Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 138 • Novembro 2010 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas capas
Pedro Singer
A eficiência dos fungicidas.....................20
Daniel Grohs
Conheça os resultados dos ensaios realizados de forma cooperativa para avaliar a ação de triazóis e estrobilurinas no combate à ferrugem asiática na safra 2009/10
Hora de plantar..........................06 Praga em ascensão.....................16 Fenômeno explicado...................34 Por que o cultivo de milho safrinha reúne, do ponto O crescimento da importância da de vista de mercado, todas as condições para ofere- lagarta-da-panícula em lavouras de cer excelente rentabilidade aos produtores arroz irrigado no Sul do Brasil
Índice
Expediente
Diretas
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Saiba qual a hora de plantar milho
06
Plantas daninhas em milho
08
Nematoides em arroz sequeiro
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Lagarta-da-panícula em arroz
16
Opção de renda com cultivo de girassol
18
Desempenho de fungicidas contra a ferrugem
20
Efeitos do armazenamento no tratamento de sementes 24 Água e nutrição em cana
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Empresas - Nasce a Divisão Agrociência da Ourofino
32
Alerta - novos danos foliares em trigo
34
Nova cigarra em café
36
Eventos - Clube da Cana FMC
38
Coluna ANPII
40
Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
Novos danos foliares verificados em lavouras de trigo são atribuidos ao aumento populacional da bactéria Pseudomonas syringae pv. syringae
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Pedro Batistin Sedeli Feijó
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Design Gráfico e Diagramação
Cristiano Ceia
• Revisão
Aline Partzsch de Almeida
CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
Letícia Gasparotto Ariani Baquini
• Secretária
Rosimeri Lisboa Alves
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Abertura
Antônio Carlos Zem, diretor-presidente da FMC para a América Latina e Brasil, e o apresentador César Filho fizeram a abertura oficial da 15ª edição do Clube da Cana, importante fórum do segmento no país. Participaram do evento os principais produtores de cana-deaçúcar, profissionais e especialistas do setor, para discutir sobre o bom momento da cultura no Brasil. César Filho e Antônio Carlos Zem
Unica
Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), abordou durante a 15ª edição do Clube da Cana os planos e a perspectiva da instituição para 2011. Apresentou, ainda, um relatório das atividades e conquistas realizadas até o momento, particularmente no mercado Marcos Jank norte-americano.
Reconhecimento
Marcos Jank, da Unica, em nome da FMC e de toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, entregou para André Nassar, diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais(Icone), uma placa de reconhecimento pelo esforço e empenho na divulgação e defesa, no exterior, do etanol brasileiro.
Errata
Ao contrário do publicado na legenda da página 47, edição 137, a pessoa que aparece na foto é o então presidente do Conselho de Administração da Bayer em seu pronunciamento durante a Conferência Anual para imprensa realizada em Monhein, Alemanha.
Friedrich Berschauer
BioScience
Fábio Ruggiero é o novo gerente de Operações de Sementes e Traits de soja, na unidade BioScience da Bayer CropScience, área responsável pelo desenvolvimento de soluções com a biotecnologia vegetal. Uma das principais metas do executivo para o novo cargo é promover o crescimento da divisão. "Estamos trabalhando na formação de uma equipe altamente especializada para que possamos crescer de maneira sustentável e consolidar cada vez mais essa área estratégica da empresa", explica o executivo. Ruggiero é formado em Administração com MBA em Marketing.
Terceirização
Com o painel “Os desafios e oportunidades da terceirização em atividades agrícolas”, José Maria Mendes, da Mendes e Mendes, que atua na área florestal há mais de 30 anos, trouxe aos produtores de canade-açúcar as experiências adquiridas na terceirização das atividades da empresa. José Maria falou de todos os requisitos a serem considerados no José Maria Mendes processo de terceirização.
Manejo de daninhas
Entre os dias 20 e 24 de setembro, o pesquisador Pedro Cristofoletti, da Esalq, um dos maiores especialistas em plantas daninhas no Brasil, realizou, a convite da Syngenta, uma série de palestras para agricultores e técnicos da região do Médio Norte do Mato Grosso. As palestras tiveram como objetivo mostrar os ganhos de um controle efetivo de plantas daninhas no milho safrinha assim como a importância de rotacionar produtos para evitar a resistência. Neste conceito foi apresentado o herbicida Callisto, solução Syngenta para o controle de plantas daninhas no milho safrinha. As características químicas e técnicas do produto foram abordadas pelo professor e reforçadas pelo time de Desenvolvimento Técnico da Syngenta. Aimar Pedrinho, gerente de Produtos Herbicidas no Brasil, acompanhou Cristofoletti durante o ciclo de palestras.
Isma
O indiano Abinash Verma, diretor geral da Associação Indiana das Indústrias de Açúcar (Isma) foi um dos palestrantes no 15º Clube da Cana, onde abordou “As perspectivas para o mercado em 2011 – Índia e Brasil”. A Índia é o segundo maior produtor e maior consumidor de açúcar do mundo.
Abinash Verma
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Milho
Bola da vez
Charles Echer
P
Estimativa de demanda maior que a oferta, estoques baixos e cotações em ascensão fazem do plantio de milho safrinha uma excelente opção para os produtores brasileiros aumentarem seus rendimentos
ara atender à demanda interna por milho, o Brasil certamente estará totalmente dependente do sucesso da nova safrinha. Há forte redução na safra de verão, grandes exportações dos excedentes e tudo sinaliza para um quadro de oferta e demanda bastante ajustado em 2011. Com isso existe grande espaço para o sucesso financeiro dos produtores que plantarem a safrinha. As expectativas são de uma colheita da primeira safra na casa de 30 milhões de toneladas a, no máximo, 32 milhões de toneladas. Se adicionarmos uma safrinha de 18 milhões de toneladas, chegaríamos a uma oferta de no máximo 50 milhões de toneladas, enquanto apenas o consumo interno já deve alcançar 50 milhões de toneladas e pelo menos cinco milhões de toneladas serão exportadas. Muitos apostam, ainda, que as exportações podem chegar a sete milhões de toneladas, porque diversos contratos futuros vêm sendo fechados antecipadamente para embarque de fevereiro a maio e, desta forma, haverá enxugamento da safra nova rapi-
06
damente. Este cenário abre grande espaço para que a safrinha tenha boas cotações a partir da metade do ano de 2011, quando estará na colheita. Com o grande atraso no plantio da safra de verão, houve forte queda na área plantada, com a soja ganhando espaço no Sul e no Sudeste. Haverá limitação na oferta e desta forma nos estoques de passagem, que na realidade não irão fechar além das seis milhões de toneladas a oito milhões de toneladas. O Brasil exporta em ritmo forte neste ano e tem jogado para o mercado internacional a maior parte dos excedentes dos últimos dois anos. Mesmo com o cenário positivo, tudo indica que a safrinha também irá ter queda na área e pode voltar aos níveis de plantio de 2009. Desta forma diminuirá o potencial produtivo, porque neste último ano o País teve boas condições de colheita e alcançou a casa das 20,9 milhões de toneladas, já que o clima foi regular, com chuvas normais e alongadas. Enquanto isso, para este novo ano, haverá atraso no plantio porque a soja
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já está com cultivo atrasado, principalmente no Mato Grosso, o que resultará no aumento do risco de perdas no potencial produtivo e muitas áreas não terão condições de serem plantadas (porque a soja está sendo replantada no Médio Norte do Mato Grosso e de lavouras precoces passará a ter sementes de ciclo tardio, com a colheita em março, sem condições para o plantio da safrinha futura).
Tecnologia em crescimento
Os produtores evoluíram muito nestes últimos dez anos, com o plantio crescendo dos 2,6 milhões de hectares, plantados no Brasil em 2000, para os 4,85 milhões de hectares cultivados no ano passado. Agora caminha para os 4,5 milhões de hectares e até abaixo, porque o algodão está aparecendo como um concorrente forte para o milho e no Sul o trigo pode entrar nas áreas que poderiam receber o milho, porque em ano de La Niña as chuvas tendem a não ocorrer da maneira que os produtores esperam. Desta forma o plantio tende a se consolidar
com o Mato Grosso na frente, ainda bem acima de 1,7 milhão de hectares plantados e tendo Sorriso como maior produtor, com mais de 350 mil hectares plantados. Lucas do Rio Verde plantando mais de 200 mil hectares. O Paraná vem com indicativos iniciais de plantar 1,2 milhão de hectares frente aos 1,36 milhão de hectares plantados neste último ano. Em Mato Grosso do Sul a expectativa é de manutenção da área. O mercado do milho está bastante atrativo e pode mudar um pouco este quadro, mas o grande fator de definição do plantio já está dado, que é o atraso no plantio da soja.
Mercado mundial positivo
O mercado do milho, tanto no Brasil como internacionalmente, mostra boas expectativas para a safrinha, porque estamos vivendo em momento de cotações acima dos US$ 250,00 por tonelada e em alguns momentos ultrapassando US$ 260,00 por tonelada. Aponta-se que a safra dos EUA está menor que as expectativas e isso irá deixar o quadro mundial mais apertado do que as projeções. Também há indícios de que a demanda para etanol nos EUA superará em muito as 119,4 milhões de toneladas previstas e desta forma existe espaço para se manter forte no mercado internacional. Enquanto isso, no Brasil, as exportações deste ano poderão ir para a faixa das dez milhões de toneladas a 11 milhões de toneladas, o que deixará o
Evolução da produção do milho em safrinha (mil toneladas) Estados PR SP GO MS MT Centro-Sul BR
2011* 5.500 850 2.000 3.200 7.700 18.500
2010 6.550 1.050 2.150 3.350 8.200 20.900
2009 5.850 1.050 1.700 2.830 7.120 18.500
2000 2.450 1.350 720 820 1.050 6.720
Evolução da área plantada do milho em safrinha (mil hectares) Estados PR SP GO MS MT Centro-Sul BR
2011* 1.200 250 350 850 1.750 4.500
2010 1.360 280 380 855 1.860 4.850
2009 1.310 270 370 830 1.500 4.500
2000 850 550 250 285 350 2.600
Fonte: BRANDALIZZE CONSULTING (*)estimativa. Nota a diferença entre o Total e a somatória dos estados citados, representa produção de estados, com RS, SC, MG, que tem volumes menores.
Fonte: BRANDALIZZE CONSULTING (*)estimativa. Nota a diferença entre o Total e a somatória dos estados citados, representa á área de estados, com RS, SC, MG, que tem plantios menores.
mercado bastante enxuto no próximo ano. Esse cenário pegará pela frente o setor de ração crescendo acelerado, porque o País tem grande demanda de carnes no mercado mundial e forte avanço nas cotações no Brasil. Esse panorama forçará os grandes abatedores de frangos e suínos a trabalharem com capacidade total e a retornarem para novos investimentos e ampliações para atender o consumo crescente no Brasil e nas exportações. Haverá necessidade de mais de 50 milhões de toneladas de milho (que estará no limite da produção nacional projetada), isso sem considerar as exportações que vão levar parte do que irá ser colhido já nesta primeira safra. Caminhamos para um excelente ano para o milho, com grande rentabilidade aos produtores. Houve grande avanço na tecnologia empregada nas lavouras e desta forma a produtividade cresceu forte nestes últimos anos. Em 2000 plantávamos 2,6 milhões de hectares e co-
lhíamos aproximadamente sete milhões de toneladas. Atualmente estamos plantando 4,5 milhões de hectares e colhendo níveis entre 18 milhões de toneladas a 19 milhões de toneladas. O mercado deste ano apresentava preços pagos aos produtores que variavam dos R$ 6,50 (no Mato Grosso) aos R$ 12,00 (no Paraná) na colheita da safrinha. Depois das grandes alterações no quadro internacional, que neste período andava na casa dos US$ 165,00 por tonelada, agora alcança US$ 260,00 por tonelada, ou seja, cresceu forte e os níveis mínimos esperados estão entre R$ 15,00 e R$ 22,00 por saca aos produtores neste novo plantio, que começa em janeiro em pontos isolados e terá a maior parte das lavouras plantadas na segunda quinzena a C partir de fevereiro. Vlamir Brandalizze Brandalizze Consulting
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Charles Echer
Milho
Safrinha limpa Manter a lavoura de milho livre de plantas daninhas é essencial para o produtor garantir a manutenção do potencial produtivo, que pode ser reduzido em até 80% quando o ataque ocorre na fase inicial. Dentre as estratégias de manejo, herbicidas pós-emergentes seletivos são recomendados a partir do começo da matocompetição
O
principal objetivo das práticas de manejo de plantas daninhas na cultura de milho “safrinha” é proteger a produtividade potencial do ambiente agrícola da interferência das plantas daninhas.
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A otimização da produção em um ambiente agrícola é função do potencial genético do híbrido (teto produtivo), das condições edáficas (fertilidade do solo) e climáticas (suprimento de água nos momentos críticos da cultura, e
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temperatura). No entanto, a presença de plantas daninhas, nas fases iniciais de crescimento e desenvolvimento da cultura, pode reduzir o potencial produtivo de um ambiente de produção em até 80%. Desta forma, a manutenção da
Figura 1 – Evolução das folhas largas e comelináceas (picão-preto, corda-de-viola, amendoim-bravo e guanxuma) na cultura de milho, nos últimos 10 anos – Participação percentual – fonte: Keffmann Group.
representam parcela significativa da infestação, exigindo, portanto, a associação de herbicidas com amplo espectro, tanto em folhas largas, como em folhas estreitas. A modalidade de aplicação de herbicidas em pós-emergência é a prática mais comum utilizada entre os produtores de milho safrinha em função de aspectos como possibilidade de escolha do herbicida de acordo com a infestação, permite ajuste de doses conforme o estádio de crescimento da planta daninha e do milho, torna viável as correções de “escapes” das aplicações em pré-emergência, e a não influência da presença de palhada na superfície sobre a eficácia do herbicida. Dentre os herbicidas pós-emergentes de maior uso em milho safrinha estão aqueles cujo mecanismo de ação é inibição da enzima HPPD (mesotrione e tembotrione) e inibodor Pedro Jacob Christoffoletti
cultura “no limpo”, sem interferência das plantas daninhas, é condição essencial para o cultivo de milho safrinha proporcionar ao produtor maximização na lucratividade de seus investimentos. Nos sistemas de produção extensivos, o manejo de plantas daninhas está fundamentado principalmente na aplicação de herbicidas, que devem proporcionar controle eficaz durante o período crítico de competição entre as plantas daninhas e a cultura. Este
período começa nas fases iniciais, ou seja, em torno dos estádios vegetativos V2 a V3 (matocompetição precoce), estendendo-se até V7 a V8. É no início da matocompetição que os herbicidas pós-emergentes seletivos para a cultura de milho devem ser aplicados, para assim evitar a interferência da plantas daninhas. O sucesso de manejo por estes herbicidas está baseado na recomendação de produtos com espectro de controle compatível com a comunidade infestante da área. Portanto, levantamento prévio da infestação emergente na área específica de aplicação é condição essencial para uma recomendação racional de herbicidas pós-emergentes em milho safrinha. Na cultura de milho safrinha tem sido observado aumento da importância relativa das plantas daninhas da classe das dicotiledôneas, conhecidas popularmente como folhas largas. No gráfico da Figura 1, baseado em levantamentos feitos pelo Kleffmann Group, observa-se que a incidência de folhas largas e comelináceas (picão-preto, corda-de-viola, amendoim-bravo, guanxuma e trapoeraba) na cultura do milho, nos últimos dez anos (participação percentual), foi crescente, ou seja, de 41% para 52%. Este cenário exige, nas recomendações, cada vez mais a inclusão de herbicidas com espectro de ação específico para estas espécies de plantas daninhas. No entanto, as plantas daninhas do tipo gramíneas (folhas estreitas) ainda
Figura 2 - Estádio ideal do capim-pé-de-galinha para aplicação de herbicidas pós-emergentes seletivos
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Pedro Jacob Christoffoletti
mente na recomendação de herbicidas para a cultura de milho safrinha é a presença de plantas daninhas resistentes a herbicidas na área. Dentre as de maior probabilidade de seleção destacam-se picão-preto e amendoim-bravo, resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, que são selecionados principalmente nas culturas de soja e algodão. Uma alternativa bastante interessante de manejo alternativo destes biótipos resistentes é, sem dúvida, a associação com herbicidas de mecanismos de ação alternativos, como os inibidores da HPPD (mesotrione e tembotrione) que, associados à atrazina, podem controlar C estas plantas daninhas.
da enzinha ALS (nicosulfuron); sendo que na maioria das aplicações destes herbicidas a atrazina é utilizada em associação. Dentre os cuidados necessários para o sucesso de herbicidas pós-emergentes associados com atrazina na cultura de milho safrinha está a relação com o estádio fenológico de desenvolvimento da planta daninha no momento da aplicação. Devem ser aplicados no estádio de duas folhas a quatro folhas para as folhas largas/ trapoeraba e de um a dois perfilhos no caso das gramíneas. Também é essencial que o responsável pela aplicação dos herbicidas pós-emergentes atente para o fato de alguns desses defensivos interagirem com a operação simultânea de adubação nitrogenada e aplicação de inseticidas, principalmente da classe dos carbamatos e fosforados. A aplicação simultânea de adubação nitrogenada e de inseticidas, em associação com os herbicidas pósemergentes pode, na maioria das aplicações, reduzir a tolerância das plantas de milho aos herbicidas, principalmente os inibidores da ALS (nicosulfuron). Na Figura 2 pode ser observado o estádio de crescimento recomendado ideal em uma planta daninha do tipo gramínea, e na Figura 3 o estádio ideal de aplicação de uma planta daninha do tipo folha larga. Quando a atrazina faz parte da associação de herbicidas é importante que seja adicionado ao tanque um óleo mineral agrícola, na dose recomendada pelo fabricante, com o objetivo de facilitar a ação de contato deste herbicida com a superfície foliar da planta daninha. Outro fator que influencia direta-
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Charles Echer
Figura 3 - Estádio ideal da corda-de-viola e amendoim-bravo para aplicação de herbicidas pós-emergentes seletivos (mesotrione, tembotrione, nicosulfuron e atrazina)
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Pedro Jacob Christoffoleti, Esalq/USP Marcelo Nicolai, Agrocon
Arroz
Nematoides no arroz
Assim como ocorre com outras culturas como soja, algodão e milho, o plantio orizícola de sequeiro, principalmente na região dos cerrados, esbarra na infestação das áreas por nematoides. Conhecer adequadamente as espécies presentes em cada cultivo e a resistência das cultivares disponíveis no mercado brasileiro auxilia o produtor a enfrentar com eficiência esse tipo de desafio
Charles Echer
O
cultivo do arroz de sequeiro deixou de ser uma alternativa à abertura de novas áreas, com baixo nível tecnológico, e ganhou espaço em sistemas de produção altamente tecnificados, como em rotação com as culturas da soja, do algodão ou do milho, principalmente na região dos cerrados, em estados como Tocantins, Goiás e Mato Grosso. O produtor tem optado pela cultura do arroz por não serem necessários inputs adicionais de tecnologia e pela alta produtividade alcançada pela cultura
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nos solos do cerrado, principalmente depois do desenvolvimento de cultivares adaptadas à região. Apesar de todos os benefícios advindos da rotação de culturas, particularmente para as condições em que o arroz tem sido utilizado, um problema comum a todas as culturas nos cerrados tem gerado preocupações adicionais: o ataque de nematoides. Atualmente, as principais espécies que ocorrem na região são de nematoides das galhas, Meloidogyne javanica (soja) e M. incognita (algodão e milho), de
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nematoide das lesões, Pratylenchus brachyurus (soja, algodão e milho), de nematoide de cisto da soja, Heterodera glycines e de nematoide reniforme, Rotylenchulus reniformis (soja e algodão). Todas causam expressiva queda de produção nas culturas principais em que ocorrem, mas, em menor ou maior grau, também podem ocasionar perdas na cultura do arroz, exceto o nematoide de cisto, que parasita somente a soja. O reconhecimento dessas espécies de nematoides a campo se faz através da observação do sistema radicular, que pode ou não apresentar sintomas típicos da presença desses organismos. Os nematoides de galhas, como o próprio nome diz, são aqueles formadores de galhas no sistema radicular, sintoma bastante típico das meloidoginoses nas culturas em que ocorre. Por outro lado, P. brachyurus causa extensivas lesões necróticas nas raízes. Entretanto, este tipo de sintoma não é característico do nematoide, podendo ser ocasionado por vários outros patógenos da cultura, dificultando o diagnóstico da espécie. Assim como para P. brachyurus, plantas atacadas pelo nematoide reniforme não exibem, habitualmente, um sintoma típico que possa caracterizá-lo sob observação ainda no campo. Para esses casos, a melhor forma de identificar o problema seria a amostragem da área suspeita e envio das amostras a laboratório especializado para identificação e quantificação da(s) espécie(s) presente(s) na área.
Particularmente em relação aos danos causados à cultura do arroz, sabidamente, os nematoides de galhas são patógenos que costumam provocar extensivas perdas em arroz, destacando-se M. graminicola, em arroz irrigado, e M. javanica e M. incognita, em condições de sequeiro. As duas últimas espécies não conseguem sobreviver por longos períodos em solo encharcado, razão pela qual não são importantes para a cultura do arroz irrigado; nessa situação, essas espécies são importantes apenas na fase de produção de mudas, quando podem matar as plântulas logo após a emergência. Assim como para as demais gramíneas hospedeiras, a sintomatologia de ataque dos nematoides de galhas em arroz não é tão evidente como em outras espécies vegetais, como soja e algodão, onde causam grande número de galhas radiculares; em arroz, quando visíveis, são pequenas e se concentram nas pontas das raízes, sendo difícil o diagnóstico desse nematoide, principalmente quando a planta é arrancada do solo, perdendo a região em que se concentram as galhas. De modo geral, a parte aérea das plantas de arroz infestadas por nematoides das galhas mostra acentuada redução de crescimento, menor número de perfilhos e clorose, entre outros sintomas não característicos do ataque de Meloidogyne spp.,
Andressa Machado
Galhas atípicas em raízes de arroz infestadas por nematoides Meloidogyne incognita
mas sempre em reboleiras. Apesar da importância de Meloidogyne spp. para a cultura do arroz, a reação das principais cultivares de sequeiro utilizadas, atualmente, no Brasil ainda não foi caracterizada devidamente, fato que pode impactar diretamente os programas de rotação de culturas em que é utilizada. Para tentar preencher essa lacuna,
recentemente, em trabalho realizado na Esalq/ USP, em Piracicaba, São Paulo, buscou-se caracterizar a reação de 19 cultivares de arroz de sequeiro a M. incognita. As cultivares testadas incluíram Cirad 141 e Cambará, da empresa Agronorte; Monarca, Primavera, Pepita, Curinga, Sertaneja, Maravilha, Talento, Bonança e Soberana, da Embrapa; Iapar 9,
Fotos Andressa Machado
Lesões radiculares provocadas por P. brachyurus (esquerda) e galhas causadas por M. incognita em raízes de algodoeiro
Iapar 62, Iapar 63, Iapar 64 e Iapar 117, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar); IAC 201 e IAC 202, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC); e finalmente Ecco, da empresa Ricetec. Todas as cultivares testadas mostraram-se suscetíveis à M. incognita, exceto BRS Pepita, que apresentou baixo fator de reprodução do nematoide (FR = 0,51 e 0,49, em dois experimentos realizados). Portanto, a cultivar Pepita poderia ser recomendada para cultivo em áreas infestadas por M. incognita, promovendo reduções na população do nematoide presente no solo. Do ponto de vista prático, entretanto, outras cultivares que foram moderadamente resistentes, como é o caso de Iapar 63 (FR = 1.1) e Ecco (FR = 1.29), poderiam ser incluídas nos programas de rotação de culturas em áreas infestadas por esse nematoide, principalmente em regiões onde a cultivar BRS Pepita não é recomendada para cultivo, como no estado do Tocantins, ou mesmo em áreas sob baixas infestações do nematoide. Em relação à M. javanica, outra importante espécie de nematoide das galhas que ocorre frequentemente nos cerrados, trabalhos realizados nas décadas de 1980 e 1990 destacaram que as cultivares utilizadas na época mostravam-se suscetíveis a esse nematoide. Mais recentemente, a Embrapa realizou testes com cultivares modernas, e ainda em uso no Brasil, e verificou que as cultivares de arroz utilizadas na região central do país são suscetíveis ao nematoide. Mas, pelo menos uma (cultivar BRS Rio Formoso), dentre as 12 cultivares testadas (BRS Rio Formoso, BRS Carajás, BRS Primavera, BRS Caiapó, BRS Talismã I, BRS Bonanza, BRS Talismã II, BRS Metica, BRS Best III, BRS Javaé, BRS Maravilha e BRS Best 2000), mostrouse resistente à M. javanica. Quando se adota um programa de rotação de culturas em áreas infestadas por essa espécie, seria interessante a utilização de algodão, por não ser hospedeiro de M. javanica, e também de milho, pois esse
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nematoide apresenta baixa capacidade de reprodução nessa cultura. Além disso, 20% a 30% das cultivares e dos híbridos de milho são resistentes a essa espécie. Ressalva é feita, portanto, apenas ao uso da rotação soja-arroz em áreas infestadas por M. javanica. Já para o nematoide reniforme, R. reniformis, o cenário é, felizmente, bastante animador, uma vez que a literatura tanto nacional quanto internacional aponta para alta resistência ou mesmo imunidade da cultura do arroz a esse nematoide. De fato, nos experimentos realizados na Esalq com as mesmas cultivares de arroz testadas para M. incognita, todas, sem exceção, mostraram-se altamente resistentes à R. reniformis. Esse fato torna a cultura do arroz uma excelente opção a ser incluída nos esquemas de rotação de culturas com soja e algodoeiro. Neste último caso, devido à alta frequência de campos severamente infestados, à elevada patogenicidade ao algodoeiro, à inexistência de cultivares resistentes e à restrita gama de opções economicamente atrativas, o cultivo de arroz ganha relevância ainda maior para os cotonicultores. Outra importante espécie que tem sido
Detalhes de galhas de M. incognita em raízes de algodão
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motivo de preocupação dos produtores da região Centro-Oeste é o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus). Essa espécie ocorre com elevada frequência na maioria das regiões produtoras e possui ampla gama de hospedeiros, o que dificulta a escolha de uma alternativa para uso em rotação de culturas. Infelizmente, as cultivares utilizadas atualmente no Brasil ainda não foram caracterizadas em relação a esse nematoide. Teoricamente, por ser gramínea, o arroz tende a apresentar, de modo geral, suscetibilidade à P. brachyurus. Além disso, outra espécie de nematoide das lesões, P. zeae também já foi relatada parasitando plantas de arroz, o que resultou em sérias perdas de produção. Aliás, cumpre frisar que, embora haja predominância de P. brachyurus em algumas regiões, como no Sul e Sudeste do país, podem ocorrer infestações mistas dessas espécies, agravando ainda mais o quadro fitossanitário da cultura. Entretanto, nos estados de Mato Grosso e Goiás, o nematoide predominante e, na maioria dos casos, exclusivo em áreas de milho, é P. brachyurus. Portanto, apesar de não haver subsídios para a recomendação de uso ou não de arroz em áreas altamente infestadas por P. brachyurus, sugere-se que a inclusão dessa cultura em esquemas de rotação seja realizada com cautela e que, quando possível, evite-se, até que estudos sejam realizados no sentido de caracterizar a reação das principais cultivares brasileiras a este parasita. Em áreas infestadas por P. brachyurus, a melhor opção ainda é o uso de crotalárias, como Crotalaria spectabilis ou C. breviflora, sabidamente não hospedeiras dessa espécie. Diante deste cenário, torna-se evidente que cada produtor deve buscar informações a respeito da resistência das cultivares a serem utilizadas, assim como dos danos causados por esses nematoides nesses materiais, antes de incluírem a cultura do arroz em esquemas de rotação. Seu uso pode ser bastante vantajoso, principalmente em áreas de algodão, ou mesmo soja, infestadas pelo nematoide reniforme; já em lavouras atacadas por nematoides das galhas, seu uso deve ser recomendado de forma cautelosa,
Rotylenchulus reniformis em raízes de soja
Divulgação
Distribuição e frequência de Pratylenchus brachyurus nas principais regiões agrícolas brasileiras
Andressa e Araújo Filho abordam infestações nas áreas de sequeiro
buscando-se o conhecimento exato da espécie de nematoide que ocorre, pois o manejo varia, obviamente, entre as duas principais espécies. Na presença do nematoide das lesões, P. brachyurus, que ocorre em praticamente todas as grandes regiões produtoras do país, o arroz deve ser evitado, pois, apesar de não se saber a reação das cultivares atuais, há indícios de que sejam boas hospedeiras desse nematoide. Portanto, a cultura do arroz pode trazer benefícios inegáveis, mas também comprometer o manejo de nematoses em áreas agrícolas. É fundamental a busca por novas informações a respeito da reação das cultivares modernas a outras espécies de nematoides que são importantes nessas
áreas. Em caso de dúvida, o melhor é evitá-la. Além disso, os programas de melhoramento genético da cultura do arroz deverão dar maior atenção a esses patógenos, devido à grande importância que representam para a agricultura brasileira, no sentido de pesquisar novas fontes de resistência dentro da cultura e incorporálas nas cultivares a serem lançadas nos
próximos anos. Na atual conjectura, é indispensável que os melhoristas tenham essa nova preocupação dentro dos prograC mas de melhoramento do arroz. Andressa Machado, Iapar/Santa Teresa do Oeste Jerônimo Vieira de Araújo Filho, Esalq
Arroz Fotos Irga
Praga em ascensão Cresce a importância da lagarta-da-panícula em lavouras de arroz irrigado no Sul do Brasil. Considerado, durante muitos anos, como de ocorrência esporádica e secundária, inseto passa a atingir 45% das áreas de cultivo no Rio Grande do Sul. Utilizar-se dos conhecimentos da tecnologia de aplicação para facilitar o contato do inseticida com o alvo e escolher o melhor horário para a pulverização são medidas importantes para garantir o sucesso do controle químico
N
o cultivo de arroz irrigado, inúmeras espécies de insetos-praga podem causar perdas de produtividade. No Rio Grande do Sul, há anos são classificadas como pragas de importância primária a bicheira-da-raiz, o percevejo-docolmo, o percevejo-do-grão e a lagarta-dafolha. A lagarta-da-panícula durante muitos anos foi citada como praga secundária, de ocorrência esporádica e causadora de pequeno prejuízo. Nos últimos anos, a frequência e a área atacada foram bastante representativas, superando os prejuízos causados pelas pragas consideradas primárias. Atualmente é uma praga em expansão, sendo considerada a segunda mais importante, pois ocorre em 45% da lavoura. Na safra passada esta lagarta ocorreu nas regiões da Depressão Central, Campanha, Fronteira Oeste e o Litoral Norte, onde um número elevado de lavouras foi
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atacado e sofreu grandes prejuízos.
Identificação e hábitos do inseto
No Rio Grande do Sul ocorrem pelo menos duas espécies, a Pseudaletia sequax e a P. adultera. Ambas são conhecidas também como lagarta-do-trigo, praga antiga em pastagens e em lavouras de cereais de inverno. As lagartas dessas espécies são muito semelhantes, especialmente nos primeiros instares (estágios de desenvolvimento). Porém, a partir do quarto instar, a diferenciação torna-se mais fácil, pois as lagartas P. sequax são, em geral, mais rosadas e as P. adultera mais escuras, num verde-acinzentado que as torna semelhantes também à lagarta-dafolha, Spodoptera frugiperda. Na fase adulta a identificação é mais fácil: as asas são de cor pardo-acinzentado com uma mancha escura em cada asa.
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Como as demais pragas da família Noctuidae, a lagarta-da-panícula posssui hábitos noturnos. As lagartas passam a parte do dia abrigadas na parte inferior do dossel, na base das plantas, em fendas ou sob torrões de solo. Ao final da tarde ou em dias nublados, sobem nas plantas para atacar as panículas. As mariposas também realizam a atividade reprodutiva a partir do final da tarde. Após a colheita, ainda é possível encontrar lagartas, pupas e adultos dentro da área da lavoura. O inseto permanece na resteva, alimentando-se da soca (rebrote) e das plantas daninhas/espontâneas durante o inverno, podendo se reproduzir e alimentar a população para a safra seguinte.
Ocorrência e danos
Nas fases iniciais da cultura se alimentam das folhas. Porém, os maiores danos ocorrem
apenas na fase final da cultura, no estádio de maturação dos grãos, quando a lagarta corta as panículas ou suas ráquis e assim degrada o arroz, hábito que a faz ser conhecida como “lagarta-da-panícula”. Não foram observados casos em que esta lagarta mesmo ocorrendo na fase vegetativa das plantas, provoque danos, como as demais lagartas desfolhadoras. Avaliações em lavouras atacadas demonstram que a derrubada das panículas diminui o rendimento da lavoura em até 20% do potencial. Em trabalho realizado pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga), uma lagarta/m2 diminuiu o rendimento de grãos em 3%.
Monitoramento
As estratégias de manejo devem começar com o adequado monitoramento da lavoura por parte do produtor. Conhecer os sinais do ataque, os hábitos do inseto e os locais mais prováveis de sua atividade são requisitos básicos para que o orizicultor saiba o local e o momento de procurá-las. Recomenda-se realizar o monitoramento durante todo o ciclo, começando antes do florescimento, com início pelas bordaduras e partes mais secas da lavoura, principalmente nas taipas. Deve-se realizar um exame minucioso na parte inferior do dossel, abrir as plantas e observar a base dos colmos.
taipas muito altas, são os primeiros focos de ataque.
Inimigos naturais
A lavoura de arroz é um ambiente riquíssimo em espécies de insetos predadores e parasitoides, além de ser abundante também em aranhas e em fungos entomopatogênicos como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, que realizam um controle natural, podendo manter a população abaixo do nível de dano econômico. O uso inadequado de inseticidas, principalmente de produtos não registrados, e em doses e frequência mais alta que a recomendada, elimina tais espécies do ambiente, causando, além do desequilíbrio imediato, problemas como ressurgência, surgimento de pragas secundárias e resistência a inseticidas. Da mesma forma, a aplicação inadequada de fungicidas pode reduzir ou eliminar os fungos entomopatogênicos e ter como consequência o aumento de pragas.
Controle químico
Uma prática importante para a diminuição da população de lagarta-da-panícula é a incorporação dos restos culturais, logo após a colheita. A palhada, a resteva e as plantas espontâneas servem de abrigo e alimento para as lagartas no período de entressafra, conservando a população dentro do quadro para o próximo ano. O manejo da irrigação, através da manutenção de lâmina de água uniforme em todo o quadro, sem permitir a existência de coroas, bordaduras ou partes da lavoura sem água, pode reduzir ou retardar a infestação de lagartas. As partes secas, incluindo
Por ser uma praga que há pouco tempo causa maiores prejuízos, os inseticidas para controle na cultura do arroz irrigado ainda estão em fase de registro. O que está mais próximo de ter o registro é clorantraniliprole, já registrado para a bicheira-da-raiz em arroz irrigado. Um aspecto importante a ser ressaltado no controle químico da praga é o seu hábito de localizar-se nas partes mais baixas do dossel, Nesta situação, as plantas de arroz dificultam o contato do inseticida com a lagarta, numa espécie de efeito guarda-chuva. Uma vez que o ataque ocorre no estádio de maturação dos grãos, quando o limbo foliar está bastante lignificado e o consumo foliar é menor, a ingestão de inseticida através da planta é uma alternativa pouco eficaz. A pulverização deve ser realizada facilitando o contato do inseticida com o alvo. A boa penetração da calda de inseticida no dossel é imprescindível para o controle da lagarta. Nesta hora torna-se
Danos causados pela lagarta-da-panícula em lavoura de arroz irrigado
Lagartas estão entre as principais pragas que limitam a produtividade na cultura do trigo
Controle cultural
Tabela 1 - Eficiência do inseticida Clorantraniliprole 350WG no controle da lagarta-da-panícula em arroz irrigado em dois horários de pulverização Lagartas Eficiência* Lagartas Eficiência vivas vivas (%) (%) 24 horas após pulverização 48 horas após pulverização 21 21 Testemunha 9 6 6h 57 b 72 b 3 1 18h 86 a 96 a
Horário de pulverização
*Eficiência calculada pela fórmula de Abbott (1925).
indispensável o conhecimento sobre a tecnologia de aplicação, com o uso de equipamentos que garantam que o número e o tamanho de gotas sejam suficientes para atingir a parte mais baixa do dossel. Outro aspecto que pode influenciar na eficiência de um inseticida é o horário da aplicação. Sabendo que a lagarta sobe para atacar as plantas no final da tarde, a pulverização neste horário atinge o inseto rapidamente e evita que o produto fique exposto a fatores como luz, que podem promover a decomposição ao longo do dia. A Tabela 1 mostra a diferença da eficiência de um mesmo inseticida em dois horários de pulverização.
Considerações finais
Sob a ótica do Manejo Integrado de Pragas (MIP), a pulverização de inseticidas nunca deve ser vista como única prática para controle de alguma praga. As demais medidas possíveis (culturais, por exemplo) devem ser utilizadas de forma integrada mesmo quando se opta C pelo controle químico. Jaime Vargas de Oliveira e Thais Fernanda S. de Freitas, Irga Lidia Mariana Fiuza, Unisinos
Na fase adulta a identificação da espécie é mais fácil, pela cor pardo-acinzentada característica das asas
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Girassol
Flores lucrativas
A
s belas paisagens com campos de girassóis floridos poderão ser vistas com mais freqüência no Brasil nos próximos anos. Se depender da Syngenta, a cultura que hoje chega a cerca de 110 mil hectares cultivados no país, poderá ter um salto de área ao redor dos 700 mil hectares em pouco mais de dez anos. Líder mundial no mercado de sementes de girassol, com 26% de market share, desde 2009, quando adquiriu todo o negócio de girassol da Monsanto, a empresa está fomentando a cultura também no Brasil. Através de parcerias com empresas produtoras de óleos vegetais e de biodiesel, da introdução de híbridos altamente produtivos e de todo o desenvolvimento de produtos fitossanitários para a cultura. A idéia central do novo negócio é proporcionar ao produtor uma cultura adicional para o sistema de produção com comercialização assegurada, garantindo todos os recursos necessários para a produção, desde a oferta agronômica até a comercialização da colheita. O projeto piloto consiste na introdução de um hibrido mais produtivo e com características muito especiais para uma crescente demanda do consumidor. Segundo Alexandre Manzini, gerente de Desenvolvimento de No-
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Fotos Cultivar
Matéria-prima alternativa para produção de biodiesel e para produção de alimentos, o girassol recebe incentivo para ganhar espaço nas lavouras brasileiras
Renato Cesar Seraphim (direita), gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios da Syngenta, está fechando parcerias com diversas empresas processadoras do grão em diferentes regiões do Brasil
vos Negócios da Syngenta, há oportunidade de crescimento da cultura no Brasil por causa da grande demanda por óleos saudáveis, nicho de mercado em que o girassol se destaca pela presença de alto teor de ácidos graxos e saudáveis monoinsaturados High Oleic ou óleo alto oléico, como também é conhecido. Na prática, esta característica permite que o óleo não oxide rapidamente e, ao mesmo tempo, tem baixos índices de ácidos graxos saturados e ausência de gordura trans. "Este tipo de óleo já é muito utilizado industrialmente na produção de bolachas, batatas fritas e outros produtos que necessitam estabilidade para permanecer bastante tempo nas prateleiras. Essa característica é facilmente conseguida com óleos convencionais, no entanto, estes mesmos óleos possuem também a gordura trans, tão indesejada pelos consumidores", explica Manzini. Uma das parceiras da Syngenta para esse projeto piloto é a Celena Alimentos no Rio Grande do Sul, empresa responsável pelo recebimento de grãos, esmagamento, refino, envase e distribuição de óleo de girassol, canola e diversos outros cereais para diversos estados brasileiros e países do Mercosul. "Neste modelo de negócios, uma empresa de processamento do produto é importante, pois garante ao produtor a entrega total da sua produção e com um preço definido no momento do plantio", explica Emilio Figer, diretor da Celena. Atualmente, os desafios para a cultura do girassol no Brasil são: oferecer aos produ-
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tores uma cultura alternativa, que possibilite uma segunda colheita; oferecer mais uma matéria-prima oleaginosa às indústrias de processamento de outros grãos, reduzindo sua ociosidade, e oferecer ao mercado um óleo comestível de alto valor nutritivo. Junta-se a esses desafios a alternativa atual da produção de energia, já que o óleo de girassol pode ser utilizado como matéria-prima para a produção de bio combustíveis. Para atrair os produtores para a expansão do girassol, a Syngenta atuará desde o desenvolvimento e fornecimento das sementes, tanto para o mercado de óleos como para o mercado de biodiesel, o registro e desenvolvimento de novos insumos para o controle das principais pragas e doenças, assistência técnica e econômica , até a entrega do produto colhido. Uma forma que também poderá ser utilizada é a troca de produto por fertilizantes, defensivos e sementes de outras culturas que o produtor tenha em sua propriedade. "Queremos proporcionar ao produtor uma forma lucrativa, segura e sustentável para ele realizar a rotação de culturas. O agricultor vai saber no momento do plantio o preço que ele irá receber no momento da colheita, inclusive podendo utilizar a área plantada com girassol para garantir a aquisição de produtos para outras culturas que tenha em sua propriedade, pois poderá trocar toda a produção por produtos da empresa", explica Manzini. Este modelo de operação, chamada Barter, já é utilizado pela empresa em outras culturas. Trata-se de um pacote que envolve toda a cadeia produtiva. No Brasil, o girassol pode ser cultivado com sucesso nas principais áreas produtoras tanto como plantio na safra de verão na região Sul do Brasil como opção de safrinha no C Cerrado brasileiro.
Soja Fotos Pedro Singer
Equipe coordenada pelo professor Geraldo Dario e pelo biólogo Fernando Della Valle
C
Eficiência comparada Com a chancela de 25 instituições de pesquisa, 31 ensaios de fungicidas foram realizados na safra 2009/10 para avaliar a ação de dez misturas de triazóis e estrobilurinas e de dois triazóis frente à ferrugem asiática na cultura da soja. Saiba como se comportaram os defensivos, aplicados em diferentes doses, em relação à severidade e à produtividade
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ma das principais preocupações do produtor de soja, com relação à sanidade da cultura, é a ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. A doença pode causar perdas de até 90% na produtividade se não for manejada de forma adequada. As estratégias de manejo
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recomendadas no Brasil são a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra por meio do vazio sanitário; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura;
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o emprego de fungicidas no aparecimento dos sintomas ou preventivamente e a adoção de cultivares com gene de resistência, quando disponíveis. Essas estratégias são recomendadas em conjunto para o sucesso do controle. Após o aparecimento da ferrugem asiática no Brasil, em 2001, o uso de fungicidas na cultura da soja foi intensificado. Atualmente, ao redor de 70 produtos possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle dessa doença. Desde a safra 2003/04, ensaios cooperativos em rede vêm sendo realizados por diferentes instituições para a comparação dos defensivos registrados e em fase de registro e seus resultados têm sido divulgados nas reuniões do Consórcio Antiferrugem e nas Reuniões de Pesquisa de Soja do Brasil Central. Na safra 2009/10 foram realizados 31 ensaios nas principais regiões produtoras por 25 instituições (Agrodinâmica, Coodetec, CTPA/ Emater, Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Cerrados, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Soja, Fesurv, Fundação Bahia, Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária, Fundação Chapadão, Fundação Mato Grosso, Fundacep, IAC/DDD/Apta, IFTM/Epamig, Instituto Biológico, Instituto Phytus, Tagro,
Universidade de Passo Fundo, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Federal de Goiás - Campi Goiânia e Jataí, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Federal do Rio Grande do Sul). O delineamento dos ensaios não teve como objetivo avaliar o momento da aplicação e o residual dos diferentes produtos, sendo o único objetivo a comparação dos produtos, em uma mesma situação. A lista de tratamentos, o delineamento experimental e as avaliações foram definidos de acordo com protocolo único para a realização da sumarização conjunta dos resultados dos ensaios, estando de acordo com as normas para avaliação e recomendação de fungicidas para a cultura da soja. O número de aplicações variou em função do início dos sintomas, sendo maior o número de aplicações nos ensaios onde os sintomas foram observados ainda no estádio vegetativo da cultura. Foram avaliadas dez misturas de triazóis e estrobilurinas e de dois triazóis (Tabela 1). Os triazóis tebuconazol 100g i.a. ha-1 e ciproconazol 30g i.a. ha-1 foram incluídos nos ensaios para monitorar a eficiência desses produtos nas diferentes regiões. As aplicações começaram no estádio R1/R2 (florescimento/ florescimento pleno) ou no período vegetativo, quando observados sintomas nessa fase. Para a aplicação dos produtos foi utilizado pulveri-
A ferrugem asiática é uma das doenças mais agressivas na cultura da soja, causadoras de perdas que podem chegar a 90% da produtividade
zador costal pressurizado com CO2 e volume de aplicação mínimo de 120L ha-1. A porcentagem de controle da ferrugem, em relação à severidade da testemunha não tratada, variou entre os produtos, nos diferentes locais (Figura 1). As medianas da porcentagem de controle das misturas de triazóis e estrobilurinas variaram de 74% (trifloxistrobina 50g i.a. ha-1 + tebuconazol 100g i.a. ha-1 – T6) a 89% (trifloxistrobina 45g
i.a. ha-1 + protioconazol 52,5g i.a. ha-1 – T10). Para os triazóis, as medianas da porcentagem de controle foram 31% (tebuconazol 100g i.a. ha-1 – T2) e 40% (ciproconazol 30g i.a. ha-1 – T3). Dos 31 ensaios realizados nas diferentes regiões produtoras, quatro não foram incluídos nas análises devido à baixa severidade de ferrugem em R6 e/ou a não diferenciação entre os tratamentos e a testemunha sem
Pedro Singer
Figura 1 - Média de produtividade (kg/ha) da soja cultivada em Chapadão do Sul (MS), em função da redução da dose da fórmula 02-20-20, safras 2007/08 e 2008/09
Lavoura severamente atacada pela ferrugem asiática, provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi
controle. Para o agrupamento dos ensaios foi utilizada a relação entre os quadrados médios das análises individuais dos ensaios, para as variáveis severidade e produtividade. Na análise da severidade (Tabela 1) foram utilizados 15 ensaios. As menores severidades e as maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos T10 (trifloxistrobina 45g i.a. ha-1 + protioconazol 52,5g i.a. ha-1), T7 (picoxistrobina 60g i.a. ha-1 + ciproconazol 24g i.a. ha-1), T5 (piraclostrobina 66,5g i.a. ha-1 + epoxiconazol 25g i.a. ha-1) e T4 (azoxistrobina 60g i.a. ha-1 + ciproconazol 24g i.a. ha-1). A ambiguidade do teste estatístico foi elevada para os tratamentos com misturas de triazóis e estrobilurinas, sendo a diferença de severidade entre o menor (T10 - 11,9%) e o maior valor (T6 – 18,4%) de 6,5%. O tratamento com tebuconazol 100g i.a. ha-1 (T2) apresentou a menor porcentagem de controle (28%), seguido de ciproconazol 30g i.a. ha-1 (T3), com 39% de controle em relação à testemunha não tratada. Para a variável produtividade foram utilizados 21 ensaios para o agrupamento. Todos os tratamentos com misturas de triazóis e estrobilurinas apresentaram produtividade superior aos tratamentos com triazóis, sendo as maiores produtividades observadas para os tratamentos T10 (trifloxistrobina 45g i.a. ha-1 + protioconazol 52,5g i.a. ha-1), T7 (picoxistrobina 60g i.a. ha-1 + ciproconazol 24g i.a. ha-1) e T5 (piraclostrobina 66,5g i.a. ha-1 + epoxiconazol 25g i.a. ha-1). Para as misturas de triazóis e estrobilurinas, a diferença de produtividade entre o maior (T10 – 2.767kg ha-1) e o menor valor (T6 – 2.381kg ha-1) foi de 386kg ha-1. Os tratamentos com triazóis, que apresentaram as maiores severidades, inferiores somente a testemunha sem controle, também apresentaram as menores produtividades. Embora os resultados de severidade e
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produtividade tenham sido apresentados com uso de diferentes agrupamentos de ensaios, a correlação entre as duas variáveis foi de 0,99. O delineamento dos ensaios cooperativos tem como objetivo a comparação de fungicidas em situações de alta pressão de inóculo. A diferenciação dos produtos, observada nos resultados desse trabalho, pode não ocorrer nas semeaduras realizadas no início da época recomendada, devido à menor pressão de inóculo do fungo. Por conta da menor eficiência observada com os fungicidas do grupo dos triazóis, a partir da safra 2007/08 na região Centro-Oeste, e nas demais regiões a partir da safra 2008/09, a Comissão de Fitopatologia da Reunião de Pesquisa da Região Central do Brasil, passou a indicar somente a utilização de misturas comerciais de triazóis com estrobilurinas para o controle da ferrugem. Os resultados
apresentados na sumarização dos ensaios realizados em 2009/10 corroboraram com essa orientação. Os resultados apresentados neste trabalho só foram possíveis devido ao trabalho conjunto de diversas instituições de pesquisa, que integram o Consórcio Antiferrugem. É importante reafirmar que os fungicidas representam uma das ferramentas de manejo, devendo ser seguidas as demais estratégias para o controle C eficiente da doença. Cláudia Godoy, Embrapa Soja Carlos Utiamada, Tagro Luis Henrique da Silva, Fesurv Fabiano Siqueri, Fundação Mato Grosso
Tabela 1 - Severidade da ferrugem, porcentagem de controle em relação à testemunha sem tratamento e produtividade (kg ha-1) para os diferentes tratamentos. Média de 15 ensaios para severidade e 21 ensaios para produtividade. Ensaios cooperativos, safra 2009/10 Tratamento Ingrediente ativo (i.a) 1. testemunha 2. tebuconazol 3. ciproconazol 4. azoxistrobina+ciproconazol1 5. piraclostrobina+epoxiconazol2 6. trifloxistrobina+tebuconazol3 7. picoxistrobina+ciproconazol4 8. trifloxistrobina+ciproconazol3 9. azoxistrobina+tetraconazol5,9 10. trifloxistrobina+protioconazol6 11. piraclostrobina+metconazol9 12. piraclostrobina+epoxiconazol7,9 13. piraclostrobina+epoxiconazol8 C.V. (%)
Dose g i.a. ha-1 100 30 60 + 24 66,5 + 25 50 + 100 60 + 24 56,25 + 24 50 + 50 45 + 52,5 65 + 40 65 + 40 51 + 37,5
Severidade (%) 62,9 A 45,2 B 38,7 C 13,5 GH 13,0 GH 18,4 D 12,0 H 16,5 DE 15,8 E 11,9 H 13,8 FG 14,7 EFG 15,4 EFG 13,6
Controle (%) 28 39 79 79 71 81 74 75 81 78 77 75
Produtividade kg ha-1 1262 I 1725 H 1958 G 2630 BCD 2658 ABC 2381 F 2673 AB 2529 DE 2553 CDE 2767 A 2514 E 2511 E 2512 E 9,2
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p=0,05). 1Adicionado Nimbus 0,5% v/v; 2Adicionado Assist 0,5 L ha-1; 3Adicionado Aureo 0,5 L ha-1; 4Adicionado Nimbus 0,5 L ha-1; 5Adicionado Nimbus 0,6 L ha-1; 6Adicionado Aureo 0,6 L ha-1; 7Adicionado Dash HC 0,3 L ha-1; 8Adicionado Lanzar 0,25%; 9Produto não registrado.
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Soja
Efeitos ao armazenar
Prática técnica e economicamente recomendada, o tratamento de sementes garante o investimento e agrega valor. No entanto, ao adotar essa alternativa, é preciso atenção a aspectos como a época de tratar, evitando-se o armazenamento prolongado
A
soja no campo pode ser danificada por um grande número de fungos fitopatogênicos e de insetos pragas (considerados muito importantes pelos prejuízos causados, tanto no rendimento como na qualidade das sementes). Alguns destes fungos têm a capacidade de serem transmitidos para as sementes de soja, e através delas disseminados para o próximo cultivo quando semeadas, ou ainda causar danos no período de armazenagem. A fim de controlar os patógenos no armazenamento e proteger as plântulas durante a germinação e no período inicial de instalação da lavoura, o tratamento de sementes surge como uma prática agrícola preventiva, que consiste na aplicação de fungicidas e/ou inseticidas sobre a superfície da semente. Deve-se ter o cuidado quanto à ação tóxica dos produtos à planta, principalmente quando armazenados por longos períodos. Nesta publicação será abordado o tratamento de sementes de soja com insumos químicos, para o controle de fungos fitopatogênicos e insetos
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pragas para o cultivo e durante o período de armazenagem.
Tratamento químico
O tratamento realizado com fungicida tem por objetivo controlar as doenças deflagradas pelo inóculo presente nelas, garantir sua germinação e protegê-las de patógenos (fungos) habitantes do solo, que poderiam causar o tombamento das plântulas pré ou pós-emergidas. Já o tratamento com inseticida é utilizado com a finalidade de evitar possíveis perdas, decorrentes das ações de pragas do solo e da parte aérea, que danificam as sementes e as plantas jovens. Eles devem ser feitos para preservar o potencial germinativo e de vigor das sementes, como em situações em que a semeadura é feita em solo com falta ou excesso de umidade, ou em solos sabidamente infestadas por patógenos responsáveis por tombamento de plantas, e quando a qualidade e a procedência das sementes são desconhecidas.
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Armazenamento de sementes de soja Tem por principal objetivo conservar as sementes, reduzindo e mantendo a sua qualidade, a fim de que seja cumprida sua função de perpetuação e reprodução da espécie. Deve ser conduzido de maneira que venha a minimizar as transformações bioquímicas que provocam a redução da qualidade fisiológica, além de evitar o desenvolvimento de insetos e microrganismo que contribuem para a diminuição dessa qualidade. Dentre os fatores que influenciam na conservação das sementes estão o teor de água das sementes, a umidade relativa e a temperatura do ar. A semente de soja é higroscópica, por isso apresenta variação no seu teor de água em função da umidade relativa do ar. Assim, para a manutenção da viabilidade por um período mais prolongado, é importante que a semente esteja seca e seja armazenada em ambiente com baixa temperatura e umidade relativa do ar. O armazenamento das sementes tem início imediatamente após atingirem seu ponto de maturação fisiológica, mesmo antes de realizada a colheita. É o chamado “armazenamento no campo”. O armazenamento após a colheita deve ser conduzido de maneira a reduzir ao máximo as reações bioquímicas que provocam a perda da qualidade fisiológica, além de proporcionar condições desfavoráveis ou que não permitam o desenvolvimento de insetos e fungos. Condições desfavoráveis de armazenamento conduzem à maior deterioração de sementes, ao decréscimo na porcentagem de germinação e ao aumento na incidência de plântulas anormais. Ação de insetos de armazenamento Os principais insetos que atacam as sementes armazenadas pertencem às or-
Fotos Tuane Araldi da Silva
A
B
Sanidade e germinação de sementes de soja após 12 meses de armazenamento. Sementes com tratamento (A) e sementes sem tratamento (B)
dens coleóptera (carunchos) e lepidóptera (traças). E podem causar diversos tipos de danos, como perdas de peso, da pureza física e da qualidade fisiológica, traduzidos pelo decréscimo na porcentagem de germinação, no aumento de plântulas anormais e redução no vigor das plantas. Ação de microrganismos de armazenamento Fungos de campo, que se associam às sementes durante seu desenvolvimento ou após a maturidade fisiológica, antes da colheita, têm sua incidência reduzida durante o armazenamento. No entanto, fungos de armazenamento, que frequentemente já estão presentes nas sementes no momento da colheita, desenvolvem-se durante o armazenamento. Os microrganismos podem danificar a semente, causando alteração de coloração, enrugamento, apodrecimento, manchas necróticas, aquecimento da massa de sementes e produção de micotoxinas, com reflexos na qualidade fisiológica, além da possibilidade de disseminação e introdução de patógenos em áreas cultivadas. Destaca-se assim a importância da avaliação da sanidade do lote de sementes, que indicaria quais patógenos estão associados às sementes compradas, direcionando seu tratamento químico e fazendo desta prática não apenas uma ferramenta no estabelecimento da cultura da soja, mas também durante o seu armazenamento. De acordo com dados da Abrasem (2000),
na maioria dos países em que a agricultura é intensiva e altamente produtiva, o tratamento é realizado, basicamente, nas próprias unidades de beneficiamento de sementes (UBS). O agricultor adquire suas sementes já tratadas, prontas para o plantio. Essa técnica realizada antecipadamente na UBS beneficia o agricultor, nos aspectos de economia de tempo e de mão de obra, de não se envolver fisicamente com o produto fitossanitário utilizado no tratamento, além de receber uma semente de alta qualidade, associada a um tratamento executado de forma profissional. Para o produtor de sementes, seria uma forma de agregar maior valor à semente, diferenciar e defender sua marca perante esse mercado altamente competitivo. Cuidados com o período de tratar De acordo com os dados do trabalho desenvolvido para avaliar a viabilidade de sementes de soja armazenadas por 12 meses, com e sem tratamento com insumos químicos (fungicida, inseticidas e inoculante líquido) Tabela 1 - Vigor e emergência de sementes de soja armazenadas por 12 meses, tratadas e não tratadas com insumos químicos e biológico Germinação Germinação Sementes Emergência normal (%) anormal (%) mortas (%) (%) 0 0 Tratadas* 0 0 24 5 Não tratadas 71 33 Sementes
*Tratamento com um fungicida + dois inseticidas + um inoculante + Trichoderma spp.
e biológico (Trichoderma spp), constatou-se que as sementes tratadas apresentaram 0% de germinação e as não tratadas 95%, sendo que destas 24% foram consideradas normais, 71% anormais e 5% mortas (Tabela 1). Porém, para emergência, 33% das não tratadas emergiram e as tratadas não emergiram. Com relação ao teste de sanidade (Tabela 2), verificou-se que dos 13 gêneros fúngicos encontrados nas sementes não tratadas, foram encontrados nas tratadas apenas: Rhizoctonia sp., Rhizopus sp., Penicillium sp. e Aspergillus sp.. Portanto, o armazenamento prolongado de sementes Tabela 2 - Sanidade de sementes de soja armazenadas por 12 meses, tratadas e não tratadas com insumos químicos e biológico Fungos
Fusarium sp. Rhizoctonia sp. Colletotrichum sp. Trichoderma sp. Penicillium sp. Curvularia sp. Epicoccum sp. Cladosporium sp. Rhizopus sp. Cercospora sp. Aspergillus sp. Phoma sp. Alternaria sp.
Tratadas* (%) 0 5,5 0 0 2,5 0 0 0 0,5 0 7,0 0 0
Sementes Não tratadas (%) 11,0 32,9 15,5 0,5 1,5 3,5 1,0 3,5 17,0 11,0 15,5 2,5 4,0
*Tratamento com um fungicida + dois inseticidas + um inoculante + Trichoderma spp.
de soja tratadas não é aconselhado, pois afeta negativamente o potencial fisiológico das sementes. Conclusão semelhante pode-se extrair de outro trabalho em que as sementes foram tratadas com fungicida, com inseticida, com fungicida + inseticida e com água e armazenadas por períodos de 0 hora, 12 horas e 24 horas. Verificou-se que, quanto maior o tempo de armazenamento, menor a viabilidade das sementes de soja. O tratamento de sementes não interferiu na germinação, independentemente do tempo de armazenamento, e constatou-se menor incidência de patógenos em sementes tratadas com fungicidas (Tabelas 3 e 4). Com base no contexto de uma agricultura sustentável o tratamento químico de sementes é uma prática importante que faz parte do manejo integrado de doenças, apresentando como aspectos positivos a redução de danos causados por pragas e microrganismos e um melhor estabelecimento na cultura a campo, é uma prática
Fotos Tuane Araldi da Silva
B
A
Emergência após 12 meses de armazenamento. Sementes com tratamento (A) e sementes sem tratamento (B)
técnica e economicamente recomendada, que garante o investimento na semente e agrega valor a ela. Entretanto, se faz necessário ter cuidado com a época que
Tabela 3 – Análise fisiológica de sementes de soja armazenadas por 0, 12 e 24 horas, tratadas com inseticida, com fungicida, com fungicida + inseticida e não tratadas Armazenamento
Inseticida
0 hora 12 horas 24 horas
6,74** aA 6,84 aA 6,74 aA
0 hora 12 horas 24 horas
5,57 aB 6,46 aA 6,63 aA
0 hora 12 horas 24 horas
5,69 cA 5,72 bA 4,19 bB
B
Fungicida + inseticida* Fungicida Primeira contagem (vigor) 6,76 aA 6,78 aA 6,84 aA 6,86 aA 6,84 aA 6,86 aA Germinação (% plantas normais) 6,06 bcA 6,42 abA 5,89 bA 6,18 abA 6,10 bA 6,50 aA Parte aérea (cm) 7,09 bA 7,06 bA 6,02 bB 4,86 cB 4,14 bC 4,28 bC
Testemunha 6,96 aA 7,08 aA 6,93 aA
a semente irá ser tratada, evitando-se o armazenamento prolongado e também com as escolhas e doses dos produtos para que não ocorra fitotoxidez e o surgimento de novas raças dos patógenos, interferindo negativamente no potencial fisiológico de seu lote de sementes. C Tuane Araldi da Silva, Stela M. Kulczynski, Patricia Migliorini, Fernanda B. Martins e Cristiano Belle, UFSM/Cesnors
6,44 aA 6,25 abA 6,12 bA 8,67 aA 8,14 cB 6,51 aC
Médias seguidas da mesma letra maiúscula, em cada linha, e minúscula em cada coluna, não diferem entre si pelo teste de tukey, ao nível de 1% de probabilidade. *Fungicida+inseticida ** Dados transformados por raiz quadrada de y+0,5-SQTR(y+0,5)
Tabela 4 – Sanidade de sementes de soja, armazenadas por 0, 12 e 24 horas, tratadas com inseticida, com fungicida, com fungicida + inseticida e não tratadas Tratamentos Produtos Inseticida Fungicida Fung.+inset Testemunha
Phomopsis sp. 0.96ab 0,71b 0,71b 1,05a
Rhizoctonia sp. 1,02b 0,71c 0,71c 1,53a
0 12 24
0,95 a 0,84 a 0,78 a
1,13 a 0,89 b 0,95 ab
Produtos Horas Prod.x horas CV
5,52 ** 1,66 ns 1,61 ns 30,35
26,09 ** 3,50 * 7,45 ** 26,54
Patógenos Cercospora sp. Aspergillus sp. 2,24b 1,31ab 0,91c 0,92bc 0,91c 0,88c 2,87a 1,37a Horas 1,79 a 1,55 a 1,66 a 0,89 b 1,74 a 0,84 b Valores de F 57,56 ** 7,92 ** 1,36 ns 29,94 ** 2,38 ns 3,17 * 25,89 26,67
Aspergillus sp. 1,31ab 0,92bc 0,88c 1,37a
Cercospora sp. 2,24b 0,91c 0,91c 2,87a
1,55 a 0,89 b 0,84 b
1,79 a 1,66 a 1,74 a
7,92 ** 29,94 ** 3,17 * 26,67
57,56 ** 1,36 ns 2,38 ns 25,89
Medias seguidas da mesma letra, em cada coluna, não diferem entre si pelo teste de tuckey, ao nível de 5% de probabilidade. ns, * e ** são: não significativo, significativo a 5% e significativo a 1% pelo teste de F.
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O armazenamento prolongado não é aconselhado, pois afeta negativamente o potencial fisiológico das sementes
Cana-de-açúcar
Água e nutrição Fotos Glauber Gava
A necessidade hídrica e a demanda por nitrogênio são dois grandes gargalos da produção de cana-de-açúcar em sequeiro. Nesse contexto o efeito da adubação por meio da irrigação surge como alternativa para aumentar a produtividade da cultura
N
a agricultura de sequeiro a oferta de água e nitrogênio é o fator que mais limita o desenvolvimento e a produtividade de cana-de-açúcar (Thorburn et al, 2003; Gava et al, 2008). A necessidade hídrica da cultura varia conforme os diferentes estádios fenológicos. Segundo Doorembos & Kassan (1979) e Ometto (1980), dependendo do clima, o volume de água que a cultura necessita varia de 1.500mm a 2.500mm. O consumo diário de água pela cana-deaçúcar depende de: a) estágio de desenvolvimento da cultura; b) demanda evapotranspirativa em função da época e da região (de 2,00mm a 6,00mm dia); c) cultivar utilizada
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(novas variedades de cana com maior potencial produtivo) e d) adequação de manejo (N, P, K, Ca, água, população de plantas). A resposta de produtividade da cana-deaçúcar irrigada depende de um conjunto de fatores, dentre eles: da quantidade de água e de fertilizantes aplicados (Thorburn, et al, 2003; Dantas Neto et al, 2006), do manejo de irrigação (Ramesh, et al, 1994), da cultivar, idade de corte e do tipo de solo e do clima (Ramesh & Mahadevaswamy, 2000; Smit & Singels, 2006). O sistema de irrigação por gotejamento subsuperficial (ou enterrado) é uma técnica que tem permitido aumentar a eficiência no manejo da água e intensificar os processos
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produtivos, sendo uma tecnologia que em comparação ao sistema por gotejamento superficial, apresenta vantagens adicionais, como aplicar água e nutrientes diretamente na zona radicular, reduzir as perdas por evaporação, evitar danos mecânicos e por roedores às linhas de gotejadores, reduzir a umidade na superfície do solo e minimizar a incidência de doenças. A irrigação por gotejamento subsuperficial é utilizada em diversas culturas, tais como cana-de-açúcar, algodão, melão, batata e numerosas hortaliças, apresentando como principais vantagens: • redução do total de água requerida; • melhor aproveitamento de água e nu-
trientes devido à aplicação diretamente na zona de maior massa radicular das plantas; • redução da evaporação de água, da população de plantas daninhas e do acúmulo de sais na superfície devido à manutenção de solo seco na superfície; • menor interferência em tratos culturais (capinas, pulverizações etc) e na colheita das culturas; • redução de danos mecânicos às mangueiras de polietileno do sistema de irrigação; • sistema radicular mais profundo e menores perdas de nitrato abaixo da zona radicular; • eliminação do problema de crostas superficiais impermeabilizantes do terreno e de escoamento superficial, com aumento da uniformidade de infiltração; • possibilidade de aplicação de água residuária, minimizando riscos de saúde associados ao contato com águas residuárias e odores incômodos. Em relação à interação entre fertilizantes nitrogenados e irrigação para cana-de-açúcar, Thorburn et al (2003) estudaram a importância da fertirrigação com N-fertilizante em quatro ciclos de produção (cana-planta e três soqueiras), concluindo que a produtividade de colmos e de açúcar responde à adubação nitrogenada via fertirrigação. Wiednfeld
Montagem do campo experimental de irrigação por gotejamento em cana-de-açúcar da Apta
No sequeiro a oferta de água e nitrogênio é o fator que mais limita o desenvolvimento e a produtividade de cana
(1995) também estudou o efeito da irrigação e da adubação com N-fertilizante na qualidade e produtividade da cana-de-açúcar em três ciclos de produção (cana-planta e duas soqueiras), concluindo que a produtividade da cana-de-açúcar responde à adubação nitrogenada, principalmente em soqueiras e que as maiores respostas estão relacionadas com maiores níveis de irrigação. Ng Kee Kwong et al (1999) estudaram fertirrigação subsuperficial com doses de nitrogênio e
verificaram que com uso da fertirrigação é possível reduzir em até 30% os valores da adubação nitrogenada sem queda significativa da produtividade da cana-de-açúcar, como consequência da melhor distribuição do fertilizante ao longo do ciclo da cultura. Pesquisa realizada por Singh & Mohan (1994), demonstraram grande interação entre doses de nitrogênio e quantidade de água aplicada na cultura de cana-de-açúcar. No manejo de irrigação igual a 100% da evapotranspiração da cultura, a produtividade (média de três cortes) foi de: 66mg ha-1 sem aplicação do N-fertilizante, com uma dose de 100kg de N ha-1 verificaram produtividade média de 77mg ha-1, e para as doses de 200kg ha-1 de
Figura 1 - Seção transversal de folhas maduras de Amaranthus cruentus (C4), com seus tilacoides. a) Plantas dispostas em ambiente com luz e alta concentração de N em solução nutritiva, o N-total verificado na folha foi de 88,9mmol m-2. b) plantas dispostas em ambiente com luz e baixa concentração de N na solução nutritiva, o N-total verificado na folha foi de 51,1mmol m-2. Fonte: Tazoe et al (2006)
N e 300kg ha-1 de N a produtividade não foi significativamente diferente, sendo em média de 90mg ha-1 nos três cortes. A cana-de-açúcar apresenta uma resposta pronunciada na produção de fitomassa com o aumento do teor de nitrogênio na planta (Bolton & Brown, 1980). Além dessa característica, a cana-de-açúcar é uma planta do ciclo fotossintético C4 que em comparação às plantas C3, produzem duas vezes mais matéria seca por unidade de nitrogênio presente na folha (Black et al, 1978). A deficiência de nitrogênio reduz drasticamente a capacidade fotossintética da cana-de-açúcar, pois as atividades da PEPC e da Rubisco são afetadas pela disponibilidade de N no ambiente (Ranjith et al, 1995; Meinzer & Zhu, 1998). Segundo Ranjith et al (1995), o N é
o maior componente das duas enzimas contidas nos tilacoides, aproximadamente 60% do N acumulado nas folhas estão associados com as duas enzimas citadas anteriormente (Figura 1). No Brasil, pesquisas pioneiras desenvolvidas por Gava (2006) e Martinez (2010), na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Jaú (SP), da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), Polo CentroOeste, avaliaram a utilização da irrigação por gotejamento subsuperficial, aplicando diferentes doses de nitrogênio na cultura de cana-de-açúcar. O experimento foi conduzido em um Argissolo eutrófico, que apresentou na camada de 0-25cm: pH (CaCl2) 5,2; P (resina), 19,0mg dm-3; K, 0,9mmolc dm-3;
Ca, 27,0mmolc dm-3; Mg, 14,0mmolc dm-3; CTC, 105,0mmolc dm-3; V (%), 66, e uma composição em areia, silte e argila de 660, 70 e 270g kg-1, respectivamente. A cultivar utilizada foi a SP80-3280 (terceira soqueira de cana) e o delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições e quatro tratamentos: irrigado sem dose de N; irrigado com dose de 70kg ha-1 de N; irrigado com dose de 140kg ha-1 de N; irrigado com dose de 210kg ha-1 de N. O experimento teve duração de 360 dias. Nesse período, as médias das temperaturas máximas e mínimas foram, respectivamente, de 29,0oC e 15,0oC, e a precipitação no período totalizou 1.740mm. A lâmina de água aplicada nos tratamentos irrigados foi de 293mm. As parcelas constituíram-se de cinco sulcos de 30 metros de comprimento. Em todos os tratamentos, foi utilizado o plantio em linha dupla (plantio “em W” ou plantio em “abacaxi”), com espaçamento de 1,80m entre as linhas duplas. Nos tratamentos irrigados o tubo gotejador foi enterrado a 20cm de profundidade da superfície do solo, no meio da linha dupla conforme a Figura 2. O tubo gotejador utilizado foi o Dripnet PC 22135 FL vazão de 1,0L h-1 possuindo gotejadores a cada 0,5m. Com relação às doses de N estudadas, em sistema de irrigação por gotejamento, observa-se que houve resposta significativa na produtividade de tonelada de colmos por hectare (TCH) e também da tonelada de açúcar por hectare (TPH), com as diferentes doses de N-fertilizante (Figura 3), sendo Fotos Divulgação
Figura 2 - Instalação dos tubos gotejadores nos tratamentos irrigados. Fonte: Gava (2006)
C
Glauber Gava, Raúl Uribe, João Saad e Mauro de Oliveira
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Figura 3 - Produtividade de colmos (TCH) e produtividade de açúcar (TPH) da soqueira de cana, com diferentes doses de N-fertilizante irrigadas por gotejamento. Fonte: Martinez, (2010)
observadas produtividades de 80mg ha-1 a 140mg ha-1 de colmos de cana e de 14mg ha-1 a 22mg ha-1 de açúcar. A dose de nitrogênio que proporcionou valores máximos de rendimento de colmos de cana e de açúcar foi de 140kg ha-1 de N aplicados (Figura 3). Ng Kee Kwong et al (1999), reportaram comportamentos similares ao deste trabalho quando comparadas adubações de 80kg ha-1 de N e 120kg ha-1 de N, via fertirrigação. Wiednfeld (2000) mostrou comportamento
quadrático da TCH e TPH a partir da segunda soca com valores máximos de 140kg ha-1 e 136kg ha-1 de N para produtividades de 78mg ha-1 e 10mg ha-1 de TCH e TPH, respectivamente. Os valores de TCH são coerentes com Doorembos & Kassam, (1979) que consideram como bons rendimentos acima de 100mg ha-1 em áreas irrigadas. Nas condições em que este experimento foi realizado conclui-se que: houve efeito positivo da irrigação e da adubação na
produtividade e nos atributos da cana-deaçúcar, principalmente quando aplicados em C conjunto (efeito sinérgico). Glauber José de Castro Gava, Apta, Polo Centro-Oeste Raúl Andres Martinez Uribe e Jõao Carlos Cury Saad, Unesp Mauro Wagner de Oliveira, Ufal
Empresas
Meta ambiciosa
Divulgação
Nasce a Divisão Agrociência da Ourofino, alicerçada em 23 anos de história da empresa na pecuária e com a promessa de se tornar a maior do setor de defensivos agrícolas, no Brasil, nos próximos anos
O
Fotos Charles Echer
s produtores brasileiros podem começar a se acostumar. Brazuca, Eleve, Cacique, Belo, Forte, Bruto são nomes de defensivos que passarão a integrar o vocabulário do mercado de defensivos agrícolas nos próximos meses. São lançamentos da Ourofino, tradicional no segmento de produtos veterinários e que agora se propõe a disputar espaço com as cinco maiores empresas de agroquímicos no Brasil. A nova divisão do Grupo, batizada de Ourofino Agrociência, tem um complexo industrial construído em uma área de 250 mil metros quadrados no cinturão químico de Uberaba, Minas Gerais. Nesta unidade serão produzidos herbicidas, fungicidas, inseticidas e óleo mineral, com capacidade de 100 milhões de litros por ano. “Com esse investimento da Ourofino, o mercado tem muito a ganhar, pois a empresa
está oferecendo produtos de qualidade e todos de fabricação nacional”, defende o presidente da nova divisão, Jurandir Paccini. O executivo revela que a empresa tem ambição de se tornar nada menos do que a maior fabricante de defensivos do Brasil nos próximos anos. Para alcançar esta meta, a Ourofino Agrociência, que formulou seu primeiro produto em agosto de 2010, pretende completar seu portfólio até 2012, quando terá representantes comerciais em todo o território brasileiro. Numa primeira fase do projeto, que será desenvolvido até o final de 2011, serão trabalhados quatro fungicidas, 14 herbicidas e 16 inseticidas. Para a segunda fase serão mais nove fungicidas, 12 herbicidas, dez inseticidas e mais seis outros produtos que totalizarão 71 diferentes formulações disponíveis para venda aos produtores até o final de 2012. Já no próximo ano a empresa terá capacidade de sintetizar os produtos no Brasil,
o que diminuirá em 50% a necessidade de importação dos princípios ativos que servem de matéria-prima para seus defensivos. Atualmente essa matéria-prima é importada e a formulação realizada na nova fábrica. Um dos motivos que levaram a Ourofino a investir no segmento agrícola foi a perspectiva do Brasil se tornar, em alguns anos, o maior fornecedor de alimento e energia para outros países, explicou Paccini. “Este cenário promissor, somado à história de sucesso e ascensão da Ourofino nestes 23 anos de existência, mostra que é possível repetir na agricultura o sucesso e o crescimento que a empresa teve no setor da pecuária, sempre inovando e crescendo a taxas acima do mercado”, destaca o presidente do Conselho e fundador da Ourofino, Norival Bonamichi. A Ourofino tem sua sede em Cravinhos, interior de São Paulo, onde produz medicamentos veterinários para o Brasil e aproximaC damente outros 30 países. FASES Fase 01
Fase 02
Paccini destaca investimento na nova divisão, construída em área de 250 mil metros quadrados
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Bonamichi aposta na possibilidade de repetir na agricultura o sucesso da empresa na pecuária
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TOTAL
CLASSES Fungicidas Herbicidas Inseticidas SUBTOTAL Fungicidas Herbicidas Inseticida Outros SUBTOTAL
Nº ATIVOS 4 11 12 27 7 12 8 3 30 57
Nº FORMULADOS 4 14 16 34 9 12 10 6 37 71
Trigo Fotos Flávio Santana
Fenômeno explicado Danos foliares, diferentes dos que ocorrem normalmente nas lavouras de trigo, chamam a atenção de produtores e pesquisadores no Rio Grande do Sul. Os sintomas estariam associados ao aumento da população da bactéria Pseudomonas syringae pv. syringae nas folhas. Utilizar semente com qualidade fitossanitária conhecida, evitar o uso de cultivares suscetíveis e adotar a técnica de rotação de culturas estão entre as medidas recomendadas preventivamente contra o problema
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E
m todas as safras, a cultura de trigo é normalmente afetada por diversos patógenos, sendo mais comuns os fungos que incitam giberela, ferrugem e manchas foliares. A intensidade e a frequência de incidência destes patógenos dependem de vários fatores, como condição climática, cultivar, estádio de desenvolvimento da cultura e local de cultivo. Desses fatores, muitas vezes o clima é o de maior relevância como determinante da ocorrência de uma ou de outra epidemia. Na atual safra de 2010, semelhante ao que já vem sendo observado desde 2005, está ocorrendo, em diversas lavouras, sintomas diferenciados daqueles causados por fungos habitualmente observados na triticultura do Rio Grande do Sul. Variadas hipóteses e especulações estão sendo formuladas para explicar o fenômeno, como por exemplo: lesões incitadas por bactérias, manchas causadas por fungos, danos por chuva ácida, etc. As avaliações realizadas pelos pesquisadores da Embrapa Trigo, Flavio Santana, João Maciel e Maurício Fernandes, especialistas em fitopatologia, e pela professora/pesquisadora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UPF, Norimar D’Ávila Denardin, especialista em Bacteriologia Fitopatológica, levaram à conclusão de que esses sintomas decorrem, primordialmente, da ação de bactérias do grupo pseudomonas. Nesta safra, as condições climáticas promovidas por chuva de longa duração e temperatura em torno de 15ºC foram favoráveis para o aumento da população de Pseudomonas syringae pv. syringae, que é uma bactéria epífita, ou seja, de ocorrência regular sobre as folhas das plantas. A elevada concentração dessa bactéria sobre as folhas de trigo pode induzir danos foliares, como os sintomas que estão sendo observados a campo. Esses sintomas se apresentam com aspecto de queima, resultante da ação de toxinas produzidas por essa bactéria. A hipótese ou a especulação relativa à causa desse dano estar associada a manchas foliares é totalmente rejeitada por não ter sido isolada, em nenhuma amostra coletada, qualquer estrutura dos possíveis fungos causadores desses sintomas na cultura de trigo. A hipótese ou especulação dos danos terem sido provocados por ocorrência de chuva ácida também é refutada, pois, nesse caso, o sintoma deveria ser generalizado, em toda extensão da lavoura e independente da cultivar. No entanto, observaram-se, em parcelas experimentais da Embrapa Trigo, linhagens e cultivares com diferentes níveis de danos, variando desde resistentes, quase sem sintomas, a altamente suscetíveis, com 100% de incidência e pelo menos 50% das folhas necrosadas.
Questionamento que também acompanha essa discussão, envolvendo a ocorrência da bacteriose no estágio reprodutivo da cultura, é relativo ao quanto de perda em produtividade essa doença pode causar. Por ser considerada, em quase todos os países produtores de trigo, uma doença esporádica e de importância secundária em relação a outras doenças, não há dados científicos que quantifiquem os reais danos provocados por essa bactéria. O que se observa é a queima generalizada das folhas, mas que, dependendo do estádio de desenvolvimento da planta no período reprodutivo, pode não comprometer o enchimento de grãos, pois a planta é capaz de se recuperar. Considerando que as últimas folhas, principalmente a folha bandeira, são as principais responsáveis pela produção de fotoassimilados para a formação e enchimento de grãos, seriam necessárias necroses de grandes proporções nessas folhas para que a produtividade fosse severamente afetada. Entretanto, o que se observa no campo, para a maioria das cultivares, é a queima das folhas baixeiras e pouca necrose na folha bandeira, possivelmente, pelas condições de umidade e temperatura mais favoráveis na parte inferior das plantas. O controle dessa doença deve ser preventivo. Não há, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), produto químico registrado para controle de bactérias em trigo. Portanto, na próxima safra de trigo, com vistas a reduzir o risco de ocorrência dessa doença, medidas preventivas consistem em: usar semente com qualidade fitossanitária conhecida, isenta desse patógeno; evitar o uso de cultivares suscetíveis; e adotar a C técnica de rotação de culturas. Flavio Santana, João Leodado Maciel e José Maurício Fernandes, Embrapa Trigo Norimar D’Ávila Denardin, Universidade de Passo Fundo
A
Cultivar de trigo suscetível à queima causada por Pseudomonas syringae
B
C
a) Detalhe de conidióforos de Drechslera tritici-repentis com sintoma de mancha amarela; b) Detalhe de lesão, típica de bacteriose, onde não se observa crescimento de fungo patogênico ao trigo; c) Pedaços de folha de trigo sintomáticas sobre meio de cultura, com o objetivo de comprovar a presença ou ausência de fungo patogênico nas amostras
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Rodrigo Souza Santos
Café
Discretas e nocivas Na fase de ninfas os danos causados por cigarras no cafeeiro tendem a passar despercebidos, por conta de a praga permanecer subterrânea por longo período, enquanto suga continuamente a seiva bruta das raízes. Três espécies do inseto são relatadas como causadoras de prejuízos à cultura no Brasil
C
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O cafeeiro, quando atacado por cigarras, apresenta definhamento progressivo, folhas cloróticas e com queda prematura, “envaretamento” e, principalmente, decréscimo acentuado de produção. Os danos provocados por estes insetos, à primeira vista, não são detectados devido
às cigarras passarem a maior parte da suas vidas enterradas no solo. Na fase ninfal sugam continuamente a seiva bruta das raízes do cafeeiro. Após esta fase, a ninfa móvel abandona as raízes cavando uma galeria circular e individual para sair do solo (quanto maior o número de orifícios
Douglas Henrique Bottura Maccagnan
omo qualquer cultura agrícola, o cafeeiro está sujeito a problemas fitossanitários, como ataque de pragas e patógenos. Dentre as principais pragas associadas ao café destacam-se o ácaro-vermelho-do-cafeeiro (Oligonychus ilicis (McGregor), o ácarobranco (Polyphagotarsonemus latus (Banks) e o ácaro da leprose (Brevipalpus phoenicis (Geijskes). Também merecem atenção os nematoides: Meloidogyne exigua Goeldi, Meloidogyne incognita (Kofoid & White) e Meloidogyne coffeicola Lordello & Zamith. Sobressaem-se, ainda, a broca-do-café (Hypothenemus hampei (Ferrari), o bichomineiro (Leucoptera coffeella (GuérinMèneville)), a lagarta-dos-cafezais (Eacles imperialis magnifica Walker)), o bichocesto (Oiketicus kirbyi (Lands-Guild.)), a cochonilha-verde (Coccus viridis (Green) e as moscas-das-frutas do gênero Anastrepha Schiner e Ceratitis capitata (Wieldemann) e espécies de cigarras dos gêneros Quesada Distant, Fidicina Amyot & Serville, Dorisiana Metcalf, Carineta Amyot & Serville e Fidicinoides Boulard & Martinelli, algumas com status de pragas-chave da cultura.
Fêmea adulta de Fidicinoides sarutaiensis com as asas distendidas
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Importância do café
O
cafeeiro (Coffea arabica L.) é um arbusto pertencente à família Rubiaceae, oriundo da Etiópia, de regiões montanhosas ocidentais, ao lado dos afluentes do rio Nilo Azul e na região da província de Kaffa. Geralmente é consumido na forma de bebida, com sabor e aroma característicos, apresentando propriedades estimulantes e digestivas. A introdução do café no Brasil data por volta de 1727, com mudas trazidas da Guiana Francesa e, ao término do século XIX, o Brasil já controlava o mercado cafeeiro mundial. Atualmente, a produção mundial de café (safra 2009/10) deverá totalizar 125,2 milhões de sacas, de acordo com a projeção do Departamento de Agricultura dos Estados
Ninfa móvel de cigarra no interior de uma galeria no solo
mento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV/ Unesp), Jaboticabal (SP). Os exemplares foram coletados pelo pesquisador Renato Ribeiro, que observou adultos e exúvias em troncos de cafeeiro em campo, além de ninfas nas raízes, em covas cavadas na base das plantas de café. Após o estudo morfológico e taxonômico destes exemplares, concluiu-se que se tratava de uma nova espécie de Fidicinoides e de um novo registro de cigarra associada ao cafeeiro. A espécie Fidicinoides sarutaiensis Santos, Martinelli & Maccagnan, foi descrita e batizada em homenagem ao município em que foi coletada. Trata-se de uma espécie de porte médio - médias de
26,9mm (machos) e 27,7mm (fêmeas) -, com tórax e abdômen escurecidos, apresentando asas anteriores hialinas com célula basal enegrecida e as posteriores com metade do tamanho das anteriores e enegrecidas na base. As espécies Fidicinoides pronoe (Walker) e Fidicinoides pauliensis Boulard & Martinelli também são relatadas associadas ao cafeeiro, aumentando, assim, para três o número de espécies deste gênero ligadas à cultura no Brasil e para 35 o número total de espécies do C gênero em todo o mundo. Rodrigo Souza Santos, Embrapa Amapá
Divulgação
sob a saia do cafeeiro, maior o grau de infestação), fixando-se em suportes, como o tronco das árvores, ocorrendo de setembro a março, dependendo da região. Tem lugar, então, a emergência dos adultos, que irão começar o novo ciclo reprodutivo da praga. Por meio de órgãos especiais localizados no abdômen, o macho estridula ou “canta”, com a finalidade de atrair a fêmea para o acasalamento. O monitoramento das cigarras deve ser realizado em dez plantas/talhão, abrindo trincheiras (50x60x60cm) de um lado da planta e contando o número de ninfas (vezes dois). O nível de controle é feito quando observado um número de 35 ninfas por planta e os produtos fitossanitários recomendados são granulados sistêmicos, indicados para o bicho-mineiro (Aldicarb 150 G, Disulfoton 25 G ou Carbofuran 50 G), aumentando a dosagem em 20% a 30%. Os patógenos de solo, como por exemplo o fungo Metarhizium anisoplie (Metsch.), são os principais inimigos naturais das cigarras, parasitando as ninfas e levando o inseto à morte. Para fornecer subsídios para o reconhecimento e identificação das espécies de cigarras de ocorrência no Brasil, fazem-se necessários estudos de levantamento em campo, além do exame de coleções entomológicas deste grupo de insetos (embora se encontrem dispersas em várias instituições de pesquisa brasileiras e internacionais e, muitas vezes, com espécimes identificados erroneamente ou mesmo não identificados). Neste sentido, foram estudados exemplares de cigarras coletados na fazenda Lauro Barroso, no município de Sarutaiá, sudoeste do estado de São Paulo, em outubro de 2003, e depositados na coleção entomológica de cicadídeos do Departa-
Unidos (USDA). O Brasil ainda figura como o principal produtor mundial, seguido de Vietnã, Colômbia, Índia e Etiópia. Neste contexto, o café continua sendo um importante gerador de divisas para a economia brasileira (cerca de US$ 2 bilhões anuais ou 26 milhões de sacas exportadas por ano), contribuindo com mais de 2% do valor total das exportações brasileiras e respondendo por mais de um terço da produção mundial. A atividade envolve, ainda, meio bilhão de pessoas, em âmbito mundial, da produção ao consumo final. No Brasil, a cadeia produtiva do café tem contribuído com mais de 30% da produção mundial nas últimas safras, gerando mais de oito milhões de empregos diretos e indiretos no país.
Frutos maduros de Coffea arabica L.
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Eventos
Cana em debate
Fotos Pedro Batistin
FMC reúne representantes do setor canavieiro em fórum de discussão da cultura no Brasil
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FMC Química do Brasil realizou a 15ª edição do Clube da Cana em outubro, em São Paulo. O evento é um dos fóruns mais importantes e tradicionais do segmento em todo o Brasil. O objetivo, segundo os organizadores, é de oferecer um espaço para debates que fortaleçam o setor e promovam o crescimento contínuo, estratégia que faz parte da política da empresa, assim como ocorre com outras culturas como algodão e soja. Com palestras, mesas-redondas e workshops ao longo do evento, especialistas do setor e os principais profissionais envolvidos com a cultura da cana se reuniram para discutir sobre o bom momento do plantio da cultura no país, perspectivas de mercado futuro, desafios e oportunidades da terceirização em atividades agrícolas e ações e projetos da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Foram abordadas, também, questões sobre o progresso tecnológico da agricultura no país, empreendedorismo e ações necessárias para o aumento da produtividade e da rentabilidade. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) abordou os temas: Competitividade, Sustentabilidade e Comunicação. O executivo anunciou que no prazo de um ano, em todas as bombas de combustíveis do país,
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a indicação do combustível “álcool” será trocada pela marca registrada “etanol”. No segundo painel, com o tema As perspectivas para o mercado em 2011 – Índia e Brasil, palestrou o diretor geral da Associação Indiana das Indústrias de Açúcar (Isma), Abinash Verma, com comentários de Arnaldo Luis Correa, sócio-diretor da Archer Consulting, e André Nassar, diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). José Mendes, da Mendes e Mendes, e Luiz Comachionni, diretor da Giordan Bioenergy,
falaram sobre os Desafios e oportunidades da terceirização em atividades agrícolas. Durante o evento, a empresa fez o lançamento do Cigaral, inseticida para combater a cigarrinha-das-raízes e o cupim, cuja incidência aumentou após a ampliação da colheita mecanizada. Os benefícios indicados pelo fabricante são a facilidade de manuseio, embalagem em pacotes hidrossolúveis e nas quantidades exatas para uso. Tendo ainda como vantagens a formulação concentrada, com rápido efeito de choque, eficácia da C solução e ação por longo período.
Evento reuniu especialistas para debater o bom momento da cultura e os desafios para o setor
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Coluna ANPII
Por que usar inoculante Apesar dos resultados de pesquisa que comprovam sua eficiência, muitos agricultores ainda não usufruem dos benefícios da Fixação Biológica do Nitrogênio
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dmite-se que alguém deixe de usar um produto se não houver provas suficientes de que seja bom ou traga algum benefício. Também se admite a recusa em usar se tiver alguma contraindicação, em termos de prejuízos à saúde de pessoas e de animais ou que provoque algum dano ao meio ambiente. Outro fator de recusa ao uso de produtos é seu preço, ou melhor, sua relação custo/benefício. Um insumo que traga um benefício muito pequeno em relação ao investimento feito em sua compra,
Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, Mato Grosso do Sul, publicou artigo que revela crescimento médio de 9% nos rendimentos da soja naquele estado. E estes resultados não são de um ou dois experimentos, mas sim dados compilados ao longo de dez anos, comprovando a consistência da tecnologia do uso do nitrogênio biológico. Por outro lado, se formos analisar pelo ponto de vista financeiro, veremos que não existe aplicação financeira tão boa quanto o uso de
de 40% dos plantadores de soja utilizam inoculante, ficando os outros 60% à margem deste benefício. No Paraná, estima-se que cerca de 60% empreguem a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) em suas lavouras, o mesmo ocorrendo em São Paulo. Mas é no Brasil Central, onde são obtidas as maiores produtividades da soja, que o uso é em grande escala. Lavouras altamente tecnificadas utilizam mais de uma dose por hectare, resultando em um seguro aporte de elevadas quantidades de nitrogênio
Pulbicações da Embrapa e de outros órgãos de pesquisa mostram aumento médio, em todo o país, de 8% nas lavouras de soja com o uso anual de inoculante naturalmente tem restrições de uso. Entretanto, quando se tem algo que, comprovadamente, traga benefícios, com inúmeros trabalhos de pesquisa que mostram sua eficiência, um produto sem nenhuma possibilidade de danos a homens, animais e ao ambiente, cujo preço de aquisição é um baixíssimo investimento, com um excelente aumento de produtividade, fica difícil explicar o fato de muita gente não usá-lo. Este é o caso típico dos inoculantes. Seu efeito no aumento da produtividade é indubitavelmente comprovado por dezenas (talvez mais de uma centena) de trabalhos de pesquisa, mostrando incrementos consistentes de produtividade com seu uso. Publicações da Embrapa e de outros órgãos de pesquisa mostram aumento médio, em todo o país, de 8% nas lavouras de soja com o uso anual de inoculante, mesmo em áreas antigas de cultivo da leguminosa. Recentemente, o pesquisador Fábio Martins Mercante, da
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inoculantes. Se partirmos de um investimento de R$ 8,00/ha (preço de duas doses de inoculante mais o custo de aplicação), veremos que, em quatro meses a cinco meses, esta aplicação terá crescido para R$ 140,00. Portanto, uma lucratividade de R$ 132,00 por hectare. (Base de cálculo: aumento de 8% sobre três mil quilos, ou seja, quatro sacas/ha, ao preço de R$ 35,00 a saca de soja). Existirá alguma aplicação tão rentável? Bem, com tudo isto, fica fácil concluir que todos os plantadores de soja utilizam inoculante em suas lavouras para suprir a elevada demanda de nitrogênio que esta cultura requer. Engano. Uma parte, felizmente minoria no Brasil, deixa de se beneficiar deste produto por pura e simples falta de informação. No Rio Grande do Sul, berço das primeiras pesquisas com inoculação em soja, da primeira fábrica de inoculantes do Brasil e onde está localizado o Laboratório de Referência em Rhizobium, cerca
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biológico, o que potencializa a produtividade. Mas retorna-se à pergunta: Por que não usar inoculante? Por que um contingente relativamente grande de agricultores não usa um insumo tão eficaz em suas lavouras? O único motivo para explicar isto é o desconhecimento dos benefícios que a tecnologia traz. Por isto, é necessário um esforço dos agrônomos da assistência técnica, das cooperativas, dos órgãos de pesquisa e das empresas produtoras de inoculante, bem como da mídia especializada em agricultura, para difundir o uso do inoculante, permitindo que estes agricultores que hoje estão marginalizados neste processo venham a usufruir dos ganhos financeiros proporcionados pela Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN). C Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
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m 2006 foi criada a Moratória da Soja, com a ambição de eliminar o desmatamento da Floresta Amazônica vinculado ao cultivo de soja. Trata-se de uma iniciativa perfeitamente adaptada aos novos tempos, em que a agenda ambiental imiscui-se com a comercial, a ponto de que esta última enfrenta sérios percalços se não atender a primeira. O mercado internacional, em especial os mercados localizados em países ricos, pressiona os exportadores para assegurar que a soja (ou seus produtos) não foi produzida à custa da agressão ao meio ambiente, sendo o desmatamento na Amazônia um tema particularmente sensível no mercado. Embora as estatísticas disponíveis indicassem que o plantio de soja no bioma Amazônia pouco representava para o total da produção desta oleaginosa no Brasil, o fato de que nosso país se impõe cada vez mais como um player de primeira linha no mercado internacional, nos
Moratória da Soja pelos associados da Abiove e da Anec, tendo seu mercado fortemente restringido. O processo de levantamento é repetido anualmente, para garantir o cumprimento do objetivo. Entre 2009 e 2010 foi realizado o terceiro levantamento. Para tanto foram realizadas 107 horas de monitoramento aéreo entre 18/12/09 e 7/3/10, cobrindo 29 municípios dos estados de Mato Grosso, Rondônia e Pará, totalizando 14.830 quilômetros, quase três vezes a extensão Norte-Sul do Brasil. Os critérios para a seleção das áreas a monitorar foram: 1) Áreas superiores a 25 hectares total ou parcialmente situadas no bioma Amazônia; 2) Restrito aos estados de Mato Grosso, Rondônia e Pará; 3) Situadas fora das áreas protegidas e dos assentamentos; 4) Em municípios com área de soja superior a cinco mil hectares.
157.896 hectares. Foi registrado o cultivo de soja em 1.384 hectares de plantio de soja. No terceiro ano, a superfície monitorada aumentou para 302.149 hectares e foram identificados 6,3 mil hectares de plantio de soja. A sequência de resultados pode levar à conclusão errônea de que o plantio de soja no bioma Amazônia aumentou a cada ano, desde o início do monitoramento. Na realidade, o que ocorreu é que o monitoramento foi sendo aprimorado gradualmente, com aumento da área de cobertura e refinamento da metodologia, o que permitiu uma detecção cada vez mais precisa de áreas irregulares. O aumento da área plantada com soja na presente safra é apenas aparente, reflete a maior abrangência da área monitorada e decorre de diversos fatores: a) Aprimoramento da metodologia pela inclusão dos polígonos de 25 hectares a 100 hectares que antes eram apenas amostrados e junção
A Moratória da Soja é uma iniciativa meritória, absolutamente em linha com as necessidades de sustentabilidade do agronegócio brasileiro obriga a agir como a mulher de César: “não basta ser honesta, é preciso parecer honesta”. Esta é a razão principal da Moratória da Soja: comprovar, acima de qualquer dúvida razoável, que os produtores de soja estão respeitando a legislação ambiental vigente, o zoneamento agroecológico da soja e que estão em linha com os anseios do mercado e dos consumidores.
Metodologia
A Moratória da Soja teve como inspiradores a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Seu objetivo é identificar a ocorrência de plantio de soja no bioma Amazônia, em áreas nas quais a mata nativa tenha sido derrubada após 24 de julho de 2006 (data da entrada em vigor da Moratória). Para tanto são utilizadas imagens de satélite para selecionar áreas de desmatamento identificadas pelo projeto Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), com provável presença de plantio de soja. As informações de uso e ocupação da terra são confirmadas por sobrevoo e por levantamento de campo. Uma vez identificado o plantio de soja em área desmatada, a soja obtida na propriedade não é aceita para comercialização
O leitor pode acessar as imagens de cada de polígonos contíguos inferiores a 25 hectares polígono vistoriado através da Internet, pelo que não faziam parte do levantamento; endereço http://www.abiove.org.br/ss_relatob) Acréscimo de novos polígonos referentes riouso09_br.asp a mais um ano; c) Maior disponibilidade de áreas aptas para Resultados plantio, abertas há mais tempo; e O terceiro levantamento, concluído em d) Conjuntura favorável do mercado in2010, referenda o que já se sabia: o plantio ternacional que estimulou a retomada da área de soja no bioma Amazônia é absolutamente recorde plantada de 2004/05. marginal. Foram identificados 6.295 hecEm conclusão, a Moratória da Soja é uma tares, desmatados após julho de 2006, nos iniciativa meritória, absolutamente em linha quais foi constatado o plantio de soja. Para com as necessidades de sustentabilidade do efeito comparativo, esta área corresponde a agronegócio brasileiro, que liderará o mercado 0,25% do desmatamento ocorrido na Ama- mundial por sua competitividade intrínseca, C zônia, no mesmo período. Ou seja, o plantio com respeito ao meio ambiente. de soja não é o vetor do desmatamento. Por Tabela 1 - Resultados do monitoramento da Moratória da outro ângulo de análise, a área irregular Soja, realizado em 2010 corresponde a 0,027% da área de plantio de Estado Área plantada com soja nos municípios monitorados soja brasileira (23,2 milhões de hectares), % do total Polígonos da moratória Total demonstrando que o plantio de soja nestas 0,30% 4.670 1.559.059 condições não apresenta qualquer importân- Mato Grosso Pará 2,52% 1.596 63.425 cia econômica. Rondônia 0,03% 29 108.900 No primeiro monitoramento (safra Total 0,36% 6.295 1.731.384 2007/08), a área total monitorada foi de 49.809 hectares. Após sobrevoo e identificação do uso Décio Luiz Gazzoni da terra, concluiu-se que não havia plantio de Engenheiro agrônomo, membro do Painel Científico Internacional de Energia Renovável do Conselho soja nestas áreas. No segundo monitoramento Internacional de Ciências (2008/09), a superfície monitorada passou para http://dlgazzoni.sites.uol.com.br
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Sementes lançadas com boas expectativas de lucros para 2011 O mercado do agronegócio mostra boas expectativas para 2011, com as cotações em alta, grandes demandas brasileira e mundial e chances de fechamentos positivos antes mesmo do plantio. O cenário mostra fechamentos futuros de soja, milho e algodão, com valores que trazem bons lucros aos produtores. A virada toda se deu no mês de maio, quando surgiram as primeiras notícias de quebra da safra da Europa e na sequência vários fatores se acumularam, limitando a oferta. O último relatório de oferta e demanda do USDA mostra os EUA perdendo produtividade para o clima nas suas principais lavouras, derrubando as safras do milho, da soja e do arroz e desta forma trazendo um novo alento às cotações internacionais. Some-se a isso o fator Ásia que em 2010 foi fortemente afetado pelo clima e no mês de outubro registrou tempestades, inundações e até um tsunami, pegando parte das lavouras em plena fase de maturação e colheita. Desta forma houve perdas importantes na safra local, que tende a trazer maior necessidade de compra pelos importadores e menor volume de venda pelos exportadores. Com isso, abre espaço para maiores volumes de negócios com fornecedores das Américas, principalmente do Sul. Neste momento de plantio há crescimento das áreas de algodão e soja e grande parte do avanço já vem negociado antecipadamente. Isso garante aos produtores boas cotações e lucros, sem afetar o mercado na colheita, porque o produto novo que entra já tem destino à exportação e não carrega o mercado interno com a oferta. Tudo caminha para termos um bom ano agrícola em 2011, com lucros. MILHO
Exportações acima das expectativas
O milho mostra bom ritmo de negócios na exportação e nestas últimas semanas as cotações foram ainda mais altas, chegando aos US$ 265,00 por tonelada, negociadas nos portos, trazendo forte apoio ao mercado interno, que avançou e está nos melhores momentos do ano e não mostra fôlego para baixa, porque seguirá tendo a exportação como base de cotações e desta forma já se aponta que das nove milhões de toneladas previstas para serem exportadas, agora poderemos chegar a 11 milhões, porque muitos negócios vêm sendo realizados diretamente entre cooperativas e exportadores para desovar os estoques. Com isso fecharemos o ano com um quadro mais apertado do que vinha sendo pintado e favorável aos produtores. O atraso no plantio da primeira safra fará a entressafra se alongar, o que tende a manter as cotações firmes na boca da safra, porque muitos fechamentos estão sendo realizados para serem embarcados entre fevereiro e abril, com valores que liquidam na faixa dos R$ 20,00 acima aos produtores do Sul e Sudeste, muito acima do que se praticava neste ano, que chegou a rodar nos R$ 13,00.
potencial produtivo e boas expectativas de demanda internacional. Com isso, as cotações seguem em alta no mercado internacional, com os produtores brasileiros aproveitando para fazer fixações na base dos US$ 12,00 e até acima. Os negócios antecipados trazem lucros. Há boas expectativas também para o que resta de soja da safra atual, que está escassa e mostra forte demanda pelo segmento de biodiesel, o que deixará o mercado de novembro bastante aquecido e favorável aos produtores que ainda têm o grão para ser negociado. A expectativa é de que os fechamentos junto às indústrias possam bater a marca dos R$ 50,00 nos lotes CIF em novembro. FEIJÃO
Sustentando boas cotações
A safra do feijão mostra colheita localizada neste mês de novembro, com grandes perdas por problemas climáticos, e seguirá com colheita escalonada até fevereiro, porque parte das lavouras está sendo plantada em novembro. Assim, temos a primeira safra bastante escalonada, com pouca oferta localizada, servindo de limitante de queda das cotações. No ano anterior o valor chegou ao redor dos R$ 60,00 e agora oscila entre R$ 130,00 e R$ 170,00 SOJA depois de já ter alcançado R$ 230,00 (nos Final da safra dos EUA e boas cotações A safra americana fecha com perdas no melhores momentos do ano). A tendência é
de se manter firme, acima dos R$ 100,00 até o começo do ano, com momentos alternados acima dos R$ 150,00 e outros abaixo, mas com ganhos aos produtores. ARROZ
Últimas chances do ano
O mercado do arroz veio em marcha lenta desde a colheita, com cotações fracas. Passou outubro sem reação e tem no mês de novembro as últimas chances do ano para reagir, com probabilidade de vermos alguma correção, já com pouco fôlego para grandes ajustes. Estamos nas últimas reposições de gôndola do varejo e as indústrias já preparando a parada do final do ano enquanto ainda há muito arroz livre para ser negociado nas mãos dos produtores e com grande volume de entrada do produto do Mercosul. Esse contexto acaba servindo para limitar avanços de preços no Brasil. Há boas expectativas para a nova safra, que teve o plantio em tempo recorde, no melhor período recomendado e com boa tecnologia utilizada pelos produtores do Sul. Com barragens cheias há grande potencial de safra no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Enquanto isso, nas demais regiões do país, a produção seguirá em queda livre e novamente se caminha para uma colheita muito abaixo do que iremos consumir. Isso pode ser o fator importante para dar boas cotações aos produtores em 2011.
CURTAS E BOAS TRIGO - O dólar barato limitou os ganhos dos produtores no mercado brasileiro até agora, mas o setor que está na fase final da colheita mostra boas expectativas para as cotações nos próximos meses, porque o mercado internacional segue na faixa dos US$ 300,00 a U$$ 330,00 por tonelada no mercado internacional, que liquida no Brasil na casa dos R$ 600,00 por tonelada ou acima desse valor. Desta forma tende a trazer algum apelo positivo aos produtores, que devem ver a liquidação crescer somente entre os meses de fevereiro em diante, porque neste final de ano as indústrias normalmente trabalham com o que tem em estoque e seguram as cotações internas. ALGODÃO - O mercado aproveitou as boas cotações praticadas nas últimas semanas para fechar grande parte do que está sendo plantado ou do que irá ser cultivado. Já se aponta que no Mato Grosso e Bahia mais da metade da safra foi negociada antecipadamente, trazendo boa rentabilidade aos produtores. As expectativas são de que tenhamos uma safra com crescimento acima dos 20% e a maior parte devendo seguir o caminho da exportação via contratos antecipados e com lucros aos produtores neste novo ano. eua - A safra está fechada e agora o mercado tende a olhar mais para a América do Sul. A espera é pelos números finais da produção, que tendem a manter a oferta e a demanda americana apertadas. A boa notícia veio do aumento da mistura do etanol na gasolina, nos EUA, que passa de 10% para 15%, fortalecendo o milho. Junto a isso o aumento da mistura do biodiesel no diesel favorece a soja.
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CHINA - A safra deste ano foi comprometida pelo clima, com perdas por atraso no plantio e depois prejuízos por inundações e tempestades. Não bastasse isso, no final do ciclo vieram as geadas e as perdas na produtividade. O resultado refletiu no aumento das necessidades de importações. Na soja a demanda caminha para superar as 55 milhões de toneladas e no milho deve avançar acima das dois milhões de toneladas, sendo a locomotiva favorável para as cotações internacionais. ÍNDIA - O clima trouxe perdas à safra local e a boa fase da economia do país, que está crescendo mais de 8% neste ano, não irá fazer crescer as importações, principalmente do óleo vegetal, desta forma trazendo apelo importante às cotações. A safra da cana local está em crescimento neste ano e mesmo assim não se espera pela queda nas cotações do açúcar, porque o país aumentou a demanda interna e com isso o quadro de oferta e demanda continuará apertado. ARGENTINA - A safra mostra o plantio chegando ao final para soja, milho e arroz. Dos três, somente o arroz está com pouco risco frente ao La Niña, já que as barragens se encontram cheias. Enquanto isso os olhos devem se voltar para o clima, que indica redução das chuvas neste restante de ano, o que, se confirmado, resultará em queda na safra e fôlego de alta no mercado internacional. A safra do trigo local, em colheita, registra perdas na produtividade, com indicativos de ficar na faixa das 11 milhões de toneladas. Com esse resultado o país ficará com menos de 5,5 milhões de toneladas para exportar e não terá produto para atender o Brasil em 2011.
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