Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 165 • Fevereiro 2013 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Como resistir......................................20
Rafael Soares
Os aspectos que precisam ser considerados para alcançar fontes de resistência adequadas contra a podridão radicular e de haste de fitóftora
Alvo certo.................................06 Abrigo inimigo...........................14 Café "minado"...........................24 O papel da tecnologia de aplicação de fungicidas no combate à giberela em trigo
O desafio de enfrentar a lagarta-do-cartucho, praga de difícil controle que se refugia dentro da planta de milho
Índice
Saiba que estratégias empregar para o manejo do bicho-mineiro, uma das principais pragas no cafeeiro
Expediente
Diretas
04
Controle da giberela em trigo
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Basf mostra bastidores do Carnaval da Vila Isabel
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Como enfrentar o azevém resistente a herbicidas
10
Uso do silício em culturas agrícolas
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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Rithieli Barcelos
• Redação
Carolina S. Silveira Juliana Leitzke
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
• Revisão
• Assinaturas
Cristiano Ceia
Simone Lopes
Controle da lagarta-do-cartucho em milho
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Migração da lagarta do cabelo do milho
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MARKETING E PUBLICIDADE
Monitoramento de lepidópteros com feromônios
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• Coordenação
Resistência à podridão radicular e da haste de fitóftora
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TMG investe em estação automatizada
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Como manejar o bicho-mineiro em café
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Tecnologia de aplicação em arroz irrigado
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Controle da ramulária em algodão adensado
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www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com
Manejo do mofo branco em feijão
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Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Coluna ANPII
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
• Expedição
Charles Ricardo Echer
Edson Krause
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Tour
Luto
O Grupo Cultivar lamenta profundamente a tragédia que na madrugada de 27 de janeiro resultou na morte de mais de 230 pessoas e em uma centena de feridos em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Vítimas em sua grande maioria jovens, estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e de outras instituições de ensino da cidade. Trata-se do tipo de acontecimento que sensibiliza independentemente de laços de parentesco, amizade ou localização geográfica, mas que nos afeta, em particular, pela proximidade com os atingidos. Às famílias, amigos, professores e colegas, nosso sentimento de pesar e solidariedade. Resta-nos a esperança de que essa lição dolorosa nos torne uma sociedade mais responsável na valorização e na defesa da vida. E, por fim, que sejamos capazes de encontrar mecanismos que previnam esse tipo de episódio trágico e evitem que perdas semelhantes voltem a acontecer.
Secretário
O engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e articulista da Coluna Agronegócios, publicada regularmente pela Cultivar, Décio Luiz Gazzoni, foi escolhido para ocupar a Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Londrina, no Paraná. O convite partiu do prefeito Alexandre Décio Luiz Gazzoni e Alexandre Kireeff Kireeff, do PSD.
Mata Viva
Durante evento realizado em janeiro para apresentar os bastidores do Carnaval da Escola de Samba Unidos da Vila Isabel, no Rio de Janeiro, o vice-presidente Sênior da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Eduardo Leduc, anunciou a marca de um milhão de mudas plantadas por meio do Programa Mata Viva. Foi apresentada, inclusive, uma muda simbólica de jequitibá-rosa, espécie oriunda do bioma da Mata Atlântica e conhecida por sua longevidade.
Eduardo Leduc
Tecnologias
A Syngenta participou do Showtec 2013, em Maracaju, no Mato Grosso do Sul. Em um estande de 200 metros quadrados e áreas demonstrativas para as culturas de soja e milho, a empresa destacou seus programas e soluções. “Tivemos, por exemplo, um laboratório em que foram passadas orientações técnicas com apresentação do portfólio de sementes e proteção de cultivos da Syngenta. Para os sojicultores, além da variedade Vtop RR, que alinha precocidade com alta produtividade, apresentamos os lançamentos SYN 1163 RR e SYN 1158 RR”, relatou Herlon Pereira, coordenador de Comunicação da Syngenta. Aos produtores de milho, a empresa expôs a biotecnologia Agrisure Viptera 3.
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Soluções
A Bayer CropScience apresentou durante o Showtec Maracaju, em janeiro, o funcionamento de sua máquina exclusiva de tratamento industrial de sementes, além do inseticida CropStar, indicado para o tratamento de sementes. Outro destaque da participação da empresa no evento foram as apresentações e os campos demonstrativos tratados com o fungicida Fox, indicado para o manejo do complexo de doenças que afetam a cultura da soja como ferrugem asiática, mancha-alvo e antracnose. Pela primeira vez a empresa apresentou no evento soluções para a cultura da cana, por meio de tours pelos campos demonstrativos, além de informações sobre o inseticida Curbix, indicado para o manejo da cigarrinha das raízes.
Linha
A FMC apresentou tecnologias para a cultura da soja e do milho durante o Showtec 2013, em Maracajú, no Mato Grosso do Sul. A equipe da empresa recebeu os produtores em campos demonstrativos, montados para comprovar o resultado de produtos como os inseticidas Rocks, Talisman e Talstar, além dos herbicidas Boral e Profit.
Participação
A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf realizou em janeiro no município gaúcho de Tupanciretã o 2º Tour da Soja. O evento ocorreu na propriedade Santa Tecla, do Grupo AWG Soldera, às margens da RST-377. No local está instalado um campo experimental com 32 variedades de soja. Durante a visita guiada à propriedade palestraram o professor da Universidade Federal de Santa Maria, Ricardo Balardin; Marcelo Madalosso, do Instituto Phytus; o professor Luiz Gustavo Floss e o gerente da Santa Tecla, Marlon Lírio. Os participantes puderam conhecer os detalhes do AgroDetecta que atua na previsão de ocorrência de doenças. “Com o AgroDetecta o produtor é alertado com uma antecedência de até dez dias. Com isso há uma diminuição nas possíveis perdas relativas a ocorrências de doenças”, explicou o gerente regional Andreas Schultz de Ijuí da Basf, Andreas Schultz.
A DuPont destacou no Showtec 2013 sua linha de defensivos agrícolas para soja e milho com o fungicida Aproach Prima, inseticidas Premio e Lannate, e os herbicidas Classic e Accent. Aproach Prima é indicado na prevenção da ferrugem asiática em soja e de doenças que atingem a parte aérea do milho, como ferrugem e cercosporiose.O inseticida Premio também é recomendado nas lavouras de soja e milho. A tecnologia dos herbicidas Accent, Classic e Lannate complementou o programa técnico da DuPont no Showtec.
Cooperação
A FMC Corporation (Nyse: FMC) anunciou no final de janeiro que sua Divisão de Produtos Agrícolas fechou acordo de colaboração com a Química Agronômica de México para pesquisa e desenvolvimento de diversos pesticidas biológicos. As duas empresas desenvolverão juntas novos fungicidas e inseticidas, para uso em todo o mundo.“Esta transação marca o avanço de mais uma etapa em nosso esforço de oferecer aos clientes produtos biológicos que atendam às suas necessidades em constante mudança”, explicou Mark Douglas, presidente da FMC Agricultural Products. Os termos do acordo Mark Douglas não foram divulgados.
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Trigo Fotos Walter Boller
Alvo certo A giberela em trigo é de difícil controle, com prejuízos severos em relação à produtividade e à qualidade do grão. Entre os aspectos que mais influenciam o controle químico da doença nas lavouras se destaca o uso adequado da tecnologia de aplicação, que deve facilitar o acesso do produto às partes-chave de proteção da planta, como as faces laterais das espigas
A
giberela, causada pelo fungo Gibberella zeae, é uma doença que pode provocar prejuízos quantitativos e qualitativos em trigo, com importantes danos no rendimento de grãos e no peso do hectolitro, assim como produzir micotoxinas capazes de comprometer a segurança alimentar. Na prática esta doença é de difícil controle, tanto pelo melhoramento genético quanto pelo emprego de fungicidas. Por esse motivo são necessários esforços na busca de ganhos na eficiência de controle da giberela em lavouras.
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Em laboratório, já foram identificados fungicidas com potencial de até 93,2% de controle da doença, porém no campo, diversos fatores interferem na ação fungitóxica. Deduz-se daí que a eficiência de controle nas lavouras pode ser melhorada pela qualidade da deposição dos fungicidas nos sítios de infecção. Esse aspecto tem estreita relação com o momento adequado para a pulverização de fungicidas. A tecnologia considera o início e o final do período de predisposição do trigo à infecção como sendo o começo da floração (anteras soltas e presas)
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até o estádio de grão leitoso (anteras presas presentes), ou seja, do estádio 60 ao 75 da escala de Zadoks et al (1974). Esse é o período durante o qual as espigas de trigo têm de ser protegidas pelos fungicidas. A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários objetiva a colocação dos ingredientes ativos sobre os alvos em que a sua ação é necessária, com a máxima economia e o mínimo de desperdício e de contaminação do homem e do ambiente. Analisando-se a baixa eficácia do controle da giberela, em lavouras, percebe-se que as dificuldades se devem, em grande parte, à deficiência da deposição de quantidades adequadas de gotas da calda fungicida no alvo onde são requeridos (as faces laterais das espigas), caracterizando um problema que envolve diretamente a tecnologia de aplicação.
Alvo da deposição
Os órgãos das plantas a serem protegidos pelo fungicida são as espigas orientadas na vertical e que apresentam forma cilíndrica. As infecções de Gibberella zeae ocorrem durante e após a antese do trigo até o estádio de grão leitoso, período em que a ação dos fungicidas é necessária para controlar esta doença. Os sítios de infecção da giberela são as anteras, principalmente as parcialmente ex-
postas ou presas. Na realidade, o alvo da deposição dos fungicidas para o controle da giberela parece ter sido pouco considerado. Observa-se que os jatos das pulverizações não atingem as faces laterais das espigas, que devem ser protegidas, uma vez que aí estão localizados os sítios de infecção. Em parte, isso ocorre porque se utiliza o mesmo equipamento de pulverização (gotas direcionadas na vertical) para o controle de doenças foliares e das espigas. Pesquisas demonstraram que jatos voltados com ângulo de 30° para frente proporcionaram maior cobertura nas espigas do que nas folhas-bandeira. O mercado oferece pontas que geram jatos planos duplos, sendo um voltado 30º para frente e outro 30º para trás, em relação à vertical. Também estão disponíveis pontas de jatos cônicos vazios, que lançam gotas segundo uma figura de um cone, direcionando-as para todos os lados, inclusive para frente e para trás. A possibilidade da utilização de auxílio à barra de pulverização por meio de cortina de ar também deve merecer atenção. Estima-se
que o estudo da dinâmica das gotas produzidas por diferentes equipamentos de pulverização e respectivas regulagens possam ser ferramentas úteis para auxiliar no equacionamento do problema.
Trabalhos experimentais
Durante as safras de trigo 2011/2012 realizaram-se ensaios no campo experimental da Universidade de Passo Fundo (UPF). Foram comparadas aplicações de fungicida através de uma barra de pulverização tradicional com bicos espaçados em 0,50m com uma barra dupla com e sem capa protetora do vento (Tabela 1). Na tentativa de obter uma distribuição mais uniforme das gotas de pulverização ao redor das espigas de trigo, foi montada uma barra dupla capaz de direcionar jatos de pulverização tanto paralelamente quanto perpendicularmente à linha de deslocamento, em direção às faces laterais das espigas. As duas barras e os respectivos bicos ficaram distanciados a 0,50m entre si. Considerando o sentido de caminhamento na Espiga de trigo em florescimento ou antese mostrando os alvos da deposição de fungicidas
Exemplos de anteras completamente expostas e parcialmente expostas ou presas
pulverização, na barra 1 (à frente) os corpos de bicos duplos ficaram orientados no sentido norte/sul (paralelos ao caminhamento) e os da barra 2 (atrás) ficaram no sentido leste/oeste (perpendiculares ao caminhamento). Quando foram utilizadas pontas de jatos cônicos vazios, a barra foi coberta por uma “saia” composta por um filme plástico, para reduzir a interferência do vento que poderia causar excessivas perdas de gotas por deriva. O trigo, cultivar Mirante, foi conduzido em parcelas de 20m x 4m. No oitavo dia após o início da floração, foram aplicados os tratamentos, conforme consta na Tabela 1. Foi aplicado o fungicida piraclostrobina + metconazol a 0,75L/ha + óleo vegetal a 1,0L/ha + adjuvante organosiliconado 0,04L/ha. Para avaliar a deposição de gotas foram utilizadas espigas artificiais (cilindros confeccionados com tubos de PVC) posicionadas den-
Tabela 1 - Tratamentos comparados e parâmetros de tecnologia de aplicação Tratamento 1. Barra tradicional 2. Barra dupla 3. Barra dupla + capa protetora
Corpo de bico simples duplo duplo
Pontas Jato plano XR110015 Jato plano XR110015 Jato cônico vazio HB1
Volume (L/ha) 150 200 200*
* A velocidade do vento foi de 5,0 km/h em todos os tratamentos, porém a presença da capa protetora amenizou o efeito do vento sobre as gotas no tratamento 3.
lados N e L das espigas, demonstrando que este equipamento não cobre uniformemente todos os lados das espigas, o que também pode ser explicado pela ação do vento causando deriva nos sentidos N Equipamento Face da espiga DVM* (µm) Área coberta** (%) e L das espigas. Independentemente do modelo de Barra tradicional N 225,5 18,3 a ponta, a barra dupla proporcionou cocom pontas de S 265,9 2,2 b bertura semelhante em todas as faces da jatos planos L 222,4 13,8 a espiga. Com a ponta cone-vazio houve da série O 247,7 3,7 b maior número de impactos/cm² e menor XR 110015 Média 240,4 9,5 DMV ao redor da espiga, aumentando a Barra dupla N 295,2 14,9 a chance de atingir o alvo. A qualidade da com pontas de S 312,1 14,0 a deposição foi semelhante com a ponta jatos planos L 359,3 16,6 a de jato-leque montada na barra dupla, da série O 248,1 13,9 a reforçando que o direcionamento dos XR 110015 Média 303,7 14,8 jatos também deve ser perpendicular Barra dupla N 228 15,4 a às espigas. As pontas de jatos cônicoscom proteção e S 257,3 13,7 a cheios (Micron-HB1) apresentaram pontas de jatos L 222,7 12,7 a melhor desempenho com a capa procônicos vazios, O 241,4 12,0 a tetora, indicando que necessitam desta série HB1 Média 237,4 13,4 proteção, mesmo em condições de (*) - Diâmetro mediano volumétrico dos impactos em cartão sensível (µm) velocidade do vento abaixo de 8km/h, (**) – Percentagem da superfície das espigas artificiais coberta por impactos das gotas de devido à maior suscetibilidade à deriva pulverização, onde médias seguidas pelas mesmas letras, dentro de cada equipamento, não das gotas finas que geram, quando comapresentam diferenças significativas entre as faces das espigas artificiais - teste de Duncan a 5 % de probabilidade de erro. paradas às gotas geradas por pontas de jatos planos simples (XR11001). Com a utilização da barra dupla, a tro das parcelas de trigo na mesma altura que as espigas reais. Os tubos de PVC com 1,0cm porcentagem de cobertura da área da de diâmetro foram cortados em segmentos de 10cm de comprimento e posicionados na vertical através de "estacas" de aço (arames) com diâmetro de 1,5mm. Os cilindros foram envolvidos com cartão hidrossensível. Foram distribuídas cinco espigas artificiais, aleatoriamente dentro de cada parcela. Após a pulverização, as imagens dos cartões hidrossensíveis foram digitalizadas com auxílio do software CIR 1.5. Foi determinado o número de impactos de gotas/ cm², o diâmetro mediano volumétrico (DMV - µm) e a cobertura (%) em cada “quadrante” do cartão que foi nomeada de acordo com o sentido da aplicação em norte (N), sul (S), leste (L) e oeste (O). Os dados foram submetidos à análise de variância e comparação de médias pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade de erro.
Considerações finais
• As anteras presas são os sítios de infecção, local crítico, em que o fungicida potente deve ser depositado, garantindo proteção durante o período de predisposição; • A deposição uniforme de fungicidas nas faces laterais das espigas do trigo ainda é o maior desafio para o controle da giberela; • O direcionamento do jato da pulverização na direção perpendicular à lateral da espiga é uma estratégia que permite atingir toda a superfície das espigas com maior cobertura e homogeneidade; • As "espigas artificiais" são uma ferramenta útil para a pesquisa na avaliação da qualidade da cobertura das faces laterais das C espigas de trigo. Ricardo Brustolin, Erlei Melo Reis, Roberto Luís De Rossi e Walter Boller, Universidade de Passo Fundo
Walter Boller
Tabela 2 - Eficiência de uma barra tradicional e de uma barra dupla equipada com dois modelos de pontas na deposição de gotas nas laterais de espigas artificiais de trigo. FAMV/ UPF- Passo Fundo/RS, 2012
superfície das espigas foi maior (13,4% jatos cônicos, e 14,8% - jatos planos), em comparação com a barra tradicional com pontas de jatos planos (9,5%), o que corresponde a ganhos de cobertura de 41% e de 56%, respectivamente. Estes resultados são preliminares e sustentam a hipótese de que há necessidade de direcionar os jatos de calda em direção às faces laterais das espigas. Para comprovar se a cobertura obtida de 13% a 15% é eficiente no controle da giberela, estão sendo conduzidos ensaios em nível de campo na Universidade de Passo Fundo (UPF).
Resultados preliminares
As barras apresentaram diferenças na uniformidade da cobertura nos quadrantes N (norte), S (sul), L (leste) e O (oeste) das espigas (Tabela 2). Com a barra tradicional (jato na vertical), houve maior cobertura nos
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Barra dupla em ação, com destaque para a orientação dos jatos para frente e para trás e para esquerda e direita
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Empresas
Deu samba
Unidos da Vila Isabel e Basf homenageiam o agricultor brasileiro e aproveitam o Carnaval para ressaltar o alto potencial do País como fornecedor de alimentos e energia para atender à crescente demanda mundial
“Á
Samba para mostrar os bastidores do Carnaval da Vila Isabel, apresentar informações sobre a parceria e detalhar ações ambientais previstas para neutralizar emissões de carbono durante a festa popular. “Desde o lançamento da nossa campanha multimídia de valorização da agricultura nacional intitulada ‘O Planeta Faminto e a Agricultura Brasileira’, em meados de 2009, temos desenvolvido iniciativas que conscientizem a sociedade sobre a importância da agricultura e também sobre o papel do agricultor não somente para a economia do País, mas também para o dia a dia de todos nós. A parceria entre Basf e Vila Isabel no próximo Carnaval é mais uma ação que dá consistência à nossa estratégia de negócio, e estamos muito motivados para ver o resultado de nosso esforço conjunto na avenida”, afirmou Maurício Russomanno, vice-presidente da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil. A Basf aproveitou também para falar sobre o seu projeto de neutralização de carbono de todo o Carnaval da Unidos de Vila Isabel. A empresa, com o apoio da Fundação Espaço ECO (FEE), identificou a oportunidade de materializar o tema na forma de um estudo das emissões geradas no processo de produção do Carnaval como um todo, com posterior ação de compensação. A ideia vai ser medir o volume de carbono gerado em toda a preparação do Carnaval e do desfile e realizar uma ação concreta de compen-
Fotos Cultivar
gua no feijão que chegou mais um...” Através do samba da escola Unidos de Vila Isabel, do Rio de Janeiro, a agricultura brasileira ganhou a passarela em 2013 com o tema da alta demanda mundial pela produção de alimentos e energia frente ao potencial do País como “celeiro do mundo”. A entidade, criada em 1946, contou neste ano com o patrocínio da Basf que através da estratégia de comunicação homenageou o agricultor brasileiro e sua atividade. Em janeiro, um evento realizado pela empresa, no Rio, abriu as portas da Cidade do
"A parceria entre Basf e Vila Isabel é mais uma ação que dá consistência à nossa estratégia", avaliou Russomano
"Nosso objetivo é trazer para a avenida temáticas que sejam do interesse da sociedade", explicou Alves
sação por meio de plantio, manutenção e monitoramento de árvores. No final vão ser desenvolvidas análises baseadas nas metodologias ISO 14.040 e recomendadas pelo Intergovemmental Panel on Climate Change (IPCC) sobre efeito estufa, nas quais são avaliados os impactos diretos e indiretos e parte do ciclo de vida dos produtos utilizados pela Vila Isabel na produção de seu Carnaval. “Além de se tratar de uma iniciativa diferenciada no Carnaval brasileiro, a ação de neutralização junto à Unidos de Vila Isabel possui diversas etapas e é bastante abrangente, já que considera desde a criação do primeiro adereço até o momento em que a Escola cruza a linha da dispersão na Sapucaí”, reforçou Russomanno. Para Wilson da Silva Alves, presidente da Unidos de Vila Isabel, a iniciativa vem fortalecer os esforços da Escola às vésperas do Carnaval 2013: “Nosso objetivo principal a cada Carnaval é trazer para a avenida temáticas que sejam do interesse da sociedade como um todo e gerem conhecimento e conscientização”, afirmou. C
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Fotos Leandro Vargas
Plantas daninhas
Resistência múltipla De forma sucessiva o azevém tem se tornado resistente à aplicação de herbicidas no Brasil e em algumas regiões de cultivo o problema já atinge, além do glifosato, os inibidores da ALS e da ACCase. Um dos principais fatores responsáveis pelo comprometimento de tecnologias importantes do controle químico reside no uso indiscriminado e intensivo de produtos com mesmo mecanismo de ação. Com esse cenário a atenção ao manejo se torna indispensável para evitar que os custos da resistência atinjam ainda mais o bolso do produtor
O
azevém (Lolium multiflorum Lam.) é uma espécie anual, de inverno, utilizada principalmente como forrageira e para fornecimento de palhada para o sistema de plantio direto. É uma espécie de fácil dispersão e, por isso, está presente e caracteriza-se como planta daninha em praticamente todas as lavouras de inverno e em pomares da região Sul do Brasil. A aplicação repetida e continuada de glifosato selecionou biótipos de azevém resistentes. O primeiro caso de resistência de azevém ao glifosato foi identificado em Vacaria, no Rio Grande do Sul, em 2003. Depois disso, os biótipos resistentes também foram identificados em Santa Catarina e em algumas regiões do Paraná. A resistência de azevém ao glifosato tornou os herbicidas inibidores da enzima acetolatato sintase (ALS) e da enzima Acetyl-CoA carboxylase (ACCase) como as principais opções de produtos para controle dessa espécie (Tabela 1). Entre
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os inibidores da ALS o idosulfurom e o nicosulfurom estão entre os mais usados nas culturas do trigo e do milho, respectivamente. Já entre os inibidores da enzima ACCase o número de moléculas disponíveis é maior (Tabela 1). Contudo, após a identificação do azevém resistente ao glifosato, o uso intenso de somente inibidores da ALS ou de apenas inibidores da ACCase de forma repetida selecionou biótipos de azevém resistentes a esses mecanismos. O uso contínuo dos herbicidas inibidores da ALS e da ACCase para controle de azevém resultou na seleção de biótipos resistentes a ALS em 2010 e a ACCase em 2011 e perdeu-se em algumas regiões a oportunidade de uso desses mecanismos herbicidas. Esses biótipos de azevém apresentam resistência múltipla, ou seja, são resistentes ao glifosato + ALS ou glifosato + ACCase. A ocorrência de biótipos de azevém com resistência dupla dificulta bastante o controle dessa espécie e a
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situação pode piorar ainda mais, já que a resistência tripla, aos três mecanismos (glifosato + ALS + ACCase), no mesmo biótipo não vai demorar a acontecer, uma vez que as resistências duplas estão em área relativamente próxima.
Manejo e controle
As medidas de prevenção e manejo, se adotadas pelos produtores, podem reduzir a dispersão e prolongar o tempo de uso dos herbicidas aos quais o azevém adquiriu resistência. Dentre as medidas destaca-se o uso de sementes certificadas; não usar repetidamente o mesmo mecanismo herbicida; e considerando que a resistência se dispersa via pólen, a eliminação de plantas “voluntárias” ou “escapes” é indispensável para evitar a dispersão. O uso de culturas como aveia-preta para cobrir o solo e reduzir a presença do azevém é uma prática eficiente. As culturas de cobertura de solo como aveia e nabo ocupam o espaço e impedem que outras
espécies, como o azevém, aumentem sua infestação. O centeio é uma espécie reconhecida como de alta capacidade alelopática, impedindo o aparecimento de azevém na área, e que pode gerar lucro com a colheita dos grãos ao final do ciclo. No caso de utilização de culturas para cobertura do solo recomenda-se a utilização de espécies de fácil controle, como exemplo pode-se citar a aveia-preta que pode ser manejada (dessecada) antes da semeadura do milho ou da soja com o glifosato. O controle do azevém ficou mais difícil com o advento da resistência múltipla e os produtores devem ficar atentos e alternar/associar mecanismos herbicidas de acordo com o tipo de resistência presente na área (Tabela 2). É importante o planejamento do controle do azevém, sendo que a aplicação de glifosato deve ser feita de 20-30 dias antes da semeadura das culturas, de forma a permitir o controle em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia. No caso de azevém resistente somente ao glifosato pode-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase (Tabela 1 e Tabela 2). Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glifosato e aos inibidores da ALS, somente os inibidores da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla, que envolva o glifosato e os inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes (Tabela 1 e Tabela 2).
Área cultivada com centeio (acima) e área cultivada com aveia (abaixo)
Tabela 1 - Herbicidas graminicidas e não seletivos que controlam azevém resistente e sensível ao glifosato Mecanismo de Ação Inibidores da ACCase
ALS
Inibidores do FS I Inibidores da GS
Ingrediente ativo Grupo químico --- HERBICIDAS GRAMINICIDAS --Fluazifop-p Ariloxifenoxi-propionatos (fop’s) Haloxyfop-r Propaquizafop Fenoxaprop Diclofop Clethodim Ciclohexanodionas (dim’s) Sethoxydim Iodosulfuron Sulfonilureia Nicosulfuron --- HERBICIDAS NÃO SELETIVOS --Paraquate Paraquate+diurom Amônio-glufosinato Ácido fosfínico Bipiridílios
Nome comum Fusilade Verdict R, Gallant Shogun Furore, Podium Iloxan Select Poast Hussar Nicosulfuron nortox Sanson Gramoxone Gramocil Finale
ALS: Acetolactato sintase; ACCase: Acetyl-CoA carboxylase; FSI: Fotossistema I; GS: Glutamina sintetase
Na dessecação de azevém podem ser utilizados herbicidas de contato como, por exemplo, paraquate e glufosinato, atentando-se para o estádio vegetativo, pois esses herbicidas controlam eficientemente plantas jovens de azevém, preferencialmente ainda não perfilhadas. Vale salientar que mesmo utilizando-se um graminicida para controle do azevém na pré-semeadura (dessecação), a necessidade de utilização de glifosato para controlar as espécies dicotiledôneas (folhas largas) permanece. Na cultura do trigo, e outros cereais de inverno, a ocorrência de azevém resistente aos inibidores da ALS impossibilita o uso do iodosulfurom, com isso a alternativa para controlar azevém restringe-se ao uso do clodinafope, que é um inibidor da ACCase. Por outro lado, se existirem biótipos de azevém resistente aos inibidores da ACCase na área o clodinafope não será eficiente e o idodosulfuron poderá ser a solução. Já a ocorrência de azevém resistente aos inibidores da ALS e da ACCase na mesma área representa a impossibilidade de controle em cereais de inverno. Assim, a resistência do azevém aos
Tabela 2 – Mecanismos herbicidas com azevém resistente e mecanismos alternativos de acordo com o tipo de resistência Tipo resistência/Mecanismo EPSPs (glifosato) ALS ACCase EPSPs + ALS EPSPs + ACCase EPSPs + ALS + ACCase
Mecanismo alternativo ALS, ACCase, FSI, GS EPSPs, ACCase, FSI, GS EPSPs, ALS, FSI, GS ACCase, FSI, GS ALS, FSI, GS FSI, GS
EPSPs: enolpyruvylshikimate-3-phosphate sintase; ALS: Acetolactato sintase; ACCase: Acetyl-CoA carboxylase; FSI: Fotossistema I; GS: Glutamina sintetase
herbicidas glifosato, glifosato + ALS e glifosato + ACCase faz com que os produtores necessitem acrescentar mais um herbicida na lista de aplicações ou a alterar o manejo da vegetação nestas áreas, utilizando métodos de manejo e controle, muitas vezes menos eficientes e com maior custo de implantação. Esses fatos ilustram o custo da resistência para C o produtor. Franciele Mariani e Dirceu Agostineto Universidade Federal de Pelotas Dionísio Gazziero, Décio Karam e Leandro Vargas, Embrapa
Evolução do surgimento de biótipos de azevém resistentes à aplicação de herbicidas
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Nutrição
Alternativa sustentável Fotos Paulo Eduardo Teodoro
A aplicação do silício em culturas agrícolas como arroz e milho tem apresentado resultados promissores no aumento da resistência das plantas ao ataque de patógenos e pragas, além de amenizar o efeito de estresses bióticos e abióticos. Por isso seu emprego na adubação tem papel importante no manejo nutricional das lavouras
A
essencialidade do silício tem sido discutida por nutricionistas vegetais durante vários anos. Muitos o consideram um elemento benéfico, ou seja, com sua presença a planta apresentaria desenvolvimento superior ao de sua ausência. Inúmeros trabalhos têm demonstrado a importância da adubação com silício sobre o acréscimo da produção de diversas culturas como, por exemplo, arroz, batata e cana-deaçúcar. O silício solúvel é absorvido pelas plantas na forma de ácido monossilícico (H4SiO4-), tendo efeitos relacionados com o aumento da resistência ao ataque de patógenos, pragas e nematoides. Além disso, pode diminuir o acamamento, reduzir a toxidade de Mn, Fe e conferir maior eficiência fotossintética (Korndörfer et al, 1995).
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A partir do decreto lei número 4.954, que regulamenta a lei 6.894 de 16/1/1980, aprovada em 14 de janeiro de 2004 (Brasil, 2004) e que dispõe sobre a produção e comercialização de fertilizantes, o Si foi incluído na lista dos micronutrientes. Na planta, este nutriente se deposita junto à cutícula das folhas conferindo resistência mecânica e amenizando os efeitos de estresses de natureza biótica e abiótica (Epsteim, 1999). O Si ocorre com maior frequência nas regiões onde a água é perdida em grande quantidade, ou seja, na epiderme foliar junto às células-guarda dos estômatos e outra célula epidérmica. Tais depósitos de sílica nos tecidos foliares promovem a redução na taxa de transpiração (Dayanandam et al, 1983). Além disso, o silício acumulado pode estimular o crescimento e a produção vegetal através de
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Figura 1 - Folha de Arroz: doença brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea, principal doença do arroz. O silício reduz os sintomas dessa doença nas folhas e também potencializa os mecanismos de defesa, tais como a produção de fitoalexinas. Fonte: Rodrigues et al. (2004)
Figura 2 - Corte transversal de uma folha de arroz mostrando as zonas de acumulação Figura 3 - Mandíbulas de lagartas de S. fragiperda, alimentadas com folhas de milho com aplicação de silício (esquerda) e sem aplicação de silício (direita). Fonte: Goussain et al., (2003) de Si (expansões da epiderme). Fonte: Korndörfer et al., (1995)
várias ações indiretas como o aumento na capacidade fotossintética, por deixar as folhas mais eretas (Korndörfer et al, 1995). A adubação com Si tem mostrado eficiência no controle de várias doenças importantes, principalmente fúngicas. Pesquisas realizadas em solos orgânicos no sul da Flórida (EUA) demonstraram que a adubação com Si, na cultura do arroz, reduziu a incidência de brusone (Figura 1) entre 17% e 31% (Datnoff et al, 1991). As células epidérmicas ficam mais grossas e com um grau maior de lignificação e/ou sili-
cificação, formando uma barreira mecânica ao ataque de fungos e insetos (Figura 2). A adubação silicatada na cultura do milho aumenta o teor de silício nas folhas, dificultando a alimentação dos lepidópteros, o que causa aumento de mortalidade, tornando as plantas de milho mais resistentes à alimentação de insetos-praga, como a lagarta-do-cartucho (Figura 3). Um número grande de materiais tem sido utilizado como fonte de Si para as plantas: escórias de siderurgia, wollastonita, subprodutos da produção de fósforo elementar, silicato de
cálcio, silicato de sódio, cimento, termofosfato, silicato de magnésio (serpentinito) e silicato de potássio (Korndörfer et al, 1995). O emprego do silício na agricultura pode diminuir os custos com fungicidas e inseticidas. Assim, o manejo do Si na nutrição de plantas poderá contribuir de forma significativa para uma agricultura mais sustentável. C Paulo Eduardo Teodoro, Larissa Pereira Ribeiro, Caio Cezar Guedes Correa e Francisco Eduardo Torres, Univ. Est. de Mato Grosso do Sul
Milho
Abrigo inimigo
Fotos Náyra Crubelati-Mulati
Por se esconder e abrigar dentro das plantas a lagarta-do-cartucho é uma praga de difícil controle na cultura do milho. Com ampla distribuição e capacidade migratória o inseto é responsável por prejuízos graves que podem alcançar até 40% da produtividade das lavouras. Seu manejo exige medidas racionais e eficientes, como o emprego de inseticidas na dose e no volume de calda adequados
A
lagarta-do-cartucho do milho, também conhecida como lagarta-militar, Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) é uma das pragas mais importantes na cultura do milho no Brasil. O milho apresenta elevada suscetibilidade ao ataque de S. frugiperda principalmente em função da conformação da planta (cartucho), que propicia proteção à lagarta e dificulta seu controle. A ampla distribuição dessa espécie ocorre por haver alimentação diversificada e disponível o ano todo, clima favorável e também devido à capacidade migratória do inseto. No Brasil as perdas causadas por essa lagarta variam entre
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20% e 40% (Gallo et al, 2002). O adulto é uma mariposa cuja postura é realizada normalmente nas folhas, em massas de 50 ovos, e cada fêmea coloca em média 1.360 ovos/ciclo. A fase larval dura em torno de 23 dias, sendo que o inseto pode atingir até 40mm de comprimento (Degrande, 1998). As lagartas recém-nascidas medem em média 1,81mm, têm o corpo branco e a cabeça escura. Vários são os fatores de insucesso no controle de S. frugiperda através da aplicação de inseticidas. Neste contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar a eficácia de alguns inseticidas aplicados com diferentes volumes de calda, na cultura do milho “safrinha” para o controle
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desta espécie de praga.
O experimento
O experimento foi realizado em uma propriedade agrícola no município de Maringá, no Paraná. A lavoura de milho foi semeada dia 3/3/2009 e as aplicações dos inseticidas foram realizadas no dia 24/3/2009. Utilizou-se o híbrido duplo Agromen 35A42, com 55 mil plantas/ha. A temperatura no momento da aplicação era de 31ºC, umidade relativa de 56% e velocidade do vento de 10km/h. Na aplicação foi utilizado um pulverizador costal, de 20L adaptado com regulador de pressão de 3kgf cm-² para conferir vazão constante
durante a aplicação. A ponta utilizada foi do modelo LD 110 02 (vazão de 0,82L/ min). O delineamento experimental foi o de DBC com quatro repetições, em um total de 12 tratamentos mais uma parcela testemunha em cada bloco, que recebeu apenas água na proporção de 200L/ha. As parcelas consistiram de quatro fileiras de 8m de comprimento, espaçadas 0,9m, sendo consideradas úteis as duas fileiras centrais. As avaliações foram realizadas previamente, um dia antes da aplicação, e aos 4 e 8 DAA. Nas avaliações foi verificada a presença da praga ou injúrias nas plantas úteis. Foram utilizados volumes de calda de 100L/ha, 200L/ha e 300L/ha e inseticidas nas seguintes doses: metomil com 129g/ ha de ingrediente ativo (i.a.); triflumurom com 24g/ha de i.a.; clorpirifós, com 180g/ ha de i.a.; cipermetrina, com 12,5g/ha de i.a.; e testemunha. A porcentagem de controle das lagartas em relação à testemunha e a avaliação prévia foram calculadas em todas as parcelas utilizando-se a equação de Henderson & Tilton (1952). As médias dos tratamentos foram comparadas através do teste de Scott-Knott (1974) a 95% de significância, com o auxílio de software.
Resultados preliminiares
Os dados referentes à eficiência de controle da lagarta-do-cartucho proporcionada pelos inseticidas com diferentes volumes de calda utilizados encontram-se na Tabela 1 (4 DAA) e na Tabela 2 (8 DAA). O desempenho dos inseticidas foi dependente do volume de calda utilizado, obtendo-se maior porcentagem de controle com o maior volume de calda. Apenas o inseticida metomil aplicado com 300L/ha de calda proporcionou controle satisfatório (>80 %) aos 4 DAA (83,25 %). Houve decréscimo na porcentagem de controle na seguinte ordem: metomil, triflumurom, clorpirifós e cipermetrina, sendo que esse último apresentou a menor eficiência
A conformação da planta (cartucho) propicia proteção à lagarta, dificultando seu controle
Porcentagem de eficiência dos tratamentos, aos 4 e 8 DAA
de controle da praga aos 4 DAA. Estes inseticidas apresentaram baixa eficiência (29,75% a 55,50%) quando aplicados com volume de calda equivalente a 200L/ha. O decréscimo na porcentagem de eficiência, neste caso, seguiu a mesma ordem dos inseticidas citados anteriormente, sendo que metomil diferiu estatisticamente dos outros três inseticidas a 200L/ha. Já com a aplicação dos inseticidas com 100L/ha de calda, os resultados também seguem a ordem anterior de eficiência, sendo que metomil apresentou controle maior (54%), não diferindo estatisticamente de triflumurom (46%). Metomil e triflumurom diferiram significativamente de clorpirifós (33,25%); clorpirifós diferiu significativamente de cipermetrina, que apresentou apenas 13% de controle. O controle dessa lagarta, apresentado pelos inseticidas quando aplicados com maior volume de calda no presente trabalho, corrobora os resultados obtidos por Cruz et al (1996). Não houve diferença significativa em relação ao volume de calda em quaisquer tratamentos aos 8 DAA (Tabela 2). As diferenças significativas entre os tratamentos neste caso ocorreram apenas com os inseticidas, sendo que clorpirifós e cipermetrina obtiveram as menores eficiências,
A eficiência dos inseticidas no controle de S. frugiperda em milho variou em função do volume de calda utilizado na pulverização. Aos 4 DAA o inseticida metomil (300L/ ha) apresentou a maior eficiência de controle (83,25%) e cipermetrina (100L/ ha) a menor eficiência (13%). Aos 8 DAA não houve diferença significativa entre os tratamentos em relação ao volume de calda. Nos tratamentos com cipermetrina a 100L/ha e 200L/ha o número de lagartas aumentou em relação à testemunha, sendo C este inseticida o menos eficiente. Ricardo Braido, Náyra C. de S. Crubelati-Mulati, e Rafael Egea Sanches, Universidade Estadual de Maringá
Tabela 1 – Médias das porcentagens de controle de Spodoptera frugiperda com três volumes de calda e quatro inseticidas, calculada pela equação de Henderson & Tilton (1952), aos 04 DAA.
Tabela 2 – Médias das porcentagens de controle de Spodoptera frugiperda com três volumes de calda e quatro inseticidas, calculada pela Equação de Henderson & Tilton (1952), aos 08 DAA
Inseticida Volume (calda) Metomil Triflumurom Clorpirifós Cipermetrina 100 L ha-1 54,00 bA* 46,00 bA 33,25 bB 13,00 bC 200 L ha-1 55,50 bA 40,75 bB 40,00 bB 29,75 aB 300 L ha-1 83,25 aA 62,00 aB 55,75 aB 38,25 aC
Inseticida Volume (calda) Metomil Triflumurom Clorpirifós Cipermetrina 100 L ha-1 23,00 aA* 32,00 aA 08,25 aA -16,50 aB 200 L ha-1 36,50 aA 25,00 aA 05,50 aB -17,25 aB 06,75 aB 300 L ha-1 50,75 aA 36,25 aA 19,00 aB
*Médias nas colunas seguidas da mesma letra minúscula e nas linhas seguidas da mesma letra maiúscula não se diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (1974) a 5% de probabilidade.
*Médias nas colunas seguidas da mesma letra minúscula e nas linhas seguidas da mesma letra maiúscula não se diferem entre si pelo teste de Scott-Knott (1974) a 5% de probabilidade.
e os inseticidas metomil e triflumurom os melhores resultados, devido à ação sistêmica e ovicida de metomil e ao efeito residual de triflumurom. Nos tratamentos com cipermetrina a 100L/ha e 200L/ha¹ o número de lagartas aumentou em relação à testemunha (porcentagem de controle negativo), e a eficiência de controle desse inseticida manteve-se baixa mesmo utilizando-se o maior volume de calda testado, aos 8 DAA.
Conclusões
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Milho
Cabelos em pé
Fotos Luis Henrique Kasuya
A migração da lagarta do cabelo do milho (Helicoverpa zea) para outras culturas como o algodão tem tirado o sossego de produtores da região oeste da Bahia. Para combater a praga é importante diferenciá-la de outros insetos como Heliothis virescens e agir de forma rápida adotando medidas de controle até o segundo instar
N
a safra 2011/12, na região oeste da Bahia, rumores (a partir do final de março) começaram a dar conta sobre a migração da lagarta do cabelo do milho (Helicoverpa zea) para a cultura do algodão. As aplicações de inseticidas eram realizadas para o controle da lagarta da maçã (Heliothis virescens) e se passou a observar que havia algum escape de lagartas, também em variedades de algodão Bt 1 (que controla curuquerê (Alabama argillacea), lagarta da maçã (Heliothis virescens) e lagarta rosada (Pectinophora gossyoiella). Lagartas da maçã estavam crescendo e foi necessário dar início às aplicações de inseticidas. Foram coletadas lagartas e enviadas ao Laboratório de Identificação de Artrópodes Gravena e houve a confirmação de que 100% das lagartas encaminhadas eram do gênero Helicoverpa zea. A partir de então teve início uma ver-
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dadeira batalha contra esta lagarta que se instalou nas lavouras de algodão convencional e Bt 1, migrou para lavouras irrigadas, depois milheto, sorgo, feijão gurutuba, feijão pérola e atualmente já se encontra na soja.
Biologia da praga
A mariposa de Helicoverpa zea possui hábi-
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to noturno, pode ser encontrada ao entardecer e é atraída por luz (é possível localizá-la em luzes próximas a sedes). Uma única fêmea tem a capacidade de pôr entre 600 e mil ovos, sendo que, se as lagartas encontrarem clima quente estes ovos podem eclodir em três dias. As lagartas passam por seis instares em
Presença da lagarta Helicoverpa zea em planta de milheto
aproximadamente 26 dias, depois chegando à fase de pupa. Podem ocorrer de duas a três gerações por ano. O inseto tem grande mobilidade na planta. Pela manhã, até esquentar o sol, se abriga nas partes altas da planta, facilitando o seu controle. Por volta das 10h até as 14h as lagartas migram para a parte baixa da planta e voltam para cima quando a temperatura vai diminuindo. O adulto é facilmente encontrado ao entardecer e possui um voo de 50cm a 100cm de altura e de três a oito metros de distância.
Como diferenciar
Algumas características, apresentadas nas fases de ovo, lagarta, mandíbula, pupa e mariposa, precisam ser observadas para a correta identificação de Helicoverpa zea e para diferenciá-la em relação a Heliothis virescens. O ovo da Helicoverpa zea possui em média 25 sulcos ou nervuras, podendo variar de 21 a 31, enquanto o de Heliothis virescens possui em média 21 sulcos ou nervuras, podendo variar de 18 a 25. Os ovos são depositados isoladamente nas partes altas das plantas, brácteas e caule. À medida que aumenta o tamanho da planta são colocados em flores e frutos. Após três a quatro dias (depende da temperatura) ocorre a eclosão dos ovos, que se alimentam inicialmente da casca do ovo para depois buscar outras partes da planta.
Lagarta
A presença de microespinhos (espiráculos) na base das cerdas do 2° e 8° segmentos é característica de Helicoverpa zea, enquanto que em Heliothis virescens são encontrados em grande quantidade nas cerdas. Colorações diferentes são comuns às duas espécies. A coloração mais escura significa que foi desenvolvida em local mais escuro ou na parte baixa da planta. Normalmente a lagarta é encontrada na parte alta da planta nas primeiras e últimas horas do dia, de acordo com a temperatura, ou seja, quanto mais alta a temperatura, maior a probabilidade do inseto descer para as partes
A cultura do sorgo está entre os alvos de ataque de Helicoverpa zea
baixas da planta.
Mandíbula
Outra característica importante para identificar a Helicoverpa zea é através da mandíbula ou dos dentes. Heliothis virescens possui um dente extra chamado de retináculo, localizado do lado de dentro da mandíbula.
Pupa
Helicoverpa zea tem taxa alta de sobrevivência, principalmente em clima seco. Quando empupa no solo na primeira geração pode ser facilmente encontrada por volta de 5cm de profundidade. Na segunda geração aprofunda-se mais no solo, podendo chegar a 15cm de profundidade. Uma característica marcante da pupa da Helicoverpa zea é um gancho maior que o da Heliothis virescens (ver foto).
Adulto
Observar a mariposa da Helicoverpa zea é o método mais fácil de diferenciá-la em relação a Heliothis virescens. A mariposa de H. zea possui coloração creme e é característica a presença de dois olhos nas asas, enquanto Heliothis
Vagem de feijão com a presença da lagarta Helicoverpa zea
virescens apresenta cor mais acinzentada e conta com três listas características. Também o segundo par de asas da Helicoverpa zea tem uma coloração mais escura (parte marrom). Essa lagarta conta com alto potencial destrutivo, atacando diretamente caule, folhas, grãos nas vagens e frutos, podendo em alguns casos chegar a perdas de 100% na lavoura.
Medidas de controle
A recomendação é identificar a lagarta H. zea rapidamente e controlar até o segundo instar. A partir desse estágio a dificuldade de controle é bem maior. É necessário que o produtor procure sempre um engenheiro agrônomo para orientá-lo sobre o melhor mecanismo de ação a ser utilizado. O controle com ação de inimigos naturais como Trichograma, que predam os ovos, pode ser uma ferramenta importante para auxiliar no manejo desta lagarta. A utilização de milhos híbridos, com proteínas Vip 3, também pode ajudar no C manejo. Luís Henrique Kasuya, Kasuya Consultoria Agronômica
Inseto foi identificado causando danos também à cultura do algodoeiro
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Soja
Atração fatal Charles Echer
O monitoramento de lepidópteros com o uso de armadilhas com feromônios sexuais é uma ferramenta eficiente para o manejo de pragas como as lagartas spodopteras e pseudoplusias na cultura da soja. Componentes, porções, pureza, estabilidade, taxa de liberação, localização das armadilhas, temperatura e umidade estão entre os aspectos que interferem no sucesso dessa tecnologia
E
m sistemas agrícolas com rotação e sucessão de culturas, como o plantio direto de soja, milho, feijão e algodoeiro no cerrado brasileiro, ocorre uma oferta contínua de alimento a insetos polífagos, como é o caso de espécies do gênero Spodoptera (Lepidoptera: Noctuidae). Essa sucessão de culturas, associada ao plantio escalonado e à existência de culturas irrigadas no inverno, prolonga o tempo e a sobrevivência de insetos, aumentando o número de gerações nestes tipos de agroecossistemas. Essa situação favorece o processo migratório das mariposas entre as lavouras formadas por espécies vegetais semelhantes, naquelas implantadas em épocas diferentes e, também, entre diferentes espécies botânicas (Barros; Torres, 2009). Estratégias para o manejo integrado de pragas como o uso de feromônios para o monitoramento de adultos, a detecção de áreas livres ou infestadas e um possível controle por coleta massal ou confusão sexual são bastante oportunos, além de vantajosos do ponto de vista econômico e ambiental. Armadilhas com feromônio podem ser utilizadas para detectar tanto a presença quanto a densidade da praga, visando determinar quando a população do
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inseto-praga atinge o nível de dano econômico (Bento, 2000). O sucesso do uso de armadilhas à base de feromônio está relacionado a fatores intrínsecos ao feromônio, como o número de seus componentes e suas proporções, sua pureza, estabilidade e taxa de liberação. Também a fatores extrínsecos, como o modelo, altura e localização das armadilhas; e fatores ambientais, como temperatura e umidade, entre outros (Vilela; Della Lucia, 2001).
Testes de campo
Com o objetivo de avaliar a atratividade de duas formulações de feromônios sexuais utilizadas para atrair simultaneamente mariposas da espécie Pseudoplusia includens e do gênero Spodoptera spp. foi conduzido um experimento na FCAV/Unesp, em Jaboticabal, SP, durante o ano agrícola 2010/2011. A cultivar de soja utilizada foi M-7908 RR, em área comercial de 30ha. Os tratos culturais foram realizados conforme o recomendado para a cultura e não houve aplicação de inseticidas na área. Armadilhas comerciais do tipo Delta foram utilizadas para captura dos insetos,
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aliadas a duas formulações de feromônios sexuais para atração de Lepidoptera (Noctuidae), associados à cultura da soja. Foram usados o feromônio comercial disponível no mercado, específico e indicado para a atração da espécie S. frugiperda em cultura de milho, e o feromônio em teste, formulado em vials de polietileno na Unesp (Busoli et al, 2008), neste trabalho denominado de Formulado Unesp/ Bus, usado para atrair simultaneamente diversos noctuídeos associados à cultura, tais como S. frugiperda, S. eridania, S. cosmioides e P. includens. Os componentes do feromônio sexual comercial são (Z)-11-Hexadecenila + (Z)-7-Dodecelina + (Z)-9-Tetradecenila (0,000197%) com indicação para S. frugiperda. Em relação ao feromônio Formulado Unesp/ Bus, os componentes são Z9E11-14 Ac + Z9E12-14Ac + Z11-16Ac + Z9-14A1 + Z9-14Ac + Z9E11-14A1 + Z7-12Ac. Armadilhas com cada isca de feromônio foram posicionadas na área experimental de 30ha, espaçadas de 200m entre si e a 0,5m acima do nível da altura das plantas. As concentrações dos componentes feromonais Unesp/Bus foram ajustadas para a área experimental, segundo ensaios preliminares realizados por
Figura 1 - Número médio de mariposas de Spodoptera spp. capturadas/armadilha/semana em duas formulações de feromônios sexuais na cultura da soja
Busoli et al (2008). O período de avaliações na área foi de 27 de dezembro de 2010 a 11 de fevereiro de 2011, quando as plantas se encontravam no estágio fenológico V6 até o estágio fenológico R4. Durante este período, o ataque destas pragas é intenso e pode influenciar significativamente a produção. O piso das armadilhas foi removido semanalmente e a substituição da cápsula emissora do feromônio ocorreu a cada 21 dias. Os adultos coletados foram identificados através de comparação com insetos da coleção do museu científico entomológico da FCAV/Unesp. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e a média dos tratamentos, comparada pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Monitoramento
Os resultados obtidos indicam que os dois feromônios utilizados capturaram as espécies S. frugiperda, S. eridania, S. cosmioides e P.
includens (Tabela 1), porém, S. frugiperda foi mais capturada pelo Formulado Unesp/Bus na fase vegetativa e início da fase reprodutiva das plantas. A espécie S. eridania ocorreu dos 28 aos 65 DAE, com as armadilhas com o feromônio Formulado Unesp/Bus sendo mais atrativo significativamente que as armadilhas com o feromônio comercial. Em relação à espécie P. includens, observou-se que não houve diferenças significativas na atratividade entre os feromônios utilizados (Tabela 1), porém presente em todas as avaliações. A espécie S. cosmioides praticamente não ocorreu na soja na região, porém sabe-se que no Centro-Oeste do país é frequente. Em ensaios realizados em 2008 em lavouras de algodão em Chapadão do Sul (MS), Busoli et al verificaram um total de captura de 37,5 mariposas/armadilha/semana. As maiores porcentagens de captura foram para S. eridania, S. frugiperda, S. cosmioides, Helicoverpa zea e muito pouco P. includens, pois a mistura de
componentes feromonais para atrair Spodoptera spp. e H. zea provavelmente anulou a atração do composto Z-7dda, mais específico para P. includens e Trichoplusia ni. A técnica do pano de batida no monitoramento de lagartas na cultura da soja é usada com eficiência. Todavia, esta ferramenta requer mão de obra treinada e demanda tempo para ser realizada em grandes áreas. Nesse sentido, a utilização de armadilhas com feromônio em grandes áreas de cultivo de soja pode dinamizar os processos de amostragem e detectar o momento da entrada das pragas na lavoura, potencializando os efeitos dos produtos fitossanitários utilizados para controlar tais pragas, quando, após a oviposição, ocorrer as lagartas, melhorando o planejamento fitossanitário e o uso de inseticidas fisiológicos para as fases iniciais das lagartas. Conforme observado, o feromônio Formulado Unesp/Bus foi mais eficiente que o feromônio comercial na atração de S. frugiperda e S. eridania em soja (Figura 1), podendo ser utilizado em programas de manejo integrado de pragas desfolhadoras da cultura da soja. Em relação às espécies S. cosmioides e P. includens, os dois formulados não diferiram entre si, apresentando a mesma atratividade. Todavia, novas pesquisas devem ser realizadas para estudar melhor as concentrações desses componentes, para o monitoramento e para aplicar a Técnica de Confusão de Machos, em grandes áreas contínuas, onde as culturas de soja, milho e C algodoeiro estão presentes. José Fernando Jurca Grigolli, Leandro Aparecido de Souza, Diego Felisbino Fraga, Marina Funichello, Mirian Maristela Kubota e Antonio Carlos Busoli, Unesp
Tabela 1 - Número médio de adultos de S. frugiperda, S. eridania, S. cosmioides e P. includens capturados/armadilhas tipo Delta/semana em duas formulações de feromônios sexuais na cultura da soja Data de Coleta (DAE) 28 37 42 57 65 74
Formulado Unesp/Bus Feromônio comercial Unesp/Bus Feromônio comercial Unesp/Bus Feromônio comercial Unesp/Bus Feromônio comercial Unesp/Bus Feromônio comercial Unesp/Bus Feromônio comercial
S. frugiperda 10,7 aA 3,3 bA 10,0 aA 0,7 bA 3,7 aAB 1,3 bA 0,3 aB 1,3 aAB 2,0 aB 0,0 aB 4,3 aA 2,0 bA
Espécies Coletadas S. eridania S. cosmioides 10,0 aA 0,0 aB 0,7 bA 0,0 aA 4,3 aAB 0,7 aB 2,0 bA 0,3 aA 5,7 aA 0,0 aB 0,0 bA 0,0 aA 4,0 aA 0,7 aB 0,0 bB 0,0 aB 7,7 aA 0,0 aB 3,7 bA 0,3 aB 0,0 aB 0,0 aB 0,0 aB 0,0 aB
P. includens 2,7 aB 2,7 aA 0,7 aB 2,7 aA 1,0 aAB 4,3 aA 2,7 aAB 3,3 aA 2,3 aB 4,0 aA 2,0 aA 3,0 aA
Formulado 51,5**
Teste F Espécies Coletadas 28,0**
Interação 17,7**
CV (%) 37,94
9,7**
4,0*
4,7*
38,93
2,0NS
2,6NS
5,2*
29,14
3,1*
6,4**
6,6**
33,61
3,6*
7,1**
3,2NS
26,19
3,2*
7,2**
3,56*
35,37
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna (dentro da mesma data de coleta) e maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). NS não significativo, * significativo a 5% de probabilidade, ** significativo a 1% de probabilidade, CV coeficiente de variação
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Soja
Como resistir
A incidência e a severidade da podridão radicular e de haste de fitóftora têm crescido nas últimas safras de soja no Brasil, por conta de fatores como o uso intensivo do plantio direto e do monocultivo. O emprego de cultivares resistentes é uma das principais ferramentas para manejar a doença, por isso conhecer a diversidade da população de P. sojae, sua localização e os genes RPS ainda efetivos é fundamental para orientar programas de melhoramento e a seleção de fontes de resistência adequadas
A
deixando o estande irregular, geralmente levando ao replantio. A incidência em plantas adultas é menor e é muito comum observar plantas mortas precocemente encobertas por outras saudáveis, lado a lado. O sintoma mais característico é o escurecimento da haste e de ramos laterais, progressivo de baixo para cima a partir da linha do solo, em plantas amareladas e murchas, que são facilmente arrancadas do solo em decorrência do sistema radicular apodrecido. Phytophthora sojae permanece vivo por
Leila Costamilan
podridão radicular e de haste de fitóftora (PRHF), em soja, é causada por Phytophthora sojae, um micro-organismo que já foi considerado um fungo e que, atualmente, é classificado em outro reino (Chromista ou Straminipila), mais próximo às algas, pois uma de suas características é ter parede celular como um vegetal. Esta doença afeta plantas de soja em qualquer fase de desenvolvimento. Causa morte de plântulas antes ou logo após a emergência,
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vários anos, em restos de soja ou livre no solo, pois forma estruturas de resistência chamadas oósporos. Para ocorrer infecção de plantas, é necessário que o solo seja saturado de água, o que favorece a liberação de estruturas do patógeno que nadam em direção às raízes de soja. Períodos chuvosos, logo após a semeadura, são favoráveis à morte de plântulas, e chuvas durante a safra levam à infecção de plantas adultas. Nos Estados Unidos essa doença foi considerada a segunda maior causadora
Leila Costamilan
Plantas de soja amarelando e murchando, afetadas por podridão radicular e de haste de fitóftora
de perdas econômicas em soja, no período 2001 a 2010, após o nematoide de cisto. Na América do Sul foi descrita na Argentina em 1970, onde atualmente causa perdas econômicas ao sul da região sojícola do país. A ocorrência da doença foi insignificante e nenhuma prática de controle foi adotada no Brasil entre 1995, ano de sua constatação, até a safra 2005/2006, quando danos foram verificados no Rio Grande do Sul e no Paraná. Até a safra 2011/2012, foi constatada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Desde 2009, a reação à doença é uma característica adicional, usada para proteção e registro de cultivares de soja junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As causas do aumento da incidência e da severidade dessa doença podem estar ligadas à monocultura e ao sistema de manejo de solo. Em países como Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o sistema de plantio direto é utilizado em aproximadamente 70% da área cultivada com soja. No Sul do Brasil, há lavouras semeadas continuamente com soja por mais de 30 anos, nesse sistema de plantio. Nos EUA, a PRHF aumentou em incidência e o patógeno foi mais agressivo em solos sob sistema de plantio direto. Tráfego intenso de máquinas pesadas em solos com excessiva umidade, safrinha de soja e preparo de solo na estação chuvosa (criando camada compactada entre 10cm e 20cm de profundidade, que leva a encharcamentos mais prolongados na região das raízes, após chuvas) são práticas que favorecem o desenvolvimento da doença. A forma mais efetiva de controle da doença é o uso de cultivares de soja resistentes, desenvolvidas com genes RPS. Existem dois tipos de resistência: completa e parcial. A completa não permite o aparecimento de sintomas, porém pode ser quebrada com o uso intensivo de cultivar resistente. A resistência parcial é
Rafael Soares
Lavoura de soja com plantas mortas por Phytophthora sojae
durável e as cultivares de soja podem apresentar diferentes níveis de desenvolvimento de sintomas, desde muito baixo até alto. Quatorze genes Rps estão localizados em soja: Rps1a, Rps1b, Rps1c, Rps1d, Rps1k, Rps2, Rps3a, Rps3b, Rps3c, Rps4, Rps5, Rps6, Rps7, Rps8, além de dois recentemente descritos, próximos ao complexo Rps1. Destes, Rps1a, Rps1c, Rps1k, Rps3a e Rps6 são amplamente utilizados em cultivares lançadas nos EUA, onde a duração da resistência varia entre oito anos, para Rps1a, e 20 anos, para Rps1k. A diversidade da população de P. sojae sempre foi apresentada na forma de “raças”, sendo numeradas até a de número 55 na ordem em que foram descobertas, através de inoculações do patógeno em uma série diferencial de cultivares de soja, cada uma portando um gene Rps. Cada novo gene incorporado à série diferencial aumenta o número de raças possíveis, bem como a complexidade da discussão sobre a diversidade
da população do patógeno. Atualmente, o termo “patótipo” é preferido para descrever determinada população de P. sojae através dos genes Rps aos quais essa população consegue ser compatível. Como exemplo, para controlar a doença onde ocorre o patótipo (1d, 7), não se deve usar cultivares de soja que contenham o gene Rps1d ou o Rps7. Para o desenvolvimento de cultivares de soja com resistência completa é importante conhecer a diversidade da população de P. sojae, sua localização e os genes Rps ainda efetivos, a fim de orientar programas de melhoramento e a seleção de fontes de resistência adequadas. Uma coleção de isolados de P. sojae foi obtida entre as safras 2006/2007 e 2009/2010, de 25 locais em seis estados brasileiros (Figura 1). O patótipo de cada isolado foi determinado pela inoculação em plantas de soja da série diferencial contendo os genes Rps1a, Rps1b, Rps1c, Rps1d, Rps1k, Rps2, Rps3a, Rps3b, Rps3c, Rps4, Rps5, Rps6, Rps7 e Rps8. A cultivar com menos de 30% de plantas mortas
Tabela 1 - Fórmulas de virulência de patótipos de Phytophthora sojae do Brasil Fórmula de virulência (com 14 genes Rps) 1d, 2, 3c, 4, 5, 6, 7 1d, 2, 3b, 3c, 4, 5, 6, 7 1b, 1d, 2, 3a, 3c, 4, 5, 6, 7 1d, 3a, 5, 7, 8 1d, 5, 7 1d, 2, 3a, 5, 7, 8 1d, 2, 3c, 4, 5, 7 1d, 2, 3a, 3c, 4, 5, 6, 7, 8 1a, 1c, 1d, 1k, 2, 3c, 4, 7 1b, 1d, 2, 3a, 3b, 3c, 4, 5, 6, 7 1d, 2, 7 1d, 2, 3a, 3c, 5, 7, 8 1d, 2, 3b, 3c, 4, 6, 7 1d, 2, 3c, 7 1d, 2, 3c, 5, 7 1d, 2, 4, 5, 7 1d, 2, 4, 5, 6, 7 Total
Número de isolados (%) Origem (número de isolados por local) 9 (24) Passo Fundo (2), Ipiranga do Sul, Ijuí, Uberaba, Coxilha (3), Ronda Alta 5 (13) Montividiu, Coxilha, Passo Fundo (2), Ponta Grossa 3 (8) Cachoeira do Sul (2), Arroio Grande 3 (8) Passo Fundo, Chapada, Não-Me-Toque 2 (5) Castro, Maracaju 2 (5) Carambeí, Sananduva, 2 (5) Santo Ângelo, Campos Novos 2 (5) Cachoeirinha (2) 1 (3) Cachoeira do Sul 1 (3) Pelotas 1 (3) Pato Branco 1 (3) Marau 1 (3) Colorado 1 (3) Passo Fundo 1 (3) Passo Fundo 1 (3) Camaquã 1 (3) Lagoa Vermelha 37
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Fotos Leila Costamilan
Escurecimento da base da haste e de ramos laterais de soja, sintoma típico de podridão radicular e de haste de fitóftora
foi considerada resistente, ou seja, o respectivo gene Rps ainda estava efetivo, e a cultivar com mais de 70% de plantas mortas foi considerada suscetível, sendo inefetivo o respectivo gene Rps. Entre 30% e 70%, a reação foi considerada intermediária, repetindo-se mais vezes o teste, nessas condições. Como resultados, foram observados 17 patótipos distintos (Tabela 1). Os predominantes foram quatro: (1d, 2, 3c, 4, 5, 6, 7), (1d, 2, 3b, 3c, 4, 5, 6, 7), (1b, 1d, 2, 3a, 3c, 4, 5, 6, 7) e (1d, 3a, 5, 7, 8), representando 53% da frequência total de distribuição. Os patótipos (1d, 2, 3c, 4, 5, 6, 7 e 1d, 2, 3b, 3c, 4, 5, 6, 7) coletados em Passo Fundo, Ipiranga do Sul, Ijuí, Coxilha, Ronda Alta (RS), Uberaba (MG), Montividiu (GO) e Ponta Grossa (PR), foram os mais frequentes (37%) e muito semelhantes entre si, somente diferenciando na virulência ao gene Rps3b. Nenhum dos 17 patótipos havia sido descrito anteriormente. Até 1990, nos EUA, os patótipos mais comuns eram 1a, 1c, 1d, 6, 7 e, atualmente, muitas áreas têm registrado Figura 1 - Distribuição de Phytophthora sojae no Brasil. Números representam locais de origem
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Oósporos de Phytophthora sojae (estruturas circulares) em raiz de soja, vistos em microscópio, em aumento aproximado de 100x
virulência para Rps1b e Rps1k. No Brasil, Rps1a, Rps1c e Rps1k estão ainda altamente efetivos, o que pode indicar que as populações americana e brasileira não têm a mesma origem ou que a população do Brasil sofreu diferente pressão de seleção induzida por genes Rps presentes (mas não intencionalmente inseridos) em cultivares de soja. Estes genes podem ter sido trazidos em programas de melhoramento de soja realizados durante a década de 1960, quando foram utilizadas cultivares americanas, como Bienville, Bossier, Bragg, Cobb, Davis, Hale 7, Hardee, Hill, Hood e Majos, que melhor se adaptaram às condições climáticas e de solo do Brasil. Todos os isolados apresentaram reação compatível com Rps1d e Rps7, 86% tiveram compatibilidade com Rps2, 73% com Rps3c, 70% com Rps4, 89% com Rps5 e 59% com Rps6. Os genes com maior efetividade foram Rps1a, Rps1c e Rps1k, que apresentaram compatibilidade com apenas um isolado, representando 3% das amostras (Figura 2). Em resumo, os patótipos de P. sojae mais
frequentemente encontrados no Brasil têm reação compatível aos genes Rps1d, Rps2, Rps3a, Rps3c, Rps4, Rps5, Rps6 e Rps7, que não são úteis para controle da PRHF no país. Os genes Rps1a, Rps1c e Rps1k são altamente efetivos, e qualquer um deles será eficiente no controle da doença, com exceção de Cachoeira do Sul (RS), onde foi encontrado um patótipo mais agressivo. Para o controle, o ideal seria dispor de cultivares acumulando os genes Rps1a, Rps1b, Rps1c e Rps1k, se possível também com Rps3b ou Rps8, juntamente com alto nível de resistência parcial (para evitar a quebra de resistência). C Leila Costamilan e Cláudia Clebsch Embrapa Trigo Rafael Soares, Claudine Seixas e Cláudia V. Godoy Embrapa Soja Anne Dorrance Ohio State University
Figura 2 - Frequência de virulência a genes Rps de isolados de Phytophthora sojae coletados no Brasil
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Empresas
Agro “robô” Tropical Melhoramento e Genética
Empresa de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares aposta em estação automatizada para aumentar a produção e garantir mais qualidade às sementes
O
timizar o processo de análise do DNA da planta e obter um resultado mais preciso e em tempo menor tem sido uma busca constante das empresas de melhoramento genético e desenvolvimento de cultivares no Brasil. E investimentos para acelerar o processo de produção, com mais qualida-
de, estão sendo realizados pelo setor. É o caso da Tropical Melhoramento e Genética (TMG) que aposta em uma estação automatizada para obter sementes com maior agilidade e precisão. O minilaboratório é composto por diversos equipamentos que com o auxílio de um braço mecânico realiza o mapea-
mento genético das cultivares de soja e algodão da empresa e localiza com mais precisão as características desejadas. Os equipamentos estão montados na sede da TMG em Cambé, distante dez quilômetros de Londrina, no Paraná. Segundo o pesquisador da TMG na área de biotecnologia, Alexandre Garcia, este trabalho era realizado anteriormente de forma convencional, o que resultava em uma média de 500 análises diárias. Hoje, após um ano de utilização do “robô”, a produtividade aumentou em 2.000%, sendo possível analisar dez mil amostras, também em um turno de oito horas. “Uma das vantagens da estação é que como ela é automática é possível deixá-la, caso necessário, trabalhando 24 horas por dia, o que nos proporciona aumentar a capacidade e probabilidade de combinar características favoráveis em uma planta”, ressalta. Além da extração do DNA em larga escala, esta estação auxilia na busca mais precisa de aspectos de cada cultivar e ainda consegue ampliar o foco e analisar várias características ao mesmo tempo. O pesquisador da empresa explica que antes as cultivares pré-selecionadas que apresentavam resultados adequados em um dos quesitos estudados eram plantadas em campos experimentais. Somente após algum período de desenvolvimento da planta é que outras características poderiam ser melhores estudas. Já atualmente, as cultivares que serão plantadas possuem um mapeamento genético mais amplo. “Isso otimiza nossos processos internos e impacta até mesmo no melhor aproveitamento do espaço em vegetação da empresa”, relata. Garcia acrescenta que no final, o resultado são cultivares de soja e algodão de alta produtividade, mais resistentes a doenças e pragas e à exposição a fatores climáticos. A estação automatizada é fabricada pela empresa Agilent e foi montada de acordo com a necessidade específica da empresa. C Carolina Silveira, Cultivar
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Café
Café “minado”
O bicho-mineiro ou minador de folhas é uma das principais pragas que afetam o cafeeiro, responsável por graves prejuízos à cultura. Em regiões onde sua incidência não é frequente o manejo integrado com o uso de agroquímicos é recomendado quando for constatado nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelos inimigos naturais. Nos locais em que o inseto ocorre de forma frequente o controle deve ser realizado com inseticidas sistêmicos aplicados via solo, na época recomendada pelos fabricantes e complementado entre os meses de junho e outubro
O
bicho-mineiro, ou minador das folhas, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é uma das principais pragas do cafeeiro (Coffea spp.) no Brasil, principalmente nas regiões e épocas de temperatura mais elevada e de maior déficit hídrico. É uma praga exótica, que tem como região de origem o continente africano, oriundo provavelmente de mudas atacadas provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É considerada praga monófaga, por atacar somente cafeeiro. O surgimento da ferrugem-docafeeiro no Brasil, Hemileia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 1970 pode ser considerado um marco para que o bicho-mineiro ganhasse status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia, e a pleno sol, para o controle da ferrugem propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do bicho-mineiro, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.
Aspectos biológicos
O inseto adulto é uma pequena mariposa com 6,5mm de envergadura, que possui coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quando em repouso as asas anteriores cobrem as posteriores. Coloca os ovos na superfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente em seu interior, sem entrar em contato com a parte externa. Nessa fase vive dentro de lesões ou mina foliar, construída pelo próprio inseto, e quando completamente desenvolvida mede cerca de 3,5mm de comprimento. Após completo desenvolvimento abandona a folha
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Casal de adultos do bicho-mineiro pousado sobre uma folha de cafeeiro
Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina, tendo sido retirada a epiderme superior da folha na lesão
pela parte superior da mina e com o auxílio de um fio de seda desce até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra X. As lesões apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade. De modo geral e, principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas da parte superior das plantas. O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 dias e 87 dias, sendo mais rápido em temperaturas elevadas. A fase de lagarta, que é a que causa danos, dura de nove a 40 dias, passando por três fases (ecdises), e podem ocorrer de oito a 12 gerações ao ano.
em função da diminuição da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo devido à distribuição da praga. Em conseqüência, há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar. No sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido a uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3% e 41,5%.
Épocas de ocorrência
A presença do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores, como climáticos (temperatura e chuva principalmente), condições da lavoura (áreas mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas) e presença ou ausência de inimigos naturais (parasitoides, predadores e entomopatógenos como fungos e bactérias). As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, geralmente nas principais regiões cafeeiras, com início em junho a agosto e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses. Há casos em que a população aumenta em março-abril em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro. A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga. Ao contrário, a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de produtos cúpricos, para o controle da ferrugem, já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.
Dano
As lesões causadas pelas lagartas nas folhas reduzem sua capacidade de fotossíntese
Controle
Além do controle químico convencional, algumas formas de controle biológico natural ou aplicado podem auxiliar na redução da praga. Porém, nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos.
Casulo do bicho-mineiro construído por fios de seda no formato de X
Controle cultural
A utilização de quebra-ventos, ou arborização, com plantas apropriadas para esse fim, auxilia na redução do ataque da praga, que tem preferência por locais mais secos e arejados. São indicadas as leguminosas leucena (Leucaena leucocephala [Lam.]) e guandu (Cajanus cajan Millsp.).
Controle por comportamento
Já é conhecido o feromônio sexual do bicho-mineiro, que pode ser utilizado para monitoramento da praga e mesmo na captura de machos adultos, em armadilhas de feromônio e cola. Essa alternativa reduz a possibilidade de acasalamento e consequentemente a população da praga.
Controle biológico por predadores
O controle das lagartas do bicho-mineiro por predadores, feito principalmente com o uso de vespas (Hymenoptera: Vespidae), alcança em torno de 70% de eficiência. Os vespeiros formados nos cafeeiros,
Lagartas de bicho-mineiro retiradas do interior da lesão e vistas em maior aumento
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Fotos Paulo Rebelles Reis
Lesão ou mina produzida pelas lagartas do bicho-mineiro
apesar de poucos, em geral são destruídos pelos trabalhadores rurais, pois as vespas são agressivas e podem causar acidentes. Resta, portanto, a preservação de matas remanescentes e o reflorestamento com espécies nativas da região, o que contribuirá para a preservação e aumento das vespas predadoras que nelas se abrigam. Em condições de laboratório já foi verificado que larvas do predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) conseguem predar as fases de pré-pupa e pupa do bicho-mineiro, constituindo-se, assim, em mais um agente de controle biológico da praga.
Controle biológico por parasitoides
O parasitismo natural das lagartas de bicho-mineiro apresenta cerca de 18% de eficiência no controle da praga, feito principalmente por micro-himenópteros (Himenóptera: Braconidae, Eulophidae, Entedontidae etc).
Controle biológico por entomopatógenos
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), desde 1973, mostram que quando ocorrer 30% de folhas minadas, sem apresentarem rasgaduras provocadas por vespas predadoras, nos terços médio e superior das plantas, principalmente entre os meses de junho e outubro (período mais seco), há necessidade de ser efetuado o controle químico. Caso não seja feito, e as condições nos meses de agosto, setembro e outubro forem favoráveis à praga, os prejuízos serão graves. A pulverização de inseticidas somente quando a população atingir o nível de controle deve influir pouco sobre o equilíbrio biológico, pois se a praga apresenta um aumento populacional significa que os inimigos naturais não estão sendo eficientes e que as condições para aumento da praga estão mais favoráveis do que para aumento dos inimigos naturais. Tal fato justifica a adoção de medidas de controle para abaixar a população do bicho-mineiro,
Representação do ciclo evolutivo do bicho-mineiro das folhas do cafeeiro
Dos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou micro-organismos entomopatogênicos são os menos conhecidos, passando até mesmo despercebidos, embora possam causar epizootias quando as condições lhes são favoráveis. Já foram relatadas as presenças de bactérias e fungos em lagartas agonizantes ou mortas. As bactérias Erwinia herbicola (Entero bactéria ceae) e Pseudomonas aeruginosa (Pseudomona daceae) são apontadas como os micro-organismos mais eficientes até então conhecidos em epizootias de lagartas de bicho-mineiro, com ocorrência de 65% e 90%, respectivamente.
Controle químico
Embora não se saiba exatamente qual a população do bicho-mineiro capaz de causar dano econômico, os trabalhos realizados pela Empresa de Pesquisa
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restabelecendo o equilíbrio entre a praga e os inimigos naturais. A amostragem de folhas, para ser conhecida a população do bicho-mineiro, deve ser feita nos terços médio e superior das plantas, em função da distribuição do inseto. Recomenda-se evitar a coleta de folhas apicais dos ramos ou do interior das plantas. São indicadas, nesse caso, folhas do 3º ao 5º par, a partir do ápice do ramo. Caso não seja constatado o nível de controle (30%) não é recomendável o controle químico, pois esse percentual é indicativo de que somente o controle natural, por meio do parasitismo e do uso de predadores, e as condições climáticas estarão sendo suficientes para manter baixa a população da praga. Este nível de controle não se aplica aos cafeeiros novos, com até três anos de idade, onde a desfolha, mesmo em baixos níveis, é prejudicial à sua formação. O controle químico, quando realizado com produtos recomendados em pulverização (fosforado ou carbamato mais um piretroide) e com base no nível de controle da praga, não afeta de maneira significativa os inimigos naturais do bichomineiro. As lavouras devem ser inspecionadas constantemente na época crítica de ataque da praga, principalmente as muito expostas a ventos constantes. Na maioria das vezes o controle é necessário somente em alguns talhões do cafezal e as inspeções devem continuar até que comecem as chuvas mais frequentes e haja início de novas brotações. Uma segunda pulverização, nos talhões
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Detalhe da aplicação de inseticida sistêmico via líquida no solo
já pulverizados, somente deve ser realizada após 20 dias a 30 dias, se nas amostragens forem constatadas lagartas vivas dentro das minas. Caso haja condições extremamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro e fevereiro (veranico) pode ocorrer um pico nos meses de abril e maio, que também deve ser controlado. Essa situação é muito comum na região dos cerrados de Minas Gerais. Este pico não ocorre quando são aplicados inseticidas sistêmicos via solo na época das chuvas (imidacloprid e thiamethoxam), porém o efeito residual nem sempre é suficiente para manter baixa a população do inseto até junho, havendo necessidade de complementar o controle com pulverizações foliares. Diversos produtos, ou mistura de produtos, em pulverização, apresentam eficiência no controle do bicho-mineiro, tais como os fosforados chlorpyrifos, triazophos etc, o carbamato cartap e diversos piretroides, sendo que estes últimos, pelo
amplo espectro de ação que possuem, são mais prejudiciais aos parasitoides e predadores da praga. Em resumo, o manejo integrado do bicho-mineiro nas regiões onde sua incidência não é frequente fica restrito ao uso de pulverizações quando for constatado o nível de 30% de folhas minadas, sem a presença de rasgaduras produzidas pelas vespas predadoras. Nas regiões onde o inseto frequentemente se constitui em praga, o controle deve ser feito com inseticidas sistêmicos aplicados via solo, na época recomendada pelos fabricantes, e complementado com pulverização (entre
junho e outubro) caso seja constatado 30% de folhas minadas sem sinais de C predação. Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro
Barra de aplicação de inseticida sistêmico via líquida no solo
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Arroz
Proteção eficiente Diferentemente do que ocorre com a cultura da soja, em arroz irrigado a densidade populacional não chega a dificultar a penetração das gotas de fungicidas utilizados contra doenças foliares. Com isso, o estudo das características de cada ponta de pulverização tem papel fundamental no emprego correto da tecnologia de aplicação
A
das doenças, que era esperado pela maior duração do microclima estabelecido em densidades maiores (Tabela 1). Com isso, a tecnologia de aplicação para a cultura do arroz recai sobre o estudo das características de cada ponta de pulverização. Nas pontas de jato cônico, o núcleo conhecido como difusor serve para proporcionar movimento helicoidal ao jato líquido que por ele passa e então se abre em uma distribuição em cone. É denominado cone cheio quando o difusor tem um furo no centro e as gotas distribuem-se por toda a extensão do cone. Já no cone vazio, o difusor só tem furos nas laterais, fazendo com que as gotas concentrem-se somente na periferia do cone, que é o modelo de maior uso na agricultura. De acordo com o projeto da ponta, elas podem ser divididas em ponta Tipo Disco, que opera à pressão elevada e é indicado para aplicação de suspensões, como é o caso da calda cúprica, e a Tipo Ponta, que
opera à menor pressão e apresenta pulverização mais fina, sendo recomendada para aplicação de emulsões e soluções. Embora pontas cônicas sejam muito recomendadas para aplicações de fungicidas, produzem espectro de gotas muito finas, que são mais propensas à deriva. As pontas de jato leque plano são submetidas a pressões em torno de 100kPa a 400kPa, proporcionando gotas maiores que as de jato cônico, reduzindo a deriva na aplicação (Cunha et al, 2004). A característica desse jato pode ser de deposição contínua e em um só plano quando a distribuição do líquido na faixa de deposição é uniforme e pode ser de deposição descontínua quando a deposição é maior no centro da faixa, decrescendo simetricamente para os bordos. O jato de deposição descontínua é recomendado para ser usado em série, montado em barra, sobrepondose aos jatos vizinhos. Já as pontas de pulverização de jato Marcelo Madalosso
s doenças foliares podem ocasionar danos expressivos na produtividade e qualidade dos grãos de arroz. Desta forma, ferramentas de manejo químico de doenças têm apresentado resultados satisfatórios na cultura do arroz (Ottoni et al, 2000). Porém, é necessário observar alguns aspectos fundamentais da tecnologia de aplicação para que a máxima eficiência seja atingida. Diferentemente do observado para a cultura da soja, onde uma elevada densidade populacional pode oferecer grandes dificuldades à penetração de gotas e colocar em risco a proteção química (Figura 1), o arroz apresenta outras particularidades. Neste contexto, a variação na densidade de plantas não tem apresentado diferenças de grande magnitude, deixando de representar uma alternativa para maximizar a penetração e cobertura de produto (Figura 2). Além disso, o adensamento de plantas (até 80kg/ha) não favoreceu o aumento
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Figura 1 – Penetração e cobertura de gotas depositadas em cartões hidrossensíveis nas porções inferior (I) e médio (M) das plantas de soja. Itaara (RS).Regulagem para pontas de jato leque plano de uso ampliado - XR 11001 (172 kPa), jato plano duplo comum – TJ-60 11002 (206 kPa), cone vazio - TXA 8002 (241 kPa) e o Turbo TeeJet Duo - leque turbo (TT 11002)+ leque planto ampliado (XR 11002)) [206 kPa]
plano duplo leque possuem dois orifícios idênticos, que produzem uma distribuição do jato em leque voltado 30º para frente e outro 30º para trás em relação à vertical. Sua produção de gotas é de tamanho menor quando comparado a uma ponta de jato leque de vazão equivalente. A angulação do jato tende a ser mais incisiva na penetração e cobertura do produto no dossel inferior da cultura, condição indispensável para aplicação de fungicidas (Christofoletti, 1992). A escolha adequada da ponta de pulverização interfere diretamente nas características da formação e distribuição da gota, afetando a penetração e cobertura em todo dossel vegetativo. A alteração na deposição de defensivo na folha é, em última análise, determinante para proteção da planta. Neste contexto, características como o tipo de distribuição do jato ganha
Figura 2 – Penetração e cobertura de gotas depositadas em cartões hidrossensíveis nas porções inferior (I) e superior (S) das plantas de arroz. Restinga Seca – RS.Regulagem para espectro fino: duplo leque: TJ-60 11002 (200 kPa e 1,4 m.s-1), cone: TXA 8002 (500 kPa e 2,2 m.s-1) e leque plano: XR 11001 (350 kPa e 0,9 m.s-1)
importância quando se trabalha com plantas de arquitetura diferenciada, como o arroz. Diferentemente de padrões como soja, feijão e algodão, o arroz, assim como o trigo (dados não apresentados), permite maior penetração de gotas no interior do dossel por ocasião de jatos de distribuição plano vertical (Figuras 2 e 3). Jatos duplos ou cônicos possuem distribuição oblíqua em relação ao solo, adequados a culturas com disposições foliares palmadas, diferentemente do trigo e arroz. Neste caso, acobertura de gotas na porção superior da planta foi semelhante para essas últimas pontas citadas, porém, com o jato plano o depósito foi o dobro nesta mesma posição. Comportamento semelhante foi encontrado na leitura dos cartões da porção inferior da planta, onde os maiores depósitos foram proporcionados pelo jato plano, enquanto que para a mesma situa-
ção o leque duplo e o cone apresentaram redução da deposição de gotas de 35% e 52%, respectivamente (Figura 2). A menor deposição de defensivo comprometeu a extensão de área foliar protegida da planta, resultando em maior quantidade final de doença (AACPD) e redução na produtividade. Desta forma, para pontas de pulverização de espectro semelhantes, a forma de distribuição do jato passa a ser tão relevante quanto, sendo decisivo para aprimorar a penetração e cobertura de produto, refletindo na produtividade C final do arroz (Tabela 1). Marcelo Madalosso, Instituto Phytus Felipe Frigo Pinto, Lucas Foggiato e Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria
Tabela 1 – Área Abaixo da Curva de Progresso da Mancha Pardae Figura 3 – Penetração e cobertura de gotas depositadas em cartões hidrossensíveis nas porções inferior (I) e superior (S) das plantas de arroz (80 kg/ha). Laboratório TA - Itaara (RS). Regulagem para espectro fino: duplo leque: TJ-60 11002 produtividade da cultivar EPAGRI 114. Restinga Seca (RS), 2011 -1 -1 -1 (200 kPa e 1,4 m.s ), cone: TXA 8002 (500 kPa e 2,2 m.s ) e leque plano: XR 11001 (350 kPa e 0,9 m.s )
Densidades (Kg.ha-1) Testemunha 20 98.2 aA1 40 92.8 abA 60 87.7 bA 80 93.4 aA Médias 93.1 A 20 40 60 80 Médias
6779.7 cB 7892.8 aB 7604.9 bB 7782.7 abC 7515.0 C
Médias
AACPD TJ TXA 34.3 aC 63.6 aB 28.7 bC 53.3 bB 31.5 abC 52.1 bB 34.8 aC 60.5 aB 32.4 C 57.4 B Produtividade 7562.4 cA 7415.9 cA 8210.1 bA 8272.0 bA 8750.9 aA 8676.0 aA 8754.6 aAB 8680.1 aB 8319.5 AB 8261.1 B
XR 19.6 aD 22.1 aD 21.5 aD 20.5 aD 20.7 D 7514.0 cA 8365.9 bA 8826.8 aA 8941.8 aA 8412.1 A
53.7 a 49.2 b 48.2 b 52.3 a
7318.0 c 8185.2 b 8464.6 a 8539.8 a
1Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
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Algodão
Severidade avaliada
Com a adesão de produtores ao cultivo de algodão adensado, novos desafios surgem no manejo de pragas e doenças como a mancha de ramulária, devido ao rápido fechamento da copa e ao sombreamento da parte inferior, que entre outros aspectos resultam em maior dificuldade na penetração de defensivos em pontos estratégicos para o controle químico. Conhecer melhor o comportamento das cultivares utilizadas nesse sistema é um passo importante para enfrentar o problema
A
pesquisa procura alternativas para que a cultura do algodoeiro tenha maior sustentabilidade no Cerrado, com menor utilização de defensivos químicos, redução dos custos de produção e maior rentabilidade. Atualmente alguns produtores já aderiram ao sistema de cultivo de algodoeiro “adensado”, em que é utilizado o espaçamento entre 0,45m e 0,50m ao invés de 0,76m ou 0,90m entre linhas com o objetivo de reduzir os custos de produção. Os cotonicultores presumem que, ao usarem esse sistema, o ciclo de cultivo será reduzido de três a quatro semanas, consequentemente, minimizando os custos de produção em algumas etapas durante o ciclo da cultura. Porém, esse sistema de cultivo, em safrinha, é pouco estudado no Brasil. Severino et al (2004) ressaltam que para se utilizar a tecnologia do adensamento da população de plantas é necessário que se façam vários estudos, já que esta tecnologia precisa ser adaptada a cada região, considerando as características locais. O rápido fechamento da copa do algodoeiro e o sombreamento da parte inferior podem ocasionar condições propícias ao desenvolvimento de doenças e pragas, principalmente se houver muita chuva na fase final do ciclo, aumentando a umidade do ar e diminuindo a temperatura. Wright et al (2008) relatam que o algodão adensado pode ter um impacto significativo sobre o manejo de insetos, porém, poucas informações estão disponíveis. Outro aspecto que deve ser estudado é quanto à aplicação de defensivos, pois devido ao rápido “fechamento” da lavoura, pode-se verificar uma maior dificuldade de penetração de inseticidas e fungicidas na hora do manejo de pragas e doenças. Existem muitas dúvidas em relação ao plantio de algodoeiro no sistema adensado quanto à severidade das doenças que podem incidir sobre a cultura nesse sistema. Essas dúvidas ainda não estão totalmente elucidadas pela pesquisa, principalmente quando se trata do Brasil. Portanto, objetivou-se com este trabalho avaliar a severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e
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Fotos Charles Echer
Delta Opal em cultivo adensado, o número de aplicações necessárias para o controle químico dessa doença, bem como comparar a produtividade de algodão em caroço (arroba/hectare) dessas cultivares neste sistema.
Metodologia
O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Círculo Verde Assessoria Agronômica, em Luiz Eduardo Magalhães, Bahia. Foram avaliadas e comparadas as cultivares de algodoeiro BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal em cultivo adensado a 0,50m, quanto ao número de aplicações de fungicidas necessárias ao controle da mancha de ramulária do algodoeiro durante as diferentes fases do ciclo da cultura, conforme descrito na Tabela 1. A primeira aplicação foi realizada no aparecimento dos primeiros sintomas da mancha de ramulária. As aplicações subsequentes foram adotadas em intervalos de 15 dias. As avaliações da severidade da mancha de ramulária foram realizadas quinzenalmente, atribuindo-se notas de severidade da doença de acordo com a escala de notas contidas na Tabela 2. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso, fatorial 4 x 4, sendo 4 cultivares (BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal) x 4 (número de aplicações: 0, 2, 3 e 4) e quatro repetições, totalizando 64 parcelas experimentais, sendo cada parcela constituída por seis linhas de plantio, medindo 8m de comprimento. A colheita manual foi realizada nas quatro linhas centrais de cada parcela, descartando-se 0,50m de cada extremidade, e foi efetuado o cálculo de produtividade por tratamento, em arroba por hectare de algodão em caroço. Tabela 1 - Relação dos tratamentos e aplicações de fungicidas utilizados no controle da mancha de ramulária do algodoeiro em cultivo adensado – Safra 2010/2011 – Luís Eduardo Magalhães - Bahia Tratamento 1 – BRS 286 2 – FM 910 3 – FMT 707 4 – Delta Opal 5 – BRS 286 6 – FM 910 7 – FMT 707 8 – Delta Opal 9 – BRS 286 10 – FM 910 11– FMT 707 12 – Delta Opal 13 – BRS 286 14 - FM 910 15 – FMT 707 16 – Delta Opal
1ª Aplicação Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra
2ª Aplicação Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra
3ª Aplicação Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra
4ª Aplicação Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra Priori Xtra
A pesquisa brasileira tem travado uma batalha árdua para que o algodoeiro se mantenha sustentável e com boa rentabilidade no Cerrado
Resultados
Na Tabela 3 estão relacionados os dados referentes à data de plantio das cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal, aos períodos da emergência das plântulas, das aplicações dos fungicidas, dias após a emergência que as plântulas receberam os tratamentos com fungicidas, umidade relativa (%), temperatura (ºC) e velocidade do vento (KPA) no horário da aplicação dos fungicidas. Na avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal nas diferentes fases de cultivo do algodoeiro submetidas a 0, 2, 3 e 4 aplicações com fungicidas, observou-se que houve diferença significativa entre as cultivares avaliadas em todas as avaliações, segundo teste F (Tabela 4). Houve também efeito significativo em relação ao número de aplicações realizadas, exceto na primeira e na segunda avaliação. A interação cultivares x aplicações foi significativa na terceira, quarta, quinta e sexta avaliação, segundo teste F.
As avaliações da severidade da mancha de ramulária foram realizadas aos 41, 58, 72, 89, 99 e 112 dias após a emergência (DAE) das plântulas. Os resultados das avaliações estão apresentados nas Tabelas 5 e 6. Na Tabela 5 observa-se que não houve diferença significativa entre o número de aplicações de fungicidas nas duas primeiras avaliações, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. A primeira avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286, FM 901, FMT 707 e Delta Opal foi realizada aos 41 Dias Após a Emergência (DAE) das plântulas de algodoeiro. Essa observação foi realizada antes da primeira aplicação de fungicida, indicando que o nível de severidade da doença se encontrava uniforme nas parcelas avaliadas, com algumas folhas do baixeiro apresentando pontos de coloração branca/mancha azulada conforme descrito na Tabela 2, exceto para a cultivar FMT 707,
Tabela 2 - Escala de notas para avaliação da severidade da mancha de ramulária em algodoeiro Nota 1,0 1,25 1,50 1,75 2,0 2,25 2,50 2,75 3,0 3,25 3,50 3,75 4,0 4,25 4,50 4,75 5,0
Descrição Sintomas Planta sem sintomas Algumas folhas do baixeiro apresentando pontos de coloração branca / mancha azulada Folhas do baixeiro apresentando pontos de coloração branca Folhas do baixeiro apresentando pequenas manchas de coloração branca (<5% da área foliar) Planta com até 5% de área foliar infectada, sem incidência no terço médio Plantas com 10% da área foliar do baixeiro infectada sem incidência no terço médio Plantas com 15% da área foliar do baixeiro infectada sem incidência no terço médio Plantas com 20% da área foliar do baixeiro infectada sem incidência no terço médio Planta com 25% de área foliar do baixeiro infectada e com incidência no terço médio Plantas com 30% da área foliar do baixeiro infectada e com 5% de incidência no terço médio Plantas com 40% da área foliar do baixeiro infectada e com 10% de incidência no terço médio Plantas com 50% da área foliar do baixeiro infectada e com 15% incidência no terço médio Planta com 50% de área foliar do baixeiro infectada e com incidência no terço superior (ponteiro) Plantas com 5% da área foliar do ponteiro infectada e início da queda das folhas do baixeiro Plantas com 10% da área foliar do ponteiro infectada e queda das folhas do baixeiro Plantas com 15% da área foliar do ponteiro infectada e queda das folhas do baixeiro Planta com área foliar infectada acima de 50%, incidência no terço superior e queda acentuada das folhas no terço inferior
Fonte: Chitarra et. al, 2008
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Tabela 3 - Cultivares utilizadas no controle químico da mancha de ramulária no experimento de algodoeiro adensado, data do plantio, data da emergência, data das aplicações dos fungicidas, dias após a emergência (DAE), umidade relativa do ar (%), temperatura (ºC) e vento (KPA) na hora das aplicações dos tratamentos com fungicidas. Fazenda Mimoso – Luís Eduardo Magalhães – BA. Safra 2010 / 2011 Cultivares BRS 286 FM 910 FMT 707 D. Opal
Data Plantio Data Emergência Data das aplicações Dias após emergência (DAE) 41 26/01/11 02/02/11 1ª =15/03/11 58 2ª =01/04/11 72 3ª =15/04/11 89 4ª =02/05/11
UR (%) 62,3 61,8 70,4 59,4
T (ºC) 26,8 27,2 25,5 28,1
Vento (KPA) 2a8 3 a 10 3 a 12 5 a 14
*Tratamentos: vide Tabela 1
Tabela 4 - Resumo das análises de variâncias da severidade da mancha de ramulária em sete épocas de avaliação nas cultivares de algodoeiro BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal e submetidas a 0, 2, 3 e 4 aplicações com fungicidas. Fazenda Mimoso – Luís Eduardo Magalhães – BA. Safra 2010/2011 FV
GL
Blocos Cultivares (A) Aplicações (B) AxB Resíduo Média CV
3 3 3 9 45
1 0,0852ns 0,2806** 0,0040ns 0,0112ns 0,0393 1.1969 16,56
Quadrados Médios Avaliações da severidade da mancha de ramulária 3 4 5 2 0,0310ns 0,0281ns 0,0102ns 0,0193ns 24,5544** 30,0172** 31,9093** 4,8222** 0,4110** 0,6118** 1,1402** 0,0243ns 0,1742** 0,1593** 0,0897** 0,0059ns 0,3100 0,0330 0,0200 0,0134 2,8531 3,0953 3,3047 1,8234 6,14 5,86 4.28 6,35
6 0,0506ns 32,9802** 2,4839** 0.0889** 0,0206 3,5016 4,09
** ,*,ns, significativo a 1% e 5% e não significativo, respectivamente, pelo Teste F.
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constatadas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações, que não diferiram das plantas que receberam duas pulverizações (B2) e das plantas que receberão três (B3) pulverizações. Observa-se também que a menor nota da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas. Charles Echer
que não apresentava nenhum sintoma da doença, diferindo significativamente das demais cultivares. A segunda avaliação foi procedida aos 58 DAE, ou seja, 17 dias após a primeira pulverização. Nessa avaliação não houve diferença significativa entre as plantas das parcelas que receberam uma aplicação e as plantas que não receberam aplicação, sem fungicida. Esse fato deve-se à baixa severidade da doença nas plantas das parcelas avaliadas. A cultivar FMT 707 não apresentou sintomas da mancha de ramulária, diferindo significativamente das demais cultivares. Na terceira, quarta, quinta e sexta avaliação da severidade da mancha de ramulária, observou-se diferença significativa entre o número de aplicações de fungicida dentro das cultivares avaliadas (Tabela 6), exceto para a cultivares BRS 286 e FMT 707 na terceira e quarta avaliação, constatando-se que não houve diferença significativa entre o número de aplicações com fungicida nas plantas avaliadas. Na terceira avaliação, em relação à cultivar FM 910, as plantas que vão receber quatro (B4) pulverizações diferiram significativamente das plantas que não receberam pulverização (B0) ou receberam duas (B2) ou irão receber três (B3) pulverizações. As plantas que receberam duas pulverizações (B2) ou irão receber três (B3) pulverizações não diferiram das plantas que não foram pulverizadas com fungicida (B0). Em relação à cultivar Delta Opal, as maiores notas da severidade da mancha de ramulária foram
Na quarta avaliação, o comportamento da cultivar FM 910 foi semelhante à terceira avaliação quanto à severidade da doença em relação ao número de pulverizações com fungicida. As plantas que receberam duas pulverizações (B2) ou três (B3) pulverizações não diferiram das plantas que não foram pulverizadas com fungicida (B0), porém, diferiram das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações. Em relação à cultivar Delta Opal (A4), as maiores notas da severidade da mancha de ramulária foram constatadas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0) ou receberam duas (B2) e três (B3) pulverizações, diferindo significativamente das plantas que irão receber quatro (B4) pulverizações. Observa-se também que a menor nota da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas. Na quinta avaliação, realizada aos 99 DAE, observa-se que as maiores notas de severidade da mancha de ramulária na cultivar BRS 286 foram constatadas nas plantas que não receberam pulverização, diferindo significativamente das plantas que receberam três (B3) ou quatro (B4) pulverizações. As plantas das cultivares FM 910 e Delta Opal que receberam quatro (B4) pulverizações obtiveram as menores notas da doença, diferindo significativamente das plantas de receberam 0 (B0), duas (B2) ou três (B3) pulverizações. Em relação à cultivar FMT 707, a maior nota de severidade da doença foi observada nas plantas que não receberam pulverização, diferindo significativamente das plantas que receberam duas, três ou quatro pulverizações. Observa-se também que a menor nota
O espaçamento entre linhas tem influenciado na ocorrência e no manejo da ramulária na cultura do algodão
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da severidade da doença entre as cultivares avaliadas foi constatada na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das demais cultivares, independentemente do número de aplicações com fungicidas. Na sexta avaliação da severidade da mancha de ramulária nas cultivares BRS 286 e FM 910, as maiores notas de severidade foram obtidas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que receberam duas (B2), três (B3) e quatro (B4) pulverizações. No entanto, as plantas destas cultivares que receberam duas e três pulverizações obtiveram notas de severidade da doença superiores às plantas que receberam quatro pulverizações, diferindo, portanto, significativamente. Nessa avaliação, em relação à cultivar FMT 707, as maiores notas de severidade foram obtidas nas plantas que não receberam pulverização com fungicida (B0), diferindo significativamente das plantas que receberam duas (B2), três (B3) e quatro (B4) pulverizações. As plantas da cultivar Delta Opal que não receberam pulverização ou receberam duas pulverizações com fungicida obtiveram as maiores notas de severidade da mancha de ramulária, diferindo significativamente das plantas que receberam três e quatro pulverizações, que também diferiram entre si. Nesta avaliação observou-se, ainda, que as menores notas de severidade da mancha de ramulária foram obtidas na cultivar FMT 707, diferindo significativamente das cultivares BRS 286, FM 910 e Delta Opal, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. Observou-se também que o fungicida utilizado não causou fitotoxicidade nas plantas tratadas e que não houve incidência de outras doenças nas plantas avaliadas. Nas condições que este estudo foi conduzido, na Fazenda Mimoso, município de Luís Eduardo Magalhães, safra 2010/2011, para o controle da mancha de ramulária em algodoeiro adensado com as cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal, observou-se que não houve diferenças significativas entre o número de pulverizações com fungicida para produtividade de algodão em caroço (arroba por hectare) (Tabela 7), segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. Chitarra & Barbosa (2011) relataram em experimento semelhante com as cultivares BRS 286, Delta Opal e FMT 707 em espaçamento de 0,76m que o número de aplicações com fungicidas influenciou na produtividade do algodoeiro. As plantas que receberam quatro pulverizações foram mais produtivas que as plantas que receberam uma, duas ou não receberam pulverização.
Tabela 5 - Severidade média da mancha de ramulária (R. aerola) no cultivo adensado do algodoeiro nas cultivares BRS 286, FM 910, FMT 707 e Delta Opal referente ao número de aplicações de fungicidas: 0 (B0); 2 (B2); 3 (B3) e 4 (B4). Fazenda Mimoso – Luís Eduardo Magalhães – BA. Safra 2010/2011 Cultivares
BRS 286 FM 910 FMT 707 Delta Opal Média
BRS 286 FM 910 FMT 707 Delta Opal Média
Número de Aplicações Primeira Avaliação (41 DAE*) B4 B0 B2 B3 1.20 1.30 1.32 1.27 1.30 1.27 1.20 1.32 1.00 1.00 1.00 1.00 1.30 1.27 1.17 1.20 1.20a 1.21a 1.17a 1.19a Segunda Avaliação (58 DAE) B4 B0 B2 B3 2.15 2.15 2.10 2.02 2.17 2.10 2.07 2.02 1.00 1.00 1.00 1.00 2.17 2.05 2.07 2.07 1.87a 1.82a 1.81a 1.77a
Tabela 6 - Severidade média da mancha de ramulária (R. aerola) no cultivo adensado do algodoeiro nas cultivares BRS 286 (A1), FM 910 (A2), FMT 707 (A3) e Delta Opal (A4) referente ao número de aplicações de fungicidas: 0 (B0); 2 (B2); 3 (B3) e 4 (B4). Fazenda Mimoso – Luís Eduardo Magalhães – BA. Safra 2010/2011 Cultivares
Média 1.27A 1.27A 1.00B 1.23A
Média 2.10A 2.09A 1.00B 2.09A
Médias de tratamentos seguidas pela mesma letra minúscula na linha e pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si, segundo teste de Tukey (5%). *DAE = Dias após a emergência
Em relação às cultivares, a cultivar FMT 707 obteve a maior produtividade média de algodão em caroço, 183,51 arrobas por hectare, diferindo significativamente das cultivares BRS 286 e Delta Opal, com produtividades de 166,16 arrobas/hectare e 159,79 arrobas/ hectare, respectivamente, segundo o teste de comparação de médias de Tukey ao nível de significância de 5%. Não houve diferença significativa em produtividade entre as cultivares BRS 286, FM 910 e Delta Opal e entre as cultivares FMT 707 e FM 910. De acordo com Chitarra & Barbosa (2011) em experimento semelhante com as cultivares BRS 286, Delta Opal e FMT 707 em espaçamento de 0,76m, a cultivar FMT 707 obteve produtividade média de 257,18 arrobas/hectare, superior às produtividades das cultivares BRS 286 e Delta Opal, com 246,00 arrobas/hectare e 244,37 arrobas/hectare, respectivamente. A partir do experimento foi possível chegar a algumas constatações. Dentre as cultivares avaliadas, BRS 286, FM 910 e Delta Opal mostraram-se mais suscetíveis à mancha de ramulária em comparação com a cultivar FMT 707. O número de aplicações de fungicida utilizado nesse estudo influenciou no controle da mancha de ramulária, porém, não afetou a produtividade do algodoeiro. A maior produtividade de algodão em caroço (arroba/ hectare) no cultivo adensado do algodoeiro foi C obtida pela cultivar FMT 707. Luiz Gonzaga Chitarra, Embrapa Algodão Cleiton Antônio Barbosa, Círculo Verde Ass. Agr. & Pesq.
B d. A1 B d. A2 B d. A3 B d. A4 Média
B0 3.62aA 3.47aA 1.00a B 3.80aA 2.97
B d. A1 B d. A2 B d. A3 B d. A4 Média
B0 3.95aA 3.85aA 1.17aB 4.12aA 3.27
B d. A1 B d. A2 B d. A3 B d. A4 Média
B0 4.37aA 4.20aA 1.55aB 4.25aA 3.59
B d. A1 B d. A2 B d. A3 B d. A4 Média
B0 4.82aA 4.72aA 2.00aC 4.45aB 4.00
Número de Aplicações Terceira Avaliação (72 DAE*) B4 B2 B3 3.50aA 3.47aA 3.45aA 3.62aA 3.57aA 2.70bB 1.00aB 1.00aB 1.00aC 3.60abA 3.50abA 3.32bA 2.61 2.93 2.88 Quarta Avaliação (89 DAE) B4 B2 B3 3.85aA 3.75aA 3.75aA 3.92aA 3.90aA 3.02bB 1.00aB 1.00aB 1.00aC 3.90aA 3.82abA 3.50bA 2.81 3.16 3.11 Quinta Avaliação (99 DAE) B4 B2 B3 4.15abA 3.97bcA 3.77cA 4.17aA 4.07aA 3.37bB 1.10bB 1.05bB 1.05bC 4.15aA 4.00aA 3.62bAB 2.95 3.39 3.27 Sexta Avaliação (112 DAE) B4 B2 B3 4.37bA 4.12bA 3.72cA 4.40bA 4.20bA 3.72cA 1.17bB 1.15bB 1.07B 4.32aA 4.05bA 3.70cA 3.05 3.56 3.38
Média 3.51 3.34 1.00 3.55
Média 3.82 3.67 1.04 3.83
Média 4.06 3.95 1.18 4.00
Média 4.26 4.26 1.35 4.13
Médias de tratamentos seguidas pela mesma letra minúscula na linha e pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si, segundo teste de Tukey (5%). *DAE = Dias após a emergência.
Tabela 7 - Tratamentos: Número de aplicações de fungicida: 0(B0); 2 (B2); 3 (B3); 4 (B4) e produtividade média de algodão em caroço (@/ha), para o controle da mancha de ramulária nas cultivares FMT 707, FM 910, BRS 286 e Delta Opal. Fazenda Mimoso – Luís Eduardo Magalhães - BA. Safra 2010/2011 Tratamentos (número de aplicações) B0 B2 B3 B4 Cultivares FMT 707 FM 910 BRS 286 Delta Opal C.V
@/ha 171.47A 170.31A 171.31A 166.22A 183.51A 169.86AB 166.16B 159.79B 10.53
Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, segundo teste de Tukey (5%).
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Feijão
Branco fatal
Fotos Margarida Fumiko Ito
Causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum o mofo branco é agressivo, com poder de levar a 100% de perdas na cultura do feijão. O tratamento de sementes e a adoção do controle químico na fase de florescimento estão entre as estratégias recomendadas para o manejo eficiente, que deve ocorrer de forma integrada e preventiva
A
doença mofo branco é causada pelo patógeno Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, fungo polífago que pode afetar mais de 200 gêneros de plantas, abrangendo 408 espécies, que compreendem desde culturas de alto potencial econômico a plantas daninhas. Essa doença é conhecida também como podridão branca, podridão aquosa, podridão de esclerotinia e murcha de esclerotinia. A ocorrência dessa doença já foi relatada em muitos países, causando sérios danos a várias culturas, com prejuízos na produção. Ocorre com maior severidade nas culturas em países de clima temperado a subtropical e regiões com clima ameno, sob alta umidade relativa e do solo. No Brasil, a doença mofo branco foi relatada pela primeira vez em 1921, no estado de São Paulo, em plantas de batata e, atualmente, encontra-se amplamente disseminado, com maior ocorrência nos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, como também em regiões de clima ameno, em condições de alta umidade. Essa doença tem sido relatada em várias culturas como alface, algodão, amaranto, amendoim, batata, canola, cenoura, ervilha, feijão, fumo, girassol, guandú, hortelã, repolho, soja, tomate, trevo, quinoa, dentre outras, além de plantas daninhas como picão, carrapicho, caruru, mentrasto e vassoura. As plantas daninhas hospedeiras de S. sclerotiorum e as plantas tigueras de cultivos de plantas, também hospedeiras desse patógeno, podem multiplicar o fungo, com a formação de grande quantidade de estruturas de resistência, os escleródios, que caem ao solo ou ficam nos restos culturais e podem sobreviver por muitos anos; dessa forma, o potencial de inóculo de S. sclerotiorum pode aumentar muito, e na instalação de uma cultura suscetível, sob baixa temperatura e alta umidade, principalmente do solo, a doença poderá ocorrer com alta severidade. No feijoeiro as perdas podem chegar a 100%, se não forem adotadas medidas preventivas de controle.
Introdução do patógeno
O fungo S. sclerotiorum pode ser introduzido em uma área através de sementes de feijão contaminadas, na forma de micélio dormente, assim como pode ser levado em contaminação concomitante, em forma de escleródios misturados às sementes (Figura 1). As estruturas de reprodução do fungo S. sclerotiorum, os ascósporos, podem ser disseminadas pelo vento e, ao atingirem a cultura de feijão, têm capacidade para iniciar o desenvolvimento da doença, se as condições climáticas forem favoráveis. Outra forma da área ser contaminada por S. sclerotiorum é pelo uso de máquinas e implementos agrícolas infectados com estru-
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Figura 1 - Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, contaminação concomitante às sementes de feijão: A) escleródios; B) Escleródios misturados às sementes; C) Formação de escleródios na vagem, internamente
turas do fungo. Água de irrigação ou de chuva, insetos, o próprio homem e animais podem introduzir o fungo S. sclerotiorum numa área, pelo transporte de estruturas do fungo e de restos culturais contaminados. Adubação de culturas com dejetos de animais alimentados com material contaminado com o fungo S. sclerotiorum pode conter escleródios que se desenvolverão sob condições favoráveis. Uma vez introduzido em uma área, o fungo S. sclerotiorum é de difícil erradicação, devido à rápida multiplicação de escleródios, em grande quantidade, além de afetar mais de 408 espécies de plantas e ser viável por mais de cinco anos no solo. Dessa forma, é importante evitar a sua introdução utilizando-se as várias formas de controle.
Condições favoráveis
O fungo S. sclerotiorum desenvolve-se bem a temperaturas de 11ºC a 25ºC, porém, pode se desenvolver em uma ampla faixa, de 5ºC a 30ºC, sob alta umidade relativa e do solo. Culturas de feijão no período de outonoinverno, sob irrigação, são mais afetadas, porém, têm-se observado ocorrências também em outras épocas de cultivo, em períodos chuvosos. Culturas em solo compactado, sob excesso de umidade, tendem a sofrer maior ataque por S. sclerotiorum. O estádio mais propício ao início do aparecimento do mofo branco é quando o feijoeiro atinge a fase de fechamento da cultura, normalmente quando da emissão dos primeiros botões florais, sendo que a adubação em excesso com nitrogênio também favorece o desenvolvimento de S. sclerotiorum. A falta de rotação de culturas com plantas não hospedeiras de S. sclerotiorum contribui para o aumento do potencial de inóculo no solo.
planta, que toma a coloração palha. A partir do micélio, são formados inúmeros escleródios, nas partes externa e interna das plantas. Na colheita, muitos desses escleródios caem ao solo (Figura 2).
Controle do mofo branco
É importante o uso de sementes certificadas de feijão, para não introduzir o fungo na área, como também o tratamento de sementes, de acordo com a época de semeadura e histórico da área onde será semeada. A rotação de culturas com gramíneas, como aveia, milheto, milho-doce, sorgo, trigo, auxilia na redução do potencial de inóculo de S. Sclerotiorum no solo. O uso de cultivar de feijão de porte ereto, com maior espaçamento entre linhas e plantas, auxilia no controle, pois a maior aeração na cultura diminui a umidade e desfavorece as condições de desenvolvimento da doença mofo branco. É importante a escolha da área e a época de semeadura de feijão. O plantio direto na palha, como de braquiária, tem apresentado bons resultados, pois além de aumentar a população de microrganismos biocontroladores de S. Sclerotiorum dificulta a entrada de luz, necessária para a formação dos apotécios. A palha também forma barreira física, que impede os ascósporos de alcançarem a parte
superior à palha. Outra medida para reduzir o número de escleródios no solo é enterrá-los a 20cm ou 30cm de profundidade. É importante ter cuidado com a adubação nitrogenada no feijoeiro, pois o excesso de nitrogênio propicia o ataque de S. sclerotiorum. O controle de plantas daninhas e de plantas voluntárias suscetíveis a S. sclerotiorum pode evitar o aumento do seu potencial de inóculo. É importante limpar e lavar máquinas e implementos agrícolas utilizados em áreas contaminadas com S. sclerotiorum, para evitar a introdução ou disseminação desse fungo. Em relação a controle biológico do mofo branco, são comercializadas formulações de Trichoderma spp., em forma líquida ou em pó. No entanto, é importante avaliar a qualidade do produto, pois em alguns casos pode não conter a concentração adequada do fungo ou estar contaminado, principalmente com bactérias (às vezes até antagônicas ao fungo). O controle químico deve ser preferencialmente realizado de forma preventiva, para o fungicida agir de forma eficiente. A época do florescimento do feijoeiro, quando normalmente coincide com o fechamento da cultura, é a fase mais propícia ao início do desenvolvimento da doença. Portanto, nessa etapa deve-se redobrar a atenção na cultura, para não perder o momento certo de se iniciar o controle químico. O fungicida deve atingir o alvo: escleródios e apotécios no solo, ramos, folhas, flores e pétalas, com cobertura adequada. Repetir aplicações, conforme o monitoramento indicar necessidade, seguindo as recomendações do fabricante. C Margarida Fumiko Ito, João José Dias Parisi e Marcio Akira Ito, IAC
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Sintomas da doença
O sintoma inicial caracteriza-se por manchas de aspecto encharcado, em qualquer parte aérea do feijoeiro, iniciando-se em forma de reboleiras e podendo atingir extensas áreas. Sob alta umidade, forma-se o micélio branco do fungo sobre o tecido afetado, as lesões se alastram, podendo evoluir até a morte da
Figura 2 - Sclerotinia sclerotiorum em feijão: A. Murcha de plantas; B. Morte de plantas; C. Vagens e ramos infectados, com coloração palha; D. Morte em reboleira; E. Formação de micélio cotonoso; F. Escleródios infestando o solo
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Coluna ANPII
Evolução continuada
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Desde o início da produção em 1956 o uso de inoculantes no Brasil passou por fatos marcantes, aos quais se somam a “tropicalização” da soja e a criação da ANPII
produção de inoculantes no Brasil foi iniciada em 1956 e ao longo de sua história houve fatos marcantes que serviram como marcos definitivos para a evolução da tecnologia e sua adoção pela maioria esmagadora dos agricultores brasileiros. Alguns fatos serviram como pontos fortes para a adoção do uso da inoculação em quase todas as lavouras de soja no solo brasileiro. Um deles foi a “tropicalização” da soja, com a criação de cultivares para baixas latitudes, permitindo sua bem-sucedida carreira no cerrado brasileiro. Este foi um dos casos de maior sucesso da pesquisa agropecuária brasileira. No que se refere ao inoculante, também houve um trabalho com resultados
do Brasil se deveram às pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), à Secretaria de Agricultura daquele estado e ao Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas do Paraná, as pesquisas no cerrado tiveram contribuição importante da Embrapa, em especial no trabalho da pesquisadora Johanna Dobereiner. Um segundo fato que também contribuiu de forma acentuada para a evolução do uso de inoculantes no Brasil foi a criação da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), no ano de 1990. A Associação desde o início congregou as principais empresas em torno de uma agenda mínima de ações conjuntas, tendo como principal ponto
de inoculantes, financiando ações de divulgação por parte da pesquisa. Atualmente, a associação tem financiado parte do trabalho de divulgação dentro do programa ABC, do Mapa, bem como pesquisas para incrementar o potencial de fixação de nitrogênio e, ao mesmo tempo, facilitar o uso do produto pelo agricultor. O mercado de inoculantes também passou por grandes mudanças durante estes anos. De um produto sem maior expressão, pouco conhecido pelos agricultores, muitas vezes considerado de pouca importância para a agricultura, tornou-se insumo de “primeira escolha” por parte do agricultor. Na verdade, hoje não se concebe mais uma lavoura de soja que não utilize inoculante, em especial por parte de agricultores mais
Na verdade, hoje não se concebe mais uma lavoura de soja que não utilize inoculante, em especial por parte de agricultores mais tecnificados fantásticos, com a adaptação de estirpes de Bradyrhizobium aos solos e às condições do cerrado brasileiro. As produtividades alcançadas pela soja naquelas regiões, com o uso do inoculante como única fonte de N, atestam o sucesso das tecnologias. Se por um lado a seleção e a introdução de Bradyrhizobium nos solos do Sul
uma forte interação com as áreas de pesquisa e com o setor de fiscalização, contribuindo para o desenvolvimento de novas tecnologias e para o aperfeiçoamento da legislação. Mais tarde, com a criação de um fundo de pesquisa e divulgação, foram aportados recursos para pesquisa, manutenção do banco de estirpes na Fepagro e divulgação do uso
tecnificados. A qualidade dos inoculantes está hoje em patamar internacional. Podem existir inoculantes tão bons quanto os brasileiros, mas não melhores. Os agricultores, por sua vez, passaram a ser mais exigentes, questionando concentração do produto, suas condições de uso e outros requisitos cada vez mais sofisticados para acompanhar a evolução pela qual passou e está passando a agricultura brasileira como um todo. De um produto considerado sem diferenciais, hoje há critérios para a escolha de marcas, de tipos de inoculantes, da assistência técnica prestada pelas empresas. A entrada de grandes empresas multinacionais no segmento, antes dominado por pequenas empresas, mostra que o inoculante passou a ter importância no cenário do agronegócio brasileiro, contribuindo para fazer com que o Brasil assumisse esta posição de C destaque no cenário mundial. Solon de Araujo Consultor da ANPII
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Coluna Agronegócios
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etorno à discussão do desafio de eliminar a fome no planeta Terra, no futuro próximo, porque ainda vislumbro ceticismo e pessimismo sobre a nossa capacidade de atender à demanda por alimentos. Tenho especial predileção por usar o ano de 2050 como referência, pois, além de ser a metade do século, marca o início da década durante a qual se estima que a população mundial se estabilizará, diminuindo nas décadas seguintes. Logo, nosso maior desafio aparente será produzir alimentos para suprir a demanda até aquela data, pois, a partir dela, a demanda decresce. Porém, não se trata, apenas, de atender ao crescimento vegetativo da população (cerca de 2,5 bilhões de novos habitantes), mas de resgatar o déficit alimentar hoje existente (um bilhão de pessoas, de acordo com a FAO). Além disso, será necessário atender novas demandas decorrentes das mudanças demográficas, como o envelhecimento da população, com produção de alimentos de mais alta qualidade, inócuos e com propriedades funcionais.
Menos perdas, mais acesso
Como regra geral, a fome não decorre da baixa oferta, mas de restrições de acesso da população aos alimentos. A primeira causa que nos vem à mente é a pobreza, portanto, políticas abrangentes de inserção social serão fundamentais. Porém, existem outras causas, como guerras, conflitos tribais, terrorismo, comunidades isoladas e uma série de restrições que necessitam ser eliminadas. Ao ataque de pragas na lavoura são atribuídas perdas que podem chegar a 20%30%. Entre a fazenda e o supermercado ocorrem perdas por pragas, deficiências de transporte, de armazenamento e de refrigeração, tempo curto de prateleira, falta de classificação, dentre outras, que atingem um terço dos alimentos produzidos no mundo. Depois do supermercado, as perdas podem ser igualmente grandes, principalmente nos países ricos. Por exemplo, estimativas indicam que nos Estados Unidos e na Europa, entre 30% e 40% dos alimentos acabam na lata do lixo, sem ser lixo! Portanto, se forem eliminados as perdas e os desperdícios, se a logística e a infraestrutura forem adequadas e se políticas de acesso à alimentação forem implementadas, seria possível alimentar a população atual do mundo, sem restrições, com pequeno acréscimo sobre as áreas produtivas atuais.
Segurança alimentar Tecnologia adequada
O déficit que, porventura, ainda viesse a existir entre a produção e a demanda, eliminados as perdas e os desperdícios, também poderia ser zerado com o uso de tecnologia adequada, que permitisse aumentar, de forma sustentável, a produtividade das lavouras, além de reincorporar à agropecuária as áreas degradadas. Essa tecnologia já existe, basta examinar as bases de dados de produtividade no mundo e verificar as discrepâncias entre os líderes de produtividade de qualquer cultivo e as médias efetivamente obtidas pelos produtores. Essa diferença nos demonstra que existe tecnologia disponível, que não está sendo usada na integralidade, o que denota deficiência na sua transferência para o sistema produtivo. Porém, este fato não significa que as instituições de pesquisa não devam perseguir, com denodo redobrado, a busca de novas tecnologias, para assegurar a sustentabilidade dos sistemas de produção, no futuro. Pelo exposto, verifica-se a necessidade de políticas públicas que incentivem a geração e a transferência de tecnologia adequada, como forma de garantir a oferta de alimentos.
Fim dos subsídios
Países ricos são pródigos em subsidiar a ineficiência de sua agricultura e, como tal, prejudicar os produtores de países de legítima vocação agrícola. Quando países ricos subsidiam seus agricultores, diminuem o espaço de produção e comércio de outros países, que não dispõem de recursos orçamentários para agir da mesma forma. Só na Europa, até o fim da década, serão mais de 500 bilhões de euros destinados a suportar agricultores incapazes de competir com seus pares do Brasil, Argentina ou de outros países de vocação agrícola. Em consequência, subsidiando sua produção e sua exportação, os países ricos pressionam para baixo os preços dos produtos agrícolas, diminuindo a renda dos produtores de outros países e desincentivando novos investimentos que redundariam em aumento da produção e maior oferta de alimentos. Maior produção em países com legítima vocação agrícola também conduziria a preços mais baixos, mas sendo compensados pela captura de uma parcela maior do comércio agrícola, neutralizando o impacto desfavorável dos baixos preços para estes países. Associado ao fim dos subsídios é necessário implantar o livre comércio de produtos agrícolas, mais justo para todos. A própria OCDE – clube dos países ricos - calcula que,
se as nações do G20 reduzissem as barreiras comerciais em 50%, gerariam aumento no número de empregos no mundo entre 0,3% e 3,9%, enquanto os salários cresceriam entre 0,8% e 8,1%. A equação é: “- subsídios + emprego + renda + produção = - fome”. No caso dos alimentos, as barreiras tarifárias, técnicas, pseudossanitárias e de outras ordens impedem que os países possam competir de forma igualitária. A redução dessas barreiras estimularia o ganho de eficiência e a produção em países pobres, reduzindo o preço da comida em todo o mundo, porém de forma mais equitativa.
Cuidados com o ambiente
Pertenço ao grupo dos que acreditam que é perfeitamente possível praticar uma agricultura sustentável, em escala global. Não basta produzir alimentos (e outros produtos agrícolas). Isto deve ser feito com sistemas de produção que permitam prolongar a atividade, nas mesmas áreas, por décadas, preservando e até melhorando as condições ambientais. O corolário da afirmativa é que devemos perseguir o aumento da produtividade sustentável da agropecuária, em detrimento da expansão de área. A água e o solo são recursos essenciais, que serão cada vez mais escassos e que precisam ser protegidos para que a produção agrícola possa ser sustentável. Informação, geração e transferência de tecnologias adequadas constituem o tripé para garantir a sustentabilidade da agricultura. A agricultura é causa e também sofre as consequências das mudanças climáticas globais. Por isso, é preciso investir na pesquisa agropecuária para criar variedades de plantas e animais adaptados ao novo ambiente climático. Além do clima em si, a agricultura precisa se adaptar localmente às pragas e doenças que podem surgir em consequência das mudanças no clima. A contribuição da agricultura para mitigação das mudanças climáticas decorre de uma agricultura sustentável, lastreada em tecnologias que propiciem menor emissão de gases de efeito estufa, causa básica do aquecimento global. Concluindo, basta que tanto governos quanto as cadeias produtivas cumpram seu papel para que o desafio de atender à demanda de alimentos e de outros produtos agrícolas, em 2050, seja perfeitamente C possível de ser superado. Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Pé no acelerador do agronegócio brasileiro em 2013
A safra brasileira está em andamento, ainda no início da colheita, mas os números já apontam que haverá recorde de grãos e cotações atrativas e lucrativas já neste começo de ano, que inicia com números melhores que os registrados no mesmo período de 2012. Os produtores aproveitam a cobertura das boas vendas de soja antecipada. Cerca de 40 milhões de toneladas dos mais de 80 milhões de toneladas que ainda deverão ser colhidos já estão negociados e serão entregues nas próximas semanas. Essa comercialização retira dos produtores a obrigação de vender grandes volumes do produto logo na colheita. No milho, a venda da safra de verão também mostra boa parte negociada na exportação para embarque em fevereiro e março, o que irá desafogar o setor em plena colheita. Com isso, retira um fardo pesado dos ombros dos produtores que normalmente veem as cotações despencarem no período de pico da colheita e, assim, somente aqueles poucos produtores que não realizaram vendas antecipadas serão obrigados a vender parte do que colherem para pagar dívidas que normalmente vencem entre fevereiro e março. Estes produtores serão uma fatia pequena do global da produção brasileira. Vislumbra-se, novamente, um ano de grandes lucros para o setor, que mostra grande pressão dos importadores nos portos, em busca de soja a milho, de açúcar, algodão e arroz. Desta forma, haverá fôlego para grandes embarques e tudo aponta que será um grande ano também para o comércio de carnes brasileiras, com avanço nas exportações, o que estimulará o crescimento interno e dará fôlego ao setor para poder bancar boas cotações para milho e soja. Tudo aponta que o ano siga com bons ganhos ao agronegócio brasileiro, que não tende a sofrer com os impactos do baixo Produto Interno Bruto (PIB) do Governo, nem mesmo com o “apagão” que o país corre o risco de enfrentar e que pouco deverá afetar o bom desempenho do setor em 2013. MILHO
Colheita em bom ritmo
85 milhões de toneladas e apontamentos de que a Argentina colheria mais de 58 milhões de toneladas. Projeção foi reavaliada e agora, já em fase de colheita, mostra que a realidade é outra. Vem safra grande, mas não tanto quanto apontavam alguns muito otimistas. A safra brasileira ficará em níveis entre 80 milhões de toneladas e no máximo 83 milhões de toneladas. Já na Argentina, com a seca em janeiro e fevereiro, a safra vem com números que variam de 47 milhões de toneladas a 57 milhões de toneladas. Essa variabilidade impulsionou as cotações em Chicago e puxou os números para cima nos portos brasileiros, que apontam valores próximos de R$ 64,00 a R$ 66,00 por saca, com fôlego para pagar mais nas próximas semanas. Com os produtores colhendo e entregando os contratos programados, a cultura segue com boas expectativas para o ano, devendo trazer bons lucros aos produtores.
A safra mostra bons números e grande parte do milho colhido sendo encaminhado para os portos, que tem garantido aos produtores boas cotações e limitado a queda em plena colheita. O mercado de exportação sinaliza que o Brasil irá vender na faixa de 17 milhões de toneladas e, desta forma, o País seguirá como segundo colocado, somente atrás dos EUA e entre os gigantes da exportação de milho. Os portos mostram níveis entre R$ 34,00 e R$ 36,00 pagos por saca de milho nestas últimas semanas, o que garante níveis atrativos no interior. Com esse cenário os produtores têm aproveitado para fechar posições e dessa forma não arriscar com produto esperando que novos avanços apareçam. As cotações estão favoráveis e a comercialização com lucros é uma realidade do momento e recomendada para feijão os produtores. O clima favoreceu e vem colheita Com forte alta em plena colheita cheia, ao redor de 35 milhões de toneladas nesta O mercado do feijão começou com boas cotações, primeira safra. A segunda safra está em plantio com forte apoio vindo de quebra da primeira safra, e mostrará recorde de área. que teve redução de área e também adversidades climáticas, com frio no Sul e em São Paulo e seca nos soja estados centrais nos meses de novembro e dezembro. Reação neste começo de ano O mercado da soja mostrou forte queda nas A oferta de feijão nesta primeira safra está restrita a cotações de Chicago em dezembro, quando surgi- poucos volumes e desta forma há grande disputa pelo ram comentários de que o Brasil colheria mais de grão disponível. A seca no Nordeste seguiu atrapa-
lhando a safra, os produtores que plantaram em Irecê perderam tudo e as chuvas que começaram no meio de janeiro na região chegaram tarde. Assim, o Nordeste vai continuar comprando grandes volumes de feijão nas demais regiões produtoras. O Brasil, que foi grande importador de feijão da China em 2012, com mais de 150 mil toneladas compradas, deverá se manter nessa condição e importar mais de 200 mil toneladas em 2013. Com alta no mercado mundial haverá favorecimento das cotações no mercado brasileiro. arroz
Colheita com safra cheia no Sul
O mercado do arroz começou o ano tentando empurrar as cotações para baixo. Mas os bons níveis do mercado internacional e a indicação de que o Brasil voltará a exportar forte nestes próximos meses servirão de limitante de baixa, mesmo em um ano de safra cheia no Sul do Brasil. Rio Grande do Sul e Santa Catarina devem colher juntos mais de nove milhões de toneladas e desta forma abre espaço para se exportar muito arroz no primeiro semestre. No mercado tailandês, o arroz beneficiado segue acima dos 600 dólares por tonelada e o arroz em casca pode alcançar níveis acima dos 300 dólares por tonelada. Isso servirá de balizador dos indicativos no mercado interno, que seguirá favorável aos produtores.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo começou o ano de modo favorável aos produtores brasileiros, com cotações entre R$ 680,00 e R$ 750,00 por tonelada. Trata-se da melhor cotação já vista pelo setor, que deverá ter um 2013 com indicativos fortes. Isso porque o Brasil teve safra de pouco mais de quatro milhões de toneladas para um consumo que poderá chegar à faixa de 11 milhões de toneladas. Desta forma, haverá grandes importações em um ano em que o mercado mundial tem pouco trigo e cotações em alta, acima dos 350 dólares por tonelada, o que faz o produto importado chegar ao País acima dos R$ 800,00 por tonelada. algodão - O mercado teve um começo de ano com boa movimentação de exportações, com produto brasileiro sendo vendido a compradores chineses. Os indicativos são de que 2013 será o ano da virada das cotações, que tendem a sair da baixa e mostram fôlego para crescer e trazer lucros aos produtores. eua - Começaram as especulações sobre a safra nova e os primeiros boatos apontam que os norte-americanos deverão plantar mais soja e muito mais milho em 2013 (com chances de mais de 31 milhões de hectares na soja, avanços de meio milhão de hectares e mais de 40 milhões de hectares no milho, ou crescendo cerca de um milhão de hectares, com perdas de espaço no cultivo de algodão e volta de cultivos em algumas áreas de preservação que estavam
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paradas e tendem a voltar a ter lavouras). china - A demanda chinesa de alimentos tende, novamente, a alcançar recorde em 2013, com compras crescentes desde carnes até todos os tipos de grãos. O país começou a importar arroz em 2012 e já neste primeiro ano efetivo de grandes compras galgou o primeiro posto dos importadores, superando a marca das 2,6 milhões de toneladas importadas. Como o país registrou perdas na safra colhida, tende a haver mais importações em 2013. Com importações recordes na soja e também no milho, que teve grandes perdas, totalizou cerca de 198 milhões de toneladas colhidas enquanto o consumo deve atingir mais de 210 milhões de toneladas. Desta forma, o país será o destaque no mercado do agronegócio em 2013 e dará suporte para manter as cotações em alta. mercosul - O clima poderá ser novamente o grande problema da Argentina, que teve seca em 2011 e 2012. Depois das inundações entre novembro e dezembro, período do plantio, os produtores argentinos viram as chuvas escassearem em janeiro. Os indicativos são de tempo seco para fevereiro e março e se confirmado o prognóstico o país perderá novamente parte da safra, o que abre espaço para crescimento das cotações internacionais. Isso porque a Argentina continua sendo um dos grandes fornecedores de alimentos para o mundo, que cresce em demanda frente à oferta que não consegue avançar no mesmo ritmo.
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