Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 140 • Janeiro 2011 • ISSN - 1516-358X Editorial
F
echamos 2010 com saldo positivo no agronegócio brasileiro, principal pilar de sustentação da balança comercial do País. Turbulência econômica internacional, adversidades climáticas, câmbio e o cenário de incertezas, tradicional em anos eleitorais, não foram suficientes para ofuscar o crescimento do setor, cujas exportações extrapolaram os U$$ 70 bilhões. Na área fitossanitária os desafios também não foram poucos. Surgimento de novas doenças, migração de pragas entre as culturas, nova dinâmica de ataque de insetos e exigências de manejos diferenciados marcaram a batalha nas lavouras em 2010. Assuntos que ocuparam as páginas da Cultivar, sempre atenta aos problemas que afetam os produtores brasileiros. Nos esmeramos para levar
Índice Como enfrentar o arroz-vermelho Manejo diferenciado contra insetos no milho
ao leitor, de forma rápida e atualizada, informações técnicas de qualidade, que pudessem ser utilizadas de forma prática e eficiente nas propriedades rurais brasileiras. Esperamos ter atingido, mais uma vez, este objetivo. Vislumbramos em 2011 um cenário bastante promissor para o agronegócio. Desafios certamente surgirão, mas temos a certeza de que serão enfrentados com bravura e obstinação pelos profissionais da agricultura, que fazem este País caminhar a passos largos para se firmar como maior produtor e exportador de alimentos. A você, leitor, fica o compromisso de estarmos mais uma vez ao seu lado, atentos às informações fitossanitárias que movimentam o setor. Ótima leitura, e que venha 2011!!!
Expediente 06 12
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
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Gilvan Dutra Quevedo Cristiano Ceia
• Revisão
Aline Partzsch de Almeida
Espaçamento e volume de calda na ferrugem da soja Mofo branco em soja
20 26
Efeitos do La Niña em soja
CIRCULAÇÃO • Coordenação
Simone Lopes
• Assinaturas
Letícia Gasparotto Ariani Baquini
• Secretária
Rosimeri Lisboa Alves
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
A hora de plantar milho
Pedro Batistin Sedeli Feijó
• Editor
• Design Gráfico e Diagramação
Nematoides em soja
• Vendas
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
32 34
Percevejos em algodão
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Ferrugem alaranjada em cana
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Controle de cercosporiose em café
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.s
Arroz
Concorrente vermelho
Distribuído em mais de 50% das áreas orizícolas do Sul do Brasil, o arroz-vermelho é um dos principais desafios enfrentados pelos produtores de arroz. Por competir por nutrientes e luz, esta planta daninha provoca severos danos à produtividade da cultura. O uso de sementes de qualidade é o primeiro passo para prevenir o problema. Além disso, o agricultor tem à disposição uma série de ferramentas que, adotadas conjuntamente, atuam de forma eficiente contra a invasora
O
arroz-vermelho está distribuído em mais de 50% das áreas orizícolas do Sul do Brasil e é considerado uma praga na cultura do arroz por um conjunto de fatores que dificultam seu controle e resultam em elevado prejuízo financeiro aos agricultores. A competição por nutrientes e pela luz é o principal motivo que provoca a redução da produtividade. A capacidade de se perpetuar no ambiente pelo efeito conjunto da produção de grãos, da alta debulha (pode atingir 100%) e da dormência prolongada das sementes (germinação e emergência se distribuem ao longo dos anos) confere a esta invasora o status de ser um grande problema na orizicultura mundial. Adicionalmente, cita-se a pequena aceitação do consumidor por grãos
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com pericarpo vermelho e a dificuldade e prejuízos causados na operação de beneficiamento. A redução na produção da cultivar concorrente com o vermelho depende de vários fatores, onde se incluem a época de emergência e a população da planta daninha na área, a habilidade competitiva da cultivar, o manejo da água e do nitrogênio, entre outros, como citado por Fischer e Ramirez (1993), Marchezan (1994) e Fleck e colaboradores (2008). Também contribuem com os prejuízos causados por esta planta daninha o fato de pertencer à mesma espécie do arroz cultivado (o que limita o controle químico), as suas características de crescimento (distribuição de raízes, crescimento de colmos e florescimento), as exigências nutricionais semelhantes, ocorrendo em
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momentos praticamente simultâneos entre o arroz cultivado e o daninho. Quando não controlado, o arroz-vermelho tem a possibilidade de produzir anualmente grande quantidade de sementes viáveis, “abastecendo” o banco de sementes do solo (Avila et al., 2000). Alguns estudos indicam que em áreas de cultivo sucessivo de arroz irrigado, principalmente com a mesma cultivar ou cultivares geneticamente semelhantes, como é o caso da maior parte das cultivares atualmente disponíveis aos produtores, é comum ocorrer o aparecimento de plantas de arroz-vermelho muito parecidas com as da cultivar predominante. Como exemplo, cita-se a identificação de plantas de arroz-vermelho com estatura mais baixa e grãos mais longos, próximo da dimensão
das cultivares predominantes, que tem ocorrido com frequencia nos arrozais do Sul do Brasil. Isto é atribuído pela seleção natural de plantas, mas também pelo fluxo gênico entre a cultivar e a planta daninha (Magalhães et al, 2001). Recentemente, no Rio Grande do Sul, Roso et al, 2010 verificaram que a maior parte do arroz-vermelho resistente a herbicidas em uso na tecnologia ClearField (inibidores da ALS) é proveniente do cruzamento entre a praga e a cultivar Irga 422 CL, que foi a primeira com esta tecnologia no Brasil.
Sucesso no manejo
A recente publicação da Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai, 2010) elaborada pela Comissão Técnica do Arroz Irrigado (CTAR) agrega um conjunto de práticas de manejo para controle de arroz-vermelho. É difícil uma adoção simultânea de todas as práticas de manejo disponíveis, diante das dificuldades operacionais a campo e as diferenças regionais dentro dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Pelas várias características do arroz-vermelho, é muito difícil que uma solução isolada resolva este problema nas lavouras. Para reduzir consistentemente os danos causados por esta planta daninha, deve haver decisões gerenciais de planejamento das áreas, seguidas de ações taticamente precisas, baseadas no conhecimento técnico e prático do manejo. A principal prática a ser empregada no combate ao arroz-vermelho é o uso de sementes de arroz sem a presença desta planta daninha. Isto praticamente não apresenta custo adicional ao produtor e é necessário considerar que a principal forma de introdução de novas plantas daninhas nas áreas cultivadas é pela contaminação das sementes (de baixa qualidade) do próprio arroz, utilizadas na semeadura. O manejo de arroz-vermelho, portanto, começa pelo bom estabelecimento da lavoura, com sementes de alta qualidade e sem a presença de grãos desta praga. Esta é uma medida de prevenção, que evita a entrada da praga na lavoura. No sistema de implantação de culturas no preparo convencional, o uso de gradagens sequenciais (normalmente entre agosto e a época de semeadura) permite eliminar alguns fluxos de emergência do arroz-vermelho. Ainda, esta forma de cultivo do solo pode permitir a semeadura direta com cultivo mínimo, pois diminui a presença de palha e estimula a germinação de “camadas” de espécies daninhas do banco de sementes do solo. Estas infes-
tantes que emergem antes da semeadura do arroz podem ser controladas facilmente com dessecante. Após a colheita do arroz, o preparo das áreas corrige os rastros do maquinário utilizado na colheita, favorece a drenagem no outono-inverno, contribui para reduzir o desenvolvimento de gramas estoloníferas neste período e colabora no estabelecimento de espécies forrageiras ou plantas de cobertura do solo. Porém, o enterrio da palha na “pós-colheita” pode contribuir para aumentar o banco de sementes de arroz-vermelho, mesmo que outros benefícios sejam obtidos com esta prática. Caso haja arroz-vermelho na lavoura de arroz, recomenda-se manter a palha na superfície no período de inverno para aliviar, mesmo que parcialmente, a infestação na próxima safra. Sementes enterradas se conservam por mais tempo do que aquelas presentes na superfície do solo.
Semeadura direta e cultivo mínimo
A semeadura direta de arroz sob a palha da cultura do verão anterior reduz gramíneas anuais infestantes, pois o não revolvimento e a cobertura do solo diminuem a germinação das sementes destas plantas. Contudo, ocorrem algumas dificuldades no controle do arroz-vermelho na semeadura direta do arroz, especialmente em áreas de infestação elevada. Isto ocorre quando houver um período relativamente longo entre a dessecação da cobertura vegetal de inverno e a entrada
Figura 1 - Coleta outonal de solo (1999, 2000 e 2001) com avaliação do número de sementes viáveis por metro quadrado em diversas profundidades (cm), após colheita do arroz (1998/99) e dois anos sem arroz e com pastejo animal. Marchezan et al., 2003 Profundidades 0-1 1-5 5-10 10-15
1999 1139 a 203 b 65 b 42 b
2000 16 b 65 a 51 ab 20 ab
2001 1.5ns 17 15 6.5
de água (que atua como barreira física) na lavoura após a emergência do arroz. Este período, quando superior a 20 dias (geralmente o é), permite que a invasora se estabeleça e interfira com o arroz. Neste caso, o revolvimento do solo na semeadura é o principal fator que contribui para a germinação do arroz-vermelho. Diversos estudos evidenciaram que plântulas de arroz-vermelho emergem do solo de forma diferenciada, em função da profundidade e do período de tempo em que se encontram no mesmo, e que a viabilidade e a presença dos grãos de arroz-vermelho reduz, na medida em que aumenta o intervalo sem cultivo de arroz (Noldin et al, 1999; Avila et al, 2000; Gealy et al, 2000; Vidotto e Ferrero, 2000; Marchezan et al, 2003). Esta redução do banco de sementes de arroz-vermelho se dá devido à exposição dos grãos às intempéries, proporcionando-lhes condições adequadas à germinação, à perda de viabilidade e ao consumo por animais (Figura 1). Estes fatos diminuem o potencial de
Quando mal manejado o arroz-vermelho produz anualmente grande quantidade de sementes viáveis, "abastecendo" o banco de sementes de plantas daninhas no solo
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Figura 2 - Redução de plantas de arroz e de arroz-vermelho com aplicações de glifosato Figura 3 - Número de plantas de arroz-vermelho (m2) na pré-colheita do arroz em função de na fase de ponto-de-agulha do arroz (Mariot e Menezes, 2009) tratamentos (1, 2 ou 3 anos) com lâmina de água na entressafra (Fogliatto et al, 2010)
sementes aptas a renovar a população de plantas de arroz-vermelho para a safra seguinte (Marchezan et al, 2003)
Dessecação no ponto-de-agulha
A dessecação no momento do pontode-agulha do arroz é uma alternativa adotada por produtores para reduzir a presença de arroz-vermelho em áreas com elevada infestação. Trata-se do uso de herbicida dessecante logo após o início da emergência do arroz (fase de ponto-de-agulha). Esta fase, em média, ocorre entre quatro e seis dias depois da semeadura da cultura e proporciona avanço no controle de arroz-vermelho (Mariot & Menezes, 2009) e pode auxiliar no controle de outras espécies daninhas resistentes a herbicidas. A dificuldade está em identificar adequadamente esta fase, pois um eventual erro de avaliação pode reduzir significativamente a população e a produtividade do arroz, sendo de fundamental importância o acompanhamento da emergência da lavoura (Figura 2). Em áreas onde já se verificou a presença de arroz-vermelho e de capim-arroz resistente a herbicida do grupo dos inibidores de ALS, o emprego de dessecante na préemergência do arroz é uma prática que colabora para minimizar o problema. No caso de áreas de baixa infestação desta praga, é viável a opção pelo Arranquio Manual (roguing), no momento em que as invasoras sejam facilmente identificáveis, ou atinjam a fase reprodutiva (antes da maturação e debulha). Em áreas da tecnologia ClearField®, com a possibilidade do escape de populações de arroz-vermelho resistentes (fato já relatado por Menezes et al, 2009), o roguing deve ser uma prática obrigatória para que os produtores possam manter o uso deste sistema por um período de tempo maior, e para evitar a dispersão deste biótipo resistente.
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Uso da barra química
É um método empregado em alguns países para complementar o controle de arrozvermelho, objetivando-se assim reduzir a produção de sementes da planta daninha em áreas infestadas. O método consiste na passagem de uma barra com cordão, que é embebido com herbicida não seletivo de ação sistêmica, e entra em contato com as folhas superiores do arroz-vermelho. O fato negativo nesta prática é que o controle atinge apenas as plantas de arroz-vermelho, cuja altura supere a da cultivar. Plantas de altura semelhante a do arroz cultivado devem ser retiradas manualmente da área.
Sistema pré-germinado de semeadura e transplante de mudas
Os sistemas de semeadura em solo
inundado com sementes pré-germinadas e transplante de mudas em áreas sistematizadas, são alternativas eficientes para a supressão e controle do arrozvermelho em arroz irrigado (Sosbai, 2010). Devido às características no preparo do solo e a entrada antecipada de água para formação da lâmina definitiva para a semeadura, é importante que o solo esteja bem nivelado, facilitando desta maneira a manutenção de uma lâmina de água uniforme, o que reduz a germinação das sementes das plantas daninhas até a semeadura do arroz pré-germinado. Após a semeadura ou o transplante das mudas, deve-se manter o solo saturado ou com lâmina de água, o que impede a germinação das sementes localizadas sob
A alta debulha, que pode chegar a 100%, é uma das características do arroz-vermelho
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a superfície do solo (Petrini e Fagundes, 2008; Sosbai, 2010). As práticas culturais no sistema de transplante de mudas, como o manejo do solo, da água e de colheita, assemelham-se àquelas utilizadas no sistema pré-germinado (Franco e Petrini, 2002). Algumas pesquisas relatam que a manutenção de lâmina de água durante um ou mais invernos pode reduzir a população de arroz-vermelho na safra sucessiva (Figura 3). Possivelmente isso ocorra devido ao efeito da água ou pela presença de animais, que podem contribuir com a redução desta praga.
Controle biológico
O uso de marrecos-de-pequim no período de entressafra do arroz – tecnologia utilizada há milhares de anos na produção de arroz chinesa – e da rizipiscicultura na safra e entressafra, são formas de controle biológico de plantas daninhas (Epagri, 1992). Segundo as recomendações técnicas atuais, o uso de marrecos e peixes no período de entressafra é mais adequado ao sistema de cultivo pré-germinado, devido ao alagamento do solo neste período facilitar a semeadura em lâmina de água (Sosbai, 2010). A eficiência dos marrecos no consumo de sementes de plantas daninhas e principalmente do arroz-vermelho foi constatada por pesquisadores da Epagri que contabilizaram até 339 sementes inteiras de arroz-vermelho no estômago de um marreco. No entanto, esses mesmos pesquisadores citam que a eficiência em reduzir a população de arroz-vermelho ocorre na superfície do solo, com menor consumo de sementes quanto mais profundas estiverem no perfil do terreno. Em outro estudo, Eberhardt et al, (2003) obtiveram mais de 90% de redução nas sementes de arroz-vermelho na superfície do solo em apenas 27 dias da presença de marrecos após a colheita. Os animais podem entrar diretamente na “soca” do arroz, sem preparo do solo, diminuindo os riscos de incorporação das sementes daninhas, contribuindo assim para o sucesso da ferramenta.
Sistema ClearField®
A disponibilidade de cultivares de arroz tolerante a herbicidas que atuam na inibição da enzima ALS – Tecnologia ClearField®, proporcionou aos produtores de arroz o controle seletivo do arrozvermelho. O gene que codifica para esta característica foi obtido na Universidade de Louisiana (EUA), inicialmente através
de mutação natural e, após, por mutação induzida e transferida para cultivares e híbridos comerciais através de cruzamentos dirigidos dentro de Estações Experimentais (hoje, no Brasil, as empresas Embrapa, Epagri, Irga e RiceTec possuem materiais com esta tecnologia disponíveis aos produtores). A tecnologia ClearField® para o controle de arroz-vermelho foi rapidamente difundida e estima-se o uso em mais de 50% da área orizícola do Rio Grande do Sul (Irga, 2008). O uso dos herbicidas registrados para esta tecnologia proporciona mais de 98% no controle seletivo de arrozvermelho. Alguns produtores têm adotado dividir a aplicação do herbicida, sendo uma
parte em pré e outra em pós-emergência, quando a planta de arroz-vermelho atingir o estádio de três a quatro folhas. Em aplicações mais tardias, a eficiência diminui mesmo que a dose seja aumentada (isto pode incrementar a fitotoxicidade às plantas do arroz). Segundo Sosbai (2010), um aspecto negativo da Tecnologia ClearField® reside no fato de que os herbicidas registrados podem persistir no solo, e com isto afetar espécies sensíveis, espontâneas ou cultivadas após o arroz, reduzindo a produtividade. Entre as indicações para evitar ou diminuir ao mínimo esta persistência, destaca-se melhorar a drenagem das áreas de cultivo desta tecnologia, ao mesmo tempo em que se realiza o preparo do solo,
histórico
A
presença de arroz-vermelho como planta daninha na Europa remonta de mais de 200 anos, quando o botânico Giovanni Biroli (1807) relatou em Del Riso: Trattato economico-rustico, que plantas de arroz nascidas e desenvolvidas uniformemente junto com as demais, eram “atacadas no início da maturação por uma doença desconhecida, na ráquis e nos grãos, favorecendo a debulha destes com uma leve brisa ou mesmo com o próprio peso”. Esta citação lembra a conhecida doença – brusone, que já era presente no século 19. Porém, cita o professor Biroli, “que esta doença favorecia a debulha, causava perdas superiores a 50% da produção, quando então se realizava a colheita”. Ainda relata o autor, que “mesmo depois de dois anos sem o cultivo do arroz naquela área anteriormente infectada, plantas oriundas daqueles grãos debulhados apresentavam este mesmo comportamento”. Cita que “nas áreas de cultivo mais próximas às estradas onde as carroças transportavam o arroz é que iniciava a primeira ’infecção’ das lavouras”. Com estas oportunas informações, este professor de botânica da Università Degli Studi di Torino (Itália) relata, possivelmente, umas das primeiras observações, senão a primeira, sobre a presença deste arroz daninho, suas características como a debulha, o acamamento e a dormência e que ainda hoje atormentam técnicos e produtores de arroz de todo o mundo. Nos Estados Unidos, a pesquisadora Judith Carney (2000) relata o cultivo do arroz-vermelho com água da chuva, no estado da Carolina do Norte em 1709,
porém, tratava-se possivelmente de outra espécie de arroz cultivado (Oryza glaberrima Steud.) cujo centro de origem é atribuído na região oeste da África (Pereira, 2004). O pesquisador David R. Gealy (USDA) cita dois momentos do século 17 que abordam o início da problemática do arroz-vermelho naquele país. O primeiro, em 1846, quando houve a primeira constatação de arrozvermelho no cultivo de arroz (Washington Allston) e o segundo, em 1898, quando o botânico e professor da Universidade de Louisiana, Willian Rufus Dodson, descreveu, pela primeira vez em um boletim técnico, as características e dificuldades impostas pelo arroz-vermelho (Gealy et al, 2000). Os produtores, na época, já identificavam as plantas de arroz-vermelho no campo, que produziam muitos perfilhos, as panículas eram mais abertas e com menor número de grãos em relação a outras cultivares, além de que, as características de emergência desuniforme no tempo eram negativas na infestação das áreas. Além disto, os produtores sabiam da necessidade de não semear arroz por algum tempo na área quando a presença desta planta daninha era elevada. No Brasil, segundo o pesquisador da Embrapa José Almeida Pereira, o arroz-vermelho como alimento (culinária) foi o primeiro tipo de arroz a aportar em nossa terra, em 1535, trazido pelos portugueses, mais precisamente para a Bahia. Já o arroz branco somente chegou ao País em 1765, no Maranhão (Pereira et al, 2004). Quanto à presença desta planta daninha no Brasil, os relatos são recentes e todos a partir do século 20 no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
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José A. Noldin (Epagri)
sistema de implantação de culturas com a semeadura direta, pois com o mínimo revolvimento do solo é possível minimizar a emergência do arroz-vermelho. Embora nem todas as áreas arrozeiras facilitem a implantação de cultivos de sequeiro, com a adequação do solo e o planejamento criterioso da drenagem, tem-se possibilitado o aumento desta prática. A cultura da soja, neste sentido (especialmente cultivares resistentes ao glifosato), tem oferecido um eficiente controle do arroz-vermelho nas terras baixas.
Considerações finais
Marrecos-de-pequim ocupando quadro de lavoura de arroz
que proporciona condições de degradação do produto na entressafra. Quanto ao manejo da água após aplicação em pósemergência, a Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado recomenda que a formação de lâmina permanente de água até o terceiro dia após a aspersão do herbicida, para proporcionar o melhor controle. Por decorrência, o atraso na irrigação diminui a eficiência final. A manutenção desta tecnologia é dependente do uso de sementes de qualidade, do eficiente controle do herbicida (escapes devem ser eliminados) e é desejável que as áreas não sejam cultivadas mais de dois anos em sequência ou até mesmo de apenas um ano de arroz CL se houver produção de sementes em escapes de arroz-vermelho. Estudos realizados na Universidade Federal de Santa Maria mostram que com o retorno do uso de cultivar convencional em áreas anteriormente cultivadas com arroz CL (Grohs et al, 2007, pode ocorrer novamente o incremento na população de arroz-vermelho (Figura 4), devido à elevada infestação dos solos, se algumas práticas complementares não forem agregadas. O uso da cultura da soja, do milho ou do sorgo, pode auxiliar a reduzir a população de arroz-vermelho das áreas de arroz, sendo indicado inclusive como ferramenta para reduzir o banco de sementes do solo com uma destas culturas no sistema convencional de cultivo, antes de começar o uso de arroz ClearField®.
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Rotação de culturas
A rotação de culturas é uma ferramenta para o produtor reduzir a infestação do arroz-vermelho nas lavouras de arroz. A eficiência da rotação de culturas é ligada principalmente ao uso dos herbicidas indicados para estas culturas, que controlam o arroz-vermelho. Vários estudos mostram o benefício da rotação de culturas em reduzir o banco de sementes de arroz daninho no solo. No retorno do arroz, recomenda-se adotar o
Embora o arroz-vermelho esteja presente na lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o produtor atualmente dispõe de diversas tecnologias que permitem a mitigação dos danos ou mesmo convivência em níveis satisfatórios do arroz cultivado com esta espécie daninha, reduzindo os possíveis prejuízos econômicos e, em alguns casos, o impacto ambiental derivado da utilização de agroquímicos no controle desta invasora. Contribuíram decisivamente neste contexto, além da capacidade dos produtores de arroz em assimilar tecnologias inovativas, os esforços realizados pelos órgãos de ensino, pesquisa e extensão oficiais e privados vinculados à cultura do arroz irrigado no Sul do Brasil. C André Andres, Embrapa Clima Temperado Università Degli Studi di Torino Giovani Theisen, Embrapa Clima Temperado
Figura 4 - Evolução do banco de sementes de arroz-vermelho no solo em função do planejamento de uso do sistema ClearField de arroz irrigado. Grohs et al, 2007
Sementes de arroz-vermelho por metro quadrado em função da frequência do sistema Clearfield. UFSM, Grahs et al 2007
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Milho
Manejo diferenciado Com o crescimento da oferta e a popularização das variedades de milho resistentes a insetos no Brasil, produtores precisam estar atentos às especificidades desse tipo de tecnologia. É fundamental ter presente que a resistência se refere a espécies-alvo e não a todo o conjunto de pragas que afetam a cultura. O sucesso desses materiais depende, também, da observação das recomendações de órgãos de pesquisa e das empresas detentoras das sementes aliadas às diretrizes legislativas que regulam sua utilização
A
produtividade de milho no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos. Tal aumento pode ser atribuído a diversos fatores como o uso correto de insumos, à melhor genética da semente, ao manejo cultural adequado e ao clima favorável. Maiores produtividades são geralmente alcançadas quando todos ou o maior número possível desses fatores atuam em conjunto. O que muitas vezes não ocorre. Um exemplo disso refere-se ao manejo dos fatores bióticos como as doenças, plantas daninhas e insetos fitófagos. Embora consciente da importância direta destes fatores e até mesmo utilizando medidas para mitigar o problema, não raras vezes deixa-se de atingir os resultados esperados. Particularmente, em relação aos insetos fitófagos, é fácil diagnosticar as razões pela não obtenção da eficiência esperada. O desconhecimento das espécies mais importantes e/ou do nível de dano econômico, daquelas espécies conhecidas, fatalmente leva à adoção de medidas de controle antecipadas ou tardias, comprometendo a tomada de decisão. Em ambos os casos, não há eficácia da medida utilizada e, portanto, ocorrem perdas na produtividade. E com certeza haverá adicionalmente aumento no custo de produção. Tais problemas podem ser agravados pelo uso de novas medidas de controle, seguindo o mesmo padrão anterior. Ou seja, aplicações sem critérios técnicos. Apesar da oferta de estratégias adequadas para o manejo das pragas da cultura do milho, ainda existe dificuldade de implantação de programas de manejo integrado. Por exemplo, a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (mesmo com o grande avanço nas pesquisas para seu correto manejo) ainda causa
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elevados prejuízos ao agricultor. Controles químico ou biológico podem ser utilizados com eficácia, desde que sejam aplicados na época adequada. Esse período tem sido bem determinado através do monitoramento de adultos da praga, pelo uso de armadilha contendo feromônio sexual sintético. Resultados obtidos na Embrapa Milho e Sorgo mostram a presença constante da praga em áreas de plantio de milho em diferentes regiões produtoras e com incidência maior na fase inicial de desenvolvimento da planta. Ou seja, o ataque pode ocorrer a partir de uma lavoura jovem, onde as plantas apresentam pouca área foliar. Área onde não se faz o monitoramento através da armadilha de feromônio, logo após o plantio ou mesmo quando realizado de maneira adversa, porém sem planejamento e/ ou sem a técnica apropriada, geralmente leva à utilização de uma medida de controle tardia e, portanto, de baixa eficiência.
Cultivares transgênicas
A oferta de milho transgênico no Brasil já ultrapassa 100 cultivares. Os materiais voltados para o controle de insetos são resultantes de três eventos básicos, sendo a maioria com o evento MON 810, marca registrada Yieldgard, seguido por cultivares contendo o TC 1507, marca Herculex I e por cultivares apresentando o Agrisure TL, conhecido como Bt11. Todas as versões transgênicas são também comercializadas na versão convencional e, obviamente, apresentam as mesmas características agronômicas, diferindo apenas na característica que lhe é conferida pelo evento transgênico. O principal alvo do milho Bt são os insetos fitófagos dentro da ordem Lepidoptera. As
Fotos Ivan Cruz
sugadores já verificados em outros países serve como alerta para que o produtor esteja atento também no Brasil e tenha conhecimento sobre as tecnologias de manejo, caso sejam demandadas.
Pragas
Orifício de entrada da larva de coró no solo
cultivares da atualidade expressam a toxina Cry 1A(b) (MON 810 e Bt11) ou a toxina Cry 1F (Herculex). Especificamente, o milho Bt é dirigido para a lagarta-do-cartucho; a lagarta-da-espiga Helicoverpa zea (Boddie) e a broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis (Fabricius). Informações finalísticas sobre o efeito dos milhos Bt sobre outras espécies da ordem Lepidoptera, como a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus (Zeller) ainda são necessárias. Como a lagarta-do-cartucho é a principal praga do milho no Brasil, não resta dúvida que a utilização da cultivar de milho Bt, visando esta praga, traz como impacto imediato, a redução das aplicações de inseticidas químicos. Por outro lado, como em toda inovação, o milho Bt não é solução para os problemas relacionados com os insetos-praga. E mesmo para aquelas espécies alvo, para maximizar seus benefícios econômicos, é fundamental seguir as recomendações de órgãos de pesquisa e empresas detentoras das sementes e as diretrizes legislativas que regulam sua utilização. Mais especificamente, cumprir duas regras básicas: a de coexistência, exigida por lei, e a regra do Manejo da Resistência de Inseto (MRI), recomendada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Coexistência - A regra exige o uso de uma bordadura de 100 metros, isolando as lavouras de milho transgênico daquelas de milho que se deseja manter sem contaminação de transgênico. Alternativamente, pode-se usar uma bordadura de 20 metros, desde que sejam semeadas dez fileiras de milho não transgênico (igual porte e ciclo do milho transgênico) isolando a área de milho transgênico. Área de refúgio - As recomendações da CTNBio para o MRI são a utilização de área de refúgio. As indicações são o resultado do consenso de que o cultivo do milho Bt em
grandes áreas resultará na seleção de biótipos das pragas-alvo resistentes às toxinas do Bt. Obviamente, o monitoramento da infestação das plantas também é importante, pois, dependendo do híbrido utilizado e da intensidade da infestação, o produtor pode precisar adotar medidas de controle complementares. No Brasil, para área de refúgio é recomendada a semeadura de 10% do espaço cultivado com milho Bt, utilizando híbridos não Bt, de igual porte e ciclo e, de preferência, os seus isogênicos. A área de refúgio não deve estar a mais de 800 metros de distância das plantas transgênicas. Essa é a distância máxima verificada pela dispersão dos adultos de S. frugiperda no campo. Um dos pontos que devem ser ainda lembrados ao se utilizar as cultivares de milho Bt, diz respeito à quebra da resistência da planta pela praga-alvo. Portanto, devem ser seguidas todas as recomendações técnicas para evitar a evolução de populações resistentes e, desta maneira, alongar ao máximo a vida da cultivar. Outro ponto a ser considerado é a variabilidade entre cultivares quanto à eficiência de controle da lagarta-do-cartucho. Este fato reforça a necessidade do monitoramento contínuo, pois como já salientado a mariposa se faz presente continuamente e, especialmente, no início de desenvolvimento da planta. Como toda inovação, as cultivares de milho contendo tecnologia Bt atualmente têm um custo maior do que as cultivares convencionais. Este maior custo significa que tal semente deve ser bem protegida contra as espécies de inseto não atingidas pela tecnologia. Por exemplo, os híbridos disponíveis não apresentam o efeito desejável sobre corós, larva-alfinete, lagarta-elasmo (insetos mastigadores), percevejos, cigarrinhas, tripes, cochonilhas e pulgões (insetos sugadores de seiva). O aumento na incidência de insetos
Durante toda a fase em que permanece no campo a cultura do milho pode ser atacada por diferentes espécies de insetos fitófagos. Uma espécie, para ser considerada praga-chave, deve estar com densidade populacional com potencial para ocasionar prejuízo igual ou superior ao custo monetário a ser gasto para seu controle. Portanto, o conhecimento da relação entre densidade populacional de uma espécie de inseto fitófago e redução na produtividade é o primeiro e fundamental passo para se planejar corretamente uma estratégia de manejo de um inseto fitófago. O cereal milho, durante seu ciclo de vida no campo, pode ser utilizado como fonte de alimento por aproximadamente 30 espécies de insetos, que devido à semelhança em termos de especificidade de ataque, podem ser considerados em grupos. Do primeiro grupo de insetos, embora reconhecido como importante, pouco se conhece sobre vários aspectos bioecológicos das espécies componentes. Neste grupo se enquadram os insetos de hábito subterrâneo. Algumas espécies podem usar a semente como alimento, eliminando uma possível planta e, portanto, reduzindo muito precocemente o potencial produtivo da área plantada. São pragas severas. Para tais espécies o nível de dano econômico pode ser relativamente fácil de ser determinado. Uma semente danificada é considerada uma planta morta. Outras espécies de hábito subterrâneo alimentam-se das raízes das pequenas plantas
O milho pode servir de fonte de alimento para cerca de 30 espécies de insetos como o percevejo "barriga-verde"
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em desenvolvimento, também ocasionando a morte da plântula pelo efeito direto da alimentação ou por meio indireto, por tornar a plântula atacada sem condições de sobreviver ao longo de seu ciclo de vida. A severidade das pragas subterrâneas pode ser aumentada sempre que haja a presença de mais de uma espécie em uma mesma área cultivada. As espécies de insetos subterrâneos geralmente possuem ciclo de vida longo, podendo chegar a mais de um ano. Passam a maior parte do ciclo biológico no solo e são de baixa mobilidade. Portanto, o conhecimento sobre a ocorrência de tais insetos em anos anteriores é fundamental para decidir sobre o que fazer quando se pensa em cultivar o milho. Deve também ser considerado que tais pragas não são específicas, podendo estar presentes na área, mesmo onde nunca se cultivou o milho, porém, com cultivos de plantas hospedeiras, como pastagens, cana-de-açúcar, trigo, amendoim, soja, entre outras. Uma característica marcante das espécies de hábito subterrâneo é a sua distribuição na área de cultivo. Podem ocorrer de maneira agregada, em manchas à profundidade diferente, dependendo da umidade do solo. Em função desta característica, muitas vezes torna-se difícil, mesmo para a pesquisa, o desenvolvimento de trabalhos com o objetivo de encontrar um método eficiente de controle. Por tais dificuldades, inclusive, não é incomum encontrar variabilidade entre inseticidas no que diz respeito à eficiência de controle para uma ou outra espécie. Por isto, hoje, se busca, por exemplo, um método de controle que tenha efeito médio sobre o maior número possível de espécies, notadamente quando se conhece a distribuição qualitativa das espécies na área-alvo. Os insetos considerados pragas de milho de hábito subterrâneo são reconhecidos como: corós (larvas de besouros, também chamadas de bicho-bolo), cupins, larva-arame, larva-
alfinete (cujo adulto também ataca a parte aérea da planta e nesta fase o inseto é conhecido como vaquinha, vaquinha verde-amarela, nacional ou patriota), larva-angorá, percevejocastanho, percevejo-preto e mais recentemente a cochonilha-de-raiz, aparentemente, com maior incidência em milho Bt, comparado ao milho convencional. Existe grande probabilidade de ocorrência de outras espécies ainda não reconhecidas ou identificadas como pragas de hábito subterrâneo atacando a semente e/ou raízes do milho no Brasil. Descrições sobre as diferentes espécies de insetos fitófagos, bem como sobre os sintomas de danos provocados ao milho durante todo o ciclo da planta, podem ser vistas em http:// panorama.cnpms.embrapa.br/. Onde a presença das pragas subterrâneas é reconhecida pelos agricultores, normalmente se estabelece como estratégia de manejo a utilização de inseticidas químicos no tratamento das sementes. Quando tais pragas não são reconhecidas, o controle não é realizado, em função da impossibilidade de adotar medidas de controle após o plantio do milho. Portanto, o reconhecimento dos sintomas de ataque de tais pragas após a emergência da planta (especialmente falhas no número de plantas por unidade de área) indica perdas na produtividade futura, uma vez que praticamente não se consegue eficiência nos métodos curativos atuais. No passado o controle eficiente e econômico das pragas subterrâneas era obtido com produtos químicos, geralmente inseticidas clorados. Os produtos de ação por contato eram aplicados via pó, nos sulcos de plantio. Tais defensivos não estão mais disponíveis. Atualmente, as opções ainda são baseadas no uso de agroquímicos. Medidas alternativas como o controle biológico ainda precisam ser mais estudadas para as pragas subterrâneas. Atualmente os produtos de maior custo/ benefício em relação às pragas iniciais do milho
A cochonilha-de-raiz é uma praga recente na cultura do milho
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têm sido aqueles utilizados via tratamento da semente. Apesar de haver variações no grau de eficiência de determinado produto em relação às pragas subterrâneas, os resultados de pesquisa relatados por órgãos oficiais de pesquisa mostram o ganho em produtividade quando comparadas áreas tratadas com não tratadas com inseticidas colocados junto à semente por ocasião do plantio. Conforme já salientado, o milho geneticamente modificado para o controle de insetos fitófagos, conhecidos popularmente como milho Bt (uma grande inovação nos tempos atuais, para uso em programas de manejo integrado) não tem mostrado boa eficiência para as pragas de hábito subterrâneo. É possível que num futuro próximo possamos ter uma melhoria nos materiais genéticos ofertados no mercado mundial. Adicionalmente, como para qualquer inovação, a semente do milho Bt tem sido de custo mais elevado do que a semente do milho convencional. Considerando o mesmo potencial produtivo das duas cultivares, o uso de medidas de controle das pragas subterrâneas será importante tanto na área de milho convencional como em cultivo de milho Bt. Talvez até mais importante no milho Bt, em função do maior investimento na lavoura. Embora considerado fundamental como tática de manejo, o tratamento de sementes de milho com inseticida não deve ser olhado apenas com foco nas pragas subterrâneas. Recomenda-se considerar a presença de insetos fitófagos logo após a emergência da planta e a possibilidade de se ter residual do inseticida utilizado via tratamento da semente. Para que isto ocorra há necessidade de se utilizar um inseticida sistêmico, que geralmente também tem efeito de contato. Desta forma, pode se esperar um efeito duplo do tratamento de semente (efeito sobre as pragas de hábito subterrâneo e sobre as pragas que atacam a plântula). A planta recém-emergida de milho é sujeita ao ataque de insetos fitófagos com potencial para provocar a sua morte, à semelhança das pragas de hábito subterrâneo, principalmente pela sensibilidade da plântula. Quando o milho é cultivado sem a proteção devida contra pragas que atacam as plantas recém-emergidas, torna-se necessário o monitoramento constante da área cultivada para se detectar a presença de tais insetos antes que atinjam uma população suficiente para causar danos econômicos. A frequência do monitoramento deve ocorrer de acordo com a praga-alvo. Baixa frequência pode não ser suficiente para se detectar a praga em tempo hábil para tomar uma decisão. Monitoramentos frequentes, por outro lado, aumentam o custo de produção. Logicamente o tamanho da área também é um fator limitante do
Fotos Ivan Cruz
monitoramento, seja devido ao custo ou até mesmo à precisão. As pragas que atacam o milho recémemergido são tanto insetos mastigadores como sugadores. Entre os insetos mastigadores, há destaque para a lagarta-elasmo. Embora sua incidência em milho não tenha sido verificada de maneira generalizada nas áreas de cultivo, é muito frequente em áreas de solos mais leves, especialmente no cerrado. Apesar de ser considerada uma espécie que ataca o milho na superfície, na realidade o inseto ataca o coleto da plântula, na sua base, bem próximo à superfície do solo. Além do mais, o inseto não fica livremente exposto ao ataque de seus possíveis inimigos naturais. Antes de atacar a plântula, a lagarta-elasmo tece um casulo protetor, onde se abriga. Este casulo é acoplado à planta hospedeira. Além da proteção contra os seus inimigos naturais, o casulo serve também de proteção contra a ação direta de uma aplicação de inseticidas via pulverização. Tais fatos sugerem e têm sido comprovados que o tratamento da semente oferece uma proteção adequada durante a fase de suscetibilidade da planta para esta praga. Além da lagarta-elasmo, as espécies de insetos sugadores também podem causar sérios prejuízos ao agricultor caso não sejam utilizadas as técnicas corretas de manejo. A cigarrinha-das-pastagens, especialmente
Larva de coró completamente desenvolvida
quando o milho é cultivado nas proximidades de capim braquiária suscetível à praga, pode migrar para o milho recém-emergido e causar danos elevados. O aumento da incidência desta espécie pode ser ainda maior em milho quando o cultivo está inserido no sistema integrado lavoura-pecuária. Os percevejos mais importantes como pragas de milho são aquelas espécies que migram da cultura da soja ou do trigo. Grande incidência tem sido verificada em milho cultivado na segunda safra (safrinha), muito embora durante a safra também haja incidência destas espécies. Através da alimentação, geralmente da base da plântula, podem aparecer sintomas iniciais que se assemelham à deficiência mineral. A
persistência do ataque pode causar a morte da planta. Perfilhamento também é sintoma do ataque de percevejo. A incidência de tripes tem aumentado no Brasil, tanto no milho convencional como no milho Bt. Insetos diminutos são encontrados logo após a emergência da planta, no interior das folhas ainda enroladas. Amarelecimento e seca das folhas são sintomas de ataque de tripes, tanto pelo adulto como pela fase jovem. A presença do inseto tem sido correlacionada com período de seca, mesmo de curta duração. A lagarta-do-cartucho tem sido muito comum em plantas recém-emergidas. Como a mariposa coloca seus ovos em massa (que pode conter entre 80 e 300 ovos), após a eclosão e antes da migração natural das lagartas, danos severos podem ser verificados na plântula a ponto de causar a sua morte. Excesso de população da praga pode pôr em risco, inclusive, a eficácia de uma cultivar de milho Bt. Considerando a lagarta-do-cartucho a principal praga do milho no Brasil, a escolha correta do tratamento da semente com inseticida sistêmico seria uma maneira, também, de proteger a parte aérea da planta por um C período de alta suscetibilidade. Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo
Soja
Entrave invisível
A incredibilidade por parte de alguns produtores quanto à ocorrência de fitonematoides na área de cultivo ainda é um dos principais motivos da redução de produtividade das lavouras de soja, devido aos danos que causam ao sistema radicular. A identificação do problema através de monitoramento de sintomas nas plantas é o primeiro passo no manejo das pragas. Além disso, o uso de cultivares resistentes ou tolerantes e a rotação de culturas com plantas não hospedeiras são técnicas importantes para o controle
A
falsa medideira (Pseudoplusia includens, Trichoplusia ni), lagarta enroladeira (Omiodes indicata), lagarta das vagens (Spodoptera spp.), broca do colo (Elamopalpus lignocellus) e muitas outras lagartas, ácaros, vírus e percevejos, tornaram-se mais frequentes a cada ano nas diferentes regiões produtoras e seu manejo tem sido um desafio para os técnicos e produtores. Dentre esses desafios os fitonematoides são os que têm causado perdas incalculáveis para os produtores no Brasil e no mundo. Entende-se por “perdas incalculáveis” aquelas que variam de sutis até valores elevadíssimos dependendo do gênero e população do nematoide presente na lavoura. Muitos produtores não acreditam que tenham nematoides patogênicos em suas áreas e somente depois de anos consecutivos da diminuição gradativa da produtividade, do aparecimento de manchas facilmente visíveis (reboleiras) na área com plantas subdesenvolvidas, amarelecidas (cloróticas) ou com clorose, seguida de necrose internerval (folha “carijó” no caso
Dirceu Gassen
soja é uma das culturas que mais contribuíram para o desenvolvimento da região Centro-Oeste do Brasil e também a que mais “emprega” pessoas direta ou indiretamente, a cultura que cresceu como nenhuma outra no Brasil em termos de área cultivada nos últimos anos. Junto com ela cresceu também o número de pragas e doenças que causam danos econômicos à cultura. Até meados da década de 90 não se ouvia falar em aplicação de fungicida na cultura da soja e hoje, principalmente depois do advento da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), o agricultor tem perdas significativas se não proteger sua lavoura com fungicida. Pragas que eram consideradas secundárias, tais como mosca branca (Bemisia tabaci), lagarta
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de nematoide das galhas) e obviamente da identificação dos nematoides nas raízes, é que se toma conhecimento do fato. Outra situação que dificulta a quantificação de perdas é a de que diferentes cultivares têm diferentes graus de tolerância ou suscetibilidade aos diferentes nematoides (gênero, espécie e raças). Associados a esses fatos, existem também outros fatores como o nível de fertilidade, tipo e manejo do solo e distribuição de chuvas. Entre os nematoides de maior ocorrência na região Centro-Oeste, os mais importantes são: nematoide de cisto (Heterodera glycines); nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e nematoide de galha (Meloidogyne spp), respectivamente. Entretanto, em algumas microrregiões do Centro-Oeste o Pratylenchus tem sido encontrado com muito mais frequência que o cisto, além dos níveis populacionais serem muito mais elevados. Quando nos referimos a nematoide na cultura da soja, é comum empiricamente considerarmos somente o nematoide de cisto (NCS) e em alguns casos especificamente a raça 3. No entanto, é muito
Fotos Jose Flávio Silva
Detalhe dos danos causados pelo nematoide Meloidogyne spp ao sistema radicular de plantas de soja
importante que além da identificação do gênero e espécie, devemos também identificar raças e quantificá-las. Em especial para o NCS a identificação de raças é de fundamental importância, porque até pouco tempo a raça que nos preocupava era a 3 e hoje os resultados das análises nos mostram uma frequência muito grande de outras raças como 6, 9 e 14. Segundo dados da Aprosmat num estudo de distribuição de raças para o estado do Mato Grosso, as outras raças que não a 3 somam em conjunto mais de 70% no estado. Este é um fator importante que devemos considerar porque a grande maioria das cultivares resistentes aos NCS são resistentes somente às raças 1 e 3. Os sintomas do NCS na lavoura são clorose, diminuição na quantidade de vagens e pode ou não ocorrer a diminuição no porte das plantas (os sintomas ocorrem inicialmente em reboleiras e pode evoluir para a área toda). Outro nematoide que é um problema crescente para a cultura da soja na região Centro-Oeste é o nematoide de galha. Seus sintomas são diferenciados do NCS e Pratylenchus pela formação de folha “carijó”. Também como ocorrem para todos os outros nematoides, os sintomas são evidenciados em situação de estiagens prolongadas. A ocorrência os e tamanhos das galhas nas raízes variam de acordo com a suscetibilidade da cultivar e do nível populacional do nematoide. As galhas, quando em grande quantidade coalescem e impedem a formação de nódulos e de raízes secundárias. Não temos muitas opções de cultivares de
soja resistentes no mercado indicadas para o Centro-Oeste. Temos ainda o nematoide das lesões
radiculares (Pratylenchus brachyurus), que é hoje o maior desafio para pesquisa pelo grande número de hospedeiros (dificultando seu controle por rotação de culturas). Além da cultura da soja, são também hospedeiras as culturas arroz, milho, milheto, algodão, uma infinidade de outras culturas e plantas invasoras. Normalmente são encontrados níveis populacionais muito elevados e seus prejuízos são mais evidentes em solos arenosos, de baixa fertilidade, bem como nos casos de estiagens prolongadas. Acreditava-se que uma maneira eficiente de manejo seria o revolvimento do solo, no entanto, na prática, pode-se observar que não é tão eficiente pelo fato da sobrevivência em raízes não decompostas e que o revolvimento acarreta em outros prejuízos relacionados ao manejo do solo. Não há relatos de cultivares resistentes ao Pratylenchus, no entanto, existem cultivares que podem ser consideradas tolerantes, principalmente pela capacidade de emitir novas raízes após o comprometimento das raízes primarias. Essa tolerância está relacionada também às condições climáticas, fertilidade do solo e nível populacional do nematoide. O sistema de adubação a lanço em préplantio ou por cima do sulco de semeadura
Ataque de Heterodera glycines, o nematoide de cisto (NCS)
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Fotos Jose Flávio Silva
“Os fitonematoides têm causado perdas incalculáveis para os produtores”, alerta José Flávio Silva
Pratylenchus brachyurus: à esquerda planta coletada fora da reboleira e à direita planta coletada dentro da reboleira
é fator que impede o desenvolvimento das raízes ao longo do perfil do solo, concentrando as raízes na superfície (onde a concentração de nematoides e fungos de solos é grande) e também favorece o aumento da população dos nematoides. Isto faz com que a cultura tolere menos a ocorrência de períodos de estiagens prolongadas e expondo as raízes também à incidência de fungos associados à presença de nematoides. Isso se agrava à medida que os níveis de fertilidade ao longo do perfil do solo forem baixos. Exemplificando, em um solo com os níveis de fertilidade adequados, comparado com um solo de baixa fertilidade, em um mesmo nível populacional de nematoides, os efeitos dos nematoides são menores. Porém, é importante salientar que à medida que os níveis populacionais forem aumentando, até mesmo nos solos de fertilidade adequada, os nematoides começam a causar perdas. As dificuldades de manejo desses nematoides se tornam ainda maiores se considerarmos que em uma mesma lavoura podemos encontrar diferentes gêneros, espécies e raças, visto que não existe ainda uma cultivar resistente ao nematoide das lesões, galha e as diferentes raças de cisto. Dessa forma, aumenta a importância da associação de cultivares resistentes ou tolerantes, rotação de culturas, utilização de espécies de plantas (Crotalaria spectabilis) e produtos químicos que controlam nematoides. O aspecto positivo que deve ser considerado pelos sojicultores brasileiros e principalmente aqueles da região Centro-
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Oeste que enfrentam os maiores problemas com a incidência de nematoides, é o direcionamento constante de trabalhos de pesquisa que objetivam principalmente o desenvolvimento de cultivares resistentes e/ ou com bons níveis de tolerância e também
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químicos que possam auxiliar no controle. Essa combinação, associada ao manejo adequado, poderá sem dúvida reduzir significativamente as perdas causadas pelos C nematoides. José Flávio Silva, Melhoramento Genético Syngenta
Folha carijó: sintoma típico de nematoide das galhas
Soja
Interação importante
Fotos Universidade de Passo Fundo
Na luta para combater a ferrugem asiática estratégias são buscadas para maximizar a eficiência da aplicação de fungicidas. Em experimento conduzido no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, pesquisadores observaram que combinações de espaçamentos entre linhas de 0,50m e 0,60m, com volumes de calda de 125L/ha e 150L/ha, resultaram em menor incidência e severidade da doença, com acréscimo no rendimento de grãos
A
ferrugem asiática da soja, por se tratar de uma doença de grande poder de redução no rendimento, exige máxima qualidade na aplicação do fungicida (Mendes & Cabeda, 2005). Em muitos casos, o simples aumento do volume de pulverização pode não proporcionar o controle eficiente, pois a capacidade de deposição das folhas é limitada, além das gotas grandes tornarem o sistema mais propício à ocorrência do efeito guarda-chuva (Cunha & Ruas, 2006). Atualmente, existe a tendência de se reduzir o volume de calda, com o objetivo de diminuir os custos de aplicação e aumentar a eficiência da pulverização (Silva, 1999). O uso de menor volume de calda aumenta a autonomia e a capacidade operacional dos pulverizadores (Cunha et al, 2005). Estudando efeitos dos espaçamentos de 0,30m, 0,45m e 0,60m entre linhas de soja, no Rio Grande do Sul, (Madalosso, 2006) constatou que o aumento do espaçamento para 0,60m proporcionou redução da intensidade da ferrugem asiática da soja e aumentos importantes no rendimento de grãos, independentemente do uso ou não do
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controle químico com fungicida. Para que uma planta atinja seu potencial máximo de rendimento é necessário que, além de encontrar as melhores condições de clima e água, sofra o mínimo de competição. Estudos de arranjos de plantas com disposições na lavoura permitem minimizar a competição intraespecífica e maximizar o aproveitamento dos recursos ambientais disponíveis. As modificações do arranjo de plantas podem ser feitas por meio da variação do espaçamento entre plantas dentro da linha de semeadura e da distância entre linhas
(Pires et al, 1998). Atualmente, a aplicação de fungicidas para o controle da ferrugem é uma das principais preocupações dos produtores de soja. No momento em que as plantas atingem o grau máximo de desenvolvimento vegetativo, com total fechamento e grande área foliar, as aplicações necessitam da máxima capacidade de penetração na massa de folhas e da posterior deposição, mesmo para a aplicação de produtos com características de ação sistêmica (Antuniassi et al, 2004).
Conjunto aplicador formado por trator de tração 4x2 e pulverizador montado de 600L
O experimento foi conduzido na localidade denominada Posto do Silêncio, distante 40 quilômetros do município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul, onde a altitude está a 430 metros acima do nível do mar. O solo da área apresenta-se profundo, bem desenvolvido, com boa drenagem e enquadrado na classe 3, conforme análise física. O manejo químico da vegetação existente na área, previamente à semeadura foi realizado em 10/11/07 com herbicida (200g/L de dicloreto de paraquate) + (250g/kg de clorimurom-etílico) na dose de 1,0L/ha +
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Material e métodos
0,06kg/ha de produtos comerciais. Foi utilizada a cultivar de soja Syngenta Munasca 8.5 RR, com hábito de crescimento determinado. A adubação foi realizada a lanço, antecedendo a semeadura da soja, com base no resultado da análise química de solo constando de 200kg/ha de monoamônio fosfato (fórmula N-P2O5-K2O 11-52-00) e 150kg/ha de cloreto de potássio (60% de K2O). Imediatamente antes da semeadura, as sementes foram tratadas com o fungicida (carbendazina 500g/L) + (tiram 480g/L) nas doses respectivas de 60ml + 140ml de produto comercial para 100kg de sementes e com o inseticida (fipronil 250g/L) na dose de 0,001L/kg de semente. A semeadura da soja foi realizada no dia 21/11/2007, sob sistema de plantio direto, à profundidade média de 0,05m. A população foi fixada em 3x105 plantas/ha, sendo realizados três espaçamentos diferentes, ou seja, 0,40m, 0,50m e 0,60m. Os tratamentos com o fungicida e o inseticida foram aplicados com os seguintes volumes de caldas: testemunha, sem aplicação de fungicida, somente inseticida; V1 = 50L/ha; V2 = 75L/ha; V3 = 100L/ha; V4 = 125L/ha; V5 = 150L/ha no período das 8h às 9h15min, com temperatura variando de 24oC a 28oC, umidade relativa do ar de 56% a 62% e velocidade do vento de 7km/h a 10km/h nas duas aplicações realizadas. Para aplicar os volumes de 50L/ha e de 75L/ha foram utilizadas pontas de jato plano simples da série Magno 11001, com préorifício, operadas à pressão de 300kPa, gerando gotas de categoria fina. Os volumes de 100L/ha, 125L/ha e 150L/ha foram aplicados utilizando-se pontas de jatos planos com préorifício, da série Jacto LD 110015. A pressão de pulverização foi de 400kPa, gerando gotas de categoria fina e a velocidade do trator foi ajustada em 6,0km/h; 5,0km/h; 4,0km/h para que os volumes de calda aplicados fossem os desejados em cada trata-mento. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com parcelas subdivididas e com três repetições. A parcela principal foi constituída pelos espaçamentos entre linhas
Foram utilizados no experimento três espaçamentos diferentes: 0,60m, 0,50m e 0,40m
de plantas e a subparcela por cinco volumes de calda. As unidades experimentais mediram 9,6m x 13,0m, perfazendo 124,8m2 cada uma, totalizando 54 subparcelas. A área experimental foi monitorada através de visitas semanais, a partir da primeira quinzena de dezembro (estádio fenológico V5). A primeira aplicação dos tratamentos com fungicida foi realizada no dia 13/2/2008, com a soja no estádio fenológico R3 com um IAF (índice de área foliar) 4,0. Utilizou-se fungicida (187g/L de trifloxistrobina + 80g/L de ciproconazol), na dose de 0,30L/ha + óleo mineral na dose de 0,25L/ha acrescido do inseticida (600g/L de metamidofós), na dose de 1,0L/ha. Uma segunda aplicação do fungicida foi realizada dia 15/3/2008, com a cultura no estádio fenológico R5.2 com um IAF 5, utilizando-se os mesmos produtos e as doses da primeira aplicação. Os equipamentos empregados para aplicar os tratamentos nas parcelas foram um trator de tração 4x2 (potência de 85cv) e um pulverizador montado, marca Jacto, modelo Condor AM 12 com capacidade volumétrica de 600L de calda no tanque e com barra de pulverização medindo 12m. Para aplicar os tratamentos foram utilizadas 24 pontas de jatos planos com pré-orifício, da série Jacto LD 110015, espaçadas em 0,50m sobre a barra e mantidas a 0,50m de altura acima do ápice das plantas. A pressão de pulverização foi de 300kPa, gerando gotas de categoria fina (220µm), a velocidade do trator foi mantida em 6km/h e a taxa de aplicação foi de 100L/ha. Utilizaram-se cartões sensíveis à água e ao óleo para verificar a deposição de gotas no
terço superior e no terço inferior da cultura, conforme mostra a Figura 1, que destaca o incremento na deposição de gotas no terço inferior das plantas em função do aumento do espaçamento entre linhas. A ocorrência da ferrugem asiática foi quantificada pela incidência e severidade a partir de V5. Coletaram-se cinco plantas por parcela, das quais foram destacados todos os folíolos centrais dos trifólios da haste principal. Em laboratório, quantificou-se o total de folíolos (NTF) da amostra e deste total foi observado o número de folíolos doentes (NFD), para posterior cálculo da porcentagem de incidência foliolar ((NFD/ NTF) x 100). A severidade foi obtida através de todos os folíolos doentes da amostra (NFD), quantificando-se em cada folíolo o número de urédias/cm-2, equivalente à área sintomática. Os valores de severidade da ferrugem foram integralizados em função do tempo, obtendo-se a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) calculada pela equação descrita em Campbell & Madden, 1990. AACPD = S [((y1 + y2)/2) x (t2-t1)] Onde: y1 e y2 são o número de urédias de ferrugem por cm² de folha, nos tempos t2 e t1; t2 e t1 são as datas de duas leituras de severidade consecutivas. A colheita da soja foi realizada em 1º/5/2008. Os grãos limpos de cada parcela foram pesados, calculando-se a produtividade agrícola expressa em kg/ha com umidade de 13%.
Figura 1 - Porcentagem de penetração de gotas de pulverização e volume de calda medida ao nível do solo em função do espaçamento entre as linhas. Passo Fundo (RS), FAMV/UPF, safra 2007/2008
Figura 2 - Reta de regressão ajustada entre volume de calda (L.ha-1) e a AACPD com base na incidência da ferrugem asiática da soja. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008
Figura 3 - Controle (%) da ferrugem asiática da soja com base na severidade em função do volume de calda (L.ha-1) e sua respectiva equação de regressão. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008
Figura 4 - Rendimento de grãos (kg.ha-1) de soja, cultivar Syngenta Munasca 8.5 RR conduzido com espaçamento de 0,6m entre linhas em função do volume de calda utilizado na aplicação do fungicida trifloxistrobina + ciproconazol. Passo Fundo (RS), safra 2007/2008
Os dados foram submetidos à análise de variância ao nível de 5% de probabilidade de erro. Quando encontradas diferenças significativas entre os tratamentos, foi usado o teste de Duncan também a 5% de probabilidade de erro.
Resultados e discussão
A Figura 2 apresenta a reta de regressão ajustada entre a AACPD baseada na incidência da ferrugem e o volume de calda utilizado na aplicação do fungicida. Observa-se que o aumento do volume de calda na aplicação do fungicida entre 50L/ha e 150L/ha promoveu redução da AACPD da ordem de 5,17 pontos para cada litro de calda, evidenciando o efeito positivo do volume de calda no controle da ferrugem. Os espaçamentos de 0,50m e 0,60m, associados a volumes de calda iguais ou superiores a 100L/ha, resultaram no maior controle de ferrugem do experimento. A Figura 3 mostra que à medida que se aumenta o volume de calda, cresce o controle da ferrugem asiática da soja. Possivelmente este resultado possa ser explicado devido a
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uma cobertura deficiente das folhas localizadas nas partes mais internas das plantas quando o volume de calda é reduzido (Madalosso, 2006). Por outro lado, estes dados confirmam que o aumento do volume de calda é uma das formas mais práticas e econômicas para incrementar a deposição de gotas no interior do dossel das plantas (Boller et al, 2007). Verifica-se que na testemunha sem aplicação de fungicida o espaçamento entre linhas de 0,60m resultou em rendimento de grãos significativamente superior ao obtido com espaçamentos de 0,40m e de 0,50m entre as linhas. Também chama atenção o fato de que no espaçamento de 0,60m, sem aplicação de fungicida, o rendimento de grãos foi numericamente semelhante ao obtido no espaçamento de 0,40m com os volumes de 50L/ha e de 75L/ha. Nas parcelas tratadas com o fungicida observa-se tendência semelhante, exceto com o volume de calda de 125L/ha, quando o espaçamento não influenciou o rendimento. Também ficou evidente que à medida que se aumenta o espaçamento entre as
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linhas é possível reduzir o volume de calda na aplicação de fungicida para obter um mesmo rendimento de grãos: espaçamento de 0,40m e volume de 150L/ha; espaçamento de 0,50m e volume de 100L/ha e espaçamento de 0,60m e volume de calda de 50L/ha apresentam valores de rendimento numericamente semelhantes. Isso pode ser atribuído à maior facilidade para a deposição de gotas do fungicida no interior do dossel das plantas quando o espaçamento entre as linhas é aumentado (Figura 1). Na Figura 4 encontra-se a reta de regressão ajustada entre o rendimento de grãos e o volume de calda quando o espaçamento entre linhas foi de 0,60m. A equação ajustada foi significativa a 5% de probabilidade de erro e mostra que cada litro de calda acima de 50L/ ha proporcionou acréscimo de rendimento de 3,47kg/ha. O valor de R2 desta equação foi igual a 0,30, indicando grande dispersão dos valores em torno da reta. Em outras palavras, isto quer dizer que para o espaçamento de 0,60m entre linhas apenas 30% da variação observada no rendimento de grãos foi devido à variação do volume de calda.
A análise de regressão múltipla permitiu ajustar uma equação significativa a 5% entre o rendimento de grãos, o espaçamento entre as linhas e o volume de calda. Esta análise também mostrou que o efeito isolado do espaçamento (R2 ajustado = 0,36) foi maior do que o efeito isolado do volume de calda (R2 ajusta-do = 0,24). A equação ajustada da regressão múltipla foi a seguinte: Rendimento de grãos (kg/ha) = 2267E + 4,2V + 1781 Onde: E = espaçamento entre linhas (m), V = volume de calda (L/ha) Essa equação permite simulações do rendimento de grãos esperado para espaçamentos no intervalo de 0,4m até 0,6m e para volumes de calda no intervalo de 50L/ha até 150L/ha.
Conclusões
Os resultados obtidos permitem emitir as seguintes conclusões: - A incidência e a severidade da ferrugem asiática da soja respondem de forma independente à variação do espaçamento entre as linhas e ao volume de calda utilizado na aplicação do fungicida;
Fotos Universidade de Passo Fundo
Ferreira e Boller analisaram interações entre espaçamento, volume de calda e severidade da doença
Campo experimental foi instalado no município de Tupanciretã, no Rio Grande do Sul
- O rendimento de grãos varia em função do espaçamento entre as linhas e do volume de calda utilizado na aplicação do fungicida, sendo a resposta a uma variável dependente da outra; - Combinações de espaçamentos entre linhas de 0,50m e 0,60m, com volumes de calda de 125L/ha e 150L/ha apresentam menores incidência e severidade da ferrugem asiática com acréscimo no rendimento de
grãos/ha; - Parcelas com espaçamentos de 0,40m entre linhas e volumes de calda abaixo de 100L/ha apresentam maiores incidência e severidade da ferrugem asiática da soja e menor rendimento de grãos. - A arquitetura de plantas aparenta ser um aspecto relevante a ser considerado no momento da definição dos arranjos espaciais na busca de condições que favoreçam a penetração da radiação solar no interior do dossel C da cultura e da sanidade das plantas. Marcelo Cigana Ferreira e Walter Boller, Universidade de Passo Fundo
Soja Fotos Divulgação
Epidemia branca Surtos Surtos de de mofo mofo branco branco em em soja soja registrados registrados no no cerrado cerrado do do Mato Mato Grosso, Grosso, na na safra safra 2009/2010, 2009/2010, estão estão associados associados àà ocorrência ocorrência de de chuvas chuvas intensas, intensas, aa lavouras lavouras pouco pouco arejadas no solo, solo, arejadas em em cultivo cultivo convencional, convencional, ao ao acúmulo acúmulo de de inóculo inóculo de de S. sclerotiorum no àà subsolagem subsolagem ee àà falta falta de de medidas medidas preventivas, preventivas, essenciais essenciais ao ao controle controle da da doença doença
A
podridão branca da haste ou mofo branco, causada por Sclerotinia sclerotiorum (Lib) de Bary, é uma doença de importância mundial. As estimativas de danos giram em torno de 10% a 20%, já tendo sido registradas perdas superiores a 50% em casos severos. No Brasil esta doença assume maior importância em regiões de clima mais ameno como no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, quando ocorrem baixas temperaturas noturnas principalmente em áreas de cultivo de girassol e feijão, cujos resíduos mantêm o inóculo no solo em alta concentração. Sclerotinia sclerotiorum é um fungo polífago, tendo como hospedeiras plantas de mais de 400 espécies. Esta doença é conhecida em outras culturas em regiões de altitudes elevadas (acima de 800m) e clima ameno, desde 1921 (batata) e 1954 (feijão). Em soja, os primeiros relatos no Brasil datam de 1976. No cerrado, os primeiros relatos de mofo branco em soja foram feitos há
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20 anos, ocorrendo desde então de forma endêmica. O histórico do mofo branco em soja no Centro-Oeste é mais recente (dez anos) e teve início em regiões elevadas de Goiás e Distrito Federal. Ainda que de forma esporádica, S. sclerotiorum já se manifestava com agressividade suficiente para serem contabilizados prejuízos de até 40% na produtividade. Nos últimos anos, esta doença tornou-se um dos principais problemas fitossanitários da cultura no sudoeste goiano. São confirmadas perdas de até 60% na produtividade em regiões de altitude elevada. São comuns os relatos de áreas de 100 hectares a 300 hectares infectados com incidência superior a 50%. No Mato Grosso, o mofo branco era conhecido como doença de ocorrência extremamente rara, sendo encontrados focos isolados em regiões mais altas e em anos de temperatura amena na serra da Petrovina, Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste. Nestas regiões, quando encontrado,
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o mofo branco limitava-se à colonização externa do colo de plantas sem manifestação de infecção sistêmica, em pequenas reboleiras, em lavouras adensadas ou com plantas de porte alto ou prostradas e em períodos de chuvas intensas. Na safra 2009/2010, o mofo branco foi registrado no Mato Grosso de forma surpreendentemente severa em lavouras nas regiões do centro-sul (Campo Verde, Jaciara, Primavera do Leste), médio norte (Sapezal, Deciolândia) e norte (Sinop). Nestas regiões foram observados quadros sintomatológicos de mofo branco em diferentes intensidades. Os focos de plantas com sintomas de manchas aquosas e sinais de colonização superficial da haste na região do colo com hifas de S. sclerotiorum produzidas a partir de germinação miceliogênica dos escleródios passaram a ser observados com frequência, em áreas sem relatos anteriores da doença. Este quadro de sintomas e sinais, anterior à infecção sistêmica da planta, era observado
esporadicamente somente em lavouras submetidas a condições extremamente favoráveis ao processo patogênico e em áreas sabidamente colonizadas por escleródios de S. sclerotiorum. Foram observadas situações intermediárias de sintomas e sinais da doença, com morte parcial ou total de plantas em pequenas reboleiras, com abundante produção de escleródios nos tecidos infectados e no solo. Em algumas áreas, contudo, incluindo aquelas sem histórico da doença e sem cultivo recente de hospedeiros promotores de aumento do inóculo inicial de S. sclerotiorum, foram registrados quadros sintomatológicos e de sinais extremamente severos, com observação de abundante produção de escleródios sobre e no interior de hastes e vagens e na superfície do solo (um a cinco escleródios/100g solo), comprometimento parcial ou total de elevado número de plantas (reboleiras com mais de 40% de plantas mortas ou parcialmente secas), distribuição generalizada das reboleiras, caracterizando, em alguns casos, contaminação de áreas extensas de solo. A observação destes sintomas e sinais com frequência notadamente maior nesta safra indica aumento da disseminação e exposição de estruturas de sobrevivência do patógeno, seja pela movimentação de implementos e sementes contaminadas (entre áreas de cultivo), seja pelo revolvimento do solo trazendo escleródios do subsolo para a superfície (dentro de áreas sem histórico recente da doença). A correlação de dois fatores, notadamente a prática da subsolagem e o porte das cultivares, parece estar diretamente ligada à severidade do mofo branco observado na safra 2009/2010 no Mato Grosso. Para avaliar o possível efeito da descompactação no transporte de estruturas de resistência de S. sclerotiorum do subsolo para a superfície, foi realizado no município de Campo Verde um levantamento da população de escleródios em amostras de solo e comparadas para as mesmas variedades (Tabarana e TMG 132) em talhões com severidade elevada de mofo branco, submetidos ou não à subsolagem. O levantamento mostrou que talhões que sofreram subsolagem apresentavam 37,5 escleródios/m2 quando comparados a talhões não submetidos a esta prática, com 17,5 escleródios/m2, para áreas cultivadas com TMG 132. Em áreas cultivadas com Tabarana, já dessecada e, portanto, recontaminando o solo, o número de escleródios encontrados foi de 40/m2 (solos subsolados) e 50/m2 (solos não subsolados), valores considerados semelhantes estatisticamente. Estes números confirmam que,
após a colheita, o número de estruturas de resistência de S. sclerotiorum aumenta consideravelmente nos solos contaminados. As plantas da cultivar TMG 132 semeadas em solo descompactado apresentavam sintomas mais severos de mofo branco comparadas às plantas da cultivar Tabarana, semeadas, possivelmente, em solos com menor população inicial de escleródios. Assim, em talhões submetidos à subsolagem e cultivados com variedades de crescimento excessivo ou muito enramadas, foram encontrados níveis elevados de severidade de mofo branco, comparados somente aos observados em regiões de ocorrência histórica da doença nos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia. As mesmas variedades cultivadas em solo onde não foi realizada a subsolagem (às vezes em talhões contíguos) apresentaram incidência e severidade baixa a moderada da doença, à semelhança de variedades de porte ereto cultivadas em solos submetidos ao revolvimento. Os surtos epidêmicos de mofo branco em soja no cerrado do Mato Grosso na safra 2009/2010 devem estar associados à ocorrência de chuvas intensas, a lavouras pouco arejadas em cultivo convencional, ao acúmulo de inóculo de S. sclerotiorum no solo, à subsolagem e à falta de medidas preventivas de controle, uma vez que o processo patogênico ainda não havia sido relatado na maioria das áreas. Em algumas lavouras estima-se uma perda média de 20% a 25% na produtividade devido apenas ao mofo branco. O dano real provocado pela doença nestas regiões só será contabilizado após a colheita das lavouras de ciclo médio que começa em fevereiro de 2010. Sclerotinia sclerotiorum é um fungo habitante do solo, polífago, necrotrófico, que pode sobreviver em condições adversas por longos períodos na forma de escleródios (massas escuras, compactas e disformes, de tamanho variado, semelhantes a excrementos de
ratos). Os escleródios podem sobreviver até 11 anos no solo e são altamente resistentes a substâncias químicas, calor seco até 600ºC e congelamento. Em condições favoráveis (umidade elevada), os escleródios germinam na forma de micélio branco e cotonoso (germinação miceliogênica) que pode colonizar o colo das plantas acima da superfície do solo. Quando ocorrem baixas temperaturas noturnas associadas à umidade, os escleródios tendem a germinar produzindo apotécios (germinação carpogênica), estruturas sexuais que liberam esporos infectivos carregados pelo vento a pequenas distâncias. Os apotécios produzidos por escleródios no solo e escleródios produzidos diretamente sobre a planta a partir do micélio infectivo dão início à infecção sistêmica quando ocorrem temperaturas noturnas baixas. A abundante produção de escleródios sobre e internamente ao tecido infectado (hastes e vagens) retornam ao solo, contaminam implementos e misturam-se à fração de impurezas dos lotes de sementes durante a colheita, aumentando o potencial de inóculo. O patógeno pode afetar a planta de soja em qualquer estádio, causando em plântulas oriundas de sementes infectadas morte em pré e pós-emergência. Entretanto, os maiores danos ocorrem na fase adulta da planta, especialmente no início da fase reprodutiva (estádio R1/R2) e de formação de vagens (estádio R3/R4) quando ocorre o fechamento da lavoura e aumento da umidade. Nestes casos, os primeiros sintomas caracterizam-se por manchas aquosas na haste, localizadas próximas ao nível do solo, que evoluem para coloração castanho-clara e logo desenvolvem abundante formação de micélio branco e denso. Em condições de temperaturas amenas formam-se escleródios na superfície das plantas a partir do micélio característico do mofo branco. A infecção sistêmica dos feixes lenhosos pode atingir ramos, vagens e pecíolos. Normalmente podem ser observados sintomas de
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da doença devem ser avaliadas e adotadas antes da instalação da lavoura. Medidas isoladas de controle têm pouco ou nenhum efeito sobre o patógeno. Considerando que a ocorrência de surtos epidêmicos de mofo branco em soja em regiões altas do cerrado do Mato Grosso é aspecto relativamente novo para produtores e técnicos, torna-se fundamental concentrar esforços na conscientização do segmento produtivo deste Estado para o perigo do estabelecimento de altas populações de S. sclerotiorum nas áreas de cultivo de soja e para as medidas preventivas que devem ser adotadas. Neste sentido, recomenda-se evitar a introdução do fungo na área isenta utilizando-se semente certificada livre do patógeno. O trânsito de sementes contaminadas ou infectadas (interna ou externamente) pelo patógeno é um aspecto fundamental na disseminação e aumento do inóculo inicial de S. sclerotiorum em áreas indenes ou com baixa ocorrência da doença. O tratamento de sementes com mistura de fungicidas de contato e sistêmicos específicos para o controle de S. sclerotiorum tem sido avaliado. Em áreas de ocorrência da doença, devese planejar a sucessão/rotação de soja com espécies resistentes dentro das monocotiledôneas. A manutenção de lavouras mais arejadas (maiores espaçamentos, menor densidade de semeadura e uso de variedades de porte ereto) permite melhor circulação de ar, menor período de molhamento e maior eficiência do uso de fungicidas. Áreas infectadas devem ser isoladas nas operações que envolvam movimentação de
Divulgação
murcha, seca e degeneração ascendente da medula em partes afetadas ou na planta toda a partir do ponto de infecção. A fase mais vulnerável da planta estende-se do estádio da plena floração (R2) até o início da formação das vagens (R3). Alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas favorecem o desenvolvimento da doença. Escleródios caídos ao solo, sob alta umidade e temperaturas entre 10°C e 25°C, germinam e desenvolvem apotécios na superfície do solo. Estes apotécios produzem ascósporos que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das plantas. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto de escleródios misturados às sementes. Uma vez introduzido na área, o patógeno é de difícil erradicação. As condições mais favoráveis e que permitem a manutenção de um microclima adequado ao patógeno e à ocorrência de surtos de alta severidade da doença são: uso de sementes contaminadas e/ou infectadas, solos com abundante colonização de escleródios (solos com populações acima de 80 escleródios/m2 são considerados impróprios para o cultivo de culturas hospedeiras de S. sclerotiorum), plantios adensados ou utilização de variedades de crescimento prostrado, florescimento desuniforme, chuvas abundantes associadas a temperaturas amenas, desequilíbrio nutricional, cultivos sucessivos com plantas hospedeiras, palhada malformada e revolvimento do solo. O controle do mofo branco em soja deve ser, necessariamente, de caráter preventivo. Medidas de manejo integrado
Em condições favoráveis, os escleródios germinam na forma de micélio branco e cotonoso que pode colonizar o colo das plantas acima da superfície do solo
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máquinas, reduzindo assim a disseminação do patógeno para áreas isentas. O uso de fungicidas tradicionais e de novas moléculas, ainda em estudo, tem sido eficiente na redução da severidade de S. sclerotiorum para a cultura da soja. Resultados de pesquisa apontam para o manejo do mofo branco em soja com o uso intercalado de diferentes princípios ativos. As pulverizações preventivas para proteger a planta do inóculo inicial S. sclerotiorum devem ser feitas na pré-floração (antes do fechamento da lavoura) com a utilização de fungicidas do grupo dos benzimidazóis (tiofanato metílico, carbendazim). Muitos produtores têm adotado esta prática para a redução do inóculo de mancha alvo e antracnose em lavouras de soja suscetível a estas doenças. Estes fungicidas possuem pouco efeito sobre a germinação de escleródios. Porém, podem proteger os tecidos da planta contra a colonização externa das hifas do patógeno. Os princípios ativos procimidone (fungicida sistêmico), iprodione (fungicida de contato), fluazinam (fungicida-acaricida de contato), fluopyram (fungicida sistêmico) e dymoxistrobin (fungicida mesostêmico) associado à boscalid (fungicida sistêmico), têm apresentado resultados satisfatórios em nível experimental no controle de mofo branco em soja, em quadros mais avançados de infecção. Vale lembrar que, para a cultura da soja, apenas o princípio ativo tiofanato metílico está registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A variabilidade entre isolados de S. sclerotiorum na sensibilidade a procimidone, na dose equivalente a 800mL/ha já foi relatada. Este fato remete o manejo do mofo branco à adoção de medidas que tenham o objetivo de evitar ou reduzir substancialmente a possibilidade de desenvolvimento de populações resistentes a fungicidas. Assim, a utilização de diferentes princípios ativos no controle da doença assume papel relevante no manejo integrado de S. sclerotiorum. Considerando-se a ocorrência do mofo branco em soja como uma situação nova na maioria das regiões de cultivo no Mato Grosso, torna-se fundamental farta divulgação de informações abordando as formas de redução da disseminação da doença, sua diagnose segura a campo e as medidas de manejo integrado disponíveis e aplicáveis C às lavouras do estado. Andréia Quixabeira Machado, Univag Daniel Cassetari Neto, UFMT
Mercado
Bola da vez
Estimativa de demanda maior que a oferta, estoques baixos e cotações em ascensão fazem do plantio de milho safrinha uma excelente opção para os produtores brasileiros aumentarem seus rendimentos
P
ara atender à demanda interna por milho, o Brasil certamente estará totalmente dependente do sucesso da nova safrinha. Há forte redução na safra de verão, grandes exportações dos excedentes e tudo sinaliza para um quadro de oferta e demanda bastante ajustado em 2011. Com isso existe grande espaço para o sucesso financeiro dos produtores que plantarem a safrinha. As expectativas são de uma colheita da primeira safra na casa de 30 milhões de toneladas a, no máximo, 32 milhões de toneladas. Se adicionarmos uma safrinha de 18 milhões de toneladas, chegaríamos a uma oferta de no máximo 50 milhões de toneladas, enquanto apenas o consumo interno já deve alcançar 50 milhões de toneladas e pelo menos cinco milhões de toneladas serão exportadas. Muitos apostam, ainda, que as exportações podem chegar a sete milhões de toneladas, porque diversos contratos futuros vêm sendo fechados antecipadamente para embarque de fevereiro a maio e, desta forma, haverá enxugamento da safra nova rapidamente. Este cenário abre grande espaço para que a safrinha tenha boas cotações a partir da metade do ano de 2011, quando estará na colheita. Com o grande atraso no plantio da safra de verão, houve forte queda na área plantada, com a soja ganhando espaço no Sul e no Sudeste. Haverá limitação na oferta e desta forma nos estoques de passagem, que na realidade não irão fechar além das seis milhões de toneladas a oito milhões de toneladas. O Brasil exporta em ritmo forte neste ano e tem jogado para o mercado internacional a maior parte dos excedentes dos últimos dois anos. Mesmo com o cenário positivo, tudo indica que a safrinha também irá ter queda na área e pode voltar aos níveis de plantio de 2009. Desta forma diminuirá o potencial produtivo, porque neste último ano o País teve boas condições de colheita e alcançou a casa das 20,9 milhões de toneladas, já que o clima foi regular, com chuvas normais e alongadas. Enquanto isso, para este novo ano, haverá atraso no plantio porque a soja já está com cultivo atrasado, principalmente no Mato Grosso, o que resultará no aumento do risco de perdas no potencial produtivo e muitas áreas não terão condições de serem plantadas (porque a soja está sendo replantada no Médio Norte 32
do Mato Grosso e de lavouras precoces passará a ter sementes de ciclo tardio, com a colheita em março, sem condições para o plantio da safrinha futura).
Tecnologia em crescimento
Os produtores evoluíram muito nestes últimos dez anos, com o plantio crescendo dos 2,6 milhões de hectares, plantados no Brasil em 2000, para os 4,85 milhões de hectares cultivados no ano passado. Agora caminha para os 4,5 milhões de hectares e até abaixo, porque o algodão está aparecendo como um concorrente forte para o milho e no Sul o trigo pode entrar nas áreas que poderiam receber o milho, porque em ano de La Niña as chuvas tendem a não ocorrer da maneira que os produtores esperam. Desta forma o plantio tende a se consolidar com o Mato Grosso na frente, ainda bem acima de 1,7 milhão de hectares plantados e tendo Sorriso como maior produtor, com mais de 350 mil hectares plantados. Lucas do Rio Verde plantando mais de 200 mil hectares. O Paraná vem com indicativos iniciais de plantar 1,2 milhão de hectares frente aos 1,36 milhão de hectares plantados neste último ano. Em Mato Grosso do Sul a expectativa é de manutenção da área. O mercado do milho está bastante atrativo e pode mudar um pouco este quadro, mas o grande fator de definição do plantio já está dado, que é o atraso no plantio da soja.
Mercado mundial positivo
O mercado do milho, tanto no Brasil como internacionalmente, mostra boas expectativas para a safrinha, porque estamos vivendo em momento de cotações acima dos US$ 250,00 por tonelada e em alguns momentos ultrapassando US$ 260,00 por tonelada. Evolução da produção do milho em safrinha (mil toneladas) Estados PR SP GO MS MT Centro-Sul BR
2011* 5.500 850 2.000 3.200 7.700 18.500
2010 6.550 1.050 2.150 3.350 8.200 20.900
2009 5.850 1.050 1.700 2.830 7.120 18.500
2000 2.450 1.350 720 820 1.050 6.720
Fonte: BRANDALIZZE CONSULTING (*)estimativa. Nota a diferença entre o Total e a somatória dos estados citados, representa produção de estados, com RS, SC, MG, que tem volumes menores.
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Aponta-se que a safra dos EUA está menor que as expectativas e isso irá deixar o quadro mundial mais apertado do que as projeções. Também há indícios de que a demanda para etanol nos EUA superará em muito as 119,4 milhões de toneladas previstas e desta forma existe espaço para se manter forte no mercado internacional. Enquanto isso, no Brasil, as exportações deste ano poderão ir para a faixa das dez milhões de toneladas a 11 milhões de toneladas, o que deixará o mercado bastante enxuto no próximo ano. Esse cenário pegará pela frente o setor de ração crescendo acelerado, porque o País tem grande demanda de carnes no mercado mundial e forte avanço nas cotações no Brasil. Esse panorama forçará os grandes abatedores de frangos e suínos a trabalharem com capacidade total e a retornarem para novos investimentos e ampliações para atender o consumo crescente no Brasil e nas exportações. Haverá necessidade de mais de 50 milhões de toneladas de milho (que estará no limite da produção nacional projetada), isso sem considerar as exportações que vão levar parte do que irá ser colhido já nesta primeira safra. Caminhamos para um excelente ano para o milho, com grande rentabilidade aos produtores. Houve grande avanço na tecnologia empregada nas lavouras e desta forma a produtividade cresceu forte nestes últimos anos. Em 2000 plantávamos 2,6 milhões de hectares e colhíamos aproximadamente sete milhões de toneladas. Atualmente estamos plantando 4,5 milhões de hectares e colhendo níveis entre 18 milhões de toneladas a 19 milhões de toneladas. O mercado deste ano apresentava preços pagos aos produtores que variavam dos R$ 6,50 (no Mato Grosso) aos R$ 12,00 (no Paraná) na colheita da safrinha. Depois das grandes alterações no quadro internacional, que neste período andava na casa dos US$ 165,00 por tonelada, agora alcança US$ 260,00 por tonelada, ou seja, cresceu forte e os níveis mínimos esperados estão entre R$ 15,00 e R$ 22,00 por saca aos produtores neste novo plantio, que começa em janeiro em pontos isolados e terá a maior parte das lavouras plantadas na segunda quinzena a C partir de fevereiro. Vlamir Brandalizze Brandalizze Consulting Evolução da área plantada do milho em safrinha (mil hectares) Estados PR SP GO MS MT Centro-Sul BR
2011* 1.200 250 350 850 1.750 4.500
2010 1.360 280 380 855 1.860 4.850
2009 1.310 270 370 830 1.500 4.500
2000 850 550 250 285 350 2.600
Fonte: BRANDALIZZE CONSULTING (*)estimativa. Nota a diferença entre o Total e a somatória dos estados citados, representa á área de estados, com RS, SC, MG, que tem plantios menores.
Soja Fotos Leila Costamilan
Via dupla
Ao mesmo tempo em que doenças como podridão radicular de fitóftora, podridão vermelha da raiz e ferrugem tendem a ter seu efeito minimizado no período de La Niña, o clima seco favorece o ataque de oídio, nematoides e podridão cinza da raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Tratamento de sementes, seleção de cultivares resistentes, controle químico e melhoria das condições de manutenção de água no solo estão entre as estratégias para enfrentar o problema
D
e acordo com o boletim emitido em 20 de agosto pelo Centro de Previsão de Tempo e Assuntos Climáticos (CPTec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fenômeno La Niña configura-se no pacífico equatorial, com possibilidade de persistir pelo menos até o início de 2011. Para os meses de setembro, outubro e novembro de 2010, a previsão climática de consenso sugere maior probabilidade de chuvas abaixo da média na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, enquanto as temperaturas estão previstas dentro da normalidade climatológica. Assim, possivelmente teremos a safra 2010/2011 de soja mais seca que o normal. O clima mais seco pode favorecer algumas doenças de soja, como oídio, nematoides e podridão cinza da raiz, além de afetar a emergência de plântulas. Por outro lado, doenças diretamente relacionadas com alta umidade, como podridão radicular de fitóftora, podridão vermelha da raiz e ferrugem, não deverão apresentar altas incidências e/ou severidade.
distribuídas durante o período de semeadura da soja. Nessa situação, é muito importante a conscientização dos sojicultores quanto à utilização de sementes de alta qualidade fisiológica (com altos índices de vigor e de germinação) e sanitária (livres de patógenos), além da necessidade do tratamento de sementes com misturas de fungicidas de contato +
Germinação de sementes e emergência de plântulas Segundo o pesquisador Ademir Henning, da Embrapa Soja, em 2010 o risco é muito alto de ocorrerem chuvas abaixo da média e mal
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sistêmicos, para garantir proteção à semente no solo, evitando ressemeaduras por falhas no estabelecimento do estande. Além disso, em áreas sujeitas ao ataque de lagarta elasmo ou corós, a aplicação de produtos que contenham inseticida poderá ser boa alternativa. Se a semeadura de soja não for realizada em condições ideais de umidade do solo,
Problemas de germinação devido à podridão radicular de fitóftora
Folhas de soja com sintomas de ferrugem
poderão ocorrer sérios problemas na emergência. Em tais circunstâncias, o tratamento de semente com fungicidas oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos (estimados em menos de 0,6% do custo de instalação da lavoura). A adoção desta técnica possibilita ao agricultor economizar sementes e evitar operação de ressemeadura, que é extremamente danosa para a rentabilidade da lavoura, pois, muitas vezes, perde-se o período ideal de semeadura,
Grupo de plantas de soja com folhas carijós, causadas por podridão vermelha da raiz
podendo ocorrer troca de cultivar (pela que, normalmente, está sobrando no mercado), além de problemas relacionados com aplicação de herbicidas e adubação, bem como problemas fitossanitários, principalmente a ferrugem da soja, sabidamente mais severa em plantios atrasados. A eficiência de diversos fungicidas no controle dos principais patógenos transmitidos pela semente de soja, como Cercospora kikuchii, Cercospora sojina, Fusarium semitectum,
Phomopsis spp. e Colletotrichum truncatum é anualmente avaliada na Embrapa Soja. O controle dos quatro primeiros patógenos é propiciado por fungicidas sistêmicos, especialmente do grupo dos benzimidazóis. Dentre os produtos testados e hoje indicados para tratamento de sementes de soja, os fungicidas dos grupos químicos tiabendazol, carbendazim e tiofanato metílico têm sido os mais eficientes. Os fungicidas de contato, tradicionalmente conhecidos (captan, tiram
Dose/100kg de semente1 Nome Ingrediente comum ativo (gramas) Produto Produto comercial1 comercial (g ou ml) Carbendazim + Captana2 30 g + 90 g Derosal 500 SC + Captan 750 TS 60ml + 120g Carbendazim + Tiram 30g + 70g Derosal 500 SC + Rhodiauram SC2 60ml + 140ml Derosal 500 SC + Thiram 480 TS2 60ml + 144ml Derosal Plus 200ml Protreat3 200ml Carboxina + 75g + 75g ou Tiram 50g + 50g Vitavax - Thiram WP 200g Vitavax - Thiram 200 SC4 250ml Difenoconazol + Tiram 5g + 70g Spectro + Rhodiauram SC 33ml + 140ml Spectro + Thiram 480 TS 33ml + 144ml Fludioxonil + Metalaxil-M 2,5g + 1,0g Maxim XL 100ml Piraclostrobina + Tiofanato 5g + 45g metílico + Fipronil + 50g Standak Top 200ml Tiabendazol + Captana2 9,7g a 19,4g + 90g Tecto SC + Captan 750 TS 20ml a 40ml + 120g Tiabendazol + Tiram 9,7g a 19,4g + 70g Tecto SC + Rhodiauram SC2 20mL a 40ml + 140ml Tecto SC + Thiram 480 TS2 20mL a 40ml + 144ml Tiofanato metílico + Tolilfluanida2 50g + 50g Cercobin 700 WP + Euparen M 500 WP 70g + 100g Cercobin 500 SC + Euparen M 500 WP 100ml + 100g Tolilfluanida + Carbendazim2 50g + 30g Euparen M 500 WP + Derosal 500 SC 100g + 60ml 1 Poderão ser utilizadas outras marcas comerciais, desde que sejam mantidos o tipo de formulação e a dose do ingrediente ativo. 2 Com indicação de uso apenas na RPS-Sul. 3 Sem indicação de uso na RPS-Sul. 4 Caso não seja adicionado nenhum outro produto líquido, fazer o tratamento com pré-diluição, na proporção de 250ml do produto + 250ml de água para 100kg de semente. Cuidados: devem ser tomadas precauções na manipulação dos fungicidas, seguindo as orientações da bula dos produtos.
e Aspergillus spp. (A. flavus) que, entre outros, podem causar a deterioração da semente no solo ou a morte de plântulas.
pactação e favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular.
Podridão cinza da raiz (Macrophomina phaseolina) De acordo com os pesquisadores Álvaro Almeida e Leila Costamilan esta doença é a mais favorecida por períodos de estiagem e altas temperaturas. Provavelmente, será muito frequente durante a safra 2010/11. Há várias safras vem ocorrendo no Sul do Brasil, o que significa a presença de alta quantidade de inóculo no campo. Seu sintoma mais visível é a antecipação do ciclo de plantas distribuídas ao acaso ou agrupadas em áreas de solo mais seco, resultando em grãos de menor tamanho e de menor qualidade. Estas plantas apresentam raízes apodrecidas, desprendendo a casca com facilidade, apresentando o lenho de coloração acinzentada. Trabalhos realizados na Embrapa Soja mostraram a correlação entre chuva e ocorrência desta doença, no Paraná. Em ano de deficiência de água, mais de 50% de plantas de soja mostraram a doença aos 105 dias após a semeadura. Nos dois anos seguintes, quando não houve restrição hídrica, este índice atingiu 30% no final do ciclo da cultura. É uma doença de difícil controle, pois não há cultivares de soja com resistência, a rotação de culturas não é eficiente em curto prazo e o tratamento com fungicidas não tem efeito algum. Para minimizar seus impactos, o agricultor deve investir em formas para manter suprimento adequado de água às plantas, como irrigação, plantio direto (que aumenta a quantidade de matéria orgânica) e melhoria das condições físicas do solo, evitando a com-
Segundo a pesquisadora Leila Costamilan esta doença não deverá ocorrer de forma significativa nesta safra, principalmente porque depende de alta umidade no solo para infectar as plantas de soja. Além disto, os agricultores têm preferido usar cultivares resistentes em áreas onde a doença já foi constatada em anos anteriores, diminuindo o risco de desenvolvimento do problema. Somente causará danos como apodrecimento de sementes e morte de plântulas em áreas onde ocorrerem chuvas fortes ou acúmulo de umidade no período de germinação e emergência de plântulas de cultivar suscetível, levando, inclusive, à necessidade de ressemeadura. A doença pode causar, também, sintomas em plantas adultas, como o apodrecimento radicular e o escurecimento da parte inferior da haste e de ramos laterais, associados com chuvas esporádicas durante a safra.
e tolilfluanid), que apresentam bom desempenho no campo quanto à emergência, não controlam totalmente Phomopsis spp. e F. semitectum nas sementes que apresentam índices elevados destes patógenos (acima de 40%). Por essa razão, tais produtos devem sempre ser utilizados em misturas com fungicida sistêmico (Tabela 1). Além de controlar estes patógenos, o tratamento de sementes é uma prática eficiente para assegurar populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência da soja, deixando a semente exposta por mais tempo a patógenos habitantes do solo, como Rhizoctonia solani, Phytophthora sojae, Pythium spp., Sclerotium rolfsii; Fusarium spp. (principalmente F. solani)
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Podridão radicular de fitóftora (Phytophthora sojae)
Ferrugem (Phakopsora pachyrhizi) e oídio (Erysiphe diffusa) A pesquisadora Cláudia Godoy destaca que para a ocorrência de ferrugem da soja, o ambiente exerce papel relevante no desenvolvimento de epidemias durante a safra, pois a maioria das cultivares é suscetível e o fungo sobrevive de um ano para outro em plantas voluntárias ou em outros hospedeiros. Trabalhos publicados no exterior e no Brasil mostram que a dispersão e o desenvolvimento da ferrugem são favorecidos pela melhor distribuição
Leila Costamilan
Tabela 1 - Misturas formuladas e respectivas doses de fungicidas para tratamento de sementes de soja. Indicações da XXXI RPSRCB, Brasília (DF), e da XXXVIII RPS-Sul, Cruz Alta (RS), agosto 2010
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Folha de soja afetada por oídio
terodera glycines – O pesquisador Waldir Dias informa que no caso de nematoides de galhas, as raízes da soja apresentam engrossamento e as plantas podem murchar nas horas mais quentes do dia, apresentar baixo desenvolvimento e reduzido rendimento de grãos. Com nematoide de cisto, as plantas ficam verde-claras, com menor desenvolvimento e rendimento. Tudo que é favorável ou negativo para a soja também é bom ou ruim para os nematoides. Em anos de seca, quando falta água no solo, a soja fica mais vulnerável aos danos por estes organismos, devido à dificuldade de absorção de água pelo sistema radicular, provocada por nematoides. A falta de água livre no solo, entretanto, tem a vantagem de dificultar a disseminação destes organismos. Além disso, plantas de soja mais estressadas não favorecerão a multiplicação dos nematoides. Dessa forma, sabendo-se que algumas doenças de soja podem ser favorecidas por períodos de seca, medidas são recomendadas para diminuir eventuais prejuízos em anos de La Niña. Tratamento de sementes, seleção de cultivares resistentes a oídio e a nematoides, controle químico de oídio e melhoria das condições de manutenção de água no solo, principalmente com o uso de plantio direto, são fatores que têm efeito positivo no controle de doenças favorecidas por seca e, consequentemente, no rendiC mento de grãos de soja. Leila M. Costamilan, Embrapa Trigo Ademir A. Henning, Álvaro M. R. Almeida, Cláudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas e Waldir P. Dias, Embrapa Soja
Figura 1 - Evolução do número de focos de ferrugem da soja cadastrados no site do Consórcio Antiferrugem (www. consorcioantiferrugem.net), em diferentes safras
aplicações desnecessárias de fungicida. De forma oposta à ferrugem, o oídio da soja é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e pode predominar principalmente em regiões com temperaturas amenas, caso as previsões climáticas se confirmem. O oídio tem a capacidade de provocar danos de até 35% de produtividade, no entanto, as cultivares apresentam níveis diferenciados de resistência e seu controle pode ser realizado por meio da aplicação de fungicidas. Podridão vermelha da raiz (Fusarium spp.) Os pesquisadores Claudine Seixas e Álvaro Almeida apontam que, provavelmente, esta não será uma doença muito importante nesta safra de La Niña, pois seu desenvolvimento está relacionado com bom suprimento de água no solo. Quatro espécies de Fusarium podem estar associadas aos sintomas da doença, F. tucumaniae é a prevalente no Brasil. Este fungo reduz o volume e a nodulação das raízes. A região do colo da planta apresenta mancha avermelhada. As folhas de plantas infectadas apresentam o sintoma conhecido como folha “carijó”, com manchas cloróticas entre as nervuras das folhas, que posteriormente tornamse necróticas. Geralmente, plantas com estes sintomas ocorrem em reboleiras. Solos compactados e com alta umidade favorecem o ataque por esse fungo. O controle dessa doença pode ser auxiliado com a escarificação ou subsolagem, o que permite a “quebra” da camada compactada, favorecendo o desenvolvimento radicular e o aumento da infiltração de água. Nematoides de galhas Meloidogyne javanica, M. incógnita e He-
Fotos Leila Costamilan
da precipitação na safra. A chuva influencia diretamente no período de molhamento foliar (necessário para a infecção), na disseminação (atuando na liberação, dispersão e deposição de esporos do fungo) e também, indiretamente, na sobrevivência do inóculo (pela menor exposição dos esporos à radiação UV durante períodos nublados). Conforme os dados do Consórcio Antiferrugem, a evolução da doença tem apresentando padrões distintos nas safras, associados aos padrões de precipitação nas diferentes regiões produtoras (Figura 1). Nas safras 2006/07 e 2009/10, sob influência de El Niño, a ferrugem começou mais cedo e o número total de focos foi maior que na safra 2008/09, sob influência de La Niña. Embora as precipitações pluviais irregulares previstas para a safra 2010/11 possam desfavorecer a evolução de ferrugem, as orientações para o manejo da doença não se alteram, devendo ser realizados o monitoramento das lavouras e o acompanhamento da ocorrência da doença na região. O controle de ferrugem deve ser feito após os sintomas iniciais da doença na lavoura, ou preventivamente, levando em consideração o estádio fenológico da cultura, a presença da ferrugem na região, as condições climáticas, a logística de aplicação, a presença de outras doenças e o custo do controle. A baixa umidade no inverno, especialmente na região central do Brasil, tem desfavorecido a brotação de plantas voluntárias e a sobrevivência do fungo, contribuindo com o vazio sanitário, que tem como principal objetivo a redução do inóculo do fungo durante a entressafra. Desta forma, espera-se atraso na ocorrência dos primeiros focos de ferrugem na próxima safra, enfatizando ainda mais a necessidade do monitoramento para evitar
Sistema radicular de soja deformado por galhas causadas por nematoide do gênero Meloidogyne
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Capa Fotos Miguel F. Soria
Percevejos fitófagos, da família Pentatomidae, que até então ocorriam de forma ocasional e com importância secundária para o algodoeiro, passam a incidir com maior frequência nas lavouras de algodão brasileiras, principalmente onde se cultivam variedades de ciclo mais tardio, em sistemas de cultivo adensado/safrinha e/ou que recebem menos aplicações de inseticidas
N
os sistemas de produção de algodão com cultivares convencionais (não Bt), os percevejos pentatomídeos fitófagos, especialmente os dispersantes de culturas como a soja, são controlados indiretamente pelas aplicações de inseticidas de amplo espectro direcionadas para o controle de Anthonomus grandis Boh. 1843 (bicudo-do-algodoeiro) e Heliothis virescens (Fabr., 1781) (lagarta-da-maçã) (Torres & Ruberson, 2005). Em países como os Estados Unidos, Austrália e China, onde a tecnologia Bt é utilizada há mais de 11 anos, as populações dos percevejos das famílias Pentatomidae e Miridae aumentaram significativamente nas lavouras de algodoeiro Bt, devido à redução das aplicações de inseticidas para as pragasalvo dessa tecnologia (Greene et al., 2001; ICAC, 2007). Nas últimas safras, percevejos fitófagos da família Pentatomidae [Euschistus heros (Fabr., 1798) (percevejo-marrom), Edessa meditabunda (Fabr., 1794) (percevejo-asapreta-da-soja) e Nezara viridula (L., 1758) (percevejo-verde)] (Figura 1), insetos-praga de ocorrência ocasional e de importância secundária para o algodoeiro, têm incidido com maior frequência e intensidade nos algodoais brasileiros, principalmente onde se cultivam variedades de ciclo mais tardio, em sistemas de
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cultivo adensado/safrinha e/ou que recebem menos aplicações de inseticidas, especialmente daqueles de amplo espectro direcionados para o controle de H. virescens e A. grandis (Papa, 2006). Esse fato pode estar relacionado com o aumento do cultivo de variedades Bt, pela redução das aplicações de inseticidas para as pragas-alvo dessa tecnologia, e a dispersão dessas espécies de percevejos da soja para o algodoeiro, visto que essa leguminosa ocupa grande extensão de área cultivada nas principais regiões produtoras de algodão do país. Estima-se que o complexo de percevejos fitófagos da família Pentatomidae infestou mais de 1,4 milhão de hectares de lavouras cultivadas com algodoeiro no ano de 2009 nos Estados Unidos e foi responsável pela perda de mais de 24 mil toneladas de algodão, sendo considerado, nesse mesmo ano, o terceiro grupo de pragas que causou mais danos à cotonicultura norte-americana (Williams, 2009). Infestações de adultos de N. viridula e Euschistus servus (Say, 1832) (percevejo-marromnorte-americano) em plantas de algodoeiro, antes da emissão dos botões florais (fase vegetativa), com botões florais recém-emitidos (início da fase reprodutiva) e com botões florais desenvolvidos (pré-florescimento), não afetaram o crescimento e desenvolvimento das
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plantas, assim como a formação de maçãs. No entanto, infestações persistentes de ninfas de terceiro e quarto instares de N. viridula ocasionaram a abscisão de botões florais, afetando diretamente a produção (Willrich et al., 2004b). Danos ocasionados por adultos e ninfas dessa mesma espécie em maçãs consideradas pequenas (com acúmulo de 0 a 280 unidades de calor após a antese) podem induzir a abscisão dessas estruturas (Bommireddy et al., 2007). Quando o ataque ocorre em maçãs médias e/ou grandes (com acúmulo de aproximadamente 500 unidades de calor após a antese), permanecem nas plantas, porém têm o rendimento e a qualidade de fibra reduzidos (Willrich et al., 2004a; Bommireddy et al., 2007; Bacheler et al., 2006). Em maçãs que acumularam entre 165,2 e 672 unidades de calor após a antese (período equivalente a maçãs com idade entre sete dias e 21 dias) foi evidenciado que a frequência de danos ocasionados por adultos de E. servus foi maior. A exposição de maçãs com 13 dias de idade a uma ninfa de quinto instar de N. viridula reduziu a produção de algodão em caroço em 59%, quando comparada à produção de maçãs não infestadas (Greene et al., 1999). O dano de N. viridula pode afetar negativamente os valores de finura, força, uniformidade e comprimento da fibra, assim como aumentar
A)
B)
C)
D)
E)
F)
Figura 1 - Adulto (A) e ninfa (B) do percevejo-marrom (E. heros); adulto (C) e ninfa (D) do percevejo-asa-preta-da-soja (E. meditabunda) e adulto (E) e ninfa (F) do percevejo-verde (N. viridula) em algodoeiro
a quantidade de fibras descoloridas (manchadas) (Bommireddy et al., 2007). A porcentagem de maçãs podres por ocasião da infecção dos fitopatógenos Diplodia spp. e Fusarium spp., e de “carimãs” (capulhos com alguns ou todos os lóculos parcialmente abertos) foi significativamente maior na presenças de adultos de N. viridula (Willrich et al., 2004c). Todavia, a germinação de sementes provenientes de maçãs infestadas por essa espécie pode ser reduzida (Bommireddy et al., 2007). A dispersão do complexo de percevejos pentatomídeos fitófagos constituídos principalmente pelas espécies N. viridula, Acrosternum (Chinavia) hilare (Say, 1832) (percevejo-acrosterno ou percevejo-chinavia) e E. servus foi constatada de uma variedade de soja de ciclo de maturação tardio para variedades de algodoeiro Bt e não Bt, sem que houvesse diferenças significativas entre
as duas variedades de algodoeiro para o número de percevejos amostrados ao longo do tempo. Essa migração se estendeu do período de emissão das primeiras flores até o período de formação das primeiras maçãs (Bundy & Mcpherson, 2000). O monitoramento dos percevejos fitófagos da família Pentatomidae nas lavouras de algodão norte-americanas, para determinação do nível de controle, é realizado com o emprego de diferentes métodos de amostragem, sendo os métodos diretos da procura visual dos insetos na planta inteira ou em estruturas vegetativas e/ou reprodutivas da planta, da captura dos insetos com rede de varredura e da extração dos insetos do dossel das plantas com pano de batida (técnica denominada de “batida de pano”, amplamente recomendada para o monitoramento de percevejos-praga na cultura da soja), os mais comuns e utilizados
pelos cotonicultores norte-americanos (Greene et al, 2006). Outros métodos de amostragem ou monitoramento, como a avaliação dos sintomas de danos externos (manchas circulares escuras sobre o epicarpo) e/ou internos [sinais escuros de puncturas ou “verrugas” (calos celulares) sobre o mesocarpo], em maçãs não abortadas atacadas pelos percevejos, denominados de métodos indiretos, têm sido desenvolvidos e aprimorados nos Estados Unidos (Figura 2). (Greene & Herzog, 1999; Greene et al., 2000; Musser et al., 2007). De maneira geral, nos principais estados produtores de algodão dos Estados Unidos, o controle desses insetos nos algodoais é recomendado quando em média for encontrado um percevejo pentatomídeofitófago adulto por 1,83m (seis pés) de cultivo, através da metodologia com pano de batida, ou se forem encontrados, em média, 20% de
tabunda, N. viridula e E. heros, nas variedades isogênicas de algodoeiro, NuOpal (Bollgard) e DeltaOpal (não Bt), cultivadas sem o emprego de inseticidas, sendo que a metodologia de amostragem com pano de batida mostrou ser a mais eficiente e E. meditabunda a espécie mais abundante em relação às outras espécies do complexo de pentatomídeos fitófagos infestantes (Thomazoni, 2008). De maneira semelhante, Soria et al. (2009) detectaram pelo método de amostragem com pano de batida que os percevejos dispersantes da soja, E. heros, E. meditabunda e N. viridula, foram as principais espécies de pentatomídeos fitófagos dispersantes da soja que atacaram o algodoeiro NuOpal (Bollgard) e DeltaOpal (não Bt) cultivado sob condições de Cerrado. Dentre essas espécies, E. heros (percevejomarrom) e E. meditabunda (percevejo-asapreta-da-soja) foram as mais abundantes, sendo que E. meditabunda parece estar mais adaptada ao algodoeiro, uma vez que para essa espécie foi observado maior número de ninfas em relação ao número de adultos, evidenciando uma maior capacidade reprodutiva e/ou de adaptação. Normalmente, as áreas cultivadas com algodoeiro no Brasil são cercadas por lavouras de soja, o que pode favorecer a dispersão dos percevejos pentatomídeos fitófagos, da soja de final de ciclo para os algodoeiros em pleno desenvolvimento reprodutivo, causando prejuízos à produção de algodão. Em nossas condições de cultivo, o controle desses insetos é realizado sem critério algum quanto ao nível de controle (que ainda não está claro), empregando-se para isso, inseticidas de amplo espectro, não seletivos e altamente tóxicos.
Figura 2 - Injúrias do percevejo-marrom (E. heros) em maçã e capulho de algodoeiro: (A) puncturas externas escuras sobre o epicarpo, (B) puncturas internas e calos celulares sobre o mesocarpo, (C) fibras imaturas manchadas, (D) capulho sem injúria e (E) capulhos com fibras maduras manchadas e lóculos “carimãs” A)
B)
C)
D)
maçãs com 2,46cm de diâmetro (consideradas de tamanho médio), apresentando sinais de danos internos, associado à constatação dos percevejos na área cultivada (Greene et al., 1998; 2001; 2006).
Realidade no Brasil
No Brasil, poucos estudos sobre o complexo de percevejos fitófagos em algodoeiro foram realizados. Cruz Junior (2004) detectou que após dez dias do início do florescimento do algodoeiro, N. viridula e P. guildinii podem causar queda significativa de maçãs e afetar a qualidade da fibra. O ataque de um adulto de E. heros confinado por cinco dias em maçãs das variedades Bt [NuOpal (Bollgard)] e não Bt (DeltaOpal) com aproximadamente 25mm de diâmetro, foi capaz de reduzir, respectivamente, em 13% e 24% a produção de algodão em caroço dessas maçãs (Soria et al., 2010). Na safra 2006/2007, em Dourados (MS), através da metodologia de amostragem com pano de batida e por procura visual na planta inteira, foi constatada a infestação de E. medi-
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Miguel Ferreira Soria e Paulo Eduardo Degrande, UFGD – Dourados, MS Antônio Ricardo Panizzi, Embrapa Soja – Londrina, PR
Fotos Miguel F. Soria
E)
Considerando que a adoção de variedades Bt pelos cotonicultores brasileiros ao longo das safras aumente, com a consequente diminuição do número de aplicações de inseticidas para as pragas-alvos da tecnologia, aliada à iniciativa de programas regionais de supressão do bicudo-do-algodoeiro, reduzindo ainda mais o número de aplicações, e à utilização de inseticidas mais seletivos e específicos, ou de espectro reduzido, para o controle das pragas não alvo das proteínas Cry expressas nas variedades Bt; o complexo de percevejos fitófagos, particularmente os da família Pentatomidae, poderá adquirir importância econômica primária para o algodoeiro cultivado no Brasil, assim como ocorreu na região Sudeste e no Meio-Sul dos Estados Unidos a partir de 1996, com o início do cultivo de variedades Bt e a erradicação do bicudo-do-algodoeiro (Roberts, 1999; Edge et al., 2001; Torres & Ruberson, 2005). Dessa maneira, mais estudos sobre aspectos bioecológicos e econômicos se fazem necessários para que estratégias de controle, seguindo os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e utilizando técnicas alternativas de monitoramento, como a avaliação de sintomas externos e internos de injúrias sobre maçãs, sejam consolidadas para os pentatomídeos-praga, especialmente para a espécie E. heros, nos sistemas de produção de algodão Bt e não C Bt do Cerrado brasileiro.
Adultos de percevejo-marrom (E. heros), uma das principais espécies de pentatomídeos fitófagos dispersantes da soja, atacando maçã de algodoeiro
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Cana-de-açúcar
Alerta laranja Ferrugem causada pelo fungo Puccinia kuehnii, conhecida pela agressividade de ataque em canaviais da Austrália e em países das américas do Norte e Central, acaba de ser detectada no Brasil. Estimativa é de que a doença reduza a produtividade em 16 toneladas por hectare em áreas plantadas com variedades suscetíveis. Esforços de pesquisa se concentram na correta identificação e na busca por medidas de controle
A
descoberta da presença da ferrugem laranja, causada pelo fungo Puccinia kuehnii, no Brasil, coloca em alerta produtores de cana-de-açúcar e pesquisadores que trabalham com a cultura no país. A doença, que em 2000 ganhou notoriedade ao devastar canaviais cultivados com a variedade Q124, na Austrália, se dissemina pelo vento e já foi detectada nos estados de São Paulo e do Paraná. A estimativa é de que os prejuízos anuais ultrapassem R$ 300 milhões em áreas plantadas com variedades suscetíveis. Por atacar as folhas e reduzir o potencial de fotossíntese das plantas de cana, a ferrugem laranja afeta a produtividade. Em países das américas do Norte e Central, onde já foi identificada há mais tempo, os prejuízos chegam a 40%. “No Brasil trabalhamos com um percentual conservador, de 20%”, explica o pesquisador Enrico De Beni Arrigoni, do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). O cultivo de variedades resistentes ao fungo no país justifica a estimativa de danos menores por aqui. Mesmo assim, 16 toneladas das 80 produzidas em média por hectare nos canaviais brasileiros estariam comprometidas se afetadas pela doença.
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Fotos CTC
Período crítico
Variedades suscetíveis e resistentes
Como ocorre com grande parte dos fungos, Puccinia kuehnii, causador da ferrugem laranja, também é favorecido por alta umidade e temperaturas elevadas. Com isso, os meses de primavera, verão e início de outono (de setembro a abril) são considerados críticos para a ocorrência no Centro-Sul do Brasil. Os esporos de Puccinia kuehnii, embora em sua maioria sejam disseminados pelo vento, pela massa de ar, também podem ser levados por gotas de chuva e até mesmo por roupas infectadas nas lavouras (Uchôa, 2008 apud Moreno, 2008).
A
Semelhança com outras doenças
Um dos principais desafios neste momento é a correta identificação da doença. Até porque alguns dos sintomas são comuns a outras que já ocorrem no Brasil, como a ferrugem marrom (Puccinia melanocephala) e a mancha parda (Cercospora longipes). ”É preciso estar atento principalmente à formação das pústulas e à cor mais alaranjada dos esporos”, alerta o pesquisador Enrico Arrigoni. Para os associados, o CTC realiza a análise das amostras em laboratório. Produtores que suspeitam da presença de ferrugem laranja em seus canaviais também podem procurar as secretarias estaduais de Agricultura para que um técnico visite a área e colete amostras para análise.
Uso de fungicidas
De acordo com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), no Brasil ainda não existe nenhum teste realizado com a aplicação de fungicidas contra a ferrugem laranja. “Em outros países, o uso de triazóis
Ferrugem laranja pode reduzir em 20% a produtividade da cana no Brasil, alerta Arrigoni
apresentou eficiência, mas é importante alertar que por enquanto não há nenhum fungicida registrado contra a doença no Brasil”, lembra o pesquisador. Para o especialista, a viabilidade econômica da aplicação de defensivos vai depender muito das particularidades de cada canavial. “Em áreas plantadas com mudas suscetíveis pode valer a pena. Mas o mais indicado é sempre o uso de variedades resistentes”, defende.
Estágio x suscetibilidade
Em relação ao estágio, plantas mais jovens se mostram menos suscetíveis. “Até os quatro meses é difícil identificar cana
São resistentes à ferrugem laranja as variedades CTC1, CTC2, CTC4, CTC5, CTC6, CTC7, CTC8, CTC10, CTC11, CTC12, CTC13, CTC14, CTC15, CTC16, CTC17, CTC18, CTC19 e CTC20. As cultivares CTC3 e CTC9 apresentaram reação intermediária ao patógeno, com a constatação de sintomas apenas em folhas mais velhas. A variedade RB855156 também apresentou reação intermediária. Mostraram-se ainda resistentes ao fungo as variedades comerciais SP79-1011 SP80-1816, SP80-1842, SP80-3280, SP813250, SP83-2847, SP91-1049, RB867515, RB835486, RB855453 e RB855536. Já as variedades RB72454, SP84 2025 e SP89-1115 são suscetíveis à doença – com registro de nota máxima na ocorrência de “pústulas” nas folhas. com sintoma”, explica Arrigoni. Outra característica do fungo é o ataque exclusivo a canaviais. “Não há informações de outros hospedeiros.” Com a identificação da ferrugem da cana, sobe para 34 o número de doenças que atacam a cultura, relatadas no Brasil. No mundo inteiro são 180. “Quanto à agressividade, grosseiramente se pode comparar com o surgimento da ferrugem marrom no país, quando variedades tiveram de ser retiradas do plantel dos produtores por conta da doença”, lembra Arrigoni.
Canaviais infestados
A observação da formação das pústulas e a cor mais alaranjada dos esporos são fundamentais para identificar corretamente a ferrugem laranja
Segundo os dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), até o dia 21 de janeiro havia relatos de ferrugem laranja em canaviais do estado de São Paulo (regiões de Ribeirão Preto, Araraquara, Assis, Piracicaba e Araçatuba) e um foco detectado em Paranacity, no Paraná. Mas a expectativa é de que o número cresça nos próximos meses por conta da quantidade de esporos que circula no país. Segundo o pesquisador Enrico Arrigoni, o trabalho de contenção da doença agora deve estar focado na substituição das variedades suscetíveis, ainda cultivadas no país, por variedades que apresentam resistência ao fungo. A estimativa é de que esse processo ocorra em, aproximadamente, três anos. C
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Café
Folhas afetadas
A cercosporiose se caracteriza principalmente por danos associados ao desfolhamento do cafeeiro nas diversas fases da cultura. Umidade relativa alta, substratos pobres em matéria orgânica e desequilíbrio nutricional estão entre os fatores que favorecem a doença. Controlá-la exige a combinação de medidas culturais com a correta aplicação de fungicidas
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cercosporiose é uma das doenças mais antigas do cafeeiro, tanto na América do Sul, quanto na América Central. Na Colômbia é considerada uma das principais enfermidades na cultura do café por ser amplamente distribuída e ocasionar grandes perdas na produção. No Brasil, causa também prejuízos na produtividade, além de afetar o tipo e a qualidade do café produzido. O agente causal dessa doença é o fungo Cercospora coffeicola Berk & Cook, que recebe várias denominações, de acordo com a região onde incide, como: cercosporiose, mancha-de-olho-pardo, olhode-pomba e olho-pardo. Os sintomas característicos nas folhas são manchas circulares de coloração castanho-claro a escuro, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvido por um halo amarelado. Nos frutos, ocorrem lesões deprimidas de coloração escura, que se desenvolvem no sentido polar. Podem atacar frutos verdes, causando maturação precoce da casca em tomo da mancha. Nos últimos anos tem sido observados sintomas diferentes nas folhas, caracterizados por manchas escuras sem halo amarelado que, em algumas regiões, têm sido denominados de cercospora negra. Os principais danos provocados são: a) em viveiros: queda de folhas e raquitismo das mudas; b) em pós-plantio: desfolhamento e atraso no crescimento das plantas; c) em lavouras novas: queda de folhas, frutos e seca de ramos produtivos, após as primeiras produções; d) em lavouras adultas: queda de folhas, amadurecimento precoce, queda prematura e chochamento dos frutos. As lesões funcio-
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nam como uma porta de entrada para outros fungos e bactérias que depreciam a qualidade do café.
Fatores que favorecem a doença
Em geral, o fungo necessita de umidade relativa alta, temperatura baixa e excesso de insolação para o seu desenvolvimento. Nos viveiros, além das condições climáticas favoráveis, os substratos pobres em matéria orgânica ou sem as devidas correções químicas, com relações desequilibradas dos nutrientes e solos com textura inadequada (muito argilosos ou muito arenosos), são fatores que podem predispor as mudas a uma incidência da cercosporiose. Nos plantios realizados no final do período chuvoso (início da seca), é comum ocorrerem ataques severos do fungo, promovendo um desfolhamento acentuado das plantas. O déficit hídrico, os ventos frios ou quaisquer condições adversas após o plantio predispõem as mudas ao ataque da cercosporiose. A incidência é ainda mais severa se o preparo das covas ou dos sulcos de plantios for inadequado. Em lavouras adultas, além das condições climáticas, a nutrição deficiente e/ou desequilibrada em solos muito argilosos, muito arenosos ou solos compactados, assim como sistemas radiculares deficientes ou pião torto, são fatores que predispõem as plantas à doença. As condições do solo e do sistema radicular influenciam diretamente a nutrição da planta. Inúmeros trabalhos indicam que a nutrição deficiente ou desequilibrada tem efeito direto na intensidade de ataque da Cercospora. Doses maiores de N diminuem a incidência da cercosporiose, enquanto que o K interage negativamente com N, diminuindo seu efeito. Os desequilíbrios da relação N/K também favorecem o desenvolvimento da doença. Lavouras com deficiência de N ou excesso de K sofrerão maior incidência da doença. Ao contrário do que ocorre com a ferrugem, a incidência da cercosporiose é menor nos plantios adensados. Além do auto-sombreamento, a maior disponibilidade de água e de minerais desfavorece a doença.
Fotos Vicente Luiz de Carvalho
Os sintomas característicos nas folhas são manchas circulares de coloração castanho-claro a escuro, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvido por um halo amarelado
Controle cultural
Sob o ponto de vista do manejo integrado, a cercosporiose ou olho-pardo é uma doença com maior possibilidade de ser controlada através do manejo e de práticas culturais, podendo até dispensar o uso de agroquímicos.
Práticas culturais em viveiros
a) instalar os viveiros em lugares secos e arejados; b) controlar o ambiente do viveiro, evitando alta umidade, baixas temperaturas, ventos frios ou excesso de insolação; c) encher os saquinhos com solo de boa textura, a fim de proporcionar substrato com boa porosidade; d) preparar o substrato com esterco puro
e bem curtido; e) manter as mudas com umidade adequada, evitando-se o excesso ou a sua falta; t) adicionar nutrientes em quantidades adequadas. Práticas culturais nas fases de plantio e pós-plantio a) evitar o plantio em solos arenosos e/ ou pobres; b) fazer bom preparo do solo, livre de compactações e adensamentos para proporcionar bom arejamento e desenvolvimento das raízes; c) fazer, com certa antecedência, a análise de solo e as correções necessárias, um bom preparo das covas e dos sulcos de plantio. Seguir um plano de adubação e nutrição adequado,
incluindo sempre a utilização de compostos orgânicos; d) estar atento ao controle dirigido, principalmente se o plantio for feito no final do período chuvoso, pois o excesso de insolação, ventos e a deficiência hídrica predispõem as plantas à incidência da cercosporiose.
Práticas culturais em lavouras adultas
a) fazer o planejamento das adubações, principalmente durante as primeiras produções dos cafeeiros, a fim de evitar o desequilíbrio da relação parte aérea/sistema radicular, condição que não favorece a doença; b) fazer o acompanhamento periódico do estado nutricional das plantas, através de análises foliares e de solo; c) manter o equilíbrio da relação dos teores foliares de N/K em lavouras adultas, principalmente em anos de carga pendente alta, com o objetivo de diminuir a incidência da cercosporiose; d) manter os cafeeiros sombreados ou em sistemas de plantio adensado, a fim de reduzir a incidência da doença.
Controle dirigido
Quando o controle cultural não for suficiente para reduzir a doença, tanto nas mudas no viveiro, no campo após o plantio ou em cafeeiros já em produção, a doença deve
Sintomas de cercosporiose em folhas de cafeeiro
A cercosporiose induz o amadurecimento precoce dos frutos de café
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Gráfico 1 – Curva de evolução da cercosporiose do cafeeiro, Epamig – São Sebastião do Paraíso (MG)
Carvalho recomenda a adoção de práticas culturais e de controle químico para o manejo da cercosporiose
de germinação dos esporos. Nesse grupo de fungicidas estão os cúpricos (produtos à base de cobre), que apresentam algumas vantagens como: atuam bem sobre outros patógenos como a ferrugem, que é considerada a principal doença do cafeeiro; fonte de cobre como nutriente para a planta; efeitos benéficos na qualidade, na retenção de folhas e frutos com reflexos positivos na produção e adaptável a vários programas de controle. b) Curativos e erradicantes (sistêmicos). Produtos que atuam protegendo as folhas, curando ou mesmo erradicando a doença depois de instalada, pois translocam dentro da planta. Nesses grupos os principais fungicidas são triazóis, estrobilurinas, benzimidazóis,
Fotos Vicente Luiz de Carvalho
ser controlada com aplicação de fungicidas específicos, logo após o aparecimento dos primeiros sintomas. As aplicações podem ser feitas de dezembro/janeiro a março/abril. A época de maior incidência da doença é março/abril (Gráfico 1), período que coincide com a fase de maturação dos frutos, podendo causar sérios prejuízos. Deve-se seguir rigorosamente o intervalo de 30 dias entre as aplicações. Dois grupos de produtos podem ser usados: a) Preventivos (contato). Produtos que aplicados na superfície das folhas constituem uma barreira tóxica capaz de evitar a penetração do fungo, mediante a inibição
As folhas são um dos principais alvos da cercosporiose na cultura do café
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ditiocarbamatos, misturas pré-formuladas desses fungicidas e outros (Quadro 1). c) Outra alternativa que tem sido utilizada e que pode ser um bom sistema de controle é o uso combinado de cúpricos (preventivo de contato) com sistêmicos, tanto em misturas pré-formuladas como em aplicações separadas em épocas distintas. De um modo geral essas combinações em um programa de controle aliam os benefícios dos cúpricos com os dos sistêmicos, dando um eficiente controle tanto C da cercosporiose como de ferrugem. Vicente Luiz de Carvalho, Rodrigo Luz da Cunha e Nathan Resende Naves Silva, Epamig Quadros 1 – Alguns fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle da cercosporiose do cafeeiro - 2008 Ativo Doses p.c./ha ou 100l de água 1. Cúpricos Oxicloreto de cobre 2 – 5kg/ha Hidróxido de cobre 2 – 3L/ha, 2 – 5kg/ha Óxido cuproso 1,2 – 3kg/ha 2. Triazóis Tebuconazol 1kg/ha, 1L/ha Propiconazol 0,56L/ha Cyproconazol + 2,5 – 3kg/ha oxicloreto de cobre Tebuconazol + triadimenol 0,8L/ha 3. Estrobilurinas e associações Pyraclostrobin 0,8L/ha Azoxistrobin 100g/ha Pyraclostrobin + Epoxiconazol 1,5L/ha Azoxistrobin + Cyproconazol 500ml/ha Trifloxistrobin + Cyproconazol 0,4 – 0,6L/ha 4. Outros grupos Isoftalonitrila + 1,25kg/ha, 400 – benzimidazol 500ml/100l de água Benzimidazol 70 – 250g/100L de água Ditiocarbamato 2 – 4kg/ha Isoftalonitrila 2 – 3kg/ha Isoftalonitrila + oxicloreto de cobre 1,25kg/ha Ditiocarbamato + oxicloreto de cobre 1,5 – 3kg/ha Fonte: Agrofit 2008