Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 144 • Maio 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossas capas
Mais um obstáculo...............................22
Augusto César P. Goulart
Andréia Quixabeira Machado
A luta contra a mela do algodoeiro, o mais novo problema a ser enfrentado pelos cotonicultores brasileiros
Como economizar.......................08 Fixação eficiente........................16 Escolha adequada......................30 O papel da automatização dos sistemas de irrigação para diminuir o consumo de água e energia elétrica na cultura do arroz
Os resultados da inoculação biológica com a bactéria Azospirillum brasiliense na cultura do milho
Índice
Expediente
Diretas
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Mosca branca em feijão
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Irrigação em arroz
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Broca em cana-de-açúcar
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Empresas - FMC
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Cercosporiose em milho
14
Inoculação em milho
16
Produção integrada de algodão
19
Mela em algodão
22
Empresas - Syngenta
25
Mancha amarela em trigo
26
Lagarta da soja
30
Mofo branco em soja
33
Coluna ANPII
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
Que ferramentas utilizar e que fatores levar em consideração no manejo da lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO
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• Revisão
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Errata
Cometemos um equívoco nas legendas de duas fotos que ilustram o artigo “Resistentes a doenças”, na página 11, da edição 142, março de 2011. Em lugar de "Podridão radicular de fitoftora", leia-se "Nematoide de cisto". Ao invés de "Pústula bacteriana", o correto é "Necrose da haste".
Tolerância de herbicidas
A Syngenta e a Bayer CropScience anunciaram acordo para o desenvolvimento conjunto de um evento com tolerância a herbicidas HPPD (sigla para enzima hidroxi fenil piruvato dioxigenase) em soja. A característica está em início de desenvolvimento com lançamento previsto para a América do Norte, na segunda metade desta década. “O evento HPPD irá ampliar as opções disponíveis para agricultores e expandir a oportunidade no mercado para nosso herbicida líder, o mesotrione, marca Callisto”, explicou o diretor executivo da Syngenta, Davor Pisk.
Logística
Nematoide de cisto
Necrose da haste
Prêmio
A premiação do 2º ranking de Produtividade da Cultura da Soja, safra 2010/2011 foi realizada em abril, em Laguna Carapã, Mato Grosso do Sul. O concurso é uma iniciativa da Prefeitura e da Secretaria de Agricultura e Pecuária do município. O vencedor foi o produtor Décio Antonio Garlet, com 82,7 sacas por hectare. Em segundo lugar ficou Renato Bortolocci, com 79,50 sacas por hectare, em terceiro Patrick de Oliveira, com 76,80 sacas por hectare, em quarto Volmar Meert, com 73,02 sacas por hectare e em quinto, Antonio Francisco Bohn, com 72,90 sacas por hectare. A entrega dos prêmios coube ao prefeito Luiz Brandão e ao secretário de Agricultura Creovaldo Dosso.
Investimento
A Arysta LifeScience adquiriu o controle do Grupo FES, criado em 1996 como distribuidor de agroquímicos, baseado atualmente em Stavropol, sul da Rússia. A operação já foi aprovada pelas autoridades governamentais do país. O valor do negócio não foi divulgado. “A combinação de nossa presença global com a rede de distribuição e a sólida presença do Grupo FES no agronegócio russo serão os motores de nosso crescimento em produtos e soluções naquele mercado”, estima o presidente e CEO da Arysta, Wayne Hewett Wayne Hewett.
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Os clientes da Syngenta, no Rio Grande do Sul, passam a ser atendidos com mais agilidade, por meio de uma parceria com a TW Transportes. A empresa de logística passa a operar em todo o estado por meio de um centro de distribuição na cidade de Carazinho. “O objetivo desse investimento é a aproximação com os clientes gaúchos, que constituem um mercado importante para a Syngenta”, informou o gerente de Serviços ao Cliente, Ricardo Corrêa.
Ricardo Corrêa
Novos executivos
A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf anunciou mais duas promoções internas, ambas ligadas à área de Pesquisa e Desenvolvimento, com foco na América Latina. Para a gerência do departamento de Integração de Projetos, foi designado o engenheiro agrônomo Gilberto Fernando Velho, na empresa desde 1992. Já o engenheiro agrônomo Luiz Antônio Alves, que atua desde 2000 na companhia, assumiu o cargo de gerente de Departamento da Estação Experimental.
GIlberto Fernando Velho e Luiz Antônio Alves
35 anos
O primeiro complexo industrial da Monsanto no Brasil em São José dos Campos/RS comemorou, em abril, 35 anos. O presidente da empresa no Brasil, André Dias, e o prefeito da cidade, Eduardo Cury, participaram da cerimônia. A produção de São José dos Campos abastece Europa, América Central, América do Norte, América do Sul, André Dias Oceania e Ásia.
Feijão
Mais temida Causadora de prejuízos diretos e indiretos, transmissora de aproximadamente 44 viroses e com mais de 500 plantas hospedeiras, a mosca branca é uma das piores pragas na cultura do feijoeiro. Combinar estratégias integradas e buscar variedades menos suscetíveis ao inseto são alternativas importantes para enfrentar o problema
D
Maria Elisa Fernandes
entre os diversos fatores que podem ocasionar a baixa produtividade da cultura do feijão, no Brasil destaca-se o ataque de insetos. Sua incidência é prejudicial desde a semeadura, durante as fases vegetativas e reprodutivas das plantas até o período pós-colheita, podendo ocorrer danos aos produtos armazenados (Magalhães & Carvalho, 1998). A estimativa de perdas causadas pelas pragas nos rendimentos varia de 33% a 86% (Yokoyama, 2006). A ocorrência de pragas durante o ciclo da cultura do feijoeiro tem contribuído significativamente para os baixos rendimentos, verificados nas diversas regiões produtoras. A mosca branca, Bemisia tabaci (Gennadius) biótipo B é um inseto pequeno, de 1mm de comprimento, com quatro asas membranosas, na fase adulta, recobertas com substância pulverulenta de coloração branca (Gill, 1990), o que deu origem ao nome comum da praga.
A reprodução é sexuada por oviparidade, mas pode ocorrer partenogênese. Os ovos são colocados na face inferior das folhas, ficando presos por um pedúnculo curto. Eclodindo, as ninfas passam a sugar a folha, geralmente na face inferior. Inicialmente só se locomovem, fixando-se posteriormente de maneira semelhante às cochonilhas (Gallo et al, 2002). Apresentam desenvolvimento bastante rápido, com ciclo completo em torno de 15 dias, ocorrendo quatro ecdises. A longevidade das fêmeas é de aproximadamente 18 dias, com oviposição em torno de 110 ovos por fêmea. Os ovos são colocados, preferencialmente, na face inferior da folha, ficando presos por um pedicelo curto (Hoddle, 2000). Anatomicamente, o aparelho digestivo difere dos demais insetos, por apresentar-se na forma de câmara-filtro, isto é, uma câmara que envolve a parte inicial do mesêntero com a parte anterior ou posterior do proctodeu.
Assim, o excesso de líquido sugado passa diretamente da parte inicial para o final do tubo digestivo, sendo eliminado pelo ânus, em forma de gotículas. Por essa razão, é possível a sucção contínua da seiva, pois só é aproveitado pelos insetos um suco alimentar concentrado e de fácil absorção (Oliveira, 2001).
Danos e prejuízos
A mosca branca, principalmente seu biótipo B, pode acarretar danos diretos e indiretos prejudicando o desenvolvimento e a produção do feijoeiro. Os danos diretos são causados pela retirada de seiva do floema e inoculação de toxinas que provocam alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, podendo reduzir a produtividade e a qualidade dos grãos (Villas Bôas et al, 2002). De forma indireta, através da eliminação de secreção açucarada, induz ao aparecimento de fungos saprófitos (Capnodium spp.) que
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José Scarpellini
& Perring, foi constatado atacando diversas culturas, com destaque para olerícolas (Villas Bôas et al, 1997).
Amostragem
O ataque da mosca branca em lavouras de feijão tem potencial para ocorrer durante todo o ciclo da cultura, o que resulta em severas perdas de rendimento
formam a fumagina ou “mela”. Estes, embora não sejam parasitas, pelo seu crescimento escuro e denso, podem reduzir consideravelmente a quantidade de luz que incide sobre os órgãos clorofilados da planta, diminuindo a sua capacidade de fotossíntese. A ocorrência na sua face inferior pode também interferir com as trocas gasosas que se dão através dos estômatos. Além disso, dificultam a ação de defensivos agrícolas, acarretando maiores custos de produção à cultura (Lima, 2001). Outro dano causado pela B. tabaci biótipo B é a transmissão de vírus causador do mosaico dourado (VMDF), dentre outros vírus. O VMDF é um dos principais problemas na cultura do feijão, na América Latina, provocando perdas econômicas que podem variar de 30% a 100%, dependendo de cultivar, estádio da planta, população do vetor, presença de hospedeiros alternativos e condições ambientais (Salgueiro, 1993). O complexo Bemisia spp. pode transmitir aproximadamente 44 viroses, sendo que as perdas resultantes das infecções por vírus são mais significativas do que as relacionadas aos danos diretos (Schuster, 1996). Para a cultura do feijoeiro, por ser vetor do vírus do VMDF, doença que limita a produção de feijão, a mosca branca é considerada como a mais importante praga desta cultura em algumas regiões. Os danos variam conforme a cultivar plantada, a porcentagem de infecção pelo vírus
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e o estádio de desenvolvimento da planta, na época da incidência da doença (Almeida et al, 1984). É mais prejudicial ao feijão da seca, principalmente até o florescimento. A relação de B. tabaci com os geminivírus é do tipo circulativo, isto é, ao se alimentar de uma planta doente, as partículas virais adquiridas pelo inseto circulam por seu corpo e, quando o inseto virulífero se alimenta de uma planta sadia, inocula junto com a saliva as partículas virais. Só o adulto tem importância como vetor, uma vez que as ninfas não se locomovem de uma planta para outra (Villas Bôas et al, 2002).
Plantas hospedeiras
A mosca branca pode ser encontrada nos mais diversos biomas como: florestas, desertos, pastagens e em vegetações de áreas agrestes (Byrne & Bellows, 1991). Os tipos de vegetação vão de cultivos agrícolas herbáceos, sistemas bipereniais ou pereniais até culturas em campo aberto ou em ambiente protegido. A mosca branca B. tabaci é apontada entre as principais pragas da maioria das plantas cultivadas. Apresentando mais de 500 plantas hospedeiras, pertencentes a 80 famílias botânicas (Oliveira et al, 2005). No Brasil, B. tabaci ganhou maior destaque em meados de 1990/91, quando o biótipo B, também denominado B. argentifolii Bellows
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Dentre as características do manejo integrado de pragas, ressalta-se a preocupação em alterar o meio ambiente o mínimo possível, através da redução do uso do controle químico. Para tanto, órgãos governamentais de pesquisa e extensão têm desenvolvido métodos de amostragem convencionais, onde o número ou o tamanho da amostra são fixos, sendo o controle químico realizado somente quando se atinge o nível de controle da praga. Métodos de amostragens das principais pragas do feijoeiro e seus inimigos naturais foram desenvolvidos pela Embrapa Arroz e Feijão (Quintela, 2005) e estão disponíveis através do programa MIP - Feijão, com recomendações de amostragens semanais em diversos pontos da lavoura. Entretanto, o uso de métodos convencionais de amostragem requer tempo elevado para sua realização, podendo tornar inviável a sua aplicação prática (Bianco, 1995 citado por Farias et al, 2001). Diante disso, a amostragem sequencial, baseada na presença ou ausência da praga, pode ser utilizada, devido, à rapidez em relação ao convencional, principalmente para aquelas pragas que são difíceis de serem quantificadas no campo (Fernandes et al, 2003). Estudos utilizando amostragem sequencial (presença-ausência) para B. tabaci biótipo B em feijoeiro, observaram que a mosca branca apresenta distribuição regular no campo, independentemente do estágio de desenvolvimento da cultura e da época de semeadura (Pereira et al, 2004). O plano de amostragem sequencial proposto pode ser utilizado durante todo o desenvolvimento vegetativo do feijoeiro, bem como em diferentes épocas de semeadura, devendo ser indicado de acordo com o ataque da praga à cultura e os prejuízos causados, seguindo as recomendações preconizadas pelo MIP. A adoção do plano deve se dar em talhões uniformes na lavoura, no que se refere à época de semeadura, cultivar, topografia, tratos culturais, proximidades de possíveis focos de infestação, entre outros, sendo que a área de cada talhão não deve exceder 100 hectares (Fernandes et al, 2003).
Controle biológico
Os principais inimigos naturais de mosca-branca são: Orius sp., crisopideos, Scolothip, Amblyseius, Aleochar, Anthocoris. Estão relacionados parasitoides da ordem Hymenoptera (Eretmocerus spp. e Encarsia spp.), predadores da ordem Coleoptera (Cycloneda sanguinea (L.) e Hippodamia
convergens Guérin-Méneville e da ordem Aracnida (aranhas de várias espécies) (Barros et al, 2008).
Químico
A ênfase do controle químico tem sido para produtos que induzem mudança comportamental pela repelência ou irritação, e o uso de inseticidas reguladores de crescimento e desenvolvimento da mosca branca (Basu, 1995). Nas décadas de 1980 e 1990, o controle da Bemisia spp. foi baseado exclusivamente nos inseticidas convencionais como, por exemplo, os organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretroides (Sharaf, 1986). Atualmente 50 produtos apresentam registro para controle da B. tabaci na cultura do feijoeiro, com destaque para os grupos dos piretroides, organofosforados e neonicotinoides (Mapa, 2010). Apesar do vasto número de produtos recomendados para mosca branca na cultura do feijoeiro, é relatado que, em muitos casos, o tratamento com inseticidas convencionais não é eficiente devido, principalmente, ao fato dos estágios imaturos e dos adultos se localizarem na face inferior das folhas e pelo rápido desenvolvimento de resistência (Horowitz & Ishaaya, 1995). Além disso, a utilização sucessiva desses compostos pode causar desequilíbrios ao meio ambiente e eliminar artrópodos benéficos (Prabhaker et al, 1985).
Resistência de plantas
O
Brasil se destaca na produção mundial de feijão (Phaseolus vulgaris L.) e também por ser considerado o maior consumidor, encontrando nessa leguminosa sua principal fonte proteica vegetal. Na safra agrícola de 2008/09, o país produziu 3.497.800 toneladas, em uma área de 4.179.400 ha. O Estado do Paraná é o principal produtor, seguido por Minas Gerais, Goiás e Bahia (Agrianual, 2010). São Paulo merece destaque com uma produção de 324.800 toneladas em uma área de 186.300 ha. O consumo nacional nesse período foi de 3.700.000 toneladas, e morfológicos que podem atuar de forma isolada ou conjunta, conferindo resistência a uma determinada praga, estando as toxinas, os redutores de digestibilidade, os tricomas, a dureza da epiderme foliar e as impropriedades nutricionais presentes em genótipos de feijoeiro, proporcionando diferentes graus de resistência (Lara, 1991). Diversos trabalhos apontam como resultados, variedades resistentes que podem estar sendo utilizadas minimizando assim o ataque da B. tabaci. Boiça Junior & Vendramim (1986), observaram que a cultivar Bolinha modificou o ciclo de vida de B. tabaci, sugerindo a existência de resistência do tipo antibiose. Nas cultivares Carioca e G-2618, o desenvolvimento foi favorecido; nas cultivares BAT 85 e Goiano Precoce ocorreu maior oviposição e, na BAT 363 houve reduzido número de ninfas e menor preferência para oviposição. Trabalhos desenvolvidos em Goiás levaram à recomendação da cultivar Ônix para cultivo na época da seca. E, em estudos no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) foram desenvolvidas algumas cultivares moderadamente resistentes ao vírus do mosaico dourado, como a Iapar 57 e a Iapar MD 820 (Faria & Zimmermann, 1988). Estudos avaliaram o comportamento de genótipos de feijoeiro dos tipos de grãos Ca-
Divulgação
Fiocruz
A resistência de plantas a pragas do feijoeiro apresenta-se como uma importante ferramenta a ser utilizada dentro do manejo integrado de pragas (MIP), principalmente por representar uma alternativa ao controle químico, uma vez que reduz a população de insetos a níveis que não causam danos, não interfere no ecossistema, não provoca desequilíbrio ambiental, tem efeito cumulativo e persistente, não onera o custo de produção e não exige conhecimento específico do produtor (Lara, 1991). Pode, ainda, ser facilmente associada a outros métodos de controle. A resistência de plantas a insetos é determinada por fatores químicos, físicos
FEIJÃO NO BRASIL
Após a eclosão, as ninfas passam a sugar as folhas, principalmente na face inferior
Na fase adulta, a mosca possui quatro asas, recobertas com substância pulverulenta de coloração branca
mostrando que o país apresenta um déficit de 202.200 toneladas na produção dessa leguminosa (Agrianual, 2010). Na maioria das regiões produtoras predomina a exploração do feijoeiro por pequenos produtores, com uso reduzido de insumos, obtendo-se baixas produções. O Brasil produz cerca de 2,6 milhões de toneladas de feijão comum com produtividade média de 732 kg ha-1 (Seagri, 2010); em áreas irrigadas a produtividade alcança 3.000 kg ha-1. O feijoeiro apresenta-se como uma commodity de baixo valor adicionado e com restritas possibilidades de diferenciação. rioca e Preto nas épocas de cultivo “das águas”, “da seca” e “de inverno” e grãos dos tipos especiais na época “da seca” sob a infestação de B. tabaci biótipo B e Caliothrips phaseoli (Hood.) em condições de campo (Jesus, 2007). Os mesmos autores observaram, com relação ao comportamento dos genótipos dos tipos carioca e preto, que os menos ovipositados pela B. tabaci biótipo B foram IAC Una, LP 98-122, BRS-Pontal, Pérola, Gen 96A45 3-51-52-1 e BRS-Triunfo. As menores presenças de ninfas de mosca branca foram observadas nos genótipos LP 01-38 e IAC Alvorada, com as maiores em Z - 28. O mesmo estudo mostrou para os grãos dos tipos especiais, que os genótipos menos ovipositados pela B. tabaci biótipo B foram IAC Harmonia, Pérola, Gen TG3114 e Gen 95A10061531, enquanto como mais ovipositados se destacaram IAC-Centauro e Gen 99TG3450; as menores infestações de ninfas de B. tabaci biótipo B foram observadas em Pérola e IAC-Harmonia e maior em IAC-Centauro. A resistência de plantas pode ser associada a outros métodos de controle como se pode concluir em estudos avaliando a interação de variedades, óleo de nim e inseticida no controle de B. tabaci biótipo B e C. phaseoli na cultura do feijoeiro. Os autores obtiveram como resultados que o genótipo menos infestado pela mosca branca foi IAC-Centauro e para o C. phaseoli foi o IAC-Harmonia. Observaram, ainda, que a interação de genótipo resistente, produto natural e inseticida reduziram a oviposição de B. tabaci e a infestação de ninfas de B. tabaci C e C. phaseoli (Jesus et al, 2009). Anderson Gonçalves da Silva, Bruno Henrique S. de Souza, Arlindo Leal Boiça Júnior, FCAV/Unesp
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Fotos Unipampa
Arroz
Como economizar A redução no consumo de energia elétrica e de água nas lavouras de arroz irrigado é um dos principais objetivos perseguidos por técnicos e produtores, pelos benefícios econômicos e ambientais que proporciona. Para alcançar esses resultados, uma das saídas encontradas é automatizar os sistemas de irrigação
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N
o cultivo de arroz, a irrigação desempenha importante papel na manutenção de condições adequadas para maior produtividade da lavoura e melhor qualidade dos grãos. Manejos de irrigação, como a redução da lâmina d’água na lavoura, a inundação intermitente ou a manutenção do solo saturado, são testados e implementados para reduzir a necessidade de água e energia elétrica - recursos que têm grande impacto sob os pontos de vista técnico, econômico e ambiental. A automação do sistema de irrigação permite o controle do uso de energia elétrica e água, garantindo bom desenvolvimento do cultivo e melhorando a eficiência da irrigação. Porém, é uma técnica ainda pouco explorada no meio agrícola. Um sistema de irrigação típico inclui uma fonte, um sistema de bombeamento e canais de distribuição de água. Um sistema automatizado deve inserir sensores de controle da lâmina d’água, transmissores de informação, um controlador eletrônico que se encarrega de acionar o sistema eletromecânico de bombeamento e um sistema de supervisão para o monitoramento e controle a distância. Um projeto de pesquisa conduzido pela AES Sul Distribuidora Gaúcha de Energia juntamente com a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com o apoio da Agroplan Consultoria Agropecuária e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi implantado, em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Este projeto está desenvolvendo um sistema automatizado de irrigação de lavouras de arroz, baseado no controle da lâmina d’água. O maior desafio para esse tipo de automação é a confiabilidade da comunicação entre os sensores implantados na lavoura e o sistema de supervisão. Devido às grandes distâncias envolvidas e à inviabilidade técnica e econômica de instalação de condutores no solo, a comunicação sem fio é a mais indicada. Do ponto de vista da aplicabilidade, a automação deve facilitar o uso por produtores habituados aos sistemas convencionais. Neste aspecto, o sistema de supervisão é fundamental para fazer a interface entre o produtor e os dispositivos de campo. Para medir a lâmina d’água na lavoura foram usados sensores ultrassônicos. O modelo utilizado tem uma escala variável de 300mm a 3m, com resolução de 1mm. Os sensores, em pares, são conectados a módulos transmissores por cabo coaxial. Os módulos de transmissão operam em 2,4GHz. Para a aplicação prática, os sensores e o módulo transmissor estão instalados em hastes, alimentados com uma bateria compacta. Um receptor, instalado próximo ao controlador, recebe os sinais dos transmissores e comunica
os dados medidos com o controlador. A lógica de controle do projeto é implementada no controlador, que também tem a função de integrar todos os elementos do sistema. O controlador recebe informações dos sensores e envia os comandos para inversores de frequência, que permitem definir a rotação das bombas de irrigação, além de auxiliarem na partida suave dos motores do sistema de bombeamento. A supervisão é estabelecida através do Sistema Supervisório (também conhecido como Scada, abreviatura do inglês Supervisory Control and Data Acquisition – Controle Supervisório e Aquisição de Dados), que permite monitorar e alterar os parâmetros do controlador, a distância, além de oferecer uma interface amigável para o operador, em um computador. Se a comunicação com o supervisório falhar, o controlador começa a operar isoladamente em modo de segurança com uma rotina baseada em parâmetros de referência preestabelecidos. A comunicação entre o controlador e o sistema de supervisão é feita por sinal telefônico, através de um modem GPRS, utilizando o protocolo DNP3. A escolha desses padrões é justificada pelo uso de aplicativos GPRS/DNP3 consolidados em sistemas de potência, tais como operação de aparelhos de telecomando de subestações e redes de distribuição. Com o objetivo de melhorar os estudos de eficiência energética e de estabelecer relações entre a qualidade de grãos e as condições climáticas, foram incluídos no projeto uma estação meteorológica e um medidor de energia para cada bomba. Com exceção do pluviômetro da estação meteorológica, as variáveis destes dispositivos são utilizadas apenas para monitoramento, e não foram incluídas na lógica de controle. Na estratégia de controle desenvolvida no projeto foram considerados três níveis de referência para altura da lâmina d’água: referência mínima, referência máxima e referência média. As referências mínimas e máximas correspondem a limites de tolerância, sendo que o objetivo do controle é manter a altura média da lâmina d’água no valor definido pela referência média. Também foram definidos dois valores de frequência de acionamento dos motores, a partir dos inversores: frequência plena (60Hz) e frequência reduzida (30Hz). A diferença entre a altura da lâmina d’água medida e os valores de referência determina qual frequência será utilizada. O controle também considera algumas restrições de acionamento, tais como observação do horário de ponta local, no qual existe tarifa de energia elétrica diferenciada, e ocorrência de chuva (precipitação maior que 25mm/dia). Os testes de experimentação estão sendo realizados em quatro parcelas de pequena es-
cala (10m x 20m), para avaliar o desempenho do sistema proposto. Na primeira parcela foi adotada uma rotina de acionamento que proporciona vazão de água equivalente a um sistema convencional de grande porte, sem a utilização de sensores. Na segunda parcela foi adotada como referência média uma lâmina d’água de 3cm. A terceira parcela representa um sistema de solo saturado, no qual é mantido um valor mínimo de lâmina d’água, próximo a zero, apenas para manter o solo encharcado. E na quarta parcela foi implementado um sistema intermitente, no qual a lavoura é submetida a ciclos de enchimento e esvaziamento. A lâmina d’água nas parcelas não é uniforme, devido às irregularidades do terreno. A lógica de controle toma como referência os pontos onde estão instalados os sensores; dessa forma, a localização dos sensores deve ser customizada para cada lavoura, de maneira a garantir que os pontos escolhidos sejam adequados aos valores utilizados como referência de lâmina d’água. Diversas funcionalidades do programa de controle da irrigação foram testadas, inclusive a resposta a situações adversas como erros de leitura dos sensores introduzidos forçadamente, falta de energia elétrica na instalação do projeto ou, ainda, falta de energia elétrica no levante principal, que abastece o reservatório do projeto (resultando em ausência de água no canal que abastece a lavoura). Em todos os casos, a resposta do sistema de automação pode ser considerada confiável, com a execução de rotinas de emergência e o envio de alertas através do sistema supervisório. Os resultados preliminares do projeto mostram que houve redução no uso de energia e água na irrigação das parcelas automatizadas em comparação à parcela que representa o sistema convencional. A redução do consumo de energia elétrica ficou na faixa de 66% a 82%, e a diminuição no uso de água esteve situada entre 68% a 85%, em um período de testes do sistema. A terceira parcela foi a que apresentou os melhores índices de redução de consumo de água e energia elétrica, pois a quantidade de água necessária para manter o solo saturado é menor. Ressalta-se
que a relação entre o consumo de água e de energia elétrica é não linear, ou seja, uma redução percentual no consumo de água não implica na mesma redução percentual do consumo de energia. A diferença entre as medições percentuais de água e energia, no entanto, foi menor que 10%. Os resultados ainda são considerados preliminares e parciais, pois não contemplam todo o período da safra da lavoura (desde o plantio até a colheita) e compreendem um período de testes de um sistema de pequena escala. No segundo ano do projeto, o sistema desenvolvido será testado novamente e continuamente, para que haja consolidação dos resultados, com perspectiva de ampliação da implementação para uma lavoura de maior porte. Posteriormente, o sistema desenvolvido vai permitir uma maior investigação sobre a qualidade do arroz, através do cruzamento de dados históricos de lâmina d’água e dados meteorológicos coletados durante todo o período da safra. O sistema desenvolvido no projeto contribui para a adoção de práticas de irrigação que permitem o uso otimizado da água e da energia elétrica. A automação contribui, ainda, para o melhor acompanhamento das condições da lavoura. Do ponto de vista técnico, a melhor eficiência energética nas lavouras de arroz permite indiretamente a melhoria no fornecimento de energia elétrica, quanto a níveis de tensão, perdas de energia e continuidade. Há também o impacto positivo na expansão do sistema, que pode ser feita de forma mais otimizada e consciente. A redução do consumo de água e eletricidade também tem impacto significativo na redução de custos e na preservação dos recursos C naturais. Luciano Lopes Pfitscher, Daniel Pinheiro Bernardon, Luciana Marini Kopp, Marcos Vinício Thomas Heckler e Adir Alexandre Bibiano Ferreira, Unipampa Belisário Antônio Thomé, Pedro Daniel Bach Montani e Donorvan Rodrigo Fagundes, AES Sul
Instalação do transmissor sem fio na lavoura
Sala de acionamento do sistema de bombeamento
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Cana-de-açúcar Fotos Heraldo Negri
Controle aprimorado
Programas de controle biológico têm grande importância no combate à broca-da-cana no Brasil. Mas para que a estratégia produza resultados satisfatórios, o desenvolvimento de novas ferramentas e pesquisas é fundamental
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crescente incremento de programas de bioenergia, no Brasil, aponta para a provável duplicação da área plantada de cana-de-açúcar, em um futuro bastante próximo. Neste contexto, a sustentabilidade da cultura deve ser preservada, principalmente no que concerne ao controle de pragas. Atualmente, as principais pragas da parte aérea são controladas de forma biológica. Assim, o programa de controle biológico da broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) com o parasitoide larval Cotesia flavipes e o controle biológico da cigarrinha-da-raiz (Mahanarva fimbriolata) com o fungo Metharizium anisople são referências em todo mundo. São mais de 2.000.000 de hectares tratados por cada um destes agentes biológicos, atendendo às expectativas do agricultor, pela sua alta eficiência. Entretanto, em situações específicas, parasitoides larvais como C. flavipes, podem não deter o crescimento populacional da broca-dacana da forma desejada. Isto pode acontecer especialmente quando a predação de ovos da broca-da-cana-de-açúcar é baixa, situação em que recomendam-se métodos de controle que sejam complementares ao controle com
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C. flavipes, como, por exemplo, o parasitoide de ovos Trichogramma galloi, que atualmente já é utilizado em aproximadamente 500 mil hectares. A amostragem de populações de insetos é fundamental para que possam ser adotadas medidas em função do nível de controle preestabelecido. O controle da broca-dacana-de-açúcar é recomendado quando a intensidade de infestação for superior a 3%. Assim, para liberação de C. flavipes, avaliase a intensidade de infestação ou mesmo o número de lagartas presentes na cultura. Entretanto, para liberação de T. galloi, que é um parasitoide de ovos, há necessidade de se realizar a amostragem antes do aparecimento das lagartas. Assim, devem ser amostrados adultos, pois sua presença indica que ovos serão colocados na área a ser controlada por T. galloi. Como não existe ainda o feromônio sexual sintético de D. saccharalis (existem estudos com esse objetivo no Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/ USP), utilizam-se fêmeas virgens obtidas em laboratórios de criação de D. saccharalis, que são separadas por sexo na fase de pupa, para se ter a certeza de que não foram copuladas. A despeito de já existir esta tecnologia para
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detecção da chegada dos adultos da broca-dacana, não se tem ideia da área de atração de uma armadilha com fêmeas virgens e, consequentemente, da quantidade de armadilhas a serem colocadas por unidade de área. Assim, com o objetivo de estimar a área de atração de uma armadilha contendo fêmeas virgens foi realizado pelas equipes do Laboratório de Biologia de insetos e Ecologia Química de Insetos, do Departamento de Entomologia e Acarologia (LEA), da Esalq/ USP, um estudo de liberação e recaptura de machos adultos da broca-da-cana-de-açúcar. Nesse tipo de estudo, insetos criados em laboratório, são liberados a diferentes distâncias de uma armadilha, com o objetivo de determinar seu raio de ação e consequentemente calcular sua área de atração. Neste tipo de estudo é primordial oferecer uma forma de marcar os insetos a serem liberados (Figura 4), permitindo assim diferenciálos dos insetos já presentes no agroecossistema (Figura 5). Isto se faz necessário, pois os expeFigura 1 - Diferentes fases do ciclo biológico da broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) e suas respectivas durações
1 - Adulto; 2 - Ovos; 3 - Lagarta fazendo orifício de entrada; 4 - Corte do colmo mostrando lagarta em galeria aberta em cana-de-açúcar; 5 - Corte do colmo mostrando orifício de saída e pupa em galeria
rimentos são executados em áreas extensas de cana-de-açúcar, que normalmente já abrigam populações da praga. Para marcação dos insetos utilizou-se o corante Calco OilRed, incorporado no alimento (dieta artificial) oferecido às lagartas criadas no laboratório. Ao se alimentarem da dieta artificial acrescida do corante, as lagartas se tornam vermelhas e a coloração persiste nas fases de pupa, adulto e até mesmo nos ovos gerados pelas fêmeas coloridas. A liberação dos machos adultos marcados foi realizada de acordo com o esquema apresentado na Figura 6, onde podem ser vistos quatro pontos de liberação, posicionados a 100 ou 200 metros da armadilha, na disposição de uma cruz, com a armadilha no ponto central. Os insetos foram liberados aproximadamente três horas antes do crepúsculo e a recaptura avaliada na manhã seguinte à liberação. Daqueles insetos liberados a 100 metros da armadilha, 2% foram recapturados e dos liberados a 200 metros da armadilha, 0,5 % foi recapturado (Tabela 1). De acordo com a literatura, as taxas de recaptura em estudos desta natureza, principalmente quando se usa uma fonte de feromônio natural (fêmeas virgens), são normalmente baixas. Os dados obtidos indicam que machos da broca-dacana-de-açúcar são capazes de identificar e localizar uma pluma de feromônio, gerada por quatro fêmeas virgens, a 200 metros de
Figura 2 - Fases do parasitismo e desenvolvimento de Trichogramma galloi ao parasitar ovos de Diatraea saccharalis
A - Ovos de Diatraea saccharalis não parasitados; B - Trichogramma galloi parasitando ovos de Diatraea saccharalis; C - Ovos escurecidos em decorrência do parasitismo; D - Emergência de Trichogramma galloi
distância. O fato de, em duas das quatro liberações realizadas, não ter ocorrido recaptura dos insetos liberados a 200 metros, só confirma que esta distância é limítrofe para a localização da armadilha utilizada, que continha quatro fêmeas virgens. Sendo assim, pode-se estimar o raio de ação das armadilhas utilizadas em 200 metros
Tabela 1 - Número de machos adultos marcados de Diatraea saccharalis liberados e recapturados em armadilhas contendo quatro fêmeas virgens Liberação 1 2 3 4 Total
Machos liberados 200 m 100 m 200 200 140 140 260 260 240 240 840 840
Machos recapturados 200 m 100 m 3 3 0 3 1 7 0 4 4 17
% de recaptura 100 m 1,5 2,1 2,7 1,7 2,0
200 m 1,5 0 0,4 0 0,5
e através da fórmula círculo (A=∏r2), a área de atração de uma armadilha e ao calcular o diâmetro (D=2×r), a distância entre armadilhas. Sendo assim, uma armadilha é capaz de atrair machos em uma área circular de 12,5ha e o espaçamento de 400 metros entre armadilhas parece adequado à tecnologia atual, baseada no uso de feromônio natural. Portanto, em uma área de 20 mil hectares, devem ser colocadas 1.600 armadilhas contendo fêmeas virgens, que são renovadas com a mortalidade das fêmeas, o que normalmente ocorre em aproximadamente quatro dias.
biologia da praga
A fêmea deposita nas folhas da cana, posturas, com cinco a 50 ovos. O período
Figura 4 - Lagartas de Diatraea saccharalis marcadas pelo corante vermelho Calco Oil Red Laboratorio de Biologia de Insetos- Esalq/USP
Bento, JMS
Figura 3 - Machos capturados em armadilha contendo fêmeas virgens de Diatraea saccharalis, instalada em área de cana-de-açúcar
de desenvolvimento embrionário é muito influenciado pela temperatura, podendo variar de, aproximadamente, 12 dias a 20ºC, a cerca de quatro dias, a 30ºC. As lagartas recém-
eclodidas se alimentam do parênquima foliar e, após a primeira ecdise, penetram no colmo pela sua parte mais tenra, próxima à bainha da planta, fazendo perfurações de baixo para cima. O período de deFigura 5 - Armadilha contendo fêmeas virgens de Diatraea saccharalis e machos capturados, destacando em A - Macho marcado com corante Calco Oil Red e B - senvolvimento de D. saccharalis é bastante Macho pertencente à população natural variável durante o ano. Assim, a duração do
estágio larval oscila entre 50 dias e 90 dias, o pupal de dez a 11 dias e a longevidade de três a sete dias. Nas condições climáticas do estado de São Paulo, geralmente ocorrem quatro C gerações anuais. Bruno Freitas De Conti, Ana Lia Parra Pedrazzoli e José Roberto Postali Parra, Esalq/Usp
Figura 6 - Desenho esquemático das liberações realizadas em cultivo de canade-açúcar
C
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Empresas Divulgação
Capacidade ampliada FMC anuncia investimento de dez milhões de dólares na planta da empresa, em Uberaba, Minas Gerais. Meta é de expandir a produção de agroquímicos dos atuais 35 milhões de litros por ano para 65 milhões de litros anuais, até 2015
A
FMC anunciou investimento de dez milhões de dólares na planta da empresa, localizada em Uberaba, Minas Gerais, onde são formulados os produtos comercializados pela marca. A meta é de expandir a capacidade produtiva atual em 85%, passando dos atuais 35 milhões de litros por ano, para 65 milhões de litros anuais. O anúncio foi realizado em abril, com a presença do diretor-presidente da FMC para a América Latina, Antonio Carlos
Zem. “O investimento que estamos realizando aqui, além de dobrar a nossa capacidade de produção vai permitir oferecer produtos com mais tecnologia”, disse. As estimativas de crescimento da empresa estão sintonizadas com a meta produtiva, que prevê alcançar faturamento de um bilhão de dólares nos próximos quatro anos, e com o plano estratégico de crescer entre 15% e 20% até 2015. Humberto Ribeiro de Freitas, gerente da fábrica, afirmou que a unidade de Uberaba é uma das mais eficientes do
mundo, no que se refere à segurança. De acordo com André Cordeiro, diretor de Operações e supply chain da FMC, a empresa revisou todos os procedimentos de segurança da fábrica, melhorou a ergonomia do ambiente, condições de armazenamento e iluminação, e elaborou projeto para proporcionar um ambiente mais seguro e confortável aos operadores. “A empresa investiu e investirá ainda mais na automatização das linhas de produção para assegurar produtos de altíssima qualidade bem como na área ambiental para evitar qualquer impacto desfavorável para o meio ambiente. A unidade fabril da FMC está há 16 anos sem incidentes com afastamento, o que equivale a três milhões de horas trabalhadas”, comemorou. A empresa anunciou, também, o lançamento de mais 42 produtos, para culturas como soja, milho, trigo, hortifruti e para a área florestal. Em 2010, a FMC registrou seu oitavo recorde consecutivo de receita ao atingir 500 milhões de dólares. Os segmentos de cana-de-açúcar, algodão e soja foram responsáveis por um terço do total apurado. O resultado do ano passado superou em 21,6% as vendas registradas em 2009, de 411 milhões de dólares.
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Milho
Redutora de produtividade A cercosporiose é uma das doenças em ascensão na cultura do milho, no Brasil. Seu avanço está associado ao uso de cultivares suscetíveis e a restos culturais infectados mantidos no solo em áreas de plantio direto. Fungicidas, equilíbrio nutricional e rotação de culturas e de genótipos estão entre as principais ferramentas para o controle
A
cercosporiose, também conhecida como mancha de cercospora, é uma das doenças que mais reduzem a produtividade do milho em todo o mundo, podendo ser causada tanto por Cercospora zea-maydis como por Cercospora sorghi f. sp. maydis. A cercosporiose começou a causar sérios problemas na produção no Brasil a partir da safra 1999/2000, no sudoeste de Goiás e noroeste de Minas Gerais, onde houve grande avanço da doença. Após essa epidemia, se disseminou rapidamente para os outros estados brasileiros e atualmente é uma das principais doenças da cultura do milho, podendo causar perdas superiores a 80% na produção. O aumento da severidade da cercosporiose em todo o mundo pode ser justificado pelo uso de híbridos e de cultivares suscetíveis e pelo plantio direto que mantém restos culturais infectados na superfície do solo, que em condições climáticas favoráveis propiciam o ambiente ideal para a sobrevivência do patógeno. O fungo coloniza grande parte do tecido foliar da planta, reduzindo assim a área fotossintética, levando à senescência e provocando redução na produção de grãos. Os primeiros sintomas da cercosporiose ocorrem na fase de floração, inicialmente nas folhas do baixeiro. O patógeno coloniza o limbo foliar, podendo provocar extensas áreas necróticas. As lesões provocadas podem ser facilmente distinguidas de outras doenças, pois essas lesões são sempre delimitadas pelas nervuras. As manchas são de coloração verde-oliva, que sob condições de alta umidade, tornam-se cobertas de esporos e adquirem coloração cinza. As lesões são retangulares e irregulares e desenvolvem-se
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Fotos Solange Bonaldo
Daiane e Solange recomendam a associação de diversas medidas para combater a doença
Lesões de formato retangular características de cercosporiose
Lesões estabelecidas e lesões iniciais de cercosporiose
paralelas às nervuras, podendo duas ou mais lesões parecerem uma única lesão. As lesões também podem ser observadas nas brácteas das espigas, principalmente no ápice, na forma de manchas pardas As lesões se desenvolvem lentamente quando comparadas com outras doenças foliares que ocorrem na cultura do milho, necessitando de duas a três semanas para sua completa expressão. Temperaturas ótimas para o desenvolvimento da doença ocorrem entre 22ºC e 30ºC, com alta umidade relativa do ar, sendo que a disseminação do patógeno ocorre via vento e água da chuva.
implantar diferentes genótipos (híbridos ou cultivares) na área. Dessa forma, o patógeno poderá se desenvolver num genótipo suscetível, mas não se disseminar, pois, adiante deste, estará um genótipo resistente que impedirá o estabelecimento do patógeno. Com relação à adubação, os produtores devem evitar o excesso de nitrogênio (N), pois o uso excessivo de N pode causar aumento da intensidade da cercosporiose. Outro nutriente que merece atenção é o potássio (K), já que desempenha funções importantes na planta, como transporte via floema, abertura e fechamento dos estômatos, atua no desenvolvimento radicular e, sobretudo, aumenta a resistência das plantas a fatores de estresse como deficiência hídrica, ataque de insetos e patógenos, entre outros. Portanto, os produtores devem sempre realizar adubação equilibrada entre N/K, considerando os resultados
Métodos de controle da doença
Para o controle da doença é necessário uma associação de medidas que garantam que o patógeno não cause prejuízos no campo. Entre essas medidas estão rotação de culturas; adubação de plantio e cobertura de modo a manter o equilíbrio ideal de nutrientes no solo, especialmente adubações balanceadas entre N/K; utilização de híbridos resistentes potencialmente importantes para a região e para a época de plantio e, a utilização de fungicidas recomendados para a cultura. É importante considerar que o controle químico deve ser utilizado sempre que possível dentro de um manejo integrado de doenças, como uma medida auxiliar. No caso da cercosporiose, a rotação de culturas é um método de controle muito importante, já que o milho é o único hospedeiro do patógeno causador da doença e o patógeno sobrevive nos restos culturais presentes na lavoura. Segundo Squilassi (2003), outra alternativa para o controle desta doença é a utilização da rotação de genótipos, que consiste em
da análise química do solo. Os fungicidas recomendados para o controle de cercosporiose são os compostos por estrobilurinas associados com triazóis, e são recomendados não só para cercosporiose, mas para a maioria das doenças foliares na cultura do milho. O emprego de formulações contendo estrobilurinas e triazóis em geral, tem se mostrado mais eficiente para o controle de doenças do que aplicações com ingredientes ativos isolados, além de oferecer menor risco de perda de eficiência pela indução de resistência dos patógenos. Os fungicidas não aumentam a produtividade da lavoura, mas se tratando de uma doença como a cercosporiose, que reduz a área fotossintética, a aplicação de fungicidas ajuda a manter a sanidade da planta, mantendo assim a sua taxa fotossintética, fazendo com que a mesma expresse ao máximo seu potencial produtivo, desde que C não haja outro fator limitante. Solange Maria Bonaldo e Daiane Cristina Terras Souza, UFMT/Campus Sinop
Lesões de cercosporiose associadas a lesões de ferrugem polissora
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Milho
Fixação eficiente
Fotos Luiz Tadeu Jordão
A inoculação biológica da bactéria Azospirillum brasiliense, nas sementes de milho, desponta como alternativa complementar, capaz de reduzir a utilização de fertilizante mineral e de aumentar a produtividade da cultura
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evido aos riscos climáticos que ocorrem durante o cultivo do milho safrinha, dentre eles a possibilidade de geadas e de déficits hídricos, a maioria dos produtores não faz altos investimentos em insumos, em especial, com a aplicação de fertilizante nitrogenado, que apresenta elevado custo. Isto porque, na produção do fertilizante nitrogenado, existe alto gasto energético e, concomitantemente, o Brasil importa 74% do total consumido (Anda, 2010), tornando-se altamente dependente do mercado externo. Para a produtividade média de 4,5kg/ha em sucessão à soja, normalmente o produtor aplica somente 40kg/ha de N na semeadura, não realizando a adubação de cobertura. A inoculação das sementes de milho com bactérias fixadoras de nitrogênio constitui uma prática alternativa complementar, que pode proporcionar incrementos no fornecimento de N para as plantas, reduzindo a utilização de fertilizante mineral. De forma similar ao que ocorre na cultura da soja, as
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bactérias encontradas em associações com cereais e gramíneas são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e ofertálo às plantas, possibilitando ganhos ao produtor pela economia com o uso de fertilizante nitrogenado. Além disso, trata-se de um processo biológico, que não causa impactos negativos ao meio ambiente.
A bactéria
Nos últimos anos, intensificou-se a utilização de biofertilizantes à base de micro-organismos, destacando-se as bactérias do gênero Azospirillum. Essas bactérias são aeróbicas, gram-negativas, quimiorganotróficas, apresentam alta mobilidade e formato espiralado. Fixam N2 sob condições tropicais, produzem fitormônios como auxinas, giberelinas e citocininas, e têm capacidade de colonizar raízes e colmos de plantas de milho, trigo, arroz, sorgo (Döbereiner, Pedrosa 1987), e cana-de-açúcar (James, 2000). Existem muitas evidências de que a inoculação das sementes de milho com
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Azospirillum brasilense seja responsável pelo aumento da taxa de acúmulo de matéria seca, principalmente na presença de elevadas dosagens de nitrogênio, indicando relação com o aumento da atividade das enzimas fotossintéticas e de assimilação de nitrogênio (Didonet et al, 1996). De uma maneira geral, 60% a 70% dos experimentos citados por Okon e Labandera-Gonzales (1994), mostraram incrementos de rendimento com a inoculação. No entanto, somente 5%-30% apresentam respostas estatisticamente significativas (Quadros, 2009). Essa alta variabilidade é justificada pela diversidade dos fatores que influenciam na fixação biológica de nitrogênio em gramíneas, como genótipo da planta, temperatura, oxigênio e nitrogênio combinados e classe textural do solo, entre outros.
Experimento no campo
O experimento foi realizado em condições de campo no município de Maringá, no Paraná, na propriedade Sítio Santa Luzia, no ano agrícola de
Figura 1 - Leitura do índice Spad em função de diferentes níveis de nitrogênio aplicados no solo
Figura 2 - Teor de nitrogênio nas folhas de milho em função de diferentes níveis de nitrogênio aplicados no solo
** significativo ao nível de 1%.
** significativo ao nível de 1%.
2009/2010. O solo foi classificado como Nitossolo Vermelho distroférrico (Embrapa, 2006), cujas características químicas e granulométricas na profundidade de 0-20cm eram: pH (CaCl2) 5,6; 3,97cmolc dm -3 de H + Al; 9,06cmolc dm -3 de Ca2+; 3,22cmolc dm -3 de Mg2+; 0,70cmolc dm -3 de K+; 76,58% de saturação por bases; 3,9mg dm-3 de P (Mehlich -1); 3,37mg dm -3 de S; 14,8g dm -3 de C; 51,7mg dm -3 de Fe; 9,30mg dm-3 de Zn; 38,7mg dm-3 de Cu; 442mg dm -3 de Mn, 68%, 10% e 22%, respectivamente, argila, silte e areia.
Diferença da coloração das folhas ante a aplicação de Azospirillum
A semeadura do milho foi realizada quantitativos aplicou-se a análise de no dia 2/3/2010, com espaçamento de regressão múltipla. 0,80m e com 4,7 plantas por metro linear. Foi utilizado o híbrido simples DKB Resultados 330 YG de ciclo superprecoce. Na seObserva-se na Figura 1, a relação meadura, foram empregadas três doses direta entre o aumento das doses de de nitrogênio (25kg/ha, 50kg/ha, 75kg/ N com o índice Spad, que indiretaha) utilizando como fonte de nitrogê- mente indica maior acúmulo de N nas nio a ureia com inibidor de uréase. Os folhas. Contudo, a aplicação de N em tratamentos também receberam 40kg/ha sementes inoculadas com Azospirillum de P2O5 e K2O na forma de superfosfato brasiliense incrementou absorção do simples e cloreto de potássio, respecti- nutriente pelas plantas de milho, o vamente. No tratamento das sementes que refletiu nos maiores índices Spad. de milho foram aplicados inseticidas do Argenta (2004) e Waskom et al (2006), grupo neonicotinoide e metilcarbamato também trabalhando com a cultura do de oxima. Posteriormente, parte das milho, observaram o aumento da leitura sementes de milho foi inoculada com as do índice Spad em função de doses de estirpes AbV5 e AbV6 de Azospirillum nitrogênio. O teor de nitrogênio nas folhas em brasiliense. O delineamento experimental foi função das doses de N no solo teve o o de blocos ao acaso e os tratamentos mesmo comportamento do índice Spad em arranjo fatorial nas parcelas com (Figura 2), demonstrando correlação quatro blocos, totalizando 32 parcelas positiva da leitura Spad com o teor de N e que esta medida indireta é adequada de 28m2 cada. Durante o período do florescimento para a avaliação do estado nutricional foi avaliado o teor relativo de clorofila de N no milho. O teor de nitrogênio nas (índice Spad) e o teor de nitrogênio folhas nos tratamentos com a presença nas folhas. Ao final do ciclo da cultura, da bactéria foi maior que a média dos foram colhidas as parcelas constituídas tratamentos onde não houve inoculação, de 12,5m² de área útil, obtendo-se a indicando a eficiência desse microprodutividade em kg/ha com umidade organismo em fixar N. A relação entre o teor de N e a leidos grãos corrigida a 13%. Foram avaliadas todas as pressupo- tura do índice Spad é atribuída ao fato sições da análise de variância (Anova). de mais de 50% do nitrogênio total das Nas comparações múltiplas de médias, folhas serem integrantes de compostos foi utilizado teste de Tukey (p ≤ 0,05) do cloroplasto e da clorofila das folhas e para os fatores em que os níveis eram (Chapman & Barreto, 1997). Folhas Tabela 1 - Análise do rendimento de grãos e viabilidade econômica da inoculação das sementes de milho pela bactéria Azospirillum brasiliense Doses (kg ha-1) 0 25 50 75 Média
Rendimento (kg ha-1) C/ Azospirillum S/ Azospirillum 4303 3978 6078 5666 7016 6491 7757 7323 6289 5865
Ganhos em Produtividade Kg ha-1 Sacas ha-1 325 5,42 412 6,87 525 8,75 434 7,23 424 7,07
Renda Bruta* R$ ha-1 73,67 93,39 119,00 98,37 96,11
Lucratividade* R$ ha-1 63,67 83,39 109,00 88,37 86,11
* Análise somente em função à inoculação.
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Fotos Luiz Tadeu Jordão
Figura 3 - Rendimento de grãos em função da inoculação das sementes de milho pela bactéria Azospirillum brasiliense
O índice de Spad cresce linearmente com o aumento das doses de nitrogênio aplicadas
bem nutridas em N têm maior capacidade de assimilar CO 2 e de sintetizar carboidratos durante a fotossíntese (Ferreira et al, 1997), resultando em maior acúmulo de biomassa e rendimento de grãos. Existem vários resultados de pesquisa comprovando a viabilidade dessa tecnologia no milho de primeira safra, porém, ainda são poucos os resultados referentes ao milho de segunda safra (milho safrinha). Atualmente, pesquisas realizadas pela Fundação MS mostram aumento médio de cinco sacas (300kg) por hectare. Por outro lado, em 2010, os resultados obtidos na região de Maringá mostraram aumento em torno de sete sacas (420kg) por hectare (Figura 3). Na Tabela 1 é apresentada uma análise econômica, com base no preço do fertilizante e do milho, da interação de doses de N e da inoculação das sementes. A diferença entre as médias dos tratamentos inoculados com Azospirillum brasiliense e não inoculados foram estatisticamente significativas. A inoculação das sementes rendeu em média 424kg/ha Na época da implantação do ensaio, o valor da saca de milho era de aproximadamente R$ 13,60 e a tonelada da ureia com inibidor de uréase em torno de R$
980,00 (Cocamar - Maringá, 03/2010). Já o custo médio dos produtos comerciais contendo estirpes de Azospirillum brasiliense era próximo a R$ 10,00 por hectare. Observando esses dados, notase que a lucratividade média foi de R$ 86,11 por hectare. O tratamento que recebeu 50kg/ha de N obteve maior retorno econômico, pois a produtividade das áreas que receberam a inoculação foi maior que as outras não inoculadas, utilizando a mesma quantidade de fertilizante, comprovando incremento através do N biológico fornecido pela bactéria. Conforme os dados apresentados na Tabela 1, é importante ressaltar que apesar da inoculação ter sido efetiva, não substitui completamente a adubação nitrogenada no milho e, sim, é uma ferramenta complementar ao manejo da adubação da cultura. Estes resultados foram obtidos em áreas que receberam adubação nitrogenada somente na semeadura e um melhor manejo da adubação pode dar maior sustentabilidade ao sistema de produção na safrinha. Assim, a continuidade dos estudos pode definir o melhor uso do inoculante e a porcentagem de redução que poderá ser adotada pelos produtores em condições
Adilson Junior, Antonio Saraiva Muniz, Cesar de Castro, Luiz Tadeu Jordão e Luiz Antonio Jordão
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de safrinha.
Considerações finais
A produtividade do milho cultivado em safrinha respondeu positivamente ao aumento das doses de nitrogênio. O índice Spad e o teor de N nas folhas de milho crescem linearmente com o aumento das doses de nitrogênio aplicadas. As médias de todos os fatores que receberam a inoculação das sementes com Azospirillum brasiliense são maiores que os tratamentos não inoculados, comprovando a eficiência da inoculação de sementes de C milho com a bactéria. Luiz Tadeu Jordão e Antonio Saraiva Muniz, Univ. Estadual de Maringá Adilson de Oliveira Junior, Cesar de Castro, Embrapa/CNPS Luiz Antonio Jordão, Portal Ciência do Solo
importância
A
cultura do milho tem expressiva participação na produção de grãos e fundamental importância no agronegócio brasileiro. A partir da década de 90, o cultivo do milho de segunda safra (safrinha) vem expandindo-se em vários estados do Brasil, como Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Bahia. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2010/2011 estima-se o cultivo de aproximadamente 5,5 milhões de hectares com milho safrinha, com expectativa de produção em torno de 21,7 milhões de toneladas (Conab, 2011).
Algodão
Esforço integrado A
produção integrada é definida como um sistema em que os produtos agropecuários são submetidos a um controle permanente de todos os processos que os envolvem, levando maior segurança ao consumidor e aos trabalhadores rurais, além de assegurar a preservação do meio ambiente. As barreiras impostas pelo comércio
internacional à entrada de produtos, sobretudo dos países em desenvolvimento, não mais se baseiam em questões alfandegárias, tendo em vista o caráter globalizado das relações econômicas. Têm como base normas técnicas e legislações que criam restrições de natureza social, ambiental, sanitária e de padrões de qualidade que envolvem conceitos diversos.
Neste sentido o sistema de concorrência que se estabelece tem como princípio o fato de que a redução dos custos de produção, embora mantenha sua importância e seja necessária, não é mais suficiente para garantir competitividade. Foi nesse contexto que emergiu e tem sido ampliada a Produção Integrada. O seu conceito provém de manifesta-
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Luiz Gonzaga Chitarra
Depois de se popularizar na fruticultura, a produção integrada ganha força entre os cotonicultores brasileiros, através de iniciativas de órgãos públicos de pesquisa, com apoio da iniciativa privada. Além dos benefícios ambientais, sistema também favorece a comercialização
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Fernando Mendes Lamas
ções de movimentos sociais e ambientalistas ocorridos na Europa a partir da década de 70 e que expressavam a preocupação de segmentos da comunidade científica quanto à real eficácia do manejo integrado de pragas utilizado como estratégia para racionalização do uso de produtos fitossanitários e de sustentabilidade da produção de frutas. O sistema tem como base um conjunto de normas técnicas que atendem a princípios fundamentais como a definição dos produtos fitossanitários que devem ser permitidos ou proibidos para uso na cultura; o contrato do produtor que decide participar do sistema com uma empresa certificadora com o objetivo de se comprometer a cumprir as normas técnicas estabelecidas e se submeter a treinamentos e inspeções periódicas, e ao registro de todas as atividades realizadas no sistema de produção. Em suma, é um sistema que se submete ao acompanhamento sistemático da aplicação de normas preestabelecidas, cujas ações são registradas em cadernos de campo submetidos à análise ano final da estação de cultivo, permitindo verificar se o produtor atendeu às exigências do sistema e pode ser autorizado a comercializar seu produto com o selo de produção integrada. A adesão é voluntária, porém, o não cumprimento das normas técnicas determina o desligamento do sistema. Os principais países da Europa pela Austrália, Nova Zelândia e África do Sul adotaram sistemas de produção integrada para frutas de clima temperado e alguns produtos derivados. No Brasil a produção integrada de frutas já envolve culturas como banana, caju, caqui, citros, coco, figo, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, pêssego e uva e tem um programa de avaliação de conformidade desenvolvido entre o Inmetro e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que monitora os procedimentos e a rastreabilidade de todo o processo do programa com o objetivo de torná-lo economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo. Os benefícios verificados pelos produtores brasileiros, não apenas no que se refere ao posicionamento dos produtos no mercado internacional, mas também em relação à redução de custos e à maior rentabilidade e sustentabilidade ambiental, assim como a estratégia seguida pelos países que já adotam o sistema de produção integrada para frutas, de ampliar sua aplicação para hortaliças e cereais, induziram o Brasil a incentivar a criação de sistemas de produção integrada para grãos, incluindo o algodão.
C
Foi assim que o Mapa, através da Embrapa e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), começou um projeto para definir um sistema de produção integrada de algodão. O trabalho conta com a participação de diferentes segmentos da cadeia produtiva, incluindo pesquisadores, técnicos, fundações de apoio à pesquisa, consultores, produtores e as associações que os congregam nos estados, assim como a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa). Existem atualmente 16 projetos de produção integrada normatizados no Brasil e estão em desenvolvimento mais 22 cadeias produtivas incluindo ameixa, amendoim, arroz, batata e o próprio algodão. É importante ressaltar que a Produção Integrada é um sistema de certificação voluntário que acrescenta apenas benefícios ao produtor, ao consumidor, ao ecossistema agrícola e ao meio ambiente, não implicando em qualquer tipo de punição àqueles que optam por não adotá-lo. Porém, dados os benefícios alcançados até agora naquelas cadeias produtivas já normatizadas, os níveis de adoção têm
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sido elevados e se mantém em escala ascendente. Outras iniciativas têm sido implementadas para a certificação de produtos agrícolas. No caso do algodão, o sistema BCI (Better Cotton Initiative) é outro exemplo. Todas essas iniciativas respondem a um interesse crescente da sociedade pelo consumo de produtos que tragam consigo um conceito de qualidade mais amplo. Os agroecossistemas que suprem o homem de alimentos, fibras e energia, encontram-se distribuídos por todo o planeta e, neste sentido, é fundamental compatibilizar a produção com a conservação dos recursos naturais, o bem-estar dos trabalhadores rurais e a saúde humana e animal, garantindo que todo o sistema seja duradouro. Para isso é fundamental que esteja inserido no conceito de sustentabilidade, de modo a assegurar a sua preservação para as gerações futuras. A produção Integrada, como um sistema de certificação, pressupõe a inserção do ecossistema agrícola, respeitando o ecossistema como um todo, deixando clara a origem do produto agregando o conceito de rastreabilidade, que estabelece a origem,
a qualidade, a genuinidade e o destino dos produtos, bem como garantia de segurança alimentar e de consumo. Se de um lado a certificação tem por objetivo atender às exigências de determinados mercados baseadas em um conjunto de normas técnicas, de outro gera um diferencial para o produto com sua consequente valorização. Portanto, o produtor ganha com o sistema de produção integrada, além das vantagens já mencionadas, a participação em um mercado diferenciado. É importante que se diga que o Sistema de Produção Integrada (SPI) faz uma abordagem holística da produção agrícola, privilegiando o agroecossistema como um todo e não apenas os seus componentes individualmente (com o menor transtorno possível aos recursos naturais, manutenção da biodiversidade em níveis que permitam a sua sustentabilidade, redução no número de aplicações de produtos fitossanitários e incremento nos níveis de regulação natural). A manutenção do equilíbrio dos ciclos nutritivos também é privilegiada por meio de práticas conservacionistas como o sistema plantio direto, que pressupõe a rotação de culturas e com
isso a possibilidade de utilização mais adequada do espaço da propriedade agrícola, com mais opções de exploração e melhores perspectivas de rentabilidade. A Produção Integrada de Algodão foi dividida em 16 linhas temáticas a serem seguidas pelo sistema: capacitação de recursos humanos, organização dos produtores, viabilidade econômica, gestão ambiental, manejo e conservação do solo, implantação da lavoura, nutrição de plantas, tratos culturais, manejo fitossa-
nitário, gestão operacional de máquinas e tecnologia de aplicação, colheita, manejo de restos culturais, transporte, beneficiamento e armazenamento, assistência técnica e sistema de rastreabilidade. Um conjunto de normas técnicas foi elaborado para cada uma dessas áreas temáticas com o objetivo de compor o que seria um Sistema de Produção que atendesse aos princípios da produção integrada. Essas normas foram discutidas em reuniões envolvendo diferentes segmentos da cadeia produtiva do algodão e foi elaborada uma primeira versão da Produção Integrada de Algodão (Pialgo). Na safra 2011 foi implantada a primeira Unidade Piloto de Produção Integrada de Algodão na Fazenda São Caetano, do Grupo Schlatter, no município de Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul. A unidade de 30 hectares vem sendo acompanhada por pesquisadores e técnicos da Embrapa Algodão, Embrapa Agropecuária Oeste e Fundação Goiás e conta com o apoio da Fundação Chapadão e da equipe técnica do Grupo Schlatter, que tem sido fundamental para o bom andamento dos trabalhos, tendo em vista tratar-se do apoio do produtor. A Pialgo pretende ser mais um instrumento oficial de apoio ao produtor de algodão, por meio de uma ação participativa dos atores envolvidos na cadeia produtiva, buscando fazer com que o sistema de produção se mantenha sustentável, oferecendo aos consumidores finais um produto que atenda às suas exigências, produzido com respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores rurais, reforçando assim a imagem de profissionalismo, competência e de qualidade do algodão produzido, construída pelos produtores C brasileiros. Alderi Emídio de Araújo e Alexandre Cunha de B. Ferreira, Embrapa Algodão
Parte da equipe que integra o projeto de produção integrada de algodão, em visita à Fazenda São Caetano, em Chapadão do Sul, Mato Grosso do Sul
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Capa Fotos Augusto César P. Goulart
Melou
Depois do tombamento, caracterizado pela formação de lesões no colo e nas raízes das plântulas de algodoeiro, surge no Brasil uma nova doença também causada pelo fungo R. solani AG4-HGI, dessa vez com lesões cotiledonares. Tratamento de sementes, pulverização com fungicidas e rotação de culturas estão entre as estratégias para o manejo da mela do algodão
C
om o incremento da área de plantio de algodoeiro no Brasil, tem se observado aumento significativo dos problemas fitossanitários, principalmente aqueles relacionados à ocorrência de doenças na fase inicial de desenvolvimento da cultura. O tombamento de plântulas de algodoeiro, causado por Rhizoctonia solani Kuhn grupo de anastomose (AG)-4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk), é uma doença que está amplamente disseminada no País, principalmente nas regiões dos cerrados dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. Os prejuízos associados ao tombamento são significativos já na fase inicial de estabelecimento do
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algodoeiro, pela redução da população de plantas e, às vezes, pela necessidade de ressemeadura. Atualmente, uma nova doença no algodoeiro vem chamando a atenção da pesquisa pela forma peculiar que se apresenta - distinta da forma clássica de tombamento - e pelos danos que tem causado na fase inicial de desenvolvimento da lavoura. Esta doença está sendo denominada de “mela do algodoeiro” e é predominantemente foliar. O primeiro relato da ocorrência desta doença foi na safra 2004/05, no estado de Mato Grosso. Desde então, já foi detectada também nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. Ataca o algodoeiro na fase inicial de desenvolvimento (fase
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de plântula - cotiledonar), reduzindo o estande e, em casos mais sérios, leva à ressemeadura, onerando ainda mais o custo de produção e diminuindo o potencial produtivo da lavoura. Os sintomas iniciais caracterizam-se pela presença de lesões nas bordas dos cotilédones. A infecção evolui para o encharcamento (anasarca), seguida de destruição total dos cotilédones com posterior morte da plântula. Isolamentos realizados de material doente (plântulas de algodoeiro com sintomas típicos de mela, provenientes dos diferentes estados onde a doença foi detectada) mostraram, na totalidade dos casos, a presença de um crescimento profuso de hifas e micélio sobre os tecidos doentes, o que foi identificado
posteriormente como sendo R. solani. O teste de patogenicidade foi conduzido em casa de vegetação. A inoculação do substrato e de plântulas de algodoeiro recém-emergidas foi realizada, através da pulverização de suspensão de fragmentos de micélio e escleródios. Após sete dias da inoculação, sintomas da “mela” idênticos aos observados a campo foram também observados nas plântulas de algodoeiro inoculadas. O patógeno foi reisolado e identificado como R. solani, completando-se assim os postulados de Koch. Os isolados do patógeno, provenientes de diferentes isolados e localidades, tiveram o grupamento de anastomose determinado por sequenciamento da região ITS-5.8S rDNA no Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (ETHZ), na Suíça. As sequências da
região ITS, isolados de R. solani da “mela do algodoeiro” foram semelhantes às do grupo de anastomose AG-4 HGI, até então não relatado no Brasil como patógeno foliar do algodoeiro.
Após estas avaliações, os resultados obtidos apontaram R. solani como agente causal primário da doença, confirmando assim a etiologia desta enfermidade. Embora não tivessem sido detectados
Situação ideal para o desenvolvimento da mela, em algodoeiro, doença altamente favorecida pelo clima chuvoso na fase inicial da cultura
himênio e basidiósporos associados às lesões, é possível que basidiósporos (fase perfeita do patógeno) tenham importância como inóculo primário no ciclo da “mela do algodoeiro”. Importante ressaltar que este fungo, R. solani, já é patógeno na cultura do algodoeiro, causando a doença conhecida como “tombamento”, caracterizada pela formação de lesões no colo e nas raízes das plântulas de algodoeiro, sintomas bem distintos das lesões cotiledonares observadas no presente estudo. Assim, este é o primeiro registro no Brasil da ocorrência de R. solani AG4-HGI em plântulas de algodoeiro.
Desencadeadores da mela
Fotos César P. Goulart
O clima tem sido considerado como um dos fatores primordiais para a ocorrência e a intensidade da mela nas lavouras de algodoeiro. Chuvas frequentes na fase inicial de desenvolvimento da cultura com posterior alagamento e encharcamento da área de plantio, associadas a temperaturas amenas
durante a noite, são as condições que mais têm favorecido a ocorrência da mela de uma forma mais severa. Estas condições frequentemente proporcionam perdas significativas de estande e, como consequência, a necessidade da ressemeadura. Outro fator que deve ser considerado refere-se à monocultura do algodoeiro associada ao preparo intensivo do solo, que contribuem de forma significativa para o aumento do potencial de inóculo do patógeno. Além disso, a utilização de sementes com baixo vigor, associada ao plantio em épocas favoráveis à ocorrência desta enfermidade, é também fator predisponente ao ataque de R. solani, que deve também ser considerado. Com relação ao manejo desta doença, trabalhos de pesquisa têm apontado o tratamento das sementes com fungicidas associado a uma pulverização na fase inicial de desenvolvimento da lavoura (fase de plântula - cotiledonar) como uma das estratégias mais eficientes e viáveis de controle desta doença.
Desta forma, pesquisas desenvolvidas a campo vêm apontando, ao longo dos anos, bons resultados de controle da mela com a adição do fungicida PCNB, na dose de 500g/100kg de sementes às misturas padrões (fludioxonil+mefe noxan+azoxystrobin, carbendazim+ thiram+pencycuron+triadimenol e carboxin+thiram) já utilizadas para o tratamento de sementes para o controle do tombamento. Adicionalmente ao tratamento de sementes, quando as condições climáticas estão favoráveis à ocorrência da mela, tem sido realizada uma pulverização com o fungicida azoxystrobin, na dose de 300ml/ha, com bons resultados obtidos. A rotação de culturas também deve ser considerada como mais uma opção neste caso, dando preferência para as gramíneas que apresentem potencial de supressividade da população de R. C solani no solo. Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste Joana Bernardes de Assis, ETH Zurich, Universitaetstr Maisa Boff Ciampi, Universidade de São Paulo Paulo Cezar Ceresini, Unesp
Augusto Goulart aponta alternativa para manejar o novo problema
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Empresas
Conhecimento ampliado Fotos Cultivar
Evento técnico promovido pela Syngenta, no Rio Grande do Sul, reúne pesquisadores e representantes da empresa para debater temas como controle de pragas, doenças e importância da tecnologia de aplicação
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Paulo Bettini abordou o tema tecnologia de aplicação, Andreia Almeida mostrou resultados obtidos com Thiamethoxam, Adilson Jauer explicou as soluções presentes no portfólio da empresa para a cultura do arroz e Ivan Dressler da Costa abordou doenças na cultura
2ª Estação Conhecimento Syngenta reuniu 91 participantes em março, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O objetivo do evento foi capacitar tecnicamente a força de vendas da empresa na cultura do arroz, além de apresentar alternativas rentáveis na rotação/sucessão de áreas de várzea. Participaram pesquisadores, técnicos e representantes da empresa, dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Foram abordados temas como insetos e doenças na cultura de arroz, tecnologia de aplicação, rotação da soja em várzea, além da apresentação do portfólio de produtos da marca. A abordagem do controle de insetos coube aos pesquisadores Jerson Guedes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Jaime Oliveira, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga). Doenças na cultura do arroz foram abordadas por Ivan Costa e Ricardo
Balardim, ambos da UFSM. Paulo Bettini, DTM da Syngenta, falou sobre tecnologia de aplicação e Andreia Almeida, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mostrou resultados do efeito do Thiamethoxam na qualidade fisiológica de sementes de arroz. Este ano foi acrescentado à programação o tema Tecnologia de Aplicação, o que despertou o interesse dos participantes. Paulo Bettini destacou que a tecnologia de aplicação depende da interação de vários fatores como cultura, praga, doença, planta invasora, produto, equipamento e ambiente. “O conhecimento agronômico é fundamental para o controle eficiente, a aplicação errada de produtos químicos é sinônimo de prejuízo”, frisou. Para melhorar o desempenho são essenciais a utilização correta e segura dos produtos fitossanitários e a capacitação da mão de obra. Bettini destacou os vários modelos de pontas
Jaime Oliveira e Jerson Guedes abordaram O controle de insetos em arroz
disponíveis no mercado, sendo que cada uma produz um espectro de tamanho de gotas diferente, bem como larguras e padrões diversos de deposição. Portanto, é importante saber escolher a ponta mais adequada ao trabalho a ser realizado. A Estação Experimental Agrun Agrotecnologias Integradas, local onde foi realizado o evento, possibilitou aos pesquisadores apresentações práticas em campos experimentais, considerado pelos participantes como grande diferencial para o melhor entendimento do conteúdo teórico. Adilson Jauer, Desenvolvimento Técnico de Mercado e Marketing, destacou que a Syngenta conta com soluções integradas que podem ser utilizadas para manutenção e incremento do potencial produtivo de culturas como arroz e soja. “Possuímos portfólio amplo e completo, com novos e modernos produtos”, C defendeu.
Ricardo Balardim palestrou também sobre o tema doenças em arroz
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Trigo
Alerta amarelo
A incidência da mancha amarela tem crescido em importância, nas últimas safras de trigo, no Brasil. Seu combate é dificultado por importante componente epidemiológico, denominado expansão de lesão, comum nesse tipo de doença foliar. Para melhorar o desempenho do controle, pesquisadores buscam aprofundar aspectos como sensibilidade dos fungos, doses e eficiência de misturas comerciais de fungicidas, além de procurarem definir a época mais adequada para a aplicação
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a safra 2009 ocorreram danos no rendimento na cultura do trigo devido à ocorrência de manchas foliares, principalmente a mancha amarela. Isso se deve ao excesso de chuvas ocorrido na primavera, principalmente no mês de outubro, que teve precipitação pluvial acumulada, duas vezes maior que a média dos últimos 30 anos. Portanto, em algumas lavouras, observou-se elevada incidência da doença, ainda na fase de alongamento. Isso ocorreu devido às condições climáticas favoráveis à doença, a dificuldade de se fazer o controle químico no momento correto por conta das chuvas e pela escolha de fungicidas de menor eficiência. A mancha amarela, que tem como agentes
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causais os fungos Drechslera tritici-repentis (Died.) Shoemaker e D. siccans (Drechsler) Shoemaker, é a mancha foliar predominante no Rio Grande do Sul. Sua intensidade está relacionada diretamente ao uso de sementes infectadas, à monocultura e ao sistema plantio direto. Os sintomas surgem logo após a emergência do trigo, quando da expansão da plúmula, em lavouras de plantio direto e monocultura. Após a penetração do fungo nos tecidos foliares, surgem, inicialmente, pequenas manchas cloróticas nas folhas, evoluindo para uma mancha com halo amarelado e com o centro morto, que aumenta em área, em função do tempo. Estas lesões são elípticas, podendo
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atingir 12mm de comprimento. A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença varia de 18˚C a 28˚C, requeridas, para a infecção, 30 horas de molhamento foliar. Sobre as lesões produzem-se os conídios, que são disseminados pelo vento a curta distância. A disseminação a longa distância se dá por meio de sementes infectadas. Os danos causados pelas manchas foliares podem chegar a 38%. Isso se deve principalmente à diminuição da área fotossinteticamente ativa e à redução da qualidade e do tamanho de grãos. Como medidas de manejo, (I) a rotação de culturas é uma ferramenta de fundamental importância para manejo da mancha amarela,
Fotos UPF
pois reduz o inóculo inicial do patógeno, já que o fungo sobrevive em restos culturais. (II) O uso de cultivares resistentes é a medida de maior viabilidade econômica, porém existe dificuldade de obtenção de cultivares resistentes devido à alta variabilidade genética do fungo, sendo que atualmente não existem cultivares com níveis satisfatórios de resistência. (III) O tratamento de sementes com fungicida específico (iprodiona, difeconazol), juntamente com a rotação de culturas, contribui para o atraso da doença devido à redução do inóculo inicial. (IV) Além dessas táticas de manejo, tem-se ainda a aplicação de fungicida na parte aérea. Para que a cultura do trigo seja sustentável é necessário manter altos patamares de rendimento de grãos. Dentro desse contexto, os fungicidas constituem-se numa ferramenta importante para minimizar os danos causados pelas doenças sendo uma medida emergencial, rápida e eficiente. Porém, devem ser aplicados seguindo-se critérios que assegurem o retorno econômico considerando o ciclo biológico do patógeno, o comportamento dos cultivares e as condições climáticas. Para as doenças causadas por Bipolaris sorokiniana (Sacc.) Shoemaker e Stagonospora nodorum (Berk.) E. Castell & Germano, que são manchas foliares e produzem sintomas semelhantes à mancha amarela, recomenda-se a aplicação de fungicidas quando a incidência de doença atingir 70% ou com base no LDE; mas para a mancha amarela, causada por D. tritici-repentis (Died.) Shoemaker, fungo mais agressivo, é recomendada a aplicação de fungicidas nos primeiros sintomas. O controle químico da mancha amarela é obtido por meio do tratamento de sementes ou pela aplicação de fungicidas na parte aérea, com os fungicidas dos grupos químicos triazóis, estrobilurinas ou suas misturas. As manchas foliares diferem de outras doenças com as ferrugens e oídios por apresentarem importante componente epidemiológico denominado expansão de lesão, sendo que os fungicidas nas doses comerciais que atualmente são utilizadas têm pouca eficiência no controle desse componente. Por isso, muitas
Lavouras de trigo afetadas pela mancha amarela sofrem com perdas de rendimento e interferência na qualidade dos grãos
vezes os produtores observam dificuldade no controle químico da mancha amarela, quando comparado com safras anteriores. Mediante a dificuldade de controle de mancha amarela nas últimas safras, os professores Erlei Reis e Carolina Deuner, da Universidade de Passo Fundo (UPF), orientam trabalhos no campo e no laboratório na busca de informações para esclarecer o fato e contribuir para que o controle seja novamente eficiente. No experimento de campo foram utilizadas as cultivares Ônix e Abalone, implantadas em semeadura direta em monocultura de trigo. Foram testadas misturas de fungicidas estrobilurinas ou IQE e triazóis ou inibidores da desmetilação (IDM) que são os grupos químicos recomendados para o controle da mancha amarela. As misturas foram testadas isoladamente e com a adição de epoxiconazol e propiconazol na tentativa de que o aumento da concentração de fungicidas IDM melhorasse o controle das manchas foliares
(Tabela 1). Quando se observa a porcentagem de controle de mancha amarela (Tabela 2), verifica-se que entre as misturas comerciais, piraclostrobina + epoxiconazol, trifloxistrobina + tebuconazol e cresoxim-metílico + epoxiconazol não houve diferença estatística no controle. Quando se adicionou o fungicida propiconazol nas misturas comerciais, observou-se que todos foram estatisticamente superiores no controle das manchas foliares, destacando-se o fungicida piraclostrobina + epoxiconazol adicionado do propiconazol que apresentou 63,7% de controle. O aumento da dose de fungicidas IDM melhorou o desempenho das misturas isoladas, porém, mesmo assim, o controle pode ser considerado baixo. Para isso, aventa-se a possibilidade da redução da sensibilidade dos fungos D. tritici-repentis e D. siccans aos fungicidas IDM e IQE. Este fato novo está sendo investigado. Atualmente, a aluna de doutorado Rosani
Fotos UPF
Tabela 1 - Doses de ingrediente ativo (g i.a./ha) das misturas isoladas (IQE = Óleos estrobilurinas + IDM = triazol), da adição de epoxiconazol e propiconazol. UPF, Passo Fundo, 2009 UPF, Passo Fundo, 2009 Fungicidas IQE Asoxistrobina Picoxistrobina Priraclostrobina Trifloxistrobina Cresoxim-metílico
Isoladas (g) IDM Ciproconazol1 ciproconazol Epoxiconazol2 Tebuconazol3 Epoxiconazol1
IQE 60,0 60,0 66,5 75,0 75,0
IDM 24,0 24,0 25,0 150 75,0
IDMs isolados (g) Epoxiconazol Propiconazol 93,7 125,0 93,7 125,0 93,7 125,0 93,7 125,0 93,7 125,0
Acrescentados: (1) Nimbus, (2) Assist e (3) Áureo a 0,5% da calda.
A mancha amarela é uma doença agressiva, principalmente pela diminuição da área fotossintética ativa
Ronin está desenvolvendo pesquisas no laboratório sob a orientação do professor Erlei Reis, com o objetivo de monitorar a sensibilidade dos fungos causadores das manchas foliares do trigo (Drechslera tritici-repentis e D. siccans) aos fungicidas. Estão sendo testados cinco fungicidas do grupo dos triazóis (Inibidores da Desmetilação - IDM) (Epoxiconazol, Ciproconazol, Protioconazol, Propiconazol e Tebuconazol) e quatro fungicidas do grupo das estrobilurinas (Inibidores da Quinona Externa - IQE) (Azoxistrobina, Picoxistrobina, Piraclostrobina e Trifloxistrobina) em sete concentrações diferentes para cada fungo. Está se avaliando in vitro a porcentagem de esporos germinados com os fungicidas (IQE) e a inibição do crescimento micelial com os fungicidas (IDM). Resultados preliminares apontam baixa CI50 para o fungo D. siccans (Drechsler) Shoemaker, indicando que não há alteração na sensibilidade desse fungo aos fungicidas triazóis. Para os fungicidas estrobilurinas e para o fungo D. tritici-repentis (Died.) Shoemaker, os experimentos estão em andamento, não tendo ainda resultados conclusivos. Com relação ao rendimento do trigo (Tabela 3), dentre as misturas comerciais, o melhor fungicida foi a piraclostrobina + epoxiconazol (3.488kg/ha) diferindo significativamente da trifloxistrobina + tebuconazol (3.214kg/ha). Entre as misturas comerciais com adição de IDM, o epoxi-
Tabela 2 - Efeito de misturas de fungicidas no controle (%) da incidência de manchas foliares em trigo. UPF, Passo Fundo, 2009
Azoxistrobina + ciproconazol Picoxistrobina + ciproconazol Piraclostrobina + epoxiconazol Trifloxistrobina + tebuconazol Cresoxim-metílico + epoxiconazol Médias
Adição de: Epoxiconazol B 15,7 b B 6,8 b B 44,4 a A 39,9 a B 46,2 a B 30,6
Propiconazol A 48,9 ab A 43,7 b A 63,7 a A 48,4 ab A 61,8 a A 53,3
1Médias antecedidas de mesma letra maiúsculas na linha e sucedidas de mesma letra minúsculas na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Testemunha= 99.26
Tabela 3 - Efeito de misturas de fungicidas no rendimento de grãos de trigo (kg/ha). UPF, Passo Fundo, 2009 Fungicidas Azoxistrobina + ciproconazol Picoxistrobina + ciproconazol Piraclostrobina + epoxiconazol Trifloxistrobina + tebuconazol Cresoxim-metílico + epoxiconazol Médias
Mistura isolada 3.104 3.127 3.455 3.052 3.213 C 3.191
Adição de: Epoxiconazol 3.664 3.484 3.529 3.429 3.727 A 3.567
Médias Propiconazol 3.512 3.380 3.478 3.161 3.263 B 3.359
3.427 ab1 3.330 ab 3.488 a 3.214 b 3.401 ab C
1Médias antecedidas de mesma letra maiúsculas na linha e sucedidas pela mesma letra minúsculas na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Rendimento do tratamento testemunha= 2.333 kg.ha-1.
conazol foi estatisticamente superior com média de 3.567kg/ha, seguido da adição de propiconazol, com média de 3.359kg/ha. O aumento da dose de fungicidas IDM melhorou o controle das manchas foliares com resposta positiva quanto ao rendimento de grãos. No entanto, se deve considerar se esta adição resulta em retorno econômico aos produtores. O controle de manchas foliares na cul-
Zanatta, Rosane, Carolina e Reis realizam experimentos para melhorar as estratégias de controle da doença
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Mistura isolada C 1,4 b1 B 3,5 b C 12,8 ab B 22,9 a C 27,1 a C 13,6
Fungicidas
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tura do trigo necessita ser melhorado para reduzir danos e perdas. Há a necessidade de que sejam desenvolvidos novos fungicidas com diferentes ingredientes ativos, indicar o aumento de dose ou a mistura de fungicidas e fazer a aplicação de fungicidas no momento correto para atenuar o problema de controle da mancha amarela. A desejada sustentabilidade econômica da agricultura baseia-se na adoção de técnicas cada vez mais aperfeiçoadas, sendo que o uso de fungicidas para o controle das doenças que atacam as plantas cultivadas é uma delas. Para que esta medida seja realmente sustentável, várias medidas conjuntas devem ser adotadas. Além disso, a definição do momento adequado para iniciar a aplicação de fungicida é ponto chave para o sucesso do controle químico C de uma doença. Carolina Deuner, Erlei Reis, Rosane Tonin e Mateus Zanatta Universidade de Passo Fundo
Soja Fotos Maurício Schuster
Escolha adequada Para conter a lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis, o produtor tem disponíveis ferramentas como inseticidas reguladores de crescimento, neurotóxicos e biológicos. Ao optar por uma dessas estratégias devem ser levados em consideração aspectos como as condições da cultura, clima, infestação da praga, além de conhecer o mecanismo de ação e resposta de cada produto nas condições de campo
A
soja, Glycine max (L.) é a commodity agrícola de maior importância econômica no Brasil, ocupando extensas áreas de plantio para atender ao consumo interno e ao mercado externo. Dada a sua importância econômica, os problemas ocasionados pelo ataque de pragas (Figura 1) reduzem a produção e diminuem a qualidade dos grãos ou sementes. Dentre os insetospraga, destaca-se a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis (Lepidoptera: Noctuidae). O adulto de A. gemmatalis é uma mariposa com cerca de 40mm de envergadura, com coloração pardo-acinzentada, com uma linha mais escura presente nas asas, que divide o corpo em sentido transversal. Durante o dia os adultos podem ser encontrados em locais sombreados na base das plantas. Os ovos são esféricos, de coloração verde, escurecendo gradualmente até a coloração marrom-avermelhada, e são colocados isoladamente na página inferior das folhas. As lagartas podem atingir até 30mm de comprimento, com coloração variável (verde, pardo-vermelha, preta), com cinco listras brancas longitudinais no corpo e quatro pares de falsas pernas. A fase de pupa ocorre no solo e apresenta inicialmente colo-
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ração verde-clara, tornando-se marrom-escura brilhante (Gallo, et al, 2002). Esse inseto ocorre em todas as áreas de produção de soja no país, causando grandes danos à cultura, que vão desde o desfolhamento até a destruição completa da planta. Inicialmente as lagartas mais novas raspam as folhas, produzindo pequenos danos, mas à medida que crescem, ficam mais vorazes, destruindo as folhas e até as hastes mais finas. Para completar seu desenvolvimento, cada lagarta consome aproximadamente 90cm² de folha (Panizzi et al, 1977). O desfolhamento compromete o enchimento das vagens, com consequente redução na produção de grãos. Os inseticidas sintéticos são utilizados como tática preferencial no controle da lagartada-soja. No entanto, são necessários estudos para selecionar formas de controle eficientes e menos impactantes. Dentre os inseticidas sintéticos utilizados, os principais são os pertencentes ao grupo dos neurotóxicos, que agem no sistema nervoso do inseto, causando a mortalidade quase imediata (efeito de choque). Esse tipo de inseticida não é seletivo aos inimigos naturais, pois esses organismos apresentam grandes semelhanças no
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processo de transmissão do impulso nervoso, sendo suscetíveis ao produto. O inseticida methomyl é um carbamato, que atua na transmissão sináptica do impulso nervoso do inseto, como inibidor da enzima acetilcolinesterase, ocorrendo a hiperexcitação do sistema nervoso, causando a morte do inseto por convulsão (Gallo et al, 2002). O uso de reguladores de crescimento de
Pupa da lagarta da soja no solo
Figura 1 - Fases mais importantes da soja e época de maior probabilidade de ocorrência de insetos. Fonte: Iowa State University, Special Report, n.53, 1988
Adulto da lagarta da soja no solo
insetos para o controle dessa praga apresenta vantagens ecotoxicológicas sobre os inseticidas neurotóxicos, por serem produtos de baixa toxicidade para mamíferos, apresentarem alta especificidade à praga e consequentemente elevada seletividade aos inimigos naturais. As benzoilfenilureias (ex: lufeneron, diflubenzuron, flufenoxuron, nuvaluron, teflubenzuron e triflumuron) são as principais representantes dos inseticidas do grupo dos inibidores da síntese de quitina. Esses inseticidas interferem de forma lenta, sobre as formas imaturas do inseto (no caso de A. gemmatalis sobre as la-
gartas), durante o processo de ecdise (troca de tegumento), afetando a deposição de quitina, um dos compostos do tegumento do inseto (Reynolds, 1987). Assim, as lagartas tratadas com estes inseticidas não podem libertar-se do tegumento velho, por não conseguirem secretar um novo tegumento. Na busca por formas de controle menos agressivas ao meio ambiente e mais segura para o homem, o uso do controle biológico destaca-se, sendo atualmente uma realidade para o controle de A. gemmatalis, pelo o uso de bioinseticidas à base de bactérias entomo-
patogênicas Bacillus thuringiensis. Essas bactérias produzem diferentes proteínas tóxicas, denominadas cristais, que ao serem ingeridas pelas lagartas de A. gemmatalis, sofrem ação do pH intestinal (alcalino) e de proteases, que solubilizam o cristal e ativam as toxinas, que se ligam a receptores localizados no tecido epitelial do intestino da lagarta, ocasionando a quebra do equilíbrio osmótico da célula, que se intumesce e rompe, propiciando o extravasamento do conteúdo intestinal para hemocele do inseto (Praça et al, 2004). Em consequência, a lagarta para de se alimentar,
Fotos Maurício Schuster
Tabela 1 - Número médio de lagartas pequenas + erro padrão e eficiência de diferentes produtos para o controle de Anticarsia gemmatalis em função dos dias após a aplicação Tratamento
Amostragem de pragas na cultura da soja, utilizando o pano de batida
entra em paralisia geral e morre por inanição ou septicemia. Com o objetivo de comparar a eficiência de inseticidas químicos (regulador de crescimento e neurotóxico) e inseticida biológico (Baccilus thuringiensis) para o controle A. gemmatalis foi realizado o presente trabalho. Para o experimento foi empregada a cultivar BRS 232, com quatro repetições, cada uma constituída de 20 fileiras com 20 metros de comprimento. Os tratamentos foram: lufeneron, methomyl, Baccilus thuringiensis e testemunha (sem aplicação de inseticida). A pulverização foi realizada com as plantas de soja no estágio de R2 (altura de 1,10m), desfolha de 10%, com infestação aproximada de 20 lagartas pequenas (≤1,5cm) e cinco lagartas grandes (>1,5cm) por metro de fileira. Para avaliação foram feitas três amostragens, sendo observado o número de lagartas vivas aos 0, 3, 6, 9 e 12 dias após a aplicação (DAA). Além disso, foi avaliado o percentual de desfolha através da observação visual aos 15 DAA e a produtividade. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias estudadas através do teste de Tukey (P≤0,05). O inseticida methomyl (neurotóxico) apresentou efeito de choque sobre lagartas grandes e pequenas, controlando-as eficientemente a partir dos 3 DAA (Tabelas 1 e 2). As parcelas tratadas com esse produto apresentaram a menor porcentagem de desfolha (5,5%) e a maior produtividade (3.729Kg/
Dano causado pela lagarta da soja em folhas de soja
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0 N Lufeneron 20,08 + 0,49 a1 B. thuringiensis 21,00 + 0,34 a1 Methomyl 22,41 + 0,31 a1 Testemunha 21,16 + 0,22 a1 CV% 10,12
Dias Após Aplicação (DAA) 6 9 12 N E N E N E N E 25,25 + 0,25 a2 18% 08,00 + 0,14 a2 61% 04,00 + 0,10 a2 74% 04,50 + 0,14 a2 61% 30,00 + 0,31 a3 2,4% 16,00 + 0,10 a3 22% 08,25 + 0,16 a3 46% 07,75 + 0,14 a3 22% 05,00 + 0,26 a1 84% 00,00 + 0,00 a1 100% 00,00 + 0,00 a1 100% 00,00 + 0,00 a1 100% 30,75 + 0,21 a3 - 20,50 + 0,20 a4 15,25 + 0,10 a4 15,50 + 0,19 a4 4,63 2,59 5,42 6,90 3
* Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Tabela 2 - Número médio de lagartas grandes + erro padrão e eficiência de diferentes produtos para o controle de Anticarsia gemmatalis em função dos dias após a aplicação Tratamento 0 N Lufeneron 5,00 + 0,13 a1 B. thuringiensis 5,50 + 0,11 a1 Methomyl 5,00 + 0,10 a1 Testemunha 5,00 + 0,14 a1 CV% 5,63
Dias Após Aplicação (DAA) 6 9 12 N E N E N E N E 05,25 + 0,19 a2 48% 03,00 + 0,10 a1 86% 01,50 + 0,16 a2 94% 01,50 + 0,19 a1 90% 06,00 + 0,13 a3 40% 08,00 + 0,10 a2 63% 08,75 + 0,19 a3 65% 05,50 + 0,24 a2 65% 01,25 + 0,14 a1 88% 00,00 + 0,00 a1 100% 00,00 + 0,00 a1 100% 00,00 + 0,00 a1 100% 10,00 + 0,14 a4 - 21,50 + 0,50 a3 24,75 + 0,22 a4 15,50 + 0,22 a3 5,13 24,87 6,6 14,43 3
* Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
ha) (Tabela 3), em torno de 32% superior à testemunha (2.514Kg/ha). As parcelas tratadas com o inseticida lufeneron (regulador de crescimento) apresentaram redução significativa e contínua da população de A. gemmatalis a partir dos 6 DAA, com desfolha de 12% e produtividade igual a 3.576Kg/ha. Essa redução contínua no número de lagartas pequenas vivas, indica que esse produto pode ter afetado a reprodução do inseto, fato esse também observado por Silva et al (2003). Já o controle crescente de lagartas grandes pode ser atribuído à maior mobilidade e/ou maior consumo alimentar à medida que se desenvolvem. O inseticida biológico à base de B. thuringiensis teve uma ação mais lenta, apresentando controle eficaz da praga a partir dos 9 DAA. Consequentemente, as parcelas tratadas com esse produto apresentaram a maior porcentagem de desfolha (26%) e a menor produtividade (3.043Kg/ha) em relação às parcelas tratadas com os outros produtos, sendo no entanto, em torno de 18% superior à produtividade das parcelas que não receberam
Ovos da lagarta da soja em folhas de soja
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Tabela 3 - Desfolha e produtividade + erro padrão e perda de soja tratada com diferentes produtos para o controle de Anticarsia gemmatalis após 15 dias da aplicação Tratamento
Desfolha (%) Lufeneron 12,00±0,38 a2 B. thuringiensis 26,00±0,38 a3 Methomyl 05,50±0,38 a1 Testemunha 74,50±0,38 a4 CV% 5,01
Produtividade Kg ha-1 % Perda 3576,75±1,30 a3 4,88 3043,25±2,00 a2 19,07 3729,25±1,46 a4 0,83 2514,25±2,00 a1 33,14 1,57 -
* Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
aplicação de inseticida. Diante desses resultados fica clara a eficiência dos diferentes grupos de inseticidas para o controle de A. gemmatalis, sendo que o regulador de crescimento lufeneron e a bactéria entomopatogênica B. thuringiensis podem ser adotados de forma preventiva ou associados com outros métodos de controle, apresentando a vantagem de serem menos agressivos ao meio ambiente e ao homem, Já o inseticida neurotóxico methomyl pode ser adotado de forma curativa, em condições de alta infestação da praga. Assim, o tipo de inseticida utilizado para controlar a praga deve ser determinado conforme as condições da cultura, clima e infestação da praga, sendo de suma importância conhecer os mecanismos de ação e resposta em condição de campo de cada um, para manter a eficiência, minimizar os impacC tos ambientais e o risco ao homem. Maurício Zanovello Schuster e Cristhiane Rohde, Unicentro
Soja
Barreira física
Fotos Cláudia Adriana Görgen
A utilização de plantas de cobertura não hospedeiras, tanto individualmente quanto consorciadas, é ferramenta importante para diminuir o inóculo inicial de S. sclerotiorum e auxiliar no manejo preventivo do mofo branco na cultura da soja
A
importância da formação e manutenção de matéria verde e seca sobre a superfície do solo não é nenhuma novidade. Porém, cada vez mais observam-se as interações positivas entre a presença da palhada e, consequentemente, do sistema radicular na redução de doenças veiculadas pelo solo. No caso específico do mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) o controle envolve práticas que reduzem o potencial de inóculo e/ou a taxa de progresso da doença, tendo como principal objetivo o efeito sobre a fase de sobrevivência do patógeno. Para isso é imprescindível conhecer a biologia do patógeno, identificar suas estratégias de sobrevivência na ausência da planta hospedeira, e como realizar seu controle racionalmente (Reis & Forceline, 1995).
Caracterização da biologia
O escleródio é a principal estrutura do ciclo de vida do fungo S. sclerotiorum e sobrevive especialmente na superfície do solo em profundidade de até 5cm. É composto por três camadas distintas:
uma parede grossa, rica em melanina, responsável pela coloração negra dos escleródios, uma parede fina (córtex) e a medula branca, formada pelo micélio dormente do fungo. A capacidade de permanecer viável na entressafra e sob condições adversas durante muitos anos, mantendo seu potencial patogênico, é dada pela presença da melanina. O tamanho do escleródio varia conforme a cultura hospedeira. No girassol pode chegar a 35cm de diâmetro de forma semelhante ao capítulo floral (Bolton et al, 2006). Nas culturas de soja, feijão e algodão o tamanho varia de 0,5mm a 10mm (Figura 1) de conformação globosa a alongada (Görgen et al, 2009a). Em condições ambientais favoráveis (temperatura entre 10ºC e 25ºC e umidade do solo acima de 50% da capacidade de campo) o escleródio pode germinar de duas formas, produzindo apotécios (carpogênica) ou hifas (miceliogênica). Em ambos os casos, um novo ciclo da doença é desencadeado. A formação de apotécios é, provavelmente, a mais comum na cultura da soja. No entanto, o crescimento de um
micélio (aspecto algodonoso de coloração branca) a partir de escleródios ou mesmo da semente contaminada, em contato com as raízes ou parte basal da planta, pode iniciar a infecção. O número de apotécios formados a partir de um único escleródio pode variar de um a até aproximadamente 20. A produção de apotécios ocorre de forma escalonada e depende do tamanho e da quantidade de reserva nutricional no interior da estrutura de resistência. Cada apotécio pode produzir até 30 milhões de
Escleródio parasitado por Trichoderma spp
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Fotos Claudia Adriana Görgen
Apotécios germinados (senescentes, adultos e jovens) no solo na presença de palhada de milho safrinha
ascósporos durante um período de até dez dias. Os ascósporos são liberados para o ambiente a partir das ascas na proporção de aproximadamente 1.600 por hora, quando em condições ambientais favoráveis (Venette, 1998). Os ascósporos de S. sclerotiorum são cobertos com uma pegajosa mucilagem que não só cimenta esporos entre si, formando conjuntos, como proporciona firme adesão a qualquer objeto com que entrar em contato (Clarkson et al, 2003). Um exemplo interessante foi descrito por Jamaux e colaboradores (1995), observando pétalas de colza, em microscópio
micélio dormente
É
importante considerar que, dentre as formas de disseminação do mofo branco, talvez a mais séria e comum seja através da semente. As sementes, aparentemente sadias, oriundas de plantas e vagens infectadas, possuem micélio dormente no endosperma, em outras palavras, a semente mantém o fungo "guardado" e pronto para germinar dentro dela mesma. No momento em que a semente absorve água do solo, nos processos de embebição e germinação, o patógeno reassume suas atividades vitais. Considerando que 2% de sementes infectadas, em um hectare, representam mais de 6.000 potenciais pontos de infecção em uma população de 300.000 plantas/ha, o risco de infestação é alto. Neste caso, todo o cuidado é pouco!
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eletrônico. Verificaram que um único ascósporo pode comprometer até cinco células da epiderme, que entram em colapso, tornando as lesões aparentes sete horas após a inoculação. Depois de 30 horas, ascósporos não foram mais observados e uma extensiva área de colapso foi verificada na superfície da pétala inoculada. Considerando o escleródio como fonte geradora de apotécios que, por sua vez, produzem ascósporos em grande quantidade, estes poderão infectar inúmeras plantas hospedeiras. Nesse sentido, tornase essencial o controle efetivo e preventivo do mofo branco por meio de práticas de redução da população das estruturas de resistência no sistema solo.
Manejo cultural e biológico
O Sistema de Plantio Direto (SPD) caracteriza-se pela semeadura sem revolvimento do solo, rotação de culturas e presença de palhada, superior a 7t/ha no Cerrado, cobrindo totalmente a superfície
A
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do solo (Kluthcouski et al, 2003). A rotação de culturas é o método mais empregado no controle cultural de muitas doenças. Mas, para S. sclerotiorum, devido à versatilidade ecológica e sobrevivência de escleródios no solo por vários anos, nem todas as rotações são eficientes. Neste caso, uma forma eficiente de rotação de culturas envolve a promoção da alteração qualitativa na microflora do solo, favorecendo o crescimento e o estabelecimento de microrganismos antagônicos ao patógeno, induzindo níveis de supressividade à doença (Costa e Rava, 2003). Segundo Görgen e colaboradores (2009b) a cobertura vegetal formada pela braquiária, na quantidade média de matéria seca de 10,1t/ha, proporcionou ambiente favorável à germinação de apotécios, na ausência da cultura hospedeira, em razão da condensação d’água próxima à superfície do solo. Os escleródios produziram apotécios, mas estes não conseguiram ultrapassar a barreira física. Desta forma, os ascósporos quando e se liberados, encontram um obstáculo que dificulta o alcance à cultura hospedeira. No processo de formação do apotécio, o estipe cresce a partir do escleródio, mesmo na ausência de luz, utilizando energia armazenada no escleródio, semelhante à germinação de uma semente (BemYephet et al, 1993). A presença de luz, principalmente ultravioleta, mesmo que difusa, diferencia os estipes em apotécios (Venette, 1998). A germinação de escleródios, formando apotécios na presença de cultura não hospedeira, especialmente gramíneas C4 (Lu, 2003), impede a ocorrência de um novo ciclo da doença, bem como o esgotamento e a morte dos escleródios germinados (Civardi et al, 2009; Görgen et al, 2010). Além do mais, a umidade do solo na presença de plantas de cobertura, favorece a atuação de antagonistas capazes de inviabilizar os escleródios, afetando
B
Figura 1 - Escleródios formados na cultura da soja (A). Escleródio em capítulo de girassol (B)
precauções
Semeadura de soja em palhada de braquiária 12 dias após a dessecação
a integridade das células através de mecanismos como parasitismo, competição e produção de substâncias fungitóxicas (antibióticos). Em condições de campo, escleródios podem ser atacados e degradados por micoparasitas como Trichoderma spp, Coniothyrium minitans, Sporidesmium sclerotivorum, Aspergillus spp. e outros microrganismos (Bae e Knudsen, 2007). As áreas naturalmente infestadas foram manejadas com o cultivo de braquiária (U. ruziziensis) em sistema de consórcio com milho safrinha (Sistema Santa Fé) e aplicações do fungicida biológico à base de Trichoderma harzianum '1306'. O Sistema
Santa Fé aumentou a proporção de escleródios menores que 2mm, considerados de menor infectividade, e favoreceu a redução do inóculo inicial por meio da germinação de escleródios e formação de apotécios na entressafra. A cobertura vegetal possibilitou, também, o parasitismo e a morte de escleródios por antagonistas reduzindo drasticamente o número de apotécios durante os cultivos de soja no pleno florescimento (Görgen et al, 2010). A utilização de plantas de cobertura não hospedeiras, tanto solteiras quanto consorciadas, pode reduzir o inóculo inicial de S. sclerotiorum atuando como
• Adquirir sementes de empresas idôneas e que utilizem técnicas de manejo integrado de doenças (controle cultural, controle biológico, controle químico etc). • Exigir o teste de sanidade das sementes, juntamente com testes de vigor e germinação. • Realizar o tratamento de sementes utilizando produtos biológicos e químicos. Importante: enquanto os químicos apresentam residual por período definido, os produtos biológicos se estabelecem no solo com capacidade de sobrevivência e multiplicação. manejo preventivo do mofo branco na C cultura da soja. Claudia Adriana Görgen, Embrapa Cerrados Murillo Lobo Junior, Embrapa Arroz e Feijão Vilmar Antonio Ragagnin e Ederson Antonio Civardi, Universidade Federal de Goiás
Coluna ANPII
Sem mitos
E
Uma vez introduzidas no solo, bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium permanecem indefinidamente. Mas embora tenham contribuição para os novos plantios de soja, não são garantia de máxima fixação de nitrogênio, o que demanda inoculação anualmente
ra tradição entre os japoneses que emigraram para o Brasil buscar terra de áreas antigas de plantio de soja e espalhá-la pelo solo da nova área a ser plantada pela primeira vez. Embora empiricamente, procediam a inoculação do solo com bactérias do gênero Bradyrhizobium, trazendo os microrganismos que iriam provocar os nódulos e, consequentemente, a fixação do nitrogênio em sua cultura. Com o advento da produção de inoculantes, utilizando estirpes sele-
porada ao solo, dispensaria novas inoculações nos anos subsequentes. Esta crença, infelizmente bastante disseminada, em especial nos estados do Sul, é fruto do desconhecimento de dados de pesquisa e dos princípios de microbiologia do solo, em especial da dinâmica das comunidades de microrganismos que existem nos solos. E, no final da história, a vítima desta crença errônea tem sido o agricultor que, deixando de usar inoculante, perde em produtividade, tanto em sua lavoura de soja como na cultura
o nitrogênio atmosférico em formas aproveitáveis pelas plantas. Outro ponto importante é que as bactérias espalhadas pelo solo irão provocar nódulos predominantemente nas raízes secundárias, enquanto os nódulos oriundos das estirpes do inoculante formam-se na raiz principal, sendo cerca de 25% mais eficazes que os das raízes secundárias. Todas estas considerações, que parecem ser apenas teorias, são respaldadas, na prática, por dados de pesquisa, altamente confiáveis, que
Outro ponto importante é que as bactérias espalhadas pelo solo irão provocar nódulos predominantemente nas raízes secundárias cionadas e com elevada concentração de bactérias por grama, tornou-se muito mais fácil e eficiente usar um produto formulado, misturado às sementes, do que transportar grandes quantidades de solo de um local para outro. Desta forma, o Bradyrhizobium passou a ser incorporado aos solos através do uso dos inoculantes. Esta prática, por sua resposta na produtividade e no seu excelente custo-benefício, rapidamente foi aceita pelos agricultores e teve seus trabalhos intensificados pela pesquisa, ao ponto de hoje se poder cultivar soja com zero de nitrogênio mineral e reduzir o uso deste insumo no cultivo do feijão. Gradativamente a prática da inoculação vem se estendendo para cultivos de gramíneas, com a produção de inoculantes à base de Azospirillum. Entretanto, uma nova crença passou a se formar entre muitos agricultores e, infelizmente, mesmo entre agrônomos e técnicos agrícolas: a de que a bactéria, uma vez incor-
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que a sucede. É verdade que bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, uma vez introduzidas em um solo, ali permanecem indefinidamente. Embora estas bactérias venham a ter uma contribuição para os novos plantios de soja, não são garantia de máxima fixação de nitrogênio. O que ocorre é que estes microrganismos que permanecem no solo de um ano para outro, com um período sem a planta hospedeira e muitas vezes em condições adversas, como temperaturas baixas no inverno do Sul do Brasil ou em condições de seca severa no Cerrado, têm sua população muito diminuída, não atingindo os níveis necessários para elevada fixação de N e, em consequência, alta produtividade. Além desta população mais baixa do que o necessário para elevar a produtividade, também podem ocorrer mutações nestas bactérias que, eventualmente, perdem ou têm diminuído seu poder de transformar
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comprovam as vantagens econômicas da reinoculação, ou seja, da inoculação a cada plantio de soja. Vários experimentos, em especial da Embrapa, demonstram muito claramente que sempre há ganhos de produtividade com esta prática. Os aumentos médios de produtividade obtidos com esta tecnologia são de 8% no Brasil. Se pensarmos em alguns milhões de hectares de soja onde não se usa inoculante e acrescentarmos ganhos de 8% na produtividade, poderemos calcular o que isto representa para a economia do país, sem falar no ganho individual de cada agricultor. Portanto, as crenças infundadas e sem respaldo na pesquisa devem ser abandonadas e a inoculação deve ser uma prática agrícola utilizada anualmente para que se obtenham aumentos de produtividade com um C baixo investimento. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
O
Nutrição vegetal sustentável
s fer ti l i z a n te s qu í mi c os são produzidos a partir de matérias-primas finitas (não renováveis) e com grande consumo de energia. Surpreendentemente, o Nitrogênio (N) – nutriente que mais demanda energia para sua obtenção - é o único que pode ser fornecido às plantas de forma renovável, sustentável e com baixo consumo de energia. Isto é muito importante, porque o nitrogênio é o nutriente requerido em maior quantidade pela cultura da soja, que necessita 80kg de N para cada 1.000kg de grãos produzidos. A associação simbiótica entre bactérias fixadoras de nitrogênio e plantas da família Fabaceae (leguminosas) é conhecida há muito tempo. Além da simbiose,
cipalmente, de promover o crescimento das plantas, particularmente das raízes, pela produção de fitormônios. Com isso, ocorre maior absorção de nutrientes e de água, melhorando a tolerância da planta ao déficit hídrico e otimizando a nutrição mineral das plantas. Existem diversas espécies de bactérias benéficas aos vegetais, das quais a mais conhecida pelo agricultor é a responsável pela fixação biológica de nitrogênio na soja, do gênero Bradyrhizobium. Conhecida como rizóbio, permite dispensar a adubação nitrogenada na cultura de soja, no Brasil. Já as bactérias do gênero Azospirillum não são tão eficientes quanto os rizóbios, pois excretam somente uma parte do nitrogênio atmosférico
Os resultados Os ensaios de campo conduzidos pela Embrapa Soja comprovaram a eficiência do produto formulado em parceria com a iniciativa privada, demonstrando que a inoculação da semente de trigo, semeado após a soja e com a aplicação de apenas 20kg de nitrogênio por hectare, permite atingir a produtividade de 2.600kg/ha. Aplicando-se apenas 24kg/ha de nitrogênio na cultura de milho inoculado com Azospirillum foi possível obter 3.400kg/ha. De acordo com a Embrapa Soja, esta produtividade é economicamente viável, para o cultivo de milho na safrinha ou para a agricultura familiar. Quando o milho recebe uma adubação suplementar de 30kg/ha em cobertura, a produtividade mais do que
A tecnologia contribui para a sustentabilidade da agricultura, reduzindo a demanda de matériasprimas finitas e de energia, diminuindo a poluição causada por adubos nitrogenados pesquisas realizadas nos últimos anos permitiram identificar bactérias capazes de realizar o processo de fixação do nitrogênio em gramíneas, um tipo de associação menos estreita do que aquela que ocorre com as leguminosas. Como exemplo, a associação entre a cana-de-açúcar e bactérias endofíticas foi identificada em pesquisas realizadas sob a batuta de uma das decanas da pesquisa agropecuária brasileira, Johanna Döbereiner.
As bactérias Seguindo a trilha da pesquisadora Johanna Döbereiner, uma de suas pupilas, Mariangela Hungria - pesquisadora da Embrapa Soja - liderou uma equipe de pesquisadores que começou, em 1996, um ciclo de estudos sobre a identificação de bactérias do gênero Azospirillum, objetivando desenvolver uma tecnologia que reduzisse a necessidade de adubação nitrogenada nas culturas do milho e do trigo. Estas bactérias possuem a habilidade não só de fixar o nitrogênio atmosférico e repassar parte das substâncias nitrogenadas produzidas para as plantas mas, prin-
fixado, suprindo apenas parcialmente as necessidades da planta à qual estão associadas.
A pesquisa Os estudos começaram com a identificação das estirpes (ou cepas) de Azospirillum que fossem mais eficientes com as culturas do milho e do trigo, um trabalho em parceria entre a Embrapa Soja e a UFPR. Com base nos resultados da pesquisa com ensaios de campo, conduzidos por cinco anos em Londrina e Ponta Grossa, foram identificadas algumas estirpes que aumentaram a produção de grãos do milho em 24-30% e em 13-18% no trigo. Foram, então, estudas formulações à base de turfa e líquida para as melhores estirpes. Duas dessas estirpes, a Ab-V5 e a Ab-V6 foram eficientes tanto para o milho, como para o trigo, levantando maior interesse por parte da iniciativa privada. A seguir foram conduzidos estudos em parceria com a iniciativa privada para obter uma formulação comercial líquida.
dobra, atingindo até 7.000kg/ha. A equipe da pesquisadora Mariangela Hungria estima que a economia com a inoculação com Azospirillum possa ser superior a três bilhões de reais por ano, se adotada por todos os produtores de milho e trigo, que reduziriam em 50% o uso de adubação química de nitrogênio. Este não é o único benefício para os agricultores e para a sociedade. A tecnologia contribui para a sustentabilidade da agricultura, reduzindo a demanda de matérias-primas finitas e de energia, diminuindo a poluição causada por adubos nitrogenados, altamente solúveis, em que parte do adubo aplicado acaba sendo arrastado para os cursos de água e contribuindo para a redução na emissão de gases de efeito estufa. Mais informações sobre a tecnologia podem ser obtidas na Embrapa Soja, ou acessando a publicação “Inoculação com Azospirillum brasilense: inovação em rendimento a baixo custo” (http://www.cnpso. C embrapa.br/download/doc325.pdf).
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Safra americana no comando do mercado A safra da América do Sul chega ao fechamento da colheita, restando ainda as lavouras da safrinha do Brasil e do trigo e já apontando para finalização das colheitas de soja e milho na Argentina. Também se encontra na reta final a atual produção de arroz destes países. Com esse cenário, o resultado da América do Sul deixa de ser um dado importante para o mercado internacional, que já tem a dimensão dos números regionais. Com isso, o fator de formação dos preços mais importante passa a ser o clima e o desenvolvimento das lavouras nos Estados Unidos da América (EUA). O plantio tem ocorrido em ritmo um pouco abaixo do que esperavam os operadores, com o milho mostrando ligeiro atraso frente ao ano passado. Desta forma, começou com um fator levemente negativo para a safra, que dependerá de clima favorável até setembro. Os indicativos são de recorde de plantio de milho, porque o consumo americano cresce forte e as cotações estão muito atrativas para os produtores, que terão de plantar, em média, aproximadamente nove milhões de hectares por semana, até 20 de maio, para concluir o cultivo dentro do período de melhor potencial produtivo. Para a soja o plantio se concentra em maio. Dessa forma os agricultores terão que plantar neste período cerca de 7,5 milhões de hectares semanais para fechar o mês com as lavouras na melhor época recomendada. A expectativa é de que junto ao clima nos EUA, algumas boas notícias venham da China (que nestes últimos dias anunciou que a pressão inflacionária no país está diminuindo, trazendo maior tranquilidade para que a economia local continue crescendo ao redor dos 10% ao ano). Esse percentual já havia sido apontado no trimestre anterior e é favorável à continuidade da grande demanda de alimentos, com recorde de consumo de grãos e ração e indicando que haverá também recorde de consumo de carne de frango e suíno neste ano além de recorde de demanda de ovos (todos atrelados aos grãos e criando uma dependência ainda maior dos chineses pelo mercado internacional e dando suporte aos indicativos no mercado de Chicago). Nos próximos meses o mercado voltará os olhos para o clima nos EUA, que pode trazer apelo altista às cotações.
MILHO
Safrinha em desenvolvimento
esse percentual é menor e no Sul maior) ocorrem poucos fechamentos. Como houve forte queda no dólar nestas últimas semanas, navegamos em cima dos piores momentos desde agosto de 2008, no período pós-crise econômica mundial. Há pouco espaço para reação em Reais, com os produtores do Sul e Sudeste esperando que as cotações cheguem aos R$ 50,00, mas com o dólar perto de R$ 1,50, as cotações teriam que ultrapassar os 15 dólares em Chicago (que seguem buscando se manter entre os 13/14 dólares e com pouco espaço para alterações além destes níveis em curto prazo). Para crescimento existe dependência de notícias novas, como maiores compras chinesas ou problemas na safra dos EUA, fatos que não estão sendo sinalizados. A tendência é de estabilidade e algum ganho pontual para demanda interna.
Os meses de março e abril foram embora, ambos com boas condições para as lavouras da safrinha, que tiveram chuvas regulares e bom desenvolvimento. Mesmo com o atraso no plantio os campos mostravam boas lavouras até este final de abril e começo de maio, mas ainda há indefinições sobre a colheita, porque muitas áreas necessitam de chuvas durante todo o mês de maio e no Sul as geadas não podem chegar antes de julho, para não trazerem perdas na produção. O mercado seguia firme e mostrando poucas lavouras da safra de verão para serem colhidas. Com esse cenário, a tendência é de manutenção dos indicativos estabilizados nos patamares que vinham sendo praticados, porque os exportadores seguem trabalhando com valores dos R$ 29,00 aos R$ 30,00 nos portos para o milho de curto FEIJÃO prazo e o produto do segundo semestre, sinalizando Com demanda voltando que há pouco espaço para alteração nas cotações. Os O mercado do feijão passou pela primeira safra com indicativos continuam favoráveis aos produtores, que perdas grandes devido ao clima chuvoso e ao atraso no têm colhido e vendido a safra. plantio. Pouco se plantou na segunda safra que está entrando em colheita agora e terá pouco volume para SOJA atender o mercado. Caminha para a terceira safra, que Calmaria e poucos negócios A soja tem mostrado poucos negócios. Os produ- neste ano será plantada mais tarde, porque a mosca tores já comercializaram a maior parte da safra que branca está em todas as regiões, o que limita o plantio foi colhida e agora esperam cotações mais atrativas na logo depois da soja. Desta forma, caminhamos para um entressafra. Pelo pouco que resta (entre 10% e 35% vazio de oferta de feijão de boa qualidade nestes meses do volume colhido, sendo que nos estados centrais de maio e junho, o que tende a trazer nova pressão altista
nas cotações. A terceira safra mostrará parte das lavouras irrigadas, tendo milho semente, cana para muda e também crescendo em HF. Desta forma há espaço para boa reação do feijão à frente, porque existirá pouca oferta, principalmente no Carioca (pois o feijão Preto tende a chegar da Argentina). ARROZ
Segue na dependência do governo
A safra do arroz está fechando com recorde de produção. Volume próximo das 13 milhões de toneladas (com o Rio Grande do Sul ao redor das nove milhões de toneladas, seguido por Santa Catarina com pouco mais de 1,1 milhão de toneladas e os demais estados com outras três milhões de toneladas). Existe produto para cobrir toda a demanda nacional, que deverá girar ao redor das 12,5 milhões de toneladas a 13 milhões de toneladas. Com limitação de alta nas cotações vindas do Mercosul (que também tem recorde de safra e virá disputar espaço no mercado brasileiro). Dessa forma, para os indicativos crescerem os produtores terão que ir em busca do apoio do governo, com EGFs, AGFs, Opções, PEP e todo mecanismo possível, porque as indústrias estão com os armazéns lotados de arroz e não possuem capital de giro para garantir a compra de tudo o que receberam. Isso gera dificuldade para o mercado sair dos R$ 18,00/21,00 praticados no Sul do país neste período de final de colheita. O governo deverá trazer apoio maior a partir do mês de maio.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo apresenta poucas alterações, com indicativos na faixa dos R$ 460,00 a R$ 470,00 na base do Rio Grande do Sul e pouco acima dos R$ 500,00 na base do Paraná. Mas como o dólar recuou muito neste ano, acabou freando o crescimento e isso continuará sendo um fator limitante de alta, porque mesmo tendo trigo na faixa dos 330/360 dólares por tonelada FOB nos EUA e próximo dos 400 dólares no Canadá, ainda dependemos da Argentina, que busca trabalhar próximo dos indicativos dos EUA. Esse cenário resulta em trigo importado na faixa dos 400 dólares por tonelada em nossos portos, o que daria R$ 600,00 para a indústria (que normalmente tem prazo largo para pagar e desta forma limita o mercado nacional). Se o dólar crescesse perante o real ou tivéssemos novos avanços no mercado internacional do trigo, poderíamos ver as cotações avançarem mais. No momento o cenário é de calmaria e pouca liquidez, mas se está trabalhando nos valores mínimos de mercado e exportando grandes volumes. algodão - O mercado teve as cotações nos melhores níveis da história neste ano e com isso a safra está maior em cerca de 50%. Há bom desenvolvimento nos campos do Mato Grosso e na Bahia, onde se concentram as plantações nesta safra. O panorama segue otimista porque o mercado mundial é comprador e a China apresenta crescimento de demanda. eua - A safra está sendo plantada e agora os olhos se voltam para o clima americano, que comandará os negócios nas 20 semanas, com expectativas de que ocorra alguma irregularidade que possa trazer
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Maio 2011 • www.revistacultivar.com.br
pressão positiva sobre os indicativos de Chicago, principalmente entre junho e julho. china - As importações de soja deste ano abarrotaram os portos no mês de abril, com momentos em que havia mais de 100 navios para descarregar. Com isso, neste período houve o cancelamento da compra da carga de oito navios e adiamento do recebimento de outros 20 navios com soja. Com temor de que o país irá importar menos e até aparecendo a indicação de um grande banco de investimentos apontando que a China irá importar 54 milhões de toneladas e não 57 milhões de toneladas como indica o USDA. Mas isso foi momentâneo e logo os portos estarão abertos para o recebimento de novos volumes. O fato é que os chineses não querem pagar diária de navio parado, esperando para descarregar, e como são os maiores importadores do mundo, podem alterar as posições na hora que bem entenderem e os vendedores, normalmente, aceitam. Certo é que a demanda será recorde novamente. argentina - Os números finais da safra estão chegando na faixa das 20 milhões de toneladas de milho, 49 milhões de toneladas de soja, 1,7 milhão de tonelada de arroz e 350 mil toneladas de feijão. E tudo aponta que a nova safra do trigo poderá crescer. clima - Será o fator importante neste mês de maio. Este é o momento do plantio americano, que tem janela curta nestas próximas semanas e, desta forma, qualquer alteração poderá trazer apelo positivo para o mercado e ganhos para os produtores do Brasil.