Grandes Culturas - Cultivar 170

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 170 • Julho 2013 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

José Francisco Garcia - Global Cana Soluções Entomológicas

Broca voraz........................................22 Saiba como manejar corretamente Diatraea saccharalis, uma das piores pragas que incidem sobre os canaviais brasileiros

Mais severas..............................10 Aumento preocupante..................12 Aplicação compatível..................26 De que modo enfrentar doenças como ramulária, podridões de maçãs e murchas vasculares, cuja incidência tem crescido nas últimas safras de algodão

O recrudescimento da bicheira-da-raiz nas lavouras de arroz irrigado

Índice

Resultados da interação entre fungicidas e fertilizantes foliares aplicados em conjunto

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

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Manejo de irrigação em café

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• Editor

Doenças foliares em algodoeiro

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• Redação

Controle da bicheira-da-raiz no arroz irrigado

12

Ataque de lagartas em milho Bt

16

Eagle Team reúne pesquisadores brasileiros

18

Cana - Como prevenir a floração no canavial

20

Nossa capa - Manejo da broca em cana

22

Aplicação de fertilizantes foliares e fungicidas em soja

26

Manejo da mancha alvo em soja

30

Tratamento contra doenças transmitidas via semente

34

Efeitos da coinoculação em soja e feijão

40

Coluna ANPII

42

Coluna Agronegócios

44

Mercado Agrícola

46

REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Gilvan Dutra Quevedo Juliana Leitzke Karine Gobbi

Rithiéli Barcelos

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Francine Martins Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE • Coordenação

• Expedição

Charles Ricardo Echer

Edson Krause

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 187,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 210,00 Euros 180,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Seedcare

A Syngenta realizou em junho, em Itupeva e Holambra, São Paulo, o 1º Encontro de Seedcare Leaders. Esta primeira edição do evento, que terá periodicidade bianual, foi voltada a proprietários de sementeiras. O tema do evento foi tratamento de sementes, com apresentação e debate por especialistas, influenciadores técnicos e comunidade científica. A programação incluiu comunicações de lideranças da empresa, como Láercio Giampani, presidente Brasil; Karsten Neuffer, diretor Global de Seedcare; Fabián Quiroga, diretor de Seedcare para a América Latina, e Johnny Weissenberg, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento.

Fungicidas

Durante a Bahia Farm Show, a Bayer CropScience apresentou ao público o Programa Bayer CropScience de Fungicidas. O produtor foi recepcionado pelas equipes da empresa e pôde fazer um tour demonstrativo por campos preparados para expor as soluções da empresa. Os destaques ficaram para os fungicidas Fox e SphereMax para o manejo do complexo de doenças na soja e ao Cropstar, inseticida voltado para o tratamento de sementes. Além da soja, a Bayer CropScience também mostrou seu portfólio para a cultura do algodão.

Presença

Híbridos

A Dow AgroSciences deu destaque na 5ª edição da Bahia Farm Show ao híbrido de milho 2B810 PW com tecnologia Powercore. O evento ocorreu em Luís Eduardo Magalhães, entre o final de maio e começo de junho. A marca também levou aos produtores e clientes híbridos de milho com alto desempenho na região, além do híbrido de sorgo silageiro SS 318 e da braquiária Convert HD 364.

A DuPont apresentou durante o Seminário Cooplantio seu portfólio de defensivos agrícolas e sementes, além de tecnologias como o fungicida Aproach Prima e o Programa de Manejo Integrado de Pragas com os inseticidas Premio (indicado contra lagartas de difícil controle em soja e milho) e Lannate (recomendado para conter lagartas desde a fase de pré-plantio ou dessecação). Também mereceram destaque no evento os herbicidas Accent e Classic.

Biotecnologia

A Morgan Sementes e Biotecnologia, marca comercial da Dow AgroSciences, apresentou na Bahia Farm Show a tecnologia Powercore. Primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, o recurso biotecnológico protege a lavoura contra as principais pragas e facilita o manejo das plantas daninhas. A tecnologia foi apresentada em uma parcela demonstrativa do híbrido superprecoce 30A37, um dos mais vendidos aos agricultores da região. A parcela, em fase vegetativa (V6), permitiu que os visitantes do estande observassem o efeito sobre aspectos como a integridade das folhas, além de permitir a comparação com outras tecnologias disponíveis no mercado.

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Evento de sucesso

Durante o encerramento do Seminário Cooplantio, o presidente Daltro Benvenuti destacou as inovações apresentadas na 28ª edição do evento. “O seminário incorporou o DNA do plantio direto, porque, assim como essa prática ao longo do tempo foi melhorando o solo, o seminário foi se consolidando e melhorando a cada edição”, comemorou. Benvenuti lembrou ainda que este foi um seminário mais leve, mais objetivo e em que a participação das mulheres se fortaleceu. “Deram uma aula para muito produtor que já planta Daltro Benvenuti há anos”, avaliou.


Lançamento

Durante a Bahia Farm Show, a Itaforte/Koppert lançou os produtos Tricho-Strip-G e Tricho-Strip-P, ambos à base do parasitoide de ovos de lagartas Trichogramma. Trichogramma galloi compõe o TrichoStrip-G e é utilizado para controle de broca em cana-de-açúcar. O Tricho-Strip-P é à base de Trichogramma pretiosum, ideal para controle de lagartas em grãos e HF.

Olho no mercado

A Novozymes destacou na Bahia Farm Show o biofungicida TrichoderMax e o inoculante AzoMax. A marca ainda levou ao evento como palestrante o especialista em mercado agrícola Vlamir Brandalizze, articulista da Coluna Mercado Agrícola, publicada regularmente por Cultivar. O consultor esteve à disposição do público para falar sobre as tendências do mercado agrícola brasileiro.

Herbicida

Durante a 28ª edição do Seminário Cooplantio, a Basf destacou o herbicida multicultura Heat que atua diretamente sobre uma das principais plantas daninhas da soja, a buva. Com sua equipe, a marca mostrou ainda a versão 2.0 do Digilab e o fungicida Abacus HC para a cultura do trigo. Outro destaque foi o Sistema AgCelence Soja Produtividade Top e o seu portfólio completo para os orizicultores gaúchos, incluindo o fungicida Brio, o herbicida Kifix e o Sistema de Produção Clearfield.

Portfólio

A FMC Agricultural Solutions participou do 28° Seminário Cooplantio em Gramado, no Rio Grande do Sul, com tecnologias para as culturas de soja, trigo e milho. A marca apresentou sua linha de inseticidas: Rocks, tratamento de sementes para controle de insetos sugadores e mastigadores e Talisman, para lagartas e percevejos. Na linha de fungicidas, Locker, desenvolvido para controle da ferrugem asiática da soja, oídio, antracnose, mancha alvo e doenças de final de ciclo, e Rovral, indicado para controle de manchas no trigo.


Arroz

A Rice Tec deu destaque no 28° Seminário Cooplantio para as sementes híbridas de arroz, em especial para a variedade Inov CL, que controla o arroz vermelho. Na safra 2012/2013, mais de 60 mil hectares no Rio Grande do Sul foram cultivados com Inov CL, responsável por 9% do segmento no estado gaúcho. A empresa destacou ainda o cartão Fidelidade RiceTec, que tem a finalidade de dar direito a benefícios exclusivos, além de preços especiais no momento de adquirir sementes. Para fazer parte do programa o produtor precisa realizar a compra dos produtos da empresa durante três safras consecutivas.

Destaques

A Bayer CropScience participou da 28ª edição do Seminário Cooplantio, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Entre os destaques da marca estiveram o fungicida Fox, indicado para o combate ao complexo de doenças na cultura da soja como antracnose, mancha alvo e ferrugem asiática, além do portfólio Arize, marca global de arroz da empresa.

Solução completa

Participação

O coordenador de Contas da Sipcam UPL, Celso Andriollo, destacou durante o 28º Seminário Cooplantio a importância da cooperativa para a empresa. “É o nosso principal cliente no Rio Grande do Sul e o segundo maior parceiro nacional.” A empresa aproveitou o evento para realizar o relançamento do Domark XL, fungicida composto à base de azoxistrobina e tetraconazol, indicado para o combate de ferrugem asiática e outras doenças na cultura da soja.

Sistema

A Monsanto destacou no Seminário Cooplantio o Sistema Roundup Ready Plus, focado no manejo de plantas daninhas resistentes. Os visitantes receberam informações sobre a importância de levar em consideração o planejamento de longo prazo, por meio de um sistema integrado de controle de produção que envolva diversos métodos como culturais, físicos, mecânicos e químicos.

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A UPL apresentou durante o 28º Seminário Cooplantio, em junho, no município de Gramado, no Rio Grande do Sul, o programa Extingue Bugs para o manejo de percevejos, praga de difícil controle em lavouras de milho, soja, trigo e algodão. A proposta da empresa vai além de oferecer produtos e inclui colocar à disposição dos agricultores uma equipe de especialistas para orientar o produtor para que realize o manejo adequado, de acordo com a praga, a cultura e as características de cada região.

Soluções

A Yara Brasil levou para o 28° Seminário Cooplantio as soluções nutricionais para as culturas de soja, milho, trigo e arroz. Copatrocinadora do evento, a empresa mostrou em seu estande os produtos da linha YaraBela, YaraVita e Topmix Evolution. “O Seminário Cooplantio é um excelente momento para aproximação da Yara com o cliente e apresentação das nossas soluções nutricionais e tecnologias”, avaliou o gerente Comercial Sul da Yara, Eduard Kozak.



Café

Manejo ideal Quando o assunto é irrigação do cafeeiro faz-se necessário levar em conta as particularidades e as especificidades de cada área, de modo a suprir a necessidade de reposição de água nas diferentes fases de desenvolvimento vegetativo das plantas. Não há recomendação generalizada ou adoção eficiente se o critério considerado for apenas a falta de chuva. Nesse processo, mais que os meios disponíveis para realizá-lo é fundamental produtores conscientes da utilização correta desses instrumentos

cado. À medida que essa água vai diminuindo, através de evaporação ou consumo pelas plantas, sem que haja reposição, chega a um ponto de equilíbrio conhecido como capacidade de campo (CC). Este é o estado, no qual a água se encontra disponível para o sistema radicular das plantas. Se este reservatório, que é o solo, não for reabastecido, por chuvas ou irrigações, a água ainda disponível chega num estado em que as plantas não conseguem retirá-la de forma a suprir sua demanda mínima e entram em estado de murcha permanente (PMP).

Como diagnosticar a necessidade de irrigação?

O momento de se efetuar as irrigações poderia ser estimado por sintomas visuais de falta d’água nas plantas. Porém, esses sintomas são difíceis de serem detectados e ocorrem tardiamente quando o estresse hídrico já pode ter atingido níveis prejudiciais, comprometendo a produção e/ou a qualidade do produto. No caso especial do cafeeiro esses sintomas, quando perceptíveis, se encontram em folhas novas e podem ser confundidos ou realmente podem estar relacionados à deficiência nutricional. Portanto, para fins de manejo de irrigação os sintomas visuais de deficiência hídrica não devem ser utilizados. Existem vários métodos com boa precisão, porém, a grande parte se restringe ao uso na pesquisa devido ao alto custo.

Manejo com base no monitoramento da água do solo

A

s alterações no clima da terra se acentuam a cada ano e o reflexo no setor agrícola é sentido em todos os continentes. A alta da temperatura do planeta é um dos fenômenos que mais afetam a intensidade e a distribuição de chuvas. As maiores regiões produtoras de café apresentam quantidade e distribuição de chuvas suficientes, como é o caso do sul de Minas. Porém, em outras áreas consideradas marginais, como o Centro-Oeste da Bahia, a quantidade de chuva é insuficiente e a distribuição inadequada para o ciclo do cafeeiro. Tanto nas regiões marginais quanto naquelas consideradas aptas, a irrigação vem sendo implantada como uma tecnologia que além de suprir a demanda de água da planta nas fases críticas da cultura, garante o sucesso e dá sustentabilidade à cafeicultura. Porém, deve-se atentar para o manejo da água

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aplicada em lavouras irrigadas, na busca por utilizar a tecnologia de forma adequada. A qualidade do manejo da irrigação ao longo do tempo é essencial como forma de garantir que o sistema de produção irrigado seja otimizado quanto ao uso da água, energia e demais insumos. Manejar corretamente a irrigação nas lavouras cafeeiras significa aplicar a água na quantidade e no momento adequado, de modo a minimizar as perdas e priorizar ao máximo o aproveitamento pela planta nas suas fases de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. O solo funciona como um reservatório para as plantas, retendo água que se precipita durante as chuvas ou irrigações para que seja, posteriormente, absorvida pelas raízes. Este reservatório, quando cheio, está no seu limite máximo, isto é, o solo está saturado, enchar-

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O monitoramento da água no solo se constitui em uma metodologia usual para o manejo da irrigação, de modo independente ou associado a outros métodos de controle. Neste método deve-se definir a quantidade mínima de água que o solo deve atingir para que o sistema de irrigação seja acionado, repondo a quantidade ideal de água, o que vai depender da cultura e da estratégia de uso da água. Após definidos esses parâmetros, o momento e a quantidade de água a aplicar são determinados mediante avaliação do teor de água no solo. Esta determinação pode ser realizada de forma direta, com a retirada de amostras de solo, em várias profundidades e locais, definindo posteriormente a umidade existente pelo método padrão - estufa. Porém, este é um método mais utilizado para calibração da umidade do solo. Seu emprego para o manejo da irrigação demanda amostragens constantes além do tempo de espera que pode induzir um estresse hídrico cumulativo na planta. O método indireto é mais aplicável e utilizado no manejo da irrigação. Consiste no uso de instrumentos disponíveis no mercado como TDR (Reflectometria de Domínio do Tempo), blocos de gesso, sonda de multissensores de capacitância, tensiômetros, entre


outros. Dentre esses o tensiômetro é o que vem sendo usado com maior frequência e precisão para manejar a irrigação em diferentes culturas (Santana et al, 2004; Fernandes, 2013). Tratase de um equipamento simples e econômico. Uma de suas limitações poderia ser atribuída à faixa de tensão (até 80kPa). Porém, para grande parte das culturas e também para o cafeeiro a tensão de água no solo recomendada para desenvolvimento vegetativo e reprodutivo situa-se abaixo deste valor. O princípio de funcionamento do tensiômetro se baseia na troca da água que existe no seu interior (destilada e colocada previamente) com o solo, por meio de uma cápsula porosa. À medida que o solo perde umidade, ocorre uma sucção da água que está no tensiômetro, gerando um vácuo dentro do aparelho que será registrado no leitor utilizado para as medições. Ao atingir um valor preestabelecido, deve-se proceder a irrigação da área. Na instalação o contato cápsula-solo deve ser o mais perfeito possível para que haja o equilíbrio do potencial interno com o externo. O número de baterias de tensiômetros, tensiômetros por bateria e o local de instalação em lavouras cafeeiras irrigadas dependem da extensão da propriedade. Como regra geral (Fernandes, 2013) tem-se adotado com sucesso a instalação de cinco baterias por tipo de solo homogêneo (mesmas características físico-hídricas) e cada bateria com o mínimo de três tensiômetros em profundidades diferentes. Scalco et al (2011) recomendam o uso de quatro profundidades de instalação para o monitoramento da umidade até a profundidade efetiva de 60cm do sistema radicular. O tensiômetro permite determinar o momento da irrigação (quando irrigar) e de forma indireta, controlar e aferir a lâmina de irrigação (quanto irrigar), identificando excesso ou deficiência de irrigações, com consequente adequação da aplicação de água. As irrigações devem ser realizadas sempre que a

Operação para medir o potencial hídrico foliar do cafeeiro

Fotos Ufla

Estação meteorológica automática (à esquerda) e instalação e leitura da umidade monitorada por blocos de gesso (direita)

leitura atingir o valor crítico de tensão de água no solo. Para o cafeeiro na região sul de Minas Gerais pesquisas indicaram que estes valores se situam na faixa de 20kPa a 60kPa.

Monitoramento com base no clima

A metodologia de monitoramento pelo clima é sem dúvida uma das mais simples e operacionais para manejar a irrigação de uma determinada área. Neste caso, as variáveis meteorológicas são utilizadas para determinar indiretamente as necessidades de água da cultura. Trata-se de um balanço hídrico climatológico, onde se avalia a entrada de água, seja de irrigação ou chuva, e a saída por evapotranspiração (evaporação da água do solo + transpiração da planta), percolação e escoamento superficial. O manejo e a forma de condução da lavoura, dentre elas o espaçamento de plantio adotado, podem ter influência direta na contabilidade de entradas e saídas de água no sistema de produção do cafeeiro. O monitoramento do clima pode ser feito com o uso de estações meteorológicas instaladas na propriedade, próximo à lavoura, de forma a obter dados meteorológicos que representem com a maior proximidade possível o microclima da lavoura. As estações meteorológicas destinadas a monitorar o clima registram variáveis meteorológicas importantes que poderão ser utilizadas no cálculo da evapotranspiração da cultura (precipitação, temperaturas máxima, média e mínima, umidade relativa do ar, velocidade do vento, radiação solar, insolação). O turno de irrigação pode variar em função do método/sistema utilizado e pode ser fixo ou variável, porém, a reposição de água em intervalos regulares pode tornar possível a operacionalização da área irrigada. O manejo da irrigação com indução de um período de estresse hídrico é benéfico? A floração do cafeeiro pode ser influenciada por genética, fatores ambientais (temperatura, luz, déficit de pressão de vapor – DPV), nutrição e água. A floração desuniforme de agosto a março é um fenômeno cada vez mais

comum em lavouras cafeeiras e é fortemente influenciada pelo ambiente. Em lavouras irrigadas o ano todo, a desuniformidade da floração e da maturação dos frutos se destaca como um problema devido à ocorrência de um grande número de floradas. A imposição de um período de estresse hídrico na fase de dormência, antes da retomada da irrigação é amplamente recomendada, porém, a sua magnitude pode variar em função da região e outros fatores relacionados ao genótipo. Em regiões que apresentam um período seco bem definido antes da época normal de floração dos cafeeiros, a suspensão das irrigações pode proporcionar o desejado efeito de uniformização da floração e maturação dos frutos, porém, a duração deste período (30 dias a 45 dias) ainda não é bem definida. Já, em regiões onde há chuvas irregulares como no Sudeste (sul de Minas Gerais), a suspensão das irrigações tem sido estudada nos períodos de julho, agosto e setembro (períodos de suspensão variáveis), porém, a utilização do estresse hídrico pode não resultar no desejado efeito de uniformizar a florada e maturação dos frutos do cafeeiro. Portanto, a necessidade de reposição da irrigação em lavoura cafeeira, nas suas diferentes fases de desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, não se trata de uma recomendação que possa ser generalizada ou de uma “molhação” quando faltar chuva. As perdas com água, energia e insumos devem ser minimizadas para que o empreendimento se torne lucrativo sem agredir o meio ambiente. São muitos os métodos, equipamentos, aparelhos e instrumentos disponíveis para orientar o manejo da irrigação, porém, o que surte mais efeito é aquele adotado por um produtor consciente de sua utilização correta. C Vinícius Alves Pereira, Dalyse Toledo Castanheira, Myriane Stella Scalco, Plínio Duarte Corrêa e José Carlos Sales Júnior, Ufla

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Algodão

Mais severas

Fotos Fernando Juliatti

Ramulária, podridões de maçãs, murchas vasculares e outras doenças foliares têm registrado agravamento de incidência nas lavouras brasileiras de algodão ao longo dos últimos anos. Avaliar o comportamento das cultivares disponíveis no mercado, bem como a ação de fungicidas recomendados para o controle estão entre as estratégias para definir medidas de manejo eficientes contra esses patógenos

O

algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma planta de aproveitamento completo, inclusive na alimentação animal (sem gossipol), dada sua utilidade e ampla diversidade de aplicações. Apresenta bom rendimento para o agricultor, desde que a planta seja cultivada em condições favoráveis e com boa técnica cultural. Em aproximadamente 900 mil hectares cultivados no Brasil, observa-se uma evolução e o agravamento das doenças na cultura. A planta do algodoeiro tem apresentado, ano após ano, aumento na severidade de determinadas doenças mencionadas na literatura como secundárias, tornando-se objeto de estudo nos últimos anos em ensaios de competição de cultivares e linhagens. Esse aumento se dá devido à introdução recente de cultivares de origem australiana ou americana, nos campos de produção sem uma base de sustentação em programas de melhoramento no Brasil, até a década de 2000. Recentemente várias empresas, como a Deltapine, têm realizado pesquisas e desenvolvimento de germoplasma adaptado ao Brasil, assim como a Fundação Mato Grosso. Os fundos de pesquisa e desenvolvimento do

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algodoeiro nos vários estados, liderado pelo Mato Grosso, têm impulsionado esta prática. Em ordem de importância nas condições dos estados de Goiás, Mato Grosso, Bahia, São Paulo e Minas Gerais são a mancha de ramularia, as podridões de maçãs, a mancha angular (Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum), as murchas de fusarium e verticillium, ramulose, viroses (mosaico comum, mosaico dourado e das nervuras), ferrugem que surge em desfolhas tardias e as manchas de cercóspora e alternária. Quando uma planta é atacada por Ramularia areola Atk., os sintomas se manifestam em ambas as faces da folha, de início principalmente na face inferior, apresentando lesões angulosas entre as nervuras. As lesões são inicialmente de coloração branca, posteriormente amarelada e de aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do patógeno. Preferencialmente as folhas inferiores e com sombreamento são as mais atingidas e a doença evolui rapidamente para o ápice da planta, chegando a comprometer toda a produtividade, como aconteceu com a introdução da variedade Sikala 32 da Austrália na década de 90. Outra doença de relevada

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importância é a mancha da folha, que apresenta como agente causal o fungo Cercospora gossypina Cke. Os sintomas nas folhas consistem em pequenas manchas, de formato irregular e coloração marrom ou parda, com centro esbranquiçado e bordos escuros, não ocorrendo ruptura do tecido necrosado. O controle das doenças foliares do algodão, com destaque para mancha de ramulária, deve ser adotado desde a escolha da cultivar, da área de plantio, aplicações de fungicidas e do manejo da cultura. Os genótipos BRS ITA 90 e BRS Facual foram avaliados como resistentes. Algumas cultivares Coodetec apresentaram resistência intermediária e a BRS Antares foi considerada suscetível. Uma cultivar lançada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), denominada Liça, foi classificada como de resistência parcial (horizontal) sob elevada epidemia em campo e em avaliações de severidade da doença realizadas na Universidade Federal de Uberlândia, setor de Produção e Melhoramento do algodoeiro. Outro genótipo com resistência parcial é BRS ITA 96. Por outro lado, esta cultivar apresentou alto grau de suscetibilidade ou severidade a Cercospora gossypii, semelhante à reação da cultivar Delta Opal. O genótipo Epamig 5 Precoce 1, conforme avaliações realizadas pela Epamig, em Minas Gerais apresentou resistência parcial à doença. Observou-se também que em relação à mancha de ramulária que as cultivares Deltapine Acala 90 e BRS ITA 96 podem ser consideradas como tolerantes e BRS Antares, Epamig 5 Precoce 1 e Delta Opal como suscetíveis. O controle adequado das manchas foliares restringe-se à escolha das cultivares, uso adequado de fungicidas nos primeiros sintomas e intervalo de aplicações entre 15 e 20 dias. Devido ao uso intensivo de estrobilurinas (azoxistrobina e piraclostrobina), o fungo tornou-se resistente ou menos sensível a esse tipo de aplicação, o que levou a alteração nos programas de controle e intensificação das associações de fungicidas sistêmicos intercalados com protetores (clorotalonil, mancozeb e cúpricos). Em relação às podridões de maçã do algodoeiro a etiologia é variável dependendo das condições climáticas, inóculo presente no solo e restos culturais. Embora o algodoeiro seja uma planta migrante no Brasil para diferentes regiões e propriedades agrícolas no país, tem-se percebido que o manejo da doença depende do momento de entrada com fungicidas no início do florescimento até a formação das maçãs do baixeiro. Recomenda-se o uso dos fungicidas benzimidazóis (Fusarium, Botryodiplodia, Macrophomina e Colletotrichum). Neste caso, deve se associar triazóis e benzimidazóis direcionados às maçãs do baixeiro, para evitar perda na sensibilidade do fungo aos benzimi-


Manejo sustentável e controle das doenças do algodoeiro

Presença de cercosporiose associada à mancha de alternária em algodoeiro

dazóis que possuem alto risco de resistência a fungos. O volume de calda deve ser acima de 200L para melhor eficácia na aplicação. Devese usar adjuvantes e espalhantes adesivos, se possível siliconados. A indução de resistência com acil benzolar (Bion), com doses de 15g a 20g por hectare, deve ser usada e associada com o fungo Trichoderma sp., direcionado às flores quando estão abertas com o objetivo de proteger as maçãs da entrada dos fungos apodrecedores. Neste mecanismo, a associação do Bion com o Trichoderma impede o ingresso dos fungos apodrecedores devido à produção de substâncias de defesa no local de entrada e ao impedimento da germinação dos esporos agressores dentro da flor. Existem no mercado formulações líquidas e WG de Trichoderma com eficiência comprovada no controle das podridões de maçã, se associados aos fungicidas e indutores de resistência. Em relação à bacteriose do algodoeiro (mancha angular) é muito importante o uso de sementes sadias, cultivares com boa resistência de campo e emprego de fungicidas cúpricos. Algumas cultivares como Makina e Fabrika apresentam suscetibilidade à doença. O uso da indução de resistência com acilbenzolar também reduz os danos se as aplicações forem iniciadas a partir dos 35 dias da emergência e com intervalos de 20 dias. Neste caso, o volume de calda pode ser de 50L a 100L, como no caso das manchas foliares causadas por fungos e doses de 15g a 20g por hectare. O manejo correto das viroses se restringe à escolha do genótipo, redução na população de afídeos e moscas brancas (Bemisia tabaci) com o uso de inseticidas específicos (neonicotinoides) e outros com ação sobre estes insetos sugadores. Amostragens periódicas no campo são fundamentais para determinar a população incidente e o manejo sustentável das viroses e seus transmissores. Com o uso do algodoeiro adensado e semeaduras mais tardias, após a cultura da soja no Mato Grosso o manejo das viroses ficou mais difícil, devendo-se redobrar as atenções, mesmo em cultivares Bt, com resistência a lagartas (algodão intacto).

Em relação à mancha de mirotécio (Myrothecium roridum), apesar dos alarmes e informes dos fitopatologistas do algodoeiro esta doença não tem se apresentado como epidêmica devido à mudança de cultivares, mas em Delta Opal, causou perdas na qualidade das maçãs em anos de alta pluviosidade nos meses de janeiro e fevereiro. Em relação à ramulose que causa morte ou necrose do ponteiro, superbrotamento nas plantas (morte da gema apical), torna-se fundamental o uso de sementes livres ou isentas do patógeno (análise sanitária), bem como o emprego de fungicidas estanhados após os 45 dias da emergência, alternados com fungicidas benzimidazóis e/ou cúpricos e mancozeb. O volume de calda de pulverização pode ser empregado de 40L a 100L por hectare. Para o fungicida mancozeb existe atualmente formulação WG, já disponível para o agricultor. Devido ao uso em sucessão de áreas de soja ou milho com a cultura do algodoeiro, após a safra de verão, tem-se observado na safrinha ou segunda safra a presença de Macrophomina phaseolina, podridão de carvão ou cinzenta do caule. Para reduzir os danos da doença deve ser realizado um tratamento de sementes de amplo espectro com a associação de fungicidas como carbendazim ou tiofanato metílico, carboxin, fluazinan e/ou fludioxonil associados a um protetor como euparen, tiram ou captan. Quanto maior o espectro do tratamento, maior a eficiência do controle. Se for usado

Trichoderma nas sementes, recomenda-se aplicá-lo após os fungicidas e se os princípios ativos forem seletivos ao fungo (ver tabela de seletividade do fabricante do Trichoderma) o tratamento pode ser simultâneo, com a semeadura logo a seguir. Em relação aos fungos de solo como Fusarium oxysporum f sp vasinfectum, Verticillium dhaliae atentar para as populações de nematoides no solo (Pratylenchus, Melodogyne e Rotylenchus reniformis (complexo fusnem), quando as populações estão acima do nível de dano: dez mil juvenis ou adultos/sistema radicular, dez ovos e/ou juvenis por 100g de solo e 100 juvenis e/ou adultos por 100g de solo, respectivamente. É de conhecimento público que cultivares como IAC 20 e as suas derivadas apresentam resistência ao complexo, devido à ênfase nas pesquisas do Instituto no desenvolvimento do melhoramento de plantas do algodoeiro para resistência aos patógenos. O uso de algumas espécies de crotalária deve ser incentivado (Crotalaria spectabilis), bem como a mucuna preta e o Tagets (cravo de defunto). Muitos dos sintomas provocados por nematoides são do tipo secundário ou reflexo na parte aérea, sendo visualizados na C forma de cloroses. Fernando Cezar Juliatti, UFU

Sintomas da mancha de ramulária em folha de algodoeiro, doença causadora de severos danos à cultura

Juliatti enfoca o comportamento de cultivares e a ação de fungicidas em algodão

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Arroz

Aumento preocupante

Fotos Jaime Vargas de Oliveira

A incidência de pragas nas lavouras de arroz irrigado tem crescido e tirado tirado oo sono sono dos dos orizicultores ao longo das últimas safras. É o caso da bicheira-da-raiz, cujo ataque já atinge mais de 700 mil hectares plantados com a cultura. Tratamento de sementes, controle de adultos em pulverização e combate às larvas estão entre as estratégias para conter este inseto, já considerado o mais importante em áreas de irrigação

A

incidência de pragas tem preocupado os produtores de arroz irrigado, devido à ocorrência de novas espécies (como a lagarta-dapanícula) e ao aumento da população de alguns insetos. É o caso da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae), coleóptero da família Curculionidae, que ocorre em todas as regiões orizícolas. Nas três últimas safras houve maior crescimento nas regiões da Depressão Central e Planície Costeira Externa, onde algumas lavouras registraram coleta de mais de 40 larvas/amostras, com perdas significativas. Este inseto foi citado pela primeira vez no Rio Grande do Sul em 1936, por Costa Lima. Após mais de 70 anos, mesmo com o controle químico em parcela superior a 60% da lavoura gaúcha de arroz irrigado, a bicheira-da-raiz continua crescendo. O aumento da população pode estar relacionado com a ocorrência de novas espécies de bicheira-da-raiz, como: Lissorhoptrus

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tibialis, Lissorhoptrus bosqi, Lissorhoptrus carinirostris e Lissorhoptrus lepidus. Portanto, este gorgulho-aquático é atualmente a mais importante praga da lavoura de arroz irrigado, atacando mais de 65% da área semeada, ou seja, mais de 700 mil hectares.

Hibernação e entrada de adulto na lavoura

A hibernação permite aos insetos a sobrevivência durante períodos adversos e pode ocorrer antes da época desfavorável. No início de março, com temperatura favorável e alimento disponível, os adultos começam a deixar as plantas de arroz indo hibernar dentro ou fora da lavoura. O fotoperíodo é o principal fator que favorece a saída dos adultos da lavoura para os sítios hibernantes. Os locais são escolhidos por apresentarem maior estabilidade aos fatores climáticos (menor umidade), aos inimigos

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naturais, e pela posição da área de hibernação. Com a diminuição da temperatura e sem alimentarem-se, os insetos ficam mais frágeis. Na lavoura, os locais preferidos para hibernar são as plantas daninhas, a resteva, as ruas e a parte superior dos canais de irrigação, sendo que na resteva, nas partes altas, foram coletados em média 12 adultos/m2. Os adultos ficam abrigados na parte inferior das plantas, geralmente a 1cm do solo. Fora da lavoura, este inseto pode estar próximo ou em áreas mais distantes. Estudos mostram que folhas caídas de taquareiras são o local preferido para a hibernação, pois foram encontrados, em média, 60 insetos/m2, principalmente nas partes com maior incidência de sol. Quanto ao período de saída do local de hibernação, a temperatura é o principal fator, ocorrendo a partir do mês de agosto, porém, em maior número após setembro, cessando no final de dezembro. Todos os


Tabela 1 - Avaliação de danos em diferentes populações e épocas de controle da bicheira-da-raiz, na cultivar Irga 417, em arroz irrigado. Eldorado do Sul, 2006 Tratamentos 1. Standak 250 FS 2. Furadan 100 G 3. Furadan 100 G 4. Furadan 100 G 5. Furadan 100 G 6. Furadan 100 G 7. Testemunha

Doses g ha-1 1502 5000 5000 5000 5000 5000 --

Aplicação1 --20 25 30 35 40 --

N2 0 2 5 18 25 20 25

Controle (%) 100 100 100 100 100 100 0

Perdas (%) 0 0 1,5 6,5 8,5 11 11,5

Rendimento de grãos t ha-1 7,85 7,86 7,73 7,35 7,19 6,98 6,95

Aplicação dias após irrigação; N2 Número de larvas, antes da aplicação do inseticida; 2150mL/100kg semente

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adultos não vêm ao mesmo tempo para a lavoura, por isso são encontradas várias fases de larvas em áreas semeadas na mesma época. Nas larvas encontradas após a segunda quinzena de janeiro, as posturas são realizadas por fêmeas já estabelecidas na lavoura. No sistema pré-germinado a entrada da água antes da semeadura favorece a infestação de adultos que alimentam-se das plantas daninhas existentes nas bordas da lavoura, principalmente do capim arroz.

Ocorrência, sintomas e danos

Os adultos da bicheira-da-raiz têm como característica a distribuição por toda a área. Após a entrada na lavoura, alimentam-se raspando as folhas, porém, os danos não são expressivos. Posteriormente ocorre o acasalamento e as fêmeas colocam os ovos individualmente nas folhas e colmos. Quando as plantas são menores podem ser colocados até 30 ovos/planta, contudo, nas plantas mais desenvolvidas, as posturas chegam a 75 ovos/planta. Após sete dias da postura surgem as larvas que atacam a lavoura, depois de 15 a 20 dias da irrigação. As larvas, ao cortarem as raízes causam redução na estatura das plantas, clorose nas folhas e pontas secas. Quando esses sintomas manifestam-se, os danos já estão estabelecidos. Em uma

Adulto do coleóptero Oryzophagus oryzae

população superior a 20 larvas/amostra, após 30 dias da irrigação ocorrem perdas na produção. Aos 40 dias da irrigação, os danos atingem 11%, demonstrando a alta redução na produtividade (Tabela 1).

Monitoramento

O produtor deve ficar atento à ocorrência de bicheira-da-raiz na lavoura, realizando as amostragens semanais para determinar a população de larvas. A quantidade de amostras e o tamanho da área de coleta vão determinar com maior precisão o número de larvas. O número de coletas vai depender do tamanho da lavoura, porém, deve partir de no mínimo 30 amostras/lavoura.

Determinação do número de larvas

A partir de 15 a 20 dias após a irrigação, o produtor deverá examinar periodicamente as plantas de arroz. Para determinar a população larval são coletadas amostras

com o auxílio de um amostrador de PVC, que possui 10cm de diâmetro e 20cm de comprimento, ou arrancar plantas contendo em média 15 afilhos. Depois, colocar em um balde com água, agitar raízes e as larvas emergirão na superfície do líquido. Muitas vezes as raízes parecem pouco danificadas, porém, ao analisar parte central, os danos são observados.

Estratégias de manejo cultural

Uma das estratégias de manejo cultural da bicheira-da-raiz consiste na redução de daninhas. As plantas hospedeiras secundárias junto aos canais de irrigação, sobre as ruas e nas bordas da lavoura podem ser removidas fazendo com que os insetos fiquem expostos no período da hibernação, quando as condições climáticas são desfavoráveis. Porém, não devem ser eliminadas totalmente, para não afetar os inimigos naturais abrigados nestas áreas.

Destruição da resteva

A eliminação da resteva, através de roçadeira ou incorporação por grade, ajuda na redução da população dos adultos. As áreas mais altas da lavoura que contém palha são locais favoráveis ao abrigo de insetos durante as baixas temperaturas.

Adubação

Com o emprego de adubação segundo recomendações técnicas da pesquisa para o arroz irrigado, as plantas se desenvolvem melhor, apresentando sistema radi-

O aumento da incidência de pragas tem se verificado nas áreas de arroz irrigado ao longo dos últimos anos

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Fotos Jaime Vargas de Oliveira

Inseticidas na dessecação

Pelo hábito dos adultos hibernarem em maior quantidade fora da lavoura, a aplicação de inseticidas neste período ocorre dentro, podendo causar baixa redução da população. Os estudos têm mostrado que apenas 25% dos insetos são atingidos ao aplicar um produto durante a fase de hibernação. O emprego de produtos químicos, principalmente os piretroides, afeta os inimigos naturais, o que pode causar aumento da população nas safras seguintes. Quando os inimigos naturais são eliminados, as pragas com maior potencial de migração ou reprodução ressurgem com alta intensidade.

Aplicação de produtos químicos

cular mais denso e, consequentemente, tornando-se menos sensíveis ao ataque das larvas. Estudos realizados demonstram que com a aplicação de adubação nitrogenada, os danos provocados pelas larvas são menores devido à emissão de um grande número de raízes.

Aplainamento do solo e lâmina de água

Em uma lavoura com aplainamento correto e uma lâmina d’água uniforme e baixa, os adultos distribuir-se-ão regularmente por toda a área, causando menores danos.

Controle microbiano e botânico

Os dados de pesquisa indicam a

possibilidade de aplicação de fungos filamentosos formulados e comercializados (Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae) nos sítios de hibernação e nas entradas dos canais de irrigação para reduzir a população de adultos que infestam as áreas de arroz. No caso das larvas, estudos revelam a ação larvicida de cepas de bactérias entomopatogênicas (Bacillus thuringiensis) e metabólitos secundários de plantas. O inseticida NeemAzal T/S, a 0,5%, à base de nim Azadirachta indica, em pulverização foliar, tem apresentado, em estudos, eficiência superior a 50%. Os controles microbiano e botânico são medidas alternativas, principalmente na produção de arroz orgânico.

Controle químico

O uso de inseticidas é uma medida de controle que deve levar em consideração o registro do produto para a cultura e o baixo impacto aos inimigos naturais. Com as altas populações de larvas em algumas regiões do estado, a eficiência dos inseticidas, muitas vezes, não tem atingido 100% de controle.

Oliveira aborda as diversas estratégias para o controle do inseto

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O controle pode ser realizado pelo tratamento de sementes, controle de adultos em pulverização e no controle das larvas. O tratamento de sementes é o método químico mais empregado pelo produtor, sendo o inseticida fipronil 250 FS, dose de 120ml/100kg a 150ml/100kg de semente e o tiametoxam 700 FS na dose de 150ml/100kg a 200ml/100kg de semente, registrados para a cultura com eficiente controle da praga-alvo. A pulverização foliar é um método eficiente. Geralmente o inseticida é aplicado antes da irrigação. Os inseticidas registrados são: tiametoxam 250 WG, na dose 100g/ha a 150g/ha, o etiprole 200 SC, na dose de 125g/ha a 250g/ha, e o clorantraniliprole WG 350, na dose de 85g/ha. O controle de larvas foi muito utilizado nas últimas safras, principalmente na região da Planície Costeira Externa. Os produtos registrados são: carbofurano (metilcarbamato de benzofuranila) 100G e 50G, doses de 4kg/ha e 8kg/ ha e o tiametoxam 10GR, dose de 10kg/ha C a 15kg/ha. Jaime Vargas de Oliveira, Instituto Phytus Lidia Mariana Fiuza, Control-Agro-Bio

Os adultos da bicheira-da-raiz têm como característica a distribuição por toda a área

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Milho

Contra a resistência Fotos Rafael M. Pitta

Ataques de lagartas em áreas cultivadas com milho Bt na última safra reforçam a necessidade de se adotar medidas para preservar essa tecnologia no Brasil. Respeitar as áreas de refúgio e realizar a rotação de genes para reduzir a pressão de seleção sobre os insetos estão entre as estratégias recomendadas

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N

a safra de milho 2012/2013 ocorreram ataques de lagartas em plantas de milho Bt em diversos estados brasileiros. Em propriedades de Campo Verde, Mato Grosso, houve incidência de lagartas em milho Bt na segunda safra. Algumas propriedades foram visitadas devido à preocupação dos produtores de que estivessem tendo problemas com lagartas do gênero Helicoverpa assim como ocorrido no estado da Bahia. No entanto, constatou-se que as lagartas eram de Spodoptera frugiperda, em cultivares de milho que expressam proteínas Cry1F ou Cry1Ab. Em uma das áreas, com milho Cry1Ab, foram realizadas duas pulverizações com um controle eficiente da praga. Apesar do uso de controle químico, o número de pulverizações não foi alto quando comparado com produtores que chegam a utilizar até seis pulverizações de inseticidas para controle de lagartas em cultivares com a tecnologia Bt. É importante ressaltar que as infestações em Campo Verde não atingiram os níveis de controle químico preconizados de 20% de plantas atacadas até os 30 dias de emergência e para plantas de 30 a 60 dias a porcentagem deve ser de apenas 10%. Apesar da infestação não ter causado danos significativos à produtividade, tornou-se preocupante por parte de técnicos e produtores, pois nas safras anteriores a infestação de lagartas no milho era inferior. Entretanto, não se pode afirmar que esteja ocorrendo quebra de resistência aos híbridos que expressam essas proteínas Bt somente pelo aumento populacional da praga nesta safra. São necessários ensaios em laboratório para comparar a mortalidade de populações criadas em laboratório (suscetíveis) às proteínas, com populações de campo suspeitas de serem resistentes, além de verificar o nível de expressão das proteínas em plantas Bt. Além disso, uma a duas pulverizações complementares para o controle de S. frugiperda em milho expressando Cry1Ab têm sido feitas em algumas regiões do País


Tabela 1 - Eventos de milho geneticamente modificado que expressam proteínas inseticidas de B. thuringiensis liberados para cultivo no Brasil (safra 2013/2013) com característica de resistência a lepidópteros-praga Ano de liberação 2007 2008 2009 2010 2011

Evento de milho MON 810 TC 1507 Bt11 MON 89034 MIR 162 Bt11 x MIR 162 MON 89034 x TC 1507 TC 1507 x MON 810 MON 89034 × MON 88017

Proteína inseticida Cry1Ab Cry1F Cry1Ab Cry1A.105/Cry2Ab2 Vip3Aa20 Cry1Ab/ Vip3Aa20 Cry1A.105/Cry2Ab2/Cry1F Cry1Ab/Cry1F Cry1A.105/ Cry2Ab2/ Cry3Bb1

Recomendação de área de refúgio* 10% 10% 10% 5% 10% 5% 5% 5% Área de refúgio ainda em calculo

* Sugestão de recomendação de área de refugio preconizada pelas empresas detentoras dos eventos Bt.

desde as primeiras safras de cultivo, pois esse foi o primeiro evento de milho Bt a ser comercializado no Brasil. Essa necessidade varia muito de acordo com a paisagem de cultivo de cada região, a presença de hospedeiros alternativos dessa praga e da população da lagarta-do-cartucho relacionada, pois esse inseto tem demonstrado comportamento diferenciado em distintas regiões. Em cultivos de plantas transgênicas Bt, o processo evolutivo da resistência pode ser bem mais acentuado quando comparado à resistência aos inseticidas devido à alta pressão de seleção, pois as plantas expressam a proteína durante todo o ciclo, dia e noite. Como consequência, a velocidade em selecionar indivíduos resistentes na população é aumentada, pois a chance de indivíduos resistentes acasalarem entre si cresce devido à eliminação dos indivíduos suscetíveis. No entanto, o processo de evolução pode ser diferente em cada região devido a fatores que influenciam nesse processo como a frequência do gene, que confere a resistência, na população; a herança da resistência (se o gene que confere resistência é dominante ou recessivo) e da troca de fluxo gênico (troca de material genético entre populações). Para S. frugiperda, existe um caso de quebra de resistência ao milho Bt, ocorrido em Porto Rico, em cultivares que expressam a proteína Cry1F. Neste país, a quebra de resistência ocorreu com apenas quatro anos de introdução da tecnologia naquele território e inviabilizou a comercialização da tecnologia.

resistência a cada proteína (resistência múltipla) ou pela presença de um gene que confere resistência a mais de uma proteína (resistência cruzada); • Rotação de eventos Bt de forma a propiciar uma rotação de proteínas Bt ativas na mesma área, ou seja, no momento da escolha do evento é importante que o produtor use eventos que expressem diferentes proteínas ativas; • A aplicação de inseticidas ajuda a retardar a resistência, pois podem eliminar os indivíduos resistentes às proteínas. Em cultivares que expressam apenas uma proteína, a probabilidade de necessidade de pulverização torna-se maior. Cabe ao produtor escolher se é mais viável financeiramente a utilização de cultivares que expressam mais de uma proteína ou cultivares com uma proteína, mas que poderá necessitar de pulverização de inseticidas para controle de lagartas; • A utilização de áreas de refúgio é fundamental para haver fluxo gênico entre as populações, assim, aumentando

a probabilidade de indivíduos suscetíveis acasalarem com indivíduos resistentes, o que impede ou retarda o processo de evolução da resistência. No entanto, é necessário respeitar o tamanho (Tabela 1) e o limite máximo de 800m de distância das áreas de refúgio dos talhões com milho Bt para que haja cruzamento entre indivíduos do refúgio com os da cultura Bt. Infelizmente, na prática, as áreas de refúgio nem sempre são adotadas, e, quando isso ocorre, ficam em locais extremos da propriedade devido à dificuldade operacional dos produtores em despender tempo, considerando que a “janela de semeadura” é curta para a segunda safra, para limpar a semeadora e trocar os discos de sementes toda vez que mudar de cultivar. É importante ressaltar que o refugio não é uma área de produtividade comprometida, pois a aplicação de inseticidas é permitida. Os únicos produtos que não devem ser usados são aqueles à base da bactéria Bacillus thuringiensis; - O monitoramento mesmo que em culturas Bt não deve ser abandonado a fim de manter as populações de pragas em níveis aceitáveis; - Assim como é recomendada a rotação de grupos químicos de inseticidas para o controle das pragas, a rotação de genes (Tabela 1) também é indicada para reduzir a pressão de seleção sobre os insetos. C Rafael Major Pitta, Embrapa Agrossilvipastoril Franciele Dal’ Maso, Aprosoja MT Simone Martins Mendes, Embrapa Milho e Sorgo

Alternativas para retardar ou evitar resistência

• Híbridos que expressam mais de uma proteína reduzem a probabilidade de selecionar indivíduos resistentes na população. No entanto, existem casos de indivíduos resistentes a mais de uma proteína. Essa característica pode ser explicada pela presença de genes específicos que conferem

Plantas de milho danificadas por S. frugiperda em lavouras de milho Bt

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Eventos

Conhecimento somado Fotos UPL

Grupo batizado de Eagle Team reúne pesquisadores de 16 regiões agrícolas brasileiras para ajudar produtores de soja, milho e algodão a manejar doenças fúngicas com eficiência e aumentar a produtividade de modo sustentável

R

eunir um time de especialistas em fitopatologia, que possuem como base de atuação as principais regiões agrícolas brasileiras, com o objetivo de estudar a ação de fungicidas e o comportamento de doenças fúngicas, avaliar alternativas de manejo de resistência e estabelecer estratégias eficientes que ajudem produtores de culturas como soja, milho e algodão a aumentar a produtividade de modo sustentável. Estas são algumas das metas do recém-criado Eagle Team, iniciativa apoiada pela UPL Brasil e que reúne um grupo inicial de 20 pesquisadores de instituições como Embrapa, universidades, institutos, fundações e consultorias agronômicas. No ano passado, a UPL convidou este time de fitopatologistas para estudar um dos fungicidas da empresa como ferramenta de gerenciamento do complexo de doenças em soja, milho e algodão. O produto testado foi o Unizeb Gold, um fungicida de contato do grupo dos ditiocarbamatos que tem como princípio ativo o mancozebe. “Os resultados dos protocolos desta pesquisa foram consistentes e todos os tratamentos que receberam reforço de Unizeb Gold apresentaram ganho no aspecto visual e em produtividade”, relata o gerente de Produto da UPL, Gilson Oliveira. Após a divulgação dos resultados, a ideia da formação de uma equipe surgiu dos próprios pesquisadores, que se sentiram à vontade para desenvolver seus trabalhos com foco no manejo de resistência através deste grupo, com contribuição de conhecimento e troca de informações, sempre dando prioridade às particularidades regionais. Com bases de atuação em pelo menos 16 regiões do Brasil o grupo percebeu, entre outras demandas, a deficiência de soluções customizadas para cada região no manejo de resistência de fungicidas.

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No final das discussões foi lançado o nome do time, que na tradução literal para o português significa Time Águia. “O Eagle Team foi escolhido devido ao conhecimento, audácia e coragem do time, fazendo uma alusão à águia que é um pássaro que possui estas características”, revela Oliveira. “Por ser um grupo de especialistas situados em todas as regiões agrícolas do país, nos possibilita uma grande troca de informação, tanto sobre os alvos, bem como o melhor desempenho no controle das doenças e permite a aproximação e o conhecimento dos diferentes parâmetros, como solo, clima, alvo e nível tecnológico das diferentes áreas, e o que esses parâmetros interferem para um manejo de doenças”, opina Clarice Balardin, pesquisadora do Instituto Phytus e uma das fitopatologistas do Eagle Team. O pesquisador Fernando Juliatti, da Univerdade Federal de Uberlândia (UFU), aponta a importância de estudos para prevenir o desenvolvimento de populações de fungos resistentes, principalmente na ferrugem da soja, oídio e mancha-alvo (Corynespora cassicola). “Estamos trabalhando com ensaios de

Vicente Gongora, da UPL, destaca a importância do suporte da comunidade científica

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base e em rede para reposicionar os fungicidas protetores, como nova roupagem (formulação - WG) no manejo das doenças da soja, milho e algodoeiro. Com os ensaios de base poderemos manejar fungicidas ‘dinossauros’ ou ‘jurássicos’ visando dar sustentabilidade nas cadeias produtivas da soja, milho etc”, avaliou. A UPL, apoiadora do projeto, percebe nesse tipo de pesquisa o suporte para o desenvolvimento dos seus produtos, por contar com a validação dos defensivos pela comunidade científica. “Um ponto importante é que este é um trabalho de desenvolvimento. O produto será enviado para extensão de uso, uma vez que ainda não tem registro para as culturas. O processo envolveu os pesquisadores para validar o que havíamos encontrado internamente e assegurar que o processo de extensão de uso junto ao Mapa seja feito de forma adequada e com suporte da comunidade científica”, explica o diretor de Marketing e Desenvolvimento da UPL, Vicente Gongora. Para expor o andamento das pesquisas e a divulgação dos resultados obtidos, o grupo se reunirá duas vezes por ano. Porém, todos manterão contato permanente através de uma rede de compartilhamento de estudos. As informações produzidas pelo time chegarão ao produtor através de palestras com os próprios pesquisadores, áreas demonstrativas C e dias de campo. Time Eagle Team Fernando Cesar Juliatti – UFU Daniel Cassetari – UFMT Carlos Utiamada – Tagro Erlei de Melo Reis – UFPF Monica Debortoli – UFSM Edson Pereira Borges – Fundação MS Carlos Forcelini – UPF Eder Blainsk – Terra Consultoria Silvania Furlan – Instituto Biológico Luis Antonio Siqueira Azevedo – UFF Ricardo Balardin – Instituto Phythus Luis Henrique Carregal – Fesurv Clarice Balardin – Instituto Phythus Ivan Pedro de Araujo Junior – Fundação MT Claudia Barbosa Pimenta – Embrapa Fabiano Siquieri – Fundação MT Marcelo Pierre – UEPG Mauricio Stefanelo – Ceres Consultoria Agronômica José Tadashi Yorinori – Embrapa

C

• Pesquisadores que participaram do lançamento do Grupo. Outros especialistas também fazem parte do Time.



Cana-de-açúcar

Proibido florescer!

Fotos Maximiliano Salles Scarpari

Para evitar a floração da cana-de-açúcar, técnicas de manejo agrícola são utilizadas entre os produtores rurais. Em uma ação conjunta para intensificar a produção, o manejo varietal e o uso de reguladores vegetais garantem a maturação precoce dos canaviais

O

florescimento da cana-de-açúcar é um dos processos que podem ocorrer no final do período de crescimento da cultura e gerar prejuízo na qualidade da matéria-prima. As perdas chegam, em média, a 30% do peso dos colmos em plantas com alto índice de florescimento (Monteiro, 2011), sendo a redução do volume do caldo o principal fator afetado (Caputo et al, 2005). Com a formação da inflorescência tem-se o consumo de sacarose, acarretando na paralisação da formação de novos entrenós. Devido a este consumo de açúcares, para ocorrer indução floral, os colmos ficam isoporizados ou “chochos”, pela desidratação das células de armazenamento, o que consequentemente leva à diminuição do peso do material e da

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produtividade (Caputo et al, 2005). O conteúdo de sacarose do colmo da canade-açúcar, o principal produto de interesse desta cultura e seu armazenamento dependem do estádio de desenvolvimento, das condições de crescimento das plantas, além de ter grande relação com a variedade (Inman-Bamber et al, 2008). A idade cronológica e fisiológica também se torna importante, pois para a cultura responder ao estímulo floral, deve existir um período entre quatro e cinco meses para canaplanta e de três a quatro meses para cana-soca (Monteiro, 2011). A floração depende da interação entre diversos fatores e por ser prejudicial para o produtor, seu manejo é fundamental. O estímulo que promove a modificação do meristema apical é de difícil identificação, já que também

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depende da cultivar e do clima da região. Desta forma, a interação entre os fatores genético, fotoperiódico, de temperatura e de umidade é decisiva para que uma variedade floresça ou não (Rodrigues, 1995). Na região Centro-Sul, por exemplo, temse observado precipitações abundantes desde 2009 e as temperaturas máximas e mínimas têm se mantido dentro de uma faixa considerada ideal para o florescimento da cana (BrasilAgro, 2010).

Como impedir o florescimento

Como o florescimento leva à diminuição ou perda do valor comercial do produto, técnicas agrícolas são utilizadas para impedir esta fase no campo e garantem o processo de maturação (Castro, 2001):


Tabela 1 - Exemplos de produtos utilizados como reguladores vegetais Desvantagens Qualidades ---Inibição temporária ou restrição do crescimento Dependente das condições ambientais Baixa toxicidade para mamíferos; Inibidor de crescimento vegetal Utilização perto da época de colheita pode destruir a gema apical; Paralisação do crescimento da planta; Eleva os índices de brotação lateral e prejudica a rebrota da soqueira Metabolismo acelerado da planta Deve se atentar para a aplicação de dose e épocas corretas Retarda crescimento em altura; Estimula a rebrota da soqueira ---Fluazifop-p-butil (herbicida) Paralisação do crescimento da planta Produto Ethefon Sulfometuron-metil (herbicida) Glifosato (herbicida) Etil-trinexapac

Fonte: Leite & Crusciol (2008); Caputo et al (2005); Leite et al (2009); Marques et al (2001); Crusciol et al (2010).

• Idade mínima da planta: deve-se levar em consideração a idade mínima da planta para o acúmulo de sacarose, de 11 (ciclo de 12 meses) a 16 (ciclo de 18 meses) meses após o plantio, para que possa responder às condições impostas no campo (Silva et al, 2010). • Umidade: o déficit hídrico em áreas irrigadas, principalmente nos três meses anteriores ao florescimento (período de indução floral), pode retardar a indução floral (Panje & Srinivasan, 1959) ou mesmo causar uma inibição, mesmo se todas as outras condições para a indução floral forem adequadas (Moore, 1987). O estresse hídrico causado pela tensão gerada na planta pode conduzir a um florescimento tardio ou mesmo a planta pode não se recuperar do estresse (Rodrigues, 1995). O solo úmido durante o período de indução floral induz a gema apical de crescimento para gema florífera. • Temperatura: a interferência da temperatura na indução do florescimento está relacionada tanto com baixas como com altas temperaturas (Berding & Hurney, 2005). Entretanto, conforme ocorre o distanciamento da linha do Equador, este fator ambiental passa a ter maior relevância. Temperaturas noturnas abaixo de 18°C, por períodos maiores de dez dias inibem a indução do florescimento (Castro et al, 2001) sem, no entanto, influenciar na fotossíntese, com oferta de mais sacarose para o armazenamento (Silva et al, 2010). Temperaturas diurnas acima de 32°C durante a iniciação floral também podem prejudicar a floração (Berding & Moore, 2001). Durante o período de indução floral, a temperatura noturna acima de 18°C estimula a gema apical da condição de crescimento para florescimento. • Fertilidade do solo: pode inibir o florescimento, como é o caso da aplicação de altas doses de nitrogênio que reduz ou mesmo aborta a emergência da panícula (Humbert, 1974; Farias et al, 1987; Berding et al, 2004). • Fotoperíodo: é o principal fator que dirige o florescimento desta cultura, mas é dependente da interação com os outros fatores citados acima (Alexander, 1973; Moore, 1987). Como exemplo, no Centro-Sul do Brasil o estímulo fotoperiódico ocorre entre fevereiro e março (Segato et al, 2006). Foto-

período de 11 horas e 30 minutos de escuro também estimula para que a gema apical de crescimento passe para florífera, desde que se tenha umidade no solo e temperaturas noturnas acima de 18°C. • Latitude: também tem relação com o florescimento em cana. Em latitudes menores, a formação de gema floral é mais precoce (Alexander, 1973).

Uso de maturadores

Mesmo estabelecendo o cultivo agrícola em condições ideais ainda é possível garantir a maturação adequada das cultivares por meio de reguladores vegetais, prática cada vez mais comum no setor sucroalcooleiro (Crusciol et al, 2010; Gheller, 2001). O uso de maturadores ou reguladores vegetais provoca alterações morfológicas e fisiológicas nas plantas, promovendo a inibição do crescimento, porém, intensifica ou torna precoce a maturação, de forma a incrementar o acúmulo de sacarose e consequentemente garantir melhor produção. Assim, vários produtos de diferentes princípios ativos são empregados em larga escala atualmente (Tabela 1) de acordo com Caputo et al (2005) e Crusciol et al (2010). Há ainda o uso de misturas de produtos químicos que podem amenizar os efeitos prejudiciais de algum dos produtos, sem, no entanto, melhorar a

produção (Crusciol et al, 2010). A eficiência do produto deve ser avaliada quanto à paralisação do crescimento (altura das plantas, diâmetro de colmos e brotação lateral) e estímulo da maturação, no não florescimento e no chochamento (Leite & Crusciol, 2008). Pesquisas voltadas para a utilização e momentos de aplicação de reguladores são importantes para o produtor verificar seu fator custo–benefício (Caputo et al, 2005; Crusciol et al, 2010). Porém, segundo Berding & Hurney (2005) o manejo do florescimento utilizando reguladores de crescimento é ainda uma alternativa de custo elevado. A escolha do período vegetativo para a aplicação do maturador tem grande influência na produtividade final. O uso de reguladores vegetais no início de safra inibe o desenvolvimento vegetativo pelas boas condições climáticas, principalmente de umidade e temperatura disponíveis, antecipando a maturação. Já a aplicação dos maturadores em final de safra permite manifestação do potencial genético das cultivares, mantendo elevado o teor de sacarose por mais tempo e garantindo a melhoria na qualidade tecnológica (Leite et al, 2008; Deuber, 1988; Crusciol et al, 2010). É importante se conhecer os genótipos de cana-de-açúcar utilizados, para saber o momento certo de aplicar o inibidor de crescimento. Para as latitudes do estado de São Paulo, a melhor época é a partir da segunda quinzena do mês de fevereiro até a primeira quinzena do mês de março (Caputo et al, 2005). Segundo produtores de cana-de-açúcar é possível utilizar cultivares que não floresçam ou realizar a colheita antes da indução floral, acompanhando o período de indução e ajustando o manejo antes do início da safra. C Cristina Rodrigues G. Sales, Karina Iolanda Silva, Carlos Alberto Mathias Azania e Andréa Padua Azania, IAC

O florescimento no final do período de crescimento da cana-de-açúcar resulta em prejuízos à qualidade da matéria-prima

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Cana-de-açúcar

Broca voraz

Diatraea saccharalis é uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não adotadas medidas de combate adequadas. O plantio de variedades suscetíveis, a ausência de cuidados com o controle biológico e o emprego de inseticidas de forma inadequada têm contribuído para o agravamento do problema

N

o Brasil, a produção de cana-deaçúcar tem crescido a uma taxa média anual de 11% nos últimos cinco anos e a produção de álcool teve incremento de quase 20% nesta safra, motivada pelas vendas de carros flex-fuel, frota que representa 90% dos veículos novos fabricados no país em 2012. Diante deste cenário, o Brasil se mantém líder mundial na produção de canade-açúcar e seus derivados, tendo colhido uma área superior a nove milhões de hectares na safra 2011/12, resultando em produção superior a 560 milhões de toneladas. Nos próximos dez anos, os mercados do açúcar e do álcool serão norteados pela crescente demanda mundial por álcool para combustível. Será o álcool, refletindo o provável aumento dos preços do petróleo, que determinará a oferta e, consequentemente, os preços do açúcar. No entanto, apesar de todos os prognósticos e como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, destacandose dentre estas a broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle. O aumento da infestação da praga nos canaviais está ligado a fatores climáticos, grandes áreas de expansão, plantio de variedades suscetíveis, aumento das áreas fertirrigadas (nitrogênio) e principalmente pela forte redução no controle biológico através da liberação de Cotesia flavipes.

Descrição e biologia

O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis dura em torno de dois meses (60 dias), existindo quatro a cinco gerações anuais, dependendo das condições climáticas. As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 50 ovos, agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é de 300 ovos, aproximadamente. Inicialmente os ovos

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são amarelos, com o desenvolvimento embrionário, ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo. Quatro a nove dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas. As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por cinco instares, durante um período médio de 40 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta preste a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. É de coloração castanha e tem a duração de nove a 14 dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento. Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem aproximadamente 25mm de envergadura. Apresentam hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer.

Flutuação populacional

No estado de São Paulo, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Esses adultos, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro, a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por cinco a seis meses.


Ovos de D. saccharalis sobre a folha (esquerda) e pupa dentro do colmo (direita)

Prejuízos

As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e podem levar a planta à morte, “coração morto”, especialmente em canas novas. Quando faz galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque. Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium subglutinans, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os microrganismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento. Para cada 1% de intensidade de infestação da praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 0,42% na produção de açúcar ou 0,22% na produção de álcool e mais 1,14 na produção de cana (TCH), sendo os prejuízos maiores em cana-planta.

Intensidade de = No de Internódios Broquiados * 100 Infestação Final ( IIF ) No Total de Internódios

Determinada a intensidade de infestação final, têm-se diferentes graus de infestação, Aceitável (≤ 1); Baixo (1,1 a 3); Médio (3,1 a 6); Alto (6,1 a 9) e Inaceitável (> 9,1), sendo esses valores expressos em porcentagem. O controle é econômico quando for encontrada uma intensidade de infestação igual ou superior a 3%. A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, variedades mais suscetíveis ao ataque, viveiros, áreas irrigadas

entre outros fatores, para o futuro planejamento da tomada de decisão.

Métodos de controle

Controle cultural: no Manejo Integrado desta praga, o plantio de variedades resistentes, corte da cana sem desponte, moagem rápida, eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, milheto e sorgo, após suas colheitas são medidas eficazes para diminuição da população da praga. Controle biológico: existem diversos inimigos naturais capazes de controlar a praga,

Amostragem – Intensidade de Infestação Final (IIF)

A amostragem de Intensidade de Infestação Final (IIF) é realizada coletando-se colmos de cana-de-açúcar no momento do corte a campo ou do seu recebimento na indústria. Em campo, deve-se amostrar quatro pontos, ao acaso, sendo representados por cinco colmos cada, tomados aleatoriamente, totalizando 20 colmos avaliados. Para o cálculo da intensidade de infestação abre-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/ podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula:

D. saccharalis atinge e danifica a gema apical das plantas de cana-de-açúcar

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como predadores, parasitoides de ovos e de lagartas, além de fungos entomopatogênicos. Predadores: são responsáveis, naturalmente, por eliminar uma expressiva parcela, principalmente de ovos e de lagartas recémeclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp. entre outros, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais. Parasitoides de ovos: sendo a fase do ovo o fator-chave do crescimento populacional da praga, justifica-se empregar o parasitoide Trichogramma galloi, para evitar que o inseto inicie o ataque ao colmo da cana. Esta espécie deve ser liberada na forma adulta em 25 pontos/ha, em um total de 200 mil parasitoides por hectare em quatro liberações sucessivas feitas à tarde e espaçadas de uma semana. Associado com C. flavipes, T. galloi chega a reduzir a intensidade de infestação em 60%. Parasitoide de lagartas: A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis que foram utilizadas anteriormente. Nos últimos anos, esses inimigos naturais diminuíram as perdas anuais que eram da ordem de 100 milhões de dólares, para 20 milhões de dólares, para São Paulo, devido à redução de Intensidade de Infestação que era, aproximadamente, de 10% e atualmente está em cerca de 2%. A amostragem para este método de controle é baseada em duas metodologias, que devem ser iniciadas em áreas de plantio “cana-planta”, canas de segundo corte, viveiros de muda, áreas irrigadas, histórico da área e sintomas de ataque (“coração morto” em cana jovem e quebra de ponteiros em canas mais velhas).

Adultos de D. saccharalis: macho (acima) e fêmea (abaixo) Danos provocados pelo complexo broca x podridão vermelha do colmo

Na metodologia Hora/Homem, esta deve ser intensificada a partir de novembro e repetida quinzenalmente, priorizando áreas com variedades suscetíveis, primeiros cortes, áreas fertirrigadas ou com sintomas do ataque. Aleatoriamente no talhão, visar colmos que apresentem sintomas e que contenham em seu interior lagartas maiores que 1,5cm. As liberações serão iniciadas nas áreas que apresentarem dez lagartas/hora/homem ou mais. O parasitoide C. flavipes deve ser liberado em quatro copinhos com 1,5 mil indivíduos cada, totalizando seis mil indivíduos por hectare, repetindo mais uma ou duas vezes, se necessário. No outro método, Levantamento Populacional, são analisados dois pontos por hectare, sendo que em cada ponto de amostragem são avaliados os colmos de todas as plantas em cinco metros lineares de duas ruas paralelas, totalizando dez metros lineares por ponto. Todos os colmos com orifícios de entrada da bro-

No detalhe, à esquerda, massa de Cotesia flavipes após abandonarem o corpo da lagarta e, à direita, lagarta parasitada por Beauveria bassiana

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ca são rachados e observados, anotando-se o número de lagartas acima de 1,5cm de comprimento, sendo estes valores extrapolados para um hectare, de acordo com o espaçamento da cultura. A liberação do parasitoide C. flavipes é embasada em uma tabela, em que aumenta o número de vespinhas de acordo com a população da praga. De mil a três mil lagartas por hectare, liberam-se seis mil vespinhas/ha (quatro copos); de três mil a dez mil lagartas por hectare, liberam-se de seis mil a 20 mil vespinhas/ha (quatro a 13 copos), equivalente a duas vespinhas por lagarta. De dez mil a 15 mil lagartas/hectare, recomendam-se três vespinhas por lagarta. Acima de 15 mil lagartas/ hectare, recomendam-se quatro vespinhas por lagarta. Esse método, embora funcional, tem o seu rendimento reduzido pelo processo de amostragem, bem como o custo elevado pelo excesso de material liberado. Fungo Entomopatogênico - O emprego do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, no controle da broca da cana-de-açúcar, é recomendado quando há superpopulação da praga, situação que exige resposta rápida e eficiente de controle sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Este fungo B. bassiana pode proporcionar mortalidade média de 50%, quando empregado na concentração de 4 x 1012 conídios viáveis por hectare, equivalente a aproximadamente 4kg por hectare do fungo mais o meio de cultura (arroz). Controle químico: este método de controle deve ser visto como ferramenta útil a ser usada, com muito critério, apenas em locais onde haja, de fato, a necessidade de seu emprego como meio auxiliar ao controle biológico e nunca como única medida. Para este tipo de controle, a amostragem é


realizada observando-se, na região do “palmito” da cana, a presença de lagartas (menores do que 1cm), antes de penetrarem no colmo, sendo o nível de controle representado por 3% de canas com lagartas nessa região. A metodologia de amostragem é a mesma da Intensidade de Infestação. Após a tomada de decisão, pulverizar o mais rápido possível o inseticida, diminuindo a chance das lagartas penetrarem no colmo. Os inseticidas usados para o controle químico de Diatraea saccharalis geralmente apresentam eficientes resultados. As melhores respostas têm sido obtidas com aplicação em pulverização foliar. O produto do grupo Modulador de Receptores de Rianodina – Clorantraniliprole, 350 WG se destaca, atualmente, pela eficiência, modo de ação, sistematicidade e residual. Outros importantes grupos, como Inibidores da Síntese de Quitina – Triflumuron, 480 SC, Lufenuron 50 CE, Novaluron, 100 EC - e Agonista de Ecdisteroides – Tebufenozide, 240 SC, apresentam também eficiência de controle, porém com resultados mais tímidos quando comparados ao primeiro grupo. Todos os grupos são compatíveis com o controle biológico.

Considerações finais

Nestes últimos anos tem ocorrido aumento no plantio de variedades suscetíveis

Detalhe de ovos parasitados por Trichogramma galloi

à D. saccharalis. A expansão do plantio para novas áreas e a falta de atenção aos cuidados que necessitam existir ao se empregar o controle biológico, especialmente com o parasitoide C. flavipes, têm levado ao aumento da praga. Esses fatos têm gerado a sensação de que o controle biológico não tem sido capaz de conter as infestações da praga, ocasionando crescente emprego de inseticidas para o seu controle. Dentre os produtos químicos utilizados há sérios riscos, em alguns casos, de estar-se aplicando ingredientes ativos que em médio e longo prazos ofereçam sérios riscos à biodiversidade, face aos seus amplos espectros de

ação, especialmente sobre insetos úteis (predadores e parasitoides), naturalmente existentes nos canaviais e que necessitam ser preservados por exercerem importantíssimo papel no controle de pragas. Assim, cuidados com o material biológico (especialmente C. flavipes), como controle de qualidade, forma de transporte ao campo, quantidade a ser liberado, horário, forma e local de liberação, dentre outros, são pontos importantes a serem respeitados, sob o risco de não o sendo, ocasionar descrédito C ao método. José Francisco Garcia Global Cana - Soluções Entom. Ltda.


Soja Silvânia Furlan

Aplicação compatível

Embora o uso de misturas de tanque não seja uma medida regulamentada no Brasil, é importante que o produtor conheça os resultados da interação da aplicação combinada de fungicidas e fertilizantes foliares. Na cultura da soja, resultados apontam não haver antagonismo nessa associação

O

bom estado nutricional das plantas leva ao maior vigor e ao aumento da capacidade de defesa ao ataque de patógenos. Alguns fertilizantes foliares como os fosfitos podem ter uma participação importante no processo de defesa das plantas, sendo um agente indutor de resistência, por ativar mecanismos que a planta possui de reação contra a ação dos patógenos, como a formação de fitoalexinas e outros. Por outro lado, os fungicidas empregados no controle das doenças, em geral atuam diretamente sobre os agentes causais, agindo nos seus processos de germinação, desenvolvimento micelial e esporulação. Pela prática fitossanitária de manejo do complexo das doenças e de fornecimento dos nutrientes às plantas, o uso combinado de fungicidas e fertilizantes representa uma opção vantajosa para o agricultor, porém, pode oferecer riscos como o da incompatibilidade entre eles. Estes riscos, do ponto de vista agronômico, podem representar perda de eficiência

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e fitotoxicidade. Em soja, doenças como a ferrugem, a mancha alvo, a antracnose e o mofo branco justificam este tipo de prática por demandarem aplicações frequentes de diferentes grupos de fungicidas, associados comumente a outros produtos como os fertilizantes, que podem inclusive auxiliar no manejo de fitopatógenos. Embora o uso de misturas de tanque não seja uma medida regulamentada pelos órgãos competentes, é importante que o produtor conheça o resultado desta combinação (fungicidas + nutrientes), considerando que é uma prática de manejo e que um produto pode ser influenciado pelo outro, podendo levar a resultados positivos ou negativos. O tipo de formulação, por exemplo, é um dos principais fatores de influência nas misturas, que podem levar a reações compatíveis ou não.

Alguns efeitos de misturas

A interação de diferentes ingredientes ati-

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vos pode resultar em efeitos que são chamados de sinergismo, antagonismo ou adição. O sinergismo é o mais desejado porque corresponde a um resultado superior à soma da eficiência ou qualidade de cada um dos produtos usados individualmente. O antagonismo é indesejável porque corresponde a uma eficiência menor que a soma da ação de cada um dos produtos isolados e a adição ocorre quando a eficiência da mistura dos produtos é a soma da eficiência individual de cada ativo. Como exemplo de sinergismo em soja bastante conhecido na prática é a mistura formulada de fungicidas triazóis e estrobilurinas no controle da ferrugem asiática. Os ensaios cooperativos sobre eficácia de fungicidas no controle desta doença demonstram esta sinergia. No antagonismo, por exemplo, um ativo pode reduzir a atividade fotossintética e o outro depende da fotossíntese para agir. Também, a mistura de fungicidas biológicos + químicos, quando estes são tóxicos ao microrganismo, como fluazinam + Trichoderma spp, testados in vitro por Pandolfo, 2007, e fentin hidróxido + Bacillus thuringiensis por Silva et al, 2006. Na adição há exemplos de misturas de fungicidas de diferentes grupos químicos que agem no complexo da ferrugem asiática (triazol + estrobilurina) e mofo branco (fluazinam ou procimidone) e ainda de fertilizantes + fungicidas e de herbicidas de folha larga + herbicida para folha estreita. A compatibilidade química/biológica dos ativos é obtida quando não há a sua degradação e, como consequência, a mistura não compromete a eficiência. Na incompatibilidade, a degradação das moléculas pode levar à redução na persistência e na absorção (no caso dos produtos sistêmicos) e ainda na ocorrência de fitotoxicidade. A velocidade de hidrólise, quando existe, depende, sobretudo, do pH da calda. Quando há extremos (alcalinos ou ácidos) é mais fácil ocorrer a decomposição dos ativos, porém, isto depende da estabilidade química de cada produto. Por isso devem ser verificados os efeitos para cada uma das misturas. A incompatibilidade física depende fundamentalmente das formulações. Os principais fenômenos são a floculação (formação de aglomerados), a modificação da viscosidade e a formação dos grumos, o que acarreta em depósitos no tanque de pulverização, na estratificação dos produtos (diferença de densidade) e no entupimento de bicos. Com isso, certamente haverá problemas na distribuição dos produtos e na eficácia da aplicação. Em misturas de mesmo tipo de formulação, em geral, estes problemas são raros. Recomendase um pré-teste para misturas de diferentes


formulações quando não se conhece a reação física entre os produtos, para assim evitar tais riscos. Um exemplo estudado de incompatibilidade física entre dois produtos é o da mistura de glifosato WG e lactofen CE, segundo trabalho de Petter, F. A. et al, 2012. Trabalhos para conhecer a compatibilidade de misturas podem trazer uma contribuição importante ao produtor, visto a praticidade e a economicidade da sua aplicação. Ressaltase, no entanto, que os resultados destes estudos não podem servir como base de uma recomendação já que as misturas de tanque não são medidas permitidas pelos órgãos regulamentares.

Influência do pH

Vários fatores influenciam a eficiência dos ingredientes ativos, como a qualidade da aplicação e o pH da calda, entre muitos outros. O uso de redutores de pH pode potencializar as misturas pela redução de incompatibilidade, principalmente para herbicidas que requerem pHs baixos, evitando a hidrólise das moléculas na calda. Por exemplo, o glifosato tem sua melhor eficiência em pH = 3,5 a 4. No caso dos fungicidas, em geral, a eficiência é melhor em pH mais elevado, a maioria em torno de 5 a 6. No entanto, nem sempre são degradados em pHs mais baixos ou alcalinos. Para ilustrar, alguns exemplos de fungicidas e sua meia-vida são fornecidos na Tabela 1, segundo o seu pH. Informações sobre faixa ideal de pH para outros fungicidas podem ser obtidas junto aos seus fornecedores para que o produtor utilize a calda dentro desta faixa e conheça melhor a estabilidade química do produto.

Resultados de ensaios

Foram mais de cinco anos de trabalhos

desenvolvidos pelo Laboratório de Fitopatologia do Instituto Biológico, em condições de laboratório em placas (in vitro) e em folhas destacadas de soja (in vivo) e também a campo, com o objetivo de verificar a compatibilidade dos nutrientes, em especial os fosfitos, com os principais fungicidas utilizados no controle de doenças da soja. Entre todos os trabalhos, foram selecionados três, um em cada condição (in vitro, in vivo e a campo), com o objetivo de informar sobre a compatibilidade das interações destes produtos, com base nos dados de eficácia.

Compatibilidade no controle de antracnose e mancha-alvo

Para avaliar a compatibilidade in vitro de Sett, phytogard Mn e phytogard K com fungicidas benzimidazóis usados para o controle dos Colletotrichum dematium (antracnose) e Corynespora cassiicola (mancha-alvo) um ensaio foi desenvolvido em placas de Petri, com inoculação de discos de micélio dos fungos C. dematium e C. cassiicola. A incubação foi feita em condições de BOD, a T = 25ºC, fotoperíodo de 12 horas durante oito dias. Os tratamentos foram as combinações dos fungicidas Derosal (carbendazim), Bendazol (carbendazim) e Cercobin (tiofanato metílico), a 10ppm i.a. com os fertilizantes fosfitos (Phytogard Mn e Phytogard K) e Sett (à base de Ca e B), a 100ppm i.a. As concentrações dos produtos foram determinadas por resultados de ensaios anteriores realizados para verificar a ação ou sua fungitoxicidade. Realizou-se a medição do diâmetro das colônias formadas após oito dias da incubação. Os dados foram transformados em porcentagem de inibição das colônias, com base na testemunha. As porcentagens de inibição dos trata-

mentos com os fungicidas benzimidazóis isolados alcançaram valores entre 71,96% e 74,30% para C. demaitium e entre 67,34% e 81,17% para C. cassiicola. Para as misturas os resultados foram semelhantes ou mesmo superiores, de 74,58% a 80,59% e de 70,84% a 81,18%, para cada patógeno, evidenciando a compatibilidade e a possibilidade de misturas entre eles (Tabela 2).

Nutrientes, fungicidas e ferrugem asiática

Para avaliar a compatibilidade in vivo de nutrientes associados aos fungicidas para o controle da severidade dos sintomas de ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) um ensaio foi desenvolvido em folhas unifolioladas de soja (cultivar CD 219) tratadas e inoculadas com uredosporos de P. pachyrhizi. Após 12 dias da incubação em BOD a 23ºC e fotoperído de 12 horas efetuou-se a leitura da severidade da doença e calculou-se a porcentagem de inibição dos sintomas com base na testemunha. Os fungicidas utilizados isoladamente e em misturas com os nutrientes foram: Opera, Fox, Priori Xtra, Xemium BAS 702 e Elatus, a 2ppm i.a. Os nutrientes testados foram Phytogard K, Phytogard Mn, Phytogard Neutro, Sett e Starter, a 20ppm i.a. As determinações das concentrações dos fungicidas e nutrientes basearam-se em testes anteriores. Foram determinados os valores de pH da calda de cada tratamento no momento do preparo. Todos os tratamentos fungicidas e estes misturados aos nutrientes alcançaram valores de inibição dos sintomas semelhantes entre eles, a partir de 86,62% (uso isolado do fungicida) até quase 100% (misturas). Portanto, as combinações dos fungicidas com os fertilizantes mostraram-se compatíveis, apresentando porcentagens de inibição


Tabela 1 - pH e meia-vida para os fungicidas captan, mancozeb, epoxiconazole e carbendazim (adaptado de Gassen, F.R., 2012) Ingrediente ativo Captan

Mancozeb

Epoxiconazole Carbendazim

pH da calda 9 7 5 9 7 5 7 5 5 7

Meia–vida 12 minutos 8 horas 37 horas 34 horas 17 horas 20 dias 46 dias 30 dias 30 horas 12 minutos

Tabela 2 - Ação in vitro dos fungicidas e suas misturas com fertilizantes foliares sobre a % de inibição dos fungos Colletotrichum dematium e Corynespora cassiicola Tratamentos

ppm i.a.

Testemunha Derosal Bendazol Cercobim Phytogard Mn + Derosal Phytogard Mn + Bendazol Phytogard Mn + Cercobim Phytogard K + Derosal Phytogard K + Bendazol Phytogard K + Cercobim SETT + Derosal SETT + Bendazol SETT + Cercobim CV %

10 10 10 100 +10 100 +10 100 +10 100 +10 100 +10 100 +10 100 +10 100 +10 100 + 10

% de Inibição C. dematium C. cassiicola 74,2 a 74,05 a 71,96 a 67,34 b 74,30 a 81,17 a 79,06 a 70,84 ab 80,59 a 80,59 a 76,20 a 79,97 a 80,12 a 81,18 a 79,13 a 78,15 a 80,16 a 74,50 a 74,58 a 71,49 ab 75,64a 71,44 ab 76,19 a 71,96 ab 8,9 9,5

pelo menos equivalentes aos fungicidas isolados. Isso indica que os fertilizantes (ressaltando Phytogard Mn que reduziu o pH para 4) não interferiram negativamente na calda, não havendo redução da ação dos fungicidas sobre a doença, quando em uso associado. Pode-se constatar até mesmo um efeito de adição e não de antagonismo, independente do pH da calda (Tabela 3).

Ensaio com fungicida e fosfitos

A viabilidade do uso das misturas dos fosfitos (Phytogard N e Phytogard Mn) com o fungicida Opera pode ser observada pelo ensaio de campo desenvolvido na safra 2006/07, entre outros desenvolvidos em safras seguintes pelo Instituto Biológico. Os dados de porcentagem da severidade da doença e da desfolha, além dos parâmetros de rendimento (produtividade em kg/ha e peso de mil grãos) comprovam a compatibilidade do uso combinado destes produtos, indicando efeitos de adição e não de antagonismo, independentemente do tempo de uso da calda após o seu preparo (imediato e duas horas após). Isto indica que o ingrediente ativo do fungicida não foi degradado, tendo uma boa

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Tabela 3 - Efeito dos fungicidas a 2ppm i.a e suas misturas com nutrientes a 20ppm i.a. sobre a severidade (%) e a inibição (%) dos sintomas da ferrugem asiática em folhas destacadas de soja Concentr. (ppm i.a.) 0 2 2+20 2+20 2+20 2+20 2+20 2 2+20 2+20 2+20 2+20 2+20 2 2+20 2+20 2+20 2+20 2+20 2 2+20 2+20 2+20 2+20 2+20 2 2+20 2+20 2+20 2+20 2+20 20 20 20 20 20

Fungicidas/fungicidas + fertilizantes Testemunha Opera Opera + Phytogard k Opera + Phytogard Mn Opera + Phytogard Neutro Opera + Sett Opera + Starter Fox Fox + Phytogard k Fox + Phytogard Mn Fox + Phytogard Neutro Fox + Sett Fox + Starter Priori Xtra Priori Xtra + Phytogard k Priori Xtra + Phytogard Mn Priori Xtra + Phytogard Neutro Priori Xtra + Sett Priori Xtra + Starter Xemium BAS 702 Xemium BAS 702+ Phytogard k Xemium BAS 702+ Phytogard Mn XemiumBAS 702+ Phytogard Neutro Xemium BAS 702+ Sett Xemium BAS 702+ Starter Elatus Elatus + Phytogard k Elatus + Phytogard Mn Elatus + Phytogard Neutro Elatus + Sett Elatus + Starter Phytogard K Phytogard Mn Phytogard Neutro Sett Starter

pH da calda 6,4 7,2 5,6 4,2 6,2 6,7 6,4 6,7 5,5 4,3 6,2 6,7 6,1 6,8 5,4 4,5 6,4 6,4 6,4 5,9 5,4 4,2 6,2 6,3 6,2 6,8 5,9 5,8 6,5 6,7 6,6 5,6 4,0 6,8 6,1 5,7

Severidade Ferrugem em folhas 56,66 a 7,78 e 1,67 f 1,11 f 1,11 f 3,33 f 2,22 f 7,76 e 1,11 f 0,55 f 1,11 f 3,34 f 1,11 f 7,78 f 3,0 f 3,89 f 7,68 f 3,33 f 3,33 f 4,7 e 0,8 f 0,8 f 2,47 f 0,8 f 3,0 f 2,0 f 0,37 f 0,73 f 0,73 f 0,37 f 0,73 f 45,56 c 42,22 d 46,67 c 52,22 b 46,67 c

% de inibição 0 86,62 97,5 97,64 97,47 94,12 96,08 87,26 98,12 98,89 98,04 96,08 98,64 86,27 95,09 94,12 93,14 94,12 95,09 91,18 98,04 98,04 95,09 98,04 94,12 96,08 99,01 98,04 98,04 99,01 97,05 19,59 25,48 17,63 7,83 17,63

Tabela 4 - Eficiência dos fungicidas e suas misturas com fosfitos, em dois tempos de preparo da calda, sobre a severidade da ferrugem asiática, desfolha, produtividade e peso de grãos. Safra 2006/07 Tratamentos

Tempo de preparo da calda

1. Testem. 2. Opera 3. Opera 4. Opera + Phytog.N 5. Opera + Phytog. N 6. Opera + Phytog. Mn 7. Opera + Phytog.Mn CV %

imediato 2 horas imediato 2 horas imediato 2 horas

% Sever. R6 90,5 a 20,0 bc 21,0 b 17,2 bcd 16,0 cd 15,5 d 13,7 d 4,6

estabilidade química, visto a eficiência dos tratamentos (Tabela 4).

Conclusão

Pelos trabalhos conduzidos sobre a compatibilidade entre os fertilizantes foliares e os fungicidas testados, constata-se a viabilidade das misturas, visto que mesmo com a redução do pH da calda pelo emprego

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% Desfolha R7 95,7 a 27,7 b 28,0 b 25,7 b 23,2 b 23,2 b 22,5 b 3,9

Kg/ha

1.000 grãos - g

2120 b 2491 ab 2821 a 2635 a 2476 ab 2970 a 2598 ab 8,3

150,6 c 173,7 b 180,7 ab 181,8 ab 181,1 ab 186,9 a 181,8 ab 2,6

do fosfito de manganês, não houve redução da eficiência dos fungicidas, indicando não haver degradação dos ativos. Portanto, os efeitos encontrados nas interações estudadas não foram de antagonismo e sim de adição, ou mesmo de um possível sinergismo em C algumas associações. Silvânia Furlan, Instituto Biológico



Soja Luis Henrique Carregal

Teste de sobrevivência

A mancha alvo faz parte do rol de doenças cujos agentes causais são transportados e transmitidos por sementes. Por isso conhecer o modo como o fungo Corynespora cassiicola sobrevive e se comporta nas condições de armazenamento tem papel importante para o manejo desse patógeno, que causa prejuízos graves às lavouras de soja

A

doença mancha alvo na cultura da soja, causada pelo fungo Corynespora cassiicola (Berk. & Curt.) Wei, tem se tornado um problema sério a cada safra. Até pouco tempo esta era uma doença pouco expressiva. Todavia, atualmente, tem sido objeto de discussão e preocupação entre produtores e engenheiros agrônomos pela sua disseminação rápida nas lavouras de soja de todo o Brasil. No Brasil, é encontrada em praticamente todas as regiões de cultivo desta leguminosa

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(Almeida et al, 2005; Cassetari Neto; Machado; Silva, 2010). Além da soja, este patógeno ataca diversas culturas, dentre as quais estão algodão, feijão, fumo, melancia, tomate, acerola, mamão e até mesmo plantas daninhas, como assa peixe e trapoeraba (Cutrin e Silva, 2003; Cassetari Neto; Machado; Silva, 2010). A doença afeta folhas, hastes, vagens, sementes, hipocótilos e pode também atacar o sistema radicular das plantas, causando podridão. Na parte aérea, os sintomas ex-

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pressados pelas plantas são característicos, com a formação de lesões que se iniciam com pequenas pontuações de coloração parda e halo amarelado, evoluindo para manchas circulares de maior dimensão, apresentando coloração castanha, com a formação de halos concêntricos (Almeida et al, 2005). O fungo sobrevive em plantas voluntárias, hospedeiros alternativos, sementes e em restos culturais de uma vasta gama de espécies. Pode ocorrer a formação de estruturas de resistência denominadas clamidósporos, sendo que este


fungo pode sobreviver em solos em pousio por mais de dois anos (Sinclair, 1999). Para a ocorrência da doença é necessária alta umidade relativa (acima de 80%) ou a presença de água livre nas folhas e temperaturas acima de 20°C (Sinclair, 1999). O principal dano causado pela doença é a diminuição na área fotossintética (Cassetari Neto; Machado; Silva, 2010). Cultivares suscetíveis podem sofrer completa desfolha precocemente, manchas nas hastes e apodrecimento das vagens (Embrapa, 2006). A infecção na região da sutura das vagens em desenvolvimento pode ocasionar sua abertura e posterior germinação ou apodrecimento dos grãos ainda verdes. Após infectar a vagem, o fungo pode atingir a semente e, dessa forma, ser disseminado para outras áreas. A literatura a respeito da presença do fungo C. cassiicola em sementes é escassa e, na maior parte, os autores consideram este patógeno de ocorrência eventual em sementes (Henning, 1987), ocorrendo, principalmente, em períodos apresentando chuvas prolongadas durante a fase de maturação (Lucena et al, 1983 apud Dhingra e AcuñA, 1997). Atualmente, com o aparecimento mais frequente de mancha alvo nas lavouras, a incidência do fungo C. cassiicola em sementes pode ocorrer com maior intensidade, depen-

Figura 1 - Incidência de Corynespora cassiicola em sementes de soja ao longo do período de armazenamento

dendo das condições climáticas, principalmente durante os estádios de enchimento e maturação dos grãos. Sabe-se que a semente é um veículo de transporte para o fungo, porém, pouca informação se tem a respeito da transmissibilidade e seu período de sobrevivência durante o armazenamento, sendo esta associação fundamental para explicar qual a real importância da semente como forma de disseminação do fungo em lavouras de diferentes locais, bem como a possível introdução

do patógeno em áreas livres da doença através desse material.

Experimento

Com o objetivo de avaliar a incidência do patógeno C. cassiicola em quatro amostras de sementes de soja e sua sobrevivência durante o armazenamento um experimento foi realizado no Laboratório de Patologia de Sementes, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São


Fotos Meyriele Pires de Camargo

Presença de colônias de Corynespora cassiicola em semente de soja

Paulo, durante o período de junho de 2011 a março de 2012. Avaliaram-se quatro amostras de sementes naturalmente infectadas com Corynespora cassiicola. Três amostras pertenciam à cultivar TMG 803 (amostras 1, 2 e 3) e uma à cultivar TMG 103 (amostra 4), sendo as amostras 1, 3 e 4 provenientes do município de Primavera do Leste, Mato Grosso, e a amostra 2 de Campo Verde, Mato Grosso, safra 2010/11. As sementes foram armazenadas durante nove meses, em laboratório, sem controle das condições do ambiente e, a cada três meses, submetidas a testes de sanidade pelo método do papel de filtro, com o objetivo de quantificar a incidência do fungo. Neste método de detecção, as sementes foram postas em placas de Petri de acrílico com diâmetro de 9cm, sobre três folhas de papel de filtro umedecidas com água destilada. Posteriormente foram acondicionadas em câmara de incubação, com fotoperíodo de 12 horas, durante sete dias, a temperatura de 20 ± 2°C. As avaliações foram realizadas com o auxílio de microscópio estereoscópico e microscópio óptico. A identificação do patógeno ocorreu pela formação de estruturas típicas e características da colônia. Utilizaram-se quatro repetições de 50 sementes. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial 4x4 (amostras e épocas) e as médias comparadas pelo Teste de Tukey (p=0,05).

Resultados e discussão

A incidência média de C. cassiicola nas sementes de soja variou de 18% a 42% (Tabela 1), fato incomum, pois de acordo com a literatura, este fungo raramente aparece em sementes. Para a ocorrência de qualquer doença é necessário que ocorra a interação entre três fatores: cultivar suscetível, ambiente favorável e patógeno. As cultivares TMG 803 e TMG

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103 são classificadas como altamente suscetível e suscetível, respectivamente, à mancha alvo. Além da suscetibilidade das cultivares, provavelmente a ocorrência de chuvas em excesso, juntamente com temperaturas favoráveis, propiciou as condições ideais para ocasionar a doença mancha alvo no campo e, consequentemente, para a transmissão do fungo das plantas para as sementes, resultando na alta incidência do patógeno observada nas sementes analisadas. As duas primeiras épocas de avaliação não apresentaram diferença significativa em relação à incidência, porém, a partir dos seis meses de armazenamento ocorreu uma queda maior, acentuando-se ainda mais na última época (Figura 1). Corynespora cassiicola é considerado um fungo de campo por infectar as sementes antes da colheita. Fungos assim classificados requerem alta umidade para seu crescimento, por isso tendem a perder a viabilidade quando o teor de água das sementes cai após a colheita e também durante o armazenamento (Wetzel, 1987). O mesmo comportamento não foi observado apenas na amostra 4, em que a incidência do patógeno permaneceu estável ao longo do período. Provavelmente isso se deve ao nível Tabela 1 - Incidência (%) de Corynespora cassiicola em quatro amostras de sementes de soja durante o armazenamento em condições não controladas

de infecção do fungo nas sementes, pois quanto mais internamente às sementes estão as estruturas do patógeno, mais tempo o fungo sobrevive às condições de armazenamento (Neergaard, 1979). Em relação às cultivares esperava-se que a incidência fosse maior nas sementes de TMG 803, a mais suscetível, porém, isso não ocorreu para a amostra 1. Provavelmente esta amostra foi produzida em condições menos favoráveis ao desenvolvimento da doença. Diante dos resultados obtidos, percebe-se que o uso de sementes sadias e/ou adequadamente tratadas é de extrema importância no manejo de doenças cujos agentes causais são transportados e transmitidos por sementes, pois em condições favoráveis, mesmo aqueles considerados de ocorrência esporádica em sementes, podem tornar-se potencialmente perigosos à sanidade de lavouras. As sementes, além de constituírem um abrigo seguro à sobrevivência de patógenos, são, também, um veículo eficiente na introdução, disseminação e aumento do inóculo em novos locais ou em C áreas já cultivadas. Meyriele Pires de Camargo, Maria Heloisa D. de Moraes, José Otávio Machado Menten, Nathalie Bonassa e Vanessa Cristina Frare, Esalq/USP

Época de avaliação set/11 dez/11 mar/12 Médias 24 BCa 14 ABa 9 Aa 18 a 50 Cb 30 Bb 9 Aa 36 c 48 Bb 41 ABc 32 Ab 42 d 25 Aa 28 Ab 30 Ab 28 b 20 A 36 C 28 B

Amostra/Cultivar jun/11 1(TMG 803) 26 Ca 2(TMG 803) 57 Cb 3(TMG 803) 49 Bb 4(TMG 103) 27 Aa Médias 40 C

CV = 18,52 % * Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey; (p = 0,05); médias seguidas pela mesma letra maiúscula nas linhas não diferem entre si pelo teste de Tukey (p = 0,05).

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Visão microscópica de conídios do fungo Corynespora cassiicola



Soja

Como tratar Diversos patógenos, causadores de tombamentos e de outras doenças, são transmitidos via semente na cultura da soja. É o caso de antracnose, mancha púrpura, septoriose e podridão branca da haste. Estudar a ação de fungicidas aplicados na parte aérea e em tratamento de sementes, bem como o comportamento das cultivares à incidência desses fungos é um importante caminho para aprimorar as estratégias de manejo

A

soja é uma commodity agrícola de importância comercial indiscutível para o Brasil. O aumento da importância da cultura no País deve-se não apenas à maior área cultivada, mas ao aumento na produtividade devido ao emprego de novas tecnologias. Muitos consideram a obtenção de sementes de alta qualidade uma das etapas mais importantes na produção de soja, proporcionando aos agricultores maior economia no estabelecimento de suas lavouras. A garantia de melhor desempenho de uma cultura depende, fundamentalmente, da utilização de sementes vigorosas e isentas de patógenos.

Quanto a sua qualidade sanitária, o ideal seria que as sementes fossem livres de microrganismos patogênicos ou mesmo saprófitas que pudessem causar deterioração durante o armazenamento. Entretanto, isso nem sempre é possível, uma vez que a qualidade das sementes é altamente influenciada pelas condições em que foram produzidas e armazenadas. Vários patógenos de soja, causadores de tombamentos em plântulas e/ou outras doenças em plantas adultas, podem ser transmitidos pela semente, como Fusarium sp., Cercospora sojina e Cercospora kikuchii, Colletotrichum truncatum, Phomopsis sp. e Sclerotinia sclerotiorum.

Além desses patógenos, outros fungos, importantes durante o armazenamento das sementes, podem ocorrer, como Aspergillus sp. e Penicillium sp. O tratamento de sementes reduz a incidência de patógenos nas sementes de soja, sem, no entanto, erradicá-los. Para a produção de sementes de alta qualidade é importante que medidas de controle sejam tomadas durante a sua produção para minimizar a ocorrência de microrganismos nas sementes. Dentre as alternativas que podem ser citadas para o controle de doenças na maioria das culturas, inclusive soja, estão a rotação de culturas, o tratamento de sementes, a adequação da população de plantas, o manejo adequado do solo e a aplicação de fungicidas na parte aérea das plantas. Os três principais grupos químicos recomendados para a parte aérea da soja são os benzimidazóis, os triazóis e as estrobilurinas, (os dois últimos principalmente devido à sua eficácia sobre a ferrugem asiática da soja). Destaca-se a eficiência de fungicidas benzimidazóis para doenças que são transmitidas via semente, causadas por fungos deuteromicetos. Porém, pode ocorrer rápida adaptação de populações de fungos aos benzimidazóis, com redução da sensibilidade ao fungicida, o que demanda o emprego de fungicidas com diferentes

Fotos Afonso da Silva Pesqueira

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Tabela 1 - Incidência (%) de Colletotrichum sp. (Coll), Cercospora sp. (Cerc), Phomopsis sp. (Phom), Cladosporium sp. (Clad) e Fusarium sp. (Fus) em sementes das cultivares CD 219 RR e BRS Potência RR, em função de diferentes fungicidas aplicados na parte aérea da soja em 3 ensaios na safra 2011/12 nas regiões de Maracaju e Dourados - MS Tratamentos

Coll¹

Cerc¹

Testemunha Carbendazim Epoxiconazol+Piraclostrobina Ciproconazol+Picoxistrobina Carbendazim+Epoxiconazol+Piraclostrobina Carbendazim+Ciproconazol+Picoxistrobina CV (%) Dourados – 1ª época de semeadura (safra) Maracaju – 1ª época de semeadura (safra) Dourados – 2ª época de semeadura (safrinha)

1,27 a 0,03 c 0,80 ab 0,63 b 0,23 c 0,03 c 57,16 0,37 B 0,85 A 0,28 B

6,20 a 4,00 a 5,17 a 4,80 a 4,90 a 4,90 a 23,00 2,55 C 7,93 A 4,50 B

Clad¹ % 6,80 a 5,87 a 8,93 a 4,80 a 13,27 a 14,93 a 55,20 7,72 A 8,42 A 11,17 A

Phom¹

Fus¹

8,27 a 3,77 b 6,07 ab 7,70 a 3,77 b 3,40 b 28,59 10,60 A 3,53 B 2,35 C

38,00 a 15,13 de 28,07 b 21,43 bc 20,23 cd 14,00 e 15,25 18,63 B 34,12 A 15,68 B

Médias das cultivares Coodetec 219 RR e BRS Potência RR, seguidas pela mesma letra minúscula para tratamentos e maiúscula para ensaios, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Dados originais. Para análise estatística os dados de incidência de fungos em sementes foram transformados em arcoseno.

mecanismos de ação (Koller, 1998). Assim, dentre os fungicidas registrados para o controle de doenças fúngicas como cercosporiose, antracnose e septoriose em soja, os produtos recomendados em associações de triazóis e estrobilurinas podem se tornar uma opção na estratégia de se evitar o aparecimento de resistência a fungicidas. Sendo que, alguns destes produtos já estão no rol dos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle destas doenças. Em 2012 foi registrada pelo Mapa a primeira formulação mista utilizando carbendazim + triazol + estrobilurinas (registro nº 14.211), atualmente com registro suspenso pela Secretaria de Defesa Agropecuária (Rangel, 2012). No entanto, trabalhos com essa associação são ainda incipientes e de grande importância, uma vez que podem maximizar o controle de algumas doenças, reduzir custos e a frequência de aplicação de produtos. Em experimentos realizados a campo nos municípios de Dourados e Maracaju (MS), na safra 2011/12 (safra e safrinha), foram realizadas duas aplicações de fungicidas à base de benzimidazol (carbendazim), triazóis (ciproconazol e epoxiconazol) e estrobilurinas (piraclostrobina e picoxistrobina), no período reprodutivo da cultura, a primeira no estádio de desenvolvimento R2 (floração plena) e a segunda 19 dias após, para o controle de doenças de parte aérea, como antracnose. Posteriormente à colheita, em laboratório, foi realizado o teste de sanidade modificado de Neergaard (1979), utilizando-se o método do papel de filtro (blotter test) para quantificação da porcentagem de sementes

infectadas por patógenos. Duas cultivares foram utilizadas no trabalho, sendo que, nos ensaios semeados na primeira época (em 14/10/2011), em Dourados e Maracaju, foi utilizada a cultivar Coodetec 219 RR e na segunda época em Dourados a cultivar BMX Potência RR, semeada em 12/1/12. A colheita foi realizada no dia 2 de março de 2012 nos experimentos de 1ª época e no dia 14 de maio de 2012 no experimento de 2ª época. As incidências máximas observadas foram 1,3% para Colletotrichum sp., 6,2% para Cercospora sp., 8,3% para Phomopsis sp., 14,9% para Cladosporium sp., 38% para Fusarium sp. (Tabela 1) e

37,6% para Alternaria sp. (Figura 1). Barros e Juliatti (2012), analisando a ocorrência de fungos de plantas nas principais culturas de importância econômica na região de Uberlândia (MG), encontraram Fusarium sp. como o principal fungo incidente em sementes de soja com 19% das ocorrências, seguido de Cladosporium sp. com 14% e Cercospora sp. com 12%. Essas variações na incidência de fungos associados a sementes são observadas em função do local de produção e/ou das condições climáticas, no entanto Fusarium sp. foi o gênero de fungos com maior incidência, também nas sementes analisadas nos ensaios de Dourados e Maracaju. De maneira geral, as sementes de soja oriundas de parcelas que receberam aplicação de fungicida durante a fase reprodutiva apresentaram menor ou pelo menos igual incidência de patógenos em relação à testemunha. No caso de Colletotrichum sp., agente causal da antracnose, sua incidência foi registrada nas sementes de soja com níveis de 0,03% a 1,27% (Tabela 1). Apesar de aparentemente serem níveis baixos de incidência, se considerarmos que são semeadas 300 mil sementes por hectare, serão 90 a 3.810 sementes com a presença do fungo, respectivamente. Considerando que Colletotrichum sp. é um fungo que sobrevive na entressafra em restos culturais, há tendência ao aumento do inóculo nos sucessivos

Presença de fungos em sementes (blotter test), em Dourados, UFGD, 2012

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Figura 1 - Incidência (%) de Alternaria sp. nas sementes de soja, para os seis tratamentos, nos três ensaios, onde foram semeados as cultivares Coodetec 219 RR (Dourados e Maracaju safra verão) e BRS Potência RR (Dourados safrinha), realizados na região de Dourados e Maracaju – MS, na safra 2011/12

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avaliando o efeito da aplicação de fungicidas e da época de colheita para os fungos Fusarium sp. e Phomopsis sp., trabalhando com os fungicidas piraclostrobina + epoxiconazol e carbendazim, não encontraram efeito benéfico da aplicação de fungicidas com relação à sanidade das sementes, divergindo, assim, dos resultados encontrados. Não houve efeito, quanto à aplicação de fungicida, para Cercospora sp. e Cladosporium sp.. Quanto aos ensaios, houve maior incidência em Maracaju para Colletotrichum sp. (0,85%), Cercospora sp. (7,9%) e Fusarium sp. (34,1%). Já para Phomopsis sp. a maior incidência foi registrada em Dourados no experimento conduzido na safrinha e para Cladosporium sp. não houve diferença entre os locais. Tolentino Junior (2007), avaliando sementes produzidas em áreas de produção de sementes nos municípios de Maracaju e Ponta Porã (MS), verificou que as sementes produzidas em Maracaju apresentaram qualidade fisiológica inferior e que reduzidas precipitações e altas temperaturas durante a fase reprodutiva favoreceram a baixa incidência de patógenos. Afonso da Silva Pesqueira

cultivos. Goulart (2000) avaliando a incidência de fungos em sementes no Mato Grosso do Sul nas safras de 1993 a 1997, observaram frequência média de lotes contaminados de 50%, ou seja, metade dos lotes de sementes continha o fungo, porém, a incidência máxima nos lotes foi de 6,5% em 1997. Os fungicidas ciproconazol + picoxistrobina, carbendazim, carbendazim + epoxiconazol + piraclostrobina e carbendazim + ciproconazol + picoxistrobina, aplicados na parte aérea das plantas proporcionaram redução na incidência de Colletotrichum sp. em sementes (Tabela 1). Os fungicidas com carbendazim, isoladamente ou em associação com triazol + estrobilurina, apresentaram os melhores resultados. Danelli et al (2011), avaliando tratamentos de sementes e de parte aérea (piraclostrobina + epoxiconazol e trifloxistrobina + ciproconazol), não encontraram diferença entre os tratamentos com os fungicidas para os patógenos Fusarium semitectum e Colletotrichum truncatum na cultivar Fundacep 53 enquanto, para a cultivar Fundacep 55, encontraram baixa eficiência quando utilizaram trifloxistrobina + ciproconazol na parte aérea, na dose de 150 - 200 (L/ha). Fusarium sp. foi o fungo que apresentou o maior valor de incidência. Todos os tratamentos com fungicida controlaram Fusarium sp., com destaque para o carbendazim + ciproconazol + picoxistrobina (14%), que não se diferenciou do carbendazim (15,13%). Somente os tratamentos com carbendazim, utilizado isolado ou em associação com triazol + estrobilurina, controlaram a incidência de Phomopsis sp. (Tabela 1). Barros et al (2005),

Figura 2 - Incidência (%) de Alternaria sp. nas sementes de soja, para os três ensaios, nos seis tratamentos, onde foram semeados as cultivares Coodetec 219 RR (Dourados e Maracaju safra verão) e BRS Potência RR (Dourados safrinha), realizados na região de Dourados e Maracaju – MS, na safra 2011/12

Aplicação de fungicidas em lavoura de soja, em Dourados, UFGD, 2012

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O fungo Alternaria sp. teve sua presença nas sementes influenciada pela localização dos diferentes experimentos. A incidência na safra de verão não foi influenciada pelos tratamentos em Dourados e Maracaju. O tratamento com carbendazim + ciproconazol + picoxistrobina controlou Alternaria em sementes, em Dourados na safrinha (Figura 1). Quanto ao local, não houve diferença para a testemunha, apresentando os demais tratamentos maior incidência em Dourados, semeado na safra, e menor incidência em Dourados, semeado na safrinha (Figura 2). Além das diferenças de temperatura e umidade, entre as duas épocas de semeadura, outros fatores, como a cultivar utilizada, podem ter influenciado neste resultado. Dourados foi semeado com a cultivar CD 219 RR e BRS Potência RR, na safra e safrinha, respectivamente. Atualmente, apesar da grande oferta de cultivares de soja no mercado, existem poucas informações quanto ao nível aceitável de incidência de patógenos associados às sementes destinadas à comercialização. Assim, para que haja melhor controle da disseminação de doenças via sementes é necessário que sejam estudados e estabelecidos padrões sanitários. Medidas de controle e manejo que possibilitem menor incidência de doenças durante seu desenvolvimento e, consequentemente, menor incidência de fungos nas sementes, devem ser consideradas de forma integrada e econômica. C Afonso da Silva Pesqueira, Lilian Maria Arruda Bacchi, Walber Luiz Gavassoni e Cassia de Carvalho, UFGD



Soja e Feijão Embrapa Soja

Efeitos da coinoculação A inoculação com rizóbios e Azospirillum em soja e em feijão tem apresentado resultados de pesquisa promissores no Brasil, com incrementos importantes na produtividade dessas duas culturas

O

Brasil é um país modelo na obtenção de benefícios da fixação biológica do nitrogênio, especialmente pela utilização de estirpes elite de Bradyrhizobium com a cultura da soja, em simbioses capazes de suprir totalmente a demanda da planta por nitrogênio. Estimativas apontam para contribuições da fixação biológica da ordem de 300kg de N/ ha, além da liberação de 20kg N/ha a 30kg N/ha para a cultura posterior. Resultados consistentes da pesquisa têm comprovado os benefícios da inoculação anual com Bradyrhizobium para o fornecimento de nitrogênio para cultivares de soja ciclos longo, médio, curto, transgênicas e não transgênicas, de crescimento determinado e indeterminado. No caso do feijoeiro, a inoculação com estirpes elite de Rhizobium ainda não é uma prática comum entre os agricultores.

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Contudo, resultados de dezenas de ensaios foram discutidos na comissão técnica central-brasileira de feijão e resultaram na recomendação de que, para rendimentos de até dois mil kg/ha, a inoculação pode suprir as necessidades de N da planta. Para patamares superiores, o agricultor deve acompanhar a cultura e verificar se será necessário, ou não, adubação nitrogenada de cobertura, mas rendimentos de quatro mil kg/ha podem ser conseguidos exclusivamente via fixação biológica. A divulgação desses resultados em palestras, publicações e dias de campo tem aumentado o uso do inoculantes na cultura. Além dos rizóbios específicos para diversas leguminosas de grãos, forrageiras, adubos verdes e arbóreas, existem outros microrganismos que podem trazer grandes benefícios às culturas. Um dos grupos mais promissores é representado por bactérias

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associativas capazes de promover o crescimento das plantas por meio de vários processos, incluindo a produção de hormônios de crescimento (como auxinas, giberelinas, citocininas e etileno), a indução de resistência sistêmica a doenças e estresses ambientais, a capacidade de solubilizar fosfato e de realizar fixação biológica do nitrogênio, entre outros processos. Dentre essas bactérias, destacam-se as pertencentes ao gênero Azospirillum, utilizadas mundialmente como inoculantes em gramíneas, inclusive no Brasil. Atualmente, o agricultor brasileiro já está familiarizado com os inoculantes com Azospirillum para as culturas do milho e do trigo, que vêm sendo adotados de forma exponencial, um sucesso em várias propriedades. As estirpes de Azospirillum Ab-V5 e Ab-V6 foram selecionadas em uma parceria da Embrapa Soja com a UFPR e, posteriormente, em uma parceria técnico-científica com a empresa Total Biotecnologia, foi lançado um inoculante comercial, que vem sendo testado por diversas instituições de pesquisa e ensino e, também, em diversas propriedades do Brasil, de Roraima ao Rio Grande do Sul. Os principais resultados relatados por agricultores com o uso de Azospirillum são: maior crescimento radicular, resultando em maior tolerância à seca e maior aproveitamento dos fertilizantes; maior diâmetro do caule, o que aumenta a resistência ao acamamento; maior resistência das plantas a doenças, o que deve ser atribuído à maior deposição de lignina nas paredes celulares. Esse conjunto de efeitos resulta em maior rendimento de grãos. Um dos desafios para garantir a contribuição da fixação biológica com a soja e com o feijoeiro reside nos recorrentes períodos de seca e de altas temperaturas, bem como na ocorrência de pragas e doenças. Considerando os benefícios atribuídos a diversas culturas pela inoculação com Azospirillum, deduz-se que a coinoculação, ou seja, a inoculação com rizóbios e Azospirillum, poderia melhorar o desempenho de diversas culturas. De fato, benefícios da coinoculação de rizóbios com Azospirillum são relatados em trabalhos científicos de vários países, mas era necessário conduzir ensaios nas condições brasileiras. Há quatro anos a Embrapa Soja iniciou estudos sobre coinoculação em soja e no feijoeiro. Nos três primeiros anos foram conduzidos nove experimentos, em Londrina e em Ponta Grossa, no Paraná. Os ensaios foram conduzidos de acordo com protocolo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para avaliação de inoculantes e tecnologias de inoculação, necessários para obter o regis-


tro de produtos e tecnologias. Os ensaios foram todos conduzidos em “áreas velhas”, com populações estabelecidas de rizóbios compatíveis. As sementes de soja e do feijoeiro foram inoculadas com os respectivos rizóbios, enquanto o Azospirillum foi colocado no sulco de semeadura. Considerando os ensaios com soja, em comparação com o tratamento controle sem inoculante, a reinoculação anual com Bradyrhizobium resultou em incremento médio no rendimento de grãos de 222kg/ ha (3,7 sacas), ou 8,4%, enquanto que a coinoculação resultou em um incremento médio de 427kg/ha (7,1 sacas), ou 16,1%. Foi, portanto, um ganho adicional de 205kg/ha (3,4 sacas), ou 7,1%, pela coinoculação em comparação com o tratamento somente inoculado com Bradyrhizobium na semente, diferença essa estatisticamente significativa. No caso do feijoeiro, a inoculação anual resultou em um incremento médio de 98kg/ha (1,6 saca), ou 8,3%, em relação ao tratamento não inoculado, enquanto que a coinoculação com Azospirillum no sulco resultou em um incremento adicional de 186,8kg/ ha (3,1 sacas), ou 14,7%. Em relação ao controle não inoculado, a coinoculação de Rhizobium e Azospirillum resultou em um incremento de 285kg/ha (4,8 sacas), ou 19,6% (Quadro 1). Os resultados foram apresentados e aprovados em um fórum sobre inoculantes, a Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare), em 2012. Os resultados também foram aprovados pelo Mapa, que oficializou o registro da tecnologia com os produtos analisados em junho de 2013.

Quadro 1 - Ganhos médios no rendimento de grãos de soja (média de quatro ensaios) e do feijoeiro (média de 5 ensaios) pela reinoculação anual das sementes com rizóbios e coinoculação no sulco com Azospirillum. Todos os ganhos foram estatisticamente significativos a 5%, em relação ao controle sem reinoculação e, no caso da coinoculação, também em relação à reinoculação exclusivamente com rizóbios. Fonte: Hungria et al., Biology and Fertility of Soils, 2013 Soja Reinoculação anual com Bradyrhizobium + 222 kg/ha Reinoculação anual + Azospirillum no sulco + 427 kg/ha

Feijoeiro Reinoculação anual com Rhizobium + 98 kg/ha Reinoculação anual + Azospirillum no sulco + 285 kg/ha

Figura 1 - Efeito da coinoculação com Bradyrhizobium e Azospirillum na nodulação de soja (mg de nódulos/planta), aos 21 dias após a emergência. Ensaio conduzido em casa de vegetação; letras distintas indicam diferença estatística a 5%. (Fonte: Embrapa Soja, Tese de doutorado de Amaral M. Chibeba, bolsista moçambicano pela Fundação Bill & Melinda Gates)

Novos ensaios foram conduzidos na safra 2012/2013 e os resultados preliminares obtidos confirmam o bom desempenho das plantas coinoculadas, com ênfase para as situações em que ocorreu deficiência hídrica. Além disso, outros benefícios vêm sendo observados pela coinoculação. Em ensaios conduzidos em condições controladas de casa de vegetação, por exemplo, foi constatada precocidade na nodulação (Figura 1), garantindo boa nodulação na fase inicial de crescimento das plantas, o que pode ser crítico para o bom estabelecimento e desempenho das culturas da soja

e do feijoeiro. Concluindo, os resultados da pesquisa indicam que a coinoculação da soja e do feijoeiro com rizóbios e Azospirillum pode melhorar o desempenho dessas culturas. Cabe salientar que esses resultados estão em concordância com uma abordagem atual da agricultura, que respeita as demandas de altos rendimentos, mas com sustentabilidade agrícola, econômica, C social e ambiental. Mariangela Hungria e Marco Antonio Nogueira, Embrapa Soja


Coluna ANPII

Segredo “desvendado” Grupo de pesquisadores brasileiros descobre em estirpe de bactéria isolada em 1992 grande capacidade de fixação biológica de nitrogênio na cultura do feijão, além de excelente desempenho em condições de estresse por temperatura e déficit hídrico

O

feijão ocupa papel de destaque na alimentação dos brasileiros, sendo fonte importante de proteínas para a população. O rendimento médio nacional da cultura, porém, está entre os mais baixos do mundo e o nitrogênio representa um dos principais fatores limitantes. Mas esse cenário pode mudar. Grupo de pesquisadores do CNPq-Repensa desvendou os segredos de uma bactéria que se revelou altamente eficiente na fixação biológica do nitrogênio com a cultura. O nitrogênio é um nutriente que pode ser fornecido, basicamente, por duas fontes, os fertilizantes, ou pelo processo de fixação biológica do nitrogênio (FBN). A fixação biológica é um processo natural em que algumas bactérias podem fornecer o nitrogênio necessário ao desenvolvimento das plantas. A principal contribuição ocorre entre bactérias denominadas coletivamente de rizóbios em plantas leguminosas, como é o caso do feijoeiro. Na parceria bactériaplanta são formadas estruturas típicas nas raízes, os nódulos, onde as bactérias são alojadas e estabelecem a “fábrica de nitrogênio”. No caso do feijoeiro, o grupo de pesquisadores tem trabalhado com uma bactéria que tem um desempenho excepcional a campo. As pesquisas com essa nova estirpe de bactéria tiveram início em 1992, quando a estirpe PRF 81 foi isolada de um solo do Paraná. Desde então, pesquisas e avaliações de eficiência agronômica conduzidas pela Embrapa Soja e pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) verificaram grande eficiência em fixar nitrogênio e estabilidade genética da PRF 81, o que resultou, em 1998, na autorização pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o seu uso em inoculantes comerciais, passando a receber a denominação de Semia 4080. Desde então, vários grupos de pesquisa e de transferência de tecnologia vêm coletando histórias de sucesso com essa bactéria, que consegue fornecer nitrogênio para rendimentos de 2.000kg/ha ou superiores, dispensando o uso de fertilizantes nitrogenados. Muito importante é o fato de que as histórias de

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sucesso vêm desde assentamentos rurais até grandes produtores. Além de ser um sucesso comercial, o grupo também descobriu que a bactéria apresenta excelente desempenho em condições de estresse por temperatura e déficit hídrico. Inicialmente foi realizado um mapa proteômico e outro estudo identificou as proteínas expressas em temperaturas elevadas. As pesquisas atraíram a atenção da comunidade científica e os resultados foram publicados nas prestigiosas revistas Proteomics e BMC Microbiology. As principais proteínas identificadas serão agora objeto de estudo, com ênfase na aplicação em tecnologias de tolerância a estresses ambientais. A ciência verde e amarela não parou por aí. Em dezembro de 2012 a equipe, fortemente apoiada por outro projeto do CNPq, desta vez um bilateral BrasilMéxico, completou o genoma dessa bactéria e de outra estirpe comercial, a Semia 4077 (=CIAT 899), e o artigo resultante consta da lista de trabalhos mais consultados na revista BMC Genomics. Dentre as várias novidades reveladas nesse estudo, tem-se a indicação de uma história evolutiva intrigante, que revelou grande

Raiz de feijoeiro nodulada com a estirpe PRF 81

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proximidade genética entre Rhizobium tropici e agrobactérias patogênicas, que causam tumores em raízes de plantas, trazendo prejuízo aos agricultores. Em algum ponto da evolução, há milhões de anos, houve uma divisão entre as “bactérias do bem” e as “bactérias do mal” e essa informação diferenciada está compartimentalizada em plasmídeos, que são estruturas de DNA independentes do cromossomo, e conseguem se multiplicar e ser transferidas para outras bactérias. Foi interessante observar que o plasmídeo das estirpes estudadas é altamente conservado, tendo sido transmitido para outros rizóbios geneticamente relacionados, permitindo simbioses mais eficientes com o feijoeiro. Outra surpresa foi o número elevado de genes da PRF 81 classificados como xenobióticos, relacionados à degradação de vários compostos orgânicos e inorgânicos. Com isso, abrem-se caminhos para estudos sobre a utilização dessa estirpe para a biodegradação, por exemplo, de agroquímicos. A relevância das descobertas foi tão elevada e foram tantas as novidades desvendadas no genoma da PRF 81, que resultaram na descrição de uma nova espécie, aprovada nesta segunda semana de junho pelo comitê internacional de taxonomia. É muito importante não se esquecer do passado, razão pela qual a nova espécie foi denominada como Rhizobium freirei, uma homenagem do grupo a João Ruy Jardim Freire, pioneiro e grande incentivador da FBN no Brasil desde a década de 1950. Sem dúvida os resultados das pesquisas têm projetado cientificamente o grupo brasileiro em nível internacional. Mas o grupo de pesquisa enfatiza: “acreditamos que o ponto mais crítico de todas essas pesquisas seja a divulgação, entre os agricultores, dos benefícios da inoculação com a PRF 81 que, agora ‘desvendada’, traz a segurança de que carrega vários genes benéficos ao agroC negócio brasileiro”. Mariângela Hungria da Cunha Embrapa Soja



Coluna Agronegócios

A

A cara do agronegócio

palavra agronegócio é percebida de diferentes maneiras pela sociedade brasileira. Para alguns é a salvação da economia nacional, como ocorreu no primeiro trimestre de 2013, em que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu meros 0,6%, porém teria ficado abaixo de 0,1% sem os 10% de crescimento da produção agrícola. Outros segmentos o satanizam, vislumbrando apenas predação ambiental e indignidade social. Como cientista, eu acredito apenas em fatos e números. Vamos a eles.

Aspectos ambientais

Nos últimos 35 anos a produção brasileira de grãos cresceu 294% e a área apenas 43%, fruto de um crescimento da produtividade de 176%. Esse ganho de produtividade “poupou” 76 milhões de hectares (Mha), que teriam sido incorporados à agricultura, para atingir a mesma produção. Em 1975 um hectare plantado alimentava quatro pessoas - hoje alimenta dez. A agricultura (grãos, hortaliças, frutas, cana, café etc) ocupa 75 milhões de hectares (Mha), 9% da área do Brasil, distribuídos em 4,5 milhões

Além de produzir biocombustíveis, o setor agrícola também gera bioeletricidade: em 2012 foram 6,6% da oferta de eletricidade (38TWh). Estima-se que apenas a cogeração (queima de bagaço nas usinas de cana) gerará mais energia que a que fluirá da Usina de Itaipu, permitindo abastecer 73 milhões de consumidores em 2020, o que equivale a sete vezes a população da cidade de São Paulo.

Tecnologia sustentável

Em 1992, o Brasil cultivava 1,3Mha com plantio direto (4% da área de grãos). Em 2012, passou de 32Mha (75% da área), e a área cresce a cada ano. No início da década de 1990, 20 toneladas de terra fértil eram lavadas de cada hectare com plantio convencional, a cada ano. Passados 20 anos, o plantio direto reduziu em 96% a perda de patrimônio que é o solo agrícola nacional. O Brasil aumentou o plantio direto e reduziu em 66% o gasto de diesel na agricultura. Em 1992, um litro de diesel produzia 25kg de grãos. Hoje, o mesmo litro produz entre 105kg de grãos e 175kg de grãos. Na cultura da soja, em 1992 eram

horas trabalhadas para adquirir a cesta básica, por um trabalhador de salário mínimo, caiu de 100 (1974) para 14 (2012). Ou seja, com as mesmas horas trabalhadas, adquirem-se sete vezes mais comida. Ressaltando que o agronegócio responde por 37% dos empregos do Brasil

Aspectos econômicos

O agronegócio representa 22% do PIB do Brasil, crescendo de R$ 570 bilhões para R$ 990 bilhões entre 1990 e 2012. Neste ano, o Brasil respondeu por 10% da produção mundial de grãos e 25% do seu comércio internacional. Um dos segredos do diferencial competitivo do País é a produtividade agrícola, que tem crescido 3,6% a.a. Nos últimos 35 anos a produtividade de arroz cresceu 3,5 vezes; a de milho 3,1 vezes; a de trigo 2,9 vezes; a de feijão 2,2 vezes; e a de soja 1,9 vez. Nos últimos 30 anos, a produtividade de hortaliças cresceu de 11t/ha para mais de 23t/ha. O crescimento da produção brasileira transformou o País em primeiro produtor mundial de açúcar, café, suco de laranja e biodiesel; o segundo

O Brasil aumentou o plantio direto e reduziu em 66% o gasto de diesel na agricultura de propriedades, com população rural estimada em 29,8 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É interessante compará-la com a área de conservação ambiental (115Mha) e de reservas indígenas (109Mha) onde, segundo o IBGE, vivem 572 mil índios, 0,47% da população do Brasil. Os números indicam que não é a agricultura que restringe as áreas de conservação ou as reservas indígenas. O desmatamento (que é muito inferior ao crescimento da produção agrícola) causado pelos madeireiros, e que ocorre principalmente em áreas públicas, de assentamentos e de reservas indígenas, despencou de 0,4% para 0,1% ao ano, nos últimos 15 anos. Portanto, o cidadão brasileiro pode estufar o peito e dizer que nosso país preserva 69,4% da mata nativa (sem computar as áreas de florestas cultivadas), comparativamente a 0,3% da Europa – de onde partem seguidas acusações de que o agronegócio está acabando com as matas nativas no Brasil! A Lei impõe ao agricultor brasileiro manter as áreas de proteção permanente (matas ciliares, encostas, várzeas, topos de morro) e de reserva legal (que varia entre 20% e 80%) de sua propriedade às suas custas, obrigação que existe em apenas dois países do mundo. Nos demais, quando há esta proteção ambiental, o custo é pago pela sociedade como um todo. Estima-se que apenas 2% do lixo urbano no Brasil sejam reciclados, ao contrário de 95% das embalagens de agroquímicos usadas na agricultura.

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necessários 70 litros de diesel para produzir uma tonelada, reduzidos para meros nove litros, em 2012! Em 2011, a área com plantio direto economizou 1,34 bilhão de litros de diesel, deixando de emitir 3,59 bilhões de quilos de CO2. Nos últimos seis anos, o programa de biodiesel substituiu 7,8 bilhões de litros de diesel, evitando emissões de 16,5 bilhões de quilos de CO2. Entre 2000 e 2011 foram consumidos 95 bilhões de litros de etanol hidratado e 75 bilhões de litros de etanol anidro, em substituição à gasolina. Isso resultou em uma redução de 219 bilhões de quilos de CO2 que deixaram de poluir a nossa atmosfera - acirrando as mudanças climáticas - e de prejudicar a saúde dos brasileiros. O consumo de água para a produção de 1kg de arroz irrigado caiu de quatro mil litros para 1,3 mil litros em 20 anos. Estamos perto do limite teórico, pois 1kg de grãos necessita mil litros de água. Já existem até usinas de cana em que a água circula em circuito fechado – consumo zero!

Aspectos sociais

Em 1975 o Brasil produzia grãos para alimentar 1,4 vez a população do Brasil, que consome, em média, 2kg de alimento per capita por dia. Em 2012 a agricultura nacional alimentou todo o Brasil e exportou para alimentar mais dois “brasis”. Em 1940, um agricultor alimentava 19 pessoas, em 1970 eram 73 e, em 2012 são quase 160 pessoas. Neste período, os alimentos despencaram de preço ao consumidor. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o índice de

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de soja, carne bovina, frango e etanol; o terceiro de milho e frutas. Até 2025 o Brasil deve ser o primeiro também de soja, carne bovina, frango e etanol. Hoje é o primeiro exportador de todos estes produtos, exceção ao milho e ao biodiesel, que devem incorporar-se à lista até 2025. Em 2012 o Brasil se tornou o terceiro maior exportador agrícola do mundo (18% do comércio), porém, é o primeiro em valor líquido de exportação. O agronegócio tem garantido o saldo comercial externo do Brasil. Desde 1994 os demais setores exportadores têm apresentado déficit comercial com o exterior, ao contrário do agronegócio, que ostenta saldos crescentes que devem atingir, em 2013, 100 bilhões de dólares.

E o futuro?

A FAO estima que, até 2050, será necessário produzir mais alimentos que o total produzido nos últimos 12 mil anos! Para tanto, a produção mundial deve crescer aproximadamente 1,5% ao ano, ou 60% até 2050. E o Brasil deverá atender mais da metade da demanda adicional de alimentos, fibras e energia até 2050, por dispor de diversas vantagens comparativas em relação a outros países grandes produtores agrícolas, que já esgotaram sua área de expansão. Ou seja, a pujança do agronegócio brasileiro, demonstrada pelos números e fatos acima, nada mais é que uma antecipação do fulgor C das próximas décadas.

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja



Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

EUA plantou grande parte das lavouras além do período ideal

O milho e a soja tiveram o plantio realizado com grande atraso neste ano nos Estados Unidos. Os produtores norte-americanos foram além do prazo considerado ideal e entraram no período de plantio com riscos. Até mesmo há indicativos de que parte do milho não chegou a ser plantada e mesmo assim não existem notícias de aumento no plantio da soja, porque a oleaginosa também registrou grande atraso no cultivo, passando do período considerado ideal e técnico para ser plantada. Este é um ano em que as lavouras de soja e milho entrarão na sua fase reprodutiva na época em que normalmente as regiões produtoras dos EUA têm as maiores temperaturas do ano, chegando a superar a faixa dos 40ºC a 45ºC. Quando isso ocorre com lavouras em fase de pendoamento, como é o caso do milho, serve para derrubar a produtividade. Em soja, atinge o florescimento e início da formação das vagens, o que resulta em abortamento de flores. Plantas sob forte efeito do calor perdem parte das vagens na fase inicial e na fase de canivetinho, o que também serve de limitante de produtividade. No ano passado, as lavouras em 20 de maio já estavam com 95% das áreas plantadas e agora registravam apenas 71%, sendo que entre 15 e 20 de maio, saltaram dos 28% para os 71%. No caso da soja o plantio ideal vai até o final de maio, quando as lavouras mostravam pouco mais de 50% das áreas plantadas contra 93% do mesmo período do ano passado. Isso empurra a safra para frente, sendo que neste ano pode haver lavoura enfrentando problemas com o frio entre setembro e outubro, período em que começam a aparecer as primeiras geadas. Neste ano, boa parte das lavouras não estará pronta e carregará riscos. Assim, a supersafra americana começou com riscos de limitação de produtividade e este grande atraso indica que devem ficar longe das melhores produtividades que podem conseguir. Este fato vem dar fôlego ao mercado mundial de grãos e bons fundamentos para segurar as cotações contra grandes baixas. Sinalizando que para a safra de verão há expectativas favoráveis de mais um bom ano para os produtores brasileiros.

MILHO

Colheita da safrinha e pressão de baixa

A safrinha está em colheita e terá concentração da oferta do milho na segunda quinzena de julho, porque neste ano houve atraso no plantio, o que serviu para postergar o início da colheita em todas as regiões. Esse cenário trará pressão de oferta de grão em julho, quando poderá ocorrer pressão de baixa nas cotações. Fato que já se viu em junho, mas que teve suporte no dólar em alta e nas cotações de exportações que alcançaram níveis mais atrativos que em maio. Com isso houve limitação de queda nas cotações. O governo fez quatro pregões de Opções de Milho para Mato Grosso e Rondônia, sendo cada pregão com 480 mil toneladas para Mato Grosso e outras 20 mil toneladas para Rondônia (este sem interesse). Todos os contratos do Mato Grosso foram negociados e os produtores reclamavam por novos contratos ou apoio com pregões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) exportação, para dar liquidez ao milho neste segundo semestre. Segue com pouco espaço para mudanças em curto prazo.

para negociar. Com menos de 15% para ser comercializado neste segundo semestre, frente a níveis que em outros anos alcançavam de 25% a 30% para atender às necessidades do mercado até fevereiro, quando chega a safra nova. Desta forma o mercado, que registrou pressão de baixa em Chicago, teve forte apoio no dólar em alta e manteve as cotações firmes para o grão livre e também trouxe boas oportunidades de fechamentos da safra nova, com cotações que variaram de R$ 63,00 a R$ 66,00 para abril e maio de 2014. Os produtores dos estados centrais aproveitaram para realizar fechamentos ou fixações de produto que estava previamente negociado via insumos, com boas cotações. Mesmo assim o ritmo dos negócios neste ano está mais lento que em anos anteriores e ainda há mais de 70% da safra nova para ser negociada, contra a média de pouco mais de 55% registrados em anos anteriores neste mesmo período. feijão

Poucas ofertas e cotações fortes

O mercado do feijão registra pouca oferta. Neste ano há pouco produto de outros países chegando e com a disparada do dólar as cotações do importado saltaram soja para a faixa de R$ 180,00 por saca na base do Preto Pouco para negociar de soja livre O mercado no Brasil tem mostrado pouca soja Chinês. Enquanto isso, o Carioca Nacional mostrou

indicativos com valores de R$ 230,00 a R$ 290,00 e seguia firme nestas últimas semanas. Com atraso no plantio das lavouras da terceira safra (devido à mosca branca e a algumas áreas totalmente perdidas pelo ataque dessa praga) com fôlego para manter as cotações firmes. O vazio sanitário do feijão ainda tem grandes indefinições, porque obriga os produtores a não cultivar de setembro em diante, o que será um forte fator de alta das cotações, porque limitará a oferta que neste ano está muito abaixo do consumo. Seguirá firme e com produtores dominando os negócios. arroz

Cotações em alta neste segundo semestre

O mercado do arroz registrou calmaria entre maio e junho e agora em julho mostra sinais de que voltará a crescer, com apoio no mercado internacional e na forte alta do dólar no mercado brasileiro, que tem dificultado as importações ao mesmo tempo em que abre novas oportunidades de exportação. Junto a isso os produtores seguirão forçando a alta nas cotações do grão livre, o que podem alcançar neste segundo semestre. Com fôlego para ganhar pelo menos R$ 1,00 por mês nas cotações de agora em diante.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo se manteve firme, com lavouras em plantio e recebendo boas chuvas em junho. Com isso a safra começa com boas expectativas. O mercado registrava entre R$ 600,00 e mais de R$ 700,00 por tonelada, mostrando fôlego para se manter em alta. Isso porque o mercado externo segue firme e o dólar com alta de quase 10% somente em junho trazia apelo altista ao produto importado, o que tende a obrigar as indústrias a buscar posições dos produtores para se abastecer. Cenário que forçará contratos futuros na busca pelo grão nacional. algodãO - O mercado observa a safra brasileira de algodão bastante comprometida pelo clima e principalmente pelas pragas. Como a maior parte das áreas deste ano se concentrou na safrinha, com menor potencial produtivo, a colheita ficará muito abaixo do consumo e isso deverá trazer novo apelo positivo às cotações. Assim, já se percebe que os grandes produtores estão correndo atrás dos insumos para o novo plantio, que irá crescer forte em busca dos lucros estimados para este novo ano (devido à queda da oferta mundial e das cotações maiores que o mercado internacional vem praticando). O dólar em alta é outro ponto de apoio para valorizar o algodão brasileiro. índia - A safra 2013/14 dos indianos sofre os efeitos do clima adverso. O país passou de um período de seca para uma fase de inundações, como as registradas em junho, quando grande parte das regiões produtoras se encontrava inundada e com grandes perdas. Trata-se de fator importante para o mercado

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mundial dos grãos, porque o consumo do país está em crescimento e isso pode forçar os indianos a efetuarem grandes importações. Normalmente importam cerca de um milhão de toneladas de feijão, mas agora poderão ter que importar outros grãos e dar fôlego às cotações internacionais. china - As compras de alimentos neste ano deverão crescer e superar em muito as projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), com indicativos de que os chineses comprarão mais de 63 milhões de toneladas de soja, mais de 19 milhões de fardos de algodão, mais de 2,5 milhões de toneladas de arroz, mais de três milhões de toneladas de trigo e podem ter de importar entre sete milhões de toneladas a dez milhões de toneladas de milho (para atender à demanda crescente de carnes que o país vem apresentando). Bom para o mercado mundial. Os chineses têm passado por problemas climáticos e boa parte das áreas estava em período de seca até o final de maio último (com atraso na safra). mercosul - Os números da safra do feijão da Argentina apontam para forte queda devido à seca e desta forma haverá menos grão para exportar para o Brasil. No Paraguai, os exportadores de arroz buscaram novos mercados e com o dólar em alta no Brasil diminuíram os negócios com as indústrias brasileiras. Além disso, já estavam negociando com compradores de Israel para escapar da dependência de vender o arroz somente para o mercado brasileiro.




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