Cultivar 139

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XII • Nº 139 • Dez 2010 / Jan 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas capas

Cristiane Stecca

A dança das lagartas.............................24 Como reorganizar as estratégias de manejo diante da nova dinâmica das lagartas desfolhadoras na cultura da soja

Trio de peso..............................06 Rasgador de folhas.....................10 Sementes ou estacas?.................40 A ação de fungicidas no combate a doenças foliares como cercosporiose, helmintosporiose e ferrugem polissora em milho safrinha

Medidas de controle natural e químico contra o ácaro branco Pholyphagotarsonemus latus em algodão

Índice

As vantagens da propagação vegetativa e transplantio na cultura do café Conilon

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

05

Doenças foliares em milho

06

Ácaro rasgador de folhas em algodão

10

Acerte no sistema da soja

14

Lagarta-da-maçã em soja

18

Espaçamento e volume de calda na ferrugem da soja

20

Dinâmica de lagartas em soja

24

MARKETING E PUBLICIDADE

Cultivares mais resistentes em soja

28

• Coordenação

Maturação antecipada em cana

30

Fósforo no solo

34

Empresas - Digilab 500 da Basf

37

Formigas cortadeiras

38

Sementes e estacas em café

40

Coluna ANPII

44

Coluna Agronegócios

45

Mercado Agrícola

46

REDAÇÃO

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Editor

Gilvan Dutra Quevedo

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Letícia Gasparotto Ariani Baquini

• Secretária

Rosimeri Lisboa Alves

Charles Ricardo Echer

• Expedição

Edson Krause

GRÁFICA

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Inovação na cana

A nova tecnologia da Syngenta para a cana-deaçúcar está pronta para ser aplicada em lavouras comerciais. Batizada de Plene, vai substituir o atual método de plantio por um sistema moderno e simples. Ao invés de usar o método atual de plantio, com matrizes de 30 centímetros a 40 centímetros, a Syngenta está desenvolvendo um método de produção de mudas de cana-de-açúcar com menos de quatro centímetros de comprimento. Os materiais receberão aplicações de tratamento de sementes para maximizar o desenvolvimento nos estágios iniciais. A coordenadora de Marketing e Comunicação Novas Tecnologias para Cana- deAçúcar, Milca Inocêncio, explica que o produtor maximizará o poder produtivo da sua lavoura e Milca Inocêncio economizará com maquinário no plantio.

Convenção interna

A Ourofino Agrociência, unidade de defensivos agrícolas do Grupo Ourofino, com fábricas localizadas em Uberaba, Minas Gerais, realizou em novembro sua primeira convenção interna. Aproximadamente 80 funcionários do novo complexo industrial, inaugurado em agosto, estiveram na sede da empresa, em Cravinhos, São Paulo, para conhecer as estratégias e perspectivas para 2011. De acordo com o presidente da Ourofino Agrociência, Jurandir Paccini, o encontro teve o objetivo de unificar a mensagem nos dois complexos industriais.

Patente

Pesquisadores e técnicos da Cotripal Agropecuária Cooperativa avaliaram o efeito de diferentes fungicidas na qualidade do trigo. Após três anos de estudos, a Cooperativa e a Unidade de Proteção de Cultivos da Basf firmaram parceria para registrar a patente da pesquisa. A empresa propõe acordos com pesquisadores ou entidades de pesquisa para o registro conjunto de patentes, como forma de beneficiar todos os envolvidos no processo e de reconhecer e incentivar o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. “A Basf quer incentivar a pesquisa agrícola para aumentar o grau de excelência da agricultura em diversos países da América Latina”, explica o gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Basf para América Latina, Leandro Martins.

Leandro Martins

Rali

Empresários rurais e outros profissionais ligados ao setor participaram em novembro de mais uma etapa do rali de regularidade batizado de Giro FMC. O percurso abrangeu 400 quilômetros de estrada de terra, em meio a plantações de cana, no município de Quirinópolis, Goiás. “Trata-se de um dia de campo intenso e inovador, ao mesmo tempo em que promove a troca de informações sobre os produtos FMC em cana, realiza um rali de regularidade no qual os participantes encontram uma forma lúdica para praticar conceitos de segurança ao volante e respeito às regras de trânsito, onde quem não segue estas regras é penalizado na competição”, afirmou João Gonçales, gerente de Marketing Cana-de-açúcar da FMC.

Laboratório

A DVA anuncia joint-venture na China com a Iprochem para a formação da Ipro DVA, empresa responsável pela estruturação e gestão de um laboratório de controle de qualidade de insumos utilizados na produção de agroquímicos a partir daquele país. “A qualidade dos insumos é um dos mais importantes compromissos da DVA. Mais do que isso, representa a segurança de qualidade dos nossos produtos globalmente, o que confere confiabilidade e diferenciação ao portfólio da DVA”, ressalta Carlos Pellicer, presidente da DVA Brasil, braço da companhia no País.

De olho no futuro

A Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp (FCA), em Botucatu, realizou a quarta edição do programa “De olho no Futuro”, iniciativa da Bayer CropScience que busca preparar os estudantes de agronomia para o mercado de trabalho, mostrando todas as possibilidades que a carreira oferece. Juliana Bremer, gerente de Treinamento e Desenvolvimento da Bayer CropScience para o Brasil e América Latina, lembra que existem muitas possibilidades de atuação para o agrônomo. “Isso inclui áreas que demandam muitos profissionais e nas quais faltam pessoas capacitadas. O ‘De olho no Futuro’ apresenta as oportunidades em áreas diferenciadas, como trocas (barter), marketing, planejamento e análise de risco”.

Aniversário

No dia 12 de novembro, com a presença de mais de três mil alunos, professores e convidados, o Programa Agrinho comemorou 15 anos de atuação no Paraná e também premiou os 212 vencedores da edição 2010. A Dow AgroSciences, parceira do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), e apoiadora do trabalho desde sua primeira edição, em 1995, destacou durante o evento o desafio do projeto em elevar a conscientização do impacto da ação humana no ambiente e o uso responsável dos recursos do planeta." O Agrinho vai ao encontro das metas de sustentabilidade da Dow AgroSciences, que se empenha e trabalha em programas de melhoria social e ambiental que demonstrem o respeito pela vida e pelos recursos naturais", avalia Fabian Gil, presidente da Dow AgroSciences.

Simpósio

A Ihara participou do Simpósio Nacional de Tecnologia em Agronegócio (Sintagro), promovido na Fatec de Itapetininga, em São Paulo. A empresa apresentou dez trabalhos realizados pelo laboratório móvel “Planta Forte Sobre Rodas”, feitos em todo o Brasil mostrando ferramentas, metodologias e a importância de se fazer um bom diagnóstico da lavoura e melhorar o desempenho a partir do conhecimento do produtor. “A Ihara também levou ao Sintagro dez palestrantes que fizeram apresentações com o objetivo de contribuir para sensibilizar e levar exemplos de casos de sucesso nas áreas de gestão, inovação e tendências para o agronegócio nacional e internacional”, conta o Assistente Técnico da Divisão de Projetos Agrícolas da Ihara, Afonso Matsuyama.

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Milho

Trio de peso

Cercosporiose, helmintosporiose e ferrugem polissora são doenças foliares que limitam a produção de milho safrinha. Para enfrentar esses entraves o produtor precisa estar atento ao melhor momento de aplicação e ao desempenho dos fungicidas

A

expansão da área cultivada em plantio direto proporcionou alteração no microclima e na biologia do agroecossistema, com reflexos nas populações dos agentes causais das doenças do milho. A presença dos restos culturais sobre a superfície do solo beneficia a sobrevivência de muitos fitopatógenos como Cercospora zeae-maydis, C. sorghi f. sp. maydis, Phaeosphaeria maydis, Exserohilum turcicum e Bipolaris maydis. Outros fatores também podem contribuir para a incidência de doenças como: plantios sucessivos de milho o ano todo, aumento da área cultivada, cultivares comerciais com diferentes níveis de resistência, manejo inadequado de água em plantios sob pivô ou na aspersão convencional (Pinto et al, 1997 citado por Pinto, 2004). Estes são alguns fatores que têm

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provocado epidemias de E. turcicum, C. zeaemaydis, C. sorghi, Puccina polysora e P. maydis em áreas de cultivo de milho no Cerrado brasileiro (Fundação MS, 2008). Estudos indicam que o uso de fungicidas sistêmicos, do grupo dos triazóis e estrobilurinas, apresenta eficiente controle da cercosporiose, garantindo significativamente a produção de grãos (Pinto, 2004). Associações de triazóis com estrobilurinas também demonstram eficiente controle das ferrugens tropical e polissora (Pinho, 2001). Pela existência de poucos estudos relacionados à aplicação de fungicidas na cultura do milho safrinha, na região norte do Mato Grosso, objetivou-se buscar informações a respeito do melhor momento de aplicação e da eficiência de diferentes fungicidas para o controle de cercosporiose, helmintosporiose e ferrugem polissora.

Ensaio I – Sinop (MT)

O ensaio foi conduzido em Sinop (Mato Grosso), na segunda safra de 2009, utilizando-se o híbrido Agroceres, semeado com espaçamento de 0,5m e população média de três plantas/m. Aplicações de tebuconazole + trifloxystrobin (0,75L/ha) + adjuvante Aureo (0,5L/ha) foram realizadas com pulverizador costal manual em diferentes estádios fenológicos da cultura (Tabela 1). Foram realizadas quatro avaliações da severidade das doenças em todas as folhas de dez plantas/tratamento, com início aos 58 dias após a semeadura (DAS) e término aos 87 DAS. Posteriormente, com os dados de severidade, calculou-se a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD).

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Fotos Divulgação

Tabela 1 - Tratamentos aplicados para o controle de doenças foliares na cultura do milho. Sinop (MT). 2009 Tratamento T1 T2 T3 T4

Nº de aplicações 2 1 1 0

Estádio fenológico* V10 (décima folha expandida)+R1 (florescimento e polinização) V10 (décima folha expandida) R1 (florescimento e polinização) -

*FUNDAÇÃO MS (2008).

Tabela 2 - Tratamentos aplicados para o controle de doenças foliares na cultura do milho. Sorriso (MT). 2009 Tratamento T1 T2 T3 T4

Produto comercial Testemunha

Princípio ativo tebuconazole+trifloxystrobin* Tebuconazole** azoxystrobin+ciproconazol***

Dose (L.ha-1) 0,7 0,4 0,3

Doses recomendadas pelo fabricante. *Mais 0,5% do volume de calda do adjuvante Aureo. **Não é registrado para a cultura do milho. ***Mais 0,5% do volume de calda do adjuvante Nimbus.

A ocorrência de cercosporiose na testemunha foi maior do que os tratamentos com aplicação de fungicida. Dentre os tratamentos com uma aplicação –T2 e T3– observa-se que a aplicação preventiva (V10) resultou em melhor controle da doença. Enquanto o tratamento T1, com duas aplicações, foi o mais eficiente (Figura 1). A helmintosporiose é uma doença bastante agressiva, chegando a ocupar 100% da superfície foliar, com elevada taxa de progresso. A partir dos dados de AACPD observa-se diferença entre a testemunha e os tratamentos com uma ou duas aplicações de fungicidas (Figura 2). A aplicação do defensivo foi eficiente em qualquer estádio fenológico para o controle desta doença tão agressiva que ocorre na cultura do milho. Para a ferrugem polissora, a AACPD da doença na testemunha foi maior do que os tratamentos com uma ou duas aplicações (Figura 3) confirmando a eficiência da aplicação de fungicidas na cultura do milho de segunda safra, assim como para as outras doenças avaliadas (Figuras 1 e 2). Ainda é possível

observar a eficiência do controle preventivo no estádio V10, quando a presença de inóculo do patógeno é baixa (Figura 3). Nas condições e no ano em que foi conduzido este ensaio, em Sinop/Mato Grosso, verificou-se que a ferrugem polissora apresentou maior importância do que a cercosporiose. Portanto, é possível dizer que o tratamento com duas aplicações de fungicida (V10+R1) controlou as doenças a campo, seguido dos tratamentos com somente uma aplicação de fungicida em V10 e R1, respectivamente.

Ensaio II – Sorriso (MT)

O segundo ensaio foi realizado em Sorriso (Mato Grosso), na segunda safra do ano de 2009, utilizando-se o híbrido Coodetec, semeado em sistema de plantio direto logo após a cultura da soja, com espaçamento de 0,45m e população média de 2,7 plantas/m. A aplicação do fungicida foi realizada com pulverizador costal manual, em plantas com 80cm de altura, seguindo os tratamentos descritos na Tabela 2. Para as avaliações de severidade foram

Figura 1 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de cercosporiose em função da aplicação foliar de fungicida em diferentes estádios fenológicos da cultura. Sinop (MT), 2009. T1–2 aplicações (V10+R1). T2–1 aplicação (V10). T3–1 aplicação (R1). T4–testemunha

Folha de milho com sintomas da cercosporiose (Cercospora zae-maydis)

marcadas ao acaso cinco plantas por parcela, avaliadas regularmente após a aplicação do fungicida, além de uma avaliação momentos antes da aplicação e a partir dos dados de severidade calculou-se a AACPD. Na Figura 4, observa-se diferença na AACPD para cercosporiose entre os tratamentos. A testemunha apresentou maior AACPD comparado aos tratamentos –T2, T3 e T4– nos quais se utilizaram diferentes princípios ativos para o controle da doença. Com os dados de AACPD para helmintosporiose foi possível observar que a mistura dos princípios ativos azoxystrobin+ciproconazol –T4– foi a que apresentou melhor controle da doença (Figura 5). Este mesmo fungicida –T4– mostrou-se mais eficiente no controle da ferrugem polissora, quando comparado aos demais produtos testados (Figura 6).

Figura 2 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de helmintosporiose em função da aplicação foliar de fungicida em diferentes estádios fenológicos da cultura. Sinop (MT), 2009. T1–2 aplicações (V10+R1). T2–1 aplicação (V10). T3–1 aplicação (R1). T4–testemunha

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Figura 3 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de ferrugem polissora em função da aplicação foliar de fungicida em diferentes estádios fenológicos da cultura. Sinop (MT), 2009. T1–2 aplicações (V10+R1). T2–1 aplicação (V10). T3–1 aplicação (R1). T4–testemunha

Figura 4 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de cercosporiose em função da aplicação foliar de fungicidas na cultura do milho. Sorriso (MT), 2009. T1–testemunha. T2–trifloxystrobin+tebuconazole. T3–tebuconazole. T4–azoxystrobin+ciproconazol

Figura 5 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de helmintosporiose em função da aplicação foliar de fungicidas na cultura do milho. Sorriso (MT), 2009. T1–testemunha. T2–trifloxystrobin+tebuconazole. T3–tebuconazole. T4–azoxystrobin+ciproconazol

Figura 6 - Área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) obtida a partir da severidade média de ferrugem polissora em função da aplicação foliar de fungicidas na cultura do milho. Sorriso (MT), 2009. T1–testemunha. T2–trifloxystrobin+tebuconazole. T3–tebuconazole. T4–azoxystrobin+ciproconazol

azoxystrobin+ciproconazol apresentou maior eficiência no controle de todas as doenças avaliadas na cultura do milho.

Considerações finais

Os ensaios conduzidos em Sinop e Sorriso (Mato Grosso), no ano de 2009, confirmam a importância da utilização de fungicidas para o controle de doenças foliares na cultura do

O milho em Mato Grosso

O

cultivo do milho no estado de Mato Grosso teve início na década de 70 e trouxe consigo agricultores de todo o país, principalmente da região Sul, inicialmente incentivados pelo cultivo da soja. No começo da década de 90, o estado produzia menos de 700 mil toneladas do grão com uma produtividade de 40 sacas/

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milho segunda safra. O controle preventivo das doenças, com aplicações de fungicida no estádio V10, e a mistura dos princípios ativos azoxystrobin+ciproconazol foram os C tratamentos mais eficientes. Solange Maria Bonaldo, Marina Nunes Rondon e Fernando Donato Univ. Federal do Mato Grosso

ha, porém, com o aumento da produção animal, o milho teve seu cultivo intensificado com uma modificação no sistema de produção, surgindo o milho safrinha (Bortolini, 2007). A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce.

Fotos Divulgação

Assim como no ensaio realizado em Sinop/Mato Grosso, a ferrugem polissora teve maior importância do que as outras doenças avaliadas nas condições encontradas durante a condução do ensaio. Observase que a AACPD da helmintosporiose foi igual a zero nos tratamentos T3 e T4, ou seja, para estes tratamentos houve 100% de controle da doença. Sendo que a mistura

Solange e Marina participaram dos ensaios conduzidos em Mato Grosso

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Algodão

Menor artrópode fitófago do algodoeiro, o ácaro Polyphagotarsonemus latus é responsável por perdas de até 11% na produção da cultura, além de depreciar a qualidade das fibras. Medidas de controle natural e químico são recomendadas para conter o ataque da praga

O

ácaro Polyphagotarsonemus latus (Banks 1904) (Acari: Tarsonemidae), popularmente conhecido como ácaro da rasgadura das folhas, ácarotropical ou ácaro-da-queda-do-chapéu-domamoeiro, foi registrado em algodão no Brasil por Hambleton, em 1938. Esta espécie de ácaro fitófago possui vasta gama de plantas hospedeiras, principalmente em áreas tropicais. Na cultura do algodoeiro, o ácaro branco é considerado praga primária e seu ataque ocasiona perdas de até 11% na produção do algodão em caroço, depreciando também a qualidade das fibras. Suas populações podem se multiplicar rapidamente e, quando o ataque ocorre nos ponteiros da planta, tende a provocar perdas ao cotonicultor devido à redução no número de maçãs. O caule do algodoeiro também acaba infestado quando o ataque é muito intenso. Além do ácaro branco, o ácaro rajado Tetranychus urticae e o ácaro vermelho Tetranychus ludeni são pragas importantes no algodoeiro. Adultos - O ácaro branco é um dos artrópodes de menor tamanho que ocorrem no algodoeiro, sendo praticamente invisível a olho nu. Possui coloração branco-hialino (machos) e branco-amarelado-brilhante para fêmeas, que medem, em média, 0,17mm de comprimento por 0,12mm de largura, com corpo curto e largo. Os machos medem 0,15mm por 0,08mm de comprimento e

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largura, respectivamente. Possuem quatro pares de patas, sendo que o último par não é usado para caminhar e não tece teias. Os adultos do ácaro branco são muito ativos, movendo-se com rapidez (principalmente os machos, que têm maior mobilidade e pernas mais compridas, sendo um dos principais responsáveis pela dispersão das populações em campo). Duas espécies de mosca branca (Bemisia tabaci ou Trialeurodes vaporariorum) podem ser utilizadas pelo ácaro branco – principalmente fêmeas - para dispersão, servindo como efetivo agente de transporte de uma planta à outra. Os machos, com seu quarto par de pernas bem desenvolvido, apresentam o hábito de carregar as pupas das fêmeas por algumas horas, antes delas se transformarem em adultos, segurando-as acima do corpo, em posição transversal. Imediatamente após a transformação das ninfas em fêmeas adultas ocorre a cópula pelos machos que as carregam. Gondin et al, 1993

Charles Echer

Rasgador de folhas

Sintomas do ataque do ácaro branco em folha de algodoeiro

Esses hábitos auxiliam na disseminação da espécie, garantido aos machos a certeza de futuros acasalamentos. As fêmeas depositam entre 30 ovos a 70 ovos na face inferior das folhas, com média de produção de cinco ovos por fêmea por dia. Além da reprodução sexuada, ocorre também partenogênese arrenótoca, ou seja, os ovos de fêmeas não acasaladas geram machos, enquanto aquelas que conseguem acasalar geram, em média, quatro fêmeas para cada macho. O ciclo completo do ácaro branco é muito curto. Em condições favoráveis uma geração completa (ovo-adulto) se dá entre quatro dias e seis dias, possibilitando a ocorrência de até 20 gerações por safra. Ovos - Os ovos são achatados, de cor pérola, com linhas de manchas brancas, depositados de forma isolada na face inferior das folhas. O período de incubação é de um dia a três dias. De maneira geral, a maior presença de ovos, as formas imaturas e adultas do ácaro branco, são encontradas nas duas últimas folhas apicais da haste principal e dos ramos frutíferos localizados nas partes média e alta das plantas do algodoeiro. Comportamento e hospedeiros - Geralmente a maior incidência desta espécie ocorre entre 70 dias e 90 dias após a emergência do algodoeiro. O ácaro branco mostra preferência pelas folhas novas do ponteiro, sob as quais permanece. As condições climáticas caracterizadas por altas temperaturas, chuvas frequentes e tempo nublado favorecem o crescimento

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populacional do ácaro branco. Este aracnídeo é cosmopolita, polífago e sobrevive em diversas espécies de plantas silvestres e cultivadas como maçã, abacate, melão, mamona, pimenta, frutas cítricas, café, algodão, berinjela, uva, goiaba, mamão, pera, batata, gergelim, feijão, tomate, manga, chuchu, roseira, pinhão manso, melancia etc. Plantas ornamentais podem também servir como hospedeiras ao ácaro branco, como violeta, azaleia, begônia, crisântemo, dália, gérbera, jasmim, calêndula etc. Na ausência do algodoeiro as plantas hospedeiras oferecem refúgio e manutenção para o ácaro branco. Em princípio a praga infesta as plantas em reboleiras para depois ir se disseminando pela lavoura de planta a planta, através de máquinas e implementos, como também pela ação do vento, chuvas e estruturas vegetais infestadas. As infestações tendem a ser mais intensas, principalmente em áreas sombreadas da lavoura. É muito evidente a ocorrência do ácaro branco nas proximidades de lavouras de milho e outras barreiras vegetais. Danos e monitoramento - A fase adulta é a que causa maiores prejuízos ao algodoeiro. A saliva produzida pelo ácaro branco é tóxica, causando torção, endurecimento e distorção nas folhas do hospedeiro. No algodão, os sintomas aparecem nas folhas dos ponteiros das plantas, que revelam inicialmente aparência brilhante na face inferior. A seguir, as margens das folhas se dobram para cima, tornando-se, com o passar dos dias, espessas, coriáceas, com as margens enrolando-se para baixo e com coloração bronzeada. Nos estágios mais avançados do ataque surgem rupturas que evoluem para rasgaduras situadas nas áreas entre as nervuras. Esse sintoma o faz ser conhecido também por ácaro da rasgadura das folhas. Ataques severos afetam a casca do caule com o surgimento de entrenós curtos e posicionados em forma de ziguezague. A fotossíntese é comprometida nas folhas danifi-

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Pereira, De Jesus, Cantuário e Da Silva recomendam medidas naturais e de controle químico contra o ácaro branco

cadas pelo ácaro branco e, consequentemente, podem ocorrer perdas significativas devido à redução no número de maçãs. Folhas novas e pequenos frutos são usualmente atacados pelo ácaro branco podendo ocorrer, sob grandes populações, atrofiamento de plantas e aborto de frutos. Os danos causados pelo ácaro branco nas folhas podem ser confundidos com fitotoxidade por herbicidas, doenças, desordens hormonais ou deficiência nutricional (principalmente por boro ou magnésio) e nem sempre as populações desse ácaro se fazem presentes na planta quando os sintomas visuais são diagnosticados. Medidas de controle - Uma maneira natural da redução deste ácaro é instigar sua sensibilidade à insolação. Ou seja, dias ensolarados podem ser considerados como um fator negativo ao crescimento das populações do ácaro branco. Porém, altas precipitações afetam positivamente a densidade populacional desse ácaro. Quando o controle natural não é satisfatório, o controle químico com acaricidas deve ser feito em reboleiras ao se constatarem algumas folhas com bordos voltados para baixo, antes do início da rasgadura. Nas inspeções de campo recomenda-se observar a presença de plantas hospedeiras nas proximidades. Em infestações generalizadas, a identificação de 40% de plantas com sintoma inicial de ataque determinará o momento da aplicação. A utilização de alguns fosforados que contenham radical metílico, quando aplicados repetidamente nas fases de estabelecimento

e florescimento do algodoeiro, favorece o aumento populacional da praga. A alternância e a utilização de inseticidas têm certa ação acaricida (triazofós, profenofós ou endosulfan) e o deslocamento dos piretroides para a fase de enchimento e maturação das maçãs é medida que favorece um manejo adequado dos ácaros. As reboleiras deverão receber aplicações sequenciais de acaricidas específicos, com a calda recobrindo toda a superfície das plantas atacadas. Aplicações iniciais e continuadas de enxofre retardam e na maioria das vezes impedem o crescimento populacional do ácaro branco nas lavouras. Entre os acaricidas oferecidos no mercado os produtos diafentiuron, chlorfenapyr e abamectin apresentam melhor controle para este ácaro. Ácaros predadores, como os da família Phytoseiidae, são uma importante alternativa de controle biológico para o ácaro branco em campo e, principalmente, em cultivos protegidos. Predadores como aranhas, joaninhas e o bicho-lixeiro, apesar de generalistas, podem também utilizar o ácaro branco como presa. Alguns microrganismos como os vírus Panonychus citri e P. ulmi e o fungo Neozygites spp. são parasitas que podem utilizar o ácaro branco como hospedeiro em condições de campo. Outra medida alternativa de controle, viável em plantas cultivadas em pequena escala é o tratamento com água quente (entre 43°C e 49°C) por 15 minutos. O uso de variedades resistentes de algodoeiro ao ácaro branco tem sido pouco estudado. Porém, Goulart (2008) encontrou ampla variação quanto aos danos provocados pela praga em 17 genótipos de algodoeiro testados, com algumas cultivares apresentando boa resistência e do C tipo antixenose. Alexandre Igor Azevedo Pereira, Flávio Gonçalves de Jesus e Fernando Soares de Cantuário, Instituto Federal Goiano Carlos Alberto D. da Silva, Embrapa Algodão

Tabela 1 - Comparação entre características dos três principais ácaros da cultura do algodoeiro: o ácaro rajado (Tetranychus urticae), o ácaro vermelho (Tetranychus ludeni) e o ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) Ácaro rajado Mancha verde-escura em cada lado do corpo, com coloração mais acentuada nas fêmeas Número de ovos por dia 6 ovos Duração do ciclo de vida 14 dias Danos Rompem as células epidermais, com lesões descoradas na face inferior das folhas e manchas avermelhadas na superior. Posteriormente as folhas tornam-se necróticas e caem Distribuição Em reboleiras localizadas (inicialmente) com disseminação progressiva Fatores climáticos ideais Temperatura elevada e baixa precipitação Prejuízo Até 30% da produtividade da cultura Nível de controle 30% das plantas com sintomas iniciais de ataque ou reboleiras distribuídas nos talhões Controle químico Os acaricidas Diafentiuron, Chlorfenapyr e Abamectin oferecem controle eficiente Coloração

Ácaro vermelho Ácaro branco Vermelho intenso quando adultos e as formas jovens Coloração branca (machos) e brancopossuem cor amarelo-esverdeada amarelado-brilhante (fêmeas) 4 ovos 5 ovos 13 dias 5 a 6 dias Rompem as células epidermais, com lesões descoradas na Produzem uma saliva tóxica às plantas, dificultando o processo de fotossínface inferior das folhas e manchas avermelhadas na supe- tese. As margens das folhas infestadas dobram-se para cima tornando-se rior. Posteriormente as folhas tornam-se necróticas e caem espessas. Ocorrem rupturas (rasgaduras) nas áreas entre nervuras Em reboleiras localizadas (inicialmente) Em reboleiras localizadas (inicialmente) com disseminação progressiva com disseminação progressiva Temperatura elevada e baixa precipitação Temperatura elevada e alta precipitação Até 20% da produtividade da cultura Perdas de 11% na produção em caroço 40% das plantas infestadas ou 40% das plantas com sintoma inicial de ataque observação de reboleiras nos talhões Os inseticidas-acaricidas Abamectin, Propargite e Triazophos Diafentiuron, Chlorfenapyr e Abamectin oferecem controle eficiente são eficientes

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Soja

Acerte no sistema

Na Na busca busca por por determinar determinar aa influência influência do do cultivo cultivo mínimo mínimo na na resposta resposta da da soja soja aa diferentes diferentes doses doses de de fósforo fósforo adotadas adotadas na na semeadura, semeadura, pesquisadores pesquisadores encontram encontram resultado resultado superior superior ao ao plantio plantio direto direto na na produção produção de de grãos, grãos, além além de de apontarem-no apontarem-no como como instrumento instrumento importante importante para para romper romper camadas camadas de de solo solo compactadas compactadas em em áreas áreas com com intenso intenso tráfego tráfego de de máquinas máquinas

O

sistema de plantio direto tem sido adotado expressivamente por agricultores do Cerrado brasileiro. Contudo, seu uso continuado (em regiões tropicais, com insuficiência de cobertura do solo e intenso tráfego de máquinas) pode resultar em alterações nos parâmetros físicos do solo, levando, em alguns casos, à compactação, dificuldades de absorção de nutrientes pela cultura e à limitação da expressão do potencial produtivo. Com o diagnóstico da ferrugem asiática em fevereiro de 2002, na região dos Chapadões e posteriormente nas demais áreas produtoras do Cerrado, o sistema de produção regional sofreu ampla alteração. Anterior à ocorrência generalizada deste fungo, predominava nos cerrados de altitude o cultivo de soja de ciclo médio a tardio (130 dias a 170 dias), com semeadura de milheto na entressafra para a cobertura do solo. No verão posterior era cultivado nesta área milho ou algodão, para rotação de culturas, manejando assim o nematoide do cisto, problema anterior à ferrugem. Portanto, o produtor objetivava uma única safra por ano. Com as perdas de produção de grãos de soja ocorridas no ano agrícola 2001/2002, com a ferrugem asiática, vários trabalhos foram realizados pela Fundação Chapadão

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em parceria com a Embrapa Agropecuária Oeste, para buscar táticas que minimizassem o impacto desta doença na produtividade. Um destes trabalhos, realizado pela equipe dos pesquisadores Paulino Andrade e Donita Andrade, avaliou, já no primeiro ano de ocorrência generalizada da doença (2001/2002), o comportamento da ferrugem asiática em 41 cultivares de soja semeadas em três épocas distintas em Chapadão do Sul, no Mato

Grosso do Sul. Chegou-se à conclusão de que é necessária a aplicação de fungicida (controle químico) em todos os materiais genéticos comerciais de soja cultivados na região. Além disso, a semeadura antecipada e a utilização de variedades precoces proporcionam menor dano do fungo, havendo um escape da época de maior pressão de inóculo da doença. Dentro desse cenário, os produtores da região do Cerrado buscaram tornar as práticas

Figura 1 - Produção de grãos de soja em função de diferentes doses de fósforo na semeadura, UFMS-CPCS/Fundação Chapadão 2010

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Fotos Aguinaldo Leal

Tabela 1 - Análise química do solo anterior ao estabelecimento do experimento Prof. Amost. (m) 0 – 0,2 Prof. Amost. (m) 0 – 0,2

M.O. Oxi-Red. g/dm3 28 S Fosf. Cálcio mg/dm3 12

pH Cacl2 5,1 B Água Quente mg/dm3 0,56

P Resina mg/dm3 22 Cu DTPA mg/dm3 0,4

a queda dos preços pagos pela pluma nos anos agrícolas 2006, 2007 e 2008, houve predominância de soja e milho safrinha, cultivados por dois anos agrícolas para um de algodão no verão. Este sistema, apesar de interessante (conservacionista com tendência de aumento do carbono orgânico do solo, contribuindo para minimizar os teores na atmosfera), ao ser usado continuamente acabou afetando a parte física do solo, em função da realização de algumas práticas agrícolas em condições

recomendadas viáveis. A adoção das duas últimas recomendações, além de facilitar o controle da ferrugem, levou à desocupação da área de cultivo em época ainda chuvosa (fevereiro), possibilitando a semeadura de duas culturas por ano agrícola (cultivo safrinha). Na região, as opções de culturas foram o milho e o sorgo, sendo dada preferência à primeira, pelo maior valor comercial. Assim, houve transformação do sistema de produção. Nas áreas com o cultivo de algodão, a seguinte sequência de culturas foi estabelecida: soja precoce/milho safrinha/milheto primavera/algodão verão/soja precoce/milho safrinha, todas cultivadas em sistema de plantio direto, com destruição química da soqueira de algodão. Posteriormente, com

K Ca Resina Resina mmolc/dm3 mmolc/dm3 2,6 26 Fe Mn DTPA DTPA mg/dm3 mg/dm3 43 3,2

H+Al Mg Al Tampão SMP Resina KCl mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 42 8 2 Zn DTPA mg/dm3 0,8

inadequadas de umidade da terra. As chuvas nesta região começam normalmente no início de outubro e se concentram em janeiro e fevereiro. Portanto, no sistema de produção predominante na região, atualmente a semeadura da soja ocorre em condições de baixa umidade do solo. Isso dificulta a atuação do sistema de deposição de fertilizantes tipo haste, uma vez que não há um bom preparo localizado na semeadura, que possibilitaria a melhora na estrutura do solo, ao mesmo tempo condicionando a uma colheita de soja

Aspecto da cobertura de solo com a adoção do sistema de plantio direto


Aguinaldo Leal

Aspecto da cobertura de solo em área com realização de subsolagem (cultivo mínimo)

e semeadura de milho safrinha com solo com alta umidade, na época de maior ocorrência de precipitações, intensificando o processo de compactação. Fato que preocupa quanto à sustentabilidade deste sistema. Duas alterações nos sistemas devem ser adotadas para romper este ciclo de compactação, ano após ano. A primeira refere-se à mudança do sistema de rotação de culturas a ser explorada na região. Uma alternativa é a adoção de soja/milho safrinha por apenas um ano agrícola. Na sequência seria adotado o cultivo de soja verão e milheto ou crotalária na entressafra, para cultivo do algodão no próximo verão. Este modelo poderá minimizar a formação de camadas compactadas no solo, já que possibilita melhor planejamento das atividades em dois anos agrícolas, sendo que em apenas um haverá atropelos para a realização das operações de semeadura e colheita. Entretanto, há tendência de melhor lucratividade em uma das entressafras, em relação ao uso do milho safrinha. A segunda possibilidade, que para muitos é vista como mais drástica, é a utilização de implementos capazes de romper essa camada compactada, desde que seja diagnosticada a priori, via monitoramento, como existente. Apesar de ser uma ruptura com o sistema de plantio direto, sempre questionável do ponto de vista de conservação ambiental, o sistema de preparo a ser adotado pode ser apenas uma subsolagem, chamado cultivo mínimo. Esta opção, se bem planejada e realizada em momento adequado, principalmente em relação ao teor de umidade do solo, pode solucionar o problema, com o menor impacto à conservação e à manutenção dos teores de matéria orgânica do solo.

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Experimento

Com o objetivo de avaliar a viabilidade e o efeito residual da utilização do cultivo mínimo (subsolador), comparado ao sistema de plantio direto e à influência deste sistema de preparo na resposta da soja a diferentes doses de fósforo adotadas na semeadura, realizou-se um trabalho de pesquisa. Implantou-se um experimento em latossolo vermelho, típico de textura argilosa, com análise química apresentada na Tabela 1, na fazenda Reunidas: Entre Rios, localizada no município de Chapadão do Sul, no Mato Grosso do Sul. A área apresentava o seguinte histórico: ano agrícola 2006/2007 soja/milho safrinha; ano agrícola 2007/2008 milheto primavera/algodão verão; ano agrícola 2008/2009 soja/milho safrinha; ano agrícola 2008/2009 soja, ano de realização do experimento. No ano agrícola 2008/2009 antecedendo o cultivo da soja e posterior ao Figura 2 - Produção de grãos de soja em função do sistema de preparo adotado, UFMS-CPCS/Fundação Chapadão 2010

manejo químico da soqueira do algodão, foi realizado em parte da área o cultivo mínimo, através da subsolagem e posterior grade niveladora. O experimento foi conduzido em parcelas subdividas, com quatro repetições. Os sistemas de preparo representaram as parcelas e as doses representaram as subparcelas. As parcelas tiveram dimensão de 7,5m de largura e 50m de comprimento, enquanto as subparcelas apresentaram 7,5m de largura e 10m de comprimento. Posteriormente, no agrícola 2009/10, foram sorteadas em cada faixa (sistemas de preparo) as parcelas (10m de largura) contendo as quatro doses de adubação fosfatada (0, 40, 80, 120 e 160kg/ ha de P2O5). Na Tabela 2 são apresentados os dados da análise de variância em parcelas subdivididas. Como não houve interação significativa entre doses de fósforo e sistema de preparo do solo (Tabela 1), as médias das diferentes doses de fósforo são apresentadas na Figura 1. Na Figura 2 são mostrados os dados de produção em função do sistema de preparo adotado. O sistema de cultivo mínimo proporcionou produção de grãos superior ao sistema de plantio direto, demonstrando que em sistemas de plantio direto com tempo superior a cinco anos em solos argilosos, intensamente explorado com culturas econômicas, como o avaliado, a utilização do cultivo mínimo é interessante para romper camadas de solo compactadas em função do intenso tráfego de máquinas. A adoção deste sistema de cultivo proporciona C efeito residual de dois anos de cultivo. Aguinaldo Leal e Cassiano Garcia Roque UFMS José Roberto Pavezi Grupo Schlatter Flávio Hiroshi Kaneko Fundação Chapadão Jefferson Luis Anselmo Fundação Chapadão Tabela 2 - Análise de variância e soma de quadrados (SQ) em função de sistemas de preparo do solo e doses de fósforo aplicadas na semeadura da soja, Chapadão do Sul, 2010 CV Preparo (P) Bloco (B) Resíduo 1 = P * B Doses (D) Interação P * D Resíduo 2 Total CV 1 (%) CV 2 (%)

GL 1 3 3 4 4 24 39 5,70 5,74

SQ 989942,3932 149260,9722 163071,9212 968091,2237 459111,6970 1322811,7063 4052289,9137

FC 18,212* 0,915 ns 4,391* 2,082ns -

ns = não significativo; *significativo ao nível de 5% de probabilidade; **significativo ao nível de 1% de probabilidade;

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Soja Fotos Germison Tomquelski

Limitadora de lucros

A lagarta-da-maçã, tradicional em algodão, é um dos principais entraves à rotação de cultura com a soja. Em situações de alta infestação a praga é capaz de provocar danos às vagens superiores aos causados pela Spodoptera. O combate ao inseto exige a racionalização de medidas como a preservação de inimigos naturais e o controle biológico

A

rotação de culturas entre soja e algodão apresenta vários benefícios no sistema de produção da região do Cerrado. No entanto, a adaptação da lagarta-da-maçã na soja é um dos problemas a serem manejados pelos técnicos. Em situações de altas infestações esta praga apresenta

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maior potencial de danos às vagens que outras lagartas, como as do gênero Spodoptera, o que corrobora estudos realizados na cultura do algodão (Papa e Mosca, 2007). O adulto de Heliothis virescens (Lepidoptera:Noctuidae) é uma mariposa facilmente identificada por apresentar três

faixas transversais de coloração escura, sendo que as asas posteriores (A2) são claras, esbranquiçadas, com uma faixa cruzada no centro. Os ovos são de coloração branca e estriados longitudinalmente, sendo colocados normalmente nas partes próximas ao ponteiro ou gemas apicais das plantas, individualmente, fato que ajuda na dispersão da praga na lavoura. A quantidade é variável, sendo que uma fêmea pode colocar em torno de 600 ovos. Normalmente põem os ovos à noite, quando os adultos saem para se alimentar. Os danos da lagarta-da-maçã foram observados desde a germinação à colheita, atacando as folhas novas, normalmente o ápice das plantas. A desfolha provocada na cultura em função do ataque desta praga é menor que a de outras lagartas, que podem estar presente em maiores quantidades. Na amostragem utilizando o pano de batida recomenda-se que o técnico esteja atento para não subestimar a população em função da menor queda no pano em comparação a outras lagartas. No florescimento o inseto pode atacar as flores, sendo importante relatar a maior ocorrência em flores de cores brancas. Com o aparecimento dos “canivetes” a lagarta pode passar

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a atacá-los, e com o desenvolvimento afetar as vagens e os grãos em formação. Dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), o início deste programa requer amostragens representativas da área, com pessoal capacitado para a identificação. Esta lagarta, quando ocorre nos períodos de enchimento de grãos, deve ser tratada com maior cuidado por atacar o produto diretamente, provocando a abertura das vagens que podem cair no solo ou ficar presas na planta, nesse caso como porta de entrada, abrigando doenças que inviabilizam a sua germinação. O controle químico, apesar de apresentar vantagens como praticidade, rapidez e em alguns casos custo baixo, não deve ser utilizado de forma única. Sabe-se do problema de resistência desta praga a inseticidas, fato que pode ser explicado em função de o inseto se alimentar de diversas estruturas, além de fatores inerentes à praga, o que desta forma a faz escapar da ação dos inseticidas.

Controle biológico

Dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP), o controle biológico com inimigos naturais pode ser usado com sucesso para esta praga. Um exemplo são as espécies de Trichogramma, existentes naturalmente (um bom parasitoide de ovos de Heliothis - uma só fêmea pode eliminar uma centena de ovos). Em estudo realizado por Fernandes et al, (1999), observou-se, inclusive, que em alguns casos o produtor não precisa realizar aplicações de inseticidas quando da ocorrência em maiores infestações de T. pretiosum. Outros inimigos naturais Braconídeos possuem a característica de apresentar um casulo na fase final de seu desenvolvimento, normalmente de coloração branca a cinza-escura. São considerados parasitoides muito eficientes, pois podem encontrar as lagartas dentro de estruturas como as vagens para depositar os seus ovos. Diante do exposto é de fundamental importância a utilização de inseticidas seletivos, a fim de proporcionar maior sobrevivência destes inimigos naturais. O manejo cultural pode também ser enquadrado no MIP, principalmente a destruição de soqueiras de algodão. Esta prática é recomendada por lei, principalmente em função do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, e plantas tigueras na entressafra podem levar à maior quantidade desta praga na cultura da soja implantada nestas áreas. Também o uso do feromônio sexual como ferramenta no monitoramento da praga já é uma realidade em outros países na cultura do algodoeiro, e que poderá ser de grande valia neste caso, por se tratar de uma estratégia específica à espécie, vindo a contribuir futuramente no manejo. Atualmente as recomendações são: o produtor não deve deixar a praga “descer”,

Na fase de enchimento de grãos a praga demanda cuidado maior

A desfolha provocada pela lagarta-da-maçã é menor

ou seja, controlá-la quando estiver no ponteiro das plantas, devido ao maior enfolhamento da cultura nos terços inferiores, o que dificulta a chegada de produtos nesta região. Lagartas grandes (maiores que 1,5cm) são mais difíceis de combater, pois nesse caso a maioria dos inseticidas apresenta baixo controle. Caso venha a observar isto, é imprescindível que o produtor melhore o espectro de gotas. Tentar mandar a gota para onde a praga está é o objetivo. Deste modo, pontas com jato cônico podem ser uma boa alternativa desde que a aplicação seja realizada em condições ideais de umidade relativa do ar (>50%) e de temperaturas. Entre os inseticidas utilizados na cultura ainda não há nenhum produto registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle desta praga, estando em fase de estudos. Entretanto, alguns inseticidas já com registro para outras pragas como Pseudoplusia includens na cultura da soja têm apresentado bom controle desta

praga. Entre as alternativas se destacaram nos ensaios: Metomil, Tiodicarb, Bifentrina, Profenofós, além de produtos do grupo químico dos Naturalytes e outros como os moduladores dos canais de cálcio como o Flubendiamide e o Clorotraniliprole. Os inseticidas fisiológicos têm apresentado menor controle da praga, entretanto, nos ensaios, a adição a outros inseticidas complementou o controle da praga em alguns casos. O uso de inseticidas com efeito sobre mariposas e ovos, tentando diminuir a população, com emprego de melaço ou açúcar para atração de mariposas, é uma alternativa para altas infestações. A utilização de Cartap já foi testada e mostrou eficiência de até 90% no controle de ovos. Dentro dos próximos anos é provável que haverá a introdução da soja Bt, que em função de algumas toxinas já estudadas, e utilizadas comercialmente em culturas como algodão Bt, mostraram ser altamente eficazes no controle desta praga. Observa-se que ainda há um longo caminho até o domínio total sobre esta praga, mas diante do exposto o monitoramento é quesito importante dentro do Manejo Integrado de Pragas, devendo o produtor permanecer constantemente atento a fim de não se deparar C com prejuízo na colheita. Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão Gustavo Luis Mamoré Martins – UEMS Cassilândia

Orifícios abertos pelos insetos servem de porta de entrada para doenças

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Soja Fotos Universidade de Passo Fundo

Interação importante

Na luta para combater a ferrugem asiática estratégias são buscadas para maximizar a eficiência da aplicação de fungicidas. Em experimento conduzido no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, pesquisadores observaram que combinações de espaçamentos entre linhas de 0,50m e 0,60m, com volumes de calda de 125L/ha e 150L/ha, resultaram em menor incidência e severidade da doença, com acréscimo no rendimento de grãos

A

ferrugem asiática da soja, por se tratar de uma doença de grande poder de redução no rendimento, exige máxima qualidade na aplicação do fungicida (Mendes & Cabeda, 2005). Em muitos casos, o simples aumento do volume de pulverização pode não proporcionar o controle eficiente, pois a capacidade de deposição das folhas é limitada, além das gotas grandes tornarem o sistema mais propício à ocorrência do efeito guarda-chuva (Cunha & Ruas, 2006). Atualmente, existe a tendência de se reduzir o volume de calda, com o objetivo de diminuir os custos de aplicação e aumentar a eficiência da pulverização (Silva, 1999). O uso de menor volume de calda aumenta a autonomia e a capacidade operacional dos pulverizadores (Cunha et al, 2005). Estudando efeitos dos espaçamentos de 0,30m, 0,45m e 0,60m entre linhas de soja, no Rio Grande do Sul, (Madalosso, 2006) constatou que o aumento do espaçamento para 0,60m proporcionou redução da intensidade da ferrugem asiática da soja e aumentos importantes no rendimento de grãos, independentemente do uso ou não

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do controle químico com fungicida. Para que uma planta atinja seu potencial máximo de rendimento é necessário que, além de encontrar as melhores condições de clima e água, sofra o mínimo de competição. Estudos de arranjos de plantas com disposições na lavoura permitem minimizar a competição intraespecífica e maximizar o aproveitamento dos recursos ambientais disponíveis. As modificações do arranjo de plantas podem ser feitas por meio da variação do espaçamento entre plantas dentro da linha de semeadura e da distância entre

linhas (Pires et al, 1998). Atualmente, a aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem é uma das principais preocupações dos produtores de soja. No momento em que as plantas atingem o grau máximo de desenvolvimento vegetativo, com total fechamento e grande área foliar, as aplicações necessitam da máxima capacidade de penetração na massa de folhas e da posterior deposição, mesmo para a aplicação de produtos com características de ação sistêmica (Antuniassi et al, 2004).

Material e métodos

Conjunto aplicador formado por trator de tração 4x2 e pulverizador montado de 600L

O experimento foi conduzido na localidade denominada Posto do Silêncio, distante 40 quilômetros do município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, onde a altitude está a 430 metros acima do nível do mar. O solo da área apresenta-se profundo, bem desenvolvido, com boa drenagem e enquadrado na classe 3, conforme análise física. O manejo químico da vegetação existente na área, previamente à semeadura foi realizado em 10/11/07 com herbicida (200g/L

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de dicloreto de paraquate) + (250g/kg de clorimurom-etílico) na dose de 1,0L/ha + 0,06kg/ha de produtos comerciais. Foi utilizada a cultivar de soja Syngenta Munasca 8.5 RR, com hábito de crescimento determinado. A adubação foi realizada a lanço, antecedendo a semeadura da soja, com base no resultado da análise química de solo constando de 200kg/ha de monoamônio fosfato (fórmula N-P2O5-K2O 11-52-00) e 150kg/ ha de cloreto de potássio (60% de K2O). Imediatamente antes da semeadura, as sementes foram tratadas com o fungicida (carbendazina 500g/L) + (tiram 480g/L) nas doses respectivas de 60ml + 140ml de produto comercial para 100kg de sementes e com o inseticida (fipronil 250g/L) na dose de 0,001L/kg de semente. A semeadura da soja foi realizada no dia 21/11/2007, sob sistema de plantio direto, à profundidade média de 0,05m. A população foi fixada em 3x105 plantas/ha, sendo realizados três espaçamentos diferentes, ou seja, 0,40m, 0,50m e 0,60m. Os tratamentos com o fungicida e o inseticida foram aplicados com os seguintes volumes de caldas: testemunha, sem aplicação de fungicida, somente inseticida; V1 = 50L/ ha; V2 = 75L/ha; V3 = 100L/ha; V4 = 125L/ha; V5 = 150L/ha no período das 8h às 9h15min, com temperatura variando de 24oC a 28oC, umidade relativa do ar de 56% a 62% e velocidade do vento de 7km/h a 10km/h nas duas aplicações realizadas. Para aplicar os volumes de 50L/ha e de 75L/ha foram utilizadas pontas de jato plano simples da série Magno 11001, com pré-orifício, operadas à pressão de 300kPa, gerando gotas de categoria fina. Os volumes de 100L/ha, 125L/ha e 150L/ha foram aplicados utilizando-se pontas de jatos planos com pré-orifício, da série Jacto LD 110015. A pressão de pulverização foi de 400kPa, gerando gotas de categoria fina e a velocidade do trator foi ajustada em 6,0km/h; 5,0km/h; 4,0km/h para que os volumes de calda aplicados fossem os desejados em cada trata-mento.

Foram utilizados no experimento três espaçamentos diferentes: 0,60m, 0,50m e 0,40m

O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com parcelas subdivididas e com três repetições. A parcela principal foi constituída pelos espaçamentos entre linhas de plantas e a subparcela por cinco volumes de calda. As unidades experimentais mediram 9,6m x 13,0m, perfazendo 124,8m2 cada uma, totalizando 54 subparcelas. A área experimental foi monitorada através de visitas semanais, a partir da primeira quinzena de dezembro (estádio fenológico V5). A primeira aplicação dos tratamentos com fungicida foi realizada no dia 13/2/2008, com a soja no estádio fenológico R3 com um IAF (índice de área foliar) 4,0. Utilizou-se fungicida (187g/L de trifloxistrobina + 80g/L de ciproconazol), na dose de 0,30L/ha + óleo mineral na dose de 0,25L/ha acrescido do inseticida (600g/L de metamidofós), na dose de 1,0L/ha. Uma segunda aplicação do fungicida foi realizada dia 15/3/2008, com a cultura no estádio fenológico R5.2 com um IAF 5, utilizando-se os mesmos produtos e as doses da primeira aplicação. Os equipamentos empregados para aplicar os tratamentos nas parcelas foram um trator de tração 4x2 (potência de 85cv) e um pulverizador montado, marca Jacto, modelo Condor AM 12 com capacidade volumétrica de 600L de calda no tanque e com barra de pulverização medindo 12m. Para aplicar os tratamentos foram utilizadas 24 pontas de jatos planos com pré-orifício, da série Jacto LD 110015, espaçadas em 0,50m sobre a barra e mantidas a 0,50m de

altura acima do ápice das plantas. A pressão de pulverização foi de 300kPa, gerando gotas de categoria fina (220µm), a velocidade do trator foi mantida em 6km/h e a taxa de aplicação foi de 100L/ha. Utilizaram-se cartões sensíveis à água e ao óleo para verificar a deposição de gotas no terço superior e no terço inferior da cultura, conforme mostra a Figura 1, que destaca o incremento na deposição de gotas no terço inferior das plantas em função do aumento do espaçamento entre linhas. A ocorrência da ferrugem asiática foi quantificada pela incidência e severidade a partir de V5. Coletaram-se cinco plantas por parcela, das quais foram destacados todos os folíolos centrais dos trifólios da haste principal. Em laboratório, quantificou-se o total de folíolos (NTF) da amostra e deste total foi observado o número de folíolos doentes (NFD), para posterior cálculo da porcentagem de incidência foliolar ((NFD/ NTF) x 100). A severidade foi obtida através de todos os folíolos doentes da amostra (NFD), quantificando-se em cada folíolo o número de urédias/cm-2, equivalente à área sintomática. Os valores de severidade da ferrugem foram integralizados em função do tempo, obtendo-se a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) calculada pela equação descrita em Campbell & Madden, 1990. AACPD = S [((y1 + y2)/2) x (t2-t1)] Onde: y1 e y2 são o número de urédias de ferrugem por cm² de folha, nos tempos


Figura 1 - Porcentagem de penetração de gotas de pulverização e volume de calda medida ao nível do solo em função do espaçamento entre as linhas. Passo Fundo (RS), FAMV/UPF, safra 2007/2008

Figura 2 - Reta de regressão ajustada entre volume de calda (L.ha-1) e a AACPD com base na incidência da ferrugem asiática da soja. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008

Figura 3 - Controle (%) da ferrugem asiática da soja com base na severidade em função do volume de calda (L.ha-1) e sua respectiva equação de regressão. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008

Figura 4 - Rendimento de grãos (kg.ha-1) de soja, cultivar Syngenta Munasca 8.5 RR conduzido com espaçamento de 0,6m entre linhas em função do volume de calda utilizado na aplicação do fungicida trifloxistrobina + ciproconazol. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008

t2 e t1; t2 e t1 são as datas de duas leituras de severidade consecutivas A colheita da soja foi realizada em 1º/5/2008. Os grãos limpos de cada parcela foram pesados, calculando-se a produtividade agrícola expressa em kg/ha com umidade de 13%. Os dados foram submetidos à análise de variância ao nível de 5% de probabilidade de erro. Quando encontradas diferenças significativas entre os tratamentos, foi usado o teste de Duncan também a 5% de probabilidade de erro.

Resultados e discussão

A Figura 2 apresenta a reta de regressão ajustada entre a AACPD baseada na incidência da ferrugem e o volume de calda utilizado na aplicação do fungicida. Observa-se que o aumento do volume de calda na aplicação do fungicida entre 50L/ha e 150L/ha promoveu redução da AACPD da ordem de 5,17 pontos para cada litro de calda, evidenciando o efeito positivo do volume de calda no controle da ferrugem.

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Os espaçamentos de 0,50m e 0,60m, associados a volumes de calda iguais ou superiores a 100L/ha, resultaram no maior controle de ferrugem do experimento. A Figura 3 mostra que à medida que se aumenta o volume de calda, cresce o controle da ferrugem asiática da soja. Possivelmente este resultado possa ser explicado devido a uma cobertura deficiente das folhas localizadas nas partes mais internas das plantas quando o volume de calda é reduzido (Madalosso, 2006). Por outro lado, estes dados confirmam que o aumento do volume de calda é uma das formas mais práticas e econômicas para incrementar a deposição de gotas no interior do dossel das plantas (Boller et al, 2007). Verifica-se que na testemunha sem aplicação de fungicida o espaçamento entre linhas de 0,60m resultou em rendimento de grãos significativamente superior ao obtido com espaçamentos de 0,40m e de 0,50m entre as linhas. Também chama atenção o fato de que no espaçamento de 0,60m, sem aplicação de fungicida, o rendimento de grãos foi numericamente semelhante

ao obtido no espaçamento de 0,40m com os volumes de 50L/ha e de 75L/ha. Nas parcelas tratadas com o fungicida observa-se tendência semelhante, exceto com o volume de calda de 125L/ha, quando o espaçamento não influenciou o rendimento. Também ficou evidente que à medida que se aumenta o espaçamento entre as linhas é possível reduzir o volume de calda na aplicação de fungicida para obter um mesmo rendimento de grãos: espaçamento de 0,40m e volume de 150L/ha; espaçamento de 0,50m e volume de 100L/ha e espaçamento de 0,60m e volume de calda de 50L/ha apresentam valores de rendimento numericamente semelhantes. Isso pode ser atribuído à maior facilidade para a deposição de gotas do fungicida no interior do dossel das plantas quando o espaçamento entre as linhas é aumentado (Figura 1). Na Figura 4 encontra-se a reta de regressão ajustada entre o rendimento de grãos e o volume de calda quando o espaçamento entre linhas foi de 0,60m. A equação ajustada foi significativa a 5% de probabilidade de erro e mostra que cada litro de calda acima

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de 50L/ha proporcionou acréscimo de rendimento de 3,47kg/ha. O valor de R2 desta equação foi igual a 0,30, indicando grande dispersão dos valores em torno da reta. Em outras palavras, isto quer dizer que para o espaçamento de 0,60m entre linhas apenas 30% da variação observada no rendimento de grãos foi devido à variação do volume de calda. A análise de regressão múltipla permitiu ajustar uma equação significativa a 5% entre o rendimento de grãos, o espaçamento entre as linhas e o volume de calda. Esta análise também mostrou que o efeito isolado do espaçamento (R2 ajustado = 0,36) foi maior do que o efeito isolado do volume de calda (R2 ajusta-do = 0,24). A equação ajustada da regressão múltipla foi a seguinte: Rendimento de grãos (kg/ha) = 2267E + 4,2V + 1781 Onde: E = espaçamento entre linhas (m), V = volume de calda (L/ha) Essa equação permite simulações do rendimento de grãos esperado para espaçamentos no intervalo de 0,4m até 0,6m e para volumes de calda no intervalo de 50L/ ha até 150L/ha.

Conclusões

Os resultados obtidos permitem emitir

Fotos Universidade de Passo Fundo

Ferreira e Boller analisaram interações entre espaçamento, volume de calda e severidade da doença

Campo experimental foi instalado no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul

as seguintes conclusões: - A incidência e a severidade da ferrugem asiática da soja respondem de forma independente à variação do espaçamento entre as linhas e ao volume de calda utilizado na aplicação do fungicida; - O rendimento de grãos varia em função do espaçamento entre as linhas e do volume de calda utilizado na aplicação do fungicida, sendo a resposta a uma variável dependente da outra; - Combinações de espaçamentos entre linhas de 0,50m e 0,60m, com volumes de

calda de 125L/ha e 150L/ha apresentam menores incidência e severidade da ferrugem asiática com acréscimo no rendimento de grãos/ha; - Parcelas com espaçamentos de 0,40m entre linhas e volumes de calda abaixo de 100L/ha apresentam maiores incidência e severidade da ferrugem asiática da soja e menor rendimento de grãos. - A arquitetura de plantas aparenta ser um aspecto relevante a ser considerado no momento da definição dos arranjos espaciais na busca de condições que favoreçam a penetração da radiação solar no interior do dossel da cultura e da sanidade das C plantas. Marcelo Cigana Ferreira e Walter Boller, Universidade de Passo Fundo


Soja

Nova dinâmica Alterações na época de ocorrência, intensidade e proporção de espécies de lagartas desfolhadoras na cultura da soja estão entre os fatores que exigem mudanças nas estratégias de manejo adotadas para enfrentar o problema

H

á uma nova dinâmica na ocorrência de lagartas-da-soja e, portanto, imperam a necessidade de mudanças no manejo dessas pragas e a redução dos riscos de danos. Esse enfoque se deve às novas épocas de ocorrência e à proporção de espécies de lagartas desfolhadoras. Também devem ser consideradas as características das novas cultivares de soja (mais precoces e de hábito indeterminado) e os menores Índices de Área Foliar (IAFs) que aqueles já testados para desfolhadores no passado. Somam-se, ainda, as respostas negativas às práticas de manejo de plantas daninhas, de doenças da soja e das pragas, atualmente verificadas na cultura. A ocorrência de lagartas da soja tem apresentado grandes alterações na proporção de espécies e da fase predominante dos picos populacionais, ao longo do ciclo da cultura e, portanto, implicando em riscos de redução da produtividade. Essa alteração na ocorrência de lagartas, associada às

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características das cultivares de soja, predominantemente de ciclo mais curto, com florescimento mais precoce e de menores IAF, contribui para a menor tolerância da soja ao desfolhamento. Nesse período também mudou o manejo fitossanitário, com controle mais efetivo de plantas daninhas, expondo a soja recém-emergida às espécies cortadoras e desfolhadoras; ao amplo uso de fungicidas que impactam sobre a incidência de fungos entomopatogênicos, como Nomuraea rilleyi (doença-branca), que reduziam as populações de lagartas. De outro lado, o maior risco de perdas determina ações mais frequentes e agressivas para o controle de pragas (controle químico) que muitas vezes se mostram pouco efetivas para a sua redução.

Últimos acontecimentos

Estudos recentes do Grupo de Estudos em Manejo Integrado de Pragas (Gemip) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) detectaram alterações da compo-

sição de espécies de lagartas da soja, com aumento da população e importância das lagartas-falsa-medideira e das lagartas-pretas e redução da população da lagarta-dasoja, que por décadas foi a lagarta predominante na soja brasileira. No Rio Grande do Sul, nas safras 2007/08 e 2008/09, entre as lagartas-falsa-medideira já havia sido constatada a predominância de Rachiplusia nu, sobre Pseudoplusia includens, que se esperava fosse a mais comum. Com base em amostragens de lagartasda-soja efetuadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, na safra 2009/10, foram constatadas estas alterações populacionais. No Rio Grande do Sul a lagarta-da-soja representou mais de 50% da população de lagartas e as lagartas-falsamedideira (agora predomínio de P. includens sobre Rachiplusia nu) e lagarta-preta (Spodoptera eridania) representaram 20% cada espécie. Nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul houve menor ocorrência de lagarta-preta (entre 11% e 13%) e menor ocorrência de lagarta-da-soja. Nesses estados a lagarta-falsa-medideira (P. includens) variou entre 28% e 43% da população de lagartas-da-soja (Figura 1). Esses dados, embora restritos a uma safra e aos estados do Sul e ao Mato Grosso do Sul, indicam uma alteração na compo-

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Figura 1 - Percentual de espécies de lagartas-da-soja nos diferentes estados produtores de soja

fenômeno El Niño. Na região Sul do Brasil esta informação é corrente entre técnicos e produtores, fato também confirmado por observações do Gemip-UFSM. Estes dois aspectos somados, ou seja, de maior risco de ocorrência de lagartas e o menor desenvolvimento da soja, devem servir de alerta ao produtor para um maior rigor no monitoramento das populações, no seu reconhecimento e se necessário no manejo das pragas desfolhadoras da soja.

Momentos de maior risco de danos

As diversas espécies de lagartas-da-soja normalmente ocorrem uma sucedendo a

Amostragem e novos níveis de dano econômico para lagartas

A amostragem de lagartas da soja deve começar ainda no período vegetativo da cultura. No início do ciclo a soja é muito sensível ao corte e ao desfolhamento, podendo ocasionar atraso no desenvolvimento ou até a morte com a consequente redução na população de plantas. Em algumas localidades, principalmente em anos de La Niña, verifica-se a ocorrência de picos populacionais no início da fase vegetativa, antes do fechamento das entre-

Fotos Jerson Guedes

sição de espécies e um crescimento populacional daqueles de mais difícil controle em soja. Tais alterações apontam para a sobrevivência das lagartas mais tolerantes aos inseticidas usados em soja. Possivelmente em muitos casos seriam necessárias doses maiores para controlar as lagartas-falsamedideira e Spodoptera eridania, do que para controlar a lagarta-da-soja. O uso inadequado de doses de inseticidas por erro de identificação da praga-alvo ou por redução da quantidade de inseticida que atinge o inseto, sempre favorece os insetos ou as fases mais tolerantes. Possivelmente a sucessão desses eventos tenha contribuído para, ao longo dos últimos anos, permitir, o aumento da população das espécies mais tolerantes aos inseticidas (Plusinae e Spodoptera spp.). A sobrevivência de lagartas desses dois grupos demanda outras aplicações que acabam por pressionar ainda mais a espécie mais suscetível às doses utilizadas e, portanto, contribuem para a redução da proporção de lagarta-da-soja (menos tolerante a inseticidas) no total de lagartas.

outra e, eventualmente, em algumas áreas ocorrem populações de distintas espécies sobrepostas. A ocorrência simultânea amplia o risco de danos (maior população) e dificulta o manejo (diferentes doses para o seu controle), permitindo e facilitando a sobrevivência das lagartas mais tolerantes, que chegam a representar 50% das populações. A Figura 2 ilustra de forma genérica esta ocorrência, eventualmente sobreposta, com indicações do período de maior risco de danos à soja, especialmente durante o florescimento e enchimento de grãos. Por sua vez, na safra 2009/10, em algumas áreas de soja do Sul do Brasil, foi verificada a ocorrência de grandes populações de lagartas-pretas (Spodoptera spp.) em R5 e R6 de soja, com desfolha e em alguns casos ataques aos legumes, para a qual não se conhecem os riscos de danos e/ ou nível de dano econômico e os inseticidas para seu controle.

La Niña, desenvolvimento da cultura e a ocorrência de pragas

Sabe-se que em anos com influência do fenômeno La Niña, tanto o regime e a distribuição das chuvas no Centro-Sul do Brasil é menor como mais irregular. Esses menores índices de precipitação determinaram efeito danoso sobre o desenvolvimento da cultura da soja (menor área foliar) e redução nos índices de produtividade. Já o conhecimento sobre a influência do evento La Niña sobre a ocorrência de insetos é pequena, apesar de haver informações de campo que em anos com chuvas irregulares ocorre mais insetos que em anos do

Folha de soja severamente danificada pelo ataque de lagartas

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linhas, quando a área foliar da soja ainda é pequena. A amostragem deve continuar ao longo de todo o ciclo da cultura, com verificação semanal dos índices populacionais, com o objetivo de avaliar os riscos de chegar ao nível de controle das diferentes pragas. Atualmente há muita discussão sobre a manutenção ou a redução dos níveis de controle (NC) de algumas pragas da soja no Brasil, obtidos com base no Nível de Dano Econômico (NDE). De fato, o que não mudou foi o dano causado pelas espécies de lagartas em soja, ou seja, quanto de área foliar cada lagarta consome, porém, a questão é muito mais ampla e rica de fatores a serem discutidos. Por sua vez, a conhecida equação que “determinaria” o momento populacional de controle leva em conta muitos fatores que sofreram grandes alterações recentemente. Nos últimos anos tem se observado uma grande redução no custo do controle de insetos na cultura da soja, em função do decréscimo dos preços dos inseticidas. Por sua vez, o valor da produção cresceu fortemente, seja pelo aumento do potencial produtivo da cultura, como também pela valorização do preço da soja. Estes fatores, pela posição que ocupam na equação, contribuem para menor tolerância aos danos dos insetos. Ou seja, o valor do NDE, neste cenário, é muito mais baixo que o preconizado em épocas anteriores, indicando menor tolerância da soja ao desfolhamento, exigindo maior atenção e controle desses insetos.

Práticas inadequadas de manejo

• Falta de amostragem de pragas (população e localização); • Falta de conhecimento e consi-

Jerson Guedes

Novo cenário da incidência de lagartas em lavouras de soja exige que produtores e técnicos busquem alterações no manejo

deração com as fases mais sensíveis da cultura; • Utilização do “cheirinho” com inseticidas de amplo espectro, após a emergência da soja; • Desconhecimento das espécies de lagartas-da-soja; • Erros na identificação das espécies-praga, implicando em erros nas doses dos inseticidas e escape das espécies mais tolerantes; • Pulverização de inseticida junto com a aplicação de herbicidas, portanto “fora” do momento populacional adequado, determinando a perda de ação do produto antes dos picos de lagartas; • Pulverização de inseticidas junto com a aplicação de fungicidas, portanto, uma aplicação muitas vezes tardia para percevejos e ácaros; • Utilização de doses elevadas, com efeito negativo sobre inimigos naturais; • Utilização de doses insuficien-

Figura 2 - Períodos críticos de ocorrência e danos para as distintas lagartas da soja.

tes para a praga-alvo, permitindo sua sobrevivência, novo crescimento e reinfestação; • Erros na escolha de inseticidas para as pragas-alvo mais importantes.

Manejo das lagartas-da-soja

Não há um modelo ou padrão de manejo indicado para todas as regiões produtoras do Brasil que seja adequado a uma região ou mesmo a um município, dada a grande quantidade de situações que se manifestam em cada local, como resultados da interação dos fatores que interferem na ocorrência de pragas e das iniciativas de manejo para a sua supressão. Entretanto, é reconhecido pela maioria dos técnicos e produtores que a cultura da soja é atualmente um cenário caracterizado pela maior fragilidade da cultura ao ataque de lagartas, beneficiadas especialmente pelo manejo fitossanitário (plantas daninhas e doenças) atualmente praticado na cultura. Assim, toda a decisão de manejo deve ser tomada com base na amostragem e no reconhecimento das espécies ocorrentes. O controle deve considerar as espécies, o momento de ocorrência no ciclo da cultura, o custo do controle e o valor resultante da produção, além de preconizar a utilização de inseticidas menos C agressivos aos organismos não alvo. Jerson Carús Guedes, Cristiane dos Santos Stecca, Rodrigo Borkowski Rodrigues e Mauricio Bigolin, Gemip - UFSM

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Soja

Resistentes e produtivas

Fotos Embrapa Agropecuária Oeste

Cultivares desenvolvidas pela Embrapa, com apoio da Fundação Vegetal, despontam como alternativa promissora para os produtores de soja de Mato Grosso do Sul. Além de vantagens em relação à produtividade os materiais apresentam resistência a nematoides das galhas e a doenças como cancro da haste, mancha “olho-de-rã”, podridão radicular de fitóftora, pústula bacteriana e necrose da haste

O

desenvolvimento de novas cultivares é uma das principais tecnologias responsáveis pelo aumento no rendimento de grãos na cultura da soja. Além desse incremento no rendimento de grãos os programas de melhoramento têm promovido aumento da estabilidade produtiva, por meio da incorporação de resistência às principais doenças e nematoides que acometem a cultura. Neste contexto, a partir da safra 2010/2011, a Embrapa Agropecuária Oeste, em parceria com a Embrapa Soja e com o apoio da Fundação Vegetal, indicou duas novas cultivares de soja para o cultivo em Mato Grosso do Sul (MS), com resistência aos nematoides de galha (Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica), sendo uma transgênica (BRS 319 RR) e outra convencional (BRS 320). A cultivar BRS 319 RR, como linhagem, foi avaliada nas safras 2006/2007 e 2007/2008 em ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU), com o objetivo de averiguar o potencial produtivo da linhagem para um possível lançamento posterior. Nestas duas safras, a linhagem que originou a BRS 319 RR foi avaliada em um total de 13 ambientes (11 na região centro-sul e dois na região norte do estado). Na análise

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conjunta dos dados do rendimento médio de grãos obtidos nestes ambientes, a produtividade da cultivar BRS 319 RR de 2.966kg/ha, foi 9,0% superior à média dos padrões (Tabela 1). Além disso, quando comparada com a cultivar comercial de maior média produtiva, a cultivar BRS 255 RR, suplantou em 2,0% o seu rendimento de grãos. A BRS 319 RR, ao longo dos anos e nos diferentes ambientes em que foi testada, apresentou boa estabilidade de produção, o que caracteriza uma adaptação adequada para o Mato Grosso do Sul. A cultivar apresenta ciclo semiprecoce, grupo de maturidade relativa 6.6, apresentando em média 113 dias de ciclo total (da emergência à maturação plena) e tipo de crescimento determinado. As características agronômicas e morfológicas são apresentadas na Tabela 2. Apresentou altura de planta de 71cm, na média dos ambientes, com boa tolerância ao acamamento e à deiscência de vagens. Em relação às doenças a cultivar BRS 319 RR possui resistência ao cancro da haste (Diaphorte phaseolorum f. sp. meridionalis), à mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina), à podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae) e ao vírus da necrose da haste (Cowpea

Mild Mottle Vírus) (Tabela 3). A semeadura da BRS 319 RR é recomendada, preferencialmente, no período de 25 de outubro a 10 de dezembro em solos de média a alta fertilidade. Tolera semeadura a partir de 20 de outubro, desde que cultivada em solos férteis e população média de 350 mil plantas/ ha, no espaçamento de 0,45m. Na semeadura em novembro, deve-se utilizar 250 mil plantas/ha em solos de alta fertilidade ou 355 mil plantas/ha em solos de média fertilidade. Apresentou boa estabilidade de produção ao longo dos anos em que foi testada e nos diferentes ambientes, o que caracteriza uma adaptação adequada para o estado de Mato

Novas cultivares são algumas das principais tecnologias responsáveis pelo aumento no rendimento de grãos

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Tabela 1 - Produtividade média de grãos (kg/ha) da cultivar de soja BRS 319 RR, dos padrões comerciais e a produtividade relativa, em diferentes ambientes de MS. Embrapa Agropecuária Oeste. Dourados (MS), 2010 CULTIVAR

BRS 319 RR BRS 255 RR* CD 214 RR* Média dos padrões

Prod. Relativa (%) 2007/08 (7 ambientes) 2.542 2.751 2.487 2.619

2006/07 (6 ambientes) 3.461 3.061 2.616 2.839

Prod. Relativa (%) Média Geral (13 ambientes) 2.966 2.894 2.547 2.720

116 114 100 107

109 106 94 100

102 100 88 94

*Padrões (cultivares testemunhas).

Tabela 2 - Características agronômicas e morfológicas das cultivares BRS 319 RR e BRS 320. Dourados (MS), 2010. Embrapa Agropecuária Oeste. Dourados (MS), 2010 Características Tipo de crescimento Pigmentação antociânica no hipocótilo Cor de flor Cor da pubescência Densidade da pubescência Cor da vagem (com pubescência) Altura de planta (cm) Ciclo vegetativo (dias) Ciclo total (dias) Acamamento Peso de 100 sementes (g) Brilho do tegumento Cor do hilo Teor de óleo (%) Teor de proteína (%)

BRS 320 Determinado Ausente Branca Cinza Média Cinza escura 70 (57 - 88)(*) 42 (34 - 51)(*) 109 (106 - 112)(*) 1,0(**) 14,0 (12,0 - 16,7)(*) Alto Marrom clara 19,8 (19,3 - 20,3)(*) 38,0 (36,7 - 39,3)(*)

BRS 319 RR Determinado Presente (Bronze) Branca Marrom Média Marrom média 71 (60 - 88)(*) 44 (37 - 51)(*) 113 (108 - 117)(*) 1,5 (1,0 - 1,5)(**) 14,5 (11,5 - 18,0)(*) Médio Preta 18,05 (17,7 - 18,4)(*) 41,02 (40,5 - 41,5)(*)

(*)Variações dependentes da época de semeadura, altitude e latitude do ambiente; (**) 1= plantas eretas e 5= plantas severamente acamadas.

Grosso do Sul. Sua principal área de adaptação é a região centro-sul do estado e na região do município de São Gabriel do Oeste. A cultivar BRS-320, como linhagem, foi avaliada em ensaios de VCU conduzidos nas safras 2005/06, 2006/07 e 2007/08 na região centro-sul de Mato Grosso do Sul, totalizando 13 ambientes. Os dados de VCU da BRS-320 indicaram que a cultivar possui o ciclo precoce, classificada como grupo de maturidade relativa 6.2 (GMR = 6.2), com ciclo total para maturação variando de 106 dias a 112 dias. A planta apresenta tipo de crescimento determinado, possui flores brancas e pubescência cinza (Tabela 2). Também apresenta resistência ao cancro da haste (Diaphorte phaseolorum f. sp. meridionalis), à mancha “olho-de-rã” (Cercospora sojina), pústula bacteriana (Xanthomonas axonopodis pv. glycines) e podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae) (Tabela 3). A produtividade média da BRS 320, de acordo com a análise conjunta dos rendimentos de grãos obtidos nos 13 ambientes, foi de 3.169kg/ha, sendo 8,0% superior à média dos dois padrões, 11,0% mais produtiva que a cultivar BRS 239 e 5,0% mais produtiva que a CD 202 (Tabela 4). Esses resultados indicam bom potencial produtivo da nova cultivar e a possibilidade de uso deste material pelos produtores de soja em áreas destinadas para

o plantio do milho safrinha. A época de semeadura recomendada é de 25 de outubro a 10 de dezembro em solos de média a alta fertilidade, sendo preferencialmente indicada para as semeaduras no mês de novembro, até dia 15 de novembro, pois foi o período em que a cultivar apresentou seu maior potencial produtivo. Tolera semeadura a partir de 20 de outubro, desde que cultivada em solos férteis e população média de 355 mil plantas/ha. Na semeadura em novembro, utilizar 250 mil plantas/ha em solos de alta fertilidade ou 350 mil plantas/ha em solos de média fertilidade. A semeadura em solos de baixa fertilidade e muito antecipada, anterior ao dia 20 de outubro, não é recomendada. A principal área de adaptação da BRS-320 é a região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul. Pelo fato de ambas as cultivares possuí-

Pereira de Melo e Maria do Rosário destacam características das cultivares desenvolvidas

rem resistência aos nematoides de galha (M. javanica e M. incognita), podem ser cultivadas em áreas infestadas com estas pragas, que em Mato Grosso do Sul são muito frequentes nas lavouras sojícolas. Além disso, em termos de manejo integrado de plantas invasoras, as duas cultivares são boas alternativas para serem utilizadas em estratégias de rotação de cultivares, podendo reduzir os impactos da seleção de plantas invasoras resistentes a herbicidas. A partir da safra 2010/2011 os sementeiros instituidores da Fundação Vegetal iniciarão a produção de sementes certificadas da BRS 319 RR e BRS 320. Provavelmente na safra 2011/2012 sementes de ambas as cultivares serão oferecidas comercialmente para os proC dutores de grãos do MS. Carlos Lasaro Pereira de Melo e Maria do Rosário de O. Teixeira, Embrapa Agropecuária Oeste Tabela 3 - Reação das cultivares BRS 319 RR e BRS 320 às doenças e nematoides Doenças/Nematoides Cancro da haste* Mancha “olho-de-rã”* Pústula bacteriana* Podridão radicular de fitóftora* Vírus da necrose da haste* Oídio** Meloidogyne javanica* Meloidogyne incógnita* Nematoide de cisto (Heterodera glycines - raça 3)*

BRS 319 RR R R MR R R MS R MR S

BRS 320 R R R R S S** MR MR S

*Avaliações realizadas em casa de vegetação; R - Resistente; MR - Moderadamente Resistente; MS - Moderadamente Suscetível; S - Suscetível; **Avaliações de campo.

Tabela 4 - Produtividade média de grãos da cultivar de soja BRS 320, dos padrões comerciais e a produtividade relativa, em diferentes ambientes de MS. Embrapa Agropecuária Oeste. Dourados (MS), 2010 CULTIVAR

BRS 320 CD 202* BRS 239* Média dos padrões

2005/06 (3 AMB1) 3.196 3.441 2.490 2.966

Produtividade (kg ha-1) 2007/08 2006/07 (5 AMB) (5 AMB) 2.847 3.475 2.979 2.772 2.708 3.209 2.844 2.991

Prod. Relativa (%) Média Geral (13 AMB) 3.169 3.006 2.850 2.928

108 103 97 100

111 105 100 103

105 100 95 97

1AMB = ambientes; *Padrões comerciais.

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Cana-de-açúcar Divulgação

Maturação estimulada AA qualidade qualidade da da matéria-prima matéria-prima no no setor setor sucroalcooleiro sucroalcooleiro está está atrelada atrelada aa fatores fatores como como oo teor teor adequado adequado de de sacarose sacarose na na colheita. colheita. Para Para que que aa cana cana atinja atinja aa maturidade maturidade ee florescimentos florescimentos indesejáveis indesejáveis sejam sejam evitados evitados éé preciso preciso lançar lançar mão mão de de tecnologias tecnologias como como reguladores reguladores de de crescimento crescimento

Q

uem não planeja produzir mais, com maior qualidade e mais lucros? Com certeza os produtores do setor sucroalcooleiro também procuram realizar essas metas, pois a qualidade da matériaprima interfere positivamente no rendimento industrial, com geração de maiores lucros. No setor sucroalcooleiro, a qualidade da matéria-prima está atrelada, além das boas práticas agrícolas com o canavial, aos teores adequados de sacarose (substância de interesse da indústria) no momento da maturação, que propicia o rendimento da cultura e extração econômica na indústria. A maturação ocorre quando a planta paralisa o crescimento e está com os colmos desenvolvidos (Figura 1). Nessa ocasião, o processo de fotossíntese começa com a captação de luz e CO2 nas folhas e termina com a formação da sacarose, que é transportada até os colmos e armazenada nos vacúolos das células, especialmente aquelas em torno dos vasos condutores. A maturação pode ser definida ainda sob três aspectos: 1) botânico, após a emissão de flores e a formação de sementes; 2) fisiológico, quando o colmo atinge seu máximo armazenamento de açúcar e 3) econômico, quando a cana alcança o teor mínimo de sacarose para que possa ser viável industrialmente. Para a planta entrar no processo de ma-

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turação, naturalmente, é necessária uma ou mais fontes de estresses, sendo que a queda gradativa no fotoperíodo, temperatura e chuvas são os aspectos mais estimulantes. Durante a maturação, a cana-de-açúcar armazena a sacarose a partir da base para o ápice da planta. No início, o terço basal do colmo mostra teor mais elevado de açúcar do que o terço médio, e este maior do que o terço apical (Figura 2).

Prontos para colher

Para o produtor saber se o canavial está apto à colheita é necessário verificar a concen-

tração de sacarose no caldo. O procedimento inicia-se com a obtenção do índice médio de maturação (IM). A cana é tida como madura quando esse percentual permanecer entre 0,9 a 1,0. O IM é calculado pela diferença entre as leituras de sólidos solúveis totais (Brix) no caldo da base e do topo, tomando-se amostragens de dez colmos escolhidos sequencialmente em um dado ponto do canavial. Esse procedimento é realizado com auxílio de um refratômetro de bolso, onde se coloca uma gota de caldo e procede-se à leitura do Brix. Nos casos em que a cana é considerada madura, o produtor precisa enviar ao la-

Figura 1 - Fenologia da cana-de-açúcar

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boratório de sacarose nova amostragem de colmos para que seja realizada uma análise tecnológica mais precisa. Essa amostragem é feita escolhendo-se ao acaso um ponto no canavial e colhe-se entre dez colmos a 15 colmos consecutivos na linha da cultura. No laboratório, o feixe é triturado e uma amostra de 500g é submetida à análise tecnológica. Nesse caso, o canavial somente será liberado para colheita se o Brix do caldo for superior ao 18° Brix; a Pol (sacarose aparente) for superior a 14,4 no início de safra ou 15,3 no decorrer do período da colheita e AR (açúcares redutores) inferiores a 1,5 no início da safra ou 1,0 no decorrer da safra. Assim, apenas os canaviais que apresentarem esses valores estarão aptos a serem colhidos. Para melhor entendimento dos termos referentes à maturação da cana-de-açúcar apresenta-se a Tabela 1.

Florescimento

O florescimento da cana-de-açúcar ocorre quando a gema apical é induzida à gema florífera. Esse estímulo ocorrerá se entre os meses de fevereiro e abril houver entre 18 e 21 dias de diminuição no número de horas de luz, temperaturas noturnas superiores a 18°C e umidade no solo. A diminuição na hora de luz é iminente, ficando o produtor dependente da umidade do solo e temperaturas noturnas.

Tabela 1 - Parâmetros de qualidade exigidos na matéria-prima de cana-de-açúcar Parâmetros de qualidade da cana-de-açúcar POL (Pol%caldo) BRIX (Brix%caldo)

Valor ideal O que é? (recomendado) Para que serve? 14 - 24% % de sacarose no caldo da cana-de-açúcar. É a fração de sacarose (açúcar) existente no Brix. 18 - 25% % de sólidos solúveis totais no caldo da cana-de-açúcar. A leitura compreende todos os sólidos, nos quais estão também a sacarose, a frutose, a glicose etc. Pureza aparente >80% % de sacarose contida nos sólidos solúveis. Indica o grau de pureza. Fibra 8-12% Matéria insolúvel na água contida na cana-de-açúcar. Evita problemas como o tombamento, o ataque de pragas e ainda possibilita o suprimento de energia à indústria. Açúcares redutores (AR): <1 Quantidade de glicose e de frutose no caldo da cana-de-açúcar. São substâncias precursoras de cor, aumentando a cor do açúcar, provocando a sua depreciação comercial. São indesejáveis porque não se cristalizam como a sacarose. Açúcares redutores totais (ART) Variável São todos os açúcares do material na forma de açúcares invertidos. Açúcares totais (AT) Variável Sacarose + glicose + frutose, no caldo. Açúcares totais recuperáveis (ATR) Variável Expressa a quantidade de açúcar a ser recuperada em cada tonelada de cana Detalhes de fórmulas consultar CONSECANA.

Após a indução, em oito semanas a panícula pode ser emitida. O processo de florescimento implica em alterações morfofisiológicas da planta e é considerado uma característica indesejável porque pode isoporizar (chochamento) os colmos. O florescimento traz perdas substanciais em tonelada de cana-de-açúcar e teor de sacarose durante a colheita. A isoporização do colmo tem início com a ocorrência do florescimento, que provoca a desidratação do tecido e uma consequente perda de peso final. Assim sendo, torna-se de suma importância a quantificação do grau de

"isoporização" e as possíveis modificações na qualidade da matéria-prima. O conhecimento das cultivares que florescem pode proporcionar ao produtor melhor dimensionamento da área a ser plantada com cada cultivar, além de determinar os períodos mais propícios para a respectiva industrialização. Entretanto, dependendo da cultivar e da condição ambiental a que está submetida, a intensidade dos processos é variável, bem como a gravidade dos problemas advindos destes fenômenos. A redução do volume de caldo é o principal fator em que o florescimento interfere.


Figura 2 - Teor de sacarose (açúcar) no colmo, no ponto de maturação

Maturadores

Para garantir uma maturação completa, uniforme, antecipada, programada e evitar possíveis florescimentos indesejáveis, a indústria sucroalcooleira tem adotado o uso de maturadores vegetais (reguladores de crescimento) na cana-de-açúcar. Os maturadores são compostos químicos que induzem a translocação e o armazenamento de açúcares no colmo, principalmente sacarose. Sendo assim, o objetivo dos maturadores é antecipar e manter a maturação natural e ofertar matéria-prima de boa qualidade para industrialização antecipada, além de auxiliar no manejo das cultivares. Existem dois tipos básicos de maturadores para o setor canavieiro, os estressantes e os não estressantes. Os estressantes são inibidores de crescimento, que reduzem, acentuadamente, o ritmo de crescimento da cana, fazendo-a acumular a sacarose em vez de utilizá-la como fonte de energia para seu crescimento. Essa redução no ritmo de crescimento força a planta a amadurecer. Os maturadores estressantes mais utilizados são glifosato, etil trinexapac e sulfometurom metil. Os maturadores não estressantes não diminuem o ritmo de crescimento da planta e sua ação libera o etileno, composto responsável pela maturação que ajuda a acumular sacarose nos colmos da canade-açúcar. O ethephon é um exemplo deste tipo de maturador. Para indução artificial da maturação, os reguladores de crescimento são aplicados por meio de aviões quando as plantas estiverem entre oito e dez meses após a última colheita, portanto, durante o período vegetativo. Na prática, os meses de fevereiro e março ou outubro são os períodos em que os produtores almejam a aplicação, pois podem antecipar o início ou final do período de colheita.

Fatores prejudiciais à qualidade

O incremento no teor de sacarose pode ser

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prejudicado se o produtor não evitar práticas ção de açúcar e álcool, pois são precursores agrícolas que interferem na qualidade da de cor, dificultam a cristalização da sacarose, matéria-prima, tais como: inibem a fermentação alcoólica, entre outros Queima da cana-de-açúcar: com a queima inconvenientes. há perdas relevantes de açúcar decorrente Inversão da sacarose: pode ocorrer no da exsudação do caldo. As rachaduras nos interior dos colmos em virtude de microrcolmos possibilitam maior exsudação do ganismos (bactérias e fungos), a retomada caldo e aderência de impurezas minerais, do crescimento ou do desenvolvimento da contribuindo para diminuição da qualidade cana após o período de maturação, a brotação da matéria-prima. lateral provocada pelo tombamento da cana, Matéria estranha ou impurezas: diversos geada com morte da gema apical, aplicação de fatores interferem na quantidade de impure- maturadores e adiamento da colheita, queima zas na matéria-prima, entre os quais as condi- da cana e armazenamento no campo ou na ções climáticas, o tipo de colheita e cuidados indústria, danos provocados ao colmo pela adotados durante o corte e carregamento. De colheita mecanizada etc. maneira geral, a matéria-prima colhida manuPortanto, a qualidade da cana-de-açúcar almente e carregada por máquinas tem altos é fundamental na busca de bons resultados teores de impurezas minerais (terra e areia). Já industriais e econômicos visto que está direa cana colhida mecanicamente crua apresenta tamente ligada ao desempenho dos processos principalmente impurezas de origem vegetal, industriais, fundamentais na obtenção de como restos de folhas, palhiço e pontas. rendimentos satisfatórios e qualidade do C Sanidade: colmos sadios, sem podridões produto final. ou sinais de deterioração, apresentam maiores teores de açúcares totais. A ocorrência Ana Carolina Rosa Bueno, de pragas, especialmente a broca-da-cana Daniela F. São Pedro Machado, (Diatraea saccharalis) e a cigarrinha-das- Andreá A. Padua M, Azania e raízes (Mahanarva fimbriolata), pode afetar Carlos Alberto Mathias Azania, significativamente a qualidade da matéria- Inst. Agronômico/Centro de Cana prima. Os furos nos Figura 3 - Partes da cana-de-açúcar e composição colmos deixados pela broca são importantes portas de entrada para microrganismos, especialmente fungos dos gêneros Colletotrichum e Fusarium, que colonizam os colmos, causando deterioração fisiológica, microbiológica e tecnológica da cana. Altura de desponte: a ponta da canade-açúcar é entendida como a parte composta por entrenós imaturos, o cartucho contendo o meristema apical e parte das folhas ainda verdes. Essa região apresenta altos teores de açúcares redutores, amido, aminoácidos, ácidos orgânicos, compostos fenólicos e polissacarídeos totais, com baixos teores de sacarose (Figura 3). Com exceção da sacarose, os componentes citados têm grande impacto negativo na fabrica-

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Nutrição

Aproveitamento maximizado

O correto manejo do solo, com a manutenção da palhada e o emprego de plantas de cobertura, se apresenta como forma eficiente de melhorar a ação do fósforo aplicado via fertilizante, tanto na cultura atual como o adsorvido por conta de culturas anteriores

O

fósforo (P) é um dos elementos essenciais à sobrevivência das plantas, presente em componentes estruturais das células, como nos ácidos nucleicos e fosfolipídios das membranas celulares e também em componentes metabólicos móveis armazenadores de energia, como o ATP. A absorção de fósforo pelas plantas ocorre essencialmente via sistema radicular, estando na dependência da capacidade de fornecimento pelo solo, que muitas vezes é um limitador para um bom suprimento, agindo no sentido de competir com as plantas pelo P disponível na solução. O fósforo no solo possui grande habilidade para formar compostos de alta energia de ligação com os coloides da fração argila, conferindo-lhe alta estabilidade na fase sólida. Assim, mesmo que os teores totais de P no solo

sejam altos (ex. 700-800mg dm-3) em relação ao necessário para as plantas, apenas uma pequena fração tem baixa energia de ligação que possibilita estar disponível para as plantas (ex. 5-20mg dm-3). Por isso, o uso de plantas de cobertura como cicladoras de nutrientes e potenciais liberadoras de P é uma alternativa para melhorar o aproveitamento deste nutriente nas frações que já estão presentes no solo, mas não em formas disponíveis para as plantas. A Figura 1 ilustra bem como se distribuem as frações de P no solo, sendo estas frações muito dependentes da ciclagem de nutrientes na matéria seca dos resíduos, que com a atuação dos microrganismos do solo, será decomposta e poderá liberar boa parte do P novamente para a solução, de onde a planta o absorve. Nesta figura, as setas verdes ilustram

a liberação de P para as plantas, enquanto que as setas vermelhas são drenos de P, ou seja, estão deixando o P indisponível no solo. As frações de P inorgânico, expressas na Figura 1, são os principais drenos de P da solução do solo, ao passo que a principal fonte para áreas cultivadas é a aplicação de fertilizantes. O dreno de P da solução ocorre devido aos solos brasileiros apresentarem alto grau de intemperismo, com alto teor de óxidos, que são os grandes responsáveis pela adsorção de P nos argilominerais do solo, formando a fração de Pi de alta energia, expresso na figura. O conteúdo total de P, fração disponível e distribuição das demais frações, são variáveis em função principalmente do material de origem e do manejo adotado para o solo. O sistema de semeadura direta altera a dinâmica do fósforo no solo. Neste sistema o

Charles Echer

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nutriente, além de se acumular nas camadas superficiais, tem seus níveis elevados na forma orgânica, seja pela ausência de mobilização, seja pela produção de ácidos orgânicos que competem pelos sítios de retenção do fósforo (Rheinheimer, 2000). A fração orgânica do P pode ser um importante reservatório deste nutriente nos solos. Assim, o melhor entendimento do comportamento desta forma de P no solo, de acordo com a decomposição dos resíduos orgânicos, pode resultar em melhor manejo do sistema, tendo objetivo o melhor aproveitamento do fertilizante e diminuindo as adições deste nutriente. Portanto, o tipo e a quantidade de resíduos depositados no solo e a velocidade de decomposição podem ter interferência direta na disponibilidade de P para culturas como o milho, a soja etc, além de influenciar na disponibilidade de outros nutrientes também, como o N. As plantas de cobertura são cultivadas visando principalmente à proteção do solo contra erosão e perda de nutrientes. Manter a superfície do solo permanentemente coberta por materiais vegetais, em fase vegetativa ou como resíduo, é, efetivamente, o manejo mais recomendado para a proteção e conservação do solo (Alvarenga et al, 1995). O cultivo de planta de cobertura antecedendo a cultura do milho pode

Figura 1 - Ciclo do fósforo no solo. Po: Fósforo orgânico; Pi: Fósforo inorgânico. Adaptado de Rheinheimer et al (2010)

resultar em aumento de produtividade, seja pelo cultivo de leguminosa que reduz a necessidade de adubo nitrogenado (Amado et al, 2002), seja pelo cultivo de gramíneas que, com maior relação C/N, proporcionam período maior de cobertura do solo, devido à sua decomposição mais lenta (Ceretta et al, 2002). Além de afetarem a ciclagem de outros nutrientes.

Esses benefícios podem incluir a melhoria na oferta de nutrientes para as plantas, especialmente P, sendo esse o principal objetivo deste trabalho. A Figura 2 ilustra as plantas de cobertura com potencial de uso no Sul do Brasil para o período de inverno, em um experimento conduzido em Dois Vizinhos, no Paraná, em um solo Nitossolo Vermelho com P Mehlich-1 de 6,13mg dm-3 e 4,74mg


Fotos Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Plantas de cobertura no inverno como potenciais solubilizadoras de fosfato para a cultura de verão

Resíduos das plantas de cobertura no momento da semeadura do milho

dm-3 nas camadas de 0-10 e 10-20cm. A Figura 3 demonstra como fica o solo após a dessecação dessas coberturas, no momento da semeadura do milho, colocando em evidência a necessidade de plantas de cobertura com alta produção de massa seca, para manutenção de boa proteção do solo após o manejo dessas plantas de cobertura. Na Tabela 1 estão expressos os resultados obtidos no primeiro ano de uso destas espécies de cobertura, com uso de fosfato solúvel e fosfato natural no milho (recomendação de 135kg/ha com base no P solúvel dos fertilizantes). Para este primeiro ano avaliado não foram significativos os efeitos das plantas de cobertura na produtividade do milho, apenas sendo observada maior produtividade média com o uso dos fertilizantes. No entanto, é importante enfatizar que o efeito sobre as culturas é esperado ao longo dos anos de cultivo, sendo cumulativo, e este experimento vai ser mantido por vários anos, a fim de gerar dados consistentes sobre a disponibilidade de P no solo com as plantas de cobertura e seus efeitos na produtividade. Na literatura brasileira são encontradas diversas publicações abordando o efeito das plantas de cobertura na disponibilidade de N e na produtividade do milho, mas pouquíssimas informações se têm sobre o efeito dessas plantas no sistema solo como um todo, podendo muitas dessas mudanças não serem percebidas, pois o foco principal das pesquisas é outro. Por isso, a avaliação da disponibilidade de P após os cultivos, tanto de plantas de cobertura com para produção de grãos, pode ser um caminho eficiente para melhorar o Tabela 1 - Produtividade grãos de milho em função de plantas de cobertura anterior e fontes de fertilizante fosfatado. Dois Vizinhos (PR), 2009/10

aproveitamento de P e de outros nutrientes no solo. Tendo em vista que a maioria dos solos brasileiros apresenta alto teor de P total, com possibilidade de ser ofertado às culturas, dependendo do manejo utilizado e das reações físico-químicas que ocorrem no solo como consequência desse manejo. Um dos aspectos importantes a se discutir é a forma de aplicação da adubação fosfatada, pois se sabe que a adubação a lanço permite maior contato do fertilizante com o solo, possibilitando elevada adsorção do P, o que reduz o aproveitamento do elemento pela planta. Por outro lado, para diminuir a adsorção, utiliza-se a aplicação localizada e, como consequência, pequena porção do sistema radicular entra em contato com o P proveniente do adubo (Prado & Fernandes, 2001). Essa aplicação na linha de semeadura é preconizada nos boletins de recomendação de várias regiões do Brasil, sendo a forma mais eficiente de fornecer este nutriente para a cultura, com o melhor aproveitamento pelas plantas do P aplicado. Manter um bom nível de P disponível no solo, ou seja, nas classes de interpretação alto ou muito alto, e manejar a adubação para

Espécie de cobertura Testemunha Ervilhaca Tremoço branco Nabo forrageiro Azevém Aveia preta Trevo Média ns

suprir a necessidade das culturas e as possíveis perdas no solo, é uma forma de manter o potencial produtivo, mas a forma de aplicação deverá ser sempre na linha de semeadura, quando forem utilizados fertilizantes fosfatados solúveis. Isso fica evidente quando consideramos os resultados de Prado et al (2001) obtidos em um Latossolo Vermelho de Minas Gerais com 5mg/kg-1 de P Mehlich-1 (Figura 4), onde as formas de aplicação na linha foram muito mais eficientes que a aplicação a lanço. Além disso, quando o fertilizante fosfatado foi aplicado na linha, em sulco duplo, houve melhor resposta do milho em produção de grãos, provavelmente pela maior área de contato das raízes com este nutriente, em função de melhor distribuição do fertilizante na área de exploração radicular. É importante enfatizar que a adubação fosfatada deve seguir sempre as recomendações dos boletins técnicos para cada região e para cada cultura, e que o produtor tenha consciência de que a quantidade aplicada normalmente é acima da necessidade da cultura, devido às potenciais retenções deste nutriente no solo. Por isso que a eficiência de absorção do P do fertilizante situa-se em torno 30% no primeiro cultivo. Um bom manejo do solo, com manutenção de palhada e uso de plantas de cobertura pode ser uma forma eficiente de aumentar o aproveitamento do fósforo aplicado via fertilizante, tanto o aplicado na cultura em questão como aquele P usado nas culturas anteriores e que ficou adsorvido no solo por reações químicas. C Paulo Sérgio Pavinato e Thomas Newton Martin, UTFPR

Figura 4 - Efeito das doses e formas de aplicação de fertilizante fosfatado na produtividade de grãos da cultura do milho (adaptado de Prado et al, 2001)

Fonte de fertilizante fosfatado Sem P Super Simples Fosfato Natural Média 8739,6 7710,9 ns 7020,8 7372,4 8728,6 8540,6 7658,9 9234,4 9468,8 8796,0 7789,1 9130,2 8947,9 7997,4 7515,6 7528,7 7710,9 7652,3 6871,1 8375,0 9195,3 8335,7 6877,0 8934,9 9312,5 8253,5 6994,8 8453,1 8871,9 a 7246,7 b 8432,7 a

Não significativo. Médias seguidas pela mesma letra não diferem pelo teste Tukey a 5%.

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Empresas

Nova versão

Fotos Eduardo Leão Girão

Basf lança Digilab 500, ferramenta com potencial para auxiliar pesquisadores e cientistas na identificação de pragas, doenças e plantas daninhas através de um banco de imagens que podem ser ampliadas em até 500 vezes

D

epois de lançar o Digilab 200, ferramenta que auxilia produtores e pesquisadores brasileiros na identificação de pragas, doenças e plantas daninhas, a Basf apresenta agora a versão 500 do equipamento. O novo formato alia um microscópio digital, capaz de ampliar em até 500 vezes as imagens captadas, a um software interativo que armazena um banco de dados para consulta que contabiliza mais de 4,5 mil fotografias de insetos, plantas com sintomas e invasoras. Lançada este ano, a ferramenta é oferecida a pesquisadores, cientistas e professores de universidades e centros de pesquisas com os quais a empresa mantém parceria. A doutora e pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Patrícia Andrea Monquero, que trabalha na pesquisa de herbicidas, já teve a oportunidade de experimentar a nova ferramenta. “Com o detalhamento proporcionado pelo microscópio, podemos perceber a morfologia da planta daninha, identificando a presença de tricomas e cerras. Esses componentes da planta, que visualmente se parecem com ‘pelinhos’, são a primeira barreira contra os herbicidas. Com a visão ampliada, podemos estudar melhor a absorção dos

produtos”, explica. Outra facilidade apresentada pelo Digilab 500 é a mobilidade. O equipamento reúne as funcionalidades de alguns microscópios e máquinas fotográficas digitais utilizadas em laboratórios. Ligado a um laptop, o equipamento pode ser transportado para o campo com facilidade, permitindo a coleta de amostragens e estudos in loco. “Com o lançamento da nova geração do Digilab, queremos contribuir com pesquisas que beneficiem a agricultura”,

explica o vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Maurício Russomanno. O executivo também destaca a conectividade como mais uma aliada dos pesquisadores. Por meio da comunidade Top Ciência (www.topciencia.com.br), os professores e cientistas participam de fóruns de discussão, que possibilitam a troca de informações, debates, consultas e interatividade entre pesquisadores de diversas regiões produtoras do país. Além disso, membros da comunidade Top Ciência são palestrantes em bate-papos virtuais, realizados ao longo do ano, que contam com a participação de produtores rurais e canais de venda. Até dezembro de 2010 ocorrerão aproximadamente 90 encontros.

O que muda

Equipamento é ferramenta importante para auxiliar na identificação de pragas, doenças e plantas daninhas

O Digilab 500 é uma evolução do Digilab 200. A versão anterior da ferramenta possui uma câmera acoplada a uma lupa que aumenta de 50 a 70 vezes e de 180 a 200 vezes o zoom. O Digilab 200 continuará sendo distribuído a consultores e técnicos com o objetivo de melhorar a assistência técnica ao produtor rural, enquanto a nova geração apresenta potencial para C auxiliar pesquisadores e cientistas.

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Pragas

Saúvas controladas

Produto que contém princípio tóxico à base de mamona e gergelim é nova alternativa para o combate a formigas cortadeiras

O

água ou em pó, em polvilhamento, utilizando também aparelhos próprios, conhecidos como polvilhadeiras, sendo os inseticidas veiculados com talco ou outro diluente em pó. Qualquer que fosse o sistema, havia a necessidade de contaminação total, ou pelo menos uma que conseguisse atingir a rainha, o indivíduo essencial em um sauveiro. Devido à impossibilidade de localizá-la com a precisão necessária, era preciso contaminar ao máximo o seu ninho para garantir sua extinção. Ou à maneira das iscas, eliminando também grande parte das jardineiras, para que o fungo não tivesse condições de ser fornecido à população restante. Porém, na atualidade, considerando os aspectos ambientais e econômicos, passaram a ocorrer problemas para esse tipo de controle de formigas cortadeiras, como dificuldade de encontrar mão de obra adequada para alguns tipos de aplicações, demanda por equipamentos motorizados, que exigiam conhecimentos mecânicos e inúmeros outros aspectos como os riscos de contaminação do lençol freático pela simples aplicação de isca tóxica, além de permitir a rejeição ou a resistência que a saúva pode adquirir ao tóxico, além de sua dependência às condições climáticas, pois as saúvas

Charles Echer

Fotos Otávio Nakano Júnior

estudo da vida social das formigas cortadeiras de folhas e a maneira como constroem seus ninhos permitiram ao homem inúmeras maneiras de controle. Um dos mais notáveis meios foi a idealização de iscas em que as próprias formigas se encarregassem de carregar o elemento tóxico para o interior de seus ninhos, contaminado-os e causando a autodestruição. Isso foi possível graças ao estudo da casta conhecida como jardineiras, que recebia os vegetais ou as iscas para elaboração e colocação no fungo que cultivam, para alimentação de toda a população do sauveiro. Antes dessa descoberta, os sauveiros eram eliminados pela contaminação total dos ninhos, por meio de produtos fumigantes, como o brometo de metila, gás embalado na forma líquida e que se gaseificava ao ser liberado da embalagem. Outros fumigantes como bissulfureto de carbono também eram empregados, exigindo sempre equipamentos sofisticados para esse fim, inclusive os mais modernos e motorizados, que aquecendo certos inseticidas devidamente formulados para esse fim, liberam a fumaça tóxica que é injetada no interior do sauveiro. Outra forma é a líquida, através da diluição dos inseticidas em

Embalagem prática, que dispensa auxílio de outro equipamento, facilita o controle de formigas

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Formas de controle são buscadas a partir do estudo do comportamento das formigas cortadeiras

não carregam no frio e as chuvas ou o excesso de umidade podem desfazer as iscas. Nesse contexto a termonebulização (aplicação do formicida na forma de FOG) surge como alternativa promissora porque não depende das condições climáticas e a fumaça pode facilmente alcançar a rainha, geralmente localizada na parte mais profunda do sauveiro. Entretanto, a termonebulização depende do equipamento que, além de custoso, exige pessoal mais qualificado para operá-lo. Foi pensando nesse inconveniente que se idealizou o Autofog, uma embalagem que dispensa equipamento, além de ser constituído de material ecológico e liberar um elemento tóxico específico para saúvas, a ricinina, contida no óleo de mamona. O aplicador consiste em uma embalagem de papelão, cônica, com duas extremidades: uma menor por onde é liberada a fumaça e outra maior, por onde é colocada com uma mistura de pólvora, óleo de mamona e óleo de gergelim em proporções adequadas. O material é ensacado juntamente com um pavio que se liga à extremidade menor, totalizando 20g. Em seguida o cone é fechado com uma tampa de madeira compensada. Ao acender o pavio, a massa entra em combustão, liberando o princípio tóxico da mamona e do gergelim. A ricinina, atua sobre as saúvas e o gergelim sobre o fungo cultivado pela saúva. Ambos os produtos são orgânicos

Produto libera elemento tóxico à base de ricinina, presente no óleo de mamona

Olheiro de sauveiro, local que serve de abrigo para os insetos

e se degradam no solo. A mamona é tóxica às saúvas e inúmeros são os trabalhos que indicam esse efeito sobre as formigas. As próprias saúvas, reconhecendo esse efeito, evitam utilizá-las. As tentativas de alguns pesquisadores em confeccionar iscas à base de mamona não têm sido promissoras; já as folhas de gergelim são carregadas e até preferidas pelas saúvas que chegam a usá-las como substrato para o seu fungo. Mas como possui propriedades fungitóxicas, logo que isso é percebido, os insetos deixam de carregá-las, o que não impede uma redução considerável no desenvolvimento do fungo. Esta é a razão pela qual muitos agricultores acreditam que o gergelim elimina os sauveiros de sua propriedade quando se cultiva essa planta. Tendo em vista que a saúva não aceita espontaneamente a mamona, surgiu a ideia de introduzir a ricinina no seu organismo para intoxicá-las. Assim, o transporte de suas moléculas na forma de gases, introduzidas pelos seus espiráculos, permitiu intoxicá-las rapidamente, o que é feito na forma de termonebulização. Testes realizados com os termonebulizadores motorizados também são eficientes

Folha com danos ocasionados pelo ataque de formigas

Nakano Júnior explica as vantagens da ferramenta de controle

na condução das moléculas no interior do organismo das saúvas, mas aí esbarramos no equipamento convencional, com os inconvenientes já citados. Portanto, os óleos de mamona e de gergelim, empregados juntamente com 20g de pólvora, conseguem atuar em qualquer espécie de saúva ou quem-quem, envolvendo uma área de aproximadamente 10m2 de superfície, liberando a fumaça por cerca de cinco minutos, sendo tóxica apenas para elas, pois não afeta outros tipos de insetos. No campo, recomenda-se escolher o canal de alimentação mais ativo, ou seja, aquele em que esteja entrando maior volume de folhas, e aplicar a fumaça nesse local, onde, presumese, encontra-se a rainha. Como essa fumaça é pesada, ela descerá rapidamente, atingindo a rainha, o que irá acabar com o sauveiro. Otávio Nakano Júnior

Corte provocado por saúva em folha

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Café Fotos Fábio Partelli

Sementes ou estacas?

A propagação vegetativa do café Conilon, realizada através da produção de mudas, apresenta vantagens em relação à seminal, com resultados que podem alcançar, no intervalo de dez colheitas, até 107,7 sacas de 60kg/ha beneficiadas

O

Conilon é uma planta diploide (2n=22 cromossomos), autoestéril e alógama por autoincompatibilidade do tipo gametofítica. As plantas de café Conilon, quando propagadas por sementes, apresentam variações quanto à sua arquitetura, produtividade, resistência a doenças e pragas, época de maturação do fruto, tamanho e forma das sementes, frutos e folhas. Por outro lado, a propagação vegetativa mantém as características genéticas da planta matriz, o que garante a homogeneidade da lavoura, quanto à maturação de grãos (precoce, médio e tardio) e outras características desejáveis, apresentando ainda a vantagem da precocidade inicial da produção (primeira colheita com 17 meses). Assim, tornou-se vantajosa a sua propagação clonal, razão pela qual os plantios atuais têm sido realizados com a utilização de mudas provenientes de estacas de ramos ortotrópicos. As plantas propagadas por brotos ortotrópicos (forma vegetativa) emitem, na fase inicial de crescimento, maior número de brotos e maior número de nós produtivos. A produtividade das plantas propagadas por estacas é superior nas primeiras colheitas, oitava

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e décima (Tabela 1). A produtividade média nas dez colheitas das plantas propagadas por estaca e por semente, considerando também a primeira colheita (catagem, com as plantas de apenas 17 meses) foi de 50, 52 e 39,75 sacas beneficiadas de 60kg/ ha/ano, respectivamente. A produção das plantas provenientes de estacas somando as dez colheitas foi de 107,7 sacas comparadas à produção das plantas propagadas por sementes, o que reforça ainda

mais as vantagens da propagação vegetativa do café Conilon sobre a propagação seminal em longo prazo, sob o mesmo manejo. Esse diferencial de produtividade (superior à média de duas colheitas das plantas propagadas por semente), principalmente nas primeiras colheitas, pode ser explicado pelo fato de as plantas propagadas por estacas provenientes de brotos ortotrópicos serem fisiologicamente adultas e o “material genéti-

Mudas de café com aproximadamente quatro meses de desenvolvimento

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Tabela 1 - Produtividade de plantas de café Conilon (sacas beneficiadas de 60kg/ha), propagadas por estacas e sementes, até a décima colheita (entre 2001 e 2010), em Vila Valério (ES) Tratamentos Estaca Semente CV

17 6,9a 1,2b 50,2

29 95,0a 52,8b 16,9

41 26,7a 20,8a 35,3

53 51,4a 38,6b 26,2

65 25,6a 25,4a 34,9

Colheita (meses) 77 70,9a 61,4a 27,4

89 38,2a 41,2a 22,2

101 71,3a 56,5b 26,1

113 46,9a 48,8a 45,6

125 72,3a 50,8b 17,7

Médias relativas a cada colheita seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste F, a 5% de probabilidade.

Tabela 2 - Comprimento e área superficial das raízes de plantas de café Conilon propagadas por sementes e por estacas, retiradas a 25cm e 50cm do tronco e em quatro profundidades (1) Profundidade (cm) 0-10 10-20 20-40 40-60

Comprimento (m dm-3) 25cm do tronco 50cm do tronco Sementes Estacas Sementes Estacas 68,75 71,36 65,16 80,25 31,04 28,48 32,06 36,06 15,46 18,64 18,14 14,09 4,81 10,75 8,09 6,55

Área superficial (cm2 dm-3) 25cm do tronco 50cm do tronco Sementes Estacas Sementes Estacas 747,5 888,7 775,2 784,4 370,3 388,4 362,6 319,9 212,0 155,3 214,0 246,1 105,0 50,4 61,6 164,3

(1) Os coeficientes de variação para os dados de comprimento de raiz e área superficial foram de 18,56% e 13,96%, respectivamente.

co” de procedência superior ao de sementes. O processo de clonagem permite maior homogeneidade entre as plantas produzidas e assegura alta qualidade e produtividade conforme a planta matriz, enquanto as plantas provenientes de semente apresentam variabilidade genética que pode reduzir a produção e também são fisiologicamente jovens no início do seu desenvolvimento. O sistema radicular, até os seis anos de

idade, nas plantas propagadas por sementes e por estacas, não apresenta diferenças (área superficial e comprimento) até a profundidade de 60cm, nas distâncias de 25cm e 50cm do tronco (Tabela 2). A redução da densidade das raízes com a profundidade é observada, em várias espécies, e pode estar associada à baixa fertilidade e ao aumento da densidade do solo nas camadas mais profundas, que são os principais im-

Plantas de café Conilon com boa qualidade produtiva

pedimentos ao desenvolvimento do sistema radicular do cafeeiro. Nota-se também que as plantas propagadas por estacas apresentam mais de uma raiz principal, enquanto mudas e depois de adultas, contudo, esse fato não interfere negativamente no desenvolvimento do sistema radicular até 60cm de profundidade nas condições estudadas, comparadas às plantas propagadas por sementes que apresentam uma raiz principal.

Procedimento de produção de muda através de estacas

As estacas de café Conilon devem ser provenientes de plantas selecionadas, com caracteres desejáveis, tais como elevada produtividade, bom vigor vegetativo, tamanho médio a graúdo dos grãos e tolerância à seca


Fotos Fábio Partelli

Sistema radicular de plantas propagadas por estacas e por sementes com seis anos

e a doenças. Os ramos utilizados para produção de mudas são os ortotrópicos, que surgem espontaneamente nos ramos principais, também ortotrópicos. As brotações originam em maior número em plantas submetidas a podas ou arqueamento (vergamento) do ápice ortotrópico, pois ocasiona quebra da dominância apical, o que pode proporcionar formação de aproximadamente 120 a 200 estacas por planta matriz. A coleta dos ramos ortotrópicos é realizada manualmente ou por intermédio de uma tesoura de poda. A seguir, estes ramos devem ser transferidos para um local fresco e sombreado, onde são preparados, eliminando-se inicialmente os ramos plagiotrópicos, por meio de uma tesoura de poda. Depois se cortam a metade de cada uma das duas folhas de cada nó, utilizando-se uma tesoura de costura, deixando o broto “esqueletado”. Estas estacas pré-preparadas podem ser armazenadas em caixas de isopor por até 120 horas, sem prejudicar sua qualidade, caso haja necessidade de realização de transporte destas estacas a longas distâncias. Posteriormente, faz-se a individualização das estacas, cortando-se em bisel o entrenó basal da estaca, deixando-o com um comprimento de 3cm a 4cm, sendo que o comprimento total da estaca deve ser de 5cm a 6cm. Já o corte superior da estaca deve ser de aproxima-

damente 1cm acima da intercessão dos ramos laterais. Antes do plantio no viveiro, para evitar problemas com fungos, as estacas devem ser desinfetadas com fungicida específico. Devido ao bom enraizamento das estacas jovens de café Conilon, não se faz necessário o uso de reguladores de crescimento para favorecer o enraizamento. Seguindo-se, as estacas são plantadas em substratos apropriados contidos em sacos plásticos de polietileno ou tubete, acondicionados em viveiro com microaspersão automática, provido de sombrite, capaz de reduzir em 50% a incidência de luz solar. Estando as estacas plantadas, deve-se fazer acompanhamento da umidade relativa do ar e do solo, controlando o automático do conjunto de microaspersão, de modo a manter nos primeiros dias as folhas das estacas sempre molhadas, mas sem encharcar o substrato contido nos recipientes. A irrigação vai depender da idade das mudas, da época do ano, hora do dia, temperatura, precipitação e outros. O controle fitossanitário deve ser realizado quando necessário e de forma preventiva, com utilização de produtos específicos e o viveiro e recipientes devem ser mantidos livres de plantas daninhas. Podem ser realizadas adubações com nutrientes a partir dos 40 dias aos 60 dias do enviveiramento das estacas sob a orientação técnica de um

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engenheiro agrônomo. A partir do 4° mês, dependendo da estação do ano, faz-se a primeira seleção de mudas, separando-se as mudas em lotes de modo a formar canteiros com mudas de tamanho uniformes. Posteriormente, procede-se a transferência das mudas maiores para o viveiro de aclimatação em plena luz solar, onde permanecem por, aproximadamente, 30 dias, época em que as plantas estarão em média com quatro a cinco pares de folhas, aptas C para o plantio. Fábio Luiz Partelli e José Augusto T. do Amaral, Ceunes/Ufes Henrique Duarte Vieira, CCTA/Uenf

Partelli, Amaral e Vieira apontam vantagens da produção de mudas

Café Conilon e propagação vegetativa

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Estaca preparada para plantio nas sacolas

Cafeeiro Conilon em flor, com aparência saudável

agronegócio do café movimenta aproximadamente 100 bilhões de dólares e emprega direta e indiretamente aproximadamente 500 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo o Brasil maior produtor e exportador. A cultura de café Conilon (Coffea canephora) está concentrada, principalmente nos Estados do Espírito Santo, Rondônia e Bahia, em áreas com altitude de até 500 metros. O cafeeiro Conilon foi observado no estado selvagem entre Gabão e a embocadura do Rio Congo, tendo seu primeiro cultivo

comercial em 1870 no Congo, e os primeiros trabalhos de pesquisa por volta de 1900 em Java. A espécie foi introduzida em Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo no início do século XX, contudo, só passou a ter importância comercial a partir de 1970, na região norte do mesmo estado. Estudos com propagação vegetativa em plantas de café Conilon já haviam sido publicados em 1955, num livro escrito por franceses, porém, essa tecnologia passou a ser utilizada em grande escala no Brasil a partir dos anos de 1990.

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Coluna ANPII

Defesa da FBN ANPII busca estudo conjunto com as entidades que representam o setor de defensivos para evitar que os efeitos benéficos da Fixação Biológica do Nitrogênio sejam neutralizados por técnicas inadequadas de tratamento de sementes

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uso da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um dos mais importantes fatores para o crescimento da área e da produtividade da soja no Brasil. Aliada ao magnífico trabalho de criação de novas cultivares, de todo o arsenal de defensivos desenvolvidos, a FBN se constitui em um fator de elevação da produtividade e

no Brasil. A utilização cada vez mais intensa da semente como veículo de insumos que visam a proteção da planta ou sua nutrição, está sendo feita sem levar em consideração a importância da fixação biológica e isto poderá reduzir os níveis de nitrogênio aportado às plantas, com consequente diminuição da produtividade.

Outra ameaça, embora de menor porte, pois o Mapa tem atuado eficientemente neste caso, é o de produtos biológicos vendidos sem registro. Em especial com o surgimento dos inoculantes para gramíneas, vários produtos começaram a ser comercializados sem o devido registro, o que se constitui em ato lesivo ao agricultor, pois o registro é a

O uso da FBN na cultura da soja é reconhecido internacionalmente de diminuição dos custos de implantação das lavouras. Altamente exigente em nitrogênio, em função de seu elevado teor de proteína, a soja tem o suprimento deste nutriente totalmente fornecido pela fixação biológica, dispensando a aplicação de nitrogênio produzido industrialmente. O uso da FBN na cultura da soja é reconhecido internacionalmente. Em todos os fóruns internacionais, como congressos, work shops, seminários etc, os pesquisadores estrangeiros louvam esta posição do Brasil. Podemos estender este sucesso, ainda, aos vizinhos Argentina, Uruguai e Paraguai, que também utilizam inteligentemente o nitrogênio biológico na cultura da soja. Entretanto, algumas nuvens escuras se apresentam no horizonte, no sentido de, se não inviabilizar, pelo menos reduzir a eficiência da utilização desta ferramenta de fundamental importância na produtividade da soja

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É importante que a pesquisa, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e as empresas produtoras de inoculante se mobilizem para evitar que a FBN, essencial para a competitividade da soja brasileira, seja prejudicada por técnicas que podem ser usadas de outra forma. No caso dos micronutrientes, o uso via foliar é o mais recomendado, não havendo necessidade de sua utilização via semente. Em relação aos fungicidas e inseticidas, seu desenvolvimento deve, obrigatoriamente, considerar a FBN, principalmente tendo em conta que o dano maior, segundo informações de pesquisadores, é devido não ao princípio ativo, mas aos solventes e corantes utilizados na formulação. A ANPII, juntamente com alguns pesquisadores, já procurou contato com as entidades representativas dos produtores de defensivos, com o objetivo de buscar um estudo conjunto para minimizar o problema.

garantia de que o produto passou pelos testes de eficiência agronômica, sendo aprovado para uso. Produtos sem registro, “piratas”, podem causar grandes prejuízos ao agricultor. Desta forma, são necessárias várias ações conjuntas, das empresas de defensivos, da pesquisa, do Mapa e das indústrias de inoculantes, para que o trabalho de mais de 50 anos, desenvolvido inicialmente pelos pesquisadores João Rui Jardim Freire e Johanna Dobereiner e que se constitui em um marco da pesquisa e da tecnologia agrícola brasileira, não venha a se perder, prejudicando, assim, o agricultor e a sociedade brasileira. A ANPII está atenta a este assunto, tendo sempre buscado discutir soluções nos diversos fóruns dos quais participa. C

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Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

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Produtividade da agropecuária

crescimento populacional - com taxas em progressiva desaceleração - e a inserção social - com taxas em progressiva aceleração - serão os principais vetores da demanda de produtos agrícolas, nas próximas décadas. Com as restrições físicas e ambientais à incorporação de novas áreas e o aumento da insegurança da produção, por força das mudanças climáticas globais, a grande saída que o mundo dispõe para aumentar a produção - diminuindo o custo dos alimentos e mantendo a renda dos agricultores - é a tecnologia adequada e seu corolário prático, a produtividade agrícola. O progresso da agricultura pode ocorrer devido ao aumento real de preços da produção (ou efeito "relações de troca"), por incorporação de novas áreas agrícolas e por aumento da produtividade. O aumento dos preços reais

ção de seu uso aumentou significativamente a produtividade média dos demais recursos na agricultura, evidenciada pela alta taxa de crescimento da PTF na década de 1990. O estudo do doutor Fuglie revelou três padrões gerais do crescimento da produtividade global: 1. Nos países industrializados, o crescimento da PTF ajudou a compensar um declínio nos recursos empregados na agricultura. No entanto, o crescimento da PTF, de apenas 0,9% a.a durante 2000-07, foi o menor de qualquer década desde 1960, o que pode indicar a necessidade de novos breakthroughs tecnológicos; 2. A dissolução da URSS em 1991 repreResultados sentou um grande choque para a agricultura Os resultados sugerem que a PTF global nos países do antigo bloco soviético. Na década tem acelerado e é responsável por uma parcela de 1990, os recursos agrícolas contraíram-se cada vez maior do crescimento na produção fortemente, com queda significativa na produ-

reduz-se em 1%. Cada vez mais temos que pensar o agronegócio brasileiro sobre o pano de fundo do comércio agrícola internacional, porque a vocação do nosso país é ser protagonista neste mercado. Por este motivo, interessou-me um estudo realizado pelo doutor Keith Fuglie, do ERS/USDA, publicado em setembro de 2010. O pesquisador calculou a PTF de 15 países, com estudos específicos para algumas regiões, permitindo extrapolar os valores para o restante dos países. O modelo fornece uma medida do crescimento da PTF agrícola ao longo do tempo para cada país, região e para o mundo.

A produtividade guarda estreita relação com a tecnologia (ou melhoria das relações de troca) aumenta o valor da mesma quantidade da produção, enquanto a expansão da área e o aumento da produtividade implicam em crescimento da produção física. A produtividade guarda estreita relação com a tecnologia. Rendimentos mais altos podem ocorrer a partir de intensificação do uso das tecnologias existentes (mais fertilizantes por hectare) ou de uma maior eficiência no uso de insumos em geral (mais produção com o mesmo nível de insumos). Maior eficiência no uso de insumos significa crescimento da produtividade total. Existem diferentes abordagens para analisar a produtividade agrícola. Uma das fórmulas mais adequadas é a medida da produtividade total dos fatores (PTF). Por esta metodologia, a produção obtida é contrastada com os fatores ou insumos utilizados para obtê-la, proporcionando uma visão mais abrangente das necessidades de recursos para produzir os resultados. Por exemplo, o aumento de 1% na PTF significa que se necessita 1% menos recursos ou insumos para obter determinada produção. Por outro ângulo, se os preços dos insumos permanecem inalterados, então o custo médio de produção

agrícola mundial. De acordo com Fuglie, a produção agrícola mundial cresceu aproximadamente 2,2% a.a. entre 1961 e 2007, com uma taxa de crescimento excepcionalmente alta de 2,8% a.a., na década de 1960, e crescimento médio anual entre 2,0% a 2,3% nas décadas seguintes. O aumento no uso de fertilizantes foi o principal fator de crescimento da produção agrícola nas décadas de 1960 e 1970, devido ao uso de variedades de cereais altamente responsivas à adubação, nos países em desenvolvimento (Revolução Verde). O uso de fertilizantes também aumentou consideravelmente na União Soviética durante estas décadas, quando o adubo foi fortemente subsidiado. Mesmo assim, o uso de insumos agrícolas desacelerou-se gradualmente entre 1960 e 2007, enquanto a taxa de crescimento da PTF foi se acelerando, mantendo o crescimento do produto real em pouco mais de 2% a.a. O modelo demonstrou que o uso de insumos na agricultura mundial foi excepcionalmente baixo durante a década de 1990, devido à rápida retirada de recursos da agricultura nos países do antigo bloco soviético. Ocorre que os insumos usados nesses países aparentemente não eram aplicados de maneira eficiente, logo, a diminui-

ção destes países. No entanto, nesta década, já sob um regime capitalista, o uso de recursos agrícolas se estabilizou e o crescimento da produção foi retomado exclusivamente por ganhos de produtividade; 3. Nos países em desenvolvimento a produtividade acelerou-se a partir da década de 1980. A China e o Brasil têm registrado robusto crescimento da PTF nas últimas três décadas. Já em outras regiões como a África Subsaariana, Ásia Ocidental e Caribe, a baixa produtividade agrícola está ligada à pobreza generalizada e conduz à insegurança alimentar. A redução do uso de insumos e o aumento da PTF têm implicações importantes para a oferta adequada de alimentos. A principal alavanca para aumentar o crescimento da PTF é incrementar os investimentos em pesquisa agrícola e transferência de tecnologia. Lembrando que o período de maturação é sempre longo, e que os impactos de novas tecnlogias ocorrem no médio e longo prazos. Portanto, investir agora é a única forma de garantir a segurança C alimentar do futuro.

Décio Luiz Gazzoni

Assessor da SAE/Presidência da República

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Um bom ano fechando e um melhor dá sinais de chegada no horizonte O ano de 2010 começou com temores por parte dos produtores, com momentos negativos, mas ao longo do período ganhou forças e proporcionou ganhos nas principais culturas. Trouxe lucratividade para o setor e demonstrou que, no agronegócio, para ganhar é preciso melhorar sempre, buscando mais qualidade e produtividade, junto com uma boa administração da propriedade, fazendo com que mesmo que em alguns momentos se ganhe menos por saca colhida, o aumento do número de sacas que se colhe resulte em ganhos crescentes no quadro geral. Houve turbulências que vieram de fora, com forte presença da China como grande compradora de alimentos e que continuará atuando forte em 2011, fazendo com que as cotações dos alimentos avancem ou pelo menos se mantenham em níveis lucrativos. O clima foi e continuará sendo fundamental para o setor, mostrando uma nova seca na Europa, estiagem e depois inundações na Ásia, com indícios de que continuará trazendo problemas para alguns e ganhos para outros. O momento é de La Niña na América do Sul, o que pode ainda trazer impactos no começo do ano para pontos do sul da região, principalmente a Argentina, e desta forma fortalecer o apelo positivo para as cotações. Isso demonstra ao setor que o momento é de reflexão. É importante perceber que os produtores estão adotando ações mais eficientes e acompanhando a evolução, porque não dá mais para ficar somente olhando para o céu e esperando. Estamos entrando num novo ano e tudo indica que será bastante favorável aos produtores, com demanda crescente, cotações atraentes e lucratividade. O horizonte de 2011 nos dá sinais que tende a ser melhor do que o ano que está indo embora. MILHO

Leilões limitam maiores avanços

O mercado do milho teve um segundo semestre de crescimento das cotações, fortemente apoiado pelo mercado internacional comprador, com pregões de PEP da safrinha criando um corredor de exportação e coincidindo com aumento das intenções de compra no mercado internacional e avanço na demanda neste final de ano para atender ao crescimento do setor de ração. Com isso as cotações cresceram forte, passaram de níveis de R$ 13,00 por saca pagos aos produtores do Sul do país no primeiro semestre para níveis de até R$ 23,00 por saca (ou acima) praticados neste final de ano. Agora, para não deixar os indicativos avançarem ainda mais, o governo (através da Conab) lançou mão de pregões dos estoques oficiais, servindo de apelo para conter os novos ajustes que poderiam ocorrer. O mercado está chegando ao final do ano com boas cotações e pouco fôlego para mudanças. Com a safra plantada e indicativos de queda de área, há boas expectativas de mercado para 2011. soja

Flutuando entre boas e excelentes cotações

A soja se encaminha para o encerramento de mais um bom ano, fechando os negócios entre boas e excelentes cotações, com um grande volume da safra nova já negociada, com preços lucrativos e boas

expectativas de fechamentos para o produto que resta (e que normalmente é comercializado a partir da colheita). Há pouco grão livre para ser negociado neste momento e desta forma o produto continua com valores acima do mercado internacional. Os vendedores formam os preços, mantendo o quadro de descasamento entre o mercado interno (que paga mais para atender à demanda de farelo e óleo) e o mercado externo, que vem sendo abastecido pelo grão dos EUA (que teve a colheita nas últimas semanas e segue com as negociações até janeiro, quando normalmente diminui o ritmo dos negócios por lá e volta-se para a América do Sul). Estamos fechando um plantio próximo dos 24 milhões de hectares contra os 23,2 milhões de hectares plantados no último ano e para tudo fechar bem, basta que tenhamos o clima favorável, como o registrado até o final de novembro. feijão

Fechamento de ano e queda na demanda

A movimentação de feijão neste momento de fechamento de ano é pequena e coincide com a entrada da safra de São Paulo e de parte do Paraná, além de algumas sobras da terceira safra do Brasil Central. Desta forma o mercado seguirá mostrando pouco espaço para reação e acomodação na linha de baixo, típico do período de fraca demanda. Assim,

poderemos ver os indicativos voltarem aos patamares de preço mínimo e até abaixo. Mas houve excelentes momentos neste ano, que novamente devem ocorrer em 2011, quando a demanda tende a crescer e favorecer a recuperação das cotações. arroz

Ofertas superam demanda e calmaria

O arroz teve um ano quase linear, fazendo o setor perceber que para conseguir ganhar sempre é preciso continuar avançando em busca de mais produtividade e melhor qualidade, porque há espaço para isso e os orizicultores que já vêm colhendo níveis acima das oito toneladas por hectare (com custos semelhantes aos daqueles que colhem de cinco a seis toneladas por hectare) conseguem vender mais barato e ter ganhos. Isso ocorreu neste ano e trouxe dificuldades para as cotações saltarem para a casa dos R$ 30,00 por saca no Rio Grande do Sul (nível sonhado pelos produtores e que não foi atingido, porque as vendas de balcão eram constantes e as indústrias não conseguiam repassar avanços nas cotações do fardo, segurando todo o segmento com níveis estabilizados). Os sinais são de pressão de venda das sobras já no começo do ano para liberar espaço nos armazéns do Sul para receber a grande safra que desponta no horizonte. Com a forte queda na área e na produção dos estados centrais, a safra brasileira vai ficar restrita à oferta do Sul do país.

CURTAS E BOAS TRIGO - A safra colhida neste ano foi uma das melhores dos últimos anos, resultando em boa produtividade e qualidade, com mais de cinco milhões de toneladas. Esse cenário deixou os moinhos em posição de conforto, comprando somente dentro das necessidades e desta forma dificultando a reação no mercado nacional. Mesmo com o trigo importado sofrendo forte alta em boa parte do ano, poucos reflexos ocorreram internamente, porque a comercialização continua atrelada a poucos compradores, O governo pouco fez pelos produtores, somente agora no final do ano realizando pregão de PEP para dar liquidez à exportação e poder criar condições de ganhos aos triticultores (que reclamam que os preços são compensadores, porém, falta liquidez na hora que necessitam de caixa). Mesmo assim o panorama segue com boas expectativas para os próximos meses. algodão - O mercado deu lucros aos produtores neste ano. Agora caminha para um crescimento de safra e mostra bom movimento na exportação de 2011. Já há negócios para entrega na exportação nos anos seguintes, sinalizando que caminha para um bom ano novo. eua - A safra foi comprometida pelo clima, com perdas na colheita geral de grãos, enquanto tudo aponta que haverá crescimento importante no consumo interno em todos os setores, desta forma trazendo apelo positivo para o mercado mundial. O aumento seguirá no etanol do milho, que de janeiro em diante passará para o E15, e também crescerá no biodiesel. Some-se a isso o aumento no consumo de ração, forçando os principais grãos para cima e favorecendo os principais países exportadores. china - As importações seguem crescentes e mesmo o país sofrendo com inflação e mostrando sinais de que irá atuar forte para controlar os preços internamente, continuará comprando grandes volumes no mercado internacional para atender

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às necessidades crescentes do país, que cresce mais de 10% ao ano e não mudará o ritmo em 2011. Antes as compras se concentravam na soja e agora terão que comprar montanhas de milho para atender às necessidades crescentes de ração, que avançam rapidamente e devem romper a marca das 200 milhões de toneladas em 2012. índia - Os compradores locais avançam no mercado internacional de óleo de soja e demais óleos vegetais e devem continuar fortes em 2011. Com expectativa da presença destes compradores para algumas outras commodities. Estima-se que voltarão a vender açúcar, porque a safra nova deverá se recuperar e assim podendo retornar a exportar (mas não conseguindo atender aos mercados que já foram seus e que foram tomados pelo Brasil). O consumo local de alimentos está crescendo no mesmo ritmo que cresce a economia, acima dos 8% ao ano e, desta forma, com mais de 1,1 bilhão de pessoas, certamente estará atuando para grandes importações de alimentos em pouco tempo. O país tem sido prejudicado pelas mudanças climáticas com perdas ano a ano. argentina - A safra nova caminha para crescimento do milho e queda na produção de soja, com riscos de sofrer com o La Niña no começo do ano e boas expectativas de venda na exportação, porque negociou com a China um canal de exportação do milho, que pode chegar a cinco milhões de toneladas já neste próximo ano e desta forma desovando todo o crescimento previsto na nova safra portenha. biocombustíveis - No ano de 2011 o setor deve ganhar destaque internacional, com apelo americano, que passará a misturar mais biodiesel no diesel e entrará na era do E15, ou seja, 15% de etanol na gasolina. A Argentina estará usando biodiesel no diesel em volume crescente, países europeus crescerão forte nestas misturas e veremos a Ásia entrando forte neste novo segmento da agricultura, que certamente dará forte apelo positivo para as cotações dos principais grãos.

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