 0,60

4 2,02 0,32 0,19

5 7,95 6,08 3,93 4,59

7 6 2,57 8,03 2,11 5,98 0,69 6,68 1,40 6,81 2,63 10,81 6,58

8 3,86 5,17 5,77 5,89 13,89 6,45 4,46

9 9,30 10,37 8,72 9,79 9,39 6,39 3,155 6,23

10 14,40 15,59 14,61 16,07 16,70 11,81 5,29 6,82 2,35

11 9,06 9,45 9,69 9,42 12,95 9,408 2,16 4,97 2,63 5,36

12 10,35 10,02 9,24 9,89 10,04 7,40 1,56 7,11 0,71 3,24 1,79

13 11,74 9,69 11,00 11,05 16,03 1,06 1,30 6,45 4,30 5,04 2,67 2,48

14 12,11 11,61 12,01 12,07 14,30 10,92 1,42 7,21 2,48 4,17 0,98 0,82 1,48

15 7,99 7,67 7,96 8,21 10,50 6,99 0,89 4,33 1,61 3,29 1,10 0,86 1,36 0,80

16 12,39 1,05 11,86 11,84 14,11 1,12 2,09 6,35 4,85 4,10 2,89 3,05 2,23 1,79 1,48

D2 máximo = 16,70 (Cultivares 5 e 10 - Bico Ganga e Marabá Branco) - mais dissimilares; D2 mínimo = 0,19 (Cultivares 3 e 4 - Agulha e Branco Tardão) - mais similares. (1): 1) Arroz Misturado; 2) Agulha; 3) Arroz Comum; 4) Branco Tardão; 5) Bico Ganga; 6) Come Cru Vermelho; 7) Cutião; 8) Desconhecido Branco; 9) Gojoba Ligeiro; 10) Marabá Branco; 11) Nenenzinho; 12) Pingo D’água; 13) Taboca; 14) Vermelho; 15) Vermelho Agulha e 16) BR IRGA 409. Fonte: Souza et al. (2009).

desenvolvidas nem selecionadas cultivares com essa característica para fins comerciais e que a seleção de arroz para resistência a T. limbativentris seria baseada principalmente em cultivares com alta capacidade de perfilhamento e com menor número de perfilhos danificados. Estudos de divergência genética na cultura do arroz com vistas à identificação de fontes de resistência ao percevejo-do-colmo (T. limbativentris) foram realizados por Souza et al (2009). Segundo os autores, a divergência genética foi avaliada por procedimentos multivariados: distância generalizada de Mahalanobis

(D2), método de agrupamento de otimização de Tocher e técnica de variáveis canônicas. As cultivares mais dissimilares foram Bico Ganga e Marabá Branco, enquanto Agulha e Branco Tardão foram as mais similares (Tabela 1). Foram formados cinco grupos pelo método de otimização de Tocher (Tabela 2). As três primeiras variáveis canônicas explicaram 88,5% da variabilidade total disponível (Figura 3). Conclui-se que as técnicas de análise multivariada foram eficientes para a análise da divergência genética entre as cultivares de arroz, com destaque para Marabá Branco e Bico Ganga, consideradas as mais promissoras a

Figura 3 - Dispersão dos escores de 16 cultivares (1) de arroz em relação às três primeiras variáveis canônicas (VC1 e VC3) e variância acumulada (%) tendo como base oito características de resistência de arroz a T. limbativentris. Santo Antônio de Goiás, GO, 2005. (1): 1 = Arroz Misturado, 2 = Agulha, 3 = Arroz Comum, 4 = Branco Tardão, 5 = Bico Ganga, 6 = Come Cru Vermelho, 7 = Cutião, 8 = Desconhecido Branco, 9 = Gojoba Ligeiro, 10 = Marabá Branco, 11 = Nenenzinho, 12 = Pingo D’água, 13 = Taboca, 14 = Vermelho, 15 = Vermelho Agulha e 16= BR IRGA 409

Fonte: Souza et al. (2009)

Tabela 2 - Agrupamento pelo método de otimização de Tocher de 16 cultivares de arroz com base na dissimilaridade expressa pela distância generalizada de Mahalanobis, estimada a partir de oito características (2). Santo Antônio de Goiás (GO), 2005 Grupo I II III IV V

Cultivar (1) Número de cultivares 2, 4, 3, 6 e 1 5 9, 12, 15, 11, 14, 7, 13 e 16 8 10 1 8 1 5 1

(1): 1) Arroz Misturado; 2) Agulha; 3) Arroz Comum; 4) Branco Tardão; 5) Bico Ganga; 6) Come Cru Vermelho; 7) Cutião; 8) Desconhecido Branco; 9) Gojoba Ligeiro; 10) Marabá Branco; 11) Nenenzinho; 12) Pingo D’água; 13) Taboca; 14) Vermelho; 15) Vermelho Agulha e 16) BR IRGA 409. (2) Número de insetos vivos por planta (NIV); massa seca individual (MSI) e massa seca total (MST) por mg; superfície corporal individual (SCI) e superfície corporal total (SCT) por mm2; colmos emitidos após infestação (CEA); colmos normais (CN) e colmos danificados (CD). Fonte: Souza et al. (2009).

serem utilizadas em futuros cruzamentos para melhoramento com objetivo de resistência ao C percevejo-do-colmo. Joseane Rodrigues de Souza, Janaina Marques Mondego e Arlindo Leal Boiça Junior, Unesp/Jaboticabal

C

Joseane, Janaína e Arlindo defendem análises multivariadas para avaliar a divergência genética

melhoramento genético

O

arroz (Oryza sativa L.) constitui alimento básico para aproximadamente 2,4 bilhões de pessoas, sendo responsável pela dieta alimentar de mais da metade da humanidade. Segundo estimativas, até 2050 haverá uma demanda na produção para atender ao dobro desta população (Embrapa, 2005). Para a safra 2009/2010 a produção brasileira de arroz está mantida em 11,507 milhões de toneladas. Esse volume representa redução de 8,7% em relação à safra 2008/2009 que foi de 12,602 milhões de toneladas (Conab, 2010). Diante desse fato, o país ainda necessita de alguma importação para suprir o consumo, o que em níveis per capita atinge algo próximo de 65kg/ano-1 (FAO, 2001) Contudo, alguns esforços em pesquisa poderão alterar este cenário. Aumentos de produção tendem a ser obtidos através do lançamento de cultivares, pelo aumento da produtividade mediante a utilização de tecnologia mais avançada e da expansão das fronteiras agrícolas. No que concerne ao melhoramento genético da cultura do arroz, várias questões importantes precisam ser definidas previamente ao estabelecimento de um programa até a possível recomendação de uma cultivar. Destacam-se as referentes aos objetivos, os métodos, os genitores e as ferramentas de suporte. Todas essas questões devem ser consideradas de igual importância, desde a escolha dos genitores até a seleção das cultivares nos ensaios de competição.

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Soja Fotos José Roberto Pavezi

Verde e louca Lavouras de soja em Mato Grosso, Tocantins e Maranhão têm apresentado sintomas de hastes verdes, retenção foliar ou soja-louca. Associado a isso, pesquisadores e produtores têm detectado nessas áreas infestações de um ácaro de coloração escura. A praga possui hábitos diurno e noturno diferenciados e sua maior ou menor incidência é influenciada por fatores como tipo de cobertura presente antes da semeadura, além do encharcamento do solo por conta de períodos prolongados de chuva. A operação de gradagem, quando corretamente utilizada, ajuda a amenizar os prejuízos da praga

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N

as últimas safras, algumas lavouras de soja de Mato Grosso apresentaram sintomas de plantas com hastes verdes, retenção foliar e também semelhantes àqueles de soja-louca, caracterizados por plantas estéreis ou com estruturas anômalas. Nessas plantas sempre foram constatadas grandes quantidades de um ácaro-preto, da família Oribatidae, por algum período. Problemas similares têm ocorrido em áreas de soja dos estados de Tocantins e Maranhão. Nas diversas amostras coletadas em plantas de soja, predominantemente foi notada a espécie Scheloribates praeincisus Pérez-Iñigo e Baggio, 1986 (Scheloribatidae), identificada pelo acarologista Anibal Oliveira, da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia. Os imaturos do ácaro Scheloribates praeincisus possuem coloração clara translúcida e ao longo de seu desenvolvimento ocorre o escurecimento, passando para o castanho até chegar à fase adulta com a cor enegrecida. Quando molestado, encolhe suas patas e fica imóvel, como se estivesse morto. O adulto é pequeno, mas pode ser visto a olho nu e é bem visualizado a campo com o auxílio de uma lupa de bolso (aumento de 20 vezes). Em princípio foram levantadas hipóteses que associavam os sintomas com as causas conhecidas para haste verde ou retenção foliar e soja-louca (Tabela 1). Com base nos sintomas observados, ocorrências, histórico e aspecto, todas as conhecidas causas de sintomas de hastes verdes e retenção foliar foram excluídas. Assim, suspeitou-se que o ácaro era o possível responsável pelo problema e, a partir daí, passou a ser observado mais atentamente. Este ácaro vive na terra e no humo (parte superior do solo caracterizada pela presença de grande quantidade de matérias de origem orgânica, predominantemente vegetal, decompostas ou em decomposição), preferindo locais mais úmidos e sombreados. Apesar de viver preferencialmente nestes locais, como citado, eles foram encontrados abundantemente nas plantas de soja, geralmente adultos, e raramente formas imaturas. Nesta leguminosa, os ácaros eram encontrados em toda a sua parte aérea, porém, preferiam as axilas, brotações novas, flores e vagens, onde tipicamente existe tecido tenro e em crescimento. Os sintomas a campo apresentavam-se em reboleiras, com plantas de coloração verdeescuro, folhas mais espessas e ásperas, com algum bronzeamento na página superior (na fase de maturação), folhas tornavam-se recurvadas para baixo, com estruturas reprodutivas deformadas. Os nós ficavam mais espessos, hastes e ramos engrossados e alongados, e geralmente as plantas atacadas apresentavam


Nós mais espessos, hastes e ramos engrossados e alongados e perda das estruturas reprodutivas quando o ataque ocorre na floração

porte maior quando comparadas a plantas sadias. Também ocorreu perda das estruturas reprodutivas quando o ataque se deu na floração, e as poucas vagens formadas ficam com tamanho maior que o das vagens de plantas normais, além de apresentar sinais visíveis de que foram injuriadas pelo ácaro. A maturação dessas plantas era tardia ou inexistente (muita haste verde e/ou retenção foliar na colheita), apresentando problemas para a dessecação. Após a aplicação do dessecante, algumas folhas caíam e outras não. Aparentemente as plantas tornavam-se mais tolerantes aos dessecantes, os ramos e as hastes ficavam esverdeados e as vagens não amadureciam, dificultando a colheita com a saturação dos cilindros das colhedoras. A maior perda na produtividade decorria da pouca formação de vagens e sua imaturidade, além do tamanho anormal, que acabam também sendo descartadas pelas colhedoras ou na pré-limpeza dos silos. Nos talhões de soja que ainda não fechavam as entrelinhas quase não foram encontrados ácaros nas plantas. Talvez isto se deva à maior intensidade de luz que passava por entre as plantas e à menor umidade deste ambiente. Já nos talhões em que as plantas de soja fechavam as entrelinhas, a quantidade de ácaros encontrados nas plantas era maior e mais frequente. Provavelmente este fato está relacionado ao ambiente sombreado e úmido oferecido pelas plantas e também pela proteção maior contra ventos e chuvas torrenciais. Um fator determinante para o aumento da infestação do ácaro nas plantas se refere aos períodos prolongados de chuva promovendo o encharcamento do solo. Nesta condição, o ácaro procurou abrigo nas plantas, na palhada mais alta, ou um graveto ou inço mais elevado, indicando querer fugir ou escapar do

encharcamento. Geralmente, em áreas onde a água das chuvas formava poças ou acumulava, era mais frequente a quantidade de plantas com sintomas posteriormente. Isso estava relacionado com a maior quantidade de ácaros presentes nestes locais, levados através do escorrimento superficial da água das chuvas, que, além de carregá-los, acaba obrigando-os a subirem nas plantas devido ao encharcamento do solo nestes locais. Um exemplo de lugares onde acumulava grande quantidade de água, e muitas plantas tinham sintomas, eram as bases dos terraços. Quanto à pilosidade das plantas, aquelas mais jovens, por serem, em geral, mais pilosas, aparentemente dificultam a locomoção dos ácaros sobre elas, enquanto as mais velhas possuem menor pilosidade, tornando mais fácil a adaptação dos ácaros. Isto foi observado nas plantas do estudo, durante a infestação artificial com ácaros. Observou-se que o ácaro-preto possui hábitos diurno e noturno diferenciados.

Durante o dia (horário mais quente), nas plantas do estudo, cultivadas em vasos, quase não se encontravam ácaros presentes. Trata-se do momento em que iam para a superfície do solo. Em lavouras, com as entrelinhas fechadas pelas plantas, foram encontradas grandes quantidades de ácaros na parte aérea das plantas. E, no crepúsculo da tarde foi observado que os ácaros começavam a subir e se abrigar nas plantas do estudo, onde não eram encontrados durante o dia quente. Nas áreas problemáticas, as bordaduras das lavouras frequentemente tinham mais sintomas, pois retinham mais umidade (talvez a maior compactação do solo pela ação das máquinas resultou em menor infiltração da água das chuvas e, consequentemente, na formação de maiores quantidades de poças d’água). Diferentes tipos de cobertura (palhada), sua espessura, associados a períodos de chuvas prolongados, estão intimamente ligados ao ataque da população do ácaro na lavoura, resultando em maior ou menor incidência de

As folhas com sintomas apresentam-se mais espessas e ásperas

Sinais de injúrias causadas pelo ácaro-preto

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plantas atacadas. Áreas de soja cultivada sobre a palhada do milheto, nas regiões problemáticas, apresentam melhores condições de desenvolvimento para a população do ácaro, quando comparadas a áreas de soja cultivada sobre a palha de milho e de arroz. Na palhada de milheto a quantidade de ácaros e plantas atacadas foi maior que nos outros dois tipos. Nas lavouras de soja cultivadas sobre áreas de pousio, a quantidade de plantas atacadas foi maior ainda que nas áreas de soja plantadas sobre a palhada do milheto, especialmente se havia grande quantidade de inço, com predominância de plantas daninhas de folha estreita, ou capins como o milhã. Estudo feito em áreas de soja cultivadas sobre os diferentes tipos de coberturas revela resultados diferentes com relação à quantidade de plantas atacadas e perdas na produtividade. Soja cultivada sobre a área de pousio e com muito inço apresentou 50,9% Tabela 1 - Principais causas conhecidas de haste verde e retenção foliar na cultura da soja

1) Danos por percevejos, decorrentes de toxinas salivares ou desordem hormonal devido às suas injúrias 2) Estresse hídrico (pode haver abscisão de flores e vagens) a) Falta de água: - Seca acentuada durante a fase final de floração e na formação das vagens pode causar abortamento de quase todas as flores restantes e vagens recém-formadas. - A falta de carga nas plantas pode provocar uma segunda florada, normalmente infértil, resultando em retenção foliar pela ausência de demanda dos produtos da fotossíntese. b) Excesso de água: - A situação pode se agravar se houver excesso de chuvas durante a maturação. - Excesso de umidade, nesse período, propicia a manutenção do verde das hastes e vagens e favorece o aparecimento de retenção foliar, mesmo em plantas com carga satisfatória e sem danos de percevejos. - Há cultivares mais sensíveis a este fenômeno. 3) Estresse térmico 4) Desequilíbrio nutricional das plantas, relacionado ao potássio Baixos níveis de potássio no solo e/ou altos valores (acima de 50) da relação [(Ca + Mg)/K]. Nessas condições, podem ocorrer baixo “pegamento” de vagens, vagens vazias e formação de frutos partenocárpicos. 5) Fitoplasma (fato ainda não investigado no Brasil) 6) Vírus 7) Doenças fúngicas 8) Fitotoxicidade de fungicidas 9) Ampliação da época de semeadura (e, por conseguinte da finalização da safra) com genótipos desenvolvidos para outras regiões 10) Grupos de maturidade de cultivares 11) Nematoide Heterodera glycines, provoca reboleiras de haste verde no final do ciclo e, nesse caso, não há solução para o problema já estabelecido. 30

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das plantas atacadas com 35,2% de queda na produtividade. O talhão de soja cultivada sobre a palhada do milheto apresentou 6,8% das plantas atacadas e 3,4% de queda na produção. As áreas de soja, cultivadas sobre a palhada de milho e arroz, apresentaram 2,9% e 3,5% das plantas atacadas, respectivamente, com uma redução na produtividade da ordem de 1,3% e 1,8%. Um baixo índice de plantas afetadas nas áreas de soja cultivada sobre a palhada do milho pode ser explicado com a gradagem realizada com grade niveladora, que revolveu o solo, eliminando grande quantidade de ácaros presentes na superfície do solo e na palhada de milho. Também, foi observado que no interior dos colmos de milho já em decomposição havia grandes quantidades de cupins,

Anormalidade nas gemas


Fotos José Roberto Pavezi

que supostamente competiam por alimento e abrigo com o restante dos ácaros que não foram eliminados com a gradagem. Algumas reboleiras de plantas de soja atacadas, encontradas nas áreas de milho, estavam em áreas com falhas na operação de gradagem, pois nestas reboleiras foram verificados colmos de milho intactos e com tamanho maior que os localizados no restante da lavoura. Nas lavouras cultivadas sobre áreas que permaneceram em pousio, a incidência de plantas de soja com sintomas foi muito alta, quando comparadas às outras áreas (soja cultivada sobre palhada de milheto, milho e arroz). Nestas áreas de pousio infestadas e sintomáticas, quando foi realizado o revolvimento do solo com uma grade niveladora leve, resultou

em baixo índice de plantas atacadas. No final do ciclo da cultura, quando as plantas de soja estavam maturas, tornavase difícil encontrar o ácaro presente nas plantas imaturas das reboleiras atacadas, pois curiosamente ele passava a se abrigar nas folhagens de soja caídas sobre o solo e também nas plantas completamente maturas, indicando ser um ácaro cujo habitat é material em decomposição e que sobe nas plantas de soja em momentos adversos neste habitat, como nos encharcamentos. Dependendo da cultura antecessora à soja e do revolvimento do solo com grade niveladora ou intermediária (de acordo com a massa a ser incorporada), realizado ou não, teve resultados diferentes na incidência de plantas apresentando os sintomas de soja-louca. Tornando-se evidente que o problema encontrado nestas lavouras pode estar relacionado aos diferentes tipos de cobertura e de manejo do solo. Resumindo, os sintomas mais intensos estavam associados à presença prévia de altas infestações do ácaro-preto nas plantas de soja, principalmente em áreas úmidas ou com períodos prolongados de chuva, fazendo com que procurassem abrigo nestas plantas por ocasião do encharcamento do solo, injuriando a soja. Também, há uma associação de diferentes níveis populacionais do ácaro e o tipo de cobertura que antecede o plantio de soja, sendo que as gradagens nas áreas problemáticas diminuíram significativamente os sintomas e os prejuízos. Por hora, está levantada a hipótese de que os ácaros lesionam tecidos jovens das plantas ou injetam toxinas nas plantas, o que levaria às deformações e às anomalias sob alta infestação da praga, aspecto que precisa ser objetivo de estudos futuros,

Na fase adulta os imaturos do ácaro Scheloribates praeincisus chegam a ficar com a cor quase preta

como aqueles com infestações com níveis populacionais crescentes. Cabe ressaltar a necessidade de estudos mais abrangentes, especialmente para entender as interações entre o ácaro-preto, a planta de soja e humo sobre o solo. Também se faz necessário identificar o que induz a planta aos sintomas de haste verde e soja-louca e a razão de graus variados de sintomas a campo. As pesquisas sobre métodos de controle devem ser priorizadas para amenizar os prejuízos imediatos dos C produtores. José Roberto Pavezi, Grupo Schlatter Everton Kodama e Paulo E. Degrande, UFGD


Soja

Perfuradores de raízes Níveis de infestação das principais espécies de nematoides têm explodido no cerrado brasileiro, favorecidos pelo modelo de plantio. Antes da escolha do método de controle é necessário o conhecimento dos aspectos qualitativos (gênero-espécie-raça) e quantitativos (população) das pragas presentes na área. Dentre as estratégias, o tratamento de sementes desponta como uma das opções eficientes para o correto manejo

P

lantas cultivadas podem ser atacadas por microrganismos fitopatogênicos causadores de doenças. Os nematoides formam um dos grupos mais importantes de microrganismos patogênicos aos vegetais. São vermes cilíndricos, alongados, filiformes ou piriformes, com tamanho entre 0,1mm a 4mm. Sobrevivem na solução de solo, alimentando-se de raízes das plantas cultivadas e nativas. Os nematoides penetram nas raízes, liberando hormônios responsáveis por hiperplasia e hipertrofia. Neste caso alteram o número e o tamanho das células, dificultando o processo de absorção de água e nutrientes. Em consequência deste dano, as plantas atacadas têm seu desenvolvimento afetado, sua capacidade produtiva reduzida e, em casos extremos, chegam à morte. Nas áreas agrícolas do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, em função dos modelos agrícolas adotados, os nematoides possuem ampla distribuição e têm se apresentado como fator limitante na obtenção máxima dos potenciais de produtividade em importantes culturas, como soja, algodão, milho e feijão. Cinco espécies de nematoides são

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associadas às maiores perdas nas principais culturas do Cerrado. O nematoide de cisto (Heterodera glycines), os nematoides de galhas (Meloidogyne javanica, M. incognita), o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus). O diagnóstico da presença de nematoides fitoparasitas pode ser feito a campo, por meio da observação do sistema radicular e da parte aérea das plantas atacadas. As raízes tendem a apresentar lesões (galerias) ou tumores (galhas) provocados pela alimentação do patógeno, em função de sua movimentação na raiz. Como consequência, a parte aérea desenvolve sintomas de deficiência

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nutricional, crescimento irregular e plantas menos produtivas. O diagnóstico mais preciso, contudo, deve ser feito em laboratório especializado, por meio da análise do solo e raízes das plantas. A disseminação dos nematoides ocorre essencialmente pela movimentação de solo. Partículas contaminadas com ovos, larvas ou adultos viáveis podem ser carregadas pelo homem, por implementos, veículos, animais silvestres, vento, água da chuva e irrigação. A presença de partículas de solo na fração de impureza em sacarias de sementes pode representar fonte de inóculo inicial de nematoides. O sintoma típico visualizado em plantas infectadas por nematoides do

Presença de fêmeas nas raízes


gênero Meloidogyne é a presença de galhas (tumores) no sistema radicular. A planta atacada normalmente tende a emitir raízes secundárias em abundância e em forma de cabeleira, podendo também apresentar amarelecimento, murcha em condições de baixa umidade, necrose internerval e desenvolvimento abaixo do padrão. O ataque ocorre normalmente em reboleiras. Cortando-se as galhas transversalmente, observam-se fêmeas de Meloidogyne, de cor branca e do tamanho da cabeça de um alfinete. O nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) apresenta comportamento migratório e se alimenta do córtex das raízes, causando o escurecimento dos tecidos parasitados. Como sua distribuição no campo é irregular, os sintomas ocorrem em reboleiras e mesmo em populações elevadas dificilmente observa-se amarelecimento da parte aérea, porém, provocam a redução do crescimento das plantas. Esse nematoide é bastante comum em regiões tropicais. No caso do Rotylenchulus reniformis, as fêmeas destroem as células epidermais, necrosam células vizinhas e provocam o colapso do parênquima cortical, injuriando o floema, de onde obtêm alimento. Como consequência, as raízes danificadas paralisam o crescimento. Para a diagnose desse nematoide recomenda-se limpar as raízes com água, em jatos leves, onde poderão ser observadas massas de ovos, de aspecto gelatinoso, geralmente cobertas por uma delicada camada de argila e que são típicas dessa espécie de nematoide. Os sintomas no campo são de difícil reconhecimento, sendo usualmente confundidos com outros problemas, tais como compactação, encharcamento ou baixa fertilidade. Devido à ausência de sintomas externos, recomenda-se a análise de solo e das raízes para a confirmação da diagnose. O nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) é reconhecido na fase de fêmea adulta, que se apresenta como corpúsculo branco em formato de limão na superfície das raízes. Inicialmente de coloração branca, a fêmea posteriormente adquire

Cistos de Heterodera glycines

Ocorrência de reboleira em lavoura de soja

coloração amarela. Após ser fertilizada, cada fêmea produz de 100 ovos a 250 ovos, armazenando a maior parte deles em seu corpo. Quando a fêmea morre, seu corpo se transforma em uma estrutura dura, de coloração marrom-escuro, cheia de ovos, altamente resistente à deterioração e à dessecação, protegendo os ovos. A fêmea morta com os ovos, denominada cisto, se desprende da raiz, permanecendo no solo, na ausência de plantas hospedeiras, por mais de oito anos.

Manejo de nematoides

Em áreas comprovadamente contaminadas recomenda-se a adoção de uma série de medidas que devem atuar de forma integrada, visando à redução da população do nematoide e possível convivência com o problema. As principais medidas recomendadas para o controle de baseiam-se em quatro métodos: genético (variedades resistentes), cultural (rotação de culturas, alqueive, solarização), biológico (uso de antagonistas) e químico (nematicidas). Antes da escolha do método de controle, é necessário o conhecimento dos aspectos qualitativos (gêneroespécie-raça) e quantitativos (popula-

Presença de galhas em raízes de soja

ção) dos nematoides presentes na área. Esta informação é fundamental para o planejamento dos cultivos e para a implantação de medidas adequadas de manejo integrado. O aumento excessivo dos níveis populacionais das principais espécies de nematoides no Cerrado tem sido favorecido pelo modelo de cultivo, com pouca rotação de culturas, intenso cultivo de variedades suscetíveis e de coberturas hospedeiras que permitem a reprodução desses patógenos. As gramíneas, de maneira geral, são suscetíveis a Pratylenchus brachyurus, permitindo sua reprodução. Dessa forma, a rotação de culturas em áreas com formação de palhada para o plantio direto deve ser bem avaliada para uma recomendação adequada às estratégias integradas de controle, pois esse nematoide possui ampla gama de hospedeiros, apresentando fator de reprodução elevado especialmente entre as gramíneas. Um exemplo típico tem sido o uso do milheto, cultivado em larga escala para a cobertura do solo e formação de palhada, antes do cultivo da soja ou algodão e que contribui para o agravamento da situa-

Reboleira de Meloidogyne javanica em soja – Campo Verde (MT)

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Escurecimento em raiz secundária

ção. A manutenção de palhada em áreas contaminadas, além da conservação do solo, proporciona aumento da população de fungos antagonistas aos nematoides. Quando ocorre a associação de diferentes espécies de nematoides na mesma área, por exemplo, Pratylenchus brachyurus x Rotylenchulus reniformis ou Pratylenchus brachyurus x Meloidogyne spp, o controle torna-se mais difícil e complexo, seja pelo uso da resistência genética ou rotação de culturas. Para Pratylenchus brachyurus não se conhecem fontes de resistência, diferentemente das outras duas espécies. Outro fator a ser considerado é a resistência não específica: várias plantas cultivadas não hospedeiras ou resistentes a Rotylenchulus reniformis e Meloidogyne spp, são suscetíveis a Pratylenchus brachyurus. Em relação ao uso do controle químico, sua eficiência tem se mostrado muito variável. Em áreas tratadas com nematicidas, tem se verificado o incremento de

produtividade, dependendo da textura do solo e do regime de chuvas. Porém, a necessidade do uso de altas doses, o custo elevado de sua aplicação e o alto impacto ambiental são fatores que têm inviabilizado o uso de controle químico como

Detalhe microscópico de Pratylenchus brachyurus

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ferramenta de manejo de nematoides em extensas áreas. Nesse segmento, o uso de produtos que apresentem ação nematicida aplicados às sementes via o tratamento de sementes, com o objetivo de garantir o estabelecimento inicial de plantas hospedeiras em solos infestados, apresenta-se como técnica promissora no manejo integrado destes patógenos, pois consiste em método de alta eficiência com aplicação de menores doses, baixo custo e reduzido impacto ambiental. Em ensaios realizados na safra 2008/09, na região do Cerrado brasileiro, foram obtidos bons resultados no manejo de nematoides com a mistura de imidacloprid e thiodicarb, via tratamento de sementes, principalmente nas culturas de soja e algodão, onde se verificou uma boa proteção inicial das plantas, permitindo o desenvolvimento de um bom sistema radicular e desenvolvimento inicial satisfatório. Portanto, o controle de nematoides por meio do tratamento de sementes é um grande diferencial, sendo uma ferramenta importante para o manejo desta praga em C lavouras comerciais. Daniel Cassetari Neto Univ. Federal de Mato Grosso


Trigo

Equilíbrio na competição Lavouras de trigo sofrem com a concorrência de plantas daninhas, que causam danos diretos e indiretos, além de interferir na produtividade. A intensidade do efeito negativo dessa infestação está associada à espécie, à época de emergência em relação à cultura e à densidade das infestantes. Embora não deva ser visto como único método de controle, o uso de herbicidas desponta como uma das ferramentas mais importantes para o combate eficiente de daninhas

E

m função da ampla diversidade de regiões brasileiras em que o trigo é cultivado, várias espécies daninhas causam perdas econômicas na produtividade da cultura. Em grande parte das áreas da região Sul, as gramíneas Lolium multiflorum (azevém) e Avena strigosa (aveia-preta) são as que provocam os maiores prejuízos. Na classe das dicotiledôneas, se destacam Raphanus raphanistrum e R. sativus (nabo ou nabiça), Polygonum convolvulus (cipó-de-veado ou erva-de-bicho), Rumex spp. (língua-de-vaca), Echium plantagineum (flor-roxa), Bowlesia in-

cana (erva salsa), Sonchus oleraceus (serralha), Silene gallica (silene), Spergula arvensis (gorga ou espérgula) e Stellaria media (esparguta). No Paraná, principalmente no norte do estado, também ocorre Galinsoga parvilflora (picão-branco ou fazendeiro) e algumas outras espécies de clima mais quente. O azevém e a aveia-preta tiveram suas ocorrências e densidades aumentadas nos últimos anos, devido ao seu uso para cobertura do solo.

Efeito na produtividade

As perdas causadas pelas plantas daninhas na produtividade do trigo podem ser atribu-

ídas à competição, pelo efeito da alelopatia, ou indiretamente, reduzindo a qualidade do produto colhido. A intensidade do efeito negativo da infestação de plantas daninhas está associada à espécie, à época de emergência das plantas daninhas em relação à cultura e à densidade de plantas daninhas. De maneira geral, espécies que possuem características de similaridade com a cultura, mesma família botânica ou gênero, ou mesmas exigências nutricionais ou de luz, reduzem mais intensamente o rendimento da cultura. De forma similar, aquelas plantas Charles Echer

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Figura 1 – Representação esquemática da época de aplicação de herbicidas em trigo

daninhas que emergem antes ou junto com a cultura causam maior prejuízo. No caso da aveia-preta, em infestações variáveis de 50 plantas/m-2 a 100 plantas/m-2, as reduções médias no rendimento de grãos de trigo são de 8,9kg/ha-1, para cada planta de aveia presente na área. A época de início do controle de plantas daninhas tem grande influência na intensidade de redução no rendimento de grãos da cultura (Figura 1). O período em que os efeitos das plantas daninhas efetivamente causam prejuízos à cultura e durante o qual a competição não pode existir é chamado de “período crítico de competição”. Esse período crítico, para a cultura do trigo, é variável, ocorrendo na maioria das situações dos 14 dias aos 47 dias após a emergência. As variações no período crítico de competição se devem ao genótipo, à época de semeadura, à época de emergência, à espécie de plantas daninhas e à sua densidade. No caso de uma cultivar de trigo com ciclo de 140 dias, o período crítico se estende aproximadamente até 47 dias após sua emergência. Porém, é importante ressaltar que o momento de controle deve levar em consideração não só o período crítico de competição, mas também o estádio de desenvolvimento em que a planta daninha é mais suscetível ao herbicida.

de populações daninhas resistentes ou tolerantes. Em alguns casos, poderá haver a seleção de biótipos resistentes dentro de uma espécie, cuja população pode aumentar e constituir-se em um problema mais sério. De modo geral, o fenômeno mais comum é a substituição das espécies mais sensíveis pelas mais tolerantes ao herbicida que tem sido usado com maior frequência. Por exemplo, o uso continuado de herbicidas para controlar dicotiledôneas pode levar ao aumento de espécies monocotiledôneas, como o azevém e as aveias.

Controle químico

Os herbicidas constituem o método mais utilizado para o controle de plantas daninhas em cereais. As estratégias de controle podem ser adotadas mais rapidamente e eficientemente quando se usam defensivos, comparado ao uso de somente medidas mecânicas. A eficiência dos herbicidas tem levado, muitas vezes, a uma grande dependência desses compostos químicos, com a exclusão de outros métodos. O controle químico deve ser visto como uma ferramenta adicional e não como o único método para diminuir os prejuízos com plantas daninhas. Quando um método de controle é utilizado continuamente, seja ele mecânico ou químico, é provável que ocorra o aparecimento

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A resistência e a mudança na população de plantas daninhas podem ser evitadas pela integração de medidas de manejo (ou controle), tais como rotação de culturas e o uso alternado de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Alguns herbicidas foram desenvolvidos para o controle de plantas daninhas monocotiledôneas na cultura do trigo. Entre os atualmente recomendados para essa finalidade, se destacam o pendimetalin e o diclofop-metil. Esses herbicidas são eficientes no controle de aveia-preta e de azevém. Outros dois herbicidas, clodinafop-propargil e iodosulfuron-methyl, são registrados para o controle seletivo de aveia-preta na cultura do trigo. O herbicida iodosulfuron atua sobre gramíneas, com ação sobre a enzima ACCase, a exemplo do diclofop-methyl, porém possibilita controle superior de aveia-preta. A dose de controle de aveia-preta é de 24g/ha-1. O herbicida iodosulfuron-methyl, para uso em pós-emergência, na dose de 130g/ha-1 e de 100g/ha-1 do produto comercial, respectivamente para o controle de aveia-preta e azevém. Iodosulfuron é um herbicida que pertence ao grupo das sulfonilureias. As plantas suscetíveis a iodosulfuron


Fotos Mauro Antônio Rizzardi

Rizzardi lembra que uso continuado de um único método de controle pode favorecer resistência

paralisam o seu crescimento poucas horas após a aplicação, embora somente depois de aproximadamente duas semanas da aplicação os sintomas são visíveis. Estima-se que, em função da paralisação no crescimento, em 24 horas após a aplicação não haja mais interferência das plantas daninhas com a cultura. Iodosulfuron causa a perda da cor característica das folhas jovens, algumas vezes com o aparecimento de pigmentos vermelhos ou roxos, principalmente nas nervuras na região abaxial da folha, seguido de necrose das nervuras e dos pecíolos. Em algumas plantas ocorre encurtamento dos entrenós, noutras ocasiões, as plantas podem apresentar espessamento na base do caule. Ocorre morte lenta das plantas sensíveis. Em determinadas condições, como a aplicação com as plantas daninhas em estádios iniciais de desenvolvimento ou sob condições de ambiente favoráveis ao crescimento das plantas se pode aumentar a velocidade da atividade herbicida de iodosulfuron (Figura 2). A ocorrência de baixas temperaturas, antes ou mesmo após aplicação, torna a ação herbicida mais lenta, mas não reduz a eficácia no controle das plantas daninhas sensíveis. A sua ação é sistêmica, sendo absorvido principalmente pela parte aérea das plantas, embora possa ser absorvido pelas raízes. A sua translocação ocorre tanto pelo floema quanto pelo xilema, embora com maior movimentação pelo floema. A seletividade dos herbicidas do grupo das sulfonilureias dá-se por metabolização pelas plantas tolerantes, originando metabólitos não tóxicos, como glutationa, conjugação com glicose, dentre outros. Entretanto, no caso de iodosulfuron, a presença do antídoto (safener) mefenpyr, misturado com o herbicida, aumenta a seletividade nas culturas recomendadas, principalmente nas gramíneas, como trigo e arroz. A degradação de iodosulfuron a componentes não fitotóxicos em cereais é aumentada especificamente pelo efeito catalítico do antídoto utilizado. O herbicida iodosulfuron, além de controlar gramíneas, é eficaz no controle de espécies dicotiledôneas como Bidens pilosa

Além de causar perdas diretas de produtividade no trigo, as infestações de plantas daninhas tem o poder de interferir negativamente na qualidade do produto colhido

(picão-preto), Raphanus raphanistrum (nabiça), além de plantas voluntárias de soja. Para o controle de espécies dicotiledôneas a dose recomendada é de 70g/ha-1 do produto comercial, inferior à dose usada para o controle de gramíneas. Herbicidas à base de 2,4-D, dicamba, picloram e MCPA são compostos químicos, reguladores do crescimento, usados para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas anuais e perenes. Sistêmicos, são aplicados na folhagem e translocados às raízes, pelo simplasto e apoplasto. Dicamba controla espécies que não são controladas eficientemente por 2,4-D, como por exemplo Senecio brasiliensis (maria-mole), Polygonum convolvulus (cipóde-veado), Stachys arvensis (orelha-de-urso) e Rumex spp. (língua-de-vaca). O trigo é mais tolerante a esses produtos quando se encontra entre o estádio do afilhamento e o início da elongação do colmo. As dificuldades de identificação do momento de maior tolerância em aplicações de herbicidas hormonais têm provocado fitotoxicidade à

cultura. Aplicações muito precoces podem causar deformações morfológicas (espigas defeituosas, folhas enroladas, estatura reduzida das plantas) não necessariamente associadas com redução no rendimento de grãos. A aplicação precoce de 2,4-D pode reduzir o rendimento de grãos pela interferência nos primórdios de espiguetas, localizadas no ápice de crescimento (geralmente denominado “ponto de crescimento”). Um dos sintomas mais típicos de fitotoxicidade é a retenção das espigas no colmo após a elongação, que permanecem tortas, com o ápice preso ao colmo pelas aristas. As aplicações de herbicidas hormonais em fase tardia (após o início do alongamento) causam redução no rendimento de grãos deviC do à interferência na esporogênese. Mauro Antônio Rizzardi, UPF Mário Antônio Bianchi, Fundacep Leandro Vargas Embrapa Trigo

Figura 2 – Representação esquemática da velocidade de ação de iodosulfuron em plantas de azevém

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Algodão

Lavoura monitorada Monitorar as plantas do algodoeiro durante as fases-chave da cultura é ferramenta poderosa para que produtores e técnicos possam identificar problemas e estabelecer prazos adequados para o início de ações corretivas, com o objetivo de garantir alta produtividade

O

algodoeiro é uma planta de comportamento diferenciado, de ciclo indeterminado onde se efetua o manejo para que se torne de ciclo determinado. A planta é xerofítica, de ambiente seco, desértico, sendo hoje cultivada em locais que variam desde 700mm até 3.000mm de precipitação pluviométrica anual e altitudes que variam desde o nível do mar até 1,2 mil metros. Tem a característica de sobreviver em diferentes ambientes, por isso, em condições de estresse, pode abortar botões florais para ter outra produção assim que as condições climáticas (água, radiação solar e nutrientes) forem satisfatórias para garantir e perpetuar a espécie. Apresenta quatro fases bem distintas (Fase 1 – Da emergência ao primeiro botão floral; Fase 2 – Do aparecimento do primeiro botão floral à abertura da

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primeira flor; Fase 3 – Da abertura da primeira flor ao cutout e Fase 4 – Do cutout à abertura dos capulhos para colheita) durante seu desenvolvimento fisiológico, o algodoeiro estabelece uma curva de crescimento até a altura ideal. Dessa forma, necessita de manejos especiais para que possa expressar todo seu potencial produtivo. Para obter altas produtividades, o monitoramento da planta se faz necessário nas quatro fases da cultura, possibilitando, assim, adequar a planta frente às necessidades de controle de pragas e doenças, nutricional e regulador de crescimento, causadas na maioria das vezes por estresses climáticos. O monitoramento é uma técnica poderosa, que pode ser usada para auxiliar produtores e técnicos de algodão no rastreamento e quantificação do crescimento da planta e seu potencial de produção (Landivar,

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1993). O monitoramento da planta consiste em definir pontos de amostragem no campo, realizados em todos os estágios de desenvolvimento. Para dar início a essa operação alguns cuidados são necessários para garantir a representatividade do talhão e da planta: O tamanho da área vai depender da uniformidade do campo. Em seguida, é preciso dividir a fazenda em unidades de gerenciamento de acordo com a cultura anterior, tipo de solo, data de semeadura, cultivares e principalmente a distribuição da população de plantas no talhão. Para o monitoramento de plantas do algodoeiro, vários programas foram propostos ou estão disponíveis, tais como: (Boulard; Watson, 1990; Hake et al, 1991; Landivar et al, 1993; e Cochran et al, 1996). A seguir, discutiremos uma adaptação de monitoramento de Landivar et al,


1993: O método de amostragem recomendado consiste basicamente em dividir o campo em unidades de manejo. O tamanho de cada unidade vai depender da uniformidade do campo. Devem ser monitoradas no mínimo 30 plantas em seis a oito pontos selecionados aleatoriamente representando a área. A metodologia sugerida aqui exige o levantamento das estruturas reprodutivas da planta, isto é: abortos, botões florais, maçãs e maçãs abertas. Este levantamento deve ser realizado em todas as fases da planta de algodão: Fase 1 – Da emergência ao primeiro botão floral; Fase 2 – Do aparecimento do primeiro botão floral à abertura da primeira flor; Fase 3 – Da abertura da primeira flor ao cutout e Fase 4 – Do cutout, à abertura dos capulhos para colheita.

Primeiro mapeamento

Fase juvenil – Aparecimento do primeiro botão floral Recomenda-se fazer o primeiro mapeamento de planta, aproximadamente, dos dez dias aos 15 dias após o início da fase juvenil. Esse período coincide com o aparecimento do primeiro botão floral. Nessa fase, as plantas podem ter iniciado de dez nós a 12 nós no caule principal acima do nó cotiledonar. O objetivo

Fotos Charles Echer

Durante o desenvolvimento o algodoeiro estabelece uma curva de crescimento até a altura ideal

desse mapeamento é avaliar a porcentagem de retenção dos botões florais e o vigor da planta. Uma retenção de 75% a 85% de primeira e segunda posição de botões florais nesta fase é considerada normal. Níveis acima ou abaixo dessas porcentagens são apontados como baixa ou alta retenção, respectivamente. Baixos níveis de retenção nessa fase podem

representar um aviso da necessidade de se averiguar minuciosamente a lavoura para monitorar o crescimento da planta, corrigir os problemas que porventura tenham sido ocasionados por ataque de pragas ou crescimento excessivo sob condições de solo com alta fertilidade e umidade. O primeiro ramo frutífero deve estar


Figura 1 - Comparação da distribuição do número de nós, acima da flor mais alta da cultivar DPL-51, tratada com 3,36 kg/ha de aldicarb, aplicado no sulco de plantio e testemunha não tratada. Fonte: Landivar et al. (1993)

Para expressar todo o potencial produtivo o algodoeiro necessita de manejos especiais

a quatro nós ou seis nós acima do nó cotiledonar. As plantas de algodoeiro que têm seu primeiro ramo frutífero partindo acima do sexto nó no caule principal têm tendência de desenvolver grande massa vegetativa e atrasar a maturação. Portanto, taxas mais altas de PIX podem ser necessárias nesses campos. Nesta fase, o mapeamento das plantas gera uma frequência de distribuição do número de botões florais e número de nós no caule para as plantas monitoradas. Essa frequência de distribuição é útil para se determinar a uniformidade no campo e quantificar a fração de plantas que estão atrasadas ou adiantadas com relação ao desenvolvimento médio da unidade de manejo avaliada.

Segundo mapeamento

Aparecimento da primeira flor à primeira maçã O segundo monitoramento é recomendado de sete dias a 14 dias após o aparecimento da primeira flor. Nessa fase, cada planta deveria ter de duas maçãs a cinco maçãs verdes e aproximadamente de 12 nós a 15 nós reprodutivos no caule principal. Além disso, as plantas já iniciaram a maioria de suas estruturas reprodutivas, que irão contribuir para a produção final. O objetivo, aqui, é verificar a eficácia do controle dos insetos iniciais e estimular a retenção de frutos garantindo ou até mesmo proporcionar o aumento do potencial produtivo. Anos em que os níveis de retenção de botões florais,

flores e maçãs estão entre 60% e 70% são considerados anos com potencial produtivo médio. As unidades de manejo ou lavouras que possuem níveis de retenção abaixo ou acima desse nível são consideradas abaixo ou acima do potencial médio de produção, respectivamente. Embora a produção de algodão em caroço dependa quase que totalmente das condições do tempo, o nível de retenção das estruturas reprodutivas nesta fase de desenvolvimento confirmam o potencial para crescimento excessivo e atraso na maturidade das plantas, bem como proporcionam informação sobre a necessidade de aplicações adicionais de reguladores de crescimento ou nutrientes. A Tabela 1 contém normas baseadas no nível de retenção de fruto medido na primeira e segunda posições em cada ramo.

Terceiro monitoramento

Final da floração e enchimento das maçãs O terceiro monitoramento deve ser realizado durante a terceira ou quarta semana de floração (20 dias a 25 dias após a primeira floração). Este monitoramento pode trazer importantes informações técnicas ao produtor. O objetivo aqui é determinar a posição das últimas maçãs a serem colhidas e quando foram (ou serão) polinizadas. Além disso, obter perspectivas atualizadas sobre o potencial de produção da respectiva unidade de manejo. A data de polinização do último fruto é

importante porque permite a previsão do número de aplicações de inseticidas necessários para proteger maçãs jovens de ataques de insetos como bicudo e lagartas e também se haverá água disponível para seu pleno enchimento. Essas informações são fruto da análise de distribuição do número de nós acima das flores ou maçãs verdes de cada amostra de planta. Por exemplo, a Figura 1 mostra a distribuição de nós acima da última floração para uma cultura tratada com aldicarb em comparação com testemunha sem aldicarb. Esses dados sugerem que o tratamento com aldicarb promove maturação mais compacta e uniforme dos nós acima da última flor. Entretanto, sugerem, também, que um tratamento adicional com inseticida pode ser necessário para proteger o fruto de danos causados por bicudo, vindo de áreas vizinhas. O número e a distribuição de maçãs verdes proporcionam informação importante sobre o potencial de produção

Tabela 1- Interpretação dos níveis de retenção de frutos obtidos durante a fase reprodutiva inicial de desenvolvimento (amostra do segundo mapeamento de planta). A retenção de frutos de 60 a 70 % é considerada média Fatores afetados Potencial de produção Potencial de crescimento vegetativo excessivo Necessidade de regulador de crescimento Necessidade de nutrientes

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Retenção de frutos na primeira e segunda posições Abaixo 60% Acima 70% Abaixo da média Acima da média Mais alta Mais baixa Mais alta Mais baixa Mais baixa Mais alta

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Pereira lembra que o monitoramento proporciona uma boa visão da lavoura


Figura 2 - Distribuição cumulativa de maças verdes e maças abertas por ramos frutíferos, para a cultivar MD-51-ne, na fase de maturação. Fonte: Landivar et al. (1993)

do campo. O monitoramento estima o potencial de produção por meio de uma contribuição predeterminada do potencial de produção de cada posição frutífera na planta. A unidade para essa medida é o número de maçãs em uma determinada posição. O potencial de produção por unidade de área é obtido pela multiplicação do número de maçãs em cada posição frutífera, multiplicado pelo número médio de maçãs por hectare. O resultado desses produtos é a produção potencial da unidade de manejo. Essa informação, em conjunto com os dados sobre o número de nós acima da última flor aberta mais alta, pode ser usada para determinar o custo/benefício de tratamentos subsequentes com inseticidas. Os dados obtidos nesse monitoramento também auxiliam na estimativa de informações sobre a maturação da cultura para o uso de desfolhantes. Essa estimativa é feita pela adição de 30 dias a 40 dias à data em que a última flor é localizada cinco nós abaixo do nó terminal (ponteiro). Este monitoramento confirmará o enceramento do ciclo da cultura.

Quarto monitoramento

Abertura das maçãs à colheita O quarto monitoramento da planta deve ser feito aproximadamente uma

Figura 3 - Distribuição cumulativa de maças verdes e maças abertas por ramos frutíferos, para a cultivar MD-51-ne, na fase de maturação. Os dados foram calculados da seguinte maneira: (número de maças abertas/número de maças abertas + número de mças verdes) x 100. Fonte: Landivar et al. (1993)

semana após o aparecimento da primeira abertura das maçãs. O objetivo é estimar exatamente o tempo de aplicação de desfolhantes químicos e avaliar potenciais consequências de aplicações aleatórias de desfolhantes. O tempo de desfolhação pode ser determinado pela análise da distribuição de maçãs verdes e abertas pelo ramo reprodutivo. A Figura 2 mostra a distribuição acumulativa de maçãs verdes e abertas pelo ramo reprodutivo da cultivar MD51-ne. Os dados exibidos na Figura 2 mostram que 90% das maçãs formadas (verdes e abertas) situam-se acima do ramo reprodutivo 12. Os restantes, 10% das maçãs estão situadas acima do ramo 12 e são normalmente constituídas por pequenas maçãs verdes, que geralmente possuem baixa qualidade de fibra. Utilizam-se os dados como os apresentados na Figura 2 para localizar o ramo reprodutivo mais elevado, contendo 90% de maçãs formadas (verdes e abertas). Em seguida, usam-se os dados que a Figura 3 mostra para determinar a porcentagem de maçãs abertas até o ramo que apresente 90% das maçãs formadas (verde ou aberta). Os dados apresentados na Figura 3 mostram que aproximadamente, em 60% das maçãs acima do ramo reprodutivo, 12% estão abertas. A avaliação preliminar dessa técnica para determi-

nar o calendário de desfolhação indica que as plantas podem ser desfolhadas a qualquer momento depois de que 50% a 55% (ou mais) das maçãs estiverem abertas.

Quinto monitoramento

Colheita (opcional) Fica a critério do produtor ou do técnico responsável pela unidade de manejo o monitoramento final, que pode ser feito durante a colheita (para avaliar a distribuição das maçãs que contribuem para produção final). O monitoramento da planta é uma técnica poderosa, que pode ser usada para auxiliar produtores de algodão no rastreamento e na quantificação do crescimento da planta e seu potencial de produção em todas as fases de desenvolvimento da cultura. O desempenho do monitoramento da cultura durante os estágios-chave de desenvolvimento da planta deve ser entendido pelos produtores e técnicos que trabalham com a cultura do algodão como uma ferramenta valiosa para identificar problemas e estabelecer prazos, para iniciarem as ações corretivas, a fim de garantir alta produtividade na unidade de manejo e em toda a propriedade. C Anderson Pereira Monsanto


Cana-de-açúcar Fotos Leila Miranda

Canavial monitorado

O levantamento da comunidade infestante em áreas de canade-açúcar é ferramenta imprescindível para que o produtor possa adotar as melhores opções de manejo, além de orientar a época ideal para a adoção de herbicidas e a escolha mais adequada do método de aplicação desses produtos

A

s plantas daninhas são espécies vegetais que possuem como aspecto principal a rusticidade. Quando somada às outras características como a competição pelos recursos básicos (água, luz e nutrientes), alelopatia ou parasitismo, a torna plantas agressivas, que interferem sobre o desenvolvimento das culturas. Na cana-de-açúcar, a interferência das plantas daninhas proporciona perdas na produção de colmos de até 85%, especialmente se a comunidade infestante for constituída por plantas daninhas mais agressivas, a exemplo de Ipomoea spp. (cordas-de-viola), Merremia spp. (cordas-de-viola), Panicum maximum (capim-colonião), Brachiaria decumbens (capim-braquiária), Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), Cyperus spp. (tiriricas), Cynodon dactylon (grama-seda), Rottboelia exaltata (capim-camalote). O controle dessas espécies pode ser feito utilizando-se desde a simples capina até os mais modernos herbicidas. Atualmente, mesmo os pequenos produtores aplicam herbicidas, seja pela praticidade do uso ou escassez de recursos humanos para aplicabilidade de outros métodos.

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Entretanto, se o produtor conhecer as plantas daninhas presentes nos canaviais poderá manejar melhor a escolha, época e modo de aplicação dos herbicidas. Assim, é importante realizar levantamentos anuais das plantas daninhas nos canaviais e inserir as informações em um banco de dados para que possa constituir um histórico dos canaviais. À medida que os anos passam, o histórico das plantas daninhas fica mais confiável às decisões que o produtor poderá tomar.

Proposta de levantamento

Escolha do número e dimensão das testemunhas A priori o produtor precisa definir locais dentro dos talhões (glebas) onde não serão aplicados os herbicidas. Esses lugares constituirão as testemunhas; quanto maior o número de testemunhas, maior será a precisão do levantamento. Nas áreas tradicionais de cultivo da cana-de-açúcar os talhões possuem dimensões entre 08 hectares e 15 hectares e sugere-se o emprego de cinco testemunhas em cada talhão. Assim, a precisão seria de uma testemunha para cada 1,6 hectares nos talhões

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menores ou uma testemunha para cada 03ha da cultura nos talhões maiores. O número de testemunha a ser escolhido nos talhões depende da precisão que o produtor almeja. Na prática, há produtores que utilizam uma testemunha para cada talhão, outros, uma testemunha para cinco ou mais talhões, ou ainda uma testemunha para 50 hectares. Após escolhido o número de testemunhas, precisam ser distribuídas de modo que represente bem o talhão, evitando-se os 30m de borda. A variabilidade do banco de sementes nos solos é muito ampla e o número reduzido de testemunha pode comprometer o levantamento. Para o tamanho das testemunhas é sugerido no mínimo 90m-2, que pode ser demarcado no momento da aplicação dos herbicidas. Nesse caso, a largura das testemunhas seria o correspondente à barra de aplicação do trator e o comprimento constituído por 10m a 15m sem a aplicação do herbicida. A identificação da faixa sem aplicação (testemunha) deve ser feita por estacas e sinalizada em mapas, quando possível.

Levantamento

Na literatura encontram-se duas formas


básicas de levantamento de plantas daninhas. Uma delas é o emprego do levantamento visual (método empírico) e a outra o levantamento quantitativo (estudo de fitossociologia). Neste artigo será abordado o levantamento visual, ou seja, o empírico, devido à praticidade ao produtor. Salienta-se que a proposta apresentada é sugestiva, porém, com resultados interessantes quando utilizada no dia a dia. O método consiste em o produtor treinar três pessoas, escolher nas testemunhas as linhas centrais da cultura, conforme a Figura 1, e atribuir notas de cobertura ao solo, ou seja, qual o percentual do solo coberto pela infestação. Nesse momento, o produtor precisará ter sido treinado para atribuição das notas percentuais, mas para entendimento pode-se tomar como referência a escala onde zero corresponde à ausência de plantas daninhas (solo desnudo) e 100 à cobertura total do solo pelas infestantes. Essa nota é atribuída para cada um dos três observadores, individualmente. A segunda nota refere-se à frequência visual das plantas daninhas, ou seja, às espécies mais presentes. Assim, logo após atribuir a nota de cobertura do solo, o observador elegerá no mínimo as cinco espécies mais presentes e atribuirá nota percentual para cada uma. A soma dessas notas deve totalizar 100 porque se referem à frequência. Assim, para exemplificar, considere que determinado observador constatou, visualmente, que a espécie “A” era a mais presente e constituía 50% da flora observada, a espécie “B” era a segunda mais presente com 30% da flora e a espécie “C”, 20% da flora.

Figura 1 - Esquema de caminhamento nas parcelas e atribuição de notas de cobertura geral e específica para avaliação da eficácia de controle nos talhões de cana-de-açúcar tratados com diferentes volumes de calda

No ano em que for realizada a primeira avaliação o produtor simplesmente tomará conhecimento sobre quais espécies daninhas são mais comuns nos canaviais e na escolha do herbicida pós-emergente a ser utilizado. No ano seguinte, baseado no levantamento anterior, a informação o ajudará a escolher o herbicida (respeitando a rotação entre modo de ação) e se a aplicação poderá ser em pré ou em pós-emergência. À medida que os anos passarem, o histórico estará mais preciso e, em alguns casos, como se observa na prática, a infestação torna-se muito baixa que pode até mesmo se estudar a não aplicação de herbicida. No setor sucroalcooleiro é comum a aplicação de agroquímicos em pré-emergência, devido à ex-

Análise dos dados obtidos

Divulgação

Após o término das avaliações em todas as testemunhas, os observadores deverão, em escritório, comparar as notas e constituir uma média para cada testemunha. Essas informações serão colocadas em tabelas ou softwares para que possam ser acrescidas das avaliações futuras, constituindo o histórico.

A interferência das plantas daninhas proporciona perdas na produção de colmos de até 85%

Azania lembra a importância de que os levantamentos e históricos sejam consistentes e confiáveis

tensão das áreas cultivadas, porém, em alguns casos, ao fazer o levantamento das plantas daninhas observa-se baixíssima infestação, o que até dispensaria a aplicação. Nesses casos, o produtor, ao invés de aplicar o herbicida em pré-emergência na área total, poderia optar pela aplicação em pós-emergência na forma de “catação” (capina química). Essas decisões somente serão possíveis quando embasadas em históricos realizados de forma consistente. Os dados podem ser comparados pela simples média observada, como também pelo uso de modelos estatísticos, a exemplo da estatística multivariada proposta por Kuva (2006).

Observações finais

A proposta é uma sugestão para aqueles que almejam iniciar o trabalho de levantamento de plantas daninhas e a constituição de históricos confiáveis. Independentemente do emprego das sugestões comentadas neste artigo, o importante é o produtor escolher sabidamente observadores idôneos, número e dimensão das testemunhas. É importante sempre lembrar que testemunhas em número insuficiente, especialmente quando avaliadas por pessoas despreparadas, refletirão em levanC tamentos e históricos inconsistentes. Carlos Alberto Mathias Azania, Andréa de Padua M. Azania e Cássia Morilha Lorenzato, IAC

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Informe empresarial

Solução completa

A

Pioneer busca, através do seu planejamento estratégico, desenvolver soluções integradas que se caracterizam como sendo um conjunto de ferramentas que possam melhorar a eficiência dos processos produtivos. Neste cenário, as sementes assumem papel importante diante do valor agregado e foco nas soluções como veículo de tecnologia, desempenhando importante papel dentro das propriedades, pois garante os investimentos, a produtividade e a rentabilidade dos negócios. Por essa razão e, seguindo sua missão de melhor atender as necessidades do mercado, a empresa mais uma vez inova, trazendo para o mercado o seu Sistema de Solução Completa. O Sistema de Solução Completa está alicerçado em quatro pilares que representam a combinação ideal entre genética, biotecnologia e serviços: sistema de combinação de híbridos, genes nativos, tecnologia do milho Bt e tratamento de sementes industrial.

SISTEMA DE COMBINAÇÃO DE HÍBRIDOS

Com base nos programas de melhoramento convencional e nos investimentos realizados em estações de pesquisas alocadas estrategicamente em diferentes regiões do país, a Pioneer desenvolve e posiciona a melhor combinação entre potencial produ-

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tivo, precocidade e defensividade, características genéticas presentes com diferentes doses em cada híbrido, de acordo com as mais variadas necessidades das principais regiões produtoras de milho. Portanto, o maior volume de um determinado híbrido é definido pelo seu perfil agronômico frente às características que ele pode encontrar naquele ambiente e na referida época de plantio. Pequenos ajustes nos volumes dos híbridos podem ser realizados em função de condições microrregionais, através de consulta ao Departamento de Produto e Tecnologia ou ao representante de vendas da Pioneer. Dessa forma, o Sistema de Combinação de Híbridos é uma das melhores ferramentas de gerenciamento de risco, pois oferece maior segurança e estabilidade produtiva para os produtores.

GENES NATIVOS

Preocupada com a evolução das doenças foliares, sobretudo a helmintosporiose (Exserohilum turcicum), a ferrugem polissora (Puccinia polissora) e a ferrugem tropical (Physopella zeae) que, na safra passada afetou muitas lavouras em todo o país, a Pioneer desenvolveu marcadores moleculares que permitem identificar e selecionar com maior precisão genes nativos de milho para os programas de melhoramento. Com esta técnica é possível introduzir uma nova

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característica, corrigindo uma deficiência do híbrido, sem afetar as demais. Assim sendo, com o intuito de fortalecer e proteger o potencial produtivo de sua linha de produtos, a Pioneer disponibilizará para a safra 2010/2011, através do Sistema de Solução Completa, seus principais híbridos com a tecnologia de tolerância à ferrugem polissora e tropical. Futuramente, a Pioneer deverá disponibilizar ao mercado, híbridos com a tecnologia de genes nativos para outras doenças de importância econômica da cultura do milho como a phaeosphaeria e a cercospora.

TECNOLOGIA DO MILHO BT

Para a safra 2010/2011, estima-se que cerca de 70% das lavouras de milho serão cultivadas com a tecnologia do milho Bt (Yieldgard e Herculex I). A rápida adoção pode ser explicada, principalmente, pela facilidade e segurança no controle da lagarta do cartucho, considerada a principal praga das lavouras de milho do Brasil. Contudo, para se explorar ao máximo os benefícios desta tecnologia, é importante considerar a utilização do milho Bt, quer seja Yieldgard ou Herculex I, como uma ferramenta dentro do MIP (Manejo Integrado de Pragas). Em outras palavras, significa que as lavouras devem ser monitoradas constantemente, já que lagartas remanescentes na palhada ou ocorrência


de forte pressão destes insetos podem determinar aplicações complementares de inseticidas registrados para a praga-alvo em questão e finalidade de uso. Alerta-se que não deve ser usado inseticida à base de Bacillus thuringiensis. Além disso, técnicos e produtores devem estar atentos em atender as orientações técnicas para plantio das áreas de refúgio e respeitar as Normas de Coexistência. Mais detalhes sobre a Norma de Coexistência e implantação das áreas de refúgio podem ser obtidos na área de biotecnologia do site www.pioneersementes.com.br

TRATAMENTO DE SEMENTES INDUSTRIAL

Com o objetivo de proteger as sementes e plântulas contra o ataque de pragas e doenças e, complementando o Sistema de Solução Completa da Pioneer, mais um serviço é disponibilizado aos seus clientes: o tratamento de sementes industrial. Em função da adoção de novas tecnologias como o milho Bt, das pesquisas em novas moléculas, dos investimentos realizados em modernos tratadores e utilização de produtos comprovadamente eficientes e específicos para este fim, as principais características e benefícios do tratamento

Estima-se que na safra 2010/2011 a tecnologia Bt estará presente em 70% das lavouras de milho

industrial são: considerar a entrada de novas tecnologias como o Bt e inseri-lo dentro do manejo integrado de pragas, assegurar a dose correta de ingrediente

ativo por semente, melhor cobertura das mesmas e reduzir ao máximo o dano às sementes garantindo qualidade por meio de um melhor estande inicial e uniformidade de plantas, o que pode maximizar os resultados da lavoura. Contudo, a tecnologia de sementes industrial jamais deve ser considerada como única estratégia de controle de pragas. Portanto, é recomendado o monitoramento constante da lavoura para determinar eventual necessidade de aplicação complementar, principalmente em áreas com histórico de forte pressão de insetos. Dessa forma, o uso do tratamento de sementes industrial de forma associada à tecnologia do milho Bt representa o que há de mais moderno em conveniência e comodidade, uma vez que os produtores recebem as sementes prontas para plantar. Finalmente, o Sistema de Solução Completa representa um marco dentro do mercado de sementes contribuindo para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira, da mesma forma que inúmeras outras tecnologias foram desenvolvidas pela Pioneer durante a sua história aqui no Brasil.


Eventos

Bons negócios

Fotos Fenasoja

Fenasoja comercializa R$ 41 milhões e reúne 153 mil visitantes em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul

I

mpulsionada pelo setor de máquinas e implementos agrícolas e pela previsão de safra recorde, a 18a Feira Nacional da Soja (Fenasoja), realizada entre o final de abril e a primeira semana de maio, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, encerrou com o faturamento de R$ 41 milhões, alta de 17% em relação ao faturamento de 2008. O público de mais de 150 mil pessoas superou os 148 mil visitantes que compareceram na feira anterior. Marlon Saling, presidente da 18ª edição, avaliou que a boa safra de soja e as ações comerciais feitas pelos 600 expositores do evento foram as responsáveis pelo faturamento, que superou os R$ 35 milhões da edição anterior. O número de visitantes, de 153 mil, fechou abaixo da expectativa dos organizadores, que aguardavam 200 mil pessoas. Saling lembrou que três dias de chuva impediram que a população passasse pelo evento. Mesmo assim o público de 2010 foi superior ao da última edição, que ficou em 148 mil visitantes.

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Presidente eleito

A próxima edição já tem presidente eleito. Trata-se de Elemar Lenz, empossado pelo Conselho Consultivo Permanente da Fenasoja. Contará com o apoio de mais de 200 voluntários para organizar o evento. “Um desafio é inserir na Fenasoja a inovação e a tecnologia, no setor primário e na indústria local”, destacou Lenz.

Patrimônio do Estado

Uma lei publicada no Diário Oficial do Estado, na abertura do evento, declarou a Festa Nacional da Soja (Fenasoja), patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul. A lei, de número 13.454/2010, foi aprovada pela Assembleia Legislativa em 14 de abril de 2010 e sancionada pela governadora Yeda Crusius. A Fenasoja completou C nesta edição 44 anos de atividades.

O público de mais de 150 mil pessoas superou os 148 mil visitantes da edição anterior

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Coluna ANPII

Menos carbono

A

ANPII se engaja em programa ABC, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN)

tualmente há um enorme movimento mundial para reduzir os níveis de emissão de carbono na atmosfera. Governos, com maior ou menor nível de comprometimento, se mobilizam junto com setores da sociedade em torno deste objetivo, inserido em um programa mais amplo de minimizar os efeitos da atividade humana sobre a natureza, em especial no que se refere às mudanças climáticas. O Brasil tem assumido compromissos internacionais neste sentido. Estão em estudo e mesmo em execução diversas medidas que têm como efeito principal reduzir a emissão de gás carbônico, bem como outros gases promotores de efeito estufa. A agricultura e a pecuária, embora sejam

conscientização dos agricultores para o uso da tecnologia do emprego dos inoculantes nas culturas de leguminosas, mas, também, nas culturas de gramíneas (uma vez que as pesquisas da Embrapa e de universidades já mostraram que é viável a fixação de nitrogênio nesta família de plantas). Como o uso de mais nitrogênio biológico poderá contribuir para a redução de carbono na atmosfera? A FBN pode auxiliar de quatro formas, separadas ou concomitantes, para tornar o balanço emissão/sequestro de CO2 mais favorável: 1 – Cada 100kg de fertilizante nitrogenado aplicado no solo libera 1,96kg de óxido nitroso, o que equivale a 580kg de gás carbônico (Carlos Cerri, Simpósio de

mamente oneroso para o agricultor, para o país e para o ambiente, usar fertilizante nitrogenado para repor este nutriente ao solo. Estima-se que no Brasil existam cerca de 100 milhões de hectares de áreas degradadas que poderiam ser incorporadas aos sistemas produtivos agrícola, pecuário ou florestal mediante um trabalho de recuperação de suas características produtivas. A fixação biológica constitui-se em uma importante ferramenta neste processo, seja como uma cultura de adubação verde, seja como cultura consorciada, fornecendo nitrogênio para o solo e para as outras plantas em consórcio. Neste caso, em especial, o desenvolvimento de inoculante para gramíneas forrageiras, traria grandes ganhos ao processo.

O incremento do uso de inoculantes nas culturas do feijão, milho, trigo, arroz e cana-de-açúcar se constituiria em um ganho ambiental expressivo atividades em parte redutoras do carbono atmosférico, possuem algumas atividades que são emissoras de CO2 e que devem ser estudadas para diminuir este efeito negativo para o ambiente. Neste sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) implantou o Programa de Agricultura de Emissão de Baixo Carbono (ABC). Trata-se de ação de abrangência nacional, que propõe uma série de práticas agrícolas que deverão trazer sensível diminuição na emissão de carbono. São cinco os eixos condutores deste programa: • Plantio direto • Integração lavoura-pecuária-floresta • Recuperação de áreas degradadas • Plantio de florestas • Fixação biológica de nitrogênio (FBN) Dentro dos objetivos da Associação Nacional dos Produtores Importadores de Inoculantes (ANPII), a inserção da FBN neste programa é extremamente oportuna, pois a partir daí vislumbra-se a oportunidade de desenvolver uma ampla ação de

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Enxofre e Nitrogênio, Esalq, abril de 2006). No momento em que pudermos substituir todo ou parte deste nitrogênio mineral pelo nitrogênio biológico, estaremos também reduzindo a emissão de óxido nitroso na atmosfera. Neste caso particular, o incremento do uso de inoculantes nas culturas do feijão, milho, trigo, arroz e cana-de-açúcar se constituiria em um ganho ambiental expressivo. 2 – Na produção dos fertilizantes nitrogenados usa-se grande quantidade de energia, em especial gás natural e petróleo, o que contribui fortemente para a emissão de gás carbônico para a atmosfera. Mais uma vez, se substituirmos nas culturas de leguminosas e de gramíneas o fertilizante nitrogenado pela fixação biológica do nitrogênio, mais uma vez teremos sensíveis ganhos para o ambiente. 3 – Na recuperação de áreas degradadas, isto é, áreas que foram exploradas de forma predatória, exaurindo os nutrientes do solo e alterando suas características físicoquímicas, o nitrogênio biológico assume um papel preponderante, pois seria extre-

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4 – Por último, mas não menos importante, é o incremento da FBN em áreas onde ainda não é usada ou empregada de forma inadequada. A soja se constitui na cultura-chave. Dos 23 milhões de hectares da leguminosa cultivada no Brasil, aproximadamente 50% não usa inoculante anualmente. Como a pesquisa demonstra que a inoculação anual aumenta a produtividade em cerca de 8%, poderemos ter uma dimensão do que poderia crescer a produtividade. Ora, maior produtividade é um fator de redução da pressão sobre novas áreas de cultivo, o que contribui para menor desmatamento. Portanto, a FBN é um dos pontos-chave no Programa ABC e a ANPII está participando do processo de forma intensa, trazendo a contribuição das empresas produtoras e importadoras de inoculantes para, juntamente com os demais participantes, alcançar o sucesso C no programa. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

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Segunda geração de biocombustíveis

ara introduzir o artigo, apresento os conceitos que adoto para as gerações de biocombustíveis. 1ª geração: é a atual, composta, principalmente, por etanol, biodiesel e biogás (proveniente de biodigestores); 2ª geração: são biocombustíveis obtidos por novas técnicas de processamento, a partir de matéria-prima já existente. O exemplo mais conhecido é o etanol celulósico; 3ª geração: serão obtidos biocombustíveis através de novas técnicas de processamento, resultantes de aprimoramentos da segunda geração, porém, sua grande marca será a utilização de matérias-primas específicas. Um bom exemplo são os biocombustíveis a serem obtidos de microalgas melhoradas para obtenção de energia; 4ª geração: plasma os dois conceitos anteriores (métodos revolucionários e

prima, com arranjo celulósico diferente, são necessárias enzimas e condições de reação específicas. As enzimas degradadoras de celulose são as celulases. As enzimas utilizados na indústria - isoladas de várias espécies de fungos filamentosos encontrados em vegetais em decomposição - são lentas e instáveis e, como resultado, o processo é proibitivamente caro.

Biotecnologia

Pesquisadores da California Institute of Technology (Caltech) construíram 15 catalisadores enzimáticos, que quebraram eficientemente a celulose em açúcares, em ambiente de altas temperaturas. O material genético foi sintetizado em Saccharomyces cerevisae, a partir de genes obtidos dos fungos Humicola insolens, H. jecorina e

tistas da Caltech e da DNA2.0 previram quais das mais de seis mil novas enzimas seriam as mais estáveis, sob temperaturas mais elevadas. A termoestabilidade é uma exigência de celulases eficientes, pois em temperaturas mais altas - digamos, 70ºC ou 80ºC - as reações químicas são mais rápidas. Além disso, a celulose “incha” em altas temperaturas, facilitando a quebra da sua cadeia, por ataque enzimático. Infelizmente, as celulases encontradas na natureza são inativadas a temperaturas superiores a 50ºC. Há mais vantagens na inovação. As enzimas que são altamente termoestáveis também tendem a se manter ativas por longo tempo. Enzimas mais duradouras quebram mais celulose, reduzindo a necessidade de reposição, logo, seus custos são mais baixos.

Há mais vantagens na inovação. As enzimas que são altamente termoestáveis também tendem a se manter ativas por longo tempo matérias-primas mais eficientes) com otimização do balanço energético, integração de processos, conjugados com captura e estocagem do gás carbônico resultante do processo de obtenção de biocombustíveis. O etanol de primeira geração pode ser obtido pela conversão de materiais renováveis, através de processo fermentativo, usando cepas melhoradas por processos clássicos, derivadas de microrganismos encontrados na natureza. À exceção da cana-de-açúcar, restrições são apostas a outras matérias-primas (produto caro, compete com produção de alimentos, baixa eficiência energética, alto fluxo de carbono etc). Os resíduos agrícolas poderiam solucionar estes problemas, pois são em grande parte compostos de celulose, o principal componente da parede celular vegetal. Entretanto, a celulose é muito mais difícil de degradar a açúcares simples do que o amido. Enquanto a fermentação, que decompõe o amido, só precisa de uma enzima, a degradação da celulose requer um conjunto de enzimas, trabalhando harmonicamente. E, para cada matéria-

Chaetomium thermophilum. A inovação está no fato de que as enzimas construídas possuem notável estabilidade térmica e demonstraram a capacidade de degradar celulose atuando em um variado leque de condições ambientais e de matéria-prima. As novas enzimas foram criadas com o uso de um programa de computador para design genético, que determina exatamente onde os genes devem recombinar, para obter a maior chance de sucesso. No caso, os pesquisadores buscavam enzimas que pudessem atuar a temperaturas muito superiores à máxima suportada pelas atuais celulases industriais. Os cientistas do Caltech "acasalaram" as sequências de três celulases fúngicas já conhecidas e eficientes, obtendo mais de seis mil grupos de progênies, que eram diferentes de qualquer um dos parentais, embora as proteínas codificadas na enzima possuam a mesma estrutura e mantenham a capacidade de degradação de celulose. Pesquisas da empresa privada DNA2.0 identificaram os princípios de design genético que permite maximizar a expressão de proteínas. Ao analisar as enzimas, com o apoio de um software específico, os cien-

A sequência desenhada pelo computador foi sintetizada em DNA real e transferida para o fermento Saccharomyces cerevisae, responsável pela transformação de açúcares em etanol. A levedura transgênica produziu as enzimas, que foram então testadas para avaliar sua capacidade e eficiência para degradar celulose. Todas as 15 novas celulases obtidas por biologia sintética foram mais estáveis, operaram em temperaturas significativamente mais elevadas (70ºC a 75ºC), e degradaram mais celulose por unidade de tempo e de enzima, do que as enzimas parentais. Este trabalho demonstrou o que é possível fazer através da biologia sintética. Sem necessitar recorrer a qualquer organismo vivo – sequer os fungos que doaram as sequências genéticas – foi possível resolver uma série de problemas que vinham se constituindo em barreiras ao avanço dos processos de obtenção do etanol celulósico, C de forma competitiva.

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

www.revistacultivar.com.br • Junho 2010

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Agora é a vez da safra nos EUA e da La Niña O mercado mundial dos grãos, faminto por muito produto, observa os chineses crescerem em volumes importados. Ao mesmo tempo, outros gigantes da Ásia também avançam em grandes importações e, deixando de lado a crise da Europa, continuam com forte crescimento econômico. Estão deixando a crise passar ao lado, porque em tudo que se compara, os pequenos países europeus não têm grande significância frente aos gigantes do mundo asiático, que seguem com muita fome. Desta forma, com a safra dos Estados Unidos plantada, agora é o clima que terá importância e será o grande formador das cotações, porque o consumo segue em ritmo acelerado e há espaço para avançar ainda mais. Nas últimas semanas observaram-se grandes compras da China no mercado do milho americano (e até mesmo compras de arroz pelo Brasil no mercado americano), sinalizando que os gigantes da economia mundial estão avançando em ritmo acelerado sobre os grãos dos americanos e criam bom suporte para as cotações internacionais. Neste mês de junho ocorre mudança de fase climática, saindo da fase de El Niño e entra na fase de La Niña. Este fenômeno normalmente traz temperaturas maiores, clima mais seco e, em geral, promove perdas na produtividade das lavouras em vários pontos do planeta. Chega a trazer temor até mesmo em terras brasileiras, além de afetar as lavouras da Argentina. Desta forma os números do mercado serão comandados pelo andar da safra americana e do clima registrado por lá. Neste começo de safra os tornados em solo americano estão mais violentos, com vários registros no cinturão agrícola. A safra está começando com alguns temores e riscos históricos, porque tem maiores chances de perdas em fase de La Niña do que em outros momentos. O mundo está comendo mais e assim que a crise da Europa sair das manchetes dos jornais, o mercado tende a puxar novamente os indicativos para cima, como já visto no final de maio, quando ensaiou ajustes positivos. O quadro geral continua de maior demanda do que potencial de produção e desta forma com fôlego para avanços nas cotações.

MILHO Suporte via PEP

de R$ 1,90. Mesmo sem grande apoio de Chicago, conseguiu alavancar as cotações do grão até acima dos R$ 41,00 por saca nos portos e fez as cotações reagiram no interior. Muitas fixações de balcão foram efetivadas e também houve fechamentos de grão livre via insumo futuro, com as revendas fazendo posições com ágio a favor dos produtores para poderem comercializar alguns pacotes de insumos. A safra nova da soja continua com ritmo lento nas negociações porque os produtores esperam por cotações maiores em dólares, fato que não ocorreu em maio. Mas pode se concretizar em junho ou em julho, períodos críticos sobre as lavouras americanas e asiáticas frente ao clima. Bons momentos podem surgir.

A comercialização do milho no Brasil vinha se arrastando em ritmo lento desde a colheita da primeira safra (que ainda tem parte do produto nos campos). Agora, com o início da safrinha, havia temor de grandes prejuízos por parte dos produtores. O governo, depois de prometer e não cumprir, deu início aos primeiros pregões de PEP (o primeiro com um milhão de toneladas para os produtores e tendo a exportação como uma das alternativas). Dessa forma abriu espaço para crescimento nas vendas externas (na casa de dois milhões de toneladas, em um ano que está previsto embarcar mais de 7,5 milhões de toneladas). O governo, via FEIJÃO prêmios, criou apoio e motivou o mercado, que Cotações firmes começou a dar sinais de reação e mostrou ajustes As cotações do feijão em maio seguiam firmes, nos indicativos internos. Agora vem a safrinha, que traz grandes perdas no Centro-Oeste devido à seca com poucos vendedores, e as regiões que tinham o nas lavouras, diminuindo a pressão negativa que produto para colher estavam sofrendo com chuvas em excesso no Paraná e com temperaturas baixas, tínhamos sobre as cotações. que causaram forte queda na produtividade. Registrou-se grande queda no volume de feijão SOJA para os próximos meses, com oferta menor que a Bons momentos em maio A soja teve bons momentos para a comercia- demanda, o que tende a manter as cotações firmes. lização em maio, quando do dólar chegou à faixa Nem mesmo os pregões da Conab para venda de

estoques têm servido para segurar as cotações, que se firmaram entre R$ 120,00 e 170,00 por saca (para o produto nobre, acima dos nove pontos, o valor pode chegar acima destes indicativos).

ARROZ Está na hora das correções positivas

O mercado do arroz está com a safra colhida. Há grande queda na produção, que não está muito acima das 11 milhões de toneladas para um ano de consumo de 13 milhões de toneladas. Desta forma há a necessidade de importação de grandes volumes. Por falar neste assunto, o primeiro navio de arroz americano foi comprado nos EUA no final de maio e tudo aponta que novos negócios devem fluir com produto do país, que tem qualidade para atender à demanda nacional. O crescimento econômico brasileiro está acima das expectativas, com indicativos na ordem dos 7,5% ao ano. Com aumento no emprego formal, ocorre crescimento imediato do consumo de alimentos básicos, o que dá suporte à alta do feijão e espaço para que o preço do arroz cresça. Os níveis do produto no Rio Grande do Sul podem avançar para patamares entre os R$ 29,00 e R$ 32,00 nestas próximas semanas, com fôlego para ir além nos próximos meses.

CURTAS E BOAS TRIGO - O plantio desta safra indica queda de área cultivada devido às perdas sofridas pelos produtores do Paraná no cultivo anterior, ocasionadas pelo clima irregular e por chuvas na colheita. Consequentemente o país terá menor potencial de safra e como estamos com crescimento do consumo interno, teremos que importar mais, superando a marca das seis milhões de toneladas. Como a Argentina registra problemas climáticos e grande risco de perdas devido à seca, pode, novamente, ter menos trigo para nos vender. Na última safra os portenhos colheram a menor em mais de 50 anos e agora o Brasil terá que ir buscar produto em outros locais, como Canadá ou EUA, o que resultará em ter que pagar mais caro pelo cereal. Em tempos de dólar em alta, há maior risco para os moinhos, que já deveriam estar valorizando o produto nacional. ALGODÃO - O mercado sinaliza que a fase negativa do setor está chegando ao final e tudo aponta que o quadro para a safra que está nos campos será melhor que nos anos anteriores. O problema do momento é que a seca está causando abortamento das flores e derrubando os capulhos. Com isso, deve ocorrer forte queda na produtividade. Esse cenário valorizará o produto que for colhido. As lavouras da Bahia registram boas condições. EUA - A safra está plantada e começa com potencial produtivo igual ou até acima do ano passado para o milho e leve queda para a soja. Há grande temor frente ao clima, porque estamos na fase de La Niña. CHINA - As compras de alimentos pelos chineses estão em crescimento.

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Há forte movimento nas últimas semanas com milho americano, com chances de compra do produto na América do Sul neste meio de ano. Também permanecem os indicativos de recorde de importação de soja (novamente voltou a se apontar que o país irá comprar mais de 45 milhões de toneladas do produto frente às 39 milhões de toneladas compradas no último ano). INDIA - O clima continua causando estragos nas lavouras de parte do centro da Índia e também em pontos do sul e do norte. Com isso a safra de alimentos do país já está com perdas e isso tende a forçar os indianos a importar mais óleo vegetal, podendo também aparecer novas compras de açúcar e até grãos. Lembrando que até o ano passado era um país exportador de alimentos. O forte crescimento da economia local, na faixa dos 8% ao ano, está aumentando o consumo interno e o clima limita a produção, forçando a importações e redução das vendas externas. ARGENTINA – A colheita fechou com recorde da safra de soja acima de 54,8 milhões de toneladas contra 32 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Agora o temor dos portenhos chama-se La Niña, fenômeno climático que já está causando estiagem sobre as áreas de trigo. O país continua crescendo na produção de biodiesel e já se comenta em chegar acima de 1,6 bilhão de litros neste ano, com base quase total para a exportação. A capacidade instalada supera a marca de 1,8 bilhão de litros e está em expansão.




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