Grandes Culturas - Cultivar 141

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 141 • Fevereiro 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas capas

Daniel Santos Grohs

Colheita sem atropelos..........................20

Charles Echer

Colher de forma planejada, sem atrasos, é estratégia importante para os produtores de arroz evitarem prejuízos com pragas, plantas daninhas e doenças de final de ciclo

Como prevenir...........................08 Doença mapeada........................10 Hora de aplicar..........................16 Saiba como o tratamento de sementes pode ser utilizado para combater o percevejo-barriga-verde na cultura do milho

Conheça as regiões mais vulneráveis à ferrugem alaranjada em canaviais do estado de São Paulo

Índice

A interferência do momento da aplicação de fungicidas na luta contra a ferrugem asiática

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Doenças foliares em milho

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• Editor

Percevejo-barriga-verde em milho

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• Design Gráfico e Diagramação

Mapa da ferrugem alaranjada em cana

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• Revisão

Corós em soja

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Ferrugem em soja

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Cuidados com a colheita de arroz

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Mosca-branca em algodão

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Ramulária em algodão

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REDAÇÃO Gilvan Dutra Quevedo Cristiano Ceia

Aline Partzsch de Almeida

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Letícia Gasparotto Ariani Baquini

• Secretária

Rosimeri Lisboa Alves

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

• Expedição

Edson Krause

GRÁFICA

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter

Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Números atrasados: R$ 15,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Broca-do-café

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Coluna ANPII

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Coluna Agronegócios

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br

Mercado Agrícola

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www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Evento tecnológico

A GVS-Centro de Pesquisa e Tecnologia Agrícola promove, no dia 19 de março, o 2º GVS Tec, evento de difusão tecnológica que se consolida no cenário agrícola regional e nacional. O evento será na Rodovia GO-436 que interliga as regiões Sul e Sudeste, localizada no Km 51 à margem esquerda. O 2º GVS Tec abordará temas relativos ao controle fitossanitário, à adubação de cobertura e demonstrações de variedades das culturas de milho, soja, algodão e sorgo. Outras informações sobre o evento podem ser obtidas pelo site www.sigmaac.com.br ou pelo telefone (61) 3601-3070.

Prêmio

Carlos Eduardo Schaedler, estudante do Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), conquistou o 2º lugar no prêmio “Graduate student (PhD) paper contest”, na Arkansas Crop Protection Association (ACPA), uma reunião técnica que ocorre anualmente no estado do Arkansas, Estados Unidos. O artigo premiado, que integra seu doutorado, foi “Cross Resistance to ALS-Inhibitor Herbicides in Fimbristylis miliacea under Field Conditions in Southern Brazil”, orientado por José Alberto Noldin e co-orientado por Dirceu Agostinetto. Schaedler realiza doutorado sanduíche na Universidade do Arkansas, sob supervisão da professora Nilda Burgos, e tem previsão de retorno ao Brasil em março deste ano. Carlos Eduardo Schaedler (dir.)

Lançamentos

A Nufarm lança uma gama de inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas. A empresa apresenta também um novo conceito e posicionamento (N Soluções), com o objetivo de assinalar seus 50 anos de presença no mercado brasileiro, em 2011. “Estamos confiantes no futuro do Brasil e na competitividade do agronegócio, por isso vamos continuar investindo nos próximos 50 anos. Como fruto desta confiança, lançaremos 12 produtos já no primeiro semestre de 2011”, adianta o diretor de Marketing, Gilberto Schiavinato.

Marketing

A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf tem novo diretor de Marketing: o engenheiro agrônomo André Malzoni dos Santos Dias. “Acredito que a sólida experiência, adquirida em minha trajetória profissional, contribua para que a empresa atinja objetivos estratégicos e siga como modelo do setor” projeta Dias. Durante a carreira, Dias liderou a criação de estratégias globais e regionais, além de programas de marketing voltados à criação de valor na cadeia do agronegócio.

Aprovação

Participação

A Ihara esteve presente pela primeira vez no Dia de Campo C.Vale e apresentou sua linha de produtos para manejo dos principais desafios enfrentados junto às culturas da região, tais como: manejo de plantas daninhas de difícil controle (destaque para a buva), Manejo de antracnose e mancha alvo na soja, controle de percevejos e lagartas e manejo de mosca branca. “Além disso, tiramos as dúvidas dos produtores e apresentamos os resultados do uso de nossos produtos no campo, que agradaram muito os visitantes do evento”, relatou o consultor técnico de Culturas da Ihara, Thiago José Rodrigues Asmar.

Novidades

“Os visitantes que passaram pelo estande e pelos campos demonstrativos da Bayer CropScience no C.Vale puderam conhecer melhor as principais soluções e os resultados obtidos com o portfólio para as culturas de milho e soja“ relatou Everton Queiroz, gerente da Regional Cascavel, da Bayer CropScience. A empresa expôs, também, o inseticida CropStar, indicado para tratamento de sementes de soja e milho, além de proteger a fase inicial da lavoura do ataque de várias espécies de insetos-praga e dos nematoides.

Roteiro técnico

O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) realizou no dia 21 de janeiro um roteiro técnico na lavoura de Carlos Alberto Iribarrem Júnior, no município de Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. Mais de 70 pessoas participaram do evento. Entre os temas abordados pelos engenheiros agrônomos do Irga, Daniel Grohs e José Mauro Guma, estiveram uso de sementes certificadas, tratamento de sementes, estratégias de adubação, manejo de irrigação e manejo integrado de doença, rotação com soja e pastagem, sistema Clearfield, época e José Mauro Guma Daniel Grohs dinâmica de plantio.

Presença

Heleno Facchin, responsável técnico e comercial da Milenia Agrociências na Região Leste do Rio Grande do Sul, esteve presente no roteiro técnico realizado na lavoura de Carlos Alberto Iribarrem Júnior, em Capão do Leão (RS). Para Facchin, esta interação com o produtor na lavoura é fundamental para conhecer suas Heleno Facchim necessidades. André Malzoni dos S. Dias

A Syngenta acaba de receber aprovação para o milho geneticamente modificado que traz a combinação de eventos Bt11 x MIR 162 x GA21. As novas sementes, com o evento triplo, estarão disponíveis já na safra de 2011/12. “A possibilidade de reunir vários eventos em uma só semente traz mais valor ao produtor, já que reúne os benefícios da resistência a insetos e da tolerância a herbicidas”, avalia Laercio Giampani, diretor geral da Syngenta no Brasil. São os eventos Bt11 e MIR162 que conferem à planta resistência aos insetos, controlando inclusive a lagarta do cartucho, principal praga que atinge o milho no Brasil atualmente. Já o evento GA21 traz tolerância ao glifosato, o que garante ao agricultor mais comodidade Laercio Giampani na hora de aplicar herbicidas na lavoura.

Equipe

A Dow Agrosciences, representada pelos engenheiros agrônomos Rogério Rubim, Otavio Torres, Carlos Mariot e Adriano Luiz Mercado, de Tocantins, participou do roteiro técnico realizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), na lavoura de Carlos Alberto Iribarrem Júnior, em Capão do Leão (RS). Juntamente com a equipe estiveram dois consultores, da Impar Consultoria, localizada em Tocantins, região também produtora de arroz, que vieram conhecer o Projeto 10 desenvolvido pelo Irga.

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Milho

Foco no controle

Com o período da safrinha é hora de o produtor de milho estar atento à incidência de doenças foliares. A aplicação de fungicidas no momento mais adequado, sem negligenciar atenção a aspectos como a cultivar escolhida pelo agricultor, a época de semeadura e a região onde está implantada a lavoura, são algumas das ferramentas para o manejo eficiente desse complexo de doenças

A

Rodrigo Véras da Costa

expressão da cultura do milho tem aumentado significativamente nas lavouras brasileiras, assim como a frequência com que determinadas doenças ocorrem neste cereal, podendo causar prejuízos no rendimento ao redor de 40%. Para que este impacto seja minimizado, alguns fatores são fundamentais nos momentos de planejamento e condução da cultura. Entre eles: o local e a época a serem semeadas (safra ou safrinha), a identificação e a quantificação das doenças fúngicas que incidem na cultura do milho e a escolha das cultivares e o controle químico por meio de fungicidas. Os dois últimos pontos mencionados são alvos de intensos estudos a fim de encontrar as melhores combinações entre cultivares, de acordo com sua suscetibilidade às doenças e as fases de desenvolvimento da cultura que melhor respondem à aplicação de fungicidas, visando assim obter melhores índices de produtividade. A ocorrência de doenças na cultura do milho começa desde a infecção em sementes até os grãos em fase de colheita. E é neste período que ocorre a incidência das doenças foliares que, provavelmente, acarretam maiores prejuízos quando não controladas de maneira eficiente. Dentre as doenças foliares mais expressivas nos milharais brasileiros destacam-se quatro, sendo elas as ferrugens polissora (Puccinia polysora) e comum (Puccinia sorghi) e as manchas foliares cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) helmintosporiose (Helminthosporium turcicum). Ferrugem polissora (Puccinia polysora) A ferrugem polissora é uma doença favorecida por temperaturas em torno de 27ºC, umidade alta e altitudes inferiores a 900 metros. Altitudes superiores a 1.200 metros são desfavoráveis ao desenvolvimento da doença. Os sintomas da ferrugem polissora são caracterizados pela formação de pústulas circulares a ovais, de coloração marrom-claro, distribuídas, predominantemente, na face superior das folhas. A doença está distribuída por toda a região Centro-Oeste, pelo noroeste de Minas Gerais,

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Hanhart, LAP NS 2009

Fotos Maize Deseases

Temperaturas entre 16ºC e 23ºC, altas umidades e altitudes superiores a 900m favorecem a ferrugem comum Nonononononoononon

por São Paulo e por parte do Paraná. Ferrugem comum (Puccinia sorghi) A ferrugem comum do milho é uma doença favorecida por temperaturas entre 16ºC e 23ºC, alta umidade relativa e altitudes superiores a 900 metros, portanto, desenvolvese em locais de clima ameno. Caracteriza-se pela formação de pústulas de formato circular a alongado e coloração castanho-claro a escuro, que se acentua à medida que as pústulas amadurecem e se rompem, liberando os uredósporos, que são os esporos típicos do patógeno. A ferrugem comum ocorre em toda a parte aérea da planta, mas em maior quantidade nas folhas. Seus sintomas são visíveis nas faces inferior e superior da folha, sendo estas as características que diferenciam a ferrugem comum da ferrugem polissora. No Brasil, a doença tem ampla distribuição com severidade moderada, tendo maior severidade nos Estados da região Sul. Cercosporiose (Cercospora zeae-maydis) São consideradas condições ideais para o desenvolvimento da doença temperaturas entre 25ºC e 30oC e de umidade relativa do ar superior a 90%. Restos culturais de milho são importante fonte de inóculo e a disseminação dos esporos ocorre por meio destes restos culturais, carregados pelo vento e por respingos de chuva. Os sintomas da cercosporiose caracterizam-se por manchas de coloração cinza, predominantemente retangulares, com as lesões desenvolvendo-se paralelas às nervuras. Com o desenvolvimento dos sintomas da doença, pode ocorrer necrose de todo o tecido e, em algumas situações de ataques severos, outros patógenos podem infectar o colmo, resultando na incidência de plantas acamadas na lavoura. A doença está presente em praticamente todas as áreas de plantio de milho – no CentroSul do Brasil - e ocorre com alta severidade em cultivares suscetíveis.

Tecido necrosado, variando de cinza a marrom, é um dos sintomas da helmintosporiose

Helmintosporiose (Helminthosporium turcicum) Os sintomas da helmintosporiose são lesões necróticas, elípticas, medindo de 2,5cm a 15cm de comprimento, com a coloração do tecido necrosado variando de cinza a marrom. O mais típico para esta doença é que no interior das lesões observa-se intensa esporulação do patógeno. Geralmente a doença começa por folhas mais velhas. Este patógeno também tem capacidade de sobreviver em restos da cultura e a disseminação ocorre pelo transporte de conídios pelo vento a longas distâncias. Temperaturas entre 18ºC e 27°C são favoráveis à helmintosporiose, bem como a ocorrência de longos períodos de molhamento foliar.

reprodutiva da cultura. B – Entre dez e 12 folhas expandidas na cultura, visando a proteção daquelas folhas que têm o papel mais relevante no envio de fotoassimilados para o enchimento dos grãos, no momento em que a planta atingir a fase reprodutiva. C – VT ou pré-pendoamento: esta aplicação deverá ocorrer imediatamente antes do pendoamento do milho, visando controlar doenças que ocorrem de maneira mais tardia e mantendo a proteção das folhas mais próximas da espiga. É importante ressaltar que, ao longo de quatro épocas de pesquisas realizadas entre safras e safrinhas pelas equipes de Pesquisa e Desenvolvimento da Bayer CropScience, de maneira geral, no período considerado plantio de safra, as aplicações realizadas nos momentos A e B são as que mostram melhor resposta em eficácia e produtividade. Já para a época considerada safrinha, as aplicações realizadas nos momentos B e C são as que trouxeram os melhores benefícios. Entre os fungicidas disponíveis, a combinação em apenas um produto dos ingredientes ativos tebuconazole e trifloxystrobrin tem apresentado excelentes respostas em termos de eficácia e incremento em produtividade, no programa de controle das doenças foliares C do milho. Mário Luckmann e Rafael Pereira, Bayer CropScience

Medidas para controle de doenças foliares em milho

A Bayer CropScience, como uma das líderes na área de ciências agrícolas, tem desenvolvido e atualizado, de acordo com o lançamento de novas cultivares, uma metodologia que combina a cultivar escolhida pelo produtor, sua época de semeadura e região. Com base nestas informações é feita a recomendação para aplicação do fungicida foliar mais adequada para atender às necessidades dos produtores rurais. As recomendações para o controle do complexo de doenças em milho são baseadas em três momentos de aplicação A, B e C, conforme descritos abaixo: A – Aplicação foliar entre sete e oito folhas expandidas na cultura, visando a proteção da planta em regiões, épocas e cultivares em que as doenças podem ocorrer bem antes da fase

Lesões que se desenvolvem paralelas às nervuras são características da cercosporiose

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Milho

Sem atrasos

Fotos Esalq/USP

Para combater o percevejo-barriga-verde no milho o melhor caminho é a prevenção, através do tratamento de sementes. Aplicações atrasadas de inseticidas, dez dias a 15 dias após a emergência das plantas, podem se tornar ineficazes, pois mesmo que consigam controlar a praga, o dano ocorrerá se a toxina já foi injetada

das vezes passam despercebidos pelos agricultores, dificultando o emprego de medidas para o seu controle. Atualmente um número grande de pragas tem causado problemas para a cultura, sendo o percevejo-barriga-verde uma das mais importantes, causando danos logo após a emergência das plantas. O percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus Fabr, 1775), que era tido como praga secundária na cultura da soja, se tornou uma praga muito importante na cultura do milho, nas últimas safras. Os insetos adultos e as ninfas injetam toxinas no colo das plântulas, durante o processo de alimentação, causando deformação, podendo levá-las à morte e/ou ao intenso perfilhamento, que são totalmente improdutivos. Os agricultores precisam estar atentos ao momento mais adequado para se efetuar o controle desta praga, pois aplicações atrasadas de inseticidas, ou seja, passado o período de dez a 15 dias após a emergência das plantas, pode se tornar ineficaz, pois mesmo havendo o controle dos insetos, o dano irá ocorrer se a toxina já foi injetada. Portanto, a recomendação mais adequada para o controle do percevejo-barriga-verde é de forma preventiva, através do tratamento de sementes.

Objetivo

N

as duas épocas de cultivo do milho a ocorrência de doenças, plantas daninhas e insetos-pragas, juntos ou individualmente, tem afetado significativamente o potencial produtivo da cultura. Grande número de insetos é encontrado na lavoura de milho, com algumas espécies causando sérios prejuízos aos agricultores. De forma geral, verifica-se que os maiores problemas, devido ao ataque das pragas, ocorrem na etapa inicial do desenvolvimento das plantas, quando ainda apresentam pequeno número de folhas e porte reduzido. Nestas condições, ataques de insetos poderão danificar sensivelmente a cultura, bem como afetar drasticamente a produção. As pragas iniciais atacam as sementes e plântulas do milho, provocam redução

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no número de plantas na área cultivada e consequentemente do potencial produtivo das lavouras. Esses insetos são de hábitos subterrâneos ou superficiais e na maioria

O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a eficiência do tratamento de sementes com inseticidas, para o controle do percevejobarriga-verde ocorrente na cultura do milho. O trabalho foi desenvolvido pelo Grupo de Experimentações e Recomendações Agronômicas, integrado por alunos de graduação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, Piracicaba - SP, estagiários do Departamento de Produção Vegetal, sob orientação do professor Geraldo José Aparecido Dario e co-orientação do biólogo

Trabalho desenvolvido pelo Grupo de Experimentações e Recomendações Agronômicas, da Esalq, avaliou eficiência do tratamento de sementes com inseticidas contra o percevejo-barriga-verde

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Tabela 2 - Eficiência do tratamento de sementes com inseticidas no controle do percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus Fabr, 1775) ocorrente na cultura do Milho (Zea mays L.), Número médio de plantas atacadas pelo percevejo-barriga-verde, por parcela

Pesquisadores concluíram que o tratamento de sementes não causou fitointoxicação às plantas

Fernando Negrisiolo Della Valle. O estudo foi realizado no Vale do Paranapanema, importante região produtora do estado de São Paulo, onde a praga tem ocorrido e exigido eficiente controle, sendo o experimento conduzido na estação experimental da Cooperativa Mista dos Cafeicultores da Média Sorocabana (Coopermota), em Cândido Mota, estado de São Paulo, em área de plantio direto com a cultivar AGN-2012. A semeadura foi realizada no dia 15 de abril de 2009, na densidade de 20,00kg de sementes/ha, correspondendo a 7,00 sementes por metro. A adubação constou da aplicação, na semeadura, do equivalente a 300,00kg/ha da fórmula 04-14-08. Não ocorreram doenças que pudessem comprometer o ensaio, e as plantas daninhas foram controladas através da aplicação em pré-emergência do herbicida (Atrazina + S-metolacloro) na dose de 4,00L P.C./ha (1.480,00 + 1.160,00g i.a./ha). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com dez tratamentos e quatro repetições, e as parcelas foram constituídas de seis linhas de plantas de milho com 7,00m de comprimento, espaçadas de 0,75m, apresentando área de 31,50m². Os tratamentos das sementes foram realizados momentos antes da semeadura, segundo os métodos recomendados pelos

Tratamentos

Dose

Testemunha Imidacloprido Fipronil + Acetamiprido Fipronil Acetamiprido Clotianidina Tiametoxam Imidacloprido + Tiodicarbe C.V. (%)

350,00 ml 200,00 ml (1) 100,00 ml (1) 350,00 g (2) 400,00 ml (2) 600,00 ml (2) 1.750,00 ml (2)

Nº médio de plantas atacadas / Dias após a emergência (dae) 25 40 %E %E 7,75 a 13,25 a 1,25 c 2,25 bc 83,87 83,02 0,75 c 1,50 c 90,32 88,68 1,50 bc 2,50 bc 80,64 81,13 3,00 b 3,75 b 61,29 71,70 1,50 bc 2,50 bc 80,64 81,13 1,50 bc 2,50 bc 80,64 81,13 1,25 c 2,00 c 83,87 84,91 12,75 9,18

(1) Para uma quantidade de 20,00 kg de sementes por hectare. (2) Para uma quantidade 100,00 kg de sementes. * Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. ** Para a análise de variância, os dados foram transformados em √(x+0,5). *** Para o cálculo da Porcentagem de Eficiência (% E), foi utilizada a fórmula de Abbott.

fabricantes. As avaliações de controle do percevejo-barriga-verde foram realizadas, em todos os tratamentos, aos 25 e 40 dias após a emergência plena da cultura (DAE), através da contagem do número de plantas atacadas pelo percevejo-barriga-verde, amostrando-se 5,00 metros de cada uma das quatro linhas centrais de cada parcela. Para verificar a seletividade dos produtos foi realizada a contagem das plantas emergidas, na ocasião da primeira avaliação de eficácia dos produtos.

Resultado e discussão

Na Tabela 2, onde são apresentados os dados de controle do percevejo-barrigaverde (Dichelops furcatus Fabr, 1775), observa-se que, com exceção do tratamento com o inseticida (Acetamiprido), todos os tratamentos apresentaram-se eficientes nas duas épocas avaliadas, com porcentagens de controle na segunda avaliação que variaram de 81,13% a 88,68%, não diferindo estatisticamente entre si.

Através da contagem de plantas emergidas, verificou-se que nenhum produto nas doses aplicadas causou fitointoxicação à cultura.

Conclusão

O resultado obtido nesta pesquisa permite concluir que com exceção do inseticida Acetamiprido todos os produtos são eficientes no controle do percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus) ocorrente na cultura do milho (Zea mays L.), e não causam fitointoxicação às plantas. C Iuri Dario, Stefano Capato, Guilherme Hungueria, Leandro Córdova, Murilo Scarso, Tiago Alves, Fernando Della Valle e Geraldo Dario, Esalq/USP

Tabela 1 - Tratamentos Nome comum Testemunha Imidacloprido Fipronil + Acetamiprido Fipronil Acetamiprido Clotianidina Tiametoxam Imidacloprido + Tiodicarbe

Dose i.a. P.C. 210,00g 350,00 ml 20,00 g (1) + 80,00g 200,00 ml 25,00g (1) 100,00 ml 245,00g (2) 350,00 g 240,00g (2) 400,00 ml 210,00g (2) 600,00 ml 262,50g (2) + 787,50g 1.750,00 ml

(1) Para uma quantidade de 20,00 kg de sementes por hectare. (2) Para uma quantidade 100,00 kg de sementes.

Equipe coordenada pelo professor Geraldo Dario conduziu estudo em lavoura de milho no Vale do Paranapanema, São Paulo

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Cana-de-açúcar

O

Brasil é o maior produtor mundial de cana-deaçúcar (Saccharum officinarum L.), com uma área colhida de oito milhões de hectares, sendo o estado de São Paulo responsável por aproximadamente 60% da produção nacional, com cerca de cinco milhões de hectares cultivados. Com cultivo influenciado principalmente pelas condições edafoclimáticas e fitossanitárias, os canaviais brasileiros sofrem com a ocorrência de doenças capazes de reduzir o rendimento da cultura, fato que representa um dos maiores desafios para o setor sucroalcooleiro. Carvão, ferrugem marrom, mosaico, escaldadura, amarelinho e raquitismo são moléstias que atacam essa cultura. Porém, a recém-introduzida ferrugem alaranjada, causada pelo fungo Puccinia kuehnii, tem despertado o interesse da comunidade canavieira devido ao seu elevado potencial destrutivo. Apresentando-se com sintomas na forma de manchas, que se iniciam com pequenas pontuações alongadas amareladas nas folhas e conforme o amadurecimento das lesões e a produção de urediniosporos vão se tornando alaranjados, a doença reduz a área fotossinteticamente ativa da planta, podendo causar a morte da cana antes da conclusão de seu ciclo normal de vida, afetando o desenvolvimento e a produtividade. Doença antiga da cana-de-açúcar, a ferrugem alaranjada vinha sendo observada durante vários anos apenas no sudeste da Ásia e Oceania sem gerar grandes danos à cultura, até causar o surto epidêmico na Austrália, nos anos de 1999/2000, quando infectou a variedade suscetível Q124, que ocupava 86% da área plantada da Província de Queensland, principal região produtora australiana, gerando grandes danos. Devido à sua alta disseminação por correntes aéreas, o patógeno chegou ao continente americano, inicialmente na Flórida, em 2007, seguindo para a América Central.

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Doença mapeada Pesquisadores realizam zoneamento dos fatores climáticos que favorecem a ferrugem alaranjada na cana-de-açúcar, em São Paulo, e confeccionam mapa de risco de ocorrência nas diversas regiões do estado. Ferramenta serve para o planejamento varietal da cultura, com o objetivo de evitar problemas com a doença nas próximas safras Figura 1 - Fenologia da cana-de-açúcar

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No Brasil a primeira notificação da doença foi em dezembro de 2009, no município de Rincão, região de Araraquara, interior de São Paulo, alastrando-se para as demais regiões do estado, e em seguida para plantações do Paraná, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais. Nos lugares onde a ferrugem alaranjada tem ocorrido, o controle tem sido feito basicamente com o plantio de variedades resistentes. Nas variedades suscetíveis, o controle vem sendo feito por meio da aplicação de fungicidas durante as janelas de favorabilidade à doença e no início do ciclo das infecções. Porém, vários aspectos importantes ainda precisam ser conhecidos para um manejo adequado e racional da doença, sendo necessárias informações como condições, épocas e locais mais favoráveis para a ocorrência da doença.

Variáveis climáticas

Para estabelecer o zoneamento e os níveis de risco climático para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar no estado de São Paulo, de modo a subsidiar a alocação de variedades nas diferentes regiões produtoras, caracterizaram-se as variáveis climáticas condicionantes ao desenvolvimento da doença, como a temperatura, a precipitação e o excedente hídrico,

Fotos CTC

A ferrugem alaranjada afeta o desenvolvimento e a produtividade da cana-de-açúcar, podendo causar a morte da planta antes da conclusão do seu ciclo normal

a partir do levantamento das epidemias da doença ocorridas na Província de Queensland, Austrália, em 1999/2000, e no estado de São Paulo, em 2009/2010. A análise da disponibilidade hídrica decendial, sazonal e anual foi realizada por meio do balanço hídrico climatológico proposto por Thornthwaite e Mather (1955), utilizando-se os programas elaborados em planilha eletrônica por Rolim

et al (1998). Com os dados médios foram determinados os balanços hídricos normais pelo programa BHNorm e com a série de dados de chuva e temperatura dos locais foram determinados os balanços hídricos sequenciais, para os anos de 1999 e 2000 para várias localidades da Província de Queensland e de 2009 e 2010 para os diversos pontos do estado de São Paulo, com o programa BHSeq.


CTC

Tabela 1 – Níveis de risco climático para ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar para o estado de São Paulo conforme o Índice de Favorabilidade Climática à Ferrugem Alaranjada da Cana-de-açúcar (Ifac) Ifac 0-2 2,1-4 4,1-6 6,1-8 8,1-10

Nível de risco Baixo Moderado-Baixo Moderado-Alto Alto Muito Alto

Compararam-se os excedentes hídricos da série histórica e a temperatura média normal, ambos para os períodos de janeiro a junho para a Província de Queensland e, de setembro a fevereiro para o estado de São Paulo, períodos considerados mais críticos para o desenvolvimento da P. kuehnii para os respectivos locais, com o ocorrido nos anos de epidemia da doença, estabelecendo-se os parâmetros climáticos, definidos como: número de decêndios com excedente hídrico (NDEXC) e número de decêndios com temperatura média ideal (NDTideal).

Severidade e índice climático

A avaliação da severidade da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar para o estado de São Paulo foi feita pelas notas atribuídas por levantamentos técnicos de campo em 40 locais do estado, entre os meses de janeiro e fevereiro para variedades suscetíveis a P. kuehnii, baseada na escala de avaliação de ferrugem (BTC, 1987) (Figura 1), a qual atribui notas de 1, sem manifestação da doença, a 9, mais de 50% da área foliar da planta afetada pelo fungo. Essas notas fo-

A primeira notificação da presença da ferrugem alaranjada no Brasil ocorreu em dezembro de 2009, no interior de São Paulo

ram correlacionadas às variáveis climáticas NDEXC e NDTideal, gerando um modelo de regressão linear múltipla. Para elaboração do Índice de Favorabilidade Climática à Ferrugem Alaranjada da Cana-de-açúcar (Ifac), primeiramente utilizou-se a equação de severidade para estimar as notas para ferrugem alaranjada para séries de 15 a 30 anos de dados meteorológicos para 60 locais distribuídos no estado. Em seguida, ponderaram-se as severidades estimadas a partir do cálculo das frequências de anos com severidades entre as faixas 1-2, 3-4, 5-6, 7-8 e 9, classificadas respectivamente como muito baixa, baixa, moderada, alta e muito alta, e multiplicando-se essas frequências pelos fatores de ponderação 0, 1, 3, 6 e 10 , respectivamente. O resultado dessa ponderação foi dividido pelo número total de anos analisados para cada local, obtendo-se assim o Ifac variando de 1 a 10. Posteriormente, o Ifac foi correlacionado com as coordenadas geográficas, latitude e longitude, e a altitude, elaborando-se um modelo de regressão linear múltipla que permitiu estimar o Ifac para todo o estado.

Figura 2 – Mapa de risco climático para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar nas regiões produtoras do estado de São Paulo

Para a espacialização do Ifac e a confecção dos mapas de favorabilidade climática converteu-se o modelo linear de Ifac em mapa por meio do recurso de álgebra de mapas de um sistema de informações geográficas (ArcGis 9.2), processando-se as variáveis independentes (latitude, longitude e altitude) como “Layers” no formato “raster”. O “Layer” de altitude, em metros, foi obtido do modelo de elevação digital (MED), fornecido pela “Nasa Shuttle Radar Topographic Mission (SRTM)”, que tem resolução de 90m. Os “Layers” de latitude e longitude, em décimos de graus, foram computados utilizando-se as coordenadas centrais de cada pixel correspondente ao MED. Foi realizado o estudo do risco climático para as seis regiões produtoras de canade-açúcar do estado de São Paulo, a partir da delimitação dos níveis de risco com o emprego do Ifac (Tabela 1), obtendo-se o mapa de risco climático para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar para o estado de São Paulo (Figura 2)

Conclusões

O mapa de risco gerado pelo método proposto permitiu identificar que nas regiões canavieiras a oeste do estado de São Paulo, a severidade à ferrugem alaranjada e o risco climático para a sua ocorrência são baixos, enquanto que nas regiões central e leste do estado o risco varia de moderado a alto, seguindo uma tendência longitudinal, o que coincidiu com as observações da severidade no ano 2009/2010. A partir do zoneamento das regiões de favorabilidade climática para a ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar, em função das variáveis climáticas (excedente hídrico e temperatura média ideal), pode-se estabelecer um plano de alocação de variedades, de modo a minimizar os riscos de perda de produtividade dos canaviais C em decorrência da doença. Dayana Lardo dos Santos e Paulo Cesar Sentelhas, Esalq/Usp Wander José Pallone Filho, CTC

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Soja

Invasão subterrânea Murcha Murcha ee amarelecimento amarelecimento das das folhas, folhas, desenvolvimento desenvolvimento retardado retardado ee até até aa morte morte das das plantas plantas estão estão entre entre os os prejuízos prejuízos provocados provocados por por corós corós na na cultura cultura da da soja. soja. Phyllophaga cuyabana (Moser) (Moser) ee Liogenys fuscus (Blanchard) (Blanchard) são são as as duas duas principais principais espécies espécies registradas registradas em em lavouras lavouras da da Região Região Central Central do do Brasil. Brasil. OO tratamento tratamento químico químico está está entre entre as as principais principais estratégias estratégias para para oo manejo manejo ee oo controle controle da da praga praga

V

árias espécies de pragas ocorrem durante o início de estabelecimento da cultura da soja, capazes de provocar redução de estande da lavoura e/ou prejudicar o desenvolvimento das plantas, o que acarreta, consequentemente, em reflexos negativos na produção de grãos e/ou de sementes. Dentre as pragas que atacam a soja destacam-se as larvas subterrâneas rizófagas de besouros melolontídeos, também denominados de corós, bicho-bolo ou pão-de-galinha, que embora possam ocorrer durante todo o ciclo da cultura, causam danos mais severos nos estágios iniciais de desenvolvimento das plantas. As duas principais espécies de corós que atacam a cultura da soja na Região Central do Brasil são Phyllophaga cuyabana (Moser) e Liogenys fuscus (Blanchard). P. cuyabana é uma espécie nativa do Brasil, citada inicialmente em vegetação natural no município de Cuiabá, Mato Grosso. No entanto, atualmente é considerada uma das principais pragas de solo da soja na Região Centro-Sul do Brasil. A expansão da cultura em monocultivo para áreas consideradas não tradicionais, em substituição à vegetação nativa, como ocorreu no Cerrado, as mudanças nos sistemas de cultivos (mínimo, plantio direto, lavoura-pecuária etc)

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associadas às alterações fitotécnicas e fitossanitárias que se processaram nos agroecossistemas estão entre as possíveis causas que explicam o incremento dos problemas com pragas associadas ao solo na cultura da soja. O coró P. cuyabana ocorre tradicionalmente em lavouras do Paraná e Mato Grosso do Sul, enquanto L. fuscus tem sido mais encontrada na Região dos Cerrados, especialmente nos estados de Mato Grosso e Goiás. Recentemente, a espécie de coró, Phyllophaga capillata (Blanchard), foi constatada atacando lavouras de soja na região do Distrito Federal, enquanto Cyclocephala forsteri Endrodi, 1963, foi verificada em soja no estado de Mato Grosso do Sul.

Ataque de pragas de solo, como os corós, tem crescido nas áreas produtoras de soja no Brasil

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Liogenys fuscus – Os adultos são besouros que medem em média 12,4mm de comprimento e 7,8mm de largura, apresentam colorações castanho-claro brilhante na face dorsal e castanho-escuro na face ventral. Após completarem seu ciclo realizam revoadas nos meses de setembro e outubro, coincidindo com as primeiras chuvas, e procuram locais altos como galhos de arbustos e árvores para se acasalarem. Após a cópula, as fêmeas procuram lugares com presença de plantas verdes ou com acúmulo de matéria seca e realizam a oviposição de 5cm a 10cm de profundidade no solo. Esses substratos irão servir de alimento para as larvas recém-eclodidas, que ocorrem em reboleiras nos meses de novembro e dezembro. A fase larval apresenta três instares, sendo os dois últimos os que apresentam maior capacidade de danos no sistema radicular das plantas. Phyllophga cuyabana - Os adultos são besouros castanho-escuros, medindo aproximadamente de 15mm a 20mm de comprimento. Após o acasalamento, a fêmea coloca os ovos isoladamente na superfície do solo, onde ocorrerá o completo desenvolvimento das fases imaturas do inseto. As larvas apresentam coloração esbranquiçada, três estágios de desenvolvimento e medem até 35mm. No final


do terceiro instar passam por um período de diapausa, quando se aprofundam no solo, não se alimentam e apresentam baixa mobilidade. Após o período larval avançam para a fase de pupa e depois se transformam em adultos ainda dentro das câmaras pupais. Quando atingem a maturação sexual, os adultos emergem do solo durante a noite em períodos de revoada para acasalamento e dispersão. P. cuyabana e L. fuscus são espécies univoltinas, isto é, apresentam uma única geração por ano, que se inicia no final de outubro, quando aparecem os primeiros adultos no solo. O desenvolvimento completo ocorre no interior do solo e somente os adultos saem à noite, em revoadas destinadas, principalmente, ao acasalamento. Após, retornam ao solo, permanecendo, geralmente entre 5cm e 15cm de profundidade. O inseto é polífago, alimentando-se de plantas de diversas famílias. As larvas têm hábitos subterrâneos ingerindo, principalmente, raízes secundárias de soja ou de outras espécies vegetais. Na fase adulta, apenas a fêmea se alimenta de pequena quantidade de folhas. Em monitoramento realizado na safra 2006/07 aos dez dias após o início da revoada foi constatada a presença de 68,8% de insetos da espécie L. fuscus, enquanto P. cuyabana apresentou 37,0% da população no mesmo período. Ao final da revoada a população de L. fuscus foi 7,0% em relação à espécie P. cuyabana. Os sintomas de ataque vão desde murcha e amarelecimento das folhas, desenvolvimento retardado, até a morte das plantas. O número de plantas mortas na área pode variar de acordo com a época de semeadura, com a população e o tamanho de larvas na área. A morte das plantas geralmente ocorre quando são atacadas no início do desenvolvimento, pois, nesse caso, a tolerância das plantas é menor e, se a área estiver infestada com larvas com mais de 1,5cm, estas podem consumir também a raiz principal, embora prefiram as raízes secundárias. Os danos em soja são causados pelas larvas, principalmente a partir do final do 2o instar. Em ensaios em casa de vegetação com plantas recém-emergidas, uma população de uma larva em início de 2o instar para cada quatro plantas, reduziu o volume de raízes em 35%, 11 dias após a semeadura. Larvas de 3o instar, no mesmo nível populacional, provocaram uma redução de 60% no volume de raízes. Plantas atacadas, com sistema radicular seriamente danificado, podem apresentar, por ocasião da colheita, uma redução no desenvolvimento da parte aérea e no número de vagens e grãos. A intensidade dos danos não se dá somente em função da população e da idade das larvas, mas também do desenvolvimento

Fotos Divulgação

O uso de inseticidas químicos tem também sido investigado como medida de controle de larvas de corós

radicular da planta, tanto em função de estádio de desenvolvimento da cultura, como de outros fatores, como a presença de camada de compactação nos solos, o que prejudica a expansão das raízes. Plantas de mesma idade, em áreas com populações semelhantes de larvas, mas sob diferentes condições ambientais, podem refletir o ataque de forma diversa. Os efeitos dos danos no sistema radicular na produção de grãos podem ser intensificados sob condições de solos pobres, com camadas de compactação, ou sob condições de veranico em épocas críticas. Várias práticas culturais de controle, como por exemplo manipulação da época de semeadura, preparo do solo, rotação de culturas e adubação diferenciada, são sugeridas como estratégias para manejo de corós na cultura da soja. O uso de inseticidas químicos tem também sido investigado como medida de controle de larvas de corós. A aplicação preventiva de produtos nas sementes e no sulco de semeadura da soja constitui alternativa promissora para o manejo da praga, especialmente em sistemas conservacionistas, como

o plantio direto. Diante dos resultados obtidos, até o momento pode-se inferir que a aplicação de inseticidas no sulco de semeadura ou nas sementes de soja pode proteger significativamente tanto no estande inicial, como garantir o desenvolvimento normal da parte aérea das plantas de soja em áreas infestadas com corós no solo. Com relação à aplicação no sulco, os tratamentos clorpirifós (720g. ha-1), endosulfam (1.050g.ha-1) e fipronil (25g.ha-1) foram os que asseguraram um melhor estabelecimento e desenvolvimento das plantas. Em Mato Grosso do Sul também foi verificado que os tratamentos químicos clorpirifós (1.344g.ha-1) e endosulfam (980g.ha-1), quando aplicados no sulco de semeadura de um solo infestado com larvas de P. cuyabana, proporcionaram maiores rendimentos de grãos de soja, quando comparados ao rendimento de grãos obtido nas parcelas não tratadas. O efeito benéfico dos inseticidas aplicados no sulco de semeadura ou nas sementes de soja pode ser decorrente da sua ação deletéria (nociva, destruidora) sobre as larvas de L. fuscus no solo. A presença do inseticida na solução do solo ou nas sementes pode afetar negativamente a sobrevivência das larvas dessa praga, o que contribuiu para um melhor desenvolvimento das plantas de soja, redundando em melhor estabelecimento de estande, estatura das plantas e, consequentemente, maior rendimento de grãos. Por outro lado, existe também a possibilidade dos inseticidas aplicados nas sementes ou no solo promoverem efeito benéfico sobre o desenvolvimento das plantas no sentido de maximizar a eficiência fotossintética da cultura, fenômeno este C denominado efeito fisiológico. Lucia Vivan, Fundação MT e Crébio Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste

As duas principais espécies de corós que atacam lavouras de soja no Brasil são Liogenys fuscus (esquerda) e Phyllophaga cuyabana (direita)

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Soja

Hora de aplicar

Fotos Fundação Chapadão

Na luta contra a ferrugem asiática, causada por Phakopsora pachyrizi, produtores devem estar atentos ao momento da aplicação de fungicidas, já que esse fator tem a capacidade de interferir no controle da doença. Dar preferência aos produtos com misturas de triazol e estrobilurina e realizar o monitoramento em toda área plantada para identificar focos logo após os primeiros sintomas também estão entre as recomendações para maximizar as chances de sucesso no combate ao fungo

A

s perdas causadas pelas epidemias de ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrizi, nas últimas safras, chegam a US$ 2 bilhões. Isso se deve ao alto poder destrutivo da doença, pela constante presença na maioria das regiões produtoras e pela dificuldade de controle. O quadro sintomatológico da doença inicia-se por minúsculos pontos, com coloração mais escura (cinza-esverdeada) em relação ao tecido sadio da folha. Com o desenvolvimento do patógeno nos tecidos do hospedeiro ocorre a formação de urédias (corpo de frutificação do fungo) na face abaxial do folíolo. Progressivamente as urédias, antes com coloração cinzaesverdeada, adquirem cor castanho-escuro e começam a liberar esporos (uredósporos) por meio de um poro central na pústula. À medida que o fungo evolui no hospedeiro, o número de urédias pode aumentar com a idade da lesão, ocupando uma grande área foliar, e posteriormente causa a queda prematura das

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folhas. Para que haja a ocorrência da doença são necessários, além da presença do patógeno e do hospedeiro, umidade na superfície da

folha de no mínimo seis horas, promovida por orvalho ou chuva, e condições de temperatura entre 18°C e 28°C.

Experimento desenvolvido pela Fundação Chapadão, na safra 2010/2011, verificou que a época e o número de aplicações de fungicidas interferem no controle da doença e no rendimento da cultura

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Figura 1 - Severidade (%) de ferrugem na metade inferior (baixeiro) da planta, utilizando mistura estrobilurina e triazol (azoxistrobina 60g.ha-1 + ciproconazol 24g. ha-1). Fundação Chapadão – Safra 2009/2010

Para tentar minimizar as perdas geradas pela ferrugem são adotadas diversas medidas, tais como: semear a cultura no início da época recomendada na região; utilizar cultivares de clico precoce; respeitar o vazio sanitário em cada região produtora, não semeando a cultura na entressafra e eliminando as sojas voluntárias (tigueras ou guaxas), para que não ocorra a chamada “ponte verde” para o fungo entre uma safra e outra. Além disso, recomenda-se realizar monitoramento desde o início do desenvolvimento da cultura (com auxílio de uma lupa de 180 vezes). Essas medidas proporcionam a redução de pressão de inóculo e permitem a diagnose precoce

Figura 2 - Severidade (%) de ferrugem na metade superior (ponteiro) da planta, utilizando mistura estrobilurina e triazol (azoxistrobina 60g.ha-1 + ciproconazol 24g.ha-1). Fundação Chapadão – Safra 2009/2010

da doença, contribuindo para o aumento na eficiência do controle químico. Quando o assunto é controle químico, existe uma gama de fungicidas foliares no mercado recomendadas para o controle da doença, onde são usados principalmente dois grupos químicos de atuação sistêmica, triazóis e estrobilurinas. Atualmente no Brasil, várias instituições públicas, privadas e fundações de pesquisas estão desenvolvendo trabalhos com o objetivo de avaliar a eficácia desses fungicidas recomendados, onde se tem observado um melhor controle com utilização de misturas de triazóis e estrobilurinas em relação à aplicação específica de triazol, mostrando que a ferru-

gem está menos sensível a alguns triazóis. Além da escolha do grupo químico a ser utilizado na lavoura, outro fator importante está relacionado com o momento da aplicação do fungicida, influenciando diretamente na eficiência do produto, sendo que as épocas recomendadas para o controle são: preventivas - quando não há sintomas da doença, fazendo com que o produto forme uma camada protetora na superfície da folha, evitando a penetração e inibindo a germinação dos uredósporos; ou curativas - no início dos sintomas da doença, promovendo sua erradicação. Em regiões onde há ausência de casos de ferrugem e por meio do monitoramento, a


Fotos Fundação Chapadão

Figura 3 - Média de produtividade (sc.ha-1) com aplicações em diferentes estádios fenológicos da soja, utilizando mistura estrobilurina e triazol (azoxistrobina 60g.ha-1 + ciproconazol 24g.ha-1). Fundação Chapadão – Safra 2009/2010

Perdas provocadas pela ferrugem asiática na soja chegam a dois bilhões de dólares nas últimas safras

primeira aplicação pode ser realizada quando a soja estiver em estádio R4, momento em que o fungicida melhor responde ao controle de doenças de final de ciclo. Regiões onde se tem relatos de foco da ferrugem as aplicações iniciais são aconselháveis do início ao pleno florescimento (R1 a R2), com aplicações preventivas o progresso da doença é lento e permite maior período residual do efeito do fungicida na planta, proporcionando maior segurança ao produtor. Em algumas regiões produtoras tem se observado que o controle é feito com aplicações preestabelecidas, iniciando no estádio de florescimento (R1 a R2) e as demais aplicações em intervalos de 21 dias a 14 dias. O número médio de aplicações para o controle da ferrugem está entre três e quatro, sendo que em algumas regiões do Brasil há relatos de que foram necessárias sete aplicações para controlar a doença, devido à pressão do patógeno e das condições climáticas favoráveis à doença. Em experimento realizado pela Fundação Chapadão, safra 2009/2010, observou-se

que a época e o número de aplicações de fungicida interferiram significativamente no controle da doença e no rendimento da cultura. Dicas para obter o controle satisfatório da ferrugem: - Acertar a primeira aplicação; - Não errar a segunda; - Realizar a terceira ou quarta se necessário. Os dados obtidos no ensaio, com mistura de triazol e estrobilurina, mostraram que os tratamentos com apenas uma aplicação, antes ou após o surgimento da doença, não obtiveram controle satisfatório, apresentando altos níveis de severidade da ferrugem. Os tratamentos com duas aplicações apresentaram resultados diferenciados em relação ao intervalo da primeira para segunda aplicação, havendo correlação entre a severidade e a produtividade. Em geral, quando o intervalo da segunda aplicação foi maior (35 dias após a primeira aplicação), os níveis de severidade se elevaram e consequentemente houve menor

Monitorar as lavouras nas diversas fases de desenvolvimento da cultura é uma da medidas para enfrentar a doença

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produtividade (sc.ha-1), quando comparados aos tratamentos com intervalos menores (21 dias). Dessa forma, o produtor deve estar atento ao residual do fungicida utilizado, sendo que esse fator pode variar entre produtos, o que irá influenciar no controle eficaz da doença. As menores severidades finais obtidas no ensaio foram os tratamentos com aplicações sequenciais em R2 > R2+21 dias > R6; R2 > R2+21 dias; e R3 > R3+21 dias, e consequentemente maior o número de trifólios retidos na haste principal. Em relação à produtividade os tratamentos com três aplicações foram os que obtiveram os melhores rendimentos (Figuras 1, 2 e 3). Os resultados obtidos no experimento mostraram a importância do momento da aplicação para o controle eficiente da ferrugem asiática, sendo que, devido às particularidades em cada safra, em relação à época de plantio e do surgimento da doença em cada região, da pressão do patógeno, do clima, não se recomenda utilizar o mesmo programa de controle em todas as regiões produtoras. É importante destacar que para controlar a doença de forma eficaz, é fundamental a escolha correta do fungicida, dando preferência aos produtos com misturas de triazol e estrobilurina; realizar o monitoramento em toda área plantada para identificar o foco da doença logo nos primeiros sintomas e, em ano de El Niño, intensificar o monitoramento devido à maior ocorrência de chuvas; acertar o momento da primeira aplicação, não errar a segunda aplicação e se necessário fazer a C terceira e a quarta aplicação. Edson Borges, Alfredo Dias, Juliano Oliveira, Renato Guazina, Cleber Ferreira, Luciano Borgelt e Thiago Baldasso, Fundação Chapadão



Arroz

Tempo de colher

Na Na reta reta final final da da lavoura lavoura de de arroz arroz os os produtores produtores não não podem podem descuidar do monitoramento, sob pena de ver sua rentabilidade descuidar do monitoramento, sob pena de ver sua rentabilidade diminuída. diminuída. OO planejamento planejamento da da colheita, colheita, com com atenção atenção aa aspectos aspectos como época, logística, regulagem e manutenção de máquinas, como época, logística, regulagem e manutenção de máquinas éé ferramenta ferramenta fundamental fundamental para para prevenir prevenir problemas problemas com com pragas pragas ee doenças, doenças, além além de de garantir garantir maior maior qualidade qualidade do do grão grão

N

os meses de fevereiro e março, as lavouras irrigadas do Sul do Brasil encontram-se prioritariamente nos subperíodos de formação e enchimento de grãos. A duração varia entre 30 e 40 dias, dependendo, principalmente, das oscilações da temperatura do ar. Após a fecundação, os grãos passam pelas fases de leitosos, pastosos e em massa dura até atingirem a maturação fisiológica (quando ocorre o máximo acúmulo de matéria seca). Após este momento, os grãos passam por um processo físico de perda de água até atingir aproximadamente 22% de umidade para colheita. Sua duração pode variar de uma a duas semanas, dependendo das condições ambientais. Muitas vezes, passado o período do florescimento, o produtor diminui sua atenção à lavoura, entendendo que os riscos de perda do potencial produtivo já passaram. Porém, atualmente, o nível técnico apresentado pelos produtores determina que haja um constante monitoramento da lavoura. Assim, no período que antecede a colheita (em torno de 20 dias antes) existem certos pontos de manejo que ainda merecem ser destacados. Logística da colheita para manutenção da qualidade e produtividade de grãos A safra 2010/2011 de arroz, no Rio Grande do Sul, atingiu a marca histórica que há anos a pesquisa vinha buscando. Pela primeira vez foi alcançado o percentual de 96% da área do estado (em torno de 960.000ha), semeada dentro do período preferencial para a cultura (até 10/nov). Tal êxito foi obtido não só pelas condições meteorológicas favoráveis, que permitiram um eficiente trabalho de solo no plantio, mas também pelo alto nível de planejamento atingido pelos produtores. Da mesma forma, ao longo do ciclo, as condições mantiveram-se favoráveis à cultura, perspectivando-se altas produtividades. Frente a este cenário promissor esperase uma alta concentração da época de colheita. Neste sentido, alguns cuidados deverão ser tomados, especialmente no que se refere ao atraso da colheita. De forma geral, o atraso da colheita aumenta a predisposição da planta à incidência de pragas e doenças. Estes fatores, associados às adversidades ambientais, são responsáveis pelo aumento do percentual de grãos quebrados. Em geral, na medida em que se afasta a colheita da umidade ideal (18%-24%) há uma redução significativa do percentual de grãos inteiros. Assim, torna-se determinante o produtor começar a colheita naquelas cultivares onde objetiva-se obter uma remuneração

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Fotos Irga

Dentre as doenças de final de ciclo o destaque é a presença do complexo de fungos manchadores de grãos

adicional em função da qualidade do grão. Também, variedades com elevado percentual de degrane devem ser priorizadas, evitando-se a ocorrência de arroz espontâneo na próxima safra e perdas produtivas por debulha. Em um segundo momento, colhem-se aquelas variedades focadas apenas na produção de grãos, onde não se objetiva o adicional por qualidade. Cabe salientar que, no caso de haverem áreas para produção de sementes, estas deverão ser as primeiras a serem colhidas, com o objetivo de se obter sementes comerciais com elevada qualidade fisiológica e sanitária. Além do aspecto qualitativo, nesta safra, a presença de impurezas começará a ser considerada na precificação do arroz entregue à indústria. Deste modo, estratégias de minimização dos escapes de plantas daninhas (com ênfase no arroz vermelho), na fase final da cultura, serão detalhadas a seguir. Presença de pragas na pré-colheita Até poucos anos atrás, o momento que precede a colheita não sofria demanda quanto à necessidade de controle de insetos-pragas nas lavouras. Sua eventual ocorrência não justificava, economicamente, a adoção de práticas de controle, pois o potencial produtivo da cultura já estava definido. Porém, nos últimos anos, vem sendo observados grandes prejuízos, causados por lagartas, especialmente da espécie Pseudaletia spp. Este inseto, conhecido por lagarta-da-panícula, pode ocorrer na lavoura já na fase de afilhamento. Porém, a maior ocorrência se dá a partir da emissão da panícula, nos meses de janeiro a março,

permanecendo até a colheita. Assim, os maiores danos são verificados ao longo do estádio de maturação dos grãos, quando a lagarta corta as panículas ou suas ráquis e degrana o arroz. Os prejuízos causados por este inseto são variáveis, podendo chegar até 20% do potencial produtivo. O maior agravante deste inseto é que o dano é determinado em um momento em que o produtor não está preparado para a utilização de mais um insumo químico na lavoura. Porém, mesmo que a lavoura esteja em pré-colheita, o produtor deverá estar atento ao seu monitoramento, pois a partir de três lagartas por m2, perdas significativas sobre o rendimento já são verificadas. No que tange ao seu monitoramento, o produtor deverá buscar amostrar a lavoura ao final da tarde, quando as lagartas poderão ser encontradas nas folhas superiores. Durante o dia, elas encontram-se abrigadas na parte inferior das plantas, dificultando a busca. Atualmente, apesar de já haver pesquisas promissoras com produtos químicos de baixo impacto ambiental, eficientes para o controle deste inseto, ainda não estão registrados para a cultura. Portanto, naquelas áreas, onde é constatada a presença do inseto na lavoura, a colheita deverá ser priorizada e realizada o mais breve possível. Incidência das doenças de final de ciclo No que se refere ao manejo de doenças em final de ciclo, novamente, o produtor

deverá priorizar o ponto ideal de colheita. Naquelas lavouras onde ocorram atrasos em relação à umidade ideal, há um aumento significativo do complexo de doenças. Dentre estas, merece destaque a presença do complexo de fungos manchadores de grãos e a brusone-da-ráquis (Pyricularia oryzae). Os danos econômicos determinados por estas doenças, quando incidentes pósmaturação fisiológica da cultura, em geral, não são significativos (tanto em produtividade quanto em rendimento de inteiros). As perdas, nos casos de alta severidade dos fungos, serão essencialmente sobre a qualidade visual dos grãos, o que geralmente não é descontado do produtor. Porém, cabe salientar que, em lavouras cultivadas com a finalidade de produção de sementes, a presença das doenças de final de ciclo poderá disseminar inóculo para outras regiões futuramente. Também, grãos com maior presença de fungos manchadores estão relacionados a sementes com menor vigor fisiológico e pior sanidade. Assim, preventivamente, naquelas áreas com conhecido histórico de alta incidência de doenças de final de ciclo, os produtores poderão aplicar o fungicida por ocasião do final do enchimento de grãos (grão pastoso), com o objetivo de aproveitar o efeito residual do ativo até próximo à précolheita. Para esta aplicação, recomendamse produtos que apresentem largo espectro de controle e maior residual, como aqueles que contenham em sua composição a mis-

Durante o dia as lagartas permanecem abrigadas na parte inferior das plantas, dificultando a busca

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tura de estrobilurinas mais triazóis. Porém, no que se refere a fungos manchadores de grãos, o produtor deve estar consciente de que existem outras variáveis determinantes para a sua ocorrência, especialmente frio e insetos. Golpes de frio (temperaturas inferiores a 15ºC) durante o período reprodutivo da cultura causam lesões nas espiguetas, permitindo a instalação de fungos saprófitos. Da mesma forma, o ataque do percevejo-do-grão (Oebalus poecius) nas panículas, atualmente, é o maior responsável pelos grãos manchados e quebrados. Assim, antes do produtor optar pelo fungicida para controle destas manchas, deverá observar o agente determinante que a causou. A aplicação de fungicida sobre sintomas visíveis de manchas das glumas (aplicação erradicante) causadas por frio ou insetos não reverte as lesões. Escapes de arroz vermelho Historicamente, a interferência exercida pelo arroz vermelho é um dos principais fatores que limitam a produtividade de grãos nas lavouras de arroz irrigado. Existem, atualmente, diversas práticas de manejo recomendadas pela pesquisa para o controle ou redução da infestação do arroz vermelho nas lavouras. Assim, para mitigar os danos dessa espécie devem-se combinar todos os métodos de controle disponíveis, de modo a propiciar o melhor nível de controle com um custo aceitável.

Mas, mesmo com ações taticamente precisas, nem sempre é possível obter controle absoluto do arroz vermelho nas áreas com arroz irrigado, o que origina a presença de plantas “escapes”. E estas

A lagarta-da-panícula ocorre principalmente a partir da emissão da panícula, nos meses de janeiro a março, permanecendo até a colheita

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constituem-se em uma oportunidade para a ocorrência daqueles danos indiretos à cultura, como a redução da eficácia da colheita e da qualidade de grãos. Com efeito, as plantas de arroz vermelho presentes na lavoura de arroz dificultam a operação de colheita e aumentam as perdas de grãos na plataforma das máquinas (Moraes et al, 2005). Após, ao se comercializar a produção, ocorre depreciação proporcional do preço pago ao produtor de acordo com a contaminação da produção obtida com sementes de arroz vermelho. Por isso, faz-se necessário empregar no sistema de cultivo de arroz irrigado práticas de manejo de controle dos escapes, a fim de reduzir os danos do arroz-vermelho e prevenir infestações futuras. O arranquio manual das plantas de arroz vermelho na lavoura de arroz irrigado, ou “roguing”, é uma opção viável para o controle de escapes dessa infestante em áreas com baixa infestação (Andres & Theisen, 2011). Nesta prática, as plantas infestantes devem ser controladas até o início da fase reprodutiva (florescimento), a fim de evitar a formação de novos propágulos de arroz vermelho na lavoura. Vale destacar que, nas áreas de arroz conduzidas sob o sistema ClearField®, o “roguing” de escapes de arroz vermelho é indicado para prevenir a ocorrência de biótipos resistentes a herbicidas. Com isso, o produtor de arroz poderá continuar


Fotos Irga

usufruindo do benefício dessa tecnologia por maior tempo, caso as demais práticas complementares também sejam atendidas. O método químico de controle também pode ser utilizado para complementar o controle do arroz vermelho na cultura do arroz. Neste caso, a prática deve ser efetuada na condição de pósemergência tardia da cultura (similar ao controle manual), com o intuito de controlar ou apenas esterilizar os escapes dessa infestante. A barra química tem sido utilizada para tal finalidade em algumas lavouras orizícolas na região Sul do Brasil, contaminando-se as folhas do arroz vermelho com determinada solução herbicida. Também, estudos realizados no Irga constataram ser possível esterilizar escapes de arroz vermelho no sistema ClearField ® com o uso de herbicidas imidazolinonas (Menezes & Mariot, 2009). Assim, os produtos pertencentes a esse grupo químico com registro para a cultura podem ser empregados para reduzir a produção de sementes dessa espécie daninha na área cultivada.

Os prejuízos causados pela lagarta-da-panícula podem chegar a 20% do potencial produtivo

Cuidados finais

Por ocasião da colheita o produtor deve estar atento à correta regulagem das máquinas e velocidade de operação. Da mesma forma, atenção deve ser dada ao terreno, buscando-se colher em condições de solo seco. Quanto à pós-colheita e antes da entrega no engenho, evitar expor prolongadamente o grão colhido ao sol, abafado sob lona de caminhão ou úmido C na moega por mais de 12 horas. Daniel Santos Grohs, Augusto Kalsing, Felipe Ferreira Irga


Desafio adicional

Nas últimas safras tem crescido a importância do ataque da mosca-branca em lavouras de algodão do Centro-Oeste. O cenário de convivência com a praga, por conta do controle oferecido por inseticidas utilizados contra outros insetos como bicudo, lagartas e pulgões, dá lugar à preocupação com o aumento dos prejuízos. Enfrentar o problema passa pelo treinamento de técnicos e de produtores para a adoção de um manejo que seja ao mesmo tempo sustentável e vantajoso do ponto de vista econômico

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Lucia M. Vivan

Algodão

A

mosca-branca é um desafio para os produtores do Cerrado brasileiro. Atualmente trata-se de importante praga de culturas anuais, hortaliças e plantas ornamentais. Ano a ano o inseto provoca prejuízos em diversas culturas, se tornando uma praga de destaque nacional e principalmente no algodoeiro. A região Centro-Oeste, nas últimas safras, tem contabilizado um custo a mais no sistema de produção, onde normalmente se convivia com a praga sem requerer muitos cuidados, controlando-a com inseticidas já utilizados para controle de outras pragas de ocorrência na cultura, como bicudo, lagartas, pulgões, entre outras. Muitas são as pragas que podem causar danos à planta de algodão na região e vários fatores podem ser listados como importantes na ocorrência e aumento no ataque destas pragas como, por exemplo, as condições ambientais como temperatura, umidade, proximidade de focos de infestação e a quantidade de inimigos naturais. A mosca-branca, em adição a estes fatores, apresenta o potencial biótico, a migração e dispersão como fatores importantes. O sistema de cultivo muitas vezes utilizado tende a favorecer a maior quantidade e, dependendo das espécies utilizadas, pode comprometer o sistema, sendo interessante relatar sistemas de produção que apresentam o feijão das águas implantado no mês de setembro e, após, nos meses subsequentes, as semeaduras de soja e algodão, este último vindo a receber a maior “carga” de mosca-branca. A mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B, é erroneamente chamada de mosca, pois trata-se de um Hemiptera subordem Homoptera, com dois pares de asas. É um inseto polífago e já foi observado reproduzindo-se em mais de 700 diferentes espécies vegetais, pertencentes a 74 famílias botânicas. Faz parte da família Aleyrodidae, com ciclo biológico que pode variar de 15 dias a 45 dias, sendo influenciado principalmente pela temperatura. Os adultos apresentam tamanho de aproximadamente 2mm de comprimento com quatro asas membranosas de coloração branca. Os ovos, de coloração verdeclaro a castanho-claro, são colocados na face inferior das folhas, seguros por um fino pedúnculo. Após a eclosão, as ninfas móveis (primeiro estádio) selecionam um local e introduzem seu estilete, fixandose, não se movendo mais. Os adultos emergem depois de quatro estádios, indo se hospedar nas diversas plantas existentes, sendo a soja o “carro-chefe” para sua reprodução.


Charles Echer

Várias hipóteses podem ser listadas para explicar a dificuldade de controle enfrentada pelos produtores, entre elas a plasticidade genética (surgimento de biótipos como o caso do biótipo B), a fecundidade (grande quantidade de indivíduos gerados), os hospedeiros (grande quantidade, atacando também várias plantas daninhas), a sobreposição de gerações (problema de várias gerações no ano), a adaptabilidade (adaptação a várias condições de ambiente), a capacidade de desenvolvimento de resistência (problema por ter várias gerações e requerer número alto de aplicações), o ataque surpresa (que é difícil de explicar, fato que está ligado ao abrigo em matas etc) e as principais medidas serem de ordem química, valendo citar a máxima “o produtor vence a batalha, mas perde a guerra”.

Danos ocasionados pela mosca-branca no algodoeiro

Esta praga pode provocar danos diretos e indiretos à cultura. Os primeiros ocorrem devido à sucção de seiva realizada pelos insetos, ao mesmo tempo as excreções açucaradas produzidas pela mosca favorecem o desenvolvimento do fungo Capnodium sp., causando o sintoma da fumagina. Este fungo é oportunista, recobrindo as folhas, reduzindo a fotossíntese da planta e provocando a queda precoce de folhas. Ao mesmo tempo pode também esta substância açucarada atingir as fibras, causando a “fibra açucarada”, que é depreciada no mercado, por ser mais difícil de ser processada na indústria e além de ser considerada de tipo inferior. Na indústria este processo é também chamado de caramelização, levando à quebra dos fios no filatório, embuchamento, parando toda a máquina, sem contar na sujeira provocada, além de gerar também a chamada “estopa”, resto de algodão que

O manejo da mosca-branca é baseado em amostragens fidedignas. Os produtores e os técnicos devem acompanhar o desenvolvimento populacional da praga desde o início da emergência da cultura

fica na bobinadeira. No tingimento do tecido podem ocorrer falhas, depreciando o valor. Quanto aos danos indiretos, vale destacar que sendo um inseto sugador, que possui diversas espécies de hospedeiros e grande habilidade na transmissão de viroses em especial da família Geminiviridae (Mehta e Menten, 2008). No algodoeiro é um dos grandes responsáveis pela transmissão do vírus do “mosaico comum”, relatado para B. tabaci, que faz com que as plantas tenham redução no tamanho das partes formadas após a infecção e podendo ainda levá-las à esterilidade. Plantas infectadas possuem folhas com mosaico, caracterizadas pela alternância de áreas de cor amarela com áreas de cor verde. Geralmente as áreas de coloração amarelada são delimitadas pelas nervuras e observam-se áreas elevadas em relação ao limbo foliar, com aspecto de bolha.

Figura 1 – Efeito de diferentes inseticidas aplicados em ninfas de B.tabaci biótipo B e o efeito em pupas. % Eficiências dos inseticidas calculadas da quantidade de pupários vazios. Ensaios casa de vegetação. Fundação Chapadão-UEMS. Cassilândia/MS

Manejo da praga

O manejo da mosca-branca é baseado em amostragens fidedignas. Os produtores e os técnicos devem acompanhar o desenvolvimento populacional da praga desde o início da emergência da cultura. O responsável pela amostragem no campo (amostrador) deve ser treinado previamente na identificação da praga (fases de ovo, ninfa e adultos) e no reconhecimento dos danos causados. Uma das formas de amostragem que pode ser realizada é o uso de lente de aumento de 20 vezes para observação de ninfas, ou enviando a laboratórios equipados com estereoscópios para a observação de ovos além das ninfas. Vale ressaltar que o algodoeiro pode tolerar certa quantidade da praga sem sofrer grandes perdas, porém, o manejo deve ser adotado desde o aparecimento do inseto

Figura 2 – Efeito de diferentes inseticidas aplicados em ninfas de B.tabaci biótipo B. % Eficiência em aplicações tópicas. Ensaios casa de vegetação. Fundação ChapadãoUEMS. Cassilândia/MS

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quenciais, intervalos de sete a no máximo dez dias a fim de promover a quebra do ciclo da praga. Intervalos maiores que 15 dias com os inseticidas comumente utilizados (neonicotinoides) levam a grandes falhas de controle. No entanto é importante o técnico entender como o inseticida atua nas diferentes fases do ciclo da praga, principalmente em função dos juvenoides, onde as ninfas podem ficar no sistema e na passagem da ninfa 4 (pupa) para o adulto, observa-se o efeito (Figura 1). Outros podem já interferir na fase da praga em que foi aplicado, podendo, no entanto, ficar fixado ainda nas folhas. Diante da problemática é importante o Charles Echer

na lavoura. A preservação dos inimigos naturais na cultura é imprescindível para o sucesso do manejo da praga, evitando a utilização de inseticidas com amplo espectro de ação. A presença do fungo Aschersonia sp. em lavouras já foi constatada por Lourenção et al (1999) demonstrando a importância da ocorrência no sistema. Outro inimigo natural da mosca-branca é o micro-himenoptero Encarsia sp. que pode, a longo prazo, vir a ser usado na cultura. Outras medidas são fundamentais para o controle da mosca-branca, como evitar o plantio escalonado de culturas, a eliminação de restos culturais, por consequente retirada de plantas com viroses e ou hospedeiras, e ainda as daninhas, que são importantes no aumento populacional, por serem também hospedeiras, entre elas podemos citar as espécies Bidens pilosa, Amaranthus sp., Commelina benghalensis, Ipomoea sp., Sida sp., Desmodium sp., Alternanthera tenella, Raphanus sp., entre outras plantas. No entanto, vale ressaltar que gramíneas não são boas hospedeiras para B.tabaci biótipo B. Contudo, a alternativa mais utilizada é o controle químico, onde se faz uso de neonicotinoides como Acetamiprid, Clothianidin, Imidacloprid, Thiacloprid e Thiametoxan, os de maior sucesso, empregados com ação sobre adultos e formas jovens. No mercado existem ainda os reguladores de crescimento (que atuam sobre as formas jovens) como pyriproxyfen e buprofezin, mais precisamente sobre ovos e ninfas de primeiros instares, e somente ovos respectivamente. Dentre os mais utilizados estão os fosforados metamidofós e acefato, mas vale ressaltar que apresentam ação na maioria dos casos em adultos, porém, com baixas eficiências tratando-se do biótipo B, e sem residual. As ninfas são de difícil controle em função do alto enfolhamento da cultura, principalmente após os 70 dias, comumente, e desta forma culminam com baixo controle da praga. As empresas têm desenvolvido novas moléculas como Spiromesifen e Spirotetramat (Cetoenol com ação na síntese de lipídios) e outras ainda em estudo, com novos modos de ação. É importante ressaltar que em consulta ao sistema Agrofit (do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) existem diversos produtos recomendados no controle da praga. Porém, em ensaios da Fundação Chapadão (UEMS-Cassilândia), poucos inseticidas têm apresentado controle satisfatório, mesmo quando realizada mais de uma aplicação. Neste caso vale ressaltar que a observação das diferentes fases da mosca-branca faz com que o técnico faça aplicações se-

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produtor e seu técnico estarem capacitados para manejar esta praga, um desafio para ser pensado, buscando sustentabilidade técnica e econômica. Para isto, deve haver engajamento de todos os elos envolvidos no processo produtivo dos sistemas de produção do Cerrado brasileiro, ou seja, união e trabalho conjunto de instituições de pesquisa e ensino, revendas, assistências C técnicas e consultoria. Germison Vital Tomquelski, Fundação Chapadão Luciana Claudia T. Maruyama, UEMS – Cassilândia Gustavo Mamoré Martins, Unesp - Ilha Solteira



Algodão

Resistência preservada Cultivares FMT 705 e FMT 707 surgem como alternativa importante na luta contra a ramulária no algodoeiro. Embora esses materiais não necessitem de controle específico para a doença, a utilização de triazóis reduz a probabilidade de quebra de resistência genética, por aumentar a vida útil da tecnologia, enquanto os benzimidazóis auxiliam no combate às demais manchas foliares que afetam a cultura

A

mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola, é considerada uma das mais importantes doenças na cultura do algodão nas regiões produtoras do cerrado. Em outros países essa doença também é conhecida por “míldio areolado”, “falsooídio” ou “mancha branca”. No Brasil, até algum tempo atrás a mancha de ramulária era considerada um problema fitossanitário secundário, que ocorria apenas no final do ciclo da cultura do algodoeiro. Mas nos últimos anos, com o aumento da área cultivada de algodão e o uso de cultivares suscetíveis, a doença passou a surgir mais cedo, sendo considerada, atualmente, a

principal enfermidade da parte aérea da cultura na região de Cerrado. Com a expansão das áreas de algodão durante a safra normal, safrinha após o cultivo da soja e, mais recentemente do algodão adensado (também como opção após a colheita da oleaginosa), o manejo da doença tornou-se mais difícil, pois o fungo sobrevive sobre os restos culturais e os esporos produzidos nessas condições constituem o inóculo primário. É comum o fungo sobreviver em plantas nativas de algodão perene ou plantas tigueras. A dispersão do patógeno ocorre por meio de vento, água de chuva ou irrigação, pessoas e máquinas.

Figura 1 - Evolução da severidade da mancha de ramulária nos materiais FMT 705 e FMT 707, com a tecnologia RX, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010

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Até pouco tempo, o método mais eficiente de controle da doença se dava através de aplicações de fungicidas (controle químico), devido à ausência de materiais com resistência genética no mercado. A resistência genética para mancha de ramulária, em cultivares comerciais de algodão da espécie Gossypium hirsutum, é inédita no mundo e aguardada pelos cotonicultores da região central do Brasil há vários anos. Frente a este desafio, pesquisadores do programa de melhoramento de algodão da Fundação Mato Grosso (Fundação MT), após vários anos de pesquisa, desenvolveram materiais resistentes à mancha de ramulária, que estarão disponíveis em

Figura 2 - Evolução da severidade da mancha de ramulária na cultivar DP 604 BG (suscetível), na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010

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Charles Echer

Tabela 1 - Evolução da severidade de mancha de ramulária (%) de diferentes cultivares, em função do número de aplicações (0 e 5) de fungicida1, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010 Cultivares DP 604 BG FMT 701 Fibermax 993 FMT 705 FMT 707

No aplicações 0 5 aplicações 0 5 aplicações 0 5 aplicações 0 5 aplicações 0 5 aplicações

0 DAT 0,10 0,10 0,10 0,13 0,05 0,05 0,00 0,00 0,00 0,00

18 DAT 2,50 1,13 0,08 0,41 0,50 0,08 0,00 0,00 0,00 0,00

32 DAT 26,3 11,3 2,8 0,8 11,25 6,75 0,0 0,0 0,0 0,0

46 DAT 31,3 15,0 7,3 3,0 8,0 2,8 0,0 0,0 0,0 0,0

60 DAT 47,5 26,8 17,5 12,3 17,3 14,3 0,0 0,0 0,0 0,0

74 DAT 72,5 57,5 45,0 37,5 46,3 31,3 0,0 0,0 0,0 0,0

95 DAT 85,0 62,5 58,3 48,8 60,0 46,3 0,0 0,0 0,0 0,0

1 Fungicida: 0,3 l/ha de azoxistrobina+ciproconalzol

Tabela 2 - Comparativo de rentabilidade ao produtor (R$/ha) entre as variedades com a tecnologia RX e as variedades suscetíveis à ramulária Variedades Variedades Susceptíveis Variedades RX Diferença

Nº Aplicações 5 2 3

Custo de produção1 (R$/ha) 129,30 51,70 -77,60

Produtividade (@ pluma/ha) 121,6 146,0 24,3

Rentabilidade 2 (R$/ha) 8.743,10 10.431,10 1.688,00

1 Custo de produção: fungicida + operação 2 Rentabilidade: (Produtividade * Preço algodão) – Custo de produção Preço Fungicida - azoxistrobina+ciproconalzol (dose 0,3l/ha) – US$ Cambio (08/09/10) - R$ Preço algodão - R$/@ pluma (Rondonópolis) - IMEA Custo pulverização (Filho & Richetti, 2004) - R$/aplicação

escala comercial para os produtores já na safra 2010/2011. As cultivares FMT 705 e FMT 707 possuem a tecnologia RX, que é inédita no Brasil e no mundo, o que confere resistência completa à doença causada pela Ramularia areola, proporcionando economia, segurança e tranquilidade ao cotonicultor. Isso ficou muito evidente nos diversos experimentos realizados pelos pesquisadores junto aos produtores, que puderam comprovar e testar a tecnologia no campo. Diversos cotonicultores têm relatado excelentes resultados, ressaltando a segurança e a economia advindas com estes materiais. Na região de Sapezal, noroeste de Mato Grosso, tem se observado que a tecnologia RX auxilia enormemente no combate à ramulária. Também estão entre as características destes materiais o ótimo potencial produtivo, rendimento de pluma e a precocidade, características que vêm ao encontro dos anseios dos produtores daquela região. Para se ter uma ideia da importância da tecnologia RX em cultivares suscetíveis, o manejo das doenças do algodão é realizado apenas pelo controle químico, dispondose em média, de seis a oito aplicações de fungicidas, em 100% da área de algodão de Mato Grosso. Destas aplicações, 70% a 80% são específicas para ramulária. As

perdas de produtividade pela falta de controle da doença podem chegar a 35% (com a ramulose até 70%). Em ensaios conduzidos no Mato Grosso, na região de Campo Novo dos Parecis, foi avaliado o efeito da interação entre as cultivares de algodão e o número de aplicações de fungicidas (de zero a cinco aplicações) em intervalos de 15 dias (Tabela 1), avaliando a severidade da ramulária a partir da data da 1ª aplicação (DAT - dias após a 1ª aplicação de fungicida). Foi observado que, nas cultivares RX com nenhuma aplicação (testemunha), no período até 95 DAT (Figura 1), a severidade foi zero, ou

35,00/L _10,50/Aplicação 1,7223 71,90 7,78

seja, não foi constatada evolução alguma de sintomas; enquanto que nas cultivares sem a resistência, a severidade no tratamento de controle variou entre 60% e 85% (Figura 2). Mesmo após cinco aplicações de fungicidas a cada 15 dias, a doença apresentou níveis de severidade entre 46,3% e 62,5% em função das cultivares, sendo um indicativo de perda de potencial produtivo. Com relação à produtividade de algodão (Figura 3), os materiais FMT 705 e FMT 707 apresentaram bons rendimentos em comparação às demais cultivares. As testemunhas das cultivares suscetíveis produziram em média 117 arrobas de

Figura 3 - Produtividade de algodão em pluma (@ fibra/ha) obtida por diferentes cultivares, em função do número de aplicações de fungicidas, na região de Sapezal (MT). Safra 2009/2010

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Fotos Fundação MT

Figura 4 - Comparativo de produtividade entre as variedades RX e variedades susceptíveis à mancha Figura 5 - Resistência genética à mancha de ramulária (tecnologia RX), observada nas parcelas de ramulária. Produtividades - Delta Opal: 243@/ha; FMT 705: 287 @/ha; FMT 707: 325@/ha sem aplicação de fungicida. Produtividades - FMT 707: 264@/ha; Linhagem: 225@/ha

pluma/ha, enquanto as testemunhas das cultivares RX produziram 146 arrobas pluma/ha, obtendo 29 arrobas de pluma/ ha de incremento com a tecnologia.

Manejo de fungicidas nas cultivares RX

O algodoeiro também é afetado por outras doenças, como a ramulose (Colletotrichum gossypii), mirotécio (Myrothecium roridum), corinespora (Corynespora cassicola), estenfilium (Stemphylium solani) entre outras, e dependendo das condições a ferramenta química deve ser utilizada. Apesar das cultivares RX não necessitarem de controle químico específico para ramulária, a utilização de triazóis reduz a probabilidade de quebra de resistência genética, aumentando a vida útil da tecnologia e os benzimidazóis auxiliam no combate das demais manchas foliares. A recomendação do controle químico para ramulose nas cultivares RX é a mesma prescrita para as demais cultivares: começar as aplicações, detectados os primeiros sintomas da doença (manchas

“estreladas”), com o uso de fungicidas do grupo das estrobilurinas, ou combinações de benzimidazóis com estanho-orgânico. As reaplicações dependem da evolução da doença, das condições climáticas e do efeito residual do produto. Para o controle de manchas foliares (mirotécio, corinespora, estenfilio e ferrugem) e também como estratégia para se prolongar a resistência genética à ramulária dos materiais RX, deve-se realizar pelo menos duas aplicações de fungicidas, sendo a primeira aos 90-100 DAE (Dias Após a Emergência) e a segunda aos 110-120 DAE, utilizando triazóis ou combinações destes produtos com estrobilurinas ou benzimidazóis.

Custo de produção

O custo de produção com o uso da tecnologia RX é reduzido, pois além da economia no consumo de fungicidas, o produtor diminui o número de entrada de máquinas na lavoura, diminuindo o custo operacional e minimizando os eventuais problemas causados pelo excessivo trânsito

de máquinas. Vale lembrar que além da redução de custos diretos, os materiais RX apresentaram um maior potencial produtivo comparado às variedades suscetíveis. Usando como base o experimento citado anteriormente, foi realizada uma simulação de custos comparando as variedades (Tabela 2). Assim, observou-se que, para o produtor que utiliza as variedades RX, o custo de controle com apenas duas aplicações giraria em torno de R$ 51,70/ ha, e com produtividade de 146,0 arrobas de pluma/ha, geraria ao cotonicultor uma rentabilidade de R$ 10.431,10/ ha (sem considerar os demais custos de produção), contra R$ 8.743,10/ha onde foram realizadas cinco aplicações nas cultivares suscetíveis. Isto possibilitou ao cotonicultor uma lucratividade 19% maior (R$ 1.688,00/ha) com a utilização C da tecnologia RX. Diego Martins Carretero e Fabiano Siqueri, Fundação MT

Figura 6 - Imagem aérea do experimento de competição entre as variedades RX e variedades susceptíveis à mancha de ramulária: produtividades: Delta Opal: 215@/ha; Fibermax: 221@/ha; FMT 705: 245 @/ha; FMT 707: 265@/ha (esquerda) e (à direita) Produtividades: FMT 705: 245 @/ha; FMT 707: 265@/ha

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Café Fotos Paulo R. Reis

Lucros em risco

Os Os prejuízos prejuízos causados causados pela pela broca-do-café broca-do-café vão vão da da redução redução da da produtividade produtividade até até aa depreciação depreciação da da qualidade qualidade da da bebida. bebida. OO controle controle da da praga praga exige exige monitoramento monitoramento rigoroso rigoroso ee uso uso de de alternativas alternativas que que integram integram medidas medidas culturais, culturais, adoção adoção de de parasitas parasitas biológicos biológicos ee emprego emprego de de inseticidas inseticidas

A

broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) constitui-se em uma importante praga na cafeicultura irrigada, pela sua maior sobrevivência na entressafra, nos frutos úmidos remanescentes da colheita e que permanecem nas planta ou sobre o solo. O inseto fêmea adulto é um pequeno besouro de cor preta, luzidio, medindo aproximadamente 1,7mm de comprimento por 0,7mm de largura. O macho é menor e apresenta aproximadamente 1,2mm de comprimento por 0,5mm de largura. Não voa (as asas posteriores são atrofiadas) e permanece constantemente dentro dos frutos, onde se realiza a cópula e a fecundação das fêmeas. As fêmeas perfuram os frutos, desde verdes (chumbões) até maduros (cerejas) ou secos (passas), geralmente na região da coroa, cavando uma galeria com cerca de 1mm de diâmetro até atingir a semente. No ciclo evolutivo da broca o desenvolvimento do macho é mais rápido (dois instares larvais) que o da fêmea (três instares larvais - Figura 1). 32

Dano

O ataque da broca-do-café causa a diminuição do peso dos grãos, a queda de frutos (prejuízo quantitativo) e a redução da qualidade da bebida, através da alteração no tipo (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do fruto de café, atacando uma ou as duas sementes para sua alimentação, podendo a destruição do fruto ser parcial ou total. Inicialmente os prejuízos são ocasionados pela queda de frutos. Para o cafeeiro Arábica (Coffea arabica L.) foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de

Macho com asa posterior atrofiada (esq.) e fêmea com asa posterior normal (dir.)

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frutos em torno de 8% a 13%; para cafeeiro Canéfora (Coffea canephora Pierre & Froehner) a broca pode ser responsável por um aumento da queda de frutos da ordem de 46%. Os frutos broqueados, que permanecem nas plantas, sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em Minas Gerais, que essas perdas podem chegar a 21% ou a 12,6kg por saco de 60kg de café beneficiado (Figura 2). Foi constatado que a qualidade do café ficou alterada com o ataque da broca, passando do tipo 2 para o tipo 7, com o aumento da infestação. As perdas aumentam na operação de beneficiamento devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar. Os danos provocados pela broca começam quando a infestação, nos frutos da primeira florada, atinge 3% a 5%, já com larvas se alimentando das sementes (Figura 2). A qualidade da bebida do café parece não ser diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela facilidade que os danos proporcionam à penetração de micro-organismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados com a alteração da


qualidade da bebida do café.

Controles Controle cultural Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores tratorizados. A colheita do café deve ser muito bem feita, evitando que fiquem frutos nas plantas e no chão, onde a broca poderá sobreviver na entressafra, principalmente se for chuvosa. Após a colheita, caso tenham permanecido muitos grãos nas plantas e no chão, é recomendável fazer o "repasse" ou catação dos frutos remanescentes da colheita. Estudo realizado com cafeeiro da espécie C. canephora cv. Conillon, no Espírito Santo, mostrou que cinco meses após a colheita cerca de 71,7% dos frutos remanescentes estavam atacados pela broca, o que evidencia a importância da colheita bem feita e do repasse, principalmente em lavouras não mecanizadas onde o monitoramento e as pulverizações são difíceis de serem realizados. Em 2000, no estado de Rondônia, a infestação média

Fruto de café no estágio de cereja apresentando orifício produzido pela broca-do-café

de frutos na entressafra, caídos no solo, foi de até 76,3%. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões com cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos,

pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, grande população de broca e, consequentemente, maiores prejuízos.


Figura 1 - Esquema do ciclo biológico da broca-do-café, Hypothenemus hampei

Finalmente, lavouras irrigadas (com qualquer tipo de irrigação) apresentam maiores infestações de broca como resultado da maior sobrevivência e multiplicação nos frutos remanecentes na entressafra, devido à maior umidade, daí a importância do monitoramento sistemático dessas lavouras.

Espera-se que a liberação de parasitoides, criados em laboratório, no período da entressafra, reduza a população da broca para a safra seguinte de café. As larvas da vespa são parasitoides das fases imaturas da broca, e os adultos são considerados predadores de ovos, larvas pequenas e adultos da broca-do-café. Nos países produtores de café das Américas, com exceção do Brasil, pelas condições das lavouras, a broca é a sua principal praga. Nesses países, estudos com parasitoides vêm sendo desenvolvidos intensamente, inclusive com liberações em campo, e com sucesso apenas parcial. Outro agente de controle biológico da broca, já constatado no Brasil, é o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana (Bals.) Vuil., cuja multiplicação em grande escala vem sendo desenvolvida através de pesquisas. As condições que favorecem a infestação de B. bassiana são o tempo nublado e a alta umidade relativa (aproximadamente 80%). Essas condições ideais para o fungo nem sempre são encontradas em cafezais com espaçamento convencional, o que provavelmente torna os cafeeiros

Fotos Paulo R. Reis

Controle biológico Numa tentativa de controlar biologicamente a broca-do-café, foi introduzido, em 1929, no estado de São Paulo, proveniente de Uganda, África, o micro-himenóptero Prorops nasuta Waterston, 1923 (Hymenoptera: Bethylidae), que recebeu o nome vulgar de vespa-de-Uganda, que parasita larvas e pupas da broca. O insucesso do controle é em parte atribuído ao uso, na época, do inseticida BHC. O mesmo cenário foi verificado com a introdução dessa vespa na Indonésia e Ceilão. A partir de 1994 vem sendo estudada a eficiência de outra vespa introduzida também da África, a Cephalonomia stephanoderis Betrem, 1961 (Hymenoptera: Bethylidae), conhecida como vespa-da-Costa-do-Marfim. Acredita-se ser esta espécie mais agressiva que a vespa-de-Uganda.

Figura 2 - Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela broca-do-café. Fonte: Reis et al. (1984)

Corte de fruto de café mostrando a presença de larvas da broca em seu interior e destruição parcial (esquerda, uma semente danificada) e total das sementes (direita, as duas sementes danificadas)

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adensados, sombreados ou arborizados, como promissores ao controle da broca com o uso de fungos entomopatogênicos. Controle químico convencional Atualmente, na cafeicultura brasileira, devido aos maiores espaçamentos que permitem pulverizações tratorizadas, o controle químico da broca é eficiente, rápido e barato, ao contrário do que ocorre nos demais países produtores onde se pratica a cafeicultura adensada e/ou sombreada. Embora possa ser uma operação bastante trabalhosa, o monitoramento é de suma importância para o manejo da broca. Qualquer método de monitoramento é eficiente, o convencional (detrutivo com a retirada de frutos ou não) ou o sequencial

BROCA-DO-CAFÉ

Ahampei

broca-do-café, Hypothenemus (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) é considerada, atualmente, a segunda praga em importância do cafeeiro Coffea spp., para a maioria das regiões cafeeiras do Brasil. Conhecida no Brasil desde 1922, e até 1970 considerada a principal praga do cafeeiro, passou a ser a segunda ou até a terceira em importância na maioria das regiões cafeeiras do país (com exceção da Zona da Mata de Minas Gerais, estados do Espírito Santo e Rondônia e lavouras muito próximas às grandes represas) em qualquer região, devido às condições de alta umidade e temperatura, condições ideais para o desenvolvimento do inseto e sua sobrevivência na entressafra.


Figura 3 - Esquema mostrando a posição e desenvolvimento da broca em frutos de café. Fonte: Recomendaciones... (1994)

Paulo Rebelles Reis aponta alternativas para o combate à broca-do-café

(não destrutivo). O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito” do inseto (de novembro a janeiro), três meses após a grande florada, quando forem observadas nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e realizado até abril. Na época de “trânsito”, as fêmeas adultas do inseto abandonam os frutos da entressafra onde se criaram, voam e perfuram frutos verdes desenvolvidos (chumbões) da safra seguinte, sem neles ovipositar logo após perfurá-los, só o fazendo 53 dias depois, pois de novembro a janeiro esses frutos se apresentam muito aquosos, com 86% de umidade, não sendo ainda um alimento ideal para as larvas do inseto. Na prática o tamanho dos talhões pode ser delimitado por: a) carreadores e pendentes; b) idade das plantas; c) porte das plantas e outras características que permitam separar a lavoura em grupos menores de cafeeiros. Elaborar um mapa de localização dos talhões para facilidade de identificação. Apesar de apenas dois ingredientes ativos (endosulfan e chlorpyrifos-ethyl) terem registro para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café no Brasil, a

tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível naqueles com a broca nas posições A e B, ou seja, sem que ainda tenham alcançado a semente (Figura 3), onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter colocado ovos. Como o ataque não se distribui uniformemente numa lavoura, recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos (com brocas vivas no interior) na época do chamado “trânsito” do inseto (deslocamento de um fruto para outro). Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas, limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões. Recomenda-se continuar as inspeções em todos os talhões, mesmo naqueles já controlados (onde os frutos devem ser abertos para verificar se as brocas estão vivas ou mortas), até que passe o período crítico de ataque, que se estende até próximo da colheita. Quando a infestação atingir os índices recomendados para con-

trole, indica-se a repetição, respeitando-se os limites de carência dos inseticidas. Geralmente uma única pulverização tem sido suficiente para o controle da broca, em aplicação tratorizada. Lavouras velhas e fechadas requerem maiores cuidados, pois em tais condições são mais suscetíveis ao ataque da broca. O inseticida recomendado para o controle é o endosulfan 350g/litro CE à razão de 1,5 a 2,0 litros/ha, ou a 0,5% (500ml do produto comercial/100 litros de água, com gasto de água a partir de 300 litros/ha). Adicionar espalhante adesivo à calda inseticida. Embora seja um produto químico, o endosulfan é considerado seletivo a micro-himenópteros que são parasitoides de pragas. O controle da broca pode ser feito simultaneamente com o controle da ferrugem e aplicação de micronutrientes via foliar, pois há uma coincidência de época para tais operações. Devido a restrições impostas por importadores de café e certificadoras, a fabricação e a comercialização do endosulfan, no Brasil, poderão ser efetuadas somente até 31 de julho de 2013. Esperam-se para breve outros produtos que o substituam com a mesma eficiência no controle da broca. C Paulo Rebelles Reis, Epamig/EcoCentro


Coluna ANPII

Limites ampliados Depois de cobrir mais de um milhão de hectares de milho, arroz e trigo, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) se prepara para expandir seus benefícios para outras culturas como a cana-de-açúcar, ao mesmo tempo em que a pesquisa aponta a possibilidade de associação de 60 espécies vegetais com bactérias do gênero Azospirillum

A

Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um fenômeno natural que tem por objetivo aproveitar o imenso reservatório natural desse elemento existente no ar para nutrir as plantas em um dos três macronutrientes necessários para que as plantas cresçam e produzam sementes para perpetuação da espécie. Enquanto fósforo e potássio encontram-se disponíveis em forma mineral nos solos, o nitrogênio necessita ser transferido do ar para o solo e

XX iniciou-se o processo de seleção de bactérias mais eficazes e a tecnologia de sua veiculação em substratos adequados para ser usado pelos agricultores. Isto deu início à indústria de inoculantes, criando várias formulações para que a bactéria pudesse ser produzida em elevadas concentrações, armazenada e transportada até o agricultor para ser usada nas lavouras. Devido à sua elevada eficiência, tornou-se um insumo indispensável na cultura da soja e viabilizou esta importante planta no

agricultor brasileiro que, rapidamente, incorpora as novas tecnologias de forma muito arrojada, contrariando a crença de que o agricultor é um profissional conservador. O produtor brasileiro tem dado provas ao mundo da sua adesão às novas tecnologias oferecidas. Na cana-de-açúcar já se vislumbra o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio em curto espaço de tempo (aproximadamente) de dois a três anos. Mas o que podemos esperar ainda da FBN para auxiliar no aumento da

Na cana-de-açúcar já se vislumbra o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio em curto espaço de tempo aí sofrer uma série de transformações químicas até chegar à forma mineral, absorvível pelas plantas. Somente nas relações simbióticas entre bactérias e plantas leguminosas, o nitrogênio já é incorporado diretamente à planta, sem passar pelas fases de mineralização. Assim, durante séculos, a natureza, através de bactérias chamadas de fixadoras de nitrogênio, conseguiu alimentar a vida na terra através do fenômeno da FBN. Com o advento da agricultura moderna, onde se procura obter elevadas produtividades, o engenho humano, se por um lado dominou o uso de minerais, também desenvolveu tecnologias para o aproveitamento das bactérias para fixar o nitrogênio não somente para que as espécies sobrevivessem, mas que a quantidade de nitrogênio fixado permitisse elevadas colheitas de grãos ou de massa seca nas forragens. No final do século XIX foram lançadas as bases científicas para compreender o fenômeno da FBN e no século

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cenário econômico do cerrado e do Brasil como um todo. O feijão, como “primo pobre” mas metido a rico, foi melhorado levando em conta o caro nitrogênio mineral e não a barata, econômica e ambientalmente correta FBN. Mas hoje novas luzes se abrem na pesquisa e dentro em breve poderemos ter a cultura que provê um dos alimentos do dia a dia dos brasileiros, usando em larga escala o nitrogênio biológico. No limiar do século XXI há novas incorporações da FBN na agricultura brasileira. Na esteira das pesquisas da doutora Johanna Dobereiner e dos cientistas por ela formados, iniciou-se o uso de inoculantes bacterianos em gramíneas, sendo o milho, o arroz e o trigo as plantas inicialmente beneficiadas. O sucesso da tecnologia foi tamanho, que em pouco mais de um ano de mercado, mais de um milhão de hectares já foram inoculados, evidenciando a capacidade da pesquisa brasileira, a agilidade das indústrias de inoculante e o espírito inovador do

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produtividade e no uso de uma agricultura sustentável? Sabe-se atualmente que mais de 60 espécies vegetais são capazes de se associar com bactérias do gênero Azospirillum, a mesma utilizada no milho, trigo e arroz, podendo fixar nitrogênio e agir também no crescimento das plantas. Desta forma, o horizonte que se abre à frente da pesquisa, das empresas de inoculantes e da agricultura brasileira é imensurável, com toda uma gama de importantes culturas nas quais se poderá reduzir ou até eliminar o uso da adubação nitrogenada, com ganhos para toda a cadeia produtiva do agronegócio brasileiro, seja nas grandes e nas pequenas propriedades, desde que sejam administradas por agricultores modernos e com capacidade para utilizar as novas tecnologias que estão sendo incorporadas ao processo produtivo. C Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

O

Alimentando o mundo em 2050

mundo tem os recursos e a tecnologia necessários para erradicar a fome e assegurar comida para alimentar a população, no longo prazo, apesar dos múltiplos desafios e inúmeros riscos. Para tanto, será necessário mobilizar a vontade política e construir as instituições necessárias para garantir que as principais decisões sobre investimento e políticas de erradicar a fome serão tomadas e implementadas de forma efetiva. Estima-se que, em 2050, a população mundial atingirá 9,1 bilhões, 34% maior que hoje. Quase todo esse aumento populacional ocorrerá nos países em desenvolvimento. A urbanização vai continuar em um ritmo acelerado, e aproximadamente 80% da população do mundo será urbana (em comparação com 50% em 2011). Para alimentar uma população maior, mais urbana, mais rica, mais idosa e

mentos. Portanto, políticas públicas de emprego e renda, de inclusão social, de garantia de acesso à alimentação necessitarão ser implementadas e este aspecto tem se mostrado mais resiliente e difícil de atingir que aumentar a produção mundial de alimentos. 2. Incremento da produtividade - Será cada vez mais difícil incorporar novas áreas para a produção agropecuária, ao mesmo tempo em que a agricultura será demandada a atender não apenas a demanda de alimentos, porém uma plêiade de utilidades sociais, como energia, fitoterápicos, fibras, produtos madeireiros ou insumos para a indústria química. Para tanto, avanços ponderáveis deverão ocorrer na geração de novas tecnologias apropriadas, bem como deverá aumentar a velocidade de transmissão de conhecimentos para o sistema produtivo,

lizar a exposição ao risco da agropecuária com outras atividades econômicas, são necessárias políticas públicas, como oferta adequada de crédito, com taxas de juros compatíveis; seguro agrícola contra riscos climáticos e seguro renda para proteção contra oscilações do mercado; garantias de comercialização e de escoamento da produção. 5. Redução de perdas - Estima-se que aproximadamente um terço da produção mundial de alimentos seja perdida entre o momento do plantio e a mesa do consumidor. Durante o processo produtivo, tecnologias necessitam ser desenvolvidas e adotadas para reduzir as perdas por fatores bióticos (pragas) ou abióticos (seca, alagamento, deficiência nutricional) e minimizar as perdas na colheita. Após a porteira programas devem ser delineados e implementados para reduzir à metade (ou ainda menos

Nosso país deverá apresentar o maior crescimento, em escala global, tanto na produção quanto na comercialização no mercado internacional, de produtos agrícolas em geral melhor informada, a produção de alimentos deve aumentar em, no mínimo, 70%, porque incluirá a parcela da população hoje à margem do mercado, em estado de fome endêmica ou, no mínimo, de deficiência nutricional. A produção anual de cereais deverá atingir cerca de três bilhões de toneladas (contra 2,1 bilhões de hoje) e a produção de carne deverá aumentar das atuais 200 milhões para 470 milhões de toneladas.

Os cinco desafios 1. Acesso à alimentação - Apenas produzir mais alimentos não garante que a fome será erradicada do mundo. Desde a década de 1980 a FAO tenta comprometer os países membros com programas de erradicação da fome no mundo, estabelecendo metas e cronogramas que são sistematicamente descumpridos. Como resultado, a fome no mundo tem aumentado, tanto em termos relativos (proporção da população) quanto em termos absolutos. A estimativa é que entre 800 milhões e um bilhão de pessoas sofrem algum grau de restrição alimentar. O problema central não é a oferta de alimentos, porém, o acesso à alimentação, em especial os meios financeiros para adquirir ali-

e a sua consequente adoção. Atenção: não basta gerar novas tecnologias, estas devem ser sustentáveis por qualquer ângulo que se examine, seja no aspecto ambiental, social ou econômico. 3. Infraestrutura - Não basta produzir, é necessário levar a produção aos locais de consumo. Antes disso, obviamente os insumos agrícolas necessitam ser transportados aos locais de produção. Para tanto, necessita-se de logística e infraestrutura adequada. Os países ricos já dispõem da infraestrutura necessária. Porém, nos países emergentes, onde deverá ocorrer 80% do aumento da produção agrícola nos próximos 40 anos, esta infraestrutura é precária e está muito longe de atender às necessidades. O Brasil é um exemplo didático do descasamento entre o alto potencial do agronegócio e a deficiente infraestrutura disponível, porém o quadro se repete em outros países com potencial agrícola, em especial na África. 4. Políticas de apoio - Entre as atividades econômicas legais, a agropecuária é a que apresenta a maior taxa de risco, devido à imponderabilidade do clima, ao ataque de pragas ou às flutuações abruptas de preços de insumos ou dos produtos agrícolas. Para equa-

que isto) as perdas na colheita, no transporte, na armazenagem, nos canais de distribuição, nos restaurantes e nos lares.

Brasil Nosso país deverá apresentar o maior crescimento, em escala global, tanto na produção quanto na comercialização no mercado internacional, de produtos agrícolas em geral, mormente alimentos. Destaque deve ser dado à dobradinha soja e milho e ao conjunto de proteínas animais (gado, frangos e suínos). Ao mesmo tempo, o Brasil caminha para consolidar-se como o grande ícone da produção e uso de agroenergia, tanto no segmento de biocombustíveis quanto de bioeletricidade. Paralelamente, os negócios florestais estarão em alta nas próximas décadas, devido às estimativas de incremento espetacular na demanda internacional de produtos florestais. Quero crer que nunca antes na história do agronegócio deste país vivemos uma perspectiva de negócios florescentes como a que se descortina para as C próximas décadas.

Décio Luiz Gazzoni

Assessor da SAE/Presidência da República

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Ano começa com boas perspectivas para o agronegócio brasileiro O ano de 2011 começa com boas expectativas. Com cotações altas para os principais grãos no mercado internacional, crescimento na demanda e novamente grandes problemas climáticos atingindo países importadores. Esse cenário gera apelo positivo para as cotações e deixa o quadro geral mundial dos grãos apertado. A Soja segue com boas perspectivas, porque o principal importador mostra boas condições da economia e forte necessidade de compras para manter a inflação controlada. No milho, percebe-se forte demanda para etanol e para ração. No trigo, as perdas promovidas pelo clima, nos EUA, Austrália e Europa (junto com o crescimento da demanda) fizeram as cotações ficarem fortes e acima dos US$ 300 por tonelada no mercado internacional. Também espera-se pelo crescimento das cotações do arroz nos próximos meses, porque a demanda mundial está aquecida e os preços tinham recuado forte nos últimos meses. Desta forma, a tendência é de recuperação dos indicativos. Aqui ainda sofremos com liquidez, falta de apoio do governo e câmbio baixo, o que facilita importações. Quadro que tende a melhorar nos meses seguintes. Mas o destaque do momento é o algodão, que se encontra com as melhores cotações da história (fazendo os produtores do Mato Grosso e da Bahia negociarem a safra de 2012 e contabilizarem lucros na safra atual, antes mesmo da colheita). E no caso da safrinha do Mato Grosso, auferirem ganhos antes do plantio. O setor da cana também deve voltar a crescer forte, porque as cotações do açúcar e do álcool estão passando pela safra com preços altos e tendem a aumentar devido à forte demanda interna e de exportação. Os indicativos são de que os produtores brasileiros terão boa margem de ganhos neste ano, com chances de crescer em escala, qualidade e lucratividade. MILHO

Leilões limitam maiores avanços

O mercado do milho mostrou forte reação nas cotações, no segundo semestre de 2010, e os ganhos permanecem no começo de 2011. Mesmo com o início da colheita o mercado segue firme, porque há forte demanda no mercado internacional (que estava pagando R$ 28,00 por saca nos portos para embarque entre fevereiro e agosto) limitando desta forma a queda interna para o milho novo e obrigando as indústrias a vir às compras para se abastecer, às vésperas da colheita. O governo seguiu vendendo estoque e desta forma está com níveis de pouco mais de três milhões de toneladas nesta passagem de ano. Desta forma teremos um ano de alta dependência da safrinha, que terá atraso no plantio e chances de não alcançar a mesma área do ano passado (o que deve resultar em fôlego para o milho se manter firme e lucrativo aos produtores). SOJA

Cotações atrativas

A soja começou 2011 com os olhos voltados para o futuro, com forte demanda chinesa, e indicativos de que o país chegará à marca das 60 milhões de toneladas importadas neste ano,

contra 55 milhões de 2010. Desta forma, haverá necessidade de crescimento da produção. A safra da Argentina foi comprometida pelo clima e está deixando espaço para os demais fornecedores. Com menor potencial de exportação dos portenhos, teremos fôlego para manter o mercado interno mais atrativo neste ano. Temos somente um entrave para os ganhos em 2011, que será a concentração da colheita entre a metade de fevereiro e o começo de abril. A expectativa é por forte avanço nos preços dos fretes e até falta de caminhões para o transporte. Também poderemos ter dificuldade de armazéns, porque a produção tem crescimento e caminha para um recorde histórico, enquanto a capacidade de armazenagem não tem avançado no mesmo ritmo. FEIJÃO

Replay de 2010

O mercado do feijão caminha para repetir o que ocorreu em 2010, mostrando concentração de oferta neste começo de 2011, com cotações baixas, perdas na produtividade e qualidade baixa. Isso faz com que os produtores reduzam o plantio da segunda safra, o que resultará na ausência de ofertas no meio do ano, tornando-nos dependentes

da terceira safra, com forte alta nos indicativos do segundo semestre. Assim caminhamos para cotações entre R$ 50/80 neste começo de ano e forte reação nos meses seguintes, por falta de ofertas. ARROZ

Dentro dos níveis de exportação

O arroz começou o ano com queda acima dos 10% nas cotações do Casca. A sobra de produto do ano passado, com grandes estoques nas mãos da Conab (ainda próximo de um milhão de toneladas) e o plantio crescente no Sul. Esses fatores fizeram com que a alta da entressafra não ocorresse. O mercado aponta para fraqueza e grande dependência do governo neste começo de colheita. Mesmo com perdas localizadas no Rio Grande do Sul, a safra caminha para bons resultados no Sul e quase nada de arroz nas demais regiões do país. Como tivemos forte queda nas cotações, já estamos dentro dos níveis de exportação. Desse modo não há mais espaço para baixa, porque nestes níveis poderemos exportar o arroz em casca ou até mesmo o beneficiado. Mas para o período de colheita serão necessárias as Aquisições do Governo Federal (AGFs) para garantir o preço mínimo de R$ 25,80. Depois poderemos ter fôlego de reação.

CURTAS E BOAS TRIGO - A safra está colhida e até agora a liquidez é considerada fraca, com indicativos entre os R$ 380,00 e os R$ 480,00 por tonelada. O mercado externo tem trabalhado em torno dos 300 a 330 dólares por tonelada. Já estamos dentro dos níveis de venda no mercado internacional e certamente o produto que importaremos chegará muito acima do que praticamos no produto brasileiro. Com espaço para avanços nos próximos meses. ALGODÃO - O mercado se encontra em um dos melhores momentos já vistos no Brasil, com indicativos entre os R$ 109,00 e os R$ 113,00 pela arroba da pluma, trazendo grandes lucros ao setor (que busca crescer em plantio da safrinha). O aspecto negativo fica por conta das chuvas em excesso, ocorridas em janeiro. A cultura seguirá com boa demanda nacional e externa e boas cotações aos produtores. eua - A nova safra começa a ser comentada, com indicativos de que o milho ganhará área em 2011/12, podendo avançar dois milhões de hectares (indo à casa dos 38 milhões). Com isso haverá perdas na área da soja. Projeta-se grande necessidade de milho para ração, etanol e exportações. Somente para China devem ir sete milhões de toneladas. O etanol americano vai consumir mais de 125 milhões de toneladas de milho neste ano e tudo aponta que para o próximo passará das 130 milhões de toneladas. Por isso o país terá que produzir mais milho, e os indicativos são de que a soja tende a perder espaço. china - As importações de alimentos estão sendo apontadas como fator de garantia de controle da inflação local e garantia para que o país continue crescendo de maneira sustentável. Com isso fizeram acordos para garantir abastecimento de alimentos, com a Argentina e os EUA, e seguirão comprando forte do Brasil. Com isso a soja pode chegar à marca das 60 milhões de tone-

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ladas importadas, com potencial para ir além das dez milhões de toneladas compradas de milho. Isto porque o consumo de ração cresce muito acima das expectativas. Boa notícia para o mundo agrícola. argentina - O clima novamente foi carrasco com os produtores argentinos. Houve seca, do final de novembro até janeiro, na maior parte das regiões produtoras, com atraso no plantio e grandes perdas na safra local. O milho, que mostrava fôlego para colheita de até 26 milhões de toneladas, agora aponta para percentuais abaixo das 19,5 milhões de toneladas. Para a soja se esperava repetir o recorde de colheita de 55 milhões de toneladas. Mas agora se aponta para patamares entre 47 milhões de toneladas a 48 milhões de toneladas. Desta forma o país terá menos grãos para exportar. Aguardam-se muitos protestos por parte dos produtores neste ano, porque o governo seguirá controlando as exportações e para segurar a inflação irá diminuir os volumes vendidos no mercado externo, deixando o mercado internacional mais forte. Os agricultores fizeram greve em janeiro, os portuários paralisaram e tudo indica que haverá novas mobilizações neste ano, até porque estamos a poucos meses de uma eleição presidencial. Bom para os países concorrentes, que ganharão espaço nas vendas e as cotações serão fortalecidas. clima - Novamente estaremos na dependência do clima neste novo ano agrícola no hemisfério norte, que vem sofrendo constantemente com seca e altas temperaturas. Pelos primeiros sinais do inverno rigoroso (que aumenta o consumo de alimentos e ração na região), é possível concluir que não deverá ser diferente dos últimos dois anos, que foram de grandes perdas nas lavouras. Lembramos a seca e focos de incêndio, no leste europeu, em agosto passado. Fatores que trazem apelo altista ao mercado internacional.

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