Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 135 • Agosto 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa Capa
Tempo de tratar....................................22
Charles Echer
Que fatores considerar na adoção do tratamento de sementes de soja com fungicidas, tarefa indispensável no planejamento da nova safra
Origem segura...........................12 Quando controlar.......................26 Afetada pelo clima.....................30 Conheça os cuidados que devem ser tomados com sementes de algodão para garantir o desenvolvimento de lavouras saudáveis e produtivas
Saiba o momento certo de dar início ao controle de daninhas em trigo, infestantes que competem por espaço, prejudicando o desenvolvimento da lavoura
Índice
A influência que o clima exerce sobre a floração do cafeeiro, uma das fases mais importantes para o sucesso na qualidade e produtividade da cultura
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
Diretas
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Percevejo do colmo em arroz
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• Editor
Tratamento de sementes em algodão
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• Redação
Empresas - Risq Teste Syngenta
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• Design Gráfico e Diagramação
Podridão de fitóftora
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• Revisão
Tratamento de sementes em soja
22
• Secretária
Controle de plantas daninhas em trigo
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Empresas - Noite do Arroz Syngenta
29
Clima x floração em café
30
Infestação de lagartas em milho
34
Maturadores em cana-de-açucar
36
Empresas - Clube da soja FMC
39
Coluna ANPII
40
Coluna Agronegócios
41
Mercado Agrícola
42
REDAÇÃO
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
Gilvan Dutra Quevedo Lisandra Reis Cristiano Ceia Aline Partzsch de Almeida Rosimeri Lisboa Alves
GRÁFICA
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Vendas
Pedro Batistin Sedeli Feijó
CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
Alessandra Willrich Nussbaum
• Expedição
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Edson Krause Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Inseticidas
Durante o 1º Clube da Soja, Gustavo Canato, gerente de Inseticidas da FMC, destacou os produtos Talstar, para o controle de lagartas e percevejos, Mustang 350 EC, contra a lagarta do cartucho, e Fênix, indicado para tratamento de sementes, além do Dipel, que age no combate de lagartas. Também anunciou para 2011 o lançamento do Rocks 300FS, com foco em tratamento de sementes contra pragas iniciais em milho e para 2012 o Conclusion 130 SC para soja, contra falsa medideira, percevejo, ácaro e Gustavo Canato mosca branca.
Manejo
Durante a 2ª Reunião S y n g e n t a d o A r ro z , Adilson Jauer apresentou soluções para aumentar a produtividade da cultura. Destacou o manejo de plantas daninhas de difícil controle com Zapp Qi, além dos inseticidas Actara e Engeo Pleno para o controle de pragas e os fungicidas Priori e Score no combate a doenças.
Marketing
A engenheira agrônoma Adriana Arns assumiu o cargo de analista de marketing da Dupont para o Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina. Ela faz parte de uma equipe de marketing de 12 pessoas que atuarão nas principais regiões agrícolas do Brasil, com o objetivo de realizar assistência técnica, treinamentos e organizar eventos Adriana Arns com produtores rurais.
Fungicidas
O coordenador de fungicidas da FMC, Flávio Centola, apresentou o portfolio da empresa para o combate a doenças. Mas a grande novidade foi o kit Galileo, composto pelos produtos Emerald, Priori e Nimbus.
Flávio Centola
Rotação
Antonio Luiz Fancelli, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), destacou durante o 1º Clube da Soja a importância da rotação de culturas e a adição de nitrogênio na semeadura, sem dispensar o uso de inoculantes e de molibdênio Antonio Luiz Fancelli cobalto .
Adilson Jauer
Participação
Arnaldo Sigrist Neto, gerente Comercial Distribuição Leste e o gerente regional de Vendas, Ademir Mazzon, estiveram presentes na 2ª Reunião Syngenta do Arroz.
Manual
Durante o Clube da Soja a FMC lançou o Manual de Identificação de Plantas Infestantes – Cultivos de Verão. Ao lado dos autores do manual Henrique Moreira e Horlandezan Bragança, o gerente de Produtos Herbicidas Kedilei Duarte destacou a importância da publicação com a descrição das características e tipificação da plantas e sugestões para prevenção. “São informações que certamente serão de grande valia para os profissionais que atuam no campo”, avaliou.
Kedilei Duarte, Horlandezan Bragança e Henrique Moreira
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Ademir Mazzon e Arnaldo Sigrist Neto
Barter
João Bento Júnior, gerente de Barter Syngenta, para a cultura do arroz, explicou as vantagens desse tipo de operação que consiste na troca de produção agrícola por insumos. “É muito positiva para as partes envolvidas no processo: agricultores, que precisam de recursos para produzir mais e expandir os negócios, e empresas de insumo, que mantêm o risco do negócio em um nível razoável e fidelizam seus clientes”, destacou.
João Bento Júnior
Produtividade
Bioativador
Durante a 2ª Reunião Syngenta do Arroz Vagner Cianci destacou o Maxim XL e o Cruiser, bioativador que confere mais vigor à planta, aumenta a produtividade, melhora a germinação, o enraizamento e o Vagner Cianci arranque.
Novos executivos
A Bayer CropScience anunciou a chegada de dois novos executivos na empresa. Pedro Garrio, que assume o cargo de gerente de Operações Estruturadas (Barter), e Ivan Moreno, que passa a responder pela gerência de Operações de Rede. "Já estamos trabalhando para estruturar os diferentes tipos de operações de barter (trocas), de forma a garantir que nossos clientes tenham cada vez mais proteção em relação à flutuação dos preços das commodities", diz Garrio, que possui ampla experiência no mercado de agronegócios. Ivan Moreno acredita que na Bayer CropScience seu principal desafio "é fortalecer ainda mais o relacionamento entre a equipe de vendas e a Rede de Distribuição, para que fique cada vez mais evidente que somos parceiros na construção de planos de negócios sustentáveis".
A Divisão de Proteção de Cultivos da Basf acaba de lançar o Sistema AgCelence Soja Produtividade Top, composto pelos produtos Standak Top, Comet e Opera. Segundo estudos divulgados pelo fabricante, o sistema proporciona incrementos de até 5% na produtividade, o que corresponde a aproximadamente mais três sacas por hectare. A tecnologia estará à disposição dos produtores para a safra de soja 2010/11, que começa a ser semeada em outubro. “Este modelo de manejo de soja proporciona uma grande tranquilidade decorrente do melhor estabelecimento da cultura, certeza da segurança em função de uma lavoura com mais raízes, folhas e ramos produtivos e a confiança numa maior produtividade”, ressalta o gerente de Marketing de Cultivos Extensivos, Oswaldo Marques.
Marcelo Gatti
Oswaldo Marques
Sementes
O engenheiro agrônomo José Alexandre Loyola assumiu novo desafio na Basf. Com experiência de 14 anos nas áreas de gestão, vendas e marketing no mercado do agronegócio, Loyola será o responsável por expandir as parcerias entre a empresa e as sementeiras. A finalidade do novo desafio é aumentar a oferta de sementes industrialmente tratadas. Loyola é graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp-Botucatu), possui MBA em Gestão de Agronegócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Marketing pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de José Alexandre Loyola São Paulo (FIA/USP).
Gerente comercial
Pedro Garrio
Ivan Moreno
Promoção
Marcos Cernescu passou a responder pela gerência regional de Vendas da Bayer CropScience, na região de Passo Fundo (RS). Cernescu era coordenador comercial da Regional Passo Fundo e agora terá como principais desafios assegurar o cumprimento das metas, coordenar a formação e a manutenção da Rede de Distribuição e buscar novas oportunidades para lançamentos de produtos e tecnologias adequadas ao mercado local. "A Bayer CropScience é uma empresa que reconhece e incentiva o empenho dos colaboradores e isso nos motiva cada vez mais", garante.
A Nufarm tem novo gerente comercial para a região Sudeste. Klaus Gunther Urban atuará nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (Sul e Leste). Os focos de seu trabalho serão a consolidação e o crescimento da empresa nas culturas de cana-de-açúcar, café, citros e HF.
Klaus Gunther Urban
Pedsyn
Matheus Fabiano Botelho
Marcos Cernescu
O Programa de Excelência em Distribuição Syngenta (Pedsyn) foi o tema abordado por Daniel França durante a 2ª Reunião Syngenta do Daniel França Arroz.
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Arroz
Em hibernação O percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) costuma hibernar no período de abril a setembro, permanecendo por aproximadamente cinco meses nos locais de refúgio, antes de atacar as plantações de arroz irrigado. Após o monitoramento da população no campo, o uso de inseticidas registrados, na dose recomendada e seletivos a inimigos naturais, é uma das ferramentas recomendadas no combate à praga
O
número de espécies de insetospraga que atacam a lavoura de arroz irrigado no Rio Grande do Sul tem aumentado nas últimas safras. Portanto, o produtor deve ficar atento a sua ocorrência, identificação e controle. Inseticidas são recomendados quando as pragas atingem nível populacional capaz de causar perdas econômicas, aplicando-se produtos eficientes e com registro. Entre as principais pragas que ocorrem no Estado destaca-se o percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris), que ataca mais de 40% da lavoura. Sua incidência é maior nas regiões da Fronteira Oeste, Depressão Central, Litoral Sul e Planície Costeira Externa, onde são encontrados mais de dez insetos/m². Porém, nas demais regiões, mesmo em populações menores, este inseto tem preocupado os produtores.
Locais de hibernação
Estudos realizados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) demonstram que a partir do mês de abril os insetos entram em hibernação. Em setembro, com o aumento da temperatura e fotoperíodo, ocorre o abandono da área de hibernação pelos percevejos. Logo, a maior concentração da praga nos locais de refúgio ocorre durante cinco meses. Este percevejo vem para a lavoura até o mês de janeiro. Após esse período a população permanece abrigada para atacar na safra seguinte, ocorrendo a preservação da espécie. Os locais preferidos para a hibernação são os situados próximos e dentro da lavoura onde, nas partes mais altas e na resteva, foram encontrados até 40 insetos/m². Também nas taipas,
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contendo plantas de arroz, foram coletados em média três insetos por touceira. Dentre as plantas hospedeiras, a principal é o rabo de burro (Andropogon bicornis L.), onde foram encontrados 125 percevejos/planta. Nas lavouras de arroz, onde foi plantada cana nas partes altas dos canais, foram encontrados dez percevejos/planta, abrigados entre a lígula e o colmo. Alguns outros hospedeiros são o macegão, o capim elefante e o capim anone. Na hibernação, por abrigarem-se em geral na parte inferior das plantas (local mais úmido), os insetos podem ser atacados por fungos, destacando-se Beauveria bassiana. Porém, nesse caso, a mortalidade no campo é baixa.
Biologia e hábito
O percevejo-do-colmo ataca a lavoura a partir de setembro, onde as fêmeas colocam os ovos nas folhas. Em condições favoráveis uma fêmea pode colocar até 800 ovos. Após oito dias da postura surgem as ninfas, que alimentam-se a partir do 2º estágio, quando se dispersam e atacam o colmo das plantas. Os jovens são de cor preta, com pontos coloridos, semelhantes ao percevejo-do-grão, e os adultos de coloração marrom. Este inseto tem o hábito de atacar toda a lavoura, e não em reboleiras como algumas pragas. Como o percevejo permanece na base
Panícula atacada pelo percevejo-do-colmo
das plantas, pode ocorrer que a infestação não seja vista pelo produtor.
Monitoramento
A inspeção no campo é a maneira correta de determinar a população existente. Essa operação deve ocorrer de forma rápida, eficiente e confiável. O número de amostras vai determi-
nar a eficiência do método (quanto mais, maior a precisão). Portanto, recomenda-se no mínimo 30 amostras por lavoura. Como a maior parte dos percevejos (mais de 70% da população) permanece abrigada na parte inferior das plantas, indica-se o monitoramento, abrindo-se as plantas para localizar os insetos. Porém, deve-se ter cuidado ao realizar essa operação, pois os percevejos podem jogar-se
Fotos Jaime V. de Oliveira
Em condições normais uma fêmea de percevejodo-colmo pode pôr até 800 ovos
na água e evitar que sejam observados e contados.
Danos e sintomas
Por conta das populações altas nas últimas safras, perdas têm ocorrido devido ao ataque
do inseto em dois estágios de desenvolvimento das plantas. No primeiro ataque após a emergência das plantas, na bainha da folha, ocorre um ponto de coloração escura, devido ao estrangulamento do colmo, provocando o sintoma denominado coração morto. No segundo estágio, com as plantas maiores, o inseto ataca o colmo provocando o seu estrangulamento interno e posteriormente se dá a formação de panículas brancas ou a esterilidade parcial dos grãos, devido ao ataque após a formação de algumas espiguetas. Em média, um percevejo/m2 causa 1,5% de redução na produção de grãos. Muitas vezes os sintomas só são observados tardiamente, quando da incidência de panículas brancas, na colheita, ao ser colocado o arroz no graneleiro ou, na pré-limpeza, pela ocorrência dos insetos.
Medidas de controle Eliminação das plantas daninhas As plantas hospedeiras nos canais de irrigação, nas ruas e bordas da lavoura devem ser destruídas para evitar que os percevejos se abriguem no período da hibernação. Porém, a grama existente nestes locais deve ser cortada, mas não eliminada com o objetivo de manter os inimigos naturais. Destruição da resteva A eliminação da resteva, após a colheita, através de incorporação por grade ou rolofaca, vai auxiliar na redução da população dos percevejos existentes. Principalmente as partes mais altas da lavoura, contendo a palha, são locais favoráveis ao abrigo dos percevejos. Destruição das taipas Devido à ocorrência de plantas daninhas, plantas de arroz e palhas, estas áreas da lavoura vão formar locais propícios ao abrigo dos insetos durante a hibernação, mantendo populações altas para a safra seguinte.
Adubação
Uma adubação equilibrada vai formar plantas mais fortes, com maior emissão de raízes, portanto, suportando melhor o ataque das pragas.
Evitar a queima
Sintomas de mancha parda em lavoura de arroz, doença influenciada por fatores como clima e época de semeadura
Ao serem queimadas as plantas daninhas, na resteva, pode haver desequilíbrio no ambiente, pois os inimigos naturais serão eliminados, ocorrendo o aumento das pragas nas safras seguintes.
Controle químico
Devem ser utilizados produtos registrados na dose recomendada, sempre após o monitoramento da população no campo. Entre os inseticidas registrados para o controle do percevejo-do-colmo, em arroz irrigado, o tiametoxam 250WG, além de C eficiente é altamente seletivo. Jaime Vargas de Oliveira e Thais Fernanda Stella de Freitas, Irga
Fase do percevejo adulto
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Algodão
Origem segura Para garantir o bom desempenho do algodoeiro é preciso atenção especial à semente, seja na escolha de materiais livres de contaminações e infecções, ou através do tratamento com fungicidas para proteção contra fungos causadores de doenças como tombamento e mela
A
ocorrência de doenças associadas aos sistemas de produção praticados no Cerrado, cujos agentes causais podem ser transmitidos ou transportados por sementes, é um dos fatores mais expressivos na redução da produtividade e no aumento dos custos de produção na cultura do algodoeiro. Além de microrganismos com elevado potencial fitopatogênico, ocorrem outros, cuja patogenicidade à cultura ainda não foi avaliada, além de microrganismos responsáveis por importantes perdas durante o armazenamento das sementes. O algodão cultivado no sistema convencional (espaçamento de 0,76m a 0,90m entrelinhas), no estado de Mato Grosso, tem ocorrido preferencialmente no sistema de plantio direto sobre palha de milheto, condição que favorece a manutenção dos patógenos responsáveis pelo tombamento e por doenças com ocorrência inicial até os primeiros 30 dias após a emergência. Estes processos patogênicos terão reflexo direto na quantidade e na qualidade das plumas produzidas. Nas regiões de cultivo do Estado, a ocorrência de chuvas a partir do mês de dezembro provocou redução da temperatura do solo e aumento da umidade, favorecendo a ocorrência de patógenos associados às sementes.
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Condição diferente é encontrada no cultivo do algodão superadensado (espaçamento de até 0,45m entrelinhas), semeado logo após a colheita da soja precoce. Nestas condições, a lavoura de algodão passa, nas suas fases iniciais, por um regime de redução progressiva da precipitação e temperaturas mais elevadas, e recebe elevado potencial de inóculo de patógenos comuns às duas lavouras, especialmente nematoides e escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, além de microrganismos oportunistas provenientes da lavoura de soja. O tombamento em algodão é causado por um complexo de microrganismos fitopatogênicos, destacando-se Rhizoctonia solani, Colletotrichum gossypii, Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, Fusarium spp., Fusarium
Sintoma de Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum em sementes
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oxysporum f.sp. vasinfectum, Botryodiplodia theobromae e Macrophomina phaseolina. São fungos frequentemente associados às sementes e presentes no solo, podendo atuar também sobre as plantas durante todo o ciclo da cultura. Os sintomas mais frequentes provocados por Rhizoctonia solani, são estrangulamento dos tecidos tenros do colo e radícula da planta, ocasionando tombamento ou damping off e consequente redução do estande. Na planta adulta R. solani está relacionada ao processo patogênico conhecido como mela, caracterizando-se por lesões aquosas e zonadas em folhas do terço inferior das plantas. Os sintomas de mela, que são comuns a partir dos 30 dias a 45 dias após a emergência da cultura, têm ocorrido em estádios mais precoces, em alguns casos imediatamente após a emergência. O patógeno, abundante no solo e com baixos níveis de ocorrência em sementes de algodão, é favorecido por elevada umidade e temperaturas moderadas. O inóculo presente na área ou proveniente das sementes infectadas ou contaminadas pode atingir as folhas a partir de partículas de solo depositadas por respingos de chuva e vento. Os fungos Colletotrichum gossypii e Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides causam lesões avermelhadas e deprimidas
no hipocótilo e cotilédones em plântulas que acabaram de emergir, além de provocar importante tombamento em pré-emergência. Nas condições de cultivo do algodão, na região Centro-Sul do Mato Grosso, a transmissibilidade de C. gossypii das sementes para as plântulas foi estimada em aproximadamente 60%. Infecções precoces de C. gossypii var cephalosporoides desenvolvendo sintomas de ramulose antes dos 30 dias depois da emergência podem inviabilizar a cultura. As incidências mais graves de tombamento provocado por C. gossypii aparecem, geralmente, após as quedas de temperatura que sucedem as primeiras chuvas pós-plantio. Sintomas do tipo damping-off e de tombamento em pré e pós-emergência, com necrose avermelhada do hipocótilo e radícula, são provocados por Fusarium spp., reduzindo sensivelmente o estande final. Se as condições de ambiente forem favoráveis ao desenvolvimento da doença, com temperaturas variando entre 18ºC e 30ºC e umidade elevada por vários dias, a extensão das falhas pode tornar necessário o replantio. Sintomas de tombamento causado por Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum são semelhantes aos provocados por outras espécies do fungo. Nas plantas jovens ocorre inicialmente em plântulas isoladas, que se disseminam em
Necrose em folha de planta jovem causada por Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum
reboleiras, podendo atingir toda a lavoura. Nessas plântulas se dá o amarelecimento e o enegrecimento dos cotilédones, que posteriormente secam e produzem a morte da planta jovem. Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum é disseminado a longas distâncias exclusivamente através de sementes infectadas. Provoca a murcha da planta adulta, importante doença sistêmica e quarentenária (considerada como
A2 no estado de Mato Grosso), extremamente restrita e exigente quanto à adoção de medidas drásticas de controle e com potencial para inviabilizar a cultura por longo período. A entrada do patógeno na maioria das áreas isentas ocorreu por meio de sementes infectadas. As sementes de algodão apresentam papel fundamental no estabelecimento da lavoura, sendo também o principal veículo de dissemi-
Comparação entre planta doente (E), com sintoma de estrangulamento, e planta saudável (D)
nação e sobrevivência de vários patógenos de importância para a cultura. O uso de sementes livres de contaminações e infecções, ou dentro de padrões de tolerância estabelecidos para a cultura, é o método mais adequado para reduzir a sobrevivência e a disseminação de patógenos veiculados através das sementes. Nesse sentido, considera-se semente ideal aquela livre de qualquer patógeno, seja pela condução rigorosa, do ponto de vista fitossanitário, das áreas de produção de sementes, seja pela aplicação de tratamento químico, físico ou biológico adequado. Considerando que a qualidade sanitária das sementes é diretamente influenciada pelas condições climáticas sob as quais foi produzida e armazenada, recomenda-se a adoção de vários métodos de controle no manejo integrado do tombamento. Devido à influência que as baixas temperaturas exercem na severidade e na incidência do tombamento, indica-se evitar semeaduras anteriores à primeira quinzena de outubro, período incomum para a semeadura do algodão no cerrado, pois nessas condições as sementes de algodão exsudam maior quantidade de açúcares e aminoácidos, favorecendo
Andréia e Neto destacam a importância do tratamento de sementes com fungicidas para controle de doenças
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o ataque de patógenos. A baixa temperatura também torna o processo de germinação mais lento, atrasando a emergência, mantendo as plântulas mais expostas ao ataque de patógenos do solo. Entre os métodos disponíveis de manejo de patógenos causadores de tombamento e de doenças na planta adulta, o tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos combinados aos de contato ou protetores constitui-se em estratégia das mais eficazes, permitindo o controle direto dos microrganismos patogênicos associados às sementes e solo e controle residual de patógenos de ocorrência inicial em plântulas, possibilitando a ampliação do espectro de controle de cada fungicida, devido à ação combinada de dois ou mais produtos em mistura.
A associação dos fungicidas sistêmicos e de contato garante benefícios não somente às sementes, mas também às folhas e raízes, já que os fungicidas de contato protegem a semente contra fungos superficiais e do solo durante o processo de germinação e os fungicidas sistêmicos agem em favor das raízes e das folhas em formação contra a infecção precoce de patógenos presentes no interior das sementes (embrião) e no ambiente. Além da manutenção do bom desempenho inicial de plântulas, o tratamento de sementes com fungicidas pode promover benefícios adicionais no controle de doenças, pois além de reduzir a população de patógenos presentes nas sementes, os fungicidas ainda protegem a lavoura nos estádios iniciais de desenvolvimento (21 dias a 28 dias em média), diminuindo o risco de ocorrência das doenças da parte aérea, como ramulose, ramulária, mofo branco, C mela e murcha de Fusarium. Andréia Quixabeira Machado, Univag Daniel Cassetari Neto, UFMT
Tabela 1 - Fungicidas Registrados para o tratamento de sementes de algodão no controle dos principais fungos Ingrediente ativo Azoxystrobin + Fludioxonil + Metalaxil-M Carbendazim Carbendazim+Thiram Captan Captan Captan Captan Captan Captan Fludioxonil Pencicurom Pencicurom Triadimenol
Produto comercial Dinasty Minx 500 SC Derosal Plus Captan SC Captan 500 TS Captan 500 TS Captan 750 TS Captan 750 TS Orthocide 500 Maxim Monceren PM Monceren 250 SC Baytan SC
Doses do p.c/100kg de sementes 300 80 600 350 325 265 160 220 240 a 300 200 300 300 a 500 200
Alvos* 1, 3 1, 2, 6, 7, 8 2, 3, 5 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9 2 3 1 3 2, 3 3 3 3 3
Fonte: Agrofit - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins/DFIA/DAS. Disponível em: <extranet. agricultura.gov.br/agrofit.../principal_agrofit_cons -> Acesso em 2/7/2010. *Alguns fungicidas são específicos para determinados grupos de fungos. Assim, é recomendado o conhecimento do perfil sanitário do lote de sementes antes do tratamento. (1) = Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides, (2) = Colletotrichum gossypii, (3) = Rhizoctonia solani, (4) = Fusarium pallidoroseum, (5) = Fusarium verticillioides, (6) = Fusarium spp., (7) = Botryodiplodia theobromae, (8) = Aspergillus spp., (9) = Penicillium spp.
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Empresas
Detecção antecipada A
Syngenta lança no Brasil teste rápido de campo para detecção de resistência de herbicidas às plantas daninhas, desenvolvido na Inglaterra
implementação de uma estratégia de sucesso para o manejo da resistência das plantas daninhas ao herbicida glifosato requer um método simples, econômico, efetivo e que permita a detecção antecipada da resistência. O Syngenta RISQ TEST viabiliza estas ações proativas no manejo das plantas daninhas resistentes ao glifosato e outros herbicidas. Atualmente, a resistência a herbicidas é confirmada através de métodos demorados e que requerem a condução de ensaios em casas de vegetação. Estes experimentos normalmente são conduzidos através de sementes coletadas no campo, de plantas que sobreviveram à aplicação de doses comerciais dos herbicidas. Deepak Kaundum e sua equipe do Centro de Pesquisas da Syngenta em Jealott´s Hill, Inglaterra, desenvolveram o Syngenta RISQ TEST, uma nova metodologia através de bioensaio simples. Pode ser conduzido antes do início do plantio ou da aplicação de herbicidas. "O Syngenta RISQ TEST requer o "transplante" de plântulas sensíveis e as possíveis resistentes ao glifosato para uma Placa de Petri com Agar e doses discriminatórias de glifosato.
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A avaliação da eficácia é baseada na sobrevivência das plantas e na emissão de novas raízes até 10 dias após o "transplante". A nova metodologia foi inicialmente validada em quatro populações suscetíveis e quatro populações resistentes a glifosato caracterizadas por: (1) à mutação de P106S em Eleusine indica que resulta em um sítio de ação insensível; (2) à redução da translocação do glifosato nos tecidos meristemáticos em Lolium multiflorum; (3) Conyza canadensis (4) Amaranthus palmeri com o mecanismo de resistência que compreende a super expressão da EPSPS através da amplificação de cópias de EPSPS no genoma. O maior benefício do Syngenta RISQ TEST é a capacidade de detectar a resistência de plantas daninhas ao glifosato independentemente do mecanismo de resistência envolvido. Isto possibilita a tomada de decisões proativas no manejo da resistência, baseada na eficácia dos herbicidas e no controle esperado da população de plantas daninhas. O sigla RISQ TEST deriva de "Resistance In-Season Quick". A nova metodo-
logia foi lançada oficialmente em fevereiro de 2010 no Congresso da Weed Science Society em Denver, Colorado-USA. No Brasil, foi apresentada pela primeira vez no Brasil no XXVII Congresso da Ciência das Plantas Daninhas em Ribeirão PretoSP realizado entre os dias 19 a 23 de Julho de 2010. O pesquisador da Syngenta, da Inglaterra, Ian Zelaya, fez uma apresentação oral, enquanto Elisa Basso e sua equipe da Estação Experimental da Syngenta em Holambra-São Paulo, fizeram demonstrações para três espécies de plantas daninhas resistentes ao glifosato: buva, capim amargoso e azevém. A receptividade foi muito positiva conforme demonstrado pelo grande interesse despertado entre a comunidade científica presente no evento. O departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Syngenta planeja ações para difundir no Brasil o Syngenta RISQ TEST. A Syngenta acredita que esta inovação contribuirá de forma prática e moderna para o manejo das plantas resistentes de modo a suportar a sustentabilidade do manejo das C plantas daninhas.
Testemunha sensível
Sensível 5ppm
Sensível 20ppm
Testemunha resistente
Resistente 5ppm
Resistente 20ppm
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Soja
Apodreceu Favorecida por fatores como umidade excessiva e solos compactados a podridão radicular de fitóftora tem o poder de provocar o apodrecimento de sementes, além de redução e morte das plântulas. Por isso, ao planejar o próximo cultivo o produtor precisa estar atento e verificar a situação das suas áreas quanto à compactação e ao acúmulo de água, sem descuidar da situação de terraços em curvas de nível, baixadas e locais com excesso de palha. A rotação de culturas é outra alternativa recomendada para evitar o aumento do nível de inóculo
A
partir da expansão da cultura da soja no Brasil e do uso cada vez mais intensivo da terra, problemas fitossanitários se intensificaram, causando prejuízos e demandando ações do setor agrícola para combatê-los. A ocorrência da podridão radicular de fitóftora (PRF) está intimamente associada com o excesso de umidade no solo, fator que sofre influência direta do manejo e do uso da terra. Solos compactados, cultivo mínimo do solo e/ou plantio direto em monocultura de soja e aplicação de altas doses de fertilizantes orgânicos ou com potássio, imediatamente antes da semeadura, podem tornar a doença mais severa. Ela causa apodrecimento de sementes, morte de plântulas, redução de crescimento e morte de plantas adultas em qualquer fase de desenvolvimento. Tem o poder de afetar extensas áreas de cultivo, levando a replantios ou à redução de estande e de produção. O uso de cultivares resistentes é o principal meio de controle, mas a variabilidade patogênica da fitóftora torna difícil a obtenção de cultivares resistentes a todas as raças existentes. Essa doença foi identificada pela primeira vez no Brasil no estado do Rio Grande do Sul, na safra 1994/95, mas perdas signifi-
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cativas ocorreram apenas na safra 2005/06, quando várias lavouras gaúchas e do Paraná apresentaram tombamento de plantas em pós-emergência, em locais de solo compactado e com acúmulo de água, levando a falhas de estande inicial, à ressemeadura de áreas extensas e à morte de plantas adultas. Até a safra 2007/08, plantas com sintomas da doença foram também encontradas em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Na safra 2009/10, plantas com sintomas da doença foram observadas em lavouras no município de Cristalina, Goiás. Isto revela uma evolução espacial na ocorrência da PRF no Brasil. Nos Estados Unidos a PRF é considerada uma das principais doenças da soja, sendo historicamente mais importante que a ferrugem asiática devido aos prejuízos econômicos que já causou. Neste país, a doença foi observada em soja pela primeira vez em 1948, no estado de Indiana, causando prejuízos severos em 1951, em Ohio. Entre os anos de 1996 e 2002, foi a segunda doença que mais causou prejuízo na soja, com perda total acima de cinco milhões de toneladas. O agente causal da doença é Phytophthora sojae. Os integrantes do gênero Phytophthora não são fungos e a real condição taxonômica
Fotos Rafael Soares
deste gênero permanece controversa. Estão filogeneticamente relacionados às algas e a alguns organismos eucarióticos anteriormente conhecidos como protistas. Os sintomas causados por P. sojae são dependentes do nível de resistência da cultivar. Podem ser observados desde a pré-emergência até a fase adulta das plantas, sendo que as mais jovens são mais suscetíveis e morrem com maior rapidez. Pode ocorrer apodrecimento de sementes ou flacidez na radícula, progredindo ao cotilédone, e os tecidos afetados adquirem coloração marrom. Sementes infectadas germinam lentamente e, quase sempre, as plântulas morrem durante a emergência. Durante a emissão dos primeiros trifólios, a extremidade da raiz principal torna-se flácida e marrom, e essa descoloração estende-se e envolve o hipocótilo até o nó cotiledonar, ocorrendo o colapso do tecido. Na sequência, as folhas tornam-se amareladas, murcham e a planta seca e morre. Plantas desenvolvidas morrem lentamente, apresentando folhas amareladas e tecido seco entre as nervuras, seguindo-se murcha completa e seca dos tecidos, permanecendo as folhas presas às plantas, voltadas para baixo. Há destruição quase completa de raízes secundárias e apodrecimento da raiz principal, que adquire coloração marrom-escuro. Nesta fase, o sintoma característico é o aparecimento, no exterior da haste, de coloração marrom-escuro, circundando-a desde o solo e, frequentemente, progride ao longo desta e das hastes laterais em direção ao topo da planta. Em plantas adultas de cultivares de soja que apresentam menor suscetibilidade, os sintomas ficam restritos ao apodrecimento da raiz principal e, ocasionalmente, ocorrem lesões longas, lineares, levemente aprofundadas e de cor marrom, em apenas um dos lados da haste, muito parecidas com lesões de cancro da haste. As condições climáticas que favorecem a ocorrência da podridão radicular de fitóftora são temperatura igual ou superior a 25°C e água livre no solo. Desse modo, chuvas no início do ciclo favorecem o apodrecimento de sementes e o tombamento de plântulas, e precipitações durante o ciclo facilitam a ocorrência de murcha, escurecimento externo na haste, apodrecimento de raízes e morte
Esporos de Phytophthora de soja no interior da raiz
Morte de plantas por podridão radicular de fitóftora em área com acúmulo de umidade
em plantas adultas. Os esporos de resistência (oósporos), formados nas raízes e nas hastes de soja infectada, podem sobreviver no solo por muitos anos na ausência do hospedeiro, não germinando todos ao mesmo tempo. A transmissão e disseminação do patógeno não ocorrem por sementes, sendo o solo e os restos culturais de soja contaminados as principais fontes de inóculo.
CONTROLE
A resistência genética é o principal meio de controle da doença. Ela pode ser completa ou parcial. A resistência completa, embora impeça a ocorrência da doença, é específica a uma ou algumas raças do patógeno, e pode ser quebrada por raças diferentes. A resistência parcial, também conhecida como resistência de campo, resistência geral, resistência por redução de progresso, resistência de planta adulta ou tolerância, expressa-se pela redução de extensão de colonização de tecidos radiculares, sendo avaliada pela capacidade da planta de resistir à penetração, à colonização ou à multiplicação do patógeno. Essa resistência é governada por diversos genes e dificilmente pode ser quebrada por alguma das raças do patógeno. Isolados obtidos de plantas doentes nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, e testados em cultivares diferenciadoras (cultivares com diferentes genes de resistência que servem para classificar os isolados), mostraram que existe variabilidade do microrganismo entre a maioria dos locais. O controle químico com fungicidas é efetivo para cultivares com elevado nível de resistência parcial, e pode ser realizado via semente ou diretamente na linha de semeadura, no solo. Os princípios ativos eficazes são metalaxil e mefenoxam, da classe fenilamidas,
que atuam, em média, por duas a três semanas. A aplicação de fungicidas na parte aérea não tem efeito. O controle integrado, combinando altos níveis de resistência parcial e melhoria nas condições físicas do solo, especialmente com drenagem e descompactação, é tão efetivo quanto resistência completa ou uso de fungicida, na maioria dos ambientes. Portanto, é importante que o agricultor, ao planejar o próximo cultivo de soja, verifique antes a situação das suas áreas quanto à compactação e ao acúmulo de água, atentando para situação de terraços em curvas de nível, baixadas e locais com acúmulo excessivo de palha. A rotação de culturas, evitando-se semeadura de soja por mais de dois anos consecutivos na mesma área, pode ser usada para evitar aumento do nível de inóculo no solo. A Embrapa Soja e a Embrapa Trigo, dentro do programa de melhoramento de soja das instituições, introduziram na rotina de seleção de linhagens os testes para resistência completa à podridão radicular de fitóftora e têm procurado lançar cultivares resistentes à doença, sendo que várias já estão disponíveis C aos agricultores. Rafael Moreira Soares, Embrapa Soja Leila Maria Costamilan, Embrapa Trigo
Soares e Leila aconselham a rotação de culturas para evitar o aumento do nível de inóculo no solo
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Soja
Hora de tratar
Com a proximidade do plantio da nova safra de soja chega o momento do produtor planejar, entre outras ações, o tratamento de sementes com fungicidas, já que o efeito principal dessa ferramenta ocorre na fase inicial, até sete dias após a emergência. Prática de baixo custo, responsável por apenas 0,6% do gasto total de produção, previne grandes prejuízos, como a necessidade de ressemeadura. No entanto, para o sucesso dessa operação, é preciso estar atento a critérios técnicos como conhecimento dos fungos e escolha correta de defensivos
O
controle das doenças da soja pode ser obtido através do desenvolvimento de um sistema de Manejo Integrado, que se baseia no princípio de manter as doenças abaixo do limiar de dano econômico, sem prejuízo para o agroecossistema, utilizando medidas biológicas, culturais e químicas. Como parte integrante de uma agricultura sustentável, o Manejo Integrado de Doenças deve agregar todas as táticas disponíveis de controle. A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem na cultura da soja é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Isso implica na introdução de doenças em áreas novas ou mesmo a reintrodução em lavouras cultivadas onde a doença já havia sido controlada pela adoção
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de práticas eficientes de manejo, como, por exemplo, a rotação de culturas. Presentes nas sementes, esses microrganismos sobrevivem durante anos e se disseminam pela lavoura, como focos primários de doenças. Entre as medidas de controle desses patógenos o tratamento de sementes de soja com fungicidas é um dos mais eficazes e econômicos, sendo utilizado para garantir boa emergência quando a semeadura coincide com períodos adversos, evitando, na maioria das vezes, a necessidade da ressemeadura. O tratamento de sementes de soja tem por objetivos principais erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes; proporcionar a proteção das sementes e plântulas contra fungos do solo e, eventualmente, da parte aérea, na
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fase inicial do seu desenvolvimento, promover condições de uniformidade na germinação e emergência; evitar o desenvolvimento de epidemias no campo; proporcionar maior sustentabilidade à cultura pela redução de riscos na fase de implantação da lavoura e promover o estabelecimento inicial da lavoura com uma população ideal de plantas. Esta prática é recomendada quando: as sementes estiverem contaminadas por fungos fitopatogênicos (determinado através da realização do teste de sanidade de sementes); as condições de semeadura são adversas, tais como ocorrência de chuvas muito pesadas, que provocam a formação de uma crosta grossa na superfície do solo, dificultando a emergência das plântulas, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solo com
Fotos Charles Echer
baixa disponibilidade hídrica, semeaduras em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade e principalmente em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas.
Fungos alvos no Brasil Phomopsis sojae Este fungo frequentemente reduz a qualidade das sementes de soja, especialmente quando ocorrem períodos chuvosos associados a altas temperaturas, durante a fase de maturação. Este patógeno está frequentemente associado às sementes que sofreram atraso na colheita, principalmente devido à ocorrência de chuvas. Phomopsis spp. é o principal agente causador da baixa germinação de sementes de soja, no teste padrão de germinação no laboratório, à temperatura de 25ºC. Colletotrichum truncatum É o causador da antracnose, que tem nas sementes o mais eficiente veículo de disseminação. É comum o aparecimento de sintomas nos cotilédones, que se tornam necrosados, logo após a germinação. Esse fungo pode causar a deterioração das sementes, morte de plântulas e infecção sistêmica em plantas adultas. Cercospora kikuchii O sintoma mais evidente do ataque deste
O principal efeito do tratamento de sementes ocorre logo após o plantio, até sete dias depois da emergência
fungo é observado nas sementes, que ficam com manchas típicas de coloração roxa. Porém, vale ressaltar que nem todas as sementes com este tipo de sintoma apresentam o fungo. Por outro lado, sementes aparentemente sadias (sem a presença da mancha púrpura no tegumento) podem estar contaminadas com este patógeno. Assim, só por meio do Teste de Sanidade de Sementes é que se pode ter certeza da presença ou não desse patógeno nas sementes. Trabalhos têm demonstrado não haver qualquer efeito negativo desse fungo
na qualidade da semente.
Fusarium semitectum (F. pallidoroseum) Dentre as espécies de Fusarium, a mais frequentemente encontrada (98% ou mais) em sementes de soja é o F. semitectum. É considerado patogênico por afetar a germinação em laboratório. De maneira semelhante a Phomopsis spp., o fungo F. semitectum está frequentemente associado a sementes que sofreram atraso na colheita ou deterioração
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Charles Echer
no campo.
Sclerotinia sclerotiorum Causador da podridão branca da haste e da vagem, este patógeno tem nas sementes a sua principal fonte de inóculo primário da doença. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleródios misturados às sementes. O fungo, devido à formação de estruturas de resistência (escleródios), é de difícil erradicação após introdução em uma área. Este patógeno produz apotécios sobre seus próprios escleródios, que são as estruturas de sobrevivência. Aspergillus flavus Diversas espécies de Aspergillus ocorrem em sementes de soja, porém a mais frequente é A. flavus. Tem sido observado que, em sementes colhidas com teores elevados de umidade, um retardamento do início da secagem por alguns dias é suficiente para reduzir sua qualidade devido à ação desse fungo. Quando encontrado em alta incidência, pode reduzir o poder germinativo das sementes e a emergência de plântulas no campo.
Tombamento
O tombamento de plântulas é a doença que normalmente aparece na fase inicial de desenvolvimento da soja, podendo ocorrer tanto na pré quanto na pós-emergência.
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Entre os patógenos responsáveis, destacam-se Rhizoctonia solani, Sclerotium rolfsii e Pythium spp. Na região Centro-Oeste do Brasil, principalmente na soja cultivada nos Cerrados, merece destaque o tombamento causado por R. solani, que é um fungo polífago, pois ataca um grande número de espécies vegetais. Este patógeno é habitante natural do solo. Pode ser transmitido pelas sementes, porém, raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse fungo. A planta atacada por R. solani desenvolve apodrecimento seco das raízes, estrangulamento do colo e lesões deprimidas e escuras (marrom-avermelhada) no hipocótilo, abaixo e ao nível do solo, resultando em murcha, tombamento ou sobrevivência temporária com emissão de raízes adventícias acima da região afetada. Estas plantas geralmente tombam, num período compreendido entre a pré-emergência e dez dias a 15 dias após a emergência.
Ferrugem asiática
Uma das doenças de maior importância no hemisfério oriental do planeta, devido à alta virulência com que incide, é a ferrugem asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi Syd. & P.Syd. Trata-se da principal doença dessa cultura em áreas tropicais e subtropicais. Perdas significativas e, em alguns casos, quase totais, têm sido relatadas nos países onde ocorre. No Brasil, a doença foi detectada
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em 2001 e desde a safra agrícola de 2003/2004, tem sido constatada em quase todas as regiões produtoras de soja. Segundo o Consórcio Antiferrugem, até a safra 2006/2007, perdas ocasionadas pela doença foram da ordem de 14 milhões de toneladas de grãos. No caso específico da soja, para o manejo da ferrugem asiática, a prática do tratamento de sementes é recente e vem sendo adotada em diferentes regiões produtoras no país. Isto só foi possível em função do advento dos fungicidas sistêmicos, principalmente os do grupo dos triazóis, o que abriu uma possibilidade viável de controle dessa enfermidade via semente na cultura da soja, pelo fato desses produtos possuírem características de penetração, translocação e efeito residual prolongado. Até o momento, somente o fungicida sistêmico fluquinconazole, pertencente ao grupo químico dos triazóis, tem registro para esse fim, o qual não substitui o tratamento químico convencional das sementes de soja, visando o controle de fungos das sementes e eventualmente de alguns presentes no solo. Deve-se ressaltar ainda que a sua adoção pode promover benefícios adicionais no controle desta doença, quando usado de forma integrada ao tratamento químico da parte aérea, dentro de um programa de manejo integrado da ferrugem da soja. Desta forma, esta prática voltada para o controle dessa doença pode ser considerada uma evolução no conceito do tratamento de sementes, como mais uma ferramenta visando o manejo dessa enfermidade.
Como fazer
O tratamento deve ser feito, preferencialmente, em tratadores de sementes, na unidade de beneficiamento (máquinas de tratar sementes). Durante a operação de tratamento, o fungicida sempre deverá ser aplicado em primeiro lugar, para garantir boa cobertura e a sua aderência às sementes. Isto também vale para a adição de grafite nas sementes de soja (prática bastante usual entre os produtores, que objetiva proporcionar melhor fluxo das sementes na semeadora), o qual deverá ser incorporado às sementes após a aplicação dos fungicidas. Entretanto, no caso da utilização de micronutrientes, a aplicação com fungicidas poderá ser feita de forma conjunta, antes da inoculação. Deve-se tomar cuidado para que o volume final da calda (fungicida + micronutriente + inoculante) não ultrapasse 300ml de solução para 50kg de sementes, pois o excesso de líquido pode causar danos às sementes, soltando o tegumento e prejudicando a germinação. Trabalhos recentes realizados em laboratório, casa de vegetação e campo demonstraram a viabilidade de utilizar volume de calda para o tratamento de sementes, antes da semeadura, de até 1.080ml/100kg de sementes, sem efeitos negativos ao desempenho
Vantagem financeira
fisiológico para lotes de alto vigor.
Escolha do fungicida
Para a escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo alvo do tratamento. Neste contexto, é sabido que, de forma variável, os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. Assim, a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores tem sido uma estratégia das mais eficazes no controle de patógenos das sementes e do solo, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Desse modo, verificam-se melhores emergências de plântulas no campo com a utilização de misturas, em comparação ao uso isolado de um determinado fungicida. Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes de soja com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolvimento da cultura (no máximo até sete dias após a emergência). Nesse período, ocorre eficiente proteção da soja, proporcionando a obtenção de populações adequadas de plantas em função da uniformidade na germinação e emergência. Entretanto, deve-se ressaltar que, caso as condições climáticas sejam favoráveis, após este período de proteção alguns fungos poderão se instalar nas plântulas de soja – o que é normal - em decorrência da perda do poder residual dos fungicidas, o que não significa que o tratamento foi ineficiente. A ação protetora dos fungicidas de contato caracteriza-se por formar uma zona protetora ao redor da semente, protegendo-a contra a ação de fungos da própria semente e do solo. Os fungicidas de contato apresentam pequeno poder residual e proteção por curto espaço de tempo, não sendo absorvidos pelas plântulas. Da mesma forma que os fungicidas de contato, os sistêmicos também protegem as sementes contra fungos da semente e do solo. Entretanto, devido às suas características de sistemicidade, são efetivos em doses pequenas, apresentam efeito protetor, curativo e erradicante, adaptam-se melhor a programas de manejo integrado e proporcionam proteção
Goulart alerta que a ressemeadura no sistema convencional representa 11,43% a mais no custo de produção
das plântulas por um período mais longo. Ao contrário do que muitos pensam, a ação sistêmica do fungicida aplicado na semente não se dá pela sua penetração no tegumento. Apenas um princípio ativo apresenta esta característica. É o fungicida mefenoxan, que após aplicado nas sementes, 20%-30% da dose aplicada penetra no tegumento. O restante percorre o caminho comum aos demais fungicidas sistêmicos, ou seja, parte é absorvida pelas sementes durante o processo de embebição e parte lixivia das sementes para o solo, sendo absorvida lentamente pelas radículas, raízes e radicelas que são emitidas pelas plântulas durante o processo de germinação e desenvolvimento da planta. Posteriormente é translocado acropetalmente (de baixo para cima), via xilema, protegendo as plântulas contra doenças nos estádios iniciais de desenvolvimento. Dentre os fungicidas de contato e sistêmicos, e suas misturas, recomendados para o tratamento de sementes de soja, os mais utilizados são: Derosal Plus e Protreat - 200ml/100kg de sementes (carbendazin+thiram); Vitavax-thiram – 250ml/100kg de sementes (carboxin+thiram) e Maxim XL – 100ml/100kg de sementes (fludioxonil+mefenoxan).
Em qualquer processo produtivo, um dos pontos mais importantes que o produtor considera é o aspecto financeiro. Levando-se em conta todos os gastos necessários para a produção da lavoura, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo, quando comparada com as demais. No caso da soja, o tratamento de sementes com fungicidas representa aproximadamente 0,6% do custo total de produção. Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência caso o tratamento de sementes com fungicidas não seja realizado, havendo, muitas vezes, a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor. No caso da soja, a ressemeadura no Sistema Convencional poderá representar 11,43% a mais no custo de produção. No Sistema Plantio Direto, em que a ressemeadura requer o uso de herbicidas, este prejuízo é maior, representando 17,93% a mais no custo de produção. A soja inicia o seu processo de germinação e logo após emerge rapidamente quando semeada em solos com boa disponibilidade de água e temperaturas adequadas. Quando essas condições não são satisfeitas, as sementes ficam armazenadas no solo à espera de condições favoráveis para começar esse processo. Durante esse tempo, a germinação e a emergência da soja ocorrem mais lentamente, proporcionando aos fungos do solo e da própria semente maior oportunidade de ataque, podendo causar sua deterioração ou a morte de plântulas. Nessas condições, torna-se imprescindível a utilização do tratamento das sementes de soja com fungicidas. Esta prática proporciona maiores benefícios quando as sementes ou a plântula é submetida a diferentes tipos de estresse durante as duas primeiras semanas após a semeadura. O tratamento das sementes com fungicidas promove uma zona de proteção contra os microrganismos do solo e previne a sua C deterioração nesse período. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste
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Trigo Fotos Dirceu Gassen
Quando controlar Plantas daninhas têm a capacidade de causar severos danos à cultura do trigo, seja pela competição que exercem ou pelo sombreamento provocado. No combate às infestantes é fundamental conhecer o momento exato de dar início às estratégias de contenção. Cultivares mais produtivas e cultivadas com alta tecnologia exigem o começo das medidas na fase de perfilhamento e que a cultura seja mantida no limpo até o alongamento das bainhas foliares. Porém, o produtor não pode esquecer que vários fatores estão envolvidos na definição dessas épocas e podem variar conforme a cultivar, o período de dessecação, a espécie predominante, a população e o clima
N
os últimos anos a produtividade brasileira de trigo foi a terceira que mais cresceu no mundo em razão do uso de cultivares mais produtivas, de novas tecnologias e da maior quantidade de insumos. Embora a produção de trigo no Brasil esteja abaixo do consumo, os preços do produto são baixos e as margens de lucro do agricultor estreitas, o que exige a maximização do uso de insumos, entre os quais o controle
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adequado de pragas, doenças e plantas daninhas. No trigo, como em outras culturas, as plantas daninhas são de extrema importância visto que competem por água, luz e nutrientes e podem causar danos acentuados na qualidade dos grãos e na produtividade da cultura se não controladas adequadamente. O diferencial do trigo em relação às culturas de verão, como milho e soja, está no crescimento
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da cultura, que devido à capacidade de emitir perfilhos proporciona a cobertura dos espaços livres na lavoura. Isso se deve também às diferentes espécies de plantas daninhas que compõem a comunidade infestante. No inverno, várias plantas daninhas ocorrem e afetam a produtividade do trigo. Em geral, as espécies de folhas largas predominam e entre as que mais ocorrem no início do desenvolvimento da cultura se destacam nabo
Figura 1 - Produtividade do trigo em função da época de inicio de controle das plantas Figura 2 - Produtividade de grãos do trigo em função da época de controle das plantas daninhas e estádio de desenvolvimento da cultura. Ponta Grossa (PR), 2004 daninhas (PAI). Ponta Grossa (PR), 2006
(Raphanus raphanistrum), serralha (Sonchus oleraceus), espérgula (Spergulla arvensis), estelária (Stellaria media), cipó-de-veado (Polygonum convolvulus) e língua-de-vaca (Rumex obtusifolius). No final do ciclo, as espécies ditas de verão começam a incidir, como o picão-preto (Bidens pilosa), o leiteiro (Euphorbia heterophylla), o picão-branco (Galinsoga parviflora), a guanxuma (Sida rhombifolia), entre outras. No entanto, a integração lavoura-pecuária e a rotação de culturas têm intensificado o uso de espécies como a aveia-preta (Avena strigosa) e o azevém (Lolium multiflorum) no inverno, como pastagem e/ou cobertura. As sementes dessas espécies permanecem no solo de um ano para outro, vindo a emergir junto com o trigo, apresentando alta capacidade de matocompetição e difícil controle, uma vez que apresentam características muito semelhantes às do trigo. No entanto, alguns trabalhos mostram que o controle inadequado de espécies de folhas largas, como o nabo, pode causar danos mais severos na produtividade, pois essa espécie incide em altas populações e causa um sombreamento acentuado sobre as plantas de trigo. No mercado atual existem herbicidas capazes de controlar tanto as espécies de folhas largas como a aveia e o azevém, especialmente quando ocorrem isoladamente. Mesmo não existindo uma diversidade de herbicidas como em milho e soja, os herbicidas disponíveis para o trigo atendem às necessidades da cultura, eliminando a maioria das espécies que ocorrem no inverno, desde que manejados adequadamente. Mesmo para o controle de aveia e azevém existem herbicidas seletivos e eficientes, que em geral são utilizados em função da espécie predominante. Para regiões com maior ocorrência de azevém, como no Rio Grande Sul, são utilizados produtos diferentes daqueles adotados no Paraná, onde predomina a aveia.
Pela característica do trigo em perfilhar, ter crescimento inicial rápido, ser cultivado em espaçamento reduzido e em altas densidades de sementes, o controle cultural exercido pela cultura é maior em relação à maioria das culturas agrícolas. Assim, em geral tem se observado apenas uma aplicação de herbicidas de pós-emergência, sem a devida atenção ao momento correto de aplicação, que é variável de acordo com a produtividade esperada. Pelo controle cultural exercido pelo trigo, poucas referências são encontradas atualmente sobre o momento correto de início de aplicação dos herbicidas, sendo recomendado o controle no começo do desenvolvimento da cultura, recomendação essa muito ampla em relação a uma cultura de fase vegetativa longa. Entretanto, quanto mais se almeja o aumento da
produtividade, maior atenção deve ser dada ao momento de início de controle e até o controle sequencial, realizado em outras culturas, deve ser empregado para melhorar a eficiência e atender os períodos críticos de competição. Alguns trabalhos mostram que o início do controle deve ser na fase de perfilhamento, porém, sem um momento definido e que possa ser recomendado aos agricultores. Nesse sentido, foram realizados experimentos em diversos anos para determinar a melhor época de início de controle nas plantas daninhas no trigo. No ano de 2004 foi realizado um experimento com quatro cultivares de trigo (CD-105, OR-1, Ônix e Alcover) e infestação de 17 plantas/m2 e 34 plantas/m2 de nabo e de aveia-preta, respectivamente, no qual foi observado (Figura 1) que não ocorreram
No mercado atual existem herbicidas capazes de controlar tanto as espécies de folhas largas como a aveia e o azevém, especialmente quando ocorrem isoladamente
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Fotos Jeferson Zagonel
Parcelas com alta infestação de aveia-preta (acima) e parcelas com controle da aveia (abaixo e à direita)
interações entre as cultivares e as épocas de início de controle das plantas daninhas, sendo o final do perfilhamento, ou final do estádio 3 da escala de Feeks e Large, considerado como a fase limite de início do controle. Em outro experimento, realizado em 2006, avaliaram-se a época de início de controle, o período anterior à interferência (PAI) e o período total de prevenção da interferência (PTPI) para cultivar Alcover e uma população de 25 plantas/m2 e 31 plantas/m2 de nabo e aveia-preta, respectivamente. Para o PAI (Figura 2), observou-se uma diminuição linear da produtividade com o atraso do início de controle, devendo ser realizado até 32 dias após a emergência para que a produtividade não seja afetada significativamente. Isso corresponde à fase de alongamento do colmo, quando as bainhas foliares estão alongadas, estádio 4 da escala de Feeks e Large. Com relação ao PTPI (Figura 3), a perda significativa de produção ocorreu quando o controle das plantas daninhas cessou antes de 35 dias da emergência. Assim, deve-se controlar as plantas daninhas até que as bainhas foliares estejam eretas, ou estádio 5 da escala de Feeks e Large. Nesse experimento, o
Zagonel e Eliana destacam a importância de adotar medidas de contenção na época correta
período crítico de prevenção da interferência (PCPI), aquele no qual a cultura deve ser mantida no limpo para que a produtividade não seja afetada, variou de 32 dias a 35 dias após a emergência, quando do alongamento das bainhas foliares. Portanto, pelo período calculado, com apenas uma aplicação, nesse intervalo, as perdas de produção não serão substanciais. Em 2009, um experimento mostrou que para uma infestação de nabo de mais de 40 plantas/m2, o PAI calculado foi de 21 dias após a emergência, o que corresponde ao início do perfilhamento ou final do estádio 2 da escala da Feeks e Large. Nota-se que nesse experimento a produtividade foi maior em relação aos anteriores e o período de início de controle foi antecipado (Figura 4). Os resultados do experimento realizado em 2006 mostram claramente a situação do controle das plantas daninhas em trigo, onde dentro do PCPI calculado a aplicação deve ser realizada entre 32 dias e 35 dias após a semeadura e, assim, apenas uma aplicação é suficiente para garantir o controle dentro das épocas adequadas. No entanto, nesse experimento assim como no realizado em 2004, a
produtividade máxima variou de 3.000kg/ha a 3.300kg/ha, dentro da média de produção do trigo. Para o experimento realizado em 2009, a produtividade máxima esteve próxima de 4.000kg/ha e o PAI calculado foi mais precoce, indicando a necessidade de antecipação do início do controle à medida que a produtividade aumenta. Nesse caso, uma segunda aplicação seria necessária para evitar que as plantas que incidissem após o controle não afetassem a produção, já que dos herbicidas atualmente em uso a maioria não apresenta ação residual. Os resultados dos experimentos sugerem que para as cultivares mais produtivas e cultivadas com alta tecnologia o controle deve ter início na fase de perfilhamento e a cultura mantida no limpo até o alongamento das bainhas foliares. Sem esquecer que vários fatores estão envolvidos na definição dessas épocas e podem variar conforme a cultivar, período de dessecação, espécie predominante e sua população e, principalmente, devido ao clima. C Jeferson Zagonel, UEPG Eliana Fernandes, Agrônoma
Figura 3 - Produtividade de grãos do trigo em função da época de controle das plantas Figura 4 - Produtividade de trigo em função da época de inicio de controle do nabo e daninhas (PTPI). Ponta Grossa (PR), 2006 estádio de desenvolvimento da cultura. Ponta Grossa (PR), 2009
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Empresas Fotos Cultivar
Arroz em destaque Syngenta reúne produtores, pesquisadores e distribuidores em evento no Rio Grande do Sul, para apresentar atuação da empresa na orizicultura
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proximadamente 138 pessoas, entre produtores, pesquisadores e distribuidores, participaram da 2ª Noite do Arroz, promovida pela Syngenta, em julho, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Com o slogan “A gente faz a nossa história no campo” a empresa reafirmou a intenção de atuar forte na cultura. A abertura coube ao engenheiro agrônomo e gerente de Cultura do Arroz, Felipe Fett. Em seguida foi a vez do diretor-geral, Laércio Giampani, que destacou a importância do arroz dentro da estratégia de crescimento da companhia. “A proposta de trabalho da Syngenta é formar uma parceria permanente com clientes, contribuindo com o seu sucesso, de forma ética, buscando a qualidade no conjunto de relações com os fornecedores, consumidores, funcionários, governo e comunidade em geral”, explicou. Além de assegurar o controle mais eficiente de pragas e doenças na lavoura, a empresa promete investir cada vez mais em soluções que contribuam para um ganho real de produtividade. Laércio destacou ainda a preocupação social da Syngenta. “O Brasil tem a maior área disponível para o plantio e as perspectivas são de que o
país assuma o papel de grande celeiro no mundo, preservando as florestas e o meio ambiente. Mas precisamos utilizar esses recursos de forma adequada, com profissionalismo e tecnologia”, lembrou. Na relação com os clientes a Syngenta diferenciou o atendimento por grupos de produtores, focando o seu trabalho nas necessidades específicas e não na simples comercialização de produtos. “A consequência foi o aumento de produtividade e
lucratividade”, afirma Giampani. Felipe Fett destacou a importância do evento. “As pessoas que se encontram aqui hoje, estão há um ano fazendo a história da Syngenta na cultura do arroz”, lembrou. No primeiro ano de atuação na cultura a empresa realizou 41 dias de campo, com participação de 2.558 agricultores. Outra novidade apresentada durante a 2ª Noite do Arroz foi o inseticida Volian Flexi, em C fase de registro no Brasil.
O engenheiro agrônomo e gerente de Cultura do Arroz, Felipe Fett, e o diretor-geral, Laércio Giampani, destacaram a importância do arroz como estratégia de crescimento da empresa
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Café
Floração x clima
O florescimento é uma das fases mais importantes do cafeeiro, capaz de influenciar na produtividade e na qualidade do produto. Altamente afetado pelo clima, exige que o produtor lance mão de recursos como o monitoramento agrometeorológico, importante ferramenta para auxiliar na tomada de decisões como a determinação de melhores épocas de podas, colheitas, necessidade de irrigação, além de proteção contra adversidades meteorológicas
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o Brasil, o cafeeiro (Coffea arábica) apresenta seis fases de desenvolvimento distintas: a) vegetação e formação das gemas foliares; b) indução e maturação das gemas florais; c) florada; d) granação dos frutos; e) maturação dos frutos; f) repouso e senescência dos ramos terciários e quaternários. O cafeeiro produtivo demora dois anos consecutivos para completar essas fases. No primeiro ano são formados os ramos vegetativos, com gemas axilares nos nós, que depois são induzidas a se transformarem em gemas florais. Posteriormente, essas gemas florais amadurecem, entram em dormência e tornam-se aptas para a abertura das flores (induzida principalmente por chuva ou irrigação abundante). O segundo ano inicia-se com a florada, seguida pela formação dos chumbinhos e expansão dos grãos, até seu tamanho normal. Após essa fase, segue-se a granação dos frutos (enchimento dos grãos), em pleno verão, de janeiro a março. A produção é finalizada com a maturação dos frutos, que ocorre a partir de abril. No encerramento da maturação os frutos apresentam toda a casca com coloração avermelhada ou amarelada, com as sementes formadas, estando
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prontos para serem colhidos. Além disso, o ramo vegetativo já está com praticamente todos os nós formados, cujas gemas florais definirão a próxima florada. Assim, o crescimento dos ramos novos depende da quantidade de frutos em desenvolvimento, e o volume de produção é proporcional ao vigor vegetativo, ao número de nós e gemas florais formadas na estação vegetativa anterior. O florescimento é uma das fases mais importantes do cafeeiro, pois resulta na produção de frutos que formarão os grãos de café. Compreende diversas etapas, como a indução floral, diferenciação floral, período de repouso e a abertura das flores (florada ou antese). Todas essas etapas dependem das outras fases de desenvolvimento do cafeeiro e são fortemente influenciadas pelas condições do ambiente, principalmente, a temperatura do ar e a precipitação pluvial, em menor escala os ventos, a umidade relativa do ar e a insolação. Nas principais regiões produtoras de café no Brasil, o período de chuvas começa em setembro/ outubro, indo até meados de março/abril, quando então, inicia-se o período de déficit hídrico, de maior ou menor
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intensidade, que se estende até o reinício das chuvas. As temperaturas ocorrem, aproximadamente, de acordo com o padrão de distribuição das chuvas (mais elevadas nos períodos chuvosos e mais amenas nos períodos secos). Sob essas condições climáticas, o período indutivo das gemas florais ocorre de fevereiro a junho. Os cafeeiros apresentam geralmente de duas a três floradas; quando a primeira ocorre no mês de agosto, a segunda florada ocorre no final de setembro e início de outubro (considerada a grande florada, responsável por mais de 90% da produção) e a terceira florada pode Figura 1 - Vegetação e frutificação do cafeeiro arábica abrangendo seis fases fenológicas durante 24 meses (Adaptado de Camargo et al., 2001) Período vegetativo Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Set Out Nov Dez Vegetação e formação Indução e maturação das gemas florais das gemas florais Período reprodutivo Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Set Out Nov Dez Granação Maturação Florada, chumbinho Repouso, dos frutos e expansão dos frutos dos frutos renescência ramos 3o e 4o Período reprodutivo Autopoda (novo período reprodutivo)
se dar em meados de novembro. Quando ocorrem mudanças nas condições climáticas, como, por exemplo, atraso no início das chuvas em setembro, o déficit hídrico impede o desenvolvimento das peças florais. Nessas condições, mesmo havendo a indução e a diferenciação floral, o botão já diferenciado não se transforma em flor, pois não há disponibilidade de água adequada para que o cafeeiro restabeleça o seu status hídrico e reative o desenvolvimento dos botões florais. A ocorrência de um déficit hídrico intenso associado a altas temperaturas durante o abotoamento e a florada pode levar ao abortamento de flores normais e também à formação de flores tipo “estrelinha”, fenômeno que ocorre pela desidratação precoce do botão floral. Estrelinhas são flores anormais com pétalas pequenas e de coloração esverdeada, que possuem maior índice de abortamento que as flores normais. Assim, quando as floradas coincidem com ocorrência de temperaturas máximas elevadas pode ocorrer queda na produtividade de café. Como as floradas coincidem com o início do rápido crescimento vegetativo, quando a seca é severa e prolongada, além da frustração da florada, o crescimento e desenvolvimento vegetativo também são prejudicados, acarretando frustração na safra futura. Outro detalhe é que quando há déficit hídrico no período chuvoso associado a altas temperaturas, em algumas lavouras, as gemas dos ramos produtivos que deveriam florescer na primavera se diferenciam em gemas vegetativas, o que pode influenciar negativamente na produtividade da próxima safra. O excesso ou a distribuição irregular de chuvas no período de seca, período de repouso, também prejudica o florescimento do cafeeiro, provocando uma floração atípica ou irregular. A floração atípica consiste de várias floradas em períodos diferentes, caracterizada por floradas de baixa intensidade em períodos longos de agosto até novembro. A ocorrência de vários períodos de chuvas alternados por períodos secos, durante o intervalo de fevereiro a junho,
causa vários ciclos de indução floral. Essas floradas atípicas, sem definição de uma ou duas principais, resulta em frutificação irregular, com frutos em diferentes estágios de desenvolvimento, o que dificulta a colheita e pode acarretar em diminuição da produção e da qualidade de bebida. Essas várias floradas fazem com que os frutos de café tenham amadurecimento desigual e podem resultar na antecipação da colheita, pois alguns frutos apresentam maturação adiantada. Assim, a colheita antecipada tende ao alto percentual de grãos verdes, o que contribui para diminuir a qualidade do café. Em regiões de clima quente e seco, onde a irrigação é fundamental para o desenvolvimento do cafeeiro, a uniformização das floradas tem sido alcançada pela tecnologia do estresse hídrico controlado que consiste na suspensão das irrigações por um determinado período. Essa tecnologia consiste em simular as condições que ocorrem em regiões tradicionais de cultivo, onde há um período de seca seguido de um período de chuva, ambos bem definidos. Quando o café é submetido ao déficit hídrico, a taxa de crescimento vegetativo tende a zero durante o período em que há a suspensão de irrigação, porém, após o retorno das irrigações ocorre desenvolvimento compensatório determinando crescimento vegetativo superior ao do cafeeiro irrigado durante todo o ano. Além disso, o uso do estresse hídrico ajuda na sincronia do crescimento dos botões florais, visto que tal procedimento força os mais atrasados ao desenvolvimento e inibe a abertura dos mais desenvolvidos. Vale ressaltar que para utilização dessa tecnologia é importante adequar o sistema de irrigação e a lâmina a ser aplicada depois do período de estresse, além da adequação das adubações de solo e foliares, pois as necessidades de irrigação e sua função no controle do florescimento são muito variáveis e dependentes da dis-
Desuniformidade de maturação do cafeeiro em resposta a floradas irregulares
Flores estrelinhas, fenômeno provocado pela desidratação precoce do botão floral
As gemas dos ramos produtivos que deveriam florescer na primavera estão sendo diferenciadas em gemas vegetativas
tribuição das chuvas, severidade da estação seca e do tipo e profundidade dos solos, ou seja, das condições edafoclimáticas da região de cultivo. De maneira geral, o clima é determinante na variabilidade da intensidade e da época do florescimento e, em última análise, da produção e da qualidade do café. Entretanto, algumas ações podem contribuir no sentido de atenuar os efeitos de condições climáticas adversas sobre o cafeeiro. Embora não se tenha como controlar muitos dos fatores climáticos, o monitoramento agrometeorológico da cultura do café surge como importante ferramenta para auxiliar na tomada de decisões do agricultor, como a determinação de melhores épocas de podas, colheitas, necessidade de irrigação, além de proteção contra adversidades meteorológicas. Outra medida consiste na utilização de cultivares com maturação mais uniforme e adaptadas às condições ambientais da região
Florada principal; o cafeeiro apresenta seis fases de desenvolvimento distintas e leva dois anos para que o processo ocorra de forma integral
de cultivo. Além disso, é de suma importância manter o cafeeiro em boas condições nutricionais e fitossanitárias, fazendo todos os anos o controle de pragas e doenças, como o bicho-mineiro, ferrugem, phoma e cercosporiose, além de realizar a correção do solo, as adubações no solo e foliar, entre outras práticas, como o controle de plantas daninhas.
Considerações finais
Em escala de produção, o conhecimento das fases de desenvolvimento do cafeeiro e dos fatores climáticos que as influenciam é importante para que sejam adotadas as práticas adequadas de cultivo, a fim de garantir uma cafeicultura sustentável e economicamente rentável. A noção, por exemplo, das datas previstas de florescimento, maturação e colheita, bem como as produtividades esperadas, possibilita preparar antecipadamente a maquinaria
necessária, mão de obra disponível, armazenagem, transporte, comercialização interna e/ou exportação do café. Nos últimos anos, modelos agrometeorológicos relacionando as condições ambientais com o desenvolvimento e a produtividade do cafeeiro estão sendo desenvolvidos para as regiões cafeeiras do Brasil. Esses modelos consideram que cada fator climático exerce um controle na produtividade da cultura, por influenciar determinados períodos críticos, como a indução floral, a floração, a formação e a maturação dos frutos dos cafeeiros. Essas informações são importantes para subsidiar programas de previsão de safras de café, que são importantes para o agronegócio, especialmente para o planejamento C econômico da atividade cafeeira. Vânia Aparecida Silva, Epamig
Floradas atípicas, provocadas por excesso ou distribuição irregular de chuvas no período de seca, são responsáveis por produzir frutos em diferentes estágios de desenvolvimento, o que prejudica a colheita, a produção e a qualidade do produto final
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Milho
Espigas infestadas
Lagartas Dichomeris famulata têm causado prejuízos em lavouras de milho no Brasil, tanto em produto destinado à semente como para o consumo como alimento ainda verde. Entre as recomendações para o controle da praga está o uso de iscas tóxicas, com o objetivo de eliminar as micromariposas antes que depositem seus ovos nos cabelos das espigas em formação
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taques de uma nova praga (Dichomeris famulata) a espigas do milho em formação vem sendo constatados há alguns anos. Marques & Nakano, em 2009 realizaram estudos detalhados deste inseto, já assinalado na Colômbia desde 1992, com prejuízos ao sorgo no Vale Del Cauca, em alta infestação. No Brasil, tem sido observada mais em espiga de milho em formação, destruindo apenas a base dos grãos, onde se situa o endosperma, o que prejudica a germinação futura das sementes, quando destinada ao plantio. No cultivo destinado à produção de sementes, o prejuízo passa a ser grande, porque o valor desse cereal para esse tipo de cultivo é bem superior à produção convencional. Mas existe também um mercado em que as espigas têm valor considerável, que é o de milho verde,
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Mariposas de Dichomeris famulata possuem aproximadamente 15mm de envergadura, coloração marrom-claro, com asas anteriores de cor marrom levemente esverdeado
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Lagartas em diferentes estágios de desenvolvimento
destinado à alimentação humana. A quantidade de lagartas encontradas no milho verde, segundo Menezes e outros (2009), foi em média de 15 a 49 no milho solteiro e de sete a 39 no milho em consórcio com o feijão. Mesmo sem levar em conta o dano quantitativo, ocorrendo aqui o que se chama de “conspurcação”, em que a espiga será rejeitada pelo fato de ser encontrada grande quantidade de lagartas mortas por ocasião do cozimento do milho verde, pois a praga ataca exatamente no período considerado crítico para a sua colheita. A rejeição da espiga leva a um prejuízo muito maior do que o ataque em alguns grãos por espiga, mesmo considerando o grão destinado a sementes, pois há uma tendência em refugar todo o lote de espigas pelo fato de serem encontradas lagartas mortas após o cozimento, sem levar em conta problemas de ordem legal. Mas o ataque da lagarta Dichomeris famulata não se resume apenas ao milho. Neste ano tem atacado também plantações de sorgo no Rio Grande do Sul, semelhante ao ocorrido na Colômbia, chegando a ser encontradas 42 lagartas por panícula, com uma perda estimada em três mil kg/ha. No sorgo, as mariposas fazem a postura nas espículas e, de preferência, sobre as rugosidades externas das glumas, no terço médio das panículas. Considerando que esta lagarta vive no interior da espiga do milho em palha, torna-se extremamente difícil atingi-la com defensivos. Marques & Nakano (2009) desenvolveram um processo para controlar os adultos que têm o hábito de se alimentarem, principalmente de substâncias adocicadas. O uso de iscas tóxicas tem sido recomendado, com o objetivo de eliminar essas micromariposas, antes
que depositem seus ovos nos cabelos das espigas em formação. Como a sua atividade noturna é intensa, acredita-se que não seja necessária uma ampla cobertura da área com a isca. Bastaria alternar as linhas de cultivo respingando a isca para que as mariposas possam se contaminar com esse alimento. O uso de isca tem a vantagem de não contaminar as espigas, pois as suas aplicações podem ser feitas nas folhagens, assim mesmo, em algumas folhas, na forma de respingos. A formulação recomendada é: para cada 100 litros de água, 50g de cartão ou 25,0g de metomil (ingrediente ativo), adicionado de mel ou melaço a 10%. A colocação dessa calda esborrifada, em linhas alternadas, na base de 200ml/10m de linha seria suficiente para dar uma cobertura, eliminando a praga da área, na época em que o milho começa a fase de en-
chimento dos grãos. A mariposa possui aproximadamente 15,0mm de envergadura. Possui coloração marrom-claro e a porção terminal das asas contém franjas curtas. As asas anteriores são de cor marrom levemente esverdeado com manchas escuras, sendo as asas posteriores marrom-claro, semelhante ao resto do corpo. Não foi observado dimorfismo sexual em relação ao tamanho. Entretanto, a fêmea pode ser diferenciada do macho pela fácil visualização externa da genitália. O acasalamento e a postura são realizados à noite, sendo que durante o dia as mariposas permanecem em repouso e se agitam ao serem tocadas. Os ovos são colocados isoladamente no cabelo das espigas e nas rugosidades da palha que as compõe. A duração média dos ovos é de quatro dias, com viabilidade de 63%. A lagarta tem ciclo de aproximadamente 21 dias, adquirindo, então, uma coloração alaranjada. Daí se dirige ao cabelo do milho para entrar na fase de pupa que é de aproximadamente seis dias. Normalmente as fêmeas são maiores que os machos e ocorrem na proporção de 1:1. A média de ovos colocados por fêmea é de aproximadamente 120 colocados em um período de 14 dias. A grande vantagem do uso de isca tóxica é a de que o período de pré-oviposição é de dez dias, durante o qual a mariposa procura alimento. Dessa forma há grande possibilidade de eliminá-la C antes da oviposição. Octavio Nakano, Esalq/USP
A) Detritos que a lagarta deixa sobre o grão; B) detalhe do detrito
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Cana-de-açúcar
Crescimento regulado Melhorar a qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar destinada à industrialização tem sido um dos desafios do setor no Brasil. Exigente quanto ao acúmulo de sacarose, a cultura necessita de maturação adequada, o que nem sempre ocorre de forma natural. Para auxiliar nesse processo o produtor precisa lançar mão de ferramentas como reguladores vegetais
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ciclo de cultivo comercial da cana para produção de açúcar e álcool pode ser dividido em três fases fenológicas ou de desenvolvimento: estabelecimento da cultura, crescimento vegetativo e maturação. No sistema de plantio cana de um ano e meio, ou 18 meses, a fase de estabelecimento da cultura ou inicial se caracteriza por um crescimento lento e tem duração de 120 dias a 200 dias após o plantio. Na fase de crescimento vegetativo a altura das plantas e a matéria seca acumulada aumentam rapidamente. Essa fase começa entre 120 dias e 200 dias depois do plantio e tem duração de 130 dias a 200 dias, quando acumula, em média, 75% da matéria seca total. A fase final ou de maturação da cultura é caracterizada por crescimento lento e é responsável por 11% da matéria seca, com duração de 100 dias e começa, em média, 400 dias após o plantio. O fornecimento de matéria-prima de qualidade tecnológica, a fim de propiciar extração econômica, é uma das maiores necessidades da indústria sucroalcooleira. Para que ocorra a maturação, há a necessi-
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dade de a cana-de-açúcar retardar seu crescimento para assim acumular mais açúcar. Conceitualmente, o processo de maturação fisiológica da cana-de-açúcar consiste em frear a taxa de desenvolvimento vegetativo sem, porém, afetar significativamente o processo fotossintético, de maneira que haja maior saldo de produtos fotossintetizados e transformados em açúcares para armazenamento nos tecidos da planta. Esta diminuição no crescimento da planta está relacionada às condições de estresse hídrico e/ou baixas temperaturas, que nem sempre ocorrem no início e no final de safra da cultura. Ainda, em algumas regiões do país, as condições climáticas no início e final da safra favorecem o desenvolvimento vegetativo em detrimento do acúmulo de sacarose, implicando em consequências negativas ao processo de maturação natural. Atualmente existem variedades melhoradas geneticamente, muito diferentes das cultivadas há 100 anos, e que são responsáveis pelos altos índices de produtividade
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alcançados nos dias de hoje. No entanto, apesar da diversidade de materiais genéticos, ainda enfrentamos problemas para atender todo período de safra, já que a safra na região Centro-Sul do Brasil se antecipa (março/abril) e ao mesmo tempo se estende (novembro/dezembro) a cada ano agrícola, com os mesmos teores de pol exigidos para moagem nos meses de junho e julho.
Reguladores vegetais
Técnicas agrícolas para melhorar a qualidade tecnológica da matéria-prima destinada à indústria têm sido adotadas. Destaca-se a aplicação de reguladores vegetais. Os maturadores, definidos como reguladores vegetais, referem-se a compostos químicos capazes de modificar a morfologia e fisiologia vegetal. Estes compostos podem ser aplicados em diferentes épocas (início, meio ou final da safra), com a propriedade de paralisar e/ou retardar o desenvolvimento vegetativo da cana-deaçúcar induzindo a translocação e o armazenamento dos açúcares, principalmente sacarose, podendo ocasionar modificações qualitativas e quantitativas na produção, sendo utilizados como instrumento auxiliar no planejamento da colheita e no manejo varietal. Dentre os produtos químicos utilizados como maturadores podem-se destacar: etefon, classificado como um regulador de crescimento; o sulfometuron-metil, que é um regulador vegetal do grupo químico das sulfonilureias; o ethyl-trinexapac, que reduz o nível de giberilina sem afetar a fotossíntese e a integridade da gema apical; o glifosato, um inibidor de crescimento que pode causar destruição da gema apical da planta e estimular a brotação lateral (prejudicando a qualidade da matéria-prima); entre outros como hidrazida maleica, o paraquat, o ymazapyr, o fluzifop-butil e o Ácido giberélico que inibem o florescimento, reduzem a isoporização e aumentam o teor de sacarose.
Viabilidade de uso
A viabilidade da utilização de maturadores no sistema de produção da cana-deaçúcar depende de uma série de fatores, sejam eles climáticos, técnicos, econômicos e, sobretudo, das respostas que cada variedade possa proporcionar a mais a esta prática de cultivo. São poucos os estudos que relatam as respostas da interação de mais de uma variedade a diversos maturadores, mas entre os existentes tem-se observado que para a maioria das variedades o emprego de maturadores antecipa a colheita entre 21 dias e 90 dias.
Etefon
O emprego de etefon, devido ao aumento da síntese de etileno, leva à inibição do crescimento do colmo e ao seu engrossamento, aumentando o teor de sacarose e antecipando a colheita. Tem mostrado significativa interação com diversas variedades, tais como IAC87-3396, IAC912195, IAC91-5155, PO88-62, RB72454, RB855113, SP80-1842 e SP81-3250. Entretanto, há exemplo de variedade que não respondeu a esse maturador, como é o caso da CTC5. Em variedades que florescem, esse maturador também tem apresentado
A viabilidade da utilização de maturadores no sistema de produção da cana depende de fatores climáticos, técnicos e econômicos
bom controle dessa característica e do chochamento, que está relacionado com o florescimento e a maturação da cana, e caracteriza-se pelo secamento do caldo no interior do colmo.
Sulfometuron-metil
Sulfometuron-metil possibilitou me-
lhoria da qualidade tecnológica de diversas variedades de cana-de-açúcar, ou seja, determinou resposta significativa com relação a ganhos na pol, aumentos na pureza e redução no teor de ácidos orgânicos do caldo e maior possibilidade de se produzir açúcar de melhor qualidade. Os ácidos orgânicos, e outros constituintes indese-
jáveis como polissacarídeos (amido), são responsáveis por aumentar a viscosidade de massas e méis e são precursores da formação de cores, como exemplo a relação aminoácidos e açúcares redutores, e diminuem a esgotabilidade do melaço devido à relação açúcares redutores e cinzas. CTC2, CTC9, IAC87-3396, IAC91-2195, PO8862, RB835486, RB845210, RB855453, SP80-1816, SP80-1842, SP81-3250, SP81-3280 e SP83-2847 são variedades que apresentaram boas respostas a esse maturador. Por outro lado, as variedades CTC5, CTC14 e IAC91-5155 não estão tendo ganhos de sacarose com a aplicação de sulfometuron-metil.
Ethyl-trinexapac
O ethyl-trinexapac atua no metabolismo da cana, reduz a produção do ácido giberélico, afeta e alarga as paredes celulares, facilitando, assim, maior acumulação de sacarose nos colmos. Essa melhoria antecipada na qualidade da matéria-prima tem melhorado o planejamento e a maximização de melhor aproveitamento agroindustrial nas variedades CTC2, CTC9, RB855453, SP80-1816, SP81-3250 e SP81-3280. Da mesma forma como para os demais maturadores, algumas variedades, como CTC14, não têm respondido a esse produto.
Glifosato
O glifosato é um herbicida que pode ser utilizado como maturador quando aplicado em doses reduzidas. Tem efeito maturador por propiciar a maturação artificial da cultura da cana-de-açúcar, por modificar a participação dos fotoassi-
Origem e importância
A
cana-de-açúcar ( Saccharum spp.) é uma espécie originária da Ásia que se adaptou às condições brasileiras, tornando-se uma das culturas de maior importância econômica do país. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial, sendo cultivada em todo seu território, com destaque para o estado de São Paulo, responsável por aproximadamente 60% da produção nacional. Silva: aproximadamente uma centena de variedades de cana-de-açúcar é ofertada aos produtores
milados deslocando-os e acumulando-os, na forma de sacarose, nos colmos ao invés da sua utilização no crescimento da planta, podendo promover melhoria no rendimento agroindustrial. As variedades RB72454, RB855453, SP81-3250 e SP83-2847 são exemplos de boas respostas a esse maturador. O glifosato também tem sido bem empregado em misturas com outros maturadores, por exemplo sulfometuron-metil e ethyl-trinexapac, com o objetivo de reduzir custos de aplicação desses produtos.
Efeitos na soqueira seguinte
Apesar dos efeitos positivos, alguns reguladores vegetais utilizados como maturadores podem ter efeito prejudicial na soqueira seguinte. Em algumas pesquisas foram observadas reduções na produção na soqueira posterior à aplicação de glifo-
sato. Doses de glifosato superiores a 0,43L i.a. ha-1 podem causar retardamento do processo de brotação e no crescimento da cultura no ciclo seguinte, além de causar amarelecimento severo e dessecamento das plantas. Por outro lado, também existem resultados onde não foram encontrados efeitos negativos na soqueira subsequente. Possivelmente, os resultados podem variar em função da variedade, do tempo de colheita após a aplicação e das condições climáticas do período de avaliação. Por outro lado, pesquisas com outros agentes químicos têm demonstrado que não há interferência negativa ou até mesmo algum efeito positivo na rebrota e na produtividade da soqueira seguinte. Sulfometuron-metil não tem produzido efeito negativo no ciclo seguinte quando aplicado como maturador e, ainda, há casos que a aplicação de etefon promoveu maiores produtividades de colmos e de açúcar na cana-soca subsequente. Atualmente, aproximadamente uma centena de variedades de cana-de-açúcar é ofertada aos produtores, mas apenas algumas possuem estudos de comportamento sob uso de maturadores. Nesse contexto é interessante ressaltar que se deve levar em consideração que as respostas das variedades em função dos produtos maturadores são dependentes da própria variedade, da época de aplicação, da condição de clima e de solo do local, da condição da cultura no momento ou após a aplicação (por exemplo, colmos tombados podem ter menor eficiência de absorção do produto) e do conhecimento do modo de ação das moléculas na cana-de-açúcar. Portanto, o produtor ou empresa sucroalcooleira deve considerar esses fatores para encontrar o melhor retorno agrícola, industrial e econômico. C Marcelo de Almeida Silva, Apta
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Empresas
Aposta nos grãos
Fotos Cultivar
FMC lança Clube da Soja e estabelece metas para alavancar a participação no mercado, com base na experiência acumulada pela companhia nas culturas de cana e de algodão
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ançado em julho, em Salvador, na Bahia, o 1° Clube da Soja reuniu 88 dos maiores sojicultores brasileiros, responsáveis por aproximadamente 10% da área plantada com a oleaginosa no país. Promovido pela FMC, se soma aos já tradicionais clubes do Algodão e da Cana, desenvolvidos pela empresa, que nos próximos quatro anos pretende se consolidar no mercado de grãos e repetir os bons resultados alcançados nas outras duas culturas. O diretor-presidente da FMC, Antonio Carlos Zem, explicou que o objetivo é melhorar a posição da empresa no mercado de produtos voltados ao cultivo de grãos. “Somos líderes no fornecimento de defensivos agrícolas para as lavouras de cana-de-açúcar e de algodão e para nos tornarmos ainda maiores precisamos investir na soja.” Nos próximos quatro anos a meta da empresa é de estreitar laços com os 200 maiores produtores de soja do Brasil. “Temos a tecnologia, agora precisamos conhecer nossos clientes e criar intimidade com eles. Esse é o principal objetivo do Clube da Soja, entender o que o cliente precisa para o crescimento do seu negócio, qual o seu maior desafio organizacional e atender a essas necessidades”, explicou o diretor-presidente. Dentre as ações previstas para a aproximação com os produtores de soja está a gestão empresarial, através de treinamentos que a FMC irá oferecer ao empresário rural. Outro foco da empresa será o processo de sucessão. “A participação das esposas nesses encontros é fundamental,
pois elas ocupam papel muito importante na administração da propriedade. A cada encontro teremos atividades pensadas exclusivamente para elas”, explicou.
Lançamentos de produtos
Até 2014, a FMC pretende lançar 40 produtos entre inseticidas, herbicidas e defensivos para tratamento de sementes, cujos registros já estão em andamento. Em no máximo três anos, a FMC planeja, também, a oferta de produtos biológicos. Os biodefensivos são um dos potenciais mercados para aquisições pela FMC, segundo Carlos Alberto Baptista, diretor comercial de Vendas. “Temos resultados muito bons no Brasil com produtos biológicos importados. A estratégia para novos produtos
é diversificar o portfólio, seja por meio de aquisições ou de pesquisa e desenvolvimento”, explicou.
Atendimento aos produtores
Segundo Carlos Alberto Baptista, a FMC atenderá diretamente aos agricultores das regiões Norte e Nordeste do país, áreas com potencial para expansão agrícola. Quanto aos produtores do Sul, continuarão sendo atendidos por meio de revendas (que estão recebendo contínuo treinamento). Promovido pela FMC, o Clube da Soja teve patrocínio da Case IH e Hering, além do apoio da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT). C
Zem e Baptista anunciaram que até 2014 a FMC pretende lançar 40 produtos entre inseticidas e herbicidas
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Coluna ANPII
Objetivos comuns
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Relare reúne pesquisadores, representantes de entidades e empresas para discutir os rumos de tecnologias como a inoculação de feijoeiro e gramíneas
Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare), entidade sem fins lucrativos, formada por pesquisadores e empresas produtoras de inoculantes, reuniu-se em sua XV assembleia em junho, em Curitiba. A Relare foi fundada em 1985, por inspiração do professor J. R. Jardim Freire, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Secretaria da Agricultura do estado gaúcho, com a finalidade de traçar os
podem servir de balizamento técnico para o próprio Mapa. Entre pesquisadores, técnicos do Ministério e representantes de empresas, a reunião contou com aproximadamente 60 pessoas. Dois grandes eixos nortearam as discussões desta XV Relare: a inoculação do feijoeiro e a nova tecnologia da inoculação em gramíneas com bactérias do gênero Azospirillum, mostrando sintonia com os avanços do agronegócio no país e trazendo mais contribuições para uma agricultura sustentável.
à base de Azospirillum para uso em gramíneas, em especial para milho, trigo e arroz. A ANPII participou da reunião, bem como suas empresas associadas, trazendo a visão do setor privado sobre o panorama da FBN no Brasil e discutindo ações sobre como continuar no processo de melhoria contínua dos inoculantes comercializados no país. A entidade lançou o Edital do Fundo de Amparo à Pesquisa, onde abriu a possibilidade de apresentação de projetos de pesquisa pelas entidades, com financiamento pelo fundo de
A inoculação do feijoeiro permaneceu por vários anos com muito pouca divulgação, sendo que a pesquisa continuava a gerar resultados mostrando a viabilidade desta tecnologia rumos para uma uniformização dos conceitos e das ações relacionadas à Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN). Unindo os esforços das entidades de pesquisa e das empresas produtoras de inoculantes em torno de objetivos comuns, a tecnologia da FBN evoluiu de forma mais organizada e muito mais velozmente, possibilitando que o Brasil se tornasse o país com maior uso de inoculantes do mundo. A reunião deste ano contou, mais uma vez, com a presença de agrônomos do setor de fiscalização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que contribuíram para a discussão dos trabalhos, compatibilizando os objetivos da fiscalização, essencial para garantir a qualidade dos inoculantes comercializados no Brasil, com os conhecimentos dos pesquisadores presentes à reunião. Durante muitos anos a Relare vem se constituindo em gerador de ideias que, inclusive,
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A inoculação do feijoeiro permaneceu por vários anos com muito pouca divulgação, sendo que a pesquisa continuava a gerar resultados mostrando a viabilidade desta tecnologia. Nesta reunião foram mostrados diversos benefícios que comprovam a viabilidade da inoculação do feijoeiro, com aumentos de produtividade significativos em relação a parcelas não inoculadas. Os pesquisadores ficaram de coletar e consolidar todos os dados de pesquisa até então existentes para elaborar um folheto de divulgação mostrando as vantagens econômicas do uso da FBN na cultura do feijão. Com relação aos inoculantes para gramíneas, também foram apresentados resultados de pesquisa que indicam a viabilidade desta tecnologia, altamente promissora para reduzir o uso de nitrogênio mineral na agricultura brasileira. Os órgãos de pesquisa também irão reunir os dados existentes para consolidar ainda mais a recomendação de uso de produtos
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pesquisas. Este fundo já tem financiado diversos trabalhos realizados por vários pesquisadores, tendo, inclusive, financiado parcialmente o Banco de Estirpes existente na Fepagro, em Porto Alegre, banco este fundamental para todo o trabalho de FBN no Brasil. Os termos do Edital encontram-se disponíveis no site da ANPII: www.anpii,org.br. Ao final da reunião foi eleita a nova diretoria da Relare para o biênio 2010/1011: presidente – Eliane Villamil Bangel, da Fepagro; vice-presidente - Ricardo Araujo, da empresa Total Biotecnologia; secretária – Mariângela Hungria, da Embrapa Soja. A ANPII deseja pleno sucesso à nova diretoria e coloca-se à disposição para colaborar no que for necessário para que as metas traçadas sejam atingidas, fortalecendo ainda mais o uso do nitrogênio biológico na agriC cultura brasileira. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
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Valor agregado no agronegócio
esde o início de minha vida profissional ouço o leitmotiv da necessidade de agregação de valor ao nosso produto agrícola. Neste exato momento, a sociedade brasileira discute o fenômeno da desindustrialização de diversos setores da economia do País, flagrada pela relação crescente entre o valor da exportação de matérias-primas e de produtos industrializados. O agronegócio toma outro rumo: de renitente exportador de matéria-prima, paulatinamente o Brasil trilha a senda de agregação de valor, cujo exemplo mais completo está na cadeia de aves, pois exportamos porções temperadas e pré-cozidas de frangos abatidos voltados para Meca, ou seguindo os preceitos Kosher. No entanto, não necessariamente precisamos de processos industriais caros e complexos para agregar valor ao produto agrícola.
aditivos químicos em bebidas energéticas tipo Red Bull ou Flying Horse. Empresas dos EUA, Suíça e Noruega compram a erva brasileira para conferir apelo saudável a seus produtos. O produto também é vendido como antioxidante e como aromatizante de pães, arroz e sorvetes na Coreia. Em busca de agregação de valor com processos inovadores, a Café Bom Dia conseguiu associar sua marca ao apelo sustentável e orgânico. Com um produto tipo “especial” certificado (nicho onde os preços triplicam) a empresa fez um documentário para mostrar o processo de produção, casando conceitos e transferindo atributos, aproveitando uma singular oportunidade de posicionamento mercadológico. Na mesma linha, a empresa salienta que seu café especial é o primeiro com carbono neutro. No eixo desta estratégia de incorporação de valores que são atrativos para consumidores informados e
África e Oriente Médio. Com esta estratégia inovadora, garante sua presença nestes nichos nobres do mercado. O que parece ser um mercado pequeno e restrito pode descortinar boas oportunidades para empresários que atuem criativamente na agregação de valor. A Ruette Spices, terceira maior exportadora mundial de pimenta e especiarias, alcançou seu 100º mercado com um processo inovador que descarta o uso de álcool industrial no tratamento da pimenta. Um secador rotativo elimina, pelo calor, o risco de mofo e reduz a umidade a 8%. E rende um adicional de US$ 100,00 por tonelada pela inovação (a tonelada de pimenta vale hoje US$ 2,9 mil no mercado internacional). Porém, a empresa não vai ficar “deitada eternamente no berço esplêndido” deste avanço e investirá US$ 1 milhão para comprar uma fábrica de esterilização a vapor,
Com a incorporação de tecnologias mais sofisticadas para agregação de valor, o preço mais elevado abre mercados mais remuneradores, porém mais exigentes Existem outros exemplos recentes de como processos tecnológicos inovadores geram produtos de alto valor agregado, conquistando novos mercados, elevando as margens e reduzindo a dependência da balança comercial em relação a commodities. Na última edição da feira alemã Anuga (o maior evento global na área de alimentos e bebidas), empresas brasileiras lançaram produtos para garantir o avanço em nichos específicos de mercado. A indústria de massas J. Macêdo lançou a farinha de trigo embalada a vácuo, cativando os importadores pelo maior prazo de validade, por reduzir em 30% o espaço nos caminhões, eliminando avarias das embalagens de papel e, portanto, evitando contaminações. A inovação reduz custos e eleva as margens em até 40%. A empresa usou o novo produto, junto com a gelatina e as misturas de bolo sem adição de açúcar, para deflagrar a meta de garantir 12% de seu faturamento com as vendas no exterior até 2020.
Nichos
Até pouco tempo com consumo limitado à América do Sul, a erva-mate já é exportada como extrato concentrado para substituir
exigentes, a empresa exporta para 22 países da Ásia, Mercosul e Estados Unidos. Por vezes a agregação de valor é um detalhe intuitivo, não percebido pela concorrência. A Brasfrigo, líder nacional em conservas de milho e ervilha, lançou na feira da Alemanha uma nova embalagem. Seu diferencial: não requer tesoura para cortar. Um produto feito sob medida para mercados mais exigentes, que buscam praticidade. Apesar de parecer uma inovação simples, o fato é que nenhum concorrente havia lançado um produto similar, o que ensejou múltiplos negócios à Brasfrigo durante a Anuga.
Criatividade
Para abrir novos mercados, a Laticínios Tirolez buscou a diferenciação oferecendo um tipo de queijo embalado a vácuo, em pequenas latas. O principal atrativo do produto é a dispensa de refrigeração. Este é um mercado exigente, porém, remunerador. A previsão é de que a empresa, que exportará US$ 5 milhões neste ano, também ofereça a ricota cremosa ao mercado gourmet e o requeijão para o segmento food service e como ingrediente para indústrias alimentícias dos EUA,
que permitirá adicional de US$ 400,00 por tonelada do produto exportado. O último exemplo vem do mel. Em busca de valor agregado, o apiário Lambertucci, de Rio Claro (SP), criou o pólen de mel desidratado para ser usado como cereal no café da manhã. O apelo mercadológico é a tonificação da pele, cabelo e músculos. O produto tem forte demanda nos EUA, Europa, Oriente Médio e Japão. O pólen é rico em fibras, proteínas e aminoácidos essenciais. A agregação de valor não beneficia exclusivamente o empresário industrial. Com a incorporação de tecnologias mais sofisticadas para agregação de valor, o preço mais elevado abre mercados mais remuneradores, porém mais exigentes. Logo, as exigências serão transferidas para a matéria-prima, abrindo mercados para nichos (orgânicos, carbono neutro, alimentos funcionais), com crescentes requisitos de qualidade certificada, o que significa maior remuneração para a matériaC prima da indústria.
Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Demanda de alimentos segue os bons ventos da economia mundial O mercado mundial de alimentos, em especial grãos, apresenta demanda fortemente pressionada, acima das expectativas. Há um fator importante sendo reavaliado: o crescimento mundial alcançou 4,6%, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). O índice é nada menos que o dobro do estimado no começo deste ano, sendo puxado principalmente pelo forte crescimento da Ásia, onde os países estão rondando a faixa dos 10% de crescimento. A China, por exemplo, supera os 12% e pela primeira vez a Índia bate à porta dos 10%. Outra boa notícia é a entrada do Brasil no time dos países de maior crescimento (segundo o FMI o país deverá alcançar o recorde de 7,1% de crescimento). O forte crescimento da economia destes países traz junto o aumento do consumo de alimentos e cria apoio importante às cotações internacionais. Outro fator que trará grandes reflexos na demanda dos países importadores é o clima, que neste ano tem feito estragos na Ásia, Europa e América do Norte, e já dá sinais de que irá afetar partes do sul da América do Sul a partir do final de 2010. Todos fortemente afetados pelo fenômeno La Niña, responsável por chuvas em excesso e inundações em pontos localizados no sul da Ásia, seca em boa parte do norte e centro Asiático e altas temperaturas na Europa. Estima-se também que agosto poderá ser seco e muito quente sobre as lavouras dos EUA, fato já observado em julho no Canadá, onde houve danos às lavouras como trigo (primeira cultura afetada), com grandes perdas na produção mundial de 2010/11 (além de ter promovido uma verdadeira disparada das cotações em julho). Houve alta de 30% nos valores do mercado futuro de Chicago somente na primeira semana de julho. Com o trigo prejudicado, aumenta a demanda por milho e soja, que entram como substitutos em ração e principalmente como participantes diretos na alimentação. O fator energia continuará favorecendo grãos, tanto para etanol como para biodiesel. Aumentará a demanda de grãos nos próximos anos, porque as legislações estão sendo ajustadas na maior parte dos países, obrigando a mistura do etanol à gasolina ou do biodiesel ao diesel com o objetivo de diminuir a poluição. Fator que também ajuda a manter as cotações em alta. Observaram-se reflexos no milho e na soja em Chicago. Ambos tiveram as maiores cotações do ano em julho e podem ir muito acima se o clima confirmar a expectativa de seca nos EUA em agosto. Abre-se uma grande janela de lucros para os produtores brasileiros na safra nova que começará a ser plantada em setembro e está na fase final de planejamento em agosto.
MILHO Pregão de PEP criou liquidez
A safrinha do milho chegou antes de ser consumida nem a metade da safra de verão. Com isso, há grandes estoques e pouco capital de giro dos produtores e consumidores, fazendo com que as cotações se mantivessem fracas. Desta forma o governo programou 12 pregões de PEP e Pepro que começaram em julho e devem ir até o final de agosto, com expectativa de criar liquidez para 12 milhões de toneladas. Mesmo assim, os produtores reclamaram que os preços não estavam reagindo e apenas deixando de cair mais, porque rodavam dos R$ 6,50 aos R$ 11,00 no Mato Grosso (muito abaixo do preço mínimo local que supera os R$ 13,00). A pouca movimentação no Sul, onde a colheita da safrinha e a baixa capacidade de armazenagem fizeram com que as cotações locais também recuassem, serve de apelo negativo para o novo plantio da safra de verão 2010/11. Os produtores acenam com redução de área de 15% a 30% abaixo do ano passado, que já teve menos de oito milhões de hectares plantados. A atenção se volta então para o mercado externo, que de agora em diante poderá trazer apoio e fortalecer as cotações internas. Os preços já se encontram nos níveis internacionais e tendem a não baixar mais, com espaço externo para crescer de agosto em diante.
SOJA
Chicago acima dos US$ 10 estimula novo plantio A soja teve em julho os melhores momentos desde janeiro. Com isso criaram-se oportunidades e a promoção de muitos negócios da safra nova, favorecendo o fechamento do produto disponível. Com grande movimento de trocas de soja futura por insumos, negociação essa que se encontra em um dos seus melhores momentos. A corrida para os negócios sinaliza que haverá forte crescimento no plantio da safra que vem pela frente. Com indicativos de ultrapassar as 24 milhões de hectares, frente aos pouco mais de 23 milhões de hectares plantados neste último ano. O mercado trabalhou na base dos portos, na faixa dos R$ 43,50 em julho e com reflexos positivos no mercado interno, com níveis dos R$ 30,00 aos R$ 39,50 nas regiões produtoras, com alta de R$ 4,00 por saca frente às cotações do mês anterior. Para a safra nova os indicativos são entre os US$ 16,50 aos US$ 22,00 por saca (para safra ou troca de insumos), também melhorando pelo menos US$ 2,00 no mês.
tem colheita prevista para final de julho e agosto. O novo produto certamente irá encontrar mais compradores do que vendedores, porque haverá disputa entre empacotadores e vendedores de sementes pelo grão de excelente qualidade que está sendo colhido. Com isso o mercado mostra novamente fôlego para alcançar a faixa dos R$ 200,00 (Carioca) e R$ 120,00 para o feijão Preto de boa qualidade. A expectativa é de que as cotações sigam firmes, mesmo em plena colheita e com pouco produto novo esperado até novembro.
ARROZ Chegou a hora da alta
O mercado do arroz se manteve em marcha lenta desde fevereiro, com a colheita abastecendo as necessidades das indústrias e com pouco espaço para reação. Tudo isso em pleno período de forte quebra de safra. Somente no Rio Grande do Sul foi 1,2 milhão de toneladas perdidas pelas inundações. Necessitados por fazer caixa os produtores tiveram que ir vendendo e somente em julho conseguiram segurar a oferta (melhor alternativa para puxar as cotações). Com isso os preços devem começar a fluir para cima em agosto, com espaço para avançar, porFEIJÃO que o quadro de abastecimento mostra-se bastante Terceira safra em colheita A oferta de feijão agora é da terceira safra, que apertado para o restante do ano.
CURTAS E BOAS TRIGO - O plantio da safra se deu com redução frente ao ano passado (com pouco menos de dois milhões de hectares, apesar dos números oficiais mostrarem algo acima). Agora, a expectativa é pela forma como o clima irá se comportar em agosto. Se continuar trazendo chuvas pode prejudicar a safra. Em julho houve geadas fortes nas regiões produtoras, o que não prejudicou as lavouras, que se encontravam em fase de crescimento vegetativo. O mercado tende a puxar as cotações no segundo semestre, porque o produto importado ficará mais caro diante das grandes perdas no mercado mundial (o que irá puxar os valores finais por aqui também). ALGODÃO - O mercado seguia de olho na colheita em julho, com a safra mostrando boa qualidade e boas cotações aos produtores. A safra mundial teve redução, as cotações avançaram e novamente estão estimulando os cotonicultores que já venderam muitos contratos futuros. Novamente o algodão voltou a trazer estímulo aos produtores do Centro-Oeste e Nordeste, que devem aumentar a área de cultivo nesta nova safra. EUA - A safra está sendo afetada pelo fenômeno La Niña e neste mês de agosto estará na fase decisiva. Há previsão de seca e calor, o que poderá comprometer a produção apontada em mais de 91 milhões de toneladas para a soja e de 336 milhões de toneladas para o milho. Números que podem acabar comprometidos neste novo mês. CHINA - As lavouras do Norte do país foram fortemente prejudicadas pela seca, com grande atraso no plantio de milho (segundo o USDA a China irá colher 166
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milhões de toneladas, mas apontamentos locais indicam que se alcançar 150 milhões de toneladas já será uma boa safra). A maior parte das áreas foi plantada tardiamente e correm risco de perdas pelas geadas que chegam de setembro em diante, quando as plantas estarão em formação das espigas, enquanto já deviam se encontrar em maturação. A soja também teve problemas e mostra forte perda no potencial produtivo, o que irá aumentar as importações do país, que já sinalizava para a compra de 5,8 milhões de toneladas da oleaginosa em julho. ÍNDIA - O clima mostrou em julho chuvas 14% abaixo da média dos últimos 50 anos. Desta forma as plantações foram prejudicadas e, para piorar, houve irregularidade no quadro, com inundações no sul e seca no centro e norte do país. Com grandes perdas na safra, os indicativos são de que a cana-de-açúcar terá crescimento de 12% no plantio e irá para os 4,7 milhões de hectares, avançando sobre áreas de lavouras de grãos. ARGENTINA - A colheita fechou cheia, mas o país já tem estudos que apontam que o fenômeno La Niña vem cobrar a conta. A seca e o calor devem se intensificar na primavera e principalmente no verão, quando as lavouras estarão nos campos. Assim, da previsão de 55 milhões de toneladas de soja, 22,5 milhões de toneladas de milho e aproximadamente 1,2 milhões de toneladas de arroz, esperam-se perdas estimadas ao redor dos 10%. O milho pode ser a cultura mais prejudicada. Enquanto aguarda-se que a queda na soja reduza a produção para aproximadamente 50 milhões de toneladas, o milho tende a cair para 17 milhões de toneladas neste novo ano.
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