Cultivar 134

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 134 • Julho 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa Capa

Investida das pragas.............................22

Dirceu Gassen

Como combater corós e pulgões, insetos responsáveis por limitar a produtividade na cultura do trigo

Humores do clima......................08 Eterna batalha...........................16 Exigências específicas.................26

A influência dos fenômenos El Niño e La Niña nas lavouras de arroz

O que fazer no período da entressafra para minimizar o problema da ferrugem asiática em soja

Índice

O que muda na lavoura de milho quando o plantio é realizado com variedades resistentes a insetos

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Influência de fenômenos climáticos em arroz

08

• Editor

12

• Redação

Demanda por nitrogênio no algodão Ferrugem asiática: como proceder na entressafra

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Mosca-branca em soja e em feijão

20

REDAÇÃO

Lisandra Reis Cristiano Ceia • Revisão

Aline Partzsch de Almeida • Secretária

Manejo em convencionais e transgênicos

26

Ferrugem alaranjada em cana-de-açúcar

30

Mofo-branco em feijão

32

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300

Eventos - Cooplantio 2010

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Diretor Newton Peter

Bayer promove visita a cafezal em Minas Gerais

38

Coluna ANPII

40

Coluna Agronegócios

41 42

Charles Ricardo Echer

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Design Gráfico e Diagramação

22

• Coordenação

Gilvan Dutra Quevedo

Corós e pulgões em trigo

Mercado Agrícola

MARKETING E PUBLICIDADE

Rosimeri Lisboa Alves

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Alessandra Willrich Nussbaum

• Expedição

GRÁFICA

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Dianferson Alves Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


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Diretas Basf

A Divisão de Proteção de Cultivos da Basf aproveitou a 25ª edição do Seminário Cooplantio para lançar seu o novo herbicida Kifix para a cultura do arroz. O defensivo foi especialmente desenvolvido para uso no Sistema Clearfield Arroz. O Kifix, além de integrar a tecnologia mais eficaz à disposição dos produtores, possui amplo espectro de controle das principais plantas daninhas infestantes da cultura, incluindo o arroz vermelho, apresentando flexibilidade na aplicação e efeito pré e pós-emergente das plantas infestantes.

Manejo de lagartas

A Dupont aproveitou o 25º Seminário Cooplantio para reforçar o desempenho dos inseticidas Premio e Altacor indicados para manejo de lagartas de difícil controle nas culturas de arroz e soja. Segundo o coordenador de Mercado, Altair Bizzi, outro produto que se consolidou com êxito na cultura da soja foi o sistema Aproach Prima, que atualmente está em fase de registro para arroz, milho e trigo. A expectativa é de que o produto seja aprovado ainda em 2010.

Herbicida

A Ihara participou pela primeira vez da Cooplantio, em Gramado, e aproveitou a oportunidade para apresentar o herbicida Grassmax, recomendado para o controle das principais daninhas do arroz irrigado, como milhã, papuã, capim pé-de-galinha e panicum. O Grassmax, que tem como princípio ativo as moléculas propanil e thiobencarb, já estará disponível para a safra 2010/11 . "Trata-se de um novo produto do nosso portfólio e nossa finalidade foi apresentar aos participantes do evento as vantagens do herbicida na cultura do arroz", afirmou o gerente comercial, Rodrigo Lima.

Posse

Vitor Raposo assume a gerência da Nufarm em Portugal depois de dois anos à frente das negociações com terceiros e inteligência de mercado na empresa. Sob sua responsabilidade ficarão os setores de Operações, Logística, Crédito, Registro, Marketing e Vendas. "É um grande desafio e uma excelente oportunidade de crescimento pessoal e profissional, pois já temos uma posição de destaque no mercado Português" disse Raposo. A troca de cargo está prevista para o mês de agosto.

Vitor Raposo

Nova tecnologia

A Syngenta Seeds recebeu a aprovação dos órgãos regulatórios do Japão para o milho geneticamente modificado Agrisure Viptera, também conhecido como MIR162. O produto poderá ser importado para uso em alimentação humana e em rações. A tecnologia recém-aprovada tem amplo espectro de combate a pragas e no Japão poderá ser usada também em combinação com outros eventos transgênicos previamente aprovados. Os agricultores brasileiros já poderão contar com o Agrisure Viptera na safra de 2010/2011.

Orizicultura

O 4º encontro da Planfer/Irga, realizado em Pelotas, Rio Grande do Sul, debateu novas tecnologias, aumento da produtividade e a diminuição dos custos nas lavouras. Durante o evento o diretor da Planfer, José Paulo Machado, destacou a importância do trabalho da sua equipe, do Irga e também das empresas Basf, Dow AgroSciences, FMC e Monsanto pelo apoio oferecido ao encontro, juntamente com a Risoy e Serrana.

Campos férteis

Motivação

O 4º encontro da Planfer/Irga, realizado no Centro de Eventos, em Pelotas (RS), contou com palestra do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, que abordou os cinco valores importantes para alcançar o sucesso: visão, decisão, time, Oscar Schmidt obstinação e paixão.

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O economista Ricardo Amorin apresentou aos convidados da Planfer/Irga a palestra com o tema: Semeando em Campos Férteis. Segundo o palestrante, os americanos e os europeus não são mais fontes de solidez da economia mundial e o eixo de riscos e oportunidades mudou. “A China e o resto dos emergentes vão representar cada vez mais oportunidades. A vantagem produtiva brasileira está no espaço (terra) tanto para plantio, quanto para extração (minérios) e a água”, opinou.

Ricardo Amorin


Gestão

Também durante a 4ª edição da Planfer/Irga o tema sobre Gestão Empresarial na Propriedade Agrícola foi abordado pelo consultor da M. Prado Consultoria Empresarial & Associados, Marcelo Prado. De acordo com Prado, o produtor rural deve ter uma postura de empresário rural, introduzir em sua propriedade ferramentas de gestão empresarial, identificação de custos de produção, de perdas de receitas e investir em mão de obra qualificada, além de implantar sistema de informação onde possa mensurar resultados.

Híbridos

A Dekalb concentra suas ações na segunda geração de híbridos transgênicos, o Yeldgard VT Pro, que contém duas proteínas para combater o ataque da lagarta-docartucho, da lagarta-da-espiga e da broca do colmo. Segundo Marcelo Gatti, gerente de Vendas Dekalb para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre as vantagens da nova tecnologia estão a redução da área de refúgio de 10% para 5%, a eliminação de aplicações complementares de inseticidas e o incremento de até 7% na produção comparado aos mesmos híbridos sem Marcelo Prado as proteínas. O Yeldgard VT Pro estará disponível a partir de novembro para a safra 2010/11.

Tecnologia

O diretor-técnico do Irga, Valmir Menezes, apresentou na Planfer/Irga a palestra sobre Tecnologia e Gestão da Lavoura. "É fundamental que o produtor plante na época certa, faça o preparo ideal do solo e a irrigação cedo. Isso significa gestão e planejaValmir Menezes mento", sugeriu Menezes.

Interação

A Dow AgroSciences, durante a Planfer/ Irga, esteve representada por Otávio Torres. O engenheiro agrônomo da empresa destacou o encontro como um momento de interação com os clientes. “Sempre temos o objetivo de abordar o uso de tecnologias e pesquisas com a finalidade de aperfeiçoar os resultados nas lavouras.”

Comparou, Comprou

A Monsanto comemora o sucesso da campanha “Comparou, Comprou” lançada no ano passado. Para o gerente de Produto e Precificação, Marcelo Segalla, a campanha tem foco na marca Roundup, mostrando os benefícios do produto e o preço compatível com a tecnologia que ele oferece. “Quando o produtor compara qualidade, desempenho e preço do Roundup em relação aos demais, se convence de que é Marcelo Segalla e Marcos Puhlmann o produto a ser adquirido”, garante.

Soja e arroz

Otávio Torres (dir.)

Equipe

A equipe de engenheiros agrônomos da FMC participou da Planfer/Irga. O representante técnico da empresa, Daniel Becker, destacou a importância do encontro. “Esses eventos criam oportunidades de levar informações e esclarecer dúvidas sobre os produtos da companhia com foco Daniel Becker (centro) na cultura do arroz”, comentou.

Novidades

O engenheiro agrônomo Matheus Fabiano Botelho assumiu o cargo de gerente de Mercado para Soja, Milho e Algodão da Sipcam Isagro. Atuando no segmento desde 1994, tem como meta a organização de posicionamento do portfólio das culturas, além do desenvolvimento de novos projetos para aumentar a rentabilidade da empresa.

Marcelo Gatti

A Bayer CropScience destacou no 25º Seminário Cooplantio os fungicidas Sphere Max para soja e Nativo para a cultura de arroz, além das sementes híbridas de arroz Arize. “Estamos em período de entressafra, o que é uma ótima oportunidade para ouvir a opinião dos produtores. Além de estreitar o relacionamento com o cliente, podemos falar sobre o planejamento da próxima safra”, explica Eurípedes Rodrigues, coordenador comercial da regional de São Leopoldo da Bayer CropScience.

Tecnologia

A Monsanto aproveitou o 25º Seminário Cooplantio para apresentar a campanha da marca Roundup “Comparou, Comprou”. Os visitantes puderam simular gastos e produtividade com o uso do produto em uma calculadora de 1,5 metro e tela touch screen. A empresa também apresentou recomendações agronômicas sobre o uso do herbicida e informações a respeito do descarte de embalagens. Matheus Fabiano Botelho

Inseticida

A Dupont aproveitou a Expocafé para destacar o Altacor. O recém-lançado inseticida é aplicado em baixas doses e considerado eficiente no controle de insetos-pragas. Segundo o coordenador de Desenvolvimento de Mercado da Companhia, Maurício Fernandes, o produto reúne atributos que estão surpreendendo agricultores, técnicos, pesquisadores e distribuidores de agroquímicos em todo o mundo.

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Arroz

Efeitos do clima

Na cultura do arroz, fenômenos como El Niño, responsável por aumentar o volume de chuva em até 150%, e La Niña, caracterizado por precipitações abaixo da média, apresentam importante influência sobre a produtividade. Diante desse cenário cabe ao orizicultor levar em consideração os prognósticos de ocorrência climática para o planejamento eficiente da lavoura

Fotos Ricardo Balardin

E

m anos considerados neutros não há ocorrência de alterações no padrão das chuvas, que permanecem próximas da média histórica da região e bem distribuídas ao longo dos meses. Via de regra, não ocorrem dificuldades para a instalação da cultura dentro da época recomendada, beneficiando as práticas de manejo bem como o desenvolvimento adequado do arroz. Entretanto, a neutralidade climática tem se mostrado menos presente quando considerada a ocorrência dos fenômenos El Niño e La Niña. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em abril/2010, a área cultivada de arroz no Brasil na safra 09/10, foi 4% inferior à passada, com 2,9 mil hectares. Ainda de acordo com a Companhia, a redução na área cultivada de arroz irrigado se deu em razão dos eventos climáticos extremos, como alagamentos e enxurradas, provocados pelo excesso de precipitações em decorrência do fenômeno El Niño. No decorrer dos anos tem sido verificada relação dos fenômenos climáticos El Niño e La Niña, com a disponibilidade

de radiação, pluviosidade e temperatura, alterando todo o sistema climático. Desta forma, a produtividade do Rio Grande do Sul, estado de maior produção de arroz, deve cair em torno de 10,5% em relação à safra passada. A redução da produtividade está intimamente ligada ao atraso na instalação da cultura, que desfavorece o desenvolvimento da planta de arroz e expõe as fases críticas do ciclo aos eventos climáticos adversos bem como maior pressão de doença.

Ocorrência de El Niño

Na região Sul do Brasil, o fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos) manifesta-se através da ocorrência de precipitação superior à média climatológica. Em cada episódio é observado crescimento no volume de chuvas, com poder de aumentar em até 150% a precipitação em relação ao índice médio normal, principalmente nos meses de primavera, fim do outono e começo de inverno, onde as temperaturas tendem a permanecer amenas na região Sul. Em anos de El Niño, o excesso de chuvas na primavera dificulta o manejo da

Balardin, Madalosso, Mônica e Lenz analisaram 12 safras e somente 25% não representaram ocorrências de El Niño ou La Niña

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Figura 1 – Médias de produtividade em doze safras, na Região Central do Rio Grande do Sul, em decorrência dos fenômenos El Niño e La Niña

lavoura no período recomendado, prejudicando a semeadura do arroz. Além disso, grandes volumes de chuva podem causar enchentes, representando riscos de perdas significativas desde o estabelecimento até a colheita do arroz, como ocorrido na safra de 2009/2010 no Rio Grande do Sul (Figura 1). A semeadura tardia leva de encontro à fase reprodutiva da cultura com altas amplitudes térmicas e umidade relativa do ar elevadas, nebulosidade, precipitações frequentes e baixa radiação, comuns a partir do mês de fevereiro e intensificadas com o fenômeno. Não somente tempera-

Figura 2 – Área abaixo da curva de progresso da mancha parda do arroz em doze safras, na Região Central do Rio Grande do Sul, em decorrência dos fenômenos El Niño e La Niña

turas altas (>34oC), mas também baixas (<17oC) provocam danos ao desenvolvimento fisiológico do arroz. Temperaturas baixas são responsáveis por problemas na microsporogênese durante a floração, causando esterilidade e diminuição da qualidade de engenho dos grãos, quando submetidos a estas oscilações. Com este cenário, o desenvolvimento fisiológico do arroz é alterado combinando estádio de suscetibilidade da cultura com condições favoráveis à ocorrência e progresso de doenças (Figura 2). É importante ter em mente que o uso de cultivares com ciclo médio ou tardio

acabam por expor grande parte da fase reprodutiva da cultura a estas condições epidêmicas. Cultivares precoces podem ser uma alternativa de manejo quando o prognóstico climático aponta para a ocorrência do fenômeno. Desta forma, a permanência da fase sensível da cultura no campo é menor desencontrando com o período de maior concentração de esporos de patógenos no ambiente. Para as regiões produtoras do Sul, as semeaduras realizadas em dezembro sobrepõem os períodos de emborrachamento e floração do arroz com temperaturas noturnas baixas, alta umidade relativa e nebulosidade. Isto


Ricardo Balardin

Sintomas de mancha parda em lavoura de arroz, doença influenciada por fatores como clima e época de semeadura

acaba por aumentar a duração do molhamento foliar, condição que favorece a infecção de diversos patógenos da cultura (Quadro 1). Em safras sob regência desse fenômeno, a antecipação da aplicação de fungicidas é fundamental para manutenção do residual e da eficiência de controle de doenças. Nestes casos, dependendo da época de semeadura e ciclo, uma segunda aplicação de fungicida garante lavoura mais limpa e melhor qualidade de grão.

Ocorrência de La Niña

De forma oposta ao El Niño, o La Niña promove alteração na dinâmica de ocorrência de chuvas na região Sul. Como consequência deste fenômeno, as frentes frias que atingem o Centro-Sul do Brasil têm sua passagem mais rápida que o normal e com mais força. Assim, ocorrem estiagens, com grande queda no índice

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pluviométrico, principalmente nos meses de setembro a fevereiro. Uma lavoura de arroz bem sucedida passa necessariamente pela correta implantação, de sorte a expor as fases da cultura aos máximos períodos de incidência de

radiação, baixas oscilações térmicas e irrigações adequadas. Em anos com ocorrência de La Niña, a escassez de precipitação causada pelo fenômeno pode favorecer o manejo nas várzeas dentro da época recomendada para cada região, alcançando maiores rendimentos como pode ser verificado na Figura 1. Importante ressaltar que, nesta situação, a disponibilidade de água para irrigação pode ser um limitante da área semeada. Partindo do pressuposto que o estabelecimento da cultura foi realizado de forma adequada, salvo algum evento extremo, os períodos críticos da cultura como final do estádio vegetativo e início do reprodutivo, se estabelecem com baixa pluviosidade, alta insolação, temperatura entre 20ºC e 33ºC, menores períodos de molhamento foliar e maior atividade fotossintética. Estas condições permitem desenvolvimento fisiológico privilegiado para cultura, podendo resultar em menor sensibilidade às doenças. Associado a isso, as condições ambientais ocorrentes desfavorecem o patógeno, reduzindo a pressão de inóculo tanto para a safra em questão como para a seguinte, o que pode ser observado na Figura 2. Assim, a aplicação de fungicidas torna-se mais efetiva e o residual é prolongado, protegendo o potencial produtivo da cultura. Das 12 safras analisadas, somente 25% não representaram ocorrências de El Niño ou La Niña. Tendo em vista estes aspectos, cabe ao produtor de arroz levar em consideração os prognósticos de ocorrência dos fenômenos para o planejamento da lavoura orizícola, reduzindo o efeito dos eventos adversos e garantindo a estabilidade da produção. C Ricardo Balardin, Mônica Debortoli e Giuvan Lenz, Univ. Federal de Santa Maria Marcelo Madalosso, Instituto Phytus

Quadro 1- Fatores de interferência no progresso de doenças na cultura do arroz Doença Brusone Mancha parda Mancha estreita Escaldadura Queima das bainhas Mancha das bainhas Mancha das glumas

Cárie ou carvão

Patógeno Pyricularia oryzae Bipolaris oryzae Cercospora oryzae Microdochium oryzae Rhizoctonia solani Rhizoctonia oryzae Alternaria spp. Curvularia lunata Bipolaris oryzae Fusarium sp. Nigrospora oryzae Phoma sp. Telletia barclayana

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Temperatura 20-30ºC 20-30ºC 28-32ºC 20-27ºC 25-35ºC 10-35ºC 15-20ºC

UR (%) > 90% > 89% > 90% > 90% 97% 94% 90%

Época semeadura tardia (Dezembro) tardia (Dezembro) tardia (Dezembro)

Outros Baixa luminosidade e lâmina de água chuva e orvalho Frio Má drenagem

25-30ºC

> 90%

tardia (Dezembro)

luz e O2



Algodão

Nutrição na medida Por se tratar do nutriente com maior absorção por parte do algodoeiro, o nitrogênio não pode faltar na lavoura. Sua deficiência provoca sintomas como clorose nas plantas, baixa velocidade de crescimento, internódios curtos e poucos ramos vegetativos, amarelecimento, seca e queda de folhas, encurtamento do ciclo e baixa produção. Os níveis de adubação recomendada variam de acordo com a região de cultivo. A análise foliar, através de medidor portátil de clorofila, pode ser um importante aliado para auxiliar na tomada de decisão contra este problema

O

nitrogênio está presente na molécula de clorofila, é constituinte de aminoácidos e proteínas, sendo o nutriente mais absorvido pelo algodoeiro. Existem relatos de uma absorção total de 180 quilos/ hectare até 200 quilos/hectare. Podem ser verificados dois picos de absorção máxima desse nutriente, sendo a primeira entre 25 dias e 60 dias, coincidindo com o aparecimento dos botões florais, flores e maçãs, e a segunda aos 80 dias e 110 dias com o pleno desenvolvimento das maçãs. Trabalhos recentes apontam para dois períodos de alta demanda por nitrogênio, de 38 dias a 48 dias e de 88

dias a 98 dias após a emergência das plantas. Resultados da década de 60 evidenciavam que o algodoeiro absorvia de 20% a 35% da quantidade total de N que até a floração e o aparecimento das maçãs. O estudo de cultivares mais modernas permitiu verificar que o algodoeiro tem dois fluxos de absorção de nitrogênio, sendo o primeiro até 60 dias após a emergência, que coincide com o primeiro pico de desenvolvimento vegetativo e início de frutificação, correspondendo a 40% do nitrogênio absorvido. O segundo fluxo corresponde aos novos picos de desenvolvimento de folhas e aos pontos de máximo desenvolvimento de

flores e frutos.

Sintomas de deficiência

Os sintomas de deficiência de nitrogênio são caracterizados por uma clorose uniforme de plantas que apresentam, ainda, baixa velocidade de crescimento, internódios curtos e poucos ramos vegetativos. O amarelecimento evolui para coloração vermelho-carmim ou mesmo bronzeada, com seca e queda das folhas mais velhas, encurtamento do ciclo e baixa produção. Coberturas efetuadas antes do início da sintomatologia podem resolver o problema (faixa de 20kg de N ha a 60kg de N ha). Charles Echer

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Adubação nitrogenada

Em função dos fluxos de absorção de nitrogênio e da sua alta exigência nutricional tardia, comportamento do N no solo e condições climáticas, recomenda-se o parcelamento da adubação nitrogenada, em duas ou três vezes, para aumentar a eficiência desse nutriente no sistema solo-planta. A resposta das plantas ao nitrogênio relaciona-se mais à intensidade de cultivo do solo do que ao fator textura, indicado pelo teor de matéria orgânica, uma vez que os maiores efeitos desse tipo de adubação ocorrem nos solos intensamente cultivados, independentemente de sua textura. Em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica, logo após a pastagem, o algodoeiro reage pouco à adubação nitrogenada. Mesmo em grupos de alta resposta à adubação nitrogenada, o parcelamento da cobertura deixa de apresentar vantagens sobre a aplicação total. A absorção de nitrogênio é proporcional à capacidade fotossintética e ao acúmulo de matéria seca do algodoeiro. O acúmulo de matéria seca e a produtividade do algodão são altamente correlacionados com a evapotranspiração sazonal, assim sendo, o

Figura 1 - Produtividade do algodoeiro em função de doses de N (Selvíria-MS, 2005) ponto de máximo 169 kg ha-1 de N - Uréia

suprimento de água é fundamental para a manutenção da capacidade fotossintética e crescimento.

Recomendação de adubação

Para o estado de São Paulo, à medida que se aumentam as doses de nitrogênio de 0kg/ha para 60kg/ha ocorre efeito significativo na produtividade, principal-

mente quando há aplicação de regulador de crescimento, indicando, dessa forma, uma interação entre estes dois insumos. Com base em ampla pesquisa com o algodoeiro, em diversos locais de São Paulo, recomenda-se até 70kg de N/ha para solos de alta resposta à adubação nitrogenada e para uma produtividade acima de 2.400kg/ ha de algodão em caroço. Por outro lado,


Figura 2 - Peso de 20 capulhos do algodoeiro em função de doses de nitrogênio (ponto de máximo para a dose de 143,81 kg de N h-1), Chapadão do Céu (GO), 2009 – Uréia Protegida

Figura 3 - Produtividade do algodoeiro em função de doses de nitrogênio (ponto de máximo para a dose de 134,18 kg de N h-1), Chapadão do Céu (GO), 2009 – Uréia protegida.

Para expressar todo o potencial produtivo o algodoeiro necessita de manejos especiais

Israel, onde foram encontrados valores de extração de nitrogênio respectivamente da ordem de 300kg de N/ha, 120kg de N/ ha, 186kg de N/ha, 240kg de N/ha, 124kg de N/ha e 156kg de N/ha, o que enfatiza a importância da avaliação regional para recomendação da adubação nitrogenada. Os teores foliares considerados adequados estão na faixa de 35g/kg a 45g/kg de nitrogênio, observando-se pequenas variações entre os valores encontrados em diferentes cultivares de algodoeiro. A utilização de ureia protegida em Goiás evidenciou respostas até a doses de 134kg/ha, enquanto que no Mato Grosso do Sul, com ureia convencional a resposta foi até a dose de 169kg/ha. Tais resultados indicam que em períodos com falta de

chuva, a possibilidade de utilização de fontes que tenham uma menor perda de nitrogênio consiste em importante opção para substituição da ureia comum e que implica em economia de recursos e em um melhor desempenho do algodoeiro.

Uso do medidor portátil de clorofila

A análise foliar apresenta boa correlação com rendimento de grãos e tem aceitável nível de precisão. No entanto, possui a desvantagem de demora e logística do processo, que consiste na falta de tempo suficiente entre a coleta da amostra e o retorno do resultado para a tomada de decisão de se aplicar ou não N. Assim, com o objetivo de obter uma maneira rápida para quantificar a carência da planta, a determinação do teor relativo de clorofila por meio do medidor portátil de clorofila (clorofilômetro) está sendo utilizada para predizer a necessidade de adubação nitrogenada em várias culturas. Dentre as principais pode-se citar algodoeiro, arroz, trigo, milho, feijão, pimentão e cafeeiro. O teor de clorofila na folha é utilizado para avaliar o nível nutricional de nitrogênio em plantas, devido ao fato de a quantidade desse pigmento correlacionarDivulgação

Charles Echer

tem-se verificado a utilização de doses elevadas (superiores a 100kg de N/ha-1) principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso. Tal fato pode ser explicado devido à volatilização (emprego da ureia), lixiviação ou mesmo resposta diferencial de cultivares à adubação nitrogenada. A fonte mais utilizada de nitrogênio no passado era o sulfato de amônio e atualmente (principalmente devido ao custo) temos a utilização da ureia, que tem problema sério de volatilização. Assim sendo, as maiores quantidades empregadas hoje consistem em um reflexo da mudança tecnológica que a cultura sofreu nos últimos anos. Existem relatos de absorção diferenciada de N, assim, para o Texas, Califórnia, Mississipi, Alabama, Índia e

Furlani Júnior destaca a importância da análise foliar para identificar carências nutricionais das plantas

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Figura 4 - Teores de Nitrogênio em cultivares de algodoeiro

Figura 5 - Matéria seca do algodoeiro IAC 24 durante o ciclo de desenvolvimento

Figura 6 - Absorção e distribuição de nitrogênio em cultivares de algodoeiro

Figura 7 - Estimativa da adubação nitrogenada em algodoeiro com base nas leituras SPAD

se positivamente com teor de N na planta. Essa relação é atribuída, principalmente, ao fato de que 50% a 70% do N total das folhas são integrantes de enzimas que estão associadas aos cloroplastos. As leituras efetuadas por este equipamento indicam valores proporcionais de clorofila na folha e são calculadas com base na quantidade de luz transmitida pela folha em dois comprimentos de onda com distintas absorbâncias. No entanto, por se tratar de uma técnica nova, apresenta limitações, tais como pouca amplitude entre as leituras, influência sobre as leituras de outros fatores além do N. As leituras efetuadas pelo medidor portátil de clorofila correspondem ao teor relativo de clorofila presente na folha da planta. Os valores são calculados pelo equipamento com base na quantidade de luz transmitida pela folha, em dois

comprimentos de ondas, com diferentes absorbâncias da clorofila. Existem algumas condições para o uso do equipamento, tais como: o N foliar deve ser a variável que afeta o teor de clorofila, variedade, folha amostrada, entre outros fatores. Os trabalhos desenvolvidos nos Estados Unidos com o uso desse equipamento utilizam o índice de suficiência para a determinação da necessidade de aplicação de nitrogênio. Assim, são instaladas parcelas bem nutridas em N e semeadas antes da cultura com o objetivo de estabelecer um valor adequado de N e, posteriormente, efetuar uma leitura na cultura e por diferença realizar a recomendação do N a ser aplicado. Os estudos com esse equipamento no Brasil iniciaram-se no final da década de 1980 e permaneceram durante muitos anos apenas com o intuito de calibração de doses às leituras efetuadas. Recentemente

foram publicados trabalhos que efetuam a recomendação da dose de N a ser aplicada, com base na leitura de clorofila. Para o algodoeiro, foram desenvolvidos trabalhos em condições de casa de vegetação e ao nível de campo, tendo sido obtida uma curva de recomendação (Figura 6). Assim sendo, através da leitura de clorofila, efetuada por ocasião da adubação de cobertura, é possível efetuar uma recomendação da quantidade a ser aplicada, dependendo obviamente da validação do método pela área de produção comercial. A viabilidade do uso do equipamento será colocada à prova nos próximos anos, através de trabalhos de campo, inclusive com parcerias da iniciativa privada com as instituições de pesquisa. C Enes Furlani Junior, Unesp/Campus de Ilha Solteira


Soja Dirceu Gassen

Foco na entressafra Na luta para prevenir a incidência precoce da ferrugem asiática, o momento é de atenção às normas do vazio sanitário e à eliminação de soja voluntária. O emprego de herbicidas para o combate a plantas tigueras e a redução do inóculo para permitir a racionalização do uso de fungicidas são estratégias importantes na batalha contra a doença

N

o dia 15 de junho teve início mais uma vez o período de vazio sanitário para a cultura da soja. Trata-se do período que varia de 60 dias a 90 dias, na entressafra, sem plantas de soja no campo, onde a regra é a proibição da semeadura de soja e a eliminação de plantas voluntárias. O vazio sanitário foi instituído com o objetivo de reduzir a quantidade de esporos do fungo que causa a ferrugem asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi Syd. & P. Syd., no ambiente, durante a entressafra e, dessa forma, evitar a incidência precoce da doença nas lavouras. As semeaduras de soja autorizadas nesse período constituem-se exceções e devem ser monitoradas durante todo o ciclo da cultura, realizando aplicações periódicas de fungicidas para evitar a ocorrência da ferrugem. Essa medida foi adotada pela primeira vez em 2006, nos estados do Mato Grosso, Goiás e Tocantins. Atualmente é adotada em 12 estados e no Distrito Federal (Figura 1). As particularidades da medida para cada estado podem ser consultadas nas Instruções Normativas, Portarias e Resoluções disponíveis no site do Consórcio Antiferrugem (www. consorcioantiferrugem.net). Os produtores que não cumprirem as Instruções Normativas

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estão sujeitos a notificações e multas. Phakopsora pachyrhizi é um fungo biotrófico, o que significa que necessita de hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar. Antes da implantação do vazio sanitário, as semeaduras

de inverno funcionavam para o fungo como uma ponte verde para a safra. Caso haja disponibilidade de hospedeiro, o fungo pode sobreviver continuamente durante o ano nas principais regiões produtoras do Brasil,

Figura 1 - Períodos de vazio sanitário para a entressafra de 2010

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Figura 2 - Número de focos (%) relatados no site do Consórcio Antiferrugem, desde a safra 2005/06 até a safra 2009/10

do Mato Grosso do Sul, no site do Consórcio Antiferrugem, mostrando um início de safra com inóculo presente no ambiente.

Herbicidas contra soja voluntária

O controle da soja voluntária, que nasce a partir de grãos perdidos na colheita, normalmente é realizado com herbicidas de amplo espectro, sendo o glifosato o mais utilizado para essa operação no Brasil. No entanto, devido à liberação do plantio da soja Roundup Ready (RR), realizada oficialmente na safra 2005/06, que apresenta como principal característica a resistência ao glifosato, torna-se inviável a utilização desse herbicida. Nessas situações, o controle mais eficiente da soja voluntária é obtido com a aplicação de outros herbicidas de ação total, como o paraquat, o paraquat + diuron e o glufosinato de amônio, assim como herbicidas de ação mais específica sobre dicotiledôneas, como o 2,4-D, o diquat e a atrazina. A eficiência do controle químico vai depender, principalmente, das características de desenvolvimento da soja voluntária, onde quanto mais desenvolvidas e estressadas estiverem as plantas, maior será a dificuldade de controle (Figura 3). Em algumas situações específicas também é possível realizar o controle mecânico, manual ou tratorizado. Nesse caso, se a prática for a roçada, a área deverá ser monitorada para verificar a ocorrência de rebrota das plantas de soja voluntária.

As limitações do vazio sanitário são bem conhecidas. Embora o Brasil adote essa medida, o inóculo da ferrugem da soja pode ter continuidade em países vizinhos, como o Paraguai e a Bolívia, que possuem condições climáticas para semeadura da cultura entre os meses de junho a setembro. Os esporos da ferrugem são facilmente disseminados pelo vento e essas semeaduras nos países vizinhos representam uma fonte de inóculo para as semeaduras no Brasil. Outra limitação bastante conhecida é que P. pachyrhizi possui mais de 60 outras espécies em 52 gêneros pertencentes à família Fabaceae (leguminosas) que podem hospedar o fungo durante a entressafra. No entanto, o principal hospedeiro é a soja. Apesar dessas limitações o vazio sanitário deve ser adotado com o máximo de rigor.

Uso de fungicidas

Hoje, a principal ferramenta que permite a produção de soja na presença da ferrugem é a utilização de fungicidas. Os triazóis representavam o principal grupo empregado desde a introdução da doença no Brasil e, nas últimas safras, vêm apresentando menor eficiência, a ponto de estarem sendo recomendados somente em misturas com estrobilurinas nas regiões dos Cerrados. Mesmo as misturas, em situações de incidência precoce na lavoura, devido à presença de inóculo inicial elevado e condições climáticas favoráveis, têm apresentado menor residual, quando comparadas com as safras anteriores. A redução do inóculo durante a entressafra é extremamente necessária para que o controle químico possa ser realizado de forma racional. O vazio sanitário não tem como objetivo resolver o problema da ferrugem, mas é uma estratégia a mais de manejo, que já demonstrou ser efetiva na redução do inóculo nas primeiras semeaduras. O resultado tem sido o menor número de aplicações de fungicida para controle e a consequente queda no custo C de produção. Cláudia Godoy, Claudine Seixas e Fernando Adegas, Embrapa Soja

Figura 3 - Controle eficiente (esquerda) e ineficiente (direita) de soja voluntária Fotos Cláudia Godoy

uma vez que as condições de temperatura e umidade não são limitantes para sua sobrevivência, conforme determinado por Pivonia & Yang (2004). O mesmo não ocorre nas regiões temperadas, onde estresses de temperatura e/ ou umidade limitam a sobrevivência do fungo durante a entressafra, ocasionando uma redução natural do inóculo para a safra. Os principais resultados esperados com a adoção do vazio sanitário são o atraso nos primeiros relatos da ferrugem na safra e a redução da incidência da doença no período vegetativo. Pelo número de focos relatados no site do Consórcio Antiferrugem (Figura 2) pode-se observar que de 2005/06 a 2008/09, o número de relatos nos meses de novembro e dezembro vinha diminuindo. Esse fato deve-se à adoção do vazio sanitário, mas em algumas safras deve-se, também, às condições climáticas. Nas safras 2007/08 e 2008/09, a semeadura foi retardada devido ao atraso das chuvas e, em função disso, atrasaram também os primeiros focos, uma vez que o florescimento, estágio a partir do qual há maior tendência de observação dos sintomas da ferrugem nas primeiras semeaduras, ocorreu mais tardiamente. As condições climáticas no início da safra 2009/10 foram semelhantes à safra 2006/07. No entanto, o número de focos no mês de dezembro de 2009 foi maior que em 2006 porque, embora o vazio sanitário estivesse em vigor nos principais estados nas duas safras, foi relatado menor rigor na adoção da medida na última safra, principalmente na região dos Cerrados. Em 2009, as condições climáticas durante o inverno favoreceram a manutenção da soja voluntária com ferrugem. Em setembro de 2009, nas semeaduras de inverno realizadas no Tocantins e em Goiás, foi relatada a presença da ferrugem no final do período de cultivo. Também foi observada a presença da ferrugem, em setembro de 2009, em soja voluntária nos estados do Paraná e

Limitações do vazio sanitário

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Soja e Feijão

Duplo dano

O Carlavirus, transmitido pela mosca-branca (Bemisia tabaci) biótipo B, é responsável pela necrose da haste, causadora de prejuízos em soja e em feijão. Estudo para determinar o relacionamento entre o vírus e o vetor mostra que em ambas as culturas a transmissão pode ocorrer em poucos minutos, mesmo diante de baixa população do inseto

N

o Brasil a cultura da soja tem uma grande importância econômica com aumento em área e produção nos últimos anos. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a área na safra 2009/2010 ficou em torno de 23,24 milhões de hectares, com produção de aproximadamente 67,86 milhões de toneladas. Já o feijão, utilizado na alimentação básica, tem o Brasil como país de maior consumo e produção, com uma produtividade total estimada nas três safras (águas, seca e inverno), em 2010, em torno de 3,37 milhões de toneladas, com uma área aproximada de 3,83 milhões de hectares. Entretanto, nessas culturas diversas doenças afetam a produtividade, causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus. Dentre essas doenças destacam-se aquelas causadas por vírus. No caso do feijoeiro são 11 viroses provocadas por vírus e em soja são seis verificadas atualmente. Um dos

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exemplos é a virose conhecida popularmente como necrose da haste da soja, causada pela espécie Cowpea mild mottle virus – CpMMV, pertencente à família Flexiviridae do gênero Carlavirus, transmitido pela mosca-branca (Bemisia tabaci) biótipo B, em plantas de soja e feijoeiro. Inicialmente este vírus foi descrito no Brasil no ano de 1979. Na época, em soja, foi constatado leve mosqueado e, em variedades mais suscetíveis, sintomas de acronecrose ou necrose apical dos brotos. Em feijoeiro, observou-se mosaico em ângulos na variedade Jalo. Na época, este vírus foi chamado de “vírus do mosaico angular do feijoeiro Jalo” devido ao sintoma típico de mosaico em ângulo na variedade Jalo. Desde aquele tempo este vírus já era transmitido pela mosca-branca (Bemisia tabaci). A diferença está no biótipo (provavelmente naquela época o biótipo A, com eficiência de transmissão menor que o biótipo B, era responsável por transmitir o

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vírus). No ano agrícola de 2000/2001 este vírus causou prejuízos na agricultura em plantações de soja localizadas no estado de Goiás, nos municípios de Goiatuba e Morrinhos, provocando nanismo e necrose da haste em soja em cultivares suscetíveis. No ano seguinte foi detectado em outras regiões produtoras de soja. Estudos recentes de transmissão foram realizados utilizando o atual biótipo B de mosca-branca para determinar o relacionamento vírus-vetor, quantidade de insetos necessários para transmissão do vírus Cowpea mild mottle virus – CpMMV para plantas de soja e feijoeiro. Foram avaliados o período de acesso à aquisição (tempo que a mosca-branca leva para adquirir o vírus) e o período de acesso à inoculação (tempo que o inseto leva para inocular em soja e feijoeiro). Atualmente as relações dos vírus com os insetos vetores podem ser classificadas em não persistente, semipersistente, persistente circulativa e persistente propagativa. De uma maneira geral a relação vírus-vetor não persistente ocorre quando os insetos adquirem, transmitem e perdem o vírus em poucos minutos. Na relação vírus-vetor semipersistente, o vetor pode reter o vírus por pouco tempo ou poucos dias, perdendo o vírus após certo tempo. Em persistente circulativo o vetor adquire o vírus, que pode ficar retido por longos períodos durante a vida do vetor, circulando sem replicar no vetor. Em persistente propagativo, quando o vetor adquire o vírus, este circula e se replica durante todo o ciclo de vida do vetor. O relacionamento vírus-vetor para a necrose da haste da soja é do tipo não persistente, ou seja, a mosca-branca adquire o vírus em poucos minutos, e também o transmite em poucos minutos. Em condições experimentais, a mosca-branca biótipo B infectada com o vírus é capaz de transmitir este patógeno de

Sintomas de mosaico nas folhas de feijoeiro e o começo de mosaico em ângulo


feijoeiro para feijoeiro em apenas cinco minutos e a aquisição do vírus foi constatada 15 minutos após o vetor se alimentar em planta infectada pela necrose da haste da soja. Isso demonstra que o relacionamento vírus-vetor é do tipo não persistente. Foi observado também que, aumentando o período de acesso à aquisição e inoculação do vírus pela mosca-branca, aumentou-se a taxa de transmissão da necrose da haste da soja de feijoeiro para feijoeiro. Em cultivares suscetíveis de feijoeiro como o Jalo, os primeiros sintomas são observados após dez dias da inoculação pela mosca-branca. Em trifólios novos percebe-se, inicialmente, sintomas de clareamento das nervuras e mosaico, com posterior evolução para mosaico angular ou para manchas angulares, que são áreas verdes em um fundo amarelo, em folhas mais velhas, limitadas pelas nervuras seguidas de redução de crescimento. Em cultivares com tolerância ao vírus ocorre leve mosqueado ou um leve mosaico. Em cultivar suscetível de soja os primeiros sintomas foram observados após 48 horas depois da inoculação com a mosca-branca, onde constataram-se pequenas necroses nas nervuras secundárias das folhas. Aos 15 dias após a inoculação ocorrem necrose no ponteiro, necrose da haste e morte da plântula. Em cultivares tolerantes foi verificado um leve mosqueado ou leve mosaico, não interferindo muito na produção. A transmissão da necrose da haste da soja em feijoeiro e em soja é realizada com muita eficiência pela mosca-branca Bemisia tabaci

Fotos Julio Marabayashi

Plântula de soja com forte sintoma de necrose na haste em cultivar suscetível

biótipo B. Esta eficiência foi comprovada em estudos de transmissão com diferentes números de moscas-brancas, iniciando-se com um, cinco, dez e 20 insetos por planta. Foi observado que apenas uma mosca-branca infectada com o vírus da necrose da haste da soja foi capaz de transmitir o vírus em plantas de feijoeiro em torno de 7% e em soja aproximadamente 17%. É evidente que a preferência da mosca-branca é maior pela soja,

e aumentando-se o número de insetos por planta a taxa de transmissão também cresce, em torno de 90% de transmissão. Portanto, a transmissão da necrose da haste da soja pode ser realizada em apenas alguns minutos e, com uma população baixa do vetor (mosca-branca), já é possível a disseminação da doença no campo. Os resultados de transmissão obtidos experimentalmente foram comparados aos obtidos com o biótipo A da mosca-branca e foi verificado que o biótipo B foi mais eficiente na transmissão, demonstrando que este biótipo é capaz de disseminar o vírus mais rapidamente pelas C regiões agrícolas. Julio Marabayashi Unesp

Feijoeiro variedeade Jalo com sintoma de clareamento de nervuras, enrugamento foliar e mosaico causada pelo Cowpea mild mottle virus, causador da necrose da haste em soja

Marabayashi afirma que o biótipo B da mosca-branca se espalha com mais rapidez nas regiões agrícolas

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Trigo Fotos Dirceu Gassen

Inimigos do trigo Corós e pulgões estão entre as pragas que causam prejuízos severos às lavouras de trigo. Realizar amostragem correta e adotar as medidas recomendadas em cada ciclo da cultura são medidas importantes para alcançar sucesso no manejo desses insetos

A

cultura do trigo serve de alimento a uma gama variada de insetos, mas a maioria ocorre em baixas densidades ou em fases do ciclo da planta que não mais causam prejuízos econômicos. O número de espécies que provocam danos significativos ao cultivo desta gramínea é pequeno, mas sob determinadas condições pode resultar em grandes prejuízos. Entre os principais insetos estão pulgões, corós e lagartas. A partir da semeadura, os corós já podem causar prejuízos, ao destruírem sementes, plântulas ou o sistema radicular durante a fase vegetativa do trigo. Os corós são larvas de solo, com a forma imatura de besouros.

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Durante o seu desenvolvimento se alimentam das sementes recém-semeadas e das raízes das plantas. Três espécies são aquelas de maior frequência nas áreas cultivadas com trigo no Sul do Brasil. As espécies mais comumente encontradas são o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus), o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) e o coró-pequeno (Cyclocephala flavipennis). Todas apresentam ciclo biológico relativamente longo, passando pelas fases de ovo, de larva (coró), de pupa e de adulto (besouro). Somente as larvas, que são polífagas, são capazes de causar danos às culturas. Em geral, a infestação ocorre em manchas na lavoura. Coró-das-pastagens - A espécie apresenta

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ciclo anual: os adultos podem ser encontrados de dezembro a março. A postura é feita nessa época, com mais frequência em janeiro, principalmente em áreas onde há ocorrência de palhada sob a cultura de verão ou mesmo nos pastos. Após um período de incubação, que dura entre uma e duas semanas, eclodem as larvas, que passam por três instares até empuparem, geralmente em novembro. Costuma escavar galerias no solo e ocorre mais em sistema de plantio direto e em pastagens, devido à necessidade de palha para nidificação e oviposição, e mesmo para a alimentação das larvas. O dano decorre da ação das larvas, especialmente as de terceiro instar, que consomem sementes, raízes e partes


verdes da planta, que carregam para dentro da galeria. As larvas se concentram entre 10cm e 20cm de profundidade, podendo, em anos de pouca precipitação, atingir até 60cm. Os maiores danos às culturas ocorrem de maio a setembro. Coró-do-trigo - A espécie apresenta uma geração a cada dois anos: os ovos são postos em novembro do ano 1; a fase de larva ocorre desde o final do ano 1 prolonga-se durante todo o ano 2 e termina em janeiro/fevereiro do ano 3. As pupas ocorrem de janeiro a abril do ano 3. Os adultos surgem a partir de março e permanecem no solo até outubro/ novembro do ano 3, quando vêm à superfície para acasalamento e dispersão. Ocorre tanto em sistema de plantio direto como em convencional. As larvas apresentam três instares; não escavam galerias, são favorecidas por solos não compactados e vivem muito próximas da superfície, concentrando-se até os 10cm de profundidade. Os danos ocorrem em anos alternados e devem-se às larvas, especialmente as de terceiro instar, que se alimentam de sementes, raízes e da parte aérea das plantas (que puxam para o interior do solo). O período mais crítico para as culturas vai de maio a outubro/ novembro do ano 2, quando as larvas param de comer e permanecem inativas até a pupação. De maneira geral, tem se observado que os danos geralmente são elevados no ano de alta ocorrência de larvas grandes e no seguinte, os prejuízos são mínimos. Coró-pequeno - Apresenta uma geração por ano e é mais comum em lavouras com abundância de palha e em pastagens. Os adultos fazem revoadas em setembro/outubro de cada ano. As larvas não escavam galerias, têm reduzida capacidade de causar danos às plantas e, provavelmente, também consomem matéria vegetal em decomposição. Mesmo em populações elevadas, como 80 larvas/m2 a 100 larvas/m2, não têm causado danos às culturas. Sua ocorrência é mais frequente em áreas de rotação de pastagens perenes com cultivos de inverno.

Manejo dos corós Fotos Paulo Pereira

Os pontos a serem considerados e as

O aumento de pulgões deve-se a fatores como crescimento da área cultivada, utilização de áreas com maior temperatura média no inverno, baixo efeito do controle natural e desconhecimento do sistema de manejo de pragas

medidas a serem adotadas são: • observar e demarcar as áreas com ocorrência de corós, com vistas ao acompanhamento nos anos seguintes; • a mortalidade natural, normalmente provocada por patógenos e condições extremas de umidade do solo, pode ser expressiva, e o colapso de uma população ocorrer de uma geração para outra; • identificar a(s) espécie(s) de coró existente(s) na lavoura e a respectiva densidade, através de amostragens em trincheiras de 25cm x 50cm x 20cm de profundidade, para D. abderus, e de 25cm x 100cm x 20cm de profundidade, para Phyllophaga triticophaga; • estima-se que danos expressivos ocorram

a partir de cinco corós/m2 (nível de dano); • não plantar trigo em áreas infestadas acima do nível de dano; a aveia preta tem maior capacidade de tolerar danos de corós e pode ser uma alternativa nessas situações; • o coró-das-pastagens, apesar dos danos causados, também pode proporcionar benefícios, como melhorar a capacidade de absorção de água do solo, em função das galerias que escava, e melhorar características físicas, químicas e biológicas do solo, através da incorporação de matéria orgânica; • os sistemas de rotação de culturas e de manejo de resíduos que reduzam a disponibilidade de palha no período de oviposição de D. abderus desfavorecem o estabelecimento ou o

Tabela 1 - Efeito sobre predadores e parasitóides, intervalo de segurança, índice de segurança e modo de ação de alguns dos inseticidas indicados para o controle dos pulgões de trigo (a); do pulgão da folha, Metopolophium dirhodum (b); do pulgão verde dos cereais, Schizaphis graminum (c), e do coró-das-pastagens, Diloboderus abderus (d) Inseticida

Dose g i.a./ha Predadores Parasitóides Carbossulfano 250 (d)5 A B Clorpirifós etílico 192 (a) Imidaclopride 35-36 (c) 5 60 (d) 5 Tiametoxam 17,5 (b) 5

Intervalo de segurança2 (dias) -5 21 -5 -5 -5

Oral 240 85 571 a 5714 333 a 3333 16674

Dermal >1400 1042 11428 6667 28571

Modo de ação4 S C,I,F,P S S

1 Toxicidade a predadores, Cycloneda sanguinea e Eriopsis connexa e a parasitóides (Aphidius spp.): S (seletivo) = 0-20 % de mortalidade; B (baixa) = 21-40 %; M (média) = 41-60 %; A (alta) = 61-100 %. 2 Período entre a última aplicação e a colheita. 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a dose do produto: IS = (DL50 x 100 / g i.a. por hectare). 4 C = contato; F = fumigação; I = ingestão; P = profundidade; S = sistêmico. 5 Em tratamento de sementes, dose para 100 kg de sementes.

Tabela 2 - Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pulgões em trigo Espécies Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum1), pulgão-do-colmo (Rhopalosiphum padi), pulgão-da-folha (Metopolophium dirhodum) e pulgão-da-espiga (Sitobion avenae)

Os corós durante seu desenvolvimento se alimentam de sementes recém-semeadas e das raízes das plantas

Monitoramento2 Contagem direta (emergência ao afilhamento). Contagem direta (elongação ao emborrachamento). Contagem direta (espigamento ao grão em massa).

Tomada de decisão (média) 10% de plantas infestadas com pulgões Média de 10 pulgões/afilho Média de 10 pulgões/espiga

1 denominado Rhopalosiphum graminum pelo MAPA. 2 mínimo de 10 pontos amostrais por talhão. Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2010 - Embrapa Trigo

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crescimento populacional do inseto; • o tratamento de sementes com inseticidas é tecnicamente viável no controle de corós. • na constatação de áreas infestadas pelo coró, após a implantação da cultura e durante a fase vegetativa, pode-se lançar mão do tratamento curativo com pulverização total da área infestada com organofosforado Clorpirifós, na dose de 1,5 litro/ha, em alto volume e antes de uma chuva ou irrigação de 25/30mm, pois há necessidade da pe-

Charles Echer

netração do inseticida no solo, para realizar um bom controle. Devido ao alto custo desta técnica, somente áreas com alta infestação, mais de dez corós/amostra, compensam sua utilização.

Pulgões

Os pulgões iniciam o ataque a partir da emergência das plantas e ocorrem durante todo o ciclo. As espécies de pulgões tanto podem ocorrer de forma conjunta como isolada. O ataque se inicia com a chegada

Tabela 3 - Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-doscereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes - formulação, concentração, dose e classe toxicológica Nome técnico Clorpirifós etílico Dimetoato

Fenitrotion Imidacloprid3 Imidacloprid + Betacyflutrina Metamidófos Paratiom metílico Tiametoxam3 Tiametoxam + Iambacialotrina Triazófos

Formulação EC EC EC EC EC EC UL WS FS SC SL EC WS SC EC

Concentração (g i.a./kg ou L) Dose do produto (kg ou L/ha) Classe toxicológica2 0,50 (a), 0,30 (b, c) 480 II 0,63 (a) 400 I 0,63 (a) 400 I 0,70 (a) 400 I 0,62 (a) 400 I 2,00 (a) 500 II 0,50 (a) 950 II 0,05 (c) 700 IV 0,06 (c), 0,10 (d) 600 IV 0,5 (d), 0,25 (b) 100 + 12,5 II 0,20 (a) 600 II 0,50 (a) 600 I 0,025 (b) 700 III 0,05 (c), 0,15 (d) 141 + 106 III 1,00 (a) 400 I

1 EC = Concentração emulsionável; FS = Suspensão concentrada p/tratamente de sementes; SC = Suspensão concentrada; SL = Concentrado solúvel; UL = Ultra baixo volume; WS = Pó dispersível p/tratamento de sementes. 2 Classe I = Extremamente tóxico; Classe II = Altamente tóxico; Classe III = Medianamente tóxico; Classe IV = Pouco tóxico. 3 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes. * O uso dos inseticidas indicados, além do registro no Mapa, está sujeito a legislação de cada estado. Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2010 - Embrapa Trigo

Tabela 4 - Inseticidas indicados para o controle de pulgões (a), do pulgão-da-folha (b), do pulgão-verde-doscereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverização e tratamento de sementes Inseticida Clorpirifós etílico Dimetoato Fenvalerato Fenitrotion Imidacloprid Imidacloprid + betacyflutrina Metamidófos Paratiom metílico Tiametoxam Tiametoxam + Iambacialotrina Triazófos

Toxidade1 Intervalo de Índice de segurança3 Dose Predadores Parasitóides segurança2 (dias) Oral Dermal g i.a./ha 21 A B 85 1042 192 (a) 28 A S 157 264 350 (a) 17 A 5333 16667 30 (a) 14 A M 50 600 500 (a) -5 571 a 5714 >11428 35-36 (c)5 14 333 >533 50 + 6,25 (d) / 25 + 3,125 (b) 21 15 160 120 (c) 15 A A 4 14 480 (a) -5 16674 >28571 17,5 (b)5 42 2510 16194 7,05 + 5,3 (c) 42 835,5 >5391 21,2 + 15,9 (d) 28 A S 36 550 200 (a)

Modo de ação4 C,I,F,P C,S,F C,I C,I,P S C,I,S C,I,S C,I,F,P S S S C,I

1 Toxidade a predadores, Cycloneda sanguinea e Eriopsis connexa e a parasitóides (Aphidius spp.): S (seletivo) = 0-20% de mortalidade; B (baixa) = 21-40%; M (média) = 41-60%; A (alta) = 61-100%. 2 Período entre a última aplicação e a colheita. 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a dose do produto: IS = (DL50 x 100 / g i.a. por hectare). 4 C = contato; F = fumigação; I = ingestão; P = profundidade; S = sistêmico. 5 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes. Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2010, Embrapa Trigo

Tabela 5 - Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de corós em trigo Espécies Coró-das-pastagens (Diloboderus abderus) e Coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga)

Monitoramento Amostragem de solo (trincheiras de 50-100 cm x 25 cm x 20 cm de profundidade) antes da semeadura

Tomada de decisão (média) 5 corós/m2

Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2010, Embrapa Trigo

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Link diz que uso de produtos seletivos permitirá aumento das populações de inimigos naturais

das formas aladas às plântulas recém-emergidas e ali se estabelecem sugando a seiva, inoculando viroses e se reproduzindo. A temperatura ambiente é fundamental na reprodução do pulgão. Em temperaturas frias, abaixo de 12ºC, dificilmente surgem alados e as formas são ápteras apresentando densas colônias sobre folhas, colmos e espigas. Em temperaturas superiores a 25ºC, somente alados são formados e as colônias são pequenas e com alto fator de dispersão. De maneira geral, a primeira espécie que infesta o trigo é o pulgão verde dos cereais (Schizaphis graminum), encontrado facilmente em aveia, azevém e trigo guachos ou gaudérios ocorrentes na cultura de verão. Durante a fase vegetativa, a espécie mais frequente é o pulgão verde da folha (Metopolophium dirrhodum), que ataca as folhas, localizando-se em toda a sua extensão, formando, por vezes, extensas colônias, sempre na dependência de temperaturas amenas e com baixa intensidade durante as precipitações. A partir do elongamento, a espécie mais comum é o pulgão da espiga (Sitobion avenae), que ataca preferencialmente a espiga, mas também pode ser encontrado nas folhas e nas hastes da planta. O aumento da incidência de pulgões nas últimas safras deve-se a vários fatores, Tabela 6 - Inseticidas indicados para o controle do coródas-pastagens em trigo, em tratamento de sementes Nome Formulação Concentração (g i.a./kg ou L) técnico 250 Fipronil SC 250 Carbossulfano FS 600 Imidaclopride FS

Classe toxicológica2 IV II IV

1 FS = Suspensão concentrada para tratamento de sementes; SC = Suspensão concentrada. 2 Classe II = Altamente tóxico; Classe IV = Pouco tóxico. * O uso dos inseticidas indicados, além do registro no MAPA, está sujeito à legislação de cada estado. Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2010, Embrapa Trigo


Tabela 7 - Inseticidas indicados para o controle de corós das pastagens em trigo, em tratamento de sementes Inseticida Fipronil Carbossulfano Imidaclopride

Dose g i.a./ha 25 a 37,5 250 60

Toxidade1 Predadores Parasitóides -

Intervalo de segurança2 (dias) -

Índice de segurança3 Oral Dermal 240 >1400 333 a 3333 >6667

Modo de ação4 C,I I,S I,S

Toxidade a predadores, Cycloneda sanguinea e Eriopsis connexa e a parasitóides (Aphidius spp.): S (seletivo) = 0-20% de mortalidade; B (baixa) = 21-40%; M (média) = 41-60%; A (alta) = 61-100%. 2 Período entre a última aplicação e a colheita. 3 Quanto maior o índice, menos tóxica é a dose do produto: IS = (DL50 x 100 / g i.a. por hectare). 4 C = contato; F = fumigação; I = ingestão; P = profundidade; S = sistêmico. 5 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes. 1

entre os quais, podem-se citar: o aumento da área cultivada, a utilização de áreas com maior temperatura média no inverno, o baixo efeito do controle natural verificado nestas últimas safras e o desconhecimento do sistema de manejo de pragas especialmente pelo pequeno produtor. Os danos causados pelos pulgões podem ser importantes na redução do peso de mil sementes, do peso do hectolitro, do poder germinativo das sementes e do número de grãos por espiga. Além desses danos, os pulgões podem ser vetores de viroses. A decisão do uso de inseticidas deve obedecer aos seguintes critérios: • Fase de emergência ao afilhamento: controlar quando encontrar, em média, Dirceu Gassen

10% de plantas com pulgões. • Da fase de alongamento ao emborrachamento: controlar quando a população média atingir dez pulgões por afilho. • Na fase de enchimento de grãos reprodutiva (do espigamento/antes e até grão em massa): controlar quando a população média atingir dez pulgões por espiga. As aplicações devem ser repetidas sempre que forem constatados esses níveis, durante os períodos considerados. Após o estádio de grão em massa, não é necessário o controle de pulgões. A determinação da população média de pulgões deve ser efetuada semanalmente, através de amostragem de plantas em vários pontos representativos da lavoura. Os inseticidas indicados para o controle de pulgões encontram-se na Tabela 1. Entre os inseticidas recomendados, deve-se dar preferência aos que apresentem menor toxicidade aos inimigos naturais e aos mamíferos. O uso generalizado de produtos seletivos permitirá, especialmente, o aumento das populações de inimigos naturais. C

Paulo Roberto Valle S. Pereira

Dionísio Link UFSM

Somente as larvas, que são polífagas, causam danos

Pulgões começam o ataque a partir da emergência das plantas


Milho

Manejo diferenciado Com o crescimento da oferta e a popularização das variedades de milho resistentes a insetos no Brasil, produtores precisam estar atentos às especificidades desse tipo de tecnologia. É fundamental ter presente que a resistência se refere a espécies-alvo e não a todo o conjunto de pragas que afetam a cultura. O sucesso desses materiais depende, também, da observação das recomendações de órgãos de pesquisa e das empresas detentoras das sementes aliadas às diretrizes legislativas que regulam sua utilização

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produtividade de milho no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos. Tal aumento pode ser atribuído a diversos fatores como o uso correto de insumos, à melhor genética da semente, ao manejo cultural adequado e ao clima favorável. Maiores produtividades são geralmente alcançadas quando todos ou o maior número possível desses fatores atuam em conjunto. O que muitas vezes não ocorre. Um exemplo disso refere-se ao manejo dos fatores bióticos como as doenças, plantas daninhas e insetos fitófagos. Embora consciente da importância direta destes fatores e até mesmo utilizando medidas para mitigar o problema, não raras vezes deixa-se de atingir os resultados esperados. Particularmente, em relação aos insetos fitófagos, é fácil diagnosticar as razões pela não obtenção da eficiência esperada. O desconhecimento das espécies mais importantes e/ou do nível de dano econômico, daquelas espécies conhecidas, fatalmente leva à adoção de medidas de controle antecipadas ou tardias, comprometendo a tomada de decisão. Em ambos os casos, não há eficácia da medida utilizada e, portanto, ocorrem perdas na produtividade. E com certeza haverá adicionalmente aumento no custo de produção. Tais problemas podem ser agravados pelo uso de novas medidas de controle, seguindo o mesmo padrão anterior. Ou seja, aplicações sem critérios técnicos. Apesar da oferta de estratégias adequadas para o manejo das pragas da

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cultura do milho, ainda existe dificuldade de implantação de programas de manejo integrado. Por exemplo, a lagarta-docartucho, Spodoptera frugiperda (mesmo com o grande avanço nas pesquisas para seu correto manejo) ainda causa elevados prejuízos ao agricultor. Controles químico ou biológico podem ser utilizados com eficácia, desde que sejam aplicados na época adequada. Esse período tem sido bem determinado através do monitoramento de adultos da praga, pelo uso de armadilha contendo feromônio sexual sintético. Resultados obtidos na Embrapa Milho e Sorgo mostram a presença constante da praga em áreas de plantio de milho em diferentes regiões produtoras e com incidência maior na fase inicial de desenvolvimento da planta. Ou seja, o ataque pode ocorrer a partir de uma lavoura jovem, onde as plantas apresentam pouca área foliar. Área onde não se faz o monitoramento através da armadilha de feromônio, logo após o plantio ou mesmo quando realizado de maneira adversa, porém sem planejamento e/ou sem a técnica apropriada, geralmente leva à utilização de uma medida de controle tardia e, portanto, de baixa eficiência.

Cultivares transgênicas

A oferta de milho transgênico no Brasil já ultrapassa 100 cultivares. Os materiais voltados para o controle de insetos são resultantes de três eventos básicos, sendo a maioria com o evento MON 810, marca registrada Yieldgard, seguido por cultivares contendo o TC 1507, marca Herculex I e por cultivares


Fotos Ivan Cruz

Orifício de entrada da larva de coró no solo

apresentando o Agrisure TL, conhecido como Bt11. Todas as versões transgênicas são também comercializadas na versão convencional e, obviamente, apresentam as mesmas características agronômicas, diferindo apenas na característica que lhe é conferida pelo evento transgênico. O principal alvo do milho Bt são os insetos fitófagos dentro da ordem Lepidoptera. As cultivares da atualidade expressam a toxina Cry 1A(b) (MON 810 e Bt11) ou a toxina Cry 1F (Herculex). Especificamente, o milho Bt é dirigido para a lagarta-do-cartucho; a lagartada-espiga Helicoverpa zea (Boddie) e a broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis (Fabricius). Informações finalísticas sobre o efeito dos milhos Bt sobre outras espécies da ordem Lepidoptera, como a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller) ainda são necessárias. Como a lagarta-do-cartucho é a principal praga do milho no Brasil, não resta dúvida que a utilização da cultivar de milho Bt, visando esta praga, traz como impacto imediato, a redução das aplicações de inseticidas químicos. Por outro lado, como em toda inovação, o milho Bt não é solução para os problemas relacionados com os insetos-praga. E mesmo para aquelas espécies alvo, para maximizar seus benefícios econômicos, é fundamental seguir as recomendações de órgãos de pesquisa e empresas detentoras das sementes e as diretrizes legislativas que regulam sua utilização. Mais especificamente, cumprir duas regras básicas: a de coexistência, exigida por lei, e a regra do

Manejo da Resistência de Inseto (MRI), recomendada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Coexistência - A regra exige o uso de uma bordadura de 100 metros, isolando as lavouras de milho transgênico daquelas de milho que se deseja manter sem contaminação de transgênico. Alternativamente, pode-se usar uma bordadura de 20 metros, desde que sejam semeadas dez fileiras de milho não transgênico (igual porte e ciclo do milho transgênico) isolando a área de milho transgênico. Área de refúgio - As recomendações da CTNBio para o MRI são a utilização de área de refúgio. As indicações são o resultado do consenso de que o cultivo do milho Bt em grandes áreas resultará na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. Obviamente, o monitoramento da infestação das plantas também é importante, pois, dependendo do híbrido utilizado e da intensidade da infestação, o produtor pode precisar adotar medidas de controle complementares. No Brasil, para área de refúgio é recomendada a semeadura de 10% do espaço cultivado com milho Bt, utilizando híbridos não Bt, de igual porte e ciclo e, de preferência, os seus isogênicos. A área de refúgio não deve estar a mais de 800 metros de distância das plantas transgênicas. Essa é a distância máxima verificada pela dispersão dos adultos de S. frugiperda no campo. Um dos pontos que devem ser ainda lembrados ao se utilizar as cultivares

de milho Bt, diz respeito à quebra da resistência da planta pela praga-alvo. Portanto, devem ser seguidas todas as recomendações técnicas para evitar a evolução de populações resistentes e, desta maneira, alongar ao máximo a vida da cultivar. Outro ponto a ser considerado é a variabilidade entre cultivares quanto à eficiência de controle da lagarta-docartucho. Este fato reforça a necessidade do monitoramento contínuo, pois como já salientado a mariposa se faz presente continuamente e, especialmente, no início de desenvolvimento da planta. Como toda inovação, as cultivares de milho contendo tecnologia Bt atualmente têm um custo maior do que as cultivares convencionais. Este maior custo significa que tal semente deve ser bem protegida contra as espécies de inseto não atingidas pela tecnologia. Por exemplo, os híbridos disponíveis não apresentam o efeito desejável sobre corós, larva-alfinete, lagartaelasmo (insetos mastigadores), percevejos, cigarrinhas, tripes, cochonilhas e pulgões (insetos sugadores de seiva). O aumento na incidência de insetos sugadores já verificados em outros países serve como alerta para que o produtor esteja atento também no Brasil e tenha conhecimento sobre as tecnologias de manejo, caso sejam demandadas.

Pragas

Durante toda a fase em que permanece no campo a cultura do milho pode

O milho pode servir de fonte de alimento para cerca de 30 espécies de insetos como o percevejo "barriga-verde"

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Fotos Ivan Cruz

Larva de coró completamente desenvolvida

ser atacada por diferentes espécies de insetos fitófagos. Uma espécie, para ser considerada praga-chave, deve estar com densidade populacional com potencial para ocasionar prejuízo igual ou superior ao custo monetário a ser gasto para seu controle. Portanto, o conhecimento da relação entre densidade populacional de uma espécie de inseto fitófago e redução na produtividade é o primeiro e fundamental passo para se planejar corretamente uma estratégia de manejo de um inseto fitófago. O cereal milho, durante seu ciclo de vida no campo, pode ser utilizado como fonte de alimento por aproximadamente 30 espécies de insetos, que devido à semelhança em termos de especificidade de ataque, podem ser considerados em grupos. Do primeiro grupo de insetos, embora reconhecido como importante, pouco se conhece sobre vários aspectos bioecológicos das espécies componentes. Neste grupo se enquadram os insetos de hábito subterrâneo. Algumas espécies podem usar a semente como alimento, eliminando uma possível planta e, portanto, reduzindo muito precocemente o potencial produtivo da área plantada. São pragas severas. Para tais espécies o nível de dano econômico pode ser relativamente fácil de ser determinado. Uma semente danificada é considerada uma planta morta. Outras espécies de hábito subterrâneo alimentam-se das raízes das pequenas plantas em desenvolvimento, também ocasionando a morte da plântula pelo efeito direto da alimentação ou por meio indireto, por tornar a plântula atacada sem condições de sobreviver ao longo de seu ciclo de vida. A severidade das pragas subterrâneas pode ser aumentada sempre que haja a presença de mais de uma espécie em uma mesma área cultivada.

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As espécies de insetos subterrâneos geralmente possuem ciclo de vida longo, podendo chegar a mais de um ano. Passam a maior parte do ciclo biológico no solo e são de baixa mobilidade. Portanto, o conhecimento sobre a ocorrência de tais insetos em anos anteriores é fundamental para decidir sobre o que fazer quando se pensa em cultivar o milho. Deve também ser considerado que tais pragas não são específicas, podendo estar presentes na área, mesmo onde nunca se cultivou o milho, porém, com cultivos de plantas hospedeiras, como pastagens, cana-de-açúcar, trigo, amendoim, soja, entre outras. Uma característica marcante das espécies de hábito subterrâneo é a sua distribuição na área de cultivo. Podem ocorrer de maneira agregada, em manchas à profundidade diferente, dependendo da umidade do solo. Em função desta característica, muitas vezes torna-se difícil, mesmo para a pesquisa, o desenvolvimento de trabalhos com o objetivo de encontrar um método eficiente de controle. Por tais dificuldades, inclusive, não é incomum encontrar variabilidade entre inseticidas no que diz respeito à eficiência de controle para uma ou outra espécie. Por isto, hoje, se busca, por exemplo, um método de controle que tenha efeito médio sobre o maior número possível de espécies, notadamente quando se conhece a distribuição qualitativa das espécies na área-alvo. Os insetos considerados pragas de milho de hábito subterrâneo são reconhecidos como: corós (larvas de besouros, também chamadas de bicho-bolo), cupins, larva-arame, larva-alfinete (cujo adulto também ataca a parte aérea da planta e nesta fase o inseto é conhecido como vaquinha, vaquinha verde-amarela,

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nacional ou patriota), larva-angorá, percevejo-castanho, percevejo-preto e mais recentemente a cochonilha-de-raiz, aparentemente, com maior incidência em milho Bt, comparado ao milho convencional. Existe grande probabilidade de ocorrência de outras espécies ainda não reconhecidas ou identificadas como pragas de hábito subterrâneo atacando a semente e/ou raízes do milho no Brasil. Descrições sobre as diferentes espécies de insetos fitófagos, bem como sobre os sintomas de danos provocados ao milho durante todo o ciclo da planta, podem ser vistas em http://panorama.cnpms. embrapa.br/. Onde a presença das pragas subterrâneas é reconhecida pelos agricultores, normalmente se estabelece como estratégia de manejo a utilização de inseticidas químicos no tratamento das sementes. Quando tais pragas não são reconhecidas, o controle não é realizado, em função da impossibilidade de adotar medidas de controle após o plantio do milho. Portanto, o reconhecimento dos sintomas de ataque de tais pragas após a emergência da planta (especialmente falhas no número de plantas por unidade de área) indica perdas na produtividade futura, uma vez que praticamente não se consegue eficiência nos métodos curativos atuais. No passado o controle eficiente e econômico das pragas subterrâneas era obtido com produtos químicos, geralmente inseticidas clorados. Os produtos de ação por contato eram aplicados via pó, nos sulcos de plantio. Tais defensivos não estão mais disponíveis. Atualmente, as opções ainda são baseadas no uso de agroquímicos. Medidas alternativas como o controle biológico ainda precisam ser mais estudadas para as pragas subterrâneas. Atualmente os produtos de maior custo/benefício em relação às pragas iniciais do milho têm sido aqueles utilizados via tratamento da semente. Apesar de haver variações no grau de eficiência de determinado produto em relação às pragas subterrâneas, os resultados de pesquisa relatados por órgãos oficiais de pesquisa mostram o ganho em produtividade quando comparadas áreas tratadas com não tratadas com inseticidas colocados junto à semente por ocasião do plantio. Conforme já salientado, o milho geneticamente modificado para o controle de insetos fitófagos, conhecidos popularmente como milho Bt (uma grande inovação nos tempos atuais, para uso em programas de manejo integrado) não tem mostrado boa eficiência para as pragas de hábito


subterrâneo. É possível que num futuro próximo possamos ter uma melhoria nos materiais genéticos ofertados no mercado mundial. Adicionalmente, como para qualquer inovação, a semente do milho Bt tem sido de custo mais elevado do que a semente do milho convencional. Considerando o mesmo potencial produtivo das duas cultivares, o uso de medidas de controle das pragas subterrâneas será importante tanto na área de milho convencional como em cultivo de milho Bt. Talvez até mais importante no milho Bt, em função do maior investimento na lavoura. Embora considerado fundamental como tática de manejo, o tratamento de sementes de milho com inseticida não deve ser olhado apenas com foco nas pragas subterrâneas. Recomenda-se considerar a presença de insetos fitófagos logo após a emergência da planta e a possibilidade de se ter residual do inseticida utilizado via tratamento da semente. Para que isto ocorra há necessidade de se utilizar um inseticida sistêmico, que geralmente também tem efeito de contato. Desta forma, pode se esperar um efeito duplo do tratamento de semente (efeito sobre as pragas de hábito subterrâneo e sobre as pragas que atacam a plântula). A planta recém-emergida de milho é sujeita ao ataque de insetos fitófagos com potencial para provocar a sua morte, à semelhança das pragas de hábito subterrâneo, principalmente pela sensibilidade da plântula.

Quando o milho é cultivado sem a proteção devida contra pragas que atacam as plantas recém-emergidas, torna-se necessário o monitoramento constante da área cultivada para se detectar a presença de tais insetos antes que atinjam uma população suficiente para causar danos econômicos. A frequência do monitoramento deve ocorrer de acordo com a praga-alvo. Baixa frequência pode não ser suficiente para se detectar a praga em tempo hábil para tomar uma decisão. Monitoramentos frequentes, por outro lado, aumentam o custo de produção. Logicamente o tamanho da área também é um fator limitante do monitoramento, seja devido ao custo ou até mesmo à precisão. As pragas que atacam o milho recémemergido são tanto insetos mastigadores como sugadores. Entre os insetos mastigadores, há destaque para a lagarta-elasmo. Embora sua incidência em milho não tenha sido verificada de maneira generalizada nas áreas de cultivo, é muito frequente em áreas de solos mais leves, especialmente no cerrado. Apesar de ser considerada uma espécie que ataca o milho na superfície, na realidade o inseto ataca o coleto da plântula, na sua base, bem próximo à superfície do solo. Além do mais, o inseto não fica livremente exposto ao ataque de seus possíveis inimigos naturais. Antes de atacar a plântula, a lagarta-elasmo tece um casulo protetor, onde se abriga. Este casulo é acoplado à planta hospedeira. Além da proteção contra os seus inimigos naturais, o casulo

A cochonilha da raiz é uma praga recente na cultura do milho

serve também de proteção contra a ação direta de uma aplicação de inseticidas via pulverização. Tais fatos sugerem e têm sido comprovados que o tratamento da semente oferece uma proteção adequada durante a fase de suscetibilidade da planta para esta praga. Além da lagarta-elasmo, as espécies de insetos sugadores também podem causar sérios prejuízos ao agricultor caso não sejam utilizadas as técnicas corretas de manejo. A cigarrinha-das-pastagens, especialmente quando o milho é cultivado nas proximidades de capim braquiária suscetível à praga, pode migrar para o milho recém-emergido e causar danos elevados. O aumento da incidência desta espécie pode ser ainda maior em milho quando o cultivo está inserido no sistema integrado lavoura-pecuária. Os percevejos mais importantes como pragas de milho são aquelas espécies que migram da cultura da soja ou do trigo. Grande incidência tem sido verificada em milho cultivado na segunda safra (safrinha), muito embora durante a safra também haja incidência destas espécies. Através da alimentação, geralmente da base da plântula, podem aparecer sintomas iniciais que se assemelham à deficiência mineral. A persistência do ataque pode causar a morte da planta. Perfilhamento também é sintoma do ataque de percevejo. A incidência de tripes tem aumentado no Brasil, tanto no milho convencional como no milho Bt. Insetos diminutos são encontrados logo após a emergência da planta, no interior das folhas ainda enroladas. Amarelecimento e seca das folhas são sintomas de ataque de tripes, tanto pelo adulto como pela fase jovem. A presença do inseto tem sido correlacionada com período de seca, mesmo de curta duração. A lagarta-do-cartucho tem sido muito comum em plantas recém-emergidas. Como a mariposa coloca seus ovos em massa (que pode conter entre 80 e 300 ovos), após a eclosão e antes da migração natural das lagartas, danos severos podem ser verificados na plântula a ponto de causar a sua morte. Excesso de população da praga pode pôr em risco, inclusive, a eficácia de uma cultivar de milho Bt. Considerando a lagarta-do-cartucho a principal praga do milho no Brasil, a escolha correta do tratamento da semente com inseticida sistêmico seria uma maneira, também, de proteger a parte aérea da planta por um período de alta C suscetibilidade. Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo

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Cana-de-açúcar Leila D. Miranda Fotos Leila Miranda

Cana enferrujada

Detectada recentemente no Brasil, a ferrugem alaranjada ameaça os canaviais por sua capacidade de provocar perdas de produtividade de até 87%. Identificar corretamente a doença, cujos sintomas podem ser confundidos com os da ferrugem marrom, e utilizar cultivares resistentes são medidas recomendadas para enfrentar o problema

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Limeira, Lins, Mogi-Mirim, Ourinhos, Ribeirão Preto, Sorocaba, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, Votuporanga. Nos estados do Paraná, Espírito Santo e Goiás também foram emitidos laudos positivos para amostras oriundas de alguns municípios (Ferrari et al, 2010). É importante considerar que pode haver certa confusão entre P. melanocephala e P. kuehnii. Porém, em se tratando desta última, são produzidas lesões (pústulas) mais alaranjadas (Oliveira & Mendes, 2008).

Período de manifestação

A infecção da cana-de-açúcar pelo fungo Puccinia kuehnii (ferrugem alaranjada) ocorre em condições de alta umidade relativa (90%

a 100%) e temperaturas amenas, variando entre 17°C a 30°C (Oliveira & Mendes, 2008). No Brasil, essas condições são mais facilmente encontradas no período de primavera (setembro a dezembro) e outono, de março a maio. Temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar são condições desfavoráveis ao fungo e, consequentemente, à proliferação da doença (Cardoso & Sanguino, 1988). Quanto à ferrugem marrom, é favorecida por períodos mais secos do dia e noites com temperaturas mais baixas. A dispersão do patógeno é favorecida por vento, água de chuva e, até mesmo, pelo próprio homem, por meio de roupas, calçados e transporte de material vegetal. Assim, a doença pode ser facilmente propagada a

Figura 1 – Urediniosporos de P. kuehnii mostrando espessamento do ápice (1A) e pedicelo (1B) Fotos Carlos Alberto Mathias Azania

ferrugem na cana-de-açúcar é uma doença de origem fúngica e tem como principal manejo o uso de cultivares resistentes. Devido a sua importância, nos programas de melhoramento genético da cultura, as cultivares que a apresentam são eliminadas do processo de seleção. No Brasil, a ferrugem marrom, causada pelo fungo Puccinia melanocephalla, é mais comum em cana-de-açúcar. Porém, recentemente foi detectado o fungo Puccinia kuehnii, agente causal da ferrugem alaranjada e que resulta em danos mais severos à cultura. Na Austrália, em 2000, foram observadas perdas entre 67% e 87% na produtividade (Moreno, 2008). A partir de 2007/2008 foi identificada nos Estados Unidos (Flórida), Panamá, Guatemala, Nicarágua, Costa Rica e Cuba. Também, Ásia e Oceania têm relatos do patógeno e, em dezembro de 2009, no Brasil, mais precisamente no estado de São Paulo (Ferrari et al, 2010). O Instituto Biológico emitiu 76 laudos positivos para a doença, oriundos de 50 localidades de diferentes municípios do estado de São Paulo: Araçatuba, Araraquara, Barretos, Bauru, Botucatu, Campinas, Catanduva, Dracena, Fernandópolis, Franca, General Salgado, Jaboticabal, Jaú,

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distâncias consideráveis.

Sintomas da doença

No campo, o produtor geralmente observa os primeiros sintomas da ferrugem alaranjada quando já estão na forma de pústulas (lesões salientes) de coloração alaranjada a castanho-alaranjado. As pústulas podem se distribuir por toda a superfície da folha, porém, tendem a ocorrer agrupadas, próximas ao ponto de inserção da folha ao colmo e na sua parte inferior. Na sequência, com a coalescência das pústulas, surgem pontos de necrose nas folhas e, em casos de infestações severas, a planta terá o processo de fotossíntese prejudicado porque a captação de luz solar será diminuída, como resultado da redução na área fotossintética. Nessa fase, se o produtor utilizar-se de lupa, a visualização dos urediniosporos (estruturas infectivas) de coloração alaranjada sobre as pústulas rompidas é facilitada. Ao encaminhar o material afetado para laboratório especializado, análises das características morfológicas, realizadas por meio de observações microscópicas, possibilitam diferenciar P. kuehnii de P. melanocephala pois, conforme mencionado anteriormente, a primeira tem urediniosporos de

Figura 2 – Urediniosporos de P. melanocephala, exibindo o ápice sem espessamento

Azania, Rocha e Simone fazem parte do grupo que estuda os efeitos da ferrugem alaranjada em cana-de-açúcar

coloração mais alaranjada e a existência de um espessamento no ápice da estrutura, esta segunda característica ausente em P. melanocephala (Figuras 1 e 2).

Controle

O controle recomendado para esta doença é o uso de cultivares resistentes. Segundo Ferrari et al (2010) as cultivares CV14, RB92606, RB72454, SP84-2025, SP891115 são materiais suscetíveis à ferrugem alaranjada. Recentemente, o programa de melhoramento genético da Ridesa (Universidade Federal de São Carlos) apresentou duas novas cultivares de cana-de-açúcar resistentes à ferrugem

alaranjada, a RB965902 e a RB965917, indicadas à região Centro-Sul, mas principalmente para os estados de São Paulo e Mato Grosso (Sanches, 2010). Outros métodos de controle também utilizados para ferrugem comum podem ser adotados para ferrugem alaranjada, como: não transportar material contaminado entre localidades, evitar o plantio de materiais suscetíveis e o trânsito de máquinas e pessoas em canaviais infectados e, ainda, antecipar a colheita de modo que as plantas escapem do ataque do fungo no C período de maior proliferação. Artur Batista de Oliveira Rocha, Simone Silva Vieira e Carlos Alberto Mathias Azania, Instituto Agronômico Christiane Ceriani Aparecido, Instituto Biológico


Feijão

Branco severo

Murillo Lobo Júnior

Com alta capacidade de destruição, principalmente em condições de temperaturas amenas e umidade elevada, o mofo-branco é uma das doenças mais importantes na cultura do feijão. O uso simultâneo de agentes de controle biológico e de fungicidas desponta como alternativa para o combate eficiente do fungo Sclerotinia sclerotiorum

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mofo-branco é uma das principais doenças do feijoeiro. É causado por Sclerotinia sclerotiorum, fungo que pode atacar mais de 400 espécies de plantas (Boland e Hall, 1994). Culturas como soja, algodão e tomate e espécies de plantas daninhas como picão, carrapicho, caruru, mentrasto e vassoura são suscetíveis. O mofo-branco é especialmente destrutivo quando prevalecem temperaturas amenas e alta umidade do solo e do ar. No Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil, a doença manifesta-se com maior intensidade no outono–inverno, período que alia à baixa temperatura a alta umidade do solo e das plantas proporcionada pela irrigação. A doença é mais severa em situação de drenagem deficiente do solo, rotação inadequada de culturas e, especialmente, de crescimento exuberante das plantas. Nessas condições, a pouca ventilação e penetração de luz no dossel e no solo favorecem o mofo-branco. O controle da doença é dificultado pelo fato de os escleródios produzidos pelo fungo sobreviverem por longo período no solo, às vezes por mais de oito anos. Como a principal via de entrada do fungo na gleba é pela semente, a primeira providência para evitar a doença é empregar sementes sadias no plantio. Uma vez presente na área de cultivo, é praticamente impossível erradicar o fungo. Contudo, a adoção de estratégias integradas de controle permite a manutenção do inóculo do fungo em níveis baixos e, consequentemente, possibilita a produção econômica de feijão em áreas contaminadas. São elas: plantar em época desfavorável à doença; empregar cultivares de porte ereto; orientar as fileiras de modo paralelo à direção do caminhamento do sol e/ou à direção predominante dos ventos; empregar espaçamento entre fileiras e/ ou entre plantas mais largo; reduzir a frequência de irrigação e distribuir água de modo uniforme; fazer rotação do feijão com gramíneas; adotar o plantio direto na gleba contaminada; realizar a limpeza de máquinas e implementos antes do uso e utilizar fungicida e agentes de controle biológico. O uso de formulados biológicos tem aumentado nos últimos anos, especialmente em decorrência dos custos elevados do controle químico e pela possibilidade de redução do potencial de inóculo de S. sclerotiorum no solo. A presença de microrganismos antagônicos no solo tem papel importante na inviabilização dos escleródios de S. sclerotiorum. Segundo Adams e Ayres (1979), esse fator é o principal componente que afeta a sobrevivência dos escleródios. Mais de 30 espécies de fungos e bactérias


têm sido relatadas como antagonistas ou parasitas de Sclerotinia spp. (Schwartz e Steadman, 1994; Whipps e Budge, 1990; Tu, 1997). Os mais estudados são os fungos Trichoderma spp. (T. harzianum, T. viride, T. koningü, T. pseudokoningii), Gliocladium virens, G. roseum e Coniothyrium minitans. O controle biológico de S. sclerotiorum pode ser implementado de diferentes maneiras. No solo, objetiva a redução do inóculo inicial, ao propiciar o parasitismo e a morte dos escleródios. Na parte aérea, por meio da aplicação de suspensões de esporos de agentes de controle biológico, pode contribuir para a redução do inóculo secundário e da dispersão do inóculo, ao proporcionar a inibição da germinação dos ascósporos ou a ocupação de sítios de infecção na planta. Embora pesquisas tenham demonstrado o potencial promissor do controle biológico do mofo-branco, ainda faltam estudos de eficiência agronômica e o registro oficial de produtos para viabilizar seu uso em larga escala. Entretanto, a demanda pelo uso de isolados de Trichoderma no controle de S. sclerotiorum no Brasil tem aumentado significativamente. O antagonista se associa aos escleródios, causando sua degradação ou impedindoos de germinar (Schwartz e Steadman, 1994). Espécies de Trichoderma prevalecem especialmente em ambientes úmidos e podem ser isoladas de todas as zonas climáticas, incluindo solos de desertos (Klein e Everleigh, 1998). O desenvolvimento das espécies de Trichoderma mais utilizadas como agentes de controle biológico é favorecido por temperaturas mais elevadas, acima de 25oC, em solo com bom teor de umidade. Assim, a introdução desses agentes deve ser feita sob condições de ambiente adequadas para a germinação dos conídios e desenvolvimento do antagonista. O uso de Trichoderma em épocas de temperaturas amenas pode ser pouco eficiente no controle do mofo-branco (Paula Júnior et al, 2009). Além disso, as aplicações com produtos à base de Trichoderma são mais

Trazilbo Júnior

Feijão com mofo-branco do tipo escleródios

eficientes quando feitas em solo contendo matéria orgânica ou palhada sobre o solo. Para controle do mofo-branco do feijoeiro, é recomendável que as aplicações sejam feitas por volta dos 20 dias após a emergência das plantas, pois a sombra projetada pelo dossel destas protege os conídios do antagonista da desidratação causada por vento, calor e dos raios ultravioleta. O fungo C. minitans também apresenta resultados promissores, mas ainda não existem estudos concretos acerca de sua utilização no controle do mofo-branco em condições brasileiras. Trata-se de um micoparasita altamente especializado em atacar S. sclerotiorum. Têm sido testadas aplicações diretamente no solo, com o objetivo de reduzir o número de escleródios do patógeno no solo, bem como aplicações direcionadas sobre as plantas. Essa espécie é resistente à decomposição por luz, porém é altamente sensível a

altas temperaturas. Portanto, pode atuar em condições nas quais Trichoderma spp. não têm sido eficiente. O crescimento de C. minitans é favorecido por temperaturas amenas, mas extremamente reduzido em temperaturas elevadas, acima de 30ºC, o que pode limitar seu uso. Em experimentos realizados em países de temperatura mais amena, tem sido obtido controle eficiente (Gerlagh et al, 1999), com redução da incidência da doença em feijoeiro, diminuição do número de escleródios no solo e aumento da produtividade. Aplicações preventivas de C. Minitans, antes da ocorrência da doença, podem constituir estratégia alternativa à aplicação preventiva de fungicidas, especialmente em culturas com alta densidade de plantas. Aplicações de suspensões de C. minitans sobre os restos de cultura contaminados com S. sclerotiorum podem reduzir a disseminação da doença; se em seguida esses restos forem


Murillo Lobo Junior

Dirceu Gassen

tes tem sido o método mais amplamente difundido, por motivos econômicos e de praticidade, já que o feijão, geralmente, é cultivado em áreas extensas. Entretanto, para que se obtenha redução da popula-

Trazilbo José de Paula Júnior, Epamig Murillo Lobo Júnior, Embrapa Arroz e Feijão Rogério Faria Vieira, Embrapa/Epamig Marcelo Augusto B. Morandi, Embrapa Meio Ambiente

Rogério Faria Vieira

incorporados ao solo, o antagonista pode contribuir para a destruição dos escleródios (Whipps e Gerlagh, 1992; Tu, 1997). O tratamento do solo com suspensão de C. minitans associado ao plantio de culturas não hospedeiras foi sugerido por McLaren et al (1996) para reduzir o potencial de inóculo de S. sclerotiorum no solo. Diversas estratégias têm sido recomendadas para a aplicação de agentes de controle biológico de patógenos do solo, incluindo o tratamento de sementes, a aplicação diretamente no solo ou concentrada no sulco de plantio e o emprego sobre as plantas. O tratamento de semen-

ção de escleródios no solo, a aplicação de suspensões contendo propágulos de antagonistas via barra de pulverização ou via água de irrigação, diretamente sobre o solo, tem sido cada vez mais utilizada. As aplicações de suspensões de antagonistas no solo permitem que o controle seja realizado na ausência do hospedeiro (antes do plantio ou após a colheita), pois o inóculo de S. sclerotiorum no solo permanece “dormente”, sem se multiplicar, até que ocorram novamente condições favoráveis para sua germinação. Como o estágio de germinação dos escleródios é, provavelmente, a época em que o fungo é mais vulnerável ao ataque de microrganismos, a aplicação de suspensões de antagonistas nessa época também pode ser estratégica, embora as medidas de controle biológico visem, geralmente, os escleródios dormentes no solo (Tu, 1997). O uso simultâneo de agentes de controle biológico e de fungicidas tem sido estudado. Budge e Whipps (2000) verificaram que a aplicação de fungicida não afetou a capacidade do antagonista C. minitans de suprimir os escleródios de S. sclerotiorum. Essa estratégia permitiria a redução das doses dos fungicidas e, consequentemente, a diminuição dos impactos negativos sobre C o ambiente.

Sementes contaminadas por mofo-branco (esquerda)

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A primeira medida preventiva contra o mofo branco é o emprego de sementes sadias no plantio

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Eventos

Foco na expansão

Fotos Charles Echer

Além de espaço para discussão de estratégias para o agronegócio brasileiro, 25º Seminário Cooplantio foi palco também de lançamentos de divisões de negócios da cooperativa

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e olho no mercado internacional e na sustentabilidade do agronegócio brasileiro, mais de 1,2 mil pessoas participaram do 25º Seminário Cooplantio. O tema Agrossustentabilidade e Liderança Mundial foi estudado e debatido pelos participantes e palestrantes entre os dias 30 de junho e 2 de julho na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Nomes reconhecidos no cenário econômico dividiram suas expectativas e experiências com um público formado basicamente por produtores associados da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio), engenheiros agrônomos, pesquisadores e estudantes da região Sul do Brasil e também do Mercosul. Luiz Antonio Pinazza, diretor da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), e Rodrigo Justus de Brito, representando a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), debateram sobre o tema Agrossustentabilidade e Liderança. Para Pinazza, o Brasil deve tirar partido do fato de não existir conflito entre agrossustentabilidade e liderança mundial no agronegócio. “Nas últimas décadas, o país desenvolveu tecnologias tropicais amigas ao ambiente, como o sistema de plantio direto e a integração lavoura-pecuáriasilvicultura”, explica. O economista Ricardo Amorim também foi um dos destaques com sua palestra “Admirável Brasil Novo: Assumindo a Liderança do Agronegócio Mundial”. Ele falou sobre mudança do centro de gravidade da economia mundial dos países ricos para os emergentes, das oscilações dos preços agrícolas e da taxa de câmbio, mostrando como transformar risco em oportunidade. “O Arroz no Mercosul: Posicionamento na América Latina e no

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Mundo” foi o tema explorado pelo engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola (Inia – Uruguai), Bruno Lanfranco. A situação atual e as perspectivas futuras da biotecnologia no Brasil e no mundo foi abordada pela diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Alda Lerayer. Ela criticou a politização do processo, que deveria ser apenas científico, e enfatizou que a população deveria receber mais esclarecimentos sobre o tema. Outros assuntos como financiamentos e panoramas internacionais também foram debatidos durante o evento.

LANÇAMENTOS

Um dos diferenciais do evento deste ano foi a apresentação de novas unidades de negócios e produtos da Cooplantio. A cooperativa lançou a marca “Arroz Direto no Prato”, um produto dos associados que começará a ser vendido no mercado brasileiro. O presidente da Cooplantio, Daltro Benvenuti, destacou que “a nova marca é uma opção diferencia-

Unidade de Negócios Máquinas Agrícolas foi lançada durante o evento

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da, cultivada no sistema de plantio direto”. O novo cereal tem garantia de origem. "É plantado pelos nossos associados, com toda a preocupação ambiental, própria do plantio direto", explica. O arroz será industrializado nas unidades gaúchas da Cooplantio de Faxinal do Soturno, de Pelotas e de Rosário do Sul. A distribuição também será feita pela cooperativa, que montou um estande no evento para que todo o associado pudesse ver o fruto de seu trabalho, com a exposição do produto já embalado e pronto para a venda. Outra novidade foi a apresentação da unidade de Negócios Máquinas Agrícolas, que já oferece aos associados vários modelos de tratores de 16CV a 200CV de potência, com preços menores em relação aos tratores da mesma potência disponíveis no Brasil. Esta unidade surgiu graças a uma parceria comercial entre a Cooplantio e a Jinma, montadora de tratores da Mahindra Yueda Tratores, uma joint venture entre a indiana Mahindra e a chinesa Yueda, que atendem mais de 100 países em cinco continentes atualmente. Os tratores têm um ano de garantia e podem ser adquiridos através de escambo com a cooperativa. Até o final do ano, 50 tratores já estarão disponíveis e serão entregues. Para 2011 a previsão é de que mais 800 máquinas sejam importadas. A Cooplantio anunciou também a criação da Unidade de Produção Animal, que ajudará a cooperativa a ampliar ainda mais a sua abrangência. O evento deste ano comemorou os 20 anos de atividades da Cooplantio e os 25 anos do seminário, que inicialmente era promovido pelo Clube do Plantio Direto. Atualmente, a Cooplantio conta com 46 filiais e mais de 17 C mil associados.



Empresas Fotos Lisandra Reis

Trilhas interativas Bayer CropScience reúne 130 distribuidores para trekking em lavoura de café no sul de Minas Gerais

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m grupo formado por 130 distribuidores participou em junho de uma das edições do Centro de Treinamento Bayer CropScience (CTB), na fazenda Padre Vítor, a 300 quilômetros de Varginha, no sul de Minas Gerais. A visita se deu em formato de trekking (categoria esportiva constituída de provas realizadas por equipes que percorrem trilhas preestabelecidas). De acordo com o gerente de Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience na região Centro, Márcio Lemos, a ideia dessa atividade é de motivar os distribuidores e aperfeiçoar o conhecimento e as estratégias de Marketing e Vendas da Bayer. “Ao percorrerem as estações vão diagnosticando os problemas e quando visitarem o produtor saberão indicar o produto certo de acordo com o que a lavoura necessitar.” Além disso, o gerente de Cultura do Café, José Frugis, salienta que as atividades nesse formato têm como finalidade uniformizar o discurso e a mensagem que é repassada ao produtor. “Com essa dinâmica conseguimos diagnosticar a carência de cada

distribuidor e assim aperfeiçoar o trabalho. Acrescentamos conhecimento e melhoramos o atendimento aos nossos consumidores.” O distribuidor José Antônio de Ávila, há sete anos na Bayer, aprova a nova estratégia do curso. “Com a nova dinâmica lidamos direto com o problema da lavoura. Dessa forma melhoramos o nosso argumento na hora de vender o produto”, avaliou.

Os resultados na fazenda

Pedro Augusto De Paula planta café desde 1996. O produtor e mais dois filhos são os responsáveis pela produção e apuração da colheita do café em uma área total de 35 hectares. Além dos produtos da Bayer, De Paula utiliza material de outras duas empresas. De acordo com o agricultor, o cuidado e a imparcialidade no tratamento são os mesmos nas três marcas de produtos que utiliza na lavoura. Já os resultados não. “Na última colheita, na área onde aplicamos os produtos da Bayer tivemos um café com maior vigor, crescimento e produtividade. O resultado foram 87 sacas por

Equipe Bayer CropScience durante CTB Café, a missão era descobrir qual o melhor produto a ser utilizado de acordo com a condição da folha do café

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hectare enquanto onde utilizei produtos de outras marcas obtivemos 68 sacas e 72 sacas”, relata. Segundo o produtor, sua lavoura não é monitorada por representantes da empresa e a finalidade é utilizar e aperfeiçoar a forma de manejo para produzir o melhor café para o consumidor. “Nós vamos testando e aperfeiçoando nosso trabalho. Com a ajuda das tecnologias podemos produzir um produto C de maior qualidade.”

Avaliação positiva

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Centro de Treinamento Bayer (CTB) é uma iniciativa da empresa que teve início na região Sul e alcançou dimensão nacional em 2009. Pesquisa realizada com os participantes no segundo semestre do ano passado mostra que 90% ficaram satisfeitos com o evento; 89% acharam a metodologia clara e didática e 90% consideraram o material utilizado como muito bom.

Depois da análise do pé do café os participantes conferiam se os resultados estavam corretos



Coluna ANPII

Tempo de planejar

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Com a proximidade do plantio da nova safra de soja é chegada a hora de os agricultores darem início às negociações para a compra dos insumos necessários à produção

mbora a soja seja plantada somente a partir do final de setembro, os agricultores mais organizados já começaram suas negociações para a compra dos insumos básicos, com o objetivo de obter melhores condições de negociações e antecipar as entregas para ter todos os produtos necessários ao plantio com antecedência em suas fazendas, evitando os problemas de logística que afetam a distribuição nas épocas mais próximas ao plantio, como falta de caminhões, fretes mais elevados, estradas de terra intransitá-

cuidados para que a operação tenha sucesso e se reverta em lucro: • Comprar apenas inoculantes com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Produtos piratas podem comprometer a produtividade. • Verificar a data de validade, pois embalagens fora de prazo terão seu desempenho comprometido. • Verificar as condições de armazenamento na revenda e de transporte até a fazenda, não deixando o produto exposto ao sol. • Fazer o cálculo do número de

ao agricultor uma grande margem de segurança na utilização destes produtos. As empresas produtoras e importadoras do produto filiadas à ANPII também contam com alta capacidade tecnológica para produzir excelentes inoculantes, mas o agricultor, por sua vez, tem que fazer sua parte, utilizando corretamente o produto. Temos que entender o processo como uma cadeia, em que a pesquisa seleciona estirpes de elevada capacidade de fixação do nitrogênio, as empresas produtoras oferecem um inoculante de elevado padrão,

Este ano foi realizada a XV Reunião da Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Inoculantes Microbianos de Uso Agrícola (Relare) veis e outros possíveis percalços. Como um dos insumos básicos para que se obtenham elevadas produtividades na soja, o inoculante também deve ser negociado com antecedência, para evitar correrias de última hora e muitas vezes até a falta do produto no momento do plantio. Sabendo-se que o nitrogênio é o nutriente requerido em maior quantidade pela soja (de 250kg a 280kg para produzir 3.000kg de grãos), o fornecimento do nitrogênio biológico através do inoculante torna-se um dos componentes mais importantes para uma lavoura de soja na qual se pretenda elevadas produtividades. Mesmo em áreas com plantios sucessivos de soja inoculada, uma nova inoculação é necessária para maior colheita de grãos, conforme demonstram inúmeros resultados de pesquisa. Apesar da grande tradição de uso dos inoculantes pelo agricultor brasileiro, não custa relembrar alguns

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bactérias por semente, sabendo-se que o mínimo recomendado é de 600 mil bactérias por semente, embora haja indicações da pesquisa para números maiores. • Dar toda a atenção ao modo de uso do inoculante, pois se trata de produto com organismos vivos que requerem diversos cuidados em sua aplicação, como armazená-lo convenientemente, misturar com as sementes no momento da semeadura, não misturar em uma mesma calda com outros produtos, como fungicidas, micronutrientes, inseticidas. • Não utilizar na semente mistura de micronutrientes que contenham metais como zinco, cobre e manganês. Estes produtos matarão as bactérias e poderão comprometer o fornecimento de nitrogênio, resultando em menores produtividades. A qualidade dos inoculantes comercializados no Brasil é bastante elevada e a fiscalização do Mapa tem sido muito rigorosa, o que garante

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a fiscalização monitora a qualidade, a assistência técnica orienta sobre o uso e, finalmente, o agricultor tem de cumprir corretamente sua parte. Qualquer um que faça mal seu trabalho comprometerá a maior produtividade que deverá ser obtida. Como parte do processo de melhoria constante da qualidade dos inoculantes comercializados no Brasil, este ano foi realizada a XV Reunião da Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Inoculantes Microbianos de Uso Agrícola (Relare). Esta rede tem sido o mais importante fórum para discussão e decisões sobre a política de inoculantes no país. Este evento, patrocinado pela ANPII, reuniu em Curitiba os pesquisadores da área, representantes do Mapa e as empresas produtoras e importadoras C de inoculantes. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

A agricultura brasileira do século XXI

A

agricultura brasileira necessita de uma agenda de desenvolvimento, capaz de tornar realidade nosso potencial de ser o principal produtor e exportador mundial de produtos agrícolas de qualidade, produzidos em condições sociais e ambientalmente corretas. Com este mote, o então ministro Roberto Mangabeira Unger nos convidou para auxiliar na elaboração da Agenda da Agricultura do Século XXI – em estreita consonância com outros órgãos da administração federal - e que congrega uma série de propostas de políticas públicas, com o objetivo de capturar as oportunidades de um futuro que já começou. Tornar o Brasil o protagonista do agronegócio mundial implica aumentar, em algumas vezes, a nossa produção. Só que isto não pode ocorrer pela simples incorporação de novas áreas: esta deve ser a última opção. A

longe dos centros consumidores, com frete mais elevado, tanto para transportar insumos agrícolas quanto para deslocar a produção obtida. Um programa desta natureza implica em investimentos elevados, e sua implementação se choca com a escassez crônica de financiamento. Dessa forma, propõe-se criar novos instrumentos financeiros - ou modificar os existentes - de acordo com o tipo de produto e modelo de negócio. O eixo central da proposta passa pela integração lavoura, pecuária e florestas plantadas e envolve diversos instrumentos de incentivo, como crédito, subvenção e assistência técnica. Propõe-se, também, alterar a forma de cálculo do ITR, de maneira a privilegiar progressivamente as terras produtivas, em especial de alta produtividade. A temática de assistência técnica perpassa diversos programas da agenda estratégica

Das florestas plantadas, além de energia, obtém-se carvão vegetal, celulose para a indústria de papel e madeira para construção civil e mobiliário. O programa de incentivo à expansão de florestas plantadas, em elaboração, objetiva aumentar o market share atual (3,2%) do mercado internacional, superando os 4%, de um mercado que deverá crescer, em valores reais, acima de 100%, ao longo da próxima década. Instrumentos financeiros de incentivo, apoio à Pesquisa e Desenvolvimento, antecipação de renda e organização do mercado compõem a proposta em elaboração.

Seguro renda

Não há como concretizar o ambicionado posto de líder do mercado internacional do agronegócio, sem uma grande exposição aos riscos de mercado. Para atenuar este perigo,

No tocante à agroenergia, vislumbra-se oportunidades tanto na produção de biocombustíveis quanto de bioeletricidade ideia força com a qual temos trabalhado é que, nos próximos 20 anos, o Brasil pode manter estável a área total ocupada pela agropecuária, promovendo trade-offs internos, através de ganhos de produtividade que compensem a necessidade de expansão de área agrícola. Neste contexto, propõem-se políticas públicas de estímulo ao incremento sustentável da produtividade, com aumento da rentabilidade para o agricultor. O processo prevê uma certificação de adesão voluntária, destacando os produtores que incrementarem, continuamente, sua produtividade. Estes agricultores poderiam ser estimulados por mecanismos como limites diferenciados de crédito agrícola oficial ou maior subvenção nos programas de seguro agrícola e seguro renda. O objetivo é incrementar a produtividade da agricultura brasileira entre 1,5% e 2% ao ano, em média, nos próximos 20 anos, de forma sustentável.

Áreas degradadas

A reincorporação de áreas degradadas sempre esbarra no custo de recuperação, superior ao valor de incorporação de novas áreas. Ademais, estes locais se encontram

do futuro. Como forma de aprofundar a integração entre a universidade, os institutos de pesquisa e os agricultores, propõe-se criar o “Bolsa Extensionista”, um programa de especialização de profissionais de Ciências Agrárias recém-egressos da universidade, que seriam alocados junto a organizações de assistência técnica, vinculados a programas prioritários de apoio ao agronegócio.

Energia e florestas

No tocante à agroenergia, vislumbrase oportunidades tanto na produção de biocombustíveis quanto de bioeletricidade. Há excelentes perspectivas de substituir quase integralmente a gasolina, no mercado brasileiro, até a próxima década. No mesmo período, é possível substituir mais de 50% do óleo diesel consumido no país. Na década de 20, a demanda incremental de energia elétrica pode ser obtida integralmente de termoelétricas à biomassa, por cogeração em usinas de cana ou utilizando florestas plantadas e demais resíduos do agronegócio. Além de energia, um programa desta ordem gerará empregos, renda, progresso e interiorização do desenvolvimento, além de manter limpa nossa matriz energética.

está sendo analisado um programa de seguro renda, que objetiva utilizar os mecanismos de mercado para equalizar a renda do agricultor, evitando expor a grande massa de agricultores aos choques de altas e baixas das cotações agrícolas. Finalmente, porém não de somenos importância, é gritante o descasamento entre o patamar atual da produção agrícola e a infraestrutura disponível para o deslocamento de insumos e produtos, bem como para sua estocagem. Desta forma, propõe-se atuar em dois patamares. O primeiro deles consiste na criação do Plano Logístico de Safra, de maneira que, com um ano de antecedência, sejam estabelecidas as prioridades de manutenção e recuperação do sistema de logística. O segundo patamar implica na ampliação e modernização da logística, investindo em modais ferroviárias e aquaviárias e na expansão e melhoria dos portos, para dar fluidez à comercialização C do agronegócio.

Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências

http://dlgazzoni.sites.uol.com.br

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Clima comandará o mercado da safra nova O mercado mundial dos grãos navega em cima de problemas climáticos que têm atingido a safra nova do Hemisfério Norte, com inundações em pontos dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo há indicativos de tempo seco e quente para julho neste mesmo país. O panorama é também de grandes inundações, em boa parte das regiões produtoras da Europa, pegando os países do leste europeu, como Polônia, Ucrânia e Rússia, que mais cresceram na oferta de grãos nos últimos anos. Da mesma forma não se pode deixar de apontar que muitas lavouras foram inundadas na França e na Alemanha (maiores produtores da Europa Ocidental). Mas o ponto importante e que irá comandar o mercado nos próximos meses é o clima totalmente irregular na Ásia. Nesse país ocorreu período de longa estiagem nos primeiros meses do ano e atraso na entrada das chuvas de Monções, que vieram no mês de junho concentradas em boa parte do sul da China, partes da Índia, Indonésia, Bangladesh, Tailândia, Vietnã e arredores e causaram grandes inundações e perdas que ainda não foram divulgadas. Certamente as lavouras locais de arroz foram fortemente afetadas e isso irá aumentar o ritmo de consumo de alimentos alternativos, como crescimento da demanda por trigo e derivados, aumento do consumo de ração, soja e milho pelo avanço da demanda por proteínas animais (que está avançando em ritmo forte, muito acima do crescimento mundial e desta forma trazendo forte apelo positivo para as cotações no médio e longo prazo). Como estamos em momento de Copa do Mundo, pouco se comenta sobre as perdas que já estão se concretizando nestas regiões e que irão servir de apoio para a formação das cotações nos próximos meses. Estamos começando a nova fase climática, chamada de La Niña, que normalmente traz uma onda de calor e seca em boa parte das regiões produtoras e deve continuar afetando as lavouras da Ásia, porque as inundações estão pegando o sul da China, enquanto as lavouras de sequeiro, que estão mais ao norte, vêm sofrendo com seca e, desta forma, perdas. Os indicativos são de que tal situação aumentará as necessidades de importações de alimentos pelos principais países asiáticos, que no momento são os que têm os maiores crescimentos da economia e poder aquisitivo. Sendo assim, temos tudo para entrar com fôlego e ganhos neste novo ano comercial de 2010/11.

MILHO Safrinha abastecendo consumidores

A entrada da safrinha do milho se concentrará neste mês de julho e com isso elimina-se as chances de reação nas cotações. Desta forma, seguiremos neste período de colheita com pouco espaço para reação e as indicações são de que a demanda avançará forte porque o milho está muito barato e isso favorece as indústrias de ração. Também há expectativa de crescimento na produção de frangos e suínos, para o consumo interno, que cresce em ritmo acelerado, apoiado pelo aumento do número de empregos formais. Estamos voltando a exportar no ritmo de 2008, quando houve disparada nas vendas externas, abrindo espaço para o milho crescer nos meses da entressafra. Com grandes perdas na safrinha do Mato Grosso e de Goiás devido à seca, tudo aponta para recorde de produtividade nas lavouras da safrinha do Paraná e de São Paulo, que tiveram chuvas regulares e não sofreram com o frio. Os indicativos são de colher uma safrinha acima das 17 milhões de toneladas, mas abaixo dos indicativos otimistas que apontavam que chegaríamos à casa das 20 milhões de toneladas.

SOJA

Clima nos EUA pode trazer apoio

A soja seguiu os últimos dois meses com indicativos praticamente estabilizados. Houve poucas alterações em Chicago e, quando ocorreram, foram para cima (em busca de voltar a trabalhar acima dos US$ 10,00 por bushel, com o câmbio e Chicago navegando em sentidos opostos). Desta forma mostrava níveis entre

R$ 27,00 e R$ 35,00 por saca aos produtores, sendo os níveis menores nas regiões mais distantes dos portos e os maiores nas posições mais próximas dos portos. Com esse panorama observa-se cenário lento de fechamentos. Os indicativos são de que seja necessário negociar de julho até fevereiro próximo aproximadamente 35% da safra de 68,4 milhões de toneladas colhidas neste ano, sendo este um dos maiores volumes para a entressafra, dando tranquilidade às indústrias, que atuaram pouco nestes últimos meses. Com o mercado, dependendo de apoio do clima nos Estados Unidos para avançar. Sendo que o meio de julho ao final de agosto será fundamental para a safra dos Estados Unidos se confirmar ou mostrar perdas e, como estamos em fase de transição climática, tudo pode ocorrer neste período.

feijão

Poucas ofertas até novembro

A oferta de feijão nos próximos meses continuará restrita e não atenderá à demanda potencial. Desta forma o Carioca terá espaço para se manter firme, com indicativos entre os R$ 100,00 e os R$ 180,00. Enquanto isso o Preto irá tentar ganhar uma fatia do espaço que será deixado pelo Carioca, com fôlego para se manter em leve avanço. Desta forma favorecerá a entrada do feijão da Argentina, que já tem valores de venda entre R$ 85,00 e R$ 100,00 por saca. Desta forma, limitará uma disparada do produto nacional. Há boas expectativas para os produtores que estão plantando até este mês de julho, porque existem grandes reduções na safra do Nordeste, que perdeu forte com a seca que atingiu as regiões produtoras.

arroz

Demanda aquecida

O mercado do arroz tem mostrado a demanda aquecida, com forte procura pelo produto no varejo. Desta forma, nos últimos três meses algumas “marcas milagrosas” venderam abaixo do custo. Isso fez com que as cotações do casca recuassem no Sul e trabalhassem abaixo dos preços mínimos de R$ 25,80. O arroz segue uma linha contrária à oferta e à demanda neste ano, porque houve quebra de safra no Rio Grande do Sul, com perdas de 1,1 milhão de toneladas (o que obrigará o país a importar mais) e as cotações seguem inexplicavelmente fracas e para a maior parte dos produtores abaixo dos custos. O orizicultor que segue vendendo é um dos pontos de apoio para manter as cotações baixas. Outro fator que favorece esse cenário é a rolagem das dívidas de custeio de junho para julho, esticando ainda mais o prazo para crescimento das cotações. Ou seja, com dívidas cada vez mais longas, cria-se ambiente de dificuldade para reação das cotações. Em anos anteriores, quando as dívidas de custeio venciam em maio, já tínhamos reação de junho em diante. Agora, tudo aponta que teremos reação de agosto a setembro em diante. Temos uma safra ao redor das 11 milhões de toneladas, para um consumo de 12,5 milhões de toneladas a 13 milhões de toneladas e tudo para ter cotações em alta. Mas isso, até agora, não se confirmou, porque os produtores seguem vendendo quase que diariamente, atendendo às necessidades das indústrias e os varejistas ganhando com isso porque continuam com promoções de gôndola, com baixos preços ao arroz, que permanece como o alimento mais barato que temos.

CURTAS E BOAS TRIGO - O plantio desta safra deve ser menor que nos últimos anos, devido à dificuldade para comercializar e aos preços baixos praticados aos produtores. Para complicar ainda mais, o governo liberou a TEC para os moinhos trazerem trigo de fora do Mercosul até o final de maio. Houve algum ganho neste último mês, o que para esta safra ocorreu de forma tardia. Desta maneira, veremos redução de área, que ficará abaixo dos dois milhões de hectares contra mais de 2,4 milhões de hectares plantados no ano passado. O que tende a representar fator positivo para os produtores que apostaram na cultura. algodão - O mercado deu sinais positivos nas últimas semanas e, com o apoio do mercado internacional (com menor oferta e maior demanda), começa a reagir internamente. Com a safra chegando no Centro-Oeste e no Nordeste, boa parte dos recursos servirá para quitar contratos e outra fatia será usada para compra de novos insumos. eua - A safra está no campo e agora há dependência de problemas climáticos para que as cotações avancem em ritmo forte nos próximos meses. Por enquanto os indicativos são de crescimento do milho para 339 milhões de toneladas e queda na safra da soja para 90 milhões de toneladas. china - A compra de alimentos por parte dos chineses continua crescendo.

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Julho 2010 • www.revistacultivar.com.br

Além da soja estão comprando grandes volumes de milho para atender à demanda crescente de ração que o país apresenta. Os indicativos são de que o clima irá trazer perdas grandes na safra de grãos e desta forma mais importações devem vir neste novo ano. Os primeiros sinais apontam que a soja poderá chegar à marca das 50 milhões de toneladas importadas (em maio último importaram 4,37 milhões de toneladas de soja, ou 24% acima do registrado em maio de 2009). índia - O clima tem castigado as lavouras locais e o país, que era um grande exportador, agora com forte crescimento econômico e na demanda por alimentos (junto com crescimento do plantio de cana para produção de etanol) tem diminuído a área de grãos, o que tende a fazer com que exporte menos e apareça com maior frequência como importador. argentina - Com a colheita fechada, os resultados são 55 milhões de toneladas de soja, 22,5 milhões de toneladas de milho e cerca de 1,2 milhão de toneladas de arroz. Somente o arroz registrou perdas, próximas dos mil quilos por hectare, e reclamações dos produtores frente aos altos impostos e aos baixos lucros. Segue com taxa de exportação de 35% sobre a soja e estímulo à exportação de biodiesel (com taxa de 5%). Desta forma já se coloca como maior exportador mundial deste biocombustível, que avança para a faixa de 1,5 milhão de toneladas.




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