Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 169 • Junho 2013 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Cecília Czepak
Manejo amplo.....................................18
Como o manejo em grandes áreas, já adotado com sucesso em outros países, pode ser alternativa para combater os graves problemas de ataques de pragas em nossas lavouras
Como irrigar..............................08 Solo corrigido............................10 Reação testada..........................24 O que levar em consideração ao escolher o sistema de irrigação que melhor se adapta à sua lavoura cafeeira
O papel da calagem e do gesso agrícola na produção de algodoeiro nas condições dos cerrados
Índice
Expediente
Diretas
04
Editorial - Milton Sousa Guerra: 1934 2013
07
Irrigação em café
08
Correção de solo em algodão
10
Manejo do mofo branco
12
Eventos - Clube da Soja FMC
15
Como manejar o mofo branco em girassol
16
Nossa capa - Manejo de pragas da soja em grandes áreas 18 Milho - Utilização de águas residuárias
22
Milho - Reação de cultivares ao ataque de nematoides 24 Uso de inoculantes em milho
26
Informe empresarial - Pioneer
30
Manejo de capim-camalote em cana
34
Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
37
Mercado Agrícola
O comportamento de cultivares de milho frente ao ataque de nematoides do gênero Meloidogyne
38
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Rithieli Barcelos
• Redação
Juliana Leitzke Karine Gobbi
CIRCULAÇÃO
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• Revisão
• Assinaturas
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Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
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Charles Ricardo Echer
Edson Krause
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Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Armadilha autônoma
Pesquisadores da Universidade Técnica de Lisboa e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia desenvolveram uma armadilha para capturar insetos, que utiliza a energia solar para carregar uma bateria de acumuladores de energia, para acionar uma lâmpada que atrai insetos onde são aprisionados com menor consumo de energia e sem uso de agroquímicos. Atualmente, as armadilhas luminosas existentes no mercado para captura de insetos utilizam a energia hidroelétrica para acionar uma lâmpada, o que limita o seu uso, uma vez que precisa de cabos condutores. A outra opção é a utilização de baterias de acumuladores, que ao serem descarregadas precisam de nova carga com o uso de energia hidroelétrica. Com o intuito de reduzir a aplicação de inseticidas na agricultura, eliminar o uso de derivados do petróleo no controle de insetos, é que se desenvolveu a invenção. A unidade geradora de efeito fotovoltáico é a célula solar, que é fabricada a partir de materiais semicondutores, compostos principalmente por silício.
Portfólio
A equipe da Dow AgroSciences apresentou na Agrishow o portfólio completo da companhia com destaque para a braquiária Convert HD364, os novos sorgos Convert SS 302 e Convert SS318 e os herbicidas Goal e Coact. Para a cultura do milho foi apresentado o Powercore. “Essa tecnologia flexibiliza o manejo de herbicidas, proporcionando ao agricultor a otimização de maquinário e mão de obra”, destacou o gerente de Marketing, Aldenir Sgarbossa.
Bayer CropScience
A Bayer CropScience apresentou na Agrobrasília 2013 um vídeo interativo que mostrou ao público o programa da empresa em fungicidas. Os produtores foram recepcionados pelas equipes da empresa e puderam fazer um tour por campos demonstrativos onde conheceram as opções para contribuir com a sanidade de suas lavouras. Em produtos foram destacados os fungicidas Fox e SphereMax para o manejo do complexo de doenças na soja e o CropStar, inseticida voltado para o tratamento de sementes. O diretor comercial DN Cerrados da Bayer, Renato Seraphim, participou do evento e falou com entusiasmo sobre o grande potencial produtivo da região dos cerrados.
Ihara
A Ihara levou à 20ª edição da Agrishow soluções para as culturas da cana-de-açúcar e soja. Para a cana a Ihara apresentou o Riper, regulador de crescimento que permite acúmulo precoce de sacarose, elevando os níveis de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) permitindo ao agricultor maior flexibilidade na colheita com uma carência de apenas 14 dias. Para a cultura da soja a empresa apresentou produtos voltados para os dois maiores problemas desta cultura: a mosca branca e o mofo branco. Outro destaque da Ihara na feira foi a divulgação do conceito do Sistema Planta Forte.
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Renato Seraphim
Sementes
Os agricultores que visitaram o estande da Morgan Sementes e Biotecnologia, na Agrobrasília, tiveram a oportunidade de conhecer o portfólio de híbridos da marca já com a tecnologia Powercore incorporada. Primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, o recurso biotecnológico protege contra as principais pragas e facilita o manejo das plantas daninhas na cultura.
Soluções
Tecnologia
A Unidade de Proteção de Cultivos da Basf apresentou suas soluções para a cadeia sucroenergética no estande do Shopping Rural da Cooperativa de Produtores Rurais (Coopercitrus), durante a Agrishow. A companhia destacou o novo herbicida Heat, utilizado para o manejo de importantes plantas daninhas de folhas largas de difícil controle para a cultura da cana-de-açúcar, e o fungicida Opera, usado no controle fitossanitário e no manejo de altas produtividades também para a cana-de-açúcar. No segmento de Agricultura de Precisão a empresa deu ênfase ao projeto GPS Plateau, lançado há aproximadamente três anos em parceria com a fabricante de componentes para pulverização agrícola Teejet.
A Dow AgroSciences marcou presença na Agrobrasília 2013. A empresa levou ao agricultor do Cerrado o lançamento 2B810 PW e outros dois híbridos de milho, 2B587 PW e 2B707 PW. Também destacou o Powercore, tecnologia utilizada no controle das principais pragas do milho com cinco genes estaqueados e inserção de três diferentes proteínas Bt. Entre os defensivos agrícolas, a companhia levou o Spider, herbicida seletivo para controle de plantas daninhas de folhas largas para a soja, o herbicida DMA, para o combate das plantas daninhas na cultura de soja e milho, e os inseticidas Tracer e Intrepid.
Morgan
A Syngenta participou da 6ª Agrobrasília, no Distrito Federal, com seu portfólio completo para soja e milho. Para esta edição do evento, a Syngenta destacou sua capacidade de integrar soluções para todas as fases do cultivo de ambas as culturas, desde o emprego de variedades e híbridos com alto potencial produtivo até a indicação adequada de seu portfólio de inseticidas, herbicidas, fungicidas e de controle de nematoides.
A Morgan Sementes e Biotecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, deu destaque na Agrishow à tecnologia Powercore, que já está incorporada a todo o portfólio de sementes de milho da Morgan. Os produtores puderam observar as vantagens desta tecnologia através das parcelas experimentais de três híbridos diferentes e também por meio de experimentos que demonstraram a eficiência da tecnologia no controle de pragas inoculadas artificialmente. A marca também lançou durante a feira seu mais novo híbrido, de alta produtividade que estará disponível para plantio na safrinha 2014: o MG652.
Monsanto
Os visitantes da 6ª edição da Agrobrasília puderam conhecer de perto as vantagens da nova tecnologia de soja da Monsanto, a Intacta RR2 Pro, adaptada para o mercado brasileiro e desenvolvida ao longo dos últimos 11 anos. O público teve a oportunidade de participar de mesas-redondas e conversar com representantes da empresa e com agricultores que já testaram o produto em suas lavouras, na safra 2011/12.
Syngenta
Na mosca
A Ihara demonstrou suas soluções para manejo de mosca branca no sistema de produção para soja e feijão na Agrobrasília 2013. Os visitantes conheceram os resultados do uso do Tiger e o posicionamento sobre práticas de manejo do produto. Para a cultura do milho a empresa levou o Shake e o Cercobin, focados no manejo de doenças.
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Agrodetecta
A Basf apresentou durante a Agrobrasília 2013 o serviço de monitoramento agrometeorológico AgroDetecta e o herbicida multicultura Heat. O AgroDetecta oferece informações que indicam os melhores momentos para realizar as pulverizações para o controle de diversas doenças, em culturas variadas.
Alltech
A Alltech Crop Science participou da Agrobrasília 2013. “Esta feira está para nosso segmento como relacionamento e ações estratégicas. Este ano tivemos um diferencial que foi uma campanha comercial exclusiva para o período onde nossos clientes fiéis puderam conferir nosso portfólio e também atrair novos”, conta Cleiton Cavagnoli, gerente de Vendas da Alltech para a região do Planalto Central. Outro entusiasta da feira é Carlos Bufon, diretor da Nutrimax e parceiro da Alltech Crop Science na região. “Esta edição da feira veio para reafirmar o compromisso que temos de levar ao produtor de cereais e HFs, produtos com tecnologia que agregam proteção, produtividade e qualidade”, disse.
Exposição
Inpev
O Instituto Nacional de Processamentos de Embalagens Vazias (inpEV) participou da Agrobrasília com o objetivo de levar aos participantes sua mensagem de conscientização por um ambiente mais limpo. Entre as estratégias esteve o fortalecimento das ações desenvolvidas pelo Sistema Campo Limpo (logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas).
A FMC apresentou na Agrobrasília 2013 o fungicida Galileo XL para controle de ferrugem asiática, os inseticidas Dipel, Mustang, Rocks, Talstar e Talisman e os herbicidas Aurora, Profit e Boral. O coordenador Cultura Grãos da FMC, Lichardsom Malacrida, explicou que além de expor as tecnologias da companhia, foram promovidas apresentações técnicas para o melhor manejo referente ao controle de insetos, plantas daninhas e doenças fúngicas na cultura da soja.
BioGene
A equipe da BioGene esteve à disposição dos produtores na Agrobrasília para apresentar o portfólio de híbridos de milho e cultivares de soja da marca. O público que visitou o estande da empresa recebeu importantes informações sobre qualidade de plantio, manejo de plantas daninhas, diferença entre lavouras com e sem tratamento de sementes industrial e manejo integrado de pragas.
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Biológicos
A Itaforte Koppert apresentou na Agrobrasília sua linha de produtos biológicos, que integra desde os tradicionais Trichodermil 1306 SC, Metarril WP e Boveril WP, até novos produtos como Tricho-Strip-G e Tricho-Strip-P, ambos à base do parasitoide de ovos de lagartas Trichogramma. O inseto Trichogramma galloi, utilizado para controle de broca em cana-de-açúcar, compõe o Tricho-Strip-G e o TrichoStrip-P é à base de Trichogramma pretiosum, ideal para controle de lagartas em grãos e em hortaliças e frutas.
Editorial
Milton Sousa Guerra
E
m maio faleceu o professor Milton Sousa Guerra, engenheiro agrônomo, entomologista. Grande perda para sua família – tinha três filhos –, para o mundo acadêmico, seus amigos, para a Revista Cultivar. Uma doença rápida o levou. Subitamente adoeceu, subitamente partiu. Como quase tudo em sua vida, que ele analisava e decidia sem hesitar. Milton Sousa Guerra foi maior do que cabe em um currículo. Cientista com interesses múltiplos, aposentou-se e deixou a cadeira de Entomologia na tradicional Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, na sua terra, em Pelotas, para pesquisar propriedades das plantas, sua grande paixão. Botânico autodidata, ganhou renome e recebia em sua chácara visitas de especialistas da área para troca de informações. A quem perguntasse recitava o potencial curativo de cada uma. E muitos perguntavam. Guerra era tranquilo. Ouvia com calma e respondia com autoridade em sua fala rápida e séria. Excelente humor, sempre fez amigos por onde andou, como lembra o professor Octavio Nakano, seu colega e orientador de mestrado na Esalq. Assim tratava os jovens desde o Grupo de Escoteiros Iguaçu, que fundou com amigos em 1949, o mais antigo em atividades no Brasil; as dezenas de turmas de estudantes que ensinou na faculdade; e os colegas e companheiros de entidades que ajudou a fundar. Deixou seu nome inscrito na So-
1934 2013
ciedade Entomológica do Brasil, da qual foi o primeiro presidente. Ou no Centro de Estudos Toxicológicos do Rio Grande do Sul, que presidiu no início também. Ou na Revista Cultivar, cuja criação foi por ele estimulada e cuja redação orientou antes do primeiro número e depois por um ano inteiro. E outros, outros e outros. A Cultivar manterá viva a sua memória no Expediente, onde há anos orgulhosamente imprime seu nome como cofundador. Será também lembrado como parte de um seleto grupo de pessoas, os idealistas e altruístas. Homem de ideias, distribuía seu conhecimento em informações a quem as pedisse, mesmo sabendo que a execução renderia lucro. Lembro o dia em que o professor Nakano comentou, jocosamente, que seria um homem muito rico se
tivesse ideias como as que Milton Guerra produzia em série. Exagero ou não, foi uma homenagem ao colega e amigo. É dele a ideia, por exemplo, e o início da dura campanha pela implantação do Receituário Agronômico no país, hoje lugar comum, mas na década de 1970 um marco na defesa dos agricultores que usavam agroquímicos sem qualquer orientação e controle. E assim morriam, suas famílias acreditando que devido a causas naturais. Milton Sousa Guerra nunca reivindicou homenagens ou glórias. E isto é que o torna grande: um homem que olhava em frente sem esperar aplausos. Deixou família e amigos. E exemplo. Assim viveu e assim partiu. C Newton Peter, Diretor e fundador da Revista Cultivar
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Café Fotos Ufla Fotos Antonio Jackson Souza
Como irrigar
Diante da inexistência de um sistema de irrigação ideal para qualquer situação, antes de escolher aquele que melhor se adapta à sua realidade o cafeicultor precisa levar em consideração aspectos como tipo de propriedade, tamanho de área, topografia, condições de clima e de solo e oferta de mão de obra disponível na região em que será instalado
A
denominação do método de irrigação é feita com base na forma com que a água é aplicada no solo. Os principais métodos de irrigação são: superfície (a água é aplicada e se movimenta sobre a superfície do solo por ação da gravidade), aspersão (a água é aspergida no ar e cai sobre a superfície do solo na forma de chuva) e localizada (a água é aplicada de forma pontual na região radicular da cultura). Cada um destes métodos pode ser aplicado sob a forma de diferentes sistemas de irrigação. No método de irrigação por superfície, os sistemas de irrigação mais usados são os por inundação, sulcos e faixas. No método por aspersão, destacam-se os sistemas de irrigação convencional (sobre e sob copa), pivô central e autopropelido. No método de irrigação localizada, os sistemas de irrigação por microaspersão e gotejamento são os mais utilizados. A área de cafeicultura irrigada tem registrado um aumento considerável nos últimos anos, mesmo em regiões anteriormente consideradas aptas para cultivo de sequeiro. O interesse dos produtores nessa tecnologia se deve a diferentes fatores, com destaque para: (I) estiagens prolongadas nos períodos críticos de demanda hídrica do cafeeiro, que causam, tanto no ano de ocorrência como no ano subsequente, redução na produção; (II) diminuição dos custos dos sistemas de
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irrigação; e (III) expansão da cafeicultura para novas fronteiras. A adoção dessa tecnologia pode trazer para a lavoura cafeeira um considerável incremento na produtividade. Para tanto, a escolha do sistema de irrigação a ser adotado deve ser feita de forma bastante criteriosa. Deve-se levar em conta que não há um sistema de irrigação ideal para qualquer situação. Para cada propriedade, dependendo do tamanho da área, da topografia da área, da quantidade e tipo de mão de obra disponível, das condições de clima e solo e de oferta de água, sempre existem opções de sistemas de irrigação que permitem alcançar de forma sustentável e econômica o desejado incremento de produtividade da lavoura cafeeira. Custos médios de implantação (em mil reais/ha) de alguns dos mais utilizados tipos de sistemas de irrigação são apresentados no Quadro 1. Quadro 1 - Custo estimado para diferentes sistemas de irrigação na cultura do cafeeiro Sistema de irrigação Custo de implantação (mil reais/ha) Aspersão convencional portátil 2,5 a 4 Aspersão convencional tipo malha 3a5 Pivô central 4a6 Gotejamento 5,5 a 8 Fonte: Informe Agropecuário, V. 31, n. 259, nov./dez. 2010, ISSN 0100-3364.
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Autopropelido (Carretel enrolador)
Neste sistema a área é irrigada através do deslocamento linear de um único aspersor, do tipo canhão ou minicanhão. O deslocamento deste aspersor ao longo de um carreador promove a formação de uma faixa irrigada. O recobrimento destas faixas irrigadas, obtido pelo deslocamento deste único aspersor ao longo de carreadores adjacentes, promove o recobrimento de toda a área a ser irrigada. No caso do sistema do tipo carretel enrolador, ao início da irrigação de cada faixa, um trator, que traciona o carrinho de transporte do aspersor e sua mangueira de alimentação de água, promove o desenrolamento da mangueira do carretel e o posicionamento do aspersor na extremidade do carreador oposta ao carretel. Posteriormente, a própria água que alimenta o aspersor aciona uma turbina que, por meio de engrenagens de redução, promove o recolhimento da mangueira e o deslocamento do aspersor na faixa molhada. Este sistema tem como vantagem um baixo custo inicial, possibilidade de aproveitamento de áreas de formato irregular. Como desvantagens há o alto requerimento de energia, a baixa uniformidade de aplicação de água sob condições de ocorrência de ventos.
Pivô central
Consiste de uma única lateral, dotada de emissores de água, que gira em torno de um
Irrigação por pivô central dotado de rodas e motor elétrico de acionamento independente
ponto fixo localizado no centro da área irrigada (ponto do pivô). Esta linha lateral é sustentada acima do nível do solo por meio de torres, em formato de “A”, que são dotadas de rodas e motor elétrico de acionamento independente. Em todos os pontos de sustentação da lateral, com exceção da última torre, existem juntas flexíveis que permitem que a lateral se ajuste à conformação do terreno a ser irrigado. Este sistema tem como principais vantagens: o baixo requerimento de mão de obra, o custo bem competitivo para grandes áreas e a possibilidade de adoção de um alto grau de automatização. Como limitações podem-se citar o pequeno aproveitamento da área disponível em função do seu padrão circular de aplicação de água e a necessidade de aumento da taxa de aplicação de água ao longo do comprimento da lateral, que limita o comprimento máximo da lateral em função do limite de capacidade de infiltração de água do solo. No mercado existem diferentes opções de emissores a serem instalados ao longo da linha lateral. A tendência é o desenvolvimento de emissores que operem com pressões de trabalho cada vez menores, possibilitando economia de energia. Mais recentemente, na irrigação por pivô central em cafeeiro, estão sendo utilizados cada vez mais emissores do tipo Lepa (low energy precision application). Estes emissores, além de operarem com baixa pressão, reduzem as perdas por evaporação porque aplicam a água em um raio reduzido
diretamente sobre a copa das plantas.
Deslocamento linear
Neste tipo de sistema, os emissores e a estrutura de sustentação da linha lateral são similares aos do pivô central. No entanto, o deslocamento da linha lateral é linear, perpendicular à fonte de suprimento de água, e todas as torres se movimentam com a mesma velocidade. O suprimento de água é feito através de um canal ou linha principal, locada no centro ou em uma das extremidades laterais da área irrigada. Seu uso permite melhor aproveitamento de áreas planas e retangulares e, em função do deslocamento linear, não requer aumento da taxa de aplicação de água ao longo da sua linha lateral. No entanto, devido à relação linear entre o comprimento da linha lateral e o tamanho da área irrigada, tem um custo de implantação maior que o do pivô central.
Aspersão convencional
Ao contrário dos sistemas mecanizados de aspersão descritos anteriormente, nos sistemas de aspersão convencional, os aspersores não mudam de posição durante o período de aplicação de água. Os sistemas de aspersão convencional são classificados de acordo com o grau de portabilidade dos seus componentes. Existem desde os sistemas fixos, em que nenhum componente precisa ser mudado de posição, até os sistemas completamente por-
táteis, nos quais tanto os aspersores como as tubulações precisam ser movimentados, após o período de aplicação de água em cada posição, para cobrirem toda a área a ser irrigada. Para esse sistema, uma opção interessante é o uso do chamado sistema de aspersão em malha, que apresenta uma vasta linha de tubos de pequeno diâmetro totalmente enterrada. Não sendo necessário o uso de mão de obra para mudança da tubulação. O sistema em malha enterrada apresenta um custo de implantação menor que os sistemas fixos tradicionais e requer menos mão de obra que os sistemas de aspersão convencionais portáteis e semiportáteis.
Gotejamento
Nesse sistema a água é aplicada no pé da planta, na sua região radicular, em pequena intensidade e alta frequência, mantendo assim o solo sempre próximo à capacidade de campo. O sistema de gotejamento exige uma extensa rede de tubo para atender todas as plantas da área irrigada. As linhas laterais, que são as linhas em que os gotejadores são instalados, podem ser superficiais ou subsuperficiais. No caso do café, o uso de linhas enterradas é ainda objeto de estudos recentes, sendo predominante o uso de linhas laterais na superfície do solo. As principais vantagens do sistema de gotejamento são: grande potencial para se alcançar alta eficiência de aplicação de água e fertilizantes; reduzido requerimento de energia para bombeamento de água; reduzido requerimento de mão de obra; baixa incidência de plantas daninhas nas entrelinhas de plantas. As maiores desvantagens são: a necessidade de um complexo sistema de filtragem da água para evitar o entupimento dos emissores, o alto custo de instalação e a suscetibilidade de danos das linhas laterais por ocasião de tratos culturais C (capina e arruamento da lavoura). José Antonio do Vale Sant´Ana, Alberto Colombo, João Paulo Santos Carvalho, Renato Antônio da Silva e Myriane Stela Scalco, Ufla
Algodão
Solo corrigido
Fotos Marcelo Arf
A cultura do algodoeiro é bastante sensível ao alumínio tóxico e afetada pela deficiência de cálcio na subsuperfície do solo, abaixo da camada arável, situação característica das lavouras do Cerrado. A calagem e a utilização de gesso agrícola estão entre as estratégias para enfrentar esse tipo de problema
N
os últimos 15 anos, a cotonicultura brasileira tem ocupado regiões que apresentam, em geral, melhores condições climáticas para o seu desenvolvimento do que as regiões mais tradicionais, como os estados de São Paulo e Paraná. Entretanto, a maioria dos solos era originalmente marginal, principalmente do ponto de vista de fertilidade, de modo que o algodão é cultivado nessas áreas, após alguns anos de cultivo de soja principalmente, com o objetivo de obter garantia de solo corrigido. Essas mudanças, acompanhadas do desenvolvimento de novas cultivares e tecnologias, resultaram em aumento significativo da produtividade. As condições marginais de solo, as altas produtividades e as novas cultivares estabeleceram novos desafios com relação ao manejo do solo para a cultura (Prochnow et al, 2010). Como resultado, observa-se, em grandes proporções da área cultivada com algodão, o emprego de práticas de correção do solo e adubação pouco sustentáveis, que se tornam gradativamente antieconômicas. Por um lado, a tradição do uso de altas doses de micronutrientes, fundamental para a correção inicial dos solos marginais, acabou por se tornar prática generalizada, sem se ter em conta a probabilidade de resposta da cultura
(Prochnow et al, 2010).
Calagem na cultura do algodão
O algodoeiro é bastante sensível ao alumínio tóxico. Quando o alumínio encontra-se em níveis tóxicos no solo, ou seja, quando o solo apresenta saturação de bases menor que aproximadamente 45%, pode haver prejuízo ao crescimento radicular, o que acaba afetando todo o processo de aquisição de nutrientes e água, problema estudado por Rosolem, Giommo e Laurenti (1997). Para corrigir este problema é necessário realizar a calagem. O cálculo da necessidade de calcário na camada de 0 – 20cm de profundidade, para a região do Cerrado pode ser feito pelo método da elevação da saturação por bases (V%), elevando-a para 60%, através da fórmula NC = [CTC x (V2 – V1)]/10 x PRNT, sendo NC: necessidade de calcário; V2: saturação por bases almejada (60% para a cultura do algodão); V1: saturação por bases atual do solo; CTC: capacidade de troca de cátions (CTC = Ca2+ + Mg2+ + K+ (H+Al3+) e PRNT: Poder Real de Neutralização Total do calcário. A incorporação ou não deste fertilizante no solo irá depender da quantidade total obtida através da necessidade de calagem (NC), sendo que quantidades
Profundidade de incorporação de calcário com arado de aiveca para a implantação do algodoeiro
acima de 2t/ha, seriam ideais para incorporação. Esse processo pode ser realizado por arados de aivecas e/ou grades aradoras (para maiores rendimentos operacionais), de preferência parcelando em duas aplicações (metade da dose antes da passagem do implemento + metade da dose após a passagem do implemento seguido de grade intermediária e/ou niveladora), garantindo assim uma melhor distribuição do calcário no perfil do solo. Além disso, ao se fazer a incorporação e distribuição em profundidade do calcário, é interessante utilizar calcário com PRNT mais baixo, para garantir maior efeito residual da calagem, fazendo-se apenas calagens de manutenção após o estabelecimento do Sistema Plantio Direto. Durante essa etapa, é importante não só corrigir quimicamente o solo, como também realizar uma boa correção física, eliminando as camadas compactadas bem como a agregação de material orgânico ao Charles Echer
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solo para melhorar ao longo do tempo as características biológicas do solo.
Gessagem na cultura do algodão
Nos solos de Cerrado, a deficiência de cálcio, associada ou não à toxidez de alumínio, não ocorre apenas na camada arável, mas também abaixo dela. Para superar esse problema na camada arável, é utilizado, com sucesso, o calcário. No entanto, a calagem não corrige a acidez e a deficiência de cálcio da subsuperfície em tempo razoável para evitar que o agricultor corra risco de perda de produtividade devido aos veranicos, pois as raízes das plantas só crescem onde o calcário foi incorporado e, consequentemente, onde tem acesso a um volume pequeno de água (Sousa et al, 2005). O gesso agrícola (CaSO 4 .2H 2 O – sulfato de cálcio), um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados que ocorrem em forma similar também em jazidas, pode ser usado na melhoria do ambiente radicular em profundidade. Esse produto, quando aplicado ao solo depois da dissolução, devido a sua rápida mobilidade na camada arável, irá fixarse abaixo dessa camada, favorecendo o aprofundamento das raízes e permitindo às plantas superar veranicos e usar com eficiência os nutrientes aplicados ao solo (Sousa et al, 2005). Quando o teor de cálcio na camada de 20cm – 40cm for menor que 5,0mmolc dm-3 ou quando a saturação por alumínio (20 – 40cm) for maior que 20% recomenda-se aplicar gesso para melhorar a distribuição de bases trocáveis no perfil do solo e para reduzir o alumínio tóxico que pode inibir o desenvolvimento do sistema
Operação mecanizada de aplicação de calcário para implantação da cultura do algodoeiro
radicular (Sousa e Lobato, 2004). O gesso agrícola, na camada superficial do solo ao reagir com a água, libera íons Ca2+ e SO42- fornecendo cálcio e enxofre. O íon sulfato para manter a neutralidade elétrica se liga com cátions disponíveis na solução do solo (Ca, Mg, K e Al), podendo formar pares iônicos como CaSO 4, MgSO 4, K 2SO 4 e Al 2+(SO 4) 3 facilitando a sua movimentação no perfil do solo, distribuindo-os em profundidade e tornando indisponível o alumínio tóxico. Assim, as camadas mais profundas (20cm – 40cm) estarão mais propícias ao desenvolvimento radicular. Por facilitar a movimentação de bases no perfil do solo, a aplicação de gesso requer critério, devendo o técnico estar atento principalmente aos teores de magnésio do solo. Para não comprometer a fertilidade do solo, em alguns casos,
deve-se fazer a aplicação de magnésio, principalmente através do uso de calcário dolomítico (fonte mais barata de magnésio). Para a dose máxima de gesso a ser aplicada (NG), utiliza-se a seguinte fórmula: NG = 50 x teor de argila (%), sem NG expressa em kg/ha. É importante ressaltar que o efeito da gessagem, seguindo estes critérios, vale para vários anos, portanto, a resposta das culturas (algodão e outras) em relação à produtividade depende das condições ambientais, principalmente das chuvas. O gesso também pode ser aplicado simplesmente como fonte de enxofre, sendo que a quantidade a ser utilizada irá depender da necessidade e extração da cultura. C Marcelo Valentini Arf, Fundação Chapadão
Doenças Fotos Murillo Lobo Junior
Tem solução Causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, o mofo branco afeta mais de 400 espécies de plantas. A alta agressividade da doença, a sobrevivência no solo e a ampla gama de hospedeiras assustam produtores, principalmente de soja, algodão e feijão. Apesar de classificada por muitos como impossível de ser erradicada, sua incidência nas lavouras pode ser drasticamente reduzida através do manejo integrado
O
mofo branco é uma das doenças de plantas mais conhecidas no Brasil e no mundo. Causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, sua fama vem da alta agressividade, sobrevivência no solo e ampla gama de hospedeiras, por afetar mais de 400 espécies de plantas, cultivadas ou não. Pelos prejuízos que já causou e pela facilidade com que foi disseminada pelas principais regiões produtoras de grãos do país, esta doença tem sido tratada como “impossível de 12
se erradicar”. As áreas ainda consideradas como fronteiras agrícolas não estão isentas deste problema. A ocorrência do mofo branco em áreas com histórico relativamente recente como o sul do Piauí e norte do Mato Grosso é uma consequência do transporte do fungo em sementes piratas e em máquinas agrícolas, como plantadeiras e colhedoras que não são devidamente limpas e acabam transportando escleródios de S. sclerotiorum. É possível que em áreas de baixa latitude
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a doença não cause tantos prejuízos como os já conhecidos no Centro-Sul do País, mas nem por isso deixam de existir os riscos de perdas na produção, especialmente na estação chuvosa, em plena safra de culturas como soja, algodão e feijão. Uma consequência clara do avanço do mofo branco é o pessimismo que surge após a sua constatação. Afinal, se diz que o patógeno sobrevive no solo por oito anos ou mais, sem a presença de plantas hospedeiras. Esta informação
é propagada há décadas, mas qual a sua origem? Provavelmente veio de países do Hemisfério Norte, onde o fungo já tinha registros mais antigos e onde há diferenças marcantes quanto ao clima e aos sistemas produtivos. Esta não é uma informação que se possa adotar como verdade no Brasil. Trabalhos recentes têm demonstrado que é possível reduzir drasticamente a incidência do mofo branco em lavouras de soja em um prazo de três anos, adotando-se o Sistema Plantio Direto (SPD) na palha e o uso de sementes sadias e tratadas junto a outras práticas de manejo. Esta estratégia tem vários efeitos importantes nas áreas infestadas, e que tem por objetivo a redução do banco de escleródios no solo. Métodos que reduzem o banco de escleródios no solo atingem diretamente as causas do problema, o que deve ser objetivo de todos os programas de manejo integrado do mofo branco. Basicamente, se busca neste caso tanto a morte de escleródios já existentes na área, como também evitar que novos escleródios sejam formados nos casos de ataque da doença. A redução do banco de escleródios nada mais é do que a desinfestação do solo; já a prevenção de novos escleródios se dá como
Escleródios de Sclerotinia sclerotiorum sobre o solo logo após a colheita em uma área atacada pelo mofo branco. O número de novos escleródios também serve como medida da eficiência do programa de manejo da doença adotado no local
consequência natural da primeira prática e também com o uso adequado de fungicidas. Um exemplo de processo de desinfestação pode ser visto na Figura 1, abaixo. Os benefícios do SPD começam com
a implantação do cultivo de gramíneas para a formação de palha que realmente cubra o solo, o que requer alguns cuidados para a sua implantação nas áreas de agricultura tropical. Este preparo tem consequências bem diferentes da
Figura 1 - Desinfestação de Sclerotinia sclerotiorum com cultivo de milho ou milho + Brachiaria ruziziensis (Sistema Santa Fé) seguido de cultivo de soja, de 2008 a 2010 em Jataí, Goiás. Um dos benefícios deste sistema é a formação de um ambiente úmido sobre o solo durante o cultivo de gramíneas adensadas (neste caso, B. ruziziensis), em que muitos escleródios se esgotam após germinar, com menor impacto na safra de soja cultivada a seguir. Adaptado de Görgen et al. (2010)
semeadura direta, onde apenas se faz o plantio sem revolver o solo, sobre uma cobertura rala e sem efeitos de restos da cultura anterior. No SPD, a palhada tem como função básica servir como barreira física que evita a formação de apotécios, além de evitar que os ascósporos sejam lançados à parte aérea das plantas dando início às infecções. Os efeitos de uma boa camada de palha são notáveis, mas não são os únicos que se consegue com o SPD bem conduzido. As gramíneas adotadas como plantas de cobertura podem ter ação descompactante do solo e gerar mais de dez toneladas de matéria orgânica após sua dessecação. A grande quantidade de matéria orgânica ofertada serve como alimento para muitos fungos e bactérias nativos do solo e que acabam atuando como parasitas de escleródios de S. sclerotiorum. A palha também pode ser considerada como uma premissa importante para o uso de agentes de controle biológico, como os do gênero Trichoderma. No ambiente mais úmido e sombreado, as espécies usadas para controle biológico como T. harzianum e T. asperellum encontram um ambiente ideal para a sua proliferação, e a morte de escleródios causada por estes antagonistas pode dobrar quando há gramíneas adensadas em crescimento ou sua palhada cobrindo o solo. Sem cobertura do solo e com a ocorrência severa do mofo branco, os problemas para a próxima safra são praticamente certos. No caso da cultura do feijão comum, as plantas com alta severidade da doença podem formar mais de 400 novos escleródios em apenas
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Figura 2 - Variação observada em experimentos conduzidos na Embrapa Arroz e Feijão, com Trichoderma harzianum T22, fluazinam e integração do controle biológico + químico, em plantio convencional.O controle biológico reduz a densidade de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum no solo e facilita a ação do controle químico; o resultado desta interação é a menor severidade do mofo branco
um metro quadrado, e mesmo que 90% destes escleródios morram até a próxima safra, os 40 restantes são muito mais do que o suficiente para a ocorrência de novas epidemias do mofo branco. O manejo de plantas de cobertura e os agentes de controle biológico atuam sobre o patógeno no solo e não protegem as plantas de esporos (chamados de ascósporos). Para proteger a planta, é necessário o uso de fungicidas, com aplicações que se iniciam no começo do florescimento. A relação de fungicidas registrados no Ministério, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle do mofo branco varia de cultura para cultura, e atualmente conta com produtos mais específicos e mais eficientes, como fluazinam e procimidona, ou produtos com maior espectro de ação e que exigem por outro lado um maior número de aplicações para se contar com uma melhor proteção das lavouras, como o tiofanato metílico. Não faltam resultados sobre testes comparativos em diversas regiões do Brasil e que têm garantido a manutenção dos cultivos em áreas infestadas. Aparentemente não há relatos de resistência de S. sclerotiorum ao atual elenco de fungicidas adotados para controle do mofo branco no Brasil. Enquanto se procura aperfeiçoar o controle químico com as atuais opções disponíveis, também se aguarda pela chegada de novas moléculas ao mercado. Uma novidade aos testes e aos programas de manejo integrado é levar em consideração – além do controle em si e das diferenças em produtividade – a reprodução do patóge-
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no. Ou seja, quantos novos escleródios são formados nas lesões e que caem sobre o solo antes mesmo da colheita da cultura, já aumentando a quantidade de inóculo que causará novas lesões na próxima safra. Esta avaliação pode ser feita na própria lavoura ou na amostragem de resíduos da cultura durante a prélimpeza de grãos, por exemplo. De modo contrário, um programa que não se preocupa com o banco de escleródios no solo nunca vai chegar a uma redução efetiva dos riscos e das perdas que podem superar 70% da produção, nos piores casos. Por muito menos disso, infelizmente, há o risco de não se pagar os custos da produção. Os métodos de controle comentados aqui são sempre medidas importantes e encontram muitas outras formas de serem melhorados, como a adoção de cultivares que não acamam. O que se pode constatar atualmente é o sinergismo entre métodos, como os casos de desinfestação no solo que aumentam a eficiência dos fungicidas e reduzem a formação de novos escleródios pela combinação entre proteção do solo + proteção de plantas. Outro exemplo de manejo integrado pode ser visto a seguir, na Figura 2. São exemplos como estes que tornam possível os cultivos em áreas infestadas por S. sclerotiorum, sob um mínimo de riscos e manutenção de altas produtividades. C Murillo Lobo Junior, Embrapa Arroz e Feijão Priscila Ferreira Santos, Universidade Federal de Goiás
Eventos
Apostas e otimismo Fotos Divulgação FMC
O 3º Clube da Soja, promovido pela FMC, foi marcado por grandes debates sobre temas do setor produtivo, mas também por comemorações de resultados e lançamentos de novos negócios
A
proximadamente 280 dos principais produtores de soja do Brasil, que juntos respondem por uma área de 3,7 milhões de hectares de soja e 1,8 milhão de hectares de milho, participaram do 3º Clube da Soja, promovido pela FMC no início de maio, no Guarujá, São Paulo. O evento abordou diversos temas que envolvem o setor produtivo da cultura, como logística, sustentabilidade, agregação de valores para os produtos agrícolas, além de abrir espaço importante na agenda para discutir iniciativas para manejar e combater à lagarta Helicoverpa, que tirou o sono dos produtores e levou embora boa parte dos lucros na última safra. Valores como sustentabilidade, pessoas, conhecimento e produtividade foram abordados em palestras proferidas pelos diretores da companhia. O Presidente da FMC Corporation América Latina, Antônio Carlos Zem, destacou a importância do evento para o setor. “Os nossos valores refletem em nossos clientes e todos que estão aqui têm uma história de grandes resultados a compartilhar. Eu não falo apenas do financeiro, mas sim de quem deixou um legado ao futuro. Para os nossos clientes, os resultados são mais toneladas por hectare colhido e a contribuição para o agronegócio nacional e nós investimos em novas tecnologias para atuarmos juntos nesse desafio”, destaca Zem. O Diretor de Negócios Brasil da FMC, Walter Costa, abordou “O Valor da Marca FMC”, com enfoque sobre o exponencial crescimento da companhia no mercado e a
evolução no segmento de grãos com investimentos em novas tecnologias. “Um dos nossos principais valores de marca é o reflexo da satisfação dos nossos clientes, principalmente com a entrega de produtividade das nossas soluções. Crescemos 21% nos últimos dez anos, quase o dobro do crescimento do mercado”, destacou. Esta filosofia proporcionou que, de 2003 a 2012, a FMC saltasse da oitava para a quarta posição entre as principais empresas de agroquímicos do mundo. A expectativa é continuar crescendo e passar dos atuais 740 milhões de dólares para mais de um bilhão em 2014. Para atingir a meta haverá o lançamento de nada menos que 35 novos produtos defensivos até 2016 e duas novas moléculas, uma de herbicida e outra de fungicida. Como parte desta estratégia, a FMC aproveitou o evento para anunciar o mais recente negócio da empresa, comercialização de uma linha de fertilizantes especiais para aplicação foliar, via solo e tratamento de sementes.
terras e problemas climáticos mais constantes, necessita de ferramentas que lhe possibilitem o incremento da produtividade das culturas”, conceitua o diretor, que tem o suporte técnico de Chryz Melinski Serciloto – doutor em Fisiologia e Nutrição de Plantas. “Diante disso a FMC vê como uma grande oportunidade entrar neste mercado com soluções inovadoras que permitam gerar benefícios para seus clientes, com um portfólio completo de soluções para tratamento da lavoura”, justifica. O acordo com a empresa americana prevê a exclusividade da FMC para distribuir os produtos da linha em todo o território brasileiro e alguns países da América Latina. Inicialmente o foco será em HF e cana e, em um próximo passo, em soja, algodão, arroz, entre outras culturas que estão entre os maiores consumidores de fertilizantes foliares e especialidades no Brasil. Para atender a essa nova demanda, a equipe atual de comercialização contará com o reforço de especialistas em Nutrição e Saúde de Plantas para dar todo o suporte necessário ao time comercial, distribuidores e produtores. Com o lançamento do novo negócio, a empresa passa a acessar um mercado de aproximadamente um bilhão de dólares, atualmente, com grandes perspectivas de crescimento devido ao potencial biológico das culturas plantadas no Brasil. Com o impulso da adoção de produtos de Nutrição Vegetal, ainda considerada baixa, estima-se que o potencial para este mercado seja próximo a C quatro bilhões de dólares.
FERTÍS FMC
Por meio do acordo com a americana Cytozyme, a FMC incluirá em seu portfólio uma linha de fertilizantes especiais para aplicação foliar, via solo e tratamento de sementes, denominada Fertís FMC, que conta com os produtos Crop Fertís FMC, Seed Fertís FMC, Nutri Fertís FMC, K-Humate Fertís FMC e outros que serão lançados ainda em 2013 e 2014. “Hoje, a agricultura brasileira, assim como a mundial, com a escassez de
Zem destacou a importância do evento para o setor e os laços da empresa com os sojicultores
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Girassol
Infestação inibida
Sedeli Feijó
Sclerotinia sclerotiorum é um fungo agressivo, causador de diversas doenças, em diferentes espécies vegetais, que atinge a cultura do girassol e tem poder para levar as plantas à morte caso medidas eficientes de manejo não sejam adotadas. Entre as alternativas para enfrentar este fitopatógeno está o tratamento de sementes com o emprego de fungicidas
O
girassol (Helianthus annuus L.) é uma oleaginosa que apresenta características importantes na sua composição, como, por exemplo, o óleo, que possui alta qualidade nutricional, sendo cultivada em diversas regiões brasileiras pela sua capacidade de adaptação às condições de latitude, longitude e fotoperíodo (Castro et al, 1996). Trata-se de uma cultura que nos últimos anos ganha espaço nas principais regiões produtoras de grãos, pois além da produção de óleo, é utilizada entre outras finalidades na rotação e sucessão de culturas. Dentre os patógenos que atacam a cultura do girassol destaca-se o fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) Bary segundo Delgado et al (2007) é um fungo causador de diversas doenças em diferentes espécies vegetais, provocando danos como podridão mole, mofo branco, tombamento de pré-emergente e pós-emergente de plantas. Estima-se que em torno de 408 espécies vegetais são suscetíveis, a exemplo de soja, feijão, algodão e girassol, todas de grande importância econômica (Bolton et al, 2006). O fitopatógeno ocasiona danos pelo estrangulamento do colo em plântulas ou pela seca de ramos em plantas adultas, levando à morte em ambos os casos. Este patógeno infecta as plantas colonizando o espaço inter e intracelular provocando a formação de manchas aquosas com consequente murcha e morte das plantas (Bianchini et al, 2005). Os sintomas caracterizam-se por crescimento do micélio branco, com lesões inicialmente encharcadas que se espalham rapidamente para
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haste, ramos, folhas e vagens e, com o passar do tempo, adquirem uma coloração chocolate a amarronzada. Em poucos dias, o micélio transforma-se em uma massa negra, rígida, denominada de escleródios, que é a forma de resistência do fungo. Os escleródios variam em tamanho de poucos milímetros a alguns centímetros e são formados tanto na superfície como no interior da haste e das vagens infectadas. A folhagem acima da região afetada pode murchar ou amarelecer. As sementes atacadas perdem o brilho, tornam-se opacas e de peso reduzido. O período crítico da doença vai do florescimento até a formação e enchimento das vagens (Michereff, 2009). A infecção da planta pode ocorrer através de micélio ou ascósporos, ou seja, os escleródios germinam produzindo apotécios que liberaram os ascósporos. Cada escleródio pode produzir um a mais de 20 apotécios. Cada apotécio pode liberar mais de dois milhões de ascósporos, durante um período de cinco a dez dias. Essas características demonstram o grande poder reprodutivo de S. Sclerotiorum e o perigo do aumento do inóculo, podendo assim infestar áreas de produção de culturas (Steadman, 1983; Paula Júnior et al, 2008). Os escleródios do fungo apresentam duas formas de germinação, a miceliogênica, formando somente hifas e a carpogênica, produzindo apotécios. Para que ocorra a germinação carpogênica, os escleródios devem receber luz suficiente e temperatura entre 10°C e 25°C, caso contrário, só ocorre a germinação miceliogênica,
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de potencial epidêmico muito mais reduzido (Boland & Hall, 1987). De acordo com Meyer & Campos (2009), nas últimas safras, o uso de sementes infectadas ou infestadas pelo patógeno, a monocultura, a utilização de plantas hospedeiras em sucessão ou rotação de culturas e a falta de alternativas de cultura não hospedeira e economicamente rentável para utilização em rotação, acarretaram no aumento de inóculo do patógeno em muitas lavouras, proporcionando perdas significativas como demonstrados na cultura do feijoeiro. Uma importante medida de controle reside no uso de sementes de boa qualidade sanitária, livres da presença de escleródios e de micélio no tegumento ou tratadas com fungicidas recomendados. Sementes isentas do patógeno e tratadas com fungicidas representam a garantia de se evitar a introdução do patógeno em áreas livres ou a reintrodução de isolados mais agressivos (Meyer & Campos, 2009). Segundo Paula Júnior et al (2008) a principal via de entrada do fungo em uma área isenta é através das sementes, portanto, a primeira providência para evitar a doença é empregar sementes sadias no plantio e tratá-las com fungicida adequado, sendo que uma vez presente na área é praticamente impossível erradicar o fungo. A qualidade sanitária de sementes utilizadas nos campos de produção é uma das questões fitossanitárias que vêm sendo debatidas no Brasil há vários anos (Araújo, 2008). O uso de sementes com boa qualidade fisiológica e sanitária, ou dentro dos padrões de tolerância estabelecidos para as principais culturas e doenças está entre as melhores estratégias para diminuir a disseminação de patógenos, de forma que a comercialização de sementes não certificadas e/ou não recomendadas de uma região ou de um Estado para outro, é um dos fatores responsáveis pela disseminação de patógenos como S. sclerotiorum. Este patógeno pode ser transmitido pelas sementes, associado a essas sementes na forma de micélio dormente ou acompanhando o lote através das estruturas de resistência, que podem permanecer viáveis no solo por aproximadamente dez anos (Parisi et al, 2006). Além de controlar patógenos importantes transmitidos pelas sementes, o tratamento de sementes é uma prática eficiente para assegurar populações adequadas de plantas, quando as condições edafoclimáticas durante a semeadura são desfavoráveis à germinação e à rápida emergência, deixando a semente exposta por mais tempo a fungos habitantes do solo (Juliatti e Vilela, 2009). O tratamento de sementes é um eficiente método para o controle do patógeno e redução de formação de escleródios a partir de sementes infectadas. Mueller et al (2002) comprovaram controle superior a 98% na redução de escleródios formados a partir de sementes,
Leandro dos Santos Alvarenga
em dois anos de estudo, pelo uso de fludioxonil, thiram e captan + pentachloronitrobenzene + thiabendazole. Considerando que 2% de sementes infectadas, em um hectare, representam mais de seis mil potenciais pontos de infecção em uma população de 300 mil plantas/ha, ou seja, o risco de infestação é alto, neste caso na cultura da soja. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do tratamento sanitário de sementes de girassol com o uso de fungicidas específico para o tratamento de sementes e fungicidas utilizados em aplicação foliar para o controle de S. sclerotiorum.
Material e métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Epidemiologia do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Lavras (Ufla), no município de Lavras, Minas Gerais. A variedade de girassol cultivar Helio 250 foi submetida à análise sanitária das sementes de acordo com o teste descrito nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009b) e pelo Manual de Análise Sanitária de Sementes (Brasil, 2009a), blotter test, instalado em delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições de 100 sementes, totalizando 500 sementes (Machado, 2000). Posteriormente, as sementes foram submetidas à assepsia com hipoclorito de sódio a 1% durante 30 segundos e enxaguadas em água destilada e, em seguida, secas em câmara de fluxo laminar, sobre papel germitest durante 48 horas. As sementes foram inoculadas pela técnica de condicionamento fisiológico desenvolvida por Machado et al (2012), em delineamento experimental inteiramente casualizado com sete tratamentos e cinco repetições, composta por 100 sementes (Tabela 1). Para a inoculação foram utilizadas placas de Petri de plástico, nas quais foi vertido meio BDA (batata, dextrose e ágar) modificado osmoticamente pelo soluto manitol, com potencial hídrico de –1MPa. Sobre o meio foram colocados discos de micélio de S. sclerotiorum, sendo as placas mantidas em câmara de incubação à temperatura de 20ºC e fotoperíodo de 12 horas, por cinco dias. Após o crescimento micelial do fungo cobrindo a superfície toda do substrato, as sementes desinfestadas foram distribuídas em camada única sobre a colônia fúngica, tomando-se o cuidado de manter a superfície da semente em contato com a superfície da cultura do fungo pelo mesmo período descrito anteriormente. Após a inoculação, as sementes foram tratadas com os fungicidas (Tabela 1) e transferidas para caixas gerbox com papel de filtro umedecido. As caixas foram acondicionadas em câmara de germinação com fotoperíodo de 12 horas com temperatura e umidade controlada entre 20ºC ± 22°C, ideais para o desenvolvimento do patógeno. As avaliações foram realizadas diariamente, através da incidência do micélio de S. sclerotiorum e do número de escleródios presentes nas sementes/tratamento. As avaliações foram realizadas com uso de microscópio estereoscópico e óptico, contabilizando o número de sementes
Figura 1- Exemplos de sementes de girassol inoculadas com Sclerotinia sclerotiorum e tratadas com fungicidas em caixa gerbox. A) Testemunha, B) Tiofanato Metílico + Fluazinam, C) Tiofanato Metíllico, D) Fluazinam
com patógeno e calculando-se sua porcentagem de incidência. Para estabelecer diferenças entre os tratamentos, foi utilizado teste de Scott Knott a 5% de significância com uso do programa Sisvar (Ferreira, 2008).
Resultados e discussões
Nas sementes analisadas através do blotter test foram detectadas inicialmente Rhyzopus stolonifer, Aspergillus niger, Fusarium spp. e Penicillium sp. não havendo a presença de S. sclerotiorum. A avaliação do tratamento de sementes com fungicidas teve início um dia após a inoculação do fungo, devido ao alto nível do inóculo presente nas sementes. Considerando a incidência de S. sclerotiorum ao longo das avaliações nas sementes, observa-se que houve diferença significativa entre os tratamentos fungicidas, segundo teste de comparação de médias de Scott Knott, ao nível de significância de 5% (Tabela 2). Na primeira avaliação os tratamentos tiofanato metílico + fluazinam, fluquinconazol, procimidone e fluazinam inibiram o desenvolvimento de S. sclerotiorum, seguido pelo tratamento tiofanato metílico. Na segunda, terceira, quarta e quinta avaliações os resultados foram semelhantes, somente com acréscimo de incidência do fungo proporcional aos dias após a inoculação nos tratamentos tiofanato metílico,
Tabela 1 - Produtos selecionados para o tratamento de sementes de feijão visando o controle de Sclerotinia sclerotiorum. Laboratório de Epidemiologia, UFLA, 2011 Tratamentos Dosagem mL p.c/100Kg sementes 1-Testemunha (com inoculação) 2-Testemunha (sem inoculação) 3-Tiofanato Metilico 150 4-Tiofanato Metilico + Fluazinam 180 5-Fluquinconazol 300 6-Procimidone 150 7-Fluazinam 150 p.c = produto comercial
fluquinconazol e fluazinam. Foi possível observar neste trabalho que o fungicida tiofanato metílico + fluazinam em todas as avaliações inibiu por total o crescimento do fungo (Figura 1). Diante dos resultados pode-se inferir que a mistura dos ingredientes ativos tiofanato metílico e fluazinam apresentou uma eficácia de controle superior aos compostos aplicados isoladamente. A mistura de ingredientes ativos em uma única formulação é uma tendência que vem aumentado nos últimos anos com o objetivo de alcançar, entre outros fatores, um bom manejo contra a resistência de fungos fitopatogênicos a fungicidas e uma maior eficácia de controle obtida pelo sinergismo dos compostos. Resultado semelhante foi observado por Juliatti & Vilela (2009) no tratamento de sementes de algodoeiro, sendo que o fungicida tiofanato metílico + fluazinam se mostrou mais eficiente no controle deste fungo. De acordo com Machado (2000) o tratamento de sementes com fungicidas é uma prática que oferece garantia adicional ao estabelecimento da lavoura a custos reduzidos.
Conclusões
1) A partir do blotter test pode-se constatar que não houve a presença de S. sclerotiorum associado às sementes de girassol. 2) O fungicida tiofanato metílico + fluazinam apresentou elevada eficácia no controle do patógeno. 3) As maiores porcentagens de incidência do fungo foram observadas nos tratamentos testemunha (com inoculação) e fluquinconazol. 4) Apenas o tratamento testemunha induziu a formação de escleródios.
Considerações finais
Devido à carência de trabalhos para o tratamento de sementes de girassol contra S. sclerotiorum, este pode ser uma alternativa de controle do fungo e servir de sustentação pesquisas futuras. C
Leandro dos Santos Alvarenga, Willian Luis Antonio Zancan, Paulo Estevão de Souza, Ufla Tabela 2 – Porcentagem de infestação de S. sclerotiorum em sementes de feijão submetidas a diferentes tratamentos químicos. Laboratório de Epidemiologia, UFLA, 2011 1o 1-Testemunha (com inoculação) 100 c 2-Testemunha (sem inoculação) 0 a 3-Tiofanato Metílico 13 b 4-Tiofanato Metílico + Fluazinam 0 a 4- Fluquinconazol 0a 5-Procimidone 0a 6-Fluazinam 0a CV (%) 8,97
Avaliações 2o 3o 4o 100 d 100 d 100 d 0a 0a 0a 14 b 15 b 16 b 0a 0a 0a 6 c 24 c 53 c 0a 3a 5a 0a 2a 6a 11,76 16,93 21,80
5o 100 d 0a 16 b 0a 28,2 c 12 b 7b 21,17
1Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, segundo teste de Scott Knott (5%).
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Soja Cecília Czepak
Manejo amplo
O desequilíbrio biológico no agroecossistema por conta da destruição de predadores, parasitoides e patógenos que naturalmente controlam pragas na cultura da soja tem levado ao agravamento do ataque de insetos como lagartas, moscas e percevejos nas lavouras brasileiras. O manejo em grandes áreas, como o adotado com sucesso contra a lagarta rosada e o bicudo nos Estados Unidos, pode ser alternativa para enfrentar a situação caótica que ameaça a sustentabilidade de cultivos no Brasil
A
soja é um dos principais produtos brasileiros de exportação, sendo cultivada desde o Rio Grande do Sul até o extremo Norte e Nordeste do Brasil, com perspectivas ainda de expansão de sua área plantada para novas fronteiras. Somente na safra 2011/2012 foram cultivados aproximadamente 25,1 milhões de hectares de soja no País, proporcionando uma produção de 66,4 milhões de toneladas (Conab, 2012). Todavia, essa cultura pode ser atacada por pragas desde a emergência das plantas até a
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fase de maturação fisiológica. Os problemas de pragas na soja se iniciam com a presença de lagartas na cobertura a ser dessecada (ex. Spodoptera spp.) e os insetos de solo (ex. corós e percevejos castanho), seguidos pelas pragas de superfície (ex. elasmo, piolhode-cobra, lesmas e caracóis) que atacam especialmente as plântulas. Em seguida vêm os besouros e lagartas que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens (ex. lagarta-dasoja, falsa-medideira e lagarta-da-maçã) e, finalmente, os sugadores (ex. mosca-branca,
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percevejos e ácaros) que atacam as folhas ou os grãos em formação. Recentemente, tem sido também relatados ataques severos de lagartas do gênero Helicoverpa em cultivos de soja especialmente na Bahia, Mato Grosso, Goiás e Paraná. No início da década de 1970, antes da implementação dos trabalhos de manejo integrado de pragas na cultura da soja (MIP-Soja), eram realizadas de seis a sete aplicações de inseticidas durante o ciclo da cultura. A partir de 1975, iniciaram-se os trabalhos de MIP-
Soja no Brasil através da parceria envolvendo diferentes instituições de pesquisa. Após a determinação dos níveis de controle para as principais pragas desfolhadoras e sugadoras na cultura, passou-se a recomendar o uso de inseticidas apenas quando fosse necessário, ou seja, quando as populações das pragas estivessem igual ou acima do nível de controle. Após alguns anos, esse quadro alarmante de uso de inseticidas nas lavouras de soja foi revertido para uma média de apenas duas aplicações por safra. Na década de 1980 foi desenvolvido o controle biológico da lagarta da soja através do uso do Baculovirus anticarsia que impulsionou o MIP-Soja. Nos anos 90, uma nova tática de controle era também incluída no MIP da soja, que foi o desenvolvimento do controle biológico dos percevejos fitófagos através do uso de parasitoides de ovos. A implementação do manejo integrado de pragas no passado reduziu em mais de 50% o uso de inseticidas nas lavouras de soja, sem quebra no rendimento de grãos da cultura. Todavia, especialmente na última década, tem sido observado um retrocesso nos programas de manejo de pragas da soja ou até, em muitas situações de abandono dessa estratégia, retornando a uma aplicação abusiva de inseticidas nas lavouras, com consequências indesejáveis dos pontos de vista econômico, ecológico e ambiental. Com o advento da soja transgênica
Crébio José Ávila
Insetos sugadores, como percevejos, são causadores de prejuízos cada vez mais intensos em soja
RR resistente ao herbicida glifosato, que é recomendado para o controle de plantas daninhas em pós-emergência na cultura, e com a chegada da ferrugem asiática no Brasil em 2001, a aplicação de herbicidas e de fungicidas nas lavouras de soja apresentou incremento acentuado. Muitas vezes, os inseticidas têm sido aplicados na cultura em misturas de tanque com herbicidas ou fungicidas com o intuito de “pegar carona” na operação agrícola, sem qualquer análise crítica da viabilidade ou
não do uso dessas misturas. Esse incremento do uso de fungicidas e herbicidas na soja, em adição às aplicações de inseticidas de amplo espectro, tem contribuído para intensificar o desequilíbrio biológico no agroecossistema, em consequência da destruição dos predadores, parasitoides e patógenos que naturalmente controlam as pragas na cultura da soja. Esse desequilíbrio biológico tem condicionado o aparecimento de frequentes ressurgências das pragas principais
Fotos Crébio José Ávila
Insetos de solo, como percevejo castanho, são pragas iniciais na cultura da soja
(lagartas e percevejos), bem como de erupção de pragas secundárias como é o exemplo da lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), da lagarta das maçãs (Heliothis virescens), do complexo de Spodoptera spp. e de Helicoverpa, bem como de ácaros. Em adição a isso, tem-se constatado nos últimos anos o desenvolvimento de resistência dos percevejos fitófagos aos inseticidas mais comuns aplicados na cultura, acentuando-se os casos de insucesso de controle desse grupo de pragas. Neste novo cenário, os inseticidas deixaram de ser usados com base na população de pragas amostradas nas lavouras, desrespeitando-se os níveis de ação preconizados pela pesquisa, passando as pulverizações a serem realizadas com base em critérios subjetivos, sendo muitas vezes as pulverizações programadas com base em calendários. Diante desse cenário caótico, há uma necessidade urgente de se desenvolver, implementar e/ou adequar novos conceitos e estratégias para o controle de pragas na soja, com o objetivo de resgatar o manejo integrado na cultura para que se possa usufruir dos seus benefícios. O controle de pragas na cultura da soja pode ser conduzido efetivamente em pequenas áreas geográficas, tais como lavouras, e até mesmo em nível de fazenda. No entanto, esta abordagem não proporciona soluções duradouras na área manejada, mas soluções temporárias, onde a ocorrências de reinfestações das pragas têm sido frequentes, especialmente devido à influência das áreas vizinhas que não são adequadamente manejadas, bem como pela menor eficácia do controle biológico natural que normalmente prevalece em pequenas glebas. Neste contexto, o manejo de pragas em grandes áreas geográficas pode se constituir alternativa promissora para a retomada do manejo integrado na cultura da soja, proporcionando reflexos positivos dos pontos de vista econômico, ambiental e social. Essa estratégia de manejo baseia-se no monitoramento efetivo e na implementação de estratégias de controle das pragas simultaneamente em uma extensa área geográfica,
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seguindo os princípios do manejo integrado. Com isso, é possível garantir um controle efetivo e organizado de pragas na cultura, proporcionando redução do impacto ambiental dos produtos químicos aplicados nas lavouras, maior eficiência do controle biológico natural no agroecossistema e, consequentemente, redução do custo de produção. A supressão das pragas em áreas amplas (vários campos ou fazendas contíguas) proporciona uma chance reduzida de reinfestação de insetos oriundos de áreas vizinhas. Muitas vezes, plantas hospedeiras no ambiente não manejado (áreas adjacentes), servem como reservatórios de uma determinada espécie de praga, que voltará a impactar o agroecossistema. A concepção do manejo fitossanitário da soja em áreas extensivas deve ser fundamentada basicamente nos seguintes objetivos: reduzir o número de aplicações de inseticidas por safra e, consequentemente, diminuir o seu custo de produção; incrementar o controle biológico natural no agroecossistema; efetuar o monitoramento e a tomada de decisão para o manejo de pragas e aumento da segurança do operário no campo. Atualmente, vários programas que abordam o manejo de pragas em grandes áreas estão sendo conduzidos no mundo, como é o caso do programa de manejo de mosca-dasfrutas que utiliza a técnica de liberação de macho estéril em grandes áreas da Argentina, Austrália, Costa Rica, México, Paquistão, Peru,
Lagartas como a falsa-medideira têm provocado sérios prejuíjos nas lavouras brasileiras
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Portugal, Filipinas e Estados Unidos. Outro exemplo de sucesso é o da lagarta rosada (Pectinophora gossypiella) e do bicudo (Anthonomus grandis) nos Estados Unidos. O monitoramento dos níveis de infestação de insetos-praga em áreas amplas de manejo deve ser visualizado através do auxílio de ferramentas como o Sistema de Informações Geográficas (SIG) e GPS. Receptores GPS fornecem meios para determinar a posição de objetos e indivíduos em locais sobre qualquer lugar da Terra. Todos os dados do receptor GPS podem ser baixados com software livre e então utilizados no software de sistema de informação geográfica. Com este tipo de informação, as decisões de manejo serão baseadas em mapas de prescrição que caracterizam a distribuição espacial dos insetos-praga na área avaliada. Dessa forma, o controle das pragas na área de manejo será realizado somente quando houver necessidade com base no monitoramento. Para que o sistema de manejo de pragas em grandes áreas geográficas tenha sucesso, é necessário que haja uma comunicação efetiva entre os técnicos responsáveis pelo monitoramento, os responsáveis pela tomada de decisão sobre o uso das estratégias de controle, os operadores de máquinas encarregados da pulverização e o produtor rural. Através do auxílio da ferramenta SIG, as glebas de cultivo de soja nas diferentes propriedades dos produtores poderão ser digitalizadas e as suas imagens dispostas on-line em um site. Os dados de monitoramento de pragas poderão ser baixados sobre essas imagens e com isso o produtor, acessando a internet, poderá acompanhar em tempo real a ocorrência de pragas nos diversos talhões de sua propriedade. A possibilidade de implementação com sucesso do manejo de pragas na cultura da soja em áreas extensivas é grande, especialmente em função da enorme quantidade de informações e de táticas de controle disponíveis para o manejo de insetos no agroecossistema de soja. Dentre essas informações, destacam-se os níveis de ação estabelecidos pela pesquisa, especialmente para lagartas e percevejos, os métodos efetivos de amostragens das pragas e inimigos naturais, o controle biológico natural na cultura e a oferta de produtos químicos e biológicos seletivos para serem aplicados quando for necessário realizar o controle das pragas. Espera-se como resultados com o emprego dessa estratégia de manejo a diminuição do número de aplicações de inseticidas na cultura, a redução do custo de produção e dos riscos de manuseio destes produtos pelo operador rural, com benefícios econômicos, C ambientais e sociais. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste
Milho
Reuso produtivo
Charles Echer
Com elevado poder de absorção de nutrientes a cultura do milho desponta entre as que possuem potencial elevado para a aplicação da fertirrigação com águas residuárias. Alternativa tem impactos positivos tanto na nutrição das plantas como na produtividade
E
stima-se que no mundo mais de 99% da água é imprópria para o consumo humano ou tem custo muito elevado para sua exploração. A demanda consumida na agricultura, indústria e no meio urbano é de 65%, 25% e 10%, respectivamente, e o meio ambiente é o receptor dessa água sob a forma de esgoto com e sem tratamento. O reuso agrícola das águas residuárias é uma excelente prática de sustentabilidade, que propicia o controle da poluição, reciclagem dos nutrientes e o aumento da produção. Dentre as culturas com potencial de aplicação de águas residuárias, destaca-se o milho em função do seu elevado poder de absorção de nutrientes. Outra característica que o favorece é o fato de não se desenvolver rente ao solo, ficando menos exposto aos organismos presentes. O milho também é uma cultura de subsistência para os pequenos e médios produtores e a sua produção ocorre comumente em sistema não irrigado. Entretanto, os produtores tem buscado alternativas de produção irrigada com o intuito de produzir o ano inteiro com menor custo. Com a adoção
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da fertirrigação de águas de reuso é possível reduzir ou até mesmo eliminar o emprego de fertilizantes químicos. Por conta da escassez de chuvas, a produtividade do milho na safra 2011/12 na região Sul foi bastante afetada e no Nordeste houve registros de lavouras abandonadas em função do grau de comprometimento. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a redução da produção brasileira de milho foi de 2,8%, considerada baixa em função da recuperação das chuvas no Sul e da excelente produção no Centro-Oeste. A Figura 1 apresentada na sequência mostra a variação da produtividade do milho no Rio Grande do Sul nos últimos dez anos. A oscilação observada na produtividade do milho (Figura 1) se deve principalmente à disponibilidade de água. Os menores índices coincidem com os anos de estiagens mais severas, destacando-se o período 2004/05. É importante salientar que a disposição dos efluentes no solo, mesmo tratados, não poderá causar poluição nem contaminação das águas de acordo com o artigo 29 da Resolução
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Conama 357/05. Ou seja, o aproveitamento das águas residuárias requer uma adequada gestão a fim de evitar passivos ambientais previstos em lei. Diante disso, propõe-se no estudo a avaliação do efeito da fertirrigação com água residuária no cultivo do milho, analisando o índice de área foliar (IAF) como parâmetro biométrico e a produtividade. O estudo proposto foi implantado na Estação Piloto de Tratamento de Esgoto do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, construída junto à Estação de Tratamento de Esgoto São João Navegantes do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre (RS)/(29°59’25.54”S; 51°11’36.33 W elev 5m). Os efluentes utilizados na irrigação originaram-se de dois processos, reator anaeróbio de fluxo ascendente com Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) de dez dias (TDH-10) e Lagoa de Polimento com TDH de 30 dias (TDH-30), além do Tratamento Testemunha (TT), irrigado com água tratada acrescido de adubação de base e cobertura. A área foliar das plantas foi determinada pela multiplicação da largura máxima pelo comprimento da folha vezes o fator 0,75. O índice de área foliar foi determinado pela razão entre a área foliar correspondente à totalidade das plantas (área foliar total desconsiderando a área das folhas senescidas) e a área superficial do solo por elas ocupadas. Para determinação da produtividade foram coletadas três plantas em cada um dos 12 pontos de amostragem por tratamento, totalizando 36. O resultado final foi expresso em mg/ha, sendo o teor de água ajustado a 13% com 1% de impurezas. Com base nos pontos de amostragem individual dos tratamentos, previamente Tabela 1 - Teste de médias das 12 repetições para a variável produção de grãos de milho com umidade ajustada a 13% Tratamento TT (T1) TDH-10 (T2) TDH-30 (T3)
Produção de grãos (Mg/ha-1) 8,4 b 9,2 a 6,3 c
Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si estatisticamente ao nível de 5% pelo Teste de Tukey.
Figura 1 - Produtividade da cultura do milho no Rio Grande do Sul nas dez últimas safras
georreferenciados, procedeu-se a espacialização da produtividade do milho em cada tratamento, através da interpolação dos dados pelo método da Krigagem, utilizando-se um software de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs).
Resultados e discussões
pode ser atribuída à senescência das folhas basais causada pelo autossombreamento. O valor verificado do IAF no Tratamento # 1 de 4.2 é muito próximo ao encontrado em outros estudos. Outros valores de IAF, iguais a 5.3, são relatados para espaçamentos de 0,8m e 4.9 para espaçamentos de 0,4m em áreas irrigadas no Rio Grande do Sul. Na Figura 2 é possível observar um crescimento mais acentuado do IAF a partir dos 51 DAS, notadamente maior no tratamento TT seguido em ordem pelos TDH-10 e TDH-30. A Figura 3 apresenta uma visão em primeiro plano do estande dos três tratamentos, onde se percebe maior uniformidade do tratamento TDH-10 em relação aos outros dois. Os resultados da produtividade foram de 8,4mg/ha (TT), 9,2mg/ha (TDH-10) e 6,3mg/ ha (TDH-30), conforme ilustra o mapeamento da interpolação por Krigagem apresentado na Figura 4. Esses valores seriam considerados altos para o estado do Rio Grande do Sul, caso fossem atingidos em lavoura comercial, já que a produtividade média do milho nos últimos dez anos foi de 3,5mg/ha. Na Figura 4 observa-se que no tratamento 2 houve uma distribuição espacial bem mais uniforme da produtividade quando comparada aos tratamentos 1 e 3. Além disso, a faixa de distribuição da produtividade ficou entre 8,5mg/ha - 13,5mg/ha, enquanto nos tratamentos 1 e 3, esteve entre 8,5mg/ha – 10mg/ ha e 2,5mg/ha – 8mg/ha, respectivamente. A análise estatística da produtividade (Tabela 1) mostrou que há diferença significativa entre os tratamentos, ou seja, os diferentes efluentes exercem papel preponderante no
resultado final. Destacou-se o tratamento 2, que apresentou produtividade superior aos outros dois com 22% acima do T1 e 107% superior ao T3. As maiores restrições à obtenção de altos rendimentos de milho no Rio Grande do Sul são impostas pelo déficit hídrico e o uso da irrigação faz com que o potencial do rendimento de grãos aumente consideravelmente.
Considerações finais
O Índice de Área Foliar (IAF) não acompanhou o comportamento do rendimento de grãos. A ordem decrescente dos valores de IAF nos tratamentos foi: 1º: T1, 2º: T2 e 3º: T3, diferentemente do rendimento dos grãos que ficou: 1º: T2, 2º: T1 e 3º: T3. A fertirrigação com água residuária promoveu um incremento na produção de milho, evidenciando o potencial como fonte de nutrientes. C Roberlaine Ribeiro Jorge e Adriana Gindri Salbego, Unipampa José Antônio Louzada Inst. de Pesq. Hidráulicas/UFRGS Osvaldo José de Oliveira Centro Fed. de Educ. Tecn. Cuiabá Figura 4 - Espacialização da produtividade do milho nos três tratamentos. Tratamento 1 (TT); Tratamento 2 (TDH-10) e Tratamento 3 (TDH-30)
Roberlaine Ribeiro Jorge
O índice de área foliar (IAF) expressa a proporção de cobertura do solo, sendo um fator importante na definição das práticas culturais. A produtividade tem relação direta com IAF, uma vez que reflete a capacidade da planta de interceptar as radiações e efetuar as trocas gasosas com o ambiente. Dentre os principais fatores que atuam nas alterações na área foliar das plantas, destacam-se: genética, oferta de água, luz e nutrientes, competição com plantas invasoras, espaçamentos, danos mecânicos e a incidência de pragas e doenças. O valor médio do Índice de Área Foliar (IAF) foi de 4.2, 2.6 e 1.2, para os tratamentos TT, TDH-10 e TDH-30, respectivamente. A Figura 2 ilustra a evolução dos estádios fenológicos através do IAF. O milho híbrido cultivado apresentou em ordem decrescente de IAF, o Tratamento Testemunha – T1 seguido por T2 e T3. O valor médio do IAF foi de 4.2, 2.6 e 1.2, para os tratamentos 1, 2 e 3, respectivamente. O comportamento observado no IAF ficou dentro do esperado, ou seja, o IAF naturalmente cresce (28 - 80 DAS) e depois de atingir um ponto de máxima (80 DAS) decresce devido à senescência das folhas. A queda mais acentuada de IAF, após 81 DAS,
Figura 2 - Variação do índice de área foliar de plantas de milho nos três tratamentos. Porto Alegre (RS). Tratamento # 1 (TT); Tratamento # 2 (TDH-10) e Tratamento # 3 (TDH-30)
Figura 3 - A: Tratamento # 1 – TT (28 DAS); B: Tratamento # 2 – TDH-10 (42 DAS); C: Tratamento # 3 – TDH-30 (45 DAS)
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Milho Charles Echer
Reação testada
Nematoides do gênero Meloidogyne são causadores de perdas na produção de diversas lavouras comerciais, como ocorre em áreas de plantio de milho. Um dos métodos utilizados para o controle desses microrganismos reside no emprego de plantas antagonistas em sucessão ou rotação de culturas. Nesse sentido, a identificação de cultivares resistentes tem papel importante na redução da população desses vermes no solo
O
s nematoides do gênero Meloidogyne estão amplamente distribuídos e atacam quase todas as plantas cultivadas, com perdas consideráveis na produção e potencial para afetar a qualidade dos produtos (Sasser & Kirby, 1979). Contribuem para isso a alta capacidade reprodutiva desses nematoides, o que leva a um rápido crescimento das populações no campo, e o fato de serem espécies perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas brasileiras (Ferraz, 1985). Entre os métodos disponíveis para o controle de nematoides nas áreas infestadas destaca-se a utilização de plantas antagônicas, em rotação ou sucessão de culturas, entre as alternativas de controle recomendadas (Ferraz & Valle, 1997). Essa prática pode manter as populações dos nematoides abaixo do limiar de dano econômico, sem oferecer riscos ao ambiente (Ferraz & Valle, 1995). Neste contexto, cultivares resistentes de milho apresentam grande potencial, pois além de propiciarem retorno econômico também permitem a redução de nematoides no solo, minimizando consequentemente as perdas nas culturas seguintes. O sintoma mais frequente decorrente do ataque de Meloidoyne sp. é a presença de galhas nas raízes das plantas parasitadas. Todavia,
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esse sintoma não é obrigatório na interação planta-nematoide (Levy et al, 2009). Pode ocorrer formação de galhas causadas por Meloidogyne sp. em híbridos de milho, porém, são frequentemente pouco visíveis a olho nu. Essas características dão à cultura do milho uma aparência de irregularidade, podendo aparecer concentrada em pequenas áreas ou em grandes extensões (Embrapa, 2011). Entretanto, existem relatos de perdas na produção de milho (Lordelo et al, 1986). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a reação de híbridos de milho a M. javanica e M. incognita para sua utilização em rotação ou sucessão de culturas para a redução da população desses patógenos e a produção econômica em áreas infestadas.
Material e métodos
O experimento foi conduzido na casa de vegetação da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), em Rondonópolis, Mato Grosso, durante o ano de 2011. Foram testados 17 híbridos de milho para M. javanica e M. incognita (Tabela l) e mais os padrões de suscetibilidade (tomateiro Santa Cruz) e de resistência (crotalária Crotalária spectabilis). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com seis repetições. Os tratamentos foram
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semeados em vasos de argila, com substrato esterilizado (três partes de areia: uma de solo), com autoclave. O inóculo foi obtido a partir de uma população pura de M. javanica e M. incognita, mantida e multiplicada em tomateiro Santa Cruz durante 60 dias e prepararam-se os inóculos, utilizando a técnica de (Coolen & D´Herde, 1972). A inoculação ocorreu cinco dias após a emergência, com o uso de cinco mil ovos e J2 dos respectivos nematoides por plântula, depositados em dois orifícios situados a aproximadamente 2cm do hipocótilo da plântula, à profundidade de 3cm. A avaliação foi realizada aos 60 dias após a inoculação. Os sistemas radiculares foram coletados, lavados cuidadosamente e triturados em liquidificador, para extração pelo método de (Coolen & D´Herde, 1972). Segundo Oostenbrink (1966), para cada tratamento foi calculado o fator de reprodução (FR) = população final/população inicial de ovos.
Resultados e discussão
Os padrões de suscetibilidade (tomateiro Santa Cruz) apresentaram Fator de Reprodução (FR) alto (> 47,3), confirmando-se a viabilidade do inóculo mantido em casa de vegetação, tanto para M. javanica (Tabela 1) quanto para M. incognita (Tabela 1). O
comportamento da crotalária como padrão de resistência às duas espécies de nematoides foi semelhante (Tabela 1). O FR de M. javanica nos híbridos de milho (Tabela 1) variou de 0,2 a 7,5. Com base nos resultados obtidos pode-se observar que, dentre os híbridos testados, apenas Dow 2B587, Penta, Truck, Impacto, Somma, Omega e Status foram resistentes (FR < 1,0) a M. javanica. Os demais comportaram-se como suscetíveis (FR > 1,0) a M. javanica (Tabela 1). Para M. incognita, o FR nos híbridos de milho (Tabela 1) variou de 9,4 e 26,3. Todos os híbridos de milho classificaram-se como suscetíveis (FR > 1,0) a M. incognita (Tabela 1). Segundo Pinto (2006), é necessário conhecer muito bem o Fator de Reprodução (FR) das espécies de nematoides que parasitam as cultivares de milho disponíveis regionalmente. O FR expressa se a cultivar é excelente, boa, fraca ou não hospedeira dos nematoides presentes na área de cultivo. Ribeiro et al (2002), ao avaliar 35 genótipos de milho quanto à reação à M. javanica e M. incognita, verificaram que 97% dos genótipos se mostraram resistentes a M. javanica. Porém, nenhum desses materiais foi resistente a M. incognita, demonstrando a dificuldade de se obter cultivares de milho resistentes a essas espécies de nematoides. A mesma situação foi observada no presente estudo para M. javanica
Tabela 1 - Reação de híbridos de milho a Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita. Aprosmat, Rondonópolis, MT, 2011 Meloidogyne javanica Meloidogyne incognita Reação FR Reação FR R R 0,2 Crotalária spectabilis (PR) 0,2 S 0,2 R 21,6 DOW 2B587 S 7,5 S 14,8 FÓRMULA S 0,6 R 16,8 STATUS S 4,8 S 13,3 FASTER S 0,2 R 10,3 PENTA S 0,5 R 14,4 IMPACTO S 0,4 R 11,6 TRUCK S 2,9 S 13,2 CELERON S 0,6 R 19,5 OMEGA S 0,5 R 18,6 SOMMA S 2,6 S 14,5 CD 308 S 1,4 S 26,3 CD 351 S 4,4 S 24,6 CD 356 S 3,3 S 10,2 CD 304 S 1,1 S 21,6 BRS 1010 S 1,9 S 9,4 GNZ 2005 S 4,0 S 10,9 30K75Y S S 47,3 Tomateiro ‘Santa Cruz’ (PS) 43,5 Genótipos
1. Médias obtidas em seis repetições; 2. FR= fator de reprodução (população final/população inicial); 3. R= resistente; S= suscetível; 4. PR= padrão de resistência; PS= padrão de suscetibilidade.
e M. incognita. Nas áreas infestadas deve-se optar sempre pela semeadura de híbridos resistentes (FR <
A inoculação ocorreu cinco dias após a emergência, com o uso de 5 mil ovos e J2 dos respectivos nematoides
1,0) aos nematoides das galhas. Essa prática resulta em redução mais rápida das populações do patógeno no solo e garante a produção econômica da cultura semeada na sequência. No presente estudo, também ficou claro que é mais fácil selecionar híbridos de milho com resistência a M. javanica do que para M. incognita. Na soja, diferentemente do que ocorre com o milho, foi mais fácil selecionar cultivares resistentes para ambas as espécies C (Ribeiro et al, 2007). Alexsandro Tosta Silvério e Rita de Cássia Santos Goussain, IFMT – Campus São Vicente Neucimara Rodrigues Ribeiro, Don Mario, Tânia de Fátima S. dos Santos e Samara Lorrâine S. da Silva, Aprosmat
Inoculação promissora
Fotos Charles Echer
Milho O uso de inoculantes à base de Azospirillum na cultura do milho tem apresentado bons resultados em produtividade, mesmo quando as doses de nitrogênio mineral são menores que as comumente recomendadas para a cultura. Uma geração de economia ao produtor que além de fornecer lucratividade ajuda a otimizar o uso dos recursos naturais
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m busca do aumento de produção frente à crescente demanda pela cultura do milho, é determinante falar de adubação, onde o suprimento de nitrogênio (N) é um fator crucial, uma vez que trata-se de um dos nutrientes requeridos em maior quantidade pela planta, sendo importante constituinte de moléculas que se relacionam com o desenvolvimento e a produtividade da cultura. Apesar de o N ser abundante na atmosfera, as plantas não conseguem aproveitá-lo diretamente, fazendo dos fertilizantes sintéticos uma das principais fontes do nutriente utilizadas na cultura do milho. Na tentativa de diminuir os custos econômicos e ambientais do uso de N na forma mineral, as pesquisas estão se voltando para a utilização de inoculantes com base em bactérias diazotróficas, dentre as quais se destaca o gênero Azospirillum. Essas bactérias são capazes de estabelecer uma relação benéfica com gramíneas, colonizando tanto o interior quanto a superfície das raízes e, assim, fixando e disponibilizando o nitrogênio atmosférico para a planta em troca de fotoassimilados. No caso do milho, ao Tabela 1 - Produtividade de milho (híbrido P30F53) com e sem inoculação de Azospirillum brasilense Cepa BR 11005 com diferentes doses de nitrogênio em base e incremento na produtividade pela inoculação. Guarapuava (PR), 2011 Nitrogênio em Inoculação com Azospirillum brasilense Incremento pela inoculação % base (kg/ha) Sem Com Kg/ha 14,98 0 13670 b B 15718 b A 2048 5,34 20 15362 a A 16182 ab A 820 4,47 40 16322 a A 17051 a A 729 7,93 Média 15118 B 16317 A 1199 Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Coeficiente de variação = 9,24%.
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contrário do que ocorre na soja com Bradyrhizobium, a inoculação com Azospirillum não leva à formação de nódulos nas raízes, no entanto, a eficiência dessa tecnologia não é minimizada por esse efeito. A inoculação com Azospirillum brasilense tem se apresentado como uma alternativa para suplementar ou até mesmo substituir a adubação nitrogenada de base da cultura do milho. De acordo com resultados obtidos em experimentos conduzidos em Guarapuava (Paraná) na safra 2010/2011 como avaliação de diferentes doses de N em base (0, 20kg/ha e 40kg/ha) foram constatados incrementos na produtividade de milho com a inoculação de Azospirillum brasilense Cepa BR 11005. Na ausência de N na base da cultura o aumento na produtividade foi de 2.048kg/ha (14,98%) (Tabela 1). Apesar de não ocorrer diferença significativa na presença da adubação de base, constatou-se que com o aumento da dose de N tende-se a reduzir o efeito da inoculação com a bactéria diazotrófica, uma vez que com 20kg/ ha de N o incremento pela inoculação foi de 820kg/ha (5,34%), enquanto que com 40kg/ha de N o incremento foi de 729kg/ha (4,47%). As produtividades obtidas neste mesmo experimento foram em geral bastante elevadas em decorrência da posição geográfica da região de cultivo, adaptabilidade do genótipo, alta fertilidade do solo e também devido às condições climáticas, destacando-se as abundantes precipitações no período de condução da cultura. Ao analisar o efeito da adubação nitro-
O suprimento de nitrogênio tem grande importância para a manutenção da produtividade em millho
genada de cobertura (Figura 1), percebe-se que com o aumento da dose de N a resposta na produtividade de milho é quadrática. No entanto, cabe destacar que com a inoculação a produtividade de milho foi superior em comparação à sua ausência, sendo que as maiores diferenças ocorreram quando não se utilizou adubação na base da cultura. Na ausência da adubação de base, sem a inoculação de Azospirillum brasilense a máxima eficiência técnica obtida corresponderia a 16.097kg/ha com aplicação de 343kg/ha de N em cobertura. Com a inoculação esta mesma produtividade poderia ser obtida com 135kg/ha de N, ou seja, 208kg/ha de N
a menos (Figura 1). Esses resultados são visíveis mesmo na presença de adubação nitrogenada no momento da semeadura. Com a aplicação de 20kg/ha de N sem inoculação a máxima produtividade de grãos seria de 17.179kg/ha aplicandose 269kg/ha de N, enquanto que esta mesma produtividade seria obtida com a aplicação de 174kg/ha, ou seja, com a aplicação de 95kg/ha a menos. Com relação à adubação com 40kg/ha de N na base da cultura, as máximas produtividades de milho foram semelhantes tanto com a inoculação quanto sem a inoculação, contudo, cabe destacar que a área de milho inoculada apresentou maiores resultados de produtividade
Figura 1 - Produtividade de milho (híbrido P30F53) com e sem a inoculação de Azospirillum brasilense em função das doses de nitrogênio em cobertura com diferentes adubações de base. Guarapuava (PR), 2011
Figura 2 - Produtividade de milho (híbrido P30R50) sem e com inoculação de Azospirillum brasilense na semente e no sulco de semeadura em função das doses de nitrogênio em cobertura. Guarapuava (PR), 2011
quando não se utilizou N em cobertura ou mesmo quando as doses deste nutriente foram baixas. Estes resultados positivos da inoculação de Azospirillum brasilense na presença da adubação nitrogenada possivelmente estejam relacionados à produção de substâncias promotoras do desenvolvimento em plantas, o que acarreta alteração na morfologia da raiz, resultando no aumento do volume de solo explorado e consequentemente maior absorção de água e nutrientes. Todos os resultados apresentados até aqui foram obtidos com a inoculação via semente que é, atualmente, a forma mais utilizada de inoculação de Azospirillum brasilense no milho. Uma alternativa eficiente seria a aplicação do inoculante via sulco de semeadura, com o dobro da dose daquela usada nas sementes. E, apesar da inoculação via sulco necessitar de adaptações na se-
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meadora para aplicação do inoculante, esta via de inoculação reduz o tempo, a mão de obra e os custos relacionados com a operacionalidade do processo. Entretanto, ambas as vias de inoculação proporcionam incremento de produtividade em comparação às plantas de milho não inoculadas (Figura 2). Isso foi comprovado experimentalmente na região de Guarapuava (PR), onde a aplicação de 280kg/ha de N na ausência da inoculação possibilitou alcançar 14.000kg/ha de milho, enquanto que na aplicação via sulco necessitaria em torno de 180kg/ ha e via semente de 240kg/ha de N para obter a mesma produtividade. É necessário considerar, entretanto, que vários fatores como as características do solo, a quantidade de matéria orgânica, o tamanho do inóculo, a interação com comunidade nativa de microrganismos, a compatibilidade com agroquímicos, as técnicas de inoculação e a interação entre
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a estirpe bacteriana e o genótipo de milho podem influenciar na população e no desempenho das bactérias inoculadas. Os resultados de pesquisa dos últimos anos com a cultura do milho têm comprovado o grande potencial do uso de inoculantes à base de Azospirillum. Esta é uma ferramenta capaz de proporcionar ganhos de produtividade mesmo quando as doses de nitrogênio mineral são menores que as comumente recomendadas para a cultura. Essa geração de economia ao produtor influencia não somente na lucratividade, mas também possibilita melhorar o uso dos recursos naturais disponíveis, desenvolvendo assim um sistema de produção baseado nos princípios do que se conhece por C “Agricultura Sustentável”. Jaqueline H. Novakowiski, Simone Basi e Itacir Eloi Sandini, Univ. Estadual do Centro-Oeste
Informe comercial
O manejo da cultura do milho com a utilização da tecnologia Bt Fonte: DuPont Pioneer
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Todas essas ferramentas configuram mais uma opção para o manejo integrado de pragas e de plantas daninhas. Combinado com boas práticas de manejo, o uso da tecnologia resulta em benefícios como a redução de custos através do menor número de aplicação de inseticidas, ganhos em rendimento, melhoria na qualidade de grãos, e ação da proteína inseticida durante todo o ciclo da cultura. Porém, ainda com a utilização da tecnologia, é necessário o constante monitoramento da lavoura para verificar se existe ou não a necessidade de controle complementar através da utilização de inseticidas. Além disso, outras pragas até então consideradas secundárias, como percevejos e pulgões, após a utilização dessas tecnologias, passaram a ter um grande impacto nas lavouras, mantendo a necessidade de aplicação de inseticidas químicos. Além da utilização correta das práticas de Manejo Integrado de Pragas, é extremamente importante a adoção de programas de Manejo de Resistência de Insetos, preservando assim a susceptibilidade das populações de insetos à toxina Bt. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) O manejo integrado de pragas, segundo a FAO, é um “sistema que associa o ambiente e a dinâmica populacional da espécie, utilizando todas as técnicas e métodos apropriados de for-
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O uso de inseticidas registrados juntamente com a dessecação (principalmente na segunda dessecação), auxilia na redução da população inicial de pragas, principalmente aquelas que são o principal desafio para o tratamento de sementes; ajuda no controle de lagartas de ínstares mais avançados, que podem causar danos no estabelecimento inicial da lavoura, mesmo em lavouras com a tecnologia Bt; e contribuem para a manutenção do estande inicial da lavoura. ma tão compatível quanto possível, mantendo a população da praga em níveis abaixo dos capazes de causar dano econômico.” O monitoramento da lavoura é parte integrante e fundamental do MIP, e juntamente com o nível de dano econômico e nível de controle, dão subsídio para o produtor definir o momento correto, e a melhor forma de controle de pragas na lavoura. A Importância do Monitoramento O monitoramento da lavoura é o primeiro passo para a implementação de um correto manejo integrado de pragas. O monitoramento deve iniciar mesmo antes do plantio, sendo que o produtor que optar pelo plantio de híbridos de milho com a tecnologia Bt, de forma isolada, ou em associação com o tratamento de sementes, deve monitorar tanto a pré-cultura quanto a lavoura, pois a presença de lagartas remanescentes na palhada (em sistema de plantio direto), a existência de lagartas não controladas pela tecnologia Bt, fatores que propiciam o ataque de pragas, como irrigação em um ambiente árido, plantio de milho sobre milho, sobreposição verão e safrinha, compactação, problemas de sanidade, controle de plantas daninhas deficientes, estresse hídrico prolongado, entre outros, ou a ocorrência de forte pressão de lagartas e outros insetos, podem aumentar a necessidade de aplicações complementares com inseticidas. 1. Dessecação Antecipada e Aplicação de Inseticidas As culturas antecessoras ao milho, podem funcionar como plantas hospedeiras para as principais pragas que atacam a cultura. Assim, no plantio de milho verão, principalmente no sistema de plantio direto, a pressão de pragas na fase inicial da cultura pode ser maior quando comparada ao plantio convencional. Neste caso, uma das principais estratégias para a redução da população inicial de insetos, é a realização da dessecação antecipada da cultura de inverno (manejo em préplantio) com pelo menos 30 dias de antecedência ao plantio do milho. Recomenda-se uma segunda dessecação logo antes da semeadura, visando o controle do primeiro fluxo de plantas daninhas após a primeira dessecação.
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2. Utilização do Tratamento de Sementes Industrial O Tratamento de Sementes Industrial (TSI) com inseticidas é uma pratica que visa o controle das pragas iniciais da lavoura, reduzindo assim os danos causados pelos insetos, que resultam em redução do estande, e no aparecimento de plantas dominadas. A escolha do tratamento correto de acordo com o espectro de pragas que se pretende controlar, associada com a utilização de processos industriais, assegura, além do controle mais eficaz destas pragas, em uma maior segurança na dose de aplicação, maior comodidade para o produtor, que recebe a semente pronta para plantar, e menor envolvimento de funcionários da fazenda com o manejo de inseticidas, além de redução de embalagens para descarte. 3. Definição do Nível de Dano Após a implementação da lavoura, o monitoramento continua a ser importante para a melhor tomada de decisão em relação ao controle de pragas. A decisão de se realizar ou não uma aplicação complementar de inseticida depende de um bom monitoramento e amostragem correta. Cada grupo de pragas possui um padrão de amostragem especifico, e diferentes níveis de dano econômico. Para os insetos lepidópteros, recomenda-se a adoção de um padrão de amostragem em zigue-zague, ou de perímetro, sendo que devem ser amostradas 20 plantas em sequencia, distantes no mínimo 30 metros da entrada da lavoura (bordadura). Esta amostragem deve ser realizada em pelo menos 5 pontos diferentes da lavoura, totalizando um total de 100 plantas. (Veja a Imagem 2) Imagem 2
O
milho Bt é obtido através da inserção de segmentos de DNA de uma proteína (chamada proteína Cristal),presente na bactéria de solo Bacillus thuringiensis, no DNA do milho. Liberados para comercialização no Brasil no ano de 2007, os híbridos com a tecnologia YieldGard® foram os primeiros híbridos Bt comercializados pela DuPont Pioneer no Brasil. Após a aprovação comercial, a partir de 2009 a DuPont Pioneer passou também a comercializar os híbridos com a tecnologia Herculex® I, que além da tecnologia de proteção contra insetos, confere também a tolerância ao herbicida Glufosinato de Amônio, registrado para a aplicação em pós emergência do milho com a marca Liberty®. E, a partir de 2012, passaram a ser comercializados os híbridos com a tecnologia Optimum™ Intrasect™ que combina as tecnologias YieldGard® e Herculex®I, ampliando o espectro de proteção contra insetos. (Veja a Imagem - 1)
No caso da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), tanto em lavouras convencionais, quanto em lavouras com a utilização da tecnologia Bt, recomenda-se o controle com inseticidas quando 17% das plantas apresentarem lesões circulares ou indefinidas no cartucho, de até 1,3 cm de comprimento nas folhas novas ou já expandidas (nível 3 ou superior da Escala Davis).
expandidas), deve ser realizada a aplicação de inseticidas. A presença deste tipo de dano pode indicar que existem insetos remanescentes da cultura anterior, uma vez que é necessário que as lagartas tenham aparelho bucal completamente desenvolvido para esse tipo de dano. Para o controle de insetos sugadores (percevejos, pulgões e cigarrinhas), recomenda-se o controle inicial, e caso necessário, o controle através de aplicação de inseticida foliar na ultima entrada do trator, ou aplicação aérea, caso a cultura se encontre em um estágio mais avançado de desenvolvimento. 4. Rotação de Culturas A rotação de culturas, reduz a fonte de inóculo de doenças para a cultura subsequente e reduz a população inicial de alguns insetos praga. Além disso, auxilia no manejo das plantas daninhas (possibilidade de alternar herbicidas e modos de ação), o que acarreta maiores produtividades no sistema.
No caso de aplicação complementar, recomenda-se uma nova visita a lavoura pelo menos cinco dias após a aplicação para a verificação da efetividade da mesma. Quando mais de uma aplicação for necessária, recomendase a rotação de diferentes princípios ativos de inseticida. Nas lavouras com a utilização da tecnologia Bt, não se recomenda a aplicação de inseticidas orgânicos que tenham como base o Bacillus thuringiensis. Além disso, quando o percentual de plantas cortadas rente ao solo, ou com coração morto for superior a 3%, e a lavoura se encontrar entre os estágios de desenvolvimento V1 a V6 (entre uma folha completamente expandida ate 6 folhas completamente
Tabela 5
5. Manejo de Resistência de Insetos (MRI) O Manejo de resistência de insetos é um importante componente do manejo integrado de pragas. A utilização de diferentes estratégias no controle dos insetos, assim como o uso de diferentes modos de ação de inseticidas, retarda o aumento da população de insetos resistentes. Mesmo no caso de lavouras com a tecnologia Bt, é importante o correto manejo da lavoura para se evitar o aparecimento de populações resistentes e preservar a tecnologia. A resistência de insetos é uma característica genética que pode estar presente nos insetos mesmo antes da utilização de qualquer método de controle. O que o produtor deve evitar é a seleção desses indivíduos resistentes a determinada prática de controle, seja ela a utilização de inseticidas ou de biotecnologia. (Veja ilustração na tabela 5) No caso especifico das lavouras com a tecnologia Bt, uma prática importante no manejo de resistência, é a utilização das áreas de refúgio. Define-se como área de refúgio o plantio de uma área proporcional a não menos que 10% do
plantio com híbridos com a tecnologia Bt. Nas áreas de refúgio, não se recomenda a aplicação de inseticidas orgânicos que tenham o Bacillus thuringiensis como principal ingrediente ativo. O principal objetivo das áreas de refugio, é a manutenção de uma população de insetos alvo de qualquer das tecnologias Bt, que não seja exposta a proteína inseticida. Assim, quando adultos, estes insetos podem se acasalar com um possível sobrevivente a tecnologia Bt, naturalmente resistente, transmitindo a característica de susceptibilidade para as gerações futuras, preservando assim a tecnologia. (Veja a Tabela 6) Tabela 6
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Além disso, recomenda-se observar a presença de lagartas vivas de terceiro instar (até 10mm). Em regiões onde historicamente há maior pressão do inseto Spodoptera frugiperda (região do Brasil Central) e, principalmente sob condições ambientais que favorecem a ocorrência de um rápido e melhor desenvolvimento do inseto, possibilitando um maior número de gerações, recomenda-se antecipar o controle com inseticida utilizando-se como paramento o nível de 10% de plantas atacadas. (Veja a Imagem 3)
Norma de Coexistência Além da utilização das praticas de MIP e MRI, é importante que o produtor que opte pela utilização da tecnologia Bt, respeite a Norma de Coexistência. A Norma de Coexistência (Resolução Normativa N. 4), ordena que o produtor que plantar qualquer híbrido geneticamente modificado, deve respeitar uma distância mínima de 100 metros entre sua lavoura e a lavoura convencional vizinha, ou realizar o plantio de 10 linhas de milho convencional de mesmo ciclo e porte, além de uma distância de 20 metros. O agricultor que descumprir a norma de coexistência poderá ser fiscalizado e está sujeito as sanções previstas em lei.
® YieldGard é marca registrada utilizada sob licença da Monsanto Company. ® Herculex é marca registrada e utilizada sob licença da Dow AgroSciences. ® Liberty Link é marca registrada e utilizada sob licença da Bayer AgroScience. ® Roundup Ready Milho 2 é marca registrada utilizada sob licença da Monsanto Company.
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Cana-de-açúcar
Coberta e profunda
O capim-camalote (Rottboellia exaltata) ocorre com frequência em áreas de cultivo da cana-de-açúcar de diversas regiões brasileiras. Ao realizar seu manejo é importante estar atento a aspectos como nível de palhada e profundidade da semeadura, ambos capazes de interferir na emergência dessa planta daninha
R
ottboellia exaltata, conhecida popularmente como capim-camalote, é uma planta anual ou perene, dependendo das condições do ambiente. Sua reprodução se dá por sementes multiplicadas a partir de pedaços de caules, que apresentam gemas nos nós (Kissmann, 1997). Nos canaviais brasileiros ocorre com certa frequência no Rio de Janeiro (Oliveira e Freitas, 2008) e em focos de infestação em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Há relato de sua ocorrência também nas Regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil (Kissmann, 1997). Diante do corte mecanizado sem queima da cana-de-açúcar e a manutenção de palha na superfície do solo, a dinâmica de infestação de capim-camalote nos canaviais pode ser afetada. Nesse sistema de colheita são observadas drásticas reduções na ocorrência de plantas daninhas, principalmente de gramíneas (Velini e Negrisoli, 2000). A esse respeito, altos níveis de palha de cana foram eficazes no controle de capim-camalote (Oliveira e Freitas, 2009). Com o objetivo de estudar a emergência de capim-camalote influenciada pela profundidade de semeadura e quantidade de palha de cana-de-açúcar sobre o solo, foi desenvolvido experimento em casa de vegetação, no período de maio a junho de 2010 no Departamento de Fitossanidade da Unesp, Campus de Jaboticabal, São Paulo. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições. Foram estudadas quatro quantidades de palha (0t/ha, 5t/ha, 10t/ha e 15t/ha) na superfície do solo e cinco profundidades de semeadura (0cm; 2,5cm; 5cm; 7,5cm e 10cm) de capimcamalote. Cada unidade experimental foi constituída por um vaso plástico com capacidade para oito litros de solo. Como substrato foi utilizada a mistura solo, areia e composto orgânico, na proporção 3:1:1, respectivamente.
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Semearam-se duas gramas de sementes de capim-camalote por vaso. Parte do substrato contido nos vasos foi retirada previamente e, com o auxílio de uma régua, feita a deposição das sementes nas profundidades indicadas para cada tratamento. Para os tratamentos com palha, após a semeadura, cada parcela recebeu a palha de cana (variedade RB 867515, 3º corte), depositada em camada uniforme e em quantidade equivalente a cada tratamento. Aos 14 e 35 dias após a semeadura (DAS) da planta daninha fez-se a contagem do número de plantas emergidas. Aos 35 DAS foi quantificada a matéria seca da parte aérea. Os dados obtidos foram submetidos ao teste F da análise de variância. Os efeitos das quantidades de palha e das profundidades de semeadura ou da sua interação, quando significativos, foram comparados por ajuste polinomial dos dados. Com base nos resultados obtidos, verificou-se que, para todas as profundidades de semeadura estudadas, a densidade de
Plantas de capim-camalote em área de cana-de-açúcar
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Figura 1 - Densidade de plantas de capim-camalote aos 14 e 35 di 14 DAS
Figura 2 - Densidade de plantas de capim-camalote aos 14 e 35 dias 14 DAS
plantas diminui linearmente com o aumento da quantidade de palha sobre o solo, com exceção para semeadura superficial aos 14 DAA (Figura 1). Dessa forma, independentemente da profundidade de semeadura, houve redução na emergência de capim-camalote com o aumento da quantidade de palha de cana. Esse efeito foi ainda mais pronunciado aumentando-se a profundidade de deposição das sementes no vaso. Nas profundidades de 2,5cm a 10cm, a matéria seca das plantas reduziu linearmente com o aumento da quantidade de palha. O mesmo ocorreu quando as sementes foram distribuídas na superfície, mas, com ajuste polinomial dos dados. Assim, com 15t/ha de palha sobre o solo, para as cinco profundidades estudadas, obteve-se menor acúmulo de massa pelas plantas de capim-camalote. Esses dados corroboram com Oliveira e Freitas (2009). A adição de resíduos vegetais (4t/ha e 6t/ha) de arroz na superfície do solo também reduziu a emergência de R. cochinchinensis (BolfreyArku et al, 2011). Sem a cobertura do solo a emergência da planta daninha não foi afetada pelas profundidades de semeadura (Figura 2). Esse efeito também foi observado para 5t/ha de palha, porém, apenas para densidade de plantas. Para matéria seca, a emergência diminuiu aumentando-se a profundidade de semeadura. Com 10t/ha e 15t/ha de palha, a densidade e a matéria seca de capim-camalote reduziram linearmente com o aumento da profundidade de semeadura. Em outro estudo, a emergência de R. cochinchinensis foi maior quando as sementes
as após a semeadura (DAS), além da matéria seca da parte aérea aos 35 DAS, aumentando-se as quantidades de palha de cana-de-açúcar sobre o solo, associado às profundidades de semeadura 35 DAS
após a semeadura (DAS), além da matéria seca da parte aérea aos 35 DAS, aumentando-se a profundidade de semeadura no solo, associado às quantidades de palha de cana-de-açúcar na superfície 35 DAS
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0 Palha (t/ha)
Núbia Maria Correia, Everton Henrique Camilo e Bruno Daniel, Unesp
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obtenção de níveis adequados de controle de capim-camalote, principalmente, quando as sementes foram depositadas mais próximas C da superfície do solo.
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foram semeadas na superfície e diminuiu com o aumento da profundidade de semeadura no solo, com a ausência de plantas emergidas a partir das sementes depositadas a 10cm (Bolfrey-Arku et al, 2011). Esses resultados são justificados, pelo menos em parte, pela capacidade das sementes dessa espécie de germinar tanto no claro como no escuro (Thomas e Allison, 1975). Contudo, embora a luz não seja um requerimento para a germinação das sementes, com o regime claro/escuro há estímulo na germinação de R. Cochinchinensis (Bolfrey-Arku et al, 2011). Portanto, com a cobertura do solo, principalmente nos maiores níveis de palha, associada às maiores profundidades de semeadura, houve menor emergência e acúmulo de massa pelas plantas de capim-camalote. Sem palha na superfície, a profundidade de semeadura não afetou a dinâmica da planta daninha. Embora tenha sido observada redução na emergência de plântulas com o aumento dos níveis de palha, isto não foi suficiente para a
(a)
(b)
Palha (t/ha)
(a)
(b)
Figura 3 - Emergência de capim-camalote (Rottboellia exaltata) quando semeado na superfície do solo (a) ou a 10 cm de profundidade (b) em função da quantidade de palha (0, 5, 10 e 15 t/ha) sobre o solo
Coluna ANPII
Quebra de paradigmas Conservador, por natureza, o ser humano acaba muitas vezes por resistir a mudanças e a novos conceitos. Na agricultura não é diferente, mas ainda que de modo lento o uso de biológicos, em conjunto com práticas químicas e físicas, tem se consolidado ao longo dos anos
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agricultura primitiva usava exclusivamente recursos naturais, não industrializados. Adubos orgânicos, farinha de ossos e outros poucos insumos eram adicionados às lavouras para aumentar a produtividade. Com os trabalhos de Justus vonLiebig, na metade do século 19, iniciou-se a fase do uso de fertilizantes químicos na agricultura. Uma vez descoberta a nutrição mineral das plantas, a incorporação de produtos químicos, à base de NPK, passou a ser uma prática comum, lastreada por grande número de trabalhos científicos. Na década de 70 do século 20 a adubação química chegou a seu auge. A revolução verde, utilizando
matéria orgânica, perdas qualitativas e quantitativas da microflora e micro fauna do solo, com consequente decréscimo de produtividade, levaram a novas reflexões sobre o papel do solo na agricultura mundial, em especial nas áreas tropicais, onde os fatores de degradação são mais fortes. A agricultura moderna, a agricultura que se prenuncia para as próximas décadas, aponta de forma muito clara para o uso racional dos insumos, entre eles, indispensáveis, os fertilizantes químicos, mas associados a práticas físicas e biológicas para a manutenção do solo como um organismo vivo e não apenas como suporte para os fertilizantes. Práticas como o plantio direto, a integração lavoura-pecuária
servadorismo de grande parte dos seres humanos. Estudos clássicos de marketing mostram que apenas 13% dos consumidores, os inovadores, se lançam prontamente na aquisição de novos produtos e adoção de novas ideias e conceitos. Os demais, dentro da segurança do que já existe consolidado, vão adotando mais lentamente as inovações e outros praticamente só as adotam quando o antigo não existe mais. As práticas biológicas, dentro de um moderno e futurista conceito, também fazem parte desta curva. Anos e anos de apego a encarar o solo apenas como repositório para produtos químicos levam os mais conservadores a demorarem a aceitar novas soluções. Hoje nota-se em setores mais atrasa-
O conceito que alia o termo “alta tecnologia” ao uso exclusivo de fertilizantes e defensivos, está totalmente defasado cultivares melhoradas, fertilizantes químicos e novas moléculas de defensivos industrializados, impulsionou vertiginosamente as produtividades e foi um dos fatores primordiais para a diminuição da fome no mundo, mormente em países asiáticos altamente povoados. Mas como sempre acontece conosco, seres humanos, há uma forte tendência aos extremismos, perdendose muitas vezes a capacidade de raciocínio em prol de ortodoxias. Em ciência isto não deveria ocorrer, pois ciência deve ser reflexão, raciocínio, mas infelizmente ocorre. Conhecendo todo o potencial dos fertilizantes químicos, muitas pessoas na área agrícola passaram a considerar o solo como mero suporte para as raízes e para os fertilizantes. Bastaria acrescentar nutrientes ao solo e tudo estaria resolvido. Mas o tempo mostrou, de forma muitas vezes custosa, que isto não era verdade. Solos degradados, diminuição constante da
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e a fixação biológica do nitrogênio, bem como outras ferramentas microbiológicas que apontam no horizonte, indicam o rumo para uma nova agricultura, mais sustentável ao longo do tempo, conservando o solo, o grande recurso natural para a produção de alimentos. Assim, o conceito que alia o termo “alta tecnologia” ao uso exclusivo de fertilizantes e defensivos, está totalmente defasado. A moderna agricultura, aquela que é praticada pelos agricultores e aconselhada pelos técnicos de maior visão, leva claramente ao caminho de uma pluralidade de conceitos, entendendo a produção agrícola, com a manutenção de elevadas produtividades, como um conjunto de práticas envolvendo a química, a física e a biologia do solo em um todo, de forma racional e não passional. Mas, infelizmente, a adoção de novos conceitos é lenta pelo con-
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dos até mesmo resistência ao uso da Fixação Biológica do Nitrogênio em leguminosas, tentando substituí-la, parcial em um primeiro estágio e totalmente em um segundo, pelo uso de fertilizantes químicos. Mas como dizia Érico Veríssimo: “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. O mundo muda cada vez mais rapidamente e, no final, as novas práticas se impõem e os novos conceitos se implantam, derrubando os velhos paradigmas. Desta forma, o uso de biológicos, em conjunto com práticas químicas e físicas, fará com que a moderna agricultura venha a se consolidar, com aumento e manutenção dos níveis de produtividade ao C longo do tempo. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
N
as próximas quatro décadas, os fatores que afetarão a demanda global por soja serão os demográficos (população, expectativa de vida e estrutura etária), os econômicos (crescimento do PIB, renda per capita e inflação), os sociais (inclusão social e mudança de hábitos), os tecnológicos (inovações de produtos concorrentes ou novos usos da soja, produtividade, redução de custos de produção), os ambientais (biocombustíveis, bioprodutos, demanda de insumos) e os nutricionais (demanda por proteína e óleo). Esse conjunto de fatores tem importância capital até a década de 2050, e alguns deles até decrescerão de importância a partir daquela data, com fundamento nos seguintes aspectos: a) Os principais institutos que prospectam o comportamento da curva populacional do planeta indicam que, até 2050, haverá crescimento positivo da população, embora com incrementos decrescentes a cada ano.
O futuro da soja caminho até aquela década, pois, a partir dela, muda a importância relativa entre os fatores de competitividade, afetando a relação de equilíbrio entre os players do mercado.
Corolários
Os países que estabelecerem uma agropecuária sólida, sustentável, bem fundamentada e que se tornarem atores-chave no comércio internacional de produtos agrícolas até 2050, estarão em melhores condições de competir a partir daquela data por um mercado que se estreitará em quantidade, mas que se tornará cada vez mais exigente em qualidade. Entretanto, cabem três considerações importantes: a) Cada país buscará capturar a maior parcela possível de seu mercado interno para sua própria produção. Em parte por razões econômicas, e também por razões sociais, mas principalmente por questões ligadas à
possui área de expansão, devendo limitar o crescimento da produção ao aumento da produtividade que, dificilmente, será superior a 1,5% ao ano. A Argentina deve atingir, nesta década, o limite da Pampa Úmida, que lhe confere enorme competitividade (terra fértil e com boa logística). Paraguai e Uruguai possuem pouca área para expansão, o mesmo ocorrendo com a Bolívia. Pouco ou nada se pode esperar do restante da América Latina, assim como não haverá produção de soja na Europa. A Ásia não aumenta sua produção há muitos anos, e pouco contribuirá nos anos vindouros. E a África é uma excelente promessa... após 2040.
O Brasil fecha a conta
O Brasil será o país responsável por “fechar a conta” para permitir o casamento da oferta e da demanda de soja nos próximos anos. A demanda não será linear no período, sofrendo pressões conjunturais, especialmente de eventos macroeconômicos.
Aceitas as premissas, a tese que queremos demonstrar é que atingiremos o pico da demanda agregada de produtos agrícolas na década de 2050 Na década de 2050 a população tende a estabilizar-se, para diminuir progressivamente rumo ao fim do século; b) A expectativa para os próximos anos é a sequência de ciclos típicos do capitalismo, com períodos longos de crescimento econômico sustentável, com expansão do PIB global a altas taxas, entremeados por interstícios de baixo crescimento. Uma crise profunda, como a que vivenciamos no momento, será um evento raro até 2050. O ambiente econômico de relativa estabilidade é propício à ampliação do consumo; c) A legião de pessoas com insegurança alimentar é estimada pela FAO em um bilhão, na atualidade. A expectativa de redução do crescimento populacional, com os ganhos de produtividade agrícola e o incremento da renda per capita, permite estabelecer uma premissa de que, em 2050, o contingente de famélicos será meramente friccional, aumentando a demanda por proteína e óleo no decorrer do período; d) Após 2050 a economia da maioria dos países estará amadurecida e a população estável ou decrescente, com pouco espaço para crescimento adicional de consumo de produtos agrícolas. Aceitas as premissas, a tese que queremos demonstrar é que atingiremos o pico da demanda agregada de produtos agrícolas na década de 2050. Portanto, o farol da inteligência estratégica precisa iluminar o
soberania e à segurança alimentar, mesmo que não disponham de competitividade para tanto; b) Quando o esforço para a África tornar-se um grande produtor agrícola estiver amadurecendo – o que demandará, no mínimo, 30 anos – a demanda mundial tenderá a estabilizar-se, fechando o espaço para novos atores de grande escala. Nesta condição, a produção agrícola da África estará mais voltada para seu mercado doméstico que para atender as demandas globais; c) Não menosprezemos os break-throughs tecnológicos. A Ciência tem sido pródiga em derrubar paradigmas produtivos, revolucionando o mercado com novas tecnologias, o que realinha, de uma forma não imaginada até então, a paridade competitiva.
Demanda aberta
Neste cenário a soja será, provavelmente, o produto agrícola com maior incremento de demanda até meados do século. Enquanto quase todos os países do mundo produzem alguma quantidade dos cereais que consomem, poucos produzem soja, sendo raros os autossuficientes. Este é um dos principais motivos pelos quais a soja, desde 2003, é o grão mais comercializado no mundo. E quem suprirá o aumento da demanda? Entre os países grandes produtores de soja, os EUA, atual primeiro produtor, não
O Brasil deverá apresentar o maior incremento em volume físico de produção e, na maioria dos períodos, o maior incremento percentual. Sabendo desta condição ex-ante, é fundamental estabelecer planos estratégicos para que o crescimento da produção ocorra com lastro no aumento da produtividade sustentável, reduzindo ao indispensável a expansão de área. Assim mesmo, o incentivo deve ser dado para revitalização de áreas degradadas ou investindo em sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta, otimizando a ocupação territorial. Esta forma de atuação nos conferirá uma vantagem competitiva quase insuperável. Em conclusão, o incremento da demanda de soja para os próximos 50 anos será o maior entre os principais grãos cultivados no mundo, e sua produção deverá crescer acima de 150%, até 2050. No cenário descrito, o Brasil deverá tornar-se o maior produtor mundial de soja, provavelmente nesta década, ocupando parcela crescente do mercado internacional. Para tanto, o nosso diferencial competitivo lastrear-se-á no desenvolvimento tecnológico que permita o aumento da produtividade de forma sustentável, C minimizando a expansão de área.
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Clima americano será o comandante das cotações neste meio de ano
A safra dos EUA foi plantada com atraso, com a semeadura realizada em período além do considerado ideal para se conseguir produtividade cheia. Mais que atraso no plantio, os EUA sofreram com grandes tornados e tormentas fortes que atingiram o Meio Oeste americano. A safra segue com condições desfavoráveis e isso pode trazer queda na produtividade, o que dá fôlego para manter as cotações em alta. O plantio total andou próximo das projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), com quase 39 milhões de hectares de milho e pouco mais de 31,5 milhões de hectares de soja. Agora, o fator clima pode trazer chuvas em excesso e inundações ou mesmo pegar as lavouras na fase de florescimento (que se dará de 20 de julho a 20 de agosto, indo de encontro ao período mais quente que normalmente os EUA registram no ano). Se as temperaturas navegarem acima dos 40ºC tendem a derrubar a produtividade, porque promoverão o abortamento de flores de soja e de milho e, desta forma, a safra que começou com atraso agora pode ter pela frente riscos crescentes de perdas devido às altas temperaturas. Com isso, o mercado, neste meio do ano, será comandado pelo clima americano. É importante lembrar que questões climáticas, nestes últimos tempos, têm mostrado extremos crescentes, com frio maior no inverno, chuvas mais fortes e tempestades na primavera e calor excessivo no verão. Isso tem trazido perdas na produtividade das lavouras, como ocorrido nos EUA. Há expectativa de movimentações importantes à frente e que devem ser acompanhadas pelos produtores, que tendem a ter bons momentos para fixação da safra nova de soja de 2014. Além disso, são aguardados momentos favoráveis para a fixação do que resta da safra nova. Aguardam-se bons momentos para os produtores nestes próximos meses.
MILHO
Safrinha chegando e mercado calmo
A colheita da safrinha já está em andamento no Mato Grosso e neste momento há aumento progressivo da oferta, porque a safra tende a chegar em grande volume, apesar das chuvas neste ano terem parado de cair em abril, afetando desta forma boa parte das plantações, devendo mostrar queda na produtividade. Mas o fator importante é que a área plantada foi a maior da história das safrinhas, acima dos 8,3 milhões de hectares. Com isso, tudo indica que chegarão grandes volumes de milho para o mercado nestas próximas semanas. Como as exportações da safrinha ainda estão lentas, neste ano os produtores não negociaram mais de 20% do que esperam colher, frente a mais de 50% do mesmo período do ano passado. As cotações, por sua vez, estão pelo menos R$ 10,00 abaixo do que se praticava em 2012 e os negócios externos ficaram abaixo das expectativas. Com grandes volumes de milho chegando, haverá limitação do crescimento das cotações internas. Os pregões de Opções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vieram com volumes abaixo das necessidades, motivando grande disputa e queda nos indicativos de fechamento. Fato que também serve de apelo negativo para as cotações, que para crescerem dependerão de maior apoio do governo ou de alta no mercado internacional, que tragam novos importadores para o milho brasileiro. Mercado esse
que em princípio segue calmo, sem rumo. soja
Falta de grão mantém cotações firmes
O mercado da soja, tanto no Brasil como no cenário internacional, vive uma fase de falta de ofertas e forte demanda. Com isso as cotações têm se mostrado firmes. Há fôlego para o valor do grão disponível ou pelo menos para o que aparecer até a colheita da safra dos EUA, que tende a ocorrer no final de outubro e novembro (porque houve atraso no plantio e isso alongará a entressafra mundial). Essa conjuntura deverá seguir dando apelo positivo para as cotações. Com isso, os produtores brasileiros começam a se movimentar com negócios junto à safra nova para o novo plantio que indica que poderá chegar à marca de 30 milhões de hectares, contra os 28 milhões plantados neste último ano. O cenário segue favorável aos produtores. feijão
Vazio sanitário para o feijão será um novo fator de alta
O mercado do feijão permanece firme desde o começo do ano. Tudo sinaliza que as cotações seguirão forte por mais tempo e somente no período de pico da colheita das lavouras irrigadas (que deverá ocorrer entre julho e agosto) poderá registrar queda no Carioca. Enquanto isso, o feijão Preto depende das importações que estão chegando e mostram indicativos de venda
na faixa dos R$ 160,00 nos portos. Fato que limita a alta do produto nacional, mas também não deixa espaço para grandes baixas. Há expectativa de que o feijão Carioca possa sofrer pressão de baixa em junho e julho e alta depois de agosto. Isso porque foi aprovado vazio sanitário para o Feijão no segundo semestre, o que tende a escassear ofertas entre setembro e outubro e poderá resultar em indicativos novamente em alta. arroz
Com fôlego altista e produtores negociando
Os orizicultores viram nestas últimas semanas as cotações em crescimento e as negociações voltando, no final de maio. Porque em abril e começo de maio os produtores não venderam e agora voltaram a comercializar. Mesmo assim, as cotações foram se mantendo firmes e apresentando crescimento nos indicativos. O apoio interno também vem de fora, porque o custo da importação do arroz cresceu. Vários países que atendem o Brasil têm cotações em alta e desta forma o mercado gaúcho mostrava, no final de maio, valores entre R$ 33,00 e R$ 37,00 pelo arroz em casca comercial e níveis acima pelo produto nobre, com fôlego para continuar crescendo. Neste ano haverá boa demanda e isso dá espaço para que as cotações sigam firmes e favorece para que os produtores consigam boa capitalização, com chances de uma nova boa safra no final do ano.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo continua com indicativos firmes e favoráveis para os produtores brasileiros. O produto importado tem chegado ao País com valores acima de R$ 700,00 por tonelada, o que limita a queda interna. Outro fator positivo reside na expectativa de que os argentinos plantem uma safra próxima da que cultivaram no ano passado. Assim, o País não terá todo o trigo que o Brasil vai demandar em 2014 e desta forma obrigará a importação de outras origens, que terão custos crescentes e favorecerá os indicativos internos em cotações atrativas. alGOdão - O mercado internacional assiste à queda no plantio americano como novo marco de retomada no plantio ou avanço da safra brasileira de 2013/14. As cotações internas mostram fôlego para crescer, porque o efeito da liberação das importações de 80 mil toneladas sem taxas já passou, com isso abriu espaço para avanços no mercado local que chegou a superar os R$ 72,00 por arroba em abril e depois recuou cerca de R$ 10,00. Agora há chances de recuperar parte do que perdeu. A safra brasileira foi fortemente afetada pelas lagartas na Bahia e pelo corte antecipado das chuvas no Mato Grosso. Com esse cenário a safra deve ficar abaixo da demanda, o que aumenta as chances de boas cotações. eua - A Safra 2013/14 teve os primeiros números divulgados pelo USDA em maio, com a soja com estimativa acima das 92 milhões de toneladas e o milho superior a 359 milhões de toneladas. Ambos muito acima do ano passado, mas para grande parte dos operadores, estes números são muito otimistas para um ano que começou com grande atraso no plantio. Há chances de que sejam corrigidos para baixo, no futuro. A boa notícia vem do setor do etanol americano, que com o milho barato deverá mostrar forte crescimento, com indicativos do USDA de que neste novo ano serão usadas 123,2 milhões de toneladas de milho, frente aos
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Junho 2013 • www.revistacultivar.com.br
116,8 milhões de toneladas consumidos neste ano. Há que se considerar ainda que essa estimativa está abaixo do que pode ser a realidade, porque o milho segue muito barato e isso tende a estimular o avanço na produção de etanol para atender à demanda americana e também às exportações. china - As compras continuam fortes e o USDA apontou que o país irá importar mais neste ano. A soja deve chegar à marca de 69 milhões de toneladas com alta acima de 10% frente a este ano. Para as importações de milho o USDA aponta sete milhões de toneladas, mas o mercado trabalha com números mais otimistas (dez milhões de toneladas), porque o país vive com problemas climáticos sobre as plantações e isso tende a refletir em mais importações. Falando em importações, o país vive grande seca nas regiões do arroz e isso já dá sinais de grandes importações do produto também. Mas o USDA aponta no momento que serão comprados três milhões de toneladas. O mercado espera acima de quatro milhões de toneladas e já assume o posto de maior importador mundial. Para completar as compras, a China deverá importar grandes volumes de trigo, com o USDA apontando para 3,5 milhões de toneladas (projeções apontam para cima). Sinal de que segue comprando forte e com espaço para o mercado mundial e para os países exportadores. mercosul - A safra paraguaia do arroz fechou próxima de 600 mil toneladas, sendo que o país poderá exportar na casa de 400 mil toneladas. A maior parte do produto vem para o mercado brasileiro. As cotações cresceram forte e estão na faixa acima de 300 dólares por tonelada, o que favorece a vida dos produtores brasileiros. A safra de feijão da Argentina está em colheita e boa parte foi prejudicada por seca e por geadas. Dessa forma, os números da colheita neste ano podem ser menores que nos anos anteriores e pressionar menos o mercado brasileiro.