Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 148 • Setembro 2011 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Sensibilidade ameaçada........................20
Luís Henrique Carregal
José Tadashi Yorinori
Cresce a preocupação com os riscos de resistência da mancha alvo à aplicação de fungicidas na cultura da soja
Vulnerável a insetos...................24 Monitoramento eficiente.............29 Ação complementar....................34 Como prevenir a ação de pragas iniciais em milho, cultura predisposta ao ataque por conta da época de cultivo
Armadilha artesanal auxilia na tomada de decisão quanto ao controle da broca-do-café
Índice
Expediente
Diretas
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Florescimento em cana
06
Informe - Bayer lança fungicida para soja
08
Eventos - Top Ciência
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Nematoides em soja
12
Plantas daninhas em soja
16
Mancha alvo em soja
20
Pragas iniciais em milho
24
Eventos - Noite do arroz
28
Como monitorar a broca-do-café
29
Plantas daninhas em algodão
34
Broca-da-raiz em algodão
38
Empresas - Digilab ganha nova versão
42
Coluna ANPII
44
Coluna Agronegócios
45
Mercado Agrícola
O papel da associação do glifosato a outros herbicidas no manejo de daninhas em algodão
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Assistente
• Revisão
• Assinaturas
MARKETING E PUBLICIDADE
• Expedição
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• Coordenação
Simone Lopes Ariane Baquini Luciane Mendes Natália Rodrigues
Aline Partzsch de Almeida
Edson Krause
• Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Vendas
Pedro Batistin
GRÁFICA
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@cultivar.inf.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Errata
Por um equívoco de composição, na edição 147 de Cultivar Grandes Culturas, faltou incluir a autoria do artigo sobre a lista completa de cultivares de milho disponíveis para a safra 2011/12. Destaque de capa, o material inédito foi elaborado pelos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo José Carlos Cruz e Israel Alexandre Pereira Filho e pelo bolsista da Fapemig/Embrapa, Gustavo Henrique da Silva.
Arroz vermelho
A equipe da Basf destacou no VII Congresso do Arroz Irrigado, em Camboriú, Santa Catarina, os produtos Kifix e Only e o Sistema de Produção Clearfield, que auxiliam no melhor controle do arroz vermelho, uma das principais plantas infestantes que afetam os arrozais. Esses defensivos apresentam flexibilidade na aplicação com efeito pré e pós-emergente das plantas infestantes.
Inseticida e herbicida
A FMC foi uma das patrocinadoras do VII Congresso do Arroz, realizado em Camboriú, Santa Catarina. No evento a empresa destacou o herbicida Gamit 360 CS para controle de folhas largas e estreitas e o inseticida Talisman, lançado para o mercado de arroz, para o controle de lagartas e percevejos.
TS Industrial
A Bayer CropScience apresentou durante o XVII Congresso Brasileiro de Sementes, realizado em Natal (RN), seu novo modelo de negócios para o tratamento de sementes industrial, que se sustenta sobre quatro pilares: expertise e assistência técnica especializada; tecnologias exclusivas para o revestimento das sementes; equipamentos inovadores e portfólio com tecnologia de ponta. “O tratamento industrial de sementes é uma tendência, com foco em produtividade e máximo padrão de qualidade”, afirma Luis Henrique Feijó, gerente de Portfólio Tratamento de Sementes Luis Henrique Feijó da Bayer CropScience.
Participação
A RiceTec participou do VII Congresso do Arroz Irrigado. A empresa destacou sementes híbridas, além do investimento que realiza em pesquisa e novas tecnologias.
Portfólio
A linha de sementes de algodão FiberMax, da Bayer CropScience, foi um dos destaques da empresa no XVII Congresso Brasileiro de Sementes. “Nosso portfólio de sementes de algodão é reconhecido por seu alto potencial produtivo, qualidade da fibra, adaptabilidade, sanidade e estabilidade de produção, além de ter diferentes ciclos, que possibilitam ao produtor gerenciar melhor a época de plantio e explorar toda a produtividade da lavoura”, enfatiza Warley Palota, gerente de Negócios Sementes e Traits de Algodão da Bayer CropScience.
Tecnologia
Airton Leites, gerente de Projetos Marketing, e Adolfo Uldrich, gerente de Biotecnologia, apresentaram no Congresso do Arroz a tecnologia Clearfield. Ambos participaram desde o início do desenvolvimento da ferramenta, eficaz no manejo do arroz vermelho, principal planta daninha que afeta a cultura.
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Warley Palota
Presença
Airton Leites e Adolfo Uldrich
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Kedilei Roncato Duarte, gerente de Herbicidas da FMC, esteve no VII Congresso do Arroz Irrigado, em Camboriú, Santa Catarina, onde acompanhou a distribuição de 500 manuais de identificação de plantas infestantes na cultura do arroz. O manual é de autoria dos consultores Henrique José da Costa Moreira e Horlandezam Bellires Kedilei Roncato Duarte Nippes Bragança.
Novo fungicida
A equipe da Bayer CropScience destacou o novo fungicida Fox, durante o 44º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, em Bento Gonçalves (RS). “O lançamento pertence a uma nova classe química, chamada Triazolinthione, indicado para o manejo da ferrugem asiática, e atua de maneira mais forte e abrangente no metabolismo do fungo, proporcionando eficácia mesmo em populações mais tolerantes”, afirma Rafael Pereira, gerente de Desenvolvimento de Fungicidas da Bayer CropScience. O produto também é indicado para controle do complexo de doenças nas lavouras de soja, como a mancha alvo e a antracnose.
Destaque
A Syngenta participou do VII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado. Adilson Jauer, desenvolvimento técnico de Mercado Marketing, destacou os produtos Cruiser, Engeo Pleno e Actara para a orizicultura. “O congresso é uma grande oportunidade para mostrarmos as soluções que a empresa oferece para o cultivo do arroz, em um momento estratégico para a companhia”, destacou a gerente de Culturas Locais da Syngenta, Andressa Lemos.
Andressa Lemos e Adilson Jauer
Apresentação
Arroz
O programa Muito Mais Arroz, o híbrido Arize QM1010 e o fungicida Nativo foram os destaques da Bayer CropScience no Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, em Balneário Camboriú (SC). “O Arize QM1010 é um híbrido de alto potencial produtivo que responde às boas práticas de manejo e proteção de cultivos, com resistência ao degrane e acamamento e que se adapta às diferentes regiões produtoras do grão”, explica Renato Luzzardi, gerente de Negócios de Arroz.
O gerente de Marketing para as linhas de Arroz e Cana da Dow AgroSciences, Hugo Centurion, juntamente com a equipe de campo dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, apresentou no Congresso de Arroz seu portfólio de produtos e serviços ligados à cultura, com destaque para Ricer, Clincher, Bim 750BR e Alterne.
Fórum
Principal evento
Durante o VII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, a Ihara destacou os herbicidas Grasmax e Nominee. “É o principal evento para a discussão e apresentação das novas tecnologias aos envolvidos na cadeia do arroz”, avaliou o gerente comercial Rodrigo Lima.
O Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) realizou o 2° Fórum Nacional de Produtividade, Safra 2010/2011. O evento ocorreu em agosto, na sede da Embrapa, em Brasília. Segundo o diretor executivo do Cesb, Edeon Vaz Ferreira, o principal objetivo é gerar ações e apontar caminhos para que o sojicultor aumente sua produtividade. O fórum contou com pesquisadores da Embrapa, técnicos do Mapa, professores de universidades e representantes de diversas fundações brasileiras de pesquisa, além dos vencedores Edeon Vaz Ferreira do 2º Desafio de Produtividade.
Comemoração
O jantar de premiação da 2ª edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade Safra 2010/11 contou com a presença dos executivos da Syngenta André Savino, diretor Soja Brasil; Ricardo Perez, gerente de Plataforma Integrada Soja Brasil; Marcelo Habe, gerente de Marketing Clientes OTO Brasil; Renato Guimarães, chefe da Unidade de Negócios Norte; e Laércio Giampani, presidente da Companhia.
Organização
O diretor de Marketing do Cesb, Nilson Dias Caldas, anunciou a 3ª edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade Safra 2011/2012. “Esperamos chegar a dois mil produtores participantes”, projetou Caldas.
Nilson Dias Caldas
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Cana-de-açúcar Fotos Miguel Angelo Maniero
Flores indesejadas
Fundamental para o melhoramento genético, o florescimento da cana-de-açúcar é prejudicial à exploração comercial da cultura, por levar à perda de peso, aumentar o teor de fibra e diminuir a extração de caldo, além de afetar negativamente a sacarose e depreciar o valor do produto para venda. Para minimizar os efeitos o produtor precisa antecipar-se e tomar providências que começam por conhecer o comportamento das variedades utilizadas no cultivo
A
cana-de-açúcar desenvolve-se em uma faixa extensa no globo terrestre, entre as latitudes 35º N e 35º S. É uma cultura com bom desempenho em condições de clima tropical, com duas estações bem definidas, uma quente e úmida, adequada para a brotação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo e outra fria e/ ou seca para a maturação com acúmulo de sacarose nos colmos. O Brasil é um país de extensão continental com grande diversidade climática para a produção econômica de cana-de-açúcar, desde regiões com condições ótimas de temperatura e precipitação pluviométrica até as com limitações pelas baixas temperaturas e com deficiência ou excesso hídrico. Embora todos os elementos do clima tenham influência no desenvolvimento agrícola e industrial da cana-de-açúcar, a temperatura tem importância fundamental na fisiologia da cultura, da brotação à colheita, pois interfere na velocidade das reações bioquímicas e na ação de enzimas envolvidas nos processos de divisão, diferenciação e crescimento das células. O fenômeno do florescimento que na maioria das culturas é normal, em canade-açúcar, na região Centro-Sul do Brasil, é dependente das condições climáticas no período indutivo, sendo o fotoperíodo o mais importante, seguido pela temperatura do ar.
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Esses fatores não podem ser controlados, mas conhecendo-se o comportamento da variedade de cana-de-açúcar e identificandoos antecipadamente podemos tomar providências para o controle ou a minimização dos efeitos indesejáveis do florescimento no aproveitamento agroindustrial, devido ao chochamento e à diminuição do ciclo da cultura, que acarretam redução dos rendimentos agrícola e industrial. Pereira et al (1983) observaram que no período fotoindutivo ao florescimento da cana-de-açúcar, entre 25 de fevereiro e 20 de março, quando o comprimento do dia decresce de 12 horas e 30 minutos para 12 horas, a frequência de ocorrência de noites com temperatura mínima maior ou igual a 18ºC e dias com temperatura máxima menor ou igual a 31ºC discrimina anos com e sem
florescimento. Para estimar a ocorrência ou não de florescimento, Pereira et al (1983) determinaram a equação: L = 1,263 – 0,06764X1 - 0,02296X2, onde: X1 = número de noites com temperatura mínima maior ou igual a 18ºC. X2 = número de dias com temperatura máxima menor ou igual a 31ºC. Os valores de X1 e X2 devem ser contabilizados durante o período fotoindutivo de florescimento. Se L for positivo não haverá florescimento, se negativo indica que ocorrerá. Em caso de L = 0 interpreta-se como 50% de probabilidade de ocorrência de florescimento. Barbieri et al (1984) mostram na Tabela 1 os períodos fotoindutivos para o florescimento
Figura 1 – Diferentes estágios de isoporização ou “chochamento” da cana-de-açúcar após a indução do florescimento
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Tabela 1 – Períodos fotoindutivos para florescimento da cana-de-açúcar
Figura 2 – Alterações morfológicas ocorridas na cana, após o período indutivo do florescimento
da cana-de-açúcar calculados considerando-se que a maioria das variedades de cana-deaçúcar necessita entre 12 e 12,5 horas de fotoperíodo para que ocorra a indução, conforme relatada por Pereira et al (1983).
O QUE FAZER No plantio Recomenda-se considerar o fotoperíodo, o regime térmico e pluviométrico do local. Sendo constatado que a região tem potencial climático para indução ao florescimento, efetuar o plantio de forma que a cultura não tenha atingido a idade mínima adequada ao florescimento durante o período indutivo. Escolher variedades com baixo potencial para o florescimento, como exemplo SP80-1842, SP91-1049, CTC2, CTC6, RB855536, RB867515, IAC93-3046. Caso se utilizem mudas de viveiros que floresceram, indica-se que o plantio seja realizado em dias úmidos e utilizando-se maior densidade de gemas do que o normal, em virtude dos colmos florescidos apresentarem menor umidade, conforme recomendação de Barbieri et al (1984). No corte Detectadas condições para indução ao florescimento e considerando que a maioria das variedades após esse período demora de sete a dez semanas para emissão da
Latitude (s) 0-8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Período N 12:30 22/12 08/01 20/01 28/01 03/02 07/02 10/02 13/02 15/02 18/02 20/02 22/02 24/02 25/02 26/02 27/02 28/02 01/03 01/03 02/03 03/03 04/03 04/03
Indutivo N 12:00 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03 20/03
No Dias 89 73 60 52 45 41 38 35 33 30 28 26 24 23 22 21 20 19 19 18 17 16 16
Período N 12:00 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09 23/09
Indutivo N 12:30 22/12 06/12 23/11 15/11 10/11 05/11 01/11 29/10 28/10 25/10 23/10 21/10 19/10 18/10 16/10 15/10 14/10 13/10 12/10 11/10 11/10 10/10 10/10
No Dias 91 75 62 54 48 43 39 36 35 32 30 28 26 25 23 22 21 20 19 18 18 17 17
Total Anual 180 148 122 106 93 84 77 71 68 62 58 54 52 48 45 43 41 39 38 36 35 33 33
N = comprimento do dia (horas).
panícula, recomenda-se o corte das canas com alto potencial de florescimento (o mais rápido possível), com o objetivo de diminuir as perdas de sacarose. A isoporização ou “chochamento” ocorre com intensidade diferente entre as variedades e é proporcional ao tempo de sua permanência no campo após a época de indução ao florescimento (Figura 1).
Reguladores de crescimento
Após o período de indução, entre 25 de fevereiro e 20 de março, se detectada a ocorrência do fenômeno, pode-se proceder ao uso de reguladores de crescimento, para a antecipação da maturação e o controle do florescimento, Caputo et al (2007). A utilização dessa prática possibilita maior flexibilidade no planejamento da colheita e proporciona melhor qualidade de matériaprima para indústria sucroalcooleira.
Considerações finais
O florescimento da cana-de-açúcar é muito importante para o melhoramento genético, mas prejudicial à sua exploração comercial, devido a perdas de peso e açúcar, aumento do teor de fibra e diminuição da extração do caldo, trazendo prejuízos ao produtor, por alterações negativas na comercialização da cana em virtude do teor de sacarose, Iaia et al (1985). É preciso ficar atento às condições climáticas no período fotoindutivo e às alterações morfológicas como o aparecimento do pendão floral nos talhões com C cana-de-açúcar (Figura 2). Miguel Angelo Maniero, Luiz Carlos Ferreira da Silva e Rubismar Stolf, Univ. Federal de São Carlos Antonio Marcos Iaia, Univ. Federal de Mato Grosso
Informe
Opção de manejo Fotos Bayer CropSciense
Fungicida protioconazol + trifloxystrobin, pertencente ao grupo químico dos DMIs e quimicamente classificado como Triazolintiona, chega ao mercado para auxiliar no combate ao complexo de doenças em soja, com destaque para o controle da ferrugem asiática
A
Bayer CropScience lançou para a safra 2011/2012 da cultura da soja, o fungicida Fox. Trata-se de um produto composto pelo ingrediente ativo protioconazol, uma nova geração no grupo químico dos DMIs (fungicidas que atuam na demetilação da síntese de esteróis nos fungos), sendo quimicamente classificado como Triazolintiona. O produto também leva em sua composição, o trifloxystrobin, que age na respiração mitocondrial do fungo, ao inibir a transferência de elétrons no complexo III. O fungicida age de duas maneiras no controle do complexo de doenças em soja, como mancha-alvo, oídio, doenças de final de ciclo e também no manejo da mela e antracnose, além, é claro, da ferrugem asiática, patógeno que a cada safra se mostra mais agressivo. A fim de preservar a eficiência dos fungicidas e monitorar o comportamento quanto à sensibilidade da ferrugem asiática aos mecanismos atualmente presentes no mercado para o controle desta doença, a Bayer dá continuidade aos estudos iniciados na safra 2005/2006, de monitoramento da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas dos grupos químicos dos DMIs e QOIs. A metodologia utilizada nos ensaios foi desenvolvida pelos pesquisadores do Centro
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Área de soja tratada com triazol (à esquerda) e com o protioconazol (à direita)
de Pesquisa e Inovação Bayer CropScience no Brasil, em conjunto com especialistas do Instituto de Fungicidas da empresa em Monheim, na Alemanha, sendo reconhecida e adotada pelo Frac internacional (The Fungicide Resistance Action Committee). Desde o início do trabalho a empresa conduz os ensaios com a mesma metodologia e procedimentos, a fim de estabelecer uma linha base dos valores de EC 50 (concentração necessária de produto para controlar 50% de indivíduos de uma determinada população) encontrados nos ensaios de monitoramento para cada ingrediente ativo estudado e relacioná-los
Imagem em microscopia eletrônica da ferrugem da soja
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com os resultados dos fungicidas em campo, com ensaios paralelos. O principal objetivo do estudo é verificar a variação na sensibilidade do fungo P. pachyrhizi a fungicidas. Os resultados obtidos, por meio do monitoramento, auxiliam na tomada de decisões para o controle de determinados fungos fitopatogênicos em plantas cultivadas, tais como definição do intervalo de aplicação, doses, combinação e rotação entre diferentes produtos com modo e/ou sítio de ação diferenciado, além de possibilitarem a busca de novas moléculas atuantes no controle destes fungos. Observaram-se, a partir da safra 2007/2008, que amostras coletadas no mês de março evidenciaram a existência de um predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração, tais como tebuconazol e ciproconazol em algumas regiões do Brasil, principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, retornando a sua sensibilidade normal no início do período agrícola 2008/2009. Na safra 2008/2009, as amostras coletadas em março apontaram que o predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração estenderam-se para mais regiões do País, incluindo os estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná e Bahia. Já na safra 2009/2010, observou-se que
populações menos sensíveis foram detectadas em praticamente todos os estados brasileiros produtores de soja (Figura 1). Mesmo com a ocorrência tardia, na safra 2010/2011, as populações altamente sensíveis aos triazóis de primeira geração praticamente desapareceram, considerando as principais regiões produtoras de soja - de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, até o município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Podemos confirmar que a flutuação na sensibilidade do fungo a DMIs de primeira geração está claramente ocorrendo em todas as regiões do Brasil, composta predominantemente por indivíduos pouco sensíveis, desde a safra 2007/2008. Atualmente, o protioconazol apresenta os menores valores e estabilidade quando determinada a LD 50 no programa de monitoramento da ferrugem. O que está diretamente ligado a sua eficiência em campo observada na safra 2010/2011, por meio da condução de 640 campos demonstrativos que compararam o tratamento Bayer CropScience com o fungicida nas primeiras aplicações, em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil. Para os fungicidas do grupo das estrobilurinas não foram observadas quaisquer mudanças em seu desempenho, em qualquer período ou região, significando que os ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico continuam importantes e indispensáveis no controle da ferrugem asiática da soja. Também se observa a eficácia do fungicida no controle de Corinespora cassiicola, a mancha-alvo, doença cada vez mais presente nas lavouras brasileiras e que também tem demonstrado baixa sensibilidade, em diversas
regiões, aos fungicidas que antes foram muito eficientes no controle desta doença, os benzimidazóis. Para o efetivo controle da ferrugem da soja, é recomendada a utilização de fungicidas de grupos químicos com diferentes distintos ou com diferenças específicas no seu sítio de ação, sendo também interessante o espectro de ação do fungicida, o que, atualmente, é possível com a utilização do novo produto. FOX é recomendado na primeira ou na primeira e na segunda aplicações, quando o
Pereira acompanhou ensaios realizados com o fungicida em diferentes regiões produtoras do Brasil
Mehl é pesquisador do Instituto de Fungicidas, da Bayer, em Monheim, Alemanha
Figura 1 - Comportamento da sensibilidade da ferrugem da soja a triazol
plano de utilização de fungicidas foliares estiver programado para ser realizado em mais de duas aplicações. Os principais motivos da utilização do fungicida desta maneira, além de explorar o espectro de ação oferecido, é “uniformizar” em termos de sensibilidade do fungo, melhorando ainda mais o desempenho do fungicida subsequente, neste caso o Sphere Max. Segundo sugerido por Leroux&Walker (Pest Management Science, 2010), o fungicida à base de protioconazol apresenta os menores valores para o fator de resistência em mais de 20 isolados com mutação identificada no fungo Mycosphaerella graminicola, doença mais importante em cereais na Europa. Parker et al (2011) observou que a interação de protioconazol com a enzima cyp 51 é diferente dos outros DMIs. Isso porque devido à presença do radical enxofre no anel azól da molécula, o espectro de cor detectado após a inibição da ligação do eburicol na cadeia de produção do esgosterol mostra uma coloração totalmente diferente das apresentadas por tebuconazol, por exemplo. Baseada em uma série de ensaios conduzidos em diversas regiões do Brasil, por fitopatologistas brasileiros renomados e pela equipe do Desenvolvimento Agronômico da Bayer CropScience Brasil, aliados às informações geradas pela comunidade científica que estuda os diversos produtos que agem na demetilação da síntese de esteróis, é lançado no mercado o fungicida FOX, que além de sua eficiência comprovada em campo e no laboratório, traz amplo espectro de ação que resulta nos melhores rendimentos C por área nas lavouras brasileiras.
Andreas Mehl Rafael Pereira Bayer CropScience
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Eventos
Fórum de tecnologia Top Ciência chega à 6ª edição e reúne aproximadamente 400 participantes em Mogi das Cruzes, SãoPaulo
Divulgação
A nova versão do Digilab, batizada de 2.0, também foi apresentada na edição 2011 do Top Ciência no Brasil. O equipamento consiste na união de um microscópio digital, capaz de aumentar a imagem em até 200 vezes, e um software com banco de dados e imagens das principais pragas e doenças que atacam os cultivos agrícolas no País (veja matéria nesta edição).
Premiação
O
anúncio de duas patentes desenvolvidas em parceria com pesquisadores do Brasil e do Chile, o lançamento de uma nova versão do Digilab, a inscrição de 585 trabalhos e a premiação de 30 consultores e autores de pesquisas com uma viagem técnica à África do Sul estão entre os destaques da 6ª edição do Top Ciência. O evento reuniu aproximadamente 400 participantes de diversos países da América Latina, entre os dias 10 e 11 de agosto, em Mogi das Cruzes, São Paulo. Das duas patentes anunciadas, uma delas, proposta em 2010, está relacionada à sinergia
Os vencedores BRASIL Cereais e Cereais de Inverno Jeferson Geraldo Lobasz Lavrobras Jurema Schons Universidade de Passo Fundo Marcelo Madalosso Instituto Phytus Sergio Abud da Silva Embrapa CPAC Perenes Veronica Massena Reis Embrapa Agrobiologia Gleuber Mariano Teixeira Grupo Raizen – Regional Piracicaba Flávia Patricio Instituto Biológico - SP Cesar Abel Krohling Antonio Reinaldo Pinto Coopercitrus Celso José da Silva Coopercitrus Oleaginosas Ricardo Balardin Universidade Federal de Santa Maria
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entre herbicidas e fungicidas. Essa pesquisa foi estabelecida pela Basf com cientistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Tecnológica do Paraná (UFTPR) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na edição do evento realizado no Chile, em julho, também foi anunciada outra patente. Trata-se de um estudo com o fungicida Comet, elaborado por cinco funcionários da Companhia no país, que verificaram a aplicabilidade do produto para o manejo da nogueira (árvore frutífera que produz a noz). A ideia é diminuir a morte prematura das flores da planta e contribuir para o aumento de sua produtividade. A patente foi submetida em setembro de 2009.
Gisela Regina Introvini Fapsen Fabio Takemi Mutta Agrocem Daniela Tiago da Silva Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Durval Dourado Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Marcelo Volf Dalcin Planejamento Agropecuário Hortifruti João Batista Vida UEM Marcel Dzierwa Fazenda Serrana Andrea Brondani Universal Leaf Tabacos - ULF Lourenço Nyssen Holantec Consultoria Herbicidas Luis Henrique Kasuya Kasuya Consultoria Patricia Monquero Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)
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Em 2011, o Prêmio Top Ciência já passou por Argentina, Costa Rica e Equador e terminou no Brasil, onde trabalhos de toda América Latina foram apresentados e avaliados. A comissão julgadora elegeu as melhores pesquisas levando em consideração a inovação da proposta, a viabilidade de implementação prática, a qualidade dos resultados alcançados, o cumprimento dos objetivos propostos, a fundamentação teórica e metodológica e o amparo bibliográfico dos estudos. O evento envolve, aproximadamente, 20 cultivos, entre eles: soja, milho, arroz, feijão, trigo, girassol, café, algodão, cana-de-açúcar, citros, amendoim e hortifruti (tomate, batata, uva, melão, manga e maçã). Este ano, 30 consultores e pesquisadores ganharam uma viagem técnica para a África C do Sul.
Non Crop Juliane Salin Choueiri Marangatu Sementes América Latina Jose Tarrago Intá Las Breñas Carlos Pérez * / Co-autor: Héctor Andrés Villar Peculio Faculdad de Agronomia – Universidad de La Republica Oriental Herbicidas Alberto Moresi Semillero El Carmen Citros Jesús Bolívar Torres Méndez Ticofrut Cereais Ernesto Hernandez Mendieta Grandmend México Hortifruti Cesar Padovani Reybanpac Juan David Carmona Molina
Soja Charles Echer
Praga em evolução Agravado pelo monocultivo de cultivares de soja muito suscetíveis, pela semeadura de milho ou algodão na entressafra e pela incorporação de solos com textura arenosa, o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) registrou explosão das populações nas últimas safras. Rotação de culturas, atenção à época de plantio, uso de cultivares mais resistentes e método de alqueive estão entre as práticas recomendadas para manejar esses parasitas
E
ntre os fatores que mais têm contribuído para a queda do rendimento da soja no Brasil, sobretudo na região central, estão os nematoides. Embora levantamentos sistemáticos de perdas envolvendo diferentes instituições de pesquisa, como ocorrem nos Estados Unidos, não estejam disponíveis, estima-se que todos os anos pelo menos 10% da produção brasileira de soja é perdida, em função do parasitismo exercido por esses organismos. Os nematoides mais importantes para a soja no Brasil são Meloidogyne javanica, M. incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Até o início da década de 90, os danos por nematoides na soja brasileira quase sempre eram provenientes do nematoide-das-galhas (M. javanica e M. incognita). A partir da safra 1991/92, com a introdução do nematoide de cisto da soja (NCS), Heterodera glycines, esse parasita também passou a afetar grandemente a cultura no País. Apesar de o NCS
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ser mais agressivo à soja que o nematoidedas-galhas, sua distribuição pelas diferentes regiões sojícolas é bem mais restrita. Assim, os prejuízos causados por esses dois nematoides se equivalem. A importância do nematoide reniforme para a soja brasileira, em geral, se restringe às lavouras instaladas após a cultura do algodão (muito suscetível ao R. reniformis), como ocorre no sul do Mato Grosso do Sul. Embora o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus), a exemplo das espécies de Meloidogyne, tenha ocorrência generalizada no Brasil, sempre foi negligenciado pela quase totalidade dos sojicultores. Entretanto, o monocultivo de cultivares de soja muito suscetíveis e a semeadura de milho ou algodão (hospedeiros muito favoráveis desse nematoide), na entressafra, resultaram em aumento exagerado das populações do parasita no solo. A incorporação de solos com textura arenosa (<15% de argila) no sistema de produção também contribuiu para
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aumentar os danos por P. brachyurus. Nesse tipo de solo, a soja fica mais vulnerável ao ataque do nematoide. Hoje, a importância do nematoide das lesões radiculares para a soja brasileira está plenamente reconhecida. Em alguns estados, como Mato Grosso (Figura 1) e Paraná (Figura 2), esse fitonematoide tem sido o mais frequente em amostras de solo e de raízes de soja. Em algumas regiões, especialmente do Brasil Central, em que a distribuição de chuvas permite o cultivo de milho em sucessão à soja, muitas vezes semeado no mesmo dia em que a oleaginosa está sendo colhida, os danos por P. brachyurus na soja já superam àqueles provocados pelo NCS e por nematoides formadores de galhas (Meloidogyne spp.). Até mesmo no Paraná, em que os solos normalmente são mais supressivos a nematoides (maiores teores de matéria orgânica, de argila e de macro e micronutrientes e, também, com atuação mais efetiva de inimigos naturais dos nematoides), a sucessão soja-milho também
Fotos Paiol Assessoria. Sorriso, MT.
À esquerda, lavoura de soja com sintomas de ataque de P. brachyurus (solo com textura arenosa), Vera (MT), e à direita, lavoura de soja com sintomas de ataque de P. brachyurus (solo com textura média), Nova Ubiratã (MT)
tem resultado em aumento das populações de P. brachyurus. Nas lavouras de soja infestadas com P. brachyurus, geralmente os sintomas aparecem em reboleiras, onde o porte das plantas é menor do que o normal. A intensidade dos sintomas na parte aérea varia com a textura do solo, sendo maior em solos arenosos do que naqueles com textura média ou argilosa. A planta de soja atacada, na maioria dos casos, apresenta uma raiz principal morta ou menor. É possível observar, ainda, um superenraizamento próximo ao colo e raízes secundárias com presença de áreas necrosadas e escurecidas. Das diversas estratégias que vêm sendo adotadas pelos sojicultores brasileiros para o manejo de P. brachyurus, a semeadura, na entressafra, de espécies de crotalária que não multiplicam o nematoide, como por exemplo Crotalaria spectabilis e C. ochroleuca, é a que tem resultado em redução mais rápida das populações do nematoide no solo. Os rendimentos das lavouras de soja implantadas após a utilização desses adubos verdes também têm sido maiores. Contudo, como a utilização da crotalária na entressafra não tem permitido eliminar por completo o parasita da área (Figura 3) e, em geral, como a soja semeada após esse adubo verde tem melhor desempenho, a população do nematoide volta a crescer rapidamente (Figura 4). Assim, principalmente em solos arenosos, em que populações relativamente baixas de P. brachyurus já causam dano na soja, é necessário repetir a semeadura da crotalária todos os anos. O ideal é o agricultor fazer uso da crotalária no verão (rotação soja-crotalária). Embora economicamente menos viável, na rotação o tempo de ausência do hospedeiro (soja) na área é praticamente o dobro daquele da sucessão e as condições de clima (umidade e temperatura no solo) também são mais favoráveis à eclosão dos juvenis do nematoide, que, não sendo capazes de se alimentarem na crotalária, acabam morrendo por inanição. Alguns milhetos com fatores de reprodução (FR) próximos de zero (‘ADR, 300’, ‘ADR
7010’, ‘ADR 8010’, dentre outros) também vêm sendo utilizados, geralmente em sucessão com a soja, para manejar populações de P. brachyurus em áreas infestadas. A despeito de ser menos eficiente que as crotalárias, em solos mais pesados (textura média ou argilosa), a semeadura do milheto tem permitido reduzir as populações do parasita o suficiente para garantir a obtenção de rendimentos econômicos de soja. Tanto para a crotalária quanto para o milheto, a eficiência no manejo de P. brachyurus sempre dependerá da utilização de genótipos apropriados (FR iguais ou próximos de zero),
semeados em densidades que resultem em populações adequadas de plantas, e de um efetivo controle de plantas voluntárias (soja tiguera) e das ervas daninhas. Pelo fato de a interação de P. brachyurus com a soja ser menos complexa, não havendo necessidade de formação de nenhuma célula especializada de alimentação, como ocorre com os nematoides de cisto e das galhas, as chances de encontrar fontes de resistência são menores. Todavia, avaliações em casa de vegetação e em área naturalmente infestada mostraram que, embora as principais cultivares brasileiras de soja indicadas no Brasil Central não sejam resistentes (FR<1,0) a P. brachyurus, as mesmas diferem bastante com relação à capacidade de multiplicá-lo e de tolerá-lo. A despeito desses dois caracteres, provavelmente, serem controlados por genes diferentes, cultivares mais resistentes (FR menores), como, por exemplo, BRSGO Chapadões, M-SOY 8378RR, M-SOY 8360RR, M-SOY 8585RR, M-SOY 8045RR, BRS Aurora, CD 219RR, TMG 103RR etc, também parecem tolerar mais o parasita. Estudos para esclarecer a herança da resistência da soja a P. brachyurus, utilizando uma população segregante (gerações
Controle de P. brachyurus em soja com Crotalaria spectabilis
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Figura 1 - Frequência (%) da ocorrência das espécies de fitonematoides em amostras (solo/ Figura 2 - Frequência (%) da ocorrência das espécies de fitonematoides em amostras (solo/ raízes) coletadas em lavouras de soja, no estado de Mato Grosso raízes) coletadas em lavouras de soja, no estado do Paraná
Figura 3 - Bioensaios para detecção de P. brachyurus no solo, em Vera (MT), antes (fevereiro Figura 4 - Bioensaios para detecção de P. brachyurus no solo, em Vera (MT), na semeadura de 2010) e após (outubro de 2010) a aplicação de diferentes tratamentos, na entressafra. (outubro/2010), após a aplicação dos tratamentos na entressafra, e na colheita da soja Embrapa Soja/Facs/Aprosoja, 2011 (fevereiro/2011). Embrapa Soja/Facs/Aprosoja, 2011
rotação/sucessão com uma espécie vegetal não hospedeira (FR=zero) ou hospedeira desfavorável (0<FR≤1,0) do nematoide. O alqueive é um método antigo de manejo de nematoides que consiste em manter o solo por certo período sem qualquer vegetação, de preferência também com revolvimento por meio de aração e/ou gradagem. Dessa forma, os nematoides acabam morrendo por inanição (falta de plantas hospedeiras), por dessecação e ação da luz (a faixa ultravioleta tem propriedades nematicidas). Resultados preliminares de experimento conduzido pela Embrapa Soja, no município de Vera, Mato
Fotos: Paiol Assessoria. Sorriso, MT.
F2 e F3) originada do cruzamento entre as cultivares BRSGO Chapadões (resistente) e TMG 113RR (suscetível), estão em curso na Embrapa Soja. Cultivares de soja mais resistentes e/ou mais tolerantes são as mais indicadas para semeadura em áreas infestadas e, também, para uso como parentais, em programas de melhoramento. Considerando que, na maioria das lavouras de soja afetadas do Brasil Central, normalmente as populações de P. brachyurus no solo estão muito elevadas, o uso da cultivar de soja resistente e/ou tolerante deverá ser sempre precedido de
Planta de soja com raiz principal morta, em decorrência do ataque de P. brachyurus (esquerda). Planta de soja com superenraizamento e raízes secundárias escurecidas, em decorrência do ataque de P. brachyurus (direita)
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Grosso, com o apoio da Embrapa Agrossilvipastoril, do Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs) e da Aprosoja, mostraram que a manutenção da área infestada com P. brachyurus no limpo, durante a entressafra, mediante a utilização de duas gradagens (fevereiro e julho), é eficiente para reduzir a população do nematoide (Figura 1). Contudo, essa prática não deve ser recomendada de maneira generalizada, sobretudo em áreas sujeitas à erosão. Em áreas infestadas com P. brachyurus deve-se, ainda, evitar semear a soja muito cedo (primeiras chuvas), especialmente se o solo for de textura arenosa. Nas semeaduras mais tardias, tem-se mais tempo para a população do nematoide diminuir, minimizando, assim, os danos à cultura. Adicionalmente, quando a semeadura da soja ocorre após a regularização das chuvas, as plantas ficam menos sujeitas ao estresse hídrico e, desse modo, toleram mais o parasitismo do nematoide. C Waldir Pereira Dias, Henrique Debiasi e Júlio C. Franchini, Embrapa Soja Neucimara R. Ribeiro, Aprosmat Suzana Aparecida de Carvalho e Arlei Maceda, Centro Diag. "Marcos Enrietti"- Seab
Soja Charles Echer
Efeito testado Dentre as plantas daninhas tolerantes à aplicação de glifosato, a trapoeraba é uma das mais importantes, por estar presente na maioria das áreas de cultivo da soja no Brasil. O uso de herbicida à base de glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L é uma das alternativas para melhorar o controle
A
rendimento de grãos, devido à matocompetição das plantas daninhas com a cultura da soja (Rizzardi et al, 2006, Melhorança, 2006; Constantin, et al, 2006, Kozlowski, 2006). O combate insatisfatório, observado em algumas lavouras de soja em Mato Grosso, pode ser, em parte, atribuído
A trapoeraba está presente na maioria das áreas onde é cultivada a soja no Brasil
O controle deficiente de plantas daninhas acarreta em prejuízos como perda no rendimento dos grãos
Fotos Walter Buzatti
tecnologia adotada nas lavouras da soja RR (resistente ao glifosato), no Brasil e em algumas regiões do Mato Grosso, através do uso exclusivo do herbicida glifosato, no controle das plantas daninhas, tem mostrado que em algumas situações o controle apresenta-se insatisfatório ou deficiente, levando a perda no rendimento de grãos. Vários trabalhos relatam a ocorrência de perdas de
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à presença de espécies de plantas daninhas em que o herbicida glifosato apresenta dificuldade de controle, como corda-de-viola (Ipomoea sp.) e trapoeraba (Commelina benghalensis). A planta daninha trapoeraba merece destaque, por estar presente na maioria das áreas onde é cultivada a soja no Brasil. Esta espécie tem desenvolvimento preferencial, sob condições de alta umidade do solo. Entretanto, pode permanecer em solos de baixa umidade e crescer rapidamente com o início das chuvas (condição existente no bioma cerrado). A família comelinaceae apresenta sete espécies no Brasil, com destaque para espécie Commelina benghalensis, presente nas lavouras de soja em áreas de cerrado. Devido às características desta espécie, é considerada tolerante ao herbicida glifosato quando aplicado em pós-emergência na soja transgênica (Christoffoleti, 2003). Uma das alternativas para minimizar a dificuldade de controle e evitar a matocompetição
As determinações realizadas foram: controle da planta daninha realizada aos 35, 47 dias após a aplicação (DAA) dos tratamentos e na pré-colheita. Utilizouse uma escala percentual de zero a 100, sendo o valor zero sem controle e 100 corresponde à morte total da planta na parcela; rendimento de grãos foi realizado através da colheita das plantas de três linhas centrais de 4m de comprimento de cada parcela. As amostras foram transformadas em kg/ha a 14% de umidade. Foi também realizados a análise de variância e o teste de Duncan a 5% de probabilidade.
Resultados
Vista parcial do experimento no campo
com a cultura da soja é a utilização da associação de outros herbicidas com o glifosato (Buzatti, 2008). Com o objetivo de avaliar o controle e o efeito da época de aplicação do herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L na planta daninha trapoeraba e o rendimento da soja, foi realizado um trabalho na região sul do MT.
Material e métodos
O experimento foi realizado na fazenda Guarita, Rondonópolis, Mato Grosso, na safra agrícola, 2008/09. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, seis repetições, parcelas de 3m x 6m (18m 2) e parcela útil de 6m 2. Os tratamentos utilizados estão apresentados no Quadro 1. O experimento foi instalado em uma área onde já havia na entressafra a cultura do milheto, para cobertura do solo, e dez dias antes da semeadura da soja foi realizada a dessecação com herbicida, glifosato na dose de 1,26kg de equivalente ácido/ha mais 2,4-D amina na dose de 0,355kg de i.a/ha. A semeadura da soja foi realizada no sistema de plantio direto, em 13 de novembro de 2008, com a variedade Monsoy 8527, densidade de 13 sementes por metro linear e adubação de 300kg/ha de superfosfato simples mais 150kg/ha de Kcl. Os tratamentos foram aplicados através de pulverizador costal, pressurizado a CO 2, barra de seis pontas (XR11015) espaçadas 0,5m. A época de aplicação dos tratamentos, o volume
de calda e as condições do tempo no momento da aplicação, são apresentados no Quadro 2.
A densidade da planta daninha trapoeraba, presente nas parcelas do ensaio, era em média de 110 plantas por metro quadrado. No Quadro 3 são apresentados os resultados da percentagem de controle da planta daninha, trapoeraba, realizada aos 35 dias após a aplicação (DAA). A percentagem de controle foi superior a 90%, na aplicação realizada aos dez dias após a emergência (DAE) da soja.
Quadro 1 - Número do tratamento com os respectivos produtos, dose e época de aplicação No Trat. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nome Comum Test. Sem controle Capina Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato Imazetapir + Glifosato
Dose, g i a.ha-1 ---54 + 320 90 + 533,4 54 + 320 90 + 533,4 90 + 533,4 54 + 1040 54 + 1040 54 + 1220
Dose L de p.c.ha-1 ---2 1,8 / 1,8 3,0 1,8 / 1,8 3,0 3,0 1,8 + 2,0 1,8 + 2,0 1,8 + 2,5
Época de Aplicação Zero 5 e 20 1DAE 5 e 15 1DAE 5 DAE 10 e 20 DAE 10 DAE 15 DAE 15 DAE 20 DAE 26 DAE
1= DAE (dias após a emergência da soja)
Quadro 2 - Época de aplicação, volume de calda e condições do tempo no momento da aplicação dos tratamento. Fazenda Guarita, Rondonópolis, 2009 No Trat. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tratamentos Test. sem controle Test. no limpo glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina
Época ---25/11 e 10/12 25/11 e 6/12/08 25/11/08 30/11 e 10/12/08 30/11/08 06/12/08 06/12/08
Volume de calda ---------125 L/ha
125 L/ha 128 L/ha 128 L/ha
Condições ---------27oC e 65% de UR e 28oC e 70% de UR 27oC e 65% de UR 25oC e 75% de UR e 28oC e 70% de UR 25oC e 75% de UR 28oC e 62% de UR 28oC e 62% de UR
10/12/08
122 L/ha
28oC e 70% de UR
16/12/08
133 L/ha
27oC e 70% de UR
125 L/ha 135 L/ha
1= Aplicação seqüencial com intervalo médio de 10 dias.
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Figura 1- Efeito dos tratamentos herbicidas no controle da trapoeraba em dias após a emergência Fotos Walter Buzatti
Nos tratamentos em que o herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L foi aplicado na dose de 3,0L.ha -1 ou sequencial na dose de 1,8L.ha -1, não foi apresentada diferença no controle da trapoeraba. Na aplicação realizada aos 5 DAE, provavelmente a dose de 1,8L/ ha de glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L seria suficiente para o controle da planta daninha. Entretanto, a aplicação sequencial mostrou maior efeito residual sobre a emergência de novas plantas de trapoeraba, devido ao ingrediente ativo imazetapir, presente no herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L. Também foi observado que a aplicação sequencial apresentou menor fitotoxicidade nas plantas de soja. Na avaliação realizada aos 47 dias após a aplicação (Quadro 3) os resultados obtidos foram semelhantes ao da realizada aos 35 DAA. Sendo que nos tratamentos aplicados aos 15 dias após a emergência, a percentagem de controle foi em média de 80%, pois nesse caso os
Quadro 3 - Percentagem de controle da planta daninha trapoeraba, nos diferentes tratamentos herbicida aos 35, 47 DAA (dias após aplicação) e na pré-colheita. Fazenda Guarita, Rondonópolis, 2009 Ingredientes ativos Dose g de p. c.ha1 Época de aplicação 35 daa 47 daa Pré-colheita 0d Test. sem controle --Zero 0d 0b 83 b Test. no limpo --2 capinas 74 c 96 a 95 a glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / 1,8 / 1,8 5 e 15 1DAE 95 a 97 a glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1 94 a 4 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L 3,0 5 DAE 91 a 96 a 94 a 5 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / 1,8 / 1,8 10 e 20 DAE 92 a 97 a glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 94 a 6 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 3,0 10 DAE 94 a 95 a 81 b 7 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 3,0 15 DAE 83 b 94 a 77 b 8 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + 1,8 + 2,0 15 DAE 80 b 97 a glifosato-sal de isopropilamina 2 77 b 9 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1,8 + 2,0 20 DAE 85 b 96 a + glifosato-sal de isopropilamina 67 c 10 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1,8 + 2,5 26 DAE 83 b 95 a + glifosato-sal de isopropilamina 7,1 C.V (%) 6,4 2,3
No Trat. 1 2 3
Na coluna, média não ligada pela mesma letra diferem entre si pelo teste de Duncan (p< 0,05). 1= Aplicação seqüencial; 2= Mistura de tanque; Test = Testemunha
Quadro 4 - Rendimento de grãos da soja nos diferentes tratamentos, épocas e dose, no controle da plantas daninhas, trapoeraba. Fazenda Guarita, Rondonópolis, 2009. No Trat. Ingredientes ativos Dose g de p. c .ha1 Época de Aplicação 3 1 Test. no limpo 2 capinas 3 2 Test. sem controle Zero 3 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L1 1,8 / 1,8 5 e 15 1DAE 4 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 3,0 5 DAE 5 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L / glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 1,8 / 1,8 10 e 20 DAE 6 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 3,0 10 DAE 7 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L 3,0 15 DAE 8 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina2 1,8 + 2,0 15 DAE 9 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina 1,8 + 2,0 20 DAE 10 glifosato 177,8 g/L + imazetapir 30 g/L + glifosato-sal de isopropilamina 1,8 + 2,5 26 DAE C.V(%) Na coluna, média não ligada pela mesma letra diferem entre si pelo teste de Duncan (p< 0,05). 1= Aplicação seqüencial; 2= Mistura de tanque; Test = Testemunha.
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Kg.ha1 3330 ab 1590 c 3475 a 3480 a 3560 a 3480 a 3250 ab 3300 ab 3130 ab 3020 b 10,8
tratamentos herbicidas ainda estavam atuando na morte da planta daninha. O que pode ser conferido, na avaliação realizada por ocasião da pré-colheita, em que os tratamentos apresentaram um controle superior a 90% (Quadro, 3). O resultado mostra que estes tratamentos podem ser utilizados com sucesso no controle da trapoeraba. Entretanto, a escolha de um ou de outro tratamento vai se dar em função do estágio da planta daninha e do residual que se deseja obter com o herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L. O rendimento de grãos, apresentado no Quadro 4, mostrou que os tratamentos em que foram realizadas aplicações do herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L em aplicação sequencial ou em uma única aplicação, até dez dias após a emergência da soja, apresentaram maior rendimento de grãos em valores absolutos, porém, sem diferenças estatísticas dos tratamentos realizados até 20 dias após a emergência. No tratamento realizado aos 26 dias após a emergência, apesar de ter controlado a trapoeraba, ocorreu interferência negativa da daninha sobre a cultura da soja, resultando em um menor rendimento de grãos. Resultados semelhantes de matointerferência foram também obtidos por Melhorança & Ribeiro, 2008, que registraram perdas no rendimento de grãos da soja a partir dos 28 dias após a emergência. Entretanto, trabalho realizado por Constantin et al, 2006, relata perdas no rendimento de grãos a
AVALIAÇÃO DOS TRATAMENTOS POR OCASIÃO DA PRÉ-COLHEITA
pode ser, em parte, relacionado à capacidade da planta em metabolizar o herbicida com princípio ativo imazetapir (Rodrigues & Almeida, 2005).
Conclusões
partir dos 14 DAE. Neste trabalho, as condições de precipitação pluvial nos dois primeiros meses após o estabelecimento da cultura (novembro 225mm e dezembro, 277mm) provavelmente tenham contribuído para menor competição da trapoeraba com a cultura da soja, principalmente no fator água. A fitotoxicidade dos tratamentos herbicidas nas plantas de soja foi observada aos
sete dias após a aplicação. Os sintomas foram paralisação temporária do crescimento e uma clorose generalizada da planta. Entretanto, os sintomas foram diminuindo à medida que ocorria o desenvolvimento da planta de soja. Os tratamentos com aplicação sequencial proporcionaram menores sintomas visuais de fitotoxicidade na soja, quando comparados com os tratamentos em uma única aplicação. Este resultado
1) O controle da planta daninha, trapoeraba, foi superior a 90% em todos os tratamentos, independentemente da época de utilização do herbicida glifosato 177,8g/L + imazetapir 30g/L, aplicado em dose única de 3,0L/.ha-1, sequencial de 1,8L/ha-1 ou em mistura com glifosato. 2) O efeito da matocompetição sobre o rendimento de grãos da soja foi verificado somente após 26 dias da emergência da cultura. O maior rendimento de grãos, em valores absolutos, foi obtido quando o controle ocorreu até dez dias após a emergência da soja. 3) O controle da planta daninha, trapoeraba, até 26 dias após a emergência da soja, proporcionou ganho de 1.430kg/ha em relação a testemunha C sem controle. Walter José Souza Buzatti, W-Buzatti Cons. e Pesq. Agrícola Jairo dos Santos, Basf
Soja
Resistência a caminho? Cresce a preocupação com a mancha alvo, causada por Corynespora cassiicola, fungo capaz de atacar mais de 70 espécies vegetais. Severidade tem aumentado e estudos apontam que a doença se mostra insensível à aplicação de alguns fungicidas, que não têm sido capazes de conter o progresso do patógeno na cultura da soja
A
agricultura é um processo dinâmico e, portanto, em constante mudança. O ideal de agricultura sustentável contrasta com a realidade de 90% das áreas de cultivo, arraigadas no monocultivo sucessivo de espécies. Aliado ao monocultivo, o uso de sementes de baixa qualidade fisiológica e sanitária, bem como a expansão para novas
áreas de cultivo, incrementou os problemas sanitários aumentando significativamente sua importância. Ressurgência de pragas, plantas daninhas resistentes aos herbicidas e doenças tidas como secundárias têm se destacado entre os problemas atuais e desafiado agricultores e técnicos. Especialmente no caso de doenças, tem
sido verificado aumento expressivo de doenças até pouco tempo sem importância econômica ou mesmo que eram facilmente controladas pelas aplicações rotineiras dos fungicidas. Nas últimas safras, as doenças conhecidas como de final de ciclo têm incidido na cultura cada vez mais cedo e permanecido até a fase de colheita. Muitos produtores de sementes têm verificado o aumento significativo de doenças, como, por exemplo, a mancha púrpura da semente, causada por Cercospora kikuchii. Outra doença que tem aumentado significativamente em importância é a mancha alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Poucos são os trabalhos de campo realizados com essa doença, mas estudos preliminares realizados na Universidade de Rio Verde (Fesurv) indicam que o fungo pode causar danos severos em ampla faixa de temperatura. Pesquisas conduzidas desde a safra 2006/07 em Goiás, Tocantins e Mato Grosso (Vale do Araguaia) indicam que as perdas variam em função da cultivar e do tratamento químico realizado, podendo reduzir a produtividade entre 10% e 20%. Para que as perdas sejam evitadas ou minimizadas, os agricultores devem adotar o manejo integrado da doença, priorizando variedades menos sensíveis, optando por sementes de boa Luís Henrique Carregal
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Fotos Luís Henrique Carregal
A mancha alvo é uma doença que tem crescido em importância na soja, com poder de reduzir a produtividade da cultura
qualidade, adotando espaçamento e população de plantas que desfavoreçam o patógeno, realizando adubação equilibrada (baseada em análises de solo e foliares), além do controle químico quando necessário. É importante salientar que as dificuldades ainda são muitas, pois praticamente não se conhece a reação de mais de 70% das cultivares a esse fungo e com a introdução de materiais de outros países nos últimos anos, o problema ficou ainda maior. Outro entrave é a utilização de sementes de boa qualidade, uma vez que é permitido que o agricultor multiplique sua própria semente (semente salva), não se tem a garantia de que o material produzido está isento do patógeno. Em relação ao espaçamento e à população de plantas, ainda há muito que se estudar, uma vez que não há receita de bolo e o espaçamento e a população de plantas poderão variar grandemente em função das características das cultivares, principalmente aquelas relaTabela 1 – Fungicidas registrados para controle da mancha alvo em soja Princípio ativo piraclostrobina + epoxiconazol carbendazim carbendazim piraclostrobina carbendazim trifloxistrobina + protioconazol flutriafol + tiofanato metílico carbendazim trifloxistrobina + tebuconazol piraclostrobina + epoxiconazol azoxistrobina + ciproconazol carbendazim carboxina + tiram
Grupos químicos Estrobilurina + triazol Benzimidazol Benzimidazol Estrobilurina Benzimidazol Estrobilurina + triazolintiona Triazol + benzimidazol Benzimidazol Estrobilurina + triazol Estrobilurina + triazol Estrobilurina + triazol Benzimidazol Carboxanilida + ditiocarbamato
Dados obtidos junto ao site do Mapa (Agrofit) - em 15/06/2011.
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Reação de dois isolados ao carbendazim. O isolado 1 é sensível enquanto o isolado 2 é insensível
cionadas a ciclo, hábito de crescimento, porte e arquitetura. A estratégia baseada no controle químico, teoricamente seria de fácil recomendação e utilização, mas o que se tem verificado a campo é um grande conflito de informações. Assim, quais seriam os fungicidas mais recomendados para o controle desta doença? Qual a dose a ser utilizada? Qual a melhor época de aplicação? Existe a necessidade de tecnologia de aplicação específica para as doenças? Segundo dados do Agrofit (http://www. agricultura.gov.br) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os fungicidas recomendados para o controle dessa doença encontram-se na Tabela 1. Os produtos listados na Tabela 1 ainda são realmente eficazes no controle da doença? Os trabalhos conduzidos em Goiás e Tocantins evidenciam que para os defensivos à base de estrobilurina ou estrobilurinas + triazóis a resposta é não. Podem apresentar efeito supressivo inicial, mas quando a planta atinge a fase de enchimento de grãos, principalmente após R5.2/R5.3, tais fungicidas não são capazes de conter o progresso da doença. Em revisão realizada por Hideo Ishii (Japan Agricultural Research Quarterly, 40:3, p. 205211), foi verificada a existência de populações resistentes do patógeno aos fungicidas estrobi-
lurinas na cultura do pepino. Embora seja em outra cultura, segundo Silva et al (Australian Journal of Botany, 43:3, p.609-618, 1995), esse fungo (Corynespora cassiicola) pode atacar mais de 70 espécies vegetais, incluindo plantas cultivadas e invasoras. Estudos de patogenicidade realizados por Oliveira et al (Summa Phytopathologica, 33:3, p.297-299, 2007) demonstram haver grande inespecificidade dos isolados, ou seja, o isolado que infectada uma cultura, pode infectar outra. Para os pesquisadores da Fesurv, o melhor controle da doença sempre foi verificado quando do uso de benzimidazóis, que devem ser aplicados a partir do início da floração, em doses não inferiores a 800ml/ha e em duas a três aplicações. Devido ao menor período residual desse grupo químico, o intervalo entre as aplicações não deve exceder os 15 dias. Em trabalhos conduzidos pela Agrodinâmica (Tangará da Serra-MT), através do pesquisador Valtemir Carlin, verificaram-se resultados semelhantes no Mato Grosso até a safra 2007/08, quando os benzimidazóis proporcionavam de 50% a 80% de controle. Entretanto, nas últimas safras, o que tem se observado no Mato Grosso é um aumento significativo na severidade da doença mesmo em cultivares que anteriormente não apresentavam sintomas severos, como no caso de
Carregal, Campos, Juliana e Carlin integram grupo que monitora a sensibilidade da mancha alvo à aplicação de fungicidas
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MG/BR 46 (Conquista). Para alguns pesquisadores, atualmente os benzimidazóis não apresentam efeito algum no controle da doença, conforme evidenciado na Tabela 2. Os resultados obtidos nesse experimento indicam a ineficácia dos benzimidazóis no controle da mancha alvo em Deciolânia (MT) durante a safra 2009/10, fato que não ocorria até duas safras anteriores. Segundo Date et al (Japanese Journal of Phytopathology, 70: p.7-9, 2004), trabalhos conduzidos na cultura do tomate comprovaram a existência de isolados de Corynespora cassiicola resistentes aos fungicidas benzimidazóis. Como no Mato Grosso os benzimidazóis vêm sendo utilizados há mais de dez anos e, muitas vezes, em subdoses (300 a 500ml/ha-1), existe a possibilidade da seleção de isolados resistentes ou menos sensíveis a esses fungicidas. Atualmente, ainda são poucas as instituições (Universidade de Passo Fundo, Fesurv, Embrapa Soja) desenvolvendo trabalhos de pesquisa para monitorar a sensibilidade de isolados de Corynespora cassiicola a fungicidas. Os estudos realizados na Fesurv analisam isolados provenientes de diferentes regiões, com ou sem relatos de ineficiência de alguns fungicidas. Entretanto, ainda são escassos na literatura dados que evidenciem
Tabela 2 – Resultados experimentais de controle químico da mancha alvo com fungicidas benzimidazóis. Deciolânia (MT), 2010 Tratamentos Testemunha Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim Carbendazim C.V. (%)
Dose (mL ha-1) 500 500 500 500 750 750 750 750 1000 1000 1000 1000
Época de aplicação R1 R1 e R3 R1, R3 e R5.2 R1, R3, R5.2 e R5,4 R1 R1 e R3 R1, R3 e R5.2 R1, R3, R5.2 e R5.4 R1 R1 e R3 R1, R3 e R5.2 R1, R3, R5.2 e R5,4
Severidade em R5.5 33,3 b 33,3 b 34,0 b 32,0 b 32,8 b 32,5 b 32,8 b 30,8 a 30,5 a 33,0 b 31,8 b 31,0 a 29,0 a 6,4
Produtividade (kg/ha) 3046,6n.s. 3059,2 3302,6 2942,2 2830,3 2858,0 2882,2 2926,6 2849,8 2942,1 3032,4 3007,3 2834,5 8,5
n.s. – não significativo ao teste de Skott-Knott. Médias seguidas pela mesma letra em cada coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Skott-Knott a 5% de probabilidade.
a variabilidade do patógeno ou mesmo estudos para monitorar a sensibilidade de Corynespora cassiicola aos fungicidas. Neste contexto, existe a necessidade urgente do envolvimento de outras instituições e, até mesmo, o desenvolvimento de um grupo de estudos acerca do assunto para obtenção de mais informações e para otimizar o manejo da mancha alvo. Os trabalhos preliminares na Fesurv indicam que há isolados
insensíveis a benzimidazóis e também às C estrobilurinas. Luís Henrique Carregal e Hercules Campos, Fesurv Juliana Campos Silva, Campos Carregal Pesq. Tec. Agr. Valtemir Carlin, Agrodinâmica
Milho
Vulnerável a insetos
Pragas iniciais como larvas, corós, brocas, lagartas e percevejos são comuns nas lavouras de milho, por serem cultivadas em época favorável ao ataque dessas espécies. O tratamento de sementes, aliado a outras práticas de manejo, está entre as principais estratégias de controle
A
cultura do milho, por ser cultivada no Brasil, em época climaticamente propícia a um grande número de espécies de insetos e de outros organismos herbívoros, serve de alimento para inúmeras destas espécies. Praticamente em todos os órgãos e nos mais diversos estádios fenológicos desta cultura existem insetos e outros organismos associados, embora poucos atinjam a situação de pragas, do ponto de vista econômico. Destaque especial merecem as chamadas pragas iniciais, que atacam sementes e plântulas e cujos danos se traduzem pela redução da população de plantas.
Pragas de sementes, raízes e partes subterrâneas Larva-alfinete – Diabrotica speciosa A larva-alfinete é a forma jovem da vaquinha verde-amarela, também conhecida por “patriota”. O adulto, que é polífago, oviposita no solo ou junto às plântulas de milho, geralmente duas a quatro semanas após a semeadura no cedo; em semeaduras de novembro a janeiro, as posturas são realizadas diretamente nas plantas recém-emergidas. Embora não seja um fator determinante, tendo em vista a grande mobilidade dos adultos, a presença de outros hospedeiros nas proximidades pode facilitar a incidência de larvas em milho. As larvas-alfinete atacam as raízes, inclusive as adventícias, geralmente a partir de um mês após a semeadura. As plantas atacadas ficam menos produtivas e mais sujeitas ao acamamento. Corós, bicho-bolo, pão de galinha e outras larvas de escarabeídeos Os corós são larvas de solo, a forma imatura de besouros e, durante o seu desenvolvimento se alimentam das sementes recém-semeadas e das raízes das plantas. Três espécies são aquelas de maior frequência nas áreas cultivadas com milho no Sul do Brasil. As espécies mais comumente encontradas são o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus), o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) e o coró-pequeno (Cyclocephala flavipennis). Todas apresentam ciclo biológico relativamente longo, passando pelas fases de ovo, de larva (coró), de pupa e de adulto (besouro). Somente as larvas, que são polífagas, são capazes de causar danos às culturas. Em geral, a infestação ocorre em manchas na lavoura. Coró-das-pastagens - A espécie apresenta ciclo anual: os adultos podem ser encontrados de dezembro a março; a postura é feita nesse período, com mais frequência em janeiro; principalmente em áreas onde há ocorrência de palhada sob a cultura de
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Fotos Dionísio Link
de comer e permanecem inativas até a pupação. De uma maneira geral, tem se observado, em áreas onde a ocorrência é frequente, que os níveis de danos geralmente são elevados no ano de alta ocorrência de larvas grandes e no seguinte, os prejuízos são mínimos. Coró-pequeno - Apresenta uma geração por ano e é mais comum em lavouras com abundância de palha e em pastagens. Os adultos fazem revoadas em setembro/ outubro de cada ano. As larvas não escavam galerias, têm reduzida capacidade de causar danos às plantas e, provavelmente, também consomem matéria vegetal em decomposição. Mesmo em populações elevadas, como 80 larvas/m2 a 100 larvas/m2, não tem causado danos às culturas. Sua ocorrência é mais frequente em áreas de rotação de pastagens perenes com cultivos de inverno.
Manejo dos corós
Raízes estão entre os alvos de pragas na cultura do milho
verão ou mesmo nos pastos. Após um período de incubação, que dura entre uma e duas semanas, eclodem as larvas, que passam por três instares até empuparem, geralmente em novembro. Escava galerias no solo e ocorre mais em sistema de plantio direto e em pastagens, devido à necessidade de palha para nidificação e oviposição, e mesmo para a alimentação das larvas. O dano decorre da ação das larvas, especialmente as de terceiro instar, que consomem sementes, raízes e partes verdes da planta, que carregam para dentro da galeria. As larvas se concentram entre 10cm e 20cm de profundidade, podendo em anos de pouca precipitação atingirem até 60cm. Os maiores danos às culturas ocorrem de maio a setembro. Coró-do-trigo - A espécie apresenta uma geração a cada dois anos: os ovos são postos em novembro do ano 1; a fase de larva ocorre desde o final do ano 1, prolonga-se durante todo o ano 2 e termina em janeiro/fevereiro do ano 3; as pupas ocorrem de janeiro a abril do ano 3; os adultos surgem a partir de março e permanecem no solo até outubro/novembro do ano 3, quando vêm à superfície para acasalamento e dispersão. Ocorre tanto em sistema plantio direto como em convencional. As larvas apresentam três instares; não escavam galerias, são favorecidas por solos não compactados e vivem muito próximas da superfície, concentrando-se até os 10cm de profundidade. Os danos ocorrem em anos alternados e devem-se às larvas, especialmente as de terceiro instar, que se alimentam de sementes, raízes e parte aérea das plantas, que puxam para o interior do solo. O período mais crítico para as culturas vai de maio a outubro/ novembro do ano 2, quando as larvas param
Os pontos a serem considerados e as medidas a serem adotadas são: 1) Observar e demarcar as áreas com ocorrência de corós, com vistas ao acompanhamento nos anos seguintes; 2) A mortalidade natural, normalmente provocada por patógenos e condições extremas de umidade do solo, pode ser expressiva e o colapso de uma população pode ocorrer de uma geração para outra; 3) Identificar a(s) espécie(s) de coró existente(s) na lavoura e a respectiva densidade, através de amostragens em trincheiras de 25cm x 50cm x 20cm de profundidade, para D. abderus, e de 25cm x 100cm x 20cm de profundidade, para Phyllophaga
triticophaga; 4) Estima-se que danos expressivos ocorram a partir de cinco corós/m2 (nível de dano); 5) O coró-das-pastagens, apesar dos danos causados, também pode proporcionar benefícios, como melhorar a capacidade de absorção de água do solo, em função das galerias que escava, e otimizar as características físicas, químicas e biológicas do solo, através da incorporação de matéria orgânica; 6) Os sistemas de rotação de culturas e de manejo de resíduos que reduzem a disponibilidade de palha no período de oviposição de D. abderus desfavorecem o estabelecimento ou o crescimento populacional do inseto; 7) O tratamento de sementes com inseticidas é tecnicamente viável no controle de corós. 8) Na constatação de áreas infestadas pelo coró, após a implantação da cultura e durante a fase vegetativa, pode-se lançar mão do tratamento curativo com pulverização total da área infestada com organofosforado Clorpirifós, na dose de 1,5 litro/ha, em alto volume e antes de uma chuva ou irrigação de 25/30mm, pois há necessidade da penetração do inseticida no solo, para realizar um bom controle. Devido ao alto custo desta técnica, somente áreas com alta infestação (mais de dez corós/amostra) compensam sua utilização.
Pragas de colmos e da base de plântulas
Broca-do-colo – Elasmopalpus lignosellus.
Uma extensa gama de insetos é registrada em lavouras de milho
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Fotos Dionísio Link
Controle preventivo
Redução da população de plantas e ataque nos diversos estádios fenológicos estão entre os danos causados por pragas iniciais
Lagarta-rosca – Agrotis ipsilon. Percevejos – Dichelops furcatus, D. melacanthus, Nezara viridula. A broca-do-colo é uma lagarta de coloração marrom-esverdeada, muito ativa, que mede cerca de 2cm de comprimento e ataca as plantas com até 30cm de altura. Faz uma galeria ascendente a partir do colo da planta, provocando o secamento da folha central (coração morto) e até a morte de plântulas. Sua incidência está associada a períodos de seca e a solos bem drenados; geralmente não é problema em plantio direto e em cultivos irrigados. A lagarta-rosca é uma praga que vive enterrada no solo, à pequena profundidade, junto à plântula. Tem coloração pardoacinzentada, é robusta e atinge até 5cm de comprimento. Sai à noite e corta as plântulas ao nível do solo. Pode abrir galeria na base de plantas mais desenvolvidas provocando o aparecimento de “coração morto” e de estrias claras nas folhas. A planta que sobrevive ao ataque pode perfilhar excessivamente, gerando uma “touceira” improdutiva. Sua ocorrência pode ser influenciada pela existência de plantas hospedeiras na área, como língua-de-vaca, picão branco, roseta, erva-debicho e caruru, antes da semeadura. Nos últimos anos, percevejos, pragas principais e até secundárias de soja e de outras leguminosas têm atacado milho logo após a emergência, dependendo muito da cultura anterior e da forma como é manejada. Sugam plântulas ao nível do solo ou mais acima, danificando tanto pela sucção da seiva em si como pela injeção de saliva tóxica, provocando deformações, mau crescimento e morte de plantas. A intensidade de ataque dos percevejos barriga-verde está intimamente ligada ao volume de palhada dessecada. Densidades
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de percevejos superiores a 0,5 adulto/metro de linha na semeadura, se não controladas, podem reduzir em até 100% o número de plântulas emergidas, nos primeiros dez dias após a emergência.
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O tratamento de sementes é um dos métodos mais eficientes no controle destas pragas iniciais, principalmente na relação custo/benefício. Dependendo de que pragas ocorreram nas safras anteriores e do cultivo precedente, o tratamento de sementes é uma garantia de um bom estande e desenvolvimento inicial do cultivo. Para a maioria das pragas iniciais da cultura do milho, somente o tratamento das sementes resolve a questão; no caso dos percevejos barriga-verde, em amostragem com mais de cinco exemplares por dez metros de linha, ou aproximadamente um percevejo por metro quadrado, haverá necessidade de uma pulverização curativa entre quatro e sete dias após a emergência, pois os resultados de pesquisa indicaram que neste nível de infestação, somente o tratamento de sementes consegue, no máximo, 55% de controle, resultado este não satisfatório para o produtor. No mercado existem vários produtos registrados para estas pragas C com diferentes ingredientes ativos. Dionísio Link, UFSM
Eventos
Arroz em foco
Fotos Sedeli Feijó
Syngenta reúne orizicultores em evento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul
A
Syngenta realizou em agosto a 3ª Reunião do Arroz, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O evento reuniu pesquisadores, distribuidores e outros envolvidos com a cultura no País. A abertura do evento foi feita por Felipe Fett, responsável pela implementação do Projeto Arroz, da Syngenta, no Brasil. Fett apresentou o desempenho da empresa nessa cultura, nos últimos
Fett e Giampani destacaram importância da cultura para a companhia
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três anos, e as estratégias desenvolvidas no período, na busca de torná-la líder no segmento. Laercio Giampani, presidente da Syngenta, salientou que faz questão de participar de todos os anos do evento, devido à importância que a cultura tem para a companhia. “A empresa precisa pensar como o agricultor e para isso deve conhecer suas necessidades, para oferecer a solução adequada a cada cliente e ser percebida de
forma diferenciada pelo mercado, como aliada do produtor.” Durante o evento os convidados participaram de um jantar seguido de show com o grupo de música gaúcha Os Fagundes. A programação contou, também, com palestras e debates sobre avanços da rizicultura, boas práticas e crescimento do mercado, incluindo resultados obtidos em 2010 e soluções integradas da empresa C para o setor.
Grupo de música gaúcha realizou show durante jantar oferecido no evento
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Fotos Flávio Lemes Fernandes
Café
Monitoramento eficiente Armadilha confeccionada a partir de garrafas PET e mistura de etanol e metanol, como atrativos, auxiliam produtores na tomada de decisão quanto ao controle da broca-do-café, praga com alta capacidade destrutiva, com poder de afetar a produtividade da cultura e depreciar o produto final
A
produtividade e o preço do café estão relacionados à ocorrência de insetos-praga que causam grandes perdas e oneram o custo de produção. A broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari) (Coleoptera: Scolytidae), é considerada uma espécie monófaga de grande importância nesta cultura no mundo. Esse inseto é nativo da África, principalmente no centro de origem do café, Etiópia, localizada no leste deste continente. Foi relatado primeiramente no Brasil em 1913 no estado de São Paulo e, desde então, tem se espalhado pelas regiões produtoras comprometendo a produtividade devido à sua alta capacidade destrutiva. As larvas e os adultos da broca-do-café confeccionam galerias no endosperma das sementes de café, causando três tipos de perdas: (I) redução da produtividade e perdas na qualidade do produto final; (II) danos físicos decorrentes da entrada de microrganismos; e (III) queda prematura dos frutos. O ciclo de vida de H. hampei, desde a postura dos ovos até a emergência dos
adultos, varia de 28 dias a 34 dias. A longevidade média dos machos é de 20 dias a 87 dias e das fêmeas em torno de 157 dias, ocorrendo até nove gerações por ano em regiões de clima tropical. A postura é realizada preferencialmente no interior dos frutos, em pequenos grupos de ovos com cerca de 0,44mm de comprimento e 0,23mm de largura. Os ovos apresentam coloração branco-leitosa. A incubação é cerca de quatro, seis dias e 14 dias a 27ºC, 22ºC e 19ºC, respectivamente. Na fase larval a broca-do-café passa por três instares. A larva é ápoda, recurvada, branca, com a cabeça e as peças bucais pardacentas. Inicialmente, a cabeça marrom-escura apresenta-se mais larga que o corpo, não se distinguindo ainda a placa quitinosa. O período larval varia de 29, 14 e 11 dias a 19ºC, 22ºC e 27ºC, respectivamente. As pupas são brancas no início da fase larval e tornam-se castanho-claras próximo à emergência do adulto. O período pupal é de quatro, oito e 14 dias a 27ºC, 22ºC e 19ºC, respectivamente. As fêmeas adultas copulam com os
machos irmãos nas primeiras horas após emergirem. Esses besouros possuem coloração marrom a preto brilhante, corpo cilíndrico e recurvado na região posterior. Os machos possuem as mesmas características das fêmeas, sendo, porém, menores e com asas rudimentares. A razão sexual é de 1:10 machos:fêmeas. Os machos nunca deixam os frutos onde se originaram, por não serem capazes de voar. As fêmeas ovipositam de 31 a 119 ovos. O período de pré-oviposição é de três/dez dias. Na fase de trânsito, a fêmea adulta abandona os frutos remanescentes na planta e no solo à procura de novos frutos para oviposição e alimentação. Perfura os frutos verdes na região da coroa, por onde penetra. Após ocorrer a perfuração, as fêmeas adultas confeccionam galerias, que funcionam como uma câmara de postura para a oviposição. A alta capacidade de injúria dessa praga aliada à exigência de qualidade do produto pelo mercado consumidor resulta em aumento do número de aplicações de inseticidas, o que eleva o custo de pro-
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dução, com poder de provocar, também, impacto ambiental. Em todo o mundo, o controle químico é a forma mais utilizada para a proteção de cultivos, por ser efetivo, de baixo custo e fácil adoção. Atualmente, até duas aplicações de inseticidas têm sido realizadas ao longo de uma safra para controlar a broca-do-café. No entanto, o aumento do número de casos de resistência dos insetos aos inseticidas e os riscos ambientais levaram à busca por melhorias no sistema. Esta melhoria foi alcançada com a adoção da filosofia do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que tem por base o monitoramento e as análises de risco ambiental e de custo-benefício para a tomada de decisão. De acordo com a filosofia do MIP as medidas de controle devem ser adotadas sempre que uma praga estiver presente em densidade populacional capaz de ocasionar dano econômico ao cultivo. Dessa forma recomenda-se que seja constantemente monitorada por amostragens sistemáticas para determinação do melhor momento de intervir, reduzindo as densidades populacionais para patamares abaixo do Nível de Dano Econômico (NDE). O NDE corresponde à densidade populacional em que o custo de controle é igual ao benefício esperado por sua adoção e pode ser estimado por meio de fórmulas específicas. A densidade populacional da praga a ser comparada com o nível de dano econômico, necessária à tomada de decisão, é determinada pela adoção de planos amostrais, que podem ser tanto sequenciais quanto convencionais. O plano de amostragem convencional é uma importante ferramenta utilizada na tomada de decisão de controle por ser o ponto inicial de geração de sistemas de tomada de decisão em programas de manejo integrado de pragas e permite determinar o nível de dano econômico e a escolha da melhor unidade e técnica amostral. A amostragem da broca-do-café é caracterizada por coletas exaustivas de três mil a cinco mil frutos de café por lavoura. Essa amostragem possui baixo fundamento
Insetos capturados a partir do uso de cores atrativas e da mistura de etanol e metanol
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Armadilha com garrafa de refrigerante auxilia no monitoramento da broca-do-café
científico e se utiliza de método destrutivo, pela coleta superestimada de frutos de café, exige muito tempo para avaliação e envolve alto custo. Assim, o processo de amostragem é de difícil adoção, possui elevados custos e, por essas razões, impossibilita o seu uso pelos produtores. Armadilhas com atraentes têm sido utilizadas com sucesso para amostragem de insetos-praga por permitirem uma tomada de decisão e serem de rápido e fácil uso. Além disso, as armadilhas permitem a captura e o aprisionamento dos insetos adultos. As armadilhas devem ser usadas na amostragem quando o número de insetos capturados nesses instrumentos se correlacionarem com o ataque do inseto à planta. Nesse sentido, armadilhas confeccionadas com garrafa PET em cores atrativas e contendo etanol e metanol mostraram-se como uma ótima técnica amostral para o monitoramento das den-
sidades populacionais de H. hampei. Em nossos estudos, na amostragem das fêmeas adultas de H. hampei, foram usadas armadilhas confeccionadas com garrafas de refrigerante tipo PET de dois litros, com abertura lateral retangular (20cm x 15cm) e pintadas com tinta a óleo vermelha. Essa cor foi empregada por ser a mais atrativa aos adultos de H. hampei. As garrafas devem ser fixadas às plantas a 1,5 metro de altura do solo, com arame galvanizado número 12. No interior da armadilha foi fixado frasco de vidro de 10ml contendo o atrativo. Esse frasco deve ser vedado com tampa de borracha com duas perfurações onde serão inseridas duas anilhas metálicas inoxidáveis (1,2mm de diâmetro x 10mm de comprimento) para liberação do atraente. Este atraente deve ser composto por uma mistura de etanol (99,9%) e metanol (100%) de pureza na proporção de 1:3, com 1% de ácido benzoico. No fundo da armadilha recomenda-se colocar 120ml de água contendo 5% de detergente neutro para captura dos adultos da broca. A abertura da armadilha deve ser posicionada para o centro da entre linha do café de forma a possibilitar que a pluma odorífera do atrativo se disperse entre as fileiras. Em relação à tomada de decisão de controle, nossos estudos finais indicaram duas armadilhas/ha e nível de dano econômico de 28 adultos de H. hampei/armadilha/15 dias. Este plano amostral para o monitoramento da broca-do-café é extremamente aplicável, pois possui custo e tempo de dois minutos e custo de R$ 26,00 por amostra. Assim, a armadilha pode ser utilizada no monitoramento desta importante praga na C cafeicultura brasileira. Flávio Lemes Fernandes Marcelo Coutinho Picanço Francisco Pinheiro Vieira Universidade Federal de Viçosa
Café no Brasil
A
cafeicultura no Brasil, no ano de 2010, foi responsável pela produção de 43.543 sacas de 60 quilos do produto beneficiado. A região Sudeste responde por 83% desta produção, destacando-se os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Os grãos do café apresentam elevados teores de potássio, vitamina B3, antioxidantes, betacaroteno, vitamina E, compostos fenólicos, lignanas (precursores de fito-hormônios) e folatos (inibidores do acúmulo de homocisteína no sangue). Além da importância eco-
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nômica e nutricional, essa atividade exerce notável influência social devido à geração de grande número de empregos diretamente no campo e nas diversas fases de sua cadeia produtiva. Estima-se que 25 milhões de agricultores no mundo dependem dessa cultura para subsistência. Os principais problemas enfrentados pelos cafeicultores são alto custo dos insumos, mão de obra, ataque de pragas e de doenças, além das variações dos preços de comercialização.
Algodão
Ação complementar Ferramenta valiosa no controle de daninhas em algodoeiro, o glifosato se vê ameaçado pelo uso indiscriminado e o consequente aumento do número de infestantes resistentes e tolerantes. A associação com outros herbicidas é fundamental para a preservação da tecnologia e melhora no controle de daninhas como trapoeraba (Commelina spp.), corda-de-viola (Ipomoea spp.), leiteiro (Euphorbia heterophylla) e erva-quente (Spermacoce latifolia)
N
a safra 2010/2011 a área plantada com algodão no Brasil chegou próximo de 1,4 milhão de hectares, sendo aproximadamente 740 mil hectares cultivados no estado do Mato Grosso. Culturas resistentes ao herbicida glifosato (RR) representam mais de 80% dos 120 milhões de hectares cultivados no mundo anualmente com espécies transgênicas. Rápida adoção dessa tecnologia no mundo ocorreu em soja, milho, algodão, canola e beterraba, em grande parte por causa da vantagem econômica da tecnologia, como também pelo controle melhor e mais simples de plantas daninhas com o uso do glifosato (Duke e Powles, 2009). No
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entanto, o uso contínuo de glifosato numa mesma área vem selecionando plantas daninhas resistentes e tolerantes, fato que tem reduzido e pode anular os benefícios dessa valiosa tecnologia. A cultura do algodão precisa ser colhida no limpo, sendo necessário mantê-la livre de plantas daninhas a maior parte do ciclo. Além disso, possui características que dificultam o manejo dessas espécies como ciclo longo, crescimento inicial lento, espaçamento amplo entre as linhas e restrições ao crescimento, impostas por motivos agronômicos, realizada através da aplicação de reguladores. Adicionalmente, existem poucos herbicidas seletivos para
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controle de espécies de folhas largas. No estado do Mato Grosso, uma tecnologia bastante difundida nesta safra foi o uso de variedades transgênicas de algodão Liberty Link, resistentes ao herbicida glufosinato. O algodão RR Flex, mais flexível quanto ao estádio da cultura para aplicação do glifosato, é esperado pelos produtores, mas ainda não está disponível para plantio comercial no Brasil. Essa tecnologia, como qualquer outra, no entanto, precisa ser usada com critérios, para evitar a seleção de plantas daninhas resistentes, como ocorreu nos algodoais dos Estados Unidos da América (EUA), onde biótipos de caruru e ambrosia já não são mais controlados
Fotos Anderson Luis Cavenaghi
Tabela 1 - Tratamentos aplicados no experimento. Campo Verde (MT) Nome comum 1. Pyrithiobac + glyphosate 2. Pyrithiobac + glyphosate 3. Pyrithiobac + glyphosate 4 .Pyrithiobac 5. Glyphosate 6. Tryfloxysulfuron 7. Testemunha
Nome comercial Staple + Trop Staple + Trop Staple + Trop Staple Trop Envoke ---
Dose (g ha-1) 37,3 g ia+ 360 g ea 55,9 g ia+ 540 g ea 74,6 g ia+ 720 g ea 70 g ia 720 g ea 7,5 g ia ---
Dose do PC ha-1 0,133 L + 1,0 L 0,200 L + 1,5 L 0,266 L + 2,0 L 0,250 L 2,0 L 10 g ---
ia – ingrediente ativo ea – equivalente ácido PC – produto comercial
pelo glifosato. Há consenso de que a diversidade no manejo de plantas daninhas é uma necessidade para preservar a utilidade da tecnologia de culturas resistentes a herbicidas. Dentro do componente químico no manejo, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é incondicional e várias associações de produtos vêm sendo testadas e utilizadas. Em algodoeiro RR, aplicações associadas a tratamentos de pré-emergência (Scroggs et al, 2007) ou combinadas com pyrithiobac e trifloxysulfuron (Branson et al, 2005) são as opções mais usuais. Adicionalmente, plantas daninhas que apresentam tolerância ao glifosato, nas doses normais de uso nas culturas transgênicas, como as trapoerabas (Commelina spp.), as cordas-de-viola (Ipomoea spp.),
o leiteiro (Euphorbia heterophylla) e a erva-quente (Spermacoce latifolia), entre outras, podem ter o controle melhorado na associação deste herbicida com outros ingredientes ativos. Assim como na soja e no milho, a tecnologia RR também deve se constituir em alternativa agronômica e/ou econômica no sistema de produção de algodão. Reforçase a necessidade de rotação de culturas e mecanismos de ação para evitar ou retardar o aparecimento de plantas daninhas resistentes, prolongando o tempo de uso dessas variedades. Nos EUA, herbicidas como fomesafen, s-metolachlor, pendimethalin e trifluralin são utilizados no sistema de produção do algodão tentando minimizar o problema da resistência de plantas daninhas ao glifosato.
Fotos Anderson Luis Cavenaghi
Diversas características, como o ciclo longo, dificultam o manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro
No Brasil, os herbicidas pyrithiobacsodium e tryfloxysulfuron-sodium são seletivos para aplicações em pós-emergência na cultura do algodão, podendo ser aliados do glifosato em cultivares com a tecnologia RR, pois apresentam mecanismos de ação diferentes do glifosato. Como exemplo desta possibilidade pode ser citado um experimento realizado em Campo Verde - Mato Grosso -, procurando avaliar o controle de corda-deviola (Ipomoea triloba) em algodão RR com aplicações em pós-emergência utilizando glifosato isoladamente ou associado ao herbicida pyrithiobac (Tabela 1). Além da corda-de-viola, principal planta infestante da área, havia também plantas de caruru (Amaranthus deflexus) e bucho-de-rã (Physalis angulata). A aplicação dos tratamentos foi realizada com a cultura entre a terceira e a quarta folha, utilizando-se um pulverizador costal pressurizado a CO2,
contendo seis pontas TeeJet TT110015, com volume de aplicação de 120L/ha. As avaliações de controle ocorreram aos 14, 21 e 28 dias após a aplicação. Nas avaliações foram consideradas separadamente plantas de corda-de-viola até seis folhas e plantas com mais de seis folhas. Nos dois estádios avaliados para corda-de-viola a associação de glifosato com pyrithiobac nas doses mais altas testadas (tratamentos 2 e 3) melhoraram o controle em relação à aplicação isolada dos dois herbicidas (Figuras 1 e 2) e os resultados para glifosato isoladamente foram melhores para plantas no menor estádio de desenvolvimento. Este fato normalmente é observado para outras espécies tolerantes ao glifosato, ficando o sucesso do controle dependente de dose utilizada e estádio de desenvolvimento no momento da aplicação. Não houve controle de caruru e bucho-de-rã com aplicações isoladas de pyrithiobac ou tryfloxysulfuron,
Cavenaghi aponta a importância de associar o uso do glifosato com outros herbicidas
mas a eficiência foi excelente quando se utilizou glifosato ou glifosato associado ao pyrithiobac (Figuras 3 e 4). Desta forma, fica evidente que o herbicida glifosato é importante ferramenta para controle de plantas daninhas na cultura do algodão, mas deve ser preservado e ter sua ação complementada por meio da associação adequada com herbicidas de outros mecanismos de ação, quer seja em C pré-emergência ou pós-emergência. Anderson Luis Cavenaghi, Univag Sebastião Carneiro Guimarães, UFMT
Figura 1 - Notas médias de controle de Ipomoea triloba com até seis follhas, aos 14 (IPO14), 21 Figura 2 - Notas médias de controle de Ipomoea triloba com mais de seis folhas, aos 14 (IPOgde14), 21 (IPO21) e 28 (IPO28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números (IPOgde21) e 28 (IPO28gde) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (Scott & Knott; α = 0,20) números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (Scott & Knott; α = 0,20)
Figura 3 - Notas médias de controle de Physalis angulata aos 14 (PHY14), 21 (PHY21) e 28 (PHY28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (Scott & Knott; α = 0,20)
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Figura 4 - Notas médias de controle de Amaranthus deflexus aos 14 (AMADE14), 21 (AMADE21) e 28 (AMADE28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (Scott & Knott; α = 0,20)
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Algodão
Migração concomitante
Fotos José Ednilson Miranda
Ao mesmo tempo em que a cultura do algodão migrou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste do Brasil, pragas como a broca-da-raiz fizeram o mesmo caminho. Favorecido por fatores como o cultivo sucessivo, inseto causa prejuízos severos, com poder de levar as plantas à morte. A rotação de culturas é um dos principais trunfos para enfrentar o problema
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raga muito conhecida dos cotonicultores desde as épocas áureas de produção de algodão nos estados do Sul e Sudeste (Paraná e São Paulo), a broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis) já foi responsável por muitas perdas na produção de pluma daquelas regiões. A cultura migrou para as áreas do Centro-Oeste, porém, o inseto também a acompanhou. Quais seriam os fatores que permitiram a sua manifestação nos solos do Cerrado? Evidentemente que as condições edáficas (de solo), embora não sejam exatamente as mesmas daquelas existentes no Sul, não variam a ponto de serem impeditivas para o estabelecimento da praga. Tampouco o clima seria um fator agravante, uma vez que as altas temperaturas e as boas condições de umidade reinantes no Cerrado são excelentes para a manutenção de populações de pragas de solo. A existência de plantas hospedeiras alternativas também pode favorecer as populações do inseto. É conhecido que plantas da família das malváceas (assim como
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o algodão), como o Hibiscus e o quiabo servem de alimento para o inseto. Também se sabe que o Cerrado é o bioma de maior biodiversidade e é possível que outras plantas presentes nas áreas de vegetação natural possam servir de alimento para a broca da raiz. Entressafra e início da primavera com chuvas abundantes permitem o aumento populacional da broca-da-raiz. Solos de baixada, onde a umidade se acumula e se mantém por mais tempo, são então locais perfeitos para o inseto. Entretanto, os fatores que mais contribuem para a manutenção de populações em alta densidade na cultura do algodão são o seu cultivo em sucessão (algodão após algodão) e a permanência de plantas de algodão vivas durante a entressafra.
O inseto e os sintomas de seu ataque
O adulto da broca-da-raiz é um besouro de coloração pardo-escura, que mede em torno de 5mm de comprimento. A fêmea usa suas mandíbulas para romper a casca das plantas
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novas e ali fazer a oviposição. O ovo, de coloração creme esbranquiçada, tem no seu interior o embrião da broca se desenvolvendo por dez dias, quando ocorre então a eclosão das larvas, que principiam a alimentação abrindo galerias na região dos vasos lenhosos da planta. Estas galerias aumentam de diâmetro à medida que as larvas crescem e impedem a circulação da seiva bruta, devido ao seccionamento dos vasos, determinando a paralisação do crescimento da planta. Os prejuízos são maiores no período de estabelecimento da cultura, início do crescimento das plantas, quando coincide com chuvas intensas e constantes, uma vez que ocorre redução no estande. As observações iniciais de plantas de algodoeiro com sintomas de ataque de brocada-raiz coincidem com o início do período de estiagem, quando então as plantas com o sistema vascular comprometido demonstram o estresse ocasionado pela infestação do inseto.
Quadro 1 - Produtos registrados para o controle da broca-da-raiz em lavouras de algodão Grupo Químico Carbamato
Princípio ativo Tiocarbamato Carbofuram Carbofuram Carbofuram Carbofuram Tiocarbamato Ciclodienoclorado Endossulfano Neonicotinóide Tiametoxam Tiametoxam Organofosforado Acefato Parationa metílica Parationa metílica Parationa metílica Parationa metílica Triazofós Clorpirifós Parationa metílica Parationa metílica Acefato Clorpirifós Fipronil Pirazol Fipronil
Dose Recomendada Produto Comercial 1,0 a 1,5kg/ha 30 a 40kg/ha 15 a 200kg/ha 2 a 3L/ha 30 a 40kg/ha 1,0 a 1,5kg/ha 1,25L/ha 400 a 600ml/100kg sementes 200 a 300 g/100kg sementes 1 kg/100kg sementes 600 a 800ml/ha 0,7L/ha 500 a 800ml/ha 600 a 800ml/ha 1,2L/ha 0,8 a 2L/ha 700ml/ha 700ml/ha 1,0kg/100 kg sementes 0,8 a 2,0L/ha 200 a 300ml/100kg sementes 200 a 300ml/100kg sementes
Fonte: Agrofit, 2011.
A planta atacada começa a definhar. Os sintomas começam por um avermelhamento do limbo foliar, murcha, seca e queda das folhas. Na região do colo da planta nota-se engrossamento devido ao ataque da praga e à presença das larvas nas galerias. As plantas atacadas morrem devido à interrupção da seiva ou persistem no campo, porém totalmente comprometidas.
Controle
Em experimento realizado em campo com inseticidas para o controle da praga, o produto carbofuram (350 TS, 2L p.c./100kg de sementes) exerceu o melhor controle de broca-da-raiz. No entanto este controle é insatisfatório. Com a repetição do experimento no ano seguinte, verificou-se que a infestação nos tratamentos em geral e mesmo na testemunha havia se reduzido drasticamente. Embora a área experimental tenha sido cultivada nas duas safras consecutivas, no restante da área efetuou-se a rotação de culturas, com o cultivo de outras culturas, que não o algodão. A redução da área de algodão após algodão influiu decisivamente nos resultados, mostrando que o controle cultural através da rotação de culturas e substituição do algodoeiro por outras espécies vegetais por duas ou três safras é altamente recomendável para complementar a supressão populacional do inseto. Assim, para o controle da broca-da-raiz, algumas medidas podem ser sugeridas: - Preparo correto do solo, com uma aração
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Ataque da praga impede a circulação da seiva e causa a paralisação do crescimento da planta
e duas gradagens em áreas de cultivo convencional do solo. O uso de calcário também desfavorece a praga. Em áreas de plantio direto há mais de sete anos recomenda-se uma subsolagem; - A semeadura concentrada em até 30 dias na época recomendada diminui as chances de migração da praga para áreas mais novas e a manutenção de sua população em nível populacional elevado; - O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos contribui para evitar explosões populacionais (vide Quadro 1); - A aplicação de inseticidas sistêmicos no sulco de plantio tem apresentado efeito moderado, contribuindo para a mortalidade de adultos e larvas. Tal aplicação é recomendável quando a umidade do solo estiver acima de 50%; - A eliminação de plantas hospedeiras (plantas da família das malváceas, como o quiabo e o hibisco);
Miranda destaca o papel da rotação de culturas no combate ao inseto
- A destruição de soqueiras e de plantas voluntárias; - Faixas de plantio-isca podem ser utilizadas para atrair indivíduos sobreviventes da entressafra, onde, aplicações de inseticidas podem suprimir a população, evitando assim prejuízos econômicos à cultura; - Fungos entomopatogênicos presentes no solo exercem o controle biológico natural, mas em áreas desequilibradas tais organismos apresentam eficiência parcial; - A medida mais importante de todas é a rotação de culturas, evitando-se o cultivo do algodoeiro por três safras em áreas infestadas com o inseto. A adoção de sistemas de rotação de culturas é de grande importância, tanto do ponto de vista de redução de pragas, doenças e plantas invasoras, como do ponto de vista da qualidade física e química do solo. Lavouras com manejo adequado e esquemas eficientes de rotação de culturas não apresentam proC blemas com o inseto. José Ednilson Miranda Embrapa Algodão
Figura 1 - Plantas atacadas por broca-da-raiz em experimento com tratamento de sementes com diferentes inseticidas. Santa Helena de Goiás (GO). Miranda et al, 2008
Figura 5 - Notas médias de controle de Amaranthus deflexus aos 14 (AMADE14), 21 (AMADE21) e 28 (AMADE28) dias após a aplicação dos tratamentos. Letras maiúsculas, minúsculas ou números comparam tratamentos dentro de uma mesma época de avaliação (Scott & Knott; α = 0,20)
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Empresas
Nova versão Fotos Basf
Basf lança Digilab 2.0, com a meta de agilizar e oferecer maior precisão nos diagnósticos de pragas, doenças e plantas daninhas que afetam cultivos agrícolas
A
Basf apresentou em agosto, durante o Top Ciência, o Digilab 2.0, uma nova versão do equipamento, lançado pela empresa em 2009, para auxiliar na identificação e combate a pragas, doenças e plantas daninhas que limitam os cultivos agrícolas brasileiros. O novo modelo propõe mais agilidade e precisão no diagnóstico de alvos no campo, por meio de um sistema de navegação intuitivo, de fácil manuseio e que permite a troca rápida de informações. Com a atualização do software, o equipamento torna-se compatível com a maioria dos sistemas operacionais. Além da navegação por ocorrências de pragas, doenças e plantas daninhas, oferece informações personalizadas, atendendo às necessidades específicas de cada usuário. Outra novidade se refere à presença de um GPS acoplado ao hardware do equipamento, que possibilita georreferenciar a saúde de determinadas culturas do País, da região e até mesmo da propriedade dos usuários. A meta proposta pela empresa, com a nova versão, é de que em breve todos os alertas diagnosticados estejam disponíveis em um roteiro de ocorrências, que será visualizado através de um mapa, via satélite.
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Versão Mobile
Além do modelo 2.0, a Basf lançou durante o evento a versão mobile do Digilab, com o intuito de facilitar a mobilidade dos diagnósticos no campo. O aplicativo já está disponível aos usuários de smartphones com sistema operacional android, que poderão utilizá-lo para fotografar pragas, doenças e plantas daninhas, com resposta automática. A versão mobile oferece, ainda, um banco com mais de 200 imagens
Equipamento lançado em 2009 auxilia na identificação de pragas, doenças e daninhas nas lavouras
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específicas, que abrangem 15 culturas, 27 pragas, 65 daninhas e 108 doenças.
Aplicações e outras versões
O Digilab consiste na união de um microscópio digital, capaz de aumentar a imagem em até 200 vezes, e um software com banco de dados e imagens das principais pragas e doenças. Ao suspeitar que a lavoura esteja sofrendo o ataque de doença, praga ou daninha o técnico recolhe algumas amostras das plantas, como folhas, hastes ou raízes. Com a amostra em mãos, realiza avaliação comparativa entre o material e as imagens da biblioteca virtual do Digilab. O software com o banco de dados foi desenvolvido com base na literatura especializada e com apoio de pesquisadores universitários. O banco de dados contempla 33 diferentes pragas, 138 tipos de doenças e 89 espécies de ervas daninhas separadas em 16 culturas. O acervo serve de consulta para os usuários que fazem o comparativo com a amostra recebida. Desde 2009 os usuários já captaram mais de 40 mil imagens. Desse total, 12 mil foram catalogadas e seis mil publicadas na biblioteca virtual do serviço. Em 2010 a Basf firmou parcerias com cooperativas, entidades e pesquisadores para cessão do serviço. Atualmente a tecnologia já está presente em 40% do território nacional. Também em 2010, a empresa lançou uma versão do serviço destinada à comunidade científica: o Digilab 500. Seu microscópio possui lente com capacidade de aumento de até 500 vezes, ideal para professores, pesquisadores e consultores. O equipamento reúne as funcionalidades de alguns microscópios e máquinas fotográficas digitais utilizadas em laboratórios. Ligado a um laptop, também pode ser transportado para o campo facilmente, permitindo a coleta de amostragens C e estudo in loco.
Novos recursos foram apresentados em agosto, durante o Top Ciência
Coluna ANPII
Benefícios consolidados Uso de inoculantes no Brasil chama a atenção do resto do mundo, pelo incremento em produtividade e outras vantagens proporcionadas pela tecnologia
U
ma das tecnologias usadas em soja mais elogiadas no mundo todo é o uso intensivo e maciço de inoculantes no Brasil. É um fato que causa admiração, que se possa cultivar perto de 25 milhões de hectares de soja praticamente com zero de nitrogênio mineral, obtendo-se elevados níveis de produtividade. Existem relatos de
de J.R. Jardim Freire e de Johanna Dobereiner, respaldados pelos atuais pesquisadores da área, o Brasil montou uma estrutura exemplar em fixação biológica do nitrogênio (FBN), com uma criteriosa seleção de estirpes, um sistema de recomendação rigoroso, em que somente as melhores bactérias entram na produção de inoculantes e com uma
a elevada qualidade dos inoculantes comercializados no país. Com toda esta estrutura, construída ao longo de 50 anos, o Brasil conquistou sua liderança, juntamente com a Argentina e o Uruguai, no uso de inoculantes no mundo. Como toda a tecnologia, a inoculação tem que ser constantemente atualizada, seja através de seleção de novas
O Brasil conquistou sua liderança, juntamente com a Argentina e o Uruguai, no uso de inoculantes no mundo pesquisa e de lavouras com obtenção de mais de 4.000kg de grãos/ha sem o uso de 1g sequer de outras fontes de nitrogênio: o uso de nitrogênio biológico é suficiente para suprir a planta em toda sua necessidade deste nutriente. Dados recentes de pesquisa mostram que um hectare de soja pode trazer até 300kg de nitrogênio atmosférico para o sistema solo/planta. Basta olhar o enorme acervo de trabalhos científicos, todos conduzidos dentro dos moldes estatísticos que devem nortear os experimentos, para se ter a clara noção de que a inoculação é condição suficiente, em termos de nitrogênio, para se obter elevada produtividade. Existem hoje mais de 100 trabalhos científicos que demonstram, sem sombra de dúvidas, que a inoculação bem feita é condição suficiente para fornecer todo o nitrogênio do qual a soja necessita para suas mais elevadas produções. Através dos trabalhos pioneiros
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fiscalização que garante a qualidade dos produtos oferecidos ao mercado. Dentro desta estrutura, a existência de um Centro de Referência em Rhizobium, alocado na Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), em Porto Alegre, é peça fundamental para o crescimento contínuo da aplicação da FBN nas culturas de leguminosas e, mais recentemente, nas gramíneas (em que já se utilizam bactérias fixadoras de nitrogênio). Este centro de referência merece todo o prestígio das entidades governamentais e privadas ligadas à agricultura, pois ali são mantidas as matrizes das quais, a partir de uma simples ampola, são produzidas as milhões de doses de inoculante no Brasil. Esta matriz tem que estar em excelentes condições, pois, sem isto, toda a produção ficará prejudicada. E este centro de referência tem sido um dos pilares desta tecnologia de enorme sucesso no Brasil, contribuindo de forma efetiva para
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estirpes, do desenvolvimento de inoculantes cada vez mais eficazes e de novas formas de aplicação. A cultura da soja se desenvolve continuamente e as técnicas de inoculação também devem acompanhar esta evolução. Assim, toda a energia despendida para suprir a soja em nitrogênio deve ser voltada para a FBN, pois esta tecnologia traz expressivos ganhos econômicos para o agricultor, o Brasil e o ambiente como um todo. Até o momento, tudo indica que a inoculação da soja tem plenas e totais condições de suprir todo nitrogênio necessário para a cultura mesmo que se chegue a níveis acima de 5.000kg de grãos/ha. E, a julgar pelas pesquisas que continuam em desenvolvimento, esta tecnologia permanecerá como uma das práticas mais rentáveis e atualizadas para o C agricultor brasileiro. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
Desafio de Produtividade de Soja
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ela segunda safra consecutiva, o Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil) realiza o Desafio de Máxima Produtividade de Soja, cuja cerimônia de entrega dos prêmios aos vencedores ocorreu na primeira semana de agosto, em Brasília. Antes de tudo, quero relembrar que não se trata simplesmente de obter a máxima produtividade, porém, de conjugá-la com maior rentabilidade, com observância das legislações ambientais e trabalhistas, ou seja, em tudo lembrando o que todo o produtor de soja deve fazer, normalmente. Os vencedores foram auditados para verificar o seu cumprimento – e todos cumpriram – caso contrário seriam desclassificados! O desafio foi dividido em áreas irrigadas e não irrigadas, em quatro regiões:
fio. Os cinco melhores produtores obtiveram produtividade média de 5.979kg/ ha; os dez melhores atingiram 5.728kg/ ha; e os 100 melhores alcançaram 4.270kg/ha. De acordo com a Conab (levantamento de julho/2011), nesta safra o Brasil produziu 75.039.300 toneladas de soja, em 24.158.000 hectares, com produtividade média de 3.106kg/ha. Caso a produtividade brasileira fosse igual à produtividade média de todos os sojicultores participantes do desafio, o Brasil haveria colhido 17% mais soja, na mesma área, ou seja, mais 13 milhões de toneladas. E, se a produtividade fosse igual aos dez melhores produtores, haveríamos colhido mais 69 milhões de toneladas! Os produtores líderes demonstraram que isto é possível, que a tecnologia existe. Se ela for, progres-
a produtividade variou entre 5.087 e 4.573kg/ha. Sudeste: Ivaldo Lemes da Costa foi o vencedor, com produtividade de 5.938kg/ha (quase 100 sacos por hectare!). Do 2º ao 4º colocado as produtividades situaram-se entre 5.341 e 3.876kg/ha. Norte/Nordeste: o produtor Roberto Pelizzaro venceu a etapa regional com 6.036kg/ha, seguido por outros quatro produtores com produtividade variando de 5.920 a 5.160kg/ha. Os participantes desta região apresentaram a produtividade média mais elevada entre todas as regiões. Sul: nesta região, o vencedor foi Leandro Sartorelli Ricci, com produtividade de 6.027kg/ha, enquanto os seguintes colocados desta região produziram entre
A importância do Desafio conduzido pelo Cesb está em mostrar que dispomos de tecnologia e condições para aumentar a produtividade média da soja no Brasil Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte/ Nordeste. A partir da produtividade de 4.800kg/ha de soja foi realizada uma auditoria independente, para confirmar a produtividade e o cumprimento das regras do Desafio. Em 2010 inscreveramse 800 participantes e, para esta safra, a adesão atingiu 1.185 sojicultores, sendo que 7-8% utilizaram irrigação. Os produtores eram majoritariamente do Sul (PR) e do Centro-Oeste (MT), as maiores regiões produtoras do Brasil. A média geral da produtividade de soja dos participantes foi de 3.966kg/ha (irrigada) e 3.617kg/ha (não irrigada). A Tabela 1 mostra a distribuição dos resultados alcançados. Interessante destacar outros resultados que chamaram a atenção no Desa-
sivamente, transferida aos demais produtores de soja, nos próximos 20 anos, seguramente poderemos diminuir a área plantada de soja no Brasil, aumentando a produção para atender à demanda do mercado, e com custos menores – logo, rentabilidade maior.
Os melhores produtores Na categoria Irrigada, o vencedor foi Edinelson Lopes da Silva, que atingiu a produtividade de 5.316kg/ha. Entre a 2ª e a 4ª colocação, as produtividades variaram de 5.160 a 4.991kg/ha. Na categoria Não irrigada, a premiação foi regional, ficando assim distribuída: Centro-Oeste: o vencedor foi Edmilson Ribeiro Santana, com 5.304kg/ ha, e da segunda até a quinta colocação,
Tabela 1 - Distribuição da produtividade de soja Kg/ha até 3.000 3.000-3.600 3.600-4.200 4.200-4.800 4.800-5.400 5.400-6.000
% Produtores Irrigada 3 41 21 7 28 -
Não Irrigada 2 50 32 6 6 4
5.975 e 5.074kg/ha. O vencedor nacional foi o produtor Roberto Pelizzaro, que superou o vencedor da safra 2009/10 (Leandro Sartorelli Ricci) por meros 9kg/ha. O fato de Ricci situar-se, por dois anos consecutivos, no topo da escala de produtividade, mostra como o sistema de produção por ele utilizado é sólido e consistente e tem permitido produzir acima de 100 sacos por hectare, em sua lavoura. A importância do Desafio conduzido pelo Cesb está em mostrar que dispomos de tecnologia e condições para aumentar, consistentemente, a produtividade média da soja no Brasil. Este incremento de produtividade trará diversos benefícios ao País e à cadeia produtiva, sendo sempre interessante destacar que a maior rentabilidade dos produtores e a redução da área de expansão de soja são fatores fundamentais para mantermos e ampliarmos, de forma sustentável, a nossa participação no mercado internaC cional de soja.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Uma grande safra 2011/12 aparece no horizonte do Brasil A nova safra começa a ser plantada, com as primeiras áreas com plantas já em desenvolvimento. O cenário é de otimismo dos produtores, com oportunidades de lucros prontas para serem fechadas, com milho tendo chances de fechamentos na exportação de 2012 e com bons lucros. A soja apresenta volumes maiores que em anos anteriores e tudo indica que já se registra o maior volume negociado de safra nova da oleaginosa da história do Brasil. Além disso, o algodão possui grandes volumes de produto fechados para entrega futura. Tudo indica que será um grande ano para o feijão, que passou por momentos difíceis nestes últimos meses. O arroz, que amargou prejuízos até julho, sinaliza também para um bom ano, novamente com avanço no potencial produtivo dos orizicultores gaúchos e catarinenses, que se manterão com expectativa de voltar a ganhar com a cultura. Os primeiros indicativos apontam para uma safra acima dos recordes anteriores, com expectativas de superar a marca das 170 milhões de toneladas de grãos, tendo como carro-chefe a soja (que caminha pela primeira vez na história em busca de chegar às 80 milhões de toneladas, contra 75 milhões de toneladas deste último ano). Veremos o milho em busca de bater a marca das 60 milhões de toneladas, contra pouco mais de 55 milhões de toneladas do ano anterior, com indicativos de que arroz, trigo e feijão possam ter redução de safra, devido a perdas no trigo pelo clima e redução na área dos outros dois. Desta forma, haverá um ajuste no quadro tritícola, com safra ao redor das 13 milhões de toneladas (ou abaixo) para o arroz e pouco mais de três milhões de toneladas para o feijão. Esse cenário coloca os três produtos com volume de safra menor que o consumo, o que resulta na abertura de espaço para cotações mais atrativas e lucrativas aos produtores. Mesmo com forte avanço na produção da soja e do milho, seguimos com bom potencial de preços aos produtores. Para não correr riscos, é recomendável que os produtores optem por fazer parte das negociações destes dois produtos antecipadamente, já buscando escapar do pico da oferta, que ocorre entre fevereiro e maio. A medida tem por objetivo garantir as boas cotações registradas no momento e que asseguram lucratividade. Tudo indica, novamente, que o Brasil terá uma grande safra e grandes divisas para manter e dar suporte ao saldo da balança comercial. Se não existisse o agronegócio, provavelmente seríamos um dos países mais pobres do mundo, enquanto as potencialidades nos põem a caminho de nos tornarmos um dos mais ricos do mundo.
MILHO
Safrinha fechada e mercado em alta
O mercado do milho assistiu à primeira safra passar e às cotações avançarem. Agora, com o fechamento da colheita da safrinha (que registrou grandes perdas no Paraná e no Mato Grosso do Sul devido ao clima e à forte queda na qualidade do produto por conta de seca e geadas), começa a passar a fase de mercado frouxo e volta ao mercado de pressão positiva, porque há espaço para exportar e forte demanda nestes últimos meses do ano. A demanda de carne no mercado internacional está em crescimento. Muitos países importadores estão vindo até o Brasil em busca de oportunidade de compra de carnes e desta forma abre-se espaço para ajustes no setor e para alta no milho, que fechou a colheita da safrinha sem necessidade de apoio do governo e agora coloca nas mãos dos produtores, que ainda têm alguma coisa para negociar, fôlego para ajustes nos indicativos. Existe espaço para ganhos nos indicativos a partir deste mês de setembro. A fase de milho barato do Mato Grosso acabou em agosto e agora caminha para operar com cotações acima de R$ 20,00 na região, o que empurra os preços para
mais de R$ 30,00 no Sul e Sudeste. SOJA
Pouca soja para negociar de agora em diante
ximadamente 80% da safra, está colhendo somente a semente que plantou e desta forma dará fôlego às cotações, que navegaram ao redor dos R$ 80,00 a R$ 110,00 nas últimas semanas na base do Carioca e agora tem espaço para ir mais longe. Tudo aponta que o Carioca Nobre, que chegará, pode novamente furar a barreira dos R$ 200,00. Com espaço até mesmo para o crescimento do feijão Preto, que tende a extrapolar os R$ 100,00 contra patamares de R$ 65,00 registrados nos últimos meses.
O mercado da soja livre mostra escassez de ofertas, com poucos produtores tendo o grão para ser negociado. Desta forma, a partir deste mês haverá um “descasamento” das cotações internas e externas em favor dos indicativos locais, que tendem a ser maiores do que os praticados no mercado externo, porque as indústrias necessitarão de soja ARROZ e os produtores formarão as cotações. Isso porque parte dos que ainda têm o produto guardaram como Ganhando com apoio do governo ativo financeiro e somente o venderão quando lhes O mercado de baixa do arroz, que até julho for vantajoso economicamente. Bons momentos vinha em marcha lenta, com cotações baixas e devem vir pela frente. chegou a negociar abaixo dos R$ 17,00 entre maio e junho, em agosto mostrou avanços importantes, FEIJÃO chegando a alcançar acima de R$ 25,00 via apoio do governo. Estão à disposição PEP, Pepro, AGF e Nordeste perdeu e deu fôlego às cotações O mercado do feijão, que tinha como opções Opções para alavancar os indicativos que devem de oferta em setembro e outubro o produto irrigado crescer novamente nestes próximos meses, porque o do Brasil Central e a safra do Nordeste (Ribeira do mercado ficará com pouca pressão de venda e fôlego Pombal, Adustina e arredores), agora tem somente para ajustes, podendo conquistar a marca dos R$ o irrigado central, porque o Nordeste perdeu apro- 28,00, antes do fechamento de outubro.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo vê a safra deste ano ser consumida pelo clima, com grandes perdas no Paraná, problemas com clima também no Rio Grande do Sul e tudo indica que haverá perdas muito acima de um milhão de toneladas. O cenário obriga o país a importar mais produto e como as cotações internacionais do grão também estão em alta, com indicativos acima dos 350 dólares por tonelada nos próximos meses, isso irá refletir beneficamente no mercado brasileiro, para os produtores que conseguiram colher um bom produto, que terá fôlego para ser negociado entre R$ 500,00 e R$ 600,00 por tonelada. ALGODÃO - O mercado andou navegando na linha negativa nas últimas semanas, mas isso pouco refletiu no ânimo dos produtores para a nova safra, porque boa parte do setor já tem negócios realizados até mesmo para a safra de 2013 e assim os custos já foram diluídos nas vendas futuras com cotações muito acima dos patamares atuais. Sinalizando que a cultura é de alta tecnologia de lavoura e também de negócios, com os produtores tendo obrigação de fechar posições nos momentos que o mercado está em alta e depois aguardar a fase de baixa passar. Segue com baixa liquidez, mas com alto potencial de lucratividade em longo prazo. EUA - A safra está em colheita neste mês de setembro, com problemas de perdas, que segundo o USDA superam as 20 milhões de toneladas de grãos, sendo que somente o milho está perdendo mais de 15 milhões de toneladas frente ao potencial que teria se conseguisse ter plantado na hora certa. Com
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isso, o mercado internacional terá fôlego para se manter em alta por muito tempo. O consumo cresce em ritmo maior do que o avanço na produção mundial e desta forma gera apelo positivo às cotações. Neste momento, o consumo mundial, mesmo com abalos econômicos, cresce em ritmo de dez a 30 milhões de toneladas anuais, acima do que a produção consegue colocar no mercado. CHINA - As compras seguem dentro do ritmo normal de forte crescimento do país. Com fechamentos acima das cinco milhões de toneladas de milho entre janeiro e julho e mais de 29 milhões de toneladas de soja neste mesmo período. O cenário indica que a demanda continua aquecida e o país terá que manter o avanço no mercado mundial de alimentos nos próximos anos, para assim poder continuar crescendo internamente rumo à maior economia do mundo. ARGENTINA - Os produtores estão satisfeitos com o fechamento da safra local, que rendeu ao redor de 21 milhões de toneladas de milho, aproximadamente 49,2 milhões de toneladas de soja, 1,78 milhão de toneladas de arroz e outras 350 mil toneladas de feijão. Além disso, uma boa safra de trigo está se apresentando e pode alcançar a marca das 17 milhões de toneladas. O país já tem como grande cliente o Brasil, que teve grandes perdas no trigo e terá de importar aproximadamente sete milhões de toneladas neste novo ano. CLIMA - Deixa de ter importância nos EUA e na China. Agora começa a ser fator importante para safra da América do Sul.
Setembro 2011 • www.revistacultivar.com.br