Grandes Culturas - Cultivar 142

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 142 • Março 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas capas

Resposta favorável...............................26

Charles Echer

Saiba como reagem 46 híbridos comerciais de milho à aplicação de fungidas no combate ao complexo de doenças fúngicas que limita a safrinha

Espaço e cobertura.....................12 Como controlar..........................40 Bons ventos para o trigo.............42 A influência do espaçamento entre linhas e das pontas de pulverização no controle químico da ferrugem asiática da soja

As alternativas no combate à lagartamede-palmo, responsável por limitar a produtividade na cultura do algodão

Índice

Expediente

Diretas

06

Novas cultivares de soja da Embrapa Trigo

10

Ferrugem asiática em soja

12

Aplicação de silicio em soja

16

Soja louca

20

Controle de insetos em milho BT

22

Uso de fungicidas em milho safrinha

26

Podridão da bainha em arroz

30

Broca da cana

34

Escala diagramática para fitotoxidez em café

38

Pseudoplusia em algodão

40

Mercado de trigo para 2011

42

Coluna ANPII

44

Coluna Agronegócios

45

Mercado Agrícola

Alta demanda e estoques mundiais em baixa apontam cenário favorável para o cultivo na próxima safra

46

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

• Vendas

Pedro Batistin Sedeli Feijó

• Editor

Gilvan Dutra Quevedo

• Design Gráfico e Diagramação

Cristiano Ceia

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

CIRCULAÇÃO • Coordenação

Simone Lopes

• Assinaturas

Letícia Gasparotto Ariani Baquini

• Secretária

Rosimeri Lisboa Alves

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

Charles Ricardo Echer

• Expedição

Edson Krause

GRÁFICA

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br Assinatura anual (11 edições*): R$ 129,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.



Diretas Dupont

A Dupont apresentou aos visitantes do Show Rural os benefícios do fungicida Aproach Prima, que agora possui registro para as culturas de algodão, arroz, café, milho, cana-de-açúcar e trigo. O produto é indicado para realizar aplicações preventivas contra as principais doenças de cada cultura.

Nematoides

O fitopatologista Daniel Cassetari palestrou no estande da Bayer CropScience durante o Show Rural. Ele apresentou os problemas causados pelos nematoides e as soluções existentes para o manejo desta praga que está tomando proporções preocupantes nas lavoras brasileiras. Após cada palestra, os visitantes puderam também conferir os efeitos do CropStar no controle de nematoides.

CropStar

Intacta RR2 Pro

A Monsanto lançou no Show Rural uma nova tecnologia para a soja, a Intacta RR2 Pro, que reúne proteção contra as principais lagartas que atacam a cultura e com tolerância também ao glifosato. Para o lançamento, estiveram presente o vice-presidente executivo e líder global de Tecnologia da Monsanto Company, Robert Fraley, junto com time que o acompanhou desde os Estados Unidos, além do presidente da Monsanto Robert Fraley e André Dias do Brasil, André dias.

Opções

Os visitantes da Bayer CropScience no Show Rural tiveram várias opções para conhecer os resultados do portfólio aplicado nas principais culturas. O estande disponibilizava de diversos ambientes, como arenas, tendas e campos demonstrativos. Everton Queiroz, gerente comercial na região de Cascavel (PR), explicou este formato de estande facilita a observação dos produtores, que procuram ver na prática a eficácia dos produtos.

Um dos destaques no estande da Bayer CropScience foi o CropStar, com foco em milho e soja, principalmente alertando os produtores do Paraná para os problemas com nematoides nessas culturas. Fábio Sgarbi, gerente de Produtos para Tratamento de Sementes, destacou que o produto deverá ser líder no tratamento das culturas de soja e milho já a partir da próxima safra.

Fábio Sgarbi

Mudanças

Emerson Moura assumiu recentemente o cargo de gerente regional de Vendas da Bayer CropScience, para a região de Guarapuava. Ele estava atuando como gerente de Cultura Soja para a região dos Cerrados. Mariel Alves, que até pouco tempo atuava como gerente de Cultura de Milho da Bayer CropScience, passou a responder pela gerência regional de Vendas Rio Verde. Cassiano Bronzatti, que respondia pela gerência de Produtos Herbicidas, passa a atuar como gerente regional Tangara da Serra.

Emerson Moura, Mariel Alves e Cassiano Bronzatti

Novidades

A Basf deu destaque para dois pré-lançamentos na linha de fungicidas, o fungicida Abacus, específico para milho, e o Opera Ultra. Segundo Eduardo Gobbo, gerente de vendas da empresa, a Basf também reforçou o sistema Ag Celence, que beneficia a planta desde o tratamento de sementes, com o Standak Top, passando pela aplicação do Commet e Ópera durante todo o ciclo de desenvolvimento. Os visitantes puderam conferir a atuação do Ag Celence numa apresentação em 4D.

Pioneer

A Pioneer abordou neste ano a evolução das tecnologias para o mercado de milho, apresentando a HR, que combina a tecnologia Herculex I com a tecnologia Roundup Ready no mesmo produto. A empresa apresentou também as novidades na linha de tratamento de sementes industrial e seu mais novo híbrido superprecoce para a safrinha, o P3161H.

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Mozart Emilio Vaz Erichsen Junior

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Eduardo Gobbo (centro)


RiceTec

A RiceTec, empresa pioneira em pesquisa e comercialização da semente híbrida do arroz para o Mercosul, apresentou para os produtores e visitantes da XXI Abertura da Colheita do Arroz os híbridos Avaxi CL e Inov CL. Entre os benefícios destacados pelas variedades, está o controle do arroz vermelho, a adaptabilidade em zonas temperadas, a alta qualidade industrial e de consumo e o alto nível de tolerância ao herbicida utilizado no sistema.

Cesb

O Cesb, entidade sem fins lucrativos formada por profissionais e pesquisadores de diversas instituições, participou pela primeira vez do Show Rural da Coopavel. De acordo com Edeon Vaz Ferreira, diretor-executivo da instituição, o objetivo foi divulgar o “Desafio de Máxima Produtividade”, um ambiente de aprendizagem entre os produtores e técnicos, através da troca de experiências e interações com os outros produtores e técnicos. Patrocinam o Cesb as empresas Syngenta, Monsanto, Basf e Totvs.

Edeon Vaz

Sementes

Agrocete

A Agrocete demonstrou por meio de parcelas no Show Rural 2011 os resultados obtidos com os produtos comercializados pela empresa, como aminoácidos, inoculantes, nutrição foliar e nutrição para sementes. Outra linha de destaque foi a Jardim, com os produtos Grap Garden Orgânico, matéria orgânica pura bioestabilizada; Grap Garden Super, fertilizante completo; Grap Garden Plus, fertilizante spray para pronto uso; Grap Garden Jardins e Grap Garden Lascas.

Com um estande de três mil metros quadrados, a Syngenta participou do Show Rural Coopavel, onde apresentou as variedades de sementes de soja Syn 9070 RR, Syn 3358 RR e a nova VTOP RR, que proporcionam precocidade e produtividade. Também foram apresentados os híbridos de milho tolerantes a lagarta e de alto potencial produtivo como o Status TL, Tork TL e o Maximus Viptera.

Exposição

Agromen

A Agromen Tecnologia apresentou em seu estande no Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), parcelas demonstrativas com oito diferentes híbridos de milho indicados para lavouras de médio e alto investimento, sendo dois lançamentos que se destacam por sua superprecocidade.

A Syngenta apresentou diversas parcelas demonstrativas em seu estande, onde o público conferiu a eficiência dos produtos da empresa, com destaque para os inseticidas Cruiser, Engeo Pleno, Curyom, o herbicida Gramocil e o fungicida líder de mercado Priori Xtra.

InpEV

No estande do inpEV durante Show Rural Coopavel 2011 os visitantes aprenderam sobre o ciclo de vida das embalagens de agroquímicos de forma dinâmica e divertida. Um dos recursos utilizados foi uma peça teatral que apresentou uma aula com os bonecos Joilton e Banze sobre as formas de descartar cada tipo de embalagem.

Arize

Durante 21ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã (RS), Bayer CropScience destacou as sementes híbridas de arroz Arize, que garantem alta produtividade com qualidade de grãos, e também apresentou os resultados do fungicida Nativo na cultura.

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Dow Agrosciences

“Soluções Integradas a serviço da maior produtividade” foi o tema apresentado pela Dow Agrosciences durante Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã (RS). O destaque foi para o herbicida Ricer, além do graminicida Clincher e dos fungicidas Duo Dinâmico, Bim e Alterne.

Seed Care

Diversos profissionais da Syngenta, das áreas de Qualidade Assegurada, Pesquisa de Produção e Tratamento de Sementes - Seed Care Institute -, participaram do curso de Fisiologia de Sementes ministrado pelo Dr. Julio Marcos Filho, da Esalq/USP. O intuito é o de estar à frente na qualificação e capacitação dos seus profissionais, assim como evidenciar a sua referência no setor dos estudos de qualidade fisiológica de sementes e de tratamento de sementes. Anor Cervi

Completo

O Avicta Completo teve um destaque especial no estande da Syngenta durante o Show Rural. A empresa montou um laboratório em parceria com a Faculdade Assis Gurgacz (FAG), onde os visitantes observavam como atuam as principais doenças e pragas das culturas, principalmente os nematoides, praga ainda pouco conhecida pelos produtores. Com isso, a empresa quer alertar os agricultores e apresentar Avicta Completo como uma solução, que une nematicida, inseticida e fungicida em um único produto.

Produquímica

Durante o Show Rural Coopavel, a Produquímica apresentou seu amplo portfólio de fertilizantes para aplicação via solo, foliar, fertirrigação e por meio de tratamento de sementes.

Syngenta

A Syngenta destacou sua linha de arroz durante a Abertura da Colheita do Arroz. O foco foi principalmente no manejo de plantas daninhas de difícil controle com Zapp Qi, tratamento de sementes com Cruiser e Maxin XL, controle de pragas com Actara e Engeo Pleno e manejo das doenças com Priori e Score.

Destaque

A Dupont apresentou na Abertura da Colheita do Arroz sua linha completa de produtos para a cultura. Entre eles, foram destacados o inseticida Altacor, indicado para controle da bicheira-da-raiz, e o Aproach Prima, fungicida de aplicação preventiva.

Iharabras

A Iharabras destacou na Abertura da Colheita do Arroz os produtos Sonora e Grassmax para o controle de plantas daninhas de difícil controle na cultura do arroz.

Esclarecimento

Ao contrário do publicado na edição 140, Especial 2010, páginas 42 e 43, existem produtos químicos registrados para o controle da ferrugem alaranjada na cana-de-açúcar, causada pelo fungo Puccinia kuehnii. São exemplos de fungicidas registrados para o combate à doença, identificada no Brasil no final de 2009, o Priori Xtra (azoxistrobina+criproconazol) e o Aproach Prima (ciproconazol+ picoxistrobina).

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Soja Charles Echer

Resistentes a doenças Figura 1 - Regiões edafoclimáticas brasileiras para cultivo de soja, entre Rio Grande do Sul e São Paulo, com indicação de uso de BRS Tertúlia RR e BRS Estância RR (fonte: Paulo Bertagnolli, Embrapa Trigo)

Alvaro Almeida

Cultivares de soja BRS Tertúlia RR e BRS Estância RR, da Embrapa Trigo, surgem como alternativa de ciclo precoce para diversas regiões brasileiras. Ambas possuem resistência a problemas que desafiam os produtores como cancro da haste, mancha olho-de-rã, mosaico comum e podridão radicular de fitóftora

A

s doenças de soja representam item importante nos custos de produção desta cultura, bem como preocupam os agricultores. Dentre as técnicas de manejo integrado de doenças, a resistência genética de cultivares de soja é a forma mais econômica e prática de manter doenças sob controle. Esta tecnologia acompanha a semente desde sua aquisição, e não representa custo adicional ao agricultor. A Embrapa, ao lançar suas cultivares de soja, garante alta tecnologia na obtenção de cultivares resistentes a uma série de doenças. O lançamento aos agricultores significa que estas cultivares foram aprovadas após anos de testes, em condições de campo e de casa de vegetação, sendo analisadas e selecionadas entre os melhores materiais. É importante que estas cultivares aliem outras características, principalmente alto rendimento de grãos e ciclo adequado. Algumas doenças são tão importantes que definem se uma linhagem vai seguir no programa de melhoramento e tornar-se uma cultivar comercial ou vai ser descartada. É o caso da podridão radicular de fitóftora. A Embrapa Trigo tem o compromisso de lançar somente cultivares com resistência a esta doença, que é capaz de comprometer uma lavoura ainda em fase de implantação. Outras doenças que foram também importantes, como o cancro da haste, a mancha olho-de-rã e a pústula bacteriana, há muito tempo não são constatadas em lavouras devido à liberação de cultivares resistentes. A lista de doenças que a Embrapa caracteriza em suas cultivares, como rotina, é longa. Além das citadas, incluem-se a podridão parda da haste, a necrose da haste, o mosaico comum, os nematoides de galha e de cisto, a mancha alvo e o oídio. A Embrapa Trigo lançou, nos anos de 2009 e de 2010, as cultivares de soja BRS Tertúlia RR e BRS Estância RR, como alter-

Planta com sintomas do mosaico comum, uma das doenças que atacam a cultura da soja

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Fotos Lelia Costamilan

Figura 2 - Exemplos de doenças de soja avaliadas na rotina no programa de melhoramento genético da Embrapa

Nematoide de galhas

Oídio

Podridão parda da haste

Podridão radicular de fitóftora

Pústula bacteriana Alvaro Almeida

Waldir Dias

Cancro da haste

Rafael Soares

nativas de ciclo precoce. BRS Tertúlia RR é indicada para semeadura nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, sul e oeste de São Paulo, correspondendo a parte das macrorregiões sojícolas 1 e 2, nas regiões edafoclimáticas 101, 102, 103, 104, 201, 202 (apenas no Paraná), 203, 204 e 205 (Figura 1). BRS Estância RR, a variedade mais precoce já lançada pela Embrapa, é indicada para os mesmos estados, da macrorregião sojícola 1 (regiões edafoclimáticas 101, 102, 103 e 104). Ambas são resistentes ao cancro da haste, à mancha olho-de-rã, ao mosaico comum e à podridão radicular de fitóftora, garantindo maior tranquilidade ao produtor. BRS Tertúlia RR, do grupo de maturidade 6.6, é também resistente à podridão parda da haste, apresenta moderada resistência ao oídio, à pústula bacteriana e ao nematoide de galhas da espécie Meloidogyne javanica, o mais comum no Rio Grande do Sul. Não é indicada para áreas onde predomina a espécie Meloidogyne incognita, nem onde ocorre o nematoide de cisto. BRS Estância RR, do grupo de maturidade 6.1, também apresenta resistência à pústula bacteriana e ao vírus da necrose da haste. É moderadamente resistente à podridão parda da haste, podendo apresentar até 10% de plantas com a doença sem, no entanto, causar perdas econômicas, principalmente em regiões mais frias de cultivo. É moderadamente suscetível ao oídio, doença facilmente controlada com aplicações rotineiras de fungicidas para o controle de ferrugem asiática. Não apresenta resistência aos nematoides, tanto de galha quanto de cisto. O nematoide de cisto não tem ocorrido de forma a causar danos nas regiões edafoclimáticas para as

Folha com sintomas de ataque da mancha olho-de-rã

Podridão radicular de fitóftora

Pústula bacteriana

quais esta variedade é indicada. Entretanto, os nematoides de galhas estão presente em várias lavouras e, nesta situação, esta cultivar não deve ser usada. A Embrapa tem o compromisso constante de buscar cultivares cada vez mais produtivas. Em seu programa de melhoramento genético de soja, sempre procura lançar cultivares de soja com o máximo de resistências a diversas doenças. Algumas são obrigatórias, como o cancro da haste e a podridão radicular de fitóftora, que causaram enormes perdas nas décadas de 1990 e de 2000, respectivamente. Entretanto, ainda

não é possível obter cultivares resistentes a todas as doenças. Dependendo do problema específico de cada lavoura, a Embrapa sempre terá uma orientação a oferecer ao agricultor. C Leila Costamilan, Paulo F. Bertagnolli e Mércio Strieder, Embrapa Trigo Rafael Moreira, Álvaro Almeida e Waldir Dias, Embrapa Soja

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Soja

Espaço e cobertura

Fotos Marcelo Madalosso

Na luta contra a ferrugem asiática e busca pelo aumento da produtividade na cultura da soja, a adequação do espaçamento entre linhas e das pontas de pulverização é fator fundamental a ser observado para maximizar a eficiência da aplicação de fungicidas, através da maior penetração e cobertura de gotas no interior do dossel da planta

O

conceito fundamental na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas diz respeito ao emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação de um produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação a outras áreas (Matuo, 1998). A melhoria gradual na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas vem integrando a escolha de fungicidas eficientes, momento ideal para aplicação, volume de calda e ponta de pulverização, ajustada ao alvo e, não menos importante, à cultura. Os fatores relacionados ao aumento da eficácia de proteção química estão intrinsicamente relacionados à penetração e à cobertura do terço médio e inferior do dossel (Madalosso et al, 2006). Além de incrementos no residual, a distribuição adequada de plantas na área pode proporcionar maior retenção foliar, principalmente no terço inferior, devido à constante interceptação de radiação, prolongando o período fotossintetizante, o que refletirá em acréscimos na produtividade. A maior circulação de ar nas entrelinhas dificulta a formação de um microclima favorável às doenças, prejudicando a patogênese. Isso faz com que a folha fotossinteticamente ativa mantenha suas defesas, retardando a infecção por parte do patógeno, como foi observado em soja com mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), por Elmore (2004), antracnose (Embrapa, 2006) e com a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), por Madalosso et al (2006). A qualidade da aplicação está relacionada ao conhecimento básico da biologia do alvo. Desta forma, há necessidade de serem atingidos todos os terços do dossel da planta através do correto posicionamento do ativo. Para tal, as pontas de pulverização, componentes fundamentais no pulverizador, relacionam-se com a vazão, tamanho de gotas produzidas e distribuídas, pressão de trabalho e velocidade de aplicação. Cada modelo de ponta de pulverização apresenta características peculiares que as diferencia. No entanto, todas elas possuem faixa ideal de pressão de trabalho e estão disponíveis com aberturas de diferentes tamanhos Figura 1 - Pontas de pulverização. [A] Jato leque plano de uso ampliado (XR 11001), [B] jato duplo leque (TJ-60 11002), [C] cone vazio (TXA 8002) e [D] Turbo TeeJet® Duo (leque turbo (TT 11002) + leque planto ampliado (XR 11002))

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Figura 2 - Papéis hidrosensíveis colocados no dossel inferior e mediano da cultura da soja

(Matuo, 1998). A adequação da tecnologia de aplicação de fungicidas ao manejo fitotécnico proporciona maior exposição da área foliar das plantas à pulverização e interceptação de radiação. Com isso, esta associação pode fazer parte do manejo integrado da cultura, também relacionado às práticas fitossanitárias. Este trabalho teve como objetivo avaliar quais pontas apresentaram melhor penetração e cobertura da gota no dossel da planta, considerando diferentes espaçamentos entrelinhas e reflexos no controle da ferrugem e na produtividade de grãos.

pontas de jato leque plano de uso ampliado (XR 11001) à pressão de 172kPa, jato plano duplo comum (TJ-60 11002) à pressão de 206kPa, cone vazio (TXA 8002) à pressão de 241kPa e Turbo TeeJet® Duo (leque turbo (TT 11002) com leque plano ampliado (XR 11002) à pressão de 206kPa (Figura 1). As pressões seguiram a recomendação para cada ponta, com o objetivo de distribuir uma vazão de 200L.ha-1. A deposição de gotas foi avaliada com papéis hidrossensíveis, dispostos nos terços médio e inferior da planta, perpendicularmente às linhas da cultura. Logo após a aplicação de cada tratamento, os mesmos foram coletados e acondicionados em papel adesivo, sendo posteriormente digitalizados com auxílio de scanner, com uma resolução de 600dpis e analisados pelo software e-Sprinkle® (Figura 2). As avaliações de severidade foram realizadas na área útil das parcelas através de notas visuais da porcentagem de área foliar com sintomas típicos da doença (Canteri, M. G.; Godoy, C. V., 2003), nos estádios R3, R5, R5.5 e R6, o que possibilitou a elaboração da Área Abaixo da Curva de Progresso da Ferrugem (AACPF) e o cálculo da Taxa de progresso da doença (r) (Campbell & Madden, 1990).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos dados possibilitou verificar um comportamento diferenciado da relação patógeno-hospedeiro nos espaça-

mentos entre linhas testados, bem como na eficácia da tecnologia de aplicação utilizada. No espaçamento de 30cm não houve diferença significativa com relação à cobertura para as pontas de leque plano (XR 11001), duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) nos dois terços avaliados, nem mesmo com a evolução dos estádios fenológicos da cultura (V9, R1 e R3) (Figura 3). O Turbo TeeJet® Duo (XR+TT) apresentou baixo número de gotas/cm-2 em todas as aplicações, reduzindo à medida que o estádio fenológico evoluiu, o que pode ser explicado pela sobreposição das folhas, que dificultou a penetração de gotas maiores no terço inferior. Com isso, não foram observados benefícios em relação à alternância da tecnologia de aplicação empregada para este espaçamento entrelinhas, mesmo pelas diferentes características dos jatos produzidos. No espaçamento de 45cm houve influência tanto da aplicação nos diferentes estádios fenológicos como das porções do terço da cultura (Figura 3). À medida que os estádios evoluíram foi observada variação significativa entre as pontas, tanto no terço inferior como no médio. Para essa situação, o fechamento das entre linhas favoreceu a sobreposição de folhas, proporcionando diferenças significativas na cobertura de gotas para as pontas leque plano (XR 11001) e Turbo TeeJet® Duo (XR+TT) em relação à ponta jato

Figura 3 - Cobertura no terço inferior e médio proporcionada pela aplicação com quatro pontas de pulverização em diferentes estádios da cultura, com espaçamento de 30, 45 e 60 cm. *Médias seguidas pela mesma letra no estádio fenológico não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05)

Material e métodos

O experimento foi conduzido em Estação Experimental do Instituto Phytus, em Itaara, no Rio Grande do Sul, utilizando sistema de semeadura direta em sucessão à cultura do trigo, onde o manejo da fertilidade e pragas foi realizado conforme as recomendações técnicas da soja. As linhas de semeadura foram espaçadas em 30cm, 45cm e 60cm, mantendo a densidade homogênea das plantas (33 pl/m-2) da cultivar Asgrow 8000 RG, e o delineamento experimental foi de blocos ao acaso. Os programas de aplicação foram desenvolvidos através do ajuste do número de aplicações aos estádios fisiológicos da cultura, uma (V9), duas (V9-R1) e três aplicações (V9-R1-R3). No estudo foi utilizado o fungicida azoxistrobina + ciproconazole (0,3L/ha-1) + adjuvante (0,6L/ha-1), aplicado com pulverizador costal pressurizado a CO2, com barra de aplicação equipada com quatro pontas de pulverização. Foram utilizadas

C

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Tabela 1 - Média de cobertura de gotas (número de gotas.cm-2) produzida pelas pontas de pulverização nos espaçamentos entre linhas, AACPF, r e desfolha

Tabela 2 - Produtividade entre tratamentos e testemunhas de cada espaçamento, ponta de pulverização e aplicação

Tratamentos Espaçamento (cm) Ponta(1) 30 45 XR 11001 60 C.V. (%) 30 45 TJ - 60 11002 60 C.V. (%) 30 45 TXA 8002 60 C.V. (%) 30 45 Duo® (XR+TT) 60 C.V. (%)

Pontas de Pulverização(1)

Nº/cm2(2) Média 13 (6) a 17 b 56 c 8.48 21a 24 a 64 b 5.26 25 a 26 a 53 b 7.62 5a 13 b 19c 8.74

AACPF(3) Média 101.33 c 88.89 b 71.56 a 11.53 85.33 c 62.22 b 53.56 a 7.35 89.78 b 65.56 a 61.89 a 9.64 119.56 c 80.00 b 65.56 a 13.63

r(4) Média 0.537 c 0.422 b 0.316 a 14.63 0.422 c 0.325 b 0.251 a 11.35 0.453 b 0.331 a 0.350 a 13.84 0.551 c 0.413 b 0.332 a 10.41

Desfolha(5) Média 46 bc 40 b 30 a 14.63 45 c 38 b 27 a 11.35 44 b 35 ab 30 a 13.84 45 b 43 b 36 a 10.41

(1) Pontas de pulverização trabalhadas com diferentes pressões: XR 11001 (172 kPa), TJ-60 11002 (206 kPa), TXA 8002 (241 kPa) e o Turbo TeeJet® Duo - TT 11002 + XR 11002 (206 kPa) para alcançar a taxa de aplicação de 200 L.ha-1. (2) Cobertura foliar do fungicida representada pelo número de gotas.cm-2. (3) Área Abaixo da Curva de Progresso da Ferrugem (AACPF). (4)Taxa de progresso da doença (r). (5) Níveis de desfolha. (6) Médias seguidas pela mesma letra dentro da variável número de gotas. cm-2 e AACPF para cada ponta de pulverização não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05).

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64 gotas/cm-2 (Tabela 1). Já as pontas leque plano (XR 11001) e cone (TXA 8002) produziram em torno de 56 gotas/cm-2 e 53 gotas/cm-2, respectivamente, apresentando maior AACPF, taxa de progresso (r) e desfolha que a ponta duplo leque, com maior cobertura de gotas. O espaçamento de 60cm favoreceu a penetração e a cobertura do fungicida, bem como reduziu a AACPF, r e a desfolha na maioria das pontas testadas. Essa condição permite à planta um estado fisiológico privilegiado, pois o maior número de folhas fotosinteticamente ativas garante maior disponibilidade energética para processos de defesa contra o ataque de patógenos (Martins et al, 1999; Vida et al, 2001). A menor quantidade de doença teve influência de fatores com relação à proteção proporcionada pelo fungicida em todo o terço da planta. O menor tempo de molhamento foliar proporcionado pelo aumento de espaçaFotos Divulgação

duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) para os dois terços estudados. Estas últimas obtiveram valores de cobertura estatisticamente similares até a última avaliação. Considerando este espaçamento, as diferenças em relação à tecnologia de aplicação utilizada foram significativas, diferentemente do anterior. Para o espaçamento de 60cm, as três pontas de pulverização (leque plano (XR 11001), jato duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002)) apresentaram semelhança estatística, tanto no terço inferior como no médio, diferindo estatisticamente do Turbo TeeJet® Duo (XR+TT), que manteve a menor cobertura produzida em todos os estádios, bem como nos terços. No estádio de maior massa foliar (R3), a ponta de jato duplo leque (TJ-60 11002) foi a que produziu melhor cobertura no terço inferior, estatisticamente semelhante à ponta cone (TXA 8002). Nos espaçamentos de 30cm e 45cm a cobertura foliar de gotas produzida pelas pontas ficou aquém das 50 gotas/cm-2 em ambos os terços da planta, somente ultrapassado no espaçamento de 60cm pelas três primeiras pontas de pulverização. Nesse sentido, a variação encontrada no número de gotas/cm-2 produzidas por cada ponta de pulverização entre os espaçamentos entre linhas indica que o manejo cultural pode influenciar na qualidade da aplicação. As coberturas de gotas obtidas neste trabalho foram significativamente maiores no espaçamento de 60cm, onde a ponta duplo leque (TJ-60 11002) atingiu a maior média entre os terços inferior e o médio de

Ricardo Balardim e Marcelo Madalosso intregram a equipe que conduziu o experimento

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XR 11001 TJ-60 11002 TXA 8002 Duo® (XR+TT) Testemunha C.V. (%)

Produtividade kg.ha-1 Espaçamento (cm) 60 45 30 1663.35(2) bc 1840.75 bc(2) 2547.30 b(2) 2675.55 b 1970.25 c 1689.25 c 2591.90 b 1945.55 c 1736.20 c 2443.30 b 1666.30 b 1498.75 b 1700.25 a 1389.90 a 1285.05 a 8.39 3.74 2.46

Pontas de pulverização trabalhadas com diferentes pressões: XR 11001 (172 kPa), TJ-60 11002 (206 kPa), TXA 8002 (241 kPa) e o Turbo TeeJet® Duo - TT 11002 + XR 11002 (206 kPa) para alcançar a taxa de aplicação de 200 L.ha-1. (2) Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05). (1)

mento entrelinhas prejudicou a deposição, a germinação e a infecção do esporo de P. pachirhyzi, dificultando o estabelecimento e o desenvolvimento da epidemia. De acordo com os parâmetros avaliados foi possível observar que as pontas duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) apresentaram os menores valores acumulados de doença em função da maior penetração e cobertura de fungicida no interior do dossel (Figura 3, Tabela 1). Mesmo com maior número de gotas/cm-2 no espaçamento de 60cm, a ponta cone (TXA 8002) apresentou valores de AACPF, r e desfolha semelhantes estatisticamente ao de 45cm, exemplificando que para uma proteção química mais eficaz, a cobertura de 53 gotas/cm-2 não foi suficiente (Tabela 1). Como as duas pontas citadas possuem características de espectro de gotas semelhantes, a menor cobertura registrada pela última ocorreu devido à grande quantidade de gotas finas e muito finas produzidas por essa ponta, aumentando o potencial de deriva (Cunha et al, 2003). Essas perdas são proporcionadas por oscilações climáticas comuns durante o dia, como aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar, que podem resultar em perdas de fungicida variando até 100% nos horários adversos à aplicação (Balan et al, 2008). Neste caso é necessária a utilização de estratégias como horários de aplicação com maior umidade relativa e menor temperatura (Cunha et al, 2004). Em última análise, os incrementos produtivos foram majorando expressivamente com o afastamento das entrelinhas, favorecido pela proteção propiciada pela penetração e cobertura do fungicida no interior do dossel (ponto inicial da doença) (Figura 3) e prejudicando o estabelecimento e progressão do patógeno (Tabela 1), mostrado pelas diferenças nas produções das testemunhas de cada espaçamento. Desta forma, o arranjo mais adequado de plantas tem papel preponderante no


30 cm

45 cm

60 cm

Fotos Marcelo Madalosso

manejo integrado, pois auxilia na redução da AACPF, r e a desfolha, evitando quedas precoces de folhas e minimizando os prejuízos causados pela ferrugem asiática na cultura da soja. Com isso, as folhas do terço inferior no maior espaçamento entre linhas retardaram sua senescência, mantendo-se fotossinteticamente ativas por mais tempo, devido à proteção fungicida e constante interceptação de radiação solar, refletido no rendimento de grãos (Tabela 2).

CONCLUSÃO

Para esta cultivar, a adequação do espaçamento entre linhas e pontas de pulverização foi fundamental para maximizar a eficiência da aplicação, por proporcionar maior penetração e cobertura de gotas no interior do dossel da planta. Todas as pontas de pulverização estudadas (leque plano (XR 11001), jato duplo leque (TJ-60 11002), cone (TXA 8002) e Turbo TeeJet® Duo (XR 11002 + TT 11002)) responderam positivamente ao aumento do espaçamento entre linhas. As pontas de jato duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) foram as que mantiveram valores próximos entre os parâmetros avaliados, destacando-se a primeira, que alcançou maior cobertura de gotas/cm-2, refletindo no retardo da

Diversos espaçamentos entre linhas utilizados no experimento conduzido no Rio Grande do Sul

epidemia. O espaçamento de 60cm promoveu uma condição desfavorável ao desenvolvimento da doença, além de manter as folhas baixeiras fotossinteticamente ativas por mais tempo, refletindo em rendimento de grãos. Desta forma, a tecnologia de aplicação passa a fazer parte do contexto de manejo integrado, contribuindo para maximizar o

residual do produto e desfavorecer o patógeno na sua relação com o hospedeiro. C

Marcelo Madalosso, Instituto Phytus Ricardo Balardin, Monica Debortoli, Marlon Stefanello e Francis Maffini, UFSM


Soja

Equilíbrio na nutrição Exigente em macronutrientes, a soja precisa que a relação entre eles seja equilibrada, de modo a prevenir insuficiências ou excessos. A aplicação de silício, via foliar, pode favorecer o crescimento das plantas, o aumento na quantidade de vagens e a produtividade da cultura, principalmente quando utilizado juntamente com matéria orgânica

A

soja é uma cultura muito exigente em todos os macronutrientes. Para que os nutrientes possam ser eficientemente aproveitados pela cultura, devem estar presentes no solo em quantidades suficientes e em relações equilibradas. A insuficiência ou o desequilíbrio entre os nutrientes pode resultar em uma absorção deficiente de alguns e excessiva de outros (Sfredo, 2008). A nutrição mineral é um dos fatores ambientais de fácil manipulação pelo homem para o controle de doenças em plantas cultivadas. Embora não essencial às plantas, o silício (Si) é agronomicamente benéfico e tem aumentado

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a resistência de varias espécies (na sua maioria monocotiledôneas) às pragas e às doenças, bem como a diversos tipos de estresses abióticos, tais como altas temperaturas, déficit hídrico e toxidez de ferro e manganês às raízes (Datnoff, 2007). No entanto, para que esse equilíbrio seja alcançado e mantido, é necessário que certas práticas, como calagem e adubação, sejam empregadas de maneira racional. Em várias regiões do País essas ações têm sido satisfatórias, quando embasadas em análise de solo e também nos casos em que todas as operações que as complementam são seguidas à risca e bem executadas (Sfredo, 2008).

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A tecnologia baseada no uso do silício tem enorme potencial para diminuir o uso de agroquímicos e aumentar a produtividade, através da nutrição mais equilibrada e fisiologicamente mais eficiente, o que significa plantas mais produtivas, vigorosas e com menos doenças (Lima Filho, 2006). O silício é absorvido pela planta na forma de ácido monossilícico (H 4SiO4) juntamente com a água (fluxo de massa) e se acumula principalmente nas áreas de máxima transpiração (tricomas, espinhos etc) como ácido silícico polimerizado (sílica amorfa), (Barber, 2002). Na cultura da soja observa-se que apesar da deposição de Si na folha ser


Fotos Vander Henrique Dosso

Charles Echer

Para que os nutrientes possam ser eficientemente aproveitados pela cultura, devem estar presentes no solo em quantidades suficientes e em relações equilibradas

normalmente inferior a 0,5% (mesmo sem haver a formação da barreira mecânica, também conhecida como dupla camada de Si), esse nutriente absorvido pelas plantas pode contribuir de forma significativa para a redução da cercosporiose. Segundo Nolla et al (2004) houve significativa redução na severidade dessa doença após a aplicação de silicato, enquanto a adição de calcário não registrou o mesmo desempenho. A soja pode apresentar quantidades consideráveis de silício em seus tecidos, quando a concentração do elemento no solo é alta. Trabalhos mostram aumentos na produtividade, altura da planta, número de vagens, matéria seca da parte aérea e das raízes. Já foram observados sintomas de deficiência de silício em soja, que se caracterizam pela malformação de folhas novas e redução da fertilidade do grão de pólen (Lima Filho, 2006). Outro fator que se deve levar em conta para o aumento da produtividade

das culturas é o atributo físico do solo. Segundo o Grupo Biosoja (2008), a fonte de matéria orgânica usada é um produto que melhora as características físicas, químicas e biológicas dos solos, e não é um simples substrato para as plantas, mas um reforço às propriedades do solo, com altos teores de substâncias húmicas, provenientes da mineralização e da decomposição de materiais orgânicos ao longo de milhares de anos. Entretanto, foram encontrados poucos trabalhos evidenciando o efeito do Si via foliar no aumento da produtividade da cultura da soja. Assim, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o efeito do Si aplicado, via foliar, na produtividade da cultura da soja.

Material e métodos

O experimento foi desenvolvido em Laguna Carapã, em Mato Grosso do Sul, em condição de campo, na fazenda Três Capões, geograficamente definida pelas coordenadas 22º36’05” de latitude Sul

Planta com a aplicação de silício ante a presença de materia orgânica (esquerda) e sem materia orgânica (direita)

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Figura 1 - Efeito de doses de silício sobre a altura das plantas, com e sem adição de matéria orgânica. (** significativo a 1% de probabilidade)

e 55º08’38” de longitude Oeste, com altitude de 510m, em latossolo vermelho distrófico, de textura média, no período de novembro de 2009 a março de 2010. A análise da amostra do solo experimental apresentou as seguintes características: pH (H20) = 5,5; Ca = 4,30cmolc dm-3; Mg = 2,10cmolc dm-3; K = 0,24cmolc dm-3; Al = 0,10cmolc dm-3; P = 9.9mg dm-3; Soma de Base = 6,64cmolc dm-3, CTC= 13,5cmolc dm-3, V (%) = 49. A área encontrava-se com soja já estabelecida quando foi implantado o experimento. A cultura foi semeada mecanicamente, com espaçamento de 0,45m entre linhas, com densidade de 300 mil plantas por hectare e 13-14 sementes por metro linear. As parcelas experimentais foram constituídas

Figura 2 - Efeito de doses de silício sobre o número de vagens, com e sem adição de matéria orgânica. (*,** significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente)

por sete linhas de plantas por 6m de comprimento (18,9m²). A área útil da parcela foi estabelecida considerando as três linhas centrais, desprezando dois metros de cada extremidade, totalizando área útil de 5,4m². A cultivar avaliada foi a VMAX RR ®, de ciclo precoce, de porte médio/ alto, resistente ao acamamento, tratada com o inseticida Fipronil, com dosagem de 250ml por 100kg de semente, mais adição dos nutrientes cobalto e molibdênio na dosagem de 200ml por 100kg de semente. A adubação foi realizada no sulco de plantio, de 300kg de adubo da fórmula 2-20-20, e os tratos culturais utilizados foram os recomendados pela Embrapa (2010). As doses de silício foram aplicadas com o uso de pulverizador costal motorizado, nos estágios fenológicos de V10 (pré-floração), R1 (início da floração) e R3 (início da frutificação). As avaliações começaram no estágio R6 (grão formado) até a colheita, onde foram avaliados: altura de plantas, número de vagens e a produtividade. Segundo a Embrapa Agropecuária Oeste, a precipitação pluviométrica na região do experimento, no período de desenvolvimento da cultura foi:

Mês Novembro – 2009 Dezembro – 2009 Janeiro – 2010 Fevereiro – 2010 Março – 2010

Média (mm) 239,9 338,5 163,6 139,7 63,3

Para determinar a altura das plantas foi utilizada uma trena milimetrada, colocada ao nível do solo até a ponta da última folha formada. A contagem das vagens foi feita manualmente, em dez plantas escolhidas aleatoriamente, dentro da área útil da parcela. A colheita foi realizada manualmente, com o arranque de todas as plantas da área útil da parcela. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, dispostos em esquema fatorial 4x2, com quatro repetições. Os tratamentos foram: Tratamento 1 2 3 4 5 (Testemunha) 6 7 8

Descrição 0 l ha-1 Si + 500Kg de matéria orgânica 0,5 l ha-1 Si + 500Kg de matéria orgânica 0,7 l ha-1 Si + 500Kg de matéria orgânica 1 l ha-1 Si + 500Kg de matéria orgânica 0 0,5 l ha-1 Si 0,7 l ha-1 Si 1 l ha-1 Si

A fonte de Si (silicato de potássio) tem as seguintes características químicas:

Tabela 1 - Dados econômicos do uso de silício e matéria orgânica na cultura da soja Tratamento Testemunha 0,5 l(Si) s/M.O 0,7 l(Si) s/M.O 1 l ( Si) s/M.O 0 l (Si) c/M.O 0,5 l(Si) c/M.O 0,7 l(Si) c/M.O 1 l(Si) c/M.O

Vander Dosso participou do experimento em Mato Grosso do Sul

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Gasto R$ 0,47 R$ 0,66 R$ 0,95 R$ 250 R$ 250,47 R$ 250,66 R$ 250,95

Produção sc ha-1 41,4 42,7 45,1 44 46,7 48,4 57,9 55,5

Fonte de Si: R$ 19,00 (20 litros) Fonte de matéria orgânica: R$ 0,50/kg – (500kg/ha-1) = R$ 250,00 Soja (60kg) = R$ 31,00

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Aumento sc ha-1

Aumento R$ ha-1

Lucro R$

1,3 3,7 2,6 5,3 7 16.5 14,1

R$ 40,3 R$ 114,7 R$ 80,6 R$ 164,3 R$ 217 R$ 511,5 R$ 437,1

R$ 39,83 R$ 114,04 R$ 79,65 - R$ 85,7 - R$ 33,47 R$ 260,84 R$ 186,15


Fotos Vander Henrique Dosso

Figura 3 - Efeito das doses de silício sobre a produção da soja, com e sem adição de matéria orgânica. (NS e **, não significativo e significativo a 1% de probabilidade respectivamente)

A aplicação de silício favoreceu o crescimento das plantas

pH= 10,96; Si = 12%; K2O = 15%; Índice salino = 26; Condutividade elétrica = 2,93 ms cm-1; densidade = 1,40g L-1; de natureza física fluido. A matéria orgânica usada tem 17% de COT (carbono orgânico total), empregado como condicionador de solo. A análise econômica foi realizada com base nos preços de mercado da safra 2009/2010. Os resultados obtidos em cada variável analisada foram submetidos à análise de variância, utilizando o programa estatístico Assistat (Silva, 2008)

Resultados e discussão

Verifica-se que houve efeito dos tratamentos para altura de plantas (Figura 1), número de vagens (Figura 2) e produção de grãos (Figura 3). Observa-se, também, que em todas as características analisadas ocorreu interferência positiva da adição de matéria orgânica ao solo. Para a altura de plantas houve efeito quadrático. Já para o número de vagens e produção observou-se efeito linear. Conforme se observa na Figura 1, a maior altura das plantas foi verificada na dose de 0,7L/ha-1 de Si, independentemente da matéria orgânica. Segundo

Pereira Junior (2008), o silício pode estimular o crescimento e a produção vegetal por meio da formação de folhas mais eretas, com a consequente diminuição do autossombreamento, através da redução do acamamento, pela maior rigidez estrutural dos tecidos. Já para número de vagens (Figura 2), à medida que aumentaram as doses de silício houve acréscimo no número de vagens, principalmente na presença de matéria orgânica. O efeito positivo da matéria orgânica pode estar relacionado com a melhor agregação do solo e com a oferta de nutrientes. Segundo Miyake & Takahashi (1985), o Si contribui para formação de folhas e o aumento da fertilidade do grão de pólen. Provavelmente, no presente trabalho, o silício aplicado via foliar contribuiu para o aumento do número de vagens, visto que houve crescimento linear à medida que se aumentou a dose de Si. Na produção de grãos se obteve efeito linear somente nas parcelas em que foi usada matéria orgânica (Figura 3). O aumento na produção, com o uso de Si, foi satisfatório principalmente no uso do nutriente juntamente com a matéria orgânica. Provavelmente pode ter ocor-

rido o aumento da massa individual das sementes, tornando mais produtivos os tratamentos com uso de matéria orgânica. O resultado se assemelha ao obtido por Korndörfer, 2005, com o uso de silício em outras culturas (cana e arroz), com resultados positivos no aumento da produção. Em breve análise econômica, podemos observar na Tabela 1 que os tratamentos, sem o uso da matéria orgânica, também obtiveram rentabilidade. Com os resultados encontrados no presente trabalho, a dose de silício de 0,7L/ha-1, juntamente com a adição de matéria orgânica ao solo, contribuiu para a maior produtividade, além de maximizar o retorno econômico.

Conclusão

A aplicação de silício, via foliar, favoreceu o crescimento das plantas, o aumento na quantidade de vagens e a produtividade da soja, principalmente na presença da C matéria orgânica. Vander Henrique Nunes Dosso, Maicon Jorge G. dos Santos e Alessandra Tokura Alovisi, Faculdades Anhanguera


Soja

Busca por respostas Anomalia registrada em lavouras de Mato Grosso, batizada de “soja louca II”, ainda carece de explicação conclusiva. A constatação do fenômeno em plantas sem a presença de ácaros oribatídeos, bem como de plantas sadias convivendo com o inseto, não fornece respaldo suficiente para a principal hipótese cogitada inicialmente. Desequilíbrio fisiológico em função de estresse climático, alelopatia causada por planta daninha específica, presença de um inseto vetor de fitoplasma ou vírus estão entre as possibilidades consideradas pelos pesquisadores

N

Fotos Lúcia Vivan

a safra agrícola 2009/2010 a ocorrência de uma anomalia nas plantas de soja, de causa ainda desconhecida, prejudicou a produtividade de várias lavouras na região médio-norte do estado de Mato Grosso: a “soja louca II”. Plantas com os mesmos sintomas já eram observadas em safras passadas. No entanto, a incidência era bastante inferior, ocorrendo apenas em plantas isoladas ou pequenas reboleiras nos talhões. Os sintomas dessa anomalia nas plantas de soja são caracterizados por: (I) formação de folhas mais afiladas e enrugadas (aspecto de bolhas) e nervuras engrossadas, (II) engrossamento da haste principal, (III) encurtamento dos entrenós, (IV) abortamento dos botões florais das plantas, preferencialmente os da haste principal e (V) formação de vagens deformadas que não amadurecem, o que acaba dificultando o processo de colheita das lavouras atacadas. As plantas com esses sintomas, geralmente mantêm a coloração verde e não iniciam o processo de senescência natural. Algumas hipóteses já foram levantadas para explicar o fenômeno e estudos estão em andamento para se chegar a uma definição. Uma hipótese bastante cogitada na última safra (2009/10) para a causa desta anomalia foi o ataque do chamado “ácaro-preto” às plantas de soja. Sua presença foi detectada em alta intensidade nas plantas de soja, levando a acreditar que essa seria a causa do problema. Naquele momento, amostras de plantas de soja com os ácaros e, também, de resíduo de palha do solo foram analisadas pelo professor acarologista da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia, Anibal Ramadan Oliveira, e os ácaros presentes naquelas amostras foram identificados como pertencentes à subordem Oribatida. As espécies identificadas na safra passada, em amostras enviadas ao pesquisador por Paulo Degrande (UFGD) e Roni Azevedo (Embrapa), foram Scheloribates praeincisus (família Scheloribatidae) (MT) e Zygoribatula bonairensis (família Oribatulidae) (MA), respectivamente. De acordo com o Oliveira, os ácaros oribatídeos são habitantes

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Presença de ácaros orbitatídeos, uma das hipóteses cogitadas para explicar a causa da anomalia

tipicamente do solo e da serrapilheira, são encontrados em qualquer ambiente agrícola em todo o território nacional, se alimentam principalmente de fungos e de matéria em decomposição no solo e, exceto para uma espécie que se alimenta exclusivamente cavando galerias em folhas de aguapé, há na literatura registros apenas esporádicos de Oribatida se alimentando de plantas vivas. O que, então, os ácaros oribatídeos estariam fazendo nas plantas de soja? Uma possibilidade é a de que estariam se refugiando nas plantas de uma condição adversa no solo: o excesso de umidade, por exemplo. Na safra atual (2010/11), o engenheiro agrônomo da Fundação MT, Jair Magri, detectou a presença de ácaros oribatídeos na região de Sorriso e Cláudia, no Mato Grosso, em plantas de soja de campos que apresentaram a ocorrência dos sintomas de “soja louca II” na safra passada (2009/10) em elevada intensidade, mas não na safra atual (2010/11). Foram coletadas amostras das plantas infestadas com os ácaros, bem como do resíduo vegetal sobre o solo, e enviadas para a avaliação do pesquisador Anibal Oliveira, que identificou a ocorrência de duas espécies dominantes: Zygoribatula translineata em altas densidades sobre as plantas e S. praeincisus no resíduo vegetal (palhada). As populações de Z. translineata, presente nas plantas de soja, mostraram-se compostas praticamente por fêmeas e machos (adultos). Observaram-se poucos imaturos e poucos ovos (tanto dentro das fêmeas quanto depositados nas plantas). As maiores quantidades de ácaros foram registradas principalmente em agregações compostas de centenas de indivíduos, localizadas no lado externo das axilas dos pecíolos, no terço basal do caule. Não se observaram lesões como ferimentos ou raspagens nas agregações de ácaros, como também não havia lesões em folhas ou partes reprodutivas compatíveis com a grande quantidade de ácaros presente. Para a observação do conteúdo alimentar foram realizadas montagens (esmagamento em lâminas) dos indivíduos,

que não resultaram na observação de um bolo alimentar detectável em aproximadamente 80% dos ácaros. Apenas 20% dos indivíduos apresentaram bolos com hifas e, aparentemente, com partes vegetais ingeridas mortas, embora em pequenas quantidades. As fezes examinadas apresentaram os mesmos alimentos. No entanto, a pouca quantidade de fezes sobre a planta foi incompatível com a enorme quantidade de ácaros presente. No bolo fecal e nas fezes não foram observadas partes vegetais com características que indicassem ingestão de tecidos vegetais vivos. Esses dados fornecem uma forte indicação de que as populações de Z. translineata devem permanecer temporariamente sobre as plantas e de que não se alimentam ou reproduzem de modo considerável e permanente sobre elas. Uma provável explicação é a de que Z. translineata migra para as plantas a partir da palhada ou do solo, numa condição de umidade elevada e, após um período na planta, retorna a esses ambientes. No entanto, o que realmente faz com que tenha esse comportamento ainda não é conhecido e requer mais estudos. Pesquisadores da Fundação MT já haviam identificado no mês de dezembro de 2010 três situações distintas: (I) plantas de soja sadias com a presença de ácaros oribatídeos, (II) plantas de “soja louca II” sem a presença de ácaros oribatídeos e (III) plantas de “soja louca II” com a presença de ácaros oribatídeos. Essa diversidade de situações não fornece respaldo suficiente para a confirmação de que esses ácaros sejam os causadores da anomalia, sendo necessárias mais pesquisas em relação à causa da “soja louca II”, inclusive

através da continuidade de observações das infestações de Oribatida e outras hipóteses a serem testadas. Na safra atual a ocorrência dessa anomalia é considerada bem menor do que a da safra passada e parece não afetar o potencial produtivo das lavouras. Alguns fatores foram levantados para explicar a diferença de comportamento entre as safras: (I) ocorrência de forte estiagem no inverno, (II) baixa quantidade de plantas daninhas vivas na entressafra e (III) menor umidade do solo disponível. Esses fatores podem ter influenciado na redução da ocorrência de “soja louca II” na região médionorte do Mato Grosso para a safra atual. Algumas observações de campo já permitem a elaboração de algumas hipóteses sobre a causa da “soja louca II”, que podem estar relacionadas: ao desequilíbrio fisiológico das plantas em função de um estresse climático, a uma alelopatia causada por uma planta daninha específica, à presença de um inseto vetor de fitoplasma ou vírus, ou a outro fator ainda não conhecido. Contudo, ainda não há subsídios para a recomendação de uma ação específica de controle ou manejo. Pela complexidade de fatores, a solução de mais este problema não será fácil, demandando calma e estudos específicos, mas será alcançada assim como ocorreu em outras ocasiões C desafiadoras. Lúcia Vivan, Eros Artur Bohac Francisco e Jair Magri, Fundação MT Anibal R. Oliveira, Univ. Estadual de Santa Cruz

Planta de soja com sintomas de folha deformada

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Milho

Aliada importante Fotos Esalq/USP

A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), presente em híbridos de milho, apresenta-se como ferramenta promissora no manejo integrado de pragas como a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Mas para que a tecnologia possa render bons resultados é preciso conhecer o efeito do material geneticamente modificado ao ambiente, seu desempenho sobre a praga-alvo, além de respeitar as normas para o plantio, como a observação da área de refúgio

Eduardo Moreira Barros

U

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m dos principais fatores que comprometem o rendimento e a qualidade da produção na cultura do milho é a incidência de pragas. Destacam-se, entre os lepidópteros, a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a lagarta-daespiga (Helicoverpa zea) e a broca-dacana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). A Spodoptera frugiperda, popularmente conhecida como lagarta-do-cartucho, lagarta-da-folha e lagarta-militar, apresentase como a praga de maior incidência no milho (Zea mays). O ataque pode ocorrer desde a fase de plântula até o pendoamento e espigamento, quando propicia a entrada de patógenos e umidade, determinando o apodrecimento das espigas. Na região tropical, os danos podem ser severos, com até 60% de redução no rendimento de grãos. Existem estudos na parte de manejo de pragas onde são recomendadas várias estratégias, entre elas métodos culturais,

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biológicos e químicos, além de alternativas biotecnológicas (híbridos geneticamente modificados). Em 2008, no Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) liberou a produção, comercialização e importação de milho híbrido com o gene Bt. A palavra Bt é a abreviação da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz a β-exotoxina e a δ-endotoxina, ambas com ação tóxica sobre um grande número de espécies de insetos. Nesse sentido, o milho Bt vem sendo uma alternativa eficaz no manejo integrado de pragas devido a uma necessidade de produção mais sustentável, atingindo patamares mais altos e com custos reduzidos. Entretanto, é importante conhecer o efeito do milho geneticamente modificado ao ambiente e seu desempenho sobre a praga-alvo, sendo necessário respeitar as normas para o plantio, dentre elas a área de refúgio. Tabela 1 - Nota de injúria provocada pela lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) 16, 26, 33, 40 e 50 dias após a emergência e produtividade dos híbridos. Rio Verde (GO), 2009 Dias após a emergência 16 dae 26 dae 33 dae 40 dae N N N N1 0,2 b2 0,4 C 1,1 d 0,4 d Herculex 0,4 b 1,4 B 2,1 c 1,4 c DKB390YG 2B710+inseticida 2,4 a 3,4 A 3,8 b 2,4 b 2,4 a 4,2 A 5,2 a 4,8 a 2B710 13 9 11 12 CV(%)3 Tratamento

Produtividade ha kg4 sc 6.291 a 105 6.185 a 103 6.157 a 103 5.702 b 95 4

Nota de injúria (escala Davis et al. 1992) em 10 plantas Na coluna, médias seguidas da mesma letra não diferem entre si (Método LSD) a significância de 5% 3 Dados transformados raiz de (x+1) 4 DMS = 445kg 1 2


Rafael Vieira Barbosa

Esquema 1 - A ação das toxinas Bt no intestino médio de insetos suscetíveis (Logueiro, 2002)

O manejo integrado de lagartas na cultura do milho deve levar em conta o equilíbrio entre as pragas e os inimigos naturais

As toxinas do Bt são altamente específicas na sua atividade e, portanto, quando utilizadas não apresentam riscos para outros organismos. Assim, a liberação de híbridos de milho expressando dois tipos de resistência poderá reduzir significativamente os danos causados por S. frugiperda e também diminuir a taxa de seleção de biótipos do inseto que venham a quebrar essa resistência. Desta maneira, o desenvolvimento de híbridos de milho comerciais que expressem entomotoxinas de Bt aparece como uma dessas alternativas, visto que trazem um enorme potencial de emprego no Manejo Integrado de Pragas dessa e de outras culturas. Estudos em várias partes do mundo apontam os híbridos que expressam a toxina Cry1F, como resistente (imune). Já os híbridos que expressam a toxina Cry1A(b) e a resistência natural são moderadamente resistentes. Em geral, os híbridos transgênicos resistentes produziram aproximadamente 32% a mais de grãos que as testemunhas suscetíveis.

FORMA DE ATUAÇÃO DO BT

Ao se alimentarem do tecido foliar do milho geneticamente modificado, as

lagartas (Lepidoptera) ingerem a proteína Bt, que atua nas células epiteliais do tubo digestivo dos insetos. A proteína promove a ruptura osmótica dessas células, determinando a morte dos insetos, antes que consigam causar danos significativos à cultura (Esquema 1).

Algumas áreas no Centro-Sul do país (sudoeste do estado de Goiás) apresentam condições favoráveis para a utilização do MIP, sendo esta nova tecnologia uma ferramenta Figura 2 - Escala adaptada de Davis e Williams (1989)

MANEJO DE CAMPO

A tecnologia Bt é uma ferramenta que pode tornar o manejo racional e rentável ao produtor, além de relativamente simples, pois a proteína Cry1F se mostra extremamente tóxica à lagarta-do-cartucho, a principal praga do milho na atualidade. Esta praga provoca perdas econômicas em todas as fases da cultura do milho. O período crítico do ataque dessa praga se encontra em torno de 30 dias a 40 dias após a emergência (Figura 1). Estudos comprovam que é muito importante o tratamento de sementes com inseticidas, para prevenção e proteção do estande da cultura. Ataques severos de pragas no estágio inicial, principalmente na parte aérea da planta, podem acarretar em perdas significativas, comprometendo o enraizamento e o vigor (arranque) na fase inicial.

Figura 1 - Injúrias (Davis et al., 1992) observadas nas plantas de milho em razão do ataque da lagarta-do-cartucho, no período mais crítico à planta de milho. Rio Verde (GO), 2009

Pequenas lesões circulares e algumas pequenas lesões alongadas (formato de retângulo) lesões de até 1,3 cm de comprimento nas folhas do cartucho

De 4 a 7 lesões alongadas em várias folhas do cartucho e expandidas e/ou vários furos uniformes a irregulares nas folhas do cartucho e expandidas

Cartucho e folhas expandidas quase ou totalmente destruídos

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Figura 3 - Avaliação de danos de Spodoptera frugiperda, através de escala de nota (0 a 9), em Figura 4 - Avaliação de danos de Spodoptera frugiperda, através de presença ou ausência de lagartas na espiga, em milho convencional e geneticamente modificado MON810, IFG e Xecape rural, Rio Verde (GO) milho convencional e geneticamente modificado MON810, Xecape rural, Rio Verde (GO)

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Estimando os gastos entre a tecnologia Bt e aplicações de inseticidas no milho convencional, verifica-se que a tecnologia Bt se paga, devido a não utilização ou redução de inseticidas, menor gasto com maquinários e maior rendimento da cultura. Entretanto, deveria se computar, também, o custo operacional, gerencial e de logística dos equipamentos envolvidos na aplicação de inseticidas, o que valorizaria ainda mais a tecnologia Bt. Estudos demonstram que diferentes tipos de proteínas, como a Cry1Ab, inserida no milho geneticamente modificado, tolerante à lagarta-do-cartucho, resultam em um controle satisfatório quando comparados ao cultivo de milho convencional, mesmo com aplicações de inseticida (Figura 3). Outro ponto interessante a ser ressaltado é que mesmo a expressão da proteína sendo menor na espiga do que na parte vegetativa da planta, se obtêm bons resultados (Figura 4).

CONSIDERAÇÕES

Conforme os resultados das pesquisas Eduardo Moreira Barros

para os técnicos e agricultores, já que estudos têm demonstrado que plantas portando o gene da proteína “Cry” alcançaram bons resultados no período inicial e intermediário da cultura do milho, frente ao ataque da lagarta-do-cartucho. Durante todo período de monitoramento na região, o milho Bt aponta resultados favoráveis para sua implantação no sistema MIP Desde sua liberação esta nova tecnologia vem demonstrando ao produtor, que será fundamental para o manejo da lagarta-docartucho. A tendência é de que nas próximas safras as atenções se voltem para outras pragas danosas à cultura, tais como as de solo (coro, larva-alfinete, percevejo-castanho), doenças fúngicas e lagartas da espiga, ou, ainda, ocorrendo atraso na colheita, pode haver ataque de carunchos na espiga. Atualmente o principal método de monitoramento de injúrias da lagarta-docartucho em milho é feito através de uma escala de notas. Esse método é chamado de escala de Davis & Williams (1989), sendo utilizado em todo mundo, devido a sua boa representatividade (Figura 2). Com a tecnologia Bt, além do produtor se encaixar num padrão de menor degradação do solo por meio de moléculas tóxicas ao ambiente, evita perdas por esmagamento de fileiras de milho pelos rodados dos tratores e pulverizadores. A intensidade da injúria provocada por lagartas aumenta consideravelmente em torno de 33 dias após a emergência. Provavelmente isso ocorra em razão das condições ambientais que favoreceram o aumento da infestação e desenvolvimento das lagartas. Quando não se utiliza nenhum método de controle químico, biológico ou transgênico no controle de pragas, a diferença na produtividade chega a até dez sacas (Tabela 1). Diante dessas situações podemos fazer uma comparação de modo generalizado onde fica bem exemplificado o potencial da tecnologia Bt.

realizadas na região de Rio Verde (Goiás), a maior média de injúria foliar em todas as situações é apresentada pelos híbridos não Bt e sem aplicação de inseticida. Ao analisar os dados de forma científica para fundamentação dos fatos, verifica-se diferença estatística entre os híbridos com tecnologia Bt em relação ao convencional. Portanto, não se verificam diferenças no rendimento de grãos, entre a tecnologia Bt e onde se fizeram três aplicações de inseticidas. Deve-se considerar aqui o valor da tecnologia Bt e das aplicações de inseticidas. Quando não se utiliza nenhuma tecnologia, como híbrido não Bt, e sem aplicação de inseticida, observa-se menor rendimento de grãos. O aumento de cultivo de plantas resistentes e tolerantes a insetos-praga apresenta um futuro promissor para controle biológico, já que reduz a aplicação de inseticidas. Outro ponto que se deve considerar são as áreas de refúgio, obrigatórias em cultivos Bt, que, se manejadas de forma adequada, podem favorecer o equilíbrio C entre pragas e inimigos naturais. Estevão Rodrigues, Rafael Vieira Barbosa, Eduardo Moreira Barros, Romário R. Cunha de Oliveira e Marcio Fernandes Peixoto, Cefet - Rio Verde

Produção

A

Planta de milho com injúria severa provocada pelo ataque de lagartas

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área de milho cultivada atualmente no Brasil é de aproximadamente 13 milhões de hectares. Desse total, segundo estimativas da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), 40% foi cultivada com milho Bt na safra verão 2009/10. Estimativas apontam para a safra verão 2010/11 um aumento de área cultivada com a tecnologia, representando entre 60% e 70% do total da cultura no país.



Milho Charles Echer

Resposta favorável Na batalha contra o complexo de doenças fúngicas que ocorrem em milho safrinha, pesquisadores da Fundação Chapadão testam 46 híbridos comerciais e avaliam como esses materiais respondem à aplicação de fungicidas

O

custo de produção da safrinha e a produtividade de milho em relação à safra normal são menores pela baixa tecnologia empregada e pela época de semeadura menos favorável ao desenvolvimento das plantas e enchimento dos grãos. O produtor rural, mesmo sabendo que a produtividade será menor que a safra normal, tem optado nos últimos anos pela safrinha, principalmente pela competitividade econômica do milho em relação à soja ser menor na safra normal. Em regiões mais altas, como a dos

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Chapadões, onde as noites são mais frias e consequentemente a amplitude térmica é maior, a ocorrência e a severidade de doenças fúngicas na safrinha têm aumentado a cada ano. Dessa forma, o uso de fungicidas e a escolha de materiais mais tolerantes às principais doenças (cercosporiose, helmintosporiose, polysora e mancha de Phaeosphaeria) que ocorrem na região, tem se tornado práticas indispensáveis no manejo da cultura. A Fundação Chapadão, desde sua criação no ano de 1997, conduz trabalhos

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com o objetivo de oferecer alternativas de controle ao complexo de doenças fúngicas, que ocorrem na cultura do milho. Nos últimos cinco anos, com o crescimento e o monocultivo da cultura do milho em safrinha, a severidade de doenças foliares ocorre de forma distinta nos materiais testados, de acordo com a época de semeadura e níveis de resistência de cada material. Sabe-se que os híbridos testados comercialmente não apresentam resistência a todas as doenças. Assim, torna-se importante o uso diversificado de cultivares que apresentam algum


Fotos Jefferson Luis Anselmo

À direita plantas sadias após o tratamento com fungicidas e à esquerda plantas que não receberam a aplicação química (note os sintomas de doenças fúngicas)

nível de resistência, evitando a pressão de seleção para o surgimento de novas raças dos patógenos. Outro ponto fundamental no manejo das doenças é fazer a diagnose correta antes de se tomar qualquer medida de controle, e só através de uma análise laboratorial com pessoas capacitadas, identificar os sintomas e o patógeno causador das lesões. Na Fundação Chapadão, os produtores têm auxílio do laboratório de

diagnose de doenças e podem tirar suas dúvidas quanto à identificação das doenças do milho. (Andrade & Andrade, 2010). Com o objetivo de explorar o potencial de híbridos comerciais de diversas empresas em épocas distintas de semeadura, a Fundação Chapadão realiza ensaios de competição e caracterização dos materiais na safra e na safrinha, no intuito de mostrar ao produtor os materiais que se

destacam e as diferenças de produtividade que ocorrem em parcelas com e sem aplicações de fungicida. Na coordenação desses trabalhos, Anselmo, pesquisador na área de Fitotecnia da Fundação Chapadão, enfatiza que ocorrem diferenças na incidência e na severidade do complexo de doenças foliares entre os materiais testados e a resposta na produtividade, depende do grau de resistência genética de cada material a


determinada doença, a época de semeadura e o momento de aplicação dos produtos nas doses recomendadas pelas empresas de defensivos agrícolas. Na safrinha do ano de 2010 foi realizado um trabalho com objetivo de caracterizar 46 híbridos de milho semeados em 10/2/2010 com e sem aplicação de fungicida foliar. A adubação utilizada no plantio

Cenário da safrinha

A

cultura do milho, semeada na 2a época (safrinha), tem crescido ao longo dos anos nas principais regiões produtoras do país, com previsão ao redor de 40% da produção total em 2011. Nos últimos dez anos a safrinha brasileira saltou de 15,27% de representatividade em relação à safra total de milho, para 38,29% no ano passado. Com isso, derrubou a fatia

Tabela 1 - Valores médios de produtividade de 46 híbridos de milho com e sem aplicação de fungicida, na safrinha. Fundação Chapadão, 2010

DKB175 AS1522 30A95HX DKB390 AGN20A78 GNZ9505YG BX974 DKB393 30A91 AS1555YG P3646Y 2B604HX 2B587 BMX944 2B707 AG7088 AG8086YG 2B433 AS1596 30A86HX BMX8340 DKB370 BX1293 CD351 AG7000YG P4285 AS3421YG IMPACTOTL P4042HX SYN7205TL GNZ9501 CD327 CD384 P30F35H PRE32D10 BM810 NB4306 BX945 NB7316 BX970 BM502 PRE22S11 GNZ9506 PRE22T10 PRE12S12 Média

Com Fungicida Sem Fungicida —— Produtividade (kg ha-1) —— 8658,83 aA 6241,46 dB 8229,53 aA 8537,36 aA 8043,53 aA 7672,30 bA 7863,13 aA 6599,76 dB 7778,76 aA 6603,60 dB 7758,76 aA 7197,80 cA 7623,00 aA 7274,96 cA 7548,86 aA 6526,96 dB 7427,90 bA 6361,66 dB 7415,26 bA 6353,86 dB 7363,66 bA 7162,66 cA 7328,50 bA 6820,63 dA 7239,46 bA 6846,70 dA 7205,50 bA 6765,90 dA 7144,10 bA 6331,73 dB 7024,03 bA 5946,33 eB 6997,60 bA 6080,23 dB 6869,03 bA 7351,73 cA 6866,83 bA 6625,60 dA 6858,86 bA 7028,30 cA 6824,06 bA 5479,50 eB 6769,30 bA 4850,10 fB 6725,10 bA 7110,86 cA 6582,76 cA 5742,50 eB 6506,10 cA 6713,80 dA 6471,60 cA 5723,30 eA 6455,70 cA 6414,43 dA 6425,93 cA 4900,93 fB 6281,06 cA 6926,36 dA 6133,70 cA 6344,50 dA 6079,00 cA 5708,26 eA 5993,86 cA 5893,36 eA 5938,66 cA 5077,33 fB 5927,56 cA 5865,96 eA 5804,50 dA 5044,03 fA 5786,56 dA 5144,16 fA 5718,93 dA 4338,60 gB 5713,23 dA 3455,13 gB 5607,36 dA 4828,36 fA 5593,16 dA 5479,50 eA 5525,43 dA 5018,76 fA 5365,90 dA 4336,10 gB 5268,86 dA 5529,00 eA 5022,10 dA 4240,30 gA 4817,63 dA 3867,06 gB 6635,18 6008,04

Médias seguidas por mesmas letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.

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foi de 300kg/ha-1 da fórmula 08-20-20 e 100kg/ha-1 de ureia em cobertura quando as plantas apresentavam seis folhas verdadeiras. As aplicações de fungicidas foram realizadas em pré-pendão e 15 dias após, utilizando epoxiconazol + piraclostrobina na primeira aplicação e azoxistrobina + ciproconazol na segunda aplicação, nas doses de 0,5L/ha-1 e 0,3L/ha-1, respectivamente, recomendadas dos produtos comerciais. As aplicações de herbicidas e inseticidas foram feitas conforme a necessidade. O espaçamento utilizado foi de 0,45 metro entre as linhas e densidade de semeadura recomendada pelas empresas detentoras das sementes de cada cultivar. A Tabela 1 corresponde aos dados de produtividade dos híbridos avaliados com e sem aplicação de fungicida, na safrinha de 2010. Os híbridos mais produtivos que receberam as aplicações de fungicida foram DKB175, AS1522, 30A95HX, DKB390, AGN20A78, GNZ9505YG, BX974, DKB393 e dentre os híbridos sem aplicação de fungicida foi o AS1522. Os híbridos mais responsivos às aplicações de fungicidas foram: DKB175, BX945 e DKB370. Enquanto que os menos responsivos foram: P4042HX, 2B433 e BX1293. Em média a aplicação de fungicida proporcionou acréscimo de 627kg/ha-1 em relação aos híbridos sem fungicida.

Anselmo destaca alguns pontos fundamentais no manejo da cultura do milho em relação ao controle de doenças fúngicas durante os ensaios que são realizados a cada ano: a diagnose correta da doença que ocorre na cultura do milho; monitoramento e práticas de controle visando à safra ou safrinha em questão ou a seguinte, já que a dinâmica do clima e o complexo de doenças de um ano para outro são distintos; uso e utilização diversificados de cultivares que apresentam certos níveis de resistência para evitar pressão de seleção aliada à rotação de culturas e adubação equilibrada e, ainda, o uso racional de fungicidas de acordo com as doses recomendadas. A combinação de híbridos, biotecnologia e tratamento de sementes são fundamentais para obtenção de maiores produtividades, tanto na safra quanto na safrinha, bem como o manejo correto de pragas e doenças C no decorrer do ciclo da cultura. Jefferson Luis Anselmo e Alfredo Ricieri Dias, Fundação Chapadão Henrique Vinicius de Holanda e Thiago Zago Leonel, Feis-Unesp Aguinaldo José Freitas de Leal e Hewerton John S. Magalhães, UFMS

Charles Echer

Híbrido

da safra principal (que no ano 2000 era de 84,73%) e passou para 61,71% em 2009. Em 2011 o Brasil deve contabilizar uma área de plantio 3% menor, que representa 12,7 milhões de hectares. A produção também sofrerá um revés, passando de 56 milhões de toneladas de milho obtidas neste ano, para 52 milhões de toneladas pela falta de chuvas e valorização do cereal.

Manejar corretamente o complexo de doenças fúngicas é fundamental para garantir melhores resultados na safrinha

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Arroz

Teste de resistência O

arroz (Oryza sativa L.) é um dos alimentos mais importantes em todo o mundo, fornecendo comida para quase dois bilhões de pessoas. Este cereal é atacado por várias doenças, causadas por fungos, bactérias e vírus, durante todas as fases de desenvolvimento da cultura. Entre elas, a brusone, a mancha de grãos e a queima da bainha são consideradas as principais, nos cultivos brasileiros. Nos últimos anos, a podridão da bainha, causada por Sarocladium oryzae (Sawada) Gams e Hawksworth, se tornou um grande entrave na produção, em vários países asiáticos, produtores de arroz, e sua ocorrência no Brasil vem aumentando expressivamente, tanto no sistema irrigado quanto no de terras altas. O fungo pode infectar as plantas de arroz em todos os estágios, porém, os sintomas iniciais e típicos aparecem na última bainha, abaixo da folha bandeira.

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O começo ocorre na época da emissão da panícula e aumenta até o final do ciclo. As panículas emergidas apresentam espiguetas, principalmente na metade da panícula, de coloração marrom a vermelho, afetando o desenvolvimento dos grãos e causando esterilidade (Figura 1). Nos estágios finais, as lesões aumentam de tamanho, coalescem e cobrem toda a bainha. As panículas das plantas afetadas não emergem ou emergem parcialmente, ficando comprimidas dentro da bainha. As colônias miceliais de S. oryzae nas bainhas com lesões são róseas páleas ou esbranquiçadas e produzem conidióforos verticilados com uma ou duas fiálides. Os conídios são unicelulares, hialinos e geralmente curvados e fusiformes (Figura 2). O fungo sobrevive como micélio em sementes infectadas, restos culturais no solo e sobre plantas daninhas. Os conídios são disseminados facilmente a longas dis-

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Valacia Lemes Lobo

A incidência da podridão da bainha, causada por Sarocladium oryzae, tem aumentado no Brasil, tanto em lavouras de arroz irrigado como em áreas de terras altas. A busca por cultivares com resistência genética à doença é uma das principais apostas para minimizar o problema

Figura 1 - Sintomas de podridão da bainha, em plantas inoculadas com Sarocladium oryzae

tâncias pelo vento e insetos. As infecções de podridão da bainha, além de induzir a esterilidade das espiguetas, podem afetar a viabilidade das sementes e o valor nutricional dos grãos,


Fotos Divulgação

Figura 2 - Conídios (esquerda) e conidióforos (direita) de Sarocladium oryzae

pela diminuição nos teores de amido e proteínas. Foi verificada a presença de S. oryzae em diferentes partes dos grãos, sendo observadas incidências de 59,35%, 21,8% e 4,2% na casca, endosperma e embrião das sementes, respectivamente (Sachan; Agarwall, 1995). O clima quente e úmido, com temperaturas entre 20ºC e 30ºC e umidade relativa na faixa de 65% a 85%, favorece o desenvolvimento da doença. Apesar de ser um fungo transmitido pela semente, o início da infecção por sementes infectadas

ainda não foi demonstrado claramente. A doença é mais prevalente em plantios adensados e a severidade da podridão da bainha e a descoloração de grãos varia de ano para ano, de acordo com as condições climáticas e a suscetibilidade de cultivar. Em janeiro-março de 2006, no Brasil, foi constatada alta incidência da podridão da bainha nas lavouras de arroz irrigado e de terras altas nos campos experimentais. A incidência foi provocada por chuvas contínuas desde a época de emissão das panículas até a sua maturação completa.

Acredita-se que esse aumento tenha sido favorecido pelo uso contínuo de fungicidas sistêmicos, especificamente, os indicados para o controle da brusone nas panículas. Conforme já relatado, outro pesquisador observou que a aplicação de fungicidas para o controle de doenças consideradas de maior importância, como a brusone, algumas vezes pode induzir a ocorrência de outras doenças de importância secundária ou o aparecimento de novas doenças. Nas últimas safras 2008-09 e 2009-10 foram observadas altas incidências da doença Cultivar

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Figura 3 - Infecção de grãos das cultivares e linhagens de arroz coletadas nas condições Figura 4 - Grau de resistência das cultivares e linhagens de arroz à podridão da bainha naturais de infecção no campo em relação a Sarocladium oryzae nas condições artificiais de inoculação em casa de vegetação

em várias regiões do Brasil, tanto em arroz irrigado quanto em arroz de terras altas, e também em países vizinhos como a Bolívia. Em visita feita àquele país, Filippi, M.C.C. (2010, comunicação pessoal) verificou alta incidência e severidade da doença nas lavouras. Todas as cultivares de arroz utilizadas atualmente são suscetíveis à podridão da bainha. Até o presente momento não se conhece um tratamento químico eficaz para o controle dessa doença, seja via tratamento de sementes, seja por pulverização. Diante disso, o desenvolvimento de cultivares com resistência genética merece atenção e esforços bem como o estudo da variabilidade da população do patógeno. Como a doença é relativamente “nova” no Brasil e sua incidência vem aumentando a cada safra, muito há que se estudar sobre a podridão da bainha nas condições de lavouras brasileiras como transmissão via sementes, hospedeiras, resistência das cultivares, controle, entre outros aspectos

epidemiológicos. Diante disso, foi feito um estudo com o objetivo de determinar o grau de infecção de grãos de arroz por Sarocladium oryzae em condições naturais de infecção de campo e o grau de resistência de cultivares e linhagens de arroz à podridão da bainha, em casa de vegetação. Grãos de arroz, de 12 cultivares e linhagens, foram coletados dez dias antes da colheita. Estes grãos foram submetidos à análise de sanidade pelo método de blotter test para verificar a incidência de S. oryzae. Para a análise de sanidade foi utilizada uma amostra de 400 grãos de cada uma das cultivares e linhagens que foram colocados em caixas gerbox (25/caixa), com papel filtro previamente embebido em água destilada. A inibição da germinação foi realizada por congelamento, por 24 horas a –18°C e, logo após, foram incubadas à temperatura de 25°C, durante sete dias, sob fotoperíodo de 12 horas, de acordo com as Regras para Análise de Sementes. Completado esse período, os grãos foram

Áreas de arroz irrigado estão entre as afetadas por doenças como a podridão

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examinados em microscópio estereoscópio, para identificação de S. oryzae. Quando necessário, para completar a identificação, foram feitas lâminas e examinadas ao microscópio óptico. Em casa de vegetação, foi realizado um experimento utilizando dois isolados de S. oryzae, obtidos a partir de tecidos de bainhas infectadas (17B) e de grãos (20G). Estes isolados foram inoculados em cinco linhagens avançadas (BRA 051134, BRA 051077, BRA 051108, BRA 051126, BRA 2601) e em cinco cultivares comerciais (IRGA 424, Epagri 409, BRS Tropical, BRS Jaçanã e BRS Alvorada) em três repetições. O delineamento usado foi o de parcelas subdivididas, onde as cultivares/ linhagens eram as parcelas principais e os isolados as subparcelas. Os isolados de S. oryzae foram multiplicados em grãos de sorgo autoclavados e a inoculação feita em plantas com 72 dias de idade, inserindo-se um grão de sorgo com micélio e esporos do fungo entre a bainha e o colmo. As avaliações (cinco) foram feitas medindo-se o tamanho da lesão em intervalos de cinco dias, com a primeira realizada quando apareceram os sintomas iniciais da doença. O tamanho da lesão foi usado como critério para determinar o grau de resistência dos genótipos, calculado pela área abaixo da curva do progresso da doença. Os genótipos mostraram diferenças significativas quanto à infecção de grãos, sendo 1,3% em BRA 051134 e 26,5% em BRS Jaçanã. As cultivares comerciais como Epagri 109, BRS Jaçanã e Irga 424 foram as mais suscetíveis e diferiram significativamente das cultivares BRS Tropical e BRS Alvorada (Figura 3). Os genótipos apresentaram diferenças significativas em grau de resistência à podridão da bainha. Não houve interação entre isolados e cultivares. A linhagem BRA 051108 apresentou


Fotos Cultivar

Figura 5 - Área abaixo da curva de progresso de podridão da bainha (AACPD) de cultivares e linhagens de arroz inoculadas em condições de casa de vegetação (isolado 17B)

A mancha da bainha pode infectar o arroz em todos os estágios da cultura

o maior grau de resistência comparada à linhagem BRA 2601 (Figura 4), considerando as médias dos dois isolados utilizados. Resultados similares foram verificados usando a AACPD (Figura 5) como critério de avaliação de resistência dos genótipos, para o isolado 17B. Entre as cultivares comerciais, Irga 424 apresentou o maior grau de resistência comparada à Epagri 109. A correlação entre o grau de infecção natural de grãos no campo e o grau de

resistência dos genótipos a S. oryzae, nos testes de inoculação em casa de vegetação, não foi significativa (r = 0,25). • A infecção de grãos nas condições naturais de campo foi variável entre os genótipos. • As cultivares e linhagens avaliadas apresentaram diferenças significativas quanto ao grau de resistência em testes realizados com inoculação artificial em casa de vegetação.

• Não houve correlação entre a infecção de grãos no campo e o grau de C resistência. Valacia Lemes da Silva Lobo, Anne Sitarama Prabhu e M. Cristina C. Filippi, Embrapa Arroz e Feijão Luis Carlos Pinheiro Lins, Uni-Ahanguera Mariana Resende Machado, UFG


Cana-de-açúcar

Fase ideal O controle de adultos de Diatraea saccharalis, a mais importante praga na cultura da cana-de-açúcar, resulta na melhor estratégia por possibilitar a eliminação da praga antes da postura. O uso de iscas tóxicas, com inseticidas adicionados à calda, é mais uma opção para o manejo integrado deste inseto

P

ara atender ao consumo interno e às exportações, a produção de álcool deverá passar dos atuais 22,4 bilhões de litros para 65,3 bilhões, em 2020. Na próxima década, a área plantada deverá crescer aproximadamente sete milhões de hectares. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existe área disponível para aumentar 30 vezes a que é cultivada atualmente com cana-de-açúcar, sem prejuízos ambientais ou substituição das lavouras destinadas à produção de alimentos. Esse cenário tem motivado a contínua expansão da cultura e consequentemente acentuado os problemas de insetos-praga. Diatraea saccharalis é a mais importante praga dessa cultura, por sua ampla distribuição e dimensão dos prejuízos que causa. Além da cana-de-açúcar, ataca outras gramíneas, como arroz, aveia, cevada, milheto, milho, sorgo, trigo e várias espécies de capins. Seu ciclo biológico completo leva de 53 dias a 60 dias. A temperatura se destaca entre os fatores climáticos que interferem na sua flutuação populacional, influenciando o número de gerações anuais e a duração do ciclo. Estudos mostraram que podem ocorrer cinco gerações por ano, sendo a primeira geração observada em outubro-novembro; a segunda, entre dezembro e fevereiro; a terceira, em fevereiro-março; a quarta, em abril-maio; e, eventualmente, a quinta, a partir de junho. A mariposa pode voar de 200 a 300 metros, chegando a 700 metros ou mais com auxílio do vento. A altura de voo é de aproximadamente 1m do nível do solo. O horário preferido para a procura da parceira se dá entre 19h e 4h da madrugada, com dois períodos ativos: das 22h às 23h e das 24h à 1h, com dispersão média de 42,5m/dia. Dano - A cana-de-açúcar sofre o ataque da broca durante todo o seu desenvolvimento. A incidência é maior à medida que a planta vai crescendo principalmente na época em que os entrenós estão formados.

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O ataque é bastante variável, dependendo da variedade de cana, da época do ano, do ciclo da cultura, entre outros fatores. Na fase larval, provoca danos diretos e indiretos. Os danos diretos decorrem da alimentação dos tecidos da planta e se caracterizam por perda de peso e abertura de galerias; dependendo do período de ataque pode haver falhas na germinação, morte da gema apical, tombamento dos colmos, encurtamento do entrenó, enraizamento aéreo e germinação das gemas laterais. Esses danos podem ocorrer isolados ou associados. Já os indiretos estão relacionados com a entrada de microrganismos oportunistas, os fungos Fusarium moniliforme e Colletotricum falcatum que promovem a inversão da sacarose e diminuição da pureza do caldo, levando a um menor rendimento de açúcar e contaminações da fermentação alcoólica, onde os microrganismos competem com as leveduras, resultando em um menor rendimento do álcool. Controle – O controle era feito exclusivamente por processo biológico através de parasitoides, sendo que atualmente é utilizada a vespinha Cotesia flavipes. Em 2009, foram “tratados” cerca de 3.000.000 de hectares com este parasitoide. Sua eficiência é baseada na diminuição do número

Fotos Guilherme Takao

Danos provocados pela broca Diatraea saccharalis, a principal praga que afeta a cultura da cana-de-açúcar

de adultos que serão formados na segunda geração da praga, pois o parasitoide ataca lagartas dos últimos instares da broca. Outro inimigo natural para programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é

o microhimenóptero do gênero Trichogramma, cujas espécies são abundantes no Brasil, também consideradas viáveis no controle de D. saccharalis. O parasitoide de ovos de lepidópteros vem sendo produzido em larga escala em laboratórios de vários países, inclusive no Brasil, e sua liberação têm mostrado que é também eficiente agente regulador da população desta praga. Entretanto, em condições extremamente favoráveis a D. saccharalis, os inimigos naturais não têm conseguido manter a população da broca sob controle, tendo sido registrados casos de alta intensidade de infestação, principalmente no oeste paulista, razão pela qual vem sendo adotado o controle químico na mesma proporção que o biológico, nessa região. Porém, o controle químico é utilizado monitorando a fase inicial do ataque da broca que permanece alguns dias na parte externa das plantas, pois após a sua penetração no interior do colmo, os inseticidas não conseguem mais atingi-la. O inseticida regulador de crescimento à base de triflumurom, mais empregado pelas suas qualidades, possui essa limitação em sua eficiência, controlando apenas lagartas novas e que ainda não entraram no colmo.


Divulgação

A cultura da cana-de-açúcar se encontra em expansão no Brasil, com expectativa de ter sua área aumentada em 7 milhões de hectare em dez anos

Com a tecnificação da agricultura e a tentativa de implantar um manejo cada vez mais aprimorado, integrando os vários tipos de controle, novos métodos vêm sendo estudados, inclusive o químico, baseado em iscas tóxicas para adultos, a fase ideal para o controle das pragas, porque as eliminam antes de iniciarem a postura. Iscas açucaradas são amplamente usadas para coletar lepidópteros atraídos para locais desejados. Vários atrativos são utilizados em armadilhas, no monitoramento de insetos e, quando adicionados a inseticidas, são recomendados para o controle de pragas. O uso de iscas vem sendo aplicado no manejo integrado de pragas em diversas ordens de insetos, mais especificamente para lepidópteros. Embora esse tipo de controle seja comum em pragas

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domissanitárias, deve ser aprofundado em pragas de lavouras, destacadamente aquelas que se protegem no interior dos tecidos na sua fase larval. As iscas mais utilizadas já relatadas na literatura são aquelas à base de soluções de vinagre; açúcar; mel, sacarose, melaço, calda de açúcar, açúcar refinado de palmeira, 3-metil-1-butanol e a mistura de ácido acético e 3-metil-1-butanol. Nesse contexto, a adição de inseticidas na calda da isca seria uma opção ao controle químico e compatível com o manejo integrado da praga, fornecendo à população existente a isca contendo inseticida, reduzindo, assim, o número de descendentes.

Experimento

Com o objetivo de testar uma isca para

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controle da Diatraea saccharalis na sua fase adulta desenvolveu-se o presente estudo, tendo em vista a dificuldade do controle da fase larval em todos os seus estágios. A pesquisa foi realizada na Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP), tendo como suporte a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Em laboratório foram testadas diversas iscas, incluindo seleção, idade e concentração, escolha do inseticida e sua melhor dose, determinação da distância de aplicação e efeito residual. As avaliações foram realizadas 24 e 48 horas após a exposição às iscas. A seleção e a concentração do atrativo foram feitas a partir dos resultados que apresentaram eficiência superior a 80%. Verificou-se que as iscas testadas apesar de serem excelentes atraentes para a Diatraea saccharalis, não atraíam os adultos de longas distâncias, ou seja, mais de 50cm, tornando necessário aplicá-las em área total, para o êxito em sua alimentação. Esse resultado inviabilizou a aplicação em faixas do canavial, método que poderia ser empregado com o intuito de preservar ao máximo os inimigos naturais (parasitoides e predadores como formiga e tesourinha que desempenham importante papel no controle da praga). Assim, no campo, foi testada a aplicação aérea da isca tóxica em área total. A isca à base de ácido acético (1,25%) + Cartap BR 500 (90g p.c./ha), (cloridrato de cartape) mostrou excelente resultado em laboratório, mas quando testada em campo os resultados não foram promissores devido à volatilização do atraente. Por outro lado, a isca à base de melaço (5%) + Cartap 500 (90g p.c./ha) mostrou boa estabilidade. Para o controle das lagartas no seu estágio inicial, Dipel PM (1.000g p.c./ha), Bacillus thuringiensis + Hygrogem (1.000ml p.c./ ha), derivado de biodiesel utilizado como espalhante adesivo, controlou satisfatoriamente as lagartas quando comparada ao padrão triflumuron. A isca teve um custo equivalente ao controle biológico convencional e ao inseticida triflumuron. O produto Hidrogem é um subproduto do óleo de soja, um glicerol elaborado recentemente, com ótimas propriedades orgânicas, ideais para formulações biológicas como a do Bt. Assim sendo, a isca tóxica poderia ser indicada em locais de alta pressão da praga, como mais uma opção no controle da D. saccharalis utilizada em associação ou alternadamente aos processos já existentes. C Greice Erler e Octavio Nakano, Esalq



Café

Fitotoxidez medida

Escala diagramática é proposta como instrumento para facilitar a identificação e a quantificação da severidade dos sintomas da ação fitotóxica que pode ser causada tanto por defensivos, adubos, adjuvantes, bem como pela influência do horário de aplicação desses insumos na cultura do café

N

a atual situação da cafeicultura moderna o uso de defensivos é essencial para a garantia de rentabilidade ao produtor. Tendo em vista os problemas fitossanitários que os cultivos em grande escala enfrentam e a exigência do mercado consumidor por quantidade e qualidade dos produtos, a aplicação de fungici-

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das, inseticidas, nematicidas, entre outros, torna-se vital para a garantia de uma produção economicamente viável e obtenção de um produto valorizado pelo mercado. A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários se configura, atualmente, como fator determinante no sucesso da produção agrícola, devido ao seu elevado custo. Para que se tenha um bom aproveitamento no uso destes insumos torna-se necessário conhecer os aspectos envolvidos no seu preparo e aplicação, como o tipo de alvo, a experiência do aplicador, a qualidade e a quantidade da água de pulverização, o defensivo mais adequado, os equipamentos utilizados, as condições climáticas e o uso de adjuvantes (Santos, 2005). Produtos fitosanitários aplicados em doses erradas e em momentos inoportunos podem causar fitotoxidez (sensibilidade de espécies vegetais a algum fator ou conjuntos de fatores, como por exemplo, um defensivo químico). A ação fitotóxica dos defensivos é, de maneira geral, dependente de constituintes da calda de pulverização, que não fazem parte do ingrediente ativo, mas que melhoram a sua eficácia. Estes constituintes são denominados adjuvantes. Uma situação comumente enfrentada por produtores rurais, no dia a dia, é a ocorrência de fitotoxidez de plantas

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a determinados produtos aplicados na lavoura. Este efeito de toxidez sobre as plantas não é exclusivo de defensivos químicos (Santos, 2009). Segundo Rosolem & Boaretto (1989), a aplicação de quantidades consideráveis de adubos via foliar pode esbarrar no problema de ocorrência de fitotoxidez, que poderá ser minimizado com a escolha da fonte do nutriente, do bico e do volume de calda, assim como do horário de aplicação. Trabalhos com o objetivo de verificar a ocorrência de fitotoxidez causada por adjuvantes têm sido realizados nos últimos anos. Santos (2009), testando a ocorrência de fitotoxidez de óleo mineral e adubo foliar, mediante diferentes horários de aplicação, concluiu que o óleo mineral aplicado na dosagem recomendada e nas horas de maior insolação do dia (12h00min) causou fitotoxidez em mudas de cafeeiro, em forma de lesões necróticas no limbo foliar. Em contrapartida, o adubo foliar não apresentou tal efeito fitotóxico, evidenciando que a ocorrência da fitotoxidade está diretamente relacionada com as condições climáticas em que a aplicação é realizada. Em 2010, Santos et al testou óleos mineral e vegetal em diferentes horários de aplicação com o intuito de verificar se a fitotoxidez está ligada à origem do adjuvante e, como resultado, observou que ambos os óleos causaram fitotoxidez em mudas de cafeeiro. O óleo mineral apresentou o maior número de folhas com fitotoxidez, segundo o autor. Houve, ainda, diferença em relação


Fotos Leandro Alvarenga Santos

Sintomas de fitotoxidez sobre folhas de café, com diferentes severidades

aos horários de aplicação. A operação realizada no horário de maior insolação (14h30min) proporcionou fitotoxidez mais severa. Para que um produto seja registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é necessária a comprovação de que não causa fitotoxidez à cultura para a qual se solicita o registro. Os sintomas de fitotoxidez são variáveis e muitas vezes os avaliadores não possuem conhecimento de como se apresentam. Este trabalho teve como objetivo elaborar uma escala diagramática para facilitar a identificação e a quantificação da severidade desses sintomas na cultura do café, evitando, assim, que erros sejam cometidos no estudo da fitotoxidez. A escala aqui proposta é composta por cinco níveis progressivos de sintomatologia. A escolha destes níveis foi feita para facilitar a diferenciação do sintoma e do grau em que se apresenta. O primeiro nível é formado por lesões que caracterizam os primeiros sintomas da fitotoxidez, que são lesões pequenas de formato circular, com bordas ligeiramente necrosadas e centro sadio, encontradas em grande número sobre o tecido foliar. O segundo nível trata-se de sintoma já característico de fitotoxidez, que é a descoloração do tecido foliar. Esse nível é composto por lesões pequenas de formato indefinido e coloração marrom-parda, podendo estar situada em qualquer parte do tecido foliar (menos de 5% da área foliar afetada). O terceiro nível é composto por lesões de coloração marrom-parda,

de formato indefinido e ocupando maior parte da área foliar total da folha (de 5% a 15%). O quarto nível é composto por lesões de coloração marrom-escura, de bordas indefinidas, diferenciando-se do terceiro, principalmente, por apresentar maior área foliar afetada (de 15% a 30%). O quinto e último nível é composto de lesões de coloração marromescura, de bordas indefinidas, e afeta aproximadamente metade da área foliar (de 30% a 50%). Recomenda-se a utilização desta escala com o objetivo de padronizar o estudo da ocorrência e dos efeitos fitotóxicos causados por defensivos químicos C na cultura do café. Leandro Alvarenga Santos, Paulo Estevão de Souza, Edson Ámpelio Pozza e Marcelo Mendes Haro, Universidade Federal de Lavras

Escala diagramática para identificar e quantificar ação fitotóxica

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Algodão Charles Echer

Danos em palmos

A lagarta-mede-palmo, tradicional em lavouras de soja, causa prejuízos também no algodão, cultura a quem costuma suceder. Ao adotar o uso de inseticidas, método ainda mais utilizado contra a praga, o produtor deve dar preferência aos defensivos mais seletivos aos inimigos naturais

A

lagarta falsa-medideira ou lagarta-mede-palmo, cujo nome científico é Pseudoplusia includens (Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae) e Trichoplusia ni (Hübner, 1802) (Lepidoptera: Noctuidae), é problema há anos na cultura da soja e um pouco mais recente na cultura do algodão, principalmente no cerrado. Como praticamente 100% dos produtores de algodão também cultivam a soja (plantada primeiro), o que o ocorre é que a cultura algodoeira recebe uma boa parte da população destas lagartas que sobram das aplicações, seja pela qualidade de uma determinada aplicação que deixou a desejar, pelas condições climáticas no momento da aplicação, pelo posicionamento da praga devido à sua biologia ou

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pelo uso generalizado de fungicidas para controlar a ferrugem asiática na soja ou da ramulária no algodoeiro, ocasionando a morte de fungos benéficos que auxiliam no controle das lagartas, como as plusias, entre outros fatores.

Conheça o inseto

As asas das mariposas possuem envergadura de 28mm e apresentam coloração cinza-escuro, com uma mancha prateada na parte mediana, semelhante ao número oito. Os ovos são colocados de forma isolada nas folhas das plantas e possuem coloração branca, são achatados, porém de formato circular e possui estrias. A fêmea vive aproximadamente 15 dias e é capaz de colocar mais de 600 ovos durante o seu ciclo.

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Em geral, as lagartas apresentam coloração verde-claro com linhas brancas longitudinais espalhadas sobre o dorso. Apresentam três pares de pernas abdominais, fazendo com que no seu deslocamento ocorra intenso movimento do corpo, parecendo medir palmos, característica marcante que lhe confere o nome popular de lagarta-mede-palmo. As pernas torácicas das lagartas da Trichoplusia ni são verde-claras e apresentam listra subdorsal e longitudinal branca, ao passo que as pernas torácicas das lagartas Pseudoplusia includens são frequentemente escuras e não possuem listra subdorsal longitudinal. Ao longo da fase de lagartas, chegam a 30mm de comprimento e passam por cinco instares. Quando atingem seu pleno desenvolvimento, tecem seus casulos


Will Cook

Fotos D. Romano

Plusias na fase de mariposa, com predomínio da coloração marrom

Pseudoplusias, acima em movimento de mede palmo e em final de desenvolvimento com sintoma da ação de inseticida

nas folhas, o qual possui coloração inicial verde e se torna marrom próximo da saída da mariposa (Santos, 2007).

favorável a esse tipo de operação, principalmente no cerrado brasileiro, na época das águas, onde se formam nuvens de chuva a qualquer momento e às vezes não se consegue uma boa cobertura da calda inseticida na planta. O método químico de controle, com o uso de inseticidas, é ainda o mais utilizado para esta lagarta. Sendo assim, torna-se importante sempre priorizar defensivos mais seletivos aos inimigos naturais, como Bacillus thuringiensis e os reguladores de crescimento como teflubenzuron, diflubenzuron; clorfluazuron, lufenuron, nuvaluron. Algumas moléculas recentes no mercado têm contribuído para o bom controle, como a flubendiamida e clorantraniliprole. Outros inseticidas também em uso há mais tempo apresentam controle eficiente como indoxacarb, bifenthrin, zeta-cipermetrina, cloridrato de cartape,

Danos e a forma de monitorar

O ataque da lagarta-mede-palmo deixa as folhas com aspecto rendilhado, pois o inseto não consome as nervuras. Os danos são provocados pela alimentação das lagartas, que são desfolhadoras. De forma geral, começam a desfolha pelas folhas mais velhas, ou seja, as encontradas no terço inferior das plantas. Na fase logo após eclodir dos ovos apenas raspam a epiderme das folhas, mas à medida que vão tomando proporção fazem orifícios maiores nas folhas. O fato de ficarem, inicialmente, no baixeiro da planta, dificulta o controle, o que exige ainda mais conhecimento da parte técnica para o combate. Os orifícios também facilitam a penetração de patógenos que se hospedam na cultura. Com escassez de folhas pela alimentação e pelo aumento da população, passam, com o tempo, a frequentarem o terço médio e posteriormente o terço superior das plantas. A desfolha ocasionada reduz o potencial das plantas em fazer fotossíntese e dependendo da intensidade e do estádio da planta, poderá ocasionar prejuízos à produção. Em relação ao nível de controle, quando se constata duas lagartas médias (< 2cm) por planta, esse é o momento adequado para a aplicação de inseticidas (Domiciano & Santos, 1994).

tiodicarb, metomil, spinosad, entre outros. Atualmente o Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt) conduz experimentos para verificar a eficiência desses inseticidas em condições de campo no estado do Mato Grosso. O uso de cultivares geneticamente modificadas é mais uma ferramenta para auxiliar os produtores no controle destas lagartas, e para evitar o desenvolvimento de resistência destes insetos, a tecnologia exige a manutenção de refúgios para populações suscetíveis. Cultivares disponíveis no mercado que expressam a toxina Cry 1Ac, derivada do Bacillus thuringensis subes. Kurstaki (Btk), não controlam as plusias, apesar de haver relatos de que no monitoramento a campo se constata que esses insetos acabam sendo menos vorazes. Já uma outra tecnologia, que possui maior concentração das proteínas tóxicas Cry2Ab e Cry1Ac, tende ao controle destas lagartas. Porém, apesar de estar liberada para comercialização, as empresas detentoras ainda não possuem cultivares comerciais com a tecnologia disponível para o produtor cultivar ou experimentar no campo.

Medidas complementares

É importante sempre observar a migração de mariposas de talhões vizinhos com a cultura da soja a fim de se detectar as primeiras oviposições e evitar surpresas; é imprescindível a destruição de soqueira e plantas tigueras que devem ser realizadas de forma eficiente, ou seja, de acordo com o que rege a lei, e obedecendo aos prazos; atentar para o uso correto dos inseticidas, fazendo a rotação quanto ao modo de ação, evitando-se assim o surgimento de resistência e preferir os inseticidas seletivos nos 80 dias iniciais da cultura no campo. Estas ações, dentre outras, contribuem para um sistema de produção mais eficiente e sustentável da cotonicultura nas C regiões produtoras. Daniele Romano e Edson R. de Andrade Junior, Instituto Mato-Grossense do Algodão

Como controlar

De maneira geral, sua localização na planta desfavorece, em parte, a ação dos agroquímicos recomendados para esta praga. Na prática, também se sabe das dificuldades enfrentadas em relação às aplicações, pois o clima nem sempre é

Lavoura comercial com infestação elevada e danos acentuados de desfolha provocados pelo inseto

Romano e Andrade Júnior apontam estratégias para controlar a lagarta

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Trigo

Cenário favorável

Charles Echer

Estoques mundiais apertados, por conta das perdas provocadas pelo clima, aumento do consumo e necessidade de importação são indicativos favoráveis à próxima safra brasileira de trigo. Aos triticultores cabe fazer uso da tecnologia para ofertar um produto de qualidade e optar pelas duas alternativas possíveis de mercados. A exportação tem como atrativos a liquidez mais rápida e cotações aquecidas. Já a negociação interna exigirá programação para segurar a venda até o primeiro trimestre de 2012, em busca de números mais atrativos

O

s produtores de trigo têm sofrido com o câmbio baixo, que facilita a importação e desta forma deixa o mercado interno sem liquidez, enquanto os moinhos buscam o cereal no mercado internacional, com prazos longos e preços baixos em reais. Este tem sido o flagelo dos produtores nos últimos anos. Porém, agora os ventos sopram a favor dos produtores brasileiros, porque a produção agrícola mundial sofreu vários problemas climáticos nos últimos anos, derrubando a produção dos alimentos e principalmente dessa cultura. Com esse cenário, diante da demanda de alimentos em crescimento, há um forte apelo altista às cotações, que no último ano saltaram da faixa dos 240 dólares para 330 dólares por tonelada nos países exportadores, como EUA e Canadá. Abre-se dessa forma uma janela para os produtores brasileiros cultivarem uma safra com melhor expectativa de retorno financeiro. As notícias internacionais que beneficiam os produtores brasileiros nos últimos meses foram muitas. Houve quebra da safra da Europa, em especial na parte Oriental, principal exportadora devido à seca do último ano. Registraram-se ainda grandes perdas na safra da Austrália, por inundações e seca e em fevereiro havia relatos de problemas nas áreas de trigo dos EUA e Canadá, que sofrem com o clima muito seco (indicando que não haverá avanço na colheita para atender à demanda crescente de alimentos no mundo). Some-se aos fatores internacionais favoráveis ao mercado brasileiro, os grandes protestos, que começaram no Egito, com a queda do presidente Hosni Mubarak, devido à falta de alimentos, Líbia, Iêmen, Irã, e outros. A população destes países está sentindo a falta

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de alimentos, com filas para comprar pão, leite e outros alimentos básicos, o que gera revolta, porque há espaço para se importar mais, há recursos para trazer os alimentos, desde que os mercados sejam abertos e não dominados por ditaduras como ocorre atualmente em vários países da África, Oriente Médio e Ásia. A alimentação no mundo está mudando de perfil, até mesmo nos asiáticos, que estavam atrelados basicamente ao arroz, e que estão vendo que a produção deste alimento não está conseguindo avançar para atender o crescimento do consumo regional e ao avanço no poder aquisitivo. Há cada vez mais consumidores comendo mais. Esses aspectos fazem com que a opção pelo trigo cresça até mesmo nestas regiões, que não tinham a tradição do grande consumo dos derivados desse cereal e isso está fazendo a oferta e a demanda se mostrarem bastante apertadas, fortalecendo as cotações internacionais. O consumo mundial do trigo tem avançado entre 15 milhões de toneladas a 20 milhões de toneladas ao ano e a produção mundial não está conseguindo atender a este avanço ininterrupto. Temos sofrido com problemas climáticos constantes e as cotações buscam novos patamares de preços. Se voltarmos para o final dos anos 90, veremos que o valor do trigo oscilava entre 120/150 dólares por tonelada e que nos últimos cinco anos saltou para algo em torno de 170/240 dólares por tonelada. Agora, os indicativos dispararam para a casa dos 280/350 dólares por tonelada, sinalizando a busca por novos patamares de preços, de modo a continuar estimulando os produtores ao plantio e ao investimento em tecnologia para crescer em produtividade e qualidade. No mundo não existem novas

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áreas para plantio e boa parte da Ásia e Europa mostra queda na área plantada, com perdas anuais que superam os milhões de hectares. Essa conjuntura obriga ao avanço tecnológico como compensação para a produção continuar crescendo. A produção mundial está concentrada na União Europeia, com seus 27 membros, que produziram 138 milhões de toneladas na safra 2009/10 e devem fechar 2010/11 com 136,5 milhões de toneladas. Seguidos pela China, que colheu 115 milhões de toneladas na safra passada e irá colher cerca de 114,5 milhões de toneladas neste ano. A seguir, temos a Índia, que segundo o USDA colheu 80 milhões de toneladas no ano passado e irá colher número parecido neste ano. Os EUA vêm na sequência, com 60 milhões de toneladas, Rússia, que de 61,7 milhões de toneladas de 2009/10 passou para 41,5 milhões de toneladas em 2010/11 e mostra forte crescimento no consumo interno, tanto para a indústria de alimentos como para o setor de ração. No desenrolar da crise dos ditadores mundiais, estamos vendo que o Egito aparece como maior importador mundial de trigo, com 9,8 milhões de toneladas previstas para este ano, seguido pelo Brasil, com seis milhões de toneladas, Indonésia com 5,3 milhões de toneladas, Japão com 5,2 milhões de toneladas e União Europeia com 4,5 milhões de toneladas. Na linha dos exportadores, temos os EUA na frente, com expectativa de 35,4 milhões de toneladas neste ano, seguido pela União Europeia com 21,5 milhões de toneladas, Canadá com 17,5 milhões de toneladas, Austrália (fortemente afetada pelo clima) que esperava exportar 13,5 milhões de toneladas e que agora, com as inundações, terá boa parte


do produto exportado para ração. Vindo a seguir, temos a Argentina com 8,5 milhões de toneladas esperadas para este ano e a Rússia com apenas quatro milhões de toneladas (mas que normalmente exporta pelo menos quatro vezes mais). Os vendedores são poucos e querem valorizar o seu produto. Nós, brasileiros, apesar de estarmos exportando parte do trigo colhido no último ano (porque não há liquidez interna), seguiremos importando grandes volumes e pagaremos entre 280/350 dólares por tonelada para estes fornecedores. Mantidos estes níveis, o produto chegará aos moinhos brasileiros acima dos 400 dólares por tonelada. Assim, o produtor brasileiro terá que receber cotações acima do que o mercado trabalhou nos últimos meses, que variaram de R$ 380,00/500,00 por tonelada. Nesta nova safra o produtor deve se preparar para produzir trigo com alta qualidade e ver como alternativa de liquidez imediata a exportação, com números próximos dos 300 dólares por tonelada nos portos. Outra recomendação é buscar segurar o quanto for possível para negociar entre os meses de dezembro e março próximos, medida que tende a lhes dar maior retorno econômico (porque os contratos de importação que os moinhos ainda estão exercendo chegam ao seu final e com isso terão que pagar mais caro para trazer trigo de fora). Se os produtores estiverem preparados, poderão exercer sua força para buscar números mais atrativos, porque atualmente, para trazer um bom trigo dos EUA ou do Canadá, não se conseguirá cotações menores que R$ 600,00 por tonelada. Assim, não há por que o mercado do trigo de alta qualidade no Brasil trabalhar com índices abaixo dos R$ 500,00 por tonelada.

Brasil segue como segundo maior importador mundial do trigo

O mercado brasileiro, mesmo com potencial de colher todo o trigo necessário para atender à demanda que está na casa das 11 milhões de toneladas, segue com a produção atrelada a números que não têm ultrapassado de quatro a seis milhões de toneladas. Neste ano, com boa tecnologia, chegaremos novamente à casa das seis milhões de toneladas e desta forma seremos dependentes de um mínimo de cinco milhões de toneladas. Mas como também entramos no mercado de exportação, veremos os volumes alcançarem mais de um milhão de toneladas e certamente teremos que importar mais de seis milhões de toneladas para cobrir as necessidades da demanda deste novo ano. Como podemos observar, o quadro de oferta e de demanda de trigo, neste último ano, mostrava folga no abastecimento, com sobras acima de dois milhões de toneladas

campos entre os meses de abril e novembro, deverá resultar em algo ao redor dos 2,2 milhões de hectares (novamente com o Paraná na frente, com pouco mais de 1,2 milhão de hectares, seguido pelo Rio Grande do Sul, que terá pouco mais de 0,8 milhão de hectares). Novamente veremos áreas isoladas no Centro-Oeste e no Sudeste. O plantio da safrinha tende a se dar com maior área no Sul, devido ao atraso do plantio e desta forma o trigo leva um pouco de vantagem. O mesmo ocorrendo no Mato Grosso do Sul. O indicativo é de queda nos estados que plantam via pivô central, que mostram menor interesse e se inclinam em favor de outros cultivos como milho semente, milho grão, além de tomate, cenoura, batata e outras da linha. A expectativa é de crescimento nas áreas irrigadas com cana para produção de mudas. A produção mostra leve crescimento frente ao ano passado, porque tudo aponta que teremos crescimento da área nacional.

(com a Conab contabilizando cerca de 1.275 toneladas em seus estoques). O apoio aos produtores veio via contratos de PEP para dar liquidez e algumas opções. A demanda brasileira irá crescer forte neste ano, porque temos uma situação de forte avanço nas cotações das carnes, o que tenderá a provocar maior demanda de outros alimentos. E o trigo se encontra em uma fase de crescimento interno, com aumento do poder aquisitivo nacional e maior nível de emprego formal, que estimula a demanda de massas, pães, biscoitos e derivados diretos do trigo. O quadro geral aponta que para os produtores há duas possibilidades de negociação, sendo a exportação a alternativa de contratos para garantir os valores que vêm sendo praticados no mercado externo, que resultam em níveis de 250/280 dólares por tonelada nas indicações FOB. A segunda alternativa é a produção para negociar no mercado interno, com liquidez mais lenta, onde o produtor terá que se programar para segurar a safra até o primeiro trimestre de 2012. Durante este período poderão haver bons momentos e níveis maiores para o trigo nacional, porque os moinhos terão que importar e o trigo importado não deverá liquidar barato neste novo ano (atualmente os níveis de liquidação estão entre os 350/400 dólares por tonelada). É preciso lembrar que a Argentina não terá todo o trigo que necessitaremos e assim teremos que buscar produto suplementar, que no Canadá e nos EUA tem custos maiores que os conseguidos em solo portenho.

Conclusão

Os fundamentos do mercado do trigo sinalizam para a sustentação das boas cotações no cenário internacional (que teve grandes perdas na Europa, América do Norte, Ásia e Austrália), o que deve forçar os indicativos para cima nos níveis de importação e tende a ser o apoio importante para dar melhor liquidez ao trigo nacional, com cotações lucrativas C aos produtores brasileiros.

Área deverá mudar pouco neste novo plantio do Trigo

Vlamir Brandalizze Brandalizze Consulting

A nova safra 2011/12, que estará nos

Oferta e demanda mundial de trigo Safra 09/10 10/11*

Estoque Inicial 167,2 197,6

Importação 133,7 122,8

Produção 682,6 645,4

Consumo 652,2 665,2

Exportação 135,6 125,3

Estoque Final 197,6 177,8

Cons./Export. 10.400/1.350 11.000/1.600

Estoque Final 2.280 920

Fonte: USDA, elaboração Brandalizze Consulting

Oferta e demanda do Brasil de trigo SAFRA 2010/11 2011/12*

Estoque Inicial 2.400 2.280

Importação 5.700 5.200

Produção 5.880 6.040

Oferta 13.980 13.520

Fonte: Brandalizze Consulting

Área plantada com trigo e expectativa da safra nova do Brasil (1.000ha) Safra 2010/2011 2011/2012*

RS 790 820

SC 90 100

PR 1.150 1.200

SP 45 45

MG 23 20

GO 16 12

MS 40 50

BR 2.154 2.247

MS 70 80

BR 5.880 6.040

Fonte: Conab, Brandalizze Consulting

Produção de trigo e expectativa da safra nova do Brasil (1.000t) Safra 2010/2011 2011/2012*

RS 1.980 2.020

SC 240 250

PR 3.320 3.450

SP 110 115

MG 85 65

GO 75 60

Fonte: Conab, Brandalizze Consulting

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2010

43


Coluna ANPII

Trio indivisível No aporte de nitrogênio via biológica, o inoculante, o molibdênio e o cobalto são essenciais para que a tecnologia funcione plenamente

E

m diversos artigos temos demonstrado a importância da inoculação de leguminosas com bactérias fixadoras para um aporte de nitrogênio, na quantidade requerida pela planta para elevadas produtividades. Sem dúvida, a inoculação com bactérias selecionadas, de elevada capacidade de fixação de nitrogênio e alta competitividade nos solos, é condição essencial para que se obtenha um

dulo prejudica seriamente a fixação do N. O molibdênio, por sua vez, faz parte do complexo da enzima nitrogenase, que está presente no centro ativo desta enzima. Sua falta ou mesmo a presença em quantidades insuficientes compromete o processo, o que impede ou reduz a capacidade de transformação do nitrogênio da atmosfera à forma amoniacal, primeiro passo para o caminho até

dois micronutrientes aqui mencionados exercem papel direto no processo e devem fazer parte do planejamento do agricultor, para uma lavoura de elevada produtividade. O inoculante, o cobalto e o molibdênio devem ser vistos como um trio indissociável, em que os três têm que ser aportados à planta para que a tecnologia funcione plenamente. O uso de um ou dois isoladamente não dará o efeito de produtividade

Na cana-de-açúcar já se vislumbra o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio em curto espaço de tempo grande aporte do nutriente, mas nem sempre é a única condição. Diversos outros fatores são importantes, uma vez que a planta é um organismo de enorme complexidade e com grande interatividade entre estes aspectos. No caso do aporte de nitrogênio via biológica, dois micronutrientes assumem papel preponderante, sendo tão importantes quanto à própria inoculação: molibdênio (Mo) e cobalto (Co) desempenham funções fundamentais nos processos bioquímicos que ocorrem no interior dos nódulos. O cobalto faz parte da molécula denominada cobalamina (vitamina B12), essencial nos processos metabólicos no interior do nódulo, inclusive com papel importante na formação da leghemoglobina - substância que regula a quantidade de O2 no interior do nódulo, propiciando o funcionamento da enzima nitrogenase. A falta ou as quantidades reduzidas de Co no interior do nó-

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chegar à proteína essencial para a formação dos grãos. Existem muitos trabalhos de pesquisa, no Brasil e em outros países, mostrando que a adição de molibdênio à cultura de leguminosas traz significativos aumentos na produtividade. Tanto trabalhos em vasos quanto em campo demonstram, sem dúvida, que bons produtos à base de Mo se constituem em insumos valiosos para aumentar a taxa de fixação biológica do nitrogênio, potencializando a ação do inoculante e, por consequência, aumentando a produtividade. Desta forma, devemos encarar a inoculação como uma atividade inserida no contexto da lavoura. A inoculação aporta a bactéria ao sistema solo/planta, mas para que a eficiência do microrganismo seja plena, diversos outros fatores devem ser levados em conta, como correção do solo, presença de cálcio e enxofre e todos os aspectos relacionados com a nutrição da planta. Entretanto, os

Março 2011 • www.revistacultivar.com.br

desejado. Entretanto, os produtos à base de Mo e Co devem ter determinadas características para que sejam absorvidos pelas plantas e que não venham a prejudicar as bactérias do inoculante: solubilidade, pH compatível com a bactéria, efeito salino atenuado. O uso de sais de Mo e Co in natura, sem formulações adequadas é extremamente prejudicial às bactérias. Portanto, o agricultor que deseja aumentar sua produtividade, tem que dar completa atenção ao processo de FBN, usando um inoculante de alta qualidade, fazendo o processo com todos os cuidados que um produto biológico requer e, ao mesmo tempo, cuidando para que haja o fornecimento dos micronutrientes Mo e Co, o que explora, assim, todo o potencial C que a tecnologia oferece. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

Agronegócio 2011

A

cho que haverá apenas uma má notícia importante para o nosso setor, durante 2011: o real deverá continuar valorizado, encolhendo as margens dos agricultores, que poderiam aproveitar este período de “vacas gordas” para capitalizar-se e criar um colchão para enfrentar as vicissitudes que sempre ocorrem, nos picos e vales do mercado agrícola internacional. Nada indica que a situação atual do câmbio será alterada, apesar da degradação da balança comercial e do processo acentuado de desindustrialização que o Brasil está enfrentando. De resto, as perspectivas para este ano são particularmente animadoras, com uma conjunção de fatores rara de ocorrer:

difusas, sem um alvo específico, apesar das referências aos subsídios agrícolas e especulação. Porém, eu insisto em um ponto, capital embora não exclusivo: a inserção social é a maior responsável pelo aumento dos preços dos produtos agrícolas. Em economia, raros são os fatos sem consequência. O esplendoroso crescimento dos países emergentes está provocando uma inserção social sem precedentes, trazendo centenas de milhões de pessoas, antes abaixo da linha da pobreza, para o mercado de produtos agrícolas, em especial de alimentos. A elevação dos preços das commodities nada mais é que o reflexo do descompasso entre a capacidade de oferta e a demanda real,

a expansão da fronteira agrícola. Com a demanda de produtos agrícolas em alta, pelo menos nos próximos 20 anos, o Brasil deve insistir nesta trilha, para capturar o maior quinhão do crescimento da demanda. Que ninguém se iluda: apesar de o mercado internacional ser francamente comprador, não podemos nos arriscar a sofrer sanções por agressão ao ambiente ou descumprimento de preceitos sociais básicos, bem como devemos atentar para os princípios fundamentais de sanidade agropecuária. Estes são os três segmentos onde barreiras podem ser interpostas, para barrar ou dificultar o acesso do Brasil ao mercado internacional. Neste particular, é fundamental haver uma gestão compartilhada entre o Gover-

A busca pela máxima produtividade sustentável deve ser uma constante preços e produtividade em alta, ao mesmo tempo. Para a maioria dos produtos agrícolas (com raras exceções, como o feijão, restrito ao mercado doméstico), os preços internacionais estão em patamares elevados, com alguns destaques, como o açúcar e a soja. Outros produtos também estão em alta, como o suco de laranja, o café, o milho e a grande “joia da coroa” dos próximos anos, que são os produtos madeireiros e outros derivados de florestas cultivadas. Os preços elevados são decorrência de três grandes fundamentos: a) os baixos estoques, que persistem já há algum tempo; b) a crescente demanda, em especial dos países emergentes (China e Índia como grandes locomotivas), que por sua vez também são causa dos baixos estoques; c) programas de incentivo à recuperação da economia, em diversos países. A FAO lançou um alerta de que os preços das commodities agrícolas alcançaram, em fevereiro de 2011, o mesmo patamar elevado de meados de 2008. Na época, o grande vilão respondia pelo nome de biocombustíveis. Hoje as acusações são

escudado por estoques de passagem que não se recuperam. Um detalhe: estoques baixos significam vulnerabilidade, risco de desabastecimento em caso de acidentes climáticos ou outros problemas que afetem a produção. Portanto, enquanto não forem recuperados os estoques internacionais, e oferta e demanda não atingirem um ponto de equilíbrio, os preços internacionais de commodities agrícolas permanecerão acima dos valores históricos, quer o diretor da FAO ou o presidente da França queiram ou não! O segundo aspecto que favorece o agricultor é a produtividade em alta, para quase todos os cultivos agrícolas, em praticamente todo o Brasil, conjugado com problemas climáticos enfrentados pelos concorrentes, seja na Argentina, na Austrália ou na Ucrânia. A produção de grãos do Brasil, em 2011, deve atingir novo recorde, bem como a produtividade dos cultivos que também deve se situar em patamar acima dos anos recentes. Aliás, esta é a única saída para o Brasil, no futuro próximo: expandir a produtividade, de forma sustentável, refreando

no e a iniciativa privada, em relação ao uso do solo no Brasil. A tese maior que tenho defendido é que devemos congelar, pelo menos por 30 anos, em 250 milhões de hectares a área efetivamente utilizada pela agropecuária, no Brasil. A busca pela máxima produtividade sustentável deve ser uma constante. Eventuais expansões de área, de um cultivo em particular, devem ocorrer à custa de recuperação de áreas degradadas ou de redução de área de pastagens, por ganhos zootécnicos no rebanho (precocidade, maior velocidade ganho de peso, desfrute maior). Áreas de florestas nativas que forem incorporadas à agricultura, mesmo que ao abrigo da Lei, devem ser acompanhadas de expansão da área de florestas comerciais cultivadas, ou reflorestamento à conta de programas governamentais, para evitar qualquer ilação de mau comportamento ambiental do agronegócio brasileiro. Com isto feito, teremos, nas próximas décadas, diversas C repetições do bom ano de 2011.

Décio Luiz Gazzoni

Assessor da SAE/Presidência da República

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Revolução da fome dos países árabes pode aumentar demanda de alimentos Neste começo de 2011 se viu o avanço dos movimentos revolucionários jovens em países árabes, do norte da África, Oriente Médio e até da Ásia. O começo da revolução resultou na queda do presidente do Egito, Hosni Mubarak, com indicativo de que muitos outros estavam por cair. Este movimento está se dando pela comunicação cada vez mais forte da Internet, veículo que tem permitido mostrar o grande consumo de alimentos de alguns locais, que se defronta com a falta em outros. Esta escassez, na maioria das vezes, não está ligada ao dinheiro, porque todos estes países que enfrentam revoltas são grandes produtores de petróleo cujos preços, como registrado em fevereiro (em torno de 110 dólares por barril), são os maiores níveis desde 2008, quando se chegou ao maior patamar da história. A falta de alimentos nestes países é grande, porque são essencialmente importadores, como é o caso do Egito, o primeiro que teve governante a cair. São cerca de 20 milhões de toneladas de grãos importados anualmente. Somente de trigo são quase dez milhões de toneladas importadas e, mesmo assim, existe escassez interna, com a população convivendo com filas de três a quatro horas para conseguir comprar pão ou leite. Isso está trazendo muita revolta e com a ajuda da Internet, a pressão dos jovens cresceu rapidamente, o que tende a trazer benefícios ao setor agrícola em médio prazo, porque certamente a demanda de alimentos irá crescer mais, pois tudo indica que boa parte dos novos governos que irão surgir terá que atacar radicalmente a falta de alimentos com maiores importações. A antiga União Soviética ruiu sob o efeito das filas para se conseguir alimentos e isso está ocorrendo novamente no mundo árabe. Para escapar desta situação, a China se tornou o maior importador de alimentos do mundo e continuará crescendo para conseguir manter seu povo em boas condições de alimentação, porque já descobriu que a “revolução da fome” é uma das que mais derrubam governos.

MILHO

Safra chegou e lucros continuam

O mercado do milho registra a chegada da safra, com o produto bem disputado entre os compradores e exportadores, com grandes volumes sendo encaminhados para a exportação. Desta forma, cria-se um ambiente que tende a ser totalmente dependente de uma boa safrinha, para atender à demanda crescente que temos visto internamente e o mercado externo. Em Fevereiro as exportações resultaram em cotações entre R$ 28,00 e R$ 30,00 nos portos, fazendo com que os indicativos internos (mesmo em tempo de colheita) não mostrassem grande baixa. O governo continuava leiloando seus estoques, que já estão próximos de três milhões de toneladas (número que não atende um mês de consumo, que atualmente está na casa das quatro milhões de toneladas mensais). Estoques reais, nas mãos de produtores e indústrias, pouco havia neste começo de safra. Dessa forma caminha-se para a dependência da safrinha para suprir as necessidades do segundo semestre e já se sabe que uma grande fatia desse resultado tem como destino a exportação entre julho e novembro próximos. Com esse cenário tudo aponta para que o mercado, mesmo com alguma queda na safra, se mantenha com boas cotações durante o restante do ano. SOJA

Mostrando dificuldade para novos avanços

A soja teve bons indicativos nas primeiras semanas de 2011, com momentos em que as cotações ultrapassaram os 14,50 dólares por bushel em Chicago. Isso resultou em indicativos de até R$ 56,00 por saca em nossos portos para abril, o que aponta que a pressão de uma supersafra brasileira (que caminha para consolidar mais de 70 milhões de toneladas) e de uma safra normal na Argentina, dará tranquilidade de abastecimento

internacional neste ano. Dessa forma já se criaram algumas barreiras para novos avanços e tudo aponta que estejamos vivenciando níveis próximos do máximo que se pode esperar a curto prazo, com patamares entre R$ 50,00 e R$ 55,00 por saca nos portos. Como fator negativo, tem-se, no interior, a concentração da colheita neste mês de março e começo de abril, com reflexos no transporte desta safra e certamente forte avanço nos preços dos fretes (que abocanharão parte dos lucros dos produtores). Mesmo assim, a safra será de alta lucratividade aos produtores e já está na hora de voltar a atenção à safra 2011/12, para garantir posições com lucratividade, porque a safra atual já está chegando à casa dos 60% negociados, com pouco produto para ser comercializado até o começo do ano que vem. FEIJÃO

Concentração de colheita e qualidade baixa

O começo do ano não foi bom para o feijão. Houve concentração da colheita, devido a problemas no plantio causados pela seca que ocorreu entre agosto e outubro do ano passado. Isso pôs a maior parte das lavouras em colheita em fevereiro, coincidindo com um período de chuvas diárias, derrubando a qualidade do feijão colhido e puxando as cotações para níveis baixos. O governo acena com a possibilidade de compra de 350 mil toneladas em março, o que serve de auxílio para criar liquidez para o produto via contratos de PEP e escoar a produção. Os produtores devem sentir a reação das cotações a partir de abril e maio em diante, quando tudo aponta para um repeteco do que foi visto no ano passado, com crescimento das cotações. Isso porque a primeira safra não trouxe lucros, há queda importante no plantio da segunda safra e pouca oferta para o restante do ano. Cotações lucrativas certamente virão nos próximos meses. O fundo do poço já está passando.

ARROZ

Safra cheia e poucos armazéns

O arroz está em plena colheita e, pelo que se observa no Sul, teremos a melhor safra da história, com mais de nove milhões de toneladas, que chegam em um momento em que os produtores estão com grande grau de endividamento, necessitando de caixa para quitar dívidas curtas. Isso deve fazer com que as cotações fiquem baixas, dificultando as tentativas de avanços que o setor esperava. O governo prometeu apoio para mais de um milhão de toneladas, indicou que irá colocar R$ 200 milhões para dar liquidez, mas isso é muito pouco, porque se formos distribuir este dinheiro por toda safra do Sul do país, o resultado será pouco mais de R$ 1,00 por saca. Há que se lembrar que o preço mínimo está em R$ 25,80 e os valores do mercado em fevereiro estavam entre os R$ 19,50 e os R$ 20,50 para os produtores da Fronteira Oeste, (onde se concentra a maior produção do Rio Grande do Sul, estado que caminha para colher mais de 8,5 milhões de toneladas, aliado a Santa Catarina, que deverá tirar mais de 1,2 milhão de toneladas dos campos. Esse resultado coloca um volume de arroz muito acima da capacidade dos armazéns na região, o que está fazendo o setor ir em à busca de Silo Bolsa, ou de escoar rapidamente a safra para outras regiões. Há pouco espaço para reação em curto prazo e a saída para os produtores é a retenção do que puderem, para vender escalonadamente. O setor deve buscar, também, espaços no mercado internacional, já que possui produto de alta qualidade e cotações competitivas. Há espaço para novos fornecedores, porque a safra da Ásia não mostra margem para avançar. O programa dez Toneladas, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), que busca melhorar produtividade, qualidade e propriedade, segue como uma grande alternativa para o avanço dos produtores gaúchos.

CURTAS E BOAS TRIGO - A comercialização começou a melhorar. Crescemos na exportação e os indicativos já estão na faixa dos R$ 450,00 e acima, no Rio Grande do Sul e em R$ 500,00 no Paraná, com fôlego para ir além. No mercado internacional as cotações se encontram em 330 dólares por tonelada. A demanda está aquecida e deverá favorecer a nova safra. ALGODÃO - O mercado chegou aos maiores níveis da história em fevereiro e com isso os produtores aproveitaram para vender grande parte da safra de 2012 (e já tem negócios para 2013). Tudo aponta que iremos crescer entre 30% e 50% no plantio da nova safra (grande parte já está com a comercialização assegurada e com bons lucros). EUA - As primeiras indicações apontam que o milho irá ganhar área neste novo plantio, que começa em abril, e segundo dados do USDA, de fevereiro, o crescimento será de 1,7 milhão de hectares. Mas como as cotações estão dando boa rentabilidade aos produtores americanos, este crescimento poderá ultrapassar dois milhões de hectares. O algodão também está com alta rentabilidade e tudo aponta que recuperará parte das áreas que perdeu. Certamente, sem áreas novas, a soja é que pode perder plantio, a menos que o governo libere áreas de preservação ambiental para o novo plantio.

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CHINA - As importações seguem batendo recordes e tudo indica que das 57 milhões de toneladas de soja (previsões do USDA) a serem importadas neste ano, subiremos para níveis mais próximos das 60 milhões de toneladas, em cima da boa oferta da América do Sul. ARGENTINA - O clima trouxe grandes perdas na safra de milho, que está em colheita e apresenta indicativos de 19,5 milhões de toneladas. Na soja, as chuvas de janeiro e fevereiro amenizaram o quadro e as estimativas de colheita apontam para 47 milhões de toneladas. Em novembro se projetava 22,5 milhões de toneladas para o milho e 56 milhões de toneladas para a soja. Também há perdas nas lavouras de girassol, o que acaba servindo de apoio altista para o mercado do óleo vegetal. CLIMA - Segue “mostrando as garras”. Em fevereiro a seca continuava em boa parte do norte da China e planícies americanas. Além disso, houve um terremoto na Nova Zelândia, que é um dos gigantes de produção e exportação de leite. Continuaremos dependentes do clima, que está atrasando a entrada das chuvas de monções na Ásia (que já deveriam estar ocorrendo e que têm chegado mais tarde, próximo do meio do ano). Isso corta as chuvas mais cedo, concentra o volume da água em curto espaço de tempo, fazendo a janela agrícola ficar mais curta, causando grandes estragos nas lavouras.




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