Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 151 • Dezembro 11 / Janeiro 12 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Nova e voraz......................................20
Jurema Rattes
Como identificar a lagarta Striacosta albicosta, espécie que acaba de ser relatada em lavouras de milho, soja e algodão do Mato Grosso
Sucessão adequada.....................16 Sensível ao calor........................24 Incidência favorecida..................29 A importância de acertar na sequência de culturas para o manejo de nematoides
A influência da temperatura na folha superior da soja em relação à germinação de esporos da ferrugem asiática
Índice
Expediente
Diretas
05
Fertirrigação em cafeeiro
06
Controle de vaquinhas em feijoeiro
08
Empresas - Syngenta ingressa em nutrição vegetal
10
Adubação no solo ou na planta?
12
Lagarta-do-cartucho em áreas de milho Bt
14
Sucessão de culturas no manejo de nematoides
16
Nossa capa - Lagarta Striacosta albicosta no Brasil
20
Ferrugem asiática em soja
24
Deficiência de manganês em soja RR
26
Ramulária em algodão adensado
29
Quando tratar sementes em arroz
34
Efeitos da hora da aplicação no percevejo-do-colmo
36
Coluna ANPII
40
Coluna Agronegócios
41
Mercado Agrícola
Como manejar doenças como a ramulária no cultivo do algodão adensado
42
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Assistente
• Revisão
• Assinaturas
Carolina S. Silveira Juliana Leitzke Cristiano Ceia
Aline Partzsch de Almeida
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Coordenação
Simone Lopes Ariane Baquini Natália Rodrigues
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
• Vendas
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Pedro Batistin
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Participação
A Bayer CropScience participou em novembro da 37ª edição do Congresso Brasileiro de Café, em Poços de Caldas, Minas Gerais. A empresa destacou o Disco de Recomendações Sphere Max, utilizado para facilitar a aplicação do fungicida no manejo da ferrugem do cafeeiro. A ferramenta possibilita avaliar variáveis e faz recomendações para o uso personalizado do produto. São verificadas questões como a suscetibilidade das variedades à doença, altura e espaçamento das plantas, além da época de aplicação. “Com todos os dados analisados, o Disco de Recomendações indica o melhor momento para a utilização do Sphere Max, assim como a dose adequada para aplicação”, explica José Frugis, gerente de Cultura do Café José Frugis da Bayer CropScience.
Prêmio
O artigo “Aplicação Planejada”, publicado na edição de outubro, é um resumo do trabalho “Classificação do Risco de Deriva para o Planejamento das Aplicações de Produtos Fitossanitários”, vencedor do concurso sobre melhores práticas de redução de deriva de defensivos agrícolas, no Sintag 2011. Patrocinadora do evento, a Dow AgroSciences idealizou o concurso, que ofereceu prêmio de incentivo à pesquisa aos três finalistas. A iniciativa tem por objetivo reforçar o compromisso da empresa com a sustentabilidade do agronegócio brasileiro através de ações que disseminam as boas práticas e o uso correto e seguro de defensivos.
Lançamento
A Basf lançou o fungicida Abacus HC, para o controle de doenças na cultura do milho. “O principal objetivo é auxiliar o produtor de milho a ter maior rendimento, qualidade e a combater com eficiência as doenças que atacam sua lavoura, como a ferrugem e a mancha foliar”, comenta o gerente de Marketing e Relacionamento da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Oswaldo Marques.
Nova sede
Oswaldo Marques
Relacionamento
A Bayer CropScience acaba de lançar o Bayer Agro Services, primeiro programa de relacionamento com clientes do segmento agrícola voltado à gestão de negócios. Aproximadamente 300 clientes de atendimento direto, entre grandes produtores rurais e representantes da agroindústria, passam a contar com uma gama de serviços que auxiliarão na identificação de oportunidades e soluções para suas necessidades, recebendo informações atuais relacionadas aos modelos de gestão de negócios existentes. “O Bayer Agro Services é um passo estratégico e importante para estarmos ainda mais próximos do produtor rural brasileiro”, explica Gerhard Bohne, diretor Gerhard Bohne de Operações de Negócios Brasil.
Três em um
O Ministério da Agricultura da Argentina aprovou para cultivo no país milho da Syngenta que combina os eventos Bt11 x MIR 162 x GA21, denominado Agrisure Viptera 3. O evento triplo estará disponível para os produtores argentinos na safra 2012/2013. A semente foi lançada no Brasil em 2011, após aprovação da CTNBio em novembro do ano passado. “A aprovação desta semente confirma nossa oferta líder para controle de insetos na Argentina”, afirmou John Atkin, Chief Operating Officer da Syngenta. O milho combina tolerância a herbicidas e resistência a insetos.
O Instituto Phytuy está com novas instalações. A cerimônia de inauguração contou a participação do presidente da Sociedade de Agronomia de Santa Maria (Sasm), Valmor Christmann; do representante da Bayer, Julio Barbosa; dos representantes da Syngenta, Adilson Jauer e Tiago Santos; dos gerentes da Caixa Econômica Federal, Hildo Luiz Gelatti e Jéferson Paz; do gerente do Banco do Brasil, Bruno Moleta; e do sócio-diretor da Phytus Comunicação, Guilherme de Freitas, além de representantes de alianças estratégicas do Instituto. “É com muita felicidade que, em meio a tantas novidades, inauguramos o nosso novo espaço, que coroa todo esse sentimento de evolução constante”, disse a diretora do Instituto Phytus, Clarice Balardin.
Parceria
A Universidade Federal do Piauí (UFPI), em parceria com a Syngenta, implantou no campus da instituição o primeiro Laboratório de Diagnose de Plantas da região Mapitopaba (Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará e Bahia) para mapear a ocorrência de nematoides na parte sudeste do estado. Antes da iniciativa, as análises eram enviadas para outros estados, como Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A empresa doou parte dos equipamentos e reagentes necessários para a realização das análises e também vai dar treinamento sobre a coleta das amostras de solo.
De cana
John Atkin
A FMC lançou durante o Clube da Cana 2011 a bombona ecológica Green Jug, que utiliza o etanol proveniente da cana como substituto de parte do petróleo empregado em sua composição e, por ser à base de planta, diminui a dependência de recursos não renováveis. Segundo estudos preliminares, para cada mil unidades de bombona contendo 51% de PE verde, é possível reduzir 2.815kg de CO2eq. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a Unipac e atende a aos pré-requisitos para envase de agroquímicos. A FMC tem exclusividade do produto por dois anos. O envase começará pelo herbicida Boral, mas os planos são de ampliação para outros defensivos da marca.
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
05
Café Fotos Rubens José Guimarães
Dose certa
Nitrogênio (N) e potássio (K2O) são essenciais ao cafeeiro e a fertirrigação é uma das formas eficientes de fornecer esse tipo de nutriente à cultura. Diante desse panorama, recomendações de adubação para lavouras irrigadas vêm sendo definidas para auxiliar produtores de regiões como o sul de Minas Gerais, que até pouco tempo seguiam os critérios para lavouras de sequeiro
A
tualmente no Brasil existem aproximadamente 233 mil hectares de café irrigado, o que representa 10% da área total plantada com a cultura, responsável por 20% a 25% da produção anual de café. Esses 10% estão distribuídos no Brasil com 4,5% a 5% em Minas Gerais, 3% a 3,5% no Espírito Santo, 1% a 1,5% na Bahia e de 0,5% a 1% em Goiás (Santinato et al, 2008). Tendo em vista que as maiores regiões produtoras de café do Brasil estão sob condições climáticas adequadas quanto à deficiência hídrica, seria difícil imaginar que as lavouras cafeeiras situadas em tais regiões pudessem vir a utilizar tecnologia de irrigação. Porém, de acordo com fabricantes de equipamentos, há um investimento crescente por parte do cafeicultor nesta tecnologia também nestas regiões. O trabalho conjunto dos três principais segmentos: pesquisa, ensino e extensão, tem levado ao cafeicultor novas opções de materiais genéticos adaptados e mais produtivos, mecanização e técnicas de manejo para os mais diversos tipos de lavoura, priorizando desde o pequeno até o grande produtor. Dentre as tecnologias, a irrigação consolida seu espaço no cenário da cafeicultura contabilizando com a sua utilização inúmeros benefícios de ordem técnica e econômica, pois quando conduzida de forma adequada otimiza os demais insumos aplicados de forma tal que também a produ-
06
tividade é maximizada. Porém, o cafeicultor deve ter em mente que a lavoura irrigada não pode ser conduzida como uma área de sequeiro+água, pois se agir dessa forma corre o risco de ver seu empreendimento fracassar. Dentre todas as possibilidades de diversificação no sistema produtivo irrigado, a fertirrigação é uma das mais promissoras, pois reduz gastos com mão de obra, pode aumentar a eficiência da adubação reduzindo gastos com fertilizantes, além da possibilidade de aplicações parceladas e de acordo com as necessidades das diferentes fases fenológicas da planta. Nutrientes essenciais ao cafeeiro, como N e K, são facilmente oferecidos às plantas e sua aplicação, via fertirrigação, é uma prática comum entre cafeicultores usuários da irrigação.
Aparelho (Horiba) para determinação do nitrato da solução do solo
O consumo anual de nitrogênio (N) e potássio (K2O) nos cafezais brasileiros pode chegar a 900 mil toneladas por ano de cada nutriente (Guimarães et al, 1999). Com adubação adequada e sem interferência ou limitação de outros fatores, a planta bem suprida deste nutriente apresenta crescimento rápido e folhas com coloração verde e brilhante. O potássio atua na abertura e fechamento de estômatos, juntamente com a luz, e sua carência pode ocasionar menor atividade fotossintética. Plantas deficientes em potássio apresentam aumento de sensibilidade a doenças, déficit hídrico e injúrias pelo frio. Ambos os nutrientes apresentam alta mobilidade no solo, porém, necessitam de umidade para que o processo de absorção se dê de forma rápida e efetiva, sem que ocorram perdas por lixiviação e/ou volatilização (no caso do N). No caso das lavouras de sequeiro, o nível de umidade do solo é dependente da intensidade e distribuição de chuvas por ocasião das aplicações em cobertura. Já na lavoura irrigada, desde que o sistema esteja bem dimensionado, a uniformidade de aplicação de água dentro do recomendado, a fonte de nutriente utilizada tenha boa solubilidade em água, a eficiência na aplicação de N e K2O pode aumentar significativamente. O uso inadequado da irrigação e da fertirrigação pode gerar prejuízos drásticos ao cafeicultor, pois o retorno econômico da atividade fica
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
aquém do viável em função do alto investimento na irrigação. Por outro lado, existem problemas ambientais passíveis de ocorrer tanto pelo desperdício de água e nutrientes quanto pela contaminação dos mananciais e fontes de água. Doses e épocas de fornecimento destes e demais nutrientes ao cafeeiro irrigado geram controvérsias e neste contexto o cafeicultor pode estar subutilizando ou desperdiçando insumos, recursos hídricos e energia elétrica. Com o intuito de fornecer ao cafeicultor informações mais consistentes, em convênio com o Consórcio Pesquisa Café e Fapemig, pesquisadores de universidades e de órgãos de pesquisa têm realizado vários estudos sobre o uso da irrigação na cafeicultura, abrangendo os seus mais diversos aspectos, inclusive aqueles relacionados à nutrição e fertilidade das lavouras irrigadas. Dentro deste programa, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Lavras/MG implantaram um projeto experimental cujo objetivo é avaliar o efeito de diferentes doses e parcelamentos de adubação nitrogenada e potássica em cafeeiros fertirrigados por um sistema de gotejamento, que é um dos que melhor se adaptam às características morfológicas da cultura, além das vantagens quanto fertirrigação, redução de mão de obra, água e energia elétrica. Objetiva, ainda, apresentar aos cafeicultores da região sul de Minas Gerais uma recomendação de adubação para lavouras irrigadas em fase de formação e produção, pois até o momento a adubação da lavoura irrigada na região sul de Minas Gerais segue os critérios para lavouras de sequeiro, (Guimarães, 1999).
Principais resultados práticos obtidos
Os resultados obtidos pelos pesquisadores da Ufla e que já foram publicados como dissertações e artigos em revistas técnico-científicas (Coffee Science e PAB) revelam um aspecto prático de alta aplicabilidade às lavouras cafeeiras irrigadas da região de estudo. Analisando cafeeiros fertirrigados e de sequeiro ao longo do primeiro e segundo anos de formação, doses de N e K2O (ureia e nitrato de potássio) correspondentes a 70%, 100%, 130%, 160% e 190% do recomendado não diferenciaram o padrão de crescimento do cafeeiro em relação à altura de plantas, diâmetro de copa e caule e número de ramos plagiotrópicos primários sendo, porém, superiores às plantas não irrigadas e que receberam 100% da dose recomendada aplicada em quatro parcelamentos na época das águas. Diante desses resultados é possível inferir que para lavouras de primeiro e segundo ano de formação e fertirrigadas pode-se reduzir 30% de adubação com N e K2O em relação à dose recomendada para lavouras de sequeiro. Quando se trabalhou com quatro ou 12
Bomba utilizada no processo de fertirrigação
Avaliação de diferentes doses e parcelamentos de adubação nitrogenada e potássica em cafeeiro
parcelamentos da adubação, esses experimentos permitiram concluir que o parcelamento de 12 aplicações mensais proporcionou maior crescimento aos cafeeiros (embora diferenciado nos meses do ano) que àqueles com quatro parcelamentos, inclusive com produtividade de café beneficiado 32% superior. Ou seja, novos estudos estão sendo realizados para se determinar as doses de N e K2O que devem ser aplicadas em doses diferenciadas ao longo do ano em função das fases fenológicas da cultura. Outro aspecto importante em relação à aplicação de nitrato (NO3-) diz respeito às perdas que podem ocorrer por lixiviação em função do manejo da adubação. Dependendo da dose e do parcelamento desse nutriente essas perdas podem ser minimizadas. Na pesquisa conduzida na Ufla, para o primeiro ano de formação da lavoura foi verificado que no parcelamento de 12 aplicações de N a perda foi 8% menor em relação ao parcelamento de quatro aplicações. Porém, nos dois tipos de parcelamentos sempre ocorreram perdas de N quando da aplicação da maior dose de N (190% do recomendado) indicando que as
doses de N na fase de formação podem ser reduzidas no sistema fertirrigado.
Recomendações para aplicação técnica
Os resultados com a cultivar Catiguá MG-3 na região de Lavras, Minas Gerais, indicam benefícios do uso da fertirrigação para primeiro e segundo ano de formação da lavoura cafeeira com uma redução de 30% na dose de N e K2O, recomendada pela Comissão de Fertilidade do Solo de Minas Gerais para lavoura de sequeiro. Outra recomendação é de que o parcelamento de 12 aplicações é indicado em lavouras fertirrigadas em formação por proporcionar um crescimento vegetativo vigoroso das plantas e possibilidade de aumento de proC dutividade. Rubens José Guimarães, Myriane Stella Scalco, Alberto Colombo, Gleice Aparecida Assis, Fabrício Moreira Sobreira e Iraci Fidelis, Ufla
Área experimental - (a) plantas adubadas com N e K2O parcelados em quatro vezes na época das águas e não irrigadas, (b) e adubadas em quatro parcelamentos, porém irrigadas com 70% da dose recomendada
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
07
Feijão Murillo Lobo Junior
Pequenas e mortais Besouros com tamanho que varia de 5mm a 6mm, as vaquinhas Diabrotica speciosa e Cerotoma arcuata causam prejuízos severos ao feijoeiro, com perdas acima de 50% na produção e em situações de ataque mais intenso levam a planta à morte. Controle biológico, químico e o uso de variedades mais resistentes ao inseto estão entre as ferramentas disponíveis para o manejo
08
primeiros dias após a emergência das plantas, quando apresentam poucas folhas e os insetos consomem também o broto apical, com poder Melina Viero de Moraes
A
s vaquinhas têm sido constatadas na maioria das regiões produtoras de feijão e podem causar danos severos ao feijoeiro, especialmente quando ocorrem altas populações no início de desenvolvimento da cultura. A vaquinha do feijoeiro Diabrotica speciosa (Germar) é um besourinho crisomelídeo com aproximadamente 6mm de comprimento, corpo verde, cabeça castanha e manchas amarelas nas asas (Figura 1A). Os ovos são colocados no solo, onde as larvas se desenvolvem, alimentando-se de raízes, principalmente de gramíneas, como milho, aveia, cevada e outros. Os adultos migram para as leguminosas, onde extraem comida das folhas. No feijoeiro, os principais danos são sentidos durante os 15
A)
de provocar sua morte (Martinez, 2003). A vaquinha Cerotoma arcuata (Olivier) é um besouro de 5mm a 6mm de comprimento
B)
Figura 1 - A vaquinha do feijoeiro Diabrotica speciosa (Germar) é um besouro crisomelídeo com aproximadamente 6mm de comprimento (A) e a vaquinha Cerotoma arcuata (Olivier) é um besouro de 5mm a 6mm (B)
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Divulgação
A)
Dirceu Gassen
Divulgação
B)
C)
Figura 2 - Os danos mais severos causados são decorrentes da alimentação da parte aérea de plantas pelos adultos (A) e quando larvas, de raízes (B e C) e tubérculos
(Figura 1B), de coloração amarelada com manchas pretas nos élitros. As larvas podem atacar as sementes em germinação, plântulas e raízes de plantas em desenvolvimento (Fancelli & Dourado Netto, 2007).
Danos e prejuízos
Quando as plantas começam a emissão de folhas primárias, os ataques de vaquinhas são importantes, pelo fato de reduzirem a área fotossintética, em uma fase de pequena oferta foliar (Leite et al, 1993). Os danos mais severos causados são decorrentes da alimentação da parte aérea de plantas pelos adultos (Figura 2A) e quando larvas, de raízes (Figuras 2B e 2C) e tubérculos (Gassen, 1989; Boiça Junior & Tomaso, 1998). Em ensaio de laboratório, Hohmann & Carvalho (1989) estimaram que o consumo foliar médio de D. speciosa foi de 0,70cm2 por dia, podendo atingir 10,32cm2 até o final do estádio adulto. Mais de dois adultos por planta, na primeira semana após a emergência, causam perdas acima de 50% na produção, podendo causar até a morte da planta (Magalhães & Carvalho, 1988).
das nas folhas com verificação do seu número em 2m lineares, da emergência até plântulas com três a quatro folhas trifolioladas, ou com o pano de batida do estágio de três a quatro trifólios até a formação das vagens. O nível de ação é de 20 indivíduos/pano de batida ou em 2m lineares (Quintela, 2005).
Controle biológico
As espécies de vaquinhas C. arcuata e D. speciosa são naturalmente parasitadas por Celatoria bosqi Blanchard (Diptera: Tachinidae). Foram registrados índices consideráveis de parasitismo de C. bosqi sobre C. arcuata com até 32,2% dos adultos parasitados. Os fungos Beauveria bassiana (Balsamo) e Metarhizium anisopliae (Metsch.) infectam naturalmente larvas e adultos de D. speciosa e Cerotoma sp. no campo (Quintela, 2005).
Químico
Para as vaquinhas recomenda-se o uso de inseticidas de contato e ingestão. Há 55 produtos registrados atualmente para a cultura do feijoeiro no Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento (Mapa). Com destaque para os grupos dos piretroides, organofosforados e neonicotinoides (Mapa, 2010). Quando os produtos químicos são utilizados, torna-se importante sua rotação como também a alternância dos ingredientes ativos e grupos químicos de diferentes modos de ação para o manejo da resistência desses importantes insetos-praga.
Resistência de plantas
Quanto às vaquinhas, em trabalho com o objetivo de avaliar a preferência alimentar de adultos de D. speciosa por genótipos de feijoeiro, observou-se que, de forma geral, os genótipos andinos apresentam resistência a D. speciosa do tipo não preferência para alimentação e que os genótipos mais suscetíveis, entre os avaliados foram Emgopa 201 Ouro e Iapar 57 (Figura 3) (Paron & Lara, 2001). C Anderson Gonçalves da Silva, Bruno Henrique S. de Souza e Arlindo Leal Boiça Júnior, FCAV/Unesp
Figura 3 - Avaliação dos genótipos
Plantas hospedeiras
Para as vaquinhas, em especial D. speciosa é considerada uma praga polífaga de ampla disseminação nos estados brasileiros e em alguns países da América do Sul (Christensen, 1944; Gassen, 1989; Gallo et al, 2002). Os adultos são polífagos e se alimentam de folhas de hortaliças em geral, feijoeiro, soja, girassol, bananeira, algodoeiro, entre outras, contudo, as larvas se alimentam das raízes de milho e tubérculos de batata (Zuchi et al, 1993). Já C. arcuata é considerada praga de importância agrícola por ser polífaga, causando prejuízos em muitas espécies vegetais, dentre elas soja, feijão e caupi (Fazolin, 1995).
Amostragem
As amostragens desses insetos são realiza-
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
09
Empresas
Aposta na nutrição Fotos Syngenta
Syngenta entra no mercado de nutrição vegetal com o lançamento do Quantis, primeiro fertilizante foliar da empresa
O
Brasil foi o país escolhido pela Syngenta para dar o seu pontapé inicial no segmento de nutrição para plantas. A empresa lançou no final de novembro o seu primeiro fertilizante foliar, que estará disponível para as culturas de soja e feijão já a partir dos próximos meses. Apresentado como uma tecnologia inédita pela Syngenta, o Quantis agregará no mesmo produto macronutrientes, micronutrientes e aminoácidos. O fertilizante, que será produzido por uma empresa argentina, é uma nutrição foliar proveniente de extrato de leveduras e aminoácidos, contendo K2O (9%), N (1%), Ca (1%), Carbono Orgânico (16%) e baixas concentrações de micronutrientes. Segundo André Savino, diretor de soja Brasil, “os testes de campo para a soja apresentaram resultados que mostram um incremento médio de três sacas por hectare, chegando a picos de seis sacas em áreas da região Norte do Brasil, comparando-se com a produção em áreas de testes realizadas com o mesmo manejo sem uso da tecnologia”. “Essa é uma categoria diferenciada, com enorme potencial de crescimento e que será um importante complemento à aplicação de fertilizantes. Sabemos que os solos brasileiros, em sua maioria, apresentam baixa fertilidade e por isso o complemento nutricional passa a ser essencial”, explica o gerente de novos negócios da Syngenta, Marcelo Gregorin. “Quantis
10
será a primeira alternativa do mercado de nutrientes especiais produzida pela Syngenta e contará com um sistema de orientação técnica e distribuição altamente qualificado, trazendo a expertise e o know how Syngenta em soluções agronômicas para este segmento”, garante Gregorin.
COMPOSIÇÃO E EFEITOS
Segundo dados da pesquisa desenvolvidos pela Syngenta, a aplicação de 2L/ha, no início do florescimento das culturas de soja e feijão (R1 e R2), possibilitará o fornecimento de pouco mais de 230g/ha de potássio, via foliar, o que deverá contribuir para o controle do uso e distribuição da água pela planta, além da melhoria na formação, qualidade e peso dos grãos. Os mesmos trabalhos também relatam
que a suplementação de potássio, via foliar, nos estádios reprodutivos iniciais, em quantidades variáveis entre 180g/ha e 450g/ha de potássio, resultam na maior taxa de fixação de frutos (vagens), devido a sua influência na economia de água, bem como no incremento de massa de grãos (peso). Já a presença de nitrogênio e de cálcio, apesar de suas baixas concentrações, poderá favorecer as alterações no pH do citoplasma, favorecendo a ação de sinalizadores e moduladores de metabolismo, como a calmodulina. O que facilita a absorção destes três macronutrientes pela planta é a presença dos aminoácidos na formulação do Quantis. Os aminoácidos, presentes na composição, apresentam acentuada permeabilidade na cutícula, quando aplicados via foliar e, portanto, quando um nutriente (mineral) é associado a aminoácidos, mediante o processo de quelatização (neutralização de carga iônica), evidencia-se maior eficiência e velocidade de absorção. Os dados também apontam que os aminoácidos atuam como protetores de plantas da ação de sais minerais e de agroquímicos e como amplificadores de tolerância da planta a estresses hídricos, térmicos e fitotóxicos. Segundo Negrini, esta tecnologia “surge para suprir a demanda de agricultores exigentes, que utilizam alto nível de tecnologia e estão preocupados com as propriedades nutricionais do solo”. Quantis estará disponível em galões de 20 litros e, além da soja e do feijão, já foi submetido para registro para uso em milho, algodão e café. Este produto também encontra-se em fase de registro na Argentina e diversas pesquisas ocorrem no sentido de utilizá-lo em outros países da América Latina, além dos Estados Unidos. Atualmente, o fertilizante é sintetizado por uma unidade argentina da empresa francesa Lesaffre – detentora da patente – e a Syngenta tem exclusividade C na distribuição do produto.
Equipe da Syngenta anunciou o ingresso da companhia no segmento de nutrição vegetal
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Empresas
Solo ou planta? Fotos Sementes Mutuca
Experiência acumulada em fazenda de empresa produtora de sementes, localizada no Sul do Brasil, ajuda a responder questões sobre nutrição do sistema de produção de trigo em rotação com culturas como soja e milho
O
nde, quando, de que forma e em que quantidade adubar. Essas são algumas indagações que surgem quando o assunto é a nutrição de sistemas produtivos. Um exemplo concreto de aplicação desses conceitos e que auxilia na resposta a esses questionamentos pode ser extraído da experiência acumulada na fazenda de uma empresa de sementes, localizada no Sul do Brasil. Em 1993, após uma análise crítica da produtividade agrícola (trigo, soja, milho) e em função da necessidade de melhorar a qualidade e a quantidade produzida para atender à demanda crescente por parte da agroindústria, a Sementes Mutuca mudou sua estratégia. Alterou a direção dos investimentos de recursos financeiros, concentrando o foco na fertilidade em profundidade do solo, que originalmente apresenta baixa fertilidade natural. Nesse formato, no lugar de imobilizar recursos na estrutura física da Fazenda, optou por elevar estes índices de fertilidade de solo, apostando alto em calcário calcítico ou dolomítico – conforme análise prévia. Concomitantemente, o gesso também é aplicado, seguindo recomendações para elevar a quantidade de cálcio em
12
profundidade e também suprindo as necessidades das culturas em enxofre, para a formação de proteínas, essencial na formação da cisteína, presente em grande quantidade no gérmen de trigo e não menos importante para a formação de proteínas nas culturas de soja e milho. “Na medida em que se elevava o pH do solo, com o uso dos corretivos, não negligenciávamos, em hipótese alguma, o uso em maior quantidade do que o habitual do elemento potássio”, explica Ivo Frare, diretor técnico da Fazenda. As elevações de qualquer nível no uso de adubo, corretivo ou condicionador de solo devem ser acompanhadas, criteriosamente, para que seus efeitos colaterais sejam imediatamente minimizados. Exemplo: no caso de um determinado talhão da empresa estar com pH em 6,2 em cloreto de cálcio, é provável que com o baixo teor de argila do solo apareça deficiência de micros (Zn, Cu, Fe, Mn). Mas por que a Mutuca trabalha com pH tão elevado? Para ter maior eficiência a campo de fósforo, potássio e nitrogênio, que representam a maior parte no custo de produção em termos de fertilizantes. Nessa “brincadeira de alquimista”, muitas
mudanças na forma de adubação tiveram e ainda terão de ser feitas.
Alterações no uso dos recursos
Antes, a empresa utilizava gesso, em doses maiores, a cada dois anos. Hoje, emprega doses menores em todas as áreas, todos os anos, para diminuir a perda por lixiviação do S (perda de S no perfil do solo), também devido ao cálcio já se encontrar em bom teor em profundidade. Foi adotado o parcelamento do potássio entre as culturas de trigo, soja e milho, sempre a lanço, pois já havia sido atingido
Área com solo descompactado
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
o nível desejado, acima de 3,5 na CTC solução do solo (lisímetro), análise biolódo solo de 0cm a 20cm de profundidade. gica e análise visual. “Não usamos potássio na linha de plantio há mais de 18 anos, mesmo em solos Atividade biológica do solo de primeiro ano de cultivo. Dividimos o Para incrementar a atividade biológica nitrogênio entre adubação de base e duas do solo, a empresa investe na aplicação adubações de cobertura nas culturas de de bactérias, para recuperar a degradação trigo e milho”, detalha Frare. Já o fósforo química ou física imposta pela mecanisempre é aplicado na linha de plantio, zação intensiva e pelo uso constante de principalmente nas gramíneas, trigo, altas doses de corretivos, fertilizantes, milho, com doses maiores na cultura do herbicidas, fungicidas e inseticidas. “TamGrande produção trigo ou aveia (espaçamento entre linhas bém mantemos foco no incremento da de parte aérea e raiz menor, melhor distribuição espacial). No produção de maior volume de palhadas, caso específico do fósforo, a empresa tem enxofre elementar, também é muito usada para atender à demanda de aumento da investindo por último nesse elemento, para diminuição do mal do pé em trigo, e atividade biológica, haja vista que além do devido ao grande número de interações aumento na disponibilidade dos micros, aspecto químico, físico, também estamos com ferro, alumínio, zinco, cálcio e outros Fe, Cu, Mn, Zn. descompactando nosso solo mecanicaPara avaliação da fertilidade do solo e mente (subsolador)”, explica. tantos. No passado (anos 70), os microC nutrientes não eram usados nas lavouras. das plantas a empresa utiliza ferramenPosteriormente (anos 80), passaram a ser tas como a análise de solo, análise foliar, Ivo Frare, empregados nas formulações dos adubos. análise de estrato, saturação, análise da Dep. Téc. da Sementes Mutuca Atualmente, a empresa utiliza via trataTabela de corretivos e condicionadores de solo 2011 mento de sementes e com complemento Safra Ton/ Ton/ Enxofre elementar Quadro Área Safra Safra nas aplicações aéreas. No caso específico 2011 Total kgs ha Total kgs/ha 2009 2010 do boro, as aplicações eram efetuadas Dolomítico 2.880 2,0 192 30 1 96 Gesso Calcítico antes da cultura de inverno. Dolomítico 4.800 3,0 480 30 2A 160 Calcítico Gesso Atualmente, a empresa aplica metade Calcítico 3.240 3,0 324 30 2B 108 Calcítico Gesso da dose antes da cultura de inverno e Dolomítico 1.440 3,0 144 30 3 48 Calcítico + Cama outra metade antes da cultura de verão, Dolomítico 570 3,0 57 30 4 19 Calcítico operação efetuada conjuntamente com Gesso 0 2,0 142 0 5/6 71 Gesso Dolomítico as dessecações. Com o aumento do pH Dolomítico 2.340 3,0 234 30 7 78 Gesso causado por doses maciças de calcário e Calcítico 1.890 3,0 189 30 8 63 Calcítico Gesso das cargas negativas aportadas via fertiCalcítico 2.070 3,0 207 30 9 69 Dolomítico lizantes, fósforo, cloro, gesso e outros ao Cama c/Gesso solo, ocorre diminuição da Capacidade Gesso 0 1,5 225 0 10A 150 Gesso Dolomítico de Troca Aniônica (CTA) e aumento da Dolomítico 690 2,5 58 30 10B 23 Calcítico Gesso Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Dolomítico 7.650 3,0 765 30 11 255 Calcítico Gesso “No nosso caso, é indispensável a divisão Dolomítico 3.480 3,0 348 30 12 116 Calcítico Gesso no volume de nitrogênio, enxofre nas Dolomítico 3.870 3,0 387 30 13 129 Calcítico Gesso aplicações dos talhões de solos arenosos, Gesso 0 1,2 180 0 14A 150 Gesso Dolomítico principalmente em anos de El Niño (alta Gesso 0 1,5 83 0 14B 55 Gesso Dolomítico precipitação pluviométrica)”, relata. Dolomítico 0 4,5 302 0 15 67 Calcítico Cama c/Gesso Outra forma adotada pela empresa é Dolomítico 1.410 3,0 141 30 16 47 Calcítico Gesso a de não fazer a aplicação antecipada do Gesso 0 2,0 56 0 17 28 Calcítico Dolomítico cloreto de potássio devido à preferência Dolomítico 0 3,0 132 0 18 44 Calcítico Gesso dos sítios do solo na adsorção pelos íons Calcítico 0 3,0 252 0 19 84 Calcítico Gesso H2PO4²-, NO3-, SO4². Nessa briga por Dolomítico 0 3,0 90 0 20 30 Calcítico Gesso ocupar a CTA do solo entre ânions, ocorre Calcítico 0 3,0 513 0 21 171 Gesso deslocamento no perfil do solo favorecenCalcítico 0 3,0 147 0 22 49 Dolomítico Gesso do a lixiviação de cloro, enxofre, nitrato, Dolomítico 4.810 2,5 318 30 L1 127 Calcítico Gesso sulfato, fugindo desta forma do sistema Dolomítico 7.140 2,5 595 30 L2 238 Calcítico Gesso radicular e poluindo o lençol freático, com aumento nos custos de produção. Histórico de compactação do solo Por esse e outros motivos, a partir dessa safra a Sementes Mutuca Ano Q1 Q2A Q2B Q3 Q4 Q5/6 Q7 Q8 Q9 Q10A Q10B Q11 Q12 Q13 Q14A Q14B Q15 Q16 Q17 Q18 Q19 Q20 L1 L2 Q21 Q22 S S S S S S S S S S passará a investir na aplicação 2005 S S S S S S S S de gesso, nitrogênio e cloreto de 2006 S S S potássio após a instalação das 2007 2008 S S G.P culturas. S A acidificação na linha de 2009 S S S S S plantio de gramíneas, trigo, mi- 2010 S S 2011 S S S S lho, com fórmulas de adubo que Caixa de profundidade fertilidade do solo. - GP = Teste com grade pesada. contenham sulfato de amônia e
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
13
Milho Fotos Simone Martins Mendes
Resposta diferenciada
O desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas, resistentes ao ataque de insetos, como a lagarta-do-cartucho do milho, ampliou as alternativas para o manejo de pragas na cultura. Para a exploração racional dessa nova tecnologia é importante que produtores e técnicos estejam atentos a aspectos como o efeito dessa ferramenta sobre o desenvolvimento do inseto e a preferência alimentar da praga em relação aos híbridos
A
lagarta-do-cartucho do milho (LCM), Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), é uma das espécies mais nocivas das regiões tropicais, tanto pela sua incidência durante todo ano, quanto por sua ampla distribuição geográfica, que ocorre em toda a América em mais de 80 plantas hospedeiras. A utilização de inseticidas químicos e biológicos, na tentativa de minimizar os prejuízos provocados por essa praga, na maioria das vezes não tem produzido o efeito esperado, o que acarreta em aumento de riscos de contaminação ambiental e em elevação de custos de produção. Isso ocorre, principalmente, pela dificuldade de atingir as lagartas no interior do cartucho da planta. Também, o controle químico é muitas vezes incompatível com a utilização de outros métodos como, por exemplo, o biológico. As plantas geneticamente modificadas, desenvolvidas para resistir eficientemente ao ataque de insetos-praga, podem, potencialmente, causar impactos positivos ao ambiente, em função da redução do uso de inseticidas químicos, com os consequentes benefícios associados: a diminuição de poluição por resíduos tóxicos no ambiente (solo, água e alimentos ou matéria-prima); a segurança do
14
trabalhador e o possível aumento da eficiência do controle biológico natural. Por outro lado, potenciais impactos negativos devem ser avaliados, como a redução de espécies benéficas e o aumento da densidade de pragas não alvo em função da redução do controle químico de amplo espectro em grandes áreas. Existem, atualmente, disponíveis no mercado cinco eventos transgênicos com resistência a insetos-praga e cada um desses eventos possui diferentes níveis de resistência para a lagarta-do-cartucho. Depois de introgredido na planta, a eficiência do gene também pode variar. Assim, a expressão e eficácia da resistência na planta são complexas e podem ser influenciadas tanto por fatores da planta, como do ambiente. Portanto, para a exploração racional dessa nova tecnologia é muito importante ampliar os conhecimentos das interações praga-alvo, planta resistente e ambiente, envolvendo todo o agroecossistema. Entre as prioridades para se pesquisar essa complexa interação de fatores, destacam-se a avaliação da eficácia da tecnologia para o controle das espécies-alvo, a atividade sobre as pragas não alvo, o impacto sobre os principais inimigos naturais para a definição de estratégias de segurança ambiental, a avaliação do risco de quebra de resistência das plantas pelas
espécies-alvo e a implementação de estratégias para o manejo de resistência das espécies-alvo, incluindo a realização de estudos de acompanhamento pós-liberação das variedades geneticamente modificadas. Para avaliar o efeito do milho Bt, expressando a toxina Cry 1 A(b), no desenvolvimento da lagarta-do-cartucho, vários estudo foram realizados com o uso de seis diferentes híbridos, contendo o mesmo evento transgênico (MON 810) e os seus respectivos híbridos isogênicos não transgênicos. Também foi avaliada a não preferência para alimentação de larvas de lagarta-do-cartucho, recémeclodidas, nesses mesmos híbridos.
Spodoptera frugiperda, uma das espécies mais nocivas das regiões tropicais
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Figura 1 – Percentual de sobrevivência (±ep) de lagartas de Spodoptera frugiperda, 48 horas Figura 2 – Biomassa (mg) aos 14 dias após a eclosão de lagartas de Spodoptera frugiperda, após a eclosão e, até a fase adulta, alimentando-se em folhas de híbridos de milho Bt expres- alimentando-se em folhas de híbridos de milho Bt expressando a toxina Cry 1 A(b) e de seus respectivos isogênicos não-Bt sando a toxina Cry 1 A(b) e de seus respectivos isogênicos não-Bt
Figura 3 - Período de desenvolvimento pré-imaginal (recém-eclodido à adulto) de lagartas Figura 4 - Larvas neonatas (%) de Spodoptera frugiperda, em híbridos de milho Bt, expressando de Spodoptera frugiperda, alimentando-se em folhas de híbridos de milho Bt expressando a a toxina Cry 1 A(b) e seus respectivos isogênicos não Bt, 24 horas após liberação em teste de livre escolha (modelo de arena) toxina Cry 1 A(b) e de seus respectivos isogênicos não-Bt
A sobrevivência de larvas de lagarta-docartucho, logo após a eclosão e mantidas por 48 horas com alimentação a partir de seções de folhas de milho, foi menor no híbrido Bt (Cry 1 A(b)) do que nos híbridos não Bts (Figura 1). Adicionalmente, essa mortalidade aumenta ao longo do período de desenvolvimento, sendo as fases de transformação, em pupa e em adulto, críticas, ou seja, grande parte das larvas que conseguem sobreviver às primeiras mudas não consegue completar o desenvolvimento (Figura 1). A biomassa de larvas, aos 14 dias após a eclosão, apresentou diferenças significativas para todos os pares de híbridos (Bt e não Bt) comparados (Figura 2). Observou-se, ainda, que mesmo nos híbridos Bts em que a sobrevivência larval foi significativamente maior, quando comparada aos outros híbridos Bts avaliados, a biomassa média das larvas foi, significativamente, reduzida em relação aos híbridos não Bts (Figuras 1 e 2). Outro fato observado, em função da alimentação da lagarta-do-cartucho em milho Bt foi o aumento do período de desenvolvimento larval dos insetos sobreviventes, quando comparado àqueles que se alimentaram do milho não Bt (Figura 3). A redução de peso da lagarta-do-cartucho é consequência de um menor consumo alimentar, fato importante para o manejo dos
insetos no campo. Com menor consumo foliar haverá redução no dano do inseto na planta e diminuição das perdas de produção. Assim, verifica-se que, além da menor sobrevivência larval, os insetos sobreviventes apresentaram menor acúmulo de biomassa e maior período de desenvolvimento quando alimentados em folhas de milho Bt, o que reduz sua competitividade no ambiente, estando essas larvas mais suscetíveis aos outros fatores externos de mortalidade. Para as variáveis observadas: sobrevivência, biomassa e período de desenvolvimento foi possível detectar diferenças, mesmo entre os híbridos de milho transgênicos expressando a toxina Cry 1 A(b). Assim, é possível inferir que existe interação entre a base genética do híbrido e a expressão da toxina Cry 1A(b), ou seja, quando se tratar de híbridos expressando essa toxina, poderá haver variação de resultados, dependendo do híbrido em questão. No teste de livre escolha (modelo de arena), todos os híbridos avaliados apresentaram diferença significativa no percentual de lagartas alimentando-se nos híbridos de milho Bt e não Bt (Figura 4). Para o híbrido DKB 330, 86% das lagartas recém-eclodidas apresentaram preferência para o isogênico não Bt e a diferença entre as versões Bt e não Bt foi de aproximadamente oito vezes. Nas duas versões (Bt e não Bt) desse híbrido é que foi ob-
servada a maior diferença na preferência para alimentação das lagartas recém-eclodidas. Essa característica de não preferência para alimentação da lagarta-do-cartucho no milho Bt, em relação ao convencional não Bt, pode explicar o baixo ganho de peso das larvas alimentadas com milho Bt, indicando que, além do efeito direto da toxina nas larvas, existe o efeito indireto de redução do consumo foliar. Finalmente, pode-se concluir que larvas de S. frugiperda, alimentadas com milho Bt, expressando a toxina Cry 1 A(b), apresentaram menor taxa de sobrevivência, menor biomassa e maior período de desenvolvimento, estando, assim, esses insetos mais suscetíveis a fatores externos de mortalidade. Além disso, esses insetos apresentaram maior preferência para alimentação em milho não Bt. Assim, a capacidade desses insetos de causarem dano ao milho Bt, expressando a toxina Cry 1 A(b), é reduzida. Outra questão importante a se considerar é a existência da interação entre a base genética da planta e a expressão da toxina Cry 1 A(b), afetando as variáveis sobrevivência e desenvolvimento do inseto, indicando uma resposta diferenciada para híbridos transgêniC cos com esse evento. Simone Martins Mendes, Kátia Gisele Brasil Boregas e José Magid Waquil, Embrapa Milho e Sorgo
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
15
Pragas
Sucessão adequada No combate a fitonematoides em soja, milho, feijão, algodão e sorgo granífero, acertar na sequência das culturas adotadas durante o mesmo ano pode se transformar em estratégia importante de manejo de pragas e agentes patogênicos. Porém, seu êxito depende da identificação correta das espécies que ocorrem em cada propriedade e talhão. A partir desse conhecimento é possível escolher a sucessão com maiores chances de reduzir as perdas causadas por esses microrganismos
U
m dos mais conhecidos métodos de controle de fitonematoides é a rotação de culturas, que consiste na rotação (= troca temporal) de uma cultura suscetível por uma resistente ao nematoide. No Brasil, em culturas extensivas, como soja, feijão, algodão, milho e sorgo, existe enorme dificuldade para a adoção da rotação de culturas como método de controle de fitonematoides ou para qualquer finalidade que seja. A rotação exige mudanças significativas na rotina de trabalho do agricultor e ainda limita as opções de culturas, sacrifícios que poucos agricultores aceitam. É importante
esclarecer ainda que, frequentemente, o termo rotação de culturas é utilizado erroneamente para denominar a sequência de duas ou mais culturas durante o mesmo ano, cuja designação mais apropriada é a sucessão de culturas. Diferentemente da rotação de culturas, a sucessão é amplamente adotada em culturas extensivas no Brasil, porém não com o objetivo de controlar fitonematoides. O objetivo principal da sucessão é utilizar mais intensamente a terra e/ou propiciar renda adicional ao agricultor por meio da segunda safra. Apesar disso, com adequado planejamento, é possível utilizar a sucessão
para reduzir o aumento excessivo de pragas e agentes patogênicos.
Principais sucessões no Brasil
Uma das sucessões mais utilizadas no Brasil é soja (1ª safra)/milho (2ª safra). Examinando a Tabela 1, que apresenta informações sobre a reação (suscetibilidade ou resistência) das principais culturas anuais do Brasil aos nematoides Heterodera glycines, Rotylenchulus reniformis, Meloidogyne javanica, M. incognita, Pratylenchus brachyurus e P. zeae, verifica-se que a soja é suscetível a todas essas espécies, exceto P. zeae. O milho é resistente a duas espécies Fotos Mário Inomoto
16
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Rosangela Silva
Rosangela Silva
Podridão de raízes de soja causada por Pratylenchus brachyurus
(H. glycines e R. reniformis) e suscetível a três (M. incognita, P. brachyurus e P. zeae). Para M. javanica, a reação do milho é variável, ou seja, há híbridos de milho suscetíveis (a maioria deles, em torno de 70%-80%) e há os resistentes. Qual o significado ou valor dessas informações? Confrontando as reações das duas culturas, quatro perspectivas podem ser delineadas para a sucessão soja/milho: 1) Trata-se de importante ferramenta para o controle de H. glycines e R. reniformis, pois o milho, sendo resistente a ambas as espécies de fitonematoides, causará a redução das suas densidades, por conseguinte acarretando benefícios à soja. 2) Essa sucessão também é válida para o controle de P. zeae, pois a soja, sendo resistente, provocará a redução da densidade do nematoide, nesse caso com benefícios ao milho. 3) Por outro lado, essa sucessão deve ser evitada em locais onde M. incognita e P. brachyurus estão presentes, pois ocorrerá o rápido crescimento da densidade desses fitonematoides, com consequências negativas principalmente para a soja. 4) Para M. javanica, como regra a sucessão não é recomendada sob o ponto de vista nematológico, pois tanto a soja como o milho são suscetíveis. Porém, há híbridos de milho resistentes, que podem ser indicados desde que sua reação tenha sido
Raízes de algodão exibindo galhas causadas por Meloidogyne incognita
Amarelecimento e redução de porte em algodão. Os sintomas foram causados por Pratylenchus brachyurus
perfeitamente determinada, resultando em diminuição da densidade do nematoide e aumento de produtividade da soja. A reação do sorgo granífero aos principais fitonematoides do Brasil é muito semelhante à do milho (Tabela 1), e as observações listadas para a sucessão soja/ milho são válidas também para a sucessão soja/sorgo granífero. Neste ponto, é preciso lembrar ao leitor que as reações indicadas na Tabela 1 para o sorgo granífero não se aplicam ao sorgo silageiro e ao forrageiro. Outra sucessão muito popular atualmente no Brasil é soja (1ª safra)/algodão (2ª safra). O algodão é resistente a H. glycines e M. javanica (Tabela 1), mas suscetível a R. reniformis, M. incognita e P. brachyurus. Portanto, as seguintes considerações são cabíveis nessa sucessão: 1) É ferramenta válida para o controle de H. glycines e M. javanica, com benefícios à soja, devido à redução da densidade de ambas as espécies de fitonematoides durante o ciclo cultural do algodão. 2) A “grosso modo”, essa sucessão deve ser evitada em locais infestados por R. reniformis e M. incognita, pois tanto a soja como o algodão são suscetíveis e intolerantes (= sofrem danos significativos na presença do nematoide) a ambas as espécies de
nematoides. Porém, há cultivares de soja altamente resistentes a esses nematoides. Desde que essas cultivares sejam conhecidas, seu uso trará consequências positivas para a cultura do algodão. 3) É uma sucessão a ser evitada em locais infestados por P. brachyurus, pois soja e algodão são suscetíveis e intolerantes. Portanto, essa sucessão provavelmente resultará em danos de monta para o algodão e principalmente para a soja. A sucessão milho/algodão é encontrada em propriedades irrigadas do oeste baiano. Tendo em vista as reações do milho e algodão aos fitonematoides, as seguintes previsões e considerações são pertinentes: 1) Trata-se de sucessão extremamente válida para o controle de R. reniformis, por causa da resistência do milho ao nematoide, com benefícios para o algodão. 2) Também pode ser recomendada para o controle de P. zeae, pela resistência do algodão ao nematoide, resultando em benefícios para o milho. 3) Por outro lado, é sucessão que não deve ser cogitada em locais infestados por M. incognita. O milho e o algodão são
Reboleira causada por Meloidogyne incognita em cultura de algodão
Galhas causadas por Meloidogyne incognita e obtidas das plantas de algodão
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
17
Tabela 1 – Reação (suscetibilidade ou resistência) das principais culturas extensivas a seis espécies de fitonematoides Culturas Soja Milho Sorgo granífero Algodão Feijão Amendoim Braquiárias2 Panicummaximum Crotalaria spectabilis
Heterodera glycines Suscetível/Resistente1 Resistente Resistente Resistente Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente
Nematoides Rotylenchulus reniformis Suscetível/Resistente1 Resistente Resistente Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente
Meloidogyne javanica Suscetível Suscetível/Resistente1 Suscetível/Resistente1 Resistente Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente
Meloidogyne incognita Suscetível/Resistente1 Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Resistente
Pratylenchus brachyurus Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Resistente
Pratylenchus zeae Resistente Suscetível Suscetível Resistente Resistente Resistente Suscetível Suscetível Resistente
A planta é suscetível ao nematoide, porém existem cultivares com elevada resistência a algumas raças ou populações do nematoide. 2Brachiaria brizantha, B. decumbens e B. ruziziensis.
1
algodão não deve ser utilizada em locais infestados por P. brachyurus. A diferença em relação à situação anterior é que os danos causados por P. brachyurus ao algodão são muito menores que os causados por M. incógnita. Dentre as várias sucessões, a pior combinação possível é soja (1ª safra)/ feijão (2ª safra), pois ambas as culturas são suscetíveis aos mesmos nematoides. Em locais infestados por H. glycines, R. reniformis, M. javanica, M. incognita e/ou P. brachyurus, a sucessão soja/feijão jamais deve ser utilizada, pois ambas as culturas causarão forte crescimento da densidade de qualquer das cinco espécies de fitonematoides acima listadas, sendo previsíveis perdas para soja e/ou feijão. Em suma, as sucessões (soja/milho, soja/sorgo granífero, soja/algodão, milho/ algodão e soja/feijão), têm elevado valor para o controle de Heterodera glycines, Rotylenchulus reniformis e/ou Pratylenchus zeae. Porém, as mesmas sucessões são, como
Mário Inomoto
suscetíveis a M. incognita, mas o milho é tolerante (ou seja, sofre danos significativos somente quando a densidade do nematoide é muito elevada) e o algodão intolerante. É comum o agricultor se enganar ao ver sua lavoura de milho apresentar desenvolvimento vigoroso em um local infestado por M. incógnita e acreditar que o algodão terá o mesmo comportamento. Densidades da ordem de 400 a 800 indivíduos de M. incognita por 200cm3 de solo são necessárias para causar danos significativos ao milho, enquanto o mesmo nematoide causa danos ao algodão a partir da faixa de dez a 50 indivíduos por 200cm3 de solo. Assim, se, por hipótese, um milharal for implantado em local com 100 indivíduos de M. incognita por 200cm3 de solo, não serão notados danos significativos atribuíveis ao nematoide. Contrariamente, se o algodão for plantado no mesmo local ou, ainda pior, logo depois do milho, sofrerá danos de elevada monta. 4) Da mesma forma, a sucessão milho/
regra, contraindicadas em locais infestados por M. incognita e/ou P. brachyurus. A razão é que todas as culturas que compõem essas sucessões são suscetíveis a M. incognita e P. brachyurus.
Sucessões para o controle de M. incognita e P. brachyurus
Em locais infestados por Meloidogyne incognita, a principal opção é a inclusão das braquiárias (Brachiaria brizantha, B. decumbens e B. ruziziensis) e de Panicum maximum (Tabela 1). Portanto, a integração lavoura-pecuária tem alta probabilidade de sucesso no controle de M. incognita em culturas como o algodão. Como vantagem adicional, as braquiárias e P. maximum são também resistentes a H. glycines, R. reniformis e M. javanica. A desvantagem dessa opção é a previsível elevação da densidade de P. brachyurus e P. zeae. Outra opção que merece ser citada é a inclusão do amendoim, cultura que é altamente efetiva para o controle de M. incognita. Há reduzidas opções de sucessão para o controle de P. brachyurus. Na cultura da soja, que atualmente sofre danos significativos causados por P. brachyurus, a medida mais efetiva é a sucessão soja/Crotalaria spectabilis. Esse adubo verde apresenta a vantagem adicional de ser resistente a vários outros fitonematoides (Tabela 1).
Conclusão
A escolha adequada da sucessão é extremamente valiosa para o controle dos fitonematoides de grandes culturas (soja, milho, feijão, algodão e sorgo granífero), porém, depende da identificação das espécies de fitonematoides que ocorrem em cada propriedade e mesmo em cada talhão da propriedade. A partir desse conhecimento, é possível escolher a sucessão com maiores chances de reduzir as perdas causadas por fitonematoides. C Milho em local infestado por Meloidogyne incognita. A cultura não apresenta redução de crescimento, exceto quando a densidade do nematoide é muito elevada
18
Mario Inomoto, Esalq
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Capa
Nova e voraz
Espécie de lagarta Striacosta albicosta acaba de ser detectada em lavouras de milho, no norte do Mato Grosso, com ataques inclusive a materiais geneticamente modificados, com tecnologia Bt. Relatos indicam também a presença do inseto em áreas de produção de soja e algodão dos municípios de Sapezal e região dos Parecis. Endêmica na parte Ocidental dos Estados Unidos, a praga no Brasil se constitui em mais um desafio a ser manejado pelos produtores, que devem ter especial atenção para não confundi-la com outras de hábito semelhante, como Agrotis ipsolon
N
a Região Central do Brasil tem ocorrido alta incidência de lagartas que atacam a base das plantas de soja, milho, algodão, feijão, girassol, crotalária, entre outras, com hábitos semelhantes ao ataque da lagartarosca (Agrotis ipsolon), comprometendo o estande inicial das culturas e pela semelhança nos hábitos tem sido muitas vezes confundidas com a A. ipsolon. Sendo o milho preferencialmente cultivado nesta região no período de safrinha a incidência do ataque destas lagartas tem sido mais expressiva nesta cultura e consequentemente causado maiores prejuízos. As espécies que têm apresentado estes hábitos são a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), as lagartas pretas da soja (Spodoptera eridanea e S. cosmiodes) e a própria lagarta-rosca (A. ipsilon), sendo todas estas espécies agora denominadas como “lagartas com hábito de rosca” por se alojarem nos primeiros centímetros dentro do solo (protegidas sob os restos culturais) e/ ou na superfície, alimentando-se da base (coletos) das plântulas logo após
20
a emergência, e pelos seus hábitos, sendo lagartas de difíceis controles. Com esse mesmo hábito, foi detectada na região norte do Mato Grosso, em áreas dos municípios de Nova Ubiratan, Sinop, Sorriso, Lucas de Rio Verde e Nova Mutum a presença de uma nova espécie de lagarta ainda sem ocorrência registrada no Brasil, atacando lavouras de milho, inclusive os materiais geneticamente modificados com as mais altas tecnologias Bt. Trata-se da Striacosta albicosta (Smith) conhecida vulgarmente nos Estados Unidos como Western Bean cutworm. É uma lepidoptera da família Noctuidae e o único membro do gênero Striacosta, tendo como sinomímia Agrotis albicosta, Loxagrotis
Os ovos inicialmente são de coloração branca, colocados em massa de 200 a 500 ovos
albicosta, Richia albicosta. É uma praga endêmica da parte ocidental dos Estados Unidos e, desde 2000, a espécie tem se propagado para o leste através de Iowa, Minnesota, Illinois, Missouri, Indiana, Wisconsin, Michigan e Ohio (Caps-Cooperative Agricultural Pest Suvey, 2010). A biologia e ecologia desta espécie tem sido estudada nos EUA, por diversos pesquisadores (Blickenstaff, C.C., & Jolly, P.M.; Catangui, M.A. &
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Jurema Rattes
CARACTERÍSTICAS Nome científico: Striacosta albicosta (Smith) Sinônimos: Agrotis albicosta, Loxagrotis albicosta, Richia albicosta nome comum: cutworm feijão Western Classe: Insecta Ordem: Lepidoptera Família: Noctuidae Berg, R.K.; Dorhout, D.L. & Rice, R.K.; Dourhout, D.L., & Rice, M.E., Eichensee, Strohbehn, R., and Burks, J.; Holtzer, T.O.; Tooker, J.F. e Tooker, J.F., and Fleisher, S.J). E, segundo esses autores, as mariposas colocam seus ovos preferencialmente nas folhas do milho quando se encontram no estádio de três a quatro folhas. Os ovos inicialmente são de coloração branca, colocados em massa de 200 a 500 ovos. Na fase larval passam por seis a sete instares apresentando faixa marrom-escuro desuniforme (serrilhada) sobre o dorso. Não apresentam hábitos canibais e nos EUA,
Durante o dia a praga, que possui hábito norturno, costuma se proteger sob a palhada
alimentam-se de milho e feijão, podendo permanecer aproximadamente 60 dias na fase larval em condições de laboratório, em temperaturas de 27ºC.
No Brasil, a primeira observação da ocorrência desta lagarta foi realizada pelo engenheiro agrônomo Elias Borba Correia Salomão, no município de Nova Ubiratan,
Fotos Jurema Rattes
HÁBITOS
As mariposas colocam seus ovos nas folhas do milho quando se encontram no estádio de 3 a 4 folhas
Jurema alerta para a correta identificação e a importância de desenvolvimento de estratégias de manejo
Mato Grosso, na cultura do milho safrinha. Posteriormente, técnicos e produtores dos municípios de Sapezal e Região dos Parecis relataram a presença desta praga atacando as culturas de soja e algodão na safra 2010/2011. Os fatores que mais diferenciam a S. Albicosta das demais lagartas que aprensentam hábito de rosca é a agressividade desta espécie e a dificuldade de controle.
culdade de controle da S. albicosta com os inseticidas (metomil e clorpirifos) e doses tradicionalmente utilizadas no controle das lagartas que apresentam estes hábitos. Embora o milho transgênico tenha sido bem-sucedido no controle de várias espécies de lepidopteros, por ser a S. albicosta uma espécie de difícil controle, proteínas como Cry1Ab, Cry1F e a VT Pro não mostram-se eficazes no combate desta praga tanto nos EUA, como também na região norte do Mato Grosso. Devido ao desconhecimento dos hábi-
Controle
Observou-se nesta região grande difi-
• S. albicosta atacam preferencialmente a base das plântulas, mas posteriormente são desfolhadoras na fase inicial do desenvolvimento das culturas; • Ataque ocorre em reboleiras expressivas (90ha a 300ha); • Alimentam-se de grãos de soja que se encontram ao solo na ocasião da colheita; • São muito vorazes; • Apresentam hábito noturno, saindo do solo e/ou sob coberturas para se alimentarem neste horário; • Durante o dia protegem-se sob as pahadas; • Não são controladas pelo milhos Bt. tos desta praga no Brasil, faz-se necessário intensificar as pesquisas sobre a biologia e a dinamica desta praga, para que posteriormente seja possível definir o melhor manejo, sem causar grandes impactos ao C meio ambiente. Jurema Rattes, Fesurv
De hábito enrolador, inseto tende a ser confundido com outras lagartas
O milho é uma das culturas afetadas pela voracidade do inseto
22
Em curto espaço de dias a lagarta costuma provocar severos estragos na lavoura
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Soja
José Tadashi
Sensível ao calor
Radiação solar, temperatura e umidade relativa são as variáveis ambientais mais importantes para a sobrevivência de patógenos, como os uredosporos de Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da ferrugem asiática na soja. Quando a temperatura na folha superior permanece acima dos 25ºC, por período maior que quatro horas, a diminuição da germinação dos esporos pode chegar a mais de 40%
A
soja (Glycine max L.) é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e corresponde a 49% da área plantada em grãos do país. O aumento da produtividade está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e à eficiência dos produtores. O grão é componente essencial na fabricação de rações animais e com uso crescente na alimentação humana encontra-se em franco crescimento. O complexo de soja (grão, farelo e óleo) é o principal gerador de divisas cambiais do Brasil (Mapa, 2011). Contudo, a cultura é ameaçada por vários fatores que impedem que o potencial máximo de produção seja atingido. Destacam-se as doenças, cujos danos se traduzem em perdas econômicas significativas. Atualmente a ferrugem da soja, doença causada pelo fungo biotrófico Phakopsora pachyrhizi Sydow, se destaca em importância para a cultura, pois pode causar danos de até 75% (Yorinori et al, 2002). No Brasil, as primeiras epidemias da ferrugem da soja ocorreram a partir de 2001. Em 2002 a doença já estava disseminada em 60%
24
da área de cultivo do país e em 90% no ano seguinte. As perdas, 125 milhões de dólares na safra de 2001/2002, alcançaram mais de um bilhão de dólares em 2002/2003 e mais de dois bilhões de dólares em 2003/2004 (Yorinori, 2005). Esse patógeno encontrou no país condições favoráveis para se estabelecer e se manter mesmo na entressafra, ocorrendo de forma endêmica, ou seja, todos os anos pode ser encontrado em qualquer região produtora, ocasionando impactos variáveis na produtividade da soja. Após uma década convivendo com a ferrugem asiática da soja no Brasil, muitos e contínuos estudos têm sido realizados na busca de soluções para o manejo racional e eficiente da doença. O conhecimento epidemiológico sob condições controladas e naturais, com o objetivo de elucidar os fatores que afetam os processos do ciclo da doença, tem sido fundamental para dar base a estudos epidemiológicos. O conhecimento detalhado dos efeitos do clima (fatores climáticos) sobre as fases do ciclo biológico de P. pachyrhizi é limitado
pela carência de informações. A quantificação das interações dos fatores climáticos no desenvolvimento do processo da doença pode contribuir para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de um sistema de previsão baseado no modelo climático. Radiação solar, temperatura e umidade relativa são as variáveis ambientais mais importantes para a sobrevivência dos patógenos. Há alguns estudos de efeitos da temperatura sobre a viabilidade dos esporos dos fungos e sua deposição sobre substratos úmidos (Carlini, 2009; Blum, 2009, Zoldan et al, 2011) mas o efeito quando estão em superfície seca não foi ainda quantificado. Durante o período estudado, em 3/2/2010 e em 23/3/2011, a temperatura máxima encontrada nas folhas superiores da soja no campo atingiu 35,8ºC e 35ºC, respectivamente. Por quantas horas os uredosporos suportam esta temperatura sem perderem a viabilidade? É a resposta que se procurou neste trabalho.
Metodologia
Em experimentos conduzidos em ambien-
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
te controlado (estufas do tipo BOD) foi estudado o efeito de temperaturas e de períodos de exposição sobre a germinação de uredosporos de P. pachyrhizi, agente causal da ferrugem da soja, a seco. O experimento foi conduzido em BOD sob cinco temperaturas (20ºC, 25ºC, 30ºC, 35ºC e 40ºC), no escuro. No dia anterior à realização de cada experimento, folhas de soja com ferrugem mantidas em casa de vegetação foram coletadas e armazenadas em ambiente seco e arejado. Para o experimento os esporos foram transferidos para as placas de petri vazias por pincelamento das urédias presentes nos folíolos da soja. As placas (quatro placas por repetição) foram transferidas para BOD com as temperaturas estabelecidas permanecendo por duas, quatro e seis horas. No término do tempo as placas foram retiradas das BODs e os esporos transferidos para placas contendo meio de cultura extrato-folha soja-ágar. Para essa transferência utilizou-se 0,5ml de água destilada por placa. As placas contendo meio de cultura e os esporos submetidos a diferentes temperaturas e tempos de exposição foram transferidos para uma BOD com temperatura de 20°C, permanecendo por seis horas no escuro, após esse período os esporos foram inativados pela adição de acetona 100% + corante azul. Como testemunha (duas repetições), o inóculo (esporos secos)
Dirceu Gassen
de 100%.
Resultados e discussão
No Brasil, as primeiras epidemias da ferrugem da soja ocorreram a partir de 2001
utilizado em cada um dos experimentos foi colocado em meio de cultura extrato de folha de soja, permanecendo por seis horas em BOD 20ºC, no escuro. A germinação dos esporos foi determinada ao microscópio ótico no aumento de 10x, sendo considerado germinado o esporo que apresentou o tubo germinativo mais longo do que o maior diâmetro do propágulo. Os dados de germinação foram corrigidos, considerando as testemunhas com germinação
A 20°C, temperatura considerada ótima ao patógeno, houve em dois experimentos pequena interferência na germinação nos tempos testados. Ocorreu redução de germinação principalmente nas temperaturas de 35ºC e 40°C, sendo que a 40°C/ seis horas de exposição a germinação foi de 19,4%, 30,3% e 7,5%, nas três vezes em que o experimento foi repetido. No experimento 3, nas temperaturas de 25ºC, 30ºC e 40°C o comportamento foi semelhante havendo decréscimo acentuado na germinação dos esporos após seis horas. A temperatura na folha superior da soja, permanecendo por mais de quatro horas acima dos 25°C, pode ocasionar diminuição da germinação dos esporos em mais de 40%. Tempos de exposição superiores a seis horas não foram testados, pois a temperatura das folhas superiores da soja no ambiente do dossel não permanece constante e alta C por tanto tempo. Sandra Maria Zoldan, Erlei Melo Reis, Fernanda Nicolini e Anderson Danelli, Universidade de Passo Fundo
Soja
Precisa aplicar? O amarelecimento da soja resistente após a aplicação de glifosato tem levado produtores e técnicos a associarem o sintoma à deficiência de manganês. Para tentar explicar esse fenômeno e responder se há reflexos na produtividade, experimentos foram realizados por pesquisadores no Rio Grande do Sul. Apesar do efeito visual, se o solo se encontra equilibrado do ponto de vista nutricional a aplicação foliar tende a não interferir na produtividade
O
manganês (Mn) é um elemento essencial na nutrição de plantas e desempenha importantes funções. Destacam-se a participação na fotossíntese, metabolismo do nitrogênio, bem como, precursor de aminoácidos aromáticos, hormonais (auxinas), fenóis e ligninas. Esse mesmo elemento age como cofator, ativando mais de 35 diferentes enzimas, comandando desde a biossíntese de aminoácidos aromáticos até a de produtos secundários como os flavonoides que nos extratos radiculares das leguminosas estimulam a expressão do gene da nodulação. Uma baixa concentração de lignina e de flavonoides devido à deficiência de Mn pode diminuir a resistência de plantas a doenças. O Mn é absorvido na forma Mn+2 e transportado pelo xilema até a parte aérea. Na planta, os micronutrientes de uma maneira geral são pouco móveis, logo, os sintomas da
26
deficiência de Mn aparecem inicialmente nos tecidos jovens das plantas (folhas apicais e extremidade de ramos). A disponibilidade de Mn às plantas depende de diversos fatores, contudo, práticas como a correção da acidez do solo quando realizadas de forma incorreta, onde ocorre elevação do pH do solo a valores muito altos, se por um lado favorecem a disponibilidade de macronutriente às plantas como é caso do fósforo, por outro, poderão representar um decréscimo na oferta da maioria dos micronutrientes e entre eles o Mn. Alguns autores têm relatado que o gene adicionado na soja resistente ao herbicida glifosato, tecnologia Roudup Ready (RR), pode ter alterado alguns processos fisiológicos na planta e que esse herbicida pode retardar a absorção e a translocação do manganês na planta, o que exigiria uma adição suplementar deste micronutriente, para evitar pos-
sível deficiência e comprometimento da produtividade da soja. Além disso, alguns autores também têm questionado a influência do glifosato na fixação e no metabolismo do nitrogênio. Respostas fisiológicas e produtivas de variedades RR também podem ser variáveis e dependentes da localização geográfica, das condições ambientais, do tipo de solo, da época de semeadura, população de plantas e da própria sensibilidade a populações nativas de Bradyrhizobium japonicum. Em campo é bastante perceptível visualmente certo amarelecimento da soja resistente ao RR após aplicação do glifosato, situação que faz com que muitos produtores e técnicos associem isso a uma possível deficiência de Mn. A pergunta que fica é: essa deficiência aparente de Mn afeta a produtividade? Para tentar responder a essa questão foi desenvolvido um trabalho no Cesnors/
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Claudir Basso
Pode ser perceptível visualmente certo amarelecimento da soja resistente ao RR após aplicação do glifosato
UFSM, Campus de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, com objetivo de buscar uma possível resposta ou não da aplicação foliar de Mn em soja RR resistente ao glifosato. Para isso foram desenvolvidos dois trabalhos, um no município de Taquaruçu do Sul, Rio Grande do Sul, na propriedade de Milton Turchetto, e outro no município de Boa Vista das Missões, no Rio Grande do Sul, na propriedade de Valdomiro Santi. Em ambos os locais o solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico, sendo que os resultados da análise de solo mostraram um teor de Mn bem acima dos teores já considerados ótimos para o desenvolvimento da soja. Foram testados os seguintes tratamentos: T1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de Mn foliar (testemunha); T2) sem aplicação de glifosato e uma
de Mn 7 DAAG (dias após aplicação glifosato); T3) aplicação de glifosato sem Mn; T4) aplicação de glifosato na mistura com Mn; T5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de Mn 7 DAAG; T6) aplicação de glifosato mais duas de aplicações de Mn uma de 1L/ ha aos 7 DAAG e outra de 1L/ha aos 14 DAAG; T7) aplicação de glifosato e uma de Mn 14 DAAG. A dose para todos os tratamentos que receberam Mn foliar foi de 2L/ha (produto solúvel em água com 14% de Mn) sendo a única aplicação de glifosato na soja feita no estádio V5 na dose de 2L/ha 360g/L i.a - glifosato). A semeadura da soja BMX Magna e Fundacep 53 para Taquaruçu do Sul e Boa Vista das Missões, respectivamente, foi feita no mês de dezembro de 2009, um pouco tarde dentro da melhor época de plantio para a região devido ao excesso de chuva no período. Mesmo havendo diferença nos teores foliares de Mn para os diferentes tratamentos (Tabela 1), de uma maneira geral ficaram acima dos teores colocados na literatura como adequados para a cultura da soja. Os dados mostram ainda
um menor teor foliar de Mn nos tratamentos que não receberam aplicação foliar de Mn (T1 e T3) e no tratamento 4 quando esse Mn foi aplicado em mistura com glifosato. Para os demais tratamentos a aplicação foliar de Mn aumentou o teor desse elemento na folha. Com exceção do T4, em todos os tratamentos com aplicação foliar de Mn houve um incremento no teor deste micronutriente na folha, mostrando que o glifosato não afetou a absorção de Mn quando aplicado separadamente. Por isso a utilização de micronutriente na mistura com herbicidas não tem sido prática recomendada pela comunidade científica. Para a soja convencional, na prática, o produtor tem evitado aplicação foliar de micronutrientes na mistura com herbicidas latifolicidas, isso porque o Mn potencializa a fitotoxidez na soja principalmente para a região do Cerrado brasileiro. Com relação à soja Roudup Ready, a aplicação de Mn na mistura de tanque com glifosato pode reduzir a eficiência do herbicida. Trabalho desenvolvido pela professora Lamego et
Respostas fisiológicas e produtivas de variedades RR também podem ser variáveis e dependentes da localização geográfica
Claudir Basso
Figura 1 - Produtividade da soja em função de diferentes manejos de manganês foliar. Frederico Westphalen (RS), Cesnors/UFSM(1)
(1) Médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5%. T1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de Mn foliar (testemunha); T2) sem aplicação de glifosato e uma de Mn 7 DAAG (dias após aplicação glifosato); T3) aplicação de glifosato sem Mn; T4) aplicação de glifosato na mistura com Mn; T5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de Mn 7 DAAG; T6) aplicação de glifosato mais duas aplicações de Mn, uma de 1L/ha aos 7 DAAG e outra de 1L/ha aos 14 DAAG; T7) aplicação de glifosato e uma de Mn 14 DAAG.
uso for feito sem muito critério. Micronutriente como zinco, cobre e o próprio manganês é fortemente adsorvido pelo solo, ocorrendo, portanto um efeito cumulativo no solo com seu uso constante em fórmulas de adubo e isso talvez justifique essa falta de resposta em áreas com longo histórico de cultivo. A probabilidade de uma resposta positiva a aplicações foliares de micronutrientes é mais provável que ocorra em áreas novas (de abertura) principalmente pela dose de calcário utilizada como corretivo. É comum ouvir por parte de produtores que a aplicação de glifosato na soja RR deixa a cultura com um tom mais amarelado, o que é facilmente perceptível no campo. Esse tom mais amarelado muda para um verde mais intenso após aplicação foliar de Mn, melhorando o aspecto visual da lavoura. Vale lembrar, que essa deficiência aparente de Mn em função da aplicação do glifosato na soja RR é momentânea e se o solo se encontra equilibrado sob o ponto de vista nutricional, dificilmente se observará resposta à aplicação foliar de Mn na cultura da soja. É bom lembrar, também, que a análise química do solo continua sendo a principal ferramenta
Fotos Divulgação
al (2010) - (Cesnors/UFSM) tem mostrado que Mn na mistura com glifosato tem diminuído a eficiência do herbicida no controle de algumas ervas daninhas (dados ainda não publicados). Nesse sentido, o aumento da dose de glifosato (hoje muita vezes adotada pelo produtor quando faz essa mistura) não é a melhor estratégia. Quando se observa a produtividade (Figura 1), mesmo havendo diferença nos teores foliares entre os tratamentos com e sem aplicação de Mn (Tabela 1) não houve resposta na produtividade na cultura da soja. A utilização de formulação de NPK + micro tem sido prática muito comum entre produtores. Por isso, em áreas com longo histórico de cultivo (áreas velhas) e com adição anual de micronutriente na mistura com NPK, a aplicação foliar de micronutriente em culturas comerciais como a soja pode não apresentar resposta mesmo em regiões como do Cerrado brasileiro, naturalmente pobres em micronutrientes. É comum a preocupação com a deficiência de nutrientes, porém, com relação aos micronutrientes, é bom lembrar que pode haver toxicidade destes elementos quando seu
Basso, Santi, Fabiane e Fritch integram equipe que estuda a absorção de Mn e os efeitos de aplicação foliar desse nutriente em soja RR
28
Os sintomas da deficiência de Mn aparecem inicialmente nos tecidos jovens das plantas (folhas apicais e extremidades de ramos)
para se monitorar o estado da fertilidade do solo e a necessidade ou não de micronutriente. Além disso, a principal porta de entrada de todo e qualquer nutriente ocorre via sistema radicular, sendo a aplicação foliar de todo e qualquer micronutriente, quando necessário, uma intervenção mais pontual. Semelhante ao que foi observado em outros trabalhos, esse mostrou que a aplicação de glifosato em soja RR não afetou a absorção de Mn e a aplicação foliar ou não de manganês não teve efeito sobre a C produtividade de soja. Claudir Basso, Antônio Luiz Santi, Fabiane Pinto Lamego, Felipe Fritch, Júlio Cesar Orlandi, Altamir Mateus Bertollo, Gustavo Miguel Colognese e Tiago José Brigo, UFSM/Cesnors Tabela 1 - Teor foliar de Mn na soja. Frederico Westphalen (RS), Cesnors/UFSM(1)
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
Boa Vista das Missões/RS Taquaruçu do Sul/RS --- mg/kg matéria seca --135,87 cd (2) 229,77 c 312,60 bcd 1015,95 a 133,37 d 240,00 c 135,90 cd 226,40 c 338,05 abc 506,47 cb 517,57 a 1011,70 a 362,85 ab 890,25 ab CV% 15,26 CV% 17,77
(1) Amostragem de folha feita no pleno florescimento (dez trifólios/parcela) coletando-se o 5º trifólio do ápice em direção à base. (2) Médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5%. T1) sem aplicação de glifosato e sem aplicação de Mn foliar (testemunha); T2) sem aplicação de glifosato e uma de Mn 7 DAAG (dias após aplicação glifosato); T3) aplicação de glifosato sem Mn; T4) aplicação de glifosato na mistura com Mn; T5) aplicação de glifosato mais uma aplicação de Mn 7 DAAG; T6) aplicação de glifosato mais duas de aplicações de Mn, uma de 1L/ha aos 7 DAAG e outra de 1L/ha aos 14 DAAG; T7) aplicação de glifosato e uma de Mn 14 DAAG.
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Algodão
Incidência favorecida Com o advento da tecnologia do cultivo adensado de algodoeiro surgem novos desafios e necessidades de readequações de manejo. É o caso de doenças, como a ramulária, que encontram nas alterações de espaçamento e densidade condições que favorecem o seu desenvolvimento por conta do maior tempo de molhamento e sombreamento foliar. O momento adequado das aplicações dos fungicidas, empregados preferencialmente de forma preventiva, está entre as estratégias que em conjunto com outras ferramentas ajudam a obter sucesso no controle
Fotos Alfredo Ricieri Dias
O
algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) destaca-se entre as culturas anuais, como uma das mais importantes no Brasil, pelo seu valor econômico e social. As condições climáticas que ocorrem na região Centro-Oeste do Brasil favorecem o seu desenvolvimento, no entanto, tais condições, como altos índices pluviométricos, temperaturas diurnas elevadas e noturnas amenas, favorecem também o desenvolvimento de doenças fúngicas, com destaque para a ramulária, que segundo Chimatti et al, (2011) é responsável por prejuízos estimados em 30% da produção na região do cerrado. Em experimentos realizados na Fundação Chapadão as perdas giraram em torno de 27% na produtividade de algodão cultivado em sistema adensado. A cultura do algodoeiro é cultivada na região dos Chapadões em períodos de safra (verão) e safrinha (outono/inverno). No ve-
rão, a época mais indicada para as cultivares explorarem o maior potencial produtivo em sistema convencional, ou seja, cultivado em espaçamento de 0,70m a 0,90m entre as linhas de semeadura, corresponde às datas de seme-
O controle químico é utilizado de forma mais eficaz quando associado com outras medidas de controle
adura da primeira quinzena de dezembro. No outono/inverno, com o advento da tecnologia do algodoeiro cultivado em espaçamentos adensados, ou seja, espaçamentos de 0,40m a 0,50m entre as linhas, a época de semeadura mais indicada corresponde ao período entre 5 de janeiro a 5 de fevereiro, de acordo com os resultados ao longo das últimas três safras consecutivas nos anos de 2009, 2010 e 2011 (Anselmo et al, 2011). A densidade de semeadura para os dois espaçamentos utilizados é de oito a dez plantas por metro de acordo com a variedade selecionada. Entretanto, os dois sistemas de produção requerem cuidados no manejo da cultura, desde a escolha do material como também do manejo químico utilizado para que o controle da ramulária seja satisfatório. Alterações em espaçamento e densidade favorecem maior tempo de molhamento e
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
29
sombreamento foliar, proporcionando microclima favorável ao progresso da doença, como também induzem uma série de modificações no crescimento e no desenvolvimento das plantas, que precisa ser melhor conhecida, além do manejo fitossanitário da cultura que é preciso ser revisto e readequado a esse sistema de cultivo.
Mancha de ramulária
O início da infecção da mancha de ramulária ocorre nas folhas do terço inferior da planta, onde os sintomas observados são pequenas lesões, conhecidas como véu ou
mancha azulada pela característica da cor. A evolução dos sintomas caracteriza-se por manchas de aspecto pulverulento, constituído por esporos do fungo, geralmente angulosas e delimitadas pelas nervuras, de coloração branca ou amarelada, e quando em alta severidade podem ser observadas na parte superior das folhas. Após a infecção são observadas manchas arroxeadas ao redor das lesões, provocando amarelecimento e queda das folhas, ocasionando desfolha precoce do baixeiro, o que limita a área fotossintética, desfavorecendo o enchimento de maçãs, levando à menor produtividade da cultura.
Figura 1 - Condições climáticas, Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e AACPD (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença) em função de diferentes manejos químicos de fungicidas. T1=Tratamento Testemunha; T2 a T9 diferentes manejo de fungicidas. Médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV = 6,18% e 13,11% respectivamente. Chapadão do Sul – MS, safra 2009/2010. Fundação Chapadão, 2011
30
A principal forma de controle atual dessa doença é através da aplicação de fungicidas. No entanto, as demais alternativas, como o uso da rotação de culturas, trabalhar com cultivares que possuem certo grau de tolerância/resistência, além de realizar o diagnóstico correto na determinação de incidência da doença (através de equipe técnica capacitada), monitoramento constate dos talhões na propriedade, são táticas de manejo que reduzem a taxa de progresso da doença no campo.
Condições climáticas
A cultura do algodoeiro é extremamente
Figura 2 - Condições climáticas, Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e AACPD (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença) em função de diferentes manejos químicos de fungicidas. T1=Tratamento Testemunha; T2 a T5 diferentes manejo de fungicidas.Médias seguidas de letras iguais/colunas na mesma cor não diferem estatisticamente entre si pelo teste Skott-Knott a 5% de probabilidade. CV = 3,59% e 11,46% respectivamente. Chapadão do Sul – MS, safra 2010/2011. Fundação Chapadão, 2011
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Alfredo R. Dias
Alterações em espaçamento e densidade favorecem maior tempo de molhamento e sombreamento foliar, proporcionando microclima favorável ao progresso da doença
sensível a condições ambientais adversas ao seu desenvolvimento, principalmente quando coincidem com o início do estádio reprodutivo, momento em que a cultura determina seu potencial produtivo que ocorre próximo dos 60 dias após a emergência do algodão. Caso tais condições, como temperaturas baixas (menor que 18oC) e deficiência hídrica, coincidam com este momento, irão prevalecer, como fator determinante, impossibilitando adequada formação de frutos, retardando o desenvolvimento e consequentemente ocasionando queda de sua produtividade (Chiavegato, 2011). Trabalhos foram realizados na Região dos Chapadões com diferentes manejos de fungicidas durante duas safras 2009/2010 e 2010/2011. A semeadura ocorreu em ambos os experimentos em meados de janeiro. Na safra 2009/2010 observou-se que estas diminuições de temperatura influenciaram nos resultados de colheita. No período que a cultura estava definindo o seu potencial produtivo, no mês de março, analisando os dados da região constatou-se que durante este mês na safra 2009/2010 ocorreu queda de temperatura e deficiência hídrica no período, o que pode ter influenciado a não ocorrência de diferenças significativas na produtividade, em função de diferentes manejos de fungicidas comparados ao tratamento sem aplicações químicas (T1) (Figura 1), enquanto que no mesmo período da safra 2010/2011, as condições climáticas favoreceram o desenvolvimento da cultura proporcionando incremento de produtividade em função de diferentes manejos de fungicidas (Figura 2). No entanto, vale ressaltar que durante os dois anos da pesquisa os manejos químicos foram eficientes no controle, reduzindo a taxa de progresso de ramulária.
do Brasil. O controle químico é utilizado de forma mais eficaz quando associado com outras medidas de controle, especialmente aquelas que reduzem o potencial de inóculo de um patógeno como, por exemplo, a rotação de culturas, além da destruição dos restos culturais. Uma medida importante dentro do manejo químico da mancha de ramulária em algodão cultivado em sistema adensado é o momento adequado das aplicações dos fungicidas. Em geral, quando utilizado de maneira preventiva atua protegendo as plantas, proporciona maior eficácia do produto e menor taxa de progresso de ramulária, garantindo o potencial produtivo da lavoura. Quando a aplicação do fungicida ocorre de maneira curativa (com presença da doença), dependendo da pressão do fungo, pode comprometer a eficácia da aplicação, ocasionando maiores danos. O produtor tem realizado de três a cinco aplicações de fungicidas no cultivo adensado, em uma única safra, com o objetivo de manejar a mancha de ramulária, sendo muitas
vezes com o mesmo produto, comprometendo a eficácia do fungicida, além de criar ou facilitar uma possível resistência do patógeno a determinado produto. Avaliar a eficácia de diferentes fungicidas, com mistura de grupos químicos distintos e também isolados, tem sido objetivo de diversos trabalhos realizados pela Fundação Chapadão. Em um de seus trabalhos (Figura 3), os resultados mostram a evolução da doença (AACPD) em função de diferentes fungicidas com menor taxa de progresso de ramulária quando comparado ao tratamento Testemunha (sem aplicações de fungicidas) e ainda a produtividade (arroba por hectare de algodão em caroço) superior em todos os tratamentos com pulverização de fungicidas quando comparado ao tratamento Testemunha. Sendo assim, existem disponíveis no mercado defensivos que podem formar um programa de pulverização alternando fungicidas com diferentes modos de ação e misturas de ingrediente ativo, garantindo melhor eficácia de controle e consequentemente proporcionar maior rendimento das lavouras de algodão cultivado em sistema adensado. No momento da escolha de um programa de aplicação de defensivos para controle de doenças deve-se levar em consideração, antes de tudo, a eficácia comprovada do fungicida, usar produtos registrados com mistura de diferentes ingredientes ativos, alternar produtos com diversos modos de ação. E ainda deve o controle químico ser trabalhado dentro do manejo integrado de doenças, ou seja, integrar estratégias para manejar ou prevenir as doenças de plantas com o controle genético, C regulatório, biológico, físico e cultural. Alfredo Ricieri Dias, Germison Vital Tonquelsqui, Jefferson Luis Anselmo e Edson Pereira Borges, Fundação Chapadão
Figura 3 - Produtividade (@.ha-1 de algodão em caroço) e Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença de Ramularia(AACPD) em função de diferentes fungicidas aplicado na cultura do algodão cultivado em sistema adensado. Chapadão do Sul – MS, safra 2010/2011. Fundação Chapadão, 2011
Manejo químico
Dentre várias alternativas, o controle químico é a principal estratégia de manejo adotada por produtores em diferentes regiões
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
31
Arroz
Quando tratar
José Francisco da Silva Martins
Ao optar pelo tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas para o controle de insetos e doenças na cultura do arroz, os produtores precisam estar atentos aos critérios técnicos que devem embasar esse tipo de decisão
U
34
propor ajustes e identificar necessidades de pesquisa a respeito. O tratamento de sementes de arroz com inseticidas no Rio Grande do Sul tem buscado o controle de insetos-praga potencialmente mais prejudiciais às raízes das plantas, antes e após a inundação da lavoura, basicamente do pulgão-da-raiz Rhopalosiphum rufiabdominale e das larvas do gorgulho-aquático Oryzophagus oryzae (bicheira-da-raiz), respectivamente. O uso dessa estratégia contra o pulgão é concentrado na região da Fronteira Oeste (± 300 mil hectares), enquanto à bicheira-da-raiz estende-se a outras regiões orizícolas do estado, atingindo ± 650 mil hectares. É importante destacar que no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Carlos Jorge Rossetto
Luis Antonio Suita de Castro
m complexo de pragas, destacadamente de doenças, insetos e plantas daninhas, pode provocar queda de produtividade da cultura do arroz irrigado por inundação no Rio Grande do Sul. O manejo integrado de cada uma dessas categorias de praga inclui vários métodos de controle, alguns de aplicação geral e outros mais específicos. O controle químico e o controle cultural (apoiado principalmente em boas práticas de manejo do solo, da água de irrigação e da adubação nitrogenada) são perfeitamente aplicáveis às três categorias. A resistência genética de plantas é aplicável tanto ao controle de doenças como de insetos, enquanto o controle biológico é mais voltado a insetos. Dos quatro métodos de controle de pragas do arroz indicados, o uso de agroquímicos (controle químico) é predominante no Rio Grande do Sul. Entre as modalidades de utilização desses produtos destacam-se a pulverização foliar (aplicável no controle das três categorias de pragas) e o tratamento de sementes (mais aplicável ao controle de doenças e insetos). Como existem implicações técnicas, sociais, ambientais e comerciais, entre outras, associadas ao tratamento de sementes de arroz, com o objetivo de controlar doenças e insetos-praga, considera-se importante traçar uma análise sobre o estado da arte dessa técnica de modo a detectar possíveis falhas,
(Mapa) não há inseticidas registrados para o controle do pulgão-da-raiz em arroz, via qualquer método de aplicação. Para tratamento de sementes, há apenas inseticidas registrados para o controle da bicheira-da-raiz. Diante disso, esses inseticidas são aplicados, misturados ou isoladamente, com o objetivo de também evitar danos às raízes por insetos como o pulgão-da-raiz, no período de pré-inundação. Apesar disso, o tratamento de sementes de arroz com inseticidas deve ser praticado apenas conforme as diretrizes técnicas para o controle da bicheira-da-raiz, destacando-se alguns aspectos: 1) garante, em áreas com histórico de ocorrência de pragas que atacam raízes, uma população adequada de plantas, na fase inicial da cultura, um elevadíssimo índice de controle da bicheira-da-raiz e a manutenção de índices normais de produtividade; 2) tratando-se de cultivares híbridas, cuja semente deve ser “obrigatoriamente protegida”, devido a conter elevado valor agregado e serem utilizadas em baixa densidade (aproximadamente 40kg/ha), o tratamento de sementes, além de garantir uma população adequada de plantas, torna possível uma redução de ± 60% na quantidade de inseticida aportada à área de cultivo, reduzindo riscos de contaminação ambiental; 3) determinado ingrediente ativo inseticida, aplicado às sementes de arroz, portanto ao solo, de imediato, atribui ao ecossistema orizícola um risco muito menor de distúrbio ambiental do que via outro método de aplicação como a pulverização foliar; via sementes não atinge inimigos naturais (parasitoides e/ ou predadores) de insetos nocivos à parte aérea das plantas de arroz, acrescentando-se ainda
Gorgulho-aquático (2,7 x 3,5 mm) que oviposita em partes submersas da planta de arroz e da origem as larvas que são a bicheira-da-raiz e bicheira-da-raiz (8,5 mm) que corta as raízes de arroz
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Cley Donizeti Martins Nunes
Fotos José Francisco da Silva Martins
Mancha-parda causada pelo fungo Bipolaris spp.que se dissemina pelas sementes: sintoma na folha e agente causal
de rizoctonioses (Rhizoctonia spp.), manchaparda (Bilopolaris spp.), brusone (Pyricularia oryzae), queima-de-plântula (Fusarium sp.), entre outras. Há ainda outros fungos que se estabelecem na semente durante a colheita e o armazenamento, destacando-se Aspergillus spp. e Penicillium sp., responsáveis pela redução do vigor das sementes e emergência das plântulas. A baixa qualidade sanitária tem servido de justificativa para o tratamento das sementes, principalmente quando a semeadura é realizada mais cedo, em épocas de baixa temperatura do solo. A semente de alta qualidade é um insumo moderno que torna possível o aumento de produtividade, por concentrar uma série de características genéticas positivas como o maior aproveitamento de insumos, principalmente dos fertilizantes, e resistência e/ou tolerância a fatores bióticos (doenças; insetos, nematoides...) e abióticos (salinidade; toxidez por ferro e alumínio, baixas e altas temperaturas...), entre outros. Portanto, independentemente do custo, a semente com qualidade superior é um fator que se constitui em base sólida para o sucesso de qualquer cultura como a do arroz. O uso de sementes de alta qualidade, não tratadas com fungicidas, mesmo em épocas em que a temperatura do solo é baixa, não tem determinado diferença de produtividade Cley Donizeti Martins Nunes
menor risco direto de dano à fauna aquática, e de deriva a áreas não visadas. Se o produtor estiver disposto a utilizar o tratamento de sementes, devido à área a ser cultivada possuir histórico de ocorrência de insetos nocivos às raízes (prioritariamente a bicheira-da-raiz), recomenda-se tratar apenas a quantidade de semente a ser utilizada nas primeiras partes da lavoura, no máximo, em 30% do total da área. Essa prática, além de impedir maior distribuição do inseto na lavoura, a partir das margens (pontos de entrada de água) evita que áreas a não serem infestadas pelo inseto sejam tratadas desnecessariamente com inseticidas, via sementes. Ao contrário, se parte ou o restante da lavoura for infestado pelo inseto, em pós-inundação, poderão ser adotados procedimentos que apontem a necessidade de aplicar ou não métodos de controle curativo. Alerta-se que em arrozais em áreas inclinadas (lavouras de coxilha), principalmente na Fronteira Oeste, o nível populacional do pulgão-da-raiz e da bicheira-da-raiz tem sido muito baixo. No caso de ambos os insetos seria justificado pelo uso contínuo do tratamento de sementes em várias safras, que pode ter reduzido a população (estoque) dos insetos nas entressafras. Especificamente no caso da bicheira-da-raiz, aponta-se a quase ausência de lâmina de água nos quadros da maioria das lavouras, o que impede o estabelecimento do inseto que obrigatoriamente possui vida aquática. Poucas larvas, quando encontradas, estão fixadas às raízes de plantas nos leiveiros. Assim sendo, deve ser feita uma reflexão sobre a real necessidade do tratamento de sementes naquela região orizícola. O tratamento de sementes de arroz com fungicidas tem sido amplamente praticado pelos orizicultores do Rio Grande do Sul, preocupados com o estabelecimento das lavouras, no sentido de evitar eventuais falhas ao estabelecimento da população de plântulas, muitas vezes inócuo quando a semente é de alta qualidade. A semente de baixa qualidade, porém, é o principal vetor de patógenos causadores
Queima-da-bainha causada pelo fungo de solo Rhizoctonia solani
Colônia do pulgão-da-raiz na base da planta (acima) e raízes de arroz destruídas pelo pulgão (abaixo)
comparativamente ao uso de sementes de igual padrão e tratadas. Isso ocorre devido aos microrganismos decompositores terem baixa atividade no solo e consequentemente não interferirem na fisiologia das sementes. Isso evidencia que não há necessidade de tratar, com fungicidas, semente de qualidade superior, independentemente da época de semeadura. Atualmente, há várias argumentações sobre efeitos positivos (fitotônicos) que os inseticidas e fungicidas registrados para o controle de insetos e doenças do arroz, via tratamento de sementes, podem exercer na germinação ou no crescimento das plântulas. Até ao momento, entretanto, não há resultados de pesquisa que demonstrem que esses possíveis efeitos sobre as sementes e plântulas transformem-se em ganhos de produtividade. Sobre este aspecto considera-se que em qualquer circunstância a decisão de adotar o tratamento de semente com inseticidas e fungicidas deve ser baseada exclusivamente na necessidade do controle de insetos e doenças, devendo os “possíveis efeitos fitotônicos” serem considerados como C um benefício complementar. José Francisco da Silva Martins, Cley Donizeti Martins Nunes, Ana Paula Schneid Afonso Rosa e Maria Laura Turino Mattos, Embrapa Clima Temperado
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012
35
Arroz
Hora de aplicar Na batalha contra o percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris, os produtores de arroz devem dar preferência a aplicações de inseticidas no período da tarde, quando os insetos estão mais expostos à ação de contato. Além do horário, a forma de pulverização e o defensivo escolhido interferem na eficiência do controle da praga
C
om trabalho na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Manejo Integrado de Pragas (Nemip) da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) campus Itaqui, coordenado pelo professor Fernando Felisberto da Silva, verificou que a maioria das pesquisas com inseticidas químicos tem se limitado ao estudo de sua eficiência, seletividade e toxicidade, desconsiderando aspectos relacionados à bioecologia do inseto-praga a ser controlado, bem como as implicações da forma de aplicação e translocação destes produtos na planta. Por isto, partiu-se da hipótese de que a eficiência do inseticida varia
36
de acordo com seu grupo químico, horário e forma de aplicação. A partir daí realizou-se experimento em uma lavoura de arroz irrigado da Estância Pitangueira, localizada no Km 78 da BR-472, no município de Itaqui, Rio Grande do Sul, no sistema de cultivo mínimo com taipas niveladas semeada com a cultivar BR Irga 417. O objetivo foi avaliar a eficiência de controle do percevejo-do-colmo, relacionando aspectos bioecológicos do inseto com aplicação de diferentes inseticidas em períodos diversos do dia.
Material e métodos
Em relação à identificação do método e da
forma de aplicação de inseticidas para o controle do percevejo-do-colmo do arroz foram realizadas entrevistas livres, abrangendo 16% dos orizicultores do município. Para determinar a eficiência de inseticidas aplicados em diferentes horários para o controle do percevejo-do-colmo, antecipadamente à aplicação dos controles avaliou-se a ocorrência de infestação do percevejo-do-colmo na lavoura. O experimento foi montado sobre as taipas, testando quatro tratamentos (Tabela 1) em dois horários de aplicação (7h30min e 16h30min), formando um fatorial 4 x 2, em quatro repetições dispostas em blocos ao acaso correspondendo ao topo das taipas.
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Fernando Felisberto da Silva
A aplicação dos tratamentos foi feita com o auxílio de pulverizador costal, com pressão constante (mantida por CO2 comprimido), equipado com uma barra contendo quatro bicos (marca Teejet, com jato em ângulo de 110°, vazão de 0,2gal/mine pressão de 40 PSI), utilizando um volume de calda de 150L/ ha. Durante a instalação do experimento, a cultura encontrava-se no estádio entre emborrachamento e emissão da panícula. As parcelas tinham 5m de comprimento sobre as taipas que tinham em média 0,5m de largura. Entre parcelas foi deixado um espaçamento de 2m. As amostragens foram realizadas nos dois metros centrais da parcela em intervalos de sete dias, encerrando aos 21 DAA (Dias Após Aplicação). A avaliação da eficiência dos inseticidas foi calculada pela Fórmula de Henderson-Tilton.
Resultados e discussão
Em 100% dos orizicultores entrevistados a aplicação aérea do inseticida foi o método utilizado. Normalmente os orizicultores da região Fronteira Oeste realizam pulverizações aéreas no horário da manhã, porém, a alta umidade sobre as folhas das plantas (orvalho) e a localização do inseto neste horário são situações desfavoráveis para obter sucesso no controle.
Para aplicações de inseticidas contra Tibraca limbativentris, o orizicultor deve estar atento ao fato de que em alguns períodos poucos adultos estarão expostos ao alcance do defensivo
Outro fato observado é que geralmente esta aplicação não é realizada no momento adequado, em relação ao nível de dano, pois verificam-se carências no monitoramento populacional do percevejo-do-colmo. Com base nesta constatação, procuramos avaliar também o efeito desta prática na eficiência de controle de Tibraca limbativentris,
através de inseticidas registrados e da sua combinação. Os resultados demonstram que o controle no período da tarde é mais eficiente, possivelmente por coincidir com o momento que a maioria de adultos e ninfas acima de 3° instar se encontram em partes superiores das folhas da cultura (Tabela 2), ao contrário do período
Fotos Fernando Felisberto da Silva
Tabela 1 - Ingredientes ativos utilizados nos tratamentos para o controle do percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris) Ingrediente ativo Lambda-cialotrina Tiametoxam Tiametoxam+lambda-cialotrina*
Concentração 50g/L 250g/L 141g/L+106g/L
Grupo químico Piretroide Neonicotinoide Piretroide + neonicotinoide
Dose 150 ml/ha 125 g/ha 175 ml/ha
*combinação não registrada para a cultura.
Tabela 2 - Eficiência de controle (%) de ninfas + adultos de Tibraca limbativentris conforme Henderson-Tilton em diferentes turnos de aplicação
As ninfas, além de serem desprovidas de asas, alimentam-se da seiva como os adultos
da manhã e início da noite onde estes insetos localizam-se abrigados entre os colmos da cultura. Nestas condições, porém, é interessante lembrar que são necessários cuidados para se evitar a evaporação da gota. A eficiência do tiametoxam pode ser explicada devido ao fato de se tratar de produto altamente sistêmico, o que permite utilizá-lo em doses relativamente baixas. Apresenta, ainda, alta solubilidade em água (4.100mg/L) e baixo coeficiente de partição octanol/água (-0,13). Cabe observar que quanto mais alta for a solubilidade e mais baixo for o coeficiente de partição, mais sistêmico será o produto. Porém, na formulação para aplicação no solo ou pulverização foliar o transporte do ingrediente ativo é acropetal (via xilema) e ocorre rapidamente após a aplicação, distribuindo-se por toda a planta a partir do local de aplicação e acumulando-se nas pontas das folhas, além de uma pequena quantidade do produto ser transportada via floema (basipetal). O produto formulado degrada-se rapidamente nas superfícies tratadas e a sua ação pode ocorrer por contato e ingestão. Em estudos com mamoneira constatouse a translocação do tiametoxam tanto no xilema como no floema, se redistribuindo pela planta, sugerindo que insetos sugadores de seiva elaborada podem ser controlados pelo inseticida quando aplicado nas folhas, mas não os mastigadores presentes em raízes ou folhas emergidas após a aplicação. Porém, raríssimos são os inseticidas que se translocam a longas distâncias via floema, sendo esta condição comum somente em herbicidas, como exemplo do glifosato, que apresenta um coeficiente de partição octanol/água bastante baixo (-3,20) e uma alta solubilidade em água (10.500mg/L). Ao contrário do tiametoxam a lambdacialotrina é uma substância essencialmente insolúvel em água (0,005mg/L), com elevado coeficiente octanol/água (6,90), ou seja, não
38
Ingrediente ativo Tiametoxam Lambda-cialotrina Tiametoxam+lambda-cialotrina Testemunha
7 DAA Manhã 43,8 0 94,2 0
14 DAA Tarde 55 0 80 0
Manhã 0 65,7 7,7 0
21 DAA Tarde 78,6 82,4 71,4 0
Manhã 50 0 53,8 0
Tarde 92,5 76,9 100 0
Manhã: equivalente às 7h30min; Tarde: equivalente às 16h30min, ambos no horário brasileiro de verão.
sistêmica e com atuação nos insetos por contato ou ingestão. Além disso, há evidências de rápida fotodegradação tanto em solo, água, como em superfícies expostas à radiação solar. Ninfas de percevejos, além de serem desprovidas de asas, alimentam-se da seiva como os adultos, assim podem ser controladas quando o inseticida aplicado é sistêmico. Observamos que o neonicotinoide comportou-se como um ingrediente ativo (i.a.) eficiente no controle de ninfas e o piretroide para adultos. Este fato deve-se em grande parte ao comportamento do inseto que, na fase ninfal movimenta-se pouco e permanece agregado próximo ao local da postura, ou seja, próximos à base das plantas, com difícil acesso pelos i.a. com característica de contato e não sistêmicos. Os adultos, por sua vez, apresentam maior movimentação nas plantas e podem entrar em contato com os produtos não sistêmicos depositados na superfície das plantas. Quando estes dois inseticidas são utilizados em conjunto, porém em concentrações reduzidas do neonicotinoide e aumentadas do piretroide, observou-se efeito potencializador de controle. Ainda, associado a este fato, verificou-se que no período da tarde houve maior eficiência, uma vez que os insetos adultos estavam mais expostos à ação de contato. A ação do tiametoxam está em fase de quantificação em plantas de arroz irrigado
pela equipe do Nemip/Unipampa.
Considerações finais
Na escolha da prática da aviação agrícola, principalmente no turno da manhã, para aplicações de inseticidas contra Tibraca limbativentris, o orizicultor deve estar atento para o fato de que este é um período em que poucos adultos estarão expostos ao inseticida e, apesar desta possível ação sistêmica pela translocação basipetal do tiametoxam, a eficiência é limitada, não correspondendo a um controle eficiente na maioria das ocasiões. Desta forma, é necessário considerar questões como as características físico-químicas dos agroquímicos utilizados, as condições climáticas e fisiológicas da planta, além dos aspectos relacionados à bioecologia dos insetos-praga a serem controlados. Todos estes cuidados refletirão em maior eficiência de controle, redução do impacto ambiental e consequente maximização da lucratividade da cultura, uma vez que estes cuidados implicarão na redução do custo para C o manejo de pragas na cultura. Nereu Carpes Meus, Juliano Bastos Pazini, Robson Antonio Botta, Naymã Pinto Dias e Fernando Felisberto da Silva, Nemip/Unipampa Campus Itaqui
Fernando, Nereu, Naymã, Juliano e Robson abordam como manejar o percevejo-do-colmo
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Coluna ANPII
Longe do fim
A
Apesar dos limites, presentes em qualquer tecnologia, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) ainda tem vasto potencial a ser explorado
Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é um dos fenômenos mais intrigantes da natureza, dentro do que, aparentemente, é um paradoxo. O nitrogênio é um dos três macronutrientes essenciais às plantas, extremamente abundante na atmosfera. Como se encontra em uma forma pouco reativa torna-se escasso e caro para a atividade agrícola. Durante séculos o nitrogênio foi aportado aos solos pelas chuvas, através da clivagem da molécula de N2 pelas descargas elétricas e, em maior volume, pela FBN, realizada pelas bactérias fixadoras de nitrogênio, sejam as de vida livre ou as simbióticas. Somente a partir do século XIX, com as descobertas de Liebig e do processo Habber-Bosch de reação industrial do nitrogênio com o hidrogênio, formando amônia e, a partir daí, os demais compostos químicos nitrogenados, este nutriente passou a ser aportado ao sistema solo-planta sob a forma de produtos químicos. A Figura 1, com o ciclo do nitrogênio, esclarece mais este ponto. Na fase áurea do uso da química em agricultura, o emprego da FBN passou a ser considerado uma tecnologia “menor”, “alternativa”, sendo substituída pela “moderna” adubação química. Por outro lado,
a agricultura orgânica “natural” preconizava a abolição total do uso de elementos industrializados na agricultura. Mas, como a tendência é sempre a busca do equilíbrio, hoje se podem usar as duas tecnologias, FBN e química, dentro dos pontos positivos e das limitações de cada uma. Se por um lado pode-se cultivar soja com zero de nitrogênio mineral, este ainda é indispensável na maioria das culturas não leguminosas. Embora hoje se busque com maior intensidade formas de usar a FBN em culturas de gramíneas, já existindo inclusive produtos comerciais para esta finalidade, ainda há um longo caminho a percorrer, até que se possa substituir grande parte ou a totalidade do nitrogênio químico nestas culturas. Assim, discute-se hoje até onde a FBN poderá chegar na agricultura. No caso das leguminosas, com a genética desenvolvendo cultivares cada vez mais produtivas, com necessidades crescentes de nitrogênio, a inoculação com Rhizobium/Bradyrhizobium poderá fornecer todo o N necessário? E no caso das gramíneas, que quantidade do nutriente poderá ser suprida pela inoculação com Azospirillum, Herbaspirillum ou outras bactérias?
Figura 1 – Ciclo do nitrogênio (Martins, Cláudia Rocha et al http//qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=7)
No caso das leguminosas, em especial em soja, parece não haver mais dúvidas de que a FBN será capaz de fornecer todo o N para as mais elevadas produtividades. Todos os indicadores que temos até hoje levam à firme convicção de que a técnica de inoculação bem-feita, com estirpes de alta eficiência selecionadas pela pesquisa, com inoculantes de alta qualidade como os que são produzidos pelas empresas filiadas à ANPII e com um uso correto por parte do agricultor, será capaz de fornecer nitrogênio nas quantidades suficientes para suportar produtividades de seis mil quilos de grãos por hectare ou ainda mais. Já no caso de feijão e outras leguminosas, isto também poderá ser obtido, embora não de imediato, incrementando-se a pesquisa, tanto a de microbiologia como a de melhoramento de cultivares que respondam mais à bactéria. Já no caso das gramíneas o caminho é mais longo. Enquanto no sistema simbiótico, nas leguminosas, 80% do nitrogênio captado pelo nódulo é transferido para a planta, no sistema de associação do Azospirillum com gramíneas, estima-se uma transferência em torno de 15%. Desta forma, a otimização do processo para uma maior taxa de transferência passa por muitos fatores, desde seleção de cepas da bactéria, até o processo de escolha de plantas. Neste caso, deve-se levar em conta, também, o efeito não só da FBN como a ação de promotor de crescimento que estas bactérias possuem, o que as leva a ter um efeito não só no aporte de N como no de maior absorção de águas e nutrientes. Desse modo, embora não se possa afirmar que não existam limites para a FBN, ainda falta muito para se encontrar o “final da linha”. O horizonte para maiores incrementos da tecnologia ainda está muito além do que podemos enxergar hoje, o que estimula que se busque cada vez mais eficiência agronômica do processo, com todos seus evidentes ganhos para o agricultor em particular e para a C sociedade como um todo. Solon de Araujo Consultor da ANPII
40
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Coluna Agronegócios
Biologia sintética
A
gora que as variedades transgênicas viraram realidade factual, na esteira da biotecnologia e da nanotecnologia surge novo ramo da Ciência: a Biologia Sintética. Pode-se conceituar este novo ramo como: a) a concepção e a construção de novas partes biológicas, dispositivos e sistemas e b) um redesenho de sistemas biológicos naturais existentes, para fins úteis. A Biologia Sintética envolve a síntese de novos sistemas biológicos, que não são encontrados na natureza. Isto pode significar a produção em massa de medicamentos baratos, bactérias programadas para procurar e destruir tumores no corpo, o desenvolvimento de alimentos fortificados ou novos biocombustíveis. Sistemas vivos são complexos, muitas vezes envolvem dezenas de milhares de
Igualmente, é oportuna a comparação da Biologia Sintética com a microeletrônica. Uma placa de circuito impresso é necessária para a construção de circuitos, montados sobre a mesma, com o uso de resistores, transistores (chips, circuitos integrados) e condensadores. Os biologistas sintéticos usam um microrganismo base, desprovido de código genético (ou com código mínimo), e sobre esta “placa” montam um novo organismo, projetado em computador, que deve cumprir uma finalidade específica. Só que na montagem, ao invés de transistores, usam o DNA.
Padronização Outra comparação, para melhor entender a Biologia Sintética, é a semelhança com as peças do jogo Lego, em que, a partir
plantas são o primeiro alvo óbvio para este tipo de abordagem. As plantas possuem amplo espectro de atividades biossintéticas e podem ser manipuladas geneticamente. A montagem de novos circuitos genéticos poderia modificar vegetais, com o objetivo de usá-los para a produção de biomassa, alimentos, polímeros, medicamentos ou biocombustíveis.
O futuro A aplicação da Biologia Sintética em plantas requer um circuito de controle adequado, combinando partes intercambiáveis de DNA, dispositivos e sistemas (peças ou módulos). Não só a expressão do gene deve ser robusta, como prover um nível apropriado de expressão a ser atingido, por vezes considerando detalhes
Outra comparação, para melhor entender a Biologia Sintética é a semelhança com as peças do jogo “Lego” componentes geneticamente codificados, e possuem mecanismos de feedback para a auto-organização, reprodução e reparação. Produzem estruturas funcionais que são muito mais complexas que os mais sofisticados artefatos humanos já desenvolvidos. O entendimento dos complexos sistemas genéticos requer mais do que uma descrição de suas partes componentes, exige também o conhecimento das interações dinâmicas dentro de um sistema. Esta é a base conceitual da Biologia Sintética, que objetiva empregar os princípios da padronização e da dissociação, bem conhecidos em diversos ramos da engenharia, para a construção de complexos circuitos biológicos, que se comportam exatamente como os sistemas vivos, porém com funções inovativas e pré-programadas.
Similaridades Para entender a Biologia Sintética usemos a Química como exemplo. Até o início do século 19, a Química praticamente se restringia ao estudo de substâncias já existentes. O salto ocorre quando os químicos sintetizaram novas substâncias, dando origem às milhares de utilidades do cotidiano.
de peças padronizadas, é possível construir múltiplas estruturas diferenciadas. A Biologia Sintética usa componentes genéticos (blocos ou peças) bem caracterizados e reutilizáveis, em combinação com modelos numéricos para projetar e desenvolver circuitos biológicos. Os estudos iniciais foram realizados com microrganismos, pois esta abordagem fornece poderosa estrutura conceitual e prática para a engenharia da expressão e comportamento dos genes, em organismos simples, unicelulares. O primeiro exemplo prático deste novo ramo da Ciência é o diesel vegetal, produzido a partir de cana-de-açúcar por um fermento “montado” com uso de técnicas de Biologia Sintética. Com as mesmas ferramentas pode-se produzir biogasolina ou bioquerosene, antibióticos, vacinas, anticancerígenos e uma plêiade de utilidades. Inclusive bactérias que “comem” petróleo, para limpar a poluição causada por sua exploração e uso. Entrementes, a pergunta óbvia é: a ferramenta pode ser aplicada em sistemas multicelulares, com maior diversidade de tipos de células e especialização bioquímica? De todos os sistemas multicelulares, as
como hora (dia, noite), local da expressão (caule, folhas, frutos etc), em qual momento do ciclo de vida da planta, entre outros aspectos. Os cientistas da área organizam uma biblioteca de circuitos genéticos e peças intercambiáveis, que está sendo denominada de PhytoBricks, para permitir a engenharia biológica de sistemas vegetais. Um ambiente de software também está sendo construído para modelar as propriedades de sistemas multicelulares, descrevendo tanto as interações físicas entre as células quanto as suas propriedades genéticas. Isso permite a concepção e o ensaio de novos programas morfogenéticos em modelos computacionais, antes de criar os sistemas biológicos propriamente ditos. Obviamente, a nova Ciência exige que se estude a sua biossegurança, que se reavalie o marco legal de acesso à biodiversidade e a legislação de patentes, assim como devem ser propostos incentivos governamentais para que a sociedade colha C os benefícios.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Dezembro 2011 / Janeiro 2012 2011
41
Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Brasil caminha para nova supersafra e bons lucros em 2012 O plantio de mais uma grande safra está em andamento, com a maior parte das lavouras de soja, milho e arroz já plantada e bons indicativos de colheita. Com otimismo, os produtores apostam em tecnologia, buscando crescer em produtividade, com investimentos em sementes. Soja e milho apresentavam escassez das melhores variedades e muitas das sementes de milho da safrinha já tinham sido comercializadas antes de outubro (cinco meses antes do plantio do Mato Grosso). Ao mesmo tempo, estes produtores comercializaram mais de 60% do que esperam colher no período, sinalizando que o ritmo comercial avançou. Os produtores agora não esperam mais pela colheita e a venda na “boca da safra”, que para os compradores é o melhor momento e na maioria das vezes o pior para os produtores. Desta forma, os agricultores não vendem mais na “bacia das almas”, quando os preços são os mais baixos do ano e os fretes os mais altos. Também não apostam em vender em cima de números ilusórios, mas sim nos momentos que lhes garantem a continuidade para se manter na atividade com lucratividade. O Brasil entra em uma safra que promete. A soja terá produção ao redor de 80 milhões de toneladas e o milho irá superar 60 milhões de toneladas. Mesmo em queda de área o arroz resultará em mais de 11 milhões de toneladas, porque também apresenta avanço na tecnologia, com os produtores buscando superar a crise com ganhos de produtividade. Aliado a feijão, trigo, sorgo e demais grãos o País caminha em busca de uma colheita acima de 170 milhões de toneladas, que neste ano será mais concentrada, demandará maior volume de fretes (em um período curto e, ao que tudo indica, com forte avanço nos preços). Diante desse cenário recomenda-se que não se deixe para negociar “na boca da colheita”, para não correr riscos de pegar as cotações mais baixas do ano. A comercialização antecipada tem servido para desafogar os produtores e deixar o setor mais lucrativo! MILHO
Pouco espaço para reação
contratos de óleo e farelo para cumprir pode ocorrer alguma negociação mais atrativa. Em geral, o espaço de alteração é pequeno e não há fôlego para grandes mudanças, porque o clima é favorável e isso tende a ser um fator limitante de ganho em Chicago e aqui no Brasil. A crise europeia ainda seguirá atrapalhando os ganhos do agronegócio brasileiro e somente quando conseguirem equilibrar as contas e venderem títulos com juros menores é que poderá ocorrer novo salto nos indicativos (que poderiam estar pelo menos um dólar por saca acima dos patamares atuais). Poucos negócios devem aparecer neste restante de ano.
O mercado do milho está na reta de fechamento do ano, daqui para frente há pouco espaço para reação e aparentemente tudo que tinha que crescer já cresceu e de agora em diante tende a ter menor número de compradores em atividade. Como a safra está em bom desenvolvimento e do final de janeiro em diante teremos início das primeiras colheitas, abre-se espaço para pressão negativa nas cotações e desta forma pouco espaço para reação interna. As cotações da exportação comandarão o mercado de agora em diante e os números até poderiam cair mais se o dólar não tivesse melhorado, mas o espaço que aparece é de FEIJÃO leve queda em direção aos valores que resultam Poucas áreas com Feijão neste verão da exportação, porque os consumidores devem O mercado do feijão teve um ano com poucas atuar menos no mercado interno, mesmo assim as cotações são atrativas e lucrativas para os alterações nas cotações, dando aos produtores ganhos médios menores que em anos anteriores. produtores. Principalmente o Preto teve forte concorrência com o produto importado, o que resultou em núSOJA meros entre R$ 55,00 e R$ 70,00 aos produtores. Entressafra e negócios regionalizados O mercado da soja mostra o final de ano Remuneração que não servia de estímulo ao novo chegando rapidamente, com poucas indústrias plantio. O Carioca esteve entre os R$ 80,00 e os em atividade. Com isso as cotações estão com R$ 120,00 com poucos conseguindo comercializar espaço limitado para reação e somente nos lo- acima desse valor. Realidade distante dos bons cais em que a indústria está trabalhando e tem tempos de outros anos. Como outros produtos
tiveram ganhos melhores, como é o caso da soja e do milho, houve forte queda no plantio desta primeira safra e isso irá refletir nas cotações em 2012 (que tendem a alcançar patamares bem acima do que foi praticado neste ano). O feijão terá um bom 2012. ARROZ
Reação abaixo do esperado
Os produtores do arroz não conseguiram alcançar as cotações que sonhavam para o cereal. Com valores na faixa de R$ 23,00 a R$ 26,00 pelo casca do Rio Grande do Sul, não foi possível avançar para patamares entre R$ 27,00 e R$ 30,00, permanecendo bem distante das expectativas dos orizicultores. Mas o bom fator do ano é que a crise e as baixas cotações fizeram o Brasil exportar grandes volumes, o que pode se tornar rotina de agora em diante. Com isso cria-se liquidez constante para as indústrias, favorecendo os produtores, porque os produtos exportáveis geralmente são lucrativos. Os períodos de cotações baixas são momentâneos e o arroz brasileiro está tendo boa aceitação no mercado internacional. O País caminha para fechar o ano comercial com mais de 1,5 milhão de toneladas exportadas, abrindo boas expectativas para 2012.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro novamente esteve dependente do apoio dos pregões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) do governo, até mesmo para exportação. Mesmo que a safra deste ano seja menor que as projeções e deva ficar ao redor de 5,5 milhões de toneladas (praticamente 50% do que o Brasil irá consumir) o setor seguia com pouca liquidez, porque as indústrias dão preferência ao importado, pois conseguem comprar com prazos longos e por isso deixam de lado o produto nacional, que resta com cotações frágeis, abaixo dos R$ 400,00 por tonelada. Em 2012 o mercado tende a mostrar um quadro melhor para o trigo, porque o dólar avançou muito acima de R$ 1,70 e desta forma aumentarão os custos de importação, o que deve dar fôlego ao produto nacional de fevereiro em diante. ALGODÃO - O plantio deverá crescer neste ano, porque a soja teve a maior parte das áreas cultivadas no cedo no Mato Grosso e desta forma abriu espaço para o algodão safrinha, que poderá chegar a 1,5 milhão de hectares neste ano ou 6% acima do que foi plantado na última safra. Os produtores aproveitaram para vender boa parte antecipadamente na exportação, sendo que o Mato Grosso deverá plantar 800 mil hectares. O dólar em alta e as cotações girando a um dólar por libra garantem lucratividade antecipada aos produtores. eua - A safra ficou abaixo das projeções, com a soja na casa de 82,8
42
milhões de toneladas, distante das 90 milhões de toneladas que se chegou a cogitar. O milho com 312,6 milhões de toneladas, frente a 350 milhões de toneladas que poderia ter colhido. O arroz com 8,5 milhões de toneladas contra as 11 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Esses números dão sinais de que os americanos perderão espaço nas exportações mundiais e tudo aponta que o Brasil, pela primeira vez na história, será o maior exportador mundial de soja em 2012. CHINA - Os chineses comentam que as importações serão crescentes, com a soja devendo superar a marca das 60 milhões de toneladas pela primeira vez na história. Cogita-se que o milho poderá ir a dez milhões de toneladas importadas. Ambos para sustentar o setor de ração, em forte expansão, devido ao crescimento de consumo de carne de suínos e frangos. Junto a isso, os chineses esperam aumentar os estoques, porque acham que as cotações atuais dos grãos estão baratas. ARGENTINA - O clima ainda é uma incógnita para a safra, mas até agora ocorrem chuvas regulares. Há alto potencial de colheita no milho, que poderá superar as 28 milhões de toneladas, e na soja, que tende a alcançar 55 milhões de toneladas. Ainda tem um e outro especialista em clima apontando que de janeiro em diante poderão ocorrer efeitos do fenômeno La Niña, mas a maior parte do setor já não acredita em grandes perdas.
Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br