Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 143 • Abril 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas capas
Inseticidas na dessecação?...................22
Charles Echer
DMLab
Saiba as vantagens e em que situações o emprego de inseticidas na dessecação é importante para o combate de pragas, antes do estabelecimento de milho, soja e algodão
Fungicidas no arroz....................10 Aplicação no alvo.......................14 Disseminação veloz....................26 Confira o papel da aplicação de fungicidas no controle de doenças como a brusone, a mancha parda e a cárie no arroz
A importância do jato dirigido na luta contra plantas daninhas que afetam o algodoeiro
Índice
Expediente
Diretas
04
Lagria villosa em feijão
09
Uso de fungicidas em arroz
10
Algodão colorido
12
Aplicação com jato dirigido em algodão
14
Empresas - FMC
17
Corda-de-viola em milho
18
Inseticidas na dessecação
22
Empresas - Pioneer
25
Nematoides em soja
26
Adubação em café
30
Plantas daninhas na entressafra do trigo
32
Empresas - Bayer
34
Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
37
Mercado Agrícola
O crescimento da presença de nematoides em áreas de cultivo comercial, como a soja, e o que fazer para enfrentar o problema
38
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Assistente
• Revisão
• Assinaturas
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• Coordenação
Simone Lopes Ariane Baquini Luciane Mendes Natália Rodrigues
Aline Partzsch de Almeida
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• Coordenação
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• Vendas
Pedro Batistin
GRÁFICA
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Soja e milho
Atendimento
Bruno Welter, Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience, apresentou durante a Expodireto 2011 destaques da empresa para as principais culturas, como soja e milho. Entre os produtos, a Bayer enfocou o herbicida Soberan para o milho, o fungicida Sphere Max para soja e o CropStar Multiculturas. “Trata-se de um inseticida com ampla ação, inclusive no controle de nematoides, além de proporcionar maior enraizamento, vigor diferenciado e efeito antiestresse”, destacou Welter.
Heleno Facchin, representante técnico de Vendas Sênior da Milenia, participou da Expodireto 2011. No estande da empresa, atendeu aos visitantes e esclareceu dúvidas a respeito das tecnologias oferecidas para culturas como soja, Heleno Facchin milho e trigo.
Fungicidas
Bruno Welter
Palestras
O pesquisador Daniel Cassetari, fitopatologista da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), palestrou no estande da Bayer CropScience durante a Expodireto 2011. Abordou o controle de pragas iniciais na soja, com enfoque no combate a nematóides, e a importância do tratamento de sementes para evitar nematoides ou reduzir os danos nas lavouras.
Adriano Roland, gerente de Marketing de Fungicidas Brasil, da Milenia, foi o responsável por apresentar os destaques da empresa nesse segmento. Com foco em trigo e soja, a empresa mostrou o programa Manejo Total que preconiza a rotação de princípios ativos para minimizar o surgimento de resistência. Em trigo, o carro-chefe foi o fungicida Guapo, com forte ação no combate a manchas foliares. Em soja, destacam-se os kits Azimut e Protech, para controle da ferrugem, o Bendazol, contra doenças de final de ciclo, além do kit de identificação da ferrugem asiática, capaz de detectar a presença da doença mesmo sem sintomas aparentes.
Adriano Roland
Presença
Equipe
A equipe da Bayer CropScience atendeu aos visitantes da Expodireto em estande voltado para a disseminação de informações sobre as culturas locais. Milho e soja, principais cultivos da região, mereceram destaque especial. Além de apresentar as soluções disponíveis no portfólio da empresa, o evento serviu também para levar conhecimento técnico aos produtores.
Mooli Freiman, diretor global de Planejamento Estratégico da Milenia, e Luiz José Fraga Moreira Traldi, diretor de Planejamento Estratégico Brasil, participaram da Expodireto 2011. Durante o evento a empresa apresentou novidades em herbicidas, fungicidas e inseticidas, com enfoque principalmente nas Mooli Freiman e Luiz José Fraga M. Traldi culturas de soja e trigo.
Dupont
Herbicidas
Paulo Luna, gerente de Marketing de Herbicidas da Milenia, apresentou novidades da empresa durante a Expodireto 2011. Um dos destaques foi o Vezir, produto já utilizado em soja convencional e em fase de registro para o controle de daninhas resistentes ao glifosato em variedades transgênicas. A empresa lançou também o Poquer, para combate de folhas estreitas em diversas culturas. Com a chegada do milho RR, esse herbicida ganha importância por ajudar a controlar o milho Paulo Luna tiguera que nasce em meio à soja RR.
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O fungicida Aproach Prima, recomendado para a soja e com registro estendido para culturas como cana, arroz, trigo, café e milho, foi um dos destaques da Dupont na Expodireto. O inseticida Premio também foi enfocado. Altair Fernando Bizzi, coordenador de Marketing e Mercado da Dupont, afirma que o produto mudou o conceito de controle de lagartas nas lavouras de culturas como soja, milho e algodão.
Eduardo Gobbo (centro)
Cheminova
A equipe da Cheminova apresentou na Expodireto o fungicida Battler AZ (estrobilurina + triazol + benzimidazol) com foco na cultura da soja. Em trigo a empresa destacou o inseticida Picus, para tratamento de sementes contra pragas iniciais, juntamente com o fungicida Vincit. Ambos os produtos integram o programa Mais Semente Trigo, da empresa.
Dekalb
Fábio Roberto, gerente de Vendas da Dekalb, falou sobre o híbrido de milho DKB 250, precoce, com alto teto produtivo e amplitude, com janela longa de plantio (mais de 30 dias). O material é indicado para a Região Sul do Brasil e deve estar disponível a partir da próxima safra. Na Expodireto o foco principal da empresa foi o híbrido DKB 240, com Fábio Roberto tecnologia YieldGard VT PRO.
Rali Cerrado
A Basf, em parceria com a equipe de Ceagro, realizou o rali da soja. O percurso iniciou na cidade de Canarana (MT), passou por Goiatuba (GO), Balsas (MA) e encerrou na cidade de Porto Nacional (TO). Os quatro estados escolhidos para esta edição do rali se destacam por produzir, juntos, aproximadamente dez milhões de hectares de soja.
Monsanto
Júlio Negreli, gerente de Estratégia da Monsanto, destacou na Expodireto o sistema Roundup Ready Plus. Baseado em um tripé que contempla proteção química, biotecnologia e manejo, o sistema apresenta ferramentas para o controle de plantas daninhas resistentes, além de auxiliar na prevenção de resistência de novas espécies. “Fazemos isso com o objetivo de proteger o Roundup Ready, uma tecnologia que não é só nossa, mas do produtor também.”
Opera Ultra
Júlio Negreli
Agroeste
Gilmar Vivian, supervisor de Vendas da Agroeste, destacou na Expodireto os híbridos de milho comercializados pela empresa, tanto convencionais como os que contam com as tecnologias YieldGard/ Gilmar Vivian YieldGard VT PRO.
Agroceres
Vinícius Faião, gerente regional de Vendas da Agroceres para o Rio Grande do Sul, destacou o milho YeldGard VT PRO. A tecnologia possui duas proteínas de Bt (Bacillus thuringiensis) com modos de ação efetivos, o que garante controle das principais pragas da cultura (lagarta-do-cartucho, lagarta-daespiga e a broca-do-colmo), além de prevenir problemas com resistência. Permite, ainda, a redução do refúgio de 10% para 5% da área plantada com milho convencional.
Durante a Expodireto, a Basf fez o pré-lançamento do fungicida Opera Ultra, destinado ao manejo de doenças das culturas de soja e trigo, sendo também uma nova opção para o manejo das doenças de algodão, amendoim e feijão. Esta nova versão tem maior velocidade de ação, sem diferenciação na dose e na aplicação, além da recomendação contra a giberela no trigo. Clairton Lima Silva, gerente de Vendas da Basf Unidade Sul, esclarece que o produto será integrado ao Sistema Clairton L. Silva AgCelence Soja Produtividade Top.
Marketing
Andreas Schultz, que ocupava a função de gerente de Marketing nas culturas do arroz e trigo, em 2011, passou a exercer a gerência de Marketing cultivos da Basf. Na Expodireto, Schultz e a equipe Basf destacaram o Sistema AgCelence Soja Produtividade TOP. De acordo com estudos realizados no campo, o novo sistema pode aumentar em até 5% a produtividade. Algo em torno de três sacas por hectare.
Andreas Schultz
Novo diretor
Vinícius Faião
O engenheiro químico Francisco Luiz Fienga assumiu em 2011 uma nova função na Basf. Iniciou sua carreira na empresa em 1989, como engenheiro de qualidade. Em 1996 coordenou a Basf Plásticos, gerenciando as áreas de marketing e vendas para a América do Sul. Fienga assume, agora, o desafio de tornar a empresa ainda mais próxima dos produtores rurais, aumentando a rapidez e a eficácia do atendimento mais individualizado no campo. Passa a responder pela Francisco Luiz Fienga diretoria de Vendas Cereais para o Brasil.
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Potencial
Fabian Gil, presidente da Dow AgroSciences Brasil, Welles Pascoal, diretor de Vendas, José Eitaro Mendes, gerente de Vendas e consultor de Franquias, e Afonso de Matos, gerente regional de Agroquímicos da companhia, visitaram a Expodireto. “A presença neste evento reitera a importância estratégica do Brasil devido ao seu grande potencial agrícola. Nossa companhia possui muita tecnologia voltada ao milho. Ainda teremos muitas novidades para introduzir neste segmento”, promete Gil.
Expansão
Rolando Alegria, diretor de Sementes, Biotecnologias e Óleos Saudáveis, das marcas Dow AgroSciences e Agromen Tecnologia do Brasil, antecipou durante a Expodireto que a empresa fará pesados investimentos no país. Informou que a companhia quer ampliar sua fatia no mercado de sementes de Rolando Alegria milho para os próximos anos.
Novos rumos
A Agromen Tecnologia reestrutura sua equipe. Com ampla experiência no mercado, Diogenes Panchoni assumiu o cargo de Especialista em Marketing e Ricardo Paganeli passou a responder pelo Desenvolvimento de Mercado. Gerson Wilges é o novo responsável pela gerência de Franquias da Agromen Tecnologia, no Rio Grande do Sul.
Diogenes Panchoni, Ricardo Paganeli e Gerson Wilges
Equipe
A Agromen apresentou aos agricultores híbridos de milho convencionais e com a tecnologia Herculex I, indicados para a região Sul. Os destaques foram os produtos que possuem proteção contra a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga foliar do milho, e contra a broca-da-cana (Diatraea saccharalis).
Soluções
A equipe da Dow AgroSciences apresentou sua linha de produtos para soja e milho durante a Expodireto. O objetivo da empresa foi apresentar ao produtor rural ferramentas que o ajudem a tornar seu negócio viável do ponto de vista técnico, econômico e operacional.
Pesquisa e desenvolvimento
Tecnologias
A Bunge Fertilizantes participou da Expodireto com ênfase em novas tecnologias de produção e cultivo, produtos diferenciados e agricultura de precisão. Em fertilizantes a empresa mostrou produtos para as culturas do arroz, milho, soja, feijão, pastagem e fruticultura, além de palestras sobre fertilidade do solo e agricultura de precisão.
“A Syngenta investe continuamente em pesquisa e desenvolvimento”, observou Milto Facco, Desenvolvimento Técnico de Mercado, durante a Expodireto 2011. “Nosso objetivo é contribuir de forma direta para que os produtores obtenham maior qualidade e produtiMilto Facco vidade em suas lavouras.”
Atendimento
Durante a Expodireto 2011, em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, a Syngenta contou com equipe de profissionais especializados no atendimento aos visitantes.
Eduardo Gobbo (centro)
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Participação
Linha
Durante a Expodireto a Syngenta apresentou estande diferenciado. O coordenador de Marketing para a Região Sul, Celso Batistella, destacou apresentação de filmes em 4D e módulos túnel do tempo, para mostrar os dez anos da empresa no Brasil, contados de forma dinâmica e interativa, além da área de sustentabilidade. “É um evento de grande representatividade na região Sul, e a nossa participação é importante porque fortalece o relacionamento com os clientes, parceiros e produtores”, frisou Hugo Alovisi Celso Batistella e Hugo Alovisi Neto, gerente regional de Vendas.
Na Expodireto a Rigrantec apresentou sua tradicional linha de produtos para tecnologia de aplicação, fertilizantes organo-minerais, corantes e polímeros para tratamento de sementes, peletização e incrustação.
Prêmio
A Plantécnica, localizada em Pelotas, no Rio Grande do Sul, distribuidor dos produtos Syngenta, levou um grupo de 45 produtores das cidades de Jaguarão, Arroio Grande, Pedro Osório, Cerrito, Pelotas e Capão do Leão para visitar a Expodireto.
A Syngenta recebeu o "Destaque Empresarial Internacional" durante o Troféu Brasil Expodireto 2011. O diretor comercial da empresa, João Paulo Zampieri, representou a Syngenta. Durante a homenagem, uma apresentação mostrou a trajetória da empresa no Brasil.
Grupo
Laboratório
Em um laboratório montado em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF), a Syngenta mostrou as principais pragas e doenças que atacam as lavouras e as soluções que a empresa oferece para esses problemas.
Gerente
Márcia Terzian, gerente de Marketing de Soja da FMC, acompanhou todas as etapas do rali Giro FMC, realizados em oito estados brasileiros. Segundo Márcia, a proposta foi agregar entretenimento ao dia de campo tradicional, permeado por uma experiência inusitada ao longo do dia dedicado à discussão das melhores práticas para manejo de pragas na lavoura de soja, ressaltando produtos consagrados no mercado como o inseticida Talstar.
Márcia Terzian
Manual
Clientes e parceiros
A Produquímica recebeu em seu estande clientes e parceiros durante a Expodireto. A equipe técnica destacou o Triunfo 515, indicado para soja, milho, sorgo, trigo, algodão, feijão, arroz e café. Outro destaque foi o Sulfurgran 90, que pode ser usado em diversas culturas.
A FMC lançou durante a 21ª Abertura da Colheita do Arroz, o Manual de Identificação de Plantas Infestantes – Arroz. O livro de autoria dos consultores Henrique José da Costa Moreira e Horlandezam Bellires Nippes Bragança, é fruto de 18 meses de trabalho. O manual traz fotos e descrição que ajudam a identificar as plantas invasoras. A empresa distribuiu mil exemplares ao público.
FMC
A FMC foi uma das empresas patrocinadoras da 21ª Abertura da Colheita do Arroz. O evento ocorreu em fevereiro, no município de Camaquã, no Rio Grande do Sul.
Nitrogênio
Durante a Expodireto o destaque da Fertilizantes Piratini foi o Super N, Tecnologia Agrotain desenvolvida para melhorar a disponibilidade do N e mantêlo por mais tempo no solo. “O produtor pode maximizar o seu investimento, tempo e trabalho, gerando mais produtividade e lucro”, afirmou Douglas Zonta, Douglas Zonta (esq.) gerente de Marketing Agrotain.
Batida de pano
Uma das atividades durante os circuitos do Giro FMC, realizado em fevereiro, no Rio Grande do Sul, foi a “batida de pano”. Com este procedimento os produtores puderam acompanhar o desempenho do inseticida Talstar no controle da lagarta da soja.
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Afubra
Na Expoagro Afubra a equipe da FMC, juntamente com a revenda Poliagro, apresentou com destaque três produtos. O inseticida Talstar 100 EC e os herbicidas Boral 500 SC e Gamit 360 CS. Os visitantes eram orientados a observar as lavouras para aplicar no momento certo, e nas doses recomendadas. As parcelas de fumo, milho e soja com testemunha, auxiliaram a compreensão dos agricultores.
Feijão Fotos Marcio Czepack
“Ditador” de perdas Identificado em 2010 em lavouras de feijoeiro no Espírito Santo, Lagria villosa cresce em importância como praga no Brasil. Inseto também é conhecido como “Idiamin”, nome inspirado no ex-líder político da etnia Kakwa cuja ditadura caracterizou-se por genocídios e outras atrocidades cometidas em Uganda
L
agria villosa (Fabricius 1783), popularmente conhecido como “idiamin”, é um coleóptero de origem africana, inicialmente classificado na família Lagriidae e após revisão comentada por Vanin & Ide (2002) e Bouchard et al (2005), os membros da família Lagriidae foram incluídos na família Tenebrionidae. Foi registrada a sua primeira ocorrência no estado do Espírito Santo em 1976, sendo a primeira constatação nas Américas (Pacheco et al, 1976). O nome vulgar da praga “idiamin” foi sugestivamente inspirado no ditador ugandense Idi Amin Dada, líder político da etnia Kakwa, cuja ditadura foi caracterizada por genocídios, e devido às suas excentricidades, estava em evidência no período em que o inseto surgiu no Brasil. Este inseto, de acordo com a região de ocorrência, pode ser vulgarmente conhecido como capixabinha, cantaria, piapa, pimenta, potó grande, potó pimenta e vaquinha (Liz et al, 2009). São insetos de cor metálica-bronzeada e muitas vezes com pelos, holometábolos, depositando ovos esbranquiçados sobre a terra ou em restos vegetais secos. Dos ovos eclodem larvas também esbranquiçadas durante os primeiros dias, quando então escurecem. As larvas são elateriformes, com cabeça desenvolvida e com três pares de per-
nas, de cor marrom-escura, com pelos de cor acobreada. Os adultos são reconhecidos por ter o corpo alongado, com 10mm a 15mm de comprimento, fórmula tarsal 5-5-4, e pelo formato alongado do segmento apical da antena (Borror e DeLong, 1969). O inseto “idiamin” é tido por vários autores como de hábito detritívoro, alimentando-se de detritos presentes no solo (Araújo et al, 2005). No entanto, nos últimos anos vem assumindo posição controversa quanto à sua função ecológica nos agroecossistemas, sendo relatados casos de ocorrência como praga potencial em cultivos de cafeeiro, soja, abacaxizeiro, aceroleira, hortaliças, como alface, tomateiro, morangueiro e em batata (Azeredo et al, 2004; Spilman, 1978 e Buzzi, 2002). Link et al (1981), relatam a ocorrência do inseto na soja, causando destruição de vagens. Existem ainda relatos de ataques de suas larvas em sementes de soja em fase de germinação, no entanto, devido às características morfológicas do inseto serem semelhantes às das larvas de Astylus variegatus, pode estar ocorrendo alguma confusão, na sua identificação. Liz et al (2009) relatam a ocorrência do “idiamin” em lavouras de morangueiro, assumindo status de praga de grande importância econômica. Em São Mateus, Espírito Santo, 39° 43’ 17’’ O e 18° 43’ 59’’ S, no ano de 2010, foram
constatados ataques do inseto em lavouras de feijoeiro, causando perdas expressivas de área foliar e consequente produtividade. Tem sido observado maior ataque da praga nos períodos mais secos e quentes do ano. Por ser considerado um inseto cosmopolita e onívoro, porém de importância secundária e em alguns casos até benéfico, deve-se considerar a possibilidade deste inseto assumir importância em várias culturas como praga, tanto pela mudança de seu hábito alimentar C como comportamental. Marcio Paulo Czepak, Edilson Romais Schmildt e Pablo Souto Oliveira, Univ. Federal do Espírito Santo
Praga foi detectada em lavouras de feijão no Espírito Santo
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Arroz
Relação proporcional O potencial produtivo da cultura do arroz irrigado nas últimas safras está diretamente relacionado às práticas culturais adotadas pelos produtores. Destaca-se a aplicação de fungicidas, responsável pelo aumento da produtividade e da qualidade dos grãos. Ao adotar essa ferramenta, além de escolher corretamente o produto o orizicultor precisa estar atento ao método e à tecnologia empregados, para garantir uniformidade e distribuição do defensivo na superfície alvo
O
arroz é um dos principais alimentos consumidos no mundo e, em termos de balanceamento nutricional, um dos mais completos. No Brasil, a cultura tem grande importância econômica, sendo que na safra 2009/2010 foi cultivada uma área de 2.764,8 mil hectares, com produção de 11.660,9 mil toneladas. O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor, com uma área de 1.079,6 mil hectares, correspondendo a 39% do total, e produtividade média em torno de 7.000 mil kg/ha. Mesmo diante desta produtividade, existem atualmente na lavoura arrozeira fatores
que dificultam o aumento da produção total e também na qualidade dos grãos produzidos. Entre estes aspectos, destacam-se as doenças, principalmente as causadas por fungos. Na presente safra, problemas maiores têm sido verificados com a brusone (Magnaporthe grisea), que atacou seriamente lavouras em todas as regiões produtoras, porém com maior intensidade naqueles locais onde são utilizadas cultivares com baixa resistência à doença. Outro problema que ganha cada vez mais destaque é a mancha parda ou mancha marrom, causada pelo fungo Bipolaris oryzae, considerada a segunda doença em importância
Relação entre a produtividade, área plantada e área tratada com fungicidas no Estado do Rio Grande do Sul - 1999/2008
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na cultura do arroz irrigado, atrás apenas da brusone. O potencial produtivo da cultura do arroz irrigado está diretamente relacionado com as práticas culturais adotadas pelo produtor rural. Uma destas ferramentas, a aplicação de fungicidas, tem sido largamente empregada nas últimas safras no estado do Rio Grande do Sul, colaborando com os substantivos aumentos, tanto em produtividade quanto em qualidade de grãos, que tem se verificado desde então. Este aumento das áreas com aplicação de fungicidas, desde a safra 2002/03 (Gráfico abaixo), ocorreu, em parte, pelo surgimento de epidemias da cárie-do-grão (Tilletia barclayana), que atacou com altas severidades até a safra 2005/06, fazendo com que a grande maioria dos produtores realizasse, ao menos, uma aplicação de fungicida. Na safra 2001/02, o estado do Rio Grande do Sul possuía uma área plantada de arroz em torno de 985 mil hectares, com produtividade média de 5.548kg/ha. Nesta safra, a aplicação de fungicidas atingiu uma área de aproximadamente 50 mil hectares, pois as aplicações somente eram realizadas em áreas com histórico de doenças, principalmente brusone. A partir de 2003, iniciou-se um período de crescimento dos níveis de incidência e severidade da cárie-do-grão. As epidemias de cárie apresentaram um incremento ano a ano, tendo sua expressão máxima nas safras 2005/06, com várias cultivares sendo atacadas, principalmente a Irga 422CL, em todas as regiões produtoras, com perdas que chegaram a 60% em algumas áreas.
Nas safras seguintes, muito embora a área semeada tenha se mantido próxima a um milhão de hectares, com o advento das epidemias de cárie, houve aumento contínuo nas aplicações de fungicidas, atingindo, na safra 2009/10, uma área de aproximadamente 750 mil hectares. Embora estas epidemias de cárie tenham decrescido em severidade, estando atualmente restritas a apenas algumas regiões nas safras recentes, a utilização de aplicações de fungicidas nas lavouras tem se mantido nos mesmos níveis, em função do aumento da qualidade de grãos obtida, e também pela manutenção da sanidade das plantas até o final do ciclo da cultura. Aplicações aéreas, para o controle de doenças como a brusone ou a mancha parda, têm sido realizadas através de diferentes equipamentos, como bicos hidráulicos (cônicos e de impacto) e também por atomizadores rotativos. Estes equipamentos apresentam eficácia de controle de doenças muito semelhantes, desde que a aplicação seja realizada dentro dos padrões recomendados pela pesquisa. Um diferencial entre os diversos equipamentos é a possibilidade de aumento do rendimento operacional, com uso de menores taxas de aplicação para atomizadores rotativos, que ficam entre 10 e 25L/ha, enquanto para bicos hidráulicos se situam na faixa de 30 a 40L/ha. Nos últimos anos, muitos produtos foram desenvolvidos pela indústria agroquímica, para controle de doenças na cultura, porém poucas
Fotos Ivan Dressler da Costa
A mancha parda ou mancha marrom é considerada a segunda em importância na cultura A brusone é a principal doença enfrentada pelos orizicultores em áreas irrigadas
mudanças ocorreram na maneira como esses produtos têm sido aplicados, pois a eficiência do tratamento não depende somente da quantidade de produto ativo depositado na planta, mas também da uniformidade e distribuição deste produto na superfície alvo. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com o apoio do Grupo de Estudos em Tecnologia de Aeroaplicação (Geta), do Centro Brasileiro de Bioaeronaáutica (CBB) e de empresas de agroquímicos, como a Basf e a Bayer CropScience, tem realizado diversos estudos, com relação à efetividade do uso de diferentes tecnologias para aplicação aérea de fungicidas com o objetivo de controlar doenças, com atenção a aspectos como formação de gotas e penetração de gotas no dossel de plantas de arroz irrigado. Os resultados obtidos indicam a eficiência do uso destas tecnologias, que oferecem uma ferramenta técnica para os produtores de arroz.
A severidade de epidemias de cárie tem diminuído nas últimas safras
A tecnologia de aplicação se torna eficiente quando permite que a gota gerada por diferentes equipamentos de aplicação seja levada até o alvo biológico, em qualquer local em que se encontre. Para a aproximação desta eficiência, se torna necessária a utilização dos equipamentos certos e da aplicação nas melhores condições possíveis. Maiquel Pizzuti Pes, Bruno Giacomini Sari, Joelton Rodrigues e Ivan Francisco D. da Costa, Univ. Federal de Santa Maria
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Algodão Charles Echer
Cultivo múltiplo
Plantio de erva-doce surge como alternativa para a rotação de culturas com algodão colorido. Pesquisadores trabalham para melhorar os resultados desse consórcio e aumentar a eficiência do manejo de insetos-praga que afetam as lavouras instaladas nesse sistema
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Embrapa Algodão é consciente que para consolidar a produção de algodão colorido dentro de um sistema de cultivo orgânico, de maneira rentável e sustentável, é necessária a adoção de sistemas estáveis. Os ecologistas afirmam que sistemas naturais estáveis são tipicamente diversos, constituídos de diferentes tipos de plantas, artrópodos, animais, pássaros e microrganismos. Em sistemas estáveis, raramente ocorre crescimento populacional de pragas, porque os seus inimigos naturais mantêm as suas populações em níveis de equilíbrio. Os sistemas de cultivo em faixas ou em consórcio, ou de policultura, aumentam a biodiversidade do agroecossistema,
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tornando o ecossistema mais estável e reduzindo o problema de pragas. De acordo com o pesquisador da Embrapa Algodão, Francisco de Sousa Ramalho, evidências experimentais mostram que nesses sistemas de cultivos existe menor número de pragas que nos de monocultivo. Algumas das razões para que isto ocorra são: (1) no sistema diversificado, permanece um maior número de inimigos naturais, devido à presença contínua de fonte de alimento (presa, hospedeiro, néctar, pólen etc) e um habitat favorável e (2) os insetos-praga que se alimentam de uma única espécie de planta têm menor disponibilidade de alimento em um sistema diversificado de cultivo do que em um sistema de
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monocultivo, afetando negativamente a sua reprodução. O sistema de policultura interfere diretamente no comportamento dos insetos-praga, reduzindo a sua capacidade de localizar e reconhecer as suas plantas hospedeiras, por exemplo, trípes e mosca-branca são atraídas pelo verde de sua planta hospedeira, com o background marrom (solo), não localizando plantas verdes que apresentem o background também verde. Outra forma de interferir no comportamento das pragas é a realização de pulverizações com caolim em lavouras de algodão. Estudos conduzidos pelo pesquisador e chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Algodão, Carlos Alberto Domingues da Silva, têm
Nascimento, A.R.B.
Como objetivos específicos têm-se: 1) Definir um sistema racional de consórcio de algodão colorido com erva-doce que maximize a produtividade e reduza a densidade e diversidade de artrópodos fitófagos e aumente a densidade e diversidade de seus inimigos naturais. Isto é muito importante, pois irá maximizar a produtividade da terra e garantir o controle biológico das principais pragas dessas culturas; 2) Determinar os efeitos do sistema de consórcio (algodão colorido com ervadoce) na comunidade de pragas e seus inimigos naturais; 3) Gerar conhecimentos sobre o controle biológico do bicudo-do-algodoeiro através de parasitoides no sistema de consórcio de algodão colorido e erva-doce; 4) Determinar a distribuição vertical e horizontal do pulgão H. foeniculi dentro da planta de erva-doce; 5) Descrever a distribuição espacial e temporal dos pulgões A. gossypii e H. foeniculi e seus inimigos naturais; 6) Quantificar a influência de plantas de algodão colorido e erva-doce no desenvolvimento, reprodução e sobrevivência do predador P. nigrispinus; 7) Analisar a interação Trichogramma x neem para o controle de Alabama argillacea; 8) Avaliar a eficiência da catação de botões florais caídos ao solo e pulverizações com caolim misturado ao fungo Beauveria bassiana contra o bicudo; 9) Definir fatores de qualidade para o óleo de erva-doce: substâncias caracterizadas como princípios ativos medicinais e de defesa; 10) Definir padrões de alta qualidade para sementes de erva-doce; 11) Definir padrões de alta qualidade para sementes de algodão com fibras coloridas 12) Qualificar e quantificar espécies de ácaros em algodoeiro com fibras coloridas C consorciado com erva-doce.
Cultivar de algodão colorido BRS Safira consorciada com erva-doce
praga, provocando significativos danos e reduzindo a produtividade dessa cultura. Isto contribuiu para que vários produtores desistissem de continuar a explorar essa cultura. Um dos principais problemas da cultura de erva-doce é o pulgão Hyadaphis foeniculi (Passerini), responsável pela redução de 70% da área plantada de erva-doce no Nordeste do Brasil. Acredita-se que a região Nordeste poderá ser um grande centro de produção de algodão colorido e de erva-doce, desde que se desenvolva um sistema de cultivo diversificado que seja econômico, ecológico e socialmente sustentável. Baseados nesses fatos, pesquisadores da Embrapa Algodão e do CCA/UFPB buscam desenvolver tecnologias de produção, controle de qualidade de produto e controle de pragas de algodão com fibra colorida consorciado com erva-doce para produtores de baixa renda, de modo a produzir um avanço significativo, a curto, médio e longo prazo, rumo a um sistema sustentável (algodão com fibra colorida consorciado com erva-doce), garantindo qualidade e competitividade ao agronegócio nordestino (Projeto Atecel/ Finep/Embrapa – 586/2007 – Convênio 01.08.0084-00).
demonstrado que o caolim exerce um efeito controlador sobre o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) pelo seu efeito deterrente sobre o comportamento de oviposição do bicudo, impedindo seu contato visual e táctil com a planta hospedeira, tornando-a irreconhecível e atrapalhando sua movimentação e alimentação pela adesão de partículas no seu corpo. Estima-se que acima de 50% da produção de algodão no Nordeste venha sendo obtida em consórcio com outras culturas, notadamente com milho e feijão.
Carlos Alberto D. da Silva, Embrapa Algodão Souza, S.L. de
Uma cultura que poderá ser incorporada no sistema de cultivo do algodão, tornando-o diversificado, ecológico e economicamente sustentável, é a da erva-doce, Foeniculum vulgari L. (Umbelliferae), permitindo ao produtor uma maior participação no mercado de produtos industrializados, afirma Ramalho. A erva-doce tem largo uso tanto na fitoterapia quanto como condimento. Na região Nordeste é cultivada por pequenos produtores, em consórcio com algodão anual, feijão e/ou cowpea, sendo a colheita realizada no período de setembro a fevereiro. Após a colheita, as plantas são cortadas a poucos centímetros do solo, visando ao rebrotamento no início das chuvas. A cultivar plantada na região é de origem desconhecida, o espaçamento utilizado é irregular e a adubação das plantas, geralmente, é orgânica e em quantidade variável. Em 1988/1989, o governo do estado da Paraíba desenvolveu um programa com o objetivo de incrementar a área plantada com erva-doce, atingindo uma área plantada de 1.000ha. Entretanto, com o aumento da área plantada, começaram a ocorrer problemas causados por insetos-
Ramalho, F.S.
Rotação de cultura com erva-doce
Criação massal do percevejo Podisus nigrispinus, inimigo natural de lepidópteros-praga
Lavoura de algodão pulverizada com Caolim contra o bicudo, Anthonomus grandis Boheman
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Algodão
Aplicação dirigida Aplicações tardias de herbicidas em pósemergência, dirigidas às entre linhas do algodoeiro, também conhecidas como “jato dirigido”, constituem-se em ferramenta importante para o combate de plantas daninhas na cultura. Contudo, alguns aspectos precisam ser considerados ao adotar essa estratégia
A
Fotos Michel Alex Raimondi
s plantas daninhas constituem um dos principais problemas à cultura do algodoeiro, em função da sensibilidade à matocompetição, dificuldade de controle e prejuízo econômico gerado. Na fase inicial da cultura, reduzem acentuadamente o desenvolvimento e o vigor das plantas, acarretando em diminuição da produtividade. No final do ciclo, a presença de plantas daninhas como corda-de-viola (Ipomoea spp.) e apaga-fogo (Alternanthera tenella) dificulta a operação de colheita e ocasiona baixo rendimento de trabalho. Outras provocam a depreciação da fibra, seja pela conta- minação por impurezas e órgãos reprodutivos que aderem à pluma, como picão-preto (Bidens pilosa),
Figura 1 - Injúrias ocasionadas pelas aplicações em jato dirigido. Chapadão do Sul (MS), 2010
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ou pela perda das qualidades físicas da fibra, devido ao grande potencial competitivo de espécies como caruru (Amaranthus spp.). Desde o plantio e ao longo do ciclo da cultura é realizada a combinação de estratégias de controle que evitem a interferência das plantas daninhas. Para que não haja competição no início do ciclo, o controle neste momento é realizado por herbicidas seletivos empregados em pré-emergência da cultura e pós-emergência em área total. Para permitir que a colheita seja realizada sem a interferência de plantas daninhas, aplicações tardias de herbicidas são realizadas em pósemergência dirigidas às entre linhas da cultura, aplicação conhecida como “jato dirigido”. Em
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função da limitada oferta de herbicidas seletivos à cultura e da extrema sensibilidade do algodoeiro a herbicidas no início do seu desenvolvimento (quase sempre empregados em subdosagens), muitas vezes o controle inicial de todas as plantas daninhas na área não é o ideal, mesmo quando utilizadas variedades resistentes a herbicidas. Desta forma, a aplicação em jato dirigido assume lugar de destaque na cadeia produtiva do algodoeiro, pois se consegue por meio desta estratégia eliminar as plantas daninhas remanescentes de aplicações anteriores, além de garantir que a cultura encerre seu ciclo sem interferências. As aplicações em jato dirigido geralmente são realizadas próximas aos 50 dias após a emergência da cultura, quando a planta se encontra entre 50 e 60 centímetros de altura. A aplicação é direcionada às entre linhas de plantio, de forma que a calda não atinja grande porção da cultura, apenas a parte inferior do caule (já lignificado), cruzando as linhas de semeadura do algodoeiro (“cruzando canela”). Aplicações em jato dirigido podem ser realizadas antes mesmo deste período. No entanto, a cultura não deve ser atingida quando produtos não seletivos são utilizados, lançando mão de acessórios que protejam as plantas do leque de
aplicação (jato dirigido protegido).
Tabela 1 - Controle das plantas daninhas pelos diferentes tratamentos em jato dirigido. Chapadão do Sul (MS), 2010
Alternativas de herbicidas
A aplicação de herbicidas em jato dirigido é uma arma eficaz, nas mãos dos cotonicultores, contra as plantas daninhas. Nesta modalidade de aplicação há a possibilidade de uso de herbicidas não seletivos à cultura, com maior espectro de ação, promovendo ainda a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos. Geralmente empregam-se herbicidas que proporcionam bom controle pós-emergente das principais plantas daninhas, problemas presentes na área. Preferencialmente, adicionam também produtos que apresentam atividade residual no solo, importante para controlar eventuais fluxos de plantas daninhas que possam vir a emergir após esta última aplicação. Entre os herbicidas mais utilizados em jato dirigido estão diuron, prometrina, flumioxazin, MSMA, glufosinato de amônio, paraquat, carfentrazone-ethyl, glifosato. Na maioria das aplicações é realizada a mistura entre estes herbicidas. Como é sabido, para o controle pós-emergente, principalmente de trapoeraba e de corda-de-viola, carfentrazoneethyl se faz uma ótima opção. Então, é muito comum a utilização deste herbicida nas aplicações em jato dirigido, como se tratam de plantas daninhas de grande ocorrência no cerrado. Flumioxazin demonstra bons resultados para o controle de poaia, picão e outros, além da atividade residual que este produto apresenta. Paraquat tem grande espectro de controle em pós-emergência, por isso é muito utilizado nestas aplicações. Diuron e prometrina proporcionam bom controle residual de leitero e caruru. Uma opção de herbicida empregado pelos cotonicultores nos últimos anos é a adição de atrazina, em função de sua ação pós-emergente, da atividade residual e do baixo custo deste herbicida. Fomesafen também tem sido adicionado recentemente a estes tratamentos em razão de proporcionar bom controle residual de leiteiro e picão-preto, além da ação pós-emergente. Portanto, os cotonicultores formulam o melhor tratamento de acordo com a comunidade infestante, sendo comum a adição de dois ou três (até quatro herbicidas) em uma única operação. Trabalho desenvolvido na safra 2009/2010
Flumioxazin Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl + Paraquat Atrazina + MSMA + Carfentrazone-ethyl Diuron + MSMA + Carfentrazone-ethyl Fomesafen + MSMA + Carfentrazone-ethyl Glufosinato de amônio + Atrazina Glufosinato de amônio + Diuron Glufosinato de amônio + Fomesafen Testemunha no Mato (sem herbicida)
Flumioxazin Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl + Paraquat Atrazina + MSMA + Carfentrazone-ethyl Diuron + MSMA + Carfentrazone-ethyl Fomesafen + MSMA + Carfentrazone-ethyl Glufosinato de amônio + Atrazina Glufosinato de amônio + Diuron Glufosinato de amônio + Fomesafen Testemunha no Mato (sem herbicida)
Dose (mL ou g i.a. ha-1) 50 750 + 20 + 16 750 + 20 + 16+ 100 500 + 1800 + 16 1000 + 1800 + 16 375 + 1800 + 16 300 + 750 300 + 1000 300 + 375 Dose (mL ou g i.a. ha-1) 50 750 + 20 + 16 750 + 20 + 16+ 100 500 + 1800 + 16 1000 + 1800 + 16 375 + 1800 + 16 300 + 750 300 + 1000 300 + 375 -
Picão-preto 3 DAA 15 DAA 83,33 100,00 80,16 99,16 95,00 100,00 79,83 100,00 81,83 100,00 79,33 100,00 67,50 100,00 62,16 100,00 80,16 100,00 0,00 0,00 Caruru 3 DAA 15 DAA 72,50 100,00 73,83 100,00 84,46 100,00 71,83 100,00 76,66 100,00 68,83 100,00 60,00 100,00 48,33 100,00 69,16 100,00 0,00 0,00
Leiteiro 3 DAA 15 DAA 83,33 100,00 80,16 99,16 95,00 100,00 79,83 100,00 81,83 100,00 79,33 100,00 67,50 100,00 62,16 100,00 80,16 100,00 0,00 0,00 Trapoeraba 3 DAA 15 DAA 72,50 100,00 73,83 100,00 84,46 100,00 71,83 100,00 76,66 100,00 68,83 100,00 60,00 100,00 48,33 100,00 69,16 100,00 0,00 0,00
Obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0L/ha).
demonstra o desempenho de algumas alternativas de tratamentos para aplicação em jato dirigido, formadas pela misturas entre os herbicidas carfentrazone-ethyl, flumioxazin, paraquat, glufosinato de amônio, MSMA, fomesafen, atrazina e diuron, em relação ao controle de plantas daninhas e seletividade à cultura. Leiteiro, picão-preto, caruru e trapoeraba, foram espécies avaliadas em pós-emergência (Tabela 1) e somente para leiteiro e picão-preto, avaliado o controle residual (Tabela 2). Misturas com a presença de atrazina proporcionaram controle semelhante aos demais, se fazendo uma opção atraente aos cotonicultores pelo fator econômico deste herbicida. Fomesafen se destacou dentre os demais tratamentos devido ao ótimo controle residual de picão-preto e leiteiro, sendo a melhor opção de controle residual no trabalho. Tradicionalmente utilizado em aplicações em jato dirigido, diuron demonstrou excelente controle residual de leiteiro. As misturas de glufosinato de amônio com diuron, ou
atrazina, ou ainda o fomesafen, são opções interessantes para integrar o sistema de manejo de plantas daninhas para variedades de algodão Liberty Link, pela elevada eficiência no controle observado e maior seletividade que proporcionarão a estas variedades. Fica claro que cada opção de herbicida na mistura tem suas características. A adição de paraquat à mistura entre atrazina + flumioxazin + carfentrazone-ethyl proporcionou maior velocidade de controle. Flumioxazin isolado (50g i.a. ha-1) proporcionou controle pósemergente, semelhante às misturas estudadas e boa atividade residual para o controle de picão-preto e principalmente de leiteiro. Em resumo, os tratamentos analisados são alternativas eficientes para o controle da maioria das principais plantas daninhas presentes nas áreas de algodão no Cerrado brasileiro. Quanto à seletividade foram observadas manchas negras no caule, necrose e queda de folhas do baixeiro atingidas pela calda de pulverização (Figura 1). Esses danos não se
Figura 2 - Fitointoxicação visual provocada por aplicação de atrazina (2.000g i.a. ha-1) em jato dirigido: A = 14 DAA, B = 28 DAA, C = 35 DAA. Chapadão do Sul (MS), 2010
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Tabela 2 - Número de plantas emergidas por m2 de picão-preto e leiteiro aos 42 dias após aplicação (DAA) dos tratamentos em jato dirigido na cultura do algodão. Chapadão do Sul (MS), 2010
Flumioxazin Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl + Paraquat Atrazina + MSMA + Carfentrazone-ethyl Diuron + MSMA + Carfentrazone-ethyl Fomesafen + MSMA + Carfentrazone-ethyl Glufosinato de amônio + Atrazina Glufosinato de amônio + Diuron Glufosinato de amônio + Fomesafen Testemunha no Mato (sem herbicida)
Dose (mL ou g i.a. ha-1) 50 750 + 20 + 16 750 + 20 + 16+ 100 500 + 1800 + 16 1000 + 1800 + 16 375 + 1800 + 16 300 + 750 300 + 1000 300 + 375 -
42 Dias após aplicação Leiteiro Picão-preto 1,33 2,66 2,00 3,33 1,00 4,33 2,33 6,00 0,66 4,00 1,33 2,00 2,33 8,66 1,00 4,33 1,33 1,66 21,00 27,00
Obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0L/ha).
Tabela 3 - Produtividade de algodão em caroço submetido aos diferentes tratamentos em jato dirigido. Chapadão do Sul (MS), 2010 Dose (mL ou g i.a. ha-1) 50 750 + 20 + 16 750 + 20 + 16+ 100 500 + 1800 + 16 1000 + 1800 + 16 375 + 1800 + 16 300 + 750 300 + 1000 300 + 375 -
Flumioxazin Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl Atrazina + Flumioxazin + Carfentrazone-ethyl + Paraquat Atrazina + MSMA + Carfentrazone-ethyl Diuron + MSMA + Carfentrazone-ethyl Fomesafen + MSMA + Carfentrazone-ethyl Glufosinato de amônio + Atrazina Glufosinato de amônio + Diuron Glufosinato de amônio + Fomesafen Testemunha no Capinada
Produtividade (@/ha) 280,86 288,58 280,09 286,27 287,81 289,35 285,49 289,35 287,04 289,35
Obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0L/ha).
Tabela 4 - Produtividade de algodão em caroço submetido aos diferentes tratamentos em jato dirigido. Chapadão do Sul (MS), 2010 Testemunha sem herbicida Atrazina Atrazina Atrazina Atrazina
deste produto é absorvida via raiz, algumas progredindo para necrose (Figura 2). Vale ressaltar que nos primeiros dias após a aplicação ocorreram precipitações em torno de 80mm, o que pode ter contribuído para o aparecimento dos sintomas, uma vez que o herbicida fica mais disponível na solução do solo e, assim, maior a probabilidade de ser absorvido pelo algodoeiro. Em casos onde o solo se encontra compactado estes sintomas podem ocorrer em níveis mais elevados, pois há o acúmulo do herbicida na solução do solo, acima da camada compactada. Como consequência no rendimento, a maior dose de atrazina (2.000g i.a. ha-1) promoveu queda de aproximadamente 31
Dose (mL ou g i.a. ha-1) Produtividade (@/ha) 0,0 289,35 500 750 1000 2000
287,04 287,81 283,18 257,72
refletiram em queda de produtividade (Tabela 3), sendo todos os tratamentos considerados seletivos à cultura. Como introduzidos recentemente às aplicações em jato dirigido, alguns herbicidas como atrazina e fomesafen criam inseguranças e desorientação aos cotonicultores na tocante à dose a ser empregada. Outro estudo, conduzido a campo na última safra, avaliou a toxicidade e a produtividade do algodoeiro após aplicação em jato dirigido do herbicida atrazina, em doses isoladas (0, 500, 750, 1.000 e 2.000g i.a. ha-1). Injúrias visuais nas plantas de algodão foram proporcionadas pela maior dose (2.000g i.a. ha-1) e que, doses abaixo, não promoveram injúrias visuais quaisquer. Estas injúrias se caracterizam por manchas cloróticas que tomam aspecto de mosaico nas folhas não tratadas, pois a maior parte
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arrobas/ha de algodão em caroço em relação à testemunha sem herbicida (Tabela 4). Em doses menores, o algodoeiro tolerou muito bem o herbicida atrazina, sem diferenças de produtividade em relação à testemunha, mostrando que a dose usualmente empregada nesta aplicação, 750g i.a. ha-1, parece ser seletiva à cultura do algodoeiro. Os danos de herbicidas à cultura podem ser agravados quando um mesmo herbicida, ou diferentes herbicidas, mas com mesmo mecanismo de ação, são empregados repetidamente no decorrer das aplicações. É comum a utilização de diuron em pré-emergência da cultura, prometrina em pós-emergência precoce e atrazina ou prometrina em pósemergência tardia em jato dirigido. Esta situação, principalmente em solos argilosos, poderá proporcionar acúmulo e somatório dos resíduos destes herbicidas, uma vez que são produtos semelhantes, provocando injúrias no algodoeiro, devendo-se atentar para a dose máxima recomendada por ano ou por ciclo da cultura. É importante, também, que os cotonicultores estejam atentos a outro aspecto quanto à escolha dos herbicidas a serem utilizados em jato dirigido. Trata-se da questão da persistência dos produtos no solo, o que pode inviabilizar a semeadura de certas culturas em sucessão ao algodão. C
Michel Alex Raimondi, Luiz Henrique M. Franchini e Jamil Constantin, Universidade Estadual de Maringá Rubem César Staudt, Astecplan
Fotos Michel Alex Raimondi
Obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0L/ha).
Michel Alex, Luiz Henrique e Jamil são pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá
Aspecto visual de controle observado na testemunha sem herbicida aos 15 DAA (A) e pela mistura entre atrazina + flumioxazin + carfentrazone-ethyl aos 15 DAA (B) e 28 DAA (C). Chapadão do Sul (MS), 2010
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Empresas Fotos Pedro Batistin
Rali tecnológico U
Grupo de aproximadamente 1,6 mil produtores participa da 3ª edição do Giro FMC no cultivo da soja, em oito estados brasileiros
m grupo de aproximadamente 1,6 mil produtores participou da 3ª edição do Giro FMC no cultivo da soja, evento que percorreu lavouras de oito estados brasileiros. Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Maranhão estão entre os contemplados com a proposta de agregar entretenimento à discussão de práticas para manejo de pragas na cultura. Durante o evento foram recolhidas 500 cestas básicas, doadas a instituições de caridade das cidades que receberam os ralis. Foram percorridos, em média, 300 quilômetros, com paradas técnicas, onde os consultores da FMC apresentaram estações tratadas com produtos da empresa. Um dos defensivos demonstrados pelos consultores foi o inseticida Talstar 100 EC,
produto que age por contato e ingestão e proporciona controle de percevejos e lagartas. Possui baixa solubilidade, o que confere persistência maior nas folhas da soja. Mais um inseticida destacado pelos consultores é o Dipel, produto biológico indicado para manejo de resistência, ideal para rotação de inseticidas de choque, pois completa a ação, com residual, além de não afetar insetos benéficos ou predadores de pragas. Também mereceram destaque os herbicidas, como o Boral, pré-emergente, eficaz no controle de plantas daninhas de folhas largas de difícil controle, Aurora, pós-emergente de contato completo, para o manejo de plantas tolerantes, e o Gamit, pré-emergente para controle de folhas largas e estreitas. Seu efeito residual evita
Foram percorridos aproximadamente 300 quilômetros, com paradas técnicas para apresentação dos resultados nas lavouras
a matocompetição inicial. Em fungicidas, os consultores apresentaram o Emerald, para controle da ferrugem asiática da soja, com poder de translocação e seletividade à cultura. “O Giro FMC atinge cada vez mais adeptos pelo caráter descontraído como foi elaborado. A proposta inicial da empresa era aproximar-se de seus parceiros de negócios, buscando uma forma mais prática de demonstrar produtos consagrados no mercado como Talstar. Mas o evento superou todas as expectativas ao proporcionar uma conexão emocional com os clientes”, declara Márcia Terzian, gerente de Marketing de Soja da FMC. A 3ª edição do Giro FMC no cultivo da soja é uma realização da FMC em parceria com a Case IH. C
Equipe que participou de uma das etapas do rali, realizada no estado do Rio Grande do Sul
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Milho Fotos Décio Karam
Convivência desarmoniosa Fotos Esalq/USP
Plantas daninhas, como corda-de-viola, apresentam alto potencial de infestações na cultura do milho e prejudicam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Para o manejo da espécie, a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado pelo produtor
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A
o se fazer menção às plantas infestantes da cultura do milho, várias são as espécies mono e dicotiledôneas lembradas, para as quais, métodos distintos de manejo têm sido pesquisados e difundidos. Com a adoção de práticas de controle de plantas daninhas na implantação do sistema de cultivo, e o aparente sucesso na supressão da comunidade infestante em pré-emergência da cultura, vários produtores acabam por ser negligentes com infestações tardias, ao ignorar a forma escalonada de emergência de algumas plantas. Essa ação pode criar nichos para o estabelecimento de espécies daninhas, que, por sua vez, têm a capacidade de causar vultosos prejuízos econômicos, quando da ausência de estratégias de manejo ou, ainda, manejos precoces sem ponderação das características ecofisiológicas dessas espécies. Nesse âmbito, uma espécie cujo potencial de infestação se destaca na cultura do milho é a corda-de-viola, da família das Convolvulaceae, também conhecida como campainha, corriola, jetirana ou glória-da-manhã. Essa terminologia compreende plantas dos gêneros Ipomea ssp. e Merremia spp., tais como I. grandifolia, I. purpurea, I. nil, I. quamoclit, I. hederifolia, M. cissoides e M. aegyptia. Mais de 150 espécies (entre Ipomeas e Merremias) desses gêneros foram reportadas no Brasil, na produção de culturas anuais e perenes, cultivadas em todas as regiões. Somente na região Sudeste do país, foi relatada a ocorrência de 78 espécies de Ipomoea ssp. As Ipomoeas e Merremias são espécies trepadeiras, que se desenvolvem sobre um suporte, para então alcançarem a luz. Desse modo, em função de seu hábito de crescimento, bem como pelo longo ciclo de vida inerente às espécies, relatos dos danos causados a equipamentos durante a colheita de culturas de valor econômico pelas cordas-de-viola são triviais. Isso, especialmente, nas culturas da cana-de-açúcar e de cereais. Essas espécies são também favorecidas pela presença de palhada, devido ao microclima criado, em função do aumento da umidade e de reduções da luz incidente no dossel da cultura e consequentemente na temperatura. Embora nem sempre apareça em altas densidades nas lavouras de milho, o potencial competitivo individual da corda-de-viola é alto, conferindo-lhe vantagem na competição interespecífica. Na cultura da cana-de-açúcar foi verificada redução de rendimento de até 50%, ao passo que no milho e na soja 70% e 55%, respectivamente, além dos vários danos causados aos equipamentos e aumento do tempo durante as operações de colheita e manejo. Outro fator de suma relevância consiste na época crítica de convivência com a cultura,
ou seja, o período máximo em que a presença da comunidade infestante não interfere na produtividade da cultura. Para as plantas infestantes da cultura do milho, esse período é relativamente curto, em média de 30 dias. Além disso, há de se atentar ainda para possíveis reinfestações, que poderão prejudicar a produção de grãos. O nome Ipomoea descende do grego “ips”, que quer dizer volúvel, em detrimento da morfologia dos caules e ramos da maior parte das espécies, e “homios” que significa semelhante. Já o termo Merremia faz alusão ao botânico, matemático e físico alemão Blasius Merrem.
Os resultados da competição isolada e interações da comunidade espontânea com a cultura do milho ressaltam a incompatibilidade na convivência desse cereal com a corda-de-viola. Também o longo ciclo de vida das Ipomoeas e Merremias (em média 150 dias), atenta para a importância de um manejo adequado dessas dicotiledôneas.
Métodos de manejo
Biologia
O gênero Ipomoea ssp. compreende aproximadamente 700 espécies ocorrentes em todo o mundo, cujas importâncias econômicas vão desde a infestação de áreas marginais de rodovias, colonização em diferentes condições e habitats, ornamentação, uso medicinal até na alimentação, como é o caso da espécie Ipomoea batatas (batata-doce). As Ipomeas são plantas de ciclo C-3, concentrando esse gênero, espécies anuais e perenes. As plantas apresentam caules e ramos volúveis em sua maioria, embora exista uma pequena proporção de espécies prostradas e eretas, reproduzidas vegetativamente. As plantas podem produzir de cinco mil a seis mil sementes, com poder de germinar a até 10cm da superfície do solo em diferentes épocas, sofrendo alta influência de umidade e temperatura. A faixa ótima de desenvolvimento deste gênero está entre 20°C e 30°C. No que concerne ao sistema radicular, existem os do tipo pivotante ou tuberoso, sendo este último mais comum a espécies perenes. Há alta variabilidade também no formato e tamanho das folhas, inclusive em um mesmo indivíduo, devido a fatores genéticos e/ ou influência da iluminação do ambiente em que se desenvolve. Isso faz com que apenas no estádio de plântula possa se conhecer aspectos taxonômicos de uma espécie através da caracterização das folhas. Nos últimos anos, estudos têm sido conduzidos no sentido de se conhecer mecanismos de defesa das Ipomeas, tais como óleos essenciais e ceras protetivas da cutícula foliar. Tem-se reconhecido nessas substâncias, características potencialmente inibidoras de patógenos, selagem da superfície das folhas que possibilita diminuição da perda por transpiração e ação de contaminantes e produtos químicos. O que posteriormente pode representar um problema para a eficiência do manejo químico das espécies desse gênero feito com herbicidas hidrofílicos. Uma estrutura que sempre chama a
O potencial competitivo individual da cordade-viola é alto nas lavouras de milho
atenção em se tratando das cordas-de-viola são as flores, em função de sua notória beleza. Diversificadas são as cores e os tamanhos, que podem diferir ainda de espécie para espécie ou também numa mesma planta, conforme o período em que essas estruturas se encontram abertas. A abertura das flores geralmente ocorre durante o dia, embora existam raras espécies em que isso ocorre à noite. Cruzamentos naturais podem ser vistos em Ipomoeas, o que justifica sua plasticidade na ocupação de vários ambientes, agressividade e capacidade de competição com a cultura. As espécies desse gênero toleram amplo espectro de solos e clima, sendo algumas aquáticas. As Merremias, por sua vez, são boas colonizadoras de solos úmidos e áreas sombreadas com boa fertilidade.
Para o manejo das cordas-de-viola na cultura do milho a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado. De modo geral são adotados o manejo químico em pré (aproveitando-se efeitos residuais) e pós-semeadura do milho, o mecânico ou físico, por meio da capina mecânica ou manual, e ainda o cultural, que com base nos fatores ambientais e características das plantas concorrentes, favorece o potencial competitivo da cultura. No sistema de plantio direto, a atenção deve ser redobrada, visto que a presença da cobertura morta já foi dada como facilitadora da emergência de plântulas destas espécies. Além de diferentes densidades de plantas e espaçamentos da cultura, tem sido avaliada também a eficiência de técnicas alternativas para o manejo de plantas daninhas, como o aproveitamento de propriedades alelopáticas de espécies vegetais, cuja matéria verde é posta em cobertura ou incorporada ao solo. Outra opção ao manejo de corda-deviola é constituída pelo método preventivo, o qual com simples cuidados e mudanças de hábitos nas práticas agrícolas é eficaz na redução do estabelecimento e propagação da corda-de-viola. Dentre as ações do manejo preventivo, se citam a limpeza de máquinas e equipamentos que ingressam nas áreas
O período máximo de convivência de infestantes na cultura do milho, sem causar prejuízos, é curto e não ultrapassa os 30 dias
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agrícolas de milho após seu uso e a observação prévia ao plantio, quanto à contaminação das sementes. Na seleção do método, além da oferta de recursos e dos elementos previamente mencionados, devem ser considerados a época de plantio e o período crítico de interferência da corda-de-viola na cultura, as operações empregadas, o histórico de métodos adotados e a necessidade de manutenção recrutada pelo método. Na pós-emergência é recomendada a execução de práticas de manejo até o fechamento das entrelinhas da cultura, devendo ser prioritariamente executado entre dez dias e 45 dias após a germinação.
Manejo mecânico
No sistema de plantio convencional, em pré-emergência da cultura, se o controle se der através de uma capina manual ou mecânica, existe a possibilidade de ocorrer outras infestações, requerendo novas intervenções. Tal fato ocorre porque o revolvimento do solo traz à superfície as sementes, que antes estavam muito profundas e não dispunham de condições adequadas para a germinação. Posteriormente à ação de ascensão no perfil do solo, essas sementes estão em condições apropriadas para a germinação. Manutenções periódicas da área devem ser realizadas, a fim de conter o desenvolvimento de novas plantas e consequentemente problemas de interferência.
Manejo cultural
O uso de cobertura morta como meio de controle de plantas daninhas influencia a incidência de luz, a temperatura e a umidade do solo. O efeito da cobertura pode ocorrer da forma química através de compostos secundários liberados (aleloquímicos), que podem apresentar efeitos deletérios à germinação e desenvolvimento de algumas plantas daninhas. O efeito de qualquer aleloquímico está diretamente relacionado à quantidade e à qualidade da cobertura do material
Flores são estruturas que chamam a atenção em corda-de-viola
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Tabela 1 2,4-D 2,4-D dimetilamine alachlor + atrazine ametrine amicarbazone atrazine+ simazine atrazine atrazine + nicosuklfuron betazon carfentrazon-ethyl foransulfuron + iodosulfuron methyl gliphosate glyphosate isopropilamina glyphosate sal potássico glufosinato sal amônio imazapic + imazapyr MCPA mesotrione nicosulfuron tembotrione
I. acuminata I. aristolochiaefolia I. grandifolia I. hederifolia I. indivisa I. nil I. purpurea I. quamoclit X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Ingredientes ativos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento para o controle da genero Ipomoea Nem todos os produtos comerciais com os ingredientes ativos estão registrados para o controle destas espécies. Consultar um técnico para verificação do produto comercial registrado para controle
vegetal (cobertura morta), do tipo de solo, da população (densidade e composição) de plantas daninhas presentes, da população microbiana do solo e principalmente das condições ambientais às quais a cobertura vegetal é exposta. Vários efeitos aleloquímicos são conhecidos para uso no controle de plantas daninhas. No sistema de plantio direto sabe-se que a grande maioria das sementes das plantas daninhas encontra-se próxima à camada superficial, enquanto no sistema de plantio convencional as sementes ficam distribuídas ao longo do perfil do solo. Trabalhos relatam a emergência de plântulas de corda-de-viola sob várias profundidades, que, diferentemente da maior parte das espécies espontâneas, não é afetada pela cobertura do solo.
Manejo químico
Embora vários herbicidas estejam registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de corda-de-viola (Tabela 1) em milho, esta espécie é de difícil controle. Com o objetivo de reduzir os riscos de insucessos quando do uso de moléculas herbicidas, alguns cuidados devem ser tomados. Recomenda-se que as aplicações sigam critérios técnicos, devidamente indicados por profissionais habilitados para prescrever a receita agronômica. Equipamentos devem ser adequados, calibrados e operadores devidamente treinados e aparatados (com uso de EPIs). Um fator não menos importante é o descarte de embalagens e soluções remanescentes. Esse procedimento deve estar em conformidade
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com as normas regulamentadoras do Mapa, garantindo qualidade ao trabalho e segurança à saúde e ao ambiente. Os herbicidas de pré-emergência devem ser aplicados após o plantio da cultura e antes da emergência das plantas daninhas, ponderando-se as propriedades residuais da molécula ou do conjunto selecionado. Estas aplicações são influenciadas pela umidade do solo no momento da aplicação, da ocorrência de chuvas após a aplicação e da temperatura e tipo de solo. Aplicações dos herbicidas pós-emergentes devem ser realizadas geralmente quando as plântulas se encontram nos estádios entre duas a oito folhas, sob dependência também do ingrediente a ser utilizado. Estas aplicações podem ser precoces, quando as plantas daninhas se encontram com duas a quatro folhas completamente desenvolvidas, em condições normais ou, tardias, quando as plantas estiverem com mais de quatro folhas desenvolvidas, restringindo-se as limitações dos herbicidas a serem utilizados.
Manejo prévio à colheita
Nas lavouras de milho com alta infestação de cordas-de-viola no período da colheita ocorre comumente a parada de colhedeiras devido ao embuchamento da plataforma. Uma alternativa à redução dos efeitos desse problema consiste numa prévia aplicação direcional ou localizada de herbicidas (nas entrelinhas do milho) que complementa o manejo de espécies com emergência escalonar e tardia. De modo geral as moléculas mais
apropriadas são as que agem pelo contato, sem efeito residual. O mercado atualmente já dispõe de equipamentos apropriados para aplicações localizadas que minimizam os riscos de intoxicação da cultura. Nos casos próximos à colheita, que ainda apresentam infestação de corda de viola, não há muito que ser feito, pois o manejo depende de equipamentos apropriados que pulverizem a alturas acima da cultura, evitando a contaminação ambiental e do aplicador.
Fotos Décio Karam
Eficiência e meio ambiente
Manejo pós-colheita
Para evitar ou minimizar o aumento da população de plantas daninhas o produtor deve adotar técnicas como a rotação de culturas e a semeadura de cobertura. Culturas de cobertura como milheto, nabo forrageiro e sorgo, assim como outras, na entressafra, têm grande capacidade de supressão na emergência e de desenvolvimento das plantas daninhas. Operações de pós-colheita, como o uso de roçadeiras, ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas devem ser realizadas, evitando-se a produção de sementes ou propágulos de plantas daninhas. Devemos relembrar que devido ao uso intensivo de determinados grupos de herbicidas
observada a tolerância de algumas espécies do gênero das Ipomoeas a este herbicida.
Plantas de Ipomoeas têm a capacidade de produzir de cinco a seis mil sementes
tem sido observado o surgimento de plantas daninhas tolerantes e resistentes. O manejo químico desta espécie em póscolheita, na maioria dos casos está associado a herbicidas 2,4D e paraquat, principalmente pelo porte que a planta apresenta nesta época. O uso de glifosato isolado no manejo de áreas que apresentam esta espécie tem contribuído para o aumento da infestação observada nos últimos anos, pois tem sido
Contemplando-se os aspectos atinentes a estas espécies, bem como as interações com demais elementos do sistema e do método escolhido, poderá se obter maior produtividade da cultura do milho. Ademais, deve-se impedir possíveis ações de remediação que podem nem sempre ser eficazes no manejo de plantas daninhas em milho. Em se tratando de manejo químico, a inobservância de prazos, normas e adoção de práticas de manejo recomendadas pode resultar na degradação dos recursos ambientais, contaminação do solo e da água e ainda o comprometimento do reuso das áreas agricultáveis. Esse conjunto de fatores há de comprometer a performance da atividade, render insucesso e conferir ainda caráter pouco sustentável à produção e no meio ambiente, afetando a imagem da C propriedade. Décio Karam e Israel Alexandre Pereira Filho, Embrapa Milho e Sorgo Jéssica Aline Alves Silva, Unifemm/Faped
Capa Fotos Geraldo Papa
Inseticida ao dessecar?
A palha formada para o plantio direto resulta em excelente abrigo e esconderijo de pragas como lagartas do gênero Spodoptera, nas culturas de soja, milho e algodão. Nesse contexto, o uso de inseticidas na época de dessecação surge como estratégia interessante. Contudo, a decisão de aplicar deve estar condicionada ao monitoramento da cobertura verde do solo para verificar se há presença de populações de insetos que justifiquem lançar mão dessa ferramenta
E
mbora seja uma prática comum no campo, o uso de inseticidas na época de dessecação da área para formação da palha para o plantio direto (com o objetivo de reduzir a população de pragas, principalmente lagartas, no início do ciclo de cultivo da soja, milho e algodão e com isso diminuir os danos provocados pelas pragas na fase de estabelecimento destas culturas), é uma prática que ainda não tem o suporte suficiente de trabalhos científicos que comprovem sua real necessidade e validade. Os principais questionamentos são de que, na palha, as lagartas não teriam mais alimento disponível
e, consequentemente, não sobreviveriam. Entretanto, trabalhos de pesquisas desenvolvidos pelo professor Geraldo Papa e sua equipe têm constatado a presença de significativas populações de lagartas, principalmente do gênero Spodoptera, que sobrevivem na palha e provocam danos no início do desenvolvimento da cultura recém-emergida. Nos sistemas agrícolas constituídos por
Número de lagartas, S. frugiperda, vivas por tratamento, após aplicação de inseticidas na época da dessecação preparatória para o plantio direto aos 10 dias após a semeadura. Ilha Solteira
O monitoramento é importante para a tomada de decisão sobre a aplicação de inseticidas
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soja, milho e algodão ocorre uma disponibilidade constante de alimentos a insetos polífagos, como é o caso de espécies do gênero Spodoptera (Santos, 2001). A sucessão de culturas, o plantio escalonado de diversas culturas e a existência de culturas irrigadas, principalmente na região de cerrado, prolonga no tempo a sobrevivência de insetos, aumentando o número de gerações neste tipo de
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PESQUISA
A
Palha retirada da linha de plantio após a avaliação
agroecossistema. Essa situação favorece o processo migratório das mariposas entre lavouras formadas por espécies vegetais semelhantes, naquelas implantadas em épocas diferentes e, também entre diferentes espécies botânicas (Santos, 2003; Barros e Torres, 2009). As espécies do gênero Spodoptera são amplamente distribuídas no mundo e das 30 espécies descritas, a metade é considerada praga de variadas culturas de importância econômica (Pogue, 2002). Destaca-se a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda, por se alimentar de mais de 80 espécies de plantas, incluindo algodão, milho e soja (Capiner, 2002). Apesar da amplitude hospedeira ela é considerada praga importante de plantas da família Poaceae (gramíneas) como milho, arroz, trigo, entre outras. Entretanto, seus surtos têm ocasionado perdas significativas em outras plantas como algodão, soja e solanáceas cultivadas (Latorre, 1990; Bastos e Torres, 2004), além de utilizar hospedeiros alternativos para se manter nos agroecossistemas. A lagarta-militar, S. frugiperda, ocorre em quase todo o continente americano e constituise em sério problema fitossanitário. Essa praga tem provocado prejuízos econômicos a uma
equipe de pesquisa coordenada por Geraldo Papa, da Unesp de Ilha Solteira, tem desenvolvido trabalhos com o objetivo de verificar a real necessidade da aplicação de inseticidas na época da dessecação que antecede a semeadura nos sistemas de plantio direto, visando encontrar respostas para os seguintes questionamentos: 1) As lagartas que sobrevivem na palha diminuem significativamente o estande dos cultivos? 2) A aplicação de inseticidas na dessecação preparatória para o plantio direto diminui significativamente a infestação de lagartas no início do ciclo da cultura? 3) As cultivares transgênicas tolerantes ao ataque de lepidópteros são danificadas pelas lagartas de terceiro ou quarto instar que sobreviveram na palha? A produtividade de soja, milho e algodão é afetada pelos danos provocados pelas lagartas que sobrevivem na palha? 4) Existem benefícios aos agricultores em utilizar inseticidas na dessecação preparatória para o plantio direto? Para condução destas pesquisas foi série de culturas de importância econômica. É considerada a principal praga dos campos de milho no Brasil (Cruz, 1995), mas nos últimos anos este inseto tem se destacado como importante problema fitossanitário nas culturas do algodão e da soja, principalmente nas regiões produtoras dos cerrados brasileiros. O fato de o milho ser plantado o ano todo no país (safra/safrinha/inverno), somado à existência de várias outras culturas que podem hospedar a S. frugiperda, proporciona a esta praga condições para atravessar pontes biológicas entre os ciclos produtivos para encontrar condições de proliferação e tornar-se uma espécie bastante frequente nos cultivos do cerrado, cuja época de meados do ciclo de cultivo coincide com a colheita do milho de primeira safra e plantio
semeado milheto e, 60 dias após, foram realizadas amostragens, onde constatou-se a presença de alta população de lagartas, com predomínio da espécie Spodoptera frugiperda. Procedeu-se a aplicação de herbicida dessecante e três dias após foram aplicados inseticidas na área com milheto e semeadas parcelas com soja, algodão e milho. Os parâmetros avaliados foram: número de lagartas na área antes da dessecação; o número de lagartas encontradas sob a palha após a formação da palha; número de plantas cortadas pelas lagartas após a emergência de soja, algodão e milho; porcentagem de desfolha provocada pelas lagartas nas culturas da soja, milho e algodão e produtividade média das culturas. Pela análise dos resultados concluiu-se que a aplicação de inseticidas na época da dessecação preparatória para o plantio direto de soja, milho e algodão foi eficiente no controle da S. frugiperda, proporcionando menor número de plantas atacadas pelas lagartas, melhor estande das culturas e maior produtividade. da safrinha (Papa, 2005). Além da S. frugiperda, a espécie S. eridania, que tradicionalmente não era praga importante para os cultivos do Cerrado, é uma praga
Lagarta encontrada sob a palhada
Fotos Geraldo Papa
Geraldo Papa aborda a aplicação de inseticidas durante a fase de dessecação Foto mostra uma plantação de soja 20 dias após a semeadura
em expansão nas culturas de algodão e de soja, necessitando de estudos para subsidiar os programas de manejo. Nessa região, as lagartas migram das plantas de soja em final de ciclo e passam para plantas invasoras e também para soja e algodão (Santos, 2005). A pesquisa tem investido com o objetivo de melhorar a qualidade e a produtividade dos cultivos agrícolas, o que tem se revertido em importantes resultados, pois a produtividade vem aumentando. Inicialmente desenvolveu o Plantio Direto na cultura da soja e, posteriormente, em milho e algodão, sendo o Brasil a referência nessa modalidade de plantio, que muito ajudou no aumento da produtividade. Através de órgãos de pesquisas privadas e oficiais, melhorou-se a genética de cultivares, além da modernização de implementos e maquinários aliados ao investimento de empresas de defensivos agrícolas que têm aportado recursos em novas moléculas inseticidas, com objetivo de ofertar aos produtores para que garantam o potencial produtivo da cultura. Neste cenário de modernização do sistema produtivo e de sustentabilidade, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a forma mais racional de controle, com garantia da produtividade dos cultivos, minimizando os
efeitos nocivos ao ambiente. Trata-se de uma estratégia de controle múltiplo de infestações que se fundamenta no controle ecológico e nos fatores de mortalidades naturais, onde se procura desenvolver táticas de controle que interfiram minimamente com esses fatores, tendo o objetivo de diminuir as chances de os insetos se adaptarem a alguma prática defensiva em especial (Alves, 1998). Neste contexto o uso de inseticidas de forma preventiva contraria os princípios do MIP e é uma prática que deve ser evitada. Assim, para a tomada de decisão do uso de inseticidas na época da dessecação, é necessário que sejam realizadas amostragens, ainda na cobertura verde do solo antes da aplicação do dessecante, para verificar a existência ou não de populações significativas de pragas que justifiquem a aplicação de inseticidas na época da dessecação. A utilização de culturas de cobertura do solo como o milheto, semeado anteriormente ao plantio comercial, é uma prática frequente no Cerrado brasileiro. Atribui-se este fato à sua fácil instalação e à adaptação às condições desfavoráveis de cultivo, destacando-se: tolerância à seca, crescimento rápido, maior capacidade de ciclagem de nutrientes e alta
Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) encontrada sob a palhada
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produção de biomassa. Assim, com o crescimento da fronteira agrícola para o Cerrado e com expansão do sistema de semeadura direta, o cultivo do milheto também cresceu como planta de cobertura (Garcia e Duarte, 2009). Neste cenário, a lagarta-militar, S. frugiperda, tem se beneficiado, pois tem a capacidade de se reproduzir nas plantas de milheto e, após sua dessecação e plantio comercial da cultura, as lagartas se abrigam na palhada junto ao solo e passam a cortar as plântulas recém-emergidas, podendo causar redução do estande. Nesse contexto, o controle das pragas iniciais passa a ser importante. Os inseticidas mais utilizados nesta estratégia de controle são os de menor custo como piretroides, carbamatos e organofosforados. Entretanto, geralmente, estes grupos de inseticidas apresentam a desvantagem de não serem seletivos aos inimigos naturais das pragas. Assim, novas moléculas inseticidas mais modernas e mais seletivas aos mamíferos e aos artrópodos benéficos estão sendo introduzidas na agricultura, inclusive para uso na época da dessecação, período C preparatório ao plantio direto. Geraldo Papa e Fernando Juari Celoto, Unesp/Campus de Ilha Solteira-SP
Detalhe de lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)
Empresas
Opções para o Sul O
ferecer opções de novos híbridos para o cultivo no Sul do Brasil, soluções em biotecnologia e produtos para garantir a sanidade das lavouras, aliado a informações técnicas para que o agricultor possa utilizar a tecnologia disponível para maximizar os resultados e produzir alimentos com qualidade. Essas são algumas das estratégias da Pioneer, empresa especializada no fornecimento de sementes de soja e milho, focada em pesquisa genética, tecnologia de manejo e informação agronômica. Em milho, um dos destaques da empresa é o híbrido P1630, hiper precoce, destinado ao estado do Rio Grande do Sul, para plantio no cedo. Com essa característica, o material proporciona um segundo cultivo de soja, feijão ou do próprio milho sobre milho. “É um híbrido para produtores que buscam hiperprecocidade e que precisam colher cedo”, explica o gerente de Negócios da Pioneer para o Rio Grande do Sul, João Artur Trindade Filho. Outro ponto forte do híbrido reside na produtividade. “Temos resultados de colheita nessa safra, na região de Não-Me-Toque e Carazinho, no Rio Grande do Sul, onde obtivemos uma média de 10 a 12 mil quilos por hectare. Em alguns casos alcançamos até 14 mil quilos por hectare”, comemora Trindade Filho. As opções da empresa em biotecnologia e tratamento de sementes também são promissoras. A Pioneer comercializa híbridos com a tecnologia Herculex I, tolerantes às principais pragas como lagarta do cartucho, lagarta rosca, elasmo, broca-da-cana-de-açúcar e lagarta da espiga. Dentro da biotecnologia, a Pioneer oferece sua principal linha de híbridos com a tecnologia Bt, nas marcas Yieldgard e Herculex I. A tecnologia Bt controla as principais lagartas que atacam a cultura do milho, como
a lagarta-do-cartucho e a broca-da-cana-deaçúcar, pragas estas responsáveis por severos danos econômicos à cultura do milho em várias regiões do Brasil. No caso do Herculex I, esta tecnologia ainda oferece resistência à aplicação de herbicidas formulados com glufosinato de amônio, registrados no Brasil com a marca Liberty Link. Uma das expectativas da empresa é de passar a comercializar no Rio Grande do Sul a tecnologia Roundup Ready aliada ao Herculex. Mas para isso, aguarda a liberação do cadastro estadual do defensivo. "O Roundup Ready é almejado principalmente pelos produtores que cultivam em minifúndios e trabalham com a monocultura, plantando apenas milho", explica André Keller, Coordenador Técnico da Pioneer. Para que as tecnologias não sejam utilizadas de forma isolada, a Pioneer oferece aos produtores o Sistema de Solução Completa, um pacote de serviços que envolve a combinação de híbridos em associação com a tecnologia de marcadores moleculares, tecnologia Bt e Tratamento de Sementes Industrial. Tudo para facilitar o trabalho do produtor na hora de plantar, ou seja, a semente pronta pra o plantio.
Silagem de qualidade
Para atingir a cadeia completa, do plantio à produção de alimento de qualidade, a Pioneer oferece orientações técnicas aos produtores. É o caso da avaliação da silagem, de modo a identificar os principais erros e apontar correções. Em eventos, como a Expodireto, realizada em março, no Rio Grande do Sul, a empresa tem demonstrado na prática os principais erros e cuidados que precisam ser tomados pelo produtor. Um dos equívocos mais comuns é o
Daniela Boelter Didone, do Departamento de Marketing da Pioneer, e João Artur Trindade Filho, gerente de Negócios para o Rio Grande do Sul
Fotos Cultivar
Híbridos novos, soluções em biotecnologia e repasse de informações técnicas são algumas das estratégias adotadas pela Pioneer para fortalecer laços com os produtores
André Keller, coordenador técnico da Pioneer, falou das tecnologias oferecidas pela empresa
corte antecipado do milho, quando o grão ainda se encontra no estágio leitoso. “Nessa etapa o agricultor só aproveita 50% do potencial produtivo, por colher no momento em que a lavoura está iniciando o enchimento de grãos”, alerta o consultor João Ricardo Pereira. Outro aspecto que precisa ser levado em consideração pelo produtor é a qualidade do corte, já que a má regulagem da máquina ensiladeira interfere negativamente no produto final.
marcas registradas
Marcas registradas pela Pioneer HiBred®: - YieldGard é marca registrada utilizada sob licença da Monsanto Company®. - Roundup Ready é marca registrada utilizada sob licença da Monsanto Company Tecnologia de proteção contra insetos - Herculex® I desenvolvida pela Dow AgroSciences e Pioneer Hi-Bred®. - Herculex® I e o logo HX são marcas registradas da Dow AgroSciences LLC®. - Liberty Link é marca registrada e utilizada sob licença da Bayer AgroScience.
Consultor João Ricardo Pereira explicou erros cometidos quanto ao estágio de colheita do milho para a silagem
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C
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Soja Renato Andrade Teixeira
Disseminação veloz Cresce a importância do ataque de nematoides em diversas lavouras comerciais do Brasil. Na soja esses fitoparasitas, que possuem extensa gama de hospedeiros, têm o poder de provocar prejuízos severos e em casos extremos levar as plantas à morte. Rotação de culturas e a busca por materiais resistentes estão entre as alternativas para o manejo
E
xistem mais de 100 espécies de nematoides que envolvem aproximadamente 50 gêneros, associados à cultura da soja. No Brasil, as espécies que causam maiores danos são Meloidogyne javanica, M. incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchus reniformis. A importância dessas espécies para o país se deve a aspectos relevantes, como a presença endêmica em diversas regiões produtoras de soja (M. javanica e M. incognita), elevada variabilidade genética (H. glycines) e risco potencial de dano com o incremento da área cultivada com espécies suscetíveis (P. brachyurus e R. reniformis). Os sintomas relacionados ao ataque desses fitoparasitas se assemelham muito. Em áreas com a presença de nematoide é comum encontrar reboleiras com plantas atrofiadas e cloróticas. Em casos extremos, com densidades populacionais elevadas, há tendência de ocorrer a morte de plantas. No entanto, esses indicativos não podem ser únicos para diagnosticar uma área com fitonematoides, pois a presença de reboleiras também pode estar associada a manchas de calcário e à clorose com uma deficiência nutricional, déficit hídrico e compactação do solo. Dessa forma, realizar a identificação correta do nematoide presente na área é de extrema importância para manejar de forma eficaz essa importante praga.
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Nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines)
O fitonematoide H. glycines é um dos principais patógenos que afetam a cultura da soja nos principais países produtores. Na região Central do Brasil, em condições de altas populações, em especial quando associado ao excesso de calagem, as perdas causadas pelo nematoide de cisto da soja chegam a atingir 100%. No entanto, os níveis de danos causados são variáveis, em função de diversos fatores como a fertilidade e o manejo do solo, o grau de suscetibilidade das cultivares, o tempo de presença do nematoide na área e a adoção de práticas de controle, como a rotação de culturas com espécies não hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes. O nematoide de cisto da soja se caracteriza pela facilidade de disseminação. A praga penetra nas raízes da planta de soja e dificulta a absorção de água e nutrientes, o que a condiciona a um porte e número reduzido de vagens, clorose e baixa produtividade. O sistema radicular fica reduzido e infestado por minúsculas fêmeas do nematoide com formato de limão, ligeiramente alongado. Inicialmente de coloração branca, a fêmea, posteriormente, adquire a coloração amarela. Quando a fêmea morre, seu corpo se transforma em uma estrutura dura denominada
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cisto, de coloração marrom-escura, cheia de ovos, altamente resistente à deterioração e à dessecação e muito leve, que se desprende da raiz e fica no solo. O cisto pode sobreviver no solo, na ausência de planta hospedeira, por mais de oito anos. Assim, é praticamente impossível eliminar o nematoide nas áreas onde a praga ocorre. A gama de espécies hospedeiras do H. glycines é limitada, destacando-se a soja (Glycine max), o feijão (Phaseolus vulgaris) e o tremoço (Lupinus albus). Algumas plantas daninhas também podem ser hospedeiras desse fitonematoide. A maioria das espécies cultivadas, tais como milho, sorgo, arroz, algodão, girassol, mamona, cana-de-açúcar, trigo, assim como as demais gramíneas, é resistente. O ciclo de vida do nematoide de cisto da soja varia em função de uma série de fatores. Considerando a temperatura do solo variando de 23°C a 25°C, o ciclo de H. glycines dura em torno de 21 dias a 24 dias. Dessa forma, é possível a obtenção de quatro a cinco gerações em um único ciclo da cultura. A rotação de culturas é uma medida de controle indicada mesmo quando se tem oferta de cultivares resistentes. Essa rotação permite manter baixas as densidades populacionais dos fitonematoides e, com isso, possível incluir a utilização de cultivares suscetíveis em esquema de rotação de cultivares. A utilização
Fernando Godinho de Araújo
de cultivares suscetíveis é de fundamental importância para evitar ou diminuir a pressão de seleção sobre a população do nematoide, evitando a “mudança” da raça presente no local. No Centro-Oeste, as principais culturas utilizadas na rotação são milho, arroz e algodão. É importante salientar que as culturas da mandioca e do amendoim, mesmo não sendo hospedeiras do nematoide de cisto da soja, não devem ser cultivadas em áreas infestadas, devido à grande movimentação do solo durante a colheita que permite o espalhamento e disseminação de cistos presente no solo. Dessa forma, manejar adequadamente o solo é essencial para evitar a disseminação de cisto para outras áreas e de fundamental importância para diminuir os danos causados por esse fitonematoide. Atualmente existem aproximadamente 42 cultivares de soja resistentes ao H. glycines, para a região Central do Brasil. As cultivares recomendadas, no entanto, em sua grande maioria, são resistentes somente às raças 1 e 3, e moderadamente resistentes à raça 14. Assim, é importante a identificação da raça presente na área, pensando no manejo para o controle de H. glycines, antes de se utilizar cultivares resistentes e as cultivares de empresas privadas e as transgênicas (Tabela 1).
Avaliações em casa de vegetação e em campo naturalmente infestado têm mostrado que entre as duas há bastante diferença com relação à capacidade de multiplicar o nematoide
plantas atacadas. Na ocorrência de "veranicos", principalmente na fase de enchimento de grãos, os danos tendem a ser maiores. Nas raízes das plantas atacadas observam-se galhas em números e tamanhos variados, dependendo da suscetibilidade da cultivar de soja e da densidade populacional do nematoide. O ciclo de vida dos nematoides do gênero Meloidogyne depende de alguns fatores, sendo a temperatura um dos mais importantes. A temperatura ótima, para a maioria das espécies, oscila entre 15°C e 30°C. De modo geral o ciclo completa-se em aproximadamente 25 dias sob temperatura de 27°C, mas pode se tornar mais longo em temperaturas mais elevadas ou inferiores. Todas as medidas de controle devem ser executadas antes da semeadura, pois ao constatar que a lavoura de soja está atacada, o produtor nada poderá fazer naquela safra. Todas as observações e todos os cuidados deverão estar voltados para os próximos cultivos na área. A identificação correta da espécie de Meloidogyne predominante na área é essencial para se proceder o manejo desse nematoide. Amostras de solo e raízes de soja com galhas devem ser coletadas em pontos diferentes da reboleira, até formar uma amostra composta
Renato Andrade Teixeira
As espécies Meloidogyne javanica e M. incognita têm sido constatadas com maior frequência no norte do Rio Grande do Sul, sudoeste e norte do Paraná, sul e norte de São Paulo e sul do Triângulo Mineiro. Na região Central do Brasil, o problema é crescente, com severos danos em lavouras do Mato Grosso do Sul e Goiás. As folhas das plantas afetadas normalmente apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha "carijó". Às vezes, pode não ocorrer redução no tamanho das plantas, mas, por ocasião do florescimento, nota-se intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro das
O nematoide de cisto da soja se caracteriza pela facilidade de disseminação
Fernando Godinho de Araújo
Nematoide de galhas (Meloidogyne spp.)
O controle dos nematoides de galha pode ser realizado com a rotação/sucessão de culturas
de aproximadamente 500g de solo e pelo menos cinco sistemas radiculares da planta de soja. A amostra, acompanhada do histórico da área, deve ser encaminhada, o mais rapidamente possível, a um laboratório de nematologia credenciado. O controle dos nematoides de galha pode ser realizado com a rotação/sucessão de culturas, a adubação verde e a utilização de cultivares resistentes. A rotação de culturas para controle de nematoide das galhas deve ser bem planejada, uma vez que a maioria das espécies cultivadas e das plantas daninhas é hospedeira e/ou atacada. A utilização de cultivares resistentes é uma alternativa eficiente e de baixo custo. Atualmente várias cultivares de soja resistentes e moderadamente resistentes a M. javanica e/ ou M. incognita estão disponíveis no mercado. Como o nível de resistência dessas cultivares não é muito elevado, em casos onde a população do nematoide no solo estiver muito alta, o emprego de cultivar resistente deve ser precedido de rotação com uma cultura não hospedeira de Meloidogyne.
Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus)
O nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) é disseminado por todo o Brasil. No caso da soja, especialmente na região Central, as perdas têm aumentado muito nas últimas safras. No entanto, quase não existem estudos sobre os efeitos do seu parasitismo nas diversas culturas. O nematoide foi favorecido por mudanças no sistema de produção e a incorporação de áreas com solos de textura arenosa (>85% de areia). O P. brachyurus pode parasitar outras culturas de grande interesse econômico como o milho, o milheto, o girassol, a cana-de-açúcar, o algodão, o amendoim, a aveia, alguns adubos verdes e a maioria das plantas daninhas. Essa ampla gama de hospedeiros dificulta muito a rotação de culturas. Além da sintomatologia geral, já descrita
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Fernando Godinho de Araújo
Na soja, especialmente na região Central, as perdas por nematoides têm aumentado muito nas últimas safras
para nematoides, é possível observar nas raízes atacadas por essa praga a presença de áreas necrosadas. Isto ocorre em função do ataque às células do parênquima cortical, onde o nematoide injeta toxinas durante o processo de alimentação. Sua movimentação dentro das raízes também causa a destruição celular, o que favorece a invasão por fungos e bactérias, resultando em lesões necróticas. Não há a formação de galhas, contudo, o sistema radicular das plantas de soja fica reduzido. As medidas de controle envolvendo o P. brachyurus ainda estão, em sua grande maioria, em fases iniciais de estudo. Espécies resistentes, como algumas crotalárias (Crotalaria spectabilis, C. breviflora, C. mucronata e C. ochroleuca), devem ser preferidas para semeadura nas áreas infestadas. Na ausência de espécies vegetais resistentes, o agricultor deve optar por semear genótipos que multipliquem menos o nematoide, como, por exemplo, alguns híbridos de milheto. A interação de P. brachyurus com a soja é menos complexa, não havendo necessidade de formação de nenhuma célula especializada de alimentação, como ocorre com os nematoides de cisto e de galhas, assim, as chances de se encontrar fontes de resistência são menores. O comportamento das cultivares brasileiras de soja em áreas infestadas não tem indicado a existência de materiais resistentes ou tolerantes. Todavia, avaliações em casa de vegetação e em campo naturalmente infestado têm mostrado que entre as duas há bastante diferença com relação à capacidade de multiplicar o nematoide. Considerando que na maioria das lavouras afetadas, as populações do parasita são muito elevadas, o uso de cultivar de soja mais resistente deve ser sempre precedido de, pelo menos, um ano de rotação com uma espécie vegetal não hospedeira.
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Nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis)
Nos últimos 15 anos o nematoide reniforme tem aumentado sua importância na cultura da soja, em especial no centro-sul de Mato Grosso do Sul. Já é considerado um dos principais problemas em Maracaju e Aral Moreira e está disseminado em outros 19 municípios do estado. O algodão é a cultura mais afetada por R. reniformis, parasitando também o abacaxi, o feijão, o maracujá e outras culturas. Os sintomas nas plantas parasitadas por R. reniformis diferem em parte daqueles causados por outros nematoides. Embora não induza a formação de galhas nas raízes, prejudica a translocação de água e nutrientes das raízes para as folhas. Por não induzir a formação de galhas, a detecção do nematoide reniforme no campo é praticamente impossível, sendo necessária análise de solo/raiz em laboratório especializado. Lavouras de soja cultivadas em solos infestados caracterizam-se pela desuniformidade, com extensas áreas de plantas subdesenvolvidas e não ocorrência de reboleiras típicas. Ao serem arrancadas, as raízes parecem permanecer sujas mesmo após serem lavadas em água corrente; isto devido ao fato de a argila do solo aderir às massas de ovos dos nematoides. Ocorre tanto em solos arenosos quanto em argilosos e os danos são comuns em áreas de boa fertilidade em solos de textura argilosa. Como principais alternativas de controle do nematoide reniforme figuram a rotação/ sucessão com culturas não hospedeiras e a
utilização de cultivares resistentes. O milho, o arroz, o amendoim e a braquiária apresentam potencial de utilização em um esquema de integração lavoura/pecuária, pois são resistentes e podem ser utilizados em rotação com a soja ou o algodão. Das plantas cultivadas no outono/inverno e utilizadas como coberturas em sistemas de semeadura direta, são resistentes a braquiária, o nabo forrageiro, o sorgo forrageiro, a aveia preta, o milheto e o capim pé-de-galinha. Pelo fato de o nematoide reniforme ser muito persistente no solo, dependendo da densidade populacional, pode haver necessidade de mais de dois anos de cultivo com espécie não hospedeira para se diminuir o nível populacional do nematoide. Com relação ao uso da resistência genética, normalmente as principais fontes de resistência ao nematoide de cisto da soja, exceto a PI 88788, também conferem resistência a R. reniformis. Portanto, devem ser exploradas nos programas de melhoramento que objetivam a resistência. As cultivares de soja resistentes a H. glycines já liberadas no Brasil, especialmente aquelas derivadas de ‘Peking’ (‘Custer’, ‘Forrest’, ‘Sharkey’, ‘Lamar’, ‘Pickett’, ‘Gordon’, ‘Stonewall’, ‘Thomas’, ‘Foster’, ‘Kirby’ e ‘Padre’, dentre outras), da PI 90763 (‘Cordell’) ou da PI 437654 (‘Hartwig’) têm grande potencial de também serem resistentes ao nematoide C reniforme. Fernando Godinho de Araújo, Universidade Federal de Goiás Fábio Luiz Partelli, Univ. Federal do Espírito Santo
Tabela 1 - Relação de cultivares de soja resistentes ao nematoide de cisto da soja (H. glycines) para a região Central do país Cultivares de soja BRS 231 BRS 262 BRS 263 (Diferente) BRS 8460RR BRS Invernada BRS Jiripoca BRS Piraíba BRSGO Araçu BRSGO Chapadões BRSGO Edéia BRSGO Iara BRSGO Ipameri BRSGO Raíssa BRSMG 250 (Nobreza) BRSMG 251 (Robusta) BRSMG 810 C BRSMG 811CRR BRSMG Liderança BRSMT Pintado CD 217 CS 801
Resistência a H. glycines* R 1,3 MR 14 R 1,3 R 1,3 MR 14 R 1,3 R 1,3 R 1,3 MR 14 R 1,3 R 1,3 R 1,2,3,4,5,14 R3 R3 R 3,14 R3 R 1,3 R3 R 1,3 R3 R3 R 1,3 MR 14 R3 R3
Cultivares de soja FMT Cachara FMT Matrinxã FMT Tabarana FMT Tucunaré Foster (IAC) M-SOY 7901 M-SOY 8001 M-SOY 8200 M-SOY 8400 M-SOY 8757 NK7059RR NK7074RR NK412113 P98N71 P98N82 TMG113RR TMG115RR TMG117RR TMG121RR V-MAX
* Resistência: R = resistência à raça ou às raças / MR = moderadamente resistente à raça. Fonte: Embrapa Soja (2008).
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Resistência a H. glycines* R 1,3 R 1,3 R 1,3 R 1,3 MR 14 R3 R3 R 1,3 R3 R3 R3 R3 R3 R3 R 1,3 R3 R 1,3 R 1,3 MR 14 R3 R 1,3 MR 14 R3
Café Divulgação
Adubação de inverno
A aplicação suplementar de fertilizantes, como o nitrogênio, em meses de temperaturas mais baixas surge como alternativa promissora na cultura do cafeeiro, com impacto positivo nas taxas de crescimento e na produtividade
U
m sistema pouco usual de adubações consiste na “adubação de inverno”, época em que a planta paralisa o desenvolvimento da parte aérea sem cessar o crescimento radicular, pois no solo não há limitação por baixas temperaturas. Uma adubação nitrogenada de inverno visaria apenas o desenvolvimento radicular das plantas,
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que teriam um maior desenvolvimento inicial da parte aérea no início do período chuvoso. No verão também se tem observado que o uso de adubações líquidas em períodos de estiagem pode proporcionar maior desenvolvimento vegetativo e maiores produtividades. Durante o inverno ocorre redução paulatina do crescimento da parte aérea
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do cafeeiro, que segue até sua completa paralisação nos meses de julho a setembro. Esta limitação está relacionada com o aumento do número de horas com temperaturas abaixo de 12,5°C (Amaral et al, 1987). Contudo, esta redução no desenvolvimento da parte aérea não é afetada pela expansão do fotoperíodo, pela irrigação e pela adubação nitrogenada de inverno (Amaral, 1991). Entretanto, as taxas de crescimento das plantas que recebem nitrogênio suplementar no inverno, tanto sob a forma nítrica quanto amoniacal, são quase o dobro daquelas taxas em cafeeiros apenas adubados durante o verão. Sendo assim, a produtividade é, também, significativamente maior nas plantas adubadas no inverno. Portanto, há algum efeito sob a influência do nitrogênio aplicado durante o inverno (Amaral et al, 1987; Matta et al, 1999). As raízes continuam a crescer no inverno quando se aplica nitrogênio, pois durante este período a temperatura do solo dificilmente cai abaixo de 15°C e normalmente permanece acima de 17°C
boa parte do dia (Amaral, 1991). Plantas que recebem adubação nitrogenada de inverno têm prosseguimento normal de muitos fenômenos biossintéticos, especialmente a assimilação de nitrogênio, via atividade da redutase do nitrato (Amaral et al, 1987). Utilizando-se da fertirrigação de inverno, os fatores que limitam o desenvolvimento radicular, como água e nitrogênio, são supridos. Desta forma, as plantas de cafeeiros acumulam vários compostos nitrogenados, como aminoácidos e reguladores de crescimento, os quais são transportados para a parte aérea, permitindo um maior desenvolvimento das plantas, quando a temperatura ambiente tornar-se favorável (Matta et al, 1999). Esse tipo de adubação é uma inovação que se mostra promissora, por permitir um possível maior desenvolvimento dos cafeeiros quando do retorno das chuvas e das maiores temperaturas. Em busca de mais esclarecimentos sobre o assunto, atualmente está sendo conduzido na Fazenda Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Patrocínio, um ensaio com adubação nitrogenada e
SLC Agrícola
Com a fertirrigação de inverno são supridos fatores que limitam o desenvolvimento do cafeeiro, como carência de água e de nitrogênio
adubação NPK de inverno em relação à adubação tradicional ou em substituição em épocas diferentes para a cultura do cafeeiro. As quantidades dos fertilizantes são aplicadas em função da análise de solo em doses recomendadas igualmente para todos os tratamentos. É importante salientar que os fertilizantes na época de inverno são sempre aplicados após serem solubilizados, utilizando-
se de equipamentos para aplicação de herbicidas, fazendo-se aplicação em faixa sob a projeção da copa das plantas. Brevemente serão divulgados resultados conclusivos deste ensaio conduzido em campo. C Kaio Gonçalves de Lima Dias e Thiago Henrique Pereira Reis, Ufla
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Charles Echer
Trigo
Manejo eficaz O período de pré-semeadura do trigo, de fevereiro a abril, até o plantio, entre maio e julho, favorece a emergência e o desenvolvimento de plantas daninhas porque as áreas costumam permanecer ociosas, sem cultura comercial. Estratégias estão disponíveis para que o produtor possa realizar o controle satisfatório nesse estágio
A
cultura do trigo desponta como uma das mais importantes no cultivo de inverno, especialmente no Sul do Brasil. Nessa região é característico o uso do sistema de plantio direto, que requer o uso de herbicidas para o manejo das plantas daninhas em operações que vão desde o controle em pré-semeadura, em pré e em pós-emergência. Outra característica do cultivo do trigo é a rotação de culturas, onde em algumas regiões a semeadura ocorre após a colheita da soja e em outras após a do milho (que em algumas regiões é a mais frequente). Sendo assim, desde a colheita do milho (entre fevereiro e abril) até o plantio do trigo (maio a julho) as lavouras costumam ficar sem cultura, o que favorece a emergência e o desenvolvimento de plantas daninhas, sem a competição das culturas. Esse período de dois a quatro meses sem uma cultura comercial ou sem o controle de plantas daninhas poderá resultar em problemas na semeadura do trigo, pois podem ocorrer várias espécies de plantas daninhas que, em geral, se encontram bem desenvolvidas e que podem dificultar o seu controle. A recomendação para a época e o modo para realizar a dessecação
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em pré-semeadura é muito ampla, pois varia em função de diversos fatores como época de semeadura do trigo, número e espécies das plantas daninhas, nível tecnológico do agricultor, entre outros. Entre as opções do manejo em pré-semeadura, duas se destacam como as mais usuais: a dessecação em aplicação única na véspera da semeadura do trigo e a dessecação de pós-colheita da safra de verão (manejo outonal) seguida de mais uma dessecação antes da semeadura do trigo. O manejo outonal é uma opção bastante utilizada e que tem mostrado excelentes resultados. Esse manejo consta da aplicação de herbicidas não seletivos alguns dias após a colheita do milho ou da soja, em geral de duas a três semanas depois, uma aplicação que tem por objetivo o controle das espécies que emergiram ao final do ciclo, principalmente do milho e daquelas que rebrotaram após o corte da colhedora. Essa operação propicia uma área mais limpa na época da semeadura do trigo e o manejo em pré-semeadura é realizado com menor número de plantas daninhas, menos desenvolvidas e consequentemente de mais fácil controle. No entanto, independentemente do manejo outonal, várias espécies de plantas
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daninhas podem emergir no período entre a colheita da cultura de verão e a semeadura do trigo, destacando-se a aveia-preta e o azevém, que são bastante utilizados como pastagem e/ ou como cobertura no sistema de rotação de culturas. Tanto a aveia-preta como o azevém apresentam características semelhantes às do trigo e seus controles, quando o trigo já está no campo, requerem o uso de herbicidas específicos. No manejo dessas espécies antes da semeadura do trigo alguns herbicidas não seletivos (por exemplo, o glifosato e o paraquat) podem ser utilizados em aplicação única ou sequencial. O manejo em aplicação única é realizado poucos dias antes da semeadura do trigo, devendo-se considerar, nesse caso, que outras espécies ocorrem junto com a aveia-preta e o azevém e muitas vezes o uso do glifosato isolado nem sempre controla adequadamente todas as espécies presentes, requerendo a complementação do controle com outros herbicidas, em geral latifolicidas. O manejo mais sustentável e adequado é a dessecação sequencial, com o uso do glifosato de 20 a 30 dias antes da semeadura do trigo, seguido de uma aplicação de paraquat ou de
paraquat + diuron, próxima ou até no dia da semeadura. É importante destacar que o uso de glifosato isoladamente nem sempre promove o controle adequado de todas as espécies, o que exige a complementação com outros herbicidas na primeira aplicação do manejo sequencial, o que pode onerar a operação de manejo. Outro problema que pode afetar substancialmente o manejo de plantas daninhas em pré-semeadura do trigo é a ocorrência de espécies resistentes. Devido ao crescente uso de glifosato em culturas resistentes a esse herbicida, como a soja RR, torna-se cada vez mais comum a seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato, que vêm aumentando sua frequência e requerem um manejo diferenciado. Na região Sul do Brasil já são encontrados problemas com azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza spp.) e capimamargoso (Digitaria insularis) resistentes ao herbicida glifosato. A ocorrência do azevém resistente ao glifosato tem aumentado na região Sul e tornou-se um problema tanto na dessecação em pré-semeadura do trigo como de outras culturas de verão. Quando não resistente, o azevém é controlado com o glifosato, porém, nos biótipos resistentes outros herbicidas devem ser associados ao glifosato, o que onera o custo da operação e com o agravante de que os herbicidas que controlam o azevém nem sempre são recomendados para trigo e/ou para aplicação de manejo. No entanto, o azevém resistente ao glifosato deve ser eliminado e são recomendadas estratégias para evitar que afete a semeadura e a produção do trigo. Alguns herbicidas inibidores da ACCase são eficientes no controle do azevém resistente, especialmente quando associados ao glifosato. Nesse caso, quando do uso desses produtos deve se atentar para o intervalo entre a aplicação e a semeadura do trigo para evitar danos de carryover. Esse intervalo pode variar de sete até 30 dias, dependendo do herbicida utilizado. Dentre os herbicidas
Fundação ABC
Azevém (Lolium multiflorum) resistente ao herbicida glifosato na operação de dessecação. Penckowski & Fernandes. Fundação ABC, Safra 2009/2010
que apresentam excelente controle de azevém resistente e que se apresentam seguros no ponto de vista de carryover destaca-se o cletodim. No manejo de buva resistente ao herbicida glifosato o problema se agrava, já que quanto maior for o intervalo entre a colheita da cultura de verão e a semeadura do trigo a buva tem mais tempo para se desenvolver, o que torna necessário maior atenção ou estratégias mais precisas para o controle dessa espécie. É importante destacar que o estádio de aplicação é determinante para o sucesso do controle. O uso do 2,4-D associado ao glifosato complementado com paraquat + diuron é uma das maneiras mais eficientes no controle da buva resistente desde que as plantas apresentem estádios precoces de desenvolvimento (10cm de altura). A partir desse estádio o controle diminui e em alguns casos não ocorre efetivamente. Outro agravante no manejo em présemeadura do trigo é a ocorrência de plantas voluntárias de soja RR e, mais recentemente,
de milho RR. É importante destacar que o produtor que semear trigo após soja RR terá que adicionar outro herbicida latifolicida ao glifosato, preferencialmente 2,4-D, pois existem no mercado cultivares de soja chamadas STS que, além de serem resistentes ao glifosato, também são tolerantes aos herbicidas do grupo das sulfonilureias. Para o controle de milho RR o produtor provavelmente terá um custo maior, pois deverá utilizar herbicidas inibidores da ACCase. Em ambos os casos, resteva de soja RR e de milho RR, existe a possibilidade de se utilizar herbicidas de contato como paraquat e paraquat + diuron, desde que as plantas de soja ou milho não estejam em estádios avançados C de desenvolvimento. Jeferson Zagonel, UEPG Luis Henrique Penckowski e Eliana Cuéllar Fernandes, Fundação ABC
Controle de Azevém (Lolium multiflorum) resistente ao herbicida glifosato. Pencko- Controle de Soja (Glycine max) voluntária resistente ao herbicida glifosato na operação de dessecação. Penckowski, Podolan & Fernandes. Fundação ABC, Ponta Grossa (PR), Safra 2009/2010 wski, Podolan & Fernandes. Fundação ABC, Castro (PR), Safra 2009/2010
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Empresas Cultivar
Novidade contra a ferrugem A Bayer CropScience coloca no mercado brasileiro o fungicida Fox, maior lançamento da empresa no Brasil, desenvolvido a partir de um novo grupo químico, que poderá ser também uma ferramenta no manejo à resistência da ferrugem asiática
S
eguindo a política anunciada na Alemanha, em setembro de 2010, de oferecer produtos baseados em novas moléculas, a Bayer CropScience lançou no Brasil o fungicida Fox, produto que vem para atuar no manejo de ferrugem asiática e de outras doenças da soja, como mancha-alvo e antracnose. O Fox, que vem sendo tratado pela Bayer CropScience como o maior lançamento da história da empresa no Brasil, é um novo fungicida composto da associação entre a estrobilurina (trifloxistrobina) e a triazolintiona (protioconazol). Desde o surgimento da ferrugem no Brasil, em 2001, o manejo da doença era feito com uso de triazóis e de estrobilurinas aplicados separadamente ou em misturas. Segundo o pesquisador da Universidade de Rio Verde, Luis Henrique Carregal, que participou do processo de testes com o novo produto, a estrobilurina é a mesma presente em outros fungicidas da empresa e atua inibindo o transporte de elétrons na mitocôndria. Esses fungicidas inibem a produção de energia e o fungo morre. Mas a grande novidade está no protioconazol, classificado como triazolintiona (registro junto ao Mapa). Embora também seja um inibidor da desmetilação (IDM), sua prin-
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cipal diferença é a presença de molécula de enxofre em sua estrutura química, o que o torna mais eficaz no controle de doenças como a ferrugem asiática. A forma com que o proticonazol se liga à enzima C14 desmetilase é diferente dos triazóis, o que pode auxiliar no manejo da resistência. Além disso, segundo informações dos pesquisadores da Bayer, o risco de resistência cruzada entre o protioconazol e os triazóis é significativamente menor que entre triazóis. Somente com a exposição do protioconazol em grandes áreas, será possível verificar a real contribuição no manejo da resistência e, para que isso ocorra, é fundamental que os agricultores sigam à risca as recomendações do fabricante. O novo produto vem sendo testado por pesquisadores no Brasil desde 2006, onde apresentou controle superior às demais marcas comerciais testadas em campos experimentais. Nos experimentos realizados por Carregal, os resultados obtidos com aplicações preventivas, comparados com outros dois produtos e testemunha, mostram que a severidade da doença chegou a 8,08% com uso de Fox, contra 20,28% e 69,20% para os demais produtos e 100% na parcela testemunha. Neste mesmo ensaio, a produtividade na parcela com Fox chegou
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a 53,95 sc/ha, contra 47,82 sc/ha e 30,34 sc/ha para os demais produtos e 20,43 sc/ ha na parcela testemunha. Experimentos conduzidos pelo pesquisador Daniel Cassetari, da Universidade Federal do Mato Grosso, também mostraram controle superior do Fox em relação aos demais produtos testados. “Com duas aplicações preventivas, começando no estágio R1, o produto mostrou controle superior às parcelas com outros aplicados nos mesmos estágios com fenológicos”, explica. “Além da eficácia para o manejo da fer-
Para Gerhar Bohne, o lançamento do Fox é o maior já feito pela Bayer CropScience no Brasil
Fotos Edilon Carmo
COMO ATUA O NOVO FUNGICIDA
O
Mais de 50 cidades receberão eventos de lançamento do produto, explica Eduardo Mazzieri
rugem, o Fox apresenta controle superior da mancha alvo e da antracnose, e que dispensa adição de fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis, até então considerados eficientes no controle destas doenças”, garante Gerhard Bohne, diretor de Operações de Negócios Brasil da Bayer CropScience. “Avaliando todas as condições enfrentadas pelas lavouras de soja no Brasil, a empresa, que acompanha a evolução da ferrugem ao longo dos anos, por meio do seu programa Base Line, conseguiu desenvolver um fungicida diferenciado para o manejo da ferrugem e do complexo de doenças da soja. É uma grande satisfação anunciar que este é o maior lançamento da história da Bayer CropScience Brasil e temos certeza de que o Fox chega para revolucionar o segmento de fungicidas na cultura da soja no Brasil", acrescenta Bohne.
s fungicidas são produtos químicos capazes de inibir processos metabólicos vitais aos fungos, causando sua morte. O local de ação (sítio de ação) de cada grupo químico pode variar grandemente, o que é saudável para evitar ou até mesmo para o manejo da resistência. É importante salientar que grupos químicos diferentes podem atuar sobre o mesmo sítio do patógeno, o que aumenta o risco de resistência cruzada. Conforme tem se verificado a campo, o fungo causador da ferrugem asiática apresenta menor sensibilidade
aos triazóis, o que exige a introdução de novos produtos no mercado e que sejam diferentes daqueles utilizados atualmente. O novo grupo químico protioconazol é um inibidor da desmetilação (IDM), sua principal diferença é a presença de molécula de enxofre em sua estrutura química, o que o torna mais eficaz no controle de doenças como a ferrugem asiática. A forma com que o proticonazol se liga à enzima C14 desmetilase é diferente dos triazóis, o que pode auxiliar no manejo da resistência.
LANÇAMENTO
Para apresentar o produto aos produtores brasileiros, a Bayer vai fazer ações em mais de 50 cidades nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo. Os eventos contarão com o Cinetransformer, uma carreta que se transforma em sala de cinema 3D, com capacidade para acomodar até 92 pessoas
Para Carregal, o Fox será uma ferramenta que possibilitará a rotação completa de fungicidas
simultaneamente, que transmitirá vídeos promocionais do novo produto para os produtores e filmes infantis para as crianças da cidade, explica Eduardo Mazzieri, gerente de Produtos Fungicidas para Soja. Toda a campanha de marketing terá
como garoto-propaganda o Ferrugem, estrela infantil dos anos 80, que vai personificar o fungo da ferrugem. A Bayer também preparou para safra 2010/2011 mais de 700 áreas demonstrativas em oito estados para apresentar os resultados do produto. C
Lançamento oficial contou com a presença de pesquisadores de instituições do Cerrado, diretores da Bayer e do Ferrugem, garoto-propaganda do Fox
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Coluna ANPII
Eixos estratégicos ANPII participa das discussões da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA) e entre as estratégias propõe atingir no prazo de cinco anos a comercialização de 27 milhões de doses de inoculante para leguminosas
A
Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes tem participado das reuniões da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA), criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Esta Câmara tem a finalidade de propor estratégias e ações para a maior produtividade e rentabilidade do agronegócio brasileiro. Participam da CTIA, além do próprio Mapa, 25 associações representativas do setor de insumos. Em 2011 foi proposto que os diversos setores traçassem seus eixos estratégicos para os próximos cinco anos, fornecendo
tores). Para os inoculantes destinados às gramíneas, por serem ainda muito novos no mercado, não há como se fazer uma previsão para os próximos anos, por falta de dados históricos que permitam uma projeção para um médio prazo. Somente com mais um ou dois anos de comercialização será possível projetar números para o futuro. No que tange à pesquisa, desenvolvimento e inovação, os eixos norteadores das ações nesta área são onze: • Seleção de estirpes de bactérias fixadoras, tanto em leguminosas como em plantas de outras famílias. • Seleção de cultivares adaptadas à
O histórico da FBN no Brasil tem demonstrado que os grandes avanços na área sempre foram oriundos da colaboração entre governo e iniciativa privada, sendo este trabalho conjunto responsável pelo elevado padrão de qualidade do inoculante comercializado no Brasil. A falta de apoio à assistência técnica, talvez seja o maior gargalo para a adoção plena do uso de inoculante. E a ANPII apontou isto, mostrando os pontos onde há necessidade de reforço para que a tecnologia seja repassada de forma continuada e dentro de padrões de atualidade para os assistentes técnicos, sejam das EMATERs, sejam de cooperativas ou de consultorias
A falta de apoio à assistência técnica, talvez seja o maior gargalo para a adoção plena do uso de inoculante subsídios para o estabelecimento de uma política de médio prazo para os insumos agropecuários no Brasil. Atendendo a esta necessidade a ANPII traçou os eixos estratégicos da área de produção de inoculantes, baseando seu trabalho nos grandes eixos sugeridos pelo Mapa: estatísticas, pesquisa e desenvolvimento e inovação, assistência técnica, governança da cadeia, comercialização e outros. A partir daí foram levantados os principais problemas e oportunidades do setor, verificando-se quais pontos da cadeia necessitam maiores investimentos para tornar a fixação biológica do nitrogênio uma prática agrícola utilizada na só na cultura da soja, mas também em diversas outras, não só leguminosas como em gramíneas, com o advento dos novos inoculantes. Em termos de estatística, foi feita uma projeção para que se atinja, no prazo de cinco anos, a comercialização de 27 milhões de doses de inoculante para leguminosas (em um cenário otimista, no qual se mantenham os preços das comodities em patamares rentáveis para os agricul-
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FBN. • Avaliação dos níveis de N fixado pelas diversas estirpes, em diferentes condições e culturas. • Interação de microrganismos • Suporte científico ao Mapa para o registro de inoculantes. • Caracterização genética das bactérias usadas em inoculantes. • Novas formulações de inoculantes, mais fáceis de usar. • Compatibilização da inoculação com o uso de sementes tratadas industrialmente. • Compatibilização do uso do inoculante com defensivos usados nas sementes. • Desenvolvimento de tecnologias que permitam a inoculação com antecipação ao plantio. • Mais dados de pesquisa mostrando as vantagens do uso da inoculação em gramíneas. Dentro destas ações, algumas são executadas pelos órgãos de pesquisa, outras pelas empresas e outras em projetos conjuntos entre pesquisa oficial e privada.
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privadas. Somente com a transmissão de dados de pesquisa sempre atuais os agrônomos e técnicos agrícolas que orientam os agricultores poderão transmitir as novas tecnologias que estão surgindo seguidamente no horizonte da fixação biológica do nitrogênio. Em vários outros pontos a ANPII apresenta sua visão e suas propostas de ações: marketing, defesa agropecuária, legislação, interação com outras cadeias. Desta forma, a associação colabora com o Mapa para que seja implantada uma política consistente de insumos agropecuários, pois no atual momento da agricultura brasileira (onde o agronegócio atinge uma importância fundamental no desenvolvimento do país) não se pode mais trabalhar com improvisações, exigindo-se elevada competitividade internacional, o que será muito facilitado com planejamento C de médio prazo. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
O
termo "sustentável" provém do latim sustentare (sustentar; defender; favorecer, apoiar; conservar, cuidar). O conceito moderno de sustentabilidade começou a ser delineado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Foi a primeira oportunidade em que a ONU patrocinou uma reunião para discutir o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente. Embora a expressão "desenvolvimento sustentável" ainda não fosse usada na época, a declaração já abordava a necessidade de defender e melhorar o ambiente humano para as atuais e futuras gerações, um objetivo a ser alcançado juntamente com a paz e o desenvolvimento econômico e social. Verifica-
Produção sustentável aumenta a insegurança da produção, por força das mudanças climáticas globais. Esta é a síntese das questões ambientais envolvidas na produção agropecuária. A grande saída que o mundo dispõe para aumentar a produção - diminuindo o custo dos alimentos e mantendo a renda dos agricultores - é a tecnologia adequada e seu corolário prático, a produtividade agrícola. Este é o desafio econômico. Felizmente, a produtividade agrícola pode atender adequamente aos três pilares da sustenSustentabilidade e agropecuária tabilidade, desde que os sistemas de produção Integrando os aspectos sociais, ambientais sejam intrinsicamente sustentáveis. e econômicos, derivados das considerações anteriores, entendo que a agricultura susSustentabilidade e mercado tentável provê as necessidades da sociedade Este dueto configura um casamento de produtos agrícolas de qualidade, com duradouro. Para garantir espaço no mercado, respeito ao meio ambiente e remunerando as será necessário demonstrar a sustentabilida-
sustentabilidade global no século XXI. A Cúpula da Terra sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002 em Joanesburgo, reafirmou os compromissos da Agenda 21, propondo a maior integração das três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental). Avançou além do proposto na ECO-92 ao propor programas e políticas centrados nas questões sociais e nos sistemas de proteção social.
A grande saída que o mundo dispõe para aumentar a produção - diminuindo o custo dos alimentos e mantendo a renda dos agricultores - é a tecnologia adequada e seu corolário prático se que, desde a sua gênese, o conceito de sustentabilidade envolve um tripé fundindo indissoluvelmente aspectos ambientais, sociais e econômicos. Nada será sustentável se deixar de atender a um dos quesitos, perfeitamente harmonizado com os demais. Uma elaboração complexa, inteligente e integradora. A definição correntemente aceita de sustentabilidade na agropecuária deriva do “Relatório Brundtland” preparado a pedido da ONU e publicado em 1987 com o título Our Common Future, e reza que “o uso sustentável dos recursos naturais deve suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas”. A Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92 ou ECO-92), consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável, plasmando em definitivo meio ambiente e desenvolvimento quando se trata de sustentabilidade, consolidando a iniciativa esboçada na Conferência de Estocolmo. A RIO-92 adotou, oficialmente, o conceito de desenvolvimento sustentável, elaborado pela Comissão Brundtland. Na ECO-92 também foi elaborada a Agenda 21, um amplo e abrangente programa de ação, visando a
cadeias produtivas de forma a mantê-las em atividade. Eatabelecido o introito, passemos a discutir o conceito de sustentabilidade aplicado à agropecuária. O crescimento populacional – embora declinando progressivamente até a estabilização, na metade deste século - e a inserção social – que aumentará progressivamente, rumo à eliminação da fome estrutural no mundo - serão os principais vetores da demanda de produtos agrícolas, nas próximas décadas. Estas premissas constituem o fulcro da questão social da sustentabilidade na agropecuária, ou seja, o mercado de produtos agrícolas cresce essencialmente por inserção social, até que a população do mundo tenha suas necessidades nutricionais atendidas. Para tanto, é necessário aumentar significativamente a produção agrícola. Entretanto, destarte o aumento da demanda de alimentos e de outros produtos agrícolas - em especial pela inserção social - no médio e longo prazos acentuam-se as restrições físicas e ambientais à incorporação de novas áreas, pois as áreas agricultáveis do mundo estão atingindo sua fronteira e as que sobraram são ambientalmente sensíveis. Ao mesmo tempo,
de na produção agrícola. E o Brasil vem se preocupando com esta questão. Para ilustrar cito duas iniciativas que apoiam a busca da sustentabilidade na cultura da soja: 1) Desafio Soja – Trata-se de uma iniciativa pioneira da Oscip, o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) que, desde 2008, propugna o incremento constante da produtividade sustentável da soja brasileira, com observância dos requerimentos trabalhistas e ambientais, e lastreada em tecnologia intrinsicamente sustentável; 2) Soja Plus – Trata-se de um sistema de certificação voluntária, lançado em 2011, que inclui aspectos trabalhistas e ambientais na produção de soja, e que envolve diversos atores da cadeia de soja, tanto públicos quanto privados. A sustentabilidade será fundamental para o contínuo crescimento do agronegócio brasileiro, e o agricultor contará cada vez mais com as iniciativas como as citadas, para orientá-lo no rumo de sempre produzir de C forma sustentável.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Abril 2011
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Mundo de olho na nova safra americana Estamos no início do plantio da safra americana, que vai de abril ao começo de junho (sendo que o período ideal para o milho começa em 20 de abril e vai até 20 de maio e a soja tem o mês de maio como ideal para se plantar e colher o melhor potencial produtivo das lavouras). Neste ano o clima mostra inverno alongado, com frio ainda em grande parte das regiões produtoras, o que dificulta as primeiras semeaduras. Mas o mercado internacional estará de olho no que virá dos campos americanos, que inicialmente têm indicativos de plantar mais milho, entre 1,5 a dois milhões de hectares (acima dos 35,6 milhões que foram plantados no ano passado). Tudo aponta para um quadro de estabilidade para a soja, mas grande parte dos operadores aposta em queda (na faixa dos 30,5 milhões de hectares contra os 31,3 milhões plantados no ano passado). Com a grande necessidade de milho e altas cotações no mercado americano, os produtores estão mais motivados com o cereal e desta forma abrem espaço para dar fôlego à soja, que teve problemas com a colheita no Brasil e mostra perdas no potencial produtivo. Os indicativos são de que fechará abaixo das 70 milhões de toneladas, enquanto a demanda internacional segue aquecida. Como exemplo de demanda, temos o Japão, que sofreu com terremoto, tsunami e já está se reconstruindo e tudo indica que irá necessitar de maiores importações de alimentos. A China busca crescer em compras como soja e também apareceu no mercado do milho, ou seja, os asiáticos estão buscando alimentos e a crise dos países árabes parece estar passando ao largo, porque deixou de ter importância. Por conta disso o mundo volta os olhos para a nova safra dos Estados Unidos, que ditará as regras para as cotações no segundo semestre deste ano e para o primeiro semestre de 2012. Existem grandes chances de vermos as cotações se manterem em níveis bastante atrativos e com poucos espaços na linha de baixo. Somente uma supersafra de milho nos Estados Unidos (algo como 360 milhões de toneladas) poderia trazer pressão na linha baixista das principais commodities agrícolas. O quadro continua mostrando bons ventos para as próximas semanas.
MILHO
Safra chegou e safrinha está indefinida
e o tsunami no Japão. Mas rapidamente se recuperou e segue dentro de seus limites, porque mesmo com perdas no Brasil, seguimos com uma grande safra. O mesmo cenário ocorre na Argentina e no Paraguai e desta forma, a demanda continua atrelada ao mercado chinês que controla as importações e não mostra interesse em cotações disparando. Seguimos entre os níveis dos 13,00/14,00 dólares por bushel em Chicago, com raros momentos acima ou abaixo e mantendo patamares ao redor dos R$ 50,00 nos portos brasileiros. Não houve apoio do dólar, que também mostra pouco fôlego para avanços, porque o Brasil continua sendo um dos melhores locais do mundo para deixar o dinheiro rendendo em “berço esplêndido” e sem riscos, com altos juros. Fato que acaba servindo para limitar avanços ou queda da soja em “terras tupiniquins”. Somente com problemas na nova safra dos Estados Unidos é que poderemos ter um fator novo para dar apoio a avanços que possam empurrar os indicativos acima do que já estão sendo praticados.
O mercado do milho viu a primeira safra chegar e já se encaminha para o final da colheita. Os indicativos vinham se mantendo estabilizados (porque os compradores na exportação estavam ávidos por milho e desta forma dificultavam a queda, tradicional neste momento de colheita, com os produtores colhendo e entregando os contratos e também vendendo parte para fazer caixa), com leve pressão de baixa vista no final de março em função do aumento das ofertas no Sul, onde os agricultores têm dado preferência à venda do milho, retendo a soja. Com a safrinha em desenvolvimento, verifica-se pequeno avanço na área do Paraná, que fica anulada por conta da queda no Mato Grosso. Observa-se, em todas as regiões, um plantio realizado muito adiante do período ideal e dessa forma a produção segue indefinida. No Paraná, São Paulo e sul do Mato Grosso do Sul, existe o risco de geadas na fase de formação das espigas. No restante do Centro-Oeste, os produtores esperam que as chuvas FEIJÃO se alonguem e assim todos torcem para que o clima seja Com avanço antecipado das cotações favorável. Cenário que o mercado percebe como um O mercado do feijão, que vinha em queda livre nas fator de suporte contra grandes baixas nas cotações. Há muito milho contratado para embarque entre julho e primeiras semanas do ano, conseguiu reverter a onda negativa em março e já mostra estabilidade e espaço para setembro, o que dá suporte às cotações. algum ganho. Com pouco produto de boa qualidade no mercado, grandes perdas provocadas pelas chuvas que caSOJA íram entre janeiro e março e muitos prejuízos na primeira Com estabilidade em boas cotações A soja, nestas últimas semanas, passou por mo- safra, se prepara para uma segunda safra, com poucas mentos de pressão negativa, quando houve o terremoto áreas plantadas e bom potencial de cotações. Seguiremos
com boa demanda do produto nobre, com fôlego para se manter acima dos R$ 100,00 e assim favorecer o plantio da terceira safra irrigada que vem pela frente. ARROZ
Sem apoio do governo pouco muda
O arroz fecha uma grande colheita no Sul. A maior safra da história gaúcha, com mais de oito milhões de toneladas. Tratam-se das melhores produtividades e qualidades já vistas. Enquanto isso os produtores amargam cotações muito baixas, que não cobrem as despesas totais. Para piorar, ainda há grandes safras oriundas do Uruguai e da Argentina, países que têm custos menores que os nossos e devem disputar espaço no mercado brasileiro. Desta forma, as indústrias se veem obrigadas a manter cotações do fardo abaixo dos custos e o pacote do arroz nas gôndolas dos supermercados entre os R$ 6,00 e os R$ 9,00 (números menores do que os praticados quando começou o Plano Real!). Assim, para garantir apoio e liquidez o setor terá de receber grande suporte do governo, através da política de garantia de preços mínimos. Porque no Sul as cotações estavam variando dos R$ 20,00 aos R$ 22,00 e com o avanço da colheita e supersafra, haverá falta de armazéns. Esse cenário acaba servindo para segurar ainda mais as cotações. A demanda existe, estamos com a economia fluindo bem, a pleno emprego e grande espaço para o consumo, mas os produtores necessitam de caixa agora e isso dificulta a reação das cotações.
CURTAS E BOAS TRIGO - As negociações com trigo mostraram correções nos indicativos internos, mas que não serviram para estimular os produtores, principalmente do Paraná, ao aumento ou à manutenção da área. Assim, a safrinha de milho, mesmo atrasada, ganhou espaço que deveria ser do trigo. Os indicativos seguiam acima dos R$ 460,00 no Rio Grande do Sul e na casa dos R$ 510,00 no Paraná, com pouca pressão de compra pelos moinhos. Com isso houve grande avanço nas exportações de trigo neste último mês de março. Se houver problemas no mercado externo, poderemos ter uma forte alta nas cotações, mas até lá o cenário é de calmaria, com o plantio começando a andar e produtores vendo que terão de melhorar a produtividade e a qualidade neste novo plantio. ALGODÃO - O mercado se manteve com indicativos do fardo da pluma na faixa dos R$ 130,00 nas principais regiões produtoras. Somente no Mato Grosso o plantio está avançando em aproximadamente 50%, frente à safra passada e quase dobrando a área em relação há dois anos. Com grande parte da produção já travada na exportação, o que dá tranquilidade aos produtores. Já há negócios para entrega em 2012 e também para 2013, garantindo o bom momento. EUA - As primeiras sementes estão sendo plantadas e tudo aponta para crescimento no milho e leve queda na soja. Mas também deverá ocorrer bom crescimento no algodão, o que faz com que as próximas semanas sejam muito importantes para o mercado internacional. O inverno americano foi forte e se tivermos um verão quente e seco, poderemos ter novas notícias positivas para as cotações. Caso o clima se mantenha normal haverá acomodação dos indicativos.
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CHINA - As importações agora crescem em cima do milho. O país está com aperto no abastecimento, forte queda nos estoques e desta forma passou a comprar grandes volumes, nas últimas semanas, no mercado dos Estados Unidos e também na América do Sul. A soja segue em crescimento e já indica fechamento de 57 milhões de toneladas importadas no último ano. Além disso, caminha para alcançar mais de 60 milhões de toneladas neste novo ano, porque há expectativa de leve crescimento no plantio do milho em detrimento das áreas de soja, que podem perder 11% e o milho ganhar pouco mais de 2%. A demanda de alimentos cresce em ritmo maior do que avança a economia local e desta forma há necessidades crescentes, acima das 50 milhões de toneladas de grãos por ano, enquanto a produção local já se encontra no limite. ARGENTINA - O clima trouxe perdas na safra de milho, que indicava um potencial acima das 25 milhões de toneladas no plantio e agora tende a fechar abaixo das 20 milhões de toneladas. A soja, das 55 milhões de toneladas potenciais, caminha para 49 milhões de toneladas. Dessa forma o quadro segue menos positivo do que no ano anterior, mas com grande colheita e crescimento nas exportações. CLIMA - Será o fator mais importante neste mês de abril e principalmente em maio, porque ocorre o plantio da safra dos Estados Unidos e qualquer anormalidade que prejudique a safra americana irá consolidar novos patamares de preços para os produtores agrícolas e trazer mais lucros aos produtores brasileiros. Por aqui, temos a safrinha do milho plantada muito além do período ideal e também muito dependente de clima favorável. Por enquanto, o quadro se apresenta positivo aos produtores.