Grandes Culturas - Cultivar 161

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 161 • Outubro 2012 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossas capas

Montagem Cristiano Ceia

Safra enferrujada.................................22

Dow

As lições amargas deixadas pela ferrugem asiática, cuja incidência promete ocorrer mais cedo e de forma mais intensa nesta safra

Folhas na mira...........................30 Infestação controlada..................32 Atenção redobrada.....................42 Como combater de forma eficiente a mancha-alvo nas lavouras de soja

O que há de novo no controle da broca-do-café, uma das principais pragas que afetam a cultura

Índice

Cuidados necessários quando o assunto é aplicação de herbicidas e reguladores de crescimento em algodão adensado

Expediente

Diretas

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Controle de gramíneas forrageiras em cana

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Inoculação em milho e trigo

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Antagonistas à mancha angular do feijoeiro

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Controle do percevejo verde em soja

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Desafio recorrente da ferrugem asiática

22

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

REDAÇÃO

Sedeli Feijó José Luis Alves

• Editor

Gilvan Dutra Quevedo

• Redação

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Assinaturas

Carolina S. Silveira Juliana Leitzke

• Coordenação

Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso

Cristiano Ceia

• Revisão

Aline Partzsch de Almeida

• Expedição

Ação combinada de fungicida e glifosato contra a ferrugem 26

MARKETING E PUBLICIDADE

Como conter a mancha-alvo

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• Coordenação

Novidades no manejo da broca-do-café

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• Vendas

Informe Novozymes - Evolução de inoculantes no Brasil

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O risco das aplicações calendarizadas

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Informe empresarial - Microquímica

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Cuidados com o algodão adensado

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www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com

Coluna ANPII

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Coluna Agronegócios

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Mercado Agrícola

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Charles Ricardo Echer

Edson Krause

GRÁFICA

Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Pedro Batistin

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Gestão

A Syngenta tem novo gestor sênior de Ativos Seedcare Brasil (Asset Manager Senior Seedcare Brasil). Roberto Dib assume a posição com os desafios de consolidar a estratégia de crescimento dos produtos Cruiser e Avicta Completo, além de preparar toda a estratégia de lançamentos de defensivos na busca por consolidar a liderança e trazer sustentabilidade ao negócio de Seedcare no País. Dib terá papel fundamental na integração da estratégia para entregar aos clientes ofertas que atendam sua necessidade. O executivo é formado em Agronomia com especialização em Marketing pela USP e em Agronegócios pela Fundação Dom Cabral. Possui extensa experiência em várias áreas da companhia.

Tecnologia

A Basf destacou durante o XXVIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas o Cultivance, sistema de produção para a soja geneticamente modificada. Também apresentou o novo herbicida Heat que poderá ser usado contra plantas daninhas de difícil controle, incluindo aquelas que desenvolveram resistência ao sistema padrão. O gerente de Desenvolvimento de Produtos e Mercado da Basf, Sérgio Zambon, informou que o produto Sérgio Zambon está em fase de registro.

Destaque

Roberto Dib

Herbicidas

A Syngenta apresentou no XXVIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas seu portfólio de herbicidas, enfatizando a necessidade da combinação de diferentes mecanismos de ação para estender o uso dessa importante ferramenta. Nesse contexto, José Claudionir Carvalho, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento de Herbicidas, divulgou também o lançamento do Sequence, uma combinação de glifosato, herbicida de maior espectro do mercado, e o S-metolaclor, herbicida residual, sem casos de resistência no Brasil.

Durante o XXVIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas a Nufarm destacou o herbicida Crucial. “Trata-se de um produto pós-emergente, sistêmico, de amplo espectro de controle, indicado para o controle de plantas infestantes”, explicou o gerente de Desenvolvimento de Produto e Mercado, Christian Scherb.

Participação

Produto

A Monsanto destacou no XXVIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas o herbicida Roundup Ultra. O maior diferencial do produto, segundo o fabricante, reside no controle em folhas largas e estreitas, com maior consistência de resultados, principalmente em condições adversas.

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A Milenia participou da XXVIII edição do Congresso de Plantas Daninhas. Ao longo do evento, foram debatidos os temas que norteiam a importância da biotecnologia no manejo das plantas daninhas. Para isso, foram realizadas palestras e workshops para reforçar a importância do uso da tecnologia no controle das plantas daninhas. A Milenia esteve presente com estande no espaço de exposição do Congresso destacando os produtos Poquer, Vezir, Sim Soja e Sim Cana, participando das discussões técnico-científicas, com a palestra Milenia: Manejo Sustentável de Plantas Daninhas em Soja RR, ministrada pelo pesquisador da Fundação ABC, Luís Henrique Penckowski. O encontro reuniu cerca de 200 participantes e aproximadamente mil visitantes por dia ao longo do Congresso.

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Manejo integrado

A Bayer CropScience destacou durante o XXVIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas a importância do manejo integrado, que não está baseado apenas no controle de resistência da planta já instalada, mas também na integração de diferentes práticas que, de forma conjunta, ajudam a reduzir a competitividade das daninhas e limitam sua disseminação.Os participantes do Congresso puderam obter informações sobre o programa Muito Mais Manejo, que tem como objetivo levar aos agricultores informações sobre as soluções que a empresa oferece e também a respeito de práticas agrícolas que auxiliem na tomada de decisão do melhor manejo a ser realizado, evitando que a resistência se instale e haja perdas econômicas. Entre os destaques do programa está a recomendação da rotação de culturas e de herbicidas. A empresa apresentou, ainda, no evento, o Liberty e o Soberan, duas ferramentas de manejo de plantas daninhas no sistema agrícola.

Palestras

A Dow AgroSciences contou com três palestras na programação do Congresso de Plantas Daninhas. Mark Peterson, líder global de Pesquisa e Desenvolvimento para Traits de Tolerância a Herbicidas da companhia, abordou o tema Plantas daninhas resistentes nas Américas: situação atual e prática de manejo. Ildo Mengarda, líder de Desenvolvimento e Capacitação Comercial para América Latina, e Fabiano Testa, responsável por Desenvolvimento de Produto e Transferência de Tecnologia da Dow AgroSciences, ministraram, respectivamente, as palestras sobre Inovações em biotecnologia no manejo de plantas daninhas e Controle químico de plantas exóticas em áreas de conservação ambiental. Em seu estande, a empresa apresentou o portifólio de herbicidas e eventos biológicos, além da linha de pesquisa e inovações científicas."Sendo referência nacional e internacional, este Congresso é uma grande oportunidade para expormos as atuais e futuras tecnologias para o controle de plantas daninhas e promovermos debates de alta qualidade sobre o tema", analisou o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da companhia, Marcus Fiorini.


Reconhecimento

Sucesso

Mais de 2,2 mil pessoas participaram do XXIV Congresso Brasileiro de Entomologia, realizado em setembro, em Curitiba (PR). Além de simpósios e palestras, a edição deste ano contou com 20 sessões onde mais de 100 alunos realizaram apresentações orais de seus trabalhos, previamente selecionados. O Congresso teve como tema “SEB – 40 anos de avanços da Ciência Entomológica Brasileira” e também contou com selo comemorativo alusivo às quatro décadas da Sociedade Entomológica do Brasil.

Renan Costantin

O entomologista Milton Sousa Guerra acaba de ter seu trabalho reconhecido em duas homenagens. Uma delas foi concedida pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea/RS) e a outra pela Sociedade Entomológica do Brasil (SEB). Guerra recebeu do Crea/RS uma placa em reconhecimento aos serviços prestados ao ensino da Agronomia e à implantação do Receituário Agronômico no Brasil. O entomologista também foi lembrado nas comemorações dos 40 anos de história da SEB, entidade que presidiu de 1975 a 1978, com importante atuação em sua fundação. Guerra é, também, um dos fundadores da Cultivar Grandes Culturas.

Sérgio Zambon

Linha completa

Agree

A BioControle destacou no Congresso Brasileiro de Entomologia um feromônio para monitoramento da Pseudoplusia includens e o Agree, inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis aizawai GC 91, transconjugado com toxinas de Bacillus thuringiensis kurstaki. Agora, o produto também tem prescrição para as culturas de soja, algodão, batata, uva e maçã. A equipe da BioControle apresentou, ainda, diferentes armadilhas e produtos biológicos para monitoramento e controle de pragas das principais culturas.

A FMC contou com equipe para divulgar sua linha completa de inseticidas durante o Congresso Brasileiro de Entomologia. Entre os destaques esteve o inseticida Rocks, para o tratamento de sementes. “Este produto proporciona ação sistêmica e de contato, protegendo a raiz e a parte aérea da planta contra pragas iniciais, com excelente arranque e velocidade na emergência”, explicou o gerente de Produtos Inseticidas, Gustavo Canatto.

Dow AgroSciences

Percevejos

A FMC realizou o lançamento do Manual de Identificação dos Percevejos da Soja, de autoria do pesquisador Paulo Edimar Saran, durante o Congresso de Entomologia. O material foi distribuído em primeira mão aos participantes do evento. “O manual foi elaborado com o objetivo de munir técnicos, agrônomos e produtores interessados em conhecer melhor a praga, seus estágios de desenvolvimento e formas de controle”, destacaou o gerente de Produtos Inseticidas da FMC, Gustavo Canatto. A empresa lançou, Gustavo Canatto também, o site www.percevejos.com.br.

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Uma equipe da Dow AgroSciences participou do Congresso Brasileiro de Entomologia, para acompanhar as principais palestras e trabalhos apresentados durante o evento. Luis Antonio Pavan, líder de pesquisas da Dow AgroSciences, elogiou a organização e o nível das palestras realizadas, entre elas as apresentadas pelo gerente de Pesquisa e Desenvolvimento e de Projetos Biotecnologia, Antônio Cesar dos Santos, e pelo líder global de Desenvolvimento de Produto, Gary Thompson, que viajou da matriz da Dow AgroSciences, em Indianápolis, nos Estados Unidos, para participar do evento.

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Cana-de-açúcar

Expansão desafiada A ocupação de áreas de pastagens degradadas pelo cultivo de cana-de-açúcar traz um desafio adicional aos produtores. O controle de gramíneas forrageiras, comuns nesse tipo de lavoura, exige ações no momento correto e aplicação de herbicidas adequados para cada situação específica de manejo dessas plantas daninhas

A

s práticas de cultivo da cana-deaçúcar no Brasil têm passado por transformações profundas nos últimos anos, impulsionadas principalmente pelos novos sistemas de colheita da cultura e pela expansão das áreas cultivadas. Estas transformações requerem mudanças nas práticas agrícolas em geral, destacando-se o manejo de plantas daninhas, onde o uso de herbicidas é a principal ferramenta de manejo utilizada pelos produtores. As áreas de expansão da cultura estão principalmente substituindo pastagens degradadas, onde o potencial de infestação do banco de sementes das gramíneas forrageiras é alto, com destaque para os capins braquiária e colonião. O capim braquiária apresenta um ciclo de vida perene, propagando-se tanto por sementes quanto vegetativamente por rizomas e estolhos, dependendo da espécie. Da mesma forma o capim colonião possui as duas formas de propagação, sendo que esta planta daninha, vegetativamente, é propagada apenas por rizomas. Uma touceira de capim colonião pode ser observada na Figura 1. Sendo assim, as estratégias de manejo destas plantas daninhas devem estar fundamentadas no seu ciclo de vida. O controle das plantas provenientes de sementes é recomendado, preferencialmente através de herbicidas aplicados em condições de pré ou pós-emergência inicial da daninha. Também é

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necessário o manejo da propagação vegetativa destas gramíneas forrageiras, eliminando as plantas já estabelecidas e entouceiradas. Muitas vezes o capim braquiária presente na área é oriundo de pastagens cultivadas com as espécies Brachiaria brizantha ou Brachiaria ruziziensis. No caso do capim colonião as pastagens poderiam ser de cultivares da Panicum maximum, como o Mombaça ou Tanzânia. Estas áreas requerem atenção especial visto que muitos herbicidas têm comportamento distinto para as diferentes espécies de capim braquiária ou diversas cultivares de capim colonião. Na implantação do canavial em uma área de pastagem é recomendável que as operações de preparo de solo resultem no controle efetivo da propagação vegetativa das gramíneas forrageiras, além da redução do potencial de infestação do banco de sementes. A aplicação do herbicida glifosato, quando as plantas das gramíneas encontram-se em fase vegetativa de crescimento vigoroso, é recomendado, em doses que variam com o vigor e o estádio de crescimento, com a dose mínima de 2,0L/ha a 6,0L/ha. É prática comum entre os produtores de cana-de-açúcar realizar, antes do plantio da cana nas áreas de expansão, a redução do potencial de infestação do banco de sementes. Esta prática consiste na aplicação de herbicidas residuais em pré-plantio, que pode ser feita ou em associação com o glifosato ou incorporado ao solo imediatamente antes do

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plantio, conhecida como PPI (pré-plantio incorporado), sendo que a Figura 3 representa uma área preparada para receber a trifluralina após o preparo de solo. Na associação do residual com o glifosato destaca-se o herbicida cujo ingrediente ativo é o isoxaflutole, marca comercial Provence, nas doses variando de 180L/ha a 200L/ha. Na modalidade de aplicação de PPI, é importante que a incorporação seja feita com grade trabalhando a uma profundidade máxima de 10cm, entre uma semana a dez dias antes do plantio da cana. Dentre os herbicidas utilizados em PPI destacam-se a trifluralina (várias marcas comerciais), em doses de 1,5L/ha a 3,0L/ha, em função da formulação usada, o isoxaflutole (nome comercial Provence), nas doses de 100g/ha a 120g/ha, dependendo da textura do solo, e clomazone (várias marcas comerciais) na dose de 1,0L/ha, bem como outros produtos graminicidas. Logo após a implantação do canavial é normalmente realizada a aplicação de um herbicida residual seletivo com ação graminicida em pré ou pós-emergência inicial da planta daninha. A escolha do herbicida a ser aplicado neste momento deve ser feita com base


nas condições da cultura, tipo de solo, variedade e situações climáticas. Na foto de abertura da matéria observa-se uma área de cana planta antes da aplicação de herbicidas e após o plantio da cana-de-açúcar. Destaca-se que normalmente nesta aplicação procura-se rotacionar o herbicida em relação ao aplicado em PPI, através de produtos com diferente mecanismo de ação. Também é comum a associação com herbicidas de ação sobre as folhas largas, pois a diversidade de plantas daninhas na área não restringe-se especificamente apenas a gramíneas. Para os plantios convencionais de canade-açúcar, onde há necessidade da operação de sistematização da superfície do solo para a colheita mecanizada, através da operação chamada popularmente de "quebra lombo", há em geral uma segunda aplicação de herbicida na condição de aplicação chamada de "jato dirigido". Nesta aplicação são utilizados herbicidas em doses menores que a aplicada no plantio, e servem para uma complementação do residual até o "fechamento" completo do canavial. Nas soqueiras subsequentes ao plantio há necessidade de manejo do banco de sementes, e dos eventuais "escapes" da cana planta, que formam as touceiras de propagação vegetati-

Fotos Pedro Christoffoleti

Figura 1 - Cana-de-açúcar infestada de capim colonião, evidenciando os prejuízos causados por esta planta daninha

va. Os herbicidas residuais são normalmente usados logo após o corte da cana, preferencialmente em pré-emergência da cana e das plantas daninhas. Existem várias opções de herbicidas para esta modalidade de aplicação,

sendo que o principal fator que influencia a escolha é a condição de umidade do solo no momento da aplicação, sendo que as opções são mais restritas no período seco do ano e áreas com palha na superfície do solo.


Fotos Marcelo Nicolai

Figuras 2 e 3 - Touceira de capim colonião infestando cana soca (esquerda) e área após o preparo de solo para a aplicação de trifluralina (direita)

Com relação à palhada na área é importante que se façam alguns comentários, visto que a mesma é manejada de forma distinta nas diversas regiões produtoras. Normalmente quantidades de palhada superiores a 10t/ ha são capazes de inibir o desenvolvimento de gramíneas, com destaque para o capim colonião. O produtor então fica tentado a ignorar estas plantas daninhas no manejo da área, visto que em função da presença da palha elas seriam inibidas. Ocorre que em áreas de produção de cana-de-açúcar localizadas em locais mais frios, normalmente a palha é enleirada para não prejudicar a brotação da soqueira, conforme pode ser observado na Figura 4. Esta prática deixa áreas de solo expostas justamente na linha da cultura, quando não em até 66% da área do talhão, favorecendo o desenvolvimento de gramíneas. Em situações de temperaturas mais elevadas, em que a palha fica estendida (não é movida)

sobre o solo, a degradação da mesma pelo sol é muitas vezes mais rápida que o fechamento do canavial e aí, mesmo a palhada suprimindo gramíneas logo após o corte, haverá a necessidade do controle das mesmas de 70 a 100 dias mais tarde. Finalmente, com quantidades de palhada menores, ou em situações de cultivo sobre palha, palhada desuniforme ou ventos excessivos as gramíneas encontrarão áreas de germinação entre a palhada, nas falhas da mesma, principalmente na linha da cultura, onde, por ocasião da brotação da soqueira, a palhada é movida mais intensamente. Dessa forma, mesmo em áreas de palhada, ignorar a presença de plantas daninhas como o capim colonião ou capim braquiária na recomendação do herbicida pré-emergente principalmente é um convite à catação. O controle de touceiras de capim braquiária e capim colonião pode ser feito manualmente através do arranquio, porém, é uma

operação de alto custo e muito trabalhosa. Assim, tem sido adotada pelos produtores a aplicação de herbicidas diretamente na touceira, através da operação chamada de "catação". Consiste da aplicação direta do herbicida em altas doses na touceira, podendo ser realizada no período seco do ano através da colocação do herbicida no centro da touceira, sendo estes herbicidas de absorção radicular. Quando a touceira encontra-se em pós-emergência faz-se a associação de um herbicida residual com um pós-emergente de contato, como o MSMA. As doses e volume de calda devem estar fundamentadas no tamanho da touceira, condição hídrica do solo e vigor da touceira. Dessa forma é preciso lembrar que o manejo das gramíneas forrageiras em áreas de expansão da cultura da cana-de-açúcar trata-se de um desafio para o produtor de cana, que exige significativo investimento principalmente em herbicidas. A agressividade destas plantas daninhas cobra medidas efetivas e aplicadas no momento correto utilizando herbicidas adequados para cada C situação específica de manejo. Pedro Jacob Christoffoleti e Marcelo Nicolai, Esalq - USP

Figura 4 - Aleiramento da palha de cana seguido de cultivo, aumentando as chances de infestação de gramíneas forrageiras

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Christoffoleti e Nicolai abordam o desafio de controlar gramíneas forrageiras em novas áreas de cana



Milho e Trigo Fotos Total Biotecnologia

Auxílio nutricional

Caracterizadas pela alta demanda por nitrogênio, as culturas de trigo e milho têm apresentado boa resposta à inoculação com Azospirillum brasiliense, bactéria que além de ajudar a suprir a necessidade desse nutriente auxilia no maior desenvolvimento das raízes e da parte aérea, bem como atua positivamente na biofortificação dos grãos e da planta

A

demanda por fertilizantes nitrogenados no mundo está em constante crescimento e em se tratando de Brasil o aumento nos últimos cinco anos foi de aproximadamente 20%. A produção nacional corresponde a 30% da necessidade total do insumo, que é de cerca de três milhões e 300 mil toneladas anuais, sendo que os 70% restantes são importados da Rússia, de alguns países europeus e dos Estados Unidos. A alta do insumo se deve, principalmente, ao avanço da tecnologia na propriedade rural e à recuperação de áreas degradadas. Com isso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja),

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em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com a empresa Total Biotecnologia, desenvolveu trabalhos com várias estirpes da bactéria Azospirillum, promotora de crescimento em plantas gramíneas, em especial na cultura do milho e do trigo, que necessitam de grandes quantidades de nitrogênio para o seu desenvolvimento e possuem importância econômica elevada.

Como a tecnologia funciona?

A tecnologia chamada de Azospirillum brasiliense resulta em ganhos de produtividade como um todo, pois envolve maior desenvolvimento da raiz (Figura 1), da parte

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aérea e uma maior biofortificação nos grãos e na planta, processo que se dá pela associação entre planta/bactérias, que são promotoras de crescimento, pela fixação biológica de nitrogênio, produção de substâncias como auxinas, citocininas, giberilinas, etileno, ácidos orgânicos e outras moléculas pela solubilização de fosfato e também pelo controle biológico de patógenos. No entanto, nenhum destes fatores atua de modo individual, mas acredita-se que a combinação de todos é que promove o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Além do crescimento da planta ser beneficiado pela tecnologia, as plantas, por consequência, estarão mais tolerantes aos estresses abióticos,


como o déficit hídrico, a deficiência de fósforo e nitrogênio, entre outros. Deve-se lembrar também que, assim como na cultura da soja, em que existe uma especificidade entre a soja e as bactérias do gênero Rhizobium, também fixadoras biológicas de nitrogênio atmosférico, a associação entre as culturas do milho e do trigo com o Azospirillum também se dá por especificidade entre cultura e cepa.

Resultados com as culturas estudadas

De acordo com os ensaios feitos pela Embrapa Soja, nas cidades de Londrina e Ponta Grossa (PR), a inoculação com Azospirillum resultou em incrementos na produtividade na ordem de 24% para a cultura do milho e de 14% para o trigo. No milho, este rendimento representa, em média, lucratividade de 14 sacas por hectare, sem contabilizar a redução de custo com o fertilizante nitrogenado em semeadura e/ou cobertura. Durante a utilização do inoculante comercial é necessária a aplicação de nitrogênio fertilizante? Sim. A inoculação não supre em 100% a necessidade de nitrogênio com a fixação biológica, mas a vantagem reside no fato de a quantidade a ser aplicada poder ser reduzida satisfatoriamente. Em se tratando de propriedades com escassez de recursos, ou no

Área de milho com aplicação de Azospirillum (esquerda) e testemunha (direita)

caso do milho de segunda safra, a tecnologia é altamente recomendável. Sabe-se que a produtividade de qualquer cultura depende, basicamente, do seu potencial genético, do ambiente e dos recursos disponíveis. Resumindo, é necessário que o produtor rural tenha em mente a sua expectativa de produção e saiba

qual é o potencial de produção do material escolhido para a semeadura. De posse desses dados, basta calcular a adubação necessária de acordo com a exigência da cultura para o ciclo. Deve-se salientar que, por exemplo, quando o cultivo de milho for sucessor ao cultivo da soja, a adubação nitrogenada pode ser reduzida na


Embrapa Soja

sementes.

Considerações finais

A tecnologia desenvolvida pela Embrapa Soja em parceria com a UFPR vem ao encontro das necessidades atuais do mercado, de aumento na produtividade com a menor dependência de recursos e com impactos reduzidos ao meio ambiente. Os resultados obtidos através da pesquisa se tornam mais interessantes para milho na segunda safra, assim como para a agricultura familiar, onde os riscos de produção são maiores e a oferta de recursos é menor, respectivamente. Salienta-se, também, que mais estudos estão sendo realizados para a inoculação de outras espécies gramíneas, assim como para aplicação do inoculante em C pós-emergência.

semeadura, pois a soja deixa no solo cerca de 30kg de nitrogênio por hectare. Outro exemplo é o do cultivo de milho quando a safra é desenvolvida em uma área que foi deixada em repouso na entressafra com cobertura verde, o procedimento deve ser o mesmo, basta saber quais os benefícios do adubo verde.

Total Biotecnologia

Figura 1 – Efeito da inoculação no sistema radicial de milho sem inoculante e com inoculante (+ Azospirillum)

Matheus Dalsente Krause, Universidade Estadual de Londrina Mariângela Hungria, Embrapa Soja

Cuidados na compra e na inoculação

Assim como ocorre com qualquer produto é necessário verificar se o inoculante apresenta registro no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), se o prazo de validade não está ultrapassado, certificar-se de que o produto tenha sido armazenado em temperatura ideal (com máxima de 30ºC) e se a concentração mínima de 108 células g-1 ou ml-1 está sendo respeitada. Em caso de dúvida ou irregularidade, deve-se entrar em contato com um fiscal do Mapa. A aplicação do inoculante à base de Azospirillum pode ser feita com tambor rotatório ou com qualquer máquina de tratamento de sementes utilizada na propriedade, dado que o produto comercial é líquido. Para assegurar a viabilidade do inoculante na hora da aplicação e da semeadura, é fundamental averiguar a temperatura do depósito de sementes na semeadora, se estiver com temperatura superior a 35ºC, deve-se suspender a atividade e resfriar a caixa; semear em no máximo 24 horas após a inoculação. Não se recomenda a inoculação diretamente na caixa de sementes, para evitar a falta de uniformidade na cobertura das sementes com o inoculante. Vale lembrar que em sementes já tratadas com fungicidas, inseticidas ou micronutrientes, o inoculante deve ser colocado por último, bem como deve ser feita a verificação da sua compatibilidade com os produtos utilizados no tratamento de

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O maior desenvolvimento da raiz é um dos efeitos positivos obtidos com a aplicação do inoculante à base de Azospirillum

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Feijão Fotos Flávio Garcia

Antagonistas bacterianos

De importância secundária até o final da década de 1980 a macha angular se transformou em uma das principais doenças que afetam o feijoeiro, com potencial para provocar perdas severas à produção. O uso do controle biológico, através do emprego de bactérias benéficas, tem apresentado bons resultados no manejo desse problema

A

mancha angular é uma das principais doenças que ocorrem na cultura do feijão. Até o fim da década de 1980 era considerada de pouca importância por sua ocorrência ser mais frequente no fim do ciclo da cultura. Porém, hoje, devido a vários fatores esse status alterou-se e é uma das doenças mais importantes do feijoeiro. Os sintomas podem ser observados na parte aérea de plantas de feijão, mas é nas folhas onde o sintoma típico é expresso. Inicialmente as folhas apresentam lesões com coloração variando entre cinza e marrom sem um formato definido, por vezes com halos cloróticos. O sintoma progride para lesões necróticas, formando figuras geométricas, com bordos angulares limitados pelas nervuras das

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folhas, que caracterizam o sintoma típico da mancha angular. Nas vagens as lesões são grandes, ovais, de cor marrom, circundadas por um bordo escuro, que podem ser confundidas com o crestamento bacteriano. Nos ramos e pecíolos as lesões são escuras e alongadas. Podem ocorrer sintomas como clorose, coalescência de lesões e abscisão de folhas infectadas. A doença é causada pelo fungo Pseudocercospora griseola (Sacc.) Crous e Braun. Até alguns anos atrás o nome aceito para o patógeno era Phaeoisariopsis griseola, sendo ainda hoje conhecido dessa maneira por muitas pessoas. Os restos de cultura e sementes contaminadas são as principais fontes de inóculo

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do patógeno, a partir das quais iniciam-se as epidemias. A disseminação do fungo pode ser feita por vento, chuva, água de irrigação, além de sementes. As medidas de controle recomendadas são o plantio de sementes de boa qualidade, livres do patógeno e tratadas com fungicidas, a rotação de culturas, eliminação dos restos de cultura e pelo uso de agroquímicos. O emprego de cultivares resistentes é tido por muitos como o método ideal de controle. Contudo, observa-se, na prática, que a doença é de difícil controle, não sendo incomuns relatos de problemas com cultivares consideradas como resistentes e a ineficácia do controle químico. As perdas causadas pela mancha angular


Quadro 1 – Divisão de bactérias •Rizobactérias – São bactérias que colonizam o sistema radicular de plantas ou que sobrevivem no solo em regiões adjacentes às raízes (rizosfera). É o grupo mais pesquisado de bactérias para o controle de doenças de plantas; •Bactérias endofíticas – São bactérias que colonizam o interior do tecido vegetal, porém sem lhe causarem prejuízos, atuando contra micro-organismos fitopatogênicos infestantes; •Bactérias residentes de filoplano ou epífitas – São bactérias que se especializaram em sobreviver sobre a superfície da parte aérea de plantas, competindo com a microbiota ali existente pelos nutrientes, espaço e dessa forma atuando no controle de micro-organismos fitopatogênicos.

são importante fator de redução da produtividade do feijoeiro no Brasil. A severidade da doença pode ser agravada quando condições favoráveis à P. griseola são encontradas, em que as perdas podem chegar a 70% da produção. Assim, devido às perdas causadas pela doença e à dificuldade de controle demonstrada pelos métodos atualmente disponíveis, o controle biológico com bactérias torna-se uma possibilidade plausível para o manejo da mancha angular.

Bactérias como agentes de biocontrole

O uso de bactérias benéficas na agricultura, como método de controle de doenças de plantas, é uma prática realizada há vários

Severidade da mancha angular em plantas de feijoeiro que receberam tratamento controle (água)

séculos, embora de forma empírica. Todavia, com o advento da microbiologia, foi possível entender e aprimorar o uso desses microorganismos como forma de reduzir as perdas e aumentar a produção vegetal. Parece que o uso de bactérias de forma mais científica, como um método de controle de doenças de plantas, no ocidente, nos remete

aos anos 1950. A partir desse período vários grupos de pesquisa começaram a trabalhar com esses micro-organismos no controle biológico de doenças de plantas. Normalmente, os trabalhos realizados com bactérias para o controle de doenças de plantas dividem-se conforme apresentado no Quadro 1.


Ensaio no período de epidemia (esquerda) e outro antes da ocorrência da doença (direita), ambos realizados em áreas experimentais

Os mecanismos envolvidos no controle de doenças por essas bactérias são diversificados, pode haver a produção de substâncias antimicrobianas e outros compostos com efeitos tóxicos a outros micro-organismos, bem como a competição por nutrientes e por nichos ecológicos e podem ainda atuar como indutoras de resistência de plantas. Nesse último fenômeno são capazes de ativar mecanismos de defesa da planta que se encontram latentes. Dessa forma as plantas que têm o seu mecanismo de indução eliciado ou induzido pelas bactérias são capazes de responder prontamente e de modo mais eficaz às tentativas de infecção de fitopatógenos.

Bactérias antagonistas

O controle biológico de doenças do feijoeiro pelo uso de bactérias benéficas tem sido estudado há algum tempo e a partir dos anos 1990, resultados promissores foram observados no controle de doenças do como: ferrugem (Uromyces appendiculatus), crestamento bacteriano comum (Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli), murcha de curtobacterium (Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens) dentre outras. Porém, os primeiros trabalhos com controle biológico da mancha angular do feijoeiro com bactérias tiveram início em 2002 no Laboratório de Bacteriologia de Plantas e Controle Biológico da UFV, sob a liderança do professor Reginaldo da Silva Romeiro. Os estudos foram realizados utilizando-se bactérias residentes de filoplano. As pesquisas iniciais ocorreram em condições de casa de vegetação, em que P. griseola era inoculada artificialmente em folhas de feijoeiro com aproximadamente 30 dias de idade. Sobre a parte aérea dessas plantas procedeu-se a aplicação dos tratamentos bacterianos, por meio de atomização de suspensão de células de bactérias que foram isoladas de folhas de feijoeiro sadias. Testaram-se aproximadamente 500 isolados bacterianos, selecionando-se

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três que foram capazes de controlar a doença, sendo inclusive mais eficientes que o controle químico com o fungicida clorotalonil. Contudo, ensaios realizados em condições controladas muitas vezes não podem ter seus resultados extrapolados para as condições de campo. Dessa forma oito ensaios foram realizados em três áreas experimentais distintas, localizadas duas no município de Viçosa (MG) e uma no município de Campos dos Goytacazes (RJ), entre os anos de 2004 e 2008, utilizando-se as cultivares Pérola, Ouro Negro e Diamante Negro. Em todos os ensaios o procedimento foi o mesmo, realizando-se a semeadura e após a planta atingir o estádio v3 (primeiro trifólio completamente desenvolvido), passou-se a pulverizar semanalmente na superfície das folhas os tratamentos bacterianos, utilizando o fungicida clorotalonil, como um parâmetro para avaliar a eficácia das bactérias em controlar a doença. Aguardou-se até que os sintomas da mancha angular ocorressem naturalmente e a partir da observação dos primeiros sintomas passou-se a avaliar semanalmente a severidade da doença. Em todos os ensaios um isolado bacte-

Visão microscópica dos isolados captada em pesquisas do Laboratório da UFV

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riano denominado UFV-172, que foi caracterizado como uma estirpe de Bacillus cereus, destacou-se dos demais tratamentos, inclusive do controle químico. Além do maior controle da mancha angular, as plantas tratadas com a UFV-172, geralmente apresentavam maior produção, ou em número de grãos ou em peso de grãos. A título de curiosidade, um ensaio em condições controladas foi realizado com o isolado UFV-172, em que as plantas eram cultivadas em vasos de cinco litros, com uma única adubação realizada com N-P-K (4-14-8), conduzindo-se as plantas até o final do ciclo e sem ocorrência da doença. As plantas tratadas com o isolado UFV-172 aumentaram a produção de grãos em relação a plantas não tratadas com a bactéria. Os resultados desses ensaios demonstraram a potencialidade do uso de bactérias como agentes de controle da mancha angular. Além disso, mostram a potencialidade do uso de bactérias para aumentar a produção de grãos na cultura do feijão.

Perspectivas futuras

Nos dias atuais alguns grupos têm trabalhado com culturas bacterianas para o controle da mancha angular e também de outras doenças do feijoeiro. Entretanto, há a necessidade de que essas bactérias sejam testadas em áreas de cultivo comercial e que possam ter o processo de produção industrializado de forma a se criar um produto comercial de controle que possa ser utilizado pelo agricultor. Indubitavelmente, sua eficácia vem sendo comprovada e demonstra ser uma alternativa inteligente para o controle da mancha C angular. Flávio Augusto de O. Garcia, Unicentro Reginaldo da S. Romeiro (in memoriam) UFV



Soja Dirceu Gassen

Verde nefasto

Nezara viridula é uma das espécies de percevejos mais daninhas à cultura da soja, responsável por causar perdas diretas e indiretas à produção. O controle químico é uma das alternativas mais fáceis e baratas de combater a praga. Contudo, sua prática deve ser adotada de forma criteriosa, após o monitoramento correto e a detecção do nível de presença do inseto que justifique a ação

D

Nathália de Carvalho

entre as pragas que atacam a cultura da soja, os percevejos fitófagos são importantes, com potencial para reduzir significativamente os rendimentos da cultura (Panizzi, 1991). Esses insetos alimentam-se da semente, inserindo os estiletes e sugando porções líquidas ou liquefeitas pela saliva. No processo de alimentação, injetam agentes histolíticos que liquefazem as porções sólidas e semissólidas das células (Panizzi, 1991). Esse grupo é responsável pela redução do rendimento de grãos e por perdas na qualidade das sementes. Os danos são resultantes da sucção contínua da seiva e da transmissão de doenças. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e tornamse escuros (Hoffmann-Campo et al, 2000). Comprovadamente o Nezara viridula

é uma das espécies mais daninhas à soja, responsável por elevados prejuízos. Além dos danos diretos causa também significativos prejuízos de ordem indireta, injetando toxinas na seiva que, por sua vez, vão causar distúrbios fisiológicos na planta, determinando crescimento/desenvolvimento anormal. Esta espécie está entre as mais frequentes nas regiões produtoras de soja e a mais importante nos estados do Sul do Brasil (Hoffmann-Campo et al, 2000). Segundo Tood & Turnipseed (1974), estudos demonstraram reduções significativas no poder germinativo, emergência e sobrevivência de plantas provenientes de sementes atacadas por N. viridula. Por isso, a praga exige do sojicultor a adoção de medidas de controle quando sua ocorrência for superior a um (lavoura semente) ou dois (lavoura para grão) exemplares por batida de pano (1m de comprimento em uma fileira), durante a fase reprodutiva (Reunião, 2009). A utilização do controle químico é uma das alternativas fáceis e baratas que o agricultor dispõe para o combate da praga. No mercado existem diversos ingredientes ativos à disposição. Assim, com o objetivo de avaliar dosagens de inseticidas no controle do percevejo-verde, foi desenvolvido o presente trabalho.

Material e métodos

O monitoramento das lavouras e o nível de dano são fundamentais para a tomada de decisão de controle

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O ensaio de controle de N. viridula em soja foi instalado em lavoura comercial, no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, coordenadas 29° 55’ 01.54″ S e 55° 46’ 13.01″ O. A cultivar usada foi CD 214, semeada em sistema de plantio direto. No estabelecimento

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do ensaio a cultivar apresentava uma densidade populacional de 14 plantas/metro, estatura média de 78cm e estágio fenológico R5.4 (Fehr et al, 1971). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos estão descritos na Tabela 1. A aplicação dos inseticidas foi efetuada com pulverizador costal propelido a CO2 equipado com barra de 1,5 metro e quatro bicos tipo leque XR11002 equidistantes 0,50m um do outro. As avaliações foram efetuadas aos três, sete, dez e 14 dias após a aplicação dos tratamentos (DAT), além de uma pré-contagem. A população de percevejos foi amostrada pelo método de pano de batida, tomando-se duas amostras/unidade experimental, que por sua


erro. A eficiência dos inseticidas foi calculada pela fórmula de Abbott (1925). O estabelecimento do ensaio foi em 25/3/2010, com uma temperatura de 24,8ºC, 69% de U.R. do ar e velocidade do vento de 2,5m/s entre as 14h30min e 15h.

Resultados e discussão

O teste de Tukey, a 5% de probabilidade, permitiu inferir que todos os produtos apresentaram ação inseticida, sem considerar, no entanto, os percentuais de controle porque as médias dos tratamentos diferiram das médias das parcelas testemunhas. Verificou-se não haver diferença entre médias dos produtos em avaliação, todos apresentaram resultados estatisticamente similares. De acordo com os resultados obtidos na avaliação prévia realizada da população de percevejos nas unidades experimentais, pode-se inferir que o número de exemplares/ unidade era o suficiente para a elaboração do trabalho e, também, se encontravam uniformemente distribuídas nas parcelas experimentais (Tabela 2). O C.V. variou de 33,14%, na précontagem, a 54,48% aos sete DAT. Essa variação era esperada devido a dois fatores: primeiro, deve-se considerar a ação de mortalidade diferenciada provocada pelos tratamentos e, segundo, o aspecto biológico. Analisando as diferentes dosagens da mistura espirotetramate + imidacloprido + óleo metilado de soja constatou-se que a resposta foi positiva, e com o aumento da dose houve um aumento no percentual de controle, em todas as datas de avaliação. Essas se mantiveram dentro de uma va-

riação aceitável, ora sofrendo redução, ora aumentando os percentuais de controle. Outro dado interessante é que com as doses de 96g e 120g de i.a./ha os percentuais de controle foram sempre superiores aos dos produtos tomados como padrão, imidacloprido + betaciflutrina e metamidofós. Todas as doses avaliadas da mistura de espirotetramate + imidacloprido + óleo (72g, 96g e 120g de i.a./ha) controlam satisfatoriamente o percevejo-verde. Outro aspecto que se deve observar é quanto ao período residual de ação das doses testadas, pois as 14 DAT (exceto imidacloprido + betaciflutrina) continuam controlando a praga com eficiência agronômica ≥ 80%. Durante todo o período em que foi conduzido o ensaio, a cultura não apresentou efeito fitotóxico, podendo assim os produtos e dosagens avaliados serem indicados para o controle de N. viridula em soja.

Conclusões

• Espirotetramate + imidacloprido + óleo metilado de soja nas doses de 18g + 54g + 0,25v/v; 24g + 72g + 0,25v/v e 30g + 90g + 0,25v/v de i.a./ha controlaram com eficiência agronômica ≥ 80% o N. viridula em soja, podendo ser recomendado para o controle dessa espécie-praga; • Durante a avaliação, produtos e dosagens testadas não apresentaram efeito fitotóC xico e o efeito residual foi de 14 dias. Nathália Leal de Carvalho, Ervandil Correa Costa, Jerson Carus Guedes e Jorge Antonio França, Univ. Federal de Santa Maria

Tabela 1 - Tratamentos e respectivas doses dos produtos

vez possuía 25 fileiras de soja por 15m de extensão. Os dados foram submetidos à análise de variância (Anova), as médias agrupadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de

Tratamentos Concentração Conc. Imidaclopride + Betaciflutrina 100g/L + 12,5g/L Metamidofós 600g/L Espirotetramate + Imidacloprido + óleo metilado de soja 480g/Litro + 850g/kg

Testemunha

Doses Form. SC CS SC+CE

Água

---

ml P.C./ha 750 500 150+0,25% 200+0,25% 250+0,25% ---

g i.a./ha 75 + 10 437,5 18 + 54 + 0,25v/v 24 + 72 + 0,25v/v 30 + 90 + 0,25v/v ---

Tabela 2 - Valores originais coletados no campo relativos às datas de avaliação e repetições para cada inseticida avaliado no controle do N. viridula em soja. Santa Maria (RS), 2009/2010 Tratamentos

Pré-Contagem Média* PC3 % Imidacloprido + Betaciflutrina 9,50 ± 1,32 a ----Metamidofós 10,00 ± 1,47 a ----Espirotetramate + Imidacloprido + óleo 8,50 ± 1,32 a ----Espirotetramate + Imidacloprido + óleo 9,00 ± 1,29 a ----Espirotetramate + Imidacloprido + óleo 9,25 ± 1,89 a ----Testemunha 8,75 ± 1,37 a ----CV (%) 33,14

Avaliação aos 03 DAT2 Média* PC3 % 1,50 ± 0,50 b 84,21 1,75 ± 0,25 b 81,57 2,00 ± 0,41 b 78,94 1,25 ± 0,63 b 86,84 1,00 ± 0,41 b 89,47 9,50 ± 1,19 a ---46,01

Avaliação aos 07 DAT2 Média* PC3 % 1,25 ± 0,25 b 87,80 1,50 ± 0,28 b 85,36 1,75 ± 0,48 b 82,92 0,75 ± 0,25 b 92,68 0,50 ± 0,28b 95,12 10,25 ± 1,65 a ---54,48

Avaliação aos 10 DAT2 Média* PC3 % 2,25 ± 0,25 b 79,06 1,25 ± 0,25 b 88,37 1,50 ± 0,64 b 86,04 1,00 ± 0,41 b 90,69 0,75 ± 0,25 b 97,67 10,75 ± 1,65 a ---53,96

Avaliação aos 14 DAT2 Média* PC3 % 3,75 ± 0,63 b 58,33 0,75 ± 0,48 c 91,66 1,75 ± 0,48 bc 80,55 0,75 ± 0,25 c 91,66 0,50 ± 0,50 c 94,44 9,00 ± 0,92 a ---40,01

* Médias, nas colunas, seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%;²2DAT: dias após aplicação dos tratamentos;³3Percentagem de controle.

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Soja

Desafio recorrente A cada safra a ferrugem asiática volta a trazer prejuízos às lavouras brasileiras de soja. Influenciada por fatores como clima e tipo de manejo, a severidade do ataque é variável de um ano para outro, mas a presença da ameaça não cessa. Como doença-chave na cultura, seu manejo merece atenção redobrada e deve nortear o combate a outros problemas como mela, mancha-alvo e antracnose

O

cultivo da soja no Brasil passou por uma incrível mudança na última década. A adoção de biotecnologia, a introdução de variedades com potencial produtivo superior, o advento de novas tecnologias e a chegada da ferrugem asiática sem dúvida causaram modificações marcantes e definitivas no cultivo desta oleaginosa em nosso país. Além disso, passamos de uma área de aproximadamente 14 milhões de hectares em 2000/2001 para quase 25 milhões na temporada 2011/2012 (salto de 79%). No Mato Grosso este salto foi de 222%, pulando de 3,12 milhões de hectares para atuais 6,93 milhões de hectares (Conab). Porém, neste mesmo período, a produtividade não alcançou o mesmo patamar de crescimento. Saímos de um índice de 2.751kg/ha em 2001, para os atuais 2.753kg/ ha, em termos nacionais, e de 3.090kg/ha no início da década, para os 3.180kg/ha

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previstos para serem colhidos neste ano em Mato Grosso. A constatação, forte, que “paramos no tempo” em termos de produtividade é inequívoca. Fatores como clima, época de semeadura, insetos, nematoides, etc interferiram nestes resultados de produtividade. Mas, uma coincidência marca esta estabilização de produtividade, apesar de todas as tecnologias agregadas neste período à cultura da soja: a chegada da ferrugem asiática. A doença se aclimatou muitíssimo bem no Centro-Oeste do Brasil, e especialmente em Mato Grosso vem causando prejuízos variáveis ano após ano. Muito dependente do clima na entressafra, nas últimas safras tem se prognosticado, com grande probabilidade de acerto, baseado no volume e na frequência das chuvas no inverno do cerrado, como será o comportamento da doença na

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safra de verão seguinte. Se forem observadas as últimas três safras, (09/10, 10/11 e 11/12) fica muito clara esta tendência. No inverno de 2009 tivemos chuvas frequentes entre maio e outubro, e a ferrugem chegou mais cedo. No ano seguinte, o inverno foi extremamente seco no Centro-Oeste e também na Bolívia, e a ferrugem foi irrisória na maior parte do estado. Nesta última safra, com o clima um pouco mais úmido no inverno, a ferrugem causou sérios prejuízos, principalmente na região Médio-Norte e Vale do Araguaia. Uma questão importante sempre é levantada após uma safra de prejuízos com a ferrugem, como a que estamos vivendo agora: como é possível, após tantos anos de aprendizado e convivência com a doença, ainda ocorrer níveis de perdas como os recentemente observados? Esta é uma questão que suscita muitas outras. Se for analisado o histórico da ferrugem no País, o que se verá é que muitas etapas foram vencidas e verdades, antes inabaláveis, foram “postas por terra”. Outras se mantêm até hoje. Em se tratando do principal método de controle, o químico, o manejo mudou nos últimos anos. Existia uma grande lista de produtos, isolados (triazóis) ou não (misturas de triazóis com estrobilurinas), que propiciavam patamares de controle acima de 80%. Hoje, há poucas misturas que propiciam controles que mal chegam a este valor (Consórcio Antiferrugem, 2011). O velho debate entre preventivo e curativo, felizmente vencido pelo primeiro, causou muitas dúvidas entre técnicos e produtores. Ainda hoje, principalmente após uma safra tranquila com relação à ferrugem, muitos atrasam a primeira aplicação com o intuito de diminuir o custo com esta prática. A ferrugem não perdoa atrasos. Os produtores do médio-norte do Mato Grosso estão aí para comprovar. Táticas de manejo como semeadura antecipada, uso de variedades precoces e superprecoces (escape), vazio sanitário (conquista fundamental e marco divisório das perdas de ferrugem no Brasil), destruição de plantas tigueras na entressafra, plantio numa janela mais concentrada, melhoria na qualidade da aplicação e adequação do tamanho da frota de pulverizadores, uso de variedades resistentes (Tecnologia Inox) e outras, foram sendo incorporadas, ao longo do tempo, ao manejo da ferrugem. São bastante conhecidas e muitas delas amplamente difundidas e praticadas com sucesso. Mas então, onde está se errando? O sucesso no controle de doenças em soja, principalmente da ferrugem asiática, não é uma equação exata. É praticada atu-


almente uma agricultura de larga escala, sob um clima muitas vezes adverso, que atrapalha sobremaneira o dia a dia das propriedades e impede que todas as operações sejam feitas a contento e no tempo certo. Além disso, fatores como insistência e um pouco de soberba por parte dos tomadores de decisão ganham peso nesta equação. Sabe-se que muitos produtores e técnicos, pressionados para redução de custos de produção, optam por diminuir doses de produtos e/ou aumentar o intervalo entre aplicações. Nos atuais patamares de preços tanto da soja como dos fungicidas, isto é, no mínimo, inconcebível. Dada a importância amplamente comprovada dos fungicidas, não se justifica, sob nenhum aspecto, economia com estes insumos, no nível de tecnologia atual do cultivo da soja no Centro-Oeste brasileiro e do risco que representa a ferrugem. A Fundação MT tem realizado pesquisas ao longo deste período de dura convivência com a ferrugem. Tem procurado, ano após ano, levar aos produtores e técnicos as informações mais precisas possíveis em termos de recomendações para o controle da ferrugem e de outras doenças importantes no contexto estadual, como mela (Tanate-

Fotos Dirceu Gassen

A ferrugem asiática continua a provocar sérios danos às lavouras de soja após vários anos de presença da doença no Brasil

phorus cucumeris), mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e antracnose (Colletotrichm truncatum). Desde que os primeiros estudos foram realizados, na safra 2001/2002, muitas descobertas foram feitas e, por se tratar de uma matéria muito dinâmica (doenças em plantas), estabelecidas recomendações que muitas vezes foram revogadas.

A doença-chave da cultura da soja é a ferrugem. Todo o manejo complementar deve ser feito em função desta doença. O que muitas vezes ocorre é que produtores dão mais importância às doenças como antracnose e mancha-alvo e relegam a ferrugem ao segundo plano. Salvo em condições onde há a ocorrência de mofo-branco


Fundação MT

Siqueri lembra que após uma safra tranquila há tendência de demora na primeira aplicação, o que é grave, pois a ferrugem não perdoa atrasos

e mela, doenças que exigem um controle específico e antecipado em relação ao que é recomendado para a ferrugem, o controle integrado deveria ser guiado pelo da ferrugem asiática. Isto é verdadeiro tanto em termos de produtos escolhidos como época e intervalos de aplicação adotados.

dos pelo fungo em questão. Muitas vezes, a queda de vagens, que caem “chochas”, é atribuída 100% à antracnose, o que não é verdadeiro. As causas podem ser as mais variadas, além da antracnose. Estresses de qualquer tipo, ferimentos por insetos, deficiência nutricional e outros podem causar o mesmo sintoma. Outro sintoma característico é a quebra do pecíolo, normalmente encontrado na parte intermediária das plantas, onde há sombreamento. Quando se trata de um ataque muito severo, com desfolha significativa das plantas, por este fator as perdas são certas. Porém, o que se tem observado em grande parte das regiões é uma desfolha tímida, de poucos trifólios por planta. Em termos de controle químico, sabe-se que grande parte dos produtos aplicados na cultura da soja para controle de ferrugem e outras doenças controla o Colletotrichum truncatum. Ensaios realizados em laboratório têm comprovado estes efeitos. Porém, quando levamos este cenário para o campo, onde a quantidade de fatores que influenciam a ação do fungicida sobre o patógeno aumenta consideravelmente, os efeitos são bem diferentes. Nos ensaios conduzidos pela Fundação MT não se tem conseguido reproduzir o controle encontrado por outras instituições. Trata-se de uma combinação complexa de época de aplicação, conseguir atingir o alvo, metodologia adotada etc.

Outras doenças

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As lições da ferrugem

Com relação ao controle de ferrugem Dirceu Gassen

Resultados de pesquisas da Fundação MT têm demonstrado que no caso de mancha-alvo, os principais triazóis, estrobilurinas, combinações destes e os benzimidazóis de maneira geral têm pouco ou nenhum efeito sobre a doença. Dos produtos que estão no mercado, apenas alguns poucos têm mostrado efeito, ainda que na casa de 40% a 50% de controle. Porém, este resultado é verdadeiro apenas quando se realizam no mínimo duas aplicações. Dependendo da suscetibilidade da variedade este resultado é alcançado apenas com três aplicações. Há uma nova geração de produtos em fase de registro no Ministério da Agricultura, do grupo químico das carboxamidas, que trarão um novo patamar de controle para mancha-alvo. Resultados bastante animadores, com controle acima de 80%, foram obtidos com aplicação destes produtos nas últimas duas safras. Pelo perfil de suscetibilidade das cultivares atualmente cultivadas, esta nova geração de produtos trará benefícios reais em termos de diminuição de perdas por esta doença na cultura. Antracnose em soja é um desafio. Sabese que se trata de uma doença oportunista, que se aproveita de condições climáticas favoráveis e suscetibilidade do hospedeiro para causar danos, que são proporcionalmente maiores quanto mais os dois fatores supracitados influenciem positivamente a ocorrência da enfermidade. Um fato relevante e interessante a se observar sobre esta doença é que, nos catálogos de cultivares de todas as empresas detentoras, a informação sobre suscetibilidade dos materiais à antracnose não está presente. Isto ilustra um pouco a dificuldade de se isolar e estudar esta doença. Porém, na visão da Fundação MT, muitos sintomas verificados no campo e relatados como antracnose não são causa-

A negligência no manejo preventivo da ferrugem tem resultado em graves prejuízos aos produtores

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asiática, muito se tem aprendido, ano após ano, com esta incrível e surpreendente doença. Alguns princípios de manejo estão fortemente consolidados, graças às comprovações práticas e científicas de sua efetividade. As já citadas estratégias de escape como vazio sanitário, uso de cultivares resistentes, entre outros, têm contribuído sobremaneira para que se tenha diminuição de perdas com relação a esta doença. Entretanto, o controle químico é, e ainda será por muito tempo, o principal meio de controle desta doença. Já passamos por várias fases em termos de recomendação e o que hoje predomina é basicamente a realização da primeira aplicação preventivamente, entre os estádios R1 e R2 (variedades com crescimento determinado) ou entre os 40 e 50 dias após a semeadura da cultura, para materiais com crescimento indeterminado. Segundo ainda a recomendação mais comum, a reaplicação deve se dar por volta dos 21 dias após a primeira e, a partir daí, deve se realizar o monitoramento para reaplicações, seja ela a terceira, quarta etc. Os produtos recomendados hoje se limitam às combinações de triazóis com estrobilurinas, sendo que há diferenças de controle entre elas. Inciativas como a rede de ensaios coordenada pelo Consórcio Antiferrugem, formada por diversos pesquisadores em todo o Brasil, têm contribuído para monitorar o desempenho e a eficácia dos produtos disponíveis no mercado, assim como lançamentos e até pré-lançamentos de produtos que ainda não estão no mercado. Resultados dos dois últimos anos vêm mostrando que alguns produtos que terão seu lançamento no futuro estabelecerão novos patamares de controle para a doença. Além de novas combinações entre triazóis e estrobilurinas, diferentes das já existentes no mercado, os fungicidas contendo produtos do já citado grupo das carboxamidas vêm contribuir com a melhoria do controle da doença, estabelecendo um novo patamar de eficiência. Isso é muito animador, do ponto de vista de manejo da resistência da doença também, visto que temos sofrido baixas nas opções de controle nos últimos anos. O controle hoje é fortemente baseado no grupo das estrobilurinas, o que pode ser pouco sustentável a longo prazo. Alguns produtos desta nova geração de produtos (carboxamidas) vêm se mostrando muito eficientes para ferrugem, mas devem ser muito bem trabalhados em termos de recomendação, pois se trata de um grupo com histórico de resistência adquirida em outros C patossistemas. Fabiano Siqueri, Fundação MT



Soja

Ação combinada No momento em que todos os parâmetros técnicos indicam a necessidade de antecipação do manejo frente à presença precoce da ferrugem asiática na safra 2012/13, cresce a busca por alternativas para enfrentar a doença. A aplicação combinada de fungicidas à base de piraclostrobina com o herbicida glifosato está entre as ferramentas para auxiliar o produtor de soja no controle do fungo e na busca por aumentar o rendimento e a qualidade da colheita

O

Brasil é considerado um dos maiores produtores de soja no mundo, tendo em vista que no último levantamento de safra, a produção total estimada foi de 66,37 milhões de toneladas de grãos da cultura para a safra 2011/2012 (Conab, 2012). Em contrapartida, existem diversos prognósticos que evidenciam a presença precoce da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), que afetará diretamente a expressão da capacidade produtiva da cultura. O ataque severo da doença ocasiona desfolha precoce, comprometendo a formação das estruturas reprodutivas, enchimento de legumes e massa final de grãos. Além disso, a prolongação da manutenção da área foliar sadia influencia diretamente o tamanho dos grãos obtidos, com incremento nos rendimentos e na qualidade das colheitas (Yang et al, 1991). Deste modo, inúmeros compostos conhecidos possuem efeitos fungitóxicos e/ou

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fungistáticos, inclusive ingredientes ativos utilizados comumente como herbicidas. Produtos comerciais à base de glifosato reduziram a germinação de esporos de Phakopsora pachyrhizi, proporcionando dessa forma efeito protetor à inoculação do patógeno no tecido foliar (Soares et al, 2008). Atualmente, o uso de fungicidas tem apresentado os melhores controles da doença, especialmente através do emprego de produtos do grupo químico das estrobilurinas que, além do efetivo controle, ainda possuem efeitos sobre a fisiologia da planta (Venâncio et al, 2003). O objetivo do trabalho foi estudar a consistência dos resultados da aplicação isolada ou combinada de glifosato e piraclostrobina e seus efeitos contributivos nos parâmetros fisiológicos, de controle e produtividade da cultura da soja. Para isso, dois ensaios foram montados, concomitantemente, em duas regiões representativas de cultivo, no sul - subtropical

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(Itaara/Rio Grande do Sul) e no cerrado – tropical (Sorriso/Mato Grosso). Dez tratamentos foram bloqueados ao acaso com quatro repetições consistindo da aplicação de glifosato (1,5L/ha), piraclostrobina (0,3L/ha) e deles combinados, nos estádios de V3-V4 e/ou V6V7. Posteriormente, nos estádios reprodutivos ocorreram duas aplicações erradicativas de [piraclostrobina + epoxiconazole] + óleo mineral ([0,5] + 0,5L/ha) em todos os tratamentos, inclusive na testemunha, sendo a primeira aplicação em R2 e a segunda em R5.4. Para o experimento em Itaara/Rio Grande do Sul utilizou-se a cultivar de soja BMX Impacto RR e em Sorriso/Mato Grosso, a cultivar de soja Syn 9074 RR, ambas tratadas com fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina (200ml p.c.100kg de sementes). As avaliações de fitotoxicidade ocorreram sete dias após a aplicação dos tratamentos. Além da severidade da ferrugem asiática nos


Marcelo Madalosso

Leandro Marques

estádios R2 e R5.4 e a partir dos valores de severidade foi calculada a Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD) (Campbell & Madden, 1990). Após, foi realizada a colheita das plantas, trilhadas, pesadas e ajustadas a 13%. Assim, os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (Anova) e ao teste de Tukey (p≤0,05) através do pacote estatístico PlotIt versão 3.2. As avaliações de fitotoxicidade nos dois locais de estudo evidenciaram que a utilização do fungicida piraclostrobina isolado ou combinado com o herbicida glifosato não acarretou injúrias significativas nas plantas de soja em relação à testemunha. Em se tratando de duas regiões climaticamente distintas, subtropical (Itaara/Rio Grande do Sul) e tropical (Sorriso/Mato Grosso), a pressão de doença ocorre mais cedo e com severidade maior nesta última em virtude da oferta de inóculo inicial e de sua acelerada taxa de progresso quando satisfeitas as condições para tal. Esta informação foi ratificada pelas Tabelas 1 e 2 onde apresentam a severidade e a AACPD, respectivamente. Nesta última avaliação, que mediu a quantidade final de doença, a pressão de ferrugem foi 7,3 vezes maior na condição tropical (Sorriso/MT). Na região de menor pressão (subtropical - Itaara/Rio Grande do Sul) é esperado que a resposta entre produtos, momentos e doses não seja grande, visto que a população do patógeno pode estar em menor número e/ou menor taxa de progresso, reduzindo o potencial de dano, salvo em algumas situações de El Niño. Já em regiões de maior pressão (tropical - Sorriso/Mato Grosso), pequenas variações nos pontos supracitados podem ser decisivas para redução na evolução da doença. Vale ressaltar que o fato do tratamento testemunha ter recebido duas aplicações de piraclostrobina

Desfolha precoce proporcionada pelo ataque severo da ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi)

+ epoxiconazole (nos estádios R2 e R5.4) da mesma forma que os demais tratamentos, as diferenças na severidade entre o tratamento testemunha e os demais são unicamente devido à aplicação dos tratamentos glifosato, piraclostrobina ou combinados. Em Itaara foi observado no tratamento testemunha em média 1,3% de severidade de ferrugem no estádio de desenvolvimento R2 (Tabela 1). Nesse momento não foram observadas diferenças significativas na severidade da ferrugem em função dos diferentes tratamentos. Todos os tratamentos indicaram eficiência de controle acima de 90%, não apresentando diferenciação nas aplicações de vegetativo à base de fungicida ou herbicida. No estádio de desenvolvimento R5.4 observou-se uma redução na eficiência de controle da ferrugem nos diferentes tratamentos (Tabela 1). O tratamento que apresentou a maior eficiência significativa de controle foi de utilização de duas aplicações de glifosato combinado com piraclostrobina. As maiores variações na eficiência dos tratamentos foram encontradas em Sorriso. Os piores tratamentos se deram por conta


Tratamentos

Itaara/RS R2

1. Testemunha 2. Glifosato A 3. Glifosato B 4. Glifosato AB 5. PiraclostrobinaA 6. PiraclostrobinaB 7. PiraclostrobinaAB 8. Glifosato A+PiraclostrobinaA 9. Glifosato B + PiraclostrobinaB 10. Glifosato AB + PiraclostrobinaAB CV(%)

Médias p<0,051 1,3 c¹ 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 0,1 a 33,58

R5,4 Médias p<0,051 7,2 e¹ 5,6 cd 5,5 bc 5,5 bc 5,0 bc 5,0 bc 5,0 bc 4,7 b 5,0 bc 3,7 a 5,91

Sorriso/MT R2

Médias 35,8 25,3 24,5 19,8 22,0 19,0 17,5 19,0 18,3 16,8

R5,4 p<0,051 Médias p<0,051 e 51,5 g cd 32,5 ef c 31,8 e ab 31,3 de bc 27,3 cd ab 26,0 bc ab 24,0 bc ab 24,3 bc ab 22,0 bc a 19,8 a 8,8 6,18

Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

1

Tabela 2 – Área abaixo da curva de progresso da ferrugem de glifosato combinado a piraclostrobina. Essas informações sinalizam ainda um asiática, em função dos diferentes tratamentos possível sinergismo entre os produtos, Tratamentos AACPD AACPD visto que aplicados isoladamente não Itaara/RS Sorriso/MT apresentaram a mesma performance. Média p<0,05 Média p<0,052 Este posicionamento pode ser uma al247,1 e1 1938,6 f 1. Testemunha ternativa técnica de proteção da planta à 165,4 cd 1317,7 de 2. Glifosato A entrada da ferrugem asiática, em virtude 161,7 bc 1298,0 d 3. Glifosato B das expetativas de sua presença precoce 161,0 bc 1136,4 cd 4. Glifosato A B nesta próxima safra. Além disso, também 146,5 bc 1143,5 cd 5. PiraclostrobinaA pode ser observado que esta aplicação 148,0 bc 1031,2 bc 6. PiraclostrobinaB combinada não resultou em nenhum 146,5 bc 947,6 ab 7. PiraclostrobinaA B efeito deletério à eficiência de controle 140,0 b 996,8 abc 8. Glifosato A+PiraclostrobinaA da ferrugem pelo herbicida. 148,7 bc 950,7 ab 9. Glifosato B + PiraclostrobinaB Os dados da AACPD para Itaara a 861,6 a 10. Glifosato A B + PiraclostrobinaA B 110,3 (Tabela 2) seguiram a mesma tendência CV(%) 5,86 5,79 das avaliações de severidade, demonsEstádio de Aplicação: A - V3-V4; B - V6-V7.Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem trando uma redução significativa da entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). quantidade final da ferrugem somente das menores doses de glifosato nas duas com duas aplicações de glifosato combinado avaliações. Em relação às aplicações de pira- a piraclostrobina. Já para Sorriso, as maiores clostrobina isoladas, apesar da maior eficiência eficiências foram observadas com a aplicação apresentada pela aplicação dupla, não foram dupla de piraclostrobina isolada, que por sua suficientes para diferenciação estatística. Da vez permaneceu estatisticamente semelhante mesma forma que o ensaio de Itaara, o trata- a todos os momentos de aplicação combinada mento com maior eficiência de controle em com glifosato. Sorriso foi apresentado pelas duas aplicações Desta forma, os programas de controle

contendo a combinação de piraclostrobina e glifosato no vegetativo, juntamente com duas aplicações de piraclostrobina + epoxiconazole no reprodutivo, apresentou maiores produtividades que os programas com apenas aplicações de piraclostrobina + epoxiconazole no reprodutivo (tratamento testemunha) e glifosato no vegetativo seguido de piraclostrobina + epoxiconazole no reprodutivo (Gráfico 1). No experimento realizado em Itaara, os tratamentos com duas aplicações de piraclostrobina e uma ou duas da combinação foram os mais produtivos do estudo. Neste sentido, o momento da aplicação de piraclostrobina combinado a glifosato no estádio V3, V6 ou dupla, não variou significativamente na produtividade da soja. No experimento realizado em Sorriso, apesar do controle estar significativamente semelhante em aplicações da combinação em V3 ou V6, observou-se incremento significativo na produtividade da soja em decorrência do benefício fisiológico na necessidade de duas aplicações (V3 e V6) de piraclostrobina, estando associado ou não ao glifosato. De maneira geral, a proteção de plantas às doenças foliares da soja deve ser realizada de maneira integrada, pois da mesma forma que a doença, a eficiência é resultado de interrelações dos fatores inerentes ao ambiente, planta e patógeno. Desse modo, a busca pela manutenção do potencial produtivo das plantas é função primordial da proteção de plantas e não mais do controle de doenças, sendo facilmente observado através da melhoria dos C parâmetros fisiológicos da cultura. Marcelo Madalosso e Monica Debortoli, Instituto Phytus Diego Dalla Favera, Marlon Stefanello, André Ebone e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria André Ebone

Tabela 1 – Severidade da ferrugem asiática observada nos estádios de desenvolvimento R2 e R5.4 da soja em função dos diferentes tratamentos

Gráfico 1 – Porcentagem (%) de incremento produtivo atingido pelos tratamentos em relação à testemunha

Esporulação das urédias de Phakopsora pachyrhizi

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Soja

Folhas na mira

Com a expansão da cultura da soja multiplicam-se os problemas com doenças que afetam as lavouras. É o caso da mancha-alvo, que provoca desfolha e infecções nas vagens, que resultam em má-formação dos grãos, redução de peso e de produtividade. Medidas que aliem práticas preventivas e curativas são as mais eficientes no controle

D

oenças já conhecidas há bastante tempo e outras consideradas emergentes têm acompanhado a expansão da cultura da soja, tornando o aspecto fitossanitário como o fator mais limitante na obtenção de altos índices de produtividade. O aumento da distribuição e da agressividade de microrganismos até então considerados secundários à cultura da soja nas condições do cerrado, a exemplo do fungo Corynespora cassiicola, causador da manchaalvo, reflete as condições de desequilíbrio nos sistemas de cultivo da soja encontradas principalmente nas extensas áreas do cerrado do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Alguns autores consideram a ocorrência da mancha-alvo restrita ao final do ciclo da soja. No entanto, se trata de uma doença potencialmente destrutiva em cultivares suscetíveis, em épocas de elevada precipitação. O principal dano em decorrência da alta severidade da mancha-alvo é a redução da área fotossintética, em função das extensas lesões foliares. Lesões nas hastes podem provocar desfolha precoce dos terços inferior e médio da planta. A infecção do sistema radicular,

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frequente em áreas de semeadura direta, interfere na absorção de água e nutrientes. A infecção nas vagens provoca máformação dos grãos, com redução do peso e da produtividade. A mancha-alvo ocorre em praticamente todas as regiões de cultivo de soja do Brasil. Aparentemente o fungo é nativo e infecta um grande número de plantas nativas e cultivadas. Nos cerrados, frequentemente, exige o controle químico ou o uso de variedades resistentes/tolerantes. Os sintomas da mancha-alvo nas folhas de cultivares suscetíveis se iniciam por pequenas pontuações de coloração castanhoavermelhada, com halo amarelo, que evoluem para grandes manchas arredondadas, de coloração castanho-clara, atingindo até 2cm de diâmetro. É comum a ocorrência de anéis concêntricos, isto é, lesões com alternância de áreas castanhas mais claras com outras mais escuras, com o centro da lesão sempre mais escuro e grandes halos amarelados. Cultivares tolerantes apresentam lesões foliares pequenas (1mm a 3mm de diâmetro), com halo amarelo restrito e, a campo, não se observam lesões nas demais partes da planta. Cultivares suscetíveis podem sofrer completa desfolha prematura, apodrecimento das vagens e intensas manchas nas hastes. Através da infecção na vagem, o fungo atinge a semente e, desse modo, pode ser disseminado para outras áreas. A infecção, na região da sutura

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das vagens em desenvolvimento, pode resultar em necrose, abertura das vagens e germinação ou apodrecimento dos grãos ainda verdes. O uso de técnica, associado de controle de doenças, caracterizando o manejo integrado, apresenta-se como mais eficiente e sustentável, uma vez que nesta prática são adotadas ações preventivas e curativas em conjunto. Para o manejo integrado da mancha-alvo em soja recomenda-se o uso de cultivares resistentes, o tratamento de sementes, a rotação/ sucessão de culturas com espécies de gramíneas ou pastagens não hospedeiras e o controle químico preventivo e curativo da parte aérea com fungicidas. A avaliação da resistência de cultivares de soja à mancha-alvo tem sido objeto de estudo de várias instituições de pesquisa e ensino, realizada através de inoculação artificial em casa de vegetação e em condições de campo. Têm sido observados genótipos com graus bem diferenciados de resistência e suscetibilidade à doença, permitindo afirmar que o uso de resistência genética, quando disponível, apresenta-se como a melhor alternativa no controle da mancha-alvo em soja. Variedades com diferentes graus de resis-

Lesões típicas da mancha-alvo em folha de soja, com alta severidade da doença


tência à ferrugem asiática têm se apresentado como instrumento essencial no manejo da doença mais prejudicial às lavouras de soja do cerrado. Contudo, estas mesmas variedades têm apresentado níveis de elevada suscetibilidade à mancha-alvo, tornando seu manejo prioritário para a obtenção de índices satisfatórios de produtividade. Observações de campo, portanto não mensuradas cientificamente, apontam para uma elevada suscetibilidade a nematoides em variedades promissoras quanto à resistência à mancha-alvo. Corynespora cassiicola é polífago e multiplica-se em uma ampla gama de hospedeiros, causando ou não processos patogênicos. Já foi relatado em algodão, feijão, solanáceas, mamona, mandioca, seringueira e essências florestais. Em relato recente no município de Lucas do Rio Verde (MT), foi observado aumento substancial da severidade da mancha-alvo em lavoura de soja cultivada após crotalaria. A maioria das gramíneas ou pastagens não hospeda o fungo e é eficiente em programas de rotação de culturas em áreas de elevada severidade da doença. A sucessão da soja com milho ou milheto, além da integração lavoura/ pecuária, são medidas de manejo que tendem a reduzir a severidade da doença. O fungo Corynespora cassiicola é patógeno associado às sementes de soja, embora sua detecção em laboratório seja prejudicada pelo seu crescimento e esporulação bastante lentos. Uma importante redução na severidade inicial de mancha-alvo em soja tem sido obtida através do tratamento de sementes com fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis associados a estrobilurinas, triazóis ou fungicidas de contato. Os diversos princípios ativos dos grupos químicos triazóis, triazolinthionas, benzimidazóis e estrobilurinas, isoladamente ou em misturas, têm sido avaliados como eficientes no controle da mancha-alvo em soja nas condições do cerrado, em aplicações a partir do florescimento da cultura. Algumas publicações fazem referência à mancha-alvo como doença de final de ciclo em soja. Este quadro, ainda que procedente em anos anteriores, tem mudado substan-

Fotos Andreia Quixabeira Machado

A mancha-alvo ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de soja do Brasil (note-se os sintomas severos da doença)

cialmente nas safras mais recentes, quando a mancha-alvo tem sido observada ainda nos estádios vegetativos da cultura, justificando a adoção de medidas preventivas de controle químico. Durante a fase reprodutiva da soja a doença torna-se mais severa, com natural aumento da predisposição da planta. Neste caso, medidas preventivas que reduzam o inóculo inicial do patógeno na fase vegetativa podem reduzir, consequentemente, os danos causados pelo patógeno durante o enchimento de grãos da soja. Desta forma, aplicações antecipadas na parte aérea (antes do florescimento) de fungicidas dos grupos dos benzimidazóis isolados ou associados a triazóis ou estrobilurinas têm se mostrado eficientes na manutenção de baixos níveis de infecção de Corynespora cassiicola durante a fase reprodutiva da cultura, especialmente em variedades mais suscetíveis e em áreas com histórico de elevada severidade

da doença. Fungicidas em avaliação ou já consagrados para o controle de mofo-branco em soja, respectivamente os princípios ativos fluazinam e fluopiran, têm proporcionado resultados preliminares promissores quanto à eficiência de controle de mancha-alvo, abrindo a possibilidade de controle integrado destas duas doenças. A adubação suplementar na parte aérea com formulados contendo potássio e silicatos, associada às aplicações de fungicidas antecipadas ou durante o período de floração, tem mostrado um aumento dos níveis de controle da mancha-alvo em soja. C Daniel Cassetari Neto, UFMT Andréia Quixabeira Machado, Univag


Café

Charles Echer

Infestação controlada A broca-do-café é uma das principais pragas que afetam a cultura, por causar queda de frutos, redução no peso de grãos e depreciar a qualidade da bebida. Com poucas opções de ingredientes ativos para o controle do inseto, no Brasil, o lançamento de inseticidas surge como alternativa para integrar as medidas de manejo necessárias para o combate

O

ataque da broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), causa a redução do peso dos grãos, queda de frutos (prejuízo quantitativo) e redução da qualidade do café através da alteração no tipo e às vezes da bebida (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do fruto de café, atacando uma ou as duas sementes para sua alimentação, podendo a destruição do fruto ser parcial ou total. Inicialmente os prejuízos são ocasionados pela queda de frutos. Para Coffea arabica L. já foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de frutos da ordem de 8% a 13%. Para Coffea canephora Pierre & Froehner indicam que a broca pode ser responsável por um aumento da queda de frutos da ordem de 46%. Os frutos broqueados que permanecem nas plantas sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em Minas Gerais, que essas perdas alcançam 21% ou 12,6kg por saco de 60kg de café beneficiado. Foi constatado ainda que a qualidade do café pode ser alterada com o ataque da broca, passando do tipo 2 ao tipo 7 somente com o aumento da infestação da praga, pois dois a cinco grãos broqueados constituem defeito. As perdas aumentam na operação de beneficiamento devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar, sendo quebrado e descartado com a ventilação da máquina de descascar. Os danos provocados pela broca começam quando a infestação atinge 3% a 5% nos frutos da maior florada. A qualidade da bebida do café parece não ser diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela

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facilidade que os danos proporcionam à penetração de micro-organismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados com a alteração da qualidade da bebida do café.

Monitoramento da infestação

A fim de que o controle seja iniciado em época correta, deve-se proceder a amostragens periódicas dos frutos, nos diversos talhões da lavoura, começando pelas partes mais baixas e úmidas. O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “transito” do inseto, de novembro a janeiro, três meses após a grande florada (outubro), quando forem observados nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e realizado até abril. Nessa época as fêmeas adultas do inseto abandonam os frutos da entressafra onde se criaram, voam e perfuram frutos verdes desenvolvidos (chumbões) da safra seguinte, sem neles ovipositar logo após perfurá-los, só o fazendo 50 dias depois. Entre novembro e janeiro os frutos se apresentam muito aquosos, com 86% de umidade, não sendo ainda um alimento ideal para as larvas do inseto.

Como evitar o ataque da broca-do-café

Apesar de apenas três ingredientes ativos terem registro para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café no Brasil, a tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível naqueles em que a broca ainda não tenha alcançado a semente, onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado,

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sem ainda ter colocado ovos. Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos (com brocas vivas no interior) na época do chamado “trânsito” do inseto (deslocamento de um fruto para outro). Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas, limitando-se a alguns talhões. Geralmente uma só pulverização, em aplicação tratorizada, tem sido suficiente para o controle da broca. Lavouras velhas e fechadas requerem maiores cuidados, pois em tais condições são mais suscetíveis ao ataque da broca.

Controle cultural

Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam um maior arejamento e penetração de luz a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores (turbo atomizador). Mais importante ainda é que a colheita do café deve ser muito bem feita, devendo ser evitado que fiquem frutos nas plantas e no chão (remanescentes), em que a broca poderá sobreviver na entressafra, principalmente se for chuvosa. Após a colheita, caso tenham ficado muitos grãos nas plantas e no chão, é recomendável fazer o repasse ou a catação dos frutos remanescentes da colheita. Estudo realizado em cafeeiro da espécie C. canephora cultivar Conillon, no Espírito Santo, mostrou, cinco meses após a colheita,



Fotos Paulo Rebelles Reis

Figura 4 - Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela broca-do-café

Figura 1 – Fêmea da boca-do-café e orifício de penetração no fruto de café no estágio verde (chumbão), na lateral da coroa

que aproximadamente 71,7% dos frutos remanescentes estavam atacados pela broca, o que evidencia a importância da boa colheita e do repasse, principalmente em lavouras não passíveis de mecanização, onde o monitoramento e as pulverizações são difíceis de serem realizadas. Em 2000, no estado de Rondônia, a infestação média de frutos na entressafra, caídos no solo, foi de até 76,3%. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, maior população de broca e consequentemente maior prejuízo. • Controle químico convencional - Atualmente, na cafeicultura brasileira, devido aos maiores espaçamentos, que permitem pulverizações tratorizadas, o controle químico da broca é eficiente, rápido e barato, ao contrário do que ocorre nos demais países produtores onde se pratica a cafeicultura adensada e/ou sombreada. Existem três ingredientes ativos [endosulfan 350 EC (ciclodienoclorado), chlorpyrifosethyl 480 EC (organofosforado) e etofenproxi 100 SC (éter difenílico)] com registro para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café no Brasil, sendo que o endosulfan poderá ser utilizado somente até 2013, quando será totalmente banido do Brasil. A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para

manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível ainda naqueles em que a broca não tenha alcançado a semente, onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter colocado ovos. Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura, recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos (com brocas vivas no interior). Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas, limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões.

Figura 2 – Frutos de café no estágio de cereja apresentando orifício produzido pela broca-do-café

Figura 3 – Corte de fruto de café mostrando a presença de larvas da broca em seu interior e destruição parcial

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Pesquisas recentes

A pesquisa agrícola em cafeicultura no Brasil sempre esteve atenta em buscar novos métodos de controle da broca-do-café, inclusive o químico por achar que ainda é o mais eficiente no controle da praga. A razão do uso do endosulfan, aqui mencionado, pode ser entendida pelo levantamento realizado em 30 anos de pesquisa no controle químico da broca no Brasil, entre 1973 e 2003, onde de 269 tratamentos levantados, cerca de 21% foram feitos com endosulfan, cuja eficiência variou de 70% a 100%. Os demais produtos não apresentaram eficiência equivalente a esse ingrediente ativo, embora com alguns promissores e que nunca chegaram a ser registrados para uso na

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cafeicultura devido a problemas ambientais ou custo do controle. Das diversas moléculas novas que estão em teste para o controle da broca-do-café, uma tem se destacado nas várias regiões cafeeiras do Brasil. Trata-se do cyantraniliprole (CyazypyrTM), em fase de registro no Brasil. É um inseticida do grupo das diamidas antranílicas desenvolvido em vários países e que apresenta um novo modo de ação. É uma segunda geração (única ação pela ativação de receptores de rianodina), com um modo de ação semelhante ao chlorantraniliprole, outro inseticida já em uso no Brasil e com registro para o controle do bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (GuérinMènev., 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) em cafeeiro. Cyantraniliprole (CyazypyrTM) ativa os receptores de rianodina através de um estímulo para a liberação das reservas de cálcio do retículo sarcoplasmático de células musculares (principalmente para insetos mastigadores), causando má regulação, paralisia e morte de espécies sensíveis. Apresenta ação de profundidade e atua principalmente por ingestão e contato, demonstrando boa atividade adulticida, ovi-larvicida e larvicida. Para ácaros predadores e outros artrópodes benéficos, existentes naturalmente em cafeeiros no Brasil, cyantraniliprole se mostrou seletivo, demonstrando que seu uso em manejo integrado de pragas pode C ser recomendado. Paulo Rebelles Reis Epamig Sul de Minas/EcoCentro

Reis aborda novas estratégias que chegam para auxiliar no controle da broca-do-café


Informe Empresarial

Muito além dos microrganismos

O

Fotos Fernando Bonafé Sei

s inoculantes atuais são produtos diferentes dos comercializados nas décadas de 1970 e 1980. O motivo que diferencia os produtos não é somente os microrganismos que o compõem, mas também a tecnologia que está presente na formulação e no processo de produção do inoculante. O inoculante mais conhecido e utilizado é o com bactérias do gênero Bradyrhizobium, que aportam nitrogênio para cultura da soja por meio do processo de fixação biológica do nitrogênio atmosférico. A tecnologia do inoculante para soja é utilizada no Brasil desde a expansão da cultura nas décadas de 1960 e 1970, quando surgiram no mercado brasileiro as primeiras indústrias de inoculantes no país. Na safra 2011/2012, segundo levantamento da Conab, a cultura da soja ocupou uma área plantada no Brasil superior a 25 milhões de hectares, sendo a cultura de grãos mais plantada no país e de maior importância econômica. A rentabilidade e sustentabilidade do cultivo da soja no Brasil são dependentes do processo de fixação biológica do nitrogênio, pois se considerarmos a necessidade de nitrogênio da cultura da soja e o custo necessário para suplementar esta necessidade via adubação, teríamos um incremento no custo de produção acima de R$ 700,00, o que inviabilizaria economicamente o cultivo da soja com adubação nitrogenada. O Ministério da Agricultura regularmente padroniza os inoculantes produzidos no Brasil, no caso da cultura da soja atualmente existem quatro cepas de Bradyrhizobium autorizadas para uso, os inoculantes devem conter no mínimo duas destas cepas, a concentração mínima deve ser de 1x109 UFC por ml ou g e a validade de no mínimo seis meses. A recomendação dos órgãos de pesquisa para a cultura da soja em relação à fixação biológica do nitrogênio é que se deve proceder com a inoculação das sementes, utilizando inoculantes registrados, sendo a dose superior ou igual a 100ml para 50kg de sementes e a adubação nitrogenada não deve ser superior a 20kg de nitrogênio por hectare. O tratamento

Detalhe do interior do nódulo de Bradyrhizobium em soja. A coloração avermelhada confirma a atividade

das sementes com inoculante deve ser realizado seguindo as recomendações de cada fabricante. Nós, da Novozymes, atuamos com produtos diferenciados e funções destacadas. A frequência no uso do inoculante deve ser anual, ou seja, em todo plantio deve-se proceder a inoculação. Os dados de pesquisa mostram que o benefício da reinoculação é de 8% na média de produtividade. Considerando o baixo custo da inoculação, esta tecnologia biológica pode promover um alto retorno ao produtor. Os inoculantes da Novozymes para cultura da soja possuem alta estabilidade e são produzidos com a mais avançada tecnologia de fermentação, o que garante células mais jovens com uma maior atividade e produtos com validade de 24 meses com concentração de 3x109 UFC por ml na data de vencimento. Produzimos também alguns aditivos que facilitam o tratamento de sementes compatibilizando-o com fungicidas e inseticidas e possibilitando o tratamento das sementes com até 48 horas de antecedência. A mais recente tecnologia que a Novozymes introduziu no mercado de inoculantes são as moléculas e substâncias que estimulam a nodulação nas plantas chamadas de LCO (LipoQuito-Oligossacarídeos), conhecidas também como fatores Nod, são substâncias sinalizadoras produzidas por bactérias do gênero Rhizobium, durante o processo de simbiose com as leguminosas. Estas moléculas, quando presentes no inoculante, promovem uma redução no tempo necessário para o início da simbiose e maior eficiência do processo de fixação biológica do nitrogênio, como consequência deste processo os dados de pesquisa mostram aumento de rendimento na cultura da soja de 4% quando comparado com inoculante sem LCO. O inoculante Optimize® da Novozymes é o único produto no Brasil que possui na sua formulação moléculas de LCO que garantem maior nodulação e incremento no rendimento de 4% em relação a outros inoculantes. Outra característica do Optimize® é a tecnologia Biopower que possibilita o tratamento antecipado das sementes 48 horas antes do plantio em conjunto com fungicida/inseticida, facilitando o manejo e a aplicação do produto. Quando pensamos em gramíneas, os inoculantes para fixação biológica do nitrogênio e promoção do crescimento vegetal já são utilizados há mais de dez anos em países como Argentina, sendo também uma realidade na agricultura brasileira com uma estimativa de mais de dois milhões de hectares de milho inoculados na safra 2011/2012. Nós da Novozymes já oferecemos ao mercado o produto AzoMax, um inoculante do gênero Azospirillum para a cultura do milho. A inoculação conjunta de dois

ou mais gêneros de microrganismos também é uma tecnologia pouco empregada no Brasil e já utilizada em outros países. As pesquisas atuais têm demonstrado a eficiência e possibilidade de sucesso no uso comercial das tecnologias de co-inoculação, como no emprego conjunto de inoculantes com bactérias do gênero Bradyrhizobium/Rhizobium e Azospirillum nas culturas de leguminosas como soja e feijão e a utilização de microrganismos solubilizadores de fósforo e fixadores de nitrogênio. As novas tecnologias e produtos serão cada vez mais comuns no mercado e poderão contribuir para o melhor aproveitamento dos nutrientes do solo e eficiência na fixação biológica do nitrogênio, possibilitando um sistema de produção sustentável e equilibrado, favorecendo a redução de gases do efeito estufa e a eficiência dos fertilizantes. A Novozymes procura aplicar soluções sustentáveis, ambientalmente seguras e que minimizem a degradação dos recursos naturais. Para a Novozymes, isso é repensar o amanhã. É pôr em prática agora maneiras eficientes de construir um futuro sustentável. A Novozymes conhece as necessidades de quem trabalha com a terra. Por isso, desenvolve inovações e produtos especiais para esse segmento. Isso é resultado do trabalho intenso de centenas de cientistas que fazem pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia. Os produtos desenvolvidos acompanham o crescente apelo do planeta por mais alimentos produzidos de forma limpa e responsável, sem fazer mal ao meio ambiente. A Novozymes é líder mundial em bioinovação. Juntamente com clientes de uma extensa gama de indústrias, criamos as soluções biológicas industriais do amanhã, melhorando o negócio dos nossos clientes e o uso dos recursos de nosso planeta. Leia mais no www.bioag. C novozymes.com.

Fernando Bonafé Sei, Novozymes

Sei aborda a evolução dos inoculantes na agricultura brasileira

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Defensivos

Tiro no escuro

Fotos Lucia Vivan/FMT

A “calendarização” e a aplicação de inseticidas de forma simultânea com outros defensivos são práticas bastante arriscadas, que têm se tornado cada vez mais usuais no Brasil. Entre os efeitos negativos está a possibilidade de comprometimento do controle de insetos nas lavouras. O ideal é que os produtores apostem no monitoramento criterioso das áreas de cultivo e na adoção de ferramentas mais seguras, como o manejo integrado de pragas

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ornaram-se prática usual as aplicações de agroquímicos com base na “calendarização”, isto é, dependendo da fase de desenvolvimento da cultura se opta por aplicar um ou outro produto para o controle fitossanitário. Esta é uma prática adotada pela maioria dos produtores rurais, mas até que ponto esta “calendarização” é efetiva? Existem algumas indagações a respeito desta prática que precisam ser discutidas, principalmente, quando o agroquímico a ser “calendarizado” é o inseticida. Não que a adoção de “calendarização” para a aplicação de outros produtos, como herbicidas, fungicidas ou mesmo adubos foliares, não mereça ser igualmente questionada. De uma forma geral, é possível afirmar que não se deve utilizar agroquímicos sem antes responder seguramente as perguntas: “para quê?”, “por quê?” e “o quê?” estaremos utilizando. Além da “calendarização”, existe outra

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prática, bastante comum entre os produtores que é conhecida como “carona nas aplicações”, que significa associar dois ou mais produtos numa mesma operação de aplicação e, geralmente neste caso, são os inseticidas os mais utilizados nesta prática. Seria como se viessem apenas como um complemento, pois a decisão em aplicar é baseada no momento das aplicações dos outros agroquímicos. Inúmeras justificativas podem ser encontradas para o uso desta prática, como, por exemplo: a redução de trânsito de máquinas na lavoura, o custo reduzido dos inseticidas em relação aos demais agroquímicos, a ideia, equivocada, de que o inseticida se manterá na lavoura até a entrada dos insetos-praga, o tempo escasso do profissional para vistorias frequentes na lavoura; áreas muito extensas e com maquinário insuficiente, estimulando a aplicação preventiva dos inseticidas. Enfim, o mais comum que é propalado sobre esta prática é que ela é cômoda e econômica para

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os que a adotam. Estas justificativas não têm respaldo técnico, afinal, os estudos sobre a eficácia dos agroquímicos geralmente são feitos com base na sua aplicação isolada, e não se sabe exatamente quais serão os efeitos destas misturas. Mesmo sabendo disso, muitos produtores adotam este tipo de prática, simplesmente com o objetivo de diminuir os custos de produção. Além disso, apesar de não regulamentado, há o Decreto Federal n° 4.074, de 4/1/2002, artigo 66, parágrafo único, determinando que os produtos só poderão ser prescritos nas receitas agronômicas se observadas as recomendações de uso aprovadas e expressas no rótulo e na bula. Assim, se no rótulo e na bula não houver a recomendação de mistura de produtos agroquímicos em tanque, então o produtor não deveria utilizá-la, pois o profissional, em princípio, não pode receitá-la. Reconhece-se que o referido instrumento tem dificultado muito para todos os envolvi-



dos nesse segmento do agronegócio e há uma necessidade urgente de que todos os parâmetros já manifestados contra e a favor deste decreto sejam estudados, facilitando as ações e atividades dos interessados, neste caso, a classe agronômica e os agricultores em geral. Também, pode-se questionar esta prática quando a suposta praga-alvo não esteja presente no momento da aplicação do agroquímico de forma “calendarizada” e o mesmo inseto apresentar um pico populacional dias após. Pergunta-se: “o efeito do inseticida aplicado anteriormente será o mesmo?” Com certeza não, pois a eficácia do produto, que, normalmente, é registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com uma eficiência de controle mínima de 80%, diminui ao longo dos dias e está diretamente relacionada às condições climáticas no momento da aplicação. Outro fator desfavorável para este tipo de aplicação é que o produtor não sabe, exatamente, qual praga se encontra na área e qual seu nível populacional. O que, ao ver dos especialistas, significa “dar um tiro no escuro”. Além do mais, os produtos utilizados não são inócuos ao meio ambiente, mas sim produtos com determinado nível de toxicidade, e eles podem, ou não, dependendo do mau uso, causar acidentes ambientais graves. Por isso mesmo, sua utilização é regulamentada por lei e, para tanto, existe o Receituário Agronômico e órgãos governamentais competentes que devem ou, pelo menos, deveriam fiscalizar este tipo de prática irregular. Há de se entender, também, que os insetos de uma forma geral não se comportam como os seres humanos. Os insetos, seguindo seu instinto, definem, em um dado momento, procriar, pois, para a perpetuação da espécie, geralmente otimizam suas cópulas, principalmente quando se tratam de pragas agrícolas. Para isso, sincronizam suas fases com picos populacionais, fazendo com que fêmeas adultas em grande quantidade possam copular, tendo como consequência desse comportamento, no decorrer dos dias, picos populacionais de formas jovens alimentando-se das plantas cultivadas. Portanto, se as aplicações de agroquímicos acontecerem no início das aparições de adultos ou mesmo na eclosão das primeiras formas jovens dos insetos, com certeza haverá falhas de controle e consequentes sobreposições de gerações, culminando em descontrole da praga e, inevitavelmente, no uso inadequado e/ou indiscriminado de inseticidas. Sabe-se de antemão que muitos insetospraga, nos seus primeiros estágios, causam

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injúrias imperceptíveis e são, muitas vezes, passíveis de controle, pois é no decorrer do seu desenvolvimento que sua voracidade aumenta. Como exemplo, têm-se as lagartas desfolhadoras, porém, não é errado afirmar que é mais fácil controlar cem lagartas pequenas do que dez grandes. Isso porque sua voracidade aumenta com seu desenvolvimento, podendo ocasionar severos danos, se não controlada no momento certo. Para isso têm-se os níveis de controle recomendados. Deve-se considerar, também, o risco de uma reaplicação de inseticida na área, o que pode facilitar a evolução de populações de insetos resistentes. Assim, poderá haver aumento nos custos de produção da lavoura, o que tem sido muito comum, nos tempos atuais. Seria fácil contestar todas as justificativas citadas sobre o uso da “calendarização” ou mesmo dos produtos misturados com uma única frase: não se aplica inseticida onde não há inseto a se controlar, porém, assim mesmo, este tipo de conduta, infelizmente, ainda encontra adeptos de forma bastante generalizada. Em se tratando de inseticidas, as boas práticas recomendam que à exceção de insetos vetores de doenças, não há nada na literatura que dê respaldo a este tipo de intervenção preventiva na lavoura, isto quer dizer que “não se aplica inseticida sem a presença da praga-alvo”. É sempre bom lembrar que o controle de pragas não pode ser estabelecido a partir de receitas prontas, e sim baseado em dados concretos obtidos no local, e nem sempre o que é bom para um determinado grupo de produtores, será garantia de eficiência para todos que se utilizarem da mesma receita. O correto mesmo é a adoção de práticas seguras, como, por exemplo, o Manejo Inte-

grado de Pragas (MIP) com o monitoramento periódico da lavoura. E, neste caso, não está se destacando a realização de monitoramentos somente quando a lavoura está estabelecida, mas monitoramentos constantes em todo o sistema produtivo da propriedade rural. Isto é, quem quer plantar deve ter conhecimento prévio de tudo o que ocorre nas áreas produtivas, sejam estas agrícolas ou de pastagens. Então, como proceder? Simples, inicialmente fazer um levantamento geral nas lavouras, a começar pelos insetos: quais são, quantos são e onde estão, e isso de forma rotineira, pelo menos enquanto as culturas estiverem no campo, e em períodos mais espaçados nos meses sem cultivos nas áreas. Com as informações obtidas o produtor poderá preencher um banco de dados que irá facilitar nas decisões sobre as melhores táticas de controle a serem adotadas em cada área cultivada. Este procedimento também deve ser estendido para as outras pragas, como, por exemplo, doenças, plantas daninhas etc. Deve-se ter registrado, em cada propriedade, os históricos das aplicações de agroquímicos para que, ao cruzar os dados, os proprietários tenham em mãos respostas sobre a eficácia dos produtos utilizados no decorrer dos cultivos, bem como possam atender a uma das mais antigas recomendações agronômicas, a rotação de grupos químicos dos produtos utilizados. Manter este banco de dados sempre atualizado e tornar a prática do MIP mais frequente do que a “calendarização”, com certeza, ao longo do tempo, trará ao produtor inúmeros benefícios, bem como ao meio amC biente como um todo. Cecilia Czepak e Jácomo Divino Borges Universidade Federal de Goiás

Além da “calendarização” existe outra prática, bastante comum entre os produtores, conhecida como “carona nas aplicações”, que significa associar dois ou mais produtos numa mesma operação de aplicação

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Empresas

Mais tecnologia á mais de 30 anos atuando no mercado brasileiro, a Microquímica concretizou em 2012 uma etapa importante de seu projeto de crescimento, com a inauguração de sua fábrica de inoculantes. Juntamente com a planta de produção de ácido l-glutâmico, a empresa forma um polo de fabricação de produtos biológicos, o que reforça o compromisso de desenvolver soluções eficientes, com baixo impacto ambiental. Com moderna infraestrutura, a unidade é suportada por uma avançada estrutura de desenvolvimento de produtos e controle de qualidade, que garante produtos inovadores, seguros e eficientes. A nova fábrica, atrelada à estrutura e ao conhecimento em nutrição vegetal, confere à Microquímica a capacidade de combinar os benefícios nutricionais e biológicos a seus produtos, em favor do alto rendimento na produção agrícola brasileira. Segundo o diretor industrial da Microquímica, Rafael Leiria, a inauguração é motivo de orgulho para a empresa, que trabalhava com produtos importados desde 2000 e sempre procurou oportunidades de ampliar sua atuação no segmento de inoculantes, de investir no desenvolvimento de novas tecnologias e de formulações mais adequadas às necessidades do produtor brasileiro.

Inoculante líquido

Durante o desenvolvimento do inoculante líquido Atmo, um dos cuidados da empresa foi com a embalagem do produto, uma vez que o envase e o manuseio representam os principais perigos e pontos críticos de controle

Fotos Microquimica

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Microquímica inaugura fábrica e lança inoculante líquido para a cultura da soja

de qualidade do processo. O resultado foi o desenvolvimento de uma embalagem segura, ambientalmente amigável e prática para o produtor. Além da facilidade de manipulação e abertura, o conjunto acompanha dosadores graduados, que garantem precisão de dosagem nas unidades de tratamento de sementes e nas propriedades rurais. No trabalho de divulgação do produto a Microquímica destaca a importância da reaplicação do inoculante nas áreas de soja, mesmo naquelas que já foram cultivadas anteriormente. “Com base em diversos trabalhos de pesquisa, a Embrapa comprovou resultados de no mínimo 4,5% de aumento

Com equipe qualificada a empresa conta com moderna estrutura para oferecer soluções em nutrição vegetal

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de produtividade com a reinoculação, o que proporciona mais de duas sacas de soja por hectare, representando retorno de até 50 vezes o investimento. Portanto, se justifica a utilização de inoculante em todos os cultivos de soja, tanto do ponto de vista agronômico, quanto econômico”, explica o diretor técnico da Microquímica, Roberto Batista. Com o lançamento do Atmo, a empresa busca se estabelecer como uma das maiores produtoras de inoculantes do Brasil. Para isso, avança no monitoramento e acompanhamento das tendências desse mercado e já se prepara para outros projetos e lançamentos que combinem nutrição, efeito bioestimulante e baixo impacto ambiental, tanto no manuseio e aplicação dos produtos, quanto no transporte e descarte de embalagens. C

O desenvolvimento das embalagens do inoculante Atmo buscou privilegiar a praticidade e a segurança



Algodão

Atenção redobrada Ao mesmo tempo em que apresenta vantagens como economia na quantidade de produtos químicos aplicados, melhorias no esquema de rotação de culturas na propriedade e redução no custo da colheita, o sistema de cultivo adensado em algodoeiro também traz desafios. Por isso o produtor deve estar preparado para adotar um manejo diferenciado, principalmente na aplicação de reguladores de crescimento e de herbicidas utilizado na semeadura que, no adensado necessita de apenas 0,45m ou menos. Além disso, uma lavoura adensada exige plantas com menor desenvolvimento de altura e que conservem as primeiras maçãs produzidas nas plantas, por isso há a necessidade de um manejo mais rigoroso quanto ao uso de reguladores de crescimento. Deve-se tomar cuidado também quanto ao uso de herbicidas, uma vez que a aplicação com jato dirigido se torna impraticável como este espaçamento. Assim como todo novo sistema, o adensamento das lavouras de algodão apresenta vantagens e desvantagens quando comparado ao modo tradicional de cultivo. Com o adensamento e a consequente precocidade da lavoura, há economia na quantidade de produtos químicos aplicados; o sistema permite que o algodão faça parte de um esquema de rotação de culturas na propriedade, resultando em melhorias para o sistema produtivo; há redução no custo da colheita por utilizar colhedoras tipo “stripper” com custo de aquisição inferior ao normalmente encontrado. A utilização de regulador de crescimento neste sistema de cultivo do algodoeiro é muito importante, pois a altura reduzida das plantas é fundamental para a obtenção de plantas precoces, com melhor estrutura para a colheita e boa produção. Dessa forma, recomenda-se a antecipação da primeira aplicação de regulador, aliada a doses maiores daquelas utilizadas no sistema convencional.

Experimentos

A

lcançar boas produtividades em espaços menores. Em síntese, este é o princípio utilizado por alguns produtores de algodão para a adoção do sistema de adensamento das lavouras. Com a redução do espaçamento da semeadura, que no plantio convencional tem entre 0,7 e 0,9 metro entre as fileiras, o sistema de algodão adensado exige apenas metade da medida, ampliando o número de plantas por hectare. Por se tratar de um sistema diferenciado,

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com ciclo de desenvolvimento em torno de 150 dias, altura de plantas que devem alcançar, no máximo, 0,8m, produção entre cinco e sete capulhos por planta e uma população que pode variar de 190 mil a 230 mil plantas por hectare, o sistema exige manejo diferenciado, e muita atenção dos produtores, principalmente quanto ao uso de reguladores de crescimento e herbicidas. As diferenças entre este tipo de sistema e o convencional se iniciam no espaçamento

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Na tentativa de encontrar respostas para esse tipo de manejo diferenciado, experimentos foram conduzidos na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unesp, Campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria, Mato Grosso do Sul, em região de cerrado, com o uso de cultivar de algodoeiro FMT 701. O delineamento experimental empregado foi o de blocos ao acaso com os tratamentos dispostos em esquema fatorial 4x4x2, sendo composto por quatro espaçamentos: 0,34m; 0,45m; 0,70m e 0,90m entre linhas. Foram quatro densidades de semeadura: 6, 8, 10 e 12 plantas/m de sulco e dois manejos de regulador de crescimento: a) aplicação de


cloreto de mepiquat, parcelado em quatro aplicações, realizadas a cada dez dias a partir dos 40 dias após emergência, b) aplicação de cloreto de mepiquat, em aplicação única aos 70 dias após a emergência (d.a.e), totalizando 128 parcelas. As variáveis analisadas foram: produção de algodão em caroço; massa de um capulho; porcentagem de fibra e massa de 100 sementes. Os dados das variáveis estudadas foram submetidos à análise de variância através do teste F e teste de comparação de médias através de Teste de Tukey a 5% de probabilidade para manejo de regulador de crescimento e regressão polinomial para espaçamento entre fileiras e densidades de plantas, utilizando a metodologia descrita por Gomes (2000). Na Tabela 1 são apresentados os valores das variáveis estudadas onde se constata que a massa de um capulho não foi influenciada pelo uso de diferentes arranjos e densidades de plantas e emprego ou não de regulador de crescimento. Da mesma forma, Ferrari (2007) e Zanon (2002), ao avaliarem diferentes espaçamentos, não verificaram diferença entre as médias para a massa de capulhos. Por outro lado, Ferreira et al (2005) e Moreira (2008) concluíram ser menor a massa de um capulho à medida que se diminui o espaçamento entre linhas. Ao analisar o uso de regulador de crescimento em plantas de algodoeiro Zanqueta et al (2004) e Furlani Júnior et al (2003) constataram não haver diferença entre os tratamentos com doses diversas de regulador. A produtividade de algodão em caroço foi influenciada significativamente e apresenta curva de resposta quadrática em função dos espaçamentos utilizados, resposta linear para densidade de plantas nas linhas e aumento de produção em função do emprego de regulador de crescimento de forma parcelada. Tais resultados podem ser explicados devido ao fato de ocorrer uma maior quantidade de plantas ao se utilizar espaçamentos estreitos (0,34m) aliado à maior população de plantas na linha (12 plantas/m) e estas plantas, mesmo produzindo menos capulhos, oferecem

Colheita de algodoeiro adensado em Rondonópolis, Mato Grosso, com colhedora "stripper"

compensação pela quantidade por área. Tabela 1 - Valores de P>F e valores médios de equação de regressão Esta é a hipótese para a qual se busca referentes à massa de um capulho (g), produtividade em caroço (kg resposta com pesquisas em plantio -1 adensado do algodoeiro, pois se espera ha ), massa de 100 sementes (g) e % fibra para espaçamentos (E), que ocorra compensação em produtivi- densidade de plantas (D) e manejo de regulador de crescimento (M) dade pelo maior número de plantas em e suas interações. Selvíria-MS, 2009/2010 uma mesma área de plantio. 1 Capulho Prod. em caroço 100 sementes % fibra Com relação ao uso de regulador Espaçamento (E) 0,67 0,001** 0,001** 0,21 de crescimento (em aplicação de forma Densidade (D) 0,85 0,07 0,001** 0,45 parcelada), proporciona maior eficiên- Manejo Reg. (M) 0,94 0,25 0,01* 0,0005** cia no controle do desenvolvimento 0,57 (E)x(D) 0,31 0,95 0,64 vegetativo das plantas de algodoeiro, re0,25 (E)x(M) 0,85 0,86 0,08 sultando em favorecimento de acúmulo 0,16 (D)x(M) 0,68 0,34 0,48 de reservas oferecidas para estruturas Espaçamento (E) reprodutivas, gerando aumento da 0,56 P>F Linear 0,03 0,001** 0,35 produção de algodão em caroço. 0,13 P>F Quadrática 0,02 0,001** 0,16 Silva (2002) encontrou maior 1,93 r2 7,03 48,99 18,91 produtividade ao realizar o cultivo no 14,64 R2 14,67 92,52 62,26 espaçamento de 0,38m e Lamas (2005) 44,24 0,34m 5,18 2043 8,44 afirma que a produtividade tende a 42,02 0,45m 4,57 1232 8,27 aumentar quando se utilizam menores 45,28 0,70m 5,17 994 8,39 espaçamentos. Silva (2007) afirma 42,26 0,90m 5,07 1193 8,47 que, com o acréscimo de plantas na Equação Y = 0,84x2117,41x+4970,10 linha de plantio, há resposta linear para Densidade (D) aumento de produtividade de algodão 0,78 P>F Linear 0,58 0,001** 0,22 em caroço. 0,72 P>F Quadrática 0,26 0,59 0,37 Com relação à massa de 100 semen9,17 r2 19,22 98,61 57,65 tes observou-se resposta significativa 25,63 R2 99,9 99,71 87,75 com relação ao manejo do regulador 43,57 6pl m-1 5,01 943 8,5 de crescimento, tendo a aplicação 43,7 8pl m-1 4,95 1288 8,35 parcelada do produto gerado maior 42,96 10pl m-1 4,97 1503 8,37 massa de sementes quando comparada 43,56 12pl m-1 5,05 1727 8,35 à aplicação única. Contudo, Azevedo et Equação Y = 128,4x - 210,33 al (2004) e Furlani Júnior et al (2003) Manejo Reg. (M) observaram não haver mudança na 43,07 Parcelada 5,05 a 1508 a 8,53 a massa de sementes devido ao uso de 43,82 Única 4,94 a 1223 b 8,26 b regulador de crescimento. 1,29 D.M.S. 0,12 222,92 0,14 Embora a porcentagem de fibra 8,48 C.V.% 6,93 46,49 4,98 tenha alcançado média significativa, (**), (*) Significativo a 1% e 5% de probabilidade pelo teste F, da análise estatística. Médias seguidas da nenhuma das equações de regressão mesma letra minúscula, na vertical, não diferem entre si pelo teste de Turkey a 5% de probabilidade. teve efeitos determinantes, mostrando que esta variável não foi influenciada pelo uso é influenciada pelo espaçamento, manejo de de regulador de crescimento, tampouco ao se regulador de crescimento e densidade de seplantar o algodoeiro de forma adensada na meadura, sendo a maior obtida no espaçamenlinha e entre linha. to de 0,34 metro entre linha, com 12 plantas Dessa forma, pode-se concluir que produ- por metro de sulco de semeadura e aplicações ção de algodão em caroço da cultivar FMT 701 parceladas de regulador de crescimento. Por fim, apesar do crescimento na adoção do sistema, a prática merece considerações e análises antes de ser disseminada. Após o cultivo, é necessário realizar estudo econômico do sistema adensado. E esta avaliação deve levar em consideração os custos de produção no campo e no momento da colheita, e também verificar gastos com beneficiamento. A partir destas avaliações técnicas, pode-se prever quais os caminhos para o sistema de algodão adensado nas principais regiões produtoras C do País. Samuel Ferrari, Unesp Campus de Registro (SP) Utilização do sistema adensado exige Jean Louis Belot, atenção por parte dos produtores IMA/MT

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Coluna ANPII

Falso dilema Pesquisa pura ou aplicada? Os mesmos órgãos que geram conhecimentos de elevada ciência devem estar comprometidos com a transformação dessas informações em tecnologia, sempre que possível aplicada à sociedade de onde saem os recursos para o ensino e a pesquisa

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inda se escuta em muitas discussões a colocação do falso dilema entre pesquisa pura e pesquisa aplicada. A criação de estereótipos é uma tendência do ser humano, talvez para estabelecer um ponto de referência mais fácil de ser entendido. Desta forma, criou-se em alguns círculos a ideia de que os pesquisadores só estudam o “sexo dos anjos”, não se preocupando com a tecnologia. Por outro lado, também foi gerado o paradigma de que aos empresários só interessa o lucro imediato e que não estão interessados em desenvolver a ciência.

a trabalhar só para si e não para o bemestar da sociedade. No caso particular dos inoculantes, o conhecimento básico gerado por entidades de pesquisa resultou em tecnologias para sua utilização, seja para a produção de inoculantes, seja para o uso desses produtos em grandes extensões de lavouras no Brasil. Desde o processo de seleção de estirpes, desenvolvendo uma metodologia de grande sucesso, até as recomendações de uso de acordo com as peculiaridades de nossa agricultura, a pesquisa, a extensão e a indústria de inoculantes vêm realizando um

produtividades. Entretanto, com períodos de estresse hídrico, a fixação do nitrogênio sofre lapsos que poderão vir a comprometer o fornecimento do nutriente requerido em maior quantidade pela cultura. Em condições de lavoura ainda não se tem sentido deficiências de N, a não ser em épocas de seca mais severa, onde todo o sistema da planta fica comprometido. Porém, com a instabilidade climática se acentuando, podese vir a ter problemas no fornecimento do nutriente. Desta forma, pesquisas em fisiologia da fixação, para evitar ou pelo menos

Potencialmente, com as condições favoráveis, a FBN é capaz de fornecer todo o nitrogênio necessário para grandes produtividades Por sorte, estes estereótipos fazem parte de pequenos grupos, enquanto a maioria, sensatamente, busca entender as diferenças que há entre a comunidade científica e a empresarial, buscando a faixa comum que existe entre ambas para fazer avançar, concomitantemente, tanto a ciência como a tecnologia. É impossível pensarmos em evolução tecnológica sem o avanço do conhecimento científico, que lança as bases para que se possa passar da fase de pesquisa para a de desenvolvimento. Portanto, a pesquisa básica, geradora dos conhecimentos científicos, é indispensável para que haja o que aplicar. Entretanto, a mesma universidade que gera conhecimentos de elevada ciência, deve estar comprometida com a transformação destes conhecimentos em tecnologia, sempre que possível aplicada à sociedade de onde saem os recursos para o ensino e a pesquisa. Entidades de pesquisa desvinculadas da realidade criam “redomas de saber” que, com o passar dos tempos, passam

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trabalho brilhante que coloca o Brasil na liderança mundial na utilização do nitrogênio biológico, substituindo, com todas suas vantagens, o uso do fertilizante químico naquelas culturas onde a FBN é aplicável. Entretanto, como tudo evolui no mundo, a cultura da soja, como a agricultura, passa por grandes mudanças: novas tecnologias, novos produtos, novas formas de utilização das sementes, mudanças climáticas, tudo leva a que também a utilização dos benefícios das bactérias fixadoras tenha que evoluir na mesma medida. Grandes desafios, tanto operacionais como científicos, necessitam de mais pesquisas, de novos horizontes. Com as elevadas produtividades da soja, acima de seis mil quilos de grãos/ ha, são necessários novos estudos que permitam o fornecimento de 100% desta grande quantidade de nitrogênio. Potencialmente, com as condições favoráveis, a FBN é capaz de fornecer todo o nitrogênio necessário para grandes

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diminuir a senescência precoce dos nódulos, que tem o estresse hídrico entre suas causas, virão, com toda a certeza, aumentar ainda mais o montante de nitrogênio transferido da atmosfera para o sistema solo-planta. Paralelamente a isto, também será necessário pesquisar a correlação entre estirpes e genótipos de plantas, tornando o sistema mais eficiente no uso dos fotossintatos no interior dos nódulos, permitindo um melhor aproveitamento da energia gerada pela fotossíntese. Portanto, embora sejam necessários muitos trabalhos na área operacional, algumas pesquisas mais básicas, envolvendo a fisiologia da nodulação, poderão gerar conhecimentos que, uma vez transformados em tecnologias, ajudarão em muito o agricultor brasileiro. Fica aqui o desafio para nossas instituições C de pesquisa. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

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Protecionismo, subsídios e fome

empre que se faz uma reflexão sobre subsídios agrícolas, vem à mente uma história contada pelo amigo Alysson Paulinelli. Tendo aceitado o convite para ocupar o Ministério da Agricultura, o futuro presidente, general Ernesto Geisel, lhe repassou uma nota técnica elaborada pelo também ministro Mario Henrique Simonsen, com uma proposta de controle inflacionário. Entre outras medidas, Simonsen propunha eliminar os subsídios agrícolas. Depois de muito refletir, pensar e estudar, Paulinelli retornou com uma pergunta: Quais subsídios? Na visão (acertada) do engenheiro agrônomo Paulinelli havia medidas de apoio e incentivo à agropecuária, mas não transferências de renda que caracterizam os subsídios agrícolas. São estes que distorcem o ambiente produtivo e artificializam o comércio internacional, deslocando os eixos de competitividade. Esta discussão durou os cinco anos de Governo, um embate entre a “manha” do mineiro Paulinelli e os planos do acadêmico Simonsen, sem que este conseguisse demonstrar

justificadas. O etanol brasileiro já foi sobretaxado por pressão dos produtores de milho dos Estados Unidos, medida não renovada pelo Congresso americano, abrindo o mercado ao etanol brasileiro, a partir de 2012. Medidas protecionistas permeiam o mundo há décadas. Na Europa dos anos 70, os subsídios agrícolas representaram 84% do seu orçamento. Em 2011, a Política Agrícola Comum (PAC) representou mais de 40% do orçamento da União Europeia (UE), sendo um dos impulsionadores da adesão de países ex-comunistas à UE, sequiosos por participar do bolo de subsídios. Seu custo, tanto financeiro quanto social, é muito alto, pois aproximadamente 35% do orçamento da UE beneficiam 5% da população, que são os produtores rurais. Com as mudanças decorrentes da adesão à OMC, os subsídios europeus, existentes anteriormente à criação da OMC, hoje compõem a chamada “caixa verde”, de apoio direto aos agricultores, apesar de serem não reembolsáveis. Para

varejo com preços mais elevados, dificultando o acesso das pessoas aos alimentos, que, em última instância pagam pela ineficiência subsidiada. Diferentemente do agricultor brasileiro que, por enfrentar um ambiente adverso, emoldurado pelo Custo Brasil, aprendeu a produzir de forma eficiente.

Liberalização do comércio A História do Mundo demonstra que os movimentos de liberalização do comércio coincidem com períodos de grande e generalizado crescimento econômico. A atual crise econômica tem sido justificativa para recidivas protecionistas, em especial nos EUA e na Europa, para proteger o emprego e a renda locais, restringindo o acesso ao mercado doméstico, porém contraditoriamente associadas a políticas agressivas de ocupação dos mercados de outros países. Após quase uma década de negociações, a Rodada Doha de liberalização comercial foi encerrada sem nenhum sucesso. As negociações para um acordo entre

Maior demanda de insumos, para a mesma produção, significa maior custo unitário e maior dificuldade de aquisição por produtores que não são subsidiados um subsídio, sequer, à agricultura brasileira. Quem pode pagar subsídios são nações (ou blocos econômicos) ricas. Entre suas externalidades negativas estão o impacto deletério sobre economias que dependem do setor primário, restringindo seu desenvolvimento, fechando-lhe as portas do mercado, aumentando o desemprego e as oportunidades de renda e, no limite, fazendo crescer a fome no mundo. Não dispomos do mesmo brilho intelectual nem da “mineirice” de Paulinelli, mas costumamos afirmar que, sem subsídios, os produtores europeus iriam à bancarrota, não suportando três anos de competição direta com seus congêneres brasileiros.

Impacto protecionista Passadas quase quatro décadas do mandato ministerial de Paulinelli, o Brasil não utiliza medidas protecionistas, como subsídios. Ao contrário, penaliza seus produtores com baixo volume de crédito e juros incompatíveis com a atividade, alta taxação tributária, câmbio desfavorável e logística não condizente com o potencial do agronegócio, comparativamente a seus concorrentes pela liderança mundial do setor. Entrementes, são recorrentes os exemplos de embargos a produtos brasileiros, mais numerosos no setor de carnes. Porém, registre-se a devolução de carregamentos de soja, por razões fitossanitárias nunca devidamente

conferir dimensão numérica, basta recordar que a Comissão Europeia propõe manter os subsídios da PAC, durante a próxima década, superando R$ 1,2 trilhão, em valores atuais (57 milhões de euros anuais). A grande justificativa para os subsídios europeus são, entre outros fatores, o preço da terra e a baixa escala de produção, devido ao tamanho das propriedades, próximo a um hectare por produtor. Em um mercado aberto, sem protecionismo, haveria evasão rural em massa na Europa, destroçando a agropecuária continental. A alegação é verdadeira, porém insuficiente para justificar o volume colossal de subsídios, que distorcem o mercado global e prejudicam países que dependem da agropecuária. Como os subsídios passam a compor a renda dos produtores e encarecem o custo de produção, concorrem para o aumento das cotações dos produtos agrícolas. As barreiras à entrada de produtos importados é uma reação à ineficiência produtiva e à falta de competitividade. Havendo mais dinheiro à disposição e estando os subsídios ligados ao volume da produção, o produtor utiliza uma quantidade de insumos que ultrapassa sua eficiência econômica. Maior demanda de insumos, para a mesma produção, significa maior custo unitário e maior dificuldade de aquisição por produtores que não são subsidiados. Dessa forma, muitos produtos chegam ao

Mercosul e União Europeia não avançam. A renovação dos subsídios do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as dificuldades que o Brasil enfrenta para colocar suas carnes na Ásia, Rússia ou mesmo no Mercosul (Argentina) reafirmam a tese. A Organização Mundial do Comércio (OMC) se constitui em ferramenta de liberalização do mercado. Um dos casos mais emblemáticos de disputas na OMC é o do algodão brasileiro. Em 2011, o Brasil conseguiu o direito de retaliar os EUA, caso o país mantivesse o subsídio aos seus produtores. Mesmo com custos mais altos, os cotonicultores norte-americanos respondem por 40% das exportações mundiais. O processo brasileiro foi o primeiro da história do órgão internacional, envolvendo a agricultura. A decisão final impõe que os norte-americanos transfiram aos produtores brasileiros, a cada ano, 150 milhões de dólares, como compensação aos subsídios aos seus agricultores. O acordo prevê que o pagamento até 2013, a partir de quando os subsídios serão reduzidos até a extinção. Concluindo, o mundo seria muito melhor sem subsídios. Mas será este mundo possível? C

Décio Luiz Gazzoni

O autor é engenheiro, pesquisador da Embrapa Soja

www.revistacultivar.com.br • Outubro 2012

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Perdas nos Estados Unidos refletem na safra 2012/13 do Brasil Os produtores americanos estão colhendo a safra local, com grandes perdas na produtividade, enquanto “do lado de baixo da linha do Equador”, os produtores brasileiros já contabilizam os lucros que devem ter com a nova safra. Mesmo com leve atraso no início do plantio, tudo indica que haverá grandes lucros, com potencial para se tornar a mais lucrativa da história do País até o momento. Isso porque já há grandes volumes negociados. No caso da soja, por exemplo, são aproximadamente 20 bilhões de dólares já contratados para embarque em 2013, o que traz grandes lucros aos produtores brasileiros. Será um grande ano e para isso os agricultores que estão começando o plantio no Brasil devem fazer bom uso da tecnologia. Tudo indica que a ferrugem asiática, uma das principais doenças em soja, chegará mais cedo e desta forma obrigará a um controle melhor das lavouras. Fator que normalmente resulta em ganhos de produtividade e como se trata de ano de alto potencial de cotações, é preciso perseguir os maiores ganhos. Nos demais grãos, como arroz, feijão e milho, as condições internas e externas seguem muito boas ou até melhores do que a soja. O cenário que se desenha para 2012/13 indica excelentes condições de ganhos aos produtores, porque há aperto no abastecimento do arroz, existe safra menor que o consumo no feijão e milho com boas condições de exportação. Todos fatores que dão bom suporte às cotações. O algodão (produto que apresentou retração de área e ganhos menores) agora mostra bons sinais de recuperação em função da redução da safra dos EUA. O ano está começando com clima seco, mas com indicativos de chuvas regulares de outubro em diante e excelentes condições de ganhos aos produtores. MILHO

Safrinha recorde e queda na área de verão

manas, manteve indicativos fortes, com os vendedores formando as cotações no Brasil e as cotações do interior iguais ou até acima dos valores que resultavam na exportação. De agora em diante o que resta de grão será usado para produção de farelo e óleo para atender ao consumo interno. Os indicativos devem seguir firmes até a nova safra (paralelos ao mercado externo e com cotações locais maiores do que se consegue no mercado internacional, neste próximo mês, que será de colheita da safra americana).

O plantio da primeira safra do milho mostra que haverá queda na área de cultivo superior a 650 mil hectares, que tendem a ser ocupados pela soja. A opção dos produtores é pelo plantio da oleaginosa de forma precoce nestas áreas, para depois voltarem ao cultivo da safrinha. Com isso reúne condições para uma boa safra de milho para atender à forte demanda em 2013, onde os setores de frangos e suínos devem apresentar crescimento, principalmente feijão ganhando espaço na exportação e também para Colheita fechada e pouco cobrir vendas de milho na exportação. Neste feijão até o final do ano último mês o Departamento de Agricultura dos O mercado do feijão se encontra em fechaEstados Unidos (USDA) apontou que o Brasil vai exportar 15 milhões de toneladas, sinal de mento da colheita da terceira safra. O produto que chega agora é irrigado e de alta qualidade que haverá bons resultados econômicos. e desta forma bem valorizado. Os indicativos estavam entre R$ 160,00 e R$ 200,00 a saca soja e vendedores apostam que há espaço para Entressafra chegou e aumento, já que não existem grandes ofertas cotações seguirão firmes O mercado da soja, nestas últimas se- neste mês de outubro. Existe quem indique

patamares próximos dos R$ 300,00, porque o consumo continuará em bom ritmo e não haverá feijão suficiente para atender a esta demanda. arroz

Corrida altista continuará forte

O mercado do arroz mostrou pressão de alta nas últimas semanas e, em setembro, apresentava indicativos entre R$ 37,00 e R$ 40,00 no mercado gaúcho, com os produtores fazendo as cotações. Como o produto do Governo representa volume de um mês de consumo ou pouco mais, com baixa qualidade, a corrida altista permanecerá. Até porque a promessa do Executivo é de que não irá forçar as cotações para baixo com a venda em pregão barato. Dessa forma, as indústrias esperam que as cotações do fardo cresçam e o pacote varie de R$ 10,00 a R$ 15,00 nas gôndolas. Já os produtores devem manter os indicativos de R$ 40,00 nas regiões produtoras, em setembro e outubro, com chances de até mesmo ultrapassar esses patamares.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo mostra um grande ano para o setor produtivo, com cotações avançando forte, com indicativos entre R$ 530,00 e R$ 600,00 por tonelada. Há, ainda, lugar para números maiores, porque o produto importado, que liquida acima dos R$ 700,00 por tonelada neste momento, abre espaço para os produtores realizarem lucros com o grão neste ano, fato que não ocorria há muitas safras. A cultura segue com cenário positivo, porque há perdas nos EUA e no leste europeu, principais produtores mundiais. Some-se a isso a boa demanda internacional pelo produto. algodãO - O mercado começa a reverter a onda de queda nas cotações que vinha ocorrendo nos últimos dois anos. Agora, com a queda da oferta mundial, que recuou aproximadamente dez milhões de fardos, ficando na faixa dos 114 milhões de fardos nesta safra, há espaço para recuperação das cotações. China e Paquistão mostram queda na produção. O primeiro na casa dos 31 milhões de fardos (seguindo como grande importadora) e o segundo, grande exportador, perdendo mais de um milhão de fardos na produção. Com essa conjuntura o Paquistão terá menos produto para exportar e junto haverá menos exportações da Índia e do Brasil. eua - A Safra está fechando a colheita com forte queda na pro-

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dução que, ao final, deve apontar para algo ao redor das 262 milhões de toneladas de milho e na faixa das 72 milhões de toneladas de soja, contra expectativas de 375 milhões de toneladas de milho e mais de 95 milhões de toneladas de soja. Números que dão fôlego ao mercado mundial de alimentos. china - A demanda chinesa de todos os alimentos continua sem alteração. O que manterá espaço para segurar as cotações em alta e para atenuar a pressão americana, que, através de seu banco central (FED), tem irrigado a economia dos Estados Unidos com bilhões de dólares. O governo chinês tem mantido as importações dos alimentos para controlar a inflação local e isso não irá mudar em 2013. mercosul - Este será o ano dos países exportadores de alimentos que pertencem ao bloco. Além do Brasil, maior beneficiário do quadro internacional de alta nos alimentos, haverá crescimento na safra do Paraguai, principalmente em soja, que sairá da casa de quatro milhões de toneladas colhidas neste ano (com grandes perdas devido à seca) para mais de dez milhões de toneladas. Fato que também se observará na Argentina, que fechou próximo de 40 milhões de toneladas de soja e agora aponta que alcançará patamares acima de 55 milhões de toneladas, sendo o carro-chefe das economias destes dois países.

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