Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 152 • Janeiro 2012 • ISSN - 1516-358X Editorial
M
ais um ano chega ao final, com saldo favorável ao agronegócio brasileiro. De janeiro a novembro o setor contabilizou mais de 87 bilhões de dólares em exportações. Desempenho 24% superior ao mesmo período do ano passado. Números que demonstram o peso da participação do campo na balança comercial e na estabilidade econômica do País.
no planeta, que acaba de contabilizar uma superpopulação de sete bilhões de habitantes. As potencialidades do Brasil são gigantescas e os desafios não menos importantes, como as mais que urgentes soluções reclamadas em infraestrutura (logística, escoamento, armazenagem), além da necessidade de legislações mais adequadas e que não entravem o desenvolvimento do setor.
Os desafios continuam grandes. Destacam-se as adversidades climáticas e o manejo de pragas, doenças e plantas daninhas, que se tornam mais complexos a cada safra. O aumento da produtividade, alavancado pelo esforço da pesquisa e investimento dos produtores em tecnologia, tem registrado vitórias importantes nos últimos anos. Mas essa conquista não pode se distanciar da exigência de sustentabilidade e planejamento em longo prazo. E continuar crescendo em produção e competitividade, com respeito ao ambiente, é vital ao País, que por sua vocação e potencialidades agrícolas atrai de forma crescente a atenção do mundo.
Como publicação especializada em fitossanidade vegetal, a revista Cultivar Grandes Culturas esteve mais uma vez ao lado dos produtores e de profissionais da pesquisa, que ao longo de 2011 travaram batalhas árduas na busca por estratégias mais adequadas de manejo, novos métodos de cultivo e de nutrição. Neste final de ano, ao saudar a você, caro leitor, com votos de boas festas e excelente 2012, apresentamos nossa edição Especial, com os artigos selecionados entre os melhores publicados em nossas páginas nos últimos 12 meses, além de material inédito sobre pragas comuns às culturas do cerrado e um caderno técnico exclusivo em soja.
A demanda por alimento e energia é crescente
Ótima leitura!
Índice Nematóides em cafeeiro
Expediente 04
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Insetos comuns no Cerrado Corda-de-viola em milho
08 12
Manejo sustentável de mofo branco
18
Dinâmica das doenças em soja
26
Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Assistente
• Revisão
• Assinaturas
Carolina S. Silveira Juliana Leitzke Cristiano Ceia
Aline Partzsch de Almeida
MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Coordenação
Simone Lopes Ariane Baquini Natália Rodrigues
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
• Vendas
Ferrugem asiática em soja
30
A evolução das plantas daninhas em arroz
36
Informe - Bayer
38
Tombamento, mela e ramulose em algodão
40
Controle da broca em cana
44
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Pedro Batistin
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Café
Risco subestimado O
Cultivar
s nematoides do gênero Pratylenchus são conhecidos como nematoides-das-lesões, pois colonizam o córtex radicular (= casca da raiz), alimentando-se do citoplasma das células parasitadas e reproduzindo-se intensamente (Figura 1). O resultado do processo é a destruição das células corticais e a formação de lesões profundas, caracterizadas como tecidos de coloração mais escura que os tecidos sadios do córtex radicular (Figura 2). Oito espécies de nematoides-das-lesões são parasitas de raízes de cafeeiros (Coffea arabica e C. canephora): Pratylenchus brachyurus, P. jaehni, P. vulnus, P. coffeae, P. goodeyi, P. loosi, P. panamensis e P. pratensis. As três primeiras já foram relatadas no Brasil colonizando raízes de cafeeiro, mas somente P. brachyurus e P. jaehni são consideradas de importância econômica, pois o único relato de P. vulnus em cafeeiro foi em plantas utilizadas como ornamentais, em um parque no município de São Paulo. Embora as perdas causadas por P. brachyurus e P. jaehni em cafeeiro sejam conhecidas desde a década de 1970, a importância dos nematoides-das-lesões como patógenos do cafeeiro tem sido sistematicamente subestimada, em razão de a agenda
Patrícia Milano
Preocupados com os danos causados por nematoides-dasgalhas muitos produtores de café acabam por negligenciar a importância do nematoide-das-lesões, cujas principais espécies no Brasil são P. brachyurus e P. jaehni. A correta identificação da espécie que predomina no cafezal ou no local em que se dará sua implantação é o primeiro passo para acertar na definição das ferramentas de manejo
Figura 1 - Nematoides-das-lesões colonizam o cortéx radicular, alimentando-se do citoplasmas das células parasitadas e reproduzindo-se intensamente
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Fotos Mário Inomoto
Rosana Bessi
Figura 4 - A) Raízes de planta sadia de cafeeiro cv. Mundo Novo; B) destruição causada por P. jaehni Figura 2 - A) Raízes de planta sadia de cafeeiro cv. Catuaí Vermelho. B) lesões causadas por Pratylenchus brachyurus
dos cafeicultores ter incluído somente as questões relacionadas aos nematoides-dasgalhas (Meloidogyne spp.). No último decênio, porém, a disponibilização comercial de cultivares e porta-enxertos de cafeeiro resistentes a Meloidogyne incognita, M. exigua e M. paranaensis tornou economicamente viável o manejo das principais espécies de nematoides-das-galhas. Por outro lado, as ferramentas disponíveis para o manejo dos nematoides-das-lesões são, além de escassas, pouco divulgadas para o público interessado. O objetivo desse artigo é apresentar informações atualizadas sobre a importância dos nematoides-das-lesões na cultura do café e as ferramentas de manejo disponíveis.
Importância de P. brachyurus em cafezais do Brasil
As raízes de cafeeiros (C. arabica e C. canephora) colonizadas por P. brachyurus apresentam longas lesões castanho-escuras, correspondendo aos trechos colonizados pelo nematoide (Figura 2). A extensão das lesões é proporcional à densidade do nematoide dentro das raízes. Felizmente, a taxa de crescimento populacional de P. brachyurus em C. arabica e C. canephora é muito baixa, razão por que elevadas
Figura 3 - Cafezal com cobertura de braquiária (primeiro plano) exibindo amarelecimento de folhas, provocado por P. brachyurus
densidades do nematoide dificilmente são atingidas em raízes de cafeeiros. São duas as situações que criam condições para a ocorrência de perdas causadas pelo nematoide ao cafeeiro. A primeira é a presença, na entre linha do cafezal, de plantas que permitem a intensa reprodução de P. brachyurus. E a segunda, a formação de cafezal em locais anteriormente ocupados com pastagens ou com culturas como soja, feijão, milho e sorgo. A presença nas entre linhas pode ser de plantas invasoras ou mesmo cultivadas com a finalidade de formar cobertura vegetal ou servir de cultura intercalar. Um exemplo é o uso de braquiárias como cobertura vegetal em cafezais, principalmente em solos arenosos, com o objetivo de reduzir a temperatura do solo e aumentar a umidade e a matéria orgânica. Outro exemplo é o uso da entre linha do
cafezal para o plantio de milho ou feijão. Em cafezais no limpo, P. brachyurus não logra atingir elevadas densidades, pois, conforme mencionado anteriormente, se reproduz muito lentamente em raízes de cafeeiro. As braquiárias, assim como milho e feijoeiro, propiciam rápido crescimento populacional do nematoide. Uma parte desses nematoides permanece nas raízes de braquiária, milho ou feijoeiro, porém, outra migra para as raízes de cafeeiro, onde causam intensa destruição do tecido cortical, resultando em amarelecimento das folhas (Figura 3), desfolha e, em casos extremos, morte de plantas. A formação de cafezal, em locais anteriormente ocupados com pastagens ou com culturas como soja, feijão, milho e sorgo, é outro exemplo de condição que favorece perdas pela presença de nematoides. As principais pastagens utilizadas no Brasil, que são Brachiaria brizantha e Panicum maximum, permitem intensa reprodução de P. brachyurus. O mesmo ocorre com soja, feijoeiro, milho e sorgo.
Manejo de Pratylenchus brachyurus
O princípio básico para o manejo de P. brachyurus é evitar as situações de perdas. Portanto, cafezais infestados por P. brachyurus devem ser mantidos no limpo, para evitar a reprodução do nematoide nas plantas invasoras ou outras mantidas na entre linha. Caso seja imprescindível
Fotos Mário Inomoto
Figura 5 - Cafezal infestado por P. jaehni no município de Marília (SP): A) planta recepada com desenvolvimento normal da copa; B) planta recepada com sintomas de amarelecimento de folhas, desfolha e subdesenvolvimento
a proteção do solo em um cafezal, os adubos verdes Crotalaria spectabilis e C. breviflora podem ser utilizados, pois não permitem a reprodução de P. brachyurus em suas raízes. É importante ressaltar que as restrições ao uso de coberturas vegetais ou culturas intercalares na entre linha somente se aplicam a cafezais infestados com P. brachyurus. Também é importante escolher cuidadosamente o local para a formação do cafezal, evitando lugares infestados com P. brachyurus. É possível ainda reduzir a densidade do nematoide com adubos verdes (Crotalaria spectabilis e C. breviflora). Outra ferramenta que pode ser utilizada é o emprego de cafeeiros resistentes, como os híbridos Icatu e Sarchimor.
Os sintomas causados por P. jaehni são semelhantes aos causados por P. brachyurus, porém mais comuns e severos (Figura 4), pois a taxa de crescimento populacional de P. jaehni em C. arabica e C. canephora é muito elevada. Cafezais decadentes, com plantas subdesenvolvidas, ocorrem na região de Marília (SP). As recepas, como são chamadas as podas severas que eliminam quase toda a parte aérea do cafeeiro, deixando apenas 20cm a 40cm do tronco acima do solo, exacerbam os efeitos negativos causados por P. jaehni (Figura 5). Foi provado, em condições controladas, que P. jaehni causa, em raízes de C. arabica, danos da mesma extensão dos produzidos por M. incognita e maiores que os de P. brachyurus. São conhecidas duas raças em P. jaehni, uma das quais se reproduz em C. arabica e a outra não. Ambas reproduzem-se em diversas poáceas e em limoeiro-cravo (Citrus
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Manejo de Pratylenchus jaehni
Os viveiristas devem estar atentos acerca da qualidade do substrato, que deve ser de origem conhecida ou desinfestado, visando à produção de mudas sadias do ponto de vista nematológico. Na formação de cafezais, os produtores devem escolher cuidadosamente a origem das mudas.
Considerações finais
Os nematoides-das-lesões constituem um problema emergente, que pode ser manejado com ferramentas simples. É importante que os cafeicultores estejam prevenidos quanto às especificidades de cada uma das duas espécies, assim como das de nematoides-das-galhas. As ferramentas de manejo são diferentes para cada espécie de nematoide do cafeeiro, portanto, sua definição deve ter como primeiro passo a identificação da(s) espécie(s) que predominam no cafezal ou no local em que se dará a sua implantação. Como exemplo, temos o cafeeiro Apoatã (C. canephora cv. Apoatã), que é recomendado como porta-enxerto para C. arabica em locais infestados por M. exigua, M. incognita e M. paranaensis, porém não pode ser utilizado em locais com P. brachyurus e P. jaehni C (Figura 6). Mário Inomoto e Rosana Bessi, Esalq/Usp
Rosana Bessi
Importância de P. jaehni em cafezais do Brasil
limonia), mas não em tangerina-cleópatra (C. reshni), tangerina-sunki (C. sunki), trifoliata (Poncirus trifoliata), citrumelo Swingle (C. paradisi x P. trifoliata) e citrange Carrizo (P. trifoliata x C. sinensis). Como curiosidade e informação adicional sobre este nematoide, registre-se que, devido aos grandes danos causados em plantas cítricas enxertadas em limoeiro-cravo, principalmente nos municípios produtores do norte do estado de São Paulo, P. jaehni é conhecido como nematoide-das-lesões dos citros.
Cafezais infestados terão produções decrescentes no decorrer dos anos e precisarão ser erradicados precocemente (Figura 5B). Após a erradicação das plantas, o local poderá ser utilizado para formação de novo cafezal somente depois de enérgicos esforços para a redução da densidade de P. jaehni no solo até níveis indetectáveis. Feijoeiro, girassol, C. spectabilis e C. juncea são plantas que podem ser recomendadas para tal finalidade. A cultivar IAC 4765 de C. canephora é resistente a P. jaehni e pode ser utilizada como porta-enxerto para C. arabica.
Figura 6 - A) raízes de planta sadia de cafeeiro cv. Apoatã (Coffea canephora); B) destruição de raízes causada por P. jaehni
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Pragas
Comuns e nocivas A coexistência de soja, algodão, milho e plantas de cobertura tem favorecido a ocorrência de pragas no Cerrado cerrado brasileiro. Lagartas, percevejos e moscabranca estão entre os desafios. O monitoramento é uma das estratégias mais importantes para o manejo integrado desses insetos
N
as três últimas décadas o Cerrado brasileiro tem crescido em importância para a produção agrícola no cenário mundial. Os benefícios sociais e econômicos que as culturas da soja, milho e algodão trouxeram para a região são expressivos, podendo ser observados pelo crescimento qualitativo das cidades localizadas nos cerrados. Os agroecossistemas estabelecidos no Cerrado se caracterizam pelas lavouras de soja, milho e algodão, que coexistem e se sucedem e/ou se rotacionam a cada safra. Outras espécies vegetais como feijoeiro, milheto, crotalária, brachiaria, plantas nativas, ervas invasoras etc fazem parte das paisagens dessas regiões. A estratégia da diversificação de culturas confere maior estabilidade econômica aos sistemas produtivos da agricultura dessa região. Quanto aos aspectos agronômicos e ambientais, é senso comum que a rotação de cultivos e o plantio direto são tecnologias a serem desenvolvidas, ajustadas e implementadas para o crescimento sustentável da atividade agrícola dos cerrados. O plantio direto na palha é buscado e avança continuamente nos cerrados, em função dos ganhos gerados na proteção do solo e maior equilíbrio do sistema solo-água-planta. A diversificação planejada de espécies vegetais cultivadas pode ser utilizada para redução de problemas fitossanitários. Mas a oferta abundante e continuada de algumas dessas espécies vegetais poderá favorecer o crescimento populacional de pragas e doenças nos agroecossistemas. Na coexistência e sucessão entre cultivos como da soja, algodão, milho e algumas espécies vegetais para cobertura, com o passar das safras, foram se constatando a movimentação e a adaptação biológica de diversas pragas entre as espécies cultivadas. E, atualmente, registra-se que parte significativa das pragas é comum aos cultivos,
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principalmente da soja e algodão. Além das pragas observa-se que algumas enfermidades/nematoides e mesmo plantas invasoras têm se constituído em problemas comuns aos cultivos, indicando que as práticas agrícolas parecem exercer certa pressão de seleção sobre determinados alvos biológicos. A soja, o algodoeiro, o milho e o milheto hospedam e reproduzem várias espécies de insetos e ácaros que, se não forem corretamente controlados, podem ocasionar prejuízos significativos à produção desses cultivos. A maioria das pragas que ocorrem nessas culturas, de um modo geral, é per-
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manente, e a repetição da atividade nas mesmas áreas oferece condições para o crescimento populacional dessas espécies, algumas delas sincronizando suas biologias nos agroecossistemas onde essas culturas se desenvolvem. Algumas pragas apresentam expressiva mobilidade e ampla dispersão, o que favorece a detecção e a colonização, muitas vezes rápidas, das lavouras constituídas de plantas hospedeiras. Na sequência da cadeia produtiva no período de safra (setembro a junho), o algodoeiro quase sempre permanece em desenvolvimento após as colheitas da soja e do milho. A proximidade das lavouras de algodão às de milho em fase de maturação faz com que as mariposas de Spodoptera frugiperda migrem para o algodoeiro, de modo que suas lagartas causem sérios prejuízos à cultura. Quando a soja entra em fase de maturação observa-se que os percevejos (Euschistus heros, Nezara viridula etc), a mosca-branca (Bemisia tabaci), os ácaros (Tetranychus urticae e Polyphagotarsonemus latus), Spodoptera eridania e os Plusiíneos (Pseudoplusia includens), invadem as
Dirceu Gassen
lavouras de algodão, tornando o controle necessário e eficaz. O ataque da Heliothis virescens sobre a cultura da soja vem crescendo a cada safra, causando danos à cultura, como também favorecendo a reprodução da praga nos agroecossistemas. As mariposas dessa espécie, a partir das áreas de soja, movimentam-se em direção às lavouras de algodão circunvizinhas, provocando infestações generalizadas. O milheto tem sido a principal cobertura vegetal para as operações posteriores de plantio direto na palha na implantação de culturas comerciais nas áreas de cerrado. No entanto, o milheto atua como abrigo e hospedeiro multiplicador de algumas pragas como: Spodoptera frugiperda, Agrotis ipsilon, Elasmopalpus lignosellus, percevejo castanho (Scaptocoris castanae e Atarsocoris carvalhoi) e outras, que posteriormente afetarão o estabelecimento das culturas comerciais, retardando o crescimento ou ocasionando a morte de plantas jovens. Portanto, as áreas com milheto ou outra cobertura vegetal deverão receber vistorias periódicas para que pragas potenciais possam ser identificadas e quantificadas e, caso necessário, inseticidas deverão ser adicionados na operação de dessecação e, algumas vezes, reaplicados
Maçã de algodoeiro danificada pelo ataque do percevejo marrom Euschistus heros
logo após a emergência das plantas cultivadas. Nessas condições a semeadura das lavouras deverá ser realizada sempre sob uma cobertura vegetal completamente dessecada. Dependendo das espécies ou da densidade populacional das pragas, haverá necessidade do uso de sementes tratadas e a complementação através da aplicação de
inseticidas nos sulcos de plantio. O manejo integrado de pragas (MIP) se constitui na melhor estratégia para o controle das pragas dos cultivos, pois sendo um método ecologicamente orientado, utiliza diversas técnicas de controle que, combinadas em um sistema de manejo, confere à cultura sustentação econômica. O monitoramento das pragas é uma prática que foi incorporada às atividades de produção do algodoeiro desde o início do estabelecimento da cultura no Cerrado. Os monitores de campo são parte integrante e quase que obrigatória no cenário da cotonicultura dos cerrados. Os talhões são vistoriados duas vezes por semana, com critérios técnicos que identificam e quantificam as populações das pragas. As aplicações de inseticidas são realizadas a partir das análises das planilhas de amostragens, observando os níveis de controle. Esse procedimento, com metodologias ajustadas, deverá ser estendido às culturas de soja e milho, assim como para as espécies vegetais utilizadas para cobertura. Para o algodoeiro, as medidas de controle cultural, como a destruição das soqueiras e plantas tigueras, são fatores de controle fitossanitário determinantes para
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Pseudoplusia includens tem incidência sobre lavouras de soja e algodão nos cerrados
a produção sustentada da cultura. As tigueras e socas de algodão que sobram durante as operações de destruição e permanecem vegetando nos talhões em sucessão ou rotação com soja e milho, quase sempre influenciam nas fortes pressões populacionais de pragas específicas e comuns para as novas lavouras a serem estabelecidas.
Variedades transgênicas
Fotos Paulo Saran
A utilização, no Brasil, de milho e algodão transgênicos, que apresentam resistência a alguns Lepidópteros, abriu novo cenário de possibilidades para o manejo de pragas. A transgenia oferece tecnologias que facilitam a condução das culturas em todos os países onde estão sendo utilizadas, mas não prescinde da presença gestora de profissionais habilitados para a tomada de decisões adequadas no controle das pragas.
O percevejo marrom migra para o algodão após soja atingir maturação
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O plantio generalizado de milho transgênico certamente afetou a ocorrência de Spodoptera frugiperda, levando à redução populacional da espécie na maioria das regiões brasileiras. Nos países que cultivam algodão transgênico, os percevejos tornaram-se pragas importantes e desafiadoras para a cultura, necessitando de aplicações efetivas de inseticidas, medidas que nem sempre evitam prejuízos à produção. No Brasil, certamente esse problema ocorrerá com maior intensidade, considerando que os percevejos são pragas comuns à soja, ao algodão e ao milho, culturas que coexistem em um mesmo ambiente. Portanto, há grandes possibilidades de que o complexo dos percevejos esteja se tornando uma das principais pragas de soja, algodão e milho nos cerrados. O processo é dinâmico e as frequentes vistorias de campo evitarão surpresas desagradáveis. O monitoramento das pragas nas lavouras dessas diferentes espécies vegetais cultivadas (convencionais e transgênicas) deverá continuar sendo realizado, registrando o comportamento e a movimentação de insetos e ácaros nas lavouras de soja,
milho, algodão e coberturas, para a devida sustentação técnica nas tomadas de decisões pró-ativas e muitas vezes antecipadas para o efetivo controle dessas pragas. A utilização dos cerrados para a prática da agricultura é uma atividade relativamente nova e pouco se conhece desse ecossistema. Assim sendo, se faz necessário o conhecimento da biologia, em campo, das principais pragas para que haja sucesso no manejo dessas populações nos cerrados. A identificação e o mapeamento de espécies de plantas atraentes, refúgios, focos, rotas e momentos de trânsito entre cultivos e talhões são informações importantes para o planejamento de um manejo adequado das pragas comuns às lavouras estabelecidas em condições de cerrado. O manejo das populações das pragas nos agroecossistemas, com a utilização de todos os métodos e técnicas disponíveis de controle, resultará em maior segurança para a continuidade sustentada das atividades agrícolas nos C cerrados. Walter Jorge dos Santos, Iapar
Mariposa e lagarta de Heliothis virescens, praga cuja presença tem aumentado nos cultivos da região
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Milho Fotos Décio Karam
Convivência desarmoniosa Fotos Esalq/USP
Plantas daninhas, como corda-de-viola, apresentam alto potencial de infestações na cultura do milho e prejudicam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Para o manejo da espécie, a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado pelo produtor
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o se fazer menção às plantas infestantes da cultura do milho, várias são as espécies mono e dicotiledôneas lembradas, para as quais, métodos distintos de manejo têm sido pesquisados e difundidos. Com a adoção de práticas de controle de plantas daninhas na implantação do sistema de cultivo, e o aparente sucesso na supressão da comunidade infestante em pré-emergência da cultura, vários produtores acabam por ser negligentes com infestações tardias, ao ignorar a forma escalonada de emergência de algumas plantas. Essa ação pode criar nichos para o estabelecimento de espécies daninhas, que, por sua vez, têm a capacidade de causar vultosos prejuízos econômicos, quando da ausência de estratégias de manejo ou, ainda, manejos precoces sem ponderação das características ecofisiológicas dessas espécies. Nesse âmbito, uma espécie cujo potencial de infestação se destaca na cultura do milho é a corda-de-viola, da família das Convolvulaceae, também conhecida como campainha, corriola, jetirana ou glória-da-manhã. Essa terminologia compreende plantas dos gêneros Ipomea ssp. e Merremia spp., tais como I. grandifolia, I. purpurea, I. nil, I. quamoclit, I. hederifolia, M. cissoides e M. aegyptia. Mais de 150 espécies (entre Ipomeas e Merremias) desses gêneros foram reportadas no Brasil, na produção de culturas anuais e perenes, cultivadas em todas as regiões. Somente na região Sudeste do país, foi relatada a ocorrência de 78 espécies de Ipomoea ssp. As Ipomoeas e Merremias são espécies trepadeiras, que se desenvolvem sobre um suporte, para então alcançarem a luz. Desse modo, em função de seu hábito de crescimento, bem como pelo longo ciclo de vida inerente às espécies, relatos dos danos causados a equipamentos durante a colheita de culturas de valor econômico pelas cordas-de-viola são triviais. Isso, especialmente, nas culturas da cana-de-açúcar e de cereais. Essas espécies são também favorecidas pela presença de palhada, devido ao microclima criado, em função do aumento da umidade e de reduções da luz incidente no dossel da cultura e consequentemente na temperatura. Embora nem sempre apareça em altas densidades nas lavouras de milho, o potencial competitivo individual da corda-de-viola é alto, conferindo-lhe vantagem na competição interespecífica. Na cultura da cana-de-açúcar foi verificada redução de rendimento de até 50%, ao passo que no milho e na soja 70% e 55%, respectivamente, além dos vários danos causados aos equipamentos e aumento do tempo durante as operações de colheita e manejo. Outro fator de suma relevância consiste na época crítica de convivência com a cultura,
ou seja, o período máximo em que a presença da comunidade infestante não interfere na produtividade da cultura. Para as plantas infestantes da cultura do milho, esse período é relativamente curto, em média de 30 dias. Além disso, há de se atentar ainda para possíveis reinfestações, que poderão prejudicar a produção de grãos. O nome Ipomoea descende do grego “ips”, que quer dizer volúvel, em detrimento da morfologia dos caules e ramos da maior parte das espécies, e “homios” que significa semelhante. Já o termo Merremia faz alusão ao botânico, matemático e físico alemão Blasius Merrem.
Os resultados da competição isolada e interações da comunidade espontânea com a cultura do milho ressaltam a incompatibilidade na convivência desse cereal com a corda-de-viola. Também o longo ciclo de vida das Ipomoeas e Merremias (em média 150 dias), atenta para a importância de um manejo adequado dessas dicotiledôneas.
Métodos de manejo
Biologia
O gênero Ipomoea ssp. compreende aproximadamente 700 espécies ocorrentes em todo o mundo, cujas importâncias econômicas vão desde a infestação de áreas marginais de rodovias, colonização em diferentes condições e habitats, ornamentação, uso medicinal até na alimentação, como é o caso da espécie Ipomoea batatas (batata-doce). As Ipomeas são plantas de ciclo C-3, concentrando esse gênero, espécies anuais e perenes. As plantas apresentam caules e ramos volúveis em sua maioria, embora exista uma pequena proporção de espécies prostradas e eretas, reproduzidas vegetativamente. As plantas podem produzir de cinco mil a seis mil sementes, com poder de germinar a até 10cm da superfície do solo em diferentes épocas, sofrendo alta influência de umidade e temperatura. A faixa ótima de desenvolvimento deste gênero está entre 20°C e 30°C. No que concerne ao sistema radicular, existem os do tipo pivotante ou tuberoso, sendo este último mais comum a espécies perenes. Há alta variabilidade também no formato e tamanho das folhas, inclusive em um mesmo indivíduo, devido a fatores genéticos e/ ou influência da iluminação do ambiente em que se desenvolve. Isso faz com que apenas no estádio de plântula possa se conhecer aspectos taxonômicos de uma espécie através da caracterização das folhas. Nos últimos anos, estudos têm sido conduzidos no sentido de se conhecer mecanismos de defesa das Ipomeas, tais como óleos essenciais e ceras protetivas da cutícula foliar. Tem-se reconhecido nessas substâncias, características potencialmente inibidoras de patógenos, selagem da superfície das folhas que possibilita diminuição da perda por transpiração e ação de contaminantes e produtos químicos. O que posteriormente pode representar um problema para a eficiência do manejo químico das espécies desse gênero feito com herbicidas hidrofílicos. Uma estrutura que sempre chama a
O potencial competitivo individual da cordade-viola é alto nas lavouras de milho
atenção em se tratando das cordas-de-viola são as flores, em função de sua notória beleza. Diversificadas são as cores e os tamanhos, que podem diferir ainda de espécie para espécie ou também numa mesma planta, conforme o período em que essas estruturas se encontram abertas. A abertura das flores geralmente ocorre durante o dia, embora existam raras espécies em que isso ocorre à noite. Cruzamentos naturais podem ser vistos em Ipomoeas, o que justifica sua plasticidade na ocupação de vários ambientes, agressividade e capacidade de competição com a cultura. As espécies desse gênero toleram amplo espectro de solos e clima, sendo algumas aquáticas. As Merremias, por sua vez, são boas colonizadoras de solos úmidos e áreas sombreadas com boa fertilidade.
Para o manejo das cordas-de-viola na cultura do milho a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado. De modo geral são adotados o manejo químico em pré (aproveitando-se efeitos residuais) e pós-semeadura do milho, o mecânico ou físico, por meio da capina mecânica ou manual, e ainda o cultural, que com base nos fatores ambientais e características das plantas concorrentes, favorece o potencial competitivo da cultura. No sistema de plantio direto, a atenção deve ser redobrada, visto que a presença da cobertura morta já foi dada como facilitadora da emergência de plântulas destas espécies. Além de diferentes densidades de plantas e espaçamentos da cultura, tem sido avaliada também a eficiência de técnicas alternativas para o manejo de plantas daninhas, como o aproveitamento de propriedades alelopáticas de espécies vegetais, cuja matéria verde é posta em cobertura ou incorporada ao solo. Outra opção ao manejo de corda-deviola é constituída pelo método preventivo, o qual com simples cuidados e mudanças de hábitos nas práticas agrícolas é eficaz na redução do estabelecimento e propagação da corda-de-viola. Dentre as ações do manejo preventivo, se citam a limpeza de máquinas e equipamentos que ingressam nas áreas
O período máximo de convivência de infestantes na cultura do milho, sem causar prejuízos, é curto e não ultrapassa os 30 dias
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agrícolas de milho após seu uso e a observação prévia ao plantio, quanto à contaminação das sementes. Na seleção do método, além da oferta de recursos e dos elementos previamente mencionados, devem ser considerados a época de plantio e o período crítico de interferência da corda-de-viola na cultura, as operações empregadas, o histórico de métodos adotados e a necessidade de manutenção recrutada pelo método. Na pós-emergência é recomendada a execução de práticas de manejo até o fechamento das entrelinhas da cultura, devendo ser prioritariamente executado entre dez dias e 45 dias após a germinação.
Manejo mecânico
No sistema de plantio convencional, em pré-emergência da cultura, se o controle se der através de uma capina manual ou mecânica, existe a possibilidade de ocorrer outras infestações, requerendo novas intervenções. Tal fato ocorre porque o revolvimento do solo traz à superfície as sementes, que antes estavam muito profundas e não dispunham de condições adequadas para a germinação. Posteriormente à ação de ascensão no perfil do solo, essas sementes estão em condições apropriadas para a germinação. Manutenções periódicas da área devem ser realizadas, a fim de conter o desenvolvimento de novas plantas e consequentemente problemas de interferência.
Manejo cultural
O uso de cobertura morta como meio de controle de plantas daninhas influencia a incidência de luz, a temperatura e a umidade do solo. O efeito da cobertura pode ocorrer da forma química através de compostos secundários liberados (aleloquímicos), que podem apresentar efeitos deletérios à germinação e desenvolvimento de algumas plantas daninhas. O efeito de qualquer aleloquímico está diretamente relacionado à quantidade e à qualidade da cobertura do material
Flores são estruturas que chamam a atenção em corda-de-viola
14
Tabela 1 2,4-D 2,4-D dimetilamine alachlor + atrazine ametrine amicarbazone atrazine+ simazine atrazine atrazine + nicosuklfuron betazon carfentrazon-ethyl foransulfuron + iodosulfuron methyl gliphosate glyphosate isopropilamina glyphosate sal potássico glufosinato sal amônio imazapic + imazapyr MCPA mesotrione nicosulfuron tembotrione
I. acuminata I. aristolochiaefolia I. grandifolia I. hederifolia I. indivisa I. nil I. purpurea I. quamoclit X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Ingredientes ativos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento para o controle da genero Ipomoea Nem todos os produtos comerciais com os ingredientes ativos estão registrados para o controle destas espécies. Consultar um técnico para verificação do produto comercial registrado para controle
vegetal (cobertura morta), do tipo de solo, da população (densidade e composição) de plantas daninhas presentes, da população microbiana do solo e principalmente das condições ambientais às quais a cobertura vegetal é exposta. Vários efeitos aleloquímicos são conhecidos para uso no controle de plantas daninhas. No sistema de plantio direto sabe-se que a grande maioria das sementes das plantas daninhas encontra-se próxima à camada superficial, enquanto no sistema de plantio convencional as sementes ficam distribuídas ao longo do perfil do solo. Trabalhos relatam a emergência de plântulas de corda-de-viola sob várias profundidades, que, diferentemente da maior parte das espécies espontâneas, não é afetada pela cobertura do solo.
Manejo químico
Embora vários herbicidas estejam registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de corda-de-viola (Tabela 1) em milho, esta espécie é de difícil controle. Com o objetivo de reduzir os riscos de insucessos quando do uso de moléculas herbicidas, alguns cuidados devem ser tomados. Recomenda-se que as aplicações sigam critérios técnicos, devidamente indicados por profissionais habilitados para prescrever a receita agronômica. Equipamentos devem ser adequados, calibrados e operadores devidamente treinados e aparatados (com uso de EPIs). Um fator não menos importante é o descarte de embalagens e soluções remanescentes. Esse procedimento deve estar em conformidade
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com as normas regulamentadoras do Mapa, garantindo qualidade ao trabalho e segurança à saúde e ao ambiente. Os herbicidas de pré-emergência devem ser aplicados após o plantio da cultura e antes da emergência das plantas daninhas, ponderando-se as propriedades residuais da molécula ou do conjunto selecionado. Estas aplicações são influenciadas pela umidade do solo no momento da aplicação, da ocorrência de chuvas após a aplicação e da temperatura e tipo de solo. Aplicações dos herbicidas pós-emergentes devem ser realizadas geralmente quando as plântulas se encontram nos estádios entre duas a oito folhas, sob dependência também do ingrediente a ser utilizado. Estas aplicações podem ser precoces, quando as plantas daninhas se encontram com duas a quatro folhas completamente desenvolvidas, em condições normais ou, tardias, quando as plantas estiverem com mais de quatro folhas desenvolvidas, restringindo-se as limitações dos herbicidas a serem utilizados.
Manejo prévio à colheita
Nas lavouras de milho com alta infestação de cordas-de-viola no período da colheita ocorre comumente a parada de colhedeiras devido ao embuchamento da plataforma. Uma alternativa à redução dos efeitos desse problema consiste numa prévia aplicação direcional ou localizada de herbicidas (nas entrelinhas do milho) que complementa o manejo de espécies com emergência escalonar e tardia. De modo geral as moléculas mais
apropriadas são as que agem pelo contato, sem efeito residual. O mercado atualmente já dispõe de equipamentos apropriados para aplicações localizadas que minimizam os riscos de intoxicação da cultura. Nos casos próximos à colheita, que ainda apresentam infestação de corda de viola, não há muito que ser feito, pois o manejo depende de equipamentos apropriados que pulverizem a alturas acima da cultura, evitando a contaminação ambiental e do aplicador.
Fotos Décio Karam
Eficiência e meio ambiente
Manejo pós-colheita
Para evitar ou minimizar o aumento da população de plantas daninhas o produtor deve adotar técnicas como a rotação de culturas e a semeadura de cobertura. Culturas de cobertura como milheto, nabo forrageiro e sorgo, assim como outras, na entressafra, têm grande capacidade de supressão na emergência e de desenvolvimento das plantas daninhas. Operações de pós-colheita, como o uso de roçadeiras, ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas devem ser realizadas, evitando-se a produção de sementes ou propágulos de plantas daninhas. Devemos relembrar que devido ao uso intensivo de determinados grupos de herbicidas
observada a tolerância de algumas espécies do gênero das Ipomoeas a este herbicida.
Plantas de Ipomoeas têm a capacidade de produzir de cinco a seis mil sementes
tem sido observado o surgimento de plantas daninhas tolerantes e resistentes. O manejo químico desta espécie em póscolheita, na maioria dos casos está associado a herbicidas 2,4D e paraquat, principalmente pelo porte que a planta apresenta nesta época. O uso de glifosato isolado no manejo de áreas que apresentam esta espécie tem contribuído para o aumento da infestação observada nos últimos anos, pois tem sido
Contemplando-se os aspectos atinentes a estas espécies, bem como as interações com demais elementos do sistema e do método escolhido, poderá se obter maior produtividade da cultura do milho. Ademais, deve-se impedir possíveis ações de remediação que podem nem sempre ser eficazes no manejo de plantas daninhas em milho. Em se tratando de manejo químico, a inobservância de prazos, normas e adoção de práticas de manejo recomendadas pode resultar na degradação dos recursos ambientais, contaminação do solo e da água e ainda o comprometimento do reuso das áreas agricultáveis. Esse conjunto de fatores há de comprometer a performance da atividade, render insucesso e conferir ainda caráter pouco sustentável à produção e no meio ambiente, afetando a imagem da C propriedade. Décio Karam e Israel Alexandre Pereira Filho, Embrapa Milho e Sorgo Jéssica Aline Alves Silva, Unifemm/Faped
Soja
Manejo sustentável
Fotos Fernando Juliatti
Com mais de 400 espécies de plantas hospedeiras, inclusive infestantes, o mofo branco ou podridão branca da haste da soja causa severos prejuízos nas lavouras. Entre as alternativas para o controle está a formação de palhada em áreas infestadas, o uso de fungicidas de forma preventiva, via tratamento de sementes, bem como o emprego de produtos biológicos
A
podridão branca da haste (Sclerotinia sclerotiorum) ou mofo branco é, atualmente, uma das principais doenças da cultura da soja pelos prejuízos ocasionados nas últimas safras e pela dificuldade de controle. Baseado neste contexto, o Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas (Lamip), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), é referência no desenvolvimento de pesquisas a fim de entender melhor a dinâmica desta doença, assim como encontrar dentre as ferramen-
tas de controle disponíveis quais são as mais eficientes e torná-las mais acessíveis aos produtores. Trabalhos com o mesmo objetivo também têm sido desenvolvidos na UEPG, sob a responsabilidade do pesquisador Davi Jaccoud Filho e sua equipe multidisciplinar. A doença apresenta difrentes fases na cultura da soja, conforme demonstram a Figura 1 e a Figura 2 (fases miceliogênica e carpogênica). A época crítica para início da doença se dá a partir dos primeiros
Figura 1 - Diferentes sintomas e sinais de Sclerotina sclerotiorum em plantas cultivadas
18
botões florais. A podridão branca da haste da soja, causada por Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença que ocorre em mais de 400 espécies de plantas hospedeiras (Figura 1), inclusive em infestantes como vassourinha, picão preto, carrapicho, caruru, mentrasto, beldroega, maria-pretinha, entre outras. As culturas como soja, algodoeiro, girassol, amendoim, ervilha, feijoeiro, alface, tomate, batateira e repolho podem perenizar o patógeno no campo, principalmente
Figura 2 - Fases miceliogênicas (planta) e carpogênicas (solo) de S. Sclerotiorum
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em sistemas irrigados e sem rotação com gramíneas, como milho, brachiárias, milheto e sorgo. A doença foi descrita pela primeira vez no Brasil em batateira em 1917. As maiores perdas têm sido reportadas em cultivos de feijoeiro irrigados, nos plantios de outono, inverno e primavera, principalmente quando a temperatura se aproxima da faixa de 20°C, em média e com amplitude térmica variando de 15 a 25°C. Apesar de a doença ter seu maior impacto nas culturas do feijoeiro e tomateiro rasteiro, tem sido discutida também no cultivo da soja (verão), principalmente nos altiplanos, acima de 700m, onde as menores temperaturas noturnas têm provocado perdas em áreas sem rotação de culturas em hospedeiras e sem a prática do uso da palhada (SPD – Sistema de plantio direto na palha) (Figuras 3A, 3B e 3C). A formação de palhada em áreas infestadas é um dos principais métodos de controle da doença. A camada de cobertura morta
(milho, aveia-preta, Figura 3C - Sistemas de manejo de solo e efeitos benéficos da palhada na redução de doenças braquiárias e outras de solo (Sclerotinia, Fusarium, Rhizoctonia, Macrophomina, nematoides etc.) gramíneas), impede a germinacão dos apotécios e emissão dos ascósporos em direcão às plantas. Recentemente com o uso da técnica de meio de cultura seletivo (Meio de Neon – Figura 4) que permite a detecção do micélio dorC mente do patógeno tem-se demonstrado que a simples limpeza no benefício das sementes (espiral e ou mesa gravimétrica), retirando a massa de escleródios do lote de produção, a curta e longa distância. de sementes, não impede a disseminação Dependendo do lote de sementes esta e a transmissão do patógeno nos campos transmissão pode chegar a 15%. Os ní-
Figura 4 - Mudança de coloração do meio de Neon de azul para amarelo após crescimento de Figura 5 - Comparação entre o método de detecção Neon (15 dias) a 20o Celsius (formação de Sclerotinia sclerotiorum, a partir de sementes infectadas escleródios), comparado ao método de rolo de papel a 15o Celsius, por 15 dias
Nononononononono
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Fotos Embrapa - CNPAF e Ihara
Figura 3 (A e B) - Ciclo de vida de Sclerotinia sclerotiorum em plantas de soja; B - Ciclo de vida de Sclerotinia sclerotiorum modificado
Figura 6 - Detecção de Sclerotinia sclerotiorum pelo método de rolo (seis lotes positivos) e Figura 8 - Diferentes manejos de fungicidas aplicados a partir de R1, seguidos de aplicações a cada dez dias. (I – duas aplicacões a partir de Vn e intervalo de dez dias; II - duas aplicações a partir de R1 e intervalo de Neon (65 lotes positivos) dez dias; III – três aplicações/duas aplicações, a partir de R1 e intervalo de dez dias)
Figura 7 - A) Erradicação de S. sclerotiorum via tratamento de sementes com fungicidas específicos; B - Peso seco médio (g) de raízes de cinco plantas de soja no estádio V3
A)
B)
veis de infecção normalmente detectados variam de 0,25% – 1,0%, na maioria dos lotes (Figuras 5 e 6). Na Figura 7 observase que fungicidas específicos (fluazinam e tiofanato-metílico) via sementes permitem a completa erradicação do patógeno. Esta prática também elimina outros fungos de solo (Fusarium, Macrophomina, Rhizoctonia, Sclerotium, fungos de armazenamento como Penicillium e Aspergillus spp etc), garante emergência e vigor das plantas e melhor desenvolvimento radicular (Figura 7B). A eficiência dos métodos de controle reside, prioritariamente, no caráter
preventivo do seu uso, ou seja, antes da doença se manifestar. O controle curativo, apesar de reduzir comprovadamente o potencial de inóculo, para safras posteriores, não reverte perdas. Observou-se que o volume de calda de 200L foi adequado para o controle da doença, descartando a ideia de que maiores volumes de caldas combatem com eficácia o problema. O momento de entrada com os fungicidas nos primeiros botões florais em áreas infestadas é de suma importância para o controle adequado da doença. Outros métodos com grande potencial de sucesso são os controles biológico e genético, bem
como o uso de produtos como indutores de resistência. Para a avaliação da eficiência destes métodos são analisados: incidência, severidade, índice de doença (incidência x severidade), AACPD (Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença), peso de escleródios, peso de mil grãos e produtividade. Um dos fatores-chave para o manejo sustentável da doença é a redução do período de favorabilidade ao patógeno, seja pela proteção química, uso de organismos antagonistas, resistência do hospedeiro ou diminuição do crescimento vegetativo. De modo geral os tratamentos com fluazinam e tiofanato-metílico apresentaram um melhor desempenho no controle da
Produto comercial Trichodermil Quality Agrotrich Predatox Ecotrich
Formulação SC WG PM Líquido Líquido
Lote 00383008 564A 2 P26/0708 E44/0508
Concentração Declarada Rótulo 2 x 1010 conídios viáveis/mL 1,5 x 1011 UFC/g 109 UFC/g 109 UFC/mL 2 x 1010 UFC/mL
Tabela 2 - Qualidade dos produtos biológicos avaliados pelo Lamip-UFU Produto comercial Contaminação por Bactérias1 Concentração na placa2 Concentração na Câmara de Neubauer2 Viabilidade Germinação3 94 Produto A 1,0 x 104 1,0 x 109 2,6 x 1010 92 Produto B 1,0x 106 1,0 x 1011 5,2 x 1010 30 Produto C 0 0 1,4 x 1010 40 Produto D 4 x 105 103 7,2 x 108 35 Produto E 1 x 105 103 7,3 x 108 1. (colônias/mL ou g); 2. (conídios/mL ou g); 3. % de germinação até 36 horas
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Fotos Fernando Juliatti
Tabela 1 - Formulações e produtos à base de Trichoderma disponíveis no mercado brasileiro
Sistema de aplicação para cobrir o baixeiro das plantas e controlar o mofo branco
doença. Pode-se perceber que a podridão branca da haste não interfere no peso de mil grãos, no entanto, interfere no rendimento da soja, reduzindo as perdas pela doença que podem chegar a até 39,5% de redução no rendimento da cultura. Neste caso, com uma incidência máxima de 30%40%. O sucesso do manejo da podridão branca da haste da soja está na adoção e correta utilização ao máximo possível das ferramentas que estão à disposição. A redução no desenvolvimento vegetativo nas aplicações do herbicida lactofen (V8 e R1) reduz a favorabilidade à doença, permitindo escape à doença e melhoria na produção de soja. O controle biológico é uma importante ferramenta de combate à podridão branca da haste, tendo eficiência semelhante aos tratamentos químicos quando usado no estádio vegetativo. A deposicão dos propágulos do fungo no solo via aplicacão aérea, ainda no ciclo vegetativo, permite a supressão do desenvolvimento de Sclerotinia sclerotiorum a partir de sua fase carpogênica (escleródios germinando e formando apotécio). Este fungo atua por antibiose e hiperparasitismo (coloniza o fungo fitopatogênico e produz substâncias antimicrobianas) (Figura 16). Testes
Tabela 3 - Tamanho da lesão em haste de soja com inoculação artificial em genótipos convencionais de ciclo semiprecoce Genótipos GOBR03-2776-4SFGO GOBR03-2776-17SFGO GOBR00-158-3GO GOBR03-2866-40GO MSOY 6101 GOBR03-2776-16SFGO BRAS06-0034Y BR05-03502Y GOBR03-2776-36GO BRAS06-0037Y GOBR03-2776-32GO GOBR03-3173-4GO BR05-09384Y GOBR02-2237-3GO GOBR03-3151-34GO Média CV(%)
Comprimento da lesão (cm) 0,49 a 2,32 a 2,42 a 3,43 a 3,50 a 4,34 a 4,39 a 5,01 a 5,17 a 5,89 b 7,05 b 7,68 b 7,74 b 7,75 b 8,00 b 5,01 55,30
% de redução no comprimento da lesão 94 71 70 57 56 46 45 37 35 26 12 4 3 3 0
*Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si, pelo teste de Scott-Knott, a 0,05 de significância. Fonte: Caires (2011) – Dissertacão de mestrado - UFU
Tabela 4 - Correlação da incidência de podridão branca da haste com caracteres agronômicos, genótipos transgênicos de ciclo semiprecoce Tratamentos Incidência de Podridão Branca Altura População
Altura1 -0,03ns -
População2 -0,30ns -
Pmil3 -0,20ns -
Produtividade4 -0,46* 0,09ns 0,14ns
1Altura (cm). 2 População (plantas/ha-1). 3 Peso de mil grãos (g). 4 Produtividade (kg/ha-1). ns Não significativo. *Significativo a 5% de probabilidade. Fonte: Caires (2011) – Dissertacão de mestrado - UFU
Figura 9 - Diferentes fungicidas aplicados a partir de R1, seguidos de aplicações a cada dez dias. (I – Figura 10 - Diferentes fungicidas aplicados a partir de R1, seguidos de aplicações a cada dez duas aplicações a partir de Vn e intervalo de dez dias; II - duas aplicações a partir de R1 e intervalo dias. (I – duas aplicações a partir de R1 e intervalo de dez dias; II – três aplicações/duas aplicações, a partir de R1 e intervalo de dez dias) de dez dias; III – três aplicações/duas aplicações, a partir de R1 e intervalo de dez dias)
Figura 11 - Diferentes fungicidas aplicados a partir de R1, seguidos de aplicações a cada dez dias. Figura 12 - Diferentes indutores de resistência aplicados a partir de V4, seguidos de mais duas (I – duas aplicações a partir de R1 e intervalo de dez dias; II – três aplicações/duas aplicações, aplicações a cada sete dias, comparadas ao tiofanato metílico aplicado em R1 seguido de mais a partir de R1 e intervalo de dez dias) duas aplicações a cada dez dias
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Figura 13 - Diferentes manejos com indutores de resistência aplicados a partir de V4, seguidos Figura 14 - Diferentes manejos biológicos aplicados a partir dos estádios V4, V6 e V8, com de aplicações a cada dez dias. Os fungicidas fluazinam e tiofanato-metílico foram aplicados a aplicações a cada dez dias. Os fungicidas fluazinam e tiofanato-metílico foram aplicados a partir de R1 e com aplicações seguidas de dez dias partir de R1 e com aplicações seguidas de dez dias
experimentais realizados em MG e PR têm apresentando resultados satisfatórios já no primeiro ano de aplicação, quando ocorreu pressão moderada da doença (incidência entre 30% e 40%). A maior viabilidade na germinação dos produtos de biocontrole Trichodermil e Quality propiciou eficá-
cia semelhante ao fungicida fluazinam e tiofanato-metílico (aplicados a partir dos primeiros botões florais). A avaliacão em campo destes produtos biológicos precisa ser realizada com lotes de boa procedência e qualidade (concentracão de esporos e germinacão) (Tabelas 1 e 2).
Figura 17 - Dados climáticos médios dos períodos antes do florescimento, florescimento e depois do florescimento, referentes aos genótipos de ciclo semiprecoce. Fonte: Caires (2011) – Dissertação de mestrado - UFU
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Figura 16 - Modo de ação efeito de Trichoderma spp., um agente de biocontrole Fotos Fernando Juliatti
Figura 15 - Diferentes manejos biológicos aplicados a partir dos estádios V4, V6 e V8, com aplicações a cada dez dias. Os fungicidas fluazinam e tiofanato-metílico foram aplicados a partir de R1 e com aplicações seguidas de dez dias
Em relacão à avaliação da reação de resistência de genótipos de soja ao patógeno, esta tem sido variada e de resposta ainda não conclusiva. Inoculações do patógeno em folhas destacadas e em hastes de diferentes genótipos não se correlacionam. Alguns genótipos comerciais do grupo con-
Figura 18 – Escleródios encontrados após a trilha de semente e grãos de soja oriundos de áreas infectadas
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Fotos Fernando Juliatti
Figura 19 - Materiais suscetíveis e resistentes a S. sclerotiorum em condições de campo
Suscetível
vencional e genótipos em lançamento do grupo RR apresentam resistência parcial ao patógeno. Testes realizados em condições de campo sob inóculo natural reforçam os resultados encontrados (Tabelas 3 e 4 e Figura 17). Neste tipo de avaliacão ou quantificação da resistência é de vital importância a pluviosidade durante o período de florescimento (Figura 17). A redução do desenvolvimento da doença se manifesta no menor tamanho da lesão (cm) e na redução do número e peso dos escleródios após a trilha (Figura 18). Cultivares de soja convencionais, como Engopa 315 e 316, MGBR46-Conquista e MSOy 6001
Juliatti, Fernanda, Anakely, Santos,Caires e Jaccoud Filho buscam controle eficiente
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Resistente
apresentam este tipo de resistência. A Tabela 5 sumariza a descrição e a eficácia de todas as estratégias de manejo para o controle racional da doença. A Figura 19 apresenta o comportamento de genótipos em condições de campo frente à resistência parcial a S. C sclerotiorum.
Fernando Cezar Juliatti, Fernanda Cristina Juliatti, Anakely Alves Resende, Roberto Resende dos Santos e Anderson Monteiro Caires, Lamip – UFU Davi S. Jaccoud Filho, UEPG
Tabela 5 – Manejos sustentáveis e táticas de controle racional da podridão branca da haste da soja Medida/Tática
1. Benefício de sementes - Máquina de ar e peneira, espiral e mesa gravitacional1 2. Sementes sadias e certificadas 3. Tratamento de sementes (Mistura de fungicida protetor com sistêmico) 4. Formação da palhada (SPD)2 5. Roguing3 (Erradição de plantas doentes em campo de sementes) 6. Herbicidas em pré e pós-emergência4 7. Aumento do espaçamento na cultura e redução de plantas na linha de cultivo 8. Nutrição com cálcio e potássio 9. Redução do Nitrogênio 10. Redução de plantas na linha de plantio 11. Resistência de cultivares5 12. Uso do controle com extrato de plantas6 13. Controle biológico com Tricoderma7 14. Fungicidas Preventivos8 15. Fungicidas Curativos ou erradicantes9 16. Solarização10 17. Escape – Cultivares Precoces 18. Período de Florescimento mais curto 19. Plantas mais eretas
Efeito na doença Classificação da Redução de inóculo Redução na Taxa de Eficácia inicial (x¬0) progresso da doença (r0) Alta Sim Não Alta Sim Não Alta Sim Não Alta Sim Sim Alta Sim Não Média Sim Sim Média Sim Sim Média Não Sim Média Não Sim Baixa Não Sim Alta Sim Sim Baixa Sim Sim Média Sim Sim Alta Não Sim Média Sim Sim Alta Sim Não Média Sim Sim Média Sim Sim Média Sim Sim
1 Retirada de escleródios associados às sementes e restos vegetais contaminados (não elimina infecção no embrião); 2Uso de braquiárias, ou gramíneas em geral, que podem acrescentar de 10 a 12T de matéria orgânica no solo, contribuindo para proliferação de microrganismos benéficos (Sistema Santa Fé). Brachiaria ruziziensis pode multiplicar nematoide do gênero Pratylenchus em áreas infestadas; 3 Antes da formação de escleródios nas hastes das plantas; 4 Herbicidas à base de trifuralina, pendimenthalin, glifosato, e fomesafen podem estimular a germinação de escleródios no solo, ao passo que Linuron, Paraquat e EPTC podem reduzi-la. Na presença de atrasina, simazina e metribuzin os escleródios do patógeno raramente desenvolvem apotécio ou estes são anormais e não produzem ascósporos; 5Na cultura da soja existe uma grande variabilidade para a resistência da planta à penetração do patógeno (fatores da planta que bloqueiam o patógeno na fase inicial de infecção), seja na haste ou nas folhas, a qual deve ser explorada pelos melhoristas e fitopatologistas; 6Extratos aquosos ou etanólicos de plantas como pimenta longa, Nin e Jambolão têm mostrado o efeito na fase micelial do fungo, o que pode ser utilizado na produção de soja orgânica; 7 Depende da data de validade do produto, espécie do fungo e formulação; existem diversos produtos no mercado que precisam ser avaliados antes do uso pelo produtor. Existem laboratórios oficiais para verificar sua qualidade; 8Torna-se urgente a avaliação de fungicidas usualmente utilizados na cultura da soja no controle da ferrugem, oídio e DFC quanto ao seu efeito em campo sobre a podridão branca da haste da soja; 9 Após a entrada do patógeno na planta, o manejo da doença fica mais difícil com o fungicida; 10 Uso de filmes de plástico transparente sobre canteiros ou solo. Algumas brássicas têm efeito biofumigante, reduzindo a população de escleródios (ex. nabo forrageiro).
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Soja
Relação dinâmica Dependente da interação entre hospedeiro, patógeno e ambiente, a incidência de doenças como ferrugem asiática, mofo-branco, mancha-alvo e antracnose tem intensidade variável a cada safra. Importante ferramenta de controle, o uso de fungicidas exige critérios e sempre que possível a associação com outros recursos, como a resistência genética, para prolongar a vida útil dessas estratégias de manejo
A
ocorrência de qualquer doença depende da interação entre hospedeiro, patógeno e ambiente. Na cultura da soja, o fator ambiente, ou seja, as condições climáticas durante a safra, faz com que as doenças predominantes variem sua intensidade de uma safra para outra. Os relatos regionais apresentados na XXXII Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), realizada em agosto de 2011 em São Pedro, São Paulo, mostram mudança quanto às principais doenças foliares que incidiram na cultura na safra 2010/11.
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A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, apresentou incidência tardia, com ausência de relatos de perdas nas principais regiões produtoras. A menor incidência da ferrugem pode ser explicada pela condição ambiental desfavorável durante o inverno de 2010, com baixas precipitações, que desfavoreceu a sobrevivência de plantas de soja voluntárias e consequentemente a sobrevivência do fungo P. pachyrhizi na entressafra. Um segundo fator ambiental que desfavoreceu a ferrugem em 2010/11 foi o atraso no início das precipitações da safra. Esse
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atraso reduziu a janela de semeadura evitando a disseminação de esporos do fungo produzidos nas lavouras semeadas mais cedo para as lavouras semeadas mais tarde, fato comumente observado quando a janela de semeadura é extensa (setembro a dezembro). Após dez anos com a doença no Brasil, o produtor aprendeu a manejar a ferrugem e as reclamações de perdas com essa doença vêm diminuindo mesmo em safras com condições para epidemia, ocorrendo de forma localizada em decorrência de atrasos nas aplicações de fungicidas quando as condições climáticas são desfa-
Fotos Embrapa Soja
voráveis. Mesmo com a queda de eficiência apresentada pelos fungicidas do grupo dos triazóis, que vem sendo observada desde a safra 2006/07, as misturas prontas de triazóis e estrobilurinas têm controlado a doença de forma eficiente. Nos resultados dos ensaios cooperativos de 2010/11, realizados por diversas instituições de pesquisa, foi observada variação na porcentagem de controle das misturas prontas avaliadas na safra, nos plantios realizados no final da época de semeadura, mas mesmo assim as misturas apresentaram controle eficiente com mediana próxima a 80% de controle.
Os fungicidas do grupo dos triazóis (tebuconazol e ciproconazol), aplicados isolados, apresentaram mediana de controle próxima a 30%, não devendo ser utilizados de forma isolada (http://www.cnpso.embrapa. br/download/CT87_VE.pdf). Os relatos da RPSRCB mostraram maior incidência de doenças como a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e a antracnose (Colletotrichum truncatum), de forma geral em todas as regiões. Nesse caso, a maior incidência da mancha-alvo pode ser atribuída ao fator hospedeiro, ou seja, a maior suscetibilidade de algumas cultivares que predominaram no campo na safra 2010/11 e a ausência ou baixa eficiência das misturas de triazóis e estrobilurinas que controlam a ferrugem sobre o fungo C. cassiicola. Fungicidas do grupo dos benzimidazóis que, segundo trabalhos publicados, eram a melhor opção de controle para essa doença, têm mostrado oscilação na eficiência em diferentes locais. Nos trabalhos apresentados na RPSRCB, ensaios realizados no Mato Grosso mostraram ausência de eficácia de controle da mancha-alvo com carbendazim, mesmo quando utilizadas quatro aplicações com doses variando de 250g i.a./ha a 500g i.a./ ha (Reunião de Pesquisa de Soja 2011, p. 123-125) e ausência de benefício da adição de tiofanato-metílico na mistura de triazol e estrobilurina (Reunião de Pesquisa de Soja 2011, p. 204-207). Em ensaio realizado pela Embrapa Soja, em Marilândia (PR), em cultivar suscetível à manchaalvo, a eficiência média de controle foi de 30% com três aplicações de 250g i.a./ha de carbendazim, sem aumento significativo de eficiência com o aumento de dose até 500g i.a./ha de carbendazim. Essa ausência ou baixa eficiência dos fungicidas do grupo dos benzimidazóis para o controle da mancha-alvo pode explicar a predominância dessa doença no campo, nas cultivares suscetíveis, mesmo com a utilização de fungicidas. Na ausência de produto eficiente para o controle dessa doença, não havia forma de se determinar o dano cau-
A)
sado. Na RPSRCB, o fungicida trifloxistrobina 60g i.a/ha + protioconazol 70g i.a./ ha foi aprovado para constar na publicação Tecnologias de Produção de Soja para o controle da mancha-alvo, mostrando boa eficiência de controle. Esse produto entra no mercado na safra 2011/12, também com boa eficiência de controle da ferrugem nos ensaios cooperativos. Nos ensaios onde o fungicida trifloxistrobina + protioconazol foi avaliado para a mancha-alvo, pode-se observar que o potencial de dano dessa doença é baixo, quando comparado com a ferrugem. Na safra 2010/11, mesmo com o relato da presença dessa doença em algumas cultivares, as produtividades foram altas. O potencial de dano da doença varia de acordo com a cultivar, uma vez que se pode observar no campo que alguns materiais possuem resistência genética a essa doença. Para a safra 2011/12, o produtor poderá contar com o controle químico com fungicida como uma ferramenta adicional de manejo da mancha-alvo, caso opte por uma cultivar suscetível. Credita-se o aumento de relatos de antracnose à confusão de sintomatologia com a mancha-alvo. Apesar do sintoma típico da mancha-alvo ser manchas circulares nas folhas, de coloração castanho-clara a castanho-escura, geralmente com pontuações escuras no centro semelhante a um alvo (Figura 1A), também podem ocorrer lesões nas nervuras das folhas, em hastes e vagens (Figura 1B), semelhantes às de antracnose. Normalmente, o fungo C. truncatum encontra-se associado às plantas de soja desde as fases iniciais da cultura, podendo causar morte de plântulas, necroses dos pecíolos e manchas nas folhas, hastes e vagens. Vagens infectadas nos estádios R3/ R4 adquirem coloração castanho-escura a negra, não formam grãos e normalmente ficam retorcidas. Em vagens infectadas na fase de granação, é possível observar manchas escuras (Figuras 2A e 2B) com pontuações negras (acérvulos do fungo, Figura 2C) ocasionando o apodrecimento
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Figura 1 - Sintomas de mancha-alvo em trifólio de soja (A) e em hastes, vagens e pecíolos (B)
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manutenção de cobertura uniforme de solo com palhada, emprego de controle biológico com Trichoderma spp., limpeza de máquinas e equipamentos que possam reter escleródios e utilização de cultivares de soja que permitam bom arejamento entre plantas (porte ereto, menor engalhamento, folhas menores) e que apresentem períodos mais curtos de floração. Com a entrada da ferrugem asiática no Brasil, em 2001, a utilização de fungicidas foi intensificada na cultura com sucesso para reduzir perdas com essa doença. Como outras doenças são controladas com os mesmos fungicidas, observa-se uma tendência de menor preocupação das empresas de melhoramento com a incorporação de resistência genética nas cultivares. A redução na eficiência dos fungicidas do grupo dos triazóis para o controle da ferrugem, após seis safras com o uso desse grupo de fungicidas na cultura, e a oscilação de eficiência observada com fungicidas do grupo dos benzimidazóis para o controle da mancha-alvo, mostram Fotos Embrapa Soja
parcial ou completo das vagens e dos grãos. As condições que favorecem a antracnose são precipitações frequentes associadas à alta temperatura. Em razão da facilidade de isolamento de Colletotrichum spp. de tecidos necrosados, têm-se atribuído muitos sintomas, com causas distintas, à antracnose. Não há produtos indicados pela RPSRCB para o controle dessa doença na parte aérea, principalmente em função da inconsistência dos resultados de ensaios no campo. O tratamento de sementes com fungicidas formulados em mistura de produtos sistêmicos e de contato é indicado quando forem utilizados lotes de sementes infectadas por C. truncatum. Importantes medidas de controle da antracnose são a utilização de sementes sadias, manutenção de níveis adequados da nutrição da soja, principalmente com potássio, rotação de culturas, evitar população excessiva de plantas, manter cobertura do solo com palha e eliminar impedimentos químicos e físicos do solo ao aprofundamento de raízes. O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, apresentou menor incidência na safra 2010/11. Essa doença é bastante dependente do fator ambiente, sendo predominante em regiões altas (acima de 700 metros), com temperaturas noturnas amenas, e em anos com precipitações bem distribuídas na época da floração, que favorecem a formação do apotécio (estrutura de frutificação do fungo) e liberação de ascósporos. Na RPSRCB, os fungicidas fluazinan (375 – 500g i.a./ha) e procimidona (500g i.a/ha) foram aprovados para constar na publicação Tecnologias de Produção de Soja para o controle do mofo-branco. Os ensaios cooperativos de controle químico do mofo-branco mostraram que a eficiência de controle desses fungicidas foi superior ao único produto (tiofanato metílico) que possuía registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O controle químico do mofo-branco é uma importante ferramenta que deve ser empregada para proteger as plantas no período de floração, momento em que estão mais vulneráveis à infecção, mas não se deve estabelecer o uso de fungicidas foliares como única estratégia para controlar a doença, pois os resultados dos ensaios cooperativos mostraram que há produção de escleródios (estruturas de sobrevivência do fungo), mesmo com os fungicidas mais eficientes. Desta forma, outras medidas para o manejo da doença devem ser adotadas, tais como a rotação e sucessão com culturas não hospedeiras, uso de sementes de boa qualidade sanitária e isentas de escleródios,
A)
que basear o controle de doenças em uma única estratégia, nesse caso fungicidas, não é sustentável em longo prazo. A utilização constante de fungicidas ocasiona uma pressão de seleção que pode levar a mudanças no padrão genético das populações de patógenos na cultura da soja, podendo selecionar indivíduos resistentes a fungicidas. Os fungicidas representam importante ferramenta de controle, mas é fundamental que sejam utilizados associados a estratégias antirresistência e como uma das técnicas de manejo. A associação de fungicidas com a resistência genética a doenças é estratégia complementar e não excludente, devendo estar associada sempre que possível para prolongar a vida útil dessas duas importantes ferramentas C de manejo de doenças. Cláudia Godoy, Claudine Seixas, Maurício Meyer e Rafael Soares Embrapa Soja
B)
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Figura 2 - Infecções tardias causando apodrecimento de vagens e grãos (A e B). Imagem ampliada de acérvulos de Colletotrichum truncatum produzidos sobre tecido infectado (C)
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Soja
Espaço e cobertura
Fotos Marcelo Madalosso
Na luta contra a ferrugem asiática e busca pelo aumento da produtividade na cultura da soja, a adequação do espaçamento entre linhas e das pontas de pulverização é fator fundamental a ser observado para maximizar a eficiência da aplicação de fungicidas, através da maior penetração e cobertura de gotas no interior do dossel da planta
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conceito fundamental na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas diz respeito ao emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação de um produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica e com o mínimo de contaminação a outras áreas (Matuo, 1998). A melhoria gradual na tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas vem integrando a escolha de fungicidas eficientes, momento ideal para aplicação, volume de calda e ponta de pulverização, ajustada ao alvo e, não menos importante, à cultura. Os fatores relacionados ao aumento da eficácia de proteção química estão intrinsicamente relacionados à penetração e à cobertura do terço médio e inferior do dossel (Madalosso et al, 2006). Além de incrementos no residual, a distribuição adequada de plantas na área pode proporcionar maior retenção foliar, principalmente no terço inferior, devido à constante interceptação de radiação, prolongando o período fotossintetizante, o que refletirá em acréscimos na produtividade. A maior circulação de ar nas entrelinhas dificulta a formação de um microclima favorável às doenças, prejudicando a patogênese. Isso faz com que a folha fotossinteticamente ativa mantenha suas defesas, retardando a infecção por parte do patógeno, como foi observado em soja com mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum), por Elmore (2004), antracnose (Embrapa, 2006) e com a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), por Madalosso et al (2006). A qualidade da aplicação está relacionada ao conhecimento básico da biologia do alvo. Desta forma, há necessidade de serem atingidos todos os terços do dossel da planta através do correto posicionamento do ativo. Para tal, as pontas de pulverização, componentes fundamentais no pulverizador, relacionam-se com a vazão, tamanho de gotas produzidas e distribuídas, pressão de trabalho e velocidade de aplicação. Cada modelo de ponta de pulverização apresenta características peculiares que as diferencia. No entanto, todas elas possuem faixa ideal de pressão de trabalho e estão disponíveis com aberturas de diferentes tamanhos Figura 1 - Pontas de pulverização. [A] Jato leque plano de uso ampliado (XR 11001), [B] jato duplo leque (TJ-60 11002), [C] cone vazio (TXA 8002) e [D] Turbo TeeJet® Duo (leque turbo (TT 11002) + leque planto ampliado (XR 11002))
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Figura 2 - Papéis hidrosensíveis colocados no dossel inferior e mediano da cultura da soja
(Matuo, 1998). A adequação da tecnologia de aplicação de fungicidas ao manejo fitotécnico proporciona maior exposição da área foliar das plantas à pulverização e interceptação de radiação. Com isso, esta associação pode fazer parte do manejo integrado da cultura, também relacionado às práticas fitossanitárias. Este trabalho teve como objetivo avaliar quais pontas apresentaram melhor penetração e cobertura da gota no dossel da planta, considerando diferentes espaçamentos entrelinhas e reflexos no controle da ferrugem e na produtividade de grãos.
pontas de jato leque plano de uso ampliado (XR 11001) à pressão de 172kPa, jato plano duplo comum (TJ-60 11002) à pressão de 206kPa, cone vazio (TXA 8002) à pressão de 241kPa e Turbo TeeJet® Duo (leque turbo (TT 11002) com leque plano ampliado (XR 11002) à pressão de 206kPa (Figura 1). As pressões seguiram a recomendação para cada ponta, com o objetivo de distribuir uma vazão de 200L.ha-1. A deposição de gotas foi avaliada com papéis hidrossensíveis, dispostos nos terços médio e inferior da planta, perpendicularmente às linhas da cultura. Logo após a aplicação de cada tratamento, os mesmos foram coletados e acondicionados em papel adesivo, sendo posteriormente digitalizados com auxílio de scanner, com uma resolução de 600dpis e analisados pelo software e-Sprinkle® (Figura 2). As avaliações de severidade foram realizadas na área útil das parcelas através de notas visuais da porcentagem de área foliar com sintomas típicos da doença (Canteri, M. G.; Godoy, C. V., 2003), nos estádios R3, R5, R5.5 e R6, o que possibilitou a elaboração da Área Abaixo da Curva de Progresso da Ferrugem (AACPF) e o cálculo da Taxa de progresso da doença (r) (Campbell & Madden, 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados possibilitou verificar um comportamento diferenciado da relação patógeno-hospedeiro nos espaça-
mentos entre linhas testados, bem como na eficácia da tecnologia de aplicação utilizada. No espaçamento de 30cm não houve diferença significativa com relação à cobertura para as pontas de leque plano (XR 11001), duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) nos dois terços avaliados, nem mesmo com a evolução dos estádios fenológicos da cultura (V9, R1 e R3) (Figura 3). O Turbo TeeJet® Duo (XR+TT) apresentou baixo número de gotas/cm-2 em todas as aplicações, reduzindo à medida que o estádio fenológico evoluiu, o que pode ser explicado pela sobreposição das folhas, que dificultou a penetração de gotas maiores no terço inferior. Com isso, não foram observados benefícios em relação à alternância da tecnologia de aplicação empregada para este espaçamento entrelinhas, mesmo pelas diferentes características dos jatos produzidos. No espaçamento de 45cm houve influência tanto da aplicação nos diferentes estádios fenológicos como das porções do terço da cultura (Figura 3). À medida que os estádios evoluíram foi observada variação significativa entre as pontas, tanto no terço inferior como no médio. Para essa situação, o fechamento das entre linhas favoreceu a sobreposição de folhas, proporcionando diferenças significativas na cobertura de gotas para as pontas leque plano (XR 11001) e Turbo TeeJet® Duo (XR+TT) em relação à ponta jato
Figura 3 - Cobertura no terço inferior e médio proporcionada pela aplicação com quatro pontas de pulverização em diferentes estádios da cultura, com espaçamento de 30, 45 e 60 cm. *Médias seguidas pela mesma letra no estádio fenológico não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05)
Material e métodos
O experimento foi conduzido em Estação Experimental do Instituto Phytus, em Itaara, no Rio Grande do Sul, utilizando sistema de semeadura direta em sucessão à cultura do trigo, onde o manejo da fertilidade e pragas foi realizado conforme as recomendações técnicas da soja. As linhas de semeadura foram espaçadas em 30cm, 45cm e 60cm, mantendo a densidade homogênea das plantas (33 pl/m-2) da cultivar Asgrow 8000 RG, e o delineamento experimental foi de blocos ao acaso. Os programas de aplicação foram desenvolvidos através do ajuste do número de aplicações aos estádios fisiológicos da cultura, uma (V9), duas (V9-R1) e três aplicações (V9-R1-R3). No estudo foi utilizado o fungicida azoxistrobina + ciproconazole (0,3L/ha-1) + adjuvante (0,6L/ha-1), aplicado com pulverizador costal pressurizado a CO2, com barra de aplicação equipada com quatro pontas de pulverização. Foram utilizadas
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Tabela 1 - Média de cobertura de gotas (número de gotas.cm-2) produzida pelas pontas de pulverização nos espaçamentos entre linhas, AACPF, r e desfolha
Tabela 2 - Produtividade entre tratamentos e testemunhas de cada espaçamento, ponta de pulverização e aplicação
Tratamentos Espaçamento (cm) Ponta(1) 30 45 XR 11001 60 C.V. (%) 30 45 TJ - 60 11002 60 C.V. (%) 30 45 TXA 8002 60 C.V. (%) 30 45 Duo® (XR+TT) 60 C.V. (%)
Pontas de Pulverização(1)
Nº/cm2(2) Média 13 (6) a 17 b 56 c 8.48 21a 24 a 64 b 5.26 25 a 26 a 53 b 7.62 5a 13 b 19c 8.74
AACPF(3) Média 101.33 c 88.89 b 71.56 a 11.53 85.33 c 62.22 b 53.56 a 7.35 89.78 b 65.56 a 61.89 a 9.64 119.56 c 80.00 b 65.56 a 13.63
r(4) Média 0.537 c 0.422 b 0.316 a 14.63 0.422 c 0.325 b 0.251 a 11.35 0.453 b 0.331 a 0.350 a 13.84 0.551 c 0.413 b 0.332 a 10.41
Desfolha(5) Média 46 bc 40 b 30 a 14.63 45 c 38 b 27 a 11.35 44 b 35 ab 30 a 13.84 45 b 43 b 36 a 10.41
(1) Pontas de pulverização trabalhadas com diferentes pressões: XR 11001 (172 kPa), TJ-60 11002 (206 kPa), TXA 8002 (241 kPa) e o Turbo TeeJet® Duo - TT 11002 + XR 11002 (206 kPa) para alcançar a taxa de aplicação de 200 L.ha-1. (2) Cobertura foliar do fungicida representada pelo número de gotas.cm-2. (3) Área Abaixo da Curva de Progresso da Ferrugem (AACPF). (4)Taxa de progresso da doença (r). (5) Níveis de desfolha. (6) Médias seguidas pela mesma letra dentro da variável número de gotas. cm-2 e AACPF para cada ponta de pulverização não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05).
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64 gotas/cm-2 (Tabela 1). Já as pontas leque plano (XR 11001) e cone (TXA 8002) produziram em torno de 56 gotas/cm-2 e 53 gotas/cm-2, respectivamente, apresentando maior AACPF, taxa de progresso (r) e desfolha que a ponta duplo leque, com maior cobertura de gotas. O espaçamento de 60cm favoreceu a penetração e a cobertura do fungicida, bem como reduziu a AACPF, r e a desfolha na maioria das pontas testadas. Essa condição permite à planta um estado fisiológico privilegiado, pois o maior número de folhas fotosinteticamente ativas garante maior disponibilidade energética para processos de defesa contra o ataque de patógenos (Martins et al, 1999; Vida et al, 2001). A menor quantidade de doença teve influência de fatores com relação à proteção proporcionada pelo fungicida em todo o terço da planta. O menor tempo de molhamento foliar proporcionado pelo aumento de espaçaFotos Divulgação
duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) para os dois terços estudados. Estas últimas obtiveram valores de cobertura estatisticamente similares até a última avaliação. Considerando este espaçamento, as diferenças em relação à tecnologia de aplicação utilizada foram significativas, diferentemente do anterior. Para o espaçamento de 60cm, as três pontas de pulverização (leque plano (XR 11001), jato duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002)) apresentaram semelhança estatística, tanto no terço inferior como no médio, diferindo estatisticamente do Turbo TeeJet® Duo (XR+TT), que manteve a menor cobertura produzida em todos os estádios, bem como nos terços. No estádio de maior massa foliar (R3), a ponta de jato duplo leque (TJ-60 11002) foi a que produziu melhor cobertura no terço inferior, estatisticamente semelhante à ponta cone (TXA 8002). Nos espaçamentos de 30cm e 45cm a cobertura foliar de gotas produzida pelas pontas ficou aquém das 50 gotas/cm-2 em ambos os terços da planta, somente ultrapassado no espaçamento de 60cm pelas três primeiras pontas de pulverização. Nesse sentido, a variação encontrada no número de gotas/cm-2 produzidas por cada ponta de pulverização entre os espaçamentos entre linhas indica que o manejo cultural pode influenciar na qualidade da aplicação. As coberturas de gotas obtidas neste trabalho foram significativamente maiores no espaçamento de 60cm, onde a ponta duplo leque (TJ-60 11002) atingiu a maior média entre os terços inferior e o médio de
Ricardo Balardim e Marcelo Madalosso intregram a equipe que conduziu o experimento
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XR 11001 TJ-60 11002 TXA 8002 Duo® (XR+TT) Testemunha C.V. (%)
Produtividade kg.ha-1 Espaçamento (cm) 60 45 30 1663.35(2) bc 1840.75 bc(2) 2547.30 b(2) 2675.55 b 1970.25 c 1689.25 c 2591.90 b 1945.55 c 1736.20 c 2443.30 b 1666.30 b 1498.75 b 1700.25 a 1389.90 a 1285.05 a 8.39 3.74 2.46
Pontas de pulverização trabalhadas com diferentes pressões: XR 11001 (172 kPa), TJ-60 11002 (206 kPa), TXA 8002 (241 kPa) e o Turbo TeeJet® Duo - TT 11002 + XR 11002 (206 kPa) para alcançar a taxa de aplicação de 200 L.ha-1. (2) Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (P£0,05). (1)
mento entrelinhas prejudicou a deposição, a germinação e a infecção do esporo de P. pachirhyzi, dificultando o estabelecimento e o desenvolvimento da epidemia. De acordo com os parâmetros avaliados foi possível observar que as pontas duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) apresentaram os menores valores acumulados de doença em função da maior penetração e cobertura de fungicida no interior do dossel (Figura 3, Tabela 1). Mesmo com maior número de gotas/cm-2 no espaçamento de 60cm, a ponta cone (TXA 8002) apresentou valores de AACPF, r e desfolha semelhantes estatisticamente ao de 45cm, exemplificando que para uma proteção química mais eficaz, a cobertura de 53 gotas/cm-2 não foi suficiente (Tabela 1). Como as duas pontas citadas possuem características de espectro de gotas semelhantes, a menor cobertura registrada pela última ocorreu devido à grande quantidade de gotas finas e muito finas produzidas por essa ponta, aumentando o potencial de deriva (Cunha et al, 2003). Essas perdas são proporcionadas por oscilações climáticas comuns durante o dia, como aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar, que podem resultar em perdas de fungicida variando até 100% nos horários adversos à aplicação (Balan et al, 2008). Neste caso é necessária a utilização de estratégias como horários de aplicação com maior umidade relativa e menor temperatura (Cunha et al, 2004). Em última análise, os incrementos produtivos foram majorando expressivamente com o afastamento das entrelinhas, favorecido pela proteção propiciada pela penetração e cobertura do fungicida no interior do dossel (ponto inicial da doença) (Figura 3) e prejudicando o estabelecimento e progressão do patógeno (Tabela 1), mostrado pelas diferenças nas produções das testemunhas de cada espaçamento. Desta forma, o arranjo mais adequado de plantas tem papel preponderante no
30 cm
45 cm
60 cm
Fotos Marcelo Madalosso
manejo integrado, pois auxilia na redução da AACPF, r e a desfolha, evitando quedas precoces de folhas e minimizando os prejuízos causados pela ferrugem asiática na cultura da soja. Com isso, as folhas do terço inferior no maior espaçamento entre linhas retardaram sua senescência, mantendo-se fotossinteticamente ativas por mais tempo, devido à proteção fungicida e constante interceptação de radiação solar, refletido no rendimento de grãos (Tabela 2).
CONCLUSÃO
Para esta cultivar, a adequação do espaçamento entre linhas e pontas de pulverização foi fundamental para maximizar a eficiência da aplicação, por proporcionar maior penetração e cobertura de gotas no interior do dossel da planta. Todas as pontas de pulverização estudadas (leque plano (XR 11001), jato duplo leque (TJ-60 11002), cone (TXA 8002) e Turbo TeeJet® Duo (XR 11002 + TT 11002)) responderam positivamente ao aumento do espaçamento entre linhas. As pontas de jato duplo leque (TJ-60 11002) e cone (TXA 8002) foram as que mantiveram valores próximos entre os parâmetros avaliados, destacando-se a primeira, que alcançou maior cobertura de gotas/cm-2, refletindo no retardo da
Diversos espaçamentos entre linhas utilizados no experimento conduzido no Rio Grande do Sul
epidemia. O espaçamento de 60cm promoveu uma condição desfavorável ao desenvolvimento da doença, além de manter as folhas baixeiras fotossinteticamente ativas por mais tempo, refletindo em rendimento de grãos. Desta forma, a tecnologia de aplicação passa a fazer parte do contexto de manejo integrado, contribuindo para maximizar o
residual do produto e desfavorecer o patógeno na sua relação com o hospedeiro. C
Marcelo Madalosso, Instituto Phytus Ricardo Balardin, Monica Debortoli, Marlon Stefanello e Francis Maffini, UFSM
Arroz
Evolução preocupante
Fotos Sylvio Dornelles
Além dos problemas causados por arroz vermelho, outras plantas daninhas vêm vem sendo detectadas como resistentes à aplicação de herbicidas. Para evitar que o problema se agrave e os prejuízos se multipliquem, os orizicultores precisam estar atentos às estratégias de manejo, com medidas como rotação de culturas e de defensivos
A
s modernas tecnologias químicas, empregadas para o manejo de plantas daninhas de difícil controle, ao mesmo tempo em que promovem o combate eficiente das infestantes indesejáveis e suscetíveis, causam perturbação no ambiente que até então estava aparentemente estabilizado pelo antigo sistema empregado. Isto ocorre quando são muito eficientes os herbicidas usados em determinado programa de controle (como as imidazolinonas ou outros herbicidas Inibidores da Enzima Aceto Lactato Sintase) e a solução passa a ser adotada de forma continuada, durante tempo prolongado, sem preocupação com o manejo integrado, que prevê rotação de métodos, incluindo aí a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. Com o tempo reduz-se o banco de sementes dos biótipos suscetíveis, mas permite-se a evolução de espécies resistentes aos herbicidas empregados, que passam a ser dominantes na área, ensejando uma intervenção alternativa, para não tornarem-se um problema insustentável. Este problema se agrava quanto maior for o período residual dos produtos utilizados no programa, uma vez que biótipos que consigam germinar
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e crescer nestas condições de acúmulo do produto no solo têm grande possibilidade de serem plantas resistentes a estes herbicidas. Desta forma os escapes devem ser retirados da área. Um dos problemas atuais, com relação ao manejo de plantas daninhas na cultura do arroz, é exatamente a adoção continuada do controle químico com os mesmos produtos (mesmo mecanismo de ação) durante longo tempo, em detrimento de outros métodos. É uma visão simplista de que o herbicida isoladamente pode proporcionar controle da totalidade das plantas daninhas (a ideia do produto “salvador”). Isto leva o produtor à não adoção de práticas recomendáveis de rotação de culturas, pousio de áreas e rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, além da utilização de sementes com qualidade duvidosa. A adoção destas práticas seria um complemento necessário ao programa químico, para manter sob controle a população infestante, com um reduzido banco de sementes no solo. Por tudo isso, a produção de arroz no Rio Grande do Sul começa a enfrentar a ocorrência de um número cada vez maior de plantas daninhas com resistência aos herbicidas mais
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utilizados, especialmente aos Inibidores da Enzima ALS, que hoje são fundamentais, em programas de controle de espécies infestantes pela baixa toxicidade, flexibilidade de uso e ampla eficiência de controle. Dentro deste quadro, ocorrem biótipos de arroz vermelho pouco ou muito resistentes aos herbicidas utilizados no sistema Clearfield, incluindo biótipos que adquiriram por fluxo gênico (escapes) o gene de resistência das cultivares Clearfield, passando a resistir a doses muitas vezes maiores que as de registro do produto. Pode-se afirmar que entre os biótipos de arroz vermelho do Rio Grande do Sul ocorrem aqueles que ainda poderiam ser controlados com dose maior do herbicida e aqueles que não vão ser controlados com doses muito superiores às recomendadas, que são suportadas pela cultivar, tornando o problema mais grave. Desta forma a simples troca de uma cultivar por outra que possibilite usar maiores doses de produto não permitirá o controle da totalidade dos biótipos ocorrentes, especialmente, aqueles que detêm o mesmo gene de resistência das cultivares Clearfield. Felizmente, no Rio Grande do Sul, o problema não está generalizado. É maior em áreas onde se cultiva arroz todos os anos
Junquinho (Cyperus iria) resistente a herbicidas inibidores da ALS
de forma continuada, como na Depressão Central do estado e, onde, por um período prolongado, utiliza-se o mesmo herbicida, sem a adoção de cuidados com rotação de métodos de controle e onde o manejo para a convivência com o problema foi deixado de lado, confiando-se apenas na eficiência do herbicida utilizado. Problema semelhante ao que foi observado em áreas com soja transgênica, porém no arroz, muito mais graves, porque no caso do arroz vermelho estamos tratando de planta daninha do mesmo gênero e espécie das cultivares, portanto com amplas possibilidades de cruzamentos entre ambos e surgimento de biótipos com características vantajosas pró-planta daninha no processo de competição com a cultura comercial. Mais de 150 anos após Charles Darwin ter publicado a teoria da evolução das espécies, o que observamos em nossas lavouras de arroz é uma evolução ocorrendo aos nossos olhos e induzida pela prática agrícola empregada (forte pressão de seleção). Assim, percebe-se uma evolução nas características dos indivíduos (plantas daninhas) presentes nas populações infestantes, com crescimento do número de biótipos com vantagens competitivas sobre as cultivares, frente às tecnologias que empregamos. No caso do arroz vermelho, por pressão de seleção, adquirindo características das cultivares que foram melhoradas para serem eficientes em capturar a energia luminosa e obter com maior eficiência do meio os recursos necessários para o seu crescimento e desenvolvimento. É comum encontrarmos arroz vermelho de porte baixo (até mais baixo que determinadas cultivares), folhas eretas, com arquitetura de planta e com ciclo biológico semelhante ao das cultivares modernas, inclusive com produção de sementes com as mesmas características morfológicas das cultivares, dificultando cada vez mais o tra-
balho dos laboratórios de análise de semente, que precisam descascar as espiguetas para confirmar que se trata de arroz vermelho, tamanha semelhança entre ambos. Além do arroz vermelho, no Rio Grande do Sul, outras plantas daninhas apresentam biótipos resistentes a herbicidas inibidores da enzima ALS. É o caso de espécies de capim arroz (Echinochloa colona e Echinochloa crusgalli), com confirmação recente de resistência múltipla e cruzada a herbicidas inibidores da enzima ALS e a Mimetizadores de Auxina e do Junquinho (Cyperus iria) resistente a herbicidas inibidores da ALS. No caso do capim arroz resistente, programas que incluam rotação de herbicidas com mecanismos de ação alternativos, como os Inibidores da Enzima ACCase (Profoxydim, Cyhalofop e Fenoxaprop), Inibidores de Protox (Clomazone), Inibidores da Fotossíntese (Propanil) e da Divisão celular (Pendimethalin), permitem controlar os biótipos resistentes, quebrando a sequência de utilização sistemática de Inibidores de ALS. É preciso também realizar controle precoce (plantas daninhas com três/quatro folhas) complementando com manejo adequado da água (altura de lâmina de água regular). Além disso, devemos nos preocupar em programar para estas áreas a rotação de culturas (soja é excelente opção), preparo antecipado com eliminação da soca, pousio da área e aplicação sequencial de herbicidas totais (dessecantes) anteriores à semeadura da cultura, entre outros procedimentos que permitem minimizar o problema, inclusive mantendo no solo um reduzido banco de sementes das plantas daninhas. Com relação às ciperáceas (em função da ocorrência recente no Rio Grande do Sul de biótipos resistentes de Cyperus iria aos Herbicidas Inibidores da Enzima ALS) a situação é preocupante, porque são poucos os herbicidas alternativos para o controle desta planta daninha. Programas de controle para esta espécie podem utilizar em pós-emergência os herbicidas Bentazon ou o Carfentrazone (deve ser utilizado com cuidado em função da elevada fitotoxicidade) e em pré-emergência o Pendimethalin, que podem ser aplicados em programas que também incluam os herbicidas utilizados no sistema Clearfield. Outro herbicida que apresenta eficiência de controle e que pode compor este programa é a formulação de Propanil + Thiobencarb que controla gramíneas em estágio precoce com resultado satisfatório de controle sobre Cyperus iria. Neste contexto, em que maior número de plantas daninhas resistentes tem sido encontrado em áreas arrozeiras, o manejo integrado utilizando diferentes ferramentas (métodos de controle) deve ser intensificado,
quebrando ciclos longos de utilização continuada de um mesmo produto ou de produtos com mesmos mecanismos de ação, bem como de uma mesma cultura por longos anos, cuidando também de controlar escapes (como no caso do arroz vermelho) salvaguardando tecnologias importantes como o sistema Clearfield, sem as quais, acumularemos prejuízos ou inviabilizaremos áreas para a produção de arroz. No futuro, se não forem tomadas no presente medidas efetivas que as evitem, espera-se também nas áreas arrozeiras do Rio Grande do Sul a evolução de problemas de resistência de Digitaria ciliaris ou Digitaria sanguinalis (milhã) e de Brachiaria plantaginea (papuã) aos herbicidas inibidores de ACCase (Profoxydim, Cyhalofop e Fenoxaprop), de Echinochloa spp (capim arroz) ao propanil e de Eleusine indica (capim-pé-de-galinha) aos Inibidores de EPSPS (glifosato), casos que têm sido avaliados pelos pesquisadores do setor de Botânica da Universidade Federal de Santa Maria, mas que podem ser evitados, enquanto estão sob controle, com adoção de manejos alternativos, onde o método químico não seja a única tecnologia empregada, principalmente evitando-se a utilização sistemática dos mesmos herbicidas ao longo de muitos anos. Para adotar um programa de manejo adequado para a sua realidade, uma vez que não existe uma receita que possa ser utilizada para todos os casos, o produtor deve consultar um profissional de Agronomia que lhe prestará assistência técnica e recomendará o programa mais ajustado para a sua necessidade. C Sylvio Henrique Bidel Dornelles, Univ. Federal de Santa Maria Danie Martini Sanchotene, Univ. Reg. Integrada/Santiago (RS)
Dornelles destaca estratégias de manejo de daninhas na cultura do arroz
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Informe
Opção de manejo Fotos Bayer CropSciense
Fungicida protioconazol + trifloxystrobin, pertencente ao grupo químico dos DMIs e quimicamente classificado como Triazolintiona, chega ao mercado para auxiliar no combate ao complexo de doenças em soja, com destaque para o controle da ferrugem asiática
A
Área de soja tratada com triazol (à esquerda) e com o protioconazol (à direita)
Bayer CropScience lançou para a safra 2011/2012 da cultura da soja, o fungicida Fox. Trata-se de um produto composto pelo ingrediente ativo protioconazol, uma nova geração no grupo químico dos DMIs (fungicidas que atuam na demetilação da síntese de esteróis nos fungos), sendo quimicamente classificado como Triazolintiona. O produto também leva em sua composição, o trifloxystrobin, que age na respiração mitocondrial do fungo, ao inibir a transferência de elétrons no complexo III. O fungicida age de duas maneiras no controle do complexo de doenças em soja, como mancha-alvo, oídio, doenças de final de ciclo e também no manejo da mela e antracnose, além, é claro, da ferrugem asiática, patógeno que a cada safra se mostra mais agressivo. A fim de preservar a eficiência dos fungicidas e monitorar o comportamento quanto à sensibilidade da ferrugem asiática aos mecanismos atualmente presentes no mercado para o controle desta doença, a Bayer dá continuidade aos estudos iniciados na safra 2005/2006, de monitoramento da sensibilidade de Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas dos grupos químicos dos DMIs e QOIs. A metodologia utilizada nos ensaios foi desenvolvida pelos pesquisadores do Centro
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de Pesquisa e Inovação Bayer CropScience no Brasil, em conjunto com especialistas do Instituto de Fungicidas da empresa em Monheim, na Alemanha, sendo reconhecida e adotada pelo Frac internacional (The Fungicide Resistance Action Committee). Desde o início do trabalho a empresa conduz os ensaios com a mesma metodologia e procedimentos, a fim de estabelecer uma linha base dos valores de EC 50 (concentração necessária de produto para controlar 50% de indivíduos de uma determinada população) encontrados nos ensaios de monitoramento para cada ingrediente ativo estudado e relacioná-los
Imagem em microscopia eletrônica da ferrugem da soja
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com os resultados dos fungicidas em campo, com ensaios paralelos. O principal objetivo do estudo é verificar a variação na sensibilidade do fungo P. pachyrhizi a fungicidas. Os resultados obtidos, por meio do monitoramento, auxiliam na tomada de decisões para o controle de determinados fungos fitopatogênicos em plantas cultivadas, tais como definição do intervalo de aplicação, doses, combinação e rotação entre diferentes produtos com modo e/ou sítio de ação diferenciado, além de possibilitarem a busca de novas moléculas atuantes no controle destes fungos. Observaram-se, a partir da safra 2007/2008, que amostras coletadas no mês de março evidenciaram a existência de um predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração, tais como tebuconazol e ciproconazol em algumas regiões do Brasil, principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, retornando a sua sensibilidade normal no início do período agrícola 2008/2009. Na safra 2008/2009, as amostras coletadas em março apontaram que o predomínio de populações menos sensíveis aos DMIs de primeira geração estenderam-se para mais regiões do País, incluindo os estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná e Bahia. Já na safra 2009/2010, observou-se que
populações menos sensíveis foram detectadas em praticamente todos os estados brasileiros produtores de soja (Figura 1). Mesmo com a ocorrência tardia, na safra 2010/2011, as populações altamente sensíveis aos triazóis de primeira geração praticamente desapareceram, considerando as principais regiões produtoras de soja - de Luis Eduardo Magalhães, na Bahia, até o município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Podemos confirmar que a flutuação na sensibilidade do fungo a DMIs de primeira geração está claramente ocorrendo em todas as regiões do Brasil, composta predominantemente por indivíduos pouco sensíveis, desde a safra 2007/2008. Atualmente, o protioconazol apresenta os menores valores e estabilidade quando determinada a LD 50 no programa de monitoramento da ferrugem. O que está diretamente ligado a sua eficiência em campo observada na safra 2010/2011, por meio da condução de 640 campos demonstrativos que compararam o tratamento Bayer CropScience com o fungicida nas primeiras aplicações, em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil. Para os fungicidas do grupo das estrobilurinas não foram observadas quaisquer mudanças em seu desempenho, em qualquer período ou região, significando que os ingredientes ativos pertencentes a este grupo químico continuam importantes e indispensáveis no controle da ferrugem asiática da soja. Também se observa a eficácia do fungicida no controle de Corinespora cassiicola, a mancha-alvo, doença cada vez mais presente nas lavouras brasileiras e que também tem demonstrado baixa sensibilidade, em diversas
regiões, aos fungicidas que antes foram muito eficientes no controle desta doença, os benzimidazóis. Para o efetivo controle da ferrugem da soja, é recomendada a utilização de fungicidas de grupos químicos com diferentes distintos ou com diferenças específicas no seu sítio de ação, sendo também interessante o espectro de ação do fungicida, o que, atualmente, é possível com a utilização do novo produto. FOX é recomendado na primeira ou na primeira e na segunda aplicações, quando o
Pereira acompanhou ensaios realizados com o fungicida em diferentes regiões produtoras do Brasil
Mehl é pesquisador do Instituto de Fungicidas, da Bayer, em Monheim, Alemanha
Figura 1 - Comportamento da sensibilidade da ferrugem da soja a triazol
plano de utilização de fungicidas foliares estiver programado para ser realizado em mais de duas aplicações. Os principais motivos da utilização do fungicida desta maneira, além de explorar o espectro de ação oferecido, é “uniformizar” em termos de sensibilidade do fungo, melhorando ainda mais o desempenho do fungicida subsequente, neste caso o Sphere Max. Segundo sugerido por Leroux&Walker (Pest Management Science, 2010), o fungicida à base de protioconazol apresenta os menores valores para o fator de resistência em mais de 20 isolados com mutação identificada no fungo Mycosphaerella graminicola, doença mais importante em cereais na Europa. Parker et al (2011) observou que a interação de protioconazol com a enzima cyp 51 é diferente dos outros DMIs. Isso porque devido à presença do radical enxofre no anel azól da molécula, o espectro de cor detectado após a inibição da ligação do eburicol na cadeia de produção do esgosterol mostra uma coloração totalmente diferente das apresentadas por tebuconazol, por exemplo. Baseada em uma série de ensaios conduzidos em diversas regiões do Brasil, por fitopatologistas brasileiros renomados e pela equipe do Desenvolvimento Agronômico da Bayer CropScience Brasil, aliados às informações geradas pela comunidade científica que estuda os diversos produtos que agem na demetilação da síntese de esteróis, é lançado no mercado o fungicida FOX, que além de sua eficiência comprovada em campo e no laboratório, traz amplo espectro de ação que resulta nos melhores rendimentos C por área nas lavouras brasileiras.
Andreas Mehl Rafael Pereira Bayer CropScience
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Algodão
Começo sadio Tombamento, mela e ramulose estão entre as principais doenças que afetam o algodoeiro na fase inicial da lavoura. Para combater o problema, o tratamento de sementes com fungicidas desempenha papel importante, associado a outras ferramentas de manejo, como a rotação de culturas
A
cultura do algodoeiro é atacada por um grande número de doenças fúngicas, que podem causar prejuízos tanto ao rendimento quanto à qualidade das sementes. A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem no algodoeiro é causada por patógenos que são transmitidos pelas sementes, como, por exemplo, Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides (causador da ramulose) resultando na introdução de doenças em locais novos ou mesmo na sua reintrodução em áreas cultivadas. Potencialmente, todos os organismos fitopatogênicos têm a capacidade de ser transmitidos pelas sementes, sendo o
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grupo dos fungos o mais numeroso. Com o incremento da área de plantio de algodão no Brasil, tem se observado aumento significativo dos problemas fitossanitários, principalmente aqueles relacionados à ocorrência de doenças na fase inicial de desenvolvimento da cultura. As doenças iniciais do algodoeiro, principalmente aquelas causadas por Rhizoctonia solani, como o tombamento de plântulas e a mela, estão amplamente disseminadas no Brasil, principalmente nas regiões dos cerrados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia, frequentemente causando danos significativos na fase inicial
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de estabelecimento da lavoura, pela redução da população de plantas. Os níveis de danos causados por estas doenças são dependentes de diversos fatores, porém, nas condições do Brasil, o que mais tem favorecido a sua ocorrência é a monocultura do algodoeiro, associada ao preparo intensivo do solo, o que frequentemente favorece situações de alagamento e encharcamento, contribuindo para o aumento do potencial de inóculo do patógeno. Além disso, a utilização de sementes com baixo vigor, associada ao plantio em épocas favoráveis à ocorrência destas enfermidades, é também fator predisponente ao ataque de R. solani, que deve também ser
do tombamento causado por R. solani. Sob baixas temperaturas, sementes de algodoeiro exsudam maior quantidade de açúcares e aminoácidos, o que é extremamente favorável ao ataque do patógeno. Estas condições atrasam a germinação ou tornam mais lento o processo de emergência, mantendo a plântula num estágio suscetível por um período mais longo. Assim, a necessidade de adoção de medidas de controle, tais como o tratamento de sementes com fungicidas, tem sido claramente demonstrada sob condições de solo com temperaturas baixas, o que assume importante papel, sendo considerada, até o momento, a principal medida a ser adotada e a opção mais segura e econômica (representa apenas 0,17% do custo total de produção) para minimizar os efeitos negativos desta doença. Os melhores resultados no controle desta doença têm sido obtidos com as misturas fludioxonil + mefenoxan + azoxyxtrobin (5+15+30g i.a./100kg de sementes), tolylfluanid + pencycuron + triadimenol (75+75+50g i.a./100kg de sementes), carboxin + thiram (187,5+187,5g i.a./100kg de sementes) e tiofanato metílico + fluazinam (150+150g i.a./100kg de sementes). A rotação de culturas e a resistência genética também são táticas de controle importantes neste contexto e devem ser consideradas no manejo do tombamento. Com relação à rotação de culturas, cultivos prévios de braquiária (Brachiaria ruziziensis), aveia preta, milheto, milho e sorgo forrageiro, além do pousio,
Augusto Goulart
cerrados (onde estão 85% do algodão cultivado no Brasil) dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. Ocorre na fase de plântula (tombamento de pós-emergência) e ataca as sementes por ocasião da germinação (tombamento de pré-emergência). Os danos associados ao tombamento são significativos já na fase inicial de estabelecimento do algodoeiro pela redução da população de plantas e, às vezes, pela necessidade de ressemeadura. R. solani é um parasita necrotrófico, habitante natural do solo. Trata-se de fungo polífago, pois ataca grande número de espécies vegetais. R. solani pode ser transmitido pelas sementes, porém raramente isto ocorre, motivo pelo qual a semente não é considerada a principal fonte de inóculo desse patógeno. Este fungo, estando presente no solo e/ou nas sementes, além de ocasionar perdas significativas na fase de plântulas (falha no estande), pode servir ainda como fonte de inóculo para culturas subsequentes. Os sintomas caracterizam-se inicialmente pelo murchamento das folhas com posterior tombamento das plântulas. Este fungo provoca lesões deprimidas e de coloração marrom-avermelhada no colo e nas raízes das plântulas de algodão. O manejo dessa doença deve ser feito de maneira integrada, agregando diferentes táticas de controle. Recomenda-se evitar semeaduras anteriores a meados de outubro, uma vez que baixas temperaturas favorecem a severidade e a incidência
considerado. Baseado em critérios de importância, patogenicidade e ocorrência, ênfase maior será dada aos aspectos relacionados ao manejo do tombamento e da mela causados por R. solani
PRINCIPAIS PATÓGENOS Rhizoctonia solani Kuhn - Tombamento de plântulas O tombamento de plântulas de algodoeiro, causado por Rhizoctonia solani Kuhn, grupo de anastomose (AG)-4 (teleomorfo: Thanatephorus cucumeris (A.B. Frank) Donk), é uma doença que está amplamente disseminada no Brasil, principalmente nas regiões dos
Plantas de algodão em fase inicial afetadas pelo tombamento, causado por Rizoctonia solani
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são eficientes na redução da população de R. solani do solo, o que resulta em menores índices de tombamento de plântulas de algodoeiro. O uso de soja, feijão, crotalária (Crotalaria juncea) e braquiária (Brachiaria ruziziensis) + crotalária (Crotalaria juncea) como culturas antecessoras consistentemente está associado aos maiores índices de tombamento de plântulas de algodoeiro, o que evidencia um aumento da população desse fungo no substrato. Resultados de pesquisa têm mostrado que maiores índices de tombamento são observados com o uso contínuo do algodão sem o tratamento de sementes com fungicidas. Da mesma forma que o uso contínuo do algodão, a utilização de leguminosas contribui para o aumento da população de R. solani no solo, devendo ser evitadas como cultivos prévios à cultura do algodoeiro. Por outro lado, a adoção de gramíneas com características de supressividade a R. solani deve ser a preferencial como culturas antecessoras ao algodoeiro. Em se tratando da resistência genética, no que se refere a R. solani, até o momento não se conhecia nenhuma informação no Brasil que mostrasse o comportamento de cultivares de algodoeiro frente à ação desse patógeno, até que resultados obtidos na Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS), demonstraram a existência de diferentes reações de algumas cultivares com relação ao ataque do fungo R. solani. Desta forma, os genótipos de algodoeiro que apresentaram menor incidência de tombamento e menor percentagem de plântulas com sintomas desta doença, demonstrando maior tolerância ao ataque de R. solani foram CNPA ITA 90 II, BRS Aroeira, BRS Cedro, BRS Ipê e FMT 701. Ressalta-se ainda que a adoção de cultiva-
Fotos Augusto Goulart
O tombamento está disseminado nas diversas regiões de cultivo do Brasil
Severidade dos danos causados pela doença implica em muitos casos na necessidade de ressemeadura
res tolerantes a R. solani, assim como o uso de cultivos prévios com plantas que sejam supressoras a este patógeno, otimiza a eficácia do fungicida aplicado às sementes de algodoeiro no controle desse fungo.
rial doente (plântulas de algodoeiro com sintomas típicos de mela, provenientes dos diferentes estados onde a doença foi detectada) mostraram, na totalidade dos casos, a presença de um crescimento profuso de hifas e micélio sobre os tecidos doentes, o que foi identificado posteriormente como sendo R. solani, considerado agente causal primário da doença, confirmando assim a etiologia desta enfermidade. Os isolados do patógeno tiveram o grupamento de anastomose determinado por sequenciamento da região ITS-5.8S rDNA no Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (ETHZ), na Suíça. As sequências da região ITS isolados de R. solani da “mela do algodoeiro” foram semelhantes às do grupo de anastomose AG-4 HGI, até então não relatado no Brasil como patógeno foliar do algodoeiro. Resultados obtidos em condições de campo demonstraram maior eficiência de controle da mela com a adição do fungicida PCNB, na dose de 375g do i.a./100kg de sementes às misturas fludioxonil + mefenoxan + azoxyxtrobin (5+15+30g i.a./100kg de sementes), tolylfluanid + pencycuron + triadimenol (75+75+50g i.a./100kg de sementes) e carboxin + thiram (187,5+187,5g i.a./100kg de sementes). Excepcionalmente, quando as condições climáticas estão muito favoráveis à ocorrência da mela, além da realização do tratamento das sementes com fungicidas, tem sido realizada uma pulverização com o fungicida azoxystrobin, na dose de 200-300ml/ha, com bons resultados. A rotação de culturas também é uma opção neste caso, nos mesmos moldes relatados anteriormente para o tombamento.
Mela A partir da safra 2004/2005, lavouras de algodoeiro no estado de Mato Grosso vêm apresentando alta incidência de uma forma peculiar da doença, distinta da forma clássica de tombamento. Ocorrendo sempre na fase inicial de desenvolvimento do algodoeiro (fase de plântula - cotiledonar) reduz significativamente o estande e, em casos mais sérios, tem levado à ressemeadura. Os sintomas iniciais caracterizamse por lesões nas bordas dos cotilédones, evoluindo para o encharcamento (anasarca), seguidas de destruição total dos cotilédones e posterior morte da plântula. Esta doença está sendo denominada de “mela do algodoeiro” e é predominantemente foliar. Além do Mato Grosso, esta enfermidade foi detectada nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. Isolamentos realizados de mate-
Ciclo desde a semente aos sintomas nas plantas
Colletotrichum gossypii South var. cephalosporioides O patógeno, causador da ramulose, é transmitido tanto externa quanto internamente pelas sementes de algodoeiro, que são o mais eficiente veículo de disseminação. O papel das sementes na transmissão do patógeno fica evidente ao constatar-se a doença em áreas novas. As taxas de transmissão de C.G.C. planta-semente e
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Fotos Augusto Goulart
Sintomas de mela do algodoeiro, doença predominantemente foliar, que se distinguem da forma clássica de tombamento
semente-planta são bastante elevadas e por esta razão, a utilização de sementes portadoras do patógeno representa sério risco de sua introdução em áreas novas (taxa de transmissão do patógeno das sementes para a parte aérea do algodoeiro é de aproximadamente 3:1, o que significa que três sementes com C.G.C. representa uma planta no campo com ramulose). Em condições de clima favorável (temperatura de 25ºC a 30ºC e umidade elevada), a doença avança na lavoura, 1m a cada cinco dias. Este patógeno pode ainda sobreviver de um ano para outro em restos culturais e provocar o tombamento de pré e pósemergência, porém isso só ocorre quando a incidência desse patógeno nas sementes é elevada (acima de 20%, através de inoculação). Considerando que, em condições naturais de infecção no campo, a incidência máxima desse patógeno nas sementes tem variado de 5% a 9%, a ocorrência de tombamento no campo devido a este fungo é rara. Lesões deprimidas, pardo-escuras, atingindo grande extensão do colo e da raiz das plântulas são os sintomas característicos provocados por este patógeno. Até algum tempo, apenas se relatava a presença de Colletotrichum gossypii (C.G.) nas sementes analisadas, não se fazendo menção a C. gossypii var. cephalosporioides, embora ambos pudessem estar ocorrendo. Em função da grande semelhança das estruturas desses patógenos nas sementes, a distinção entre eles tornava-se muito difícil pelos métodos rotineiros. Atualmente, com o desenvolvimento de novas técnicas de análise baseadas no hábito de crescimento dos fungos nas sementes, a identificação precisa desses dois patógenos já é possível em testes de sanidade de sementes. A reprodutibilidade do método (fácil execução e baixo custo) foi demonstrada, o que permite sua preconização para ser utilizado como rotina em testes de sanidade de sementes de algodoeiro. Entretanto, torna-se imprescindível que sejam feitos testes de aferição com diversos laboratórios e treinamento dos analistas para não haver erro no
diagnóstico. A distinção entre C. gossypii e C. gossypii var. cephalosporioides exige do analista um treinamento específico. Colônias de C. gossypii são mais compactas, com setas mais curtas, com abundante esporulação e estruturas do fungo desenvolvidas rente ao tegumento das sementes, com ausência de micélio aéreo. Frequentemente, as cadeias de conídios cobrem completamente as setas, dificultando sua visualização. Colônias de C. gossyppi var. cephalosporioides apresentam-se com abundante micélio aéreo e aspecto menos compacto. De maneira geral, a incidência e a frequência desse patógeno em lotes de sementes são baixas, variando em função da resistência do genótipo. O tratamento de sementes com fungicidas é considerado a prática mais importante no controle desse patógeno presente nas sementes de algodão. Os fungicidas mais utilizados
são vitavax-thiram, vitavax-thiram + carbendazin, difenoconazole, tolylfluanid + pencycuron + triadimenol, fludioxonil + mefenoxan + azoxystrobin, nas doses recomendadas pelos fabricantes. Dados de pesquisa têm demonstrado que a eficiência de um determinado fungicida está relacionada diretamente com o nível de incidência dos fungos nas sementes, sendo maior em lotes de baixa infecção. Nesse contexto, o ideal e recomendável do ponto de vista epidemiológico, é fazer o tratamento com fungicidas em sementes com baixos níveis de infecção/contaminação, pois nelas o controle é mais efetivo. A rotação de culturas e a resistência genética também devem ser consideradas como a forma efetiva de controle deste patógeno. C Augusto César Pereira Goulart, Embrapa Agropecuária Oeste
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Cana-de-açúcar
Fase ideal O controle de adultos de Diatraea saccharalis, a mais importante praga na cultura da cana-de-açúcar, resulta na melhor estratégia por possibilitar a eliminação da praga antes da postura. O uso de iscas tóxicas, com inseticidas adicionados à calda, é mais uma opção para o manejo integrado deste inseto
P
ara atender ao consumo interno e às exportações, a produção de álcool deverá passar dos atuais 22,4 bilhões de litros para 65,3 bilhões, em 2020. Na próxima década, a área plantada deverá crescer aproximadamente sete milhões de hectares. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que existe área disponível para aumentar 30 vezes a que é cultivada atualmente com cana-de-açúcar, sem prejuízos ambientais ou substituição das lavouras destinadas à produção de alimentos. Esse cenário tem motivado a contínua expansão da cultura e consequentemente acentuado os problemas de insetos-praga. Diatraea saccharalis é a mais importante praga dessa cultura, por sua ampla distribuição e dimensão dos prejuízos que causa. Além da cana-de-açúcar, ataca outras gramíneas, como arroz, aveia, cevada, milheto, milho, sorgo, trigo e várias espécies de capins. Seu ciclo biológico completo leva de 53 dias a 60 dias. A temperatura se destaca entre os fatores climáticos que interferem na sua flutuação populacional, influenciando o número de gerações anuais e a duração do ciclo. Estudos mostraram que podem ocorrer cinco gerações por ano, sendo a primeira geração observada em outubro-novembro; a segunda, entre dezembro e fevereiro; a terceira, em fevereiro-março; a quarta, em abril-maio; e, eventualmente, a quinta, a partir de junho. A mariposa pode voar de 200 a 300 metros, chegando a 700 metros ou mais com auxílio do vento. A altura de voo é de aproximadamente 1m do nível do solo. O horário preferido para a procura da parceira se dá entre 19h e 4h da madrugada, com dois períodos ativos: das 22h às 23h e das 24h à 1h, com dispersão média de 42,5m/dia. Dano - A cana-de-açúcar sofre o ataque da broca durante todo o seu desenvolvimento. A incidência é maior à medida que a planta vai crescendo principalmente na época em que os entrenós estão formados.
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O ataque é bastante variável, dependendo da variedade de cana, da época do ano, do ciclo da cultura, entre outros fatores. Na fase larval, provoca danos diretos e indiretos. Os danos diretos decorrem da alimentação dos tecidos da planta e se caracterizam por perda de peso e abertura de galerias; dependendo do período de ataque pode haver falhas na germinação, morte da gema apical, tombamento dos colmos, encurtamento do entrenó, enraizamento aéreo e germinação das gemas laterais. Esses danos podem ocorrer isolados ou associados. Já os indiretos estão relacionados com a entrada de microrganismos oportunistas, os fungos Fusarium moniliforme e Colletotricum falcatum que promovem a inversão da sacarose e diminuição da pureza do caldo, levando a um menor rendimento de açúcar e contaminações da fermentação alcoólica, onde os microrganismos competem com as leveduras, resultando em um menor rendimento do álcool. Controle – O controle era feito exclusivamente por processo biológico através de parasitoides, sendo que atualmente é utilizada a vespinha Cotesia flavipes. Em 2009, foram “tratados” cerca de 3.000.000 de hectares com este parasitoide. Sua eficiência é baseada na diminuição do número
Fotos Guilherme Takao
Danos provocados pela broca Diatraea saccharalis, a principal praga que afeta a cultura da cana-de-açúcar
de adultos que serão formados na segunda geração da praga, pois o parasitoide ataca lagartas dos últimos instares da broca. Outro inimigo natural para programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é
o microhimenóptero do gênero Trichogramma, cujas espécies são abundantes no Brasil, também consideradas viáveis no controle de D. saccharalis. O parasitoide de ovos de lepidópteros vem sendo produzido em larga escala em laboratórios de vários países, inclusive no Brasil, e sua liberação têm mostrado que é também eficiente agente regulador da população desta praga. Entretanto, em condições extremamente favoráveis a D. saccharalis, os inimigos naturais não têm conseguido manter a população da broca sob controle, tendo sido registrados casos de alta intensidade de infestação, principalmente no oeste paulista, razão pela qual vem sendo adotado o controle químico na mesma proporção que o biológico, nessa região. Porém, o controle químico é utilizado monitorando a fase inicial do ataque da broca que permanece alguns dias na parte externa das plantas, pois após a sua penetração no interior do colmo, os inseticidas não conseguem mais atingi-la. O inseticida regulador de crescimento à base de triflumurom, mais empregado pelas suas qualidades, possui essa limitação em sua eficiência, controlando apenas lagartas novas e que ainda não entraram no colmo.
Divulgação
A cultura da cana-de-açúcar se encontra em expansão no Brasil, com expectativa de ter sua área aumentada em 7 milhões de hectare em dez anos
Com a tecnificação da agricultura e a tentativa de implantar um manejo cada vez mais aprimorado, integrando os vários tipos de controle, novos métodos vêm sendo estudados, inclusive o químico, baseado em iscas tóxicas para adultos, a fase ideal para o controle das pragas, porque as eliminam antes de iniciarem a postura. Iscas açucaradas são amplamente usadas para coletar lepidópteros atraídos para locais desejados. Vários atrativos são utilizados em armadilhas, no monitoramento de insetos e, quando adicionados a inseticidas, são recomendados para o controle de pragas. O uso de iscas vem sendo aplicado no manejo integrado de pragas em diversas ordens de insetos, mais especificamente para lepidópteros. Embora esse tipo de controle seja comum em pragas
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domissanitárias, deve ser aprofundado em pragas de lavouras, destacadamente aquelas que se protegem no interior dos tecidos na sua fase larval. As iscas mais utilizadas já relatadas na literatura são aquelas à base de soluções de vinagre; açúcar; mel, sacarose, melaço, calda de açúcar, açúcar refinado de palmeira, 3-metil-1-butanol e a mistura de ácido acético e 3-metil-1-butanol. Nesse contexto, a adição de inseticidas na calda da isca seria uma opção ao controle químico e compatível com o manejo integrado da praga, fornecendo à população existente a isca contendo inseticida, reduzindo, assim, o número de descendentes.
Experimento
Com o objetivo de testar uma isca para
Janeio 2012 • www.revistacultivar.com.br
controle da Diatraea saccharalis na sua fase adulta desenvolveu-se o presente estudo, tendo em vista a dificuldade do controle da fase larval em todos os seus estágios. A pesquisa foi realizada na Escola Superior de Agricultura (Esalq/USP), tendo como suporte a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Em laboratório foram testadas diversas iscas, incluindo seleção, idade e concentração, escolha do inseticida e sua melhor dose, determinação da distância de aplicação e efeito residual. As avaliações foram realizadas 24 e 48 horas após a exposição às iscas. A seleção e a concentração do atrativo foram feitas a partir dos resultados que apresentaram eficiência superior a 80%. Verificou-se que as iscas testadas apesar de serem excelentes atraentes para a Diatraea saccharalis, não atraíam os adultos de longas distâncias, ou seja, mais de 50cm, tornando necessário aplicá-las em área total, para o êxito em sua alimentação. Esse resultado inviabilizou a aplicação em faixas do canavial, método que poderia ser empregado com o intuito de preservar ao máximo os inimigos naturais (parasitoides e predadores como formiga e tesourinha que desempenham importante papel no controle da praga). Assim, no campo, foi testada a aplicação aérea da isca tóxica em área total. A isca à base de ácido acético (1,25%) + Cartap BR 500 (90g p.c./ha), (cloridrato de cartape) mostrou excelente resultado em laboratório, mas quando testada em campo os resultados não foram promissores devido à volatilização do atraente. Por outro lado, a isca à base de melaço (5%) + Cartap 500 (90g p.c./ha) mostrou boa estabilidade. Para o controle das lagartas no seu estágio inicial, Dipel PM (1.000g p.c./ha), Bacillus thuringiensis + Hygrogem (1.000ml p.c./ ha), derivado de biodiesel utilizado como espalhante adesivo, controlou satisfatoriamente as lagartas quando comparada ao padrão triflumuron. A isca teve um custo equivalente ao controle biológico convencional e ao inseticida triflumuron. O produto Hidrogem é um subproduto do óleo de soja, um glicerol elaborado recentemente, com ótimas propriedades orgânicas, ideais para formulações biológicas como a do Bt. Assim sendo, a isca tóxica poderia ser indicada em locais de alta pressão da praga, como mais uma opção no controle da D. saccharalis utilizada em associação ou alternadamente aos processos já existentes. C Greice Erler e Octavio Nakano, Esalq