Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 137 • Outubro 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas capas
Leila Maria Costamilan
Antecipe-se ao clima............................22
Bayer
Com a previsão de La Niña para a próxima safra no Brasil, saiba que doenças tendem a se tornar mais agressivas e como reagir aos desafios impostos pelo menor volume de chuva
Cana brocada............................12 Amônia preservada.....................16 Maçã podre...............................18 Monitorar o canavial criteriosamente é o primeiro passo para obter êxito na batalha contra brocas que afetam a cultura
Como preservar as propriedades da ureia, utilizada como fonte de nitrogênio para a cultura do milho
Índice
A importância de estar atento ao controle de pragas como bicudo e percevejo dentro do manejo da podridão da maçã no algodoeiro
Expediente
Diretas
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Embalagens verdes à base de cana
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Manejo de brocas em cana-de-açúcar
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Propriedades da ureia preservadas em milho
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Podridão das maçãs em algodão
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO Gilvan Dutra Quevedo
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
Aline Partzsch de Almeida Rosimeri Lisboa Alves
Suporte nutricional em soja
28
Inoculação em soja
32
Adubação em soja
36
Cuidados iniciais na cultura do arroz
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Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Outubro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Top Ciência Basf
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Diretor Newton Peter
Conferência mundial Bayer 2010
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www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br
Coluna ANPII
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Coluna Agronegócios
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CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
Letícia Gasparotto Ariani Baquini
• Secretária
22
Pedro Batistin Sedeli Feijó
• Editor
La Niña e intensidade das doenças
Mercado Agrícola
• Vendas
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Portfólio
A Basf destacou durante o 43° Congresso Brasileiro de Fitopatologia, em Cuiabá, tecnologias e inovações para o manejo em diversos cultivos. Entre os produtos estiveram em evidência o Standak, o Comet, o Opera e o Cabrio Top.
Fungicida
No estande da Bayer CropScience os participantes puderam conferir de perto os benefícios do Sphere Max. “Trata-se de um fungicida recomendado para o controle do complexo de doenças que prejudica de forma significativa as lavouras brasileiras de soja”, explicou o gerente de Produtos Fungicidas da Bayer, Eduardo Mazzieri.
Eduardo Mazzieri
Foco na soja
A participação da Bayer CropScience na 43ª edição do Congresso Brasileiro de Fitopatologia teve como foco principal a cultura da soja. O destaque ficou por conta das tecnologias de controle do complexo de doenças, em especial a ferrugem. O agrônomo de pesquisa da empresa, Marco Fujino, falou sobre a inovação no controle da ferrugem asiática da soja com um novo grupo químico descoberto pela empresa.
Bota
Durante a abertura do 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia (CBF) foi anunciado o vencedor do Troféu “Bota Dr. Álvaro Santos Costa”. Neste ano o agraciado foi o pesquisador Erlei Melo Reis, da Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. A entrega do troféu foi feita por Laércio Hoffmann, da Syngenta.
Marco Fujino
Ferrugem asiática
Durante o 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia a pesquisadora Cláudia Vieira Godoy abordou a “Situação atual, perspectivas e desafios no manejo da ferrugem asiática da soja”. Em sua apresentação destacou técnicas de manejo, entre elas o monitoramento constante da lavoura, porque além da ferrugem outras doenças como a antracnose e o mofo branco também trazem significativos prejuízos.
Cláudia Godoy
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Laércio Hoffmann, Gilson e Erlei M. Reis
Ferrugens
“Ferrugens: a constante ameaça e os desafios para o seu manejo” foi o assunto abordado pelo engenheiro agrônomo Laércio Luiz Hoffmann durante o 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Hoffmann fez uma retrospectiva sobre o manejo da ferrugem asiática nos últimos dez anos. Destacou também a ferrugem alaranjada, doença que começou a ser identificada nos canaviais brasileiros no final de 2009. Causada pelo fungo Puccinia kuehnii, se prolifera principalmente por meio da dispersão dos esporos pelas correntes aéreas.
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Laércio Hoffmann
Nematoides
Durante o 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia o pesquisador Jaime Maia dos Santos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), abordou a problemática de nematoides. Segundo Santos trata-se de praga previsível e a falta de controle ocasiona aumento da população nas lavouras. Como consequência tem-se a perda de produtividade. Estudos apontam que os nematoides podem inviabilizar o uso do solo. O especialista recomenda a adoção sistemática de práticas de manejo que interrompam o ciclo de vida dos nematoides. O momento para adotar esta prática ocorre no período do plantio de segunda safra (safrinha). É importante, após a safra da soja, gradear a área e semear milheto, que não hospeda os nematoides. Na próxima safra já se pode plantar soja novamente.
Cropstar
A Bayer CropScience realizou 29 eventos nas principais regiões produtoras do Sul do Brasil Sul para lançar o inseticida Cropstar para as culturas de soja, algodão, trigo, feijão, arroz, amendoim, cereais de inverno, girassol, mamona e sorgo. O CropStar é um inseticida de uso exclusivo para tratamento de sementes e seu grande diferencial é o controle conjunto de pragas sugadoras, mastigadoras (lagartas) e nematóides. O inseticida foi lançado no Brasil primeiramente para a cultura do milho e agora tem novo posicionamento e o desafio de controlar também um problema que é responsável por perdas de até 10,5% na produtividade da soja, por exemplo.
Organização
Kifix
A Basf realizou maratona de 11 eventos pelo interior do Rio Grande do Sul para apresentar o herbicida Kifix, desenvolvido para uso no Sistema Clearfield Arroz. O novo herbicida tem alta eficiência no controle do Arroz Vermelho, considerada a principal planta daninha da cultura do arroz irrigado. O lançamento do Kifix também integra a campanha que a Basf lançou em 2008 “Todos Unidos Contra o Arroz Vermelho, “que visa orientar os produtores sobre o manejo e a correta utilização do Sistema de Produção Clearfield”, explica o gerente de Projetos Clearfield, Airton Leites.
Daniel Cassetari Neto e Andréia Quixabeira Machado fizeram parte da comissão organizadora do 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia. O evento superou as expectativas com aproximadamente 1.100 participantes, 1.074 trabalhos, 52 sessões orais e 19 expositores. Andréia Quixabeira Machado e Daniel Cassetari Neto
Matéria-prima
No estande da Aprosoja, durante o 43º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, os participantes puderam conhecer vários produtos feitos à base de soja e entender os usos da oleaginosa, tanto na alimentação animal, quanto na humana, na geração de energia e para outros fins, como, por exemplo, na fabricação de cosméticos e tintas.
Aprendizado
Doenças em plantas
Andréia Quixabeira Machado esteve acompanhada pelos alunos da Univag, durante a 43ª edição do Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado em agosto, em Cuiabá, no Mato Grosso.
José Carlos Silva Perez, coordenador de Desenvolvimento de Mercado - Cereal Centro Nordeste, da Basf, apresentou durante a palestra “Novas tecnologias no controle de doenças em plantas”, o funcionamento do Digilab, sistema que auxilia o agricultor na identificação precisa dos sintomas das principais doenças em diferentes culturas. A ferramenta utiliza uma biblioteca virtual de saúde vegetal para consulta e comparação das José Carlos Silva Perez imagens capturadas.
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Empresa
Embalagem verde Nova garrafa da Coca-Cola usa resina à base de cana-de-açúcar para substituir petróleo
T
radicionais na produção de biocombustível no Brasil, agora é a vez de os derivados da cana-de-açúcar chegarem à mesa das famílias brasileiras como embalagem de refrigerantes. A tecnologia foi desenvolvida pela Coca-Cola Company e permitiu a criação das garrafas ecológicas, batizadas de PlantBottle, onde 30% da matériaprima é proveniente do etanol da cana-de-açúcar. Economicamente, as vantagens são nulas, mas, do ponto de vista ecológico, o cenário é outro. Com a substituição dos derivados de petróleo pelo insumo oriundo da cana-de-açúcar, não só deixa-se de liberar CO2 proveniente do combustível fóssil, como também captura-se uma quantidade importante do gás carbônico já existente na atmosfera, que é consumido pela cana durante seu processo de desenvolvimento. No fim das contas, há uma diminuição de 25% na emissão de CO2. A Coca-Cola Guararapes, franqueada da Coca-Cola nos mercados de Pernambuco, Paraíba e norte da Bahia, está lançando a “embalagem verde” no Recife, berço histórico da cana-de-açúcar no Brasil Colônia. A partir do lançamento em Pernambuco, a embalagem
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passa a estar presente nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil – país pioneiro na América Latina na adoção da nova tecnologia. Neste primeiro momento, apenas as garrafas de 500ml e 600ml de Coca-Cola serão produzidas com etanol da cana. A previsão é de que até 2014, todas as embalagens de PET da Coca-Cola adotem o novo insumo.
Derivados da cana integram 30% da matéria-prima usada na fabricação das garrafas ecológicas
Fotos Divulgação
Tradicional produto da economia brasileira, desde o período colonial, a cana-de-açúcar chega ao século XXI como matéria-prima importante para diversos segmentos
No mundo, a PlantBottle já está presente nos Estados Unidos, no Japão, na Austrália e no Canadá. “É uma embalagem do futuro, que reduz o uso do petróleo como matéria-prima e por isso promove uma significativa redução de CO2 em sua produção”, afirma Linaldo Vilar, diretor industrial e responsável pela plataforma de sustentabilidade da Coca-Cola Guararapes. “Além dos benefícios ambientais, a PlantBottle não possui mudança de propriedades químicas, cor, peso ou aparência em relação à PET convencional, além de ser também 100% reciclável.”
O processo de fabricação
Patenteada pela Coca-Cola Company, a PlantBottle é fabricada por um processo que transforma a cana-de-açúcar em insumo para a fabricação do polímero PET. Seu plástico é produzido a partir da reação química de dois componentes: MEG (monoetileno glicol), responsável por 30% de seu peso; e PTA (ácido politereftálico), pelos 70% restantes. Para o presidente da Coca-Cola Brasil, Xiemar Zarazúa, a empresa está “inaugurando uma nova era para as embalagens plásticas”. A cana-de-açúcar, assim como o melado usado nas embalagens PlantBottle, tem origem no Brasil, onde é produzida principalmente em terras abundantes cultiváveis e com uso de água da chuva. A maioria dos
produtores brasileiros utiliza processos de reciclagem de água e emprega cada vez mais fertilizantes orgânicos. Atualmente, aproximadamente 50% da cana-de-açúcar na área de São Paulo, a principal região produtora, é colhida mecanicamente, eliminando a necessidade de queima dos canaviais. Os produtores da região concordaram em parar totalmente com a prática da queima até 2017.
ALÉM DA INDÚSTRIA DE REFRIGERANTES
A cana-de-açúcar tem sido objeto de pesquisa do setor petroquímico para elaboração de embalagens sustentáveis. O primeiro passo nesse sentido foi dado pela Braskem, que inicia ainda este ano a produção comercial da unidade de plástico verde construída em Triunfo (RS). Com isso, a empresa pretende se posicionar como líder no mercado global de química sustentável. Em março, a empresa informou que a Johnson & Johnson será a primeira indústria de higiene e beleza a produzir embalagens de resina verde. A resina é elaborada com matérias-primas 100% renováveis e o mate-
rial tem o mesmo aspecto e propriedades dos plásticos tradicionais no produto final, com a diferença de que, durante o plantio, a matériaprima é capaz de capturar CO2 da atmosfera. Assim, uma tonelada de resina verde capta 2,5 toneladas de CO2. No início deste ano o etanol foi considerado um “biocombustível renovável de baixo carbono” pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos. De acordo com as normas da agência, para obter essa classificação o produto precisa emitir, no mínimo, 50% menos gases de efeito estufa em comparação à gasolina. No caso do etanol brasileiro, essa redução chega a 61%. A análise final da EPA abre caminho para o Brasil exportar, até 2020, entre 15 bilhões de litros de etanol e 40 bilhões de litros de etanol para o maior mercado consumidor de combustíveis do mundo. No documento, a agência americana determina que em 2022 os Estados Unidos estejam consumindo 136 bilhões de litros de biocombustíveis, dos quais, no mínimo, 80 bilhões sejam de combustíveis avançados. C
Esquema de produção
importância
P
roduto mais importante da economia brasileira no Período Colonial, a cana-de-açúcar chega ao século XXI com os mais diversos usos e como importante insumo para políticas sustentáveis. Na década de 1970, surgiu no ramo de biocombustíveis, com o Pró-Álcool. Atualmente, o país contabiliza dez milhões de veículos flex, de acordo com a Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea).
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Cana-de-açúcar
Cana brocada Mais de 20 espécies de Diatraea são relatadas na cultura canavieira no Brasil. Para combater o problema, que em determinadas condições exige a associação dos métodos de controle biológico e químico, o primeiro passo é o levantamento criterioso do grau de infestação
O
ataque de mais de 20 espécies de Diatraea é relatado na cultura da cana-de-açúcar nas américas, sendo D. saccharalis e D. flavipennella as mais importantes no Brasil. D. saccharalis é a espécie mais comum em canaviais brasileiros, encontrada em toda a região Centro-Sul e no Nordeste, enquanto D. flavipennella tem importância econômica somente em alguns estados do Nordeste, embora tenha sido relatada também no Rio de Janeiro. Os danos à cana-de-açúcar são causados pelas lagartas, que se alimentam no interior dos colmos, abrindo galerias. Quando o ataque se dá em canaviais jovens, ocorre a morte da gema apical, com secamento das folhas mais novas, resultando no sintoma conhecido como “coração morto”. Sob infestações altas, há morte de grande número de perfilhos. Em canaviais mais desenvolvidos, o ataque da praga resulta em menor produtividade agrícola, pois os colmos perdem peso, são menores e mais finos. Muitos secam e morrem, outros se quebram pela ação do vento, já que estão mais frágeis devido às galerias em seu interior. Quando o ataque se dá próximo à região de crescimento, ocorre morte da gema apical, com brotação das gemas laterais e, consequentemente, inversão da sacarose. Aos danos diretos causados pelas brocas devem ser adicionados os indiretos, uma vez que os orifícios feitos pelas lagartas permitem a entrada de pragas secundárias, como Metamasius hemipterus e diversos microrganismos, especialmente os fungos Fusarium moniliforme e Colletitricum falcatum, que causam a “podridão vermelha”, com inversão da sacarose armazenada na planta e sua transformação em glicose e levulose, que não se cristalizam no processo industrial. Além da perda de açúcar dos colmos, a presença de microrganismos no caldo prejudica os processos industriais, por dificultar a obtenção de açúcar de qualidade e inibir a fermentação. De uma maneira geral, a cada 1% de intensidade de infestação de D. saccharalis tem-se redução de até 1,50% na produtividade de colmos, 0,49% na produtividade de açúcar e 0,28% na produtividade de álcool
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(Arrigoni, 2002). A broca da cana é encontrada durante o ano todo em canaviais, embora, em geral, as populações sejam mais altas nos períodos quentes e úmidos do ano (primavera/ verão), com ligeira queda nos meses frios e secos (inverno). As populações também são maiores na cana-planta, quando comparada com a cana-soca, provavelmente devido ao seu maior vigor vegetativo e maior período de exposição à praga. São mais elevadas em áreas que recebem altas doses de vinhaça ou de adubos, que também contribuem para maior vigor das plantas. Por outro lado, as populações são menores quando a cana é jovem e não apresenta entrenós formados, e se elevam com o crescimento da planta.
Manejo
O manejo da broca da cana está baseado na liberação de parasitoides, especialmente da vespinha Cotesia flavipes, e é um exemplo de eficiência de controle biológico. Entretanto, dadas as altas populações da praga em certas regiões, o controle químico também tem sido utilizado nos últimos anos. Em qualquer caso, o manejo geralmente se inicia com os levantamentos de infestação final, realizados em cana madura, durante toda a safra, nas frentes de corte ou em plataformas no pátio da indústria. Estes levantamentos têm por objetivo determinar os índices de intensidade de infestação, para estimativa das perdas finais causadas pela broca, e também são úteis para fornecer informações sobre regiões, variedades e cortes mais infestados, orientando a adoção de medidas de controle no ciclo seguinte. Quando realizados por vários anos, os levantamentos de infestação final permitem aferir a eficiência das medidas de controle adotadas. Os métodos de levantamento empregados pelas empresas variam bastante, mas basicamente constam da coleta de determinado número de colmos por talhão (20 colmos/ha ou 125 colmos por talhão são as referências mais usadas), que são então abertos ao meio, longitudinalmente, para permitir a contagem dos entrenós totais e daqueles brocados. A intensidade de infestação (II) é calculada
Fotos IAC
Sintoma conhecido como “coração morto” devido à morte da gema apical do perfilho causada pela broca
pela fórmula: II (%) = (número de entrenós brocados/número total de entrenós) x 100 Diagnosticada a grandeza do problema, o passo seguinte é conduzir os levantamentos populacionais, com o objetivo de monitorar as populações da praga e orientar a adoção de medidas de controle, especialmente no que se refere à identificação dos locais e das épocas
Galerias provocadas pela lagarta de D. saccharalis e sintomas do complexo broca-podridão vermelha
mais adequadas para controle. Os levantamentos populacionais podem ser realizados durante o ano todo, em canaviais em estágio vegetativo, embora muitas usinas só os façam no período quente e chuvoso do ano, quando as populações são mais elevadas. O método de amostragem utilizado depende da medida de controle que se deseja utilizar. Quando se pretende utilizar o controle biológico com a vespinha C. flavipes,
o levantamento tem por alvo as lagartas da broca que já estão no interior dos colmos, uma vez que C. flavipes parasita preferencialmente lagartas maiores de 1,5cm. Nesse caso, o IAC recomenda a amostragem de seis pontos de dois metros por hectare, distribuídos de maneira equidistante em todo o talhão. No ponto de amostragem os colmos são despalhados para permitir a visualização de furos nos entrenós. Colmos furados são então rachados e o material biológico encon-
Figura 1 - Liberações de C. flavipes e intensidade de infestação em canaviais da Usina da Barra, no período de 1975 a 1999 (Fonte: adaptado de Botelho e Macedo, 2002)
trado (brocas pequenas, médias, grandes, crisálidas, pupas de parasitoide) é contado para registro em ficha apropriada. É interessante que o material coletado seja levado para laboratório e mantido vivo a fim de permitir o desenvolvimento de eventuais parasitoides e, assim, possibilitar a determinação correta do parasitismo em campo. Algumas usinas fazem o levantamento, caminhando aleatoriamente pelo talhão, durante certo tempo, o que é conhecido como coleta/hora/homem. Porém, independentemente do método utilizado, os levantamentos populacionais devem ser iniciados pelas áreas de mais altas infestações, ou seja, de cana-planta de variedades suscetíveis, com irrigação, em regiões com histórico de altas infestações ou com altos índices de intensidade de infestação final e em viveiros de mudas. Em função da população de broca estimada, faz-se a liberação de C. flavipes, em número que varia de dois adultos a quatro adultos por lagarta encontrada (para aqueles que estimam a população da praga por hectare) ou de seis mil adultos (quando se estima mais de dez brocas/hora/homem). É aconselhável fazer novo levantamento aproximadamente de 15 dias a 20 dias após o primeiro, para verificar a necessidade de novas liberações. O controle biológico da broca por C. flavipes é bastante eficiente. A Figura 1 ilustra um dos muitos exemplos de sucesso desta modalidade de controle. Algumas usinas também têm utilizado Trichogramma galloi, um parasitoide de ovos, no programa de manejo da broca. Neste caso, é feito monitoramento das populações de adultos, com emprego de armadilhas com fêmeas virgens para atração dos machos. Não há critérios bem definidos para liberações de T. galloi em canaviais, mas geralmente são privilegiadas áreas que apresentaram altos
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Figura 2 - Intensidade de infestação, expressa em porcentagem de entrenós brocados, na testemunha e no tratamento com inseticida para controle da broca
índices de intensidade de infestação final. Nesse caso, T. galloi é liberado quando os primeiros adultos de broca são capturados nas armadilhas de feromônio. Como nem sempre há grande oferta de parasitoides, as liberações normalmente são feitas a partir da captura de certo número de adultos. Também não há muitas informações sobre a quantidade de insetos que devem ser liberados. Um dos poucos trabalhos nesta área mostrou ser possível obter bom parasitismo por T. galloi com liberações a partir de 200 mil parasitoides/hectare (Lopes, 1988). Apesar da boa eficiência do controle biológico, exercido principalmente por C. flavipes, algumas áreas registram altas populações de broca e o controle químico tem sido utilizado como ferramenta auxiliar de manejo, principalmente onde foram observadas altas intensidades de infestação final. Nestes canaviais, quando a amostragem para liberação de C. flavipes revela que as populações de broca estão muito elevadas (acima de oito mil/hectares a dez mil/hectares), faz-se outro tipo de levantamento, para aplicação de inseticidas. Como os produtos recomendados atuam sobre os primeiros instares das lagartas, quando elas ainda não penetraram no colmo, o método de levantamento tem como alvo a praga ainda nesse estágio. Algumas unidades aproveitam o levantamento feito para controle com C. flavipes e fazem também o levantamento de colmos com broquinhas no palmito e folhas do ponteiro. Neste caso, em cada ponto de levantamento, são amostrados dez colmos. Outras unidades amostram 125 colmos por talhão, colhidos em cinco pontos diferentes do canavial. Em ambos os casos, as folhas do palmito de cada colmo são cuidadosamente arrancadas para permitir a visualização de broquinhas na região. Os inseticidas são usados geralmente quando há pelo menos 3% a 5% de colmos com broquinhas no palmito e folhas.
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A Figura 2 mostra um exemplo de desempenho de triflumuron, um dos inseticidas registrados para o controle de broca. Nota-se que, depois de uma só aplicação, a intensidade de infestação diminui, revelando a eficiência do produto. Entretanto, dada a severidade do ataque, outra aplicação deveria ter sido feita. É importante salientar que os inimigos naturais são responsáveis por uma alta taxa de controle natural das populações de broca. Há trabalhos mostrando que, em certas regiões, 80% a 90% dos ovos de Diatraea são predados ou parasitados por seus inimigos naturais. Predadores e parasitos de lagartas e pupas, além de fungos e bactérias, complementam a lista de agentes naturais de controle da broca. Em vista disso, embora os inseticidas desempenhem papel importante na redução das populações de broca e, consequentemente, dos prejuízos que esta praga causa, é necessário utilizá-los com critério, aplicando-os somente onde as populações são muito elevas e dando preferência por produtos de menor impacto ambiental. Produtos de menor impacto ambiental são também mais adequados quando se pretende usar controle biológico logo em seguida. Dessa forma, uma sugestão de manejo de áreas muito atacadas é, inicialmente, reduzir as populações da broca com inseticidas e, logo após, dar início às liberações de C. flavipes. A associação dos dois métodos de controle, químico e biológico, tem seu lugar em muitas situações e deve contribuir para reduzir os prejuízos causados pela praga em certas regiões de cultivo da cana-deaçúcar. C Leila Luci Dinardo-Miranda, Juliano Vilela Fracasso e Viviane Pereira da Costa Centro de Cana-de-açúcar - IAC
Milho
Inibição favorável Charles Echer
Perdas de amônia quando se emprega a ureia como fonte de nitrogênio podem chegar a mais de 60% devido à sua capacidade de ser rapidamente hidrolisada pela enzima urease. A aplicação de compostos como o tiofosfato de N-(n-butil) triamida surge como alternativa para melhor aproveitamento do nutriente
de hidrólise da ureia é baixa, porém aumenta gradativamente conforme o teor de umidade do solo se eleva até atingir 20% de umidade. A partir desse ponto a hidrólise é alta e pouco se altera com a umidade. Assim é preferível aplicar ureia em solo seco em relação ao solo úmido. As perdas de amônia no uso de ureia podem ser bastante significativas. Estudos feitos em condições de campo apontam médias de 20% a 30% do N aplicado, podendo atingir até 60% ou mais. Em uma rede de experimentos conduzidos por pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC) no estado de São Paulo com a cultura do milho, a perda média de N por volatilização de amônia foi de 48% do N total aplicado (Tabela 1). Pesquisas têm sido feitas com o intuito de reduzir as perdas de amônia. Vários produtos têm sido desenvolvidos, como, por exemplo, fertilizantes estabilizados, que têm a adição de inibidores de urease, e os fertilizantes de liberação lenta. Estas classes de fertilizantes são conhecidas como fertilizantes de eficiência aumentada. Muitos produtos têm sido estudados como inibidores de urease para reduzir as perdas de amônia decorrentes do uso de ureia. O composto com maior sucesso no momento é o tiofosfato de N-(n-butil) triamida (NBPT), que faz parte de fertilizantes vendidos em vários países. O uso de NBPT tem tido maior aceitação no mercado, pois tem preços mais competitivos com os tradicionais fertilizantes e tem mostrado resultados geralmente satisfatórios em doses relativamente baixas.
As perdas de amônia são maiores em solos com palha na superfície
A
ureia é a fonte de nitrogênio (N) mais utilizada no Brasil. A elevada concentração de nutriente (46% de N), o menor custo do N, aliado à maior facilidade de produção, tornam a ureia o principal fertilizante nitrogenado sólido no mercado. Perdas de N por volatilização de amônia ocorrem quando fertilizantes contendo N na forma amoniacal são aplicados na superfície de solos com pH alcalino, incluindo adubos orgânicos contendo N como esterco e lodo de
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esgoto. No entanto, em solos ácidos, que são maioria no Brasil, fontes de N como o nitrato de amônio e sulfato de amônio têm perdas insignificantes. Porém, quando a ureia é utilizada, perdas significativas de amônia ocorrem mesmo em solo com pH baixo, pois a ureia é rapidamente hidrolisada pela enzima urease, abundante nos solos, provocando a elevação do pH do solo ao redor do fertilizante. As perdas de amônia dependem do tipo, pH e poder tampão do solo, da temperatura e da umidade. Em solo seco, por exemplo, a taxa
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Está bem estabelecido que a incorporação de fertilizantes ao solo, por meios mecânicos, ou pela água de chuva, ou de irrigação, é a melhor maneira de controlar as perdas de amônia. Porém, caso a incorporação não seja feita adequadamente, situações em que o sulco fica parcialmente aberto ou o volume de água é insuficiente, alguma perda de N por volatilização de amônia ainda pode ocorrer. No Brasil, a maior preocupação com perdas de N por volatilização de amônia, portanto, está relacionada ao uso da ureia aplicada na superfície dos solos, onde a incorporação não é possível ou facilmente realizada como áreas de plantio direto, colheita de cana-crua, plantas perenes ou outras situações. A magnitude das perdas, porém, é controlada por fatores ligados às propriedades do solo e também por fatores ambientais. Características do solo que
Cantarella e Soares
Figura 1 - Volatilização diária de amônia com a aplicação superficial de ureia com ou sem o inibidor de urease (NBPT). O pico de perda com a ureia aconteceu no 3º dia após a adubação; com o inibidor o pico foi reduzido e retardado para o 9º dia. Fonte: Cantarella & Soares
Tabela 1 - Perdas de N por volatilização de amônia. As perdas podem ser muito variadas, dependendo das condições de solo e do clima, sendo que o inibidor sempre permitiu reduzir as perdas Locais dos estudos com milho Mococa Ribeirão Preto Mococa 2 Pindorama Média
Perda por volatilização Benefício do NBPT: de amônia % de redução Ureia Ureia + NBPT de perda % de Redução % do N aplicado 45 24 47 37 5 85 64 22 65 48 34 29 48 21 56
Fonte: Adaptada de Cantarella et al., (2005)
Medições de volatilização de amônia em experimentos com milho conduzidos pelo IAC
contribuem para a retenção do N amoniacal, tais como elevada CTC e poder tampão, pH ácido etc, reduzem as perdas. A presença de resíduos de plantas na superfície do solo, comuns em áreas sob plantio direto, favorece as perdas de amônia por aumentar a taxa de hidrólise da ureia, pelo aumento da atividade da urease e também por dificultar a retenção do N no solo. Perdas após a adubação A ureia se hidrolisa rapidamente, tornando-se suscetível a perdas por volatilização de amônia logo na primeira semana após sua aplicação. As maiores perdas ocorrem logo após dois ou três dias quando a ureia é aplicada em solos com umidade e temperatura elevadas, comuns nas situações de cultivo no Brasil. Dessa forma, nesse período que a atuação de NBPT é mais evidente, retardando a hidrólise e, consequentemente, mantendo baixa a taxa de volatilização (Figura 1). O inibidor geralmente retarda a hidrólise por um período de cinco dias a dez dias. Idealmente neste intervalo eventos de chuva ou irrigação devem ocorrer em volume suficiente para incorporar o fertilizante ao solo e reduzir a perda de amônia por volatilização resultante da aplicação superficial de ureia. Mas, mesmo que isso não ocorra, durante o intervalo em
que a ureia permanece estável, o fertilizante pode se mover para o interior do solo e se tornar parcialmente protegido. O inibidor pode aumentar a produtividade Trabalhos conduzidos no IAC apontam que a adição de NBPT à ureia reduz, em média, em 60% a perda de N por volatilização de amônia. Em experimentos com a cultura de milho a redução de perdas de amônia com a adição de NBPT à ureia foram de aproximadamente 56% (Tabela 1). Essa redução na volatilização de amônia aumenta a eficiência do fertilizante; assim, o uso do NBPT permitiu também o crescimento da produção de grãos de milho em relação ao fertilizante sem o inibidor (Tabela 2). Dados similares foram apresentados em outros trabalhos feitos na América do Norte. A escolha do fertilizante nitrogenado a ser utilizado é função do preço do N, do manejo do fertilizante e das características de cada agrossistema, pois a magnitude das perdas por volatilização depende de fatores do solo como pH, poder tampão, CTC e fatores ambientais como presença de palha na área, umidade, temperatura, entre outros. Isso explica a variabilidade de resultados das perdas relatadas (Tabela 2). Fertilizantes, tais como o nitrato de amônio ou o sulfato de amônio, têm perdas
Tabela 2 - Produção de grãos de milho em função de fontes de N e da adição de inibidor de urease (NBPT) à ureia. Resultados são a média de sete locais e três doses de N Fonte de N Uréia Uréia + NBPT Nitrato de amônio
Produtividade de milho kg/ha 7054 7405 7526
Fonte: Adaptada de Cantarella et al., 2009
por volatilização de amônia pequenas ou nulas em solos ácidos; porém, geralmente são mais caros por unidade de N do que a ureia. Além disso, o agricultor nem sempre consegue adquirir aqueles fertilizantes. Desse modo, se for feita a opção pela ureia, quanto maior o risco de volatilização, maior o benefício potencial que o NBPT pode trazer. Concluindo, as pesquisas indicam que o NBPT não elimina totalmente as perdas por volatilização de amônia, mas, os resultados dos estudos mostram que este inibidor é uma opção para reduzir tais perdas quando a ureia é aplicada na superfície dos solos e, assim, aumentar a eficiência do uso do N do C fertilizante. Heitor Cantarella e Johnny Rodrigues Soares, IAC Paulo B. Gallo e Antonio L. M. Martins, Apta
Maçã podre Favorecida por alta umidade e pluviosidade elevada, a podridão das maçãs do algodoeiro tem o poder de causar danos severos à cultura. Pragas como bicudo e percevejo também facilitam a ação do patógeno por deixarem o caminho aberto para a doença ingressar nas plantas. Além do controle desses insetos, o uso de cultivares resistentes, a adubação equilibrada, o manejo da época de semeadura e os plantios menos adensados fazem parte das estratégias para minimizar o problema
Charles Echer
Algodão
A
podridão de maçãs constitui um dos problemas fitossanitários mais importantes para a cultura do algodoeiro no Brasil, sobretudo no cerrado, em áreas onde a precipitação pluviométrica é elevada e coincide com o período de sua formação ou abertura. A doença se caracteriza pela deterioração progressiva do fruto do algodoeiro antes ou depois de sua abertura, pela ação de um complexo de agentes patogênicos primários e secundários, cujo desenvolvimento é favorecido por fatores do ambiente, principalmente alta pluviosidade e umidade relativa, bem como pela ação primária de pragas que afetam a cultura. Em geral, regiões onde os índices pluviométricos são elevados e onde se combinam aspectos como plantios adensados e desenvolvimento vegetativo vigoroso, é comum a alta incidência da podridão de maçãs. Esse fenômeno resulta em prejuízos elevados, sobretudo porque não existem medidas de controle emergenciais que possam ser implementadas para reverter o quadro. As lesões de podridão ocorrem, em geral, na inserção da maçã no pedúnculo ou nos carpelos, apresentando-se, normalmente, de coloração escura ou parda e de formato irregular. Lesões arredondadas ou irregulares, verde-escuras e de aspecto oleoso, também são verificadas como resultado da infecção pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum. Essas lesões tornam-se enegrecidas, coalescem e podem ser afetadas por um complexo de patógenos secundários que, normalmente, cobrem toda a superfície da maçã. Embora mais de 170 patógenos estejam associados aos danos da podridão de maçãs, pelo menos quatro principais são considerados agentes primários, importantes para as condições do Brasil. São eles Colletotrichum spp., Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum, Fusarium spp. e Diplodia gossypina. Um dos patógenos primários importantes para a podridão de maçãs é o Colletotrichum gossypii, agente causal da antracnose. Esse patógeno induz lesões irregulares escuras e deprimidas que no decorrer do tempo adquirem coloração alaranjada ao centro, devido à
Maçã de algodoeiro no período de abertura apodrecida pela ação de fungos
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Fotos Alderi de Araújo
produção de uma massa gelatinosa de esporos do fungo. A podridão causada por Diplodia gossypina induz lesões de coloração marrom nas brácteas e nas maçãs que, sob condições favoráveis de ambiente, se expandem e afetam toda a maçã. Com o desenvolvimento das lesões o patógeno se reproduz, surgindo uma coloração negra no fruto. A podridão causada por Fusarium tem como principal espécie associada F. moniliforme e induz, geralmente, pequenas manchas necróticas nas brácteas que, sob condições de alta umidade, se expandem tornando-se de azul-escura a marrom. Estudo realizado na Universidade da Flórida aponta Fusarium verticillioides como agente primário da podridão de maçãs, especificamente o “cotton hardlook”, que se caracteriza pela compressão da fibra nos lóculos do fruto, dificultando ou mesmo impedindo a colheita. Trabalhos realizados nos estados de Goiás e Mato Grosso identificaram Colletotrichum gossypii, Fusarium spp., Diplodia gossypina, como os patógenos mais importantes causando podridão de maçãs, sendo o primeiro o mais importante, com incidência de até 37%. Foram encontrados ainda Phoma spp., X. axonopodis pv. malvacearum, Rhizopus spp. e Penicillium spp, Phomopsis, Alternaria sp, Aspergillus niger e Rhizoctonia solani. De maneira geral, os patógenos que afetam as maçãs podem penetrar de três
Maçãs de algodoeiro mumificadas pelo excesso de umidade e ação de patógenos primários e secundários no período de abertura (cotton hardlook)
diferentes formas: normalmente as aberturas promovidas pela picada de insetos ou injúrias mecânicas permitem o ingresso de fungos e bactérias. Os patógenos também conseguem penetrar por estômatos, nectários e aberturas que se formam na junção dos carpelos. Vários fungos são capazes de ingressar diretamente pelo tecido das maçãs de forma ativa, pela secreção de enzimas que dissolvem a parede celular e facilitam a penetração das estruturas de colonização. Os níveis de incidência da podridão de
maçãs estão associados às condições de alta umidade e sombreamento da cultura em função do desenvolvimento vegetativo acelerado e ausência de insolação no dossel foliar, deixando um filme de água sobre as maçãs por períodos prolongados, facilitando a penetração dos agentes patogênicos que são hidrofílicos. Estudos epidemiológicos já realizados definem quatro condições que favorecem o apodrecimento das maçãs: longos períodos de molhamento das plantas, extensos períodos com umidade relativa acima de 75%, baixa
Tabela 1 - Efeito de diferentes espaçamentos e densidades de plantio sobre a incidência da podridão de maçãs do algodoeiro, cultivar CNPA ITA 90. Rondonópolis (MT), 2001 (Fonte: Araújo et al., 2009) Espaçamento 0,90 0,90 0,90 0,76 0,76 0,76
Fatores Densidade de Plantio 6 10 14 6 10 14
Tabela 2 - Resumo do quadro de análise de variância para os efeitos de espaçamento, densidade de plantas, cultivar e das interações entre estes fatores em relação à porcentagem de podridão de maçãs do algodoeiro em Votuporanga (SP). (Fonte: Moreira, 2008)
Número médio de maçãs podres1 5,572 5,57 6,34 5,43 5,28 5,52
Causas de variação Espaçamento (E) (0,45m; 0,90m) Densidade (D) (6; 10 plantas/m) Cultivar (C) (IAC 24, DeltaOpal, Fibermax 966) Bloco ExD DxC ExC ExDxC Resíduo
CV: 14,31 1 Teste F não significativo para os dois fatores a 5% de probabilidade 2 Dados transformados em √x
intensidade de luz e alta temperatura. Por essa razão, normalmente a podridão de maçãs é detectada, sobretudo em lavouras densas e bem desenvolvidas, demonstrando o papel importante do desenvolvimento vegetativo como condição predisponente para o aumento da incidência da doença. Dados de alguns estudos permitem concluir que os danos causados pela doença podem atingir até 30% sob condições de alta umidade e pluviosidade contra menos de 5% quando as condições não favorecem o desenvolvimento dos patógenos.
CV: 13,91 **Efeito significativo a 1% de probabilidade pelo teste F para análise de variância
da doença. Trabalho realizado no estado do Alabama, EUA, identificou uma variação de zero a 10,3% na reação de cultivares ao apodrecimento das maçãs com melhor resposta daquelas mais precoces em relação às mais tardias. Também tem sido demonstrado que as cultivares de folha tipo Okra apresentam menor incidência de podridão de maçãs, provavelmente em função de promoverem maior aeração e permitirem maior incidência de raios solares no dossel foliar, o que tende a reduzir o tempo de água livre na superfície dos frutos, criando ambiente desfavorável à infecção pelos patógenos. Entre as medidas que podem reduzir o efeito de fatores predisponentes e minimizar os danos destacam-se o manejo da época de semeadura; plantios menos adensados; evitar o cultivo em áreas passíveis de encharcamento; manejar o crescimento vegetativo por meio de reguladores de crescimento, de modo que se reduza o sombreamento no dossel foliar, facilitando a aeração e a entrada da luz solar. Embora diversos autores afirmem que o espaçamento e a densidade de plantio podem afetar a incidência da podridão de maçãs,
Estratégias de controle
A podridão de maçãs é de difícil combate. Nos países onde o controle químico tem sido tentado, a eficiência dos fungicidas não tem justificado os custos. Numerosos testes têm sido realizados e os resultados observados são imprecisos ou não se verifica nenhum controle efetivo. Os incrementos de produção não justificam os custos de aplicação. O uso de cultivares resistentes tem sido considerado como um caminho a ser seguido para o manejo da doença. Estudo com cultivares tem demonstrado diferenças na incidência
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Caminho aberto pelas pragas
Um dos aspectos importantes na podridão de maçãs é o ataque de pragas como o bicudo (Aanthonomus grandis) e percevejos como o rajado (Horcias nobilellus) e o manchador (Dysdercus spp) e migrantes como o marrom (Euschistus heros) o pequeno (Piezodorus guildinii), o verde (Nezara viridula), além de Edessa meditabunda e Dichelops melacanthus. Estes últimos são assim chamados porque como o algodão tem um ciclo vegetativo maior, fica no campo por mais tempo e se torna hospedeiro desses insetos que migram da cultura da soja após sua colheita. O ataque pode favorecer a penetração de fungos e bactérias nos frutos, principalmente C. gossypii e X. axonopodis pv. malvacearum. O controle desses insetos, portanto, torna-se imperativo após o início do processo de maturação das lavouras de soja.
Quadrado Teste Médio F 71,78 0,16 108,29 0,16 3222,22 19,51** 342,77 0,50 6,68 0,16 43,75 0,47 254,18 1,24 14,01 0,24 81,71
Fungos colonizando os carpelos em maçã de algodoeiro
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estudos realizados no Brasil até o momento não apontam nessa direção e privilegiam, sobretudo, o efeito do genótipo para resistir à ação dos patógenos sob condições favoráveis do ambiente. Estudos realizados no ano de 2002 em Rondonópolis (MT) constataram não haver efeito do espaçamento e da densidade de plantio sobre a podridão das maçãs (Tabela 1). Mais recentemente, trabalho realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz por Raquel Moreira, sob orientação de Ederaldo Chiavegato, chegou à conclusão semelhante, enfatizando como mais importante, o efeito do genótipo sobre os danos causados pela doença em relação ao espaçamento e à densidade de plantio (Tabela 2). A preocupação com o efeito da densidade de plantio sobre a podridão de maçãs se tornou mais significativa atualmente, em função do crescimento da área de algodão adensado em algumas regiões produtoras do cerrado. Avaliações preliminares, entretanto, indicam que trata-se de algo menor, tendo em vista que esse sistema de produção tem sido adotado em plantios tardios denominados de cultivos de safrinha. Nesse período, os índices pluviométricos por ocasião do período de frutificação são mais baixos, podendo, inclusive, ocorrer veranicos mais prolongados. O menor espaçamento e a maior densidade de plantas induzem aumento de área foliar e fechamento precoce da lavoura, entretanto, as condições de ambiente desfavorecem a ação dos patógenos, em função da baixa pluviosidade e umidade relativa no período reduzindo a exposição dos frutos a períodos de molhamento prolongados condição fundamental para a infecção pelos principais agentes causais da podridão das maçãs. Essas ações de manejo podem ser associadas, ainda, a cultivares mais resistentes, a uma adubação equilibrada, além do controle efetivo das principais pragas visando evitar que estas possam induzir ferimentos nas maçãs. Deste modo tem-se as condições para um manejo adequado que minimize os danos causados C pela podridão das maçãs. Alderi Emídio de Araújo, Embrapa Algodão
Araújo destaca que no manejo da podridão das maçãs também é preciso atenção ao controle de pragas
Soja Fotos Leila Costamilan
Via dupla
Ao mesmo tempo em que doenças como podridão radicular de fitóftora, podridão vermelha da raiz e ferrugem tendem a ter seu efeito minimizado no período de La Niña, o clima seco favorece o ataque de oídio, nematoides e podridão cinza da raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Tratamento de sementes, seleção de cultivares resistentes, controle químico e melhoria das condições de manutenção de água no solo, estão entre as estratégias para enfrentar o problema
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e acordo com o boletim emitido em 20 de agosto pelo Centro de Previsão de Tempo e Assuntos Climáticos (CPTec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fenômeno La Niña configura-se no pacífico equatorial, com possibilidade de persistir pelo menos até o início de 2011. Para os meses de setembro, outubro e novembro de 2010, a previsão climática de consenso sugere maior probabilidade de chuvas abaixo da média na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, enquanto as temperaturas estão previstas dentro da normalidade climatológica. Assim, possivelmente teremos a safra 2010/2011 de soja mais seca que o normal. O clima mais seco pode favorecer algumas doenças de soja, como oídio, nematoides e podridão cinza da raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Por outro lado, doenças diretamente relacionadas com alta umidade, como podridão radicular de fitóftora, podridão vermelha da raiz e ferrugem, não deverão apresentar altas incidências e/ou severidade.
distribuídas durante o período de semeadura da soja. Nessa situação, é muito importante a conscientização dos sojicultores quanto à utilização de sementes de alta qualidade fisiológica (com altos índices de vigor e de germinação) e sanitária (livres de patógenos), além da necessidade do tratamento de sementes com misturas de fungicidas de contato +
Germinação de sementes e emergência de plântulas Segundo o pesquisador Ademir Henning, da Embrapa Soja, em 2010 o risco é muito alto de ocorrerem chuvas abaixo da média e mal
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sistêmicos, para garantir proteção à semente no solo, evitando ressemeaduras por falhas no estabelecimento do estande. Além disso, em áreas sujeitas ao ataque de lagarta elasmo ou corós, a aplicação de produtos que contenham inseticida poderá ser boa alternativa. Se a semeadura de soja não for realizada em condições ideais de umidade do solo,
Problemas de germinação devido à podridão radicular de fitóftora
Folhas de soja com sintomas de ferrugem
poderão ocorrer sérios problemas na emergência. Em tais circunstâncias, o tratamento de semente com fungicidas oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos (estimados em menos de 0,6% do custo de instalação da lavoura). A adoção desta técnica possibilita ao agricultor economizar sementes e evitar operação de ressemeadura, que é extremamente danosa para a rentabilidade da lavoura, pois, muitas vezes, perde-se o período ideal de semeadura,
Grupo de plantas de soja com folhas carijós, causadas por podridão vermelha da raiz
podendo ocorrer troca de cultivar (pela que, normalmente, está sobrando no mercado), além de problemas relacionados com aplicação de herbicidas e adubação, bem como problemas fitossanitários, principalmente a ferrugem da soja, sabidamente mais severa em plantios atrasados. A eficiência de diversos fungicidas no controle dos principais patógenos transmitidos pela semente de soja, como Cercospora kikuchii, Cercospora sojina, Fusarium semitectum,
Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum é anualmente avaliada na Embrapa Soja. O controle dos quatro primeiros patógenos é propiciado por fungicidas sistêmicos, especialmente do grupo dos benzimidazóis. Dentre os produtos testados e hoje indicados para tratamento de sementes de soja, os fungicidas dos grupos químicos tiabendazol, carbendazim e tiofanato metílico têm sido os mais eficientes. Os fungicidas de contato, tradicionalmente conhecidos (captan, tiram
Dose/100kg de semente1 Nome Ingrediente comum ativo (gramas) Produto Produto comercial1 comercial (g ou ml) Carbendazim + Captana2 30 g + 90 g Derosal 500 SC + Captan 750 TS 60ml + 120g Carbendazim + Tiram 30g + 70g Derosal 500 SC + Rhodiauram SC2 60ml + 140ml Derosal 500 SC + Thiram 480 TS2 60ml + 144ml Derosal Plus 200ml Protreat3 200ml Carboxina + 75g + 75g ou Tiram 50g + 50g Vitavax - Thiram WP 200g Vitavax - Thiram 200 SC4 250ml Difenoconazol + Tiram 5g + 70g Spectro + Rhodiauram SC 33ml + 140ml Spectro + Thiram 480 TS 33ml + 144ml Fludioxonil + Metalaxil-M 2,5g + 1,0g Maxim XL 100ml Piraclostrobina + Tiofanato 5g + 45g metílico + Fipronil + 50g Standak Top 200ml Tiabendazol + Captana2 9,7g a 19,4g + 90g Tecto SC + Captan 750 TS 20ml a 40ml + 120g Tiabendazol + Tiram 9,7g a 19,4g + 70g Tecto SC + Rhodiauram SC2 20mL a 40ml + 140ml Tecto SC + Thiram 480 TS2 20mL a 40ml + 144ml Tiofanato metílico + Tolilfluanida2 50g + 50g Cercobin 700 WP + Euparen M 500 WP 70g + 100g Cercobin 500 SC + Euparen M 500 WP 100ml + 100g Tolilfluanida + Carbendazim2 50g + 30g Euparen M 500 WP + Derosal 500 SC 100g + 60ml 1 Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais, desde que sejam mantidos o tipo de formulação e a dose do ingrediente ativo. 2 Com indicação de uso apenas na RPS-Sul. 3 Sem indicação de uso na RPS-Sul. 4 Caso não seja adicionado nenhum outro produto líquido, fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250ml do produto + 250ml de água para 100kg de semente. Cuidados: devem ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações da bula dos produtos.
e Aspergillus spp. (A. flavus) que, entre outros, podem causar a deterioração da semente no solo ou a morte de plântulas.
pactação e favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular.
Podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina) De acordo com os pesquisadores Álvaro Almeida e Leila Costamilan esta doença é a mais favorecida por períodos de estiagem e altas temperaturas. Provavelmente, será muito frequente durante a safra 2010/11. Há várias safras vem ocorrendo no Sul do Brasil, o que significa a presença de alta quantidade de inóculo no campo. Seu sintoma mais visível é a antecipação do ciclo de plantas distribuídas ao acaso ou agrupadas em áreas de solo mais seco, resultando em grãos de menor tamanho e de menor qualidade. Estas plantas apresentam raízes apodrecidas, desprendendo a casca com facilidade, apresentando o lenho de coloração acinzentada. Trabalhos realizados na Embrapa Soja mostraram a correlação entre chuva e ocorrência desta doença, no Paraná. Em ano de deficiência de água, mais de 50% de plantas de soja mostraram a doença aos 105 dias após a semeadura. Nos dois anos seguintes, quando não houve restrição hídrica, este índice atingiu 30% no final do ciclo da cultura. É uma doença de difícil controle, pois não há cultivares de soja com resistência, a rotação de culturas não é eficiente em curto prazo e o tratamento com fungicidas não tem efeito algum. Para minimizar seus impactos, o agricultor deve investir em formas para manter suprimento adequado de água às plantas, como irrigação, plantio direto (que aumenta a quantidade de matéria orgânica) e melhoria das condições físicas do solo, evitando a com-
Segundo a pesquisadora Leila Costamilan esta doença não deverá ocorrer de forma significativa nesta safra, principalmente porque depende de alta umidade no solo para infectar as plantas de soja. Além disto, os agricultores têm preferido usar cultivares resistentes em áreas onde a doença já foi constatada em anos anteriores, diminuindo o risco de desenvolvimento do problema. Somente causará danos como apodrecimento de sementes e morte de plântulas em áreas onde ocorrerem chuvas fortes ou acúmulo de umidade no período de germinação e emergência de plântulas de cultivar suscetível, levando, inclusive, à necessidade de ressemeadura. A doença pode causar, também, sintomas em plantas adultas, como o apodrecimento radicular e o escurecimento da parte inferior da haste e de ramos laterais, associados com chuvas esporádicas durante a safra.
e tolilfluanid), que apresentam bom desempenho no campo quanto à emergência, não controlam totalmente Phomopsis spp. e F. semitectum nas sementes que apresentam índices elevados destes patógenos (acima de 40%). Por essa razão, tais produtos devem sempre ser utilizados em misturas com fungicida sistêmico (Tabela 1). Além de controlar estes patógenos, o tratamento de sementes é uma prática eficiente para assegurar populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja, deixando a semente exposta por mais tempo a patógenos habitantes do solo, como Rhizoctonia solani, Phytophthora sojae, Pythium spp., Sclerotium rolfsii; Fusarium spp. (principalmente F. solani)
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Podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae)
Ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) e oídio (Erysiphe diffusa) A pesquisadora Cláudia Godoy destaca que para a ocorrência de ferrugem da soja, o ambiente exerce papel relevante no desenvolvimento de epidemias durante a safra, pois a maioria das cultivares é suscetível e o fungo sobrevive de um ano para outro em plantas voluntárias ou em outros hospedeiros. Trabalhos publicados no exterior e no Brasil mostram que a dispersão e o desenvolvimento da ferrugem são favorecidos pela melhor distribuição
Leila Costamilan
Tabela 1 - Misturas formuladas e respectivas doses de fungicidas para tratamento de sementes de soja. Indicações da XXXI RPSRCB, Brasília (DF), e da XXXVIII RPS-Sul, Cruz Alta (RS), agosto 2010
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Folha de soja afetada por oídio
terodera glycines – O pesquisador Waldir Dias informa que no caso de nematoides de galhas, as raízes da soja apresentam engrossamento e as plantas podem murchar nas horas mais quentes do dia, apresentar baixo desenvolvimento e reduzido rendimento de grãos. Com nematoide de cisto, as plantas ficam verde-claras, com menor desenvolvimento e rendimento. Tudo que é favorável ou negativo para a soja também é bom ou ruim para os nematoides. Em anos de seca, quando falta água no solo, a soja fica mais vulnerável aos danos por estes organismos, devido à dificuldade de absorção de água pelo sistema radicular, provocada por nematoides. A falta de água livre no solo, entretanto, tem a vantagem de dificultar a disseminação destes organismos. Além disso, plantas de soja mais estressadas não favorecerão a multiplicação dos nematoides. Dessa forma, sabendo-se que algumas doenças de soja podem ser favorecidas por períodos de seca, medidas são recomendadas para diminuir eventuais prejuízos em anos de La Niña. Tratamento de sementes, seleção de cultivares resistentes a oídio e a nematoides, controle químico de oídio e melhoria das condições de manutenção de água no solo, principalmente com o uso de plantio direto, são fatores que têm efeito positivo no controle de doenças favorecidas por seca e, consequentemente, no rendiC mento de grãos de soja. Leila M. Costamilan, Embrapa Trigo Ademir A. Henning, Álvaro M. R. Almeida, Cláudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas e Waldir P. Dias, Embrapa Soja
Figura 1 - Evolução do número de focos de ferrugem da soja cadastrados no site do Consórcio Antiferrugem (www. consorcioantiferrugem.net), em diferentes safras
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aplicações desnecessárias de fungicida. De forma oposta à ferrugem, o oídio da soja é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e pode predominar principalmente em regiões com temperaturas amenas, caso as previsões climáticas se confirmem. O oídio tem a capacidade de provocar danos de até 35% de produtividade, no entanto, as cultivares apresentam níveis diferenciados de resistência e seu controle pode ser realizado por meio da aplicação de fungicidas. Podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.) Os pesquisadores Claudine Seixas e Álvaro Almeida apontam que, provavelmente, esta não será uma doença muito importante nesta safra de La Niña, pois seu desenvolvimento está relacionado com bom suprimento de água no solo. Quatro espécies de Fusarium podem estar associadas aos sintomas da doença, F. tucumaniae é a prevalente no Brasil. Este fungo reduz o volume e a nodulação das raízes. A região do colo da planta apresenta mancha avermelhada. As folhas de plantas infectadas apresentam o sintoma conhecido como folha “carijó”, com manchas cloróticas entre as nervuras das folhas, que posteriormente tornamse necróticas. Geralmente, plantas com estes sintomas ocorrem em reboleiras. Solos compactados e com alta umidade favorecem o ataque por esse fungo. O controle dessa doença pode ser auxiliado com a escarificação ou subsolagem, o que permite a “quebra” da camada compactada, favorecendo o desenvolvimento radicular e o aumento da infiltração de água. Nematoides de galhas Meloidogyne javanica, M. incógnita e He-
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Fotos Leila Costamilan
da precipitação na safra. A chuva influencia diretamente no período de molhamento foliar (necessário para a infecção), na disseminação (atuando na liberação, dispersão e deposição de esporos do fungo) e também, indiretamente, na sobrevivência do inóculo (pela menor exposição dos esporos à radiação UV durante períodos nublados). Conforme os dados do Consórcio Antiferrugem, a evolução da doença tem apresentando padrões distintos nas safras, associados aos padrões de precipitação nas diferentes regiões produtoras (Figura 1). Nas safras 2006/07 e 2009/10, sob influência de El Niño, a ferrugem começou mais cedo e o número total de focos foi maior que na safra 2008/09, sob influência de La Niña. Embora as precipitações pluviais irregulares previstas para a safra 2010/11 possam desfavorecer a evolução de ferrugem, as orientações para o manejo da doença não se alteram, devendo ser realizados o monitoramento das lavouras e o acompanhamento da ocorrência da doença na região. O controle de ferrugem deve ser feito após os sintomas iniciais da doença na lavoura, ou preventivamente, levando em consideração o estádio fenológico da cultura, a presença da ferrugem na região, as condições climáticas, a logística de aplicação, a presença de outras doenças e o custo do controle. A baixa umidade no inverno, especialmente na região central do Brasil, tem desfavorecido a brotação de plantas voluntárias e a sobrevivência do fungo, contribuindo com o vazio sanitário, que tem como principal objetivo a redução do inóculo do fungo durante a entressafra. Desta forma, espera-se atraso na ocorrência dos primeiros focos de ferrugem na próxima safra, enfatizando ainda mais a necessidade do monitoramento para evitar
Sistema radicular de soja deformado por galhas causadas por nematoide do gênero Meloidogyne
Soja Fotos Esalq/USP
Suporte nutricional Experimento conduzido pela Esalq aponta que durante a aplicação de Trifloxistrobina + Tebuconazol para o controle da ferrugem asiática em soja, a adição de um complexo de nutrientes composto de fosfito de cálcio e de micronutrientes quelatizados, nas doses de 500g/ha e 600g/ha, não interferiu na eficiência do fungicida e promoveu aumento na produção de grãos
D
os problemas que afetam a cultura da soja, a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi H. Sydow & Sydow, é limitante da produção. De ocorrência generalizada em todas as regiões de cultivo, pode causar redução de até 70% no rendimento da cultura se não for adequadamente controlada. A doença foi constatada pela primeira vez no Brasil na safra 2000/01, no estado do Paraná, e disseminou-se rapidamente para outros estados produtores. Na safra 2002/03, a ferrugem da soja foi relatada nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, e na safra seguinte já estava presente em praticamente todo o país, com prejuízos em diversas regiões produtoras. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com exceção de Roraima, todos os outros 13 estados que cultivam soja já foram atingidos pela doença e para seu controle tem sido realizadas em média 2,3 aplicações de fungicidas/hectare, o que corresponde a um gasto em torno de U$$ 2,19 bilhões no chamado custo-ferrugem (Embrapa, 2009). Godoy & Canteri (2004) relataram a existência de genes dominantes para a ferrugem
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da soja, denominados Rpp1 e Rpp4, identificados em introduções de plantas e cultivares. No entanto, a estabilidade desta resistência é duvidosa, devido à grande variabilidade do patógeno. Atualmente, a maioria das cultivares comerciais utilizadas foi classificada como suscetível e a disponibilidade limitada de materiais resistentes faz com que o manejo da cultura, por meio de épocas de semeaduras antecipadas, coincidentes com períodos de menor população de inóculos no campo, e a utilização de fungicidas sejam as duas alternativas mais importantes de combate a esta doença. Mesmo com o plantio de cultivares resistentes, a aplicação de fungicidas tem se tornado necessária, mas o uso excessivo de
Planta sem sintomas da doença e com adequada nutrição
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triazóis e estrobilurinas apresenta risco de resistência do patógeno a estas moléculas, exigindo maior número de aplicações, o que geralmente tem afetado a fisiologia das plantas e causado reduções na produção. O objetivo deste trabalho foi de verificar a eficiência da aplicação de um complexo de nutrientes junto à calda fungicida, com o objetivo de dar suporte nutricional às plantas, promovendo aumento na resistência à ferrugem da soja e redução dos efeitos negativos causados pelos fungicidas na fisiologia das plantas e na produção de grãos. A pesquisa foi desenvolvida por um grupo de seis alunos de graduação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, Piracicaba (SP), estagiários do Departamento de Produção Vegetal, sob orientação do professor Geraldo José Aparecido Dario e co-orientação do biólogo Fernando Negrisiolo Della Valle. O experimento foi conduzido em condições de campo no município de Paulínia, São Paulo (22°44’35” LS, 47°06’51”W e 609m de altitude). A semeadura foi realizada no dia 16 de dezembro de 2008, com a cultivar CD-219RR, na densidade de 20 sementes por metro. Durante a semeadura foi feita adubação com o equivalente de 300kg/ha da fórmula 03-15-15.
Para o controle das pragas comuns à cultura, foram realizadas três pulverizações com o inseticida metamidofós na dose de 0,50L P.C./ ha (300g i.a./ha). As plantas daninhas foram controladas através da aplicação do herbicida glifosato na dose de 2L P.C./ha (960g i.a./ha). A cultura recebeu periodicamente irrigação por aspersão convencional. O fungicida utilizado foi Trifloxistrobina + Tebuconazol e o fertilizante utilizado é um complexo de nutrientes composto de fosfito de cálcio e de micronutrientes quelatizados, nas concentrações de: 45% P2O5, 12,5% Ca, 2,6% B, 1% Mn, 0,04% Mo e 0,8% Zn. O fungicida foi utilizado em uma única dose, aplicado isolado e em mistura com o fertilizante, que foi adicionado à calda fungicida em quatro doses, tendo um tratamento testemunha, onde não se aplicaram fungicida e fertilizante. O delineamento estatístico utilizado foi o de blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições, totalizando 24 parcelas. Cada parcela foi constituída de dez linhas de plantas de soja com 7m de comprimento, espaçadas de 0,50m, apresentando área de 35m².
Tratamentos
Em todos os tratamentos foram realizadas três pulverizações, espaçadas respectivamente de 13 dias e 14 dias, sendo a primeira realizada
Tabela 1 - Porcentagem média de área foliar infectada pela doença e porcentagem média de desfolha Tratamentos
Dose (P.C./ha)
Testemunha Nativo Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus C.V. (%)
500,00ml 500,00ml + 300,00g 500,00ml + 400,00g 500,00ml + 500,00g 500,00ml + 600,00g
% de área foliar infectada %E 22 DAA 80,00a 95,31 3,75 b 93,75 5,00 b 94,06 4,75 b 94,69 4,25 b 93,75 5,00 b 4,91
% de desfolha 45 DAA 100,00a 31,25 b 23,75 bcd 22,50 cd 20,00 d 17,50 d 5,62
%E 95,31 93,75 94,06 94,69 93,75
Em todos os tratamentos foi adicionado o óleo metilado de soja aureo na concentração de 0,25% v/v. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise de variância, os dados foram transformados em ângulos correspondentes ao arc sen porcentagem. Para o cálculo da Porcentagem de Eficiência (% E), foi utilizada a fórmula de Abbott.
Tabela 2 - Número médio de vagens/dez plantas e número médio de grãos/vagem Tratamentos Testemunha Nativo Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus C.V. (%)
Dose (P.C./ha) 500,00ml 500,00ml + 300,00g 500,00ml + 400,00g 500,00ml + 500,00g 500,00ml + 600,00g
No de vagens / 10 Plantas 145,75 c 225,00 b 328,00 a 339,50 a 324,25 a 337,25 a 5,68
No de Grãos / Vagem 2,06 a 2,02 a 1,86 a 1,88 a 1,92 a 1,87 a 2,59
Em todos os tratamentos foi adicionado o óleo metilado de soja aureo na concentração de 0,25% v/v. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise de variância, os dados foram transformados em ângulos correspondentes ao arc sen porcentagem. Para o cálculo da Porcentagem de Eficiência (% E), foi utilizada a fórmula de Abbott.
aos 36 dias após a emergência da cultura. As pulverizações foram antecipadas devido à ocorrência precoce da doença, o que já era
esperado, visto que a semeadura foi realizada tardiamente para se forçar uma situação favorável ao fungo Phakopsora pachyrhizi H.
Esalq/USP
Sydow & Sydow. As pulverizações foram realizadas com pulverizador costal a gás carbônico, dotado de barra pulverizadora com seis bicos jato plano de uso ampliado XR Teejet 110.02VS, numa pressão constante de 40Lb/pol² e gasto de calda equivalente a 400L/ha. Vinte e dois dias após a terceira e última aplicação dos produtos foi realizada a avaliação de controle da doença, através do critério de área foliar infectada e 45 dias após a terceira aplicação dos produtos foi feita a avaliação da porcentagem de desfolha. Nestas mesmas datas realizou-se a avaliação visual de fitointoxicação das plantas, utilizando a escala EWRC (0 = nenhuma fitointoxicação e 9 = morte das plantas). No dia 4 de maio de 2009, aos 132 dias após a emergência da cultura, procedeu-se a colheita de 15m² centrais de cada parcela para avaliar a produção de grãos e a colheita de dez plantas por parcela para avaliar os parâmetros de produção: “Número de vagens por planta”, “Número de grãos por vagem” e “Peso de 1.000 grãos”, não sendo avaliado “Número de plantas por metro”, devido às aplicações não interferirem neste parâmetro.
Resultado e discussão
Observando-se a porcentagem de área foliar infectada (Tabela 1), verifica-se que todos os tratamentos foram eficientes no controle da ferrugem asiática, não diferindo estatisticamente entre si, com porcentagens de controle que variaram de 93,75% a 95,31%. Este resultado nos mostra a alta eficiência do fungicida no controle da ferrugem asiática e que a adição do complexo de nutrientes à calda fungicida não interfere no comportamento do fungicida. Na mesma tabela onde estão expressos os valores de porcentagem de desfolha, constatase que todos os tratamentos promoveram diminuição da desfolha em comparação à testemunha e que nos tratamentos em que o produto Trafos Green Plus foi adicionado ao fungicida, nas três maiores doses, houve
Equipe coordenada pelo professor Geraldo Dario e pelo biólogo Fernando Della Valle
menor desfolha quando comparado ao tratamento no qual o fungicida foi aplicado isoladamente. Como consequência da menor desfolha as plantas apresentaram maior área fotossintetizante durante seu ciclo, possibilitando alcançar maiores produções de grãos. Com relação aos parâmetros de produção: “número de grãos por vagem”, “número de vagens por planta” e “peso de 1.000 grãos”, apresentados nas Tabelas 2 e 3, verifica-se que, com exceção do “número de grãos por vagem”, nos outros dois parâmetros todos os tratamentos diferiram significativamente da testemunha e no parâmetro “número de vagens por plantas”, nos quatro tratamentos onde o complexo de nutrientes foi adicionado à calda fungicida, as plantas apresentaram maior número de vagens em relação ao tratamento onde o fungicida foi aplicado isoladamente. O maior número de vagens por planta nos tratamentos em que o complexo de nutriente foi adicionado à calda fungicida nos mostra a importância da adequação da nutrição para o melhor desenvolvimento das plantas. A não observância de diferenças significativas entre os tratamentos para os outros dois parâmetros é decorrência de uma compensação fisiológica. Com relação à produção de grãos, a Tabela 3 nos mostra valores superiores de todos os tratamentos em relação à testemunha e nos tratamentos onde o fertilizante foi adicionado ao fungicida, nas doses de 500g/ha e 600g/ha, o rendimento de grãos foi significativamente superior ao tratamento onde o fungicida foi
Tabela 3 - Peso médio de 1.000 grãos em gramas e produção média, em g/15m, por parcela Tratamentos
Dose (P.C./ha)
Testemunha Nativo Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus Nativo + Trafos Green Plus C.V. (%)
500,00ml 500,00ml + 300,00g 500,00ml + 400,00g 500,00ml + 500,00g 500,00ml + 600,00g
Peso de 1.000 grãos (g) 97,00 c 141,50 ab 151,25 a 139,75 b 147,75 ab 145,75 ab 1,71
Produção g/15,00 m2 1.182,50 d 3.227,50 c 3.227,50 bc 3.717,50 abc 3.902,50 ab 4.220,00 a 7,44
Em todos os tratamentos foi adicionado o óleo metilado de soja aureo na concentração de 0,25% v/v. Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise de variância, os dados foram transformados em ângulos correspondentes ao arc sen porcentagem. Para o cálculo da Porcentagem de Eficiência (% E), foi utilizada a fórmula de Abbott. A* Porcentagem de aumento de produção em relação à testemunha.
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%A* 172,94 197,67 214,38 230,02 256,87
aplicado isoladamente, resultado da menor desfolha e do maior número de vagens por planta, proporcionado pelo melhor estado nutricional das plantas. Estes resultados comprovam o papel dos fungicidas no controle da ferrugem asiática e evidenciam a importância da adição de um complexo de nutrientes à calda fungicida. Através de avaliações visuais das plantas, verificou-se que nenhum tratamento apresentou fitointoxicação à cultura.
Conclusão
Nas condições do presente experimento, pode-se concluir que a adição do complexo de nutrientes Trafos Green Plus, nas doses de 500g/ha e 600g/ha, não interfere na eficiência do fungicida Nativo no controle da ferrugem asiática e promove aumento na produção de C grãos de soja. Guilherme Hungueria, Iuri Dario, Leandro Córdova, Murilo Scarso, Stefano Capato, Tiago Alves, Geraldo Dario e Fernando Della Valle, Esalq/USP
a importância
A
extraordinária riqueza em proteínas, a facilidade de cultivo e a escassez da soja no mercado internacional permitiram a rápida expansão da cultura no Brasil e, a partir de 1972, o País surgiu como importante produtor e exportador mundial desta leguminosa. Atualmente, o Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial, com área cultivada na safra 2009/10, próxima a 23,2 milhões de hectares, produção em torno de 67,4 milhões de toneladas e rendimento médio beirando a casa de 3t/ha, sendo Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul os principais estados produtores (Embrapa, 2010).
Soja
Antecipação eficiente
aplicada na maioria das lavouras de soja do País, o processo de inoculação das sementes é frequentemente reportado como uma atividade que reduz a eficiência da semeadura, devido ao dispêndio de tempo para sua operação. Por vezes, esta dificuldade tem sido responsável pela não utilização da inoculação na cultura pelos agricultores. O uso de sementes inoculadas com antecedência de alguns dias da semeadura constitui-se uma prática que tem demonstrado viabilidade. O emprego de sementes pré-inoculadas, porém, depende de vários fatores, especialmente a habilidade da bactéria sobreviver na semente e nas suas condições de armazenamento. Esta prática de inoculação tem se mostrado uma estratégia que tende a difundir-se para utilização nas lavouras de soja e, de fato, muitas indústrias produtoras de inoculantes têm buscado produtos que mantenham a bactéria viável por mais tempo nas sementes e que possam ser utilizados para a comercialização. Avaliações realizadas no Brasil têm indicado que é possível realizar a inoculação antecipada das sementes da soja, mostrando que o produtor poderia optar por realizar a inoculação previamente à semeadura, executando-a no momento oportuno. Em experimentos conduzidos durante dois anos em área de primeiro cultivo no cerrado de Roraima foi observado que a inoculação antecipada em Charles Echer
Fotos Divulgação
Na inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio, do gênero Bradyrhizobium, na cultura da soja, as dificuldades por conta do excessivo tempo gasto com a operação de semeadura tendem a ser superadas pelo emprego de sementes inoculadas com antecedência
O
uso de inoculante contendo bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium é, atualmente, uma tecnologia indispensável para a cultura da soja no Brasil. A eficiência desses
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microrganismos tem possibilitado a obtenção de altos rendimentos de grãos sem a necessidade de aplicação de nitrogênio mineral, tornando o produto competitivo no mercado internacional. Entretanto, apesar desta tecnologia ser
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A inoculação antecipada da semeadura possibilitou nodulação, rendimento de grãos e acúmulo de N nos grãos
A
B
Figura 1 - Nodulação de plantas de soja (A) com inoculação padrão nas sementes de soja no momento do plantio e (B) inoculação das sementes cinco dias antes da semeadura
cinco dias da semeadura possibilitou nodulação das plantas, rendimento de grãos e acúmulo de N nos grãos semelhante à inoculação padrão realizada nas sementes no ato do plantio (Figuras 1, 2 e 3). Nesses experimentos, utilizou-se um inoculante comercial turfoso recomendado para a inoculação no plantio e, mesmo com esse produto, observou-se não haver diferenças significativas entre os métodos de inoculação, indicando
que as bactérias inoculadas foram capazes de sobreviver nas sementes de soja durante o período de armazenagem, quando não tratadas com o fungicida, e que é possível a obtenção de rendimentos superiores a 3.500kg/ha com a inoculação em pré-semeadura. Considerando que o solo onde foram conduzidos os experimentos é arenoso, pobre em matéria orgânica e desprovido de bactérias nodulantes da soja, o mé-
todo de inoculação em pré-semeadura se mostrou bem sucedido para garantir o desenvolvimento das plantas de soja, uma vez que todas as variáveis analisadas foram semelhantes à inoculação padrão nas sementes. Vale destacar que em condições de campo, esta prática pode apresentar impacto positivo, permitindo maior flexibilidade ao produtor na inoculação das sementes. Contudo, nesses experimentos,
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Da esquerda para direita: inoculação padrão das sementes no dia da semeadura, tratamento das sementes com fungicidas mais inoculação padrão das sementes no dia da semeadura, inoculação das sementes com cinco dias de antecedência da semeadura e tratamento das sementes com fungicidas mais inoculação das sementes com cinco dias de antecedência da semeadura
quando se avaliou a inoculação em présemeadura em sementes tratadas com fungicidas, observou-se que o efeito foi aumentado, evidenciando a morte acentuada das bactérias do inoculante. Nesse caso, o fungicida reduziu a no-
dulação das plantas em mais de 70% e o rendimento de grãos em aproximadamente 30%. Também é importante considerar que os inoculantes utilizados nesse estudo consistiam de produtos comer-
ciais em veículos turfosos e que o uso de inoculantes com outras formulações também precisa ser avaliado, haja vista que a turfa reconhecidamente fornece maior proteção às bactérias do que veículos líquidos. Além disso, também é possível que mesmo produtos turfosos apresentem diferenças na proteção bacteriana. Ademais, o fato do tratamento com inoculação em pré-semeadura ter apresentado alta nodulação das plantas em solo praticamente desprovido de bactérias nodulantes da soja indica que as bactérias recomendadas para a soja são capazes de sobreviver na semente pelo período de pelo menos cinco dias em condições ambientais normais, desde que as sementes não tenham recebido o tratamento com fungicidas, o que abre a possibilidade para as indústrias investirem em produtos próprios para a inoculação das sementes em préC semeadura. Jerri Édson Zilli, Embrapa Roraima Mariangela Hungria, Embrapa Soja Rubens José Campo, Biagro do Brasil
Figura 2 – Massa de nódulos secos e nitrogênio acumulado nos grãos de soja com inoculação padrão e inoculação em pré-semeadura sem o uso de fungicidas
Figura 3 – Rendimento de grãos de soja em experimentos com inoculação padrão e inoculação em pré-semeadura sem o uso de fungicidas
Figura 5 - Massa de nódulos secos de plantas de soja com inoculação padrão e inoculação em pré-semeadura após o tratamento das sementes com fungicida
Figura 6 – Rendimento de grãos de soja com inoculação padrão e inoculação em présemeadura após o tratamento das sementes com fungicida
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Soja
Vale a pena? Estudos da Fundação Chapadão, em lavouras de soja do Centro-Oeste brasileiro, demonstram que nos primeiros anos de cultivo é possível reduzir e até mesmo retirar a adubação de base sem afetar a produtividade. Porém, esta prática não se mostra sustentável com o decorrer das safras
A
objetivo de corrigir a fertilidade química dessas áreas para patamares médios e até mesmo altos em algumas áreas. Na região dos Chapadões (Chapadão do Sul - MS, Costa Rica - MS, Chapadão do Céu - GO e Alto Taquari – MT) predomina o cultivo de soja, sucedido pelo cultivo de milho safrinha, milheto ou nabo forrageiro e em rotação com a cultura do algodão ou milho de verão, combinação esta que realizada conscientemente pode favorecer o manejo da adubação no sistema de produção uma vez que a soja cultivada em sistema de rotação se beneficia dos nutrientes dei-
Cultivar
região Centro-Oeste do Brasil assume extrema importância no cultivo da soja por concentrar mais de dez milhões de hectares em área cultivada, com produtividade média ao redor de três mil quilos por hectare (Conab, 2010). Nesta região há predomínio de solos anteriormente ocupados por vegetação do cerrado, originalmente pobres em nutrientes, principalmente fósforo, além de níveis tóxicos de outros elementos. Porém, a grande maioria dessas áreas obteve altos investimentos por parte dos agricultores, durante os últimos 20 anos, com o
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xados no solo, principalmente quando plantada após o algodão. Entretanto, em função de condições de mercado de grãos e fibras, os produtores têm optado pela permanência do cultivo da soja sem rotação. Nos últimos anos verificou-se significativa elevação no preço dos fertilizantes e, associado a isso, baixo preço pago pela saca de soja, sobretudo pela falta de estrutura física para o escoamento da produção, obrigando muitos produtores a diminuir os investimentos na lavoura, principalmente com a adubação, que de acordo com Leal e Kaneko (2010) ocupou aproximadamente 36% do custo com insumos para a cultura da soja com o objetivo de alcançar uma produtividade de 60 sacas por hectare na região dos Chapadões na safra 2009/10.
Figura 1 - Média de produtividade (kg/ha) da soja cultivada em Chapadão do Sul (MS), em função da redução da dose da fórmula 02-20-20, safras 2007/08 e 2008/09
Figura 2 - Média de produtividade da soja cultivada em Chapadão do Sul (MS), em função da redução da dose de 02-20-20, safra 2009/10
(y = - 3,381629x + 2158,518), R2 = 93,60%
dutividades obtidas nas safras 2007/08 e 2008/09. Observa-se que nestes dois anos de cultivo, não houve diferença estatística entre as doses de fertilizante
na produtividade da soja, mostrando a capacidade do solo em suprir a demanda nutricional da soja. Considerando a camada de solo 0-0m, 20m de profun-
Figura 3 - Porte das plantas e produtividade da soja (sacas ha-1) em função da redução das doses de 02-20-20. Chapadão do Sul (MS), safra 2009/10
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Diante deste cenário, a Fundação Chapadão, localizada em Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul (800m de altitude), instalou ensaio por três safras consecutivas (2007/08, 2008/09 e 2009/10) com o objetivo de verificar o comportamento da produtividade da soja em função da redução de doses de fertilizante (02-20-20¬) em solo de alta fertilidade: M.O = 32g/dm3, pH(CaCl2) = 4,7, P (resina) = 39mg/ dm3, K (resina) = 2,3mmolc/dm3, Ca = 34mmolc/dm3, Mg = 11mmolc/dm3, Al = 1mmolc/dm3, H+ Al = 48mmolc/ dm3, teor de argila = 72,7%, silte = 12,7% e areia = 14,6%. O experimento foi alocado em outubro de 2007 na estação de pesquisa da Fundação Chapadão, em latossolo vermelho, ocupado anteriormente com algodão. Nas entressafras, entre cada cultivo, foi semeado milheto como planta de cobertura, sem adubação. Os tratamentos foram constituídos da redução de 0%, 33%, 66% e 100% da fórmula 02-20-20, correspondendo a 420kg/ha, 280kg/ha, 140kg/ha e 0kg/ha de fertilizante, sendo que em todos os anos agrícolas, as doses foram aplicadas no mesmo local do ano anterior. Na Figura 1 encontram-se as pro-
Dose (Kg ha-1) 02-20-20 Produtividade (sacas ha-1)
Leal e Kaneko avaliaram efeito da adubação na produtividade
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didade para o solo em questão antes da instalação do ensaio, havia aproximadamente 179kg.ha -1 por hectare de P2O5 e 216kg/ha de K 2O. Para o terceiro ano de cultivo (safra 2009/10), houve efeito significativo da redução das doses na produtividade da soja. Verifica-se na Figura 2, que após dois anos consecutivos de cultivo, houve resposta para a redução da dose de 0220-20 na produtividade da soja, sendo que para cada quilograma de adubo retirado houve redução de 3,38kg/ha na produtividade da soja. Portanto, para a situação em questão, foi possível reduzir e até mesmo retirar a adubação de base na cultura da soja sem afetar a produtividade nos primeiros anos de cultivo, porém, esta prática não se mostrou sustentável (conforme já esperado). Assim, os técnicos e os produtores rurais devem se conscientizar que a adoção desta prática pode acarretar futuros insucessos na atividade. Este ensaio continua em campo e será avaliado por mais algumas safras, sendo que o próximo passo é quantificar as características químicas deste solo
Flávio Kaneko
Foi possível reduzir e até mesmo retirar a adubação de base na cultura da soja sem afetar a produtividade nos primeiros anos de cultivo, porém, esta prática não se mostrou sustentável
após as três safras de manejo, além da necessidade de investimento para que a terra retorne aos patamares anteriores C de fertilidade.
Flávio Hiroshi Kaneko, Fundação Chapadão Aguinaldo José de Freitas Leal, UFMS/CPCS
Arroz
Início seguro Estar atento aos cuidados necessários para a correta implantação da lavoura de arroz irrigado é o primeiro passo para que o produtor possa maximizar seus rendimentos
A
busca pela maximização da produtividade na cultura do arroz irrigado é determinada pelo uso das práticas de manejo recomendadas da maneira mais precisa desde os estádios iniciais da cultura. Diferente do que muitos produtores acreditam é a implantação da lavoura uma das fases de maior impacto na formação dos componentes de produção. Estima-se que 60% do potencial produtivo da cultura já é definido nos primeiros 45 dias do seu desenvolvimento. Além disso, atualmente, há uma tendência de antecipação das semeaduras para épocas de plantio cada vez mais precoces. Assim, um novo ambiente de cultivo, diferente do que o produtor está acostumado, começa a exigir algumas especificidades nas recomendações de manejo tradicionalmente já conhecidas.
Época de semeadura
Neste período do ano, o ideal é que os produtores já estivessem com toda a área destinada ao cultivo de arroz, pronta ou no máximo, em fase final de preparos para a safra 2010/11. Este procedimento é extremamente
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necessário para poder se colocar em prática a semeadura na época correta, o que se constitui no principal fator de produtividade na cultura de arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Para tanto, é importante a organização do produtor nas atividades de adequação da área e preparo antecipado do solo. Nestas ações, deve-se atentar principalmente para a drenagem e o nivelamento do solo, para facilitar a semeadura na época adequada e se ter, posteriormente, maior uniformidade na irrigação. Uma vez que a área esteja pronta, para semeadura em solo seco, deve-se dessecar a cobertura com antecedência suficiente para que a palha não interfira negativamente no estabelecimento inicial do arroz. Este sistema, de semeadura direta, favorece mais a implantação da lavoura na época recomendada, em detrimento do sistema convencional. Já para o sistema de cultivo pré-germinado, devido às suas características em relação ao preparo, proporciona facilmente a semeadura da lavoura na melhor época. A área de lavoura pronta facilitará a programação do produtor, já que os períodos favoráveis para semeadura são limitados
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no estado do Rio Grande do Sul, devido às intensas chuvas que normalmente ocorrem entre o final do inverno e início da primavera. Tão logo as condições de umidade do solo permitam a entrada de maquinários na lavoura, pode ser iniciada a semeadura. Para áreas maiores, o ideal é que esta prática comece já no mês de setembro, podendo-se adiar para outubro no caso de áreas menores. No entanto, independentemente da situação de tamanho de área a ser cultivada ou de qualquer outro fator inerente ao processo, o ideal é que a atividade de semeadura se encerre, no máximo, até a primeira quinzena de novembro. Para semeaduras mais antecipadas, durante o mês de setembro até o início de outubro, deve-se começar nas áreas com melhor drenagem, preferencialmente com menos chances de sofrerem inundações que possam vir a ocorrer em anos mais chuvosos. Isto é mais previsível em anos em que ocorrem eventos El Niño de moderada a forte intensidade. O escalonamento da semeadura deve ser feito de preferência inicialmente com cultivares de ciclos tardio e médio e, posteriormente, com cultivares precoces, na busca por melhores respostas de produtividade. Entretanto, isto dependerá também da oferta de tratores, semeadoras e colhedoras à disposição do produtor para ajustar, como melhor lhe convier, as atividades de semeadura e colheita. Este processo deve ser adequado às condições de cada produtor, buscando reduzir as perdas e principalmente não afetar a qualidade do produto final. Entre as principais práticas de manejo na cultura do arroz irrigado, a época de semeadura ocupa papel fundamental, quando
Fotos Irga
O produtor precisa observar a densidade recomendada, com especial atenção às regulagens na distribuição das sementes e profundidade de plantio
se buscam aumento e estabilidade do rendimento de grãos. Dentre os diversos fatores que interferem no rendimento de grãos da cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul (RS), destacam-se as oscilações nas condições meteorológicas que ocorrem durante o seu ciclo de desenvolvimento. A maior disponibilidade de radiação solar, principalmente durante a fase reprodutiva da cultura até o enchimento de grãos, é fundamental para obtenção de altos rendimentos. Esta condição mais favorável ocorre nos meses de dezembro e janeiro no Rio Grande do Sul, quando a densidade de fluxo de radiação solar é máxima. A radiação solar é o principal parâmetro na determinação da época de semeadura ideal. A temperatura é outro fator limitante para a produtividade da cultura no Estado, sendo que a ocorrência de temperaturas frequentes iguais ou inferiores a 15ºC durante a fase reprodutiva, na microsporogênese e no florescimento, pode influenciar negativamente no rendimento de grãos. As baixas temperaturas após a semeadura e na fase inicial da cultura aumentam o período de emergência ou prolongam o ciclo da planta de arroz, mas sem interferir na produtividade final. Preparo, adequação da área, adubação e irrigação O objetivo do preparo de solo é propiciar as melhores condições de plantio para a cultura na época de semeadura ideal. Entendese como preparo, a eliminação da restava da
safra anterior, com o uso de implementos agrícolas e, nas áreas que permitem, a sistematização. Atualmente, vem se recomendando o “preparo antecipado do solo”. Após a colheita da safra, os meses consequentes (março, abril e maio) são muito favoráveis para o preparo de solo com máquinas. Porém, os meses que imediatamente antecedem a semeadura da cultura (junho, julho e agosto), no Rio Grande do Sul, na maioria dos anos são chuvosos. Assim, o produtor que realiza o preparo antecipado tem a garantia de semear, quando ocorrer a primeira condição de umidade de solo favorável à entrada de máquinas. Já o produtor que atrasou o seu preparo, quando a umidade do solo permitir que seja feito o plantio, esse orizicultor recém iniciará o preparo, atrasando, portanto, a semeadura. A adubação deve ser realizada baseada nos resultados de análise de solo e considerar as expectativas de resposta, buscando-se prioritariamente a melhor possível. A expectativa desta resposta está diretamente relacionada com o nível de adequação a todos os demais fatores que influenciam a produtividade do arroz. Estes fatores são: época de semeadura ideal, uso de cultivares com alto potencial produtivo na densidade de semeadura adequada, bom manejo da irrigação, controle de plantas daninhas (principalmente arroz-vermelho) e controle fitossanitário da lavoura. Recomenda-se o começo da irrigação quando o arroz estiver no estádio de três a
quatro folhas para sistemas de semeadura em solo seco. Já para o sistema pré-germinado, tradicionalmente inicia-se a submersão do solo 20 dias a 30 dias antes da semeadura, por ocasião do preparo do solo. Para a semeadura no seco, adotada em aproximadamente 90% da área de lavoura no Rio Grande do Sul, a antecipação da entrada de água propicia oferta mais rápida de nutrientes para as plantas e aumenta a eficiência de controle de plantas daninhas com o uso de herbicidas. Sementes certificadas O uso de sementes certificadas pode ser resumido em garantia de purezas genética e física, sanidade e germinação. Além disso, o uso de sementes sem garantia de procedência é um dos principais fatores na introdução e/ou disseminação de arroz-vermelho nas lavouras. O produtor muitas vezes esquece, mas antes da entrada dos materiais CL, que permitiram o manejo do arroz-vermelho com herbicidas, muitas áreas de arroz estavam inviabilizadas, principalmente pelo uso de sementes contaminadas. Além disso, com o uso de sementes provenientes de campos de produção certificados, reduz-se o risco de perdas significativas no estande inicial de plantas por efeito de fungos carregados nas sementes (sementes com alta contaminação por Bipolaris oryzae, podem reduzir em até 40% o estande). Também, evita-se a introdução de doenças em áreas sem histórico, minimizando a necessidade posterior de fungicidas na parte aérea. Profundidade de semeadura e densidade de plantas Como critério na formação do estande inicial, deve-se garantir em torno de 150 plantas/m2 a 300 plantas/m2. Esta população de plantas é viabilizada pela interação entre a quantidade de sementes, a profundidade de semeadura e época de semeadura. Atualmente, trabalha-se com o valor base de 100kg/ ha de sementes aptas, como recomendação geral. Porém, para alguns materiais com alto potencial de afilhamento e híbridos, as densidades poderão ser reduzidas até 45kg/ha.
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Insetos como bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae), percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) e lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) estão entre os limitantes de produtividade na fase inicial
O produtor deverá estar ciente de que a densidade recomendada necessita ser sempre buscada, de modo que as regulagens na distribuição das sementes e profundidade de plantio são essenciais. É fácil perceber uma lavoura onde não foi dada atenção a este item. A desuniformidade na distribuição das plantas na linha e na profundidade de plantio acarreta uma defasagem na sincronia de emissão dos afilhos/planta e, consequentemente das panículas. Assim, a eficiência na aplicação de outras práticas agrícolas como aplicação de nitrogênio, água e fungicidas fica comprometida. A profundidade de semeadura está intimamente relacionada à época de semeadura. Quanto mais tarde for feita a semeadura maior deverá ser a profundidade de plantio, acompanhando o sentido da umidade do solo. Nas semeaduras, nas chamadas épocas antecipadas, o cuidado deverá ser redobrado. Nestas épocas, em geral, ocorre elevada umidade do solo associada a baixas temperaturas, determinando redução na velocidade de emergência das plantas. Assim, quanto mais profunda a semeadura, maior o risco de morte de plantas por ausência de oxigênio, sendo recomendadas semeaduras superficiais com uma profundidade em torno dos 2,0cm. Controle inicial de doenças Diferente do sistema de arroz em terras altas, a incidência inicial de doenças no arroz irrigado não é representativa. Porém, atualmente nas semeaduras antecipadas, o uso de fungicidas no tratamento de sementes tem determinado ganhos no incremento de plantas por área e velocidade de estabelecimento inicial da cultura. Os resultados são evidenciados especialmente quando não se tem certeza quanto à qualidade sanitária das sementes. Em geral, esta vantagem inicial não se reflete em rendimento de grãos, porém, permite que a cultura se estabeleça plenamente, de maneira mais rápida e uniforme, favorecendo a aplicação das demais práticas agrícolas. Na medida em que há o atraso da época de semeadura, o aumento da temperatura
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do solo permite que a planta naturalmente se estabeleça mais rápido. O efeito do fungicida com foco na uniformidade de estande passa a ser minimizado, não justificando mais o seu uso para este fim. Controle inicial de insetos A ocorrência de insetos na fase inicial da cultura é um dos maiores limitantes à produtividade neste momento. As principais pragas que atacam a lavoura no estágio inicial são: bicheira-da-raiz, percevejo-do-colmo, lagarta-da-folha e o pulgão-da-raiz. A bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae) é a mais importante praga, atacando mais de 64% da área semeada. Os adultos vêm para a lavoura com a entrada da água, pela chuva ou pela irrigação. Após aproximadamente 20 dias do início da irrigação surgem as larvas, que cortam as raízes causando danos (em torno de 10%). Em áreas com reconhecido histórico de ocorrência da praga, recomenda-se o tratamento das sementes com fipronil. Mas o controle também pode ser realizado, após a entrada d’água, quando, em uma amostra de 15 colmos, forem encontradas a partir de cinco larvas. O percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) tem como hábito localizar-se na parte inferior da planta, dificultando a amostragem. Os danos verificados no afilhamento causam o sintoma conhecido como coração morto, em função da morte da folha central. A lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda) pode também atacar as plantas na fase inicial, principalmente antes da irrigação. As plantas são cortadas até o nível do solo causando redução do estande. O pulgão-da-raiz, (Rhopalosiphum rufiabdominale) ataca a lavoura antes da irrigação, ocorrendo principalmente nas taipas. O inseto forma colônias nas raízes, onde suga a seiva. As plantas atacadas apresentam clorose nas folhas, com redução na estatura e podendo ocorrer a morte. Controle de plantas daninhas O controle de plantas daninhas é
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fundamental no manejo da cultura, pois um combate ineficiente acarreta em perda de produtividade. No sistema de semeadura em solo seco, deve-se trabalhar com a aspersão de glifosato em “ponto-de-agulha” para controlar as plantas daninhas já emergidas antes do arroz, buscando-se assim maior eficiência de controle e facilitando o controle em pós-emergência. Esta prática é fundamental para um bom manejo de plantas daninhas, principalmente em áreas com infestações de arroz-vermelho onde se adota o sistema de produção Clearfield. Neste caso, recomenda-se utilizar os herbicidas imidazolinonas registrados para este sistema em aplicações sequenciais, em pré (misturado com glifosato no “ponto-de-agulha”) e em pós-emergência, tendo como resultado maior eficiência de controle. No sistema de semeadura direta, mais adotado no Rio Grande do Sul, deve-se trabalhar com dessecações sequenciais, sendo a primeira na pré-semeadura, e mais uma ou duas aplicações de glifosato, dependendo da infestação de plantas daninhas, em pré-emergência da cultura, mas sempre priorizando a de “ponto-deagulha”. A utilização de herbicidas com ação pré-emergente se constitui também em uma boa estratégia, principalmente nas situações de semeadura em épocas antecipadas e em áreas sujeitas a maior atraso da irrigação. No controle em pós-emergência devem ser utilizados herbicidas de acordo com a necessidade de cada situação, baseado nas ervas presentes na área de lavoura. O ideal é que se combine e se alterne diferentes mecanismos de ação para evitar o surgimento e/ou aumento de resistência de plantas daninhas a herbicidas. Carlos Henrique Paim Mariot, Daniel Santos Grohs, Jaime Vargas de Oliveira e Thais Stella de Freitas, Irga
O pulgão-da-raiz ataca a lavoura antes da irrigação, principalmente nas taipas
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Eventos
Ciência premiada Basf reúne 500 participantes em fórum técnico-científico em Campinas, São Paulo
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m dos mais importantes fóruns internacionais de aprendizado e desenvolvimento técnico, científico e agrícola, o Top Ciência da Basf, reuniu em agosto, em Campinas, São Paulo, pesquisadores, cientistas, agricultores e consultores de 12 países da América Latina. Neste ano foram inscritos mais de 400 trabalhos científicos, dez vezes mais que na primeira edição, em 2006. Outro recorde foi o número de participantes: mais de 500 pessoas passaram pelo evento. Além da premiação, os participantes conheceram as instalações da Estação Experimental Agrícola de Santo Antônio de Posse – que comemorou 30 anos – e também participaram da inauguração do Laboratório de Monitoramento de Resistência e Testes com Pragas Urbanas. Durante o encontro, pesquisadores de universidades e de instituições e também colaboradores da Basf apresentaram resultados de pesquisas e investimentos aos participantes e a mais de 50 municípios brasileiros por meio de transmissão pela Internet. Outros 400 espectadores puderam acompanhar, a distância, as palestras realizadas em plenária e as apresentações nas salas divididas por cultivos, por
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meio do envio de questões através de chat. Já à noite, durante a quinta edição do Prêmio Top Ciência, a empresa contemplou 22 pesquisas desenvolvidas no Brasil e outras sete de países da América Latina para diferentes cultivos divididos nas seguintes categorias: oleaginosas, cereais e cereais de inverno, perenes e hortifruti. “A companhia visa elevar o conhecimento acerca das ferramentas necessárias para se obter aumento de produtividade e qualidade nas lavouras, assegurando a competitividade brasileira”, explica o vice-presidente sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para a América Latina, Eduardo Leduc.
Desde a edição de 2009, a empresa possibilita que os pesquisadores tenham seus projetos divulgados, com o reconhecimento dos seus direitos de propriedade, ou seja, patenteados. São oferecidos recursos que objetivam ampliar a geração de inovações e, assim, realimentar o ciclo de criação técnico-científica do agronegócio. Os responsáveis pelos melhores trabalhos foram premiados com uma viagem à Espanha e lá visitarão, ainda este ano, a Estação Experimental da Basf, em Sevilha, e também participarão de um workshop, em Barcelona, que reunirá cientistas de países europeus para o intercâmbio de informações
Durante a realização do Top Ciência a empresa inaugurou o novo laboratório de tecnologia, instalado na Estação Experimental Agrícola de Santo Antônio de Posse
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sobre as melhores práticas agrícolas. Confira no Box os vencedores e suas categorias.
Estação Experimental comemora 30 anos
Os participantes do evento tiveram a oportunidade de conhecer a Estação Experimental Agrícola da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf que este ano comemora 30 anos. A estação, instalada no município de Santo Antônio de Posse, na região metropolitana de Campinas, é considerada um dos elos na cadeia mundial de desenvolvimento de produtos fitossanitários da empresa. Lá são realizados trabalhos de pesquisa em colaboração direta com o Centro de Pesquisas Agrícolas de Limburgerhof, na Alemanha. As pesquisas correspondem às primeiras fases do desenvolvimento dos produtos fitossanitários, antes que cheguem ao mercado. A Estação ocupa uma área de 36 hectares onde são pesquisados produtos para os cultivos de café, algodão, amendoim, arroz, cevada, feijão, girassol, milho, soja, trigo, abóbora, alho, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, melão, morango, pimentão, pepino, quiabo, repolho, tomate, crisântemo, rosa, citros (laranja e limão), manga, nectarina, pêssego, uva e maçã.
Inauguração do laboratório de tecnologia
Durante a realização do Top Ciência a empresa inaugurou o novo laboratório de tecnologia, instalado na Estação Experimental Agrícola de Santo Antônio de Posse. O investimento possibilitará a realização de análises com o objetivo de monitorar possíveis resistências de fungos, insetos e plantas daninhas a diferentes famílias de produtos químicos. No novo laboratório poderão ser realizadas análises remotas por câmera, em que será possível simular e monitorar o desenvolvimento de culturas e alvos biológicos, artificialmente e a distância, em diferentes condições de temperatura, umidade e luminosidade. A equipe do laboratório já está preparada para monitorar o fungo da ferrugem asiática da soja e a planta daninha arroz vermelho, prejudicial C às lavouras de arroz.
vencedores Cereais de inverno - Lucas Navarini Fundacep / Cruz Alta (RS) - Ricardo Silveiro Balardin Universidade Federal de Santa Maria / Santa Maria (RS)
Perenes/Café - Jose Bras Matiello Procafé - Rio de Janeiro (RJ) - Antonio Neto Consultor independente / Linhares (ES)
Cereais - Sérgio Abud Embrapa / Planaltina (DF) - Césio Humberto de Brito Universidade Federal de Uberlândia / Uberlândia (MG) - Jaqueline Huzar Novakowski Unicentro / Guarapuava (PR) - Evandro Binotto Fagan Universidade de Patos de Minas / Patos de Minas (MG)
Perenes/Citros - Antonio Reinaldo Pinto Silva Coopercitrus / Bebedouro (SP) - Rossano Ferraz Coopercitrus - Bebedouro (SP)
Hortifruti - Zair Molon – Engenheiro agrônomo Argenta / Caxias do Sul (RS) Hortifruti/Fumo - Andréa Rocha Universal Leaf Tobaco / Santa Cruz do Sul (RS) Hortifruti/Mudas - Thiago Factor Instituto Agronômico de Campinas / Mococa (SP) Hortifruti/Batata - Hilário Miranda Filho Instituto Agronômico de Campinas (SP)
Perenes/Cana - Michel da Silva Fernandes Usina Cerradão / Frutal (MG) - Verônica Massena Reis Embrapa-Seropédica / Rio de Janeiro (RJ) Oleaginosas - Matheus Zanella Reativa Consultoria /Balsas (MA) - Mauro Junior Natalino da Costa Fundação Rio Verde (MT) Lucas do Rio Verde (MT) - Augusto César Pereira Goulart Embrapa- CPAO / Dourados (MS) - Dejania Vieira de Araújo Universidade Estadual de Mato Grosso / Tangara da Serra (MT) - Cleiton Antônio da S. Barbosa Círculo Verde Consultoria / Luiz Eduardo Magalhães (BA) - Rogério Peres Soratto Unesp Botucatu / Botucatu (SP)
Leduc falou sobre o aumento de produtividade e qualidade nas lavouras brasileiras
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Eventos
Com sustentabilidade Com foco na substituição de substâncias do seu atual portfólio por uma nova geração de princípios ativos e lançamento de 18 produtos na área de BioScience até 2016, a Bayer CropScience projeta crescimento sustentável para os próximos anos
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m sua Conferência Anual para a Imprensa, realizada no site de Monheim, Alemanha, a Bayer CropScience divulgou os resultados referentes a 2010. Freadas pelo inverno rigoroso no Hemisfério Norte e pelo excesso de capacidade do mercado de herbicidas, as vendas da empresa caíram 3% no primeiro semestre de 2010, principalmente nos segmentos de fungicidas e tratamento de sementes, área em que a companhia é líder mundial. Mas as perspectivas apontam para uma recuperação no decorrer do segundo semestre, o que deverá garantir inversão dos números negativos do primeiro período. Esta queda momentânea, no entanto, não preocupa o presidente do Conselho de Administração da Bayer CropScience, Friedrich Berschauer, que vê as perspectivas de negócios de médio e longo prazo muito positivas, alavancadas principalmente pela demanda mundial por alimentos de alta qualidade, ração animal, além de energias renováveis e fibras vegetais.
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O cenário que se mostra promissor para a empresa, ao mesmo tempo preocupa Berschauer, que chamou a atenção para as crescentes flutuações de oferta e demanda e para o clima cada vez mais imprevisível. Segundo o CEO, será necessária uma segunda “revolução verde” para dar conta de toda a demanda de alimentos nas próximas décadas. O executivo alerta que para alimentar o mundo será preciso ir além do desenvolvimento de pesquisas agrícolas e inovações tecnológicas. "Precisamos contemplar também aspectos relacionados à infraestrutura, ao mercado e à economia, além de fatores políticos e sociais devem ser interligados e coordenados. Só então o abastecimento global de alimentos e outros produtos agrícolas, por preços acessíveis e em qualidade suficientemente elevada, poderá ser salvaguardado", avalia. A Bayer CropScience acredita que está bem posicionada neste ambiente, com soluções integradas para a agricultura que vão desde o plantio até a colheita. Além dos novos
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ingredientes ativos que tiveram de ser introduzidos no mercado devido ao desenvolvimento de resistência entre pragas e plantas daninhas e para combater novas doenças, a proteção climática e as questões de sustentabilidade também estão tendo papel cada vez mais importante.
Novos ingredientes ativos
A empresa prevê também um potencial de pico global de vendas superior a um bilhão de euros a partir de produtos à base de seis novas substâncias que planeja lançar nos dois próximos anos. Entre os ingredientes ativos estão três fungicidas de uma nova geração de inibidores da cadeia respiratória de fungos: Aviator Xpro (bixafen), Luna (fluopyram) e Emesto, respectivamente, e Emerion (penflufen), que será lançado no mercado em 2012 na forma de tratamento de semente. “Um método de proteção de cultivos amigável ao ambiente”, explica Berschauer. Outro ingrediente ativo é o novo fungicida Routine (isotianil) para
combater a brusone, doença do arroz economicamente mais importante do mundo. O Aviator Xpro, já aprovado para comercialização no Reino Unido e na Alemanha, é um fungicida para cereais que carrega características capazes de impactar positivamente a fisiologia da planta. Ele foi desenvolvido especificamente para aplicação foliar para doenças como septoriose e ferrugem marrom. Para Berschauer, o ingrediente ativo bixafen definirá um novo padrão em combinação com protioconazol da Bayer.
Sementes e traits
Outra área em que a empresa prevê grande potencial de crescimento é nos segmentos de sementes e traits. Como líder mundial em diversos cultivos, incluindo sementes de algodão, a empresa recorrerá à sua expertise para expandir seu negócio. Aproximadamente 18 novos produtos estão programados para serem lançados até 2016. Por exemplo, sementes de algodão resistentes ao herbicida glifosato, resultado de pesquisa da própria Bayer CropScience, já serão comercializadas nos Estados Unidos a partir de 2011. Testes também já estão sendo feitos com arroz que resiste melhor a inundações ou salinizações.
Cana-de-açúcar
Outra cultura que foi incluída no portfólio e que interessa diretamente aos produtores brasileiros é a cana-de-açúcar, cultura que já está sendo pesquisada pela empresa juntamente com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) aqui no Brasil. O objetivo principal desta parceria é buscar variedades, para a produção de etanol, com teor mais alto de açúcar, que já demonstra em testes iniciais um aumento de 30%. Parcerias desta mesma natureza estão sendo feitas em outras partes
Novo comando
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m 1º de outubro, Friedrich Berschauer, presidente global da Bayer CropScience desde 2004, foi sucedido por Sandra E. Peterson, que ingressou no Conselho de Administração da Bayer CropScience em 1º de julho deste ano. Sandra é norte-americana, fazia parte do Comitê Executivo da Bayer HealthCare desde maio de 2005 e, mais recentemente, liderou a divisão Diabetes Care, que integra a unidade Medical Care. "Temos uma oportunidade de ouro para nos posicionarmos de forma a prosperar no dinâmico mercado agrícola ao melhorar nossas principais competências, ao continuar oferecendo novas tecnologias e soluções otimizadas aos nossos clientes e ao nos estabelecermos em regiões emergentes e estratégicas", disse Peterson, em sua apresentação durante a Conferência Mundial para a Imprensa. A visão estratégica e empresarial de Friedrich Berschauer colocou a empresa em uma posição forte e ela agora está do mundo, como a Chinese Oil Crops Research Institute (Ocri) para desenvolver novas variedades de colza resistentes a doenças e com maior teor de óleo. A Bayer CropScience já fechou cerca de 80 projetos de parceria deste tipo, 20 deles celebrados nos últimos 12 meses.
Sustentabilidade
Uma palavra repetida várias vezes por
Durante a realização do Top Ciência a empresa inaugurou o novo laboratório de tecnologia, instalado na Estação Experimental Agrícola de Santo Antônio de Posse
bem preparada para os desafios futuros, acrescentou. Sandra é a primeira mulher presidente global da Bayer CropScience, também a primeira pessoa de fora da Alemanha a exercer o cargo.
Berschauer foi sustentabilidade, o que acredita ser o único caminho para superar os desafios que serão impostos ao agronegócio, como limitação das terras cultivadas, crescente demanda por alimentos e alterações climáticas. Dentro dessa perspectiva, o executivo destacou dois projetos específicos desenvolvidos pela Bayer CropScience, um na Indonésia e outro na Índia. A empresa está implementando na Indonésia um programa de cultivo sustentável de arroz, que combina a semeadura de arroz pré-germinado com o uso eficiente de proteção e fertilização. Como resultados podem ser citados aumento de 10% no rendimento, diminuição de emissão de gás metano em até 30%, por não ser necessário o replante, além de redução considerável no consumo de água. O projeto da Índia está focado na produção de vegetais através de um programa entitulado “Food Chain Partnership”, que envolve um total de 65 mil agricultores em 125 projetos no cultivo de hortaliças com o pimentão, tomate, berinjela e batatas cultivadas através de práticas agrícolas rentáveis e sustentáveis. Com todas essas estratégias, a Bayer CropScience pretende fortalecer ainda mais a empresa e mantê-la no topo das agroquíC micas. Charles Echer viajou a Moheim a convite da Bayer CropScience
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Coluna ANPII
Rumos novos
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Leque de emprego da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) está em franca expansão, com novas possibilidades de uso que extrapolam o campo da agricultura
urante aproximadamente 50 anos acostumamonos a associar fixação biológica de nitrogênio com plantas da família das leguminosas. O uso de inoculantes à base de Rhizobium em trevos, alfafa, ervilha e outras plantas de clima temperado firmouse como uma tecnologia altamente compensadora, por trazer aumentos de produtividade sem a necessidade de fertilizante nitrogenado. Com o advento do plantio da
inoculantes na cultura do feijoeiro. Os trabalhos de Johanna Dobereiner, inicialmente com o Azotobacter paspalum e posteriormente com o Azospirillum, abriram novo e imensurável campo para a agricultura: a fixação biológica do nitrogênio em não leguminosas, mais especificamente em gramíneas. Estirpes de Azospirillum brasilense e Az. lipoferum, e de Herbaspirillum em milho, arroz, trigo e sorgo mostraram o enorme potencial de se reduzir o
Em uma fronteira mais avançada, existem também muitos indicadores de que a FBN poderá ser utilizada agronomicamente em várias outras culturas, além das gramíneas. Hoje se conhecem mais de 60 espécies de plantas que formam associações com bactérias fixadoras. A importância da FBN em não leguminosas assume tal importância, que de 3 de outubro a 8 de outubro foi realizado no Brasil um congresso internacional sobre este tema, reunindo os maiores pesqui-
Hoje se conhecem mais de 60 espécies de plantas que formam associações com bactérias fixadoras soja em larga escala no território brasileiro, inicialmente no Sul do país e posteriormente espalhado pelas regiões tropicais, a tecnologia da inoculação também se consagrou entre os agricultores brasileiros e hoje é uma prática largamente empregada, cuja eficácia não suscita mais dúvidas. O Brasil pode cultivar mais de 20 milhões de hectares da cultura, com elevadas produtividades, através do uso praticamente zero de fertilizante nitrogenado, apenas com o emprego do nitrogênio via biológica. No caso do feijoeiro, cultura em que ainda ocorrem dúvidas sobre a eficiência da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) - embora haja muitos resultados que demonstrem a eficiência da inoculação - os trabalhos de seleção e de interação de estirpes de Rhizobium tropici com cultivares estão sendo retomados, inclusive com ensaios nacionais em rede, o que é um excelente sinal de que resultados mais promissores virão a reforçar o uso de
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uso de fertilizantes nitrogenados nestas culturas. O uso de bactérias fixadoras em pastagens, com resultados preliminares já estimulantes e com várias citações na literatura, abre a possibilidade do uso da FBN não só em agricultura, mas também na pecuária. Na cultura da cana-de-açúcar, para a qual estão previstos substanciais aumentos de área, vislumbramse também grandes perspectivas, pois os trabalhos desenvolvidos na Embrapa Agrobiologia mostram a viabilidade de se reduzir o uso de fertilizante nitrogenado em até 50% com o uso de inoculantes à base de bactérias fixadoras. A Embrapa selecionou as bactérias mais eficientes e, dentro de uma visão moderna da pesquisa, firmou convênios com empresas privadas para o desenvolvimento e comercialização do produto. Empresas filiadas à ANPII assinaram contratos com a Embrapa e estão desenvolvendo o novo inoculante.
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sadores do mundo, para trazer novos conhecimentos que poderão resultar em um uso cada mais intensivo do nitrogênio biológico na agricultura brasileira. Desta forma, vemos que o leque de uso da FBN está em franca expansão, com enormes possibilidades de aplicação como tecnologia agrícola, reduzindo o custo para os agricultores, os gastos com importações de fertilizante nitrogenado e com benefícios para o ambiente, pelo menor uso de energia e redução na emissão de carbono para a atmosfera. As empresas filiadas à ANPII, dentro do espírito de inovação e de acompanhamento dos trabalhos de pesquisa, estão engajadas no processo de desenvolvimento de novas opções para o uso da FBN na agricultura brasileira. C Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
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Novos biocombustíveis: ficção científica?
m primeiro lugar, os conceitos de gerações de biocombutíveis: 1ª geração: é a geração atual, composta, principalmente, pelo etanol, biodiesel e biogás (proveniente de biodigestores); 2ª geração: são biocombustíveis obtidos por novas técnicas de processamento, a partir de matéria-prima já existente. O exemplo mais conhecido é o etanol celulósico; 3ª geração: serão obtidos biocombustíveis através de novas técnicas de processamento, resultantes de aprimoramentos da 2ª geração, porém, sua grande marca será a utilização de matérias-primas específicas. Um bom exemplo são os biocombustíveis a serem obtidos de microalgas melhoradas para obtenção de energia; 4ª geração: plasma à 2ª e à 3ª geração,
Avanços da 2ª geração
Pesquisa conduzida no Califórnia Institute of Technology permitiu obter 15 catalisadores enzimáticos, altamente termoestáveis, que desconstruíram eficientemente a celulose a açúcares, sob altas temperaturas. O material genético foi sintetizado em Saccharomyces cerevisae, a partir de genes obtidos dos fungos Humicola insolens, H. jecorina e Chaetomium thermophilum. A inovação está na notável estabilidade térmica, permitindo degradar celulose em um variado leque de condições, tanto de ambiente quanto de matéria-prima. A termoestabilidade é uma característica de celulases eficientes, pois em temperaturas mais altas - entre 70ºC e 80ºC - as reações químicas são mais rápidas. Como a celulose “incha” em altas temperaturas, é mais fácil quebrar a sua cadeia, por ataque enzimático.
de milho em produtos tão valiosos como os grãos. A inovação está no seu genoma, que incorporou enzimas celulases na planta de milho. Esta variedade é o exemplo concreto do conceito de 3ª geração de biocombustíveis, ou seja, matéria-prima inovadora, que soluciona problemas tecnológicos industriais, questões ambientais e econômicas. Como o milho transgênico da MSU já contém as enzimas necessárias para degradação da celulose, após a colheita da biomassa (ou seja, a planta inteira), as celulases degradam o material celulósico a monossacarídeos, que são fermentados a etanol ou outro biocombustível mais avançado. Obviamente, estudos serão necessários para definir quanta biomassa será possível exportar e quanta deverá permanecer no campo, para reciclagem de nutrientes e para manutenção do teor de matéria orgânica do solo.
Até o final desta década, assistiremos a uma verdadeira revolução na indústria de biocombustíveis, com um forte impacto mercadológico no agronegócio e no estilo de vida com otimização do balanço energético, integração de processos, conjugados com captura e estocagem do gás carbônico resultante do processo de obtenção. O etanol de primeira geração resulta da fermentação de sacarídios de baixo peso molecular, usando cepas melhoradas de microrganismos encontrados na natureza. Exceção feita à cana-de-açúcar, restrições são apostas ao etanol obtido de outras matériasprimas (produto caro, compete com produção de alimentos, baixa eficiência energética, alto fluxo de carbono etc). Entretanto, os resíduos agrícolas, compostos de celulose, poderiam solucionar estes problemas. Porém, a celulose é muito mais difícil de degradar a açúcares simples, fermentáveis, do que o amido. Além disso, enquanto a fermentação do amido de milho só precisa de uma enzima, a degradação da celulose requer uma série de enzimas, trabalhando em conjunto. Adicionalmente, para cada matéria-prima com arranjo celulósico diferente, são necessárias enzimas diferentes e condições de reação específicas.
As celulases naturais são inativadas acima de 50ºC. As enzimas altamente termoestáveis também duram por um longo tempo, mesmo em temperaturas baixas. Enzimas mais duradouras quebram mais celulose, reduzindo a necessidade de reposição, logo seus custos são mais baixos. A sequência genética das enzimas foi desenhada pelo computador e sintetizada em laboratório. Posteriormente, foram transferidas para o fermento Saccharomyces cerevisae, que transforma os açúcares em etanol. A levedura transgênica produziu as novas enzimas, que comprovaram a sua capacidade e sua eficiência para degradar celulose. Este trabalho demonstrou o que é possível fazer através da biologia sintética. Sem recorrer a qualquer organismo vivo – sequer os fungos que tiveram as sequências genéticas copiadas – foi possível resolver uma série de problemas que vinham se constituindo em barreiras ao avanço dos processos de obtenção do etanol celulósico, de forma competitiva.
Avanços da 3ª geração
Uma nova variedade de milho (Spartan Corn), desenvolvida por cientistas do Michigan State University, torna as folhas e caules
Outros exemplos da terceira geração de biocombustíveis são árvores cujo teor e estrutura de lignina foram artificialmente enfraquecidos e reduzidos, que se desintegram facilmente através de técnicas já dominadas industrialmente. Plantas com baixo teor de lignina estão sendo desenvolvidas por vários institutos de pesquisa, entre eles o laboratório do pai da engenharia genética de plantas, Marc van Montagu, da Universidade de Ghent, na Bélgica, que trabalha com o gênero Populus. Ainda existem problemas tecnológicos a serem superados. Porém, as inovações que brotam a todo o instante dos laboratórios de pesquisa e, principalmente, os avanços alentadores que se observam na fase pré-industrial, ou no lançamento de novas variedades, reforçam minha tese de que, até o final desta década, assistiremos a uma verdadeira revolução na indústria de biocombustíveis, com um forte impacto mercadológico no agronegócio C e no estilo de vida da sociedade.
Décio Luiz Gazzoni Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho Internacional de Ciências
http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Bons ventos sopram sobre o agronegócio brasileiro Os ventos que sopravam negativos nos últimos dois anos, depois da crise econômica mundial de 2008, mudaram de rumo e agora estão a favor do agronegócio brasileiro. O cenário, que começou com a disparada das cotações do trigo, forçada por grandes perdas no leste europeu, trouxe à tona o temor da escassez de alimentos. Depois vieram as inundações sobre grande parte das lavouras de arroz da Ásia, servindo de apelo importante para o aumento do consumo de outros alimentos e puxando as cotações da cultura para cima no mercado mundial. Por último observa-se a safra dos EUA em colheita, com produtividade abaixo das expectativas, ao mesmo tempo em que o governo americano autoriza o aumento da mistura do etanol na gasolina americana. Para que os produtores brasileiros usufruam do quadro favorável é importante que trabalhem com parte da safra futura garantida via contratos para cobrir custos com insumos e financiamentos bancários, aproveitando as boas cotações que têm aparecido nestas últimas semanas e que devem continuar nos próximos meses, para não deixar tudo para negociar na boca da safra. Tudo aponta que teremos excelente ano safra 2010/11 e para isso é importante que os produtores saibam que o mercado tem pago mais pelos nossos produtos, que a demanda internacional de carnes está em alta e que as cotações também seguem na mesma linha. Para isso é necessário buscar sempre maior produtividade e melhor qualidade, não esquecendo das boas técnicas ambientais, porque o mercado internacional estará cada vez mais exigente. MILHO
Entressafra alongada e cotações altas O mercado do milho viu as cotações internacionais crescerem nos últimos três meses, dos US$ 165 por tonelada para os US$ 245 por tonelada. Junto a isso houve forte avanço no mercado brasileiro, que seguiu na mesma linha, sendo apoiado pelos contratos de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) que o Governo realizou neste ano e estão servindo para enxugar o mercado interno de mais de nove milhões de toneladas de milho. Somente no Mato Grosso foram mais de 7,2 milhões de toneladas beneficiadas e desta forma caímos num quadro de forte aumento de demanda interna neste segundo semestre e escassez de ofertas, porque o excedente está sendo embarcado ou já foi exportado. O quadro trouxe otimismo para o plantio. Como as chuvas atrasaram neste ano, caminha-se para uma entressafra maior, porque normalmente em anos anteriores, a colheita ocorria em janeiro e agora com o plantio devendo se concentrar em outubro, veremos a colheita avançando para fevereiro e março. Como o mercado futuro está otimista, pagando níveis acima dos R$ 20,00 para os produtores na exportação (nos embarques de fevereiro a maio), tudo indica que se verá a colheita chegando e grande parte do produto sendo embarcado para a exportação. Com esse cenário há espaço para manter as cotações em alta, porque estamos distantes de importações, que neste e no próximo ano mostram cotações de liquidação
acima dos R$ 33,00 por saca para o setor de ração. Assim, a disputa pelo produto existente irá crescer forte nestes próximos meses de entressafra. Mesmo com otimismo no plantio, boa parte dos produtores já optou por troca de parte das áreas de milho por soja e assim, com área menor, tudo indica que haverá mais apoio às cotações. SOJA
Mercado interno pagando mais que exportação A soja trouxe boas notícias nas últimas semanas, com Chicago furando a barreira psicológica dos US$ 11,00 por bushel. Há boas expectativas de preços para o que resta de soja no mercado interno, porque a demanda de farelo e óleo deve continuar aquecida, fazendo com que o grão seja bastante valorizado. Existe fôlego para trabalhar neste restante do ano entre níveis que variam dos R$ 40,00 aos R$ 45,00 nas regiões produtoras e não se pode descartar que em algum momento esses valores superem os R$ 50,00. Estamos na entressafra, com muita fome por grão e forte demanda do óleo para biodiesel. O plantio está com atraso, mas não irá mudar a intenção dos produtores em superar a marca dos 24 milhões de hectares frente aos pouco mais de 23 milhões de hectares plantados neste último ano.
200,00 neste último mês de setembro, saltando dos R$ 110,00 praticados em agosto para os melhores níveis do ano. De agora em diante o céu é o limite, porque o governo desestimulou os produtores, neste ano, sem dar apoio na hora do pico da colheita da primeira safra, frustrando a segunda. Agora, na terceira safra, pouco produto chegou e tudo foi rapidamente negociado. Como o produto é pouco para atender à demanda deste restante de ano e está nas mãos de produtores capitalizados, seguirá sendo bem valorizado. Já tivemos quebra da safra do norte do Paraná e São Paulo que foi ceifada pela seca. Esse cenário trouxe ânimo aos produtores que trabalham com irrigação e sabem que não atendem mais do que 15% no potencial do consumo. Predomina o apelo altista e muitos apostam que as cotações devem furar os R$ 300,00 por saca do Carioca nos próximos dois meses. ARROZ
Está na hora da reação
O mercado do arroz não registrou ajustes positivos desde a colheita até final de setembro. Mas de agora em diante tende a haver pressão de alta, porque todos os outros alimentos já subiram e não há porque manter o cereal mais consumido nos almoços dos brasileiros com preços tão baixos. O casca andou todos estes últimos meses na faixa dos R$ 26,00 aos R$ 28,00 no Sul do país e agora está na hora de alcançar patamaFEIJÃO res entre os R$ 28,50 e R$ 32,00 (ou acima), porque Tentando recorde histórico As cotações do feijão voltaram à casa dos R$ escassearão as ofertas.
CURTAS E BOAS TRIGO - O clima seco favoreceu a maturação das lavouras do Paraná e de São Paulo, que já estão com a colheita praticamente fechada e também auxiliou a safra do Rio Grande do Sul, onde os produtores já tiraram dos campos a maior parte da safra estimada em cinco milhões de toneladas. O produto chega com excelente qualidade e os produtores esperam negociar níveis acima dos R$ 500,00 por tonelada, porque o produto importado neste momento liquidaria acima dos R$ 600,00 nos portos brasileiros. Está na hora do trigo nacional ser mais valorizado. Este será um ano de lucros para os produtores, mas é preciso lembrar que o trigo tem baixa liquidez e será necessário esperar para ganhar. Aguardam-se melhores indicativos no começo de 2011. aLGODÃO - Os preços avançaram e a produtividade brasileira caiu devido à seca. Dessa forma ocorre efeito de compensação e os produtores estão otimistas com os negócios. O cenário serve de apoio para o novo plantio, que caminha para o crescimento, porque o cultivo da soja está atrasado e alguns produtores apontam que devem plantar mais algodão, porque não poderão plantar a soja e a safrinha do milho, que é uma boa dobradinha. Com esse cenário há boas expectativas no mercado internacional em 2011. Existem contratos futuros se abrindo e boas chances de fechamentos antes do plantio. Teremos novos avanços nas cotações internas nos próximos meses. eua - A safra chega ao final da colheita neste mês de outubro e começo de novembro. Tudo aponta que a produtividade dos principais grãos foi comprometida pelo clima e pelas pragas. Espera-se que o USDA corrija para baixo os números e crie apoio para as cotações se manterem em bons patamares para
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2011. A expectativa é de que o país colha menos de 330 milhões de toneladas de milho e menos de 92 milhões de toneladas de soja, criando quadro apertado para a oferta e a demanda mundial dos grãos em 2011. CHINA - As boas notícias vieram com o aumento das importações de soja e crescimento das importações de milho, que devem continuar avançando em 2011, quando os chineses deverão comprar mais de 55 milhões de toneladas de soja e mais de dois milhões de toneladas de milho. A safra do país foi comprometida pelo clima irregular deste ano. Junto a isso a China segue com forte crescimento econômico e demanda por alimentos. ÍNDIA - Os negócios na importação de alimentos, principalmente de óleo vegetal, estão se dando sem grande repercussão. Comprando aqui e ali, principalmente na Argentina, a Índia tem atendido à demanda crescente do país. Com expectativa de importar mais de um milhão de tonelada de óleo de soja da Argentina neste ano. ARGENTINA - A safra está em plantio e o clima irregular, com chuvas abaixo das necessidades nas últimas oito semanas. O país continua com indicativos de crescimento no plantio do milho entre 6% e 7%. O plantio do trigo alcançou pouco mais de 4,2 milhões de hectares e as estimativas de safra foram reduzidas para patamares entre dez e 11 milhões de toneladas, por conta da seca. Também se projeta colher 21 milhões de toneladas de milho, o que dependerá do La Niña. A soja tem o plantio previsto para o período de novembro em diante, mas tudo indica que poderá manter a área e reduzir a safra para a faixa das 50 milhões de toneladas, porque o clima segue irregular.
Outubro 2010 • www.revistacultivar.com.br