Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 155 • Abril 2012 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Na soja e no algodão...........................24
Germison Tomquelski
O surto de lagartas do gênero Spodoptera em duas das principais culturas agrícolas brasileiras e as alternativas para evitar prejuízos
Tecnologia preservada.................10 Manejo possível.........................14 Mais desafiadora........................22 O que fazer para que ferramentas como o controle Como manejar os riscos de resistência do químico e o uso de cultivares de algodão Bt não se capim-arroz, planta daninha que cresce em percam por conta do uso excessivo contra os insetos importância em áreas de cultivo irrigado
Índice
A batalha para conter a antracnose, doença cuja incidência e severidade têm se agravado nas lavouras de soja
Expediente
Diretas
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Cultivo de soja RR sobre soqueiras de cana crua
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO Gilvan Dutra Quevedo
• Redação
CIRCULAÇÃO • Assinaturas
Medidas integradas no manejo de insetos no algodão
10
Como enfrentar o campim arroz
14
• Design Gráfico e Diagramação
Pragas iniciais em soja
17
• Revisão
Antracnose em soja
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MARKETING E PUBLICIDADE
Lagartas que atacam algodão e soja
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Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Carolina S. Silveira Juliana Leitzke
• Coordenação
Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Soares Francine Martins
Cristiano Ceia
Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação
Charles Ricardo Echer
• Expedição
Edson Krause
GRÁFICA
• Vendas
Informe - Novozymes
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Bicho-mineiro em café
30
Eventos - Ihara
33
Combate à brusone em trigo
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Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Pedro Batistin
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Variedades
A Brasmax lançou na Expodireto as variedades de soja Veloz, Alvo e Tornado. Veloz é superprecoce, indicada para ambiente de alta tecnologia (exigência em solo) com genética de alto rendimento. Possui pacote sanitário com RPS 1K (com tolerância para a maioria das raças de fitóftoras) destinada para regiões frias e altas. A Alvo possui características de superprecocidade, conta com o gene RPS 1K e é indicada para regiões altas e frias. Já a cultivar Tornado tem como característica precocidade e grupo de maturação com elevado potencial produtivo.
Híbridos
Presente na Expodireto Cotrijal com todos os representantes comerciais do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina, coordenadores técnicos regionais e gerentes comerciais da região sul, a Biogene apresentou a sua linha de híbridos direcionada para o mercado do Sul, como o BG7049 e BG7049H, BG7051H, BG7060, BG7060H e BG7060HR.
Tecnologia
A Pioneer apresentou na Expodireto Cotrijal a tecnologia Optimum Intrasect obtida pela combinação de duas diferentes proteínas Bt: a Cry1F e a Cry1Ab. Segundo Antonio Franciscon, gerente regional de Negócios da empresa, a ferramenta oferece excelente controle de pragas principais como a lagartado-cartucho (Spodoptera frugiperda), a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), elasmo (Elasmopalpus lignosellus), lagartadas-espigas (Helicoverpa zea) e lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), e ainda atua no combate de pragas secundárias como a lagarta-dasvagens (Spodoptera eridania) e a lagarta-dotrigo (Pseudaletia sequax).
Antonio Franciscon
Na armazenagem
A Bequisa apresentou na Expodireto sua linha de inseticidas fumigantes para grãos armazenados com destaque para o Gastoxin B 57 indicado para as culturas de amendoim, arroz, cacau, café, cevada, farelo de soja, farinha, feijão, fumo, milho, soja, sorgo, trigo e algodão. À base de fosfeto de alumínio o produto age contra pragas-alvo como cupins, besouros, bicho-do-fumo, bicudo, caruncho, caruncho-dos-cereais, gorgulho, lagarta-rosada, traça do fumo, traça-da-farinha, traça-do-cacau , traça-dos-cereais e traça-indiana-da-farinha.
Portfólio
A Dupont focou na Expodireto o fungicida Aproach Prima, para culturas de arroz, algodão, café, trigo, milho e cana-de-açúcar, e os inseticidas Altacor, que acaba de obter registro para o controle da lagarta panícula em arroz, e Premio, que atua de forma seletiva em relação a inimigos naturais. Os três agroquímicos compõem o ‘portfólio-estrela’ da empresa.
Soluções
A Dow AgroSciences apresentou na Expodireto seu portfólio completo de sementes de soja, milho, sorgo e a nova plataforma Convert de forrageiras, além da linha de agroquímicos para essas culturas. A empresa realizou demonstrações com o Simulador de Deriva, desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual Paulista, de Botucatu. O aparelho permite simular, na prática, a influência da velocidade do vento, da pressão aferida e de diferentes tipos de pulverizações na deriva de defensivos químicos.
Presença
A DonMário Sementes participou da 13ª edição da Expodireto Cotrijal. Francisco Crespo, da área de Marketing, explicou que a meta da empresa é proporcionar mais renda aos agricultores e auxiliá-los a ultrapassar os limites de rendimento na cultura da soja. “Trabalhamos com base na genética, manejo e qualidade”, destacou.
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Abril 2012 • www.revistacultivar.com.br
Produtos
Durante a Expodireto Cotrijal, no município de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, a FMC apresentou o inseticida Rocks, para tratamento de sementes em soja e milho, e o fungicida Locker, desenvolvido para o controle das principais doenças da soja.
Tratamento industrial
Durante a Expodireto 2012 a Syngenta destacou as vantagens do tratamento industrial de sementes. De acordo com João Carlos Nunes, gerente do Seed Care Instituto, a semente é o insumo mais importante e também mais vulnerável na escala de produção agrícola. “Tratar as sementes com fungicidas, inseticidas, nematicidas e bioativadores é um investimento para reduzir riscos”, frisou.
Interação
Pesquisadores
Para melhor atender aos profissionais que estiverem na Expodireto a FMC levou à feira dois especialistas em manejo de pragas e doenças nas lavouras. Mauro Braga abordou o cenário de mudanças no tratamento de semente e manejo de lagartas. Carlos Alberto Forcelini debateu o manejo de doenças na cultura da soja.
Marcella Manhães, coordenadora de Promoção, Propaganda e Marketing da Syngenta, esteve pela primeira vez na Expodireto. Destacou a qualidade do público participante e a oportunidade para a empresa compartilhar seu conhecimento com os clientes, produtores rurais, pesquisadores, estudantes e todos os visitantes interessados nas áreas de proteção de cultivos, sementes e biotecnologia vegetal, desenvolvidos pela marca.
Marcella Manhães
Visita
Durante a Expodireto a equipe Syngenta, liderada por Pedro Sasso, gerente comercial da Distribuição Sul, recebeu a visita de Alexandre Mendonça de Barros, consultor da MB Agro e da Ruralcon Consultoria em Gestão Agropecuária. Mauro Braga
Carlos Alberto Forcelini
Destaques
A Basf, uma das empresas patrocinadoras da Expodireto 2012, apresentou suas soluções para os produtores gaúchos. Entre os destaques estiveram o Digilab 2.0, o fungicida Abacus HC e o Sistema AgCelence Soja Produtividade Top.
Panorama
Pela primeira vez na Expodireto Cotrijal o presidente da Produquímica, Gerhard Shultz, falou do crescimento da empresa e dos desafios para os próximos anos. O executivo anunciou investimentos de R$ 40 milhões na fábrica em que é produzido o Sulfogran, principal defensivo da empresa. Com 40 patentes e mais de 200 produtos registrados, a marca cresceu 30% em 2012 e no primeiro bimestre deste ano apresentou acréscimo Gerhard Shultz de 24% em relação a 2011.
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Fox no Sul
Gaúchas
A Bayer CropScience aproveitou a Expodireto para anunciar o lançamento do fungicida Fox para a região Sul do Brasil. De acordo com Rodolpho Leal, gerente de Marketing na Regional Sul, o produto “está mostrando rendimento superior em parcelas realizadas em todos os estados da região Sul”. Nos próximos meses, cidades gaúchas, catarinenses e paranaenses receberão eventos de Rodolpho Leal lançamento do produto.
A Syngenta lançou duas novas variedades de soja na Expodireto 2012. A SYN 1161RR e a SYN 1163RR são variedades específicas para o Rio Grande do Sul. “Queremos promover um contato direto com os agricultores, ampliando nossos laços de aproximação e conhecimento de suas necessidades”, explica Laercio Luiz Hoffmann, engenheiro de desenvolvimento técnico de mercado.
Apresentação Fox
Com uma palestra lúdica e bem-humorada, a Bayer CropScience apresentou as indicações e benefícios do novo fungicida Fox, produto à base da nova classe química Triazolinthione, indicado para o controle de oídio, antracnose, mancha-alvo e ferrugem asiática. Laercio Luiz Haffmann, Felipe Fett e Milton Facco
Aproximação
Conforme o gerente de Marketing Crop Protection, Felipe Fett, a Syngenta tem o desafio constante de pensar como o produtor, avaliando a necessidade de manejo ideal para cada cultura. Com esta filosofia, a empresa oferece um portfólio completo para a cultura de soja, com produtos que abrangem desde a fase inicial até o controle de doenças e pragas de final de ciclo. Para esta safra, com o reposicionamento de algumas tecnologias, os principais produtos indicados são: Cruiser 250, Score, Ampligo, Felipe Fett Curyon, Engeo Pleno e Gramocil.
Tratamento de Sementes
Um dos destaques da Bayer CropScience na Expodireto foi o Tratamento Industrial de Sementes, disponível em uma estrutura que conta com quatro pilares: portfólio de produtos, tecnologias aplicadas às sementes, suporte técnico e de serviços e expertise em equipamentos para tratamento de sementes. Uma equipe completa, composta por RTVs, gerentes e coordenadores, recebeu os visitantes durante o evento.
Soja na Várzea
Um dos focos da Syngenta na Expodireto 2012 foi o programa Soja na Várzea, que busca a adaptação de todo o portfólio da empresa para a produção de soja em áreas antes cultivadas apenas com arroz. De acordo com Felipe Fett, esta opção, além de ser uma alternativa econômica para o produtor, é também uma ferramenta para o combate do arroz-vermelho e outras pragas da cultura do arroz.
Laboratório
Uma parceria entre a Syngenta e a Universidade de Passo Fundo proporcionou aos produtores que visitaram o estande da empresa a oportunidade de conhecer pragas e doenças bem de perto. “Um laboratório completo foi instalado para que os produtores pudessem identificar e conhecer pragas e doenças como tripes, ácaros, percevejos e lagartas”, explicou Milton Facco, gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado da Syngenta.
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Intacta RR2 Pro
Milton Facco
A Monsanto apresentou durante a Expodireto a soja transgênica Intacta RR2 Pro. Segundo Everton Wojahn, RTV Soja para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, “esta tecnologia alia proteção às principais lagartas que atacam a cultura, tolerância ao glifosato e potencial de aumento de produtividade”. A Intacta RR2 Pro já está liberada para o plantio, mas a Monsanto lançará a tecnologia somente após a aprovação por parte dos países importadores de soja do Brasil.
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Everton Wojahn
Cana-de-açúcar
Sucessão compatível
Fotos Everton Finoto
O cultivo da soja RR sobre soqueiras de cana crua, com aplicação posterior do herbicida dessecante, surge como alternativa vantajosa do ponto de vista econômico e ambiental, desde que não se associe manejo mecânico. Contudo, para se obter sucesso com essa prática, é preciso atenção a fatores como características dos genótipos das duas culturas, tipo de solo e qualidade das semeadoras
N
a região Centro-Sul do Brasil, a área cultivada com cana-deaçúcar quase duplicou nos últimos quatro anos, passando de 3,87 milhões de hectares em 2006 para os atuais 6,7 milhões de hectares, os quais estão concentrados especialmente no estado de São Paulo com aproximadamente 5,4 milhões de ha. Na última safra paulista, a colheita mecanizada da cana sem queima prévia (cana crua) já representou 49,1% da área colhida, aproximadamente 1,92 milhão de hectares (Canasat, 2010). Acordo entre o setor sucroenergético e o governo paulista estabelece que a partir de 2014, todos os canaviais com declividade menor que 12% deverão ser colhidos sem queima. Neste sistema de colheita, a quantidade de resíduos depositados sobre a superfície do solo, em média 15t.ha-1 de matéria seca, dificulta as operações agrícolas, em especial o preparo do solo por ocasião da renovação dos canavias, podendo aumentar o custo de produção em até 30% (Conde & Donzelli, 1997). Além disso, existem implicações ambientais, tais como aumento da erosão do solo devido à maior distância entre terraços empregada neste sistema, maior emissão de gases do efeito estufa (Bolonhezi et al, 2007, 2010). Uma alternativa para minimizar este impacto ambiental é a adoção dos princípios da agricultura conservacionista, ou seja, manutenção de resíduos, mínimo revolvimento do solo e emprego da rotação de culturas,
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que são o alicerce do plantio direto. Há mais de 12 anos, produtores da região nordeste do estado de São Paulo vêm praticando o plantio direto de soja sobre palhiço de cana crua, com resultados favoráveis que apresentam lastro técnico científico. Além dos clássicos benefícios que a soja proporciona para a canade-açúcar, como fornecimento de nitrogênio, diminuição da população de nematoides e aumento na produtividade (Mascarenhas et al, 1994), o cultivo desta leguminosa em sucessão ou rotação, contribui para amortizar em cerca de 40% o custo de implantação dos canaviais. Deve-se também considerar, que com atual importância do biodiesel e falta de matéria-prima, o período de reforma do canavial se configura em excelente oportunidade de produção desta matéria-prima. Embora o sistema já esteja consolidado, principalmente quanto aos aspectos relacionados às semeadoras e características das variedades, o plantio direto de soja é viavél em talhões de cana-de-
açúcar colhidos na metade da safra, pois assim pode-se esperar a rebrota da soqueira em altura suficiente para destruição química, estágio que demora em média 45 - 50 dias (Bolonhezi et al, 2000; 2006). Por outro lado, a tecnologia da soja RR pode permitir a adoção do plantio direto em canaviais colhidos em final de safra e optar pela destruição da soqueira ao longo do cilo da soja, com aplicações sequenciais. Contudo, existem dúvidas sobre o efeito negativo deste manejo sobre a produtividade de grãos. Neste contexto, durante a safra 2010/2011 instalou-se um experimento em área de renovação de canavial pertencente à Usina Colombo, no município de Pindorama (SP), objetivando-se avaliar as características produtivas da soja semeada como cultura de sucessão sob diferentes regimes de manejo da soqueira de cana crua em solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo eutrofér-
Soja cultivada sobre soqueira de cana crua
Semeadura da soja antes da dessecação das soqueiras de cana crua
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Vista panorâmica do ensaio, com diferentes tipos de manejo em canteiros, no município de Pindorama, São Paulo
rico, o talhão reformado apresentava histórico de cinco cortes mecanizados sem queima prévia. O delineamento utilizado foi em blocos ao acaso com quatro repetições e dez tratamentos, (Quadro 1). A cana-de-açúcar foi colhida em setembro de 2010, em seguida, demarcaram-se as parcelas experimentais com dimensões 30x20m (600m²), e a aplicação do herbicida glifosato na dose de 6L.ha-¹ para fins de dessecação da soqueira de cana-de-açúcar foi feita de acordo com o manejo indicado nos tratamentos testados. O glifosato foi aplicado utilizando pulverizador tratorizado com volume de calda de 300L.ha-¹. Foram monitoradas a umidade relativa do ar e a velocidade do vento para se constatar condições favoráveis antes do início de cada aplicação. A soja, variedade BRS 242RR, ciclo precoce, foi semeada no dia 15/11/2011 utilizandose plantadeira própria para plantio direto, com espaçamento de 45cm entre linhas. O manejo da soja durante todo o ciclo ocorreu conforme as recomendações adequadas para a cultura. Aos 130 dias após o plantio, por ocasião do fim de seu ciclo e da maturação adequada dos grãos, foram recolhidas duas amostras de duas linhas de 5m em cada parcela para avaliação de características produtivas. Contou-se o número de plantas para determinar o estande final e, em seguida, utilizando-se balança de precisão, determinaram-se a massa total e a massa de grãos após passar as amostras por uma trilhadeira de parcelas. A partir da relação entre a massa de grãos e a massa total calculou-se o índice de colheita. Os dados foram testados para normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk e não sofreram transformações e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Verifica-se na Tabela 1 que o tratamento plantio direto com dessecação antecipada, no mesmo dia ou após, desde que sem associação com manejo mecânico (roçagem) conferiu produtividades de grãos significativamente maiores que no sistema convencional de pre-
paro de solo. Este resultado pode ser explicado, parcialmente, pela redução no número de plantas. Convém salientar, que o tratamento plantio direto com dessecação no mesmo dia da semeadura, conferiu diminuição no "stand" final de plantas, porém, não refletiu em queda na produtividade. Com relação ao acúmulo da biomassa total da parte aérea, não foi verificado efeito expressivo da época e forma de manejo. No entanto, o índice de colheita, parece explicar melhor a variação de produtividade. Convém salientar que o plantio direto de soja, no método de manejo já consagrado (dessecação prévia à semeadura), conferiu aumentos de 911kg.ha-1 na produtividade de grãos em comparação ao preparo de solo convencional. Este resultado vem ratificar, mais uma vez, o potencial desta prática, concordando com pesquisas realizadas tanto com soja convencional (Bolonhezi et al, 2000, 2006) quanto soja transgênica (Bolonhezi et al, 2008 e Finoto et al, 2010 a, b). Com base nos resultados prelimares apresentados, pode-se concluir que é viável semear diretamente soja RR sobre soqueira de cana crua e deixar para aplicar o herbicida
dessecante após, sem quedas significativas na produtividade, desde que não se associe manejo mecânico. O sucesso desta prática poderá depender de diversos fatores, tais como características dos gentótipos de cana e soja, do tipo de solo e qualidade da semeadora. A economia de tempo na instalação da lavoura da soja poderá permitir o cultivo de genótipos de ciclo mais longo, porém, mais produtivas, C sem atrasar o plantio do novo canavial. Everton Finoto e Denizart Bolonhezi, Apta/SP Quadro 1 - Tratamentos relativos aos diferentes manejos de solo e erradicação da soqueira da cana-de-açúcar Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Manejo (ano 2010) Preparo Convencional (arado de aivecas e grade niveladora) Dessecação 13/10, Plantio Direto Dessecação 25/10, Plantio Direto Dessecação 04/11, Plantio Direto Plantio Direto, dessecação 15/11 Plantio Direto, dessecação 01/12 Roçagem 05/11, Plantio Direto e dessecação 01/12 Plantio Direto, dessecação 10/12 Roçagem 05/11, Plantio Direto e dessecação 10/12 Roçagem 15/11, Plantio Direto e dessecação 10/12
Tabela 1 - Avaliação dos fatores número de plantas por parcela, massa seca total (kg por parcela), produtividade grãos (kg.ha-1) e índice de colheita (%) de plantas de soja submetidas a plantios convencionas e plantio direto sob diferentes regimes de manejo da soqueira de cana-de-açúcar. Pindorama, safra 2010/11 Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 F DMS CV (%)
Número Plantas 65,83 c 125,50 a 128,50 a 128,18 a 95,35 b 120,75 a 120,15 a 121,50 a 119,38 a 127,98 a 25,9067 ** 19,026 6,7762
Massa Total 3,23 abc 3,30 ab 2,74 c 3,04 bc 3,57 a 3,62 a 3,22 abc 3,26 ab 2,93 bc 3,30 ab 6,4088 ** 0,517 6,5968
Produtividade 2622 c 3533 a 2778 bc 2911 bc 3244 ab 3244 ab 3133 abc 3178 ab 2822 bc 3000 bc 6,4041 ** 518 6,9948
Índice de Colheita 38,02 d 48,09 a 45,90 ab 43,13 abcd 40,85 bcd 40,30 cd 43,94 abc 43,85 abc 43,19 abcd 40,84 bcd 6,4662 ** 0,05604 5,3758
1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. ** Significativo a 1% de probabilidade.
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Algodão Charles Echer
Tecnologia preservada
O uso abusivo e indiscriminado de inseticidas e a falta de critérios na adoção do algodão Bt têm aumentado a pressão exercida por insetos e os problemas de resistência de pragas, o que coloca em risco duas das principais ferramentas de controle. Medidas integradas, adotadas em conjunto, são o caminho para que o produtor possa continuar a contar com essas estratégias de manejo a longo prazo
O
algodoeiro é conhecido mundialmente devido aos severos ataques que sofre de insetospraga. Nessa cultura, o controle de pragas tem sido realizado basicamente por meio da aplicação de inseticidas. O início das liberações comerciais de eventos de algodão geneticamente modificado que expressa proteína(s) inseticida(s) de Bacillus thuringiensis (Bt) ocorreu a partir de 2005 nas condições brasileiras. Atualmente, o controle químico e o algodão Bt são os principais métodos de controle de insetos-praga nessa cultura. A grande ameaça para a sustentabilidade dessas ferramentas de controle é a perda dessas tecnologias devido à resistência de pragas. A frequência de resistência aumenta em uma população de praga em resposta à pressão de seleção exercida pelo uso indiscriminado de determinado inseticida ou algodão Bt. A evolução da resistência consiste na seleção de insetos resistentes e no aumento da proporção destes insetos na população da praga e, portanto, no comprometimento da eficiência das tecnologias para o manejo de pragas. Nesse contexto, a resistência de insetos é uma séria ameaça para a manutenção das
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práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura do algodão no Brasil. Dentre as consequências da resistência de insetos estão a aplicação mais frequente de inseticidas, o aumento na dose ou substituição por outro inseticida, geralmente de maior toxicidade, e a perda ou comprometimento de tecnologias como a do algodão Bt. Estes fatores comprometem o MIP em vista da maior contaminação do meio ambiente com inseticidas, eliminação de inimigos naturais e elevação nos custos do controle da praga. Portanto, as estratégias de Manejo da Resistência de Insetos (MRI) a inseticidas e eventos de algodão Bt devem ser consideradas como partes integrantes do MIP e ser utilizadas com o objetivo de reduzir a chance de perda das ferramentas de controle devido à resistência.
Como manejar a resistência
Na cultura do algodão o uso intensivo de inseticidas no controle de pragas pode promover o desenvolvimento de resistência de insetos, caso estratégias de MRI não sejam implementadas. As estratégias de MRI devem ser preventivas, ou seja, no início do processo de desenvolvimento da
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resistência, e não após a constatação de falhas no controle de uma praga com o uso de um inseticida. Nesse sentido, para reduzir a pressão de seleção sobre as populações de insetos-praga e, consequentemente, o potencial para o desenvolvimento da resistência, alguns procedimentos podem ser adotados: • Monitoramento das pragas – Monitorar a cultura regularmente para identificar a presença de insetos-praga e inimigos naturais, estimando a população de insetos e acompanhando o estágio de desenvolvimento das pragas. Os inseticidas só devem ser usados quando a densidade populacional das pragas alcançar o nível de ação ou de controle. • Rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação – Usar inseticidas recomendados para a cultura do algodão, seguindo as recomendações de dose contidas no rótulo ou bula para a rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação para reduzir a pressão de seleção para um determinado grupo químico de inseticidas (Quadro 1). Não reduzir ou aumentar as doses recomendadas pelo fabricante, pois isso pode acelerar o desenvolvimento
Figura 1 - Representação esquemática da área de refúgio para o Manejo da Resistência de Insetos ao algodão Bt (Adaptado de Plante Refúgio - http://www.planterefugio.com.br/)
Adultos suscetíveis
Estratégia de alta dose e refúgio
O princípio da estratégia de alta dose deve garantir que a concentração de uma determinada proteína expressa na planta geneticamente modificada possibilite a mortalidade dos descendentes resultantes do cruzamento de indivíduos resistentes provenientes de algodão Bt com Fotos Oderlei Bernardi
da resistência. • Uso de inseticidas seletivos - A preservação dos inimigos naturais (parasitoides e predadores) pode manter as populações de insetos-praga abaixo do nível que causaria perdas econômicas, reduzindo assim a necessidade de aplicação de inseticidas e, consequentemente, a pressão de seleção sobre as populações de insetos-praga. • Verificação dos equipamentos de aplicação - Calibrar os equipamentos para obter uma aplicação de boa qualidade, usar a pressão e os volumes recomendados. Sem dúvida, os fracassos no controle de pragas muitas vezes estão associados à calibragem deficiente dos equipamentos de pulverização e/ou aplicação em alta densidade populacional da praga, fato que compromete a eficiência dos inseticidas e pode favorecer o desenvolvimento da resistência.
Adultos resistentes
A)
indivíduos suscetíveis provenientes da área de refúgio (Figura 1). A área de refúgio consiste no plantio de algodão não Bt com uma variedade de ciclo vegetativo similar ao da área plantada com algodão Bt, ou seja, compreende a área onde a praga não é exposta à pressão de seleção da proteína inseticida presente no campo
C)
B)
Manejo de resistência ao Bt
Os eventos de algodão Bt se caracterizam por expressar continuamente as proteínas inseticidas em seus tecidos e, durante todo o ciclo da cultura, aumentando pressão de seleção nas populações dos insetos-pragaalvo de controle. Diante disso, a sustentabilidade dos diferentes eventos de algodão Bt (Quadro 2) para o MIP é dependente do estabelecimento de estratégias de MRI. Dentre as estratégias de MRI ao algodão Bt, as mais importantes são a estratégia de alta dose e a piramidação de genes, ambas associadas ao uso de áreas de refúgio.
Monitoramento da suscetibilidade das pragas-alvo de plantas Bt. Distribuição da proteína Bt incorporada em dieta artificial (A) ou aplicação da proteína Bt na superfície da dieta (B) e avaliação da sobrevivência dos insetos (C)
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Quadro 1 - Inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle dos principais insetos-praga da cultura do algodão Inseto-praga Anthonomus grandis (Bicudo)
Alabama argillacea (curuquerê) Heliothis virescens (lagarta das maçãs)
Pectinophora gossypiella (lagarta rosada)
Spodoptera frugiperda (lagarta militar)
Bemisia tabaci Biótipo B (mosca branca)
Aphis gossypii (pulgão)
Grupo químico Organofosforados Carbamatos Piretroides/Éter difenílico
Mecanismo de ação Inibidor de acetilcolinesterase Modulador de canais de sódio
Ingrediente ativo Parationa-metílica, Malationa, Fenitrotiona, Metidationa Carbosulfano, Metomil Beta-cipermetrina, Lambda-cialotrina, Cipermetrina, Zeta-cipermetrina, Alfa-Cipermetrina, Bifentrina, Deltametrina, Beta-Ciflutrina, Gama-Cialotrina Esfenvalerato, Fenpropatrina, Etofenproxi Neonicotinoides Agonista de receptores nicotínicos da acetilcolinesterase Tiametoxam Benzoilureias Inibidor da formação de quitina Triflumurom, Lufenurom, Diflubenzurom, Novalurom, Teflubenzurom, Clorfluazurom Ciclodienos Antagonista dos canais de cloro mediados pelo Gaba Endossulfam Fenilpirazóis Antagonista dos canais de cloro mediados pelo Gaba Fipronil Organofosforados Inibidor de Acefato, Clorpirifós, Triazofós Parationa-metílica, Profenofós, Metamidofós, Malationa, Fenitrotiona, Profenofós Carbamatos acetilcolinesterase Metomil, Tiodicarbe Piretroides Modulador de Beta-cipermetrina, Bifentrina, Permetrina, Lambda-cialotrina, Cipermetrina, Deltametrina, canais de sódio Zeta-cipermetrina, Alfa-Cipermetrina, Esfenvalerato, Fenpropatrina Benzoilureias Inibidor da formação de quitina Triflumurom, Lufenurom, Diflubenzurom, Novalurom, Teflubenzurom, Clorfluazurom Diacilhidrazinas Agonista de receptores de ecdisteroides Metoxifenozida, Tebufenozida, Cromafenozida Indoxacarbe Bloqueador de canais de sódio dependentes da voltagem Indoxacarbe Diamidas Modulador de receptores de rianodina Flubendiamida, Chlorantraniliprole Spinosinas Ativador de receptores nicotínicos da acetilcolina Espinosade Ciclodienos Antagonista dos canais de cloro mediados pelo Gaba Endossulfam Organofosforados Inibidor de acetilcolinesterase Clorpirifós Piretroides Modulador de Beta-cipermetrina, Lambda-cialotrina, Cipermetrina, Deltametrina, canais de sódio Esfenvalerato, Fenpropatrina, Zeta-cipermetrina, Fluvalinato Indoxacarbe Bloqueador de canais de sódio dependentes da voltagem Indoxacarbe Ciclodienos Antagonista dos canais de cloro mediados pelo Gaba Endossulfam Organofosforados Inibidor de Acefato, Clorpirifós Carbamatos acetilcolinesterase Tiodicarbe Piretroides Modulador de canais de sódio Zeta-cipermetrina, Bifentrina Benzoilureias Inibidor da formação de quitina Triflumurom, Lufenurom, Diflubenzurom, Novalurom Indoxacarbe Bloqueador de canais de sódio dependentes da voltagem Indoxacarbe Diamidas Modulador de receptores de rianodina Flubendiamida, Chlorantraniliprole Moduladores dos canais de sódio Piretroides Bifentrina, Deltametrina Neonicotinoides Agonista de receptores nicotínicos da acetilcolinesterase Tiametoxam, Tiacloprido, Imidacloprido Buprofezina Inibidor da formação de quitina - Hemiptera Buprofezina Piriproxifen Mímico do hormônio juvenil Piriproxifem Derivados do ácido tetrônico Inibidor da Acetil CoA carboxilase Espiromesifeno Piridina azometina Bloqueador seletivo da alimentação Pimetrozina Diafentiuron Inibidor da ATP sintase Diafentiurom Organofosforados Inibidor de Acefato, Clorpirifós, Triazofós Parationa-metílica, Metamidofós, Malationa, Fenitrotiona, Metidationa, Carbamatos acetilcolinesterase Carbofurano, Carbosulfano, Benfuracarbe, Metomil Piretroides Modulador de canais de sódio Beta-cipermetrina, Zeta-cipermetrina, Deltametrina, Permetrina, Cipermetrina, Benzoilureias Inibidor da formação de quitina Triflumurom, Lufenurom, Diflubenzurom, Novalurom, Teflubenzurom, Clorfluazurom Neonicotinoides Agonista de receptores nicotínicos da acetilcolinesterase Tiametoxam, Tiacloprido, Imidacloprido, Flonicamida, Acetamiprido, Clotianidina Ciclodienos Antagonista dos canais de cloro mediados pelo GABA Endossulfam Piridina azometina Bloqueador seletivo da alimentação Pimetrozina Diafentiuron Inibidor da ATP sintase Diafentiurom
Bt, em que pode sobreviver, reproduzir e acasalar-se com os indivíduos sobreviventes da área de cultivo de algodão Bt. Em outras palavras, o refúgio funciona como um “reservatório” de indivíduos suscetíveis. Assim, espera-se que os indivíduos da população de praga do refúgio se acasalem com qualquer indivíduo resistente que possa ter sobrevivido na área de cultivo com algodão Bt e, desse modo, mantenha a suscetibilidade das gerações futuras das pragas-alvo. Para que seja possível o acasalamento de indivíduos resistentes com suscetíveis, a distância de qualquer planta de algodão Bt a plantas de algodão da área de refúgio
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Quadro 2 - Eventos de algodão Bt liberados para cultivo no Brasil (Fonte: CTNBio, 2011) Evento Bollgard® Widestrike® Bollgard II® TwinLink®
Proteína inseticida Cry1Ac Cry1Ac + Cry1F Cry1Ac + Cry2Ab2 Cry1Ab + Cry2Ae
Praga-alvo A. argillacea, P. gossypiella e H. virescens H. virescens, S. frugiperda, A. argillacea, P. gossypiella e P. includens A. argillacea, H. virescens, P. gossypiella, S. frugiperda e P. includens A. argillacea, H. virescens, P. gossypiella, S. frugiperda e P. includens
deverá ser obedecida.
Recomendações para área de refúgio
• O tamanho do refúgio deve ser representado por uma porcentagem da área total do produto comercial de algodão Bt plantado em uma propriedade rural, de acordo com o recomendado pela empresa
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Tamanho da área de refúgio 20% 5% 5% 5%
registrante (Quadro 2). - Recomenda-se que o refúgio seja plantado com uma variedade de ciclo vegetativo similar e concomitantemente ao algodão Bt. • O refúgio deve ser formado por um bloco de algodão não Bt, sendo que a distância máxima entre qualquer planta de
Fotos Oderlei Bernardi
A)
B)
C)
Figura 2 - Representação esquemática dos sistemas de plantio de algodão, soja e milho no estado de Mato Grosso
Aplicação do inseticida na superfície da dieta artificial (A), aplicação tópica no pronoto da lagarta (B) e avaliação da sobrevivência dos insetos (C)
algodão Bt e uma planta da área de refúgio deve ser de, no máximo, 800 metros; • O refúgio deve ser semeado na mesma propriedade do cultivo do algodão Bt e manejado pelo mesmo agricultor. Se a população da praga atingir o nível de dano econômico na área de refúgio, o controle poderá ser realizado com inseticidas que não sejam formulados à base de Bt. • Não deve ser realizada a mistura de sementes de algodão não Bt com algodão Bt.
Piramidação de genes
O primeiro evento de algodão Bt (Bollgard) se caracterizou por expressar uma única proteína inseticida (Cry1Ac). No entanto, os eventos subsequentes se caracterizam por expressar duas proteínas inseticidas e, por isso, denominado de algodão Bt “piramidado” (Bollgard II, Widestrike e TwinLink) (Quadro 2). As variedades de algodão Bt “piramidado”, além de controlar mais eficientemente todo o complexo de pragas, torna possível a implementação de uma estratégia mais efetiva de MRI, pois a frequência de insetos resistentes para as duas proteínas inseticidas é extremamente baixa. Desse modo, uma das proteínas inseticidas irá controlar os insetos-praga resistentes à outra proteína inseticida e vice-versa. Entretanto, para que uma planta de algodão Bt seja considerada “piramidada”, as combinações de proteínas inseticidas expressas devem ocasionar mortalidade da mesma praga-alvo. Apesar do algodão Bollgard II ou algodão Widestrike expressarem duas proteínas distintas,
apenas uma proteína tem atividade para a lagarta militar (Spodoptera frugiperda), pois é sabido que proteína Cry1Ac não é tóxica para esta espécie. No entanto, ambas as proteínas são tóxicas para a lagarta das maçãs (Heliothis virescens). Nesse caso, esses eventos não podem ser considerados piramidados para a lagarta militar, pois apenas uma das proteínas é ativa para S. frugiperda. De modo semelhante à estratégia de alta dose, o estabelecimento de áreas de refúgio para o algodão que expressa duas proteínas inseticidas de Bt é igualmente importante, adotar as áreas de refúgio para evitar ou retardar o desenvolvimento da resistência em populações das pragas-alvo de controle para garantir a sustentabilidade dessa tática de controle para o MIP na cultura do algodão.
Necessidade de planejar
Para a implementação efetiva de estratégias de manejo da resistência (MRI), há necessidade de planejamento do sistema de produção de cultivos em uma determinada região (Figura 2). A tecnologia de algodão Bt é mais uma ferramenta que deve ser integrada em programas de Manejo Integrado de Pragas. O manejo de algumas pragas na cultura do algodão pode ser influenciado pelo manejo de pragas em outras culturas e vice-versa, bem como nas práticas adotadas no período de entressafra. Por exemplo, S. frugiperda é uma das importantes pragas das culturas do milho e de soja, assim como do milheto. O problema de percevejos no algodão pode ser explicado pelo manejo
inadequado dessas pragas na cultura da soja. Outras espécies de Lepidoptera, tais como Spodoptera eridania, S. cosmioides e Pseudoplusia includens ocorrem tanto na cultura do algodão como na de soja. Com o advento da tecnologia Bt nas culturas de milho e de soja, há necessidade de planejamento dessas culturas para o manejo da resistência de pragas a algodão Bt. A pressão de seleção exercida com inseticidas ou proteínas Bt em outras culturas pode afetar o manejo da resistência de pragas na cultura do algodão. Devido ao controle da maioria das lagartas em cultivos Bt, possivelmente o problema com insetos sugadores, tais como pulgões e moscabranca, tenderá a aumentar nos próximos anos. Portanto, a rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação para o controle dessas pragas (Quadro 1) será de fundamental importância para evitar ou retardar o problema da resistência em condições de campo. Devido à alta mobilidade de algumas pragas, as estratégias de MRI devem ser implementadas no âmbito regional. O trabalho cooperativo envolvendo universidades e institutos de pesquisa, empresas químicas e de biotecnologia, cotonicultores e extensionistas, e órgãos de regulamentação é de fundamental importância. Esforços na implementação de estratégias de MRI por parte das empresas têm sido realizados pelo Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (Irac-BR). C Oderlei Bernardi e Celso Omoto, Esalq/USP
Arroz
Manejo possível
Fotos Augusto Kalsing
O capim-arroz é uma das principais plantas daninhas da cultura do arroz irrigado na região Sul do Brasil e a ocorrência de biótipos resistentes a herbicidas tem dificultado seu controle nas lavouras. Ainda restam algumas alternativas de defensivos que podem ser usados no controle da infestante, mas a durabilidade dessas ferramentas dependerá de ações precisas e da associação com outras práticas de manejo
O
capim-arroz (Echinochloa sp.) ocorre com grande frequência e distribuição nas regiões produtoras de arroz irrigado, sendo uma das principais plantas daninhas infestantes desta cultura no Brasil e no mundo. A sua interferência negativa à cultura é decorrente da elevada adaptação ao ambiente hidromórfico, da capacidade de competição por recursos do meio e da produção de sementes (Agostinetto et al, 2007). Em condições de cultivo de arroz irrigado na região Sul do Brasil, estimam-se perdas de 5% a 22% do potencial de rendimento da cultura para cada planta de capim-arroz por m2 (Galon et al, 2007). Por essa razão, é necessário utilizar programas de manejo eficazes e sustentáveis desta e de outras plantas daninhas para se atingir elevados patamares produtivos na lavoura de arroz. Na safra 2010/11, cerca de 60% das áreas orizícolas do Estado do Rio Grande do Sul cultivaram arroz Clearfield, o que representa a maior área agrícola do mundo com o emprego desta tecnologia (Irga, 2011). Esta necessidade advém da elevada infestação destas lavouras com arroz vermelho (Oryza sativa), uma vez que a tecnologia permite controlá-lo de forma eficaz e seletiva ao arroz cultivado. Porém, as aplicações de um ou mais herbicidas com o mesmo mecanismo de ação por várias safras têm contribuído para o surgimento de biótipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas. Nos últimos anos, estudos demonstram a ocorrência de biótipos de capim-arroz com resistência aos herbicidas imidazolinonas em áreas dessa cultura (Merotto et al, 2009;
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Mariot et al, 2010). Quando surgem biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas em uma cultura, tem-se a necessidade iminente de desenvolver pesquisas que subsidiem mudanças nas práticas de manejo utilizadas. No caso do capim-arroz, o conhecimento de alternativas de controle químico apresenta grande importância para que os orizicultores restabeleçam o controle eficaz dos biótipos resistentes. Neste caso, diversas pesquisas têm sido realizadas para subsidiar ações de manejo de biótipos de capim-arroz resistentes a herbicidas, assim como para prevenir a ocorrência de novos casos. Estas pesquisas demonstram a necessidade de realização de práticas de manejo específicas para estas áreas, objetivando-se a diminuição de quaisquer fatores que contribuam para a evolução da resistência.
Controle químico
Nas safras 09/10, 10/11 e 11/12, quatro experimentos foram realizados para avaliar a
ocorrência de biótipos de capim-arroz resistentes a herbicidas e alternativas de produtos para o seu controle químico. Em dois desses experimentos, sementes de escapes de plantas desta espécie daninha, oriundas de áreas de arroz Clearfield, foram coletadas para confirmar a resistência aos herbicidas imidazolinonas. Os procedimentos foram realizados com base nos métodos descritos em Sosbai (2010) e Heap (2011), com o intuito de padronizar a condução dos ensaios e os resultados obtidos. Nos demais experimentos foram testados tratamentos herbicidas aplicados em pré e pósemergência da cultura do arroz irrigado para controlar biótipos de capim-arroz resistentes a imidazolinonas. Os biótipos de capim-arroz com suspeita de resistência a herbicidas em áreas orizícolas apresentaram resposta diferenciada à aplicação da mistura formulada pelos herbicidas imazethapyr+imazapic (90+30g/ha). Na safra 09/10, cerca de 25% dos biótipos apresentaram uma ou mais plantas sobreviventes
Figura 1 - Biótipos de capim-arroz suscetível e resistente aos herbicidas imidazolinonas
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ao produto, o que permitiu que fossem classificadas como supostamente resistentes a imidazolinonas. Na safra 10/11, este valor foi superior a 75%, o que demonstra que houve elevado surgimento de casos de resistência a herbicidas, quando comparados à safra anterior (Tabela 1). Vale destacar que nesta última safra encontraram-se biótipos de capim-arroz resistentes a imidazolinonas em lavouras localizadas nas seis regiões orizícolas do Rio Grande do Sul (Figura 1). O controle dos biótipos de capim-arroz resistentes a imidazolinonas variou de acordo com o tratamento herbicida testado. Em um experimento, profoxydim e cyalofop-butyl foram os únicos herbicidas que controlaram eficazmente 13 biótipos resistentes, podendo ser utilizados no manejo nestas situações (Tabela 2). Em outro experimento, com apenas um biótipo resistente, a maior eficácia de controle ocorreu com profoxydim, cyalofopbutyl, quinclorac e clomazone, em relação aos demais (Tabela 3). Em ambos os experimentos, verifica-se que os herbicidas penoxsulam, bispyribac-Na e pyrazosulfuron-ethyl não proporcionaram controle satisfatório na maioria dos biótipos avaliados. As associações de herbicidas geralmente não apresentaram acréscimo no nível de controle, sendo menos eficientes do que a aplicação dos produtos de
forma isolada (Tabela Figura 2 - Associando oportunidades no manejo de capim-arroz e prevenção da resistência 3). Os resultados obtidos mostram que a busca por produtos alternativos aos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS) é indispensável para controle eficaz dos biótipos resistentes a imidazolinonas. De fato, a maioria dos biótipos avaliados apresentou resistência cruzada para todos os herbicidas deste mecanismo de ação, tendo a capacidade demais práticas de manejo sejam realizadas de sobreviver à sua exposição. Deste modo, pelos agricultores. a rotação de herbicidas contendo auxinas (quinclorac), inibidores de carotenos (clomazone), da divisão celular (pendimethalin), da Associando oportunidades enzima ACCase (profoxydim e cyhalofop) e Uma das principais reflexões atuais acerca da fotossíntese (propanil) é alternativa para das práticas empregadas para o manejo de eliminar os biótipos resistentes a imidazoinfestantes na cultura do arroz irrigado no Sul linonas. Esta estratégia de manejo permite do Brasil é o aparecimento de novos casos de conciliar “controle satisfatório” e “prevenção biótipos resistentes a herbicidas. Dentre estes da resistência” do capim-arroz, desde que as casos, aqueles que envolvem biótipos de capim
arroz preocupam produtores, técnicos e pesquisadores por apresentar resistência cruzada e múltipla a herbicidas (Tabelas 2 e 3). Hipotetiza-se que o processo de metabolização é o mecanismo de resistência destes biótipos, o que pode originar problemas ainda maiores, uma vez que as plantas têm a capacidade de detoxificar e resistir a herbicidas pertencentes a diferentes mecanismos de ação (Merotto Jr., 2010). Neste cenário, em que há perspectiva de incremento dos casos de resistência de capim-arroz nas próximas safras, é preciso combinar diferentes herbicidas e práticas agrícolas no manejo da espécie. A formulação das estratégias eficazes e sustentáveis de manejo deve ser composta por “ações obrigatórias” e “ações complementares”, de acordo com as características de cada área cultivada (Figura 2). Com as ações obrigatórias objetiva-se manter a lavoura de arroz livre da presença destas espécies, desde a emergência das plântulas até o início do período crítico de competição (estádio V3). As ações complementares são práticas de manejo que objetivam otimizar os efeitos obtidos com as ações obrigatórias, sendo fundamentais nas áreas com elevada infestação de capim-arroz. Com isso, as estratégias de manejo devem sempre ser formuladas para cada tipo de situação, uma vez que existem diferentes associações de oportunidades de manejo do capim-arroz (Figura 2). Para controlar capim-arroz e prevenir sua resistência aos herbicidas: • Semear a cultura no período recomendado; • Utilizar somente sementes e produtos com certificação; • Aplicar herbicidas em pré-emergência e em “ponto de agulha”; • Praticar rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação; • Irrigar a cultura logo após a aplicação dos herbicidas em pós-emergência; • Impedir a produção de sementes na área das plantas que escaparem ao controle; • Drenar a área cultivada logo após a colheita e destruir a soca com o preparo do solo; • Praticar rotação de sistemas de cultivos na área ao longo do tempo; • Praticar rotação de culturas e/ou de atividades na área ao longo do tempo;
Estratégia de manejo proativa
Os herbicidas disponíveis aos agricultores são tecnologias importantes para a redução dos efeitos negativos das plantas daninhas, o que reforça a necessidade de serem utilizados com critérios técnicos e
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racionais. A resistência destas espécies a estes produtos pode ser encarada de forma proativa (preventiva) ou reativa (curativa), ou seja, o problema pode ocorrer, a dúvida é preveni-lo agora ou tratá-lo no futuro. Interessantemente, muitas práticas de manejo proporcionam “controle satisfatório” e “prevenção da resistência”, basta que o orizicultor use-as de forma associada e oportuna no controle do capim-arroz. Isto requer conscientização de que somente associando-se diferentes herbicidas e práticas agrícolas disponíveis será possível manejar o capim-arroz de forma sustentáC vel na lavoura.
Augusto Kalsing, Felipe Matzenbacher e Valmir Menezes, Irga Aldo Merotto Júnior, UFRGS Tabela 1 - Número de biótipos de capim-arroz resistentes a imidazolinonas oriundos de lavouras orizícolas do Rio Grande do Sul Biótipos de capim-arroz Suscetíveis Resistentes Total
Safra 2009/10 40 (76%) 13 (24%) 53 (100%)
Safra 2010/11 32 (21%) 121 (79%) 153 (100%)
Tabela 2 - Controle (%) de 13 biótipos de capim-arroz resistentes aos herbicidas imidazolinonas através do uso de herbicidas alternativos, aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos Biótipo
Bio 1 Bio 2 Bio 3 Bio 4 Bio 5 Bio 6 Bio 7 Bio 8 Bio 9 Bio 10 Bio 11 Bio 12 Bio 13
profoxydim (16 g ha-1) 100 a (S) 98 a (S) 98 a (S) 100 a (S) 100 a (S) 100 a (S) 100 a (S) 93 a (S) 100 a (S) 100 a (S) 100 a (S) 97 a (S) 96 a (S)
cyalofop (18 g ha-1) 100 a (S) 96 a (S) 100 a (S) 96 a (S) 98 a (S) 99 a (S) 100 a (S) 95 a (S) 98 a (S) 92 a (S) 100 a (S) 98 a (S) 100 a (S)
Herbicidas alternativos penoxsulam quinclorac (48 g ha-1) (375 g ha-1) 73 b (S) 88 a (S) 75 b (S) 75 b (S) 5 c (R) 97 a (S) 12 c (R) 90 ab (S) 5 c (R) 97 a (S) 0 c (R) 83 a (S) 7 c (R) 97 a (S) 8 c (R) 100 a (S) 50 c (R) 84 b (S) 17 c (R) 96 a (S) 78 b (S) 88 ab (S) 48 b (R) 0 c (R) 83 a (S) 87 a (S)
bispyribac (40 g ha-1) 95 a (S) 93 a (S) 50 b (R) 75 b (S) 45 b (R) 46 b (R) 74 b (S) 50 b (R) 96 ab (S) 42 b (R) 83 ab (S) 47 b (R) 82 a (S)
pyrazosulfuron (20 g ha-1) 72b (S) (1) 69 b (S) 12 c (R) 21 c (R) 48 bc (R) 52 b (R) 10 c (R) 28 bc (R) 52 c (S) 35 b (R) 88 ab (S) 41 b (R) 83 a (S)
(1) Supostamente resistente (R) ou suscetível (S) ao herbicida alternativo avaliado.
Tabela 3 - Controle (%) de biótipo de capim-arroz resistentes aos herbicidas imidazolinonas em área comercial de produção de arroz irrigado (Palmares do Sul, RS), aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos Herbicidas alternativos clomazone (1) pendimethalin (1) tiobencarb (1) imazapyr+imazapic (2) profoxydim (3) cyhalofop-butyl (3) quinclorac (3) propanil + tiobencarb (3) propanil (3) imazapyr+imazapic (3) bispyribac-Na (3) imazethapyr+imazapic (3) penoxsulam (3) fenoxaprop-P-ethyl (3) imazethapyr (3) pendimethalin (1) + imazapyr (3) + imazapic (3) pendimethalin (1) + imazapyr + imazapic (3) + profoxydim (3) imazapyr + imazapic (2) + profoxydim (3) imazapyr + imazapic (2) + quinclorac (3) fenoxaprop (3) + imazapyr (3) + imazapic (3) fenoxaprop(3) + imazethapyr + imazapic (3) Testemunha
Dose (g ha-1) 800 1750 5000 105 + 35 150 360 375 2820 + 1200 3600 73,5 + 24,5 50 75 + 25 48 89,7 106 1750 + 73,5 + 24,5 1751 + 73,5 + 24,5 + 150 105 + 35 + 150 105 + 35 + 375 89,7 + 73,5 + 24,5 89,7 + 75 + 25 0
(1)Aplicação em pré-emergência. (2)Aplicação em pré e pós-emergência. (3)Aplicação em pós-emergência.
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Controle (%) 96 ab 53 ghif 35 jlk 46 hijk 86 abcd 68 defg 91 abc 73 cdef 75 bcdef 28 kl 19 lm 16 lm 83 abcde 78 abcde 18 lm 69 defg 97 a 75 bcdef 96 abc 55 fghi 40 ijk 0m
Soja
Ofensiva inicial
Pragas iniciais como lagarta elasmo, cupim de montículo, tamanduá da soja e percevejo barriga verde causam danos severos aos sojicultores. O tratamento de sementes com inseticidas é uma das principais estratégias disponíveis para os produtores prevenirem prejuízos com o ataque desses insetos
A
soja foi introduzida no Brasil no início do século XX. Inicialmente cultivada em pequenas áreas, se expandiu somente na segunda metade daquele século. Primeiro no Rio Grande do Sul e posteriormente em Santa Catarina e Paraná. Atualmente é cultivada praticamente em todo o Brasil graças ao desenvolvimento
de cultivares adaptadas a baixas latitudes. À medida que o cultivo ocupou novas áreas, diversos insetos se adaptaram a esta planta exótica, sendo que atualmente cerca de 500 espécies podem se alimentar e se reproduzir consumindo essa leguminosa. Os insetos nocivos à fase inicial de desenvolvimento da planta compreendem espécies
de vários grupos conforme o local de ataque ou a parte da planta onde se alimentou. Os rizófagos são aqueles que se alimentavam das raízes, como a larva alfinete, o verme arame, os corós (larvas de besouros) e, mais recentemente, os cupins, com destaque para o cupim de montículo; os desfolhadores, como as vaquinhas, algumas lagartas, gafanhotos,
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Mauricio Pasini
Fotos Mauricio Pasini
Planta de soja com danos causados pelo ataque da lagarta elasmo
grilos e formigas, na escala de danos. Outras cortam ou danificam a haste principal, matando a plântula, onde se destacam as lagartas roscas, os grilos, a paquinha, o besouro pardo e o torrãozinho. Ainda ocorrem larvas que broqueiam a haste, como a lagarta elasmo ou broca do colo e o tamanduá ou bicudo da soja, e sugadores, como as cigarrinhas e o percevejo barriga verde. Estes organismos podem ocorrer durante todo o ciclo da cultura, mas somente no primeiro mês causam danos significativos. Na região central do Rio Grande do Sul, em solos com predominância de areia (solo São Pedro) com boa drenagem, o ataque na fase inicial é frequente, podendo reduzir a
Falhas no estande causadas pela incidência do grilo em área de produção de soja
densidade inicial de plantas em até 45% nas lavouras onde ocorrem (Tabela 1). O ataque se dá em manchas, com maiores infestações nos lados leste e norte das coxilhas. A intensidade de dano de cada um destes insetos,
Sintoma do estrangulamento provocado pela presença do percevejo barriga verde
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isoladamente, raramente compensa o controle químico. Em pequenas áreas, principalmente nas proximidades de vegetação nativa, a ocorrência maior se dá nos primeiros dez metros de borda, ocasionado, muitas vezes, a eliminação
Escala de danos (mais severos à direita) provocados por insetos em plantas de soja
completa das plantas nesta faixa. Na reunião de pesquisa de soja de 2009, a assistência técnica relatou que aproximadamente um terço das lavouras de soja do Rio Grande do Sul aplica tratamento de sementes para o controle destas pragas. Levantamentos realizados no período 1990-2005 na região central do Rio Grande do Sul permitiram constatar a ocorrência de três até oito espécies atacando a soja nesta fase. Como os danos se somam, o controle químico torna-se viável e compensa economicamente. Entre os meios de controle, o tratamento das sementes com produtos formulados existentes no mercado e registrados para esta finalidade tem resultado em estande satisfató-
rio, permitindo o desenvolvimento de lavoura com um mínimo de falhas. O conhecimento do histórico fitossanitário da área a ser cultivada com soja, a frequência e a intensidade da ocorrência destas pragas nas safras anteriores, vão determinar a melhor escolha do produto a ser empregado no tratamento das sementes. O sojicultor dispõe de duas opções: comprar a semente já tratada para esta finalidade, pois existem empresas especializadas neste tipo de operação, ou realizar o tratamento antes da semeadura. Na situação do tratamento na propriedade é indicado fazer esta operação até um mês antes da semeadura. Entre os produtos existentes no mercado, alguns dão proteção até 15/20 dias após a
semeadura, enquanto outros protegem até 60 dias. Nenhum produto registrado para tratamento de sementes controla eficientemente todas as “pragas” que podem atacar a soja na fase inicial. Por isso a escolha do produto está condicionada a aquelas “pragas” que causam as maiores reduções do estande. A escolha de um ou outro inseticida depende de qual ou quais pragas são mais frequentes na área. O mapeamento das áreas com a frequência de ataque destas pragas é fundamental para se tratar, preferencialmente, os grãos que serão semeados nestes locais. Isso é importante, pois o custo do tratamento, dependendo do produto ou praga, é elevado e qualquer gasto desnecessário aumenta as despesas da lavoura, sem retorno, na produção. C Dionisio Link e Mauricio Paulo Batistella Pasini, UFSM
Grilo pardo, um dos insetos nocivos à cultura da soja na fase inicial de desenvolvimento das plantas
Link e Pasini destacam a importância do tratamento de sementes contra pragas iniciais
Tabela 1 – Redução média de estande em soja sem tratamento inseticida em sementes na fase inicial, na região central do Rio Grande do Sul. 1990/2005 “Praga” Lagarta rosca Lagarta elasmo Grilo Paquinhas Tamanduá Corozinho Torrãozinho Larva alfinete Verme arame Aves Ratos Lesmas e caracóis
Média (%) 3 5 9 <1 2 <1 <1 4 <1 Outros <5 <5 <1
Amplitude (%) 0,1 – 15 0,5 – 80 3 – 100 0,1 – 10 0,5 – 60 0,1 – 6 0,2 – 20 1 – 15 0 – 10 1 – 70 5 – 40 1–5
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Soja
Mais desafiadora
A antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum truncatum, tem atacado cada vez mais cedo e de forma intensa as lavouras de soja brasileiras, principalmente na região do Cerrado. Ao mesmo tempo seu controle tem se tornado desafio crescente para os produtores transmitido por semente e infecta a planta de soja em qualquer fase de desenvolvimento, podendo causar morte de plântulas, lesões em cotilédones caracterizadas por manchas circulares, deprimidas de coloração castanha com pontuações negras. Nas folhas observam-se necroses nas nervuras. Se ocorrer infecção nos estádios R3/R4, as vagens adquirem coloração castanho-escura a negra, não formam grãos e normalmente ficam retorcidas, além de ocorrer abortamento de vagens. Na fase de granação, observam-se manchas escuras com pontuações negras, acérvulos. As condições favoráveis para a antracnose são precipitações frequentes e alta temperatura, condição climática típica do Cerrado durante a época de cultivo de soja. O manejo integrado é a melhor alternativa para redução de danos causados pela antracnose. Práticas como aquisição de sementes de alta qualidade fisiológica e sanitária, tratamento de sementes com fungicidas, adubação equilibrada (principalmente a potássica), espaçamento adequado evitando adensamento, o que ocasiona um microclima favorável para a ocorrência de doenças, competição entre plantas e dificuldade de se atingir o alvo
A
importância de cada doença da soja varia a cada ano e conforme o local de plantio, dependendo das características climáticas inerentes às diversas regiões geográficas do Brasil e das cultivares predominantes. Em geral, as maiores perdas por doenças têm sido observadas na região dos Cerrados, onde as chuvas são mais abundantes e frequentes e as temperaturas mais elevadas. Dentre
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as doenças da cultura, a antracnose tem se tornado cada vez mais expressiva no Cerrado brasileiro, principalmente nos estados do Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Maranhão. Atualmente é considerada uma das principais doenças da soja nestes estados, embora existam vários relatos de ocorrência em praticamente todas as regiões produtoras do país. O fungo Colletotrichum truncatum é
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Lesão cotiledonar, característica do ataque da antracnose
Fotos Moab Dias
Acérvulos do fungo Colletotrichum truncatum em vagem de soja
no momento das aplicações de fungicidas, rotação de culturas e variedades resistentes, são pontos-chave no controle da antracnose. Trabalhos realizados pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e pela Universidade de Brasília (UnB), em Planaltina, Distrito Federal e em Alvorada, Tocantins, mostraram preocupante índice de plântulas com lesões cotiledonares causadas por C. truncatum, chegando a atingir 40% das plântulas. Essa constatação levanta as seguintes questões: é o tratamento de semente que não está sendo efetuado como
Necrose nas nervuras da folha provocada pela incidência da doença
deveria? Os princípios ativos adotados não estão funcionando? Por quais razões? Ou a qualidade sanitária da semente que está comprometida? Dados históricos e principalmente das últimas safras mostram que a antracnose está se manifestando muito cedo, mas, na maioria dos casos, os demais sintomas em plantas adultas aparecem somente nas fases mais avançadas da cultura, dependendo da cultivar. Aparentemente, esse patógeno tem a habilidade de permanecer de forma latente, sem causar sintomas na planta até as fases de reprodução. Outros estudos preliminares realizados pela Universidade Federal do Tocantins e pela Universidade de Brasília, na busca por resistência varietal, indicaram que nenhum genótipo de soja foi resistente a todos os
isolados de uma coleção representativa do território brasileiro. Esses estudos ainda indicaram que houve resposta diferencial das cultivares para os isolados avaliados. Em condição de campo foi possível observar o comportamento de variedades em relação à sintomatologia, evidenciando que algumas apresentam sintomas com maior frequência em folhas e caules enquanto em outras os sintomas ocorrem somente em vagens, com poucas ou nenhuma lesão nos demais órgãos. No estado do Tocantins praticamente todas as áreas de cultivo de soja apresentam ocorrência de antracnose, com perdas variando de 10% a 20% da produção na safra 2011/2012. Resultados de ensaios de eficácia de fungicidas com o objetivo de controlar a antracnose, conduzidos no Tocantins por duas safras consecutivas, incluindo misturas de triazóis e estrobilurinas e tratamento com adição de carbendazin, não alcançaram índices satisfatórios de eficácia. Um fato relevante a ser considerado é o aumento da dosagem de carbendazin aplicado de forma frequente nas lavouras: há duas safras utilizava-se a dosagem de 0,5L/ha, houve um incremento da dosagem para 0,8L/ha, com muitos produtores utilizando até 1,0L/ha e mesmo assim não se observa um nível adequado de controle. Finalmente, é necessário registrar que não há produtos indicados pela Reunião de Pesquisa da Região Central do Brasil, ocorrida em São Pedro, São Paulo, em 2011, para o controle dessa doença na parte aérea, principalmente em função da inconsistência dos resultados dos ensaios C de campo. Moab Diany Dias, Univ. Federal do Tocantins Valdeci Fernendes Pinheiro, Assessoria Rural Adalberto C. Café Filho, Universidade de Brasília
Moab, Pinheiro e Café Filho abordam desafio de conter a antracnose
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Capa
Pragas comuns
Lagartas do gênero Spodoptera têm atacado com frequência cada vez maior as lavouras de soja e algodão, principalmente na região Centro-Oeste. O uso de inseticidas, aliado a outras estratégias como monitoramento rigoroso dos insetos, rotação de culturas, diminuição de plantas daninhas hospedeiras e escolha do melhor horário para aplicação de defensivos, está entre as ferramentas para manejar o problema
A
soja e o algodão apresentam algumas pragas em comum. Na região Centro-Oeste tem ocorrido surtos de lagartas que antes não eram mencionadas entre as pragas que atacam ambas as culturas. A ocorrência era esporádica ou se resumia a casos, que, muitas vezes, não requeriam controle ou medida para conter os seus danos. O agroecossistema utilizado no CentroOeste favorece a multiplicação de algumas pragas, em virtude de ser um sistema em que a soja é a cultura principal, estabelecida na maioria das áreas, podendo ser rotacionada com milho ou algodão ou mesmo cultivada em anos sucessivos. Após a colheita, em algumas situações, é estabelecida uma cultura de entressafra (milho ou sorgo safrinha, milheto, nabo forrageiro, girassol, crotalária) ou mesmo deixar o solo em “pousio” coberto por grande diversidade de plantas daninhas. A ocorrência de pragas em função da utilização de algumas plantas de cobertura, que são importantes dentro do sistema de plantio direto, pode muitas vezes servir como alimento a algumas pragas. Aliado a isto, condições climáticas favoráveis (altas temperaturas no verão e inverno ameno) tornam a região ideal para a multiplicação dos insetos.
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Algumas culturas sofrem, ainda, com a migração de pragas. Após a colheita de determinada cultura a praga pode vir a atacar outra cultura e, neste caso, áreas de algodão cultivadas próximas às de milho apresentam acentuado incremento populacional de Spodoptera frugiperda, por ocasião da maturação do milho, verificado por vários pesquisadores, como Soares e Vieira (1998); Santos (2007), Tomquelski e Rotundo (2007). O mesmo fenômeno está ocorrendo com Spodoptera eridania, infestando as lavouras de algodão com finalização do ciclo de soja e milho. Desta forma, em alguns levantamentos realizados pela Fundação Chapadão na região dos Chapadões, tem se verificado que a população de Spodoptera frugiperda tem diminuído e a de Spodoptera eridania aumentado. Este fato pode estar relacionado em função da diminuição de áreas de milho verão, que porventura eram atacados por S. frugiperda, e desta forma diminuindo a população inicial no sistema. Além da entrada dos milhos
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Bts que diminuem o ataque desta praga. A espécie Spodoptera eridania de ocorrência na região apresenta o adulto, uma mariposa de coloração cinzento-clara, medindo cerca de 40mm de envergadura, sendo as asas anteriores acinzentadas, com um ponto preto no centro e uma faixa preta longitudinal ao corpo da praga, as posteriores, de coloração esbranquiçada. A duração do ciclo desta praga pode se dar em torno de 30 dias, dependendo do hospedeiro. A fêmea do inseto chega a colocar mais de 500 ovos, cobertos com pelos da mariposa, de coloração esverdeada a clara, normalmente sem sobreposição de ovos. Após a eclosão, as lagartas alimentam-se, a princípio do parênquima das folhas, até completarem a primeira ecdise. As lagartas, nos primeiros instares, são esverdeadas com quatro pontos escuros no dorso. Com o desenvolvimento apresentam três listras longitudinais amarelas e passam a atacar a face dorsal das folhas. Na cultura do algodoeiro podem chegar a seis instares e na cultura da soja a sete instares (Parra et al, 1977). Na cultura do algodoeiro os seus danos são desfolha, destruição dos limbos, muitas vezes deixando intacta a parte superior, provocando perfurações no talo, furo e corte, resguardando as nervuras principais (Silvie et al, 2007). Os danos desta praga se destacam quando do aparecimento dos botões florais, perfurando-os. Segundo Santos et al (2010), em laboratório, mais de 57% das lagartas avaliadas danificaram as estruturas reprodutivas de algodoeiro, sendo uma proporção de 1,7 botão floral atacado por lagarta de 4º instar. Entre as espécies do gênero Spodoptera, a Spodoptera cosmioides também tem sido constatada na região e observada em outras regiões, no caso Mato Grosso, Paraná, Rondônia, Piauí e Maranhão (Tomquelski, 2011 - não publicado). Os produtores têm se queixado de danos desta praga, principalmente na cultura da soja, provocando desfolha e “sobrando” das aplicações realizadas para controle de outras pragas. Esta praga apresenta o adulto, uma mariposa de coloração cinza-clara, com manchas mosqueadas longitudinalmente e margeadas por uma franja
Fotos Germison Tomquelski
A cultura do algodão também é afetada pelo ataque de lagartas
Lavoura de soja sob intenso ataque de Spodoptera
de coloração esbranquiçada, medindo cerca de 40mm de envergadura. As asas anteriores apresentam coloração branca com uma franja. Esta praga também apresenta duração do ciclo em torno de 30 dias, dependendo do hospedeiro. As lagartas possuem coloração marrom a preta, com faixa lateral longitudinal amarela que é interrompida por uma mancha escura no tórax
(Gallo et al, 2002). A fêmea deste inseto pode colocar mais de 500 ovos, de coloração esverdeada. Após a eclosão, as lagartas alimentam-se, a princípio, do parênquima das folhas até completarem a primeira ecdise. As lagartas nos primeiros instares são esverdeadas a marrom, com a cabeça preta. Com o desenvolvimento apresentam três listras
longitudinais alaranjadas, com pontos brancos em meio a manchas triangulares de cor preta. Apresentam normalmente uma faixa de cor escura entre o 3º par de pernas torácicas e o 1º par de falsas pernas abdominais. Na cultura da soja têm se observado diferenças quanto à suscetibilidade de controle destas duas lagartas. Vale ressaltar que muitas vezes o inseto é percebido no campo, quando em estádios de desenvolvimentos mais avançados, o que dificulta o seu controle. Diante disto, a amostragem realizada frequentemente tende a evitar prejuízos maiores destas pragas. O pano de batida é instrumento
Fotos Germison Tomquelski
Figura 1 – Sistema de produção adotado na região dos Chapadões, com épocas de culturas no campo Cultura Soja Feijão Milho Algodão Plantas daninhas
Out
Nov
Dez
Jan
fundamental para uma boa amostragem, sendo a quantidade de amostragens variável em função do tamanho do talhão, operacionalidade, além de ser representativa. Estas pragas são importantes desfolhadoras nas culturas de soja e algodoeiro, sendo necessários, ainda, estudos sobre níveis de controle ajustados para estas pragas. No entanto, é válido ressaltar que a observação dos níveis de desfolha, preconizados pela pesquisa, são fatores importantes para a tomada de decisão, observando o máximo de desfolha de 30% no estádio vegetativo da cultura da soja e 15% no estádio reprodutivo. Na cultura do algodoeiro é importante ressaltar que, dependendo do estádio da cultura, o ataque pode ocorrer às estruturas reprodutivas, no caso de S. eridania mais ataque aos botões florais e no caso de S. cosmioides tanto em botões como em maçãs. Ainda é preciso salientar que a junção dos danos com outras pragas como Heliothis virescens pode levar a grandes perdas na cultura. Vale recordar que trabalhos recentes realizados por Papa e Mosca (2007) observaram que Heliothis virescens pode devorar em média seis maçãs, superior a S. frugiperda, que mostrou em média uma maçã atacada por lagarta. Entre as alternativas de manejo, a aplicação de inseticidas tem se mostrado como a medida mais adotada, em vista da praticidade e dependendo do caso com custo relativamente satisfatório. No entanto, esta praga, em função da disponibilidade de hospedeiros, apresenta alto potencial biótico, se desenvolvendo o ano inteiro, e, desta forma, a cada começo de safra observa-se alto índice
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
inicial, comprometendo o sistema de manejo para esta praga, como se observa no sistema de produção da região dos Chapadões. Uma das alternativas de diminuir este índice é traçando estratégia de rotação e sucessão de culturas, de maneira a colocar hospedeiros menos suscetíveis a esta praga e diminuir plantas daninhas que possam ser hospedeiras, com o emprego de técnicas como o manejo de inverno, neste caso vale salientar que uma planta daninha conhecida por vários técnicos é ótima hospedeira, no caso a corda-de-viola (Ipomoea spp), além de outras. A Figura 1 apresenta o sistema de cultivo na região dos Chapadões e desta forma pode-se compreender um pouco da reprodução da praga nos diversos hospedeiros. Dentro do controle químico, os modos de ação devem ser analisados principalmente por região. A experiência com Spodoptera frugiperda mostrou, com a ação do Comitê Estratégico de Resistência a Inseticidas no Brasil (Irac), que esta praga apresenta suscetibilidade diferencial a determinadas regiões, em função principalmente da intensidade de cultivo de milho na região, dos hospedeiros, do clima etc. Vale destacar, ainda, que a ação de vários inseticidas é baixa, devendo muitas vezes ser aplicados em estratégias de rotação de modos de ação. Novos mecanismos de ação como Naturalytes, inibidores de canais de Ca, podem ser necessários dentro do manejo. Condições climáticas desfavoráveis também devem ser levadas em consideração, provocando mais de uma intervenção a fim de diminuir a praga. O horário de aplicação
Severidade de danos à folha causados pela presença de Spodoptera cosmioides
mostrou, em alguns casos, que a noite e de madrugada obteve-se melhor eficiência na maioria dos inseticidas. Alguns resultados da Fundação Chapadão são apresentados na Figura 2, sendo os tratamentos utilizados a seguir: fisiológicoNovalurom 0,25L.ha-1; carbamato-Metomil 1,0L.ha -1; organofosforado-Clorpirifós 1,5ml.ha-1; piretroide-Bifentrina 0,6L.ha-1; Organofosforado + fisiológico-Profenofós + Lufenuron 0,6L.ha -1 – aplicados em condições de clima ameno preconizado pela pesquisa. Dentro dos próximos anos é provável a introdução da soja Bt e nova dinâmica deverá ser estudada. Na cultura do algodoeiro, novas biotecnologias também já estão disponíveis aos produtores. Ainda faltam alguns esclarecimentos, que a pesquisa deve se encarregar de prestar à sociedade. No entanto, ainda há um longo caminho para o domínio total do gênero Spodoptera. Diante do exposto é fundamental monitorar as pragas, para não resultar em agravamento C dos prejuízos na lavoura. Germison Tomquelski, Jefferson Anselmo e Alfredo Dias, Fundação Chapadão
Figura 2 – Efeito de alguns modos de ação inseticidas* sobre Spodoptera eridania em algodoeiro. Fundação Chapadão. Município de Chapadão do Sul (MS). Safra 2008/2009
A incidência da Spodoptera cosmioides tem aumentado em diversas regiões produtoras, principalmente em áreas de soja
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Informe Luis Henrique Carregal
Biocontrolador de doenças O emprego de Trichoderma para o controle dos fungos Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotinia é uma ferramenta importante à disposição do produtor. No combate a doenças como o mofo-branco, nas culturas de soja e feijão, essa tecnologia tem apresentado resultados animadores. Contudo, cuidados com a umidade do solo, o uso de produtos de boa qualidade e a adoção de outras medidas integradas são fundamentais para o sucesso na aplicação
E
spécies do gênero Trichoderma encontram-se entre os agentes de biocontrole de doenças em plantas mais estudados no mundo. Estes micro-organismos possuem a capacidade de se “alimentar” de outros fungos, inclusive os fitopatógenos (causadores de doenças em plantas). Desta forma, este micro-organismo
promove o controle e reduz a pressão do inóculo de doenças no campo. Espécies de Trichoderma têm sido utilizadas com sucesso para controle de doenças causadas pelos fungos Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotinia. Uma das doenças que merece destaque e que vem causando elevado prejuízo nas lavouras de soja e feijão do Brasil é o mofo-branco,
também conhecido em algumas regiões por murcha ou podridão de sclerotinia e podridão branca da haste. Esta doença é causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary. Este fungo pode causar doença em mais de 400 espécies de plantas, compreendendo desde culturas de alto potencial econômico como o feijão, soja, girassol, algodão, tomate indus-
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Divulgação
Sei e Ribeiro destacam o uso do Trichoderma como ferramenta para o controle de doenças
controle químico e controle biológico. A recomendação é de que se realize a aplicação do Trichoderma e o monitoramento da doença e, quando necessário, seja feita a aplicação do fungicida químico. O uso isolado do controle biológico não resolve totalmente o problema do mofo-branco, principalmente no primeiro ano de aplicação, mas reduz a incidência e a severidade da doença, tornando a aplicação do fungicida menos frequente. Alguns cuidados devem ser tomados com o uso e a aplicação de produtos para controle biológico, como a umidade do solo (que é fundamental para a eficiência do controle biológico). Portanto, indica-se utilizar o Trichoderma preferencialmente antes da irrigação ou de chuvas. A aplicação também pode ser realizada conjuntamente com a irrigação e recomenda-se sempre que possível evitar a aplicação conjunta de produtos biológicos com defensivos químicos. Bons resultados no controle do mofo-branco podem ser obtidos com a associação de espécies de Trichoderma
com o plantio direto na palhada, uma vez que, além do aumento da atividade de microorganismos benéficos no solo como um todo, através desta prática, é possível identificar um favorecimento do fungo Trichoderma que, em meio a toda a comunidade microbiana, se destaca na supressão da doença. Atualmente existem várias empresas nacionais produzindo inúmeras formulações à base de Trichoderma spp. para o controle de Rhizoctonia, Fusarium e Sclerotinia. No entanto, é muito importante observar a qualidade destes bioprodutos. Recomenda-se consultar profissionais especializados na área para a escolha e o uso adequado. É necessário que o produtor aplique todas as medidas disponíveis para o controle destas doenças, com o objetivo de reduzir os custos e obter os benefícios esperados. Atualmente a empresa Novozymes BioAg Produtos para Agricultura possui no mercado o produto TrichoderMax EC, que é um biofungicida formulado em óleo vegetal emulsionável e que utiliza como ingrediente ativo o fungo Trichoderma asperellum. O TrichoderMax EC está registrado no Ministério da Agricultura para controle de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) na cultura da soja e feijão e para controle de podridão-aquosa (Rhizoctonia solani) e podridão-vermelha-daraiz (Fusarium solani) na cultura da soja. A recomendação de uso é sempre de forma preventiva. O produto deve ser aplicado na forma de pulverização após o plantio e no estágio de desenvolvimento V3-V4 dependendo do alvo de controle e seguindo as recomendações do C fabricante. Fernando Bonafé Sei e Rodrigo Daniel Ribeiro, Novozymes BioAg
Reginaldo L. Napoleão
trial, batata e algumas outras hortaliças, até plantas daninhas, como o picão-carrapicho, caruru, mentrasto etc. Os escleródios, que são estruturas de resistência deste fungo, possuem formato irregular assemelhando-se muito a fezes de rato. Inicialmente apresentam coloração branca, posteriormente, tornam-se negros e muito duros. Estas estruturas permanecem viáveis por muitos anos no solo e são altamente resistentes a substâncias químicas, calor seco e congelamento. Podem infectar diretamente as plantas ou dar origem aos apotécios (tipo de cogumelo, que irão produzir milhares de ascósporos, estruturas de propagação), que são disseminados por vento, chuva, água de irrigação e possivelmente por insetos. A disseminação do fungo pode ser realizada por sementes contaminadas ou por meio do próprio escleródio, aderido a máquinas e implementos agrícolas, sapatos e botas, utilizados em áreas contaminadas pelo fungo. Os primeiros sintomas aparecem como reboleiras, principalmente em local de plantio adensado e acamamento de plantas. Nos órgãos como hastes, folhas e vagens, os sintomas são manchas encharcadas, seguidas por uma espécie de massa branca e de aspecto “cotonoso”, que são as estruturas do fungo. Por fim, a doença progride até que as plantas murchem, evoluindo para tecidos secos e quebradiços. Nessa fase é possível ver a formação dos escleródios que, na colheita, caem ao solo. Este patógeno pode se desenvolver dentro de uma faixa de temperatura muito ampla, de 5ºC a 30°C, porém, alta umidade é fator essencial para a sua ocorrência, por isso é grande a sua incidência em áreas irrigadas. O estádio mais propício ao início do aparecimento do mofo branco pode coincidir com a emissão dos primeiros botões florais. O controle biológico com Trichoderma para o mofo-branco em soja e feijoeiro tem sido utilizado no Brasil e o seu uso se expandido rapidamente. Este biocontrolador tem efeito sobre os escleródios, que consequentemente são desativados promovendo a redução do inóculo da doença no campo e a sua incidência. O controle químico não tem efeito sobre essas estruturas de resistência, sendo esta uma das principais vantagens do uso do controle biológico para o controle do mofo-branco. O controle biológico do mofo-branco em soja e feijoeiro deve ser realizado de forma integrada e preventiva, ou seja, recomenda-se adotar um conjunto de práticas de manejo que irão atuar no controle da doença no campo. Dessa forma, indicamse práticas como a rotação de culturas e manejo da palhada, uso de sementes sadias e tratadas, adubação equilibrada, controle na irrigação (evitar excesso de umidade),
A incidência do mofo-branco é uma das preocupações crescentes nas regiões produtoras de feijão
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Café
Barreira vegetal
O
bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é, talvez, a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. As lesões causadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas reduzem a capacidade de fotossíntese em função da diminuição da área foliar. Em geral, as plantas que sofrem intensa ação do bicho-mineiro apresentam o terço superior completamente desfolhado, podendo, no entanto, resultar em desfolha total e, em consequência, haverá redução da produção. Já foi constatada, no sul de Minas Gerais, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido à desfolha de 67%, no mês de outubro, em consequência do ataque do bicho-mineiro, ocasião em que ocorre uma das maiores floradas do cafeeiro. Posteriormente, também foram observados altos prejuízos, como redução na produção entre 34,3% e 41,5%.
O bicho-mineiro é uma das principais pragas que afetam o cafeeiro, principalmente em regiões com temperaturas mais altas e que registram déficit hídrico. Na luta para combater a praga, o uso de quebra-ventos de leguminosas arbóreas como Leucena e Guandu é ferramenta eficiente na prevenção da presença do inseto nos cafezais, por dificultar a infestação e auxiliar na conservação de inimigos naturais
Manejo da praga
Fotos Paulo Rebelles Reis
A predação, controle natural das lagartas do bicho-mineiro, feita por vespas predadoras (Hymenoptera: Vespidae), apresenta aproximadamente 70% de eficiência. A preservação de áreas de vegetação natural próximo a cultivos de cafeeiro pode desempenhar papel importante na estratégia de conservação e aumento das vespas predadoras. Áreas de vegetação adjacentes às culturas possibilitam que espécies sensíveis às práticas culturais encontrem refúgio em seu interior. A definição de táticas de manejo dessas plantas próximas da cultura do cafeeiro poderá ser usada como uma das estratégias complementares na regulação populacional de artrópodespraga, contribuindo para a redução gradual da dependência de produtos fitossanitários, promovendo o desenvolvimento sustentável do agroecossistema do cafeeiro. A utilização de faixas (aleias) de leguminosas (Poaceae) arbóreas como quebra-ventos pode reduzir o ataque de pragas em virtude de oferecer barreiras que dificultarão a entrada de insetos que são propagados pelo vento, como
As lesões causadas pelo bicho-mineiro nas folhas reduzem a capacidade de fotossíntese
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Figura 1 - Evolução da infestação de bicho-mineiro, expressa em porcentagem de folhas minadas nos cafeeiros sob influência das diferentes espécies de leguminosas utilizadas como quebra-ventos em 2009, após uma poda em 2008. Obs.: NC = Nível de controle (30 % de folhas minadas)
Figura 2 - Evolução da infestação de bicho-mineiro, expressa em porcentagem de folhas minadas nos cafeeiros sob influência das diferentes espécies de leguminosas utilizadas como quebra-ventos em 2010, com porte normal. Obs.: NC = Nível de controle (30 % de folhas minadas)
Figura 4 - A) Raízes de planta sadia de cafeeiro cv. Mundo Novo; B) destruição causada por P. jaehni
o bicho-mineiro, e aumentar a incidência de inimigos naturais por oferecer abrigo e alimento alternativo. Foi objetivo deste trabalho estudar a influência de aleias de leguminosas (Fabaceae) arbóreas (quebra-ventos) na incidência de bicho-mineiro em cafeeiro e sua predação por vespas. O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Epamig, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais. Foram utilizadas duas linhagens de café de porte baixo, com espaçamento adensado na linha
(3,4m x 0,5m), com uma população de 5.882 plantas/ha, sendo uma resistente à ferrugem (Oeiras) e outra suscetível (Topázio). As leguminosas utilizadas como aleias, ou quebraventos, no experimento foram: o Guandu (Cajanus cajan Millsp.), Gliricídea [Gliricidia sepium (Jacq.) Steud], Leucena [Leucaena leucocephala (Lam.) De Wit] e Acácia (Acacia mangium Willd), plantadas perpendicularmente ao sentido dos ventos predominantes. As leguminosas Gliricídea e Acácia foram plantadas em três linhas com espaçamento
de 3m entre plantas e 1,5m entre linhas. O Guandu foi cultivado em quatro linhas no espaçamento de 1,20m entre linhas com cinco sementes por metro linear; a Leucena em três linhas no espaçamento de 1,5m entre linhas e 0,50m entre plantas. Os cafeeiros foram plantados em cinco linhas paralelas e entre as faixas de leguminosas. Cada cultivar compôs subparcelas com 30 plantas (três linhas de dez plantas), sendo as dez plantas centrais, da linha central, consideradas como parte útil, com três repetições. Tanto o cafeeiro quanto as
Fotos Paulo Rebelles Reis
Plantas de cafeeiro atacadas severamente pela praga acabam sofrendo desfolhamento
leguminosas foram plantados na mesma época (dezembro de 1999), exceto a Gliricídea, plantada em dezembro de 2007 em substituição à Bracatinga (Mimosa scabrella Benth.), cujo plantio de 1999 foi totalmente perdido. O cafeeiro foi conduzido de maneira tradicional, com as adubações aplicadas de acordo com a recomendação técnica para Minas Gerais. As avaliações da incidência de bicho-mineiro foram feitas mensalmente entre os meses de abril e outubro, sendo abril o início da infestação e outubro o pico da praga na região. Foi feito o levantamento da incidência do ataque do bicho-mineiro através da contagem de folhas minadas em 100 folhas coletadas no terço mediano de cinco plantas na parte útil de cada subparcela (20 folhas em cada planta), sem levar em conta que eram duas cultivares ou duas subparcelas, o que resultou em 200 folhas por parcela. Foram avaliados o número de minas intactas e o número de minas com sinais de predação. A incidência da predação por vespas foi avaliada com a contagem de
A diminuição na produção é uma das consequências da presença do inseto nos cafezais
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minas "predadas", pela observação das rasgaduras feitas pela vespa nas lesões. Também foram determinadas quais as espécies de vespas presentes, o que foi feito pela captura de espécimes com armadilhas adesivas de cor amarela (24cm x 9,5cm) distribuídas nas unidades amostrais no mês de outubro de cada ano (pico da praga), colocadas penduradas no centro de cada parcela e na mesma altura das plantas de cafeeiro.
Resultados
Estão apresentados e discutidos os resultados obtidos em 2009 após uma poda das aleias na altura dos cafeeiros no ano anterior (2008), e em 2010 com as leguminosas já no seu porte normal. Em 2009 o bicho-mineiro apresentou nível de controle (NC = 30% de folhas minadas) desde o mês de maio até final de setembro, em todos os tratamentos, ocorrendo a redução de folhas minadas somente em outubro com o início das chuvas na região, quando ocorre o início de um novo enfolhamento. Não tendo sido observada, portanto, diferença entre o efeito dos diversos tipos de quebra-ventos e o tratamento controle ou testemunha sem quebra-ventos (Figura 1). Em 2010 foi observado que os cafeeiros, sob influência da Acácia e da Gliricídia, já com os quebra-ventos no seu porte normal, apresentaram menor infestação da praga até o mês
Armadilha adesiva de cor amarela, pendurada na mesma altura das plantas para monitoramento da praga
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de julho, igualando-se ao controle, e aqueles sob a influência do Guandu e Leucena até o final do mês de setembro, período em que geralmente começam as chuvas, mostrando que não haveria necessidade da utilização de nenhuma outra medida de controle à praga que não a naturalmente exercida pelos inimigos naturais e pelas condições de microclima nessas duas leguminosas (Leucena e Guandu) (Figura 2). Resultados semelhantes já foram observados em 2006 (sem poda) e 2007 (após a poda) no mesmo experimento. Os resultados obtidos mostraram também que as espécies de vespas predadoras (Vespidae) mais abundantes foram: Polybia scutellaris (White, 1841) (44,7%), Brachygastra lecheguana (Latreille, 1824) (23,8%), Protonectarina sylverae Saussure, 1854 (10,5%), Polybia ignobilis (Haliday, 1836) (7,9 %), Polybia sericea (Olivier, 1791) (2,6%) e Polybia sp. (10,5%).
Conclusão
Pode-se concluir, portanto, que quebra-ventos, como Leucena e Guandu, são eficientes na prevenção da infestação do bicho-mineiro em cafezais, quer seja por dificultar a infestação dos cafeeiros, constituindo uma barreira física, quer pela conservação de inimigos naturais ou pelas condições de microclima nos cafeeiros sob sua influência. Além desses resultados, do ponto de vista da redução do ataque da praga, as plantas de múltiplo uso que servem de quebra-ventos podem ser utilizadas como lenha para secar o café em secadores mecânicos e de cobertura morta, incorporando nutrientes aos cafeeiros, após a decisão de podá-los, tornando a cultura mais autossustentável. Este trabalho foi desenvolvido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig); Consórcio Pesquisa Café (CBP&D/Café) e INCT do C Café - CNPq/Fapemig. Paulo Rebelles Reis Epamig Sul de Minas/EcoCentro Pesquisador do CNPq
Reis avaliou o uso de quebra-ventos de leguminosas para prevenção ao bicho-mineiro
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Foco na saúde Fotos Cultivar
Ihara lança projeto Cultivida para auxiliar na prevenção e conscientização no uso de agroquímicos, com ações voltadas para a proteção do agricultor
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Ihara lançou em março o projeto Cultivida, destinado à prevenção e conscientização na aplicação de agroquímicos no campo, com ações voltadas para a proteção da saúde do agricultor. O trabalho demandará investimentos da ordem de R$ 2,8 milhões em 2012 e tem duração prevista de cinco anos. Ao longo do ano, 13 municípios receberão o projeto. A escolha dos locais teve como critério levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aponta as cidades com maior índice de contaminação por uso de agroquímicos. Os defensivos representam a quinta principal causa de intoxicações humanas no Brasil. Dados do Sistema Nacional de Informações Toxico- Farmacológicas da Fiocruz apontam que no período de 2000 a 2009 foram registrados 4.974 casos, contra 26.286 pelo uso indevido de medicamentos, que lidera o número de acidentes. O presidente da Ihara, Júlio Garcia, destacou a importância da iniciativa, que conta com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “É uma campanha que envolverá discussões com toda a sociedade. O uso de agroquímicos fica mais seguro à medida que os procedimentos de proteção são
adotados e as regras de segurança obedecidas”, disse. O toxicologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ângelo Trapé, é um dos colaboradores do projeto. “A intenção é auxiliar os profissionais da saúde para a elaboração de diagnóstico correto e de um tratamento preciso. Não é mais possível confundir intoxicação com outras doenças”, sentenciou. Um dos responsáveis pela elaboração do projeto, o engenheiro agrônomo e gerente da Ihara, Rodrigo Naime Salvador, explicou que o Cultivida prevê ações com foco em quatro áreas de atuação: na saúde do trabalhador, com investimentos em
conscientização através de especialistas da área médica; na atualização dos agentes de saúde, considerando programas de monitoramento das populações expostas em níveis local, regional e estadual; na atividade agrícola, com aumento da rentabilidade por meio da aplicação das Boas Práticas Agrícolas; e no bem-estar familiar, com orientações para a saúde da mulher e da criança, incluindo atividades culturais. Salvador salientou, ainda, que o projeto tem como objetivo principal incrementar a qualidade de vida no campo, através da prevenção e redução crescente do número dos casos de intoxicação por agroquímicos C no Brasil.
O presidente da Ihara Júlio Garcia e o toxicologista da Unicamp, Ângelo Trapé, destacaram a importância do projeto para a saúde do trabalhador rural
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Trigo
Na origem
Fotos Alfredo Ricieri Dias
Na luta contra a brusone, na cultura do trigo, o tratamento de sementes, aliado a outras medidas preventivas, desempenha papel importante. Nesse contexto o uso do hipoclorito de sódio no combate a P. grisea surge como alternativa promissora para auxiliar os produtores no manejo dessa doença
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m dos maiores entraves para o aumento da produção de trigo tem sido a doença brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea (teleomorfa Magnaporte grisea), relatada pela primeira vez no Paraná, em 1985, e constatada também em outras regiões do país. A ocorrência dessa doença tem sido fator limitante para a expansão da cultura e chamado a atenção da mídia por ter causado drásticos danos, principalmente no ano de 2009 devido à ocorrência de muitas chuvas, mostrando que a umidade é fator determinante para o desenvolvimento da doença. Em muitas situações o produtor chegou a ter sua lavoura completamente comprometida com a doença e o trigo colhido pôde ser destinado apenas para ração animal. Na região do cerrado, também em 2009, houve queda de aproximadamente 16 sacas por hectare comparado com a safra de 2008. O controle da doença vem sendo feito através de produtos químicos, mudança na época de semeadura, manejo diferenciado da irrigação e uso de variedades resistentes. Todos esses controles têm apresentado limitações, resultando em controle ineficiente das epidemias da doença. A ausência de fungicidas eficazes tem sido um grande problema, pois
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independentemente do número e da época de aplicação, a sua eficiência tem sido fraca, sendo necessário, em alguns casos, até quatro aplicações, aumentando o custo de produção e comprometendo o meio ambiente. Além disso, pesquisa recente revelou que a eficiência do fungicida variou em função da temperatura, sendo maior na temperatura menor (Bacalhau et al, 2011). Outra estratégia utilizada é mudar a época de semeadura, mas também não tem funcionado devido à imprevisibilidade climática, com anos extremamente chuvosos e outros bastante secos. A irrigação também precisa ser controlada para não proporcionar longos períodos de molhamento, porém, não pode ser utilizada isoladamente. A recomendação para o controle da brusone, através do uso de variedades resistentes, tem sido outro problema, pois não há cultivar resistente a todos os isolados do fungo possibilitando apenas o uso daquelas menos suscetíveis. Com todas estas limitações, para se ter sucesso no controle da brusone do trigo é necessário incorporar outras estratégias de controle e uma das mais importantes é o já conhecido tratamento de sementes, pois uma das principais fontes de inóculo primário da brusone é o plantio de sementes infectadas.
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Lesões no sistema radicular, no colo (acima) e na parte aérea (abaixo) resultantes do plantio com brusone
Há indícios de que sementes infectadas foram a principal fonte de disseminação do fungo em trigo do Paraná para o Mato Grosso do Sul em 1999. A semente acaba sendo um problema, pois o fungo pode sobreviver por muito tempo dentro dela, tendo maior viabilidade que a própria semente. Há relatos de que P. grisea sobreviveu por 22 meses em sementes de trigo em condições de laboratório (Reis et al, 1995). Já está comprovado que sementes infectadas transmitem o patógeno para a parte aérea (Figura 3). Assim, mesmo empregando sementes com incidência muito abaixo do padrão das sementes certificadas, pode haver transmissão de P. grisea para a parte aérea em trigo (Silva et al, 2009) e em sementes de triticale, o plantio de sementes infectadas resultou em dois tipos diferentes de sintomas: morte de plântulas e/ ou sintomas nas folhas primárias sem morte (Dias Martins et al, 2004). Mas, de qualquer maneira, evidenciou-se a importância de se fazer o tratamento de sementes como uma estratégia de controle.
Comparação entre espigas de trigo sadias e atacadas pela brusone
As vantagens de se utilizar um método alternativo vão desde beneficiar o meio ambiente até evitar o desenvolvimento de variedades resistentes aos fungicidas. Assim, o produtor deve ficar atento, pois em tempos de discussões ambientais o agricultor pode se aliar às novas tendências de sustentabilidade, como o tratamento alternativo de sementes, que é tão eficaz quanto o tratamento químico, considerando que a maneira mais importante de se prevenir a brusone é adquirindo sementes de boa qualidade e procedência. É preciso lembrar que uma única lesão na parte aérea, advinda das sementes, pode ser fonte de inóculo no campo, gerando epidemias desastrosas. Além disso, com o emprego de técnicas menos onerosas e menos degradantes ao meio ambiente, o produtor pode agregar valor na produção, com certificações de produções C conscientes.
Waleska e Urashima abordam alternativas para manejar a brusone
Waleska Del Pietro e Alfredo Urashima, UFSCar
Importância do trigo
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trigo é o segundo cereal mais produzido e consumido no mundo, ficando atrás somente do milho. Sua história está intrinsecamente relacionada com o desenvolvimento da civilização humana, podendo ser considerado um dos principais alimentos da humanidade, independentemente da classe social. O Brasil tem uma área pequena cultivada com este cereal se comparado aos grandes países produtores, porém, o consumo anual de trigo no País é alto (aproximadamente 10,5 milhões de toneladas) enquanto a produção brasileira
do cereal é de cerca de cinco milhões de toneladas por ano, praticamente a metade do que se consome. O governo brasileiro está incentivando a expansão dessa cultura para novas áreas a fim de que o país se torne autossuficiente na produção de trigo. Os esforços do governo têm sido no sentido de aumentar a produtividade de áreas tritícolas tradicionais e incentivar a expansão para áreas do Brasil Central como Mato Grosso do Sul, Brasília (DF), Goiás e Minas Gerais.
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Charles Echer
O tratamento de sementes com produtos químicos já foi bastante pesquisado e há muitos fungicidas eficientes no mercado. Porém, é importante salientar que há métodos alternativos para substituir o tratamento de sementes convencional, pois atualmente é crescente a conscientização da população quanto à qualidade dos alimentos e do meio ambiente, além de alguns fungicidas apresentarem restrição de uso em propriedades orgânicas e/ou mercado externo. Pesquisas evidenciaram o controle de P. grisea em sementes de trigo com hipoclorito de sódio. Sementes com alta incidência do fungo atingiram valores muito baixos, próximos ao zero. Os valores encontrados por Silva et al (2009) ficaram abaixo dos níveis de tolerância para programas de certificação de sementes de trigo em relação a P. grisea, que é de 5% para sementes básicas e de 10% para sementes certificadas (Machado, 1994). A eficiência do hipoclorito de sódio no controle de P. grisea em sementes de trigo teve desempenho equivalente aos melhores fungicidas químicos no estudo de Goulart & Paiva (1991), demonstrando que o controle alternativo de P. grisea em sementes deste cereal, com este produto, pode substituir fungicidas químicos em muitas situações.
Sementes provenientes de uma espiga sadia e de espiga com brusone
Coluna ANPII
Conhecimento necessário A importância que a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) acumulou ao longo dos anos, no Brasil, torna indispensável que o tema seja aprofundado nos currículos acadêmicos das faculdades de Agronomia
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Brasil conta atualmente com mais de 100 faculdades de Agronomia, espalhadas por todo o país. Estas escolas colocam no mercado, a cada ano, em torno de mil novos profissionais da engenharia agronômica, que irão atuar nos mais diversos ramos que a atividade agropecuária proporciona. Estes agrônomos deveriam sair da faculdade com as informações básicas, essenciais para o bom exer-
outros produtos no tratamento de sementes, formas de aplicação etc, exigindo constante busca de informações, sejam de cunho científico ou prático. Muitas escolas de Agronomia não têm acompanhado esta evolução e os profissionais saem dos bancos escolares com conhecimentos defasados e insuficientes para entender e usar corretamente os recursos da FBN no dia a dia do campo. Conversando com agrônomos formados nos últi-
um programa de ensino mais amplo e mais atualizado, fazendo com que o engenheiro agrônomo saia para a vida profissional com um conhecimento mais sólido neste ramo. A ANPII tem em seu site um curso sobre fixação biológica do nitrogênio, abrangendo todos os aspectos do assunto, dentro de uma visão microbiológica e agronômica, com o objetivo justamente de fornecer instrumentos para que professores, alunos e mesmo os profissionais
A ANPII soma seu trabalho aos esforços que o Mapa e os órgãos de pesquisa desenvolvem para tornar cada vez mais usados os recursos que a FBN proporciona aos agricultores cício da profissão, além dos conhecimentos específicos na atividade escolhida para o desenvolvimento das atividades profissionais. Pela importância que a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) apresenta, tanto para a atividade agrícola em si como para o meio ambiente, com todo seu rol de benefícios, deveria ser um tema tratado com muito mais atenção no currículo acadêmico. Infelizmente não é isto que se observa. Embora não tenhamos dados estatísticos, pela vivência no campo podemos inferir que nem 10% dos agrônomos recebem informações adequadas, especialmente no que tange a atualização do assunto. A produção e o uso de inoculantes passaram por drásticas modificações nos últimos anos, seja na qualidade, formulação dos inoculantes, formas de misturar às sementes, compatibilidade ou incompatibilidade com
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mos anos pergunta-se o que aprenderam sobre inoculantes na escola e a resposta invariavelmente é a mesma: “foi falado na aula de Microbiologia do Solo”. Daí, pode-se depreender-se que, enquanto a parte de nutrição mineral merece um tempo de aula bastante grande, a microbiologia do solo, onde se enquadraria o ensino básico de FBN, ocupa quando muito uma hora em todos os quatro ou cinco anos do curso de Agronomia. Sabendo-se da importância estratégica que a FBN apresenta para o país, com a economia de bilhões de dólares e com forte contribuição para uma agricultura sustentável, como evidenciado pelo programa ABC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é essencial que as entidades de ensino agronômico, bem como as de ensino técnico de nível médio, coloquem o ensino da fixação de nitrogênio em seus aspectos teóricos e práticos, dentro de
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possam atualizar seus conhecimentos sobre este importante ramo da agricultura. Além disto, a associação conta com profissionais capacitados para ministrar aulas e cursos de curta duração nas escolas de Agronomia, no sentido de aprofundar e atualizar os conhecimentos dos alunos que, dentro de pouco tempo, serão profissionais que estarão no campo, seja aplicando estes conhecimentos em lavouras, seja transmitindo-os através da assistência técnica. Desta forma, a ANPII soma seu trabalho aos esforços que o Mapa e os órgãos de pesquisa desenvolvem para tornar cada vez mais usados os recursos que a FBN proporciona aos agricultores brasileiros, dentro do conceito de uma agricultura altamente produtiva e sustentável. C Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
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Segurança dos alimentos
s regras de comércio internacional são cada vez mais restritivas em relação à segurança dos alimentos. Considera-se um alimento seguro quando a presença de contaminantes físicos, químicos ou biológicos situa-se abaixo dos limites fixados em lei. Um limite pode ser a ausência total, se assim determinar a legislação. O agronegócio brasileiro necessita adaptar-se com rapidez a este novo ambiente mercadológico, porque esta não é apenas uma exigência dos países importadores, ela também está presente no mercado doméstico. Existem diversas ações destinadas a monitorar a segurança dos alimentos no Brasil. Em dezembro de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou o resultado das análises de
Parâmetros Como se estabelece a IDA? Em testes científicos, doses crescentes são administradas a cobaias. Para os cálculos de segurança, considera-se a maior dose que não causou alterações metabólicas perceptíveis, nos organismos em teste. Estabelecida esta dose, ela é dividida pelo fator 100, ou seja, a IDA representa apenas 1% da dose que não causou qualquer problema de saúde em cobaias, nos experimentos científicos. Normalmente a dose que não causou qualquer problema toxicológico equivale a 1%-10% da dose que ocasionou alguma alteração. Logo, a IDA representa 0,1%-0,01% da dose que poderia, eventualmente, ocasionar algum problema de ordem toxicológica. A lógica de dividir por 100 a dose que
(70kg x 500mg/kg). Supondo que todas as maçãs tivessem o resíduo máximo de 0,05mg/kg (50ppb), cada pessoa, pesando 70kg, deverá consumir 700 toneladas de maçã (35.000mg ÷ 0,05mg/kg). Se esta população ingerir apenas maçãs, à razão de 2kg/pessoa/dia, seriam necessários quase mil anos para atingir a dose que, teoricamente, poderia conferir 50% de probabilidade de esta pessoa ser afetada pelo agroquímico. Lembrando que, após poucos dias, o organismo se encarrega de eliminar a quase totalidade deste resíduo.
Precisão das análises O contínuo aprimoramento dos métodos de análise e dos equipamentos de detecção de resíduos já permite iden-
O contínuo aprimoramento dos métodos de análise e dos equipamentos de detecção de resíduos já permite identificar substâncias químicas na ordem de uma parte por trilhão resíduos de agroquímicos, realizadas em 2.488 amostras de frutas e hortaliças, como parte do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para). Foi verificado que 1,6% das amostras apresentava limites de resíduos acima do permitido pelas normas brasileiras. Os resultados do Para permitem reflexões sobre a segurança dos alimentos produzidos no Brasil. Embora não sejam os únicos, três dos principais parâmetros da Ciência da Toxicologia envolvidos na temática de inocuidade química dos alimentos são: 1) Dose Letal 50 (DL50) – dose que mata 50% das cobaias em testes científicos; 2) Limite Máximo de Resíduos (LMR) - quantidade máxima de agroquímico legalmente aceita no alimento; 3) Ingestão Diária Aceitável (IDA) – quantidade máxima do defensivo que, ingerida diariamente, durante toda a vida, não oferece risco à saúde, à luz dos conhecimentos científicos atuais. Portanto, uma amostra enquadra-se ou não nas disposições legais do país. Por oportuno, no caso do Para, 1,6% das amostras ultrapassou o LMR legalmente estabelecido no Brasil.
não causou qualquer problema objetiva garantir a proteção dos consumidores de alimentos de qualquer risco toxicológico. Como se estabelece o LMR? É o valor máximo de resíduo de agroquímico admitido legalmente em um alimento, considerando a aplicação adequada de uma substância química (seguindo todas as Boas Práticas Agronômicas), desde sua produção até o consumo. Levando em consideração a Ingestão Diária Aceitável (IDA), o LMR não oferece risco à saúde, à luz dos conhecimentos atuais, mesmo se esta dose for ingerida diariamente, durante toda a vida. Como exemplo ilustrativo, suponhamos um agroquímico aplicado em maçã, que tenha uma DL50 de 500mg/kg de peso vivo (seja moderadamente tóxico, de acordo com a Portaria Nº 3, de 16/1/92 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde), e que o limite máximo de resíduo (LMR) seja de 0,05mg/kg de maçã. Para que houvesse 50% de probabilidade de intoxicação de uma população de peso médio de 70kg, seria necessário ingerir 35.000mg/pessoa
tificar substâncias químicas na ordem de uma parte por trilhão (1 ppt). Fazendo uma analogia, 1 ppt equivaleria a identificar a presença de uma determinada substância química, em que apenas uma gota dela fosse lançada em uma piscina cheia de água, tendo esta piscina dimensões de 100m de comprimento por 100m de largura e profundidade de cinco metros. O resíduo na maçã, do exemplo, acima, seria de 50.000 ppt, o que equivaleria a detectar uma gota de uma substância dispersa em mil litros de água. Logo, quanto mais precisos forem os métodos de análise de resíduos de substâncias químicas, maior será a probabilidade de detecção de resíduos de substâncias químicas, o que imporá exigências cada vez maiores nas cadeias de produção de alimentos, em especial em um ambiente fortemente competitivo e com constantes recaídas protecionistas, como é o mercado internacional de proC dutos agrícolas.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
China e clima nos EUA deverão ditar o ritmo do agronegócio em 2012 O ano de 2012 começou com fortes altas no mercado internacional de grãos, atrelado à quebra da safra da América do Sul, grandemente afetada pelo clima seco. Esse cenário derrubou a produção regional em quase 30 milhões de toneladas entre soja e milho e isso já tem causado aperto no mercado internacional e fôlego para as cotações que cresceram aos maiores níveis em muitos meses e mostram espaço para se manter em alta. Junto a isso, as últimas notícias da China apontam que a safra local de milho pode ter sido superestimada. Desta forma, há indicativos da Reuters que levantou a possibilidade de ter sido aumentada em 14% a estimativa de safra sobre a realidade da colheita. Isso tem grande lógica porque no ano passado houve seca, atraso no plantio, geadas na colheita e não havia motivo que justificasse os chineses colherem recorde histórico de produção. Agora se comenta que as perdas podem ter alcançado entre 6,5 milhões de toneladas e 24 milhões de toneladas do cereal. Junto a isso, o país vive um momento de inverno rigoroso e perdas na safra de trigo e irá ter aumento na necessidade de importações de milho e também de soja para compensar as perdas e manter o atendimento no consumo de ração, que cresce a cada ano e desta forma dará ao mercado internacional fundamentos para se manter firme. Mesmo que a nova safra americana apresente avanço na área (é preciso lembrar que os americanos não têm muitas áreas disponíveis para crescer), se aumentar o cultivo de milho terá de reduzir alguma outra e, desta forma, abre-se espaço para pressão positiva nas cotações. De março em diante os olhos se voltam para o clima nos Estados Unidos, que tem indicativos de que julho e agosto serão meses muito quentes e secos, porque a época é de saída da fase da La Niña para El Niño (que normalmente castiga os produtores americanos). Temos muitos meses do ano pela frente e muitas notícias boas para serem confirmadas, favorecendo o agronegócio brasileiro. MILHO
ano passado (os níveis em dólares estão atrativos com boa demanda e tudo indica que irá crescer a procura por parte dos empacotadores, nestas próximas semanas, porque o varejo necessita de SOJA reposições constantes e, aliado a isso, se espera que Safra da América do Sul perdeu 20 milhões de t o consumo avance nos meses seguintes, mesmo O clima seco e quente deste verão trouxe com cotações em crescimento. Dessa forma há fôgrandes perdas na safra de soja, que avança com lego para as cotações da segunda safra que começa a colheita já na sua fase final, mostrando que a chegar ao mercado e terá maiores ofertas entre haveria possibilidade de colher aproximadamen- abril e maio. Os indicativos devem permanecer te 20 milhões de toneladas acima do que está entre R$ 120,00 e R$ 180,00 (podendo ir acima previsto, se as chuvas fossem normais. As perdas o preço pago pelo Carioca e níveis de R$ 90,00 no Paraguai superam os 40% das dez milhões de aos R$ 120,00 para o Preto). toneladas potencialmente estimadas no plantio. ARROZ Na Argentina os números indicam produção ao redor das 46 milhões de toneladas, frente às 53 Safra chegou e cotações sofreram pouco milhões de toneladas previstas inicialmente. No O mercado do arroz mostra que as cotações Brasil as perdas maiores foram no Sul, mas tam- não despencaram no ritmo em que recuaram bém há prejuízos nas demais regiões. Assim, das nos anos anteriores (abaixo dos R$ 20,00 no 78 milhões de toneladas de potencial, a colheita Sul). Agora há maior fôlego dos produtores, tende a ficar na faixa das 68 milhões de toneladas o governo ofereceu o apoio prometido e desta ou abaixo. Dessa forma, o quadro mundial ficou forma as indústrias estão mais interessadas favorável e com cotações acima dos 13 dólares em em comprar na safra, dando espaço para os Chicago, com muita gente apostando em níveis indicativos se manterem em patamares aciacima dos 14 dólares. ma dos R$ 24,00, com chances de ir à frente rapidamente. Com boas expectativas para o FEIJÃO ano, porque o consumo dá sinais de melhoria e mesmo com o pacote mais caro na gôndola, Produtores continuam ganhando O mercado do feijão mostrou fevereiro em bom o preço não irá interferir no consumo, pois ritmo e boas cotações, mesmo sendo um dos meses o produto está muito barato e não pesa no mais fracos em consumo do ano. Março começou orçamento da população.
Clima irregular marca início da safrinha e podem ficar ainda melhores).
O mercado do milho mantém cotações atrativas para o cereal da primeira safra, crescimento das cotações nos portos, com o dólar puxando os indicativos de liquidação ao produtor e o cenário indicando que dificilmente haverá queda neste período de colheita. Os primeiros indicativos da safrinha mostram que o plantio se deu no período considerado ideal para boa colheita, porém, enquanto no Centro-Oeste a umidade do solo é boa e as chuvas caem da maneira regular, no Paraná as precipitações escassearam e muitas áreas tiveram germinação irregular. Desta forma, a safrinha já começa com um quadro de perdas no potencial produtivo, indicando que o produtor poderá não colher o que espera, sendo este fator positivo para as cotações, porque o plantio final ficou próximo do recorde histórico de sete milhões de toneladas. Se a media de colheita permanecer ao redor das 4,5 toneladas por hectare, é possível chegar a números de produção acima das 30 milhões de toneladas. Se a produtividade alcançar cinco toneladas por hectare, é possível chegar a uma colheita maior do que a verificada na primeira safra. Como pontos positivos, destaca-se que há crescimento de consumo interno por parte do setor de ração e serão mantidas as exportações em bom ritmo, porque o dólar mostra sinais de que irá permanecer muito acima do que alcançou no
CURTAS E BOAS TRIGO - Os primeiros indicativos da safra brasileira apontam que haverá queda de área. Somente no Paraná a redução deve alcançar patamares acima dos 150 mil hectares, que foram destinados ao milho. Mesmo que o Rio Grande do Sul avance no plantio, esse fato não deve compensar a queda prevista no Paraná. Como fator positivo para as cotações internas, há forte alta no dólar e também na safra mundial, com muita incerteza neste ano. Desta forma, o trigo importado tende a alcançar muito além dos R$ 500,00 por tonelada. E seguindo a linha externa e o dólar interno alto, pode chegar acima dos R$ 600,00 com espaço para avanços de 20% nas cotações internas. algodãO - Os produtores estão com a safra nos campos (grande parte já negociada antecipadamente). Desta forma, pouco irá sobrar para ser negociado na colheita. A safra mostra poucas alterações frente ao ano passado e os produtores apontam que terão que melhorar a produtividade para trabalhar com as cotações atuais girando na faixa de um dólar por libra. eua- A safra começa a ser plantada na parte Sul do Cinturão Americano, que neste ano apostará no crescimento da área do milho e dependerá muito do clima, porque o cultivo tem uma janela apertada para o plantio.
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Com isso, o clima comandará a safra americana e as indicações apontam para uma fase de El Niño, que normalmente traz problemas aos produtores americanos. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduziu a estimativa da safra mundial da soja para 245 milhões de toneladas e o consumo ficará muito acima deste nível. Desta forma, há indicativos de cotações firmes à frente, devendo, inclusive, puxar os preços das demais commodities. china - As compras de soja foram grandes nas últimas semanas, sinalizando com forte avanço no consumo de ração no país. O inverno foi rigoroso e comprometeu a safra de trigo local. Junto a isso, as notícias apontadas pela Reuters são de que a safra passada do milho foi muito menor do que a apontada e, desta forma, o mercado espera por grandes importações de milho pelos chineses, o que fará as cotações seguirem em linha positiva. argentina - O clima seco trouxe grandes perdas na safra, com o milho recuando de uma estimativa otimista no plantio, de 32 milhões de toneladas, para pouco mais de 20 milhões de toneladas, agora, na colheita. Para a soja, as estimativas apontavam até níveis de 55 milhões de toneladas, frente às atuais de pouco mais de 46 milhões de toneladas.